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ENRIQUECIMENTO FLORESTAL E COMPLEMENTAÇÃO DE RENDA: O
PLANTIO DA ERVA-MATE EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NA
LOCALIDADE DE LINHA ESPERANÇA- PRUDENTÓPOLIS- PR.
Eugenia Cieslak Pochenek1
Valdemir Antoneli2
Resumo
As pequenas propriedades rurais vêm ao longo do tempo passando por diversos problemas tanto de ordem econômica, quanto de ordem ambiental, onde os pequenos agricultores acabam removendo a vegetação de áreas impróprias para a agricultura, transformando-as em áreas agricultáveis. Essa é uma característica comum na região Centro-Sul do Estado do Paraná, por indicar solos rasos com declividades acentuadas. Diante dessas peculiaridades, este estudo teve como objetivo, efetuar o plantio da erva-mate em área de floresta nas pequenas propriedades rurais, unindo preservação ambiental e complementação de renda. O presente estudo foi desenvolvido com alunos da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Estadual Padre José Orestes Preima, localizado no meio rural, distante l5 km do centro urbano de Prudentópolis, região denominada de Linha Esperança, cujas famílias dos educando se dedicam à atividade agrícola em pequenas propriedades. Para tanto, viu-se a necessidade de desenvolver atividades relacionadas à implantação do cultivo da erva mate como fonte alternativa de renda, haja vista que a maioria dos alunos do referido colégio, desenvolvem com suas respectivas famílias a agricultura familiar. Após execução do projeto, percebeu-se que os alunos passaram a ver a erva mate como alem de fonte geradora de renda atua também na preservação ambiental.
Palavras chaves agricultura de subsistência; erva mate; geração de renda;
preservação ambiental.
INTRODUÇÃO
1 Professora de Geografia de Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública do Estado do Paraná. NRE- Irati- PR.
2 Doutor em Geografia pela UFPR e Professor Adjunto da Universidade Estadual do Centro-Oeste –UNICENTRO- Campus de Irati-PR
O desenvolvimento e modernização da agropecuária brasileira e/ou
paranaense, por volta de 1970, inegavelmente proporcionaram significativos
aumentos da área utilizada para o plantio, bem como a produtividade agrícola, mas
também provocou uma grande diminuição da cobertura florestal natural. Nesse
sentido medidas de contenção de desmatamento têm sido criadas e implementadas
atingindo a todos os agricultores, desde os latifundiários até os pequenos
agricultores.
À medida que é removida a vegetação de uma determinada área, esta fica
sujeita aos processos pluvioerosivos que culminam com a degradação ambiental,
que em alguns casos tornam-se irreversíveis. DERPSCH et al. (1991), concluem que
os solos expostos aos efeitos climáticos apresentam um índice mais elevado de
erosão, principalmente onde ocorrem culturas anuais, pois o efeito splash desagrega
os grumos da camada superficial e acabam “entupindo” (selando) boa parte dos
poros que são responsáveis pela infiltração. Neste caso o escoamento superficial
passa a atuar em direção à jusante mesmo que o solo não esteja saturado.
DREW (1991) vem colaborar com esta questão ao afirmar que as atividades
destinadas a alterar o ambiente, na sua maioria, têm a intenção de serem benéficas
do ponto de vista humano. O grau de alteração a qual o autor se refere explica que
mudanças inesperadas, ou até mesmo reações em cadeia, são produtos de
benfeitorias isoladas. A intensidade dessas alterações inadvertidas depende, em
primeiro lugar, do esforço (ou tensão) aplicado ao sistema pelo homem e, em
segundo lugar, do grau de suscetibilidade à mudança do próprio sistema.
Neste contexto, o que preocupa é que grande parte dos pequenos produtores
rurais, devido à baixa rentabilidade, necessitam para a própria sobrevivência, de
alternativas de aumento de renda na sua propriedade rural. Isso faz co quem cada
vez mais se remova a vegetação para transformá-las em áreas agricultáveis.
Diante do exposto, esta pesquisa se propôs a inserir o cultivo da erva mate
como fonte de renda para os pequenos produtores rurais da Localidade de Linha
Esperança na Zona rural do município de Prudentópolis- PR: Nesse caso, o
agricultor pode racionalizar a ocupação de suas terras de floresta que ele é obrigado
a deixar como reserva legal ou reserva permanente em atendimento à legislação
ambiental, e ocupá-las com o plantio de erva-mate. Assim estará o pequeno
agricultor obedecendo à legislação e complementando sua renda com a extração da
erva-mate.
Para a execução deste projeto, foi preciso envolver a comunidade escolar da
localidade. Trabalhou-se como os alunos da 2ª série do Ensino Médio do Colégio
Estadual Padre José Orestes Preima, cujas famílias dos educando se dedicam à
atividade agrícola como fonte de subsistência. Para tanto, viu-se a necessidade de
desenvolver atividades relacionadas à implantação do cultivo da erva mate como
fonte alternativa de renda, haja vista que a maioria dos alunos do referido colégio,
desenvolvem com suas respectivas famílias a agricultura familiar.
A presente proposta de trabalho foi de extrema relevância para alunos e
jovens residentes no meio rural, visto que este tem se caracterizado pela diminuição
da sua população, em especial da população jovem. Poucos que ainda permanecem
vivendo neste espaço necessitam de alternativas para diversificação de sua
produção e complementação de renda.
Com esta preocupação que o trabalho envolveu os alunos das últimas séries
do Ensino Médio, filhos de agricultores familiares e moradores do meio rural. O
plantio da erva-mate na pequena propriedade foi efetuado, aliando duas práticas
numa mesma atividade, ou seja, preservação ambiental com o plantio da erva-mate
que é uma cultura permanente e a complementação de renda com a futura extração
da erva-mate para posterior comercialização.
Nesse sentido e com o intuito de propor formas de melhorar a qualidade de
vida neste espaço e dessa parcela diminuta da população brasileira, é que os alunos
moradores do meio rural e filhos de pequenos agricultores foram escolhidos para
desenvolver este projeto de Intervenção Pedagógica.
1- CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDOS
O município de Prudentópolis localiza-se na região Sudeste do Estado do
Paraná, próximo à borda da Escarpa da Serra Geral, pertencendo ao extremo Oeste
do 2º Planalto paranaense. É o terceiro maior do município em área territorial do
Paraná, com uma superfície de 2.275 km2. Situa-se a 25º 12’ 47” de latitude Sul e
50º 58’ 40” longitude Oeste, (sede municipal).
Os solos se caracterizam predominantemente em cambissolos, luvissolo,
neossolo e espodossolo nas áreas de várzeas (EMBRAPA 1999), sendo na maioria
rasos e pouco desenvolvidos, influenciados pela estrutura geológica e pelo
predomínio de um regime climático subtropical, fatores estes que propiciam um lento
processo de intemperização e formação de solos. Na parte sudeste do município,
aparece áreas com solos argissolos, com predominância de relevo suave o que
favorece a mecanização da agricultura.
Influenciados pelo declive acentuado do relevo, os rios seguem no sentido
Noroeste, para desaguar na Bacia do Rio Ivaí, formando vales que cortam a
paisagem com escarpas e cuestas em formas de “boqueirão” resultantes dos
processos exógenos que se verificam ao longo do tempo.
A vegetação caracteriza-se por mata secundária “capoeira” com ocorrência de
capões isolados de Mata de Araucária. Associadas a palmáceas, samambaias e
taquarais, encontram-se espécies remanescentes da floresta subtropical, tais como:
imbuia, cedro, peróba, jacarandá, cangerana, canela e outras, que são entremeadas
pela erva mate. Ver mapa de localização. (Figura 1)
BRASIL
PARANÁ
PRUDENTÓPOLIS
Área Urbana
N0 5
Área de Estudos
10 km
Figura 1 - Mapa de localização do município. Org: ANTONELI, V. (2011).
O município pode ser dividido em três regiões distintas de paisagens agrárias.
Devido sua posição geográfica, apresenta ao sul um clima ameno, segundo a
classificação de Koppen denominado Cfb (Mesotérmico úmido com verão ameno).
Chuvas uniformemente distribuídas, sem estação seca e a temperatura média do
mês mais quente não ultrapassa 22ºC, com ocorrência de 10 a 25 geadas ao longo
do período frio. Estas especificidades do clima associado ao relevo menos
dissecado (inferior a 15% de declividade em média) contribuem para a mecanização,
com predomínio de agricultura comercial, associado a alguns faxinais. Na área
central há um predomínio do Sistema de Faxinal, este fato se dá devido à
colonização, pois esta região do município foi a primeira a receber imigrantes
eslavos. O solo desta região, apesar de alto potencial, agrícola, no entanto, não é
explorado de forma intensiva. (HAURESKO, 2001, p 92).
Já o norte do município apresenta um clima Cfa, segundo classificação de
Koppen, se caracteriza por apresentar chuvas durante todos os meses do ano e
possuir a temperatura do mês mais quente superior a 22°C, e a do mês mais frio
superior a 3°C. (Maack, 1968). O relevo se caracteriza por vertentes curtas e
declives acentuados, (media superior a 20% de declividade). Nestas áreas há um
predomínio das roças de coivara, (roça de toco) tendo o milho e o feijão com os
principais produtos cultivados.
A agricultura praticada no município, segundo classificação do IAPAR (1995),
se insere no conglomerado denominado C13, que define a região com alta
participação de culturas temporárias, principalmente fumo, milho e feijão; sendo
utilizada a força do trabalho familiar e de tração animal. Sendo composta, ainda, de
pastagens, mata nativa, reflorestamento e áreas em pousio associadas à baixíssima
utilização de insumos agroindustriais e motomecanização. Acrescenta-se, ainda, o
emprego de práticas agrícolas com baixa tecnologia com utilização de implementos
e ferramentas rudimentares, principalmente por se tratar de uma área onde há um
predomínio de pequenas propriedades, onde boa parte da área agrícola é destinada
a atividade fumageira (cultivo do tabaco) (ANTONELI e THOMAZ 2010, p 390).
Este fato é decorrente do processo histórico, onde cada proprietário recebeu
cerca de 30 hectares de terra para desenvolver a prática agrícola (início da
colonização do Município). Com o passar do tempo estas propriedades foram sendo
divididas entre os filhos, multiplicando o número das propriedades e
conseqüentemente uma redução nas dimensões das mesmas. Neste contexto,
inúmeras propriedades se constituíram de áreas impróprias para a prática da
agricultura mecanizada, por apresentarem sérias restrições morfopedológicas (solos
rasos com declividade superior a 30%). Por não restar alternativas, essas áreas são
utilizadas para o desenvolvimento da agricultura, potencializando a degradação dos
solos.
O Município de Prudentópolis apresenta maior população residindo na zona
rural, indicando um dos mais baixos índice desenvolvimento humano (IDH) do
Paraná, tendo como principal atividade agrícola o cultivo de fumo, milho, e feijão, no
entanto, algumas propriedades buscam alternativas para complementação de renda,
as quais são desenvolvidas basicamente pela mão-de-obra familiar.
2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Antes de discutir a inserção da erva mate nas áreas de florestas para a geração
de renda das pequenas propriedades, faz-se necessário caracterizar a evolução
agrícola no contexto regional ao longo do processo histórico.
2.1 - EVOLUÇÃO AGRÍCOLA DO MUNICÍPIO DE PRUDENTÓPOLIS
Segundo Antoneli (2004) “a crise no abastecimento alimentar motivou o governo a
desencadear uma política imigratória com base na migração de colonos europeus”.
A primeira fase do processo imigratório (1830 - 1880) orientou-se no sentido de
estabelecer pequenas unidades que, junto com o ciclo da erva-mate e as fazendas
remanescentes do ciclo do tropeirismo, o qual compunha a quase totalidade da
economia da época.
RODRIGUES (1994), afirma que somente a partir de 1930 é que se quebra a
seqüência dos ciclos de cunho extrativista da região, superando-se uma rigidez
econômica de muitas décadas. Surge então a agricultura do sistema de roça que já
vinha sendo praticada desde a colonização, mas em pequena escala, utilizando a
tração animal e o trabalho familiar com base na policultura (milho, feijão, arroz e
trigo). Nesse período a economia atravessava uma fase de estagnação, desde o
declínio do ciclo da erva mate (1930-1940).
Durante várias décadas a agricultura era constituída pelo sistema de rotação
de terras. Fazia-se a derrubada da vegetação e ateava-se fogo para fazer a limpeza
do terreno para plantar. Após a colheita dos produtos, essa área ficava no chamado
“pousio”, por aproximadamente cinco anos para que a vegetação se regenerasse e o
solo pudesse recompor sua matéria orgânica. Outras áreas seriam utilizadas na
próxima safra, e assim sucessivamente. Cabe destacar que esta atividade ainda é
praticada no âmbito do município de Prudentópolis, mas em menor escala.
A utilização das queimadas em curto prazo é rentável ao pequeno produtor,
porque através das cinzas as plantas se revigoram mais facilmente. Isso acontece
porque estas cinzas contêm elementos minerais úteis para as plantas em estado
altamente solúvel, proporcionando uma plantação com pouca necessidade de
defensivos agrícolas. Mas em longo prazo essa técnica apresenta sérios problemas
em relação ao manuseio e a produtividade do solo, pois essas cinzas são facilmente
arrastadas pela força da água e do vento. Sem contar que essa prática deixa a
camada do solo vulnerável aos processos erosivos.
Aos poucos as áreas onde eram praticadas a agricultura no sistema de roça,
foram se deteriorando. O solo já não correspondia mais as expectativas dos
produtores, pois essa prática de roça não era necessária a utilização de fertilizantes
e nem agrotóxicos, favorecendo assim o surgimento de algumas pragas.
A diminuição da produtividade agrícola através da roça de subsistência, fez
surgir novas técnicas de cultivo, e novas culturas foram implantados, dentre elas
destaca-se a fumicultura, que passou a ser um aliado importante no avanço da
remoção definitiva da vegetação.
No início da década de 1960 a atividade fumageira era apenas uma nova
forma promissora de geração de renda das pequenas propriedades não só no
Município de Prudentópolis como da Região Centro-Sul do Estado do Paraná. Os
primeiros agricultores que se aventuraram nessa nova forma de geração de renda
foram aqueles que possuíam terras tanto nas áreas destinadas ao Faxinal (terra de
criar), quanto nas áreas fora dos limites do Faxinal (terras de plantar).
O processo de transição foi lento devido a várias incertezas que pairavam
sobre os agricultores como: comprometimento das empresas em comprar toda a
produção, financiamento dos implementos agrícolas e espaço físico para a secagem
(cura) das folhas. Mas o fator que mais contribuiu para a lentidão desta transição foi
justamente o rompimento do ritmo de vida pacata em que os agricultores viviam.
A fumicultura necessitava (e ainda necessita) de um trabalho mais intenso e
cuidados especiais no controle das ervas daninhas e das pragas, cuidados esses,
que na roça de coivara não precisavam. Outra questão que deve ser levada em
consideração a respeito da inserção lenta da fumicultura na década de 1960 e 1970
é em relação à quase inexistência de técnicas de cultivo e defensivos agrícolas, o
que propiciava uma baixa rentabilidade, a qual não despertava o interesse dos
agricultores do Município.
Essa atividade causa sério impacto ambiental. Segundo a Revista, SOUZA
CRUZ (1999), para secar (curar) as folhas de fumo, cada estufa consome (queima)
70m3 de lenha por ano. Para obter essa lenha queimada na estufa em cada safra,
quando o proprietário não possui reflorestamento de espécie exótica, é necessário
desmatar uma área de mata nativa equivalente a um campo de futebol a cada ano.
Ou ainda, para cada 300 cigarros fabricados é necessário queimar uma árvore. É
importante destacar que os desmatamentos não ocorrem somente para utilização de
lenha como fonte de energia para a secagem das folhas de fumo, mas também para
o aumento das áreas de plantio (ANTONELI 2011).
O setor fumageiro desenvolve ações para estimular o reflorestamento e a
preservação das matas nativas das propriedades rurais envolvidas com a produção
de fumo, através do plantio de árvores exóticas, especialmente o reflorestamento de
eucaliptos, com finalidade energética. Baseado nessas ações, alguns produtores de
fumo estão adotando o sistema de reflorestamento para o próprio consumo, mas
essa técnica de reflorestamento ainda não está sendo difundida entre os produtores
como deveria ser, pois ainda existem muitos produtores que utilizam lenha oriunda
das matas nativas.
Diante do exposto, nota-se que há a necessidade de implantação de
alternativas para que o pequeno agricultor não dependa apenas da fumicultura e do
cultivo de alguns cereais sob a forma de roça de toco. Neste contexto surge a cultivo
da erva mate que pode ser uma fonte alternativa de complementação de renda para
os pequenos produtores rurais do município de Prudentópolis.
2.3- CARACTERÍSTICAS DA AGRICULTURA FAMILIAR
A expansão e modernização da agricultura trouxeram impactos ambientais e
sociais, alterando os sistemas e as áreas ocupadas pela agricultura familiar A
introdução de equipamentos agrícolas modernos, a instalação de uma nova cultura,
exclui pequenos proprietários, e as populações rurais sem propriedade da terra
passaram a buscar alternativas nas cidades. No entanto a agricultura familiar é
responsável por grande parte das propriedades agrícolas do Brasil.
Segundo Campolin, (2004) a agricultura no Brasil detém aproximadamente
cinco milhões e meio de agricultores. Deste total 80% são agricultores familiares,
que muitas vezes desempenham seu trabalho com o mínimo de capital, tecnologia e
geralmente com pouco conhecimento formal. No Brasil a agricultura familiar surgiu
como forma de produção alternativa durante o período colonial, ocupando pequenas
extensões de terra, cujos produtos oriundos da atividade eram destinados ao auto
consumo.
A realidade atual mostra que os diferentes tipos de produtores familiares
conseguiram implantar em suas unidades produtivas, atividades diversificadas, o
que lhes têm garantido a permanência na zona rural, apesar de muitas destas terem
baixa remuneração (WAGNER et al.2004).
Em muitos casos a agricultura familiar não consegue proporcionar uma
rentabilidade adequada que permita a fixação do homem no campo. Dentre as quais
se podem citar: as condições físicas das propriedades (condições climáticas, tipo de
relevo características do solo), e as condições de infra estrutura como falta de
investimentos e falta de incentivo. Essas questões contribuem para o êxodo rural,
principalmente dos jovens que não vêem na agricultura familiar um futuro promissor,
mas que mesmo assim, em alguns casos ainda continuam nas áreas agrícolas. .
Segundo dados do IBGE (2008), indicam que 32 % de jovens permanecem no
campo em busca de trabalho e melhor qualidade de vida, muitas vezes, contrariando
a própria vontade de permanecer trabalhando e morando no meio rural. Entretanto,
como não encontram os meios que possibilitam a permanência deles, migram para
as cidades.
Diante de tais situações é premente que se busquem meios de fazer com que
estes jovens rurais tenham oportunidade de permanecer no campo desfrutando de
uma melhor qualidade de vida, preservando o ambiente e complementando a renda
familiar.
2.3 - A IMPORTÂNCIA DA ERVA MATE PARA A AGRICULTURA FAMILIAR
A erva mate esteve presente desde o inicio da colonização do município de
Prudentópolis, sendo explorada tanto para venda quanto para o consumo. Destaca-
se que este tipo de árvore da família das aqüifoliáceas, se encontrava (e ainda se
encontra) entremeada na Mata de Araucária.
Segundo Hauresko (2009), as terras loteadas aos colonos foram às terras de
mata do centro-sul paranaense, onde a erva-mate constituiu-se no início, em
importante fator de fixação dos colonos europeus que se dedicaram intensa e
extensivamente a essa atividade extrativa, desenvolvendo nas entressafras à
agricultura.
Para Denis, (1951), “o mate salvou as colônias do Paraná e o centro da
produção de mate, e as próprias colônias tiveram do mate grande proveito”. Neste
contexto, verifica-se a importância econômica do extrativismo da erva-mate da
Província e, para fixação dos colonos na região no início da colonização.
Relacionadas à demanda por erva-mate, no exterior e em outras regiões do
Brasil constroem-se estradas para retirada e transporte desta matéria-prima.
Igualmente a abertura de estradas desempenhou no local de instalação das colônias
e proporcionou ganhos maiores pelo comércio da erva-mate.
Verifica-se que a exploração da erva-mate (Ilex paraguariensis) constituiu
numa atividade regional de grande importância ao longo da colonização e que ainda
gera renda complementar aos agricultores da região. Sendo uma das poucas
alternativas de emprego e renda para os trabalhadores na estação do inverno.
A erva-mate é uma alternativa de renda no sistema agroflorestal, e desta
forma sendo nativa e plantada em associação a outras árvores nativas, assemelha-
se muito com a figura da Reserva Legal, podendo assim ser aceita para adequação
ambiental da propriedade e ao mesmo tempo gerando renda familiar.
No Estado do Paraná, o Instituto Ambiental (IAP) regulamenta está questão,
através da portaria 157/2005/IAP/GP, que admite inclusive o uso de espécies
exóticas, no caso das pequenas propriedades familiares (até 30 hectares).
Segundo BAGGIO et.al (2008), a erva-mate, como espécie nativa de sub-
bosque, é adequada para compor o estrato inferior deste tipo de sistema, em
associação com espécies adaptadas à sua região de ocorrência. Cabe ressaltar que,
mesmo considerada como cultura principal, sua densidade (número de plantas por
hectare) e produtividade serão inferiores a um sistema de arborização, que
apresenta menor biodiversidade e competição.
No entanto, o sistema como um todo poderá ser mais rentável, quando bem
manejado e com espécies cuidadosamente selecionadas, principalmente para
garantir retornos econômicos. Como alternativa intermediária, ou mista, pode-se
pensar em um extrato produtivo entre a erva-mate e as copas das árvores, formado
por frutíferas de porte médio e que produzem em ambiente semi-sombreado (ex.
algumas espécies de cítrus, ariticum-amarelo, jabuticaba, etc.) e medicinais
(ex.cafezeiro-bravo, espinheira-santa, sabugueiro, etc.), que também podem ser
introduzidas sob forma de cipós (guaco, mil - homens, maracujá-preto).
Ainda assim, não há um modelo estudado e pré-estabelecido para este tipo
de sistema, principalmente para regiões frias, dependendo a sua formação e
sucesso da criatividade e bom senso do empreendedor. O uso da produção, formas
de agregação de valor e conhecimento do mercado comprador são parte
indispensável no planejamento.
Na atualidade, a erva-mate é cultivada de forma adensada, cerca de 1660 pés
por hectares (espaçamento de 3x2), mas em alguns casos a erva mate ainda é
explorada in natura, ou seja, a erva mate é explorada nas áreas de faxinais e nas
áreas de floresta, por esta espécie se adaptar ao consorciamento com outras
espécies arbóreas. (Sendo cultivada em sistemas agroflorestais).
Segundo documento da Embrapa elaborado por BAGIO et. al (2008), a erva-
mate forma um dos sistemas agroflorestais mais característicos da região de
ocorrência natural, tratando-se de uma atividade que apresenta aspectos
ambientais, econômicos e sociais altamente positivos.
Em sistemas agroflorestais, a erva-mate é o cultivo de maior importância no
sul do Brasil, sendo explorada na forma natural com plantio intercalar de culturas
anuais como, feijão, mandioca, milho e soja, dentre outros.
Para plantio agroflorestais é recomendável o uso, para a erva-mate, de
espaçamento mais amplo como 4,50m x l, 50 m nas linhas a depender do
maquinário a ser utilizado no plantio da cultura agrícola.
METODOLOGIA
Para a execução deste projeto foi necessário envolver os alunos da 2ª série do
Ensino Médio do Colégio Estadual Padre José Orestes Preima localizado na
localidade de Linha Esperança.
As atividades foram realizadas de agosto de 2011 a dezembro do mesmo
ano, aproximadamente em 40 horas aula.
Numa primeira etapa foram realizadas abordagens sobre o plantio da erva-
mate como alternativa de renda em áreas de floresta, na pequena propriedade rural,
explorando temas referentes à erva-mate no Paraná, sua origem, utilização e
comércio. Destaca-se que essa etapa foi realizada em sala de aula com os alunos.
Posteriormente, foram propiciadas visitas a viveiros e plantio de erva-mate em
floresta.
Na ultima etapa, foi finalizado o plantio da erva-mate nas propriedades dos
alunos, em sistema de mutirão. As mudas foram adquiridas dos viveiros e doadas
aos alunos que efetuaram o plantio.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
No inicio da execução do projeto foi realizada uma palestra com o engenheiro
florestal Raul Francisco Pochenek (CREA-PR 114640/D). Intitulada “O plantio da
erva-mate em pequenas propriedades rurais”
A palestra serviu de base para que os alunos tomassem conhecimento sobre
as características da erva mate, também sua importância econômica, ambiental e
cultural para as pequenas propriedades.
Segundo o Palestrante, a importância econômica está pautada na opção de
renda para a pequena propriedade rural de forma sustentável. Já a questão
Ambiental por a erva mate faz parte de nossa bela e riquíssima flora brasileira, além
de ser uma forma de preservação ambiental. Com relação aos aspectos culturais, o
uso do chimarrão faz parte de nossa cultura que é passada de geração para
geração.
Foram repassadas para os alunos, as duas principais formas de podas na
erva-mate; a poda de formação e a de produção. A poda de formação deve ser feita
quando a planta está desenvolvendo sua estrutura nos seus primeiros anos,
deixando a planta com um formato de “cálice”, para maiores produções futuras de
folhas, nesta poda costuma-se deixar uma quantidade de folhas em torno de 20% a
30%. Para melhor desenvolvimento das folhas da planta e da formação dos galhos
deve ser feito a poda com cuidado para não machucar ou danificar a planta, para
isso recomenda-se a utilização de serrote ou tesourão.
A erva-mate é um produto que vem se destacando e ganhando espaço no
mercado, uma vez formado, o erval garante renda extra para o pequeno agricultor e
garante a sustentabilidade na atividade rural.
A questão ambiental vem se intensificando cada vez mais, e a reserva legal
vem se tornando indispensável para qualquer propriedade rural, seja ela pequena ou
grande. Neste cenário a erva-mate vem assumindo um papel bastante relevante no
que diz respeito à proteção florestal, pois pode ser plantada e cultivada em meio à
reserva legal, e ainda ser uma forma de renda sustentável para os produtores e
ainda a garantia de manter a floresta nativa.
Após as palestras, foram abertos espaços para questionamentos a respeito
da produção da erva mate e, verificou-se certo interesse dos alunos em incorporar a
erva mate nas áreas de floresta das suas respectivas propriedades.
Na sequência foi agendada uma visita técnica a uma empresa ervateira do
município de Prudentópolis A empresa escolhida para a visita técnica, está na
atividade desde 1920 sua origem é do Rio Grande do Sul e em 2008 instalou-se no
município de Prudentópolis. Sua principal função é o beneficiamento da erva-mate
in natura, emprega 25 funcionários diretos, sendo 4 do administrativo e 21 no
processo de industrialização, mas indiretamente gera mais ou menos 1500
empregos.
Na chegada a empresa, foi exibido um vídeo para conhecer a história da
empresa e os produtos e subprodutos da erva-mate, e os benefícios a saúde: Como
energizante, suplemento alimentar, fortificante além de atuar na defesa do
organismo e no auxílio à digestão. Como produtos destacam-se o chimarrão e o chá
e como subprodutos a utilização na fabricação de cosméticos, refrigerantes e até
cerveja.
Após a introdução dada pelos técnicos iniciou-se a visita ao processo de
beneficiamento da erva-mate. A erva-mate recebida na empresa é pesada e
descarregada em um barracão. Em seguida é feita a secagem, principal parte do
processo. A erva-mate não tem contato com a chama do fogo, sua secagem e
apenas o calor. A empresa gasta mais ou menos 400 metros cúbicos de lenha
proveniente de reflorestamento. Após todo o processo de secagem a erva-mate é
acomodada em um local fechado onde permanece por quatro horas num calor de
aproximadamente 86°C para desidratação a ar quente.
O final da linha de produção é o local de ensaque, onde a erva já está pré-
elaborada e segue para outro galpão para ficar descansando durante nove meses,
para só assim ser enviada a matriz, localizada no Rio Grande do Sul para a moagem
e empacotamento.
Como curiosidade cada 100 kg de erva-mate verde é produzido 18 kg de erva
tostada.
A erva-mate empacotada na matriz de Rio Grande do Sul é exportada para o
Uruguai, Estados Unidos, Japão e Austrália e uma pequena parcela é
comercializada no mercado interno.
No final da visita a empresa, distribuiu pacotes de erva-mate a todos os
alunos e professores e doou para o projeto desenvolvido pelos alunos, cerca de 200
mudas de erva-mate para que eles pudessem plantar em suas propriedades.
Constatamos com essa visita que há um déficit de matéria prima da erva-
mate no mercado em Prudentópolis
A erva-mate processada vem 90% do município. A empresa estabeleceu uma
política de preço justo (melhor preço) para o produtor que entrega sua própria
produção dispensando a figura do atravessador. A produção é 100% exportada,
sendo 85% para Uruguai e 15% para países da Europa. A empresa oferece alguns
incentivos para os produtores para o plantio da erva-mate como venda a prazo das
mudas ou pagamento com a produção, além da assistência técnica a campo e
também gera uma renda média com recebimento de 7 milhões de reais ao
município. Existe também a preocupação com o meio ambiente, pois só utiliza lenha
liberada pelo IAP.
Depois da entrevista com os responsáveis da empresa fica claro que a erva-
mate tem futuro com ampliação de mercado mundial.
A última etapa do projeto foi o plantio em forma de mutirão pelos alunos que
receberam as mudas de erva mate.
Conclusão
Conclui-se, que as atividades ao longo do projeto, serviram de base para que
os alunos percebessem a importância da utilização da erva mate como fonte de
renda para as pequenas propriedades, além da utilização desta espécie como forma
de preservação ambiental das florestas.
Percebeu-se, ao longo das atividades que houve uma valorização dos alunos
perante as atividades desenvolvidas, pois foi uma forma encontrada de motivação e
de conhecimento, utilizando atividades de campo, onde os alunos evidenciam na
prática aquilo que é discutindo na teoria em sala de aula.
Espera-se, que através do resultado alcançado por meio deste trabalho os
alunos passem a incorporar cada vez mais a erva mate em suas propriedades como
fonte de renda e de preservação ambiental.
10- REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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