Em Louvor Da Santa Objectividade

44
Em louvor da santa objectividade Jornalista e professor de jornalismo altamente prestigiado, cujas reflexões sobre o fenómeno da comunicação social contribuem para dar a este sector uma elevada qualificação, Mário Mesquita proferiu em 1996, numa sessão organizada pela Câmara de Cascais e pelo Clube de Jornalistas, uma comunicação em que revalorizou o conceito de objectividade, que muitos  jornalistas já ti nham sepultado.  A problemática focada nesta intervenção* -- a «objectividade jornalística» no actual contexto dos média -- corresponde ao propósito algo provocatório de estimular o debate acerca de um conceito que muitos jornalistas já arrumaram no sótão, entre as vel harias sem préstimo. Dir-se-ia, aliás, que o conceito foi abandonado ou secundarizado, pelo menos a dois níveis: no plano da deo nto log ia, porque a vin culação à «ob jec tividade» dei xou de ser considerada pertin ent e, remetendo -se par a outros con cei tos , como os de «hones tid ade», «lealdade», «jo go limpo» ; no domínio da prática jornalística, porque, sob o impulso do jornalismo televisivo, o acento tónico parece ter-se deslocado de uma exigência de «objectividade» e »rigor» para outros critérios considerados mais pertinentes, que se articulam em tomo de questões como a criatividade, o trabalho sobre a lingua ge m, a preocupação em «comunic ar » atra s de uma mensagem ap elativa. Qualqu er enc iclopédia indica que, des de os primórdios da his tór ia da fil oso fia, o con ceito de objectividade surge com a modernidade, paralelamente à emergência das ciências experimentais nos culos XVIII e XIX. O concei to apar ece intimamente li gado às noções de observação e experimentação, valorizadas no âmbito das ciências positivas. Por objectividade designa-se o carácter de «uma realidade que aparece aos sentidos e à qual a percepção atribuí uma natureza real» (1), caracterizando. deste modo, «fenómenos que se prestam a observação e a experimentação». (2) No caso específico do jornalismo, a objectividade adquire pertinência sobretudo a partir do séc. XIX, no período designado pelos historiadores como «fase industrial da Imprensa». A urbanização, o progresso nos transportes e nas comunicações e o incremento da alfabetização, o alargamento dos públicos ajudaram a criar condições propícias ao surgimento de novas concepções em termos de conteúdo da imprensa. «Prefere-se cada vez mais a informação objectiva à discussão e à opinião, as notícias sensacionais aos editoriais reflectidos -- escreve José Tengarrinha --. Na necessidade de encontrar um público mais largo, o jornal procura manter uma atitude imparcialmente objectiva, dirigindo-se assim a todos, e não a um grupo de leitores ideologicamente afins, necessariamente muito mais restrito». (3)  À comunicação de elite, consubstanciada em pequenos jornais de opinião vai suceder, ainda embri onária , uma comun icaçã o de «gra nde públic o», O requis ito da «obje ctividade» na infor mação aparece ligado à necessidade de constituir o denominador comum entre um conjunto de leitores que se deseja cada vez mais vasto e diversificado, de modo a poder «credenciar» o periódico perante os anunciantes. «Nesse período - afirma Tengarrinha - os jornais não ficam reservados à classe relativamente pouco numerosa de eleitores censitários, mas pretendem dirigir-se a todos os que sabem ler, cujo número vai crescendo gradualmente. Embora sem esquecer a camada mais instruída, que fornece ainda o grosso dos assinantes, dirigem-se também ao novo público, menos abastado e instruído, com gostos menos exigentes e requintados». (4) Simultaneamente, a emergência das agências noticiosas, tendo como clientes o universo constituído por todos os jornais e podendo, graças ao telégrafo, ultrapassar as fronteiras nacionais, veio reforçar a exigência de «objectividade».  A objectividade jornalística apresenta-se, não como o resultado de uma reflexão epistemológica acerca do jornalismo, mas enquanto construção resultante da nova estratégia comercial da Imprensa: a extensão e diversificação dos públicos aconselham uma nova atitude, que se traduz num relato dos acontecimentos que seja válido para todos os leitores e não apenas para este ou aquele indivíduo ou

Transcript of Em Louvor Da Santa Objectividade

 

Em louvor da santa objectividadeJornalista e professor de jornalismo altamente prestigiado, cujas reflexões sobre o fenómenoda comunicação social contribuem para dar a este sector uma elevada qualificação, MárioMesquita proferiu em 1996, numa sessão organizada pela Câmara de Cascais e pelo Clube deJornalistas, uma comunicação em que revalorizou o conceito de objectividade, que muitos

 jornalistas já tinham sepultado. A problemática focada nesta intervenção* -- a «objectividade jornalística» no actual contexto dosmédia -- corresponde ao propósito algo provocatório de estimular o debate acerca de um conceito quemuitos jornalistas já arrumaram no sótão, entre as velharias sem préstimo.

Dir-se-ia, aliás, que o conceito foi abandonado ou secundarizado, pelo menos a dois níveis: no planoda deontologia, porque a vinculação à «objectividade» deixou de ser considerada pertinente,remetendo-se para outros conceitos, como os de «honestidade», «lealdade», «jogo limpo»; nodomínio da prática jornalística, porque, sob o impulso do jornalismo televisivo, o acento tónico pareceter-se deslocado de uma exigência de «objectividade» e »rigor» para outros critérios consideradosmais pertinentes, que se articulam em tomo de questões como a criatividade, o trabalho sobre alinguagem, a preocupação em «comunicar» através de uma mensagem apelativa.

Qualquer enciclopédia indica que, desde os primórdios da história da filosofia, o conceito deobjectividade surge com a modernidade, paralelamente à emergência das ciências experimentais nosséculos XVIII e XIX. O conceito aparece intimamente ligado às noções de observação eexperimentação, valorizadas no âmbito das ciências positivas. Por objectividade designa-se o carácter de «uma realidade que aparece aos sentidos e à qual a percepção atribuí uma natureza real» (1),caracterizando. deste modo, «fenómenos que se prestam a observação e a experimentação». (2)

No caso específico do jornalismo, a objectividade adquire pertinência sobretudo a partir do séc. XIX,no período designado pelos historiadores como «fase industrial da Imprensa». A urbanização, oprogresso nos transportes e nas comunicações e o incremento da alfabetização, o alargamento dospúblicos ajudaram a criar condições propícias ao surgimento de novas concepções em termos deconteúdo da imprensa.

«Prefere-se cada vez mais a informação objectiva à discussão e à opinião, as notícias sensacionaisaos editoriais reflectidos -- escreve José Tengarrinha --. Na necessidade de encontrar um públicomais largo, o jornal procura manter uma atitude imparcialmente objectiva, dirigindo-se assim a todos,e não a um grupo de leitores ideologicamente afins, necessariamente muito mais restrito». (3)

 À comunicação de elite, consubstanciada em pequenos jornais de opinião vai suceder, aindaembrionária, uma comunicação de «grande público», O requisito da «objectividade» na informaçãoaparece ligado à necessidade de constituir o denominador comum entre um conjunto de leitores quese deseja cada vez mais vasto e diversificado, de modo a poder «credenciar» o periódico perante osanunciantes.

«Nesse período - afirma Tengarrinha - os jornais não ficam reservados à classe relativamente pouconumerosa de eleitores censitários, mas pretendem dirigir-se a todos os que sabem ler, cujo númerovai crescendo gradualmente. Embora sem esquecer a camada mais instruída, que fornece ainda ogrosso dos assinantes, dirigem-se também ao novo público, menos abastado e instruído, com gostosmenos exigentes e requintados». (4)

Simultaneamente, a emergência das agências noticiosas, tendo como clientes o universo constituídopor todos os jornais e podendo, graças ao telégrafo, ultrapassar as fronteiras nacionais, veio reforçar a exigência de «objectividade».

 A objectividade jornalística apresenta-se, não como o resultado de uma reflexão epistemológicaacerca do jornalismo, mas enquanto construção resultante da nova estratégia comercial da Imprensa:a extensão e diversificação dos públicos aconselham uma nova atitude, que se traduz num relato dosacontecimentos que seja válido para todos os leitores e não apenas para este ou aquele indivíduo ou

 

grupo de indivíduos.

 A relação entre jornalismo e objectividade afirma-se na «fase industrial da Imprensa», mas será noinício do séc. XX que o conceito se imporá, nos Estados Unidos da América, como «valor 

 jornalístico», numa espécie de reacção contra o espírito de negócio e o sensacionalismo, quetomaram conta da Imprensa norte-americana, em especial a partir da guerra hispano-americana.

O surgimento nos anos 20-30 da profissão de «relações públicas» ajuda, igualmente, a explicar a«sacralização» da noção de objectividade no jornalismo norte-americano, com o objectivo de distinguir a actividade (jornalística) de recolha e difusão das informações das acções (de relações públicas)desenvolvidas pelos novos «promotores» de notícias.

É nesse contexto que o dever de objectividade será consagrado nos códigos deontológicos e nasescolas de jornalismo que se creditam, por essa altura, como elementos que contribuem para aregulação do sistema. A objectividade jornalística transforma-se, no dizer de John Merrill, numconceito ético («objectivity-as-ethics-concept»).

O que significa na realidade a «objectividade», transformada em doutrina nesse contexto histórico?Creio que podemos situar a doutrina da «objectividade» a três níveis: no plano deontológico enquanto«dever» ou «compromisso ético», prescrito pelos códigos deontológicos; no plano da investigação

 jornalística, enquanto conjunto de normas processuais; no plano das retóricas, enquanto conjunto deregras de natureza estilística.

 A OBJECTlVIDADE NA DEONTOLOGIA

Os códigos anglo-americanos, por via de regra, incluem a objectividade entre as obrigações doprofissional de jornalismo. O código ético da associação profissional de jornalistas norte-americanospostula que «a verdade é nosso objectivo último», sublinhando, logo em seguida, que a «objectividadena reportagem de notícias é outra meta, que serve como marca de um profissional experiente.»

Se a tradição norte-americana aponta no sentido da vinculação do jornalista a um dever deobjectividade, no espaço europeu - em especial, no espaço francófono - os jornalistas tendem a evitar o conceito, considerando-o. como alguém afirmou, uma «ingenuidade anglo-saxónica». O fundador deLe Monde, Hubert Beuve-Méry diria que «a objectividade não existe; a honestidade, sim».

O dever ético da objectividade é, por vezes, visto pelos profissionais de jornalismo como uma formade limitar a criatividade dos jornalistas envolvendo-os num espartilho incómodo. Que tipo deespartilho? O conceito de objectividade surge muitas vezes identificado com a prática e a linguagemdo jornalismo de agência, das grandes estações de rádio e dos canais generalistas de televisãopública. A objectividade seria, de certo modo, sinónimo de esforço de equilíbrio, neutralidade econtenção.

Nessa perspectiva, esse «ideal» recusaria aos jornalistas a cidadania, ao transformá-los emobservadores moralmente descomprometidos. Ou seja, o suposto dever ético de objectividade «tornaa Imprensa amoral». O conceito de objectividade seria, na prática, oposto ao de responsabilidade,visto que contribuiria para desresponsabilizar o jornalista.

 A escritora Marguerite Duras escreveu a este propósito: «Não há jornalismo sem moral. Todo o jornalista é um moralista. É absolutamente inevitável. Um jornalista é alguém que observa o mundo eo seu funcionamento, que diariamente o vigia de muito perto, que dá a ver e a rever o mundo, oacontecimento, E não consegue fazer este trabalho sem julgar o que vê. É impossível. Por outraspalavras, a informação objectiva é um logro total. Uma impostura. Não há, de facto, jornalismo

 

objectivo. Consegui desembaraçar-me de muitos preconceitos, dos quais este é, em minha opinião, oprincipal. O de acreditar na objectividade possível do relato de um acontecimento». (5)

Esta visão da objectividade enquanto factor de desresponsabilização do jornalista conduziu à adopçãode uma atitude de rejeição ou de «fuga» perante esta problemática. Muitos códigos deontológicos ou«livros de estilo» evitam mencionar a palavra-tabu. Entre nós, o Código Deontológico do Jornalista, de1993, também evita a palavra, embora postule que «o jornalista deve relatar os factos com rigor eexactidão e interpretá-los com honestidade». O livro de estilo do Washington Post constitui umexemplo: «Enquanto os argumentos acerca da objectividade são intermináveis, o conceito de«fairness» (jogo limpo) é algo que os editores e repórteres podem facilmente compreender e cumprir.(6)

 A questão epistemológica, demasiado complexa e controversa, conduz os jornalistas a dispensarem areferência à objectividade, sacudindo o jugo de uma espécie de «camisa de forças» que se traduziu -em certos momentos históricos - em constrangimentos no plano estilístico ou no plano da investigação

 jornalística. Mas se os jornalistas postulam que está ao seu alcance 'relatar os factos com rigor', qualo sentido de recusar ou de evitar o conceito de 'objectividade'?

 A OBJECTIVIDADE NA RETÓRICA E NA INVESTIGAÇAO

 A «objectividade» converte-se progressivamente de uma problemática e de uma atitude ética numconjunto de normas investigativas e estilísticas. «Com o tempo, a ideia de objectividade assumiu ocarácter de "doutrina", deixando de ser um "compromisso ético" e transmudando-se num "receituáriopara a acção" - escreve José Marques de MeIo. - Operou-se um reducionismo instrumental,convertendo-se a objectividade em norma, padrão de actuação profissional». (7)

É nesse sentido que a socióloga Gaye Tuchman se refere, num estudo já célebre, publicado nos anos70, a uma «concepção operativa da objectividade» («working notion of objectivity») (8). Nessaperspectiva, a objectividade constituiria um «ritual estratégico» - composto por normas processuais eestilísticas - cujo objectivo consistiria em diminuir os riscos corridos pelos profissionais em função daslimitações inerentes ao seu trabalho e das possibilidades de interpelação pelos outros actores -sociais ou da adopção de sanções por parte dos seus superiores hierárquicos.

Tuchman enumera, entre os processos fundamentais para a construção do «ritual estratégico» do jornalismo, a apresentação de pontos de vista divergentes; o recurso a «citações» e a própriaestrutura externa do texto jornalístico.

Nenhum destes processos - quer se trate de procedimentos profissionais, no plano da investigação,quer de configurações retóricas - resolve o problema da objectividade jornalística, mas todos elesajudam a estabelecer uma certa distanciação entre o jornalista e o produto jornalístico. Ouvir os «doislados» em litígio numa determinada polémica não garante a objectividade, mas ajuda a configurar uma postura de distância e imparcialidade.

 A deontologia apresenta-se, deste modo, como uma espécie de «contrato» proposto pelos jornalistas,enquanto categoria profissional, aos seus públicos. Perante o contraste entre a fragilidade do

 jornalismo e as exigências de «objectividade» dos públicos, os profissionais propõem-se respeitar umcerto número de procedimentos no plano da investigação e da produção do texto, entre os quais seinclui a convenção de separar com rigor notícias e comentários.

Se atentarmos na redacção dos códigos deontológicos, verificamos que, afinal, a objectividade sereconduz a um conjunto de procedimentos. O código da associação de jornalistas norte-americanosdescreve, com alguma minúcia, os requisitos postulados pela «doutrina da objectividade» no plano

 

das formas de expressão jornalísticas. «Os títulos do jornal - preconiza o diploma - devem ser plenamente garantidos pelos conteúdos dos artigos que acompanham. As fotografias e imagens detelevisão devem dar uma imagem exacta de um acontecimento e não salientar um incidente menor fora do contexto». Na mesma linha de Tuchman se colocam as interpretações que reconduzem a«objectividade jornalística» à adopção de certas configurações retóricas tradicionais do jornalismo. A(estrutura) do «lead» e da pirâmide invertida, figuras típicas do jornalismo de agência, seriamsinónimos de objectividade, na medida em que garantem o destaque do principal acontecimento numalinguagem seca e «objectivadora», de onde seriam rasuradas as marcas de subjectividade do

 jornalista.

Mas não é necessário proceder a análises muito aprofundadas para compreender que a questão nãose resolve através de processos estilísticos. Por ironia, as explicações históricas sobre o surgimentodo «lead» acentuam, pelo contrário, o peso dos critérios subjectivos dos jornalistas na construção dasnotícias. O historiador Michael Schudson associa a emergência da nova estrutura narrativa, no séculopassado, à própria evolução histórica dos jornalistas enquanto «corporação». De acordo com estatese, a adopção da «pirâmide invertida» significaria que os jornalistas se consideravam aptos paradeterminar quais os elementos mais importantes da notícia, sintetizando-os logo no início do texto, emvez de se subordinarem à ordem cronológica. Com a entronização da convenção jornalísticadesignada por «lead» os jornalistas «deixam de ser estenógrafos e passam a ser intérpretes», afirmaSchudson.

 A CONDUTA DE OBJECTIVIDADE

E A SUBJECTIVIDADE DO JORNALISTA

Noutras fases históricas, a objectividade foi identificada com uma retórica asséptica da informaçãoque tem a sua expressão típica no «jornalismo de agência». A regra do anonimato na área noticiosaconstitui um dos seus principais postulados. Ser «objectivo» significou definir uma política deinformação baseada no equilíbrio e na ponderação (por exemplo, nas televisões públicas).

Ora, em rigor, o conceito de objectividade jornalística não pode confundir-se com nenhuma dessasacepções. Conforme escreve Daniel Cornu, «a objectividade é a atitude (quanto à pessoa) ou ométodo (quanto à aproximação) que permite ligar a realidade à verdade, ver «as coisas como elassão», e não é de forma nenhuma realizada por uma política de informação que vise apenas oequilíbrio e a neutralidade. A realidade, em si mesma, é brutal, excessiva, conflitual». (9)

Os jornalistas rebelaram-se contra a objectividade quando ela se transformou em «doutrina», que veioa ser «absorvida pelos manuais de redacção, convertendo-se em certo sentido em norma de estilo».(10) Nos anos sessenta, os movimentos do jornalismo investigativo (no domínio processual) e do«new journalism» (no plano estilístico) contestaram a «doutrina da objectividade» e as respectivastraduções na prática profissional.

Se a «doutrina da objectividade» se manifestava através do apagamento das marcas desubjectividade do jornalista, as novas tendências acentuaram o seu papel criativo. O livro de estilo doWashington Post é sintomático a este respeito, ao afirmar sobre o papel do jornalista: «Embora desdeo Watergate se tenha tornado cada vez mais difícil, para este jornal e para a Imprensa em geral,adoptar esse comportamento, os jornalistas devem fazer todos os esforços para permanecer naaudiência, para trabalhar nos bastidores e não para ser a estrela, para relatar as notícias e não parafazer as notícias». Esta norma conjuga a reafirmação da regra tradicional do anonimato do jornalista,encarado como narrador oculto, com o reconhecimento (implícito) das dificuldades inerentes àrespectiva aplicação. Acresce ainda uma parcela de (in)discreto auto-elogio...

 

Podem os jornalistas riscar da deontologia a palavra «objectividade», mas isso não lhes evitará oconfronto com a problemática em causa. Por mais que contornem o conceito, suprimindo-o doscódigos deontológicos ou recusando-lhe qualquer espécie de validade (ou de operatividade), osdestinatários da informação continuarão a estabelecer unilateralmente que as notícias devem relatar os «factos» tal como eles se verificam, ou seja, que a tal «objectividade» - inatingível, por definição -deve constituir-se em critério de avaliação da prática jornalística.

Como não é possível aos jornalistas «objectivar» a realidade, conseguindo apenas «representá-la»,os média confrontam-se com a enorme desproporção existente entre a fragilidade das«metodologias» utilizadas na investigação jornalística e as aspirações dos destinatários, que desejamter acesso aos acontecimentos tal como eles sucederam. Talvez se possa afirmar que a deontologiado jornalismo surge, enquanto construção histórica, como resposta a essa expectativa deobjectividade, cultivada pelo público leitor, radiouvinte ou telespectador.

 A recusa da «doutrina da objectividade» baseia-se, entre outros aspectos, na afirmação de um direitoà subjectividade do jornalista, enquanto investigador, narrador e autor. Essa afirmação dasubjectividade do jornalista não é incompatível com a «atitude de objectividade» que é própria do

 jornalismo e não se confunde com nenhuma doutrina ou dogmática tendente a confundir uma posturade questionamento e interpelação com um conjunto de rotinas profissionais ou de formas retóricas.

No jornalismo, tal como no conhecimento científico, os factos não existem independentemente dequem os apreende. Mas isso não invalida, antes pressupõe uma «conduta de objectividade» (11),para recorrer à expressão de Paul Ricoeur acerca da história. É neste sentido que a Declaração dePrincípios da Unesco, de 1983, afirma a este propósito, no seu segundo preceito: «A tarefafundamental do jornalista consiste em servir o direito do povo a uma informação verídica e autênticaatravés de uma aproximação honesta à realidade objectiva (...)».

O texto da Unesco refere, seguidamente, as componentes dessa (conduta de objectividade), ao aludir à necessidade de uma «contextualização» («colocando conscientemente os factos no seu contextoadequado»), de uma «explicação» (salientando as suas ligações fundamentais, sem envolver distorções»), e à indispensável presença da «capacidade criativa do jornalista» de forma a que «opúblico receba um material apropriado que lhe permita formar uma imagem precisa e coerente domundo, onde a origem, a natureza e a essência dos acontecimentos, processos e situações sejamcompreendidos de uma forma tão objectiva quanto possível».

Esta formulação afasta-se visivelmente de uma certa ideia redutora da objectividade, que se traduziriaem impedir o jornalista de procurar hipóteses explicativas para os acontecimentos ou de exercer a suacriatividade narrativa e estilística. Pelo contrário, esta concepção apela a uma visão multidimensionaldos acontecimentos, na linha preconizada, no pós-guerra, pela Comissão Hutchins: «Não bastarelatar os factos com verdade, é necessário dizer a verdade sobre os factos».

Esta «conduta de objectividade» deve basear-se, se não num método - palavra demasiado forte eambiciosa para se aplicar à produção jornalística - pelo menos num questionário elaborado com vistaà «reconstrução dos acontecimentos». Esse questionário jornalístico pressupõe a implicaçãosubjectiva do jornalista.

Permitam-me que transfira para a actividade jornalística a atitude que Ricoeur preconiza para ohistoriador: nós esperamos do jornalista «um certo tipo de subjectividade, não uma subjectividadequalquer, mas uma subjectividade que seja precisamente apropriada à objectividade que convém» ao

 jornalismo. (12)

Regulador da vida quotidiana, o jornalismo só tem razão de ser quando se baseia, numa «intenção» enuma «conduta de objectividade», o que não significa ressuscitar uma dogmática positivista, nemrejeitar a intervenção subjectiva do jornalista através da formulação de juízos de valor que semanifestam, desde logo, na selecção dos acontecimentos destinados a constituir notícia. A essaatitude chama o mesmo Ricoeur «subjectividade de investigação» (13), ou seja, implicação pessoal

 

do jornalista na reconstrução e explicação dos acontecimentos.

É interessante notar que, nos anos 20~30, a «objectividade» se transforma em valor jornalísticoprecisamente quando os jornais concluem que o jornalismo interpretativo é indispensável e, por issomesmo, aumenta o espaço consagrado a textos assinados. Entre as notícias e os artigos de opiniãoemerge um terceiro género: a interpretação. A objectividade no jornalismo - escreve MichaelSchudson - «transformou-se num ideal precisamente quando a impossibilidade de ultrapassar asubjectividade começou a ser olhada como inevitável».(14)

Postular uma atitude de objectividade não equivale a negar a subjectividade do jornalista, mas antes aimplicá-la nesse dever referencial próprio da actividade jornalística. Tão pouco significa negar oslimites à objectividade inerentes às dependências, aos ritmos e aos processos da produção

 jornalística, sujeitos a poderosos constrangimentos relacionados com o tempo e o espaço.

 A objectividade jornalística será um mito inatingível? Talvez. Mas - como escreveu Michel Mathien -«representa uma miragem que os jornalistas, na sua maioria, entendem que vale apenas manter comvista a preservar uma profissão bem específica em relação aos numerosos ofícios da comunicação oudas relações públicas em pleno desenvolvimento» (15). O «impacte cultural» desse «mito dinâmico daobjectividade permite aos profissionais da informação preservar um poder de resistência, ele própriomuito flutuante conforme os média e as circunstâncias» (16).

O «contrato de recepção» que o jornalista implicitamente celebra com o leitor pressupõe uma«conduta de objectividade» que o distinga do ficcionista, do actor de teatro e de cinema, do relaçõespúblicas e do publicitário. Sem esse compromisso com o «real», o jornalismo destrói a razão de ser dasua existência e dilui-se no vasto oceano dos outros géneros de comunicação.

 A actual crise dos média, no espaço europeu e português, caracteriza-se pela abdicação da «atitudede objectividade» e pela «contaminação» do jornalismo por outras formas comunicacionais, onde aemoção e a afectividade prevalecem sobre a informação. A ficcionalização, o sensacionalismo e ahiperpersonalização destroem o sentido de «aproximação à realidade objectiva».

É sintomático que, num «guia das profissões» destinado a informar os jovens sobre opçõesprofissionalizantes, se escreva que «teoricamente a função do jornalista é colocar à disposição dopúblico a informação de que este necessita para poder formar um juízo. Hoje esta visão está umpouco desactualizada. Ou seja, assume-se enfim que a imparcialidade e a objectividade são um mito(...)» (17). Decididamente, o universo dos média está em crise...

É neste contexto que se afigura oportuno reabilitar a «conduta de objectividade». Não existe conteúdoinformativo sem relação comunicacional, mas, ao contrário do que sugere o tal «guia do estudante», o

 jornalismo deixará de fazer sentido enquanto actividade autónoma se perder de vista que tem por função «colocar à disposição do público a informação de que este necessita para poder formar um

 juízo». E, mesmo correndo o risco de parecer «fora de moda», prefiro assumir o meu olhar subjectivo,contrapondo ao relativismo que se molda à lógica de interesses estabelecidos, a velha estatueta daSanta Objectividade.

NOTAS

(1) Thinès, Georges, e Lempereur, Agnés (orgs.), «Dicionário Geral das Ciências Humanas», Lisboa,Edições 70, 1984, p. 647.

(2) Idem, ibidem.

 

(3) José Tengarrinha, «História da Imprensa Periódica Portuguesa», 2.ª edição, Lisboa, Caminho,1989, p. 219.

(4) Idem, ibidem.

(5) Marguerite Duras, «Outside - notas à margem», trad. port. de Maria Filomena Duarte, Lisboa, Difel,p. 7 (edição original: «Outside», Paris, Albin Michel, 1981).

(6) O original é como segue: «While arguments about objectivity are endless, the concept of fairness issomething that editors and reporters can easily understand and pursue» (Thomas W. Lippman (org.) ,«The Washington Post Deskbook on Style», Nova Iorque, McGraw-Hill, 1989, 2ª edição, p. 5).

(7) José Marques de Melo, «Objectividade jornalística: realidade e utopia», in Comunicação: direito àinformação, Campinas S. P., Papirus, 1986, p. 100.

(8) Gaye Tuchman, «A objectividade como ritual estratégico: uma análise das noções de objectividadedos jornalistas», in Nelson Traquina (org.) «Jornalismo: Questões Teóricas e Estórias», Lisboa, Veja,1993, pp 74-90.

(9) Daniel Cornu, «Journalisme et Vérité - Pour une éthique de l'information», Genève, Labor et Fides,1994, p.359.

(10) José Marques de Melo, idem, ibidem.

(11) Paul Ricoeur, «Histoire et Vérité», Paris, Seuil, 1955, p.25.

(12) Paul Ricoeur, op. cit., p.24.

(13) Paul Ricoeur, op. cit., p.35.

(14) Michael Schudson, «Discovering the news: a social history of the American newspapers», NewYork, Basic Books, 1978, p.157.

(15) Michel Mathien, «Les Journalistes et le Système Médiatique», Paris, Hachette, 175.

(16) Michel Mathien, op. cit., p.190

(17) «Guia das Profissões II», edição especial de Forum Estudante, 1996, p.87.

(*) Intervenção publicada no n.º 1 da revista «JJ - Jornalismo e Jornalistas», de Janeiro/Março de2000

Texto reproduzido com a autorização do autor Mário Mesquita

http://www.jornalistas.online.pt/imprimir.asp?id=517&idcanal=300Copyright 2001 Sindicato dos JornalistasRua dos Duques de Bragança, 7, 2º -1249-059 LISBOA - PortugalTel: 213464354/213467175 - Fax: 213422583

 

Objetivismo,subjetivismo e

 

comunicaçãopela TV

.

 Luís CarlosLopes

[email protected] 

 

Resumo

Este texto objetiva contribuir para adiscussão dos significados daobjetividade e da subjetividade,como categorias aplicáveis aoestudos comunicacionais. Desejaesclarecer a diferença entreobjetividade e objetivismo e entresubjetividade e subjetivismo.Discute o mesmo problema aplicadoa dois livros recentes queanalisaram a problemática dosfenômenos comunicacionaispassados pela televisão. Conclui,ressaltando a importância dasbalizas enunciadas comoverificadoras da natureza dasinterpretações usadas.

Palavras-chave: cultura de massas – hermenêutica - pesquisa

Introdução

  A realidade material que circunda einterpenetra o campo dacomunicação não deixa dúvida de

 

que, apesar de operar fundamentalmente como artefatosda realidade simbólica, osfenômenos comunicacionais, paraserem efetivados, dependem decomo são ou podem ser materializados. O jogo dacomunicação processa-se, portanto,entre o objetivo (condiçõesmateriais de operação efuncionamento) e o subjetivo(condições simbólicas). Estaaparente dupla realidade empíricatermina por influenciar os estudoscomunicacionais que se sintonizamentre estas duas aléias. Por vezes,os pesquisadores, dependendo desuas orientações teórico-metodológicas, tendem aabsolutizar um destes caminhos,optando pelos extremos doobjetivismo ou do subjetivismo. Nãoé, igualmente, raro encontrar viastransversas onde a pesquisa seencontra ou se perde no rumo entreestes pontos de convergênciaabsolutizados.

Considerar-se-ia a prevalência doobjetivismo, quando os aspectosmateriais são os únicos ou quaseúnicos destacados. A situaçãocontrária seria o subjetivismo,quando na análise dos mesmosfenômenos pouco se reconhece desuas razões materiais, e aschamadas condições subjetivas sãovistas como algo independente edeslocado da realidade material.

Parte-se do pressuposto daexistência de uma única realidadecomunicacional que teria aspectosmateriais e simbólicos entrelaçadose indissociáveis. Obviamente,

 

existem inúmeras nuances e grausde subjetivismo e de objetivismo, nodifícil equilíbrio do ofício deinterpretar o que é comunicação.

 Acredita-se também que asinterpretações são uma parte dosfenômenos comunicacionais, oupelo menos assim devam ser entendidas. Descarta-se a priori aidéia de uma explicação onde ointérprete (também, um sujeito)poste-se como ente externo aosobjetos que deseja interpretar.

 A tradição funcionalista norte-americana é, sobretudo, objetivista.Na sociologia da comunicaçãoeuropéia, o subjetivismo tem ummaior espaço, devido à reaçãocontra o positivismo tradicional e aopositivismo lógico de nosso tempo(neopositivismo), que são as basesfilosóficas contemporâneas doobjetivismo. Na América Latina,reina um estado confuso em relaçãoa este problema, que dificilmentechega a ser enunciado pelospesquisadores, com exceçõeslouváveis. Há lugar para ambasvertentes por toda parte. Por vezes,na mesma investigação teórica ouempírica, que não se pretendacomo partidária dessas acepções, aquestão se repete. Para ser objetivista ou subjetivista não senecessita saber que se tem estapostura. Basta seguir a maré dastradições universitárias e para-universitárias de nosso tempo. Nasmídias de hoje, inclusive na variadaliteratura técnico-científica e cultural,há um imenso manancial de fontesde abastecimento destas duasopções extremadas. O subjetivismoe o objetivismo são os parentes

 

mais cultos do irracionalismo denosso tempo.

Não é simples manter o equilíbrio,quando se analisam os aspectosobjetivos e subjetivos de umprocesso comunicacional. Daí é umpasso para se mergulhar nascrenças em um mundoabsolutamente objetivo ou no seucontrário ideal. Obviamente, pode-se analisar o objetivo sem optar pelo objetivismo e o subjetivo semser subjetivista. O problema existequando, cartesianamente, pensa-seque o mundo da vida é apenassubjetivo ou somente objetivo. Adesvalorização do simbólico é típicado objetivismo. Já o subjetivismopretende compreender osproblemas sem considerar acomplexa teia de relações entre omaterial e o simbólico.

Sair desta dualidade só é possívelcom uma visão mais integral doprocesso comunicacional. Acredita-se que a hermenêuticahabermasiana, crítica e deprofundidade, consiste em uma boaâncora de abordagem que escapa aeste dilema aporético. Ao privilegiar os objetos teóricos construídos apartir do olhar epistemológico daempiria, a hermenêutica pode criar categorias de análise que permitamromper a duplicidade entre oobjetivo e o subjetivo, empurrando opesquisador para a adoção dosseus extremos. Permite, portanto,uma visão mais integral dofenômeno e o enfretamento de seusmúltiplos lados sem a perda daunidade primacial.

 

Já se depositou em outro lugar acrítica ao pressuposto do agir comunicacional racional deHabermas. Propôs-se asegmentação da hermenêuticacrítica em duas. A positiva paraanalisar os atos racionais, e anegativa para se compreender osnão-racionais. Também já se disseque nos dois segmentos ahermenêutica seria a abordagemque considerasse o estudo docontexto, dos sujeitos envolvidos naação, dos discursos e dos limites dainterpretação pretendida. Inclui-seaqui a idéia de que no lugar dosdiscursos dever-se-ia se privilegiar os argumentos (BRETON),categoria maior que engloba osdiscursos sem a necessidade deque se sigam os enunciados à risca.Os argumentos são as idéias pelasquais podem ser representadas, por meio da interpretação, qualquer atocomunicacional verbal ou não-verbal.

Um exemplo pertinente destaruptura necessária com osubjetivismo e o objetivismo é oconceito habermasiano de “redesintersubjetivas”. Nestas, o processocomunicacional seria validado pelosgrupos socioculturais, mesmo serecebido de uma fonte midiática oude natureza interpessoal. Emqualquer um destes casos, ofenômeno da comunicação sóestaria completo quando validadosocialmente. Este jamais começariae terminaria no indivíduo, semcircular pelo entorno social(material) e referenciar-se nasculturas pré-existentes. O objetivo eo subjetivo estariam integrados em

 

uma só unidade, tal como facetasde um só problema, articulados einterdependentes.

 A velha noção de superestruturapairando no ar, como reflexo do‘real’, inspirada em Marx edesenvolvida pela vulgata marxista,seria superável por uma visão ondeo simbólico teria alguma autonomiado material; podendo afastar-se damaterialidade da vida até a um certolimite histórico-contextual, sem estar de fato dela destacada.

Para compreender melhor esteproblema, talvez seja útil a metáforade um balão (simbólico) preso àterra (material) por uma linha. Obalão flutuaria no mundo fantásticoe encantado das idéias, voaria nasmais diversas direções (consciênciacrítica) ou teria um cursosociopoliticamente programado apartir da terra (alienação). Não seriaassim que os receptores assistiriamàs telenovelas e sonhariam suasvidas a partir destes artefatos tãopopulares no Brasil? Dependendodo momento, as telenovelaspoderiam agir em domínios diversose não habituais. Não seria destemodo que a propaganda políticaeleitoral e governamentalfuncionaria, tanto à esquerda comoà direita? Se há um espelho dacomunicação, ele é translúcido, istoé, não existiria o tal do reflexo e sima possibilidade de atravessar oespelho e mesmo de negá-lo, talcomo Alice no País das Maravilhas.Estes espelhos imagináriosestariam instalados dentro e fora decada rede intersubjetivacontemplando os atos

 

comunicacionais racionais e nãoracionais (a maior parte).

O ofício da interpretação consisteno esforço do desencantamento dosimbólico para melhor compreensãodele mesmo e da realidade materialque o acompanha. Um estudodesencantado implicaria naanuência de que a doxa é parteessencial do fenômenocomunicacional. Dela todos sabem,falam e escrevem. Ir além delaconsiste no problema dos que sepretendam intérpretes e desejem defato compreender as bases decriação, desenvolvimento eoperação da miríade de atos(comportamentos e seus resultados)do campo empírico e teórico dacomunicação.

Pensando outro conceito muitoconhecido, o de indústria cultural(ADORNO), poder-se-ia criticar suafaceta objetivista em duasvariações: a primeira e maisimportante, consistindo no fato dese acreditar na existência de umasó ‘fábrica’ do simbólico; a segunda,

 já enfatizada por Martin-Barbero,referindo-se à idéia de que osistema engendrado pelos meios decomunicação contemporâneos seriauma via de mão única queprescindiria da validaçãointersubjetiva.

Considera-se subjetivismo,acreditar, ao contrário de Adorno,que não há uma forte relação depoder verticalizada entre os meios ea audiência, também como seriaobjetivismo pensar que para estesistema funcionar, conforme o

 

mesmo autor, a reação do públicoseria meramente passiva. Nestaversão, os consumidores da culturade massas de nosso tempo seriamapenas vítimas inermes e incapazesde qualquer reação, portanto, osistema seria fechado e imutável.Não há como descartar por completo os adeptos e defensoresda teoria crítica e demonizá-loscomo burgueses elitistas. Comotambém, não é aceitável que suasteorias não possam ser reparadas eadequadas às observações do queocorre em nossa época.

Outra das revisões que tambémparece necessária no atual contextoé a da existência de múltiplasindústrias culturais que seinterconectam e se superpõemcomo um dos efeitos dodesenvolvimento do capitalismo edas atuais globalizações dasculturas de massa. Os fenômenosvinculados às indústriasfonográficas, cinematográficas etelevisuais internacionais e àInternet são fortes indicadores dapresença de indústrias culturaisdentro de cada país e em escalamundial. Estas devem ser compreendidas como sistemassimbólicos e materiais abertos queenvolvem pessoas, máquinas,equipamentos, recursos técnicos efinanceiros e idéias. Sãoformatadoras das atuais culturas ecomportamentos humanos seentendidas como elementos dadialética social de nosso tempo.Possuem seus próprios objetossociais, tal como a televisão,transformada em seu principal

 

ícone.

Análises da comunicação pela TV

Pode-se perguntar porque analisar a televisão e o que isto tem a ver com os problemas da objetividade eda subjetividade. A tradição dosestudos comunicacionais sempreapelou para a lógica do espelho. ATV seria um reflexo (subjetivo) dalógica objetiva da vida. Inúmeraspesquisas e ensaios propuseram-sea resolver o dilema dos significadosde se ver TV. Muita tinta e milhõesde bytes foram e têm sido gastospara que se explique oucompreenda o problema. Desde seusurgimento, este meio decomunicação enfrentou a polêmica,sem jamais encontrar consenso epoder se perfilar como apenas maisuma mídia que se somou às antesexistentes. Funcionando entre oobjetivo e o subjetivo, mais do queos demais meios, imitandodiretamente a vida, a programaçãoda TV está longe de ter sidocompletamente compreendida.

Dois livros recentes de autoresbrasileiros destacaram-se por contribuições inequívocas aopolêmico tema dos estudos dossignificados dos fenômenoscomunicacionais veiculados pelatelevisão. São eles: O Império doGrotesco, de Muniz Sodré e RaquelPaiva e A Televisão levada a sério,de Arlindo Machado. Na discussãoque aqui se propõe, interessa

 

problematizar os argumentos dosautores, restringindo a pesquisa aoque disseram sobre a TV e,sobretudo, confrontá-los com osproblemas dos paradigmas daobjetividade e da subjetividade.

 Analisando os programas deauditórios, os reality shows dentreoutros, Sodré e Paiva insistem nasua tese central do grotesco, isto é,de uma estética popularescaconsumível pelo grande público etelecomandada pelo binômio:produção televisiva e anunciantes.Escapam do objetivismo por compreender a relação entre opúblico e os programas como umcontrato comunicacional deaceitação tácita. Resvalam nosubjetivismo ao proporem umacategoria estética para explicar umproblema social. Os autoresreconhecem e praticam aimportância de estudar estesfenômenos como forma decompreensão da complexa teiacultural que liga o público àtelevisão aberta. Tentam, por meiode uma categoria estética (ogrotesco) e excursos históricos epolíticos destinados a responder àquestão da origem e damanutenção avassaladora destetipo de programação.

Obviamente, Sodré e Paiva têmrazão. O que chamam de grotescodomina a programação de maior audiência, a mais popular do país.O que se pode objetar são os limitesdesta categoria estética como meiode se compreender o problema.Como responder ao problema daaceitação? Não seria o grotesco

 

uma estética possível emdeterminadas condiçõessociopolíticas? Não se poderiainverter o problema, considerando-se a televisão como um objetosocial? Ela não seria um dosespelhos translúcidos usados para acirculação das mensagens quecoabitam das redes intersubjetivasdo grande público e tambémrefereria-se ao modo que adominação é exercida? O grotescotelevisivo de nosso tempo não seriauma representação ambígua dadialética negativa que sustenta eorganiza a sociedade brasileira?

 A idéia do grotesco é ao mesmotempo uma categoria estética e umpressuposto moral. O seu contráriopossível seria o sublime.Raciocinando-se por oposiçãodeveria haver a possibilidade dealgo no domínio da cultura demassas que fosse compensador da‘perversidade’ do grotesco. A belezae a bondade do sublime seria partede uma arte superior, nas condiçõeshistóricas conhecidas, de difícilacesso popular.

Os exemplos usados por Sodré ePaiva remetem às velhas feiraspopulares, ao mundo do populacho,isto é, dos excluídos. Ao apodar este mundo de grotesco não sepoderia facilmente cair na armadilhado preconceito social? Em suma,responder a estas questões indica anecessidade de se discutir a teiaentre o objetivo e o subjetivo, aserem entendidos como umaunidade indissociável.

Os argumentos de Arlindo Machado

 

colidem com a idéia da prevalênciada banalização televisiva que estáno centro da tese do grotesco. Oautor pensa que se pode ‘amar aTV’ e dá inúmeros exemplos deprogramas de qualidade no Brasil e,sobretudo, nos países dodenominado primeiro mundo. Suasanálises vão na contramão usual dese considerar este meio como opatinho feio das mídias. Lembra quea banalização existe na literatura,no cinema e demais espaços domundo da vida. Para ele, a questãoseria de repertório, isto é, do tipo deprogramação que é levada ao ar.

Machado defende o princípio da‘televisão de qualidade’, pensandoque por este meio podem passar mensagens de alto nível e que elenão seria necessariamente menor.Foge do esforço de inúmerosintelectuais de bater forte na TV,acreditando que ela pode tambémser um objeto de alta cultura.Defende, igualmente, a idéia dainexistência de incompatibilidadesda TV com a criação artística.Fundamenta suas idéias com adescrição de inúmeros programasque considera de alto valor. Paraele, a televisão é um meio decomunicação que pode ter usosnobres e, de acordo com asdezenas de exemplos de programasque disseca ao longo do livro, estamídia já possuiria um patrimônioconsiderável de programas dequalidade.

Coerente com sua proposta, o autor não analisa o cotidiano da TV, nãodando qualquer relevo aos casosonde a programação não alcança

 

ou não alcançou o que consideracomo um padrão de qualidaderespeitável. Passa ao largo doimenso exercício de banalidades oude grotescos como quer Sodré ePaiva e que se vê no dia-a-dia. Nooceano da programação pinça osprogramas que foram ou são feitoscom o cuidado com que se produz aobra de arte. Aceita a idéia da teoriacrítica de que a televisão é parte daindústria cultural. Pensa que nestafaceta desta indústria, assim comoocorre em outras mídias, apresença da mercantilizaçãoobjetificante da cultura não seriaimpeditiva para que se produzissemartefatos de qualidade.

O primado da ‘qualidade’ é o pontonodal da obra de Machado. Seusargumentos discutem uma televisãoque não é a que a grande maioriaconsome, enfatizando a inegávelpresença de inúmeros programasconstruídos dentro das normaseruditas e que nobilitam essa mídiacom o uso das mais requintadasconcepções e técnicas artísticas.

O autor tem razão em dizer que aTV de todo o mundo, inclusive abrasileira, produziu e produzprogramas com alto valor cultural etambém tem razão em reclamar dosque demonizam a priori o meio. Seumaior mérito é o de demonstrar queo que passa na TV depende dosprodutores – infelizmente, eleexplora pouco o papel dosanunciantes – e de que isto conferea sintonia do meio com a sociedadede qual faz parte. Seguindo seuraciocínio, pode-se dizer que a TVpode ser melhor do que é,

 

dependendo dos contextossociopolíticos e da luta engendradapela melhoria da ‘qualidade’.

 Ao usar o conceito de qualidade,Machado esbarra no complexomundo da moral. O que é bom oumau, belo ou feio etc é determinadopor sujeitos sociais. A moral éoperada no plano do simbólico,consistindo na principal vetor constituidor da consciência humana.Para achar que um programa é deboa ou má qualidade, em primeirolugar tem-se ser um sujeito socialque possui interesses materiais,políticos etc e que portadeterminada cultura que permite

 julgar seu entorno. Aí se tem umproblema, como julgar a quem

 julga? Quem definiria sempreconceitos e parti-pris a qualidadeda programação? Seriam os juízes,o Estado, os intelectuais, ossindicatos, os professoresuniversitários etc? Como se evitariaque preconceitos de classe, raça,sexo etc pudessem ser estabelecidos ou passados de modoimperceptível por conterem umempuxo social irresistível?

 A moral é subjetiva e nos empurracom muita facilidade para osubjetivismo, quando depositamosnela uma fé inabalável. Ela cegapara um mundo multilateral e dita oque devemos selecionar do quevemos e sentimos. Portanto, o

 julgamento moral precisa partir doesclarecimento dos papéis dossujeitos envolvidos. Paracompreender o que se consideracomo qualitativamente apreciávelseria necessário considerar quem

 

são os múltiplos sujeitos envolvidosna programação televisiva, incluindoa audiência, os anunciantes, osprodutores e até os intérpretesdeste fenômeno comunicacional.Fazendo-se isto, estar-se-iaproduzindo uma hermenêutica daprodução televisiva, assim comodas análises existentes.

O que se propõe é que osintérpretes desçam de seuspedestais, misturem-se à populaçãoe busquem compreender como sedá o fenômeno da comunicaçãopassada pela TV. Machado, assimcomo Sodré e Paiva, trabalham nosentido da valorização daobservação direta desta questão.Mesmo partindo de paradigmasdistintos, estes autores lembram aimportância cêntrica desta mídia econsideram sua análise essencialpara a compreensão do fenômenocomunicacional. Só isto, por simesmo, valoriza e dá imensaimportância a estas obras.

À guisa de conclusão

O objetivo primeiro deste texto foi ode construir balizas para a pesquisade objetos com um olhar epistemológico comunicacional: ado objetivo, considerando as basesmateriais dos fenômenoscomunicacionais; a do subjetivo,levando em conta que o fenômenocomunicacional em si mesmo é,sobretudo, desta natureza; as

 

interelações entre ambos aspectos.

Tentou-se demonstrar que apesquisa no campo da comunicaçãosempre encontra o dilema de optar por determinando tipo deabordagem que privilegie um ououtro dos caminhos apontados. Osextremos representados pelosubjetivismo e pelo objetivismoforam enfatizados, considerando-seque seus efeitos são os dadeformação dos objetos depesquisa e do turvamento do olhar multilateral possível. Procurou-sedemonstrar a desnecessidade de seter consciência do problema parapraticá-lo. Para ser subjetivista ouobjetivista basta estar no mundo davida e ser permeável às influênciasdo entorno social, inclusive doprofissional.

Referências e indicaçõesbibliográficas

 ADORNO, Theodor W.,HORKHEIMER, Max. Dialética doEsclarecimento. Rio de Janeiro :Jorge Zahar, 1985. 254 pp. A ediçãoem alemão é de 1969.

BARBERO, Jesus Martin. Dosmeios às mediações. Rio deJaneiro: UFRJ, 1997.

BOURDIEU, Pierre. RazõesPráticas: sobre a teoria da ação. 3ed. São Paulo : Papirus, 2001. 224pp.

 

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 3 ed. Rio de Janeiro :Bertrand Brasil, 2000. 311 pp.

BRETON, P. et PROULX, S..L’explosion de la communication.Paris/Montréal: LaDécouverte/Boréal, 1989.

BRETON, Philippe A argumentaçãona comunicação. Bauru : EDUSC,1999.

ECO, Umberto. Os limites dainterpretação. São Paulo :Perspectiva, 1995.

ECO, Umberto. Interpretação esuperinterpretação. São Paulo :Martins Fontes, 1997. 184 pp.

HABERMAS, Jürgen. Consciênciamoral e agir comunicativo. Trad. DeGuido de Almeida. Rio de Janeiro :Tempo Brasileiro, 1989. 236 pp. Aedição original em alemão é de1983.

HABERMAS, Jürgen. De l’éthiquede la discussion. Paris : CERF,1992. A edição original em alemão éde 1991. 202 pp.

HABERMAS, Jürgen. Dialética eHermenêutica: para a crítica dahermenêutica de Gadamer . Porto

 Alegre : L&PM, 1987. 136 pp.

HABERMAS, Jürgen. O discursofilosófico da modernidade. SãoPaulo : Martins Fontes, 2000. 534pp.

LOPES, Maria Immacolata Vassalode. Pesquisa em Comunicação. 6

 

ed. São Paulo: Loyola, 2001.

LOPES, Luís Carlos. “Artefatos deMemória e Representações nasMídias”. CIBERLEGENDA. Niterói:v.7, 2002.Revista Eletrônica doMestrado em Comunicação,Imagem e Informação.UFF.http://www.uff.br/mestcii/rep.htm.

LOPES, Luís Carlos. “Ciências dacomunicação, possibilidades eproblemas”. CIBERLEGENDA, v.3,2000.Revista Eletrônica doMestrado em Comunicação,Imagem e Informação.UFF.http://www.uff.br/mestcii/rep.htm.

LOPES, Luís Carlos.“Hermenêutica, Pesquisa eComunicação”. In: INTERCOM2002, Salvador, Bahia. Núcleo deTeorias da Comunicação.

LOPES, Luís Carlos. “Percepção eComunicação: mitos e problemascontemporâneos”. In: VI Congresolatinoamericano de investigadoresde la comunicación, 2002, SantaCruz de La Sierra. Memoria

 Académica - ALAIC - 2002. SantaCruz de la Sierra - UPSA: ALAIC,2002.

LOPES, Luís Carlos.“Representação e significação nosfenômenos comunicacionais.” In:CIBERLEGENDA n.5, 2001, RevistaEletrônica do Mestrado emComunicação, Imagem eInformação.UFF.http://www.uff.br/mestcii/rep.htm.

LOPES, Luís Carlos. O Culto àsMídias: interpretação, cultura e

 

contratos. Rio de Janeiro : s/ed.,2002. À espera de publicação.

MACHADO, Arlindo. A TelevisãoLevada a Sério. São Paulo :SENAC, 2000. 244 pp.

MARTÍN-BARBERO, Jesus Martin eREY, Germán. Os exercícios dover: hegemonia audiovisual e ficçãotelevisiva. São Paulo : SENAC,2001.

MARTÍN-BARBERO, Jesus Martin.Dos meios às mediações. Rio deJaneiro: UFRJ, 1997.

PUTNAM, Hilary. Représentation et réalité. Paris : Gallimard, 1988. 226pp.

RICOEUR, Paul. Teoria dainterpretação. Lisboa : Edições 70,1987.

RICOUER, Paul. Interpretação eIdeologias. 4 ed. Rio de Janeiro :Francisco Alves, 1990. 171 pp.

RUDIGER, Francisco.Comunicação e teoria crítica dasociedade: Adorno e a escola deFrankfurt. Porto Alegre: EDIPUCRS,1999. 261 pp.

SODRÉ, Muniz e PAIVA, Raquel. OImpério do Grotesco. Rio de Janeiro: Mauad, 2002. 160 pp.

******

Luís Carlos Lopes  é professor 

adjunto IV do Departamento de

Estudos Culturais e Mídia e membro do

 

corpo permanente do Programa de

pós-graduação em Comunicação do

Instituto de Artes e Comunicação Social

da Universidade Federal Fluminense.http://www.uff.br/mestcii/lclop9.htmLuís Carlos Lopes, professor da Universidade Federal Fluminense, Objetivismo, subjetivismo e comunicação pela TV, in Ciberlegenda,n.12, 2003

Revista Ciberlegenda Esta revista é uma das mídias do Programa de Pós-Graduação emComunicação (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal Fluminense

LA OBJETIVIDAD COMO RITUAL ESTRATÉGICO: UN ANÁLISIS DELAS NOCIONES DE OBJETIVIDAD DE LOS PERIODISTAS.

Gaye Tuchman 

.

Los periodistas analizados creen que pueden mitigar las continuas presiones que sufren, por ejemplo los cierres, posibles procesos penales y reprimendas anticipadas de sus superiores,al poder proclamar que su trabajo es "objetivo". Este artículo examina tres factores queayudan a un periodista a definir un "hecho objetivo": forma, contenido y relacionesinterorganizativas. Muestra que a la hora de discutir el contenido y las relacionesinterorganizativas el periodista sólo puede invocar su propio juicio periodístico; encualquier caso, puede proclamar su objetividad citando procedimientos que ha seguido yque ejemplifican los atributos formales de una noticia o de un periódico. Por ejemplo, el periodista puede sugerir que ha citado a terceras personas en lugar de ofrecer simplementesus propias opiniones. Este artículo sugiere que la "objetividad" puede verse como ritualestratégico de protección para los periodistas ante los riesgos de su actividad profesional.Se plantea si en otras profesiones no existe también un uso igual del término "objetividad".

Para un sociólogo la palabra "objetividad" está cargada de significados. Invoca a lafilosofía, nociones de ciencia e ideas del profesionalismo. Conjura los fantasmas deDurkheim y de Weber, recordándonos las disputas en las revistas académicas acerca de lanaturaleza del "hecho social" y la expresión "libre de valores".

La frecuente insistencia del sociólogo en la objetividad no es algo exclusivo de su profesión. Médicos y abogados declaran que la objetividad es la postura adecuada para consus clientes. Para los periodistas, como para los sociólogos, el término "objetividad" se alzacomo un rompeolas entre ellos mismos y las críticas. Cuando se les ataca porque han hechouna presentación de los "hechos" controvertida, los periodistas invocan su objetividad casidel mismo modo en que un campesino mediterráneo se cuelga una ristra de ajos del cuello para ahuyentar a los malos espíritus.

Los periodistas deben ser capaces de invocar algún concepto de objetividad para procesar hechos de la realidad social. Este artículo examinará tres factores que influyen en la noción

 

 periodística de objetividad: forma, relaciones interorganizativas, y contenido. Entiendo por forma aquellos atributos de las noticias y periódicos que ejemplifican procedimientosinformativos, como es el caso del uso de las comillas. Por contenido quiero indicar aquellasnociones de la realidad social que los periodistas dan por sentadas. El contenido tambiénestá relacionado con las relaciones interorganizativas del periodista, porque susexperiencias con esas organizaciones le conducen a dar por sentadas ciertas cosas acerca deellas. Finalmente, sugeriré que el manejo correcto de una historia, es decir, el uso de ciertos procedimientos discernibles para el consumidor de noticias, protege al periodista de losriesgos de su actividad profesional, incluyendo las críticas.

Everett Hughes (1964) sugiere que los procedimientos que sirven para este propósito pueden considerarse "rituales". Un ritual es descrito como un procedimiento rutinario quetiene relativamente poca o tangencial importancia para el fin buscado. Frecuentementeadherirse a un ritual es un acto compulsivo. Que un procedimiento de este tipo pueda ser elmejor medio conocido de conseguir el fin buscado no implica que no podamoscaracterizarlo como ritual. Por ejemplo, la práctica médica de la sangría para "curar" lafiebre, que se hacía en el siglo dieciocho, puede ser contemplada como un "ritual". En tantoque los periodistas invocan procedimientos rituales para desviar las potenciales críticas y para seguir las rutinas circunscritas a los "límites cognitivos de la racionalidad", tambiénusan "estrategias" de representación (March y Simon 1967, pp. 137, 142). El término"estrategia" denota tácticas usadas ofensivamente para anticiparse a un ataque odefensivamente para desviar las críticas.La objetividad como ritual estratégico puede ser usada por otros profesionales para defenderse de los asedios críticos.

Este artículo cita diez historias periodísticas. Nueve de ellas provienen de anotaciones decampo que recopilé como observadora participante en un periódico diario metropolitano,con una tirada de unos 250.000 ejemplares. La décima historia proviene de un libro sobre la práctica periodística (Rivers 1967). En seis de los relatos los periodistas critican el trabajode colegas; en una, un periodista critica a un reportero de otro periódico. El énfasis en lacrítica es en parte resultado de los métodos utilizados. Como observadora participante,intenté hacer las menos preguntas posibles. Este hecho es especialmente importante en laobservación de los redactores jefes durante el mucho tiempo de la jornada que pasabanenterrados entre redacciones de noticias. Cuando elogiaban un artículo ante otro noexpresaban sus razones para el elogio. Cuando una información les disgustaba proporcionaban muchas razones para rechazarla. Esas razones fueron grabadascuidadosamente, y así dichas grabaciones son necesariamente más exactas que lasimputaciones al respecto de lo que estaba "bien" en una "buena" historia. No criticarondemasiadas noticias; las exposiciones extensas sobre los fallos en una noticia, realizadasespontáneamente, resultaron escasas y lejanas entre sí. De todos modos las categorías de lasevaluaciones negativas que generaron me aportaron intuiciones sobre la apreciación de losrelatos "buenos" o bien hechos. La discusión de la "presentación de posibilidades enconflicto" se ha construido a partir de estas categorías negativas así como a partir de lasafirmaciones "positivas" de los informantes.

A diferencia de los sociólogos, los periodistas tienen un repertorio limitado con el cualdefinir y defender su objetividad. En términos de Radin (1957, 1960) el sociólogo es un"pensador"; el periodista es un "hombre de acción". Es decir, el sociólogo puede

 

enfrascarse en la reflexión analítica epistemológica (Schutz 1962, pp. 245 y ss.), pero el periodista no puede. El informador ha de decidir inmediatamente la validez, fiabilidad y"verdad" de algo para abordar los problemas que impone la naturaleza de su trabajo -el procesamiento de la información que llamamos noticia, un producto de consumo fungibleque se elabora diariamente-. El procesamiento de las noticias no deja tiempo para unareflexión y análisis epistemológico. De todas maneras, los periodistas necesitan algunanoción eficaz de objetividad que minimice los riesgos que los cierres, las demandas judiciales o las reprimendas de los superiores imponen.

A menos que el periodista desarrolle un trabajo de investigación más extenso, normalmentedispone de menos de un día para familiarizarse con el contexto de una historia, para reunir información, y redactar la noticia. El reportero sabe que su trabajo escrito ha de pasar por toda una cadena organizativa de redactores y editores jerárquicamente ordenados. Comoexplican espontáneamente los periodistas, redactar una noticia implica "saber por experiencia". El reportero ha de saber por experiencia lo que hará el redactor o el asistentedel redactor que reescriba el texto que él envíe; el redactor ha de saber lo que hará elredactor jefe; el redactor jefe lo que hará el director de la edición y el director del diario;estos directores, lo que hará el presidente. El director de edición, el director del periódico yel presidente criticarán la noticia después que ésta ya haya sido publicada.

En el periódico analizado, el asistente al director de edición es el encargado de hacer lavaloración informativa final respecto de la redacción de una noticia. Si la información no legusta, puede criticar al redactor jefe por haberla dejado pasar. El redactor jefe hará algúntipo de comentario al redactor, y así la "bronca" irá bajando sucesivamente la cadena jerárquica. En otras ocasiones, el director de edición simplemente corrige o altera una"mala información" refunfuñando de los subordinados que no hacen bien su trabajo ydoblan el trabajo de los editores. En este caso, los subordinados se dan cuenta de que sutrabajo ha sido inadecuado al leer el periódico y ver que la noticia impresa no corresponde alo que ellos han escrito. Las broncas y las correcciones son parte de un sistema de controlsocial (Breed 1955) que afecta potencialmente a la promoción de los periodistas, almantenimiento de su puesto de trabajo o a la consecución de buenos encargos informativos.

Dos factores resaltan en este proceso de análisis jerárquico y crítica potencial de lasinformaciones. Un periódico es una colección de muchas noticias. Si hay que rehacer demasiadas de esas noticias, el periódico no cumplirá su hora de cierre de edición y los beneficios se reducirán. Los camiones que lleven el periódico a provincias saldrán tarde;sus conductores pedirán horas extraordinarias. Si una edición se retrasa, la programación delas sucesivas ediciones se verá afectada; los trabajadores de talleres de composiciónreclamarán horas extras también. Además si las ediciones de la mañana no llegan a primerahora a los kioscos, los consumidores comprarán el periódico de la competencia que sí hallegado, y con ello mermarán los beneficios de la empresa. Los periodistas temen entoncesque las ventas futuras del periódico puedan peligrar. Si el consumidor de noticias lee el periódico de la competencia puede que lo encuentre "mejor" al de siempre y que cambie suhábito de compra.

Cada noticia periodística es una colección de "hechos" establecidos y estructurados por los periodistas. Los periodistas son responsables de la exactitud de cada uno de esos "hechos".

 

Los "hechos" los leen tanto los consumidores generales de noticias como los consumidores"implicados" en esas noticias (la persona que es citada en la noticia, la que es descrita o dela que se informa). Si un lector implicado ve amenazada su reputación, su negocio, etc., puede demandar al periódico por difamación. Aunque los procesos por difamación sonrelativamente poco frecuentes, cuando se presentan ponen a la organización informativa en peligro financiero. Al poner en duda la reputación del periódico, el proceso por injurias puede afectar también a la disponibilidad del consumidor para comprar el periódico.También en ese caso afectará el proceso por difamación a la rutina en la redacción porquerequerirá que algunas personas de la plantilla declaren en los juzgados.

En suma, cada noticia conlleva peligros para el personal del periódico y para toda laorganización informativa. Cada noticia afecta potencialmente a la disponibilidad de los periodistas para cumplir sus tareas diarias, afecta a su solvencia ante sus superiores, yafecta a la posibilidad de que la empresa informativa consiga o no beneficios. Dado que un periódico se compone de muchas noticias, esos peligros se multiplican y hacenomnipresentes.

 

II

Los periodistas afrontan estas presiones subrayando su "objetividad", arguyendo que los peligros pueden minimizarse si se siguen unas estrategias informativas que identifican conlas "noticias objetivas". Asumen que si todos los periodistas recopilan y estructuran"hechos" de un modo independiente, sin prejuicios e impersonal, los cierres podráncumplirse y evitarse las demandas por difamación. Los periodistas piensan que la mayoríade la gente comprende la importancia de las horas de cierre, aunque sólo sea por losestereotipos del trabajo periodístico que Hollywood difunde; ellos explican sobre todo al profano los peligros de los juicios por difamación. Hablando sobre sus propias experienciasen juicios de difamación, los periodistas afirmaban que su comportamiento había sidoobjetivo, pero que habían cometido errores inevitables. En dos palabras, sus comentarioseran: el periodista ha de poner en tela de juicio los hechos recurriendo a las fuentes, peroalgunos hechos simplemente han de ser aceptados como "verdaderos" sin más. Si todotuviera que ser puesto en cuestión llegaríamos a absurdos como el siguiente: "AlbertoRamírez y su así denominada esposa Elisa Sonseca Fons llevaron a cabo en la tarde de ayer lo que podría describirse como una fiesta en su generalmente denominado hogar en honor de una mujer que dice llamarse Longina Berrueco Sonseca y a la que comúnmente seatribuye el ser la tía de la anteriormente descrita como, de acuerdo con su testimonio,señora de la casa".

Los periodistas navegan entre la difamación y el absurdo identificando la "objetividad" conlos "hechos" que ellos mismos u otros periodistas observan o que pueden ser verificados.La verificación supone usar o poder hacer uso de procedimientos apropiados como por ejemplo llamar por teléfono a la oficina del Registro Civil para comprobar si AlbertoRamírez es efectivamente el marido de Elisa Sonseca. Si la verificación es necesaria perono puede conseguirse, los periodistas pueden recurrir a otras estrategias.

 

 

III

Además de verificar "hechos", los cuatro procedimientos estratégicos siguientes,ejemplificados como los atributos formales de una noticia, permiten al periodista proclamar su objetividad.

1.- Presentación de posibilidades en conflicto.- Los periodistas han de ser capaces deidentificar los "hechos", incluso aunque el carácter auténtico de algunos de ellos no seafácilmente verificable. Por ejemplo, un senador americano afirma que América va por detrás de la Unión Soviética en el desarrollo de un tipo específico de misil. Un reporterociertamente no puede comprobar tal afirmación a tiempo para llegar al cierre de su edición,e incluso es posible que jamás pudiera localizar la información precisa para valorar hastaqué punto la afirmación realizada es o no un "hecho". El reportero sólo puede determinar que el senador afirmó "A". Los periodistas entienden que la afirmación "X dijo A" es un"hecho", aunque "A" sea falso.

Esto crea problemas tanto al reportero como a la organización informativa. En primer lugar,el consumidor de noticias lo que quiere es saber si la afirmación "A" es o no un "hecho", yuna función de las noticias es decirle al consumidor de noticias lo que quiere y necesitasaber. En segundo lugar, dado que la afirmación del senador no puede ser verificada, elconsumidor de noticias puede acusar al reportero y a su empresa informativa de parcialidad(o de "favorecer" al senador) si no presenta también la opinión alternativa. Por ejemplo, siel senador es demócrata y el presidente es republicano, el consumidor de noticias puedeacusar al periódico de favorecer a los demócratas, pues el único "hecho" mencionado hasido que el senador demócrata afirma "A". El periodista notará que su capacidad para proclamar su "objetividad" ante las futuras críticas está en peligro.

Aunque el reportero no puede comprobar por sí mismo la verdad de la afirmación delsenador, puede buscar a alguien que sí pueda. Por ejemplo, puede preguntar al ministro dedefensa republicano si la afirmación del senador es verdadera. Si el ministro de defensaafirma que la acusación del senador es "falsa", el reportero no podrá probar que laafirmación del ministro sea "factual". De todas maneras podrá escribir que el ministro dedefensa afirmó "B". Al presentar ambas reclamaciones de verdad, la "A" del senador y la"B" del ministro de defensa, el periodista podrá afirmar que él es "objetivo", porque presenta "ambos lados de la historia" sin favorecer a un partido político o a persona alguna..Además, al presentar ambas reclamaciones de verdad, el periodista "objetivo" dejasupuestamente que sea el consumidor de la noticia quien decida si el senador o el ministro"dicen la verdad".

Decir que esta práctica es un mecanismo para sostener la objetividad es problemático. Eneste sencillo ejemplo podemos etiquetar dicha práctica diciendo que supone "proporcionar un número suficiente de datos al consumidor de noticias para que decida por sí mismo". El procedimiento puede complicarse cada vez más. Por ejemplo, dentro del argumento "B", elministro de defensa puede acusar al senador de que está haciendo política con la defensa dela nación. El jefe del estado mayor del ejército, un demócrata, compensará entonces los

 

ataques del ministro de defensa afirmando que es el gobierno republicano quien está poniendo en peligro la seguridad nacional con sus sistemas de inteligencia y su vanidosa postura en el tema del presupuesto militar para el desarrollo armamentístico. Al díasiguiente, el presidente de un grupo pacifista de ámbito nacional convocará una rueda de prensa para acusar a los dos partidos en controversia de sobrevalorar el desarrolloarmamentístico en detrimento de los esfuerzos diplomáticos para la paz y la seguridadmundial. El ministro portavoz del gobierno hará entonces una condena del líder pacifista por ser un simpatizante del comunismo que intenta atacar los procesos políticosamericanos.

En este punto, hay cinco personas (el senador, el ministro de defensa, el jefe del estadomayor del ejército, el líder pacifista y el portavoz del gobierno) que reclaman la verdad parasus afirmaciones de un modo no verificable, y cada uno representa una realidad posible.Analizando la controversia acerca de la marihuana, Goode (1970, pp. 50-68) llama a esteencenague de opiniones que se dicen a sí mismas hechos "la política con la realidad".Aunque esta noción es importante sociológicamente, es inútil para los periodistas que seenfrentan al dilema de identificar y verificar los "hechos". De todos modos, los periodistasdicen ser "objetivos" cuando emparejan estas reclamaciones de verdad y las publicanconforme van sucediéndose día tras día. Según lo describió un periodista, el consumidor denoticias no recibirá en un solo día todos los lados de una historia, pero irá viendo en un período de tiempo una diversidad de puntos de vista sobre el tema.

Como foro donde se ventila la "política con la realidad", la definición periodística de lasituación va más allá de la presentación de los datos suficientes para que el consumidor denoticias llegue a una conclusión. Un enjambre de reclamaciones contradictorias de verdad,como el que hemos puesto como caso típico, puede que sea visto como una invitación provechosa, al consumidor de noticias, para que ejerza su percepción selectiva, en unacaracterística reacción ante las noticias. Sin duda que la invitación a una percepciónselectiva es insistente, porque cada versión de la realidad reclama la misma validez potencial. En tanto en cuanto definamos la "objetividad" como "atención hacia objetosexternos a la mente" y llamemos "objetivo" a lo que "pertenece al objeto del pensamiento yno al sujeto pensante" (ambas definiciones de diccionario), será difícil sostener, comohacen los periodistas, que presentar posibilidades en conflicto genera objetividad.

2.- Presentación de la evidencia sustentadora. Por supuesto, hay ocasiones en que el periodista puede obtener una evidencia que sostenga una reclamación de verdad. Unaevidencia sustentadora es la cita y colocación de "hechos" adicionales que comúnmenteaceptamos como verdad . Esta insistencia en los "hechos" sustentadores es generalizada,figurando entre las críticas de los editores y jefes de sección a los reporteros, como entre lascríticas de los reporteros a los editores y jefes.

Por ejemplo, una tarde el asistente al director de la edición pidió a la redacción que "sehicieran necros más objetivas", después de leer una nota necrológica que describía alfallecido como un "músico magistral". Preguntó: "¿Y cómo sabemos que el fallecido era un"músico magistral", y no un "músico de tres al cuarto" que tocaba en la banda municipal?".Se le dijo que unos párrafos más abajo en la nota constaba que el fenecido había tocado con

 

John Philip Sousa. El "hecho" adicional, convino el jefe de edición, justificaba el término"músico magistral".

De manera parecida, un reportero criticaba a sus jefes de edición porque hacían unascorrecciones malas y "no objetivas", cuando se publicó un artículo sobre "propagandacomunista" en un entorno determinado. Expresaba que el artículo en cuestión debía haber citado más "hechos", por ejemplo qué títulos de obras examinadas eran considerados propaganda comunista. Aunque reconocía que la etiqueta de "propaganda comunista" noera una caracterización muy fina de cada pieza individual de literatura, insistía en que una presentación más concreta sería más "objetiva". Ofrecería "hechos" (títulos) que apoyaranla afirmación de verdad inicial. Además, los títulos citados presumiblemente permitirían allector valorar el grado en el que la descripción "propaganda comunista" era exacta y conello "factual", del mismo modo en que la asociación del músico fallecido con Sousa permitiría al lector decidir por sí mismo si la etiqueta de "músico magistral" era certera.

La afirmación de los periodistas, de que "los hechos hablan por sí mismos" es instructiva.Este dicho implica una distinción generalizada entre los "hechos que hablan" y el propioreportero (o el orador, o el cotilla, etc.) que habla de "hechos". Si el periodista tuviera quehablar por los "hechos", no podría proclamar que es objetivo, "impersonal" o "sin prejuicios". Por supuesto, es una obviedad sociológica que los "hechos" no hablan por símismos. Por ejemplo, Shibutani (1966) demuestra que la afirmación y aceptación de los"hechos" depende en mucha medida de los procesos sociales.

3.- El uso juicioso de las comillas. Los periodistas ven las citas de la opinión de otras personas como una forma de evidencia sustentadora. Al intercalar la opinión de alguienmás, creen que se alejan ellos mismos de la participación en la historia, y con ello dejan quelos "hechos" hablen, como muestra la discusión entre jefes de sección en el siguienteincidente.

Un edificio en un barrio marginal, cuyo propietario estaba ausente, había permanecidodurante varios días sin calefacción, a una temperatura cercana a los cero grados. El propietario manifestó haber enviado a alguien para arreglar la caldera en aquellos mismosmomentos. Cuando Smith, el jefe de local, telefoneó al edificio, nadie estaba trabajando para reparar la calefacción, "hecho" que Smith añadió a la información del reportero quecubrió el suceso. Al comprobar la historia, Jones, el director de sección, llamó a susubordinado Smith para que se pusiera en contacto con más inquilinos del edificio paraaumentar el número de nombres mencionados en la información.

Jones dijo: "Si me consigues más(declaraciones de inquilinos) lo sacamos". (Tras algúntiempo) Jones repitió que quería más citas de declaraciones porque "estaba teniendodificultades". Sin evidencias sustentadoras, la historia podía dar lugar a juicio.

Al añadir más nombres y declaraciones el reportero puede quitar sus propias opiniones delrelato y conseguir que otros digan lo que él mismo piensa. Por ejemplo, en la coberturainformativa de una visita de un grupo de afectados por una masacre de estudiantes negrosen Orangeburg, Carolina del Sur, a un fiscal federal, un reportero preguntó al pastor 

 

 protestante del grupo por su reacción ante la conducta que el fiscal federal había tenido conellos.

El sacerdote contestó: "Sentimos gran preocupación por todo lo que está ocurriendo. Eslamentable que nuestra preocupación reciba una respuesta que realmente no reconoce quehay personas que han sido asesinadas, hay muchas emociones que están creciendo y a lasque no se está prestando atención cuando se nos dice que olvidemos"...El reporteroentonces preguntó, "Para decirlo en dos palabras, ¿está usted insatisfecho?". El sacerdotereplica, "Pienso que ha tenido una dureza innecesaria". Mira a un amigo y continua"Crueldad es la palabra"."

Cuando terminamos, el reportero nos explicó que había entrevistado al pastor específicamente para conseguir aquellas afirmaciones y así no tener que editorializar lainformación llamando él mismo cruel al fiscal federal.

El uso de las citas para evitar la presencia del periodista en el relato se extiende hasta el usode las comillas como un dispositivo para señalar ciertos aspectos. Por ejemplo, la comilla puede usarse para significar "ésta es una afirmación realizada por alguien que no es el periodista mismo". También pueden tener el significado de "sic". Por ejemplo. la NuevaIzquierda (sin comillas) designa a un grupo. La "Nueva Izquierda" (con comillas) indica aun grupo que se llama a sí mismo la Nueva Izquierda; en este caso, la legitimidad del grupoes puesta en cuestión.

Impresionado por una manifestación radical contra el reclutamiento, un reportero utilizabatodas las comillas posibles para aplacar la opinión de sus jefes de edición a los que sabíacontrarios a la manifestación. El artículo decía:

Algunos (miles) de personas se desplazaron la soleada tarde de ayer al Parque local dondetuvo lugar una "increíblemente exitosa" marcha pacifista contra el reclutamiento, quealcanzó su clímax cuando más de ...jóvenes mostraron sus cartillas de reclutamiento.

La manifestación de dos horas y media giró en torno al crecimiento del movimiento "NuevaIzquierda" y a la idea de que es necesario cambiar la política americana para "construir unaAmérica en la que no nos avergoncemos de vivir".

La protesta del Parque se enmarca dentro de las manifestaciones que de costa a costa, en 60ciudades, están teniendo lugar en el Día Nacional de la Resistencia. Este evento, que hadurado dos días, concluye hoy con la puesta en marcha de "talleres políticos" en la zona.

La marcha en el Parque local se ha visto relativamente libre de violencia, si consideramosel alto número de participantes, la mayoría jóvenes. El comisario de la policía municipalJohn Smith, a cargo de la comisaría local, ha declarado: "Sólo dos o tres peleas,rápidamente controladas, han ensombrecido algo un día tan perfecto".

(Las citas de los primeros tres párrafos fueron tomadas de los discursos que se pronunciaron en el evento, aunque la fuente no se identifica en la noticia).

 

Aunque el reportero personalmente estuviera de acuerdo con las afirmaciones y términosentrecomillados, las comillas le permiten afirmar que no ha interferido con sus opiniones enel asunto. Las comillas convierten a la historia en "objetiva" y le protegen ante sussuperiores. Este periodista recibía la mayoría de los encargos de cobertura demanifestaciones, aunque simpatizaba con los manifestantes, al contrario que sus jefes desección. Si éstos hubieran notado sus simpatías políticas no le hubieran vuelto a mandar amanifestaciones. Además sus relatos habrían sufrido considerables alteraciones. Sin dudalos jefes de edición elogiaban entre ellos el trabajo del reportero. En suma, el reporteromanipuló a sus superiores, interfiriendo con sus propias opiniones mediante el uso de unmecanismo asociado a la objetividad.

4.- Estructurar la información en una frase apropiada. Estructurar la información en frasesapropiadas es también un procedimiento para denotar objetividad que se pone comoejemplo de atributo formal en las noticias. La información más importante de unacontecimiento ha de presentarse en el primer párrafo, y los párrafos sucesivos contendránla información en importancia decreciente. La estructura de una noticia teóricamente se parece a una pirámide invertida.

Éste es el aspecto formal más problemático de la objetividad para un periodista. Respecto alos otros tres atributos formales, el periodista puede afirmar que ha presentado las distintasafirmaciones de verdad en conflicto, que hay evidencias suplementarias y que él se halimitado a recopilarlas, y que las citas y la información entrecomillada representa la opiniónde los demás, no la suya propia. De todos modos, incluso aunque un periodista puedainconscientemente actuar por experiencia escogiendo un encabezamiento que aprobarán sus jefes de sección y con ello plegarse a la política del medio, el periodista sigue siendoresponsable del titular de la noticia. No puede aducir que la elección la ha hecho otra persona. El periodista sólo puede invocar su profesionalidad y afirmar que su titular lovalida su propio juicio periodístico.

Invocar el propio juicio periodístico (el olfato periodístico) es un mecanismointrínsecamente defensivo, pues la "valoración periodística" es la habilidad para escoger "objetivamente" entre "hechos" que compiten entre sí, decidiendo qué "hechos" son más"importantes" o "interesantes". "Importante" o "interesante" denota contenido. En otras palabras, para justificar la estructuración de la información el periodista debe aducir susnociones de contenido, "importante" o "interesante".

Hasta cierto punto las dificultades del informador se reducen gracias a la conocida fórmulasegún la cual las noticias han de contener el "quién, qué, cuándo, dónde, cómo y por qué".Estos cinco interrogantes son lo que se llama los "hechos materiales" principales de unsuceso. Así, el periodista que consigne en primer lugar las principales "cosas materiales" deun suceso, podrá afirmar que ha sido "objetivo". Por ejemplo, cuando explicaba cómoescribió la noticia sobre la manifestación pacifista y antirreclutamiento, el periodistaafirmaba:

En primer lugar encabecé la noticia con las cosas materiales principales del tema...Cuántas personas había allí...éso es el suceso...el número de cartas de reclutamiento que se

 

exhibieron...En el segundo (párrafo) indiqué el ambiente. Luego hablé de los discursos. Loque va primero son los hechos puros.

Sin embargo los periódicos y periodistas puede que no estén de acuerdo en la identificaciónde estos hechos materiales. Este mismo reportero, hojeando la noticia de la manifestación publicada por otro periódico, la tachaba de "parcial". Se quejaba de que "había miles de personas (en la manifestación), y todos menos dos o tres se habían comportado pacíficamente, y sin embargo el periódico de la tarde encabezó el asunto con el incidenteviolento". Obviamente, el periodista del periódico vespertino replicaría que su noticia era"objetiva", porque la violencia fue "la cosa más material", el "quién, qué, cómo, cuándo,dónde y por qué" de la historia. Como demuestra sobradamente la literatura, los periódicosdisienten en sus elecciones de los "hechos" materiales, aunque la política informativa decada uno de ellos proclame que son "objetivos".

Si los periodistas tienen dificultades para identificar los "hechos materiales", incluso sinsalirse de la política informativa de su propio periódico, puede que pongan en práctica otraopción posible. En lugar de discutir los atributos formales de un relato noticioso individual, pueden describir los atributos formales de un periódico.

 

IV

Un periódico se divide en secciones y páginas. Las primeras páginas contienen lainformación general "sencillamente objetiva". Las noticias especializadas, como por ejemplo los deportes, las noticias femeninas o financieras, aparecen en unas páginasclaramente delimitadas situadas una tras otra en una sección. La información general queno es "objetiva" se sitúa en las páginas editoriales o en la "tribuna libre" que está frente a la página editorial. Sólo hay dos excepciones a esta regla. Una es el relato. A pesar de losargumentos a favor de la identificación entre noticia y reportaje (H. Hugues 1940), los periodistas distinguen con insistencia entre ambas formas (e.g. Mott 1962). En algunos periódicos esta distinción está formalizada. Por ejemplo, el New York Times publicareportajes en la primera página de su segunda sección. La otra excepción es el "análisis"que puede publicarse en las páginas generales "sencillamente objetivas" si se acompaña conuna etiqueta diferenciadora formal que indique "análisis periodístico".

Los periodistas usan la etiqueta del "análisis periodístico" para colocar una barrera entreuna historia problemática y otros relatos informativos de las páginas de informacióngeneral. Igual que las comillas teóricamente establecen una distancia entre el periodista y lanoticia y señalan que el material que contienen puede ser problemático, los "análisis periodísticos" indican que el material al que acompañan no representa ni las opiniones de ladirectiva ni es necesariamente "verdadero". Ese material es la interpretación que el periodista hace de los "hechos". Los lectores han de confiar y aceptar la información del periodista de acuerdo con su calidad o actitudes, tal y como éstas se han ido revelando en sutrabajo general y en sus previos análisis informativos.

 

Sin embargo, la invocación del análisis periodístico para sugerir objetividad también presenta dificultades. La pregunta "¿En qué se diferencia el periodismo objetivo del análisis periodístico?" resultó ser la más difícil de responder de todas las cuestiones que durante dosaños de investigación realicé . Un jefe de sección me dijo lo siguiente, después de dar vueltas durante diez minutos sin ser capaz de afrontar el tema:

El análisis periodístico implica juicios de valor. Las noticias a secas no contienen juicio devalor alguno de ningún tipo...No se puede quitar el calificativo de ·"análisis" y decir lo quese quiera. No, yo diría que salta una alarma en la mente del editor cuando eso pasa y hayque esquivar ese anzuelo. (Aunque) el lector piensa que esa etiqueta...(es) seria y meditada,la clave está en el número y grado de juicios de valor no probados en ese momento.

Aunque el editor disponga una técnica formal para alertar al lector, no puede decir quédetermina el "número y grado de juicios de valor no probados en ese momento". Además,el editor reconoce la discrepancia entre la razón para su acción y la interpretación que elconsumidor de noticias hace de esa acción. Enfrentado a este dilema, el periodista invocade nuevo su juicio informativo profesional, es decir, su experiencia y sentido común que le permiten determinar la "importancia" o "interés" de ciertos "hechos".

 

V

Podría parecer que los juicios periodísticos son un conocimiento sagrado, una habilidadsecreta de los informadores, que los diferencia de otras personas. La experiencia del periodista con las relaciones interorganizativas, su trato con su propia empresa o con otras,le capacitan para defender su propio juicio informativo tanto como la "objetividad". El periodista realiza tres generalizaciones:

1.-La mayoría de las personas, incluidas las fuentes informativas, sirven a sus fines particulares. Para ser creíble, un individuo debe probar su fiabilidad como fuente a travésde un proceso de ensayo y error.

2.-Algunas personas, como por ejemplo los presidentes de consejos, están en situación deconocer mejor que otras personas una organización. Aunque puedan servir a sus intereses personales, su información será probablemente más "exacta" porque tienen más "hechos" asu disposición.

3.-Las instituciones y organizaciones tienen procedimientos dispuestos para proteger tantoa la institución como a las personas que entran en contacto con ella. La importancia de unadeclaración o de un "sin comentarios" debe siempre establecerse de acuerdo con elconocimiento que el periodista tenga de esos procedimientos institucionales.

Los periodistas tienden a aumentar la importancia de estas tres generalizaciones al unirlashablando de hasta qué punto algo "tiene sentido". Dos ejemplos de rechazo de publicación por jefes de edición ilustran este punto. Uno de ellos gira en torno al sistema legal; el otro,

 

al sistema político. Ambas son instituciones con las que los periodistas dicen estar familiarizados a través de su experiencia.

 Ejemplo 1.-Un padre al que se le iba a acusar de negligencia infantil con resultado demuerte de su hija por una fibrosis quística visitó la redacción para protestar por suinocencia. La información que recogía la lacrimógena historia del padre fue aprobada por elredactor jefe del área local, pero rechazada por el jefe de la sección y por el director editorial, quien insistió en que el redactor jefe no debió aprobar la historia. Estos doseditores basaban su rechazo en dos factores: la historia contenía demasiadas preguntas sinrespuesta, y los editores daban sentido a la conducta de la policía en el asunto. Como loexpresó uno de ellos, "cuando la policía y el abogado del distrito levantan la bandera, esque algo pasa de verdad". Los editores insistían:

Los periódicos tienen que seguir los pasos legales tal y como se dan en la secuencia dedetenciones, acusaciones, juicios y sentencias, como no sea que el periódico esté totalmenteconvencido de que la justicia ha incurrido en un error...En ese caso el periódico puede poner todas las trabas y hacer cruzada a favor del acusado.

Aquel caso no era un clarísimo error de la justicia porque había demasiadas preguntas sinrespuesta. Por ejemplo, la historia del padre no decía si la niña había estado o no entratamiento médico. Los editores se preguntaban, "¿Pudo la niña morir sin que hubieranegligencia?". Más esencial era el hecho de que cuando el jefe de la sección telefoneó a la policía buscando información adicional sobre el padre, la policía "cerró el grifo".Basándose en su experiencia con los procedimientos policiales, los jefes de secciónasumieron que la policía estaba estudiando acusar al hombre. Dado que la policía "noacusaría" sin tener la prueba legal requerida en el caso a juicio, concluyeron que "habíaalgo oscuro en todo el asunto". Para publicar la información, los periodistas notaron quenecesitaban más "hechos" que contrarrestaran la lógica del procedimiento policial.Presentando evidencias suplementarias (atributo formal de la objetividad), los periódicos podían proclamar su conducta objetiva. Como dijo un editor,

La historia es parecida a otra sobre un hombre cuya mujer había sido asesinada; a él no lohabían detenido, pero sí le habían dicho que no abandonara la ciudad. Este hombre fue atodos los periódicos intentando aclarar la historia y negando acusaciones que todavía no sehabían hecho. Si al hombre lo procesan a la semana siguiente y nosotros hemos publicadosu historia, ¿cómo quedaríamos nosotros los periódicos?

 Ejemplo 2.-White, redactor principal de la sección política, cubrió las primarias de 1968entre McCarthy y Johnson en New Hampshire. El periodista quería que ganase Mc Carthy.Comparativamente, muchas de sus afirmaciones fueron eliminadas de sus informaciones porque los editores vieron que estaba entrando en un peligroso análisis periodístico. Deacuerdo con la experiencia de los periodistas en política, el dirigente de un partido político(por ejemplo, un presidente) controla el partido, y los miembros del partido apoyan al queestá en el poder por su puesto institucional, aunque personalmente no estén de acuerdo conél.

 

Una de las afirmaciones eliminadas de un artículo de White decía que el Presidente Johnsonhabía "salido escaldado" de las primarias de New Hampshire. El jefe de edición borró estaafirmación porque iba contra toda experiencia política asumir que un presidente que tienetodo el poder en su partido pudiera tener dificultades ante un joven senador desconocido y poco ortodoxo. Como explicaba el redactor jefe de la sección, que también favorecía a McCarthy, "se supone que White es un experto en política, pero no respaldaba con hechos susafirmaciones. White estaba charlataneando demasiado en aquel asunto". Para subrayar suopinión, el editor afirmó que White había apostado con él a que Johnson se retiraría de lacandidatura en las elecciones de noviembre. El editor describió tal conducta como "bazofia política" y como "pensamiento ansioso". Después de todo, señaló, todos los presidentes degobierno del siglo veinte habían renovado su candidatura, teniendo suficiente poder como para asegurar su candidatura por el partido, y los políticos aman el poder.

Una puede concluir que la experiencia organizativa del periodista le impone prejuicios encontra de las posibilidades contrarias a las expectativas preexistentes. Desde el punto devista de un periodista, sin embargo, sus experiencias con otras organizaciones durante un período de tiempo validan sus juicios periodísticos y pueden reducirse al sentido común.Por "sentido común" el periodista entiende lo que la mayoría de los periodistas creenverdad o dan por sentado.

 

VI

El sentido común tiene un papel crucial en el establecimiento del contenido de una noticia,ya que el contenido de una noticia es una multitud de "hechos", y el sentido común puededeterminar si una pieza de información puede aceptarse como "hecho" o no. Por ejemplo,consideremos la evidencia sustentadora aceptada como "hecho" en la descripción objetivade "propaganda comunista". Si el título discutido hubiera incluido Das Kapital entre las publicaciones comunistas, el término "comunista" hubiera estado justificadosupuestamente. Das Kapital se asocia normalmente con el comunismo y no simplementecon un texto de teoría económica.

Los "hechos" no documentados que los periodistas aceptan como probados revelan hastaqué punto se basan los juicios periodísticos en el sentido común. Por ejemplo, cuandodiscutían el tema de los análisis periodísticos, el redactor jefe de local señalaba, "Todo elmundo dice que Gene Mc Carthy apela a los intelectuales. Así se dice en las noticias, perono hay documentación. No tenemos tiempo ni espacio para documentarlo, así que noslimitamos a afirmarlo llanamente. No sé si es verdad. ¿Es exacto estadísticamente?"

Los periodistas no publicarán como "hechos" afirmaciones que contradigan el sentidocomún. Rivers (1967, p. 187) cuenta la experiencia de John F. Kennedy como reporteronovato trabajando para el servicio informativo de Hearts International tras la SegundaGuerra Mundial. Como Kennedy había vivido en Inglaterra antes de la guerra y "habíaescrito un libro sobre la torpe postura militar británica, se le envió...a informar sobre lasfuturas elecciones. Una de sus primeras informaciones predecía la derrota electoral de losconservadores de Winston Churchill...""En el instante en que mi información llegó a Nueva

 

York", recordaba Kennedy más tarde, "recibí un cañonazo de Hearst acusándome prácticamente de estar chalado". La noticia redactada por Kennedy contradecía el sentidocomún americano al insistir en que un político popular, que había conducido con éxito a un país en medio de una guerra no iba a ser reelegido. Su "experta" opinión cuestionadacontradecía lo que "todo el mundo sabía" y "daba por sentado". Así que no era "factual".

Como Schutz (1962, p. 75) lo ha expresado acertadamente, "basta con que señalemos quetodo conocimiento que se da por sentado tiene una estructura altamente socializada, esto es,se asume que es algo obvio no solamente por parte de una persona, sino por nuestra parte, por todo el mundo (significando todo el mundo que pertenece a nuestro mundo)". Seríainteresante explorar más profundamente los tipos de información que los periodistasconsideran "hechos", o aquellas declaraciones cuya exactitud los informadores dan por sentada. He sugerido en otro lugar (1969) que las nociones que los periodistas dan por sentadas son realmente imágenes de sus propias visiones de la realidad social y política.Como una observación de esta naturaleza requiere una reexaminación de las relacionesinterorganizativas del mundo informativo, explorar con intensidad este tema va más allá delos objetivos de este artículo. En este momento ha de bastarnos con saber que (1) algunoscontenidos pueden ser aceptados como "hechos" si tienen sentido y (2) los juicios periodísticos que justifican tal "sentido" parecen ser un conocimiento profesional sagrado.Pero el conocimiento profesional especial es una defensa inadecuada contra las críticas,dado que los críticos frecuentemente atacan ese mismo conocimiento.

 

VII

En esta exploración de la noción periodística de objetividad, he examinado hasta ahora (1) procedimientos informativos en tanto atributos formales de las noticias y periódicos, (2) juicios basados en las relaciones interorganizativas, y (3) el sentido común como base paravalorar el contenido informativo. Aunque los atributos formales de las noticias y periódicos puedan presentar problemas al periodista, le permiten proclamar su objetividad, y que tales proclamas puedan ser apreciadas por el lector.

Dadas las diversas presiones que el periodista sufre, siente que tiene que protegerse a símismo, que tiene que ser capaz de afirmar "Soy un profesional objetivo". Ha de ser capazde desarrollar estrategias que le capaciten para afirmar "Esta noticia es objetiva, impersonale independiente". Igualmente, los editores y directores del periódico sienten que deben ser capaces de afirmar que las columnas informativas son "objetivas", y que la políticainformativa y editorial de su periódico pueden distinguirse una de otra. Como los lectoresno poseen juicio periodístico y, cuando ponen en duda a los periodistas, tienden a actuar como si lo tuvieran, proclamar la objetividad basándose en la valoración periodística puedeque no satisfaga a los críticos.

De todos modos cuando citan atributos formales de noticias y periódicos, incluyendoaquellos que pudieran ser problemáticos (como cuando Das Kapital justificaba el término"propaganda comunista"), los periodistas pueden indicar la prueba de que distinguen entrelo que ellos piensan y aquello de lo que informan. Pueden defender que (1) han presentado

 

las opciones de verdad en conflicto, (2) que han presentado evidencias suplementarias parasostener un "hecho", (3) que usan las comillas para indicar que el periodista no estáafirmando verdad alguna por su parte, (4) que presentan los principales "hechos materiales"en primer lugar, y (5) que han separado cuidadosamente los "hechos" de las opinionesutilizando la etiqueta "análisis informativo". Así, parece que los procedimientos

informativos ejemplificados como atributos formales son en realidad estrategias con lasque los periodistas se protegen de las críticas y de la exigencia profesional de objetividad 

de los profanos, especialmente dado que su conocimiento profesional especializado no essuficientemente respetado por los consumidores de noticias y por tanto puede ser incluso la base de un ataque crítico. Aunque procedimientos como los estudiados puedan darnos pruebas demostradas del intento de conseguir la objetividad, no puede decirse que de hecholo consigan. Se ha sugerido que esos procedimientos (1) constituyen una invitación a la percepción selectiva, (2) insisten erróneamente en que los "hechos hablan por sí mismos",(3) son un mecanismo desacreditador y un medio para introducir la opinión del redactor dela noticia, (4) están relacionados directamente con la política editorial de una organizacióninformativa particular, y (5) equivocan al consumidor de noticias al sugerir que el "análisis periodístico" es serio, meditado, o definitivo. En suma, hay una clara discrepancia entre losfines buscados (la objetividad) y los medios usados (los procedimientos informativosdescritos).

Esta interpretación tiene varias implicaciones teóricas que son interesantes. En primer lugar, coincide con la afirmación de Everett Hughes (1964, pp. 94-98) de que las profesiones desarrollan procedimientos ritualizados para protegerse a sí mismas de lasacusaciones. Afirma, "en la enseñanza", profesión, como el periodismo, "cuyos fines queestán muy mal definidos -y en consecuencia los errores abundan de igual manera- donde elmundo profano a la materia está siempre dispuesto a criticar y acusar a los profesionales, laconducta correcta se convierte en ritual tanto e incluso más incluso que en un arte. Si un profesor puede demostrar que ha seguido el ritual, apartará la culpa de sí mismo y lacargará sobre el niño o estudiante miserable; y el fracaso puede y suele también ser atribuido a éstos" (pp. 96, 97). Examinando la conducta ritualizada de profesionales desegundo rango como los farmacéuticos o las enfermeras, Hugues continúa, "intuimos lafunción profunda que el arte, el culto y el ritual tienen en diversas ocupaciones. Proporcionan un conjunto de seguros y contrapesos emocionales y hasta organizativos

contra los riesgos, sean subjetivos u objetivos, de una profesión" (p. 197; el subrayado esmío). Desde este punto de vista, los atributos formales de noticias y periódicos aparecencomo rituales estratégicos que justifican la proclamación de objetividad. Permiten al periodista decir, señalando a sus pruebas, "Soy objetivo porque he usado comillas".

En segundo lugar, estas averiguaciones puede que estén basadas en las mismas nociones deobjetividad usadas por los periodistas. Como previamente sugerí, los sociólogos distinguenentre ellos mismos y los demás haciendo notar su propia tendencia al examen reflexivo delas asunciones filosóficas. Sin embargo Gouldner (1970, p. 249) uniéndose a C. WrightMills al usar la expresión "replicabilidad transpersonal" sugiere: "En esta noción, laobjetividad significa sencillamente que el sociólogo describe sus procedimientos tanexplícitamente que otros, al emplear esos procedimientos, llegarían a las mismasconclusiones. En efecto, pues, ésta es una noción de objetividad como rutinización técnicaque se basa, en último término, en la codificación de los procedimientos de investigación

 

que se han usado. De todas formas es principalmente una definición operativa de laobjetividad, que presumiblemente nos dice lo que debemos hacer para justificar unaafirmación de que algún hallazgo particular es objetivo. No nos dice, en cualquier caso, casinada sobre lo que significa la objetividad conceptual o connotativamente". En suma,Gouldner acusa a los sociólogos de eludir los problemas epistemológicos escondiéndosedetrás de las técnicas formales. Nos da una imagen de la objetividad sociológica comoritual estratégico.

Otras profesiones y ocupaciones equiparan la objetividad con la capacidad de comportarsede un modo bastante impersonal como para seguir unos procedimientos rutinariosapropiados en un caso específico. Por ejemplo, la postura objetiva del abogado está glosadaen el conocido refrán "sólo un tonto contratará al abogado que se tenga a sí mismo por cliente". La norma por la que los cirujanos no operan a sus propios familiares protegesupuestamente tanto al médico como a los pacientes, de sus errores. Al estar emocionalmente implicado, se piensa, el médico no podrá llevar a cabo los procedimientos médicos.

En todos estos ejemplos, la objetividad radica en procedimientos rutinarios que pueden ser ejemplificados como atributos formales (comillas, niveles de importancia, precedenteslegales, rayos X) y que protegen al profesional de sus errores y de sus críticos. Resulta quela palabra "objetividad" se usa defensivamente como un ritual estratégico. De todos modos,aunque mis hallazgos indican esta conclusión referida al uso de la palabra por parte de los periodistas, generalizarla a otras profesiones u ocupaciones debe esperar a un estudiosistemático del uso de la "objetividad" en el contexto de esos trabajos.

 

(Este artículo de Gaye Tuchman se publicó originariamente en el número 4, volumen 77, dela revista American Journal of Sociology, en 1972. Agradecemos al American Journal of Sociology su colaboración para la traducción y publicación de este texto).

 

BIBLIOGRAFÍA

Benet, James, 1970, "Interpretation and Objectivity in Journalism", Academics on the Line.Edited by Arlene K. Daniels and Rachel Kahn-Hut. San Francisco: Jossey Bass.

Breed, Warren, 1955, "Social Control in the Newsroom: A Functional Analysis". Social 

 Forces, 33:326-35.

Ellul, Jacques, 1966. Propaganda. New York:Knopf.

Emerson, Joan, 1970. "Behavior in Private Places: Sustaining Definitions of Reality inGynecological Examination". In Recent Sociology, n. 2, edited by Hans P. Dreitzel, NewYork: Macmillan.

 

Goode, Erich, 1970. The Marijuana Smokers. New York:Basic.

Gouldner, Alvin, 1970. "The Sociologist as Partisan: Sociology and the Welfare State". InThe Sociology of Sociology, edited by Larry T. Reynolds and Janice M. Reynolds. NewYork:David McKay.

Hugues, Everett C., 1964. Men and Their Work . Glencoe, Ill.:Free Press.

Hugues, Helen M., 1940. News and the Human Interest Story. Chicago: University of Chicago Press.

Jacobs, Ruth, 1970. "The Journalistic and Sociological Enterprises as Ideal Types". American Sociolgist, 5: 348-50.

Klapper, Joseph, 1960.The Effects of Mass Communication. New York: Free Press.

MacDougall, C.D. (1968) Interpretive Reporting . New York: Macmillan.

March, James G. and Herber A. Simon (1967) Organisations. New York: Wiley.

Mattheuws, T. S., (1959) The Sugar Pill . New York: Simon and Schuster.

Mott, Frank L. (1962) The News in America. Cambridge, Mass: Harvard University Press.

Park, Robert and Enrnest Burguess (1967) The City. Chicago: University of Chicago Press.

Radin, Paul (1957) Primitive Man as a Philosopher . New York: Dover 

(1960) The World of Primitive Man. New York: Glencoe

Reynolds, Larry T. (1970) "A Note on the Perpetuation of a Scientific Fiction" in The

Sociology of Sociology, edited by Larry T. Reynolds and Janice M. Reynolds. New Yor:David McKay.

Rivers, William (1967) The Opinionmakers. Boston:Beacon.

Rovere, Richard (1960). Senator Joe McCarthy. New York: Meridian.

Schutz, Alfred (1962) Collected Papers I . The Hague: Martinun Nijhoff.

Shibutani, Tamotsu (1966). Improvised News. New York: Bobbs-Merrill.

Tuchman, Gaye (1969) "News, the Newsman’s Reality". Ph. D. dissertation. BrandeUniversity.

Udry, J. Richard, (1967). Social Contyext of Marriage. New York:Lippincott.

 

Weinstein, Eugene, (1966). "Towards a Theory of Interpersonal Tactics". In Problems in

Social Psychology, edited by Carl Backman and Paul Second. New York: Mc Graw Hill.

 

CIC digital Nº 4

http://www.ucm.es/info/per3/cic/Cic4ar12.htmCuadernos de Información y Comunicación. Departamento de Periodismo III.Facultad de Ciencias de la Información de la Universidad Complutense de madrid