energia das ondas

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ENERGIA SOCIEDADE C or vermelha, 700 toneladas e 150 metros de comprimento. Vistos há cinco séculos seriam considerados monstros marinhos. Hoje, os mó- dulos cilíndricos que permitem a produção de energia eléctrica dão pelo nome de Pela- mis. Esta tecnologia, de origem escocesa, comercializada em Portugal pela Enersis, vai ser instalada na praia da Aguçadoura, Pó- voa de Varzim, num parque pré-comercial com 2,25 MW de potência instalada. Apesar de a empresa não comentar o adia- mento da montagem comercial da primeira fase do parque [estava prevista para Outu- bro de 2007], a VISÃO sabe que as máqui- nas estão prontas a instalar e se encontram no porto de Leixões, aguardando condições meteorológicas favoráveis à sua instalação. António Sarmento, 56 anos, director do Centro de Energia das Ondas (CEO), diz que este dispositivo «está dois anos à frente de todos os outros» e acredita que «o par- que será, seguramente, montado este ano». A concretizar-se o investimento de 1 200 milhões de euros num prazo de oito anos, a Enersis será responsável pela construção no mundo do primeiro parque de exploração de energia eléctrica através das ondas. TECNOLOGIA ‘À LA CARTE’ «O desenvolvimento destes dispositivos não é fácil, porque são colocados num meio Mar de luz O parque de ondas da Aguçadoura é pioneiro e Portugal pode ser líder da produção de energia, a partir do oceano POR PEDRO SANTOS «A exploração comercial da energia das ondas pode ser responsável por 1% da ri- queza produzida durante 30 a 40 anos e por iluminar um milhão de lares no País», afir- ma António Sarmento. «O potencial do País daria para criar 2 500 quilómetros de par- ques.» O engenheiro mecânico, que criou e dirige o único centro nacional para o estudo da exploração comercial deste recurso, diz, ainda, que «Portugal pode ser responsável por 10% da produção mundial». Desde 1979 que o Instituto Superior Téc- nico faz investigação nesta área, o que permi- tiu desenvolver e construir, com tecnologia 100% nacional, a central de energia das on- das da ilha do Pico. O projecto, apoiado por fundos comunitários, foi a primeira e maior central, em potência, ligada directamente à rede eléctrica e é, hoje, gerida pelo CEO. 106 v17 DE ABRIL DE 2008 TECNOLOGIA PELAMIS É em tubos vermelhos como estes que se produz a energia eléctrica muito adverso, onde têm de resistir», afir- ma Teresa Pontes, 61 anos, investigado- ra do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI). António Sarmento diz que «não é de esperar que os sistemas saiam do laboratório para o mar sem haver problemas» e acredita que as empresas que arriscarem nesta fase inicial serão as mais bem sucedidas. Não há um consenso sobre a melhor tecnologia para o aproveitamento deste recurso. Em todo o mundo existem mais de 50 soluções diferentes para aproveitar a energia das ondas e, em Portugal, já foram testadas várias. Há sistemas junto à costa e ao largo, fixos ou móveis, submersos ou flutuantes, o que mostra a atenção que é dedicada ao aproveitamento desta fonte de energia. A exploração comercial da energia das ondas pode ser responsável por 1% da riqueza produzida durante 30 a 40 anos e por iluminar um milhão de lares’ ANTÓNIO SARMENTO director do Centro de Energia das Ondas DR JOSÉ CARLOS CARVALHO

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O parque de ondas da Aguçadoura é pioneiro e Portugal pode ser líder da produção de energia, a partir do oceano SOCIEDADE TECNOLOGIA ‘À LA CARTE’ «O desenvolvimento destes dispositivos não é fácil, porque são colocados num meio 106 v 17 DE ABRIL DE 2008 ANTÓNIO SARMENTO director do Centro de Energia das Ondas TECNOLOGIA PELAMIS É em tubos vermelhos como estes que se produz a energia eléctrica POR PEDRO SANTOS JOSÉ CARLOS CARVALHO DR

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ENERGIA SOCIEDADE

Cor vermelha, 700 toneladas e 150 metros de comprimento. Vistos há cinco séculos seriam considerados monstros marinhos. Hoje, os mó-

dulos cilíndricos que permitem a produção de energia eléctrica dão pelo nome de Pela-mis. Esta tecnologia, de origem escocesa, comercializada em Portugal pela Enersis, vai ser instalada na praia da Aguçadoura, Pó-voa de Varzim, num parque pré-comercial com 2,25 MW de potência instalada.

Apesar de a empresa não comentar o adia-mento da montagem comercial da primeira fase do parque [estava prevista para Outu-bro de 2007], a VISÃO sabe que as máqui-nas estão prontas a instalar e se encontram no porto de Leixões, aguardando condições meteorológicas favoráveis à sua instalação. António Sarmento, 56 anos, director do Centro de Energia das Ondas (CEO), diz que este dispositivo «está dois anos à frente de todos os outros» e acredita que «o par-que será, seguramente, montado este ano». A concretizar-se o investimento de 1 200 milhões de euros num prazo de oito anos, a Enersis será responsável pela construção no mundo do primeiro parque de exploração de energia eléctrica através das ondas.

TECNOLOGIA ‘À LA CARTE’«O desenvolvimento destes dispositivos não é fácil, porque são colocados num meio

Mar de luzO parque de ondas da Aguçadoura é pioneiro e Portugal

pode ser líder da produção de energia, a partir do oceanoPOR PEDRO SANTOS

«A exploração comercial da energia das ondas pode ser responsável por 1% da ri-queza produzida durante 30 a 40 anos e por iluminar um milhão de lares no País», afi r-ma António Sarmento. «O potencial do País daria para criar 2 500 quilómetros de par-ques.» O engenheiro mecânico, que criou e dirige o único centro nacional para o estudo da exploração comercial deste recurso, diz,

ainda, que «Portugal pode ser responsável por 10% da produção mundial».

Desde 1979 que o Instituto Superior Téc-nico faz investigação nesta área, o que permi-tiu desenvolver e construir, com tecnologia 100% nacional, a central de energia das on-das da ilha do Pico. O projecto, apoiado por fundos comunitários, foi a primeira e maior central, em potência, ligada directamente à rede eléctrica e é, hoje, gerida pelo CEO.

106 v 17 DE ABRIL DE 2008

TECNOLOGIA PELAMIS É em tubos vermelhos como estes que se produz a energia eléctrica

muito adverso, onde têm de resistir», afi r-ma Teresa Pontes, 61 anos, investigado-ra do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI). António Sarmento diz que «não é de esperar que os sistemas saiam do laboratório para o mar sem haver problemas» e acredita que as empresas que arriscarem nesta fase inicial serão as mais bem sucedidas.

Não há um consenso sobre a melhor tecnologia para o aproveitamento deste recurso. Em todo o mundo existem mais de 50 soluções diferentes para aproveitar a energia das ondas e, em Portugal, já foram testadas várias. Há sistemas junto à costa e ao largo, fi xos ou móveis, submersos ou fl utuantes, o que mostra a atenção que é dedicada ao aproveitamento desta fonte de energia.

‘A exploração comercial da energia das ondas pode ser responsável por 1% da riqueza produzida durante 30 a 40 anos e por iluminar um milhão de lares’ ANTÓNIO SARMENTO director do Centro de Energia das Ondas

DR

JOSÉ

CAR

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