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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO
CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA
CURSO DE HISTÓRIA
EMILLY BARROS BARBOSA
“NOVOS BALAIOS”: (RE)significados e apropriações da memória da balaiada no atual
contexto político maranhense.
São Luís
2013
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EMILLY BARROS BARBOSA
“NOVOS BALAIOS”: (RE)significados e apropriações da memória da balaiada no atual
contexto político maranhense.
Monografia apresentada ao Curso de História da
Universidade Estadual do Maranhão – UEMA,
para obtenção de Grau em História Licenciatura.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Sandra Regina Rodrigues
dos Santos.
São Luís
2013
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EMILLY BARROS BARBOSA
“NOVOS BALAIOS”: (re)significados e apropriações da memória da balaiada no atual
contexto político maranhense.
Aprovado em: ____/_____/______
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Sandra Regina Rodrigues dos Santos (Orientadora) Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
___________________________________________________
1° Examinador (a) Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
__________________________________________________
2° Examinador (a) Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, que me deu o fôlego da vida, força, coragem e saúde
durante toda essa caminhada.
Aos meus pais Márcia e Barbosa, irmãos Márcio e Larissa e familiares, em
especial a minha madrinha e segunda mãe Léa, pelo amor e dedicação incondicionais, pois
não mediram esforços para que eu chegasse a essa etapa da minha vida.
Ao meu marido Cristian, pelo apoio que posso contar sempre, por acreditar na
minha capacidade e pela compreensão nos momentos de ausência.
A todos os professores do Curso de História, pelos ensinamentos que foram muito
importantes para a minha formação acadêmica.
Agradeço especialmente a minha orientadora Sandra, que foi e continua sendo
como uma mãe para mim, pela inspiração, apoio, paciência, dedicação e pelo convívio
maravilhoso durante o curso e a conclusão deste trabalho.
Aos meus amigos da minha primeira turma (2007.2), com quem nunca perdi os
laços de amizade, mesmo não estudando mais juntos.
Aos meus amigos da turma 2008.2, em especial a Priscila, Lycia, Arianne,
Camila, Danielly, Hugo e Haniery, pelo incentivo, apoio e convívio constantes durante todos
esses anos, compartilhando muitos momentos de alegrias e de trabalho também.
E as minhas amigas de longa data, Valéria, Ana Paula e Priscila Câmara por
compartilharem mais um importante momento na minha vida.
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RESUMO
A “Balaiada Moderna” é a denominação que vem sendo comumente utilizada por partidos
políticos e movimentos sociais para designar a agitação política e social contrária à cassação
do governador do Maranhão Jackson Lago, fazendo alusão ao movimento que eclodiu no
século XIX e utilizando-se de seu simbolismo. Essa apropriação simbólica do movimento
balaio não é nova, sendo encontrada em outros movimentos ocorridos no século XX, a
exemplo da “Greve de 51” e da “Greve de 1979”. No que diz respeito à apropriação atual da
Balaiada enquanto símbolo de rebeldia, este movimento surgiu em 2006, como reflexo das
disputas nas eleições para o governo do Maranhão entre Jackson Lago e a família Sarney,
representada por Roseana Sarney. A intenção foi analisar as fontes para mostrar o contexto
em que surgiu a “Balaiada Moderna” e suas vinculações politicas através dos discursos dos
“novos balaios”, buscando nas ideias ali presentes o uso do simbolismo balaio em expressões
de grupos políticos, culturais e sociais, que reivindicam uma tradição de resistência,
reabilitando assim a memória histórica da Balaiada.
Palavras- chave: Balaiada Moderna. Apropriação. Memória. Identidade. Política.
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ABSTRACT
The "Balaiada Moderna" is the name that is commonly used by political parties and social
movements to designate the political and social unrest against the impeachment of the
governor of Maranhão Jackson Lago, alluding to the movement that erupted in the nineteenth
centuryand using the its symbolism. This symbolic appropriation hamper the movement is not
new, having been found in other movements in the twentieth century, such as the "Greve de
51" and "Greve de 1979." With regard to the appropriation current Balaiada as a symbol of
rebellion, this movement emerged in 2006 as a result of disputes in elections to the
government of Maranhão between Jackson Lago and the Sarney‟s family, represented by
RoseanaSarney. The intention was to analyze the sources to show the context in which they
arose "Balaiada Moderna" and its linkages across the political discourse of "novos balaios"
seeking the ideas present there hamper the use of symbolism in expressions of political,
cultural and social groups, claiming a tradition of resistance, thus rehabilitating the historical
memory of Balaiada.
Keywords: Balaiada Moderna. Appropriation. Memory. Identity. Politics.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Governador Jackson Lago, sua luta é nossa luta............................................ 27
Figura 2 Jackson Lago no MST................................................................................... 34
Figura 3 Movimento Pró-Jackson no Fórum Social Mundial em Belém-PA.............. 36
Figura 4 Imperatriz Diz Não Ao Golpe....................................................................... 37
Figura 5 População repudia golpe de Sarney............................................................... 39
Figura 6 TSE cassa Jackson......................................................................................... 42
Figura 7 Acampamento Balaiada na festa da democracia............................................ 43
Figura 8 Balaiada Rock: uma guerra quase solitária.................................................... 44
Figura 9 Com as bandeiras nas ruas, ninguém pode nos calar!.................................... 47
Figura 10 A reabilitação das lutas do passado............................................................... 49
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 9
1 A HISTÓRIA DA BALAIADA PELO O OLHAR DE ALGUNS DOS
SEUS ESTUDIOSOS........................................................................................
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2 A IMPRENSA ENFATIZANDO O PAPEL DAS MINORIAS NA LUTA
EM DEFESA DA DEMOCRACIA.................................................................
23
3 -“A NOVA BALAIADA DA ILHA REBELDE MONTA
ACAMPAMENTO COMO ESPAÇO DE VIGÍLIA CÍVICA”...................
46
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 56
REFERÊNCIAS................................................................................................. 58
9
INTRODUÇÃO
Ocorrida no período denominado Regência (1831-1840), fase de transição da
colônia para a consolidação do Império, a Balaiada eclode junto com outros conflitos
representativos dos abalos sofridos pela estrutura política brasileira no processo de construção
do Estado nacional soberano, como um movimento social complexo, situado na categoria das
lutas populares contra a opressão, o latifúndio e a miséria, causados pelas transformações
políticas, sociais e econômicas inerentes a esse momento histórico.
No Maranhão tais transformações refletiram de forma negativa nas duas bases
socioeconômicas da província, uma que se fundamentava na pecuária extensiva e a outra na
agricultura de exportação.
Já no âmbito político essas transformações refletem as profundas divergências
políticas que se acirraram no período regencial, com a disputa entre os partidos hegemônicos
da época: o liberal (bem-te-vis), com ideais liberais e, em sua ala mais radical, ideias
republicanas; e o conservador (cabanos), que apesar de apresentarem perspectivas diferentes,
como a defesa da centralização, tinham aspirações semelhantes no tocante às políticas
econômicas e sociais, e, assim como os liberais, eram representativos das elites agrário-
escravocratas.
Segundo o historiador Lima (1981), estes políticos se combatiam a ferro e fogo,
mas que, na realidade, como ainda hoje, não defendiam um ideal, mas se agrupavam em torno
de homens, ou clãs, cheios de recalques e sedentos de vingança.
E foi neste contexto, que eclodiu a Balaiada no sertão maranhense, com
ramificações para fora da província, provocando, no dizer de Astolfo Serra (1946), o levante
de uma massa agitada e rebelada, um aglutinado inquieto de vaqueiros, artesãos e até
abastados fazendeiros. Que segundo Meirelles (1960) é fruto também da exaltação dos ânimos
existentes, em que pese à circunstância de sua característica essencial de um movimento de
massas rurais contra os potentados.
Por isso, a Balaiada é considerada a maior insurreição ocorrida no Maranhão,
marcada pelo caráter multiclassista, pois se envolveram nela, fazendeiros, vaqueiros, artesãos,
pequenos lavradores, desertores, escravos e livres pobres sem ocupação fixa, o que deu a
revolta uma composição bastante heterogênea e complexa, gerando assim diferentes matrizes
explicativas, que vem ao longo desses 172 anos sofrendo novas percepções e interpretações
que reconfiguram constantemente a memória desse movimento.
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Um exemplo disso são as produções historiográficas da década de 1980 até a
atualidade que se caracterizam por serem produções acadêmicas e por se basearem em
pressupostos teóricos e metodológicos que vão desde a abordagem no campo da história
econômica, história social até a história cultural, com o uso de fontes orais, sendo capazes de
analisar a Balaiada de maneira diferenciada, desconstruindo a chamada versão oficial do
movimento, presentes nas fontes oficias de caráter militar, principalmente.
As apropriações simbólicas da Balaiada podem ser encontradas em outros
movimentos ocorridos no Maranhão, a exemplo das greves de 1951 e 1979, sendo a
apropriação mais recente autointitulada “Balaiada Moderna” cujos participantes são
denominados “Novos Balaios”. Este movimento surgiu do embate político entre Jackson Lago
e Roseana Sarney nas eleições estaduais de 2006, na qual Jackson Lago saiu vitorioso através
das urnas.
Passado pouco tempo do início do seu mandato, o então governador Jackson
Lago, foi acusado de abusar do poder político e econômico, para comprar votos e utilizar a
máquina do Estado a seu favor através de um comício realizado na cidade de Codó, onde o
governador na época José Reinaldo Tavares declarou o seu apoio à candidatura de Jackson
nas próximas eleições.
Tais acusações foram formalmente usadas em um processo movido por Roseana
Sarney no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que começou a ser julgado no dia 19 de
dezembro de 2008, mas foi por três vezes adiado e retomado, da primeira vez por causa do
pedido de vista do ministro Félix Fischer, pela segunda vez por um pedido de vista do
ministro Joaquim Barbosa e da terceira vez por motivos de doença o ministro Fernando
Gonçalves não pode comparecer ao julgamento.
Durante todo o período de julgamento até o momento da cassação foi sendo
construído o movimento “Balaiada Moderna”, organizado por um grupo defensor da causa de
Jackson Lago, que se mantiveram acampados em frente ao Palácio dos Leões (sede do
governo estadual) para prestar solidariedade a Jackson Lago, defender a “democracia (voto)”
e a “soberania do povo maranhense contra a “Oligarquia dos Sarneys”, que queriam “tomar o
poder a força”1.
Diante desses acontecimentos nos interessa nesse contexto perceber o nível de
organização desses sujeitos, principalmente os oriundos dos movimentos sociais e das
camadas populares, para identificá-los e perceber as influências que sofreram e quem são suas
1 O Imparcial, 20 de Março de 2009.
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lideranças. Por isso faz-se necessário compreender melhor o porquê e como os participantes
da atual “Balaiada Moderna”, buscam estabelecer interfaces com o movimento da Balaiada do
século XIX no sentido de auto afirmar-se como movimento de massas.
Tais aspectos instigaram a realização de um estudo sobre a Balaiada, atrelado aos
movimentos denominados “Novos Balaios” e “Balaiada Moderna”, que surgiram nos embates
da política local, o que resultou em um novo “processo de (re)significação da memória da
Balaiada e do afastamento de seu significado histórico”, havendo uma espécie de “reinvenção
da tradição balaia”, observada em sites e em movimentos políticos, religiosos e sociais nas
últimas décadas.
Assim sendo, este estudo têm por objetivo analisar as apropriações da memória
balaia na atualidade, no contexto do movimento autointitulado “Balaiada Moderna” e suas
vinculações políticas, pois a intenção é perceber nos discursos dos “novos balaios” quais
ideias justificam sua influência junto às massas populares.
Por outro lado é importante verificar como o conhecimento do movimento da
Balaiada tem possibilitado estabelecer uma identidade com as lutas populares do presente,
reivindicando uma tradição de resistência das camadas oprimidas.
Ao longo da pesquisa foram utilizadas como fontes os jornais O Imparcial e o
Jornal Pequeno, panfletos, pasquins, memórias, documentos oficiais e a pesquisa de campo,
indispensáveis ao processo analítico sobre as interrogações e as inflexões com as quais nos
defrontamos ao buscar perceber as interfaces entre os movimentos sociais e políticos do
século XX e XXI atrelado ao significado histórico da Balaiada.
A partir das ideias e as reflexões presentes nesta vasta documentação foi possível
analisar aspectos da Balaiada que foram sendo apropriados por diferentes grupos sociais,
assim sendo, acreditamos que nos estudos realizados as análises darão ênfase ao imaginário,
as relações e as práticas dos agentes sociais – individual, coletivo e público - enfim, as
representações do universo cultural, social e político do Maranhão na atualidade.
A intenção foi buscar nas entrelinhas de toda a documentação e no embasamento
teórico obter respostas que conduzissem ao aprofundamento dos aspectos contemplados nos
objetivos, levando em consideração os conceitos de representação, apropriação e imaginário.
O conceito de representação foi utilizado conforme o sentido proposto por
Chartier (2002), como a “manifestação de uma ausência”, o que supõe uma clara distinção
entre o que representa e o que é representado, visto que a representação funciona como
instrumento de um conhecimento mediato que revela um objeto ausente, substituindo-o por
uma imagem capaz de trazê-lo à memória, fazendo uma correlação de uma imagem presente e
12
de um objeto ausente, um valendo pelo outro.
Dessa forma, a representação que os indivíduos e os grupos fornecem
inevitavelmente através de suas práticas fazem parte integrante de sua realidade social. Sendo
assim, representar é estar no lugar de algo, é a presentificação de um ausente, é um apresentar
de novo, ou seja, a representação não seria uma cópia do real, mas uma espécie de reflexo,
construída a partir dele.
A noção de apropriação, assim como a de representação também se apoia no
pensamento de Chartier (2002), que por sua vez se insere nas tendências contemporâneas de
análise da chamada Nova História Cultural. Portanto, a apropriação se apresenta como uma
história social das interpretações, remetida para suas determinações sociais, institucionais e
culturais.
Por outro lado, o imaginário também faz parte de um campo de representação e se
manifesta por imagens e discursos que pretendem dar uma definição da realidade. Enquanto
representação do real, o imaginário é uma referência a um “outro” ausente, e não uma
expressão literal da realidade como um espelho (PESAVENTO, 1995).
A expressão do imaginário social se dá por símbolos, ritos, crenças, discursos e
representações alegóricas, daí a sua importância para auxiliar na análise da chamada
“Balaiada Moderna”.
Este estudo encontra-se dividido em três capítulos. No primeiro tem-se um
levantamento bibliográfico da historiografia da Balaiada, contemplando autores que
escreveram suas obras no “calor do movimento” até as obras acadêmicas escritas na década
de 90.
No segundo capítulo, “A imprensa enfatizando o papel das minorias na luta em
defesa da democracia”, nos propusemos a analisar algumas matérias dos jornais O Imparcial e
o Jornal Pequeno, buscando nas mesmas, especialmente nos discursos dos “novos balaios” a
apropriação da memória da Balaiada.
E por último, no terceiro capítulo, “A nova balaiada da ilha rebelde monta
acampamento como espaço de vigília cívica”, procedemos à análise de um conjunto de
manifestações de diversos tipos, ocorridos no “acampamento balaio”, e que estão expressos
em panfletos, manifestos e informativos produzidos pelos próprios “balaios” durante as
eleições de 2006, e no decorrer do processo de cassação de Jackson Lago até o seu
falecimento em abril de 2011.
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1 A HISTÓRIA DA BALAIADA PELO O OLHAR DE ALGUNS DOS SEUS
ESTUDIOSOS2
A produção historiográfica brasileira é unanime em considerar a Balaiada como a
maior revolta ocorrida no Maranhão, levando em consideração o grande contingente de
participantes e a extensão geográfica por onde agiram os rebelados, daí a grande importância
em analisar o discurso de alguns estudiosos que escreveram sobre ela com a finalidade de se
entender o movimento ocorrido no século XIX para que assim seja possível buscar subsídios
que possam ajudar nas respostas em relação à apropriação feita pelos atores responsáveis pelo
movimento ocorrido em 2006 autointitulado “Balaiada Moderna”.
As análises iniciaram pela obra de Domingos José Gonçalves de Magalhães, “A
Revolução da Província do Maranhão desde 1838 até 1840”3, que por ser contemporâneo da
revolta e ter viajado pelo interior do estado do Maranhão como “integrante da comitiva do
então novo Presidente e Comandante das Armas da Província, o coronel Luís Alves de Lima e
Silva”(ABRANTES, 1996, p. 49)4, apresenta a sua memória mostrando como se deu
cronologicamente os acontecimentos, com um caráter de verdade absoluta e repleta de juízos
de valor que podem ser confirmadas no decorrer de toda a leitura, pois este se mostra muito
conhecedor das áreas de conflito.
Ele compartilha da mesma visão política do governo (tradicional) que mostra os
rebeldes como bandidos e facciosos que tinham “interesse apenas nas pilhagens”
(ABRANTES, 1996, p. 50), e a Balaiada como “fruto da disputa política entre os partidos”
conservador (cabano) e liberal (bem-te-vis), sendo Raimundo Gomes (um dos líderes do
movimento) um mero instrumento nas mãos do partido bem-te-vi. Nessa ótica foi observado
que para Domingos de Magalhães os rebeldes não possuíam nenhuma inteligência e muito
menos um plano político, transparecendo a ideia de que os setores populares eram incapazes
de propor ações e reformas revolucionárias para aquela situação, ficando assim atreladas as
ideias da elite. Por isso considera o partido liberal como uma espécie de “mão oculta”
incentivadora que dirigia Raimundo Gomes, julgando-o incapaz de tomar decisões por si só.
2 Conforme Santos (2010), os estudiosos podem ser divididos em dois grupos: o dos autores-historiadores, que
realizaram seus estudos a partir da “reprodução de documentos importantes” da época, que ajudam a
compreender cronologicamente os acontecimentos da Balaiada e o dos autores acadêmicos, que dão ênfase ao
“caráter popular do movimento, a existência de vários segmentos sociais na composição da revolta, além de
destacarem vários outros aspectos ligados à eclosão, luta e repressão”, elaborando uma análise mais objetiva,
“isenta de paixões e comprometimentos”. (p. 15) 3 Publicada em 1848, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. (Apud, ABRANTES, 1996, p.
49) 4 Estudo de grande relevância pela sua análise historiográfica a respeito da Balaiada.
14
Compartilhando proporcionalmente da mesma ideia, Rodrigo Otávio em sua
memória “A Balaiada 1839: depoimento de um dos heróis do Cerco de Caxias sobre a
revolução dos Balaios”, que fala sobre “o depoimento de Ricardo Leão Sabino, um dos
militares que lideraram a resistência da cidade de Caxias” (SANTOS, 2010, p. 20), o autor
mostra uma narrativa pelo lado “vencedor”, apresentando a Balaiada como um movimento de
rebeldia que objetivava “saques e depredações” e os rebeldes como assassinos, malvados,
violentos e sanguinários, praticantes de rapinagem e assaltos em fazendas e propriedades.
Sua memória também apresenta um tom apaixonado mesclado com tons de
heroísmo que descreve minuciosamente a vitória do cerco de Caxias, desde a sua organização
até a luta, destacando os mínimos detalhes dos episódios e das estratégias feitas pelo capitão
Sabino.
Já o autor Alencastre (1872)5 autor da obra intitulada Notas Diárias Sobre a
Revolta Civil que teve lugar nas Províncias do Maranhão, Piauí e Ceará pelos anos de 1838,
1839, 1840, 1841 escritos em 1854 à vista de documentos oficiais, escrita semelhante a uma
crônica, relata detalhadamente e exaustivamente de forma cronológica as fugas e lutas entre
as forças da legalidade e os rebeldes, buscando dar um caráter de verdade através da
utilização de documentos da época.
Por ser considerada uma obra positivista percebe-se que a mesma apenas enumera
os acontecimentos cronologicamente sem a preocupação de explicá-los, porém através da
disposição dos fatos históricos é possível notar que autor apresenta a existência de um
antagonismo explícito entre negros e rebeldes bem-te-vis, que favorecia o enfraquecimento da
revolta.
Além disso, assim como Domingos de Magalhães e Rodrigo Otávio, o autor José
de Alencastre também enxerga os rebeldes balaios como “facínoras”, e, também os classifica
como “caudilhos”6, no que diz respeito à capacidade dos líderes rebeldes em comandar e
prender a atenção de um grande número de pessoas entusiasmadas com a “onda
revolucionária”.
Outra importante obra sobre a Balaiada é a de Amaral (1898)7 intitulada
5 Alencastre era bacharel em Direito e um dos pioneiros da imprensa nova no Piauí, também foi professor de
língua portuguesa no Liceu e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Para o aprofundamento
desta obra vide, SANTOS, 2010, p. 21-22. 6“São denominados caudilhos os políticos e grandes líderes de determinadas nações que exercem seu poder de
forma carismática e de caráter populista por vias autoritárias ou autocráticas”. “Devido ao culto à
personalidade, os caudilhos são capazes de comandar grande número de pessoas e prender a atenção de vastas
multidões entusiasmadas”. (conceito retirado dos sites: http://www.infoescola.com/historia/caudilhismo/ e
http://www.dicionarioinformal.com.br/caudilho/ 7 Escritor maranhense, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e também da Academia
15
“Apontamentos para a História da Revolução da Balaiada na Província do Maranhão”, escrita
em três volumes e publicada nos anos de 1898, 1900 e 1906, apresenta um relato sobre os
acontecimentos do movimento balaio através da utilização de transcrições de fontes primárias
e dos escritos de jornais da época, especialmente a “Crônica Maranhense” de autoria de João
Lisboa, a quem o autor consagra grande admiração (AMARAL apud ABRANTES, 1996, p.
54).
Em sua obra os acontecimentos também aparecem de forma cronológica,
descrevendo os rebeldes como “os malvados” e as forças do governo como homens de “ação
corajosa, de admirável valor e disciplina” (AMARAL apud SANTOS, 2010, p. 22), o que
também não isenta Ribeiro do Amaral de emitir juízo de valor negativo sobre a Balaiada e
seus participantes.
Além disso, mesmo escrevendo sessenta anos após a revolta, o autor defende a
tese de que a Balaiada foi fruto de sucessivos “erros e imprudências” (ABRANTES, 1996, p.
54) cometidos durante os governos de “Bibiano de Castro (1837) e Vicente Camargo
(1838)”(ABRANTES, 1996, p. 54), tendo o seu estopim com o decreto da Lei de Prefeitos e
Subprefeitos8, que tinha como objetivo
[...] separar o poder administrativo, exercido pelas Câmaras Municipais, do Poder
Legislativo. Os prefeitos eram nomeados pelo presidente da província, para exercer
atribuições administrativas e policiais, funções que outrora eram exercidas pelos
juízes de paz, cargo municipal eletivo (SANTOS, 2010, p. 83-84).
Lei esta que colocava no poder municipal, homens prepotentes e ignorantes, pois
segundo o autor Kidder (1980, p. 148-155 apud SANTOS, 2010, p. 84), os prefeitos na
maioria das vezes eram pessoas de confiança do presidente da província e havia casos em que
estes nem conheciam o lugar onde iriam exercer o cargo, porém após a nomeação os prefeitos
“sentiam-se fortalecidos e o presidente da Província com poderes ampliados”.
Segundo Santos (2010) esta lei atingiu diretamente a elite do interior, que exercia
forte política local, que em sua maioria faziam oposição ao governo provincial, dessa forma
tal lei representou uma artimanha contra as conquistas políticas dos chefes poderosos do
interior, que até então tinha as funções de juiz de paz. Essa grande autoridade dos Prefeitos e
Subprefeitos facilitou a existência de crimes políticos e diversas atrocidades que ficaram
impunes durante todo o período, que acabou resultando no estopim da revolta.
Porém é notório que o foco principal da obra é a defesa de João Lisboa das
Maranhense de Letras.
8 Lei aprovada em 26 de julho de 1838, no governo do Presidente Vicente Pires Camargo (1838-1839).
16
acusações de que este pertencia ao Partido Bem-te-vi (liberal), o “grande” responsável pela
revolta, buscando defende-lo das denúncias feitas pelo jornal O Investigador Maranhense e da
versão apresentada na obra de Domingos de Magalhães, na qual mostra o Partido Liberal
como sendo o idealizador do movimento.
Portanto para o autor, João Lisboa nunca teria quaisquer ligações com os chefes
da Balaiada, pois este era um homem de “caráter puro e austero, e o seu talento superior não
podia admitir alianças e unidades de vista com indivíduos tirados da última ralé da sociedade,
pois tais eram os chefes da revolução” (AMARAL, 1898, p. 42 apud SANTOS, 2010, p. 23).
E se utilizando dos artigos do jornal “Crônica Maranhense” argumentou que o
“Partido Liberal se colocou contra os rebeldes” (ABRANTES, 1996, p. 55) a partir do
momento que exaltou todos aqueles que pegaram em armas “para sufocar o movimento”,
além de afirmar que o fato dos rebeldes se auto intitularem bem-te-vis não significava que
fossem “apoiados pelo Partido Bem-te-vi” (ABRANTES, 1996, p. 55), pois o autor acusa os
rebeldes balaios de estarem apenas interessados nos roubos, assassinatos e depredações que
realizavam pelo interior do Maranhão.
Mas mesmo afirmando que o partido liberal não era idealizador do “plano
revolucionário”, o autor concorda com Domingos de Magalhães quando não acredita que
pessoas simples fossem capazes de liderar um movimento de grandes proporções como foi a
Balaiada, pois para Ribeiro do Amaral o vaqueiro Raimundo Gomes não passava de “um
humilde e obscuro vaqueiro, nascido nos sertões da Província do Piauí, coberto de crimes,
sem prestígio que dá o talento, sem força que trazem as grandes convicções, tivesse podido
por um momento sequer, perturbar o sossego desta Província.” (AMARAL, 1898, p. 54-55
apud ABRANTES, 1996, p. 56).
Segundo Abrantes (1996) a visão do autor sobre os rebeldes também é bem
parecida com a de Domingos Magalhães, pois ambos se apropriaram dos relatos de agentes do
governo e de jornais da época, reproduzindo-os sem questionar as informações, além de
enaltecer a figura de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, definido pelo autor
como “grande e valoroso soldado que, por mais de meio século, poderosamente contribuiu
para o restabelecimento e manutenção da ordem e da paz no interior do país, e desagravo do
brio nacional no exterior” (AMARAL, 1898, p. 9 apud ABRANTES, 1996, p. 57-58).
Contudo apesar do posicionamento de Amaral (1898) reforçar a visão negativa do
movimento balaio, isso não tira o mérito do autor e de sua obra, pois esta é valiosamente a
maior pesquisa documental já realizada sobre a Balaiada.
Com isso pode-se considerar que as visões dos autores citados acima mesmo que
17
exemplifique bem a ideia do “lado vencedor” que a elite e a legalidade da época possuíam
sobre Balaiada e seus participantes, estes fizeram análises de extrema importância que até
hoje auxiliam e estimulam novos questionamentos aos estudos acerca da Balaiada, a revolta
ocorrida no Maranhão.
Ao contrário dos autores positivistas citados acima, Carlota Carvalho em sua obra
“O Sertão” é a primeira autora a fornecer uma visão diferenciada sobre a Balaiada e seus
rebeldes, pois a sua obra faz um estudo histórico e geográfico do sertão maranhense, focando
em aspectos como a colonização, a vida social, intelectual e cultural da região, que nunca fora
antes abordado.
Para a autora assim como para Ribeiro do Amaral, o estopim da revolta se deu
com a criação do cargo de prefeito e subprefeito, que estabeleceu um regime de violência e
terror, que contribuiu para a revolta popular dos sertanejos.
Conforme afirma Santos (2010) é possível verificar certa concordância entre a
autora e Magalhães (1960), pois ambos acreditam que a revolta necessitou de um estímulo
oriundo de líderes intelectuais do Partido Bem-te-vi, que no calor dos acontecimentos não
assumiram as suas ações, como por exemplo, João Lisboa, que segundo Carvalho (1924)
preparou intelectualmente as diversas camadas sociais para a revolta.
Mas o diferencial da autora se deve a defesa dos rebeldes, contrapondo-se a todos
os autores já citados, pois a partir da análise da origem e do papel de cada líder da revolta, ela
os define como “corajosos, intrépidos, leais, dedicados, saídos das classes laboriosas e
honestas – agricultores, vaqueiros, fazendeiros e trabalhadores rurais brasileiros muito
nativistas.” (CARVALHO, 1924, p. 113).
Além disso, Carlota Carvalho também mostra um lado muito omitido pelos
documentos oficiais da legalidade presentes na historiografia tradicional, como a violência
praticada pelos agentes do governo, que destruíram diversas fazendas bem-te-vis e
assassinaram vários prisioneiros, crimes estes que em sua grande maioria foram atribuídos
apenas aos rebeldes balaios.
Deste modo ainda em defesa dos rebeldes a autora critica as ações do Coronel
Luís Alves de Lima e Silva, comparando o posicionamento do mesmo no Maranhão na
revolta da Balaiada e no Rio Grande do Sul na Farroupilha, momentos estes em que o militar
se comportou de forma distinta na repressão dos movimentos, pois na Farroupilha sua ação
militar foi diplomática com a assinatura da Paz de Ponche Verde, que pôs fim ao conflito,
respeitando assim os vencidos e já na Balaiada sua ação militar foi extremamente violenta e
os rebeldes eram tratados como foras da lei.
18
Outro estudioso que também apresenta uma análise diferenciada é Serra9(1946)
que publicou a sua obra “A Balaiada”10, na qual também expõe uma visão positiva da
Balaiada, que busca “uma interpretação mais objetiva e humana” (SANTOS, 2010, p. 28), não
considerando os rebeldes como meros bandidos e criminosos, pois acredita que os crimes e
violências praticados pelos rebeldes foram consequências e não causas do movimento, já que
para ele “a conjuntura opressiva do governo do Presidente Vicente Pires de Camargo
precipitou a revolta” (ABRANTES, 1996, p. 66), devido aos seus desmandos e abusos
cometidos pela sua administração.
Em sua obra o autor também aprofunda as análises sobre a Balaiada como uma
revolta de “massas”, mas não como um grupo e sim como uma circunstância que leva grupos
da sociedade a pensarem e atuarem como “massas”, ou seja, defende que elementos de ordem
psicológica influenciaram a “massa”, que antes era “tranquila embora sofrida a explodir no
episódio da Vila da Manga” (ABRANTES, 1996, p. 67).
De acordo com Abrantes (1996) a posição paternalista de Astolfo Serra retira dos
rebeldes o caráter de bandidos, porém cai em uma postura preconceituosa e elitista, ao afirmar
que aos rebeldes faltou a capacidade intelectual para conduzir à revolta11
, já que para ele a
massa era desordenada e possuía “instinto servil” e por isso precisava obedecer “a lideranças
exteriores a ela” (ABRANTES, 1996, p. 67), mas como os chefes políticos do Partido Liberal
não “ditaram as regras”, a “massa” acabou seguindo pelos seus próprios passos, sendo seus
líderes saídos da própria “massa” rebelada.
Todavia, a partir do final dos anos 60, com a criação do curso de Pós-graduação
em História, a historiografia passou a ser estudada a partir dos pressupostos acadêmicos (tanto
teóricos quanto metodológicos), que favoreceram a produção de estudos que abordavam a
história do Brasil, propiciando, mais tarde, pesquisas no âmbito regional, com a produção de
monografias, dissertações e teses que tratavam de temas já consagrados pela historiografia,
como por exemplo, a Balaiada.
Neste viés é importante destacar quatro obras acadêmicas12que compartilham da
9 Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e da Academia Maranhense de Letras, além de
literato maranhense. 10
“Sem dúvidas que a Obra de Astolfo Serra apresenta peculiaridades que o diferencia dos autores citados
anteriormente, pois este parte de uma hipótese e levanta premissas norteadoras para o aprofundamento do
tema, porém em sua análise ainda é possível encontrar os mesmos elementos que caracterizam as produções
historiográficas tradicionais”. (SANTOS, 2010, p. 31) 11
Visão também defendida por Domingos de Magalhães; Carlota Carvalho. 12
Conforme Santos (2010, p. 32) nas obras acadêmicas as análises são matizadas, pois os autores partem de uma
teoria, elaboram hipóteses e dialogam com as fontes, tornando possível a construção de uma história mais
esclarecedora e menos condenatória.
19
mesma visão positiva da Balaiada, sendo a primeira publicada em 198313 intitulada “A
Balaiada e a Insurreição de Escravos no Maranhão” de Maria Januária Vilela Santos, em que
a autora procura demonstrar “a resistência escrava superando a fuga do quilombo e atingindo
a insurreição, descobrindo a natureza de suas atitudes, cujo significado ela buscou dentro da
própria sociedade que os produziu” (SANTOS, 2010, p. 33). Dessa forma ao analisar a
sociedade maranhense, a autora apresenta em sua obra “as duas bases socioeconômicas do
Maranhão no século XIX – a pecuária extensiva e a agricultura de exportação” (SANTOS,
2010, p. 33) – como consequências que influenciaram e diferenciaram o espaço geográfico da
região, desde o seu povoamento até a exploração econômica do solo maranhense, ocorridos a
partir do período colonial. Diferenciações estas que se refletiram na estrutura social do
Maranhão, demonstrando “a profunda desarticulação entre o alto sertão maranhense e o
litoral” (SANTOS, 2010, p. 33).
Além disso, Maria Januária destaca que a instabilidade provocada pela
independência do Brasil gerou transformações na sociedade maranhense, que levaram grupos
marginalizados a tentarem uma possível ascensão social, inclusive os escravos a lutarem e a
fugirem da difícil situação a qual viviam e eram submetidos, o que causou uma onda
revolucionária em grande parte da sociedade.
Por isso a partir da análise social feita pela autora, é possível entender o motivo
pelo qual ela afirma que é “impossível vincular as motivações rebeldes a uma única categoria
social”: e que dela participaram “homens livres, pobres, escravos, fazendeiros, juízes de paz,
desertores da Guarda Nacional, quilombolas, comerciantes, etc” (SANTOS, 1983), essa
desordem social causava “grande preocupação para o governo, que tudo fazia para evitar a
revolta” (SANTOS, 2010, p. 33). Segundo Santos (2010) para Maria Januária a estratégia
utilizada pelo coronel Lima e Silva “consistia em provocar a desunião entre eles” (SANTOS,
2010, p. 34), assim quando um grupo se entregava, este era obrigado a entregar os outros
participantes como prova de lealdade ao governo, porém quem saiu perdendo foram os
escravos que eram perseguidos pelo o governo e pelos seus “companheiros”.
Conforme Santos (2010) outro ponto que merece destaque em sua obra, é que a
autora afirma que no inicio da rebelião, os movimentos dos balaios e dos escravos
transcorriam separadamente, só vindo a ter alguma confluência no momento em que “ambos
agonizavam” (SANTOS, 1983, p. 89) e que somente a partir de julho de 1840 é que a rebeldia
verdadeiramente se instalou entre os escravos. Contudo ao final da revolta “os balaios
13
Foi primeiramente um trabalho apresentado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo como tese de doutorado em História.
20
restringiam-se a pequenos grupos desarticulados que sob pressão entregavam-se a
oficialidade” (SANTOS, 1983, p. 94).
Já na segunda obra acadêmica analisada e que se intitula “A Balaiada”14de Janotti
(1987 Apud SANTOS, 2010, p. 35)15 publicada em 1987, a autora apresenta a eclosão da
Balaiada como consequência da instabilidade administrativa e econômica em que vivia a
província do Maranhão até meados do século XVIII. Por isso a autora afirma que o clima de
descontentamento pela situação política e econômica do Brasil e consequentemente do
Maranhão favoreceu o surgimento da Balaiada, que foi concretizado por Raimundo Gomes16
,
que lançou um manifesto de teor político dando início ao movimento.
Embora Janotti (1987) não tenha inocentado os rebeldes em sua obra, ela critica a
maneira como a oficialidade procura sempre deixar claro que todos os crimes eram praticados
apenas pelos balaios, “deixando de fora os bem-te-vis”, por esse motivo ela explica em sua
obra que existe uma distinção entre balaios e bem-te-vis, sendo o grupo dos balaios formado
por pessoas oriundas do sertão e “marginalizados em geral”, a exemplo de “Raimundo
Gomes, Francisco dos Anjos Ferreira, Ruivo e Cosme Bento das Chagas”, e já o grupo dos
bem-te-vis formado em sua maioria pela a população das vilas e povoados, incluindo oficiais,
soldados, desertores da Guarda Nacional, políticos, fazendeiros do Ceará e Piauí, membros do
partido liberal e juízes de paz, liderados por Lívio Lopes Castelo Branco e Pedro Albuquerque
(SANTOS, 2010, p. 36).
E por fim ela mostra a dificuldade dos rebeldes após a Balaiada:
A população marginalizada, que havia lutado durante anos, enfrentando enormes
dificuldades para ser reabsolvida em atividades produtivas: ou venderia sua força de
trabalho a preço vil, ou continuaria como nômade a percorrer o sertão em busca de
um meio de sobrevivência (JANOTTI, 1987, p.70).
A terceira obra destacada é a “Guerra dos Bemtevis: A Balaiada na Memória
Oral” de MatthiasRöhring Assunção, publicada em 1988, “baseado principalmente na
memória oral” (trabalhada no ramo da História Oral)17
das populações das regiões onde se
14
Na qual, a autora defende que o movimento da Balaiada surgiu em função dos descontentamentos sociais,
políticos e econômicos, daí a importância da contextualização da situação econômica do Brasil e do Maranhão
até meados do século XVIII. 15
Formada pela Universidade Estadual de São Paulo e professora desta mesma instituição. 16
No episódio em que o mesmo invadiu a Vila da Manga em 13/12/1838. 17
A História Oral é uma metodologia de pesquisa e de constituição de fontes para o estudo da história
contemporânea surgida em meados do século XX, após a invenção do gravador a fita. Ela consiste na
realização de entrevistas gravadas com indivíduos que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos e
conjunturas do passado e do presente. Tais entrevistas são produzidas no contexto de projetos de pesquisa,
21
deu a Balaiada, conseguindo assim informações bem “diferentes daquelas cristalizadas pela
historiografia tradicional”, devido ao desconhecimento dessa “história oficial” pelos seus
informantes, devido ao fato de serem analfabetos e não terem acesso aos livros didáticos.
Entre as tais diferenças destacam-se as denominações “Guerra do Balaio” ou “Guerra dos
Bem-te-vis” que foram atribuídos pelos anciãos ao motivo principal do movimento, o “pega”,
que era “o recrutamento forçado comum durante o Império”. (ABRANTES, 1996, p.69).
O autor interpreta a Balaiada como uma “guerra de resistência do campesinato
maranhense”, que era formado a partir “de três matizes: indígenas destribalizados,
descendentes forros e aquilombados de escravos africanos e finalmente migrantes nordestinos,
sobretudo do Ceará.” (ASSUNÇÃO, 1998, 217-218).
Conforme enfatiza Abrantes (1996) ele considera o campesinato da época um
modo de produção subordinado ao modo de produção escravista dominante, sendo que tal
subordinação camponesa é obtida de maneira diferente da que incidia sobre o escravo, pois a
memória oral camponesa julga o “pega” como “uma das articulações centrais pelo qual o
escravismo subtraia força de trabalho ao campesinato.” (ASSUNÇÃO, 1998, 217-218), além
de ser considerado pelos entrevistados como a principal razão da Balaiada, que mais tarde é
confirmada pelo autor. Por isso o campesinato se rebelou procurando fugir de tal violência,
declarando então a Balaiada como uma contra violência cometida pelo Estado.
Outro registro importante dos entrevistados foram os relatos de participação “de
escravos, índios e de bandidos consagrados como Felipe Canastra, que teriam integrado ao
movimento dos camponeses”. (ABRANTES, 1996, p. 70)
Para Matthias Assunção (1988, p.218) a Balaiada foi uma guerra de camponeses,
pois segundo ele:
A derrota dos Bem-te-vis é devida principalmente a sua desunião quando da
promulgação da lei de anistia, a sua falta de posicionamento claro a respeito da
escravidão e a maneira pela qual desenvolvem a guerra. Parece-nos que o caráter
camponês da maioria dos insurretos bem-te-vis explica o seu sucesso na resistência
(dentro da mata) e seu fracasso na ofensiva (a sua dispersão), próprias das guerras
camponesas, que raramente conseguem ser vitoriosas.
Dessa forma, ao fim de sua obra o autor define a Balaiada como sendo uma guerra
de camponeses contra as arbitrariedades do Estado.
E concluindo este balanço historiográfico, destaca-se a obra “A Balaiada no
que determinam quantas e quais pessoas entrevistar, o que e como perguntar, bem como que destino será dado
ao material produzido. (ALBERTI, 2005, p.154)
22
Sertão: a pluralidade de uma revolta.”, da Professora Drª Sandra Regina Rodrigues dos Santos
publicada em 2010, que traz no capítulo dois uma análise sobre o contexto do sertão
maranhense, como sendo um espaço de ocupação dos balaios, destacando no meio a
efervescência de ideias revolucionárias ali presentes, antes mesmo da eclosão da Balaiada.
Por outro lado, no terceiro capítulo denominado “A teia de contradições da
Balaiada”, a autora busca dar conta da complexidade da escrita deste movimento para a
compreensão de sua dimensão política.
E finalmente no último capítulo denominado “A Balaiada e a narrativa da ação”,
ela trata de analisar a ocupação da cidade de Caxias pelos balaios, o lento enfraquecimento do
movimento pelas disputas do poder entre os próprios rebeldes e a retomada de Caxias pelas
forças militares de Luís Alves de Lima e Silva.
Em sua conclusão a autora apresenta os rebeldes balaios nem como heróis e nem
como bandidos, mas sim como sertanejos em luta contra a opressão dos cabanos, que naquele
momento detinham poder e eram responsáveis pelas mais terríveis atrocidades, ficando
sempre impunes.
Ela também enfatiza a dimensão sertaneja da Balaiada, ao mesmo tempo em que
defende a pluralidade de características que demonstram a complexidade da heterogeneidade
do caráter dessa revolta.
Tal obra apresenta um rico acervo documental, que permite a análise de diversas
questões relacionadas ao sertão maranhense e a Balaiada, como por exemplo, a ocupação e
desenvolvimento do espaço sertanejo da Balaiada, além de pensar os aspectos socioculturais
dessa região e a difusão de ideias políticas oriundas da Revolução de 1817 e da Confederação
do Equador herdadas pelo processo de independência do Brasil.
Por isso a partir deste balanço historiográfico é possível inferir que “toda essa
complexidade talvez justifique a atualidade do tema, sempre tão intrigante e ao mesmo tempo
instigante” (SANTOS, 2010, p.189), que tem a sua memória utilizada por representar um
passado de lutas.
23
2 A IMPRENSA ENFATIZANDO O PAPEL DAS MINORIAS NA LUTA EM DEFESA
DA DEMOCRACIA
Os últimos tempos foram marcados por grandes transformações, que
influenciaram o debate historiográfico. A partir do início do século XX, alguns historiadores18
defendiam a validade e a importância do estudo do tempo presente, no que diz respeito à
capacidade da história de produzir um conhecimento inteiramente objetivo e recuperar a
totalidade do passado.
Porém a maioria dos historiadores acredita que o presente como objeto de estudo
ainda é muito problemático, pois a “história como disciplina que possuía um método de
estudos de textos que lhe era próprio, que tinha uma prática regular de decifração de
documentos, implicou a concepção da objetividade como uma tomada de distância em relação
aos problemas do presente. Assim, só o recuo no tempo poderia garantir uma distância
crítica” (FERREIRA, 2002, p.2). E a competência do historiador estaria justamente ligada à
interpretação dos acontecimentos históricos, quando “não mais existisse testemunhos vivos
para serem estudados” (FERREIRA, 2002, p.2).
A explicação encontrada para essa situação “deve- se ao fato de que o período
recente não exigia (ou ainda não exige) uma farta cultura clássica, nem o controle dos
procedimentos eruditos do método histórico” (FERREIRA, 2002, p.3), pois o objetivo maior
não está na produção de fatos novos, mas sim na busca de novas interpretações para fatos já
conhecidos.
Dessa forma, o século XX carregou (e o século XXI continua carregando) o
estigma do presente como um objeto de estudo problemático, que constantemente tem a sua
“legitimidade questionada, seja por uma possível impossibilidade de recuo no tempo, aliada a
dificuldade de apreciar a importância e a dimensão de longo prazo dos fenômenos”
(FERREIRA, 2002, p.2), ou por se resumir apenas a um relato de caráter jornalístico.
Mas paralelamente a esse debate historiográfico, alguns campos de estudos foram
ganhando espaço, dentre eles a história cultural, através da “valorização de uma história das
representações, do imaginário social e da compreensão dos usos políticos do passado pelo
presente” (FERREIRA, 2002, p.2), promovendo uma nova forma de pensar e interpretar as
18
Como Fernand Braudel, Jacques Le Goff, Pierre Nora e Georges Duby, influenciados pela Escola dos
Annales, movimento historiográfico iniciado por LucienFebvre e Marc Bloch, surgido na França na primeira
metade do século XX, que provocou grandes modificações metodológicas na historiografia, na época baseada
em uma visão positivista, devido à ênfase apenas aos fatos e as datas, sem uma profunda análise de estruturas
ou conjunturas, levando em consideração suas transformações ao longo do tempo.
24
relações entre o passado e o seu uso no presente.
Nesse sentido, a historiadora Janotti (2005) em um levantamento sobre a Balaiada
enfatiza que é comum encontrar-se atualmente pessoas ou instituições que usam de forma
diversa e muitas vezes contraditória a memória da Balaiada, se apropriando do seu
simbolismo. Esse é um exemplo do “processo de ressignificação da memória da Balaiada e do
afastamento de seu significado histórico”, havendo uma espécie de “reinvenção da tradição
balaia” que pode ser observada em jornais, sites políticos, religiosos, de organizações sociais
e até mesmo em movimentos sociais e políticos nas últimas décadas.
Historicamente os jornais já foram vistos como “fruto da indústria cultural e
simples ferramenta de manipulação burguesa”, e com o passar do tempo foram se definindo
como uma “forma social de conhecimento”, com grande potencial crítico emancipatório para
“a luta de classes e a formação de sujeitos históricos” (MOURÃO, 2012, p. 1).
E os movimentos sociais têm explorado esse novo papel dos jornais, utilizados
por eles como um tipo de “indústria da consciência”, por se tratar de um tipo de comunicação
capaz de atingir a mente da população em larga escala. (MOURÃO, 2012, p. 4).
Por isso se faz importante à análise da apropriação da Balaiada nos principais
jornais em circulação no Estado, para buscar em suas matérias, a utilização da memória da
Balaiada nos discursos dos chamados “novos balaios”, pois se considera que toda esta
apropriação reflete a mudança do olhar sobre o sentido e os significados que foram sendo
construídos sobre o movimento balaio ao longo dos anos, especificamente entre os anos de
2006 a 2009.
A primeira fonte trabalhada foi o Jornal O Imparcial19
, pertencente à Associação
Diários Associados, conhecido também como Condomínio Acionário dos Diários e Emissoras
Associados, fundada pelo falecido Assis Chateaubriand20
, um magnata das comunicações no
Brasil entre o final dos anos 1930 e início dos anos 1960. Atualmente é o sexto maior
conglomerado de empresas de mídia do Brasil e conta com 50 veículos de comunicação21
,
sendo o Jornal O Imparcial o segundo mais importante do Maranhão22
.
O segundo jornal analisado foi o Jornal Pequeno, fundado em 29 de Maio de
1951, pelo jornalista José de Ribamar Bogéa, em um momento em que todos os órgãos de
19
Informações sobre o jornal contidas nos site http://educacao.uol.com.br/biografias/assis-chateaubriand.jhtm 20
Também se destacou como jornalista, empresário, político, advogado, professor de direito, escritor e membro
da Academia Brasileira de Letras. 21
São:15 jornais , 3 revistas, 12 rádios, 8 emissoras de televisão, 4 portais, 14 sites, 1 fundação , e outras 7
empresas. 22
Informação contida no site http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Imparcial
25
imprensa do Estado do Maranhão de alguma forma encontravam-se indiretamente vinculados
a grupos políticos23
.
Mesmo que historicamente não tenham nenhum vínculo direto com grupos ou
partidos políticos, estes jornais se mantiveram como opositores ao processo de cassação do
governador Jackson Lago no cenário político maranhense durante este período.
Insistência de Sarney em tomar o poder na “marra” pode gerar “Nova Balaiada”.
(Jornal Pequeno, 7 de dezembro de 2008)
TSE não cassa Jackson e frustra José Sarney: Julgamento de Jackson Lago no TSE é
interrompido por pedido de vista. (Jornal Pequeno, 19 de dezembro de 2008)
Jackson: Grupo Sarney tenta cassar prefeitos da frente opositora- O governador
Jackson Lago (PDT) vê a tentativa de cassar o mandato do prefeito eleito Miltinho
Dias (PT), em Barreirinhas, via Justiça Eleitoral, como parte da estratégia do grupo
Sarney de voltar ao comando da máquina estadual. “Eles querem também retirar o
mandato popular dos prefeitos aliados do governo, já que conquistaram somente um
terço das prefeituras”, disse. Um manifestação, organizada pelo PT, em defesa de
Miltinho, está marcada para sexta feira. Jackson já confirmou presença. (O
Imparcial, 25 de dezembro de 2008)
Mediante a leitura das matérias do jornal O Imparcial percebe-se que o
posicionamento do mesmo em relação ao Movimento Balaiada e a cassação do ex-governador
não condizem propriamente com seu nome, de ser imparcial, pois as matérias ali expressas
não refletem a imparcialidade do jornal, pois de certa forma induzem a defesa do grupo
instalado no poder24
. Isso pode ser constatado em manchetes e matérias sobre a Jackson Lago
e seu grupo político.
Julgamento de Jackson: Tensão e Expectativa- julgamento do recurso especial é
adiado para hoje; Movimentos estudantis fazem passeatas pela cidade; MST e
representantes políticos defendem governador em Brasília; Lideranças políticas
prestam solidariedade no Palácio dos Leões. (O Imparcial, 17 de dezembro de 2008)
TSE cassa Jackson: O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou ontem, por 5 votos a
2, o mandato do Governador Jackson Lago (PDT) por abuso de poder econômico e
político nas eleições 2006. O Tribunal também decidiu que a segunda colocada,
Roseana Sarney (PMDB), deve assumir o lugar do pedetista. Jackson, porém,
permanecerá no cargo até que todos os recursos a favor dele sejam julgados. (O
Imparcial, 4 de março de 2009)
Jackson resiste: „Não temos o direito de frustrar a esperança do povo. Não vamos
sair do Palácio dos Leões enquanto não forem julgados todos os recursos no STF.
Daqui resistiremos. Daqui não entregaremos o cargo de governador à filha da mais
velha oligarquia deste país‟. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) confirmou ontem
à noite a cassação do mandato do governador Jackson Lago (PDT) e de seu vice,
23
A breve história do jornal disponível no site do mesmo
http://www.jornalpequeno.com.br/2005/3/14/Pagina10.htm 24
Após a cassação de Jackson as principais matérias eram destinadas ao novo governo, no caso de Roseana
Sarney, legitimando a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral – instância jurídica máxima da Justiça
Eleitoral brasileira) que na época ainda era bastante discutida, pois era contrária as determinações eleitorais
que defendia que o cargo deveria se assumido pelo Presidente da Assembleia Legislativa, na época Marcelo
Tavares.
26
Luís Porto (PPS). Decidiu que eles devem sair imediatamente do cargo e que a
segunda colocada nas eleições de 2006, Roseana Sarney (PMDB), assuma o
governo. Mas Jackson afirmou que resistirá à decisão do TSE, a qual ele chamou de
„farsa‟. Foi aplaudido por uma multidão- militantes do MST e de movimentos
indígenas e quilombolas, em sua maioria- que, como ele, assistiram ao julgamento
em um telão montado em uma área aberta do Palácio dos Leões. Ao seu lado
estavam sua mulher e deputados estaduais de partidos da base aliada. (O Imparcial,
17 de abril de 2009)
Na última matéria citada é notória que esta enfatiza o apoio de uma multidão (no
caso, representantes de movimentos sociais, como MST, indígenas e quilombolas) a Jackson,
apoio este em que existe uma intencionalidade consciente ou não de aproximação da
identidade do líder político Jackson Lago com estas minorias, com o intuito talvez de
demonstrar a aproximação entre os mesmos.
Sobre o conceito de identidade enfatiza Stuart Hall (2004, p. 38), “a identidade é
realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo
inato, existente na consciência no momento de seu nascimento. Existe sempre algo imaginário
ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre em processo,
sempre sendo formada”, por isso não se pode confiar na ideia de uma identidade universal,
porque no mundo pós-moderno existe a emersão de novas identidades que acabam por
fragmentar o indivíduo, provocando mudanças no sentimento de pertencimento.
Semelhantes observações sobre o caso da cassação de Jackson estão também no
Jornal Pequeno, como mostram as seguintes manchetes:
Movimentos Sociais apresentam carta em defesa do Governador: Tentativa de cassar
no „tapetão‟ o mandato de Jackson Lago é condenada. (Jornal Pequeno, 30 de
novembro de 2008).
Lideranças do PDT de todo o país manifestam apoio a Jackson Lago. (Jornal
Pequeno, 6 de dezembro de 2008)
Aumenta a mobilização contra cassação do Governador do Maranhão: Deputados
saem em defesa de Jackson em São Luís e Brasília; Ato público reúne classe política
e MST na Deodoro e Pedro II; Mulheres apoiam moção de apoio ao governador em
fórum nacional, em Brasília. (Jornal Pequeno, 12 de dezembro de 2008).
Neste último fragmento, além do apoio dos membros do MST, o jornal enfatiza a
presença das mulheres no movimento, o que mostra como esse grupo social se identificava e
se sentia pertencente ao ocorrido.
Acredita-se que a participação feminina tinha por objetivo fixar sua posição em
relação a este evento, ao mesmo tempo em que é acompanhada por um forte caráter simbólico
27
da luta feminina presente em outras questões na sociedade atual.
Pois como reforça Stuart Hall (2004, p. 12),
Não existe uma identidade fixa, porque esta varia de acordo com as formas pelas
quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam.
O sujeito assume identidades de acordo com a ocasião e o momento. Não há um
„eu‟ coerente, nossa identidade é contraditória”.
Mesmo quando a cassação ainda era uma incógnita, os dois jornais vinculavam
notícias sobre o assunto da “crise política”, principalmente no que diz respeito ao apoio
recebido por Lago, seja por personalidades de destaque no contexto sociopolítico, seja por
partidos políticos e movimentos sociais, como mostram as manchetes abaixo:
Governadores do Nordeste em solidariedade a Jackson: Durante o IX Fórum de
Governadores do Nordeste, muitos gestores aproveitaram para prestar solidariedade
a Jackson Lago, em razão do processo que pede a cassação de sua mandato na
justiça eleitoral. (O Imparcial, 3 de dezembro de 2008)
Vontade Popular: Entidades repudiam processo contra Jackson Lago. (O Imparcial,
5 de dezembro de 2008)
No último dia 05 de dezembro Jackson Lago recebeu manifestação de solidariedade
assinada por representantes de partidos e entidades de referência nacional. Entre
eles, o secretário geral do PSB, Roberto Amaral; o jornalista e diretor da Telesur,
Beto Almeida; João Pedro Stedile, da coordenação nacional da Via Campesina
Brasil, Marina dos Santos, da direção nacional do MST; Frei Sergio Gorgen, do
movimento dos Pequenos Agricultores e o professor universitário e jornalista de
destaque em São Paulo, Igor Fuser. [...] Entre várias personalidades nacionais,
assinam o movimento de apoio a Jackson o deputado Vieira Cunha, presidente
nacional do PDT; Manoel da Conceição, fundador do PT nacional; Walter Pomar –
secretário de relações internacionais do PT; Frei Beto – sociólogo; Anita Leocádia
Prestes – professora da UFRJ e filha de Carlos Prestes. As manifestações de apoio
não param no Maranhão. Ontem, o Movimento de Mulheres do PDT se juntou ao
MST e entidades ligadas a luta no campo e mobilizaram em frente ao Palácio do
Leões contra a tentativa de manobra. [...] Jackson recebeu ainda manifesto do
Movimento Popular LGBT em defesa do governo democrático popular. (O
Imparcial, 11 de dezembro de 2008)
28
Figura 1: Governador Jackson Lago, sua luta é nossa luta.
Fonte: Jornal O Imparcial, 11 de Dezembro de 2008.
Frei Betto manifesta solidariedade a Jackson e repudia tentativa de golpe: Em
virtude de compromissos inadiáveis, assumidos anteriormente, o sociólogo Frei
Betto não poderá participar da vigília cívica em defesa do mandato do governador
Jackson Lago. Mas enviou uma mensagem reiterando o apoio e condenando a
tentativa de golpe no Maranhão. “Uno-me ao esforço de todos vocês em defesa do
mandato do governador Jackson Lago. O aperfeiçoamento da democracia
brasileira não admite que práticas caudilhescas de divisão política e eleitoral do
país continuem a persistir. Jackson Lago foi eleito democraticamente pelo povo do
Maranhão e merece todo o nosso apoio e o nosso repúdio às velhas manobras
golpistas que ofendem a nossa cidadania e civilidade. Viva Jackson Lago! Viva, o
povo maranhense!” (Jornal Pequeno, 2 de março de 2009)
No fragmento do dia 05 de dezembro de 2008, a manchete do jornal ressalta que a
luta de Jackson Lago é a mesma de um grupo representativo de diferentes correntes
partidárias e ideológicas, porém essa possível aproximação deve ser vista com bastante
cuidado, pois segundo Chartier, a visão do mundo como uma representação “é moldado
através das séries de discursos que o apreendem e o estruturam, conduz obrigatoriamente a
uma reflexão sobre o modo como uma figuração desse tipo pode ser apropriada pelos leitores
dos textos (ou das imagens) que dão a ver e a pensar o real” (2002, p. 23), por isso tal
“configuração narrativa pode corresponder a uma reconfiguração da própria experiência”
(2002, p. 24), daí a necessidade de se ter o conhecimento do signo enquanto signo e no seu
distanciamento da coisa significada, pois a variabilidade e a pluralidade de compreensões (ou
incompreensões) dessas representações do mundo social podem ser produzidas e manifestadas
conforme os interesses de um determinado grupo.
29
As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à
universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos
interesses de grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento
dos discursos proferidos com a posição de quem os utiliza. (CHARTIER, 2002, p.
17)
Portanto é possível inferir que as várias percepções (e posições) do social
advindas do campo rural e das minorias, não são discursos neutros, visto que são
estrategicamente produzidas para impor uma autoridade sobre outros, considerados inferiores.
Essa legitimação do discurso acaba por reformar ou justificar para esses indivíduos as suas
próprias escolhas e condutas, já que nessa “luta de representações” baseada em discursos, o
carro-chefe é a ordenação ditada pela hierarquização da própria estrutura social a qual
pertence todos os indivíduos.
Nas manchetes destes jornais também se percebe que a manifestação popular é
bastante enfatizada buscando evidenciar, que estas categorias sociais tinham clareza de que o
episódio político da cassação de Jackson Lago não passava de “manobra política”, daí a
defesa do “governo democrático”, aproximando o olhar destas minorias sociais como
semelhante à de um sociólogo renomado como Frei Beto, que olha e repudia este episódio
como uma “manobra golpista” contra a cidadania e a democracia.
Fora as manchetes citadas acima existem inúmeras matérias que tratam de
manifestações populares de repúdio à cassação do então governador Jackson Lago, sejam elas
ocorridas em passeatas, atos públicos ou em encontros promovidos pelo governo do estado
com entidades populares e sindicatos, um exemplo disso foi a moção de apoio das entidades
participantes25
do lançamento do programa “Mais Alimentos26
” escrita no dia 4 de dezembro
de 2008 e publicada pelo Jornal O Imparcial dia 5 de dezembro de 2008.
MOÇÃO DE APOIO DAS ENTIDADES PARTICIPANTES DO LANÇAMENTO
MAIS ALIMENTOS AO GOVERNADOR JACKSON LAGO
Um mandato, qualquer que seja, não é conseguido sozinho. Muitos trabalham para
sua conquista e consolidação. A junção de esforços de entidades e população fez
com que no dia 29 de outubro de 2006 o Maranhão se houvesse livre da espoliação,
do atraso e abandono que vivemos todos esses anos.
A esperança ressurgiu com Jackson Lago. Governo que desconcentra ações,
compartilha decisões com as entidades, sindicatos, associações, trabalhadores rurais
da agricultura familiar.
No governo Jackson Lago o desenvolvimento rural é parte integrante do
25
Fetaema (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Maranhão), MST (Movimento dos Sem
Terra), Aconeruq (Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão), Uaefama (União
das Escolas Famílias Agrícolas do Maranhão), entre outras. 26
Este programa do governo visava o desenvolvimento das áreas consideradas importantes para a agricultura do
estado, como Pinheiro, Vitória do Mearim, Buriti Bravo, Colinas, Pedreiras, entre outros, através da
construção de estradas para o escoamento da produção.
30
desenvolvimento global. Não somos beneficiários das migalhas dos investimentos
do Estado, somos, na verdade, parceiros da administração estadual.
O Governo Estadual com a sua equipe de secretários e técnicos tem ido aos
municípios e de forma democrática ouvem críticas, acolhem sugestões, redefinem
caminhos. Um governo de verdade.
É essa forma democrática e descentralizada de governar que incomoda aqueles que
cuidaram somente dos seus interesses no comando político e administrativo do
Estado por mais de 40 anos, promovendo o atraso e, como já disse o Padre Vítor
Asselin, os oligarcas instituíram no Estado do Maranhão, uma sociedade de favores
e temem a formação de uma sociedade pautada em direitos.
Por tudo isso, nós os representantes da sociedade civil, que hoje, participamos do
lançamento do Programa Mais Alimentos, subscrevemos a presente moção de
repúdio aos que pretendem usurpar o mandato que nós conquistamos juntamente
com o Governador Jackson Lago.
Em 2006, NÓS e Jackson Lago libertamos o Maranhão do atraso, das perseguições
políticas, das privatizações escandalosas, e ausência de investimento na educação e
agricultura e estamos construindo uma sociedade com MAIS ALIMENTOS, MAIS
EDUCAÇÃO, LIBERDADE E CIDADANIA. (O Imparcial. 5 de dezembro de
2008)
Nesta monção é notória a ênfase dada à participação popular no governo Jackson
Lago, na qual é possível perceber uma aproximação da figura deste líder político com as
“massas”, pois ao fazerem uso do pronome “nós”, é uma tentativa de justificar que todos os
sujeitos compartilhavam dessa coletividade, como se possuíssem identidades semelhantes,
pois a identidade é “formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais
somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (HALL, 2004,
p. 13).
Ou seja, o autor (2004) aponta que existe a necessidade de se pensar a
individualidade nas suas variações históricas e sociais para se romper com o conceito de
sujeito universal, já que as estruturas mentais, sociais e culturais são extremamente mutáveis,
podendo ocorrer em processos de curto a longo prazo.
Estas mutações podem ser apoiadas na noção de apropriação contemplada no
pensamento de Roger Chartier (2002), quando defende que as apropriações dentro da história
social, são interpretações remetidas por determinações sociais, institucionais e culturais, que
se encontram registradas nas práticas específicas que as produzem.
Desta forma, tal participação popular no governo é vista por estas entidades
participantes do “Programa Mais Alimentos”, como a “verdadeira” democracia, que ajudará a
tirar o Maranhão do retrocesso vivido há 40 anos, período este em que o governo estadual não
dialogava com a sociedade civil.
Essa espécie de descentralização administrativa do governo Jackson Lago é
colocada pelos jornais como uma “porta aberta” entre a sociedade e o governo estadual para
um diálogo direto, que a pequenos passos contribuiu bastante para a construção gradativa de
31
um espaço democrático com a sociedade e seus representantes.
No Encontro dos Povos da Pré-Amazônia Maranhense, o governador Jackson
Lago voltou a falar da importância desses eventos para o fortalecimento da participação
popular em seu governo. Neste mesmo evento foi escrita uma carta em defesa do governador
apresentada por movimentos sociais participantes do Fórum Solidário dos Povos da Pré-
Amazônia e publicada pelo Jornal Pequeno.
Carta de Apoio À Democracia do Maranhão
No dia 29 de outubro de 2006, o povo maranhense, num processo de democracia,
elegeu um novo governo para o Maranhão.
Várias organizações da sociedade civil organizada apoiaram essa mudança. Depois
de 40 anos, o reflexo da realidade maranhense, apresentado pelos indicadores
socioeconômicos, fez com que trabalhadores e trabalhadoras desse Estado
repensassem o Maranhão que querem.
O processo eleitoral no Maranhão demonstrou que não seria fácil vencer. Mas, o
mais difícil mesmo seria governar. A estrutura de poder que os grupos oligarcas
desse país construíram emperra e atrasa o processo de organização e
desenvolvimento do povo brasileiro, não muito diferente do Maranhão, quiçá mais
complexo.
Os movimentos e organizações sociais do Maranhão reconhecem as dificuldades e
desafios que qualquer governo terá de enfrentar, se realmente pretende organizar
esse Estado. Contudo, sabe-se que, uma das alternativas para enfrentar injustiça e
anti-democracia é unir forças entre poder público e sociedade em torno do Maranhão
que queremos construir para nossas gerações.
As organizações da sociedade civil do Maranhão analisam a conjuntura e visualizam
que o processo eleitoral de 2006, no Maranhão, foi democrático.
Esperamos que a justiça garanta a democracia sempre, mantendo a vontade popular
expressa nas eleições de 2006, e que, estaremos vigilantes às tentativas de violação
de nossos direitos duramente conquistado.
POVO ORGANIZADO, BATALHA VENCIDA!(Jornal Pequeno, 30 de novembro
de 2008)
Nesta carta percebe-se a preocupação do povo em legitimar o governo eleito em
2006, como democrático, que através da vontade popular do povo maranhense pôde por fim
ao grupo político que estava no poder a 40 anos, e que é acusado de ser responsável pelo
atraso na organização e desenvolvimento do Maranhão, comprovado pelos indicadores
socioeconômicos do Estado. Por isso os movimentos e organizações sociais esperam que a
justiça garanta a democracia, mantendo a vontade popular do Estado, ou seja, respeitando o
voto da maioria.
Este é um encontro promovido pela sociedade civil. O governo está participando
como convidado para discutir os problemas e a realidade da região e é uma forma de
irmos implantando progressivamente o orçamento participativo.
A sociedade, através de suas organizações, está apresentando as dificuldades que
enfrenta, os seus dramas, equívocos, e estabelecendo prioridades. E, sobretudo,
sedimentando a relação das estruturas do governo com a população. (O Imparcial,
29 de novembro de 2008)
32
Nesta fala do governador Jackson Lago é possível notar que a voz dessas
entidades é ouvida em suas reivindicações e são consideradas “parceiras da administração
estadual” desde 2006, com a eleição do seu governo.
Na manchete da edição do dia 11 de dezembro de 2008, o jornal O Imparcial
enfatiza a grande manifestação de solidariedade recebida por Lago, assinada por
representantes de partidos políticos, entidades de referência nacional, jornalistas, da direção
nacional do MST; do movimento dos Pequenos Agricultores [...] Entre várias personalidades
nacionais, como o sociólogo Frei Beto e Anita Leocádia Prestes – professora da UFRJ e filha
de Carlos Prestes. (O Imparcial, 11 de dezembro de 2008)
Nesta manchete e também em outras do Jornal Pequeno há destaque para a
manifestação de movimentos de setores organizados da sociedade em torno do apoio ao então
governador Jackson Lago, como forma de fazer oposição ao grupo Sarney. “População
repudia golpe de Sarney: Movimentos Sociais reforçam atos de apoio a Jackson Lago.”
(Jornal Pequeno, 16 de março de 2009)
Com o aumento da mobilização popular contra a cassação de Jackson Lago,
deputados maranhenses defenderam seu mandato na Assembleia Legislativa e na Câmara
Federal em Brasília, destacando a existência de um movimento popular autointitulado
“Balaiada Moderna” que naquele momento estava fazendo vigília em frente ao Palácio dos
Leões em defesa da democracia e do “mandato legítimo do governador outorgado pelo povo
nas eleições de 2006.” (JORNAL PEQUENO, 2008).
Também ao falar do movimento “Balaiada Moderna” o líder do governo Edivaldo
Holanda afirmou que “a população está fazendo um movimento pacífico e natural,
manifestando o seu ponto de vista e dizendo que não aceita um terceiro turno no Maranhão.”
(JORNAL PEQUENO, 2008), tal declaração foi feita ao rebater as acusações do deputado
Ricardo Murad, que classificou o movimento como uma incitação à baderna e a desordem.
É interessante ressaltar que dias antes, o Jornal Pequeno comparou este
movimento popular à Greve de 195127
, conhecida historicamente como a “Balaiada Urbana”,
denominando o “novo movimento popular” como a “Nova Balaiada da Ilha Rebelde”.
No editorial publicado em 07 de dezembro de 2008, há várias comparações entre a
manobra política praticada por Vitorino Freire em 1951 e a de José Sarney praticada em 1964
quando durante o regime militar governou o Maranhão, e assim como no ano de 2006, com a
27
Movimento popular radical também conhecido como “Balaiada Urbana”, ocorrido na cidade de São Luís,
contra as fraudes eleitorais promovidas por Victorino Freire, senador do Estado do Maranhão, nas eleições de
1951 - remeta seu aprofundamento aos estudos de Rios (2003) e Costa (2004).
33
derrota de sua filha na disputa eleitoral pelo governo do Maranhão, “quer tomar o poder na
marra”. (JORNAL PEQUENO, 2008).
[...] José Sarney, assim como fez Vitorino Freire naquela data, quer tomar o poder
do poder na marra, cassando na Justiça o mandato do governador Jacson Lago.
[...] A indignação está ficando incontrolável porque Sarney, assim como Vitorino
àquela época, insiste em corromper um processo eleitoral que o afastou do poder
somente depois de intermináveis 40 anos.
[...] Em tudo ele repete o tenente Vitorino Freire. Vitorino apoiou o golpe de 1930,
Sarney apoiou o de 1964, assumindo na década de 60, o controle do Maranhão. E se
apossou dos poderes públicos e privados, da Justiça, da política, das repartições,
exatamente como Vitorino Freire. Montou aqui um despudorado de cargos públicos,
clientelismo, cooptação política, controle dos partidos e perseguição. Vitorino, assim
como Sarney, se valia do prestígio nas altas esferas administrativas, de órgãos
federais manipulados como instrumentos de vingança política e suborno.
[...] Sarney quer se valer de seu prestigio junto ao Presidente Lula, da manipulação
dos órgãos federais que controla, da influencia nefasta que diz exercer na Justiça
para depor o governador do Estado e recolocar, na marra, a filha no poder. (Jornal
Pequeno, 07 de dezembro de 2008)
De acordo com o expresso neste texto é possível perceber que as “artimanhas
políticas” de José Sarney em muito lembram a de Vitorino Freire na década de 50 e que assim
como em 1951 causaram a conhecida “Balaiada Urbana”, esta situação atual também poderá
resultar em uma “Nova Balaiada”, “ninguém se espante se uma „nova Balaiada urbana‟, como
ficou conhecida aquela greve, considerada o mais formidável movimento político de massas
da história do Maranhão, tomar conta das ruas da capital.” (JORNAL PEQUENO, 2008).
E chamando a atenção da população O Jornal Pequeno ainda destaca que “o alerta
está feito!”, e que “este crime de lesa-pátria”, se ocorrer efetivamente poderá ascender
novamente uma revolta popular, a exemplo de 1951 e que ninguém poderá prever o que
poderá acontecer. Tal “alerta” colocado na matéria do Jornal Pequeno nos faz relembrar o que
dizia o jornalista João Lisboa na época da Balaiada em 1838.
Consta-nos que há poucos dias uma partida de proletários, atacaram o quartel do
destacamento da Villa da Manga, do qual se apossaram, por haver ali poucos
soldados, roubando depois o armamento, soltando os presos, prendendo o ajudante
João Onofre, e fazendo fugir o Subprefeito. Até as ultimas noticias ficavam ainda
estes homens na vila, mas atento o seu pequeno numero, é de crer que sejam
facilmente dispersados ou presos por um destacamento de 30 homens que saiu em
busca deles de capital no dia 21 do corrente, se já o não tiverem sido pelas forças
que por lá mesmo se devem ter reunido.
Ainda não sabemos ao certo da ocasião e motivos deste desaguisado posto que
vagamentotenhamos ouvido falar em odiosas vexações praticadas ali contra os
homens de cor, por meio do recrutamento, que n‟alguns pontos tem sido até um
grande ramo de negocio, por ventura os presos que se soltaram seriam recrutas. O
descontentamento de uns, a turbulência de outros, a audácia de alguns facinorosos,
como por exemplo, um dos chefes do bando, que nos disse ser muito conhecido
pelos seus crimes, ajudando turbo do despotismo das prefeituras, eis o que
provavelmente deu causa a esta desagradável ocorrência.
34
Não devemos calar que já correm por ai uns vagos rumores que essa tropa já se
eleva a 70 homens, e que tem por um de seus cabeças o famoso João Nunes tão
conhecido pela sua turbulência desde o tempo da independência.
Atento ao publico, que mau grado às divergências de opinião é todo avesso a
desordens é de crer que a Iguará seja facilmente sopeada, enviando o governo para
ali as forças necessárias.
Seria para desejar que os jornais do mesmo governo inteirassem o publico do
verdadeiro estado das coisas. (Chronica Maranhense, 23 de Dezembro de 1838)
Neste fragmento acima, extraído do Jornal Chronica Maranhense escrito pelo
jornalista João Lisboa no século XIX, é notório o “alerta” feito a população sobre um violento
movimento de “homens de cor” contra o recrutamento forçado praticado pelo “despotismo do
governo cabano”, e que devido à grande proporção em que vinha crescendo, era necessário
que todos os jornais, inclusive os que defendiam o governo, informassem do perigo eminente
de uma revolta maior, devido à opressão em que vivia a população marginalizada naquele
período.
De fato a materialização do “o alerta está feito” foi uma caminhada pela Rua
Grande realizada por militantes do Comitê de Defesa da Democracia em forma de protesto
contra “o golpe que Sarney pretendia dar naquele momento em favor da filha Roseana”. No
decorrer desta caminhada os manifestantes aproveitaram para distribuir o informativo
Balaiada, que tinha como título “Movimentos sociais não aceitam o golpe de Sarney no
Maranhão”, no qual os movimentos sociais se faziam ouvir e disseminar as suas ideias.
E segundo um dos militantes, “o Maranhão está em estado de alerta. Nós estamos
aqui para defender o nosso voto, para defender a democracia. Todo mundo sabe que Roseana
perdeu a eleição no voto e agora quer voltar na marra. Não aceitaremos isso” (JORNAL
PEQUENO, 2009). Por isso é possível constatar que nas matérias onde aparecem as
manifestações populares, que se auto intitulam Movimento Balaiada28
, ligadas diretamente à
cassação do governador Jackson, tal movimento assume uma posição de resistência, em
defesa da democracia (voto) e da soberania do povo maranhense:
Todo movimento objetiva conscientizar a população sobre o momento político
vivido no Maranhão e a importância de se defender a escolha democrática e o voto
consciente. (O Imparcial, 20 de março de 2009)
O governador agradeceu o apoio e disse que a manifestação mostra o sentimento de
revolta pelo desrespeito para com o voto de um grande número de maranhenses que
o elegeram. (O Imparcial, 24 de março de 2009)
Até onde pode ir a paciência de uma população que sistematicamente vê que seu
voto é desrespeitado? O povo maranhense reivindica respeito.29
(O Imparcial, 28 de
março de 2009)
28
Formado pelos movimentos negro, indígena, quilombola, MST, quebradeiras de coco, professores, estudantes
e partidos políticos (PDT e PT) em sua maioria, além de civis. 29
Fala de Jackson Lago em entrevista coletiva a membros da mídia estrangeira.
35
Dentre os vários grupos sociais que participaram do Movimento Balaiada
Moderna, estavam o MST (Movimento dos Sem Terra), representado por suas principais
lideranças, que iria completar 25 anos de existência. Nesta ocasião, convidou Jackson Lago
para a comemoração no Estado do Paraná, e neste evento que reuniu várias personalidades da
oposição, Jackson aproveitou para ratificar a união do seu governo com o MST, demostrando
assim a relação de ambos.
Figura 2: Jackson Lago no MST
Na imagem acima estão presentes também no evento ao lado de Jackson Lago, o
governador do Paraná Roberto Requião, que durante toda sua vida política foi membro do
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), sucessor do antigo Movimento
Democrático Brasileiro (MDB), o partido de oposição à ditadura militar30
, a filha mais velha
do revolucionário Che Guevara, Aleida Guevara, que assim como seu pai é formada em
medicina e possui forte ligação com o comunismo, sendo a única herdeira de Guevara a ser
filiada ao Partido Comunista Cubano31
e João Pedro Stédile, fundador e presidente nacional
do MST.
A colocação desses importantes personagens políticos ao lado de Jackson reforça
ainda mais o caráter de oposição que cada um representa no meio em que atua, e que juntos
apoiavam a “causa” de Lago, que na época era principal representante da oposição no
Maranhão.
30
Informações encontradas no site do próprio governador Requião: http://www.robertorequiao.com.br/site/ 31
Informações encontradas no site
http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2011/06/30/interna_politica,236974/aleida-guevara-tem-berco-na-
militancia-cubana.shtml
Fonte: Jornal O Imparcial, 27 de Janeiro de 2009.
36
Outra manifestação popular que ocorreu fora do Estado foi o Movimento Pró-
Jackson que aconteceu na abertura do Fórum Social Mundial 2009 em Belém do Pará, na qual
a delegação maranhense que participava do evento aproveitou para denunciar as articulações
feitas pelo grupo Sarney contra o governador Jackson Lago no processo de cassação do TSE.
Tal movimento foi coordenado pelo Comitê de Defesa da Democracia no
Maranhão, representado por membros do MST, ONG‟s e dezenas de estudantes maranhenses,
que tomaram as ruas mostrando o seu descontentamento em relação ao desrespeito à
soberania maranhense devido à tentativa de cassação do governador eleito pelo povo, além de
manifestarem as várias mazelas sociais do Estado do Maranhão causadas pelos mais de 40
anos de mandonismo da oligarquia Sarney.
Empunhando bandeiras, faixas e cartazes com palavras de ordem do tipo „O
Maranhão exige respeito‟ e „Golpe não, Sarney nunca mais‟, os manifestantes
conquistaram a adesão de diversos participantes de outros estados, inclusive do
Amapá, onde Sarney tem mandato de senador, e despertaram também o interesse de
representantes de outros países. (O Imparcial, 28 de Janeiro de 2009)
Figura 3: Movimento Pró-Jackson no Fórum Social Mundial em Belém-PA
Fonte: Jornal O Imparcial, 28 de Janeiro de 2009.
Juntamente com a marcha outro aspecto que chamou a atenção dos membros do
37
fórum foi a reprodução do acampamento Balaiada, que ocorreu originalmente em São Luís
desde dezembro de 2008 com o início do julgamento do processo de cassação de Jackson
Lago, no qual vários movimentos sociais acamparam em frente ao Palácio dos Leões, sede do
governo estadual, para acompanhar o julgamento e principalmente denunciar ao Brasil e ao
mundo “o golpe que vinha sendo orquestrado contra o governador do Maranhão.”32
Meses mais tarde no dia 9 de março de 2009, lideranças de várias denominações
evangélicas também manifestaram apoio ao governador e ao seu vice o Pastor Luiz Carlos
Porto através de um grande evento no qual os evangélicos de forma geral afirmaram que o
Estado do Maranhão assim como o governo pertencem ao Senhor Deus, e que se ele quiser a
decisão do julgamento será a favor de Jackson.
Também esperançoso o próprio vice-governador afirmou estar consciente da
escravidão que o povo do Maranhão enfrenta há 40 anos e que por isso a Igreja Evangélica
participou espiritualmente e fisicamente em 2006 para a libertação política e econômica do
povo maranhense, e que este ato representa a persistência desse sentimento de libertação, que
junto com outros militantes continuarão a lutar a favor da população tão sofrida.
Outro ato de grande repercussão ocorreu no dia 13 do mesmo mês no interior do
Estado na cidade de Imperatriz, um gigante ato público contra a cassação do mandato do
governador, com a participação de diversas lideranças políticas e dirigentes de movimentos
sociais.
Figura 4: Imperatriz Diz Não Ao Golpe
Fonte: Jornal Pequeno, 13 de Março de 2009
32
O Imparcial, 28 de janeiro de 2009.
38
Tal manifestação reuniu cerca de 15 mil pessoas em uma caminhada pelos
principais pontos da cidade, que como mostra o slogan colocado acima da imagem é
ilustrativo da representação das massas neste evento, caracterizando assim forte presença
popular, tão propagado pelas lideranças do movimento.
Segundo Jackson Lago todas essas manifestações de apoio servem para
[...] continuarmos firmes nesta luta contra as artimanhas dos poderosos,
inconformados com o resultado das urnas. E ao povo que me elegeu eu asseguro o
progresso da nossa terra, que já é visível em inúmeras obras e serviços que o
governo do Estado vem realizando, portanto contem comigo, que conto com vocês!”
(JORNAL PEQUENO, 2009)
Além das manifestações populares noticiadas pelos jornais, houve também
manifestações de políticos e personalidades em blogs jornalísticos e sites políticos, que
ganharam bastante força nas mídias sociais da internet, por expressar suas opiniões e serem
lidos por diversas pessoas de diferentes segmentos e idades, dando uma amplitude maior à
defesa do movimento.
Em seu próprio site o deputado federal Domingos Dutra, pertencente ao Partido
dos Trabalhadores (PT), denuncia em um texto intitulado “Sarney é retrocesso”33
, as práticas
coronelistas de José Sarney afirmando que “O Senador Sarney quer a Presidência do Senado
para constranger e pressionar os Ministros do Tribunal Superior Eleitoral e cassar o
Governador do Maranhão, Jackson Lago e dar de presente à sua filha Senadora Roseana o
Governo do Estado que ela não conseguiu nas urnas”, e ainda defende que por esse motivo as
ações do Senador Sarney e de seu grupo político merecem “reflexão, repúdio e reação de
todos os homens e mulheres honrados do nosso Estado”.
Em concordância com o deputado federal Domingos Dutra, o cantor e compositor
maranhense Zeca Baleiro também manifestou a sua indignação através de um blog, no qual
também repudiou as manobras políticas de Sarney, afirmando que
[...] recém-empossado presidente do Senado em um jogo de caras barganhas
políticas, parecia ter saído da cena política regional para dar lugar a ares mais
democráticos, depois de amargar a derrota da filha Roseana na última eleição ao
governo do Estado para o pedetista Jackson Lago. Mas eis que volta, por meio de
manobras politicamente engenhosas e juridicamente questionáveis, para não dizer
suspeitas, orquestrando a cassação do governador eleito, sob a acusação de crime
eleitoral, conduzindo a filha outra vez ao trono de seu império” 34
.
E defende ainda que a população maranhense deve se libertar do [...] “império
33
Texto encontrado no site http://www.depdomingosdutra.com.br 34
Texto encontrado no site http://http://movimentobalaiada.blogspot.com.br/2009/03/o-maranhense-zeca-
baleiro-solta-o-verbo
39
sólido (e sórdido) alicerçado no clientelismo político, sustentado pela cultura de
funcionalismo público e currais eleitorais do interior, onde o analfabetismo é alarmante”.
Tais textos veiculados pela internet foram de fundamental importância para a
manutenção da luta em defesa da democracia no Maranhão, pois devido ao largo poder de
alcance, a tentativa de cassação do governador Jackson Lago pôde ser conhecida por todo o
Brasil, assim como as “práticas corruptas” da Família Sarney.
É possível situar a luta contra a cassação e a defesa da democracia estendendo-se
desde o mês de dezembro de 2008, com a ocupação do Palácio dos Leões35
, até março de
2009, quando ocorreu a cassação de Jackson Lago. Neste momento os movimentos sociais
reforçaram os atos de apoio a Jackson Lago, ao erguer o “acampamento Balaiada”, no
Palácio dos Leões, com o objetivo de ampliar a mobilização a nível nacional e internacional,
para que todos tivessem conhecimento do que estava acontecendo no Maranhão naquele
momento. “Todo movimento objetiva conscientizar a população sobre o momento político
vivido no Maranhão e a importância de se defender a escolha democrática e o voto
consciente.” (O Imparcial, 20 de março de 2009).
Mais de 200 dirigentes e militantes do Movimento em Defesa da Democracia no
Maranhão, que congrega diversas entidades e partidos políticos – a União Por
Moradia Popular, o movimento negro, o MST, o Vale Protestar, estudantes,
professores, sindicatos urbanos e rurais, jornalistas, intelectuais, representantes do
PDT, PT, PSB, PC, grupo de mulheres, pastorais sociais, freiras da congregação
NotreDame, entre outros estiveram presentes. (Jornal Pequeno, 16 de março de
2009)
35
Esta ocupação da sede do governo do Estado ocorreu de forma eventual desde dezembro de 2008 para o
acompanhamento do julgamento do processo de cassação de Jackson Lago, que estava em tramite no TSE
(Tribunal Superior Eleitoral) e se arrastou até março de 2009, devido a 3 adiamentos do mesmo (sendo dois
por pedido de vista, um do ministro Félix Fischer e outro do ministro Joaquim Barbosa, pois estes por algum
motivo se julgaram incapazes de dar o seu voto e pediram mais tempo para analisar o caso e outro por motivo
de doença do ministro Fernando Gonçalves que não pode comparecer ao julgamento). Mas vale ressaltar que
este acampamento era intensificado quando se aproximava as datas de julgamento, com a colocação de telões
e palcos para apresentações culturais.
40
Figura 5: População repudia golpe de Sarney
Fonte: Jornal O Imparcial, 16 de Março de 2009.
Neste acampamento estava previsto a realização de plenárias de discursão e
atividades culturais com a participação de partidos da base aliada, sindicatos, movimentos
sociais e grupos diversos. “A meta é avançar na mobilização até a realização no dia 31 de
março, do grande ato nacional „Golpe nunca mais‟-pela Democracia, em defesa do Maranhão
na Praça Deodoro, em que todo o povo maranhense e convidados especiais estarão
mobilizados em defesa do voto popular. Esse comício relembrará os 45 anos do golpe militar
de 1964, do qual nasceu a oligarquia Sarney.” (JORNAL O IMPARCIAL, 2009).
A ocupação do Palácio dos Leões para a instalação do “acampamento Balaiada”
foi muito importante para dar uma repercussão nacional a uma reivindicação política geral no
Maranhão, a de defender a “soberania do voto do povo maranhense nas eleições de 2006” e
coibir as “armações políticas” da Família Sarney.
Segundo o noticiário dos jornais, todas as manifestações de apoio popular foram
reconhecidas pelo então governador. “O governador agradeceu o apoio e disse que a
manifestação mostra o sentimento de revolta pelo desrespeito para com o voto de um grande
número de maranhenses que o elegeram.” (O Imparcial, 24 de março de 2009). “Até onde
pode ir à paciência de uma população que sistematicamente vê que seu voto é desrespeitado?
O povo maranhense reivindica respeito.”36 (JORNAL O IMPARCIAL,2009)
Além dessas manifestações populares expressas acima é importante levar em
36
Fala de Jackson Lago em entrevista coletiva a membros da mídia estrangeira.
41
consideração as manifestações individuais como a feita por Wagner Baldez37
, militante em
movimentos de esquerda há 60 anos e que defendeu seu posicionamento contrário a Família
Sarney, “minha causa está acima de Jackson Lago, mas sei que ele faz parte de um processo
de avanço e tenho que defender isso”. (O IMPARCIAL, 2008).
Assim como a manifestação de Baldez, várias outras manifestações individuais
também foram feitas por políticos como foi o caso de Edivaldo Holanda, na época líder do
governo na Assembleia Legislativa, que afirmou que tal cassação seria uma tentativa de
coação moral, pois para ele “essa é uma perseguição moral, uma tentativa de inibir o senhor
governador e o seu trabalho permanente em favor do Maranhão.” (O IMPARCIAL, 2008).
E a manifestação de apoio dada por Julião Amin, deputado do PDT-MA38, que
durante uma tribuna da Câmara Federal aproveitou para falar para todo o país a tentativa da
Família Sarney em conseguir no “tapetão”, segundo a linguagem popular, o poder que não
conseguiu através dos votos. Ainda em seu discurso o deputado apresentou os vários avanços
obtidos pelo Governo Jackson Lago, além de apontar as inconsistências presentes no processo
de cassação movido por Roseana Sarney.
Em apenas dois anos foram entregues 150 escolas estaduais, contra três em quase
oito anos dos dois governos Roseana Sarney. Foram quase dois mil quilômetros de
recuperação e construção de estradas em todo o estado. O governo do Maranhão
deve inaugurar, nos próximos meses, o primeiro grande hospital de urgência do
interior do estado, além de comemorar a atração de investimentos para os próximos
anos que podem chegar a R$ 41 bilhões.
E em que se baseia o processo? No suposto uso de convênios entre o Estado e
municípios firmados em 2006 pelo então governador José Reinaldo. Ora, os
convênios ocorreram no período permitido pela lei eleitoral e visavam atender ao
interesse público, principalmente na área da saúde. (O Imparcial, 5 de dezembro de
2008).
E ao final deste discurso declarou que ainda confia na Justiça e no julgamento dos
ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Outra manifestação política importante é a do próprio governador Jackson Lago
que ao reagir às acusações proferidas contra ele pela Família Sarney, denuncia para todo o
país as diversas práticas irregulares do grupo Sarney no Maranhão e principalmente a
tentativa de golpe. Tal denúncia foi feita através de uma carta aberta na internet, intitulada
“Maranhão, a galápagos política”, na qual faz alusão ao conjunto de ilhas paradisíacas
pertencentes ao Equador, bastante conhecidas pela sua biodiversidade e natureza entocada.
37
É funcionário público aposentado e membro da Executiva Estadual do PSOL/MA. É também conhecido por ser
um comunista histórico e oposicionista político da Família Sarney desde a década de 60. 38
Pertencente ao partido de Jackson Lago.
42
Tal comparação se deve porque o Maranhão é o paraíso entocado da “Oligarquia
Sarney”, pois “[...] o Fórum da capital tem o nome do pai, e o Tribunal de Contas do Estado
ostenta o nome da filha. Em nome do pai e da filha e do santo espírito da democracia, nada
perturba nossa galápagos”, mostrando o desequilíbrio da disputa pelo governo do Estado em
2006, que apesar dos principais órgãos públicos levaram o nome de integrantes da família
Sarney, conhecidos como os “Donos do Maranhão”, o “espírito da democracia” venceu a
disputa trazendo a paz para a nossa ilha, para “nossa galápagos”. (JORNAL PEQUENO,
2008).
Além das manifestações acima, os diretórios estaduais do PSOL39 e PSTU40
também elaboraram um documento que exprimia o posicionamento das duas correntes
políticas em relação ao processo de cassação, mas não se esquecendo de contextualizar esta
situação com os seus objetivos na conjuntura nacional, já que os dois partidos de ideologias
esquerdistas possuem trajetórias e objetivos distintos da legenda do governador Jackson Lago
na política nacional, deixando claro que apesar de serem contra a cassação no âmbito
estadual, ainda possuem as suas divergências no contexto nacional.
Tais manifestações sejam elas coletivas ou individuais em defesa do mandato de
Jackson Lago e da democracia não foram suficientes para evitar sua cassação, que ocorreu no
dia 4 de março de 2009, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por 5 votos a 2 cassou o
mandato de Lago, alegando abuso de poder econômico e político nas eleições de 2006 e
também decretou que a segunda colocada Roseana Sarney deveria assumir o governo do
Estado do Maranhão.
39
Partido Socialismo e Liberdade fundado em 2004, marcado por tendências esquerdistas. Historicamente sua
formação é oriunda de dissidências do Partido dos Trabalhadores e do Partido Socialista dos Trabalhadores
Unificado e acolheu diversas tendências que haviam discordado de políticas do PT no primeiro mandato de
Luis Inácio Lula da Silva. Possui como principais lideranças os deputados federais Chico Alencar, Ivan
Valente e Jean Wyllys. 40
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado fundado em 1994 e considerado pela mídia como um partido
de extrema-esquerda, originário da unificação de diferentes organizações, grupos e ativistas independentes. A
maioria dos que fundaram o PSTU vinha de uma ruptura com o PT, ao considerar que este partido não era
uma alternativa estratégica para a construção de uma direção revolucionária para o país. Atualmente o partido
se define como uma alternativa revolucionária implantada em setores fundamentais dos movimentos sindical
e estudantil, no momento em que o reformismo começa a viver uma crise. Possui como principais lideranças
José Maria de Almeida em São Paulo e Marcos Silva no Maranhão.
43
Figura 6: TSE cassa Jackson
Fonte: Jornal O Imparcial, 4 de Março de 2009.
Nesta imagem, pessoas expressam sua dor, face a derrota sofrida, pois a notícia da
cassação foi recebida pelo “Movimento Balaiada Moderna” com profunda tristeza, pois por
mais que a cassação fosse algo possível, não era esperado, e “com o resultado a favor da
cassação, as lágrimas vieram aos olhos de muitas pessoas.” (O IMPARCIAL, 2009).Como no
caso da Sra. Audinéia Pereira, uma dona-de-casa do Codozinho, que afirmou está se sentindo
naquele momento derrotada:
Ninguém me pagou para eu votar no Jackson Lago. Votei porque eu quis, porque era
melhor para o Maranhão. Agora eles (os ministros do TSE) resolvem dizer que todo
mundo foi comprado e por isso que Jackson ganhou? Eu não ganhei nenhum
centavo e meu voto deveria ser respeitado (O Imparcial, 04 de março de 2009).
Contudo ainda era possível perceber algumas pessoas otimistas, como o Sr. João
Antônio de Oliveira, do Paço do Lumiar, que diz acreditar que esse resultado ainda poderá ser
mudado, “é só a população não desistir. Temos que continuar a luta e mostrar que o povo do
Maranhão sabe o que quer.” (O IMPARCIAL, 2009).
Em concordância com o Sr. João também estava Jackson Lago, que se mostrou
forte e disse está pronto para continuar lutando e que todos poderiam contar com a sua
responsabilidade e disposição para defender os interesses da população, pois para ele, “[..] é
difícil enfrentar as elites do nosso Estado e também do Brasil. Mas não vamos desistir da luta.
Quero dizer a todos que estão nessa luta, que podem contar comigo.” (O IMPARCIAL, 2009).
44
E Jackson Lago informou ainda que seus advogados iriam entrar com recursos no TSE, e que
até lá continuaria no cargo.
A continuidade da luta mesmo após a cassação foi retomada na chamada Festa da
Democracia, que aconteceu no dia 1º de abril de 2009, na qual a população foi às ruas lembrar
o horror da ditadura, festejar a democracia e declarar apoio ao governador Jackson Lago, que
ainda esperava o julgamento dos recursos impetrados por seus advogados no TSE.
Nesta manifestação expressa na imagem abaixo, contemplada na matéria do jornal
O Imparcial do dia 1º/04/2009, percebe-se que o “acampamento Balaiada” reuniu uma
variedade de personalidades de diversos grupos sociais que se identificavam com o
movimento, mas que ao mesmo tempo cada um desses grupos defendia seus próprios
interesses, mostrando que a força do movimento “Balaiada” estava na união de todas essas
forças.
Figura 7: Acampamento Balaiada na festa da democracia
Fonte: Jornal O Imparcial, 1º de Abril de 2009.
Tal manifestação foi marcada por caminhadas, ato político e show pró-democracia
com o objetivo de traçar um paralelo entre o golpe que estabeleceu a Ditadura Militar em
1964 e o golpe dado pela família Sarney para voltar ao poder do Estado Maranhão através da
cassação de Jackson Lago.
Participaram da festa vários movimentos sociais, inclusive grupos oriundos do
interior do Estado, e durante toda a programação “os balaios gritavam palavras de ordem para
chamar a atenção da população da tentativa de golpe contra o mandato do governador Jackson
Lago.” (O IMPARCIAL, 2009).
Porém este não foi o único evento que se apropriou da Balaiada como símbolo de
45
resistência, na esfera cultural ocorreu o “movimento Balaiada Rock”, que segundo os
organizadores desse festival de rock, se inspiraram na Balaiada por ser “uma das maiores
revoltas populares já registradas no Maranhão, com repercussão em todo o país”, e que por
isso tal denominação foi dada ao movimento, que tinha como objetivo a união de bandas de
rock para lutar contra a “situação de inércia” em que se encontra o rock maranhense, tanto por
parte de quem produz, quanto de quem consome o produto, por meio de debates, discussões e
eventos culturais, combatendo assim a falta de público e de patrocínio.(O IMPARCIAL,
2009).
Figura 8: Balaiada Rock: uma guerra quase solitária
Fonte: Jornal O Imparcial, 14 de Março de 2009.
Semelhante apropriação também foi constatada em um programa de rádio levado
ao ar por radialistas e militantes do PDT maranhense, chamado de Rede Democrática da
Balaiada, que logo nos primeiros programas fizeram uma análise histórica da política
brasileira, abordando temas como os golpes contra Getúlio Vargas e João Goulart que tanto
fortaleceu José Sarney em sua jornada política, e que atualmente se aproveita da ampla
influência no senado brasileiro para tentar devolver o governo do Estado para a sua filha
Roseana, por meio de um golpe jurídico.
A partir dessas apropriações da Balaiada é possível perceber que com o passar do
46
tempo o movimento da Balaiada foi assumindo diversos significados, servindo para reforçar
posições ideológicas daqueles que a utilizam como justificativa para as mais diferentes
posições na sociedade atual, como no caso dos movimentos quilombola, MST, estudantes,
pastorais sociais, sindicatos e das freiras da Igreja Católica.
Assim sendo torna-se cada vez mais comum à apropriação da Balaiada como
símbolo de luta e resistência, especialmente pelos setores da esquerda e entidades sindicais e
estudantis. Mas por outro lado, ainda é grande a relutância de determinados segmentos
políticos e sociais detentores do controle do Estado, em olhar de forma estigmatizante estes
movimentos de resistência e seus agentes sociais.
Conforme afirma Roger Chartier (2002), as práticas de apropriação cultural são
reconhecidas como “formas diferenciadas de interpretação”, que são passives de influências
hierárquicas e divisões sociais, por isso é necessário levar em consideração as
“especificidades dos espaços” no qual são produzidos, já que existe um repertório muito vasto
de discursos que justificam as práticas e denunciam os abusos de poder, como no caso do
contexto político maranhense.
47
3 “A NOVA BALAIADA DA ILHA REBELDE MONTA ACAMPAMENTO COMO
ESPAÇO DE VIGÍLIA CÍVICA”.
Além das matérias vinculadas pelos jornais O Imparcial e Jornal Pequeno
buscaram-se ainda em alguns panfletos, manifestos e informativos aspectos que tratam do
embate político entre Jackson Lago e Roseana Sarney Murad. No informativo “A Balaiada”
escrito pelo Comitê de Defesa da Democracia no Maranhão41 é notório que desde em seu
primeiro número tem por objetivo comunicar a sociedade ludovicense todas as ações do
movimento de resistência em defesa da democracia, montado no espaço denominado de
“Acampamento Balaiada”, “em homenagem a revolta ocorrida no Maranhão no século XIX
organizada por negros e excluídos da sociedade”42, inicialmente instalado em frente ao Palácio
dos Leões, marcando assim o “ponto de partida de uma mobilização popular para dar uma
resposta à tentativa de José Sarney de cassar o mandato do governador Jackson Lago na marra
e a qualquer preço, para reconduzir sua filha Roseana Sarney Murad ao Governo do
Maranhão”.43
Tal acampamento chamou a atenção da sociedade para o momento de “crise
política” estabelecida no Maranhão, que foi capaz de mexer tanto com a opinião publica como
com a classe política.
Por isso essa mobilização é definida por seus líderes como uma “vigília cívica”
que estabelece um novo marco na história política maranhense, e principalmente na cidade de
São Luís, conhecida historicamente como “Ilha Rebelde”44
.
Entre os militantes do PDT, partido do então governador Jackson Lago, estavam
“o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), a Fetaema (Federação dos
Sindicatos de Trabalhadores Rurais), a Fetrafe (Federação dos Trabalhadores da Agricultura
Familiar), a Aconeruq (Associação das Comunidades Remanescente de Quilombola do
Maranhão), e mais integrantes de Pastorais Sociais da Igreja Católica, dos Movimentos por
Moradia, do Movimento Negro e de alguns movimentos comunitários ligados aos bairros
populares de São Luís”, que incansavelmente convocavam o povo para se mobilizar contra a
“tentativa de golpe no Maranhão”, com a finalidade de construir um espaço de debates para
41
Formado pelo Movimento Sem-Terra (MST), pela União Estadual de Moradia Popular, movimentos sociais e
partidos que integram a Frente de Libertação (PDT, PPS, PT, PSDB, PSB, PCdoB, PRB e PMN). 42
Informativo “A Balaiada” nº 8, janeiro/fevereiro de 2009. 43
Informativo “A Balaiada” nº 1, 10 de dezembro de 2008. 44
O epiteto “Ilha Rebelde” surgiu na década de 70, motivado pela ocorrência de duas manifestações populares: a
“Greve de 1951” e Greve de “1979”, mais conhecida como a “greve da meia passagem”, mobilização esta
iniciada por universitários revoltados contra o aumento de passagens concedido pela prefeitura de São Luís.
48
“denunciar ao Brasil o golpe que a oligarquia Sarney pretendia (e ainda pretende) dar no
Maranhão”.45
A nossa decisão repercutiu dentro e fora do Maranhão. Em São Luís, uma parte bem
representativa da sociedade abraçou e apoiou a nossa causa. Foram artistas, poetas,
sindicalistas, estudantes, militantes de movimentos populares entre outros. No
Brasil, a imprensa repercutiu o nosso ato e várias personalidades do nosso país
fecharam questão com a causa do povo maranhense”46
.
Músicas como a Revolta do Olodum e a Oração Latina foram utilizadas para
trazer à flor da pele os sentimentos de luta e resistência do movimento. A primeira faz
referência ao movimento negro de todo o Brasil, pois enaltece o passado de bravura do povo
negro brasileiro, como a instalação do Quilombo dos Palmares no Estado de Alagoas e a
Revolta da Balaiada no Maranhão, além de citar os “[...] retirantes ruralistas, figura comum na
história recente do Maranhão, especialmente por conta da imensa grilagem de terras
comandada por José Sarney no nosso Estado durante a ditadura militar” 47
.
E a segunda, do poeta e compositor maranhense César Teixeira, atualmente
considerada um hino dos movimentos populares de todo o Brasil, utilizando o verso que diz
“Com as bandeiras nas ruas, ninguém pode nos calar, e quem nos ajudará, a não ser a própria
gente, pois hoje não se consente esperar...” 48.
Figura 9: Com as bandeiras nas ruas, ninguém pode nos calar!
Fonte: Informativo Balaiada nº01, 10 de dezembro de 2008.
45
Informativo “A Balaiada” nº7, 20 de dezembro de 2008. 46
Informativo “A Balaiada” nº7, 20 de dezembro de 2008. 47
Informativo “A Balaiada” nº 1, 10 de dezembro de 2008. 48
Informativo “A Balaiada” nº 1, 10 de dezembro de 2008.
49
A imagem acima mostra as bandeiras como símbolo da luta e da resistência dos
movimentos sociais em relação ao momento político vivido no Maranhão.
Segundo o próprio compositor, tal mobilização política objetivava principalmente
a defesa da democracia e não se tratava “de defender um governo, ou um governador. A
situação vai muito mais além. Estou aqui me integrando ao comitê [de defesa da democracia
no Maranhão], pois se trata de uma luta em defesa da democracia".49
Dentre as várias atividades desenvolvidas no acampamento Balaiada, foi
destacado no informativo o “ato das luzes”, no qual os participantes tinham em suas mãos
velas acessas que simbolizavam “a esperança, o desejo pela reconstrução do Maranhão e pela
liberdade, sentimentos que começaram a se materializar na eleição de 2006, onde Roseana
Sarney Murad foi derrotada pelo povo do Maranhão” 50
.
Segundo o Informativo Balaiada,
[...] as manifestações de apoio ao nosso acampamento Balaiada foram aumentando a
cada dia. Foram iniciativas vindas de todos os lados, desde o meio cultural, até a
classe política, passando também por estudantes, militantes de organizações sociais
e pais e mães de famílias indignados com a possibilidade de um golpe no
Maranhão.51
A exemplo de Cleusimar de Pinho, membro da União por Moradia Popular, que
acredita na vitória da força popular pela democracia, "Não vamos permitir o retrocesso, o
Maranhão já está muito atrasado por conta dessa oligarquia, chega de família Sarney nesse
estado, vamos garantir que a democracia permaneça".52
No manifesto lançado pelo “Movimento de Defesa da Democracia no Maranhão”,
em que seus líderes se colocavam como responsáveis pela instalação do acampamento da
Balaiada, “para fazer valer a defesa da democracia neste Estado”, observa-se a apropriação da
imagem de pessoas que simbolicamente representam a tradição de resistência balaia, com
matizes de martírio e heroísmo.
Pois nós, que organizamos o Comitê de Defesa da Democracia no Maranhão e, em
dezembro de 2008, montamos em frente ao Palácio dos Leões, o Acampamento
Balaiada, queremos sim fazer valer os nossos direitos! Fazer valer a vontade
soberana do nosso povo. Temos a plena consciência que estamos diante de uma
encruzilhada histórica. É o momento do povo do Maranhão honrar a memória de
seus mortos, honrar a memória de Negro Cosme, de Maria Aragão e de Padre
49
Informativo “A Balaiada” nº 1, 10 de dezembro de 2008. 50
Informativo “A Balaiada” nº 2, 11 de dezembro de 2008. 51
Informativo “A Balaiada” nº 2, 11 de dezembro de 2008. 52
Informativo “A Balaiada” nº 2, 11 de dezembro de 2008.
50
Josimo! Não pregamos a violência. Queremos paz. Queremos democracia. Mas,
assim como o governador, estamos dispostos a dar o nosso sangue em nome dessa
causa. Hoje, reafirmamos o que dissemos em nosso primeiro manifesto. Agora, ou
vence a democracia, ou vence a tirania. Ou vence a vontade soberana do povo, ou
vence as tramas de um grupo que passou quarenta anos explorando o nosso estado.
(Manifesto ao Povo do Maranhão, 10 de março de 2009) Grifos nossos
Na tessitura do texto do manifesto seus autores buscam a reabilitação dos
“balaios” no início do século XXI, como um processo de inclusão dos excluídos na luta pela
afirmação de direitos de pessoas e grupos historicamente marginalizados, a exemplo do Negro
Cosme, herói do movimento Balaio do século XIX, de Maria Aragão, heroína da Revolução
de 1964, e do Padre Josimo, mártir cuja morte expressa o poder da grilagem no Maranhão.
Figura 10: A reabilitação das lutas do passado
Fonte: Manifesto ao Povo do Maranhão escrito pelo Movimento de Defesa da Democracia no Maranhão em São
Luís, 10 de março de 2009.
Neste contexto de disputa em torno do governo do Estado, em que o grupo de
oposição a Sarney fez uso do simbolismo do movimento balaio, é possível perceber a
utilização da memória de figuras historicamente importantes, reabilitadas para dar mais força
a uma rememoração de um passado histórico de lutas em um momento definido como
“encruzilhada histórica”.
A ideia era tentar utilizar a memória de pessoas consideradas “excluídas” no
contexto político em que viveram, muito embora a situação das pessoas desse grupo que se
apropriando da imagem de pessoas que expressam a rebeldia e resistência não estivesse numa
situação de exclusão política e sim de disputa para manter-se no poder.
Em uma mensagem de final de ano intitulada “Maranhão em tempos de
51
Balaiada” 53, escrita por Ivan Costa54, encontramos uma menção sobre o movimento negro
maranhense e sua participação na “nova Revolta da Balaiada”.
No dia 09 de dezembro de 2008 iniciou no Maranhão uma nova Revolta da
Balaiada, do século XXI contra os poderosos políticos e Capitães do Mato, que
queriam a cassação do Governador do Estado, mais no dia 18 de dezembro de 2008
o Povo e os Movimentos Sociais maranhenses foram vencedores, são os novos
Balaios e Quilombolas. (Mensagem: Maranhão em tempos de Balaiada, 22 de
dezembro de 2008)
Ao final da mensagem é lembrado os 170 anos da Balaiada no Maranhão (13 de
dezembro de 1838-2008) através de agradecimentos ao Negro Cosme, figura muito valorizada
pela sua importância na Balaiada no século XIX, aos Novos Balaios e ao povo maranhense,
reafirmando que a luta continua
Valeu Negro Cosme!
Valeu Novos Balaios!
Valeu Povo Maranhense!
A luta continua Povo Negro! (Mensagem: Maranhão em tempos de Balaiada, 22 de
dezembro de 2008)
No contexto do Maranhão é recorrente o uso da memória da Balaiada em eclosões
sociais, como nos casos de 1951 e 1979. A greve de 1951 que ficou conhecida como
”Balaiada Urbana”, foi um movimento popular amplo, radical e heterogêneo que mobilizou
toda a cidade contra as práticas fraudulentas e coronelistas de Victorino Freire, na época
senador pelo Estado do Maranhão, nas eleições de 1951.
Já o movimento de 1979 foi uma grande mobilização estudantil na conhecida
“Ilha Rebelde” 55, contra o aumento de passagens concedido pela prefeitura de São Luís as
empresas de transporte público. Nesta ocasião a luta em favor a meia-passagem representou
não apenas uma questão econômica, mas também um “grito” contra a censura e as
barbaridades do regime militar.
Segundo Maria de Lourdes Janotti (2005), com o passar do tempo o movimento
da Balaiada foi assumindo outros significados e servindo para transmitir posições ideológicas
53
Redigida em 22 de dezembro de 2008. 54
Membro do Centro de Cultura Negra do Maranhão- CCN. 55
Relatos sobre o movimento presentes em matérias do Jornal Pequeno no site
http://www.jornalpequeno.com.br/2004/9/16/Pagina5089.htm e no Jornal O Imparcial no site
http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/especiais/sao-luis-399-anos/2011/09/07/SLi,92152/ilha-
rebelde.shtml
52
daqueles que a utilizam como justificativa para determinadas posições na sociedade atual,
como o caso dos movimentos quilombola, MST, estudantes, pastorais sociais, sindicatos e das
freiras da Igreja Católica.
Em um ato simbólico de manifestação contra o mandonismo do grupo Sarney,
diversos integrantes de movimentos sociais e religiosos, a exemplo de freiras da Igreja
Católica, que realizaram uma marcha partindo do município de Itapecuru em direção a São
Luís, numa tentativa de rememorar a morte de Negro Cosme e seus ideais, bem como
simbolicamente “ocupar” São Luís, que desde o século XIX sempre foi um dos grandes
temores das elites conservadoras, como mostra os seguintes trechos:
A terça feira, dia 24 de março de 2009, ficará marcada na História do Maranhão.
Neste dia, centenas de maranhenses saíram a pé do município de Itapecuru até a
cidade de São Luís, na chamada „Marcha pela Democracia e contra o golpe de
Sarney‟. O município de Itapecuru foi escolhido pelos manifestantes por que no
século XIX, na época da Revolta da Balaiada, foi a região onde Negro Cosme foi
assassinado pelos monarquistas. Hoje estão vindo para São Luís trabalhadores
rurais, gente ligada as pastorais sociais, a sindicatos, ao MST e a movimentos que
lutam por direitos humanos, moradias etc. Eles não aceitam a volta de Roseana
Sarney Murad.
Freiras da Igreja Católica apoiam a marcha pela democracia. Entre as pessoas que
saíram em marcha de Itapecuru, na ultima terça-feira, estavam as irmãs da
Congregação Notre Dame. „O povo está exigindo respeito! Eles não votaram na
Roseana! Aquilo que o povo decidiu está sendo corrompido, por isso eles têm o
direito de se manifestar‟ , diz a irmã Josi. Já a irmã Lu, lembrou um ditado popular:
„O grande só é grande porque estamos de joelhos. É hora de se levantar. Todos os
peixinhos juntos podem derrotar o tubarão‟ , explicou Lu, numa referencia ao duelo
que hoje o povo do Maranhão trava contra o poder de José Sarney. (Informativo do
Comitê de Defesa da Democracia no Maranhão- A Balaiada nº 10, 26 de março de
2009)
Atualmente tem-se tornado comum a apropriação da Balaiada como símbolo de
luta e resistência, especialmente pelos setores da esquerda e entidades populares que se
organizaram em prol de um objetivo comum, “a luta contra a oligarquia Sarney” instalada no
poder a mais de 40 anos56
.
Tal apropriação também se refletiu no meio popular, com o objetivo de instigar a
população na luta contra a violação de seus direitos (“a soberania do voto popular”) e a
instalação da “oligarquia” no poder do Estado, ressaltando a Balaiada do século XIX como
uma inspiração, que todos deveriam seguir.
56
Frase muito proferida nos palanques políticos e nos debates de movimentos sociais.
53
Nesse sentido, o cantor e compositor maranhense Antônio Vieira, ao longo de sua
carreira desenvolveu um repertório com várias composições nos principais ritmos populares
maranhense, dentre as quais se destaca a composição intitulada“Balaios da Balaiada”, que
diz assim:
Balaio, balaio forte
Balaio das balaiadas
Que lutou por seus princípios
Sem temer a morte, ou nada
Carregava o seu balaio
Balaio de Guarimã
E atacava os inimigos
Com a clara da manhã
Balaio macho
Do meu sertão
Não aturava exploração
Pela família
Tinha respeito e afeição
Balaio cabra valente
Balaio do Maranhão
E assim canto um episódio
Da história do Maranhão
A Guerra das balaiadas
Que ensanguentou meu torrão
Se você ama ser livre
De opressão odiada
Você também é um balaio
Que nem os da balaiada.
Nesta música é possível perceber a exaltação da Balaiada e dos balaios do sertão
maranhense como pessoas fortes e corajosas que lutaram em favor dos seus princípios, contra
a exploração e a opressão da qual viviam, assim como se consideram os “balaios modernos”,
já que ao final da música o autor afirma que quem é contra a opressão e ama ser livre também
é um balaio, possivelmente fazendo uma alusão indireta ao “Movimento da Balaiada
Moderna” e seus participantes.
Daí a grande importância dessa composição de Antônio Vieira para o movimento,
pois funcionou como forma de propaganda para as camadas populares também aderirem ao
movimento, visto que Vieira é um compositor popular amplamente conhecido.
Outro intelectual popular da “Balaiada Moderna” foi Ivan Costa, membro do
Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN), já mencionado anteriormente, que desde a
criação do CCN tem se preocupado com esta organização para que ela se tornasse um meio de
transformação da realidade de opressão social sofrida pelos negros no Maranhão,
54
principalmente lutando contra o racismo e buscando resgatar a valorização da cultura africana
em solo brasileiro.
Um exemplo disso é a valorização da figura do Negro Cosme como um mártir da
Balaiada57
em vários manifestos publicados pelo Centro de Cultura Negra do Maranhão,
definindo-o como “tutor e imperador da liberdade”. Além de associar a luta do movimento
negro ao movimento “Balaiada Moderna”, contra os poderosos que queriam cassar o
governador eleito pelo povo.
Outra organização popular que se associou ao movimento da “Balaiada Moderna”
foi o MST (Movimento dos Sem Terra) liderado por João Pedro Stédile, um dos maiores
defensores da reforma agrária no Brasil, que viajou várias vezes a São Luís para dar apoio ao
Movimento da “Balaiada Moderna” através de sua participação em comícios e em debates
sobre a situação política do Maranhão naquela ocasião. Foi um dos responsáveis pelo
“Acampamento Balaiada” que se instalou no Palácio dos Leões após a cassação efetiva de
Jackson Lago, já que grande parte das pessoas acampadas pertencia ao MST de várias
localizações do Estado.
O sindicalista Wagner Baldez, conhecido pela sua luta em movimentos de
esquerda e por ter sido amigo de Maria Aragão também apoiou o “movimento Balaiada”, e
uma de suas contribuições foi uma poesia de sua autoria panfletada durante o acampamento
Balaiada.
VEREDICTO AO POVO
Valei-nos, Nossa Senhora da Conceição!
Da maldição Sarneysista.
Em querer fazer do Maranhão,
Uma eterna senzala empobrecida.
O velho coroné Zé Sarney,
Com sua ambição desenfreada,
Não respeitando a vontade do povo.
Quer tirar Jackson...e botar a filha derrotada!
Jamais nos tornaremos escravos,
Dessa gente avacalhada.
E já que somos rebeldes e bravos!
Contestamos tal palhaçada!
Avante maranhenses, Avante!
À luta se preciso for,
Garantir nossa conquista
Conseguida com sacrifício e ardor.
57
A valorização da figura do Negro Cosme também pode ser vista no Centro Acadêmico do Curso de História da
UEMA que se denomina Negro Cosme, e no Centro Acadêmico do Curso de História da UFMA que se
denomina Lagoa Amarela, nome do quilombo comandado pelo Negro Cosme.
55
Ao afirmar que “jamais nos tornaremos escravos”, já que somos “rebeldes e
bravos”, é notório nas entrelinhas o uso do significado histórico da Balaiada para o
movimento, visto que a Balaiada do século XIX foi uma revolta liderada por grupos de
pessoas oriundas das camadas mais pobres da população, dentre eles os escravos, que eram
explorados e não tinham “espaço no meio político e social.”.
E a bravura dos rebeldes é enaltecida devido à origem dos líderes da Balaiada, que
eram de origem humilde, o que acabou reforçando o caráter popular da revolta ao longo dos
anos, assim como a “Balaiada Moderna”, que também é considerada por suas lideranças um
movimento popular.
Além de pessoas do meio popular, também identificamos pessoas do meio
político, que foram de suma importância para a manutenção da luta, dentre estes destacamos
Neiva Moreira e Domingos Dutra.
Neiva Moreira já foi presidente nacional do PDT (Partido Democrático
Trabalhista) e líder da Câmara Estadual por duas vezes, sendo por último um dos principais
assessores do ex-governador Jackson Lago, ajudando-o a liderar o “Acampamento Balaiada”
em resistência à cassação e articulando a reunião de vários movimentos sociais no Palácio dos
Leões.
Da mesma forma Domingos Dutra, deputado federal do Maranhão pelo PT
(Partido dos Trabalhadores) também teve uma grande contribuição no “Movimento da
Balaiada Moderna”, pois foi um crítico ferrenho das manobras políticas praticadas pela
Família Sarney e um defensor da soberania popular. Sempre esteve presente em todos os
comícios e reuniões do movimento estimulando a manutenção da luta de resistência no
Palácio dos Leões.
Os acontecimentos se precipitaram com a cassação de Jackson Lago e a retomada
do poder pela Família Sarney. Com a morte de Lago no dia 04 de Abril de 2011, é possível
inferir que não há menção direta ao “Movimento da Balaiada Moderna”, e sim ao
“movimento de resistência”, que precisa continuar como mostra os trechos de algumas
matérias:
O sentimento que fica é de resistência e isso tem que nos nortear para as lutas
futuras.58
(Jornal Pequeno, 6 de Abril de 2011)
Em seu discurso o ex-vice governador do Maranhão, pastor Luís Carlos Porto, disse
que cada um tem a sua caminhada e o Maranhão agora estava preparado não só para
colher os bons frutos deixados por Lago, como também manter sua luta, de
58
Fala do deputado Rubens Júnior (PCdoB) no velório de Jackson Lago.
56
conquistar um estado mais justo e igual para todos. (Jornal Pequeno, 7 de Abril de
2011)
Para Flávio Dino, a melhor homenagem que a oposição pode fazer a Jackson é dar
continuidade ao seu trabalho por um Maranhão justo, liberto e melhor para todos.
(Jornal Pequeno, 7 de Abril de 2011)
Para Gardênia Castelo, Jackson nos deixou um vazio muito grande, mas ainda temos
tempo de lutas pelos seus ideais. “A Oposição tem o dever e a obrigação de
reconstruir a luta de Jackson, com o mesmo idealismo, perseverança e obstinação de
aliados que ele sempre teve”. (Jornal Pequeno, 8 de Abril de 2011).
Apesar das matérias não se referirem diretamente ao “Movimento Balaiada
Moderna” e nem os “novos balaios”, nota-se a presença constante de palavras como
“resistência”, “oposição” e “idealismo”, que são marcas que denotam a identificação desses
sujeitos com a luta em defesa da democracia, visto que essa “identificação é um processo em
andamento” (HALL, 2004, p.39) que não pode ser considerado como algo acabado. Por isso é
possível inferir a importância do significado histórico da Balaiada, pois a mesma é sempre
apropriada pelos movimentos de resistência e luta por direitos, mesmo que isso ocorra de
forma indireta.
Pois segundo Michel de Certeau (2000, p. 66), “todo sistema de pensamento está
referido a „lugares‟ sociais, econômicos, culturais e etc”. Neste sentido é importante levar em
consideração o “lugar” de onde os sujeitos falam, pois conforme alerta Chartier (2002, p.136),
é preciso atentar aos “empregos diferenciados e contrastantes dos mesmos bens, dos mesmos
textos e das mesmas ideias”, como no caso da apropriação da Balaiada e sua representação
para os diferentes grupos sociais que a utilizam como orientação para as suas práticas perante
a sociedade.
57
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Balaiada foi uma insurreição ocorrida no Maranhão no período regencial
brasileiro, no qual o Brasil passava por intensa instabilidade política e econômica, devido à
complexidade de contradições em que se encontrava o país pós-independência, pois ainda era
possível se ver antigas permanências nas estruturas econômica e social, como a escravidão e o
monopólio português sobre os cargos da administração pública brasileira, o que gerou
insatisfação nas camadas populares, pois apesar da dita independência de Portugal, os
portugueses juntamente com o D. Pedro I aliaram-se para continuar exercendo o monopólio
do poder, negando uma maior participação do restante da população, levando a uma política
de exclusão, na qual o poder encontrava-se nas mãos dessa elite.
Tal insurreição tem como principal característica o caráter popular e
multiclassista, pois envolveu diversas camadas sociais, desde fazendeiros, artesãos, lavradores
e vaqueiros, até desertores do exército e escravos, e, por isso é consagrada pela historiografia
como sendo um movimento de revolta popular, já que era composta em sua maioria pelas
camadas mais humildes da população.
Por isso, a Balaiada é considerada a maior insurreição ocorrida no Maranhão,
conforme as diferentes matrizes explicativas, que sobre ela se debruçaram ao longo desses
172 anos, buscando novas percepções e interpretações que reconfiguram constantemente a
memória desse movimento.
As apropriações simbólicas da Balaiada são encontradas em vários movimentos
ocorridos no Maranhão, a exemplo das greves de 1951 e 1979, sendo a apropriação mais
recente autointitulada “Balaiada Moderna” e os seus participantes denominados “Novos
Balaios”, reflexo dos embates políticos entre Jackson Lago e Roseana Sarney, pelo resultado
das eleições estaduais de 2006, na qual Jackson Lago saiu vitorioso nas urnas.
O movimento “Balaiada Moderna”, foi organizado por um grupo defensor
(representantes de movimentos sociais, como MST, indígenas e quilombolas) da democracia
(voto) e da soberania do povo maranhense, assumindo uma posição de resistência em relação
a cassação de Jackson Lago.
Para dar uma maior visibilidade ao movimento foi organizado um acampamento
em frente ao Palácio dos Leões (sede do governo estadual) com o objetivo de denunciar para
todo o país o desrespeito à democracia no Maranhão e também prestar solidariedade a
Jackson Lago, que naquele momento lutava para se manter no poder estadual.
Neste acampamento ocorreram várias plenárias de discursão e atividades culturais
58
com a participação de partidos da base aliada, sindicatos, movimentos sociais e grupos
diversos. Além de diversas passeatas para mobilizar as pessoas a participarem do movimento.
Nas matérias dos jornais e nos materiais produzidos pelos próprios “balaios” é
notória a apropriação da Balaiada como símbolo de luta e resistência por pessoas do meio
intelectual, político e popular, os quais instigavam a população a compreender seus direitos e
a se posicionarem contra a perpetuação da Família Sarney no poder do Estado.
Dessa forma, o movimento “Balaiada Moderna”, se apresenta como um
movimento heterogêneo, que de um lado apresenta as lideranças políticas em disputa pela
manutenção do poder e de outro, grupos e lideranças de movimentos sociais, que vislumbram
nessa “possível” aliança uma brecha para estabelecer um canal de negociação política com o
grupo de oposição a oligarquia.
Entendemos que essa aliança buscava dar voz aos “excluídos”, afim de “recuperar
as trajetórias dos grupos dominados e também tirar do esquecimento o que a história „oficial‟
sufoca há tanto tempo”. (FERREIRA, 2002, p. 09)
Essa recuperação da história dos “excluídos” torna-se neste contexto um
instrumento de construção de identidade e de busca de transformação política e social. Assim
é possível evidenciar que essa busca desenfreada do movimento da “Balaiada Moderna” e dos
“novos balaios” é para manter uma identidade com um passado de resistência e luta oriundo
da Balaiada do século XIX.
Por isso é possível afirmar que “a construção dos atores de sua própria identidade,
re-equaaciona as relações entre o passado e o presente, ao reconhecer claramente que o
passado é construído segundo as necessidades do presente”. (FERREIRA, 2002, p. 11)
59
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CDU: 930