ENSAIO SOBRE O TEMPO - cdn.cafebrasilpremium.com.br 008 ENSAIO... · Comecei este ensaio com a...
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És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo
O que usaremos pra isso
Fica guardado…
Senhor Tempo. Democrático senhor tempo! Homens ou
mulheres, pretos ou brancos, ricos ou pobres, todos têm a
mesma quantidade. Não dá pra emprestar. Não dá pra
comprar. Não dá pra alugar. Só dá pra viver. A diferença é o
que cada um escolhe fazer com ele.
Comecei este ensaio com a letra de Oração ao Tempo, de Caetano Veloso, música que me
acompanha em todos os momentos da vida. Por quê? Bem, é só prestar atenção na letra...
Durante uma de minhas palestras, um grupo de jovens perguntou sobre fórmulas para construir
uma carreira de sucesso. Eles viam em mim um executivo de uma multinacional, um sujeito que
fala em público com facilidade, um escritor, um radialista enfim, e queriam descobrir o que fiz e
como fiz para chegar até ali.
Cada um tem sua história de vida e já está mais que provado que duas pessoas parecidas, por
mais similares os ambientes onde cresceram e foram educadas, acabam encontrando diferentes
caminhos na vida. Fórmulas não existem. Existem métodos, existem processos, existem dicas.
Sabe aquelas coisinhas que a gente aprende quebrando a cara?
Para responder a uma pergunta dessas, sempre começo com um aviso: tudo que eu disser que
serve para mim, serve para mim. Talvez não sirva para você. Isso vale para este ensaio. Eu sou
o Luciano Pires, que fiz ao longo da vida milhares de escolhas que me trouxeram para onde
estou, do jeito que estou. Outras pessoas fariam escolhas melhores e estariam em outro lugar,
de outro jeito. Tudo que posso fazer nesta altura da vida é dizer:
- Olha, quando estive diante de uma oportunidade de escolha, escolhi assim e aconteceu isto.
Pronto. Eu não posso recomendar que você escolha igual, renuncie igual, e assim obtenha o
mesmo resultado. Primeiro porque pode ser que o resultado que me satisfez não sirva para você.
Segundo, porque as circunstâncias, o contexto, são diferentes. O que uma vez funcionou para
mim, pode ser que não funcione para você.
Para que perder tempo aqui então?
Bem, para aumentar seu repertório usando a experiência dos outros. Cada fragmento de
informação ou conhecimento que eu aqui expuser, serve para você enriquecer sua base de
dados, que o ajudará a fazer suas escolhas. E aproveitar as experiências de quem já passou por
algo que você está passando ou passará, é uma forma inteligente e insubstituível de usar seu
tempo.
Respondi à pergunta usando uma das coisas que mais gosto de dizer, e que sempre decepciona
a garotada:
- Um dos atributos mais importantes para explicar o sucesso que as pessoas obtêm em
suas carreiras é muito comum e todo mundo tem em igual intensidade: o tempo.
Meus jovens interlocutores tinham mais vigor físico, mais velocidade, mais ânimo, mais beleza,
mais capacidade de aprender do que eu. Mas eu tenho mais tempo de vida…
Aquele executivo que falava para eles é produto de mais de meio século de experiências, de
tentativas e erros. Está por aqui desde a metade dos anos cinquenta. Planta desde os 16 anos
de idade, e por isso colhe. Qualquer garotão de trinta anos pode ter mais cursos, mais empregos,
mais filhos, mais empresas, mais viagens do que eu. Mas nunca terá mais tempo de vida. E,
acredite, isso faz diferença quando temos consciência de que a passagem do tempo é um
processo de aprendizado, de polimento.
Quem tem essa consciência trata o tempo como aliado.
O tempo adiciona à razão uma carga de emoção que só conseguimos equilibrar quando
chegamos à idade madura, lá pelos quarenta anos.
Num artigo da jornalista Maia Szalavitz na revista Psicology Today, encontrei uma informação
curiosa, pois sempre achei que seria o contrário: pesquisas demonstraram que quando um jovem
é colocado diante de uma decisão que envolve determinados riscos, como usar drogas para
ganhar massa muscular ou dirigir embriagado, usa certas regiões do córtex cerebral,
responsáveis pela razão. E sua análise racional determina muitas vezes que os ganhos em
estética corporal valem o risco das drogas. Ou que a diversão naquela festa vale o risco da
direção insegura.
Já os adultos usam regiões do cérebro mais ligadas à emoção. Pesam os prós e os contras de
forma racional e emocional e por mais que os ganhos sejam atraentes é a decisão emocional
que diz:
- Não!
Nós, adultos, baseados na emoção, consideramos sempre o pior cenário.
– Nossa, pai, como você é trágico!
– Mãe, você acha que eu sempre vou me estrepar!
Nossos filhos consideram sempre o melhor cenário. Tudo vai dar certo, tudo vai correr bem, tudo
é tranquilo. Eu sei. Fui um deles, mas um dia o Senhor Tempo me transformou em pai.
Infelizmente (ou felizmente) não há como apressar o tempo. É impossível acelerar o
amadurecimento do processo de tomada de decisão. São a prática e a repetição que
aperfeiçoam nosso processo de julgamento emotivo.
Terminei a palestra com uma frase de Charles Darwin que é mais um de meus motes de vida:
O homem que tem coragem de desperdiçar uma hora
de seu tempo, não descobriu o valor da vida.
Em 2008 fiz uma das minhas viagens malucas. Fui até o Polo Norte pra ver como é. E quando
digo Polo Norte é polo norte mesmo, não é somente “Ártico”. Fiquei em pé lá, nos 90 graus norte,
sobre uma crosta de gelo.
A viagem foi feita de navio, um quebra -gelo nuclear russo que navegou por 10 dias em meio
pelo mar de Barents congelado da região. Se você ficou curioso, acompanhe a viagem aqui:
https://lucianopires.com.br/o-meu-polo-norte/ Uma das coisas mais intrigantes que vivi foi o fato
do dia ter 24 horas naquela região e período do ano. O sol jamais se põe. Ele tangencia o
horizonte e sobe de novo. É muito estranho não ter noite.
https://www.youtube.com/watch?v=rc_DlcEh7Jw
Eu achei que não haveria problema, bastaria obedecer à rotina do corpo e do dia a dia, com café
da manhã, almoço e jantar. Na hora de dormir, era só fechar a janela, apagar a luz e fingir que
era noite.
Mas que engano…
Nosso corpo e mente não podem ser enganados tão facilmente. Eu deitava e não pregava o
olho. Nos primeiros dias achei que era questão de fuso horário, mas logo vi que não era assim.
Sem o anoitecer, meu corpo não reconhecia que era hora de dormir. E não adiantava deitar e
apagar a luz…
Intrigante isso. A passagem do tempo tem realmente a ver com esses ciclos da natureza, o que
sempre levanta a questão: será que o tempo pode passar mais rápido? Quando somos crianças
temos a impressão que o tempo é algo que demoooooora a passar, não é? Temos todo o tempo
do mundo e as tarefas das quais não gostamos parece que demoram demais. Quem não se
lembra daquelas viagens que fazíamos com nossos pais, quando ficávamos o tempo todo
perguntando:
– Pai, Mãe, tá chegando?
Tudo parecia grande demais, longe demais, demorado demais… Até que a gente começa a
crescer. Com a maturidade vem um novo modo de ver o mundo, de contar as horas, de viver o
tempo e aos poucos vamos percebendo que ele vai ficando mais curto. As coisas passam mais
rapidamente. Parece que faltam horas no dia. E quanto mais responsabilidades assumimos,
mais parece que o tempo está voando…
Será que essa é uma sensação apenas psicológica? Ou será física também, como aquela da
minha viagem ao Polo Norte? Talvez seja tudo uma questão de como medimos o tempo…
O mestre Rubem Alves tem uma reflexão interessante sobre a forma de medir o tempo. Ele diz
assim:
O tempo se mede com batidas. Pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode
ser medido com as batidas do coração.
Os gregos, mais sensíveis do que nós, tinham duas palavras diferentes para indicar esses
dois tempos. Ao tempo que se mede com as batidas do relógio – embora eles não
tivessem relógios como os nossos – eles davam o nome de chronos. Daí a palavra
cronômetro.
O pêndulo do relógio oscila numa absoluta indiferença à vida. Com suas batidas vai
dividindo o tempo em pedaços iguais: horas, minutos, segundos. A cada quarto de hora
soa o mesmo carrilhão, indiferente à vida e à morte, ao riso e ao choro.
Agora, os cronômetros partem o tempo em fatias ainda menores, que o corpo é incapaz
de perceber. Centésimos de segundo: que posso sentir num centésimo de segundo? Que
posso viver num centésimo de segundo?
Diz Ricardo Reis, no seu poema “Mestre, são plácidas” (que todo dia rezo): “Não há
tristezas nem alegrias na nossa vida”. Estranho que ele diga isso. Mas diz certo: o tempo
do relógio é indiferente às tristezas e alegrias.
Há, entretanto, o tempo que se mede com as batidas do coração. Ao coração falta a
precisão dos cronômetros. Suas batidas dançam ao ritmo da vida e da morte. Por vezes
tranquilo, de repente se agita, tocado pelo medo ou pelo amor. Dá saltos. Tropeça. Trina.
Retoma à rotina. A esse tempo de vida os gregos davam o nome de kairós, para o qual
não temos correspondente: nossa civilização tem palavras para dizer o tempo dos
relógios: a ciência. Mas perdeu as palavras para dizer o tempo do coração.
Chronos é um tempo sem surpresas: a próxima música do carrilhão do relógio de parede
acontecerá no exato segundo previsto. Kairós, ao contrário, vive de surpresas. Nunca se
sabe quando sua música vai soar.
Que legal esse texto de Rubem Alves, não é? Viver de surpresas… que tal?
Então recebo de meu amigo Bruno Hoppe, um artigo de Airton Luiz Mendonça publicado no
jornal O Estado de São Paulo com o título de “Sobre o tempo!” Vale ler:
O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos. Se alguém
colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou
janelas, sem relógio você começará a perder noção do tempo. Por alguns dias, sua mente
detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os
batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sanguínea.
Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos
objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o
pôr do sol. Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar: nosso
cérebro é extremamente otimizado. Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho.
Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Qualquer um de nós ficaria
louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade. Por isso, a
maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do
dia, portanto, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muito mais
recursos para compreender o que está acontecendo.
É quando você se sente mais vivo. Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele
vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e “apagando” as
experiências duplicadas.
Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo
acelera quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais
rapidamente.
Quando começamos a dirigir automóveis, tudo parece muito complicado, nossa atenção
parece ser requisitada ao máximo.
Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou
até falando ao celular ao mesmo tempo. Como acontece? Simples: o cérebro já sabe o
que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na
mente) o cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências
passadas e usa, no lugar de repetir realmente a experiência). Em outras palavras, você
não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos
de troca de marcha e leitura de placa são apagados de sua noção de passagem do tempo.
Quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência
repetida. Conforme envelhecemos, as coisas começam a se repetir, as mesmas ruas,
pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações, enfim, as
experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com
que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo.
Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana,
no ano ou, para algumas pessoas, na década.
Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a r-o-t-i-n-a.
Não me entenda mal. A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa, mas a maioria
das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de
um só capítulo, repetido todos os anos.
Felizmente há um antídoto para a aceleração do tempo: M & M (Mude e Marque). Mude,
fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou registros com fotos.
Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias sempre e,
preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte) e marque com fotos,
cartões postais e cartas. Tenha filhos (eles destroem a rotina) e sempre faça festas de
aniversário para eles, e para você (marcando o evento e diferenciando o dia).
Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos diferentes. Vá a mercados diferentes,
leia livros diferentes, busque experiências diferentes. Seja diferente.
Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido,
esposa ou amigos para outras cidades ou países. Veja outras culturas, visite museus
estranhos, deguste pratos esquisitos, em outras palavras, V-I-V-A. Porque se você viver
intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais longo. E se tiver a sorte de estar
casado ou casada com alguém disposto a viver e buscar coisas diferentes, seu livro será
muito mais longo, muito mais interessante e muito mais v-i-v-o do que a maioria dos livros
da vida que existem por aí.
Cerque-se de amigos. Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes, com
religiões diferentes e que gostam de comidas diferentes.
Enfim, acho que você já entendeu o recado, não é? Boa sorte em suas experiências para
expandir seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida.
Que pancada, né? Tá claro pra você que são suas escolhas que determinam a velocidade do
tempo? Se você é um conformado, rotineiro, previsível, já virou engrenagem do relógio. E o
tempo voará sem que você perceba…
A má notícia é que o tempo voa. A boa é que você é o
piloto. Michael Altshuler
Em minha palestra Meu Everest, proponho à plateia um exercício para que reflitam sobre o tempo
que gastam ao longo do dia limpando a caixa postal dos celulares de porcarias. Note, não é o
tempo que passamos usando o celular, é o tempo limpando a caixa postal de porcarias. Se
concluirmos que ao longo do dia gastamos 5 minutos nessa atividade, significa 35 minutos por
semana, 70 minutos a cada 15 dias, 140 minutos por mês. Ou duas horas e 20 minutos todo
mês, só limpando caixa postal de porcarias… A plateia reage sempre espantada, ninguém faz
esse tipo de conta. Mas dá pra ir muito mais longe, viu?
Encontrei um relatório da plataforma comScore chamado Future in Focus, que informa que um
norte americano médio, com mais de 18 anos, gasta 2 horas e 51 minutos por dia em seu
smartphone. Isso dá 86 horas por mês!
Já outro estudo, feito pela Flurry Analytics, mostra que os consumidores norte-americanos
gastam 5 horas por dia em seus aparelhos móveis. 86% desse tempo é tomado pelos
smartphones, o que significa 4 horas e 15 minutos por dia!
Dá para ver que, conforme a fonte, esses dados variam, mas em geral, é inegável que estamos
gastando cada vez mais tempo envolvidos com as mídias digitais, mas cada vez menos tempo
no computador. O mobile, em especial os smartphones, já respondem por 65% do tempo de
consumo de mídia digital.
A MediaKix, uma agência de marketing de influenciadores, mostra que gastamos em média 1
hora e 56 minutos por dia nas cinco principais plataformas de mídia digital. O YouTube é o
campeão com 40 minutos, seguido do Facebook com 35 minutos, o Snapchat com 25 minutos,
o Instagram com 15 minutos e o Twitter com 1 minuto. Estes dados são de 2017, e eu acho que
esse 1 minuto do Twitter está errado. Mas vamos lá.
Durante a vida então, uma pessoa gastaria:
Com o Youtube – 1 ano e 10 meses
Com o Facebook – 1 ano e 7 meses
Com o Snapchat – 1 ano e 2 meses
Com o Instagram – 8 meses
Com Twitter – 18 dias
Ou seja, ao longo da vida você gasta 5 anos e 4 meses nas mídias sociais. Quer deixar a
comparação mais interessante? Ao longo da vida um norte-americano gasta:
7 anos e 8 meses assistindo TV
5 anos e 4 meses nas mídias sociais
3 anos e 5 meses comendo e bebendo
1 ano e 10 meses se arrumando
1 ano e 3 meses socializando
6 meses lavando roupa…
Só assistindo TV, nas mídias sociais, comendo e bebendo, se arrumando, socializando e lavando
roupa, foram-se 27 anos e meio de vida… Que tal?
O link para essa matéria original, em inglês:
https://hackernoon.com/how-much-time-do-people-spend-on-their-mobile-phones-in-2017-
e5f90a0b10a6
Aí o pentelho vai me escrever dizendo:
- Ai Luciano. Mas o americano é diferente do brasileiro, mas com que idade foi feito esse cálculo?
Não me interessa se é 27 anos e meio da vida, se é 18 anos e meio, se é 22, se é 36, isso não
importa. A ideia aqui é pensar no processo de cálculo. Quem é que se preocupa em calcular
quanto tempo da sua vida é gasto com o quê?
Como se pode imaginar, os jovens em idade entre 18 e 24 anos gastam muito mais tempo em
seus smartphones do que os mais velhos, por isso vemos a toda hora pais brigando com filhos
por não saírem do celular.
É… mas na minha casa é ao contrário. É minha filha que me enche o saco.
Meu amigo Rafael Baltresca escreveu um interessante artigo chamado “Enquanto o arroz esfria”.
Olha só.
Supondo que o brasileiro gaste, em média, 30 minutos pela manhã (no despertar + idas
ao banheiro + locomoção ao trabalho + brechas matutinas), 1 hora durante o dia (vendo
vídeos no WhatsApp, compartilhando correntes e resolvendo enigmas como o do “qual
tanque enche mais rápido?”) e mais 30 minutos à noite (note que estou sendo bastante
razoável). Isso soma 2 horas por dia ou 60 horas por mês (e eu nem quadrupliquei os
tempos nos finais de semana e feriados). 60 horas/mês são 720 horas ou 30 dias durante
o ano, usando o smartphone.
Vamos, então, à matemática da vida?
Levamos, em média, 6 horas e 40 minutos para ler um livro de 200 páginas. (Será que eu
fui bonzinho, hein? Eu calculei 2 minutos por página). Se usássemos o tempo perdido nas
redes sociais para leitura, leríamos, em média, 108 livros por ano. 108, cara!!! Partindo da
pesquisa que diz que o brasileiro lê, em média, 4 livros por ano, se convertêssemos o
passatempo nas redes sociais em leitura, leríamos em um ano o que o brasileiro lê em 27
anos.
Mas antes que você me xingue e diga que precisa de lazer, tranquilidade e sossego, saiba
que se usássemos apenas 40% deste tempo dedicado à leitura, ainda assim, leríamos 43
livros por ano!
E para você que não gosta de livros, este tempo perdido (ainda estou nos 40% do total,
hein?) também poderia ser revertido em 1.152 km de caminhada. Viu só, cara? Daria para
atravessar a Espanha inteira a pé e ainda andar mais 250 km – bem mais que o Caminho
de Santiago de Compostela. Supondo que caminhando você perca 235 calorias por hora,
67.680 calorias já não residiriam mais em seu corpinho. Se fosse de bike, então, você faria
8 vezes a rota até a catedral de Santiago.
E para você que é mais ligado em estudos, esses 40% do total gasto nas redes sociais,
correspondem a 24 horas de TED por mês (ou 864 vídeos de 20 minutos por ano), ou, se
você aprender apenas 6 palavras de um idioma novo por hora, você aprenderia 1.728
palavras de uma língua desconhecida a cada 12 meses. Considerando que você necessita
de 1.500 a 2.000 palavras novas para se colocar em um nível intermediário de um idioma,
a cada 2 anos você estaria próximo da fluência nesta língua. Usando apenas 40% do tempo
que você gasta nas mídias sociais.
Viu só como fica dramático quando fazemos a matemática das coisas que consomem nosso
tempo e nem reparamos? Você nunca parou pra pensar, né?
Quer uma sacanagem agora? Aquela série do Netflix que você está em maratona. Dois capítulos
por noite, por baixo, hein? Duas horas toda noite durante 10 dias, terão sido 20 horas. Dava pra
ler uns 8 livros com 200 páginas cada um… Aliás, dava pra ouvir uns 20 a 40 episódios de uns
podcasts aí… E eu garanto que você sairia dessa maratona com a cabeça explodindo. Já
daquela maratona de… sei lá… Stranger Things, por exemplo, não garanto nada.
Onde quero chegar? De novo naquele recurso escasso e precioso: o tempo.
O que vem a seguir é uma adaptação de material que encontrei no site momento.com.br com
base no capítulo “A resignação como cumplicidade”, do livro “Não nascemos prontos –
provocações filosóficas”, de Mário Sérgio Cortella.
O escritor suíço Denis de Rougemont, um estudioso da ocidentalidade, disse algo que inspirou
muitos discursos políticos:
A decadência de uma sociedade começa quando o homem pergunta a si próprio: “O que irá
acontecer?”, em vez de perguntar: “O que é que eu posso eu fazer?”
São posturas muito diferentes perante a vida.
O filósofo brasileiro Mário Sergio Cortella, ao analisar a questão com maior profundidade, afirma:
“A decadência, seja numa sociedade mais ampla ou outras instâncias, como a família, trabalho,
etc. principia quando o imperativo ético da ação é substituído pela acomodação e pela espera
desalentada. Muitos, na sociedade moderna, estamos nos acostumando rapidamente com
alguns desvios que parecem fatais e inexoravelmente presentes, como se fizessem parte da
vida. Assim, nos acostumamos com a violência, com o desemprego, com a fome, corrupção e
outros.
É a prostração como hábito!” – exclama o filósofo.
Como se um conveniente pensar estampado nos rostos e nas palavras disfarçasse uma suposta
impotência individual, mas, que no fundo, é egonarcisismo indiretamente conivente.
Egonarcisismo é bom, cara!
É tão confortável pensar assim, não é? Confortável e extremamente perigoso. Mas, felizmente,
a esperança ainda existe.
É importante não confundir a esperança do verbo esperançar, com a esperança do verbo esperar
– como sugere Paulo Freire. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é
construir, é não desistir! É levar adiante, é nos juntar com outros para fazer de outro modo.
Pode-se ver claramente que a esperança do verbo esperançar é dinâmica, enquanto a outra, a
do verbo esperar, é estática, congelada, por vezes, covarde…
A esperança nos convida a pensar:
Violência? O que posso eu fazer? Desemprego? O que posso eu fazer? Fome? O que posso eu
fazer? Corrupção? O que posso eu fazer?
Sempre teremos o que fazer. Sempre teremos uma contribuição a dar, nem que seja pelo nosso
exemplo de agir bem nas pequenas questões do dia-a-dia.
Pois então… Fazer o quê? O que fazer?
E aí vem o desafio de fazer acontecer, não é? De fazer com que seu tempo seja produtivo, que
valha a pena. Bem, nesse ponto é preciso de métodos ou então processos pra fazer acontecer.
Vamos a um exemplo muito comum.
Para perder peso, os métodos podem ser: tomar remédios, fazer dietas ou praticar exercícios
físicos. Se a gente dividir as providências necessárias para agir e perder peso, vamos acabar
chegando a um método óbvio:
Primeiro tem que estar muito clara a necessidade de que TEMOS de perder peso. Se não
estivermos convencidos, se não entendermos a razão de perder peso e os benefícios, não
vamos nem começar. Portanto, a compreensão da inconveniência que precisa da ação vem
em primeiro lugar.
Em seguida temos que descobrir o que fazer: perguntando a quem tem ou teve a mesma
inconveniência, lendo a respeito, consultando especialistas que dirão o que deve ser feito e até
mesmo como fazer.
Em seguida, precisamos do conhecimento e da tecnologia para agir. Que dieta fazer? Temos
grana pra pagar uma academia? Se não temos, dá pra fazer o exercício em casa? Que tipo de
tênis, onde aprender esses exercícios?
Depois é preciso definir indicadores que mostrem que estamos no caminho certo: medir o peso
todo dia? Fazer um exame de sangue periódico? Determinar a taxa de gordura e acompanhar?
Experimentar roupas antigas pra ver se servem? Quem já sentiu o prazer de subir numa balança
e descobrir que está um quilo mais leve, sabe do que estou falando. A sensação de vitória desse
indicador de sucesso – a balança – é que vai nos motivar a continuar seguindo o método.
Bom, não dá para descrever aqui um tratado, tem que ser aos poucos, mas acho que deu pra
pegar a dica aqui, pegar a pista: para sair da inércia, transformar seu tempo em algo produtivo
e fazer acontecer é conveniente desenvolver um método. Convencer-se de que algo tem de ser
feito. Buscar conhecimento sobre o que fazer. Desenvolver as tecnologias necessárias para
executar. E definir como medir o resultado. É assim, e só assim, que você dá um sentido a seu
tempo. Mesmo que a decisão seja ficar numa rede de papo pro ar...
Mais uma coisa que parece óbvia, não é? Pois é, é óbvia. Mas como é difícil fazer…
Uma das perspectivas fundamentais para quem quer cuidar bem de seu tempo, é a da utilidade.
Que utilidade você está dando a seu tempo? O que é que seu tempo investido produziu de útil?
No Podcast Café Brasil 528 – Um dia útil, tratei desse assunto.
Não importa o que você é. Pedreiro, padeiro, padre, maquinista, gerente ou enfermeira. Deve
viver essa mesma sequência rotineira: o trabalho, a recompensa e eventualmente o
questionamento tipo: afinal de contas, o que é que eu tô fazendo aqui?
Mas eu não quero ir tão longe na filosofia. Quer apenas entender o que é que considero um “dia
útil”.
Bom, a primeira definição, a mais fácil, é aquela que aprendemos a vida toda: dia útil é aquele
que está entre um final de semana e o outro. É aquele que não é feriado. É a segunda, a terça,
a quarta, a quinta e sexta na maioria dos casos. É claro que isso é subjetivo, pois para um
bombeiro, domingo pode ser dia útil. Para um padre que reza a missa, domingo é efetivamente
o dia mais útil. Mas o que quero aqui é tratar desse conceito do “útil”.
A definição dos dicionários fala que útil é aquilo que pode ter ou tem algum uso ou é necessário,
proveitoso, reservado ao labor ou produção. Hummm…legal. Mas acho que ainda não cheguei
lá…
Não quero neste ensaio tratar da utilidade como se fosse um objeto. Como algo que serve pra
alguma coisa. Eu quero tratar de outra utilidade, aquela que eu não sei definir, mas que me surge
como a certeza de que fiz algo que valeu a pena… É como meus podcasts, sabe? Eles tomam
um tempo precioso de meu dia a dia, um tempo que eu deveria estar dedicando a trabalhar para
meu sustento. Sob o ponto de vista do sustento material, o podcast LíderCast, por exemplo, é
inútil. Ele me consome tempo e dinheiro e rende nenhum dinheiro troca. Analisando pelo conceito
do útil, material, eu deveria é parar de fazê-lo.
Mas é aí que vem o outro conceito de utilidade, que é o que me interessa, aquele conceito que
não é o material dos dicionários, mas que tem a ver com realizar certos desejos, com ter certas
sensações, com observar mudanças que você provocou, com receber uma notícia que mostra
que você fez algo de útil para alguém.
O LíderCast me dá prazer. Me dá a sensação de que estou fazendo algo que vale alguma coisa.
Que de alguma forma eu estou sendo útil pra alguém. O dia em que eu gravo o LíderCast, pra
mim é um dia útil… Um dia fora do cotidiano…
Quando crianças, temos o mundo pela frente, energia e curiosidade pra fazer acontecer. Tudo
vale a pena. Na adolescência vamos aprendendo a sair de baixo da saia da mãe, a tomar nossas
próprias decisões. Quando adultos, partimos para construir nossas vidas próprias. Casamos,
temos filhos. E nos vemos completamente envolvidos com a tarefa de proteger, educar,
alimentar, vestir, dar moradia aos que dependem de nós. Essa é a fase entre os 26 e 50 e poucos
anos. E então começam a acontecer coisas estranhas. Não por acaso, durante a fase da
envelhescência…
O filho sai de casa, a filha também sai de casa, o cachorro morre e você vai vendo que sua
importância como provedor para aquela estrutura vai desaparecendo. Não existe mais aquela
relação de dependência de antes. E então você se aposenta (será que ainda existe isso)? E do
dia para a noite se vê dispensável. Os filhos não precisam mais de você, a empresa não precisa
mais de você, ninguém mais precisa de você. E você se acha… um inútil…
Ah, você acha que eu estou exagerando? Pois a quantidade de gente que está lidando com essa
sensação de inutilidade é muito maior do que você imagina. E é aí mesmo que mora o perigo.
Eu quero que meus dias sejam úteis! Não importa se tenho alguma relação de dependência
direta com alguém. Estar vivo tem que valer a pena!
Voltando ao nosso tema de hoje, o sentir-se útil, fiz um podcast tempos atrás que tratava
exatamente disso: o prazo de validade de cada um.
A sociedade é perversa. Ela vai sacando da gente as responsabilidades, conforme
envelhecemos. Olha o seu avô ali. Ou a sua avó. O que é que eles fazem de útil? É pouco, é?
Mas por quê? Porque a sociedade tirou deles responsabilidades. Velho não pode fazer isto.
Velha não pode fazer aquilo. Não queremos velhos aqui! E quantos velhinhos e velhinhas cheios
de energia você conhece, que não param quietos e estão fazendo acontecer? Pois é. Sentir-se
útil é sentir-se vivo!
E sobre a importância de sentir-se útil encontrei um texto de Eduardo Camara no Blog
Maonaroda (maonarodablog.com.br)que é uma porrada… Trata da importância de sentir-se útil
para quem repentinamente se vê preso a uma cadeira de rodas…
Nove anos atrás eu era estagiário e também fazia alguns trabalhos como free-lancer, o
que me rendia o suficiente para meus gastos do dia a dia, saídas e pequenas viagens.
Quando me tornei cadeirante, naturalmente, tive que me afastar temporariamente do
estágio. Um mês depois, quando mal tinha começado meu tratamento de reabilitação, me
deram um ultimato: ou voltava pro estágio ou cortariam a bolsa. Como ainda não tinha
condições de trabalhar, acabei perdendo aquela fonte de renda justamente no momento
em que mais precisava dela.
No começo da reabilitação, no início de 1999, eu estava fisicamente, emocionalmente e
financeiramente dependente. Não era capaz sequer de sair sozinho da cama para cadeira,
não fazia mais estágio e era incapaz de encontrar um rumo. Sentia-me um completo inútil.
A grande virada começou quando um amigo me indicou para um projeto como free-lancer.
O cliente ficava em São Paulo e eu poderia realizar todo trabalho a partir de casa, usando
meu computador, o telefone e a Internet para me comunicar. Até as reuniões seriam
virtuais. E teria também flexibilidade total de horários, o que era estritamente necessário
por causa das aulas na faculdade e sessões de reabilitação. Bati um papo por telefone
com o tal cliente e fechamos o projeto, que começou logo em seguida. O cliente nem sabia
que eu usava cadeira de rodas e isso foi muito bom para mim. Eu tinha sido contratado
por ser um profissional bem recomendado, e não simplesmente para ajudarem um “pobre
jovem recém cadeirante e precisando de dinheiro”. Sim, fez toda diferença! O projeto
durou meses e foi um sucesso, mas o melhor de tudo mesmo foi voltar a trabalhar, ser
tratado como profissional, ganhar meu próprio dinheiro e me sentir útil. Foi um dos meus
primeiros grandes passos para a independência.
Que porrada, não? Pois eu li, eu pesquisei, eu perguntei… e concluí. Pra mim, dia útil é aquele
em que eu aprendo ou ensino algo.
É irônico: a vida só acontece através do tempo.
Mas toda a vida é uma luta para impedir que o
tempo passe… Rubem Alves
Para lidar com o tempo, é preciso mergulhar na velha questão da diferença entre o que é urgente
e o que é importante. Essa é uma questão básica, especialmente quando entramos no mundo
profissional.
Algumas pessoas definem liderança, administração e gerenciamento como a habilidade de
distinguir entre o que é importante e o que é urgente, mas muitas pessoas tendem a pensar que
importante e urgente são sinônimos. Não são.
Coisas importantes são as que têm grande peso na nossa capacidade de atingir nossos
objetivos.
Coisas urgentes são as que necessitam de atenção imediata, pois provocam
consequências imediatas.
Normalmente concentramos nossas energias e atenção nas coisas que julgamos urgentes.
Quem já estudou administração do tempo sabe que há vários métodos para separar o que é
importante do que é urgente.
Existem coisas que são
- Importantes e urgentes;
- Importantes, mas não urgentes;
- Não importantes, mas urgentes;
- Não importantes nem urgentes
As coisas que são importantes e urgentes são as que provocam crises. São as que têm que
ser resolvidas imediatamente e o melhor seria que você nunca deixasse nada chegar nessa
situação. Tente evitar ao máximo que as coisas se tornem importantes e urgentes ao mesmo
tempo. Quando isso acontece, tem que chamar os bombeiros…
Quando nos deparamos com coisas importantes, mas que não são urgentes, devemos focar
todas nossas energias. Se você deixar para trás coisas importantes que não são urgentes, elas
vão se tornar urgentes a qualquer momento. E aí você cai na situação do importante que é
urgente. Crise. E tem que chamar os bombeiros.
Quando lidamos com coisas urgentes, mas que não são importantes, estamos diante das
armadilhas que consomem nosso tempo, recurso e energia e dão pouco ou nenhum retorno.
Urgente sem ser importante… Por exemplo, se você está trabalhando em algo que é urgente e
importante, e é interrompido por um telefonema de um colega que quer que você o ajude a
resolver algo que é importante e urgente para ele, mas não é para você, você cai numa
armadilha. Lembre-se sempre que a falta de planejamento dos outros não deve criar uma
emergência para você. Ou não deveria…
E as coisas que não são nem importantes nem urgentes? Bom, essas são as assassinas do
tempo. E hoje em dia, estamos rodeados de sistemas que parece que foram desenhados para
isso. Estamos rodeados de coisas legais de fazer, mas que apenas consomem nosso tempo. O
Facebook por exemplo… Já reparou como ele come o seu tempo e dá pouquíssimos resultados?
Vou aproveitar então um livro chamado “Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes”, de
Stephen Covey, que traz num capítulo um conteúdo muito pertinente ao que estou comentando
aqui. É quando ele fala de “colocar as coisas principais em primeiro”, o famoso “put first things
first”.
Faça a si mesmo duas perguntas. A primeira:
O que é que eu poderia fazer hoje com meu tempo, que se eu conseguisse repetir
regularmente, causaria um efeito muito positivo em minha vida?
Bem, pra mim vem claramente exercícios físicos, mais tempo de leitura de livros, mais teatros,
mais museus, mais encontros com pessoas. Pense aí.
Segunda pergunta:
O que é que em sua vida profissional traria o mesmo efeito?
Hummm… deixa eu pensar aqui… Acho que se eu dedicasse mais tempo a fazer contatos com
outros empreendedores, ampliando relacionamentos, mais tempo pra marquetear o meu
trabalho, acho que seria legal.
Pense no tempo gasto no Facebook, ou então assistindo aquele Youtuber pintando o cabelo de
azul ou xingando outro youtuber, assistindo aquelas mesas redondas de futebol ou aquelas
séries do NetFlix, um entretenimento que mais parece fuga. Você encontrará uma parte de sua
resposta para essas perguntas.
Vejamos então um gráfico que ajuda no exercício de entender como é que você está usando seu
tempo.
O gráfico tem quatro quadrantes. No primeiro quadrante, do URGENTE E IMPORTANTE, estão
os bombeiros, aqueles que vivem correndo para apagar incêndios, em meio a crises, com
problemas urgentes, prazos apertados. Nele, nesse quadrante, estão as coisas que exigem
muita atenção, pois têm o prazo apertado. É o quadrante do urgente e importante.
O segundo quadrante, é o do NÃO URGENTE, MAS IMPORTANTE, é o do tempo de qualidade,
onde estão as coisas dedicadas à prevenção de problemas, aumento de aptidão, estudo,
construção de relacionamentos, reconhecimento de oportunidades, planejamento e recreação.
Aquelas coisas que a gente acaba negligenciando. Como os meus exercícios físicos, por
exemplo…É o quadrante do não urgente mas importante.
O terceiro quadrante, é o do URGENTE E NÃO IMPORTANTE, onde estão as distrações,
aquelas interrupções, e-mails, relatórios, reuniões e demandas que sempre são urgentes. E
também algumas atividades muito populares. Sabe aquele cafezinho? Esse é o quadrante do
urgente e não importante.
Por fim, o quarto quadrante, onde está o NÃO URGENTE E NÃO IMPORTANTE, que é onde
estão os desperdiçadores de tempo, as trivialidades, alguns e-mails, telefonemas e certas
atividades que dão prazer. Esse último quadrante é o do não urgente e não importante.
Se você analisar esses quadrantes, vai notar que as respostas que deu àquelas duas perguntas
sobre o que você poderia fazer com seu tempo para dar um impacto grande em sua vida, caem
no quadrante dois, aquele do IMPORTANTE E NÃO URGENTE. O quadrante do tempo de
qualidade, dedicado à prevenção de problemas, ao aumento da aptidão, ao estudo, à construção
de relacionamentos, de reconhecimento de oportunidades, de planejamento e de recreação.
Naquele quadrante das coisas que a gente negligencia.
Experimente comparar quanto tempo você dedica ao quadrante quatro, aquele do NÃO
URGENTE E NÃO IMPORTANTE, o quadrante dos comedores de tempo… compare com o
tempo que você dedica ao quadrante dois… do NÃO URGENTE E IMPORTANTE.
Gente que trata o tempo com eficiência, sabe que nos quadrantes que têm as coisas NÃO
IMPORTANTES, estão os comedores de tempo. Por isso foge do URGENTE E NÃO
IMPORTANTE e do NÃO URGENTE E NÃO IMPORTANTE.
Quem trata o tempo com eficiência foca nos quadrantes que têm IMPORTANTE neles.
Especialmente no quadrante dois, do NÃO URGENTE E IMPORTANTE, para não deixar que as
coisas se tornem URGENTES E IMPORTANTES.
Percebeu? Tente não investir tempo onde estiver o NÃO IMPORTANTE.
Muitas pessoas costumam planejar suas atividades definindo, por exemplo, as cinco prioridades
da semana. Alguns líderes fazem disso sua missão principal: manter a equipe focada num
número definido de prioridades. Mas eu já encontrei gente que prefere eleger uma, e uma só,
prioridade e dedicar a ela 100% da sua energia. Em vez de focar em cinco ou três coisas, focam
em uma só. Eu já experimentei fazer isso e é fantástico, mas exige uma disciplina quase
impossível, pois manter o foco com dezenas de atividades acontecendo ao seu redor,
interrupções e ladrões de tempo é coisa para super-heróis.
Existem diversos métodos que nos ajudam a definir o que deve ser prioridade. Vou buscar
inspiração nos militares. O exército dos Estados Unidos tem o que eles chamam de CARVER
Matrix.
Carver Matrix, é formado com as primeiras letras de Criticidade, Acessibilidade, Retorno,
Vulnerabilidade, Efeito e Reconhecimento, que formam a palavra CARVER. Eles analisam os
alvos sob o ponto de vista de cada um dos fatores CARVER, dando a eles uma nota de 1 (mais
baixa) a 5 (mais alta), calculando assim uma matriz de prioridades.
Quanto mais alta for a pontuação CARVER do alvo, mais importante ele se torna.
Vamos ver como funciona? Usarei como exemplo, um governante que tem como objetivo final o
bem-estar da população. Ele reunirá sua equipe e aplicará a matriz aos problemas que considera
mais apropriados. Examinará:
Criticidade: quão crítico é o problema, o alvo em relação à capacidade de proporcionar o bem-
estar da população? Projetos que têm baixa criticidade, como plebiscitos, podem ser legais ou
fáceis de fazer, mas no final representam muito pouco na capacidade de atingir o objetivo
principal.
Acessibilidade: qual o grau de facilidade para atingir o alvo? É um objetivo muito fácil de acessar
ou vai precisar de recursos que não temos?
Retorno: qual o impacto na capacidade do inimigo/adversário/causador do problema de se
recuperar após a destruição do alvo? Qual o retorno que teremos doe recursos investidos no
ataque ao alvo? Se o inimigo se recupera rapidamente, talvez seja perda de tempo atacar.
Vulnerabilidade: qual a vulnerabilidade do alvo? Quanto recurso é necessário para atingi-lo? É
caro ou barato demais destruir aquele alvo?
Efeito: qual a consequência da destruição do alvo? Se atingirmos nosso objetivo, qual a
consequência em nossas vidas e na vida dos outros?
Reconhecimento: o alvo pode ser visto com facilidade ou está bem camuflado? É fácil
reconhecer os passos necessários para atingi-lo? É algo familiar ou vamos ter que começar do
zero?
Se você montar uma Matriz Carver, lançando nela alguns dos principais motes, por exemplo,
das manifestações populares que assistirmos nos últimos anos, calculando a pontuação,
lembrando que as notas para cada atributo devem levar em consideração o bem-estar da
população, ficará mais fácil concluir quais são os alvos mais importantes e que deveriam ser
atacados já.
É claro que os instrumentos que o governo utiliza para determinar as prioridades de
investimentos e ações não são aqueles que têm foco no bem-estar da população. Sabemos que
as prioridades dos governos são determinadas pelo marketing, pelas ações que dão mais
visibilidade e, consequentemente mais votos. O resto fica para o discurso.
Muito bem. Você, como eu, tem objetivos que são importantes e também problemas diários que
necessitam de soluções urgentes. Como é possível permanecer focado nos objetivos de longo
prazo sem ter a atenção desviada para as coisas urgentes, mas não importantes? Quando
deixamos que as coisas urgentes consumam nosso tempo, não conseguimos progredir naquilo
que é importante.
Vamos então a algumas considerações que podem nos ajudar no processo de definir o que é
importante e o que é urgente.
Primeiro: priorize e reconheça aquilo que não é importante. Quando você faz uma lista reunindo
as quatro ou cinco coisas que considera as mais importantes, você também está definindo aquilo
que não é importante. Se aparecer algo urgente que não faz parte de sua lista de prioridades,
você deveria deixar para lá. É claro que nem sempre isso é possível, mas você ficará surpreso
com a quantidade de energia gasta com itens que estão fora de sua lista de prioridades.
Segundo: compartimentalize as providências urgentes assim que elas surgirem. Temos a
tendência de mergulhar em conflitos e problemas assim que eles surgem. Quando isso acontece,
desviamos nosso foco da resolução das questões urgentes para podermos retornar logo aos
assuntos importantes. Quando se deparar com o assunto urgente, resolva de uma vez.
Terceiro: não acumule as providências urgentes. Temos a tendência de pensar que coisas que
são urgentes e fáceis de resolver podem ser feitas num instante. Sempre que possível, tente
delegar as providências urgentes para outras pessoas.
Quarto: aproveite os momentos de menos agitação. Alguns horários, como tarde da noite ou
logo pela manhã são ideais para progredir nas ações importantes. Nesses horários é menos
provável que surjam assuntos urgentes para desviar sua atenção.
Existem centenas de métodos e dicas para você aprender a priorizar melhor suas atividades.
Entre no Google e digite “administração de tempo” ou coisa parecida. Você vai se divertir.
Ah, sim, leia ou ouça o Podsumário MOVE, que publicamos no Café Brasil Premium.
Tento há anos botar ordem no galinheiro, já usei várias técnicas e hoje funciono assim: Costumo
escrever as atividades que tenho que realizar numa agenda. Sem ordem de importância, apenas
relacionando o que preciso fazer. E no final do dia dou uma olhada na lista, riscando fora o que
consegui fazer e incluindo o que aparecer de novo. Na manhã seguinte, passo a lista a limpo, à
mão mesmo, num processo que me proporciona revisar as necessidades e fazer uma
priorização. Batendo o olho na lista já sei o que é importante e parto pra briga. Não é um método
científico, mas me ajuda um monte. E eu já percebi que aos poucos vou deixando de lado as
coisas importantes que são chatas de fazer, até o dia em que elas se aproximam perigosamente
do status de urgentes. Aí tenho que tapar o nariz e mergulhar no problema. Não é o melhor
método, mas é o que mais me ajudou até hoje. Me sinto bem com ele. Como é o seu?
Defina o que é importante e o que é urgente e mergulhe fundo. Crie seu método para fazer isso.
O importante é que você não fique ao sabor do vento e, principalmente, lembre-se de uma frase
que Steve Jobs dizia:
Seu tempo é limitado, portanto não o gaste vivendo a
vida de outra pessoa.
A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te
é impossível viver só, nasceste escravo. Fernando Pessoa
Tempo é o único recurso que não pode ser renovado e, portanto, o mais valioso, mas só
percebemos isso quando ele nos falta, especialmente depois dos 40 anos. Eu, por exemplo,
nunca consegui passar horas praticando qualquer atividade que sirva para “passar o tempo”. Já
me acusaram de CDF, de só pensar em trabalho, de não curtir o lazer, mas não é assim. Não
tenho nenhum problema em curtir o lazer lendo um bom livro, assistindo um bom filme, uma peça
de teatro, jantando com amigos interessantes ou numa praia. A questão é outra.
O que sempre compreendi é que o tempo é valioso demais para ser trocado por qualquer coisa.
Se vou fazer uma troca, que valha a pena. Por isso, quando vou escrever um texto, gravar um
Podcast ou montar uma palestra, a primeira coisa que me vem à cabeça é: será que minha obra
valerá o tempo que a pessoa dedicará para consumi-la? A palestra valerá os 30, 60 ou 90
minutos que a pessoa dedicará para ela? O texto valerá os 5 minutos de leitura? O Podcast
valerá os 25 minutos de audição?
Esse é meu mote: farei com que seu tempo valha a pena?
Desenvolvi essa ideia em minha palestra GENTE NUTRITIVA (que você encontra no
www.lucianopires.com.br). Nela eu proponho um exercício:
Tente se lembrar das pessoas que chegam para conversar com você, dão prazer, têm o dom de
nutrir com simpatia, conhecimento, humor. Lembrou de alguém assim? Guarde na memória.
Agora pense naquelas pessoas que, quando chegam, você preferia estar trocando o pneu do
carro numa rua escura, na chuva. Gente chata, desinteressante, que tem o dom de nos sugar
energia. Lembrou de alguém? Este foi mais fácil, não é?
Agora imagine as duas pessoas das quais você se lembrou. Sabe a diferença entre uma e outra?
É a convicção que você tem de que as primeiras, nutritivas, não estão desperdiçando seu tempo.
Com elas você ganha algo, faz uma troca justa, enquanto com as outras, joga fora minutos
preciosos de sua vida. Minutos que nunca mais terá de volta.
A melhor coisa que você pode fazer para dar valor a seu tempo é substituir a palavra “tempo”
pela palavra “vida”. Experimente! Fale “me falta vida” em vez de “me falta tempo”. “Passavida”
em vez de “passatempo”. “Me dê uns minutos da sua vida”. E tudo muda.
Tempo é vida.
Quem respeita o tempo dos outros, respeita a vida dos outros.
A imagem que ilustra este ensaio é de meu relógio, que no lugar dos ponteiros tem a frase
REMEMBER YOU WILL DIE, lembre-se que você vai morrer. Toda vez que olho para ele, vem
o lembrete: faça com que o tempo que lhe resta valha a pena.
Seu tempo está passando, você o está consumindo, hora a hora... minuto a minuto... segundo a
segundo…
Mas consumindo com o quê?
Muito bem, espero que tenha valido a reflexão. Termino aqui este ensaio com uma frase do
poeta e filósofo espanhol Ramón de Campoamor
O tempo a todos consola, e só a mim amargura, pois, se
estou triste, ele para. Se estou contente, ele voa.
Este ensaio foi preparado a partir do conteúdo dos podcasts Café Brasil e faz parte do
Café Brasil Premium: www.cafebrasilpremium.com.br