Ely Britto - I Ching - Um Novo Ponto de Vista

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    UM NOV PONTO DE VISTUm Modelo d6 Processo de Interpretar o CHING

    ely brtto

    Nas palavras e atos do passado jaz oculto umtesouro que homem pode utilizar para forta-lecer e elevar seu prprio carter. O estudo dopassado no deve se limitar a um meroconhecimento da histria, mas deve, atravs daaplicao desse conhecimento, procurar daratualidade ao passado.

    Hexagrarna (26) O Poder de Domar do GrandeChing Livro das Mutaes ,

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    NDI E

    PrefciointroduoLivro UmProcesso: uma definio 11 A pessoa que consulta sua pergunta 22 A resposta 93 O contedo do 1 Ching 1

    3.1. A Filosofia 2Primeiro princpio das mudanas 3Segundo princpio das mudanas 5Terceiro princpio das mudanas 6As mudanas 8Os trs poderes fundamentais 03.2. O contedo grfico 0As linhas 1Hierarquia de tempo 3Hierarquia de autoridade 4Relao das linhas entre si 5Linhas diretrizes do hexagrama 7

    Vrias linhas mveis sorteadas 7Os trigramas 8 Localizao dos trigramas 6Os Hexagramas 73.3. A linguagem textual do 1 Ching 2Tratado das Imagens 4O nome dos hexagramas 5Julgamento 7Imagem 4O texto das linhas 5O humor no 1 Ching 9

    4 A Interpretao 2O fio da meada 5A meditao 7A autonomia do 1 Ching 9Sntese 0Eplogo 3Livro Dois Os Hexagramas 6Livro Trs AnlIse de alguns casos 77

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    Gostaria de agradecer s pessoas que trabalharam comigo na elaborao destelivro. Aloisio Teixeira emprestou o seu computador por longos meses. SolonCarvalho formado em comunicao deu sugestes na linguagem e estruturaodo texto. Manha Moura Tania Penido e Minom Pinho ajudaram-me na reviso.Izabel Delmondes e Eduardo Cesana que fizeram o projeto gri co do livro. Osclientes que tiveram seus casos expostos autorizando a publicao de suasconsultas

    A todos eles minha gratido.

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    PREF IO

    onheci o 1 Chlng em 1969. Naquela poca, no tnhamos atraduo deste livro para o portugus, o que s veio aacontecer em 1982, com o trabalho de Gustavo Alberto CorreaPinto e Alayde Mutzenbecher. Recebi uma edio francesa depresente de uma amiga jornalista Liana Moreira minha hspede duranteumas frias de vero.Dai em diante nunca mais me separei dele, embora no incioachasse quase impossvel um estudo mais profundo da matria devido falta de material escrito, fato que persiste at hoje. Contornei este

    problema buscando estudar assuntos paralelos e pertinentes a umamelhor compreenso da obra, dentre os quais cito os smbolos doinconsciente da obra de CarI Gustav .Jung, O Tratado das Histriasdas RelIgies de Mircea Eliade, o Tao te King de Lao Tse e o Segredoda Flor de Ouro com traduo do Richard Wilhelm.Senti, desde os primeiros contatos com 1 Chlng, que algomisterioso nos seus textos me fazia pensar sobre seu sentido mesmoaps terminar as consultas. Sua filosofia ia penetrando suavemente emminha mente substituindo antigos padres e pontos de vista. Nestesprimeiros anos de estudo no percebia que o 1 Ching era um livro desabedoria, utilizava-o como um orculo, ou seja, para saber coisas queiriam acontecer. De repente, comecei a perceber mudanas sutis namaneira com que encarava os fatos da vida.s vezes era muito difcil aceitar as crticas ao meu comportamento

    ou s minhas intenes contidas na resposta sorteada. Ficava aborrecidae, por ser muito imatura, brigava com ele Escondia o livro no maleirodo armrio e dizia que ele estava de castigo por ter me dito coisas todesagradveis. Resultado: a nica castigada era eu, pois muitas vezesele desaparecia mesmo. Quando j refeita o procurava no maleiro, nomais o encontrava. Nunca pude explicar este fato estranho.O verdadeiro aprendizado do 1 C hlng advm da aceitao interna denossas limitaes e da responsabilidade em assumir com coragem nossoprprio crescimento. Assim, passamos a conhecer sua sabedoria edesistimos de v lo apenas como um orculo.

    Naquela poca, eu tinha 22 anos, era ainda muito infantil eimpulsiva. O 1 Chlng me ajudou a crescer, a pondrar com cuidadoantes de tomar decises, a reconsiderar coisas que nossa viso4

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    distorcida da vida considera sem importncia. Em suma tornou-meresponsvel pela qualidade da minha prpria vida ensinou-me a noesperar que metas se concretizassem como em um passe de mgica esim a construi-las passo a passo atravs de um cuidadoso trabalhosobre mim mesma.

    Foi de grande valia buscar conhecimentos do ocidente para melhorcompreender a filosofia chinesa essencialmente oriental. Creio que estaalternativa tornou possvel assimilar esta cultura sem os fanatismos e asutopias que fizeram muitos de meus amigos desta poca se perderem.Pessoalmente tive a sorte de estar casada com um cientista que tinhaverdadeira averso aos sonhos loucos contrrios cincia e comuns najuventude dos anos setenta. Ele ajudava-me a fazer analogias entre oconhecimento oriental e os avanos cientficos na rea da cibernticada matemtica e da fsica quntica.

    Aos poucos errando aqui acertando ali aps muitos anos deconsultas interpretaes erradas e conseqentes estudos consegui umaboa relao com o 1 Chlng e a sua sabedoria. Muito ajudou o fato deter me submetido a uma terapia freudiana em 1979 onde pude sentir afora dos smbolos e o seu significado na prtica psicanaltica. Nesteano acabei me separando do meu marido e da em diante seguisozinha meus estudos da filosofia oriental e do 1 Chlng.

    Durante todos estes anos de minha relao com o 1 Chlng procureisempre apresent-lo s pessoas a quem queria bem. Iniciei muitosamigos nos seus mistrios e ajudava-os por algum tempo na interpreta-o. Sei que todos eles continuam at hoje dedicando ao livro o mesmocarinho que eu.

    O meu primeiro trabalho escrito sobre o 1 Chlng foi experimentalfeito com muito cuidado pois escrever era para mim uma atividade muitonova. Terminado o trabalho editei com impresso lazer 100 exempla-res uma produo independente que foi distribuda atravs de umagrande livraria em esquema de consignao. Houve uma tima aceitaoe apesar das inevitveis falhas foi considerado um trabalho cuidadoso.

    A idia deste livro surgiu a partir do retorno que recebi dos leitoresdo primeiro trabalho experimental. Percebi que a maior dificuldade daspessoas no era a assimilao da filosofia e dos hexagramas do livro.A maior dificuldade era a interpretao. No primeiro trabalho dediqueiapenas um rpido captulo a este processo pois at ento no tinhadescoberto um modelo que pudesse ser seguido para evitar os errosque incorremos ao tentar compreender a mensagem do 1 Chlng. Paracriar um modelo de interpretao precisava de dados de consultas ou.seja uma amostragern mais ampla envolvendo pessoas de diferentesorigens classes sociais idades etc

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    Desta forma comecei a iniciar e a atender pessoas em carterprofissional. A coisa toda foi acontecendo de uma forma muito espont-nea atendia pessoas que indicavam outras e assim por diante.

    Com alguns estudos sobre a teoria da comunicao e a teoria dossistemas e com a observao do processo que eu mesmo utilizava paraatender aos clientes foi-se consolidando um modelo baseado parte nafilosofia do livro parte nas experincias que obtive como intrpreteprofissional.

    O mtodo que desenvolvi no pretende ser o nico mtodo deinterpretao do 1 Chlng contudo sua eficincia foi comprovada pelosresultados obtidos nestes dois anos de atividade profissional Foram maisde 5.000 perguntas e respostas com resultados positivos ou pelo menosencaminhados a uma soluo.

    As consultas envolviam questes abrangendo diversas reas:empresariais afetivas profissionais problemas psicolgicos sadeeducao de filhos convvio familiar viagens escolha de carreirapoltica etc. A maior parte dos clientes no conheciam nada sobre o 1Chlng outros conheciam superficialmente e bem poucos o utilizavamcomo livro de sabedoria. Alguns queriam apenas resolver seus proble-mas outros se interessavam pelo assunto e eu os iniciava na consultae interpretao com cinco aulas particulares cada uma de quatro horasde durao. Foi muito gratificante para mim v-los depois da iniciaoconsultando e interpretando sozinhos o 1 Chlng.

    Alguns s estiveram comigo uma nica vez outros voltavamregularmente alguns chegaram a consultar por um ano. Atendi desdeadolescentes idosos de oitenta anos. Pessoas ricas poderosaspessoas da classe mdia empregadas domsticas favelados polticosempresrios. Nunca recusei ningum desde que tivesse abertura paraouvir os conselhos do 1 Chlng.

    Sempre aprendi muito com meus clientes e quanto mais diferentesfossem mais me enriqueciam. Ns s crescemos na vida interagindo compessoas diferentes de nosso padro e forma de vida

    Salvador 13 de maio de 1993Ely Britto

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    L VRO UMUm Modelo do Processo de Interpretar o Ching

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    Processo:uma definio

    0 primeiro problema a ser resolvido para o entendimento daproposta deste livro deixar bem claro o que um processo.Creio que, sem esta compreenso, seria muito pretensiosoescrever um livro sobre o processo de interpretar o 1 Ching.Processo numa definio do dicionrio qualquer fenmeno queapresente contnua mudana no tempo ou qualquer operao ou

    tratamento contnuo sucesso de estados ou de mudanas. Herclitodizia a respeito do conceito de processo a seguinte frase: Nenhumhomem pode entrar duas vezes no mesmo rio. O homem ser diferentee assim tambm o rio.

    No h como ao s analisar um, processo, separar os fenmenosque esto envolvidos neste mesmo processo. Tudo est interligado,todos os ingredientes de um processo afetam-se mutuamente. Falarento sobre como interpretar o 1 Chlng falar da tentativa de se criarum modelo do processo de interpretao. No momento de umainterpretao, tantas oisas devem ser levadas em conta que nos parecequase impossvel criar algum modelo para algo to vivo, dinmico epessoal

    Dois acontecimentos por mais parecidos que sejam jamais soexatamente o mesmo. A prpria vida um processo. Nada esttico,tudo mudana. No h o que mude s h a mudana. O livro dasmutaes, o 1 Chlng, um cdigo que representa estas mudanas. Nainterpretao isto sucede sempre duas pessoas diferentes interpretandouma resposta do 1 Chlng vivem um processo que nico e jamaisrepetido, embora a interpretao possa ser parecida.

    Um processo algo contnuo e ininterrupto, mas para podermosanalis-lo precisamos interromp-lo. Ns interrompemos um processo noprprio ato de separar os seus ingredientes. Como nossa idia aqui criar um mtodo do processo de interpretar o 1 Chlng, vamos comearanalisando cada uma de suas etapas.

    Quais seriam os ingredientes do processo de interpretao do 1Ching?A pessoa que consulta: suas expectativas, sua pergunta.A resposta.

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    O contedo do 1 Chlng, sua linguagem metafrica.A interpretao

    1 A pessoa que consulta:suas expectativas sua perguntaA pessoa que consulta o 1 chlng tem uma srie de caractersticas

    que precisamos compreender, pois ela quem aciona o seu cdigo e para ela que o 1 Ching dirige a sua mensagem, a mensagem dohomem superior. Dizem os textos antigos que o livro foi escrito por sbiosde uma civilizao muito harmoniosa que viviam em sabedoria e paz.Eles sabiam que no futuro a humanidade iria viver um perodo de trevase ignorncia. Criaram, ento, o 1 Chlng para conduzir esta civilizaoignorante e desequilibrada de volta sabedoria e paz.

    Vamos examinar agora o conceito de pessoa para melhorcompreender este ingrediente do processo de interpretao. A pessoa'no conceito do psiquiatra CarI Gustav Jung um limitado complexo defunes com os quais o eu se identifica ao interagir com o outro e comos objetos A palavra pessoa vem do latim persona, que designava amscara dos antigos atores.

    Sabemos que nos comportamos de modo diferente depender doambiente com o qual estamos interagindo. Sabemos de pessoas queso carrascos na sua vida pblica e profissional e que no seu meiofamiliar so frgeis, sensveis e dominadas. O que chamamos ento depessoa um ser fragmentado com diversas facetas, diversas mscaras,que so utilizadas na sua relao com o meio. Muitas destas facetasso conscientes, porm outras so inconscientes e, s vezes, podemocorrer antagonismo entre elas.

    Pouco sabemos do que na realidade somos. Muito do que somos, fruto da nossa interao com o meio. Assimilamos padres, vivemosvidas ditadas pela mdia, sofremos limitaes da nossa cultura, tudo nosprescreve o que certo e o que errado. Ns nunca paramos paraperguntar de onde vem tudo isto, nunca tentamos compreender nossaverdadeira natureza to diversificada e nica.

    Certa vez fui apresentada como estudiosa do 1 Ching para umartista plstico rebelde, da contra cultura. Ao saber do 1 Chlng ele reagiucom sua rebeldia dizendo Eu jamais consultaria este livro pois s faoo que gosto. Tranqilamente respondi, Nada contra voc fazer o quegosta contanto que saiba o que est por traz deste gostar. As vezesgostamos de coisas sem nunca sabermos o porqu, de onde vem estegostar e o que na verdade isto significa.

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    A pessoa que consulta o 1 Ching, deve ter a humildade de saberque conhece muito pouco sobre si mesma e sobre o universo onde vive.Somos seres em formao e no indivduos prontos. Muito do queprezamos e achamos que a vida, vem da nossa interao com o meio,da mscara protetora que adotamos na relao com os outros.

    Esta atitude interna facilitar muito a compreenso da resposta do1 Ching, porque ela elimina as expectativas baseadas na nossanecessidade de afirmao e nos conscientiza da nossa dependncia, danossa interao com tudo o que existe. O Homem inferior, to citadonos textos do livro, o aspecto da nossa psique chamado "pessoa".

    Em ns tambm existe o homem superior ou homem sbio, masele s se manifestar, se assimilarmos atravs das consultas seu perfil.E para o homem superior dentro de ns que dirigida toda a mensagemdo 1 Ching

    H um aspecto importante que distorce a compreenso ocidentaldo que seja o 1 Chlng, o livro das mutaes. Este aspecto a crena.Muitas pessoas inteligentes, bem informadas, sem nunca terem contatocom o 1 Ching dizem no acreditar no livro. O 1 Chlng no exige queacreditemos nele. O 1 Chlng um cdigo das mutaes, um livro desabedoria no um sistema onde as pessoas e coisas so enquadradase da possamos acreditar ou deixar de acreditar nele. O 1 Chlng taladas leis que regem as mudanas, as transformaes, fala da vida dojeitinho que ela .

    Abra a sua janela O que voc acabou de fazer est no 1 Chlng.Abrir e fechar um atributo do receptivo um dos trigrarnas que compemo 1 Ching. Olhe agora para o cu O que voc v? E dia? E noite? Ocu est no 1 Chlng, a noite e o dia tambm esto l. Voc nasce,morre, respira, move-se, repousa. Tudo isto est no 1 Chlng.

    O 1 Chlng no um sistema de crenas. A vida no tem que seadaptar ao 1 Ching. O 1 Chlng nasceu da observao da natureza comoela se apresenta do nascer ao morrer. Ele representa a vida e a morteou melhor ele a prpria mutao codificada. Seus hexagramas e linhasmutantes mapeiam nossa relao com tudo o mais que existe. Ele omodelo de todas as relaes dentro do sistema que denominamosuniverso

    Outras pessoas religiosas e crentes, tm uma outra expectativa toincorreta quanto os descrentes, vem em cada hexagrama do 1 Chlngseu Deus ou seu diabo, e dizem: "Eu acredito no 1 Chlng". Acendemvelas usam toda uma parafernlia para homenage-lo e se esquecemde fazer a nica coisa que realmente importa. Ao consultar o 1 Chlng,o importante absorver sua sabedoria, aprender com ele como so asleis da natureza expressas em seus hexagramas, ou seja, como mudar

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    constantemente, como harmonizar nossas vidas com a Vida maior quea natureza to sabiamente espelha.

    Na antiga China era proibido guardar o 1 Chlng em algum lugarque estivesse acima da cabea para evitar uma adorao ao livro e umdistanciamento entre ele e a vida cotidiana de cada um.

    Nos dois exemplos acima citados, vemos um posicionamentomaterialista, o dos descrentes, que corresponde fora Vang e um outroespiritualista, dos crentes, que corresponde fora Vin. O 1 Chlng nosensina uma nova maneira de pensar que inclue e no exclue mapeando,nos seus hexagramas e linhas mutantes, as relaes das foras danatureza, que so as mesmas da nossa vida cotidiana.

    A sabedoria surge a partir de um novo ponto de vista quecompreende a unidade dos sistemas com os quais nos relacionamos,que percebe nossa pequenez e nossa dependncia da natureza, dosecossistemas. O 1 Chlng no um livro religioso e sim, um livro desabedoria

    Vamos agora analisar alguns casos de consulta ao 1 Chlng paramelhor compreender a designao pessoa , que o primeiro inredientedo modelo de processo de interpretao.

    Caso 1.Um homem de 42 anos, divorciado h dois anos, tem trs filhos

    com a ex-mulher. Sua vida est confusa, desorganizada. Abandonou suafonte de renda o comrcio e no sabia para onde caminhar. Est s,sem amigos, sem trabalho, sem amor. Engordara 12 quilos e no tinhamais perspectivas. Estava apaixonado por uma mulher com quem serelacionou nos dois anos aps a separao. Uma mulher infantil,despreparada de quem havia se separado h uma semana. Ele nosuportou sua infantilidade.

    Apesar de dizer que no amava mais a ex-mulher queria saber sedevia voltar para ela. Quando perguntei porque queria voltar com umapessoa que no mais amava respondeu: Ela a me de meus filhos .Com os filhos tinha, durante o casamento, uma relao bastantesuperficial, retomada aps a separao de uma maneira bastanteautoritria. Dizia que precisava ser severo para compensar a meducao que a me dava. As crianas uma de 4 anos, uma de 6 anose a outra de 8 anos, tinham um comportamento bastante estranho paracrianas desta idade: quando estavam com o pai e encontravam a meem lugares pblicos, no falavam com ela e vice-versa.

    Podemos notar, neste caso, que a pessoa' estava num momento

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    crucial de sua vida, Seus valores estavam em cheque, quase em chequemate. Precisava urgentemente encontrar uma sada para esta situao,seno a paralisao dos aspectos profissionais e afetivos poderiamlev-lo a uma grave crise psicolgica.

    Nenhum ser vivo suporta situaes sem sada por muito tempo.Vrias contradies apontam para esta crise de valores ama uma mulherinconveniente, quer voltar para a outra que diz no mais amar. Nuncase importou realmente com os filhos e agora quer comandar suas vidasautoritariamente, sem amor. Abandonou seu trabalho sem saber o querealmente busca.

    Caso 2.Uma mulher de 36 anos divorciada, est desem3regada, formada

    em Arquitetura. Conta que super bem relacionada, todos adoram seubom humor. Se comporta como se no tivesse probemas. No sabedizer no a convites, 'para no perder os amigos, seno eles vo seofender e no voltaro a convid-la . Sozinha entra em crise porquesabe que est vivendo uma mentira, pergunta si rj'iesma porque assim, porque precisa se punir. Tem problemas de relacionamento comum homem de carter duvidoso, tem medode flcar sozinha. Aceitaconviver com pessoas desagradveis e fteis, no por compreend-lasmas por no querer mostrar o que realmente sente, e por medo de ficarsozinha

    Aqui vemos uma pesoa dividida entre a verdade ' a mentira desua vida. Tem conscincia desta diviso, mas no sabe o que fazerquanto a tudo isto, Desconhece seus potenciais, renuncia seus valorese vive ento em funo do que os outros possam pensar dela, vive sepunindo e sofre com isto.

    Caso 3Um homem de 36 anos, advogado, mora em Braslia, lem um alto

    cargo no governo na rea de tributos. Ganha um salrid altssimo. Temconscincia da sua competncia profissional. Sua mulher est grvidade um segundo filho. Pensando em abandonar o emprego Aara melhordesenvolver sua capacidade profissional, abriu uma empres a de advo-cacia no nome de um amigo, j que como funcionrio do governo nopoderia ser o proprietrio.

    Esta empresa tinha tudo para ganhar fortunas, j que s clienteseram todos arranjados entre as empresas que eram investigadas por elemesmo como agente tributrio. Conta que o que fez no cbr,rupo,

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    pois, considerando-se uma pessoa honesta, pesquisou seu problema nocdigo penal no tendo encontrado nada que o condenasse. S poderiaabandonar seu emprego no governo quando esta empresa desse ascondies financeiras para manter o seu padro de vida.

    Resumindo, este homem abriu unia empresa que deveria defenderas empresas que ele mesmo denunciava perante justia, ou seja, erao advogado de acusao e, tambm, o de defesa. S que sua empresano conseguia fechar nenhum dos timos negcios previstos e ele noconseguia entender porqu. Como a empresa no alcanava o desem-penho esperado, ele no abandonava o cargo pblico. Queria saber, naconsulta, porqu sua empresa no conseguia fechar nenhum destestimos negcios.

    Esta pessoa estava presa a um crculo vicioso: s abandonaria oemprego se a empresa se tornasse rentvel, mas as circunstnciasexternas no permitiam, assim, ele continuava no emprego. Embora eleno tivesse encontrado no cdigo penal nada que o desabonasse, bastauma olhada nas regras comuns de um julgamento para saber que umadvogado de acusao no pode ser, ao mesmo tempo, advogado dedefesa

    Teramos inmeros exemplos que nos ajudariam a melhor com-preender o ingrediente que chamamos "pessoa" no processo deinterpretao, mas creio que estes so suficientes para percebermos oquanto somos incoerentes e fragmentados no estado de conscinciaatual. Muitos ao lerem os casos acima poderiam dizer Mas eu no souassim ". Afirmo que, embora as situaes, os acontecimentos externose internos sejam diferentes de pessoa a pessoa, uma coisa certa, nanossa condio atual, difcil mantermos atitudes coerentes com osprocessos da vida.

    George Osawa, um grande estudioso da medicina oriental edivulgador do Principio Unico e Universal , dizia que a pior doena, amais difcil de curar, a arrogncia. Creio que esta doena a maiscontagiosa e a que mais destri. Nossa arrogncia nos ilude no nosdeixa perceber que a 'pessoa" um ser ainda em formao, frgil,pequena, incoerente, ignorante, sabendo muito pouco sobre esta novaconquista evolutiva a conscincia. No entanto este estado desconhecidochamado conscincia o nosso nico meio de compreenso epercepo do mundo.

    Nos casos acima citados, nem sempre uma nica pergunta foibastante para fechar toda a questo. A pergunt que fazemos ao 1Chlng um comando que aciona uma resposta, sendo assim estecomando deve ser bem estruturado e as palavras escolhidas devem serprecisas e claras para que tenhamos uma boa diretriz na interpretao.

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    Devemos buscar o ncleo, a essncia do problema para o qual estamosbuscando uma resposta e, s ento, formul-la.

    Por este motivo to importante fazer uma anlise extensa dasituao que estamos consultando. Quanto mais dados tivermos, melhorchegaremos ao ncleo do problema ou dos problemas para ento dividirem duas ou mais perguntas, que abrangero toda a situao.

    A pessoa que consulta o 1 Chlng encontra, logo de incio, algumasregras ditadas pelo prpria linguagem metafrica do livro que, se noforem seguidas, no do acesso a uma resposta. Estas regras exigemque se abandone perguntas de dupla escolha, do tipo sim ou no.

    Ora, a maneira de pensar na nossa cultura ocidental dualista,exclusivista e, porisso, normalmente esperamos respostas sim ou no.Vemos a como, no simples fato de formular uma pergunta, j temosque nos adaptar a uma nova maneira de pensar. Devemos, ento,transformar nossos questionamentos ao livro em perguntas afirmativascomo, Devo agir assim? .

    Que significado esconde esta primeira regra?Chlng tambm um orculo, mas , essencialmente, um livro

    de sabedoria. Seu objetivo principal ensinar ao consulente estasabedoria. Como bom professor , o 1 Chlng j comea desenvolvendonos alunos o contedo do que devem aprender. Uma boa professorade Ingls, desde o primeiro dia, cumprimenta e fala com seus alunosem Ingls para que eles acostumem-se com os sons e procuremcompreender o significado.

    O fundamento bsico da filosofia chinesa e do 1 Chlng o PrincpioUnico e Universal, a unidade essencial, de onde tudo nasce e para ondetudo vai. Este Principio afirma que tudo no universo est interligado e composto de duas foras fundamentais, Vin e Vang. A relao destasforas, uma se transformando na outra por uma lei universal deatrao/repulso, geram as mudanas, a vida. Estas foras so antag-nicas na aparncia, mas complementares na realidade: noite e dia, beme mal, homem e mulher, matria e esprito, positivo e negativo, etc.

    O pensamento chins unificador, profundo. O pensamentoocidental dualista, superficial. Para ns ocidentais no h bem e mal,pensamos dualmente, h bem ou mal, certo u errado, homem oumulher, esprito ou matria. Nosso pensamento exclue, enquanto ooriental inclue.

    O antagonismo com que encaramos estas duas foras nos tornaagressivos, radicais e meio cegos para a realidade unificadora que avida. Criamos um cu e um inferno para depois da morte, pois vemosa morte separada da vida. Criamos armas destruidoras para vivermos

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    em paz, porque vemos a guerra como meio de atingir a paz. Criamosleis injustas que beneficiam os homens, porque separamos os homensdas mulheres.Nas nossas vidas pessoais agimos comandados por este pensa-mento dualista e passamos a odiar tudo o que contraria nossos desejos.

    Desejamos um dia de sol e detestamos um dia de chuva, queremosviver, ento odiamos a morte e fazemos de conta que somos eternos.Queremos a felicdade, fugimos de qualquer obstculo ao qual chama-mos de infelicidade.A pessoa que consulta o 1 Ching vem, ento, fazer uma perguntacom um ponto de vista incorreto dinte do que a vida, inspirada nasua maneira ocidental de perceber esta dualidade complementar danatureza, enuncia a pergunta em termos de Devo ou no, vou ou no .O sistema de cdigo do livro, rejeitando o tipo de pergunta sim ou

    no, comea a seu trabalho de orientao, levando quem consulta apensar diferente, a traduzir esta pergunta exclusivista numa perguntamais abrangente e afirmativa. Ao encontrar a pergunta correta, sem simou no, acaba dando o primeiro passo em direo uma maneira depensar mais unificadora, mais de acordo com este Princpio nico eUniversal

    Quando consultamos o 1 Chlng para resolver uma questo pessoalprecisamos, antes de formular a pergunta, investigar qual exatamentea nossa dvida. Se for sobre o futuro, devemos perguntar quais asperspectivas daquela questo ou o que esperar dela. Se quisermos umaresposta mais pormenorizada deste futuro, devemos consultar separa-damente todas as atitudes que pensamos tomar para resolver a questo.Aps interpretar as respostas, escolhemos a opo que for maissatisfactria e positiva. preciso escolher com cuidado as palavras que acionam ocomando. Este comando o eixo de nossa pergunta atravs dele vamosencontrar o sentido, a interpretao correta da resposta do 1 Ching.A Interpretao de uma resposta do hlng deve ser guiadapela pergunta que fizemos. Esta pergunta deve ser bem trabalhada, bem

    sintetizada para que expresse muito bem a situao para a qual estamosbuscando uma resposta. A pergunta a espinha dorsal da interpretao,ou seja onde devemos focalizar nossa ateno. Sem a pergunta paranos orientar, acabaremos por nos confundir na profundidade e abran-gncia da linguagem grfica e metafrica do 1 Ching, tentando versignificados que, embora procedentes, no dizem respeito questocolocada

    E preciso limitar nossa interpretao pergunta para tirarmos

    s

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    proveito da resposta. Caso no o faamos poderemos cair na indeter-minao. Como diz o hexagrama Limitao 60), Possibilidades ilimitadasno so prprias ao homem. Caso fossem disponveis levariam a vidahumana a dissolver se na indeterminao.

    2 A respostaFormulada a pergunta comeamos a montar o hexagrama atravs

    do jogo com as moedas ou com as varetas. Aqui falaremos do jogo comas moedas para explicar as combinaes numricas que formam aslinhas e conseqentemente os hexagramas ou seja a resposta do 1Chlng nossa pergunta.

    Pelo togo com as moedas ou com as varetas obtemos um ou doishexagramas como resposta. O 1 Ching tem 64 hexagramas cada umcom 6 linhas que so possibilidades de transformao. As linhas s setransformam quando sorteamos o nmero 6 ou o nmero 9 no jogo comas moedas dizemos ento que estas linhas esto em movimento.Quando sorteamos o nmero 7 ou o 8 temos linhas em repouso queno se transformam.

    Quando sorteamos em um hexagrama linhas de nmero 9 ou 6temos que formar um segundo hexagrama nossa resposta ento estarnestes dois hexagramas; quando sorteamos apenas linhas com onmero 7 ou 8 formamos um nico hexagrama e nele estar nossaresposta

    Vamos analisar como as linhas se transformam atravs dos opostoscomplementares Vin e Vang. Comeamos pelos componentes numricosdo jogo com as moedas. Uma moeda tem duas faces a cara e a coroaa cara tem o valor numrico par representado pelo nmero 2 a coroatem o valor numrico mpar 3. Nas premissas filosficas do 1 Chlng onmero par representa a fora Vin e o nmero mpar representa a foraVang

    cara = 2 par Yincoroa= 3 mpar YangQuando jogamos as trs moedas com esta valorizao numrica

    na verdade estamos trabalhando matematicamente com uma dualidadeque tem possibilidades limitadas de alternativas. Estas alternativas so:

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    coro oro oroa3 3 3= linha Vang em movimento

    Vang Vang Vang

    coroa ara ara3 2 = linha Vang em repousoang in in

    cara ara ara2 2 2=- 6 Unha Vin em movimentoi n in in

    coroa coroa ara3 3 2=- linhaVinemrepousoang ang Yin

    Examinando este diagrama podemos facilmente perceber que aslinhas em movimento so aquelas que tm somente nmeros pares ousomente nmeros mpares enquanto que as que tm nmeros alterna-dos pares e mpares esto em repouso. Isto ocorre porque para haverequilbrio tem que haver a complementao das duas foras. Nada nanatureza pode estar carregado de apenas uma fora quando istoacontece h um desequilibro e a fora inversa atrada. A linha 9 sVang e a linha 6 s Vin entram em movimento e se transformam noseu oposto. Esta operao justificada pelo seguinte teorema doPrincipio Unico e Universal:

    Yin atrai ang se for mais forte como tambm ser atradopor Yang se for este o mais forte.Yin transforma-se em Yang em sua potncia mxima e Yang

    se transforma em deste modo que a natureza equilibra estes opostos e porissomesmo que so complementares e no antagnicos.Vamos utilizar outro par de oposto que no sejam nmeros paramelhor explicar o funcionamento das mudanas nas linhas de umhexagrama. Tomemos como exemplo o ato de subir e descer umamontanha. Vamos chamar subir de Yang e descer de Vin. Quando

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    subimos uma montanha, ao alcanara seu topo que a altitude mxima,no temos mais escolha a no ser descer.

    Um hexagrama formado de linhas que representam as fora Vine Vang que esto trabalhando no contexto germinal da nossa pergunta.Estas foras quando esto sobrecarregadas quando sorteamos onmero 9 ou o nmero 6) ocorrem mudanas. Estas mudanas, nomundo dos homens, representam uma ao, ou melhor, como estamosreagindo diante da situao exposta ao 1 Ching, como esto interagindonossas foras Vin e Vang. Se estas foras esto potencializadas em umdos aspectos da polaridade, a situao tende a sofrer uma mudanapara um melhor equilbrio destas foras. Isto leva a um novo contexto,representado pelo segundo hexagrama.

    O segundo hexagrama obtido do primeiro representa a tendnciade movimento futuro daquela situao. Quando estas mesmas forasno esto sobrecarregadas quando sorteamos apenas os nmeros 7ou 6) o contexto no est em transformao, no possui tendncia demovimento futuro. A resposta, nestes casos, simples e direta.

    Primeiro hexagrama inhas egundo Hex.Situao germ inal tuao no contexto endncia de movimentoAs linhas mutantes sinalizam nossas aes em estado germinal ecomo elas afetam o equilbrio Yin e Yang causando mutaes nas

    situaes de nossa vida. Nestas linhas, o 1 Chlng focaliza e orientanossas atitudes, estimutando-as quando estamos corretos e apontandocorrees quando estamos numa posio incorreta.

    3. O contedo do 1 Ching:sua linguagem metafricaO terceiro ingrediente do processo de interpretao do 1 Chlng

    o contedo filosfico, grfico e textual do livro. O contedo filosfico uma cosmogonia baseada no Princpio Unico e Universal. O contedogrfico encontra-se na estruturao e arrumao das linhas em trigramase hexagramas. O contedo textual formado pelos textos que compemo corpo de leitura do 1 Ching.

    Passaremos agora a estudar a estrutura formal do 1 Chlng. Semo conhecimento desta estrutura, ficaremos sem base e a interpretaocorre o risco de ser manipulada pela nossa mente dualista ou nossaintuio fantasiosa

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    3 1 FilosofiaOs chineses chegaram ao 1 Chlng atravs da observao danatureza, de como suas foras se relacionam. Eles no tinham

    instrumentos sofisticados como os cientistas da atualidade, mas tinhama sabedoria de compreender que o todo e suas partes so dirigidos peloPrincpio Unico e universal. Vivemos num cosmo auto-regulado por leisuniversais. Era preciso compreend-las para entrar em harmonia comelas

    Os chineses perceberam que no havia como separar a unidadeessencial para estud la. No mundo moderno algumas das mais recentesdescobertas cientficas chegaram s mesmas concluses: a teoriaquntica na Fsica Nuclear, a Cbemtica, a teoria da Comunicao, oHolismo e a Ecologia.

    Na natureza, a parte e o todo so regidos pela mesma lei.Estudando o funcionamento do cosmo, descobrindo suas leis, oschineses aplicaram-nas conduta humana. Transcrevo, aqui, um textoantigo chins de autoria de WANG FU-SHl, que fala sobre estas leis.

    Entre o cu e a terra s existe a Lei e a Energia. A Energia cria aLei e a Lei regula a Energia.A Lei no tem forma. A imagem se forma atravs da energia e aimagem gera o nmero.Se a imagem fraca a Lei no est correta e o nmero no ficaclaro. Isto se revela nas grandes coisas e se expressa nas pequenascoisas.Assim s o mais sublimemente verdade ira capaz de compreenderesta Lei apoiado em sua revelao capaz de entender os smbolose desvendar seu significado partir de pequenas manifestaes.

    Este texto nos remete Grcia e ao Egito, onde vamos encontraridias semelhantes; O que est em cima como o que est em baixoe o que est em baixo como o que est em cima para que se realizeo mistrio da coisa nica. Tudo o que est num camada se reflete efigura em outra. Este o princpio fundamental que Hermes deTrimegisto colocou em sua frmula. As leis que regulam o todo tambmregulam as partes. Encontramos, no pensamento grego que a basede nossa civilizao, a mesma essncia do pensamento chins. Opensamento ocidental a partir da passou a separar o todo de sua partee a analisar a coisa em si . Os chineses criaram um sistema quesimboliza a relao do todo com suas partes, do ser com seu ambiente.

    Descobriram as mutaes atravs da observao das transforma-es da natureza. Chamaram as mutaes de 1, ideograma querepresenta o lagarto. Ching quer dizer livro clssico. 1 Ching, ento,

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    significa o livro clssico das mutaes. O princpio das mudanas otema essencial deste livro de sabedoria.O mundo interno e o externo so uma nica coisa. Podemosconcordar que se no podemos mudar o mundo podemos mudar anossa maneira de encarar este mundo. Isto j um grande passo. Ao

    mudar nossa maneira de encarar o mundo acabaremos descobrindo queo prprio mundo mudou. Isto viver as mudanas descobrir que nada fixo como pensvamos que tosse. A vida simples o eternomovimento dos opostos um sempre se transformando no outro.Nosso ambiente e as condies de nossa vida so um espelho doque pensamos e aceitamos internamente. O que est dentro como oque est fora. O primeiro passo para compreendermos a filosofia chinesae o 1 Ching estarmos conscientes disto. Isto nos d toda aresponsabilidade pela qualidade de nossas prprias vidas e do quevamos fazer dela.O que seria ento este princpio das mudanas?Um princpio uma explicao que usamos como base paracompreender um sistema que de outra forma no poderia ser compreen-

    dido Atravs destes princpios podemos ter um modelo para analisartudo o mais que o segue. O 1 Chlng tem os seus princpios bsicos queesto escondidos nas entrelinhas do livro II os materiais. Estes princpiosformam os alicerces da filosofia e das mudanas representadas nosseus hexagramas. Eles nos ajudam a compreender com profundidadeeste livro. Estes princpios so:Primeiro princpio das mudanas

    UM

    DO sO um princpio nico a unidadeQue gera o dois terraQue gera o trs cu

    Que gera todas as coisas. Vemos ai um modelo de relao quepode ser representado numa forma triangular interligada. O um ovrtice o dois e o trs so os ngulos que fecham a forma triangular.

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    Este o modelo essencial das relaes encontradas em toda ainterpretao do 1 Chlng.a O princpio nico gera a dualidade Vin e Vang simbolizada

    pelas linhas. As linhas Yin e Vang

    b Formam os trigramas que so compostos de trs linhas

    c Os hexagramas so formados de dois trigramas

    Trig.1 rig. 2

    Hex.3cl) O hexagrama representa em cada duas linhas as foras primordiais

    desta relao, ou seja, a terra, o cu e o homem o elo de ligaoentre cu e terra).

    CU

    HOMEM

    TERRAe) A parte textual dos hexagramas tambm constituda de trs

    partes: o julgamento, as imagens e as linhas.

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    d O prprio livro 1 Ching dividido tambm em trs partes:livros 1, II e III.

    Este primeiro princpio muito impotante para o processo deinterpretao porque este modelo triangular nos mostra que um conflitopossui sua soluo dentro dele mesmo. Um conflito nasce de umadualidade: quero alguma coisa, acho que estou certo ao quer-la e algome impede de t-la. Como diz o texto do julgamento no hexagramaConflito 6) O conflito surge quando algum julga estar certo masencontra oposio.

    A posio do homem dentro deste princpio triangular no centro,entre os opostos complementares cu e terra ou Vin e Vang. A soluode qualquer conflito encontrada ento no meio. O texto destehexagrama diz: Quando se est envolvido num conflito a nica salvaoest numa lcida e firme prudncia, disposta a buscar conciliao indoao encontro do oponente a meio caminho. O caminho do meio ocaminho onde encontramos o TAO ou o sentido.

    Podemos observar o primero princpio das mudanas atuandodesde o nosso nascimento. O pai une-se me, tm filhos que geramoutros filhos. O cu encontra a terra, criam um meio propcio ondesurgem todas as coisas. 0 um que gera o dois que gera o trs que geratodas as coisas.

    O primeiro princpio das mudanas tambm um primeiro principiodas relaes, o padro que une. Atravs deste princpio, podemoscompreender como nossas atitudes afetam nossas vidas e geraminterferncias e conseqncias no todo sistmico do qual somos parte.Segundo princpio das mudanasTudo mudana, no h o que mude s h a mudana. 8 Observandoo comportamento das foras visveis do universo os sbios chegaramao modelo de interao das toras Vin e Vang. Observaram o cu eviram que a noite, quando chegava no seu pico, o dia comeava. Nocu havia o sol e a lua. Quando a lua estava cheia, comeava ominguante. Quando o sol chegava ao znite, comeava a declinar. Naterra, observaram que as montanhas eram aplainadas pela eroso e setransformavam em vales. As rvores nasciam, cresciam e morriam. Asestaes se seguiam, do inverno ao vero passando pelo outono e aprimavera. O movimento contnuo destas mudanas podia ser percebidono movimento contnuo das guas de um rio, que nunca param, quesempre correm na mesma direo, de cima para baixo, nunca repetindoo mesmo curso.

    O universo tambm como um rio em eterno fluxo, sempre

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    mudando, buscando o novo e descartando o velho. A mudana algonatural e espontneo que para serem observadas necessitam de umponto referencial constante que a no mudana. Este ponto referencialprecisa ser estabelecido para que haja ordem e no o caos. Qualquerponto referencial possvel, mas o ponto referencial da natureza, o TAOdo universo, j estava estabelecido quando surgiu a conscincia humanana terra.

    O ponto referencial citado acima cria um sistema de relao muitopoderoso. O problema do homem seria estabelecer as regras destesistema para que, ao tomar decises ou ao escolher o seu pontoreferencial no fosse de encontro a este sistema e assim se destrusse.Como este ponto referencial est sempre mudando, nasceu o 1 Chlngpara mostrar, em cada circunstncia, qual seria o ponto correto. Qualseria o TAO de cada momento.

    O ponto referencial do homem comum uma viso essencial queele forma a partir da sua relao com os acontecimentos da vida. Istonasce das experincias somadas durante seu crescimento. Comdecorrer do tempo esta viso se cristaliza tornando o homem prisioneirode uma concepo pessoal e limitada. A cristalizao torna-o rgido,querendo que a natureza que mudana, molde-se sua forma fixa.Aqui est a causa de todos nossos problemas. Nossos pontos de vistadevem mudar com a natureza e se harmonizar com ela, e no aocontrrio

    O UNIVERSO no uma idia minha.A minha idia do universo que uma idia minha.A noite no anoitece pelos meus olhos,A minha idia da noite que anoitece por meus olhos.Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentosA noite acontece concretamenteE o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso..

    Fernando Pessoa.

    Terceiro princpIo das mudanasO terceiro princpio das mudanas o TAO, o sentido. Este pontoreferencial das mudanas. O TAO do qual se pode falar no overdadeiro TAO. O TAO o misterioso sentido das coisas, h um TAOdo universo, um TAO da terra, um TAO do homem. Encontrar o TAOde cada momento resolver o problema dos opostos, transcend-los, encontrar nosso lugar, nossa posio correta no meio da relao dasforas Vin e Yang que esto sempre mudando e so mais poderosasdo que o nosso querer .

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    O TAO que pode ser pronunciadono o TAO eterno.O nome que pode ser pro feridono o Nome eterno.Ao princpio do Cu e da Terra chamo No-ser.A me dos seres individuais chamo Ser .Dirigir-se para o No-ser leva contemplao da maravilhosa Essncia;dirigir-se para o Ser leva contemplao das limitaes espaciais.Pela origem, ambos so uma coisa s,diferindo apenas no nome.Em sua Unidade, esse Um mistrio.o mistrio dos mistrios o portal por onde entram as maravilhas.'

    A grande unidade que est no comeo e no fim de tudo chamadapelos chineses de Vai Gi, opera atravs de um sentido, o TAO. O Taocria tudo o que criado e, no entanto, nunca entra no mundo manifesto,ele o impronunciado por necessidade se n om e ia o se m nome e TAO.Ele um sentido smi o de tudo que existe e no um sentidopsicolgico. No homem o Tao tambm lgo indecifrvel um sentidosilencioso e vazio o nada transparente e calmo que podemos antevernos olhos luminosos de uma criana pequena.

    O homem superior no 1 Ching conhece o TAO de todas as coisase age de acordo com este TAO. Se, nas nossas consultas, seguirmosa orientao deste homem superior, conheceremos atravs da experin-cia o que o TAO e, assim, aprenderemos a conv iver com os opostoscomplementares

    Se todos na Terra reconhecerem a beleza como bela,desta forma j se pressupe a feira.Se todos na Terra reconhecerem o bem como bem,deste modo j se pressupe o mal.Porque Ser e No-ser geram-se mutuamente.O fcil e o difcil se complementam.O longo e o curto se definem um ao outro.O alto e o baixo convivem um com o outro.A voz e o som casam-se um com o outro.O antes e o depois se seguem mutuamente.Assim tambm o Sbio:permanece na ao sem agir,ensina sem nada dizer.A todos os seres que o procuramele no se nega.Ele cria, e ainda assim nada tem.Age e no guarda coisa alguma.

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    Realizada a obra,no se apega a ela.E justamente por no se apegar,no abandonado.

    O TAO o caminho por onde andam os princpios da mudanaEstes trs princpios, o modelo triangular de relao, as mudanase o TAO, so o alicerce de toda filosofia chinesa e do 1 Chlng, seu

    expoente mximo. Sem a compreenso e assimilao destes princpiosficamos sem base para interpretarmos corretamente este livro.

    As mudanas

    Vamos agora falar um pouco sobre as mudanas realizadas navida do homem, pelas consultas ao 1 Chlng. Quando falamos emmudanas logo pensamos em um programa para realizar estasmudanas. Um certo modelo que nos levem a modificar padresindesejados. Isto no funciona. A vida mudana o universo mudanao homem mudana. No h o que mude s h a mudana.

    O que realiza as mudanas nas consultas ao 1 Ching aconscincia de nossa atitude incorreta em relao ao eterno fluxo demudanas, e a aceitao absoluta da nossa verdade interna, daquilo debom ou ruim que realmente est acontecendo no nosso momento, nonosso agora . Nossa vontade e nossa viso limitada da vida costumabloquear o fluxo ininterrupto destas mudanas.

    Quando consultamos o 1 Chlng para resolver qualquer problema,ele mapeia , coloca claramente nas linhas sorteadas o que nas nossasaes est bloqueando este fluxo de mudanas, a prpria vida.Aceitando e compreendendo o que significa esta atitude ou aoincorreta, quebramos o bloqueio, a vida passa a fluir. A restauraodeste fluxo a mudana se instalando neste exato momento a mudanase realiza espontaneamente.

    uitos clientes que vem consultar o Chlng no suportam ascircunstncias com as quais esto convivendo e buscam com umaansiedade muito grande as mudanas destas circunstncias desagra-dveis. O paradoxo que quanto menos aceitarem estas circunstnciasdesagradveis, menos mudanas conseguiro. S quando aceitarem aresponsabilidade pela qualidade de suas vidas que as mudanaspassam a acontecer naturalmente.

    Mudar, deixar que as mudanas aconteam, aceitar comsinceridade nossos defeitos e falhas, deixar fluir. O terceiro princpio

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    das mudanas o TAO o nico dos trs princpios que detm o comandodas mudanas pois ele o princpio e o fim dos outros dois princpios.A no-ao para a filosofia chinesa a maior conquista da sabedoria.O sbio decide no atuar porque no agindo no cria resistncias- Alinha de menor resistncia a no resistncia - o Tao pode ento operare colocar as coisas em ordem.

    O TAO um eterno no-fazer,e mesmo assim nada fica sem ser feito.Se os prncipes e os reis souberem como preserv-lo, todas as coisasse faro por si mesmas.Se elas se fizerem por si mesmas, provocando a cobia,eu as desterro pela simplicidade que no tem nome.A simplicidade que no tem nome gera a ausncia de desejos.A ausncia de desejos cria a serenidadee o mundo se endireita por si mesmo

    H trs tipos de mudana no 1 Ching:1 A no mudana- Que o ponto de onde se observa as

    mudanas. O ponto de vista que comanda nossas decises. Este pontode vista deve coincidir e se harmonizar com o das foras csmicas smovimentos do cu e da terra. Aqui estamos no mundo das idias dasdecises representado na seqncia do cu anterior.

    2 A mudana cclica- O ciclo da vida fsica e material que faz ascoisas nascerem maturarem e morrerem. Aqui estamos no mundo dosfenmenos do destino como lei de causa e efeito representado naseqncia do cu posterior.

    a-A mudana seqncial- Este o movimento em direo ao futuroou ao passado que nunca o mesmo e nunca volta para o mesmolugar a sucesso das geraes do tempo.

    Na interpretao de uma consulta ao 1 Chlng usamos a nomudana para escolher e decidir atravs do julgamento dos hexagramaso nosso ponto de vista que deve coincidir com o ponto de vista dohomem sbio. Usamos a mudana cclica para saber esperar perseve-rando neste ponto de vista a maturao o ciclo natural dos aconteci-mentos. Usamos a mudana seqncial para prever o resultado dosacontecimentos atravs da anlise de sua situao germinal relatadanas linhas e no hexagrama. O resultado de uma boa interpretao do 1Chlng chegar a ordem atravs da aceitao do fluxo natural dasmudanas das foras opostas.

    Como podemos ver no h o que mude s h a mudana viver estar dentro das mudanas e de suas leis. A mudana seria ento orestabelecimento do fluxo natural das foras Vin e Yang to bem geridosde urna forma espontnea por estas prprias leis pela vida.

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    Os trs poderes fundamentaisTrs poderes atuam formando o que chamamos destino. O destino

    o resultado da interao do movimento de nossas escolhas, o livrearbtrio, com os movimentos destes dois outros poderes fundamentais:o poder da terra e o poder do cu. Estes poderes esto representadosnas linhas do hexagrama, sendo as duas primeiras, a terra, as duascentrais, o homem e as duas ltimas, o cu.

    O cu representa tudo que invisvel, o desconhecido, o logos, omundo espiritual, o contedo.

    O homem com seu livre arbtrio passou a ser co-criador do destino,o elo de ligao entre os poderes do cu e da terra. Suas aesinterferem no sistema, harmonizando-se com ele e construindo-o oudesarmonizando-se com ele e expondo-se a um destino adverso.

    A terra representa tudo o que visvel, o mundo material e fsico,o conhecido, a forma.

    A relao dos trs poderes com as foras Yin e Vang revela-se aohomem atravs do movimento e do repouso, do avanar e do recuar,do separar e do unir. Quando estas foras esto em harmonia temos oequilbrio quando em desarmonia temos o desequilibro.. Obtm-se destamaneira um destino favorvel ou desfavorvel.

    Governar servir diz um dos textos dos hexagramas. E servindoao destino que passamos a govern-lo. Isto requer modstia e sabedoria.Utilizar o 1 Chlng como livro de sabedoria buscar servir ao destinopara govern lo.3.2. O contedo grfico do Ching

    O contedo grfico do 1 Chlng formado por linhas representantesdas foras Vin e Vang. Trs linhas formam um trigrama. Dois trigramasformam um hexagrama.

    A linha a matriz inicial de qualquer smbolo grfico que possamosimaginar. A partir das linhas, construmos as letras, as formas, etc. Sema linha no h expresso grfica possvel. As linhas no l Chingrepresentam essencialmente a dualidade das foras Vin e Vang, par empar, sim e no, masculino e feminino.

    A linha ang im asculinoAlinha Vn o Feminino

    Vimos no tpico A resposta que se obtem como estas linhas nojogo com as moedas se combinam numericamente para formar um

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    trigrama e um hexagrama. Vamos analisar agora como estas linhas secombinam com base nos princpios da mudana:O UM princpio nico e universalque gera o DOIS os opostos complementares

    As linhas VangVi n

    que gera o TRS os poderes fundamentaiso trigrama CUH O M E M

    TERRque gera todas as coisas os 64 hexagramas.

    Como vemos neste diagrama o um que gera o dois que gera otrs que gera todas as coisas o princpio de formao de todos oshexagramas pois foi atravs desta combinao que os sbios conse-guiram partir das linhas chegar aos 64 hexagramas.Estudaremos agora separadamente cada um destes simbolosgrficos

    As linhasAs linhas no 1 Chlng simbolizam basicamente os opostos Vin eVang. Quando estas linhas renem-se em grupos de trs formando um

    trigrama simbolizam a relao dos opostos com foras atuantes nanatureza. Quando os dois trigramas formam um hexagrama seu smboloessencial passa a ser um mapa das relaes entre a ao humana eseu ambiente considerando o ambiente tudo o que existe ou selacu homem e terra.No plano csmico as linhas simbolizam graficamente os opostoscomplementares:

    As foras Vn - -As foras VangNo plano humano as linhas simbolizam graficamente:

    O sexo ascul inofemininoA ao irmemalevelA deciso imno

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    A mudana que se transforma6 que se transformaA esta altura nos perguntamos como se processa a mudana das

    linhas Vang se transformando em Vin e vice-versa?maginem um ponto que se dilata em direo horizontal para ambos

    os lados temos ai a linha Vang chamada de luminosa o pequeno oujovem Yang a soma cujo resultado d o valor sete.

    =Quando ela chega ao mximo desta dilatao tem o valor de soma

    9 o grande ou velho Yang.=9

    Ento se biparte formando a linha Vin de soma 8 ou tambmchamada pequeno ou jovem Vin.

    =8Por sua vez a linha partida quando chega a sua tenso mximatem a soma 6 volta a se dirigir para o centro e ento chamada de

    grande ou velho Vin. =Ai ento une-se e volta a formar a linha Vang.

    fcil e o simples so simbolizados por uma mnima mutao naslinhas. As linhas partidas tornam-se inteiras graas a um movimentofcil no qual as extremidades separadas se ligam; as linhas inteirastomam-se partidas atravs de uma simples diviso ao centro. Destemodo, essas fceis e simples mudanas reproduzem as leis queregem todos os processos sob o cu. Assim a perfeio alcanada.Com isso, a natureza da mutao definida como uma mutao dasmenores partes.

    Vemos ento que as linhas representam em seu simbolismogrfico as partes o movimento das mudanas e que a mesma lei querege as mudanas no todo rege tambm a mudana nestas partes.

    Vamos agora analisar estas linhas na montagem do hexagrama:Durante o jogo das moedas para a consulta ao 1 Ching as linhas

    vo sendo marcadas de baixo para cima desta forma:

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    6 jogo sexta posio orteio 75 jogo quinta posio orteio 74 jogo quarta posio orteio 63 jogo terceira posio sorteio 72 jogo segunda posio orteio1 jogo primeira posio sorteio 7

    incorretaorreta

    _____ corretacorretaorretaorreta

    Hex. (37) FamliaDentro de um hexagrama as linhas tm posies corretas e

    posies incorretas. As corretas acontecem quando uma linha inteira ouYang ocupa uma posio mpar, 1,3,5, e as linhas partidas ou Yinocupam a posio par, 2,4,6. No caso acima no jogo 2 e 4 as linhaspartidas ou fin esto na posio correta, as linhas Vang do jogo 1 3e 5 tambm esto na posio correta s a linha inteira do jogo, a dasexta posio, est em uma posio incorreta, ou seja, posio par(6) e a linha. Vang, inteira.

    O significado desta correo e incorreo de posio tem tudo ver com nosso posicionamento diante das leis da natureza e do contextode nossa pergunta. Ao sortearmos linhas na posio correta, estamosem harmonia com a natureza e, ao sortearmos posies incorretas,estamos em desarmonia.

    Como podemos ver, as linhas representam a relao harmoniosaou desarmoniosa das foras Vin e Yang, ou seja, o cruzamento destasforas. Contudo, este cruzamento avaliado com base na posio daslinhas no suficiente para nos informar sobre a totalidade de nossarelao com a situao perguntada. H tambm outras relaes a seremanalisadas posteriormente que podem informar melhor a respeito danossa atuao

    As linhas mutantes sorteadas so de grande importncia parainterpretar o 1 Chlng, pois, caso seu significado contradiga o julgamentodo hexagrama, deve prevalecer a orientao dada pelo texto da linha.Este significado mais importante do que o do julgamento do hexagramacomo um todo.

    Alm do seu posicionamento, as linhas tm uma hierarquia detempo e de autoridade e uma relao entre si de correspondncia oude solidariedadeHierarquia de tempo

    A primeira linha est entrando na situao e a ltima linha est seretirando, sendo assim h um fator tempo envolvido neste entrar e sair,uma se sucedendo s outras. Isto significa que a hierarquia relata o

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    antes e o depois de nossas atitudes diante da situao que nos levoua consultar o 1 Ching.O tempo para a filosofia chinesa no nosso tempo linear

    cronolgico, e sim, um tempo de acontecer , um tempo psicolgico quenos fala das etapas de um acontecimento do ponto de vista interno.Falamos de um tempo de maturao onde estados de alma se sucedemat formar um acontecimento na realidade fsica. O 1 Chlng trabalha comas situaes em estado germinal, ainda no mundo das idias, no mbitodo invisvel num tempo multidimensional. O tempo cronolgico focalizaas situaes em seu estado manifesto, visvel, onde os acontecimentosvo se sucedendo numa seqncia em linha reta.

    Quando sorteamos uma resposta que fala em trs anos, dez anos,oito meses, no devemos compreender como tempo cronolgico. Quasesempre o 1 Ching fala de tempo com um sentido de ciclos de maturaoetapas psicolgicas de crescimento. O tempo cronolgico tambm estinserido no 1 Ching, mas para acionarmos esta concepo linear detempo, para saber exatamente o quando , precisamos de clculoscorretos e de uma bssola chamada na China de compasso geom ntico .Hierarquia de autoridade

    A primeira linha corresponde ao subalterno, ao funcionrio, aofilho, a algum que obedece, aquele que depende de outros. No corpohumano, esta linha representa os ps.

    A segunda linha corresponde ao chefe de setor, ao governanteda provncia, esposa, a uma posio central de deciso setorizadamas no de todo independente. No corpo humano, esta linha representaa perna e os joelhos.

    A terceira linha corresponde posio de intermedirio, queleque transmite as ordens, classe mdia, s situaes de transio parauma mudana, passagem da infncia para a adolescncia e ao filhodo meio. A terceira posio uma passagem, um salto na hierarquiado trigrama inferior para o superior, por isto mesmo to perigosa echeia de advertncias. No corpo humano, esta linha representa osintestinos, rins e rgos sexuais.

    A quarta linha obedece s ordens do governador geral que seencontra na quinta posio, representa um ministro, um brao direito,algum com muita autoridade mas ainda obedecendo ordens. E o elode ligao entre o governante e a nao. Tambm simboliza a esposana sua relao com o marido. No corpo humano, esta linha representao corao, pulmes e estmago.

    A quinta linha corresponde ao governador geral, ao presidente,34

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    ao prncipe, ao pai, ao marido, pessoa que d ordens, quem todasas linhas abaixo devem satisfao. No corpo humano, esta linharepresenta o pescoo, ombros e braos.

    A sexta linha, a mais elevada, corresponde ao sbio, ao conse-lheiro, ao rei, ao sacerdote, pessoa que busca a transcendncia dassituaes. As vezes a linha na sexta posio representa algum que seexcedeu em sua conduta ultrapassando as condies internas ouexternas requisitadas pelo julgamento do hexagrama. No corpo humano,esta linha representa a cabea.

    Na nossa interpretao, muito importante localizarmos quem soas pessoas ou quais so os fatos representados por cada linha e comoesto atuando na pergunta que fizemos. O ato de associar as partes docorpo s linhas permite realizar diagnstico de doenas e localizar ondeum terapeuta corporal deve trabalhar seus pacientes.

    As partes do corpo tm tambm um sentido simblico, represen-tando s vezes sentimentos, movimentos ou vontades. Os ps, dedos,canela e coxa representam os movimentos. Os rgos localizados nabarriga podem representar os sentimentos inferiores como a angustia, adepresso, a ansiedade. Os rgos localizados no peito, os sentimentosdolorosos ou no, de amor, tristeza, etc. A nuca representa o controleda vontade ou o radicalismo diante das situaes. A cabea poderepresentar o stress ou a capacidade de discernimento. Os olhos, aclareza da mente. A boca, a capacidade de expresso, a fala, atagarelice, etc.

    Relao das linhas entre siA correlao das linhas importantssima para a nossa interpreta-

    o. Estas correlaes mapeiam a situao que gerou a pergunta quefizemos ao 1 Ching. Elas mostram como nosso ponto referencial estse relacionando com o ponto referencial do tempo do hexagrama emostram tambm, atravs do julgamento, qual deve ser a postura dohomem sbio. Se queremos compreender como e quais componentesesto interagindo, devemos estudar cuidadosamente as correlaes dasl inhas

    Quando trabalhamos com a correlao das linhas devemos lembrarque a fora Yang atrai a fora Vin e que elas se complementam. Se aslinhas que estamos relacionando so iguais, as duas Vin ou duas Vang,elas se repelem. Quer seja de repulso, quer seja de atrao, a relao chamada de solidariedade. Uma relao de solidariedade harmo-niosa quando uma linha numa hierarquia de autoridade Yang-forte ea que est abaixo subalterna Vin-fraca.

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    Ex

    Uma relao de solidariedade desarmoniosa quando as linhasso de mesma fora s Yang ou s Vin.Ex

    Esta relao de solidariedade se processa entre as tinhas vizinhas:

    Quinta posio com a sextaQuarta posio com a quintaTerceira posio com a quartaSegunda posio com a terceiraPrimeira posio com a segunda

    Na nossa interpretao podemos saber como as pessoas ou fatosem posio de autoridade e em posio subalterna esto se comportan-do atravs desta relao de solidariedade. Se so fracas quando devemser e se so competentes e fortes quando a posio requer.

    A outra correlao das linhas a relao da localizao anlogaou de correspondncia. Como a prpria palavra correspondncia dizuma linha situada no trigrama inferior corresponde a mesma linha notrigrama superior. Isto significa que:

    A primeira linha corresponde quarta linha porque ambasiniciam um trigrama.A segunda linha corresponde quinta linha pois ambas socentrais nos trigramas.

    A terceira linha corresponde sexta lInha pois ambas esto notopo dos trigramas.

    Durante a interpretao a relao de correspondncia indica se aspessoas ou os fatos representados pelas tinhas agem de acordo com oprincipio desta relao. Sabemos atravs da anlise da relao decorrespondncia se estas pessoas ou fatos estam interaqindo correta-mente ou no para o bem da situao consultada. A anlise a respeito

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    da correspondncia entre as linhas encontra-se no livro III do 1 Chlnge, para melhor identificar esta relao, devemos nos remeter a este livrotodas as vezes que sortearmos linhas mutantes. Assim temos uma visodas interrelaes dos fatos que regem um acontecimento. Isto o quechamo de mapear as relaes .

    Linha diretrizes do hexagramaA linha diretriz governante do hexagrama identificada por um

    crculo que aparece antes do texto da linha sorteada. Geralmente, elaest situada na segunda ou na quinta posio por serem estas as linhascentrais dos trigramas. A linha diretriz governante traa o perfil da pessoaque possui as qualidades morais necessrias para enfrentar a situaodescrita pelo hexagrama.

    A linha diretriz constituinte do hexagrama identificada por umquadrado que aparece antes do texto da linha sorteada. Esta linha traao perfil da pessoa que age de acordo com o tempo do hexagrama. Estaao pode ser desfavorvel, quando o tempo do hexagrama fordesfavorvel, ou favorvel, caso contrrio.

    A linha constituinte define o significado do hexagrama, enquantoque a governante enfrenta com sucesso a situao relatada, nohexagrama

    Em alguns hexagramas, a diretriz governante e a diretriz consti-tuinte apresentam-se na mesma posio, ou seja, encontram-se em umanica linha. Neste caso no encontraremos nenhuma linha marcada peloquadrado, encontraremos apenas o crculo que aparecer antes do textoda linha.

    Vrias linhas mveis sorteadasMuitas pessoas que consultam o 1 Chlng tm dificuldades em fazer

    uma interpretao correta ao sortear muitas linhas mveis, principalmen-te, quando umas contradizem o julgamento das outras. Neste caso,precisamos identificar quais so os aspectos de nossa atuao que cadalinha representa. Depois, torna-se necessrio analisar a correlao ehierarquia das linhas para verificar quais tem uma maior importnciadiante do contexto consultado e da chegarmos a uma concluso.Quando, aps este procedimento, dvidas permanecerem, devemos lero segundo hexagrama obtido da transformao do primeiro e analisar,com base no seu significado, qual a atitude correta proposta pelas linhasconflitantes

    Outro fator importante na anlise de linhas mveis conflitantes ter sempre em mente o fio da meada, a idia central que nos levou a

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    formular a pergunta. Se o assunto da consulta for negcios, as linhasconflitantes representam os aspectos conflitantes na maneira de gerirestes negcios. Para concluir o significado da resposta do 1 Ching,avalia-se ento que aspectos so mais relevantes ao bom desempenhoe sucesso do empreendimento.

    Nunca esqueam que uma interpretao da resposta do 1 Ching um processo onde tudo est interligado: nossa pergunta, a situoque levou quela pergunta, as pessoas envolvidas na situao, oprimeiro hexagrama, as linhas, suas relaes e o segundo hexagrama.Tudo isto deve ser bem costurado pelo fio da meada que a idiacentral envolvida.Os trlgramas

    Os trigramas surgiram para simbolizar as foras em atuao nanatureza, seus fenmenos gerados pela mudana. Sua formao grficacomea com as alternativas possveis de combinao das duas linhas:

    Vang in Yn angVn - in ang _________ Yang

    Aps esta combinao, aplicamos o primeiro principio da mudana:OUM

    Que gera o DOISQue gera o TRES.Adicionando mais uma linha Vang embaixo, temos:

    LI fogo HEN trovo UI-lago HIEN-cuAdicionando mais uma linha Vin embaixo, temos:

    KEN montanha UN-terra AN-gua UN-ventoAssim os trs poderes fundamentais ficam representados e surgemos O trigramas que formam a base do 1 Chlng Estes trigramasrepresentam a atuao e a relao destas foras na natureza e no

    estes elementos em si. Exemplo:

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    SUN, o vento, considerado pela maneira como se comporta nanatureza, pela sua capacidade de penetrar em todos os lugares,dispersar as nuvens, transportar as sementes, agitar as guas.KEN, a montanha, considerado pela sua imobilidade, por servirde barreira ao vento, pela sua altitude que caminha em direo ao cu,

    pelo seu poder de reter as nuvens.outra opo de formao dos trigramas tem origem no simbolismosexual das linhas, tambm chamado, a famlia dos trigramas.Masculino, o pai eminino, a me

    Triplicados para representar os trs poderes fundamentais: terra,homem e cu atravs do primeiro princpio das mudanas:

    Cu erraPai eComeam uma relao sexual: o pai procura a me e tem filhas,depois a me procura o pai e tem filhos;

    Vento. A filha mais velha rovo. O filho mais velho

    Fogo. A filha do meio gua. O filho do meio

    Lago. a filha mais nova ontanha. O filho novoVamos agora analisar a simbologia destes trigramas atravs daatuao na natureza e no mundo dos homens:CHIEN Cu

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    Trigrama composto por trs linhas firmes e fechadas carregado deenergia positiva luminosa. No cosmo sua funo criar o logos omentor das imagens. Ele muito ativo chegando a ser a prpriaatividade em ao. Engendra e comanda tudo no cu e na terra opoder da vontade. No princpio era o verbo, e o verbo era Deus. Elerepresenta este ve rbo, a palavra criadora FA A , a vontade do criador.Por tudo isto a melhor imagem para CHIEN no nosso mundo visvel o cu. No cu esto os astros que se movimentam e causam na terramudanas nas estaes. No cu est o sol que nos d vida e calor ea lua que movimenta nossas mars e nossos ciclos agrcolas. Ele odomnio o tempo por sua durao. Sua forma o redondo. Chien ocontedo o mundo invisvel e espiritual. Das estaes do ano ele overo com seu calor impulsionando a vida. Para o homem antigo o cua abbada celeste tinha algo de diferente do mundo cotidiano ondevivia. Ele via no cu a transcendncia a morada dos deuses a alturainfinita. Mircea Eliade diz no seu livro Tratado de HistrIa dasReligies:

    Tudo isto deduzido da simples contemplao do cu; mas seria umerro grave considerar essa deduo como uma operao lgica,racional. A categoria transcendental da altura , do supra-terrestre, doinfinito, revela-se ao homem integral, tanto sua inteligncia como sua alma. Insistamos, pois, nestas distines, isto , que se osimbolismo e os valores religiosos do cu no so deduzidos demaneira lgica, partir da observao calma, objetiva, da abbadaceleste, nem por isto so o produto exclusivo da fabulosa mtica edas experincias irracionais religiosas. Repitamos; ainda antes detoda valorizao religiosa do cu, j este ultimo revela a suatranscendncia. S pela simples existncia, o Cu simboliza atrancendncia, a fora, a imutabilidade. Existe porque ELEVADO,INFINITO, IMUTAVEL, PODEROSO.'

    No mundo dos animais ele o cavalo selvagem por causa de suafora e vigor. O cavalo bom por causa do seu poder. O cavalo velhopor causa de sua durao. O cavalo magro por causa de sua firmeza.

    No mundo dos homens CHIEN o macho o masculino que penetrana mulher e lhe d filhos o pai. Ele o poder de agir de pensar dedecidir de fazer a vontade do homem sua capacidade de criao.Em toda ao humana firme correta e decidida CHIEN que atua. Acabea do homem a biolgica e a pensante CHIEM. Neste trigramao homem presta contas de seu atuar assim como nossa mente avaliao que fazemos de nossas vidas.

    No tempo de maturao dos ciclos da vida CHIENI representa asprimeiras horas da noite quando o homem repousa e reflete sobre o seudia.

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    KIJN Terra

    Trigrama composto por trs linhas abertas ao centro, carregado deenergia negativa sem a conotao moral que a palavra possui noocidente). O vazio ao centro destas linhas significa a passagem livre daenergia, seu poder de receber e de doar. No plano csmico simbolizaa capacidade de nutrir, partejar, de dar forma s ideaes do trigramaCHIEN. NUN realiza o que a vontade criadora do universo decide, ele a forma. No plano visivel, a terra que sustenta e nutre todos osseres vivos, a mulher, a me. Das estaes do ano, o inverno ondea natureza repousa e se nutre.

    Vamos recorrer Mircea Eliade para obter uma viso maior destesmbolo:A prime ira valorizao religiosa da terra foi indistinta ' quer dizer queela no localizava o sagrado na camada telrica propriamente dita,mas que confundia numa nica unidade todas as hierofanias que setinha realizado no meio csmico envolvente-terra, pedras, rvores etc.A intuio primria da terra como forma religiosa pode ser reduzida frmula: cosmos-receptculo das foras sagradas difusas . A terra o fundamento de todas as manifestaes. Tudo o que est sobrea terra est em conjunto e constitui uma grande unidade. 5

    No mundo dos animais, KUN representado pela gua por causade sua obedincia e pela vaca por causa de sua docilidade.No mundo dos homens, KUN , primeiramente, representado pela

    mulher que tem a capacidade de receber o homem e gerar filhos.Representa a maternidade e a fertilidade, a me. Aqui, bom lembrarque os atributos de KUN no so exclusivos da mulher do sexo femininoreferindo-se, na realidade, aos aspectos psquicos com qualidades Yinque tanto podem pertencer ao homem quanto mulher. Da, todos ossentidos de nutrir, proteger, dar forma e abrigar passam a sercaractersticas de KUN.

    Ele um trigrama comandado por CHIEN e porisso no deve dirigire sim, obedecer vontade criadora deste trigrama. A obedincia suacaracterstica mais importante junto com a devoo ou doao. Elerepresenta o espao e a forma, o mundo visvel e material. Toda vezque construmos algo, que realizamos algo idealizado KUN quem atua.A parte do nosso corpo que representa KUN o ventre que gera filhosou metaboliza a energia que alimenta nosso corpo. KUN representa,no ciclo de maturao, a completude da obra, sua materializao.

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    CHEN Trovo

    Este trigrama composto por uma linha energeticamente ativa eluminosa embaixo e por duas linhas energeticamente passivas eobscuras acima. Esta forma grfica representa o poder vigoroso eascendente de CHEN. No plano csmico como filho mais velho do cue da terra ele tem as caractersticas da fora do pai porisso representaa capacidade de ao de tudo que est nascendo. Ele o arauto davida o movimento. Seu smbolo o trovo que com seu barulho eenergia desperta a natureza e anuncia a chuva. Tudo que est nascendopossui a fora de CHEN. Sua fecundidade traz nascimento ao universo.Como diz o comentrio do livro II do 1 Chlng: eus nasce no signo doincitar que o trovo CHEN.No mundo dos animais ele representa o drago pela sua foramisteriosa pelo seu sentido mgico.No mundo dos homens CHEN simboliza a fora que impulsionaos empreendimentos e as aes. o entusiasmo na realizao odespertar do movimento o caminho a capacidade de realizar o que foidecidido. Nos oradores a veemncia com que defendem idias.A parte do corpo humano que representa CHEN o p pois daique nasce o movimento do caminhar. CHEN o trovo o movimento

    inicial de tudo que existe.No ciclo de maturao CHEN o incio da obra o nascer do diaquando o homem comea sua labutaKAN Agua

    Este trigrama formado por uma linha firme inteira no centrorepresentando um rio correndo e duas linhas partidas nas extremidadesrepresentando as margens do rio. KAN a gua corrente que estsempre seguindo seu curso nenhum obstculo a detm pois a gua tema capacidade de enfrentar qualquer desafio contornando-o e seguindoadiante. Ela simboliza o perigo porque cai em abismos e est sempredescendo. Ela o filho do meio. O sentido misterioso de KAN seencontra em todos os simbolos religiosos ligados ao homem: a gua davida a gua do batismo o sentido purificador que vem do lavar. As

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    guas so o fundamento cosmolgico de tudo que existe. Como dizMircea Eliade no seu livro o Tratado de Histria das Religies:

    Princpio do indiferenciado e do virtual fundamento de toda manifes-t o csmica r e c e p t c u l o de todos os grmenes as guassimbolizam a substncia primordial de que nascem todas as formase para a qual voltam por regresso ou por cataclismo. Elas foramno princpio elas voltaro no fim de todo o ciclo histrico ou csmico;elas existiro sempre- se bem que nunca ss porque as g u s s osempre germinativas guardando em sua unidade no fragmentadaas virtualidades de todas as formas. 6

    O sentido purificador de KAN faz com que este trigrama representeo outono que renova as folhas purificando a natureza de tudo que estsuperado.

    KAN no mundo dos homens simboliza o corao no s comorgo mas tambm como sentimentos aprisionados pela razo eperigosos quando assim reprimidos. Simboliza os perigos as embos-cadas que encontramos pela vida e tambm a saida destas situaesgraas sua fluidez adaptabilidade e mobilidade.

    No ciclo de maturao KAN o momento da meia noite quandoo homem repousa no inconsciente no mundo dos sonhos elaborandoos grmens do seu novo dia.

    KEN M ontanha

    Este trigrama tem uma linha forte e inteira acima e duas linhaspartidas e passivas abaixo. Sua forma grfica com a linha forte Yangacima d a idia de algo barrando a mobilidade das linhas Vin dasurge a imagem da montanha. E o filho mais moo da terra com o cuo oposto do seu irmo mais velho o trovo. Suas caractersticascsmicas so tambm inversas s do trovo: l tudo nasce tudocomea e aqui tudo morre tudo termina. Vida movimento. Quandoalgo se cristaliza e imobiliza como acontece com uma montanha tendea fenecer. No entanto a nvel espiritual KEN tem caractersticas positivascomo o repouso e o aquietar dos pensamentos da vida material parauma maior vivncia das realidades transcendentes. Neste sentido KEN tambm o comeo de um novo nvel de conscincia.

    Um outro aspecto interessante de KEN o seu poder acumulador.A Montanha uma barreira onde as nuvens interrompem seu movimentoe acumulam-se at causar a chuva isto equivale a um geradoracumulativo de energias que ao interagir com outras toras imobiliza-as

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    gerando uma maximizao do seu potencial. Por este motivo, os sbiose iluminados do oriente buscavam as montanhas para o exerccio dameditao.

    Na vida humana, a montanha simboliza aquilo que trela, que r tmpara uma reflexo maior. Todas as vezes que estamos impedidos afora de KEN que est agindo. Tudo que est temporariamenteimobilizado KEN.

    No nosso corpo, KEN representa as mos pelo seu poder deagarrar, prender e reter os obietos.

    No ciclo da maturao, KEN o fim e o comeo, a aurora quefinaliza o repouso inicia uma nova etapa, um novo dia. A vida aquitermina, mas esta morte apenas uma passagem para uma nova formade existncia

    SUN Vento

    Este trigrama formado por duas linhas inteiras e ativas acima, euma linha partida e passiva abaixo. Essa forma grfica representa ovento que sopra acima no cu e pouco ativo na terra. Representatambm a madeira, as plantas cuja raiz desce no solo (a linha passivaabaixo) mas a copa se expande para o cu (as duas linhas inteiras eativas). E a filha mais velha do cu e da terra.

    No sentido csmico,. SUN a penetrao, a capacidade que ovento possui de penetrar em qualquer lugar, sua suavidade de movi-mento. O vento no tem forma, dai seu poder de condensao e dedisperso.

    SUN tambm a rvore simbolizando o poder regenerador docosmos, pois ela cresce, perde as folhas no outono e as recupera naprimavera. A rvore, enraizada no solo, simboliza o homem enraizadono cosmos. O fato de SUN simbolizar a rvore trouxe ao trigrama oaspecto de indeciso remetendo-o ao mito de Ado e Eva com suarvore do bem e do mal. Este mito representa a chegada dodiscernimento conscincia humana e, com ele, a hesitao diante dedois plos

    No mundo dos animais, SUN o galo. O galo canta, avisa aohomem a chegada do dia (o fio condutor).No mundo dos homens, SUN representa o poder de anlise e

    investigao. SUN representa tambm a habilidade de comunicar-se, ofio condutor da mensagem, o transporte. A suavidade de seu movimento

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    no homem faz com que este no seja abrupto na sua relao com avida sendo minucioso e suave. O aspecto negativo da penetrao esuavidade de SUN a indeciso porque ao analisarmos demais umcerto assunto acabaremos perdidos na indeterminao.

    No corpo humano SUN representa as coxas que junto com omovimento dos ps permitem o caminhar a locomoo.SUN no ciclo de maturao corresponde s primeiras horas damanh quando o homem deve reconstruir sua vida liberar os impulsosque irromperam com o nascer do dia.

    LI Fogo

    Este trigrama formado por duas linhas inteiras nas extremidadese uma linha partida ao centro. As linhas inteiras representam a chamacarregada de energia calorfica. A linha partida representa o combustveldo qual o fogo depende para arder. Sua natureza essencial est no fatode depender de algo para queimar porisso tambm chamado o aderir.E a filha do meio nascida da relao do cu com a terra. O fogo notem forma definida porm quando liga-se aos corpos que queimamtorn-se luminoso.

    No plano csmico LI o sol o raio o poder do fogo no cu. LIgera o calor que essencial vida. E o corpo de Deus visvel no cu.LI a claridade a luz. Para o 1 Chlng no a caracterstica divina dofogo que importa e sim sua dependncia de combustvel. LI representaa rede de comunicao e a interdependncia de todos os fenmenosno universo. A forma do trigrama fechada nas extremidades e abertano centro lembra as mathas de uma rede. Estas malhas comunicam-seformando uma rede cuja imagem evoca a rede maior macro emicrocsmica onde todos os fenmenos se processam interligados edependentes um do outro.

    Nas estaes do ano LI a primavera luminosa e cheia de beleza.No mundo dos animais LI representa a tartaruga venerada naChina pela sua quase imortalidade. Representa tambm o caracol o

    caranguejo e o faiso.No mundo dos homens LI o fogo representa essencialmente

    nossa dependncia de todos os outros fenmenos do universo. Nomenos importante o seu significado de clareza que leva o discerni-mento ao homem. Para o 1 Chlng o discernimento a capacidade deunio e aderncia s foras da luz. Quando transcendemos o imediato

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    e o superficial em direo unidade essencial, a clareza est presente.LI simboliza ento a conscincia clara do homem em busca de si mesmocomo parte representativa de um todo ao qual est ligado. Por estemotivo, a parte do corpo humano simbolizada por este trigrama so osolhos, a janela da alma .

    No ciclo de maturao, LI representa o meio dia onde o homemcompreende a vida porque capaz de ver , de discernir o bem do mal,o claro do escuro.

    TUI-O lago

    TUI, a filha mais moa, o lago, formado por duas linhas inteirasabaixo e uma linha partida acima. As linhas inteiras representam asguas do lago onde a vida transcorre serena e contente, a linha partidarepresenta a superfcie imvel e tranqila deste lago.

    No plano csmico, TUI a alegria serena da existncia quandoest em sintonia com as leis universais. Esta alegria nasce dasubordinao de todos os fenmenos a estas Ies.

    No mundo dos animais, TUI a ovelha que, pela sua docilidade,representa o sentido de subjugar-se natureza.

    No mundo dos homens TUI a amabilidade que a todos conquistaa submisso que vence os desejos, a alegria que irradia boas vibraes.TUI representa a capacidade dos homens de construir a sua felicidadepela aceitao dos movimentos da vida. Os aspectos negativos de TUIso a busca desenfreada do prazer, a falta de seriedade com a vida ea tagarelice inconseqente.

    No corpo humano, Tui representa a boca, a lngua e a fala.No ciclo de maturao, TUI representa a colheita, o fim do dia onde

    o homem colhe aquilo que plantou. O poente, o entardecer onde ohomem interrompe o seu trabalho e alegre avalia os resultados.

    Localizao dos trigramasDos trigramas combinados entre si formam um hexagrama. Eles

    se interpem: um est acima, o trigrama superior, e o outro est abaixo,o trigrama inferior. A relao dos atributos destes trigramas d origemao tempo que a situao simbolizada por um hexagrama.

    O trigrama superior representa sempre o que est em condieshierrquicas mais elevados como: o contedo que lidera a forma, o

    M

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    mundo espiritual que deve comandar o material, o governante que devegovernar o seu povo, o marido que deve chefiar sua famlia, o sciomajoritrio que deve decidir, o patro que d ordens a seu funcionrioe assim por diante. Seu movimento correto deve ser descendente emdireo s pessoas e coisas que comanda.

    O trigrama inferior representa o que dependente: a forma quedeve manifestar o contedo, o mundo material que surge do mundoespiritual, o povo que obedece as decises do governante, etc. Seumovimento correto deve ser ascendente em direo quele de quemdepende, de onde emanam s ordens.

    O sentido de um hexagrama encontrado pela interao dosatributos e a localizao dos trigramas que o compem. Porm emalguns hexagramas o sentido est expresso em sua forma grfica como o caso dos seguintes hexagramas: Manter-se Unido 8), Morder 21),Desintegrao 23), Retorno 24), As Bordas da Boca 27), A Prepon-derncia do Grande 28), A Retirada 33), Vir ao Encontro 44), APreponderncia do Pequeno 62).

    Os trigramas tm um movimento ascendente ou descendente.Quando o movimento do trigrama superior descendente e o movimentodo inferior ascendente temos um hexagrama positivo e harmonioso.Quando estes movimentos divergem, as relaes esto comprometidase o hexagrama deve representar a razo desta divergncia. Osmovimentos ascendente ou descendente dos trigramas so percebidosa partir da anlise da composio de suas linhas firmes e maleveis edos atributos que cada trigrama possui. Ex: KAN a gua tem ummovimento descendente porque a gua no nosso mundo sempre correpara baixo.

    Estes movimentos dependem da composio de cada hexagrama,de como os trigramas esto colocados. O texto dos hexagramas no livroIII nos informam sobre o movimento acima explicado em cada um desteshexagramas

    Estes movimentos so contrabalanados pelo movimento dostrigramas nucleares. Estes trigramas, so retirados das quatro linhascentrais do hexagrama. Sua funo mostrar o que se processa nointerior do hexagrama, as sadas para a situao colocada ou suasnteseOs hexagramas

    Os 64 hexagramas do 1 Ching so formados por todas ascombinaes possveis dos 8 trigramas. Eles representam todas asmudanas na natureza, na vida, nos seus aspectos macro e micro-cs-

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    micos que est em cima como o que est em baixo As mudanasacontecem segundo a lei. A lei que gera as mudanas est representadanestes 64 hexagramas.

    Existem dois hexagramas que geram todos os demais encontradosno 1 Ching, o Criativo (1) e o Receptivo (2). Se estudarmos profunda-mente estes dois hexagramas, teremos uma excelente base para ainterpretao de todos os demais, porque eles representam a essnciada relao do homem com o Princpio Unico e Universal. Os dois soo Pai e a Me de todas as outras situaes representadas nos demaishexagramas. A fora Yin total encontra-se expressa no Receptivo e afora Yang total, no C riativo

    Os demais hexagramas mostram o estado germinal de situaes,estados de ser , os movimentos da vida em eterna mutao. Um

    hexagrama est ligado aos demais em seu sentido, representando ainterrrelao de tudo que existe. Um segue-se ao outro dentro de umaseqncia de acontecimentos que vo desde o incio de tudo, oscomeos, representado pelo hexagrama Dificuldade Inicial (3), passandopelas diversas situaes destes acontecimentos na vida do homem e douniverso, at seu desfecho final com os dois ltimos hexagramas: Apsa Concluso (63) e Antes da Concluso (64).

    Os hexagramas representam os arqutipos, as sementes dasmudanas. Os movimentos das linhas que entram por baixo desteshexagramas e saem pela linha na sexta posio, representam o ciclode maturao e a configurao destas mudanas que, quando estoformadas e prontas, manifestam-se na realidade, no destino. Compreen-der estes movimentos, analis-los e interpret-los, atravs da analogiacom a situao que levamos consulta, ensina ao homem a respondercorretamente com atitudes e aes, aos acontecimentos da vida.Transforma este homem em um sbio que pode moldar o seu destinoharmonizando-o com as leis universais.

    Vimos, no corpo deste livro, que os dois trigramas que compemum hexagrama, um abaixo e outro acima, representam o mundo materiale o mundo espiritual, o consciente e o inconsciente humano e tambmvrios outros pares de opostos pertinentes pergunta feita peloconsulente. Vimos tambm que dispondo as seis linhas em paresobtemos a representao dos trs poderes fundamentais: Cu, Terra,Homem. As relaes entre estes dois aspectos da formao de umhexagrama nos informam sobre as relaes pessoais ou csmicas doconsulente com os movimentos Vin e Vang no momento.

    Podemos concluir que o 1 Chlng um mapa das relaes, entreo sistema maior macrocsmico e o sistema menor microcsmico. Seushexagramas expressam como num dado momento estes sistemas esto

    r

  • 7/27/2019 Ely Britto - I Ching - Um Novo Ponto de Vista

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    se relacionando, se esto em harmonia ou se esto em desarmoniaindicando como podemos nos posicionar frente a eles. Para transmitir asabedoria de uma boa relao com estes sistemas, o 1 Chlng utilizacomo exemplo a ao do homem superior Tentando seguir este exemplode ao, to claramente expressa em seus hexagramas, vamosaprendendo a assimilar esta sabedoria e a viver em harmon