Enrique Dussel

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A Ética da Libertação de Enrique Dussel Existiu um movimento que se iniciou na Argentina que se chamava a ética da libertação que surgiu por volta da década de 60, baseado no fortalecimento de cidadania que existe em uma perspectiva atraves do conceito de liberdade. Filosofos alemães compreender a ética do discurso de forma argumentativa , desconsiderando a materialidade da vida e os elementos históricos dos povos excluídos. Postula essa análise, por entender que não é possível restringir as compreensões éticas ao circuito lingüístico, incluindo apenas os afetados pelo discurso, os iniciados numa compreensão ética de máximos e mínimos. Reflete sobre as causas da dependência e da alienação da realidade latino-americana, apresentando uma perspectiva avançada para tratar dessas questões. Essa compreensão agrega-se, no horizonte de Dussel, fundamentada na exigência do reconhecimento das culturas populares, como a dos indígenas e a validez de escuta dos pobres, das vítimas, dos excluídos habitantes dos continentes marginalizados como América Latina, a Ásia e a África. Dussel, assim se refere a essa questão: Não podíamos contar nem com o pensar europeu preponderante (de Kant, Hegel ou Heidegger), porque nos incluem como “objeto” ou “coisa” em seu mundo; não podíamos partir daqueles que os imitaram na América Latina, porque é filosofia inautêntica. Tampouco podíamos partir dos imitadores latino-americanos dos críticos de Hegel, porque igualmente eram inautênticos. (DUSSEL, 1986, p. 190) Por essas razões, contesta o paradigma da filosofia ocidental, como sendo o único válido, ao reconhecer apenas os argumentos do fazer filosófico europeu. A compreensão de Dussel é que a Filosofia se integre na paisagem histórica, na qual os homens vivem, especialmente, os excluídos de todas as formas. A Filosofia da Libertação possibilita um compromisso ético com as classes populares, as quais, no seu entendimento atuarão nas mudanças sociais. Contra a lógica do discurso formal, propõe a analética, um método que organiza o discurso a partir do outro, pois tem origem no olhar do outro, na sua liberdade. O autor quer negar a negação presente no sistema de Hegel, o qual, segundo sua visão, não contempla a alteridade, mas, apenas, a identidade. Sistematiza sua proposição, demonstrando que as éticas formais baseiam-se numa perspectiva da identidade, que vê o mesmo, o único, como uma espécie de fechamento de totalidade. Propõe, pois, uma

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A Ética da Libertação de Enrique Dussel

Existiu um movimento que se iniciou na Argentina que se chamava a ética da libertação que surgiu por volta da década de 60, baseado no fortalecimento de cidadania que existe em uma perspectiva atraves do conceito de liberdade. Filosofos alemães compreender a ética do discurso de forma argumentativa

, desconsiderando a materialidade da vida e os elementos históricos dos povos excluídos. Postula essa análise, por entender que não é possível restringir as compreensões éticas ao circuito lingüístico, incluindo apenas os afetados pelo discurso, os iniciados numa compreensão ética de máximos e mínimos. Reflete sobre as causas da dependência e da alienação da realidade latino-americana, apresentando uma perspectiva avançada para tratar dessas questões.

Essa compreensão agrega-se, no horizonte de Dussel, fundamentada na exigência do reconhecimento das culturas populares, como a dos indígenas e a validez de escuta dos pobres, das vítimas, dos excluídos habitantes dos continentes marginalizados como América Latina, a Ásia e a África. Dussel, assim se refere a essa questão:

Não podíamos contar nem com o pensar europeu preponderante (de Kant, Hegel ou Heidegger), porque nos incluem como “objeto” ou “coisa” em seu mundo; não podíamos partir daqueles que os imitaram na América Latina, porque é filosofia inautêntica. Tampouco podíamos partir dos imitadores latino-americanos dos críticos de Hegel, porque igualmente eram inautênticos. (DUSSEL, 1986, p. 190)

Por essas razões, contesta o paradigma da filosofia ocidental, como sendo o único válido, ao reconhecer apenas os argumentos do fazer filosófico europeu. A compreensão de Dussel é que a Filosofia se integre na paisagem histórica, na qual os homens vivem, especialmente, os excluídos de todas as formas. A Filosofia da Libertação possibilita um compromisso ético com as classes populares, as quais, no seu entendimento atuarão nas mudanças sociais.

Contra a lógica do discurso formal, propõe a analética, um método que organiza o discurso a partir do outro, pois tem origem no olhar do outro, na sua liberdade.O autor quer negar a negação presente no sistema de Hegel, o qual, segundo sua visão, não contempla a alteridade, mas, apenas, a identidade. Sistematiza sua proposição, demonstrando que as éticas formais baseiam-se numa perspectiva da identidade, que vê o mesmo, o único, como uma espécie de fechamento de totalidade. Propõe, pois, uma perspectiva da alteridade, quando ocorre o olhar para o outro, superando o mesmo, o idêntico, possibilitando uma abertura compreensiva para a diferença, para o reconhecimento da diferença, permitindo ações que possibilitem a libertação dos que se encontram na situação de opressão.

Recusa, pois, a tese de Kant que define a lei como o fundamento da moralidade, porque a lei pode ser injusta. Para que se rompa com situações de dominação, é necessário que se construa o projeto histórico, expressão da práxis libertadora, quando a América Latina pode ser pensada como uma outra cultura, não idêntica à cultura européia. Contra a ontologia da totalidade, Dussel (1988, p.53) propõe a ontologia da proximidade. Este é o fundamento teórico da ética da libertação, o encontro de pessoas, uma relação face a face, sem mediações. Aqui, aparece claramente no seu pensamento a influência de Lévinas acerca da categoria da alteridade, a presença do outro como interpelação. Na fala de Lévinas, “O rosto fala. A manifestação do rosto é já discurso”.

A ética da libertação de Enrique Dussel procura sublinhar o caráter concreto dos valores, na medida em que o outro é o pressuposto de um processo revolucionário. A idéia é que não se pode transigir com a injustiça e com toda forma de exclusão. Aparece, aqui, o Dussel leitor de

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Marx, ainda que não subscreva a totalidade das teses marxianas. O que se quer ressaltar é a importância do pensamento de Marx nos filósofos latino-americanos, que se preocuparam com as estruturas econômicas e sociais causadoras da exploração do pobre e do excluído. Dussel é um desses filósofos que assume a dimensão revolucionária da práxis, como dado essencial para sua reflexão teórica.

O que resulta dessa compreensão é o entendimento e o acolhimento da vítima de todas as atitudes de aniquilamento, sejam raciais, religiosas, políticas, econômicas, culturais, ideológicas. Em conseqüência, constroem-se novos interlocutores para pensarem numa humanidade emancipada, liberta das carências, momento em que a solidariedade pode efetivar-se, por meio de um novo pacto social. Este pacto requer uma nova ordem. Isso é um processo de futuro, com etapas diferenciadas pelos momentos de maturação. Isso explica a diversidade dos discursos filosóficos acerca da libertação.