Ensaios sobre Criatividade Vol. II

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Aprendemos e sentimos que toda e qualquer ação que tenha como base a opinião irracional, não importa se projetada pelo ser humano em sua individualidade ou coletividade, que leve a humanidade à cópia em vez da criatividade, à artificialidade em vez da naturalidade, bem como à superficialidade em vez da profundidade, tem distanciado, cada vez mais, o ser humano de sua Fonte Criativa.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

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Maribel Oliveira Barreto

Ensaios sobre CriatividadeEnsaios sobre CriatividadeEnsaios sobre CriatividadeEnsaios sobre CriatividadeEnsaios sobre Criatividade

Volume 2

Salvador, Bahia

2008

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

BARRETO, Maribel Oliveira.C83B273

Ensaios sobre criatividade / Maribel Oliveira Barreto. – vol. 2, Salvador:Sathyarte, 2008.140p. : il.; 15cm x 21cm.

ISBN: 85-99225-04-1

1. Criatividade - Educação. 2. Ensino superior. 3. Formação Continuada.4. Educadores - Criatividade. I. Barreto, Maribel. II. Título.

CDD: 153.5

Ficha catalográfica elaborada por Eloina Batista Oliveira Santos CRB5/1392

1ª Edição - Salvador/Bahia, 2008.Direitos desta edição reservados à autora,

que permite e estimula a reprodução de parte do livro,desde que seja citada a fonte.

Projeto gráfico e editoração:Sathyarte - Arte e Mídia Ltda.e-mail: [email protected]

Capa:Ana Paula Amorim

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

A criatividade reflete do Criador.

(Jair Tércio, 2008)

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus por nos permitir perceber quanto o Universo conspira

a nosso favor, em função do que ele aspira como Criador.

Agradeço a Natureza por partilhar sua sabedoria com todos nós.

Agradeço aos Seres Humanos que de maneira voluntária, consciente e

ciente têm estado sempre por perto favorecendo-me buscar seguir os

passos do Criador.

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PREFÁCIO

Este livro constitui, como seu próprio nome indica, um ensaio sobre o

tema da criatividade. Nele a autora expressa com veemência suas posições e

reflexões pessoais sobre esse importante processo e especialmente sobre seu

lugar na Educação.

Fui gratamente surpreendida pelo conjunto de idéias, algumas inclusive

contraditórias, que se articulam, se combinam e se repetem ao longo do texto

mostrando as convicções da autora sobre o tema assim como sua especial

sensibilidade pelo desenvolvimento humano. Não estamos perante um livro de

corte científico, estamos especialmente perante um chamado a colocar a

criatividade no centro das nossas reflexões e das nossas ações, em realidade, no

centro da vida. E isso tem uma importância particular pelo que significa para o

desenvolvimento e para o bem estar humanos.

A autora, na articulação das suas idéias, se apóia em diferentes autores

(Goswami, Jung, Mitjáns Martínez, Morais, Ostrower, entre outros) que tem

em comum uma concepção ampla da criatividade, concepção que se vai abrindo

espaço , não sem percalços , na produção científica sobre o tema. A universalidade

da criatividade, seu caráter abrangente, multifacetado e onipresente é uma das

idéias que, com força, aparece reforçada nos diferentes capítulos que integram a

obra merecendo a atenção do leitor.

A criatividade e concebida pela autora como uma Lei natural , idéia que

aponta, essencialmente, a sua presencia em todas as facetas do real assim como

nas mais diversas expressões humanas . Assim a autora se centra em um dos

diversos pólos de analise: a universalidade do processo. O outro pólo do

continum - a forma singular em que aparece e inclusive, sua ausência em muitas

condições, fica aberta para a reflexão do leitor.

Outra idéia central do livro é a significação que a autora lhe confere à

criatividade no processo educativo. Sabe-se que o lugar da criatividade na educação

tem sido tema de inumeráveis debates assim como de muitas produções, tanto

científicas quanto artísticas. Em relação a isto a autora, com garra, defende o que

denomina uma educação criativista que implique uma nova relação educador-

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educando e muito especialmente, um novo significado para a educação que

rompa “com velhas formas der ensinar , desvelando um novo fazer pedagógico

“ . Neste sentido a autora compartilha a idéia, já exposta por diversos autores, de

uma educação centrada no individuo como um todo , com foco no seu

desenvolvimento , porém ela a trata com um nuance especial: a formação do

individuo no para repetir , para copiar, mas para , buscar , para achar , para criar

. Assim o foco da educação criativista seria o desenvolvimento no educando de

uma atitude criativa em todas as esferas de sua vida, cultivando-se a espiritualidade,

e o autoconhecimento. O conhecimento, centro da educação até hoje não ocuparia

o lugar central, mesmo que importante , cederia espaço para o autoconhecimento

e para o desenvolvimento.

O texto também chama os educadores a novas formas de

autoconhecimento e ação para poder desenvolver uma educação de novo tipo.

A autora advoga pela intencionalidade de uma ação educativa centrada no

desenvolvimento da criatividade, que não se vislumbra possível sem a criatividade

do próprio educador e de suas possibilidades de estabelecer um novo diálogo

com seus educandos: o dialogo criativo.

As reflexões da autora sobre o que considera a educação criativista reforça

, desde meu ponto de vista, um conjunto de idéias importantes tratadas também

por outros autores, com importantes implicações , não apenas para repensar o

trabalho pedagógico, porém também para repensar o processo de formação

de educadores.

A obra contem muitas idéias que poder ser polêmicas, incluso pode não

se concordar com elas , porém como ensaio reflexivo feito com propriedade e

paixão cumpre de forma significativa sua função : fazer refletir , fazer meditar

, fazer sentir e o que é mais importante , fazer criar . Criar formas alternativas de

considerar as idéias que a própria autora apresenta, criar ideais próprias sobre o

tema, criar outras formas de atuar no cotidiano .... .Sendo um livro que constitui

um canto à criatividade não poderia ser de outra forma.

Albertina Mitjáns Martínez

Universidade de Brasilia

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO: O NOVO SEMPRE VEM 13

CAPÍTULO 1CRIATIVIDADE COMO UMA LEI NATURAL 23

CAPÍTULO 2 EDUCAR PARA A CRIATIVIDADE: 41UMA PERSPECTIVA CRIATIVISTA

CAPÍTULO 3ARTE, CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE COMO PILARES 61DA EDUCAÇÃO CRIATIVISTA

NÚCLEOS DE PESQUISA EM PROL DE UMA EDUCAÇÃO CRIATIVISTA 75

EPÍLOGO: UM NOVO CAMINHAR 79

REFERÊNCIAS 83

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INTRODUÇÃO:

O NOVO SEMPRE VEM

“Criatividade exige a coragem de abandonar as certezas. As condições para a criatividadesão de se surpreender; se concentrar; aceitar conflito e tensão, renascer a cada dia; ter consciência

de sua individualidade.”Erich Fromm

“A criatividade que não se manifesta, que não se expressa de uma ou outra forma,é como uma palavra sem significado, como um caminho sem destino, como um relógio parado.”

Saturnino De La Torre

“Toda forma de criatividade resulta do esforço, mas desmedido.”Jair Tércio

Aprendemos e sentimos que toda e qualquer ação que tenha como

base a opinião irracional, não importa se projetada pelo ser humano em

sua individualidade ou coletividade, que leve a humanidade à cópia em

vez da criatividade, à artificialidade em vez da naturalidade, bem como à

superficialidade em vez da profundidade, tem distanciado, cada vez mais,

o ser humano de sua Fonte Criativa.

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Considerando que energia e matéria relacionam-se no Universo, o

ser humano deve, por meio da matéria, buscar indagar sua origem causal,

ainda que transcendental, enfim, a Criação Natural, tendo em vista a

dimensão criativa que se manifesta em si como uma Lei Natural e exige

sua expressão individual e social.

Compactuamos com a concepção de Mitjáns Martínez (2007, p. 53),

quando afirma: “[...] a importância da criatividade e de seu desenvolvimento

não repousa apenas no que ela significa socialmente, mas também pelo

que significa para o bem estar pessoal e para o desenvolvimento dos

indivíduos, dos grupos e das organizações.”

Não é por outro motivo que nos lançamos ao desafio de aprofundar

os estudos na área da criatividade, evidenciando sua importância para a

educação, procurando refletir sobre a possibilidade de uma nova visão de

mundo, de humanidade, de ser humano e de atos criativos mais conscientes

e significativos, em função de nossa percepção da potencialidade criativa

que reside em cada um de nós.

Parafraseando Goswami (2007), afirmamos que a criatividade é a

gestação de algo novo em um contexto inteiramente novo, em que o

caráter de novo do contexto é o elemento fundamental. Deste modo,

para conseguir permanecer no itinerário de nossas pretensões, é factual a

manifestação da criatividade que nos favorecerá um impulso a novas

realizações, sejam estas externas ou internas.

Partimos do pressuposto de que a criatividade é uma lei e, como tal,

indica e orienta que todo ser humano é criativo, sendo este um princípio

universal. Nesta perspectiva, entendemos que a criatividade é ação da

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criação universal que se expressa no ser humano como uma qualidade

inata.

Ostrower (2001, p. 27) destaca:

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do sersensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nosmúltiplos caminhos em que o homem procura captar econfigurar as realidades da vida. Os caminhos podemcristalizar-se e as vivências podem integrar-se em formas decomunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividadecomo potência se refaz sempre. A produtividade do homem,em vez de esgotar-se, liberando, se amplia.

Neste sentido, faz-se necessário um impulso, uma vez que os potenciais

estão disponíveis em qualquer ser humano, em razão da universalidade da

criatividade (GOSWAMI, 2008), para que este possa criar sua realidade

de forma cada vez mais rica, bela e significativa.

Ao observarmos os eventos da natureza – as estrelas no firmamento,

a ocachoeira, as ondas do mar, o farfalhar das folhas das árvores

provocado pelo vento, o nascer e o pôr do sol, a areia da praia, e tantas

outras manifestações, como expressões da criatividade –, é possível

conceber que não há obra inteligente sem criador inteligente ou criador

inteligente sem obra inteligente. Dito isto, só nos resta imitar a onda da

criação e nos lançar o desafio de ser co-criadores, manifestando obras, no

mínimo instigantes, interessantes e inteligentes, motivados pelo exemplo

da Criação.

Goswami (2008, p. 95) considera que nossos atos criativos originam-

se de um domínio transcendente, no qual mergulhamos para encontrar o

tesouro; ao encontrarmos as pedras preciosas, “[...] repicam os sinos, a

alegria ecoa e nasce um ato criativo”. Nesta configuração, faz-se necessário

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mover-se para níveis nunca atingidos antes. Importa, por conseguinte,

compreender que é preciso usar o sentimento, haja vista que a criatividade

não vem da mente, pois a mente não tem habilidades criativas, seja ela

qual for, por ser limitante e não compreender algo tão simples quanto o

amor verdadeiro. Assim, a criatividade é inversamente proporcional à

racionalização.

Consoante essa afirmação, percebemos a necessidade de aprofundar

nossos estudos sobre arte, ciência e espiritualidade, porque estes são

caminhos que permitem despertar as energias reais e a consciência, bem

como a expansão para uma Nova Energia. Com efeito, quanto mais

caminhamos rumo a nossa interioridade, mais nos deparamos com aquela

dimensão de nós em que só há criatividade; ou seja, o contato direto com

a profundidade, com a unidade, enfim, com a divindade.

Partindo dessas considerações, nosso sentimento dita e a razão não

pode negar que é necessário mergulhar em searas pouco frequentadas,

sairmos da periferia, aprofundarmos o pensamento sobre todas as coisas,

buscando uma unidade de ação entre o sentir e o pensar para uma ação

que se origine na fonte. Isto exige de nós concentração e consciência

insuspeitáveis, em função de uma concepção ampla de vida e de uma

ação que sai de si mesma, integra-se ao todo e faz do humano um ser

divino, co-criador da realidade, usando das forças criadoras da paixão,

alegria e simplicidade que são expressões da alma.

Frente a isso, devemos abrir espaço para que a energia se expresse

com base no desejo da alma que envolve: conhecer-se, expressar-se, retornar

para si mesma e mover-se para níveis nunca atingidos antes. Com efeito,

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são essas possibilidades que indicarão o caminho para atos cada vez mais

criativos.

Goswami (2008, p. 24) alerta que as pessoas “[...] usam uma lente

muito estreita para ver o esplendor da criatividade. É preciso olhar por

uma abertura maior por uma nova visão de mundo [...]”. Frente a isso,

pretendemos, nesta obra, dialogar com algumas questões colocadas pela

física quântica, levando em consideração a criatividade como uma Lei que

se manifesta em todo ser humano, embora em alguns seres humanos

torne-se mais evidente sua manifestação, pelo fato de ousarem com

criatividade, demonstrando sua sabedoria.

Considerando que o novo só se faz com um novo olhar, a pretensão

deste livro é também lançar o olhar para a necessidade de uma práxis que

permita a descontinuidade do que vem sendo realizado até então, pelo

fato de que, salvo raras exceções, não tem conseguido produzir seres

humanos íntegros, integrados, enfim, inteligentes, criativos e interessados

o bastante. Nesse sentido, entendemos que urge a necessidade de abrir

espaço para a consciência de uma nova possibilidade de relação educando/

educador/orientador/pesquisador amorosa, pautada no inovador,

instigante e interessante, que rompa com velhas formas de ensinar e desvele

um novo fazer pedagógico.

Para a consecução deste objetivo, entendemos que a criatividade precisa

ser analisada com uma nova visão e, neste sentido, apresentamos uma

proposta de educar para a criatividade, apoiada em uma perspectiva

Criativista, que poderá nortear-nos quanto ao despertar, construir e/ou

desenvolver nossa capacidade, habilidade e sensibilidade de afeiçoar, de

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admirar, de intuir, de criar, bem como de buscar e achar o devido, de

forma paciente, persistente e inteligente.

Assim, a finalidade do Criativismo na educação é lembrar ao ser

humano que ele não foi projetado para repetir o que foi criado ou copiar

o existente, e sim para buscar sempre criar, e criar com base no novo, ou

melhor, na sabedoria Divina. Destarte, o educador criativista deve dedicar-

se ao indivíduo em sua totalidade, implantando, mantendo e usando o

que despertou, construiu ou desenvolveu de harmonia entre pensamento

e sentimento, emoção e inteligência, bem como entre a razão e a intuição,

em prol da manifestação criativa.

Tal forma de educar, por sua vez, leva em conta a integração do

sentir, pensar e agir, concomitantemente. Afinal, as criações fragmentadas

originaram-se em um sentir, pensar e agir de forma fragmentada,

desarticulada do Princípio Criador e sem uma clareza de propósitos. Cabe

evidenciar que os processos criativos exigem atenção, respeito e utilização

dos mínimos detalhes da realidade e, como tal, necessitam ser

compreendidos em sua essência, haja vista ser a criatividade a verdadeira

essência do viver.

Eis um dos grandes desafios do ser humano: pôr-se a caminhar;

continuar a querer, mesmo depois de conseguir o que quer; encontrar o

que há de melhor em si. Isso me faz lembrar do relato de uma amiga que,

ao presenciar o movimento de um pássaro, deu um salto descontínuo na

consciência, questionando-se sobre os padrões em si e pondo-se a caminhar

de forma mais criativa:

Era um início de tarde. A data denotava ter um quê de especial. Saindo da sala de

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trabalho, me detive por um momento observando a natureza fora das dependências da

instituição. Junto ao verde da flora estavam dois pássaros a brincar e festejar a vida e, de

repente, um deles fez um movimento que chamou minha atenção: ele voou para cima e já

ao alto largou o seu corpo entregue ao sabor da leve brisa que soprava e foi caindo

paulatinamente como numa morte-vida-entrega. Quando estava próximo da copa das

árvores o pequeno passarinho despertou do transe e voltou a voar-bailar em pleno ar,

como que festejando o seu feito. Esta demonstração de liberdade-entrega criativa calou

fundo em mim. A partir daquele momento senti falta da minha liberdade de bailar e

festejar a vida numa entrega plena e busquei ter uma nova postura diante da vida.

Naquele momento, foi como se ela encontrasse o que há de melhor

em si, que se traduzia por sua liberdade plena. O educador deve buscar

instigar os educandos a encontrarem o que há de melhor em si, ensinando-

lhes a pensar por si sós, sendo capazes de serem criadores ativos e não

reprodutores do conhecimento. Para a concretização disso, ele deve buscar

ser um exemplo vivo, educando por meio de sua ação criativa.

Defendemos ainda nesta obra que a educação deve se amparar na

arte, ciência e espiritualidade, sendo estes os pilares da Educação Criativista.

Em vista disso, trazemos um excerto de Barbosa (2002, p. 17-18), que diz:

[...] a arte transmite significados que não podem sertransmitidos por intermédio de nenhum outro tipo delinguagem, tais como a discursiva e a científica. Dentre asartes, as visuais, tendo a imagem como matéria-prima, tornapossível a visualização de quem somos, onde estamos e comosentimos.

Portanto, a arte, assim como a ciência e a espiritualidade, é caminho

para a admiração, concepção e celebração do Real.

No que se refere à ciência, Prigogine (1996, p.15), lembra-nos que

[...] assistimos ao surgimento de uma ciência que não mais selimita a situações simplificadas, idealizadas, mas nos põe dianteda complexidade do mundo real, uma ciência que permite

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que se viva a criatividade humana como a expressão singularde um traço fundamental comum a todos os níveis da natureza.

Portanto a ciência, assim como a arte e a espiritualidade, existe para

expressar o invisível de forma visível, experimentável e sistematizável.

No que tange à espiritualidade, Boff (2003, p. 102) caracteriza-a como

“[...] aquela atitude pela qual o ser humano se sente ligado ao todo, percebe

o fio condutor que liga e re-liga todas as coisas para formarem um cosmos

[...]”. Deste modo, é pela espiritualidade, assim como pela arte e pela

ciência, que o ser humano pode experimentar a natureza imensurável de

toda a aparência.

Nesta perspectiva, a arte, a ciência e a espiritualidade filtram o que há

de melhor em nós, porquanto nos fornecem intimidade, interioridade e

profundidade; e quem assim vive abunda em amor, a ponto de transbordar-

se de forma idêntica. Esses são caminhos que permitem despertar a

criatividade e a consciência do educando, pois permitem a expansão para

uma nova energia que não a da cópia e da reprodução. Deste modo, para

educar verdadeiramente é preciso que arte, ciência e espiritualidade estejam

presentes em graus cada vez mais significativos, tal como entende Ostrower

(2001), para o qual o criativo do homem se dá no sensível.

A ideia de que explorar tais questões nos debates sobre educação

pode levar a um “beco sem saída” deve ser refutada, porquanto, neste

novo milênio, a noção de ser humano, de mundo e de educação tem um

significado bastante distinto daquele difundido nos séculos passados.

Entendemos que essa abordagem justifica-se pelo fato de que viver

segundo o novo, portanto ter sempre surpresas, justifica um outro fato, o

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de nós, educadores, sermos sempre interessantes e os educandos sempre

interessados. Com base nessa compreensão, a arte, a ciência e a

espiritualidade devem ser nutridas na educação para o livre fluir da

criatividade humana, pois, como indica Moraes (2004, p. 327):

[...] é chegada a hora de semear a fé e fincar raízes no terrenofértil da esperança. Esperança em uma educação renovadorae inovadora, libertadora e criativa, capaz de sinalizar a aberturade novos caminhos, emergência de novas possibilidades deconstrução e reconstrução do mundo e da vida. É tempo dereencantar a educação! E como humanidade, é tempo detranscendência, tempo de emergência da civilização dareligação.

Assim, ao longo desta obra, as ideias de Goswami (2007, 2008),

Happé (1997), Laszlo (2008 ), Mitjáns Martínez (1997), Mitjáns Martínez e

Barreto (2007) Moggi e Burkhard (2004) e Moraes (2004, 2008), dentre

outros autores, complementam-se para fundamentar os estudos, como

fios condutores da discussão, sustentando as bases de uma Educação

Criativista.

No Capítulo 1, intitulado A Criatividade como uma Lei Natural,

apresentamos os fundamentos da Criatividade como uma Lei Natural,

apoiada nos pressupostos da Criação Divina e da moralidade universal.

Defendemos que a Lei de Criatividade oportuniza-nos experimentar, por

exemplo, a importância do saber criar, seja no campo pessoal, seja no

campo profissional, seja no campo espiritual, considerando-a não só como

uma possibilidade, mas também como uma disponibilidade.

No Capítulo 2, intitulado Educar para a Criatividade: uma Perspectiva

Criativista, apresentamos uma perspectiva educacional que pode ajudar-

nos a delinear uma nova possibilidade de educação e de educador

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fundamentada na criatividade, tendo em vista a emergência de novos

caminhos que nos coloquem frente ao que verdadeiramente somos, assim

como ultrapasse o materialismo exacerbado que tem permeado as

discussões.

No Capítulo 3, intitulado A Arte, Ciência e Espiritualidade como Pilares

da Educação Criativista, desenvolvemos uma discussão sobre a importância

da arte, ciência e espiritualidade como pilares da Educação Criativista,

haja vista a necessidade de manifestarmos atos cada vez mais criativos no

inevitável processo de ensino-aprendizagem-sentimento.

Por fim, no epílogo, fazemos um convite ao leitor, além de

reafirmarmos a necessidade de investirmos tempo e espaço na

consolidação de uma Educação Criativista, que possibilite aos educadores

e educandos agir sempre com o espírito de ineditismo, simplicidade e

originalidade, tomando o caminho integrador da arte, ciência e

espiritualidade no cotidiano de suas vidas; afinal, para educar, é preciso

demonstrar criatividade.

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Capítulo 1

CRIATIVIDADE COMO UMA LEI NATURAL

“Quando dizemos que o homem pertence ao mundo da natureza,indicamos que o funcionamento e, em parte, o comportamento humano

são submetidos a Leis. Leis imutáveis, estáveis, universais.”Christophe Dejours

“Depois de conhecer a Lei podemos ser muito mais criativos, inclusive,em como senti-la e utilizá-la como um eterno e sempre novo

padrão de ação do nosso dia a dia de relações.”Jair Tércio

O anseio criativo vive e cresce dentro do homem como uma árvore no solodo qual extrai seu alimento. Por conseguinte, faríamos bem em considerar

o processo criativo como uma essência viva implantada na alma do homem.(Carl Jung)

Nosso interesse pelo estudo da Criatividade tem um caráter pessoal,

mas alcança dimensões Universais, posto que se encontra apoiado na

compreensão mais ampla da própria Criação Natural.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

A Grande Obra da Criação Natural, à proporção que vai sendo

razoavelmente observada e estudada pelo gênero humano, ainda que num

mínimo de considerações, deixa clara a ideia de que a ação de Criar, ou

melhor, a Criatividade é muito mais que uma obra do acaso, bem como

muito mais do que um simples exercício da faculdade da imaginação

humana, ou ainda um lampejo subjetivo dessa faculdade.

E isso deve ser suficiente para se sustentar a ideia de que é preciso

criar, se assim podemos dizer, espaços, tempos e movimentos para o

pensamento criativo do ser humano, considerando, inclusive, a razão de

sua existência. É preciso prevenir, prever e prover suas fases de latência,

despertamento e expansão; é preciso motivar, encorajar e instrumentar

seu pensar, até seu bel realizar; é preciso proporcionar novas justificativas,

novos fundamentos e novas fontes geradoras de ideias simples, originais

e inéditas; é preciso despertar, construir e desenvolver, dentre outras

qualidades, a do senso científico construtivo; é preciso também impor,

propor e dispor a aquisição do conhecimento em todas as áreas, quer seja

das ciências humanas, ciências sociais aplicadas, ciências exatas e/ou ciências

biomédicas.

A defesa da criatividade justifica-se pelo fato de nosso envolvimento

com ela levar-nos a despertar, construir e desenvolver nossa autonomia,

nossa independência interna, bem como nossa autoconfiança, ao tempo

em que nos estimula a despertar, construir e desenvolver nossas aptidões,

tais como a de conhecer, a de autoconhecer e a de autorrealizar; portanto

nossas características individuais, nossos limites, bem como nossa razão

de existir.

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Deste modo, a razão não se recusa a aceitar a teoria de que todo ser

humano tem o dever moral de ser criativo, isto é, o de também favorecer

o despertamento, a construção e o desenvolvimento da energia potencial

criadora, tanto sua quanto de seu semelhante para os devidos fins.

E isto por três razões: primeiro porque o ser humano não se autocriou,

mas tão logo use sua inteligência descobrirá que foi projetado para,

concomitantemente, sentir, pensar e agir, inclusive para realizar a Razão de

Sua Existência; segundo pelo fato de que, no Universo, nada vive no

isolamento; tudo são relações, que nada mais são do que ajuda mútua; e

terceiro porque é no mínimo por esses motivos que devemos realizar

isso, de forma cada vez mais voluntária, consciente e ciente.

Assim, considerando que é provadamente verdadeira a teoria de que

o ser humano foi projetado para sentir pensar e agir concomitantemente,

fica cada vez mais clara a ideia de que fomos projetados para criar,

transformar, modificar, mudar e até mesmo reformar. Assim sendo, não

é preciso muito para conclui que a Lei de Criatividade a todo o momento

impulsiona o ser humano a participar cada vez mais intimamente do fluxo

da criação.

Tais considerações demonstram que o ser humano é um exímio criador

e manifestador da Lei da Criatividade. No entanto não é demais

questionarmos: O que até então se tem criado? Que tipo de criação o ser

humano tem manifestado? Por que o ser humano consegue mudar, mas

tem dificuldade de transformar e, muito raramente, consegue criar in natura?

Disto resulta que muito importa sabermos escolher entre os ambientes

que, ao mesmo tempo, facilitem àqueles que desejam ensinar e àqueles que

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

necessitam aprender; e não só aprender, mas também sentir, sob pena de

vivermos criando mais problemas para todos ou mesmo mantermos e

ampliarmos os problemas existentes.

Se bem observada, a Grande Obra do Princípio Criador Universal, na

qual se inserem tanto a Obra Universo quanto a Obra Planeta, assim como a

Obra Homem, dá-nos uma demonstração factual de que Criar envolve, no

mínimo, aptidões, conhecimentos, habilidades, talento, sabedoria etc., por

parte do criador. E se quisermos suscitar tal demonstração no ser humano,

será preciso, no mínimo, querer, saber e poder em grau cada vez mais

significativo; afinal, o querer só é poder quando se tem o saber específico como coadjuvante

para esta, aquela ou aquel’outra realização.

Embora ninguém viva sem o saber, ou seja, sem o conhecimento, o

que importa ao ser humano não é só o saber, mas também o saber e o

sentir, porquanto o que nos eleva como seres inteligentes não é só o que

sabemos, mas o que sabemos e sentimos; portanto é necessário ao ser

humano, cada vez mais, saber o que sente para sentir o que sabe, sob pena

de viver amando o que, no fundo, repele e querendo o que, na realidade,

não deseja.

Nesse contexto, vale ressaltar que o ato de criar demonstra o grau de

inteligência alcançado por seu criador. Deixar de notar a demonstração

factual da Criatividade do Princípio Criador Universal, cuja conduta dos corpos

celestes da Obra Universo denuncia, pelo que indica, por exemplo, nosso

sistema solar, em seu equilíbrio dinâmico, é postura que, no mínimo, a

razão se recusa a aceitar.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Isto porque, é Lei Universal o fato de que toda parte de um organismo

vivo existe e funciona em razão do Todo; portanto, não é difícil concluir

que o Todo pode ser considerado mais do que o conjunto das partes que

nele se fundem. No entanto, embora o Todo seja o somatório das partes,

a parte pode ser considerada como uma totalidade em si mesma.

Assim, o Todo sem a parte não é Todo, e a parte sem o Todo não é

parte. O Todo em parte demonstra no Todo as partes que tem, e o ser

humano que, em si mesmo, as partes do Todo reconhece, ao agir,

demonstra no Todo as partes do Todo que é e tem. De outra forma

considerada, geralmente a arte denuncia o artista; a obra denuncia o autor;

enfim, a criação denuncia o Criador. E, ainda, geralmente os filhos são

um reflexo dos pais; eles os imitam e os reproduzem. Eis que é fato, tão

observável quanto verificável, que a humanidade é também elemento de

transmissão do conhecimento.

Daí, considerando nossa razão de existir, a importância de nos

tornarmos e nos mantermos cada vez mais criativos, porquanto isto nos

torna cada vez mais autônomos, autênticos e autoconfiantes, a ponto de

atingir aquela autodisciplina que nos estimula, motiva e impulsiona a

conhecer nossas características individuais principais, pois somos seres

humanos, seres sencientes, seres racionais, um dos maiores legados da

razão para o gênero humano é a autonomia. Contudo é também

provadamente verdadeira a teoria de que a Realidade exige ser

compreendida e, para tanto, a razão não é o bastante.

A compreensão disso também nos impulsiona ao despertamento,

construção e desenvolvimento daquele nosso potencial humano que

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

importa, pois o ser humano não é apenas o conjunto de átomos, células e

músculos. Ele necessita reconhecer-se como um autêntico criador que é,

sob pena de tentar estacionar na vida e tornar-se um morto-vivo, como

se isso fosse possível.

Assim, o processo voluntário, consciente e ciente de despertar,

construir e desenvolver nossa potência ou força latente faz-nos conhecer

nossos próprios limites; e quem conhece seus limites conhece sua força.

Portanto, é de importância capital despertar, moralizar e socializar o ato

de criar, pois ele advém daquele processo de integração humana que

promove reformas, mudança e transformação indispensáveis ao

despertamento, construção e/ou desenvolvimento na organização do viver

subjetivo do gênero humano. É preciso deixar que o fluxo da criatividade

se manifeste na fonte e, para isso, é necessário favorecer espaço e tempo,

como um processo dinâmico e sem resquícios.

Em um ser humano criativo, não é difícil serem observadas e

verificadas a beleza, a riqueza e a significação de seus propósitos; a paciência,

a persistência e a inteligência de suas metas, suas estratégias e suas logísticas;

a exatidão, a originalidade e o ineditismo de seus métodos; a qualidade, a

quantidade e a clareza de seus recursos; bem como a vastidão, simplicidade

e profundidade de suas fontes. Portanto, a clareza, precisão e intensidade

das razões levam-no a enfrentar, vencer e superar as dificuldades de seu

viver, tanto individual quanto coletivo, considerando a razão de existência

do gênero humano.

É do conhecimento de todos que o equilíbrio dinâmico que a conduta

dos corpos celestes de nosso sistema solar denuncia implica e indica certa

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

moralidade Universal que orienta, evidenciando, dentre a infinita diversidade

de valores, o fato de que, no Universo, esse organismo vivo, nada vive

isolado e que tudo são relações. Também o fato de que os corpos agem

e interagem entre si com precisão e uniformidade infalíveis é factualmente

demonstrado por seu equilíbrio dinâmico.

Relacionando tal moralidade com o ser humano, é notório o fato de

que a vida não pode deixar de ser compreendida. A primeira e última,

enfim, a única atividade-meio que é naturalmente dada ao ser humano

para compreender sua atividade-fim é o viver, que é ação nas relações.

Por outro lado, mais um fato concomitante: o de que o equilíbrio que o

ser humano deve procurar atingir não é o que tenta produzir a imobilidade,

mas sim o que mantém o movimento, pois o movimento prova a vida,

que é evolução, que é progresso e não estagnação.

Isto tudo são valores irrefutáveis e, porque não dizer, são códigos

perenes e imutáveis de Leis Universais. Por isto, podemos afirmar o fato

de que o ser humano, para evoluir, inclusive abreviadamente, deve, de

forma voluntária, consciente e ciente, lançar mão do que indica a Moralidade

Universal, cuja conduta dos corpos celestes denuncia, e não do que indicam

as religiões e/ou algo que equivalha, ainda que saibamos que no Universo

nada se perde e tudo se transforma, aprimora e evolui.

Bittar (2004, p. 215) apoia-se em Locke para afirmar que “[...] a lei

natural é uma regra eterna, sendo evidente e inteligível para todas as criaturas

racionais. A lei natural, portanto, é igual a lei da razão”. Para o filósofo

citado, o homem deveria ser capaz de elaborar, com base nos princípios

da razão, um corpo de doutrina moral que seria seguramente a lei natural

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

e ensinaria a todos os deveres da vida.

Pois bem, se a busca é a evolução, inclusive abreviada, então abrir

mão da moral, ética e estética elevadas implica, no mínimo, em contradição,

porquanto, assim como todos precisamos de ética para nortear e tornar

comuns nossos interesses, visto que vivemos em relação de

interdependência, para vivermos em equilíbrio dinâmico, os interesses

particulares devem ceder espaço para os interesses gerais. Do mesmo

modo todos os seres humanos precisam de moral, pois, embora todos

queiram ser felizes e evitar a dor, sofrem e se sofrem é porque estão

fazendo o incorreto; se existe o incorreto é porque existe o correto; se

existem o correto e o incorreto, então deve existir a necessidade da moral.

Nesse contexto, ainda considerando o assunto, dentre outros fatos

insofismáveis que caracterizam o Criar, incluem-se: não existe efeito sem

causa ou causa sem efeito; criatura sem Criador ou Criador sem criatura;

objeto sem objetivo ou objetivo sem objeto; obra inteligente sem criador

inteligente ou criador inteligente sem obra inteligente; efeito inteligente

sem causa inteligente ou causa inteligente sem efeito inteligente; causa

inteligente sem origem inteligente ou origem inteligente sem causa

inteligente; ação sem reação ou reação sem ação; inteligência sem forma

ou forma sem inteligência; bem como criação sem Criador ou Criador

sem criação etc.

Isto nos faz concluir que Criar, se não significa, pelo menos implica e

indica um complexo relacionamento de valores, de elementos, enfim, de

códigos de Leis Universais que, interessante, instigante e inteligentemente

interligados, agem e interagem, favorecendo a realização desta, daquela

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

ou daquel’outra obra.

Tais Leis, enquanto não estudadas, são, pelos incompreensivos, senão

tidas como duvidosas, ditas como inexistentes, porquanto, enquanto pouco

inteligentes, eles só podem crer naquilo que podem pegar e ver, em tudo

aquilo que consideram como o todo para sua fé e o nada para sua razão,

ou o todo para sua razão e o nada para sua fé. Assim, afeita ao fato do

Criar, da Onda da Criação ou de algo que equivalha, dentre a diversidade de

Leis Universais, insere-se a Lei de Criatividade.

Segundo aquilo que sustentamos, esta Lei, em função de suas

realizações, quando, por exemplo, manifestada no ser humano, não só

como potencial latente, mas como potencial despertado, construído e/ou

desenvolvido, estabelece e indica a existência de aptidões que, hoje, aqui e

agora, caracterizamos como Qualidades Natas, Faculdades Inatas e Forças em

Domínio, respectivas entre si.

Senão vejamos. Dentre a diversidade de Qualidades Natas do ser

humano, incluem-se: sentir, querer, pensar, reconhecer, ousar, raciocinar e realizar.

Dentre a diversidade de Faculdades Inatas, temos: necessidade, vontade, imaginação,

inteligência, verdade, consciência e ciência. E, ainda, dentre a diversidade de Forças

em Domínio, estão: reflexão, concentração, meditação, vibração, percepção, contemplação

e exaltação.

Estas qualidades, quando desenvolvidas, oportunizam ao ser humano

a expressão de características, tais como: espontaneidade, inspiração, afeição,

intuição, admiração, esforço desmedido, ação imensurada, paciência, instinto etc. No

entanto, na Natureza, esta mesma Lei implica na cumplicidade de outras

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Leis Universais, tais como: Lei de Atração e Repulsão, Lei de Coesão e

Afinidade, Lei de Equilíbrio, Lei de Necessidade entre outras.

O exercício daquilo que implica, indica e orienta a Lei de Criatividade

oportuniza-nos experimentar, por exemplo, que a importância do saber

criar é, de fato, imprescindível em nossos afazeres, principalmente diários,

porquanto a vida exige ser compreendida. Para tanto, em todo o tempo,

espaço e movimento de nosso viver somos contundentemente desafiados.

O que temos em nós da Unidade, embora não desejemos, leva-nos

a perder e ao mesmo tempo resgatar, pela adversidade, seja no campo

pessoal – nas relações que estabelecemos conosco e com nossos

semelhantes, tanto próximos quanto distantes –, seja no campo profissional

– nas relações que firmamos conosco e com o meio produtivo que

construímos e no qual artificialmente somos adequados e nos inserimos –

, seja no campo espiritual – nas relações que instauramos com o meio que

nos constrói e no qual naturalmente somos inseridos.

O fluxo da criatividade e suas ondas de criação apresentam-se em

seu esplendor somente quando há uma relação direta, sem obstruções ou

filtros de interpretação. Nesse sentido, quanto menos pensamentos, mais

criatividade; quanto mais criatividade, mais conexão com a fonte; quanto

mais conexão com a fonte, mais realizações e transformações.

Até hoje, a busca da moralidade, ou seja, do conhecimento acerca

do porquê, como, quando e com que fora construído o Universo – representado seja

por nosso sistema solar, como se fosse sua forma macroscópica, seja

pelo átomo, como se fosse sua forma microcóspica – e ainda de como

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

ele funciona, enfim, do todo de sua criação é a maior pretensão de todos

nós, mas, muito mais particularmente da ciência, esta esforçada amiga

que, incansavelmente, empreende paciente, persistente e inteligentemente

suas realizações. Esse conhecimento é necessário para que possamos usá-

lo como referencial para nossas realizações.

Até então, concluímos que a moralidade do Universo, caracterizada

pelo equilíbrio dinâmico que a conduta dos corpos celestes denuncia, está

afeita, para alguns, segundo o conhecimento de matéria, de movimento,

de tempo e de espaço plano. Fica evidente que a matéria atrai a matéria na

razão direta de suas massas e na razão inversa do quadrado da distância

que as separam, como demonstra a Lei de Atração e Repulsão.

Para outros, mais recentemente, tal moralidade está diretamente ligada

ao conhecimento de matéria, movimento, tempo, espaço curvo e energia.

Este entendimento evidencia que energia e matéria relacionam-se

diretamente num espaço curvo e com a participação de um elemento

novo: a velocidade, ou seja, a velocidade da luz. Indicam ainda que os

corpos não são atraídos para o centro do sistema no qual estão em relação,

mas tendem a seguir caminhos em que a resistência seja menor. Dizem

também que a energia é diretamente proporcional ao produto entre a

matéria e o quadrado da velocidade da luz, o que é demonstrado pela Lei

de Relatividade.

Isto nos permite considerar que, possivelmente, dia virá em que,

provavelmente, melhor entenderemos tal moralidade, ou melhor, tal mecânica

celeste, levando em conta mais um elemento no todo de sua construção ou

de sua criação, se assim nos permitem dizer: a não resistência. Esta

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

demonstrará, se assim podemos considerar, a Lei de Imutabilidade, que

evidencia o fato de que, no Universo, tudo é energia.

Daí a evolução do pensamento/conhecimento humano. Antes, o fato

era: matéria atrai matéria; atualmente, o fato é: energia e matéria se relacionam; e

num futuro tão breve que a necessidade exija e a razão justifique, o fato

será: no Universo tudo é energia. Pois bem, isso vem denotando que, quanto

menos resistência, mais simplicidade; quanto menos complexidade e/ou

algo que equivalha, mais fácil é a realização.

Não é novidade dizermos que, geralmente, a criatura humana cria a

partir, como se do nada. Assim, a criatividade é tão realizadora quanto

mais vazia, livre e veloz for; é tão engenhosa quanto mais esforçada

desmedidamente. Enfim, a inspiração dos criativos advém de seu próprio

ser, mas de uma região, e porque não dizer, de uma dimensão desconhecida.

Já se considera e valora a região do hemisfério direito do cérebro

humano, que está diretamente relacionado com aquelas aptidões já citadas

e mais especificamente a Intuição. Isto, definitivamente, significa avanço à

totalidade do ser humano, enfim, da busca ao ser humano Integral segundo as Leis

Universais. Isto porque, no Universo tudo são Leis e dentro dessas leis

tudo é bem. Fora delas, porém, nada é claro, definitivo ou seguro.

O fato de o ser humano, quando não descrente de si mesmo, ter a

capacidade de suplantar, superar e solucionar todo e qualquer problema,

bem como bem administrar toda e qualquer situação e circunstância de

seu viver, está diretamente ligado a outro fato: o ser humano é um ente

inteligente e ainda na natureza está tudo o que implica, indica e orienta a

Lei de Criatividade não só como uma possibilidade, mas como

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

disponibilidade. Basta ao ser humano pesquisar e analisar até compreender;

e praticar para sentir, a ponto de viver evoluindo abreviadamente; enfim,

sentindo o que sabe; e sabendo o que sente. Bom que seja repetido.

Se a educação é criativista, por exemplo, não se absterá de favorecer o

despertamento, a construção e/ou o desenvolvimento do potencial criativo,

inclusive das crianças, desde a mais tenra idade, em todas as áreas do

conhecimento, temas e assuntos. Haverá tempo em que demonstrará o

valor do pensamento em sua totalidade, seja lógico, analógico, racional,

transcendental, etc., primando tanto pelo ensino do conhecimento existente,

quanto da produção de novos conhecimentos. Afinal, por um lado, ser

humano algum vive sem o saber, sem o conhecimento; por outro lado,

todo conhecimento é bom, pois, se velho, confirma o existente; e, se

novo, o melhora.

Isso não significa que devemos valorar o conhecimento velho como

algo mais importe. Contudo não devemos excluí-lo de nossas relações

como algo obscuro, indesejável ou dispensável, tampouco incluí-lo como

algo claro, desejável ou indispensável, caso estejamos em relação com ele,

até porque a razão manda dar tempo e atenção a todos as coisas, pois

tudo tem uma razão de existir; toda atividade é contributiva.

Essa compreensão permite-nos considerar que o conhecimento velho

não deixa de ser uma criação só porque não serve mais aos anseios pessoais

ou sociais, considerando as impulsões da evolução. É necessário, contudo,

ultrapassá-lo, observando a realidade sem negá-lo, mas dando um novo

enfoque, com base em um novo olhar, tendo em vista que não podemos

negar nossas criações, mas devemos disponibilizar a seguir o fluxo criativo,

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

atendendo a nosso poder de criação; e, para isso, é preciso sentir a direção

que ele nos indica.

É racional a ideia de que existe muito mais mistérios entre o céu e a

terra do que pensa nossa vã filosofia; contudo parece-nos não existir tantos

mistérios em nosso agir e pensar, como existe em nosso sentir. Daí a

importância de vivermos exercitando não só o saber, mas também o

sentir. Enfim, procurar, cada vez mais, saber o que sentimos, para, cada

vez mais, sentir o que sabemos, e vice-versa.

Portanto o estilo de atuar do ser humano precisa se aproximar daquilo

que pode ser caracterizado como Ato Criativo, pois este nos leva a, pelo

menos, elogiar o Princípio Criador, imitando-O, ainda que em nossa

medida. Isto porque, todo filho tende a ser também pai. Contudo, a

melhor forma de elogiar é imitando.

Assim, em nossa jornada da relatividade à Absolutividade, da

mutabilidade à Imutabilidade, enfim, da fragmentação à Totalidade, somos

inevitavelmente levados a tornarmo-nos sensíveis e receptivos a reformas,

mudanças e transformações, tanto nossas, quanto do meio no qual vivemos,

a fim de nos identificar com tal Princípio, porquanto a evolução, que é

inegável, inevitável e autossustentável, evidencia e prova que absolutamente

tudo parte para o ambiente do qual tudo parte.

São exatamente os Atos Criativos que nos contemplam com aquela

percepção criadora que nos capacita a saber fazer novas reflexões, novas

análises, novas comparações, novas analogias e novas associações, para

melhor conceituar, significar e integrar ideias, fenômenos e objetos, bem

como saber manipulá-los com o fim de despertar, construir e/ou

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

desenvolver nossa inteligência, para os devidos fins, pois estamos fadados

à libertação; tudo o que existe tem uma verdade que lhe é peculiar; só a

verdade liberta; e só com a inteligência podemos reconhecê-la.

Assim, podemos concluir que a Criatividade não é uma invenção humana;

não é uma opção – senão compreendida como Lei Universal –, mas uma

aptidão. Ela pode ser considerada como o processo de reforma, mudança

e transformação, portanto evolutivo, inclusive, da vida humana, que advém

de sua parte subjetiva e demonstra-se em sua parte objetiva. Ela faculta ao

ser humano, realmente, a realização e, porque não dizer, a autorrealização. Ela

não é uma simples opinião, uma falsa teoria ou uma indicação esporádica e

nada tem a ver com entropias. Ela é um processo de construir ideias, teorias

ou hipóteses; é ela que testa e contesta absolutamente tudo, a fim de

demonstrá-lo como algo original, simples e inédito.

Ela não é, portanto, um capricho humano, tampouco uma construção

humana; muito pelo contrário, é uma Lei Universal que faculta ao ser humano

o querer, saber e poder realizar aquilo que necessite ou deseje,

independentemente do que dita seu sentimento. Além disto, é muito importante

considerar que isso deva ser feito de acordo com o que a necessidade exige e

a razão justifica, em função do equilíbrio dinâmico da Obra Universo em sua

eterna expansão, conforme expressa a Arca Sagrada (2008).

Neste sentido, à educação cabe oportunizar espaço e tempo, pela

prática pedagógica, para o desenvolvimento da criatividade como uma

aptidão, como meio para a transformação, como base para a realização e

autorrealização do educando, possibilitando-lhe construir ideias originais,

simples e inéditas, em prol de melhor capacitá-lo para saber enfrentar os

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

desafios, sobretudo os desconhecidos, que a vida oferece cotidianamente.

Esta perspectiva de educação inclui uma visão emergente do educando,

considerado como um ser que sente, pensa e age; que tem faculdades a

ser despertadas e qualidades a serem desenvolvidas; que tem corpo físico,

alma e espírito; que é, portanto, um ser integral, que envolve as dimensões

da racionalidade, da subjetividade, da criatividade, da materialidade e da

espiritualidade. “Um ser espiritual em busca de sua transcendência, numa

viagem individual e coletiva em busca do significado da vida.” (MORAES,

1997, p. 139).

Eis que, como educadores, sentimo-nos envolvidos com uma

perspectiva de educação que esteja sintonizada com os pilares da criatividade,

de acordo com uma concepção emergente, em que reconhecemos a

interconectividade, a interdependência e a interatividade de todos os

fenômenos da natureza e o perfeito entrosamento dos indivíduos e das

sociedades nos processos cíclicos da natureza (MORAES, 1997).

De acordo com esta concepção, há espaço para flexibilidade,

autonomia, diálogo, incertezas, pluralidade, visão integrada do

conhecimento, prática pedagógica integrada com a vida, interconexão entre

ser humano, natureza e a própria Criação Universal; enfim, há espaço

para a criatividade. Esta, de acordo com Leite (1994), dentre as várias

vertentes de ação, inclui o processo de re-ligação do indivíduo com o

universo, envolvendo as dimensões da intuição e do sagrado, favorecendo

possibilidades de conexões diretas entre o Criador e a criatura.

Assim, fica claro, para nós educadores, que necessitamos valorizar

tanto os processos racionais quanto os intuitivos, artísticos e criativos, para

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

conduzirmos o educando para ser o marco da nova humanidade, mediante

o desenvolvimento de sua consciência, de modo a oportunizar-lhe uma

percepção mais ampliada de si mesmo e da realidade em sua totalidade,

inclusive e principalmente pela Educação Criativista.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Capítulo 2

EDUCAR PARA A CRIATIVIDADE:

UMA PERSPECTIVA CRIATIVISTA

“O inesperado surpreende-nos.É que nos instalamos de maneira segura em nossas teorias e ideias

e estas não têm estrutura para acolher o novo.Entretanto, o novo brota sem parar.

Não podemos jamais prever como se apresentará,mas deve-se esperar sua chegada, ou seja, esperar o inesperado.”

Edgar Morin

“Quando a nossa mente imagina algo novo, que carreganovo significado, somos criativos.”

Amit Goswami

“A transformação é tão inevitável, quanto inegável, como autossustentável; e exige no mínimo originalidade, criatividade e inovação.”

Jair Tércio

O cerne da prática pedagógica pautada na criatividade está na

compreensão da educação e de sua finalidade, além do papel do educador

e do processo de desenvolvimento integral do educando. Como vimos, a

educação é, na realidade, um meio de integração do indivíduo consigo

mesmo e com o meio no qual está inserido e tem como fim, inclusive e

principalmente, favorecer o processo de iluminação dos educandos. Neste

caso, cabe ao educador acender a luz, mas antes deve acender sua própria

luz, eis o papel do autoconhecimento, este que é diretamente proporcional

à criatividade.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

A humanidade precisa de luz, lembrando que a luz é o símbolo que

representa a verdade que liberta; é ela que ilumina nosso Ser e esclarece

nossa razão, a ponto de libertar-nos da obscuridade, portanto, da

inconsciência. Assim sendo, faz-se necessário que o educador se conscientize

de sua missão como um ser iluminativo, que busca iluminar os educandos,

de forma que consigam, cada vez mais, discernimento acerca de respostas

às indagações:

· Quem somos?

· De onde viemos? e

· Para onde vamos?

Mais ainda:

· Qual o Princípio Criador?

· Qual a Finalidade da Vida?

· Qual a razão de nossa existência?

Até porque nossa experiência sugere, em função de nosso

envolvimento direto com a criatividade e a consciência, que a razão não se

recusa a aceitar e a Lei Natural prova que deve existir uma razão sobre

nossa existência neste planeta. Do contrário, tendemos a ser mais outros

ditos educadores que, em vez de auxiliar os educandos quanto ao

autoconhecimento, só lhes enchem de informações; em vez de libertar,

aumentam seus medos e essa é a forma menos inteligente e criativa de se

dizer educando o gênero humano.

Neste sentido, o processo educativo é iluminativo e o educador é

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um verdadeiro religioso e deve ajudar o educando a religar-se consigo

próprio, com vistas ao autoconhecimento, este que é tão essencialmente

necessário quanto racionalmente justificável; tão inteligente quanto criativo;

e tão útil quanto proveitoso, considerando a possibilidade da evolução

abreviada consciente do ser humano.

Educar para a criatividade, neste contexto, é um processo renovador

constante com vistas à avaliação de experiências, à reconstrução de etapas

e objetivos rumo às transformações individuais e coletivas. Vai além do

conhecimento racional e envolve a fé, esta que é diretamente proporcional

à inteligência e à criatividade e inversamente proporcional ao intelecto.

Educar é, pois, um ato de fé; esta que é inerente a nossa natureza; esta

que é o indicador do quanto já evoluímos, considerando a razão de nossa

existência. Razão esta que nos faz refletir a assertiva de que no Universo

nada vive isolado. Isto implica em ajuda mútua. Eis que educar criativamente

é, também, integrar o ser humano consigo mesmo e, concomitantemente,

com o todo do qual faz parte; enfim, com a vida, pelas relações com coisas,

pessoas, pensamentos, seres, bem como sentimentos (BARRETO, 2006).

Esta concepção de educação está baseada no fato de que existe uma

harmonia e uma unidade universal que vêm sendo, de certa forma,

transgredidas pela ação desordenada do ser humano. Conforme evidencia

Weil (1991, p. 154), “[...] no universo existe uma harmonia, muito mais

uma unidade subjacente à aparente heterogeneidade, e que predomina

essencialmente a não separatividade de coisas, pessoas e ideias, ou da

matéria, da vida e da mente”.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Ao se alijar deste processo de resgate da união do ser humano consigo

e com o todo, a educação dá indícios de ter se perdido de seus propósitos;

afinal, quando a educação favorece ao ser humano ter vergonha de sua

procedência Divina, priva-o da concepção daquilo para o qual fora criado,

bem como negligencia o despertamento de sua potência latente. Deste modo,

está condenando o ser humano a ser, no mínimo, reprodutor de conhecimentos,

limitando-o na manifestação de sua criatividade, uma vez que esta é diretamente

proporcional à resposta do grau de unidade do Ser Humano.

Esta triste realidade de fragmentação é verificada no contexto

educacional em que, não raro, as metodologias e técnicas de ensino são

reproduzidas pelos educadores na vã tentativa de capacitar seres humanos

e instruí-los para lidar com o mundo acadêmico ou o mundo do trabalho,

sendo inobservado ou ignorado, por conseguinte, que o ser humano faz

parte de um contexto social amplo e está em constante relação com o

mundo que o circunda. Neste sentido, torna-se uma das exigências que a

educação favoreça uma formação que dê conta da multiplicidade de

dimensões que fazem parte do ser humano e possa auxiliá-lo a lidar com

os desafios que a vida apresenta, fazendo uso da criatividade.

Frente a isso, é que se justifica uma nova perspectiva de criatividade

que ultrapasse o materialismo exacerbado que tem permeado as discussões,

haja vista que “[...] as teorias mecanicistas apresentam uma perspectiva de

criatividade limitada na qual não há função causal nem para a consciência

nem para a subjetividade” (GOSWAMI, 2008, p. 36).

Essa perspectiva permite-nos questionar: Qual o papel do educador

para favorecer estados criativos no educando? E qual o papel da educação

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no contexto atual? Cientes de que uma nova perspectiva requer uma nova

visão de mundo, lançamo-nos esse desafio, amparados na abordagem de

Goswami (2008), que desenvolve seus estudos de criatividade pela lente

da física quântica, com vistas a uma criatividade integral. Em seus termos,

“[...] o modo como vemos a criatividade depende de nossa visão de

mundo, e é difícil, ou mesmo impossível, mitigar as diferenças sem a

ajuda de uma perspectiva integrada.” (GOSWAMI, 2008, p. 39).

Perfilhamos a concepção de Goswami (2008) de uma perspectiva

integral de criatividade como uma categoria de análise que dá conta de

uma abordagem que leva em consideração uma nova visão de mundo e

de ser humano, pois reconhecemos que a criatividade pertence à conduta

do ser humano que já sabe integrar numa só ação de integração: seu sentir,

seu pensar e seu agir. Eis porque a necessidade de se exercitar cada uma

dessas qualidades nele, de forma cada vez mais clara, ininterrupta e intensa.

Assim, percebemos que concepções mais abrangentes da realidade e

do ser humano em si são novas rotas que estão sendo traçadas por vários

estudiosos e pesquisadores, visando nortear a educação na direção de

alargar seus horizontes.

Na busca de quebrar mitos e questionar uma realidade pré-concebida,

Moraes (2004) propõe a implementação de um paradigma educacional

ecossistêmico, cujas bases de sustentação se delineiam com base em

[...] uma educação que se preocupe simultaneamente emequacionar as questões relacionadas à humanização, àinstrumentalização e à transcendência [.. .] aceita odesconhecido, que acolhe o inesperado, o imprevisível e seauto-organiza e transcende a partir das novas conexões erelações que emergem. (MORAES, 2004, p. 313).

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Nesse sentido, esse enfoque indica a exigência de uma prática

educacional mais adequada, pautada em novas posturas, atitudes e valores,

congruentes com os princípios organizadores da vida.

Assim, diante desse mar de possibilidade de construções e

desconstruções, não há como apoiarmo-nos no substrato de uma estrutura

antiga de pensamento, cujos pilares já vemos ruir. Deste modo, a perspectiva

Criativista pode ajudar-nos a delinear uma nova possibilidade de educação

e de educador fundamentada na criatividade, tendo em vista a emergência

de novos caminhos que nos coloquem diante daquilo que verdadeiramente

somos.

Não podemos esquecer que, até o século XVIII, a humanidade

construiu razão para ter autonomia e entender a realidade. No entanto,

em função da racionalidade científica estar sobrepujando a sensibilidade

humana, distanciando o ser humano de si mesmo, de sua Essência, devemos

partir do pressuposto de que é necessário despertar, construir e/ou

desenvolver novos instrumentos para compreender a realidade..., tendo

em vista que a Razão é muito pequena e a realidade é muito grande. A

realidade vai do infinitamente pequeno até o infinitamente grande, e o

grande está no pequeno e vice-versa; o pequeno não pode compreender

o grande, mas o grande pode compreender o pequeno. Eis porque o ser

humano deve se tornar grande, ainda que, para tanto, deva compreender

o que já lhe é pequeno.

Cabe evidenciar que não somos meros sobreviventes; buscamos nossa

origem causal e essa busca é própria do ser humano. Nessa trajetória,

existem três qualidades que provam esta busca: o pensar, o desejar e o

inteligir.

Desde a antiguidade, a filosofia alertava a humanidade sobre a

existência e a capacidade peculiar do pensar. Descartes (1596-1650) já

mostrava isto em sua célebre frase: “Penso, logo existo”. Neste sentido,

ao reconhecer sua existência pelo uso do pensar, o ser humano deseja

conhecer quem o criou; afinal, não nos autocriamos; se existe um criado,

existe um Criador.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Após pensar sobre sua existência e desejar conhecer quem o criou, o

ser humano busca inteligir e, nesse sentido, quanto mais desperta, constrói

e/ou desenvolve suas capacidades, mais investiga, experimenta, analisa e

conclui para realizar o que deseja. Para tanto, é preciso desenvolver graus

cada vez mais elevados de criatividade. Assim, ele utiliza sua atividade de

Criador que alimenta seu ser, pois o aproxima daquilo que é sua Essência,

pois é provadamente verdadeira a teoria de que ser humano algum pode

deixar de um dia ser criativo.

Deste modo, considerando que quem busca o novo deve começar

se perguntando, questionamo-nos: O que é a criatividade? Goswami (2008,

p. 33) inspira-nos com o seguinte poema:

Perguntas sobre criatividade?Elas são como lampejos de vaga-lumesde alma chamando você.Você ouve as ondas de probabilidadequebrando na praia da mente?Então olhe pela janela quântica.Face a face com o seu eu,o salto quântico vai pegá-lo de surpresa.

Nossa experiência sugere e a razão não se recusa a aceitar que a teoria

da Criatividade é ação da criação universal que se expressa inclusive no ser

humano como uma qualidade inata. Isto posto, só nos resta aceitar a

Natureza Criativa que existe em cada um de nós e esforçarmo-nos para,

cada vez mais, dedicarmos espaço e tempo para que estados perenes de

Criatividade se façam como ação em cada um de nós.

A Criatividade existe também para abreviar a evolução humana, pois,

ao ter uma ação criativa, o ser humano é capaz de, a um só tempo, favorecer

que o novo se faça e possa romper com possíveis entraves, deixando fluir

a energia e trazendo cada vez mais respostas inteligíveis. Daí, não é demais

afirmar que é possível abreviar processos humanos, educativos, de

descoberta, de conhecimento…

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Todos os processos são caminhos a serem trilhados, anunciando que

existe um centro que é sua origem causal, bem como uma ordem e um

propósito. O Criativo busca o centro, a origem causal do processo, pois é

capaz de reconhecer que tudo vai para o centro, porque tudo busca sua

origem causal. O Universo, por exemplo, foi criado segundo a criatividade

da Criação.

Isso denota que a criatividade leva o ser humano a demonstrar o

quanto é independente internamente; favorece-o a adquirir cada vez mais

autoconfiança; motiva-o, estimulando-o a despertar, construir e desenvolver

outras qualidades suas que desconhecia; a conhecer suas características como

ser humano, como um ser indiviso e como um ser Divino; bem como

conhecer seus próprios limites.

Nesse contexto, fica clara a mensagem da mecânica quântica quanto

à ideia de ondas de probabilidade quântica que se expandem como ondas

de eventos possíveis, englobando princípios como posição e impulso.

Isso demonstra o fato de que “[...] uma mente quântica encontrará várias

possibilidades antes inexploradas, além das antigas, entre as quais pode

haver uma resposta nunca antes manifestada que seja realmente nova”

(GOSWAMI, 2008, p. 47). Assim, no observar atento, eis que surge uma

possibilidade nunca antes considerada, que permite a manifestação do ato

criativo.

Daí podermos afirmar que nada, tampouco ser algum pode deixar

de ser criativo, até porque existir não é uma opção. Partindo desse

pressuposto, só nos resta reconhecermo-nos como co-criadores, ou seja,

aquele ser que é capaz de fazer revelar a Criação através de si mesmo,

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

principalmente quando diante das pressões, provocações e tentações do

dia a dia do viver, enfim, de sua relação.

Para atingir esse propósito, parece-nos claro ser necessário tornarmo-

nos unos com o movimento da Criação. Para tanto, precisamos colocar-

nos em vigilância constante para com nossas relações psicológicas. Se a

Criação revela-se em sua beleza, riqueza e significação na natureza externa,

devemos favorecer isso em nós, pelo menos pela imitação. Afinal, não é

preciso muito para concluir que a melhor forma de elogiar é imitando.

Vale considerar, apoiados na concepção de Goswami (2008, p. 97), que

“[...] talvez a verdade criativa não venha com perfeição, mas sim com

beleza [...] se a autenticidade de uma ideia criativa não pode ser julgada

por seu valor da verdade, que costuma ser relativo, ao menos pode ser

julgada por sua beleza”.

Se entendermos que as culturas, individualmente, manifestam a beleza

peculiar de uma sociedade, podemos afirmar que a criatividade expressa-

se e demonstra-se pela cultura e esta se reflete na manifestação do modo

de ser e estar de um povo no mundo, possibilitando mensurar a capacidade

de “ser livre” e “de criar” de cada povo.

A criatividade, por conseguinte, exige do ser humano inteligência em

grau cada vez mais significativo, pois é dos inteligentes o bastante,

concomitantemente, raciocinar as questões que se lhes apresentem,

destruindo a ilusão que possuam e conservando a realidade que

demonstram ou representam, ao tempo em que eleve tal questão a um

nível superior em relação ao nível que se apresenta; e tudo isso com

admiração, espontaneidade, inspiração, intuitividade, enfim, com a

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

inteligência e tudo o que lhe é afeito, diferentemente da intelectualidade,

que é muito pouco para o Criativismo. Portanto parece-nos adequado

trazer o poema de Bandeira (2008, p.1), que assim expressa o ser inteligente

e criativo.

Não se contenta com o comumNão se satisfaz com o banalNão se submete ao medíocre

Na reta subiu, desceu, fez zigue-zague, cabriola,Voou, plainou, foi por dentro, foi por fora.

Parece irrequieto em sua concentraçãoDa mesmice está sempre na contramão.

Pensar com inteligência é seu grande forteÉ a intuição que lhe dá o norte.

Não se contenta como o fixo,Não se satisfaz com o velhoNão se submete ao remendo

Na curva lançou-se, fez um súbito caminho com equidadeTeve largura, altura e profundidade.

Parece acelerado em sua interaçãoÉ que sente, pensa e age numa só ação.

Instigar, inteligir e interessar é com que se ocupaAfinal o real viver é sua conduta

Criar, educar e transformar nunca são cansativos,Para um ser inteligente e criativo.

A criatividade exige ainda imaginação fértil, pois esta é uma faculdade

que o ser humano faz uso para, inclusive, dar forma àquilo que sente; e se

sente é possível ser capaz de ir a seu centro, ao mais profundo de si

mesmo, a ponto de poder manifestar a Criação como co-criador que é.

Neste caso, destacamos que criar implica em conhecer e conhecer

implica em criar, haja vista o ser humano estar em relação dinâmica com

o Universo. Esta premissa indica que o ser humano deve aproximar-se

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

cada vez mais do conhecimento do mundo e, principalmente, de si mesmo,

a ponto de não perder a noção de identificação e de unidade, tendo,

assim, a possibilidade de acessar a verdade inteira e tornar-se a expressão

da criação.

Eis que não é demais repetir que o ser humano tem a capacidade de

pensar, desejar e inteligir, prova de que foi projetado para a libertação.

Todavia só a verdade liberta. E na busca da verdade inteira, isto é, que

liberta, o ser humano lança mão também do conhecimento e do

autoconhecimento, recursos que a Criatividade utiliza, pois não pode haver

conhecedor sem conhecimento e vice-versa.

Em vista disso, não há como negar: os fenômenos são naturais do

viver. Esta afirmação leva-nos a refletir que os fenômenos contêm todas

as formas de manifestação da própria vida e, nesse sentido, cabe

empreendermos esforços, no mínimo, pacientes, persistentes e inteligentes

para irmos em busca da essência que deve existir além das aparências de

cada fenômeno.

Considerando a necessidade de compreendermos os fenômenos e

seu significado, com base na criatividade, apropriamo-nos do pensamento

de Goswami (2008, p. 50), que reconhece a existência de dois tipos básicos

de criatividade: situacional e fundamental. Nesse sentido, na perspectiva

do autor “[...] a criatividade situacional pertence à solução de novos

problemas por meio de combinação de ideias antigas e novas”

(GOSWAMI, 2008, p. 51). No que concerne à criatividade fundamental

“[...] pertence à verdadeira originalidade da qual apenas a consciência em

sua liberdade não condicionada é capaz” (GOSWAMI, 2008, p. 51). Nesse

contexto, cabe considerar:

Talvez não haja nada novo, materialmente falando, mas seum novo significado na consciência surgir desses atos, entãoexiste criatividade. É nesse novo significado, seja dacriatividade situacional ou fundamental, que o idealista seconcentra. E é esse aspecto da criatividade – o significado –que distingue a criatividade da resolução de problemas. Atémesmo a criatividade situacional não é apenas resolução deproblemas (GOSWAMI, 2008, p. 51).

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Apoiadas nesta perspectiva, podemos afirmar que ser criativo é

também uma postura mental de aceitar o novo; é estarmos atentos a cada

ação praticada e realizá-la de forma consciente, para que o novo possa

apresentar-se como ação criativa e criadora, capaz de transformar o já

ultrapassado. Afinal, parafraseando Jung (1985) confirmamos a máxima

de que tudo a que você resiste, persiste.

Frente a isso, cabe considerar que, quem quiser ampliar sua criatividade,

deve viver contemplando seu estado de inspiração, a ponto de deixar fluir

as ideias relativas, segundo as demonstra em seus esquemas mentais, e

buscar atribuir significado no contexto em que se apresenta, abrindo espaço

para o fluxo criativo.

Assim sendo, Goswami (2008, p. 53) leva-nos a refletir que “[...] a

essência da criatividade, tanto fundamental quanto situacional [...] abrange

a descontinuidade, a consciência e o significado”. Entretanto, para que

isso ocorra, não pode haver rigidez funcional da mente.

A história imutabilista (2001, p. 75) transcrita a seguir, coloca-nos

frente à falta desses aspectos para que a criatividade se faça:

O QUE É UM ERRO PARA UM TOLO, PARA UMSÁBIO É UMA ESTRATÉGIA DE DEUS

Vica era uma dita discípula na senda da imutabilização. Numaépoca em suas andanças, em meio a seus visíveis ataques dedepressão, buscou mestre Zudo, em seu templo, queixando-se:

– Mestre, eu estou muito chateada com mestre Pide. Ele metem humilhado perante as pessoas. Ele é maluco e monstruoso.Estou a ponto de fazer algo com ele.

– Minha cara Vica, como sabes que Pide a tem humilhado?

Perguntou o mestre Zudo.Perguntou o mestre Zudo.

– Ah! Mestre, foi fulana e fulano que me falaram. - Ah!

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Mestre, foi fulana e fulano que me falaram.

Respondeu Vica.Respondeu Vica.

– Então você não ouviu dele?- Então você não ouviu dele?

Perguntou o mestre.Perguntou o mestre.

– Não.- Não.

Respondeu Vica.Respondeu Vica.

– E por que você não foi estar com ele e perguntar-lhe sobreisso?- E por que você não foi estar com ele e perguntar-lhesobre isso?

Perguntou o mestre.Perguntou o mestre.

– Não sei. Acho que tenho medo, vergonha, raiva. Ah! Sei lámestre. Estou muito chateada com ele e com tudo isto.- Nãosei. Acho que tenho medo, vergonha, raiva. Ah! Sei lá mestre.Estou muito chateada com ele e com tudo isto.

Disse Vica. Disse Vica.

– Pois bem, minha cara, deixe-me ajudá-la. Ouve e aprende:quem critica, condena, julga ou castiga, principalmente peloque ouviu dizer, demonstra o quanto é ignorante; demonstra,também, o grau de vaidade, tolice e infantilidade que tem,tanto para atacar quanto para se defender, bem como o quantotem para aprender e sentir, infelizmente, pelo sofrer.- Poisbem, minha cara, deixe-me ajudá-la. Ouve e aprende: quemcritica, condena, julga ou castiga, principalmente pelo queouviu dizer, demonstra o quanto é ignorante; demonstra,também, o grau de vaidade, tolice e infantilidade que tem,tanto para atacar quanto para se defender, bem como o quantotem para aprender e sentir, infelizmente, pelo sofrer.

– Mas mestre, eu confio em fulana e fulano. Eles nãomentiriam para mim.- Mas mestre, eu confio em fulana efulano. Eles não mentiriam para mim.

Finalizou Vica.Finalizou Vica.

– Pois bem, entendo que você deveria refletir levando emconta, primeiro: que motivo teria um mestre para estar lhehumilhando; segundo: que motivo teria fulano ou fulana delhe fazer inimiga de outra pessoa – neste caso – do mestre; eterceiro: que motivo tem você para dar atenção às versões deoutros e não da verdadeira fonte, ou seja, ao que disse fulanoou fulana, e não ao mestre, bem como porque você ainda dáatenção às humilhações.- Pois bem, entendo que você deveriarefletir levando em conta, primeiro: que motivo teria ummestre para estar lhe humilhando; segundo: que motivo teriafulano ou fulana de lhe fazer inimiga de outra pessoa - nestecaso - do mestre; e terceiro: que motivo tem você para dar

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atenção às versões de outros e não da verdadeira fonte, ouseja, ao que disse fulano ou fulana, e não ao mestre, bemcomo porque você ainda dá atenção as humilhações.

Considerou mestre Zudo.Considerou mestre Zudo.

– Não sei. Só sei que ele é um louco.- Não sei. Só sei que eleé um louco.

Disse Vica.Disse Vica.

– Cara Vica, o que está acontecendo consigo é sóincompreensão, que só nos leva às revoltas. E todo revoltadoé semelhante ao crítico que precisa sempre desabafar,possivelmente para aliviar o peso de sua culpa, por suaautodesaprovação, em razão de ainda não ter atingido o estadode compreensão. Eis que vendo seu estado, o que posso lhedizer é que o seu problema reside no fato de que não estásconseguindo usar a razão ou o bom senso.

Para mim está muito claro o fato de que o motivo de suachateação é outro e não o dito fato de Mestre Pide tê-lahumilhado. O fato de estar desabafando comigo me dá odireito de concluir que confias em mim, portanto isso meautoriza a dizer-lhe que estás enganada, pois eu conheço oMestre Pide.

E saiba que ser mestre, minha cara, significa ter estado presoo quanto, como e onde, outros estão, e ter achado a chavepara escapar, e assim poder, não só dizer que a liberdade éuma possibilidade, mas também demonstrar que ela é umadisponibilidade; não é só uma promessa, mas também umarealidade, e ensinar a outros de como devem proceder paratal, embora pela força de seu exemplo, que sua condutadenuncia.- Para mim está muito claro o fato de que o motivode sua chateação é outro e não o dito fato de Mestre Pide tê-la humilhado. O fato de estar desabafando comigo me dá odireito de concluir que confias em mim, portanto isso meautoriza a dizer-lhe que estás enganada, pois eu conheço oMestre Pide. E saiba que ser mestre, minha cara, significa terestado preso o quanto, como e onde, outros estão, e ter achadoa chave para escapar, e assim poder, não só dizer que aliberdade é uma possibilidade, mas também demonstrar queela é uma disponibilidade; não é só uma promessa, mastambém, uma realidade, e ensinar a outros de como devemproceder para tal, embora pela força de seu exemplo, que asua conduta denuncia.

Saiba que o que para muitos é um erro, para um mestre, nãoraro, é uma estratégia, pois ele, por experiência própria, podeprecisar onde outros podem ou devem ir ou chegar. Ele jáesteve onde a maioria está, portanto pode, até mesmo, estar

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lhe ajudando, ainda que você não o compreenda.

Saiba que o Mestre Pide é mais um homem da ciência desteplaneta. E de onde um homem da ciência vem não se desistede ninguém. De onde um homem da ciência vem, ninguém éjulgado pelos seus atos, mas por suas intenções. Para ele, valemuito agir para fazer com que você consiga sair de onde está– talvez por causa do seu estúpido apego material – e reajapara encontrar o seu caminho, ainda que, com essa ação, elecorra o risco de ser chamado de louco ou imbecil, até mesmopor você.

Mas só ele sabe como lhe favorecer a sair daí de onde estásainda presa. E é isso que é amar. E enquanto você gasta suaenergia para discutir se o método dele é o justo ou não, perdetempo e força para sair daí. Sinto muito, mas ainda éspresidiária. Lutas com o carcereiro, sem notar que ele lheabriu a porta para que você pudesse escapar.- Saiba que o quepara muitos é um erro, para um mestre, não raro, é umaestratégia, pois ele, por experiência própria, pode precisaronde outros podem ou devem ir ou chegar. Ele já esteveonde a maioria está, portanto pode, até mesmo, estar lheajudando, ainda que você não o compreenda. Saiba que oMestre Pide é mais um homem da ciência deste planeta. E deonde um homem da ciência vem não se desiste de ninguém.De onde um homem da ciência vem, ninguém é julgado pelosseus atos, mas por suas intenções. Para ele, vale muito agirpara fazer com que você consiga sair de onde está - talvez porcausa do seu estúpido apego material - e reaja para encontraro seu caminho, ainda que com essa ação ele corra o risco deser chamado de louco ou imbecil, até mesmo, por você. Massó ele sabe como lhe favorecer a sair daí de onde estás aindapresa. E é isso que é amar. E enquanto você gasta sua energiapara discutir se o método dele é o justo ou não, perde tempoe força para sair daí. Sinto muito, mas ainda és presidiária.Lutas com o carcereiro, sem notar que ele lhe abriu a portapara que você pudesse escapar.

Eis que, minha irmã, a razão se recusa a aceitar sua teoria.Agora, por exemplo, o que faço consigo me coloca na mesmacondição de Mestre Pide, pois estou lhe convidando a usar arazão. E são os que nos chamam à razão, que os chamamos demonstros, loucos e/ou algo que equivalha, porquanto nossentimos humilhados.- Eis que, minha irmã, a razão se recusaa aceitar a sua teoria. Agora por exemplo, o que faço consigome coloca na mesma condição de Mestre Pide, pois estou lheconvidando a usar a razão. E são os que nos chamam à razão,que os chamamos de monstros, loucos e/ou algo queequivalha, porquanto nos sentimos humilhados.

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Nas relações humanas, minha cara Vica, não se deve levar emconta quem tem ou não razão, mas sim aquilo que é razoável.Ao contrário do crítico, o sábio sabe que nem sempre terrazão importa tanto quanto ser razoável. Eis que aquele queouve críticas e/ou algo que equivalha, de alguém, se quiserser razoável, deve, no mínimo, chamar gentil e criativamenteo crítico à razão, e não criar preconceitos para com ele,tampouco para com o criticado. É o que faço agora.- Nasrelações humanas, minha cara Vica, não se deve levar emconta quem tem ou não razão, mas sim aquilo que é razoável.Ao contrário do crítico, o sábio sabe que nem sempre terrazão importa tanto quanto ser razoável. Eis que aquele queouve críticas e/ou algo que equivalha, de alguém, se quiserser razoável, deve, no mínimo, chamar gentil e criativamenteo crítico à razão, e não criar preconceitos para com ele,tampouco para com o criticado. É o que faço agora.

Portanto, minha amiga, se você busca realmente auxíliocomigo, ouve e aprende: esse tal monstro que tanto falas estáem você mesmo. Basta que você se observe e verás. Basta verse agora tem amor ou ódio em seu coração. E, por favor, nãoveja isso como humilhação, saiba que as coisas da vida sãomais bonitas quando vistas de cima. Se você só conseguir verde baixo, então tudo é feio, pobre e insignificante, enfim,tudo é humilhante.

Geralmente, reagimos quando somos levados a nosautoconhecer. Ninguém quer autoconhecer-se, pois é, nomínimo, desagradável. E estás vivendo este exemplo. Se vocêrealmente não tivesse o monstro dentro de você, não reagiriacom tamanha veemência como fazes agora. O bom de tudoisso é que esse monstro não pode mais se esconder, comoestava, no profundo do seu ser. Agora você pode vê-lo eamá-lo até compreendê-lo e torná-lo, em força, à suadisposição. Lembra-se que erra muito mais aquele que criticaquem lhe criticou.- Portanto, minha amiga, se você buscarealmente auxílio comigo, ouve e aprende: esse tal monstroque tanto falas está em você mesmo. Basta que você se observee verás. Basta ver se agora tem amor ou ódio em seu coração.E, por favor, não veja isso como humilhação, saiba que ascoisas da vida são mais bonitas quando vistas de cima. Sevocê só conseguir ver de baixo, então tudo é feio, pobre einsignificante, enfim, tudo é humilhante. Geralmente,reagimos quando somos levados a nos autoconhecer. Ninguémquer autoconhecer pois é, no mínimo, desagradável. E estásvivendo este exemplo. Se você realmente não tivesse omonstro dentro de você, não reagiria com tamanha veemênciacomo fazes agora. O bom de tudo isso é que esse monstro nãopode mais se esconder, como estava, no profundo do seu ser.

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Agora você pode vê-lo e amá-lo até compreendê-lo e torná-lo, em força, à sua disposição. Lembra-se que, erra muitomais aquele que critica quem lhe criticou.

Terminou Zudo, com afeto, para com Vica.Terminou Zudo,com afeto, para com Vica.

– Como mestre? – perguntou confusa Vica e continuou –

Então o monstro está em mim e não nele? - Como mestre? -perguntou confusa Vica e continuou – Então o monstro estáem mim e não nele?

– Deixe-me ajudá-la, um pouco mais. Vai até aquele outrocompartimento do templo e diga-me de lá, o que vês.- Deixe-me ajudá-la, um pouco mais. Vai até aquele outrocompartimento do templo e diga-me de lá, o que vês.

Pediu a Vica o mestre Zudo, indicando o lugar, e ela assim ofizera. Chegando no mesmo, de lá, ela gritou:Pediu a Vica omestre Zudo, indicando o lugar, e ela assim o fizera. Chegandono mesmo, de lá, ela gritou:

– Não vejo nada, mestre, a não ser o quarto todo branco,vazio, com um espelho bonito e bem grande na minha frente.-Não vejo nada, mestre, a não ser o quarto todo branco, vazio,com um espelho bonito e bem grande na minha frente.

– Só isso?- Só isso?

Perguntou a ela, de fora, Mestre Zudo.Perguntou à ela, defora, Mestre Zudo.

– Só.- Só.

– Respondeu Vica, categoricamente. - Respondeu Vica,categoricamente.

– Está bem Vica, venha para cá, vamos refletir um pouco mais.-Está bem Vica, venha para cá, vamos refletir um pouco mais.

Considerou o mestre, cheio de paciência para com a mesma,pois não era ainda o momento dele ter resultados plausíveis erazoavelmente úteis, daquilo que orientou. Considerou omestre, cheio de paciência para com a mesma, pois não eraainda o momento dele ter resultados plausíveis erazoavelmente úteis, daquilo que orientou à mesma.

Para ele estava mais do que claro que Vica ainda não estavaem condições de submeter sua infinita liberdade de imaginarsua autoridade de inteligir.Para ele estava mais do que claroque Vica ainda não estava em condições de submeter a suainfinita liberdade de imaginar à sua autoridade de inteligir.

Era hora de auxiliá-la a despertar mais a inteligência, afinal,só um inteligente reconhece a fonte.

***

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Observamos a necessidade de Vica dar o salto quântico, ou seja,

favorecer a descontinuidade, consciência e significado, para poder beneficiar-

se de novos estágios de compreensão não experimentados, como o

mergulho em um oceano de possibilidades. Elucidando o salto quântico,

Goswami (2008) ilustra a experiência da descontinuidade do elétron em

um determinado átomo que, quando observado, salta órbitas sem passar

pelo espaço existente entre estas, como uma mágica real. Ele afirma:

[...] a descontinuidade da criatividade deixa de ser enigmáticaquando entendemos que ela se assemelha ao salto quânticodo elétron. Um antigo padrão de pensamento morre quandoum novo o substitui, mas não há conexão causal nem localentre os dois eventos (GOSWAMI, 2008, p. 91).

A natureza súbita e descontínua do insigth criativo é, semdúvida, o aspecto mais espetacular do ato de criatividade.Porém, nem tudo é descontinuidade e insigth, o insigth criativorepentino e descontínuo é apenas uma parte de um processodemorado (GOSWAMI, 2008, p. 60).

Podemos dizer que a criatividade origina-se da Essência Criadora

que se manifesta no universo das relações. Com base nessa assertiva,

podemos considerar que a criatividade não é produto das circunstâncias,

mas sim de nossa Essência; assim, o desafio da Lei é ser uma ação.

Nossa experiência possibilitou-nos perceber que a Criatividade

contém quatro características fundamentais nos momentos do dia a dia:

ação, indagação, diálogo e obra.

A ação perpassa o sentir, pensar e agir de forma integrada, pois ser

criativista é sentir, pensar e agir, concomitantemente, segundo o que indicam

as Leis Naturais, principalmente a Lei de Criatividade.

Com vistas a aprofundar o assunto, objetivando atingir a origem

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

causal de cada fenômeno, o ser humano faz uso da indagação de forma

cada vez mais interessante, instigante e inteligente, demonstrando o quanto

tem de profundidade e exercitando sua criatividade. Isto porque mais

importante que a resposta é a indagação, ainda que a resposta tenha como

objetivo despertar, construir e/ou desenvolver a inteligência do indagador.

Desta forma, a educação voltada para o despertamento da criatividade

busca cumprir seu papel, oportunizando a revitalização do processo de

ensino-aprendizagem-sentimento, por meio de atividades desafiadoras e

problematizadoras, proporcionando aos educandos o sentir, querer, pensar,

reconhecer, ousar, raciocinar e realizar, com o fim de auxiliá-los quanto à

compreensão de si mesmos, para melhor entenderem a vida e seus

complexos ditames.

Uma outra característica da criatividade, que favorece o uso da razão,

boa intenção e bom senso, é o diálogo, pois a comunhão de ideias cria um

terreno propício para o falar e ouvir e, consequentemente, trocar

experiências que, indubitavelmente, resultarão em uma relação bela, rica e

significativa, tendo em vista que o ideal do diálogo não é impor, mas

propor, dispor e/ou contrapor. Tudo busca o melhoramento; tudo evolui.

Existem três tipos de diálogos: o inquiridor, o inquisidor e o criativo.

No inquiridor, os participantes inquirem-se, buscando simplesmente

informarem-se ou saber cada vez mais acerca do assunto em pauta. No

inquisidor, os participantes interrogam-se tendenciosamente, afirmando,

culpando, negando, menosprezando e/ou algo que equivalha. E no criativo,

os participantes autoavaliam e ajudam-se mutuamente, buscando o

aperfeiçoamento, enfim, a melhoria das condições de todos. A educação,

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

por sua vez, deve oportunizar tempo e espaço para diálogos deste último

tipo, até porque o fim da educação não é só o conhecimento, mas também

e principalmente o autoconhecimento.

Por fim, a última característica da criatividade é a obra. Partindo do

princípio de que é pela obra que se conhece o obreiro, devemos observar

a obra. Se esta trouxer sabedoria, força e beleza em grau significativo

denunciará o grau de criatividade de seu criador, tendo em vista que o

valor significativo real de uma ação não está nos atos, mas nas obras; não

está na água, mas na fonte; não está nos produtos, mas na origem; não

está no ter, mas no ser.

Frente a estas considerações, confirmamos a necessidade de

oportunizar espaço e tempo no cotidiano da prática educativa para a

criatividade, em busca de se ter cada vez mais beleza, riqueza e significação

em nossa vida pessoal, profissional e espiritual. Para alcançar tal objetivo a

contento, sugerimos, trabalhando nesta direção, uma educação que

contemple todas as dimensões do ser, segundo a arte, ciência e

espiritualidade.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Capítulo 3

ARTE, CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE

COMO PILARES DA EDUCAÇÃO CRIATIVISTA

“Em seu mais profundo sentido, ser criativo é realizar-se como pessoa.”George Kneller

“Um pressentimento é a criatividade tentando te dizer algo.”Frank Capra

“A ciência, arte e espiritualidade elevam-nos o ser à sublimidade.”Jair Tércio

A criatividade é como a luz; se está presente, tudo se esclarece, tudo

se ilumina; enfim, o que não é, simplesmente desaparece. Diante do que

foi abordado no capítulo anterior, fica claro que cabe ao educador acender

sua própria luz e a do educando sob seus cuidados. Isto posto, entendemos

que cabe à educação, consequentemente, acender sua própria luz. Tendo

em vista que a escuridão não deve ser temida, mas dissipada, este iluminar-

se da educação transita e se estabelece no uso da criatividade em seus

processos de ensino-aprendizagem-sentimento.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Entendendo que a criatividade indica o caminho de uma educação

que favorece produções criativas e ilumina os processos criativos, lançamo-

nos ao desafio de apresentar os pilares centrais de uma Educação Criativista.

Assim, o criativismo como proposta pretende, justamente, nortear uma

educação que privilegie além do saber reconhecer, também o saber

descobrir e descobrir de fato, ou seja, privilegie o saber sentir e o sentir o

saber no educando.

Para nos aproximarmos da definição do termo “criatividade”,

apoiamo-nos na abordagem de Wechsler (2002, p. 26), que assim nos

esclarece:

Nas definições mais antigas sobre criatividade encontramoso termo latino creare = fazer, e o termo grego krainen =realizar. Essas duas definições demonstram a constantepreocupação com o que se faz e com o que se sente, ou seja,como pensar, produzir e se realizar criativamente.

Ao acrescentarmos o sufixo “ismo”, que, de acordo com Ferreira

(1999, p. 1141), é de origem grega, “ismó”, designando como “doutrina,

escola, teoria ou princípio artístico, filosófico, político ou religioso)”, damos

à palavra-raiz um novo sentido, atribuindo-lhe características próprias. O

criativismo, portanto, aqui posto, é uma teoria que tem sua base na

criatividade e postula a expressão da arte e do estado do ser de criar.

É oportuno lembrar que não analisamos aqui, por exemplo, os

processos psicológicos que permeiam a criação, pois, como afirma Jung

(1985, p. 99), “[...] seja o que for que a psicologia possa fazer com a arte,

terá que se limitar ao processo psíquico da criação artística e nunca atingir

a essência profunda da arte em si”. Intentamos reafirmar a natureza criativa

do ser humano e sua manifestação nos âmbitos pessoal, profissional e

espiritual e o papel da educação nesse contexto.

A teoria e a prática pedagógicas da Educação Criativista, no mínimo,

norteiam-nos quanto ao despertar, construir e/ou desenvolver de nossa

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

capacidade, habilidade e sensibilidade de afeiçoar, de admirar, de intuir,

de criar, bem como de buscar e achar o devido, considerando o processo

de nossa evolução, de forma paciente, persistente e inteligente. Assim, a

criatividade implica práxis, didática e método sempre novos, claros e

apropriados, com base em uma descontinuidade, consciência e atribuição

de um novo significado do ato de educar.

Parafraseando Moraes (2004), é preciso oferecer uma educação que

desenvolva, prioritariamente, processos reflexivos, criativos e críticos,

voltados para o desenvolvimento da autonomia, da criatividade e da

solidariedade do educando. Que oportunize a percepção das consequências

de seus atos, resgatando o verdadeiro sentido das coisas, sabendo integrar

pensamentos e sentimentos, favorecendo-o sair da ilusão que o impede

de ver a realidade como ela verdadeiramente é e se apresenta. Enfim, que

ele possa sentir e perceber o outro em sua inteireza.

Nestes termos, é papel do educador participar do processo educativo

de forma ativa e amorosa, atento à realidade não só do educando, mas

também de si mesmo, apoiado na premissa de que o ser humano é um

microcosmo que resume em si a magnanimidade do macrocosmo, com

vistas a fazê-lo descobrir-se e desvelar a criatividade que lhe é peculiar.

Assim ele será um co-criador, juntamente com seus alunos, como sintetiza

Goswami (2008, p. 36): “Para serem bem sucedidos como co-criadores

em conjunto com seus alunos, os professores também precisam se dedicar

à criatividade. A homeostasia estática do ego [...] não vale para o professor

dedicado à co-criação [...]”

À medida que o educador estabelece uma relação amorosa com os

educandos, ele favorece atos criativos e é capaz de educar para a criatividade.

Afinal, entendemos que o fim da educação não é só saber, mas o saber, o

sentir e o ser do ser humano. Nesse contexto, Morin (2004, p. 59) sinaliza

que há uma última questão sobre o ensino e a criatividade:

Ensinar não é unicamente uma função, uma profissão comoqualquer outra, onde se pode distribuir, produzir pedaços desaber: pedaços de Geografia, de História, de Química. Enfim,Platão disse muito bem: “para ensinar necessita-se de Eros”,

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

que significa amor, prazer, amor pelo conhecimento, amorpelas pessoas. Se não há isso no ensino, na investigação, noconhecimento, nenhum resultado é interessante.

A Educação Criativista, portanto, é aquela que não vive de métodos,

senão no mínimo pró-ativos, e dedica-se ao indivíduo como um todo,

implantando, mantendo e usando o que se despertou, construiu ou

desenvolveu, da harmonia entre pensamento e sentimento, emoção e

inteligência, bem como entre a razão e a intuição, em prol do desenvolvimento

de uma atitude criativa no educando, em todas as esferas de seu viver pessoal,

profissional e espiritual, que nada tem a ver com a religião.

Frente a isto, voltamos a afirmar que o Criativismo está afeito não só

ao saber criar, mas também a criar com base no novo, pois, no Universo,

tudo são Leis, cujo fim é também o de demonstrar o devido para a

realização do devido, haja vista que o Criativismo não tem a ver somente

com o saber reconhecer, mas também com o saber descobrir e descobrir

de fato. O Criativismo não tem a ver somente com a intelectualidade, mas

também com a admiração, espontaneidade, inspiração, intuitividade, enfim,

com a inteligência e tudo o que lhe é afeito. Não tem a ver com o que

mede, mas com o desmedido.

Nesta base, parte-se do pressuposto que, na educação, o repertório

de ideias é vasto e pode ser posto em conjunto pelo educando e pelo

educador, em uma constante interação de si para si, de si para o outro e

de ambos para o universo de possibilidades que anunciam os fenômenos

e o cosmo.

Assim, importa considerar que a Educação Criativa tem por fim

lembrar ao ser humano para que ele foi projetado, porquanto ele não se

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

autocriou e tem como qualidades, também, o pensar, o desejar e o inteligir.

Tal forma de educar leva em conta que ele é um ser que sente, pensa e age,

concomitantemente. Portanto deve viver, cada vez mais, integrando seus

sentimentos, pensamentos e ações num só ato de integração, até porque

ele, o ser humano, foi projetado para tal. E enquanto não souber conhecer

suas reações psicológicas não alcançará aquele estado de Ser que possibilita

ao novo advir. Eis o papel significativo da educação.

Ao adotarmos uma perspectiva criativista para a educação, faz-se

necessário fomentar novas formas de relação com o conhecimento e tudo

o que lhe é afeito. Baseados neste pensamento, entendemos que arte, ciência

e espiritualidade no educar facilitam despertar, construir e/ou desenvolver

a potência latente do ser humano, bem como moralizá-la e socializá-la no

meio no qual se encontra inserido. Assim sendo, é preciso usar do

entrelaçamento possível entre arte, ciência e espiritualidade na educação como

meio para se manifestar atos cada vez mais criativos, no inevitável processo

de ensino-aprendizagem-sentimento por parte do ser humano.

Moraes (2008), analisando a finalidade maior da educação, considera

que afirmações como promover o crescimento pessoal, individual e

coletivo do ser aprendente, ou mesmo favorecer o desenvolvimento

humano são muito óbvias e comuns. Faz-se necessário, portanto,

aprofundar as discussões sobre a finalidade da educação alicerçada em

uma perspectiva integral. A autora convida-nos a uma reflexão, salientando

que o educar é:

Cuidar do espaço interior, ou seja, de suas relações consigomesmo, ajudá-lo a aprender a cuidar de si mesmo. Cuidar doespírito que nele habita, preservando sua liberdade, valorizandosuas intuições, desenvolvendo sua autoestima e reconhecendo

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a amorosidade presente em sua própria humanidade. Épossibilitar a expressão dos seus sentimentos, talentos ecapacidades, para que ele possa situar-se como sujeito e nãocomo objeto neste mundo incerto e mutante, cheio deimprevistos e fenômenos inesperados, de uma maneira maiscompetente, sadia e sábia. (MORAES, 2008, p. 255).

Concordamos com a concepção de educar de Moraes (2008) e

ressaltamos que o verdadeiro ato de educar prevê uma nova perspectiva

de educação que integre arte, ciência e espiritualidade como suas bases

fundamentais, favorecendo ao educando experimentar, por exemplo, o

bem viver em graus cada vez mais significativos.

Tratando especificamente da dimensão da arte, destacamos o

posicionamento de Zanin (2007, p. 3): “[...] a arte é uma dessas coisas que,

como o ar ou o solo, estão por toda a nossa volta, mas que raramente nos

detemos para considerar.” Isso implica dizer que a arte não é encontrada

apenas circunscrita aos museus ou a cidades ou culturas históricas, mas ela

está presente em tudo.

Cabe considerar que a arte, nesta perspectiva, está afeita ao processo

criativo, o qual ilustramos com a letra da música O Belo da Arte, do Grupo

de Música e Centro de Estudos – MAHATMA (Salvador-Ba), que nos

oferece pistas sobre o processo criativo de comunhão e sintonia com a

criação natural, a saber:

Desde que eu me entendo,A tradição nos mandaa outros imitar ou copiar.Para fazer de nós artistas,por artes deles colecionar.

Ainda que eu escrevapoesias ou poemas,dance com técnica,a mais precisa que for.

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Pinte quadros da natureza morta ou viva,e mesmo música eu esteja a cantar ou compor.

A arte é muito mais que isso.E não sou um artistaquando estou a arte expressar,nesse momento não sou um artista não.

A expressão da artenão foi, não é, nunca será a arte.Ela só se manifesta em nós,quando estamos e somosaquele estado de ser amar.

Ainda que tudo que existaa arte possa expressar,ela não é produto da cópia ou imitação.Tudo isto faz parte dela,mas não é ela não.Ela é em nós o sentimento do belo,da rica e eterna criação.

De colecionadores de arteo planeta está repleto,mas, de artistas não, de artistas não.O colecionador de artesse apega às artes dos outros,e sua externa expressão.Matando em si mesmoo artista interno então.

Ele vive por fora cheio de beleza,mas, por dentro, pobre, vazio é o seu coração.É que a vida que leva é cheia de conflitos,então imita e copia a arte dos outros,para sair da sua confusão.

Já o artista não, o artista não...Nele reside o sentimento do belo,que vem com o observaras coisas sem rótulos, sem distinção.É que entre ele e as coisas não há distância,mas sim total comunhão.

Daí resulta o estado de amar,por estar em total sintonia,do seu ser flui alegria,

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

flui riqueza, flui expressão.Sua vida é rica e tem significação.Todas as suas ações são belas...Porque é do sentimento do beloa beleza de todas as ações.

A arte não é um produtoMas sim origemNão é criadaMas sim criaçãoE está presente no ente humanoQuando ele deixa de existirNa qualidade mental de pensadorE experimentaCom a qualidade mental de perceptor.

A letra da música leva-nos a refletir, como bem evidenciado por

Jung (1985, p. 54), que “[...] apenas aquele aspecto da arte que existe no

processo de criação artística pode ser objeto da psicologia, não aquele

que constitui o próprio ser da arte”, tendo em vista que a psicologia não

conseguiria explicar o “[...] grande segredo da vida que sentimos

diretamente na criatividade” (JUNG, 1985, p. 66).

Fica evidente que, senão com a arte e a inteligência podemos admirar,

reconhecer e experimentar a verdade, assim como transcender o velho ou

mesmo favorecer um reencontro com a beleza de sermos o que somos.

Assim, declara Goswami (2008, p. 70-71):

[...] somente quando a identidade com o antigo morre é que onovo é capaz de surgir em nossa vida e podemos ser criativosinteriormente. Somente quando a nossa identidade com oego adulto condicionado rende-se é que podemos prosseguire expandir os horizontes do autodesenvolvimento.

A arte pode cumprir esse papel de fazer surgir o novo, de fazer aflorar

novas formas de realizar e favorecer novos estágios de compreensão da

beleza existente em todas as coisas, mesmo porque a arte imita a natureza,

segundo aquilo que esta inspira àquela. A Educação Criativista, neste sentido,

deve ter a arte como um de seus três pilares centrais.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Jung (1985, p. 66) levanta a seguinte reflexão, com base no

questionamento sobre a “significação” da arte:

Talvez a arte nada “signifique” e não tenha nenhum “sentido”,pelo menos não como falamos aqui sobre sentido. Talvez elaseja como a natureza que simplesmente é e não “significa”.Será que “significação” é necessariamente mais do que simplesinterpretação, que “imagina mais do que nela existe” porcausa da necessidade de um intelecto faminto de sentido?Poder-se-ia dizer que a arte é beleza e nisso se realiza e sebasta a si mesma. Ela não precisa ter sentido. A perguntasobre o sentido nada tem a ver com a arte.

Diante de tão profunda argumentação, percebemos que a arte por si

só já se basta; não precisa de “interpretações” ou “significações” que

possam provocar um reducionismo. Podemos dizer que a expressão da

arte é o encontro e a demonstração do Imutável de cada coisa. Deste

modo, a Educação Criativista busca favorecer esse encontro do ser humano

com a essência.

Fazendo um comparativo entre o cientista e o artista, Gardner (1999,

p. 176-177) deixa clara a necessidade de integração dos conteúdos subjetivos

e da técnica, para que sirvam de base na construção de uma obra.

Tal como o cientista, o artista movimenta-se entre dois mundos,mas as realidades desses mundos são muito diferentes. Por umlado, há os pensamentos, sentimentos, crenças, visões eimaginação do artista; os conteúdos de suas experiênciasconscientes (e inconscientes). Por outro, estão os meios materiaisao alcance dos artistas, as técnicas com que eles e outrostrabalham a fim de moldar uma obra de arte.

Nenhuma dessas bases é suficiente sem a outra. Se um artistaestá cheio de ideias ou inspirações, mas falta-lhe o domínio deum meio material, não será capaz de expressar-se (ou de expressaros significados pretendidos) de um modo acessível. Ou estarádirigindo-se unicamente a si mesmo, ou usará um meio materialde uma forma que confunde os outros. Se, por outro lado, oartista tem o completo domínio de um meio de expressão, mascarece de ideias ou inspiração, então sua obra pode, no máximo,ser derivativa; não sustentará os interesses de outros.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Frente a isso, verificamos que a racionalidade científica sozinha não

consegue desvendar a realidade, demonstrando, assim, a existência de uma

lacuna em nosso sistema educacional que só poderá ser superada por um

novo modo de aprender e de ensinar, para além da racionalidade,

envolvendo ação em si, repleta de aptidão, excentricidade e genialidade,

que favoreça ao educando compreender o universo e sua causa absoluta,

por exemplo.

Concebemos o universo como um sistema integrado e, alicerçados

em Laszlo (2008), entendemos que a característica crucial do universo é a

in-formação que é gerada, conservada e transmitida, que liga todas as

suas partes. Esta característica é decisiva para a compreensão de que tudo

está interconectado e se edifica sobre a in-formação que já fora gerada.

Nesse contexto, cabe à ciência desvendar os mistérios do universo.

E, nesse propósito, o pesquisador deve buscar, com base nessa máxima,

mergulhar no oceano de possibilidades que as pesquisas científicas sugerem,

desvencilhando-se de velhas teorias ou antigas concepções em busca do

novo, do ato criativo. Cabe ao docente instigá-lo e incentivá-lo a buscar as

respostas na fonte, onde é ausente de conflito e repleto de amor disponível.

Assim, o mergulho dos pesquisadores no oceano desconhecido de

possibilidades tem favorecido novas criações e invenções. Goswami (2008,

p. 60) expressa que: “[...] ao lidar com a totalidade do ato de criatividade,

precisamos observar não só o que é descontínuo e extraordinário, mas

também o que é contínuo e comum”. Com tal afirmação, ele quer dizer

que o ser humano também cria com base em um exemplo da natureza,

ou seja, com base na própria criação universal.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Coaduna-se com com esse entendimento a seguinte afirmação de

Kneller (1978, p. 57): “[...] na ciência, o ato de criação brota de duas

matrizes de pensamento até então desprovidas de relação.” Isto confirma

muitas criações, a exemplo da máquina a vapor, inventada por James

Watt. Ao observar que a chaleira erguia a tampa com força, ele questionou:

Se o vapor pode fazer isso, será capaz de movimentar uma locomotiva?

Alexander Graham criou o telefone, observando os ossos e membranas

do ouvido (GOSWAMI, 2008). Outros exemplos de criação pelo uso da

inteligência do ser humano “imitando” o Criador é, dentre tantos outros,

o trator de esteira, idealizado com base no movimento da centopeia; a

criação do helicóptero, inspirado no movimento da libélula; e ainda a

bateria do carro, concebida com base na relação que seu criador estabeleceu

com os centros nervosos do ser humano.

Assim, essa ótica da Educação Criativista permite-nos entender a

ciência como um dos pilares centrais dessa perspectiva educacional,

considerada em sua genuinidade como a arte real; e o cientista, como um

artista que não necessita de público, de elogio, tampouco de aplauso,

simplesmente é em seu estado de criar e amar.

Nesta perspectiva, cabe à educação primar pelo processo de criação,

pois, afinal, a ciência não é só lógica, razão e técnica, é também inspiração,

intuição e criatividade, acessando a essencialidade das coisas, enfim, a

espiritualidade. Eis que ciência sem espiritualidade não passa de uma

filosofia. Desse modo, a ciência deve ser levada à exaustão e, assim, não

deve existir contradição entre ela e a espiritualidade, que também deve ser

compreendida como um dos pilares centrais da Educação Criativista.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Parafraseando Moggi e Burkhard (2004), a espiritualidade é uma

questão que acompanha a evolução do ser humano e precisa tornar-se

cada vez mais explícita, consciente e independente de dogmatismos. Neste

sentido, sugerimos investigar tal questão à luz dos estudos desses autores,

com base no seguinte argumento, dentre outros:

Na esfera existencial, como seres conscientes, fica cada vezmais claro que temos um corpo, mas não somos o nosso corpo;temos emoções, mas não somos a nossa emoção; temos umintelecto, mas não somos o nosso intelecto; temos uma mente,mas não somos a nossa mente. O que sobra individualmente,então? Sobra a consciência, o espírito, a individualidade ou oEu. (MOGGI; BURKHARD, 2004, p. 17).

Os autores prosseguem, assumindo que o conceito de espiritualidade

caracteriza-se por possuir elementos comuns a todas as grandes religiões,

como “[...] o amor, o respeito à vida em todas as suas manifestações, o

livre arbítrio, a esperança, a fé, a honestidade, a integração, a verdade, a

bondade, a beleza, a igualdade, a fraternidade e a liberdade” (MOGGI;

BURKHARD, 2004, p. 17). Enfim, trata-se de potencializar a atuação de

cada um no mundo com mais “[...] consciência, energia e coragem!”

(MOGGI; BURKHARD, 2004, p. 21).

Em uma abordagem similar à dos autores citados, Happé (1997, p.

72) afirma: “Não somos o corpo, nem somos as emoções, não somos

nossos pensamentos, somos o espírito do amor, neste momento, aqui no

planeta Terra, aprendendo como expressar a nossa verdade, o nosso saber

divino, que é a nossa luz”.

Compactuamos com essas concepções que buscam expressar a

subjetividade da palavra espiritualidade, por entendermos que cultivar a

espiritualidade na educação é colocar o aprendente frente a questões

subjetivas da vida e que permeiam a relação consigo próprio, com o

outro e com a natureza que o cerca. Happé (1997, p. 71) faz a seguinte

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

consideração:

Quando aprendermos a nos conscientizar de nossa própriaimportância, não enquanto identidade de ego individual, mascomo um ingrediente necessário à totalidade da vida,começaremos a criar de maneira a trazer prosperidade paratodos. O que fazemos tem um significado muito maior doque pensamos – a partir do que criamos hoje, vastos mundospodem ser criados ou destruídos.

Comungamos com o autor a ideia de que há uma necessidade

imperiosa de adquirirmos a percepção consciente de quem somos, de

onde viemos e para onde vamos; do princípio criador, da finalidade da

vida e da razão de nossa existência, conforme já citado, pois, no contexto

da educação, as relações estão pautadas, muitas vezes, em troca de

conhecimentos. Sem a assunção dessa responsabilidade de sabermos quem

somos, não teremos a responsabilidade de auxiliar o outro nessa jornada,

não só do conhecimento, como também do autoconhecimento. Para isso,

cabe uma abordagem que abranja níveis subjetivos do ser humano, exigindo

um nível aprofundado de criatividade, pois a criatividade surpreende; ela

que é cheia de arte, ciência e espiritualidade.

Entendemos, assim, que a fragmentação do conhecimento separou

arte, ciência e espiritualidade e estes pilares precisam ser resgatados em

favor de uma Educação Criativista. Nesta perspectiva, vislumbramos que

a prática dessa educação exige, em princípio, a criação de núcleos de

pesquisa em prol de uma educação mais integral e integradora nos espaços

de educação, conforme explanação a seguir.

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NÚCLEOS DE PESQUISA EM

PROL DE UMA EDUCAÇÃO CRIATIVISTA

“Um ensino criativo passa pela criatividade do método.”Saturnino de La Torre

“A novidade, qualquer que seja seu ponto de referência, não é única ou suficientepara dar um caráter criativo a uma conduta.”

Todd Lubart

“Quando tudo parece impossível, significa que está na hora de criar.”Jair Tércio

No que se refere a experiências efetivas de uma Educação Criativista,

citamos três instituições em Salvador que trabalham com a perspectiva

Criativista: Ananda – Escola e Centro de Estudos, em Itapuã, Salvador;

Instituto Ananda, em Vilas do Atlântico, Lauro de Freitas; e Instituto

Superior de Educação Ocidemnte (ISEO), em Itapuã, Salvador.

Para a consolidação da prática da Educação Criativista, indicamos a

implantação do Núcleo de Criatividade que, voltado inicialmente para o

processo de formação de educadores, tenha em sua base a construção

teórico-prática, inclusive, das seguintes abordagens:

Ludologia – Relação entre ludicidade e o processo de ensino-

aprendizagem. Estuda o conceito de lúdico, evidenciando sua importância

na vida do ser humano como um todo. As abordagens educacional,

sociocultural e psicológica no entendimento jogar, brincar e/ou divertir

do seres humanos. Relevância dos jogos tradicionais infantis, o jogo e a

construção de representações no desenvolvimento de conhecimentos,

afetividade e socialização.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Inteligenciologia – Relação ser humano e inteligência. A evolução histórica

do conceito de inteligência. Características do ser inteligente. Estudos sobre

a Teoria das Inteligências Múltiplas: caracterização, desenvolvimento e

especificidades

. Inteligência Emocional: conceito e pressupostos. Inteligência Espiritual

e o paradigma de quociente de inteligência.

Conscienciologia – Estudo sobre a Vida, Origem e concepções. O Ser

humano e sua estrutura para com a Vida. O processo de hominização.

Evolução socioantropológica do Ser humano. Conceituação,

despertamento, construção e desenvolvimento da Consciência.

Autoconhecimento e autoconsciência.

Cientologia – Abordagem da ciência como busca da verdade pelo

conhecimento científico, filosófico e religioso. Aprofundamento da ciência

com o apoio da sensibilidade, subjetividade e criatividade.

Presciência – Compreender o fenômeno da presciência. Relação da

presciência com a percepção, intuição e futuro. A importância de prever e

precaver-se pelo autoconhecimento. Refletir quanto ao sentido/significado

da vida e suas interfaces com as necessidades e desejos humanos em prol

de ações embasadas em princípios, valores ou leis. Aprimorar as qualidades

do querer, raciocinar e realizar, portanto, aprender a expressar cada vez

mais vontade, consciência e ciência de si e do meio em que vive.

Senciência – O papel da consciência nos seres sencientes. Ciência do

sentimento. Mecanismo de funcionamento das emoções e sentimentos.

Tipos de conhecimento: sensível, racional e intuitivo. Reflexão e

autoconhecimento. Desenvolvimento da dimensão do sentir na educação.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

Geniologia – Conceituação de superdotação, bem como características

do superdotado: sua especificidade quanto aos aspectos físico, psíquico e

moral. Reflexão crítica sobre os testes de QI como instrumentos para

diagnosticar a criança superdotada. Estuda as contribuições da teoria das

Inteligências Múltiplas para o trabalho pedagógico e o processo inclusivo

da criança superdotada e delineia o papel do educador e da família na

educação do superdotado. Discute também as Políticas Públicas para as

crianças superdotadas no Brasil e no mundo.

Mente – Natureza, estrutura e função da mente. Formas de

desenvolvimento. Relação com a consciência, a inconsciência e o cérebro

humano. Funções superiores do cérebro humano, particularmente o

pensamento, a razão e a memória, a inteligência e a emoção.

Pensamento – Concepções e conceitos de pensamento. Níveis do pensar

e a consciência humana: pensar fixo, pensar flexível e pensar sem

pensamento.

Criatividade – A criatividade no contexto pós-moderno. A

compreensão da criatividade como Lei Natural. As contribuições da

criatividade para a prática pedagógica. O sistema didático integral com

base em Mitjáns Martinéz.1 Criatividade e desenvolvimento do potencial

criativo.

Sugerimos que o referido Núcleo funcione com encontros semanais

na educação básica e/ou no ensino superior, sempre com foco na educação

continuada do corpo docente, auxiliando-o quanto a fazer de si mesmo

um ser humano mais humano, portanto um ser cada vez mais criativo,

que valora, inclusive, o pensamento produtivo, mas não somente ele,

mobilizando o potencial criativo do educando em todas as disciplinas,

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

temas e assuntos investigados, quer em classe, quer em casa, quer na

sociedade, enfim, no mundo. Até porque a criatividade está presente em

todos os ambientes, assuntos, circunstâncias e situações do viver.

Corroborando com tal perspectiva, destacamos a ênfase apresentada

nos processos de formação continuada, através da educação formal, por

Barreto (2007, p. 90):

A formação continuada na perspectiva criativa, portanto, deve ser encarada como umapossibilidade de renovação do potencial do educador/orientador, considerando que acriatividade traz inovações, pois, entendemos que é provadamente verdadeira a teoria deque o ser humano é um ser que foi projetado para sentir, pensar e agir, concomitantemente;a sua beleza, riqueza e significação está na sua diversidade criadora e a sua criatividadeestá na sua unidade geradora. Assim, renovada a unidade geradora, renovadas aspossibilidades criativas [...], afinal não é possível a nós, seres humanos, viver com muitaatividade e nenhuma criatividade.

Tudo isto, portanto, está além da razão, pois é preciso ultrapassá-la,

até porque a razão recusa-se a aceitar a teoria da incredulidade eterna e

absoluta.

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BARRETO, Maribel. Ensaios sobre Criatividade - Vol II

EPÍLOGO: UM NOVO CAMINHAR

“Ao exercer o seu potencial criador, trabalhando, criando em todos osâmbitos do seu fazer, o homem configura a sua vida e lhe dá um sentido.”

Fayga Ostrower

“O potencial para a criatividade está sempre presente.Ele não diminui com o passar do tempo.”

Goleman; Kaufman; Ray

“O ontem nos criou, hoje nós somos e amanhã nós criaremos.”Jair Tércio

É possível educar sem dar exemplos? Eis o convite final que fazemos

ao leitor na presente obra: que possa envolver-se de forma direta, correta

e completa com a criatividade como derradeira oportunidade para bem

educar e auxiliar seu semelhante quanto a tal.

Neste sentido, reconhecemos a natureza essencial da Criatividade que,

apesar de se manifestar de forma peculiar em cada ser humano, não deixa

de ter seus princípios fundamentais representados pela genialidade,

consciência, ação, aptidão, inteligência, inovação, talento, sabedoria, soluções,

experiência, sentimento, ineditismo, funcionalidade, utilidade, originalidade,

notabilidade, genuinidade, sabedoria, eficácia, produtividade,

engenhosidade, construção, novidade, imaginação, flexibilidade, criação,

improviso, intuitividade, espontaneidade, novas ideias, inspiração, unidade,

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integração, simplicidade, ludicidade, analogia, associações, concentração,

contemplação, exaltação, interioridade, autoconfiança, autonomia,

autoconhecimento, destreza, presteza, exatidão, transformação, conexões,

revolução, persistência, discernimento, surpresa, receptividade,

transcendência, iniciativa.

A síntese exposta possibilita-nos perceber que todo ser humano tem

um grau de criatividade significativo em algum segmento de sua atuação,

seja na área pessoal, profissional ou espiritual. Deste modo, a educação

deve não só favorecer, como fazer florescer a intimidade de cada ser

humano com sua Essência. Afinal, só em contato com sua essência o

criativo se manifesta.

Assim, conforme vimos, a Educação Criativista visa realizar a arte,

espiritualidade e ciência de verdadeiramente conhecer, inclusive, aquele

conhecimento que liberta o Ser Humano e dá vitória à humanidade.

Concluímos que a Criatividade não é uma invenção humana. Não é

uma opção senão compreendida como Lei Natural, mas uma aptidão.

Ela pode ser considerada como o processo de reforma, mudança e

transformação, portanto evolutivo, inclusive, da vida humana, que advém

de sua parte subjetiva e demonstra-se em sua parte objetiva. Ela faculta ao

ser humano, realmente, a realização e, porque não dizer, a autorrealização.

Ela não é uma simples opinião, uma falsa teoria ou uma indicação

esporádica e nada tem a ver com entropias. Ela é um processo de construir

ideias, teorias ou hipóteses; é ela que testa e contesta absolutamente tudo,

a fim de demonstrá-lo como algo original, simples e inédito. Ela não é

um capricho humano, tampouco uma construção humana; muito pelo

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contrário, é uma Lei Natural que faculta ao ser humano o querer, saber e

poder realizar aquilo que necessite ou deseje, independentemente do que

seu sentimento dite; ainda que seja muito importe considerar que isso

deva ser feito de acordo com o que a necessidade exige e a razão justifica,

em função do equilíbrio dinâmico da Obra do Universo em sua eterna

expansão.

Que esta obra simbolize um marco para a nova humanidade, tendo

como ponto de partida cada um de nós. Que possamos, portanto, integrar-

nos à criatividade e que ela ilumine nosso caminho, lembrando que o

símbolo da criatividade é a luz, que representa o conhecimento de nossa

essência criadora, que exige ser compreendida. Assim, é fundamental o

despertamento, a construção e/ou o desenvolvimento de nossa consciência,

o esclarecimento de nossa razão e a iluminação de nosso Ser, para que

possamos viver equilibrados, em busca de discernir o verdadeiro caminho

que devemos seguir, rumo ao que promete a evolução, principalmente

abreviada.

Que a luz seja nosso símbolo enquanto entes criativos; eis que grandes

símbolos, grandes alvos!!!

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Maribel Barreto

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