IV ENCONTRO ESTADUAL DE HISTRIA - ANPUH-BA HISTRIA: SUJEITOS, SABERES E PRTICAS.

29 de Julho a 1 de Agosto de 2008. Vitria da Conquista - BA.

EMPREGO DOMSTICO: UMA HERANA ESCRAVISTA NA CIDADE DE SALVADOR 1914 -1920

Gilmara Silva Santos

Graduanda em Hist ria pela Universidade Catlica do Salvador E-mail: deusamaua@yahoo.com.br

Palavras-chave: Emprego domstico . Heranas escravistas. Meninos pobres e negros.

O presente artigo se dedica a tecer comentrios sobre o emprego domstico na cidade

de Salvador, de 1914 a 1920, no perodo em que a cidade passava por tentativas de

modernizao e transformao urbana, no governo seabrista liderado a pr imeiro momento por

J. J. Seabra e em seguida por Antonio Muniz. Esse governo alm de ser caracterizados pelas

reformas modernizadoras que acompanhava as transformaes dos quadros polticos da Velha

Repblica, foi marcado por confrontos oligrquicos contr rios a modernidade urbana,

defendendo aos interesses da agro -exportao e da grande propriedade .

J. J. Seabra foi um dos estrategistas que constituiu o governo do Estado como cent ro

do poder, da passa a se estabelecer um longo processo de disputas entre o poder do Estado,

que ameaava submeter o coronelismo, e os poderes regionais dos coronis, que se negavam

a ceder, pretendendo manter seus projeto s autnomo de prestigio e poder (MATTA, 2000, p.

3). Esses confrontos no impe diram que ambos governos fortalecessem-se para implantar e

efetivar as tentativas de modernizao iniciado por Seabra, o governo de Muniz s veio a dar

continuidade aquilo que j estava posto pelo antigo governo, at por que ambos faziam parte

do mesmo grupo dominante , o seabrismo.

Meio a esse cenrio de disputas pol ticas para transformar a cidade, estava instalado

um quadro de mis ria e pobreza na cidade de Salvador. Como, o jornal A Tarde, de 3 de

maro de 1915, noticiou em seu editorial :

Ah! O tecto cobre muita misria . Mas, quando este tecto a cpula do ceo, mesmo a noite, com as suas estrelas, a misria como uma ferida exposta . Bem cabe essas reflexes dos aspectos da misria humana, que hontem, apanhamos pela cidade: nas praas, aos adros de igrejas, nas ruas, na s caladas, mendigos, enfermos e moribundos a morrerem aos poucos .

Os jornais da poca acompanhavam todos os conflitos e transformaes que

aconteciam em Salvador, tornado-se historicamente em um importante aparelho de

informao sendo utilizado como forma de dominao pela classe dominante em todo

territrio brasileiro. Ele no apenas transmitia informao, como disseminava novas e velhas

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idias. Era um importante instrumento de transmisso do pensamento da elite no perodo ,

impunham respeitabilidade po r serem portadores de noticias e pontos de vistas verdadeiros,

formando opinio (REIS, 2000, p. 8). Nesse sentido, pode-se dizer que tudo que virava not cia

no perodo era atravs de interesse de grupos especficos ou dos donos de jornais. Por isso,

que para o seabrismo era de fundamental importncia ter um a impressa ao seu lado, pois era

preciso esconder a misria causada dentro de um pr ocesso de civilidade , esta agia

diretamente na pobreza da cidade que se constitua a partir dos prprios mecanismo s de

excluso da nova lgica econmica capitalista. O quadro da misria tornou -se a essncia da

implantao efetiva do projeto de mo dernizao do governo seabrista, que se estabeleceu

como uma forma fundamental para a explorao dos indivduos e de sua fora de trabalho.

Diante desse contexto histrico poltico, percebe -se que as tentativas de modernizao

da cidade aconteceram junto s prticas escravistas, pois mesmo que Salvador tenha vivido o

processo da Abolio no sculo XIX, as mudanas ainda no tinha m muito peso para a

populao negra , na qual vivia em grande quantidade em situao desigual. a partir desse

ambiente histrico que este trabalho vai acompanhar as pos sibilidades de permanecia de

prticas escravistas no trabalho domstico , como tambm id entificar as possi bilidades que

este emprego tinha como alternativa de trabalho para a populao negra em especial os

meninos negros e pobres em Salvador.

Para tratar sobre a vivncia dos indivduos no s servios domstico s, procurei analisa r

atravs da contextualizao poltica e social do perodo, partindo da perspectiva da H istoria

Social, pois, por muitos anos os documentos oficia is eram a nica forma de ver a Histria, ou

seja, de pesquisa -l. Na segunda metade do sculo XIX, ela j era encarada como u m campo

cientfico, onde alm dos documentos oficias o pesquisador tinha as fontes como uma prova

histrica, que dava ao historiador a possibilidade de chegar at o passado, como ele veio

acontecer. Com o intuito de estabelecer uma nova abordagem da histor ia, Lucien Febvre e

Marc Bloch fundaram a revista dos Annales, em 1929. A partir da passou a se construir uma

historia-problema, englobando aspectos sociais e econmicos, onde permitir a pensar sobre o

homem em sociedade e suas relaes sociais.

A Histria Social se apresenta como uma das correntes historiogrfica s que propem

outra forma de compreender as mudanas histricas, n a continuao desta perspectiva a

Histria abandona a Histria generalizante e valoriza os grupos em suas particularidades e

em perodos especficos, incorporando metodologias e conceitos de outras disciplinas, assim

trazendo sugestes para trabalhar com as minorias tnicas, religies h bitos, costumes e

experincia. Nesta pesquisa, a Escola Inglesa do marxismo tem um papel fundam ental, pois

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atravs de Thompson que procurou -se romper com o determinismo linear do materialismo

histrico, trazendo para sua documentao as discu sses de expresses culturais de resistncia

das classes populares. Contudo, a Histria Social, traz para esse trabalho a possibilidades de

relacionar o registro histrico e o objeto de estudo, avaliando assim o servio domstico a

partir de uma perspectiva histrica, que resgatar o individuo comum, atravs de um estudo

que surgir dos aspectos sociais do comportamento humano s endo ele o objeto central do

conhecimento histrico .

O emprego domstico e a participao das mulheres negras

Para tentar entender a participao d os meninos no emprego domstico, se faz

necessrio perceber a histria das mulheres nessa ocupao, pois muitos desses meninos

nasciam dessas personagens , ou faziam parte de famlias que exerciam esse tipo de atividade .

Para fundamentar essa pesquisa , alm desse trabalho partir de uma nova abordagem da

Histria ele vai se fundamenta sobre as fontes de jornais e a dissertao de mestrado de Maria

Aparecida Prazeres Sanches, onde ela busca reconstituir a experincia de trabalho vivido

pelas mulheres pobres de salvador de 1900 a 1950, que sobrevivam com a funo de

empregada domstica. Dentro dessa leitura encontrei umas das respostas que poderia dar

andamento no trabalho, pois de acordo com a autora, o emprego domstico em Salvador

representou uma importante alternativa de sobrevivncia para as mulheres de baixa renda em

face de um mercado de traba lho, que no tinha capacidade para absorver satisfatoriamente o

contingente populacional em idade economicamente ativa (SANCHES, 1998 , p. 164).

Entretanto, a partir dessa afirmao, que percebe o quanto essa dissertao pode contribuir

para minha pesquisa , pois alm dela demonstrar, que o servio domstico se estabelecia como

uma alternativa de trabalho para as mulheres pobre s, ele tambm se constitua como uma

ocupao para os homens de baixa renda. Mesmo que ao comparar a participao masculina

economicamente ativa , ao longo do perodo, no trabalho dom stico com a outras atividades

comuns as camadas populares, fica demonstrado como a sua participao era bem me nos

expressiva que a feminina (SANCHES, 1998, p. 30).

Apesar da diferena da participao masculina no trabalho domstico, pode-se

perceber que embora houvessem passado alguma dcadas do processo de Abolio da

escravatura at o per odo estudado nesse trabalho , a populao negra tinha ficado a merc da

sua prpria sorte, ou seja, sem expecta tivas de sobrevivncia, por que a sociedade brasileira

largou o negro ao seu prprio destino, deitando sobre seus ombros a responsabilidades de

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reeducar-se e de transforma -se para corresponder ao novos padres e ideais de homem,

criados pelos advento do t rabalho livre, do regime republicano e do capitalismo

(FERNANDES, 1986 , p. 5). A populao buscava de certa forma driblar a misria e a

pobreza que generalizava em Salvador, e que alm de preserva suas prticas do antigo regime ,

ao mesmo tempo resistia s transformaes impostas pelo governo da poca . O emprego

domstico era uma ocupao de grande parte d a populao independente de cor, raa e idade,

Essa ocupao desde a poca da escravido mantinha relao muito prxima entre patres e

empregados, principalmente naquelas atividades executada no interior da casa. No inicio do

sculo XX, esse vinculo ainda era evidente, havia uma continuidade de servio na famlia,

onde perduravam as heranas escravistas

Para facilitar o entendimento do papel da mulher ne gra nos servios domsticos,

utilizei alm de Sanches, Sangra Graham onde ela procurar refletir sobre o trabalho

domstico, os locais de trabalho, as relaes das criadas com seus patres, a vida dos

trabalhadores pobres nos cortios e na cidade e das tran sformaes da vida domstica urbana,

Rio de Janeiro, no sculo XIX . Apesar da autora no remeter a Salvador e se debruar sobre

o Rio, ela traz relao uma ambgua e tensa entre patres e criadas (livres ou escravas),

destacando nesse meio termo um grande nmero de trabalhadora como empregadas

domstica. Da passando a ocupar uma parcela expressiva na populao feminina, estando

como uma categoria de trabalhadoras que em quase todas as famlias de baixa renda tinha

uma ou mais mulheres que exercia essa pr ofisso. Na maioria das vezes as mulheres que

exerciam essa atividade eram pobres de baixa renda e sem escolaridade, por isso ocupavam

uma parcela significativa na categoria .

As mulheres negras no final do sculo XIX no inicio do sculo XX, por ter vivido um

processo de escravido, utilizaram diversas formas para resistirem as relaes escravistas,

atravs do ganho de rua , principalmente atravs do comercio, ela ocupou lugar destacado no

mercado de trabalho urbano (SOARES, 2007, p. 57). Sendo assim, os trabalhos dessas

mulheres estiveram em v rias reas da economi a baiana, em 1914 , essa estratgia de

sobrevivncia ainda se perpetuava, al m dessas mulheres sarem para o co mercio, o servio

domstico ganhava um grande destaque, pois era o refugio para aquelas pessoas que vivia em

desigualdade social , sem escolaridade suficiente para exercer outra atividade.

Em meio a situao de misria da poca, um dos piores fatores era a falta de

dinamismo no setor de emprego de Salvador. Mesmo com o crescimento da cidad e, as

sociedades junto ao governo, no conseguiam dribla a pobreza, causada principalmente pelo

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desemprego. Dessa forma, o servio domstico que era o setor que mais empregava na poca

se tornava uma alternativa para as mulheres negras e pobres de Salvador.

Diante desse contexto, a relao no quotidiano que se estabeleceu entre as patroas e

empregadas no conseguiu se distanciar muito do perodo d a escravido, o trabalho que j era

remunerado, matinha uma relao de dominao e subordinao e de favores, no qual os

domsticos trocavam o trab alho pela dormida e alimentao. Nesse intuito, muitas das vezes

essas mulheres ai nda sofriam os resqucio das pr ticas escravistas, onde eram tratadas de

forma arbitraria e com agresso.

Em 1900, j havia se passa do mais dez anos das transfor maes operadas com a

abolio e a instalao da Repblica, dois importantes marcos nos rumos da histria do pas, e

a populao negra viveriam um longo e penoso processo na empreitada de buscar uma nova

identidade que colocasse fim aos estigmas herdados da escravido (SANCHES, 1998, p . 7-8).

Dessa forma, entende-se que a desvalorizao dessa categoria perpassa pela continuidade

escravista, no qual at os dias de hoje passar por um longo processo de adaptao . Assim,

ficando evidente que esse lento processo de transfor mao era fruto do interesse dos

dominantes do antigo regime , para se manter no domnio poltico e econmico da cidade, a

resistncia a modernizao resultava alm dos problemas de desempregos, tambm de

moradia e alimentao, por isso o fato de as mu lheres serem negras e se refugiarem, no

servio domstico, que era sua forma de resistir a situao existente .

Perante a sociedade as mulheres que exerciam essas diferentes atividades eram todas

iguais, no havia diferenas entre essas mulheres negras, que vagavam pelas ruas e praas da

cidade, ou seja, no existia uma hierarquia nos tipos de trabalhos, elas fundaram uma

categoria social ocupacional predominantemente feminina que vivencia quotidianamente no

emprego-emprego domstico (FARIAS, 1983, p. 11). Elas poderiam ser negras ou mestias, a

cor no era um impedimento para con seguir o emprego, o setor no era disputado, existiam

mulheres negras que exerciam duas profisses como a de vendedora e outras saiam para do

trabalho domstico para vender nas ruas, por isso os pedidos de Amas e Creada s eram

constantes nos classificados demonstrando a freqente falta de mo -de-obra, no perodo.

Ama Precisa-se de uma de para cozinhar e pequenos trabalhos de casa 5, Rua Chile, 1 Andar. (DIRIO DE NOTICIAS , quarta-feira, 7 jan. 1914, p. 7).

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Creada Precisa-se de uma para cozinhar e outros trabalhos para 2 pessoas, dormindo no aluguel e no indo a rua fazer compras, Bela Vista do Cabral N. 13 (DIRIO DE NOTICIAIS , segunda-feira, 13 maio 1920, p. 5).

A necessidade que se tinha das mulheres negras no recinto de uma casa foi devido, ao

longo dos sculos, elas serem encarregadas de fazerem as tarefas do lar , desde da chegada

das africanas no Brasil, at por que o trabalho do mstico uma responsabilidade da mulher,

culturalmente definido ponto de vista social como dona de casa, me ou esposa (MELO,

1998, p. 2). Por isso, foram identificadas, como a mais habilitada para exercer o servio

domstico, ao contrrio dos homens.

Ao se falar de raa nesse servio , as negras eram apontadas como mais compatveis

ao servio, principalmente quando eram comparadas s amas -de-leite, pois possuam o leite

forte. As brancas preferivelmente eram solicitadas para o servio de quarto e copa, pois alm

de no possurem leites fortes para amamentar as crianas na poca, tinham o papel de estar

mais prxima a os visitantes das famlias, na qual prestavam servios , para esses patres as

mulheres mais claras eram mais capacitadas para arrumar a casa e por uma mesa, com o

tambm receber e dar recados. A solicitao especificando as mulheres brancas ou claras, n o

era freqente, mas de acordo a necessidade das patroas o preferencial aparecia.

Creada Precisa-se de uma para quarto preferindo -se de cor branca. A tratar em casa de Manuel Joaquim de Carvalho, Largo da Graa (junto a Igreja) (DIRIO DE NOTICIAS, quarta-feira, 2 mar. 1914, p. 7).

A preferncia poderia existir nas ocupaes dentro de casa, assim como as brancas

eram requisitadas para o qu arto, as negras eram para cozinhar, conhecida como as mulheres

que faziam bem a limpeza dos animais a serem consumidos e que tempera va como ningum.

Entretanto, quando diz respeito s condies do trabalho no havia diferena, pois todas

passavam por uma r elao de dominao-subordinao por parte dos patre s. Havia uma

grande dificuldade para a populao pobre se liberta dos estigmas da escravido,

principalmente a comunidade negra que exerciam o servio domstico .

Os meninos negros no servio domstico

Discutir o papel masculino no emprego domstico muito difcil, at por que, uma

categoria, na qual composta na maioria por mulheres , por isso faltam at fontes para refletir

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a figura dos meninos nesse ambiente. Nesse sentido, a parte desse trabalho estar refletindo

como se estabeleceu a figura do menino domstico, em um espao eminentemente feminino,

dentro de um processo de transformao social, que a cidade de Salvador vivia naquele

especial momento, onde sobreviver para os indivduos pobres e ne gros em uma sociedade de

extrema excluso e represso era sua principal batalha.

As crianas que desempenhavam o trabalho domstico no inicio do sculo XIX,

muitas das vezes nasciam e viviam na casa dos patres , de certa forma elas eram aproveitadas

para o lar, com o tambm para atuar em suas fabricas, alm desses jovens que davam

continuidade ao trabalho dentro da m famlia, haviam aqueles que eram trazido s de fora de

Salvador, ou seja do interior da Bahia. A surpresa foi identificar o interesse pelo servio do

menino dentro das casas. A quantidade de ofcios dessa categoria eram diversas, pode-se

destacar: copeiro (a), jardineiro, lavador de casa e em especial levador de recados , pois no

era interessante manter as meninas correndo as ruas para dar reca dos. Como destaca os

pedidos nos classificados da poca.

Meninos de 14 a 15 anos : precisa-se de um para mandados e t rabalhos leves, a tratar na fabrica de charutos no alto da sete portas ( DIRIO DE NOTICIAS, segunda-feira, 24 maio 1920, p. 5).

A qualificao variava de acordo quem executava, dividindo por sexo, os meninos

saiam na vantagem , por que, para os patres nessa s atividades os rendimento masculinos

eram maiores, por isso que na poca havia interesse pelo servios do meninos.

A figura dos jovens no mercado de trabalho algo a se discutir, pois quando se faz

uma leitura sobre o cotidiano das meninas no emprego domstico , comea-se a entender a

vida de uma lavade ira, que carregava trouxas subindo e descendo as ladeiras de Salvador; a

cozinheira, cortando lenha para fazer a comida e carregando gua para lavar os pratos.

As freqncias desses chamados para as meninas eram mais freqentes, porm isso

no significa que o nvel de desemprego era baixo, p rincipalmente para esses jovens.

AMA - Precisa-se de uma 14 a 15 anos para servios do msticos. Ladeira So Bento, 11 (DIRIO DE NOTCIAS , Salvador, 16 maio 1914, p. 8).

Na realidade, a ssim como os meninos, as me ninas tambm enfrentavam uma dura

rotina domstica, com eavam a trabalhar desde madrugada e, dependendo das necessidades,

s paravam as altas horas da noite, ficando dispos io para os servios eventuais (MATOS,

1994, p. 194). Ento, se torna necessrio desconstruir a idia de que as meninas domsticas

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apresentavam certa fragilidade nos afazeres domsticos e com isso se tornavam

desvalorizadas. Ambos eram habilidoso s, apesar das meninas trazerem caractersticas

naturais, na qual era associada ao estereotipo da feminilidade.

A vida dos meninos nesse trabalho no era muito dife rente das meninas, ou seja,

mesmo depois da Abolio os patres continuavam controlando e orientando a vida de sses

empregados, era uma relao de h ierrquica, onde o s trabalhadores er am submetidos

humilhao Se por um lado, havia uma relao amigvel, onde se mantinha um convvio

paternalista, por outro, existia conflito nesse convvio, o que se pode perceber o grande

interesse dos patres em manter um vinculo estreito com esse s profissionais, pois assim

mantinham-nos sempre dominando , ou seja, controlando a vida social desses indivduos.

Nesse contexto, o que fortalecia essa forma de dominao era a necessidade que existia no

perodo, os meninos preferiam trocar as misrias das ruas, por alimentao, moradia ou outra

forma de remunerao que era oferecida na poca.

Ao analisar essa profisso percebe-se que ela constitui uma categoria ocupacional e

que apesar de ela compor um nmero significativo da fora de trabalho feminino em

Salvador, abarcando um n mero expressivo de mulheres negras, continua praticamente no

analisada. Dessa forma, procurar entender o universo masculino dessa categoria comea-se a

compreender o quanto esse tema amplo, e a ausncias de documentos dificulta a pesquisa.

Ento entende-se que ao analisar o emprego dom stico na cidade de Salvador, ele se

estabeleceu como uma forma de resistncia a pobreza e a misria para a populao negra em

especial os meninos negros . Apesar dos estigmas da escravido, esse se rvio representou uma

importante alternativa de sobrevivncia. Sendo assim, a figura dos meninos domsticos se

constituiu meio a uma cidade que se transformava e que ao mesmo tempo no se libertava das

praticas escravistas e que vivia a espera por uma mudana na vida social, em uma sociedade

que pouco se alternava, onde a diviso social e suas estruturas de poder mantinham -se

constante.

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