Enfoque participativo no trabalho com grupos · Foi desenvolvido a partir dos anos 70, ... Um bom...
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Este texto foi adotado para fim exclusivo de apoio didático ao Curso de Gestão Estratégica Pública - Turma 2005 - uma parceria entre a Escola de Extensão da Unicamp e a Escola de Governo e Desenvolvimento do Servidor (EGDS) da Prefeitura Municipal de
Campinas.
Enfoque participativo no trabalho com grupos
Contexto Geral É comum perceber-se uma mistura no entendimento de certos métodos de
trabalho com grupos, em especial, o Metaplan, ZOPP e o Enfoque Participativo.
Essa dificuldade se dá, principalmente, porque os três fazem uso das técnicas de
moderação e de visualização móvel.
O Metaplan caracteriza-se pelas técnicas de moderação e de visualização móvel
(fichas coloridas) no trabalho com pequenos grupos. Foi desenvolvido a partir dos
anos 70, por uma empresa de consultoria alemã orientada para a capacitação de
executivos de empresas – Metaplan GMBH. Esses instrumentos foram
desenvolvidos em uma época em que a sociedade passou a exigir maior espaço
para a participação nas tomadas de decisão e orientação dos processos segundo
os desejos e necessidades de todos os diferentes grupos envolvidos. Para
assegurar essa maior demanda por participação, foram desenvolvidos métodos e
instrumentos que efetivamente pudessem viabilizar esse propósito.
O método ZOPP (Planejamento de Projeto Orientado por Objetivos) foi
desenvolvido a partir do “Logical Framework Approach” ou “Marco Lógico”. É um
método de planejamento desenvolvido e adotado oficialmente, pela GTZ
(Sociedade Alemã de Cooperação Técnica), desde 1983, em todos os projetos da
Cooperação Técnica Alemã. Nesse período, tornou-se sinônimo de um processo
de planejamento participativo voltado às necessidades e interesses dos envolvidos
em determinado contexto. O método ZOPP incorporou ao processo de
planejamento as técnicas Metaplan, ajustando a sua aplicação para os envolvidos
nos projetos técnicos da cooperação.
Uma terceira linha metodológica foi desenvolvida, tomando por base as
experiências acumuladas pela equipe da Metaplan, pela GTZ e por um grande
número de instituições e profissionais que trabalham sobre o enfoque da
participação, chamado de Enfoque Participativo. Segundo Kraptiz (1988), o
Enfoque Participativo pode ser entendido como uma aproximação sistemática a
processos de grupos buscando mobilizar seus potenciais e fornecer-lhes
instrumentos para melhorar as suas ações pelas contribuições dos participantes e
em que se manifesta e incorpora o meio socioeconômico e cultural de cada
situação.
Por essa razão, o Enfoque participativo envolve uma complexidade maior de
aplicação que os demais, por estar em permanente aperfeiçoamento e adaptação,
envolvendo um campo de aplicação bem mais abrangente. Apropriado para quem
fomenta ou faz parte de um grupo de auto-gestão, sendo orientado para a
aplicação conforme a necessidade e a situação do grupo. Os princípios básicos do
Enfoque Participativo constituem-se no diálogo ativo, na problematização e na
condução compartilhada do processo, sendo desenvolvido, utilizando as técnicas
Metaplan, entre outros instrumentos.
Metaplan
ZOPP
Enfoque participativo
O Enfoque na participação
O desenvolvimento de um processo participativo permite uma interação
interdisciplinar e multissetorial, facilitando o surgimento de soluções mais criativas
e ajustadas a cada realidade. Desse modo, reduzimos as possibilidades da
elaboração de projetos dissociados da realidade. A não participação dos
envolvidos implicará, em grande parte, no pouco comprometimento e auto-
identificação para com o mesmo.
A participação não é somente um instrumento para a solução dos problemas, mas
também uma necessidade do homem de auto-afirmar-se, de interagir em
sociedade, criar, realizar, contribuir, sentir-se útil. É um instrumento muito eficaz
para aumentar a motivação e o entusiasmo das pessoas,contribuindo para a
expressão do pleno potencial de uma organização.
Um processo participativo visa não somente à elaboração de propostas mais
ajustadas à realidade. Pretende mudar comportamentos e atitudes, onde os
indivíduos passam a ser sujeitos ativos no processo e não objetos do trabalho dos
outros.
Um processo participativo implica em uma aprendizagem mútua, envolvendo
todos os que possam contribuir, seja conceitualmente, seja pela sua experiência,
assim como os que irão estar à frente da execução das idéias geradas.
A importância de um processo participativo também pode ser dada pela razão
instrumental de sermos mais eficazes, realizando as coisas em conjunto.
Também se justifica pelo componente afetivo, por fazer com que nos sintamos
mais estimulados, mais seguros, mais seguros, mais confiantes, trabalhando em
equipe. É a base para a interação e confiança entre as pessoas e, assim, a sua
autogestão.
Participar também se pratica e aprende, sendo o melhor caminho para o
fortalecimento da cidadania, em suas mais diversas possiblidades.
O que entendemos por “participação”?
Participar vai muito além de estar presente. Participar significa tomar parte no
processo, emitir opinião, concordar/discordar.
Em um processo participativo, deve ocorrer o respeito às idéias de todos, sendo
que todas as contribuições devem ser valorizadas e voluntárias.
Deverá haver o envolvimento individual e permanente, considerando que a
participação é indivisível, devendo ocorrer em todo o processo.
A participação é um processo, requer treino e, fundamentalmente, mudança de
comportamento e de atitude.
Deverá haver atitudes e postura adequadas, com muita transparência e total
acesso a todas as informações.
Alguns instrumentos que facilitam a participação em um evento grupal
O Moderador é o elemento neutro, de equilíbrio, o catalisador para as diversas
idéias que aparecerão decorrentes do processo grupal. Ele não interfere no
conteúdo das discussões, tendo somente a responsabilidade de facilitar o
processo metodológico.
A Visualização consiste no registro visual contínuo de todo o processo, mantendo
as idéias sempre acessíveis para todos. Desse modo, as contribuições não se
perdem, sendo mais objetivas e mais transparentes para todo o grupo.
A Problematização é o mecanismo que adotamos para evitar a dominação e
ativar o intercâmbio de idéias entre os participantes. Assim, trata-se de mobilizar
as informações e conhecimentos dos envolvidos no processo. Para isso, adota-se
a técnica de formulação de perguntas orientadoras por parte do moderador do
processo de forma a direcionar o desenvolvimento do trabalho.
O Trabalho em Grupo é adotado para aumentar a eficácia da comunicação e
garantir um momento intensivo de criação, gerando idéias que possam ser o ponto
de partida para a discussão em plenária. São nos pequenos grupos que se
estabelece o contato face-a-face e criam-se idéias de forma intensiva.
As Sessões Plenárias são utilizadas para o aperfeiçoamento e lapidação das
idéias geradas nos grupos. São os momentos de socialização dos resultados, das
tomadas de decisão e de se estabelecer à responsabilidade e cumplicidade pelo
resultado alcançado.
O Debate Ativo deve ser provocado continuamente, sendo à base de um
processo grupal participativo, onde todos devem ter os mesmos direitos e
tratamentos, independente de posição ou cargo que exerçam. É na troca de idéias
e experiências que está a riqueza desse processo.
No enfoque participativo, não há espaço para o consumo passivo, de forma que
algumas pessoas depositam a sua verdade sobre os demais.
A Condução Compartilhada, avaliando o programa passo a passo, é o
mecanismo que permite aos participantes determinarem o desenvolvimento do
processo e, com isso, tornarem-se cúmplices do resultado auferido. Assim, divide-
se as responsabilidades com todos sobre os passos que se queira dar,
submetendo qualquer decisão à plenária.
O Moderador
O que representa ser um moderador ?
O termo “moderar” significa estabelecer equilíbrio, acordar regras de convivência,
orientar e ordenar uma reunião, debate, treinamento, etc.
O moderador é o elemento responsável por estabelecer esse equilíbrio,
direcionando o grupo para o desenvolvimento harmônico do processo.
Ele assegura o apoio metodológico, instrumental e afetivo para o grupo,
orientando o desenvolvimento do trabalho.
Segundo Pfeiffer (1991), a moderação é “uma mistura de técnicas de
planejamento, de dinâmicas de grupos e de gerenciamento de discussões, de
psicologia social, sociologia, administração e de organização de empresas, todos
eles baseados em processos sociais e psíquicos que se apóiam nos
conhecimentos e experiências da psicologia humanista que em seu contexto de
trabalho cabe ao moderador o papel central”. A moderação também envolve
aspectos da andragogia, tendo em vista que trabalha basicamente com um público
adulto.
O moderador auxilia metodologicamente o grupo, orientando e sintetizando os
seus objetivos, debates, propostas e decisões. A sua principal tarefa recai em
orientar o processo a ser desenvolvido, não interferindo no conteúdo das
discussões. Cabe a ele criar um ambiente propício que estimule o debate e o
intercâmbio de experiências entre os diversos membros do grupo, evitando a
dominação de alguns sobre os demais.
A importância da neutralidade de um moderador
O trabalho com grupos de pessoas envolve, em sua grande parte, a gestão de
conflitos, sejam eles explícitos ou aqueles que por qualquer fator não são
facilmente perceptíveis. Os conflitos acabam por dificultar ou até mesmo bloquear
a dinâmica de uma organização.
Cabe ao moderador estabelecer a neutralidade do processo, passando a ser peça
fundamental no desenvolvimento e fortalecimento de um grupo de trabalho. O
moderador possibilita, com maior facilidade, romper estruturas e hierarquias,
estabelecendo uma igualdade entre os participantes, respeitando as devidas
responsabilidades. Assim, é possível assegurar, que em um evento participativo,
todos tenham os mesmos direitos e deveres.
O papel de um moderador
Um bom moderador será aquele que conseguir manejar, com competência, um
conjunto de instrumentos que possam ser mobilizados durante um evento grupal,
no seu devido momento. Porém essa competência técnica será capitalizada se o
moderador agir com habilidade e postura que sejam condizentes com um enfoque
participativo.
A postura / atitude do moderador
Um bom moderador necessita, em primeiro lugar, gostar do que faz, de trabalhar
com grupos, de lidar com pessoas. Necessita estar bem preparado para o
trabalho, com confiança no que está fazendo e, desse modo, poder transmiti-la
aos participantes. Ter consciência de que cada evento, cada grupo, será um novo
desafio, exigirá um novo comportamento, que irá requerer uma nova preparação.
O moderador deve saber ouvir e entender uma tarefa nem sempre fácil,
necessitando despir-se dos seus preconceitos e prejulgamentos. Saber opinar e
calar no devido momento, não atrapalhando a dinâmica do grupo, mas
provocando a consistência das discussões e conclusões. Ele deve ser simples no
seu jeito de ser. Para desempenhar o papel de moderador de processos
participativos, torna-se necessários que o mesmo tenha uma postura participativa.
O moderador necessita ter pleno domínio da direção e orientação do processo.
Deve procurar a auto-estima do grupo, valorizando seus avanços, mobilizando
suas necessidades e tratando dos interesses comuns.
Moderador x especialista
O moderador tem um papel singular em plenário, diferenciando-se por princípios
dos participantes. Diferencia-se também de possíveis especialistas, cuja função
recai em assessorar, aconselhar, transferir conhecimentos e informações úteis ao
grupo, que possam melhor estruturar suas alternativas e com isso facilitar uma
tomada de decisão. O especialista é a pessoa que detém melhores informações
sobre determinado aspecto e que poderá subsidiar o grupo com as mesmas.
Por outro lado, o moderador é mais um facilitador, catalizador, orientador
metodológico para o processo, enquanto o especialista é essencialmente um
assessor, um orientador técnico, um agente que irá transferir conhecimentos para
facilitar a análise e tomada de decisão pelo grupo, sem decidir por ele.
A Visualização Móvel
Em que consiste a visualização móvel?
Vamos abordar nessa parte a utilização da visualização móvel, como instrumento
de melhoria da comunicação quando tratamos de trabalhar com pequeno grupo de
pessoas.
A Visualização Móvel consiste, então, em tornar visível um debate, apresentação
de um tema, etc., e é móvel, por permitir o ordenamento das idéias, com extrema
flexibilidade, possibilitando várias opções de disposição. O sistema de
comunicação está baseado no uso de tarjetas, nome dado às pequenas
fichas/cartões, onde são registradas as informações com pincel atômico. As
tarjetas são utilizadas em vários tamanhos, formatos e cores, possibilitando a
escrita das idéias, em seu interior, com um tamanho de letra que permita a leitura
a uma distância de até 10 metros. Possibilita ainda uma combinação harmoniosa
entre formatos, cores e letras, de modo a se conseguir transmitir eficientemente
uma mensagem.
As tarjetas são utilizadas para que as idéias, opiniões, propostas, etc. sejam
registradas e então, uma a uma, possibilitar a construção, no conjunto de um
raciocínio lógico e objetivo. Depois de escrita uma idéia, as tarjetas são fixadas em
um painel, por alfinetes, ficando visível para todos os participantes do evento, por
todo o tempo.
A visualização móvel transfere parte da responsabilidade de registrar as idéias aos
participantes, que escrevem os seus próprios pensamentos, que depois, são
apresentados aos demais. Permite assim, estabelecer uma melhor dinâmica no
evento, com uma maior participação e com uma maior identificação dos
participantes para com o resultado do processo.
Importância da Visualização Móvel Este procedimento revela várias vantagens em relação aos métodos tradicionais,
entre elas;
• Aumenta consideravelmente a assimilação das idéias, reduzindo os mal-
entendidos;
• Estabelece um foco comum de atenção, concentrando a discussão e
estimulando a objetividade;
• Facilita a coleta e a estruturação de idéias, de forma sintética e objetiva,
orientando-se por frases e palavras-chaves;
• Registra todas as idéias, mantendo-as acessíveis para todo e por todo
tempo, servindo de memória viva da discussão ocorrida;
• Permite, se desejado, a expressão anônima das pessoas mais tímidas, ou
em situações embaraçosas;
• Possibilita o armazenamento das idéias, sem o risco de se perderem como
em uma expressão apenas verbalizada;
• Estabelece uma identificação do grupo para com o resultado, aumentando
a responsabilização e auto-estima de todos;
• Reduz a repetição de debates sobre temas já acordados e concluídos;
• Controla os “oradores natos”, quando são orientados a sintetizar e
visualizar as suas idéias principais.
A visualização móvel e a participação Um dos princípios básicos de um enfoque participativo é a existência de um
eficiente processo de comunicação. A participação pressupõe o intercâmbio de
idéias e a sua convergência para propostas comuns.
A visualização móvel é peça-chave em um processo participativo, pois sabemos
que a nossa capacidade de aprender e de recordar é aumentada e facilitada
quando podemos ver e interpretar determinadas informações ao invés de
somente ouvi-las. Podemos assegurar uma melhor análise e orientação do
processo, em situações complexas, em que muitas alternativas podem ser
analisadas.
A escrita faz com que as manifestações e opiniões individuais sejam
transformadas em responsabilidade do grupo. Possibilita a transformação do
prazer da conversa aberta e franca em compromisso de realização, assim como o
direito de falar no dever de cumprir.
Com a visualização móvel, possibilitamos que cada idéia, opinião, proposta seja
considerada e registrada, estabelecendo-se uma identidade do autor da mesma
para com o resultado, afinal a idéia dele esta lá, escrita, mesmo que
anonimamente. Conseguimos, assim, aumentar a auto-estima das pessoas, pela
simples valorização das suas idéias e da possibilidade concreta de contribuir com
o grupo. Para muitos, esse talvez seja o fator mais relevante, que por si só justifica
o uso da visualização móvel.
Elementos da Visualização Móvel
Com a visualização móvel, as idéias, sugestões, decisões, etc, além de faladas,
devem ser expostas visualmente, contando com o apoio de tarjetas que são
utilizadas para permitir o registro.da contribuição/informação. Fazemos uso da
escrita com letras grandes, símbolos, gráficos, desenhos ou qualquer tipo de
imagem, desde que facilmente entendidas pelo restante do grupo.
Na visualização móvel, as tarjetas foram desenvolvidas para o uso de pequenos
grupos (20 a 30 pessoas), visando garantir a sua leitura até uma distância de
aproximadamente 8 a 10 metros.
Procurando desenvolver tarjetas em que fosse possível ser registrados, com
pincel atômico, os mais diversos conteúdos, foram desenvolvidos inúmeros
formatos e diversas cores. Buscou-se modelos que pudessem dar ao moderador e
aos participantes a possibilidade de se expressar não somente pela escrita, mas
pela forma, cor ou disposição do seu conjunto.
Os principais elementos da visualização móvel são:
Cores
Normalmente trabalhamos com quatro cores (branco, amarelo, laranja e verde),
procurando-se tonalidades claras que assegurem contraste à escrita. Nada
impede que outras cores possam ser utilizadas (azul, rosa, caqui, etc), porém
sugerimos as de tons acentuados (pastéis).
Formatos
Igualmente às cores, também foram desenvolvidos vários formatos, tendo, em
princípio, as mesmas finalidades. O uso dos formatos diferentes devem ser
utilizados para indicar, como às cores, uma lógica na apresentação ou no registro
das informações/contribuições.
Os formatos mais utilizados são:
Nuvens Retangular
Oval
Sexta-vada
Circular Tiras
Os formatos de tarjetas mais freqüentes e seus usos são:
a) Retangular: tarjetas-padrão (10,5 x 21,5cm), foram desenvolvidas para
registrar uma contribuição / informação concisa, precisa. Pode ser utilizada
em conjunto, associando-se várias tarjetas ou isoladamente.
b) Tiras (10,5 x 55 cm): apropriadas para títulos, frases, comentários, resumos
ou propostas. Podem ser utilizadas para se destacar algum elemento
importante.
c) Ovais (10,5 x 14cm): são apropriadas para uma coleta de idéias, porque
permitem uma melhor estruturação associativa das tarjetas. Podem ser
utilizadas para subtítulos ou para destacar algo. Também são bastante
utilizadas para o detalhamento de uma idéia, associando-se a uma tarjeta
de outro formato (retangular, circular, etc.).
d) Circulares: as mais utilizadas são as de tamanho de 10, 14 e 21 cm de
diâmetro. São mais apropriadas para títulos ou para destacar aspectos
relevantes. As de menor tamanho são indicadas para números, nomes ou
uso em/com desenhos.
e) Nuvens: em tamanhos variados: são apropriadas para os títulos.
f) Sextavadas: são indicadas para títulos ou destaques em uma
apresentação.
Escrita
A escrita é o elemento base da visualização, devendo ser clara, sintética e
auto-explicativa. A visualização não fala por si mesmo, somente serve de apoio
à expressão oral, não substituindo o conteúdo, pelo contrário, normalmente
revelando a sua falta.
Recomenda-se no início de cada encontro em que se irá fazer uso da
visualização móvel, orientar os participantes quanto à escrita, em especial:
• Procurar não escrever mais que três linhas por tarjeta, pois assim se
pode levar a uma distância razoável, de até 8 a 10 metros;
• Evitar utilizar as palavras isoladamente, adicionando preferencialmente
um verbo. Isto ajuda a reduzir os mal-entendidos e equívocos,por má
interpretação;
• Escrever somente uma contribuição / informação por tarjeta, facilitando a
estruturação / organização a posteriori;
• Escrever utilizando letras maiúsculas e minúsculas, facilitando a leitura a
certa distância.
A regra fundamental para a escrita é “você deve conseguir ler e entender o
conteúdo da sua tarjeta de qualquer posição do plenário”.
A escrita também pode ser utilizada para se destacar algum aspecto importante.
Para salientar um título, por exemplo, pode-se utilizar letras maiores, uma outra
cor, sublinhar ou contorna-las. O uso correto da escrita deve assegurar uma
apresentação clara,legível e visível para todos os participantes.
A estruturação das tarjetas deverá transmitir o gosto / criatividade e a lógica de
raciocínio da pessoa ou grupo que a produziu. Para construir essa lógica, pode-se
fazer uso das diferentes formas, tamanhos e cores de tarjetas e letras, símbolos,
linhas, etc., não existindo regras preestabelecidas da estruturação.
Em fim, as alternativas de combinações de cores, formatos e letras, seguem a
criatividade de cada um, certamente limitada, bastando desenvolve-las.
Problematização
Uma forma eficiente de provocar a discussão sobre um determinado assunto é a
sua transformação em pergunta. Assim, a problematização é a provocação de um
debate ou análise por meio de pergunta, de modo que as pessoas reflitam e
opinem a respeito de um determinado tema. Por esse meio, podemos iniciar ou
alimentar um processo de debate, orientando a reflexão individual e coletiva.
Podemos dizer que uma boa pergunta é mais relevante que uma boa resposta. A
problematização é um dos princípios básicos do enfoque participativo.
Com essa técnica, analisamos o tema em questão e procuramos identificar o
aspecto mais importante a ser discutido. Assim, transformamos esse ponto numa
questão a ser respondida. Para que tenhamos êxito com essa técnica, devemos
assegurar que a pergunta seja previamente elaborada. Devemos analisar
cuidadosamente o que perguntar, como, quando e para quem faze-la.
A problematização visa provocar a reflexão, facilitar a interação e a mobilização de
experiências e idéias de todos os participantes. Uma boa pergunta pode revelar a
complexidade do problema em questão assim como a capacidade do grupo para
encontrar as possíveis soluções.
Para a moderação, a problematização passa a ser um dos principais instrumentos
metodológicos de um evento, como uma espécie de combustível que irá alimentar
a intervenção do moderador rumo aos objetivos traçados.
Alguns cuidados na formulação de uma pergunta
Ao formularmos uma pergunta orientadora, devemos:
• Provocar a reflexão e o interesse individual e coletivo a respeito do tema
e não somente da parte da plenária;
• Ser entendida com facilidade por todos;
• Despertar a curiosidade do grupo pelo resultado do debate, incentivando
a participação;
• Provocar e despertar a diversidade de opiniões, estimulando o debate;
• Desencadear novas perguntas que alimentarão o debate.
Por outro lado, uma pergunta orientadora, quando bem-elaborada, não deve:
• Produzir respostas do tipo “sim” ou “não”, a não ser que necessitamos de
respostas rápidas e precisas. Devemos priorizar perguntas do tipo”Como”,
“O que”, “Por quê?”, “Para Quem?”;
• Resultar em discussões que não interessam aos propósitos do evento,
desviando o debate dos seus reais objetivos;
• Criar situações desagradáveis, difíceis ou incomodas para o grupo ou
determinadas pessoas;
• Motivar justificativas ou despertar sentimentos de culpa;
• Ser elaborada e dirigida exclusivamente para alguns no grupo excluindo os
demais da sua análise.
Assim, na formulação de uma pergunta devemos evitar:
• as perguntas muito especializadas, que gerem dificuldades para alguns
ou mesmo constrangimentos para outros;
• a possibilidade de uma dupla interpretação, dificultando o debate;
• apresentar uma pergunta sem utilizar o recurso da visualização;
• dificultar a interpretação por má visualização;
• que seja mudada de improviso, após ser colocada para debate, em
decorrência de uma má formulação.
Portanto, no uso da problematização, a arte recai em colocar a pergunta
correta na hora certa.
Em um processo participativo, a problematização somente terá êxito se
pudermos assegurar a manifestação de idéias e o livre pensamento de
todos, reduzindo a dominação de alguns sobre os demais. Devemos evitar
que alguns possam não se manifestar por falta de oportunidade, por
inibição, ou intimidação frente a uma hierarquia predominante.
O trabalho em pequenos grupos
O trabalho em pequenos grupos visa melhorar a dinâmica do processo,
possibilitando estabelecer uma discussão mais ampliada e consistente das
idéias. Procura-se assegurar um momento de intensiva criação de idéias,
que, em um segundo momento, serão socializadas e aperfeiçoadas em
plenário. Com essa técnica, busca-se também, aumentar o nível de
participação das pessoas e a sua responsabilização perante o processo.
A divisão de uma plenária em grupos de trabalho visa, também, aumentar a
interação e a confiança mútua entre as pessoas, trabalhando “face-a-face”,
melhorando a dinâmica e a produtividade dos trabalhos. Os grupos devem
ter caráter informal e temporário, com a tarefa de analisar, debater, estudar,
planejar ou mesmo refletir sobre algum tema. Elaboram propostas que
serão submetidas aos demais participantes, que poderão acatá-las,
modificá-las ou rejeitá-las totalmente. O resultado desse processo será um
produto acordado e assumido por todos.
A importância do trabalho em grupos
Em um processo participativo, o trabalho em grupos se torna uma
ferramenta de extrema valia, permitindo aumentar a participação grupal. A
utilização dessa técnica aliada a um ambiente adequado, é o ingrediente
básico para motivar e estimular o potencial de criação dos participantes.
Em grupos, com poucas pessoas, cada um se sentirá mais à vontade e
estimulado a contribuir na discussão, resultando em uma participação,
principalmente das pessoas mais tímidas, que em plenário não o fariam.
Pode-se também reduzir as predominâncias individuais, principalmente
daquelas que acabam por centralizar o domínio da palavra e o rumo das
decisões. Nos pequenos grupos, o ambiente de trabalho torna-se menos
hostil, mais equilibrado, facilitando a integração, reduzindo as tensões e as
inibições.
Por meio do trabalho em grupos, podemos realizar o debate de um leque
maior de temas, principalmente quando o tempo disponível for reduzido,
formulando propostas. As discussões e complementações são feitas em
plenário. Cada grupo poderá tratar um dos temas e, desse modo, avançar
nas discussões.
Alguns cuidados especiais
• O número ideal de integrantes para um pequeno grupo é de 4 a 6
pessoas, sendo que abaixo desse, poderá faltar à chamada “massa crítica”;
acima de seis pessoas, poderá acontecer que algumas delas não opinem
por acomodação ou por inibição.
• Evitar que as lideranças ou os dominantes estejam todos em um
mesmo grupo.
• Ter uma certa flexibilidade para que as pessoas troquem de grupo,
buscando mais afinidade com um tema ou mesmo com pessoas.
• Ter tempo suficiente para que o grupo possa refletir sobre o tema,
com criatividade e liberdade para expor suas idéias. Em geral, para tratar
de uma questão, sem muita profundidade, um grupo de 4 a 6 pessoas
necessita de 60 a 90 minutos.
• Assegurar para que existam espaços independentes para cada
grupo. Caso não haja essa disponibilidade, devemos organizar os grupos
num mesmo recinto.
Recomendações para o trabalho nos grupos
1 – Preparar um lugar adequado de trabalho.
2 – Escrever o tema, a pergunta orientadora de forma legível e certificar-se de
que foi claramente entendida.
3 – Organizar o grupo e distribuir as tarefas, verificando quem irá moderar,
quem organizará a visualização e quais as etapas do trabalho.
4 – Procurar estabelecer um horário de trabalho, verificando quanto tempo irá
requerer cada etapa.
5 – Permitir um momento de reflexão individual de cada participante, sem falar.
6 – Registrar as idéias em tarjetas, permitindo que todos se manifestem de
forma equilibrada.
7 – Proceder à leitura, esclarecimentos, ordenamento e análise de todas as
contribuições.
8 – Visualizar os resultados e concluir a respeito, procurando verificar o que o
grupo deseja transmitir à plenária.
9 – Verificar o que ainda falta para a conclusão da tarefa do grupo.
10 – Preparar a apresentação dos resultados, verificando quem vai expor as
conclusões.
11 – Arrumar o local de trabalho, guardando todos os materiais utilizados.
O princípio básico que fundamenta o trabalho em pequenos grupos é necessidade
de aumentarmos a participação das pessoas no debate coletivo e de melhorar a
própria dinâmica de um evento.
Coleta de Idéias (Brainstorming)
Essa técnica também é conhecida como Brainstorming, Chuva ou Tempestade de
idéias. Ela serve para coletar e ordenar idéias, opiniões, propostas, etc., com
relação a um determinado tema. Com esse procedimento, podemos provocar uma
maior participação de todos, aumentando o intercâmbio e a organização de idéias,
além de ser um forte estímulo à criatividade.
A coleta de idéias pode ser realizada de várias maneiras. Uma delas, utilizando
tarjetas, é por meio de um procedimento indutivo, formando grupos de idéias
semelhantes, como se fossem nuvens e dando títulos a esses agrupamentos.
Como utilizar essa técnica?
1 – O moderador inicia o procedimento explicando ou relembrando as regras
para a escrita e uso das tarjetas. Essa será em maior ou menor grau,
dependendo da familiaridade dos participantes para com a visualização
móvel.
2 – O moderador apresenta a pergunta orientadora, objeto de análise, sempre
de forma visualizada, certificando-se de que foi bem entendida.
3 – Os participantes respondem à pergunta, de forma visualizada,
individualmente ou em minigrupos. O número de tarjetas poderá ser
limitado, variando de acordo com a pergunta ou com o número de
participantes.
4 – O moderador deve aguardar até que todos tenham terminado de
responder, para, então, recolher as contribuições. Em seguida, misturar as
tarjetas coletadas, procurando romper estruturas preestabelecidas que
possam existir.
5 – O moderador, em conjunto com os participantes, inicia a estruturação,
lendo e mostrando cada uma das idéias coletadas, organizando-as no
painel, em blocos, por proximidade de temas.
6 – Após a estruturação das idéias em blocos, devemos dar um título que
sintetize cada conjunto de idéias, procurando destacá-los, escrevendo-os
em tarjetas de cor e forma diferenciados das demais.
7 – Finalizando, devemos realizar uma análise do resultado obtido, procurando
conclusões, resumos ou propostas, que assegurem a continuidade do
processo.
As vantagens desse procedimento
• Provoca e facilita a participação, principalmente quando existem pessoas
inibidas ou constrangidas, que de forma verbal não iram se manifestar.
• Possibilita a manifestação anônima dos participantes, necessária em
muitas situações, evitando constrangimentos.
• Permite que os próprios participantes formulem suas contribuições,
mantendo a originalidade e evitando distorções na interpretação da
mensagem por terceiros.
• A freqüência de idéias em uma nuvem pode indicar uma certa prioridade
de opiniões.
• Exige a formulação de idéias claras, facilitando o entendimento e a
objetividade.
• Facilita a responsabilização de todos pela sua identificação com os
resultados, à medida que visualizam as suas contribuições no painel.
• Assegura o registro das idéias e a formulação dos resultados. Caso
contrário, o processo não irá além de um bom debate – “quais foram as
nossas conclusões?”
Aplicações do Enfoque Participativo O Enfoque Participativo pode ser utilizado nas mais diversas atividades em que
deverão estar envolvidas pessoas de um determinado grupo (técnico, agricultores,
diretores, etc.), em que se deseja um amplo processo de participação, podendo
envolver atividades de consulta, de planejamento, de capacitação etc.
• Nas atividades de consulta, podemos envolver, especialmente, a troca de
idéias e no esclarecimento de procedimentos.
• Troca de idéias – muitos dos problemas enfrentados por um grupo
possuem soluções internas, necessitando, para isso, da mobilização do
seu potencial de auto-ajuda. A troca de idéias constante e aberta poderá
ser o canal para que esse potencial seja manifestado e potencializado.
• Esclarecimento de conceitos – o desenvolvimento uniforme e sincronizado
de um grupo depende diretamente do fato de todos estarem entendendo e
pactuando conceitos, facilitando assim , a mobilização das idéias em
direção a um ponto comum.
• Sensibilização – procuramos estimular o espírito crítico de cada um,
tornando-os abertos ao desenvolvimento de idéias pactuadas por um grupo
de indivíduos.
• Conscientização – busca-se provocar que cada um torne-se consciente do
seu potencial de contribuição para o desenvolvimento do processo, a partir
do desenvolvimento da sua auto-estima.
• Planejamento – pode-se utilizá-lo em qualquer etapa de um processo, a
partir de planejamento: análise da situação, definição de objetivos, tomada
de decisão, elaboração de um plano operacional, monitoria, etc.
Bibliografia: CORDIOLLI, Sérgio. Enfoque Participativo do Trabalho com grupos. In: Markus Brose (org.) Metodologia Participativa. Uma Introdução a 29 instrumentos. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2001. pp. 25 – 40.