Empreendedorismo Gestão e Negócios - Rafael Kiso - Focusnetworks

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O sonho de abrir o próprio negócio faz parte dos desejos de muitos brasileiros. Mas, nem sempre, a vontade, o capital, a determinação e o preparo emocional são suficientes se utilizados separadamente. Acompanhe dicas de profissionais, entre eles o Rafael Kiso - Diretor de Novos Negócios e Fundador da Focusnetworks, e identifique-se com algumas estórias de quem empreendeu e “deu certo”.

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TEXTO DE milena paRente

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empReendeR?

paRapRepaRado

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Empreender. Inventar ou rein-ventar algo. Trazer ao público uma experiência totalmente inusitada ou, simplesmente,

sobre algo já existente. Simplesmente? Digamos que empreender não é uma tarefa tão simples assim. Atualmente, vivemos em uma era em que há muitos negócios e tecnologias cada vez mais sofisticadas que acirram a concorrên-cia, e softwares que auxiliam o dia a dia do empresário. E para que tudo isso dê certo, o que é necessário para um em-preendedor encontrar o verdadeiro ca-minho para o sucesso?

O sucesso depende de muitos fatores e, geralmente, é resultado de esforços de longo prazo. O empreendedor que quer se sair bem precisa, em primeiro lugar, conhecer as suas habilidades, o merca-do em que vai atuar e os seus concor-rentes e, a partir desse ponto, montar um planejamento estratégico detalhado e segui-lo no decorrer do processo do negócio. Na opinião da especialista em coaching, Susana Azevedo, é esse pla-nejamento, colocado no papel, que da-rá o caminho a ser traçado. Outro pon-to importante ressaltado por ela é o fato de grande parte dos empresários gosta-rem de desenvolver coisas novas, inven-tar e possuir maior dificuldade com roti-na, planejamento, prazos. Com isso, ela quer dizer que “um empreendedor tam-bém deve conhecer os pontos fracos que possam atrapalhar o sucesso do projeto, e a partir daí, se preparar, seja eventual-mente por meio de um desenvolvimen-to individual ou, ainda, agregando à sua equipe pessoas que complementem o seu perfil empreendedor”.

O coordenador do curso de Admi-

nistração do Centro Univer si tá rio Plínio Leite (Unipli) – con tro la do pela Anhanguera Educacional –, professor Gláucio Matos, diz que, nesta época de alta competitividade, um caminho im-prescindível para o empreendedor ob-ter sucesso é estar “antenado” às infor-mações do mercado, pois vivemos na era da informação e do conhecimento. “Sem eles, fica mais árduo buscar inovação e diferenciais competitivos para o em-preendimento”. Aliado à informação e ao conhecimento, Matos também apon-ta como um caminho para o sucesso, o desenvolvimento de um plano de negó-cios. “Um bom projeto servirá como uma bússola, ou melhor, como um GPS, para sinalizar ao empreendedor as possíveis ameaças e oportunidades proporciona-das pelo mercado, além de identificar as suas forças e fraquezas”.

Identificar uma fatia do mercado que aceite o seu produto é fundamental para o sucesso do negócio e pode ser percebi-da por pesquisas de opinião, consultoria especializada e analisando a concorrên-cia. A nutricionista e proprietária da Gola Gelato e Caffè, Gisele Cristina Pinheiro, é um exemplo de quem decidiu assumir o lado empreendedor quando se viu sem oportunidades de crescimento no local em que trabalhava.

Entretanto, para iniciar o novo negó-cio, ela explica que escolheu a gelateria italiana por perceber um déficit de sor-vetes de altíssima qualidade na cidade de Campinas, São Paulo; por existir pou-cos concorrentes e por ser um tipo de produto que está em alto crescimento no País atualmente. “Os consumidores es-tão buscando produtos de qualidade ele-vada e interessados em coisas mais sau-dáveis, de baixa caloria e sem gordura, corantes e conservantes. As pessoas es-tão optando por uma alimentação sau-dável e natural”, explica.

Como o Brasil é um país com costu-mes diferentes dos da Europa, foi ne-cessária uma adaptação para atender (e sobreviver) ao mercado. “Por aqui, não existe ainda o hábito de se consumir so-bremesas geladas no inverno (diferente-mente da Europa), então incorporamos alguns produtos (todos seguindo o pa-drão de qualidade do gelato) para aten-der aos clientes, como cafés diferencia-

O sonho de abrir o próprio negócio faz parte dos desejos de muitos brasileiros. Mas, nem sempre, a vontade, o capital, a determinação e o preparo emocional são suficientes se utilizados separadamente. Acompanhe dicas de profissionais e identifique-se com algumas estórias de quem empreendeu e “deu certo”

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dos, chocolates quentes, chás, salgados e doces”, explica Gisele.

“Ser empreendedor é uma caracterís-tica pessoal”. Essa é a opinião do profes-sor, economista e especialista em plane-jamento estratégico e finanças, e sócio-diretor da Sundfeld & Associados, João Baptista Sundfeld. Todavia, o lado estra-tégico exige cuidados específicos para que o empreendedor não dê um passo adiante quando estiver à beira de um pe-nhasco. Para isso, é preciso ter uma base estruturada. “Trata-se de refletir sobre o negócio e estruturar os primeiros estu-dos para enfrentar os desafios. Essa refle-xão ajudará, em muito, o sucesso do ne-gócio”, explica.

Mas e quais seriam esses desafios no início de um empreendimento? Para Sundfeld, em primeiro lugar, é preci-so estudar o negócio em termos da es-sência do empreendimento ou o “Core Business”, ou seja, o coração da empresa (indústria, comércio, serviços ou os três). A seguir, determinar o capital necessário, o local disponível, estudar quem serão os clientes, a concorrência existente, os equipamentos e as instalações necessá-rias e, especialmente, definir o pessoal que vai tocar o empreendimento com o empreendedor.

Conhecer o mercado alvo é fundamental para o insight. Estudar muito, pesquisar muito, sistematizar e colocar no papel é fundamental para o sucesso”antonio Rihl, Country Manager da tagetik

as dificuldades pelo caminho

Por falta de conhecimento e planeja-mento, um alto índice de empresas pede falência nos primeiros três anos de vida, considerado pelos especialistas como o período crítico do negócio. As princi-pais dificuldades acontecem quando as linhas de atuação não estão claras o su-ficiente. Quando as primeiras ideias sur-gem no início da atividade tudo parece perfeito, mas, à medida em que elas são colocadas no papel, surgem muitas bu-rocracias e desafios, para os quais nem sempre o empreendedor está prepara-do, não tem conhecimento e, em alguns casos, desmotiva o empresário ou mes-mo fazem com que o negócio seja invi-ável. “Na fase inicial do empreendimen-to é importante ter noção de que não há entrada de recursos, apenas saída de dinheiro. Nesse sentido, é importante o empreendedor ter meios de subsistência que lhe permitam passar por essas pri-meiras etapas de maneira confortável”, orienta a especialista Susana Azevedo.

Na opinião do empresário, sócio-fun-dador da NakamiTemakeria&Sushibar e de outras sete empresas no ramo de entretenimento e gastronomia, Marcos Simões, um ponto que apresenta bas-tante dificuldade para implementar uma nova empresa é o planejamento, que se constitui de diversas etapas, como: defi-nir em que segmento investir (e se esse

tem potencial de ganho futuro, ou seja, se existe ainda mercado para ele no lon-go prazo); escolha do ponto comercial (o tipo certo, no local certo é 80% do cami-nho andado para o sucesso); estar capa-citado tecnicamente e financeiramente para investir nesse negócio (com capital próprio, para não iniciar com dívidas) e conhecer todos os riscos e até mesmo a legislação que envolve esse novo em-preendimento (para não ser pego de sur-presa no meio do caminho).

Quem deseja se aventurar como em-preendedor precisa saber que encontra-rá muitos desafios. O professor, docen-te na FECAP e orientador da Empresa Jr. da instituição, Edson Sadao Lizuka, diz que, entre os desafios, os principais são a falta de perfil e capacitação para ter um negócio próprio, ausência de plane-jamento, complicações com os aspec-tos burocráticos, desconhecimento das fontes de financiamento e apoio ao em-preendedor. Entre esses pontos, o pro-fessor ressalta a falta de reserva de caixa dos empreendedores. “Até o empreen-dimento engrenar, deve-se ter, pelo me-nos, seis meses de caixa para os custos fixos e despesas da empresa. Às vezes, eles abrem uma empresa sem esse di-nheiro e contam com um determinado lucro desde o início e nem sempre isso ocorre nos primeiros meses”.

O fluxo de caixa exige do empreende-dor muita determinação e controle pa-ra não misturar a sua vida pessoal com a profissional. “Muitos acabam mistu-rando o lucro do seu negócio com suas finanças pessoais. Em vez de reaplicar e investir na sua empresa, ele retira do cai-xa o dinheiro para pagar as contas e des-pesas da família. É um erro fatal se repe-tido constantemente”, adverte o consul-tor Marselo Pires.

O coordenador do curso de Admi-nistração do Unipli, Gláucio Matos, diz que o Brasil ainda é um país onde o processo de abertura de uma empre-sa é bastante lento e burocrático, ex-ceto para o empreendedor individual, aliado a essa realidade, há uma carga tributária elevada que também pode ser encarada como uma das dificul-dades encontradas. “O empreendedor

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brasileiro precisa mudar a sua cultu-ra empresarial, pois muitos ainda de-senvolvem as suas atividades de forma empírica, baseando-se apenas em ex-periências passadas e no seu feeling, o que pode ser muito arriscado em uma economia em constantes mudanças de cenários”.

A carga tributária foi uma das di-ficuldades que esbarrou no início da ClearSale, é o que informa o CEO da em-presa, Pedro Chiamulera, que também ci-ta a falta de dinheiro para pensar no es-tratégico e muita burocracia estatal. De todos os contratempos, ele levanta o que considerou mais difícil na abertura da empresa: ter as pessoas certas e alinhadas e manter o foco no core apesar da pressão financeira e assim cair na tentação de fa-zer outras coisas. “Outro fator muito críti-co e difícil no começo é o entendimento das leis trabalhistas e tributárias e a con-sequente alta na carga de impostos. Além disso, eu não tinha experiência corporati-va, pois fui atleta até os 33 anos”.

a idade faz difeRença?Na opinião dos entrevistados, a ida-

de não é fator primordial para o sucesso ou não do negócio. O que pode determi-nar são as características pessoais, deter-minação e preparos técnico e financeiro. Para Chiamulera, a idade não influenciou muito, mas a falta de experiência um pou-co. “No início, eu queria fazer o melhor com o menor custo para ganhar merca-do e isso dificultou muito o fluxo de caixa, demorando mais tempo para a empresa chegar ao equilíbrio financeiro”.

Segundo o diretor de novos negó-cios da Focusnetworks e fundador da MídiaNext, consultoria de planejamen-to digital, Rafael Kiso, há uma diferen-ça entre ser empreendedor e ter espírito empreendedor. “Ter boas ideias não tem idade, mas empreender tem. A idade cer-ta é aquela na qual a pessoa está prepa-rada tecnicamente e tem, pelo menos,

Os 9 pecados que um empreendedor não pode cometer:

˅ falta de atenção na obtenção de licenças de funcionamento e paga-mento de tributos: os aspectos bu-rocráticos de uma empresa devem sempre ser levados em considera-ção. Estabelecimentos sem licença e aprovação de impostos podem gerar transtornos.

˅ contratação inadequada de fun-cionários: tenha certeza que os co-laboradores contratados possuem conhecimento da área.

˅ definir preço sem base: não é possí-vel precificar um produto por pura in-tuição. É preciso fazer uma análise de mercado antes de fixar as taxas.

˅ falta de fluxo de caixa: para o bom funcionamento de um negócio é preciso saber quanto a empresa ne-cessita pagar e receber.

˅ o dinheiro que está no caixa não é lucro: evite a tentação de confundir o dinheiro da empresa com o seu próprio dinheiro.

˅ não focar em vendas: muitos em-preendedores focam demais no desenvolvimento de produtos e deixam as vendas de lado. A venda de material é essencial para o cres-cimento da empresa.

˅ financiamento: os novos empre-endedores não devem cair na arma-dilha de um financiamento se não for para expandir os negócios.

˅ falta de planejamento: não se dei-xe levar por uma confiança excessi-va. Pare, pense e coloque no papel os seus planos para a empresa.

˅ escolher o sócio errado: nem sem-pre fazer sociedade com amigos e parentes dá certo. O importante é encontrar um sócio que comple-mente as suas habilidades profis-sionais e tenha os mesmos objeti-vos que você tem para a empresa.

diCas do manual do JovEmEmprEEndEdor do CJE-FiEsp

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prECisa dE aJuda?

˅ Grandes universidades e faculdades possuem Empresas Junior que, além de serem fontes de informação, oferecem consultorias com valores bem abaixo do mercado, como por exemplo, a FGV, FAAP, Insper e FECAP;

˅ consultorias especializadas;

˅ Endeavor;

˅ Sebrae;

˅ Comitê de Jovens Empreendedores da FIESP (CJE);

sites:

˅ www.portaldoempreendedor.gov.br/modulos/entenda/oque.php

˅ www.empreendedor.com.br

BrasilEiros são os quE mais EmprEEndEm

Dados da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) referentes a 2010 com-parou o número de empreendedores em 60 países. Dentro do G20 (grupo das 20 nações mais ricas do mundo), o Brasil é o país com a maior taxa de empreendedorismo. De acordo com a pesquisa, a cada 100 brasileiros adul-tos, em média, 17,5 têm negócios com até três anos e meio de atividade. Na China, o número é de 14,4.

De acordo com a GEM 2010, 21,1 mi-lhões de brasileiros são empreende-dores. Desses, a maioria (22,2%) tem entre 25 e 34 anos de idade, 51% são homens e 58% investiram até R$10 mil para abrir o seu negócio.

a juventude é mais

propensa a riscos, o nível de energia é mais alto. mas há que se considerar outros fatores: educação, família, amigos, exemplos, necessidades, objetivo, situação financeira e sorte”antonio Rihl, da tagetik

alguma experiência gerencial como empregado. Salvo as exceções, esse é o caminho mais provável do sucesso”.

Antonio Rihl foi responsável pe-la introdução no Brasil de empresas como Gupta Technologies, Business Objects e HyperionSoftware. O coun-try manager da Tagetik, empresa ita-liana na área de software para orça-mento, planejamento, consolidação e reporting financeiro, diz ser difícil es-tabelecer essa métrica, uma vez que jovens podem ser empreendedores, mas os mais velhos também. “A juven-tude é mais propensa a riscos, o nível de energia é mais alto. Mas há que se considerar outros fatores: educação, família, amigos, exemplos, necessi-dades, objetivo, situação financeira e sorte, que para mim é cons truída, pois quanto mais eu me esforço, quanto mais eu acredito, quanto mais eu me dedico, mais eu tenho sorte”.

O diretor-titular do Comitê de Jovens Empreendedores da Fiesp, Sylvio A. Gomide, enfatiza que o mais importante para iniciar um empreen-dimento é fazer um Plano de Negócio completo, incluindo as áreas financei-ra, jurídica, marketing, entre outras. “A internet é uma ótima fonte e pode fornecer diversas formas de se prepa-rar para o plano ideal”, orienta. O di-retor também afirma que grandes em-preendedores iniciaram muito cedo, citando exemplos como Eike Batista, Jorge Gerdau, José Alencar, Abílio Diniz, que começaram antes dos 15 anos. Mas também cita o exemplo do jornalista Roberto Marinho, que abriu a Rede Globo com 60 anos de idade. “Por esse motivo, não existe uma ida-de ideal para empreender”, conclui.

Se a idade não é fator predominante para iniciar uma empresa e conseguir estabelecer-se no mercado, o impor-tante é você se perceber um empreen-dedor, capaz de superar obstáculos e encontrar saídas para novos produtos, novos problemas, velha concorrên-cia. Kizo relata que geralmente alguém descobre que é empreendedor, porém rara são as vezes nas quais a própria pessoa se qualifica como um. “Esse al-

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A pressão externa nós controlamos com a resiliência, que é a nossa capaci-dade de suportar dificuldades. Detalhe: se você é um empreendedor e abriu um negócio próprio, se prepare, pois en-contrará muitos desafios. Se não en-controu, se prepare, pois eles surgirão.

Para encerrar, o sucesso do empreen-dedor está na palma de suas mãos:

Dedão: o propósito. O que quero na minha vida? O que quero como profis-sional? O que quero do meu empreen-dimento? Se ele não souber o que quer, está perdido.

Indicador: planejamento estratégico. O que precisa ser feito? O que preciso aprender e desenvolver? Quanto tempo vou levar para chegar até o meu objeti-vo? Se é um projeto para dois, cinco, dez anos. Quanto tempo vou levar para che-gar exatamente aonde quero?

Médio: concentrar os nossos pensamen-tos. O grande problema é que as pessoas começam uma ideia e na hora que esta começa a gerar uma certa energia, ele começa a olhar para o lado e descobre que tem muitas outras coisas. Esse des-vio de atenção faz com que as pessoas se percam no caminho.

Anelar: controle emocional. Saber con-trolar as pressões internas e externas. Temperança e resiliência.

Mínimo: ação. Sucesso só vem antes do trabalho no dicionário.

EntrEvista

A repor tagem da Gestão&Negócios con ver sou com Aly Baddauhy Jr., pa-lestrante e estudioso do comportamento humano, que percorre o País ministran-do cursos que tratam de assuntos rela-cionados à liderança, vendas, empreen-dedorismo, atitudes no negócio, entre outros. Acompanhe a seguir o que o es-pecialista tem a dizer sobre o assunto.

Gestão & negócios: Como podemos definir um bom empreendedor?Aly Baddauhy Jr.: O empreendedor é, antes de tudo, um sonhador. Ele acredi-ta que é capaz de fazer algo maior. E o que é empreender? É se colocar em algo. Eu posso ser um empreendedor indi-vidual, empresarial ou interno. Dentro das empresas, nós temos o chamado “internal entrepreneur”, aquela pessoa que empreende dentro da companhia. Quando eu vou construir uma carreira estou empreendendo dentro da minha empresa. Mas o que ele precisa para ser um empreendedor? Apenas de um so-nho, um projeto (plano). Eu diria que vamos separar isso em três partes, o tripé profissional: preparo fi-nanceiro, técnico e emocional.

Preparo financeiro: nenhum negó-cio funciona do dia para a noite. Eu não posso fazer um negócio hoje e, no mês seguinte, fazer o meu pró-labore. (Pronto. Quebrei!);Preparo técnico: eu preciso saber co-mo fazer. Se, por exemplo, quero abrir uma confecção, tenho que saber co-mo funciona o negócio. Ou seja, eu te-nho que ter noção daquilo que vou fa-zer. E quanto mais preparado tecnica-mente eu estiver, menores são as pos-sibilidades de fracasso. Não que elas não existam;Preparo emocional: a grande diferen-ça é que a maioria não está preparada emocionalmente. Se eu trabalho em uma empresa e não deu certo, a culpa é do patrão. Já, se eu sou dono e não deu certo, a responsabilidade é minha. Ou seja, coisas vão dar certas e erra-das. Preciso estar preparado para lidar com pessoas, fornecedores, clientes, funcionários, e também aprender a li-

dar com as minhas limitações. É im-portante estar preparado financeira, técnica e emocionalmente. A maioria das pessoas tem uma noção técnica. Poucas têm estrutura financeira e gran-de parte não tem estrutura emocional.

G&n: no caso de conhecimento técni-co, aonde o empreendedor deve pro-curar ajuda se não tiver noção sobre o ramo no qual pretende atuar?ABJ: Se eu quero ter uma papelaria, pre-ciso trabalhar em uma papelaria. Se eu quero ter uma confecção, preciso traba-lhar em uma loja de confecção. Ou seja, eu vou fazer um estágio em uma em-presa que já trabalha no ramo, apren-der, entender como pensam as pessoas, seus desejos, conhecer os fornecedo-res, saber como funciona. Uma vez que preciso aprender, é melhor que seja com alguém que já sabe e entende o ramo e atuar diretamente no negócio, pois caso contrário vai sair caro.

G&n: É indicado buscar ajuda de con-sultores sobre o ramo de atuação, in-formações e estatísticas do mercado?ABJ: O maior desafio é saber quem são os consultores preparados para orientar isso. Há bons consultores, mas cobram muito caro pelo serviço.

G&n: sobre o terceiro ponto do tripé, o fator emocional. Como conseguir estar preparado emocionalmente?ABJ: Eu sempre pergunto para as pes-soas como está sua pressão. Nós te-mos duas pressões: interna e externa. A interna nós controlamos com a tem-perança, ou seja, com o controle das emoções, como eu lido com a raiva ou com as frustrações. Uma das maneiras de controlar as emoções internas é o que chama-mos de porta emocional. Imagine que a nossa cabeça tivesse um ambiente com uma porta e todas as emoções entrassem e saíssem por ela. O problema é que as pes-soas deixam essa porta “escanca-rada”, tudo que vem, entra, e tudo que ele pensa, sai. Não pode ser assim, eu tenho que aprender a ser o senhor desse portão. É pre-ciso saber trabalhar isso.

o empree ndedor é antes de tudo, um sonhador. Ele acredita que é capaz de fazer algo maior. E o que é empreender? É se colocar em algo”aly Baddauhy JR.

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A Acesso Digital, empresa do merca-do de digitalização de documentos, foi planejada por Diego Torres Martins, jo-vem da geração Y (nascidos entre 1981 e 1995). A empresa é fruto da determi-nação e planejamento e resultados de um bom empreendedor. Ele relata que para iniciar um empreendimento, é pre-ciso ter um planejamento, com missão e visão bem definidas. Deve-se saber qual a meta e traçar objetivos que irão orientar e alcançar os resultados espera-dos. Martins, porém, diz que, em contra-partida, colaboradores são necessários, pois ajudarão nessa missão. “Por isso, acredito que o planejamento e a ges-tão devem ser alinhados para o melhor desempenho da equipe e o consequente crescimento da empresa”.

A escolha de Martins, segundo ele mesmo diz, não foi um modelo caute-loso, buscando inspiração em iniciativas inovadoras do mundo corporativo, que resultou no que ele chama de “tripé” da Acesso Digital:

˅ Modelo de negócio baseado em assi-natura mensal, com locação de máqui-

nas de digitalização e cobrança pelo uso de datacenter, treinamento e su-porte. “A inspiração veio das empresas de internet banda larga. Com tal estra-tégia, a Acesso Digital pode oferecer o seu serviço, o Safe-Doc, para clientes de diversos portes, sem necessida-de de investimento inicial. O valor da mensalidade começa em R$200,00 e pode chegar a R$80 mil de acordo com o escopo do projeto”.

˅ Modelo de gestão baseado em fun-dos de investimento. “O meu sonho era ter uma grande empresa o mais rápido possível. Quem faz uma gestão bastante orientada para o crescimen-to rápido são esses fundos. Assim, passei a observar as empresas geridas por eles e vi que elas são orientadas para resultado, sabem aonde querem estar em cinco anos”.

˅ O terceiro elemento é o “jeito de ser” da Acesso. “Trata-se da tentativa de tornar o dia a dia profissional menos carrancudo, mais descontraído e ga-rantindo que as pessoas sejam elas mesmas no ambiente de trabalho”.

o tripÉ para o suCEsso da aCEsso diGital

A internet e as redes sociais vêm aumentando as possibilidades de atuação de espíritos aventureiros que buscam melhorar as vendas e os lucros de seus negócios. Com a adesão diária de novos usuários na web e também nas redes sociais, a internet virou uma grande aliada na divulgação dos servi-ços oferecidos pelos empreendedores, seja ele individual ou não.

O comércio eletrônico cresce significa-tivamente no País. Estudos divulgados pela Visa e conduzidos pela unida-de de pesquisa América Economía Intelligence classificaram o Brasil como o principal mercado de e-commerce da América Latina, apresentando um crescimento de 170% em 2009, além de um faturamento que chegou a aproximadamente R$23 bilhões. De acordo com a e-bit, no ano passado, o setor cresceu 40% em relação a 2009, mostrando contínuo aumento do con-sumo on-line.

Esse crescimento também é notado em pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que aponta que 19% dos inter-nautas brasileiros já fizeram compras de produtos e serviços pela internet. Esse percentual representa 11,97 mi-lhões de pessoas em um universo de 63 milhões que acessaram a web em 2009, número que pretende crescer ainda mais com o lançamento do ser-viço de social-commerce, caracterizado como a fusão das mídias sociais com o e-commerce. As empresas podem ter suas lojas virtuais no wordpress (WP e-commerce) ou no Facebook

(F-commerce).

intErnEt E as novas Formas dE nEGóCio para EmprEEndEdorEs

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25%a principal dica é buscar conhecimento

sobre gestão e plano de negócios antes de

colocar um negócio de pé. só nessa dica, você

já garante uma sobrevida acima da média

dos outros supostos ‘empreendedores’”

Rafael Kizo, diretor de novos negóCios da foCusnetwork

guém geralmente é seu primeiro angel, ou seja, seu primeiro investidor.” Para o diretor da Naxentia, Miguel Abdo “é bom contar com alguém externo, neutro e com boa capacidade de análise. Um consultor é uma ótima opção”.

Mas não se preocupe se ninguém des-cobriu a sua “veia empreendedorística” ou se você não consultou um especialista (ainda). Levantamos algumas caracterís-ticas intrínsecas citadas pelos especialis-tas, com as quais você pode se identificar:

˅ Nunca estar contente com o status quo;

˅ Sempre enxergar como melho-rar algum produto ou serviço de terceiro;

˅ Ser multitarefas; ˅ Gostar de desafios; ˅ Aceitar e assumir riscos; ˅ Não ficar preso a um único tema; ˅ Estar sempre em busca de

coisas novas; ˅ Ter facilidade para vender ideias; ˅ Ter facilidade para realizar con-

tatos com diferentes pessoas; ˅ Possuir persistência para supe-

rar obstáculos e desafios; ˅ Superação; ˅ Otimismo; ˅ Perseverança; ˅ Inovação; ˅ Ter foco; ˅ Ter visão a médio e longo prazos.

Verificados os seus pontos fortes, ou seja, se possui algumas características que auxiliam no processo, é necessá-rio também identificar os seus pontos fracos. Serviços de coaching, entre ou-tros, são indicados para buscar orien-tação sobre o que deve merecer desta-que ou buscar suprir alguma eventual falha. Contudo, a prática irá determi-nar e mostrar prós e contras de qual-quer negócio, o importante é identificar de forma rápida e se destacar no mer-cado pelo seu diferencial, minimizando os pontos fracos. “Há algumas manei-ras de supri-los, como ter um sócio que complete você, fazer cursos, buscar co-nhecimento e contratar consultorias no mercado”, orienta Kizo.

GeRação y e o mundo empReendedoR

Os jovens da geração Y são conhecidos por serem impacientes, infiéis e insubor-dinados, contudo, são extremamente di-nâmicos, antenados com as mídias so-ciais e querem sucesso profissional atre-lado à qualidade de vida. O docente na FECAP, prof. Edson Sadao Lizuka, obser-va os prós e os contras dessa geração, e crê “que há mais aspectos positivos e é preciso aproveitar essas características desses jovens, tanto as empresas como também as instituições de ensino”. Ele informa que organizações conceituadas

a Y tem grande vantagem de ser capaz de se conectar rapidamente

com muita gente em muitos lugares, fazer e trabalhar em várias coisas ao mesmo tempo. o contraponto disso é que nem sempre entram com profundidade nos assuntos o que pode limitar a execução e os resultados em si”susana azevedo, espeCialista eM CoaChing

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As dicas abaixo estão disponíveis no site da Anthropos Consulting (www.anthropos.com.br), empresa de Antropologia Empresarial, que realiza trabalhos específicos de incentivo e motivação nas empresas. As dicas são do antropólogo prof. Luiz Almeida Marins Filho.

˅ Boas ideias são comuns a muitas pessoas. A diferença está naqueles que conseguem fazer com que elas se transformem em realidade, isso é, implementá-las. A maio-ria das pessoas fica apenas na “boa ideia” e não passa para a ação. O empreendedor passa do pensamento à ação e faz as coisas acontecerem;

do País não apenas querem empreen-dedores da geração Y, como buscam re-ter essas pessoas em seus quadros. “Por essa razão, temos lido com frequência a mudança de postura dos executivos de ponta diante desses jovens”.

A especialista em coaching, Susana Azevedo, relata que cada vez mais os jovens dessa geração ocupam lugares de destaque no setor. “A Y tem grande vantagem de ser capaz de se conec-tar rapidamente com muita gente em muitos lugares, fazer e trabalhar em vá-rias coisas ao mesmo tempo. O contra-ponto disso é que nem sempre entram com profundidade nos assuntos, o que pode limitar a execução e os resulta-dos em si”. Para ela, uma corporação que equilibre bem as diversas gerações pode ter o melhor delas e agregar resul-tados e desenvolvimento para a orga-nização e seus colaboradores.

Pedro Venturini, graduado em admi-nistração de empresas pela Mackenzie, fundou com dois sócios o Virtvs Club, grupo de networking que busca “apro-ximar os líderes do amanhã”. Para o diretor-executivo do grupo, a geração Y reúne jovens com mais capacitação que os jovens das gerações anteriores. Segundo ele, “as novas exigências do mercado fazem com que busquemos novas, e cada vez mais, qualificações, as quais serão utilizadas em startups ou dentro das grandes multinacio-nais, e as novas tecnologias facilitam esse aprendizado”. Ele lembra que em-preendedorismo não significa, apenas, a capacidade de criar um negócio pró-prio, mas há muito disso dentro das or-ganizações, na criação de novas áreas, novas ferramentas, entre outros, e as empresas valorizam isso. “No entanto, não vemos apenas o empreendedoris-mo como característica principal, mas a conectividade com o mundo, a dis-posição de colaborar com o próximo para alcançar um objetivo em comum, a busca pela quebra de paradigmas e a geração de resultados, sempre com ho-nestidade. E isso que faz dos jovens que reunimos verdadeiros líderes”.

Independentemente de qual geração pertença, quando se é jovem há uma di-ficuldade a mais encontrada: mostrar para o mercado que sua empresa é ca-

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25%a internet é uma ótima fonte

e pode fornecer diversas formas de se preparar para o plano ideal” sylvio a. Gomide, diretor do CoMitê de jovens eMpreendedores da fiesp

10 diCas para voCê sEr um EmprEEndEdor

˅ Todo empreendedor tem uma verdadei-ra paixão por aquilo que faz. Paixão faz a diferença. Entusiasmo e paixão são as principais características de um em-preendedor!

˅ O empreendedor é aquele que conse-gue escolher entre várias alternativas e não fica pensando no que deixou para trás. Sabe ter objetivo e fica focado no que quer;

˅ O empreendedor tem profundo conhe-cimento daquilo que quer e daquilo que faz e se esforça continuadamente para aumentar esse conhecimento sob todas as formas possíveis;

˅ O empreendedor tem uma tenacidade incrível. Ele não desiste!

˅ O empreendedor acredita na sua pró-pria capacidade. Tem alto grau de au-toconfiança;

˅ O empreendedor não tem fracassos. Ele vê os “fracassos” como oportunidades de aprendizagem e segue em frente;

˅ O empreendedor faz uso de sua imagi-nação. Ele se imagina sempre vencedor;

˅ O empreendedor tem sempre uma visão de vários cenários pela frente. Tem, na cabeça, várias alternativas para vencer;

˅ O empreendedor nunca se acha uma “vítima”. Ele não fica parado, reclaman-do das coisas e dos acontecimentos. Ele age para modificar a realidade!

capa EmprEEndEdor

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6 passos FundamEntais para quEm quEr iniCiar um nEGóCio Com suCEsso

Todo empreendimento envolve algum grau de risco e os empreendedores bus-cam analisá-los e lidar com eles. Dito isso, é necessário avaliar:

˅ Perfil pessoal (há diversos testes pela internet e também em livros sobre o assunto);

˅ Viabilidade do negócio (investimento e retorno financeiro, viabilidade organi-zacional e mercadológica da empresa a ser criada);

˅ Consolidar as ideias em um Plano de Negócio;

˅ Apresentar e debater, com executivos, empresários e professores, o Plano de Negócio;

˅ Colocar a mão na massa e criar o negó-cio em si;

˅ Enfrentar os problemas e desafios ini-ciais com perseverança e empenho.

paz de atender a demanda. Ubirajara A. Fernandes Jr., fundou a ASTEK em 1994 com seu sócio quando estavam no quin-to ano da faculdade. Ele relata que não tiveram tantos problemas com abertura da empresa, contabilidade, entre outros, pelo fato vir de uma família de empre-sários. “O maior obstáculo era ser muito novo e ter que convencer os clientes que éramos capazes de executar as obras or-çadas. Enfrentamos concorrências com empresas já estabelecidas e tínhamos que provar as coisas em dobro, para mostrar-mos que apesar da pouca idade, seríamos capazes de realizar as obras com qualida-de como qualquer outra empresa. Foi um grande desafio, pois a idade geralmente é relacionada com a falta de experiência. Por outro lado, a nossa visão era total-mente diferente da dos profissionais mais experientes. Víamos possibilidade em tu-do, o que, de certa forma, nos ajudou a fa-

zer alguns trabalhos que outras empresas, mesmo já sólidas, não se propuseram a fazer. A ousadia contou muito”.

Os sócios mostraram características empreendedoras ao inaugurar na cida-de de Campinas, São Paulo, um restau-rante de comida tex-mex, Don Miguel Mexican Bar, ramo de atuação diferente do qual estavam inseridos e que trouxe novos desafios, como encontrar mão de obra qualificada, conquista e fidelização dos clientes.

FontE: proF. Edson sadao lizuka É doutor pEla FGv-EaEsp E atua Como doCEntE nos Cursos dE Graduação, pós-Graduação E mEstrado proFissional da FECap. É oriEntador da EmprEsa Jr. da FECap E tEm traBalhado na supErvisão E oriEntação dE planos dE nEGóCio.

dica de livro:

“Empreendedorismo na internet – Como encontrar e avaliar um lucrativo nicho de mercado”

autor: Dailton Felipini

editora: Brasport

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