ENSINAMENTOS DO EVANGELHO DE JOÃO - … · 9 introdução Em primeiro lugar, a doutrina estabelece...

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ENSINAMENTOS DO EVANGELHO DE JOÃO

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paixãO pelOs perdidOs

Os familiarizados com A. W. Tozer geralmente o conside-ram profeta. Ele foi, durante muitos anos, e ainda é, por meio de seus escritos, uma voz profética para a Igreja de Jesus Cristo. Entretanto, em E Ele habitou entre nós, entramos em contato com um Tozer ligeiramente diferente, o qual ministra não como profeta, mas como um pastor que tem paixão por alcançar os perdidos.

Durante mais de um ano, o Dr. Tozer pregou semanalmente sobre o evangelho de João, um dos seus livros favoritos da Bíblia. Embora nunca tenha organizado a série inteira de sermões, esse evangelho ocupava a sua mente e alma, semana após semana. Por dias, uma frase ou mesmo uma palavra capturava seu coração, e ele edificava a congregação às alturas da pregação ungida pelo Espírito. O evangelho de João tomava conta de sua imaginação, e ele não podia afastar-se dele.

Mais pessoas aceitaram uma vida nova em Cristo durante esta série de sermões do que em qualquer outra que Tozer tenha pregado em Chicago. Sempre, não importando por onde começasse, ele era o pastor em busca de ovelhas perdidas. Frequentemente, depois do término de um sermão, a congrega-ção sentava-se em silêncio, por causa da intensidade da verdade que ele expunha. Depois de um sermão assim, um membro da congregação confidenciou: “Ele superou Davi”, querendo dizer,

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naturalmente, que Tozer, assim como Davi, tinha um jeito de apresentar a verdade com uma moldura musical, a qual prepara-va o coração para cantar.

Esse esforço intimidava até o próprio Tozer. Na verdade, a série tinha uma conotação espiritual tão elevada, que expandiu sua capacidade de pregar. “Vai ser um prazer comentar o evangelho de João”, contou ele à congregação, “mas agora veio sobre mim um senso tão espantoso de inadequação, que não sou capaz de chamar isso de prazer. A impossibilidade de um homem, como eu, dizer algo que valha a pena sobre os escritos de alguém como João paralisou-me depois de todos esses anos. Porém, talvez seja essa a maneira de Deus reduzir a carne ao mínimo e dar ao Espírito Santo a melhor oportunidade possível de realizar Sua obra eterna”.

Muitas congregações não teriam paciência de se ater a uma série assim por mais de um ano, mas, nesses sermões, vemos o melhor de Tozer. Há um caráter no apóstolo João que realmente ressoou no coração do autor e, nessa série de ensinamentos, nós o vemos refletir esse caráter. Embora não tivesse problema para desafiar a fé dos cristãos ou apontar as heresias que infestavam a Igreja verdadeira, ele não apenas defende a doutrina sólida, mas se mostra à altura da conclusão elevada e grandiosa da doutrina.

Para Tozer, qualquer doutrina que não se mostras-se à altura da identificação com o Senhor Jesus Cristo era um mal-entendido ou não estava enraizada adequadamen-te na Bíblia. Ele acreditava que havia dois lados na doutrina.

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Em primeiro lugar, a doutrina estabelece a verdade, ajuda-nos a reconhecer as heresias que se desenvolvem dentro da Igreja e a saber lidar com elas. Em segundo, a doutrina é um caminho para o conhecimento íntimo de Deus. Tudo deve apontar para Ele, que habitou entre nós. Com base no fundamento da sã doutrina, o apóstolo João penetra na atmosfera elevada da adoração, e Tozer segue de perto essa direção.

O ladO místicO de JOãO

Tozer acreditava que João representava o melhor dos pensadores “místicos”1. Naturalmente, descrever o apóstolo dessa maneira introduz um termo que é bastante incompreen-dido por muitos hoje. Tozer tinha ciência disso, mas ele jamais aceitaria mudar seu pensamento só porque alguém deturpava o que ele dizia. Ele não tinha medo de identificar-se com o grande exército de místicos cristãos, retrocedendo até o apósto-lo João. Tozer conhecia todos.

Embora Tozer admirasse muito a teologia do apóstolo Paulo, tinha grande afinidade pela tendência mística de João. “Na mente de João”, ele dizia, “Deus encontrou uma harpia que desejava sentar-se na janela e apanhar um vento. Ele descobriu que João tinha o sentido como o de um pássaro, querendo alçar voo o tempo todo. Deus permitiu que, partindo da mesma premissa que o teólogo Paulo, João subisse, alçasse voo e cantasse”.

Para Tozer, João era como a cotovia no nascer do dia, que se agita para remover das asas o orvalho da noite e levanta voo até o portão do céu com seu cântico. Não é que João tenha sido mais

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elevado do que Paulo. É que ele cantou com um pouco mais de doçura. Paulo, o teólogo, apresentou o fundamento. Uma vez posto o fundamento, João subiu no parapeito, sacudiu as asas e decolou.

É por isso, talvez, que Tozer achava tão difícil pregar sobre o evangelho de João. Sem um fundamento doutrinário claro, sólido, era muito fácil derivar para alguma tangente emocional. Tozer foi um místico com pés em terreno doutrinário sólido. Sem esse fundamento, ele, que não queria cair em armadilhas, teria sido suscetível a conclusões tolas e errôneas.

Com a ênfase doutrinária do apóstolo Paulo, as pessoas podiam tornar-se muito legalistas e espiritualmente frias. Com a ênfase mística do apóstolo João, as pessoas podiam tornar--se tão mentalmente ligadas no Céu que não seriam boas na Terra. A combinação das duas proveu a espécie de experiência espiritual saudável para o amadurecimento dos cristãos. Tozer foi cuidadoso ao equilibrar ambas.

maldiçãO da “chatice espiritual”Uma grande preocupação de Tozer, abordada neste livro, foi

na área do que ele chamava de “chatice espiritual”. Simplifi-cando, isso ocorre quando os cristãos se tornam viciados com a atividade do mundo ao seu redor, a ponto de excluírem as disciplinas espirituais auxiliares. Tozer preocupava-se com o fato de muitos cristãos interessarem-se mais pelo mundo ao redor do que pela Palavra eterna no seu interior.

De acordo com o autor, a chatice espiritual é consequência da imaturidade. Os imaturos aborrecem-se frequentemente com

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qualquer questão rotineira. Querem levar a vida com agitação, ação e atividade, ao passo que a vida cristã deve ser nutrida por disciplinas diárias. Ademais, naturalmente, existe o perigo de algumas pessoas fazerem a mesma coisa repetidas vezes e encontrarem-se em uma espécie de rotina espiritual. Manter o equilíbrio na vida cristã é o grande segredo da maturidade.

Tozer acreditava que essa chatice acarretava consequências para a igreja evangélica americana. “Em grande medida, a familiaridade tem trazido chatice na igreja evangélica, especialmente na América”, afirmou uma vez. “Temos ouvido a mesma coisa repetidamente até nos cansarmos. Não censuro aqueles que repetem, porque é necessário que continuemos a dizer as mesmas coisas. Eu reclamo é do fato de não termos consciência da presença dAquele que pode tornar uma palavra familiar em algo brilhantemente novo. Estamos morrendo gradualmente nos círculos evangélicos, porque estamos descansando na verdade da Palavra e nos esquecendo de que existe, afinal de contas, o Espírito da Palavra, sem o qual a verdade da Escritura nada significa para o espírito humano”.

Como sempre, o renomado autor ofereceu uma solução para contrabalançar essa chatice espiritual. Em uma ocasião, ele ofereceu este conselho espiritual a um jovem que estava começando no ministério: “Sonde a sua alma, faça algo por você mesmo, comece de novo, tire um dia de folga, ponha--se diante de Deus, ore, receba algo novo, de modo que você não se esgote nem se torne mais um pregador no ritmo antigo, que fala de coisas santas como se fossem jargão profissional, do

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Nome de Jesus Cristo sem qualquer mudança na voz, do Céu

sem nenhum entusiasmo e de Deus sem nenhuma referência”.

À medida que você ler este livro e explorar o evangelho de

João, permita que as palavras de Tozer cultivem o lado místico

da sua experiência cristã e cure qualquer tendência que você

tenha para a chatice espiritual.

James Snyder

1 Nota do Editor: designação relacionada aos cristãos muito preocupados com a santificação e a devoção pessoal, a ponto de buscarem intensamente uma vida de oração e meditação nas Escrituras, ainda que isso lhes custasse certo isolamento da vida comum.

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