Embaixada cultural

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C M Y K C M Y K Editor: José Carlos Vieira [email protected] [email protected] 3214 1178 • 3214 1179 Diversão Arte Arte & & CORREIO BRAZILIENSE Brasília, domingo, 29 de novembro de 2009 CORREIO BRAZILIENSE Brasília, domingo, 29 de novembro de 2009 www.correiobraziliense.com.br Embaixada CULTURAL Embaixada CULTURAL » QUEM É QUEM Ateliê Gambiarra Leonardo Leal une arte e reciclagem para criar objetos de uso diário, artesanato e decoração para eventos culturais. Madeiras mortas, bambus, cabaças e vidros vão para o ateliê em sua forma inutilizada e se transformam em fonte de renda. O artesão é especialista na montagem de tubetes, varas de grande resistência feitas com garrafas pet e usadas na estrutura de construções. Cia Circo Teatro Rebote Ataualpa Coello e Érica Mesquita realizam espetáculos de teatro e de rua com estética circense desde 2004. As encenações, pautadas no Novo Circo, fazem referência ao mambembe, pano de roda, clowns, dança e música. A dupla não possui circo montado, mas uma estrutura móvel que usam para viajar com o espetáculo. Mestre Zé do Pife e as Juvelinas O pernambucano Zé do Pife, tocador e fabricante de pife há 50 anos, reuniu nove jovens mulheres como aprendizes e tocadoras de uma banda de pífano nada tradicional. Agrega diversas vozes, um pífano principal e três auxiliares, caixa, pratos, triângulo, contra- surdo, zabumba e intervenções com instrumentos melódicos como violino, sanfona, rabeca, violão e violoncelo. Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro Com uma equipe de 20 colaboradores, o grupo uniu terreiro e picadeiro para modernizar a cultura popular. Desde 2004, trabalha no aprimoramento do mito brincante Calango Voador, montado a partir de figuras do cerrado misturadas a dança, música e jogos de grupo. É deles o samba pisado, um ritmo com batida de tambor diferenciada que dita as apresentações. » MARINA SEVERINO C asas de pau-a-pique, mosquitos e cataventos a disputar a brisa en- quanto cachorros, gatos e galinhas compartilham com crianças a som- bra de numerosas árvores. Difícil acreditar que essa vila simples se localize no Plano Pi- loto. O endereço, na 813 Sul, constitui ainda o epicentro de um novo movimento artísti- co candango: a Embaixada Cultural, que concentra músicos, palhaços, malabaristas, artesãos e quem mais quiser se agregar. Eles moram e exercitam sua arte no lo- cal. “Nos sentimos em uma Arca de Noé onde há de tudo, sem limitação de quanti- dade para cada espécie. Aqui, coexistem todas filosofias e formas de fé”, conta o ar- tesão Leonardo Leal, que mora no vilarejo há um ano. Para entender o espaço no Se- tor de Embaixadas, deveras ousado para sediar lares, é necessário voltar 40 anos, quando a área foi ocupada por um centro espírita. Desde então, o terreno foi subdivi- dido, vendido ou alugado, possibilitando aos moradores uma convivência de inte- rior em meio à capital de concreto. Tico Magalhães, líder do grupo Seu Es- trelo e o Fuá do Terreiro, foi o primeiro a ver o potencial do espaço para a arte. “Como confeccionamos fantasias, bonecos e brin- quedos de grandes dimensões, procuráva- mos um galpão para guardar todo o mate- rial. Essa casinha para alugar na 813 Sul foi um achado, principalmente porque alguns integrantes vêm de outras cidades ou países e temos muitos convidados, que podem se abrigar”, explica. O grupo ocupa há dois anos a casa, onde os integrantes conciliam ensaios, ateliê e depósito de fantasias. Nos fins de semana, os festejos do Seu Estrelo se espalham por toda a vila. Os en- saios ocorrem aos sábados. No domingo, a trupe gosta de brincar nos espaços abertos, caminhando pelo gramado e levando músi- ca ao centro da vila. “Essas manifestações geraram situações curiosas. Por diversas ve- zes, o pessoal das embaixadas chamou a polícia, mas, quando chegaram ao local, ti- ravam fotos e apreciavam a brincadeira. Agora, acostumaram-se”, observa Tico. Empolgados com o investimento do Seu Estrelo, os artistas do Circo Rebote se mu- daram para o local assim que uma das casas ficou vaga. Motivos pessoais e profissionais. O casal Ataualpa Coello e Érica Mesquita, juntos à filha Iacy, encontraram no novo lar o espaço perfeito para morar e instalar, no quintal, a estrutura de circo móvel onde en- saiam e se apresentam. O movimento continuou com Leonardo Leal, que já morou em duas casas no local — a atual, construída por ele mesmo de for- ma ecologicamente sustentável, e a ante- rior, para onde se mudaram algumas Juveli- nas do Mestre Zé do Pife neste ano. “Cada uma vivia em um lugar distante e ficava complicado para os ensaios. Como moráva- mos em repúblicas, unimos as necessida- des em uma mesma casa”, explica Isa Flor. Sustentabilidade e diversão Atualmente, os grupos se misturam em colaborações artísticas e nos trabalhos manuais. Os encontros de domingo se ampliaram para tardes de diversão e pro- jetos junto à comunidade, enquanto a vi- zinhança apertou os laços de amizade. “Como a comunidade é muito antiga, existiam problemas de uso indevido do espaço e maus-tratos à natureza. Nos uni- mos na conscientização dos moradores”, conta o artesão Leonardo Leal. A vila possui coleta seletiva de lixo seco, que segue para a reciclagem e reutilização, e orgânico, condicionado em contêineres destinados à adubagem. Garrafas, vidros e madeira geram artesanato e entram na con- cepção visual de cenários e roupas dos gru- pos. Enquanto isso, os quintais servem de espaço para oficinas ministradas à comuni- dade. “Tudo se agrega de forma cultural e familiar. Todo mundo colabora como pode. Alguns dão aulas de luta, música… Nós mostramos nossas acrobacias. Os ensaios também estão abertos às pessoas de fora, basta chegar”, convida Érica Mesquita. Artistas vivem em uma pequena vila na 813 Sul e transformam vizinhança numa comunidade de poesia, música e circo O pessoal da vila: Tico Magalhães, Isa Flor, Leonardo Leal, Isaac Nunes (em pé), Gutcha Ramil, Érica Mesquita e Andressa Ferreira Casas da vila: local de criação e ensaios dos artistas Fotos: Edílson Rodrigues/CB/D.A Press Veja galeria de fotos Assista a vídeos com Seu Estrelo e as Juvelinas

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Reportagem grupo de artistas de cultura popular que vivem em comunicade em Brasília. Publicada em 29 de novembro de 2009 na capa do caderno Diversão & Arte, do jornal Correio Braziliense.

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Ateliê GambiarraLeonardo Leal une arte e reciclagem paracriar objetos de uso diário, artesanato edecoração para eventos culturais. Madeirasmortas, bambus, cabaças e vidros vão para oateliê em sua forma inutilizada e setransformam em fonte de renda. O artesão éespecialista na montagem de tubetes, varasde grande resistência feitas com garrafas pete usadas na estrutura de construções.

Cia Circo Teatro ReboteAtaualpa Coello e Érica Mesquitarealizam espetáculos de teatro e de ruacom estética circense desde 2004. Asencenações, pautadas no Novo Circo,fazem referência ao mambembe, panode roda, clowns, dança e música. Adupla não possui circo montado, masuma estrutura móvel que usam paraviajar com o espetáculo.

Mestre Zé do Pife e as JuvelinasO pernambucano Zé do Pife, tocador efabricante de pife há 50 anos, reuniu novejovens mulheres como aprendizes e tocadorasde uma banda de pífano nada tradicional.Agrega diversas vozes, um pífano principal etrês auxiliares, caixa, pratos, triângulo, contra-surdo, zabumba e intervenções cominstrumentos melódicos como violino,sanfona, rabeca, violão e violoncelo.

Seu Estrelo e o Fuá do TerreiroCom uma equipe de 20 colaboradores, ogrupo uniu terreiro e picadeiro paramodernizar a cultura popular. Desde 2004,trabalha no aprimoramento do mitobrincante Calango Voador, montado a partirde figuras do cerrado misturadas a dança,música e jogos de grupo. É deles o sambapisado, um ritmo com batida de tambordiferenciada que dita as apresentações.

» MARINA SEVERINO

Casas de pau-a-pique, mosquitos ecataventos a disputar a brisa en-quanto cachorros, gatos e galinhascompartilham com crianças a som-

bra de numerosas árvores. Difícil acreditarque essa vila simples se localize no Plano Pi-loto. O endereço, na 813 Sul, constitui aindao epicentro de um novo movimento artísti-co candango: a Embaixada Cultural, queconcentra músicos, palhaços, malabaristas,artesãos e quem mais quiser se agregar.

Eles moram e exercitam sua arte no lo-cal. “Nos sentimos em uma Arca de Noéonde há de tudo, sem limitação de quanti-dade para cada espécie. Aqui, coexistemtodas filosofias e formas de fé”, conta o ar-tesão Leonardo Leal, que mora no vilarejohá um ano. Para entender o espaço no Se-tor de Embaixadas, deveras ousado parasediar lares, é necessário voltar 40 anos,quando a área foi ocupada por um centroespírita. Desde então, o terreno foi subdivi-dido, vendido ou alugado, possibilitandoaos moradores uma convivência de inte-rior em meio à capital de concreto.

Tico Magalhães, líder do grupo Seu Es-trelo e o Fuá do Terreiro, foi o primeiro a vero potencial do espaço para a arte. “Comoconfeccionamos fantasias, bonecos e brin-quedos de grandes dimensões, procuráva-mos um galpão para guardar todo o mate-rial. Essa casinha para alugar na 813 Sul foium achado, principalmente porque alguns

integrantes vêm de outras cidades ou paísese temos muitos convidados, que podem seabrigar”, explica. O grupo ocupa há doisanos a casa, onde os integrantes conciliamensaios, ateliê e depósito de fantasias.

Nos fins de semana, os festejos do SeuEstrelo se espalham por toda a vila. Os en-saios ocorrem aos sábados. No domingo, atrupe gosta de brincar nos espaços abertos,caminhando pelo gramado e levando músi-ca ao centro da vila. “Essas manifestaçõesgeraram situações curiosas. Por diversas ve-zes, o pessoal das embaixadas chamou apolícia, mas, quando chegaram ao local, ti-ravam fotos e apreciavam a brincadeira.Agora, acostumaram-se”, observa Tico.

Empolgados com o investimento do SeuEstrelo, os artistas do Circo Rebote se mu-daram para o local assim que uma das casasficou vaga. Motivos pessoais e profissionais.O casal Ataualpa Coello e Érica Mesquita,juntos à filha Iacy, encontraram no novo laro espaço perfeito para morar e instalar, noquintal, a estrutura de circo móvel onde en-saiam e se apresentam.

O movimento continuou com LeonardoLeal, que já morou em duas casas no local— a atual, construída por ele mesmo de for-ma ecologicamente sustentável, e a ante-rior, para onde se mudaram algumas Juveli-nas do Mestre Zé do Pife neste ano. “Cadauma vivia em um lugar distante e ficavacomplicado para os ensaios. Como moráva-mos em repúblicas, unimos as necessida-des em uma mesma casa”, explica Isa Flor.

Sustentabilidade e diversãoAtualmente, os grupos se misturam em

colaborações artísticas e nos trabalhosmanuais. Os encontros de domingo seampliaram para tardes de diversão e pro-jetos junto à comunidade, enquanto a vi-zinhança apertou os laços de amizade.“Como a comunidade é muito antiga,existiam problemas de uso indevido doespaço e maus-tratos à natureza. Nos uni-mos na conscientização dos moradores”,conta o artesão Leonardo Leal.

A vila possui coleta seletiva de lixo seco,que segue para a reciclagem e reutilização, eorgânico, condicionado em contêineresdestinados à adubagem. Garrafas, vidros emadeira geram artesanato e entram na con-cepção visual de cenários e roupas dos gru-pos. Enquanto isso, os quintais servem deespaço para oficinas ministradas à comuni-dade. “Tudo se agrega de forma cultural efamiliar. Todo mundo colabora como pode.Alguns dão aulas de luta, música… Nósmostramos nossas acrobacias. Os ensaiostambém estão abertos às pessoas de fora,basta chegar”, convida Érica Mesquita.

Artistas vivem em uma pequena vila na 813 Sul e transformam vizinhança numa comunidade de poesia, música e circo

O pessoal da vila: TicoMagalhães, Isa Flor, LeonardoLeal, Isaac Nunes (em pé), GutchaRamil, Érica Mesquita e Andressa Ferreira

Casas da vila: localde criação e ensaiosdos artistas

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