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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE BIGUAÇU
GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
ENFRENTAMENTO VIVENCIADO PELO PACIENTE NO PRÉ-OPERATÓRIO: a contribuição das orientações realizadas pelo
Enfermeiro
Acadêmicas: Antonielle Cândido Salum Melo Marsia Iveti Christoff
Orientadora: Profa. Tânia Soares Rebello, MSc.
Biguaçu (SC) Outubro de 2007
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ANTONIELLE CÂNDIDO SALUM MELO
MARSIA IVETI CHRISTOFF
ENFRENTAMENTO VIVENCIADO PELO PACIENTE NO PRÉ-OPERATÓRIO: a contribuição das orientações realizadas pelo
Enfermeiro
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial para a conclusão do Curso de Enfermagem.
Orientadora: Profa. Tânia Soares Rebello, MSc.
Biguaçu (SC)
Outubro de 2007
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ANTONIELLE CÂNDIDO SALUM MELO
MARSIA IVETI CHRISTOFF
ENFRENTAMENTO VIVENCIADO PELO PACIENTE NO PRÉ-OPERATÓRIO: a contribuição das orientações realizadas pelo Enfermeiro
Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Enfermeiro e aprovada pelo Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Biguaçu.
Área de Concentração: Pré-Operatório
Biguaçu, 19 de novembro de 2007.
Profa. Tânia Soares Rebello, MSc. UNIVALI – CE de Biguaçu
Orientadora
Profa. Helga Regina Bresciani, MSc. UNIVALI – CE de Biguaçu
Profa. Maria Patrícia Locks de Mesquisa, MSc. UNIVALI – CE de Biguaçu
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Dedica-se este trabalho aos pacientes que participaram da pesquisa, por serem eles a razão de nossa preocupação em propiciar um período mais confortável nesta fase tão difícil em que passam no pré-operatório.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a DEUS, que me deu a vida e o livre arbítrio para
que eu fizesse as minhas escolhas ... e olha que a minha foi abençoada.
Aos meus pais, Malveri e Lourenço, que sempre me deram incentivo para que
eu concluísse meus estudos.
Ao meu marido André, por compreender a minha ausência, e dando-me apoio
nos momentos difíceis.
À orientadora que nos acompanhou, dando suporte sempre que
precisávamos.
À minha amiga Mársia, que, juntas, passamos por todas as dificuldades na
construção da monografia.
Aos responsáveis pela Clínica, onde se realizou a pesquisa, que permitiram a
pesquisa no local, em especial à Enfermeira Anelize, que foi a ponte para que tudo
acontecesse.
Aos membros da banca fechada, composta pelos professores Maria Patrícia
Locks de Mesquita e Helga, por aceitarem nosso convite para dela participarem.
Meu muito obrigada!
Antonielle Cândido Salum Melo
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AGRADECIMENTOS
Devo agradecer, em primeiro lugar, a Deus, pela força, luz, saúde, paciência,
e por todas as oportunidades que tem propiciado em minha vida.
Agradeço, também, à memória do meu pai, Ervino, que foi o esteio principal e
incentivador de toda a minha vida acadêmica.
Agradeço ao meu esposo, Alécio, por todo amor, carinho e paciência.
Agradeço à minha família, por sempre compartilharem o meu sucesso.
Agradeço à orientadora, Profa. Tânia, pelo incentivo e presteza no auxílio às
atividades e discussões sobre o desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de
Curso.
Agradeço à Antonielle, pela amizade e por todos os momentos difíceis e
também pelos bons momentos que passamos juntas no desenvolvimento deste
trabalho.
À Equipe responsável pela Clínica, onde se realizou a pesquisa, por permitir a
pesquisa no local.
Incluo a esta lista de agradecimentos a Ana Carolina Severino, que, durante o
período do Curso, esteve sempre me ajudando em tudo o que a ela era solicitado.
Agradeço aos grandes e valorosos amigos conquistados no decorrer da
minha vida acadêmica, os quais estarão sempre dentro de meu coração.
Agradeço, ainda, a todos os professores, pelo carinho, dedicação e
entusiasmo demonstrados ao longo do Curso.
Muito Obrigada a todos vocês!!!
Marsia Iveti Christoff
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“Temos de fazer o melhor que pudermos. Essa é a nossa sagrada responsabilidade
humana”.
Albert Einstein
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Conduta diante do Paciente Cirúrgico Hospitalizado segundo Pitrez ........34
Figura 2. Tríade de Cuidados Pré-Operatórios, de acordo com Pitrez......................35
Figura 3. Processo de Enfermagem, segundo Laden ...............................................47
Figura 4. Elementos do processo de comunicação, segundo Silva ..........................52
Figura 5. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto ao Sexo.....................................69
Figura 6. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto à Idade ......................................69
Figura 7. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto ao Estado Civil ..........................70
Figura 8. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto à Escolaridade ..........................70
Figura 9. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto à Religião ..................................71
Figura 10. Gráfico sobre se tem conhecimento da cirurgia a que vai se submeter ...72
Figura 11. Gráfico sobre sente-se suficientemente informado sobre a cirurgia ........73
Figura 12. Gráfico sobre se foi informado sobre o preparo para a cirurgia ...............75
Figura 13. Gráfico sobre se as atuais circunstâncias (doença e hospitalização)
afetam o seu padrão de vida.....................................................................................76
Figura 14. Gráfico sobre se tem sentido medo com a hospitalização .......................78
Figura 15. Gráfico sobre se tem utilizado algum mecanismo para enfrentar o período
pré-operatório............................................................................................................80
Figura 16. Gráfico sobre se a Equipe de Enfermagem pode contribuir para o
enfrentamento no período pré-operatório..................................................................81
Figura 17. Gráfico sobre se tem tido receio de dizer alguma coisa à Equipe de
Enfermagem..............................................................................................................82
Figura 18. Gráfico sobre se as orientações recebidas trouxeram benefícios............84
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Ações na Assistência de Enfermagem no Período Pré-Operatório
segundo McCloskey e Bulechek ...............................................................................50
Quadro 2. Cronograma de Pesquisa de Campo .......................................................68
Quadro 3. Síntese do Perfil dos Pacientes no Pré-Operatório ..................................71
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RESUMO
MELO, Antonielle Cândido Salum; CHRISTOFF, Marsia Iveti. Enfrentamento Vivenciado pelo Paciente no Pré-Operatório: a contribuição das orientações realizadas pelo Enfermeiro. 122 f. Monografia do Curso de Graduação em Enfermagem. Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, SC, 2007. Este trabalho aborda a temática do enfrentamento vivenciado pelo paciente no pré-operatório, de diversas cirurgias, e foi direcionado pelo objetivo geral de identificar os sentimentos dos pacientes no período pré-operatório, internados em uma Clínica da Grande Florianópolis, como também verificar quais os benefícios das orientações de Enfermagem para o enfrentamento. Com este propósito, o trabalho baseou-se na Teoria das Relações Interpessoais de Hildegard Elizabeth Peplau, sendo adotado o método da Pesquisa Convergente Assistencial – PCA, de Mercedes Trentini e Lygia Paim. Como resultado da pesquisa, ficou claro que a maioria dos pacientes do pré-operatório de diversas cirurgias mostrou-se estressada e na fase de resistência, embora não tenham manifestado isso em suas respostas. A pesquisa apontou, também, que alguns estavam evoluindo em seu quadro de estresse, aspecto relevante e indicativo de que poderiam estar entrando em fases mais avançadas, tais como: a quase-exaustão e a exaustão. Não foi constatado nenhum paciente do pré-operatório que estivesse fazendo uso de algum mecanismo para enfrentar esse período. A partir deste resultado, concluiu-se que a principal estratégia de enfrentamento, mobilizada pelo grupo de pesquisa, foi o fator fuga-esquiva, podendo ser considerada como um comportamento associado ao enfrentamento (coping) focalizado na emoção. A PCA possibilitou que se mantivesse, durante todo o seu processo, uma relação estreita com a prática assistencial, cuja intenção foi a de encontrar alternativas para solucionar, ou pelo menos minimizar, os problemas, realizando mudanças e introduzindo inovações na prática. Desse modo, foram transmitidas orientações de enfermagem a estes pacientes. Palavras-chave: enfrentamento, paciente, pré-operatório; orientações de enfermagem.
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ABSTRACT
MELO, Antonielle Cândido Salum; CHRISTOFF, Marsia Iveti. Enfrentamento Vivenciado pelo Paciente no Pré-Operatório: a contribuição das orientações realizadas pela Equipe de Enfermagem. 122 f. Monografia do Curso de Graduação em Enfermagem. Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, SC, 2007.
The present work addresses the confrontation a patient goes through during the immediate pre-operatorio period from several surgeries. It has as main objectives to identify the feelings of patients hospitalized in a clinic in Florianópolis during this period, and to check what benefits the nursing orientation brings to this confrontation. With that in mind, this work has been based on the Theory of Interpersonal Relations from Hildegard Elizabeth Peplau, and it has adopted the PCA method ( method of Convergent Assistance Research), from Mercedes Trentini and Lygia Paim. As an outcome from the research, it was clear that most patients in immediate pre-operatorio period from several surgeries showed some stress and were experiencing the resistance phase, although they did not espress that in their answers. The research has also pointed out that some were evolving from their stressed condition, which is relevant and indicates they could be moving on to more advanced phases, such as: the nearly exhaustion phase and the exhaustion phase. It was noted that none of the patients from immediate pre-operatorio were using mechanisms to cope during this period. These results led to the conclusion that the main strategy of confrontation, mobilized from the research team, was the leak-elusive factor. This strategy can be considered as a behavior that is associated to coping, and that it is focused on emmotion. The PCA enabled a close relationship with the nursing practice to be kept, during its entire process. The nursing practice aimed to find ways of solving, or at least minimizing problems. It also aimed to accomplish some changes and to introduce some innovation into practice. Therefore, some nursing orientation were forwarded to these patients. Key-words: confrontation, patient, pre-operatorio, nursing orientation.
11
SUMÁRIO
RESUMO.....................................................................................................................9
ABSTRACT...............................................................................................................10
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................13
1.1 Contextualização do Tema e do Problema de Pesquisa ................................13
1.2 Relevância e Justificativa..................................................................................15
1.3 Objetivos.............................................................................................................16
1.3.1 Objetivo Geral ..................................................................................................16
1.3.2 Objetivos Específicos .......................................................................................16
1.4 Estrutura do Trabalho........................................................................................16
2 MARCO CONCEITUAL .........................................................................................18
2.1 Aspectos Biográficos de Peplau......................................................................18
2.2 A Teoria das Relações Interpessoais de Peplau e a Utilidade para a Prática
da Enfermagem .......................................................................................................20
2.3 Pressupostos.....................................................................................................26
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................28
3.1 Considerações sobre Ética ..............................................................................28
3.2 Considerações sobre o Período Pré-Operatório ............................................32
3.3 Considerações sobre o Paciente .....................................................................36
3.3.1 O Estresse........................................................................................................37
3.4 Considerações sobre a Internação Hospitalar ...............................................41
3.5 Considerações sobre o Enfrentamento (Coping) ...........................................42
3.6 A Assistência da Equipe de Enfermagem para o Enfrentamento pelo
Paciente no Pré-Operatório ....................................................................................45
3.6.1 A importância da comunicação de enfermagem ..............................................50
4 METODOLOGIA ....................................................................................................56
4.1 Métodos..............................................................................................................56
4.1.1 Pesquisa Convergente Assistencial - PCA.......................................................56
4.1.2 Método de abordagem .....................................................................................57
4.1.3 Método de procedimento..................................................................................58
4.2 Escolha do Espaço Físico da Pesquisa ..........................................................59
4.3 Delimitação do Universo Populacional ...........................................................59
4.4 Técnicas de Coleta de Dados...........................................................................59
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4.5 Análise e Interpretação dos Dados..................................................................61
4.6 Aspectos Éticos ................................................................................................62
4.7 Conceitos Operacionais ...................................................................................63
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................65
5.1 Caracterização da Clínica .................................................................................65
5.1.1 Aspectos históricos ..........................................................................................65
5.1.2 Corpo Clínico....................................................................................................66
5.2 Etapas da Realização da Pesquisa ..................................................................67
5.3 Perfil dos Pacientes Entrevistados..................................................................69
5.4 Resultados das Perguntas Específicas...........................................................72
5.5 Orientações de Enfermagem Realizadas pelas Pesquisadoras....................85
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................89
REFERÊNCIAS.........................................................................................................94
APÊNDICES ...........................................................................................................100
APÊNDICE 1 - CARTA DE INTENÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA ...101
APÊNDICE 2 - QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PACIENTES CIRÚRGICOS NO
PRÉ-OPERATÓRIO................................................................................................102
APÊNDICE 3 - CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ...............................104
APÊNDICE 4 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE, APÓS
ESCLARECIMENTO................................................................................................105
APÊNDICE 5 - TERMO DE COMPROMISSO DE ORIENTAÇÃO..........................106
ANEXOS .................................................................................................................107
ANEXO 1 - RESOLUÇÃO N. 196/96 DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE.....108
ANEXO 2 - ORIENTAÇÕES DE ENFERMAGEM DADAS PELAS
PESQUISADORAS..................................................................................................117
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1 INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização do Tema e do Problema de Pesquisa
O tema “Enfrentamento Vivenciado pelo Paciente no Pré-Operatório: a
contribuição das orientações realizadas pelo Enfermeiro” nasce comprometido
com a vivência profissional, e está ancorada numa história de vida dedicada à
profissão, adquirida por meio de uma formação teórica, filosófica e pedagógica. Os
conteúdos reflexivos ministrados nestas disciplinas buscaram despertar as
acadêmicas para a sua condição de ser humano crítico, partícipe de uma nova
trajetória no desenvolvimento do relacionamento interpessoal.
No momento em que uma pessoa precisa se submeter a uma cirurgia, as
circunstâncias em que ocorre este fato são extremamente complexas e variáveis,
suscitando a reformulação de concepções e formatação de novos modelos de
comportamento para lidar com este evento específico, pois se acredita que uma
cirurgia continua sendo considerada como estímulo desencadeador de alterações
emocionais nos indivíduos, quer pela expectativa, pelo medo ou pela dor.
O medo é um sentimento referido como um estado de alerta demonstrado
pelo receio de fazer alguma coisa, geralmente por se sentir ameaçado, tanto física
como psicologicamente. O medo pode provocar reações físicas como descarga de
adrenalina, aceleração cardíaca e tremor. Pode provocar atenção exagerada a tudo
o que ocorre ao redor, depressão, pânico, etc. (LAZARUS; MONAT, 1995).
Diante da cirurgia, conhecer as formas de reação do paciente torna-se
interessante e essencial, no sentido de poder ser analisada e fundamentada a
atuação dos profissionais que lidam com ele, dentre eles a equipe de enfermagem,
visando à adaptação das demandas emocionais e fisiológicas do processo cirúrgico,
pois, como relata Kamiyama (apud SILVA, 1987), todos nós, seres humanos, temos
medo e insegurança quanto ao desconhecido.
A esse respeito, Camon et al. (1994, p. 33) salientam que:
[...] o paciente submetido a procedimento cirúrgico apresenta aspectos psicológicos importantes, principalmente com relação ao medo, tem medo da dor, da anestesia, de ficar desfigurado ou incapacitado. Tem medo de demonstrar medo, e medo de mil coisas, sobretudo tem medo de morrer.
14
Assim, a busca de conhecimento do perfil emocional do paciente justifica-se,
social, emocional e cientificamente, por poder favorecer o planejamento de ações
que busquem fomentar estratégias de enfrentamento adaptativas, promovendo,
dessa forma, a redução do estresse causado, por meio da predição de
comportamentos mais adaptativos para uma melhor recuperação no pós-operatório,
que é uma das premissas do papel da equipe de enfermagem junto ao paciente pré-
cirúrgico, estendida aos profissionais de saúde envolvidos com esta área.
O paciente, ao verbalizar suas emoções e dúvidas a respeito do
procedimento, poderá melhorar sua compreensão e minimizar seu estresse. A
enfermagem tem um papel preponderante neste contexto, por ser uma profissão que
busca promover o bem-estar do ser humano, considerando sua liberdade, unicidade
e dignidade, atuando na promoção da saúde, prevenção de enfermidades, no
transcurso de doenças e agravos, e nas incapacidades.
A importância e a responsabilidade da equipe de enfermagem quanto à
observação e atendimento das necessidades psicossomáticas do paciente pré-
cirúrgico devem ser detectadas, uma vez que possui função específica na eficácia
da terapêutica de seus pacientes, pois, dependendo de sua atitude, pode facilitar ou
impedir um programa de recuperação, visto que este paciente é invadido por medo
do desconhecido num ambiente estranho.
Por outro lado, a equipe de enfermagem, no acompanhamento a pacientes
pré-cirúrgicos, tem como uma de suas práticas a compreensão dos comportamentos
e reações que podem favorecer ou comprometer o processo cirúrgico, visando à
adaptação do indivíduo à sua realidade.
Desse modo, como ponto de partida para a presente discussão, pretende-se
situar a problemática do enfrentamento do paciente no pré-operatório dentro do
escopo mais amplo da Equipe de Enfermagem de uma Clínica da Grande
Florianópolis, voltada para a busca permanente do bem-estar do paciente.
De acordo com a necessidade de assistência ao paciente pré-operatório, a
presente pesquisa objetiva, então, conhecer como se dá o enfrentamento do
paciente neste período, buscando também delinear as estratégias de enfrentamento
utilizadas pelos indivíduos em fase pré-operatória. Desse modo, a pergunta de
pesquisa que originou o estudo é: “De que modo o Enfermeiro pode contribuir
para o enfrentamento do paciente no pré-operatório?”
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1.2 Relevância e Justificativa
Acredita-se que os pacientes no pré-operatório possam ser considerados uma
clientela que exige da equipe de enfermagem cuidados especiais neste período.
Com isto, busca-se, com este trabalho, demonstrar que uma das formas de se
planejar atividades, visando prestar assistência sem traumas aos pacientes no pré-
operatório, é por meio da sistematização da assistência de enfermagem, aliada a
uma rotina de orientações.
Diante disso, o presente estudo, então, justifica-se, pelo fato de se observar,
teoricamente, a presença de vários estressores nos pacientes do pré-operatório,
porém, não verbalizados por eles. Este fato permite inferir que não está havendo
uma percepção e reconhecimento de tais estressores por parte dos pacientes no
pré-operatório, motivo pelo qual se realiza este trabalho.
Além disso, nesta Clínica, não se tem conhecimento de pesquisa com essa
temática. Assim, a aplicação de uma pesquisa, que permita aos pacientes no pré-
operatório identificar os próprios estressores, verbalizando-os, seria oportuna, pois,
por meio deste instrumento, ter-se-ia o desenho dos sentimentos do paciente e de
suas necessidades emergenciais, que muitas vezes podem estar sendo
desconhecidas. Desse modo, poder-se-ia estabelecer atitudes prioritárias nas ações
da Equipe de Enfermagem, que contribuiriam significativamente para o
enfrentamento do paciente no pré-operatório.
Acredita-se, assim, que uma forma de o Enfermeiro prestar assistência
individualizada e humanizada ao paciente no pré-operatório possa ser por meio da
sistematização da assistência e do protocolo fundamentando cientificamente de
orientações de enfermagem, pois são os meios pelos quais o enfermeiro poderia
avaliar o paciente, as circunstâncias em que se encontra, planejar e implementar os
cuidados a serem prestados.
Para isto, utiliza como recurso a assistência sistematizada e a rotina de
orientações de enfermagem, que representam um avanço para a profissão, por
respaldarem o cuidado de enfermagem direcionado ao ser humano, sendo
norteados por princípios científicos, que visam proporcionar uma assistência
individualizada, atendendo, desse modo, às reais necessidades do paciente.
Para melhor compreensão da abordagem, foram elaborados os objetivos,
geral e específicos, conforme expostos a seguir.
16
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo Geral
Identificar os sentimentos dos pacientes no período pré-operatório, internados
em uma Clínica da Grande Florianópolis, e verificar quais os benefícios das
orientações de Enfermagem para o enfrentamento.
1.3.2 Objetivos Específicos
• Identificar os problemas sentidos pelos pacientes no pré-operatório;
• Verificar os mecanismos de enfrentamento utilizados pelos pacientes no pré-
operatório;
• Implementar, na prática de enfermagem, mecanismos que ajudem o
enfrentamento do paciente no pré-operatório.
1.4 Estrutura do Trabalho
O presente trabalho aborda a temática do “Enfrentamento Vivenciado pelo
Paciente no Pré-Operatório: a contribuição das orientações realizadas pela Equipe
de Enfermagem”, e está estruturado em quatro capítulos, a saber:
O primeiro capítulo destina-se ao Marco Conceitual, onde se selecionou, para
alicerçar o estudo, a Teoria das Relações Interpessoais de Hildegard Peplau, cujos
pressupostos podem servir de base em quaisquer situações nas quais os
enfermeiros possam comunicar-se e interagir com os pacientes. Basicamente, uma
das questões principais da teoria refere-se à compreensão da prática da
enfermagem. Em resposta a esse questionamento central, a autora vislumbrou a
enfermagem como um processo interpessoal por meio do qual, enfermeira e
paciente podem obter crescimento e desenvolvimento pessoais.
No segundo capítulo, dedicado à Fundamentação Teórica, foram abordados
temas relevantes que completam o tema principal deste trabalho, tecendo-se
considerações: sobre ética, sobre período pré-operatório, sobre o paciente,
estendendo-se este tema ao estudo do estresse, sobre a internação hospitalar, e
sobre o enfrentamento (coping). O capítulo evoluiu, discorrendo-se sobre a
assistência da equipe de enfermagem para o enfrentamento do paciente no pré-
17
operatório, culminando com o estudo da importância da comunicação de
enfermagem.
O terceiro capítulo tratou da definição da metodologia, em que se elegeu,
como método de pesquisa, a Pesquisa Convergente Assistencial – PCA, de
Mercedes Trentini e Lygia Paim, por permitir que o pesquisador se coloque em
compromisso com a construção do conhecimento novo para a renovação das
práticas assistenciais no campo estudado.
Para a coleta de dados, fez-se uso da entrevista semi-estruturada, feita por
meio de questionários com perguntas fechadas e abertas, por se acreditar que esta
modalidade se encaixou melhor aos propósitos deste estudo.
O quarto capítulo foi dedicado aos Resultados e Discussão, momento em que
foi caracterizada a clínica onde foi aplicada a pesquisa, partindo-se para a
apresentação das etapas da realização da pesquisa, bem como o resultado da
aplicação do questionário, tanto do perfil dos pacientes entrevistados quanto dos
resultados das perguntas específicas. Por fim, foram descritas as orientações
realizadas pela equipe de enfermagem.
Nas Considerações Finais, foi elaborado um fechamento das principais
conclusões obtidas no desenvolvimento do trabalho, na intenção de que possam
servir de subsídios para uma nova compreensão do tema.
18
2 MARCO CONCEITUAL
Este trabalho está alicerçado na Teoria das Relações Interpessoais de
Hildegard Peplau (1990), cujos pressupostos podem servir de base em quaisquer
situações nas quais os enfermeiros possam comunicar-se e interagir com os
pacientes.
Com a finalidade de contextualizar o trabalho de Peplau, primeiramente,
cumpre destacar algumas passagens de sua biografia pessoal e profissional, para,
em seguida, apresentar a Teoria das Relações Interpessoais.
2.1 Aspectos Biográficos de Peplau
Hildegard Elizabeth Peplau nasceu em 1º de setembro de 1909, em Reading,
na Pensilvânia, sendo a segunda de seis filhos do casal Gustav e Ottylie Peplau. Na
infância, presenciou a epidemia de gripe ocorrida em 1918, fato que influenciou
sobremaneira em sua compreensão sobre o impacto da enfermidade e da morte
para as famílias (SILLS, 1999; O'TOOLE e WELT, 1996).
Sua carreira na enfermagem teve início em 1931, com seus estudos em um
programa de enfermagem em Pottstown, Pensilvânia. O trabalho em um
acampamento de verão da "New York University" a levaria a exercer atividades
como enfermeira no "Bennington College" onde se graduou em Psicologia
Interpessoal, em 1943. Em Bennington, participou de um estudo experimental com
Erich From e Frida From-Reichmann, no "Chestnut Lodge" (uma instituição
psiquiátrica privada). Ali estudou com Harry Stack Sullivan, eminente psiquiatra da
época, e começou a dedicar sua vida a entender e a desenvolver a teoria
interpessoal de Sullivan com a finalidade de aplicá-la à prática de enfermagem
(SILLS, 1999; GEORGE, 2000).
Entre os anos de 1943 e 1945 compôs o grupo de enfermeiras do Exército
dos Estados Unidos, trabalhando a maior parte desse tempo na Escola Militar de
Neuropsiquiatria da Inglaterra, onde teve a oportunidade de conhecer os psiquiatras
mais importantes do mundo. Obteve seus títulos de Mestre e Doutora no "Teachers
College" da Universidade de Columbia, onde foi instrutora e diretora do programa
avançado de enfermagem psiquiátrica de 1947 a 1953 – período em que formulou
19
sua teoria. No ano de 1948, concluiu o livro "Interpersonal Relations in Nursing", o
qual só foi publicado quatro anos mais tarde, por ser considerado muito
revolucionário para a época, pois não se admitia que uma enfermeira publicasse um
livro sem que houvesse pelo menos um médico como co-autor. Também obteve
formação em psicanálise pelo Instituto William Alanson White de Nova York. (SILLS,
1999; O'TOOLE; WELT, 1996).
No início dos anos cinqüenta, ministrou aulas de enfermagem psiquiátrica no
"Teachers College", nas quais enfatizava a necessidade da experiência clínica com
os pacientes psiquiátricos. Tornou obrigatório para as enfermeiras a entrevista com
os pacientes, o registro das entrevistas realizadas e o estudo acerca dos padrões de
interação. Com base nessas notas e na sua experiência, pôde formular as definições
de ansiedade, conflito e frustração, presentes em sua teoria. De 1954 a 1974,
trabalhou como professora da Faculdade de Enfermagem de Rutgers e ali criou o
primeiro programa de pós-graduação em enfermagem psiquiátrica (O'TOOLE;
WELT, 1996).
Lutou de forma vigorosa para que as enfermeiras tivessem maiores
oportunidades de formação e, assim, pudessem dar um verdadeiro cuidado
terapêutico aos pacientes e não apenas serem guardiãs destes – papel que
prevalecia à época nos hospitais psiquiátricos (SILLS, 1999).
Exerceu atividades como consultora da Organização Mundial de Saúde -
OMS e como professora visitante em universidades da África, América Latina,
Europa e Estados Unidos. Como enfermeira, exerceu os cargos de diretora
executiva e presidenta da Associação de Enfermeiras Americanas - ANA. Também
trabalhou junto ao Conselho Internacional de Enfermagem – CIE, por dois períodos
(SILLS, 1999; GEORGE, 2000).
Faleceu em 17 de março de 1999, aos 89 anos, em sua casa, em Sherman
Oaks, Califórnia, após uma trajetória que influenciou profundamente a enfermagem
a ponto dela ser considerada a "enfermeira do século" e destacada, na área da
psiquiatria, como "a mãe da enfermagem psiquiátrica". A partir do seu trabalho, o
processo interperssoal passou a fazer parte de forma consciente e efetiva do ensino
e da prática da enfermagem. Por isso, considera-se que a vida e o trabalho de
Peplau produziram as maiores mudanças na prática de enfermagem depois de
Florence Nigthingale, tornando-a digna de várias honrarias ao longo de sua vida.
(SILLS, 1999).
20
2.2 A Teoria das Relações Interpessoais de Peplau e a Utilidade para a Prática
da Enfermagem
Com a apresentação de seu livro "Interpersonal Relations in Nursing: a
conceptual frame of reference for psychodinamic nursing", em 1952, Hildegard
Peplau introduziu um novo paradigma para a enfermagem centrado nas relações
interpessoais que se processam entre a enfermeira e o paciente. (PEPLAU, 1990).
Como em geral acontece com os escritores, foi fortemente influenciada pelas
questões debatidas em sua época e, como ela própria reconhece no prefácio de sua
obra, o que escreveu reflete, em alguma medida, as tendências dominantes e os
problemas dos quais a enfermagem se ocupava no início dos anos 50 do século XX.
(PEPLAU, 1990).
Uma das questões referia-se à compreensão do que seria a enfermagem e
em que consistiria a sua prática. Em resposta a esse questionamento central, a
autora vislumbrou a enfermagem como um processo interpessoal por meio do qual,
enfermeira e paciente podem obter crescimento e desenvolvimento pessoais.
(PEPLAU, 1990).
Obviamente, os elementos fundamentais da prática da enfermagem são o
paciente, o enfermeiro e os acontecimentos que envolvem ambos durante uma
situação de cuidado. Eis, portanto, a importância fundamental de Peplau ao tentar
"profissionalizar" o que a enfermagem, de certa forma, já realiza quando interage
com o paciente, embora o faça, na grande maioria das vezes, de forma intuitiva.
(O'TOOLE; WELT, 1996; MARTÍ, 1990).
No que tange à Teoria das Relações Interpessoais de Peplau, pode-se dizer
que seus fundamentos são relacionados ao crescimento e desenvolvimento, como
os estudos de Erick Fromm e, sobretudo, a Teoria Interpessoal de Harry Stack
Sullivan. (GEORGE, 2000).
De forma geral, essas teorias adotam, como pressuposto básico, que o
crescimento e o desenvolvimento humanos ocorrem de forma gradual até a
realização do seu potencial máximo. O crescimento é entendido como um aumento
relacionado ao tamanho e formas físicas, ordenado e com tendências regulares em
seu direcionamento, mas que acontece para cada pessoa em um padrão único
influenciado por fatores intrínsecos e extrínsecos. O desenvolvimento, por outro
21
lado, refere-se a mudanças funcionais no indivíduo, mais de caráter qualitativo, e
que também recebem influências internas e externas. (LEDDY; PEPPER, 1989).
A teoria de Sullivan, particularmente, baseia-se na crença de que o
comportamento e a personalidade dos indivíduos desenvolvem-se a partir das
relações com pessoas consideradas importantes para eles. Embora as etapas do
desenvolvimento possam ser de caráter universal, não existem limites definidos para
cada uma delas, as quais recebem grande influência das diferenças culturais. Para
Sullivan, em cada fase, a satisfação e a segurança derivam do atendimento das
necessidades do indivíduo e dos julgamentos de valores feitos por pessoas que
tenham importância para esse indivíduo. (LEDDY; PEPPER, 1989).
Com base nessas proposições, Peplau traz em sua teoria a noção de
"crescimento pessoal" que é compartilhado pelo enfermeiro e pelo paciente a partir
do relacionamento interpessoal desenvolvido no processo de cuidar. A autora usou o
termo "enfermagem psicodinâmica" para descrever o relacionamento dinâmico entre
enfermeira e paciente. Em seu entendimento, a enfermagem psicodinâmica envolve
reconhecer, esclarecer e construir uma compreensão acerca do que acontece
quando a enfermeira se relaciona de forma útil com o paciente. (O'TOOLE; WELT,
1996).
As etapas da enfermagem psicodinâmica desenvolvem-se tendo como base
dois pressupostos fundamentais, a saber:
1. A postura adotada pela enfermeira interfere diretamente no que o paciente vai
aprender durante o processo de cuidado ao longo de sua experiência como doente.
2. O auxílio ao desenvolvimento da personalidade e ao amadurecimento é uma
função da enfermagem que exige o uso de princípios e métodos que facilitem e
orientem o processo de solução dos problemas ou dificuldades interpessoais
cotidianos. (O'TOOLE; WELT, 1996).
Peplau considera que na medida em que cada enfermeira compreenda sua
própria função tanto mais ela compreenderá a situação do paciente e a forma como
esse a concebe. (O'TOOLE; WELT, 1996).
A primeira parte da teoria oferece ao leitor alguns elementos fundamentais
para prepará-lo a compreender as "influências, tarefas e métodos" que farão parte
da relação entre enfermeira e paciente. A autora afirma inicialmente que, uma vez
que pretende fornecer um marco conceitual para a enfermagem psicodinâmica,
cumpre esclarecer sua concepção de enfermagem. (PEPLAU, 1990).
22
Na acepção apresentada em sua obra, a enfermagem é vista primariamente
como um processo, considerado com base em suas fases e nos diferentes papéis
que a enfermeira pode assumir. (PEPLAU, 1990). Ao assim dizer, a autora entende
que a natureza da enfermagem sistematizada e dirigida a uma meta exige certas
fases, ações, operações e realizações que se produzem entre o indivíduo que
pratica a enfermagem e a pessoa assistida.
É necessário ressaltar que o processo vai muito além das técnicas de
enfermagem, que poderão ser usadas ou não para resolver o problema do paciente,
mas que por si só não o levam a amadurecer.
A enfermagem, na percepção da teórica, é uma relação humana entre uma
pessoa que está enferma ou necessitada de serviços de saúde e uma enfermeira
com uma formação especializada para reconhecer e responder à necessidade de
ajuda. (PEPLAU, 1990).
Mesmo enfatizando na sua teoria os aspectos psicológicos da prática da
enfermagem, a autora reconhece que o cuidado físico do corpo de outro ser humano
é fundamental, pois proporciona um tipo de 'intimidade interpessoal', uma
proximidade de tal forma que, com muita freqüência, induz a mente do paciente a
realizar conexões entre as circunstâncias presentes e suas experiências anteriores
que, de certo modo, são similares. (O'TOOLE; WELT, 1996).
Defende a idéia do que se poderia chamar de "enfermeira psicóloga". Como
ela adverte, em sua teoria não se sugere que a enfermeira deva ser 'onipotente' e,
em conseqüência, capaz de conseguir mudanças psicológicas nos pacientes, em
alguns minutos de interação enfermeira-paciente. O que se sugere não é uma
mudança de personalidade instantânea, e sim a utilização das oportunidades
disponíveis por meio da aplicação da teoria e técnicas conhecidas das relações
interpessoais. (O'TOOLE; WELT, 1996).
O objetivo da assistência de enfermagem é ajudar os indivíduos a produzir
mudanças que influenciem de forma positiva em suas vidas. (O'TOOLE; WELT,
1996). Nesse respeito, vale mencionar que as metas a serem atingidas deverão ser
estabelecidas pela enfermeira e pelo paciente, pois caso os objetivos de ambos
sejam desarmônicos, os resultados também o serão. (RIEHL; ROY, 1980).
Ao incluir nos objetivos as mudanças em âmbito comunitário, Peplau
evidencia que reconhece o papel da família, da sociedade, da cultura e do ambiente
nas mudanças, mesmo que seja o ambiente hospitalar o contexto predominante na
23
teoria. Também aponta que um dos papéis que a enfermeira pode desenvolver é o
de fazer com que os cuidados de saúde possam ser conduzidos do hospital para a
comunidade. (RIEHL; ROY, 1980).
Compreende-se esse objetivo delineado pela teórica quando se analisa as
circunstâncias históricas nas quais a teoria encontra-se inserida. Nos anos 40 do
século XX, as referências da enfermagem à pessoa como um todo foram o resultado
da adição dos estudos psicossociais aos currículos, suplementando a visão
exclusiva de homem biológico que dominara a educação de enfermagem até então.
A mudança de foco nos anos 40 conduziu, na década seguinte, a uma aproximação
holística do paciente, e a uma atuação da enfermagem voltada para atendê-lo em
suas necessidades. (RIEHL; ROY, 1980). Com essa mudança, a ênfase no processo
interpessoal como base para a intervenção de enfermagem emergiu e é nesse
contexto que Hildegard Peplau desenvolve sua teoria.
Em relação ao processo de atuação da enfermagem, cumpre afirmar que
esse representa a parte dinâmica da teoria. O processo ou processos de uma teoria
implicam nas atividades, quer sejam de ordem afetiva, intelectual ou
comportamental, requeridas para implementar uma teoria. Cumpre ainda ressaltar
que diferentes problemas requerem diferentes métodos. Para algumas teóricas, o
processo é reduzido a uma simples atividade. Para outras, numerosas ações estão
envolvidas na execução do processo. (BARNUM, 1998).
Em sua teoria, Peplau (1990) opta por descrever o processo de relação
interpessoal da enfermagem em quatro fases: orientação, identificação, exploração e
resolução. Essas etapas estão superpostas e devem ser consideradas de forma
relacionada. Na fase de orientação, o paciente apresenta uma necessidade e solicita
ajuda profissional. A enfermeira, inicialmente, identifica as necessidades do
paciente, o qual, durante a interação, fornece muitas pistas a respeito de como
visualiza a dificuldade que está experimentando e oferece à enfermeira a
oportunidade de reconhecer suas carências de informação e compreensão acerca
do problema.
Diante das necessidades identificadas, a enfermeira, em colaboração com
outros componentes da equipe de saúde, orienta o paciente sobre o problema e de
suas implicações. A tensão e a ansiedade apresentadas por esse paciente em
decorrência de suas necessidades devem ser levadas em consideração na fase de
24
orientação, pois, caso contrário, não haverá êxito em tentar relacionar a sua
experiência atual com as anteriores. (PEPLAU, 1990).
O ambiente hospitalar é propício para a etapa de orientação, considerando
que as limitações de espaço e liberdade de movimentos impulsionam o paciente ao
seu próprio mundo imaginário e podem suscitar a oportunidade para que, com a
ajuda do profissional, possa esclarecer e explicar o que acontece a sua volta. No
momento da hospitalização, os sentidos do paciente estão bastante aguçados e ele
passa a observar detalhes cada vez menores (PEPLAU, 1990), o que destaca a
importância de, na fase de orientação, estar atento a qualquer necessidade do
paciente mesmo que pareça irrelevante ou de menor importância.
Sobre esse último aspecto, a teórica reconhece que a celeridade, qualidade
tão valorizada nas enfermeiras, na verdade, não estimula a atitude investigativa
diante do paciente. Em sua opinião, toda enfermeira deveria, sempre que possível,
"buscar uma cadeira, sentar com os pacientes e dizer: 'fale-me de você". O que
ocorre muitas vezes, entretanto, é que traduzimos nosso contato com os pacientes
como algo simples demais e os acontecimentos interpessoais importantes passam
despercebidos (O'TOOLE; WELT, 1996). Como explica, não raramente achamos
que nossos pacientes são apenas nosso "público", e deixamos de percebê-los como
figuras essenciais, esquecendo-nos de suas reais necessidades (O'TOOLE; WELT,
1996).
À medida que a relação avança, passa-se à fase de identificação, na qual o
paciente começa a responder seletivamente às pessoas que lhe oferecem a ajuda
de que necessita (PEPLAU, 1990). Nessa fase, a enfermeira, no desempenho das
ações de cuidado, pode levar o paciente a identificá-la como uma figura familiar ou
culturalmente importante em suas lembranças. O paciente poderá responder de três
formas: desenvolvendo ações de caráter participativo e interdependente com a
enfermeira; isolando-se e assumindo uma atitude de independência em relação à
enfermeira ou adotando uma postura de desamparo e dependência em relação a
essa profissional (O'TOOLE; WELT, 1996).
Peplau (1990) comenta que alguns pacientes se identificam tão facilmente
com a enfermeira que esperam que ela atenda a todos os seus desejos,
desconsiderando o fato de que o relacionamento interpessoal pressupõe que haja
uma interação entre ambos.
25
Na etapa de identificação, os esforços da enfermeira devem direcionar-se
para o auxílio do paciente na consecução de uma aprendizagem construtiva, a qual
ocorre quando ele pode centrar-se nos elementos essenciais da situação, mediante
seus próprios esforços, e quando pode desenvolver respostas independentemente
da enfermeira (PEPLAU, 1990).
A terceira fase do processo refere-se à exploração ao máximo da relação
para a obtenção dos melhores benefícios possíveis. O paciente faz pleno uso dos
serviços que lhe são oferecidos, entretanto, quando se inicia a recuperação, pode
experimentar conflitos entre o seu estado de dependência e independência, a um só
tempo. A atuação da enfermeira é continuar a promover a satisfação do paciente em
relação às suas demandas à medida que elas surgem e, conforme avança a
convalescença, deverão ser estabelecidas novas metas - como voltar para casa e ao
trabalho - no intuito de diminuir a identificação do paciente com a pessoa que lhe
prestou ajuda (PEPLAU, 1990).
A última fase denominada de "resolução" é caracterizada mais como um
fenômeno psicológico em que o paciente abandona os laços adquiridos e prepara-se
para retornar para casa. O ideal seria que essa fase coincidisse com a resolução de
seu problema clínico, o que em muitos casos não acontece, pois o paciente mesmo
recuperado não apresenta o desejo real de concluir a enfermidade (PEPLAU, 1990).
Para que a resolução aconteça de forma bem-sucedida, há a necessidade da
liberação gradual da identificação com as pessoas que prestaram ajuda e da criação
e fortalecimento da capacidade de atuar por si mesmo. O paciente consegue lograr
êxito nessa etapa quando as etapas anteriores foram amplamente satisfeitas e
ocorreu um encadeamento adequado entre elas. (PEPLAU, 1990).
Durante todas as fases do processo interpessoal, indica que a enfermeira
pode assumir diferentes papéis. Como "pessoa estranha", a enfermeira estabelece
com o paciente uma interação baseada no respeito e no interesse, na qual o
visualiza como uma pessoa emocionalmente capaz e busca utilizar expressões que
promovam maior conforto psicológico. (PEPLAU, 1990).
Outro papel é o de "pessoa recurso", o qual implica que a enfermeira deve
fornecer reposta às perguntas dos pacientes, sobretudo às questões que envolvem
sentimentos e que estão associados aos maiores problemas enfrentados por eles.
Também pode atuar como "educadora" e "líder", auxiliando o processo de
aprendizagem do paciente à medida que promove a participação ativa do mesmo
26
em suas experiências. Outros papéis que as enfermeiras podem desempenhar,
denominados como "substitutos", desenvolvem a personalidade do paciente a partir
da reativação de suas experiências anteriores, papéis esses que encontram
resistência por parte de algumas delas. (PEPLAU, 1990).
2.3 Pressupostos
Tendo em vista que a Teoria das Relações Interpessoais de Hidelgard
Elizabeth Peplau privilegia o relacionamento enfermeira/paciente, de maneira que
ambos possam interagir no processo saúde/doença, encontrou-se neste marco
conceitual subsídios coerentes para adotá-lo nesta pesquisa, pois acredita-se que
esta interação se torna imprescindível no desenvolvimento das ações educativas de
saúde, de forma que o paciente possa se tornar mais receptivo às informações
recebidas e, com isso, absorvê-las de maneira satisfatória.
Ao relacionar o enfrentamento pessoal da doença pelo paciente e a
enfermagem como parte atuante neste contexto, Peplau (1990) se ampara em
pressupostos, como os descritos a seguir:
• Crescimento e desenvolvimento pessoal que ocorrem de forma gradual até a
realização do seu potencial máximo.
• O crescimento pessoal é compartilhado pelo enfermeiro e pelo paciente a partir
do relacionamento interpessoal desenvolvido no processo de cuidar.
• O comportamento e a personalidade dos indivíduos desenvolvem-se a partir das
relações com pessoas consideradas importantes para eles.
• A enfermagem é considerada psicodinâmica, pois envolve reconhecer,
esclarecer e construir uma compreensão acerca do que acontece quando a
enfermeira se relaciona de forma útil com o paciente.
• As etapas da enfermagem psicodinâmica desenvolvem-se tendo como base dois
pressupostos fundamentais, a saber: a) a postura adotada pela enfermeira interfere
diretamente no que o paciente vai aprender durante o processo de cuidado ao longo
de sua experiência como doente; b) o auxílio ao desenvolvimento da personalidade
e ao amadurecimento é uma função da enfermagem que exige o uso de princípios e
métodos que facilitem e orientem o processo de solução dos problemas ou
dificuldades interpessoais cotidianos.
27
• Na Teoria, o objetivo da assistência de enfermagem é ajudar os indivíduos a
produzir mudanças que influenciem de forma positiva em suas vidas.
Para finalizar, é de se ressaltar que a enfermagem deve lembrar que os
pacientes são seres humanos que se diferenciam entre si e somente precisam da
assistência de pessoas que acreditam ser capazes de ajudá-los a resolver os
problemas de saúde.
28
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este capítulo tem por objetivo refletir sobre o tema principal deste trabalho.
Desse modo, primeiramente, num contexto geral, e dada a natureza complexa do
tema, deve-se criar os alicerces mais seguros buscando-se conceitos teóricos que
ajudarão a organizar o conjunto de dados e informações colhidas durante o
processo de pesquisa.
Assim, apresenta-se e discute-se, no presente capítulo, os pressupostos
teóricos acerca do tema, razão pela qual a organização deste capítulo reflete uma
análise em seis etapas: a primeira apresenta considerações sobre Ética, que tem
como objetivos identificar e comparar os problemas éticos vivenciados e os
fundamentos que balizam o equacionamento para a tomada de decisão frente a
problemas éticos; a segunda aborda o período pré-operatório, evidenciando como se
comporta o paciente nesta fase; a terceira procura compreender questões
relacionadas ao paciente, principalmente no que tange ao estresse causado no
período pré-operatório; a quarta etapa desenvolve considerações sobre a internação
hospitalar; a quinta analisa os mecanismos de enfrentamento trazidos pela literatura
utilizada; na sexta etapa, discorrer-se-á sobre a assistência da equipe de
enfermagem para o enfrentamento do paciente no pré-operatório.
Desse modo, tem-se uma visão geral dos assuntos que compõem o tema
principal que este trabalho ora se propõe.
3.1 Considerações sobre Ética
A fim de viabilizar a convivência, a sociedade e/ou os grupos têm traçado, ao
longo da história da humanidade, diferentes balizamentos. A ética é um deles. A
palavra ética, do grego éthos, refere-se aos costumes, à conduta de vida e às regras
de comportamento. Circunscreve-se ao agir humano, aos comportamentos
cotidianos e às opções existenciais. Etimologicamente, significa o mesmo que moral
(do latim mos, moris), sendo usual o emprego destas palavras uma pela outra,
quase como sinônimos. (FORTES, 1998; VÁZQUEZ, 2000).
"A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em
sociedade". (VÁZQUEZ, 2000, p.23). Para o autor, a ética é teoria, investigação ou
29
explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos
homens, o da moral, considerado, porém, na sua totalidade, diversidade e
variedade.
Tratada como um mecanismo de regulação das relações sociais do homem,
com vistas a garantir a coesão social, bem como harmonizar interesses individuais e
coletivos, a discussão de questões éticas tem sido retomada e ampliada nas últimas
décadas nos diversos espaços da sociedade e, particularmente, no campo da
saúde. Fortes (1998, p. 26), por exemplo, alega que, atualmente, os termos ética e
moral se distinguem, levando-se em conta que moral seja o conjunto de princípios,
valores e normas que regulam a conduta humana em suas relações sociais,
existentes em determinado momento histórico. Moral refere-se principalmente ao
coletivo, coexistindo, na sociedade contemporânea, em um mesmo contexto social,
diferentes morais, fundadas em valores e princípios diferenciados. E a ética implica
opção individual. Está, pois, ligada intrinsecamente à noção de autonomia individual.
Porém, adverte o autor, é preciso manter certa cautela na excessiva utilização
do termo “ética” sem que seja especificado o seu significado, pois, nos dias atuais,
começa a haver uma tendência à banalização da ética, que está sendo empregada
indistintamente, confundindo-se, por vezes, com política, ideologia, entre outros.
Neste sentido, Vasquez (2000, p. 20) salienta que a função fundamental da
ética é a mesma de toda teoria, ou seja, “explicar, esclarecer ou investigar uma
determinada realidade, elaborando os conceitos correspondentes. Por outro lado, a
realidade moral varia historicamente e, com ela, variam os seus princípios e as suas
normas”.
Segundo Durant (1995), a moral ou a ética abrange como campos de ação:
• a pesquisa: entendida como a procura do que é certo, do que é necessário fazer.
É a pesquisa de normas ou de regras de comportamento, a análise dos valores, a
reflexão sobre os fundamentos dos direitos, dos valores e das normas. O que
importa neste campo de abrangência é buscar conhecer e descobrir os valores
para somente então interiorizá-los ou seguir as normas. Esta pesquisa não é
exclusividade de especialistas, constitui responsabilidade de cada pessoa.
Nas últimas décadas, a pesquisa em enfermagem vem se desenvolvendo
visivelmente. O Código de Ética dos profissionais de enfermagem assinala a
necessidade do consentimento informado para a realização de pesquisas em seres
humanos. A pesquisa passou a nascer de esforços e empreendimentos individuais e
30
coletivos, dando origem a diferentes linhas de pesquisas e grupos de estudos que se
constituíram em núcleos de assistência, pesquisa e ensino. A constituição de
projetos integrados de pesquisa, por meio de convênios institucionais, pode ser uma
das vias para que ocorra a articulação universidade- serviços, fundamental para
desencadear um processo de conhecimento desenvolvido coletivamente. (DURANT,
1995).
Desse modo, o aprimoramento constante das normas para pesquisa
envolvendo seres humanos firmou-se como marcante característica do meio
científico brasileiro. Ao lado dos esforços intensos de manter espaços de grande
reconhecimento em nível nacional e internacional, a nossa ciência e tecnologia
revelam grande sensibilidade e compromisso social, com destaque para o respeito
intransigente dos direitos de cidadania dos seres humanos, sujeitos das pesquisas.
Esta explicitação consta das principais resoluções e normas do Conselho Nacional
de Saúde, sobre a Ética nas Pesquisas que Envolvem Seres Humanos, que nos
colocam hoje entre os países mais evoluídos neste nobre campo de atividades.
(DURANT, 1995).
O Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde - CNS-MS editou, em
1988, a Resolução n. 1/886 que, entre diversos itens, estabelece a necessidade do
"consentimento pós-informação" e exige que os protocolos de pesquisa sejam
aprovados por Comitê de Ética independente do pesquisador, sem referência aos
aspectos éticos relacionados à publicação dos resultados das pesquisas em seres
humanos. Todavia, em 1996, o CNS-MS aprovou a Resolução n. 196 (Anexo 1), que
incorpora vários conceitos de ética e mantém o consentimento do indivíduo e a
necessidade de aprovação prévia por Comitê de Ética. (FORTES, 1998).
Em relação à Resolução n. 196/96, o autor acima esclarece que tal
Resolução contém diretrizes e normas regulamentadoras para as pesquisas que
envolvem seres humanos, de forma direta ou indireta, individual ou coletivamente,
sejam elas realizadas por quaisquer categorias profissionais, no campo biológico,
psíquico, educacional, cultural ou social, incluindo o manejo de informações e
materiais. Todavia, no caso das pesquisas realizadas no campo da saúde, são
eticamente movidas pelo princípio da beneficência, objetivando aumentar o bem-
estar do ser humano. (FORTES, 1998).
31
Cumpre informar que os aspectos éticos do presente trabalho encontram-se
dispostos no próximo capítulo, referente à Metodologia, precisamente no tópico 4.6
denominado Aspectos Éticos.
• a sistematização da reflexão: é o resultado da pesquisa, podendo-se entender a
ética ou a moral como um conjunto organizado, sistemático, hierarquizado de
regras ou de valores.
Segundo Freitas (2007), a clara caracterização das pesquisas e,
conseqüentemente, a análise de sua validade e aceitabilidade, embasada em
conhecimentos prévios que apontem para o benefício e o acompanhamento
controlado de seus resultados, de forma sistemática e universal (cobrindo todos os
protocolos), podem trazer ganhos enormes, tais como a diminuição do número de
pessoas desnecessariamente expostas a procedimentos inúteis ou danosos e,
acima de tudo, a clara compreensão da utilidade (relação risco/benefício) de novos
procedimentos propostos. Assim, toda pesquisa envolvendo seres humanos deve
ser submetida a uma reflexão ética no sentido de assegurar o respeito pela
identidade, integridade e dignidade da pessoa humana e a prática da solidariedade e
da justiça social.
• a prática: a experiência concreta do cotidiano, quando ocorre a realização dos
valores, o esforço pessoal para aplicar os princípios e observar as normas.
A tendência humanista que se verifica em todas as áreas da Saúde, tanto na
pesquisa como na prática, torna-se a perspectiva que desencadeia a maioria dos
questionamentos e das mudanças de atitude dos profissionais, originando novos
estudos sobre a maneira de conceber as relações assistenciais, assim como a
busca de fundamentos para essas posturas. (DURANT 1995).
A perspectiva ética aos poucos passa a concorrer com uma visão ética
autonomista que, na prática, significa considerar o usuário dos serviços de saúde
como alguém que deve, legitimamente, participar de sua situação e das decisões
sobre seu estado de saúde. A este ponto, cabe considerar que é comum, mas não
unânime, a distinção entre ética e moral, entendendo a primeira como o estudo dos
fundamentos da segunda. Isto a limita aos dois primeiros campos de ação (o da
pesquisa e sistematização), restando o da prática à moral (DURANT 1995).
Neste sentido, também não se pode esquecer que a vida cotidiana confere às
palavras uma história específica que lhes agrega um sentido próprio. Assim, é
pertinente ponderar que, no Ocidente, a primazia cultural do cristianismo confere à
32
palavra moral uma conotação religiosa, referindo-se a um sistema de princípios
imutáveis e aparentemente definidos. Desta forma, este termo reveste-se de um
sentido fechado e conservador. Dentro deste contexto, o realce para a palavra ética
ocorre na intenção de destacar uma conotação de moral não religiosa, secular. Daí a
preferência em usar ética à moral, mesmo reconhecendo-se a sinonímia dos termos
por sua etimologia (DURANT, 1995).
A ética da saúde ocupa lugar de destaque no conjunto das reflexões éticas,
pois enfoca questões relacionadas à manutenção e à qualidade de vida das
pessoas. Leopoldo e Silva (1998, p. 35) considera a ética da saúde profundamente
enraizada no terreno dos direitos humanos, pois a vida é o primeiro dos direitos.
Segue o autor afirmando que a ética da saúde implica “compromisso com a
realização histórica de valores que encarnem nas condições determinadas de
situações sociais e políticas diferenciadas o direito de que todo ser humano deveria
primordialmente usufruir”.
Tendo apresentado considerações a respeito da ética, cumpre, ainda,
discorrer sobre questões em relação ao período pré-operatório, o que será feito na
próxima seção.
3.2 Considerações sobre o Período Pré-Operatório
Segundo Becker (1968), o termo “cirurgia” provém do latim chirurgia, que o
tomou do grego kheirourgia, de kheír, mão + érgon, trabalho. Etimologicamente,
portanto, cirurgia significa trabalho manual, arte, ofício, no qual se empregam as
mãos para a sua execução. Entende-se, assim, o seu uso em medicina para
designar os procedimentos terapêuticos que exigem trabalho manual.
De acordo com os melhores léxicos, especializados ou não em termos
médicos, define-se cirurgia como o ramo da medicina que se dedica ao tratamento
das doenças, lesões, ou deformidades, por processos manuais denominados
operações ou intervenções cirúrgicas. Verifica-se atualmente o uso, cada vez mais
freqüente, de cirurgia como sinônimo de operação ou intervenção cirúrgica.
(BECKER, 1968).
Dizer que a cirurgia tem por fim a prática de cirurgias, em lugar de operações,
seria o mesmo que dizer que a obstetrícia tem por fim a prática de obstetrícias (em
lugar de partos). Chama-se a isso de tautologia. A prevalecer o uso de cirurgia como
33
sinônimo de operação, é de se prever o aparecimento de um novo verbo - cirurgiar.
Será, então, mais elegante dizer que o doente foi cirurgiado do que operado. A boa
linguagem, tradicional, vernácula, correta, como ensina Becker (1968), em seu livro
“Nomenclatura biomédica no idioma português do Brasil” manda dizer operação,
reservando-se cirurgia para nomear o ramo da medicina que trata os enfermos por
meio de operações.
A partir do exposto, Goffi (1980, p. 267) conceitua e define operação ou
intervenção cirúrgica como:
[...] o conjunto de gestos manuais ou instrumentais que o cirurgião executa para a integral realização de ato cruento com finalidade diagnóstica, terapêutica ou estética. As operações fundamentais (divisão, diérese, hemostasia e síntese) constituem atos cirúrgicos simples, que, associados, permitem a realização de operações complexas.
Uma intervenção cirúrgica é composta por três tempos: pré inicia-se com a
indicação da cirurgia e termina no instante de executá-la. Esse período é variável,
pois depende do tipo de cirurgia, do procedimento desejado e das condições gerais
do paciente; trans compreende o tempo entre a indução anestésica e o término da
intervenção cirúrgica. O trans-operatório compõe-se de vários tempos sucessivos e
proporcionais de acordo com o tipo e tamanho da cirurgia; e pós-operatório é o
período de tempo compreendido entre o término da cirurgia e a plena recuperação
clínica do paciente relativa às alterações determinadas pelo ato cirúrgico em si,
independente da evolução do estado mórbido inicial. (PITREZ, 1987).
O autor acrescenta, ainda, um quarto tempo, que é o do acompanhamento
do paciente (follow-up), já que a responsabilidade do cirurgião não cessa com o
término da etapa dos cuidados pós-operatórios complementares. A partir daí, inicia-
se um longo período de controle e observação, feito por meio de revisões periódicas,
com o objetivo de acompanhar a evolução e os resultados tardios do tratamento
cirúrgico instituído. (PITREZ, 1987).
A Figura 1 resume a seqüência lógica da conduta a ser seguida frente a um
paciente cirúrgico desde o momento de sua internação até o final do período pós-
operatório, segundo Pitrez (1987):
34
Figura 1. Conduta diante do Paciente Cirúrgico Hospitalizado segundo Pitrez Fonte: Pitrez (1987, p.18).
Cumpre esclarecer que esta divisão tem apenas finalidade didática, pois
essas etapas estão unidas entre si, separadas apenas no tempo. Todavia, será
considerado, aqui, apenas o período pré-operatório, por ser este tempo o objeto de
estudo deste trabalho.
No pré-operatório, o paciente é observado, recebendo os cuidados
necessários para que, durante a cirurgia, a convalescença apresente-se sem
complicações. O conhecimento e o emprego correto das técnicas cirúrgicas
utilizadas na intervenção permitem melhor evolução no pós-operatório. Torna-se
claro que a execução das técnicas particulares a cada período cirúrgico conduzirá a
um único objetivo, isto é, o êxito da operação. (PITREZ, 1987).
Conforme ilustrado na Figura 1, diante de um paciente candidato à cirurgia,
além do Diagnóstico da enfermidade determinante, impõe-se ao cirurgião a
criteriosa Avaliação pré-operatória de suas condições gerais, bem como o
PRÉ-OPERATÓRIO
BAIXA HOSPITALAR
DIAGNÓSTICO
AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA
PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO
TRANS-OPERATÓRIO CIRURGIA
PÓS-OPERATÓRIO
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS NO PERÍODO DE RECUPERAÇÃO
ALTA HOSPITALAR
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS TARDIOS
SEGUIMENTO (FOLLOW-UP)
35
indispensável Preparo do mesmo, tendo em vista a intervenção cirúrgica proposta.
Estas três etapas clínicas constituem uma “Tríade de Cuidados Pré-Operatórios”,
assim denominada por Pitrez (1987), conforme esquematizada na Figura 2, a seguir:
Figura 2. Tríade de Cuidados Pré-Operatórios, de acordo com Pitrez Fonte: Pitrez (1987, p.19).
No conjunto, a tríade forma a pedra angular da rotina de pré-operatório. O
cumprimento à risca destas três etapas fornece ao cirurgião a certeza de uma
resposta adequada ao trauma imposto pela agressão cirúrgica e de uma evolução
tranqüila no pós-operatório, até a plena recuperação do paciente, sem os percalços
de uma complicação imprevisível. (PITREZ, 1987).
Segundo Araújo (1984), pode-se compreender que o período pré-operatório é
composto por um conjunto de ações que visam à identificação de possíveis
distúrbios no paciente, reduzindo desta maneira os riscos cirúrgicos. O pré-
operatório objetiva aumentar as defesas orgânicas do indivíduo, melhorando assim o
seu estado geral, garantindo o êxito na cirurgia. O trauma cirúrgico, por mais simples
que seja a intervenção, provoca redução na resistência imune do paciente.
Por fim, ainda que, para cada caso em si, as normas habituais de pré-
operatório se particularizem diante das peculiaridades inerentes à própria patologia,
esta seqüência deverá ser rigorosamente obedecida em todos os casos. Nem
mesmo as urgências cirúrgicas, que requerem uma atitude terapêutica mais
imediata, dispensam a aplicação destas normas, diferindo dos casos eletivos apenas
pela rapidez e presteza com que são seguidas. (PITREZ, 1987).
A seguir, far-se-á uma abordagem em relação ao paciente, visto que a
necessidade de tratamento ou procedimento cirúrgico traz diversas conseqüências
DIAGNÓSTICO AVALIAÇÃO
CIRURGIA
PREPARO
36
para ele. Além de reações como ansiedade, medo e angústia, é preciso lembrar as
modificações que ocorrerão para a sua vida diária. A intervenção cirúrgica tem um
significado ímpar para o paciente, pois modificações são realizadas em seu corpo,
sendo necessário que ele se adapte para o retorno à sua vida social, profissional ou
de lazer.
3.3 Considerações sobre o Paciente
A fim de compor este tópico, necessário se faz, primeiramente, que se defina
o termo paciente. Num conceito simplista e generalizado, porém, esclarecedor, Silva
e Silva (2004, p.284) definem o paciente como sendo o indivíduo “doente; pessoa
que está sob cuidados médicos”.
Neste sentido, a doença e seu tratamento cirúrgico podem representar uma
nova realidade, abruptamente imposta, que desestrutura o paciente que se sente
atingido em sua auto-imagem, tem medo do seu estado de saúde e fica à mercê de
profissionais que nem sempre lhe transmitem segurança e empatia. A ameaça à
saúde também provoca ansiedade nessa pessoa já fragilizada pelo seu estado
clínico. (GOMES, 1998; SANTOS e ARAÚJO, 2003).
Nóbrega e Garcia (1994, p.36) conceituam e definem ansiedade como:
[...] o estado subjetivo no qual o indivíduo experimenta um sentimento de incômodo e inquietação, cuja fonte é, freqüentemente, inespecífica ou desconhecida por ele. E o medo é o estado no qual o indivíduo apresenta um sentimento de temor relacionado a uma fonte identificável que ele pode verificar.
A cirurgia é uma situação imposta pela vida, que exige do homem um
enfrentamento. É possível que a antecipação deste evento desencadeie sentimentos
e avaliação cognitiva que, influenciados pelas diferenças individuais, resultarão em
comportamentos peculiares de ajustes, cuja finalidade é enfrentar o estresse
provocado por este evento.
A propósito, de forma genérica, os sentimentos são informações que seres
biológicos são capazes de sentir nas situações que vivenciam. Por exemplo, medo é
uma informação de que há risco, ameaça ou perigo direto para o próprio ser ou para
interesses correlatos. A empatia é informação sobre os sentimentos dos outros. Esta
informação não resulta necessariamente na mesma reação entre os receptores, mas
varia, dependendo da competência em lidar com a situação, e como isso se
37
relaciona com experiências passadas e outros fatores. Os sentimentos têm a
finalidade de nos auxiliar a classificar, conhecer, e perceber as coisas do mundo
real. (SILVA, 2002).
É de grande importância a identificação dos sentimentos dos pacientes no
pré-operatório, pois, no âmbito hospitalar, a Equipe de Enfermagem desempenha
um papel abrangente no cuidado da pessoa submetida a um procedimento cirúrgico.
A assistência de enfermagem engloba desde os cuidados pré-operatórios e a
monitorização cuidadosa para detecção precoce de complicações pós-cirúrgicas, até
o apoio emocional e psicológico oferecidos ao doente e seus familiares, durante todo
o período de recuperação pós-cirúrgica (DANTAS, 1999).
Acredita-se que existe uma faixa de ansiedade que deva ser considerada
desejável e que impulsionará o paciente a agir, por exemplo: fazendo perguntas à
equipe, relacionando-se com os familiares e aceitando as restrições impostas pelo
preparo pré-cirúrgico. No entanto, um alto grau de ansiedade pode levar o paciente
a se mostrar apático, o que ocasionaria dificuldades para aprender as orientações
verbais recebidas da equipe e um baixo grau de ansiedade pode denotar uma
ausência de introversão, tendo como conseqüência igual resistência em
compreender e se reafirmar diante da situação vivida (ROMANO, 1994).
Segundo Dubos (1974), nos fatos comuns da vida, o homem reage
fisiologicamente às agressões como há milênios atrás, e sua sobrevivência continua
dependendo da capacidade de mobilização dos mecanismos corporais. A resposta
orgânica frente a um estímulo, com suas implicações bioquímicas hormonais,
sempre foi adaptativa e continua sendo. É por meio dela que o homem está
capacitado a empenhar-se efetivamente em enfrentar as mais variadas situações.
Mas, o homem, por meio de sua subjetividade e socialização, vivencia
processos somáticos e psíquicos, resultados de estímulos que experimenta, e agora,
como no passado, os seres humanos não reagem apenas às características
objetivas de determinada situação, mas, tanto ou mais ainda, aos símbolos que a
mesma representa para eles (DUBOS,1974).
3.3.1 O Estresse
As alterações ocorridas no homem, em decorrência de um estímulo, já
chamavam a atenção de Selye (1959) que, ainda em vida acadêmica, como
38
estudante de Medicina, observou que pacientes com diagnósticos diferentes
apresentavam as mesmas manifestações o que, na época, denominou de "síndrome
de estar doente". Posteriormente, o pesquisador desenvolveu novos estudos,
provocando um estímulo agressor (temperatura, choque elétrico, sangramentos) e
controlando a resposta do organismo de animais por meio de dados clínicos e da
observação pós-autópsia. Concluiu que existia um padrão de resposta biológica
semelhante a estímulos diferentes, que obedeciam a um encadeamento mais ou
menos constante, configurando uma síndrome. Essa resposta biológica, Selye
denominou estresse e, ao encadeamento da resposta, denominou Síndrome de
Adaptação Geral (SAG).
O estresse é conceitualmente entendido como um processo complexo e
multidimensional, em que atuam estressores agudos ou crônicos, criando um estado
de excitação emocional, agradável ou desagradável, que, ao perturbarem a
homeostase, disparam um processo de adaptação que produz diversas reações
sistêmicas, com distúrbios fisiológicos e psicológicos (ARANTES; VIEIRA, 2002;
LIPP, 2000; MARGIS, PICON, COSNER; SILVEIRA, 2003).
As reações ao estresse surgem mediante um processo de etapas, nas quais
a sintomatologia e a forma de manejo são diferenciadas de acordo com a fase
observada. Após várias modificações conceituais, a SAG pode ser descrita da
seguinte maneira: fase de reação de alarme, fase de resistência, fase de quase
exaustão, e fase de exaustão.
Estas fases do estresse se distinguem pela duração da ação do estressor,
aparecimento de sintomas orgânicos e/ou emocionais e pelo resultado dos
mecanismos de enfrentamento.
A fase de reação de alarme é considerada a resposta inicial ante o
estressor, onde é desencadeada uma série de reações para a sobrevivência
orgânica, dentre elas aumento da pressão arterial, tensão muscular, diminuição dos
linfócitos T, etc. (ARANTES; VIEIRA, 2002; LIPP, 1996).
Esta fase é caracterizada por várias reações corporais, decorrente da
exposição do organismo a um estímulo ameaçador. Resulta em mudanças
hormonais, desencadeadas pelo sistema nervoso central e pelo sistema nervoso
autônomo simpático, preparando o corpo para luta ou fuga, por meio da liberação
predominantemente, das catecolaminas acetil colina, ácido gama-aminobutírico
(GABA), dopamina e serotonina (SELYE, 1959; GUYTON, 1989).
39
A rapidez com que esta fase é deflagrada deve-se à descarga adrenérgica da
medula da supra-renal e da noradrenalina, em fibras pós-ganglionares, ocorrendo a
taquicardia, aumento da pressão arterial, alterações respiratórias, sudorese,
aumento do fluxo sanguíneo muscular, diminuição do fluxo sangüíneo da pele,
dilatação pupilar e diminuição da saliva (GUYTON, 1989).
Se esta mobilização do organismo for bem-sucedida ou se os estímulos
desaparecerem, as funções e os órgãos voltam ao seu nível basal de
funcionamento. Mas se estes fatores se mantiverem, o indivíduo enfrentará uma
outra fase do SAG denominada fase de resistência.
A fase da resistência acontece quando há a persistência do estressor,
predominando a reação passiva na busca pela adaptação (SELYE, 1959). Alguns
sintomas desta fase são: hipertensão arterial, dificuldade de cicatrização,
rebaixamento do sistema imunológico, entre outros. (SARDÁ, LEGAL e JABLONSKY
JR., 2004).
Esta fase aparece quando a exposição ao estímulo é prolongada. Os sinais
decorrentes das mudanças hormonais desencadeadas na fase anterior diminuem. A
predominância hormonal agora é mediada pelo hipotálamo, sendo que os hormônios
liberados têm o objetivo de aumentar a capacidade adaptativa às demandas. Nessa
fase, existe um esforço em manter a resistência por um período maior. Os
hormônios predominantes nessa fase são os glicocorticóides e os
mineralocorticóides. (SELYE, 1959; GUYTON, 1989).
A quase exaustão caracteriza-se como o início do enfraquecimento do
organismo diante do estresse, começando a surgir doenças, mas ainda não tão
graves quanto à fase de exaustão.
Esta última fase, a exaustão, que se caracteriza pela não mais possibilidade
de resistência ao estressor e o surgimento de patologias orgânicas e psíquicas
graves, que quando permanecem atuando por um fracasso adaptativo, as
conseqüências do estresse podem levar até a morte. São patologias observadas
nesta fase: doenças cardíacas, auto-imunes, gastrintestinais, depressão, entre
outras (LIPP, 2000).
Trata-se da fase que decorre da falha dos sistemas envolvidos na fase
anterior, ou seja, o organismo perde o poder adaptativo; há diminuição ou
esgotamento dos mecanismos que o envolve podendo surgir patologias localizadas
em órgãos específicos, resultante da falência de órgãos ou de seu
40
comprometimento. Esta fase corresponde à Síndrome de Adaptação Local (SAL). A
exemplo da fase de resistência, a fase de exaustão apenas ocorrerá se o estressor
persistir por um tempo maior do que as possibilidades físicas e psíquicas que o
sujeito tem de conviver com ele. (LIPP, 2000).
A SAG, embora descrita em três fases, não ocorre assim de forma tão linear,
isto é, pode haver simultaneidade entre o surgimento das fases. A característica e a
rapidez de sua evolução dependem em grande parte das peculiaridades sociais,
psíquicas e biológicas do sujeito. (LIPP, 2000).
A teoria que Selye denominou "Stress" teve a importância científica de
descrever as repercussões psico-biológicas de um estímulo ameaçador ou
desafiador no sujeito. A definição de inespecífico para esse autor está ligada ao
estímulo, ou seja, para qualquer estímulo, o organismo biológico apresenta o mesmo
encadeamento de resposta que difere apenas de intensidade. (LIPP, 2000).
O diagnóstico do estresse pode ser feito de diversas formas. Alguns autores
indicam a categorização de grandes eventos vitais, pois estes exigem que a pessoa
utilize uma elevada quantidade de energia adaptativa para poder enfrentar a
situação. Outra forma possível é a medição do nível de catecolaminas no sangue,
hormônios presentes na reação neuroendócrina ao estresse. Ainda há os
pesquisadores que sugerem o diagnóstico fisiológico, por meio de técnicas
eletrodérmicas e medidas cardiovasculares (LIPP, 1996).
Lipp (2000) propõe que o estresse seja diagnosticado por intermédio da soma
dos sintomas que a pessoa apresenta no contato com o estressor. A ocorrência do
estresse, nesta perspectiva, é delineada por meio da sintomatologia física e
psíquica, que o paciente manifesta ao experienciar uma situação estressora, seja
por meio do relato verbal ou da observação clínica.
Mais tarde, Lazarus e Folkman (1984) foram além do modelo bioquímico de
Selye, ampliando o conceito de estresse apresentado, incluindo a importância do
aparelho cognitivo como mediador da intensidade das respostas aos estímulos,
decorrentes das diferentes formas de avaliação feitas pelos indivíduos. Constataram
que o ser humano está muito distante de ser apenas um ser biológico, que obedece
a um padrão mínimo de resposta. É um ser complexo, o qual terá que conviver com
fatores que atuarão na sua estrutura biológica. Isso resultará em demandas
psíquicas, as quais serão administradas com graus de competência e resolutividade
de acordo com o substrato psíquico de cada um, sua maneira de interpretar os
41
problemas, fazer a avaliação cognitiva, desencadeando alterações hormonais
específicas.
3.4 Considerações sobre a Internação Hospitalar
Do ponto de vista médico, o adoecimento é visto como alguma função do
organismo que não está desempenhando bem o seu papel. A visão que a medicina
tradicional possui do homem é de um corpo com uma expectativa previsível de
funcionamento. Já do ponto de vista psicológico, o adoecimento é visto como uma
situação inesperada para a qual não se está preparado, pois ninguém escolhe
adoecer (ROTH, 2002). Com relação ao procedimento cirúrgico, também é isso que
acontece. A cirurgia é uma desconhecida na vida do indivíduo, e como tudo que é
desconhecido, pode causar estresse e despertar fantasias.
De acordo com Mello Filho (1997), o estresse provocado pela possibilidade
de uma intervenção cirúrgica pode afetar o paciente se este sentimento não for
expresso e conscientizado.
Para Silva, Garcia e Farias (1990), a hospitalização é um evento que envolve
uma grande capacidade de adaptação do indivíduo às várias mudanças que
ocorrem no cotidiano. As dificuldades de adaptação acontecem no momento em que
o paciente não é atendido adequadamente em suas necessidades básicas,
agravando com isso as sensações de isolamento e angústia preexistentes. Essas
dificuldades são suficientes para produzirem uma crise acidental que, dependendo
da intensidade, pode desorganizar temporariamente a personalidade do paciente.
Cosmo e Carvalho (2000) também comentam sobre esse assunto, afirmando
que o momento da internação é vivido de forma extremamente dramática, não
importando o tipo de cirurgia à qual o paciente será submetido, mas sim o modo
como o paciente vivencia esse momento. Para eles, o estado emocional no pré-
operatório atua diretamente sobre suas reações, tanto durante a cirurgia quanto no
pós-operatório.
A internação hospitalar pode contribuir para o sentimento de ruptura com a
vida diária e com a perda da autonomia do paciente. A hospitalização pode implicar
uma série de sentimentos de desconforto, inclusive propiciando o processo de
despersonalização, muito comum no ambiente hospitalar e em grandes períodos de
internação, pois o paciente passa a ser tratado em função do quadro de sintomas
42
que apresenta, e não mais pela sua singularidade enquanto indivíduo. Com relação
a isso, Ruschel, Daut e Santos (2000) afirmam que quando os aspectos psicológicos
não são considerados na situação de tratamento cirúrgico, poderá haver aumento da
predisposição para complicações emocionais que prejudicam a convalescença,
chegando a intensificar, em algumas situações, a morbidade no período pós-
operatório. Para essas mesmas autoras, a cirurgia é uma experiência de muita
ameaça na vida de qualquer pessoa, pois envolve uma carga emocional
característica. A forma como cada um enfrenta esse tipo de intervenção poderá
facilitar ou não a completa recuperação e readaptação à vida normal.
Para Romano (1998), as principais fontes de estresse no período pré-
operatório são: 1) Separação de casa, da família, de seu ambiente, de suas coisas;
2) O medo com relação à vida em si e; 3) Ser forçado a assumir o papel de doente e
antecipar questões diretamente relacionadas com o físico, tais como o ato cirúrgico,
a dor e a perda do controle sobre si mesmo.
3.5 Considerações sobre o Enfrentamento (Coping)
Identificar como o paciente enfrenta e lida com a situação de estar
aguardando uma intervenção cirúrgica é um aspecto importante para os
profissionais que o assistem. Conhecer sobre a presença de mecanismos de defesa
e como o paciente responde à situação é importante tanto no pré como no pós-
operatório (ROMANO, 1994).
Uma das diversas linhas que procuram compreender como os pacientes no
pré-operatório enfrentam esta fase é a escola cognitiva, na qual se baseia a teoria
do enfrentamento (GUIDO, 2003).
O enfrentamento (tradução aproximada do termo inglês coping) corresponde
a um processo em que o indivíduo administra as demandas internas ou externas
específicas percebidas como estressantes e as emoções que são geradas
(LAZARUS; FOLKMAN, 1984).
Estes mesmos estudiosos definem a avaliação cognitiva como "um processo
de categorização de um encontro, com o foco no propósito ou no significado desse
encontro". (LAZARUS; FOLKMAN, 1984, p.22). O significado de encontro para
esses autores refere-se à aproximação de dois elementos, sendo que um deles é o
sujeito e o outro é de natureza diversa e desencadeador do estímulo.
43
Nesse processo de categorização, são possíveis dois tipos de avaliação: a
primária e a secundária. Esses dois tipos de avaliação feitos pelos indivíduos
produzem respostas, desde as mais primitivas até as mais elaboradas, em função
das diferentes áreas cerebrais que foram estimuladas. (LAZARUS; FOLKMAN,
1984).
A avaliação primária ocorre a partir do primeiro contacto do sujeito com o
objeto, desencadeando uma apreciação que visa identificar o estímulo. Neste caso,
a resposta ou reação classificará o estímulo em relevante ou irrelevante. A partir de
então, se for considerado relevante, o homem mobilizar-se-á para a ação.
(LAZARUS; FOLKMAN, 1984).
O outro tipo de avaliação é a secundária, onde se torna necessária uma ação
para o controle da situação. Envolve uma avaliação sobre o que deve ser feito. É um
processo complexo que considera opções de enfrentamento (coping) disponíveis:
expectativa de que uma dada opção de enfrentamento irá se realizar, expectativa de
se utilizar uma estratégia particular eficaz. (LAZARUS; FOLKMAN, 1984).
O enfrentamento (coping) foi definido por Lazarus e Folkman (1984) como
estratégias desenvolvidas para enfrentar as situações. É um esforço cognitivo e
comportamental realizado para dominar, tolerar ou reduzir as demandas externas e
internas e o conflito entre elas. Os autores partiram do pressuposto de que as
crenças individuais traduzem as idéias e julgamentos sobre a realidade vivenciada e
que as normas fundamentam as condutas servindo de guia na compreensão do
significado da realidade, é possível supor que ambas tenham influência sobre o
enfrentamento e, portanto, estabeleçam estreitas relações com o processo de
avaliação cognitiva.
Entende-se, assim, que o enfrentamento, além de representar os recursos do
indivíduo para superar o problema ou reduzir o estresse, representa também uma
tentativa do indivíduo exercer algum controle sobre o ambiente onde ele se insere,
relacionando-se com ele de forma mais adaptativa.
As estratégias de enfrentamento demonstram as ações, comportamentos
e/ou pensamentos que são usados para lidar com um conjunto de estressores
(ANTONIAZZI; DELL’AGLIO; BANDEIRA, 1998). Entendidas como um processo, as
estratégias de enfrentamento podem ser aprendidas, usadas e descartadas, de
acordo com a possibilidade de serem identificadas e reforçadas num dado momento
da experiência do indivíduo (LAZARUS; FOLKMAN, 1984). O contexto emocional
44
nessa concepção é de grande importância, pois o indivíduo, tendo consciência de
sua realidade, busca estratégias que podem fazer frente aos estressores, permitindo
incluir qualquer coisa que seja feita ou pensada, sem considerar este
comportamento como certo ou errado, e sim, sendo avaliado em referência ao nível
de adaptação e as conseqüências imediatas geradas (GIMENEZ, 1997; GUIDO,
2003).
O enfrentamento possui duas funções básicas: o foco no problema e o foco
na emoção. O primeiro busca modificar a relação da pessoa com o meio externo,
enfatizando o contato com o estressor. A focalização no problema pode ser
correspondente, por exemplo, à reestruturação cognitiva ou à busca por informações
acerca do estressor, caracterizando-se pela objetividade do indivíduo diante do
estresse. O foco na emoção enfatiza a resposta emocional ao estressor, visando
reduzir a sensação desagradável do estresse. Cita-se, como exemplo, a ação de
fumar um cigarro, ingerir bebidas ou evitar o contato com o problema a fim de não
elevar a tensão emocional (ANTONIAZZI, DELL’AGLIO; BANDEIRA, 1998;
LAZARUS; FOLKMAN, 1984).
Quando o estressor se mostra como passível de mudança ou superação,
geralmente o foco no problema é mais utilizado. Por outro lado, quando a situação já
foi avaliada e, mesmo assim, é considerado como tendo poucas possibilidades de
mudança, o foco na emoção é o mais provável de ser mobilizado (LAZARUS, 1999).
Demais autores também sugeriram formas de enfrentamento, destacando o
suporte social e a religiosidade, como meios para lidar com o estresse (GIMENEZ,
1997; SEIDL; ZANNON, 2004). Estes diversos tipos de enfrentamento não são
mutuamente exclusivos, mesclando-se durante o confronto com a situação
estressora. No entanto, geralmente se observa um quadro específico de
pensamentos e comportamentos que caracterizam a prevalência de uma ou outra
forma de responder ao estresse (SAVÓIA, 1999).
O objetivo da mobilização das estratégias de enfrentamento é a de tolerar,
minimizar, aceitar ou ignorar o estressor, sendo um importante mecanismo de
adaptação para a resolução de problemas e manejo do estresse em contextos
particulares. Está na compreensão dos mecanismos de enfrentamento a
possibilidade de conhecer como as pessoas avaliam uma determinada situação para
assim poder manejar o seu estresse, visto que quando o enfrentamento é ineficaz, o
45
estresse é mantido ou incrementado; quando é eficaz, o enfrentamento reduz ou
elimina o estresse (LAZARUS, 1999).
No contexto de uma cirurgia, há a mobilização de um alto volume de energia
psíquica do indivíduo no seu pré-operatório, quando ele estabelece formas de poder
lidar com seus estressores e com o estresse situacional (GODOY, SARMENTO e
ROMANO, 2004). Esta circulação recente de energia gera desgaste emocional que,
em virtude da elevação do estado de ansiedade, pode ocorrer uma queda abrupta
no pós-cirúrgico e essa alteração comprometer a capacidade reativa na adaptação
pós-operatório, que, geralmente, exige algum nível de transformação e participação
ativa no processo de recuperação (SEBASTIANI, 2002).
Segundo Sebastiani e Maia (2005), o procedimento cirúrgico, apesar dos
avanços tecnológicos alcançados, gera diversos tipos de reação emocional, onde o
paciente percebe seu futuro como incerto e variados medos surgem (dor,
incapacitação, morte, entre outros), incrementando a ameaça à integridade física e
psicológica. Para estes autores, quanto maior o estresse e a tensão no pré-cirúrgico,
maiores poderão ser as dificuldades em enfrentar os limites que a cirurgia impôs ao
cotidiano do paciente.
3.6 A Assistência da Equipe de Enfermagem para o Enfrentamento pelo
Paciente no Pré-Operatório
A enfermagem é exercida em uma ampla variedade de ambientes, a exemplo
de instituições prestadoras de serviços de internação hospitalar ou de serviços
ambulatoriais de saúde, escolas, associações comunitárias, fábricas, domicílios,
entre outros. Independentemente do ambiente em que o cuidado de enfermagem é
realizado, os fenômenos de interesse particular para os profissionais da enfermagem
são as respostas dos indivíduos, famílias e coletividades humanas a problemas de
saúde reais ou potenciais. A necessidade de julgar que respostas dessa clientela
demandam o cuidado profissional de enfermagem nos reporta à adoção de uma
metodologia assistencial e, portanto, ao processo de enfermagem.
Compreende-se o processo de enfermagem como um instrumento ou modelo
metodológico de que se lança mão, tanto para favorecer o cuidado, quanto para
organizar as condições necessárias para que o cuidado seja realizado (GARCIA;
NÓBREGA, 2000). Sua aplicação, de modo sistemático, planejado e dinâmico,
46
possibilita identificar, compreender, descrever, explicar e predizer como a clientela
responde aos problemas de saúde ou aos processos vitais, assim como possibilita
determinar que aspectos dessas respostas necessitam do cuidado profissional de
enfermagem, para alcançar resultados pelos quais somos responsáveis.
De acordo com Silva et al. (1995), a assistência de enfermagem prestada ao
paciente submetido a procedimentos cirúrgicos envolve três grandes etapas, que
são: pré-operatória, trans e pós-operatória, já abordadas anteriormente, e cada uma
destas fases exige um conjunto de ações, realizadas com o objetivo de promover
uma assistência de enfermagem sem complicações e com segurança ao paciente
cirúrgico.
Acredita-se que uma forma de prestar assistência individualizada e
humanizada ao paciente possa ser por meio da sistematização da assistência, pois
é o meio pelo qual o enfermeiro consegue avaliar o paciente, as circunstâncias em
que se encontra, planejar e implementar os cuidados a serem prestados, utilizando
como recurso a assistência sistematizada.
Orlando (1978) define o processo de enfermagem como sendo a interação
entre o comportamento do paciente, reação do enfermeiro frente a esta situação e
as ações de enfermagem a serem realizadas.
O processo de enfermagem, para Stanton, Paul e Reeves (1993), constitui o
elemento principal da prática de enfermagem, o qual direciona de maneira ordenada
o trabalho do enfermeiro, sendo considerado como o “instrumento” e a metodologia
utilizada para auxiliar os enfermeiros nas tomadas de decisões e avaliação das
conseqüências.
Por sua vez, Ladden (1997) descreve o processo de enfermagem como
sistemático e planejado com uma série de passos integrados. Visto enquanto
cuidado ao paciente, torna-se um processo científico que estimula a enfermagem a
atuar num nível ótimo. Em sua forma mais simplificada, o processo de enfermagem
consiste em seis etapas: histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem,
identificação dos resultados, planejamento da assistência, prescrição de
enfermagem e avaliação. Ressalta, ainda, que o processo é circular e contínuo,
como pode ser observado na Figura 3, a seguir:
47
Figura 3. Processo de Enfermagem, segundo Laden Fonte: Ladden (1997, p.5).
Ao explicar a Figura 3, Ladden (1997) afirma que o histórico de enfermagem
inclui: a) uma coleção de dados sobre o paciente, os quais podem ser obtidos por
meio de entrevistas pré-operatórias feitas pela enfermagem diretamente com o
paciente; b) revisão do plano de cuidados de enfermagem e do gráfico do paciente;
c) avaliação dos resultados dos exames diagnósticos pré-cirúrgicos; e d) consulta
com o cirurgião e o anestesiologista. Geralmente, inclui os aspectos fisiológicos e
psicossociais do paciente.
Já o diagnóstico de enfermagem, ainda segundo Ladden (1997), trata-se de
um processo de identificação e classificação dos dados coletados no histórico, de
modo que estes sejam colocados em destaque para que os cuidados de
enfermagem possam ser planejados. O outro passo é a identificação dos
resultados, que, de acordo com o autor, oferece a oportunidade de priorizar os
cuidados e direcionar a evolução e a continuidade dos mesmos.
Em relação à prescrição de enfermagem, Ladden (1997) refere que, neste
processo, significa que a enfermagem usa seus conhecimentos e informações sobre
o paciente para preparar o ambiente da sala de cirurgia, checando os equipamentos
e mantendo disponíveis os suprimentos usuais, disponibilizando os instrumentos e
suturas de modo que fiquem à mão para que o procedimento operatório seja
realizado. Já no que diz respeito à implementação, o autor salienta que esta é
desenvolvida quando das intervenções dos cuidados de enfermagem que foram
planejados, e em resposta às alterações previstas na rotina cirúrgica ou nas
emergências, de modo calmo e ordenado. Por fim, a avaliação tem como objetivo a
verificação, observação e a estimativa dos resultados que foram alcançados. Trata-
se de um componente integrante em cada etapa do planejamento e prestação de
HISTÓRICO DE ENFERMAGEM
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM
IDENTIFICAÇÃO DOS
RESULTADOS
PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM
IMPLEMENTAÇÃO
AVALIAÇÃO
PROCESSO DE
ENFERMAGEM
48
cuidados de enfermagem ao paciente. Pode ser realizada pela imediata correção de
deficiências.
Esses elementos – histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem,
identificação dos resultados, planejamento da assistência, prescrição de
enfermagem e avaliação – constituem um modo de fazer e um modo de pensar a
prática da enfermagem que demandam habilidades e capacidades cognitivas
(pensamento, memória, raciocínio), psicomotoras (físicas) e afetivas (emoções,
sentimentos, crenças e valores), além de, segundo Kron e Gray (1994),
conhecimento e perícia no uso das técnicas de resolução de problemas e de
liderança na implantação e execução do plano de intervenção. Essas habilidades,
capacidades, conhecimento e perícia ajudam a determinar o que deve ser feito, por
que deve ser feito, por quem deve ser feito; como deve ser feito e que resultados
são esperados com a execução da ação/intervenção de enfermagem (para que deve
ser feito).
Orlando (1978) enfatiza que o processo de enfermagem é colocado em ação
por um comportamento do paciente que pode indicar uma necessidade de ajuda, e o
enfermeiro reage a esse comportamento, por meio de percepções, pensamentos e
sentimentos. Ele partilha um aspecto de sua reação com o paciente, assegurando
que suas ações verbais e não-verbais são compatíveis com sua reação.
Por outro lado, Leonard e Crane (1993) salientam que o comportamento do
paciente constitui a fase do processo de enfermagem em que se inicia a avaliação,
partindo-se de uma coleta de dados composta apenas por dados relacionados à
necessidade de ajuda imediata ao paciente, e estes são adquiridos de forma verbal
e não-verbal, constituindo um dado só, o que corresponde, no processo de
enfermagem, aos dados objetivos e subjetivos. A reação do enfermeiro, frente ao
comportamento do paciente, está relacionada à fase de análise do processo de
enfermagem, e este se caracteriza pelos diagnósticos de enfermagem, que
correspondem à identificação das necessidades de ajuda.
Para os autores acima citados, a etapa da ação do enfermeiro corresponde
às fases do planejamento do processo de enfermagem, objetivos e decisão com
base na ação adequada do enfermeiro. Orlando (1978) tem como meta avaliar a
necessidade de ajuda do paciente, e o objetivo de beneficiar o comportamento do
paciente, sendo que as decisões são realizadas a partir das necessidades traçadas;
a implementação e a execução da ação planejada do processo de enfermagem são
49
também ações do enfermeiro, levando em consideração que em ambos os
processos o indivíduo deve ser assistido como um ser único.
Segundo Ladeen (1997), o planejamento, determinando as prioridades dos
cuidados, as implementações das intervenções pré-operatórias e avaliação dos
resultados da sistematização da assistência de enfermagem, são fundamentais
para garantir o sucesso do trans-operatório, visto que o paciente pode encontrar-se
mais frágil, muitas vezes deprimido e com baixa auto-estima. Partindo desses
princípios, o enfermeiro possui condições de, juntamente com o paciente, buscar
soluções e traçar medidas para proporcionar conforto físico e psicológico ao
paciente.
Neste contexto, pode-se perceber a importância do enfermeiro estar
sistematizando a assistência, por meio da qual será possível levantar os principais
diagnósticos de enfermagem do paciente e a partir destes traçar os cuidados de
enfermagem a serem realizados no período trans-operatório, considerando que, por
meio da identificação dos diagnósticos de enfermagem, pode-se planejar, prescrever
e implementar ações para proporcionar ao paciente assistência humanizada.
No entendimento de Pitrez (1987), as alterações determinadas pelo ato
operatório são bem toleradas pelo paciente quando o mesmo se encontra
devidamente preparado para enfrentá-las, por meio de respostas orgânicas,
funcionais e psicológicas adequadas. Para o autor, o objetivo do preparo pré-
operatório é justamente o de tornar as condições de homeostase fisiológica
suficientes para suportar o trauma operatório. Por isso, elaborou uma relação de
medidas que devem ser tomadas habitualmente no pré-operatório pela enfermagem.
Corroborando com a relação acima, McCloskey e Bulechek (2004) também
apontam algumas ações na assistência da enfermagem no período pré-operatório,
pois, segundo estes autores, o foco do cuidado de enfermagem neste período é
preparar o paciente física e mentalmente para a intervenção cirúrgica. Para os
autores, os procedimentos no pré-operatório cirúrgico podem facilitar que as
intervenções de enfermagem estejam associadas a menor permanência no hospital,
menor tempo para indução anestésica, menos complicações pós-operatórias e
diminuição do estresse.
As ações relacionadas por McCloskey e Bulechek (2004) constam no Quadro
1, a seguir.
50
Quadro 1. Ações na Assistência de Enfermagem no Período Pré-Operatório segundo McCloskey e Bulechek
• Proporcionar ambiente adequado para que o paciente expresse as suas preocupações e ansiedades. • Compreender como o paciente lida com o estresse que a cirurgia possa causar, e identificar membros
significantes da família ou outros que poderiam fornecer suporte emocional. • O levantamento de dados deve iniciar-se no primeiro encontro com o paciente, onde a enfermagem deve
informar o paciente sobre a data marcada, o horário e o local da cirurgia, bem como sobre o tempo de duração esperado para a cirurgia.
• Avaliar a ansiedade do paciente em relação à cirurgia. • Descrever as rotinas do pré-operatório e pós-operatório (anestesia, dieta, preparo intestinal, transporte à
sala cirúrgica), quando adequado. • Descrever os medicamentos do pré-operatório, seus efeitos no paciente e os fundamentos para o seu uso. • Oferecer informações sobre o que será escutado, inalado, visto ou sentido durante o evento. • Orientar a respeito da técnica de sair da cama, assim como sobre a importância de exercitar as pernas,
acentuar a importância da deambulação precoce. • Orientar sobre a importância e necessidade de permanecer em jejum. • Retirar próteses dentárias, esmaltes nas unhas, e guardar objetos pessoais de valor em segurança. • Preparar a pele da região a ser operada imediatamente antes do transporte para o centro cirúrgico ou, se
possível, na sala de cirurgia. A tricotomia da região deverá ser realizada após fricção com sabão, no mínimo por seis minutos, o que reduz pela metade o número de bactérias e dois terços após 10 minutos em curva logarítmica em intervalo inferior a duas horas da cirurgia.
• Orientar o paciente a esvaziar a bexiga por micção espontânea antes de ir ao centro cirúrgico. • Auxiliar na transferência do paciente da maca para a mesa cirúrgica.
Fonte: McCloskey e Bulechek (2004)
A assistência de enfermagem deve ter como base o período pré-operatório,
visto que a fase crítica do paciente concentra-se neste momento. Com isto, a
atuação da equipe de enfermagem nesta situação objetiva amenizar este quadro,
aumentando a confiança, segurança, auto-estima e aceitação do paciente (URSI;
MACUL apud SILVA et al. 1995).
E a comunicação tem um papel preponderante neste período, pois é o
instrumento básico da assistência de enfermagem ou o processo que torna possível
o relacionamento enfermeiro-paciente. É o denominador comum de todas as ações
de enfermagem e influi decisivamente na qualidade da assistência prestada àquele
que necessita dos cuidados profissionais do enfermeiro. Eis a razão pela qual, a
seguir, discorrer-se-á sobre o assunto.
3.6.1 A importância da comunicação de enfermagem
Como já foi dito anteriormente, o paciente também deve ser preparado
emocionalmente para a cirurgia. E a necessidade de apoio emocional dispensado a
ele é percebida pela Equipe de Enfermagem por meio da comunicação. A
comunicação é uma habilidade humana que torna possível a manifestação e
exteriorização do que se passa na vida interior. Graças a essa habilidade de
perceber e de comunicar, o homem enriquece o seu referencial de conhecimentos,
51
transmite sentimentos e pensamentos, esclarece, interage e conhece o que os
demais pensam, necessitam e sentem. Desse modo, a Equipe de Enfermagem pode
e deve usar a comunicação para conseguir estabelecer relacionamento efetivo com
o paciente, a fim de oferecer-lhe apoio, conforto e informação, bem como despertar
seu sentimento de confiança e de auto-estima.
De acordo com Penteado (1986), a palavra “comunicar” vem do latim
“comunicare”, com a significação de “pôr em comum”.
Na concepção de Silva (2002, p.23), “comunicar é o processo de transmitir e
receber mensagens por meio de signos, sejam eles símbolos ou sinais”. A autora
explica que os signos são estímulos que transmitem uma mensagem, ou seja,
qualquer coisa que faça referência a outra coisa ou idéia. Já os símbolos são signos
que têm uma única decodificação possível. Por sua vez, os sinais são signos que
têm mais de um significado.
Desse modo, comunicação é o instrumento básico da assistência de
enfermagem ou o processo que torna possível o relacionamento enfermeiro-
paciente. É o denominador comum de todas as ações de enfermagem e influi
decisivamente na qualidade da assistência prestada àquele que necessita dos
cuidados profissionais do enfermeiro (STEFANELLI, 1993).
Neste sentido, Maria Júlia Paes da Silva observa que:
A tarefa do profissional de saúde é decodificar, decifrar e perceber o significado da mensagem que o paciente envia, para só então estabelecer um plano de cuidados adequado e coerente com as suas necessidades. [...] Somente pela comunicação efetiva é que o profissional poderá ajudar o paciente a conceituar seus problemas, enfrentá-los, visualizar sua participação na experiência e alternativas de solução dos mesmos, além de auxiliá-lo a encontrar novos padrões de comportamento. (SILVA, 2002, p.14).
O processo de comunicação envolve vários elementos essenciais: o emissor,
a mensagem, o receptor, o canal e as respostas, que podem ser observadas
esquematicamente na Figura 4, a seguir. Assim, os elementos básicos do processo
de comunicação, segundo Silva (2002), são:
52
Figura 4. Elementos do processo de comunicação, segundo Silva Fonte: Silva (2002, p.24).
Com base na Figura 4, os elementos do processo de comunicação, na visão
de Silva (2002), são assim explicitados:
• Contexto ou Situação: contexto no qual está ocorrendo a interação. É o primeiro
passo para sua interpretação.
• Emissor: o emissor ou a fonte da mensagem é uma pessoa que inicia a
comunicação com o propósito de informar ou transmitir informações a uma ou mais
pessoas.
• Mensagem: são as informações ou idéias que uma pessoa quer transmitir às
demais. As mensagens podem ser transmitidas por meio de expressões, gestos, de
forma oral ou escrita. Assim, cabe ao receptor compreender, da melhor forma, as
informações que estão sendo transmitidas, para que não haja distorção.
• Receptor: é a pessoa ou grupo de pessoas escolhidas pelo emissor para receber
a mensagem a ser transmitida, com o objetivo de obter uma nova resposta.
• Canal: é o meio de transmissão de uma pessoa a outra. É o que conduz uma
mensagem, podendo ser auditivo, audiovisual ou visual. É por meio do canal que se
pode obter a eficiência na comunicação.
CONTEXTO OU SITUAÇÃO
Quem
(emissor/receptor)
Tem algo a transmitir
(mensagem)
Para quem
(receptor/emissor)
De alguma maneira
(canal)
Gerando um efeito
(respostas)
53
• Respostas: trata-se da reação do destinatário à mensagem. Ocorre quando o
receptor expressa, de alguma maneira, a sua reação à mensagem transmitida por
um emissor. Quanto maior o feedback, mais eficaz será o processo de comunicação.
É pela comunicação estabelecida com o paciente que se pode compreendê-lo
em seu todo, em sua visão do mundo, isto é, seu modo de pensar, sentir e agir. Só
assim se poderá identificar os problemas por ele sentidos com base no significado
que ele atribui aos fatos que lhe ocorrem, e tentar ajudá-lo a manter ou recuperar
sua saúde. É por meio da comunicação com o paciente que o enfermeiro pode
realmente efetuar mudanças no comportamento deste. O atendimento de quase
todas as outras necessidades humanas básicas do paciente depende, em várias
circunstâncias, do processo de comunicação que ocorre entre ele e o enfermeiro
(STEFANELLI, 1993).
O enfermeiro pode usar a comunicação para conseguir estabelecer
relacionamento efetivo com o paciente, a fim de oferecer-lhe apoio, conforto e
informação, e despertar seu sentimento de confiança e auto-estima, bem como lhe
ensinar modos mais adequados de comunicação (STEFANELLI, 1993). A escrita, a
fala, as expressões faciais, a audição e o tato são formas de comunicação
amplamente utilizadas, conscientemente ou não.
Entre todos os profissionais da área de saúde, o enfermeiro, por interagir
diretamente com o paciente, precisa estar mais atento ao uso adequado das
técnicas da comunicação interpessoal. A comunicação representa uma troca de
informação e compreensão entre as pessoas, com objetivo de transmitir fatos,
pensamentos e valores. É um processo humano de emissão e recepção de
mensagens, no qual existem dois meios de transmissão: o verbal e o não-verbal. O
verbal contempla a linguagem falada e escrita, enquanto os gestos, as expressões
corporais e o toque fazem parte da forma não-verbal. (SILVA, 2002).
No entendimento de Silva (2002), a comunicação verbal consiste no uso de
palavras expressas por meio da fala ou da escrita. E a comunicação não-verbal
ocorre por meio de gestos, silêncio, expressões faciais, postura corporal, entre
outras formas.
A comunicação verbal é a base da comunicação cotidiana, por meio da qual
se exercita a capacidade de atribuir o significado das coisas que não são ditas
explicitamente, enriquecendo a compreensão da realidade. O conhecimento dos
mecanismos de comunicação pelos profissionais de saúde, em especial os
54
enfermeiros, facilita o desempenho de suas funções, bem como melhora o
relacionamento entre os sujeitos envolvidos na assistência à saúde (DOBRO et al.,
1998).
O estudo da comunicação não-verbal pode resgatar a capacidade do
profissional de saúde de perceber com maior precisão os sentimentos do paciente,
suas dúvidas e dificuldades de verbalização. Ajuda, ainda, a potencializar sua
própria comunicação, enquanto elemento de transmissão de mensagens. Silva
(2002, p.45) conceitua e define a comunicação não-verbal como:
[...] aquela que ocorre na interação pessoa-pessoa, exceto as palavras por elas mesmas. Também pode ser definida como toda informação obtida por meio de gestos, posturas, expressões faciais, orientações do corpo, singularidades somáticas, naturais ou artificiais, organização dos objetos no espaço e até pela relação de distância mantida entre os indivíduos.
A comunicação precisa ser considerada dentro do seu contexto de
ocorrência, ou seja: onde, como e quando ela ocorre. Caso contrário, seu sentido
pode ser prejudicado, razão pela qual, na assistência à saúde, ela precisa ser
planejada para cada interação e adequada a cada paciente. Nesse sentido, ela é
parte das atividades do enfermeiro, porque é empregada em situações como: na
entrevista, no exame físico, no planejamento da assistência, nas anotações dos
prontuários e nas orientações aos indivíduos, famílias e comunidades. Disso decorre
a importância de o enfermeiro ter consciência da forma como se dá o processo de
comunicação e dos elementos que o compõe.
A comunicação enfermeiro-paciente é denominada comunicação terapêutica,
porque tem a finalidade de identificar e atender às necessidades de saúde do
paciente e contribuir para melhorar a prática de enfermagem, ao criar oportunidades
de aprendizagem e despertar nos pacientes sentimentos de confiança, permitindo
que eles se sintam satisfeitos e seguros (STEFANELLI, 1993; ATKINSON;
MURRAY, 1989).
Um dos objetivos da assistência de enfermagem é levar o paciente a
participar dos esquemas terapêuticos. Esta participação depende dos processos de
comunicação, a partir dos quais se estabelecem as relações de confiança
necessárias para o paciente diminuir o medo, a ansiedade e permitir, à pessoa
fragilizada pela doença, lutar por seu restabelecimento com dignidade. Nesse
sentido, os enfermeiros, além da experiência no uso de tecnologias e do suporte
psicossocial, devem estar atentos ao processo de comunicação para que o paciente
55
possa suportar os efeitos da hospitalização, manter a percepção de si próprio e da
sua realidade (HUDAK; GALLO, 1997).
Ao final deste capítulo, após as considerações acerca das questões que
envolvem os modos pelos quais a Equipe de Enfermagem pode contribuir para o
enfrentamento do paciente no pré-operatório, acredita-se que foi exposto o conteúdo
teórico necessário para iniciar o próximo capítulo, que tratará da metodologia
adotada para a elaboração deste trabalho.
56
4 METODOLOGIA
Como aborda Severino (1996), a metodologia é a fase em que se deve
explicar o tipo de pesquisa a ser desenvolvida. Metodologia, em grego “caminho”,
nada mais é do que o conjunto de procedimentos pelos quais se torna possível
conhecer determinada realidade. A metodologia leva a identificar a forma pela qual
se alcançam metas e objetivos.
Apresenta-se a seguir o tipo de pesquisa que se pretende adotar neste
estudo, tendo em conta o método, a abordagem e os fins de pesquisa, bem como os
instrumentos de coleta de dados a serem utilizados e os instrumentos de análise e
interpretação dos resultados.
4.1 Métodos
4.1.1 Pesquisa Convergente Assistencial - PCA
O método adotado no trabalho foi a Pesquisa Convergente Assistencial –
PCA, de Mercedes Trentini e Lygia Paim (2004), por permitir que o pesquisador se
coloque em compromisso com a construção do conhecimento novo para a
renovação das práticas assistenciais no campo estudado.
Na PCA, o tema deve emergir da prática profissional cotidiana do pesquisador
e, portanto, está associado à situação do problema da prática. Segundo as autoras,
a PCA é:
[...] aquela que mantém, durante todo o seu processo, uma estreita relação com a prática assistencial, com a intencionalidade de encontrar alternativas para solucionar ou minimizar problemas, realizar mudança e introduzir inovações na prática; portanto, este tipo de pesquisa está comprometido com a melhoria direta do contexto social pesquisado. (TRENTINI; PAIM, 2004, p.28).
Além disso, a PCA se caracteriza como trabalho de investigação, uma vez
que se propõe a refletir a prática assistencial a partir de fenômenos vivenciados no
seu contexto, o que pode incluir construções conceituais inovadoras. (TRENTINI;
PAIM, 2004).
57
Neste tipo de pesquisa, o profissional enfatiza o “pensar” e o “fazer”, ou seja,
ele esquematiza o que faz, pensando. Desse modo, a pesquisa valoriza o “saber
pensar” e o “saber fazer”. Neste sentido, conforme as palavras das autoras:
[...] a pesquisa e a prática assistencial estão alicerçadas na informação, só que, na pesquisa, esta atividade é rigorosamente sistematizada, pois tem a finalidade de produzir novo conhecimento. Se os profissionais da prática centralizam as atividades no fazer assistencial, os pesquisadores focalizam-nas no pensar o fazer, pois a pesquisa visa a buscar algo novo; portanto, a pesquisa não está direcionada por critérios de procedimentos técnicos padronizados; ela tem flexibilidade para criar a sua adequação ao objeto pesquisado. A pesquisa, portanto, se propõe a construir e reconstruir conhecimentos para orientar a prática. (TRENTINI; PAIM, 2004, p. 32).
Em suma, embora a prática assistencial e a PCA possuam características
próprias, são consideradas convergentes, uma dependendo da outra, já que,
segundo Trentini e Paim (2004, p. 34), “a prática assistencial pode estar baseada
nos resultados da pesquisa que, por sua vez, recebe introvisões insights e feedback
da prática”. Todavia, nada impede que o enfermeiro pesquise um fenômeno e
pratique assistência de enfermagem ao mesmo tempo.
4.1.2 Método de abordagem
Neste estudo, o método de abordagem utilizado foi o qualitativo. Este método
constitui-se em importante contribuição quando se deseja estudar os fenômenos que
envolvem os seres humanos e suas relações sociais. Segundo Minayo (2000, p.21),
a pesquisa qualitativa:
[...] se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.
Lazarsfelf (apud HAGUETTE, 1992, p.64) relaciona três situações onde os
indicadores qualitativos se fazem necessários:
a) situações nas quais a evidência qualitativa substitui a simples informação estatística relacionada à épocas passadas; b) situações nas quais a evidência qualitativa é usada para captar dados psicológicos que são reprimidos ou não facilmente articulados, como atitudes, motivos, pressupostos, quadros de referência, etc.; c) situações nas quais simples observações qualitativas são usadas como indicadores do funcionamento complexo de estruturas e organizações complexas que são difíceis de submeter à observação direta. (Grifo nosso).
58
Observa-se que a investigação, que tem em vista a análise qualitativa,
geralmente está inserida em situações complexas e variáveis. Considerando-se as
variáveis analisadas, particularmente o enfrentamento do paciente no pré-operatório,
encontrar-se-á no método qualitativo de pesquisa a fundamentação necessária para
se buscar conhecer e compreender significados que, na maioria das vezes, não têm
oportunidade de serem expressos nos métodos quantitativos.
A abordagem qualitativa foi escolhida como referencial, por oferecer maior
oportunidade de se pesquisar minuciosamente o enfrentamento do paciente no pré-
operatório. Ao permitir uma maior aproximação entre o pesquisador e o entrevistado,
as informações obtidas são mais detalhadas, o que, conseqüentemente, ocasiona
maior validez da pesquisa.
4.1.3 Método de procedimento
Como visto anteriormente, este estudo caracterizou-se como Pesquisa
Convergente Assistencial – PCA. Conforme Triviños (1987), este método de
procedimento não é uma classe de pesquisa típica do modelo positivista, tão
inclinado à quantificação das informações. Por essa razão, apóia-se sua utilização
com a abordagem qualitativa. Seu emprego é compatível com o tema proposto, na
medida em que possibilita a análise intensiva do enfrentamento do paciente no pré-
operatório.
Este método foi empregado num estudo exploratório-descritivo, visto que se
pretendeu obter informações e conhecer este fenômeno por meio da exploração,
para, assim, descrever a realidade sobre o enfrentamento do paciente no pré-
operatório de cirurgias diversas, analisando-se os casos de pacientes nesta fase.
Godoy (1995) esclarece que, quando se adotar um enfoque exploratório-descritivo,
deve-se estar aberto às descobertas. “Mesmo que inicie o trabalho a partir de algum
esquema teórico, deverá se manter alerta aos novos elementos ou dimensões que
poderão surgir no decorrer do trabalho” (GODOY, 1995, p.25).
59
4.2 Escolha do Espaço Físico da Pesquisa
Trentini e Paim (2004, p. 73) definem o espaço físico como “aquele onde
ocorrem as relações sociais inerentes ao propósito da pesquisa. [...] é aquele onde
foi identificado o problema a ser solucionado ou as mudanças a serem feitas”.
Desse modo, o espaço físico considerado, para fins desta pesquisa, foi uma
Clínica de Florianópolis. A Carta de Intenção para a Realização da Pesquisa
encontra-se disposta no Apêndice 1.
4.3 Delimitação do Universo Populacional
De acordo com Trentini e Paim (2004), na PCA, “os participantes não
assumem apenas a condição de informantes, mas constituem parte integrante do
estudo; sua participação ativa pode ter várias maneiras, por exemplo: apresentando
sugestões e críticas, validando e divulgando os resultados de outras formas”.
Integraram este estudo os pacientes em pré-operatório, de diversos tipos de
cirurgia, internados na Clínica onde se realizou o estágio, no período em que
ocorreu a pesquisa. Foram aceitos aqueles que concordaram em participar da
mesma e assinaram o consentimento livre e esclarecido e que tiveram condições de
comunicar-se com as entrevistadoras.
O convite à participação foi realizado por meio de telefonemas e/ou
pessoalmente no dia que antecedeu a cirurgia, com intuito de evitar a abordagem do
doente muito próximo ao ato cirúrgico.
As pesquisadoras tiveram acesso à agenda cirúrgica, para junto a ela
saberem com antecedência quem seriam os possíveis pacientes a serem
submetidos à pesquisa.
4.4 Técnicas de Coleta de Dados
Com relação aos instrumentos para estudar os processos e produtos
utilizados na PCA, Trentini e Paim (2004) apontam: a) a entrevista individual, na
qual o entrevistador interage face a face com o entrevistado; b) a entrevista
coletiva face a face do entrevistador, com um grupo de pessoas; c) entrevista feita
por meio de questionários fechados ou abertos, que consiste em roteiro escrito,
no qual cada questão será seguida da descrição de respostas estabelecidas pelo
60
pesquisador e onde o entrevistado indicará verbalmente ou por sinais gráficos as
respostas que melhor traduzam a sua realidade; d) entrevistas feitas por telefone,
cuja finalidade é utilizada para pesquisas de opinião.
Fontana e Frei (1994 apud TRENTINI e PAIM, 2004, p. 76) definem entrevista
como “uma conversação caracterizada pela arte de fazer perguntas e ouvir o outro”.
Contudo, para Trentini e Paim (2004), embora a entrevista tenha por objetivo a
obtenção de informações, constitui condição social de interação humana, sem a qual
não há ambiente favorável para produzir informações fidedignas.
Quanto à estrutura, a entrevista pode ser classificada em: entrevista semi-
estruturada (geralmente utilizada em pesquisa quantitativa e recomendada como
complemento a outros tipos de métodos), entrevista aberta (nesta estrutura, o
pesquisador procura interagir com o entrevistado sem intencionalidade
preestabelecida, ou seja, o pesquisador apenas estimula a conversação e, a partir
da fala do entrevistado, o pesquisador formula outras perguntas) e entrevista semi-
estruturada (parte de tópicos relacionados ao tema de pesquisa; na medida em que
a interação entre o entrevistador e o entrevistado progride, a conversa vai se
aprofundando e focalizando o assunto de acordo com o tema de pesquisa).
(TRENTINI; PAIM, 2004).
Assim sendo, optou-se, no caso deste trabalho, pela entrevista semi-
estruturada, feita por meio de questionários com perguntas fechadas e abertas
(Apêndice 2), por se acreditar que esta modalidade se encaixou melhor aos
propósitos deste estudo.
Como sugere a PCA, o pesquisador deverá contatar os participantes antes de
iniciar a coleta de informações, para apresentar o propósito do estudo e os métodos,
as vantagens e desvantagens de sua participação, garantindo, também, o respeito
aos desejos dos participantes em relação ao anonimato e ao direito de desistir de
participar da mesma durante o processo, se assim desejarem. (TRENTINI; PAIM,
2004).
Neste sentido, as pesquisadoras contataram os pacientes no dia do seu pré-
operatório. Os questionários foram respondidos pelo paciente com a presença das
pesquisadoras, com o objetivo de sanar eventuais dúvidas. Portanto, a devolução
dos questionários para a validação da entrevista foi feita no momento da mesma.
Utilizou-se, ainda, como instrumento de coleta de dados, a observação
participante, pelo fato de que uma das autoras deste trabalho é funcionária da
61
Clínica onde foi realizada a pesquisa, atuando junto à Equipe de Enfermagem, o que
facilitou o seu contato com os pacientes no pré-operatório. Todavia, cumpre
esclarecer que ambas as autoras deste trabalho atuaram em conjunto fora do
horário de expediente, ou seja, a aplicação da entrevista e o acompanhamento que
se fez necessário posteriormente foram feitos em horários preestabelecidos por
ambas, a fim de que as duas pudessem contribuir igualitariamente para o
desenvolvimento da pesquisa.
De acordo com Minayo et al. (1994 apud TRENTINI e PAIM, 2004, p. 80), a
observação participante “constitui a parte fundamental da pesquisa de campo, pela
propriedade que possui de captar uma variedade de fenômenos de uma situação
social, os quais não podem ser obtidos unicamente por meio de entrevistas”.
Para Trentini e Paim (2004), o observador participante participa de uma
situação social de maneira consciente e com propósito determinado, o que facilita a
sua percepção, com detalhes, da ocorrência e da maneira como ocorrem os
fenômenos. Além disso, foi feita uma Pesquisa Bibliográfica, a qual, segundo
Trentini e Paim (2004, p.59), serve:
[...] para apoiar pontos de decisão no estudo, para investigar outras dúvidas, para alternativas de posição de diversos autores sobre uma questão, para atualizar conhecimentos sobre a questão em estudo, para reorientar o enunciado de um problema, para encontrar novas metodologias que enriqueçam a aplicação no projeto, para reconhecer a unidade e a diversidade interpretativa já existente no eixo temático em que se insere o problema em estudo, para ampliar, ramificar e refinar a análise interpretativa, para compor as abstrações e sínteses indispensáveis às teorizações que qualquer pesquisa requer.
O levantamento bibliográfico teve por finalidade conhecer as diferentes
formas de contribuição científica que se realizaram sobre o assunto que esta
pesquisa aborda, por meio de livros, artigos, dissertações e sites da Internet.
4.5 Análise e Interpretação dos Dados
Pelo fato de haver interação entre a Pesquisa Convergente Assistencial e a
prática de enfermagem, durante todo o processo de pesquisa, a análise das
informações ocorreu simultaneamente à coleta, o que facilitou a imersão gradativa
das pesquisadoras nos relatos das informações.
Triviños (1987, p.137) corrobora com o acima exposto, ressaltando que:
[...] o processo de pesquisa qualitativa não admite visões isoladas, parceladas, estanques. Ela se desenvolve em interação dinâmica
62
retroalimentando-se, reformulando-se constantemente, de maneira que, por exemplo, a coleta de dados num instante deixa de ser tal e é análise de dados, e esta, em seguida, é veículo para nova busca de informações.
Neste sentido, Boyd (1993 apud TRENTINI e PAIM, 2004, p.92), salienta que:
A simultaneidade da coleta e análise das informações numa pesquisa prática protege o cliente e enfermeira de uma posição desconfortável, como acontece numa pesquisa do tipo tradicional, na qual o pesquisador identifica necessidades e não pode agir, pois tem as mãos atadas pelos critérios da pesquisa.
Por estas razões, a análise e interpretação dos dados não aconteceram numa
etapa distinta, após a coleta. Durante todo o processo de investigação, realizou-se a
análise das informações coletadas. Na fase da análise, foi necessário desenvolver o
processo de apreensão, ou seja, momento em que requer uma organização do
relato das informações, quer provindas das entrevistas, da observação participante
ou das ações implementadas na prática de enfermagem.
Segundo Trentini e Paim (2004, p.94), “as informações assim organizadas
facilitarão a codificação, que significa reconhecer, no relato das informações,
palavras, frases, parágrafos ou temas-chave, que persistem nos relatos dos
participantes”.
4.6 Aspectos Éticos
Como visto no capítulo anterior, foi criado o Parecer 196/96 da Comissão
Nacional de Ética em Pesquisas (Anexo 1), que esclarece a determinação dos
objetivos dos Comitês de Ética em Pesquisas, qual seja, proteger o ser humano na
sua dignidade e integridade, contribuindo, assim, para o desenvolvimento científico.
Sob a ótica do indivíduo e das coletividades, a Resolução 196/96 incorpora os
quatro referenciais básicos da bioética: a autonomia, a não maleficência,
beneficência e a justiça, dentre outros, visando assegurar os direitos e deveres que
se referem à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.
(HOMÓLOGO DA RESOLUÇÃO CNS n. 196, de 1996).
Assim sendo, para o desenvolvimento deste trabalho, foram assegurados aos
sujeitos da pesquisa: o anonimato e o sigilo de suas informações em todas as
etapas do estudo, bem como o direito de desistirem de participar da pesquisa
quando e se assim o desejassem. Por isso, para assegurar a participação
consciente dos sujeitos da pesquisa, foi necessário o esclarecimento dos aspectos
63
éticos entre pesquisador e pesquisado. E, para garantir o respeito ao anonimato do
paciente, foi sugerido a ele que escolhesse um codinome, uma vez que experiências
pessoais poderiam ser relatadas.
Por estas razões, foi elaborado um Termo de Compromisso entre o paciente e
as pesquisadoras (Apêndice 3), para evitar qualquer constrangimento a ambos. No
Termo de Compromisso foi explicitada a Ética Profissional de Enfermagem, a qual
as autoras deste trabalho respeitaram. Por meio da fiscalização do exercício
profissional de Enfermagem, será possível detectar infrações éticas cometidas pelas
pesquisadoras. Essas infrações compreendem qualquer deslize ético, ou seja,
qualquer falha cometida pelas pesquisadoras que infrinja o Código de Ética da
profissão. Além disso, o Termo de Compromisso apresentou os benefícios que tal
pesquisa poderá trazer ao paciente para o enfrentamento do período pré-operatório.
Foi firmado, ainda, entre as partes (paciente e pesquisadoras), o Termo de
Consentimento Livre, após Esclarecimento (Apêndice 4).
Cumpre esclarecer, inclusive, que foi assinado o Termo de Compromisso de
Orientação com a Professora orientadora e as acadêmicas (Apêndice 5).
É importante mencionar que, antes do desenvolvimento deste trabalho, tinha
sido feito o seu Projeto, o qual foi submetido ao Comitê de Ética de Enfermagem
desta Universidade, obtendo-se a sua aprovação.
4.7 Conceitos Operacionais
No decorrer do trabalho, foram adotados conceitos que se tornaram
estratégicos para a compreensão deste estudo, razão pela qual, a seguir, os
mesmos são apresentados:
• Enfermagem: processo interpessoal, por meio do qual enfermeira e paciente
podem obter crescimento e desenvolvimento pessoal. A enfermagem é vista
primariamente como um processo, considerado com base em suas fases e nos
diferentes papéis que a enfermeira pode assumir. Trata-se de uma relação humana
entre uma pessoa que está enferma ou necessitada de serviços de saúde e uma
enfermeira com uma formação especializada para reconhecer e responder à
necessidade de ajuda. (PEPLAU, 1990).
64
• Paciente: “Ser biopsicossocial e mais, como portador de uma trajetória de vida
única e indissociável da história natural de sua saúde ou doença”. (MAGALHÃES
FILHO, 2007).
• Enfrentamento: O enfrentamento (tradução aproximada do termo inglês coping)
corresponde a um processo em que o indivíduo administra as demandas internas ou
externas específicas percebidas como estressantes e as emoções que são geradas.
São estratégias desenvolvidas para enfrentar as situações. É um esforço cognitivo e
comportamental realizado para dominar, tolerar ou reduzir as demandas externas e
internas e o conflito entre elas. (LAZARUS; FOLKMAN, 1984).
• Pré-Operatório: Uma intervenção cirúrgica é composta por três tempos: pré
(inicia-se com a indicação da cirurgia e termina no instante de executá-la. Esse
período é variável, pois depende do tipo de cirurgia, do procedimento desejado e
das condições gerais do paciente); trans (compreende o tempo entre a indução
anestésica e o término da intervenção cirúrgica. O trans-operatório compõe-se de
vários tempos sucessivos e proporcionais de acordo com o tipo e tamanho da
cirurgia); e pós-operatório (é o período de tempo compreendido entre o término da
cirurgia e a plena recuperação clínica do paciente relativa às alterações
determinadas pelo ato cirúrgico em si, independente da evolução do estado mórbido
inicial). (PITREZ, 1987).
65
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente capítulo trata do objeto deste trabalho, qual seja, o
“Enfrentamento Vivenciado pelo Paciente no Pré-Operatório: a contribuição das
orientações realizadas pela Equipe de Enfermagem”. Neste capítulo, então, a
pesquisa começa a delinear-se. Procurou-se não esquecer a necessidade de buscar
os elementos teóricos necessários, para, a partir do todo, concluir pela legitimidade
dos temas encontrados na Fundamentação Teórica, visando a responder à questão
de pesquisa: “De que modo a Equipe de Enfermagem pode contribuir para o
enfrentamento do paciente no pré-operatório?” Assim, procede-se à análise dos
dados coletados, tendo como alicerce a Teoria das Relações Interpessoais, de
Hidelgard Peplau, bem como dos vários autores selecionados para este estudo.
Na primeira seção, é apresentada a Clínica aonde a pesquisa foi realizada,
realçando os aspectos históricos e o corpo clínico.
Na segunda seção deste capítulo, são mostradas as várias etapas da
realização da pesquisa, desde o seu planejamento até a aplicação do questionário
com os pacientes do pré-operatório, bem como a etapa das orientações de
enfermagem, finalizando-se com a etapa da análise dos resultados.
Em seguida, é apresentado o resultado obtido com a aplicação do
questionário aos pacientes no período pré-operatório, fazendo a sua relação com o
marco conceitual e com a fundamentação teórica deste trabalho.
Por fim, são apresentadas as orientações transmitidas aos pacientes do pré-
operatório, realizadas pelas pesquisadoras.
5.1 Caracterização da Clínica
5.1.1 Aspectos históricos
A Clínica1, foco deste estudo, é um complexo médico hospitalar que oferece
consultas médicas em diversas especialidades, diagnóstico por imagem, centro
cirúrgico, internações pré e pós-cirúrgicas e plantão 24 horas. Fundado em 1992, o
1 CLINICA. Disponível em: <www.ultralitho.com.br/_ultralitho_corpoclinico.html>. Acesso em: 22 nov. 2007.
66
Centro Médico trabalha com o conceito de Day Hospital, atuando em procedimentos
cirúrgicos que demandam internações curtas, minimizando riscos de infecção
hospitalar e possibilitando uma recuperação rápida do paciente devido à sua
liberação para convalescença em ambiente familiar. Este sistema implica em
atendimento personalizado, menos transtorno para o paciente e expressiva redução
de custos.
Reconhecido por seu pioneirismo e excelência na área de urologia, foi o
primeiro Centro Médico a trazer para Santa Catarina a litotripsia extracorpórea para
tratamento do cálculo renal sem cirurgia. A busca do aperfeiçoamento de técnicas
científicas levou seu corpo clínico a realizar a biópsia de próstata dirigida por ultra-
sonografia, um avanço no diagnóstico precoce do câncer e seu tratamento.
A atitude pioneira desta instituição se comprova mais uma vez pela instalação
do primeiro Centro Integrado de vídeocirurgia do Estado, munido de equipamentos
com tecnologia de ponta, alguns deles disponíveis apenas nos mais avançados
centros médicos do Brasil.
A Clínica está instalada numa área construída de 2000 metros quadrados.
Suas dependências abrigam 10 consultórios médicos, unidade de litotripsia, centro
cirúrgico para intervenções convencionais e vídeocirurgias, 10 apartamentos para
internações pré e pós-cirúrgica e centro de diagnóstico por imagem, incluindo
radiologia simples e contrastada, ultra-sonografia e eletrocardiograma. Tudo isso
vem solidificar a sua missão de “oferecer sempre mais eficiência e tecnologia a
serviço da sua saúde”.
5.1.2 Corpo Clínico
O Centro Médico conta com um corpo clínico composto por reconhecidos
profissionais das seguintes áreas da medicina: clínica médica, urologia, ginecologia,
gastroenterologia, cirurgia do aparelho digestivo, cirurgia geral, cardiologia,
traumatologia e ortopedia.
Os médicos que atendem nesta instituição são especialistas altamente
qualificados, comprometidos com a qualidade e a excelência nos serviços prestados.
A equipe apresenta habilidades diferenciadas e complementares, proporcionando
aos pacientes um tratamento diferenciado.
67
Quanto à equipe de enfermagem, há, na unidade de internação, um quadro
de profissionais composto por: 1 enfermeira coordenadora da clínica; 6 técnicos de
enfermagem e 1 enfermeira assistencial.
Há no total 10 leitos para internação, sendo que, para cada 5 leitos, há 2
enfermeiros para atender aos pacientes dispostos neles.
O Centro Hospitalar é formado por um moderno centro cirúrgico composto de
duas salas e equipamentos para procedimentos cirúrgicos convencionais ou
vídeocirurgias, de pequeno, médio e grande porte, dentro de todos os critérios de
segurança, em diversas especialidades. Além disso, dispõe de uma completa
unidade de endo-urologia e apartamentos para internações pré e pós-cirúrgicas com
serviço de enfermagem e completo acompanhamento de nutricionista. Por seu
conjunto de equipamentos e serviços oferecidos aos pacientes, a Clínica recebeu o
Prêmio Ciefas 2000 na categoria hospitalar.
Tendo apresentado a instituição onde se realizou o estudo, em que se foi
conhecida a equipe médica, resta, ainda, apresentar o resultado da pesquisa
aplicada aos pacientes em período de pré-operatório, iniciando-se com o resultado
quanto aos perfis dos mesmos.
É oportuno lembrar que foram aplicados 10 (dez) questionários,
correspondentes ao número de leitos da Clínica.
5.2 Etapas da Realização da Pesquisa
A realização da pesquisa deu-se em quatro momentos distintos: o
planejamento, a condução da aplicação do questionário, as orientações realizadas
pela Equipe de Enfermagem, e a análise do resultado.
Na etapa do planejamento, definiu-se o propósito do questionário (analisar
os sentimentos dos pacientes no período pré-operatório sobre as respectivas
cirurgias), o detalhamento de quem participaria efetivamente da pesquisa (os
pacientes em período pré-operatório que se encontrassem no momento da aplicação
da pesquisa), e quais as questões seriam elaboradas.
Quanto à condução da aplicação do questionário, foi explicado,
primeiramente, sobre o objetivo da pesquisa, reforçando a eles que em momento
algum seriam identificados e que o preenchimento não lhes traria qualquer
desconforto ou constrangimento. Assim, foi solicitado a cada paciente que
68
analisasse as questões e assinalasse com um X a opção correspondente à sua
avaliação, de acordo com o seu grau de concordância sobre cada pergunta.
A condução da pesquisa foi realizada na unidade de internação da Clínica em
forma de aplicação de questionário (Apêndice 2), e teve duração de 7 dias, conforme
pode ser verificado no Cronograma de Pesquisa de Campo, constante no Quadro 2,
a seguir:
Quadro 2. Cronograma de Pesquisa de Campo
10/10 QUARTA
11/10 QUINTA
15/10 SEGUNDA
16/10 TERÇA
17/10 QUARTA
18/10 QUINTA
19/10 SEXTA
UNIDADE
INTERNAÇÃO/ UCM
UNIDADE
INTERNAÇÂO/ UCM
UNIDADE
INTERNAÇÂO/ UCM
UNIDADE
INTERNAÇÃO/ UCM
UNIDADE
INTERNAÇÃO/ UCM
UNIDADE INTERNAÇÃO/
UCM
UNIDADE
INTERNAÇÃO/ UCM
Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
Nos dias 10, 11, e 15 de outubro, as acadêmicas estiveram no local da
pesquisa no período das 7h às 12h e nos outros dias, ou seja, 16, 17, 18 e 19, das
13h às 16h.
É oportuno informar que, antes da cirurgia, foram feitas as perguntas de 1 a 8,
deixando as duas últimas perguntas para depois da cirurgia, já que estas se referiam
às orientações recebidas antes da cirurgia, ou seja, se estas foram úteis para o
enfrentamento da cirurgia. Estas duas perguntas foram aplicadas quando o paciente
já se encontrava em condições de respondê-las, após o ato cirúrgico.
Sobre as orientações realizadas pelas pesquisadoras, é de se ressaltar
que estas foram feitas logo após o preenchimento do questionário pelos pacientes
no pré-operatório. As orientações dadas serão descritas logo após a apresentação
do resultado da pesquisa, precisamente, no tópico 5.5.
A etapa da análise do resultado deu-se da seguinte forma: em primeiro
lugar, fez-se a tabulação dos dados constantes nos questionários, manualmente,
para, posteriormente, serem concebidos os gráficos, com o suporte do programa
Excel, que os gerou. Na seqüência, fez-se uma cuidadosa análise das respostas,
verificando-se a sua incidência, o que permitiu assimilar sinais e percepções de
como determinada questão do questionário era sentida pelos pacientes. Foi uma
análise sistemática, focada na questão de interesse e com nível de interpretação
apropriado, uma vez que foram consideradas as questões e seus significados, bem
como a freqüência e a especificidade das respostas.
69
Após essas explicações preliminares, dá-se, a seguir, a descrição e a
respectiva análise do resultado da pesquisa. Serão expostos, primeiramente, os
dados sobre o perfil dos pacientes pesquisados, em relação às variáveis: sexo,
idade, estado civil, escolaridade, e religião. Vale ressaltar que esta descrição
caracteriza a população em estudo, apresentando-se, em percentagem, os dados
mais predominantes deste processo de levantamento.
5.3 Perfil dos Pacientes Entrevistados
As Figuras 5 a 9 têm a finalidade de apresentar o perfil dos pacientes no
período pré-operatório, que participaram desta pesquisa, quanto a: sexo, idade,
estado civil, escolaridade e religião.
Como é possível se perceber pela Figura 5, a distribuição quanto ao sexo dos
pacientes no período pré-operatório que participaram da pesquisa corresponde a
60% ao sexo masculino e 40% ao sexo feminino.
Quanto ao Sexo
60%
40%
Masculino Feminino
Figura 5. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto ao Sexo Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
A Figura 6 traz os percentuais do perfil quanto à idade dos pacientes no
período pré-operatório, que ficaram assim distribuídos: 80% têm acima de 45 anos;
10% têm menos de 25 anos; e 10% têm entre 25 e 45 anos.
Quanto à Idade
10%10%
80%
Menos de 25 Entre 25 e 45 Acima de 45
Figura 6. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto à Idade Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
70
No que tange ao Estado Civil dos pacientes no pré-operatório, a Figura 7
aponta que 70% desses pacientes são casados, 20% assinalaram a alternativa
“outros”, sem contudo indicarem qual; e 10% são solteiros. As demais alternativas
não foram assinaladas por nenhum paciente.
Quanto ao Estado Civil
70%
20%0%
0%
10% 0%
Solteiro Amasiado
Casado Separado/Divorciado
Viúvo Outros
Figura 7. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto ao Estado Civil Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
Quanto à distribuição por Escolaridade, é possível se constatar, na Figura 8,
que 40% dos pacientes no pré-operatório possuem o curso Superior completo, e
40% possuem o Ensino Médio completo, enquanto 10% possuem o Ensino
Fundamental completo e 10% possuem o curso Superior incompleto, do que se
pode concluir que estes últimos ou estão ainda em curso ou trancaram as suas
matrículas. As demais alternativas não foram assinaladas.
Quanto à Escolaridade
40%
10%
40%
0% 0%10%0%
0%0%
Ensino Fundamental incompleto Ensino Fundamental completo
Ensino Médio incompleto Ensino Médio completo
Superior incompleto Superior completo
Pós-Graduação Mestrado
Doutorado
Figura 8. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto à Escolaridade Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
No que diz respeito à distribuição por Religião, a Figura 9 aponta que 90%
dos entrevistados pertencem à religião católica e 10% se dizem espíritas. As outras
alternativas constantes no questionário não foram assinaladas.
71
Quanto à Religião
90%
10%
0% 0%
0%
Católica Espírita Evangélica Budista Outras
Figura 9. Gráfico do Perfil do Entrevistado Quanto à Religião Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
Sintetizando o que foi exposto, chega-se à conclusão que o perfil dos
pacientes no pré-operatório que responderam à pesquisa é o seguinte: na maioria
são do sexo masculino, com idade acima de 45 anos; na sua maioria, são casados,
com escolaridade Superior completo e Ensino Médio completo, e pertencem à
religião católica. O Quadro 3 apresenta a síntese do perfil da amostra populacional
desta pesquisa.
Quadro 3. Síntese do Perfil dos Pacientes no Pré-Operatório Sexo Masculino 60%
Idade Acima de 45 anos 80%
Estado Civil Casados 70%
Escolaridade Ensino Médio completo
e Curso Superior completo
40%
40% Religião Católica 90%
Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
Tendo apresentado o perfil populacional desta pesquisa, cumpre, ainda,
expor a análise estatística descritiva das questões específicas feitas aos pacientes
no pré-operatório, conforme se poderá apreciar a seguir, para, na seqüência, serem
apresentadas as observações feitas pelas pesquisadoras e as respectivas
orientações de enfermagem, também ministradas por estas.
72
5.4 Resultados das Perguntas Específicas
Antes de serem apresentados os resultados das perguntas específicas, é
conveniente lembrar que, logo abaixo de cada questão feita aos pacientes do pré-
operatório, havia uma questão aberta, a fim de que eles se sentissem à vontade
para complementar a resposta anterior. Desse modo, apresentar-se, logo a seguir
do resultado da pergunta, os devidos comentários, caso tenham sido feitos.
O primeiro questionamento feito aos pacientes no pré-cirúrgico foi se eles
tinham conhecimento do tipo de cirurgia a que iam se submeter, obtendo-se as
seguintes respostas: 80% afirmam que têm conhecimento a respeito da cirurgia a
que iam se submeter, enquanto 20% a desconhecem, conforme se poderá constatar
na Figura 10:
Tem conhecimento de qual cirurgia vai se submeter?
80%
0%
20%
sim parcialmente não
Figura 10. Gráfico sobre se tem conhecimento da cirurgia a que vai se submeter Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
O único comentário feito em relação a essa pergunta foi:
“Fazendo a cirurgia, ia passar a dor”.
Acredita-se que o conhecimento prévio ocorre a partir do primeiro contacto do
paciente com o objeto, ou seja, com a sua doença, desencadeando uma apreciação
que visa identificar o estímulo. Neste caso, a resposta ou reação classificará o
estímulo em relevante ou irrelevante. A partir de então, se for considerado relevante,
o homem mobilizar-se-á para a ação.
Parece haver um consenso de que existe uma correlação estreita entre a
percepção sensitiva e cognitiva de uma ameaça, o surgimento da ansiedade e do
estresse e as alterações fisiológicas perceptíveis clinicamente. No que se refere ao
73
ato cirúrgico, supõe-se que a antecipação deste evento desencadeará sentimentos e
avaliação cognitiva que, influenciados pelas diferenças individuais, resultarão em
comportamentos peculiares de ajustes, que têm por finalidade enfrentar o estresse
provocado por este evento. Essas avaliações cognitivas serão mais efetivas, quanto
mais dados da realidade o paciente tiver. Várias são as possibilidades de obtenção
destes dados, desde experiências passadas até a formulação de dúvidas,
questionamentos, hipóteses e associações de idéias relativas à cirurgia e à
anestesia.
Quando foram questionados se se sentiam suficientemente informados sobre
a cirurgia, o resultado da pesquisa apontou que 70% se sentiam suficientemente
informados a respeito da mesma; já 30% não se sentiam bem informados a esse
respeito.
Sente-se suficientemente informado sobre esta cirurgia?
70%
30%
0%
sim parcialmente não
Figura 11. Gráfico sobre sente-se suficientemente informado sobre a cirurgia Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
Entende-se a visita pré-operatória como sendo a parte fundamental do
processo de enfermagem, pois é por meio dos dados coletados, da avaliação física,
e das percepções não-verbais, verificadas neste momento, que o enfermeiro possui
subsídios para o desenvolvimento da assistência sistematizada contribuindo com os
aspectos emocionais do paciente, esclarecendo as dúvidas, e com a equipe de
enfermagem repassando as informações necessárias aos períodos trans e pós-
operatórios. Neste sentido, Orlando (1978) relata que é mais fácil planejarmos as
necessidades que possam levar a outros problemas do que cuidarmos depois que
eles já aconteceram.
Tem-se que recorrer à teoria de Peplau (1990), que opta por descrever o
processo de relação interpessoal da enfermagem em quatro fases: orientação,
74
identificação, exploração e resolução. Essas etapas estão superpostas e devem ser
consideradas de forma relacionada. Na fase de orientação, o paciente apresenta
uma necessidade e solicita ajuda profissional. A enfermeira, inicialmente, identifica
as necessidades do paciente, o qual, durante a interação, fornece muitas pistas a
respeito de como visualiza a dificuldade que está experimentando e oferece à
enfermeira a oportunidade de reconhecer suas carências de informação e
compreensão acerca do problema.
Diante das necessidades identificadas, a enfermeira, em colaboração com
outros componentes da equipe de saúde, orienta o paciente sobre o problema e de
suas implicações. A tensão e a ansiedade apresentadas por esse paciente em
decorrência de suas necessidades devem ser levadas em consideração na fase de
orientação, pois, caso contrário, não haverá êxito em tentar relacionar a sua
experiência atual com as anteriores. (PEPLAU, 1990).
Desse modo, a Equipe de Enfermagem pode e deve usar a comunicação
para conseguir estabelecer relacionamento efetivo com o paciente, a fim de
oferecer-lhe apoio, conforto e informação, bem como despertar seu sentimento de
confiança e de auto-estima. Deve-se ter em mente, pois, como enfatizado por
Stefanelli (1993), que comunicação é o instrumento básico da assistência de
enfermagem ou o processo que torna possível o relacionamento enfermeiro-
paciente. É o denominador comum de todas as ações de enfermagem e influi
decisivamente na qualidade da assistência prestada àquele que necessita dos
cuidados profissionais do enfermeiro.
Foi perguntado aos pacientes do pré-operatório se eles tinham sido
informados sobre o preparo para a cirurgia à qual iam se submeter, obtendo-se as
seguintes respostas: 50% não tinham sido informados sobre este preparo, enquanto
30% dos pacientes responderam sim e 20% apenas parcialmente. Os dados desta
questão encontram-se dispostos na Figura 12.
75
Foi informado sobre o preparo para esta cirurgia?
30%
20%
50%
sim parcialmente não
Figura 12. Gráfico sobre se foi informado sobre o preparo para a cirurgia Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
Em relação a esta questão, dois pacientes fizeram as seguintes observações:
“Sim, pelo médico e anestesista. Não pelo hospital”.
“Não, porque a explicação foi suficiente”.
Pela fala dos pacientes, é possível se perceber que o paciente também deve
ser preparado emocionalmente para a cirurgia. E a necessidade de apoio emocional
dispensado a ele é percebida pela Equipe de Enfermagem por meio da
comunicação. A comunicação é uma habilidade humana que torna possível a
manifestação e exteriorização do que se passa na vida interior. Graças a essa
habilidade de perceber e de comunicar, o homem enriquece o seu referencial de
conhecimentos, transmite sentimentos e pensamentos, esclarece, interage e
conhece o que os demais pensam, necessitam e sentem. Desse modo, a Equipe de
Enfermagem pode e deve usar a comunicação para conseguir estabelecer
relacionamento efetivo com o paciente, a fim de oferecer-lhe apoio, conforto e
informação, bem como despertar seu sentimento de confiança e de auto-estima.
Para comentar esta questão, é necessário nos reportar aos ensinamentos de
Stefanelli (1993), que afirma ser pela comunicação estabelecida com o paciente que
se pode compreendê-lo em seu todo, em sua visão do mundo, isto é, seu modo de
pensar, sentir e agir. Só assim se poderá identificar os problemas por ele sentidos
com base no significado que ele atribui aos fatos que lhe ocorrem, e tentar ajudá-lo a
manter ou recuperar sua saúde. É por meio da comunicação com o paciente que o
enfermeiro pode realmente efetuar mudanças no comportamento deste. O
atendimento de quase todas as outras necessidades humanas básicas do paciente
76
depende, em várias circunstâncias, do processo de comunicação que ocorre entre
ele e o enfermeiro.
O enfermeiro pode usar a comunicação para conseguir estabelecer
relacionamento efetivo com o paciente, a fim de oferecer-lhe apoio, conforto e
informação, e despertar seu sentimento de confiança e auto-estima, bem como lhe
ensinar modos mais adequados de comunicação (STEFANELLI, 1993). A escrita, a
fala, as expressões faciais, a audição e o tato são formas de comunicação
amplamente utilizadas, conscientemente ou não.
Entre todos os profissionais da área de saúde, o enfermeiro, por interagir
diretamente com o paciente, precisa estar mais atento ao uso adequado das
técnicas da comunicação interpessoal. A comunicação representa uma troca de
informação e compreensão entre as pessoas, com objetivo de transmitir fatos,
pensamentos e valores. (SILVA, 2002).
Em suma, como salienta Peplau (1990) em sua teoria, a enfermagem, na
percepção da teórica, é uma relação humana entre uma pessoa que está enferma
ou necessitada de serviços de saúde e uma enfermeira com uma formação
especializada para reconhecer e responder à necessidade de ajuda.
Quando questionados se as atuais circunstâncias (doença e hospitalização)
afetam o seu padrão de vida habitual, 50% alegaram que não; já 30% afirmaram sim
e 30% que os afeta parcialmente, conforme Figura 13.
As atuais circunstâncias (doença e hospitalização) afetam o seu padrão de vida
habitual?
20%
50%
30%
sim parcialmente não
Figura 13. Gráfico sobre se as atuais circunstâncias (doença e hospitalização) afetam o seu padrão de vida Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
Os comentários feitos nesta questão foram:
“Não, a questão da dor vai melhorar, já sofre a dor com a pedra na
vesícula”.
77
“Sim, comentou sobre estresse dos diagnósticos”.
“Auto-estima baixou, questão da liberdade”.
“Saiu da rotina normal”.
Para esta questão, é importante se observar que a necessidade do
tratamento cirúrgico no paciente acaba por interromper o seu estilo de vida,
prejudicam muitas vezes sua adaptação às mudanças, alterando sua auto-imagem,
assim como sua interação social.
No processo de hospitalização, o paciente torna-se vulnerável, perde seu
poder decisório, mesmo quando de coisas simples. Acredita-se, assim, que a equipe
de enfermagem é responsável por zelar pela privacidade do paciente e, sempre que
possível, envolvê-lo nos processos decisórios. Em relação à conservação da
integridade social, entende-se que todo indivíduo vive em sociedade, e o seu modo
de vida e comportamento estão diretamente relacionados com os grupos de
convívio.
Na presença do processo de doença, o paciente sente-se solitário, retornando
o pensamento para seus familiares e amigos. As pessoas, particularmente as mais
próximas, são muito importantes para o restabelecimento do paciente. E a equipe de
enfermagem tem um papel preponderante por ser uma profissão que busca
promover o bem-estar do ser humano, considerando sua liberdade, unicidade e
dignidade, atuando na promoção da saúde, prevenção de enfermidades, no
transcurso de doenças e agravos.
Peplau evidencia que reconhece o papel da família, da sociedade, da cultura
e do ambiente nas mudanças, mesmo que seja o ambiente hospitalar o contexto
predominante na teoria. (RIEHL; ROY, 1980).
No entanto, o ambiente hospitalar é propício para a etapa de orientação,
considerando que as limitações de espaço e liberdade de movimentos impulsionam
o paciente ao seu próprio mundo imaginário e podem suscitar a oportunidade para
que, com a ajuda do profissional, possa esclarecer e explicar o que acontece à sua
volta (PEPLAU, 1990).
No momento da hospitalização, os sentidos do paciente estão bastante
aguçados e ele passa a observar detalhes cada vez menores (PEPLAU, 1990), o
que destaca a importância de, na fase de orientação, estar atento a qualquer
necessidade do paciente mesmo que pareça irrelevante ou de menor importância.
78
Foi perguntado a eles se tinham sentido medo com a hospitalização, obtendo-
se as seguintes respostas: 50% disseram que não estavam sentindo medo em
relação a esta questão, enquanto 30% responderam sim e 20% parcialmente. Os
dados da pergunta foram dispostos na Figura 14.
Você tem sentido medo com a hospitalização?
30%
20%
50%
sim parcialmente não
Figura 14. Gráfico sobre se tem sentido medo com a hospitalização Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
Houve um único comentário acerca da questão acima, conforme transcrito a
seguir:
“Leio muito sobre saúde”.
Embora os entrevistados não tenham demonstrado que vivenciam a ida ao
hospital como um abandono sentimental do lar, que é sentido como um rompimento
dos laços que indicavam segurança, mesmo assim, surge a necessidade de levar
algum acompanhante ao hospital, na tentativa de diminuir a sensação de abandono -
tanto de abandonar quanto de ser abandonado
Desse modo, pode-se dizer que o modo como se manifestam as intensas
mudanças na rotina do paciente e sua família, o ambiente hospitalar, e, muitas
vezes, o prolongado e doloroso tratamento realizado, precipitam uma série de
conseqüências nos pacientes que por si só já influenciam na dinâmica psíquica dos
mesmos, tornando-os mais suscetíveis a conflitos e instabilidades,
independentemente do histórico de vida de cada um.
É de se lembrar que a hospitalização é um evento que envolve uma grande
capacidade de adaptação do indivíduo às várias mudanças que ocorrem no
cotidiano. As dificuldades de adaptação acontecem no momento em que o paciente
79
não é atendido adequadamente em suas necessidades básicas, agravando com isso
as sensações de isolamento e angústia preexistentes. Essas dificuldades são
suficientes para produzirem uma crise acidental que, dependendo da intensidade,
pode desorganizar temporariamente a personalidade do paciente.
A pessoa que adoece e é hospitalizada sofre uma mudança, e esta
representa um elemento concreto de desconforto e insegurança. Esta mudança é
determinada pela troca da situação de indivíduo sadio à dependência da atuação
dos profissionais na resolução de seus problemas. A doença é uma situação de
alterações das funções normais da pessoa, que pode se manifestar por meio de
sinais típicos e particulares que se pode chamar de sintomas. É de fundamental
importância observar que a alteração física ou mental do indivíduo depende da
gravidade da enfermidade, do equilíbrio emocional de cada um e também dos
fatores ambientais, principalmente do ponto de vista familiar.
Desse modo, como observado por Ruschel, Daut e Santos (2000), a
internação hospitalar pode contribuir para o sentimento de ruptura com a vida diária
e com a perda da autonomia do paciente. A hospitalização pode implicar uma série
de sentimentos de desconforto, inclusive propiciando o processo de
despersonalização, muito comum no ambiente hospitalar e em grandes períodos de
internação, pois o paciente passa a ser tratado em função do quadro de sintomas
que apresenta, e não mais pela sua singularidade enquanto indivíduo.
Quando os aspectos psicológicos não são considerados na situação de
tratamento cirúrgico, poderá haver aumento da predisposição para complicações
emocionais que prejudicam a convalescença, chegando a intensificar, em algumas
situações, a morbidade no período pós-operatório. Para essas mesmas autoras, a
cirurgia é uma experiência de muita ameaça na vida de qualquer pessoa, pois
envolve uma carga emocional característica. A forma como cada um enfrenta esse
tipo de intervenção poderá facilitar ou não a completa recuperação e readaptação à
vida normal. (RUSCHEL; DAUT; SANTOS, 2000).
Foi-lhes perguntado ainda se utilizavam algum mecanismo para enfrentar o
período pré-operatório. Suas respostas foram: 60% afirmaram que não utilizavam
nenhum mecanismo de enfrentamento e 40% disseram que sim. Os dados da
questão constam na Figura 15.
80
Tem utilizado algum mecanismo para enfrentar o período pré-operatório imediato?
40%
60%0%
sim parcialmente não
Figura 15. Gráfico sobre se tem utilizado algum mecanismo para enfrentar o período pré-operatório Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
Para essa questão, apenas dois breves comentários foram feitos:
“Foi trabalhado”
“Sabia o que iria passar (cirúrgico)”.
Pelo resultado desta questão, pode-se inferir que a principal estratégia de
enfrentamento mobilizada pelo grupo de pesquisa foi o fator fuga-esquiva, podendo
ser considerada como um comportamento associado ao enfrentamento (coping)
focalizado na emoção, conforme observado por Guido (2003).
Já para Lazarus e Folkman (1984), as pessoas utilizam o enfrentamento
focalizado na emoção como forma de manter a esperança e o otimismo frente à
adversidade, porém esta atitude é tomada evitando-se pensar ou agir sobre o
problema. Os mesmo autores ainda citaram que o foco na emoção geralmente surge
quando, ao fazer uma reavaliação acerca do estressor, o indivíduo não se percebe
competente para enfrentar a situação, cabendo-lhe suportar a tensão, por meio de
regulações afetivas diversas.
Desse modo, sugere-se que os pacientes cirúrgicos, ao mobilizarem a fuga-
esquiva, iniciaram a tentativa de administrar o estresse causado pela necessidade
de submeter-se à cirurgia através do distanciamento do foco estressor. Entretanto,
esta ação, que pode ser tanto cognitiva como comportamental, não demonstrou
eficácia diante do estresse cirúrgico, pois prevaleceu a fase de resistência.
Na seqüência, foi perguntado se a Equipe de Enfermagem poderia contribuir
para o seu enfrentamento do período pré-operatório, obtendo-se as respostas: 80%
responderam que sim; já 20% não, conforme se pode constatar na Figura 16.
81
A Equipe de Enfermagem pode contribuir para o seu enfrentamento para o período pré-
operatório imediato?
80%
20%
0%
sim parcialmente não
Figura 16. Gráfico sobre se a Equipe de Enfermagem pode contribuir para o enfrentamento no período pré-operatório Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
Os seguintes comentários foram registrados para a questão acima:
“Orientações ao paciente diz ser através de conversa”.
“Demais”.
“Toda a explicação ao paciente é salutar”.
“É o que eu mais espero”.
Como visto no capítulo destinado à Fundamentação Teórica deste trabalho,
uma das funções da Equipe de Enfermagem é a de auxiliar o paciente, identificando
as suas necessidades de forma imediata, tendo como instrumento básico a
observação, considerando que esta pode ser realizada de forma direta, decorrentes
da experiência do próprio enfermeiro com o paciente, e as indiretas, que são
aquelas advindas de outros profissionais, prontuário do paciente e visitas de
enfermagem.
Desse modo, como enfatizado por Leonard e Crane (1993), as ações da
Equipe de Enfermagem concentram-se em avaliação do paciente no momento em
que ele é admitido, verificando as necessidades de ajuda, educação do paciente
diante de uma necessidade encontrada e orientações ao paciente durante o pré-
operatório.
Por isso, o comportamento do paciente necessita ser observado pela Equipe
de Enfermagem, por meio de uma interação imediata enfermeiro/paciente,
utilizando-se de percepções não-verbais demonstradas por atividades motoras
como: caminhar, comer, contrair-se; alterações fisiológicas como: urinar, defecar,
pressão arterial, e outras; manifestações sonoras, como: choro, gemido, tosse, grito,
respiração difícil, etc. O comportamento verbal do paciente também necessita ser
82
observado, pois, por meio deste, é possível se identificar as reais necessidades do
paciente. Entretanto, compreende-se que o comportamento verbal e o não-verbal
complementam-se na análise das necessidades de ajuda, com isto devem ser
observados concomitantemente, assim, todo comportamento manifestado pelo
paciente de forma verbal ou não-verbal, necessita ser entendido como um pedido de
ajuda até que se prove ao contrário.
Afinal, como observado por Stanton, Paul e Reeves (1993), o processo de
enfermagem constitui o elemento principal da prática de enfermagem, o qual
direciona de maneira ordenada o trabalho do enfermeiro, sendo considerado como
o “instrumento” de metodologia utilizada para auxiliar os enfermeiros nas tomadas
de decisões e avaliação das conseqüências.
Acredita-se que, por questões culturais e de crenças, ou pela própria
personalidade, cada pessoa pode expressar de forma diferente a dor, a doença, o
estresse e o medo, considerando que muitas vezes pode omitir seus sentimentos, e
somente por meio da observação de seu comportamento, somado às manifestações
verbais, a Equipe de Enfermagem pode prestar uma assistência completa ao
paciente, advindo daí a sua contribuição.
Por fim, quando perguntado se eles tinham receio de dizer alguma coisa à
Equipe de Enfermagem, os mesmos assim se distribuíram em suas respostas: 70%
alegaram que não tinham este receio, enquanto 20% tinham receio e 10%
parcialmente.
Tem tido receio de dizer alguma coisa à Equipe de Enfermagem?
20%
10%70%
sim parcialmente não
Figura 17. Gráfico sobre se tem tido receio de dizer alguma coisa à Equipe de Enfermagem Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
83
Sobre os comentários, um único paciente do pré-operatório assim se
posicionou:
“Gosto de saber o que vai se proceder. Minha mente armazena as orientações”.
Permitir ao paciente a fala como uma possibilidade de canalização de sua
ansiedade, tendo uma escuta clínica que possa dirimir suas dúvidas e atenuar o seu
estresse quanto às incertezas do processo cirúrgico, possivelmente trará a redução
da desagradável sensação de perigo e ameaça à sua integridade.
Enfim, o conhecimento do estresse, desde o seu delineamento, até às
estratégias de enfrentamento, é essencial para o embasamento de intervenções
voltadas para o acompanhamento e tratamento dos pacientes que vão submeter-se
a uma cirurgia, visto que a repercussão emocional pode gerar comorbidades que
tanto dificultam a realização do procedimento cirúrgico, como comprometer a
adaptação e recuperação no pós-operatório.
Entende-se, assim, que a meta seria apreender como as pessoas avaliam os
estressores (LAZARUS; FOLKMAN, 1984). Isso facilita a expressão de sentimentos,
minimizando fantasias distorcidas e incentivando o uso de estratégias de
enfrentamento mais eficazes na redução do estresse (SANTOS; ARAÚJO 2003;
SEBASTIANI; MAIA, 2005).
Como enfatizado anteriormente, as duas últimas questões do questionário
foram aplicadas aos pacientes do pré-cirúrgico, quando estes já tinham passado a
intervenção cirúrgica, e quando se encontravam em condições de respondê-las.
Entenda-se que as questões foram aplicadas depois, inclusive, das orientações de
enfermagem dadas pelas pesquisadoras. Desse modo, essas orientações de
enfermagem serão objeto da análise a seguir.
Foi perguntado aos pacientes se as orientações recebidas lhes trouxeram
algum benefício e qual, obtendo-se 100% das respostas positivas, conforme se pode
constatar pela Figura 18.
84
As orientações trouxeram benefícios?
100%
0% 0%
sim parcialmente não
Figura 18. Gráfico sobre se as orientações recebidas trouxeram benefícios Fonte: Resultado da Pesquisa (2007)
Quanto aos tipos de benefícios, os pacientes assim se manifestaram:
“Para mim foi interessante e importante. Assim, fui melhor informado, também tive a presença de uma pessoa ao meu lado, que, além de me orientar, me deu forças para enfrentar a cirurgia”. “Todas as explicações foram precisas e importantes”. “Me senti mais seguro [...]”. “Sim, porque sei o que vou passar até o retorno ao meu quarto”. “Sem dúvida nenhuma, quando são feitas de modo equilibrado, com jeito”. “Sim, fiquei mais tranqüila e calma”. “Sim, porque deram uma preliminar de como seria a cirurgia”. “Sim, para entender o que está se passando durante os procedimentos e me tranqüilizar”.
Como é de se notar, na sua totalidade, os pacientes remeteram ao fato de se
sentirem mais tranqüilos com as orientações recebidas, uma vez que ficaram
sabendo o que poderia lhes acontecer no ato cirúrgico, bem como no período do
pós-operatório, o que leva a acreditar que as orientações fornecidas pela Equipe de
Enfermagem são imprescindíveis para que o paciente no pré-operatório ganhe
confiança e consiga enfrentar melhor esta situação, eliminando, ou pelo menos
minimizando, o estresse comum deste período, contribuindo na recuperação no
período pós-operatório.
Como última questão, foi perguntado aos pacientes se eles teriam alguma
sugestão a fornecer no sentido de melhor enfrentar o período pré-operatório. Suas
respostas foram:
“O que sabia foi suficiente”
85
“Creio que como foi esclarecido foi suficiente” “Continue com as explicações, pois são fundamentais para o paciente” “Mais orientação da equipe de enfermagem, sobre os prós e contras da recuperação” “Continuar fazendo o trabalho de pré-operatório por um profissional de saúde” “Não tenho nada a acrescentar”
A contar pelas respostas dos pacientes entrevistados, é possível se constatar
que as orientações de enfermagem dadas pelas pesquisadoras aos pacientes no
pré-operatório foram de grande valia, permitindo que eles acompanhassem todos os
passos do procedimento cirúrgico, trazendo-lhes a tranqüilidade necessária para que
enfrentassem esse estágio com serenidade e confiança. Afinal, como explica Peplau
(1990), pela interação enfermeiro-paciente, por meio de ações educativas, estas
poderão trazer grandes influências em seu comportamento, participação,
compreensão e reabilitação do processo cirúrgico.
Após ter-se apresentado as respostas dos pacientes do pré-operatório que
participaram da pesquisa, passa-se, a seguir, à explanação das orientações de
enfermagem realizadas pelas pesquisadoras.
5.5 Orientações de Enfermagem Realizadas pelas Pesquisadoras
Das observações feitas pelas pesquisadoras, antes da aplicação do
questionário, foi possível se constatar que a maioria dos pacientes do pré-cirúrgico
de diversas cirurgias mostrou-se estressada e na fase de resistência.
A resistência, como discorrido no capítulo destinado à Fundamentação
Teórica deste trabalho, é uma fase onde o indivíduo busca o reequilíbrio por meio da
utilização de suas reservas de energia adaptativa, procurando resistir a um estressor
que não foi assimilado de forma salutar ou que continua causando-lhe desconforto
físico e/ou psíquico (LIPP, 1996).
Durante a resistência, cognitivamente, a pessoa não apresenta maiores
conseqüências em relação ao estresse, mantendo uma pseudo-adaptação que
caracteriza a expectativa de que o estressor se extinga ou passe a não mais
incomodar. São as alterações fisiológicas que sinalizam a incapacidade do
organismo lidar com a experiência estressante, incitando o aparecimento de
86
respostas orgânicas inadaptadas e que comprometem o funcionamento geral do
corpo (LIPP, 1996).
De acordo com o exposto, o fato de os pacientes estarem sofrendo as
conseqüências da fase de resistência chama atenção para os problemas que podem
se somar ao processo cirúrgico. Além de estarem se submetendo a uma cirurgia,
com suas próprias demandas psico-fisiológicas, podem padecer de diversos agravos
à sua saúde pela dificuldade de lidar com o estresse, criando a necessidade de um
acompanhamento profissional que prime não somente pelo procedimento cirúrgico
em si, mas também intervenha junto à forma de enfrentar a cirurgia.
Os profissionais da Equipe de Enfermagem, com a premissa da compreensão
biopsicossocial do paciente no pré-operatório, seriam os capazes de atuar junto à
demanda emocional desse paciente, permitindo-lhe a elaboração do sofrimento
gerado pela cirurgia e possibilitando a criação de formas mais saudáveis de lidar
com este momento.
Afinal, como observado por Orlando (1978), a reação do enfermeiro é a
maneira pela qual o profissional observa o comportamento do paciente;
compreende este comportamento e suas percepções pessoais e sentimentos em
face desta situação, levando em consideração que cada indivíduo pode interpretar
diferentemente um mesmo acontecimento.
Sendo assim, cada enfermeiro pode perceber de maneira distinta um mesmo
comportamento, e mais importante que perceber ou pensar sobre o comportamento
do paciente, é agir em beneficio das necessidades encontradas a partir deste
comportamento. Entretanto, cada ação deve ser avaliada quanto à precisão dos
seus resultados, visto que cada enfermeiro poderá executar ações de enfermagem
distintas partindo-se de um mesmo comportamento do paciente. Por isto, o
enfermeiro pode formular questões para o paciente responder verbalmente
auxiliando a confirmar suas percepções sobre o mesmo. (ORLANDO, 1978).
Foi observado, ainda, pelas pesquisadoras, que, dentre os pacientes do pré-
cirúrgico, alguns estavam evoluindo em seu quadro de estresse, aspecto
relevante e indicativo de que poderiam estar entrando em fases mais avançadas,
tais como a quase-exaustão e a exaustão.
Na quase-exaustão haveria o início do surgimento de patologias graves,
mostrando que o organismo não mais consegue resistir à ação contínua do
estressor, dando espaço para que a fase de exaustão fosse instalada (LIPP, 2000).
87
Nesta última, em vista da sobrecarga dos estressores, os indivíduos já se encontram
sofrendo de sérias patologias decorrentes do estresse. Dentre as que podem afetar
diretamente o processo cirúrgico, destacam-se a hipertensão arterial e a depressão
(LIPP, 2000; SELYE, 1959).
Segundo estes achados, é de se ressaltar a relevância do acompanhamento
da Equipe de Enfermagem a pacientes que vão submeter-se a uma cirurgia, haja
vista que, entre os pesquisados, estes se encontravam estressados, alguns em uma
fase avançada do estresse e com possibilidade de agravamento de seu estado de
saúde. Destaca-se, também, ser importante o conhecimento das estratégias de
enfrentamento utilizadas para lidar com o estressor, a fim de possibilitar a sua
função de reduzir ou eliminar o estresse.
Diante disso, foram realizadas as orientações de enfermagem pelas
pesquisadoras, pois, para um cliente cirúrgico, não existe cirurgia simples, é sempre
um desafio a ser enfrentado. A cirurgia pode ser a resolução de um problema ou
mesmo uma ameaça para sua vida. Por esta razão, é importante que a Equipe de
Enfermagem faça um bom planejamento das orientações pré-operatórias, avaliando
os riscos cirúrgicos, objetivando deixar o paciente no período pré-cirúrgico ciente do
processo cirúrgico do qual vai se submeter e assim repercutir em uma recuperação
ideal.
Por meio da interação enfermeiro-paciente, através de ações educativas,
estas poderão trazer grandes influências em seu comportamento, participação,
compreensão e reabilitação do processo cirúrgico, como bem explanou Hidelgard
Elizabeth Peplau (1990), em sua Teoria das Relações Interpessoais.
É na fase pré-operatória que se iniciam as orientações de um cuidadoso
preparo, com o objetivo de promover o melhor estado físico e psicológico do
paciente, visando a evitar complicações no período pós-cirúrgico. Assim sendo,
foram transmitidas, pelas pesquisadoras, as orientações de enfermagem, tendo
como base as que são comumente utilizadas em um Hospital-Escola de
Florianópolis, conforme poderão ser apreciadas no Anexo 2, ao final deste trabalho.
Estas foram as orientações gerais dadas e explicadas ao paciente pré-
operatório, respondente da pesquisa, que serviram como estratégias de
enfrentamento.
O objetivo da mobilização das estratégias de enfrentamento foi a de tolerar,
minimizar, aceitar ou ignorar o estressor, sendo um importante mecanismo de
88
adaptação para a resolução de problemas e manejo do estresse em contextos
particulares. Está na compreensão dos mecanismos de enfrentamento a
possibilidade de conhecer como as pessoas avaliam uma determinada situação para
assim poder manejar o seu estresse, visto que quando o enfrentamento é ineficaz, o
estresse é mantido ou incrementado; quando é eficaz, o enfrentamento reduz ou
elimina o estresse, como bem enfatizou Lazarus (1999).
Conhecer o que está influenciando os comportamentos de uma pessoa, a fim
de que seja percebido e manejado o seu estresse, visa promover um melhor inter-
relacionamento entre equipe de enfermagem e paciente, gerando uma melhor
qualidade de vida no pré e pós-operatórios. Defende-se que quanto melhor for
administrado o estresse do período pré-operatório, mais provável será o adequado
restabelecimento da saúde no pós-cirúrgico e mais breve o retorno às atividades
cotidianas.
89
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando se inicia um trabalho de pesquisa, busca-se sua relevância social e
científica, a ponto de se considerar que, a partir dele, poderá ocorrer alguma
mudança. À medida que o trabalho de pesquisa vai se delineando, descobre-se que
os objetivos propostos possuem tamanho alcance no vasto mundo acadêmico. Uma
certeza, porém, permeia o trabalho de pesquisa, ele nasce de uma necessidade, de
um valor, de uma história de vida, da nossa própria história.
Tendo finalizado o trabalho, cumpre, ainda, elaborar as considerações finais.
Referidas considerações foram feitas com base nas conclusões de cada capítulo
deste trabalho, buscando fornecer ao leitor uma visão geral do assunto.
Para responder ao objetivo geral, aqui relembrado, “Identificar os sentimentos
dos pacientes no período pré-operatório, internados em uma Clínica da Grande
Florianópolis, e verificar quais os benefícios das orientações de Enfermagem para o
enfrentamento”, o estudo propiciou um panorama detalhado acerca das relações
interpessoais entre enfermeiro e paciente. Para tanto, o trabalho esteve alicerçado
na Teoria das Relações Interpessoais de Hildegard Elizabeth Peplau, que visualiza o
fenômeno de enfermagem como um processo interpessoal cujo foco principal está
centralizado na enfermeira e no paciente e, em sua teoria, pretende identificar
conceitos e princípios que dêem suporte às relações interpessoais que se
processam na prática da enfermagem de modo que as situações de cuidado possam
ser transformadas em experiências de aprendizagem e crescimento pessoal.
Assim sendo, pela pesquisa realizada, ficou evidenciado que o arcabouço
teórico apresentado na teoria de Peplau reflete sua preocupação com a
compreensão da natureza da enfermagem. Nesse sentido, foi possível identificar
que a enfermagem é vista, sobretudo, como uma forma de interagir com o paciente
e, por meio desta relação, fazer do adoecer uma oportunidade para o crescimento e
o amadurecimento pessoal de ambos.
Para este fim, Peplau enfoca as fases de orientação, identificação, exploração
e resolução, na qual a enfermeira assume diferentes papéis para auxiliar o paciente
no desenvolvimento de suas necessidades, até que este esteja pronto a assumir
uma atuação independente da enfermeira.
90
Quanto à utilidade da teoria, entendeu-se que, de fato, vale a pena continuar
investindo nos pressupostos teóricos de Peplau, pois estes, em última análise,
resgatam o sentido humano na atuação da enfermagem. Os pressupostos teóricos
são operacionalizáveis na prática de enfermagem e podem servir como base para
atuação dos enfermeiros em quaisquer situações onde estes possam comunicar-se,
interagir com seus pacientes.
Nesse sentido, porém, chama-se a atenção de que, para um relacionamento
interpessoal satisfatório, faz-se necessário que os enfermeiros estejam atentos às
suas próprias necessidades e desenvolvam um processo de auto-conhecimento,
pois é difícil interagir com o outro sem sermos capazes de compreendermos a nós
mesmos.
Entende-se, adicionalmente, que um dos primeiros passos para aplicar uma
teoria é conhecê-la e, dessa forma, acredita-se que este trabalho possa trazer uma
contribuição significativa, fomentando o interesse pela Teoria das Relações
Interpessoais de Peplau. Portanto, sugere-se que outros estudos possam ser
realizados para avaliar, em diferentes situações de cuidado, a utilidade, não apenas
dos pressupostos dessa autora, mas também os de outras teóricas de Enfermagem.
Somente por esse caminho conseguiremos desmistificar o uso de teorias de
Enfermagem como algo fora de nossa realidade.
Os resultados aqui expostos vêm apontar no sentido de que as relações de
reciprocidade entre enfermagem e paciente são passíveis de serem estabelecidas,
pois são altamente desejáveis e devem ser consideradas como prioritárias na prática
de enfermagem.
Quanto ao primeiro objetivo específico: “Identificar os problemas sentidos
pelos pacientes no pré-operatório”, foi conseguido pelas observações das
pesquisadoras, no momento da aplicação do questionário, cujo resultado foi
reforçado pelos pensamentos dos autores selecionados para este estudo, restando
claro que a maioria dos pacientes do pré-operatório de diversas cirurgias mostrou-se
estressada e na fase de resistência, embora não tenham manifestado isso em suas
respostas. Todavia, esse fato chama atenção para os problemas que podem se
somar ao processo cirúrgico. Além de estarem se submetendo a uma cirurgia, com
suas próprias demandas psico-fisiológicas, podem padecer de diversos agravos à
sua saúde pela dificuldade de lidar com o estresse, criando a necessidade de um
91
acompanhamento profissional que prime não somente pelo procedimento cirúrgico
em si, mas também intervenha junto à forma de enfrentar a cirurgia.
Os profissionais da Equipe de Enfermagem, com a premissa da compreensão
biopsicossocial do paciente no pré-operatório, seriam os capazes de atuar junto à
demanda emocional desse paciente, permitindo-lhe a elaboração do sofrimento
gerado pela cirurgia e possibilitando a criação de formas mais saudáveis de lidar
com este momento.
Foi observado, ainda, pelas pesquisadoras, que, dentre os pacientes do pré-
operatório, alguns estavam evoluindo em seu quadro de estresse, aspecto
relevante e indicativo de que poderiam estar entrando em fases mais avançadas,
tais como: a quase-exaustão (onde haveria o início do surgimento de patologias
graves), e a exaustão (em vista da sobrecarga dos estressores, os indivíduos já se
encontram sofrendo de sérias patologias decorrentes do estresse).
O segundo objetivo específico relacionou-se a “Verificar os mecanismos de
enfrentamento utilizados pelos pacientes no pré-operatório”. De acordo com as
respostas dos pacientes no pré-operatório, que participaram da pesquisa, a maioria
(60% das respostas) não estava utilizando nenhum mecanismo para enfrentar o
período pré-operatório. E os que afirmaram que estavam se servindo de algum
mecanismo de enfrentamento, porém, não o mencionaram na pesquisa. A partir
destes resultados, concluiu-se que a principal estratégia e enfrentamento,
mobilizada pelo grupo de pesquisa, foi o fator fuga-esquiva, podendo ser
considerada como um comportamento associado ao enfrentamento (coping)
focalizado na emoção, conforme observado por Guido (2003).
No que diz respeito ao terceiro objetivo específico: “Implementar, na prática
de enfermagem, mecanismos que ajudem o enfrentamento do paciente no pré-
operatório”, isso foi realizado com base na metodologia adotada neste trabalho, qual
seja, a Pesquisa Convergente Assistencial – PCA, de Mercedes Trentini e Lygia
Paim, por permitir que o pesquisador se coloque em compromisso com a construção
do conhecimento novo para a renovação das práticas assistenciais no campo
estudado.
A PCA possibilitou que se mantivesse, durante todo o seu processo, uma
relação estreita com a prática assistencial, cuja intenção foi a de encontrar
alternativas para solucionar, ou pelo menos minimizar, os problemas, realizando
92
mudanças e introduzindo inovações na prática. Foi desse modo que se partiu para
as orientações de enfermagem, fornecidas aos pacientes do pré-operatório.
Diante do exposto, pode-se afirmar, então, que tanto o objetivo geral quanto
os objetivos específicos foram alcançados, acreditando-se que o trabalho venha a
servir de importante instrumento para que as práticas de enfermagem continuem
implementando ações que objetivem ao bem-estar total do paciente, seja ele do pré,
do trans ou do pós-operatório.
Isto posto, cumpre, ainda, responder à questão de pesquisa, que originou o
estudo: “De que modo a Equipe de Enfermagem pode contribuir para o
enfrentamento do paciente no pré-operatório?”
Uma das maneiras encontradas de a Equipe de Enfermagem contribuir para o
enfrentamento do paciente do pré-operatório é por meio do processo, que visa à
dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas, com vistas à assistência ao
ser humano. A sistematização da assistência de enfermagem tem sido proposta em
cinco fases: histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, planejamento,
implementação e avaliação do cuidado prestado ao paciente, pois é por meio destas
fases que a enfermagem pode definir seu verdadeiro papel no contexto da
assistência à saúde.
A relevância da elaboração da sistematização da assistência de enfermagem
está no fato de que se trata de um dos meios que o enfermeiro dispõe para aplicar
seus conhecimentos técnico-científicos e humanos na assistência ao paciente e
caracterizar sua prática profissional, colaborando na definição do seu papel. Por
isso, é importante que as instituições da área da saúde elaborem protocolos ou
rotinas de orientações de enfermagem, para que o paciente enfrente as etapas da
cirurgia com tranqüilidade e confiança.
Assim é que a prática da enfermagem procura promover a interação
sincrônica entre o homem e o ambiente, fortalecer a coerência e a integridade do
corpo humano, e dirigir e redigir a padronização dos campos humanos e ambientais
para a realização máxima do potencial de saúde. Por isso, deve ser criativa e
imaginativa, devendo estar fundamentada, principalmente, na compaixão humana2.
2 Entende-se por compaixão, colocar-se incondicionalmente ao lado do outro, sem qualquer tipo de julgamento quanto à situação que ele está vivenciando, sem nenhum outro sentimento que não seja o de propiciar alívio à situação na qual aquele ser se encontra.
93
Ao concluir essa etapa final do trabalho, enfatiza-se que a experiência
adquirida por meio de leituras, aplicação dos instrumentos escolhidos e da análise
do resultado, proporcionou um grande desafio às acadêmicas, que poderá produzir
bons frutos para aqueles que se propuserem a dar continuidade a uma pesquisa
com o referencial teórico e os instrumentos aqui utilizados.
Na condição de acadêmicas, após realizar as atividades no campo estudado
e estar em contato com o cotidiano e singularidade de uma clínica hospitalar de
Florianópolis, é de se ressaltar que a pesquisa proporcionou a ligação entre teoria e
prática, uma vez que o conhecimento científico desenvolvido nas salas da
Universidade extrapolou sua mera verificação e produção de conhecimentos. Mas,
realizada por meio de uma práxis, comprometida com a realidade, colocou as
acadêmicas em uma posição desafiadora, construindo e participando do processo
de aprendizagem. Por isso, considera-se que a experiência adquirida, ao elaborar
este trabalho, marca um ponto de partida para vivenciar, com mais base teórica e
motivação renovada, outras experiências no campo profissional, as quais poderão
render inúmeros benefícios, tanto para as acadêmicas quanto, e especialmente,
para as pessoas que se encontrarem na condição de pacientes do pré-operatório.
94
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APÊNDICE 1 - CARTA DE INTENÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA
Biguaçu,12 de setembro de 2007
Prezada Senhora Anelize Cardoso Borges.
Como acadêmicas do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Biguaçu, temos a intenção de desenvolver a pesquisa intitulada “ENFRENTAMENTO VIVENCIADO PELO PACIENTE NO PRÉ-OPERATÓRIO: a contribuição das orientações realizadas pela equipe de enfermagem”. Para tanto, solicitamos a autorização para a realização da pesquisa junto aos pacientes que serão submetidos ao ato cirúrgico na clínica Ultralitho Centro Médico, sob a sua coordenação.
A atividade de coleta de dados, previstas em nosso projeto de trabalho de conclusão de curso, prevê entrevista por meio de um questionário. Assumimos o compromisso ético de manter o anonimato dos participantes, sigilo das informações e respeito à confidencialidade dos dados. Contando com a sua compreensão, agradecemos antecipadamente.
Atenciosamente,
Acadêmica de Enfermagem Acadêmica de Enfermagem UNIVALI UNIVALI
Orientadora UNIVALI
102
APÊNDICE 2 - QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PACIENTES CIRÚRGICOS NO PRÉ-OPERATÓRIO
Prezado (a) Paciente:
Estamos desenvolvendo um Trabalho de Conclusão do Curso de
Enfermagem, da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, cujo tema é o
“Enfrentamento Vivenciado pelo Paciente no Pré-Operatório: a contribuição
das orientações realizadas pela equipe de enfermagem”. Desse modo, a fim de
conhecer o perfil e as opiniões dos pacientes do pré-operatório, em relação às
perguntas apresentadas, contamos com a sua contribuição para o preenchimento
deste questionário.
A sua resposta é muito importante, uma vez que, analisada, poderá
proporcionar relevantes informações sobre os seus sentimentos em relação à
cirurgia, objetivando sistematizar as orientações da Equipe de Enfermagem.
Reafirmamos que, em momento algum, nenhum procedimento lhe trará
qualquer desconforto ou risco à sua vida. Nem tampouco o seu nome aparecerá em
qualquer momento do estudo, pois você será identificado por meio de um codinome
(apelido).
I – PERFIL DO PACIENTE 1 Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino 2 Idade ( ) menos de 25 ( ) entre 25 e 45 ( ) acima de 45 3 Estado Civil ( ) Solteiro ( ) Amasiado ( ) Casado ( ) Separado/divorciado ( ) Viúvo ( ) Outros 4 Escolaridade ( ) Ensino Fundamental incompleto ( ) Ensino Fundamental completo ( ) Ensino Médio incompleto ( ) Ensino Médio completo ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo ( ) Pós-Graduação ( ) Mestrado ( ) Doutorado 5 Religião ( ) Católica ( ) Evangélica ( ) Espírita ( ) Budista ( ) Outras ...... Qual? ___________________
103
II – PERGUNTAS ESPECÍFICAS
Assinale com um “X” a opção que melhor retrata o teu sentimento em relação às perguntas
feitas. Em seguida a cada pergunta, há um espaço, caso você queira fazer algum comentário em
relação à pergunta.
SIM PARCIALMENTE NÃO
☺ � 1. Você sabe qual cirurgia você vai se submeter?
Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?
2. voce se sente suficientemente informado sobre esta cirurgia?
Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?
3 Você foi informado sobre o preparo para esta cirurgia ?
Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?
4 As atuais circunstâncias (doença e hospitalização) afetam o seu padrão de vida habitual?
Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?
5 Você tem sentido medo com a hospitalização ?
Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?
6 Tem utilizado algum mecanismo para enfrentar o período pré-operatório?
Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?
7 A equipe de enfermagem pode contribuir para o seu enfrentamento para o período pré-operatório?
Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?
8 Tem tido receio de dizer alguma coisa à equipe de enfermagem?
Deseja fazer algum comentário a respeito dessa pergunta?
9. Você acha que as orientações recebidas da Equipe de Enfermagem lhe trouxeram algum benefício? Qual? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10. Você tem alguma sugestão para que possa enfrentar melhor o período pré-operatório? Escreva aqui: __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________
Muito Obrigada!
104
APÊNDICE 3 - CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Somos acadêmicas do Curso de Graduação em Enfermagem da
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI / Campus Biguaçu. Estamos
desenvolvendo uma pesquisa sobre o “Enfrentamento vivenciado pelo paciente
no pré-operatório: a contribuição das orientações realizadas pela Equipe de
Enfermagem”. E, tem como objetivo identificar os sentimentos dos pacientes no
período pré-operatório, internados em uma Clínica da Grande Florianópolis, e
verificar quais os benefícios das orientações de Enfermagem para o enfrentamento.
Neste sentido, gostaríamos de contar com a sua participação, por meio de
questionários auto-aplicáveis, entregues pessoalmente pelas acadêmicas ao
paciente. Não será realizado nenhum procedimento que lhe traga qualquer
desconforto ou risco à sua vida.
Caso apresente alguma dúvida em relação à pesquisa, durante o
desenvolvimento da mesma, ou desistir de fazer parte deste estudo, poderá retirar
seu consentimento a qualquer momento, sem prejuízo para o seu atendimento. Pela
sua participação no estudo, você não receberá qualquer valor em dinheiro, mas terá
a garantia de que toda e qualquer despesa necessária para a realização da
pesquisa não será de sua responsabilidade. Seu nome não aparecerá em qualquer
momento do estudo, pois você será identificado por meio de um codinome.
Antonielle Cândido Salum Melo Acadêmica de Enfermagem
UNIVALI
Marsia Iveti Christoff Acadêmica de Enfermagem
UNIVALI
Profa. MSc. Tânia Soares Rebello
Orientadora -UNIVALI
105
APÊNDICE 4 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE, APÓS ESCLARECIMENTO
Eu,........................................................................................................, li e ouvi
o esclarecimento sobre a pesquisa “Enfrentamento vivenciado pelo paciente no
pré-operatório: a contribuição das orientações realizadas pela Equipe de
Enfermagem” e compreendi para que serve o estudo e qual procedimento a que
serei submetido. A explicação que recebi esclarece os riscos e benefícios do estudo.
Eu entendi que sou livre para interromper minha participação a qualquer momento,
sem justificar minha decisão e que isso não afetará meu tratamento. Sei que meu
nome não será divulgado, que não terei despesas e não receberei dinheiro por
participar do estudo.
Eu concordo em participar do estudo.
Florianópolis, _____ de ________________ de 2007.
________________________________________________ Assinatura do participante da pesquisa (ou responsável legal)
_____________________ Número do documento de identidade
________________________________________________ Assinatura da Pesquisadora Responsável Assinatura da Pesquisadora Responsável
__________________________ Assinatura do Pesquisador Orientador
Telefones de contato dos pesquisadores
___ ______________ ___ _______________ Telefones de contato dos pesquisadores
Em caso de dúvida quanto a esse documento, você pode entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI, pelo telefone (047) 3241-7738
106
APÊNDICE 5 - TERMO DE COMPROMISSO DE ORIENTAÇÃO
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ- UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM - CAMPUS BIGUAÇU
Termo de Compromisso de Orientação
Eu, _____________________________, docente da disciplina de
______________________ do Curso de Graduação em Enfermagem da
Universidade do Vale do Itajaí, Campus Biguaçu, comprometo-me e concordo em
orientar a Pesquisa para efetivação do Trabalho de Conclusão de Curso das
acadêmicas __________________________ e __________________________ ,
sob a temática “Enfrentamento Vivenciado pelo Paciente no Pré-Operatório: a
contribuição das orientações realizadas pela Equipe de Enfermagem”. As
orientandas estão cientes das Normas para elaboração de Trabalho Monográfico de
Conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem, bem como do calendário de
Atividade proposto.
Biguaçu, de de 2007.
Profª Orientadora
Acadêmica de Enfermagem UNIVALI
Acadêmica de Enfermagem UNIVALI
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ANEXO 1 - RESOLUÇÃO N. 196/96 DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE
RESOLUÇÃO Nº 196, de 10 de outubro de 19963
O Plenário do Conselho Nacional de Saúde em sua Qüinquagésima Nona Reunião Ordinária, realizada nos dias 09 e 10 de outubro de 1996, no uso de suas competências regimentais e atribuições conferidas pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, RESOLVE:
Aprovar as seguintes diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo
seres humanos: I - PREÂMBULO A presente Resolução fundamenta-se nos principais documentos internacionais que
emanaram declarações e diretrizes sobre pesquisas que envolvem seres humanos: o Código de Nuremberg (1947), a Declaração dos Direitos do Homem (1948), a Declaração de Helsinque (1964 e suas versões posteriores de 1975, 1983 e 1989), o Acordo Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (ONU, 1966, aprovado pelo Congresso Nacional Brasileiro em 1992), as Propostas de Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisas Biomédicas Envolvendo Seres Humanos (CIOMS/OMS 1982 e 1993) e as Diretrizes Internacionais para Revisão Ética de Estudos Epidemiológicos (CIOMS, 1991). Cumpre as disposições da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e da legislação brasileira correlata: Código de Direitos do Consumidor, Código Civil e Código Penal, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Orgânica da Saúde 8.080, de 19/09/90 (dispõe sobre as condições de atenção à saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes), Lei 8.142, de 28/12/90 (participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde), Decreto 99.438, de 07/08/90 (organização e atribuições do Conselho Nacional de Saúde), Decreto 98.830, de 15/01/90 (coleta por estrangeiros de dados e materiais científicos no Brasil), Lei 8.489, de 18/11/92, e Decreto 879, de 22/07/93 (dispõem sobre retirada de tecidos, órgãos e outras partes do corpo humano com fins humanitários e científicos), Lei 8.501, de 30/11/92 (utilização de cadáver), Lei 8.974, de 05/01/95 (uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiente de organismos geneticamente modificados), Lei 9.279, de 14/05/96 (regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial), e outras.
Esta Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, entre outros, e visa assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.
O caráter contextual das considerações aqui desenvolvidas implica em revisões periódicas desta Resolução, conforme necessidades nas áreas tecnocientífica e ética.
Ressalta-se, ainda, que cada área temática de investigação e cada modalidade de pesquisa, além de respeitar os princípios emanados deste texto, deve cumprir com as exigências setoriais e regulamentações específicas.
II - TERMOS E DEFINIÇÕES A presente Resolução, adota no seu âmbito as seguintes definições: II.1 - Pesquisa - classe de atividades cujo objetivo é desenvolver ou contribuir para o
conhecimento generalizável. O conhecimento generalizável consiste em teorias, relações ou princípios ou no acúmulo de informações sobre as quais estão baseados, que possam ser corroborados por métodos científicos aceitos de observação e inferência.
II.2 - Pesquisa envolvendo seres humanos - pesquisa que, individual ou coletivamente, envolva o ser humano, de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou partes dele, incluindo o manejo de informações ou materiais.
II.3 - Protocolo de Pesquisa - Documento contemplando a descrição da pesquisa em seus aspectos fundamentais, informações relativas ao sujeito da pesquisa, à qualificação dos pesquisadores e à todas as instâncias responsáveis.
II.4 - Pesquisador responsável - pessoa responsável pela coordenação e realização da pesquisa e pela integridade e bem-estar dos sujeitos da pesquisa.
3 CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996. Disponível
em: <http://www.conselho.saude.gov.br/docs/Reso196.doc>. Acesso em: 20 ago. 2007.
109
II.5 - Instituição de pesquisa - organização, pública ou privada, legitimamente constituída e habilitada na qual são realizadas investigações científicas.
II.6 - Promotor - indivíduo ou instituição, responsável pela promoção da pesquisa. II.7 - Patrocinador - pessoa física ou jurídica que apoia financeiramente a pesquisa. II.8 - Risco da pesquisa - possibilidade de danos à dimensão física, psíquica, moral,
intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente.
II.9 - Dano associado ou decorrente da pesquisa - agravo imediato ou tardio, ao indivíduo ou à coletividade, com nexo causal comprovado, direto ou indireto, decorrente do estudo científico.
II.10 - Sujeito da pesquisa - é o(a) participante pesquisado(a), individual ou coletivamente, de caráter voluntário, vedada qualquer forma de remuneração.
II.11 - Consentimento livre e esclarecido - anuência do sujeito da pesquisa e/ou de seu representante legal, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência, subordinação ou intimidação, após explicação completa e pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, formulada em um termo de consentimento, autorizando sua participação voluntária na pesquisa.
II.12 - Indenização - cobertura material, em reparação a dano imediato ou tardio, causado pela pesquisa ao ser humano a ela submetida.
II.13 - Ressarcimento - cobertura, em compensação, exclusiva de despesas decorrentes da participação do sujeito na pesquisa.
II.14 - Comitês de Ética em Pesquisa-CEP - colegiados interdisciplinares e independentes, com “munus público”, de caráter consultivo, deliberativo e educativo, criados para defender os interesses dos sujeitos da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos.
II.15 - Vulnerabilidade - refere-se a estado de pessoas ou grupos que, por quaisquer razões ou motivos, tenham a sua capacidade de autodeterminação reduzida, sobretudo no que se refere ao consentimento livre e esclarecido.
II.16 - Incapacidade - Refere-se ao possível sujeito da pesquisa que não tenha capacidade civil para dar o seu consentimento livre e esclarecido, devendo ser assistido ou representado, de acordo com a legislação brasileira vigente.
III - ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender às exigências éticas e científicas
fundamentais. III.1 - A eticidade da pesquisa implica em: a) consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvo e a proteção a grupos vulneráveis
e aos legalmente incapazes (autonomia). Neste sentido, a pesquisa envolvendo seres humanos deverá sempre tratá-los em sua dignidade, respeitá-los em sua autonomia e defendê-los em sua vulnerabilidade;
b) ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais, individuais ou coletivos (beneficência), comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos;
c) garantia de que danos previsíveis serão evitados (não maleficência); d) relevância social da pesquisa com vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa
e minimização do ônus para os sujeitos vulneráveis, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária (justiça e eqüidade).
III.2- Todo procedimento de qualquer natureza envolvendo o ser humano, cuja aceitação não esteja ainda consagrada na literatura científica, será considerado como pesquisa e, portanto, deverá obedecer às diretrizes da presente Resolução. Os procedimentos referidos incluem entre outros, os de natureza instrumental, ambiental, nutricional, educacional, sociológica, econômica, física, psíquica ou biológica, sejam eles farmacológicos, clínicos ou cirúrgicos e de finalidade preventiva, diagnóstica ou terapêutica.
III.3 - A pesquisa em qualquer área do conhecimento, envolvendo seres humanos deverá observar as seguintes exigências:
a) ser adequada aos princípios científicos que a justifiquem e com possibilidades concretas de responder a incertezas;
b) estar fundamentada na experimentação prévia realizada em laboratórios, animais ou em outros fatos científicos;
110
c) ser realizada somente quando o conhecimento que se pretende obter não possa ser obtido por outro meio;
d) prevalecer sempre as probabilidades dos benefícios esperados sobre os riscos previsíveis;
e) obedecer a metodologia adequada. Se houver necessidade de distribuição aleatória dos sujeitos da pesquisa em grupos experimentais e de controle, assegurar que, a priori, não seja possível estabelecer as vantagens de um procedimento sobre outro através de revisão de literatura, métodos observacionais ou métodos que não envolvam seres humanos;
f) ter plenamente justificada, quando for o caso, a utilização de placebo, em termos de não maleficência e de necessidade metodológica;
g) contar com o consentimento livre e esclarecido do sujeito da pesquisa e/ou seu representante legal;
h) contar com os recursos humanos e materiais necessários que garantam o bem-estar do sujeito da pesquisa, devendo ainda haver adequação entre a competência do pesquisador e o projeto proposto;
i) prever procedimentos que assegurem a confidencialidade e a privacidade, a proteção da imagem e a não estigmatização, garantindo a não utilização das informações em prejuízo das pessoas e/ou das comunidades, inclusive em termos de auto-estima, de prestígio e/ou econômico - financeiro;
j) ser desenvolvida preferencialmente em indivíduos com autonomia plena. Indivíduos ou grupos vulneráveis não devem ser sujeitos de pesquisa quando a informação desejada possa ser obtida através de sujeitos com plena autonomia, a menos que a investigação possa trazer benefícios diretos aos vulneráveis. Nestes casos, o direito dos indivíduos ou grupos que queiram participar da pesquisa deve ser assegurado, desde que seja garantida a proteção à sua vulnerabilidade e incapacidade legalmente definida;
l) respeitar sempre os valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem como os hábitos e costumes quando as pesquisas envolverem comunidades;
m) garantir que as pesquisas em comunidades, sempre que possível, traduzir-se-ão em benefícios cujos efeitos continuem a se fazer sentir após sua conclusão. O projeto deve analisar as necessidades de cada um dos membros da comunidade e analisar as diferenças presentes entre eles, explicitando como será assegurado o respeito às mesmas;
n) garantir o retorno dos benefícios obtidos através das pesquisas para as pessoas e as comunidades onde as mesmas forem realizadas. Quando, no interesse da comunidade, houver benefício real em incentivar ou estimular mudanças de costumes ou comportamentos, o protocolo de pesquisa deve incluir, sempre que possível, disposições para comunicar tal benefício às pessoas e/ou comunidades;
o) comunicar às autoridades sanitárias os resultados da pesquisa, sempre que os mesmos puderem contribuir para a melhoria das condições de saúde da coletividade, preservando, porém, a imagem e assegurando que os sujeitos da pesquisa não sejam estigmatizados ou percam a auto-estima;
p) assegurar aos sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes do projeto, seja em termos de retorno social, acesso aos procedimentos, produtos ou agentes da pesquisa;
q)assegurar aos sujeitos da pesquisa as condições de acompanhamento, tratamento ou de orientação, conforme o caso, nas pesquisas de rastreamento; demonstrar a preponderância de benefícios sobre riscos e custos;
r) assegurar a inexistência de conflito de interesses entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa ou patrocinador do projeto;
s) comprovar, nas pesquisas conduzidas do exterior ou com cooperação estrangeira, os compromissos e as vantagens, para os sujeitos das pesquisas e para o Brasil, decorrentes de sua realização. Nestes casos deve ser identificado o pesquisador e a instituição nacionais co-responsáveis pela pesquisa. O protocolo deverá observar as exigências da Declaração de Helsinque e incluir documento de aprovação, no país de origem, entre os apresentados para avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição brasileira, que exigirá o cumprimento de seus próprios referenciais éticos. Os estudos patrocinados do exterior também devem responder às necessidades de treinamento de pessoal no Brasil, para que o país possa desenvolver projetos similares de forma independente;
t) utilizar o material biológico e os dados obtidos na pesquisa exclusivamente para a finalidade prevista no seu protocolo;
111
u) levar em conta, nas pesquisas realizadas em mulheres em idade fértil ou em mulheres grávidas, a avaliação de riscos e benefícios e as eventuais interferências sobre a fertilidade, a gravidez, o embrião ou o feto, o trabalho de parto, o puerpério, a lactação e o recém-nascido;
v) considerar que as pesquisas em mulheres grávidas devem, ser precedidas de pesquisas em mulheres fora do período gestacional, exceto quando a gravidez for o objetivo fundamental da pesquisa;
x) propiciar, nos estudos multicêntricos, a participação dos pesquisadores que desenvolverão a pesquisa na elaboração do delineamento geral do projeto; e
z) descontinuar o estudo somente após análise das razões da descontinuidade pelo CEP que a aprovou.
IV - CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe após
consentimento livre e esclarecido dos sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais manifestem a sua anuência à participação na pesquisa.
IV.1 - Exige-se que o esclarecimento dos sujeitos se faça em linguagem acessível e que inclua necessariamente os seguintes aspectos:
a) a justificativa, os objetivos e os procedimentos que serão utilizados na pesquisa; b) os desconfortos e riscos possíveis e os benefícios esperados; c) os métodos alternativos existentes; d) a forma de acompanhamento e assistência, assim como seus responsáveis; e) a garantia de esclarecimentos, antes e durante o curso da pesquisa, sobre a
metodologia, informando a possibilidade de inclusão em grupo controle ou placebo; f) a liberdade do sujeito se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer
fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu cuidado; g) a garantia do sigilo que assegure a privacidade dos sujeitos quanto aos dados
confidenciais envolvidos na pesquisa; h) as formas de ressarcimento das despesas decorrentes da participação na pesquisa; e i) as formas de indenização diante de eventuais danos decorrentes da pesquisa. IV.2 - O termo de consentimento livre e esclarecido obedecerá aos seguintes requisitos: a) ser elaborado pelo pesquisador responsável, expressando o cumprimento de cada uma
das exigências acima; b) ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa que referenda a investigação; c) ser assinado ou identificado por impressão dactiloscópica, por todos e cada um dos
sujeitos da pesquisa ou por seus representantes legais; e d) ser elaborado em duas vias, sendo uma retida pelo sujeito da pesquisa ou por seu
representante legal e uma arquivada pelo pesquisador. IV.3 - Nos casos em que haja qualquer restrição à liberdade ou ao esclarecimento
necessários para o adequado consentimento, deve-se ainda observar: a) em pesquisas envolvendo crianças e adolescentes, portadores de perturbação ou
doença mental e sujeitos em situação de substancial diminuição em suas capacidades de consentimento, deverá haver justificação clara da escolha dos sujeitos da pesquisa, especificada no protocolo, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, e cumprir as exigências do consentimento livre e esclarecido, através dos representantes legais dos referidos sujeitos, sem suspensão do direito de informação do indivíduo, no limite de sua capacidade;
b) a liberdade do consentimento deverá ser particularmente garantida para aqueles sujeitos que, embora adultos e capazes, estejam expostos a condicionamentos específicos ou à influência de autoridade, especialmente estudantes, militares, empregados, presidiários, internos em centros de readaptação, casas-abrigo, asilos, associações religiosas e semelhantes, assegurando-lhes a inteira liberdade de participar ou não da pesquisa, sem quaisquer represálias;
c) nos casos em que seja impossível registrar o consentimento livre e esclarecido, tal fato deve ser devidamente documentado, com explicação das causas da impossibilidade, e parecer do Comitê de Ética em Pesquisa;
d) as pesquisas em pessoas com o diagnóstico de morte encefálica só podem ser realizadas desde que estejam preenchidas as seguintes condições:
- documento comprobatório da morte encefálica (atestado de óbito); - consentimento explícito dos familiares e/ou do responsável legal, ou manifestação prévia
da vontade da pessoa; - respeito total à dignidade do ser humano sem mutilação ou violação do corpo; - sem ônus econômico financeiro adicional à família; - sem prejuízo para outros pacientes aguardando internação ou tratamento;
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- possibilidade de obter conhecimento científico relevante, novo e que não possa ser obtido de outra maneira;
e) em comunidades culturalmente diferenciadas, inclusive indígenas, deve-se contar com a anuência antecipada da comunidade através dos seus próprios líderes, não se dispensando, porém, esforços no sentido de obtenção do consentimento individual;
f) quando o mérito da pesquisa depender de alguma restrição de informações aos sujeitos, tal fato deve ser devidamente explicitado e justificado pelo pesquisador e submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa. Os dados obtidos a partir dos sujeitos da pesquisa não poderão ser usados para outros fins que os não previstos no protocolo e/ou no consentimento.
V - RISCOS E BENEFÍCIOS Considera-se que toda pesquisa envolvendo seres humanos envolve risco. O dano
eventual poderá ser imediato ou tardio, comprometendo o indivíduo ou a coletividade. V.1 - Não obstante os riscos potenciais, as pesquisas envolvendo seres humanos serão
admissíveis quando: a) oferecerem elevada possibilidade de gerar conhecimento para entender, prevenir ou
aliviar um problema que afete o bem-estar dos sujeitos da pesquisa e de outros indivíduos; b) o risco se justifique pela importância do benefício esperado; c) o benefício seja maior, ou no mínimo igual, a outras alternativas já estabelecidas para a
prevenção, o diagnóstico e o tratamento. V.2 - As pesquisas sem benefício direto ao indivíduo devem prever condições de serem
bem suportadas pelos sujeitos da pesquisa, considerando sua situação física, psicológica, social e educacional.
V.3 - O pesquisador responsável é obrigado a suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum risco ou dano à saúde do sujeito participante da pesquisa, conseqüente à mesma, não previsto no termo de consentimento. Do mesmo modo, tão logo constatada a superioridade de um método em estudo sobre outro, o projeto deverá ser suspenso, oferecendo-se a todos os sujeitos os benefícios do melhor regime.
V.4 - O Comitê de Ética em Pesquisa da instituição deverá ser informado de todos os efeitos adversos ou fatos relevantes que alterem o curso normal do estudo.
V.5 - O pesquisador, o patrocinador e a instituição devem assumir a responsabilidade de dar assistência integral às complicações e danos decorrentes dos riscos previstos.
V.6 - Os sujeitos da pesquisa que vierem a sofrer qualquer tipo de dano previsto ou não no termo de consentimento e resultante de sua participação, além do direito à assistência integral, têm direito à indenização.
V.7 - Jamais poderá ser exigido do sujeito da pesquisa, sob qualquer argumento, renúncia ao direito à indenização por dano. O formulário do consentimento livre e esclarecido não deve conter nenhuma ressalva que afaste essa responsabilidade ou que implique ao sujeito da pesquisa abrir mão de seus direitos legais, incluindo o direito de procurar obter indenização por danos eventuais.
VI - PROTOCOLO DE PESQUISA O protocolo a ser submetido à revisão ética somente poderá ser apreciado se estiver
instruído com os seguintes documentos, em português: VI.1 - folha de rosto: título do projeto, nome, número da carteira de identidade, CPF,
telefone e endereço para correspondência do pesquisador responsável e do patrocinador, nome e assinaturas dos dirigentes da instituição e/ou organização;
VI.2 - descrição da pesquisa, compreendendo os seguintes itens: a) descrição dos propósitos e das hipóteses a serem testadas; b) antecedentes científicos e dados que justifiquem a pesquisa. Se o propósito for testar
um novo produto ou dispositivo para a saúde, de procedência estrangeira ou não, deverá ser indicada a situação atual de registro junto a agências regulatórias do país de origem;
c) descrição detalhada e ordenada do projeto de pesquisa (material e métodos, casuística, resultados esperados e bibliografia);
d) análise crítica de riscos e benefícios; e) duração total da pesquisa, a partir da aprovação; f) explicitação das responsabilidades do pesquisador, da instituição, do promotor e do
patrocinador; g) explicitação de critérios para suspender ou encerrar a pesquisa; h) local da pesquisa: detalhar as instalações dos serviços, centros, comunidades e
instituições nas quais se processarão as várias etapas da pesquisa;
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i) demonstrativo da existência de infra-estrutura necessária ao desenvolvimento da pesquisa e para atender eventuais problemas dela resultantes, com a concordância documentada da instituição;
j) orçamento financeiro detalhado da pesquisa: recursos, fontes e destinação, bem como a forma e o valor da remuneração do pesquisador;
l) explicitação de acordo preexistente quanto à propriedade das informações geradas, demonstrando a inexistência de qualquer cláusula restritiva quanto à divulgação pública dos resultados, a menos que se trate de caso de obtenção de patenteamento; neste caso, os resultados devem se tornar públicos, tão logo se encerre a etapa de patenteamento;
m) declaração de que os resultados da pesquisa serão tornados públicos, sejam eles favoráveis ou não; e
n) declaração sobre o uso e destinação do material e/ou dados coletados. VI.3 - informações relativas ao sujeito da pesquisa: a) descrever as características da população a estudar: tamanho, faixa etária, sexo, cor
(classificação do IBGE), estado geral de saúde, classes e grupos sociais, etc. Expor as razões para a utilização de grupos vulneráveis;
b) descrever os métodos que afetem diretamente os sujeitos da pesquisa; c) identificar as fontes de material de pesquisa, tais como espécimens, registros e dados a
serem obtidos de seres humanos. Indicar se esse material será obtido especificamente para os propósitos da pesquisa ou se será usado para outros fins;
d) descrever os planos para o recrutamento de indivíduos e os procedimentos a serem seguidos. Fornecer critérios de inclusão e exclusão;
e) apresentar o formulário ou termo de consentimento, específico para a pesquisa, para a apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa, incluindo informações sobre as circunstâncias sob as quais o consentimento será obtido, quem irá tratar de obtê-lo e a natureza da informação a ser fornecida aos sujeitos da pesquisa;
f) descrever qualquer risco, avaliando sua possibilidade e gravidade; g) descrever as medidas para proteção ou minimização de qualquer risco eventual.
Quando apropriado, descrever as medidas para assegurar os necessários cuidados à saúde, no caso de danos aos indivíduos. Descrever também os procedimentos para monitoramento da coleta de dados para prover a segurança dos indivíduos, incluindo as medidas de proteção à confidencialidade; e
h) apresentar previsão de ressarcimento de gastos aos sujeitos da pesquisa. A importância referente não poderá ser de tal monta que possa interferir na autonomia da decisão do indivíduo ou responsável de participar ou não da pesquisa.
VI.4 - qualificação dos pesquisadores: “Curriculum vitae” do pesquisador responsável e dos demais participantes.
VI.5 - termo de compromisso do pesquisador responsável e da instituição de cumprir os termos desta Resolução.
VII - COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA-CEP Toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser submetida à apreciação de um
Comitê de Ética em Pesquisa. VII.1 - As instituições nas quais se realizem pesquisas envolvendo seres humanos deverão
constituir um ou mais de um Comitê de Ética em Pesquisa- CEP, conforme suas necessidades. VII.2 - Na impossibilidade de se constituir CEP, a instituição ou o pesquisador responsável
deverá submeter o projeto à apreciação do CEP de outra instituição, preferencialmente dentre os indicados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP/MS).
VII.3 - Organização - A organização e criação do CEP será da competência da instituição, respeitadas as normas desta Resolução, assim como o provimento de condições adequadas para o seu funcionamento.
VII.4 - Composição - O CEP deverá ser constituído por colegiado com número não inferior a 7 (sete) membros. Sua constituição deverá incluir a participação de profissionais da área de saúde, das ciências exatas, sociais e humanas, incluindo, por exemplo, juristas, teólogos, sociólogos, filósofos, bioeticistas e, pelo menos, um membro da sociedade representando os usuários da instituição. Poderá variar na sua composição, dependendo das especificidades da instituição e das linhas de pesquisa a serem analisadas.
VII.5 - Terá sempre caráter multi e transdisciplinar, não devendo haver mais que metade de seus membros pertencentes à mesma categoria profissional, participando pessoas dos dois sexos. Poderá ainda contar com consultores “ad hoc”, pessoas pertencentes ou não à instituição, com a finalidade de fornecer subsídios técnicos.
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VII.6 - No caso de pesquisas em grupos vulneráveis, comunidades e coletividades, deverá ser convidado um representante, como membro “ad hoc” do CEP, para participar da análise do projeto específico.
VII.7 - Nas pesquisas em população indígena deverá participar um consultor familiarizado com os costumes e tradições da comunidade.
VII.8 - Os membros do CEP deverão se isentar de tomada de decisão, quando diretamente envolvidos na pesquisa em análise.
VII.9 - Mandato e escolha dos membros - A composição de cada CEP deverá ser definida a critério da instituição, sendo pelo menos metade dos membros com experiência em pesquisa, eleitos pelos seus pares. A escolha da coordenação de cada Comitê deverá ser feita pelos membros que compõem o colegiado, durante a primeira reunião de trabalho. Será de três anos a duração do mandato, sendo permitida recondução.
VII.10 - Remuneração - Os membros do CEP não poderão ser remunerados no desempenho desta tarefa, sendo recomendável, porém, que sejam dispensados nos horários de trabalho do Comitê das outras obrigações nas instituições às quais prestam serviço, podendo receber ressarcimento de despesas efetuadas com transporte, hospedagem e alimentação.
VII.11 - Arquivo - O CEP deverá manter em arquivo o projeto, o protocolo e os relatórios correspondentes, por 5 (cinco) anos após o encerramento do estudo.
VII.12 - Liberdade de trabalho - Os membros dos CEPs deverão ter total independência na tomada das decisões no exercício das suas funções, mantendo sob caráter confidencial as informações recebidas. Deste modo, não podem sofrer qualquer tipo de pressão por parte de superiores hierárquicos ou pelos interessados em determinada pesquisa, devem isentar-se de envolvimento financeiro e não devem estar submetidos a conflito de interesse.
VII.13 - Atribuições do CEP: a) revisar todos os protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos, inclusive os
multicêntricos, cabendo-lhe a responsabilidade primária pelas decisões sobre a ética da pesquisa a ser desenvolvida na instituição, de modo a garantir e resguardar a integridade e os direitos dos voluntários participantes nas referidas pesquisas;
b) emitir parecer consubstanciado por escrito, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, identificando com clareza o ensaio, documentos estudados e data de revisão. A revisão de cada protocolo culminará com seu enquadramento em uma das seguintes categorias:
• aprovado; • com pendência: quando o Comitê considera o protocolo como aceitável, porém identifica
determinados problemas no protocolo, no formulário do consentimento ou em ambos, e recomenda uma revisão específica ou solicita uma modificação ou informação relevante, que deverá ser atendida em 60 (sessenta) dias pelos pesquisadores;
• retirado: quando, transcorrido o prazo, o protocolo permanece pendente; • não aprovado; e • aprovado e encaminhado, com o devido parecer, para apreciação pela Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa -CONEP/MS, nos casos previstos no capítulo VIII, item 4.c. c) manter a guarda confidencial de todos os dados obtidos na execução de sua tarefa e
arquivamento do protocolo completo, que ficará à disposição das autoridades sanitárias; d) acompanhar o desenvolvimento dos projetos através de relatórios anuais dos
pesquisadores; e) desempenhar papel consultivo e educativo, fomentando a reflexão em torno da ética na
ciência; f) receber dos sujeitos da pesquisa ou de qualquer outra parte denúncias de abusos ou
notificação sobre fatos adversos que possam alterar o curso normal do estudo, decidindo pela continuidade, modificação ou suspensão da pesquisa, devendo, se necessário, adequar o termo de consentimento. Considera-se como anti-ética a pesquisa descontinuada sem justificativa aceita pelo CEP que a aprovou;
g) requerer instauração de sindicância à direção da instituição em caso de denúncias de irregularidades de natureza ética nas pesquisas e, em havendo comprovação, comunicar à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa-CONEP/MS e, no que couber, a outras instâncias; e
h) manter comunicação regular e permanente com a CONEP/MS. VII.14 - Atuação do CEP: a) A revisão ética de toda e qualquer proposta de pesquisa envolvendo seres humanos não
poderá ser dissociada da sua análise científica. Pesquisa que não se faça acompanhar do respectivo protocolo não deve ser analisada pelo Comitê.
115
b) Cada CEP deverá elaborar suas normas de funcionamento, contendo metodologia de trabalho, a exemplo de: elaboração das atas; planejamento anual de suas atividades; periodicidade de reuniões; número mínimo de presentes para início das reuniões; prazos para emissão de pareceres; critérios para solicitação de consultas de experts na área em que se desejam informações técnicas; modelo de tomada de decisão, etc.
VIII - COMISSÃO NACIONAL DE ÉTICA EM PESQUISA (CONEP/MS) A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP/MS é uma instância colegiada, de
natureza consultiva, deliberativa, normativa, educativa, independente, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde.
O Ministério da Saúde adotará as medidas necessárias para o funcionamento pleno da Comissão e de sua Secretaria Executiva.
VIII.1 - Composição: A CONEP terá composição multi e transdiciplinar, com pessoas de ambos os sexos e deverá ser composta por 13 (treze) membros titulares e seus respectivos suplentes, sendo 05 (cinco) deles personalidades destacadas no campo da ética na pesquisa e na saúde e 08 (oito) personalidades com destacada atuação nos campos teológico, jurídico e outros, assegurando-se que pelo menos um seja da área de gestão da saúde. Os membros serão selecionados, a partir de listas indicativas elaboradas pelas instituições que possuem CEP registrados na CONEP, sendo que 07 (sete) serão escolhidos pelo Conselho Nacional de Saúde e 06 (seis) serão definidos por sorteio. Poderá contar também com consultores e membros “ad hoc”, assegurada a representação dos usuários.
VIII.2 - Cada CEP poderá indicar duas personalidades. VIII.3 - O mandato dos membros da CONEP será de quatro anos com renovação alternada
a cada dois anos, de sete ou seis de seus membros. VIII.4 - Atribuições da CONEP - Compete à CONEP o exame dos aspectos éticos da
pesquisa envolvendo seres humanos, bem como a adequação e atualização das normas atinentes. A CONEP consultará a sociedade sempre que julgar necessário, cabendo-lhe, entre outras, as seguintes atribuições:
a) estimular a criação de CEPs institucionais e de outras instâncias; b) registrar os CEPs institucionais e de outras instâncias; c) aprovar, no prazo de 60 dias, e acompanhar os protocolos de pesquisa em áreas
temáticas especiais tais como: 1- genética humana; 2- reprodução humana; 3- farmácos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos novos (fases I, II e III) ou não
registrados no país (ainda que fase IV), ou quando a pesquisa for referente a seu uso com modalidades, indicações, doses ou vias de administração diferentes daquelas estabelecidas, incluindo seu emprego em combinações;
4- equipamentos, insumos e dispositivos para a saúde novos, ou não registrados no país; 5- novos procedimentos ainda não consagrados na literatura; 6- populações indígenas; 7- projetos que envolvam aspectos de biossegurança; 8- pesquisas coordenadas do exterior ou com participação estrangeira e pesquisas que
envolvam remessa de material biológico para o exterior; e 9- projetos que, a critério do CEP, devidamente justificado, sejam julgados merecedores de
análise pela CONEP; d) prover normas específicas no campo da ética em pesquisa, inclusive nas áreas
temáticas especiais, bem como recomendações para aplicação das mesmas; e) funcionar como instância final de recursos, a partir de informações fornecidas
sistematicamente, em caráter ex-ofício ou a partir de denúncias ou de solicitação de partes interessadas, devendo manifestar-se em um prazo não superior a 60 (sessenta) dias;
f) rever responsabilidades, proibir ou interromper pesquisas, definitiva ou temporariamente, podendo requisitar protocolos para revisão ética inclusive, os já aprovados pelo CEP;
g) constituir um sistema de informação e acompanhamento dos aspectos éticos das pesquisas envolvendo seres humanos em todo o território nacional, mantendo atualizados os bancos de dados;
h) informar e assessorar o MS, o CNS e outras instâncias do SUS, bem como do governo e da sociedade, sobre questões éticas relativas à pesquisa em seres humanos;
i) divulgar esta e outras normas relativas à ética em pesquisa envolvendo seres humanos; j) a CONEP juntamente com outros setores do Ministério da Saúde, estabelecerá normas
e critérios para o credenciamento de Centros de Pesquisa. Este credenciamento deverá ser proposto
116
pelos setores do Ministério da Saúde, de acordo com suas necessidades, e aprovado pelo Conselho Nacional de Saúde; e
l) estabelecer suas próprias normas de funcionamento. VIII.5 - A CONEP submeterá ao CNS para sua deliberação: a) propostas de normas gerais a serem aplicadas às pesquisas envolvendo seres
humanos, inclusive modificações desta norma; b) plano de trabalho anual; c) relatório anual de suas atividades, incluindo sumário dos CEP estabelecidos e dos
projetos analisados. IX - OPERACIONALIZAÇÃO IX.1 - Todo e qualquer projeto de pesquisa envolvendo seres humanos deverá obedecer às
recomendações desta Resolução e dos documentos endossados em seu preâmbulo. A responsabilidade do pesquisador é indelegável, indeclinável e compreende os aspectos éticos e legais.
IX.2 - Ao pesquisador cabe: a) apresentar o protocolo, devidamente instruído ao CEP, aguardando o pronunciamento
deste, antes de iniciar a pesquisa; b) desenvolver o projeto conforme delineado; c) elaborar e apresentar os relatórios parciais e final; d) apresentar dados solicitados pelo CEP, a qualquer momento; e) manter em arquivo, sob sua guarda, por 5 anos, os dados da pesquisa, contendo fichas
individuais e todos os demais documentos recomendados pelo CEP; f) encaminhar os resultados para publicação, com os devidos créditos aos pesquisadores
associados e ao pessoal técnico participante do projeto; g) justificar, perante o CEP, interrupção do projeto ou a não publicação dos resultados. IX.3 - O Comitê de Ética em Pesquisa institucional deverá estar registrado junto à
CONEP/MS. IX.4 - Uma vez aprovado o projeto, o CEP passa a ser co-responsável no que se refere aos
aspectos éticos da pesquisa. IX.5 - Consideram-se autorizados para execução, os projetos aprovados pelo CEP, exceto
os que se enquadrarem nas áreas temáticas especiais, os quais, após aprovação pelo CEP institucional deverão ser enviados à CONEP/MS, que dará o devido encaminhamento.
IX.6 - Pesquisas com novos medicamentos, vacinas, testes diagnósticos, equipamentos e dispositivos para a saúde deverão ser encaminhados do CEP à CONEP/MS e desta, após parecer, à Secretaria de Vigilância Sanitária.
IX.7 - As agências de fomento à pesquisa e o corpo editorial das revistas científicas deverão exigir documentação comprobatória de aprovação do projeto pelo CEP e/ou CONEP, quando for o caso.
IX.8 - Os CEP institucionais deverão encaminhar trimestralmente à CONEP/MS a relação dos projetos de pesquisa analisados, aprovados e concluídos, bem como dos projetos em andamento e, imediatamente, aqueles suspensos.
X. DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS X.1 - O Grupo Executivo de Trabalho - GET, constituído através da Resolução CNS
170/95, assumirá as atribuições da CONEP até a sua constituição, responsabilizando-se por: a) tomar as medidas necessárias ao processo de criação da CONEP/MS; b) estabelecer normas para registro dos CEP institucionais; X.2 - O GET terá 180 dias para finalizar as suas tarefas. X.3 - Os CEP das instituições devem proceder, no prazo de 90 (noventa) dias, ao
levantamento e análise, se for o caso, dos projetos de pesquisa em seres humanos já em andamento, devendo encaminhar à CONEP/MS, a relação dos mesmos.
X4 - Fica revogada a Resolução 01/88.
ADIB D. JATENE Presidente do Conselho Nacional de Saúde
Homologo a Resolução CNS nº 196, de 10 de outubro de 1996, nos termos do Decreto de
Delegação de Competência de 12 de novembro de 1991.
ADIB D. JATENE Ministro de Estado da Saúde
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ANEXO 2 - ORIENTAÇÕES DE ENFERMAGEM DADAS PELAS PESQUISADORAS
• Quanto ao momento para informações e esclarecimento de dúvidas
(preocupações, visitas, acompanhantes, anestesia, cirurgia e outros)
Foi explicado aos pacientes, individualmente, que a Equipe de Enfermagem
poderia possibilitar a diminuição do medo, da angústia e da insegurança que eles,
porventura, apresentassem nos momentos que antecedia a cirurgia, por meio de
uma assistência individualizada e diferenciada.
Foi dito que estas informações visavam acrescentar, à assistência de
enfermagem, medidas preventivas para evitar os agentes estressores que poderiam
acometer cada um deles no período pré-operatório, podendo proporcionar-lhes um
desequilíbrio pelo estresse estabelecido.
Feito isto, foi explicado que seus familiares e amigos poderiam visitá-los após
a cirurgia. Acredita-se que esta explicação beneficia o paciente, fazendo com que
ele se tranqüilize. Além do que, ao saber antecipadamente dos sintomas que
poderiam apresentar após a cirurgia ou sobre a presença de equipamentos ou tubos
de drenagens, ajudaria na aceitação e adaptação destes dispositivos no pós-
operatório.
Esta explicação tem como propósito acrescentar na rotina pré-operatória
imediata estas informações educativas, com objetivo de minimizar os níveis de
estresse que poderiam acometer o paciente durante o período pré-operatório.
• Quanto às estratégias de enfrentamento ao estresse
Foi orientado que as estratégias de enfrentamento devem oportunizar o
esclarecimento, por meio de orientações adequadas e com uma linguagem que se
aproxime do nível de compreensão do paciente.
Foi explicado aos pacientes do pré-operatório que as formas de aliviar a
tensão podem ser úteis para superar a ansiedade e obter o relaxamento, podendo
ser feitas por meio da: imaginação, concentrando-se em experiências agradáveis e
cenas tranqüilas; distração, encorajada a pensar em uma história agradável ou em
recitar um poema; auto-recitação otimista, tendo pensamentos otimistas
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• Quanto aos exercícios respiratórios, circulatórios e deambulação
Ao nos referirmos sobre os exercícios respiratórios e circulatórios, foi
explanado que os mesmos são utilizados na prevenção de complicações pós-
operatórias, tais como: a atelectasia pulmonar, pneumonia, trombose venosa
profunda e outras.
Foi dito que a respiração profunda é uma técnica de relaxamento eficaz, pois,
além de evitar a atelectasia, a tosse advinda promove a retirada de secreções do
tórax. Da mesma forma, as mudanças de decúbito estimulam a circulação,
incentivam uma respiração mais profunda e aliviam as zonas de compressão. Os
exercícios de pernas e pés melhoram a circulação e o tônus muscular.
A deambulação precoce aumenta a eliminação de gases, melhora a
expectoração, diminui a dor na área cirúrgica, facilita a circulação, previne
complicações respiratórias, circulatórias e a distensão abdominal.
• Quanto aos momentos cirúrgicos
Foi explicado que, para a realização de uma cirurgia, é necessária uma série
de preparos e rotinas, que iriam auxiliá-los e facilitar nos procedimentos, evitando
possíveis complicações, como por exemplo:
- Encaminhamento para o centro cirúrgico: feito pelo maqueiro que leva o
paciente, juntamente com o prontuário e os exames, até a entrada do Centro
Cirúrgico.
- Entrada no centro cirúrgico: a enfermeira recebe o paciente ao chegar na
entrada do Centro Cirúrgico e o encaminha para a sala cirúrgica. Esta atividade tem
o propósito de familiarizar o paciente ao ambiente ao qual está sendo inserido,
assim como para iniciar os procedimentos do Centro Cirúrgico.
- Sala de cirurgia: a enfermeira deve manter diálogo com o paciente e orientá-
lo a cada passo do procedimento, procurando acalmá-lo, deixando que expresse
suas ansiedades.
- Passagem para a mesa de cirurgia: momento em que o paciente deve ser
informado sobre a transferência da maca, na qual foi transportado, para a mesa
cirúrgica.
- Posicionamento na sala de cirurgia: o paciente é auxiliado na transferência
para a mesa cirúrgica e colocado em posição de decúbito dorsal, confortável, com
os braços abertos, para facilitar o manuseio do acesso venoso e o controle de
119
pressão arterial. Foi explicado que ele permaneceria coberto, e que, neste momento,
receberia a punção venosa, necessária para administração de medicações do tipo
analgésicas e sedativas, entre outras que se fizerem necessárias. Além disso, foi
explicado sobre a colocação de eletrodos, para a monitorização cardíaca, bem como
sobre a anti-sepsia da área cirúrgica e a sua finalidade. Foi explicado, ainda, que
seria colocada uma divisória de tecido entre o anestesista e o cirurgião, logo após
estar anestesiado, com o objetivo de não haver contaminação entre o anestesista e
a cirurgia propriamente dita.
- Ato cirúrgico: momento em que a equipe cirúrgica está devidamente
paramentada e se inicia a cirurgia. Foi explicado o motivo do uso destas vestes e
acessórios. Foi dito aos pacientes que, durante o ato cirúrgico, na maioria dos
casos, eles são mantidos sedados, mesmo em anestesias locais e bloqueios. Além
do que o paciente não conseguiria visualizar o ato cirúrgico, devido à colocação da
divisória de tecido, já mencionada anteriormente.
- Tipos de drenos (Tubular com sucção, Penrose e Kherr): os pacientes foram
informados que os drenos poderiam ser colocados nas seguintes situações: nos
grandes deslocamentos de tela subcutânea é feito o uso de drenos de aspiração
fechada (tubular com sucção). Dreno de penrose é um tubo achatado, maleável e
elástico, que tem por objetivo drenar secreções anormais por mecanismos de
gravidade e diferença de pressão. Os usos são os mais variados, desde drenagem
de pequenos abscessos até grandes incisões. Já o dreno de Kherr (dreno em T) é
usado em cirurgias de vias biliares e é colocado no colédoco para drenar secreções
no período pós-operatório. Esta drenagem é feita por meio de um sistema simples
por gravidade e coletada em frasco ao nível do chão.
- Sala de recuperação pós-anestésica – SRPA: os pacientes foram orientados
que o pós-operatório tem seu início na sala de recuperação pós-anestésica, para
onde são levados após a operação, ainda sob o efeito da anestesia. Lá, eles
recebem acompanhamento direto e depois da estabilização de seu estado, têm alta
dessa unidade e são levados para o seu leito de origem.
O acompanhamento durante a recuperação pós-anestésica tem como
objetivo prestar ao paciente todos os cuidados necessários até a recuperação de
seus reflexos e estabilização dos sinais vitais.
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Os pacientes foram informados, também, que, quando estivessem acordados,
corados, apresentando melhor resposta motora, quadro respiratório e circulatório
adequado, estariam aptos a retornar para o leito de origem.
• Sobre possíveis desconfortos no pós-operatório
- Náuseas e vômitos: estas são reações bastante comuns, podendo ser
atribuídos ao efeito da anestesia, assim como no ato cirúrgico com deglutição de
sangue, muco e saliva, no período de inconsciência. Podem ser ocasionadas,
também, pela não observância do jejum pré-operatório.
- Sede: a maioria dos pacientes apresenta este desconforto no pós-
operatório, podendo ser, geralmente, devido ao uso de anestésicos, medicamentos
e perda de líquidos durante a operação.
- Retenção urinária: trata-se da incapacidade de urinar, apesar da vontade,
pode ser causada pelo uso de medicamentos que contenham opióides. São de
ocorrência comum em cirurgias onde a analgesia é feita por bloqueios
(raquianestesia, epidural sacra ou peridural baixa). A dor, pós-operatório, pode ser
um agravante neste momento, já que o paciente tem receio de fazer esforço,
dificultando o estímulo para a micção.
- Dor: é uma experiência subjetiva e pode ou não ser verbalizada. Por isso,
deve ser acompanhada de perto, muitas vezes sendo necessária a administração de
analgésicos mais fortes nas primeiras 24 horas. A sedação para a dor deve ser
proporcional às queixas, com esta medida, obtém-se melhor cooperação do
paciente, tanto psicológica como fisicamente. Esta medida permite a movimentação
e a deambulação precoce, além de uma fisioterapia respiratória adequada.
- Alterações do SNC: o paciente pode estar desorientado, sonolento, confuso
ou delirante. A causa pode variar de efeito residual da anestesia à dor e ansiedade.
• Pré-operatório das 24 horas que antecedem a cirurgia
- Permissão operatória (Termo de Consentimento): trata-se do documento
pelo qual o paciente ou responsável autoriza a realização da cirurgia. Esse
documento protege o paciente contra uma cirurgia não sancionada e protege o
médico e o hospital contra a reclamação de uma cirurgia não autorizada. Deverá ser
assinado pelo paciente ou responsável. A enfermeira do turno que antecede a da
cirurgia deverá checar se este documento está assinado e constando do prontuário,
não podendo ser realizado depois da medicação pré-anestésica.
121
- Visita do anestesista: o anestesista visita o paciente nas 24 horas que
antecedem a cirurgia, com o objetivo de identificar problemas que possam interferir
na escolha do anestésico para a realização da cirurgia. Para isso, é feito um exame
físico, revisão de antecedentes médicos correntes e pertinentes, o estado mental e
físico do paciente são determinados. Além disso, o médico analisa os dados do
prontuário, bem como os exames.
- Retirada de esmalte das unhas, se necessário: as unhas pintadas,
principalmente com esmalte não transparente, dificultam a visualização da perfusão
capilar periférica.
- Encaminhar ou fazer a tricotomia facial (sexo masculino) e axilar (feminino),
levando em consideração valores culturais: a tricotomia dos pelos das axilas nas
mulheres e facial dos homens contribui para uma boa higiene corporal, diminuindo a
quantidade de agentes microbianos que possam ser contaminantes. Este
procedimento deve ser realizado durante o banho geral antes da cirurgia.
- Jejum conforme prescrito: tem por objetivo manter o estômago livre dos
alimentos, prevenindo a ocorrência de vômito com possível aspiração durante a
anestesia. Geralmente, o anestesista prescreve dez a doze horas de jejum antes da
cirurgia.
- Lavagem intestinal, se necessário: é a remoção do conteúdo intestinal, por
meio de lavagem mecânica (água morna mais glicerina), com o objetivo de evitar o
esvaziamento involuntário pelo efeito anestésico e de prevenir o trauma ao intestino
ou a contaminação acidental do peritônio pelas fezes. Este procedimento só será
realizado quando solicitado pelo médico, pois é indicado somente para algumas
cirurgias.
- Tricotomia da área cirúrgica, se necessário: é a remoção dos pelos na
região a ser operada, quando necessário, a fim de facilitar o procedimento cirúrgico
e a fixação do curativo. É realizada com aparelho de barbear e degermante pelo
menos duas horas antes do procedimento. Deve constar no impresso de cuidados
pré-operatórios.
- Banho, preparo da pele e higiene oral: o banho e o preparo da pele têm por
objetivo tornar a pele, tanto quanto possível, livre de microorganismos, com
degermante, sem prejudicar sua integridade física e fisiológica. A higiene oral
oportuniza a remoção de microorganismos que poderão interferir no controle de
infecção, além do conforto para o paciente.
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- Camisola aberta: vestimenta usada por todo paciente que será encaminhado
ao centro cirúrgico, para facilitar o processo da cirurgia, devendo, o paciente, despir-
se das roupas íntimas. Ela deverá ser fornecida para ser vestida após o banho geral.
- Esvaziamento vesical, antes do pré-anestésico: para evitar que o conteúdo
da bexiga seja liberado involuntariamente sob efeito anestésico. Em algumas
cirurgias abdominais, por exemplo, poderá ocorrer acidentalmente a lesão da bexiga
se estiver distendida. É importante que o paciente seja orientado para esvaziar a
bexiga antes do pré-anestésico.
- Retirada de próteses, jóias e adereços: as próteses são retiradas para evitar
lesões na hora da entubação. Atualmente, fica a critério do anestesista a retirada
das mesmas no centro cirúrgico. Os objetos metálicos, como jóias e adereços,
interferem no uso da placa de bisturi usada em todas as cirurgias. Devem ser
retiradas antes do pré-anestésico, para que o paciente ou acompanhante os guarde
em segurança.
- Medicação pré-anestésica: o principal objetivo desta medicação é reduzir a
ansiedade do paciente de modo que a indução e manutenção da anestesia, no
centro cirúrgico, sejam mais fáceis. Ela é prescrita conforme a necessidade
individual de cada paciente, sendo ministrada e checada pelo funcionário da equipe
de enfermagem conforme prescrito pelo anestesista.
- Verificar sinais vitais antes e após o pré-anestésico: a pressão arterial (PA),
o pulso (P), a respiração (R) e a temperatura (T), devem ser verificados uma hora
antes e uma hora após a administração do pré-anestésico por via oral (VO). No caso
de endovenoso (EV) ou intramuscular (IM), verifica-se quinze minutos após. Estes
dados devem ser registrados no impresso de controle pré-operatório, e caso ocorra
qualquer anormalidade, deve ser comunicada.