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ESTUDOS DE RECEPO E A FORMAO PROFISSIONAL EM POLTICAS
PBLICAS DE ESPORTE E LAZER: UMA POSSIBILIDADE DE PESQUISA
Sheylazarth Presciliana Ribeiro1
Resumo
O presente artigo tem o objetivo de apresentar argumentos que demonstrem as
possibilidades de utilizao de metodologias provenientes do campo dos Estudos
ulturais nas pesquisas em pol!ticas p"blicas de esporte e lazer# tendo como $oco os
Estudos de Recepo% Para tal objetivo $oi realizado uma reviso bibliogr&$ica que
tomou os termos pol!ticas p"blicas de esporte e lazer# estudos culturais e estudos de
recepo como base% omo concluso apresento que as possibilidades de utilizar
procedimentos metodol'gicos oriundo do campo dos Estudos ulturais podem
contribuir para entender os estudos de pol!ticas p"blicas de esporte e lazer%
Palavras(chave) Pol!ticas p"blicas de esporte e lazer* Estudos ulturais* Estudos de
Recepo%
+,-RO./0O
O presente trabalho $oi constru!do a partir de discuss2es presentes no grupo
de pesquisas Oricol3 da /456% O grupo se debrua sobre estudos da $ormao e
atuao de pro$issionais da &rea do lazer# e os Estudos ulturais v7m apresentando
interessantes possibilidades de interpreta2es dessas a2es%
1 Mestre em Estudos do Lazer pela UFMG, participante do grupo de pesquisaOricole. Docente da graduao em EF da U!FEMM e UEMG.
"s#e$lazart#%#otmail.com&.
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O objetivo desse artigo 3 apresentar os Estudos ulturais como uma
possibilidade metodol'gica de entender as pol!ticas p"blicas de esporte e lazer# e#
mais especi$icamente# pol!ticas p"blicas de $ormao de pro$issionais%
Para tal objetivo utilizo a metodologia de reviso bibliogr&$ica que levou a
seguinte estrutura de te8to) levanto primeiramente uma breve retrospectiva de como
vem acontecendo as pol!ticas p"blicas de esporte e lazer e a pol!tica p"blica como
uma linguagem humana* depois apresento os Estudos de Recepo como uma
possibilidade de interpretao dessa linguagem* e por "ltimo apresento uma
pequena reviso dos Estudos ulturais%
.ESE,9O:9+5E,-O
;s pol!ticas p"blicas de esporte e lazer so $oco de v&rios estudos a partir de
sua incluso na onstituio de 11
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apresentam um panorama dessas a2es% ;s pol!ticas p"blicas de esporte e lazer
apontam muitos desa$ios como as concep2es assistencialistas e8pressas nas
gest2es >5;RE::+,O# FGG1A# o car&ter controlador e moralista >HernecI# FGGJA# a
$alta de recursos para a2es >+S;K;5; e :+,L;:ES# FGG=A# as diversas
concep2es de esporte presente na sociedade que diversi$icam o entendimento das
a2es >;S-E::;,+ 4+:LO# FGG?* FGG@A# a di$iculdade de orientar atividades de
lazer >OR6ES et al%# FG11A# as tentativas de entender a participao popular no
processo decis'rio pol!tico >:OPES# FG1JA# a divisoJ dada ao esporte para a
prestao de servios a comunidade >R+E+RO# FG1JA%
Entre esses entraves um espec!$ico 3 a $ormao de pro$issionais para atuar
em a2es governamentais de esporte e lazer% Entre os pro$issionais demandados
para atuarem nas a2es de esporte e lazer esto os graduados >asA ou graduandos
>asA no curso de educao $!sica% E segundo +sayama >FGGFA o tratamento das
disciplinas que tratam dos temas recreao e lazer nas gradua2es em educao
$!sica tem o interesse de preparar os $uturos pro$issionais para o mercado de
trabalho% Entendo esse $ato como uma di$iculdade da $ormao de pro$issionais
para coordenar a2es de esporte e lazer# pois# como j& comentado as pol!ticas
p"blicas de esporte e lazer# enquanto pol!ticas sociais deveriam ter o ideal de
$ortalecer o CstatusD de cidado e no o mercado e suas e8pectativas%
Percebemos que o lazer possui di$erentes concep2es e8pressas
socialmente% ;ssim# podemos entend7(lo como uma viv7ncia dominada pelo
mercado como e8pressa a preocupao de 5ascarenhas >FGGMA que a$irma que o
lazer tornou(se um Cneg'cioD in$luenciado pelas l'gicas mercadol'gicas# e# tamb3m#
como uma viv7ncia humana que possibilita um ClugarD de interveno para aconstruo de pr&ticas de lazer mais re$le8ivas que possibilite o e8erc!cio da
cidadania >HER,EN# FGGGA% -al interveno 3 poss!vel se os pro$issionais que
atuam na gesto das a2es compreenderem que seu papel de mediador deve se
dar em uma perspectiva de Canalista culturalD >P;R;SO# FG1GA%
>FGG
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O analista cultural entende as produ2es humanas como Carte$atos culturaisD#
ou seja# como um te8to que possui discursos que podem in$luenciar a $ormao de
identidades e subjetividades% ;ssim# saber ClerD a cultura au8ilia no desvendamento
de rela2es# pois Co que consumimos em nossos momentos de lazer tem divulgado
uma s3rie de variedades de saberes sobre n's mesmos# sobre os outros e sobre o
mundo# com uma grande capacidade de seduo# de $azer desejar coisas# de
mudar percep2es e modelar condutasD >P;R;SO# FG1G# p% J1
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/m e8emplo dessas a2es $ormativas 3 apresentada no trabalho de Ribeiro
>FG1FA# que demonstra que a capacitao pro$issional do Programa Segundo -empo
$oram utilizadas metodologias di$erentes para a $ormao dos pro$issionais do
programa% .e $orma resumida temos em um primeiro momento# do ano de FGGJ a
FGG@ um sistema de educao B distQncia em conv7nio do a /, >/niversidade
4ederal de ras!liaA% .o ano de FGG@ a FGG< opta(se por um sistema de encontros
de $ormao presencial e# atualmente# tem(se um sistema de Educao a .istancia
atrelado a um monitoramento por CEquipes olaboradorasD e encontros
regionalizados%
Segundo Ribeiro >FG1JA a inteno da apacitao dos pro$issionais do PS- 3 $azer
com que o pro$issional siga um compasso com as inten2es de atuao nos n"cleos
presente nos documentos e no entendimento dos gestores% Essas inten2es
e8pressas nos documentos passam por v&rios saberes# entre eles a necessidade de
planejamento das a2es que sero o$ertadas nos n"cleos# o princ!pio da ludicidade
nas atividades o$ertadas# reconhecer a capacidade educacional do esporte# entender
processos metodol'gicos do ensino do esporte# entender o esporte como promotor
de desenvolvimento social# as rela2es de g7nero e incluso de pessoas com
de$ici7ncia no esporte e# no ano de FGG1FG1JA a $uno dessas Equipes olaboradoras seria a deconstituir um processo permanente de acompanhamento pedag'gico e administrativo dasa2es desenvolvidas nos ,"cleos do PS-%
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;s inten2es $ormativas presentes nos documentos e nas $alas dos gestores
do programa da $ormao dos pro$issionais podem ser entendidas como uma
mensagem que 3 transmitida de um emissor >gestores e documentosA para um
receptor >pro$issionais do programaA% -al sistema de transmisso pode ser entendido
como uma parte do processo de comunicao% Segundo Lall >FGGJA o processo de
transmisso da mensagem no 3 to CtransparenteD quanto parece# pois a
mensagem 3 uma estrutura comple8a de signi$icados e a recepo no 3 algo
aberto e per$eitamente transparente que aparece na outra ponta do processo de
comunicao >p%JM Lall# FGGJA% Segundo o autor sentido e signi$icados esto
relacionados a linguagem e a cultura%
Os autores percussores dos estudos culturais >Lall# -hompson# Loggart e
HilliansA iniciaram um processo de entender a cultura e suas rela2es com a
sociedade contemporQnea% ; cultura passa a ser entendida como Cmodo de vidaD
rompendo com os tr7s n!veis de cultura >erudita# massa e popularA% ; cultura 3 ento
o vivido# o e8perimentado um ClugarD de rela2es que se do pela linguagem%
; linguagem 3 o caminho pelo qual os seres humanos interagem com o real#
pois 3 por ela que nomeamos o mundo# copiando arbosa >FGGFGGJA e8iste um processo continuo no mundo cultural que esta
sempre signi$icando e ressigni$icando# e por isso o processo de transmisso e
recepo de mensagens no possuem sentidos $i8os% Por isso Lall >FGGJA rompe
com a ideia de uma comunicao Cper$eitaD# na qual a mensagem 3 pr3($ormada e
$i8a em termos de transmisso do emissor para o receptor% E segundo Schulman
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apud osta >FG1FA Stuart Lall identi$icou quatro componentes de ruptura com as
abordagens tradicionais do estudo da comunicao >recepoA ruptura que
signi$icou uma verdadeira Cvirada etnogr&$icaD%
Primeiramente# os Estudos ulturais rompem com as abordagens behavioristas#
que viam a in$lu7ncia dos meios de comunicao de massa nos termos de est!mulo(
resposta% Rompem tamb3m com as concep2es que viam os te8tos da m!dia como
suportes transparentes do signi$icado% Em terceiro lugar# rompem com a ideia
passiva e indi$erenciada de p"blico# optando por consider&(lo numa an&lise variada
dos modos pelos quais as mensagens so decodi$icadas%
Lall >FGGJA $ala sobre o processo de codi$icao e decodi$icao como umaproposta para outras maneiras de $azer estudos da m!dia% 5as o autor e8plicita que
qualquer te8to liter&rio# ou qualquer te8to# ou conjunto de regras seguiram um
processo de codi$icao% O momento da codi$icao surgiria da captao que as
pessoas $azem do mundo e codi$icam# portanto Cvoc7 l7 o circuito como se e8istisse
um mundo real# depois algu3m $ala sobre ele e o codi$ica# ai ento algu3m o l7# e o
mundo real passa a e8istir novamenteD >p% J?A% Lall >FGGJA lembra que o mundo
real no esta desconectado da linguagem# ele est& envolvido em todo esse processode leitura%
; teoria de Lall >FGGJA ainda elenca que e8istem :eituras pre$erenciais que C3
simplesmente um modo de dizer que# se voc7 det3m o controle dos aparatos de
signi$icao do mundo e do controle dos meios de comunicao# ento voc7 escreve
os te8tosD >p% J??A% ;ssim# compreendemos que os leitores podem assumir posturas
di$erentes ao interagirem com os te8tos%
Segundo osta >FG1JA Lall elaborou categorias poss!veis para estruturar as
leituras poss!veis dos receptores da mensagem# seriam elas)
Ca% /ma posio dominante ou pre$erencial# quando o sentido da mensagem3 decodi$icado segundo as re$er7ncias da sua construo* b% /ma posionegociada# quando o sentido da mensagem entra em negociao com ascondi2es particulares dos receptores* c% /ma posio de oposio# quandoo receptor entende a proposta dominante da mensagem# mas a interpretasegundo uma estrutura de re$er7ncia alternativaD% >OS-;# FG1J# p% 11JA
O importante 3 percebemos que segundo essa proposta de Lall conseguimos
CcaptarD possibilidades de posicionamentos dos sujeitos $rente Bs mensagens
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codi$icadas em di$erentes te8tos sociais% E al3m de capt&(los entendemos que e8iste
uma relao de subjetividade negocivel e no apenas dominada pela mensagem
como sugerem outras abordagens como o mar8ismoM%
Pautado na teoria de Lall >FGGJA percebo que e8istem possibilidades de
compreender como os sujeitos se relacionam com as codi$ica2es# ou mensagens#
produzidas por um emissor% Tuero com isso dizer que acredito na possibilidade de
entender como os pro$issionais do Programa Segundo -empo constroem sua
subjetividade signi$icando e ressigni$icando as mensagens transmitidas pelos
documentos produzidos para a capacitao pro$issional%
.essa $orma# percebo as possibilidades e8pressas em se pesquisar pol!ticas
p"blicas de esporte e lazer pelos m3todos propostos pelo campo dos Estudos
ulturais e especi$icamente pelos estudos de recepo como veremos a $rente%
PROESSOS 5E-O.O:O6+OS POSS+9E+S
; d3cada de ?G inaugura no mundo uma s3rie de estudos sobre a cultura# e
um movimento denominado Estudos ulturais 3 iniciado na +nglaterra apresentando
uma viso di$erente sobre cultura# di$erente do olhar que estava instaurado% Entre os
percussores desse movimento Raymond Hillians apresenta uma obra de
interveno na con$igurao social contemporQnea% evasco >FGGJA mostra como
Hillians $az um contraponto entre tradio e a cultura como modo de vida%
Para abalar tais estruturas# Hillians procurou analisar o enraizamento
econUmico(pol!tico do cultural na sociedade capitalista por meio de uma leiturahistoricamente orientada% Ele procurou) considerar a cultura em sentido
antropol'gico >como Cmodo de vidaDA para superar a tradicional re$le8o centrada
sobre o v!nculo cultura(nao e abranger a cultura dos diversos grupos sociais* $i8ar
e destacar a dimenso pol!tica da cultura como meio de demonstrar como a cultura
CpopularD eVou Coper&riaD $unciona como e8presso de interesses autUnomos dos de
Cbai8oD# que Bs vezes se articulam para contestar a ordem social vigente# bem como
*W importante comentar que Lall >FGGJA reconhece que e8istem processos dedesigualdades produzidos em nossa sociedade e o autor reconhece tamb3m o avano domar8ismo para desvendar as l'gicas estruturantes do capitalismo%
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para negociar os termos de sua adeso Bs rela2es de poder* entender o CvividoD
como lugar privilegiado da e8perimentao da participao das disputas# tens2es
e rela2es sociais* compreender a cultura como Qmago da atividade humana e como
central para as lutas sociais >evasco# FGGJA%
O materialismo cultural in$luenciou desde ento v&rios autores# e Cestudar o
culturalD e# assim# coloc&(lo em articulao com o todo social# trazendo B cena# de
um lado# o peso da estrutura para a e8peri7ncia humana# mas observando# de outro#
que a pr'pria e8peri7ncia 3 o lugar da resist7ncia Bs $oras produtivas
determinantes% Por isso# tornou(se necess&rio estudar as rela2es sociais de todas
as ordens >comerciais# pol!ticas# $amiliares# escolares# midi&ticas# esportivasA como
ativas e ativadas pela e8peri7ncia humana# e nunca totalmente independentes dela%
O que antes era visto como CneutroD ou CnaturalD passa a ser uma construo
humana# que atrav3s das metodologias de an&lise hist'rica esto envolvidas em
rela2es de poder comple8as%
Segundo aptista >FGG
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convoca essa diviso nos estudos de recepo# mas lembra de que ela no
enquadra procedimentos# inclusive porque muitas das analises encontradas nas
ideias da hermen7utica so representativas nas possibilidades da Xcodi$icao e
decodi$icaoY de Lall%
Os estudos de recepo tornam(se $requentes entre pesquisadores da
comunicao social para entender o processo de recepo de ideias# mas so
encontrados tamb3m em trabalhos como o de Lonorat >FGGMA que se trata de $azer
um estudo de recepo# a $im de compreender como os indiv!duos decodi$icam as
in$orma2es apresentadas por programas de segurana% .o ponto de vista te'rico#
$oram utilizados os trabalhos de Stuart Lall# que apresentam uma concepo do
processo de comunicao centrada no receptor% O pesquisador trabalhou com um
conjunto de grupos $ocais e destaca como as rea2es Bs in$orma2es audiovisuais
so sempre comple8as e m"ltiplas# por3m# pode(se mostrar que o processo de
decodi$icao 3 ligado a $atores sociais% .esse modo# a vida cotidiana das pessoas
entrevistadas >que muda em $uno do lugar de moradia# do poder aquisitivoA e8erce
uma in$lu7ncia sobre sua viso das in$orma2es divulgadas pela m!dia em relao
segurana em programa que o autor de$ine depolicialesco%
O,:/SO
; partir dos argumentos colocados concluo que as possibilidades de utilizar
procedimentos metodol'gicos oriundo do campo dos Estudos ulturais podem
contribuir para entender os estudos de pol!ticas p"blicas de esporte e lazer% ;s
contribui2es podem ser variadas e dependem dos objetivos de cada trabalho# mas
destaco aqui duas) as contribui2es que interpretam as pol!ticas p"blicas de esporte
e lazer como uma construo humana* e as possibilidades de captar como os
sujeitos participantes de a2es governamentais t7m rela2es Cnegoci&veisD com as
inten2es e8pressas nas pol!ticas p"blicas%
RE4ERE,+;S
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;RRE-LE# 5% -% S% Pol!ticas sociais no rasil) descentralizao em um
Estado $ederativo% Revista Brasieira !e Ci"#$ias S%$iais# v% 1# n% G# jun%V1
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5;RE::+,O# ,% % Pol!ticas de lazer% +n) 5;RE::+,O# ,% % Org% La'er e
es,%rte% ampinas# SP) ;utores ;ssociados# FGG1%
5;RSL;::# -% L% idadania e classe social% +n) idadania# classe social estatus% Rio de Zaneiro) [ahar Editores# 1