Ensino Medio Livre Edicao 20132014 Unidade 01 Filosofia

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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 1 Filosofia Capítulo 1 — Caracterização da atividade filosófica Conexões 1. Incorreto, pois o que é sugerido pelo texto é que o conhe- cimento da tradição filosófica deve ser posto em diálogo com as questões presentes, ou seja, as considerações filosóficas de um clássico como Platão, por exemplo, são atuais porque nos auxiliam na reflexão sobre os temas da atualidade. Entretanto, torna-se um equívoco fazer uma simples transposição de respostas, uma vez que são diferentes as próprias circunstâncias históricas em que as interrogações são formuladas. 2. A importância é afirmada, no mínimo, pelo fato de que o es- tudo dos clássicos da filosofia contribui para a compreensão de uma série de questões presentes em nossa sociedade. 1. a 2. a 3. O estudo da história da filosofia proporciona a compreensão das circunstâncias em que alguns problemas filosóficos foram apresentados, o tratamento dado às questões por diferentes filósofos e a contextualização dos conceitos filosóficos. Trata-se da possibilidade de diálogo da reflexão filosófica presente com a sua tradição cultural filosófica, enriquecendo-se o exame de temas contemporâneos. 4. A filosofia possui semelhanças com a arte. Tal como muitas obras de arte excedem seu tempo, tornando-se clássicas, os grandes sistemas filosóficos jamais perdem a atualidade. Também há semelhanças entre filosofia e ciência, pois ambas são caracterizadas pela valorização de critérios racionais e rigorosos em seus procedimentos. A atividade filosófi- ca diferencia-se da arte porque esta pode comportar, por exemplo, uma noção de mistério e imaginação, enquanto, na filosofia, essa noção é descartada. Do mesmo modo, há uma significativa diferença entre filosofia e ciência, pois enquanto a ciência se sustenta em evidências práticas e comprováveis, produzindo um conhecimento acumulativo, a filosofia suscita novas possibilidades de respostas. Capítulo 2 — Sobre a origem da filosofia Conexões 1. Não. Em suas origens, as narrativas míticas procuravam explicar a realidade em seu todo. O surgimento do cosmos (Universo), sua ordenação e sua dinâmica eram concebidos nas teogonias (relações de parentesco entre os deuses e suas origens) e nas cosmogonias (origem e ordem do cosmos) do pensamento mitológico. 2. Platão empregava os mitos como recurso complementar, utilizando-os para tratar de aspectos da vida que ainda não haviam sido totalmente esclarecidos pela razão. Nesse sen- tido, o discurso mítico complementa o esforço da razão e acena com o provável. Em outros termos, enquanto a razão se identifica com a verdade, nos casos em que não se atinge tal identificação, os mitos são usados para indicar verossimi- lhanças e probabilidades. 1. c 2. As teogonias narram as origens e as relações entre os deuses, estabelecendo seus laços genealógicos e seus vínculos de amizade ou inimizade. As cosmogonias explicam a origem do mundo a partir das iniciativas e disputas dos deuses, ou seja, trata-se de uma justificativa mítica dos fenômenos do mundo e da ordem nele existente. 3. De acordo com os ocidentalistas, apesar de a matemática inegavelmente ter sido culturalmente transferida dos egíp- cios para os gregos, os egípcios apenas a utilizavam para a solução de problemas concretos, enquanto os gregos generalizam suas regras, elevando-a como conhecimento acima das necessidades cotidianas, ou seja, como elemento abstrato e científico. 4. Sim. Há uma versão intermediária que preserva a importância do mito e da tradição oriental, mas identifica a novidade da atividade filosófica propriamente dita entre os gregos. Assim, a filosofia grega retoma temas da mitologia, tratando-os sob a perspectiva racional, que proporciona a discussão dos mais diversificados assuntos de uma maneira até então inédita, alicerçada unicamente nas regras da razão. Não há mais a aceitação acrítica da tradição, e a razão converte-se no meio exclusivo de se buscar a verdade. Capítulo 3 — As condições socioculturais do surgimento da filosofia Conexões 1. Nas democracias ocidentais da atualidade, há o princípio de representatividade pelo qual os cidadãos escolhem seus representantes no Parlamento e no poder Executivo, sendo estes os responsáveis pelas decisões. Tal representatividade é, como sugere o texto, muitas vezes, acompanhada de um grande distanciamento dos cidadãos em relação às questões públicas. O surgimento das pólis gregas, e consequentemente da política, é, por sua vez, inseparável do debate, do confronto público e da argumentação, ou seja, requer a participação dos cidadãos. 2. É necessário ressaltar que as democracias contemporâneas, assegurando os direitos individuais e a liberdade de expres- são, sempre são mais favoráveis à reflexão racional do que os regimes políticos autoritários. Entretanto, a sujeição das disputas políticas às regras do mercado e a transformação dos eleitores em consumidores, características das atuais demo- cracias, reduzem significativamente os estímulos à atividade racional. 1. O governante divino ou déspota-deus era a mediação entre deuses e homens, natural e sobrenatural. Atribuíam-se aos deuses o controle sobre as forças naturais e as regras sociais, sendo, portanto, o Estado concebido como a garantia da ordem divina no reino, expressão concreta do poder das forças supranaturais. 2. d 3. Na cultura aristocrática, a excelência humana era um privilé- gio dado pela superioridade do nascimento, ou seja, apenas Filosofia — Caderno 1

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filosofia para todos

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    Captulo 1 Caracterizao da atividade filosfica

    Conexes 1. Incorreto, pois o que sugerido pelo texto que o conhe-

    cimento da tradio filosfica deve ser posto em dilogo com as questes presentes, ou seja, as consideraes filosficas de um clssico como Plato, por exemplo, so atuais porque nos auxiliam na reflexo sobre os temas da atualidade. Entretanto, torna-se um equvoco fazer uma simples transposio de respostas, uma vez que so diferentes as prprias circunstncias histricas em que as interrogaes so formuladas.

    2. A importncia afirmada, no mnimo, pelo fato de que o es-tudo dos clssicos da filosofia contribui para a compreenso de uma srie de questes presentes em nossa sociedade.

    1. a 2. a 3. O estudo da histria da filosofia proporciona a compreenso

    das circunstncias em que alguns problemas filosficos foram apresentados, o tratamento dado s questes por diferentes filsofos e a contextualizao dos conceitos filosficos. Trata-se da possibilidade de dilogo da reflexo filosfica presente com a sua tradio cultural filosfica, enriquecendo-se o exame de temas contemporneos.

    4. A filosofia possui semelhanas com a arte. Tal como muitas obras de arte excedem seu tempo, tornando-se clssicas, os grandes sistemas filosficos jamais perdem a atualidade. Tambm h semelhanas entre filosofia e cincia, pois ambas so caracterizadas pela valorizao de critrios racionais e rigorosos em seus procedimentos. A atividade filosfi-ca diferencia-se da arte porque esta pode comportar, por exemplo, uma noo de mistrio e imaginao, enquanto, na filosofia, essa noo descartada. Do mesmo modo, h uma significativa diferena entre filosofia e cincia, pois enquanto a cincia se sustenta em evidncias prticas e comprovveis, produzindo um conhecimento acumulativo, a filosofia suscita novas possibilidades de respostas.

    Captulo 2 Sobre a origem da filosofia

    Conexes 1. No. Em suas origens, as narrativas mticas procuravam

    explicar a realidade em seu todo. O surgimento do cosmos (Universo), sua ordenao e sua dinmica eram concebidos nas teogonias (relaes de parentesco entre os deuses e suas origens) e nas cosmogonias (origem e ordem do cosmos) do pensamento mitolgico.

    2. Plato empregava os mitos como recurso complementar, utilizando-os para tratar de aspectos da vida que ainda no haviam sido totalmente esclarecidos pela razo. Nesse sen-tido, o discurso mtico complementa o esforo da razo e acena com o provvel. Em outros termos, enquanto a razo se identifica com a verdade, nos casos em que no se atinge tal identificao, os mitos so usados para indicar verossimi-lhanas e probabilidades.

    1. c 2. As teogonias narram as origens e as relaes entre os deuses,

    estabelecendo seus laos genealgicos e seus vnculos de amizade ou inimizade. As cosmogonias explicam a origem do mundo a partir das iniciativas e disputas dos deuses, ou seja, trata-se de uma justificativa mtica dos fenmenos do mundo e da ordem nele existente.

    3. De acordo com os ocidentalistas, apesar de a matemtica inegavelmente ter sido culturalmente transferida dos egp-cios para os gregos, os egpcios apenas a utilizavam para a soluo de problemas concretos, enquanto os gregos generalizam suas regras, elevando-a como conhecimento acima das necessidades cotidianas, ou seja, como elemento abstrato e cientfico.

    4. Sim. H uma verso intermediria que preserva a importncia do mito e da tradio oriental, mas identifica a novidade da atividade filosfica propriamente dita entre os gregos. Assim, a filosofia grega retoma temas da mitologia, tratando-os sob a perspectiva racional, que proporciona a discusso dos mais diversificados assuntos de uma maneira at ento indita, alicerada unicamente nas regras da razo. No h mais a aceitao acrtica da tradio, e a razo converte-se no meio exclusivo de se buscar a verdade.

    Captulo 3 As condies socioculturais do surgimento da filosofia

    Conexes 1. Nas democracias ocidentais da atualidade, h o princpio

    de representatividade pelo qual os cidados escolhem seus representantes no Parlamento e no poder Executivo, sendo estes os responsveis pelas decises. Tal representatividade , como sugere o texto, muitas vezes, acompanhada de um grande distanciamento dos cidados em relao s questes pblicas. O surgimento das plis gregas, e consequentemente da poltica, , por sua vez, inseparvel do debate, do confronto pblico e da argumentao, ou seja, requer a participao dos cidados.

    2. necessrio ressaltar que as democracias contemporneas, assegurando os direitos individuais e a liberdade de expres-so, sempre so mais favorveis reflexo racional do que os regimes polticos autoritrios. Entretanto, a sujeio das disputas polticas s regras do mercado e a transformao dos eleitores em consumidores, caractersticas das atuais demo-cracias, reduzem significativamente os estmulos atividade racional.

    1. O governante divino ou dspota-deus era a mediao entre deuses e homens, natural e sobrenatural. Atribuam-se aos deuses o controle sobre as foras naturais e as regras sociais, sendo, portanto, o Estado concebido como a garantia da ordem divina no reino, expresso concreta do poder das foras supranaturais.

    2. d 3. Na cultura aristocrtica, a excelncia humana era um privil-

    gio dado pela superioridade do nascimento, ou seja, apenas

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    os aristocratas, por sua suposta genealogia divina, eram portadores da aret. Com a formao das plis gregas orga-nizadas em torno do corpo de cidados, prevalece a isonomia (a igualdade entre os cidados) e a virtude passa a consistir no prprio civismo, na vida pblica.

    4. Sim. Todos os fatores que contriburam para o desenvolvimen-to do pensamento filosfico, como a utilizao da moeda e as viagens martimas, para citarmos alguns, so compreendidos no surgimento da poltica, palavra aqui entendida em sua origem grega, a saber, correspondendo organizao cvica da plis. Sendo assim, as condies de expanso da atividade filosfica relacionam-se, necessariamente, com a formao de um domnio pblico.

    Captulo 4 As cosmologias gregas

    Conexes 1. A expresso cincia da natureza, do modo como normalmente

    se aplica aos filsofos pr-socrticos e como aqui empregada por Cornford, refere-se investigao racional sobre a physis, ou seja, tentativa de explicao racional sobre a substncia do Universo e sobre o seu surgimento.

    2. Pelo menos duas diferenas podem ser mencionadas. Uma delas refere-se ao fato de que a cincia grega antiga no realizava experimentos controlados sobre a natureza, dis-pensando evidncias empricas e limitando-se especulao racional. Outra que a cincia dos primeiros filsofos no tinha qualquer pretenso de interferir na dinmica da natureza, procurando apenas explic-la.

    1. Incorreto, pois, para o pitagorismo, os nmeros so a prpria physis, quer dizer, a linguagem matemtica no apenas uma forma de descrever o mundo, mas tambm constitui sua essncia.

    2. b 3. a) A mobilidade permanente, a harmonia dos contrrios e a

    equivalncia entre unidade e multiplicidade. b) A filosofia de Herclito enfatiza o devir, o vir a ser in-

    cessante pelo qual nada permanece idntico a si prprio, o que fartamente ilustrado pelo fragmento segundo o qual um homem nunca entra duas vezes no mesmo rio. Esse fluxo eterno dos contrrios, guerra de todas as coisas, , porm, regido por uma harmonia pela qual as coisas encontram significao em seus opostos. H um fogo primordial que se transforma em todas as coisas, ao mesmo tempo que transformado por todas elas. Para Herclito, portanto, a unidade multiplicidade e a multiplicidade unidade.

    4. a) No, pois, de acordo com Herclito, o conhecimento no provm dos sentidos, que, ao contrrio, so fonte de iluses. Os sentidos, por exemplo, podem sugerir a permanncia das coisas idnticas a si prprias, quando, na realidade, elas esto em permanente transformao. Como exemplo, cabe o bastante conhecido fragmento acerca do banho no rio. Muito embora os sentidos nos indiquem que um homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, o logos demonstra que nem o homem nem o rio sero os mesmos.

    b) O logos o fundamento de todo conhecimento. E o prprio Herclito quem o conhece e o enuncia.

    Trechos como Logos, razo e palavra do que sempre e todas as coisas nascem e morrem segundo este logos sustentam a razo como ponto de partida do conhecimento.

    O trecho os homens so inexperientes, mesmo quando eles experimentam palavras ou atos tais quais eu corre-tamente os explico segundo a natureza revela Herclito como o prprio enunciador do logos.

    Captulo 5 A questo ontolgica

    Conexes 1. O poema supe o devir defendido por Herclito e negado por

    Parmnides, que afirma a imutabilidade do ser, por tratar-se de uma narrativa mtica, portanto, baseada na doxa (a opinio), no pode ser expresso pelo logos (a razo) e aceito como verdade.

    2. Alm das diferenas mais gerais entre as narrativas mticas que se apoiam em foras sobrenaturais e as explicaes filosficas que se orientam unicamente pela razo, impor-tante assinalar que Empdocles, Anaxgoras e os atomistas (representados por Demcrito) procuraram reintroduzir a cosmologia na ontologia, admitindo alguns seres originais que, combinando-se de diferentes modos, do origem ao mundo. Trata-se de uma perspectiva muito diferente do mito exposto, que realiza uma descrio criacionista do mundo.

    1. a 2. No mobilismo heraclitiano nada permanece idntico a si

    prprio, ou seja, tudo est em permanente transformao no devir, o vir a ser no qual as coisas se tornam incessantemente os seus opostos. Para Parmnides, o ser , quer dizer, no se admite qualquer transformao ou mesmo uma pluralidade de seres, porque isso significaria dizer que o ser no . Nesse sentido, o devir completamente negado por Parmnides.

    3. Os atomistas Leucipo e Demcrito preservaram a unidade qualitativa do ser parmenidiano, diferentemente de Emp-docles, com seus elementos primordiais (gua, terra, fogo e ar) e Anaxgoras com suas homeomerias. Assim, apesar de quantitativamente plurais, os tomos no possuem diferenas de contedo ou substncia, ou seja, possuem todos a mesma qualidade.

    4. Sim, pois esses filsofos procuram preservar aspectos da onto-logia eletica, afirmando a existncia de seres primordiais que jamais se transformam, partindo das possveis combinaes desses seres para compor explicaes cosmolgicas. Pode-se dizer que tentaram conjugar a noo parmenidiana de ser com o mundo dos fenmenos naturais.

    Captulo 6 O movimento sofista

    Conexes 1. Sim, se considerarmos a psicanlise contempornea, inaugu-

    rada por Sigmund Freud (1890-1939), como uma tentativa de explicao do psiquismo, em seus estados normal e patolgi-co, e como conjunto de procedimentos teraputicos que tm como ponto de partida a verbalizao do paciente em sesses clinicamente orientadas. Afinal, Antfon submetia seus pa-cientes a sesses nas quais deveriam discorrer sobre suas angstias e aflies, sendo a interpretao desses discursos o meio de tornar melhor a vida. Tambm em ambos aparece o esforo de entendimento racional da mente humana.

    2. Em Antfon, a diminuio das aflies, pela interpretao teraputica de suas verbalizaes, resultaria na sade do

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    1. O conceito de virtude para os sofistas equivale ao desenvolvimen-to da capacidade de atuao pblica dos cidados, o que requer o domnio da palavra e a compreenso das regras sociopolticas. Alm disso, concebiam as leis como produto dos costumes humanos, passveis, portanto, de reelaborao pelos prprios homens. Fica, assim, explcita sua rejeio cultura aristocrtica, que concebia a virtude apenas para os melhores por nascimento (os aristocratas) e atribua a origem das leis aos deuses.

    2. Ao dizer que o ser no existe, Grgias separa a razo do ser, assumindo uma postura totalmente antiparmenidiana, ao afirmar que, se o ser existisse, no poderia ser pensado e, mesmo que pudesse ser conhecido, jamais poderia ser dito.

    3. Os sofistas so relativistas, pois consideram que as leis so diferentemente elaboradas pelos povos, conforme seus costumes e suas convices. So, portanto, convenes, no existindo o certo e o errado em sentido universal, quer dizer, com validade para todos os grupos humanos.

    4. Para os sofistas, a aret poltica reside na excelncia do exerccio cvico, com o uso eficiente do principal instrumento poltico entre os atenienses, ou seja, a palavra falada. Por isso, empenhavam-se no ensino de tcnicas discursivas, tais como a oratria, e de comportamentos convenientes vida pblica. A virtude dos cidados significava tambm a capacidade de viver de acordo com as regras coletivamente estabelecidas.

    Captulo 7 Scrates e a filosofia moral

    Conexes 1. Tanto a moralidade ateniense ao tempo de Scrates quanto a

    citada em Admirvel mundo novo so predominantes em suas respectivas sociedades. No caso da moralidade ateniense, a transmisso dos valores e das normas sociais verificava-se atra-vs das geraes pelos meios clssicos de socializao. Alm disso, pela prpria cultura democrtica, era relativamente aberta s crticas o caso de Scrates um exemplo, entretanto, dos limites dessa abertura. J no caso da moralidade vigente na sociedade descrita por Huxley, h uma rgida programao que impe cientificamente a submisso das pessoas, determinando, em sentido profundo, seus modos de vida.

    2. Ambas so absolutamente contrrias. Enquanto a moralidade descrita por Huxley submete implacavelmente as pessoas, determinando seus gostos, comportamentos e sentimentos, a proposta socrtica tem como horizonte a autonomia moral dos homens, ou seja, que cada ser humano consiga alcanar racionalmente princpios morais autnticos.

    1. Scrates no nos deixou nenhum texto. Assim sendo, o que nos transmitido sobre sua atividade filosfica provm de informaes de terceiros, tais como Xenofonte, Plato, Aristfanes e Aristte-les. As informaes desses autores no apenas so diferentes, mas tambm, numerosas vezes, contraditrias. Prevalece, na cultura filosfica ocidental, o Scrates que nos legado por Plato.

    2. As especulaes dos filsofos da physis foram rejeitadas por Scrates basicamente por dois motivos. Um deles porque seus resultados, sem qualquer possibilidade de comprovao, se anulavam reciprocamente, culminando, assim, numa esp-

    cie de dogma (crena) e, portanto, dependeria de uma posio acrtica para a sua aceitao. O outro motivo que as pesquisas sobre a natureza, mesmo que tivessem apresentado respostas convincentes, no tornariam mais felizes os homens.

    3. A ignorncia assumida de Scrates o colocava em condies favorveis para que, mediante o dilogo, indagasse detalha-damente aqueles que reclamavam para si algum saber sobre a legitimidade de seus supostos conhecimentos.

    4. Os bens da alma (como coragem e prudncia), os bens do corpo (como sade e fora) e os bens exteriores (riquezas) so sempre dependentes de uma direo conveniente para que sejam efetivamente bens; caso contrrio, sero nocivos a quem os possui. Apenas a virtude um bem incondicio-nal, e dela depende a conduo adequada dos demais bens. O conhecimento racional do certo e do errado assegura a excelncia da alma humana, que o prprio propsito da vida. Ningum que conhecesse a virtude faria escolhas que seriam prejudiciais a si prprio. Assim, tanto quanto o conhecimento assegura a vida virtuosa, tambm o mal tem sua raiz na ignorncia.

    Captulo 8 O mtodo socrtico

    Conexes 1. Em sentido geral, a afirmao possui atualidade, consideradas

    as diversas diferenas entre as sociedades gregas antigas e as sociedades ocidentais contemporneas. Quando pensamos, por exemplo, nos possveis significados da vida humana e nos propomos questes tais como o que a felicidade? ou qual o sentido da existncia?, estamos retomando a antiga mxima socrtica.

    2. possvel constatar a presena de aspectos do mtodo socrtico na reflexo filosfica contempornea, mesmo em outras reas do conhecimento, tais como a psicologia, a sociologia e a antropolo-gia. Ainda que no se pratique o dilogo nos termos propriamente socrticos, a herana desse filsofo manifesta-se na busca siste-mtica de conhecimentos racionais sobre a humanidade.

    1. Sim, pois, ao estabelecer o dilogo como mtodo de examinar racionalmente uma afirmao, retira dela qualquer autoridade que lhe seja exterior, como, por exemplo, a tradio. Assim, uma afirmao no pode ser aceita por uma conveno social, mas apenas se for racionalmente fundamentada, atingindo, assim, os preconceitos tradicionalmente instalados.

    2. No h contradio, pois a maiutica definida como um parto de ideias. Nesse sentido, Scrates, com suas interro-gaes, considerava-se como algum que contribua para que tal parto fosse feito, sem a pretenso de transmitir contedos aos discpulos.

    3. O mtodo socrtico dialtico, ou seja, tem como eixo o dilogo em que se verifica a validade racional das teses apresentadas em torno de questes propostas. Em sentido mais amplo, seu mtodo pretende restabelecer a identidade entre o logos e o ser. Os sofistas, de maneira diferente, ministravam aulas maneira de longos discursos, apreciando as exibies pblicas de sabe-doria. Alm disso, no acreditavam na existncia de princpios morais absolutos.

    4. O mtodo socrtico tem por finalidade a readequao do logos ao ser, considerando-se que a preocupao central de sua filosofia com a felicidade humana, ou seja, o conhecimento do sentido da vida humana. Assim, pode-se afirmar que o mtodo socrtico se subordina a uma finalidade moral, isto , o conhecimento da virtude.