Emoções Positivas e Motivação Na Reabilitação Biopsicossocial

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  • DAVID MARQUES OLIVEIRA

    EMOES POSITIVAS E MOTIVAO NA

    REABILITAO BIOPSICOSSOCIAL

    Orientadora: Cristina de Sousa

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    Faculdade de Psicologia

    Lisboa

    2010

  • 2

    DAVID MARQUES OLIVEIRA

    EMOES POSITIVAS E MOTIVAO NA

    REABILITAO BIOPSICOSSOCIAL

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    Departamento de Psicologia

    Lisboa

    2010

    Dissertao apresentada para obteno do Grau de

    Mestre em Psicologia no Curso de Mestrado em

    Psicologia, Aconselhamento e Psicoterapias, conferido

    pela Universidade Lusfona de Humanidades e

    Tecnologias.

    Orientador: Professora Doutora Cristina de Sousa

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    Resumo

    O presente estudo tem como principal objectivo verificar o fluxo emocional e a

    motivao para a mudana num programa de reabilitao biopsicossocial de alcoolismo

    e toxicodependncias, com a durao de quatro semanas. Para esse efeito, procedeu-se

    recolha da amostra de 30 participantes dentro do programa, utilizando para avaliar o

    fluxo emocional os relatos de episdios emocionais, o Teste de Positividade (TP), a

    Analogical Emotional Scale (AES), o Subjective Well-being (SWB), o Controlo

    Percebido Subjectivo (CPS) em trs momentos distintos do programa, pelo que para

    avaliar a motivao foi utilizada a escala SOCRATES 8D no inicio e no final do

    programa de reabilitao. A teoria argumenta a existncia de um aumento na satisfao

    pessoal e nas emoes positivas durante o processo de mudana, ou seja, quando o

    processo teraputico decorre de forma favorvel. Os resultados confirmam a existncia

    de uma evoluo linear positiva no TP, como tambm no SWB e CPS. Contudo no foi

    totalmente confirmado um aumento positivo da motivao, pelo que os resultados

    apenas demonstraram diferenas significativas na subescala Ambivalncia da escala

    SOCRATES 8D, verificando-se um decrscimo acentuado entre os dois momentos, o

    que se revela favorvel para o processo de mudana desejado no programa.

    Palavras-chave: fluxo emocional, positividade, motivao, processo de

    mudana, reabilitao.

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    Abstract

    The main objective of this study is to verify the emotional flow and the

    motivation for change process in a bio-psychosocial rehabilitation program for

    alcoholism and drug addictions, with a duration of four weeks. To this end, we

    proceeded to collect the sample of 30 participants in the program, to evaluate the

    emotional flow we use the emotional reports, the Positivity Test (PT), the Analogical

    Emotional Scale (AES), the Subjective Well-Being (SWB), the Subjective Perceived

    Control (PSC) in three separate moments of the program, to assess the motivation scale

    was used the SOCRATES 8D scale at the beginning and in the end of the rehabilitation

    program. The theory argues that there is an increase in personal satisfaction and positive

    emotions during the change process, when the therapeutic process runs optimally. The

    results confirm the existence of a positive linear trend in the PT, in SWB and CPS.

    However it was not totally confirmed an positive increase in motivation, so the results

    only showed significant differences in ambivalence subscale of the SOCRATES 8D,

    and there is a sharp decrease between the two moments, which proves favorable for the

    desired process of change in the program.

    Keywords: emotional flow, positivity, motivation, change process,

    rehabilitation.

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    Lista de Siglas:

    AA Alcolicos Annimos

    NA Narcticos Annimos

    FA Famlias Annimas

    ALP Abstinncia a Longo Prazo

    NIAAA National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism

    PPC2R Patient Placement Criteria Second Review

    APA American Psychology Association

    H1 Primeira Hiptese

    H2 Segunda Hiptese

    H3 Terceira Hiptese

    AES Analgical Emotional Scale

    TP Teste de Positividade

    SWB Subjective Well-Being

    CPS Controlo Percebido Subjectivo

    SOCRATES8D Stages of Change Readiness and Treatment Eagernes Scale verso 8D

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    ndice

    Introduo ........................................................................................................................ 8

    Captulo 1 Enquadramento Terico ......................................................................... 10

    1.1.1. Reabilitao .................................................................................................... 11

    1.1.2. Espiritualidade em Tratamento ....................................................................... 11

    1.1.3. Importncia do Conceito de Doena ............................................................... 12

    1.1.4. Enquadramento do Modelo Minnesota ........................................................... 13

    1.1.4.1. Conceitos Bsicos ..................................................................................... 13

    1.1.4.2. Trabalho Quotidiano do Tratamento ......................................................... 13

    1.1.4.3. Filosofia Quotidiana do Tratamento ......................................................... 14

    1.2. Interveno de Reabilitao Biopsicossocial ........................................................ 15

    1.2.1. Interveno Teraputica .................................................................................. 15

    1.2.2. Interveno Motivacional ............................................................................... 16

    1.2.3. Interveno Familiar ....................................................................................... 16

    1.2.4. Preveno da Recada ..................................................................................... 17

    1.2.5. Objectivos Semanais do Programa Residencial .............................................. 17

    1.2.6.Aspectos Gerais do Programa .......................................................................... 18

    1.3. Emoo .................................................................................................................... 19

    1.3.1. Psicologia Positiva .......................................................................................... 19

    1.3.2. Homeostasia e Emoes Positivas .................................................................. 22

    1.3.3. Emoes em Contexto Teraputico ................................................................ 24

    1.3.4. Contexto Teraputico e Fluxo Emocional ...................................................... 28

    1.4. Objectivos do Estudo .............................................................................................. 30

    Capitulo 2 Mtodo ...................................................................................................... 31

    2.1. Participantes ....................................................................................................... 31

    2.2. Medidas .............................................................................................................. 32

    2.3. Procedimento ..................................................................................................... 36

    3. Resultados .................................................................................................................. 38

    4. Discusso .................................................................................................................... 45

    Referncias Bibliogrficas ........................................................................................... 49

    Apndices .......................................................................................................................... I

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    Apndice I ....................................................................................................................... II

    Apndice II .................................................................................................................... III

    Apndice III .................................................................................................................. IV

    Apndice IV ..................................................................................................................... V

    Apndice V .................................................................................................................... VI

    Apndice VI .................................................................................................................. VII

    Apndice VII .............................................................................................................. VIII

    Apndice VIII ................................................................................................................ IX

    Apndice IX ..................................................................................................................... X

    Apndice X .................................................................................................................... XI

    Apndice XI .................................................................................................................. XII

    Apndice XIII ............................................................................................................. XIV

    Anexos ........................................................................................................................... XV

    Anexo 1 Teste de Positividade ............................................................................... XVI

    Anexo 2 Analgical Emotional Scale ................................................................... XVII

    Anexo 3 Satisfao Pessoal e Controlo Percebido ............................................ XVIII

    Anexo 4 SOCRATES 8D ........................................................................................ XIX

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    Introduo

    O presente trabalho tem como objecto de estudo o fluxo emocional e a

    motivao para a mudana de indivduos com diagnstico de adico, que se encontram

    num programa de reabilitao biopsicossocial de aproximadamente quatro semanas.

    O interesse suscitado para este estudo prende-se com a convico de existir um

    papel fundamental das emoes na eficincia de uma terapia. A questo que envolve a

    eficincia de um processo teraputico no est unicamente ligada aos resultados, mas

    principalmente ao decorrer das sesses, sendo necessrio perceber se as emoes tm

    uma participao activa nesse processo. Assim, importante perceber a forma como as

    emoes vo progredindo no processo teraputico, para promover prticas mais

    enquadradas com as necessidades da populao alvo. Este estudo pretende contribuir

    para uma melhor compreenso da evoluo do fluxo emocional em contexto

    teraputico.

    Estudos anteriores argumentam a existncia de um aumento na satisfao

    pessoal e nas emoes positivas durante o processo de mudana, ou seja, quando o

    processo teraputico decorre de forma favorvel (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). A

    promoo do bom funcionamento do indivduo passa pela valorizao do seu estado de

    equilbrio, assim, na regulao homeosttica existem diversos nveis, como as respostas

    imunitrias, comportamentos, motivaes, emoes e sentimentos (Damsio, 2003).

    Outro exemplo, Taylor e colegas (2000) forneceram evidncias bastante persuasivas de

    que as crenas como optimismo e um controlo percebido individual so factores

    protectores da sade psicolgica e fsica. Por outro lado, as emoes positivas partilham

    a habilidade de alargar os reportrios momentneos de pensamento-aco e criam

    recursos duradouros, que vo desde os recursos fsicos e intelectuais at aos recursos

    sociais e psicolgicos, recursos estes que podero ser utilizados em diversas situaes

    futuras (Fredrickson, 2001).

    De forma a tornar candente uma melhor compreenso sobre o fluxo emocional

    em contexto teraputico, este estudo utilizou um processo de recolha de amostra

    longitudinal, que se distribui em trs momentos do programa de reabilitao, pelo que

    se trata de um estudo observacional comparativo entre os diferentes momentos de

    recolha de dados da amostra.

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    Por existir pouca investigao sobre as emoes em contexto teraputico,

    particularmente no nosso pas, como tambm por ser um assunto de extrema

    importncia para o desenvolvimento de medidas que possam tornar mais eficientes e

    consequentemente eficazes as intervenes teraputicas (Fitzpatrick & Stalikas, 2008),

    o interesse neste tema de estudo foi por esses motivos suscitado. Contudo, a principal

    razo pela qual foi despoletado o interesse neste tema prende-se com uma melhor

    compreenso das emoes em contexto teraputico e da forma como estas podem

    contribuir para a optimizao do ser humano neste contexto, contando com o efeito

    adaptativo que as emoes positivas possuem (Fredrickson, 2001).

    Com o intuito de expor de forma clara e sucinta este trabalho, a sua organizao conta

    com a diviso de vrios temas. Em primeiro lugar feita a exposio de caractersticas

    gerais do programa de reabilitao, como a reabilitao e o conceito de doena, para

    uma melhor compreenso do programa de reabilitao. Seguidamente, a interveno de

    reabilitao explorada, podendo ser consultado o conjunto de intervenes

    teraputicas que se aplicam no programa, como tambm os objectivos semanais a que se

    prope. Aps uma explorao da interveno teraputica do programa, a exposio do

    trabalho centra-se nas emoes, introduzindo as emoes no contexto teraputico,

    expondo no inicio a Psicologia Positiva e referindo a importncia das emoes positivas

    no estado optimizado dos indivduos. No final deixa-se espao para os objectivos deste

    estudo, com o mtodo, os resultados e a discusso a serem expostos seguidamente pela

    respectiva sequncia. Neste estudo foram seguidas as normas da Universidade Lusfona

    de Humanidades e Tecnologias para elaborao e apresentao das teses de mestrado

    (Primo & Mateus, 2008), tendo as citaes, as referncias bibliogrficas, apresentao

    de tabelas e figuras, respeitado as normas de publicao da American Psychological

    Association (APA, 6 edio).

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    Captulo 1 Enquadramento Terico

    Em primeiro lugar deve-se fazer referncia ao modelo de reabilitao utilizado

    na instituio onde decorreu o estudo, de modo a compreender melhor quais os efeitos

    que este poder ter sobre o indivduo no seu processo de reabilitao. Assim, o modelo

    de reabilitao corresponde ao Modelo Minnesota que no se configura como uma

    abordagem totalmente original, pois ela vai beber informao de vrias fontes, como a

    psicologia cognitivo-comportamental, os princpios dos Alcolicos Annimos (AA) e

    palestras didcticas (Spicer, 1993). Assim, a originalidade deste modelo encontra-se

    numa nova maneira de juntar e adaptar os diversos elementos que o compe (Spicer,

    1993).

    Sendo este modelo flexvel e largamente adaptado, apresenta uma perspectiva

    nica no tratamento, tendo assim trs linhas fundamentais de orientao:

    1 Tratar pessoas com dependncia qumica s no sculo XX que o

    tratamento de dependncia se torna mais humano, evitando que o dependente qumico

    seja ignorado, castigado ou enclausurado em instituies mentais ou em prises sem

    antes poder ser tratado pela sua doena. O alcoolismo uma perturbao independente

    das questes sociais desviantes, como o comportamento imoral ou ilegal. Desta forma,

    ele afecta todas as classes sociais, grupos tnicos e naes. No atinge apenas as pessoas

    margem da sociedade, mas tambm membros respeitados com boas famlias e

    empregos.

    2 Trat-los com dignidade tratar qualquer adicto ou alcolico com

    dignidade e respeito, transmitindo a mensagem que ele em tratamento no ser julgado,

    mas sim bem recebido, de forma a sentir-se parte integrante de um todo.

    3 Trat-los como pessoas completas (corpo, mente e esprito) Os pacientes

    recebem tratamento imediato sobre as consequncias fsicas da adico, incluindo

    tratamento mdico e desintoxicao (antes de entrarem no programa residencial). O

    modelo Minnesota tambm trabalha a nvel intelectual, ensinando novas estratgias para

    modificar hbitos mentais, atravs da psicoterapia cognitivo-comportamental, como a

    Terapia Racional Emotiva desenvolvida por Albert Ellis. A necessidade dos pacientes

    aprenderem a viver as suas vidas a um nvel espiritual importante neste modelo. Nesta

    rea trabalhado o conhecimento das limitaes e vulnerabilidades individuais, bem

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    como a necessidade de aceitar a ajuda que outras pessoas possam oferecer. A

    espiritualidade ento um processo individual de relacionamento com o Poder

    Superior, conforme cada um o concebe.

    1.1.1. A Reabilitao

    A reabilitao consiste no principal objectivo deste modelo, sendo

    considerados por Spicer (1993) os seguintes componentes chave:

    a) Colaborao entre pacientes e equipa teraputica para definir o

    caminho de recuperao.

    b) O principal foco de ateno no tratamento a mudana de estilo

    de vida.

    c) Tratamento a longo prazo sobre as condies da doena, para que

    o paciente aprenda a viver bem com elas progressivamente, desmistificando o

    conceito da existncia de uma cura mgica sobre a doena.

    d) Componente multidisciplinar do tratamento, abrangendo assim as

    diversas reas de vida. A equipa teraputica dever ento ser composta por

    profissionais especializados nas diversas reas de medicina e sade mental.

    e) A reabilitao baseia-se em sistemas de suporte naturais, como a

    famlia, amigos e os grupos de auto-ajuda, que ajudam o paciente a

    responsabilizar-se sobre a gesto da sua vida e ao mesmo tempo saber utilizar os

    recursos que dispe em comunidade.

    1.1.2. Espiritualidade em Tratamento

    Qualquer doena tem uma dimenso espiritual, suscitando questes inerentes

    ao significado da vida humana. A espiritualidade dos 12 passos dos AA no se prende

    com uma religio organizada, nem se baseia em qualquer tipo de doutrinas, mas prende-

    se sim com recomendaes prticas que levam a uma experincia comum entre os

    adictos em recuperao. Essa experincia comum corresponde sobriedade, na qual a

    partilha sobre o processo de vida e recuperao se torna fundamental para o processo

    individual a nvel espiritual (Spicer, 1993). Este processo de partilha suscita

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    identificao, onde as pequenas diferenas individuais so respeitadas, sendo assim

    possvel a participao de ateus, agnsticos, budistas, cristos, entre outros, com o

    mesmo objectivo, ou seja, o esforo para a sobriedade. Apesar desta experincia comum

    ser possvel atravs da partilha e identificao, o processo espiritual no deixa de ter um

    cariz individual, sendo considerado o Poder Superior no uma entidade imposta, mas

    sim a entidade como cada individuo a concebe (Spicer, 1993).

    1.1.3. Importncia do Conceito de Doena

    A nvel teraputico a dependncia vista como doena tem os seus benefcios.

    Desta forma, aceitar o conceito de doena pode reduzir o sentimento de culpa no

    dependente qumico e facilitar a sua entrada em tratamento. Por outro lado, este

    conceito de doena ajuda a promover o tratamento em detrimento da punio,

    oferecendo aos alcolicos e dependentes qumicos os mesmo direitos civis que qualquer

    outra pessoa com doena crnica.

    O Modelo Minnesota defende a Abstinncia total para qualquer qumico

    alterador da conscincia como nica forma de combater a doena. A razo no se

    prende com a negao do prazer, mas sim porque a opo mais segura, pois o

    consumo controlado acarreta demasiados riscos (Spicer, 1993).

    A importncia da responsabilidade tambm salientada. Neste modelo, maior

    parte da recuperao do indivduo surge como resultado das suas decises e aces,

    sendo assim enfatizadas as opes de vida e a responsabilidade pessoal.

    luz deste modelo, a adico vista como outras doenas que so

    profundamente influenciadas pela opo de estilo de vida. O cancro, a doena arterial

    coronria e a diabetes so rapidamente identificados como doenas, mesmo quando as

    mudanas de estilo de vida possam adquirir um papel fundamental no seu

    desenvolvimento. Da mesma forma, como um diabtico tem de ter ateno com o seu

    consumo de acar, o adicto tambm incentivado a mudar o seu estilo de vida atravs

    das suas atitudes e aces.

    Desta forma, a concepo de doena neste modelo tambm vista como uma

    perturbao comportamental, para assim responsabilizar o indivduo na sua

    recuperao, dando-lhe alternativas ao seu habitual comportamento (Spicer, 1993).

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    1.1.4. Enquadramento do Modelo Minnesota

    1.1.4.1 Conceitos Bsicos:

    a) Aceitao do alcoolismo (ou outra dependncia qumica) como uma

    doena que o doente no contraiu intencionalmente a partir de um comportamento de

    consumo.

    b) Reconhecimento da responsabilidade do doente na sua recuperao

    com o corolrio que o objectivo do tratamento apoiar o doente a alcanar por ele

    mesmo a recuperao em vez de lhe impor uma cura.

    c) A convico de que a abstinncia total de todas as drogas

    recreativas alteradoras de humor ou euforignicas o objectivo primordial do

    tratamento e o nico caminho para a recuperao.

    d) O uso dos 12 passos e das 12 tradies e a literatura dos Alcolicos

    Annimos / Narcticos Annimos (AA/NA) no programa de tratamento.

    e) Existncia de uma equipa tcnica multidisciplinar (mdico

    psiquiatra, psiclogos, enfermeiros, tcnicos de servio social e addiction counselors.

    f) Uso de tcnicos addiction counselors / (cerca de 40% obtidos a

    partir de doentes com 2-5 anos de recuperao e posteriormente profissionalizados).

    g) A nfase na psicoterapia de grupo como primeira modalidade de

    tratamento.

    h) A importncia do milieu teraputico como tarefa comunitria

    prioritria.

    1.1.4.2 Trabalho Quotidiano do Tratamento

    a) Psicoterapia de grupo diria com grupos de 8-10 doentes.

    b) Palestras didcticas 2 a 3 vezes ao dia tendo como prelectores mdicos

    psiquiatras, psiclogos, enfermeiros, terapeutas familiares e addiction counselors.

    c) Frequncia com sesses internas e externas de reunies dos grupos de auto-

    ajuda de Alcolicos e Narcticos Annimos (AA/NA).

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    d) Componente do programa de interveno familiar enfatizando os princpios

    dos grupos de auto-ajuda familiar de 12 passos Alcolicos Annimos e Famlias

    Annimas (AA e FA).

    e) Responsabilizao de tarefas pelo doente como escrever a histria da sua

    vida no contexto de lcool e drogas e seu consumo, contactar membros da famlia,

    assumir tarefas comunitrias como por exemplo ser responsvel por orientar um novo

    doente admitido.

    f) Participao em subgrupos com tpicos como Sida, raiva, comunicao,

    mecanismos de coping, assuntos especficos masculinos e femininos, abuso sexual,

    objectivos de recuperao, tcnicas de relaxamento, sintomas de abstinncia a longo

    prazo (ALP) e preveno da recada.

    g) Aconselhamento individual e monitorizao semanal do progresso do

    tratamento e orientaes para ps-tratamento.

    h) Exerccio fsico e actividades recreativas

    1.1.4.3 Filosofia Quotidiana do Tratamento:

    a) Forte orientao da filosofia dos Alcolicos Annimos e Narcticos

    Annimos (AA e NA).

    b) Avaliao inicial psiquitrica e psicolgica com recurso psicometria.

    c) Forte interveno teraputica dos addictions counselors.

    d) Apoio mdico psiquitrico e de clnica geral para comorbilidades.

    e) Psicoterapeutas treinados de forma sistemtica em tcnicas de Gestalt,

    psicodrama, terapia da realidade, anlise transaccional, terapia comportamental de

    manejo do stress.

    f) Uso da comunidade teraputica e interveno na crise.

    g) Incluir elementos do meio laboral e familiares no programa teraputico.

    h) Planificao de cuidados ps tratamento envolvendo o meio laboral,

    amigos e familiares.

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    1.2. Interveno de Reabilitao Biopsicossocial

    1.2.1. Interveno Teraputica

    A interveno teraputica encontra-se centrada nas orientaes do Projecto

    Match, do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA USA),

    na qual a Terapia Cognitivo-Comportamental, a Terapia dos 12 passos e a Terapia

    Motivacional correspondem s trs principais abordagens de tratamento (Carrilho,

    Maymone e Oliveira, 2004). Estas abordagens so combinadas de forma a integrar o

    programa de reabilitao, pois tm demonstrado melhores resultados utilizadas de forma

    integrativa do que de forma isolada.

    Por outro lado, as diferenas idiossincrticas entre os pacientes levaram

    utilizao de um modelo integracionista, no qual o objectivo adequar o modelo de

    tratamento s caractersticas especficas de cada paciente, fornecendo um leque

    abrangente de estratgias (Carrilho et al., 2004).

    Ainda considerando as diferenas entre a populao dependente, como a idade,

    pedido de ajuda cada vez mais precoce, duplos diagnsticos, possibilidade de repetidos

    insucessos, doenas secundrias adico e as modificaes sociais e econmicas

    inerentes a esta problemtica, a instituio opta pela utilizao dos critrios da

    Sociedade Americana da Adico PPC2R (Patient Placement Criteria). Esta

    metodologia cruza dimenses de avaliao do estado geral do paciente com nveis de

    interveno de intensidade gradual, que so apresentadas com uma periodicidade

    semanal em reunies de consenso dos objectivos teraputicos, quer seja na avaliao

    inicial de encaminhamento, quer seja durante o tratamento para possibilitar uma

    monitorizao da evoluo do paciente (Carrilho et al., 2004). As dimenses so as

    seguintes:

    1 Intoxicao aguda e/ou potencial de abstinncia aguda

    2 Condies e complicaes biomdicas

    3 Condies e complicaes emocionais / comportamentais / cognitivas

    4 Prontido para a mudana

    5 Potencial de recada

    6 Ambiente de vida (famlia e amigos)

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    1.2.2. Interveno Motivacional

    A negao corresponde a uma das principais caractersticas da doena, que se

    traduz por um mecanismo psicolgico de manuteno do consumo e comportamentos

    associados. Mesmo quando o indivduo possui alguma conscincia do seu problema,

    existe a minimizao do problema e das suas consequncias, tendo o indivduo uma

    postura pouco aberta para a necessidade de tratamento em programa intensivo (Carrilho

    et al., 2004).

    Com a utilizao do modelo de Prochaska e Diclemente, identifica-se a

    conscincia cognitiva e o impacto emocional que a pessoa tem sobre o seu problema, de

    forma a poder elaborar estratgias de interveno que possibilitem uma evoluo

    positiva nesta consciencializao e insight. Com esta interveno pretende-se que o

    paciente tenha uma maior disponibilidade para a identificao de problemas e respectiva

    mudana em detrimento de uma resposta emocional ao envolvimento com o grupo de

    terapia (Carrilho et al., 2004).

    Os momentos correspondentes a esta interveno prendem-se com uma fase

    anterior entrada para tratamento, sendo o indivduo avaliado e preparado para a

    entrada no tratamento residencial, altura em que poder coincidir com a finalizao de

    um processo de desintoxicao mdica.

    1.2.3. Interveno Familiar

    A interveno familiar realizada durante o programa de tratamento

    residencial, tendo como objectivo aferir a ideia que a famlia tem sobre o problema e o

    modo como vivem com esse problema, com a facilitao de um tcnico especializado.

    Torna-se importante que a famlia perceba e reconhea a doena do seu familiar, tanto

    na forma como olha e lida com o doente, como para que cada elemento elabore e viva as

    situaes de modo mais saudvel (Carrilho et al., 2004).

    Os objectivos nesta rea de interveno abrangem diversos campos. Primeiro

    necessrio que a famlia perceba que a dependncia uma doena que no afecta s

    aquele que consome, mas tambm tem repercusses nos que esto sua volta,

    instalando-se padres de comunicao, comportamentos e sentimentos disfuncionais,

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    mantidos por ambas as partes. Normalmente as famlias tendem a organizar as suas

    vidas de volta do dependente, tentando control-lo, modific-lo, protege-lo, castig-lo,

    etc. Este padro de comportamento operacionalizado atravs do conceito de co-

    dependncia, especfico da abordagem sistmica do Modelo Minnesota (Carrilho et al.,

    2004).

    Por ltimo, necessrio trabalhar o conjunto de expectativas que a famlia tem

    sobre o tratamento, para que esta tenha uma melhor noo do que esperar do dependente

    e de como poder interpretar e reagir nas diversas situaes.

    1.2.4. Preveno da Recada

    O tratamento residencial complementado por seis meses de reunies

    semanais de Preveno da Recada. semelhana das reunies dos grupos de auto-

    ajuda, cada elemento partilha livremente sem que seja permitido um dilogo com os

    restantes elementos presentes. No final, o tcnico intervm pontuando as vrias

    partilhas, salientando os aspectos mais importantes, como os aspectos positivos

    partilhados, como tambm as dificuldades sentidas no processo de recuperao de cada

    elemento (Carrilho et al., 2004).

    Nestas reunies d-se especial ateno rede social de apoio e ao uso que o

    indivduo faz da mesma, s mudanas que introduz na sua vida e s estratgias que

    utiliza para ultrapassar questes como desejos de consumir, frustrao, tdio,

    sentimentos negativos, entre outros. Em algumas situaes, quando se verifica

    necessidade para um acompanhamento individual, esse iniciado com o doente em

    recuperao, com o propsito de trabalhar as suas dificuldades no aqui e agora.

    1.2.5. Objectivos Semanais do Programa Residencial

    Primeira semana O objectivo principal quebrar a negao. Nesta semana

    utiliza-se principalmente o confronto com dados objectivos de vida e a reviso da

    realidade individual de cada elemento do grupo. Para ser atingido o objectivo, o

    procedimento teraputico tem por base a Terapia da Realidade de William Glasser

    (Carrilho et al., 2004).

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    Segunda semana O objectivo principal tomar conscincia das perdas

    vividas. Numa primeira fase ensina-se a estar com as emoes e a exterioriz-las

    adequadamente, depois, o objectivo substituir a responsabilidade pela culpa. de

    igual forma importante salientar o suporte do grupo para o indivduo, no que respeita

    reviso dos seus recursos e possibilidades, bem como pelo facto de estar acompanhado

    no seu processo de mudana (Carrilho et al., 2004).

    Terceira semana O objectivo principal corresponde ao comear a construir

    um novo estilo de vida. Desta forma, pretende-se uma identificao clara das

    dificuldades e recursos, para assim iniciar a formulao de estratgias para a

    recuperao. Nesse sentido, torna-se importante trabalhar crenas irracionais associadas

    doena atravs da Terapia Racional Emotiva de Albert Ellis (Carrilho et al., 2004).

    Quarta semana O objectivo principal prende-se com a percepo e integrao

    de conceitos. Nesta ltima semana de programa intensivo, o trabalho incide sobre a

    adequao de conceitos, estratgias e vivncias do tratamento doena do indivduo.

    Por ltimo, a sada do tratamento preparada para que o indivduo tenha a percepo

    das suas dificuldades nos tempos mais prximos, para assim proporcionar uma sada de

    tratamento pensada e estruturada (Carrilho et al., 2004).

    1.2.6. Aspectos Gerais do Programa

    Aps ter sido explanada toda a estrutura do programa necessrio reter os

    principais aspectos para o nosso estudo. Em primeiro lugar, o programa direccionado

    para indivduos com diagnstico de adico, seja em lcool ou em outros qumicos, pelo

    que necessria uma desintoxicao fsica antes de iniciarem o tratamento de 4

    semanas em regime de internamento. Outro aspecto importante neste tratamento prende-

    se com a sua diversidade e integrao de diversos conceitos teraputicos. Assim, o

    processo teraputico, a que este programa de reabilitao obedece, conjuga diversas

    formas de facilitar em primeiro lugar a quebra da negao, depois facilita um processo

    de luto em relao ao conjunto de substncias que pertencem adico do indivduo,

    para posteriormente trabalhar com os pacientes as estratgias mais adequadas para um

    processo de mudana eficiente e contnuo, no qual a(s) substncia(s) deixa(m) de ter

    lugar.

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    Dentro da perspectiva deste programa de reabilitao, os indivduos passam

    por diversas fases, onde as emoes so expostas e trabalhadas, pelo que no ser

    possvel imaginar um programa de reabilitao desta dimenso sem flutuaes

    emocionais significativas. Contudo, necessrio abordar no s o programa e a sua

    estrutura, mas tambm as emoes que se podem manifestar no seu decorrer, como

    tambm os perodos mais significativos em que estas ocorrem. Desta forma, para

    compreender melhor o processo teraputico e como poder este ter influncia no

    processamento emocional dos indivduos, ser seguidamente explorado o campo

    emocional atravs de vrias teorias que podero ser teis para este objectivo.

    1.3. Emoo

    Conforme anteriormente mencionado, o programa de reabilitao alvo deste

    estudo, prende-se essencialmente a um processo de mudana que promove abstinncia

    total nos indivduos adictos. As emoes, como em diversas circunstncias, tm um

    papel fundamental no decorrer deste processo de mudana. Desta forma, como grande

    parte da investigao sobre o valor positivo das emoes tm-se prendido com a

    Psicologia Positiva, torna-se imperativo fazer uma breve introduo desta rea neste

    estudo (Gable & Haidt, 2005).

    1.3.1. Psicologia Positiva

    Na segunda metade do sculo XX a Psicologia centrou-se substancialmente na

    explorao de conceitos como a depresso, violncia, racismo, gesto da auto-estima e

    formas de superar adversidades, mas desenvolveu pouca explorao emprica sobre

    outros aspectos, como as foras, virtudes e condies que levam as pessoas a nveis

    elevados de felicidade (Gable & Haidt, 2005). Se colocarmos esta questo de forma

    metafrica, a Psicologia neste perodo aprendeu a levar as pessoas dos oito pontos

    negativos para o estado neutro, mas pouco aprendeu sobre levar as pessoas do estado

    neutro para os oito pontos positivos (Gable & Haidt, 2005).

    No incio da segunda metade do sculo XX a Psicologia nos Estados Unidos da

    Amrica, maior referncia para a Psicologia a nvel mundial, direccionou-se para uma

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    investigao centrada nas doenas mentais. Dois acontecimentos importantes estiveram

    na base desta preferncia na investigao, sendo eles a criao da Administrao para

    Veteranos de Guerra (Veterans Administration), em 1946, e a criao do Instituto

    Nacional de Sade Mental (National Institute of Mental Health), em 1947, que

    proporcionaram vantagens econmicas, profissionais e sociais para os psiclogos e

    investigadores se dedicarem ao desenvolvimento de investigao sobre doenas

    mentais, fortalecendo desta forma o enfoque sobre a rea patolgica (Seligman &

    Csikszentmhihalyi, 2000). indubitvel que tenham surgido benefcios desta

    investigao, como possibilitar o emergir de cuidados paliativos, individuais e

    colectivos que diminuem o sofrimento e a disfuno na vida dos pacientes (Seligman,

    Park & Rashid, 2006). Contudo, apesar dos grandes avanos, estes valiosos contributos

    ajudaram a construir uma cincia psicolgica baseada no modelo mdico, que parece ter

    esquecido parte dos seus objectivos iniciais, como tornar a vida das pessoas mais feliz e

    produtiva e identificar e desenvolver talentos (Gable & Haidt, 2005).

    Se recuarmos ao incio do sculo XX, atravs dos escritos de William James

    em 1902 sobre a mente saudvel, reconhecemos alguns caminhos que nos remontam a

    uma tentativa primordial de emergncia da Psicologia Positiva. Para Allport surge o

    interesse nas caractersticas positivas do Homem em 1958, enquanto Maslow defende o

    estudo de pessoas saudveis em detrimento do estudo sobre pessoas doentes. Contudo, a

    segunda metade do sculo XX foi marcada pela nfase em estudos sobre as

    perturbaes e danos, enquanto os aspectos mais positivos, como o que faz a vida valer

    a pena ficou remetido para segundo plano. a partir do reconhecimento desse

    desequilbrio e atravs de um desejo de incentivar a investigao nessas reas

    negligenciadas, que surge o recente movimento da Psicologia Positiva (Gable & Haidt,

    2005).

    Aps o emergir do movimento da Psicologia Positiva, por parte de Seligman

    em 1998, na altura presidente da American Psychology Association (APA), comeou a

    surgir investigao sobre reas como a gratido, perdo, admirao, inspirao,

    esperana, curiosidade e riso, reas estas que pouco tinham sido exploradas antes do

    inicio do sculo XXI. Outros cientistas esto a estudar tcnicas para melhorar o bem-

    estar atravs da motivao, escrita, terapia de bem-estar e exposio a espaos verdes

    (Gable & Haidt, 2005).

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    Contudo, a Psicologia Positiva no determina que a restante Psicologia seja

    negativa. De facto, maior parto do trabalho realizado em investigao neutro (Gable &

    Haidt, 2005). Mesmo assim, os investigadores de Psicologia Positiva acreditam em dois

    lados, em reas como a cognio, desenvolvimento e personalidade, embora o lado

    positivo tenha sido sempre negligenciado (Gable & Haidt, 2005). Se tomarmos como

    exemplo a rea da moralidade, existem milhares de estudos publicados sobre emoes

    morais negativas ou emoes sentidas aps o indivduo sofrer actos moralmente

    incorrectos (raiva, desprezo e averso) ou quando se cometem esses mesmos actos

    (vergonha e culpa) (Gable & Haidt, 2005). No entanto, existem poucos estudos

    empricos na rea da moralidade sobre emoes positivas, emoes que existem quando

    se manifestam condutas moralmente correctas (gratido, admirao) (Haidt, 2003).

    Apesar das desigualdades, o objectivo da Psicologia Positiva no negar os

    aspectos angustiantes, desagradveis ou negativos da vida, nem os tenta ver atravs de

    uns culos cor-de-rosa (Gable & Haidt, 2005). Este movimento reconhece a existncia

    do sofrimento humano, do egosmo, dos sistemas disfuncionais familiares e das

    instituies ineficazes. Mas o objecto de estudo da Psicologia Positiva centra-se no

    outro lado da moeda, nas formas como se sente alegria, como se demonstra altrusmo e

    como funcionam os sistemas familiares funcionais e saudveis, bem como o

    funcionamento das instituies eficazes (Gable & Haidt, 2005). Embora, os

    investigadores na rea de Psicologia Positiva defendam que se deva explorar o lado

    positivo no apenas para fazer face exclusivamente aos problemas, ao stress e s

    perturbaes, contudo, acreditam que existe uma evidncia clara que muitos processos

    positivos defendem-nos dos resultados negativos (Gable & Haidt, 2005).

    Os investigadores em Psicologia Positiva acreditam tambm que uma melhor

    compreenso sobre as foras humanas pode, realmente, ajudar a prevenir ou reduzir os

    danos da doena, stress e perturbao (Gable & Haidt, 2005). Por exemplo,

    investigaes sobre o coping tm demonstrado que as avaliaes negativas sobre

    determinados eventos de vida que pem em perspectiva as prprias capacidades do

    indivduo, medeiam futuras experincias de stress ou sofrimento (Folkman & Lazarus,

    1988). Outro exemplo, Taylor e colegas (2000) forneceram evidncias bastante

    persuasivas de que as crenas como optimismo e um controlo percebido individual so

    factores protectores da sade psicolgica e fsica.

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    Por outro lado, existem ainda mais evidncias da importncia da Psicologia

    Positiva. O estudo realizado por Harker e Kelther (2001) demonstrou que as mulheres

    que expressam emoes mais positivas nas fotos escolares quando tinham vinte e dois

    anos de idade, aos seus cinquenta anos tinham pontuaes mais elevadas do que as

    restantes, no que respeita a satisfao pessoal e bem-estar. De forma semelhante,

    Danner, Showdon e Friesen (2001) constataram que as auto-biografias feitas por freiras

    nos seus vinte anos de idade previa a sobrevivncia na velhice, ou seja, as freiras cujas

    autobiografias continham ensaios com emoes positivas viveram mais tempo que as

    freiras cujas autobiografias no continham o mesmo tipo de ensaios.

    Desta forma, podemos concluir que as evidncias da importncia que esta rea

    de estudo tem para a Psicologia em particular e para a sociedade em geral so

    indubitveis, pelo que o seu estudo e explorao se tornam fundamentais. Aps o que j

    foi aqui explanado, podemos afirmar que se a Psicologia Positiva tem como objecto de

    estudo as foras que fazem florescer a optimizao do comportamento humano, ento

    fundamental explorar essa optimizao atravs da compreenso do papel das emoes

    positivas na homeostasia do ser humano.

    1.3.2. Homeostasia e Emoes Positivas

    Em primeiro lugar deve-se compreender a importncia das emoes na vida.

    Desta forma, existem mecanismos automticos que solucionam, sem qualquer

    raciocnio prvio, os problemas bsicos da vida. Por outro lado, a homeostasia funciona

    atravs desses mecanismos reguladores, sendo o exemplo a manuteno interna do

    equilbrio qumico compatvel com a vida, manter a estrutura do organismo e defender o

    organismo de processos de doena e leso fsica (Damsio, 2003).

    De acordo com Espinosa o conatus corresponde tendncia que o organismo

    tem de lutar contra qualquer ameaa. Segundo Damsio (2003), o conutos pode ser

    definido como o conjunto de disposies cerebrais que, uma vez activados quer por

    condies do ambiente externo quer pelo ambiente interno, tm como objectivo a

    sobrevida e o bem-estar. Dentro da regulao homeosttica existem diversos nveis,

    como as respostas imunitrias, comportamentos, motivaes, emoes e sentimentos

    (Damsio, 2003).

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    Com a importncia de manter a homeostasia do organismo surge a importncia

    das emoes que esse organismo experimenta. Assim, no caso da alegria, os mapas

    neurais correspondem a estados de equilbrio para o organismo, traduzindo-se numa

    coordenao fisiolgica ptima e um fluir desimpedido das operaes da vida, que leva

    ao bem-estar e sobrevida (Damsio, 2003). Por outro lado, na mgoa os mapas neurais

    esto associados a estados de desequilbrio funcional, que dificultam a aco. Nestes

    estados de mgoa, as consequncias como a dor ou outros sinais de doena e

    desequilbrio fisiolgico manifestam-se e no caso de agravamento pode mesmo levar

    doena ou morte (Damsio, 2003).

    Desta forma, temos que o bem-estar contribui para o equilbrio do organismo,

    ajudando-o a proteger-se de qualquer ameaa e assim manter o seu estado de

    homeostasia. As emoes positivas, como a alegria, tm ento um papel fundamental

    para a preservao do organismo, pois incitam o indivduo a participar em actividades

    no seu ambiente, muitas delas adaptativas para o indivduo e para a sua espcie

    (Fredrickson, 2001). Mesmo em momentos neutros, existe a tendncia frequente para os

    indivduos experimentarem modos suaves de afecto positivo, que sem eles estariam

    desmotivados para se envolverem com o ambiente de forma adaptativa (Fredrickson,

    2001).

    Em 1990, Isen (citado em Fredrickson, 2001) sugeriu que o afecto positivo

    produz uma organizao cognitiva mais alargada e flexvel, com capacidade de integrar

    informao diversa, estando este fenmeno ligado ao aumento de dopamina no crebro,

    principalmente no lobo pr-frontal e cingulo anterior (Ashby, Isen & Turken, 1999).

    O factor adaptativo das emoes opera nas aces do indivduo, como por

    exemplo lutar quando sente medo ou atacar no caso de sentir raiva, como tambm

    prepara o corpo biologicamente para essa aco, como o aumento da presso arterial em

    msculos grandes no caso do medo (Fredrickson, 2001). Estas aces especficas esto

    na rea de aces que melhor asseguraram a sobrevivncia dos nossos antepassados

    (Tooby &Cosmides, 1990). Fredrickson (2001) sugere que existe uma qualidade

    adaptativa nas emoes positivas, afirmando que existem diferenas na forma e funo

    entre emoes positivas e negativas, mas mesmo sendo distintas elas complementam-se.

    Nas emoes negativas as opes de aco so mais restritas (atacar, fugir), ao passo

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    que nas emoes positivas o leque de aces disponveis ao indivduo estende-se (jogar,

    explorar, saborear, integrar) (Fredrickson, 1998).

    O balano entre emoes positivas e negativas serve como indicador dos

    julgamentos subjectivos de bem-estar (Diener, Sandvik & Pavot, 1991). De acordo com

    esta teoria, Kahneman (1999) sugere que a felicidade objectiva s pode ser medida

    atravs das experincias de emoes positivas e negativas momentneas. Este conceito

    de felicidade objectiva, onde se inclui um nmero maior de emoes positivas, pode

    ser considerado como um indicador de homeostasia e consequente estabilidade, que

    fundamental para a pessoa que se encontra num processo teraputico. Desta forma, ser

    importante compreender a forma como a dinmica entre emoes e afectos funciona em

    contexto teraputico.

    1.3.3. Emoes em Contexto Teraputico

    Apesar de ainda existir pouco consenso entre as diversas teorias, a perspectiva

    de que as emoes so um subconjunto da classe mais ampla de fenmenos afectivos,

    parece exibir uma maior solidez terica (Fredrickson, 2001). De acordo com esta

    perspectiva, as emoes manifestam-se em intervalos relativamente curtos de tempo,

    sendo normalmente despoletadas pela avaliao pessoal do indivduo sobre um

    acontecimento ou evento prvio (Fredrickson, 2001). Aps este processo de avaliao,

    consciente ou inconsciente, desencadeia-se um vasto leque de tendncias de resposta,

    que se manifestam espontaneamente, atravs de vrios sistemas complexos, como a

    experincia subjectiva, a expresso facial, o processamento cognitivo e as alteraes

    fisiolgicas (Fredrickson, 2001).

    Por seu turno, o afecto um conceito mais abrangente que se refere

    acessibilidade de sentimentos conscientes (Fredrickson, 2001). Apesar de se incluir nas

    emoes, o afecto tambm se manifesta em outros fenmenos, como as atitudes, as

    sensaes fsicas, humores e at mesmo nos traos afectivos da personalidade

    (Fredrickson, 2001). De forma a distinguir os dois conceitos, temos que as emoes so

    normalmente despoletadas por uma circunstncia significativa para o indivduo, ou seja,

    tm um objecto, enquanto os afectos surgem de forma livre e flutuante, pelo que no

    tm objecto (Oatley & Jenkins, 1996; Russell & Feldman Barrett, 1999). Por outro lado,

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    as emoes so de curta durao e manifestam-se nos sistemas complexos

    anteriormente referidos, enquanto os afectos manifestam-se de forma mais duradoura e

    so mais visveis no sistema complexo de experincia subjectiva (Ekman, 1994;

    Rosenberg, 1998; Russell & Feldman Barrett, 1999). Enquanto as emoes tm vrias

    categorizaes entre famlias distintas, como o medo e a raiva, a alegria e o interesse, o

    afecto apenas varia entre duas dimenses, a activao afectiva positiva e negativa

    (Tellegen, Watson & Clarck, 1999). Desta forma, podemos concluir que embora estes

    dois conceitos sejam distintos, as emoes e os afectos continuam a assumir uma

    ligao intrnseca.

    Por fazer parte do indivduo, as emoes e os afectos constituem uma base

    fundamental de trabalho teraputico. Contudo, as emoes positivas podem assumir um

    significado distinto entre terapeuta e cliente, podendo existir assim dois eixos, o eixo do

    valor da experincia pessoal e o eixo do valor teraputico (Fitzpatrick & Stalikas, 2008).

    O valor da experincia pessoal corresponde percepo da emoo, o julgamento

    pessoal da experincia, podendo esta ser positiva ou negativa, isto porque em

    determinadas circunstncias o orgulho pode ser experienciado como mau e a raiva como

    uma experincia boa (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). No eixo do valor da experincia

    pessoal no existem emoes positivas objectivas, pois so percepes subjectivas

    daquilo que sentido pelo indivduo (Gendlin citado em Fitzpatrick & Stalikas, 2008).

    No que respeita ao eixo do valor teraputico, este refere-se utilidade da emoo no

    processo teraputico, ou seja, todo o material que exposto nas sesses pelo cliente,

    normalmente doloroso, tem o seu valor teraputico que vai sendo descoberto pelo

    terapeuta ao longo das sesses (Fitzpatrick & Stalikas, 2008).

    Perante esta perspectiva e sendo de extrema importncia a flutuao emocional

    em contexto teraputico, Fitzpatrick e Stalikas (2008) distinguem trs categorias nas

    quais os eixos de experincia pessoal e valor teraputico podem combinar em contexto

    teraputico: a) experincia negativa/valor positivo; b) experincia positiva/valor

    negativo; c) experincia positiva/valor positivo. Esta ltima categoria, na qual o

    terapeuta pode explorar o benefcio teraputico de uma experincia positiva do cliente,

    tem sido at hoje negligenciada, mas parece oferecer uma das maiores oportunidades de

    expanso a nvel teraputico (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Ao considerar o exemplo de

    experincia emocional excessiva como o excessivo fascnio e/ou interesse, quando

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    funcionam como forma de evitar outros sentimentos mais dolorosos, consegue-se

    perceber que existe um valor teraputico negativo que necessita de ser trabalhado pelo

    terapeuta, como acontece na categoria de experincia positiva/valor negativo

    (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Por outro lado, nalgumas terapias que trabalham com

    funes defensivas, os clientes so ajudados atravs de um trabalho que utiliza emoes

    positivas de forma a alargar o seu reportrio emocional, possibilitando assim o

    reconhecimento de experincias negativas e melhores formas de lidar com elas

    (Fitzpatrick & Stalikas, 2008).

    Naturalmente, dentro do contexto teraputico expectvel que se observe um

    maior bem-estar e mais experincias positivas quando os clientes comeam por

    beneficiar da terapia, sendo este um indicador de mudana (Fitzpatrick & Stalikas,

    2008). Mas, segundo Fitzpatrick & Stalikas (2008), as emoes positivas no indicam

    apenas que a mudana ocorreu, elas tambm podem ser consideradas como motores

    geradores de mudana. Desta forma, se o cliente comea a experienciar mais emoes

    positivas no decorrer do processo teraputico, ento podemos concluir que o processo

    de mudana ocorreu ou est a decorrer.

    Assim, para melhor compreender esta aco das emoes positivas em

    contexto teraputico, devemos primeiro compreender a teoria broaden-and-build das

    emoes positivas proposta por Fredrickson em 2001. Segundo esta teoria, as emoes

    positivas, como a alegria, interesse, satisfao, orgulho e amor, embora

    fenomenologicamente distintas, todas partilham a habilidade de alargar os reportrios

    momentneos de pensamento-aco das pessoas e criam recursos duradouros, que vo

    desde os recursos fsicos e intelectuais at aos recursos sociais e psicolgicos, recursos

    estes que podero ser utilizados em situaes futuras (Fredrickson, 2001). Ao contrrio

    das emoes negativas que funcionam melhor em situaes de risco de vida, onde

    necessria uma aco rpida, como o medo e a raiva, as emoes positivas parecem ter

    um efeito complementar, no qual o leque de pensamentos e aces que surge na mente

    alargado (Fredrickson, 1998). A alegria, por exemplo, amplia por gerar o impulso de

    jogar, de testar limites e ser criativo (Fredrickson, 2001). Por outro lado, o interesse

    uma emoo positiva que amplia ao criar o impulso para explorar, receber novas

    experincias e informao que expande a pessoa durante esse processo

    (Csikszentmihalyi, 1990; Izard, 1977; Ryan & Deci, 2000). O orgulho, tal como Lewis

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    (citado em Fredrickosn, 2001) postula, uma emoo positiva relacionada com as

    realizaes pessoais, amplia ao criar o impulso de partilhar a notcia de realizao com

    outros e a perspectivar conquistas ainda maiores no futuro. Todo este conjunto de

    tendncias de pensamento-aco como o jogar, explorar integrar e vislumbrar

    realizaes futuras, representam alguns dos modos como cada emoo positiva pode

    ampliar a forma habitual de pensar e agir (Fredrickson, 1998; Fredrickson, 2001).

    Esta teoria prope que as emoes positivas ampliam a abrangncia de

    sistemas como a ateno, cognio e aco, criando recursos intelectuais, fsicos e

    sociais (fredrickson, 2001). Os recursos adquiridos no processo descrito pela teoria

    broaden-and-build das emoes positivas, so considerados como duradouros, pois

    sobrevivem a estados de transio emocional, mas ficam a funcionar como reserva que

    poder ser utilizada sempre que seja necessria em diferentes momentos e em diversos

    estados emocionais (Fredrickson, 2001). Assim sendo, a teoria de Fredrickson (2001)

    providencia uma nova perspectiva sobre o factor adaptativo das emoes positivas. Os

    nossos antepassados tambm passaram por este processo, ao experienciarem emoes

    positivas conseguiram aumentar os seus recursos de forma a tornarem-se mais capazes

    de sobreviver e de reproduzir, pelo que a seleco natural desde essa altura

    providenciou o facto de essa capacidade fazer hoje parte da natureza humana

    (Fredrickson, 2001).

    De volta ao contexto teraputico, Fitzpatrick & Stalikas (2008) consideram que

    as emoes positivas geram um papel facilitador no processo de mudana. O papel

    facilitador das emoes positivas opera atravs do apoio ou da relao teraputica, que

    pode assumir diversas formas (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Desta forma, podemos

    referir algumas situaes onde o processo de mudana pode ser facilitado pelas emoes

    positivas. A experincia de ser reconhecido gera emoes positivas, bem como sentir

    amor e gratido para com o outro gera uma forma de cura pelo afecto (Fitzpatrick &

    Stalikas, 2008). Quando a terapia est a correr bem, existe prazer no contacto entre

    paciente e terapeuta (deRoten, Drapeau & Michel, 2008). O desenvolvimento de

    esperana cria motivao e suporta os esforos para assumir a responsabilidade no

    trabalho teraputico de mudana (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Um foco teraputico

    entre as experincias emocionais e a sua reflexo torna-se um foco importante de

    insights e explorao teraputica (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Quando os clientes

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    ficam curiosos, o seu foco cognitivo amplia para incluir ideias novas ou rejeitadas

    anteriormente, assim, com o aumento da flexibilidade pode facilitar a resoluo da

    ambivalncia e ajuda a uma abertura para actividades que levam mudana (Fitzpatrick

    & Stalikas, 2008). Wagner e Ingersoll (citado em Fitzpatrick & Stalikas, 2008) propem

    que as emoes positivas que ocorrem atravs de mudanas iniciais nas sesses levam a

    uma cascata de sentimentos de confiana que suportam o processo de mudana. Por

    outro lado, as experincias emocionais positivas, como a confiana, facilitam a

    consolidao dos ganhos teraputicos de forma a suportar a mudana continuada

    (Fitzpatrick & Stalikas, 2008).

    Desta forma, a importncia das emoes positivas em contexto teraputico

    reside na sua capacidade de gerar a flexibilidade necessria para que o processo de

    mudana ocorra (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Especificamente na rea da reabilitao

    de adictos, o processo de mudana o foco de todo o trabalho teraputico, no qual os

    indivduos passam desejavelmente primeiro pelo reconhecimento do seu problema e

    posteriormente comeam a adquirir competncias para mudar o seu comportamento de

    forma a atingirem a abstinncia duradoura (Spicer, 1993). Contudo, o programa de

    reabilitao de quatro semanas exposto nos dois captulos anteriores, no de forma

    alguma um processo no qual as emoes positivas se esperam mais predominantes

    durante todo o processo, mas consiste num trabalho teraputico onde se espera uma

    enorme flutuao emocional nos indivduos, entre os dois eixos, positivo e negativo.

    1.3.4. Contexto Teraputico e Fluxo Emocional

    De acordo com as teorias expostas no ponto anterior, as emoes positivas tm

    um papel importante no processo de mudana, sendo mesmo consideradas como o seu

    motor gerador desse mesmo processo (Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Contudo, em

    contexto teraputico no se assiste s a emoes positivas, medida que os clientes vo

    aumentando a sua abertura, tambm vo entrando em contacto com uma maior fluidez

    de experincia interior que contm ambas as categorias emocionais, positivas e

    negativas (Lambert & Enkson, 2008). Um exemplo ilustrativo desta flutuao em

    contexto teraputico corresponde ao luto elaborado por Russel & Fosha (citado em

    Fitzpatrick & Stalikas, 2008). Numa situao de luto mal resolvida, o cliente comea

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    por chorar a morte que nunca tinha sido chorada, pelo que desenvolve sentimentos

    semelhantes a alvio e libertao de um peso ou fardo, essa libertao leva ao

    reconhecimento da perda que at ento tinha sido negada pelo prprio atravs de

    mecanismos defensivos. Aps este trabalho, o cliente comea por sentir alegria, orgulho

    e mais confiana no terapeuta e na terapia, o que faz com que surjam novas emoes

    positivas e negativas, flutuando numa abertura de experincia emocional intensa Russel

    & Fosha (citado em Fitzpatrick & Stalikas, 2008).

    Se considerarmos que no avano de um bom processo teraputico o cliente

    experiencia uma maior abertura emocional, desta forma esperado que exista a

    presena de uma maior flutuao entre emoes positivas e negativas, pelo que poder

    ser provvel a ocorrncia de ambas ao mesmo tempo, ou seja, a ocorrncia de emoes

    mistas. Embora no exista investigao sobre emoes mistas em contexto teraputico,

    esta flutuao emocional especfica pressupe a existncia de experincias com mistura

    de emoes, havendo evidncias de emoes positivas e negativas a ocorrerem juntas,

    se no mesmo em simultneo (Ersner-Hershfield, Mikels, Sullivan & Carstensen, 2008).

    A co-ocorrncia de duas emoes opostas ainda hoje um tema controverso

    dentro do campo da investigao emocional. Alguns modelos, como o modelo

    circumplexo de Russell e Carroll (1999), parecem dividir a experiencia emocional em

    positiva e negativa, pelo que a ocorrncia das duas s poder ser sequencial (Carrera &

    Oceja, 2007). Contudo, outras investigaes, como o modelo do espao avaliativo

    (Cacioppo & Bernston, 1994) abrem a possibilidade de ocorrerem duas emoes

    opostas em simultneo, para alm de ocorrerem sequencialmente (Carrera & Oceja,

    2007). No seguimento de avanos nesta rea, investigao posterior (exemplo modelo

    analgico de Sonnemans & Frijda, 1994) mostrou, atravs de um mtodo analgico

    sobre emoes subjectivas, que o fluxo emocional tem variaes na durao e

    intensidade, abrindo assim a possibilidade de captar as variaes no fluxo emocional e

    perceber se a mistura de emoes poder ser simultnea ou sequencial em determinadas

    situaes (Carrera & Oceja, 2007).

    Contudo, apesar da controvrsia, surge uma medida reveladora nesta rea

    concebida por Carrera e Oceja (2007), a medida analgica de emoes (AES), que

    permite aos investigadores e participantes discriminar pormenorizadamente, atravs de

    um grfico bidimensional, as experincias emocionais mistas. Esta medida avalia o

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    fluxo emocional subjectivo atravs de duas dimenses, a intensidade e durao

    respectivamente, permitindo a ocorrncia de duas emoes opostas (Carrera & Oceja,

    2007). Por outro lado, a escala permite tambm discriminar qual a emoo que

    prevalece em termos de intensidade durante determinada experincia emocional mista

    simultnea, bem como vrias outras estruturas sequenciais que permitem determinar

    qual a emoo que se verifica no inicio e qual se manifesta no final do episdio

    emocional (Carrera & Oceja, 2007).

    Conforme a perspectiva das emoes mistas, o indivduo experiencia um misto

    de emoes opostas, como a tristeza e a alegria, num determinado perodo. Segundo a

    perspectiva de Duncker (1941), as emoes mistas surgem atravs da conscincia ou

    antecipao de se perder algo que j se teve, como tambm atravs das situaes finais

    na vida que marcam a passagem do tempo, passar da escola secundria para a

    universidade, sair de casa dos pais, etc. Desta forma, parecem existir momentos mais

    propcios ocorrncia deste tipo de fluxo emocional misto. De acordo com os

    resultados do estudo de Ersner-Hershfield e colaboradores (2008), as emoes mistas

    tendem a ocorrer nos finais mais significativos, ou seja, situaes de vida que marcam a

    passagem do tempo.

    Em ltima anlise, o fluxo emocional que poder ocorrer num centro de

    reabilitao de alcoolismo e toxicodependncias dever, certamente, sofrer variaes

    durante o seu decorrer, pelo que no esperado um fluxo emocional constantemente

    estvel ao longo do tempo. Com todos os aspectos anteriormente expostos, em relao

    ao prprio programa de reabilitao e relativamente ao suporte terico que respeita s

    emoes, desenvolvem-se as expectativas que se podem considerar nesta investigao.

    1.4. Objectivos do Estudo

    O presente estudo tem como principal objectivo verificar o fluxo emocional de

    forma progressiva nos indivduos com diagnstico de adico, durante o decorrer de um

    programa de reabilitao biopsicossocial de aproximadamente 28 dias. Pretende-se

    igualmente verificar as alteraes emocionais e o estado de conscincia cognitiva para a

    mudana, bem como verificar a progresso da auto-estima e do controlo percebido

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    sobre a vida, durante todo o processo de tratamento em internato, para assim perceber a

    evoluo do fluxo emocional.

    Desta forma, surgem questes de interesse para a investigao. A primeira

    questo principal surge sobre as emoes no decorrer do programa como: Ser que ao

    longo do programa existem alteraes no rcio de positividade, no controlo percebido e

    na satisfao pessoal? Ser que no decorrer do programa a motivao para o tratamento

    sofre alteraes? Que tipo de alteraes existem nos relatos de episdios emocionais e

    nas emoes mistas? Ser que existe um aumento de emoes mistas no final do

    programa de reabilitao? Tentando responder a estas questes de interesse para a

    investigao procede-se recolha de dados atravs do protocolo criado com esse intuito.

    De forma a direccionar as questes de interesse para a presente investigao,

    procedeu-se ao levantamento das seguintes hipteses, tendo em conta todos os estudos

    anteriormente mencionados e acreditando na eficincia do tratamento: H1 esperado

    uma evoluo positiva no rcio de positividade ao longo do decorrer do programa. H2

    esperado que com o decorrer do programa surja uma evoluo positiva na satisfao

    pessoal e no controlo percebido. H3 esperado que exista um maior Reconhecimento

    do Problema, maior Aco e diminuio da Ambivalncia.

    Captulo 2 Mtodo

    2.1. Participantes

    A amostra foi recolhida num centro de tratamento de alcoolismo e

    toxicodependncia, com a devida autorizao da prpria instituio. Todos os

    participantes so portadores de doena de adico tal como definida pelo modelo que

    vigora na instituio. Desta forma, a amostra constituda por 30 participantes, sendo

    que 28 (93,3%) so do sexo masculino e apenas 2 (6,7%) so do sexo feminino

    (Apndice II).

    No que respeita s idades dos participantes, verificou-se que variaram entre os

    20 e os 54 anos, sendo que a mdia foi de 42,77 anos (DP=8,50).

    Quanto s variveis estado civil, profisso e nacionalidade, verificou-se uma

    maior frequncia de indivduos casados (50%) e solteiros (33,3%), de operrios no

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    especializados (50%), sendo todos de nacionalidade portuguesa (100%), verificou-se

    tambm que apenas 6.6% dos participantes no se encontrava naquele momento a

    trabalhar (Apndice II).

    2.2. Medidas

    Registo de Episdios Emocionais esta forma de recolher dados foi criada

    com o intuito de estabelecer um ponto de ligao entre as restantes medidas utilizadas.

    Desta forma, na primeira folha colocou-se o espao para o relato de episdios

    emocionais, onde consta inicialmente uma pequena instruo, como a que semana se

    refere, semana anterior ou se actual (actual para o 3 momento de recolha), tendo

    depois a instruo para descrever de forma breve a situao em que o participante

    experienciou o episdio emocional. Tambm foram dadas instrues para a pessoa

    preencher no mnimo um episdio e um mximo de 4 episdios, embora a folha

    contenha espao para descrever 7 episdios que poderiam ser utilizados caso houvessem

    enganos por parte dos participantes. O perodo de tempo para o respectivo

    preenchimento ronda sensivelmente os 5 minutos.

    Teste de Positividade (TP) esta escala serve para medir emoes positivas e

    negativas, tendo sido criada em 2003 por Fredrickson (Fredrickson, 2003, verso mais

    curta) atravs de uma modificao da escala diferencial de emoes de Izard (1977).

    apresentada com vinte itens em 2009 pela mesma autora. A escala permite criar um

    rcio de positividade sentido em determinado perodo de tempo (emoes positivas

    divididas pelas emoes negativas, ver Fredrickson, 2009). A TP encontra-se

    actualmente em adaptao para a populao portuguesa atravs do trabalho de De Sousa

    & Gonalves (em preparao). uma escala ordinal composta por 20 itens, onde se

    dividem os itens por duas partes iguais com emoes positivas e negativas, pelo que o

    participante dever colocar a intensidade com que as experienciou, sendo o formato de

    resposta tipo Likert composto por 5 pontos, entre 0 (nada) e 4 (muito). No estudo

    de adaptao para a populao portuguesa a TP apresenta uma consistncia interna por

    componentes de ,91 e ,94 sendo o total ,90 (Alpha de Cronbach) e uma adequabilidade

    de matriz de imput de (KMO=0.908), sendo considerada uma adequabilidade muito boa

    (De Sousa & Gonalves ,em preparao). O preenchimento desta medida tem uma

    durao de sensivelmente 3 minutos.

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    Analogical Emotional Scale (AES) esta escala foi primeiramente elaborada

    em 2007 por Carrera e Oceja para avaliar a experincia emocional subjectiva, onde

    existe a presena de duas emoes opostas, podendo assumir duas formas, a simultnea

    e a sequencial. Esta escala consiste numa representao subjectiva de um episdio

    emocional, na qual existe um grfico com dois eixos, o vertical para a intensidade e o

    horizontal para a durao. Esta medida segue o exemplo proposto por Sonnemans e

    Frijda (1994), corresponde a uma tcnica que permite ao indivduo desenhar a flutuao

    emocional que este sentiu durante o perodo em que experienciou um episdio

    emocional, tendo a particularidade de ser de fcil aplicao, podendo ser aplicada tanto

    dentro como fora do laboratrio. Recentemente, aps outro estudo sobre esta medida,

    Carrera e Oceja (2009) concluram que existe mais padres que podem ser definidos por

    esta escala. Assim, a AES permite a discriminao de pelo menos 4 padres de

    experincia emocional mista (Apndice I): a) padro de prevalncia, no qual se assiste

    presena de duas emoes em simultneo, sendo uma mais prevalente, ou seja, sendo de

    maior intensidade do que a outra de forma significativa; b) padro sequencial, onde

    existe uma primeira emoo que no decorrer do tempo substituda por outra; c) padro

    invertido, assiste-se a uma evoluo no tempo de duas emoes de forma inversa, ou

    seja, quando uma emoo diminui a intensidade progressivamente e a outra acompanha

    inversamente essa evoluo aumentando a sua intensidade; d) padro altamente

    simultneo, onde as duas emoes so representadas de forma simultnea, mas ao

    contrrio do padro prevalente as duas emoes so representadas com uma intensidade

    muito prxima. Em termos de fidelidade, o ltimo estudo elaborado por Carrera e Oceja

    (2009) obteve dentro das suas 4 condies de teste um resultado significativamente alto

    de acordo entre codificadores, variando os ndices K de Cohen entre ,77 e ,98, valores p

    < .001. Com a aplicao desta escala traduzida para portugus (De Sousa & Oliveira),

    os grficos obtidos demonstraram diversas variaes dentro dos 4 padres, tornando-se

    necessria a discriminao dessas variaes para o interesse do estudo. Assim, no

    padro de prevalncia introduziu-se dois tipos, a positiva e a negativa, discriminando

    qual das emoes a prevalente. No padro sequencial introduziu-se 4 tipos diferentes

    que definem o desenho sequencial representado, sendo positiva-negativa, negativa-

    positiva, negativa-positiva-negativa e positiva-negativa-positiva. No padro invertido

    colocou-se dois tipos que definem qual das emoes comea com maior intensidade

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    primeiro, ou seja, se comeou com uma emoo positiva ou negativa de maior

    intensidade e depois inverteu essa mesma intensidade, sendo positiva-negativa e

    negativa-positiva respectivamente. No padro altamente simultneo distinguem-se dois

    tipos a positiva e a negativa, onde se define qual das emoes fica ligeiramente acima

    da outra em termos de intensidade. Para alm destas distines introduzidas entre os 4

    padres definidos pelos autores, ainda se colocou mais 2 padres que definem apenas a

    presena de uma emoo durante o episdio emocional, ou seja, se foi s uma

    experincia emocional negativa ou positiva. Na sua aplicao foram dadas as instrues

    necessrias e complementares para que os participantes pudessem desenhar o grfico

    que melhor representa a experincia emocional subjectiva, pelo que o tempo mdio de

    aplicao varia entre os 2 e os 5 minutos.

    Subjective Well-being (SWB) esta uma medida de auto-avaliao, pelo que

    serve para aferir o bem-estar subjectivo, tendo sido criada por Diener (1995) num

    estudo sobre a satisfao pessoal por diversos pases, incluindo pases da Europa, como

    tambm Portugal. Da SWB seleccionmos um item apresentado numa escala de Likert

    de 7 pontos, sendo o extremo esquerdo de 1 (muito insatisfeito) e o extremo direito 7

    (muito satisfeito). Antes do item existe uma pequena instruo para o participante

    colocar uma cruz no nmero que melhor define o grau de satisfao que sente em

    relao a si prprio. Esta auto-avaliao tem uma durao de sensivelmente 1 minuto,

    pelo que no so necessrias instrues adicionais.

    Controlo Percebido Subjectivo (CPS) esta medida tambm de auto

    avaliao, tendo sido criada por Inglehart (1998) com o intuito de aferir o controlo

    percebido sobre a vida. A medida de auto-avaliao permite ao indivduo avaliar o

    controlo que tem sobre os acontecimentos na sua vida. No inicio tem uma pequena

    explicao sobre o controlo percebido, para que assim, o participante fique com a noo

    do que pretendido. Aps a explicao pede-se ao indivduo para colocar uma cruz no

    nmero que melhor define o grau de controlo que pensa ter sobre a sua vida. A CPS

    contem um item com uma escala de Likert de 11 pontos, sendo o extremo esquerdo de 1

    (nenhum controlo) e o extremo direito 11 (total controlo). Esta medida tem

    sensivelmente um minuto de durao para ser preenchida, pelo que no so necessrias

    intrues adicionais s que j esto na medida.

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    Stages of Change Readiness and Treatment Eagerness Scale verso 8D

    (SOCRATES 8D) esta escala de auto-administrao foi criada em 1996 por Miller e

    Tonigan, posteriormente adaptada para a populao portuguesa (Fasca, Janeiro &

    Miguel, 2007). A primeira verso surge em 1987 por William Miller (Miller & Tonigan,

    1996) com o objectivo de avaliar em qual dos cinco estdios de mudana (Prochaska &

    DiClemente, 1982) se encontram os indivduos em tratamento da adico ao lcool.

    Nesta ultima verso, Miller e Tonigan (1996) concluram, aps diversos estudos, que a

    escala no identifica os estdios de mudana mas avalia a motivao para a mudana

    atravs de trs factores: reconhecimento do problema (6 itens); aco (7 itens);

    ambivalncia (4 itens), sendo a varincia total das respostas respectivamente 22%, 13%

    e 12%. Esta escala composta por 17 itens, nos quais o indivduo responde consoante

    se rev em cada um, variando o formato de resposta entre 1 e 5, sendo 1 Discordo

    Fortemente e 5 Concordo fortemente. A fidelidade foi testada para a verso

    portuguesa numa situao de teste-reteste com dois dias de diferena obtendo resultados

    aceitveis, pelo que no factor reconhecimento do problema apresenta uma consistncia

    interna de ,87 e ,84 (Alpha de Cronbach), uma homogenidade de ,87 (correlao

    Intraclasses) e uma estabilidade temporal expressa por uma correlao forte (r=,827;

    p

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    espera que a situao se agrave se nada fizer e demonstra tendncia a expressar o desejo

    de mudana. As pontuaes baixas no mesmo factor indicam a ausncia de desejo de

    mudana, negao das consequncias do consumo de drogas e rejeio de diagnsticos

    relacionados com dependncia. No factor aco, as pontuaes altas indicam mudana,

    elas significam que a pessoa j est a fazer algo para mudar em relao ao consumo de

    drogas e pode j ter realizado algumas tarefas com sucesso a esse nvel. As pontuaes

    baixas no factor aco significam que a pessoa no est a fazer nada para mudar em

    relao ao seu consumo e portanto no obteve nenhuma mudana a esse nvel

    recentemente. No factor ambivalncia as pontuaes altas reflectem incerteza, indicam

    que a pessoa por vezes se questiona acerca da sua capacidade para controlar o consumo,

    acerca da quantidade e dependncia do consumo e do impacto do consumo sobre as suas

    relaes pessoais. As pontuaes baixas no factor ambivalncia indicam ausncia de

    incerteza, contudo a pessoa pode pontuar baixo porque sabe que o seu consumo est a

    causar problemas (pontuao elevada no reconhecimento do problema) ou porque sabe

    que no tem problemas (pontuao baixa no reconhecimento do problema), sendo

    necessria uma interpretao da pontuao de ambivalncia em funo da pontuao

    obtida no factor reconhecimento do problema. O preenchimento desta escala demora

    entre 5 a 10 minutos.

    2.3. Procedimento

    Tendo por objectivo avaliar a flutuao emocional durante o perodo de

    tratamento em adico, as medidas foram aplicadas trs vezes durante todo o processo

    de reabilitao biopsicossocial, exceptuando a avaliao sobre a motivao para a

    mudana atravs da escala SOCRATES, que foi s aplicada em dois momentos, um no

    inicio do tratamento e outro no seu trmino. A escala SOCRATES j estava a ser

    aplicada pela prpria instituio, pelo que foram disponibilizados os dados para este

    estudo. A sua aplicao foi executada por um tcnico do prprio servio de

    internamento, sendo aplicada na sala de reunies da instituio, pedindo a colaborao

    dos participantes e dando as instrues necessrias para o seu preenchimento.

    As restantes medidas foram aplicadas na sala de reunies, onde decorrem todas

    as sesses teraputicas do programa de reabilitao. uma sala com bastantes janelas

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    que permitem a entrada de luz natural, com um espao amplo para acomodar cerca de

    35 pessoas. A sala tem alguns equipamentos que so utilizados nas sesses, como um

    projector e um quadro para marcadores, tem paredes brancas e cerca de 35 cadeiras com

    um suporte de apoio de brao para escrita.

    Inicialmente, quando o grupo comeava o seu tratamento de quatro semanas,

    era solicitada a sua participao no estudo, explicando que o estudo teria assim trs

    momentos de recolha, sendo um na primeira semana, outro na segunda semana e o

    ltimo na quarta e ltima semana. A meio de cada semana foi feita a recolha de dados,

    exceptuando a ltima semana que foi feita precisamente no ltimo dia do tratamento. A

    folha de consentimento informado foi lida para todos os participantes, onde consta a

    liberdade em desistir assim que o participante desejasse, bem como a confidencialidade

    a que o estudo obedece. Aps o consentimento informado eram dadas as instrues

    necessrias para que os participantes preenchessem o protocolo. Desta forma, os

    participantes eram indicados para no primeiro e segundo momento de recolha referirem-

    se semana anterior, sendo a ltima semana referente prpria semana que decorreu.

    Foi solicitado aos participantes que na primeira folha de relato de episdios

    emocionais, descrevessem de forma breve os episdios emocionais mais significativos

    que experienciaram. Na segunda fase, preenchiam at um mximo de dois questionrios

    de Teste de Positividade para os dois episdios mais importantes relatados na folha

    anterior, por ordem de importncia, o primeiro mais importante e o segundo mais

    importante. Aps essa fase, os participantes construam o grfico na escala AES, para o

    primeiro episdio mais importante, ou seja, o episdio que serviu de referncia para

    preencher o primeiro questionrio de Teste de Positividade, marcando quais as duas

    emoes sentidas e qual o episdio a que se referem. Na ltima folha, os participantes

    preenchiam as escalas de satisfao pessoal subjectiva e de controlo percebido

    subjectivo. Durante as quatro semanas de tratamento, o preenchimento do respectivo

    protocolo, em cada momento demorou sensivelmente 15 minutos, pelo que foram

    sempre preenchidos na sala de reunies anteriormente referida.

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    3. Resultados

    Para a anlise estatstica deste estudo foi criada uma base de dados em SPSS

    verso 17.0, pelo que toda a anlise foi processada neste programa. Com base na

    primeira hiptese (H1) procedeu-se a uma anlise descritiva das emoes positivas e

    negativas sentidas pelos participantes (Apndice III), na qual se pode constatar que

    entre os trs momentos houve um aumento das emoes positivas, principalmente entre

    o primeiro momento (M=6.97) e o terceiro momento (M=7.97), pelo que se verifica um

    decrscimo acentuado de emoes positivas no segundo momento (M=5.09). No que

    respeita s emoes negativas, pode-se verificar um acentuado decrscimo de emoes

    negativas, principalmente entre o primeiro momento (M=6.27) e o terceiro momento

    (M=4.83), contudo, versifica-se um ligeiro aumento no segundo momento (M=7.03).

    A anlise descritiva sobre os Rcios de Positividade para cada momento

    (Apndice IV) tambm sugere um decrscimo para o segundo momento, conforme

    constatado no pargrafo anterior sobre as emoes positivas e o aumento das emoes

    negativas para o segundo momento. Na anlise dos resultados verifica-se que existe um

    aumento entre o primeiro momento (M= 1.77) e o terceiro momento (M=3.33), sendo o

    segundo momento (M=1.62) marcado por um ligeiro decrscimo em relao ao

    primeiro momento.

    Ainda para a primeira hiptese (H1) utilizmos um teste de medidas repetidas

    para uma anlise de varincia intra-sujeitos (GLM) e obtivemos um efeito principal

    entre os momentos estatisticamente significativo F(58)=4.47; p=0.16, com uma

    evoluo linear (p

  • David Marques Oliveira - Emoes Positivas e Motivao na Reabilitao Biopsicossocial

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias ,Faculdade de Psicologia 39

    (M=1.15), sendo o valor no teste no-paramtrico de Wilcoxon Signed Ranks Test

    (2.11; p=.035).

    Figura 1. Evoluo do Rcio de positividade nos trs momentos de recolha.

    Para a anlise dos resultados sobre Satisfao Pessoal e Controlo Percebido

    (H2) elaborou-se uma anlise descritiva dos dados (Apndice V). Os resultados da

    Satisfao Pessoal revelam um ligeiro decrscimo do primeiro (M=4.57) para o segundo

    momento (M=4.4