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FERRAMENTA DE CÁLCULO EXPEDITO DE CURTO CIRCUITOS EM I NSTALAÇÕES I NDUSTRIAIS Nuno Filipe Rodrigues Mendes de Oliveira Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Orientador: Professor Doutor Engº José Luís Costa Pinto de Sá Júri Presidente: Professor Rui Manuel Gameiro de Castro Orientador: Professor José Luís Costa Pinto de Sá Vogal: Professor José Manuel Dias Ferreira de Jesus Novembro 2015

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FERRAMENTA DE CÁLCULO EXPEDITO DE CURTO CIRCUITOS EM

INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS

Nuno Filipe Rodrigues Mendes de Oliveira

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Electrotécnica e de Computadores

Orientador: Professor Doutor Engº José Luís Costa Pinto de Sá

Júri

Presidente: Professor Rui Manuel Gameiro de Castro

Orientador: Professor José Luís Costa Pinto de Sá

Vogal: Professor José Manuel Dias Ferreira de Jesus

Novembro 2015

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Agradecimentos

Ao Professor António Rodrigues, pelo papel que desempenhou no meu percurso

Académico.

A todos os meus amigos aqui no Técnico que, durante estes anos, de uma forma ou de

outra, contribuíram para que hoje aqui esteja. Um especial obrigado, no âmbito desta

Dissertação, ao José Leitão, ao Mário Gamas e à Matilde Mata.

Por fim, aos meus pais e irmão, pelo apoio incondicional. Sempre! Pelo esforço que

fizeram para me proporcionar as melhores oportunidades e pela educação e valores que, todos

os dias, me incutem.

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Resumo

No âmbito desta Dissertação, procurou-se desenvolver uma ferramenta em Excel que

permitisse facilitar o cálculo de correntes de curto-circuito em instalações de Média Tensão de

acordo com a norma IEC 60909.

É feita uma introdução à Norma 60909 que regula este tipo de projecto, onde é descrito

o método de cálculo das diferentes correntes de curto-circuito, justificando a utilização de

algumas fórmulas e coeficientes.

Descreve-se, em pormenor, a abordagem ao problema, justificando as escolhas que

foram feitas no decorrer do desenvolvimento do programa.

Tenta-se obter alguns resultados representativos e analisá-los, comparando-os com

exemplos de obras de referência.

Palavras-Chave: Curto-Circuito, Instalações Eléctricas, IEC 60909

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Abstract

Focusing on aiding the calculation of short circuit currents and equivalent circuit

impedances in Medium Voltage Installations, according to IEC 60909, usually a time consuming

task, a Software Tool was developed in Excel.

IEC 60909 is introduced and its methods and formulas are explained, as far as possible.

The approach to the problem is carefully explained and the decisions made throughout

the development are justified.

Some results are shown to prove the quality of the Tool.

Keywords: Short Circuit, Electrical Installations, IEC 60909

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Índice

Agradecimentos ...................................................................................................................i

Resumo ............................................................................................................................... ii

Abstract ............................................................................................................................. iii

Índice ................................................................................................................................. iv

Índice de figuras .................................................................................................................. v

Lista de Abreviaturas ........................................................................................................... 9

1. Introdução ..................................................................................................................... 10

1.1. Enquadramento ....................................................................................................... 10

1.2. Objectivos ............................................................................................................... 11

1.3. Organização da Dissertação ..................................................................................... 11

2. Enquadramento Teórico ................................................................................................. 13

2.1. Norma 60909: Características e método de cálculo ................................................... 13

2.1.1. Corrente de Curto-circuito trifásico simétrica inicial ............................................... 14

2.1.2. Corrente de Pico ........................................................................................................ 20

2.1.3. Corrente de Corte ...................................................................................................... 24

2.1.4. Corrente Estacionária ................................................................................................ 27

2.1.5. Corrente Térmica....................................................................................................... 29

3. O Problema em Estudo e o recurso ao Excel .................................................................... 31

3.1. Definição do Problema ............................................................................................. 31

3.2. Características do Excel no contexto desta Ferramenta ............................................. 33

4. Abordagem ao Problema em Estudo ............................................................................... 36

4.1. Explicação da Solução Implementada no Excel .......................................................... 36

4.1.1. Definição da Rede ..................................................................................................... 37

4.1.2. Introdução de Dados pelo Utilizador ........................................................................ 38

4.2. Metodologia Adoptada ............................................................................................ 40

4.2.1. Estruturas de Dados desenvolvidas .......................................................................... 40

4.2.2. Algoritmos desenvolvidos ......................................................................................... 46

4.3. Implementação da Norma ........................................................................................ 52

4.3.1. Corrente de Curto-circuito trifásico simétrica inicial ............................................... 53

4.3.2. Corrente de Pico ........................................................................................................ 53

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4.3.3. Corrente de Corte ...................................................................................................... 54

4.3.4. Corrente Estacionária ................................................................................................ 55

4.3.5. Corrente Térmica....................................................................................................... 56

5. Alguns Resultados da Ferramenta .................................................................................. 56

5.1. Cálculo de Impedâncias de Equipamentos ................................................................ 57

5.2. Análise de um pequeno exemplo ............................................................................. 61

6. Conclusões .................................................................................................................... 67

7. Bibliografia .................................................................................................................... 68

Anexos .................................................................................................................................i

1. Calculadora Auxiliar .......................................................................................................i

2. Teste em Rede do Projecto de 2013/2014 .................................................................... iv

3. Exemplo do Fluxo do Programa .................................................................................. viii

Índice de figuras

Figura 1: Corrente de Curto-Circuito perto do Gerador[2] ................................................... 13

Figura 2: tabela do factor de tensão c [2] ............................................................................... 14

Figura 3: Esquema equivalente da Rede de Alimentação[2] ................................................ 15

Figura 4: Esquema equivalente do Cabo[2] ........................................................................... 16

Figura 5: Esquema equivalente do Motor[2] .......................................................................... 17

Figura 6: Esquema equivalente do Gerador[2] ...................................................................... 18

Figura 7: Circuito equivalente para o cálculo da corrente de pico Ip [2] ............................ 21

Figura 8: facores k e tp em função de R/X [2] ........................................................................ 22

Figura 9: Desvios "delta" dos 3 métodos (a, b e c) em relação ao valor de k[2] ................ 23

Figura 10: Factor k em função de R/X [2] ............................................................................... 24

Figura 11: Factor "miu" para o cálculo da corrente de corte Ib [2]...................................... 25

Figura 12: Factor q para o cálculo da corrente de corte dos Motores [2] ........................... 26

Figura 13: Exemplo de uma rede [2] ....................................................................................... 27

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Figura 14: factores "lambda" máximo e mínimo para Geradores de Rotores Cilíndricos [2]

............................................................................................................................................. 28

Figura 15: Exemplo de Rede[2] ................................................................................................ 28

Figura 17 - Objectivo da Ferramenta ....................................................................................... 31

Figura 18 - Rede Tipo em Estudo ............................................................................................ 32

Figura 19 - Variação na Rede Tipo .......................................................................................... 32

Figura 20 - Exemplo de Rede Possível ................................................................................... 33

Figura 21 - Esquema Ilustrativo do denvolvimento da Ferramenta ..................................... 36

Figura 22 - Representação do botão on/off desenvolvido .................................................... 37

Figura 23 - Interface gráfica resultante ................................................................................... 38

Figura 24 - Exemplo da Introdução de Dados - Caso do Motor ........................................... 39

Figura 25: Exemplo de uma Instalação ................................................................................... 40

Figura 26: Grafo que representa a Instalação ........................................................................ 41

Figura 27: Grafo representativo da "vista" do Barramento 1 ............................................... 41

Figura 28: Grafo representativo da "vista" do Barramento 2 ............................................... 42

Figura 29: Rede de Média Tensão em estudo ........................................................................ 42

Figura 30: Grafo que representa a Instalação em estudo ..................................................... 43

Figura 31: Grafo que representa a Instalação em estudo, sem nomes ............................... 43

Figura 32: Matriz que representa computacionalmente o Grafo .......................................... 44

Figura 33: Grafo do Exemplo de Instalação ........................................................................... 45

Figura 34 - Representação no Excel da Matriz e do Vector com as Impedâncias .............. 46

Figura 35 - Algoritmo que transforma a Rede consoante um ponto de referência ............ 47

Figura 36: Exemplo de uma Instalação ................................................................................... 47

Figura 37: Circuito correspondente ao exemplo ................................................................... 48

Figura 38 -Exemplo, Vista pelo Barramento 1 ........................................................................ 48

Figura 39 -Exemplo, Vista pelo Barramento 2 ........................................................................ 48

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Figura 40 - Vista do Barramento 1 da Rede Tipo ................................................................... 49

Figura 41 - Representação computacional da vista pelo Barramento 1 ............................. 50

Figura 42 - Mostrar Folhas de Cálculo no Excel .................................................................... 50

Figura 43 - Algoritmo que calcula Impedâncias, com base numa matriz de Rede e no valor

das Impedâncias dos Elementos ..................................................................................... 51

Figura 44 - Exemplo de Rede, Grafo ....................................................................................... 51

Figura 45 - Esquema representativo da implementação da Norma ..................................... 52

Figura 46 - Esquematização do Processo de Cálculo de I''k ................................................ 53

Figura 47 - Matriz e Vector de Impedâncias, no Excel .......................................................... 53

Figura 48 - Esquematização do Processo de Cálculo de Ip ................................................. 54

Figura 49 - Esquematização do processo para determinar se o defeito é perto ou longe do

Gerador ............................................................................................................................... 55

Figura 50 - Esquematização do Processo de Cálculo da Corrente de Corte ...................... 55

Figura 51 - Esquematização do processo de cálculo da Corrente Térmica ....................... 56

Figura 52 - Exemplo de Gerador .............................................................................................. 58

Figura 53 - Exemplo de Gerador, resultado ............................................................................ 58

Figura 54 - Exemplo de Transformador .................................................................................. 59

Figura 55 - Exemplo de Transformador, resultado ................................................................ 59

Figura 56 - Exemplo de Rede Pública ..................................................................................... 60

Figura 57 - Exemplo de Rede Pública, resultado ................................................................... 60

Figura 58 - Exemplo, Rede ....................................................................................................... 61

Figura 59 - Exemplo, Rede no Excel ....................................................................................... 61

Figura 60 - Vista do Barramento 1, Exemplo .......................................................................... 63

Figura 61 - Resultados do Exemplo 1/2 .................................................................................. 66

Figura 62 - Resultados do Exemplo 2/2 .................................................................................. 66

Figura 63 - Rede Tipo da Calculadora Auxiliar .......................................................................... i

Figura 64 - Rede da Calculadora Auxiliar .................................................................................. ii

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Figura 65 - Grafo da Calculadora Auxiliar ................................................................................. ii

Figura 66 - Impedâncias da Calculadora Auxiliar .................................................................... iii

Figura 67 - Resultados da Calculadora Auxiliar Note-se que os resultados apresentados são

as impedâncias vistas de cada um dos Barramentos. .......................................................... iii

Figura 68 - Projecto 2014 - Rede ................................................................................................ iv

Figura 69 - Projecto 2014 - Rede Modelada .............................................................................. v

Figura 70 - Projecto 2014 - Impedâncias ................................................................................... vi

Figura 71 - Projecto 2014 - Resultados .................................................................................... vii

Figura 72: Opção de Alimentação 1 ........................................................................................ viii

Figura 73: Opção de Alimentação 2 .......................................................................................... ix

Figura 74: Opção de Alimentação 3 .......................................................................................... x

Figura 75: Formulário respectivo à Rede Exterior e ao Transformador imediatamente a

jusante .................................................................................................................................. x

Figura 76: Formulário da Impedância da Rede Exterior.......................................................... xi

Figura 77: Formulário da Impedância do Transformador ....................................................... xi

Figura 78: Formulário do Transformador A ............................................................................. xii

Figura 79: Formulário da Impedância do Transformador A .................................................. xii

Figura 80: Formulário do Cabo que alimenta o Barramento 2 ............................................. xiii

Figura 81: Formulário do Motor ............................................................................................... xiv

Figura 82: Formulário da Impedância do Motor ..................................................................... xiv

Figura 83: Formulário do Gerador ............................................................................................ xv

Figura 84: Formulário da Impedância do Gerador .................................................................. xv

Figura 85: Seta que permite o cálculo após a definição da Rede ........................................ xvi

Figura 86 - Escolha do tmin ..................................................................................................... xvi

Figura 87: Resultados ............................................................................................................... xvi

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LISTA DE ABREVIATURAS

Ik - Corrente de curto-circuito estacionária

I’’k - Corrente de curto-circuito inicial

Ip - Corrente de pico

Ib - Corrente de corte

Ith - Corrente térmica

Z - Impedância

R - Resistência

X - Reactância

IEC – International Electrotechnical Comission

ANSI – American National Standarts Institute

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1. Introdução

1.1. Enquadramento

O projecto de instalações eléctricas não é algo recente. Desde os tempos do início da

substituição das máquinas a vapor, típicas do período da Revolução Industrial, por máquinas

eléctricas, com a necessária infra-estrutura de suporte, que se começaram a desenvolver

métodos de projecto eléctrico.

A Comissão Electrotécnica Internacional (CEI) é um organismo que define standarts e

faz recomendações sobre assuntos técnicos. E é graças ao trabalho desta Comissão que nasce

um standart que, hoje em dia, serve de referência ao projecto de instalações eléctricas, a Norma

60909.

Surge esta Norma 60909 como uma tentativa de unificação dos procedimentos para o

cálculo de correntes de curto-circuito, com uma descrição pormenorizada dos métodos de cálculo

de correntes de curto-circuito e com a justificação e suporte teórico para alguns factores usados.

Este documento divide-se em cinco partes (0,1,2,3 e 4), versando a parte -0 sobre o cálculo de

correntes, a parte 1 sobre os factores e coeficientes usados, a parte 2 sobre dados para o cálculo

de impedâncias do equipamento eléctrico, a parte 3 sobre o cálculo de correntes de curto-circuito

durante dois defeitos fase terra simultâneos separados e, finalmente, a parte 4 sobre exemplos

para o cálculo de correntes de curto-circuito. Foi, com toda a certeza, um esforço técnico

considerável por parte desta Comissão, mas o resultado vem, indubitavelmente, acrescentar

valor à Indústria.

Nas últimas décadas assistiu-se a um aumento significativo na capacidade de

processamento dos computadores e na facilidade de acesso a estes. Não tardou a que o avanço

da Informática possibilitasse o cálculo mais preciso, mais ágil destas correntes e a

implementação desta Norma em computador. Floresceu então um novo mercado, com o

aparecimento de diversos produtores de software.

Também não é surpreendente que boa parte deste software tenha aparecido no

chamado motor industrial Europeu, a Alemanha[1], onde o maior número de projectos e a

eventual maior escala dos mesmos, justificou o investimento nestas ferramentas informáticas. É

claro que do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos da América, surge uma norma

semelhante, ANSI. A título de curiosidade, por exemplo, na América do Sul dá-se maior

importância à norma Americana do que à Europeia.

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Em 1987, a empresa Americana Microsoft lança no mercado o Microsoft Office, do qual

faz parte o programa Microsoft Office Excel. Alguns anos mais tarde já as máquinas dispunham

de uma impressionante capacidade de processamento, o que permitiu ao Excel um alcance

assinalável na capacidade de cálculo, e uma presença e domínio a nível mundial, sendo

actualmente usado para todo o tipo de aplicações e num vasto leque de áreas, seja nas

disciplinas financeiras, onde tem particular domínio, seja até nas disciplinas de engenharia, onde

embora haja mais concorrência, a omnipresença do Excel é também indiscutível.

1.2. Objectivos

É objectivo da presente Dissertação de Mestrado desenvolver uma ferramenta para o

Cálculo expedito de Correntes de curto-circuito, na plataforma Excel da Microsoft. A escolha

desta plataforma prende-se com o facto de ser de mais fácil acesso, quando comparada com os

programas especializados no assunto.

A principal motivação para o desenvolvimento deste programa é facilitar a realização do

Projectos, não pretendendo ter nenhuma utilização comercial ou profissional, uma vez que

existem no mercado programas especializados que, com toda a certeza, cumprirão melhor esse

propósito.

Pretende-se desenhar uma interface gráfica intuitiva, que permita uma rápida

compreensão por parte do utilizador, sobre os dados a introduzir. Sendo a linguagem de

programação VBA (Visual Basic for Applications) a utilizada, tentará ser o mais robusta possível.

Como resultado da execução do programa, serão apresentadas as correntes de curto-

circuito trifásico simétrico, de pico, de corte e, finalmente, a térmica. Isto para cada um dos

Barramentos.

Sendo a fase do cálculo, propriamente dito, das correntes de curto-circuito,

tradicionalmente demorada, a utilização deste programa permite, dada uma determinada e bem

definida rede, agilizá-la significativamente. Esta optimização do tempo dispendido na realização

do projecto permite que este programa se constitua como um importante elemento de estudo.

Isto porque, admite a introdução de alterações, tanto na geometria da rede como nos elementos

que a constituem, e a rápida e eficiente obtenção de resultados para análise.

1.3. Organização da Dissertação

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Procurou seguir-se um fio condutor no desenvolvimento e também na escrita desta

Dissertação.

No Capítulo 1, o presente, contextualiza-se o problema em estudo, definem-se os

objectivos e esclarece-se a organização do trabalho.

No Capítulo 2 é introduzida a Norma 60909, directriz deste género de projectos. É feita

uma introdução teórica a alguns elementos fulcrais para o entendimento do Problema e das

opções tomadas no decorrer da solução do mesmo. São fornecidas fórmulas para o cálculo das

impedâncias dos elementos e algumas noções gerais sobre as diversas Correntes de Curto-

circuito.

No Capítulo 3 relaciona-se o problema em estudo com o Excel. Define-se exactamente

o problema e são apresentadas as características mais relevantes do Excel, no contexto desta

Dissertação.

No Capítulo 4 explica-se a abordagem ao problema. Como foi definida a rede no Excel,

como é que o utilizador interage com o programa e como é que os dados são tratados, através

dos algoritmos desenvolvidos e explicados, para obter os resultados pretendidos.

No Capítulo 5 analisam-se alguns exemplos da aplicação desta Ferramenta.

Finalmente, no Capítulo 6 são apresentadas as Conclusões.

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2. Enquadramento Teórico

Este texto não tem a pretensão de ser didáctico. Procura apenas, de alguma forma,

expressar o meu entendimento de alguns pormenores que, no decorrer desta Dissertação se

revelaram, de uma forma ou de outra, importantes.

Um curto-circuito é uma situação indesejável e pode tanto sobrecarregar o equipamento

como danificar a própria instalação. É então indispensável um cálculo preciso da magnitude

destas correntes expectáveis, para um apropriado dimensionamento da instalação.

A norma 60909 estabelece um procedimento para o cálculo de correntes de curto-circuito

que gera resultados de precisão aceitável. Fornece um guia para calcular as tais correntes,

explicando como calcular e interpretar as impedâncias dos diferentes elementos constituintes da

rede em estudo; o como e o porquê de corrigir algumas dessas impedâncias; e como usar estes

valores para chegar à impedância equivalente do sistema.

O método de cálculo utilizado consiste na introdução de uma fonte de tensão equivalente

no ponto de defeito. Sendo esta fonte de tensão a única activa e os elementos da rede

substituídos pelas suas respectivas impedâncias.

2.1. Norma 60909: Características e método de cálculo

A situação ideal seria ter disponível, ou facilmente calculável, as eventuais correntes de

curto-circuito em todos os pontos de interesse, como função do tempo. Ora isto, para além de

difícil, não é necessário, bastando o cálculo de alguns valores, que permitam ter um suficiente

entendimento do comportamento da corrente. São estes valores o I’’k, valor da corrente de curto-

circuito simétrica inicial, Ip que é o valor instantâneo máximo que a corrente atinge (corrente de

pico), Ib que é o valor da corrente de corte simétrica e Ik, o valor da corrente de curto-circuito

estacionária, findos todos os fenómenos transitórios.

Figura 1: Corrente de Curto-Circuito perto do Gerador[2]

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Para efectuar todos os cálculos referidos na norma, importa realçar algumas das

hipóteses assumidas pela mesma, como a não alteração do tipo de curto-circuito ou a não

alteração da rede, durante o defeito. Estas hipóteses, embora nem sempre válidas, produzem

resultados de precisão aceitável.

Dependendo a magnitude das correntes de curto-circuito do desenho da rede, mas

também do estado de operação do sistema antes da falha, que é difícil de prever, sugere então

esta norma a introdução de uma fonte de tensão equivalente no ponto de defeito sendo todos os

elementos do sistema representados pelas respectivas impedâncias.

Para o cálculo de I’’k, Ib e Ik será necessária a redução da rede a uma impedância

equivalente, no ponto de defeito. (o desenvolvimento desta ferramenta baseia-se no cálculo

destas impedâncias equivalentes!)

2.1.1. Corrente de Curto-circuito trifásico simétrica inicial

O mais importante valor, pois dele dependem os outros, é o valor da corrente de curto-

circuito simétrica inicial – I’’k.

É então recomendado pela norma a introdução da tal fonte de tensão:

𝑐𝑈𝑛/√3 (1)

Como se pode ver, esta fonte de tensão depende da tensão nominal da rede e do

denominado factor de tensão “c”, cujos valores são dados pela seguinte tabela:

Figura 2: tabela do factor de tensão c [2]

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A utilização deste factor deve-se a variações de tensão, alterações nos taps dos

transformadores, impedâncias não contabilizadas (por indicação da norma) e, finalmente, pelo

comportamento subtransitório do equipamento.

O método de cálculo, como já referido, consiste na introdução desta fonte de tensão

equivalente no ponto de defeito e na representação dos diferentes elementos constituintes da

rede pelas suas respectivas impedâncias (subtransitórias).

Não querendo substituir a leitura da norma, apresentam-se aqui as fórmulas de cálculo

das impedâncias dos equipamentos, sinalizando alguns pormenores interessantes:

Rede:

Com o seguinte esquema equivalente:

Figura 3: Esquema equivalente da Rede de Alimentação[2]

E calculando a sua impedância, assim:

𝑍𝑄 = 𝑅𝑄 + 𝑗𝑋𝑄 (2)

𝑍𝑄 =

𝑐. 𝑈𝑁2

𝑆𝑐𝑐 𝑚á𝑥

(3)

Partindo do princípio que não se conhece Xq e Rq, usa-se a seguinte aproximação (para

o caso respectivo):

Nos casos em que a tensão de alimentação do lado da alta tensão é maior que 35kV, a

impedância pode ser considerada puramente reactiva.

Se 𝑈𝑛 > 35𝑘𝑉 𝑍𝑄 = 0 + 𝑗𝑋𝑄 (4)

Nos casos de tensão abaixo dos 35kV, usa-se a seguinte aproximação:

Se 𝑈𝑛 ≤ 35𝑘𝑉 𝑅𝑄 = 0.1 ∗ 𝑋𝑄 (5)

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𝑋𝑄 = 0.995 ∗ 𝑍𝑄 (6)

Em que:

c: factor de tensão;

Un: tensão nominal da rede, em kV;

Scc máx: potência de curto-circuito da rede, em MVA

De referir que, tendo a jusante um transformador, a impedância aqui calculada terá que

ser referida ao secundário do mesmo, aplicando para isso a razão de transformação (1/tr^2).-

Cabos:

Com o seguinte esquema equivalente:

Figura 4: Esquema equivalente do Cabo[2]

E calculando a sua impedância do seguinte modo:

𝑍𝑐𝑎𝑏𝑜 = 𝜌 ×

𝑙

𝑆+ 𝑗𝜔 × 𝐿 × 𝑙

(7)

Em que:

𝜌 − 𝑟𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑜 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑞𝑢𝑒 é 𝑓𝑒𝑖𝑡𝑜 𝑜 𝑐𝑎𝑏𝑜 Ω. 𝑚𝑚2. 𝑚−1;

𝑙 − 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜 𝑐𝑎𝑏𝑜 𝑚;

𝑆 − 𝑆𝑒𝑐çã𝑜 𝑑𝑜 𝑐𝑎𝑏𝑜 𝑚𝑚2;

𝜔 − 314𝑟𝑎𝑑. 𝑠−1;

𝐿 − 0,24 × 10−6𝐻. 𝑚−1

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17

Alguns valores típicos para a resistividade são: 1/54 para cabos de Cobre e 1/34 para o

caso de Alumínio (valores na unidade referida).

Motores:

Tendo como esquema do circuito equivalente:

Figura 5: Esquema equivalente do Motor[2]

Os motores de baixa e média tensão contribuem para a corrente de curto-circuito

simétrica inicial, para a corrente de pico e para a corrente de corte, sendo representados pela

sua impedância.

Calculando a impedância da seguinte forma:

𝑍𝑀 =

𝐼𝑛,𝑀

𝐼𝑎𝑟𝑟,𝑀

×𝑈2

𝑛,𝑀

𝑆𝑛,𝑀

(8)

𝐼𝑛,𝑀 – Intensidade da corrente nominal [A];

𝐼𝑎𝑟𝑟,𝑀 – Intensidade da corrente de arranque[A];

𝑈2𝑛,𝑀 - Tensão nominal do motor [kV];

𝑆𝑛,𝑀 – Potência aparente nominal do motor [MVA]

𝑃𝑛,𝑀 – Potência mecânica nominal do motor [MW]

𝑅𝑀 – Resistência do Motor [Ohm]

𝑋𝑀 – Reactância do Motor [Ohm]

Não tendo o valor exacto do rácio R/X, como usualmente acontece, as seguintes

aproximações são válidas, com aceitável precisão.

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𝑅𝑀 𝑋𝑀 = 0,10 𝑐𝑜𝑚 𝑋𝑀 = 0,995 × 𝑍𝑀 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑚𝑜𝑡𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑐𝑜𝑚 𝑃𝑛,𝑀 𝑝𝑎𝑟 𝑑𝑒 𝑝ó𝑙𝑜𝑠 ≥ 1𝑀𝑊;⁄⁄

𝑅𝑀 𝑋𝑀 = 0,15 𝑐𝑜𝑚 𝑋𝑀 = 0,989 × 𝑍𝑀 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑚𝑜𝑡𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑐𝑜𝑚 𝑃𝑛,𝑀 𝑝𝑎𝑟 𝑑𝑒 𝑝ó𝑙𝑜𝑠 < 1𝑀𝑊;⁄⁄

Geradores:

Com o seguinte esquema esquivalente, que corresponde a uma Máquina Síncrona:

Figura 6: Esquema equivalente do Gerador[2]

E calculando a sua impedância conforme descrito abaixo:

Para Geradores de tensão inferior a 1kV:

𝑍𝐺 = 𝑅𝐺 + 𝑗𝑋′′𝑑 (9)

𝑅𝐺 = 0.15 ∗ 𝑋′′𝑑 (10)

Para Geradores de tensão igual ou superior a 1 kV:

Se 𝑆𝑟𝐺 ≥ 100 𝑀𝑉𝐴 : (11)

𝑅𝐺 = 0.05 ∗ 𝑋′′𝑑 (12)

Se 𝑆𝑟𝐺 < 100 𝑀𝑉𝐴 : (13)

𝑅𝐺 = 0.07 ∗ 𝑋′′𝑑 (14)

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19

Em que:

𝑍𝐺 – Impedância do Gerador [Ohm];

𝑅𝐺 – Resistência do Gerador[Ohm];

𝑋𝐺 – Reactância do Gerador[Ohm};

𝑥′′𝑑 – Reactância Sub-Transitória do Gerador[%];

𝑆𝑟𝐺 – Potência do Gerador[MVA];

Por se usar uma fonte de tensão equivalente e não a tensão subtransitória, deve

corrigir-se este valor de impedância com um factor de correcção 𝐾𝐺 , que adiante se explicará.

Transformadores:

ZT =

un,cc

100%×

U2n,T

Sn,T

(15)

RT =

uR

100%×

U2n,T

Sn,T

(16)

𝑋𝑇 = √𝑍𝑇

2 − 𝑅𝑇2

(17)

un,cc – Tensão nominal de curto-circuito, em %;

Un,T – Tensão nominal do transformador[kV];

Sn,T - Potência nominal do transformador[MVA];

𝑢𝑟 – Queda de tensão resistiva, em %;

Acrescendo ao factor c que a prática mostra não ser suficiente, são introduzidos factores

de correcção nas impedâncias de alguns equipamentos, para se obter um cálculo mais preciso,

especialmente no caso em que as reactâncias subtransitórias do gerador são elevadas.

O factor de correcção do Transformador surge de um estudo efectuado em 150

transformadores em que se aferiu a exactidão da fórmula de cálculo da impedância deste

equipamento, proposta na norma, sob os pontos de vista de segurança e económico. Foi então

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deduzida a seguinte fórmula, já simplificada, em [3], sendo também a fórmula menicionada em

[2]:

𝐾𝑇 =

𝑈𝑛

𝑈𝑏.

𝑐𝑚𝑎𝑥

1 + 𝑥𝑇 (𝐼𝑇

𝑏

𝐼𝑟𝑇) 𝑠𝑖𝑛𝜑𝑇

𝑏

(18)

𝑥𝑇 =

𝑋𝑇

𝑍𝑇

(19)

Em que o símbolo “b” significa “before”(antes). Então, esta fórmula detalhadamente

deduzida na Norma baseia-se num conhecimento prévio das condições de funcionamento antes

do defeito. Isto nem sempre é possível saber, especialmente em fases de planeamento, pelo que

é proposta a seguinte fórmula, cujos resultados são satisfatórios, sendo também esta a fórmula

referida na obra de apoio à Norma [1]:

𝐾𝑇 = 0,95𝑐𝑚Á𝑥

1 + 0,6𝑥𝑇

(20)

Também a impedância do Gerador deverá ser corrigida.

Este factor de correcção é deduzido de um diagrama fasorial representativo da operação

em sobretensão deste equipamento, tendo em conta a reactância subtransitória x’’d e a tensão

interna subtransitória E’’. Baseando-se esta dedução no método de sobreposição, está

detalhadamente explicada na norma e apresenta-se então aqui o resultado:

𝐾𝐺 =

𝑈𝑛

𝑈𝑛,𝐺

×𝑐𝑚𝑎𝑥

1 + 𝑥𝑑′′ × 𝑠𝑒𝑛𝜑𝑛,𝐺

(21)

𝑥′′𝑑 =

𝑋′′𝑑

𝑍𝑛𝐺

(22)

𝑍𝑟𝐺 =

𝑈𝑛𝐺2

𝑆𝑛𝐺

(23)

Segundo esta norma, tendo determinada cada uma das impedâncias dos elementos

constituintes da rede, consiste o método de cálculo da corrente de curto-circuito na introdução

da já referida fonte de tensão equivalente e na redução da rede à sua impedância equivalente

de Thevenin. Sabendo a tensão e a impedância, determina-se o valor da corrente.

2.1.2. Corrente de Pico

A corrente de pico é o valor instantaneo máximo que a corrente pode atingir.

Para se calcular este valor, a norma propõe multiplicar o, já calculado, valor da corrente

de curto-circuito simétrica inicial I’’ por um factor “k”. Este factor encapsula a complexidade do

método.

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Para melhor se perceber, atente-se no seguinte circuito, que é uma possível

representação da impedância equivalente da rede:

Figura 7: Circuito equivalente para o cálculo da corrente de pico Ip [2]

Escrevendo a equação diferencial que modela o circuito:

𝑅𝑖𝐾 + 𝐿

𝑑𝑖𝑘

𝑑𝑡=

𝑐√2𝑈𝑛

√3sin (𝜔𝑡 + 𝜑𝑈)

(24)

Pode deduzir-se a solução:

𝑖𝑘 = √2 [𝐼𝑘

′′ sin(𝜔𝑡 + 𝜑𝑈 − 𝛾) + 𝑒−𝑅X

𝜔𝑡sin (𝛾 − 𝜑𝑈)] = √2𝐼𝑘′′𝑘

(25)

Sendo:

𝐼′′𝑘 Corrente de curto-circuito trifásica inicial

𝑍 Impedância de curto-circuito

Ɣ Ângulo de fase da impedância

𝜑𝑈 Ângulo de fase da tensão no início do defeito

Analisando a forma da equação, são identificáveis as componentes contínua, que decai

rapidamente, e a componente sinusoidal. De notar que o valor máximo da corrente corresponde

ao valor máximo do factor “k”.

𝑖𝑘 = 𝑖𝑘𝑎.𝑐. + 𝑖𝑘𝑑.𝑐. = √2𝐼𝑘

′′ sin(𝜔𝑡 + 𝜑𝑈 − 𝛾) + √2𝐼𝑘′′𝑒−

𝑅X

𝜔𝑡sin (𝛾 − 𝜑𝑈) (26)

𝑘 = sin(𝜔𝑡 − 𝛾) + 𝑒−

𝑅𝑋

𝑤𝑡𝑠𝑖𝑛𝛾 (27)

O factor k e o tempo t seriam obtidos por um processo iterativo. Os resultados podem ser

vistos no seguinte gráfico:

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Figura 8: facores k e tp em função de R/X [2]

A norma sugere e compara três métodos para o cálculo desta corrente, que evitam uma

análise tão pormenorizada. São eles os métodos a) b) e c).

É introduzida a seguinte fórmula:

𝐼𝑃 = 𝑘√2 × 𝐼𝐾′′ (28)

Que tendo o valor de I’’k, corrente de curto-circuito simétrico inicial, multiplica este pelo

factor “k”:

𝑘 = 1,02 + 0,98𝑒−3𝑅 𝑋⁄ (29)

Tendo por objectivo calcular o valor do rácio R/X:

O método a), ou método do rácio uniforme, consiste em usar o menor valor R/X de entre

os ramos do circuito. Isto provoca resultados conservadores, sendo apenas aconselhado o uso

deste método como primeira estimativa.

Por sua vez, o método b), baseia-se no rácio R/X no ponto de defeito. Tendo este rácio,

calcula-se o valor de k e, posteriormente, multiplica-se este resultado por 1,15. Não é

aconselhado o uso deste método.

Finalmente, o método c), o adoptado para desenvolver esta ferramenta, é um pouco mais

complexo.

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Ora, impõe o cálculo de uma impedância equivalente Zc=Rc+jXc, vista do ponto de

defeito, com a fonte de tensão a frequência fc=20Hz. Tendo esta impedância, usa-se a seguinte

fórmula para chegar ao pretendido rácio R/X:

𝑅

𝑋=

𝑓𝑐

𝑓×

𝑅𝑐

𝑋𝑥

(30)

Comparando os resultados dos três métodos:

∆𝑘𝑎 =

𝑘𝑎′ − 𝑘

𝑘100%

(31)

∆(1.15𝑘𝑏 =

1.15𝑘𝑏 − 𝑘

𝑘100%

(32)

∆𝑘𝑐 =

𝑘𝑐 − 𝑘

𝑘100%

(33)

Figura 9: Desvios "delta" dos 3 métodos (a, b e c) em relação ao valor de k[2]

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Como se consegue identificar pela imagem, o´método c) conduz ao resultado mais

aproximado, e daí ser o escolhido.

Para obter o valor de “k”, também se pode, embora com menos precisão, recorrer ao

seguinte gráfico:

Figura 10: Factor k em função de R/X [2]

2.1.3. Corrente de Corte

A corrente de corte Ib é o valor da corrente de curto-circuito no instante da separação dos

contactos do disjuntor. Como se pode ver na figura 1, a corrente de curto-circuito decai

consideravelmente nos primeiros décimos de segundo, 4 a 5 ciclos. Isto acontece,

principalmente, devido à variação do fluxo no rotor do gerador, durante o defeito.

Um cálculo exacto destes fenómenos é bastante complexo e requer uma grande

quantidade de daods, como por exemplo as reactâncias e constantes de tempo dos geradores,

as condições detalhadas de funcionamento deste equipamento em vazio e em carga nominal,

ou o comportamento cinético do conjunto gerador turbina, durante o defeito.

Para simplificar a obtenção deste resultado a norma introduz uma fórmula:

𝐼𝑏 = 𝜇𝐼𝑘′′ (34)

Que, o multiplicar o valor da corrente de curto-circuito simétrica inicial por um factor 𝜇, que

terá como valor máximo a unidade, exprime a atenuação verificada no valor da corrente. Convém

salientar que o caso referido é o perto do gerador. Quando o defeito ocorre longe do gerador, o

factor 𝜇 simplesmente assume o valor unitário.

Esta fórmula baseia-se em dois parâmetros:

- Tempo mínimo (tmin): tempo mínimo entre o início do defeito e a abertura dos contactos

do disjuntor.

- O rácio entre a corrente de curto-circuito simétrica inicial e a corrente nominal do gerador

𝐼𝐾𝐺′′ 𝐼𝑅𝐺⁄ .

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𝜇 = 0.84 + 0.26𝑒−0.26×𝐼𝐾𝐺′′ 𝐼𝑅𝐺⁄ PARA T=0.02S (35)

𝜇 = 0.71 + 0.51𝑒−0.30×𝐼𝐾𝐺′′ 𝐼𝑅𝐺⁄ PARA T=0.05S (36)

𝜇 = 0.62 + 0.72𝑒−0.32×𝐼𝐾𝐺′′ 𝐼𝑅𝐺⁄ PARA T=0.10S (37)

𝜇 = 0.56 + 0.94𝑒−0.38×𝐼𝐾𝐺′′ 𝐼𝑅𝐺⁄ PARA T=0.25S (38)

Figura 11: Factor "miu" para o cálculo da corrente de corte Ib [2]

Tendo descrito apenas a atenuação devida à contribuição do Gerador, convém notar que

também os motores, tipicamente máquinas assíncronas, contribuem para a corrente de curto-

circuito, sendo portanto também responsáveis pela sua atenuação nos primeiros ciclos.

Comparando com os geradores, a contribuição dos motores decai muito mais rapidamente.

É então introduzido o factor “q”, que depende do já explicado “tempo mínimo tmin” e da

Potência Activa do Motor por número de pares de pólos.

𝑞 = 1.03 + 0.12ln (𝑃𝑟𝑀 𝑝⁄ ) para t=0.02s (39)

𝑞 = 0.79 + 0.12ln (𝑃𝑟𝑀 𝑝⁄ ) para t=0.05s (40)

𝑞 = 0.57 + 0.12ln (𝑃𝑟𝑀 𝑝⁄ ) para t=0.10s (41)

𝑞 = 0.26 + 0.12ln (𝑃𝑟𝑀 𝑝⁄ ) para t=0.25s (42)

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Figura 12: Factor q para o cálculo da corrente de corte dos Motores [2]

Esta contribuição dos motores será pesada não só pelo factor “q” mas também pelo factor

𝜇 , calculado de forma semelhante ao caso do Gerador, dependendo do rácio entre a

componente subtransitória do Motor e da sua corrrente nominal Ir,M :

𝜇 = 0.84 + 0.26𝑒−0.26×𝐼𝐾𝑀′′ 𝐼𝑅𝑀⁄ PARA T=0.02S (43)

𝜇 = 0.71 + 0.51𝑒−0.30×𝐼𝐾𝑀′′ 𝐼𝑅𝑀⁄ PARA T=0.05S (44)

𝜇 = 0.62 + 0.72𝑒−0.32×𝐼𝐾𝑀′′ 𝐼𝑅𝑀⁄ PARA T=0.10S (45)

𝜇 = 0.56 + 0.94𝑒−0.38×𝐼𝐾𝑀′′ 𝐼𝑅𝑀⁄ PARA T=0.25S (46)

Em que:

𝐼′′

𝑘𝑀 =𝑐. 𝑈𝑟𝑀

√3. 𝑍𝑟𝑀

(47)

𝐼𝑟𝑀 =

𝑆𝑟𝑀

√3. 𝑈𝑟𝑀

(48)

Recorrendo a um exemplo da norma:

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27

Figura 13: Exemplo de uma rede [2]

a corrente de Corte será:

𝐼𝑏 = ∑ 𝐼𝑏𝑖

𝑖

(49)

𝐼𝑏 = 𝐼𝑏𝑆 + 𝐼𝑏𝑇 + 𝐼𝑏𝑀 = 𝜇 𝐼′′𝑘𝑆 + 𝐼′′𝑘𝑇 + 𝜇 q𝐼′′𝑘𝑀 (50)

Atente-se nos factores 𝜇 e “q”.

O conceito, introduzido pela Norma, de defeito “perto” ou “longe” do Gerador é

determinado tendo em conta as impedâncias equivalentes de Thevenin correspondentes aos

períodos subtransitório e estacionário do circuito. Relacionar estas duas impedâncias é

equivalente a relacionar as correntes, isto é:

𝐼′′

𝐼=

𝑍

𝑍′′

Se 𝑍

𝑍′′> 2 então o defeito ocorre perto do Gerador;

Se 𝑍

𝑍′′< 2 então o defeito ocorre longe do Gerador.

2.1.4. Corrente Estacionária

A corrente de curto-circuito estacionária é, como o nome indica, a corrente após todos os

fenómenos transitórios, e o seu valor depende, fundamentalmente, da excitação, do regulador

de tensão e da saturação dos materiais ferromagnéticos.

Relativamente ao cálculo, a norma avisa que é de precisão inferior ao cálculo da corrente

de curto-circuito trifásico simétrico inicial.

É introduzida a seguinte fórmula:

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28

𝐼𝑘𝑚𝑎𝑥 = 𝜆 𝐼𝑟𝐺 (51)

Que depende de um factor “lambda” e da corrente nominal do gerador.

Este factor “lambda” depende na relação entre a corrente de curto-circuito trifásico

simétrico inicial e a corrente nominal do gerador I’’ / Irg e no valor de saturação da reactância do

eixo directo.

O cálculo de Ik requer bastante informação: reactância síncrona, saturação do ferro, a

regulação da tensão e a tensão máxima de excitação.

Com o intuito de simplificar esta complexa e morosa tarefa, a norma providencia gráficos

que permitem determinar o valor de “lambda” em função de I’’ / Irg :

Figura 14: factores "lambda" máximo e mínimo para Geradores de Rotores Cilíndricos [2]

Um aspecto interessante é, mais uma vez recorrendo ao mesmo exemplo da norma:

Figura 15: Exemplo de Rede[2]

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A corrente de curto-circuito estacionária ser:

𝐼𝑘 = ∑ 𝐼𝑘𝑖

𝑖

(52)

𝐼𝑘 = 𝐼𝑘𝑆 + 𝐼𝑘𝑇 + 𝐼𝑘𝑀 = 𝜆 𝐼𝑟𝐺𝑡 + 𝐼′′𝑘𝑇 (53)

Onde se pode ver que os motores já não contribuem para esta corrente.

2.1.5. Corrente Térmica

O integral de Joule representa a energia dissipada na componente resistiva dos circuitos

ao passar a corrente de curto-circuito:

∫ 𝑖2𝑑𝑡

𝑇𝑘

0

(54)

A norma introduz o conceito de corrente de curto-circuito equivalente térmica, calculada

do seguinte modo:

∫ 𝑖2𝑑𝑡

𝑇𝑘

0

= 𝐼𝑘′′2(𝑚 + 𝑛)𝑇𝑘 = 𝐼𝑡ℎ

2 𝑇𝑘

(55)

𝐼𝑡ℎ = 𝐼′′𝑘√𝑚 + 𝑛 (56)

A corrente equivalente térmica Ith é então o valor de uma corrente que tem o mesmo efeito

térmico e a mesma duração que a corrente de curto-circuito. Tendo já calculado o valor da

corrente de curto-circuito simétrico trifásico inicial, resta calcular os factores “m” que diz respeito

à componente contínua da corrente e o factor “n” respeitante à componente alternada da mesma.

Partindo do princípio que se conhece a duração do defeito Tk, é possível obter:

𝑚 =

1

2𝑓𝑇𝑘ln (𝑘 − 1)(𝑒4𝑓𝑇𝑘ln (𝑘−1) − 1)

(57)

E sabendo também o valor da, anteriormente explicada, corrente de curto-circuito

estacionária Ik, pode obter-se (Anexo A da norma):

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30

𝑛 =1

(𝐼𝑘

′′

𝐼𝑘)

2 [1 +𝑇𝑑

20𝑇𝑘(1 − 𝑒

−20𝑇𝑘

𝑇𝑑′

) (𝐼𝑘

′′

𝐼𝑘−

𝐼𝑘′

𝐼𝑘)

2

+𝑇𝑑

2𝑇𝑘(1 − 𝑒

−2𝑇𝑘

𝑇𝑑′

) (𝐼𝑘

𝐼𝑘− 1)

2

+𝑇𝑑

5𝑇𝑘(1 − 𝑒

−10𝑇𝑘

𝑇𝑑′

) (𝐼𝑘

′′

𝐼𝑘−

𝐼𝑘′

𝐼𝑘) +

2𝑇𝑑′

𝑇𝑘(1 − 𝑒

−2𝑇𝑘

𝑇𝑑′

) (𝐼𝑘

𝐼𝑘− 1)

+𝑇𝑑

5.5𝑇𝑘(1 − 𝑒

−11𝑇𝑘

𝑇𝑑′

) (𝐼𝑘

′′

𝐼𝑘−

𝐼𝑘′

𝐼𝑘) (

𝐼𝑘′

𝐼𝑘− 1)]

(58)

onde,

𝐼𝑘

𝐼𝑘=

𝐼𝑘′′

𝐼𝑘

0.88 + 0.17𝐼𝑘

′′

𝐼𝑘

(59)

𝑇𝑑

′ =3.1𝑠

𝐼𝑘′

𝐼𝑘

(60)

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3. O PROBLEMA EM ESTUDO E O RECURSO AO EXCEL

O uso do Excel para desenvolver uma Ferramenta deste género levanta algumas questões. Se

por um lado é uma ideia atraente, pela acessibilidade desta plataforma ou até pela familiarização

que o utilizador já com ela tem, por outro requer alguma precaução, pois o manusear de

elementos gráficos e até de números complexos, não é trivial.

Figura 16 - Objectivo da Ferramenta

Define-se em seguida a rede em estudo e são referidas algumas características

específicas desta plataforma, no contexto deste projecto.

3.1. Definição do Problema

O objectivo desta Ferramenta, como já referido anteriormente, é calcular correntes de

curto-circuito em vários pontos de defeito possíveis, numa instalação eléctrica.

É então necessária a definição de uma rede tipo, representativa de uma panóplia de

casos, para que possa ser implementada uma solução automatizada em Excel.

Esta rede tipo procurou ser o mais genérica possível, abrangendo uma variedade

considerável de opções de alteração da mesma. A definição desta rede é condição necessária

para a tal implementação, mas tem a desvantagem implícita de não responder a todos os casos.

De qualquer forma, tentou ser um compromisso entre aplicabilidade e garantia de resultados pela

via da rigidez da estrutura.

Optou-se por uma estrutura com alimentação da Rede Pública e de, eventuais,

Geradores. Para maximizar o número de casos passíveis de ser abordados com esta

Ferramenta, definiu-se um número de seis barramentos, dos quais quatro podem ser ligados ou

desligados. Cada um destes Barramentos alimenta, por sua vez, até três motores. Graficamente:

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Figura 17 - Rede Tipo em Estudo

Repare-se que a instalação faz uso de dois Transformadores de serviço e é também

previsto o caso em que ou um, ou outro, estão desligados, tendo a instalação que ser alimentada

apenas por um. Como se pode ver, por exemplo:

Figura 18 - Variação na Rede Tipo

A título ilustrativo das variações que o programa suporta, apresenta-se um exemplo de

configuração:

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Figura 19 - Exemplo de Rede Possível

É então objectivo desta Ferramenta apresentar os seguintes resultados:

Barra I''k Ip Ib Ith

1

2

3

4

5

6

3.2. Características do Excel no contexto desta Ferramenta

O Excel da Microsoft é, hoje em dia, umas das plataformas mais difundidas na utilização

de um computador, tanto para uso pessoal como profissional ou empresarial.

É, como a constante liderança na quota de mercado o indica, a plataforma melhor aceite

para efectuar cálculos. A facilidade de introdução de dados, o facto de ser muito intuitiva, até a

capacidade para efectuar cálculos mais elaborados ou o vasto leque de funções previamente

programadas que possui, são só algumas das vantagens enumeráveis.

Porém, a característica que permite que este Projecto seja sequer considerável a ser

implementado em Excel, é o facto de possuir uma linguagem de programação com um pacote

específico para esta plataforma, o Visual Basic for Applications (VBA). Esta linguagem de

programação, permite ao programador pontenciar as já referidas vantagens. Torna possível uma

automatização e optimização da utilização do Excel.

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34

Para se discutir as opções de implementação de alguns conceitos convém começar-se

por conhecer algumas características desta plataforma, para melhor se entender as decisões

tomadas. Listam-se algumas, as mais relevantes para este projecto.

- Como já foi referido na pequena introdução que precedeu esta lista, um aspecto

importante, e desta feita algo que pode ser visto como uma das grandes vantagens desta

plataforma, é a linguagem na qual está assente, o Visual Basic for Applications (VBA) ser uma

linguagem de programação orientada a eventos. Quer isto dizer que permite uma interacção com

o utilizador, que à medida que o deseja, pode ir desencadeando uma série de subrotinas.

Constitui então um ponto forte nas aplicações que envolvem a introdução de dados pelo

utilizador, como é o caso.

- A existência de Macros. Uma Macro é um conjunto de tarefas que o utilizador quer que

sejam realizadas, repetitivas e que o Excel permite que sejam automatizadas, sob o tal nome de

Macro. Consiste numa ou em várias subrotinas encadeadas para produzir um determinado

resultado, em que poupa ao utilizador o ter que repetir, diversas vezes, as mesmas tarefas. É

um dos elementos centrais no desenvolvimente de programas no Excel e também neste projecto

se constituiu como tal.

- Formulários. A disponibilização de Formulários é outra das imagens de marca do Excel,

a par das Macros. Estes possibilitam uma melhor comunicação entre o programador e o

utilizador.

Incluído num formulário está também a possibilidade de se programar, por exemplo, para calcular

imediatamente algum valor, ou chamar uma dada subrotina, clicando num botão ou até apenas

ao preencher um campo.

- O estudo de circuitos eléctricos implica o uso frequente de números complexos. Este é

um dos pilares de qualquer cálculo, sejam impedâncias ou correntes, por exemplo. Ora, para o

Excel o número complexo é uma string, ou seja, um conjunto de caracteres, ex. “ a + bi ”. Isto

suscita logo alguns problemas, pois esta limitação não permite uma robustez que outras

plataformas oferecem.

Concretizando, o Excel define um número complexo como “ a+bi ”, ex. “ 2 + 2.3i ”, não

podendo portanto executar-se as operações básicas sobre números complexos com a facilidade

desejável e como se faz noutras plataformas. Disponibiliza então uma “biblioteca”, acessível em

código por “Worksheetfunction.Im…”, que contém as tais operações. Ilustrando com um exemplo

comparativo:

Matlab: introduzindo z = 1 + 2.2i ; e fazendo y =1 / z , o resultado seria imediatamente

calculado pelo programa.

Para somar z com y, escrever-se-ia z + y e o resultado seria calculado.

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Excel: tendo o mesmo z = “ 1 + 2.2i ” , para se obter y seria y =

Worksheetfunction.Imdiv(1,z).

Querendo somar z com y, seria Worksheetfunction.Imsum(z,y).

Este facto permite compreender que, apesar de não ser absolutamente impeditivo, o

tratamento de números complexos não é tão fácil e eficiente quanto seria desejável.

- A vírgula “,” e o ponto “.” são uma recorrente fonte de problemas nesta plataforma

mundial. Estando presente em vários países, e tendo os anglo-saxónicos uma interpretação

destes símbolos diferente da dos europeus, é frequente que erros sejam causados por este facto.

É necessário algum cuidado ao lidar com este problema no desenvolvimento de aplicações que,

ainda por cima, fazem uso de números complexos. Veja-se que para o Excel o número “ 2 + 2,3i“

é um erro, só reconhecendo “ 2 + 2.3i “.

- Caindo um pouco num ponto anterior, convém também referir a quiçá maior

capacidade, a maior vantagem do Excel, pelo prisma do utilizador: a folha de cálculo e o

manancial gráfico que possui e permite. O recurso, por exemplo, a Formas (“Shapes”) permite

representar graficamente elementos que, em outro caso, apenas seriam representados por um

número. A folha de cálculo constitui uma poderosa interface entre o utilizador e o código

subjacente ao programa. É mais intuitivo, mais facilmente compreensível clicar numa figura e ser

activado um formulário ou uma animação, algo possível no Excel, do que apenas a introdução

de um número numa célula.

Um uso frequente que o programador pode fazer da folha de cálculo é a leitura das

células, para posterior processamento:

- Ainda relativamente à interacção entre o código e a folha de cálculo, nomeadamente a

leitura e a escrita de valores, que é feita, por exemplo, através da propriedade “Range” (como

visto no ponto acima). Ora, esta passagem dos valores por um “buffer” antes de os tratar é

também uma possível fonte de problemas, pois os tipos das variáveis são em VBA pouco

versáteis e, por vezes ao tentar usar estes valores para fazer uma dada conta, podem os tipos

não ser perfeitamente compatíveis, provocando o erro.

- O limite de tamanho das subrotinas. Um dos erros que pode aparecer no

desenvolvimento de aplicações em Excel é intitulado “Procedure too large”. Isto acontece porque

o tamanho máximo das subrotinas é 64kB. Olhando para este valor pode parecer inalcançável,

mas começando a programar, facilmente se percebe que não o é. Requer então que uma

estratégia de divisão do código em subrotinas seja adoptada, o que nem sempre é o desejável.

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4. ABORDAGEM AO PROBLEMA EM ESTUDO

Explica-se, em seguida, os conceitos desenvolvidos para a implementação desta

Ferramenta em Excel. E estrutura-se esta explicação pela ordem em que, também o utilizador a

vai encontrar: em primeiro lugar, o contacto com a interface gráfica; em segundo lugar, a fase de

introdução de dados pelo utilizador; em terceiro lugar, a apresentação e explicação dos

algoritmos desenvolvidos, para que em quarto lugar, finalmente, se explicar a aplicação dos

mesmos para a obtenção dos resultados. Evitou-se a apresentação explícita de código, mas nos

casos em que foi feito, houve o cuidado de se comentar apropriadamente o mesmo, para facilitar

a compreensão.

Figura 20 - Esquema Ilustrativo do denvolvimento da Ferramenta

4.1. Explicação da Solução Implementada no Excel

Para implementar esta rede tipo no Excel, foi necessária a construção de dois elementos:

i) uma interface gráfica, para que o utilizador visualize a rede e as alterações que lhe pretende

introduzir. Sem esta interface intuitiva, a interacção com o utilizador limitar-se-ia à folha de cálculo

simples do Excel, ou seja, ao preenchimento de células. E ii) uma representação computacional

desta rede, sob a forma de uma matriz (que será adiante explicada).

Sendo possível ao utilizador alterar a rede, isto é, ligar ou desligar elementos da mesma,

o uso de “fórmulas” para calcular impedâncias de circuitos equivalentes seria pouco inteligente,

uma vez que teria que haver uma fórmula para cada caso, ou algo semelhante. Procurou-se,

portanto, encontrar uma estrutura de dados e algoritmos que, apesar das alterações introduzidas

pelo utilizador, conseguissem calcular as tais impedâncias equivalentes. Explicar-se-á adiante a

metodologia adoptada.

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4.1.1. Definição da Rede

Esta etapa de construção de uma interface gráfica é altamente desafiante, uma vez que

não é prática comum desenvolver-se em Excel. E para que fosse execuível, adaptou-se um botão

on/off que, usualmente se encontra em aplicações desenhadas para Smartphone, por exemplo.

Ilustrando:

Figura 21 - Representação do botão on/off desenvolvido

Este botão, elemento que confere alguma interactividade visual a esta Ferramenta,

consiste numa macro, que introduz ou retira o respectivo elemento, conforme opção do utilizador.

Faz uso das tais “Formas” (“Shapes”) que o Excel possui e combina-as para criar a animação

resultante.

Um exemplo de uma destas macros que cria a animação do botão é a seguinte:

Aqui, as tais “Formas” são denominadas “caixa_ger4” e “bola_ger4” e é sobre estas que

a macro actua.

Como é também visível neste pedaço de código, esta macro também invoca outras

subrotinas, nomeadamente para que o elemento seja ligado ou desligado também na

representação computacional da rede, “Call ger4_escrita_desliga”. Isto é feito,

simplificadamente, apenas introduzindo zero “0” ou um “1”, conforme o caso.

Tendo desenvolvido e implementado este botão, e conjugando-o com as representações

esquemáticas dos equipamentos eléctricos, criou-se a seguinte interface gráfica:

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Figura 22 - Interface gráfica resultante

A interface gráfica foi assim construída, baseando-se num conceito que cria uma animação

e que, deste modo, permite que a ideia de ligar ou desligar elementos seja graficamente

perceptível. Evidentemente, esta alteração no gráfico implica uma alteração na estrutura a nível

computacional, para que os subsequentes cálculos sejam feitos. A explicação de como isto

acontece, nomeadamente de que estruturas se está a falar é feita em 4.2., mas é importante

reter que, a partir deste momento, a geometria da Rede está definida, estando também definida

a Matriz que lhe corresponde, em termos computacionais.

4.1.2. Introdução de Dados pelo Utilizador

Para além da definição do formato da rede em estudo, é também necessária a introdução

de dados por parte do utilizador. Isto foi feito com recurso a outra das principais características

do Excel, os formulários. Formulários estes que, incluídos numa macro, permitem que o utilizador

os active quando quer, clicando sobre o equipamento que deseja definir.

É pedido ao utilizador que introduza, por exemplo, os parâmetros de um motor para que o

programa possa, posteriormente, calcular a respectiva impedância. Visualizando:

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Ao clicar naquele motor, ao qual está associado uma Macro:

que faz aparecer o seguinte Formulário:

Figura 23 - Exemplo da Introdução de Dados - Caso do Motor

Com base na correcta introdução destes valores, procede o programa, assim que se

clica em “Gravar e Avançar”, ao desencadeamento de uma subrotina que calcula a impedância.

Para minimizar a probabilidade de erro, por exemplo pelo não preenchimento de um

qualquer dos campos, situação em que seria impossível calcular a impedância, a subrotina

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desenhada inclui uma fase de verificação do preenchimento dos campos e, no caso em que

algum tenha ficado em branco, usa para o cálculo um valor previamente armazenado em

memória. Apesar de ser verificado se o campo foi ou não preenchido, não é verificada a

razoabilidade do valor introduzido, sendo da responsabilidade do utilizador.

Um exemplo do Fluxo do Programa, do início ao fim, é demonstrado no Anexo 3.

4.2. Metodologia Adoptada

Até aqui foi apresentada e explicada a construção da interface gráfica com a qual o

utilizador irá contactar. Falta então perceber o que está subjacente a estes elementos gráficos,

sobre que estruturas de dados se está a trabalhar, quais os algoritmos em que o programa se

baseia. Nesta subsecção será justificada a escolha do Grafo como estrutura de dados,

representado por uma matriz, e serão explicados os efeitos da aplicação dos algoritmos a este.

4.2.1. Estruturas de Dados desenvolvidas

Procurou-se uma forma eficiente de resolver o problema e que evitasse a alteração de

fórmulas para cada caso. Assim sendo, adoptou-se uma estrutura de dados e, com base nesta,

algoritmos que permitissem cumprir o objectivo.

Apresenta-se em seguida um pequeno exemplo que permite compreender o que foi dito.

Ilustrando graficamente o objectivo:

Figura 24: Exemplo de uma Instalação

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Pretende-se determinar a impedância vista do Barramento 1 (1) e do Barramento 2 (2).

Para tal, optou-se por representar a rede por um grafo sendo este Grafo

computacionalmente representado por uma matriz e em que cada elemento do grafo (“nó”)

equivale a um elemento da rede em estudo:

Figura 25: Grafo que representa a Instalação

Tendo o grafo representado, e relembrando o objectivo de ter uma representação da rede

“vista” de um ponto de interesse, no caso dos dois barramentos, aplicando os tais algoritmos

adiante explicados, obtém-se:

Figura 26: Grafo representativo da "vista" do Barramento 1

o grafo alterado representando a “vista” do Barramento 1 e:

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Figura 27: Grafo representativo da "vista" do Barramento 2

a rede alterada, “vista” pelo barramento 2.

Com estes grafos criados é agora possível calcular as impedâncias equivalentes, de uma

forma eficiente, aplicando um segundo algoritmo, também adiante explicado, que mais não faz

que somas em série e em paralelo.

O que se procurou demonstrar com este pequeno exemplo foi a utilidade do grafo para a

resolução do problema em causa. E tendo explicado o propósito da utilização do grafo, passa-

se à aplicação ao problema proposto.

Para resolver o problema proposto, tendo a seguinte rede:

Figura 28: Rede de Média Tensão em estudo

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optou-se por usar um grafo com representação matricial, como estrutura de dados, conforme a

figura abaixo:

Figura 29: Grafo que representa a Instalação em estudo

e o equivalente sem “nomes”:

Figura 30: Grafo que representa a Instalação em estudo, sem nomes

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Este grafo é composto por 25 nós, tendo por “raiz” o nó 11.

Uma propriedade desta estrutura de dados é, por construção, o facto de cada “filho” só ter

um “pai”. Isto significa que, fazendo a analogia com o problema físico em causa, a corrente eléc-

trica, computacionalmente, só tem uma origem.

Em termos computacionais, este grafo é descrito por uma matriz:

Figura 31: Matriz que representa computacionalmente o Grafo

na qual, na linha correspondente ao nó pretendido, podemos identificar os seus “filhos”, ou seja,

os elementos por ele alimentados. E na coluna que lhe corresponde, identificamos o seu “pai”,

único, ou no caso de ser a raiz do grafo, não terá “pai” (como no exemplo a verde).

Para construir esta matriz, o método é simples: para cada nó, a que corresponde uma linha

e uma coluna, deve introduzir-se na sua linha respectiva, um “1” nos nós que são seus filhos. No

final, tendo descrito os filhos de cada nó, terá sido obtida a matriz. Um pequeno exemplo:

Tendo o grafo

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Figura 32: Grafo do Exemplo de Instalação

para construir a sua matriz, deve seguir-se o referido método. Ou seja, “quais os filhos do nó

‘Rede’ ?” e a resposta “ é só o nó ‘Transformador’ “, pelo que na linha da Rede, linha um, deve

colocar-se um 1 na coluna do Transformador, 2(a verde). Chegando à matriz:

Rede Transformador Barramento1 Motor1 Cabo1_2 Barramento2 Motor2

Rede 0 1 0 0 0 0 0

Transformador 0 0 1 0 0 0 0

Barramento1 0 0 0 1 1 0 0

Motor1 0 0 0 0 0 0 0

Cabo1_2 0 0 0 0 0 1 0

Barramento2 0 0 0 0 0 0 1

Motor2 0 0 0 0 0 0 0

Acompanhando esta matriz está um vector com os mesmos 25 elementos, que contém as

impedâncias de cada um dos elementos (mais não é do que uma lista ordenada com as

impedâncias dos elementos). Descrevendo cada um dos nós deste Grafo (convém observar-se

em paralelo a imagem da rede e do grafo para que melhor se entenda):

Os nós 1 a 6 dizem respeito aos respectivos barramentos, servindo apenas como

referência para os algoritmos saberem o ponto pretendido. A sua impedância é nula.

Os nós 7 a 10 representam os cabos que ligam o Barramento 1 aos Barramentos 2 e 3 e

o Barramento 4 aos Barramentos 5 e 6.

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O nó 11 é a raiz deste grafo, não tendo equivalente físico, e servindo apenas como

referência para descrever a rede. A sua impedância é nula. Este nó é introduzido por facilidade

de construção, ou seja, permite descrever a rede a partir dele.

Os nós 12 e 13 dizem respeito à alimentação da rede. O nó 12 representa a rede exterior

e o transformador que lhe está imediatamente a jusante. E o nó 13 representa um, eventual,

gerador que pode, por opção do utilizador, ser desligado.

Os nós 14 e 16 são, respectivamente, o Transformador A e o Transformador B.

Os nós 15 e 17 dizem respeito aos cabos que vão dos Transformadores A e B para os

Barramentos 1 e 4, respectivamente.

Os nós 18 e 19 representam os Geradores 1 e 4 que se encontram, respectivamente, nos

Barramentos 1 e 4. Estes nós podem, por opção do utilizador, ser desligados da rede. A impedân-

cia destes elementos é calculada com base nas características do mesmo e nos seus factores

de correcção.

Os nós 20 a 25 contém a impedância de cada um dos seis barramentos,

respectivamente, que é calculada com base nos motores que cada um alimenta. Se, por opção

do utilizador, algum barramento estiver desligado, a impedância será zero.

Visualizando no Excel, a matriz à esquerda e o vector com as impedâncias, à direita:

Figura 33 - Representação no Excel da Matriz e do Vector com as Impedâncias

4.2.2. Algoritmos desenvolvidos

Este programa baseia-se em dois algoritmos: um para alterar a estrutura da rede

consoante um ponto de referência e outro, para o cálculo de impedâncias, tendo uma matriz que

representa a rede e a impedância de cada elemento. São, de seguida, apresentados. O “pseudo-

código” apresentado é comentado e procura explicar-se com exemplos.

4.2.2.1. Algoritmo para alterar a Rede

vista do1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

1 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 Barramento1 0

2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 Barramento2 0

3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 Barramento3 0

4 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 Barramento4 0

5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 Barramento5 0

6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Barramento6 0

7 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Cabo1_2 1.1+0.888888888888889i

8 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Cabo1_3 1.1+0.888888888888889i

9 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Cabo4_5 1.1+0.888888888888889i

10 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Cabo4_6 1,1

11 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Base/raiz 0

12 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Rede e Trafo0.00613556253155083+1.31661506482518i

13 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Gerador 0.0492537313432834+0.703624733475474i

14 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Trafo A 0.0659172377659026+0.389971637704628i

15 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 CaboA_1 1.1+0.888888888888889i

16 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 Trafo B 0.0659172377659026+0.389971637704628i

17 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 CaboB_4 1.1+0.888888888888889i

18 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Gerador1? 0.13898916967509+1.985559566787i

19 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Gerador4? 0.13898916967509+1.985559566787i

20 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Carga 1 5.23431919191919+34.5695353535353i

21 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Carga 2 5.23431919191919+34.5695353535353i

22 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Carga 3 5.23431919191919+34.5695353535353i

23 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Carga 4 5.23431919191919+34.5695353535353i

24 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Carga 5 5.23431919191919+34.5695353535353i

25 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Carga 6 0

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Este algoritmo foi desenhado com o objectivo de alterar uma estrutura consoante o “nó”

de onde se pretende que seja “vista”. Isto tem uma aplicação no tratamento de circuitos

eléctricos. Ora, estando o circuito modelado de maneira apropriada, este pedaço de código

permite rearranjar o circuito consoante um dado ponto. No contexto desta Dissertação, servirá

para determinar circuitos equivalentes, “vistos” de cada um dos Barramentos, para posterior cál-

culo de impedâncias equivalentes.

Figura 34 - Algoritmo que transforma a Rede consoante um ponto de referência

Ilustrando graficamente, com o exemplo já anteriormente utilizado:

Figura 35: Exemplo de uma Instalação

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Partindo de uma rede como acima representada, e tendo por objectivo alterá-la de acordo

com um determinado ponto, no caso, “vista” pelo Barramento 1 e “vista” pelo Barramento 2.

Olhando para a rede acima como um conjunto de impedâncias:

Figura 36: Circuito correspondente ao exemplo

O objectivo do algoritmo é:

Figura 37 -Exemplo, Vista pelo Barramento 1

Alterar a rede (circuito), de modo a que seja “vista” pelo Barramento 1.

Figura 38 -Exemplo, Vista pelo Barramento 2

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E alterá-la, de modo a que seja “vista” pelo Barramento 2.

Tendo todos os grafos representaçãoo matricial, conforme anteriormente explicado, o

resultado da aplicação deste algoritmo é também uma matriz.

Aplicado ao estudo da rede em causa, neste projecto, este algoritmo foi usado para obter

6 matrizes, e correspondentes grafos, que representam a rede “vista de cada um dos

Barramentos.

Por exemplo, a vista do Barramento 1:

Figura 39 - Vista do Barramento 1 da Rede Tipo

E a respectiva matriz:

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Figura 40 - Representação computacional da vista pelo Barramento 1

Por facilidade de memorizar os dados e também por ser mais intuitivo para se perceber

onde ocorriam os problemas à medida que iam aparecendo, optou-se por aplicar este algoritmo

à matriz incial previamente e, para cada um dos seis barramentos, gravar os resultados em folhas

de cálculo. Estas folhas não estão directamente visíveis ao utilizador mas pode fazê-lo clicando

em “Mostrar”:

Figura 41 - Mostrar Folhas de Cálculo no Excel

4.2.2.2. Algoritmo para calcular impedâncias equivalentes

Havendo a necessidade de calcular, de uma forma eficiente, impedâncias equivalentes de

diversos circuitos, criou-se uma forma automática de o fazer.

Este algoritmo foi desenhado para, com base numa estrutura matricial e num vector de

impedâncias (que mais não é do que a lista dos valores de impedâncias de cada elemento),

calcular a impedância equivalente do circuito. Isto é, tendo a impedância de cada elemento da

rede (ou do grafo), este algoritmo calcula a resultante impedância equivalente.

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Figura 42 - Algoritmo que calcula Impedâncias, com base numa matriz de Rede e no valor das Impedâncias dos Elementos

Apresenta-se de seguida um pequeno exemplo, com base no exemplo dado anteriormente

para explicar a mudança de rede e a necessidade do grafo.

Tendo o mesmo grafo (a mesma rede):

Figura 43 - Exemplo de Rede, Grafo

e, arbitrando as impedâncias da seguinte forma ( “vector de impedâncias”):

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Calculando a impedância equivalente do sistema analiticamente seria:

( ( Z_Motor2 + Z_Barramento2 + Z_Cabo1_2 ) // Z_Motor1 ) + Z_Barramento1 +

Z_Transformador + Z_Rede

=( ( 50 + 0 + 40 ) // 30 ) + 0 + 20 + 10

=(90 // 30) + 30

=22,5 + 30 = 52,5

// --> Significa “em paralelo”

+ --> Significa “em série”

Isto é exactamento o que o programa faz, obtendo obviamente o mesmo resultado.

Para cada um dos Barramentos, com base nas matrizes obtidas com o primeiro algoritmo,

é calculada a impedância equivalente, usando este segundo algoritmo.

4.3. Implementação da Norma

Estando já o programa em posse das impedâncias que o utilizador introduziu e da

definição da rede, parte então para a obtenção dos valores das diferentes correntes de curto-

circuito, nos vários barramentos.

A filosofia da implementação da norma poderia ser descrita por:

Figura 44 - Esquema representativo da implementação da Norma

O programa, de modo a obter ou a manipular os já existentes dados, faz uso dos

algoritmos. Por vezes directamente, como no caso da corrente de curto-circuito trifásico

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simétrico inicial, ou noutras vezes, tem que usar os algoritmos mais que uma vez, como no

caso da corrente de pico.

Para se entender como é que se chega a cada um dos diferentes resultados, passa-se

de seguida a explicar. Estando a ser explicada, no fundo uma sequência de acções que o

programa executa, achou-se por bem não recorrer a texto corrido e sim a uma separação clara

de cada acção, ou seja, mais esquematizada.

4.3.1. Corrente de Curto-circuito trifásico simétrica inicial

A corrente de curto-circuito trifásico simétrica inicial é a mais facilmente obtida, estando

já em posse dos dados. Ora, tendo os valores das impedâncias dos elementos e as matrizes que

correspondem às vistas de cada barramento, estando estas gravadas em memória, os resultados

são obtidos aplicando directamente os algoritmos e determinando assim as impedâncias

equivalentes, em cada ponto. Tendo estas impedâncias e sabendo o valor de tensão em que a

rede opera, bem como o cmax (coeficiente de tensão), chega-se ao valor das correntes I’’k.

Figura 45 - Esquematização do Processo de Cálculo de I''k

Por exemplo, tendo a vista de um determinado barramento (descrita pela sua matriz) e

o vector com a lista das impedâncias:

Figura 46 - Matriz e Vector de Impedâncias, no Excel

O programa vai percorrer a matriz com o algoritmo que calcula a impedância da mesma

e chegar ao resultado pretendido, a impedância equivalente do circuito visto daquele ponto, Z =

a + bi. Com este valor da impedância, é imediato o cálculo da corrente I’’ .

4.3.2. Corrente de Pico

vista do1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

1 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 Barramento1 0

2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 Barramento2 0

3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 Barramento3 0

4 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 Barramento4 0

5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 Barramento5 0

6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Barramento6 0

7 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Cabo1_2 1.1+0.888888888888889i

8 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Cabo1_3 1.1+0.888888888888889i

9 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Cabo4_5 1.1+0.888888888888889i

10 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Cabo4_6 1,1

11 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Base/raiz 0

12 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Rede e Trafo0.00613556253155083+1.31661506482518i

13 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Gerador 0.0492537313432834+0.703624733475474i

14 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Trafo A 0.0659172377659026+0.389971637704628i

15 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 CaboA_1 1.1+0.888888888888889i

16 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 Trafo B 0.0659172377659026+0.389971637704628i

17 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 CaboB_4 1.1+0.888888888888889i

18 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Gerador1? 0.13898916967509+1.985559566787i

19 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Gerador4? 0.13898916967509+1.985559566787i

20 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Carga 1 5.23431919191919+34.5695353535353i

21 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Carga 2 5.23431919191919+34.5695353535353i

22 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Carga 3 5.23431919191919+34.5695353535353i

23 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Carga 4 5.23431919191919+34.5695353535353i

24 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Carga 5 5.23431919191919+34.5695353535353i

25 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Carga 6 0

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O cálculo da corrente de pico já não é tão imediato e requer alguma manipulação dos

dados até aqui conhecidos.

Convém recordar que esta corrente depende do tal factor “k” e que este factor, por sua

vez, depende do rácio R/X no ponto de defeito. Para isto, como foi explicado no Capítulo 2.1.2.,

faz-se uso do método c) descrito na norma. Por partes e esquematicamente:

Figura 47 - Esquematização do Processo de Cálculo de Ip

A fase da manipulação dos dados, neste caso, é algo trabalhosa pois requer que todos

os elementos vejam a parte imaginária das suas impedâncias multiplicada por 0.4 . Para isto é

necessária a separação nas suas componentes real e imaginária de cada impedância,

recorrendo a algumas funções como referido em 3.2. Após esta manipulação, calcula-se as

impedâncias equivalentes do circuito, vistas de cada ponto de interesse (de cada barramento)

Zc. E com base neste Zc segue-se o descrito no esquema acima.

4.3.3. Corrente de Corte

Quanto à corrente de corte, alguns cuidados tem que se ter, pois, como foi explicado em

2.1.3., para esta corrente contribuem principalmente Geradores e Motores.

Tem então que se afectar as impedâncias destes elementos com os factores respectivos

e descritos em 2.1.3., que exprimem uma atenuaçãoo nas contribuições para a corrente de curto-

circuito de cada um destes elementos.

Um conceito importante que aqui se explora é o de o defeito ocorrer perto ou longe do

Gerador. E determina-se da seguinte maneira:

Tendo sido pedido ao utilizador que, para além da reactância subtransitória de cada

Gerador, também introduzisse a reactância síncrona do mesmo, pode o programa então calcular

a sua repectiva impedância síncrona. Com estas, calcula-se para cada Barramento a impedância

de circuito equivalente. E compara-se este valor obtido ao previamente calculado aquando da

Corrente Subtransitória, determinando o rácio entre as duas para que se possa dizer se o defeito

ocorre “longe ou perto da Geração”. Esquematicamente:

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Figura 48 - Esquematização do processo para determinar se o defeito é perto ou longe do Gerador

Tem então que se determinar os factores que amortecerão as contribuições dos

Geradores e Motores.

Com base no rácio determinado, calcula-se o factor “miu” que pesará a contribuição dos

Geradores, com as fórmulas apresentadas em 2.1.xxx. Para os Motores, tem que se determinar

o factor “q” que relaciona a Potência por número de pares de pólos e o factor “miu” que se baseia

no rácio da contribuição para a corrente inicial e da corrente nominal do Motor.

Com estes factores calculados, o programa actualiza as respectivas impedâncias, que é

o equivalente a multiplicar esses factores pelas correntes respectivas, e pode assim determinar,

novamente para cada Barramento, a impedância de circuito equivalente. Sendo depois imediato

o cálculo da Corrente de Corte. Esquematicamente:

Figura 49 - Esquematização do Processo de Cálculo da Corrente de Corte

4.3.4. Corrente Estacionária

Atente-se ao explicado em 2.1.4. Para obter esta corrente foi feita uma aproximação. Ora,

a corrente é calculada do seguinte modo:

𝐼𝑘𝑚𝑎𝑥 = 𝜆 𝐼𝑟𝐺

Dependendo maioritariamente da excitação do Gerador, e havendo inúmeros valores para

“lambda”, optou-se por atribuir a este o valor dois (2). Analisando os vários gráficos que

representam este factor, e assumindo que a importância desta corrente é relativa (pois conta-se

que a protecção tenha já actuado), tomou-se aquele valor como representativo e geral.

Assim sendo, esta corrente estacionária é composta pela componente que vem da

alimentação da rede pública adicionada às componentes dos Geradores que estejam ligados.

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4.3.5. Corrente Térmica

Para se obter este último valor, e recordando 2.1.5., é necessário calcular os factores m

e n. Esquematicamente:

Figura 50 - Esquematização do processo de cálculo da Corrente Térmica

Ora, se m é relativamente simples de se calcular:

𝑚 =1

2𝑓𝑇𝑘ln (𝑘 − 1)(𝑒4𝑓𝑇𝑘ln (𝑘−1) − 1)

Já n requer um pouco mais de cálculos, como refere o Anexo A da Norma. Apresenta-

se aqui a subrotina, por não ser muito extensa e ser facilmente compreensível:

Após a execução de cada uma destas etapas, algo que é executado rapidamente por uma

máquina com processador perfeitamente normal, são apresentados os resultados, sendo

também apresentados alguns dos factores calculados, para que possam ser analisados.

5. Alguns Resultados da Ferramenta

Neste Capítulo apresentam-se alguns resultados. Em primeiro lugar, demonstra-se que o

cálculo das impedâncias dos diferentes equipamentos é correcto. Em seguida, analisa-se um

pequeno exemplo de aplicação em que os resultados são cuidadosamente calculados.

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5.1. Cálculo de Impedâncias de Equipamentos

Para aferir a qualidade técnica do programa, apresentam-se aqui alguns resultados. Em

primeiro lugar, algumas impedâncias serão calculadas.

Dando o exemplo de um dos livros de referência [1], na página 173, de um gerador com

os seguintes parâmetros:

𝑥′′𝑑 = 12%

𝑆𝑟𝐺 = 600 𝑘𝑉𝐴

𝑈𝑟𝐺 = 0,4 𝑘𝑉

Tendo a impedância a seguinte forma:

𝑍𝐺 = 𝑅𝐺 + 𝑗𝑋′′𝑑

𝑋𝐺𝑒𝑛 = 𝑋𝑑′′ =

𝑥𝑑′′. 𝑈𝑟𝐺

2

100%. 𝑆𝑟𝐺

=12%

100%

(0.4𝑘𝑉)2

600𝑘𝑉𝐴= 0.032Ω

Como o Gerador tem tensão nominal inferior a 1kV então:

𝑅𝐺 = 0.15 ∗ 𝑋′′𝑑

𝑅𝐺 = 0.15.0 ∙ 0.032Ω = 0.0048Ω

Calculando desta forma a impedância, chega-se ao resultado:

𝑍𝐺 = 0.0048 + 0.032i

Usando, conforme o dado exemplo, o nível de tensão da rede 0,4kV e o factor cmax = 1.1,

chega-se ao seguinte factor de correcção:

𝐾𝐺 =𝑈𝑛

𝑈𝑛,𝐺

×𝑐𝑚𝑎𝑥

1 + 𝑋𝑑′′ × 𝑠𝑒𝑛𝜑𝑛,𝐺

𝐾𝐺 = 1,03

Ora, observa-se que o programa calcula todos os valores correctamente:

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Introduzindo os dados, tendo em atenção as unidades:

Figura 51 - Exemplo de Gerador

Obtém-se os resultados:

Figura 52 - Exemplo de Gerador, resultado

Como se pode ver, correctos.

No mesmo exemplo também é descrito o seguinte transformador:

𝑆𝑟𝑇 = 1000 𝑘𝑉𝐴

𝑈𝑇 = 20/0,4 𝑘𝑉

𝑢𝑘𝑟,𝑇 = 6%

𝑢𝑅𝑟,𝑇 = 1,05%

As fórmulas descritas no capítulo 2 não utilizam a mesma notação do que na referida

obra. “LV” significa que é respeitante ao lado da baixa tensão do transformador. Descreve-se

então o procedimento:

𝑅𝑇 =𝑢𝑅𝑟,𝑇 . 𝑈𝑟𝑇𝐿𝑉

2

100%. 𝑆𝑟𝑇

=1.05%

100%

(0.4𝑘𝑉)2

1000𝑘𝑉𝐴= 0.00168Ω

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𝑋𝑇 =𝑢𝑘𝑟,𝑇 . 𝑈𝑟𝑇𝐿𝑉

2

100%. 𝑆𝑟𝑇

=6%

100%

(0.4𝑘𝑉)2

1000𝑘𝑉𝐴= 0.00944Ω

𝑍𝑇 = 0.00168 + 0.00944i

Comparando com o programa:

Figura 53 - Exemplo de Transformador

Figura 54 - Exemplo de Transformador, resultado

O cálculo executado pelo programa fornece o mesmo resultado. De notar que no exemplo

do livro não é calculado o factor de correcção.

Ainda no mesmo exemplo, é definida a rede exterior:

𝑆𝑄 = 500 𝑀𝑉𝐴

𝑈𝑄 = 20 𝑘𝑉

Usando as fórmulas referidas no mesmo capítulo, chega-se ao resultado:

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𝑍𝑄 =1.1. 𝑈𝑛

2

𝑆′′𝑘𝑄

=1.1

100%

(20𝑘𝑉)2

500𝑀𝑉𝐴= 0.88Ω

𝑍𝑄 = √𝑅𝑄2 + 𝑋𝑄

2

𝑋𝑄 =𝑍𝑄

1.005=

0.88

1.005= 0.8756 Ω

𝑅𝑄 = 0.1 ∗ 0.8756 = 0.08756Ω

𝑍𝑄 = (0.08756 + 0.8756i)Ω

Usando a ferramenta:

Figura 55 - Exemplo de Rede Pública

Figura 56 - Exemplo de Rede Pública, resultado

Pode-se verificar que o cálculo é correcto.

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5.2. Análise de um pequeno exemplo

Admitindo que o cálculo até aqui feito das impedâncias dos equipamentos está correcto,

como demonstrado na secção imediatamente anterior, vai-se agora dedicar esta secção à

análise de um pequeno exemplo do que acontece após a introdução de todos os dados pelo

utilizador, a fase da actuação dos algoritmos, propriamente dita.

Assim, considere-se o seguinte exemplo:

Figura 57 - Exemplo, Rede

Com o equivalente na Ferramenta:

Figura 58 - Exemplo, Rede no Excel

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Com as seguintes impedâncias, que se admitem já introduzidas, e correctamente:

Analise-se o caso do Barramento 1, por exemplo, pois o tratamento dos outros é em tudo

semelhante.

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Ora, a primeira e mais importante fase é o cálculo da impedância equivalente vista deste

Barramento 1. Esquematicamente:

Figura 59 - Vista do Barramento 1, Exemplo

Tendo as Impedâncias introduzidas como acima mencionado, determina-se então a

impedância vista do Barramento 1:

𝑍1 = 0.0545 + 0.1666𝑖

Nota: este valor foi cuidadosamente calculado analiticamente para confirmar o resultado.

Com este valor determinado, é imediato o cálculo da Corrente de Curto Circuito Trifásico

Simétrica Inicial I’’.

O cálculo da Corrente de Pico envolve, como foi explicado, a multiplicação por 𝑓𝑐

𝑓=

20

50=

0.4 da parte imaginária das impedâncias dos equipamentos. Então, divide-se a impedância na

parte real e imaginária, multiplica-se esta pelos 0.4 e forma-se um novo número complexo. Com

estas impedâncias novas, determina-se a impedância equivalente, vista do Barramento 1:

𝑍𝑐(0.4𝑓) = 0.0417 + 0.0803𝑖

Pode-se então calcular o R/X:

𝑅

𝑋= 0.4 ∗

𝑅𝑐

𝑋𝑐=

0.0417

0.0803= 0.5193

E com este valor calcular:

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𝑘 = 1.02 + 0.98𝑒−3𝑅 𝑋⁄ = 1.5455

Valor igual ao apresentado nos Resultados da Ferramenta. Aqui chegados, facilmente

se obtém o valor da corrente de pico Ip.

Relativamente à Corrente de Corte, pode dizer-se que é a parte mais complicada do

programa, pois envolve mais cálculos.

Em primeiro lugar, tem que se determinar se o defeito ocorre perto ou longe do gerador.

Isto, como se tentou explicar anteriormente, é feito recorrendo à determinação da Impedância

vista também do Barramento 1, mas com as impedâncias dos Geradores activos serem as

impedâncias síncronas e não as subtransitórias, desta vez. Com esta impedância calculada e

sabendo já do cálculo de I’’k a impedância subtransitória, relaciona-se estas e, consoante o caso:

𝑍

𝑍′′> 2 → 𝑝𝑒𝑟𝑡𝑜 𝑑𝑜 𝐺𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟

𝑍

𝑍′′≤ 2 → 𝑙𝑜𝑛𝑔𝑒 𝑑𝑜 𝐺𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟

Com este rácio é então calculado o factor 𝜇 que vai afectar as impedâncias dos

geradores (tmin=0.05s):

𝜇 = 0.71 + 0.51𝑒−0.30×𝐼𝐾𝐺′′ 𝐼𝑅𝐺⁄ = 0.71 + 0.51𝑒−0.30×𝑍 𝑍′′⁄

Calculando:

𝑍1(𝑠𝑢𝑏𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑖𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎) = 0.0545 + 0.1666𝑖

𝑍1(𝑠𝑖𝑛𝑐𝑟𝑜𝑛𝑎) = 0.1274 + 0.3397𝑖

𝑎𝑏𝑠 (𝑍1(𝑠𝑖𝑛𝑐𝑟𝑜𝑛𝑎)

𝑍1(𝑠𝑢𝑏𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑖𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎)) = 𝑎𝑏𝑠 (

0.1274 + 0.3397𝑖

0.0545 + 0.1666𝑖) = 2.0695 > 2 → 𝑝𝑒𝑟𝑡𝑜 → 𝜇 =?

→ 𝜇 = 0.71 + 0.51𝑒−0.30×2.0695 = 0.7110

É este então o factor que afectará as impedâncias dos Geradores, no caso do cálculo da

Corrente de Corte neste Barramento. Este procedimento é repetido para todos os Barramentos,

e no caso em que estejam longe do Gerador, o factor 𝜇 será unitário.

Nota: neste exemplo, definiu-se como reactância síncrona de ambos os Geradores

150%. Isto para que no exemplo, pelo menos um dos defeitos fosse “perto” do Gerador e, deste

modo, esclarecer melhor o procedimento.

Tem ainda que se determinar como é que se vai afectar a componente dos Motores, ou

seja, tem que se calcular os factores 𝜇 e q . Por exemplo, relativamente a este Motor que aqui

serviu de exemplo:

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𝑃𝑛, 𝑀 = 0.75 𝑀𝑊 = 750 𝑘𝑊

𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑝ó𝑙𝑜𝑠 = 1

Com estes dados determina-se q :

𝑞 = 0.79 + 0.12 LN (0.75

1) = 0.755

Relativamente ao factor “miu” deste Motor, é calculado da seguinte maneira:

𝜇 = 0.71 + 0.51𝑒−0,30×𝐼𝐾𝑀′′ 𝐼𝑅𝑀⁄

Em que:

𝐼′′𝑘𝑀 =

𝑐. 𝑈𝑟𝑀

√3. 𝑍𝑟𝑀

𝐼𝑟𝑀 =𝑆𝑟𝑀

√3. 𝑈𝑟𝑀

Conforme explicado no exemplo da página 179 de Ismail[1].

Neste caso:

𝐼′′, 𝑀

𝐼𝑟, 𝑀= 6.0496 → 𝜇 = 0.793

Assim sendo a impedância do Motor será afectade de “q” e 𝜇 .

Com estas impedâncias actualizadas, tanto as dos Geradores como dos Motores, usa-

se então novamente o algoritmo para calcular a impedância equivalente vista do Barramento 1.

E com esta impedância, calcula-se finalmente a corrente de Corte Ib.

𝑍1(𝑐𝑜𝑟𝑡𝑒) = 0.0552 + 0.1679𝑖

Finalmente, para calcular o último valor apresentável, da corrente Térmica, tem que se

determinar os factores m e n. Assim sendo:

𝑚 =1

2𝑓𝑇𝑘ln (𝑘 − 1)(𝑒4𝑓𝑇𝑘ln (𝑘−1) − 1)

Sendo o “k” o calculado aquando do cálculo da corrente de pico, Tk=0.05 , k=1.5455.

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𝑚 =(exp(200 ∗ 0.05 ∗ ln(1.5455 − 1)) − 1)

100 ∗ 0.05 ∗ ln (1.5455 − 1)= 0.329

Quanto ao n, é determinado conforme o anexo A da Norma e já descrito anteriormente.

Com estes dois valores calculados, é imediato o cálculo da Corrente Térmica por:

𝐼𝑡ℎ = 𝐼′′𝑘√𝑚 + 𝑛

Na Ferramenta são estes os resultados apresentados:

Figura 60 - Resultados do Exemplo 1/2

Figura 61 - Resultados do Exemplo 2/2

Atentando-se nos diferentes valores aqui apresentados, estão de acordo com o

calculado anteriormente.

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6. Conclusões

A Ferramenta desenvolvida tentou ter a maior aplicabilidade, generalidade e abrangência

possíveis, com uma panóplia de casos passíveis a ser tratados por ela. Sendo certo que a

estrutura adoptada poderia ter sido outra, optou-se por uma solução de compromisso entre

flexibilidade na geometria da rede e garantia na precisão dos cálculos.

O Excel talvez não seja a plataforma ideal para este tipo de aplicação, tanto pela relativa

dificuldade em operar números complexos como pela complexidade que a construção de

interfaces gráficas intuitivas envolve. Todavia, tudo foi feito para que, apesar dessas dificuldades,

os resultados fossem fiáveis.

Relativamente à qualidade dos cálculos, procurou-se que fossem o mais precisos possível,

evitando aproximações em fases de cálculo intermédias, excepto se imprescindível, altura em

que foram devidamente justificadas.

Dividindo a aplicação em duas partes: a introdução de dados, que involve interacção com

o utilizador; e a aplicação do programa aos dados introduzidos, poder-se-ia dizer que é na

primeira parte que está a origem da maioria dos problemas.

Como qualquer aplicação que é lançada no mercado, ou sujeita ao escrutínio pelo seu

público-alvo, passou por uma fase de detecção de erros e sua correcção, sempre que possível.

E, nesta fase, deve agradecer-se a paciência, principalmente dos alunos que a testaram, pois o

programador não consegue antecipar todos os erros, e foram muitos, que a interacção com o

utilizador pode originar.

Analisando a utilidade do programa, reconhece-se que é de aplicaçãoo limitada e talvez

um pouco difícil, não conseguindo competir com as alternativas comercializadas. Uma

Ferramenta com edição gráfica, com a habitual filosofia de “drag and drop” de elementos, com a

definição dos parâmetros dos elementos sendo feita numa linguagem um pouco mais versátil e

menos falível e sensível a números complexos, pontos e vírgulas, seria indubitavelmente

preferível. No entanto, nos casos passíveis a ser tratados por esta Ferramenta, acredita-se que

esta veio facilitar o processo de cálculo das diversas correntes e que se constitui como um

elemento de estudo poderoso.

Como sugestão de desenvolvimento futuro é a implementação dos algoritmos

desenvolvidos em redes maiores, com mais elementos e, eventualmente noutra plataforma.

Poderia também ser útil separar esta Ferramenta em partes: um calculador de Impedâncias dos

diversos equipamentos e um calculador de impedâncias de circuito equivalentes. Este segundo

sendo algo semelhante à Calculadora Auxiliar

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7. Bibliografia

[1] Kasikci, Ismail.(2002). Short Circuits in Power Systems: A Practical Guide to IEC 60909.

Weinheim, Germany, Wiley-VCH.

[2] IEC 60909-0.(2001). Short-circuit currents in three-phase a.c. systems - Part 0:

Calculation of Currents.

[3] IEC 60909-1.(2002). Short-circuit currents in three-phase a.c. systems - Part 1: Factors

for the Calculation of short-circuit currents according to IEC 60909-0.

[4] Green, J., Bullen, S.,Bovey, R., Alexander, M. (2007). Excel 2007 VBA Programmer's

Reference, Wiley, Indianapolis, USA

[5] Loureiro, Henrique. (2014). Excel 2013 Macros & VBA Curso Completo, FCA Editora

de Informática, Lisboa, Portugal

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Anexos

1. Calculadora Auxiliar

Dividindo a Ferramenta em duas partes distintas: a introdução de dados pelo utilizador e

a aplicação dos algoritmos, propriamente ditos, é nesta segunda vertente que se foca a

Calculadora Auxiliar desenvolvida. Embuída na mesma filosofia que a Ferramenta, partindo de

uma rede tipo maior, com maior de número de Barramentos possíveis de alimentar, mas com

uma estratégia diferente no que toca ao cálculo das impedâncias dos diversos equipamentos, foi

então construído este auxiliar.

Uma diferença significativa é o facto de as cargas que os diversos barramentos alimentam

serem, para este programa, apenas uma impedância. Isto é, o utilizador introduz a impedância

que o dado barramento alimenta, seja por exemplo um paralelo de motores. Ora, isto implica que

só se consiga calcular impedâncias de circuitos equivalentes, não sendo possível calcular os

parâmetros calculados na Ferramenta como o “k”, o “miu” o “q” o “m” ou o “n”.

Assim sendo, define-se a rede:

Figura 62 - Rede Tipo da Calculadora Auxiliar

De notar que aqui o símbolo Z vem realçar a ideia de que a carga é simplesmente uma

impedância, qualquer que seja o equipamento.

Usando a mesma base da Ferramenta para construir esta Interface Gráfica:

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Figura 63 - Rede da Calculadora Auxiliar

Neste caso, também a estrutura computacional teve que ser aumentada, tanto a matriz

que representa a rede como a lista das impedâncias.

Veja-se o Grafo que representa a nova Rede, com 78 nós, reflectindo o facto de ter mais

Barramentos:

Figura 64 - Grafo da Calculadora Auxiliar

As respectivas impedâncias, da responsabilidade do utilizador:

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Figura 65 - Impedâncias da Calculadora Auxiliar

Após a aplicação desta Calculadora Auxiliar, os resultados serão algo deste género:

Figura 66 - Resultados da Calculadora Auxiliar

Note-se que os resultados apresentados são as impedâncias vistas de cada um dos

Barramentos.

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2. TESTE EM REDE DO PROJECTO DE 2013/2014

Como forma de testar esta Ferramenta, tentou resolver-se um dos projectos de anos

anteriores.

A rede em estudo é a seguinte:

Figura 67 - Projecto 2014 - Rede

Ora, analisando esta rede, facilmente se conclui que não caberá na Ferramenta, uma vez

que esta está limitada a seis barramentos e cada um destes só pode alimentar até três motores.

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Neste caso, temos doze barramentos e alguns destes alimentam mais do que três motores.

Assim sendo, tem que se recorrer à Calculadora auxiliar, sendo certo que o cálculo das

impedâncias dos diferentes equipamentos fica à responsabilidade do utilizador.

Modificando a rede para que modele a rede em estudo:

Figura 68 - Projecto 2014 - Rede Modelada

Fazendo a seguinte correspondência entre os Barramentos da Rede e da Calculadora

Auxiliar:

BBA 1 BBB 9

BCA 8 BCB 16

BCH 8A BCJ 16A

BCF 8B BCG 16B

BCD 8C BCE 16C

BCK 8D BCL 16D

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De notar que os barramentos BCD e BCE não alimentam nada, pelo que, do ponto de vista

do cálculo de impedâncias equivalentes, é melhor que não entrem nas contas.

Como referido anteriormente, as impedâncias dos elementos são da responsabilidade do

utilizador, podendo fazer uso da Ferramenta para as obter.

Introduzindo as impedâncias:

Figura 69 - Projecto 2014 - Impedâncias

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De notar que a impedância da rede tem que ser multiplicada pelo quadrado da razão de

transformação do transformador imediatamente a jusante e também multiplicada pelo quadrado

da razão de transformação do Transformador A. No Gerador também tem que ter este cuidado,

afectando só pelo quadrado da razão de transformação do Transformador A.

Com estas impedâncias correctamente introduzidas e com a rede bem definida, calcula-

se:

Figura 70 - Projecto 2014 - Resultados

Comparando estes resultados com os da referência, confirma-se que estão correctos.

Optou-se por apresentar os resultados apenas das impedâncias equivalentes, pois cabe

ao utilizador escolher o coeficiente de tensão e a tensão da rede nestes pontos de defeito.

Estes resultados permitem o cálculo imediato da corrente de curto-circuito simétrica inicial.

Embora pareça pouco, face ao objectivo inicial de calcular todos os factores e coeficientes para

o cálculo de todas as correntes, é na fase do cálculo de impedâncias equivalentes que os alunos

perdem muito tempo. Assim, esta Calculadora vem agilizar este processo, pois foi com este

propósito em mente que a Dissertação foi conduzida.

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3. Exemplo do Fluxo do Programa

Se o leitor não tiver o intuito de utilizar o programa, pode evitar a leitura desta secção.

Visando obter uma interface gráfica que permitisse ao utilizador um rápido entendimento

do funcionamento da ferramenta, desenhou-se o que a seguir se apresenta.

Esta ferramenta permite a simulação de três opções de alimentação:

Opção 1: instalação alimentada pela rede pública de energia e por um grupo gerador.

Figura 71: Opção de Alimentação 1

Opção 2: caso em que o transformador do lado direito, transformador B, está, por algum

motivo, desligado. A energia flui então para o barramento 4 pelo barramento 1,como se pode ver:

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Figura 72: Opção de Alimentação 2

Opção 3: caso análogo ao anterior, mas com o transformador A desligado:

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Figura 73: Opção de Alimentação 3

Tendo definida esta opção, recomenda-se que se comece por definir os transformadores.

Isto porque a definição dos transformadores implica definir os níveis de tensão nos vários pontos

da instalação, que influenciam todos os cálculos e inclusive resultados de factores de correcção.

Para definir o transformador imediatamente a jusante da rede pública, tem de definir-se também

a própria rede. Ora:

Figura 74: Formulário respectivo à Rede Exterior e ao Transformador imediatamente a jusante

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Como se pode ver, é pedido ao utilizador que introduza os parâmetros necessários ao

cálculo das impedâncias da rede e do transformador, e que se definam os níveis de tensão. De

notar que o nível de tensão no secundário do transformador será o nível de tensão no primário

dos dois transformadores a jusante e, eventualmente, do gerador G0.

Após a introdução de todos os parâmetros, o programa fornece ao utilizador os resultados

dos cálculos:

Figura 75: Formulário da Impedância da Rede Exterior

Figura 76: Formulário da Impedância do Transformador

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Continuando a definir os outros transformadores e assim os níveis de tensão na rede,

clica-se sobre qualquer um dos dois transformadores e surge o formulário:

Figura 77: Formulário do Transformador A

Conforme a fórmula para o cálculo da impedância apresentada no cap II, pede-se ao

utilizador que introduza todos os parâmetros pedidos, inclusive a tensão do lado do secundário

(em kV), pois o do primário foi definido aquando da definição do transformador da rede.

Após a introdução de todos os dados pedidos, é apresentado o valor da impedância e o

respectivo factor de correcção:

Figura 78: Formulário da Impedância do Transformador A

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A maior utilidade desta ferramenta está nas várias configurações de rede possíveis. Ao

clicar nos botões on/off, o utilizador pode introduzir ou retirar elementos da rede. Sejam

barramentos, motores ou geradores.

Ao ligar um barramento é necessária a introdução da impedância do cabo, em Ohm.

Optou-se por não calcular a impedância deste equipamento, pois a variedade de materiais e

características implicaria demasiada informação. Assim sendo, pede-se ao utilizador que calcule

e introduza tanto a componente real como a imaginária desta impedância:

Figura 79: Formulário do Cabo que alimenta o Barramento 2

Nesta fase em que já se definiu a rede exterior pública de energia, os transformadores e

respectivos níveis de tensão e os barramentos que se pretendem alimentar, falta definir quais os

motores que estes barramentos suportam e que geradores se quer usar.

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Para definir um motor basta também clicar sobre o ícone que lhe corresponde e surgirá o

seguinte formulário:

Figura 80: Formulário do Motor

O procedimento é em tudo semelhante ao dos anteriores formulários, apenas com

parâmetros diferentes. De notar que houve o cuidado de explicitar as unidades em que o

programa interpreta os dados introduzidos. É aqui também pedida a impedância do cabo que

liga o Barramento ao Motor. E após a introdução de todos os dados, calcula-se a impedância do

motor:

Figura 81: Formulário da Impedância do Motor

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Por último, para definir um Gerador basta clicar sobre o correspondente ícone e surgirá o

formulário:

Figura 82: Formulário do Gerador

Um pormenor que convém salientar é o facto de o factor de correcção dos geradores

depender da tensão a que a instalação opera. Ou seja, se os níveis de tensão não estiverem

correctamente definidos, o resultado estará errado.

Partindo do princípio que tudo foi introduzido correctamente, será este o resultado:

Figura 83: Formulário da Impedância do Gerador

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Tendo configurado a rede, com todos os equipamentos devidamente definidos, pode então

gerar-se os resultados pretendidos, ao clicar na “seta”:

Figura 84: Seta que permite o cálculo após a definição da Rede

Tem então que se definir o tempo mínimo de abertura dos contactos “tmin”:

Figura 85 - Escolha do tmin

E vendo os resultados:

Figura 86: Resultados

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