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volume 12, 2017 20 Ensino por Investigação na Sala de Aula: Uma Matriz de Objetivos Educacionais Vitor Rios Valdez e Maria de Nazaré Klautau

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volume 12, 2017 20

Ensino por Investigação na Sala de Aula: Uma Matriz de Objetivos Educacionais

Vitor Rios Valdeze Maria de Nazaré Klautau

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Ensino por Investigação na Sala de Aula

Uma Matriz de Objetivos Educacionais

Vitor Rios Valdez

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Ensino por Investigação na Sala de Aula

Uma Matriz de Objetivos Educacionais

Este é um guia de apresentação e uso de umamatriz de objetivos educacionais para o ensino deciências. Este material é um resultado da dissertaçãode mestrado intitulada “Desenvolvimento de umaMatriz de Competências e Habilidades paraRepensar o Ensino de Ciências pela Perspectiva doEnsino por Investigação”, defendida em 2017 juntoao Programa de Pós-Graduação em Ensino deCiências da Universidade de Brasília (PPGEC-UnB),para a obtenção do Título de Mestre em Ensino deCiências.

O trabalho pode ser encontrado na íntegra napágina “ppgec.unb.br/dissertacoes”.

Brasília, 2017

Vitor Rios Valdez

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Uma Matriz de Objetivos Educacionais

Apresentação

Este é o manual de apresentação e uso de uma ferramenta educacional chamada “MEI”,uma matriz de objetivos educacionais (competências e habilidades) para o ensino de ciênciaspor investigação.

A MEI é uma ferramenta educacional desenvolvida para professores de qualquer disciplinacientífica da educação básica que buscam desenvolver as características da autonomiaeducacional, o “aprender a aprender”, com seus estudantes.

Esta proposta é um resultado da dissertação de mestrado de Vitor Rios Valdez, intitulada“Desenvolvimento de uma Matriz de Competências e Habilidades para Repensar o Ensino deCiências pela Perspectiva do Ensino por Investigação”. A dissertação relata em detalhes oprocesso de construção da MEI, a partir do estudo de diversos documentos legais, artigos depesquisa sobre educação e análise de matrizes de exames vestibulares do Brasil.

A MEI se baseia na perspectiva do Ensino por Investigação, uma abordagem educacionalque defende que o estudante deve ser o agente central do seu processo de descoberta eaprendizagem. O Ensino por investigação e a matriz apresentada aqui refletem os processoscognitivos e processuais utilizados em estudos, investigações e durante a construção deconhecimentos em geral. Em todos esses processos, são percorridos caminhos semelhantes,que se iniciam com um problema, se desenvolvem por uma série de perguntas, pesquisas ereflexões, e terminam com a resolução do problema.

Este manual busca levar o professor a repensar suas aulas, atividades e avaliações,adotando estratégias onde os estudantes possam desenvolver competências e habilidadesassociadas aos conteúdos conceituais de cada disciplina.

No Ensino por Investigação, o estudante se envolve em investigações diretas a partir deuma situação-problema: ele busca informações, elabora explicações, investiga ou testa suasideias e propõe conclusões ou soluções para o problema. Nesse processo, o professor atua maiscomo um guia e o aluno é quem age para obter e produzir os conhecimentos formais quenecessita.

Tanto o Ensino por Investigação quanto a MEI se baseiam em atividades com cincoelementos fundamentais:

Exploração de situações-problemas e a definição da pergunta ou problema a sersolucionado;

Articulação de conhecimentos prévios na elaboração de hipóteses, explicações oupropostas;

Coleta de dados por meio de experimentos ou pesquisas;

Elaboração de uma resposta, solução ou conclusão para resolver ou contornar a situação-problema;

Comunicação dos resultados e descobertas, para compartilhar os novos conhecimentoscom o grupo.

Competências e Habilidades do Ensino por Investigação

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MEI - Matriz do Ensino por Investigação

Objetos do Conhecimento, Competências e Habilidades

Aplicando a matriz na prática pedagógica

Objetos de conhecimento (conteúdos conceituais) - são os fatos, acontecimentos,situações, informações, fenômenos e modelos explicativos que compõem os assuntoscurriculares que se espera que o aluno saiba ao final da escolarização.

Competências (conteúdos atitudinais) - Características da inteligência, valores, atitudes,comportamentos e processos mentais usados para entender o mundo, relacionar sentidos econhecimentos e planejar ações.

Habilidades (conteúdos processuais) - Processos mentais e físicos usados para executarações em busca de um objetivo. Envolvem regras, técnicas, operações, métodos e uso deinstrumentos.

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A MEI é uma matriz feita para professores e alunos da educação básica, dessa forma,ela utiliza a mesma linguagem de exames educacionais como o ENEM (Exame Nacional doEnsino Médio) e se baseia em três tipos de objetivos educacionais: objetos doconhecimento, competências e habilidades. Esses termos indicam quais são os assuntos, asformas de pensar e as formas de agir que estudantes devem dominar após suaescolarização. Ao final desta página, são exploradas definições formais desses três termos.

Para que professores de qualquer disciplina escolar possam utilizar a MEI, ela foiconstruída de forma desvinculada de objetos do conhecimento. Essa estrutura, que consideraapenas competências e habilidades, pode ser usada para guiar diversas atividades escolarese é ideal para o desenvolvimento de projetos de pesquisa onde o aluno tem autonomia paraatuar.

A MEI se organizada em quatro competências que representam os elementos doEnsino por Investigação: Contextualização, Investigação, Proposição e Comunicação. Essasquatro competências representam as características fundamentais de uma atividade deensino por investigação. Um momento inicial de exploração de problemas(Contextualização), um momento de busca por informações (Investigação), um momentopara a discussão de soluções (Proposição) e um momento final de comunicação ecompartilhamento das aprendizagens (Comunicação).

Dezesseis habilidades estão distribuídas entre as quatro competências e representamformas práticas de executar os processos investigativos. Habilidades como identificarsituação-problema, planejar investigações, relacionar diferentes saberes, propor soluções,e construir comunicação, são importantes tanto para atividades escolares, quanto para asuperação de desafios e para a formação cidadã.

As competências e habilidades são muito diversificadas e podem se adequar adiferentes momentos e situações. Professores não precisam se preocupar em trabalhar cadauma delas em cada atividade pedagógica, no entanto, para que essas importantescaracterísticas sejam entendidas e dominadas, cada uma delas precisa ser exercitada.

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A Matriz do Ensino por Investigação

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C1: Contextualização: converter informações de fenômenos naturais em conceitos mentais eaplicar conceitos em situações reais.

H1: Identificar situação-problema: identificar uma situação-problema com impacto no cotidiano.H2: Elaborar pergunta de investigação: traduzir uma situação-problema em uma pergunta que

pode iniciar a busca por sua solução.H3: Transpor do real ao conceitual: relacionar situações do mundo natural a conhecimentos

científicos.H4: Relacionar diferentes saberes: Relacionar as partes de um conhecimento ou conhecimentos

de diferentes áreas.H5: Transpor do conceitual ao real: aplicar informações científicas em situações reais do

cotidiano.

C2: Investigação: pesquisar e validar informações por meio de processos, métodos einstrumentos científicos.

H6: Criticar e validar informações: verificar a validade de informações, comparando alternativase selecionando a melhor solução para uma situação-problema.

H7: Buscar informações científicas: usar fontes de informações cientificamente válidas, comofontes diretas, textos técnicos, etc.

H8: Usar procedimentos científicos: selecionar e usar métodos e instrumentos científicos para aobter informações.

C3: Proposição: elaborar hipóteses, respostas, conceitos, processos ou produtos que busquemsolucionar uma situação-problema.

H9: Formular hipóteses: elaborar hipóteses ou modelos explicativos que ofereçam soluçõesviáveis para situações-problema.

H10: Planejar investigações: propor ou avaliar estratégias para atingir um objetivo ou solucionaruma situação-problema.

H11: Prever resultados: reconhecer padrões e usar ferramentas do raciocínio para preverevolução ou resultados de processos.

H12: Propor soluções: elaborar argumento, conclusão ou solução concreta para situações-problema, apoiado em evidências e informações cientificamente válidas.

C4: Comunicação: usar, interpretar e compreender diferentes linguagens e formas decomunicação.

H13: Dominar a língua formal: demonstrar domínio da modalidade formal da língua portuguesaoral e escrita, entendendo e se fazendo entender.

H14: Construir comunicação: elaborar comunicação coesa, coerente e com progressão temática,necessária à construção da argumentação.

H15: Dominar diferentes linguagens: Usar e compreender formas de comunicação não textual,como figuras, tabelas, gráficos, símbolos, códigos, fórmulas etc.

H16: Produzir comunicações técnicas: produzir comunicações técnicas, descritivas e analíticas,próprias das ciências.

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O professor orientador

No Ensino por Investigação, o agente central do processo de ensino-aprendizagem é oaluno. Nesse modelo, o professor deixa de ser o detentor do conhecimento e passa a agir maiscomo um orientador de pesquisa, criando situações instigantes e conduzindo seus alunos paraque eles sejam responsáveis pelos seus estudos e aprendizagem. Se é do interesse do professoreducar para a autonomia, ele deve refletir sobre alguns aspectos.

Estudantes de qualquer idade podem criar conhecimentos e inventar algo novo, elesapenas não sabem disso ainda. Mostrar aos alunos que qualquer busca por informações podegerar um conhecimento científico e qualquer solução para um problema pode gerar uma novatecnologia, ajuda o aluno a entender que ele pode ser um pesquisador e inventor. Trabalharcom métodos formais de investigação, experimentação e testes, ajuda a concretizar essarealidade. Estimular o aluno a encontrar problemas reais, estudar aquilo e propor soluçõesreais, o leva a aplicar e desenvolver sua capacidade de superar desafios.

Uma boa pergunta desperta a vontade de saber, uma resposta pronta é desvalorizada.Não é adequado que o professor “dê respostas prontas” aos estudantes, ele deve interagir comeles por meio de perguntas que os instiguem, que levem ao raciocínio e motivem sua atuação.Mostrar que eles podem aprender qualquer coisa sozinhos e apresentar as ferramentas paraisso, estimula sua autonomia. Trabalhar a partir de problemas reais e concluir as atividades comsoluções reais para os problemas, aproxima a escola da vida e dá sentido aos estudos.

Um aluno motivado a agir usa todos os recursos disponíveis e vence qualquer obstáculopara alcançar seus objetivos. O professor pode canalizar essa vontade de produzir e conhecerpara os assuntos curriculares, ao relacionar sua disciplina com situações interessantes domundo real. Iniciar atividades explorando problemas e curiosidades do corpo, da vida, dafamília ou do ambiente do aluno, podem despertar seu interesse. Se houver a perspectiva deganho pessoal ou de melhoria da sua qualidade de vida, ele pode ter estímulos a mais. Oprofessor de um aluno motivado não precisa ensiná-lo, apenas orientá-lo e ajudá-lo a organizarseus conhecimentos.

A ação do estudante depende do espaço que ele recebe para agir. É importante criar umambiente que estimule a participação e interação de todos. Aceitar qualquer resposta, mesmoque errada, e trabalhar sobre ela, apresentando novas informações, gera conflito, reflexão eguia o raciocínio do aluno na direção do conhecimento formal. Tentar entender o raciocínio portrás de uma resposta inesperada ajuda a diferenciar erros conceituais de inovação e permiteações para os corrigir erros e estimular o pensamento criativo.

Os alunos podem aprender uns com os outros mais do que com seu professor. Quandointeragem entre si, os alunos usam a mesma linguagem, desenvolvem raciocínios semelhantes,compartilham experiências significativas e constroem conhecimentos coletivamente. Criandoatividades de interação entre os alunos, como debates, apresentações, jogos, estudos coletivose trabalhos em grupo; conhecimentos podem ser compartilhados de outras formas e fixados.Atividades de colaboração, de competição e de conflito geram aprendizagens diferentes ecomplementares. Expor a produção dos alunos para a escola e a comunidade, além de valorizaros trabalhos feitos e motivar as próximas produções, ajuda a compartilhar aprendizagens commais pessoas.

Reflexões sobre o papel dos professores

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C1. Contextualização

A Contextualização representa ascapacidades mentais de identificar, entender,relacionar e assimilar informações.

Podemos ver a Contextualização sendodesenvolvida quando uma pessoa:

Percebe situações do mundo sobre asquais é possível agir para aprender coisasnovas ou melhorar a vida dos seres vivos;

Interpreta fenômenos naturais ousituações da realidade e consegue traduzi-laspara conceitos mentais, perguntasinvestigáveis ou explicações científicas;

Correlaciona informações de diferentesáreas, ou desmembra um fenômeno em seuselementos constituintes para entendê-lomelhor;

Aplica conhecimentos teóricos emsituações da realidade ao fazer decisões ouagir, para obter resultados positivos.

Iniciar e concluir um assunto com uma situação concreta ajuda a situar os estudantes quanto à importância do que foi apresentado. Boas formas de contextualizar um assunto são:

Explorar algo interessante que acontece no corpo ou na vida humana;

Usar assuntos recentes e polêmicos divulgados na mídia;

Explorar problemas sociais ou ambientais que nos afetam diretamente;

Buscar explicações para conhecimentos do senso comum ou do folclore;

Estudar o contexto no qual o conhecimento em questão foi elaborado e tentar entender os problemas e necessidades que levaram àquilo.Orientações

Mostre de forma clara as relações entre asituação estudada e os conceitos teóricosenvolvidos;

Busque estabelecer relações entre o queestá sendo estudado e outras situações ouconhecimentos do mundo;

Esclareça bem os elementos queconstituem a situação, como eles se relacionamuns com os outros e com o todo;

Produza algo como resultado desse estudo,seja uma explicação nova, uma conclusão criativa,um produto ou um processo que solucione oucontorne a situação apresentada no início;

A contextualização é a competência maisdesenvolvida em aulas e trabalhos de pesquisaescolares. No entanto, apesar de professores ealunos conseguirem trabalhar bem cominformações do mundo real e conhecimentoscientíficos, uma pergunta desconfortável continuasendo ouvida na sala de aula: “para quê eu vouprecisar disso na minha vida?”

Trabalhar com alguns elementos práticosem aulas, apresentações e pesquisas, pode ajudara aproximar a teoria da realidade:

Comece com uma situação ou problema domundo real que afeta os estudantes diretamentee pode ser afetada por eles;

Ideias

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H1. Identificar situação-problema

Identificar situação-problema é ahabilidade de perceber que um fenômenoafeta os seres vivos e que é possível intervirsobre ele para conhecê-lo melhor e melhorara qualidade de vida dos seres afetados.

Nem toda situação-problema pode serinvestigada adequadamente por estudantes.Para permitir que eles façam investigaçõesdiretas e proponham soluções práticas, assituações-problema devem ter algumascaracterísticas:

Ser um fenômeno que se manifesta emum grupo de indivíduos ou um lugar que osestudantes tenham acesso e possam afetar;

Ser um fenômeno do cotidiano quereflita os desafios que o estudanteenfrentará em sua vida;

Ser do interesse do aluno, despertar acuriosidade e causar inquietação, paramotivá-lo a buscar as respostas.

Localizar um assunto nos espaços e tempos que os estudantes frequentam e pedir investigações das pessoas, não dos temas, torna o assunto mais interessante e permite sua investigação direta.

Nos exemplos a seguir os temas devem ser estudados para que a pergunta seja respondida:

“Qual a opinião da comunidade escolar sobre a retirada de Plutão da categoria de ´planeta`?”

“A estrutura de ´galáxia química Philip Stewart` facilita o aprendizado dos estudantes?”

“Podemos descobrir se temos predisposição à diabetes e infartos?”

“Quem não se considera feminista é porque não entende o que é o feminismo?”

Orientações

Situações-problema podem ser apresentadasde diversas maneiras (imagens, vídeos, perguntas,notícias, etc) e se relacionar com os temasapresentados na seção de Ideias da “C1:Contextualização”, mas o mais importante é queelas estejam ao alcance dos estudantes.

Quando estudantes lidam com temas distantesdo cotidiano (como conceitos abstratos de átomos,aquecimento global ou astronomia), eles nãopodem fazer investigações diretas, pois nãopossuem os recursos necessários. Nesses casos,eles não têm opção a não ser realizar pesquisas

em fontes indiretas e reproduzir conhecimentos jádefinidos.

Uma estratégia para permitir investigaçõesreais sobre qualquer tema é trazê-los para oambiente escolar ou familiar dos estudantes,pedindo opiniões, levantamentos ou conclusões.

No ambiente que frequentam, eles podembuscar informações diretamente, propor métodose conduzir investigações em primeira mão.Investigando seu ambiente, eles estudam não só otema, mas suas aplicações no cotidiano.

Ideias

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H2. Elaborar pergunta de investigação

Elaborar pergunta de investigação é acapacidade de traduzir uma situação-problemaem uma sentença com fatores definidos quepode despertar uma investigação e dê ideia decomo encontrar a solução.

Perguntas que não permitem manipularvariáveis, testes empíricos de hipóteses oucoleta de dados originais, normalmente nãolevam a investigações reais. “Os signosfuncionam?”, “Deus existe?” e muitas perguntasque começam com “por que” levam a opiniõespessoais sem embasamento, respostas fechadase definidas.

Perguntas investigáveis articulam termosespecíficos, manipuláveis, detectáveis emensuráveis, elas permitem observações,experimentos e coleta de dados de fontesdiretas. Quando uma pergunta considera essesfatores pode ser possível até prever comoconduzir uma investigação, como em:

“Qual a porcentagem de pessoas nessa escolaque acredita em seres sobrenaturais?”; e

“Qual a taxa de correspondência entre ascaracterísticas que uma pessoa se atribui e ascaracterísticas indicadas para ela em função doseu signo?”.

Orientações

Ideias

Uma forma de detalhar perguntas para que elas possam conduzir a investigações diretas é interpretar o problema ou a dúvida original e definir os seguintes elementos:

a) o significado dos termos principais;

b) como os termos se relacionam;

c) o tempo e espaço onde a investigação será feita.

Na pergunta “Deus existe?”: “Deus” pode ser definido como um ser sobrenatural (a), sua existência não pode ser provada, mas podemos questionar quantas pessoas acreditam nela (b), e já que não seria possível definir isso para o mundo todo, podemos limitar a investigação ao ambiente onde os alunos convivem (c).

No Ensino por Investigação, se trabalha comproblemas do cotidiano e, assim, frequentemente,o professor terá que lidar com perguntas para asquais não há respostas, muitas vezes porquê elasainda não foram definidas para aquele contexto.Como saber se um aluno tem predisposição àdiabetes antes de conhecer seu histórico familiarda doença? Como saber a opinião da escola sobreum assunto antes de fazer um levantamento?

O professor não deve se sentir inseguro senão conseguir responder as perguntas dos alunos.

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Tanto professor quanto estudantes devemcompreender que as ciências trabalham comperguntas abertas, proposição e teste dehipóteses, confronto de ideias e a noção de quenão existem respostas certas ou erradas, apenashipóteses, que são válidas enquanto não foremrefutadas.

Em atividades assim, o que importa nãosão as respostas, mas sim os processos deinvestigação e interpretação de dados.

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H3. Transpor do real ao conceitual

Transpor do real ao conceitual envolverelacionar situações ou problemas do mundonatural aos conhecimentos formais e científicosque buscam explica-los.

Esta habilidade é a primeira etapadesenvolvida naturalmente em processos deraciocínio e aprendizagem. Ela acontece deforma automática quando percebemos algumelemento do mundo com nossos sentidos etentamos compreender aquilo. Nesse processo,a princípio recorremos a conhecimentosprévios, valores de criação e ao senso comum.

No entanto, a habilidade “H3: Transpor doreal ao conceitual” indica a capacidade crítica econsciente de associar um fenômeno à suaexplicação formal. Isso envolve compreenderque as ciências buscam explicações críticas eembasadas para o mundo natural.

Quando um estudante consegue associarum fenômeno aos conhecimentos científicosque tentam explicá-lo e interpretar aquilo pelaslentes desses conhecimentos formais, ele estáusando esta habilidade.

Orientações

Ideias

Diversas propostas de atividades podem levar estudantes a interpretar fenômenos da realidade sob a óptica científica:

É possível obter e analisar amostras de água poluída de um rio da cidade como forma de levar estudantes a proporem processos adequados de separação de misturas.

Pode-se pedir um estudo dos componentes e aparelhos elétricos da sala de aula e a representação dos circuitos do local.

Em um ambiente com varias formas de vida, é possível identificar os seres e representar suas relações em uma cadeia alimentar.

Pode-se pedir que os estudantes questionem seus familiares sobre o local de origem de gerações passadas da sua família, assim como motivo e período da migração para o local atual.

Atividades podem começar com aapresentação de um fenômeno natural e atentativa de entendê-lo do ponto de vistateórico (H3).

Após traduzir o fenômeno em termosconceituais, pode-se relacioná-lo com outrosaspectos do mundo e estudar seus fatoresconstituintes (H4).

Finalmente, o que foi compreendido deveser aplicado na produção de um material,produto ou processo prático (H5).

As habilidades “H3: Transpor do real aoconceitual”, “H4: Relacionar diferentessaberes” e “H5: Transpor do conceitual ao real”são diferentes etapas de um mesmo processo:o raciocínio.

Essas três habilidades são as que maisrepresentam a escolha do nome dacompetência “C1: Contextualização”, epoderiam ser usadas como guia doplanejamento de propostas pedagógicas emgeral.

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H4. Relacionar diferentes saberes

Relacionar diferentes saberes envolve osprocessos mentais de relacionar umconhecimento com outras situações do mundoou de desmembrar o conhecimento em seuselementos constituintes e entender a inter-relação entre eles.

Essa habilidade também é um processoespontâneo do raciocínio, que ocorre quandotentamos compreender algo percebido pormeio de nosso sentidos. Sempre que encontrauma nova informação, o cérebro humanonaturalmente procura padrões, tenta entendervariáveis, compara as informações comexperiências passadas e conhecimentos jáestabelecidos. Como resultado desse processo,a mente humana formula hipóteses,explicações, previsões e até meios de interagircom aquele fenômeno buscando resultadossatisfatórios.

Relacionar um assunto a diferentes áreasdo conhecimento, aplicar um processo em umcontexto novo, dar exemplos de uma explicaçãoem situações diferentes e entender que amanipulação de um elemento pode afetar otodo, são exemplos de aplicações dessahabilidade.

Orientações

Ideias

Esses processos mentais, relacionadosprincipalmente à “C3: Proposição”, representamaspectos do raciocínio lógico e busca peloentendimento de algo novo.

Apesar deles poderem ser desenvolvidos deforma instantânea e imperceptível, quando umapessoa consegue realizá-los de forma voluntária econsciente, ela desenvolve uma poderosaferramenta de reflexão e solução de problemas.

No entanto, nem todo problema pode serresolvido no campo das ideias, algumas hipótesesprecisam da busca por novas informações paraserem confirmadas ou refutadas (H6, H7).

Nessa etapa diversos processos mentais podemser estimulados e desenvolvidos.

A cada nova informação obtida, uma perguntapode ser formulada (H2).

Perguntas precisam de respostas e, antes deobtê-las, é possível trabalhar com a formulação dehipóteses (H9).

Hipóteses precisam ser testadas, para isso,usamos o raciocínio e pesquisas (H10 e H11).

Independente dos meios usados para testarhipóteses, uma conclusão é elaborada a partirdesse processo (H12).

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A partir das Ideias da habilidade anterior, é possível relacionar e entender melhor as informações obtidas.

Os estudantes podem aplicar diferentes estratégias para tentar purificar a água poluída, comparar os resultados entre si e com outros processos usados na sociedade.

Enquanto estudam os aparelhos elétricos da sala, o professor pode acompanhar as representações formais de circuitos e conceitos como os de circuitos em série ou em paralelo, em diferentes situações.

Além de relações de predação, uma cadeia alimentar pode ser explorada para identificar casos de parasitismos e competição, entre outras relações ecológicas.

Após identificar eventos de migração de várias famílias, podem ser investigadas explicações, padrões e fenômenos históricos, sociais ou geográficos.

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H5. Transpor do conceitual ao real

Transpor do conceitual ao real envolveos produtos, processos e comportamentosque produzimos após entender como algofunciona, a fim de solucionar um problema,comunicar nossas descobertas ou alcançarresultados melhores em situações docotidiano.

Essa habilidade representa mais umaetapa dos processos do raciocínio e doaprendizado. Após compreender umfenômeno, o ser humano incorpora aquilo aoseu conjunto de saberes e ações sobre omundo real. Um conhecimento novo, queajuda a explicar algo, nos permite ver aquelefenômeno de uma nova maneira e entendersuas causas e consequências. Aprender comoalgo funciona, nos permite prever resultadosde ações e agir para obter os melhoresresultados com o mínimo de esforço.

Para concretizar, dar sentido e utilidadeprática às aprendizagens, os estudantesdeveriam desenvolver e compartilhar algo aofinal de qualquer atividade educacional.

Orientações

Ideias

A exposição desse produto e a interação comoutras pessoas sobre ele ainda geram novasoportunidades de aprendizagens, tanto paraquem elaborou o produto, quanto para osmembros da comunidade, que podem ainda serleigos sobre o assunto.

Assim, além de aprender um conhecimento,um estudante deve formalizá-lo produzindo umproduto e compartilha-lo com outros para obterretorno (feedback).

Qualquer processo de pesquisa ou aprendizadoresulta na obtenção de novos conhecimentos. Noentanto, expressar o que foi compreendido eproduzir algo a partir disso ajuda a formalizar esedimentar a aprendizagem. Assim, após acompreensão de algo novo, exercícios e práticasdevem ser realizados.

Estudantes devem produzir algo a partir de suasaprendizagens, como um modelo explicativo, umahipótese ou conclusão que responda umapergunta, um produto ou um processo quesolucione ou contorne uma situação-problema.

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Independente da atividade, um produto deve ser elaborado a partir do que foi aprendido e compartilhado com a comunidade.

Após identificar os processos mais adequados para purificação de água, os estudantes podem aplicar esses processos em suas casas ou em campo, em um rio poluído local.

Após entender como os circuitos elétrico da sua sala estão organizados, os estudante podem propor uma organização melhor e construir uma maquete para apresentar sua proposta.

Após compreender como os organismos de um ecossistema interagem, os estudantes podem propor e divulgar ações de preservação ambiental para sua comunidade

Após identificar o comportamento migratório de suas famílias, os estudantes podem elaborar um mapa do Brasil ou do mundo com as rotas e períodos de migração, relacionando-as com eventos históricos.

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C2. Investigação

Investigação é uma competência que envolvetodos os aspectos da interação entre a pessoa e oambiente em busca de informações cientificamenteválidas.

Essa competência é desenvolvida quandoalguém:

Questiona informações recebidas e buscaconfirmá-las de alguma maneira;

Compara diferentes fontes e pontos de vistapara validar e obter informações imparciais;

Busca informações em fontes formais comolivros didáticos, textos técnicos, artigos científicos efontes diretas de dados: observações de fenômenos,entrevistas, experimentos controlados, etc;

Se preocupa com os procedimentos de busca,coleta, registro e análise dos dados, para que asinformações sejam isentas de influencias externas;

Seleciona e usa adequadamente métodos decontrole experimental, como repetições, controlespositivos e negativos, seleção de variáveis econstantes, isolamento de variáveis, etc;

Seleciona e usa adequadamente instrumentosde controle experimental, como ferramentas deobservação, medição, registro e análise.

Orientações

Em uma investigação, considerar alguns elementos-chave ajudam a manter o rigor técnico-científico:

Mantenha em mente a pergunta da investigação (H2) e sempre que precisar tomar uma decisão, reflita sobre a melhor maneira de respondê-la.

Formule uma hipótese (H9) para responder à pergunta e foque seus esforços em confirmar ou negar a hipótese.

Tente buscar informações direto na fonte, ou o mais perto possível delas (H6, H7).

Se preocupe com a veracidade e imparcialidade das informações ao produzir registros e analisá-los (H8).

Mantenha um registro detalhado do planejamento e execução da pesquisa (H16), para acompanhar, revisar e comunicar o que foi feito.

Se o professor define a pergunta, objetivoe procedimentos, cabendo ao estudanteapenas coletar os dados e formular asconclusões, a atividade não é investigativa.

Nas investigações de menorcomplexidade o estudante define as etapas 3,4 e 5.

Em investigações de complexidade médiao estudante define as etapas 2, 3, 4 e 5.

O maior nível de complexidade é atingidoquando o estudante define todas as etapas.

Uma atividade de pesquisa pode serseparada em algumas etapas: 1) definição doproblema, 2) definição do objetivo, 3) definiçãodos procedimentos de pesquisa, 4) coleta dedados, 5) formulação e comunicação deconclusões.

Dependendo dos seus objetivos, o professorpode planejar atividades onde os estudantestenham liberdade para definir etapas variadas.O grau de liberdade do estudante define se aatividade é ou não uma investigação e suacomplexidade.

Ideias

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H6. Criticar e validar informações

Criticar e validar informações reflete arelação crítica e questionadora entre uminvestigador e as informações encontradas. Apreocupação a respeito da veracidade eimparcialidade dos dados deve ser umaconstante durante uma pesquisa.

O senso crítico deve ser estimulado entreestudantes para que eles duvidem deinformações encontradas; selecionem fontesadequadas de informação; pesquisem emmúltiplas fontes; comparem pontos de vistacontrários; e questionem os métodos usadospara obter aquelas informações.

A noção de que qualquer fonte deinformação está sujeita a influências deinteresses particulares, opiniões pessoais eerros de interpretação, deve ser estabelecida.

A partir disso, pode-se estimular a buscapor fontes diretas de informações, ao invésde fontes secundárias, que apenasreproduzem informações obtidas porterceiros.

Orientações

Ideias

Diversos sítios eletrônicos divulgam informações com rigor científico.

Enciclopédias eletrônicas como a Wikipédia e a Encyclopædia Britannica são boas fontes iniciais de pesquisas, mas suas referências podem ser visitadas para coleta de dados diretos.

Em sítios de busca como o Google Acadêmico e o Periódicos Capes, de conteúdo acadêmico, textos técnicos e artigos científicos sobre qualquer tema podem ser encontrados.

Páginas de divulgação científica, como a ScientificAmerican Brasil, Pesquisa FAPESP, Scienceblogs Brasil e Universo Racionalista, divulgam informações se preocupando com o rigor das suas fontes acadêmicas.

Bancos de dados como os do IBGE, do INEP, da NASA, o Apolo 11, o Google Earth, e a página de visualização de dados do GlobeProgram, podem ser visitados para obtenção de diversos dados estatísticos e brutos.

estimular o senso crítico dos estudantes quanto à seleção de informações.

Os exercícios de buscar múltiplas fontes deinformações e investigar as fontes originais doconteúdo podem conduzir estudantes apesquisas mais criteriosas.

Procurar nas listas de referencias de umapágina pela indicação do sítio original dasinformações e recorrer apenas a elas paracoletar os dados, é uma estratégia para obterconteúdos mais fiéis aos fenômenos estudados.

Atualmente as primeiras fontes deinformação consultadas em pesquisas sãosítios eletrônicos de busca na internet. Com aatual facilidade de acesso à informação,praticamente qualquer tema abordado naescola estará disponível em diversas páginasda internet.

Apesar de ser uma excelente ferramenta depesquisa, a facilidade de produção emanipulação de informações permite adivulgação de conteúdo sem um controle dasua qualidade e veracidade. Cabe ao professor

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H7. Buscar informações científicas

Buscar informações científicas envolve aseleção e o uso de fontes de informaçõescientificamente válidas, como fontes diretase materiais técnico-científicos.

Fontes diretas de informação podemenvolver observações de fenômenos no seulocal de ocorrência, levantamentos de dados,entrevistas, experimentos controlados,análise de documentos produzidos em umcontexto, etc.

Fontes indiretas de dados com validadecientífica incluem artigos científicos, textostécnicos, enciclopédias, livros didáticos,materiais de divulgação científica, bancos dedados, arquivos históricos, acervos artísticos,etc.

A seleção das fontes de informação éparte importante do processo investigativo e,como em um trabalho científico, osestudantes podem definir as fontes e operíodo de produção do material estudadoantes de iniciar a pesquisa.

Orientações

Ideias

Dependendo de como um pergunta é elaborada, ela pode motivar a investigação de sítios eletrônicos, não para obter conhecimentos prontos, mas para coletar dados brutos que precisarão ser analisados. Alguns exemplos:

“É possível definir o nível de entendimento da população sobre determinada substância química com base nos comentários em páginas de notícias sobre o produto?”

“Qual a porcentagem de estudantes da escola que já se autodiagnosticaram utilizando a Wikipedia e não buscaram acompanhamento médico?”

“Quais características de vídeos educacionais fazem com que eles sejam mais visualizados no Youtube?”

“O padrão de postagens no Facebook de uma pessoa de direita pode ser diferenciado do de uma pessoa de esquerda?”

que não possua respostas prontas em algumlugar.

Perguntas que questionam sobreopiniões ou relatos de pessoas específicas,pedem a mensuração de fenômenos locais,a observação de algo do cotidiano, ou umlevantamento de dados originais, exigemque o estudante entre em contato diretocom as fontes de informações.

Estimular estudantes a recorrerem a fontesdiretas de dados em suas pesquisas pode serfeito de diversas maneiras.

Exigir, como critério de avaliação, queparte das informações seja coletada de formadireta em um material ou com procedimentosespecíficos, é uma alternativa. No entanto,isso limita a liberdade do estudante de definircomo executará sua coleta de dados.

A melhor alternativa para incentivar essetipo de investigação é elaborar uma pergunta

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H8. Usar procedimentos científicos

Usar procedimentos científicos envolveselecionar e usar corretamente os métodos einstrumentos científicos mais adequadospara obter informações que podem ajudar asolucionar uma situação-problema.

Diversos métodos e procedimentos paracoletar dados diretos podem ser usados,como análise documental, experimentos emsituações controladas, produção e teste deprodutos ou processos, reprodução detécnicas em novos contextos, entrevistas,questionários, simulações, observação,registro e descrição de situações reais, etc.

Aspectos metodológicos importantesdevem ser considerados, como o controle devariáveis e influencias externas, repetiçõesde amostras para diluir resultados anormais,uso de controles negativos e positivos,padronização de procedimentos e influenciasem todas as amostras, cuidado na coleta dedados e imparcialidade das análises.

Orientações

Ideias

A partir da pergunta de investigação, professor e estudantes podem discutir e definir quais procedimentos metodológicos devem ser utilizados.

“Quais alimentos industrializados consumidos por jovens são mais saudáveis, considerando seus corantes e conservantes?”, Para esta pergunta poderiam ser identificados os alimentos consumidos pela comunidade escolar, depois consultas aos seus ingredientes e, finalmente, pesquisas bibliográficas para identificar os menos prejudiciais.

“Qual a taxa de estudantes da educação básica que cometem atos de corrupção?”. Nesta pesquisa, primeiro deveriam ser caracterizados o que seriam “atos de corrupção”, em seguida, um levantamento com a comunidade poderia identificar quantos alunos cometem aquelas ações.

Com o retorno dessas primeiras atividades seinicia o trabalho de envolver todos os estudantesem discussões sobre o rigor dos métodos e aconfiabilidade dos resultados.

Diversos conceitos podem ser discutidos, emcaráter formativo, como o de pré-teste dosmétodos, coleta de dados por mais de umapessoa, treinamento e padronização doscoletores, seleção do grupo de estudo,repetições, definição de grupo controle e grupoexperimental, comparação de resultados entregrupos, minimização de influências externas, etc.

O nível de rigor metodológico em pesquisasescolares deve ser modulado de acordo com aexperiência dos alunos com esse tipo deinvestigação.

No início de um período letivo, os estudantespodem se envolver em pesquisas curtas e serdeixados mais à vontade para definir e aplicarmétodos de investigação. Num primeiro momento,o professor deve se focar em estimular pesquisasde fontes diretas, já o contato com coletas de dadosem campo, por si só, pode gerar aprendizagens edescobertas.

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C3. Proposição

Proposição envolve todos os processosonde conhecimentos são articulados para acriação ou planejamento de algo que busquecontornar, minimizar, explicar ou solucionarum problema, como:

Articular conhecimentos para produziralgo novo ou aplicar algo que já existe em umnovo contexto;

Planejar ações e investigações tendo emvista seus possíveis resultados;

Usar ferramentas do raciocínio lógicodedutivo ou indutivo para extrapolarconclusões a partir de dados;

Articular conhecimentos e evidências parafundamentar uma argumentação consistente;

Elaborar conclusão coerente a partir dedados;

Formular modelo explicativo para umfenômeno;

Criar um produto ou processo comaplicação na realidade.

Orientações

O foco de atividades de investigação científica deve ser a identificação de problemas e busca por soluções práticas para eles.

Ao direcionar uma investigação para a produção de algo útil, a atividade pedagógica pode reforçar o sentimento de importância das ciências e tecnologias.

Um professor pode definir os seguintes critérios para uma atividade:

Identificação e descrição de um problema do cotidiano;

Proposta de uma solução prática e aplicável;

Aplicação e teste dos efeitos da proposta sobre o problema;

Elaboração de um produto material para apresentar e orientar ao uso da proposta. Como um produto funcional, instruções de um processo ou um material educacional para divulgação uma nova descoberta.

Ao planejar a investigação, eles podemelaborar uma hipótese (H9) e a proposta depesquisa (H10, H11).

Ao coletar os dados eles podem elaborarrelatórios (H15, H16).

Em seguida eles devem analisar os dadose propor conclusões (H12).

Finalmente, eles podem produzir ummaterial de divulgação que apresente suapesquisa, a solução encontrada e suaaplicação na sociedade (H14, H5)

Em uma investigação há processos deproposição em todos os momentos, daidentificação do problema à apresentação finaldos resultados. Um professor pode encararcada etapa como um desafio a ser vencidopelos estudantes e a estratégia usada por elescomo a proposta para vencer aquela etapa.

Na definição da pesquisa, os estudantesdevem elaborar uma descrição da situação-problema (H1), como uma justificativa dapesquisa e uma pergunta de investigação (H2).

Ideias

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H9. Formular hipóteses

Formular hipóteses envolve a capacidade dearticular conhecimentos para formular respostas,explicações ou intervenções viáveis pararesponder perguntas ou solucionar problemas.

Uma hipótese pode ser encarada como umapossível solução para um problema, sem ocompromisso de estar correta ou ser a melhoralternativa, mas algo em quê se apoiar enquantonão se encontra uma solução melhor.

O objetivo dessa resposta temporária éorganizar o conhecimento que se tem até omomento e fornecer uma base conceitual para atomada de decisões posteriores. Asconsequências dessas ações trarão resultadospositivos enquanto os termos da hipótese semostrarem corretos. Por outro lado, resultadosinesperados ou negativos indicam que a hipótesepossui falhas ou não se aplica àquele contexto edeve ser reformulada.

A formulação da hipótese, assim como aformulação de perguntas (H2), deve considerarrelações entre termos manipuláveis, de formaque seja possível testá-la para confirmar ourefutar sua validade.

Orientações

Ideias

O modelo “considerando X, a solução é Y”, pode ser usado para propor Respostas, Explicações ou Soluções para situações-problema.

Por que a Sala fica tão quente a tarde?

Resposta: A sala fica quente porque o Sol aquece o telhado e o telhado aquece o ar da sala.

Qual é o melhor produto para higienizar as mãos?

Explicação: Considerando a praticidade e a eficácia, o melhor seria lavar com água e sabão.

Como evitar a contaminação ambiental causada por baterias de lítio.

Solução: Com ações de conscientização sobre os problemas do descarte inadequado de baterias para os jovens.

um problema (H2) e propor uma possívelexplicação, resposta ou solução. O modelo“considerando X a solução é Y”, pode ser usadonos três casos.

Além de propor soluções, é importante queas hipóteses envolvam termos executáveis,manipuláveis e testáveis. A necessidade detestar e validar ideias é o que caracteriza o rigorcientífico (H6).

Testar a hipótese pode envolver o raciocíniodedutivo (H11) e seguir o modelo“Considerando X, se for feito Y, ocorrerá Z”.

Mesmo que um estudante não saiba comosolucionar um problema, estimulá-lo aelaborar hipóteses pode levá-lo a articularseus conhecimentos e raciocinar sobre asituação problema (H1 e H2).

É importante que o professor estabeleça anoção de que todas as respostas e propostasde soluções são válidas, criando um espaçopara participação e contribuições dosestudantes.

Elaborar uma hipótese envolve considerar

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H10. Planejar investigações

Planejar investigações envolve a aplicaçãode conhecimentos sobre estratégias de pesquisana seleção das ações, métodos e instrumentosmais adequados para coletar dados que possamsolucionar uma situação-problema.

Esta habilidade envolve parte do trabalhointelectual realizado antes do início efetivo deuma investigação. A produção de um plano deinvestigação deve considerar os termos dapergunta (H2) e da hipótese (H9) que norteiam apesquisa, e levar a decisões em função da melhormaneira de atender a elas. Quando esseselementos são elaborados com termos testáveis,já indicam um curso de ação a ser seguido.

Planejar uma investigação é um trabalho deraciocínio que pode se estender para toda aduração de uma pesquisa. Antes de iniciar acoleta de dados, o investigador pode considerardiferentes estratégias e suas possíveisconsequências (H11). E, ao longo da pesquisa,atenção constante deve ser dada aos efeitos dosmétodos usados, verificando se eles produzem otipo de resultado esperado. Caso contrário, novosplanos e ajustes nos métodos devem ser feitos,prezando pela qualidade e rigor dos dados.

Orientações

Ideias

Estudantes e professor podem discutir e sugerir estratégias para aprimorar o rigor metodológico das pesquisas.

Na ideia de pesquisa sobre higienização das mãos, como os estudantes pretendem avaliar a eficácia das técnicas?

Com materiais caseiros, gelatina e caldo de carne é possível improvisar placas de meio de cultura, para crescimento microbiano.

Vários estudantes poderiam repetir os mesmo procedimentos, sujar suas mãos e higienizar cada dedo com uma técnica.

Um dedo poderia servir de controle negativo e não ser higienizado.

A mesma placa poderia ser dividida em seções e cada dedo usado para inocular uma seção.

Após alguns dias, os resultados de cada aluno poderiam ser reunidos e analisados.

Algumas observações e questionamentosque podem ser feitos para auxiliar nessaetapa são:1. Qual o objetivo da pesquisa?2. Como se pretende alcançar essesobjetivos?3. Que estratégias serão usadas paragarantir dados confiáveis?4. Que tipos de resultados são esperados?5. Se os resultados esperados não foremencontrados, o que isso significa?

Tanto esta habilidade, quanto a “H9: formularhipótese” e a “H11: Prever resultados” podemser trabalhadas em conjunto, como um únicomomento de reflexão sobre os objetivos, oscurso de ação e os possíveis resultados dasinvestigações.

Apesar de ser possível identificar cadahabilidade separadamente, em atividades decurta duração, há pouco tempo paraplanejamento. Assim, por meio de uma conversa,o professor pode orientar os alunos e detectarcomo eles desenvolvem cada habilidade.

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H11. Prever resultados

Prever resultados envolve reconhecerpadrões e usar ferramentas do raciocíniológico para prever a evolução de fenômenos,resultados de processos ou fazerextrapolações de conclusões.

A compreensão e uso de elementos doraciocínio lógico matemático, indutivo ededutivo, podem ser aproveitados emdiferentes momentos de uma investigação.

Relações dedutivas podem ajudar ainterpretar fenômenos e entender a relaçãoentre seus elementos constituintes. Relaçõesmatemáticas de causa e efeito entre fatorespodem ser usadas durante a formulação deperguntas e hipóteses. Comparação defenômenos e previsão de consequênciaspode ajudar a selecionar métodos deinvestigação. Extrapolação de significadospodem orientar na formulação deconclusões. O raciocínio indutivo podepermitir que descobertas pontuais sejamgeneralizadas e aplicadas em contextosdiversos.

Orientações

Ideias

Usando o modelo dedutivo: “considerando X, se for feito Y, ocorrerá Z”, podemos propor testes para hipóteses.

“O aquecimento do telhado pelo Sol é uma das causas do calor na sala (X), então se cobrirmos o telhado (Y), impediremos que ele seja aquecido e a sala não ficará tão quente (Z).”

“O descarte descuidado de baterias pode contaminar o solo e a água (X), com ações de educação ambiental (Y) os jovens serão conscientizados e mudarão seus hábitos de descarte de baterias (Z).”

“Mesmo com tantos produtos de higiene pessoal (X), se compararmos a praticidade e eficácia deles (Y), água e sabonete serão a melhor alternativa para higienização as mãos (Z).”

Considerar a hipótese como verdadeira, pode-setentar prever o resultado de uma ação. O modelo“considerando X, se for feito Y, ocorrerá Z” ilustraessa relação e permite propor testes práticospara coletar dados e testar hipóteses.

Essa previsão permite estudar se ações sobreo fenômeno Y produzem os resultadosesperados, Z. Quando o resultado não ocorrecomo esperado, a hipótese é refutada e deve serreformulada ou descartada. Se a previsão seconcretizar, a validade da hipótese resiste,indicando que ela é válida no contexto testado.

O raciocínio lógico é usado no modelocientífico tradicional, também chamado dehipotético-dedutivo, onde hipóteses sãoformuladas, testadas e extrapoladas.

O raciocínio dedutivo é útil para elaborarconclusões a partir de informaçõesaparentemente isoladas. O que ocorreregularmente nas ciências, quando aindanão se tem informações suficientes sobredeterminado assunto.

É possível usar o pensamento dedutivopara testar a validade de hipóteses (H9). Ao

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H12. Propor soluções

Propor soluções envolve os processosde revisão dos conhecimentos adquiridos afim de produzir um argumento, conclusão ousolução concreta para uma situação-problema.

Esta é uma das etapas finais de qualquerprocesso investigativo, o momento no qualtodas as informações adquiridas devem serarticuladas para que um sentido geral sejaextraído delas.

Esse sentido pode ser um argumentoque obteve respaldo nos dados concretospesquisados e será defendido compropriedade.

Pode ser uma conclusão que define se ahipótese foi confirmada ou refutada, depoisda análise de uma série de informações.

Ou pode ser uma solução para umasituação-problema, resultado dodesenvolvimento e aplicação de uma ideia,testes e verificação da validade efuncionalidade daquilo.

Orientações

Ideias

Muitos exemplos de jovens que encontraram soluções inovadores para problemas, podem inspirar alunos e professores a tentarem o mesmo.

Pesquisar os registros de prêmios, olimpíadas e feiras científicas pode ser uma atividade interessante para encontrar ideias para novas investigações.

O Prêmio Criativos da Escola, o Prêmio Respostas para o Amanhã e a Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente, são exemplos de prêmios nacionais para pesquisas com impacto social.

A Feira Brasileira de Ciência e Engenharia -FEBRACE- é uma das maiores feiras científicas do Brasil e recebe a cada ano grandes quantidades de trabalhos escolares.

A Google Science Fair e o prêmio Village to Raise a Childsão prêmios que reúnem investigações de jovens do mundo todo.

1. Os jovens trabalham sobre problemas dasua vida e do seu ambiente (H1);2. Uma busca por respostas (H2), umobjetivo a ser alcançado (H9) ou uma ideia aser testada (H12) motivaram a pesquisa;3. Informações foram coletadas em contatodireto com o fenômeno (H6, H7, H8);4. Conceitos científicos foram aplicados àprática (H3) e diferentes conhecimentosforam articulados (H4, H5);5. Os resultados foram formalizados (H12) edivulgados em eventos (H14, H16).

Qualquer pessoa pode se envolver em umainvestigação ou no teste de uma ideia, encontraruma solução para um problema e acabar criandoalgo novo de grande utilidade no cotidiano. Noentanto, nossos jovens não possuem essapercepção.

Nas mídias sociais podem ser encontradosdiversos exemplos de crianças e jovens quefizeram pesquisas simples e encontraramsoluções inovadores para problemas.

Ao conhecer esses casos de sucesso, épossível notar alguns elementos em comumentre eles:

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C4. Comunicação

Comunicação envolve qualquer forma decomunicação, escrita, pictográfica ou oral, e todasas linguagens, como a portuguesa, a estrangeira,a científica, a matemática, a artística e a deprogramação.

A comunicação envolve uso, compreensão ea capacidade de correlacionar linguagens. Ela énotada quando alguém:

Percebe uma forma de comunicação eentende seu significado;

Identifica informações centrais e periféricasde uma informação e consegue reorganizá-las;

Elabora uma comunicação coesa e coerenteusando adequadamente uma linguagem;

Traduz informações entre tipos delinguagens;

Usa e entende gráficos, tabelas, fórmulas,figuras e símbolos como comunicação.;

Produz descrição de fenômeno, relatório deatividades, ata de reunião, cita fontes, organizareferencias bibliográficas, apresenta de dadosquantitativos ou qualitativos, etc.

Orientações

Ao longo de uma investigação, existem múltiplas oportunidades para exercitar diferentes tipos de comunicação.

Ao elaborar uma pergunta, hipótese ou planejar uma investigação, podem ser usados termos quantitativos, matemáticos e estatísticos.

Ao conduzir uma pesquisa, a produção de um diário de bordo ou ata exigem o uso de linguagem coesa, sucinta, descritiva e analítica.

A compilação e apresentação de dados pode ser feita em tabelas, gráficosou quadros.

A conclusão de uma pesquisa envolve a capacidade de articular informações, perceber padrões e extrair significados.

A apresentação de uma ideia pode ser feita por meio de mapas conceituais ou figuras e ser organizada como um pôster de congresso.

da comunicação, deve promover o letramentodos estudantes.

Um indivíduo letrado em uma linguagem écapaz de compreendê-la a ponto de conhecersuas aplicações, limitações e potenciais. Elepode expressar ideias, raciocinar e interpretarfenômenos usando seus termos e traduzirinformações a partir dela e para ela.

O letramento depende de contato, exercícioe aplicação da linguagem em diferentescontextos e múltiplas oportunidades.

Existem diferenças entre saber usar umaforma de comunicação (alfabetização) edominá-la efetivamente (letramento).

Uma pessoa alfabetizada pode saber ler,escrever e falar em uma linguagem, mas podeapresentar dificuldades em interpretarsignificados, expressar ideias e se aproveitarplenamente das potencialidades sociais dacomunicação.

No processo educacional, um educadordeve buscar promover um domínio mais pleno

Ideias

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H13. Dominar a língua formal

Dominar a língua formal envolve ascapacidades de captar, interpretar e articularideias, entendendo e se fazendo entender, namodalidade formal da língua oral e escrita.

Esta habilidade não se relaciona a umalinguagem ou idioma específico, podendo serverificada tanto na linguagem nativa de umapessoa quanto em outras, que venha aaprender.

O domínio desta habilidade relacionadaa um idioma indica que uma pessoa éalfabetizada naquela língua e, portanto, deveser capaz de:

Identificar o sentido geral, os elementoscentrais e os periféricos, em comunicaçõesorais ou escritas;

Aplicar adequadamente a norma formalda língua, ao produzir comunicação;

Interpretar e trabalhar com informações,relacionando, reorganizando, exemplificando,aplicando em outras situações, etc;

Orientações

Ideias

O uso adequado da linguagem pode ser verificado ao longo de diversos momento de uma investigação, mas é em trabalhos escritos que essa habilidade fica mais explicita e pode ser avaliada adequadamente.

Considerando que em muitos trabalhos, parte das informações pode ter sido extraída de outras fontes, o documento mais representativo da capacidade de comunicação real de um estudante é o diário de bordo.

Esse registro constante das atividades, escrito em primeira pessoa e com as palavras dos estudantes, pode fornecer mais do que informações sobre a pesquisa. Pode revelar com detalhes o grau de domínio do autor sobre todas as habilidades de comunicação.

Em conjunto, pode ser feito um trabalhode acompanhamento e intervenção para oaprimoramento das capacidades decomunicação dos estudantes.

Nesse processo o professor de ciênciaspode voltar sua atenção para as capacidadesdos estudantes de entender e executaradequadamente as propostas de trabalho, deselecionar informações adequadas emcoletas de dados ou de comunicaradequadamente suas atividades.

O entendimento e o uso adequado dalinguagem podem ser critérios de avaliaçãoconstante nas produções elaboradas ao longo deuma investigação.

Para aprimorar propostas pedagógicas queenvolvam a produção de materiais decomunicação específicos, professores de ciênciase de linguagens podem colaborar. Característicasde produção textual e de comunicações técnicas(H16) podem ser trabalhadas por meio depropostas interdisciplinares.

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H14. Construir comunicação

Construir comunicação envolve ascapacidades de interpretar e articularcomunicações coesas, coerentes e comprogressão temática adequada.

Construir comunicação se associa à umaapropriação mais plena das consequências epotencialidades sociais da comunicação, oque pode ser entendido como o letramentode um indivíduo. Uma pessoa letrada em umidioma é capaz de:

Compreender e construir comunicaçõescom sentidos mais amplos ou subliminares,como as diversas figuras de linguagem.

Entender as aplicações, limitações epotenciais de uma linguagem, de forma a seaproveitar disso nas interações sociais.

Expressar ideias, raciocinar e interpretarfenômenos usando os termos daquelalinguagem.

Traduzir informações a partir dessalinguagem e de outras para ela.

Orientações

Ideias

Atividades que levam o estudante ao confronto de ideias permitem identificar suas capacidades de construir comunicações.

Promover apresentações de pesquisas levam os estudantes a articularem suas ações em uma comunicação didática.

Quando são questionados quanto aos métodos e conclusões, eles podem precisar recorrer à outras estratégias explicativas.

Promover debates onde dois pontos de vista diferentes devem ser confrontados, pode estimular a argumentação.

Em propostas de avaliação pelos pares com critérios definidos, pode-se chamar atenção para elementos da comunicação nas suas apresentações e nas dos outros, promovendo melhorias.

Considerando o caráter social doletramento, é em momentos de trabalhocoletivo, divisão de tarefas, confronto deopiniões e argumentação, que se podedetectar o grau de desenvolvimento destahabilidade.

Assim, o professor deve dar liberdade paraque esse momentos ocorram e estimular osestudantes a participarem. Enquanto isso, elese mantém próximo, observando e orientandoas pesquisas ao mesmo tempo que avalia osestudantes.

Em atividade investigativas reais, háintensa comunicação entre os envolvidos,para troca de informações, discussão deplanos de ação e compartilhamento de doque foi descoberto e entendido. Há aindamais comunicação nessas atividades, do queem propostas não investigativas.

Esses espaços permitem oacompanhamento e avaliação em conjuntoda “H13: Dominar linguagem formal” e destahabilidade.

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H15. Dominar diferentes linguagens

Dominar diferentes linguagens envolveas capacidades de usar e compreenderdiferentes formas de comunicação nãotextual, como figuras, tabelas, gráficos,símbolos, códigos, fórmulas, mapas,modelos, esquemas, ilustrações, etc.

Todas as características da “H13:Dominar Linguagem Formal” podem seraplicadas a esta habilidade, considerandoessas formas variadas de comunicação.

A importância de utilizar e aplicardiferentes formas de comunicação éreforçada pela tendência das mídias sociaisde reduzir o uso e a extensão de textos. Ouso crescente de formas de comunicaçãoalternativas como imagens, vídeos, memes,infográficos, mapas conceituais e ícones,deve ser considerado como um padrãosocial. E alfabetizar os jovens nessas formasde comunicação podem contribuir para suacapacidade de obter informações ecomunicar suas ideias.

Orientações

Ideias

Atividades variadas podem ser usadas com o intuito de exercitar a interpretação e uso de diferentes linguagens.

Apresentar gráficos da variação de gases e da temperatura média do planeta nos últimos séculos ou da variação de concentração de carbono e alteração de pH na circulação sanguínea, podem fornecer boas situações-problemas para motivar estudos.

Pedir a produção de uma vídeo-aula inovadora sobre o tema “atrito” pode levar os alunos a estudarem o tema e explorarem diferentes maneiras de representar e comunicar os fenômenos envolvidos.

Motivar a coleta de dados na escola e elaborar pirâmides etárias pode levar estudantes a exercitarem diversas formas de registro de dados quantitativos.

Considerando que a escola possui comoatribuição formar para a atuação emsociedade, o uso de formas de comunicaçãomais diversificadas deve ser estimulado.

Mas, tão importante quanto ensinar a ler,ensinar a se expressar por esses termos deveser mais valorizado. Exercícios de produção decomunicação e tradução para as linguagensdas ciências e matemática ainda são raros, oque dificulta o verdadeiro letramento doestudante nessas linguagens.

Em disciplinas escolares diversas formas decomunicação são utilizadas, como mapas,gráficos, modelos, fórmulas químicas, equaçõesmatemáticas e estruturas moleculares.

Enquanto muitos desses elementos sãorecorrentes na sociedade, alguns são restritos acontextos ou carreiras específicas. Enquantoisso, algumas formas de comunicação muitopresentes na vida em sociedade, em especialnos meios de comunicação e redes sociais, nãoencontram muitos espaços para exercício naeducação formal.

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H16. Produzir Comunicação Técnica

Produzir comunicações técnicas serelaciona com a capacidade de compilarinformações usando linguagem técnica, direta,objetiva e sucinta que para relatar umaatividades, descrever um processo, orientar aouso de um produto, apresentar resultados,etc.

Ao produzir uma comunicação técnica, trêspreocupações devem ser constantes: o rigorcientífico, a objetividade e a didática.

O rigor científico cobra que a comunicaçãoseja construída de forma a dar todas asinformações necessárias para que um leitorseja capaz de reproduzir o procedimento eatingir os mesmos resultados.

A objetividade dita que um texto técnicodeve apresentar informações de formasucinta, direta, impessoal, livre de valores eopiniões pessoais do autor.

A didática pede que o autor produza umacomunicação clara, com progressão das ideiase adequada para que um leitor leigo possacompreender o que é comunicado ali.

Orientações

Ideias

Comunicações técnicas podem ser estimuladas ao se definir que os trabalhos escolares deverão seguir o padrão de artigos científicos, com introdução (H1, H2, H3, H9), metodologia (H6, H7, H8, H10), resultados (H4, H5, H15), discussão e conclusões (H4, H5, H6, H12, H14).

Ao ter que fragmentar informações nessas seções um estudante deve refletir sobre quais informações são pertinentes a cada trecho e o texto pode assumir, naturalmente, certa objetividade.

Como cada seção é isolada das demais elas podem se tornar várias pequenas construções didáticas, com início, meio e fim.

O rigor ainda precisaria ser estimulado por outras maneiras, pois não tem tanta relação com a estrutura das informações.

as atividades realizadas em todas as etapas dapesquisa e seus resultados.

A produção desses materiais pode servircomo pré-requisito e subsidiar diversos usospedagógicos, como exposições, apresentações,feiras de ciências, estudos coletivos, debates,propostas de intervenção social, ações deeducação ambiental, etc.

Durante essas atividades todos os aspectose habilidades envolvidas nas investigaçõespodem ser discutidos e reforçados com osestudantes.

A produção de uma comunicação técnicapode ser a etapa final de qualquer atividadeinvestigativa e é uma excelente oportunidadepara formalizar as aprendizagens.

Além de exposições orais, documentoscomo relatórios de atividades, artigos depesquisa, textos de divulgação científica,pôsteres de congresso e materiaiseducacionais podem elaborados

Independente da forma utilizada, essesmateriais devem comunicar de forma sucinta

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rascunho

Otambémfaz comsórealmenteestudante,relacionarconhecimentosimportânciadeconhecimentos