Ensaio - Flavia

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Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciências da Educação Departamento de Metodologia do Ensino MEN7010 - Estágio Supervisionado no Ensino de Biologia Leandro Belinaso Guimarães Mariana Brasil Ramos Graduanda: Flávia Martins Ensaio Internet e ensino: aliados ou rivais? Eis a questão! Nos tempos atuais, entrar em sala de aula pode ser um grande desafio para aqueles profissionais que querem fazer um ensino diferenciado. Muitas variáveis estão em jogo quando se planeja uma aula. Temos que admitir que muitos professores acabam se tornando “máquinas de reprodução do conteúdo presente no livro didático”. São aqueles temidos professores tradicionais, do quadro negro e giz, e basta. Nenhuma crítica ao quadro negro, que, diga-se de passagem, passou a ser branco na maioria das instituições. O quadro é necessário, se não, fundamental. Mas o momento em que a sociedade vive atualmente, com um amplo acesso a informação, o professor se depara também com uma vasta opção de recursos didáticos que podem ser utilizados com os alunos. Nos últimos semestres de faculdade, cuja habilitação é licenciatura, é dado aos alunos o grande desafio: entrar em sala de aula, os estágios de docência. Acredito que para alguns esse desafio não é tão grande assim, muitas vezes nem desafio é. Depende da vontade de cada graduando de fazer a diferença. Fazer uma aula distinta, onde os alunos se sintam motivados a aprender e a buscar mais informações sobre o conteúdo, onde eles participem ativamente das atividades propostas, isso sim não é uma tarefa das mais fáceis. Mas também não é impossível. As disciplinas de ciências e biologia, assim como química e física, tem uma “carta na manga”, que são as aulas práticas-experimentais, fazendo os alunos colocarem a mão na massa. Mas nem todas as escolas possuem um ambiente propício para realização de aulas desse tipo. Então o professor tem que se adaptar a realidade de cada escola. Experimentos simples não precisam de laboratório super bem equipados: extração de DNA do morango é um bom exemplo disso. Outros

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Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciências da Educação

Departamento de Metodologia do Ensino MEN7010 - Estágio Supervisionado no Ensino de Biologia

Leandro Belinaso Guimarães Mariana Brasil Ramos

Graduanda: Flávia Martins

Ensaio

Internet e ensino: aliados ou rivais? Eis a questão!

Nos tempos atuais, entrar em sala de aula pode ser um grande desafio para

aqueles profissionais que querem fazer um ensino diferenciado. Muitas variáveis estão

em jogo quando se planeja uma aula. Temos que admitir que muitos professores

acabam se tornando “máquinas de reprodução do conteúdo presente no livro

didático”. São aqueles temidos professores tradicionais, do quadro negro e giz, e

basta. Nenhuma crítica ao quadro negro, que, diga-se de passagem, passou a ser

branco na maioria das instituições. O quadro é necessário, se não, fundamental. Mas o

momento em que a sociedade vive atualmente, com um amplo acesso a informação, o

professor se depara também com uma vasta opção de recursos didáticos que podem

ser utilizados com os alunos.

Nos últimos semestres de faculdade, cuja habilitação é licenciatura, é dado

aos alunos o grande desafio: entrar em sala de aula, os estágios de docência. Acredito

que para alguns esse desafio não é tão grande assim, muitas vezes nem desafio é.

Depende da vontade de cada graduando de fazer a diferença. Fazer uma aula distinta,

onde os alunos se sintam motivados a aprender e a buscar mais informações sobre o

conteúdo, onde eles participem ativamente das atividades propostas, isso sim não é

uma tarefa das mais fáceis. Mas também não é impossível.

As disciplinas de ciências e biologia, assim como química e física, tem uma

“carta na manga”, que são as aulas práticas-experimentais, fazendo os alunos

colocarem a mão na massa. Mas nem todas as escolas possuem um ambiente propício

para realização de aulas desse tipo. Então o professor tem que se adaptar a realidade

de cada escola. Experimentos simples não precisam de laboratório super bem

equipados: extração de DNA do morango é um bom exemplo disso. Outros

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experimentos já necessitam de uma estrutura melhor (mas muitas vezes podem ser

adaptadas), como por exemplo, cultivo de bactérias em placa de petri com meio de

cultura.

Porém mais do que uma aula bem preparada, o professor precisa está

sempre a postos para qualquer imprevisto, e para as perguntas mais diversas. As

crianças são as cabeças pensantes mais criativas que existem. Dos jovens isso é tirado

pelo modelo atual de ensino, onde, em geral, eles têm suas ideias podadas.

Figura 1. Representação de professor tradicional que circula nas redes sociais (fonte:

Facebook)

Mas a partir do momento que o professor estimula e incentiva a

criatividade e a livre expressão, os jovens se mostram detentores de grande

conhecimento, e não uma folha em branco. Além disso, muitas vezes eles estão

“ligados” a tudo que acontece no mundo. Isso se mostra tão forte que atualmente a

Secretaria de Estado de Santa Catarina (desconheço se em outros estados também)

está criando turmas que tem aula o dia inteiro, onde uma das matérias é atualidades.

Provas de concurso também exigem isso. Cada vez mais os alunos e os professores

precisam estar cientes do que acontece no mundo e na ciência a cada dia. Guerras,

Clonagem, Disputas religiosas, Transgênicos, Novos fármacos, Cura de doenças,

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Epidemias. Tantos assuntos não abordados com a devida importância pelos livros

didáticos, e que dependem da vontade e do conhecimento do professor para

apresentados aos alunos. Assuntos que muito provavelmente eles já escutaram na

televisão através de um telejornal, ou viram o título de alguma reportagem de um

jornal de circulação diária, ou leram na capa de uma revista esperando na fila do

supermercado, ou receberam no seu “feed de notícias” do facebook, ou ainda através

de uma @ de um dos seus seguidos.

O conhecimento que o professor pensa levar para sala de aula está muitas

vezes na boca do povo, ou melhor, nos dedos de um internauta qualquer. Segundo

Magalhães (2010) o momento em que a sociedade vive atualmente exige que não se

ignore nem subestime a influência que estes canais de conhecimento exercem na vida

das pessoas, tanto positiva como negativamente, principalmente no que se refere ao

cenário educacional.

A Internet ainda ocupa um papel secundário nas escolas, porém o seu uso

produtivo para fins educativos é quase tão infinito quanto as ramificações da própria

rede e depende apenas da imaginação dos professores (Weininger, 1996).

O professor que acompanha a evolução da tecnologia, busca aproveitar

não somente em suas aulas, como também fora dela, o máximo de novos recursos,

melhorando, dessa forma, o desempenho e a participação dos alunos. Um grande

exemplo disso é o uso de blogs e facebook para complementar o que é trabalhado em

sala de aula.

Segundo Lendenge & Silva (2010), os blogs são ambientes virtuais de

criação, edição e publicação, de fácil utilização, que contém várias ferramentas de

auxílio à publicação, sendo estas em grande maioria gratuitas. Resumindo, o blog é

uma ferramenta virtual de aprendizagem, presente na web, que promove uma nova

forma de interagir, conhecer, pensar, escrever e ler.

Dentre as características técnicas dos blogs, esta ferramenta permite a

publicação de ideias em tempo real; tem como característica principal textos curtos

que podem ser lidos e comentados; abrange uma infinidade de assuntos; linguagem

informal (amigável); entradas de textos cronologicamente organizados de forma

inversa; permite a divulgação de textos, imagens, músicas, capacidade de

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arquivamento de mensagens anteriores, hiperlinks que complementam o assunto ou

relaciona, interliga os blogs a outros blogs e a sites (Franco, 2005).

Atualmente, são várias as formas de utilização de blogs nos processos de

ensino. Segundo Araújo (2009), a facilidade de publicação e o grande atrativo que

essas páginas, e até a própria internet, exercem sobre os jovens, são fatores que

contribuem para essa tendência. Faz-se necessário que o professor se aproprie dessa

nova linguagem, e explore juntamente com os seus alunos as várias possibilidades

desse ambiente diferenciado, tornando-o, desta forma, um espaço de aprendizagem.

O blog torna-se um espaço educacional privilegiado, já que permite a

reflexão sobre o que é postado e a interação do autor com os visitantes através de

mensagens, que colaboram e cooperam formando uma comunidade aberta e

receptiva (Lendenge & Silva, 2010).

Porém o professor não pode deixar de estabelecer os objetivos e critérios

ao utilizar este tipo de recurso, pois a utilização sem planejamento não enriquece as

aulas, torna-se um tempo inutilizado para a construção e a troca de conhecimentos.

Ele deve deixar claro o que espera do aluno e o que pretende com a proposta de

trabalho. Assim a avaliação deve ser feita pelo professor e pelos alunos (Ferreira,

2007).

Mais do incluir a utilização dos blogs na educação é necessário refletir

sobre as suas possibilidades pedagógicas, não deixando a aprendizagem nesse

ambiente se torne passiva. É necessário que os alunos interajam e contribuam com o

processo de aprendizagem, já que o processo de aprender é ativo, onde aluno e

professor devem participar (Boeira, 2011).

Vale ressaltar que a comunicação eletrônica abrange apenas uma parte da

comunicação humana. Ela não pode nem deve substituir o diálogo pessoal (em sala de

aula) ou o contato humano direto (Weininger, 1996).

De acordo com Boeira (2011), os blogs podem ser explorados como recurso

pedagógico ou como estratégia pedagógica. O que diferencia essas duas formas de

utilização são as atividades e estratégias propostas no ambiente e o papel assumido

pelo professor e pelos alunos.

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Figura 2. Representação esquemática das maneiras de explorar blogs (Boeira, 2011)

Como recurso pedagógico, o blog é utilizado como depósito de

informações, e os alunos recebem um papel unicamente receptivo, sendo o professor

o personagem ativo, disponibilizando materiais de aula, textos, links, entre outros.

Dessa forma, o professor impõe os conteúdos e as fontes de pesquisa (Boeira, 2011)

Existem os blogs que vão um pouco além, abrindo espaço para

comentários e exposição de ideias. Desta forma, os alunos podem refletir sobre os

conteúdos estudados e links acessados, expondo sua reflexão, opinião e dúvidas sobre

o assunto tratado (Boeira, 2011).

O professor pode ainda, convidar seus alunos para participarem da

construção desse ambiente como autores do blog, dessa forma, indo além da

exposição de conteúdos, indicação de links e comentários dos alunos. A exploração de

blogs nesta perspectiva transforma-o em mais do que um recurso pedagógico, mas

numa estratégia de ensino-aprendizagem em que o papel do professor é fundamental.

Os alunos não agem apenas como receptores de informações, e ao professor cabe

mediar o processo em que os alunos realizam atividades de pesquisa, seleção, análise,

síntese e publicação de informação (Boeira, 2011).

Durante o estágio de docência de biologia, realizado no Instituto Federal de

Santa Catarina (IFSC), com alunos da 3ª fase do curso de Eletrotécnica de ensino médio

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integrado, foi criado o blog “Estágio de Biologia” que tinha como objetivo repassar

materiais para os alunos, como textos, figuras, vídeos, relacionados com os assuntos

tratados em sala de aula, além de também ser utilizado para repassar recados para as

aulas seguintes.

Figura 3. Página inicial do blog criado durante o estágio.

Criado na primeira semana de novembro, foi abastecido com materiais que

seriam utilizados nas aulas dos dias 14, 21 e 28 de novembro, e 05 de dezembro.

Durante o tempo de docência foi atualizados para atender a demanda observada em

sala de aula.

A ideia de se criar um blog para ser utilizado durante o período de estágio

surgiu do trabalho já realizado por Eduardo Silveira, também professor do IFSC. No seu

blog, intitulado “Bio-ilógicos”, são postadas matérias, atividades, textos para

discussão, e os alunos utilizam a parte de comentários para debater assuntos, expor

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outros materiais e suas dúvidas. Dessa forma o blog se tornou mais do que um recurso

pedagógico, segundo Boeira (2011), porém a participação dos alunos se limita aos

comentários, o que não o enquadra como uma estratégia pedagógica.

Figura 4. Blog criado pelo Profº Eduardo para auxiliar nas suas aulas de biologia.

O blog “Estágio de Biologia” teve um formato diferente, buscando mais a

aparência de um site: não apresentava parte para comentários, nem datas nas

publicações. Optou-se por esse formato, pois inicialmente esperava-se que o blog

funcionasse somente como uma maneira fácil de fazer o repasse de materiais aos

alunos sem precisar imprimi-los. Além disso, não se tinha conhecimentos de todas as

possibilidades de utilização dessa ferramenta.

Foram fornecidos materiais sobre Transgênicos, com vários pontos de

vista. Os alunos deveriam fazer a leitura, ver vídeos, observar figuras para discussão

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através de um debate em sala de aula. Por falta de tempo não foi possível realizar o

debate, sendo substituído por uma conversa. Com isso pode-se observar que os alunos

entraram no blog, conforme havia sido solicitado. Para comprovar isso, foi

acompanhada a quantidade de visualização do blog nos meses de novembro e

dezembro.

Gráfico 1. Visualizações do blog "Estágio de biologia" após sua criação e divulgação.

0

265

2814

0

50

100

150

200

250

300

Outubro Novembro Dezembro Janeiro

Visualizações

Como é possível observar no Gráfico 1, durante a realização do estágio, a

quantidade de visualizações foi de 307. A maioria das visualizações aconteceu no dia

anterior à aula, ou seja, terça-feira. Além disso, durante o tempo em que o blog ficou

no ar, houve visualizações em outros países também, conforme figura 5, na cor verde

(escuro para o local onde aconteceu a maioria das visualizações, e verde claro onde

ocorreram outras visualizações).

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Figura 5. Visualizações do blog "Estágio de biologia" em outros países.

Após finalização do estágio, os alunos questionaram sobre a continuidade

do blog, ou seja, se ele continuaria a ser alimentado com materiais da aula. Isso mostra

que a ferramenta utilizada foi bem aceita pelos alunos, apesar de ser necessário um

estudo mais aprofundado sobre o funcionamento do blog e suas possibilidades.

Outra forma de aproveitar o uso excessivo da internet pelos jovens para

auxiliar no processo de ensino-aprendizagem é a utilização de redes sociais. As redes

sociais estão crescendo de maneira vertiginosa no Brasil. Atualmente, a rede social

mais popular entre os jovens é o facebook. Entre blogs, microblogs, redes de

compartilhamento de fotos, imagens e vídeos, o facebook é uma plataforma que

mistura todos esses elementos.

As redes sociais se entrelaçam ao cotidiano da escola, interferem nas aulas

e atividades, tornando-se um elemento o qual pode e deve ser explorado por

professores no desenvolvimento das atividades da escola (Araújo, 2010).

O professor deve estar em constante atualização para as novidades que

surgem a cada dia. Segundo Ozório (2011), as redes sociais oferecem diversas

possibilidades:

- incentiva a reflexão para a solução de problemas;

- estimula a pesquisa e a resolução das atividades propostas;

- tira dúvidas e curiosidades;

- apresenta dicas e oportunidades de aprender;

- proporciona uma interação lúdica entre professor e aluno.

O grande desafio esta em saber usá-lo como recurso benéfico às aulas

ministradas. É importante propor atividades em que as ferramentas não sejam um fim

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em si mesmo e sim como uma ferramenta de apoio ao ensino e aprendizagem (Ozório,

2011).

A Internet é uma ferramenta poderosa, mas é preciso saber como servir-se

dela, pois pode prestar grandes serviços, porém possui também poder negativo,

principalmente quando se sabe que muito do que se publica na internet apresenta

informações erradas ou distorcidas. Faz-se necessário frisar que seu uso na educação

precisa de orientação, de bom senso na escolha das páginas mais úteis e melhor

elaboradas (Magalhães, 2010).

O uso da internet no processo educacional é um grande desafio. E o

desafio está em explorar as infinitas informações disponíveis na web e transformá-las

em conhecimento. Para que isso aconteça, sabe-se que apenas ter acesso à

informação não garante conhecimento. É necessário agir cognitivamente sobre as

informações que se tenha acesso: qual o entendimento? As informações que estão

disponíveis são verdadeiras? Qual é o posicionamento crítico sobre o assunto? (Boeira,

2011).

Referências

- ARAÚJO, Michele Costa Meneghetti Ugulino de. Potencialidade do uso do Blog em

educação. Dissertação de mestrado em Educação, Natal, UFRN, 2009.

- ARAÚJO, Verônica Danieli de Lima. O impacto das redes sociais no processo de ensino

e aprendizagem. Simpósio Hipertexto e tecnologias na educação: redes sociais e

aprendizagem, Recife, UFPE, 2010.

- BOEIRA, Adriana Ferreira. Blogs na Educação: Blogando algumas possibilidades

pedagógicas. Revista Tecnologias na Educação, UFPB, 2011.

- FERREIRA, Margarida Elisa Ehrhardt. A utilização do blog na educação. Disponível em:

<http://www.webartigos.com/artigos/a-utiliza-ccedil-atilde-o-do-blog-na-educa-

ccedil-atilde-o/2017/>

- FRANCO, Maria de Fátima. Blog Educacional: ambiente de interação e escrita

colaborativa. Trabalho de Monografia de Curso de Especialização em Gestão da

Educação a Distância, UFJF, 2005.

- LENDENGE, Maria; SILVA, Keina. Blog na educação: criando ambientes virtuais de

aprendizagem. Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação,

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Gestão, e Ciência da Informação, UFPB, 2010.

- MAGALHÃES, Altina Costa. Reflexões sobre o uso da internet. Disponível em:

<http://www.webartigos.com/artigos/reflexoes-sobre-o-uso-da-internet/49767/>

- OZÓRIO, Jessica. Redes sociais como um recurso mediador no processo de ensino-

aprendizagem na EJA. Trabalho de monografia do curso de especialização em

informática na educação – modalidade à distância, UFMG, 2011.

- WEININGER, Markus J. O uso da Internet para fins educativos. Disponível em:

<http://www.ced.ufsc.br/~uriel/internet.htm>