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UNIVERSIDADE DO MINHO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA
Elsa Maria Barrigão Ferreira
ENSINO E APRENDIZAGEM DE GEOMETRIA EM AMBIENTES GEOMÉTRICOS
DINÂMICOS: O tema de Geometria do Plano no 9º ano de escolaridade
Dissertação de Mestrado em Educação
Área de Especialização em Supervisão Pedagógica em Ensino da Matemática
Trabalho efectuado sob a orientação do
Professor Doutor José António Fernandes
Outubro de 2005
É autorizada a reprodução integral desta dissertação apenas para efeitos de
investigação, mediante declaração escrita do interessado, que a tal se
compromete.
O autor
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A G R A D E C I M E N T O S Quero agradecer a todos o que tornaram este trabalho possível, em especial, Ao Professor Doutor José António Fernandes pela sua orientação e disponibilidade,
pelas suas sugestões e comentários, pelo seu estímulo positivo e por acreditar em mim. Aos professores do curso de mestrado pela sua experiência e sabedoria que me
abriram os olhos para muitas questões. Ao Conselho Executivo da Escola Secundária de Felgueiras por ter permitido a
realização desta experiência. À professora Carla e aos seus alunos, que muito prontamente se dispuseram a ajudar
nesta “caminhada”, pelo seu empenho e entusiasmo. À Sónia pela sua disponibilidade e por ter “encontrado” a professora Carla. À Paula, à Célia e à Cristina pela bibliografia fornecida, pelas suas sugestões e
discussões. Ao Sr. Fernandes e à D. Aida por me “aturarem” durante este tempo. Ao Jorge pela paciência e carinho. Aos meus pais por todo o seu amor e apoio incondicional. A todos pela sua amizade e compreensão.
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE GEOMETRIA EM AMBIENTES GEOMÉTRICOS DINÂMICOS: O tema de Geometria do Plano no 9º ano de escolaridade
Elsa Maria Barrigão Ferreira Dissertação de Mestrado
Universidade do Minho, Outubro de 2005 A matemática é cada vez mais utilizada na sociedade, com ligação às mais diversas
áreas da actividade humana e, numa sociedade cada vez mais competitiva e mais tecnológica, espera-se que a escola seja capaz de formar seres "matematicamente alfabetizados" (NCTM, 1991, p. 5), que sejam capazes de reflectir criticamente, de resolver problemas, de efectuar escolhas, de tomar decisões, adoptando um papel mais activo e mais autónomo.
Torna-se, assim, urgente proporcionar ambientes de ensino/aprendizagem mais ricos, mais estimulantes e mais desafiantes, que permitam aos alunos desenvolver a sua capacidade para explorar, conjecturar, raciocinar logicamente, utilizar e reflectir sobre a informação disponível. Para tal, a Geometria constitui um tema propício ao desenvolvimento de tais capacidades, sendo os Ambientes de Geometria Dinâmica (AGD), como o Geometer’s Sketchpad (GSP), vistos como poderosos instrumentos de ensino da Geometria. Assim, neste estudo, pretendemos estudar as potencialidades do GSP como mediador no processo de ensino/aprendizagem da Geometria, quer no que diz respeito ao desempenho matemático, quer no que diz respeito às atitudes dos alunos.
O estudo desenvolveu-se com os alunos de uma turma do 9° ano de escolaridade, de uma escola secundária, do distrito do Porto, com idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos, que trabalharam, em grupo, com recurso ao GSP, a unidade didáctica Circunferência e Polígonos. Rotações.
Dada a problemática em estudo, optou-se por uma metodologia de investigação predominantemente qualitativa, tendo a recolha de dados sido centrada na observação de aulas, no registo de notas da investigadora, nos documentos produzidos pelos alunos, em dois questionários aos alunos e numa entrevista à professora da turma.
Em termos de resultados, salienta-se o aprofundamento de algumas das capacidades matemáticas mencionadas, a autonomia e as concepções acerca da demonstração. Apesar dos aspectos menos conseguidos, designadamente a resistência de alguns alunos à forma implementada para aprender geometria, no sentido de que tinham de “explicar tudo”, o balanço que alunos, professora e investigadora fazem da experiência é, em todos os sentidos, bastante positivo.
Finalmente, este estudo veio reforçar a ideia de que é importante romper com algumas tradições escolares, pelo menos no que diz respeito aos papéis dos intervenientes directos (professor e alunos) no processo de ensino/aprendizagem.
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TEACHING AND LEARNING OF GEOMETRY IN DYNAMIC GEOMETRIC ENVIRONMENTS: The subject of Geometry of the Plan in 9th year grade
Elsa Maria Barrigão Ferreira Master Dissertation
Universidade do Minho, October 2005 The mathematics is more used in society, with linking to most diverse areas of
human’s activity and, in a society more competitive and more technological, expects that the school be able to form "mathematically literate" beings (NCTM, 1991, p. 5), that they are able to reflect critically, to solve problems, to make choices, to take decisions, adopting a more active and more autonomous role.
It is, thus, urgent to provide richer environments of teaching/learning, more challenging and more stimulants, where the students are allowed to develop their capacity to explore, to conjecture, to think logically and to use and to reflect on the available information. Thus, Geometry is a propitious subject to the development of such capacities, being the Environments of Dynamic Geometry, as Geometer's Sketchpad (GSP), seen as powerful instruments in teaching Geometry. Thus, in this study, we intend to analyze the potentialities of the GSP as a mediator in the process of teaching/learning Geometry, in respect to the mathematical performance or in respect to the attitudes of the students.
The study was carried with the students of a 9th year, of an intermediate school in the district of Porto, with ages between 14 and 17 years, who had worked, in groups, with the help of the GSP, the didactics unit Circumference and Polygons. Rotations.
On this subject the methodology chosen was predominantly qualitative, having the gathering of data been centred in the classroom notes taken by the investigator, in the student’s documents, in two questionnaires to the students and in an interview to the teacher of the class. In terms of results, it is noticeable the deepening of some of the mentioned mathematical capacities, the autonomy and the conceptions concerning the demonstration.
Despite of not so good results, for example, the resistance of some students to the given form to learn geometry, with the intent that they had "to explain everything", the summing up that pupils, teacher and investigator make of the experience is, in all senses, enough positive.
Finally, this study gives to strength to the idea that it is important to break with some school traditions, at least in respect to the performance of those directly involved (teacher and students) in the teaching/learning process.
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ÍNDICE AGRADECIMENTOS.............................................................................................. iii RESUMO ................................................................................................................... iv ÍNDICE ...................................................................................................................... vi LISTA DE TABELAS .............................................................................................. ix LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ x CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO AO PROBLEMA ............................................... 1
1.1. Problema de investigação................................................................................. 2 1.2. Perspectivas actuais na Educação Matemática ................................................ 5 1.3. Geometria, AGD e Demonstração.................................................................. 10 1.4. Motivações para o estudo............................................................................... 12 1.5. Aspectos da metodologia usada no estudo..................................................... 15
CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................. 17
2.1. A Geometria no currículo de Matemática ...................................................... 17 2.1.1. Recuperação da Geometria no currículo de Matemática ..................... 17 2.1.2. Situação actual no ensino básico.......................................................... 21
2.2. O computador ao serviço do ensino da Geometria ........................................ 25 2.2.1. O computador no ensino e na aprendizagem da Geometria................. 25 2.2.2. O ensino e a aprendizagem da Geometria em AGD ............................ 31
2.3. A demonstração em Matemática .................................................................... 39 2.3.1. Os diferentes papéis da demonstração ................................................. 39 2.3.2. O ensino e a aprendizagem da demonstração ...................................... 46 2.3.3. A demonstração em AGD .................................................................... 50
CAPÍTULO III – PLANO METODOLÓGICO ................................................... 59
3.1. Opções metodológicas do estudo ................................................................... 59 3.2. Participantes no estudo................................................................................... 60
3.2.1. Escolha da turma.................................................................................. 60 3.2.2. A professora da turma .......................................................................... 61 3.2.3. Caracterização da turma/escola............................................................ 61 3.2.4. Intervenção didáctica ........................................................................... 64 3.2.5. Grupos de trabalho............................................................................... 68
3.3. Materiais de ensino utilizados........................................................................ 70 3.3.1. O Geometer’s Sketchpad, versão 4.00 ................................................. 72
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3.3.2. Fichas de trabalho ................................................................................ 74 3.4. Métodos e instrumentos de recolha de dados................................................. 82
3.4.1. Observação........................................................................................... 83 3.4.2. Documentos produzidos pelos alunos.................................................. 85 3.4.3. Questionários ....................................................................................... 86 3.4.4. Entrevista ............................................................................................. 89
3.5. Análise de dados............................................................................................. 90 CAPÍTULO IV – IMPLEMENTAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DE ENSINO...... 93
4.1. Primeira sessão............................................................................................... 93 4.2. Segunda sessão............................................................................................... 95 4.3. Terceira sessão ............................................................................................... 96 4.4. Quarta sessão................................................................................................ 101 4.5. Quinta sessão................................................................................................ 104 4.6. Sexta sessão.................................................................................................. 113 4.7. Sétima sessão................................................................................................ 119 4.8. Oitava sessão ................................................................................................ 120 4.9. Nona sessão .................................................................................................. 124 4.10. Décima sessão ............................................................................................ 127 4.11. Décima primeira sessão.............................................................................. 127
CAPÍTULO V – AVALIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA ........................................ 139
5.1. Ideias e atitudes dos alunos acerca da Geometria e da demonstração ......... 139 5.1.1. Atitudes face à Geometria.................................................................. 140 5.1.2. Concepções acerca da demonstração ................................................. 146
5.2. Apreciação global sobre a experiência......................................................... 152 5.2.1. Apreciação sobre as aulas de Geometria ........................................... 152 5.2.2. Apreciação das tarefas de Geometria................................................. 159
5.3. Entrevista à professora ................................................................................. 166 5.3.1. Ensino da Geometria: Circunferência e Polígonos ............................ 167 5.3.2. Experiência de ensino e aprendizagem.............................................. 168
CAPÍTULO VI – CONCLUSÕES DO ESTUDO ............................................... 173
6.1. Descrição do estudo ..................................................................................... 173 6.2. Principais conclusões ................................................................................... 177
6.2.1. Desenvolvimento de capacidades matemáticas ................................. 177 6.2.2. Desenvolvimento de uma pedagogia para a autonomia..................... 187
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6.2.3. Atitudes e concepções dos alunos acerca da geometria e da demonstração........................................................................................ 190
6.3. Limitações e recomendações........................................................................ 195 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 203 ANEXOS................................................................................................................. 219
Anexo I. Pedido de autorização ao Conselho Executivo .................................... 221 Anexo II. Pedido de autorização aos Encarregados de Educação....................... 222 Anexo III. Manual de iniciação ao Geometer’s Sketchpad, ver. 4.00................. 223 Anexo IV. Fichas de trabalho propostas ............................................................. 239 Anexo V. Questionário sobre atitudes e concepções dos alunos acerca da geometria e da demonstração .............................................................. 263 Anexo VI. Questionário sobre a experiência de ensino e aprendizagem da Geometria ............................................................................. 269 Anexo VII. Guião de entrevista à professora da turma ....................................... 279
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Distribuição dos alunos que participaram no estudo por sexo e idade ...... 62
Tabela 2. Classificação obtida no 1º período na disciplina de Matemática............... 63
Tabela 3. Sistematização das sessões da intervenção didáctica e os respectivos
assuntos abordados..................................................................................................... 67
Tabela 4. Atitudes dos alunos face à Geometria...................................................... 141
Tabela 5. Situações do dia-a-dia em que seja necessária a Geometria .................... 143
Tabela 6. Razões para a utilização do computador nas aulas de matemática .......... 144
Tabela 7. Metodologias preferidas para a aprendizagem da geometria................... 145
Tabela 8. Formas de se certificar da correcta resolução de exercícios ou problemas ............................................................................................................ 146
Tabela 9. Como ter a certeza de que uma propriedade é verdadeira ....................... 147
Tabela 10. Funções da demonstração ...................................................................... 148
Tabela 11. Definição de demonstração .................................................................... 149
Tabela 12. Razões para trabalhar como um verdadeiro matemático ....................... 150
Tabela 13. Demonstração de que a soma das amplitudes dos ângulos internos de um qualquer paralelogramo é 360º...................................................................... 150
Tabela 14. Apreciação global sobre a experiência................................................... 153
Tabela 15. Importância e interesse dos temas estudados......................................... 159
Tabela 16. Dificuldades sentidas pelos alunos ........................................................ 160
Tabela 17. Finalidades das tarefas ........................................................................... 161
Tabela 18. Finalidade do trabalho de grupo............................................................. 163
Tabela 19. Ajuda na formulação das conclusões, na explicação dos procedimentos e na explicação das conclusões ....................................................... 164
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LISTA DE FIGURAS Figura 1. Teorema de Napoleão (adaptada de De Villiers, 2003) ............................. 33
Figura 2. Quadrilátero de Varignon (adaptada de De Villiers, 2003)........................ 41
Figura 3. Centro de gravidade de um triângulo (adaptada de De Villiers, 2003) ...... 42
Figura 4. Propriedades 2 e 3 do Bissectogramo [EFGH] do quadrilátero [ABCD]... 43
Figura 5. Caso particular do Quadrilátero de Varignon............................................. 44
Figura 6. Um velho problema... ................................................................................. 50
Figura 7. Soma das amplitudes dos ângulos internos de um triângulo [ABC] (adaptada de De Viliiers, 2003) ..................................................................... 53
Figura 8. Resolução de uma tarefa da ficha 9, Recta tangente à circunferência....... 86
Figura 9. Resolução da ficha de trabalho 1, pelo grupo GSP4 .................................. 98
Figura 10. Definição de ângulo ao centro dada por alguns grupos............................ 99
Figura 11. Resolução da ficha de trabalho 1, pelo grupo GSP5 .............................. 100
Figura 12. Para ângulos côncavos, o GSP continua a medir a amplitude do arco correspondente ao ângulo convexo .................................................................. 100
Figura 13. Exercício de aplicação, resolvido pelos alunos com recurso às ferramentas tradicionais, papel e lápis ..................................................................... 102
Figura 14. Resolução da ficha 2, apresentada pelo grupo GSP7 ............................. 103
Figura 15. Resolução da tarefa 3, da ficha 3, apresentada pelo grupo GSP8 .......... 106
Figura 16. Justificações apresentadas pelo grupo GSP11 para a conjectura estabelecida para os ângulos inscritos...................................................................... 108
Figura 17. Resolução da tarefa 5, da ficha 3, pela Flávia ........................................ 108
Figura 18. Resolução da tarefa 5, da ficha 3, pela Joana ......................................... 109
Figura 19. Construção de um ângulo inscrito numa semi-circunferência, pelo grupo GSP5.............................................................................................................. 110
Figura 20. Resolução da ficha 4, pelo grupo GSP5 ................................................. 112
x
Figura 21. Resolução da ficha 5, pelo grupo GSP5 ................................................. 115
Figura 22. Resolução da tarefa 2, da ficha 9, pelo grupo GSP5 .............................. 117
Figura 23. Resolução da tarefa 3, da ficha 9, pelo grupo GSP5 .............................. 119
Figura 24. “Construção do aeroporto” pelo grupo GSP5 ........................................ 122
Figura 25. “Construção do aeroporto” pelo grupo GSP7 ........................................ 122
Figura 26. Resolução da tarefa 2, da ficha 10, pelos grupos GSP7 e GSP6 ............ 131
Figura 27. Resolução da ficha 10, pelo grupo GSP7 ............................................... 132
Figura 28. Resolução da ficha 10, pelo grupo GSP5 ............................................... 136
Figura 29. Esquema de demonstração apresentado por um aluno ........................... 151
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C A P Í T U L O I
INTRODUÇÃO AO PROBLEMA
Com este estudo procurou-se analisar as potencialidades educativas dos Ambientes
Geométricos Dinâmicos (AGD), nomeadamente do Geometer’s Sketchpad (GSP) na
influência quer no que diz respeito às atitudes e concepções dos alunos perante a geometria,
quer no que diz respeito ao seu desempenho matemático no estudo do capítulo
Circunferência e Polígonos. Rotações, do 9º ano de escolaridade. Desempenho esse
centrado na construção de conceitos e relações matemáticas e na necessidade de
justificação das mesmas.
Este estudo está organizado em seis capítulos. No presente capítulo começaremos por
apresentar os objectivos do estudo e fundamentar as nossas opções à luz das actuais
orientações em Educação Matemática e as razões que nos levaram a optar por esta temática.
No capítulo que se segue, capítulo dois, é apresentada uma revisão de literatura, que
consideramos essencial, sobre o ensino e a aprendizagem da geometria com recurso aos
AGD e que orientou o desenvolvimento deste estudo. Começamos por nos referir às
mudanças actuais na sociedade e às suas implicações no ensino, nomeadamente a utilização
das novas tecnologias, para de seguida dar uma especial atenção aos AGD e à questão da
demonstração em matemática.
A descrição geral do estudo é feita no terceiro capítulo, onde fundamentamos a escolha
da metodologia adoptada e onde descrevemos pormenorizadamente as condições em que
este decorreu, os participantes, os materiais de ensino utilizados e os instrumentos para a
recolha e análise dos dados.
No capítulo quatro iremos debruçarmo-nos sobre a implementação da experiência de
ensino, com especial enfoque no trabalho realizado pelos alunos na investigação, na
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descoberta e na argumentação de conceitos e relações geométricas, com recurso ao GSP.
No capítulo cinco é feita uma avaliação da experiência onde damos a conhecer a forma
como os alunos e a professora viveram e sentiram a mesma.
Finalmente, as conclusões do estudo são deixadas para capítulo seis, onde se resumem e
discutem os principais resultados obtidos. São também apresentadas as limitações do
presente estudo e sugeridos possíveis caminhos para futuras investigações.
1.1. Problema de investigação
A matemática é cada vez mais utilizada na sociedade, com ligação às mais diversas
áreas da actividade humana. Vivemos num “cenário matematizado” (Providência, 2001, p.
8), desde a arquitectura à engenharia, desde a biologia à medicina, desde a música à arte, a
matemática faz parte do nosso quotidiano, e, portanto, para se ser seduzido pelo fascínio da
matemática é necessário, segundo Pappas (2001), compreender que esta não é um assunto
isolado sem relação com as coisas que nos rodeiam.
Deste modo, a Educação Matemática tem como objectivo promover a formação de
cidadãos participativos, críticos e confiantes na forma como lidam com a matemática, uma
vez que esta se distingue das outras ciências, em especial no modo como encara a
generalização e a demonstração e no modo como combina o trabalho experimental com os
raciocínios indutivo e dedutivo, oferecendo um contributo único como meio de pensar, de
aceder ao conhecimento e de comunicar ( [Departamento de Educação Básica] DEB, 2001).
Nesta perspectiva, a geometria torna-se um campo privilegiado de matematização da
realidade e da realização de descobertas. Segundo Mason (1991), aprendemos geometria
para fortalecer e ajudar a organizar a noção de espaço, para ter conhecimento do mundo
real em que vivemos e para contactar directamente com o mundo da matemática através da
observação e da mente, indo de encontro às ideias já defendidas, em 1973, por Freudenthal,
para quem a geometria é essencialmente “a compreensão do espaço” o qual a criança “deve
aprender a conhecer, a explorar, a conquistar” de modo a poder aí “viver, respirar e
movimentar-se melhor” (p. 403). Acções tão simples como consultar um mapa ou fazer
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medições, pendurar um quadro, jogar bilhar ou fazer construções com legos exigem sentido
de orientação, compreensão do espaço, ou seja, noções necessárias para compreender e
viver no mundo que nos rodeia.
É, portanto, indubitável o papel relevante que a geometria deve ocupar na Educação
Matemática. Mas, o ambiente em que esta é explorada influencia de formas diferentes a
apropriação de saberes.
Ao longo dos tempos, os instrumentos disponíveis sempre propiciaram o
desenvolvimento de ambientes geométricos criativos e didácticos. Agora, também o
impacto das novas tecnologias, da sociedade actual, se traduzem em mudanças de
conteúdos, abordagens, métodos e processos de pensamento no ensino e aprendizagem da
geometria, que poderão ser patrocinados pela exploração do moderno software geométrico
(Hershkowitz, 1994; citado em Junqueira, 1995). Tal como refere Laborde (1993), aprender
geometria com papel, lápis, régua e compasso é diferente de aprender recorrendo a
materiais manipuláveis, que por sua vez é diferente de aprender geometria recorrendo a
ambientes computacionais dinâmicos, como o Cabri-Géomètre ou o Geometer’s Sketchpad.
Estes libertam-nos de tarefas mecânicas e rotineiras, de construção, de medição e de
cálculos, deixando tempo para um trabalho mais dinâmico e activo em geometria.
Os AGD vieram então dar um novo contributo ao processo de ensino/aprendizagem da
geometria, uma vez que estes permitem, de uma maneira muito mais viva e eficaz (De
Villiers, 1996a), explorar, descobrir e desenvolver conceitos matemáticos e não somente
verificar resultados ou realizar experiências. Estes ambientes, oferecem, portanto, a
professores e alunos, segundo Noss e Hoyles (1996), uma nova janela para a geometria,
contribuindo, assim, para um ensino renovado deste tema.
Outra questão que tem vindo a recuperar o seu lugar na Educação Matemática é a
demonstração que, considerada por muitos professores como a “entrada no mundo da
matemática”, é vista por muitos alunos como o “ início do seu fracasso escolar” (Barbin,
1996, p. 195). Sendo assim, é necessário encontrar meios que motivem os alunos para a
demonstração na sala de aula, para que comecem a senti-la como uma actividade útil e
interessante.
A geometria foi, desde sempre, um campo privilegiado para abordar as questões da
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demonstração. Mas, será que também se pode demonstrar com os AGD?
Estudos recentes, como os de Gardiner, Hudson e Povey (2000) e Mogetta (2000),
mostram como a utilização dos AGD pode contribuir para o desenvolvimento nos alunos da
ideia de construção e de demonstração. Contudo, esta questão ainda não tem uma resposta
definitiva, pois há quem considere que a demonstração com recurso ao computador não é
uma “verdadeira demonstração”. Por exemplo, a tão procurada demonstração do teorema
das quatro cores, um dos mais famosos problemas da matemática contemporânea,
demonstrado com o computador, em 1976, por Kennet Appel e Wolfang Hanken, é
contestada por muitos matemáticos e filósofos. Enquanto que no entendimento de uns não
chega a ser uma demonstração, para outros desafia o conceito tradicional de demonstração
matemática. Hanken, citado em Providência (2001, p. 55), argumenta dizendo que:
“O facto de um computador percorrer mais pormenores nalgumas horas de que um humano alguma vez pode esperar ao longo de uma vida não altera o conceito básico da prova matemática. O que mudou não é a teoria, mas a prática das matemáticas.”
Apesar da demonstração ter vindo a ocupar um papel mais relevante na Educação
Matemática, alguns autores, dentre os quais Wu (1996, citado em Knuth, 2002b), salientam
o facto da sua utilização se restringir, quase unicamente, ao campo da Geometria. Mas, a
verdade é que com a ajuda dos AGD, devido à sua característica facilitadora da
experimentação e através dos vários exemplos gerados, da investigação de propriedades e
relações, a demonstração pode ser “vista com outros olhos”, motivar alunos e professores
nesse sentido e, consequentemente, poder constituir o primeiro passo para que a
demonstração “venha para ficar”, poder ser a porta da entrada principal. Assim, uma vez
que a aprendizagem da Geometria é influenciada de diferentes formas, dependendo também
do ambiente em que é explorada, o objectivo deste estudo foi estudar as potencialidades dos
AGD como mediadores no processo de ensino/aprendizagem da Geometria e como é que
estes podem aproximar os alunos da prática da demonstração matemática.
Estas considerações levaram-nos a formular as seguintes questões de investigação:
- A utilização dos AGD contribui para o desenvolvimento de capacidades matemáticas,
tão importantes, como compreender e relacionar objectos geométricos, formular
conjecturas, estabelecer raciocínios lógicos, comunicar e usar correctamente a linguagem
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matemática? Será que o recurso aos AGD leva os alunos a privilegiar a evidência como
forma de argumentação?
- Os AGD poderão contribuir para uma nova aprendizagem da geometria tornando os
alunos mais interessados e autónomos?
- Quais as concepções que os alunos têm acerca da geometria e da demonstração? É
possível mudá-las através da utilização dos AGD?
1.2. Perspectivas actuais na Educação Matemática
“ De todos os lados assistimos a uma invasão crescente da vida moderna pela matemática, a uma matematização das ciências que dia a dia se tornam mais imprescindíveis aos homens. De modo que a orgulhosa «rainha das ciências», até aqui rainha distante, encerrada num Mont-Salvat mal abordável, tende a tornar-se numa companheira democratizada e querida de todos nós” (Caraça, 1978, p. 295).
Bom, não tão “querida” assim de todos nós, mas com certeza um “mal necessário” para
muitos e uma paixão para alguns. O que é de salientar é que há já 27 anos atrás Bento de
Jesus Caraça falava da matemática como indispensável na vida de todos nós e é verdade
que as transformações, incessantes e em ritmo acelerado, a que a sociedade está
actualmente sujeita, exigem cada vez mais matemática, até ao mais comum dos cidadãos.
Face a esta sociedade, em constante mudança, “fortemente matematizada e tecnológica”
(Piteira, 2000, p. 1), torna-se necessário preparar os alunos para o mercado de trabalho e
para exercer uma cidadania de modo crítico e consciente, pois vivemos num permanente
desfio: adaptarmo-nos a um mundo em constante transformação. Tal desafio reflecte-se
inevitavelmente no currículo de Matemática. Citando Ponte, Boavida, Graça e Abrantes
(1997, p. 45):
“Um currículo pode vigorar durante mais ao menos tempo, conforme se revele mais ao menos adequado às suas funções e ao jogo das forças políticas e sociais a que se encontra submetido. Com a transformação acelerada da sociedade, característica deste final de século XX, é natural que os currículos passem a ter uma vida útil cada vez menor” (p. 45).
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O currículo da disciplina de Matemática tem sofrido importantes alterações,
salientando-se sobretudo as seguintes tendências: (1) a natureza das competências
matemáticas que merecem especial atenção no processo de ensino/aprendizagem. A
resolução de problemas e investigações, por parte dos alunos, permite dar asas à
imaginação e à criatividade, desenvolvendo capacidades que vão além do cálculo e da
memorização, como a comunicação, o espírito critico, a modelação, a capacidade de
analisar dados e situações complexas, de realizar demonstrações, de planear, gerir e avaliar
o seu próprio trabalho; (2) o impacto das novas tecnologias. As novas tecnologias estão a
mudar a Matemática e as competências a que se deve dar mais ênfase, sendo uma tendência
muito forte nos currículos actuais; (3) a emergência de novos domínios na Matemática. A
evolução da própria matemática e a emergência de novos temas, como a matemática
discreta, as probabilidades e as ciências da computação, redefinem os assuntos a abordar
nos novos currículos; (4) o aprofundamento da investigação sobre o processo de
aprendizagem.
As investigações sobre o processo de ensino/aprendizagem também influenciam as
novas orientações curriculares. A investigação tem mostrado que a maioria dos alunos
realiza as tarefas propostas mas sem reflectir muito sobre o seu sentido, acabando por ver a
matemática como algo sem interesse e inútil. Esta visão encontra-se ainda muito marcada
na cultura de sala de aula (Ponte, Boavida, Graça e Abrantes, 1997), pelo que é necessário
invertê-la.
As novas tendências curriculares, no ensino e aprendizagem da Matemática, tiveram
como motor principal a associação de professores de Matemática dos Estados Unidos,
National Council of Teacher of Mathematics (NCTM).
Em Portugal, a principal protagonista pela reforma na matemática escolar foi a
Associação de Professores de Matemática (APM). A reforma da matemática escolar é
exigida pelas características de uma sociedade cada vez mais competitiva. De acordo com
as Normas para o Currículo e Avaliação em Matemática Escolar do NCTM (1991, p. 5),
“a sociedade actual espera que as escolas garantam que todos os estudantes tenham a oportunidade de se tornar matematicamente alfabetizados, sejam capazes de prolongar a sua aprendizagem, tenham iguais oportunidades de aprender e se tornem
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cidadãos aptos a compreender as questões em aberto numa sociedade tecnológica. Tal como a sociedade muda, também as suas escolas devem transformar-se”.
Neste contexto, torna-se prioritário combater a iletracia matemática a que os nossos
alunos se resignam e torná-los matematicamente alfabetizados, de modo a fazer frente às
novas exigências da actualidade.
O estudo internacional PISA 2000 (Programme for International Assessment) revelou
que os alunos portugueses de 15 anos de idade tiveram um desempenho em literacia
matemática claramente inferior à média conseguida pelos alunos dos países da OCDE
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico). A literacia matemática
no PISA é definida como “a capacidade de um indivíduo identificar e compreender o papel
que a matemática desempenha no mundo, de fazer julgamentos bem fundamentados e de
usar e se envolver na resolução matemática das necessidades da sua vida, enquanto cidadão
construtivo, preocupado e reflexivo”, e procura avaliar até que ponto os alunos de 15 anos,
de vários países, incluindo Portugal, podem ser considerados “cidadãos informados e
reflexivos e consumidores esclarecidos” centrando-se na capacidade destes “utilizarem o
conhecimento e a compreensão matemática” para os ajudar a perceber determinadas
questões e levar a cabo as tarefas daí resultantes ([Ministério da Educação] ME e [Gabinete
de Avaliação Educativa] GAVE, 2004, p. 2).
Os alunos portugueses tiveram um desempenho médio bastante modesto,
aproximadamente 450 pontos, bastante inferior ao dos alunos do Japão com mais de 550
pontos e inferior ao dos alunos dos países da OCDE cuja média é de 500 pontos. Os
estudantes portugueses encontram-se ao mesmo nível da Itália, da Grécia, da Letónia e do
Luxemburgo. No que diz respeito ao desempenho dos alunos portugueses por ano de
escolaridade, os alunos do 10º ano e um número reduzido de alunos do 11º ano situa-se
acima da média da OCDE. Relativamente ao 9º ano, o decréscimo é evidente, para os 428
pontos, e acentua-se à medida que nos aproximamos do 5º ano de escolaridade, atingindo
apenas os 247 pontos. Estes resultados são preocupantes e leva-nos a pensar que algo não
está bem e é preciso fazer algo no sentido de preparar melhor os nossos alunos para a vida
futura.
De acordo com o DEB (2001) tornar os alunos matematicamente competentes envolve
7
um conjunto de atitudes, capacidades e conhecimentos relativos à matemática, que todos
devem desenvolver ao longo da educação básica e que inclui: (1) a predisposição para
raciocinar matematicamente, isto é, para explorar situações problemáticas, procurar
regularidades, fazer e testar conjecturas, formular generalizações, pensar de maneira lógica;
(2) o gosto e a confiança pessoal em realizar actividades intelectuais que envolvem
raciocínio matemático e a concepção de que a validade de uma afirmação está relacionada
com a consistência da argumentação lógica, e não com alguma autoridade exterior; (3) a
aptidão para discutir com os outros e comunicar descobertas e ideias matemáticas através
do uso de uma linguagem, escrita e oral, não ambígua e adequada à situação; (4) a
compreensão das noções de conjectura, teorema e demonstração, assim como das
consequências do uso de diferentes definições; (5) a predisposição para procurar entender a
estrutura de um problema e a aptidão para desenvolver processos de resolução, assim como
para analisar os erros cometidos e ensaiar estratégias alternativas; (6) a aptidão para decidir
sobre a razoabilidade de um resultado e de usar, consoante os casos, o cálculo mental, os
algoritmos de papel e lápis ou os instrumentos tecnológicos; (7) a tendência para procurar
ver e apreciar a estrutura abstracta que está presente numa situação, seja ela relativa a
problemas do dia-a-dia, à natureza ou à arte, envolva ela elementos numéricos, geométricos
ou ambos e (8) a tendência para usar a matemática, em combinação com outros saberes, na
compreensão de situações da realidade, bem como o sentido crítico relativamente à
utilização de procedimentos e resultados matemáticos.
As Normas para o Currículo e Avaliação em Matemática Escolar propõem para todos
os alunos, desde o ensino pré-escolar ao 12º ano, os seguintes objectivos gerais: (1)
aprender a dar valor à matemática; (2) adquirir confiança na sua capacidade de fazer
matemática; (3) tornarem-se aptos na resolução de problemas matemáticos; (4) aprender a
comunicar matematicamente e (5) aprender a raciocinar matematicamente. Infelizmente,
alguns dados que temos acerca destes objectivos não são muito animadores (NCTM, 1991).
Os resultados das provas de aferição do ensino básico no que diz respeito à Matemática,
mostram que os alunos do 4º ano revelaram um melhor desempenho do que os do 6º ano, e
apontam para uma recuperação do 9º ano relativamente aos resultados do 6º ano. Ainda
assim, os dados globais apontam para um nível máximo de aproximadamente 50% para o
8
4º ano, contra 10% no 6º ano, verificando-se um grande desnível nos resultados do 4º para
o 6º ano. Esse desnível diminui para o 9º ano, onde os níveis máximos chegam a
aproximar-se dos 40%. Em 2003, na variável do conhecimento, os níveis máximos subiram
um pouco acima dos 50%, na resolução de problemas diminui, não chegando aos 20%, no
raciocínio também diminui e encontra-se um pouco acima dos 20% e na comunicação
superam os 40% (ME, 2004). Apesar de haver uma recuperação no 9º ano e os níveis terem
atingido os 40%, os resultados não se podem considerar animadores e estão longe do que é
satisfatório.
Para ir de encontro dos objectivos atrás referidos, o NCTM (1991) sugere que os
alunos: (1) participem em numerosas e variadas experiências relacionadas entre si e que os
encorajem a dar apreço ao desenvolvimento da matemática, a desenvolver hábitos de
pensamento matemático e a compreender e apreciar o papel da matemática na vida da
humanidade; (2) sejam encorajados a explorar, a fazer tentativas, e mesmo a cometer erros
e a tentar corrigi-los, de tal modo que ganhem confiança na sua capacidade de resolver
problemas complexos; (3) leiam, escrevam e discutam matemática, e ainda conjecturem,
testem e construam argumentos sobre a validade de uma conjectura. Mas, o alcance destes
objectivos não é conseguido se mudarmos os conteúdos e as finalidades e continuarmos a
utilizar as mesmas metodologias de ensino.
Já em 1964, Bento de Jesus Caraça (citado em Ponte et al., 1997, p. 50), era defensor do
abandono do método expositivo tradicional e do uso das tecnologias mais desenvolvidas no
ensino da matemática. No entanto, passados tantos anos, ainda há necessidade de continuar
a insistir que os alunos devem ter um papel mais activo na aprendizagem e que devemos
adoptar métodos de ensino diferentes, incluindo as potencialidades que as novas
tecnologias nos oferecem. Pois, como evidencia Gomes (2001), a aprendizagem já não é
entendida como um processo de transmissão e recepção de informação, mas sim como
processo de construção cognitiva que se favorece mediante a estimulação dos processos de
investigação dos alunos. Pretende-se actualmente que os alunos participem em numerosas e
variadas experiências que lhes estimulem o gosto e o prazer da criação matemática, que os
encorajem, a explorar, a questionar, a experimentar, a fazer estimativas, a sugerir
aplicações e a aprender com os próprios erros.
9
A actual Lei de Bases do Sistema Educativo refere como objectivos específicos para o
3º Ciclo, “a aquisição sistemática diferenciada da cultura moderna, nas suas dimensões
humanística, literária, artística, física e desportiva, científica e tecnológica, indispensável ao
ingresso na vida activa e ao prosseguimento dos estudos, bem como a orientação escolar e
profissional que facilite a opção pela realização da pessoa humana” (artigo 8º, alínea 3. c).
Face a estes objectivos, entre outros, partilhamos da estupefacção de Jaime Carvalho e
Silva: “como compreender então que a escola ‘fuja ao uso da tecnologia?”. Para o autor,
“infelizmente as dificuldades em integrar a tecnologia na escola afectam especialmente a
disciplina de Matemática. (...) A integração da tecnologia na escola e na disciplina de
Matemática é um dos maiores desafios da educação actual” (Silva, 2003, p. 1).
1.3. Geometria, AGD e Demonstração
A utilização das novas tecnologias, nomeadamente os AGD, veio também revolucionar,
em particular, o ensino e a aprendizagem da geometria que experimentaram “um
emocionante renascer” e que, diferente nos novos currículos, passou a ter “lugar cativo
entre os melhores” (De Villiers, 1996a, p. 5). Há mesmo quem tenha chegado a afirmar que
o novo software de geometria dinâmica veio salvar o currículo de geometria (De Villiers,
1996a).
As tendências actuais relativas ao ensino da geometria passam pela promoção de uma
aprendizagem baseada na experimentação e na manipulação e pela utilização dos AGD,
como Cabri-Géomètre e o Geometer’s Sketchpad. Estimular e reintroduzir a experiência e a
investigação foram, na opinião de De Villiers (1996a), provavelmente, as principais
vantagens introduzidas por estes programas, uma vez que “permitem a construção e
manipulação de objectos geométricos e a descoberta de novas propriedades desses objectos,
através da investigação das relações ou medidas que se mantêm invariantes”. Manipulação,
essa, que pode “ajudar os alunos a dar sentido ao processo de demonstração” (Abrantes,
Serrazina e Oliveira, 1999, pp. 68, 74). Esta opinião é partilhada por diversos autores (e.g.,
De Villiers, 1996a, 2002, 2003; Gardiner, Hudson e Povey, 2000; Hanna, 2002; Mogetta,
10
2000 e Osório, 2002). Para De Villiers (1996a) o aparecimento dos AGD veio também
implicar uma mudança radical no ensino da demonstração. O ponto fulcral deixou de estar
assente na verificação, mas sim noutras funções como a explicação e a descoberta. Para que
os alunos vejam a demonstração como uma actividade significativa deve ser-lhes dada a
oportunidade de formular problemas, explorar, conjecturar, refutar, reformular, explicar,
etc.
Relativamente ainda à questão da demonstração, também os recentes documentos do
NCTM (2000) falam da sua importância na Educação Matemática. A matemática deve
fazer sentido para os alunos, devendo estes reconhecer, procurar e encontrar explicações
para os padrões observados e para os procedimentos usados, de modo a desenvolver um
conhecimento profundo da matemática (NCTM, 2000). Na sala de aula, os alunos deviam
ser confrontados com a necessidade de explicar e justificar as suas conclusões. Segundo o
ponto de vista de De Villiers (1997) podemos enriquecer as nossas investigações nos AGD,
fazer generalizações e descobertas, se constantemente nos questionarmos “E se...?”.
Questões do tipo “O que estás a fazer? Porquê? E se?”, “Porque é que isso faz sentido?”,
“Como chegaste aí?” revestem-se de uma extrema importância no processo de
ensino/aprendizagem, pois podem ajudar os alunos a clarificar o seu pensamento, levá-los a
procurar novos caminhos e a desenvolver o raciocínio matemático, indo ao encontro das
orientações apontadas, já em 1988, pela APM: “perguntas como: “Porquê?”, “o que
acontece se...?”, “não existirá outro processo...?”, etc., devem proliferar e as suas respostas
devem ser procuradas, quer individualmente, quer em grupo” (p. 71).
Em Portugal, a Comissão para a Promoção do Estudo da Matemática e das Ciências,
num documento que constitui “um conjunto de orientações destinadas especificamente à
matemática” (ME, 2003, p. 2), aliás muito contestado pela APM (2003a), uma das
recomendações prende-se com o “raciocínio lógico e método hipotético-dedutivo” e a
geometria surge como a protagonista principal desse processo, como fonte de
“oportunidades para a realização de demonstrações simples e curtas que valem tanto pelos
seus resultados como pelo facto de habituarem o aluno ao rigor da construção de provas
lógicas”, de modo a acostumar progressivamente os alunos com o “estabelecimento de
axiomas e definições e com os procedimentos demonstrativos que constituem o cerne da
11
matemática” (p. 9).
Concordamos que a geometria pode ser realmente uma porta aberta para a
demonstração e que esta desempenha um papel importante na Educação Matemática, mas
colocamo-nos a mesma questão que Boavida (2003, p. 44), “ Queremos seguir por
aqui?!...”. A autora contra argumenta, dizendo que o cerne da matemática não está nos
procedimentos matemáticos, mas “numa actividade muito mais abrangente que dá sentido a
esses procedimentos e em que o conjecturar, o argumentar, o demonstrar e o formular e
resolver problemas estão intimamente entrelaçados” (p. 45). Ainda, de acordo com a autora,
“Perspectivar o ensino e a aprendizagem da demonstração, exclusivamente, como uma familiarização progressiva, dos alunos, com axiomas, definições, procedimentos demonstrativos, como um meio de introduzir temas básicos de lógica e de os habituar ao rigor, não me parece ser uma via prometedora. Quando considerarmos a demonstração, de um ponto de visita educativo, o seu papel fundamental deve ser, como defendem diversos autores, o de promover a compreensão da matemática” (p. 45).
É aqui que a geometria pode entrar, como “bom veículo para fazer descobertas”
(Saraiva, 1995, p. 5) e como fonte excepcional de tarefas não rotineiras (Afonso, 2002;
Freixo, 2002; Junqueira, 1995), pode promover o desenvolvimento de diversas
capacidades, apontadas como fundamentais para qualquer pessoa e, particularmente, para
todos os alunos (Afonso, 2002, p. 12) e, estando presente em tudo o que tudo o que nos
rodeia, pode ser vantajoso aproveita-la para promover aprendizagens geométricas baseadas
na exploração e na investigação, onde os alunos fazem e compreendem matemática.
1.4. Motivações para o estudo
O estudo levado a cabo prendeu-se com o ensino e a aprendizagem da geometria e com
a utilização das novas tecnologias, nomeadamente o computador.
As razões que levaram à escolha deste tema deveram-se principalmente a um gosto
pessoal, quer por este ramo da matemática quer pelas novas tecnologias, em particular pelas
potencialidades que o novo software de geometria dinâmica proporciona para o seu ensino.
12
Mas, outros factores estiveram na base da decisão, como a actualidade, a pertinência e a
importância dos assuntos envolvidos, à luz das actuais orientações da Educação Matemática
e algumas das sugestões de trabalhos de investigação nesta área, como os de Freixo (2002)
e Junqueira (1995).
É indubitável a importância da geometria e essa importância assume-se também nas
reformas curriculares, onde ocupa agora um lugar de destaque. Para o National Council of
Supervisors of Mathematics, a geometria é uma das doze componentes essenciais de
matemática para o século vinte e um (Geddes et al., 2001). Todavia, também é do
conhecimento geral que, apesar da sua importância, apesar de todos os esforços
empreendidos pelas novas orientações e por alguns professores, esta continua a ser relegada
para segundo plano, conjuntamente com todas as suas potencialidades.
É necessário tentar colmatar essas dificuldades, sensibilizando os professores para esse
facto, tendo em conta que muitas das vezes parte deles próprios a insegurança que acabam
por transmitir aos seus alunos. É necessário sensibilizá-los para novas abordagens que
poderão contribuir para um crescente interesse e aprendizagem da geometria por parte dos
alunos, para que estes a comecem a ver como algo muito mais agradável, interessante e útil.
Neste sentido, os investigadores têm procurado novas formas de ensinar e aprender
geometria, uma delas recorrendo à utilização das novas tecnologias. Pois, a escola tem de
se adaptar às novas exigências da sociedade, caso contrário arrisca-se a “ser cada vez mais
rejeitada pelos jovens” (Ponte e Canavarro, 1997, p. 24).
É também incontestável a atracção que os computadores exercem sobre os jovens de
hoje. Sabemos que são capazes de passar horas a fio à sua frente. Então, porque não
transpor esse ambiente para a sala de aula, potencializando e rentabilizando a sua utilização
na resolução de desafios que os cativem e que desenvolvam as suas competências
matemáticas e não só matemáticas.
Segundo os mesmos autores, Ponte e Canavarro (1997), apesar de, nos anos 80, as
novas tecnologias terem começado a entrar mais activamente na aula de Matemática, e
apesar de as experiências de ensino com computadores terem vindo a aumentar, a utilização
das novas tecnologias, na aula de Matemática, ainda fica muito aquém do que seria de
esperar nos dias de hoje e restringe-se a um pequeno grupo de professores. É que, num
13
universo tão grande de professores, por muitos que pareçam ser, ainda representam uma
percentagem bastante pequena. No prefácio da tradução portuguesa do livro Geometry
turned on – Dynamic software in learning, teaching and research, Veloso e Candeias
(2003) informam que num inquérito, realizado no ProfMat2001, em Vila Real, dos 228
professores que responderam, cerca de 66% não tinha utilizado nenhum software nas aulas
de Geometria no ano lectivo anterior. E, portanto, estamos de acordo com os autores
quando referem que “estes dados, sobretudo se considerarmos que dizem respeito a
professores suficientemente interessados no seu desenvolvimento profissional e nas
questões da educação matemática para participarem num ProfMat, não são muito
animadores “ (p. 5).
A opção pelo capítulo Circunferência e Polígonos. Rotações, do 9º ano de escolaridade,
deveu-se ao facto de este ser rico em conceitos geométricos e reunir um conjunto de
características propícias à utilização dos AGD. Para King (1998), o software interactivo
como o GSP permite-nos manipular dinamicamente objectos da geometria elementar, como
é o caso da circunferência, e uma vez que este permite traçar o lugar geométrico de um
objecto geométrico em movimento, podemos também criar e investigar dinamicamente
muitas outras curvas. Consideramos que se trata de um capítulo importante para a
aprendizagem da matemática no 3º Ciclo, pois possibilita o desenvolvimento do raciocínio
dedutivo, característico desta disciplina, e vai de encontro a algumas das recomendações do
programa de Matemática do 3º Ciclo do ensino básico: “ a observação e análise de figuras,
a ligação à vida real, o aproveitamento da intuição e o desenvolvimento progressivo do
rigor, o uso de raciocínios indutivos e dedutivos sem esquecer a importância da
comunicação, da argumentação, a utilidade do esboço e da construção rigorosa” ([Direcção
Geral do Ensino Básico e Secundário] DGEBS, 1991, p. 47). Além disso, como salienta
Araújo (1999, p. 1), “a geometria do ensino básico é sem dúvida mais rica e dinâmica que a
tristonha geometria analítica do ensino secundário”.
14
1.5. Aspectos da metodologia usada no estudo
A opção metodológica adoptada foi predominantemente qualitativa pois pretendemos
observar, descrever, interpretar e intervir nos processos desenvolvidos por alunos, do 9º ano
de escolaridade, em tempo real, num contexto natural de sala de aula, no estudo de
conceitos geométricos, com recurso às novas tecnologias, nomeadamente ao AGD, o GSP.
Foram realizadas onze sessões, as duas primeiras com o objectivo de familiarizar os
alunos com a nova metodologia de ensino, sete sessões onde os alunos trabalharam temas
de geometria com recurso ao GSP, e duas sessões de exercícios práticos com recurso aos
instrumentos tradicionais, papel e lápis, do manual adoptado, que decorreram na sala
habitual de aula.
Para as sessões práticas com o GSP foram desenvolvidas diversas fichas de trabalho que
abordaram vários temas de geometria, centrados, essencialmente, no estudo da
circunferência.
Para a descrição e avaliação da experiência, recorremos ao registo de observações, aos
documentos produzidos pelos alunos, aos questionários respondidos pelos mesmos e a uma
entrevista realizada à professora da turma em estudo.
15
C A P Í T U L O I I
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No sentido de encontrarmos referências, tomarmos posições e encontrarmos caminhos
possíveis para a realização do nosso estudo, foi terminante recorrermos à literatura já
existente. Assim sendo, com este capítulo pretendemos dar a conhecer alguma da literatura
que orientou este estudo e que consideramos essencial sobre o ensino e aprendizagem da
geometria e da demonstração, com recurso aos AGD.
Começamos por nos referir, na primeira secção, às mudanças actuais na sociedade,
principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento tecnológico e às suas implicações
no ensino, em particular da geometria. Na segunda secção iremos debruçarmo-nos sobre as
potencialidades do computador ao serviço da educação, em especial dos AGD, ao serviço
do ensino da geometria. Por fim, na terceira secção, iremos centrar-nos na questão da
demonstração, no seu papel e importância no currículo de Matemática.
2.1. A Geometria no currículo de Matemática
2.1.1. Recuperação da Geometria no currículo de Matemática
As rápidas transformações do mundo actual, resultantes dos avanços tecnológicos,
científicos e sociológicos, ocorridos nas últimas décadas, exigem que os indivíduos, para
além de adquirirem conhecimentos, os reconvertam de forma dinâmica, de modo a poderem
resolver novos, e cada vez mais complexos, problemas que lhes vão surgindo, sempre à luz
do sentido crítico e da criatividade. Deste modo, torna-se necessário encontrar os meios de
concretização de um saber que se quer integrado, do desenvolvimento do espírito de
17
iniciativa, de hábitos de organização e de autonomia dos alunos. A matemática é uma área
do saber que pode proporcionar tais competências, dentro da qual se encontra a geometria
com os seus problemas e modelos perfeitamente construídos, onde se põe em jogo o poder
da nossa imaginação e criação.
Assim, um pouco por todo o lado, e de modo a contemplar as exigências de uma
sociedade dita da informação, espera-se que a escola já não se vire apenas para o saber, mas
também para o saber fazer e para o ajudar a ser, permitindo aos alunos que “participem
como cidadãos produtivos e auto-realizados” (Junqueira, 1995, p. 15.).
De acordo com as Normas para o Currículo e Avaliação em Matemática Escolar,
“a sociedade actual espera que as escolas garantam que todos os estudantes tenham a oportunidade de se tornar matematicamente alfabetizados, sejam capazes de prolongar a sua aprendizagem, tenham iguais oportunidades de aprender e se tornem cidadãos aptos a compreender as questões em aberto numa sociedade tecnológica.” (NCTM, 1991, p. 5).
Nesse sentido, e ainda de acordo com o NCTM (1991), é necessário que o aluno
desenvolva a sua capacidade para explorar, conjecturar, raciocinar logicamente e utilizar
com eficácia uma variedade de métodos na resolução de problemas, indo de encontro às
novas orientações que propõem que os currículos de Matemática dêem mais ênfase à
compreensão dos conceitos, em vez do tradicional foco na aprendizagem de algoritmos, e à
geometria como sendo um dos domínios a privilegiar.
Durante muitos anos, o ensino e a aprendizagem da geometria em Portugal, bem como
noutros países, foi remetido para segundo plano, não sendo, de modo algum, uma grande
prioridade nos currículos de Matemática. O reconhecimento desta situação levou, um pouco
por todo o mundo, à “recuperação” da geometria e à sua reimplantação nos currículos
escolares, pois é genericamente aceite que, através de problemas não rotineiros, pode
propiciar o desenvolvimento de capacidades de visualização espacial, de raciocínio e de
argumentação, identificadas como fundamentais para os cidadãos na época actual e no
futuro (Junqueira, 1995).
Uma das alterações mais significativas no currículo de Matemática foi, então, a
recuperação da geometria que esteve durante muito tempo esquecida no final dos manuais,
18
chegando mesmo, a nem fazer parte destes.
Foi Freudenthal que, com as suas preocupações quanto ao estado da Educação
Matemática, maior influência exerceu no regresso da geometria. No seu livro Mathematics
as an Educational Task, publicado em 1973, apresenta, através de múltiplos exemplos e de
comentários, algumas das principais orientações que propõe para a renovação do ensino da
geometria (Veloso, 1998).
Outro marco essencial no movimento da recuperação da geometria foi a publicação, em
1989, do documento Curriculum and Evaluation Standars for School Mathematics e
traduzido para português, em 1991, com o título Normas para o Currículo e a Avaliação
em Matemática Escolar. Ainda hoje considerado como um documento de referência, as
Normas, reflectem as novas tendências curriculares e o crescente aumento de interesse e de
experiências de ensino da geometria que caracterizou a parte final dos anos 80 e propõe-se,
nas normas dedicadas à geometria, uma visão renovada do seu ensino (Veloso, 1998).
Esta visão foi intensificada com a publicação das Adendas às normas sobre geometria,
com o intuito de fornecer ideias e materiais para o ensino, para apoiar e facilitar a
implementação das Normas para o Currículo e a Avaliação em Matemática Escolar. Para
os anos de escolaridade 9-12 – Geometria a partir de múltiplas perspectivas – aborda-se a
reforma dos conteúdos, da pedagogia e da avaliação dos alunos em matemática escolar;
propõe-se uma maior atenção ao estudo da geometria através de diversas perspectivas,
como por exemplo, através das coordenadas e das transformações, através das aplicações ao
mundo real e à modelação, através da investigação, tirando partido, por exemplo, das
potencialidades nos novos AGD; e preconiza-se ainda que coloquemos a ênfase no “fazer
matemática”, onde para isso os alunos terão de se envolver mais activamente na construção
e aplicação dos seus conhecimentos.
Para os anos de escolaridade 5-8 – Geometria dos 2º e 3º ciclos – advoga-se uma nova
visão da matemática e um novo ambiente de aprendizagem na sala de aula, recomendando-
se que se dê mais atenção à matemática como resolução de problemas, como comunicação,
como raciocínio e às conexões matemáticas, bem como uma nova abordagem no ensino e
mais eficaz, onde o facto de o professor conhecer os seus alunos e a forma como aprendem
pode ajudá-lo a decidir acerca dos objectivos a atingir e das metodologias mais adequadas a
19
adoptar, que podem passar quer pela utilização de materiais manipuláveis, quer pela
utilização de trabalho cooperativo, quer pela utilização das novas tecnologias.
Para além das alterações metodológicas que caracterizam a nova visão do ensino da
matemática, no caso específico da geometria, são feitas propostas de alteração aos
programas tradicionais no sentido de dar mais relevo a determinados aspectos, como, por
exemplo, a compreensão dos objectos geométricos e das suas relações, a utilização da
geometria na resolução de problemas, o desenvolvimento de curtas sequências de
demonstrações, a exploração em computador de figuras bi e tridimensionais, as aplicações
ao mundo real, a modelação e os argumentos dedutivos expressos oralmente ou por frases
ou parágrafos escritos.
Também a publicação de diversos livros sobre geometria e o aparecimento de novos
materiais e software para o seu ensino vieram ajudar ao seu “regresso”. As aplicações da
geometria, como por exemplo à arte, vieram mostrar uma outra vertente não tão
reconhecida na matemática que pode ajudar a despertar o interesse e a criatividade dos
alunos.
Em Portugal, o aparecimento do programa LOGO, de Seymour Papert, desencadeou um
maior interesse pelas questões e problemas da geometria, que se ampliou com o
aparecimento do Projecto Minerva. Também a criação, em 1986, da Associação de
Professores de Matemática (APM), veio dar um novo impulso através da publicação de
artigos na sua revista Educação e Matemática, das numerosas conferências, comunicações
e sessões práticas sobre geometria que se têm vindo a realizar nos diversos encontros de
professores e educadores e da publicação de obras importantes, como foi a publicação, em
1988, de O geoplano na sala de aula, da autoria de Lurdes Serrazina e José Manuel Matos,
que veicula uma metodologia inovadora do ensino da geometria (Veloso, 1998), onde o
professor deixa de ser o centro das atenções e os alunos deixam de ser receptores passivos,
para se tornarem participantes activos, de modo a adquirirem uma cultura matemática que
lhes possibilite aplicar na sua vida diária e facilmente se adaptarem ao mundo de hoje, cada
vez mais especializado.
A geometria deve fazer parte dessa cultura matemática, mas infelizmente é o tema que
mais aversão tem provocado, quer em alunos, quer em professores. Em Para mim a
20
matemática é... pode ler-se o testemunho de uma aluna, do 1º ano do curso de
Português/Inglês, que a determinada altura escreve: “uma amiga minha fugia da sala de
aula (...) especialmente se o conteúdo abordado era a geometria” (Barbosa, 2003, p. 51).
Segundo Serrazina e Matos (1996), as crianças têm, desde cedo, um interesse e uma
curiosidade inata pelas ideias geométricas. Então como compreender tal aversão? Talvez
não estejamos a ir ao encontro desse interesse e dessa curiosidade. Para estes autores o
estudo da geometria possibilita o envolvimento dos alunos na descoberta de relações, no
teste de conjecturas, no pensamento imaginativo e crítico e deve estar relacionado com o
mundo real, devendo ser estimulados a explorar relações espaciais e a procurar exemplos de
relações geométricas no mundo físico que os rodeia. A aprendizagem deve ser inicialmente
informal, experimentando uma descoberta activa, raciocínios indutivos, elaboração e teste
de conjecturas e desenvolvimento da percepção visual e imaginativa, para gradualmente
traduzir essas experiências através de uma linguagem mais precisa e formal (Serrazina e
Matos, 1996).
Em 1988, a publicação, também pela APM, do livro Renovação do Currículo de
Matemática, serviu de base para a elaboração dos actuais programas portugueses, e
recomenda uma reforma nos conteúdos e nos métodos de ensino, em particular da
geometria.
Estavam, assim, lançadas algumas condições favoráveis para que a geometria
recuperasse o lugar que há muito lhe competia no currículo.
2.1.2. Situação actual no ensino básico
O actual Programa de Matemática para o 3º ciclo do ensino básico, organizado por
objectivos gerais e específicos, pretende desenvolver o aluno não só ao nível dos
conhecimentos, mas também ao nível dos valores/atitudes e das capacidades/aptidões.
No que concerne à geometria, estes reflectem o movimento do seu regresso, tendo
havido a preocupação de lhe reservar maior tempo lectivo, que, em alguns dos casos, chega
a atingir mais de 40%. Ao nível das introduções gerais e das indicações metodológicas,
realça-se o valor da intuição, como um poderoso guia na descoberta da verdade, e da
21
utilização de materiais manipuláveis na aprendizagem da geometria (Veloso, 1998).
A geometria passou a estar no centro das preocupações e são muitas e variadas as
questões que se colocam relativamente ao seu ensino: – Que possibilidades trazem as novas
tecnologias, em especial os AGD? Qual a importância da demonstração? Como evitar os
dois extremos, igualmente nefastos, – o excesso de demonstrações “obrigatórias” que se
decoram sem compreender ou o vazio total de demonstrações, onde não se faz a mínima
ideia do que é uma demonstração matemática? Qual o lugar para o trabalho investigativo do
aluno e do professor em geometria? Estas são algumas das questões que se podem colocar
(Veloso e Ponte, 1999).
O objectivo central do ensino da geometria nos programas do ensino básico é
desenvolver o conhecimento de espaço, estabelecendo sempre que possível a ligação
espaço-plano-espaço. Enquanto nos programas anteriores se partia do plano para o espaço,
pressupondo uma maior facilidade de aprendizagem da geometria formal do plano, nos
novos programas dá-se mais valor ao espaço como compreensão da realidade, pressupondo
vantagens na exploração de uma abordagem mais intuitiva e da sua ligação à realidade.
Para além de se enfatizar a ligação à vida real e o aproveitamento da intuição e da
observação, são também preocupações dos novos programas do 3º ciclo, a análise de
figuras, o uso de raciocínios indutivos e dedutivos e o desenvolvimento progressivo do
rigor. Realça-se também a importância da comunicação e da argumentação, aspectos que
podem ser bastante desenvolvidos com a geometria, através, por exemplo, de debates e
discussões em grupo.
A utilização de modelos é outra das sugestões propostas pelo programa. Dada a
dificuldade de abstracção dos alunos desta faixa etária, preconiza-se a elaboração de tarefas
que permitam ao aluno fazer experiências, medições e construções, estabelecer hipóteses e
estratégias, descrever e justificar processos de resolução.
No estudo da geometria, no 3º ciclo, torna-se importante a realização de experiências,
bem como a justificação de raciocínios, a resolução de problemas, a comunicação oral e
escrita de processos e raciocínios, de conjecturas ou conclusões, o que implica a exploração
de tarefas variadas, quer em grupo quer individualmente, que sejam motivadoras, para
desenvolver o espírito crítico, de pesquisa e de cooperação, o gosto por aprender e a
22
autonomia. Continua também a ser importante desenvolver o raciocínio indutivo, onde os
alunos terão de verificar conjecturas, justificar propriedades, processos de resolução e
casualmente fazer pequenas demonstrações, caminhando, aos poucos, para um pensamento
progressivamente mais rigoroso.
Mais recentemente, em 2001, com a publicação, pelo DEB, do documento Currículo
Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais, o Ministério da Educação define
um conjunto de competências, consideradas essenciais e estruturantes no âmbito do
desenvolvimento do currículo nacional, para cada um dos ciclos do ensino básico, o perfil de
competências de saída deste nível de ensino e, ainda, os tipos de experiências educativas que
devem ser proporcionadas a todos os alunos. Inclui ainda as competências de carácter geral,
a desenvolver ao longo de todo o ensino básico, assim como as competências específicas
que dizem respeito a cada uma das áreas curriculares.
No domínio da geometria, algumas das competências matemáticas que os alunos devem
desenvolver, ao longo de todos os ciclos, são: (1) a aptidão para realizar construções
geométricas e para reconhecer e analisar propriedades de figuras geométricas,
nomeadamente recorrendo a materiais manipuláveis e a software geométrico; (2) a aptidão
para utilizar a visualização e o raciocínio espacial na análise de situações e na resolução de
problemas em geometria e em outras áreas da matemática; (3) a compreensão dos conceitos
de comprimento e perímetro, área, volume e amplitude, assim como a aptidão para utilizar
conhecimentos sobre estes conceitos na resolução e formulação de problemas; (4) a aptidão
para efectuar medições e estimativas em situações diversas, bem como a compreensão do
sistema internacional de unidades; (5) a predisposição para procurar e explorar padrões
geométricos e o gosto por investigar propriedades e relações geométricas; (6) a aptidão para
formular argumentos válidos recorrendo à visualização e ao raciocínio espacial,
explicitando-os em linguagem corrente; e (7) a sensibilidade para apreciar a geometria no
mundo real e o reconhecimento e a utilização de ideias geométricas em diversas situações,
nomeadamente na comunicação.
Em particular, no 3º ciclo, as competências específicas a desenvolver são: (1) a aptidão
para visualizar e descrever propriedades e relações geométricas, através da análise e
comparação de figuras, para fazer conjecturas e justificar raciocínios; (2) a aptidão para
23
realizar construções geométricas, nomeadamente quadriláteros, outros polígonos e lugares
geométricos; (3) a compreensão do conceito de forma de uma figura geométrica e o
reconhecimento das relações entre elementos de figuras semelhantes; (4) a aptidão para
resolver problemas geométricos através de construções, nomeadamente envolvendo lugares
geométricos, igualdade e semelhança de triângulos, assim como para justificar os processos
utilizados; (5) o reconhecimento do significado de fórmulas e a sua utilização no cálculo de
áreas e volumes de sólidos e de objectos do mundo real, em situações diversificadas; (6) a
predisposição para identificar transformações geométricas e a sensibilidade para relacionar
a geometria com a arte e com a técnica; e (7) a tendência para procurar invariantes em
figuras geométricas e para utilizar modelos geométricos na resolução de problemas reais.
Nos aspectos atrás referidos estão bem patentes as razões por que a geometria é
“unanimemente escolhida como tópico obrigatório de ensino aos cidadãos de todo o
mundo” (Loureiro, Oliveira, Ralha e Bastos, 1997, p. 14). O ensino da geometria permite
desenvolver simultaneamente a capacidade de raciocínio lógico-dedutivo, de visualização e
interpretação espacial e o conhecimento do mundo em que vivemos. O raciocínio lógico-
dedutivo integra capacidades como a intuição, a descoberta de propriedades e relações entre
objectos e constitui um processo gradual que começa com pequenas experiências concretas
e que acaba numa organização de resultados num sistema axiomático, desenvolvendo-se
assim a nossa capacidade de pensar matematicamente. A capacidade de visualização
espacial é caracterizada por Abrantes, Serrazina e Oliveira (1999) como um conjunto de
capacidades relacionadas com a forma como vemos o mundo à nossa volta e como
conseguimos representar, interpretar, modificar e antecipar transformações relativamente
aos objectos que nos rodeiam, de modo a compreender o que se passa à nossa volta. As
aplicações da geometria vão desde a sua relação com diferentes áreas da matemática e
outras ciências à sua constante presença em inúmeras situações do dia-a-dia, do trabalho,
do lazer e da própria natureza que nos oferece um sem fim de formas e relações
geométricas, possíveis e inimagináveis.
Nos novos programas reconhece-se ainda a necessidade de mudança nos métodos de
ensino e consequentemente das propostas de trabalho. Como ressaltam Méndez, Estévez e
del Sol (2003), muitas das propostas tradicionais tornaram-se obsoletas com a introdução
24
dos computadores e do aparecimento de novas profissões e desafios. O estudo
Matemática2001, realizado pela APM, faz um conjunto de recomendações sobre o ensino e
a aprendizagem da Matemática em Portugal e vai de encontro a algumas das ideias já aqui
referidas. No que diz respeito à prática pedagógica,
“Esta deve valorizar tarefas que promovam o desenvolvimento do pensamento matemático dos alunos, nomeadamente a resolução de problemas e as actividades de investigação, e que diversifiquem as formas de interacção em aula, criando oportunidades de discussão entre os alunos, de trabalho de grupo e de trabalho de projecto (...). Os professores devem procurar utilizar situações de trabalho que envolvam contextos diversificados (...) e a utilização de materiais que proporcionem um forte envolvimento dos alunos na aprendizagem, nomeadamente, materiais manipuláveis, calculadoras e computadores” (APM, 1998b, pp. 81 – 82).
O uso das novas tecnologias é fortemente recomendado nos novos programas, mas
muitos professores, pelas mais diversas razões, ainda colocam algumas reservas à sua
utilização, principalmente ao computador, seja por falta de tempo, ou por falta de condições
ou por achar que se perde o rigor e recear que a aula se possa transformar “numa
brincadeira”. Não concordamos com esta última observação, pois acreditamos que as aulas
até se podem tornar bastante mais exigentes e significativas, pois se ensinar e aprender
envolve processos complexos, trazer as novas tecnologias traz ainda mais complexidade
(Lagrange, Artigue e Frouxe, 2003), o que também exige muito mais trabalho e dedicação,
quer por parte dos professores, quer por parte dos alunos.
2.2. O computador ao serviço do ensino da Geometria
2.2.1. O computador no ensino e na aprendizagem da Geometria
Como se pode constatar, são várias as referências que recomendam o recurso a
materiais manipuláveis e a software geométrico no desenvolvimento de competências de
geometria.
O “velho quadro negro”, auxiliar constante da actuação do professor de Matemática ao
longo de gerações, embora continue a manter o seu lugar e importância, tem de partilhar o
25
seu papel didáctico com todos os outros meios que estão hoje ao dispor do professor,
nomeadamente as inovações tecnológicas, porque uma pedagogia que conduza a uma
aprendizagem significativa e à autonomia “requer a mobilização de recursos múltiplos de
aprendizagem” (Vieira, Marques e Moreira, 1999, p. 533).
A autonomia é um valor importante a nível da educação dos nossos dias, estando
consagrada em documentos oficiais. De acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo,
este terá de contribuir para o “desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade dos
indivíduos, incentivando a formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e
solidários e valorizando a dimensão humana do trabalho” (artigo 2º, 4). Ainda de acordo
com o mesmo documento, é objectivo do ensino básico “proporcionar a aquisição de
atitudes autónomas, visando a formação de cidadãos civicamente responsáveis e
democraticamente intervenientes na vida comunitária” (artigo 7º, i)).
Sendo a autonomia um atributo indispensável do cidadão, ela deverá estar ligada ao
próprio processo de ensino/aprendizagem. Para tal, a reforma do sistema educativo
estabelece a adopção de metodologias centradas no aluno como sujeito construtor do seu
saber, atribuindo ao professor um papel de orientador e mediador das aprendizagens a
realizar. O que se exige é que o professor assuma que “ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou sua construção” (Freire,
1997, p. 52). Como diz o velho ditado chinês: “Se queres matar a fome a alguém, mais vale
ensiná-lo a pescar do que oferecer-lhe um peixe”. Concretamente, se quisermos que os
nossos alunos tenham sucesso na escola e na vida, ao ensiná-los a “pensar bem” estamos a
contribuir para “matar o insucesso” e facilitar o sucesso, porque numa sociedade em que,
cada vez mais, é preciso enfrentarmos e adaptarmo-nos a novas, e cada vez mais
complexas, situações, a escola não se pode limitar à transmissão de conhecimentos. Caso
contrário, arriscamo-nos a cair no erro a que Freire (1997) faz alusão:
“o educador que ensinando (...) “castra” a curiosidade do educando em nome da eficácia da memorização mecânica do ensino dos conteúdos, tolhe a liberdade do educando, a sua capacidade de aventurar-se. Não forma, domestica” (p. 63).
Hoje queremos uma escola dinâmica e inovadora onde o saber é construído e não
simplesmente transmitido e memorizado, onde os alunos são confrontados e estimulados
26
com situações problemáticas, onde são levados a dar resposta às situações com base na
pesquisa, no confronto de ideias, na reflexão e na criatividade. Assim, também na aula de
Matemática teremos de criar situações para que os alunos se possam tornar agentes da sua
própria aprendizagem, assumindo um papel activo e construtivo do seu conhecimento, pois
“só fazendo, experimentando, mexendo, se aprende efectivamente e não apenas vendo fazer
ou ouvindo dizer como se faz” (Rocha, 1995, p. 235). Como dizia o filósofo Confúcio, há
mais de 2500 anos, “ouço e esqueço, vejo e recordo, faço e compreendo”!
Face a estas considerações, há que ponderar quais os recursos e as metodologias mais
adequadas e eficazes para o desenvolvimento de uma pedagogia para a autonomia e mais
significativa. Ora, desde sempre se discutiu quais os recursos mais adequados a utilizar, na
sala de aula, de modo a proporcionar aos alunos uma aprendizagem mais significativa. As
inúmeras recomendações no sentido de alterar as práticas tradicionais de ensino, o grande
impacto do ensino na aprendizagem dos alunos e a preocupação dos professores em
melhorar o desempenho dos alunos em geometria, remetem para a necessidade de
experimentar, em ambiente de sala de aula, modelos de ensino e aprendizagem da
geometria diferentes.
Os manuais escolares continuam a constituir, “numa época em que se assiste a uma
verdadeira explosão de suportes de ensino informatizados”, (Gérard e Roegiers, 1998, p.
15) um importante instrumento de suporte no processo de ensino/aprendizagem e continua,
sem dúvida, a ser o instrumento mais utilizado tanto por professores como por alunos,
desempenhando “uma função fortemente reguladora das práticas instrucionais e sociais em
sala de aula” (Vieira et al., 1999, p. 527). A utilização de outros recursos, como materiais
manipuláveis, revistas, jogos, computador, etc., que envolvam o aluno de maneira mais
activa no processo de ensino/aprendizagem, pode motivar e reforçar a aprendizagem dos
alunos, “em substituição de uma dependência quase exclusiva face ao professor” (Vieira et
al., 1999, p. 533), pois se queremos que o aluno tenha esse papel central na aprendizagem,
onde constrói o seu conhecimento, o uso exclusivo do manual parece-nos insuficiente na
consecução dessa tarefa.
A condição estática dos manuais não permite dar uma resposta tão eficaz à dinamização
que se pretende na relação entre alunos, professores e saberes, não querendo dizer que o
27
consigamos com outros recursos, mas apenas com o manual parece-nos um pouco mais
difícil.
Azevedo (2002) partilha igualmente desta opinião e aponta as novas tecnologias,
sobretudo o computador, como sendo de um enorme interesse pedagógico, no sentido em
que facilitam uma melhor organização das actividades curriculares e extracurriculares, são
geradoras de uma nova escola onde a interdisciplinaridade e criatividade podem optimizar a
relação entre professor e aluno e estimular o sucesso escolar. Para Goldenberg (2000), os
computadores vieram aumentar a importância de certas ideias, tornar alguns problemas e
tópicos mais acessíveis, valorizar conteúdos e pedagogias e proporcionar novas formas de
representação e domínio da informação matemática, que nunca antes tinha sido possível.
Já em 1988, Neves dizia que o recurso aos computadores, nomeadamente no ensino da
geometria, significava um “salto qualitativo importante relativamente aos processos
tradicionais”, sendo “um novo processo de aprender geometria e até de ‘fazer geometria’”
(p. 46), pois estes levam o aluno a uma aprendizagem mais activa e eficaz, permitindo que
tome iniciativas e faça descobertas, indo ao encontro de uma aprendizagem por descoberta.
Nesse sentido, muitos investigadores têm procurado estudar as enormes potencialidades
do computador na tentativa de proporcionar aos alunos uma experiência de aprendizagem
mais atractiva, útil e eficaz, conduzindo a uma compreensão mais profunda e abrangente
desta disciplina. Mas, não basta insistir, face a tudo o que já foi dito, que devemos usar as
novas tecnologias, porque, como salientam Goldenberg (2000) e King (1999), o que é
realmente importante é como estas são usadas e como orientamos os alunos na forma como
aprendem. Se continuarmos com as mesmas atitudes e concepções perante o ensino, com as
mesmas propostas de trabalho, arriscamo-nos a que o uso dessas tecnologias não altere o
status quo, caindo no perigo, como refere Paulo (1996), que “os professores voltem aos
métodos tradicionais, perpetuando-se o desfasamento entre ela [a tecnologia] e a sociedade
e, em particular, o mundo do trabalho” (p. 111). Mas, também é importante salientar que,
apesar das todas as vantagens que podem advir da sua utilização, não significa, de maneira
alguma, como salientam Méndez, Estévez e del Sol (2003), que estas venham substituir
completamente os meios tradicionais, como o uso de modelos ou os instrumentos de
desenho. Antes, trata-se de combinarmos os vários recursos para conseguir aumentar a
28
qualidade do processo de ensino/aprendizagem. Como se costuma dizer: “nem 8, nem 80”!
Muitas vezes deparamo-nos com a procura de “receitas milagrosas” que venham dar
resposta a todas às nossas hesitações e inquietações, mas que não existem, é claro! O que
funciona com uns alunos e um professor pode não funcionar com outros. Temos que
conhecer os nossos alunos, saber até onde podemos ir e como, temos de experimentar.
No que diz respeito à utilização das novas tecnologias, a questão fundamental que aqui
se coloca é, como realça English (2002), como tirar o máximo proveito deste
desenvolvimento tecnológico no ensino e aprendizagem, como nos tornarmos inovadores e
eficazes na forma como usamos a tecnologia no ensino da matemática e como tirar o
melhor partido do impacto da tecnologia para a Educação Matemática. Parafraseando
Ponte,
“É impossível falar de efeitos genéricos das novas tecnologias no processo de aprendizagem. A sua utilização na educação pode assumir formas radicalmente diferentes, com efeitos diametricalmete opostos. Tudo depende das interacções que se estabelecem entre alunos, o computador e o professor. (...) Mas, globalmente, a maioria das indicações aponta para a possibilidade de desenvolver novas estratégias cognitivas, para a criação de sentimentos e autoconfiança, maior responsabilização do aluno pelo seu próprio trabalho, novas relações professor-aluno e laços de cooperação e inter ajuda entre os alunos. Estas indicações são altamente encorajadoras, fazendo-nos crer que as novas tecnologias podem dar, de facto, um importante contributo para o desenvolvimento multifacetado dos alunos em harmonia com um mundo de alta tecnologia” (Ponte, 1997, p. 121).
Apesar das tão mencionadas vantagens, muitos professores continuam a “fugir” à
utilização das novas tecnologias, principalmente do computador. No estudo
Matemática2001, relativamente aos materiais utilizados pelo professor, o manual adoptado
era utilizado com muita frequência, por mais de 80% dos professores, assim, como as
fichas de trabalho, por aproximadamente 60%. Na altura em que o estudo foi realizado, já
uma percentagem significativa dos professores, 50%, utilizava em muitas aulas a
calculadora, mas os restantes materiais, como jogos didácticos, materiais manipuláveis e
computador, eram usados por uma percentagem muitíssimo baixa de professores.
Acreditamos, que passados sete anos, estas baixas percentagens de utilização destes
materiais tenham melhorado significativamente, apesar de ainda ficarem aquém do
29
desejado.
O ano 2003 foi o ano da Matemática e Tecnologia para a APM e do ponto de vista
desta associação,
“A educação com recurso à tecnologia é um direito dos alunos, que todos os intervenientes no sistema educativo devem respeitar. A negação deste direito contraria a desejada igualdade de oportunidades de acesso aos bens da educação. A tecnologia tem influenciado e alterado as formas de ver, utilizar e produzir matemática. A educação matemática não pode permanecer indiferente a esta situação. É fundamental que as ferramentas tecnológicas sejam integradas de forma consistente nas actividades lectivas, proporcionando aos alunos verdadeiras e significativas aprendizagens matemáticas” (APM, 2003b, p. 1)
Também em 1987, Smart afirmava que o ensino da matemática nunca mais seria o
mesmo com o desenvolvimento das ciências da computação, inclusive o ensino da
geometria. Efectivamente, o computador tem sido referido, sistematicamente, como
propiciador de potentes ambientes de ensino/aprendizagem (Laborde, 1993; Hoyles e Noss,
1994) e a geometria como particularmente adaptada na exploração das virtualidades desses
ambientes, devido às potencialidades dinâmicas e gráficas que permitem ao aluno uma
abordagem muito mais viva e rica.
Os novos ambientes geométricos, em oposição aos tradicionais de papel e lápis,
permitem, segundo Laborde (1993), um maior leque de acções e objectos que, podendo ser
manipulados mais facilmente, permitem a realização de outras tarefas, progressivamente
mais complexas. Os alunos são assim libertados de tarefas mecânicas e automáticas para
terem espaço para reflectir sobre estas e fortalecer os próprios processos de pensamento.
Estes ambientes são considerados por Schulmann (citado em Junqueira, 1995)
poderosos meios para a indução de descobertas em geometria, que podem ser formuladas
através de conjecturas. Os alunos podem, devido ao feedback recebido do computador,
aquando da manipulação das construções, gozar da sensação de serem eles próprios a
experimentar, a explorar e a descobrir, ensaiando soluções, construindo figuras,
manipulando-as e intuindo as suas propriedades, ou seja, são apoiados na resolução dos
problemas e levados a reflectir sobre os seus processos de resolução, fazendo, segundo
Olive (2002), com que compreendam as relações entre os conceitos geométricos de uma
30
forma mais profunda, levando-os a pensar de um modo mais geral e mais abstracto.
Outra das potencialidades destes ambientes é, como Battista e Clements (1992) fazem
notar, a geração espontânea da aprendizagem cooperativa. O facto das actividades com
computador serem habitualmente realizadas em grupo leva os alunos a terem de comunicar
uns com os outros, bem como com o professor, gerando-se assim discussões facilitadoras
da organização do seu próprio processo de raciocínio, uma vez que permitem o confronto
de ideias e a análise de problemas segundo perspectivas diferentes, favorecendo, além do
desenvolvimento cognitivo, o desenvolvimento da autonomia. O conceito de aprender é,
assim, oposto ao tradicional porque é o aluno que, partindo à descoberta, constrói
activamente o seu próprio saber, levando-o a uma aprendizagem mais significativa. É neste
contexto que podemos (e devemos) trabalhar a geometria nestes novos ambientes
computacionais.
Os ambientes computacionais mais recentes para o ensino da geometria permitem
realizar construções geométricas no ecrã do computador, utilizando explicitamente as
propriedades das figuras, e possibilitam a manipulação directa dessas construções,
conservando as propriedades utilizadas. A esses ambientes dá-se o nome de Ambientes
Geométricos Dinâmicos (AGD).
2.2.2. O ensino e a aprendizagem da Geometria em AGD
Várias investigações têm comprovado a eficácia destes programas dinâmicos de
geometria. Como afirmam King e Schattschneider (1997), dinâmico, ao contrário de
estático, indica acção, energia e a geometria dinâmica é isso mesmo, uma geometria activa
e investigativa, “plena de energia e vibração”. Como referem Cuoco e Goldenberg (2003),
o software de geometria dinâmica pode ser muito mais do que “uma vitamina para a
geometria de Euclides, do que um interface de construção ou do que um meio de
experimentação” (p. 55). Estes programas podem ajudar os alunos a treinar o seu
pensamento, raciocinando, fazendo conjecturas, descobrindo e construindo, de forma
autónoma, uma “nova matemática”.
Os progressos que se têm verificado em termos de software permitem manipular as
31
representações externas de forma reconhecidamente dinâmica. Num AGD, segundo
Laborde (1993), o movimento e a modificação dos desenhos possibilitam uma mais fácil
visualização das propriedades e das relações geométricas, uma vez que é possível fazer
construções e manipulá-las, conservando invariantes as propriedades e relações
estabelecidas. Na opinião de Schwartz (citado em Coelho e Saraiva, 2002), os AGD
funcionam como “espelhos intelectuais” onde os alunos podem, devido ao feedback visual
devolvido pela manipulação dos desenhos no ecrã do computador, experimentar as suas
ideias através da manipulação das construções.
A estrutura que teve como principal objectivo a introdução dos computadores nas
escolas portuguesas foi o Projecto Minerva. Em 1986, Ponte dizia que quem não fosse
capaz de “utilizar e dominar minimamente os processos informáticos” correria “o risco de
estar tão desinserido na sociedade do futuro como um analfabeto está na sociedade de hoje”
(p. 5). Torna-se, portanto, indispensável e urgente que, numa sociedade em constante
desenvolvimento tecnológico, a escola proporcione aos seus alunos uma “alfabetização” no
que diz respeito ao conhecimento das grandes potencialidades das tecnologias informáticas.
Aliás, para Veloso (1998, p. 91), “não é admissível que, durante mais tempo, a educação
matemática em Portugal esteja privada da utilização de computadores e do software que
hoje existe dedicado ao ensino de tópicos importantes do currículo de Matemática”, uma
vez que estes “contribuem para tornar a aprendizagem dos programas fácil e intuitiva”, para
aumentar o tipo de aplicações educacionais e “para dar à sua utilização um carácter
dinâmico próprio, que os torna instrumentos poderosos na resolução de problemas e nas
actividades de exploração, investigação e descoberta em geometria e na matemática em
geral”.
Assim, professores e alunos dispõem hoje, para o ensino e aprendizagem da geometria,
dos chamados programas de geometria dinâmica, entre os quais, o GSP. “Rigor e
exuberância, no sentido de vigor, energia, robustez, vitalidade, grande animação,
superabundância e entusiasmo” são, segundo Loureiro (1999, p. 44), “boas palavras para
caracterizar estes programas”. Estes fornecem ferramentas para construções e medições
rigorosas e têm a capacidade de repetir uma construção. Trabalhamos com estes programas
do mesmo modo que trabalhamos com régua e compasso, só que de uma forma muito mais
32
dinâmica, activa e cativante.
A ideia principal dos ambientes geométricos dinâmicos é, através da manipulação, a
concretização da ideia de objectos variáveis, de um modo que nenhuma imagem estática
alguma vez o permite, pois quando se movem determinados objectos de uma construção
todos os outros se ajustam automaticamente, preservando todas as relações de dependência
e condições da construção inicial. Esta característica faz com que consideremos a
construção não como um desenho estático, mas como um conjunto de objectos ligados
pelas suas relações geométricas, que podem ser visualizadas como permanecendo
invariantes sob o arrastamento (Laborde, 1993), ou seja, “a procura de tudo o que
permanece constante, no meio de tudo o que varia” (Veloso, 1998, p. 58).
Pense-se, por exemplo, no problema em que se pede aos alunos para desenhar um
triângulo qualquer e sobre cada um dos seus lados construírem um triângulo equilátero
“voltado” para fora e, seguidamente, construírem o triângulo formado pelos circuncentros
desses triângulos equiláteros, como se pode observar na figura 1. Com a ajuda do novo
software de geometria dinâmica, os alunos podem, através do feedback dado pelo
arrastamento, observar e conjecturar acerca desse novo triângulo, verificar as suas
conjecturas, tentar demonstrá-las e fazer novas investigações e novas descobertas.
m∠HIG = 60,00°
m∠GHI = 60,00°
m∠IGH = 60,00°O
I
H
G
D
FE
C
B
A
Figura 1. Teorema de Napoleão (adaptada de De Villiers, 2003)
33
Esta curiosa construção foi atribuída ao Imperador francês Napoleão, grande apreciador
de matemática, tendo ficado conhecida pelo seu nome. Construções deste tipo, não sendo
tão usuais, podem fomentar o interesse pelas relações geométricas e ao achá-las
extraordinárias e surpreendentes podem motivar o aluno a “voltar atrás” para encontrar uma
explicação, uma demonstração.
As vantagens deste tipo de software são várias. Desde a sua fácil utilização à
possibilidade de permitirem uma abordagem dos conceitos assente na descoberta e na
exploração, desde o encorajamento à criatividade e ao processo de descoberta, onde os
alunos visualizam, analisam, fazem conjecturas e até demonstram, até ao aprofundamento
do conhecimento e do desenvolvimento do trabalho cooperativo e da resolução de
problemas. Enfim, este tipo de software permite trabalhar e compreender a matemática de
uma forma que não é possível com as tradicionais ferramentas, como o papel e o lápis. Os
mais conhecidos entre nós são: o Cinderella, o Cabri-Géomètre (Cabri) e o Geometer’s
Sketchpad (GSP).
O Cinderella é um programa de geometria dinâmica da autoria de J. Richter-Gebert e H.
Kurtenkamp. Os botões apresentam imagens sugestivas, o que permite que as suas funções
sejam facilmente intuídas. Para além das utilidades habituais, possui botões para criar
rectas, circunferências, polígono, cónicas, pontos médios, perpendiculares, paralelas, para
medir comprimentos, ângulos, áreas, para animar, para exportar para a WWW, para criar
exercícios interactivos, para usar o compasso, etc. A ajuda contém todo o manual, em
formato HTML, o que permite uma navegação cómoda e adequada às necessidades de cada
utilizador. Dispõe ainda da capacidade de abordar, além da geometria euclidiana habitual,
as geometrias hiperbólicas e esférica (Silva, 2002). Tem a desvantagem de não trabalhar as
transformações geométricas e não podermos aceder ao histórico das construções, como no
Cabri e no GSP.
O Cabri e o GSP, através da utilização de menus descendentes, podem, executar, a
nosso comando, rotinas da geometria euclidiana, como, por exemplo, traçado de rectas,
circunferências, perpendiculares, intersecções, efectuar transformações geométricas, como
translações, rotações, reflexões e homotetias; permitem o traçado de lugares geométricos;
efectuar e escrever no ecrã resultados de medições habituais em geometria, calcular e
34
escrever o resultado de operações elementares ou transcendentes. Permitem, também, a
construção e memorização de rotinas mais complexas que podem ser invocadas como
rotinas de base e nas últimas versões é possível fazer conexões com a álgebra.
O Cabri é um programa de geometria dinâmica que foi criado por Jean-Marie Laborde e
Franck llemain. Apresenta uma zona de desenho, um menu e uma barra de botões, que
permite aceder à maior parte dos comandos do Cabri. Estes botões estão agrupados do
seguinte modo: os botões de criação que permitem criar um conjunto de objectos
geométricos, tais como pontos, rectas, vectores, triângulos, circunferências, cónicas,
polígonos, etc.; os botões de construção que permitem a construção de rectas
perpendiculares ou paralelas, definir o ponto médio de um segmento de recta e a sua
mediatriz, definir a bissectriz de um ângulo, efectuar transformações geométricas, etc.; os
botões de medição que permitem determinar a medida de comprimentos, áreas e amplitudes
de ângulos, para além de uma calculadora que permite operar com estas medidas e uma
tabela para apresentação de resultados; e os botões de apresentação que permitem legendar,
escrever texto e valores numéricos, fazer animações de um ou mais objectos, mostrar e
esconder objectos, etc. Este software possui também um sistema de eixos que permite a sua
utilização no estudo da geometria analítica e os botões de construção permitem ainda
efectuar construções à custa de outras já existentes que podem ser gravadas e utilizadas
posteriormente (macros), por exemplo, para construção de pavimentações e fractais.
O GSP é um programa de geometria dinâmica que nasceu de um projecto muito amplo,
que incluiu professores e investigadores, o Visual Geometry, dirigido por Eugene klotz e
Doris Schattschneider, que tinha como objectivo propor uma visão renovada do ensino da
Geometria. Da autoria de Nick Jackiw, a versão 4.00, muito melhorada e ampliada
relativamente às anteriores, foi publicada em Outubro de 2001. Investigadores e
matemáticos mais entusiastas usam o GSP numa filosofia de “E se...?” para ajudar a provar
propriedades de construções e ajudar a descobrir novos resultados, bem como para criar
imagens de grande qualidade para usar em tarefas, relatórios ou publicações. A publicação
do livro Geometry turned on, em 1997, é o exemplo de uma publicação que nos oferece
vários exemplos de experiências bem sucedidas, dentro e fora da sala de aula, de
professores e alunos com o software de geometria dinâmica GSP.
35
Ambos os programas são “poderosas ferramentas” de construção e investigação que
permitem aos alunos explorar, analisar, conjecturar, argumentar, compreender e descobrir
conceitos matemáticos, não só da geometria, mas também da álgebra, da trigonometria, do
cálculo, entre outros. Pense-se, por exemplo, no problema em que podemos pedir aos
alunos para que de entre todos os rectângulos com o mesmo perímetro investiguem o que
tem maior área. O GSP pode assim ser visto como uma ponte entre a geometria euclidiana e
a análise, onde os alunos podem modelar as situações e observar a forma como se vão
alterando, pois os AGD são um instrumento onde a variação contínua é a principal
ferramenta de investigação (Cuoco e Goldenberg, 2003) e proporcionam um ambiente
favorável de trabalho que encoraja os alunos a trabalharem e a fazerem matemática no
computador. Com problemas deste género, os alunos podem também facilmente
compreender a noção de maximização e minimização e aplicá-la a situações do dia-a-dia.
Poder-se-á, então, colocar a questão Cinderella, Cabri ou GSP?
Veloso, Silva e Silveira (2002), consideram que os três programas podem ser usados em
qualquer nível de ensino. No entanto, tanto Silveira como Veloso apontam o Cinderella
para níveis mais avançados, designadamente para o ensino superior. Silveira considera
ainda que o Cabri é mais intuitivo para usar com os alunos mais pequenos e Veloso é de
opinião que o GSP pode ser utilizado perfeitamente a partir do 3º ciclo.
O Cabri e o GSP, nas suas últimas versões, são muito semelhantes entre si,
apresentando praticamente as mesmas potencialidades.
De acordo com Veloso (1998), os professores que têm experimentado os dois
programas consideram que o Cabri é mais intuitivo e ajuda mais os alunos, mas outros
consideram o contrário e entendem que é mau romper com a estratégia habitual de trabalho
com computadores, característica do GSP. Ao contrário de Silveira, Veloso considera a
utilização do Cabri menos intuitiva. Por exemplo, no Cabri se pedirmos ao aluno para
traçar uma recta perpendicular, depois de ter seleccionado no menu a opção perpendicular
line, o aluno pode por tentativas tentar perceber quais os objectos que devem ser
seleccionados de modo a que o seu comando inicial resulte. Ao contrário, no GSP enquanto
não tiver seleccionado os objectos para os quais tenha sentido pedir a construção de uma
recta perpendicular, a opção perpendicular line não fica acessível. Outra das características
36
do GSP é que este também “não sabe” o que é um triângulo ou um polígono regular, ou a
mediatriz de um segmento de recta, e se “não sabe” “não pode ensinar”, ao contrário do
Cabri onde, nos seus menus, é possível escolher a opção polígono ou mediatriz. No GSP os
alunos têm de perceber o que é a mediatriz para a poderem construir e pensar nos objectos
matemáticos para o fazer. A respeito destas diferenças, o autor do GSP, Nick Jackiw,
fundamenta a sua escolha da seguinte forma:
“A segunda razão [porque adoptamos este processo no Sketchpad] é mais simples, e prende-se mais directamente com o ensino da geometria e o uso de software na sala de aula. O meu objectivo em relação ao projecto do Sketchpad não é fornecer uma máquina que ensine geometria, mas em vez disso fornecer um ambiente em que cada um possa rapidamente explorar e, idealmente, atingir e ampliar os limites da sua própria compreensão e apreciação da geometria” (Veloso, 1998, p. 98).
Alguns dos estudos publicados em Portugal, nomeadamente a partir de 1995, vêm
confirmar as “grandes potencialidades educativas tanto de um ambiente computacional, (...)
como de um software dinâmico para o ensino da Geometria” (Ponte, Matos e Abrantes,
1998, p. 97).
Um estudo, relativamente recente, de Piteira (2000), vai de encontro a algumas das
potencialidades anteriormente referidas. Mas, a autora fala em Ambientes Dinâmicos de
Geometria Dinâmica (ADGD), e não em AGD, por considerar que este termo define
melhor o tipo de software utilizado, porque, se por um lado, cria acção entre a interface e o
utilizador, por outro, torna dinâmica a forma de abordar e trabalhar a geometria euclidiana.
O ambiente geométrico dinâmico utilizado no estudo foi o GSP. Neste ambiente, tal
como em outros, o feedback dado pela possibilidade de arrastamento permite, aos alunos,
rápida e vivamente explorar diferentes construções da mesma figura (Laborde, 1993). A
autora pôde observar que os próprios menus da construção obrigaram a que os alunos, em
determinadas situações, tivessem de pensar como construir novas figuras, avaliar o que
tinham construído e pensar sobre as conclusões a obter, o que os ajudou a trabalhar os
objectos geométricos até chegarem a conclusões sobre as propriedades e relações
geométricas.
A autora verificou ainda que, durante a resolução das propostas de trabalho, os alunos
37
sentiram necessidade de utilizar uma linguagem matemática mais rigorosa e envolviam-se
mais nas suas construções, quer em perceber as relações entre os objectos geométricos quer
em especificar essas relações na elaboração das conclusões e relatórios.
A elaboração dos relatórios fez com que eles também pensassem e reflectissem mais
sobre a sua acção, discutindo entre si o que escrever e tomando consciência dos passos
seguidos na construção das figuras e nas relações geométricas obtidas. Nestes relatórios
usavam a terminologia que observavam no ecrã ou a que fazia parte dos menus do GSP. Os
ADGD apresentam-se, assim, como contendo elementos de linguagem a partir dos quais os
alunos podem falar e reflectir (Noss e Hoyles, 1996), o que contribui, segundo os vários
estudos realizados nestes ambientes, para uma melhor compreensão matemática e
consequentemente para uma melhor aprendizagem. Ou seja, o GSP pode ser usado como
uma ferramenta para pensar e trabalhar em geometria (Noss e Hoyles, 1996).
Mais recentemente, o estudo de Freixo (2002) sobre a formulação de problemas para
uma aprendizagem da geometria com recurso às novas tecnologias, nomeadamente o
Cabri-Géomètre II, mostrou que a utilização desse AGD favoreceu a aprendizagem a
ritmos diferentes, não imposto pelo professor, em que os alunos tomaram o seu próprio
ritmo de trabalho. Houve mais união e debate entre os alunos, fomentando-se o espírito
crítico. Contribuiu ainda para o aumento do seu entusiasmo e para alterar a relação entre
professor e aluno, passando aquele a ser mais um companheiro de descoberta. Os alunos
tornaram-se também mais activos e criativos e forneciam muito mais feedback de que
quando sujeitos a um ensino mais tradicional. Concluiu ainda que esta ferramenta pode
contribuir para “ajudar a intuição dos alunos e para lhes proporcionar múltiplas
experiências concretas de investigação e reflexão” (p. 323).
Por outro lado, tratando-se de um estudo comparativo sobre a construção de
conhecimento em duas turmas de 8º ano de escolaridade, com uma das turmas sujeitas a um
ensino recorrendo ao Cabri-Géomètre II e a outra sujeita a um ensino dito tradicional, a
autora concluiu que a construção do conhecimento foi diferente nas duas turmas, tendo em
conta, as dificuldades, a aplicação e o desempenho nas fichas de avaliação, levando-a a
acreditar que “o facto de envolver os alunos nas descobertas, ao invés de “despejar a
informação, conduz a um conhecimento mais sólido” (p. 326). A atitude face à resolução de
38
problemas melhorou e a autora admite que esses alunos agora os possam ver como
sinónimo de investigação. Os alunos melhoram ainda a sua auto-estima e a confiança, pois
estavam “entregues a si próprios” (p. 334).
Já estudos anteriores aos de Piteira (2000) e Freixo (2002) tinham permitido chegar a
conclusões similares. Também as investigações de Junqueira (1995), Coelho (1996) e
Rodrigues (1997), citadas em Coelho e Saraiva (2002), realçaram a atitude positiva que o
trabalho em AGD pode criar nos alunos, quer no que diz respeito à matemática quer no que
diz respeito ao desenvolvimento de uma certa autonomia e apontaram o programa Cabri
como um “software amigável e fortemente interactivo que os alunos aprendem a dominar
facilmente, revelando o máximo das suas potencialidades educativas quando é utilizado
numa perspectiva dinâmica, e conduzindo à necessidade de demonstração” (p. 55).
2.3. A demonstração em Matemática
2.3.1. Os diferentes papéis da demonstração
Em Davis e Hersh (1995, p. 145) pode ler-se: “houve quem afirmasse que a
característica que distingue a matemática é algo a que se chama «demonstração»”. A
demonstração é, assim, considerada, por muitos educadores, como central na disciplina de
Matemática, sendo essencial para fazer, comunicar e recordar matemática (Schoenfeld,
1994; citado em Knuth, 2002a). Ora, estes atributos contribuíram para que, nos últimos
anos, tenha havido um crescente aumento de artigos publicados sobre o ensino e a
aprendizagem da demonstração, evidenciando o facto de esta continuar a ser um assunto
proeminente na Educação Matemática.
Não é portanto de admirar que as recentes reformas se tenham esforçado por apelar para
alterações substanciais na natureza e no papel da demonstração. Em contraste com
anteriores posições, a demonstração tem vindo a assumir um papel cada vez mais relevante.
No recente documento do NCTM de 2000, Principles and Standards for School
Mathematics, espera-se que esta venha a fazer parte da Educação Matemática de todos os
alunos e recomenda-se que se reconheça a argumentação e a demonstração como aspectos
39
fundamentais da matemática, que se desenvolva e avalie argumentos e demonstrações
matemáticas e se use os vários tipos de raciocínio e métodos de demonstração. Mas, a
demonstração não tem vindo apenas a ocupar um papel mais relevante, tem conjuntamente
vindo a assumir um papel diferente.
Segundo De Villiers (1999), o valor das demonstrações vai muito para além da mera
verificação de resultados. Para este autor, as demonstrações são extremamente valiosas
porque podem fornecer uma percepção mais clara das situações, conduzir a novas
descobertas ou ajudar na sistematização do conhecimento matemático, constituindo ainda
um desafio intelectual. Refere ainda que a linguagem do professor é crucial na introdução
da demonstração. Em vez de começarmos por dizer que não sabemos se o resultado é
verdadeiro e que vamos demonstrá-lo para ter a certeza, os alunos encontrarão mais
significado se dissermos que, uma vez que já sabemos que o resultado é verdadeiro, vamos
tentar encontrar uma explicação, recorrendo a outros resultados já conhecidos (De Villiers,
1996a). Pois com os AGD podemos observar um conjunto de casos para comparar a
veracidade de resultados que antes não eram óbvios a partir de algumas figuras estáticas,
precisando de outras motivações, além da mera verificação de resultados. Assim, os alunos
poderão deixar de ver a demonstração como algo sem interesse e utilidade, trabalhando
como verdadeiros matemáticos outras funções da demonstração.
De Villiers (1999, 2003) defende portanto um abandono radical dos métodos
tradicionais assentes essencialmente na verificação, pois considera que esta é, de longe, a
função menos importante da demonstração (1996b) e propõe um novo modelo, extensão de
um proposto originalmente por Bell em 1976, em que a demonstração não desempenha
apenas uma função de verificação do conhecimento, mas também outras funções como a
explicação, quando dá uma ideia de porque é um resultado verdadeiro; como descoberta,
quando se descobrem e inventam novos resultados; como meio de comunicação, quando se
usa para transmitir conhecimento matemático; como sistematização, quando se organizam
vários resultados num sistema de axiomas e teoremas; e finalmente, mas não menos
importante, como um desafio intelectual.
A demonstração como um meio de verificação, diz respeito à veracidade da afirmação,
ao convencimento da sua veracidade. A convicção é provavelmente e com mais frequência
40
um pré-requisito para a descoberta da demonstração e não o contrário, como muitos
professores ainda parecem acreditar. Podemos, por exemplo, pedir aos alunos para verificar
que se [ABCD] é um quadrilátero convexo e E, F, G e H são os pontos médios dos seus
lados, então o quadrilátero [EFGH] é um paralelogramo e a sua área é metade da do
quadrilátero original [ABCD] (ver figura 2).
Area EFGH = 23,9 cm2
H
E
F
G
F'
G'
H
E
F=E'
G=H'A
BC
D
D
CB
A
Figura 2. Quadrilátero de Varignon (adaptada de De Villiers, 2003).
Por translação obtém-se um paralelogramo geometricamente igual ao [EFGH], que
pode ser decomposto em quatro triângulos geometricamente iguais aos triângulos que
resultam da construção paralelogramo [EFGH] no quadrilátero [ABCD], donde o
paralelogramo [EFGH] tem a mesma área que esses quatro triângulos e, portanto, metade
da área do quadrilátero original. Este resultado, conhecido pelo teorema de Varignon, pode
ser demonstrado a partir de propriedades elementares dos triângulos. Pode-se ainda pedir
aos alunos que investiguem quando é que o quadrilátero de Varignon é um losango ou
quando é um quadrado e expliquem quando é que tal acontece e porquê.
A demonstração como meio de explicação elucida sobre a razão da veracidade
matemática. Este aspecto da demonstração é muito mais importante para um matemático do
que a simples verificação. Quando os resultados em questão são intuitivamente evidentes
ou apoiados em evidências quase empíricas, a função da demonstração não é a de
verificação mas sim a de explicação ou de descoberta.
Por exemplo, se pedirmos aos alunos para construírem um papagaio dinâmico e
explorarem as suas propriedades, estes podem explicá-las (prová-las) em função do
41
conceito de simetria. Podem, por exemplo, tentar explicar porque é que as diagonais do
papagaio são perpendiculares, porque é que têm sempre dois ângulos geometricamente
iguais. Podemos motivá-los propondo-lhes novos desafios, como por exemplo, tentarem
explicar porque é que a intersecção das medianas de um triângulo nos dá o seu centro de
gravidade ou ponto de equilíbrio (ver figura 3).
BG
GF = 2,00
CG
GE = 2,00
GA
DG = 2,00
Area AFG = 5,44 cm2
Area CDG = 5,44 cm2
Area CGF = 5,44 cm2
Area GDB = 5,44 cm2
Area EGB = 5,44 cm2
Area AGE = 5,44 cm2
BG = 5,61 cmGF = 2,80 cm
CG = 3,89 cmGE = 1,94 cm
DG = 3,50 cmGA = 7,00 cm
G
F
D
E
C
B
A
Figura 3. Centro de gravidade de um triângulo (adaptada de De Villiers, 2003).
Alguns de nós, enquanto estudantes, fizemos a experiência de suspender um triângulo
de cartão pelo seu baricentro e verificar que este ficava sempre em equilíbrio, ou muitos de
nós determinámos o baricentro de um triângulo qualquer e disseram-nos que esse era o seu
centro de gravidade, mas nunca nos preocupamos ou nunca nos levaram a questionar
porque é que isso acontecia. Com o GSP, os alunos podem facilmente chegar a uma
explicação plausível e satisfatória, envolvendo-se na construção da própria matemática e
não simplesmente aceitando que “É assim!”.
A demonstração como meio de descoberta leva à invenção de novos resultados. A
matemática é, aliás, uma área em constante desenvolvimento, onde constantemente se
fazem descobertas e a sua aplicação conduz a mais e novas descobertas, pois como
asseguram Zavala e Arceo (2001), a matemática não é uma ciência acabada.
A procura de invariantes e generalizações é uma fonte de novas descobertas. Muitas
dessas descobertas não acontecem indutivamente, mas por processos puramente dedutivos.
A demonstração deixa, nesse caso, de ser apenas um meio de verificação e explicação de
um resultado, constituindo também uma forma de explorar, analisar, descobrir e inventar
42
novos resultados. Como afirmava Lakatos em 1982, a matemática cresce através do
constante melhoramento das conjecturas, através de um processo crítico, pela lógica da
prova e da refutação.
Keyton (1997), num documento publicado no livro Geometry turned on – Dynamic
software in learning, teaching and research, elucida-nos como os seus alunos, ao trabalhar
com o GSP, andavam muito mais animados e produtivos e conseguiram chegar a um
número bastante significativo de conjecturas e novas ideias.
Os seus alunos investigaram vários quadriláteros e estabeleceram novas relações.
Fizeram conjecturas, procuraram contra-exemplos, construíram demonstrações e até deram
nomes às suas descobertas. Por exemplo, para o bissectogramo (bisectogram), um
quadrilátero formado pelas bissectrizes dos ângulos de um quadrilátero genérico (ver figura
4), os alunos demonstraram os seguintes teoremas: (1) Num quadrilátero, se uma diagonal
for a bissectriz de um dos ângulos, como é o caso do papagaio ou do losango, então não
tem bissectogramo; (2) Se o bissectogramo de um quadrilátero existe, então é cíclico, ou
seja, pode ser inscrito numa circunferência; (3) O bissectogramo de um paralelogramo é um
rectângulo; (4) O bissectogramo de um rectângulo é um quadrado; e (5) O bissectogramo
de um trapézio isósceles é um papagaio cíclico com exactamente dois ângulos rectos.
FG = 2 cmHF = 2 cmEH = 2 cmGE = 2 cm
m∠HFG = 90°m∠FGE = 90°m∠EHF = 90°m∠GEH = 90°
m∠DAB = 90°m∠CDA = 90°m∠BCD = 90°m∠ABC = 90°
HE
FG
E
H
FG
A
A C
B
B
C
D
D
Figura 4. Propriedades 2 e 3 do Bissectogramo [EFGH] do quadrilátero [ABCD].
43
Analogamente, estes alunos descobriram outras relações para os mediatrizogramos
(perpbisogram), quadrilátero definido pelas mediatrizes dos lados do quadrilátero, para os
altugramos (altagram), quadrilátero definido pelas alturas a partir dos vértices,
medvertigramo (midvexogram), quadrilátero definido pela intersecção das medianas e para
os tangentogramos (tangentogram), quadrilátero definido pelas rectas perpendiculares às
diagonais nos seus extremos.
Podemos pedir aos nossos alunos para fazer investigações análogas e trabalhar com eles
nessas investigações. Por exemplo, pedindo para explorarem o que acontece se unirmos os
pontos médios de um papagaio, os alunos podem conjecturar que se obtém sempre um
rectângulo e explicar porque é que tal acontece, descobrir que é verdade para qualquer
quadrilátero com as diagonais perpendiculares e generalizar para um quadrilátero genérico
(ver figura 5). Assim, ao terem de explicar como chegaram a essa descoberta e ao
enunciarem as propriedades descobertas, os alunos desenvolverão, com certeza, mais
profundamente o sentido de demonstração do que simplesmente apresentar-lhes a
propriedade e pedir-lhes para a demonstrar.
Area IMNJ( )
Area ABCD( ) = 0,50
Area ABCD = 21,25 cm2
Area IMNJ = 10,63 cm2
Area AMI( )
Area ABD'( ) = 0,25
Area ABD' = 10,63 cm2
Area AMI = 2,66 cm2
m MI = 3,73 cm
m JN = 3,73 cm
m NM = 2,85 cm
m IJ = 2,85 cm
m∠NMI = 90,00°
m∠JNM = 90,00°
m∠IJN = 90,00°
m∠MIJ = 90,00°
N
J
I
M
C
A
B
D
Figura 5. Caso particular do Quadrilátero de Varignon.
Keyton (1997) diz poder garantir que os alunos conseguem pensar, têm imaginação e
curiosidade e a que demonstração se torna significativa quando um resultado se põe em
questão, significando que eles se envolvem mais intimamente quando querem saber se as
44
suas descobertas são ou não de facto verdadeiras.
A demonstração como meio de comunicação pode ser vista como um meio único de
transmitir e negociar o conhecimento matemático entre matemáticos, entre professores e
alunos e entre os próprios alunos. Esta interacção permite o aperfeiçoamento da
demonstração e a identificação de erros, bem como a sua rejeição devido à descoberta de
contra-exemplos. As actividades geométricas são, segundo Abrantes et al. (1999), um
excelente meio para trocar ideias, negociar, ou seja, desenvolver a capacidade de
comunicação matemática. Quando os alunos descrevem os procedimentos que usaram
numa determinada tarefa, estão a fazer uso dessa capacidade. Um estudo de Vicent (1998)
permitiu concluir que a utilização do Cabri contribuiu para a compreensão e o uso correcto
da linguagem geométrica, em particular para os alunos que trabalham em pares onde podem
discutir as suas observações e estratégias de construção. Nesta função, a demonstração é
vista como um acto de comunicação, como uma forma de pensar e não como qualquer coisa
estática que “não serve para nada”!
A demonstração como meio de sistematização significa a organização dos vários
resultados num sistema dedutivo de axiomas, definições e teoremas.
Retomando o exemplo do papagaio, podemos pedir aos alunos que investiguem a razão
entre as áreas ou entre os perímetros dos dois quadriláteros e que tentem, por exemplo,
demonstrar, com base na exploração efectuada, que a área do rectângulo é sempre metade
da área do papagaio. Embora também estejam presentes alguns elementos de verificação e
explicação, o principal objectivo não é propriamente verificar se as afirmações são
realmente verdadeiras, mas sim, uma vez que já sabemos serem verdadeiras, organizá-las e
relacioná-las logicamente num todo unificado e coerente (De Villiers, 2003). Para
chegarem à demonstração, os alunos podem recorrer à decomposição em triângulos e a
algumas das suas propriedades.
Na demonstração como desafio intelectual está em jogo a realização pessoal e a
gratificação resultantes da construção de uma demonstração. De Villiers (1996b, 2002,
2003) compara o desafio e a satisfação na construção de uma demonstração com o desafio e
a satisfação em completar uma maratona ou um jogo de triatlo. Para Bennet (1997), a
“gratificação do ego” que advém do desafio e da satisfação em descobrir as demonstrações
45
constitui a motivação mais forte para se fazer uma demonstração.
De Villiers (2003), propõe, por exemplo, o teorema de Napoleão para desafiar os alunos
a investigar e a pensar. É uma construção e uma demonstração que envolve vários
conhecimentos, como ângulos numa circunferência, propriedades de congruência e
semelhança, razões trigonométricas e mediatriz de um segmento de recta e que pode ser
usada com diferentes propósitos, desde os vários conceitos geométricos envolvidos à sua
relação com a álgebra e o cálculo até à função de comunicação, através da organização e
consolidação do pensamento matemático, à justificação e demonstração, através da
investigação de conjecturas.
A importância da demonstração e algumas das suas funções, como a verificação, a
explicação, a descoberta e o desafio, estão subjacentes nesta pequena passagem de Davis e
Hersh (1995, pp. 149-150):
“A demonstração cumpre simultaneamente vários objectivos. Ao ser exposta ao escrutínio e à análise crítica de uma nova plateia, a demonstração passa por um processo constante de revalidação. A exposição incessante esclarece erros, ambiguidades e equívocos. A demonstração traz consigo respeitabilidade. A demonstração é a garantia de autoridade. No melhor das hipóteses, a demonstração aumenta o entendimento ao revelar o âmago da questão. A demonstração sugere nova matemática. O principiante aproxima-se da criação de nova matemática ao estudar demonstrações. A demonstração é energia matemática, a corrente eléctrica que dá vida aos enunciados estáticos dos teoremas. Finalmente a demonstração é um ritual e uma celebração da força da razão. Um tal exercício em confirmação pode tornar-se muito necessário, se considerarmos todas as confusões em que o raciocínio claro muitas vezes nos enreda”.
2.3.2. O ensino e a aprendizagem da demonstração
Outros educadores têm encontrado potencialidades no ensino da demonstração,
nomeadamente no campo da geometria. Loureiro e Bastos (2002) defendem que o
raciocínio plausível precede a demonstração e que o ensino da demonstração deve estar
presente em todos os níveis de ensino. Também Battista e Clements (1995) procuraram
uma melhor compreensão dos processos de aprendizagem relacionados com a
46
demonstração e a melhor altura para a trabalhar com os alunos. Estes autores atribuem a
Piaget a ideia de que a necessidade de validação deve-se ao confronto do nosso pensamento
com o dos outros, o que produz a dúvida e o desejo de demonstrar.
A questão da demonstração em geometria tem mudado ao longo dos tempos e percebida
de diferentes formas segundo as pessoas que a põem em questão. Para Hanna (2002), a
demonstração está “viva e recomenda-se” e continua a merecer um lugar de destaque no
currículo de Matemática. Durante muitos anos, a autora questionou-se acerca do papel que
esta poderia ter na Educação Matemática e ao olhar para a filosofia, história e pedagogia da
matemática e para as formas como as tecnologias podem ajudar a tornar a demonstração
como parte mais efectiva do currículo da Matemática, tornou-se claro para a autora que,
actualmente, a demonstração no ensino deve ser encarada como uma actividade matemática
escolar que serve para esclarecer e que vale a pena tornar conhecida dos alunos, para
promover a compreensão da matemática.
Mas, porque não se dá mais importância à questão da demonstração? As novas
orientações curriculares são incompatíveis com a questão da demonstração? Para Abrantes
et al. (1999), a resposta é seguramente que não:
“No fim do 3º ciclo, um aluno matematicamente competente deve ser sensível ao interesse de demonstrar conjecturas, compreender o raciocínio seguido em demonstrações simples e mesmo, nalguns casos, ser capaz de as fazer por si próprio” (p. 34).
As demonstrações podem (e devem) ser vistas como mais um recurso didáctico valioso
a utilizar na sala de aula para desenvolver nos alunos atitudes favoráveis, conhecimentos
mais sólidos e outras capacidades, pois permitem, aos alunos, regular o seu próprio
pensamento, permitem comunicar matematicamente e servem para convencimento dos
outros e de nós próprios, podendo ser vistas como um processo de negociação dentro da
sala de aula porque os alunos têm que argumentar, fundamentar, inferir, refutar, deduzir,
criticar, convencer os outros do que fizeram e como fizeram. Pode também contribuir para
o desenvolvimento da autonomia dos alunos, pois quando estão a demonstrar não estão
limitados apenas ao professor ou ao livro, são eles próprios que decidem acerca da própria
matemática, ou seja, a demonstração pode ter um papel crucial no currículo, caso contrário
47
estamos a privar os nossos alunos de um instrumento válido e crucial da matemática
(Hanna, 2000). Mas, apesar das tão mencionadas vantagens, é bem conhecido dos
professores o receio e a dificuldade que os alunos têm em compreender a necessidade da
demonstração. Talvez também porque as demonstrações matemáticas, quer nos livros, quer
nas aulas, são muitas vezes vistas como autoritárias (Davis e Hersh, 1995) e porque muitos
professores continuam a ensiná-las como as aprenderam enquanto alunos (Barbin, 1996).
Segundo estudos de Knuth (2002a, 2002b), o sucesso dos professores em dar resposta a
“esta chamada” depende largamente das suas próprias concepções acerca da demonstração,
as quais são, de algum modo, limitadas. Os professores tendem a ver a demonstração como
mais um tópico de estudo em vez de uma ferramenta para comunicar e estudar matemática.
Portanto, o sucesso dos alunos em aceitar a demonstração também passa pela mudança das
concepções dos professores. Estes, tal como os alunos, têm de experimentar a
demonstração como uma ferramenta significativa para estudar e aprender matemática. Um
passo em frente no sentido de alterar estas concepções seria, na opinião de Hanna,
reafirmada por Boavida (2001), dar mais importância à actividade de produzir a
demonstração e não enfatizar tanto o seu formato final:
“Uma boa demonstração é aquela que, para lá de convencer, explica e faz avançar na compreensão de uma ideia, problema ou resultado matemático, é aquela que clarifica porque é que uma relação funciona ou não. Mais importante do que o formato final de uma demonstração é a actividade de a produzir, é a sensibilidade ao seu interesse e necessidade, é a comunicação clara e correcta das ideias matemáticas que estão em jogo” (p. 11).
As autoras Loureiro e Bastos (2002) reforçam a ideia e afirmam ainda que essa
actividade deve partir dos alunos. Trata-se, portanto, de encarar a demonstração como parte
de uma actividade matemática onde existe a necessidade de experimentar e não considera-
la como produto acabado (De Villiers, 1997; Hanna, 2000; Loureiro e Bastos, 2002 e
Osório, 2001). A tecnologia informática poderá, ainda segundo as autoras, ter aqui um
papel importante, ideia também presente na maioria dos autores que se dedicaram a estes
estudos. Neste sentido, De Villiers (1996a) critica o ensino tradicional da geometria e
enfatiza a distinção entre processos e produtos da actividade, recorrendo à seguinte
48
metáfora:
“O ensino tradicional da geometria pode ser comparado a uma aula de culinária e pastelaria, em que o professor só mostra aos alunos os bolos (ou pior ainda, apenas as imagens dos bolos) sem lhes mostrar os ingredientes e como são feitos. Além disso, nem sequer são autorizados a experimentar a sua própria forma de cozinhar” (p. 17).
Também Cox (2004) propõe um ensino diferente da demonstração de modo a que os
alunos percebam como é que se faz matemática, de modo análogo a como os professores de
ciências ensinam como a ciência é feita. Enquanto tradicionalmente os alunos eram
confrontados com resultados que tinham para provar, o que realmente não era do seu
interesse, espera-se actualmente que eles trabalhem a demonstração à imagem dos
matemáticos, ou seja, onde a demonstração não é mais do que uma etapa no processo de
descoberta de nova matemática. Primeiro, fazem as suas próprias conjecturas que são
baseadas em observação, testam essas conjecturas e, por fim, trabalham na justificação das
conjecturas para chegar à demonstração. A autora fala ainda da vantagem de todo o
processo ser efectuado em grupo, pois os alunos beneficiam da discussão com os outros
alunos, tanto na fase de formulação de conjecturas como na fase de escrever a
demonstração. O papel do professor é o de facilitador e moderador do comportamento
esperado dos alunos, trabalhando com eles as conjecturas descobertas, ajudando-os na
produção da justificação (demonstração) e questionando-os para facilitar o surgimento de
ideias.
Indo, assim, de encontro às ideias descritas, em vez da demonstração que é apresentada
como um produto acabado, De Villiers (1997) e Mogetta (2000), tal como Boavida (2001),
propõem a demonstração como parte da actividade matemática que os alunos devem
experimentar, conjecturar e argumentar, e onde os programas de geometria dinâmica são
recursos adequados a essa actividade.
Para De Villiers (1997), os programas de geometria dinâmica são “poderosos como
meio de verificação de conjecturas verdadeiras e também muito valiosos na construção de
contra-exemplos para conjecturas falsas” (p. 23), o que encoraja e ajuda os alunos a
formularem problemas, facultando-lhes oportunidades para explorar, conjecturar, refutar,
49
reformular e explicar, abrindo-se, assim, caminho para funções fundamentais da
demonstração como a explicação e descoberta (De Villiers, 1997).
Bennet (1997), numa experiência pessoal com o GSP, onde se propôs demonstrar uma
proposição de 1953, que em 1993 matemáticos profissionais diziam ser ainda um problema
não resolvido, termina o seu artigo afirmando que “a geometria dinâmica não vai matar a
demonstração. Apenas a torna muito mais divertida” (p. 28).
O problema consistia em demonstrar que o quadrilátero Q2, obtido pela intersecção das
mediatrizes dos lados de um outro quadrilátero Q1, também obtido de igual modo de um
quadrilátero Q, eram semelhantes e descobrir qual a razão de semelhança (ver figura 6).
Q Q2
Q1CBIJ
⋅CBIJ
= 8,85CBIJ
= 2,97
IJ = 2,25 cmCB = 6,68 cm
CDJL
= 2,97
CD = 8,26 cm
ADLK
= 2,97ABKI
= 2,97
KI = 4,14 cmAB = 12,31 cm
JL = 2,78 cm
AD = 9,91 cmLK = 3,33 cm
KL
J
I
G
H
F
E
A
D
C
B
Figura 6. Um velho problema...
O autor refere-se à utilização do software de geometria dinâmica como tendo tido um
papel importante na exploração de um problema com mais de 40 anos, uma vez que duvida
que tivesse tido a paciência necessária para construir, com régua e compasso, um número
suficiente de figuras para estabelecer a plausibilidade da conjectura. Donde, a geometria
dinâmica, longe de lhe diminuir o interesse pelo problema, motivou-o pelo facto de
explorar dinamicamente aquela relação, tentar chegar a uma demonstração e a outros
resultados interessantes.
2.3.3. A demonstração em AGD
Tendo em conta as considerações até aqui referidas, é importante reflectir sobre a
50
verdadeira contribuição da tecnologia informática para o papel da demonstração.
Contrariamente ao que se poderia pensar, as novas ferramentas educacionais não vieram
tornar obsoletas as demonstrações, nem “matar a demonstração”. Pelo contrário, elas
continuam tão importantes como sempre o foram.
Para Chazan e Yerushalmy (citado em Knuth, 2002a) o papel da demonstração, como
criação de nova matemática, está a começar a ocupar um lugar de destaque nas aulas de
geometria, particularmente naquelas onde os alunos utilizam software de geometria
dinâmica.
Também de acordo com Loureiro e Bastos (2002), o computador proporciona ambientes
favoráveis à exploração matemática e à descoberta de novos resultados, o que traz novas
oportunidades e novas formas de encarar a demonstração na Educação Matemática. Esta é
uma opinião também partilhada por De Villiers (1997), ao referir a relação dos alunos com
a demonstração aquando da utilização dos AGD:
“Apesar da maioria dos alunos parecer não precisar de mais nada para ter convicções quando exploram conjecturas em ambientes geométricos dinâmicos como o Cabri ou o Sketchpad, não me é difícil estimular a sua curiosidade interrogando-os por que é que eles pensam que um determinado resultado é verdadeiro. Desafio-os a tentar explicá-lo. Os alunos rapidamente admitem que a verificação indutiva/experimental apenas confirma; não esclarece nem contribui para uma compreensão satisfatória. Eles parecem então querer procurar argumentos dedutivos como uma tentativa de explicação, mais do que uma verificação” (p. 23).
Hanna (2002) partilha da opinião de De Villiers ao fazer a distinção entre as
demonstrações que explicam e as demonstrações que só validam e ao considerar o software
dinâmico como tendo todo o potencial para encorajar tanto a exploração como a
demonstração. Para a autora torna-se muito mais fácil criar e testar conjecturas, dando-se
assim um novo significado à exploração matemática, que por sua vez contribui para renovar
o interesse pelo ensino da geometria.
Outros estudos, como os de Gardiner, Hudson e Povey (2000), Mariotti (1997), Knuth
(2002a) e Zavala e Arceo (2001), conduziram a conclusões similares. Os autores
concordam que os AGD estimulam e favorecem o desenvolvimento, nos alunos, da
compreensão e da construção da demonstração, ou seja, os AGD não demonstram mas
51
conduzem à necessidade de demonstração e, de acordo com Gardiner, Hudson e Povey
(2000), a função explicativa da demonstração pode ser usada pelo professor no sentido de
os motivar, dando-lhes a sensação de que são eles próprios os criadores do significado
matemático. De igual modo, consideram que o uso de programas como o Cabri, na
exploração de tarefas adequadas, podem levar a uma apreciação mais completa da natureza
e do propósito da demonstração, mas também reconhecem o difícil que é.
Numa experiência de Mogetta (2000) que envolveu o Cabri como ferramenta na
elaboração de justificações matemáticas, onde participaram 5 alunos de 17 anos, sem
experiência prévia neste software, verificou-se que os alunos encontraram muitas
dificuldades em justificar as suas conjecturas. E, ao mesmo tempo que Hoyles e Jones
(1998, citados em Loureiro e Bastos, 2002) apontam caminhos favoráveis, alertam para
possíveis “caminhos perversos” que o ensino possa tomar, pois já se tende a utilizar este
tipo de ferramentas numa abordagem orientada meramente para a recolha de dados, o que
poderá levar, se não se for cuidadoso, a que se passe “ao lado de todo um conteúdo
matemático importante que o domínio geométrico é capaz de oferecer. Em particular, o
caminho da demonstração como explicação ou verificação corre o risco de se tornar ainda
mais problemático” (p. 125).
Assim, apesar de todas as vantagens já mencionadas, Loureiro e Bastos (2002) também
alertam para o facto de nem sempre o uso de programas de geometria dinâmicos ser, de um
ponto de vista educativo, de grande ajuda para a demonstração, ou seja, existe o perigo de
os alunos face à evidência das imagens não sentirem a necessidade de demonstração, ou a
considerarem como a própria demonstração. As autoras exemplificam esta ideia com a
“demonstração” de que “a soma das amplitudes dos ângulos internos de um triângulo é
sempre a mesma”, considerando que esta pode ser “estragada” pelo programa informático,
pois ao ser pedido ao aluno que calcule a medida da amplitude dos ângulos e as some, este
responderá sempre 180º, pelo que poderá parecer supérfluo tentar “outra” demonstração.
Aqui, temos que conseguir levar os alunos a sentirem a demonstração como mais do que
uma mera verificação e levá-los a procurar uma explicação, como, por exemplo, recorrer à
explicação patente na figura 7.
52
C'
A'
A
B
CA C
B
D
Figura 7. Soma das amplitudes dos ângulos internos de um triângulo [ABC] (adaptada de De Villiers, 2003).
O triângulo original [ABC] sofreu uma rotação de modo que a imagem do vértice B
coincidisse com o vértice C e a imagem do vértice C coincidisse com o vértice B, e uma
translação associada ao vector AC de modo que a imagem do vértice A coincidisse com o
vértice C, formando-se, assim, um ângulo raso em C, cuja amplitude é a soma das
amplitudes dos ângulos internos do triângulo [ABC].
Indo de encontro às orientações de De Villiers (1997, 1999, 2003), se os alunos virem a
demonstração apenas como um meio de verificação de algo que é obviamente verdadeiro,
nunca terão o incentivo de criar qualquer tipo de demonstração lógica. Temos de conseguir
levá-los a querer saber o porquê da verdade e levá-los a tentar encontrar uma explicação. E,
é esta explicação que pode, segundo De Villiers (1999), motivar os alunos a gerar uma
demonstração:
“Quando os alunos já investigaram cuidadosamente uma conjectura geométrica, a partir de uma variação contínua, com software dinâmico como o Sketchpad, eles têm pouca necessidade de mais convicção. Assim, a verificação não serve ou pouco serve de motivação para fazer uma demonstração. Contudo, constatei que é relativamente fácil suscitar a curiosidade questionando os alunos acerca da razão por que pensam que um determinado resultado é verdadeiro, ou seja, desafiá-los a que tentem explicá-lo.” (p. 8).
Também os AGD, nomeadamente o Cabri, se revelaram um auxílio precioso no estudo
dos níveis de pensamento de van Hiele.
Os níveis de pensamento geométrico de van Hiele surgiram, na década de 50, da
necessidade de encontrar resposta para as dificuldades sentidas pelos alunos na
53
aprendizagem da geometria e foram estabelecidos por dois professores holandeses do
ensino básico, Dina van Hiele-Geldof e Pierre van Hiele. Estes autores presumiram que tais
dificuldades poderiam advir do facto do ensino da geometria envolver níveis cognitivos
diferentes daqueles em que os alunos se encontravam. Para tal, recorreram a cinco níveis
para descrever o comportamento dos alunos face aos conceitos geométricos. Vários autores
estudaram a aplicação destes níveis como, por exemplo, Afonso (2002), Lima e Belchior
(1994) e Junqueira (1995). Descreve-se, de seguida, em que consiste, resumidamente, cada
um desses níveis.
Nível 1: visualização. Os alunos reconhecem as figuras geométricas pela sua aparência
global. São capazes de descrever, identificar e reproduzir figuras, como triângulos,
quadrados, paralelogramos, pela sua forma, depois de terem visualizado protótipos, mas
não se apercebem explicitamente das suas propriedades. Por exemplo, rectângulos,
quadrados e losangos não são paralelogramos porque não se parecem com um.
Nível 2: análise. Neste nível já reconhecem as figuras pelas suas propriedades e pelos
elementos que as constituem e podem descobrir e generalizar essas propriedades através da
experimentação. Estabelecem propriedades observando, medindo, desenhando, trabalhando
com modelos. Não conseguem, no entanto, estabelecer relações entre as figuras ou as
propriedades. Por exemplo, reconhecem que um paralelogramo tem quatro lados, ângulos
opostos geometricamente iguais, lados opostos paralelos, mas não reconhecem que um
rectângulo é um paralelogramo, que um quadrado é um rectângulo ou que um triângulo
equilátero tem todos os ângulos geometricamente iguais pelo facto de ter os lados
geometricamente iguais.
Nível 3: dedução ou classificação. Os alunos começam a inter-relacionar as figuras e as
suas propriedades e a fazer deduções informais, começando-se a desenvolver a capacidade
de raciocínio formal. Conseguem perceber e deduzir, por exemplo, que ângulos opostos
geometricamente iguais implicam lados geometricamente iguais ou que lados opostos
geometricamente iguais implicam lados paralelos. Já conseguem estabelecer que todo o
quadrado é um rectângulo ou que um quadrado é um losango, porque além de algumas
propriedades comuns têm mais outras. Contudo, ainda não constroem demonstrações nem
sentem a sua necessidade. Estas têm ainda um carácter informal, baseado na observação de
54
alguns casos particulares.
Nível 4: dedução formal. Os alunos já fazem conjecturas e começam a compreender o
significado de demonstrar. Compreendem e fazem raciocínios lógico-formais, em que a
demonstração tem um papel fundamental na verificação de propriedades. Por exemplo,
através das relações lógicas entre as propriedades explícitas dos rectângulos, conseguem
escrever uma demonstração para a igualdade das diagonais. O trabalho dos alunos não se
centra ainda na compreensão de sistemas axiomáticos nem nas suas relações.
Nível 5: rigor. Este nível traduz o nível máximo do rigor matemático, onde os alunos
analisam e comparam outros sistemas axiomáticos e desenvolvem a sua actividade
matemática.
O modelo dos níveis de van Hiele apresenta duas características específicas: é
sequencial e é hierárquico. A primeira característica implica que não se pode atingir um
determinado nível sem se ter passado pelos anteriores. Assim, se o professor apresentar a
matéria num nível superior ao do aluno, este pode não a compreender. A segunda
característica significa que os níveis são dependentes uns dos outros, isto é, para passar
para um determinado nível não podemos esquecer as capacidades de raciocínio do anterior.
Os três primeiros níveis têm sido os mais identificados nos alunos, principalmente nos
alunos dos 2º e 3º ciclos e são considerados essenciais por Abrantes et al. (1999),
“requerendo que se percorra uma fase inicial, prolongada de abordagem indutiva e
experimental do conhecimento do espaço e do desenvolvimento das formas mais
elementares de raciocínio geométrico, ligado ao conhecimento das propriedades
fundamentais das figuras e das relações básicas entre elas” (p. 70), pressupondo que os
alunos adquiram conceitos elementares de geometria e explorem as suas propriedades e
relações (Afonso, 2002), indo de encontro às orientações do NCTM:
“a geometria deve focar-se na investigação e utilização de ideias geométricas e de relações, em vez da memorização de definições e fórmulas (...) os alunos a quem é pedido para memorizar uma definição e um exercício ou dois de um livro é improvável que se lembrem desse termo da sua aplicação” (NCTM, 1991, pp.133-134).
Segundo van Hiele (citado em Afonso, 2002), a progressão através dos níveis pode ser
55
influenciada pelos métodos de ensino utilizados pelo professor, pois ela resulta das
experiências pessoais que permitem o desenvolvimento das capacidades de raciocínio
geométrico necessárias para atingir um nível superior. Sendo, portanto, imperativo que o
aluno tenha um papel activo na construção do seu conhecimento. Temos como exemplo
disso a experiência de Vicent (1998), com alunos entre os onze e os doze anos de idade.
Recorrendo ao AGD Cabri, para estudar a sua influência na progressão de um nível de van
Hiele para outro mais rapidamente, concluiu que tal é deveras possível recorrendo a esta
ferramenta. O Cabri possibilitou realmente uma progressão mais rápida através dos
diferentes níveis. O facto de os alunos serem “forçados” a pensar nas propriedades e nas
relações das suas construções geométricas facilitou a progressão do nível 1 para o nível 2 e
do nível 2 para o nível 3. O autor concluiu ainda que, com tarefas exploratórias, os alunos
são encorajados a experimentar, conjecturar, testar e provar as suas conjecturas, tarefas que
são eminentemente ajustadas ao ambiente do Cabri, o que desenvolverá nos alunos a
compreensão para além do terceiro nível. No entanto, é essencial que seja dado tempo
suficiente para consolidar o seu conhecimento em cada nível, antes de passar para o
seguinte.
No nível 4 as demonstrações têm ainda um carácter informal baseadas muitas vezes na
observação de vários casos particulares, ao passo que no nível 5, o nível da dedução formal,
os alunos já constroem demonstrações originais sem as memorizar. No entanto, poucos
alunos conseguem alcançar este nível.
Segundo De Villiers (2003), o desenvolvimento do pensamento dedutivo aparece
primeiro dentro do contexto da sistematização, nível 3 de van Hiele. Contudo, estudos
anteriores parecem apontar as funções explicação, descoberta e verificação como sendo
mais significativas para os estudantes fora do contexto de sistematização, ou seja, nos
níveis de van Hiele abaixo do 3, onde os argumentos são de natureza visual ou indutiva.
Considera, ainda, que um atraso prolongado nos níveis 1 ou 2, antes de introduzir a
demonstração, torna a sua introdução posterior muito mais difícil, no sentido dos alunos a
sentirem como uma actividade mais significativa. Para apresentar as funções da
demonstração como explicação e descoberta é necessário que os alunos sejam introduzidos,
o mais cedo possível, na arte de resolver problemas, conjecturar, refutar, reformular e
56
explicar. Então para quê adiar se, desde cedo, as crianças conseguem fazer raciocínios
lógicos, quer em situações reais quer em situações que tenham significado para elas (De
Villiers, 1999, 2003).
Para além dos estudos de Saraiva (1992), Junqueira (1995) e Rodrigues (1997), a
investigação sobre a demonstração no ensino da geometria, na comunidade portuguesa de
educadores matemáticos, é, segundo Loureiro e Bastos (2002), praticamente inexistente.
Um dos objectivos de Saraiva era levar os alunos a sentirem a necessidade e a utilidade
da demonstração. Neste estudo, o autor recorreu ao programa LOGO.GEOMETRIA, um
programa especialmente preparada para o estudo da geometria vectorial e analítica que,
segundo o autor, desempenhou um papel muito importante na elaboração de provas, mesmo
para os alunos mais fracos. Apesar de no início as imagens terem sido um obstáculo à
necessidade de demonstração, devido à força da evidência, o autor observou que, à medida
que as aulas foram decorrendo, os alunos começaram a interiorizar uma necessidade de
demonstrar as afirmações feitas, face ao desafio da descoberta de leis e relações
matemáticas e pelo pedido de explicação e justificação das propriedades matemáticas em
jogo. Concluiu, assim, que o que cativou os alunos não foi a verificação de resultados mas
“o desafio da descoberta”, “o pedido de explicação”, em consonância com as funções da
demonstração propostas por De Villiers (1999, 2003). Saraiva conclui ainda que perguntas,
como “então e isso é válido para todos os casos?”, “parecer, parece, mas será?”, que
surgiram com bastante frequência, ajudaram a que tal fosse possível.
No estudo de Junqueira (1995), que envolveu os alunos de uma turma do 9º ano de
escolaridade, num total de 24 aulas, a autora conclui que os AGD podem dar um contributo
importante ao processo de descoberta indutiva de teoremas, enquanto que o recurso a
ambientes tradicionais de papel e lápis apresenta inconvenientes para a produção de provas,
designadamente a morosidade na exploração de exemplos significativos, a menor precisão
nas medições e nos cálculos e o carácter estático das construções que apenas podem ser
tornadas flexíveis por imaginação mental.
Para Rodrigues (citado em Ponte, Matos e Abrantes, 1998), a visualização dos
invariantes no Cabri suscitou nos alunos a elaboração de conjecturas e a motivação para a
prova matemática, que está presente na pesquisa dos fundamentos teóricos da verdade e/ou
57
na discussão das diferentes ideias matemáticas. Contudo, de acordo com Coelho e Saraiva
(2002),
“O balanço positivo destes três trabalhos não só se ficará a dever às especificidades de um software que se revela particularmente dinâmico mas a todo um contexto de ensino/aprendizagem, com realce para as interacções estabelecidas entre professores, alunos e o próprio AGD (elemento mediador na construção do conhecimento matemático), aos modelos didácticos ensaiados e às características exploratórias das tarefas propostas”. (p. 56)
O estudo de Freixo (2002) veio também confirmar as vantagens do uso deste ambiente.
Neste estudo a autora propôs-se analisar o papel do AGD, Cabri-Géomètre II, no ensino da
geometria a 23 alunos do 8º ano de escolaridade com base na formulação de problemas e a
história da matemática, usando para termos de comparação outra turma de 8º ano, onde os
alunos não recorreram a esta ferramenta.
Segunda a autora o Cabri contribuiu que os alunos fizessem progressos significativos no
que se refere às suas capacidades para “realizar investigações, resolver problemas, modelar
situações, formular conjecturas, expressar por escrito as suas opiniões e ideias matemáticas,
expor e justificar raciocínios, entre outros”, ao contrário da turma de comparação onde
essas capacidades se mantiveram reduzidas. Já no que diz respeito à demonstração das
conjecturas formuladas, “os progressos não foram tão significativos como os registados na
formulação de conjecturas, contudo não podemos esquecer que estávamos perante alunos
do 8º ano, para além de que a demonstração é uma técnica que necessita ser muito
trabalhada. Já a capacidade para formular conjecturas evoluiu significativamente pois o
ambiente utilizado era facilitador dessa tarefa.” (Freixo, 2002, p. 337)
Com os vários estudos, podemos assim concluir que os ADG poderão vir a modificar
efectivamente tanto a concepção, como a forma de encarar e de fazer demonstração.
Devido à sua característica facilitadora da experimentação e da possibilidade de investigar
propriedades e relações a partir de invariantes aos arrastamentos, eles perspectivam-se,
segundo os vários autores como ambientes propícios à descoberta de propriedades e
relações geométricas, que favorecem a aprendizagem e a aquisição de conhecimentos,
incluindo a produção de provas.
58
C A P Í T U L O I I I
PLANO METODOLÓGICO
A escolha da metodologia a ser seguida numa investigação está estreitamente
relacionada com o problema em estudo. Este capítulo descreve pormenorizadamente as
opções metodológicas adoptadas, começando por fundamentar e caracterizar a opção por
uma metodologia de natureza predominantemente qualitativa. Continua com a
caracterização dos participantes no estudo, com a descrição dos materiais de ensino
utilizados e termina com a recolha e análise de dados.
3.1. Opções metodológicas do estudo
Este estudo procurou fazer uma análise do papel dos AGD, nomeadamente do GSP,
como ferramenta educativa no apoio ao ensino e aprendizagem da Geometria, com
particular enfoque para a exploração de construções geométricas, com vista à formulação,
validação e justificação de conjecturas.
Pretendeu-se, assim, observar, descrever e interpretar os processos desenvolvidos pelos
alunos, como aconteceram em tempo real e num ambiente natural de sala de aula e ainda
intervir nesse desenvolvimento.
A problemática em questão levou, neste caso, a optar por uma metodologia de natureza
qualitativa pois, tal como afirmam Bogdan e Biklen (1994), a pesquisa qualitativa envolve
a obtenção de dados descritivos, obtidos no contacto directo do investigador com a situação
onde os fenómenos ocorrem naturalmente e onde são influenciados pelo seu contexto.
Para estes autores, as cinco principais características da investigação qualitativa são: (1)
a recolha de dados em “ambiente natural”, sendo o investigador o “instrumento principal”
59
dessa recolha; (2) a natureza descritiva dos dados recolhidos; (3) a preferência pelos
processos, o “como”, em preterição dos resultados ou produtos; (4) a análise indutiva dos
dados e (5) a importância das perspectivas dos participantes é “vital” (Bogdan e Biklen,
1994, pp.47-51).
Na educação cada vez mais se recorre a este tipo de metodologia, pois torna-se cada vez
mais importante conhecer, descrever, explicar e interpretar a natureza dos fenómenos
educativos e foi nesse contexto que se optou por este tipo de metodologia. Também
segundo Costa (1986), o método qualitativo é particularmente adequado para uma descrição
quer dos aspectos em análise, quer das suas interligações, sendo, por isso, uma forma
escolhida com frequência para estudar as inovações educacionais, perspectiva em que se
pode englobar a utilização educativa dos AGD.
3.2. Participantes no estudo
3.2.1. Escolha da turma
No ano lectivo em que foi desenvolvido este estudo, 2003/2004, a investigadora não se
encontrava a leccionar, nem inserida no meio escolar, pelo que teve de recorrer a colegas
para encontrar alguém que se disponibilizasse a colaborar no estudo.
Como era nossa intenção que o estudo incidisse sobre o tema Circunferência e
Polígonos. Rotações, do 9º ano de escolaridade, na escolha da professora pesava, então, o
facto de estar a leccionar este nível de escolaridade e que estivesse previsto dar esta
unidade, uma vez que alguns dos professores contactados, pelas mais diversas razões, não
estavam a contar fazê-lo. Além disso, teria de ser uma pessoa interessada, dinâmica e sem
receio de experimentar metodologias de ensino diferentes. O facto da escola estar bem
equipada com material informático era também decisivo, ou seja, ter uma sala com
computadores disponíveis para a turma poder trabalhar, em grupo, durante o tempo previsto
para a experiência de ensino.
Apesar das dificuldades que se depararam, foi então encontrada a professora para
participar com os seus alunos neste estudo. Como só tinha uma turma de 9º ano, estava
60
automaticamente escolhida a turma de uma escola secundária, do distrito do Porto, para
participar neste estudo.
Por questões legais e éticas, foi solicitada autorização ao Conselho Executivo da Escola
para a realização da experiência e aos Encarregados de Educação dos alunos envolvidos no
estudo para serem objecto de recolha de dados (anexos I e II).
Houve também a preocupação de, antes do início da experiência, apresentar a proposta à
turma para termos conhecimento da sua reacção, pois, como refere Almeida (1995, p. 130),
“em investigação educacional a colaboração voluntária deve, na grande maioria dos casos,
ser conseguida”. A professora informou-os acerca dos objectivos e da metodologia de
trabalho a ser desenvolvida nas aulas e solicitou a participação destes. Os alunos ficaram
entusiasmadíssimos, embora houvesse uma minoria que evidenciou um pouco de receio
relativamente à utilização do computador.
3.2.2. A professora da turma
A investigadora conheceu a professora da turma por intermédio de uma colega do curso
de mestrado que leccionava naquela escola. Desde logo se mostrou uma pessoa
comunicativa, extremamente simpática e prestável. Começou a leccionar há 7 anos e estava
nesta escola há dois, embora se encontrasse efectiva numa escola do distrito de Lisboa.
Licenciada em Matemática, via ensino, por uma universidade, tem leccionado
essencialmente no 3º ciclo do ensino básico e este era o 4º ano que lecciona o 9º ano de
escolaridade.
Não é costume recorrer às novas tecnologias nas suas aulas, só o fez uma vez, no 10º
ano, em que utilizou um programa que permitiu aos alunos visualizar os sólidos em
perspectiva e as suas planificações. Relativamente ao GSP, já tinha ouvido falar, mas, até
então, não tinha tido nenhuma experiência com o programa.
3.2.3. Caracterização da turma/escola
Os participantes deste estudo foram os 27 alunos de uma turma do 9º ano,
61
maioritariamente constituída por raparigas e com idades compreendidas entre os 14 e 17
anos, sendo que a maioria tinha 14 anos de idade (ver tabela 1).
Tabela 1. Distribuição dos alunos que participaram no estudo por sexo e idade.
Idade (em anos) Sexo 14 15 16 17 Total Feminino Masculino Total
8 4
12
3 2 5
3 5 8
2 – 2
16 11 27
São alunos que aparentam ter bastantes dificuldades à disciplina de Matemática e esta
não é, de longe, a sua disciplina preferida. Apenas dois alunos se encontravam a repetir o 9º
ano de escolaridade, mas 66,7% dos alunos já teve nível negativo a Matemática e, destes,
48,1% foi no 8º ano.
Somente 25,9% considerou esta a sua disciplina preferida, sendo Educação-Física a
preferida, por 55,6% dos alunos. Grande parte dos alunos, 37%, apontou a disciplina de
Matemática como sendo aquela a que têm mais dificuldades, seguindo-se a disciplina de
Língua Portuguesa com 22,2%, o que talvez justifique as dificuldades na compreensão, na
interpretação e na expressão aquando da realização das tarefas.
As razões mais frequentemente apontadas para os níveis negativos foram, para além do
facto de não perceberem a matéria, a falta de estudo e atenção nas aulas, havendo mesmo
quem mencionasse “as brincadeiras nas aulas”.
Uma vez que a experiência iria recorrer a um ambiente geométrico dinâmico, o GSP,
interessava-nos saber se os alunos gostavam de geometria e o tipo de experiência que
tinham, ou não, com o computador e se, eventualmente, conheciam algum programa de
matemática. Apenas três alunos referiram ter como matéria preferida a geometria. A
maioria escolheu probabilidades e houve um aluno que mencionou gostar de quase todas as
matérias à excepção de geometria.
Felizmente, 2/3 dos alunos tinha computador em casa e, destes, a grande maioria,
77,8%, costumava utilizá-lo para a realização dos trabalhos da escola, o que, à partida, seria
um bom indício de que se sentiriam à vontade para mexer e descobrir sozinhos sem grandes
62
inibições. Usavam-nos, incluindo os que os utilizavam fora de casa, não só para efectuar
trabalhos da escola, 85,2%, mas, também, para jogar, 48,1%; para ouvir música e navegar
na Internet, 18,5%, entre outros fins.
Os alunos não conheciam, até à altura, nenhum programa de matemática, embora três
deles se tenham referido ao Excel como sendo um programa de matemática.
Em relação ao passado recente do aproveitamento escolar, como se pode apurar pela
tabela 2, os níveis obtidos pelos alunos no 1º período a Matemática concentraram-se no
nível 3.
Tabela 2. Classificação obtida no 1º período na disciplina de Matemática.
Classificação na disciplina de Matemática Sexo Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5 Total Feminino Masculino Total
5 3 8
5 8 13
6 0 6
– – –
16 11 27
De um modo geral, a professora considera esta turma, do ponto de vista de
comportamento, muito agitada e, acima de tudo, muito conversadora. Diz ser uma turma
muito unida e “cúmplice” que mantém um bom relacionamento com os professores, apesar
do seu comportamento, pois “apesar de falarem muito, são alunos simpáticos e bem-
educados”. Do que diz respeito ao aproveitamento, como já foi dito, a maioria dos alunos
apresenta muitas dificuldades. Segundo a professora, “muitos deles têm negativa a
matemática desde o 2º ciclo, mostram-se muito desmotivados e descrentes (...) acham que
já não vale a pena estudar porque nunca vão conseguir”, tendo sido muito complicado
incentivar e motivar estes alunos.
No que diz respeito à escola, a professora considera que é uma “escola bem organizada
e funciona bem, apesar de ser muito grande envolvendo um grande número de professores,
alunos e funcionários”. Em termos de ambiente escolar julga haver um bom ambiente pelo
que vê e ouve, pois não tem “real noção de tudo o que se passa”. Quanto às condições de
trabalho diz serem melhores do que a maioria das escolas. Por exemplo, quanto ao número
de computadores existentes na escola. Há uma sala disponível para os alunos, com dois
63
professores a apoiar, uma para as aulas de Informática e outra que pode ser requisitada por
qualquer professor, como foi o nosso caso. Nesta existem 12 computadores, por vezes nem
todos a funcionar, o que como salientou a professora, “obrigou a que os alunos
trabalhassem em grupos de 2 a 3 alunos, quando o ideal seria um computador por aluno”.
3.2.4. Intervenção didáctica
Na preparação para o início da experiência de ensino/aprendizagem foram mantidos
alguns contactos com a professora, por intermédio de uma colega do curso de mestrado que
leccionava na mesma escola ou pessoalmente, deslocando-se a investigadora à escola para
esse efeito. Inicialmente, para conhecer a escola e para dar a conhecer à professora, mais
especificamente, os objectivos da experiência. Discutiram-se os instrumentos de
investigação, principalmente as tarefas que estavam a ser planeadas para desenvolver com
os alunos e a altura em que iríamos começar, qual o papel de cada uma dentro da sala de
aula e o período de tempo em que iria decorrer. Posteriormente, para discutir melhor a
planificação da experiência e as tarefas para cada aula.
A experiência decorreu de 02/03/04 a 11/05/04, tendo ocorrido uma interrupção de
19/03/04 a 21/04/04 devido a estarmos no final do segundo período e haver actividades
extra-curriculares, avaliações e, por conseguinte, as férias da Páscoa.
O término da experiência estava previsto para o final do mês de Março, mas prolongou-
se até ao mês de Maio, consequência, não só da interrupção, mas também de alguns atrasos
na implementação da intervenção didáctica, devidos, por um lado, às dificuldades dos
alunos, e, por outro, à extensão e à exigência das tarefas pois, como a professora também
assentiu, esperávamos sempre muito mais dos alunos do que na realidade eles conseguiam.
Em consequência, esta decorreu durante esse período de tempo, em duas sessões semanais,
às quartas e sextas, perfazendo um total de onze sessões.
Podemos considerar que a intervenção didáctica decorreu em duas fases. Uma primeira
fase, de duas sessões, cujo principal objectivo foi familiarizar os alunos com a nova
metodologia de ensino, incluindo o trabalho de grupo, a utilização do computador e do GSP
e as tarefas de exploração e investigação. Uma segunda fase, de sete sessões, onde os
64
alunos trabalharam, com o apoio do GSP, os temas de geometria propostos e onde se
procedeu à recolha de dados sobre o produto e os processos seguidos na resolução das
tarefas, para dar resposta às questões de investigação e duas sessões de aulas onde os
alunos resolveram, com papel e lápis, exercícios práticos do manual adoptado.
Nas sessões com recurso ao GSP optou-se pela metodologia de trabalho de grupo, não
só pelas condicionantes do tempo, espaço e recursos informáticos, mas por ser apoiado por
diversos autores. Por exemplo, para Veloso (1993), “o trabalho de grupo deverá ocupar um
lugar de relevo na aprendizagem da matemática” pois “ajuda a desenvolver capacidades
fundamentais do ponto de vista da Educação Matemática, como por exemplo, de
argumentar, de construir uma justificação para os próprios pontos de vista, de criticar as
opiniões dos colegas, de ouvir, compreender e aproveitar as ideias dos outros, e de
organizar o trabalho” (p.11).
Também nas Normas do NCTM (1991) pode ler-se que devemos proporcionar aos
alunos mais oportunidades de trabalhar em pequenos ou grandes grupos. O trabalho de
grupo proporciona aos alunos a possibilidade de interagirem entre si, confrontando, sem
medos, as suas opiniões, reflectindo e partilhando entre si pontos de vista, desenvolvendo a
capacidade de trabalho em equipa, indispensável na sociedade de hoje em dia. Citando
Ponte et al. (1997, p.93),
“Trabalhar em pequenos grupos permite aos alunos expor as suas ideias, ouvir os seus colegas, colocar questões, discutir estratégias e soluções, argumentar e criticar outros argumentos. Em pequeno grupo, torna-se mais fácil arriscar os seus pontos de vista, avançar com as suas descobertas e exprimir o seu pensamento. Por isso destinar mais tempo ao trabalho em pequenos grupos nas aulas de Matemática é uma das orientações curriculares mais salientes”.
Quer para Abrantes (1997), quer para Junqueira e Valente (1998), grupos de dois ou três
alunos é a opção mais natural para trabalhar no computador e o trabalho em pares é para
Ponte (1997) mais vantajoso, pois a interacção entre os alunos facilita a aprendizagem.
Neste contexto, os alunos trabalharam em pequenos grupos de dois ou três alunos,
distribuídos por dez computadores, inicialmente onze, existentes na sala, com o ambiente
geométrico dinâmico, o GSP, utilizando-o para a descoberta e aplicação de novos conceitos
65
relacionados com o estudo da circunferência e com outros assuntos abordados.
A sala de computadores onde decorreram as sessões, disponível a qualquer professor
que previamente fizesse a sua requisição, estava equipada com doze computadores
distribuídos em mesas rectangulares à volta da sala, ao longo de três paredes, sendo que na
quarta se encontravam dois quadros, um preto e um branco, utilizados para pequenos
esclarecimentos para toda a turma.
No centro da sala estava disposto um grupo de mesas rectangulares vazias. Dos doze
computadores existentes na sala, só onze foram utilizados porque a um deles faltava-lhe o
drive de disquetes, tendo sido utilizada a versão 4.00 do GSP. Com o decorrer da
experiência um dos computadores deixou de estar funcional, pelo que passaram a estar
disponíveis apenas dez computadores e os alunos tiveram de ser distribuídos por outros
grupos.
Os conteúdos abordados na experiência foram: ângulos numa circunferência e suas
propriedades geométricas; polígonos inscritos numa circunferência e propriedades do
quadrilátero papagaio, sendo que este último não faz parte dos objectivos do programa
oficial do 3º ciclo do ensino básico, mas que consideramos importante na aquisição de
algumas capacidades como fazer construções, investigar, formular conjecturas, comunicar e
raciocinar matematicamente.
Na tabela 3, que se segue, encontra-se a sistematização dos assuntos abordados em cada
sessão e as respectivas propostas de trabalho.
66
Tabela 3. Sistematização das sessões da intervenção didáctica e os respectivos assuntos abordados.
Dia Assuntos abordados Proposta de trabalho 02/03/04 Circunferência; rectas, segmentos de recta e semi-
rectas; ângulos; polígonos. Manual do GSP
05/03/04 Polígonos; polígonos semelhantes e relações estabelecidas em polígonos semelhantes; mediatriz de um segmento de recta e as suas propriedades.
Fichas de revisão 2 e 4
10/03/04 Ângulos ao centro numa circunferência Ficha 1 12/03/04 Propriedades dos ângulos ao centro. Ficha 2 17/03/04 Ângulos inscritos numa circunferência e
propriedades dos ângulos inscritos. Ficha 3 e 4
19/03/04 Propriedades geométricas na circunferência: ângulos inscritos e cordas; recta tangente a uma circunferência.
Fichas 4, 5 e 9
24/03/04 Revisões para o teste de avaliação Exercícios do manual 21/04/04 Mediatriz de um segmento de recta; circuncentro;
propriedades das cordas; polígonos inscritos numa circunferência.
Fichas 5 e 6
23/04/04 Quadrilátero inscrito numa circunferência; ângulos inscritos numa circunferência e suas propriedades.
Ficha 8 Exercícios do manual
27/04/03 Resolução de exercícios de aplicação Exercícios do manual 11/05/04 Propriedades do papagaio; relações estabelecidas
no papagaio Ficha 10
Nota. O período de 19 de Março a 21 de Abril corresponde à interrupção das actividades lectivas. As fichas de revisão 1 e 3 não foram abordadas por opção da professora da turma e as fichas 11 e 12 por falta de tempo.
Nos dias 24/03/04 e 27/04/04 as aulas não decorreram na sala de computadores.
Tiveram lugar na sala habitual dos alunos onde resolveram, com papel e lápis, exercícios de
aplicação sobre os conteúdos abordados no computador. Este tipo de tarefas, na sala normal
de aulas, intercaladas com as aulas no computador estavam também previstas, com mais
67
regularidade, tal não foi possível devido aos constantes atrasos decorridos na planificação.
Na próxima subsecção será descrito com mais detalhe o decorrer da intervenção
didáctica.
3.2.5. Grupos de trabalho
Os 27 alunos da turma distribuíram-se, inicialmente, à sua vontade pelos computadores
disponíveis. Mas, na segunda sessão houve necessidade de um reajustamento para
equilibrar melhor as coisas, uma vez que a maioria dos alunos se tinha concentrado num
dos lados da sala, junto à janela, e tornava-se quase impossível, devido às mesas centrais,
nos movimentarmos pelos grupos, pelo que, no início da aula seguinte, a professora
distribuiu mais uniformemente a turma pelos computadores e pela sala.
Ficaram, assim, inicialmente, formados onze grupos, dos quais seis constituídos por
dois alunos e cinco por três alunos, que, devido a questões técnicas, passaram a ser dez
grupos, sete grupos constituídos por três alunos e três constituídos por dois alunos. Para
cada grupo foi criada uma pasta de trabalho no computador, onde tinham acesso a ficheiros
necessários para trabalharem as tarefas e onde gravavam os seus documentos. Foi também
entregue a cada grupo uma disquete, onde gravavam os seus trabalhos que, no final da aula,
entregavam à investigadora. Na sessão seguinte as disquetes eram devolvidas aos alunos.
Como inicialmente a investigadora não conhecia a turma, a professora sugeriu dois
grupos que na sua opinião seriam mais activos, para discutirem as tarefas entre eles, sem
serem, necessariamente, os melhores alunos. Na altura, a professora sugeriu o grupo GSP5
e o GSP3. O GSP5 era formado pela Inês, pela Flávia e pela Cátia e o GSP3 pela Mónica e
pela Joana. A Inês e a Mónica eram as melhores alunas da turma, a Flávia era aluna entre o
nível 3 e 4, muito boa na participação oral, mas na escrita “ia-se a baixo” e a Cátia era uma
aluna com muitas dificuldades, de nível 2.
Com o decorrer da primeira sessão a investigadora apercebeu-se que o grupo GSP7,
constituído pelo Diogo e pelo Daniel, era muito interessado e participativo, pelo que
comentou com a professora que, provavelmente seria um bom grupo a observar. A
professora referiu que eram alunos, em geral, pouco interessados nas aulas, mas, como na
68
segunda sessão a investigadora continuou com a mesma impressão e como o grupo GSP3
não era um grupo muito comunicativo, ficaram assim escolhidos os dois grupos que iriam
ser observados com mais atenção e que seriam alvo da recolha de dados, o GSP5 e o GSP7,
sem contudo menosprezar os restantes grupos.
A Inês, de 14 anos, era uma aluna muito sociável. Interessada e bastante perspicaz era
aluna de nível 5, mas um pouco inconstante no que dizia respeito às tarefas, talvez por não
gostar de geometria. Apesar disso, era ela quem melhor compreendia os objectivos das
mesmas.
A Flávia era uma ruiva muito simpática e sempre sorridente, que reclamava sempre que
as coisas não estavam do agrado dela, principalmente se havia confusão na aula. Era muito
interessada e aplicada, fazia sempre o que lhe pediam e estava continuamente a consultar o
caderno para procurar ajuda na resolução das tarefas. Veio já no 2º período, transferida de
outra escola. Era ela quem “liderava” o computador e explicava à Cátia o que se estava a
fazer. Era uma aluna muito boa oralmente, e em termos de participação, mas que nos testes
não conseguia ir além do nível 3 ou 4.
A Cátia era uma aluna com muitas dificuldades, de nível 2, passava despercebida, pois
era uma aluna muito tímida que só intervinha se lhe perguntássemos directamente alguma
coisa. Tinha 17 anos e encontrava-se a repetir o 9º ano. Recebia muito apoio por parte da
Flávia.
O Diogo tinha 14 anos e era o “galã lá do sítio”! Mostrou-se bastante empenhado nas
tarefas e estava sempre com o dedo no ar para participar. Segundo a professora, nas aulas
normais, era um “tagarela”, “graxista”, sempre distraído e que não se esforçava. Fazia as
coisas, mas nunca assumia as culpas, era sempre a vítima!
O Daniel foi uma agradável surpresa, no sentido em que surpreendeu muito pela
positiva. Aluno muito tímido e meigo, com grandes potencialidades, que poderia conseguir
muito mais e melhor, mas cujo “sonho” era acabar o 9º ano para ir trabalhar como o pai na
construção civil. Segundo a professora, era um aluno muito inteligente mas um “baldas”
que ficava sempre sentado no fundo da sala e ficava admirada como é que, com o que ele
fazia, conseguia tirar positiva e até razoáveis, algumas acima dos 60%.
69
3.3. Materiais de ensino utilizados
As Normas do NCTM (1991) defendem o abandono das práticas ditas tradicionais para
o ensino da matemática e sugerem várias modificações, não só no que é ensinado, mas
principalmente na forma como é feito esse ensino. Falam em desenvolver o “poder
matemático” (p.6) dos alunos, como objectivo do ensino da matemática, reforçando a ideia
de que o que eles aprendem está intimamente relacionado com o modo como o aprendem.
Nesta perspectiva, e ainda de acordo com o NCTM (1991), é necessário utilizar métodos de
ensino alternativos com vista a desenvolver nos alunos a capacidade de investigar, sustentar
conjecturas, entender novas situações e construir significados a partir delas.
Um dos métodos alternativos poderá ser a oportunidade de trabalhar em pequenos
grupos, onde os alunos se entre ajudam e discutem entre si, com os colegas e com o
professor ideias relativas às tarefas apresentadas. Neste contexto, os alunos trabalharam em
grupo, o que raramente acontecia na aula de Matemática destes alunos, as tarefas propostas
que tinham como objectivo principal encorajá-los a “explorar, formular e testar conjecturas,
provar generalizações e discutir e aplicar os resultados das suas investigações” (NCTM,
1991, p. 148), onde o papel do professor seria mais o de mediador e facilitador da
aprendizagem do que mero transmissor de conhecimento, possibilitando ao aluno assumir
um papel mais activo como “consumidor crítico e produtor criativo do saber” (Vieira, 1998,
p. 38) e tendo com vista o desenvolvimento da “capacidade de auto-aprendizagem”
(NCTM, 1991, p. 149).
De entre as várias abordagens à geometria, a experimentação vai de encontro aos
objectivos atrás referidos e permite contrariar uma aprendizagem assente na memorização,
causa, em parte, pela visão tão pobre que os alunos têm da matemática, o que leva à
desmotivação e consequente insucesso escolar nesta disciplina. Há que apresentar, então,
aos alunos uma nova visão da matemática e da geometria, em particular, que pode passar
pela utilização das novas tecnologias, nomeadamente o computador.
Cada vez mais se torna urgente recorrer a esta “poderosa ferramenta” pois, quer na
sociedade quer na própria matemática, a sua influência tem vindo a crescer, o que implica,
necessariamente, uma modificação no ensino e na aprendizagem da matemática. Como
70
referem os autores Ponte et al. (1997), não é só a matemática que tem contribuído para o
desenvolvimento das ciências da computação, também ela é:
“fortemente influenciada pela Informática, tanto no que respeita aos problemas que coloca como aos métodos que usa na sua investigação. Esta forte relação entre a Matemática e a Informática, que se processa nos dois sentidos, reforça a ideia da importância da utilização dos instrumentos computacionais no processo de ensino-aprendizagem” (pp. 67-68).
No processo de ensino/aprendizagem, computadores com programas específicos, como
é o caso dos programas de geometria dinâmica, “transformarão as aulas de matemática num
laboratório (...), onde os alunos utilizam a tecnologia para investigar, conjecturar e verificar
as suas descobertas” (NCTM, 1991, p. 149) e onde o professor encorajara a
experimentação. Por estas razões e pelas vantagens já mencionadas no capítulo anterior
acerca dos AGD, optou-se pela utilização do Geometer’s Sketchpad no apoio à resolução
das fichas de trabalho propostas neste estudo.
No início deste estudo tínhamos várias opções de escolha para o programa a usar no
estudo dos temas de geometria. Ponderou-se a utilização do Cinderella, por ser o mais
recente, mas as suas novas potencialidades não eram pertinentes para o estudo em causa,
sendo considerado, por alguns autores, como mais indicado para o ensino superior e, além
disso, considerámos que tinha uma ambiente de trabalho mais “assustador”, pelo que as
dúvidas recaíram, essencialmente, sobre o Cabri-Géomètre e o Geometer’s Sketchpad, uma
vez que são muito semelhantes em termos de potencialidades. Aliás, a APM lembra que
“não existe nada que conheçamos que não se possa fazer com um deles que não se possa,
com mais ou menos trabalho, fazer com o outro” (APM, 1998a, p. 23). Assim, apesar de
concordar com alguns autores que consideram o Cabri mais intuitivo (Junqueira, 1995 e
Silveira, 2002) e que o GSP tem algumas vantagens relativamente ao Cabri (Veloso, 2002 e
Freixo, 2002), estas também não eram significativas para o nosso estudo, pelo que a
escolha do GSP foi mais uma questão de gosto pessoal e também por já existirem, em
Portugal, vários estudos envolvendo tópicos de geometria com recurso ao Cabri e menos
referências ao GSP.
71
3.3.1. O Geometer’s Sketchpad, versão 4.00
O GSP é um programa especialmente concebido para o estudo da geometria, mas pode
ser utilizado em áreas como a álgebra e a trigonometria. Resultou do Visual Geometry
Project, cujo objectivo era a renovação do ensino da geometria. A primeira versão foi
publicada em 1991 e é considerado um “poderoso instrumento” a ser utilizado no ensino da
geometria, quer no ensino básico quer no ensino secundário, pois “permite a realização de
todas as construções tradicionalmente feitas com régua e compasso” (Ponte e Canavarro,
1997, p. 297). Mas, sobretudo, permite a manipulação interactiva das mesmas,
possibilitando, em tempo real, a experimentação, a percepção e a compreensão das
características que permanecem, ou não, invariantes. Em suma, permite investigar
propriedades geométricas devido à forte inter-actividade que mantém com o utilizador e à
sua fácil utilização.
A versão utilizada neste estudo foi a versão 4.00, onde o ambiente de trabalho é muito
semelhante ao da versão anterior. Mudaram apenas as opções de alguns menus e alguns
botões na barra de ferramentas, mas a sua utilização continua simples e intuitiva, com
menus descendentes, aos quais se pode aceder através do rato. As principais alterações têm
a ver com algumas das funcionalidades que foram bastante melhoradas e ampliadas.
No sentido de apoiar os alunos na compreensão do programa, e uma vez que este se
encontrava em Inglês, foi elaborado um pequeno manual (anexo III) onde se descreve
pormenorizadamente as funcionalidades do mesmo e que os alunos podiam (e deviam)
consultar durante as aulas, sempre que surgissem dúvidas ou achassem necessário.
Passaremos, de seguida, a expor algumas das principais diferenças relativamente à versão
anterior (Jackiw, 2001 e Veloso, 2002).
O tratamento de funções, em relação à versão anterior, foi muito melhorado e ampliado.
É possível definir novas funções e desenhar o seu gráfico, escrevendo a sua expressão, usá-
las em cálculos e noutras funções, iterá-las e derivá-las. Pode-se usar mais do que um
sistema de coordenadas e estes não têm que ser monométricos.
A iteração é uma das novidades desta versão, possibilitando, de forma conveniente, a
repetição e transformação de certas construções geométricas, podendo ser usadas, por
72
exemplo, para criar fractais.
É possível, agora, reunir num único documento vários sketchs referentes à mesma
investigação.
As animações têm mais potencialidades e a sua utilização é também mais simples.
Enquanto que na versão anterior apenas podíamos animar pontos, agora podemos animar
qualquer objecto geométrico e a velocidade de animação é agora regulável, independente
da velocidade do computador, e durante a animação continuam acessíveis os objectos do
sketch.
Os scripts da versão 3.0 foram substituídos por ferramentas usuais (custom tools) que
são mais fáceis de criar e usar. Podemos criar a nossa própria biblioteca de ferramentas para
diferentes propósitos, usá-las e modificá-las sempre que necessitarmos. Os scripts
recursivos foram substituídos pela iteração e estão disponíveis conjuntos de scripts que
permitem utilizar o GSP na exploração de geometrias não euclidianas e de números
complexos.
A edição de texto foi também muito melhorada e ampliada, podendo-se facilmente
alterar o estilo, o tamanho e a cor do texto seleccionado. A palette agora existente inclui
também símbolos matemáticos, em particular, para as notações geométricas.
Temos também mais opções de escolha para as cores, podendo colorir qualquer objecto,
alterar o fundo dos sketchs e importar figuras para o fundo que não sejam seleccionáveis
com a seta.
Pode-se traçar o lugar geométrico (trace) de qualquer objecto geométrico e este não
desaparece enquanto não solicitado.
A nova calculadora pode ser usada, não apenas para efectuar novos cálculos e criar
novas funções, mas também editar a expressão de cálculos ou funções já existentes.
Existe uma grande variedade de opções na criação de botões para a realização
automática de certas acções. Os botões de apresentação podem ser combinados com os de
animação, os de movimento e os de mostrar e esconder objectos. Foi acrescentado o botão
link para ir de página em página dentro do mesmo documento ou para aceder a um site da
Internet ou uma página Web.
O processo de selecção de objectos passou a ser mais simples, não sendo já necessário
73
usar a tecla Shift para seleccionar simultaneamente vários objectos. Também a opção
“guardar documento” se tornou mais fácil nesta versão. As versões anteriores só aceitavam
oito caracteres e o processo para indicar o caminho para o local onde guardar os ficheiros
era muito mais confuso. Agora, funciona como em qualquer aplicação do Office, como o
Word ou o Excel.
Outra pequena diferença é que um objecto é agora identificado (label) apenas quando
solicitado, seguindo a ordem alfabética, e não quando é criado. Mas, a grande novidade
desta versão é a possibilidade de guardar sketchs em formato HTML, de modo a poder
exportar para a Internet as construções, as animações e os exercícios interactivos de
geometria dinâmica, em qualquer página Web, com um simples clique do rato.
O GSP pode (e deve) ser utilizado individualmente ou em pequenos grupos, em
ambiente de sala de aula ou fora desta e em sessões de demonstração para toda a turma,
pois, como refere Junqueira (1995), “há fortes indícios de que os modernos ambientes
computacionais, que permitem fazer construções de figuras geométricas e explorá-las de
forma dinâmica, podem contribuir de forma decisiva para uma nova relação de professores
e alunos com a Geometria”. Mas, a autora também alerta para o facto de que “só por si,
esses instrumentos pouco fazem”, sendo essencial suportar a sua utilização com “materiais
devidamente testados, que motivem e rentabilizem o trabalho na sala de aula” (p. 3).
Neste sentido, os alunos trabalharam, em ambiente de sala de aula, temas de geometria
plana, em pequenos grupos, com recurso a tarefas que foram elaboradas com suporte na
revisão de literatura efectuada.
3.3.2. Fichas de trabalho
As tarefas propostas, pela investigadora, foram analisadas e discutidas com o orientador
e com a professora da turma participante no estudo. As suas sugestões fizeram repensar
alguns aspectos e contribuíram para a reformulação e até mesmo a supressão de algumas
delas. Foram eliminadas algumas tarefas com vista ao estudo de transformações
geométricas e foram feitas algumas alterações no sentido de as simplificar. Na sua
elaboração, houve a preocupação de ir ao encontro dos conteúdos e objectivos para o
74
capítulo em estudo, previstos no programa de Matemática do 9º ano de escolaridade, e
adaptá-las à utilização do GSP.
As tarefas foram organizadas e apresentadas, aos alunos, através de dezasseis fichas de
trabalho (anexo IV), estando inicialmente previstas dezanove fichas de trabalho e uma ficha
de avaliação. Pretendíamos que os alunos adquirissem vocabulário específico e definissem
alguns conceitos, exercitassem a formulação de conjecturas e realizassem algumas
demonstrações.
As quatro primeiras fichas de trabalho abordaram conceitos de anos anteriores que
seriam úteis para as tarefas seguintes, nove fichas abordaram o estudo da circunferência e
das suas propriedades geométricas e as três ultimas fichas trataram particularmente do
estudo das propriedades do papagaio.
Das quatro fichas de revisão, apenas se realizaram duas, uma vez que, em aulas
anteriores, a professora já tinha abordado, com o apoio de uma pequena ficha de trabalho
alguns dos conceitos que pretendíamos rever e não considerou relevante a sua realização.
Estavam previstas três fichas sobre a problemática das transformações geométricas,
mais concretamente sobre rotações e uma pequena introdução às pavimentações, mas não
chegaram a ser elaboradas, pois não estava previsto pelos professores da escola, aquando da
planificação da unidade, abordar esta parte da unidade. As nove fichas que incidiram sobre
o estudo da circunferência foram todas abordadas.
As tarefas relativas ao estudo do “papagaio”, embora também “fugissem” à planificação
do departamento de Matemática, a professora compreendeu a sua importância para o estudo
e concordou com a sua aplicação. Apesar disso, como na altura o tempo já escasseava, só
foi possível trabalhar a primeira ficha, o que ocorreu, em concordância com a maioria dos
alunos, fora da aula de Matemática. A segunda e a terceira ficha ficaram como proposta
para trabalho de casa tendo os alunos aproximadamente duas semanas para as trabalhar em
grupo e entregar à professora, o que não sucedeu.
Cada uma das fichas de trabalho era constituída por várias tarefas subordinadas ao
mesmo tema e propunham a construção e/ou a análise de uma figura, onde os alunos eram
“encorajados a explorar, a fazer tentativas (...); ler, escrever e discutir matemática, e ainda
conjecturar, testar e construir argumentos sobre a validade de uma conjectura” (NCTM,
75
1991, p.6).
As fichas encontravam-se numeradas para uma identificação mais rápida e também com
um título que reflectia de um modo geral os conteúdos abordados. Optou-se, muitas vezes,
por já dar a construção da figura ou tê-la de “reserva”, se necessário, por sabermos de
antemão das dificuldades dos alunos e que estas tomariam muito tempo, tentando
rentabilizar mais o tempo para a sua análise e exploração. Optou-se, também, por
simplificar em termos de linguagem e não sobrecarregar os enunciados com os
procedimentos necessários do GSP, por considerarmos que eram relativamente simples e,
caso surgissem dificuldades, os alunos podiam recorrer ao manual ou à nossa ajuda.
Em todos os grupos, a cada aluno foi distribuído um exemplar das fichas, um dos quais,
ficou encarregue de devolver à investigadora um exemplar preenchido, que era fotocopiado
e restituído posteriormente. As tarefas eram depois discutidas e corrigidas oralmente com a
professora na própria aula ou na aula seguinte, dependendo do tempo dispendido na
resolução. Com o decorrer da experiência, essa correcção em conjunto deixou de ser viável,
uma vez que os alunos trabalharam ao seu próprio ritmo e, naturalmente, diferente.
As tarefas pretendiam, acima de tudo, permitir a exploração de conteúdos da unidade de
geometria plana, do 9º ano, Circunferência e Polígonos. Rotações: ângulos ao centro,
ângulos inscritos, arcos e cordas, propriedades geométricas em circunferências e polígonos
inscritos numa circunferência.
Concordando que metodologias de ensino diferentes implicam também diferentes
formas de avaliação, estava previsto, neste estudo, uma avaliação diferente para esta
unidade. Vários autores, entre os quais, Varandas (2000), têm realçado a importância de
diversificar as formas de avaliação, mas o que tem acontecido é que “os professores vão-se
adaptando a novas metodologias de ensino, tais como o trabalho de grupo, e vão centrando
a aprendizagem no aluno, mas continuam a avaliar sobretudo através da realização de
testes, valorizando o trabalho de memorização de técnicas e procedimentos” (Varandas,
2000, p.6).
Assim, sendo a unidade didáctica dada basicamente com recurso ao GSP, não fazia,
então, muito sentido que a avaliação se resumisse a um teste escrito. Foi, então, proposto à
professora uma avaliação baseada num teste com recurso ao GSP, que poderia ser realizado
76
em grupo se as condições se propiciassem, como por exemplo a divisão da turma. Foi
também sugerido um trabalho de pesquisa sobre as aplicações da geometria no dia-a-dia,
onde os alunos poderiam abordar temas como “a geometria e arte” ou “a geometria e a
natureza”, entre outros, e recorrer, se desejassem, ao GSP.
A professora concordou inicialmente com a avaliação no computador, mas com o
decorrer da experiência, achou que tal não seria possível devido à falta de tempo e optou
pelo teste escrito.
Descreve-se, a seguir, mais pormenorizadamente as fichas que integraram este estudo.
Numa primeira fase do estudo pretendeu-se, essencialmente, que os alunos se
familiarizassem com o GSP, isto é, que, através de um primeiro contacto informal, se
apercebessem de um modo geral do seu funcionamento, trabalhando no seu próprio ritmo,
fazendo pequenas experiências e recorrendo à ajuda do manual, que foi distribuído na
primeira aula e explorado em conjunto com os alunos.
Pretendeu-se também rever alguns conceitos considerados importantes para a segunda
fase do estudo e também que os alunos se acostumassem ao tipo de tarefas e ao estilo de
trabalho, diferente do que estavam habituados, pois queríamos um trabalho mais
participativo e crítico por parte destes.
Considerou-se que ângulos, polígonos e mediatriz de um segmento de recta seriam
temas indicados para tratar nesta fase, porque muitos dos conceitos abordados e as suas
propriedades eram pré-requisitos necessários para uma melhor compreensão dos novos
conteúdos a ser estudados.
Era também desejável que, logo nesta fase, começassem a sentir algum gosto pela
geometria, se não fosse pelo tipo de tarefas, pelo menos pelo facto de estarem a trabalhar
num ambiente diferente de trabalho e pelas potencialidades do GSP.
Ficha de revisão 1: Ângulos
A elaboração desta ficha de trabalho teve por base algumas propostas de De Villiers
(1996a), Geddes et al. (2001) e Serrazina e Matos (1996), cujo objectivo era, a partir de
uma rede triangular, disponível em formato gsp, investigar o maior número possível de
relações geométricas entre os diferentes ângulos representados, recordando, assim, algumas
propriedades como, por exemplo, a relação entre ângulos de lados paralelos.
77
Ficha de revisão 2: Triângulos e outros polígonos
As tarefas propostas nesta ficha de trabalho foram adaptadas de Geddes et al. (2001) e
era sobretudo a noção de semelhança de figuras que estava em jogo. Esta seria necessária
para a justificação de determinados resultados em tarefas seguintes. Com estas tarefas, os
alunos tinham que, numa rede em formato gsp, identificar e desenhar diferentes tipos de
polígonos, incluindo polígonos semelhantes entre si. Nesta ficha os alunos eram iniciados
na observação de padrões e regularidades de modo a formularem conjecturas e
apresentarem pequenas justificações, como, por exemplo, justificarem porque é que o
segmento de recta que une os pontos médios de dois lados de um triângulo é paralelo ao
terceiro lado e tem metade do seu comprimento.
Ficha de revisão 3: Quadriláteros – Propriedades
Nesta proposta de trabalho, adaptada de Geddes et al. (2001) e Serra (1997), pretendia-
se que, através da manipulação de diferentes quadriláteros construídos no GSP e de botões
que mostravam ou escondiam dados referentes às propriedades, os alunos investigassem e
indicassem as que correspondiam a cada um deles. Esta ficha seria importante para “abrir
caminho” para a descoberta das propriedades de um outro quadrilátero, não tão conhecido
dos alunos, o papagaio.
Ficha de revisão 4: Mediatriz
Nesta ficha de trabalho estava em causa o conceito de mediatriz de um segmento de
recta, a sua construção e as suas propriedades. Com esta ficha pretendeu-se também
introduzir os alunos num novo tipo de tarefa, que intuíssem o conceito de mediatriz. Esta
ficha foi adaptada de Junqueira e Valente (1998) e Lima, Ribeiro, Duarte, Felgueiras e
Salvador (2003) e seria bastante importante, pois iríamos recorrer com frequência à noção
de mediatriz de um segmento de recta, nomeadamente nas fichas de trabalho 5, 6, 7 e 8.
Após a introdução ao GSP e da revisão de alguns conceitos, nas aulas seguintes, de 90
minutos, os alunos trabalharam, com base nas fichas de trabalho e no GSP, o tema de
geometria Circunferência e Polígonos. Rotações.
Na elaboração destas fichas, teve-se a preocupação de, além dos objectivos da unidade,
seguir algumas das orientações de Coxford, Burks, Giamati, e Jonik (1993) no que
concerne ao ensino da geometria. Considerando que a geometria é “uma área primordial na
78
qual o raciocínio matemático, a justificação e a demonstração podem ser ensinados,
compreendidos e praticados” (p.70), sugere-se que a dedução em geometria se faça, por
exemplo, dando mais atenção às axiomáticas locais e do seguinte modo:
“começar por definir uma figura, e depois pedir aos alunos, em trabalho de grupo (...), que construam uma lista de conjecturas sobre propriedades da figura, que justifiquem cada conjectura informalmente ou com uma demonstração formal, que listem as proposições que é necessário admitir como pressupostos para justificar cada uma das conjecturas, e que apresentem, como produto final, uma lista organizada de axiomas, novas definições, sequências de teoremas, e justificações” (Coxford et al., 1993, p.72).
No caso particular do estudo da circunferência, das suas cordas e raios, Coxford et al.
(1993) apontam algumas das proposições que devem decorrer de uma investigação: (1) uma
corda e o centro da circunferência definem um triângulo isósceles; (2) uma recta que
contém o centro da circunferência e é perpendicular a uma corda contém o ponto médio
desta; (3) a mediatriz de uma corda contém o centro da circunferência; (4) o segmento
definido pelo centro da circunferência e pelo ponto médio de uma corda (que não seja um
diâmetro) é perpendicular a essa corda; (5) o ponto de intersecção das mediatrizes de duas
cordas de uma circunferência é o centro dessa circunferência e (6) circunferências com o
mesmo raio (diâmetro) são congruentes (Coxford et al., 1993, p.72).
Nas tarefas em que pretendíamos que os alunos apresentassem justificações ou até
mesmo pequenas demonstrações, mesmo que informalmente, tivemos ainda em conta
algumas das diversas funções e papeis que, de acordo com De Villiers (1996a, 1999, 2003),
estas podem assumir. Para este autor, a principal função da demonstração deixou de ser
apenas a verificação para passar a fazer parte de um grupo mais abrangente e mais
importante de funções como a explicação, a sistematização, a descoberta, a comunicação e,
por fim, o desafio intelectual. Esta última não foi trabalhada, bem como a descoberta, mas,
na perspectiva da investigadora, as tarefas, só por si, já implicavam descoberta e, por serem
diferentes das que estavam habituados, podiam ser vistas como um desafio intelectual,
embora não no sentido de De Villiers.
Fichas 1 e 2: Ângulos ao centro numa circunferência e propriedades
Estas fichas de trabalho foram elaboradas tendo em consideração alguns dos objectivos
79
para a unidade em estudo, nomeadamente desenhar ângulos ao centro numa circunferência,
relacionar a sua amplitude com a do arco correspondente e investigar algumas das
propriedades como, por exemplo, a cordas geometricamente iguais correspondem arcos e
ângulos ao centro geometricamente iguais. Na segunda ficha, pretendeu-se também iniciar
os alunos à necessidade de justificarem mais formalmente as suas conjecturas e nesse
sentido foi-lhes apresentado um pequeno esquema de demonstração adaptado de Serra
(1997), onde os alunos justificariam alguns passos.
Fichas 3 e 4: Ângulos inscritos numa circunferência e propriedades
Com estas fichas de trabalho pretendeu-se que os alunos desenhassem ângulos inscritos,
que relacionassem a sua amplitude com a do ângulo ao centro com o mesmo arco e que
descobrissem relações, com base na experimentação e que analisassem se seriam válidas
para todos os casos. Nesta proposta de trabalho aparece com mais nitidez o desejo de
centrar esforços em explicações lógicas que sustentem as suas conjecturas. Uma das tarefas
tinha como finalidade descobrir que qualquer ângulo inscrito numa semicircunferência é
recto e foi adaptada de Junqueira e Valente (1998).
Ficha 5: Cordas – Propriedades
Nesta proposta de trabalho teve-se em conta os objectivos para esta unidade e algumas
das sugestões de Coxford et al. (1993). Era nossa intenção que os alunos investigassem
propriedades das cordas, nomeadamente a relação entre arcos e cordas compreendias entre
cordas paralelas. Não lhes eram dadas indicações acerca das relações pretendidas.
Esperava-se que chegassem, por exemplo, à conclusão que a mediatriz de uma corda
contém o centro da circunferência. Teve-se, como em todas as fichas, a preocupação de
pedir que tentassem explicar porque é que achavam que as suas descobertas eram
verdadeiras.
Fichas 6 e 7: Construção do aeroporto
O intuito das tarefas indicadas nestas fichas de trabalho era, essencialmente, que os
alunos aplicassem as propriedades da mediatriz de um segmento de recta ou as
propriedades descobertas na ficha anterior sobre as propriedades das cordas e recordassem
um conceito já abordado no 8º ano de escolaridade, o circuncentro. A ficha 7 era,
basicamente, um prolongamento da ficha 6 e com estas duas fichas pretendeu-se também
80
“preparar caminho” para a ficha seguinte onde iriam investigar as propriedades de um
quadrilátero inscrito numa circunferência e tentar generalizar a outros polígonos. Estas
fichas foram baseadas em propostas de De Villiers (2003) e Junqueira e Valente (1998).
Ficha 8: Quadrilátero inscrito numa circunferência
O conceito em causa nesta ficha de trabalho é o de ângulo inscrito e a partir daí
descobrir que num quadrilátero inscrito numa circunferência os ângulos opostos são
suplementares e encontrar uma explicação para tal acontecer.
Ficha 9: Recta tangente a uma circunferência
O que estava em jogo nesta ficha não era a habitual descoberta de propriedades, mas
sim a aplicação da propriedade enunciada, ou seja, o facto da recta tangente a uma
circunferência ser perpendicular ao raio no ponto de tangencia. Os alunos tinham de
construir rectas tangentes à circunferência mediante determinadas condições. A segunda
tarefa foi adaptada de Junqueira e Valente (1998) e, para além da propriedade em causa, os
alunos tinham também que recorrer a outra propriedade já estudada, a dos ângulos inscritos
numa semicircunferência.
Fichas 10, 11 e 12: Papagaio – propriedades
Estas fichas de trabalho foram adaptadas de De Villiers (2003) e seguiram as
orientações de Coxford et al. (1993). Propôs-se a investigação de propriedades e relações
num novo quadrilátero, o papagaio. Na primeira ficha ambicionava-se a construção de uma
custom tool que lhes permitiria obter papagaios, definidos, como um quadrilátero com os
lados consecutivos geometricamente iguais dois a dois, e a investigação do maior número
de propriedades. Esta tarefa era de natureza mais aberta, não sendo dadas quaisquer
indicações acerca das propriedades que se esperava descobrir. A terceira tarefa da primeira
ficha é um caso particular do conhecido “Quadrilátero de Varignon”, abordado por diversos
autores, como De Villiers (2003), Geddes et al. (2001), Noss e Hoyles (1996) e Junqueira e
Valente (1998), mas aqui particularizado para o caso do papagaio. O desígnio desta tarefa
era de, através da experimentação, os alunos analisarem e descobrirem relações entre o
papagaio e o quadrilátero formado pela união dos pontos médios deste. Esta tarefa foi
estendida às fichas seguintes onde os alunos teriam de estabelecer, na ficha 11, novas
relações, designadamente a relação entre os seus perímetros e as suas áreas e tentar
81
justificar as suas conclusões. Na última ficha tomou-se a relação entre as áreas dos dois
quadriláteros e tentou-se encaminhar os alunos para uma demonstração mais formal, no
sentido da sistematização, orientando-os nos vários passos a seguir.
Ficha de avaliação
A avaliação dos alunos seria feita em ambiente semelhante ao decorrido ao longo da
experiência, ou seja, com a ajuda do GSP. As tarefas propostas eram também semelhantes
às realizadas ao longo das aulas.
A primeira tarefa foi adaptada de Serra (1997) e os alunos tinham de aplicar as
propriedades estudadas para a circunferência. A segunda tarefa era muito semelhante às
realizadas na aula sobre a construção do aeroporto, onde o contexto do problema foi
retirado de Junqueira e Valente (1998). A ideia das últimas tarefas era muito semelhante à
das tarefas sobre o papagaio. Os alunos tinham de estabelecer relações dentro de um
quadrilátero genérico. A tarefa 3 foi adaptada de King (1997) e a tarefa 4 de De Villiers
(2003) que, no fundo, era a generalização das relações estabelecidas no papagaio.
3.4. Métodos e instrumentos de recolha de dados
A recolha de dados foi efectuada nas aulas de Matemática, da turma de 9º ano, nas quais
os alunos trabalharam temas de geometria com recurso ao GSP.
Atendendo ao carácter qualitativo adoptado nesta investigação, a recolha de dados foi
essencialmente descritiva com vista a caracterizar o melhor possível a situação em estudo.
Neste sentido, com vista a obter um conjunto significativo de dados, válido e bem
fundamentado, optou-se por uma diversificação de métodos de recolha de dados (Bogdan e
Biklen, 1994 e Lessard-Hébert, Boutin e Goyette, 1994), tornando possível a confrontação
dos dados obtidos através das diferentes técnicas, ou seja, fazer aquilo a que os autores
denominam triangulação dos dados.
Nesta perspectiva, adoptou-se os métodos de recolha normalmente utilizados neste tipo
de investigação: observação, questionário e entrevista. A principal fonte de recolha de
dados foi a observação. Segundo Ludke e Andre (1986) e Vieira (1993), a observação tem
82
vindo a ocupar um lugar privilegiado nas novas abordagens da pesquisa educacional, que
usada como principal método de investigação ou associada a outros métodos de recolha
apresenta uma clara vantagem ao possibilitar um contacto pessoal e estreito do investigador
como fenómeno investigado.
A recolha de dados baseada na observação foi também complementada com os
documentos produzidos pelos alunos, com o objectivo de obter dados mais significativos
sobre a construção dos conhecimentos e detectar possíveis dificuldades na realização das
tarefas. Decorreu durante o horário normal da turma, nas aulas da disciplina de Matemática,
e efectuou-se durante a aplicação da unidade didáctica Circunferência e Polígonos.
Rotações, do 9º ano de escolaridade. A intervenção didáctica teve início na primeira
semana de Março, os alunos tiveram duas aulas por semana com a duração de 90 minutos
cada, perfazendo um total de onze aulas.
3.4.1. Observação
Na opinião de Vieira (1993, p.38), “a crescente valorização da sala de aula como foco
de atenção tem vindo a conferir à observação um papel de destaque como estratégia de
recolha de informação”, que pode, segundo Lessard-Hébert et al. (1994), “assumir uma
forma directa sistemática ou uma forma participante” (p.43).
A observação participante procura descrever os comportamentos dos seres vivos no seu
meio natural, sendo um instrumento útil e dos mais utilizados para obter dados sobre
qualquer realidade social de grupos humanos, onde o investigador se ocupa de observar,
acompanhar, compartilhar e participar, ainda que em menor medida, nas rotinas dos
participantes (Guash, 1997).
Nesta investigação, em particular, pretendeu-se acompanhar os alunos na sua actuação
dentro da sala de aula e desde logo, devido ao contacto estreito da investigadora com os
alunos, estes viram-na como mais uma professora dentro da sala de aula. Aliás, mesmo
depois da experiência terminar, os alunos pediram à investigadora para continuar a assistir
as aulas, pois, “dava jeito mais uma professora na sala de aula”! Os alunos foram assim,
desde logo, solicitando a ajuda da investigadora, discutindo com ela as suas dúvidas e
83
resoluções, permitindo observar melhor o seu comportamento perante a experiência, pelo
que foi predominante a observação participante, uma vez que a investigadora se integrou no
grupo e os acompanhou na sua actuação diária (Guash, 1997).
Vários autores, entre os quais Lessard-Hébert et al. (1994), distinguem entre observação
participante passiva e observação participante activa. “A observação passiva significa que o
observador não participa nos acontecimentos”, mas que “ a eles assiste do exterior” e vai
registando os seus dados durante esse período, a passo que, na observação participante
activa, “o observador está envolvido nos acontecimentos e que os regista após eles terem
tido lugar” (Lessard-Hébert et al., 1994, p. 156). Neste contexto, a observação participante
em causa foi a activa, dado o papel da investigadora na execução das tarefas e na sua
discussão com a professora e na relação com os alunos, observando o seu comportamento e
o seu trabalho, dialogando com eles, apoiando-os na resolução das tarefas e na superação
das dificuldades.
As observações eram, na maioria das vezes, efectuadas após alguma interacção com os
alunos, quando nos colocavam questões, quando dávamos alguma orientação ou quando os
apoiávamos nas suas dificuldades. Quanto à sua forma de registo, esta adquiriu,
meramente, uma vertente de registo escrito de notas por parte da investigadora.
Inicialmente estava previsto o registo áudio-vídeo, pois estes permitem a recolha de
informações mais reais e completas da dinâmica da sala de aula. Contudo, por
conhecimento de experiências de outros colegas, a câmara de vídeo foi logo excluída pois a
professora tinha comentado que a turma era bastante irrequieta e barulhenta e, assim, as
conversas entre os alunos e mesmo as próprias conversas com a professora e a
investigadora iriam interferir e limitar a recolha de dados através dos registos de vídeo.
Optamos, pelas gravações áudio de dois ou três grupos, mas tal também se revelou
impossível. As gravações ficaram imperceptíveis devido ao barulho “ensurdecedor” que
por vezes se fazia sentir nas aulas, que mesmo nós só nos apercebíamos dele quando
“parávamos”. Ficamos assim limitados ao registo escrito, tentando obter o máximo de
dados descritivos sobre o que aconteceu dentro da sala de aula que possibilitassem
responder, o melhor possível, às questões em estudo.
O registo de notas obrigou a investigadora a uma reorganização das observações que, de
84
outro modo, ficariam apenas na memória, arriscando-se, com o decorrer do tempo, a
perderem objectividade e até mesmo a serem esquecidas. Tentou-se então registar o que se
ia vendo e ouvindo como, por exemplo, perguntas feitas pelos alunos; processos de
resolução; dúvidas e dificuldades sentidas; esclarecimentos; progressos na resolução das
tarefas e manipulação do GSP; empenho; comportamento geral; dinâmica da aula e atitudes
dos alunos. Estes registos eram complementados com a discussão e reflexão que havia com
a professora antes e após as aulas. Dado que se pretendia que a presença da investigadora
fosse o mais natural possível, de modo a que os alunos procedessem à sua actividade
normal na sala de aula, esta não se fixou em nenhum grupo em especial. Circulou pelos
diferentes grupos sempre que solicitada, ficando, no entanto, combinado com a professora
que daria mais apoio e atenção aos grupos que inicialmente estavam previstos ser áudio-
gravados.
3.4.2. Documentos produzidos pelos alunos
Como já foi referido, os documentos produzidos pelos alunos são um meio para obter
dados mais significativos sobre a construção dos conhecimentos e sobre as suas
dificuldades. Em cada sessão, os alunos trabalharam, em grupo, e foi-lhes pedido para, no
final de cada sessão, um ficar responsável por entregar à investigadora um exemplar de
cada ficha preenchido, o qual era fotocopiado e devolvido na aula seguinte. Alguns alunos
optaram por responder às questões nos próprios sketchs, que eram gravados numa disquete
e, de igual modo, entregue no final de cada sessão. Os trabalhos gravados em disquete,
tinham a vantagem de se poder aceder ao seu historial, através dos scripts, das diversas
construções, pois permitia-nos visualizar os passos seguidos e ficar assim com uma ideia
mais clara dos processos de resolução com vista a dar resposta às questões colocadas no
presente estudo. Na figura 8 apresentamos um exemplo de resolução duma tarefa da ficha
de trabalho 9, com o respectivo script, onde se pretendia que os alunos construíssem as
rectas tangentes à circunferência com a mesma direcção de uma dada recta exterior.
85
Figura 8. Resolução de uma tarefa da ficha 9, Recta tangente à circunferência.
3.4.3. Questionários
Os questionários são instrumentos que nos permitem obter informação sobre aspectos
não observáveis e são indicados quando se pretende obter informação de um conjunto de
pessoas e as condicionantes de tempo inviabilizam o recurso à entrevista.
Com o intuito de ajudar a dar resposta às questões em estudo, foram desenvolvidos, pela
investigadora, dois questionários (anexos V e VI).
Para muitos dos nossos alunos, a matemática é vista como qualquer coisa “sem graça”,
desagradável e sem interesse, apesar de cada vez mais a competência em Matemática ser
necessária para uma grande parte das profissões. Muitos ainda “fogem” desta disciplina que
continua a ser a grande “vencedora” no que diz respeito às taxas de insucesso escolar, o que
está, com certeza, relacionado com a visão que os alunos têm da Matemática e da sua
aprendizagem.
Tendo consciência destes problemas e do facto de, além disso, a geometria ser o parente
“mal amado” da matemática e do seu ensino ser muitas vezes relegado para segundo plano,
que raramente ou mesmo nunca se fala em demonstração matemática e considerando que os
meios informáticos, nomeadamente os AGD, podem ter um papel importante na
86
aprendizagem, a investigadora propôs-se analisar as atitudes e concepções dos alunos face a
esta problemática.
Assim, foi elaborado um primeiro questionário (anexo V) com vista a analisar até que
ponto os alunos, participantes na experiência de ensino/aprendizagem, valorizavam a
geometria e estavam familiarizados com a demonstração e se a utilização dos AGD iriam
contribuir para uma mudança de opinião e em que sentido. Assim, o questionário foi
também passado no final da experiência para detectar possíveis alterações, pois no parecer
de Varandas (2000, p.46) “parece haver uma forte relação entre as experiências de
aprendizagem dos alunos e as suas atitudes e concepções” uma vez que “os alunos
habituados a trabalhar na aula de uma forma “tradicional” tendem a ter uma visão redutora
da Matemática e quando confrontados com outros contextos tendem a alterar positivamente
essa visão” (Spangler, 1992, citado em Varandas, 2000, p. 46).
O primeiro questionário apresentado aos alunos constava de três partes precedidas de
uma pequena introdução. Na sua construção houve a preocupação de incluir itens que
correspondessem a orientações expressas no programa de Matemática, relativamente ao
ensino da geometria, como objectivos e finalidades.
A primeira parte era constituída por 15 questões e com ela pretendeu-se obter
informação pessoal com vista a uma breve caracterização da turma, para ter uma ideia
genérica do tipo de alunos que participaria na experiência e ter conhecimento prévio da
experiência dos alunos com o computador e, eventualmente, com algum programa
informático para o estudo da Matemática.
A segunda parte, constituída por 17 questões, estava focalizada nas atitudes perante a
geometria e o seu ensino. As 13 primeiras questões, de natureza fechada, eram afirmações
acerca da geometria e os alunos tinham de indicar, com um X, o seu posicionamento numa
escala tipo Likert, traduzindo-se numericamente do seguinte modo: 1 – Discordo
totalmente; 2 – Discordo parcialmente; 3 – Não tenho opinião; 4 – Concordo parcialmente
e 5 – Concordo totalmente. Algumas destas questões, nomeadamente as questões 5, 7, 11,
12 e 13, foram adaptadas de um instrumento desenvolvido por Lima e Belchior (1994) que
pretendia analisar os níveis de conhecimento geométrico de futuros professores de
Matemática e identificar e descrever as suas atitudes face à geometria e ao seu ensino. As
87
três questões seguintes eram de natureza aberta, e na última questão, de escolha múltipla,
pretendeu-se que os alunos indicassem a sua preferência relativamente aos métodos mais
usuais para aprender geometria.
Finalmente, a terceira parte, formada por sete questões, centrada na questão da
demonstração teve como intuito verificar se os alunos já tinham tido algum contacto com
esta actividade. A intenção das cinco primeiras questões era conhecer quais as concepções
dos alunos acerca da demonstração. Destas, a quarta questão foi baseada nas diferentes
funções da demonstração referidas por De Villiers (1996b, 1999, 2003). A última centrava-
se numa tentativa de demonstração de uma propriedade, bastante simples, dos polígonos.
Com vista a ter noção do tempo que tomaria da aula, no preenchimento do mesmo e das
dificuldades que poderiam surgir, o questionário foi previamente passado a uma aluna, mas
do 8º ano de escolaridade. Esta, fê-lo calmamente, tendo demorado aproximadamente 30
minutos, o que nos levou a pensar que os alunos da turma seriam um pouco mais rápidos.
Não considerou que o questionário fosse grande nem encontrou dificuldades no seu
preenchimento. As questões que lhe suscitaram mais dúvidas foram no âmbito da
demonstração, mas, mesmo assim, tentou responder a todas as questões, à excepção da
última onde teria de construir uma pequena demonstração. Também não sabia o que era o
tangram e o geoplano, nem o que eram axiomas e teoremas, dúvidas que esperávamos
também encontrar a quando do preenchimento pelos alunos de 9º ano.
O segundo questionário (anexo VI), dividido também em três secções, precedidas de
uma pequena introdução, foi respondido pelos alunos no final da experiência e pretendeu
recolher dados relativos às suas opiniões sobre o trabalho desenvolvido e sobre a
experiência, em si, de modo a poder fazer uma global sobre a mesma. O que diriam acerca
das tarefas desenvolvidas? Da utilização do GSP? Do trabalho de grupo? Das dificuldades
sentidas?
A primeira parte, com cinco questões, destinou-se a pequenos dados pessoais, centrados
no aproveitamento escolar. A segunda parte, constituída por 11 questões abertas, pretendeu
obter informações específicas sobre o decorrer das aulas, particularmente sobre as
metodologias adoptadas, ou seja, centradas no trabalho de grupo, na utilização do
computador e do GSP e nas tarefas de exploração. Algumas destas questões,
88
nomeadamente as questões 2, 4 e 5, foram adaptadas de um questionário desenvolvido por
Afonso (2002), no âmbito de um projecto destinado a caracterizar as fases de aprendizagem
do modelo de van Hiele através da planificação e aplicação de actividades de ensino no
contexto da geometria do plano.
Na terceira parte considerou-se relevante obter informações específicas sobre as tarefas
propostas para a experiência. Esta era constituída por 10 questões, algumas delas com
várias alíneas. Nas primeiras oito questões, de natureza fechada, os alunos tinham de
indicar a sua opinião em relação a determinada afirmação, assinalando com um X o seu
grau de concordância, grau esse definido e traduzido de igual modo que no primeiro
questionário. Algumas destas questões, nomeadamente as questões 4.2, 4.4, 5.5, 5.6 e 5.7,
foram adaptadas de Vieira (1998, 1999).
Ambos os questionários eram anónimos e foram passados aos 27 alunos da turma, em
horário normal da disciplina de Matemática, durante o período de aulas. Infelizmente, os
questionários do final da experiência não foram passados imediatamente a seguir ao seu
término, mas só no último dia de aulas, por indisponibilidade da professora e dos alunos
devido à prova global. Dizemos infelizmente porque passou algum tempo e os alunos, por
ser o último dia de aulas, estavam ainda mais irrequietos que o normal, e ansiosos por sair,
pelo que não utilizaram os 90 minutos, da aula, que tinham disponíveis para o seu
preenchimento, tendo ocupado, aproximadamente, 60 minutos. Receamos, assim, que
alguns dos aspectos da experiência não tivessem tão presentes, que alguns alunos não se
tenham empenhado o suficiente no seu preenchimento e que os dados não sejam 100%
fidedignos. Queremos, contudo, acreditar que a maioria tenha sido, realmente, sincera e que
se tenha empenhado nas suas respostas.
3.4.4. Entrevista
A entrevista, tal como o questionário, é uma fonte rica de informação sobre aspectos
não observáveis, que permite obter conhecimento mais concreto das situações e das
perspectivas dos participantes na experiência.
No final da experiência foi feita, pela investigadora, uma entrevista à professora da
89
turma para clarificar alguns aspectos considerados relevantes acerca da experiência. A
entrevista, como instrumento de recolha de dados, não estava inicialmente prevista e por
essa razão, ao contrário do habitualmente recomendado, só foi realizada uma entrevista
final com vista a complementar a informação já recolhida.
A entrevista utilizada neste estudo foi semi-estruturada, isto é, embora obedecesse a um
guião (anexo VII) previamente preparado, de perguntas abertas, este era flexível,
permitindo assim uma recolha de dados sistemática num ambiente natural de conversa
(Bogdan e Biklen, 1994). A entrevista foi estruturada em quatro partes: A – Percurso
académico e profissional; B – turma e escola; C – ensino da geometria, nomeadamente do
tema Circunferências e Polígonos. Rotações; D – experiência de ensino e aprendizagem.
As três primeiras partes poderiam corresponder como que a uma entrevista inicial, pois
recolheram-se dados acerca da sua formação académica e percurso profissional,
designadamente os projectos em que já esteve inserida e experiências com as novas
tecnologias; pretendeu-se obter uma breve caracterização do ambiente escolar e da turma e,
principalmente, ter a sua visão acerca da problemática da geometria, do seu ensino e
aprendizagem. A última parte desta entrevista teve como finalidade promover uma reflexão
final acerca do contributo deste estudo quer para os alunos quer para a sua formação. Que
balanço faz a professora do trabalho desenvolvido? Houve melhorias? Quais? Na
motivação dos alunos? Na aquisição de alguma autonomia? Na capacidade de comunicar e
raciocinar matematicamente? Foram algumas das questões colocadas.
3.5. Análise de dados
Segundo Ludke e Andre (1986) analisar os dados qualitativos significa trabalhar todo o
material obtido na pesquisa. A análise dos dados centrou-se nos diferentes papéis dos
diferentes intervenientes do estudo, incluindo o GSP, tendo sempre consciência de que se
tratava de um processo complexo e multifacetado, pois envolveu “o trabalho com os dados,
a sua organização, divisão em unidades manipuláveis, síntese, procura de padrões,
descoberta dos aspectos importantes e do que deve aprendido e a decisão sobre o que vai
90
ser transmitido aos outros” (Bogdan e Biklen, 1994, p. 205).
Atendendo ao carácter qualitativo da metodologia adoptada, a análise dos dados foi
essencialmente descritiva e interpretativa com vista a obter uma caracterização o mais
completa possível das situações em estudo e uma melhor compreensão das mesmas, com o
objectivo de responder às questões propostas. Ou seja, caracterizar as atitudes e concepções
dos alunos perante a geometria e a demonstração e o seu desempenho matemático durante a
experiência. Os dados relativos às atitudes e concepções dos alunos foram obtidos através
de dois questionários que foram passado no início e no final da experiência. Para a
caracterização da experiência e do desempenho dos alunos utilizaram-se os registos escritos
de notas, os documentos produzidos pelos alunos, um questionário final sobre a experiência
e uma entrevista realizada à professora para complementar algumas informações.
Os registos escritos incidiram sobre os diálogos alunos/professora e
alunos/investigadora acerca dos processos de resolução e das dificuldades sentidas. Foram
complementados com comentários acerca do ambiente geral vivido na sala de aula, do
desempenho matemático dos alunos e das suas atitudes. Esses registos foram sujeitos a
várias leituras que visaram uma melhor análise e compreensão das situações de modo a
proceder ao registo de possíveis interpretações e destacar os aspectos mais relevantes.
91
C A P Í T U L O I V
IMPLEMENTAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DE ENSINO
Neste capítulo descrevemos a implementação da experiência de ensino com vista a
fornecer uma ideia da dinâmica da sala de aula e de como foi vivida a experiência pelos
seus intervenientes. As duas primeiras sessões tiveram como intuito principal que os alunos
se ambientassem ao programa, ao tipo de tarefas e à presença da investigadora, o que se
verificou logo na primeira sessão de trabalho, pois os alunos começaram logo a
experimentar os menus e a solicitar a sua ajuda na resolução dos pequenos exemplos
trabalhados com o GSP.
As restantes sessões, num total de nove, tiveram o intuito de trabalhar os conceitos
abordados no capítulo Circunferência e Polígonos. Rotações, do 9º ano de escolaridade. As
sessões, com a duração de 90 minutos cada, tiveram lugar, à excepção da última, no horário
normal da disciplina de Matemática e decorreram no período de tempo de 2 de Março a 11
de Maio de 2004, com interrupção das actividades lectivas de 19 de Março a 21 de Abril.
4.1. Primeira sessão
Nesta primeira sessão de trabalho os alunos tiveram o seu primeiro contacto, informal,
com o programa. A entrada na sala de aula foi bastante atribulada, talvez por irem ter aulas
numa sala diferente e por irem trabalhar com os computadores, e, de um momento para o
outro, a sala ficou “cheia” e começamos a pensar “como é que vão todos trabalhar com o
computador? Cabem todos?!...”.
A professora apresentou a investigadora à turma, que aliás já a conhecia das vezes que
tinha estado na escola, e explicou, mais uma vez, qual a razão porque estávamos ali. Os
93
alunos mostraram-se muito entusiasmados com a exploração do programa começando logo
a perguntar como é que se faziam as coisas, impossibilitando-nos de seguir,
ordenadamente, os exemplos que tínhamos preparado para eles, pois a maioria percebeu
logo a lógica de funcionamento do programa e começou logo a avançar muito rapidamente.
Pensamos que isso foi possível devido à forma como o programa foi pensado, na mesma
lógica que todos os programas informáticos. Houve até quem tenha realizado animações
sem sequer termos apresentado algum exemplo para tal.
A versão 4.00 do GSP em termos de menus e ferramentas é basicamente igual à versão
anterior, mas em termos de funcionamento é muito mais simples. Por exemplo, para
seleccionar vários objectos ao mesmo tempo não é necessário recorrer à tecla Shift, para
gravar os documentos o processo é o mesmo que usamos em qualquer programa do Office.
Na resolução dos exemplos surgiram dificuldades no cálculo do perímetro do triângulo.
Os alunos seleccionavam simultaneamente os 3 lados do triângulo, mas a opção para medir
o perímetro não ficava disponível. Facilmente resolveram a situação! Houve vários grupos
que sugeriram somar todos os lados e nem foi preciso explicar como o fazer, pois logo
abriram a calculadora e efectuaram a operação. Aqui, os alunos descobriram que para
calcular o perímetro tinham de primeiro construir o interior do triângulo.
Houve alguns momentos, mais agitados quando os alunos que já tinham acabado os
exemplos dispersavam mais, mas quando se chamavam à atenção para falar de coisas
importantes ficavam atentos. Foi o caso de explicar como esconder objectos, que ainda não
tinham descoberto. Um dos exemplos propostos no manual consistia em construir um
triângulo inscrito numa circunferência. Depois de terem construído esse triângulo, pedimos
aos alunos para deixarem ficar apenas o triângulo. É claro que o primeiro instinto deles foi
apagar a circunferência e ficaram muito admirados quando repararam que o triângulo
também tinha desaparecido. Mas, quando questionados acerca dos vértices do triângulo
logo perceberam a relação entre as duas figuras e que para fazer desaparecer apenas a
circunferência tinham que “escondê-la”. Foi assim introduzida a noção de “objectos pais” e
“objectos filhos”, pois achamos importante os alunos se aperceberem que o GSP não se
tratava de um programa de desenho normal. Ali estabeleciam relações que tinham de ser
mantidas.
94
No final da aula, em conversa com a professora da turma, partilhamos da mesma
opinião de que os alunos se mostraram muito interessados e activos. A turma mostrou-se
simpática e acessível, apesar de barulhenta. O que se tornou problemático foi o facto desta
ser bastante grande e a sala de informática não ser muito praticável, pois alguns dos
computadores não funcionavam e os alunos ficavam muito “uns em cima dos outros”.
Como era a primeira aula, os alunos dispuseram-se à sua vontade, traduzindo-se numa
situação um tanto desequilibrada.
4.2. Segunda sessão
Nesta segunda sessão a professora começou por distribuir mais uniformemente a turma
pelos computadores disponíveis e funcionais. Com esta sessão pretendeu-se apenas rever
alguns conceitos abordados em anos anteriores, que seriam importantes para as futuras
tarefas, e que os alunos se ambientassem ao trabalho com o programa. Foram trabalhadas
apenas as tarefas das fichas de revisão 2 e 4, uma vez que a professora já tinha revisto com
eles os conceitos presentes na ficha 1 e considerou que a ficha 3 não era relevante. Com
estas fichas pretendeu-se, além de rever alguns conceitos considerados importantes para as
tarefas posteriores, que os alunos se familiarizassem com o tipo de tarefas e com o estilo de
trabalho, mais participativo e mais crítico, distinto do que estavam habituados. Os conceitos
que estavam aqui em causa eram o de semelhança de figuras, algumas relações entre
figuras semelhantes e o conceito de mediatriz.
Os alunos gastaram algum tempo com a primeira tarefa, a construir os vários polígonos
com o GSP, a pintá-los e a fazer medições, e tiveram muitas dificuldades em perceber as
restantes questões, pois não se lembravam dos casos de semelhança de triângulos. Poucos
alunos chegaram às conclusões pretendidas e, mesmo assim, foi necessária alguma ajuda
nossa. O maior problema que os alunos revelaram foi a falta de autonomia e a dificuldade
em entender as questões, pois mal entregávamos as fichas já estavam a questionar o que era
para fazer e como, sem sequer se darem ao trabalho de tentar e, até mesmo, de ler as
tarefas. Poucos grupos começaram a ficha 4 e só o grupo GSP5 é que avançou mais e tirou
95
algumas conclusões.
O tempo passou a correr e não conseguimos fazer tudo o que estava previsto, pois eles
perderam-se um bocado nas construções e nas medições, não sendo muito sintéticos,
havendo daí a necessidade de, nas próximas aulas, impor limite de tempo e gerir melhor a
correcção das fichas. A professora concordou, o que foi óptimo, que quando tivéssemos
mais matéria dada, suficiente para resolver exercícios, separar a turma. Enquanto uns
ficavam na sala de aula com a professora a resolver exercícios os restantes ficavam a
avançar com a investigadora no computador, o que seria mais rentável tanto para uns como
para outros, mas principalmente para os do computador porque assim a sala não ficava tão
“lotada” e seria mais fácil gerir e apercebermo-nos das discussões acerca das tarefas.
4.3. Terceira sessão
Antes de iniciarmos esta sessão decidimos que, para promover nos alunos a autonomia,
não os ajudaríamos tanto e, portanto, foram avisados que sozinhos tinham de tentar resolver
as tarefas e só deveriam pedir a nossa ajuda quando tivessem esgotado, com os colegas,
todas as hipóteses possíveis de resolução.
A professora começou por corrigir as fichas 2 e 4, da aula anterior, e teve de chamar
várias vezes à atenção de alguns alunos para estarem atentos. Eles já numa sala de aula
normal eram muito barulhentos, então ali, todos “ao monte” e “de costas”, tornava-se ainda
mais difícil. Assim, a correcção demorou um pouco mais que o previsto. Depois de
corrigidas as fichas da aula anterior, entregamos a primeira ficha sobre o estudo da
circunferência, Ângulos ao centro numa circunferência.
Com esta ficha pretendeu-se que os alunos definissem e desenhassem ângulos ao centro
numa circunferência e relacionassem a sua amplitude com a do arco correspondente.
Escusado será dizer que começaram logo a chamar por nós, ou porque o computador não
estava a funcionar ou porque não conseguiam gravar ou porque a barra de ferramentas tinha
desaparecido ou porque a pasta de trabalho tinha desaparecido ou porque não conseguiam
construir o arco AB. Esta última dificuldade foi geral e, embora tenhamos dito para
96
consultarem o manual do GSP, acabámos por explicar, no quadro, os passos a seguir na sua
construção pois, apesar de existir uma opção que permite a construção de um arco sobre a
circunferência, não é intuitivo quais os objectos que devem ser seleccionados, tendo havido
tendência para inicialmente medirem o comprimento do segmento de recta [AB] ou o
comprimento do arco AB, confundindo, por vezes, comprimento do arco com amplitude do
arco.
Assim, apesar da função facilitadora do GSP, este também pode ser limitador na
procura de soluções se os alunos não dominarem a ferramenta GSP, destacando-se a
necessidade da construção de um manual de apoio e de alguma preparação prévia. Os
alunos devem conhecer minimamente as funções dos menus para “não perderem tempo”
com pormenores técnicos, que apesar de importantes, não devem deixar para segundo plano
a exploração, a análise e a discussão das relações geométricas.
Na construção do ângulo AOB e nas medições do mesmo e do arco correspondente não
houve dificuldades. Tiveram, sim, algumas dificuldades em observar invariâncias e em
exprimir as suas conclusões, referindo-se apenas ao que viam variar, aos ângulos ou aos
segmentos de recta que viam aumentar ou diminuir – “aumentando a sua amplitude, a
amplitude do arco aumenta proporcionalmente”.
Nesta primeira ficha, houve também alguma confusão nas conclusões porque, ao
arrastarem os pontos A ou B do ângulo, quando este passava dos 180º, o arco construído
passava a ser o arco correspondente ao ângulo côncavo e o GSP continuava a medir apenas
a amplitude do ângulo convexo, e portanto as amplitudes deixavam de ser as mesmas.
Nesta altura, a investigadora chamou a atenção para os ângulos que eles estavam a querer
medir e os ângulos que realmente o GSP media, tendo um dos grupos, o GSP4, justificado
esta situação da forma que se pode ver na figura 9.
97
B
m∠BCA = 171°
m BA = 88°
m BA = 189°
m∠AoB = 88°
3.
4.Aumentando a sua amplitude a amplitude do arco aumentaproporcionalmente.
5. Quando deixa de ser um ângulo agudoa amplitude do ângulo ao centroe a amplitude do arco correspondentedeixa de ser igual.Enquanto ângulo agudoas amplitudes são iguais.
o
C
A
B
A
Figura 9. Resolução da ficha de trabalho 1, pelo grupo GSP4.
Os alunos referiam-se ao ângulo agudo como sendo o ângulo convexo e ao ângulo não
agudo como sendo o ângulo côncavo.
Quando demos por ela a aula já tinha terminado e “ficamos em pânico”! O tempo
passou a correr e não fizemos metade do que estava previsto. Nesta sessão foi feita a
primeira tentativa para gravar as conversas dos grupos. O grupo não ficou nada inibido
como temíamos, pelo contrário, ficaram entusiasmadíssimos. Infelizmente não se
conseguiu perceber grande coisa devido ao barulho de fundo, que se fez sentir. Tendo
ficado, assim, impossibilitada a hipótese de gravar as interacções entre os grupos, as quais
se restringiram ao registo de notas.
O barulho que se fazia sentir não era de desinteresse ou falta de empenho, mas
resultante dos próprios alunos, mesmo de grupos diferentes, a discutir entre si, a comparar
as figuras e as suas resoluções.
Os alunos tiveram imensas dificuldades em descrever o que observavam. Ninguém
conseguiu definir ângulo ao centro. Embora alguns tenham conseguido ver que o centro da
circunferência era comum a todos, não o souberam identificar como vértice. Na figura 10,
temos algumas das respostas dadas pelos grupos.
98
É um ângulo comum a todos os s egmentos de recta que se encontram dentro da circunferência
São todos os ângulos ligados ao mesmo centro da circunferência.
É um ponto que divide a circunferência
É um ângulo que por mais pontos que haja fazem sempre ângulo no centro da circunferência.
É um ângulo comum a todos os ângulos que s e encontram na circunferência.
Figura 10. Definição de ângulo ao centro dada por alguns grupos.
Pelas respostas dadas pelos alunos podemos observar que os alunos não conseguem
definir ângulo ao centro porque não conseguem, em primeiro lugar, definir ângulo,
dificuldade destacada por Serrazina e Matos (1996). Apesar dessa dificuldade, construíram
correctamente o ângulo ao centro AOB e o arco correspondente.
Este tipo de actividade tem um papel muito importante na aprendizagem, pois os alunos
constroem o conhecimento através da análise de situações, da comparação, do
reconhecimento das propriedades comuns e de contra-exemplos.
No que diz respeito à conjectura acerca da relação entre a amplitude de um ângulo ao
centro da circunferência e a amplitude do arco correspondente, depois de verificarem
experimentalmente com o GSP, facilmente observaram e concluíram que a medida da
amplitude do ângulo ao centro e do arco correspondente era igual e passaram a discutir o
que iam escrever na conclusão. Mas, mais uma vez, tiveram dificuldade, em se exprimir,
confundindo, por exemplo, amplitude com ângulo ou com arco.
Na figura 11 podemos observar a resolução do grupo GSP5, onde são visíveis algumas
incoerências na linguagem: “o arco da circunferência é o ângulo ao centro da
circunferência”.
99
4: Tanto o ângulo como o arco da circunferência vão ter sempre valores iguais.
5: São geometricamente iguais, pois o arco da ci rcunferência é o ângulo do centro da circunferência.
m AB on OD = 51,52°3: m∠AOB = 51,52°
1:e 2:
Um ângulo ao centro é um ângulo comum a todos os segmentos que se encontram dentro da circunferência.
O
DA
B
Figura 11. Resolução da ficha de trabalho 1, pelo grupo GSP5.
Alguns grupos chegaram à conclusão que quando a medida da amplitude era superior a
180º as medidas do ângulo e do arco eram diferentes (ver figura 12). Isto advém do facto de
o arco AB da circunferência, que estava a ser construído, corresponder a um ângulo
côncavo e o GSP só medir ângulos convexos, que são aqueles que geralmente se estudam
no ensino básico.
m BA = 98,45°m BA = 214,63°
m∠AOB' = 145,28°m∠AOB = 98,45°
O O
A
B
B'
A
BB'
Figura 12. Para ângulos côncavos, o GSP continua a medir a amplitude do arco correspondente ao ângulo convexo.
Depois de arrastar o ponto B para a posição de B’, o GSP mede o ângulo convexo
AOB’ e continua a medir o arco anteriormente construído, ou seja, mede o arco maior
ABB’ e, portanto, as medidas das amplitudes são diferentes.
Em geral, o GSP facilitou a resolução das tarefas propostas pois, através da
possibilidade de arrastamento e do feedback devolvido pelo computador, os alunos
100
definiram, activa e rapidamente (Laborde, 1993), novos ângulos ao centro,
consecutivamente novos arcos correspondentes e novas medidas, levando-os, mais
facilmente, a observar invariâncias e a tirar conclusões. Apesar do seu papel facilitador, por
tudo o que já foi dito, o GSP podia ter tido aqui um papel limitador na procura de relações,
uma vez que quando passaram a ter ângulos côncavos o GSP não mantinha a relação de
igualdade. Mas, por outro lado, permitiu, mesmo que superficialmente, abordar um novo
conceito do qual os alunos não tinham conhecimento.
4.4. Quarta Sessão
No início desta sessão a professora pediu aos alunos para não ligarem os computadores,
pois iriam primeiro corrigir a ficha da aula anterior e fazer alguns exercícios de
consolidação.
Na correcção da ficha, a professora da turma, uma vez que tinha visto com a
investigadora as respostas dos alunos às questões, chamou à atenção para os erros
cometidos e para o facto de haver muitas respostas iguais de grupo para grupo. A
professora foi perguntando aos alunos e corrigindo as suas respostas e estes registaram, no
caderno, os resultados corrigidos.
A professora teve de chamar à atenção de alguns alunos que não paravam de conversar,
principalmente de alguns que não tinham levado o caderno nem a ficha para a aula.
Enquanto a professora ia corrigindo oralmente a ficha, a investigadora ia escrevendo no
quadro o exercício (ver figura 13), que iriam resolver a seguir para poderem aplicar as
conclusões a que tinham chegado na aula anterior. O exercício foi retirado do livro de
exercícios dos alunos (Neves e Faria, 2000).
101
As circunferências I e II são concêntricas de centro em A e a circunferência III tem
centro em B e é geometricamente igual à circunferência I.
IIIII
I
60º
60º
QP
A
B
S
R
MN
1. Indique três ângulos ao centro representados na figura e a amplitude de cada um.
2. Traduza em linguagem corrente a expressão 60ºMN = .
3. Qual a amplitude dos arcos PQ e RS?
4. O arco RS é geometricamente igual ao arco PQ? E os arcos PQ e MN? Justifique
a sua resposta.
5. Qual é a amplitude do arco maior PQ? Figura 13. Exercício de aplicação, resolvido pelos alunos com recurso às ferramentas tradicionais, papel e lápis.
Os alunos não manifestaram dificuldades na resolução do exercício e até o resolveram
com alguma rapidez. Apenas alguns alunos tiveram dúvidas na terceira questão, no
significado de “traduzir para linguagem corrente” e o Marco, inclusivamente, não sabia o
que queria dizer MN , pois referia-se ao arco e não à sua amplitude. Este aluno era bastante
interessado, apesar das suas dificuldades, muito tímido e inseguro, e chamava sempre para
confirmar o que era para fazer e as suas resoluções, ao contrário do seu colega de grupo que
não participava nada na resolução das tarefas. Outros alunos tiveram dificuldades na
questão 4. Esta questão foi importante porque conduziu a discussões sobre o que se entende
por arcos de igual amplitude, se podemos, ou não, falar em arcos geometricamente iguais.
Os alunos percebiam que os arcos RS e PQ não eram geometricamente iguais, mas
confundia-os o facto de terem a mesma amplitude. Aliás, quando a professora começou a
correcção do exercício, um dos alunos estava ansioso por chegar a esta questão pois não
percebia como é que tal era possível. Houve também algumas dificuldades na última
questão. Apesar da professora ter antes explicado o que era um arco maior, os alunos
102
tinham opiniões diferentes acerca da medida da amplitude do arco maior PQ, uns diziam
60º, outros 120º, outros 30º. Um dos alunos, o Daniel, concluiu e explicou para toda a
turma por que é que a medida da sua amplitude era 300º.
Notando que, ao longo da correcção da ficha 1 e do exercício, eram sempre os mesmos
alunos a querer responder, a professora chamou a atenção para esse facto e passou a
solicitar outros alunos para responder às questões.
Depois da correcção, foi entregue a segunda ficha, Ângulos ao centro – Propriedades,
onde se pretendeu que os alunos investigassem algumas das propriedades dos ângulos ao
centro como, por exemplo, que a cordas geometricamente iguais correspondem arcos e
ângulos ao centro geometricamente iguais. Como a construção, neste caso, já estava feita,
os alunos não demoraram muito a fazer as medições necessárias e a chegar às conclusões.
O que falhou mais uma vez foi a tentativa de escrita dessas mesmas conclusões.
Observaram que os ângulos eram geometricamente iguais, que as cordas eram
geometricamente iguais, mas não conseguiram escrever tudo isto na conclusão sem a nossa
ajuda. O mesmo aconteceu no esquema de demonstração, onde os alunos tinham de
justificar os vários passos na demonstração de que, numa circunferência, a cordas
geometricamente iguais correspondem ângulos ao centro geometricamente iguais. Só
alguns alunos conseguiram encontrar justificações adequadas.
Podemos observar na resolução do grupo GSP7 (Figura 14) que os alunos, apesar de
nos passos 3.2 e 3.5 se terem limitado a traduzir por palavras o que estava escrito em
linguagem matemática, conseguiram nos passos 3.3 e 3.4 apresentar justificações válidas.
2. Os ângulos <BOA e<DOC são geométricamente iguais Os arcos BA e DC sâo geométricamente iguais .Sâo verdadeiras porque o ângulo <BOA e <DOC têm a mesma amplitudee os arcos correspondentes têm a mesma distância.3.1. São geometricamente iguais3.3. São raios da circunferência3.4. Os lados do triângulos [AOB] e [COD] são geometricamente iguiais3.5. Os ângulos são geometricamente iguais.
DC = 2,73 cm
BA = 2,73 cm
m∠DOC = 57°
m∠BOA = 57°A
B
O
D
C Figura 14. Resolução da ficha 2, apresentada pelo grupo GSP7.
103
Com esta ficha foi introduzida, assim, a necessidade de os alunos justificarem as suas
conclusões, nomeadamente, porque é que numa circunferência, a cordas geometricamente
iguais correspondem ângulos ao centro geometricamente iguais. Muitos deles disseram que
“era assim”, porque tinham feito as medições e, portanto, segundo eles, não havia muito
mais a dizer, situação para a qual alertou Loureiro e Bastos (2002). Foram, então, alertados
para o facto de não se poderem basear apenas nas medições, porque isso, obviamente, já se
sabia. Queríamos era saber porquê, uma justificação para o facto de ser verdade e, portanto,
não bastava fazer as medições, tinham de procurar outras justificações, lembrando-se de
propriedades previamente estudadas.
4.5. Quinta Sessão
Nesta sessão de trabalho a professora da turma começou por marcar com os alunos a
nova data para o teste de avaliação, que ficou para o dia 26 de Março. Em virtude do teste,
na semana seguinte não haveria aulas no computador, mas sim exercícios de aplicação na
sala de aula habitual.
A professora da turma comentou, no início desta sessão, que, na aula de Estudo
Acompanhado, tinha aproveitado para perguntar aos alunos o que é que estavam a achar
das aulas, ao que responderam que estavam a gostar, mas que tinham receio do teste pois
não sabiam que tipo de perguntas podiam sair e como aplicar aquilo que estavam a
aprender, pelo que, a professora aproveitou essa aula para resolver alguns exercícios de
aplicação sobre a matéria abordada. Relativamente ao teste de avaliação, a investigadora
tinha proposto um modelo de avaliação diferente, também com recurso ao GSP, ao qual,
inicialmente, a professora se mostrou receptiva, mas face aos sucessivos atrasos na
resolução das tarefas, achou, por bem, não o fazer e optou pelo tradicional teste escrito.
Com a terceira ficha pretendeu-se que os alunos desenhassem ângulos inscritos, que
relacionassem a sua amplitude com a do ângulo ao centro com o mesmo arco, que
descobrissem relações e, com base na experimentação, analisassem se seriam válidas para
todos os casos possíveis.
104
Optámos por discutir, em conjunto, a primeira tarefa, uma vez que a experiência com a
primeira ficha nos revelou as grandes dificuldades dos alunos em tentarem encontrar uma
definição para ângulo ao centro. Para tal, a professora pediu que analisassem as figuras em
causa e que tentassem definir o que era um ângulo inscrito numa circunferência. Houve,
então, uma aluna, a Inês, que respondeu que um ângulo inscrito era um ângulo que “estava
dentro da circunferência”, opinião partilhada por vários alunos. Quando a professora pediu
para que a Inês fosse ao quadro desenhar um ângulo inscrito, a aluna desenhou um ângulo
com o vértice no “interior” da circunferência. De seguida, a professora voltou a confrontá-
la com os exemplos e os contra-exemplos apresentados na ficha e questionou se o ângulo
que tinha desenhado era, realmente, um ângulo inscrito. Alguns alunos corrigiram logo e
disseram que não porque “tinha de estar sobre a circunferência para ser inscrito”, talvez por
se lembrarem do exemplo do triângulo inscrito na circunferência, onde todos os vértices
estavam sobre a circunferência.
Outros alunos disseram que o vértice estava sobre a linha da circunferência, achando
que circunferência era tudo o que estava dentro. Pondo em confronto as várias tentativas, a
professora concluiu com eles que o vértice tinha de estar sobre a circunferência e
questionou-os, de seguida, quanto aos seus lados. A mesma aluna que tinha ido ao quadro
respondeu, de imediato, que se tratavam de cordas. A professora ditou para a turma a
definição final para registarem na ficha e pediu que continuassem a sua resolução no
computador.
Os alunos já não tiveram dificuldades em construir o ângulo inscrito AVB e em fazer as
medições necessárias para preencher a tabela. Apenas alguns grupos tiveram dificuldade
em encontrar o ficheiro a utilizar, que tinha sido construído por eles na primeira ficha. Não
tiveram dificuldade em, ao olhar para a tabela, afirmar que a amplitude do ângulo ao centro
era igual à amplitude do arco correspondente, tornando-se claro que era uma propriedade
que eles já tinham estudado. Quando pedimos para compararem as amplitudes do ângulo
inscrito e as do arco correspondente, prontamente conseguiram ver que eram, obviamente,
diferentes e alguns alunos chegaram mesmo a concluir que “era metade”. Depois pedimos
para compararem o ângulo inscrito com o ângulo ao centro e, facilmente, chegaram, à
mesma conclusão.
105
Em alguns grupos foi sugerido, para confirmarem o seu palpite, o cálculo da razão entre
as amplitudes e o arrastamento dos vértices do ângulo para poderem observar que,
realmente, a razão entre as medidas das amplitudes se mantinha. Na figura 15 podemos
observar a resolução do grupo GSP8.
c1
m∠AVB
m AB on c1
= 0,50
3-. As cunjunturas que t iramos foi que a amplitude do ânguloincrito AVB é igual a metande da amplitude do ângulo aocentro AOB com o mesmo arco AB.. A amplitude do ângulo incrito AVB é igual a metade daamplitude do arco AB correspondente.
AVB=AÔV:2 AVB=AB:2
m AB on c1 = 137,26°
m∠AOB = 137,26°m∠AVB = 68,63°
O
B
VA
Figura 15. Resolução da tarefa 3, da ficha 3, apresentada pelo grupo GSP8.
Surgiram muitas dificuldades na compreensão da quarta e quinta questão, onde os
alunos tinham de encontrar uma explicação lógica para as suas conjecturas. Como havia
sido combinado entre a professora da turma e a investigadora, explicamos o primeiro caso
no quadro e o segundo e o terceiro ficaram para trabalho de casa.
A investigadora desenhou a figura no quadro e, conjuntamente com os alunos, começou
a demonstração do primeiro caso, ou seja, explicar porque é que quando um dos lados do
ângulo inscrito contém o centro da circunferência a medida da amplitude do ângulo inscrito
é igual a metade da medida da amplitude do arco correspondente.
A investigadora questionou os alunos sobre o que eles podiam dizer acerca do ângulo
AOB. Não tiveram dificuldade em dizer que se tratava de um ângulo ao centro e que a
medida da sua amplitude era igual à do arco correspondente.
A investigadora perguntou ainda o que é que podiam dizer acerca dos segmentos de
recta [OV] e [OB]. Sem hesitar, disseram que eram geometricamente iguais, mas poucos
souberam justificar. Começaram por dizer que pelo desenho pareciam. A investigadora
voltou a enfatizar que não se podiam basear apenas na aparência e nas medições, tinham
que tentar encontrar outras justificações baseadas nas propriedades das figuras. Foi a Inês
que concluiu que eram raios da circunferência e, portanto, geometricamente iguais, talvez
lembrando-se da actividade anterior.
106
De seguida, a investigadora questionou-os acerca do triângulo [VBO] e dos ângulos
com vértices em V e em B. Não tiveram dificuldade em dizer que eram geometricamente
iguais, mas, mais uma vez, não souberam justificar.
A investigadora relembrou a propriedade: num triângulo, a lados geometricamente
iguais opõem-se ângulos geometricamente iguais e voltou a recorrer ao ângulo AOB para
iniciar a demonstração. Facilmente os alunos observaram que se tratava de um ângulo
externo do triângulo [OBV], mas não souberam dizer muito mais, à excepção de uma aluna
que se lembrou de dizer que esse ângulo e o VOB formavam um ângulo raso. A
investigadora concordou, perguntando o que mais se podia dizer acerca desse ângulo.
A investigadora relembrou aos alunos que a medida da amplitude de um ângulo externo
de um triângulo é igual à soma das medidas das amplitudes dos ângulos internos não
adjacentes desse triângulo e, portanto, podíamos escrever: AOB OVB OBV= + . A partir
daqui os passos seguintes decorreram facilmente, pois já tinham sido discutidos com os
alunos.
Nesta proposta de trabalho apareceu com mais nitidez o desejo de centrar esforços em
explicações lógicas para as suas conjecturas. Com esta pequena demonstração os alunos
tomaram contacto com a necessidade de justificar as coisas não só com base nas medições,
mas recorrendo a resultados já estudados, levando-os, raciocinando em conjunto, a recordar
e a comunicar matemática (Schoenfeld, 1994,citado em Knuth, 2002a), pois ao discutir
com os alunos este caso, levamo-los a rever alguns conceitos, a falarem sobre eles, a aplicá-
los e a seguir um encadeamento lógico, ou seja, tentamos ir ao encontro das funções da
demonstração apontadas por De Villiers (1996b, 1999, 2002, 2003).
O grupo GSP11 respondeu às questões 4 e 5, onde tinham de fazer o mesmo para os
outros os casos em que o ângulo inscrito continha, ou não, o centro da circunferência,
baseados apenas no arrastamento e nas medições, sem tentar encontrar uma justificação
lógica, como se pode ver pela figura 16.
107
4. Sim. Sim, pois quando arrastamos os pontos continuam com a mesma amplitude
5. A nossa conjectura é verdadeira porque sempre que arrastamos o ponto A ou B a amplitude do ângulo AOB e a amplitude do arco AB é sempre igual
Figura 16. Justificações apresentadas pelo grupo GSP11 para a conjectura estabelecida para os ângulos inscritos.
Podemos também observar alguns erros de linguagem, como na questão 4, quando os
alunos dizem que “os pontos continuam com a mesma amplitude”. No entanto, na questão
5 já formularam melhor a sua justificação, ainda que baseada apenas na verificação a partir
do arrastamento.
Alguns alunos, mais empenhados, que não terminaram as tarefas na aula tentaram
demonstrar os outros dois casos, com base no que tinha sido feito na aula. Nas figuras 17 e
18, podemos observar as resoluções da Flávia e da Joana.
Figura 17. Resolução da tarefa 5, da ficha 3, pela Flávia.
108
Figura 18. Resolução da tarefa 5, da ficha 3, pela Joana.
Comparando as duas resoluções podemos observar que a Flávia (figura 17) conseguiu
estabelecer um encadeamento lógico entre as diferentes asserções. Já a Joana (figura 18)
limitou-se a escrever a conclusão, com alguns erros de linguagem. E, embora, a ideia
subjacente no início esteja correcta, não conseguiu escrevê-la correctamente nem
desenvolvê-la.
Na ficha 4, Ângulos inscritos – Propriedades, pretendeu-se que os alunos verificassem
que ângulos inscritos que contenham o mesmo arco são geometricamente iguais e que
conjecturassem que qualquer ângulo inscrito numa semicircunferência é recto. Nesta última
tarefa voltámos a reforçar a necessidade de explicações lógicas. Os alunos não tiveram
dificuldade alguma em tirar as conclusões pretendidas, questionando apenas se tinham de
construir mais ângulos. A este propósito, foi-lhes recordado que podiam sempre arrastar os
vértices e, assim, obter muitos outros ângulos possíveis, uma das grandes vantagens destes
ambientes.
Nestas primeiras sessões houve, por vezes, a necessidade de alertar os alunos para
manipularem mais as suas construções, quer na procura de soluções, quer na validação das
109
suas conclusões, pois não se preocupavam em verificar mais casos para confirmar se as
relações se mantinham depois de manipular a figura. Tínhamos de os questionar: “Mas
verifica-se sempre?”, “Já experimentaram outros casos?”, “Então experimentem arrastar os
vértices! O que observam? A relação mantém-se?”. Com o decorrer da experiência já
recorriam espontaneamente ao arrastamento, inclusive para justificar as suas conclusões.
Na primeira tarefa, naturalmente concluíram que a amplitude dos ângulos inscritos era
sempre a mesma enquanto não variasse o arco e o Bruno adiantou logo que só variava a
amplitude se arrastasse o vértice A ou o B, porque o arco mudava.
Quanto à segunda tarefa, o grupo GSP5 facilmente chegou às conclusões e até
conseguiram explicá-las muito bem, com base em raciocínios lógicos. Mas, a construção
não estava bem, isto porque se arrastássemos o ponto A ou o ponto B, o segmento de recta
[AB] deixava de ser um diâmetro da circunferência, como se pode constatar pela figura 19.
c1
m∠BXA = 90°
B
A
X
c1
m∠BXA = 68°
B
A
X
Figura 19. Construção de um ângulo inscrito numa semi-circunferência, pelo grupo GSP5.
A investigadora pediu, então, que pensassem numa maneira de construir a
circunferência com diâmetro [AB] de modo que, se arrastássemos os pontos do diâmetro, A
ou B, continuasse a ser um seu diâmetro, ou seja, de modo que a figura não se
desmanchasse. A Inês percebeu logo o que era para fazer e começaram a construção.
Aproveitamos esta oportunidade para alertar os restantes grupos para que lessem com
atenção as instruções da ficha e que não começassem logo a fazer as coisas sem pensar. É
110
claro que a maioria não o fez!
Os alunos limitaram-se a usar as ferramentas mais básicas do GSP para aparentemente
recriar a figura pretendida, sem recorrer aos conhecimentos geométricos necessários. Foram
pelo caminho mais fácil e, influenciados pela percepção visual, construíram a
circunferência com recurso ao compasso da barra de ferramentas e os pontos na
circunferência sem obedecerem a nenhuma condição ou critério. Logo, se arrastássemos o
segmento de recta [AB] este deixava de ser um diâmetro da circunferência. Tivemos, então,
de explicar que tal não podia acontecer, que lessem com atenção as indicações da ficha e
que pensassem numa solução para a construção de modo a que esta não desmanchasse. Os
grupos começaram, então, a construir o segmento de recta [AB] e até chegaram, facilmente,
sem ajuda, à conclusão de que precisavam do ponto médio e construíram-no. Mas, depois,
para construir a circunferência, alguns grupos voltaram a usar o compasso e é claro que se
arrastássemos a circunferência o diâmetro ou ficava dentro ou fora desta, conforme
aumentava ou diminuía. O que fazer então?
A investigadora pediu aos alunos para olharem com atenção para as opções do menu
Construct, onde uma das opções possíveis para construir uma circunferência é circle by
center + point, e perguntou o que é que eles precisavam, então, de seleccionar, alertando-os
para a necessidade de pensar, perceber os menus e discutirem as opções antes de começar
logo a “fazer as coisas à toa”! Com esta orientação facilmente observaram que precisavam
de seleccionar o centro e um ponto para construir a circunferência. O próprio menu do GSP
levou a que os alunos pensassem como construir a figura, avaliando o que tinham
construído e como teriam de reformular a sua acção. Depois, por arrastamento, pensaram
sobre as conclusões a tirar. Foi a primeira tarefa em que surgiu a necessidade de que a
construção realizada pelos alunos não se desmanchasse, tendo, para isso, de pensar sobre os
objectos geométricos e sobre as suas propriedades.
Ficaram muito admirados por o ângulo ser sempre um ângulo recto, embora até
percebessem o porquê e o conseguissem explicar. Até o Ricardo, que era um dos alunos
com mais dificuldades, depois de alguma orientação por parte da investigadora, no sentido
de lhe mostrar que era um ângulo inscrito e fazê-lo recordar como se calculava a sua
amplitude, concluiu que tinha de ser metade de 180º, mesmo quando arrastávamos o vértice
111
X porque o arco era sempre o mesmo. O Marco é que ficou muito surpreendido e reticente
com o caso em que o vértice X coincidia com um dos vértices do diâmetro. Como era
possível aquele ângulo ser um ângulo recto? Trata-se do ângulo de um segmento como caso
limite do ângulo inscrito, e, portanto, a propriedade continua a ser válida, por mais estranho
que possa parecer aos alunos. Foi o único aluno que fez referência a esta situação.
Apesar das dificuldades sentidas em justificar as conjecturas, uma vez que não estavam
habituados a fazê-lo, neste momento estavam a conseguir chegar mais facilmente às
conclusões. Já estavam habituados ao estilo das tarefas e, sozinhos, já faziam medições,
comparavam e tentavam escrever as conclusões. Alguns grupos conseguiram mesmo
desenvolver raciocínios lógicos e chegar, sem a nossa ajuda, a pequenas justificações, ainda
que com algumas dificuldades no registo escrito.
Podemos observar na resolução apresentada pelo grupo GSP5 (figura 20) que as alunas
recorreram às propriedades já estudadas, quer na resolução da tarefa 6, quer na resolução da
tarefa 7.
c1
7. A amplitude é sempre 90º. É um ângulo recto porque um dos lados do triãngulo é o diâmetro da circunferência. A amplitude do arco é 180º. Seguindo o primeiro caso, metade de 180º é 90º, isto é a amplitude do ângulo AVB.
6. Não conseguimos encontrar porque todos os ângulos com o mesmo arco AB correspondente vão medir sempre o mesmo. Logo todos os ângulos vão medir metade do arco - Propriedade II.
m∠BXA = 90°
m∠ARB = 57°
a2 = 115°
m∠AQB = 57°
m∠APB = 57°
P
B
Q
A
R
B
A
X
Figura 20. Resolução da ficha 4, pelo grupo GSP5.
112
4.6. Sexta Sessão
Nesta sessão, houve uma troca de planos relativamente à ordem das fichas. Estava,
inicialmente, previsto dar a propriedade dos quadriláteros inscritos numa circunferência,
mas como eram fichas muito extensas cujo grau de dificuldade começava a aumentar, e o
teste era na semana seguinte, a professora sugeriu resolver primeiro a ficha 9, Recta
tangente à circunferência. Como a propriedade já era dada e eles só tinham de aplicá-la, era
de resolução mais rápida, e ficavam, assim, com mais uma propriedade importante para a
ficha de avaliação. Esta ficha consistiu na construção de rectas tangentes a uma
circunferência mediante determinadas condições, aplicando a propriedade em que qualquer
recta tangente a uma circunferência é perpendicular ao raio no ponto de tangencia.
A professora começou a aula corrigindo a ficha 4, da sessão anterior, onde não houve
dúvidas, e entregámos a ficha de trabalho 5, Cordas – Propriedades. Com esta ficha
pretendeu-se que os alunos investigassem propriedades das cordas, nomeadamente a
relação entre arcos e cordas compreendias entre cordas paralelas.
A investigadora ficou muito admirada quando foi tirar uma dúvida ao grupo GSP5 e
verificou que já tinham tudo feito. Foram extremamente rápidos e, o que é mais importante,
demonstraram autonomia na resolução das tarefas. Faltava-lhes apenas a conclusão para a
primeira questão. Já tinham construído as perpendiculares e estavam a tirar conclusões
acerca dos ângulos ao centro, que “eram ângulos verticalmente opostos dois a dois e
portanto geometricamente iguais”. Embora sendo verdade, pretendíamos que os alunos
tirassem mais conclusões, como, por exemplo, que a mediatriz de uma corda divide-a ao
meio ou que a mediatriz de uma corda contém o centro da circunferência. A investigadora
questionou então o grupo acerca do que podiam observar quando traçavam a perpendicular
relativamente à corda. Que relação existia, por exemplo, entre a recta perpendicular à corda
[AC] e a corda [AC]? A Inês disse logo que era a mediatriz.
(I) − Porque é que dizes que é a mediatriz? (A) − Porque é perpendicular à corda. (I) − E isso basta? (A) − Porque passa no ponto médio.
113
(I) − E como é que sabes que passa no ponto médio? (A) − Porque a perpendicular divide a meio a corda. (I) − Como é que sabes? Mediste? (A) − Não, mas parece! (I) − Mas não nos podemos basear no que parece!
A Flávia preparava-se já para medir, quando a investigadora lhes pediu para tentarem
encontrar uma explicação sem fazerem medições. Perguntou o que é que sabiam acerca da
mediatriz e rapidamente responderam que era a recta perpendicular que passava pelo ponto
médio.
(I) − Mas ainda não sabem se aquele é o ponto médio! O que é que sabem mais acerca da mediatriz? (A) − Todos os pontos estão à mesma distância dos extremos, respondeu a Flávia que estava sempre com o caderno pronto a consultar! (I) − E então? Isso verifica-se aí? Há algum ponto que esteja à mesma distância de A e de B? (A) − O centro, respondeu prontamente a Inês. (I) − Porquê? Porque é que a distância de O a A é igual à distância de O a B? (A) − Porque são raios da circunferência, respondeu mais uma vez a Inês. Observação que ela própria já tinha usado e concluído em situações anteriores. (I) − Então já sabem que os pontos que estão sobre a recta perpendicular estão à mesma distância de A e de C, logo o que é que podem concluir? (A) − Que é a mediatriz que divide a corda ao meio.
As alunas apresentaram, nas suas justificações, argumentos baseados na aparência da
construção, na observação de características que achavam importantes e em partes de
propriedades que tinham fixado: “Não, mas parece!”, “porque a perpendicular divide a
meio a corda”, “todos os pontos estão à mesma distância dos extremos”.
Todos os grupos concluíram rapidamente que a recta perpendicular bissectava a corda,
mas não sabiam explicar porquê. De um modo geral, os alunos usaram a potencialidade do
arrastamento e procederam à manipulação da figura, não só para verificar as suas
conjecturas, mas também para justificarem o facto das suas conjecturas serem verdadeiras.
Os grupos GSP7 e GSP8 concluíram que realmente se tratava da mediatriz, mas
também não souberam explicar porquê. O grupo GSP7 achou que as suas conjecturas eram
verdadeiras porque: “têm rectas paralelas que tornam a circunferência diferente das outras”!
114
Por esta afirmação, podemos observar que os alunos têm noção que o facto das rectas serem
paralelas tem um papel diferente e faz com que as relações se mantenham, mas não o
souberam expor e não têm consciência dos objectos geométricos, pois para os alunos a
circunferência passou a ser diferente!
Os diálogos estabelecidos foram muito importantes, pois permitiram esclarecer algumas
dúvidas, fomentar a reflexão nos grupos sobre as relações geométricas e favorecer uma
aprendizagem mais activa e mais efectiva. Todavia, pudemos constatar que, apesar de
discutirem connosco as justificações, não conseguiram transpô-las para os registos, tendo
muitas dificuldades em exprimir-se, como aconteceu, por exemplo, no grupo GSP5 (figura
21).
s
r
j
j'x
y
w
2. As perpendiculares são a mediatriz das cordas porque sabemos que O está à mesma distância de A e C ou de A e B. Podemos ainda dizer que x, y e w são raios da circunferência.
3. Que ambos têm a mesma amplitude.
4. Os extrmos das cordas pertencem as rectas r e s e têm as duas as mesmas medidas, sendo assim geometricamente iguais.
5. A arcos com a mesma amplitude correspondem cordas com o mesmo comprimento, pois se alterarmos um dos extremos de uma das cordas, os valores irão ser sempre iguais.
C
Do
B
A
Figura 21. Resolução da ficha 5, pelo grupo GSP5.
No início desta tarefa alguns grupos, como o GSP1 e o GSP2, tiveram dificuldades em
construir as rectas perpendiculares, o que não aconteceu, por exemplo, com o grupo GSP5,
porque já o tinham feito sozinhos na tarefa de revisões. A Flávia, elemento deste grupo que
115
comandava as operações no computador, explicou imediatamente para a turma como o
fazer. Assim, tentámos ajudar esses grupos com as construções, enquanto o grupo GSP5 já
trabalhava na ficha 9, onde o caminho a seguir era contrário ao normalmente utilizado até
aqui, o que dificultou a sua resolução.
Para apoiar os alunos na construção da perpendicular, da ficha 5, a investigadora
começou por pedir que lessem com atenção a pergunta e colocou a seguinte questão:
(I) − Se se pede para construir a perpendicular ao segmento de recta [AC] a passar pelo centro da circunferência, o que é que têm de seleccionar?
Em resposta, o Marco começou por seleccionar os três pontos A, C e O, só que
verificou que a opção para a construção da perpendicular não ficava disponível. Assim,
voltou a seleccionar os três pontos A, C e O e o segmento de recta [AC], só que ao
seleccionar a opção Perpendicular line, ficaram construídas três rectas perpendiculares a
[AC] e a investigadora perguntou-lhe se pretendia as três rectas. Apercebeu-se, então, que
devia seleccionar apenas a corda e centro da circunferência. Também o Diogo usou o
mesmo tipo de raciocínio do Marco, mas o Daniel ao ter ouvido a explicação inicial da
investigadora, que, no fundo, não era uma explicação, pois esta limitou-se a ler novamente
a questão e a enfatizar os elementos corda e o centro, corrigiu de imediato o Diogo.
Entretanto o grupo GSP5 já se encontrava a resolver a ficha 9 com as explicações da
professora acerca do que era pretendido. Passado pouco tempo, a Inês foi dizer que já
tinham feito, mas que não sabiam se estava bem. A investigadora dirigiu-se ao grupo e
questionou as alunas acerca do que acontecia se arrastassem as rectas.
(I) − As rectas continuam com a mesma direcção da recta exterior e tangente à circunferência?
A investigadora arrastou as rectas tangentes construídas e verificou que tal não
acontecia e, pediu-lhes, então, para pensar numa construção que não desmanchasse, ou seja,
em que o arrastamento das rectas conservasse as propriedades invariantes. Disseram logo
que não sabiam como se fazia, mas a investigadora pediu para não desistirem e sugeriu que
tentassem aplicar a propriedade que estavam a estudar, levando os alunos a repensar o seu
116
processo de construção.
A procura de soluções resistentes é uma actividade muito importante que, segundo
Junqueira (1995), desempenha dois papéis essenciais: o de controlador no sentido em que
permite aos alunos perceber a incorrecção das construções que não conservam as
características pretendidas e o de explorador ao permitir-lhes experimentar ideias para
descobrir processos de obter construções que não se desmanchem.
Passado pouco tempo voltaram a chamar a investigadora, e destes vez todas
entusiasmadas porque tinham conseguido! Quando a investigadora pegou no rato, para
verificar, a Flávia comentou, pessimista:
(A) − Vais ver que a professora vai descobrir alguma coisa que não funciona.
Pouco crentes, portanto, pois, a construção estava bem feita e a Inês explicou logo como
tinham feito:
(A) − Traçamos o diâmetro perpendicular à recta exterior e depois como qualquer recta tangente a uma circunferência é perpendicular ao raio no ponto de tangencia. traçamos a recta tangente.
Acontece que as alunas só tinham uma recta tangente construída e a investigadora
questionou-as se só existia aquela recta tangente à circunferência, ao que de imediato
concluíram que existia outra do outro lado e apressadamente a construíram (ver figura 22).
m
l
k
Fizemos a circunferência, traçamos uma recta exterior e fizemos o diâmetro perpendicular a essa recta.Traçamos outra perpendicular ao diâmetro, mas esta é tangente.
C
D
A
B
Figura 22. Resolução da tarefa 2, da ficha 9, pelo grupo GSP5.
117
Podemos observar que as alunas tiveram a preocupação de nomear os objectos, dando à
sua construção um aspecto mais rigoroso. Contudo, na explicação do processo de
construção, acabaram por não usar formalmente a linguagem matemática, fazendo uma
descrição muito breve e um pouco confusa, sem recorrer à notação usada.
Na segunda construção pretendeu-se que os alunos, a partir de um ponto exterior a uma
circunferência traçassem duas rectas tangentes à circunferência e explicassem o processo de
resolução. A investigadora explicou que também tinham de fazer uma construção que não
se desmanchasse, que novamente tinham de utilizar a propriedade anterior e, como iam
mais avançadas que os outros grupos, tinham tempo para pensar.
No que diz respeito aos outros grupos, a primeira tendência foi construírem “a olho” a
recta tangente. Para tal, traçavam a recta exterior à circunferência e depois tentavam com a
respectiva ferramenta construir uma recta paralela à anterior e que fosse tangente à
circunferência. Não antecipavam o que acontecia se arrastassem a recta dada, que, nesse
caso, fazia com que as rectas construídas deixassem de ser tangentes à circunferência.
Apenas os grupos GSP3, GSP5, GSP6, GSP8 e GSP7 conseguiram fazer correctamente a
construção. Apesar disso, a propriedade foi entendida pela maioria dos alunos.
O grupo GSP5, que já ia na segunda construção, estava a “desesperar” porque não
conseguiam e pediram mais uma pista. Realmente esta construção exigia algo mais do que
simplesmente aplicar a propriedade, exigia que os alunos aplicassem também a propriedade
da tarefa 1 da ficha 4, o que não era visível e imediato. As alunas já tinham feito um esboço
e a investigadora alertou-as para o facto de não se esquecerem que o ângulo CQP tinha de
ser sempre recto. Finalmente, apresentaram a resolução, que se pode ver na figura 23.
A construção não se desmancha e poder-se-ia pensar que a construção foi feita
correctamente. No entanto, as alunas não conseguiram chegar ao pretendido e apresentaram
uma “falsa construção”. Talvez influenciadas pela figura da ficha de trabalho, as alunas
tentaram reproduzi-la, dando-lhe a mesma aparência e mantendo algumas relações.
Contudo, podemos observar pelo Script que o ponto exterior foi a última coisa que
construíram.
118
Figura 23. Resolução da tarefa 3, da ficha 9, pelo grupo GSP5.
Outros grupos tentaram chegar esta construção, mas não o conseguiram, como foi o
caso do grupo GSP7, que, aliás, é um grupo muito empenhado e trabalhador, apesar das
dificuldades à disciplina de Matemática. Estas aulas, segundo a professora da turma foram
uma motivação para eles, pois nas aulas normais costumavam ser uns “terroristas” e “não
queriam saber de nada!”. De um modo geral, conseguiram chegar às conclusões e quando a
investigadora se dirigia ao grupo explicavam as conclusões e como lá tinham chegado.
Durante as correcções das fichas estavam sempre prontos, com o dedo no ar, para
responder. O Daniel era um aluno que podia ir longe mas que não queria continuar a
estudar.
4.7. Sétima Sessão
Esta sessão não foi efectuada no computador, mas sim na sala normal de aula, onde
foram feitas revisões para a ficha de avaliação, e os alunos resolveram exercícios de
aplicação sobre as propriedades dadas e sobre a matéria de unidades anteriores.
Relativamente aos medos e dúvidas dos alunos face ao como aplicar o que aprenderam no
teste de avaliação, o ideal teria sido intercalar as aulas no computador com as aulas na sala
de aula normal.
119
4.8. Oitava Sessão
Esta sessão foi realizada no início do terceiro período, após as férias da Páscoa. Como a
professora pediu à investigadora para terminar o mais depressa possível, devido à
necessidade de preparar os alunos para a prova global que se aproximava, nem todas as
fichas foram resolvidas e, das que foram, não se fez a correcção para toda a turma. Apesar
de não terem sido trabalhadas as três fichas previstas e de, no início, os alunos precisarem
de um pequeno “empurrãozinho”, a sessão correu bastante bem e os alunos estavam muito
interessados e empenhados nas tarefas.
Nesta sessão foram resolvidas as fichas 6 e 7, cujo intuito das tarefas era,
essencialmente, aplicar as propriedades da mediatriz de um segmento de recta ou as
propriedades descobertas numa das fichas anteriores sobre as propriedades das cordas e
recordassem um conceito já abordado no 8º ano de escolaridade, o circuncentro.
Quando os alunos começaram a resolução da tarefa a Flávia começou logo por dizer que
tinham de “desenhar uns traços a partir dos vértices”, mas que não se lembrava o que era. A
aluna estava, provavelmente, a referir-se às bissectrizes dos ângulos. A investigadora
insistiu para que lessem com atenção o que era para fazer e perguntou aos alunos se o facto
de quererem 3 pontos à mesma distância de outro não lhes fazia lembrar nada.
Não tiveram dificuldades em concluir que precisavam de construir uma circunferência.
Inicialmente os grupos GSP5 e GSP7 falaram em construir um triângulo. A investigadora
respondeu que se unissem a localização das 3 cidades por segmentos de recta, realmente
obtinham um triângulo, mas depois queríamos descobrir um outro ponto que ficassem à
mesma distância desses 3 e que seria a localização do Aeroporto. “Isso não vos faz lembrar
outra figura geométrica?”, perguntou a investigadora, voltando a enfatizar o facto de
quererem os três pontos à mesma distância de outro, donde os alunos concluíram que esses
pontos estariam sobre uma circunferência e que o centro dessa circunferência seria a
localização do aeroporto. Os restantes grupos também começaram por traçar o triângulo a
passar pelas três cidades, mas não conseguiram, sozinhos, avançar mais. Assim, a
investigadora resolveu pegar nas conclusões já tiradas pelos outros grupos e expô-las para
toda a turma, recorrendo à ajuda dos grupos que já tinham concluído a tarefa para
120
explicarem aos restantes o que se pretendia que fizessem.
A investigadora explicou que, no fundo, se conseguissem desenhar uma circunferência
que passasse pelas três cidades conseguiam encontrar a localização do aeroporto que seria o
centro da circunferência. E aqui novas dificuldades surgiram. Como construir a
circunferência?
Os alunos começaram por tentativas, utilizando a ferramenta compasso do GSP, mas
não estavam a conseguir “acertar” e foi, então, que pedimos para pensarem noutro processo
que funcionasse para qualquer situação, mesmo que arrastássemos as cidades, de modo a
que o aeroporto ficasse sempre à mesma distância das três.
Demos algum tempo para os alunos tentarem resolver a situação, mas como estavam a
ter algumas dificuldades, acabamos por sugerir aos alunos que consultassem a ficha 5, onde
tinham estudado as propriedades das cordas e recordámos com eles essas propriedades.
Quando questionados sobre o que acontecia se traçassem uma perpendicular a passar pelo
meio da corda e se se lembravam de que recta era essa, prontamente responderam que se
tratava da mediatriz. Mas, não chegava dizer que era a mediatriz, pelo que, de seguida,
perguntámos se não se lembravam das propriedades e que mais é que podiam observar.
A Inês respondeu que a mediatriz passava pelo centro da circunferência e, face a isto,
pedimos aos alunos que experimentassem construir a mediatriz da corda que unia os
segmentos de recta representados pelas cidades Braga e Bragança. Demos tempo para os
alunos construírem a mediatriz dessa corda e para se aperceberem que não bastava para
encontrar o centro da circunferência, que teriam de traçar as restantes mediatrizes e que o
aeroporto iria estar na intersecção.
Pedimos ainda que fizessem as respectivas medições para verificarem que, mesmo
arrastando as cidades, o aeroporto se encontrava sempre à mesma distância destas. Todos
os grupos, uns mais organizados que outros, conseguiram realizar a tarefa. A resolução
apresentada pelo grupo GSP5 encontra-se na figura 24.
121
aeroportoBragança = 6,31 cm
aeroportoBraga = 6,31 cm
aeroportoVila Real = 6,31 cm
Tinhamos o esboço das cidades, começamos por medir a distânicia entreelas e tentar encontar um local queficasse à mesma distância de todas. Deseguida traça-mos um segmento derecta para unir cada cidade eobtivemos um triângulo, logo depoisencontrmos o ponto medio de cada umdesse segmentos e com eles traçamosmediatrizes e obtivemos na intersecçãoo centro da circunferência (localização do aeroporto) porque já tinhamos vistoque as mediatrizes passavam pelocentro da circunferência e por fimdesenhamos a circunferência para confirmar.
BragançaBraga = 12,56 cmBragaVila Real = 7,07 cm
BragançaVila Real = 9,76 cm
aeroportoBragança
Braga
Vila Real Figura 24. “Construção do aeroporto” pelo grupo GSP5.
Podemos observar que as alunas para explicar o procedimento referiram-se
correctamente aos objectos geométricos e recorreram à propriedade estudada para
fundamentar a sua justificação. Mas nem todos os alunos tiveram esse cuidado. Podemos
observar, por exemplo, na figura 25, que a descrição do procedimento pelo grupo GSP7 não
foi completa e foi pouco clara, sem justificações e com algumas incoerências de linguagem.
Figura 25. “Construção do aeroporto” pelo grupo GSP7.
Os alunos levaram algum tempo a escrever o procedimento para esta tarefa e a resolver
a tarefa 6, onde tinham de descobrir em que situações o circuncentro se encontrava dentro,
122
fora ou sobre os lados do triângulo. Perderam-se um pouco nas construções e portanto a
professora explicou oralmente as conclusões e resumiu os resultados no quadro. Apenas os
grupos GSP4, GSP5 e GSP6 chegaram sem dificuldade aos resultados, inclusive para o
triângulo rectângulo, apesar de não se lembrarem que a esse ponto dávamos o nome de
circuncentro. Quando a investigadora se dirigiu ao grupo GSP5, as alunas estavam a
analisar o caso do triângulo rectângulo e questionou-as acerca do que podiam concluir. As
alunas responderam que o ponto de intersecção das mediatrizes estava sempre sobre o lado
do triângulo.
(I) – E que nome se dá a esse lado do triângulo? (A) – Hipotenusa, respondeu a Flávia. (I) – Então a conclusão que podemos tirar é que, num triângulo rectângulo, o circuncentro está... (A) – ...sobre a hipotenusa. (I) – E os outros casos já analisaram? Expliquem-me lá a que conclusões chegaram!
Facilmente explicaram as conclusões, mas tiveram dificuldades em exprimi-las
correctamente pois, tal como os outros grupos, não se lembravam da classificação dos
triângulos. Os grupos GSP4 e GSP6, construíram um só triângulo e, por arrastamento dos
vértices, tentaram obter as três situações e formular as conjecturas, o que se tornou
complicado para o terceiro caso, uma vez que, por arrastamento dos vértices, tiveram
dificuldades em obter um ângulo de 90º, por não terem pensado numa construção que não
desmanchasse, ao contrário do grupo GSP5, que recorreu à recta perpendicular para o fazer.
A ficha 7 não era mais do que um prolongamento da ficha 6, donde os alunos não
tiveram dificuldades algumas em responder às questões pois começaram logo por seguir o
procedimento das tarefas anteriores, e, embora pensassem inicialmente que tal como no
exemplo anterior para as três cidades que era sempre possível encontrar um ponto
equidistante, com os exemplos, facilmente observaram que tal nem sempre era possível.
Tentamos generalizar esta propriedade para um qualquer número de cidades, questionando
os alunos sobre o que aconteceria se tivéssemos 5 cidades, 6 cidades ou mais cidades e, no
fundo, fazê-los ver que para podermos inscrever um polígono de n lados numa
123
circunferência, n-1 das mediatrizes têm de se intersectar num só ponto obrigatoriamente,
abrindo caminho para a ficha da próxima sessão, onde o conceito em causa era o de ângulo
inscrito e a partir daí descobrir e encontrar uma explicação para o facto de num quadrilátero
inscrito numa circunferência os ângulos opostos serem suplementares.
4.9. Nona Sessão
Nesta sessão os alunos estavam muito irrequietos, inclusive a Inês, e tiveram de ser
chamados várias vezes à atenção.
Estava previsto para esta sessão o desenvolvimento da ficha 8 e da ficha 10, mas, em
vez da ficha 10 ficou decidido fazermos primeiro alguns exercícios de consolidação o que
ocupou a maior parte do tempo da aula, por terem surgido, em alguns grupos, dificuldades
na sua resolução. Mas, esta não foi a única razão do atraso. Pensávamos que a ficha 8 seria
de resolução rápida, uma vez que os alunos já dispunham da construção e das medições das
amplitudes dos ângulos, pelo que só tinham de fazer os cálculos necessários, arrastar os
vértices e verificar que a soma das amplitudes dos ângulos opostos num quadrilátero
inscrito numa circunferência era sempre 180º e escrever correctamente a conclusão. A
maioria dos grupos começou por somar todos os ângulos e observar que dava 360º. No
grupo GSP5, a investigadora questionou os alunos se sabiam explicar porquê. Foi a Flávia
que justificou.
(A) − Porque temos dois triângulos. (I) − E porque é que isso justifica? (A) − Porque a soma dos ângulos é 180º. (I) − Sim, é isso! Podemos sempre dividir um quadrilátero em dois triângulos e como em cada um, a soma das amplitudes dos ângulos internos é 180º, no quadrilátero a soma das amplitudes dos ângulos internos vai ser 360º. Mas, não é isso que a tarefa pede! Ora leiam de novo!
Pelos vistos, ninguém sabia o que eram ângulos opostos, adjacentes e suplementares e a
professora teve de explicar no quadro para toda a turma. Não tiveram dificuldades em
verificar que a soma das amplitudes dos ângulos opostos de um quadrilátero inscrito numa
124
circunferência era sempre 180º, mas, estranhamente, tiveram dificuldades em escrever a
propriedade. O grupo GSP7 só com alguma ajuda é que conseguiu escrever a conclusão.
(I) − Então o que é que estiveram a calcular? (A) − A soma dos ângulos opostos. (I) − Mas, de quê? (A) − Do quadrilátero. (I) − Qual quadrilátero, de um qualquer? (A) − Não, do quadrilátero inscrito na circunferência. (I) − Então, qual é a conclusão? (A) − Não percebo! (I) − Então, não estiveram a calcular a soma das amplitudes dos ângulos opostos de um quadrilátero inscrito numa circunferência? O que obtiveram? (A) − 180º. (I) − Em qualquer quadrilátero? E se arrastarem os vértices? (A) − É sempre 180º! (I) − Então?! O que concluem?...
O grupo GSP5 observou ainda que quando os lados do quadrilátero se cruzavam a soma
dos ângulos opostos alterava-se e já não era 180º. Não foi dada grande importância a este
facto, no sentido de o expor aos restantes grupos, pois, provavelmente, só os iria confundir
mais e porque, nestes níveis, geralmente, não se trabalha com polígonos cruzados.
Novamente o GSP, além do papel facilitador, permitiu, devido à potencialidade do
arrastamento, abordar um novo conceito que as alunas passaram a conhecer, mas, também,
poderia ter sido limitador na procura de relações. Também o facto de os alunos não
conhecerem ou não se lembrarem de determinados conceitos foi limitador, no sentido de
progredirem e resolverem mais autonomamente e positivamente as tarefas.
Quando se tratou de encontrar uma explicação, o Diogo e o Daniel, como em tantas
justificações que já tinham dado, disseram que “era sempre verdade porque tinham medido
e dava sempre 180º”, mesmo que arrastassem os vértices. Embora não tentassem encontrar
uma justificação lógica, deixaram o “parece” ou o “vê-se logo” e já se preocupavam em
verificar para mais casos, que para os alunos parecia significar “todos” os possíveis ao
afirmarem que “era sempre verdade”.
(I) − Mas isso não explica porque é que realmente acontece e porque é que
125
mudando o quadrilátero a soma dos ângulos opostos continua a ser 180º. Tentem demonstrar porque é que isso acontece.
Para ajudar os alunos, a investigadora perguntou que tipo de ângulos eram os que
estavam a medir ao que responderam, sem dificuldade, que se tratavam de ângulos
inscritos.
(I) − Então, usem esse facto para tentar encontrar uma explicação. Lembrem-se das propriedades dos ângulos inscritos.
Demos algum tempo para eles tentarem, sozinhos, fazer alguma coisa, mas surgiram
dificuldades. Os alunos referiam-se a propriedades e relações geométricas que já tinham
estudado, mas sozinhos não conseguiram estabelecer um encadeamento lógico entre elas,
pelo que a professora fez um esboço no quadro para, conjuntamente com os alunos,
encontrar uma explicação. Perguntou quais os pares de ângulos opostos que tinham no
quadrilátero e o que se podia observar quanto à sua soma, mas alguns grupos ainda tiveram
dificuldade em identificar os pares de ângulos opostos e concluiu com os alunos que
e 180ºECG EBG+ = 180ºCEB CGB+ = .
A professora viu com eles o primeiro caso e sozinhos conseguiram demonstrar o
segundo.
(P) − De que ângulos se trata? (A) − Ângulos inscritos. (P) − E como se mede a amplitude de um ângulo inscrito? (A) − É metade do arco correspondente. (P) − Qual é o arco correspondente ao ângulo ECG? (A) − GBE (P) − E o arco correspondente ao ângulo EBG? (A) − ECG
(P) − Então podemos escrever 180º2 2
GBE ECG+ = . E agora?
Sem dificuldade, os grupos concluíram que aquela soma dava 2
360 , ou seja 180º,
porque, como afirmou o Daniel: “se somarmos esses dois arcos temos toda a circunferência
126
e como os ângulos são inscritos dividimos por dois”.
Estiveram novamente presentes as funções de verificação, comunicação, explicação e
sistematização da demonstração, pois os alunos, por arrastamento, verificaram as suas
conjecturas, depois, na tentativa de encontrar explicações, foram discutidas propriedades e
relações e, finalmente, sistematizadas num encadeamento lógico.
Para justificar o segundo caso, os alunos basearam-se neste e não tiveram dificuldade
alguma. Foram cuidadosos na apresentação da demonstração e rigorosos na linguagem
matemática utilizada.
4.10. Décima Sessão
Uma vez que a sala dos computadores estava requisitada por outro professor, os alunos
resolveram, na sala normal de aula, exercícios de aplicação, do manual adoptado, com
muita pena por parte de alguns grupos, principalmente do Daniel e do Diogo que queriam a
toda a força ir para a outra sala dos computadores, mas, essa sala, era pequena e já estava
ocupada por alguns alunos. Além do mais, a maioria dos computadores não tinha leitor de
CD e, portanto, não podíamos instalar o GSP.
4.11. Décima Primeira Sessão
Esta foi a última sessão e estava prevista para o dia 27 de Abril de 2004. Contudo, tal
não foi possível por a sala não estar disponível. Para não prejudicar mais as aulas da
professora e para que os alunos trabalhassem, pelo menos, mais uma ficha de trabalho, esta
sessão decorreu fora da aula de Matemática. O facto de bastantes grupos terem aceite este
desafio, num total de 10 grupos, aparecerem 6, foi bastante positivo, demonstrando que a
maioria dos alunos estava interessada e estava a gostar da experiência.
Para esta sessão estavam previstas as fichas 10 e 11 ficando a ficha 12 para trabalho de
casa, uma vez que não era necessária a utilização do GSP, relacionadas com algumas das
propriedades e relações que se podiam estabelecer para o papagaio. Nesta ficha os alunos
127
só tinham de encontrar uma demonstração a partir das conclusões tiradas nas fichas
anteriores.
A sessão começou por não correr muito bem! Quando chegamos à sala deparamo-nos
com um “cenário terrível”! Os computadores haviam sido formatados e o GSP estava por
instalar e perdeu-se, portanto, muito tempo a instalar de novo o programa. Se não fosse o
imprevisto inicial, tínhamos conseguido realizar também a ficha 11. Ainda assim, podemos
dizer que esta aula foi bastante produtiva e correu bastante bem, também pelo facto de
estarem menos alunos. Conseguimos acompanhá-los melhor e estes empenharam-se
bastante nas tarefas.
Com a primeira tarefa da ficha 10 pretendeu-se que os alunos criassem uma custom tool
que lhes permitisse obter papagaios. Mas, como já tínhamos perdido muito tempo e como
já prevíamos que os alunos manifestassem dificuldades com uma construção, que não
desmanchasse, a investigadora optou por dar a construção e se, no final, houvesse tempo,
então, pedia aos alunos para o tentarem fazer. Pretendeu-se, então, com esta ficha que os
alunos investigassem o maior número de propriedades, não sendo dadas quaisquer
indicações acerca das propriedades que se esperava descobrir. As dúvidas começaram logo
a surgir: “O que é para fazer na segunda pergunta?”, “Não percebo o que é para fazer!”, “O
que é que são propriedades?”. Como surgiram dúvidas em todos os grupos optamos por
explicar para todos os alunos o que se pretendia. Tomando, como exemplo, o caso do
quadrado, questionamos os alunos acerca do que eles poderiam dizer acerca deste.
Começaram logo por responder:
(A) − Tem 4 lados iguais. (I) − Sim, é verdade, mas só se verifica isso? (Ninguém respondeu mais nada) (I) − O que é que podem dizer acerca dos ângulos do quadrado (A) − São iguais, respondeu o Daniel. (I) − Mais especificamente? (A) − São todos rectos. (I) − Então podemos dizer que um quadrado tem os lados geometricamente iguais e os ângulos também geometricamente iguais. E mais? O que podem dizer, por exemplo, acerca das diagonais de um quadrado? (ninguém respondeu)
Como ninguém respondia, resolvemos perguntar o que eram diagonais ao que também
128
ninguém soube responder. Depois de explicar o que eram diagonais voltamos a perguntar,
então, o que é que podiam dizer acerca das diagonais de um quadrado. Como não
conseguiram responder explicamos que as diagonais eram perpendiculares e que se
bissectavam, explicando o que queria dizer bissectar. Perguntamos se o quadrado tinha
eixos de simetria e se alguém sabia o que eram eixos de simetria. A Flávia explicou que era
um eixo de modo a ter “a mesma figura de um lado e de outro” e “ se dobrássemos a figura
as duas partes eram iguais”.
(I) − Então quantos eixos de simetria tem o quadrado, de modo que isso aconteça?
A maioria dos alunos respondeu apenas 2, esquecendo-se dos eixos de simetria que
continham as diagonais.
(I) − Então, o que estivemos a fazer foi analisar o quadrado e estabelecer algumas das suas propriedades. Agora vão fazer o mesmo para o papagaio. Vão ver se tem eixos de simetria, se existe alguma relação entre os ângulos, entre as diagonais...
Muitos grupos começaram por dizer “tem quatro lados”.
(I) − Sim, é verdade, mas isso é óbvio, não é? Trata-se de um quadrilátero, mas, existe
alguma relação entre eles?
Essa relação era referida logo no início da ficha, numa das definições possíveis de
papagaio, mas como era habitual, poucos alunos a leram. Aliás, manifestaram,
continuamente, uma resistência em ler, com atenção, todos os dados das tarefas, começando
logo a resolver as coisas sem pensar muito, preocupados em responder o mais rápido
possível às questões, quando podiam investir mais na investigação e na procura de
justificações.
(I) − E não há mais nada de relevante a dizer acerca do papagaio? Os ângulos? Existe alguma relação entre eles?
Ficamos surpreendidos quando nos dirigimos ao grupo GSP5 e a Inês, que geralmente
era a aluna mais perspicaz, nos disse que as propriedades eram “4 pontos”, “4 lados” e “4
ângulos”, mesmo depois da explicação dada anteriormente.
Depois de explicarmos novamente o que se pretendia, o grupo conseguiu chegar a
129
alguns resultados. Foi-lhes explicado que o que estavam a dizer se via de imediato,
interessava descobrir e justificar a existência de relações entre os seus lados e os seus
ângulos.
Assim, todos os grupos começaram por medir os ângulos, sem pensar muito bem no que
pretendia e sem alguma conjectura prévia, porque mediam, por exemplo, aleatoriamente, os
ângulos formados pelas diagonais e esqueciam-se dos ângulos internos do papagaio, um
deles importante para as conclusões, outros também adicionaram os ângulos opostos, talvez
por se lembrarem da ficha do quadrilátero inscrito na circunferência, mas não tiraram
conclusão alguma. Depois pedimos para traçarem as diagonais e investigarem se existia
alguma relação entre elas. O Daniel e o Diogo começaram por dizer que eram sempre
diferentes que havia uma sempre maior que a outra. Pedimos, então, no sentido de
aumentarem a sua convicção, para medirem as diagonais e para arrastarem os vértices, já a
pensar na última questão. Quanto aos eixos de simetria, facilmente viram que a diagonal
[BD] não era eixo de simetria, pois as figuras de um lado e de outro eram diferentes.
Quanto à diagonal [AC] facilmente viram que se tratava de um eixo de simetria, mas
quando questionados se tinham a certeza, disseram apenas que “parecia”, resposta habitual
do Diogo. Estes alunos baseavam muito as suas justificações na aparência visual. Tínhamos
de encorajá-los a ir mais longe, pondo em causa as suas afirmações, questionando-os,
desafiando-os.
(I) − Sim, realmente parece! Se eu pudesse dobrar a figura segundo essa diagonal dá a ideia que as duas partes coincidem, mas como é que sei? Porque é que isso acontece?
A Inês foi um pouco mais longe e disse que era porque AC era a mediatriz de [BD].
(I) − E como sabes que é a mediatriz? (A) − Porque passa no ponto médio (intersecção das diagonais). (I) − Tens a certeza que é o ponto médio? (A) − Sim, porque a distância daqui aqui é igual à distância daqui a aqui, apontando para a distância dos vértices B e D ao ponto de intersecção das duas diagonais. (I) − E sabes isso olhando só para lá? Não podemos tirar assim conclusões, só porque parece. Temos que verificar e tentar encontrar uma explicação.
130
Na sequência, mediu as distâncias e verificou que estas eram realmente iguais, mesmo
arrastando os vértices da figura, mas a investigadora insistiu,
(I) − Mas, só porque passa no ponto médio é que é a mediatriz? (A) − É também perpendicular...
Esta tarefa, de natureza mais aberta, suscitou-lhes alguma insegurança. Não estavam
habituados a este tipo de tarefas e só depois do diálogo estabelecido e de tomaram
consciência do tipo de conclusões que podiam obter é que se envolveram mais activamente
na sua resolução. Na figura 26, temos algumas das propriedades apontadas pelos grupos
GSP7 e GSP6, respectivamente.
Figura 26. Resolução da tarefa 2, da ficha 10, pelos grupos GSP7 e GSP6.
As propriedades apresentadas pelos alunos andaram à volta daquilo que tínhamos
discutido com eles aquando do exemplo do quadrado, não se aventurando mais nas usas
investigações. Podemos observar que o GSP7 apresentou as usas conclusões de uma forma
um pouco confusa, ao passo que o GSP6, apesar de só ter indicado uma propriedade, tentou
fundamentar a sua escolha.
Quanto à tarefa 3, onde tinham de tirar conclusões acerca do quadrilátero obtido a partir
dos pontos médios do papagaio, não tiveram dificuldade em concluir que era um
rectângulo. Na figura 27 podemos ver a resolução das tarefas, pelo grupo GSP7.
131
j
k
lm
l = 5,23 cm m∠BLC = 90°
BL = 4,24 cm
DL = 4,24 cm
m∠DAB = 66°m∠CBA = 93°
m = 5,23 cmk = 7,78 cmj = 7,78 cm
m∠CDA = 93°m∠BCD = 108°
2 triângulos4 lados4 pontos
o segmentoAC é eixo desimetria dafigura
AC é perpendicular aBD pois mexendotodos os pontosverifica-se sempre que
AC é mediatriz deBD.
O ponto L é oponto médio dosegmento BD pois
[IMJK] é um rectângulo.
L
B
D
A
C
Figura 27. Resolução da ficha 10, pelo grupo GSP7.
Quando questionados porque é que achavam que era um rectângulo, o caso mudou de
figura! A justificação que todos deram no início é que tinham os lados iguais dois a dois. O
Daniel e o Diogo disseram que era um rectângulo porque “este lado é igual a este e este é
igual a este...”, referindo-se aos lados opostos do mesmo.
(I) − E isso permite-vos concluir que é um rectângulo? (A) − Sim, respondeu o Diogo. (I) − Então imaginem um paralelogramo obliquângulo...
A investigadora fez-lhes ver que esse argumento também era válido para justificar que
era um paralelogramo obliquângulo. Para tal, desenhou um paralelogramo obliquângulo e
fê-los observar que também tinha os lados geometricamente iguais dois a dois e, no
entanto, não se tratava de um rectângulo.
(I) − Portanto não chega ter esses lados geometricamente iguais! O que mais caracteriza um rectângulo? (A) − Tem os ângulos também iguais, respondeu o Daniel. (I) − Sim, mas sabes dizer quanto medem esses ângulos, não sabes?! (A) − São rectos. (I) − E então? Esses são rectos?
A investigadora deixou os alunos nas suas verificações e foi ter com o grupo da Inês.
132
Estavam a concluir que não era possível obter um quadrado e foi então que a investigadora
pediu que explicassem porquê. As alunas disseram que já tinham tentado de todas as
maneiras, mas que não conseguiam. A investigadora pegou no rato e tendo o conhecimento
prévio de que as diagonais do papagaio tinham de ser geometricamente iguais, tentou, sem
lhes revelar o “segredo” chegar ao quadrado.
(I) − Vêm como é possível! Então tentem lá vocês e depois expliquem quando é que tal acontece. É que geralmente temos um rectângulo, não é?! Mas, um quadrado é um caso especial... (A) − É quando o de fora também é um quadrado! Respondeu prontamente a Flávia. (I) − Será? Não sei! Verifiquem lá...
Entretanto, o Diogo, ainda intrigado, chamou a investigadora para voltar a falar
relativamente à questão que tinha ficado pendente.
(A) − Então se tivermos os lados iguais não podemos concluir nada, mas se tivermos os ângulos rectos já podemos concluir que é um rectângulo...
A observação do Diogo foi pertinente, pois o aluno reconheceu que as figuras se
distinguem pelas suas propriedades. Depois o Daniel mostrou a construção com o quadrado
para me mostrar que já tinham conseguido obtê-lo, mas que não conseguiam explicar
quando é que isso acontecia.
A investigadora arrastou os vértices de modo a obter de novo um rectângulo e depois de
novo o quadrado, perguntando-lhes o que é que achavam que acontecia quando arrastava os
vértices, tentando arrastar de modo a que só a diagonal [AC] variasse: aumentasse ou
ficasse geometricamente igual a [BD] para observarem que o facto de ser um rectângulo ou
um quadrado dependia ou estava relacionado com as diagonais do papagaio.
A investigadora foi ter com o outro grupo enquanto eles ficaram a “pensar no assunto”.
Observou que as alunas do grupo GSP5, depois de terem “perdido” a resolução da tarefa,
tinham voltado a responder a todas as questões, mas que faltavam as justificações. Então a
investigadora começou a questionar as alunas acerca das suas respostas pois sabia que com
este grupo podia ir um pouco mais longe e com um pouco de ajuda elas conseguiam lá
133
chegar.
Quando a investigadora lhes perguntou como é que tinham concluído que se tratava de
um rectângulo deram a mesma justificação que os outros grupos e a investigadora voltou a
explicar que tal justificação não bastava e deu novamente o exemplo do paralelogramo
obliquângulo. Foi então que disseram que era porque tinham os ângulos rectos.
(I) − E porque é que são ângulos rectos? (A) − Porque tem os lados paralelos. (I) − E como sabes se os lados são paralelos? (A) − Porque é formado pelos pontos médios?! (I) − O que é que é formado pelos pontos médios? (A) − Esses lados...,respondeu, apontando para os lados do rectângulo. (I) − E isso faz com que os lados sejam paralelos?
A aluna ficou pensativa e a investigadora resolveu relembrar a ficha de revisões de
triângulos.
(I) − Lembram-se da tarefa que resolvemos logo no inicio da aulas sobre triângulos semelhantes? Vimos um exemplo de dois triângulos, um dos quais se obtinha a partir do outro unindo os pontos médios de dois lados... O que concluíram na altura? Lembram-se? (A) − Que os triângulos eram semelhantes. (I) − Então reparem aqui na figura, temos ou não triângulos semelhantes? Por exemplo, o triângulo [CAD] é semelhante ao triângulo [GHD]. O que mais é que vimos na altura? (A) − Que os lados eram paralelos e metade um do outro, respondeu a Flávia que já tinha ido buscar a ficha de trabalho para verificar.
A investigadora voltou a explicar porque é que os triângulos eram semelhantes e porque
é que podíamos tirar aquelas conclusões e voltou a perguntar porque é que podíamos então
concluir que [GH] // [EF].
A Inês conseguiu explicar porque é que os lados eram paralelos com a semelhança de
triângulos, mas isso ainda não comprovava que estávamos perante um rectângulo e a
investigadora confrontou-as novamente com essa questão ao que a aluna respondeu:
(A) − Porque os ângulos são rectos. (I) − Agora têm de tentar comprovar que realmente são rectos.
134
(A) − Porque os lados são perpendiculares. (I) − E como sabem que são perpendiculares? (A) − Temos que explicar tudo? (I) − Sim! Não podemos dizer que as coisas são verdadeiras só porque parecem!... (A) − Mas, essa é a parte mais difícil, conseguir explicar... é muita coisa... Como é que depois vamos escrever isso tudo?
Nesta altura, a investigadora e as alunas tiveram uma conversa informal sobre as aulas e
sobre a matéria, tendo as alunas confessado que nunca gostaram de geometria e que,
embora as aulas assim fossem mais interessantes, achavam que se tornava mais difícil, não
sabiam o que haviam de estudar para o teste e as aulas seriam melhores se a turma não
fosse tão barulhenta e se alguns alunos se soubessem comportar!
Os diálogos estabelecidos entre investigadora/alunos ou professora/alunos acerca das
tarefas foram muito importantes. Geraram-se, assim, discussões facilitadoras da
organização do seu próprio raciocínio e estava-se, no fundo, a “construir uma
demonstração”, que, embora orientada, foi a forma de conseguirem chegar a algumas
conclusões; estando implícita, como em situações anteriores, a função de comunicação da
demonstração, ao discutirem as ideias e ao tentarem explicar o porquê das coisas, e a
função de explicação.
Este tipo de intervenção, quer por parte da professora, quer por parte da investigadora,
tal como afirma Piteira (2002), ajuda os alunos a progredir no seu raciocínio e a reflectir de
forma mais consciente sobre a sua acção, para chegarem às conclusões, encorajando-os a
continuar a investigar e a aprofundar as suas descobertas.
Quando a investigadora regressou ao grupo GSP7, os alunos já tinham conseguido obter
o quadrado, mas não tinham encontrado nenhuma justificação. Então a investigadora
resolveu perguntar o que é que acontecia às diagonais? Mas os alunos, pelos vistos, já
tinham medido as diagonais e davam valores diferentes, o que não era suposto. Todos os
lados do quadrilátero interior mediam 7 cm, mas as diagonais, uma media 12 cm e outra 13
cm. Tal tinha a ver com definições do GSP e com as aproximações para as medidas, uma
vez que estava seleccionado o arredondamento às unidades. Quando a investigadora alterou
o arredondamento para as décimas, verificou-se que, na realidade, os lados do quadrado não
mediam 7 cm, mas sim 6,7 cm e 7,1 cm, ou seja, tratava-se de um rectângulo e daí as
135
medidas das diagonais também serem diferentes. A investigadora pediu então que
tentassem novamente de modo a verificar que as diagonais eram sempre geometricamente
iguais.
Este aspecto do GSP levou a que os alunos tivessem dificuldades na interpretação da
construção e na obtenção das conclusões pretendidas. O GSP foi facilitador na resolução
das tarefas, mas em parte foi limitador, pois o facto de terem ocorrido algumas
imperfeições nas medições foi um obstáculo na procura de relações geométricas. Este
aspecto foi mencionado por alguns alunos, nomeadamente pelo grupo GSP5, como se pode
constatar pela figura 28, onde só depois de alteradas as definições do GSP as alunas
concluíram que as diagonais teriam de ser geometricamente iguais.
w
BD = 10,6 cmAC = 10,6 cm
HE = 5,3 cmGH = 5,3 cmFG = 5,3 cmEF = 5,3 cm
m∠HEF = 90,0°m∠GHE = 90,0°m∠FGH = 90,0°m∠EFG = 90,0°
m∠ABC = 89,9°m∠DAB = 87,4°m∠CDA = 89,9°m∠BCD = 92,8°
AB = 7,7 cmDA = 7,7 cmCD = 7,3 cmBC = 7,3 cm 2. Podemos concluir que o ângulo ADC e
o ângulo ABC são geometricamenteiguais, pois estão divididos pelo eixo desimetria que é a diagonal AC e tudo oque está dum lado e de outro dadiagonal é geometricamente igual.Também podemos concluir que asdiagonais são sempre perpendiculares,pois formam sempre um ângulo de 90º.
3. o quadrilatero é um rectângulo poisos ãngulos do rectangulo formamangulos de 90º
4. sim pois por mais que arrastemos osvertices os angulos são sempre de 90º
5. podemos obter um quadrado seformos muito precisos nas medidas,sefor em milesimas não conseguimosobter mas se estiver em unidades haessa possibilidade. so quando asdiagonais tem o mesmo cumprimento éque obtemos um quadrado
AC=10,6
F
G
H
E
D
B
C
A
Figura 28. Resolução da ficha 10, pelo grupo GSP5.
Podemos observar que as alunas basearam as suas justificações no arrastamento, ou
seja, da relação que se mantinha através da manipulação, afirmando que “por mais que
arrastemos os vértices, os ângulos são sempre de 90º”. E, apesar de terem discutido com a
investigadora as justificações para esse facto, tiveram dificuldades em exprimi-las,
acabando por não proceder ao seu registo.
Entretanto, como alguns grupos estavam com dificuldades e não conseguiam chegar às
136
conclusões, foi-lhes pedida a construção do papagaio, inicialmente prevista, que talvez os
motivasse mais! É claro que, influenciados pela figura da ficha, começaram por marcar os 4
vértices, uniram-nos e arrastaram os vértices de modo a ter os lados consecutivos
geometricamente iguais. A investigadora fez ver aos alunos que, ao arrastar um dos
vértices, essa propriedade tinha de se manter e como eles estavam a fazer a construção isso
não acontecia. Assim, foi-lhes pedido que pensassem nas propriedades do papagaio e que
tentassem novamente. Mais uma vez não conseguiram e foi então que a investigadora
enfatizou que as propriedades que tínhamos analisado anteriormente tinham de continuar a
manter-se, como, por exemplo, o facto das diagonais serem perpendiculares, para ver se
lhes ocorria começar a construção pelas diagonais. Só um grupo é que conseguiu chegar a
uma possível construção, começando exactamente pelas diagonais.
Entretanto o grupo GSP7 estava a começar a ficha 11, mas como faltava pouco tempo
para acabar a aula foi-lhes pedido para justificarem melhor as suas opções pois esta ficha,
bem como a 12, iriam ser sugeridas para trabalho de casa.
Estas tarefas envolveram propriedades de triângulos semelhantes, das quais os alunos se
deviam lembrar, pois já tinham sido estudadas no 8º ano e recordadas numa das fichas de
revisão. O seu não reconhecimento dificultou a procura de justificações. Todavia, é de
salientar que, apesar das tarefas desta sessão serem consideradas mais difíceis, os alunos
mostraram-se entusiasmadíssimos e empenhados na sua resolução. O facto de tentar
descobrir mais qualquer coisa e fazer com que tudo batesse certo, agarrou-os ao
computador e ao desejo de quererem fazer mais, como foi o caso do grupo GSP7, que mal
acabou a ficha 10, quis logo outra para resolver.
137
C A P Í T U L O V
AVALIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Neste capítulo vamos dar a conhecer como é que os alunos e a professora da turma
viveram e sentiram a experiência, recorrendo às suas opiniões expressas através de dois
inquéritos e uma entrevista.
Os dados relativos às atitudes dos alunos em relação à Geometria e às suas concepções
no que concerne à demonstração foram obtidos através das respostas a um questionário que
foi passado aos alunos no início e no final da experiência. Os dados relativos à apreciação
global da experiência foram obtidos a partir de um questionário que foi passado aos alunos
no final da experiência e de uma entrevista à professora da turma, também no final da
experiência.
5.1. Ideias e atitudes dos alunos acerca da Geometria e da demonstração.
O primeiro questionário era constituído por três partes, num total de 39 questões e foi
passado em dois momentos diferentes, no início e no final da experiência. A primeira parte
teve como principal finalidade a caracterização da turma e ter conhecimento da experiência
dos alunos com o computador e, eventualmente, com algum programa informático de
matemática. A segunda parte do questionário, parte B, constituída por 17 questões, teve
como propósito analisar as atitudes dos alunos face à Geometria e ao seu ensino.
A terceira parte do questionário, parte C, constituída por 7 questões de natureza aberta,
teve como objectivo verificar se os alunos já tinham tido algum contacto com a
demonstração e que ideias tinham acerca da mesma.
A análise dos questionários foi feita em termos percentuais. Nessa análise, a opção
139
140
“Concordo” surgiu da junção das opções “Concordo parcialmente” e “Concordo
totalmente”, bem como a opção “Discordo” surgiu da junção das opções “Discordo
parcialmente” e “Discordo totalmente”. A opção “Raramente” surgiu da junção das opções
“Raramente” e “Nunca” e a opção “Frequentemente” da junção das opções
“Frequentemente” e “Sempre”. Vão ser apenas apresentados os dados alusivos às partes B e
C, uma vez que a primeira parte diz respeito à caracterização da turma e foi apresentada no
capítulo da metodologia.
5.1.1. Atitudes face à Geometria
No que diz respeito à visão que os alunos têm da Geometria, podemos dizer que mais de
metade tem uma visão favorável acerca da mesma. Uma percentagem significativa de
alunos diz gostar de estudar geometria, mas essa percentagem desce drasticamente quando
se trata de resolver problemas no seu âmbito e no que concerne à sua importância nas suas
vidas actuais e futuras, opinião que se volta a manifestar nas questões que dizem respeito à
importância da geometria no mercado de trabalho, como se pode observar na tabela 4.
Apesar de não concordarem com a importância da geometria na sua formação,
reconhecem, principalmente no segundo momento, que esta lhes será útil, e que é
necessária para as situações do dia-a-dia, uma vez que a maioria, 55,6%, discorda com o
facto de a geometria que estudam não lhes vir a servir de nada e 51,9% dos alunos concorda
que as situações do dia-a-dia exigem conhecimentos de geometria. Esta mudança pode estar
relacionada com o tipo de tarefas realizadas e com o recurso ao computador, visto
considerarem-no “fundamental para o futuro”. No entanto, contradizem-se um pouco
quando confrontados com a necessidade da geometria na maioria dos empregos, onde, no
segundo momento, apenas 25,9% concorda com a afirmação.
Tabela 4. Atitudes dos alunos face à Geometria.
Frequência (%) 1.º Momento 2.º Momento
Questão D C SO D C SO1.Gosto de estudar geometria 2. Gosto de resolver problemas de geometria 3.Aprender geometria é muito importante para a minha formação 4. A geometria que estudo não me vai servir de nada 5. Como a arte e a música, a geometria é também criativa 6. A geometria ajuda a compreender o mundo em que vivemos 7. Todos os alunos podem aprender geometria desde que bem ensinada 8. A geometria é difícil 9. A geometria tem pouco interesse 10. As situações do dia-a-dia exigem conhecimentos de geometria 11. A maioria dos empregos não exige conhecimentos de geometria 12. A geometria proporciona uma visão diferente da matemática 13. Quando estudo geometria posso investigar, experimentar e explorar relações
18,544,425,944,47,4 –
7,4 18,529,611,125,911,111,1
63,033,337,022,277,866,788,933,337,044,437,051,951,9
18,522,237,033,314,833,33,7 48,133,344,437,037,037,0
29,644,437,055,614,87,4 –
18,540,711,114,814,811,1
59,329,618,522,255,659,374,155,629,651,925,951,963,0
11,125,944,422,229,633,325,925,929,637,059,333,325,9
D – Discordo, C – Concordo, SO – Sem Opinião.
É também de realçar que mais de metade considerou que a geometria, tal como a
música e a arte, é criativa e ajuda a compreender o mundo em que vivemos. Propicia, ainda,
outra visão da matemática onde podem investigar, experimentar e explorar relações.
No segundo momento os alunos passaram a ver a geometria como sendo mais difícil e
também mais difícil de aprender, mesmo que bem ensinada, devido, talvez, às muitas
dificuldades que sentiram ao longo da experiência. Mas, apesar das muitas dificuldades
sentidas e de um aluno ter passado a gostar menos de geometria e de resolver problemas de
geometria, pudemos constatar que a maioria dos alunos continuou a gostar de geometria.
Inclusive, na resposta ao segundo questionário, um dos alunos confessou ter começado a
gostar mais de matemática, e a percentagem de alunos que discorda com o facto da
geometria ter pouco interesse subiu de 29,6% para 40,7%, o que nos leva a crer que a
experiência se traduziu em alguma melhoria de atitudes.
A maioria dos alunos também reconhece a sua importância no mundo em que vivemos e
que, a nível de sala de aula, pode proporcionar actividades tão importantes e tão ricas como
a investigação, a experimentação e a exploração.
No que diz respeito à questão 14, a maioria dos alunos, quer no primeiro momento quer
no segundo, 59,3% e 66,7%, respectivamente, dizem conhecer situações do dia-a-dia onde
a geometria é necessária, sendo as mais mencionadas a construção civil e a arquitectura,
como se pode ver na tabela 5, talvez influenciados pelas tarefas das fichas 6 e 7,
Construção do aeroporto I e II.
É de salientar um dos alunos que, no segundo momento, respondeu que a geometria é
necessária “em tudo o que vemos”. Pendurar um quadro, conduzir um carro, na geografia,
na astronomia, vedar um terreno ou uma casa, foram algumas das outras situações a que os
alunos fizeram referência.
142
Tabela 5. Situações do dia-a-dia em que seja necessária a Geometria.
Frequência (%) Questão 14. Conheces alguma situação da vida real em que seja necessária a Geometria? Se sim, indica algumas.
1.º Momento 2.º Momento
Arquitectura Construção civil Docência Engenharia Cálculo de áreas Outras
11,1 14,8 7,4 7,4 11,1 14,8
22,2 37,0 7,4 3,7 –
14,8
Na questão 15 constatamos que os alunos não tinham tido experiências anteriores com o
computador na aula de Matemática. Apenas um dos alunos mencionou ter utilizado o
computador para fazer trabalhos, mas não sabemos se foi durante o decorrer da própria
aula.
Depois da experiência de ensino é de salientar uma percentagem assustadora de alunos,
26%, que afirmou nunca ter utilizado o computador na aula de Matemática. Não sabemos
se tal resposta foi devida à falta de empenho dos alunos em responder ao questionário, se
pelo facto de, para alguns, matemática e geometria serem coisas diferentes. Na aula de
revisões, o Diogo, achou que a investigadora não podia ajudar o colega Daniel, que tinha
solicitado a sua ajuda, na resolução de inequações, porque era professora de Geometria e
não de Matemática! Os restantes 74,1% referiram-se ao estudo da geometria, sendo que,
destes, 14,8% referiu-se especificamente ao estudo da circunferência, apesar de outros
assuntos terem sido abordados.
Na questão 16, quando questionados sobre se gostavam de utilizar o computador no
estudo de geometria, a percentagem de alunos favorável a esta situação diminuiu depois de
realizada a experiência, como se pode constatar pela tabela 6.
143
Tabela 6. Razões para a utilização do computador nas aulas de matemática.
Frequência (%) 1.º Momento 2.º Momento
Questão 16. Gostavas de, na aula de Matemática, utilizar o computador no estudo da geometria? Indica algumas razões. Sim Não Sim Não Utilização do computador na aula de Matemática Razões apontadas
Justificações relacionadas com a aprendizagem Justificações relacionadas com a utilização do
computador Outras justificações Não justificou
96,3
85,2
29,6 37,0 3,7
3,7 – – – –
66,7
37,0
14,8 –
22,2
33,3
11,1
3,7 –
18,5
Antes de começarmos a experiência, a grande maioria dos alunos, à excepção de um,
gostava de utilizar o computador, 96,3%, estando as principais razões centradas em redor
da aprendizagem e da utilização do mesmo. Os alunos referiram-se a uma melhor
aprendizagem, mais fácil, mais estimulante e mais interessante. Falaram ainda do trabalho
com o computador e da sua importância no dia-a-dia porque, como fizeram referência,
“estamos no século XXI” e “para o futuro é fundamental”.
Depois da experiência, alguns alunos mudaram de opinião devido, essencialmente, ao
facto de considerarem que com o computador a aprendizagem se tornou mais difícil e terem
tido mais dificuldades na compreensão da matéria, e também por terem baixado a nota,
como referiram alguns alunos: “baixei a minha nota e agora está a ser difícil levantá-la”.
Pensamos que esta última razão contribuiu significativamente para a sua visão menos
positiva relativamente à experiência, embora não consideremos que teve directamente a ver
com ela, pois, segundo a professora, geralmente quando se chega a esta unidade os alunos
sentem mais dificuldades e, uma vez que acham a geometria muito difícil, “a primeira
reacção nunca é boa, acham sempre que não vão conseguir”. Ainda assim, 66,7% dos
alunos gostaria de utilizar o computador na aula de Matemática.
Como podemos observar na tabela 7, os alunos são favoráveis ao uso de novas
metodologias de ensino, como a utilização do computador e a realização de trabalhos de
grupo.
144
Tabela 7. Metodologias preferidas para a aprendizagem da geometria.
Frequência (%) Questão 17. De entre os vários métodos para aprender geometria, indica, por ordem, os três que mais preferes. 1.º Momento 2.º Momento1. Exposição da matéria pelo professor 2. Resolução de problemas de situações reais 3. Utilização de materiais manipuláveis 4. Construções com régua e compasso 5. Resolução de exercícios do livro 6. Utilização do computador 7. Realização de trabalhos de grupo 8. Exploração de actividades de investigação 9. Organização de debates para discutir ideias 10. Realização de jogos didácticos 11. Outros
22,2 22,2 7,4 22,2
– 74,1 63,0 22,2 14,8 55,6
–
37,0 33,3 7,4 18,5 22,2 55,6 48,1 7,4 29,6 22,2
–
De entre os vários métodos exemplificados para aprender geometria, antes da
experiência, a grande maioria dos alunos escolheu a utilização do computador, 74,1%, a
realização de trabalhos de grupo, escolhida por 63% dos alunos, e a realização de jogos
didácticos, seleccionada por 55,6% dos alunos, talvez por serem métodos pouco utilizados
nas aulas habituais e sentirem algum interesse e curiosidade. No entanto, estas
percentagens, com o decorrer da experiência, alteraram-se e, apesar de os alunos
continuarem a preferir a utilização do computador, 55,6%, e a realização de trabalhos de
grupo, 48,1%, a exposição da matéria pelo professor e a resolução de exercícios do livro
para praticar práticas aumentou claramente, talvez por alguns alunos se sentirem inseguros
com a experiência e se sentirem mais à vontade com este tipo de abordagem mais
tradicional.
Ao longo da experiência, alguns alunos, confidenciaram estar com receio dos resultados
por não saber o que estudar para o teste de avaliação, havendo mesmo quem tivesse
mencionado que a utilização do computador não tinha facilitado a descoberta e a
compreensão dos conceitos porque “não conseguia decorar” e que “se fossem utilizadas as
metodologias usuais conseguiriam aprender melhor”.
145
5.1.2. Concepções acerca da demonstração
Nesta parte do questionário, começamos por perguntar aos alunos como é que sabiam se
resolviam bem um exercício de matemática. Como podemos comprovar pela tabela 8, os
alunos dependem muito de apoio exterior. Uma grande percentagem consulta a professora
ou os colegas, como disse uma aluna: “pergunto à Inês, que é a melhor aluna da turma”.
As outras respostas incidiram sobre a consulta das soluções e sobre a espera pela
correcção. Podemos ainda constatar que com a experiência essa consulta diminuiu, embora
continuassem a solicitar a nossa ajuda e a dos colegas, a “verificação” e a “lógica” subiram
um pouco. Esta subida, ainda que não muito elevada, neste nível de ensino e com as
dificuldades destes alunos, deve ser considerada em termos de mudança das suas
perspectivas acerca da demonstração.
Tabela 8. Formas de se certificar da correcta resolução de exercícios ou problemas.
Frequência (%) Questão 1. Quando resolves exercícios ou problemas de matemática como sabes que os resolveste bem?
1.º Momento 2.º Momento
Consulta alguém (professora/colegas) Consulta o livro/caderno Não sabe se está bem Consulta as soluções Espera pela correcção Verifica Se não tiver dificuldades a resolvê-lo Pela lógica Outras justificações
48,1 11,1 18,5 25,9 22,2 7,4 –
3,7 11,1
37,0 7,4 14,8 3,7 14,8 33,3 7,4 14,8 3,7
Relativamente à questão 2, pela tabela 9, podemos observar que muitos alunos não
sabem/não reponderam à questão.
146
Tabela 9. Como ter a certeza de que uma propriedade é verdadeira.
Frequência (%) Questão 2. Recorda a propriedade dos triângulos: Em qualquer triângulo, a soma das amplitudes dos seus ângulos internos é 180º. Como podes ter a certeza que esta propriedade é sempre verdadeira?
1.º Momento 2.º Momento
Não sabe/não respondeu Medindo/somando todos os ângulos É uma propriedade Verificando O conjunto dos ângulos forma um ângulo raso Nunca é verdadeira Não pode haver um triângulo com mais de 180º Outras respostas
37,0 3,7 – –
14,8 14,8 18,5 14,8
44,4 25,9 11,1 18,5
– – –
3,7
No primeiro momento os alunos deram respostas muito variadas, sendo a mais
frequente a simples repetição da propriedade: “os ângulos num triângulo não podem medir
mais de 180º”. Os alunos dizem poder ter a certeza de que a propriedade é verdadeira
voltando a resolver o problema ou porque foi ensinado assim ou porque o professor disse,
ou “esticando os ângulos”. Também houve quem tenha duvidado da veracidade da
afirmação e que tenha dito que a propriedade nunca era verdadeira!
É de salientar que, depois da experiência, a verificação faz parte das justificações e o
medir/somar todos os ângulos, que não é mais do que uma verificação, aumentou um
pouco. Alguns alunos também reconheceram que o facto de ser propriedade já é condição
para ser verdadeira, 11,1%. Mesmo tratando-se de uma pequena percentagem de alunos,
este resultado traduz alguma alteração positiva em relação ao momento anterior à
experiência.
No que diz respeito ao número de alunos que já ouviu falar em demonstração, questão
3, a percentagem aumentou, de 7,4% para 40,7%. Ainda assim, 59,3% dos alunos diz nunca
ter ouvido falar, talvez porque esta questão foi mais aprofundada nos grupos com menos
dificuldades e mais avançados nas tarefas.
Quanto às funções da demonstração, expressas na questão 4, podemos apurar, a partir
da tabela 10, que, no segundo momento, as percentagens aumentaram expressivamente,
147
principalmente no que diz respeito às funções que mais trabalharam na experiência: a
verificação, a explicação, a descoberta e a comunicação. Não foi feita ponderação, uma vez
que os alunos revelaram algumas dificuldades na resposta a esta questão, não tendo, a
maioria, hierarquizado as opções. Para alunos desta faixa etária, talvez tivesse sido mais
significativo ter solicitado apenas três opções, sem hierarquizar.
Tabela 10. Funções da demonstração.
Frequência (%) Questão 4. De entre as afirmações que se seguem, escolhe, por ordem de preferência, as que, na tua opinião, estão mais correctas?
1.º Momento 2.º Momento
1. A demonstração serve para verificar se uma afirmação matemática é verdadeira 2. A demonstração serve para explicar porque é que uma afirmação matemática é verdadeira. 3. A demonstração serve para descobrir e inventar novos resultados. 4. A demonstração serve para transmitir conhecimento matemático. 5. A demonstração serve como desafio intelectual, onde há uma gratificação resultante da construção de uma demonstração. 6. A demonstração serve para organizar os vários resultados num sistema de axiomas e teoremas.
51,8
59,3
59,3
77,8
59,3
44,4
81,5
88,9
85,2
85,2
63,0
44,4
Quando, na questão 5, foi pedido aos alunos para tentarem explicar por palavras suas o
que é demonstrar, a maioria dos alunos, como podemos contemplar na tabela 11, quer no
primeiro, quer no segundo momento, respondeu mostrar, expor ou dar a conhecer algo.
Contudo, é de realçar que, no segundo momento, as respostas foram mais variadas,
havendo referência a algumas funções da demonstração, como a verificação e a explicação,
tendo a explicação sido indicada por 37% dos alunos, o que é uma percentagem satisfatória
de alunos que consegue ver a demonstração como algo mais do que “mostrar” ou “dar a
conhecer”.
148
Tabela 11. Definição de demonstração.
Frequência (%) Questão 5. Explica por palavras tuas o que é demonstrar. 1.º Momento 2.º MomentoMostrar /expor/ dar a conhecer Explicar alguma coisa Verificar Provar Dar exemplo de alguma coisa Não sabe/não respondeu
55,6 7,4 –
3,7 –
37,0
40,7 37,0 18,5 11,1 3,7 18,5
Quando questionámos os alunos se gostariam de ser eles próprios a descobrir
propriedades e relações geométricas como um verdadeiro matemático, questão 6, quer no
primeiro quer no segundo momento, a maioria dos alunos respondeu que não gostaria,
55,6% e 59,3% respectivamente. No segundo momento, apenas um aluno não respondeu à
questão e os restantes 37% afirmaram que gostariam de o fazer. As principais razões
apontadas pelos alunos encontram-se discriminadas na tabela 12, havendo uma grande
percentagem de alunos que não justificou a sua opção.
Dos alunos que responderam sim, houve aqueles que falaram do “maravilhoso” e do
“fascinante” que é “descobrir algo novo”. Os alunos que responderam não, apoiaram-se no
facto de não gostarem de matemática ou não serem capazes.
No segundo momento, referiram-se à dificuldade em explicar os resultados: “não tenho
muito jeito para explicar como obtive o resultado”, estando aqui presente a descoberta
associada à explicação, actividades exploradas ao longo da experiência, onde os alunos
tiveram, muitas vezes, de explicar resultados e onde, realmente, sentiram muitas
dificuldades em o fazer. “Ser considerada uma pessoa inteligente” ou “ser admirada pelos
meus pais” ou “estar na posição de professor”ou “exercitar a mente”, foram algumas das
outras justificações que os alunos deram para gostar de serem eles próprios a descobrir
propriedades e relações geométricas como um verdadeiro matemático.
149
Tabela 12. Razões para trabalhar como um verdadeiro matemático.
Frequência (%) Questão 6. Gostavas de ser tu a descobrir propriedades e relações geométricas como um verdadeiro matemático? Indica algumas razões.
1.º Momento 2.º Momento
Razões apontadas para o sim Gostar de Matemática Ser mais interessante Haver muito por descobrir Descobrir algo novo Ajudar os outros Ser fascinante Outras justificações
Razões apontadas para o não Não gostar ou não se interessar por matemática Não perceber ou não ser capaz Não saber o que é demonstrar Não conseguir explicar os resultados
3,7 11,1
– 3,7 7,4 –
14,8
7,4 11,1 3,7 –
3,7 11,1 7,4 11,1
– 3,7 7,4
18,5 3,7 –
11,1
Com a questão 7, pretendíamos ir um pouco mais longe na questão na demonstração,
mas, como podemos aferir da tabela 13, os resultados não foram muito animadores,
principalmente no que diz respeito ao segundo momento.
Tabela 13. Demonstração de que a soma das amplitudes dos ângulos internos de um qualquer paralelogramo é 360º.
Frequência (%) Questão 7. Uma das propriedades dos paralelogramos é: A soma das amplitudes dos ângulos externos de qualquer paralelogramo é 360º. Consegues mostrar porque é verdadeira?
1.º Momento
2.º Momento
Não respondeu Não consigo/não sei Somando todos os ângulos, obtém-se 360º. Um paralelogramo pode dividir-se em dois triângulos. Outras respostas
59,3 18,5 7,4 3,7 14,8
66,7 7,4 11,1 14,8
–
150
Esperávamos que, depois de terem trabalhado os temas de geometria e termos insistido
nas justificações, os alunos conseguissem dizer algo mais do que “não sei” ou “não
consigo”, ou, simplesmente, não tentaram por se tratar da última questão ou porque tinham
de pensar um bocadinho, e, como referiu a professora, isso “dava muito trabalho!”. E,
portanto, os 66,7% de alunos que não respondeu a esta questão demonstra falta de
empenho, pelo menos na resposta a esta questão.
As poucas respostas centraram-se à volta da verificação: “somando todos os ângulos
obtemos 360º”, sem tentarem, tal como ocorreu muitas vezes durante a experiência,
encontrar uma justificação lógica. Esteve também implícita uma das propriedades dos
quadriláteros, citando um dos alunos: “um paralelogramo dividido ao meio dá 2 triângulos.
Por isto, como um triângulo tem na soma dos seus ângulos 180º, a soma dos 2 vais dar
360º. ”. Demonstra um raciocínio correcto, mas o que se pretendia não era
uma justificação para a soma das amplitudes dos ângulos internos do paralelogramo, mas
sim dos seus ângulos externos.
180 2 360× =
Outro aluno justificou a propriedade da seguinte forma: “se juntarmos os ângulos a, b, c
e d dá-nos um ângulo giro, portanto um ângulo de 360º”. Embora esteja aqui subentendida
apenas a ideia de verificação, o esquema do aluno, (figura 29), leva-nos a crer que talvez
tenha percebido mais qualquer coisa. Leva-nos a crer que tenha percebido a relação de
igualdade entre os diferentes pares de ângulos, que, aliás, alguns alunos reconheceram e o
referiram nas suas justificações: “é verdade porque c a= e b d= ”, e que esteja também
subjacente a ideia de Fischbein (1990) sobre a abordagem intuitiva à soma dos ângulos
externos de um polígono.
Figura 29. Esquema de demonstração apresentado por um aluno.
151
Apesar das poucas respostas a esta questão, pôde verificar-se que, no segundo
momento, os alunos tentaram fundamentar melhor as suas respostas, ao passo que no
primeiro momento limitaram-se a dizer que não conseguiam ou a justificarem com base em
algumas observações como, por exemplo, que a e c eram ângulos agudos e que b e d eram
ângulos obtusos ou, até mesmo, que não era verdadeira. Este tipo de resposta não é tão
invulgar quanto isso, podendo resultar da falta de concentração ou de dificuldades de
compreensão ou interpretação.
5.2. Apreciação global sobre a experiência
Com o segundo instrumento pretendemos fazer uma apreciação global sobre o modo
como decorreu a experiência, a partir das opiniões dos alunos em relação aos vários
aspectos do ensino e aprendizagem dos assuntos abordados.
5.2.1. Apreciação sobre as aulas de Geometria
A maioria dos alunos fez um balanço positivo da experiência e concordou que a
metodologia adoptada estimulou a aprendizagem, 74,1%, mas essa percentagem não é tão
significativa no que concerne ao auxílio da mesma, 44,4%.
A grande maioria concordou que o trabalho de grupo contribuiu para a discussão de
ideias, 81,5%, que as aulas com recurso ao GSP foram mais motivadoras, 63%, e que
trouxe mais vantagens do que desvantagens, 63% contra 48,1%.
Na tabela 14 podemos observar os dados relativos às respostas dos alunos quanto ao
decorrer da experiência.
152
Tabela 14. Apreciação global sobre a experiência.
Frequência (%) Questão D C SO 1. A metodologia adoptada (trabalho de grupo, tarefas de investigação e exploração, utilização do computador e do GSP,...) estimulou a aprendizagem. 2. A metodologia adoptada (trabalho de grupo, tarefas de investigação e exploração, utilização do computador e do GSP,...) facilitou a aprendizagem. 3. A utilização do computador e do GSP facilitou a descoberta e a compreensão dos conceitos. 4. O trabalho de grupo contribuiu para a discussão de ideias. 5. Ao longo do trabalho das aulas surgiram muitas dificuldades. 6. As aulas de geometria, com recurso ao computador e ao GSP, foram motivadoras. 7. Trabalhar nas aulas com o computador e o GSP trouxe vantagens. 8. Trabalhar nas aulas com o computador e o GSP trouxe desvantagens.
7,4
29,6
14,8
11,1 11,1
18,5
14,8
22,2
74,1
44,4
40,7
81,5 77,8
63,0
63,0
48,1
18,5
25,9
44,4
7,4 11,1
18,5
22,2
29,6
D – Discordo, C – Concordo, SO – Sem Opinião.
Os alunos que discordaram das duas primeiras afirmações pronunciaram-se,
basicamente, acerca da falta de tempo para se adaptarem ao programa – “discordo
parcialmente, porque não tivemos tempo para nos adaptarmos ao programa”, de “alguma
brincadeira” por parte de alguns alunos e do barulho que daí adveio – “acho que foi um
bom método de aprendizagem, mas em algumas turmas, acho que o barulho não ajudou”, e
de ser uma turma grande e não haver um computador por aluno – “cada aluno devia ter um
computador”e “as aulas seriam mais produtivas com menos gente”.
Houve também quem tenha feito referência às desvantagens do trabalho de grupo –
“num grupo enquanto uns trabalham outros não fazem nada, por isso, prefiro o trabalho
individual”, opinião que contrasta com a maioria dos alunos que viram no trabalho de
grupo algo de muito positivo e vantajoso. A maioria viu o trabalho de grupo como sendo
153
propício à sua aprendizagem, pois podiam dar opiniões, discutir pontos de vista e esclarecer
dúvidas: “Concordo totalmente porque, o trabalho de grupo, ajudou-nos melhor a
compreender do que se estivéssemos sozinhos”.
Um dos problemas com que nos deparámos, ao longo da experiência, foi com a
dificuldade em apoiar adequadamente todos os alunos e a confusão instalada que daí
adveio, a qual foi também partilhada por um dos alunos que justificou a sua opinião
dizendo: “com o decorrer das aulas mudei de opinião em termos de facilitar, acho que com
menos gente era mais produtivo”.
Os que concordaram com estas duas primeiras afirmações referiram-se, essencialmente,
ao facto de aprender a trabalhar com o computador. A importância que hoje em dia se dá ao
computador e à diversidade de metodologias de ensino está patente na justificação do
seguinte aluno, quando diz que concorda com a afirmação porque “é uma maneira diferente
de aprender matemática, aprendendo também a manobrar o computador que para o futuro é
fundamental”. A “rejeição” do tradicional método expositivo lê-se na afirmação: “porque
eu acho que é muito mais interessante termos uma aula prática, ao invés de uma aula
teórica. Como tal acho que é um estímulo para a aprendizagem”. Houve também quem se
tenha referido ao facto de ter facilitado a aprendizagem, mas em menor número. Por
exemplo, um aluno, referindo-se às vantagens deste tipo de metodologias e à questão da
demonstração, afirmou que “é mais fácil compreender algo, o qual podemos “tocar” e não
como na teoria que tudo funciona como um plano, e sendo as demonstrações mais difíceis”,
indo de encontro à analogia de De Villiers (1996a) com a aula de culinária, onde o
importante não é o “produto acabado”, mas sim como chegamos a ele. Apesar da nossa
dificuldade em dar resposta a todas as solicitações, houve quem tenha concordado
totalmente que a metodologia adoptada tenha facilitado a aprendizagem porque “a ajuda era
muito maior”. Apesar da ajuda ser maior, também houve quem considerasse que este tipo
de metodologias lhes tenha permitido ser mais autónomos. Um dos alunos disse, ainda, que
concordava com as afirmações porque tinha aprendido “coisas que antes não sabia”.
Relativamente à terceira questão, muitos dos alunos não expressaram a sua opinião nem
a fundamentaram. Os alunos que não sentiram que o computador e o GSP tenham facilitado
a compreensão dos conceitos estiveram mais interessados no computador do que na matéria
154
e, curiosamente, houve quem tenha referido que “não conseguia decorar”, o que mostra a
sua dependência dos métodos tradicionais e a não ruptura com os mesmos. Alguns alunos
voltaram a fazer referência às dificuldades sentidas no computador.
A afirmação relativa ao trabalho de grupo recebeu a concordância da grande maioria
dos alunos, 81,5%. Os alunos mencionaram, essencialmente, a troca e discussão de ideias:
“concordo totalmente porque no grupo quase todas as pessoas tinham ideias diferentes e
então assim todas podíamos aprender e dar a nossa opinião”, “como se costuma dizer “duas
cabeças a pensar é melhor do que uma”. Para além disso, faz com que todos nós possamos
mostrar a nossa opinião e raciocínio”. Mencionaram também a inter-ajuda entre os colegas:
“sim, porque algumas eu não sabia e as outras colegas explicavam”.
Houve também quem se referisse à questão da autonomia, um dos nossos propósitos:
“houve sim discussão de ideias e isso é bom porque podemos reflectir sobre o tema sem
estar sempre a pedir ajuda ao professor”.
No que diz respeito às dificuldades, estas foram também sentidas por uma elevada
percentagem de alunos, 77,8%, referindo-se, essencialmente, ao facto de não saberem ou
não conseguirem resolver as tarefas, ao funcionamento do programa e ao pouco tempo
disponível para aprender.
Neste sentido, o GSP, em vez do papel facilitador e mediador que a maioria dos autores
lhe atribui, pode ser limitador no processo de aprendizagem pois o não domínio desta
ferramenta de trabalho ou o “não à vontade” pode fazer com que se sintam inseguros e que
o progresso não se faça sentir. Os alunos devem conhecer minimamente as funções do
programa para não se perderem com questões técnicas e para dedicarem mais tempo ao
estudo dos conteúdos. Alguns alunos referiram também o facto de “não saber como agir
perante o trabalho”, o que demonstra falta de autonomia e capacidade de decisão.
É verdade, principalmente no início da experiência, que mal entregávamos as fichas de
trabalho, já estavam a chamar por nós para saberem o que era para fazer e como, quando
alguns ainda nem sequer tinham lido o enunciado. Mas, também houve quem admitisse que
as dificuldades sentidas eram “naturais”, por se tratar de uma “experiência nova” e não se
poder “fazer tudo a primeiro momento”, enquanto outros se referiram ao facto de não se
terem adaptado à forma de dar as aulas. Dos poucos alunos que afirmaram não ter sentido
155
dificuldades, um deles assegurou que “com o GSP as dificuldades eram explicadas”,
estando aqui presente o papel facilitador do GSP na resolução das tarefas.
Também uma percentagem expressiva de alunos, 63%, achou que o recurso ao
computador e ao GSP motivou o funcionamento das aulas, referindo-se fundamentalmente
a uma maneira diferente de aprender. Um dos alunos disse ter ficado bastante surpreendido,
pois nunca pensou que seria assim, já outro considerou que as aulas com o professor no
quadro também são motivantes, mas reconhece que é “mais difícil prestar atenção aos
conceitos, porque nós só nos preocupamos em fazer os trabalhos e não a compreende-los”,
voltando a estar aqui subjacente a questão da memorização/compreensão e da participação
menos activa por parte dos alunos.
No que diz respeito às vantagens e desvantagens da utilização do computador e do GSP,
uma percentagem significativa de alunos considerou ter havido quer vantagens, quer
desvantagens, apesar dessa percentagem ter sido um pouco superior no que diz respeito às
vantagens, 63%.
As principais vantagens citadas pelos alunos foram o estímulo, a facilidade de
aprendizagem, o facto de trabalhar com o computador e a alusão à inegável realidade destes
serem essenciais para a futura integração na sociedade em que vivemos, o que está bem
patente, por exemplo, numa das respostas que apontou como vantagem o “conhecimento de
um novo programa informático e a aprendizagem do mesmo; o facto de trabalhar mais com
computador é bastante vantajoso pois os computadores são o futuro”.
Houve também quem se tenha referido a algumas das vantagens características deste
tipo de programas, o ser “mais fácil fazer experiências” e o facto de que “com o
computador foi tudo mais rápido”. O “aprender o sentido das coisas” e o “saber aplicar a
matemática” foram outras vantagens pedagógicas que pretendíamos com este tipo de ensino
e que também foram apontadas por alguns alunos. O “aprender o sentido das coisas” e o
“saber aplicar” é essencial num ensino que se pretende renovado e que vá ao encontro das
actuais orientações curriculares. Felizmente, alguém confessou ter começado a gostar mais
de matemática, e só por isso valeu a pena.
No que diz respeito às desvantagens, as principais indicadas foram o barulho e as
dificuldades sentidas, quer a nível de aprendizagem, quer a nível do trabalho com o
156
computador pelo que, alguns alunos atribuíram à geometria e à experiência o facto de terem
tirado notas mais baixas ou terem tido negativa. Estranhamente, um aluno mencionou que
com o computador e o GSP “não aprendíamos com os nossos erros, era só seguir as
instruções”. Dizemos estranhamente porque, apesar do GSP ter um papel facilitador e ser
um bom auxiliar na resolução das tarefas, este não as resolve por nós e temos de ser nós a
dar-lhe as instruções.
Em situações futuras, a grande maioria, 85,1%, dos alunos gostaria de voltar a utilizar o
computador, opinião expressa na questão 9, onde apenas um aluno não respondeu à
questão. Nenhum dos alunos concordou com “utilizar sempre o computador na sala de
aula”. Como diz o provérbio, e citado por um dos alunos, “nem 8, nem 80”. No entanto, já
houve um aluno que confessou que “gostaria de nunca mais utilizar o computador” porque
não tinha percebido a matéria. Dois alunos escolheram utilizar raramente o computador,
48,1% dos alunos gostava de o utilizar apenas algumas vezes e 37% dos alunos gostava de
o utilizar frequentemente.
Os alunos que gostavam de utilizar o computador com alguma frequência apontam a
sua importância para o futuro como principal razão. Alguns mencionaram o estímulo e a
facilidade de aprendizagem, mas em menor escala. Citando um dos alunos: “com o
computador penso que a aprendizagem se torna mais fácil, e também o uso do computador
faz parte do desenvolvimento do ensino”, o que vai ao encontro das actuais orientações. O
aluno tem consciência que a escola tem de se adaptar às novas exigências da sociedade e
apostar também nas novas tecnologias.
Os alunos que gostariam de, futuramente, utilizar com menos frequência o computador
justificaram-se, por exemplo, por não ser necessário para a sua profissão, mas referiram-se
sobretudo ao facto de sentirem mais dificuldades. Alguns alunos voltam a fazer referência
ao comportamento da turma e ao facto de não haver um computador para cada aluno,
acrescentando ainda a necessidade de alternância entre aulas no computador e aulas sem
computador: “acho que é bom para o aluno poder ter aulas diferentes, mas nem sempre no
computador (aulas práticas) nem sempre teóricas. Como tal acho que se devia alternar essas
idas aos computadores”.
No que diz respeito às principais diferenças observadas, comparativamente às aulas
157
normais, questão 10 do questionário, os alunos referiram-se às dificuldades sentidas e ao
seu empenho. Apesar das dificuldades sentidas, alguns alunos admitiram que as aulas assim
foram mais interessantes e alguns até se empenharam e trabalharam mais, 44,4% e 18,5%,
respectivamente – “consegui trabalhar e empenhar-me mais”, tendo havido mesmo quem
tenha dito que “é tudo muito mais empolgante”.
Alguns alunos, 18,5%, frisaram a maior irrequietude por parte da turma, o que culminou
numa maior desatenção. Dois alunos recordaram que, nestas aulas, primeiro tentavam
“descobrir as propriedades das matérias”, contrariamente às aulas normais onde
trabalharam “mais teoricamente”, como referiu outro aluno. Outro aluno notou ainda que
havia “menos apontamentos no caderno para mais tarde estudar”. Não sabemos se com um
sentido positivo ou não, mas este aspecto preocupou principalmente os alunos mais
aplicados. Reconheceram também que “é tudo muito rápido” e que “o tempo passa mais
rápido”, opiniões que vão de encontro aquilo que também sentimos.
Com a última questão desta parte do questionário, questão 11, pretendíamos que os
alunos deixassem um comentário acerca da experiência para termos uma ideia global de
como os alunos a viram. A maioria dos alunos fez comentários curtos como “decorreram
bem” ou “foram boas”. Apenas um aluno considerou que estas aulas tinham corrido mal,
pois “não tinham interesse nenhum”, contra 74,1% que considerou, pelo contrário, que
estas decorreram bem e foram boas.
A agitação por parte da turma voltou a ser referida por alguns alunos, 26%, que
consideraram que as aulas podiam ter corrido melhor se tivessem estado mais atentos e
fizessem menos barulho ou que correram bem ou razoavelmente bem à excepção de quando
a agitação começava. Dos restantes, um aluno disse terem decorrido normalmente e outro
comentou que foi uma forma diferente de aprendizagem e que gostaria de voltar a repeti-la.
Deixamos aqui alguns comentários de alunos acerca da forma como decorreram as aulas.
“Eu acho que as aulas não podiam ter corrido melhor, acho que isto ajudou imenso, por isso a única coisa que tenho a dizer é que as aulas é que deviam ser sempre assim”. “Por um lado as aulas decorreram bem, mas para mim não correram lá muito bem pois eu mantive uma certa dificuldade na aprendizagem da geometria com o programa”.
158
“As aulas correram bem, a turma por vezes é que não facilitava e fazia bastante barulho”. “Eu acho que foram umas aulas muito boas e estimulantes para nós em relação à matemática (geometria). Também tornou a aprendizagem mais fácil”. “Para mim as aulas correram bem, apesar dos contraditórios como, estar toda a turma dentro da sala e por conseguinte grupos maiores, o que levou a uma desorganização considerada grande”. “As aulas decorreram bem, pois sempre que havia dúvidas tínhamos sempre alguém para nos ajudar, e é uma nova forma de aprendermos”. “Com as aulas nos computadores aprendemos e poderíamos ter aprendido muito acerca de geometria. Na minha opinião acho que as aulas seriam mais produtivas com menos alunos. Mas, no geral as aulas foram boas e produtivas”.
5.2.2. Apreciação das tarefas de Geometria
Com esta parte do questionário pretendíamos saber a opinião dos alunos acerca dos
temas abordados nas fichas de trabalho e da sua realização. Como se pode observar pela
tabela 15, a maioria dos alunos considerou que os temas abordados nas fichas de trabalho
foram importantes e interessantes.
Tabela 15. Importância e interesse dos temas estudados.
Frequência (%) Questão D C SO1. O estudo dos temas geométricos abordados foi importante 2. O estudo dos temas abordados foi interessante
7,4 7,4
77,8 74,1
14,818,5
D – Discordo, C – Concordo, SO – Sem Opinião.
No que concerne às maiores dificuldades sentidas na execução das tarefas, questão 3,
pode-se observar que estas foram generalizadas e, como era de esperar, centradas na
compreensão das tarefas, na interpretação e na justificação dos resultados obtidos. As
dificuldades foram menores no que concerne ao trabalho com o GSP e à escrita das
conclusões, como se pode constatar pela tabela 16.
159
Tabela 16. Dificuldades sentidas pelos alunos.
Frequência (%)Questão 3. Ao resolver as tarefas, as maiores dificuldades que surgiram foram: D C SO3.1. Perceber os objectivos da tarefa 3.2. Trabalhar com o GSP 3.3. Interpretar os resultados e chegar às conclusões 3.4. Escrever correctamente as conclusões 3.5. Explicar o processo de resolução 3.6. Explicar/justificar os resultados 3.7. Outra. Qual?
40,7 59,3 22,2 37,0 44,4 25,9
–
51,9 33,3 55,6 44,4 44,4 66,7
–
7,4 7,4 22,218,511,17,4 –
D – Discordo, C – Concordo, SO – Sem Opinião.
As dificuldades em perceber os objectivos das tarefas e em chegar às conclusões
fizeram-se sentir mais no início da experiência, enquanto não se habituaram ao estilo das
tarefas e ao trabalho com o computador. Já o processo de explicação foi sempre muito
difícil para os alunos e só com a nossa ajuda é que alguns conseguiram realizar esta
actividade com algum sucesso.
No que diz respeito ao GSP, realmente, a maioria dos alunos raramente se mostrou
inibida ou insegura na sua utilização. No que diz respeito à escrita das conclusões, embora
a percentagem não seja tão elevada, uma vez que eles realmente escreviam as conclusões,
somos da opinião que uma grande parte teve dificuldades em se expressar e em usar
correctamente a linguagem matemática, apesar de também se ter verificado, com o decorrer
da experiência, alguns progressos.
Quanto à finalidade das tarefas, com a ajuda do computador e do GSP, podemos
verificar, pela tabela 17 que, de um modo geral, os alunos concordaram com as afirmações
expressas, principalmente no que diz respeito ao seu papel na aprendizagem. Puderam
utilizar estratégias variadas, ser criativos, reflectir, corrigir os próprios erros, organizar as
ideias, exprimi-las com clareza e experimentar novas abordagens. E, o que é muito
importante, permitiu-lhes assumir um papel mais activo, ser mais autónomos e ter uma
atitude mais positiva perante a aprendizagem. Os próprios alunos reconheceram, nas suas
afirmações, que podiam “reflectir... sem estar sempre a pedir ajuda ao professor”, que
podiam “descobrir mais sobre o tema”, que “aprenderam o sentido das coisas”, que
160
aprenderam a “aplicar a matemática”, que tentaram “descobrir as propriedades”, que lhes
permitiu “ser mais autónomos”.
Tabela 17. Finalidades das tarefas.
Frequência (%)Questão 4. A realização das tarefas, com ajuda do computador e do GSP, permitiu-te: D C SO4.1. Usar estratégias variadas de resolução 4.2. Organizar as ideias e exprimi-las com clareza 4.3. Usar a imaginação e ser criativo 4.4. Ter uma atitude positiva perante a aprendizagem 4.5. Tomar iniciativas 4.6. Gerir melhor o tempo 4.7. Reflectir sobre os objectivos das tarefas 4.8. Aprender mais facilmente 4.9. Ter um papel mais activo na aprendizagem 4.10. Ser mais autónomo e não depender tanto do professor 4.11. Experimentar novas abordagens 4.12. Corrigir os próprios erros 4.13. Ter uma impressão favorável da geometria 4.14. Outra. Qual?
7,4 25,9 18,5 22,2 18,5 25,9 18,5 33,3 18,5 22,2 14,8 14,8 33,3
–
77,8 55,6 63,0 66,7 48,1 44,4 51,9 48,1 74,1 63,0 66,7 59,3 40,7
–
14,818,518,511,133,329,629,618,57,4 14,818,525,925,9
– D – Discordo, C – Concordo, SO – Sem Opinião.
No que diz respeito à tomada de iniciativas, à melhor gestão do tempo, à facilidade de
aprendizagem e a uma impressão mais favorável da geometria, as percentagens não foram
tão significativas. Os alunos fizeram várias vezes alusão às suas dificuldades, o que se
traduziu nos apenas 48,1% que concordam que o computador e o GSP lhes tenha permitido
aprender mais facilmente e que apenas 40,7% tenha ficado com uma impressão favorável
da geometria.
No que concerne à organização e à expressão de ideias, os alunos, ao longo da
experiência, foram melhorando esse aspecto, não precisando tanto da nossa ajuda, a não
ser, eventualmente, para esclarecer alguma coisa ou simplesmente para confirmarem as
suas respostas.
O facto de os alunos trabalharem ao seu próprio ritmo tem as suas vantagens
161
pedagógicas, mas tornou a gestão do tempo mais complicada, mesmo para nós. Os alunos
“perdiam-se” nas construções, nas medições, na procura de relações, o que culminou,
principalmente no início, em sucessivos atrasos pois eram metodologias a que não estavam
habituados. O tempo, como eles próprios reconheceram, “passava mais rápido” e reinou,
por vezes, a sensação que as aulas rendiam pouco.
A aprendizagem para alguns não se tornou mais fácil, longe disso, como já pudemos
constatar. Muitos alunos sentiram dificuldades aos vários níveis e, apesar de com o decorrer
da experiência, começarem a ter menos dificuldades em fazer investigações e em
estabelecer as conjecturas, as dificuldades em estabelecer raciocínios lógicos e em
encontrar explicações para as suas asserções continuaram sempre, o que pode ter
contribuído para ficarem com uma visão menos favorável da geometria.
Como se pode ler em Matos (1992), as conclusões de alguns estudos apontam para a
ideia de que, geralmente, os alunos gostam de Matemática quando têm sucesso na
resolução das tarefas. Ora, o facto de não alcançarem esse sucesso fará, provavelmente, ter
uma reacção oposta, e o facto de os alunos terem tirado notas mais baixas ou terem tido
muitas dificuldades na resolução das tarefas, pode ter ajudado a que tenham tido essa visão
menos positiva perante a disciplina ou perante o tema em estudo, e, portanto, que apenas
40,7% dos alunos tenha concordado com esta afirmação.
Quando confrontados com a metodologia de trabalho de grupo, a grande maioria dos
alunos também concordou com as afirmações expressas, como se pode ver na tabela 18,
principalmente no que diz respeito à partilha, à expressão e ao respeito pelas opiniões.
162
Tabela 18. Finalidade do trabalho de grupo.
Frequência (%)Questão 5. A realização das tarefas, em grupo, permitiu-te: D C SO
5.1. Expressar as tuas opiniões 5.2. Partilhar impressões/ideias com os colegas 5.3. Tomar iniciativas ou decisões 5.4. Aprender mais facilmente 5.5. Corrigir os próprios erros 5.6. Desenvolver trabalho de equipa 5.7. Ser mais autónomo e não depender tanto do professor 5.8. Respeitar a opinião dos colegas 5.9. Ter uma impressão mais favorável do trabalho de grupo 5.10. Ter uma impressão mais favorável da geometria 5.11. Outra. Qual?
– –
7,4 22,2 14,8 7,4 7,4 – –
18,5 –
88,9 96,3 77,8 59,3 70,4 77,8 77,8 96,3 74,1 59,3
–
11,13,7 14,818,514,814,814,83,7 25,922,2
– D – Discordo, C – Concordo, SO – Sem Opinião.
O trabalho de grupo foi importante para os alunos discutirem entre si e expressarem as
suas opiniões, ainda que a um nível muito superficial. Seguiram instruções, ditaram
conclusões, fizeram comentários e sugestões, mas não aprofundaram muito as tarefas. Foi
importante na tomada de consciência das suas acções, no esclarecimento de dúvidas e na
clarificação de ideias. Fomentou o espírito crítico e contribuiu para um aumento de
entusiasmo. Notou-se, indubitavelmente, uma participação mais activa, uma maior
dinâmica de trabalho, discutiram processos de resolução e aprenderam uns com os outros.
A percentagem mais baixa referiu-se ao “ter uma impressão mais favorável da
geometria”, associada, talvez, à mesma percentagem no que diz respeito ao “aprender mais
facilmente”. Ainda assim, 59,3% é uma percentagem expressiva de alunos que ficou com
uma impressão positiva.
Com as questões 6, 7 e 8, cujos resultados se encontram expressos na tabela 19,
pretendemos indagar os alunos relativamente à ajuda necessária para a resolução das tarefas
e à sua autonomia na resolução das mesmas.
163
Tabela 19. Ajuda na formulação das conclusões, na explicação dos procedimentos e na explicação das conclusões.
Frequência (%) Questão R A F Questão 6. Conseguiste chegar aos resultados 6.1. Com ajuda da professora 6.2. Com ajuda dos colegas 6.3. Com ajuda do computador 6.4. Sozinho Questão 7. Conseguiste explicar o processo de resolução 7.1. Com ajuda da professora 7.2. Com ajuda dos colegas 7.3. Com ajuda do computador 7.4. Sozinho Questão 8. Conseguiste explicar/justificar os resultados 8.1. Com ajuda da professora 8.2. Com ajuda dos colegas 8.3. Com ajuda do computador 8.4. Sozinho
25,911,17,4 37,0
7,4 7,4 25,966,7
7,4 14,844,474,1
40,7 44,4 51,9 55,6
48,1 63,0 48,1 29,6
55,6 59,3 40,7 14,8
33,3 44,4 40,7 7,4
44,4 29,6 25,9 3,7
37,0 25,9 14,8 11,1
R – Raramente, A – Algumas vezes, F – Frequentemente.
Pela observação da tabela, podemos constatar que, na procura de relações para a
formulação de conjecturas, a maioria dos alunos conseguiu sozinha ou com ajuda do
computador realizar essa actividade. A percentagem de alunos que afirma ter conseguido,
autonomamente, chegar algumas vezes às conclusões é de 55,6% e com a ajuda do
computador é de 51,9%. Foram ainda bastantes os alunos que afirmaram ter conseguido,
frequentemente, chegar aos resultados com a ajuda do computador, 40,7%. Alguns
conseguiram-no também com a ajuda dos colegas e portanto não houve tanta necessidade
de recorrer à professora.
Pudemos, realmente, constatar que os alunos foram, gradualmente, deixando de solicitar
tanto a nossa ajuda nas investigações e na resolução de algumas tarefas, tornando-se,
progressivamente, mais autónomos, opinião também partilhada pela professora da turma,
quando reconhece que os alunos, entre outras capacidades, “desenvolveram um pouco a
164
autonomia deles, porque tinham que desenvolver as tarefas sozinhos”. Mas, essa autonomia
já não foi tão conseguida na procura de explicações. A maioria concorda que raramente
conseguiu sozinha explicar os processos de resolução, 66,7%, bem como explicar ou
justificar as conclusões obtidas, 74,1%, tendo necessitado, principalmente, da ajuda dos
colegas e da professora. A ajuda do computador também foi considerada importante,
principalmente na explicação dos processos de resolução, mas em menor escala.
Pudemos, assim, constatar que, com o passar da experiência, os alunos continuaram a
depender, particularmente, da ajuda da professora, ainda que os colegas, bem como o
computador, tenham sido um bom apoio. Esta dependência da professora verificou-se
principalmente em relação à necessidade de explicar os processos de resolução e os
resultados obtidos, pois tratava-se de uma turma com bastantes dificuldades. Foram poucos
os alunos que, mesmo assim, conseguiram acompanhar a nossa ajuda. Mas, podemos
afiançar que, de um modo geral, os alunos evoluíram progressivamente e alcançaram
alguma autonomia.
As tarefas apontadas como favoritas, pelos alunos, na questão 9, foram as que
constavam das fichas de trabalho Mediatriz, Ângulos ao centro numa circunferência,
Ângulos inscritos numa circunferência e Recta tangente à circunferência, talvez porque
foram as que mais aplicaram nos exercícios práticos e que melhor perceberam, por serem
relativamente mais acessíveis. Aliás, a maioria justificou a sua escolha precisamente por
serem mais fáceis. Os alunos que escolheram tarefas “menos eleitas”, como as presentes
nas fichas: Construção do aeroporto I e II, Quadrilátero inscrito numa circunferência ou
Papagaio. Propriedades I, fizeram-no por terem sido as actividades que “deram mais luta”
e que “foram mais interessantes de realizar”.
As tarefas que suscitaram mais dificuldades, como era de esperar, foram exactamente as
acabadas de referir. Mas, pela discussão que se gerou à volta das mesmas, apesar de
difíceis, foram as que mais os cativou, pelo empenho e entusiasmo com que se dedicaram à
investigação e à procura de soluções. A construção da recta tangente à circunferência,
embora os alunos tenham percebido a propriedade e a conseguissem aplicar, muitos não
conseguiram resolver com sucesso as tarefas, pois tinham de fazer construções resistentes.
Mesmo assim, ficaram empolgados com a tarefa e, os que conseguiram, ficaram encantados
165
com a sua “pequena grande vitória”. Apenas um aluno mencionou ter tido dificuldades em
todas as tarefas e não ter gostado de nenhuma. Os alunos não fundamentaram as suas
justificações, limitando-se a dizer que eram difíceis ou que não tinham percebido o que era
para fazer.
Também as opiniões acerca das tarefas realizadas, expressas na questão 11, não foram
muito fundamentadas. Os que responderam, limitaram-se a referir que estas ou eram
interessantes, 44,4%, ou que algumas eram difíceis e tiveram dificuldades em perceber a
matéria, 51,9%, enquanto 14,8% dos alunos afirmaram não terem interesse. Apenas dois
alunos reconheceram que estas facilitaram a aprendizagem e um aluno referiu-se a uma
maior autonomia: “Gostei de todas as tarefas apresentadas pela professora uma vez que nos
permitiu ser mais autónomos. Como já referi anteriormente acho que foi uma aposta muito
produtiva”. O tempo disponível, como já foi referido, não era muito e não permitiu
aprofundar determinadas tarefas, tanto como desejaríamos, o que também foi sentido por
alguns alunos mais curiosos e interessados, que ficaram com a sensação de que “houve
coisas que ficaram por dizer”, o que demonstra que havia alunos que estavam interessados
e que queriam ir mais longe.
Não responderam a esta questão 26% dos alunos. Os restantes 7,4% referiram-se
também à falta de tempo para aprender: “as tarefas foram excelentes, o que eu não gostei
foi de ter pouco tempo para aprender”. Apesar da elevada percentagem que considerou as
tarefas difíceis ou que teve dificuldades em as perceber, muitos desses alunos também as
consideraram interessantes: “Foram um pouco difíceis, contudo foram interessantes.
Continuo a dizer que fiquei a conhecer muitas coisas que me fascinaram”.
5.3. Entrevista à professora da turma
No final da experiência foi realizada, pela investigadora, uma entrevista à professora da
turma com a finalidade de obter a sua apreciação e complementar a informação já
recolhida. Esta realizou-se, num ambiente informal, no início do mês de Julho, após a
conclusão das actividades lectivas na sua escola.
166
5.3.1. Ensino da Geometria: Circunferência e Polígonos
Relativamente ao ensino da geometria e, em particular desta unidade, a professora da
turma considera-o importante pois desenvolve o raciocínio lógico/abstracto dos alunos e
“fá-los pensar”. Concorda que geralmente o seu ensino é deixado para o fim do ano lectivo,
ficando muitas vezes por leccionar, essencialmente nos 7º e 8º anos de escolaridade. Pensa
que tal acontece porque “há outros capítulos que serão mais necessários nos anos seguintes,
ou simplesmente por ser costume... os professores nem se questionam”!
Segundo a professora, “é essencial que os alunos saibam o que é um ponto, uma recta,
uma semi-recta, um segmento de recta... distingam figuras planas de sólidos, saibam
calcular áreas e volumes... marquem pontos no plano e no espaço, conheçam a posição
relativa de rectas e planos... não me estou a lembrar de mais nada que julgo essencial”.
Crê que os alunos, de um modo geral, não gostam de geometria pois associam-na “a
desenho e a algo muito difícil” e, portanto, “a primeira reacção nunca é boa, acham sempre
que não vão conseguir”. Considera, ainda, curioso que os melhores alunos se mostrem mais
retraídos e geralmente desçam as notas, ao passo que os mais fracos até gostam e muitas
vezes até sobem as suas notas.
Nas suas aulas, para motivar os alunos, costuma, sempre que possível, recorrer a
“exemplos, modelos da vida real, para ser menos abstracto para os alunos e para que eles
melhor compreendam e mais se motivem”. Em termos de materiais didácticos, recorre aos
mais usuais, quadro, giz, manual, revistas, acetatos, régua, compasso e modelos físicos,
como sólidos geométricos. Apenas no 10º ano chegou a utilizar o computador para mostrar
aos alunos a planificação dos sólidos.
As dificuldades sentidas pelos alunos devem-se, segundo a professora, ao facto de estes
estarem “habituados a terem algoritmos, fórmulas para resolverem os exercícios de
matemática. Quando chegam à geometria... é-lhes exigido que pensem e isso eles não estão
muito habituados”. É de opinião que estas dificuldades surgem logo no 7º ano, quando se
aborda o tema Semelhanças de Triângulos – “É logo um problema, perceberem que igual é
diferente de semelhante, que a posição dos triângulos não faz diferença, são estas coisas
básicas que lhes faz mais confusão”, e que essas dificuldades são realmente sentidas
167
quando os alunos chegam ao 10º ano e estão quase dois períodos a dar geometria,
precisamente pelo facto desta, no 3º ciclo, ter sido relegada para segundo plano.
Considera ser muito difícil colmatar tais dificuldades, uma vez que o programa é
extenso e “não há muito tempo a perder”, o que julga ser uma opinião partilhada pela
generalidade dos professores. Considera importante o uso de mais modelos físicos ou
mesmo do computador para não ser tudo tão abstracto. Segundo a professora, o problema
não reside no currículo, mas no seu não cumprimento. Pensa que sendo a geometria uma
das áreas da matemática que mais desenvolve o raciocínio lógico/abstracto quanto mais
cedo for abordada melhor. Como já referiu, o uso do computador pode ser um meio de
motivar os alunos e acha muito interessante a utilização do GSP ou de outro tipo de
programa pois “permite aos alunos explorarem, serem eles próprios a descobrirem as
coisas, o que penso que os ajuda muito, pois funciona como uma grande motivação e
permite-lhes uma mais fácil aprendizagem”.
5.3.2. Experiência de ensino e aprendizagem
Com esta parte da entrevista pretendíamos uma apreciação global da experiência por
parte da professora da turma.
Não foi a primeira vez que a professora recorreu às novas tecnologias, mas foi a
primeira vez que recorreu ao GSP e envolveu os alunos mais activamente. Pensa voltar a
fazê-lo, sempre que possível e achar conveniente, pois considera que, apesar de alguns
contratempos, foi uma experiência positiva. No que respeita ao trabalho de grupo considera
que há turmas que trabalham bem e outras não, mas tenta sempre que os alunos realizem
pelo menos um trabalho de grupo. Encara as aulas com estas metodologias de ensino como
sendo mais motivadoras pois “sempre que as aulas fogem da rotina os alunos gostam”.
Além do mais, concorda com o facto de os alunos, hoje em dia, “adorarem os
computadores”, o que fez com que “ficassem mais empolgados” na medida em que
“gostam de ter um papel mais activo”.
Quando questionada se os alunos tinham aproveitado o facto de estar a trabalhar em
grupo, diz ser difícil, numa turma com tantos alunos, todos aproveitarem de igual modo,
168
mas considera que “alguns tiraram partido dessa situação, trocando ideias com os colegas e
aprendendo com eles... de um modo geral, penso que os grupos se entenderam e todos
colaboraram”.
Nestas aulas constatou que os alunos tiveram um papel mais activo do que nas aulas
normais, eram um pouco mais autónomos e tinham de trabalhar mais sozinhos o que
também contribuiu para que muitos se sentissem desorientados e para alguma irrequietude,
contribuindo ainda para que as aulas se tornassem mais barulhentas. Notou também que
“estavam um pouco ansiosos, com medo de não conseguirem acompanhar os outros” pois
“estão mais habituados a ouvirem o professor, a ter mais orientações, como se costuma
dizer, a terem a papinha feita”, e daí também a constante solicitação da nossa ajuda.
Apesar destes aspectos menos positivos, pensa que “se viveram momentos agradáveis
onde a maioria da turma se mostrou interessada e empenhada”.
Quanto aos aspectos mais marcantes desta experiência, a professora destacou a grande
vontade dos alunos em colaborar e ao mesmo tempo a grande insegurança e falta de
autonomia em relação a tudo o que faziam sem ter a nossa apreciação, apesar de, ao longo
da experiência, terem melhorado um pouco nesse aspecto.
Relativamente às tarefas propostas, a professora considerou que estas foram ao encontro
do programa, abordaram conceitos interessantes e importantes e possibilitaram aos alunos
serem eles próprios a descobrir as propriedades e a visualizarem as coisas, o que considera
importante, pois quando, em anos anteriores, abordava este tema os alunos sentiam muitas
dificuldades em perceber do que se estava a falar e tinha de estar constantemente à procura
de novos exemplos onde as propriedades se aplicassem. Através do GSP, eles próprios
puderam experimentar e averiguar o que ocorria, facilitando, assim, a descoberta e a
compreensão dos conceitos – “quando somos nós a fazer uma descoberta, sem ser ninguém
a dizer-nos, dificilmente esquecemos, quando nos é permitido visualizar, mexer,
experimentar, aprendemos muito melhor”. Muitos alunos mostraram interesse em continuar
com as investigações por conta própria, pois pediram o programa para instalar em casa e
poderem explorá-lo com mais calma.
De acordo com a professora, este tipo de tarefas e metodologias esbate as diferenças
entre os alunos. Diz que “os maus alunos geralmente são mais receptivos a este tipo de
169
actividades, enquanto que os bons alunos preferem as aulas normais onde aceitam o que
lhes é dito, estudam, praticam e aplicam”.
No que concerne às dificuldades dos alunos, a professora verificou que os alunos “se
sentiram um pouco perdidos”, principalmente em saber para o que é que servia o que
estavam a aprender, contrariamente ao que acontecia nas aulas normais em que os alunos
tinham dificuldade em assimilar as propriedades e muitas vezes não sabiam como as
aplicar.
Considerou estas aulas em tudo diferentes das restantes, a começar pelo espaço físico e
as metodologias usadas: “foi tudo uma novidade para os alunos” e por essa razão a
professora acha que foram motivadoras e muito importantes, também já a pensar no futuro,
“visto que a reforma do ensino secundário prevê que os alunos usem novas tecnologias ao
longo de todo o ano”. Considera que a experiência foi muito interessante e que funcionou
bem e, portanto, assegura, em anos futuros, voltar a usar o GSP, pois considera importante
serem os próprios alunos a tirar as conclusões e o facto de poderem ver e experimentar
através do GSP ajudou-os imenso nesse sentido. O que acha que “correu menos bem” foi a
planificação da nossa parte pois esperávamos sempre muito mais dos alunos do que na
realidade eles conseguiam, o que fez com que o tempo começasse a escassear e não
houvesse tantas oportunidades para resolver mais exercícios de aplicação e explorar mais e
melhor as tarefas, o que contribuiu para que os alunos sentissem as tais dificuldades em
perceber como iriam aplicar o que estavam a aprender, “causando-lhes alguma ansiedade”.
Portando, quando voltar a usar o GSP, tenciona, como inicialmente tínhamos previsto,
reduzir o número de tarefas e intercalar com mais exercícios de aplicação.
Quanto à opinião dos alunos, afirma não ter sido unânime, salientando que a maioria
gostou e sentiu que foi importante, até para os próximos anos, ao passo que os outros
acharam que com as metodologias usuais tinham conseguido aprender melhor.
No que diz respeito às vantagens e desvantagens apontadas pela professora, estas
centraram-se nos alunos, tendo destacado o contacto destes com as novas tecnologias e o
facto de o GSP lhes ter proporcionado momentos de descoberta a partir da experimentação
e da visualização e de os ter motivado. Inicialmente, teve dificuldades em encontrar
desvantagens, por encarar este tipo de experiências como sendo sempre enriquecedoras,
170
mas acabou por anotar, como desvantagem, apesar de considerar normal por se tratar de
algo novo, a maior dispersão da turma, mais barulho e menos concentração por parte de
alguns alunos que “aproveitaram o facto de estar a trabalhar em grupo para descansarem
enquanto os colegas trabalhavam” ou para “brincar com o computador”.
Quanto às capacidades desenvolvidas pelos alunos, apesar das tarefas serem orientadas
e da nossa ajuda constante, pensa que eles desenvolveram a capacidade de investigação e
alguma autonomia, pois “nas aulas normais não têm oportunidade de mexer, de
experimentar” e “tinham que desenvolver as tarefas sozinhos, o que também não estão
habituados”. O facto de estarem a trabalhar em grupo, segundo a professora, contribuiu
para desenvolver a capacidade de comunicação, uma vez que tinham de conversar sobre o
trabalho e tirar conclusões. Quanto à capacidade de demonstração, a professora admitiu que
“infelizmente não conseguimos desenvolver”, pois, isso, para os alunos, “dava muito
trabalho!”. Aliás, uma das melhores alunas e dos poucos que conseguiram acompanhar os
raciocínios, chegou mesmo a confessar que não gostava de geometria porque tinha de
explicar muita coisa.
A professora da turma falou acerca da experiência com muitos colegas, nomeadamente
na reunião de departamento, com os colegas de grupo. Realçou a questão da inovação, pois
nunca ninguém o tinha feito anteriormente naquela escola, o facto de estar a ser bem aceite
pelos alunos e a importância deste tipo de experiência para os motivar “para uma nova
realidade de ensino”. Relativamente aos aspectos menos positivos, focou o facto de “estar a
perder muito mais tempo que o previsto para leccionar esta unidade”. Pessoalmente, e
citando as suas palavras, considera que:
“Esta experiência foi importante na medida que aprendi a trabalhar com o GSP, conheci as potencialidades do programa. Para além disso, foi uma experiência nova... nunca tinha leccionado uma unidade recorrendo quase exclusivamente à informática. Por tudo isto estou muito satisfeita...penso que a experiência foi muito positiva, por tudo o que já mencionei... Como comentário final gostaria de começar por te agradecer o facto de ser a escolhida para fazer contigo esta experiência. Penso ser muito importante acordar os professores que já leccionam há algum tempo e se acomodam com as tradicionais aulas... adorei!”
171
C A P Í T U L O VI
CONCLUSÕES DO ESTUDO
Depois de um “longo caminho percorrido” há que “olhar para trás” com “os olhos
postos no futuro”, há que tirar elações, reconhecer limitações e apontar algumas
recomendações, quer ao nível das práticas educativas quer ao nível de futuras
investigações, que nos permitam reflectir sobre o ensino em geral, da Matemática e da
Geometria, em particular, sobre estratégias que contribuam para uma melhoria do processo
de ensino/aprendizagem da Geometria.
Neste capítulo começaremos por descrever muito sucintamente o nosso estudo que, de
um modo geral, procurou analisar as potencialidades educativas dos Ambientes
Geométricos Dinâmicos (AGD), nomeadamente do Geometer’s Sketchpad (GSP), para, a
seguir, destacarmos as principais conclusões e limitações e apresentarmos algumas
recomendações que consideramos pertinentes.
6.1. Descrição do estudo
A constante evolução da sociedade da informação obriga-nos a repensar algumas das
nossas crenças e atitudes. É inquestionável que os alunos de hoje são diferentes dos de
outros tempos e as exigências da sociedade também são outras. Consequentemente, a
escola e o professor têm, de igual modo, que assumir papéis diferentes.
As novas tecnologias, nomeadamente o computador, podem ser a “ponte” para essa
nova escola e para esse novo professor, indo de encontro às convicções de Azevedo (2002,
p. 157), para quem as novas tecnologias “são factores geradores de uma nova escola onde a
interdisciplinaridade e a criatividade podem optimizar a relação professor-aluno e estimular
173
o sucesso escolar”, permitindo ao aluno ter uma participação mais activa na construção da
sua aprendizagem.
No caso concreto da geometria, os Ambientes Geométricos Dinâmicos (AGD) são
frequentemente apontados como ambientes propícios e facilitadores de uma aprendizagem
significativa, servindo como motivação para o seu estudo. Estes ambientes permitem aos
alunos construir, observar e manipular, e, sobretudo, agir. Os alunos quase que são
“obrigados” a tomar algum tipo de acção, o que favorece a apreensão de conceitos e
relações geométricas, possibilitando e estimulando a comunicação, a criatividade e o
pensamento autónomo. Permitem, ainda, quando utilizados em trabalhos de grupo,
desenvolver sentimentos de cooperação, solidariedade e respeito pelos outros.
Os computadores também vieram dar uma nova visão à questão da demonstração
matemática, que, apesar de ter vindo a mudar ao longo dos tempos, continua a merecer um
lugar de destaque (Hanna, 2002) e é importante que os alunos sejam sensíveis a esta
questão e que, já no final do 3º ciclo, um aluno matematicamente competente demonstre
interesse pelas demonstrações e que compreenda o raciocínio seguido (Abrantes et al.,
1999) e que os professores as vejam como mais um recurso didáctico valioso de que se
podem servir, juntamente com a utilização dos AGD.
Os estudos realizados em Portugal, com o recurso aos AGD, mostraram que o trabalho
em AGD tende a criar uma atitude positiva nos alunos no que diz respeito à matemática e a
desenvolver neles uma certa autonomia. Mas, também chamam a atenção para o facto
destes ambientes poderem vir a ser limitadores no processo de ensino/aprendizagem, pois a
falta de domínio destes programas pode ser um obstáculo à resolução de problemas e ao
aprofundamento de determinadas questões.
Perfilhando da opinião de Neves (1988), embora as novas tecnologias sejam um “salto
qualitativo relativamente aos processos tradicionais” (p. 46), não as podemos ver como
uma “panaceia mágica que vem resolver todos os problemas” (p. 21). O computador
realmente pode ajudar de forma significativa a melhorar o processo de
ensino/aprendizagem, mas é um instrumento que, como qualquer outro, deverá ser utilizado
com “peso e medida”, caso contrário não será mais de que um “factor de estagnação”.
As tendências curriculares actuais apontam, assim, para uma aprendizagem baseada na
174
experiência, na manipulação e na utilização das novas tecnologias, onde os alunos possam
desenvolver a capacidade de explorar, conjecturar e raciocinar logicamente, argumentar e
comunicar, adoptando um papel mais activo e autónomo (DEB, 2001, NCTM, 1991) que
pode ser bastante desenvolvido com a Geometria através de investigações, de debates e da
resolução de problemas não rotineiros (Afonso, 2002, APM, 1988, Junqueira, 1995).
E foi com base nestas considerações que o nosso estudo foi desenvolvido, pretendendo-
se analisar as potencialidades dos AGD como mediadores no processo de
ensino/aprendizagem da Geometria e como é que estes podem aproximar os alunos da
prática da demonstração matemática. Pretendemos que os alunos investigassem
construções, procurassem relações invariantes ou não, formulassem conjecturas,
encontrassem explicações lógicas, discutissem resultados e opiniões, contribuindo, assim,
para o desenvolvimento de competências essências no domínio da compreensão, da
comunicação e do raciocínio. Pretendemos também incutir nos alunos algum gosto pela
geometria (ou matemática), hábitos de reflexão e desenvolvimento de um trabalho mais
activo e autónomo.
Estas considerações levaram a formular as seguintes questões de investigação:
- A utilização dos AGD contribui para o desenvolvimento de capacidades matemáticas,
tão importantes, como compreender e relacionar objectos geométricos, formular
conjecturas, estabelecer raciocínios lógicos, comunicar e usar correctamente a linguagem
matemática? Será que o recurso aos AGD leva os alunos a privilegiar a evidência como
forma de argumentação?
- Os AGD poderão contribuir para uma nova aprendizagem da geometria tornando os
alunos mais interessados e autónomos?
- Quais as concepções que os alunos têm acerca da geometria e da demonstração? É
possível mudá-las através da utilização dos AGD?
Dada a problemática do estudo, uma vez que estávamos perante uma situação particular,
com participantes e características específicas, num contexto natural de sala de aula,
optamos por uma metodologia de natureza predominantemente qualitativa, baseada numa
observação participante activa, uma vez que a investigadora se integrou no seio da turma e
acompanhou os alunos na sua actuação (Guash, 1997).
175
A recolha de dados foi efectuada nas aulas de Matemática, de uma turma de 9º ano, de
uma escola secundária do distrito do Porto, constituída por 27 alunos com idades
compreendidas entre os 14 e os 17 anos, onde trabalharam, num total de onze sessões, em
grupos de 2 a 3 alunos, o tema de Geometria, Circunferência e Polígonos. Rotação, com
tarefas adaptadas à utilização do GSP e em conformidade com as orientações curriculares.
A análise de dados centrou-se na descrição e interpretação dos dados recolhidos através
da observação de aulas, registo de notas da investigadora, documentos produzidos pelos
alunos, dois questionários aos alunos e uma entrevista à professora da turma.
As tarefas propostas aos alunos foram organizadas e apresentadas em dezasseis fichas
de trabalho, onde tiveram de explorar figuras e as suas relações, fazer construções, formular
conjecturas e realizar pequenas demonstrações, onde adquiriram vocabulário específico e
aplicaram conceitos aprendidos. Na sua preparação houve também a preocupação de ir ao
encontro dos programas e de serem progressivas, isto é, o nível de dificuldade foi
aumentando e recorriam ou tinham por base conceitos adquiridos em tarefas anteriores.
Indo de encontro à opinião de Varandas (2000), que realça a importância dos
professores diversificarem e adaptarem a sua forma de avaliação às novas metodologias
adoptadas, foi proposto um tipo de avaliação adaptado ao trabalho de grupo e ao GSP, mas
coube à professora da turma essa tomada de decisão que acabou por optar pelo usual teste
escrito.
A nível de gestão de sala de aula, a investigadora acabou por adoptar um papel mais
interveniente e foi mais uma professora na sala a apoiar no que era necessário, quer por
solicitação dos alunos, quer por solicitação da própria professora da turma.
Os alunos que participaram neste estudo, ao discutirem entre si, ao dialogarem com a
professora ou com a investigadora, ao recorrerem ao GSP e ao redigirem as suas conclusões
foram, tal como afirma Piteira (2000, p. 217), “levados a expor e clarificar os seus pontos
de vista, as suas compreensões, reavaliando ideias, numa perspectiva de partilha e
negociação de significados”. O GSP teve um papel fundamental e o facto de terem de
pensar e reflectir sobre as suas acções de modo a poder estabelecer e compreender relações
geométricas, foram levados a pensar e a trabalhar a geometria (Noss e Hoyles, 1996).
176
6.2. Principais conclusões
Além de pretender que os alunos recordassem, construíssem e trabalhassem objectos
geométricos, trabalhassem relações, manipulassem, explorassem, justificassem e
argumentassem, familiarizando-os com actividades tão importantes para o desenvolvimento
das suas capacidades matemáticas, pretendíamos também desenvolver atitudes e
capacidades favoráveis à sua sobrevivência numa sociedade competitiva como é a de hoje.
Reflectir criticamente, efectuar escolhas, tomar decisões, resolver problemas, ser autónomo
e criativo, são condições imprescindíveis na vida de cada um e acreditamos que contextos
de aprendizagem mais ricos, como os que estes alunos viveram, possam proporcionar o
desenvolvimento dessas capacidades e dessas atitudes.
6.2.1. Desenvolvimento de capacidades matemáticas
As actuais orientações curriculares defendem que os alunos sejam capazes de explorar,
investigar propriedades e relações geométricas, conjecturar e validar, raciocinar
logicamente, resolver problemas, comunicar matematicamente, construir e compreender
conceitos e pequenas demonstrações. Foi no sentido de seguir estas orientações que
propusemos aos alunos a exploração de pequenas construções, a formulação e justificação
de algumas conjecturas e a realização de pequenas demonstrações, com objectivo de
conseguir que fossem capazes de descrever e justificar essas construções, relacionando
propriedades e estabelecendo relações geométricas e que fossem capazes de apresentar
argumentos válidos para a justificação de conjecturas, o que não foi uma actividade fácil
para os alunos e pouco conseguida. Apenas alguns o conseguiram com bastante apoio e
orientação da nossa parte.
Para alcançar esses objectivos os alunos trabalharam, com recurso ao AGD, GSP,
propostas de trabalho sobre objectos geométricos como a circunferência, triângulos,
quadriláteros, rectas, pontos, segmentos de recta. Construíram objectos, relacionaram-nos,
fizeram medições, estabeleceram razões e, através do arrastamento, observaram padrões e
invariâncias. Deduziram propriedades e relações geométricas, estabeleceram, discutiram e
177
registaram resultados. Contactaram com conceitos não obrigatórios do programa,
desenvolveram vocabulário específico, aprenderam conceitos novos, e, em tudo isto, o GSP
teve um papel fundamental, pois “serviu de um artefacto mediador” (Piteira, 2000, p. 211) e
funcionou como uma janela de mediação para a aprendizagem (Noss e Hoyles, 1996).
Os alunos trabalharam num ambiente diferente, com tarefas diferentes e objectivos
diferentes. Nunca tinham tido contacto com o GSP, nem com tarefas de investigação ou
exploração e raramente trabalhavam em grupo, o que lhes proporcionou um ambiente de
aprendizagem mais motivador e dinâmico. Os alunos trabalharam tarefas, como as das
fichas 6, 7, 9 e 10, que com as ferramentas tradicionais, lápis, papel, régua e compasso, se
tornariam mais difíceis e morosas, quer ao nível de resolução, quer ao nível da
compreensão. Mas, o facto de “tudo ser diferente”, de se tratar de uma turma com bastantes
dificuldades e agitada por natureza, contribuiu para que a promoção dessas actividades e o
desenvolvimento dessas capacidades não fosse, inicialmente, uma tarefa fácil, dificultando
os nossos propósitos.
Em praticamente todas as fichas de trabalho, os alunos tinham de explorar uma
determinada construção e, através da manipulação, procurar estabelecer relações e
propriedades geométricas, o que, inicialmente, não aconteceu espontaneamente e foi
preciso orientá-los nesse sentido e no sentido de reflectirem sobre as variações ou
invariâncias observadas, sobre o porquê dessas variações ou invariâncias, de modo a
desenvolverem uma atitude investigativa e crítica. Todos os alunos gostaram de o fazer,
gostaram de manipular as figuras, de as pintar, de as fazer aumentar e diminuir ao máximo,
“esticando-as” e “encolhendo-as”! Ficaram encantados! Mas, precisamente por esse
encantamento, por ver esse “crescer” e “encolher” que os atraía, que a atenção deles ficava
presa no que viam variar, nos objectos que viam modificar-se, o que lhes dificultou, a
principio, a procura de relações invariantes e a formulação de conclusões, tendo de ser
orientados nesse sentido.
Acabaram por sozinhos, e sem dificuldade, fazer essa manipulação para investigar, e
validar, propriedades e relações, conseguindo desenvolver uma visualização crítica e
reflexiva sobre o que variava e sobre o que se conservava invariante.
No que diz respeito ainda às construções, quando os alunos tiveram de explorar
178
construções construídas por si, contactaram com a necessidade destas conservarem,
aquando da sua manipulação, as suas características, ou seja, que não desmanchassem. Esta
necessidade só surgiu na ficha de trabalho 4, embora alguns alunos se tenham apercebido
dela ao tentar construir o símbolo da Mercedes proposto no manual do GSP. Este tipo de
propostas que lhe despertam a curiosidade e os cativam pode ser aproveitado para abordar
aspectos importantes da geometria.
Surgiram como é natural dificuldades nesse aspecto, pois tratava-se de “mais uma
novidade” para os alunos, mas foi uma actividade importante pois tiveram de olhar para a
figura e para os menus e conseguir inferir que objectos precisavam de seleccionar, a partir
das opções disponíveis, do nome do menu e das suas opções.
O facto de poderem manipular dinamicamente as figuras e as suas relações
permanecerem invariantes ao arrastamento, e a visualização imediata das alterações
produzidas, facilitou a descoberta das propriedades e das relações geométricas. Apesar de,
inicialmente, se “esquecerem” desta potencialidade, limitando-se a olhar para as figuras
sem saber o que fazer ou dizer, ajudou os alunos a explorar, a descobrir e a construir
conceitos, a fazer conjecturas e a raciocinar, treinando, assim, o seu pensamento de uma
forma mais activa e autónoma. Por essa razão, tivemos de relembrar, algumas vezes,
principalmente no início, que podiam sempre manipular as figuras e obter várias
representações que podiam explorar, de uma forma mais “viva” e eficaz, ajudando-os a
pensar melhor nas relações geométricas e a tirar conclusões a partir do feedback recebido
do computador. Este aspecto torna-se evidente nos registos das conclusões dos alunos,
quando afirmam, por exemplo, que “por mais que arrastemos os vértices os ângulos são
sempre 90º” ou “sempre que arrastamos o ponto A ou B a amplitude do ângulo AOB e a
amplitude do arco AB é sempre igual”.
Tentou-se também que os alunos procurassem justificações para as suas conjecturas,
alertando-os para determinados aspectos da figura e afastando-os da evidência das imagens,
o que só foi conseguido com alguns alunos e com a nossa ajuda.
Apesar de termos tentado reduzir a nossa intervenção ao máximo, a insistência dos
alunos, em solicitar a nossa presença junto deles, foi mais forte. Procurámos atender às suas
solicitações sem, no entanto, responder exactamente ao que pretendiam, sem dar respostas
179
definitivas, confrontando-os com as suas observações e afirmações, pondo sempre em
questão as nossas e as soluções deles, dando sugestões, formulando questões. Orientámos
no sentido de não os deixar bloqueados e desanimados ou mais inseguros, mas no sentido
de os motivar e permitir que avançassem.
São vários os estudos que fazem referência à importância da orientação do professor e
este não foi excepção, pois a intervenção do professor é “decisiva no sentido de estimular
os alunos a expor, justificar, debater ideias ou resultados e a reflectir sobre o seu
pensamento, colocando questões” criando-se, desta forma, “um ambiente de interacção
valorativo do conhecimento e das produções dos alunos, bem como do envolvimento na sua
própria aprendizagem” (Afonso 2002, pp. 160-161).
A nossa orientação e apoio variaram, ao longo da experiência, de acordo com as
necessidades e dificuldades dos alunos, que também variaram e que também foram muitas!
Inicialmente necessitaram da nossa orientação para interpretar os enunciados e
compreender os objectivos das tarefas, para explorar as figuras e estabelecer conjecturas.
Quando já estavam familiarizados com este tipo de actividade e já o faziam mais
autonomamente e de forma mais eficiente, aplicando e relacionando conceitos já estudados,
o nossa orientação centrou-se na procura de explicações lógicas para as conjecturas
encontradas, tendo sido o diálogo uma estratégia importante e decisiva para os alunos
poderem ultrapassar as suas dificuldades, contribuindo para que consolidassem saberes e
reforçassem a compreensão dos conceitos. E, assim, verificou-se, durante as sessões, que,
além do GSP, quer a professora da turma quer a investigadora tiveram um papel importante
na orientação do raciocínio dos alunos, estimulando-os através de questões e sugestões.
Fomos mediadores da sua aprendizagem, permitindo-lhes reflectir melhor sobre o que
estava a acontecer, de modo a conseguirem interpretar a informação extraída do feedback
recebido do computador, trabalhando assim a geometria, pois “de nada serve aos alunos
olharem passivamente para o ecrã do computador. É quando analisam e reflectem que vêem
as relações geométricas e para essa análise é preciso a orientação do professor” (Piteira,
2000, p. 185).
Assim, com o decorrer da experiência, os alunos, com recurso ao GSP e com a nossa
orientação, foram-se adaptando-se ao tipo de tarefas e à actividade que pretendíamos e
180
conseguiram resolver, com sucesso e sozinhos, algumas tarefas. Estabeleceram conclusões,
que passou a ser uma actividade espontânea, e alguns conseguiram mesmo relacionar
conceitos anteriores e estabelecer pequenas demonstrações.
Nas propostas de trabalho insistiu-se bastante na formulação e testagem das conjecturas
e, ao longo da experiência, tentou-se que os alunos sentissem a necessidade de descrever e
justificar as suas construções e conjecturas, através da explicação de propriedades e
relações geométricas. A insistência nesta necessidade produziu, ainda que a uma escala
reduzida, os seus efeitos. Levou a que alguns alunos explicitassem os seus raciocínios e
relacionassem propriedades geométricas e deixassem, gradualmente, o “parece” para tentar
encontrar argumentos válidos, mesmo que superficialmente, mesmo que com a nossa ajuda
e a nossa orientação, uma vez que, tal como refere Freixo (2002), é difícil exigir a alunos
destes níveis de ensino que consigam reproduzir demonstrações cheias de rigor e
formalismo e, portanto, já ficamos contentes quando conseguimos estabelecer algum tipo
de raciocínio lógico com os alunos, tendo sido, para isso, importante, o constante
questionar da nossa parte. Perguntávamos sempre se concordavam, se tinham a certeza,
para nos explicarem por que é que determinada conjectura era verdadeira e para
manipularem a figura para verificar para mais casos, uma vez que a maioria contentava-se
em validar apenas para alguns, sem tentar construir uma explicação lógica ou uma
demonstração.
Para tentarmos levar os alunos a essa construção, foi importante, além das discussões
com a professora e a investigadora, a ajuda do computador, pois ajudou-os a pensar sobre o
que tinham estado a concluir, permitiu-lhes visualizar melhor as relações estabelecidas e,
consequentemente, construir alguns raciocínio lógicos.
Ao tentarmos levar os alunos a essa construção levámo-los a recordar, a comunicar e a
fazer matemática (Schoenfeld, 1994, citado em Knuth, 2000a). Tentamos seguir o conselho
de De Villiers (1996a) no sentido de tentar desafiar os alunos em encontrar explicações,
com base em resultados conhecidos, em vez de recorrer à tradicional afirmação “não
sabemos se é verdade, vamos demonstrar para ter a certeza”! Com o GSP tal afirmação
deixou de fazer sentido para os alunos, pois com a manipulação das figuras e com o
feedback recebido do computador podem facilmente “validar” as suas observações. Embora
181
as representações obtidas não constituam uma demonstração pois reduzem-se a um número
finito de situações, já são um bom apoio na construção de uma demonstração e, para os
alunos, o se verificar para muitos casos, para eles correspondia a “sempre” – “é sempre
verdade porque medimos e dava sempre 180, mesmo quando arrastávamos os vértices”, e
tornou-se mais importante e enriquecedor ir ao encontro de outras funções que, segundo De
Villiers (1996a, 1999, 2002, 2003), são mais importantes que a mera verificação, como a
descoberta, a comunicação, a sistematização, a explicação e o desafio intelectual.
Incentivando os alunos a recorrer a conceitos já conhecidos para aplicar e explicar o seu
papel na nova conjectura que descobriram, levámo-los a construir um encadeamento lógico
para o seu raciocínio e ao tentarem elucidar sobre a veracidade matemática das suas
conclusões, ao tentarem organizar de forma lógica os vários resultados, estavam a
desenvolver a demonstração como um meio de explicação e sistematização.
Ao terem de discutir com os colegas ou connosco esses mesmos conceitos, esse
encadeamento, e terem de o registar por escrito, estavam a transmitir e a negociar
conhecimento matemático, ou seja, estavam a desenvolver a demonstração como um meio
de comunicação.
Ao se sentirem motivados para continuar a pesquisar e ao ficarem fascinados com as
descobertas, ainda que não no sentido explícito de De Villiers, contribuiu um pouco para
fomentar o desafio, o desafio intelectual e o gosto pela descoberta, funções presentes na
demonstração no sentido de De Villiers, onde o GSP teve um papel importante, facilitador
e mediador, porque os alunos recorriam ao GSP para rapidamente nos confrontarem com as
suas afirmações ou para responderem às nossas questões. Mais facilmente visualizavam as
transformações obtidas, confirmavam ideias e verificavam relações para mais facilmente
poderem estabelecerem conjecturas e procederem à manipulação para as validarem e
explicarem.
Face a funções tão importantes que a demonstração pode desempenhar, esta devia ser,
vista como mais uma actividade a privilegiar nas nossas salas de aula, pois não se trata de
uma actividade especial que tenha de ser reservada para alturas especiais (NCTM, 2000),
permitindo aos alunos regular o seu pensamento, comunicar matematicamente, desenvolver
um processo de negociação e autonomia ao terem de argumentar, fundamentar, refutar,
182
inferir, criticar, convencer, tudo de uma forma muito dinâmica e activa.
As novas tecnologias vieram, assim, dar uma “lufada de ar fresco” ao ensino e, por
conseguinte, a esta questão. Principalmente no que diz respeito à Geometria, os AGD,
devido à sua característica facilitadora da experimentação e da possibilidade de
investigação de relações e propriedades geométricas a partir de (in)variâncias ao
arrastamento, são frequentemente apontados como poderosas ferramentas para o seu ensino
e aprendizagem, estimulantes e facilitadores, encorajadores do desenvolvimento da
compreensão e construção de conceitos. Aqui há lugar para a audácia, para a
experimentação, para a descoberta, para o desafio.
Apesar de o GSP ter tido um papel importante na elaboração de demonstrações, tal
como já tinham concluído Saraiva (1995) e Junqueira (1995), as justificações baseadas na
evidência foram predominantes, principalmente no início da experiência e em grupos com
mais dificuldades que dificilmente, ou mesmo nunca, abandonaram o “parece” ou o “vê-se
logo”, formulando as suas conjecturas e justificações com base nos poucos casos que
experimentavam. Por vezes misturavam a aparência com algumas relações ou propriedades
que já tinham estudado, mas sem conseguirem estabelecer um encadeamento lógico das
relações que observavam e discutiam connosco, o que os levou a optar pela evidência das
imagens como forma de justificação por ser o “caminho mais fácil”!
Acreditamos, no entanto, que tal não teve, necessariamente, a ver com o GSP e que,
provavelmente, com outras ferramentas e outras metodologias ocorreria o mesmo, por se
tratar de uma prática que costuma estar afastada das nossas aulas, com a qual os alunos não
têm contacto. Donde, esse primeiro contacto não é fácil e as dificuldades sentidas seriam
eventualmente até maiores, pois o GSP tem a potencial vantagem de os alunos poderem
activa e imediatamente observar as variâncias ou invariâncias, após a manipulação de uma
figura.
Com uma figura estática no papel os alunos podem dizer na mesma “parece”, não
podem é tão facilmente ir verificar. Como afirmou Bennet (1997), aquando da
demonstração de uma proposição de 1953, não teria tido paciência suficiente para construir
com régua e compasso um número suficiente de figuras para estabelecer a possibilidade da
conjectura! O que podemos assegurar é que “aqui” há lugar para a descoberta, para o
183
desafio, para questões audazes e pertinentes e é esse constante questionar, que tem um
papel fundamental nesta questão.
O facto de confrontarmos os alunos com as suas asserções e com as suas acções,
contribui para a tomada de consciência da sua aprendizagem e ajudamos a que,
gradualmente, abandonem a evidência como argumento principal para pensarem sobre o
processo de construção do seu conhecimento matemático. Não conseguimos, no entanto,
fazer compreender a importância desse processo e continuaram até ao fim a reclamar – “é
preciso explicar tudo!”. A demonstração foi assim sentida como dispensável, pelo que teve
de passar pelo professor, num processo de negociação professor/aluno.
Esse processo de negociação professor/aluno, através do questionamento, leva os alunos
a tentarem explicar como chegam às conclusões, ainda que superficialmente, ainda que com
alguns erros ou incoerências, ainda que com ajuda, estão, no fundo, a caminhar para a
construção de uma demonstração e ir ao encontro das funções de De Villiers (1996a, 1999,
2002, 2003), porque têm de falar sobre objectos matemáticos, sobre o que eles representam,
das relações entre eles, de propriedades. São desafiados a descobrir, a compreender, a
raciocinar, a argumentar, a sistematizar e a comunicar. E, portanto, essa ajuda é importante
para ultrapassar obstáculos e solidificar conhecimentos. Mas, será que sem ela desistem?
Será que se torna num obstáculo à autonomia? E o factor tempo? Acreditamos que essa
ajuda possa ser vista mais como um impulsionador, no sentido de “dar um empurrãozinho”,
do que como um obstáculo. Será um obstáculo se os alunos se “agarrarem” a essa ajuda e
continuarem sempre à espera, sempre dependentes dela para progredirem. Por outro lado,
há um programa a cumprir e não há muito tempo para os deixar mais tempo por sua conta,
com as suas tentativas.
Com essa ajuda, alguns alunos conseguiram estabelecer raciocínios lógicos e, apesar de
ser em número reduzido, leva-nos a crer que com mais tempo, com mais tarefas orientadas
nesse sentido, tal seja possível de alcançar. Temos de centrar esforços em metodologias
capazes de os cativar para este tipo de actividade, tão importante para o desenvolvimento
de competências tão essenciais como a compreensão, o raciocínio e a comunicação.
A comunicação em Matemática tem também vindo a ocupar um lugar de destaque nas
actuais orientações e torna-se importante conhecermos que contextos a podem valorizar e
184
em que sentido. Acreditamos que estes ambientes e estas metodologias são favoráveis ao
seu desenvolvimento, permitindo aos alunos comunicar mais Matemática.
Com a nossa experiência pudemos constatar que tal é possível, mas que os alunos
sentem muitas dificuldades em se exprimir, mesmo depois da nossa ajuda. Depois dos
diálogos que mantinham connosco tinham dificuldade em organizar sozinhos o seu
pensamento para poderem “escrever tudo direitinho” e diziam muitas vezes: “e agora como
é que vamos escrever isto tudo?”!
Conseguiam responder mais ao menos às nossas questões e com a nossa orientação iam
construindo um encadeamento lógico de raciocínio, mas depois era-lhes difícil organizar as
ideias logicamente para poderem registar uma justificação, uma conclusão ou um
procedimento. Não conseguiam transpor para o papel as discussões que mantinham com a
professora ou com a investigadora pois “perdiam-se”, o que se traduziu, por vezes, em
respostas pouco claras e incompletas, com poucas justificações e interpretações, com
alguns erros e incoerências, limitando-se a registar as soluções.
Transpareceu também a falta de hábito de escrita, dificuldades de expressão e
dificuldades ao nível da Língua Portuguesa. Mas, apesar da dificuldade em exprimirem e
registarem as suas ideias e raciocínios, os alunos foram, pouco a pouco, ultrapassando
algumas dificuldades e foram melhorando e desenvolvendo esta capacidade, e, embora,
frequentemente, utilizassem uma linguagem informal e se verificasse alguma falta de rigor
na linguagem e algumas incoerências, houve progressos da maioria dos alunos na utilização
de uma linguagem geométrica mais correcta, nomeando os objectos correctamente e
referindo-se a eles e às suas relações de uma forma mais rigorosa.
O facto de os alunos terem de discutir entre si a resolução das tarefas, a tomada de
decisões, as conclusões obtidas e o seu registo, levou os alunos a participar mais
activamente e a clarificar as suas ideias, a tomar consciência das suas acções, a dar sentido
ao conhecimento matemático e a estruturarem o seu pensamento através da comunicação,
pois, tal como diz Freixo (2002, p. 111), “um caderno cheio de definições e propriedades,
seguidas de páginas de resolução de exercícios não garante a fluência desejável na
capacidade de expressão e raciocínio matemático”.
Também o facto de os alunos terem de registar as suas conclusões e tentarem explicá-
185
las levou a que tivessem de repensar e reflectir sobre as propriedades e relações
geométricas, tomando consciência delas, dos procedimentos usados, levando-os a
comunicar matematicamente. Neste aspecto o GSP teve um papel fundamental pois, tal
como concluiu Piteira e Matos (2002), os alunos ao recorrer aos menus e à barra de
ferramentas falavam e exploravam objectos geométricos que os ajudou a pensar, a
compreender e a comunicar.
De um modo geral, da análise da experiência, podemos constatar que a maior parte dos
alunos que participou neste estudo é capaz de identificar propriedades e algumas relações e,
a partir da experimentação, formular pequenas conjecturas. No entanto, quando se trata de
registar conclusões, justificações ou pequenas demonstrações, deparámo-nos, a princípio, e
na maioria dos alunos, com diversas falhas: a nível de conhecimentos, a nível da
comunicação matemática, onde se notou falta de rigor na linguagem, onde confundiam
termos e conceitos e usavam indiscriminadamente palavras sem pensar no seu significado,
e, sobretudo, a nível do desenvolvimento do raciocínio, dificuldades em aplicar, relacionar
e justificar propriedades, conclusões ou procedimentos, o que lhes dificultou tais
actividades.
Este é, talvez, o reflexo de uma tradição de uma aprendizagem estática, assente na
memorização e na mecanização, com que acreditamos ter conseguido romper, e, apesar de
todas essas dificuldades e limitações, estamos satisfeitos porque acreditamos ter
contribuído para desenvolver nos alunos um pouco dessas capacidades, contribuído para
ver a disciplina com outros olhos, por terem ganho o gosto pela investigação, por termos
conseguido desafiá-los e, nesse sentido, foram decisivos o computador e o GSP ao
motivarem e desafiarem os alunos. Acreditamos também que tenha facilitado a aquisição de
conceitos e os tenha responsabilizado mais pelo seu trabalho, pois “sozinhos” tinham de
chegar às conclusões. Mas, apesar de ser verdade, tal como afirma Saraiva (1995) e Freixo
(2002), tais recursos não foram substitutos nem do professor nem dos alunos, pelo
contrário, a nossa presença e o nosso papel foi fundamental. O GSP deixou espaço para
reflectir, mas os colegas de grupo e o professor foram determinantes na tomada de
consciência das suas acções e dessa reflexão.
O GSP, com a experimentação que proporciona, é um óptimo auxiliar na procura de
186
relações e invariâncias. O professor com o constante questionar, com as suas sugestões e
pistas é um óptimo auxiliar na formulação e justificação de conjecturas. Dois óptimos
aliados na construção de um saber que se quer, mais reflexivo, mais critico, mais
significativo e mais sólido.
O constante questionar por parte do professor – “É válido para todos os casos?”, “E o
que acontece se...?”, “Porque é que é assim?” –, tal como defendem vários autores (e. g.,
APM, 1988, De Villiers, 1997 e Saraiva, 1995), é importante no sentido que os desafia a
pensar, a comunicar, a encontrar justificações e a estabelecer raciocínios lógicos, para que
sintam a necessidade e a utilidade das demonstrações, pois, caso contrário, como alerta
Saraiva (1995, p. 250), corremos o risco que continuem a vê-las como qualquer coisa sem
sentido, “inútil e aborrecida”. Trata-se de um desafio, não só para alunos, mas também para
professores. Há que ter a coragem de mudar, pois “se a Matemática é mais do que “contas e
algoritmos”, será necessário mostrá-lo aos alunos, por eles e por ela” (Saraiva, 1995, p.
257).
6.2.2. Desenvolvimento de uma pedagogia para a autonomia
Cada vez mais, nos dias de hoje, face a uma sociedade cada vez mais complexa e
heterogénea, cada vez mais exigente e competitiva, a capacidade de nos tornarmos seres
autónomos, com um papel cada vez mais interveniente, é fundamental no sentido de
conseguirmos dar resposta, de forma crítica, aos desafios que se nos colocam. É nesse
sentido que temos de formar esses seres e de os preparar para essas exigências. Temos,
portanto, de repensar papéis e objectivos.
Assim, na construção de uma “pedagogia para a autonomia” em substituição de uma
“pedagogia para a dependência”, o aluno deve deixar de ser “sujeito passivo do saber” para
passar a ser “sujeito consumidor crítico e produtor criativo do saber”. O professor tem de
deixar de ser a “única fonte de saber, abandonando o papel de transmissor “para assumir o
papel de “mediador na relação aluno-saber, parceiro da negociação pedagógica”. O saber
deixa de ser “estático e absoluto” para passar a ser “dinâmico, transitório e diferenciado de
sujeito para sujeito”. O objectivo principal deixa de ser a “aquisição de conhecimentos” e o
187
“domínio de capacidades do tipo cognitivo” para:
“aproximar o aluno do saber e do processo de aprendizagem, ajudá-lo a aprender a aprender, a desenvolver a capacidade de gerir a própria aprendizagem, encorajar a responsabilidade e a assunção de uma postura pró-activa no processo de aprender, desenvolver uma perspectiva crítica da escola, do saber e da aprendizagem” (Vieira, 1998, p. 38).
Neste sentido, quer o GSP, quer o trabalho de grupo, quer as tarefas de
investigação/exploração, quer a nossa orientação, acreditamos terem tido um papel
decisivo, ao permitirem aos alunos participar mais activamente no seu processo de
aprendizagem, construindo o seu próprio conhecimento. Participaram na tomada de
decisões, conduziram investigações, fizeram descobertas, trabalharam cooperativamente e,
ao interagirem uns com os outros e ao trabalhar com o computador, tornaram-se mais
activos e enriqueceram a sua aprendizagem. Trabalharam ao seu próprio ritmo, salvo
aqueles que recearam, desde o início esta nova metodologia. Um dos alunos tinha “pânico”
destas aulas, o que destaca a necessidade de diversificar estratégias, uma vez que os alunos
não são todos iguais e não aprendem todos da mesma maneira.
Também na resolução de algumas tarefas foi evidente essa acção. Os alunos
envolveram-se activamente e entusiasmadamente, o que acreditamos ter contribuído para
uma aprendizagem mais estimulante e efectiva, para a construção de uns “bons alicerces”
para o futuro, pois tratou-se de uma abordagem diferente e estimulante da qual certamente
se vão lembrar.
No contexto em que hoje em dia vivemos, de uma aversão tão enraizada relativamente à
matemática, onde não é fácil conseguir um ambiente como o vivido nesta experiência, os
“fascínios da matemática” são ignorados porque os alunos continuam a contactar com
ambientes estáticos onde predomina a memorização e a mecanização. O aprender um sem
fim de conceitos que “não lhes dizem nada” e que não sabem o que fazer com eles não é
com certeza o caminho a seguir. Não foi fácil conseguir este ambiente. Inicialmente os
alunos sentiram-se um pouco desorientados, olhavam para o ecrã sem saber bem o que
fazer com as propostas que deixávamos ao seu critério e necessitavam desesperadamente da
nossa ajuda. Alguns mal liam o enunciado já estavam a perguntar o que era para fazer e
188
como. Com o decorrer da experiência foram ganhando confiança e, depois de se irem
adaptando ao novo estilo de tarefas, notou-se uma considerável evolução por parte de
muitos alunos quanto à forma de as encarar. Apesar de continuarem a solicitar a nossa
ajuda para confirmar resultados e esclarecer eventuais dúvidas, acabaram por tentar fazer as
suas investigações e elaborar as suas conclusões sozinhos e alguns alunos sentiram-se
mesmo desafiados com esta nova maneira de trabalhar.
Raramente assumimos um papel de transmissores de conhecimento e, através de
sugestões e questões levantadas, quer por nós, quer pelos alunos, tentámos levá-los a
conseguir construir esse mesmo conhecimento, num processo de mediação entre alunos,
professor e saber, indo de encontro a vários aspectos considerados importantes nas actuais
orientações, facultando aos alunos um papel mais activo na sua própria aprendizagem do
qual tomaram consciência.
Esta metodologia de ensino, onde está subjacente a construção do conhecimento pelos
alunos, ao invés da habitual transmissão pelo professor, contribuiu, no entanto, para atrasos
sucessivos e acentuou a pressão da necessidade de cumprir o extenso programa e de
preparar os alunos para a prova global, não havendo, assim, tempo suficiente para
aprofundar mais determinadas questões, principalmente no que diz respeito à
demonstração.
O factor tempo pode ser assim um obstáculo a este propósito, pois para termos sucesso
na promoção da autonomia é importante que os alunos tenham tempo e que nós também
tenhamos tempo para os familiarizar (e nos familiarizarmos) com este novo tipo de
metodologias e actividades.
Nesta experiência tentámos familiarizar os alunos com as novas tecnologias, com novos
métodos de trabalho, com novos conceitos, novas actividades. Tentámos que se tornassem
mais activos, mais críticos e mais autónomos. E, esse foi o “nosso prémio!”
A principal vantagem desta experiência, acreditamos sinceramente, ter sido a
contribuição para uma melhor aprendizagem, mais significativa e mais autónoma,
concordando com a opinião de diversos autores, entre os quais Freixo (2002, p. 326),
quando diz que “o facto de envolver os alunos nas descobertas, ao invés de “despejar” a
informação, conduz a um conhecimento mais sólido”. Os alunos exploraram, observaram,
189
reflectiram, discutiram, descobriram, demonstraram, pensaram, duvidaram, criticaram.
Muitos sentiram-se desafiados!
Talvez a experiência não tenha conduzido aos resultados imediatos que desejávamos,
talvez não seja logo “visível” e que este tipo de metodologia pareça não trazer a curto prazo
grandes evoluções, mas acreditamos, tal como refere Ponte (1997), que “os grandes efeitos
das inovações tecnológicas são muitas vezes apenas visíveis a longo prazo. No imediato, a
maioria das oportunidades não são compreendidas pelos seus potenciais utilizadores” (p.
20), pois não foi uma aprendizagem assente na memorização, tal como os alunos
reconheceram. Tiveram de investigar, de descobrir, de reflectir, de compreender, de aplicar.
Para dar resposta à nossa crença haveria a necessidade de dar continuidade ao estudo. É,
portanto, uma área de grande importância e que deve captar o interesse da investigação,
pois é urgente o “combate à passividade dos alunos” e “é um desafio a qualquer professor
que queira melhorar a qualidade do seu ensino” (Saraiva, 1995, p. 238). Nestas aulas como
que são “obrigados” a agir, a tomar algum tipo de acção, nem que seja para “não ficarem
para trás”!
6.2.3. Atitudes e concepções dos alunos acerca da geometria e da demonstração
Os conceitos de atitude e concepção não têm, de acordo com Matos (1992), um
significado consensual.
A atitude é, do ponto de vista de Saraiva (1995), encarada como uma intenção de
comportamento, que exprime uma orientação face a um objecto, sendo elaboradas a partir
da experiência e das predisposições que um indivíduo tem em relação a esse objecto, num
dado ambiente, e influenciam, de forma consciente, as respostas relativas ao objecto
(Matos, 1992). Quando nos referimos à organização da informação respeitante a esse
objecto estamos a referir-nos às suas concepções (Saraiva, 1995).
Como afirma Almeida (1992, p. 173), “reflectir sobre atitudes e concepções não é tarefa
fácil”! Tendo consciência dessa dificuldade e da sua subjectividade, vamos, com base nas
respostas dos alunos aos questionários, na entrevista realizada à professora e na apreciação
global que fizemos da experiência, sintetizar as ideias de como os alunos viram o ensino e a
190
aprendizagem da geometria e de como viveram a experiência.
Da análise dos dados, podemos constatar que os alunos, de um modo geral, têm uma
atitude bastante favorável da geometria. Vêem-na de uma forma dinâmica, criativa e útil,
onde podem investigar, experimentar e explorar, necessária para compreendermos melhor o
mundo em que vivemos. No entanto, sentem-se inseguros quando confrontados com a
resolução de problemas, com a formulação e justificação de conjecturas, tendo alguns
alunos manifestado a necessidade do tradicional método de escrever o que o professor
escreve, de resolver os exercícios que o professor propõe, de estudar o que têm no caderno.
Embora os alunos considerem que a maioria dos empregos não exige conhecimentos de
geometria e que esta não é muito importante na sua formação, reconhecem a sua
importância no dia-a-dia e apontam várias situações onde é necessária. Encaram o seu
ensino de uma forma dinâmica e inovadora, preferindo as novas metodologias de ensino,
como a utilização do computador e a realização de trabalhos de grupo, às práticas
tradicionais.
Com o decorrer da experiência, os alunos passaram a ver a geometria como sendo mais
difícil, o que pode ter contribuído para que alguns tenham ficado com uma opinião menos
favorável dela, pois segundo alguns autores, como Matos (1992) e Varandas (2000), as
concepções e atitudes dos alunos estão estritamente relacionadas com as suas experiências
de aprendizagem. Mas, apesar das dificuldades sentidas, constatamos que a maioria
continuou com uma opinião favorável da geometria, havendo mesmo quem tenha passado a
considerá-la mais interessante, o que traduz uma pequena melhoria em termos de atitudes.
No que diz respeito à demonstração, a quase totalidade dos alunos nunca tinha ouvido
falar e, nas actividades, dependiam quase exclusivamente da ajuda da professora. Com a
experiência, essa dependência, embora ainda se fizesse sentir, já não foi tão forte. Os alunos
passaram a trabalhar mais “sozinhos”, dependendo mais de si próprios e do trabalho em
conjunto com os seus colegas e com o computador e passaram a recorrer mais à verificação,
actividade a que se habituaram para confirmar as suas conjecturas.
Embora muitos alunos não tivessem ficado com uma ideia clara do que é demonstração
e da sua necessidade, uma percentagem satisfatória de alunos reconheceu a demonstração
como algo mais do que “mostrar” ou até mesmo “verificar”. Alguns alunos, 37%,
191
reconheceram outra função muito mais importante, apontada por De Villiers (1996a), a
explicação, que tanto tentámos trabalhar com eles ao longo das aulas. Dizemos satisfatória
para o nível de ensino destes alunos e para as suas dificuldades de aprendizagem.
A avaliação que os alunos fizeram da experiência foi bastante positiva, e o mesmo se
verificou com a professora da turma. A maioria dos alunos concordou que a metodologia
usada estimulou a aprendizagem, mas já não podemos afirmar o mesmo quando se trata de
a facilitar, onde apenas 44,4% dos alunos concordaram que a metodologia usada facilitou a
aprendizagem.
Os alunos referiram-se também à utilidade dos computadores nos dias de hoje e à
importância desta experiência nesse aspecto. Foram também unânimes em considerar que
as aulas com recurso ao computador e ao GSP foram mais motivadoras e mais vantajosas.
É verdade que o computador e o GSP se traduziu numa melhoria de empenho, mas
traduziu-se também em aulas mais barulhentas. Pensamos que tal se deveu ao facto de
trabalharem em grandes grupos, onde grupos distintos trabalhavam em conjunto, e não por
falta de interesse ou empenho, exceptuando, como é de esperar, um ou outro grupo que se
aproveitou da situação para “brincar um pouco”!
Apesar dos aspectos positivos referidos, também a maioria concordou que surgiram
muitas dificuldades, que foram variando ao longo da experiência. Por se tratar de uma
experiência completamente nova, tiveram, inicialmente, muitas dificuldades em perceber o
que se pretendia, necessitando muito da nossa orientação.
A necessidade de escreverem as conclusões e apresentarem justificações válidas tornou
as tarefas mais complexas e os alunos mostraram-se mais reticentes a este tipo de
actividade, face à sua dificuldade de expressão e de raciocínio para poder estabelecer e
justificar relações entre os diferentes objectos.
Com o decorrer da experiência deixaram de nos chamar para “pequenas coisas”. Já
faziam as suas experiências, formulavam as suas conjecturas e confirmavam a sua
veracidade. Mas, continuaram a confrontarem-nos com as suas respostas, com a
preocupação de as validarmos e, principalmente, na “difícil tarefa” de “explicar o porquê
das coisas”, de encontrar justificações válidas e estabelecer pequenas demonstrações.
Apesar desse “pequeno, grande” progresso, que foi a aquisição progressiva de autonomia,
192
principalmente no que diz respeito a algumas actividades, a maioria dos grupos,
principalmente os com mais dificuldades, mantiveram o hábito de nos chamar como uma
forma mais cómoda de ultrapassar qualquer obstáculo, qualquer dificuldade.
Já no que concerne à utilização do GSP, desde o início que a grande maioria dos alunos
o explorou sem dificuldade e com grande interesse, manipulando facilmente os menus e a
barra de ferramentas. Não tiveram receio nem dificuldade em começar logo a experimentar
as várias opções, mostrando muito entusiasmo e facilidade em recorrer às suas opções.
Alguns alunos mostraram, inicialmente, alguma dificuldade na gravação dos ficheiros, não
gravando no directório correcto e não se preocupando com o nome do ficheiro, o que se
traduziu depois em não saberem onde estava e qual o nome dado.
Os alunos manifestaram várias vezes o gosto pelo trabalho de grupo, referindo-se às
suas vantagens. Falaram da troca e discussão de ideias, da ajuda para ultrapassar
dificuldades, da oportunidade de serem mais activos e mais autónomos. Essa troca de ideias
verificou-se não só entre elementos do mesmo grupo, mas também entre grupos diferentes
que se apoiaram mutuamente, e, principalmente, com a professora e a investigadora, onde
foram levados a adoptar uma atitude mais crítica e mais reflexiva, onde tiveram de tomar
consciência das suas acções e clarificar o seu pensamento. Mas, nem todos o aproveitaram
da mesma forma. Verificou-se que em alguns grupos faltou a discussão de ideias, o que
pode ter a ver com o facto de não estarem habituados a fazê-lo ou pela própria maneira de
ser e de estar dos alunos. Outros mostraram-se dependentes do trabalho dos colegas ou
aproveitaram para “brincar um pouco”! Mas, quer alunos, quer professora concordaram
que, de um modo geral, superaram dificuldades, desenvolveram o espírito crítico, de
colaboração e inter-ajuda e, embora não estivessem todos ao mesmo nível de
conhecimentos, concordaram que estavam mais activos, a pensar e a discutir matemática.
Reconheceram-se num novo papel, mais activo, mais reflexivo e mais autónomo e portanto
numa aprendizagem mais estimulante e produtiva. Mas, também reconheceram algumas
limitações. Foram várias as vezes que se referirem às dificuldades sentidas, ao pouco tempo
disponível para aprender e ao barulho que se fazia sentir por serem muitos alunos.
No que diz respeito às tarefas, notaram-se algumas dificuldades relativamente à tomada
de iniciativas e à gestão do tempo, mas a maioria considerou-as importantes e interessantes,
193
sendo de um modo geral do seu agrado. Reconheceram que lhes permitiram “descobrir”,
“reflectir”, “aprender”, “aplicar”, “fazer experiências” e “ser mais autónomos”, ou seja, ter
um papel mais activo e uma atitude mais positiva perante a aprendizagem. Alguns alunos
acabaram mesmo por preferir as tarefas mais desafiantes, como as das fichas 6, 7 ,9 e 10,
que despertaram a sua curiosidade e criatividade, onde o facto de terem conseguido fazer
descobertas lhes deu uma pequena sensação de “vitória”.
No que concerne à experiência, os resultados obtidos permitem-nos constatar que, em
geral, quer os alunos, quer a professora da turma, mostraram-se contentes por participar e
satisfeitos com os resultados, tendo-a classificado como motivadora, positiva e
enriquecedora. Os alunos aderiram bem à experiência e sentiram que foram capazes de
realizar as tarefas propostas quer sozinhos, quer com o apoio dos colegas, do GSP e da
professora. Mostraram-se satisfeitos e realçaram a “boa prestação das professoras”!
Apesar de muitos terem declarado sentir muitas dificuldades e do receio da avaliação,
todos mostraram grande adesão e foi notório o muito entusiasmo e interesse, considerando
que as aulas foram mais motivadoras e que se empenharam mais do que nas aulas normais.
O ambiente de trabalho que se viveu ao longo da experiência foi bom, quer ao nível das
relações inter-pessoais, quer ao nível da aquisição de conhecimentos, e, portanto, acabaram
por preferir este tipo de ambiente de trabalho. Os alunos sentiram-se “livres” para
participar, houve confiança e respeito mútuo, houve oportunidades para fazerem
descobertas por si, de “aprenderem o sentido das coisas”, de se sentirem desafiados, de
serem mais activos e mais autónomos, de crescerem como alunos e como pessoas.
Os resultados desta experiência sugerem que o computador apoiado com software
adequado e com tarefas diferentes e adequadas, podem contribuir para um processo de
ensino/aprendizagem mais rico, devido ao seu poder motivador e às suas potencialidades
para o ensino da geometria, em que as actividades de iniciativa e de descoberta são
predominantes. Contribui para um bom ambiente de trabalho, motivador e activo,
interessante e estimulante, onde os alunos trabalham ao seu próprio ritmo, envolvem-se
mais activamente e deixam de ter um papel passivo e onde o computador e o professor são
seus “companheiros na descoberta”.
194
6.3. Limitações e recomendações
Reflectindo sobre as conclusões do estudo, pensamos poder fazer um balanço bastante
positivo da experiência realizada. No entanto, também sabemos que qualquer estudo está
condicionado por vários factores, quer internos, quer externos à investigação. Assim, apesar
de todos os aspectos positivos já mencionados, também nos deparamos com alguns factores
limitadores e temos consciência que algumas opções não foram as mais acertadas e que
hoje tomaríamos outras relativamente a determinados aspectos, como a forma como os
alunos trabalharam, a planificação das tarefas, aspectos do GSP que não foram explorados.
Uma das primeiras limitações com que nos deparámos foi encontrar alguém disponível
e sem receios de uma experiência nova, bem como a planificação das tarefas. Uma vez que
as tarefas tinham de ir ao encontro da planificação anual dos professores de Matemática da
escola, não foi possível abordar o tema de transformações geométricas, e foi com algumas
reticências que se realizaram algumas tarefas que “fugiam” um pouco a essa planificação.
Tivemos, também, de as reformular, no sentido de serem mais orientadas, face às
dificuldades dos alunos. Hoje temos consciência que estávamos a exigir demais dos alunos,
mais do que aquilo que podiam dar, e que teria sido desejável ter trabalhado menos tarefas
e ter aproveitado mais o tempo para aprofundar a sua exploração. Mesmo assim, é de
louvar o seu esforço em atender ao nosso pedido pois nunca disseram não e nunca
desistiram. Mesmo os alunos com mais dificuldades tentaram resolver as tarefas e não
desistiram. Alguns andavam cansados e preocupados com a avaliação, mas tentaram
sempre responder às nossas solicitações.
Esta tomada de consciência relativamente ao número de tarefas propostas, teve muito a
ver com outro factor limitativo, o factor tempo. O factor tempo foi um obstáculo a esse
mesmo aprofundamento do trabalho dos alunos, quer na exploração das tarefas, quer na
procura de conjecturas e justificações, quer na exploração do GSP, tendo sido preferível ter
menos tarefas e intercalá-las.
Dar toda uma unidade com recurso ao computador não foi, a nosso ver, viável. Os
alunos acabaram por se limitar a verificar alguns casos por arrastamento e chegar às
conclusões que se centraram em respostas simples e curtas às questões formuladas, não se
195
aventurando muito além daquilo que era pedido. Também a discussão em relação às
conclusões poderia ter sido mais aprofundada. Poucas foram as vezes que sentiram a
necessidade de procurar justificações, salvo quando eram confrontados com as nossas
questões ou púnhamos em causa as suas respostas, pois sentiam muitas dificuldades em
relacionar conceitos para formar justificações, quer por falta de conhecimentos quer por
falta de hábitos neste tipo de raciocínio, limitando-se muitas vezes a dizer “vê-se logo” ou
“parece” ou, por arrastamento, confrontavam-nos com a evidência de que aquela ou outro
tipo de relação se mantinha.
Não sabemos a que se deveu, mas a justificação baseada na evidência das imagens foi,
assim, predominante. Acreditamos, no entanto, que tal se iria verificar noutras situações
face ao nível destes alunos, à falta de hábitos de raciocínio e à falta de hábito em trabalhar
com este tipo de tarefas. A procura de justificações, a experimentação e a realização de
demonstrações não são actividades habituais nas nossas salas de aula e não são e não foram
fáceis para os alunos.
As aulas de Matemática, ainda, e infelizmente, se pautam por uma tradição de ouvir e
escrever o que o professor diz e de resolver 1001 exercícios sobre uma determinada
matéria. Necessitam, pois, de mais contacto com este tipo de actividade, pois, apesar de
termos conseguido alguns progressos com alguns alunos, não foi uma actividade fácil para
a generalidade e não conseguimos incutir nos alunos a necessidade da demonstração. Quais
serão as tarefas mais indicadas para promover com mais sucesso esta actividade? Que tipo
de metodologias? Como é que os alunos podem transformar as suas justificações baseadas
na evidência das figuras em justificações mais formalizadas? Como o fazem? São questões
que nos colocamos e que podem servir de base a futuras investigações.
Pesou também a necessidade de cumprir o programa. Tivemos pouco tempo para
familiarizar os alunos com este tipo de aulas, não tirando assim mais partido das suas
potencialidades. Quando os alunos começaram a encarar as tarefas de uma outra forma,
tornando-se mais empenhados e activos, foi quando a experiência teve de terminar. É
preciso mais tempo, quer para alunos quer para professores, para se relacionarem
harmoniosamente com este tipo de tarefas e metodologias.
Ferramentas como o GSP são facilitadoras e mediadoras, mas é com a nossa mente que
196
fazemos Matemática, é pensando logicamente, construindo e testando conjecturas,
formando e manipulando conceitos, construindo e testando argumentos, inventando
procedimentos, e, para tudo isto, é necessário tempo, tempo para que os alunos se
acostumem a participar nesta cultura de sala de aula e se sintam confortáveis com ela
(Battista, 2003), pois o desenvolvimento de capacidades matemáticas e de atitudes
favoráveis ocorrem de aluno para aluno de formas diferentes e a ritmos diferentes, o que
exige o seu tempo. Tal ter-se-ia traduzido numa recolha de dados mais rica e poder-se-ia ter
optado por tarefas de natureza mais aberta, também mais ricas.
No que diz respeito ainda às tarefas, o facto de não termos indicado os comandos nas
fichas de trabalho pode também ter contribuído para algumas dificuldades e para os atrasos
na resolução das mesmas. Mas, teve, no nosso entender, a vantagem de os fazer pensar
mais um pouco, pois tinham de ler as tarefas com atenção, interpretar quais os menus
necessários a utilizar e, principalmente, com que objectos geométricos trabalhar e como,
pensando sobre o que tinham e o que queriam.
Também as figuras auxiliares nas fichas podem ser, a nosso ver, limitadoras. Algumas
vezes induziram em “erro” os alunos, que começavam logo a construir uma figura
semelhante, sem ler primeiro o que era para fazer. O facto da figura estar presente facilita a
sua actividade, mas limita o seu raciocínio. Se as fichas não tiverem figuras de orientação
força-os a pensar mais sobre os objectos matemáticos a trabalhar e a como os trabalhar.
Outra das limitações com que nos deparamos, logo no início da experiência, prende-se
com o facto de serem muitos alunos a trabalhar em grupos de 2 a 3 alunos, numa sala de
reduzidas dimensões, com apenas 10 computadores funcionais, muito próximos uns dos
outros, o que dificultou o registo de notas e favoreceu alguma agitação por parte dos alunos
menos empenhados, que acabaram por se aproveitar da situação. Principalmente, porque as
relações inter-pessoais entre os alunos eram óptimas, e acabaram por trabalhar em “grandes
grupos”, comparando construções e conclusões, ajudando-se uns aos outros, o que, por um
lado, também foi muito positivo.
A inter-ajuda pode ser útil, quer para os bons alunos quer para os alunos com mais
dificuldades. Aos melhores alunos permiti-lhes “observar processos conhecidos e reflectir
sobre eles... a ajuda pode também beneficiar alunos com dificuldades desde que estes
197
reconheçam a sua necessidade e tenham oportunidade de usar de facto as explicações
recebidas” (Matos e Serrazina, 1996, p. 149). Este tipo de relação verificou-se em alguns
grupos mais activos e cooperantes.
Foi sugerida a divisão da turma, mas tal não foi possível, o que teria sido muito
favorável, pois teria sido mais rentável trabalhar com menos alunos, facto a que eles
próprios também fizeram referência. Estas condições dificultaram também o nosso apoio às
constantes solicitações dos alunos, que, apesar de terem diminuído, com o decorrer da
experiência, foi difícil, principalmente no início, dar resposta a todos, contribuindo para
sucessivos atrasos e para que ficássemos limitados em termos de tempo. Pelo que, seria
desejável que as turmas fossem constituídas por menos alunos ou que fosse possível o
desdobramento da mesma ou ter mais do que um professor na sala de aula. É também
importante que as escolas usufruam de melhores condições, apesar de estarem muito
melhor do que há alguns anos atrás. É necessária uma sala suficientemente espaçosa e com
computadores suficientes e em boas condições técnicas, para se poder trabalhar com o
mínimo de condições. Também se torna útil a existência de um Data show para fazer
exposições à turma, evitando-se ter de percorrer todos os grupos para explicar determinada
dúvida que é mais ou menos geral ou qualquer outra questão que achemos pertinente
partilhar e discutir com todos.
Há quem também defenda que os alunos possam estar a trabalhar na mesma sala tarefas
diferenciadas (Piteira, 2000, Saraiva, 1995). Este tipo de ensino, envolvendo uma “grande
ginástica” por parte do professor no sentido de orientar tarefas e metodologias tão
diferentes numa mesma aula, ainda hoje em dia é de difícil implementação, principalmente
se faltar aos alunos hábitos de trabalho, de autonomia e de responsabilidade.
Apesar de os alunos não terem manifestado grandes dificuldades na utilização do
computador e do GSP, para alguns alunos com menos contacto e à vontade com as novas
tecnologias, a falta de prática pode ser um factor limitativo, não permitindo aprofundar
mais as suas potencialidades.
O GSP desempenha um papel fundamental na compreensão dos conceitos, na
progressão dos alunos na realização de experiências, formulação de conjecturas, na
exposição de raciocínios e na discussão de ideias, mas, os alunos, tal como eles próprios
198
reconheceram, devem ter tempo para se adaptarem e para aprenderem a trabalhar com o
programa. É também importante que seja complementada com outro tipo de metodologias,
como tínhamos inicialmente previsto, a que os alunos também fizeram referência, pois não
nos podemos esquecer que “o processo de ensino/aprendizagem é algo de muito pessoal,
uma vez que o que funciona com um professor ou turma não tem necessariamente de
funcionar com outros” (Swetz, 1994, citado em Freixo, 2002, p. 338), e o que é aliciante e
acessível para uns não quer dizer que o seja para outros.
Portanto, tal como salientam Méndez, Estévez e del Sol (2003), apesar de todas as
vantagens das novas tecnologias, não quer dizer que estas venham substituir
completamente os meios tradicionais, devemos sim arranjar forma de combinarmos os
vários recursos de modo que se traduzam num ensino e aprendizagem de qualidade.
Outro factor que também pode ter sido limitador, foi o facto de a investigadora não se
ter limitado ao papel de observadora passiva, intervindo e acabando por adoptar um papel
de professora. Tal aspecto impossibilitou que se focasse apenas na observação e registo de
notas, no sentido permitir uma recolha e análise de dados mais completa. Mas, por outro
lado, permitiu ajudar os alunos, ter um contacto mais pessoal com eles, ganhar a sua
confiança e discutirem as tarefas em conjunto. Trabalhar com estes alunos foi muito
gratificante, pois mostraram-se muito cooperantes e empenhados e foi de uma forma
espontânea que os alunos começaram logo a solicitar ajuda e ganharam confiança para
colocar questões. Também foi limitador o facto de a investigadora não conhecer a turma,
não saber até que ponto poderia ir e ter outras expectativas, quer ao nível das propostas de
trabalho, quer ao nível da exploração.
A preocupação dos alunos com a avaliação foi também, a nosso ver, um dos factores
mais limitativos nesta experiência, pois os alunos, a partir de certa altura, e, à medida que o
momento de avaliação se aproximava, começaram a sentir-se inseguros. Alguns alunos
responsabilizaram a experiência pelo seu insucesso e referiram-se à necessidade de ter aulas
normais. É, portanto, indispensável discutir e até mesmo negociar com os alunos o seu
processo de avaliação para se sentirem mais seguros e mais intervenientes. Que tipo de
avaliação mais apropriada a este tipo de metodologias? É uma questão que pensamos ser
pertinente para também ser abordada em futuras investigações.
199
Parecem, à partida, muitas limitações para um estudo só, mas não nos podemos
esquecer da complexidade que está por trás de um estudo deste tipo, onde intervêm
diversos factores, onde estamos a lidar com seres humanos com os seus medos,
inseguranças e limitações. Pesa o tipo de turma, pesa a maturidade dos alunos, pesam os
seus conhecimentos e capacidades, pesa o contexto em que se insere, pesam os objectivos
que queremos alcançar e como.
Os resultados podem não ter sido os esperados ou desejados, mas foram com certeza
relevantes sobre o ensino e aprendizagem da geometria com recurso aos AGD. A realização
deste estudo e as limitações com que nos deparámos, leva-nos a reflectir e a repensar
muitos dos aspectos, as nossas opções, as nossas acções, de modo a poder olhar para
caminhos que foram favoráveis e outros que possam vir a ser melhorados, no que diz
respeito ao processo de ensino/aprendizagem e a futuras investigações, relativamente à
aprendizagem por descoberta, à utilização de novas metodologias de ensino, como são os
AGD, à questão da autonomia, à realização de novos modelos de tarefas.
Reforçando as ideias dos vários autores que serviram de base a este estudo, seria
interessante e relevante continuar a centrar os estudos nesta área, pois este estudo veio
reforçar a ideia das grandes potencialidades educativas da utilização dos AGD e, como tal,
devem ser promovidos com mais regularidade nas nossas salas de aula. Há, contudo, de ter
em consideração que nem todos aprendemos da mesma forma e que, contra todas as
vantagens apontadas a estes ambientes, há alunos que não se sentem à vontade e que
preferem outro tipo de metodologias, há ferramentas de trabalho que podem ser mais
adequadas para compreender melhor determinado tema do que outros, pois como afirma
(Laborde, 1993), é diferente aprender geometria recorrendo aos tradicionais papel, lápis,
régua e compasso do que recorrer aos AGD, que, por sua vez, é diferente de recorrer a
materiais manipuláveis.
Acreditamos ter contribuído para o desenvolvimento de algumas capacidades
consideradas importantes. Os alunos compreenderam conceitos, reconheceram e
relacionaram propriedades, estabeleceram conjecturas. No entanto, tiveram grandes
dificuldades em estabelecer raciocínios lógicos, o que os coloca, segundo De Villiers
(2003), num dos três primeiros níveis de pensamento geométrico de van Hiele. Será que
200
este tipo de ambientes favorece uma progressão mais rápida, uma vez que os alunos têm
um papel mais activo? Vicent (1998), num estudo exploratório, concluiu que o AGD,
Cabri, influenciou positivamente a progressão de um nível de van Hiele para outro.
Acreditamos também ter contribuído para que os alunos adoptassem uma atitude mais
dinâmica e autónoma. É importante que não se limitem a estudar os exercícios e a matéria
que sai para o teste, mas que ganhem o hábito e o gosto por aplicar e relacionar os
conceitos aprendidos, investiguem por si, debatam ideias, estabeleçam raciocínios lógicos,
de modo a conseguir uma melhor integração e consolidação dos saberes e para se tornarem
mais participativos e autónomos na sociedade de hoje. Temos, para isso, de proporcionar
aos alunos experiências de aprendizagem onde possam adquirir, além de competências
matemáticas como a compreensão, a comunicação e o raciocínio, a capacidade de reflexão
e autonomia.
O conceito de autonomia é um dos mais antigos, “tão antigo como as próprias
sociedades humanas” (Vieira, 1998, p. 21), mas é recente no contexto escolar, pelo menos
no que diz respeito aos alunos. Com tantas transformações, o modelo tradicional apresenta-
se cada vez mais desinteressante e desajustado para os nossos alunos, pelo que a escola tem
de cativar e proporcionar “oportunidades de aprender a aprender” (Vieira, 199, p. 23), no
sentido de dar resposta às necessidades dessa sociedade e de “sobreviverem” às suas
exigências. Daí, a importância ou o interesse de continuar a investigação nesta área.
Como já fizeram referência muitos autores, é verdade que tem havido muito interesse
por parte, quer de investigadores, quer de professores, por estes estudos. Mas, por muitos, e
por muito positivos, que sejam, não serão suficientes se não se derem a conhecer às escolas
e aos professores. É bom que não fiquem fechados numa gaveta lá de casa ou numa estante
de uma biblioteca!
Os professores, de um modo geral, falam pouco sobre as suas experiências na sala de
aula e colaboram pouco uns com os outros. Temos de os incentivar a fazer o mesmo com os
seus alunos. A professora participante neste estudo partilhou a nossa experiência nas
reuniões de departamento e com outros colegas, quer da área de Matemática, quer de outras
áreas, que se mostraram interessados e curiosos. Esta é também uma área interessante onde
os professores podem desenvolver trabalho colaborativo. Os professores podem trabalhar
201
colaborativamente e desenvolver experiências de ensino similares com recurso aos AGD,
da mesma área ou não.
Esta experiência alterou a rotina habitual das aulas de Matemática, quer para os alunos
quer para a professora, quer para a investigadora e, ao longo desta, surgiram surpresas
agradáveis, surgiram “contraditórios”, novas interacções, novos papéis, novas actividades,
novos empenhos, novos desafios. Surgiram reacções positivas e negativas, mas “surgiram”,
pois nada pode ser pior do que “nada” acontecer!
Os alunos revelaram atitudes variadas ao longo da experiência e, segundo a professora,
diferentes das aulas normais, opinião também partilhada pelos próprios alunos.
Demonstraram receio, insegurança, dificuldades, dependência. Mas, acima de tudo,
demonstraram maior interesse, maior empenho, maior autonomia, confiança e, muito
importante, gosto pela Matemática, o que acabou por se traduzir num balanço bastante
positivo, quer pela nossa parte, quer pela parte dos alunos, quer em relação à oportunidade
de trabalhar com o computador, quer em relação à aprendizagem.
Os alunos falaram da importância do trabalho com o computador por ser “fundamental
para o futuro” e “fazer parte do desenvolvimento do ensino”. Falaram de uma “maneira
diferente de aprender” e de “aprender o sentido das coisas”. Falaram de uma participação
mais activa, da facilidade em compreender algo que podem “tocar”, do maravilhoso” que é
“descobrir algo novo”, do “ser tudo muito mais empolgante” e “um estímulo para a
aprendizagem”.
É por tudo isto que acreditamos que valeu a pena! E é por tudo isto que podemos (e
devemos) reflectir sobre se queremos contribuir para toda esta “evolução”, para toda esta
“energia”ou se queremos continuar a “acomodarmo-nos” e a, como refere Freire (1997), a
“domesticar”!
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A N E X O S
219
ANEXO I – PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO AO CONSELHO EXECUTIVO
Guimarães, 18 de Fevereiro de 2004
Ex.mo Senhor
Presidente do Conselho Executivo da
Escola Secundária de Felgueiras
Eu, Elsa Maria Barrigão Ferreira, aluna do Curso de Mestrado em Supervisão
Pedagógica em Ensino de Matemática, da Universidade do Minho, venho, por este
meio, solicitar a sua autorização para desenvolver, com a turma do 9º ..., em
colaboração com a Professora Carla ..., um projecto de ensino e aprendizagem do tema
Geometria do Plano, em Ambientes Geométricos Dinâmicos, nomeadamente com
recurso ao programa de geometria dinâmico: O Geometer’s Sketchpad.
Mais especificamente e de um modo muito sucinto, com este projecto pretendo
estudar as concepções e atitudes que os alunos, deste nível de escolaridade, têm perante
a geometria e a demonstração e de que modo esses ambientes favorecem o
desenvolvimento das capacidades de raciocínio e de argumentação.
O projecto insere-se no âmbito de uma investigação individual que culminará na
minha Dissertação de Mestrado.
Fico à inteira disposição de V. Ex.a para complementar toda a informação que
julgue oportuna.
Agradecendo desde já a sua colaboração, subscrevo-me com os melhores
cumprimentos,
Atenciosamente
_____________________________________
(Elsa Maria Barrigão Ferreira)
221
ANEXO II – PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO AOS ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO
Felgueiras, 10 de Março de 2004 Ex.mo(a) Sr.(a)
Encarregado(a) de Educação do(a) aluno(a) ____________________________________________ N.º _____ da turma ... do 9º Ano da Escola Secundária de Felgueiras Vai ser desenvolvido com os alunos desta turma, em colaboração com a Dr.a Carla ...,
um projecto de ensino e aprendizagem do tema de Geometria do Plano com recurso a ferramentas computacionais, nomeadamente, o programa de geometria dinâmico, o Geometer’s Sketchpad.
O projecto insere-se no âmbito de uma investigação individual, que culminará na minha dissertação de Mestrado. Este tem como objectivo estudar as concepções e atitudes que os alunos, deste nível de ensino, têm perante a Geometria e a Demonstração e estudar o desenvolvimento das capacidades de raciocínio e argumentação.
Assim, solicito que autorize o seu educando a participar na recolha de dados. Utilizar-se-ão fotocópias dos trabalhos realizados pelos alunos, os trabalhos gravados em disquetes e gravações audio das aulas.
Em todas as aulas, a responsável pela turma continuará a ser a professora de Matemática.
É garantido, por mim, que os dados recolhidos apenas serão utilizados para os objectivos da investigação. Garante-se, igualmente, o anonimato do(a) aluno(a), se tal for solicitado.
Agradecendo, desde já, a colaboração prestada de V. Ex.a , solicito que assine a declaração em baixo, devendo depois destacá-la e devolvê-la.
Com os melhores cumprimentos,
______________________________ (Elsa Maria Barrigão Ferreira)
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Declaro que autorizo o(a) meu(inha) educando(a) ______________________________ a participar na recolha de dados conduzida pela Dr.a Elsa Maria Barrigão Ferreira no âmbito da sua dissertação de Mestrado.
Solicito/Não solicito que seja mantido o anonimato do(a) meu(inha) edudando(a) no texto que for publicado (Riscar o que não interessa).
Felgueiras, _____ / _____ / __________
Assinatura ________________________________________
222
ANEXO III – MANUAL DE INICIAÇÃO AO GEOMETER’ S SKETCHPAD, VER. 4.00
Adaptado de The Geometer´s Sketchpad Guide 2001
223
O Geometer’s Sketchpad (GSP) é uma ferramenta que permite explorar determinados tópicos da geometria, leccionados no ensino básico e secundário.
Este permite construir e explorar uma variedade de figuras, como modelos do teorema de pitágoras, gráficos, curvas, fractais, etc, que podem ser manipuladas interactivamente sem que as relações matemáticas impostas na construção sejam alteradas.
Para uma melhor compreensão do GSP, neste pequeno documento, é-te apresentado um
guia de utilização com explicação dos menus e dos comandos mais utilizados, assim como alguns exemplos que podes experimentar.
Interface: Quando abres o programa e um novo sketch, este é o aspecto da tua janela de trabalho.
224
Barra de Ferramentas:
Selecciona e arrasta objectos. É também uma ferramenta para translações, rotações e homotetias*
Marca pontos Desenha circunferências Desenha segmentos de recta, rectas ou semi-rectas*
Legenda e cria caixas de texto Cria e trabalha com uma lista de ferramentas e comandos*
* • Para ter acesso a estas opções:
• Posiciona o cursor sobre a seta de selecção ou sobre a linha
recta. • Mantém o botão premido até aparecer toda a palete de
ferramentas. • Sem largar o botão do rato, arrasta para a direita até a tua
opção estar seleccionada e larga o botão.
Janela do Script:
Condições iniciais: objectos, necessários para a execução do script
o
225
Passos da construçã
Por exemplo, se precisares de construir vários papagaios, pode tornar-se tedioso repetir sempre os mesmos passos. Assim, podes criar uma ferramenta (Costum tool) que os construa, de modo que, depois de gravada, possas reproduzi-la sempre que desejares, noutros sketchs, bastando, para isso, seleccionares a tua construção com a seta de selecção ou no menu Edit a opção select all e no botão da barra de ferramentas escolhes a opção Creat New tool (criar nova ferramenta). Dás-lhe um nome e fica então disponível para as próximas construções, onde podes reproduzir a construção outras vezes noutros sketchs. Para ver os passos da construção seleccionas a opção show script view, também no botão na barra de ferramentas.
Comandos essenciais:
Seleccionar,Deseleccionar e arrastar objectos:
• Para escolher um só objecto basta, com a seta de selecção, , fazer um clique no objecto.
• Usando a seta de selecção, com o botão do rato prime num espaço vazio do
sketch e arrasta de modo a definir uma caixa de selecção à volta dos objectos pretendidos. Solta o botão do rato para seleccionar todos os objectos que estão, total ou parcialmente, dentro da caixa.
• Para deseleccionar objectos clica novamente no objecto seleccionado.
• Para deseleccionar todos os objectos basta fazer um clique sobre um espaço
vazio do sketch.
• Para arrastar objectos usa a seta de selecção para seleccionar os objectos a arrastar, mantém premido o botão do rato e arrasta o objecto para o novo local e aí liberta o botão do rato.
Menu File:
Ficheiro
Abre um novo documento sketch em branco Abre um documento sketch ou script previamente guardado
Grava as últimas alterações feitas num documento activo Guarda um documento activo num local específico com um novo nome Fecha a janela do documento que está activa Altera as configurações do documento Mostra uma previsão do documento impresso Imprime a actual página do documento activo Fecha todos os documentos abertos e sai do Sketchpad
226
Comandos essenciais:
Obter um écran limpo:
• No menu File selecciona a opção New Sketch. • No menu Edit selecciona a opção Select all e depois Clear ou Delete. • Faz Ctrl N.
Abrir um sketch já existente:
• No menu File selecciona a opção Open. Procura o directório onde se encontra e selecciona o documento pretendido.
Guardar um sketch:
• No menu File selecciona a opção Save As. Indica o directório onde vais guardar o ficheiro e o nome do documento. O nome do documento deverá ser representativo do teu trabalho para melhor o identificares e deverá ser guardado com a extensão gsp.
• Faz ctrl S.
Directório: Local do computador onde se guarda o documento
Nome do ficheiro Cancelar a gravação Aceitar a gravação
Experimenta 1: Abre um documento e grava-o com o nome exemplo.gsp na tua pasta de trabalho.
227
Menu Edit:
Editar Corrige as mais recentes acções efectuadas Refaz uma acção previamente corrigida
Remove Copia objectos seleccionados para outro sketch ou aplicação Introduz no sketch o conteúdo do clipboard Apaga objectos seleccionados juntamente com os que deles dependem Cria um ou mais botões de acção (movimento, animação; exibição)
Selecciona todos os objectos Selecciona apenas os objectos “pais” Seleccona apenas os objectos “filhos”
Altera a relação entre os objectos
Altera as propriedades dos objectos
Altera as configurações do Sketchpad (fontes, estilos, unidades de medida, tamanhos de texto, etc.)
Observação: Quando os comandos estão com uma cor mais clara, isso quer dizer que, por alguma razão, não estão disponíveis.
Observação: Para construir um objecto (filho) a partir de outros (pais) é necessário
seleccionar primeiro os pais, de modo a que os filhos fiquem perfeitamente definidos. Caso contrário, essa construção não aparece disponível no menu. Por exemplo, para construir uma recta é preciso ter seleccionado dois pontos. Comandos essenciais:
Corrigir uma acção:
• No menu Edit selecciona a opção Undo. • Faz Ctrl Z. • Selecciona o objecto que já não queres e no menu Edit escolhe a opção Cut. • Selecciona o objecto que já não queres e faz Delete.
Experimenta 2: Recorre à barra de ferramentas para desenhar vários objectos e experimenta cada uma
das opções.
228
Menu Construct:
Experimenta 3: Desenha um triângulo inscrito n
numa circunferência é um triângulo cu Podes, por exemplo, seguir os se
1. Com a ferramenta marca 2. Selecciona simultaneamente o
Circle By Center And Point
circunferência). Podias ter locircunferência.
3. Agora vais marcar os vértices
a circunferência e no menu Cprecisar de três pontos terá
ferramenta e marca os pon
4. Para obteres finalmente o triâtrês vértices e no menu Const
dois a dois e com a ferramenta
Construção
Ponto sobre um objecto Ponto médio Ponto de intersecção
Segmento de recta Semi-recta Recta Recta paralela Recta perpendicular Bissectriz de um ângulo
Circunferência dado o centro e um ponto Circunferência dado o centro e o raio Arco de circunferência Arco de circunferência a passar por três pontos Interior de um polígono ou de uma curva fechada Lugar geométrico
uma circunferência. Recorda que um triângulo inscrito jos vértices estão sobre a circunferência.
guintes passos:
dois pontos.
s dois pontos e no menu Construct escolhes a opção (o primeiro ponto a ser seleccionado será o centro da
go seleccionado a ferramenta para construir a
do triângulo sobre a circunferência. Para isso selecciona onstruct escolha a opção Point On Object (como vais
s de repetir esta operação três vezes), ou utiliza a
tos sobre a circunferência.
ngulo selecciona simultaneamente e ordenadamente os ruct escolhe a opção Segment (ou selecciona os pontos
constrói os segmentos de recta).
229
Menu Display:
Exposição Estilo da linha: grosso (thick), fino (thin) ou tracejado (dashed) Cor dos objectos Estilo, tamanho e fonte do texto
Esconde objectos Mostra tudo o que está escondido
Mostra/esconde legendas
Deixa o traçado dos objectos seleccionados Apaga o traçado dos objectos seleccionados Animação Aumenta a velocidade da animação Diminui a velocidade da animação Para a animação
Mostra a palete do texto Aumenta ou diminui a velocidade de animação Esconde a barra de ferramentas
Comandos essenciais:
Esconder objectos:
• Esta opção é usada quando não queres apagar algo, mas também não queres que se veja. Para isso, selecciona o objecto que queres esconder e no menu Display selecciona a opção Hide.
• Faz Ctrl H.
Legendar objectos:
• Se quiseres que o GSP legende por ti, no menu Display selecciona a opção Show Labels.
• Se só quiseres legendar alguns itens, com o rato selecciona a ferramenta . Arrasta a mão para o item que queres legendar e clica uma vez. O GSP legenda automaticamente.
• Se quiseres alterar a legenda, com faz duplo clique sobre essa legenda. Aparecerá uma caixa de texto e é só escreveres a nova legenda.
230
Podes ainda alterar o estilo da legenda (tamanho, cor, etc.) clicando no botão Style da caixa de texto.
• Se quiseres que a legenda desapareça clica uma vez com no item a que pertence.
• Se quiseres mover a legenda, com mantém premida a legenda com o botão do rato e arrasta-a para o novo local.
Experimenta 4:
X
Y
Z
Lembras-te do triângulo inscrito na circunferência? Esconde a circunferência e legenda os vértices do triângulo com X, Y e Z. Experimenta também colorir o triângulo. Para colorir o triângulo, selecciona simultaneamente e ordenadamente os vértices. No menu Construct escolhe a opção Polygon Interior e no menu Display a opção Color.
Agora tenta fazer um cone de gelado.
Para isso, precisas de construir o arco ZY, por exemplo. Assim, precisas de voltar a fazer aparecer a circunferência (no menu Display escolhe a opção Show all Hidden). Agora que já podes ver a circunferência já podes construir o arco (selecciona simultanemente, e por esta ordem, o ponto Y o arco de circunferência e o ponto Z, seguindo o sentido anti-horário. No menu Construct selecciona a opção Arc On Circle). Esconde o que já não interessa e pinta o gelado de acordo com o teu sabor preferido! Para pintar a parte do gelado selecciona o arco de circunferência e no menu Construct escolhe a opção Arc Sgment Interior
231
Menu Measure:
Medição
Comprimento de um ou mais segmentos de recta Distância entre dois pontos ou entre um ponto e um objecto Perímetro de polígonos, círculos e sectores circulares Circunferência Amplitude de ângulos Área de polígonos, círculos e sectores circulares Amplitude de um arco de circunferência Comprimento de um arco de circunferência
Razão entre os comprimentos de segmentos Abre a calculadora do Sketchpad
Experimenta 5:
Ainda relativamente ao triângulo anterior, experimenta fazer algumas medições e cálculos. Mede a amplitude dos ângulos internos, calcula o perímetro, a área e a soma das amplitudes dos ângulos internos do triângulo [XYZ].
Area YZX = 15,09 cm2
Perimeter YZX = 17,74 cm
m ZX = 5,70 cm
m XY = 6,15 cm
m YZ = 5,89 cm
m∠YZX+m∠ZXY+m∠XYZ = 180,00°
m∠XYZ = 56,42°
m∠ZXY = 59,55°
m∠YZX = 64,04°
Z
X
Y
• Para medir a amplitude dos ângulos, precisas de seleccionar 3 pontos. O segundo
ponto a ser seleccionado será considerado como o vértice do ângulo. Depois, no menu Measure escolhe a opção Angle.
232
• Para medir o comprimento de um segmento de recta selecciona o segmento e no menu Measure escolhe a opção Lenght. Ou selecciona os pontos extremos desse segmento e no menu Measure escolhe a opção Distance. Se quiseres medir todos os segmentos ao mesmo tempo, basta selecciona-los todos e fazer o processo atrás descrito.
• Para calcular o perímetro ou a área tens de ter construído o interior do triângulo. Para
isso vais ao menu Construct. Depois de seleccionado, no menu Measure escolhe a opção Perimeter ou Area.
Também podes aceder a alguns destes comandos clicando com o botão direito do rato sobre os elementos que compõem a figura.
• Para calcular uma soma, como por exemplo a soma das amplitudes dos ângulos internos do triângulo, no menu Measure escolhe a opção Calculate. Esta opção fará aparecer uma calculadora onde podes inserir os dados. Neste caso, seleccionas as amplitudes dos ângulos previamente medidas e quando tiveres os dados introduzidos, basta fazer OK. No sketch aparecerá a expressão que construíste com o respectivo resultado.
233
Experimenta 6:
Calculadora No visor aparece a expressão a ser construída Aqui temos valores, como o de pi, algumas funções matemáticas, como a função seno e as unidades em que se está a trabalhar
Cancela ou viabiliza a operação com a calculadora
Teclado
• Experimenta usar a calculadora também para calcular o perímetro do triângulo. • Experimenta arrastar os vértices do triângulo. Que podes observar?
Menu Transform:
Transformação Marca o centro de rotação ou homotetia Marca o eixo de simetria Marca um ângulo ou amplitude para rotação Marca uma razão ou escala para homotetia Marca um vector para translação Marca uma distância para translação
Translação do objecto seleccionado Rotação do objecto seleccionado Homotetia do objecto seleccionado Simetria em relação a um eixo do objecto seleccionado
Constrói imagens iteradas ou um conjunto de objectos geométricos relacionados por uma regra de iteração
234
Experimenta 7:
Para poderes experimentar as opções deste menu vais construir um triângulo [ABC], em que , e . Segue os seguintes passos: º90ˆ =BAC º60ˆ =BCA º30ˆ =CBA
1. Começa por desenhar um segmento de recta (se quiseres que o segmento fique horizontal, carrega na tecla shift ao mesmo tempo que o vais desenhando).
2. Legenda os pontos como A e B. 3. Escolhe o ponto A para ser o centro de uma rotação (selecciona o ponto e no menu
Tranform escolhe a opção Mark Center ou então, com o rato, clica duas vezes no ponto)
4. Selecciona o outro ponto extremo do segmento de recta e no menu Transform escolhe
a opção Rotate e indica o ângulo de rotação (neste caso de 90º) 5. Une, através de uma recta, o ponto que ficou marcado com o centro de rotação
escolhendo no menu Construct a opção Line (não te esqueças que na barra de ferramentas tem que estar seleccionada a opção de recta e não a de segmento).
6. Repete o procedimento de 3, mas agora escolhendo o outro ponto para centro de
rotação. 7. Repete também os passos 4 e 5, mas tendo em atenção os dados do problema. 8. Constrói o ponto de intersecção das duas rectas (selecciona as duas rectas e no menu
Construct escolhe a opção Point At Intersection) e legenda-o de acordo com os dados do problema.
9. Esconde todos os objectos que estão a mais. 10. Acaba de construir o triângulo. 11. Confirma os valores dos ângulos recorrendo ao menu Measure. Arrasta os vértices e
vê o que acontece. 12. Pinta o triângulo e escreve a classificação do triângulo quanto aos ângulos.
Repara que para construir o triângulo [ABC] tiveste que seguir todos aqueles passos. Se
quiseres guardar a tua construção de modo a usá-la mais tarde, quando necessitares, podes construir uma nova ferramenta (Costum tool).
Com a tua construção já está feita, basta seleccionares a opção Create New Tool no botão da barra de ferramentas e dar-lhe um nome representativo que facilmente identifiques.
235
Outros menus:
Gráfico Este menu permite fazer a conexão entre a álgebra e a geometria.
Ajuda Este menu serve para consultar em caso de dúvidas (Ou, para mais esclarecimentos sobre qualquer comando dos menus, aponta com o rato para esse comando ou objecto e prime F1 )
Trabalho Este menu apresenta uma lista de todos os documentos abertos e visualiza-los em forma de cascata ou de modo a que pavimentem o écran.
236
Experimenta 8: Agora que já conheces o GSP, achas que consegues, sozinho, construir um quadrado? Parece simples, experimenta! C
D
A
B
Agora que já construíste o quadrado, arrasta os vértices. O que aconteceu?!...Se calhar não é assim tão fácil!... Provavelmente se arrastares os vértices do teu quadrado esse “desmanchou-se” e deixou de ser um quadrado, ou não? Se não, explica como procedeste. Se sim, a seguir apresentamos-te um script duma construção possível. Consegues perceber o que foi feito e construir um de novo? Experimenta.
237
Experimenta 9: Dá asas à tua imaginação e faz desenhos onde entrem várias figuras geométricas. Será que consegues fazer algum destes com o Sketchpad? (Atenção que quando arrastares os objectos do sketch as tuas construções não se podem desmanchar)
238
ANEXO IV – FICHAS DE TRABALHO PROPOSTAS
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha de revisão 1: Ângulos
A rede que se segue é formada por feixes de rectas paralelas:
e
r
gf
iq
nh
jk
p
b
a
c
m
o
d
Observa bem a rede da figura e responde às seguintes questões.
1. Que podes dizer acerca dos ângulos a, b , c e d?
2. Identifica na rede pares de ângulos de lados paralelos. O que podes dizer acerca desses
ângulos?
3. Que podes dizer acerca dos ângulos e e f e dos ângulos r e q?
4. Que podes dizer acerca dos ângulos f, i e j?
239
5. Supondo que a amplitude do ângulo a é 40º e que todos os triângulos da rede são
isósceles, determina, justificando, a amplitude de todos os ângulos representados na
figura.
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha de revisão 2: Triângulos e outros polígonos
Uma pavimentação é um arranjo de polígonos que cobre completamente a superfície, sem
haver sobreposição e sem deixar nenhuma parte a descoberto. A figura que se segue representa uma pavimentação constituída por triângulos regulares geometricamente iguais, produzida pelo triângulo mais pequeno, a sombreado.
B
CA
Y X
P
Z
Q
Abre o ficheiro poligono.gsp. Observa com atenção a pavimentação e responde às seguintes questões.
1. Que formas e ideias geométricas vês na pavimentação? Enumera-as. 2. Que tipo de polígonos consegues identificar? Assinala-os.
3. Consegues identificar triângulos semelhantes? Assinala dois pares de triângulos
semelhantes e justifica a tua escolha. Qual a razão entre os seus lados? Qual a razão entre as suas áreas?
Recorda que a razão de semelhança é dada pelo quociente:
original segmento do ocompriment domedida ado transformsegmento do ocompriment domedida
=sr
4. Se a razão entre os dois triângulos semelhantes for de 1:5, o que prevês para a razão
entre as áreas? Que conjectura podes fazer? 5. P e Q são os pontos médios de dois lados do triângulo [XYZ]. O que podes dizer
acerca da relação entre os segmentos de recta [XY] e [PQ]? Justifica a tua conclusão.
240
6. Identifica outras figuras semelhantes. As relações estabelecidas para os triângulos continuam a verificar-se?
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha de revisão 3: Quadriláteros - Propriedades
Na figura que se segue podes observar alguns exemplos de quadriláteros.
f
m
h
da
i
kg
n
Completa a seguinte tabela identificando os paralelogramos, os rectângulos, os losangos, os
quadrados e os trapézios, assim como as suas propriedades. No caso das propriedades, para cada quadrilátero, assinala com um V aquelas que se verificam e com um F aquelas que não se verificam. Se precisares de ajuda para confirmares as tuas conclusões, abre o ficheiro quadrilatero.gsp.
Quadriláteros
Paralelogramos Rectângulos
Losangos
Quadrados
Trapézios
Figura ........................ ..a;................ ............... ................. ..g;............. Propriedades
Tem um par de lados paralelos (//) Tem os lados opostos geometricamente iguais (≅)
Tem os ângulos opostos geometricamente iguais (≅)
Tem os ângulos adjacentes suplementares
Tem todos os ângulos rectos Tem dois pares de lados paralelos (//) As diagonais bissectam-se V As diagonais são geometricamente iguais (≅)
As diagonais são perpendiculares (⊥) F A soma das amplitudes dos ângulos internos é 360º
V
241
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha de revisão 4: Mediatriz
A
B
M
m
s
t
A
B
M
m
rn
A
B
M
As rectas s, t e m são perpendiculares a [AB], mas só a recta m passa no ponto médio.
As rectas r, m e n bissectam
M é o ponto médio de [AB], donde MBAM =
A recta m é a mediatriz do segmento de recta [AB]. Define media
recta._______________________________________________________
___________________________________________________________
Investiga:
A
1. Desenha um segmento de recta [AB] e a sua mediatriz. Grava nome mediatriz.gsp. Explica o procedimento que utilizaste na sua
2. Representa um ponto P, na mediatriz, exterior a [AB].
3. Que relação existe entre os segmentos de recta [AP] e
[BP]? Faz a tua conjectura.
4. Movimenta o ponto P. Confirmas a tua conjectura?
5. Que relação existe entre os triângulos [AMP] e [BMP]?
6. Considerando a relação anterior, enuncia uma
propriedade da mediatriz.
7. A recíproca da propriedade anterior será verdadeira? Investiga e justifica a tua conclusão.
242
[AB], mas só a recta m é perpendicular a [AB].
triz de um segmento de
__________________
__________________
m
B
M
P
a tua construção com o construção.
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha 1: Ângulos ao centro numa circunferência
OP
D
A
C
BR S
Q
T
∠PQR, ∠PQS, ∠SRQ e ∠QST não são ângulos ao centro da circunferência de centro P.
∠AOB, ∠BOC, ∠BOD e ∠DOA são ângulos ao centro na circunferência de centro O de arcos correspondentes AB, BC, BD e DA.
Um ângulo ao centro é _________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Investiga algumas propriedades dos ângulos ao centro.
1. Desenha uma circunferência de centro O.
2. Constrói um ângulo ao centro ∠AOB e o arco correspondente. Guarda a tua construção
com o nome AngulosCircunferencia.gsp.
3. Mede a amplitude do ângulo ∠AOB e do arco de circunferência AB.
=BOA ˆ __________ =AB __________
4. Arrasta um dos pontos A ou B, que definem o ângulo, de modo a poder fazer variar a
sua amplitude. O que observas?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5. Que conjectura podes fazer acerca da relação entre a amplitude de um ângulo ao centro
de uma circunferência e a amplitude do arco correspondente.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
243
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha 2: Ângulos ao centro - Propriedades
O
D
A
C
B
1. Abre a construção AngulosCentroPropriedades.gsp. Na
circunferência, as duas cordas, [AB] e [CD], são geometricamente
iguais.
2. O que podes dizer acerca dos ângulos ∠BOA e ∠DOC? E dos arcos
BA e DC? Faz as tuas conjecturas e explica porque são verdadeiras.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3. Uma forma possível para explicares porque é que, numa circunferência, a cordas
geometricamente iguais correspondem ângulos ao centro geometricamente iguais, é seguir
o seguinte esquema de demonstração:
Experimenta fazê-lo para as outras conjecturas.
244
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha 3: Ângulos inscritos numa circunferência
B
A
C
D
E
T
U
S
W
V
Q
P
R
X
Um ângulo inscrito é ________________________________________________________
_________________________________________________________________________
Investiga algumas propriedades dos ângulos inscritos.
1. Na tua construção AngulosCircunferencia.gsp constrói um ponto V sobre a
circunferência e o ângulo inscrito ∠AVB.
2. Arrasta os pontos A e B de modo a fazer variar a amplitude do ângulo. Regista os
resultados obtidos na tabela que se segue.
BVA ˆ
BOA ˆ
AB
∠PQR, ∠STU e ∠VWX não são inscritos na circunferência.
∠ABC, ∠BCD e ∠CDE são ângulos inscritos na circunferência e intersectam os arcos CA, BD e CBE respectivamente.
245
3. Baseando-te nos dados da tabela que conjecturas podes fazer?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
A
V
B
AV
B
A
V
B4. Quando falamos em ângulos inscritos, temos três casos possíveis:
1º caso: Um dos lados do ângulo inscrito contém o centro da
circunferência.
2º caso: O ângulo inscrito contém o centro da circunferência.
3º caso: O ângulo inscrito não contém o centro da circunferência.
Tiveste em atenção estas três situações? As tuas conjecturas continuam verdadeiras?
___________________________________________________________________________
5. Repara que, mesmo assim, as tuas conjecturas foram baseadas em apenas alguns
exemplos. Tens a certeza que a tua conjectura é sempre verdadeira? Se acreditas que a
tua conjectura é sempre verdadeira apoia a tua conjectura com uma explicação lógica ou
com uma demonstração convincente. Se suspeitas que a tua conjectura é falsa tenta
encontrar contra-exemplos.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
246
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha 4: Ângulos inscritos - Propriedades
A
Q
B
P
6. Abre o ficheiro AngulosInscritos.gsp. Os ângulos ∠AQB e
∠APB ambos intersectam o arco AB e ambos estão
inscritos no arco APB. Os ângulos ∠AQB e ∠APB
parecem geometricamente iguais. Consegues encontrar
ângulos inscritos no mesmo arco que não sejam
geometricamente iguais? Investiga e explica as conclusões a
que chegaste.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7. Já sabes que podemos definir diâmetro de uma circunferência como toda a corda que
passa pelo centro de uma circunferência e que um diâmetro divide a circunferência em
duas semi-circunferências.
A
B
Xa. Constrói um segmento de recta [AB] e a circunferência que tem
esse segmento como diâmetro.
b. Constrói um ponto X sobre a circunferência e o ângulo de
vértice em X e cujos lados passam pelos extremos do
diâmetro.
c. Mede o ângulo anterior e desloca o ponto X sobre a
circunferência. Que conjecturas podes formular? Justifica.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
247
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha 5: Cordas - Propriedades
r
sA
B
C
D
Recorda que uma corda é um segmento
de recta que une dois pontos da circunferência.
Investiga algumas propriedades das
cordas.
1. Abre o ficheiro Cordas.gsp. Podes
observar duas rectas, r e s, paralelas
que intersectam a circunferência. Ao
traçar as duas rectas, ficaram
definidos dois pares de cordas, [AB] e
[CD] e [AC] e [BD].
r // s
2. Constrói as perpendiculares às cordas [AB] e [AC] a partir do centro da circunferência. O
que podes concluir?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3. Compara as amplitudes dos arcos da circunferência AB e DC. Que observas?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4. Que relação existe entre as cordas [AB] e [CD]?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5. Das questões anteriores que conjecturas podes fazer? Explica porque achas que são
verdadeiras.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
248
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha 6: Construção do aeroporto I
O Governo Português está a planear construir um novo aeroporto no Norte do país, de modo a
servir de igual modo as cidades de Bragança, Vila Real e Braga.
Vila Real
Braga
Bragança
Onde deve ficar localizado o aeroporto de modo a que fique à mesma distância das três
cidades?
1. Abre o sketch aeroporto1.gsp, onde está feito um esboço da localização das três cidades.
Qual o teu palpite para a localização do aeroporto? Marca no mapa o ponto que vai de
encontro ao teu palpite e designa-o por Aeroporto.
2. Confirma se o teu palpite é verdadeiro. Se arrastares uma das cidades as distâncias
mantêm-se?
Faz uma construção que não desmanche, i.e., constrói o ponto de modo a que fique
equidistante das três cidades mesmo quando arrastadas. Explica o teu procedimento.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
249
3. Se o desenho estiver feito a uma escala de 1: 900 000, a que distância é que o aeroporto
vai ficar das cidades?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4. É sempre possível encontrar um ponto equidistante de três vértices, independentemente do
tamanho do triângulo que eles definem? ________________________________________
5. Experimenta desenhar um triângulo qualquer. Constrói as mediatrizes dos lados do
triângulo. Guarda a tua construção com o nome cidade1.gsp.
6. Arrasta os vértices do triângulo. Ainda concordas com a tua resposta em 4? O que podes
concluir?
Que nome se dá ao ponto de intersecção das mediatrizes de um triângulo? Quando é que
esse ponto fica dentro, sobre os lados ou fora do triângulo?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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___________________________________________________________________________
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___________________________________________________________________________
250
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha 7: Construção do aeroporto II
1. Imagina, agora, que em vez de três cidades, o governo quer construir o aeroporto à mesma
distância de Bragança, Valença, Porto e Vila Nova de Foz Côa. Abre o ficheiro
aeroporto2.gsp. Onde achas que será a sua localização. Justifica.
Valença
Bragança
Viseu
Porto
Braga
Vila RealVila Nova de Foz Côa
2. Será que é sempre possível encontrar um ponto equidistante de 4 pontos dados?
Experimenta fazê-lo para as cidades de Bragança, Valença, Porto e Vila Real. O que
aconteceu? Guarda as tuas construções com o nome cidade2.gsp.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7. A partir do esboço do mapa dado, dá outros exemplos de grupos de 4 cidades para as quais
seja ou não possível construir um aeroporto à mesma distância.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
251
8. Investiga porque é que nem sempre é possível encontrar um ponto equidistante de 4
pontos dados. Podes seguir os seguintes passos:
a) Constrói um quadrilátero [ABCD] e as mediatrizes correspondentes a quaisquer três
dos seus lados.
b) Constrói, a circunferência com centro na intersecção de duas das mediatrizes e que
passe por três vértices.
c) Arrasta um dos vértices do quadrilátero até que as três mediatrizes sejam
concorrentes no mesmo ponto. O que observas?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
d) Arrasta o quadrilátero de modo a que este modifique a forma e as mediatrizes sejam
novamente concorrentes. Constrói também a quarta mediatriz. O que observas?
Guarda a tua construção como cidades3.gsp.
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
e) Escreve a conjectura acerca das tuas observações. Consegues explicar porque é
verdadeira? Podes generalizar a pentágonos, hexágonos e outros polígonos de n
lados? Discute com os teus colegas.
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
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________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
252
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha 8: Quadrilátero inscrito numa circunferência
B
C
E
G
Na investigação anterior chegaste à conclusão que num quadrilátero quando as mediatrizes se
intersectam num mesmo ponto, os vértices estão sobre a circunferência com centro no ponto de
intersecção das mediatrizes.
1. Abre o ficheiro QuadrilateroInscrito.gsp.
2. Usa a calculadora do Sketchpad para somar cada par
de ângulos opostos do quadrilátero inscrito.
3. Arrasta um vértice. O que podes dizer acerca dos dois
pares de ângulos opostos do quadrilátero inscrito?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4. Escreve uma explicação para a conclusão obtida em 3. Consegues apresentar uma
demonstração?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5. A recíproca desta propriedade também é verdadeira. Enuncia-a e mostra porque é
verdadeira.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
253
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha 9: Recta tangente à circunferência
Recta Tangente àCircunferência
Recta Secante àCircunferência
Recta Exterior àCircunferência
Recta tangente à circunferência é ______________________________________________
_________________________________________________________________________
t
C
T
Qualquer recta tangente a uma circunferência é
perpendicular ao raio no ponto de tangencia.
t ⊥ [CT]
1. Constrói uma circunferência de centro C e uma recta, r, exterior a essa circunferência.
2. Explica como procederias para construir as rectas tangentes à circunferência com a
mesma direcção da recta r.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
254
C
PR
Q3. A partir de um ponto exterior a uma circunferência é
possível traçar duas rectas tangentes à circunferência.
Como procederias nesta situação?
Grava as tuas construções com o nome tangente.gsp.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4. O que podes dizer acerca dos ângulos ∠PQC e ∠PRC?
________________________________________________________________________
5. O que podes dizer acerca dos segmentos [PQ] e [PR]?
___________________________________________________________________________
6. Arrasta o ponto P. As tuas observações continuam válidas? Explica porquê.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7. Como classificas o quadrilátero [CPQR]? Justifica.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
255
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha 10: Papagaio – Propriedades I
Recorda que podemos definir papagaio como sendo um quadrilátero com dois lados
consecutivos geometricamente iguais.
1. Constrói uma nova ferramenta (Costum tool) que te permita obter papagaios genéricos.
Grava-a com o nome papagaio.
2. Investiga o maior número de propriedades.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
A
CD
B
E
H
G
F3. Constrói os pontos médios do papagaio e une-os de modo a obter um
quadrilátero [EFGH]. Guarda a tua construção com o nome
papagaio.gsp. Que tipo de quadrilátero pensas ser?
__________________________________________________________
4. Arrasta os vértices do papagaio. A tua suposição continua verdadeira? Encontra uma
explicação para esse facto.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5. Alguma vez [EFGH] pode ser um quadrado? Se sim, quando?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
256
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha 11: Papagaio – Propriedades II
C
mé
A
D
B
E
H
G
FNa investigação anterior descobriste que:
• O quadrilátero formado pelos pontos médios de um
papagaio é um rectângulo;
• O quadrilátero formado pelos pontos médios de um
papagaio é um quadrado apenas quando as
diagonais do papagaio são geometricamente iguais.
Os passos que se seguem vão ajudar-te a verificar que o quadrilátero formado pelos pontos
dios de um papagaio é realmente um rectângulo.
1. Abre a tua construção papagaio.gsp. e constrói as diagonais do papagaio.
2. Como é que [EF] e [HG] estão relacionados com [AC]? Porquê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3. Como é que [EH] e [FG] estão relacionados com [BD]? Porquê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4. Usa as questões 2 e 3 para explicar porque é que [EFGH] é um rectângulo.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
257
5. Sem usar as opções de construção e medição do Sketchpad e recorrendo apenas a
conclusões anteriores e à figura como auxílio, descreve a relação entre o perímetro do
rectângulo inscrito [EFGH] e as diagonais do papagaio [ABCD].
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6. Recorrendo agora ao Sketchpad faz as construções e as medições apropriadas para
confirmar a tua conclusão. Certifica-te que se verifica para qualquer papagaio.
___________________________________________________________________________
7. Explica como procederias para calcular a área do papagaio [ABCD].
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
A
C
D
B
E
H
G
F
8. Recorrendo ao Sketchpad, calcula a área dos dois quadriláteros.
[ ] =ABCDA ___________
=___________ [EFGHA ]
9. Arrasta um dos vértices e observa o que acontece às áreas. Descreve como é que as áreas
dos dois quadriláteros estão relacionadas. Para isso podes calcular a razão entre as áreas.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
10. Arrasta um dos vértices A, B, C ou D e observa as medidas das áreas. A razão também
varia?
___________________________________________________________________________
11. Sumaria os teus resultados para depois discutir com os teus colegas. Podes fazê-lo no
papel ou no computador e incluir alguns sketchs.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
258
Circunferência e Polígonos. Rotações - Ficha 12: Papagaio – Propriedades III
A
C
D
B
E
H
G
F
Area(Polygon BCDA) = 7,34 square cm
Area(Polygon FGHE) = 3,67 square cm
Area(Polygon FGHE)/Area(Polygon BCDA) = 0,50
Na investigação anterior provavelmente uma
das tuas conjecturas estabeleceu que a área do
rectângulo [EFGH] , formado pelos pontos médios
do papagaio [ABCD], é metade da área do papagaio
[ABCD].
1. Se acreditas que a tua conjectura é sempre verdadeira apoia a tua conjectura com uma
explicação lógica ou com uma demonstração convincente.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
259
2. Para uma possível explicação porque é que esta conjectura é verdadeira, podes, por
exemplo, trabalhar os seguintes passos:
2.1. Expressa a área de [EFGH] em função de [ABCD] e das áreas dos triângulos [AEG],
[CFG], [BEF] e [DHG].
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.2. Exprime a área do triângulo [AEH] em função da área do triângulo [ABD].
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.3. Analogamente, expressa as áreas dos triângulos [CFG], [BEF] e [DHG],
respectivamente, em função das áreas dos triângulos [CBD], [BAC] e [DAC] e
substitui no passo 2.1.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.4. Substitui os resultados de 2.2 e 2.3 em 2.1. Simplifica a equação e obtém o resultado
pretendido.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
260
Circunferência e Polígonos. Rotações – Ficha de Avaliação
1. Numa escavação arqueológica foi descoberta uma peça de cerâmica que aparenta ser parte de um prato antigo. É conhecido dos arqueólogos que os pratos com aquele desenho particular, se tiverem 15cm de diâmetro poderá fazer parte de um prato Grego Clássico. Abre o ficheiro Prato.gsp onde está o esboço da fronteira exterior do prato. Explica como procederias para ajudar os arqueólogos a confirmar se realmente o prato é dessa época.
A
B
C
D
E F
G
H
2. Cinco amigos de Felgueiras resolveram ir acampar para Vila Nova de Mil Fontes. Já no acampamento resolveram colocar um fogão de modo que ficasse à mesma distância das suas cinco tendas. Será sempre possível? Investiga.
Sugestão: Cria 5 pontos, T1, T2, T3, T4 e T5, de modo a representar as tendas e tenta encontrar o local, F, onde deve ficar o Fogão. Grava a tua construção com o nome Campismo.gsp.
3. Abre a construção Quadrilateros.gsp. Os vértices do quadrilátero [EFGH] são os pontos de intersecção das bissectrizes dos ângulos internos do quadrilátero [ABCD]. É sempre possível obter o quadrilátero [EFGH]? Investiga.
4. Constrói um quadrilátero [ABCD] e os pontos médios de cada um dos lados.
Une os pontos médios de modo a obter o quadrilátero [EFGH].
Grava a tua construção com o nome Varignon.gsp. 4.1. Ao quadrilátero [EFGH], que se obteve unindo os pontos médios de um quadrilátero qualquer, damos o nome de Quadrilátero de Varignon. Que tipo de quadrilátero pensas ser? Explica porquê. 4.2. Investiga quando é que o Quadrilátero de Varignon é um quadrado, um losango ou um rectângulo.
4.3. Calcula as áreas dos dois quadriláteros. Que conjecturas pode estabelecer? Explica porque achas que é verdadeira.
261
ANEXO V – QUESTIONÁRIO SOBRE ATITUDES E CONCEPÇÕES DOS ALUNOS ACERCA DA GEOMETRIA E DA DEMONSTRAÇÃO
Este questionário, a que venho pedir-te que respondas, insere-se num projecto de
investigação individual, que culminará na minha Dissertação de Mestrado. Mais
especificamente, com este questionário pretende-se estudar algumas ideias e atitudes
que os alunos têm acerca da geometria e da demonstração.
Além disso, trata-se de um questionário anónimo, pelo que deves responder sem
qualquer tipo de receio e com a maior seriedade.
A tua colaboração para responder a todas as perguntas será uma grande ajuda, pelo
que agradeço, desde já, a tua cooperação.
Obrigada,
263
Parte A: Informação biográfica
1. Idade:___ 2. Sexo: Masculino:___ Feminino: ___
3. Profissão da mãe:__________________________________________________
4. Profissão do pai:___________________________________________________
5. Tens irmãos a estudar? Sim ___ Não ___ Em que anos? ___________________
6. Como ocupas os teus tempos livres? ___________________________________
7. Qual a tua disciplina preferida? _______________________________________
8. Qual a disciplina em que tens mais dificuldades? _________________________
9. É a primeira vez que frequentas o 9º ano de escolaridade? Sim _____ Não _____
10. Já tiveste nível negativo a Matemática? Sim ___ Não ___ Em que ano(s)?_____
11. Quais os motivos?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
12. Na disciplina de Matemática qual foi a matéria que mais gostaste? ___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
13. Tens computador em casa? Sim ___ Não ___ 14. Em que situações é que costumas utilizar o computador? ___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
15. Conheces programas de computador para matemática? Se sim, indica-os. ___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
264
Parte B: Atitudes face à Geometria
As treze perguntas que se seguem expressam algumas ideias e atitudes acerca da geometria. Para cada afirmação, assinala com um X o grau de concordância que lhe atribuis, considerando que todas as opções de resposta utilizam a seguinte escala:
Discordo Totalmente
Discordo Parcialmente
Não tenho Opinião
Concordo Parcialmente
Concordo Totalmente
1 2 3 4 5 1. Gosto de estudar geometria
1 2 3 4 5
2. Gosto de resolver problemas de geometria.
1 2 3 4 5
3. Aprender geometria é muito importante para a minha formação.
1 2 3 4 5
4. A geometria que estudo não me vai servir de nada.
1 2 3 4 5
5. Como a arte e a música, a geometria também é criativa.
1 2 3 4 5
6. A geometria ajuda a compreender o mundo em que vivemos.
1 2 3 4 5
7. Todos os alunos podem aprender geometria desde que bem ensinada.
1 2 3 4 5
8. A geometria é difícil.
1 2 3 4 5
9. A geometria tem pouco interesse.
1 2 3 4 5
10. As situações do dia-a-dia exigem conhecimentos de geometria.
1 2 3 4 5
11. A maioria dos empregos não exige conhecimentos de geometria.
1 2 3 4 5
12. A geometria proporciona uma visão diferente da matemática.
1 2 3 4 5
13. Quando estudo geometria posso investigar, experimentar e explorar relações.
1 2 3 4 5
265
14. Conheces situações da vida real em que seja necessária a geometria? Se sim, indica algumas.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
15. Alguma vez utilizaste o computador na aula de Matemática? Se sim, em que
situações? ___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
16. Gostavas de, na aula de matemática, utilizar o computador no estudo da
geometria? Indica algumas razões. ___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
17. De entre os vários métodos para aprender geometria, indica, por ordem, os três
que mais preferes.
___ Exposição da matéria pelo professor.
___ Resolução de problemas de situações reais.
___ Utilização de materiais manipulativos, como por exemplo o tangram e o
geoplano.
___ Construções com régua e compasso.
___ Resolução de exercícios do livro para praticar técnicas.
___ Utilização do computador.
___ Realização de trabalhos em grupo.
___ Exploração de actividades de investigação.
___ Organização de debates para discutir ideias.
___ Realização de jogos didácticos.
___ Outros. Quais? ________________________________________________
266
Parte C: Concepções acerca da demonstração
1. Quando resolves exercícios ou problemas de matemática como sabes que os resolveste bem?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2. Recorda a propriedade dos triângulos: Em qualquer triângulo, a soma das
amplitudes dos seus ângulos internos é 180º. Como podes ter a certeza que esta propriedade é sempre verdadeira?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3. Alguma vez ouviste falar em demonstração ou prova matemática? Se sim, em
que situações? ___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4. De entre as afirmações que se seguem, escolhe, por ordem de preferência, as
que, na tua opinião, estão mais correctas. ___ A demonstração serve para verificar se uma afirmação matemática é verdadeira.
___ A demonstração serve para explicar porque é que um afirmação matemática é
verdadeira.
___ A demonstração serve para descobrir e inventar novos resultados.
___ A demonstração serve para transmitir conhecimento matemático.
___ A demonstração serve como desafio intelectual, onde há uma gratificação
resultante da construção de uma demonstração.
___ A demonstração serve para organizar os vários resultados num sistema de
axiomas e teoremas.
267
5. Explica por palavras tuas o que é demonstrar? ___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6. Gostavas de ser tu a descobrir e a demonstrar propriedades e relações
geométricas como um verdadeiro matemático? Indica algumas razões. ___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
7. Uma das propriedades dos paralelogramos é: A soma das amplitudes dos ângulos externos de qualquer paralelogramo é 360º. Consegues mostrar porquê é que é verdadeira?
d
c
b
aw
x y
z
Relembra que num ângulo externo, um dos lados contém um lado do polígono e o outro lado do ângulo contém o prolongamento do lado consecutivo do polígono. Na figura, os ângulos a, b, c e d são ângulos externos do paralelogramo.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
268
ANEXO VI – QUESTIONÁRIO SOBRE A EXPERIÊNCIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA GEOMETRIA
Caro(a) estudante,
Este questionário, a que venho pedir-te que respondas, insere-se num projecto de
investigação individual, que culminará na minha Dissertação de Mestrado. Mais
especificamente, com este questionário pretende-se fazer uma apreciação global sobre o modo
como decorreu a experiência de ensino e aprendizagem da Geometria, em que foi usado o
programa Geometer’s Sketchpad (GSP).
As respostas dadas serão estudadas com o propósito de identificar e compreender as tuas
opiniões em relação a vários aspectos do ensino e da aprendizagem dos assuntos estudados, não
sendo usadas para a tua avaliação escolar. Além disso, trata-se de um questionário anónimo, pelo
que deves responder sem qualquer tipo de receio e com a maior seriedade e empenho.
A tua colaboração para responder a todas as perguntas será uma grande ajuda, pelo que
agradeço, desde já, a tua cooperação.
Obrigada,
269
Parte A: Dados pessoais
1. Idade:___ 2. Sexo: Masculino:___ Feminino: ___ 3. Classificação obtida no final do 8º ano: ____
4. Classificação obtida no final do 1º período do 9º ano: ____
5. Classificação obtida no final do 2º período do 9º ano: ____
Parte B: Apreciação sobre as aulas de geometria
As 8 questões que se seguem exprimem algumas opiniões sobre as aulas de geometria, com recurso ao computador. Para cada afirmação assinala com um X o grau de concordância que lhe atribuis, considerando que todas as opções de resposta utilizam a seguinte escala:
Discordo Totalmente
Discordo Parcialmente
Não tenho Opinião
Concordo Parcialmente
Concordo Totalmente
1 2 3 4 5
Fundamenta a tua opinião.
1. A metodologia de trabalho adoptada (trabalho de grupo,
tarefas de investigação e exploração, utilização do
computador e do GSP,...) estimulou a aprendizagem. 1 2 3 4 5
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
2. A metodologia de trabalho adoptada (trabalho de grupo,
tarefas de investigação e exploração, utilização do
computador e do GSP,...) facilitou a aprendizagem. 1 2 3 4 5
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
270
3. A utilização do computador e do GSP facilitou a descoberta
e a compreensão dos conceitos. 1 2 3 4 5
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
4. O trabalho de grupo contribuiu para a discussão de ideias.
1 2 3 4 5
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
5. Ao longo do trabalho das aulas surgiram muitas
dificuldades. 1 2 3 4 5
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
6. As aulas de geometria, com recurso ao computador e ao
GSP, foram motivadoras. 1 2 3 4 5
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
7. Trabalhar nas aulas com o computador e o GSP trouxe
vantagens. 1 2 3 4 5
Indica algumas.
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
271
8. Trabalhar nas aulas com o computador e o GSP trouxe
desvantagens. 1 2 3 4 5
Indica algumas.
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Na questão que se segue, escolhe, assinalando com um X, a opção, uma só, que
corresponde à tua opinião.
9. Para situações futuras gostavas de:
utilizar sempre o computador na sala de aula;
utilizar frequentemente o computador na sala de aula;
utilizar algumas vezes o computador na sala de aula;
raramente utilizar o computador na sala de aula;
nunca utilizar o computador na sala de aula.
Justifica a tua opinião.
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
10. Quais as principais diferenças que observaste relativamente às aulas normais?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
11. Deixa algum comentário acerca da forma como decorreram as aulas.
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
272
Parte C: Apreciação sobre as tarefas de geometria
As perguntas que se seguem expressam algumas opiniões acerca das tarefas desenvolvidas na sala de aula com recurso ao Geometer’s Sketchpad (GSP). Para as primeiras 5 questões, assinala com um X o grau de concordância que lhe atribuis, considerando que todas as opções de resposta utilizam a seguinte escala:
Discordo Totalmente
Discordo Parcialmente
Não tenho Opinião
Concordo Parcialmente
Concordo Totalmente
1 2 3 4 5
1. O estudo dos temas geométricos abordados foi importante.
1 2 3 4 5
2. O estudo dos temas geométricos abordados foi interessante.
1 2 3 4 5
3. Ao resolver as tarefas, as maiores dificuldades que surgiram foram:
3.1. Perceber os objectivos das tarefas;
1 2 3 4 5
3.2. Trabalhar com o GSP;
1 2 3 4 5
3.3. Interpretar os resultados e chegar às conclusões;
1 2 3 4 5
3.4. Escrever correctamente as conclusões;
1 2 3 4 5
3.5. Explicar o processo de resolução;
1 2 3 4 5
3.6. Explicar/justificar os resultados;
1 2 3 4 5
3.7. Outra. Qual? ___________________________________
1 2 3 4 5
273
4. A realização das tarefas, com ajuda do computador e do GSP, permitiu-te:
4.1. Usar estratégias variadas de resolução;
1 2 3 4 5
4.2. Organizar as ideias e exprimi-las com clareza;
1 2 3 4 5
4.3. Usar a imaginação e ser criativo;
1 2 3 4 5
4.4.Ter uma atitude positiva perante a aprendizagem;
1 2 3 4 5
4.5. Tomar iniciativas ou decisões;
1 2 3 4 5
4.6. Gerir melhor o tempo;
1 2 3 4 5
4.7. Reflectir sobre os objectivos das tarefas; 1 2 3 4 5
4.8. Aprender mais facilmente;
1 2 3 4 5
4.9. Ter um papel mais activo na aprendizagem;
1 2 3 4 5
4.10. Ser mais autónomo e não depender tanto do professor;
1 2 3 4 5
4.11. Experimentar novas abordagens;
1 2 3 4 5
4.12. Corrigir os próprios erros;
1 2 3 4 5
4.13. Ter uma impressão favorável da geometria;
1 2 3 4 5
4.14. Outra. Qual? __________________________________
1 2 3 4 5
274
5. A realização das tarefas, em grupo, permitiu-te:
5.1. Expressar as tuas opiniões;
1 2 3 4 5
5.2. Partilhar impressões/ideias com os colegas;
1 2 3 4 5
5.3. Tomar iniciativas ou decisões;
1 2 3 4 5
5.4. Aprender mais facilmente;
1 2 3 4 5
5.5. Corrigir os próprios erros;
1 2 3 4 5
5.6. Desenvolver trabalho de equipa; 1 2 3 4 5
5.7. Ser mais autónomo e não depender tanto do professor;
1 2 3 4 5
5.8. Respeitar a opinião dos colegas; 1 2 3 4 5
5.9. Ter uma impressão favorável do trabalho de grupo;
1 2 3 4 5
5.10. Ter uma impressão favorável da geometria;
1 2 3 4 5
5.11. Outra. Qual? __________________________________
1 2 3 4 5
275
Para as questões 6, 7 e 8, assinala com um X o grau de frequência que lhe atribuis, considerando que todas as opções de resposta utilizam a seguinte escala:
Nunca Raramente Algumas vezes
Frequentemente Sempre
1 2 3 4 5
6. Conseguiste chegar aos resultados:
6.1. com ajuda da professora;
1 2 3 4 5
6.2. com ajuda dos colegas;
1 2 3 4 5
6.3. com ajuda do computador;
1 2 3 4 5
6.4. sozinho.
1 2 3 4 5
7. Conseguiste explicar o processo de resolução:
7.1. com ajuda da professora;
1 2 3 4 5
7.2. com ajuda dos colegas;
1 2 3 4 5
7.3. com ajuda do computador;
1 2 3 4 5
7.4. sozinho.
1 2 3 4 5
8. Conseguiste explicar/justificar os resultados:
8.1. com ajuda da professora;
1 2 3 4 5
8.2. com ajuda dos colegas;
1 2 3 4 5
8.3. com ajuda do computador;
1 2 3 4 5
8.4. sozinho.
1 2 3 4 5
276
Nas questões 9 e 10, escolhe, assinalando com um X, as opções que correspondem à tua opinião. 9. Das tarefas realizadas, as tuas preferidas foram:
Triângulos e outros polígonos; Mediatriz; Ângulos ao Centro numa circunferência; Ângulos ao Centro: Propriedades; Ângulos Inscritos numa circunferência; Ângulos Inscritos: Propriedades; Cordas: Propriedades; Construção do Aeroporto I; Construção do Aeroporto II; Quadriláteros inscritos numa circunferência; Recta tangente à circunferência; Papagaio: Propriedades I; Papagaio: Propriedades II; Papagaio: Propriedades III.
Indica algumas razões.
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
10. Das tarefas realizadas, aquelas em que tiveste mais dificuldades foram:
Triângulos e outros polígonos; Mediatriz; Ângulos ao Centro numa circunferência; Ângulos ao Centro: Propriedades; Ângulos Inscritos numa circunferência; Ângulos Inscritos: Propriedades; Cordas: Propriedades; Construção do Aeroporto I; Construção do Aeroporto II; Quadriláteros inscritos numa circunferência; Recta tangente à circunferência; Papagaio: Propriedades I; Papagaio: Propriedades II; Papagaio: Propriedades III.
Indica algumas razões.
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
277
11. Deixa algum comentário acerca das tarefas realizadas. _____________________________________________________________________________
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_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
278
ANEXO VII – GUIÃO DE ENTREVISTA À PROFESSORA DA TURMA
A. Dados sobre o percurso académico e profissional Qual a tua formação académica? Em que instituição tiraste o curso? Há quantos anos leccionas? Quais os níveis de ensino que tens leccionado? Há quantos anos leccionas o 9º ano de escolaridade? Que tipo de experiência já tinhas com o Geometer’s Sketchpad ou outro tipo de
programa semelhante? Já participaste em algum projecto ou experiência inovadora?
B. Dados sobre a turma /escola De uma forma global, como caracterizas a turma? (número de alunos, comportamento,
aproveitamento, relacionamento entre os alunos, relação com o professor, ...) De uma forma global como caracterizas a escola? (relação entre alunos, professores e
funcionários, ambiente de trabalho, condições de trabalho, projectos, ...) Achas que na escola existem computadores em número suficiente para serem usados
por uma turma? C. Dados sobre o ensino da Geometria: Circunferência e Polígonos Consideras importante o ensino da Geometria? Porquê? Concordas que, de um modo geral, a Geometria tem sido relegada para segundo plano?
Se sim, porque achas que isso acontece? O que consideras essencial que os alunos aprendam em Geometria? Que opinião achas que os alunos têm da Geometria? Como costumas explorar este tema e a que meios recorres? ( novas tecnologias, quadro
e giz, Internet, manual, revistas, régua e compasso, ..) Como é que os alunos costumam reagir a este tema? Os alunos costumam revelar dificuldades neste tema? Quais? A que atribuis as dificuldades sentidas pelos alunos? Achas que os outros professores
pensam como tu? Como colmatar essas dificuldades? Achas que este tema está bem situado no currículo? E no que respeita ao
desenvolvimento dos alunos? Porquê? Qual achas que deve ser a melhor forma para abordar este tema? Achas interessante a utilização do Geometer’s Sketchpad (ou de outro programa do
género) no âmbito deste conteúdo? Porquê?
279
D. Dados sobre a experiência de ensino e aprendizagem
Aulas: Foi a primeira vez que recorreste ao computador na aula de Matemática? Se sim,
porque não o utilizaste antes? Tencionas um dia voltar a fazê-lo? Nas tuas aulas, os alunos costumam trabalhar em grupo? As aulas com recurso ao computador e ao GSP foram motivadoras? Achas que os alunos aproveitaram bem o facto de estarem a trabalhar em grupo? Como viste o papel dos alunos nestas aulas? Que diferenças encontraste relativamente às outras aulas? Qual foi o ambiente geral vivido nestas aulas? Quais foram os aspectos mais marcantes destas aulas?
Tarefas:
Consideras que o tipo de tarefas proposto poderá ajudar a colmatar as dificuldades
habituais, sentidas pelos alunos, neste tema? Achas que este tipo de tarefas e a utilização do GSP acentuam ou esbatem as
diferenças entre bons e maus alunos? Em que sentido? O estudo dos temas geométricos abordados foi importante e interessante? Das tarefas propostas, quais é que consideraste mais importantes? Até que ponto os alunos demonstraram interesse por continuar as investigações em
casa ou continuaram a falar delas nos dias seguintes? Achas que a utilização do GSP facilitou a descoberta e a compreensão dos conceitos?
Experiência em geral:
Consideras que os alunos sentiram dificuldades? Que tipo de dificuldades? As dificuldades foram diferentes das dos anos anteriores em que não foram usadas
estas metodologias? O que destacas das aulas com tarefas deste género comparativamente com as outras
aulas ao longo do ano? De um modo geral, o que achas que “funcionou” e “não funcionou” com esta
experiência? O que mudavas? Qual a tua opinião acerca da reacção dos alunos relativamente à metodologia usada? Achas que a metodologia de trabalho adoptada estimulou ou facilitou a aprendizagem? Que vantagens ou desvantagens destacas na utilização desta metodologia de trabalho? O que achas que esta metodologia de trabalho permitiu desenvolver nos alunos?
(autonomia, capacidade de comunicar, necessidade de demonstração, ...) Falaste a alguém desta experiência? O que salientaste? Que significado teve esta experiência para ti? Qual o teu grau de satisfação? De um modo geral, que balanço fazes da experiência? Deixa um comentário final acerca da experiência.
280