Em memória da Professora Teresinha Mian Alves e de … dos educandos, partindo de sua realidade e...

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Em memória da Professora Teresinha Mian Alves e de todas as pessoas que fizeram parte do MOVA Guarulhos e já não se encontram mais entre nós, a nossa saudosa homenagem.

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Este almanaque é uma publicação especial organizada pela Secretaria de Edu-cação, mas é, antes de tudo, uma conquista do Movimento de Alfabetização na cidade de Guarulhos. Trata-se do coroamento das atividades de comemoração dos 10 anos do MOVA em 2012.

A forma de publicação escolhida foi o Almanaque porque é um gênero de tradi-ção popular, com informações e textos diversos, de caráter multifacetado e plu-ral, próprio para expressar e resgatar a identidade e nossa memória histórica. Cada parte do texto é como uma parada, estação de uma viagem panorâmica ao longo da história, que ressalta as realizações e os fatos marcantes da traje-tória do Movimento.

Nestes 10 anos, procuramos dar continuidade ao legado de Paulo Freire (1921-1997), cuja proposta pedagógica leva em consideração as reais neces-sidades dos educandos, partindo de sua realidade e respeitando seu processo de construção do conhecimento, não se reduzindo, portanto, a uma reposição da escolaridade ou a uma educação compensatória. O MOVA tem o objetivo de estimular o exercício da cidadania dos educandos, contribuindo para ampliar sua leitura de mundo para que possam se inserir criticamente na realidade em que vivem.

Desse modo, esta publicação é uma forma de dar evidência a uma política pú-blica, implementada e estimulada pela Secretaria de Educação, que vem alfa-betizando milhares de pessoas, contribuindo, significativamente, para o resgate de um direito historicamente negado às parcelas mais excluídas da sociedade.

Este trabalho não poderia ter sido feito isoladamente, razão pela qual ele é o resultado do esforço de todos os que lutaram e lutam pelo fortalecimento da causa que defendemos. Todos os sujeitos do MOVA deram sua contribuição: coordenadores pedagógicos, agentes populares, educadores, educandos, entre outros.

Por isso, agradecemos a todos que, de alguma forma, contribuíram para o lançamento deste Almanaque, mais uma ação da SE que visa melhorar a qua-lidade social da Educação em nossa cidade. Esperamos que ele seja de grande utilidade a todos os educadores e educandos guarulhenses e à comunidade em geral.

Guarulhos, novembro de 2012.

Prof.ª Neide Marcondes GarciaSecretária de Educação

Apresentação

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Canção para os fonemas da alegria

A Paulo Freire

Peço licença para algumas coisas.Primeiramente para desfraldareste canto de amor publicamente.

Sucede que só sei dizer amorquando reparto o ramo azul de estrelasque em meu peito floresce de menino.

Peço licença para soletrar,no alfabeto do sol pernambucanoa palavra ti-jo-lo, por exemplo,

e pode ver que dentro dela vivemparedes, aconchegos e janelas,e descobrir que todos os fonemas

são mágicos sinais que vão se abrindoconstelação de girassóis gerandoem círculos de amor que de repenteestalam como flor no chão da casa.

Às vezes nem há casa: é só o chão.Mas sobre o chão quem reina agora é um homemdiferente, que acaba de nascer:

porque unindo pedaços de palavrasaos poucos vai unindo argila e orvalho,tristeza e pão, cambão e beija-flor,

e acaba por unir a própria vidano seu peito partida e repartidaquando afinal descobre num clarão

que o mundo é seu também, que o seu trabalhonão é a pena que paga por ser homem,mas um modo de amar — e de ajudar

o mundo a ser melhor.Peço licençapara avisar que, ao gosto de Jesus,este homem renascido é um homem novo:

ele atravessa os campos espalhandoa boa-nova, e chama os companheirosa pelejar no limpo, fronte a fronte,

contra o bicho de quatrocentos anos,mas cujo fel espesso não resistea quarenta horas de total ternura.

Peço licença para terminarsoletrando a canção de rebeldiaque existe nos fonemas da alegria:

canção de amor geral que eu vi crescernos olhos do homem que aprendeu a ler.

Santiago do Chile - primavera de 1964

MELLO, Thiago de. Faz escuro mas eu canto: porque a manhã vai chegar. 15.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996. pp. 29-31

“Um poeta que canta o amanhecer porque sabe que a noite não é eterna; que põe seus versos a serviço dos oprimidos e humilhados porque sabe que a redenção deles marcará a sua e a nossa liberdade”.

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O MOVA se orgulha de ter uma educanda como a Maria Rosa de Jesus, conhecida simplesmente como Dona Rosa. Ela tem 104 anos de idade, é uma lutadora e diz que está feliz por aprender a ler e escrever.

Dona Rosa é moradora do bairro Ponte Alta e está feliz por se dedicar àquilo que sempre almejou: estudar e se alfabetizar. Ela se tornou um exemplo vivo para os demais educandos, mostrando que o desejo de aprender depende muito da força de vontade de cada um. E mais: nunca é tarde para realizar um sonho.

Há quatro anos, resolveu aprender a ler e escrever. Educanda do MOVA, já sabe escrever algumas palavras, como o próprio nome, o que muito a orgulha. Numa sala de aula que divide com cerca de 20 mulheres, com idade entre 40 e 100 anos, Dona Rosa também dá outras lições de vida. Faz atividade física — como alongamento — com muita energia e entre suas diversões está a dança.

Natural da Bahia e há 17 anos em São Paulo, Dona Rosa revela que nunca havia estado numa sala de aula ao longo de seus mais de 100 anos. Ela conta que resolveu aprender depois de levar o neto para escola. “A cabeça não pega tudo, mas gosto de ficar na escola. É mais difícil ler do que escrever. Já aprendi a ler a palavra Guarulhos, quando vejo alguma placa na rua já identifico o que aprendi”, diz com muita alegria.

Dona Rosa também recebeu em 2011 um diploma de honra ao mérito pelo seu empenho no MOVA.

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9 Movimento de Alfabetização de Jovens e AdultosMOVA Guarulhos

12 O que significa dizer que o MOVA é um Movimento de Educação Popular?

13 Entidades Alfabetizadoras antes da criação do MOVA Guarulhos

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29 Material Pedagógico

32 Taxasde Analfabetismo

36 Comissão MOVA

38 Espaços Formativos

42 6ª CONFINTEA

44 10 AnosMOVA Guarulhos

Linha do Tempo

FESTIVAL MOVA

CONCEPÇÃO FREIRIANADE EDUCAÇÃO

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O Movimento de Alfabetização de Jo-vens e Adultos (MOVA) foi fundado em 13 de março de 2002, por inicia-tiva da Secretaria Municipal de Edu-cação de Guarulhos, numa parceria entre o poder público e a sociedade civil organizada, por meio de entida-des sem fins lucrativos.

O QUE É? Entidade: sociedade ou associação juridicamente constitu-ída, que faz parceria com o Poder Público por meio de convênio, para realizar trabalho de alfabetização de jovens, adultos e idosos.

O MOVA tem como finalidade o aten-dimento de jovens e adultos que pro-curam por oportunidade de alfabe-tização. Foi inspirado no MOVA São Paulo, criado em 1989 na capital pau-lista, implementado por Paulo Freire, então Secretário Municipal de Educa-ção. O Movimento consistia em uma parceria com entidades que já desen-volviam o trabalho voluntário de al-fabetização de adultos, aproveitando as diversas experiências e iniciativas

MOViMEntO dE AlFAbEtizAçãO dE JOVEns E AdultOs

MOVA GuArulhOs

em um projeto integrado dentro de uma proposta mais abrangente de al-fabetização como leitura de mundo. O modelo foi adotado, com algumas variações, em vários municípios e es-tados brasileiros.

O MOVA Guarulhos é uma das ações de Educação de Jovens e Adultos (EJA) no município. É um programa dessa modalidade destinado àqueles que não tiveram acesso à escolariza-ção elementar e que ainda não foram alfabetizados. Tem característica de movimento popular e possibilitado o acesso de jovens, adultos e idosos, em espaços de educação variados, à alfabetização por meio de trabalho voluntário de educadores popula-res indicados pelas entidades sociais conveniadas ao MOVA.

O Movimento baseia-se na concepção de educação de Paulo Freire que mui-to contribuiu para a Educação de Jo-vens e Adultos no Brasil e no mundo.

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O MOVA Guarulhos é regulamentado por portarias publica-das pela Secretaria de Educação. As últimas em vigor são

as de nº 130 e 131 de 29/11/11, que caracterizam o Movimen-to como Programa e define as funções do Agente e do Educador Populares, as formas de ajuda de custo e dá outras providências.

Na Secretaria de Educação, o MOVA faz parte da Divi-são Técnica de Políticas para a Educação Fundamental

e EJA, onde desempenha ações conjuntas com a equipe responsável pela EJA Regular: como uma comissão para

pensar a transição de educandos do MOVA para a EJA, reuni-ões para planejamento conjunto de diretrizes e ações, plano de ação para superar o analfabetismo na cidade, elaboração con-

junta de testes cognitivos, entre outras.

O MOVA é um espaço de educação não formal e se caracteriza pela proximidade com a população, organizando-se em torno de igrejas, centros comunitários, associações culturais, etc., não sendo institucionalizado, o que marca um distanciamento dos modelos tradicionais

de educação. Sua marca principal é a busca pela superação de problemas vivenciados pelos sujeitos e suas comunidades, por meio da alfabetização e da mobilização social.

O período de 1964 a 1985 foi marcado por um regime de exceção no Brasil. Governado pelos militares, após um Golpe de Estado em 31 de março de 1964, o país viveu uma época de forte autoritarismo e repressão, com supressão da ordem democrática, dos direitos civis e políticos, marcado por diversas mortes de pessoas que se opunham ao regime. O governo da época, movido pelo esforço de acelerar a industrialização do país como alavanca para o crescimento econômico, fez uma série de reformas políticas, econômicas e também educacionais, e o MOBRAl deve ser entendido dentro desse contexto.

leitura: para Paulo Freire existem basicamente dois tipos de leitura. Antes mesmo de qualquer contato com a escrita, todo ser humano realiza a leitura do mundo. Esse tipo de leitura existe desde os primórdios da humanidade quando a escrita sequer existia. A leitura do mundo é simplesmente a interpretação que fazemos do que está ao nosso redor: sons, paisagens, odores, acontecimentos, relações entre as pessoas. Tudo o que percebemos no nosso cotidiano é, portanto, algo a ser lido nesse sentido de leitura de mundo. E quanto mais desenvolvemos a capacidade de ler o mundo criticamente, mais estaremos preparados para ler a palavra. Por isso, a conscientização é um elemento tão importante no processo de alfabetização. A leitura da palavra exige, além da leitura de mundo, a capacidade de reconhecer as letras, que representam fonemas e, por sua vez, formam palavras e textos que são propostas de sentidos. Compreender os sentidos de um texto escrito é uma capacidade diretamente relacionada com a habilidade que se tem de ler o mundo.

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O MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfa-betização) foi um projeto do Regime Militar, criado oficialmente pela lei nº 5.379, de 15 de dezembro de 1967. Com implantação ini-ciada mais precisamente em 1971, seu perío-do de maior expansão se situa entre os anos de 1972 a 1976.

O MOBRAL durou 15 anos. Foi extinto em 25/11/85 pelo Presidente José Sarney e não atendeu o objetivo de eliminar o analfabetis-mo no país. A recessão econômica iniciada nos anos 80 também inviabilizou sua conti-nuidade.

Na prática, o MOBRAL “esvaziou” o “Mé-todo Paulo Freire” da sua capacidade de intervenção política na formação da cons-ciência crítica e na problematização da rea-lidade. Num dos encontros que Paulo Freire teve com o Grupo de Educação Popular da Vila Fátima (09/11/80), ele procura diferen-

ciar a sua postura e a do MOBRAL: “De outra maneira ainda, eu diria que o funda-

mental é ler a realidade, transformá-la, reescrevê-la. E a leitura da realidade pode ser feita sem a leitura da palavra. O contrário é que não pode, quer dizer,

não é possível, numa perspectiva revolucionária, ler a palavra sem ler a realidade. Ler a palavra, sem ler a realidade, é trabalho do MOBRAL. Esta é a diferença radical entre mim e o MOBRAL”.

MOBRAL em Guarulhos

O MOBRAL começou a ser implantado em Guarulhos a partir de 1971. O convênio era feito entre o Ministério da Educação (MEC) e o Departamento de Educação e Cultura (DEC) da Prefeitura, que funcionava na Rua Padre Celestino – Centro. As salas do MO-BRAL funcionavam em escolas estaduais, igrejas, Centros Comunitários e Sociedade Amigos de Bairro (SAB). A maioria dos alu-nos era do sexo masculino.

O MOBRAL teve seu período de expan-são em Guarulhos entre 1971 e 1976. O Diário Oficial do Estado de São Paulo, de 14/12/1971, registra um grande evento no Estádio Fioravante Iervolino, onde o gover-nador Laudo Natel presidiu a entrega de certificados para 3 mil alunos.

MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização

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Podemos compreender como movimento a ação organizada de um grupo de cidadãos voltada para a defesa de algo que se considera justo e necessá-rio. Nesse sentido, a organização de moradores de um bairro para reivindicar melhores condições de saneamento básico pode ser considerada um mo-vimento, como também o foi a luta pelas eleições diretas na década de 80 — que envolveu milhares de sujeitos de vários segmentos sociais — ou a ação de uma entidade ou aglomerado de entidades civis que trabalham em prol da educação ambiental, por exemplo. Quando essas ações são realizadas fora ou à margem dos governos, fala-se em movimento social que, por sua vez, pode ou não estabele-cer relações com as ações governamentais, principalmente para captação de recur-sos que viabilizem a execução dos pro-pósitos do movimento.

Este é o caso do MOVA Guarulhos, um movimento social, constituí-do a partir de uma ação de gover-no e que tem trabalhado em defesa e na promoção da alfabetização de jovens, adultos e idosos.

E por que “movimento de educação popular”?

Antes de adentrar no significado de “educação po-pular”, é interessante saber que existem três tipos básicos de educação: informal, que acontece a toda hora e em qualquer lugar, não sendo sistemática; formal, que acontece em espaços institucionaliza-dos, como escolas e universidades; e não formal, que tem sido experimentada em diversos movi-mentos sociais, possui um grau baixo de institucio-nalização e se caracteriza pela busca de caminhos para superação de problemas vivenciados pelos su-jeitos que dela participam e, portanto, lança mão de procedimentos metodológicos e conteúdos progra-máticos variados de acordo com cada comunidade para a qual esteja voltada.

Vê-se claramente que o tipo de educação realizada pelo MOVA está na categoria de educação não for-mal. No entanto, ainda temos necessidade de lhe

atribuir outro adjetivo: popular. Defini-lo em ape-nas uma frase é tarefa quase impossível. Pode-se dizer que educação popular é aquela:

- Que impulsiona ações voltadas para a transforma-ção da realidade opressora;

O QUE É? Opressão: Ato ou efeito de oprimir, isto é, de tratar o outro, ou ser tratado, como um objeto que deve atender ao interesse de alguém ou de al-gum grupo dominante.

- Que reconhece a natureza política do ato de edu-car e, portanto, a cidadania crítica como foco central do processo educativo;

- Engajada com a construção de um conhe-cimento que promova a conscientiza-ção da realidade social, em vez de re-produzir a opressão e a alienação;

- Comprometida com os interesses do povo;

- Efetivada por meio de métodos e téc-nicas que valorizam o saber do educan-

do e que tomam a sua cultura como ponto de partida da construção do conhecimento;

- Que se opõe às formas tradicionais ou conservado-ras de ensinar e aprender;

- Fundamentada em teorias que relacionam a cons-trução do conhecimento com a situação sócio-histó-rica dos sujeitos.

A educação popular pode ser feita com homens e mulheres, de todas as idades, dentro ou fora da es-cola, ou seja, ela pode estar presente em situações de educação formal ou não formal, desde a creche até a pós-graduação.

O QuE siGniFiCA dizEr QuE O MOVA É uM MOViMEntO dE EduCAçãO POPulAr?

Núcleo na Comunidade Santa Teresa D’Ávila

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Cáritas Diocesana de Guarulhos

Incentivado e apoiado pela Irmã Mônica e pelo Padre Raimundo com a colaboração dos grupos de jovens da paróquia Nossa Senhora de Fátima, o projeto surgiu em 1977 centrado em turmas de alfabe-tização junto às favelas de Divinolândia, Vila Flórida, Bela Vista e Vila Fátima, nos barracões comunitários e em casas de membros das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). O trabalho era feito por três ou quatro monitores voluntários. Às vezes, contava-se com ajuda de custo, proveniente de recursos de entidades católicas do Canadá e da Alemanha.

O objetivo do projeto era promover o acesso à escrita aos mais po-bres, marginalizados e aos analfabetos com mais de dezoito anos. Inicialmente, o curso de alfabetização durava cinco meses. Depois foi ampliado para um ano. Em 1990, com a volta da Irmã Margarida do Canadá, o trabalho original foi retomado. Tornou-se um dos projetos da Cáritas Diocesana de Guarulhos e foi ampliado para todas as pa-róquias da cidade. No auge do movimento, chegou a ter 76 grupos de alfabetização, atingindo aproximadamente 1 500 adultos.

Igreja Universal com o projeto LER E ESCREVER

O projeto iniciou em 1994 na Igreja Universal do Rio de Janeiro. A partir de 1996 se estendeu para São Paulo e, em seguida, para Guarulhos. O projeto também se desenvolve em todas as igrejas que tenham espaço físico disponível. Atualmente a ação continua graças ao trabalho voluntário dos educadores.

Os educandos recebem material escolar e camisetas e, após o período de alfabetização, são encaminhados para a escola estadual mais próxima para realização de teste de classificação e, depois, matriculados na EJA da Rede Estadual.

EntidAdEs AlFAbEtizAdOrAs AntEs dA CriAçãO dO MOVA GuArulhOs

Irmã Mônica (Monique Laro-che), freira canadense da Con-gregação das Irmãs de Caridade de Ottawa que trabalhava junto à comunidade local.

Padre Raimundo (Raymond Forget), canadense, atuou na Vila Fátima e nas grandes periferias de Guarulhos nas décadas de 60 a 90. Formado em Ciências So-ciais pela USP, era incentivador de uma Igreja popular e engaja-da pela criação e fortalecimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Espírito dinâmico, organizou as pastorais sociais. Coordenou a elaboração do do-cumento sobre Guarulhos para a criação da Diocese, enviado ao Vaticano.

Irmã Margarida (Bibiane La Victoire). Freira canadense da Congregação das Irmãs de Caridade de Ottawa, professora e graduada em Direito Canônico (Teologia). Na época, coordenava o Grupo de Educação Popular da Vila Fátima, em Guarulhos. Atuou nas décadas de 60 a 90 na Paróquia Nossa Senhora de Fátima.

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Pastoral da Criança – Diocese de Guarulhos

O projeto foi desenvolvido na Diocese de Guaru-lhos durante os anos de 2000 a 2008. Chegou a ter oito núcleos entre 2000 e 2006. Os grupos eram es-palhados pela cidade, em diferentes bairros: Jardim São João, Cumbica, Itapegica, Vila Fátima, Cocaia, Presidente Dutra, Jardim Adriana e Santa Mena.

A alfabetização acontecia nos salões das Paróquias e Centros Comunitários. Os núcleos tinham de 8 a 20 educandos. A maioria era de mães atendidas pela Pastoral. O tempo para alfabetizar durava de 1 a 2 anos, e o projeto tinha material próprio, baseado na pedagogia de Paulo Freire e na Metodologia do Ver, Julgar, Agir, Avaliar e Celebrar.

O principal objetivo era ensinar especialmente mães, jovens e líderes das comunidades a aprender a ler e escrever, mas também refletir sobre a realida-de local e promover ações concretas de saúde, nutri-ção, educação e vida comunitária, colaborando, as-sim, na transformação da realidade e na libertação da população analfabeta.

Espaço Cultural Florestan Fernandes

Localizado próximo da Praça dos Estudantes, o es-paço, até encerrar suas atividades, esteve voltado ao desenvolvimento de diversas práticas de educação não formal na cidade, onde se desenvolviam ativi-dades de capoeira, artes, cursinho pré-vestibular, danças, entre outras. A organização atendeu a salas do MOVA até o final do ano de 2005.

CCECAS

A ONG Conselho Comunitário de Educação, Cultu-ra e Ação Social (CCECAS) está localizada na cida-de e, atualmente, possui 8 núcleos de alfabetização no âmbito do Projeto Educar para Mudar, Alfabeti-zação e Pós-Alfabetização (1ª a 4ª série) em parce-ria com o Governo Estadual. A organização existe desde 1999.

IBEAC

Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitá-rio. Criado em São Paulo, no início dos anos 80, tem atuado na Educação de Jovens e Adultos e em ações de defesa dos direitos humanos, em parceira com instituições públicas e privadas, principalmente na formação de educadores populares. Em Guarulhos fez convênio com a Cáritas Diocesana no projeto de alfabetização de adultos, entre 1996 e 2001.

História de Vida - Dona Rosa na visão de uma Educadora

Maria Rosa de Jesus, 104 anos, viúva, mãe de sete filhos, dos quais quatro já são falecidos,

nasceu em Soledade, município de Igaporã - BA. Sempre trabalhou na roça, vida dura e difícil para criar seus filhos. Sem sorte no casamento, teve de

fazer uma dura escolha: entregar uma de suas filhas (Eunice) para ser criada por outra família.

Dona Maria Rosa sempre teve o desejo de ler e escrever. Este sonho foi realizado pela Eunice, que a levou ao Programa MOVA, dando início a uma

nova fase em sua vida.Hoje Dona Rosa é uma mulher realizada, pois já consegue ler e escrever. E, por estar tão contente, trouxe seu filho Arnaldo para o MOVA, onde é seu companheiro de sala. O Centro Municipal

de Educação Adamastor é o seu segundo lar. É muito ativa. Além de fazer suas atividades físicas no bairro em que reside, frequenta os Bailes da Terceira Idade no próprio Adamastor, onde é

conhecida e fez muitas amizades.Eu, como Educadora do MOVA, me sinto muito

feliz por fazer parte da vida de Dona Maria Rosa, e ela da minha.

Educadora: Espedita Ferreira dos Santos BatistucciEntidade: Associação Comunitária Desportiva do Parque

Uirapuru - ACDPU

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A Equipe MOVA é formada por coordenadores pedagógicos, na Secretaria de Educação, e é responsável por planejar e executar as diversas ações do Movimento, como:

• Formação Inicial a cada ano para todos os educadores e agentes populares recém-chegados ao Programa;

• Formação Permanente quinzenal ao longo do ano para acompanhamento, orientação, planejamento e reflexão sobre a prática pedagógica dos educadores;

• Formação de agentes populares, quinzenal, com o objetivo de promover o planejamento, a dinamização e a organização de ações de acompanhamento aos núcleos de alfabetização nas regiões em que estão situados;

• Encontro Integrado, semestral e de caráter consultivo e deliberativo, no qual os sujeitos do MOVA buscam agir conjuntamente para garantir unidade nas ações em prol do Movimento.

O QUE É? Coordenador Pedagó-gico: Mediador no processo de integração das/entre as entidades conveniadas e responsável pela construção e desenvolvimento da proposta pedagógica que norteia a atuação de todos os educadores e agentes populares. Suas principais atribuições são: planejar e executar as ações formativas do Programa, além de acompanhar e monitorar o funcionamento dos núcleos de formação. Atua na Secretaria de Educação e é, antes de tudo, um mediador da construção do conhe-cimento. Ele é um sujeito que cons-trói com os educadores e agentes populares formas de ação capazes de fortalecer o Movimento, além de contribuir para a formação político-pedagógica dos sujeitos que fazem o MOVA no dia a dia dos núcleos, procurando desenvolver uma refle-xão que possa questionar o senso co-mum, tendo em vista patamares cada vez maiores de conscientização, no sentido que apontava Paulo Freire.

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1ª Formação Inicial na EPG Crispiniano Soares (2002)

Formação Inicial no CME Adamastor

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Em 2003, o MOVA Guarulhos, sentindo a necessidade de criar marcas que representassem o Movimento na cidade e fora dela, organizou um festival no dia 19 de outubro do mesmo ano para a escolha de símbolos, como hino, logotipo e slogan que expressassem sua identidade em eventos como fóruns e encontros.

O Festival envolveu todos os sujeitos do MOVA, comunidade e familiares, além de artistas locais, em uma construção coletiva e democrática. Um dos objetivos do evento foi tornar a escolha dos símbolos um momento pedagógico de afirmação da identidade do Movimento.

A atividade aconteceu no Parque Júlio Fracalanza e contou com, aproximadamente, 1 000 pes-soas. Foi uma grande festa!

FESTIVAL MOVA

A fotografia indica dois momentos que caracterizam a passagem de uma vida sem sol e com muitos pedregulhos antes de o educando entrar no MOVA, que se modifica quando ele tem a oportunidade de se alfabetizar no Movimento.

Frase vencedora: Se envolva, venha para o MOVA16

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HINO

MOVA GUARULHOS

Autor: José Genaro de CarvalhoIgreja Batista Peniel

Quando criança não deu pra estudar

Pois logo cedo eu fui trabalhar

Pra ajudar os meus pais, criar meus irmãos

E assim não vi o tempo passar

Mas, eu confesso, não era feliz

Era uma planta que não tinha raiz

Mas eu sabia que um dia iria encontrar

Alguma forma da forma da gente

pra me ensinar

Depois do MOVA minha vida mudou

Eu só amava e hoje escrevo amor

E se você quer mudar pra ser mais feliz

Venha pro MOVA, mude o nosso país

Mas o destino eu posso mudar

E o segredo é só estudar

Pois a história do mundo a gente que faz

Dos animais aos animais racionais

Eu só queria dizer que o MOVA surgiu

Pra descobrir você

Pro nosso Brasil

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Eu sou Luzinete. Quando entrei no MOVA,

não sabia que iria tão longe. Depois de um

ano estudando fui para a EJA. Hoje estou no

2º ano do ensino médio. E, se Deus quiser,

terminarei meus estudos no ano que vem.

Que tem MOVA em todo o

Brasil?Quando entrei no MOVA para

estudar, não sabia sequer assi-

nar meu nome. Mudei de bairro,

e lá estava o MOVA junto comigo.

Este sim é um amigo fiel.

Educadora: Agnailda Moreira da Silva Lira

Entidade: Centro Social da Paróquia Santo Alberto

Magno

Sala de Alfabetização Família Sousa

Meu nome é Luís Gilber to de Araújo (Giba). Sou ar te-educador e educador do MOVA desde julho de 2007.Cheguei aqui numa missão de honra e muita dor, e é com muito carinho e saudade que quero aqui relatar quem começou essa caminhada.A Sala de Alfabetização “Família Sousa” foi uma homenagem da Capela Sagrada Família à minha querida cunhada Maria do Carmo do Nascimento Sousa e sua família que, no dia 25 de julho de 2007, sofreram um trágico acidente na Rodovia Fernão Dias.Eles voltavam de férias da Bahia onde visitavam pela primeira vez tios e tias. Nesse acidente, das cinco pessoas que estavam no carro, apenas uma sobreviveu e se chama Hélder, que sofre as consequências de perder toda sua família.Maria do Carmo era educadora desde a criação do MOVA, muito amada pelos educandos e pessoas ligadas ao Movimento. Durante toda sua vida, teve como lema: O trabalho, a honra e a honestidade.Dedicou toda sua vida ao bem-estar dos seus e do próximo.Aprendi a amar o MOVA da mesma forma que ela amou. Aprendi a respei-tar o MOVA assim como ela respeitou.E vou continuar no Mova juntamente com minha esposa Ivanilde, fazendo o que é de melhor para a comunidade.Já faz cinco anos que eles se foram e cinco anos que aqui estou. Apesar da dor sem fim, tenho orgulho de fazer par te dessa família! Viva o MOVA!Saudades de seus familiares e amigos.

Educador: Luís Gilber to de AraújoEntidade: Associação Caritativa da Paróquia Nossa Senhora de Fátima

O MOVA na verdade é

uma mistura de nomes, desejos

e sonhos a serem realizados. O

MOVA é um sonho de saber ler

e escrever, e também o lugar onde

encontramos verdadeiros amigos.

Educadora: Agnailda Moreira da

Silva Lira

Abelina Batista Brizola nasceu em 15 de janeiro de 1932, na Bahia. Mora na Rua Galeão, Jardim Aeródromo, Guarulhos - SP.Abelina casou muito cedo, teve dez filhos e nunca frequentou a escola. Mesmo aos 80 anos, Dona Nena, como é co-nhecida, deseja realizar o sonho de aprender a ler e escrever seu nome corretamente, pois na sua identidade consta que é analfabeta. É persistente e diz que, mesmo com esta idade, ela vai conseguir. Está no MOVA há cinco meses e já conhece as letras do alfabeto.Educadora: Lindete Leite Araújo de SouzaEntidade: Centro Social da Paróquia Santo Alberto Magno

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Roza de Macedo T ito nasceu em 26 de agosto de 1925, no Estado de Pernambuco. Mora na Rua São Paulo Potengi - Jardim Cristina, Guarulhos/SP.Filha de lavradores, Roza nunca pôde estudar. Casou-se aos 23 anos, teve oito filhos. Estudou sozinha na roça e entrou para o MOVA em 2010. Lia muito pouco. Hoje desenvolve a leitura muito bem, e a escrita precisa ser melhorada.Aos 86 anos, Roza faz par te de um grupo de idosos, onde já par ticipou de concurso de Miss Terceira Idade e dança. Faz ginástica na Prefeitura. Seu principal hobby é escrever poesias e orações. Gosta de costurar.Roza ganhou duas medalhas de ouro par ticipando de caminhadas. De tudo que faz, acha que o mais impor tante é estar na escola (MOVA). Dona Roza é um exemplo para a sala.Educadora: Lindete Leite Araújo de Souza Entidade: Centro Social da Paróquia Santo Alber to Magno

O Melhor Trabalho da Minha Vida“Você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida” (William Shakespeare)Minha experiência no MOVA está sendo de grande valia, tanto profissional como pes-soal. Acredito muito nessa magnífica iniciativa porque vai além de um sonho, a conquista da graduação. Não há dinheiro que pague os momentos compartilhados, o desenvolvimento dos laços de solidariedade e a satisfação de um trabalho em equipe realizado com êxito.Fazer parte desse projeto é muito gratificante. Percebi o quanto vale a pena participar de projetos sociais, a importância de fazer a diferença e não ser apenas mais um. Para isso, é preciso muita perseverança, dar o melhor de si, acreditar no futuro do próximo, fazer valer o próprio trabalho com todo o comprometimento possível. O MOVA está se tornando parte de minha vida. E, por este motivo, considero como o melhor trabalho de minha vida.Educadora: Patrícia Ribeiro dos Santos Entidade: Associação Comunitária Desportiva do Parque Uirapuru- ACDPU

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A concepção freiriana se baseia na obra e na prática do educador Paulo Freire (1921-1997), um pensa-dor importante não só para a educação de jovens e adultos, mas para a educação de modo geral. Sua concepção ficou conhecida como “Método Paulo Freire”, que consistia em um conjunto de práticas realizadas pelos próprios sujeitos alfabetizandos com vistas à libertação, em uma práxis que não dis-socia oralidade, leitura e escrita, mas as inscreve em uma perspectiva de diálogo que dá origem a um tema gerador, ampliando o universo do educando.

Como horizonte pedagógico, sua concepção nasce em oposição à visão bancária de educação, na qual o educando é depositário dos conteúdos que o edu-cador lhe impõe, desconsiderando sua realidade, experiências, práticas e saberes. Em conhecida pas-sagem de sua reflexão, no livro Pedagogia do Opri-mido (17ª edição, 1987), Paulo Freire escreve: Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o

que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também edu-

ca. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os “argumentos de autoridade” já não valem. Em que, para ser-se, funcionalmente, au-toridade, se necessita de estar sendo com as liberdades e não contra elas.

Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco nin-guém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão mediatizados pelo mundo. Mediados pelos objetos cognoscíveis que, na prática “bancária”, são possuídos pelo educador que os descreve ou os deposita nos educandos passivos.

O conteúdo de seu trabalho é direcionado por uma visão de mundo emancipadora e tem em vista a transformação das relações de opressão que asso-lam a vida do trabalhador. Por essa razão é que não se deve pensar a proposta de Paulo Freire somente como um “método”, mas, de maneira mais adequa-da, trata-se de uma filosofia (porque desenvolve uma elaboração crítica de pensamento sobre o mun-do), de uma antropologia (porque desenvolve uma concepção de homem e de sujeito da transforma-ção) e de uma teoria do conhecimento (porque de-senvolve um conjunto de práticas de alfabetização coerente com uma nova visão de desenvolvimento humano, ligada à busca do “ser mais ”).

Sua concepção de educação, portanto, re-quer uma escolha política em favor de quem e contra quem estamos educan-do. Ela requer uma opção de classe, uma consciência da necessidade de

vincular a prática a uma práxis, porque não há neutralidade no que se refere à

educação. Nesse sentido, Paulo Freire, com profunda afirmação de sua opção política, dedica o livro Pedagogia do Oprimido “aos esfarrapados do mundo e aos que nele se descobrem e, assim des-cobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam”. A educação, por isso, é uma luta contra toda forma de opressão, buscando, em oposição, criar uma prática da liberdade com base em uma pedagogia da autonomia. Essa é a concepção frei-riana de educação.

CONCEPÇÃO FREIRIANA DE EDUCAÇÃO

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CONCEPÇÃO FREIRIANA DE EDUCAÇÃOO QUE É? Método Paulo Freire: apesar de o pró-prio autor ter declarado, diversas vezes, que não se reconhecia como o criador de um método, a manei-ra como organizou o processo de alfabetização de adultos, no Nordeste Brasileiro no início dos anos de 1960, acabou sendo chamado de um método que ganhou o seu nome. Basicamente, é composto por três etapas. A primeira consiste na seleção de pa-lavras que façam parte do universo vocabular dos sujeitos que serão alfabetizados — ou seja, das pa-lavras mais usadas no dia a dia da comunidade. Por serem palavras bastante significativas para aquele grupo de sujeitos, Freire as chamou de “palavras geradoras” porque geram debate, problematiza-ção, conhecimento. Com cada palavra, Freire pro-punha a preparação de uma “ficha de descoberta”: um quadro com a imagem do que a palavra repre-senta, acompanhado da sua escrita e das famílias silábicas relacionadas a ela. A partir dessa ficha, os educandos eram convidados a formar novas pa-lavras. A formação de palavras a partir de sílabas apresentadas em “famílias silábicas”, derivadas de uma primeira palavra, não é um procedimento in-ventado por Paulo Freire. Isso já existia há muito tempo. As novidades por ele introduzidas foram: a seleção das palavras geradoras a partir de uma pes-quisa sobre o universo vocabular do grupo que se pretende alfabetizar; a problematização da realida-de a partir do debate sobre as palavras geradoras; o reconhecimento da alfabetização como um meio de conscientização, não possuindo um fim em si mesmo, e, consequentemente, superando o modelo mecânico de alfabetização baseado exclusivamente na memória, substituindo-o por um ato de criação de conhecimentos.

O QUE É? Práxis: termo utilizado desde a antiguidade grega para significar a junção da ação com a reflexão. Nos dias atuais, seu significado no campo da educação está mais próximo da ideia da constante ação-reflexão-ação sobre as práticas educativas. Em outros contextos, a práxis também é entendida como a relação entre teoria e prática, negando tanto o ativismo ingênuo quanto o idealismo utó-pico. A práxis é a expressão da ação do ho-mem que luta para transformar a realidade.

O QUE É? Tema gerador: é o universo mí-nimo temático definido com base em uma problematização conjunta entre educandos e educador sobre a realidade que os envolve. Esse tema pode ser “trabalho”, “identidade”, “cultura”, etc. que variará conforme a reali-dade de cada grupo (círculo de cultura).

O QUE É? Objeto Cognoscível: objeto que se pode conhecer, ou seja, a realidade que será desvelada e apreendida criticamente pelo educando.

O QUE É? Ser mais: vocação que toda mulher e todo homem têm de serem mais humanos. Dizer que podemos “ser mais” significa que a Educação pode nos (trans)formar como seres mais conscientes do nosso papel na história, seres mais justos, mais livres, mais humani-zados.

Caso tenha interesse em ler mais sobre Paulo Freire e sua concepção de edu-cação, visite a Biblioteca do Professor Lev Vygotsky – Av. Monteiro Lobato, 734, subsolo. Várias obras do autor podem ser encontradas, como Pedagogia do Oprimido, A Importância do Ato de Ler e Pedagogia da Autonomia.

Para saber mais...

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A necessidade de continuar as re-flexões do educador pernambuca-no levou à criação do Instituto Pau-lo Freire, uma associação sem fins lucrativos criada em 1991 em São Paulo. A iniciativa criou uma Rede que, atualmente, integra pessoas e instituições em mais de 90 países, com a finalidade de não deixar que o legado do educador se per-ca. Além dessa iniciativa, a obra de Paulo Freire continua viva e moti-vando muitas pessoas no ideal de construir uma sociedade melhor pela educação, seja nos movimen-tos sociais, nos grupos de pesqui-sas de universidades e institutos e em muitos outros espaços de atua-ção social.

PAULO FREIRE

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Encontro do Grupo de Educadores da Vila Fátima no apartamento de Paulo Freire em São Paulo (1980)

Núcleo de Alfabetização no Barracão Comunitário - Favela da Vila Flórida em Guarulhos (1979)

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PAULO FREIRE

História do MOVA:Meu primeiro aluno com necessidade especial

No primeiro ano em que dei aula no Mova, tive um aluno chamado Carlos. Lembro que quando chegava a hora do

lanche, ele ia me ajudar a organizar a mesa. Depois eu lavava a louça e ele fazia questão de secar. Os demais guardavam.

Um dia, quando foi em uma sessão com a psicóloga, ele mostrou seu caderno do MOVA, cheio de orgulho. E nas bordas do caderno estava escrito meu primeiro nome: ANA.

Fiquei muito feliz. Para ele eu estava fazendo a diferença. Logo após, ele arrumou serviço na Bauducco, onde trabalha até hoje. Ainda estuda no MOVA com outra educadora, pois eu precisei

mudar de bairro.

MOVA, mudando vidas, fazendo a diferença para um mundo melhor.

Educadora: Ana Cláudia de Lima Correia CarpinteiroEntidade: Casa de Cultura Água e Vida

Há dez anos, logo quando surgiu o Programa MOVA, eu, Ana Carpinteiro, educadora, fazia faxina para comprar material didático para os alunos. MOVA, minha paixão!

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Empresa de Reciclagem RFR - Jd. Cumbica Casa da Educadora Miriam - Bom Clima

Sede da Entidade Conveniada Núcleo Batuíra - Cumbica CEU Ottawa-Uirapuru - Jd. Ottawa

Escola Estadual - Jd. Santa Lídia Salão Santo Arcângelo Tadini - Cidade Seródio

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Casa da Educadora Miriam - Bom Clima

CEU Ottawa-Uirapuru - Jd. Ottawa

Salão Santo Arcângelo Tadini - Cidade Seródio

Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias - Pimentas

Prédio da Previdência Social - Vila Augusta

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No subsolo do prédio espelhado do Centro Municipal de Educação Adamastor, existe uma biblioteca especializada com a finalidade

de dar suporte para estudos e pesquisas na área educacional por meio da consulta local

e empréstimo para educadores, formadores e estudantes que trabalham, residem ou estudam no Município de Guarulhos. Trata-se da Biblioteca do

Professor lev Seminovitch Vygotsky, que tem esse nome para homenagear um dos mais importantes teóricos da educação do século XX. lá você poderá encontrar, além dos livros do próprio Vygotsky e sua equipe, um grande acervo composto por 8 990 livros tombados, revistas educacionais, dissertações de mestrado, teses de doutorado, TCCs, jornais, CDs, DVDs e acervo em Braille.

A biblioteca tem seu espaço aberto para que todos os cidadãos tenham acesso à leitura, ou ao estudo em outras áreas, bem como acesso à internet, porém o empréstimo de materiais é restrito a professores e estudantes.

A biblioteca oferece ainda o “Espaço dos Grandes Educadores”, para homenagear um educador e convidar os visitantes a conhecer um pouco mais sobre estes mestres. No mural já passou lev Vygotsky, Célestin Freinet, Anísio Teixeira, Maria Montessori e outros.

Para se associar, basta ser professor das Redes Municipal, Estadual, Federal ou Particular de Ensino, conveniadas ou estudante da área da educação e comparecer com RG, holerite e comprovante de residência. No caso de estudante, é necessário trazer uma declaração ou boleto do mês que comprove sua permanência na Instituição. A cada empréstimo você poderá retirar até dois livros e dois outros materiais (apostila, revista, gibi, CD ou fita) com o prazo de devolução de quatorze dias, podendo renovar por mais quatorze. O usuário que, durante um ano, entregar os materiais dentro do prazo passará à categoria de usuário VIP, podendo retirar até três

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livros. A Biblioteca foi inaugurada no dia 15 de outubro de 2004, com o expediente das 8h às 22h, e fica localizada na Av. Monteiro lobato, 743 - Macedo.

Existe também, no Adamastor, a Biblioteca do Aluno, inaugurada em 15 de maio de 2004, que atualmente tem um acervo de 20 mil livros e revistas diversas. lá o associado poderá encontrar obras de referência, literatura, etc., além de ter acesso à internet. A Biblioteca é um centro de leitura e conta com espaço para estudo. Qualquer morador da cidade pode se associar, basta comparecer com RG e comprovante de endereço (ou de vínculo no município).

O horário de funcionamento é de terça a sexta-feira, das 10h às 20h, e sábado, das 10h às 14h.

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A maioria dos materiais indicados na seção Para saber mais... estão disponíveis na Biblioteca do Professor ou do Aluno. Associe-se e boas leituras!

Lembrete

Biblioteca do Aluno

Biblioteca do Professor - Lev Seminovitch Vygotsky

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O educador é uma pessoa que assume o papel de mediador da construção do conhecimento. No caso do MOVA Guarulhos, educador é quem atua como alfabetizador em um núcleo conveniado. Sua ação consiste em proporcionar situações nas quais a turma possa ampliar os seus conhecimentos sobre a leitura e a escrita, além da conscientização.

Já o educando é uma pessoa que está vivendo um processo educativo na condição daquele que aprende. O termo “educando” está adequado à opção política de reconhecer o participante do MOVA Guarulhos como alguém que está envolvido num processo de aprendizagem.

NO MOVA SE FALA ASSIM

Quando o “aluno” é chamado de “educando”, a valorização da experiência educativa vivida pelo sujeito do seu próprio aprendizado se sobrepõe à tradicional percepção do estudante como alguém que nada sabe e está na aula para livrar-se das trevas da ignorância.

O agente popular é uma pessoa indicada pela entidade conveniada com o Movimento, responsável pela mediação e o acompanhamento das atividades e ações dos educadores e das educadoras, promovendo a articulação entre os sujeitos do coletivo MOVA e também com a Comunidade.

suJeitos do moVa:eduCador e eduCando

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Empresa de Reciclagem FRF - Jd. Cumbica (2012)

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Nascida em 1936, é uma pes-

quisadora argentina que se

doutorou na Universidade de

Genebra, Suíça, e atualmente

é professora titular do Cen-

tro de Investigação e Estudos

Avançados do Instituto Politécnico Nacional, da Cidade do México. Ela é uma continuadora das pesquisas de Jean Pia-get sobre o construtivismo. Em parceria com a pedagoga es-panhola Ana Teberosky, suas pesquisas resultaram na teoria da psicogênese da língua escrita, que significa o conjunto dos processos mentais envolvidos no desenvolvimento do código linguístico. Daí surgem as fases de aquisição da escrita que, de maneira resumida, se organizam em pré-silábica, silábica, silábico-alfabética e alfabética.

NO MOVA SE FALA ASSIMA produção de material didático pela Coordenação Pedagógica nestes 10 anos do MOVA Guarulhos é muito rica, diversificada e criativa, partindo de um processo de escuta, de diálogo entre coordenação, educadores, agentes populares e educandos.

Desde o início do MOVA, a Coordenação sentiu ne-cessidade de produzir material adequado para alfa-betização de adultos, dentro da concepção freiriana. A princípio, quase não se encontrava livro didático apropriado para a EJA, e a isso se somava a resis-tência e a dificuldade dos educadores de colocar em prática a proposta freiriana. Vários deles recorriam a velhas cartilhas de alfabetização de crianças.

O material era chamado de “revista”, uma coletâ-nea de textos elaborados e organizados pela Equi-pe. As “revistas” apresentavam diversas propostas de atividades, para serem desenvolvidas com os educandos segundo a teoria da psicogênese da lín-gua escrita, de Emília Ferreiro, e serviam de subsí-dio, de apoio para a prática nos núcleos.

O primeiro material pedagógico (revista) foi pro-duzido em 2004, como ação inicial de um processo que se consolidaria nos próximos anos. No início de 2005, decidiu-se fazer um Encontro de Planeja-mento Colaborativo no auditório das Faculdades Torricelli. Foi um marco e um avanço para o MOVA. Mais de 220 educadores (divididos em 2 turmas) participaram do encontro em sábados alternados.

Em subgrupos, fizeram um estudo do perfil dos educandos, abordando os mais variados aspectos, principalmente os seus anseios, os seus sonhos. A partir daí, foram levantados os temas, posterior-mente ordenados e sistematizados dentro das Datas Comemorativas, com novo enfoque crítico, de acor-do com a realidade dos educandos. Por exemplo, a partir do Dia do Trabalho, surgiram os temas: pro-fissão, emprego, desemprego, preconceito, autoesti-ma e solidariedade; Dia da Ecologia, os temas: meio ambiente, enchentes, moradia, água, reciclagem, saneamento básico...

Um dos materiais mais interessantes foi elaborado em 2007. Partiu de um processo de escuta dos edu-cadores e dos educandos. No início desse ano, a pri-meira tarefa dos educadores na Formação Perma-nente foi responder a três questões (em subgrupos):

1. Quem é o nosso educando?

2. Como ele aprende?

3. Por que ele está no núcleo de alfabetização?

MAtEriAl PEdAGóGiCO

O QUE É? Planejamento Colaborativo: metodolo-gia utilizada para a produção coletiva das revistas. Como parte desse processo, a Equipe MOVA cha-mou todos os educadores para apontarem temas de interesse dos educandos. Era com base nessas discussões que, então, elaboraram-se todos os ma-teriais. Assim, todos participaram tanto do planeja-mento das revistas, quanto de sua elaboração.

Emília Ferreiro

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Em seguida, levaram a terceira questão para a sala, fazendo a pergunta aos educandos: “Por que você está no núcleo de alfabetização?”. No encontro seguinte, os educadores tabularam as respostas dos educandos, e a Equipe MOVA organizou todas as contribuições trazidas. Diante de todas essas informações, formulou- -se um eixo temático que contemplasse a maior gama possível de entrecruzamento das razões declaradas.

Foi possível perceber que os desejos e sonhos dos educandos do MOVA Guarulhos, relacio-nados ao aprendizado da leitura e da escrita, giram em torno das questões de identidade, raízes e cultura. A partir deste abrangente tema, levantamos quatro subtemas (quatro “revistas”):

1. “Meu nome, minha história, nossa história”;

2. “Nossa origem”;

3. “Nossa cidade: ontem e hoje”;

4. “Nosso bairro”.

As “revistas” do MOVA abordaram os mais variados temas, passando por meio ambiente, saúde, preconceito linguístico até a temática racial, fortalecendo a consciência política de todos. Apesar de pouca divulgação, o nosso material pedagógico foi utilizado por outros educadores, principalmente por professores da Rede Estadual.

Muitos dos materiais produzidos pelo MOVA podem ser encontrados na Bi-blioteca do Professor Lev Seminovitch Vygotsky.

Para saber mais...

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No site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é possível encontrar uma série de informações sobre a educação no Brasil. Lá podem ser encontradas as sínteses de indicadores sociais do censo e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), não só da área da educação, mas também das condições de vida da população brasileira. Vale a pena também navegar no portal do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.www.ibge.gov.br, www.censo2010.ibge.gov.br e www.ipea.gov.br

Para saber mais...

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1º lugarEducanda: Edna Tereza CamiloEducadora: Regiane Neves da SilvaEntidade: Oxigênio

2º lugarEducando: Gregório FeitozaEducadora: Verônica Lopes dos SantosEntidade: Paróquia Santo Alberto Magno

2009 - Categoria: Fotografia

Educandos do MOVA participam do Prêmio Akoni de Promoção da Igualdade Racial. O Prêmio é uma iniciativa da Secretaria de Educação, realizada pelo Grupo de Trabalho de Promoção da Igualdade Racial (GTPIR), com o objetivo de identificar, valorizar e di-vulgar as produções dos educandos e educandas da Rede Municipal relacionadas à temática. Já acontece-ram três edições: 2008, 2009 e 2011, que contemplaram as seguintes categorias: em 2008 e 2009, desenho, slo-gan e fotografia; em 2011, desenho, história em quadri-nhos e slogan.

Minha sala ganhou o primeiro lugar no Prêmio Ako-ni 2011 com a frase do educando José Amaro: “A COR DA PELE NÃO PODE DETERMINAR O FUTURO DE ALGUÉM”. No Brasil, como em muitos lugares do mundo, há preconceito e discriminação em todos os aspectos. É importante abordarmos esse tema. Eu conscientizo meu pequeno grupo e acredito que pode-mos fazer a diferença.

Educadora: Ana Cláudia de Lima Correia CarpinteiroEntidade: Casa de Cultura Água e Vida

O prêmio foi um notebook para o educando e um kit de livros para a educadora.

2011 - Categoria: Slogan

1º lugarSlogan: “A cor da pele não pode determinar o futuro de alguém”Educando: José Amaro de SouzaEducadora: Ana Cláudia de Lima Correia CarpinteiroEntidade: Casa de Cultura Água e Vida

2º lugarSlogan: “Escravizaram um povo e condenaram uma raça”Educanda: Ana Karina Silva de LimaEducadora: Lucimar Aparecida de Souza MagalhãesEntidade: Associação Caritativa da Paróquia Nossa Se-nhora de Fátima

3º lugarSlogan: “Não insista, não seja racista”Educanda: Maria de Lourdes BarrosEducadora: Ivanilde Rocha do Nascimento AraújoEntidade: Associação Caritativa da Paróquia Nossa Se-nhora de Fátima

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A “Comissão MOVA” é um grupo de educadores e agentes populares, independente e não atrelado à administração e sem representante da coordenação pedagógica, que se mobiliza em busca de melhorias das condições de atuação do Movimento perante a Secretaria Municipal de Educação e as entidades conveniadas.

Ao longo da história do MOVA Guarulhos, pelo menos três grupos distintos já se reuniram com a intenção de constituir tal Comissão. Alguns inte-grantes permaneceram desde a primeira formação do grupo, perseguindo os mesmos propósitos. Os integrantes atuais desempenham o papel de agen-tes multiplicadores de informações e de ações que fortaleçam o Movimento. A Comissão é composta por uma diretoria com mandato de dois anos de du-ração cada um, com a participação de educadores e agentes populares.

Uma das ações mais importantes da Comissão foi a participação em um grupo de trabalho que discutiu a formulação das Portarias 130/11 e 131/11, que tra-tam dos direitos e deveres dos sujeitos que fazem parte do Movimento. A discussão da nova regula-mentação do convênio foi resultado de uma ampla

COMissãO MOVA

consulta feita aos educadores durante os encontros de formação continuada.

As principais conquistas das novas Portarias foram: redução do número mínimo de 15 para 10 educan-dos em sala de aula para manutenção do convênio; e reajuste do valor de R$ 450,00 para R$ 550,00 da ajuda de custo mensal do educador.

Dando continuidade ao seu trabalho, que visa co-nhecer e problematizar os limites de atuação do MOVA, a mais atual discussão é a da possibilidade de transformação das Portarias em Lei Municipal , assunto debatido em fórum municipal e no dia a dia do Movimento.

Muito também se discute sobre a necessidade de preparo político e pedagógico dos educadores e agentes populares. Necessidade que tem levado a Comissão a participar de encontros de formação política na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema/SP, desde 2009. Fruto dos aprendizados nesses encontros, o próprio Movimento organizou em Guarulhos seu Primeiro Encontro de Formação Política, em outubro de 2011, com a participação de educadores, agentes populares, representantes de várias entidades conveniadas e do Poder Público.

Comissão do MOVA (2009)

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O QUE É? Convênio: contrato de prestação de ser-viços, parceria entre o Poder Público e entidades so-ciais conveniadas. No caso específico do MOVA, a finalidade é o atendimento de jovens, adultos e ido-sos que procuram oportunidade de alfabetização.

O QUE É? Portaria: Documento emitido por auto-ridade administrativa contendo ordens, instruções sobre a aplicação de leis, recomendações, normas de execução de serviços e outros atos que são de responsabilidade do Poder Executivo. O termo tem origem na linguagem antiga, quando o administra-dor enviava “um mandado por escrito para o por-teiro executar” (Dicionário Houaiss).

O QUE É? Lei: Norma jurídica criada pelo Poder Legislativo e que gera a garantia de cumprimento do que ela prevê. Por exemplo, antes de 2003 as pessoas com mais de 65 anos não tinham direito a viajar gratuitamente de um estado da federação a outro. A partir da Lei 10.741/03, conhecida como Estatuto do Idoso, o sistema de transporte coletivo inte-restadual passa a ser obrigado a dispor de duas vagas por veículo reservadas para os idosos com renda igual ou inferior a dois salários mínimos. Muitas outras conquis-tas tiveram os idosos com essa lei, que tem abrangência nacional. Existem também leis estaduais e municipais.

Todas as portarias que regulamentam o MOVA estão disponíveis no site da Prefeitura de Guarulhos [www.guarulhos.sp.gov.br], no Diário Oficial do Município.

Portaria nº 4/2002 - de 22 de abril de 2002; Portaria nº 22/2005 - de 19 de de-zembro de 2005; Portaria nº 42/2007 - de 7 de dezembro de 2007; Portaria nº 52/2009 - de 4 de dezembro de 2009; Portarias nº 130 e 131/2011 - de 29 de novembro de 2011 (Cf. Errata de 7 de dezembro de 2011 - SE, p. 17).

Para saber mais...

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1ª Cerimônia de Certificação dos educandos do MOVA

Os educandos do MOVA são certificados ao final de seu período de alfabetização no Movimento. A iniciativa começou em 2009 com a publicação da Portaria 52/2009, Art. 5º, § 2°, que dispõe: “O Certificado de Conclusão do MOVA será expedido após avaliação aplicada pela Secretaria de Educação, e os alunos encaminhados para submeter-se a prova serão indicados pela instituição responsável, ao final de cada ano letivo”. Foram certificados 144 formandos em 2010 e 195 em 2011. A intenção é certificar os educandos como alfabetizados a fim de prosseguirem os estudos.

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Para que as ações pedagógicas consigam atingir o Movimento de forma eficaz e abrangente, os es-paços formativos foram segmentados de forma di-versificada, onde os sujeitos que compõem o Mova sejam contemplados. Descrevemos abaixo estes es-paços:

FORMAÇÃO INICIAL (FI)

O objetivo geral desta ação é formar educadores po-pulares (alfabetizadores e agentes populares) para a atuação na alfabetização de jovens, adultos e idosos na cidade de Guarulhos.

Ela acontece uma vez por ano, geralmente no final de janeiro ou no início de fevereiro, atendendo aos educadores iniciantes do ano corrente e os demais que começaram o trabalho no ano anterior, poste-riormente à FI.

Durante a Formação Inicial, a intenção é sensibili-zar os participantes para uma ação educativa que envolva os sujeitos jovens, adultos e idosos na cons-trução da leitura e da escrita dentro das suas neces-sidades. Para isso, se faz necessária a construção de alguns conhecimentos básicos e comuns aos educa-dores, como:

• Discutir os principais fatos que compõem a his-tória da Educação de Jovens e Adultos no Brasil;

• Refletir sobre as particularidades dos proces-sos de conhecimento vividos pelos sujeitos do MOVA;

• Orientar os envolvidos sobre as políticas para a diversidade étnico-racial, de gênero, de orienta-ção sexual, etc.;

• Introduzir a Concepção Freiriana de Educação;

• Compreender como o conhecimento da escrita se constrói: a psicogênese da língua escrita e a contribuição da sociolinguística;

• Refletir sobre os conteúdos matemáticos presen-tes na proposta do MOVA e como ensiná-los;

• Desenvolver noções de planejamento, registro e avaliação.

EsPAçOs FOrMAtiVOs

A metodologia de trabalho para a Formação Inicial é orientada pela articulação do conhecimento teóri-co sobre como se aprende, com atividades práticas com base nos conteúdos discutidos coletivamente. A avaliação é realizada ao longo de todo o curso por meio da realização de atividades individuais e em grupo, complementadas por uma avaliação geral no final.

FORMAÇÃO PERMANENTE (FP)

Voltada a educadores, a Formação Permanente visa ao aprofundamento pedagógico, efetivando o princípio da educação ao longo da vida. A Forma-ção tem uma periodicidade quinzenal, em núcleos espalhados por bairros da cidade, proporcionando o melhor atendimento aos educadores. Atualmen-te, há em atividade 10 turmas de formação, distri-buídas nas regiões do Taboão, São João, Presidente Dutra, Bairro dos Pimentas e Centro; nos seguintes espaços: Centro Social da Paróquia Santa Cruz do Taboão, Centro Social da Paróquia Santo Alberto Magno, Salão da Paróquia Santa Cruz do Presiden-te Dutra, CEU Pimentas, Centro de Integração da Cidadania (CIC) e Centro Municipal de Educação Adamastor.

Nesses momentos, o educador se qualifica para de-senvolver o seu trabalho dentro da concepção frei-riana de educação. Os temas desenvolvidos nas for-mações vão ao encontro das necessidades de cada núcleo, das comunidades, com o intuito de colabo-rar com a formação de um cidadão crítico e atuante na construção de uma nova sociedade, mais justa, igualitária e fraterna.

ENCONTRO INTEGRADO

A iniciativa surgiu da necessidade de envolver num trabalho coletivo os representantes de Entidades Conveniadas, coordenadores pedagógicos, educa-dores e agentes populares para, juntos, garantirmos a efetivação do Programa MOVA.

O objetivo é discutir os avanços e os desafios vivi-dos pelos sujeitos. Também se discute o fortaleci-

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mento do Movimento em sua base, onde cada nú-cleo de alfabetização acontece, considerando que ler e escrever não são fins, mas meios para chegar-mos à transformação social tão sonhada, mas ainda utópica em nossos dias.

O Encontor Integrado acontece semestralmente e tem caráter consultivo e deliberativo. Nele se discu-te como os sujeitos têm atuado no Programa MOVA, no sentido de pensar coletivamente em encaminha-mentos que melhorem a atuação e participação de todos nas formações oferecidas pela Secretaria Mu-nicipal de Educação, assim como nas convocações realizadas pelas entidades sociais.

FÓRUM MOVA GUARULHOS

O Fórum MOVA é um espaço formativo que já teve diversas formas de organização, mas sempre man-tendo o mesmo objetivo: discutir os desafios vividos pelo Movimento, na busca de encaminhamentos que tornem cada vez mais efetiva a parceria entre o poder público e a sociedade civil para a superação do analfabetismo na cidade. Nos primeiros anos de funcionamento, o Fórum acontecia ao menos qua-tro vezes ao ano, pois muitas eram as demandas a serem discutidas para consolidação do MOVA. Aos poucos, as dificuldades iniciais foram resolvidas e

“eduCação ao longo da Vida” é um conceito que tem se popularizado neste início de século e que traduz algo que Paulo Freire gostava de destacar em suas falas e textos: o potencial que o ser humano tem de aprender sempre, como ser inacabado que é. O MOVA tem desempenhado um importante papel na promoção da educação ao longo da vida. A ação do Movimento possibilita o acesso de jovens, adultos e idosos a um espaço de interação social no qual a alfabetização é um meio de reunir pessoas para aprender coletivamente. O MOVA oferece oportunidade para a construção de muitos aprendizados significativos e abre caminhos para a escolarização formal à medida que desperta a autoconfiança necessária daqueles que se lançam ao desafio de aprimorar a formação pela elevação

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da escolaridade. O MOVA por si só garante a apropriação de diversos conteúdos que desenvolvem conhecimentos, capacidades, habilidades, competências e valores fundamentais para o exercício da cidadania e que contribuem, assim, para uma vivência de educação plena.

núCleos do moVa: turmas de educandos, salas de alfabetização que funcionam nas entidades conveniadas, mantendo a proposta do Círculo de Cultura criada por Paulo Freire. Na figura do círculo, todos se olham e se veem. Não há professor, mas um mediador, um educador popular. Faz-se a leitura do mundo pelo diálogo, em que todos se ensinam e aprendem.

os novos desafios criaram a possibilidade de que os encontros se tornassem semestrais ou anuais.

A periodicidade depende das demandas aponta-das pela Secretaria Municipal de Educação ou pela base do Movimento, e sempre que é necessário os parceiros se reúnem para dialogar e deliberar sobre importantes decisões que influenciam diretamente o cotidiano da prática alfabetizadora, tais como a organização dos núcleos, a regulamentação jurídica da parceria e a participação em eventos regionais e nacionais. Também é um espaço de formação pe-dagógica no qual vários pesquisadores já contribuí-ram para o debate, por meio de palestras e diálogos.

Fórum MOVA (2002)

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O Núcleo Batuíra está no MOVA

desde 31 de julho de 2002, e, nestes

10 anos, já alfabetizou juntamente com o

Programa centenas de educandos, muitos dos quais deram continuidade aos seus estudos, tanto na Rede Municipal quanto na Rede Estadual.Um desses educandos, Ricardo Pereira, atuou no Programa MOVA como educador do Núcleo Batuíra.

Educadora: Rafaela Aparecida BatistaEntidade: Núcleo Batuíra

Casei aos 12 anos. Com isso, parei de estudar e passei a cuidar de casa e dos meus filhos. Mas sempre tive o sonho de concluir os estudos e fazer uma faculdade. E essa oportunidade aconteceu quando, com muito sofrimento, perdi minha mãe que teve câncer e fiquei com depressão. Nessa fase conheci o Djalma, um educador do MOVA, que me incentivou a estudar. No início, fiquei muito relutante, pois não queria sair de casa para nada. Mas acabei aceitando o convite, o que me fez muito bem. O incentivo do meu marido, dos filhos e do educador Djalma foi muito importante.Em 2011, consegui concluir os estudos e, no próximo ano, quero cursar Química. Hoje sou uma Agente Popular do MOVA, pois quero ajudar os outros, assim como um dia fui ajudada.Agente Popular: Sandra Regina B. Dantas

Entidade: Associação Movimento de Ação e Inclusão Social - MAIS

Repente daEducação

Para falar de educação: pare, pense e analiseÉ importante ter estudo com todas as diretrizesNeste país tão grande, ainda existe analfabetoSe não fosse prioridade a educação de nossos netos.

Filhos de toda nação aprendem a ler e escreverÉ tanta satisfação que não se dá pra esconderSem o MOVA para educar o mundo é um transtornoO desemprego gera fome e a fome o abandono.

Priorizar a educação é resolver essas tristezasVer um idoso sorrir ao ler um belo poemaA arte e a cultura também são muito importantesVamos todos educadores ajudar neste instante.

Fazer da educação prioridade importantePergunte ao seu coração e responda neste instanteSe a educação não é importante? Pare e pense, governante.Se não é prioridade me mostre toda a verdade.

Mas afirmo o meu pensamento e a esse assunto confirmoNesta cidade bonita só existe um desafio:Dar importância à juventude, à educação e ao idoso,Priorizando a educação para todo nosso povo.

Dar importância, eu repito, para uma boa formaçãoSem crianças nos faróis, perdidas e sem futuro,Buscando ser um humano inteligente e seguroPriorizar educação para do Brasil ter orgulho.

Autor: Luís Gilberto de AraújoEntidade: Associação Caritativa da Paróquia Nossa Senhora de Fátima

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Sílvia Alexandre de Souza nasceu em Guarulhos, tem 40 anos e já nasceu com paralisia cerebral parcial. Quem cuida dela é sua tia. Sempre houve um descaso em relação aos estudos, pois sua própria mãe não acreditava no seu potencial. Hoje é minha educanda no MOVA e desenvolve outras atividades como desenho, pintura em tela e participa de algumas oficinas na Associação pelos Direitos da Pessoa Deficiente (ADPD).

Francisco Afonso Correa de Lima e Silva nasceu em Rio Branco, Estado do Acre, tem 50 anos e já nasceu com paralisia cerebral parcial. Mora em Guarulhos e sua mãe cuida dele. Não frequentou a escola desde criança, pois as condições de acessibilidade eram precárias. Hoje, com auxílio de transporte solidário, tem conseguido chegar até a sala do MOVA e em outros lugares educacionais como a ADPD, lembrando que ele não fica só nisso e está fazendo um curso de desenho e pintura em tela.

Há uma coincidência muito grande entre esses dois, pois são duas deficiências iguais e fazem cursos juntos na ADPD e estudam no MOVA. É impressionante olhar para eles e ver a alegria de viver a vida. Depois que adaptei alguns lápis e tesouras, facilitou muito a escrita das letras em formato bastão e os recortes de jornais.

Educadora: Danielle Gonçalves Rabello

Entidade: Associação Amigos de Bairro do Jd. das Andorinhas - Lavras

Em 18 de junho de 1950, na cidade de Nova Luz (Bahia), nasce Valdelino Rodrigues dos Santos, filho de mãe solteira e mulher de muita coragem.Vem para São Paulo aos 18 anos, homem humilde, trabalha-dor, negro, analfabeto e solitário. Foi em fevereiro de 2008 que chegou ao MOVA.Era um educando que nunca faltou na sala de aula. Chegava

cedo, estava na fase pré-silábica, se sentava na primeira carteira, brincava com todos e seu sorriso era verdadeiro e prazeroso. Ele falava que tirava terra, cavava poços e morava sozinho.Em março de 2011, ele começou a buscar ajuda médica, pois o vício do cigarro debilitou sua saúde. Até doente vinha na sala, e no dia 03/03/2011 foi sua última aula na Sala de Alfabetização Família Sousa.Ele já não fumava, mas nesse dia brincamos com ele:— Cuidado, Boneco, tu vai parar na Vila Rio (cemitério)!Ele ria e falava:— Sai fora! (Fazendo gesto com a mão de que isso iria demorar. Demos um abraço e ele se foi).E foi mesmo. No dia 04/03/2011, sofreu uma parada respiratória e morreu na Policlínica do Jardim Pa-raíso. Nós só ficamos sabendo do fato no dia 07/03/2011.Um grande amigo, que faz muita falta na sala. Sua carteira se encontra vazia. Mas, como todos, temos nossa hora de partir e ele partiu.Valdelino Rodrigues dos Santos, você faz parte dessa história! Descanse em paz! Amigos e educandos da Sala de Alfabetiza-ção Família Sousa.

Educador: Luís Gilberto de AraújoEntidade: Associação Caritativa da Paróquia Nossa Senhora de Fátima

A história de um homem do

MOVA

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O MOVA Guarulhos, nos últimos anos, vem participando dos mais importantes eventos e encontros que discutem as políticas e as inicia-tivas de educação de Jovens e Adultos no país. O Movimento vem se fortalecendo como uma das maiores iniciativas de alfabetização de adultos no Estado de São Paulo, de modo que sua participação nos encontros só o fortifica na conquista de seus objetivos. Além da participa-ção em fóruns regionais e estaduais, o MOVA Guarulhos também esteve presente na VI Con-ferência Internacional de Educação de Adultos (CONFINTEA).

6ª CONFINTEAO QUE É? CONFINTEA: Conferência Inter-nacional de Educação de Adultos. Organizada pela UNESCO, a cada 12 anos, é o evento mun-dialmente mais importante na área. Sua sex-ta edição, em 2009, foi a primeira realizada no Hemisfério Sul e aconteceu na cidade de Belém do Pará, reunindo cerca de 1 500 participantes de 156 Estados-Membros da UNESCO, além de organizações internacionais e da sociedade civil. Teve como principal objetivo discutir o poder da educação e da aprendizagem de adultos para ga-rantir um futuro viável para todos. O documen-to final da VI CONFINTEA tem sido chamado de Marco de Belém. Ele é uma espécie de carta de compromissos, assinada pelos países partici-pantes, com princípios e metas de organização da Educação de Adultos para os próximos anos, assim como a Declaração de Hamburgo (do-cumento final da V CONFINTEA, realizada na Alemanha em 1997) era o compromisso mundial em torno da EJA quando o MOVA Guarulhos foi criado, em 2002.

O texto pode ser acessado pelo link: http://www.unesco.org/fileadmin/MULTIMEDIA/INSTITUTES/UIL/confintea/pdf/working_documents/Belem%20Framework_Final_ptg.pdf

Para saber mais...

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Abaixo segue trecho do texto aprovado no evento, intitulado Marco de Ação de Belém, que institui, em seu preâmbulo, a educação ao longo da vida como um princípio central:

Conceito de Educação ao Longo da Vida:

RUMO À APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA

(...)

7. O papel da aprendizagem ao longo da vida é fundamental para resolver questões globais e desafios educacionais. A aprendizagem ao longo da vida, do ‘berço à sepultura’, é uma fi-losofia, um marco conceitual e um princípio or-ganizador de todas as formas de educação, ba-seado em valores inclusivos, emancipatórios, humanistas e democráticos, sendo abrangente e parte integrante da visão de uma sociedade do conhecimento. Reafirmamos os quatro pi-lares da aprendizagem, tal como recomenda-do pela Comissão Internacional sobre Educa-ção para o Século XXI, quais sejam, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver com os outros.

8. Reconhecemos que a aprendizagem e educa-ção de jovens e adultos representam um com-ponente significativo do processo de apren-dizagem ao longo da vida, envolvendo um

continuum que vai da aprendizagem formal para a não formal e para a informal. A aprendi-zagem e educação de jovens e adultos atendem as necessidades de aprendizagem dos jovens, dos adultos e dos idosos. A aprendizagem e educação de jovens e adultos abrangem um vasto leque de conteúdos — aspectos gerais, questões vocacionais, alfabetização da famí-lia e educação da família, cidadania e muitas outras áreas — com prioridades estabelecidas de acordo com as necessidades específicas de cada país.

9. Estamos convencidos e inspirados pelo pa-pel fundamental da aprendizagem ao longo da vida na abordagem das questões e desafios globais e educacionais. Além disso, estamos convictos de que a aprendizagem e educação de jovens e adultos preparam as pessoas com os conhecimentos, capacidades, habilidades, competências e valores necessários para que exerçam e ampliem seus direitos e assumam o controle de seus destinos. A aprendizagem e educação de jovens e adultos são também im-perativas para o alcance da equidade e da in-clusão social, para a redução da pobreza e para a construção de sociedades justas, tolerantes, sustentáveis e baseadas no conhecimento.

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Em 2012 o MOVA Guarulhos completou 10 anos de sua trajetória. Com o objetivo de socializar e potencializar as práticas desenvolvidas ao longo destes anos pelos educadores, educandos e demais agentes, a Secretaria Municipal de Educação pro-moveu, nos dias 31 de março e 2 e 3 de abril, atividades em comemoração ao mo-mento, com o tema “contribuindo para a emancipação humana, garantindo direitos e realizando sonhos”.

A Cerimônia de Abertura contou com o show “Nas Asas da Leitura” do cantor, com-positor, ator e escritor Costa Senna. O evento, denominado “Talentos do MOVA”, reuniu cerca de 500 pessoas que prestigiaram as apresentações culturais dos edu-cadores, agentes populares e educandos, além de saborearem a culinária oferecida pelas entidades conveniadas. As práticas desenvolvidas no Movimento estavam brilhantemente expostas pelas atividades realizadas nos núcleos de formação, o que possibilitou a socialização do trabalho pedagógico. O público também pôde assistir ao vídeo de retrospectiva dos 10 anos do MOVA com depoimentos e fotos de todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram nesta trajetória.

Como momento formativo, no segundo dia das atividades de comemoração, refle-timos sobre os sentidos do Movimento na cidade com base no tema dos 10 anos. Inicialmente, tivemos a apresentação do quadro cênico “A casca de banana”, com a educadora Maria Francisca e seus educandos, como também a declamação de poe-sia em homenagem ao MOVA, com os educadores Adenilson dos Santos e Miriam Ribeiro.

Em seguida, recebemos as palestrantes Patrícia Claudia da Costa e Vera Barreto, importantes educadoras comprometidas com o avanço da educação popular no Brasil. As falas serviram como uma oportunidade para todos os sujeitos do MOVA afirmarem sua identidade no Movimento e perceberem sua importância na cons-trução da cidadania via alfabetização.

Como encerramento das comemorações, houve a realização da formatura com uma cerimônia de certificação para os 195 educandos alfabetizados em 2011. Foi um momento de muita emoção para todos, pois se tratava da conclusão de mais um ciclo na vida dessas pessoas. A alegria e o espírito de festa tomaram conta de todos com a apresentação do Corpo Musical da Guarda Civil de Guarulhos. No final, os educandos foram homenageados com a exibição de um vídeo contendo as histórias de vida e de luta de muitos deles.

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Registramos, mais uma vez, nossa gratidão a todos que participaram e contribuíram na criação e expansão do MOVA Guarulhos.

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Os Estatutos do Homem[...]

Artigo III

Fica decretado que, a partir deste instante,

haverá girassóis em todas as janelas,

que os girassóis terão direito

a abrir-se dentro da sombra;

e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,

abertas para o verde onde cresce a esperança [...]

Thiago de Mello (Santiago do Chile, abril de 1964)

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eXpediente

Prefeitosebastião almeida

Vice-PrefeitoCarlos derman

Secretária Municipal de Educaçãoprof.ª neide marcondes garcia

Secretário Adjunto de Educaçãoprof. fernando ferro Brandão

Gestora do Departamento de Ensino Escolarsueli santos da Costa

Gestora do Departamento de Orientações Educacionais e Pedagógicassandra soria

Gestor do Departamento de Controle da Execução Orçamentária da EducaçãoJosmar nunes de souza

Gestor do Departamento de Alimentação e Suprimentos da Educaçãomarcelo Colonato

Gestor do Departamento de Manutenção de Próprios da Educaçãoluiz fernando sapun

Gestora do Departamento de Planejamento e Informática na EducaçãoCintia aparecida Casagrande

Gestora do Departamento de Serviços Gerais da Educaçãomargarete elisabeth shwafati

diVisão tÉCniCa de puBliCaçÕes eduCaCionaisJosé Augusto Lisboa, Claudia Elaine Silva, Maurício Burim Perejão, Eduardo Calabria Martins,

Maristela Barbosa Miranda, Camila Lima dos Santos, Carla Maio e Yve Pinheiro de Azevedo Oliveira.

CoordenaçãoTiago Rufino Fernandes

assessoriaPatrícia Claudia da Costa

revisãoHélio de Sousa ReisPatrícia Claudia da CostaTiago Rufino Fernandes

diVisão tÉCniCa de polítiCas para eduCação fundamental e eJaMiriam Augusto

moVa guarulhos (elaboração)Francisca Bueno dos Santos, Francisca Inácia de Alencar Carvalho Barros, Hélio de Sousa Reis, Jorge Rodrigo Nascimento Spínola, Maria Eliana Cesário de Araújo Paulo, Rita Andrade, Roseclei Neves da Silva e Valéria de Campos Balbino.

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