12.inalcochete I Março 2014

O~GRANDE PLANO

ENTREVISTA A MARIA DO ROSÁRIO PARTIDÁRIO. PROFESSORA NO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

PRESERVAÇÃO DOS SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS

o VERDADEIRO SENTIDODA SUSTENTABILI'DADEECOSSISTEMAS. Maria do Rosário Partidário é ProfessoraAssociada com agregaçãono Departamento de Engenharia Civil, Arquitectura e Georecursos do Instituto SuperiorTécnico, dirige o Centro de Estudos de Gestão (CGIST),que integra o SENSU- Grupode Investigação em Estratégias de Ambiente e Sustentabilidade. Recentemente publicouinternadonalmente numa revista científica uma inovadora metodologia relacionada comos serviços dos ecossistemas aplicada ao Muniápio de Alcochete.

A Prot". Maria do Rosário Partidáriocoordena o estudo sobre os serviçosdos ecossistemas como mais-valia paraa sustentabilidade de comunidades lo-cais, aplicado ao Muniápio de Alcocbe-te. Quais as linhas gerais deste estudo?Os serviços dos ecossistemas são lite-ralmente os benefídos que as pessoastiram dos ecos sistemas e estes são sis-temas ecológicos que têm um funciona,mente complexo. Por exemplo as flores-tas ou as salinas, onde existem plantase animais. que se relacionam entre si.assim como a água. o solo e as pessoasque usam essas plantas e esses animais.Estes ecossistemas situam-se no territó-rio que é palco de uma série de activida-des económicas e objecto de planeamen-to e ordenamento territorial. Estes ser-viços dos ecossistemas são fundamen-tais para que determinadas actividadeshumanas aconteçam, por exemplo. nãohá a agricultura se não houver solo. águae nutríentes. Se nós conseguirmos man-ter um -nívelde sustentabilídade, conse-

guimos compatibilizar a pesca com a agri-cultura, com o turismo, com o recreio,com a conservação da Natureza e atécom a produção de energia. Portanto.quanto mais diversas forem as activida-des que conseguírmos desenvolver aparti! de um determinado ecossistema,mais rico é esse ecossístema, Mas não opodemos danificar porque senão ele jánão faz esses serviços todos. A hipóte-se de investigação que se colocou foi ade se conseguir. ao nívelmunicipal, capi-talizar o trabalho que os munícípíos fa-zem, quer em termos de gestão do ter-ritório. quer em termos de ordenamen-to do território futuro. no sentido deperspectivar o futuro num determinadoterritório. seja para fins lúdícos, de re-creio. de produção ou para outros fins.Se nós conseguirmos que todos partíd-pem nesse processo de reconstrução dehábitos e de utilização mais sustentáveldos recursos. nós conseguimos clara-mente e com custos muito baixos fazermelhorar o estado de saúde. dos. -ecos-

sistemas. Se eles estiverem saudáveis.nós também estamos.

Porquê em Alcocbete?Existem várias razões. uma delas é quedesde que tem a nova ponte. ficou extra-ordinariamente perto de Lisboa, Mas es-sa eu diria que é a razão menor. A razãomaior são as caracteristicas quase úni-cas de Alcochete, que estando numa zo-na metropolitana, com proximidade àcapital. tem tido um crescimento muitogrande nos últimos anos e por isso tor-nou-se um centro de atracção quer parafins resídencíaís, quer para fins de ne-gódo. Mas tem ainda no seu territóriouma diversidade enorme de recursosnaturais e de potenciais actividades eco-nómicas. Alcochete tem um potencialvivo e activo e oferece. a quem queira cáviver e trabalhar. condições de qualida-de ambiental quase únicas no contextoda Área Metropolitana de Lisboa, Temno. seu território uma parte de ReservaNatural do Estuárío-do Tejo; as salinas;

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que aliás têm um potencial enorme doponto de vista patrimonial Quantosmuniópios à volta de Lisboa é que po-dem dizer: venham ver as nossas carac-terístícas urbanas e rurais? Além dosprodutos alimentares existem outrosvectores associados às zonas rurais. queAlcochete também tem, como a sua histó-ria e cultura, além da actividade equinea,pois a criação de cavalos e exploraçãode actividades ligadas aos cavalos e toí-ros. naturalmente, em Alcochete têm ou-tros potenciais.

Aplicada à Avaliação Ambienta! Estra-tégica, criou uma metodologia inova-dora. apoiada em critérios de promo-ção da sustentabilidade ambienta! esalvaguarda dos ecossistemas e dos ser-viços obtidos, uma metodologia publí-cada internacionalmente e que foi apli-cada neste estudo. Quais as linhas oríen-tadoras desta metodologia?A Avaliação Ambiental Estratégica é uminstrumento que tenta ajudar a tomar de-cisões de uma forma que tragam bene-fícíos e não prejuízos. isto dito de umaforma muito simples. Tentámos "casar"a metodologia da Avaliação AmbientalEstratégica com a metodologia desen-volvida com base nos estudos de valora-ção dos serviços dos ecossístemas, quepermitem uma análise. pura e simples.da avaliação dos serviços dos ecossíste-mas. Essa metodologia reconhecia quesão espécies vegetais e animais que cons-tituem os ecossisternas e que estão nabase da biodiversidade que podem serdepois interpretadas em termos dos ser-viços.por exemplo.a purificaçãoda atmos-fera. purificação de água. são serviçosde ecossistemas. que o Ecossistema faznaturalmente. Portanto fez-se um ma-peamento da biodiversidade existente.ou seja; colocou-se num mapa todos os

Informação da Câmara Municipal de Atcochete Março 2014 I inalcochete.13

ecossistemas que estão num território e

~~P;~n~~1:~rs~ ~~~f:j!;~;!'nhece que.és '(;OSsóSãóút~,porque há ti': es, porqu~'háint~';ressados que·Vã~ buscar os bwE1íció~.Se pensarmos. em termos de .um:mapaque se sobrepõe 'a estemapa, vamos terum conjunto, de actores, pessoas ou.empresas, que têm diferentes expectati-vas, num mapa dinâmico. Essa foi a ba-se. O que nós fizemos foi aplicar estametodología nos-processos de e!.<!bor;yc'ção das Avallações Estratégícas ~pianQi~de ordenamento, Uma das v~(agens.a,~:Alcochete é que ainda tem recursos paf.iÍpodermos demonstrar que é um exemi,pio e eu já o apresentei ínternacíonal-mente ein conferências, As pessoas acha-ram tnteressantissímo que ainda existis-se, az 5 km que Lisboa, este tipo depatrimónio e de oferta

Quais as repercussões no universo dainvestigação denrífíca internacional?A Eng", Ríta Gomes tem apresentado ametodología em conferências' interna-cionais e tem tido uma boa receptivida-de, por exemplo numa conferência noArízona, nos Estados Unidos da,Améri-ca, as pessoas manifestaram grande en-.rusíasmo, pois não existe uma metodo-logía para ser utilizada ao'nível munící-pal. Esta metodologia tambêm tem avantagem, de ser aplicada ao caso de Al-cochete que é no fundo urbano, pois estánuma Área Metropolitana, apesar de terurna zona rural, é um semi-urbano. E amaioria dos casos de estudo que exis-tem dos serviços dos ecossistemas sãoem zonas completamente rurais,

Numa parceria do SENSU com a Câ-mara Municipal realizou-se em Abril eMaio do ano passado, no Fórum Cul-tural de Alcochete, um dclo de work-shops para envolver os agentes locaisna identificação dos benefícios que osserviços dos ecossistemas represen-tam para a economia municipal Qual areceptividade dos agentes locais?Da parte dos actores locais é evidenteque há vontade e disponibilidade. Masinfelizmente Portugal não tem uma prá-tica de participação, pelo contrário, tematé urna prática de inércia, de deixar pas-sar as coisas. Em Alcochete quero acre-ditar que os actores locais vão saber apro-veitar as oportunidades,

A conservação dos serviços dós ecos-sistemas são uma oportunidade para asustentabilidade das comunidades lo-cais. Quais as medidas para potenciar osecossistemas identificados no Concelho?Há muitos ecossistemas, mas os princi-pais são: o ecossístema de montado emzona mais terrestre, os arrozais e o res-tante ecossistema agrícola, na zona cos-teira temos as praias e dunas natural-mente, o estuário, as salinas e as mari-nhas. Claro que também há o ecossiste-ma urbano que tem uma dimensão cul-tural importante. A Herdade da Barrocad'Alva é um caso de estudo daquilo queé a utilização de diferentes ecossistemase por isso é que se toma interessante,

assim como a Fundação das Salinas doSamou pois são entidades que fazema geJ-- rika série;'Àif~eWi~os dos>-ecos,~" , ',' '~}.nquantq~ó.:~e.reSPeitaàs dWiás ,olÚ:praia olk'a'ó:e~fu'ãiio, porexemplo, já é quase ~.C;;~~eíft'termosde entidades com diferentes' responsa-bilidadese diferentes Interesses, Umamedídâ-de.potencíacão ~"o:~mo eoutras funções estão relacio~d;i;S com orecreio e o tempo de lazer. As pessoastêm mais tempo de Jazer do que tinhame muítasvezes estão a gastar esse.tempo

r~:!~~ti~~:EE;i~=:ção daszorlasribeirinhas que furam re-cuperadas com a utilização' que aconte-cia há 30 anos, é-muito diferente e vê-sena rua Há um potencial em Alcotheteque faz parte do-tal bem estar,que per-mite que as, pessoas usufruam de umasérie de benefícios que por exemplo emLisboa não têm.

o que nos pode adiantar sobre as no-vas abordagens relacionadas com oconceito de ''Bioeconomia" e a sua rela-ção com o PIBnacional e a estratégia daDE em relação à,Economia dós'.Ecos-sistemas e da Bíodiversidade? .Este é um tema que aínda.estâemgran-de desenvolvimento. A tese' cjUé 'crescen-temente tem sido argumentada por vá-

I "Quando falamos emsustentabilidade significaque um recurso vaicontinuar a poderfornecer os mesmosserviços hoje, amanhá Ie em futuras gerações"

Como'encara os prog:éamâsem CUrso;de articulação com empresas priva-da~.", em !10PWri0s ,como os de

;:;~::::)l~~:::~",_""~rg~~nheeeexperiências·positiVas?/;'·:CoÍiheço várias: Essa aiiàs'~uhiã: sol~i,çãoóptima e para mim é.uma das for-mas de conseguirmos preservar todaestabíodíversídade. Este ê.um dos.desa-fiolijUe lançãmói;àÁl.coch~t~;tent;Jtmo-tívaros privados aínvestír exactamentenestes bens. Um dos problemas de~algu-mas empresas deste pais- é que inves-tem para recolher amanhã, no ano se~gúínte, portanto têm uma taxá de retor-

, nomuítocurta, porquequerémfazer,rios grupos; asoN2;s ambientais, eagoc' Iucrorépído.E claro que isto nãóésus-raeconoinist~séã-d~que'o PIBnão 'ser, tentâvel.E'ê eVidente que a crise 'qiÍe te-ve para representar o desenvolvimento. mos é resultado disso. Mas-há empresasEste é um problema que vai levar gera- privadas cuja actividade decorre' dosções a mudar. O nn de fado não .mede 'serviços dos ecossístemas e essas em-o progresso de economia, o PIB mede presas reconhecem em primeira mão auma criação'de riqueza num determína- i :importãncta dos serviços dos ecossíste-do contexto para a qual' todos cOIitri","-;mas, porque seIlão os tiverem tambémbuem é só, alguns beneficiam. Istote,m:;' .uão têm a sua actividade: Por .exemplcque mudar e faz parte do tal discur;Qc,:"' 'empresas agrícolas que insist~ emda sustentabilidade. A sustentabílídade-j.f continuar com a Sua actividade' apesarnão é um adjectivo, é um substantivo" "'cio mercado, por vezes, não ser favorá-Ouandc falamos em sustentabilidade vel ou existirem désastresc!imáticos, ousignifica que um recurso vai continuar a pessoas que optam pelo turismo rural epoder fornecer os mesmos serviços ho- pela produção agrícola.je, amanhã e em futuras gerações - issoé sustentável. A questão da bioeconomiaestá muito no seu ínícío. Primeiro por-que não temos métricas, quer dizer for-ma de medir, de quanto vale uma praia,uma duna ou uma paisagem Há locaisonde se mede, basta ver quanto é quetem de se pagar por um apartamentoque tem uma vista para o mar, ou umacasa no meio de Uma Rede Natura ounuma zona costeira onde ninguêm maispode construir, Essa é a métrica que te-mos hoje, mas será que esta forma demedir é a correcta? Será que engloba osdiferentes valores? Não, só está a dar a

ECOSSISTEMASPRESENTES ",É~ ALCOCHE:tE

Agrícola: hortas urbanas, arrozaissistemas de cultivo

'''FI6Jés:tal: montadoZonas húmidas: sapais, marinhase salinasZonás Costeiras: Praias,Dunase Estuário

Herdade' da Barrocad'Alv3'''''"c;e Fundação das Salinas~o"$amouco,por agregarem diversosecosSistemase serviços.

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medida da paisagem, mas não está a dara medida dos outros serviços dos ecos-sistemas.

Finalmente, quais os mecanismos com-pensatórios, induindo financeiros, queconsidera fundamentais para reforçaras atribuições e competências dos mu-nícípíosneste serviço público de ele-vado valor acrescentado e'de valoriza-ção do património natural existente nonosso território?Trabalhei numa proposta para subme-ter a um programa europeu que tem quever exactamente com a criação de estru-turas inovadoras de governança paraconseguirmos compatibilizar a melhoríada biodiversidade dos serviços dos ecos-sistemas de paisagem multífuncíonal eda produção alimentar. Existem meca-nismos financeiros, por exemplo, dirigi-dos à protecção do sobreiro ou da oli-veira e também para determinadasàreas agrícolas que sejam produtivas erelativamente pequenas, até 1000 hec-tares de àrea. A Europa está claramentea apostar na agricultura. Já não é solu-ção importar produtos alimentares,embora alguns continuem a ser impor-tados, mas não é sustentável. E portan-to nós temos de facto de começar a pro-duzir mais bens alimentares. Ouem temsolo produtivo está a ganhar e portantonão o destruam, porque é a melhor re-serva que podem ter. Hoje quem tem re-curso de produção alimentar está a ga-nhar. Neste momento já há exemplossuficientes neste pais de casos muitobem sucedidos de produção agrícola. EAlcochete tem uma ponte de ligaçãomui-to rápida ao aeroporto actual, tem umacapacidade para escoamento de produ-tos agrícolas, ao nível da Europa, que sópode e deve aproveitar.