ELEITOS EM NOME DE DEUS: A PRESENÇA DE LÍDERES E ... · Aos “amigos irmãos”: Fábio Sales,...

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO - UNICAP PRÓ-REITORIA ACADÊMICA - PRAC COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIENCIAS DA RELIGIÃO CURSO DE MESTRADO FLÁVIO CAVALCANTE VEIGA ELEITOS EM NOME DE DEUS: A PRESENÇA DE LÍDERES E REPRESENTANTES DE INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS NAS LEGISLATURAS ALAGOANAS, NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI RECIFE / 2016

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO - UNICAP PRÓ-REITORIA ACADÊMICA - PRAC

COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIENCIAS DA

RELIGIÃO CURSO DE MESTRADO

FLÁVIO CAVALCANTE VEIGA

ELEITOS EM NOME DE DEUS: A PRESENÇA DE LÍDERES E REPRESENTANTES DE INSTITUIÇÕES

RELIGIOSAS NAS LEGISLATURAS ALAGOANAS, NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI

RECIFE / 2016

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO - UNICAP PRÓ-REITORIA ACADÊMICA - PRAC

COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIENCIAS DA

RELIGIÃO CURSO DE MESTRADO

FLÁVIO CAVALCANTE VEIGA

ELEITOS EM NOME DE DEUS: A PRESENÇA DE LÍDERES E REPRESENTANTES DE INSTITUIÇÕES

RELIGIOSAS NAS LEGISLATURAS ALAGOANAS, NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI

Dissertação apresentada como requisito para a obtenção do título de mestre em Ciências da Religião, pela Universidade Católica de Pernambuco. Área do conhecimento: Ciências Humanas. Orientador: Professor Dr. Newton Darwin Cabral.

RECIFE / 2016

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FLÁVIO CAVALCANTE VEIGA

ELEITOS EM NOME DE DEUS: A PRESENÇA DE LÍDERES E REPRESENTANTES DE INSTITUIÇÕES

RELIGIOSAS NAS LEGISLATURAS ALAGOANAS, NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI

Dissertação de Mestrado _______________ , como requisito parcial para obtenção

do título de Mestre, no Mestrado em Ciências da Religião da Universidade Católica

de Pernambuco, pela seguinte Banca Examinadora.

Profª. Drª. Emanuela Sousa Ribeiro – UFPE Avaliador Externo

Profº. Dr. Luiz Carlos Marques - UNICAP Avaliador Interno

Profº. Dr. Newton Darwin Cabral - UNICAP Orientador

RECIFE / 2016

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A igreja sempre teve uma atuação que incide na política. Embora deva atuar, sobretudo, em uma esfera que aponta para dimensões transcendentais, a Igreja é uma instituição cuja visibilidade perceptível em suas numerosas organizações, já está no limiar de um terceiro milénio de existência. Tem sabido articular-se e sobreviver, tem assumido posições diferenciadas face aos conflitos das populações onde tem estado presente. A sua atuação tem sido, sempre e em qualquer espaço, uma atuação também política.

(Newton Darwin Cabral, 2008)

A política não deve ser meio de fortalecer uma religião em detrimento de outras, mas dizer que a religião em si nada tem a ver com a conduta da política é lógica e historicamente falso ... A fé cristã é, ao mesmo tempo, utópica e bastante realista. A solução para os problemas políticos é sempre política. A solução para a má política é a boa política, e para a má espiritualidade é a boa espiritualidade. Não precisamos fugir para outro campo, porque o Deus bíblico está em todas as áreas da vida humana.

(Paul Freston, 2006)

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DEDICATÓRIA

Dedico em primeiro lugar, a Deus a quem eu devo tudo, que mesmo com minha imperfeição, está permanentemente comigo, sinto isso. Ao meu pai João Miguel e a minha mãe Maria de Jesus pelo imenso carinho e amor. Infinitamente obrigado pelo apoio sem limites. Minha fortaleza, tesouros da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Ao IFAL, que através da bolsa do Programa de Incentivo para Qualificação –

PICPG, possibilitou a realização desse mestrado.

Ao meu estimado orientador Prof. Dr. Newton Darwin Cabral, referencial de

comprometimento e zelo pela pesquisa, não apenas orientou, andou junto comigo

nessa conquista. Obrigado pela paciência e generosidade.

Ao programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, de modo especial

aos professores: Dr. Drance Elias, Dr. Gilbraz Aragão, Dr. Luiz Alencar Libório, Dr.

Luiz Carlos Marques, Dr. Sérgio Sezino Douets, Dra. Silvana Brandão e Dra. Zuleica

Dantas. Obrigado pelos ricos ensinamentos e extraordinárias reflexões, que muito

contribuíram durante e após esse percurso.

Aos membros da minha banca avaliadora: Professora Dra. Emanuela Sousa

Ribeiro, meu muito obrigado pela sua valorosa e extraordinária contribuição e ao

Prof. Dr. Luiz Marques grato pelas intervenções tão necessárias ao meu trabalho.

Estendo meus agradecimentos a Secretaria do MCR, minha homenagem na

pessoa da Nélia, pela atenção e profissionalismo, mas também pelo espirito afável e

generoso.

Ao nobre colega historiador Prof. Álvaro Queiroz pela significativa e

extraordinária contribuição no campo da História da Igreja em Alagoas,

imprescindível na construção dessa pesquisa.

Ao meu eterno mestre Prof. José Roberto Santos Lima, apoiador, incentivador

e companheiro da minha jornada acadêmica. Meu muito obrigado pela sua

generosidade de sempre

A Minha família, irmãs, irmãos, cunhada, sobrinhos e sobrinhas que se

constituíram como uma torcida organizada. Obrigado pelo incentivo e apoio.

Aos “amigos irmãos”:

Fábio Sales, pela expressividade humana e visceral, que acolhe, que apoia,

que caminha junto, mesmo não concordando, algumas das vezes. Que, sobretudo

aproveita com maestria essas caminhadas, me convidando com veemência, a

enxergar a racionalidade do possível.

Hugo Brandão, para mim sinônimo de luta e movimento. Você celebra a vida

de uma maneira particular, ressignificando os próprios desafios, buscando novos

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caminhos. Tenho enorme apreço pela sua amizade, lealdade e pelos caminhos que

a vida nos fez conhecer, inclusive, quando me apresentou esse mestrado.

Ana Lady, que me encorajou com seu exemplo de luta e obstinação,

expressando sempre seu carinho e incentivo, com sábias palavras e nobres gestos.

Elaine Lima, que me sacudiu com suas extraordinárias e veementes

convicções acadêmicas, ao tempo que dedicou um amor fraterno, revelou-se a

personificação da lealdade, quero sempre caminhar contigo.

Eduardo Rios, um baiano do sorriso largo e generoso, do colega de mestrado

surgiu o amigo. Obrigado pela rica convivência, e pela oportunidade de aprender.

Francisco Carlos, caixeiro viajante da sociologia e da solidariedade humana.

Como posso te agradecer, pois fui acordado por ti para respirar ideias fascinantes, e

apreciar seu olhar apaixonado pelo saber acadêmico.

A Vânia Laurentino, uma apaixonada pela educação e pelos assuntos das

religiões. Obrigado pelo incentivo e pelos diálogos inesquecíveis.

Aos nobres colegas de trabalho do IFAL Santana do Ipanema, agradeço de

coração o apoio e o incentivo recebido de todos. Especialmente nas pessoas de

Taiza Lima e Jonas Alencar.

Aos meus queridos alunos do IFAL Santana do Ipanema, que eu possa

retribuir o carinho recebido, ofertando sempre, da melhor maneira possível os

conhecimentos adquiridos e em permanente construção. Perseguirei esse caminho.

Aos servidores do Escritório do IBGE em Alagoas, através da competência,

profissionalismo e generosidade de Silvania Vila Nova.

Aos integrantes da Assessoria de Comunicação e da Coordenação de

Documentação e Informação do Tribunal Regional Eleitoral.

As coordenações dos setores de Registro Taquigráficos, Documentação e

Digitalização, da Câmara Municipal de Vereadores de Maceió.

A equipe da assessoria de comunicação dos parlamentares: Givaldo

Carimbão, Givaldo Carimbão Júnior, Pastor João Luiz, Jota Cavalcante. Expresso

meus agradecimentos ao ex-deputado Antônio Carlos Chamariz pelos diálogos

valorosos na construção desse trabalho.

E a todos que contribuíram no processo de elaboração dessa dissertação, e

que nesse momento tomado pelos limites humanos, tenha esquecido de mencionar.

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RESUMO

O propósito dessa dissertação é investigar a presença ascendente de representantes do pentecostalismo evangélico e dos católicos carismáticos nas legislaturas alagoanas, a partir dos anos de 1990, consolidando-se na primeira década do século XXI. Refletimos as repercussões políticas da intensa movimentação no campo religioso brasileiro a partir de 1980, provocado pelo crescimento das doutrinas evangélicas pentecostais e da reação dos católicos carismáticos. Buscamos compreender a estratégias religiosas e políticas desses segmentos na busca por mais espaço na sociedade, e na arena política. Nesse cenário representantes e líderes dessas doutrinas religiosas passam a transitar entre o púlpito da igreja e o plenário das casas legislativas. Realidade essa também presente em Alagoas, onde parlamentares evangélicos e católicos apresentam uma agenda comprometida com o assistencialismo social e projetos políticos assentados na moral-cristã. Na década de 1990, no contexto das políticas neoliberais, Alagoas, que historicamente apresentava graves índices socioeconômicos, mergulhou numa crise política sem precedentes atingindo o executivo estadual e, diretamente, as oligarquias tradicionais agrárias ali representadas. No legislativo, abriu espaço para novos personagens que já se destacavam com um forte trabalho assistencial e doutrinário por meio de iniciativas próprias, ou interligadas as suas respectivas igrejas. Esses personagens, suas trajetórias pessoais, políticas e religiosas e o panorama histórico desses acontecimentos configuram essa pesquisa. Vale salientar que na elaboração desse trabalho recorremos às fontes bibliográficas e documentais: nos apoiamos nos postulados teóricos de Joanildo Burity, Leonildo de Campos, Paul Freston, René Remond e André Cellard. Palavras – chaves: Alagoas, Política, Religião, Sociedade, Legislativo.

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ABSTRACT

This dissertation purpose is to research the ascendant presence of evangelical Pentecostalism and charismatic Catholics representatives in Alagoas legislatures, beginning in the 1990s and consolidating in the first decade of 21st century. We reflect on the political repercussions of the intense movement in the Brazilian religious field since 1980, provoked by the growth of Pentecostal evangelical doctrines and by the reaction of charismatic Catholics. Seeking to understand the religious and political strategies of these segments in the search for more space in society and in the political arena. In this scenario, representatives and leaders of these religious doctrines pass between the church pulpit and the legislatives houses plenary. This reality is also present in Alagoas, where evangelical and Catholic parliamentarians present an agenda committed to social assistance and political projects based on Christian morality. In the 1990s, in the neoliberal policies context, Alagoas, which historically had severe socioeconomic indexes, plunged into an unprecedented economic and social crisis, affecting the state executive and directly affecting the traditional agrarian oligarchies represented there. In the legislative, a new space was open for new characters that had already stood out with a strong welfare and doctrinal work through their own initiatives, or interconnected by their respective Churches. These characters, their personal, political and religious trajectories, and the historical panorama of these events configure this research. It is noteworthy that in preparation for work we rely in bibliographical and documentary sources: we support the theoretical postulates of Joanildo Burity, Leonildo de Campos, Paul Freston, René Remond and André Cellard.

Key words : Alagoas, Politics, Religion, Society, Legislative.

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LISTA DOS GRÁFICOS E TABELAS

Gráfico 1: Dados referente à pobreza extrema em Alagoas ..................................... 84

Gráfico 2: Evolução índice de Gini (Alagoas, Nordeste Brasil) ................................. 88

Gráfico 3: Alagoas – Taxa de homicídios (2001 – 2011) .......................................... 91

Gráfico 4: Perfil educacional do eleitorado de Alagoas ( 2012) ................................ 96

Gráfico 5: Censo IBGE 2000 (População residente por religião - recorte das Igrejas

dos políticos alagoanos ............................................................................................. 99

Gráfico 6: Censo IBGE 2010 (População residente por religião - recorte das Igrejas

dos políticos alagoanos) ......................................................................................... 102

Gráfico 7: Antônio Carlos Ramos Chamariz (PTB) – Desempenho nas urnas ....... 105

Gráfico 8: Givaldo de Sá Golveia Carimbão (PROS) – Desempenho na urnas ...... 109

Gráfico 9: João Luiz Rocha (DEM) – Desempenho nas urnas ............................... 120

Gráfico 10: José Cavalcante dos Santos (PDT) – Desempenho nas urnas ............ 129

Tabela 1: Eleitos de Deus - elementos comuns da vida pessoal e religiosa ........... 133

Tabela 2: Eleitos de Deus - percursos político-partidário ........................................ 134

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

1 ALAGOAS, UM BREVE HISTÓRICO: COLONIZAÇÃO, SOCIEDA DE, POLÍTICA

E RELIGIÃO ........................................ ...................................................................... 23

2 REFLEXÕES SOBRE OS POLÍTICOS DE CRISTO E O VOTO R ELIGIOSO NO

BRASIL ATUAL ...................................... .................................................................. 53

2.1 OS EVANGÉLICOS NA POLÍTICA BRASILEIRA APÓS A CONSTITUIÇÃO DE 1988 ............... 65

2.2 OS CATÓLICOS NA POLÍTICA, NO BRASIL, APÓS A REDEMOCRATIZAÇÃO ....................... 72

3 OS ELEITOS DE DEUS NO CENÁRIO POLÍTICO DE ALAGOAS , NO FINAL

SÉCULO XX E INÍCIO DO SÉCULO XXI .................. ............................................... 80

3.1 QUADRO POLÍTICO, ECONÔMICO E SOCIAL DE ALAGOAS (1990-2010) ........................ 83

3. 2 EM CENA, OS ELEITORES E OS ELEITOS EM NOME DE DEUS ....................................... 92

3.2.1 Antônio Carlos Ramos Chamariz (PTB) – Dados biográficos e perfil político 103

3.2.2 Givaldo de Sá Gouveia Carimbão (PROS) - Dados biográficos e perfil político

................................................................................................................................ 107

3.2.3 Pastor João Luiz Rocha (DEM) – Dados biográficos e perfil político ............. 116

3.3.4 Jota Cavalcante (PDT) – Dados biográficos e perfil político ........................... 127

3.3 ELEITOS DE DEUS, ELEMENTOS COMUNS NA VIDA PESSOAL, NA EXPERIÊNCIA

RELIGIOSA POLÍTICO – PARTIDÁRIA ............................................................................ 131

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................. ...................................................... 142

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 146

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INTRODUÇÃO

Elegemos como assunto de reflexão, dessa pesquisa, os políticos religiosos

em Alagoas, representantes e líderes evangélicos e católicos que obtiveram êxito

nos pleitos eleitorais e ingressaram no poder político institucionalizado nas décadas

finais do século XX e início do século XXI. A hipótese proposta nesse trabalho é a de

que uma conjunção de diversos fatores históricos, políticos e culturais e suas

repercussões no campo religioso brasileiro, aliada às nuances políticas locais, que

desencadearam uma situação propícia à inserção dos representantes do

pentecostalismo evangélico e carismático católico nas legislaturas alagoanas,

sobretudo no período de 1990 a 2010.

Nesse sentido, entre os caminhos metodológicos percorridos, procedemos às

leituras da bibliografia especializada, como também à pesquisa documental

referente à trajetória pessoal, política e religiosa dos personagens que lograram

êxito nas disputas eleitorais, em cargos públicos do poder legislativo, conforme será

explicitado a seguir.

Esse fenômeno do voto religioso repercute na vida social e política de uma

parcela significativa dos alagoanos que, na sua grande maioria, são adeptos do

catolicismo e do protestantismo. Soma-se a isso, o fato de Alagoas possuir uma das

mais elevadas concentrações de riqueza. Nesse cenário, o trabalho de

evangelização e os projetos sociais dessas congregações religiosas se traduzem em

uma espécie de políticas públicas assistencialistas, com objetivos proselitistas por

parte de alguns dos seus representantes.

Interessam-nos os desdobramentos desses acontecimentos em uma

perspectiva entre a profissão de fé e o exercício político, de modo especial como os

líderes ou representantes católicos e evangélicos ingressaram no cenário político

alagoano, historicamente dominado pelas oligarquias tradicionais. Vale registrar que

Alagoas não foge do modelo colonizador imposto pelos portugueses ao Brasil.

Alagoas é um estado tradicionalmente composto por uma população

majoritariamente católica, que passa também a vivenciar a ebulição do

pentecostalismo e do neopentecostalismo no púlpito dos templos e nos plenários do

poder legislativo.

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No primeiro capítulo, intitulado: Alagoas um breve histórico: colonização,

sociedade, política e religião , os temas em questão perpassam pelo fio que teceu

a história alagoana por meio da política e da religião. Percorremos as narrativas

históricas de Cícero Péricles de Carvalho (2015), na obra “Formação Histórica de

Alagoas”, buscamos os aportes teóricos de Álvaro Queiroz (2015), no seu livro

“Notas de História da Igreja em Alagoas”, que nos ofereceu um panorama histórico

das relações estreitas da Igreja, com o poder econômico e político. Prosseguimos

com os referenciais de René Remond (2003), numa obra intitulada “Por uma História

Política”, que nos oferece o rigor teórico necessário para analisarmos as diversas

nuances do poder político, não apenas representado pelo Estado, mas também

intrínseco ao indivíduo. Passando pelos segmentos sociais dominantes e também

das camadas menos favorecidas.

Assim, o que se vislumbra não é apenas a conceituação, ou ainda a

expressão máxima do poder político na representação maior do Estado.

Vislumbramos as inúmeras possibilidades das relações do poder político entre os

indivíduos, nos grupos sociais, das expressões culturais próprias de uma

determinada comunidade, das mais diversas instituições, como família, a escola e a

igreja.

René Remond (2003), especialista em história política, tem sido um dos

últimos pesquisadores da Europa contemporânea de uma sólida linhagem de

intelectuais católicos. Ele evoca os significados históricos da religião e da política. E

cabe esclarecer que sem cair na ortodoxia de esmiuçar-se sobre a

institucionalização da religião, propõe uma análise do indivíduo, do fiel, da

comunidade local que possui, nas suas devidas proporções, percepções e atuações

políticas. Os representantes e líderes religiosos são, sem dúvida, vistos como

protagonistas dessa atmosfera dialética.

De fato, a renovação da história política foi grandemente estimulada pelo contato com outras ciências sociais e pelas trocas com outras disciplinas. É uma verdade geral a utilidade, para todo ramo do saber, de abrir-se a outros e acolher contribuições externas, mas o objeto da história política, sendo por sua natureza interdisciplinar, torna isso uma necessidade mais imperativa que em outros casos. [...] Assim como a história religiosa se beneficiou muito das contribuições da sociologia religiosa, a história política deve bastante às trocas com outras disciplinas: sociologia, direito público, psicologia social, e mesmo a psicanálise, linguística. [...] A umas, a história política pediu

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emprestadas as técnicas, a outras, conceitos, um vocabulário, uma problemática; as vezes pediu uma e outra coisa às mesmas disciplinas, já que os métodos e as técnicas estão geralmente ligados ao tipo de interrogação formulada e a uma forma de abordagem intelectual (REMOND, 2003, p. 29).

Esse pensador provoca a reflexão e a investigação, reintroduzindo a

dimensão política dos fatos coletivos. Não é aceitável compreender a política apenas

enveredando pela trajetória dos grandes governantes, sejam eles reis, ditadores ou

grandes estadistas das democracias do mundo ocidental. É justamente dessa

ressurreição que René Remond (2003) aponta os principais aspectos, explicita os

postulados, descreve os componentes e prolongamentos. Como refletir e investigar

e produzir o conhecimento histórico?

A história como realidade, tomada dos acontecimentos, teve seu papel nessa volta às boas graças do político: a experiência das guerras, cujo desencadeamento não pode ser explicado apenas pela referência aos dados da economia, a pressão cada vez mais perceptível das relações internacionais na vida interna dos Estados lembraram que a política tinha uma incidência sobre o destino dos povos e as existências individuais; contribuíram para dar crédito a ideia de que o político tinha uma consistência própria e dispunha mesmo de uma certa autonomia em relação aos outros componentes da realidade social (REMOND, 2003, p. 23).

Os fatos históricos não podem ser explicados apenas pelos dados

econômicos ou ainda pela ação regulamentadora do Estado sobre a sociedade. A

própria parceria e, muitas vezes, a intervenção do Estado frente a uma economia

liberal, por exemplo, abrem espaço para as relevâncias e atualidades da história

política. O desenvolvimento de políticas públicas e a relação política com a

economia não são vias de mão única; percebe-se que uma decisão política, tem sim,

seu papel na modificação de um curso.

René Remond (2003) defende a tese de que, na medida em que o poder

público é levado a legislar, regulamentar, subvencionar, controlar, a produção, a

exemplo de construção de moradias, do assistencialismo social, de políticas de

saúde pública e da difusão da cultura, na verdade todos esses setores passam um

após o outro, para os domínios da história política.

Pela sua experiência pessoal, René Remond (2003) constata uma elevação

no nível de compreensão política: os cidadãos passaram a se sentir mais membros

do corpo político. Há uma constatação, nas afirmações do autor, de que a política

está em toda parte e é responsável por tudo, o que leva a crer que detém a solução

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de todos os problemas. Sem dúvidas, ela se faz presente nos interiores dos templos,

na vida do corpo da Igreja – pois o seu rebanho é formado por cidadãos – e na

atuação teológica dos seus líderes.

Nesse aspecto, o legado teórico de René Remond, voltado para os estudos

da religião e da política foram valiosos na elaboração desse trabalho no campo das

ciências da religião. Os personagens, objeto de investigação dessa presente

pesquisa, têm na sua trajetória elementos religiosos e políticos contundentes, que

repercutem na sociedade alagoana. E consequentemente são assuntos de interesse

daqueles que buscam compreender a religião em seus aspectos políticos, sociais e

históricos.

No segundo capítulo, sob o título: Reflexões sobre os políticos de Cristo e

o voto religioso no Brasil atual , recorremos aos postulados teóricos do livro “Os

votos de Deus: evangélicos, política e eleições no Brasil”, organizado por Joanildo

Burity e Maria C. Machado (2006). Direcionamos nossas reflexões sobre o conceito

de “políticos de Cristo”, de Leonildo de Campos (2006). A partir desse pensamento

analisamos o papel dos políticos eleitos em nome de Deus, do significado do voto

religioso e da repercussão das estratégias de poder dos representantes evangélicos

e católicos.

O tipo ideal “político evangélico”, que usava simplesmente as denominações evangélicas para conseguir votos que os elegesse, sempre com a promessa não muito convincente de que tentaria defender as Igrejas nas fronteiras da política; e, por outro lado, o tipo ideal “político de Cristo”, que, a nosso ver, se tornou um novo e predominante ator político-religioso, cuja figura é vazada, emprestando a sua personalidade e potencial para serem usados como um instrumento da confissão religiosa que o escolheu candidato e fez dele o seu defensor na arena política (BURITY, 2006, p. 36).

No desenvolvimento do capítulo dialogamos e buscamos respaldo teórico em

outros autores que também tratam de temáticas como religião, política e voto

religioso no Brasil. Entre eles destacamos Pedro Ribeiro de Oliveira (2004), que no

livro “Fé e política”, descreve sobre a militância política dos católicos na década de

80, do século XX. Essa mesma obra faz referência à atuação política dos católicos,

de modo particular às Comunidades Eclesiais de Base – CEB’s e posteriormente, à

participação desses militantes em outras organizações da sociedade civil, como os

partidos políticos de esquerda. Os trabalhos de Paul Freston sobre os “Protestantes

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e política no Brasil” (1993), “Religião e Política Sim, Igreja e Estado Não” (2006);

Brenda Carranza (2000), com seu relevante trabalho sobre a “Renovação

Carismática Católica: origens, mudança e tendências”; Emerson Giumbelli (2008), na

obra “Presença do religioso no espaço público: modalidades no Brasil”, oferecem

subsídios valiosos. Ricardo Mariano (2010), versando sobre a participação dos

católicos e evangélicos nas eleições presidenciais de 2010, contribui

significativamente com as nossas reflexões. Outros autores relacionados serão

referidos ao longo do capítulo.

A partir desses referenciais teóricos, buscamos compreender esse fenômeno

dos evangélicos pentecostais e carismáticos católicos na busca da política. Levando

em consideração as mudanças no interior desses movimentos religiosos que

influenciam e sofrem influências no/do campo religioso brasileiro, as estratégias dos

novos personagens oriundos do crescimento do pentecostalismo evangélico e da

reação da própria Igreja Católica, por meio dos movimentos carismáticos. Passando

pelo trânsito religioso de fiéis, no qual um acentuado processo de repetidas

conversões religiosas possibilita que um crente saia de uma religião e ingresse em

uma outra, movimento que se acentuou nas décadas de oitenta e noventa do século

XX. Entre as consequências dessa movimentação de fiéis, dos diversos credos

religiosos, está o avanço dos evangélicos neopentecostais, refletindo na perda de

fiéis por parte da Igreja Católica.

Claro que esses rebanhos, seus líderes e, de modo particular, as cúpulas

eclesiásticas, passam a reivindicar mais espaços junto à sociedade e ao Estado

brasileiro. Isso inevitavelmente passa pelo campo político.

É difícil sobrestimar o impacto da inserção dos evangélicos na sociedade brasileira das últimas décadas. Seu crescimento numérico talvez seja um aspecto menor. Por conta de sua ação, o campo da política, definida estritamente, é incapaz de ignorar atualmente o fator “religioso”. A indicação e o apoio às candidaturas legislativas por parte de igrejas, a mobilização para a defesa de interesses supradenominacionais (caso das “frentes parlamentares”), a identificação com titulares de postos do Poder Executivo – são todos movimentos, ocorridos com sucessos e revezes, protagonizados pelos evangélicos que têm se dedicado ao uso da identidade religiosa como atributo eleitoral (GIUMBELLI, 2008, p. 89).

No terceiro capítulo, denominado: Os Eleitos de Deus no cenário político

de Alagoas, no final do século XX e início do sécul o XXI, apresentamos os

personagens que protagonizaram um entrelaçamento entre religião e política em

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Alagoas, representados por católicos e evangélicos pentecostais na ocupação de

cargos públicos do legislativo alagoano.

Assim sendo, nas nossas análises, nos baseamos nos referenciais teóricos

de Joanildo Burity (2006), a partir de sua concepção dos políticos de Cristo; René

Remond (2003), que resgata a história do político, enquanto conceito intrínseco ao

indivíduo, dos agrupamentos sociais, profissionais e religiosos; Paul Freston (2006),

com sua análise sociológica, segundo a qual não podemos ignorar as relações

estreitas entre a política e a religião. Buscamos também, subsídios imprescindíveis

de autores alagoanos, de modo particular as temáticas que envolvem o quadro

social, econômico e político de Alagoas na atualidade. Visto que, é nesse cenário

que surgem os políticos evangélicos e católicos.

Portanto, seguindo esse itinerário nos apoiamos nos fundamentos teóricos de

Cícero Péricles de Carvalho (2012) sobre a economia alagoana na segunda metade

do século XX, e também da obra “Formação Histórica de Alagoas” ( 2015); Sandra

Lira (2014) detalha o quadro social de extremos de Alagoas, particularmente a partir

da década de 1990; Ruth Vasconcelos (2014), nos apresenta uma análise

sociológica das tramas recentes da política alagoana, por meio do exercício de

poder e da cultura de violência no estado; Fernando José Lira (1997), na obra

“Crise, privilégio e pobreza” retrata as profundas desigualdades econômicas, seus

fatores de causas e consequências. Douglas Apratto Tenório (1997), que desvenda

em seu livro: “Metamorfose das Oligarquias”, como funciona um sistema político e

econômico a serviço da perpetuação de elites oligárquicas no poder em Alagoas;

Leda Almeida (1999) com seu trabalho, “Rupturas e permanências em Alagoas: O

17 de Julho de 1997 em questão”, no qual aponta para o colapso das oligarquias no

comando do poder, pelo menos naquele momento histórico.

Discutimos o envolvimento e ascensão dos representantes e líderes do

pentecostalismo evangélico e dos carismáticos católicos no processo de disputa por

espaço político, que se intensificou no Brasil redemocratizado após a década de

1980. Porém, o palco desses acontecimentos, é a hora e a vez de Alagoas, um dos

estados mais tradicionais na religião e na política e que apresenta contrastes

latentes na vida social e política do seu povo. Na realidade, Alagoas apresenta uma

altíssima concentração de riqueza, em detrimento de uma população, na sua grande

maioria, pobre, com elevadas taxas de analfabetismo, altos índices de violência e

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ainda com a predominância e a dependência econômica da monocultura da cana –

de - açúcar, nos latifúndios herdados dos tempos coloniais. Na periferia da capital,

Maceió, ou nas regiões do interior do Estado, boa parte da população se apega aos

céus ou ainda aos seus intermediários.

No caso alagoano, a polarização é evidente: de um lado, o 1% dos mais ricos (30 mil pessoas) com 12,82% da renda e, do outro, os 50% mais pobres (1,5 milhão de pessoas) com apenas 14,29%. O índice de Gini de Alagoas, que em 2002 era 0,606, caiu para 0,572, em 2009, acompanhando o fenômeno nacional de desconcentração de renda.

Essa população que possui um perfil de renda extremamente desigual tem, também, pouco acesso aos bens sociais. O nível educacional corresponde a forte concentração de renda. O esforço realizado, nos últimos anos, pelo poder público ainda não conseguiu alcançar os resultados esperados (CARVALHO, 2012, p. 12-13).

A trajetória política dos novos personagens advindos dos púlpitos, e que

passam a disputar as eleições em Alagoas frente aos tradicionais representantes

oligárquicos, foram objeto de exaustiva pesquisa com fontes primárias, por parte do

autor deste trabalho. Vale salientar que as informações existentes sobre esses

políticos ligados à religião são compostas, na sua grande maioria, por artigos

jornalísticos, reportagens, entrevistas concedidas pelos próprios representantes,

informações das congregações religiosas, alguns dados dos Diretórios partidários e

da justiça eleitoral.

De certa maneira, a forte inclinação desse pesquisador pelos temas da

política e da religião, somada à possibilidade de trazer o ineditismo do assunto para

o mundo acadêmico, pelo menos nas fronteiras de Alagoas, configura-se em duas

questões relevantes. Inspirado pelo espírito incessante do pesquisador idealista, que

ao se deparar com o objeto, pretende a todo custo trazer respostas as suas

indagações. E ao iniciar as incursões para desvendar o objeto, os próprios caminhos

da pesquisa se encarregaram do convite à realidade para esse enorme desafio.

Assim prosseguimos cientes, cada vez mais, da responsabilidade e do

desafio de investigar e apresentar as trajetórias político-religiosas de Antônio Carlos

Ramos (PTB), Givaldo Carimbão (PSB), João Luiz Rocha (DEM) e Jota Cavalcante

(PDT), no cenário social, econômico e político de Alagoas a partir dos anos de 1990

até a primeira década do século XXI. Para concretização da pesquisa, tivemos que

nos debruçar frente às fontes primárias disponíveis a que tivemos acesso.

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Como bem afirma Heloisa Belotto (2007), o documento é veículo elementar

da informação, registro das ações humanas que assume enorme abrangência seja

pelo tipo de suporte ao qual a própria informação esteja contida, ou ainda pela

diversidade das ações humanas ali conservadas, as quais estão intrínsecas à

cultura específica de cada indivíduo ou grupo social. Portanto, documento e

informação documental são essencialmente resultados de culturas e conceitos

próprios, constituídos e constituidores de expressões políticas e culturais.

Ainda sobre o conceito de documento Heloisa Belotto (2007) nos eclarece,

Partamos do elemento comum e primeiro: o documento. Segundo a conceituação clássica e genérica, documento é qualquer elemento, gráfico, iconográfico, plástico ou fônico pelo qual o homem se expressa. É o livro, o artigo de revista ou jornal, o relatório, o processo, dossiê, a carta, a legislação, a estampa, a tela, a escultura, a fotografia, o filme, o disco, a fita magnética, o objeto utilitário, etc., enfim, tudo o que seja produzido, por motivos funcionais, jurídicos, científicos, técnicos, culturais ou artísticos, pela atividade humana. Torna-se evidente, assim, a enorme abrangência do que seja um documento. (BELOTTO, 2007, p. 35)

Recorremos a André Cellard (2012), a partir dos seus apontamentos teóricos

sobre a análise documental, no intento de levantar e dar o devido tratamento

metodológico às fontes primárias referentes aos personagens políticos, focos desse

trabalho.

Segundo o autor, na análise documental se faz necessário cumprir algumas

etapas, constituintes da pesquisa documental. Para tanto, num primeiro momento, o

exame do contexto social e global no qual foi produzido o documento.

Seja como for o analista não poderia prescindir conhecer satisfatoriamente a conjuntura política, econômica, social, cultural, que propiciou a produção de um documento determinado. Tal conhecimento possibilita apreender os esquemas conceituais de seu ou de seus autores, compreender sua reação, identificar as pessoas, grupos sociais, locais, fatos aos quais se faz alusão, etc. Pela análise do contexto, o pesquisador se coloca em excelentes condições para compreender particularidades de forma, da organização, e sobretudo para evitar interpretar o documento em função de anacronismos (CELLARD, p. 299-300).

Ainda segundo Cellard (2012), na pesquisa documental se faz necessário

observar, quem produziu o documento, o autor ou autores comprometidos com

determinada ideologia ou a serviço de um determinado grupo social.

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Não se pode pensar em interpretar um texto, sem ter previamente uma boa ideia da identidade da pessoa que se expressa, de seus interesses e dos motivos que a levaram escrever. Este indivíduo fala em nome próprio, ou em nome de um grupo social, de uma instituição? Parece efetivamente, bem difícil compreender os interesses (confessos ou não) de um texto, quando se ignora tudo sobre aquele ou aqueles que se manifestam, suas razões as daqueles a quem esses se dirigem (CELLARD, 2012, p. 300).

Outro aspecto fundamental a ser levado em conta na análise do documento,

refere - se à autenticidade e confiabilidade:

Não basta, entretanto, informar-se sobre a origem social, a ideologia ou os interesses particulares do autor de um documento. É também importante assegurar-se da qualidade da informação transmitida. Por exemplo, ainda que a questão da autenticidade raramente se coloque, não se deve esquecer de verificar a procedência do documento.

Por outro lado, é importante estar sempre atento a relação existente entre o autor ou os autores e o que esses descrevem. Eles foram testemunhas diretas ou indiretas do que relatam? Quanto tempo decorreu entre o acontecimento e a sua descrição? Eles reportaram a falas de alguma outra pessoa? Eles poderiam estar enganados? Eles estavam em que posição de fazer esta ou aquela observação, de estabelecer tal julgamento? (CELLARD, 2012, p. 301).

André Cellard (2012) recomenda um olhar atento quanto à natureza do

documento, quando afirma que uma redação de um determinado autor de uma área

de conhecimento específico não apresenta a mesma linguagem a ser aplicada num

relatório ou parecer destinado aos seus superiores, ou em outros casos, para um

público específico ou mais abrangente,

Consequentemente deve-se levar em consideração a natureza de um texto. Ou seu suporte, antes de tirar conclusões. Efetivamente, a abertura do autor, os subentendidos ou a estrutura de um texto podem variar enormemente, conforme o contexto no qual ele é redigido. É o caso, entre outros, de documentos de natureza teológica, médica, ou jurídica, que são estruturados de forma diferente e só adquirem um sentido para o leitor em função de seu grau de iniciação do contexto particular de sua produção. [...] Se nesse sentido, importa confiar na intuição, na habilidade e no senso de discernimento do pesquisador, nós acreditamos, contudo que essa confiança se conquista: O pesquisador mostrou prudência? Ele avisou o leitor das dificuldades e dos problemas colocados pelo emprego de depoimentos mais duvidosos? Ele deu as razões pelas quais os mesmos lhe parecem confiáveis (ou não)? Etc. (CELLARD, 2012, p.302).

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O referido autor conclui suas recomendações, alertando para os conceitos

chaves e a lógica interna da redação de um documento. De como foram construídas

as argumentações das informações ali existentes:

Certamente, o trabalho de análise preliminar não poderia estar tão completo por tanto tempo, que o pesquisador não tivesse o sentimento de ter compreendido satisfatoriamente o sentido dos termos empregados pelo autor ou os autores de um texto.

[...] Delimitar adequadamente o sentido das palavras e dos conceitos é, alias, uma precaução totalmente pertinente no caso de documentos mais recentes nos quais, por exemplo, utiliza-se um “jargão” profissional específico, ou nos que contém regionalismos, gíria própria a meios particulares, linguagem popular etc. Deve-se também prestar atenção aos conceitos-chaves presentes em um texto e avaliar sua importância e seu sentido, segundo o contexto preciso em que eles são empregados. Finalmente, é útil examinar a lógica interna, o esquema ou plano do texto: Como um argumento se desenvolveu? Quais são as partes principais da argumentação? etc. Essa contextualização pode ser, efetivamente, um preciso apoio, quando por exemplo, comparam-se vários documentos da mesma natureza (CELLARD, 2012, p. 302/303).

Entre as fontes documentais analisadas, destacamos os censos religiosos do

IBGE nos anos 2000 e 2010, em Alagoas, as estatísticas eleitorais e o perfil do

eleitorado alagoano, junto ao Tribunal Regional Eleitoral - TRE, os dados

educacionais, econômicos e sociais de Alagoas nas recentes publicações da

Universidade Federal de Alagoas – UFAL, informações da trajetória dos

personagens políticos nos diretórios partidários, nas matérias jornalísticas sobre os

políticos religiosos, nos sites das suas respectivas congregações religiosas, como

também os dados coletados nos sites oficiais do Congresso Nacional, da

Assembleia Legislativa de Alagoas e da Câmara de Vereadores de Maceió.

Para além das fontes bibliográficas e das fontes documentais, vale salientar,

que compuseram um manancial de informações, contabilizando um total de

setecentos e vinte e um arquivos, referentes aos dados eleitorais, biográficos e

políticos dos personagens pesquisados.

Os caminhos percorridos na elaboração desse trabalho encontraram algumas

adversidades, como a enorme dificuldade e até mesmo a impossibilidade de

entrevistas com os políticos religiosos pesquisados. A falta de acesso às fontes

primárias físicas nos arquivos da Câmara de Vereadores de Maceió, da Assembleia

Legislativa e a impossibilidade desse pesquisador viajar até a Câmara Federal em

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Brasília. Outro ponto a ser considerado, é o fato do ineditismo do tema dessa

pesquisa no contexto da academia em Alagoas.

Portanto, o terceiro capítulo é resultado desses esforços, que é o de

apresentar os desdobramentos do religioso e do político, desses personagens no

contexto da sociedade alagoana. Ciente de que a temática é vasta, complexa e

relevante, ousamos trilhar no intuito de contribuir num caminho fértil para pesquisas

no campo das ciências da religião e da história política em Alagoas.

Nesse sentido apresentamos nas páginas que se seguem as nuances entre

religião, política, voto, sociedade, mentalidades e práticas dos personagens políticos

religiosos no âmbito do poder legislativo em Alagoas na atualidade, foco dessa

pesquisa.

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1 ALAGOAS, UM BREVE HISTÓRICO: COLONIZAÇÃO, SOCIEDA DE,

POLÍTICA E RELIGIÃO

À luz da história, o empreendimento colonizador lusitano nas Américas, no

contexto da expansão marítima no século XV, compreendia os interesses políticos

da coroa, as ambições comerciais da emergente burguesia e o sagrado desejo da

Igreja Católica de aumentar seu rebanho1. Assim, o modelo da colonização

portuguesa encarregou-se de moldar uma sociedade colonial elitista, aristocrática,

concentradora de terras e riquezas, detentora de um imenso poder político,

legitimado pelas bênçãos da Igreja católica.

O Brasil nasceu à sombra da cruz. Não apenas da que foi plantada na praia do litoral baiano, para atestar o domínio português, ou da que lhe deu nome – Terra de Santa Cruz –, mas da que unia Igreja e Império, religião e poder. Mais. Essa era uma época em que parecia impensável viver fora do seio de uma religião. A religião era uma forma de identidade, de inserção num grupo social – numa irmandade ou confraria, por exemplo – ou no mundo (DEL PRIORE; VENANCIO, 2010, p. 19).

A ocupação e o povoamento das terras que, atualmente, compreendem o

Estado de Alagoas, ocorreram de maneira lenta gradual, em detrimento do modelo

de colonização exploratória dos portugueses, inicialmente por meio da extração do

pau-brasil. A partir da segunda metade do século XVI se verifica a presença dos

franceses na costa alagoana, traficando a madeira nobre. Isso despertou a atenção

do donatário da Capitania de Pernambuco, para ocupar a parte sul daquela porção

territorial2.

Um episódio com repercussão política foi o naufrágio da embarcação que

transportava o primeiro Bispo do Brasil D. Pero Fernandes Sardinha e a

consequente culpa pela sua morte, creditada aos indígenas. O fato desencadeou

uma ação violenta por parte do colonizador português, dizimando os nativos do

litoral alagoano e forçando a fuga das tribos sobreviventes para o interior do

continente3. Desde então, as terras do sul da capitania de Pernambuco, passaram

1 DEL PRIORE, Mary.; VENÂNCIO, Renato. Uma breve História do Brasil . 2010. Editora Planeta. São Paulo. p. 19. 2 CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação Histórica de Alagoas . Maceió: EDUFAL.2015. p.12-13. 3 Idem., p. 15.

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por um processo de ocupação, com maior intensidade, no tempo e no espaço

territorial.

A presença do primeiro donatário, no entanto, não garantiu a posse efetiva da parte do sul do território, que continuou a ser frequentada pelos franceses e habitada pelos indígenas. Dois anos depois da morte do primeiro donatário, em junho de 1556, um fato viria marcar as relações entre europeus e povos locais: a caravela Nossa Senhora da Ajuda naufragou próximo à foz do rio Coruripe. Nessa região, estava o índio Caetés em guerra com os portugueses instalados ao norte da Capitania de Pernambuco. Os Caetés, assim chamados pelos índios do sertão pelo fato de viverem na “mata primitiva, verdadeira”, teriam matado, segundo os portugueses, noventa náufragos e, entre eles, o bispo Pero Fernandes Sardinha (CARVALHO, 2015, p. 15).

A guerra travada entre portugueses e caetés está diretamente relacionada à

atividade açucareira, que se estendia para o sul da Capitania de Pernambuco,

atualmente território alagoano, onde o solo do massapê é favorável ao cultivo da

cana – de - açúcar. Os representantes da coroa portuguesa, àquela altura, não

tinham encontrado os metais preciosos com os quais os espanhóis foram agraciados

por meio da conquista da costa oriental da América do Sul. O ouro branco, aqui

compreendido como o açúcar, foi à solução para o projeto mercantil lusitano. Uma

especiaria lucrativa, apreciada no mercado europeu. As terras caetés eram e ainda

são prodigiosas para essa cultura4.

Dessa forma se intensificou, em Alagoas, a partir da segunda metade do

século XVI, um processo de ocupação territorial, onde os engenhos de açúcar foram

o elemento propulsor dos primeiros núcleos de povoamento aos moldes do interesse

político e econômico do colonizador. As extensas propriedades de terras foram um

elemento comum que trouxeram, como consequência, a expulsão dos nativos5.

A atividade dos engenhos na faixa litorânea do Nordeste remonta ao ano de 1535. Uma presença tão antiga e forte a ponto de cunhar slogan: “Alagoas, terra para açúcar”. Uma explicação para esse fenômeno: o povoamento regional foi determinado pelos engenhos que, junto às fazendas de criação de gado, ocuparam todo o espaço alagoano nos dois primeiros séculos de sua história. O aproveitamento, desde o século XVI, dos férteis massapês para o cultivo da cana-de-açúcar, complementado pela pecuária extensiva nas áreas menos produtivas, moldou a economia alagoana, influenciou sua política e soldou os principais traços de sua

4 CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação Histórica de Alagoas . Maceió: EDUFAL.2015. p.13-14. 5 Idem.

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sociedade. As extensas faixas de terra doadas pelos capitães donatários (as sesmarias), ao tempo em que expulsavam os indígenas de seu domínio, permitiam a fixação dos núcleos de ocupação, constituindo a base territorial para os futuros engenhos banguês e as fazendas de gado (CARVALHO, 2015, p. 48).

A legitimidade religiosa e política da Igreja católica, no Brasil, é o resultado de

um longo processo, que acompanha a própria história, desde 1500. O poder

estabelecido, no período colonial, promoveu um modelo de catolicismo, conhecido

como cristandade. A sociedade brasileira foi sendo moldada à fé católica, aos

valores morais e à obediência da autoridade eclesiástica6. Muitas vezes os clérigos

exerciam, com ferocidade, o poder político. Nesse modelo, a Igreja era uma

instituição subordinada ao Estado, e a religião oficial funcionava como instrumento

de ordenamento social, político e cultural.

O clero sempre foi no Brasil uma grande força. Esteio do regime colonial, seu prestígio passou das donatárias às capitanias e destas às províncias, estendendo-se e dominando, fora da órbita espiritual, à esfera temporal – no governo, na sociedade, na política (COSTA, 1928, p. 89).

Naquele período, o território que atualmente compõe Alagoas integrava a

Capitania de Pernambuco. O processo de ocupação territorial seguiu um modelo de

unidades administrativas doadas a particulares, em uma proporção territorialmente

menor – as sesmarias – que eram unidades que integravam as capitanias. Essas

espécies de unidades administrativas eram extensas propriedades de terras doadas

pelos representantes da coroa portuguesa, na pessoa dos donatários. A primeira

sesmaria, em terras alagoanas, foi de propriedade do Sr. Cristóvão Lins e abrangia

desde o sul de Pernambuco, regiões ao sul do cabo de Santo Agostinho,

estendendo-se até o rio santo Antônio, na atual cidade da Barra de Santo Antônio,

localizada no norte de Alagoas7.

Essa doação feita pelo donatário da Capitania de Pernambuco – Duarte de

Albuquerque Coelho –, foi uma espécie de prêmio concedido a Cristóvão Lins pelos

seus préstimos nas bandeiras que dizimaram os índios caetés. Para além desses

elementos de premiação pela bravura dos conquistadores, o que estava no pano de

fundo era, fundamentalmente, os interesses políticos e econômicos no processo de

6 AZEVEDO, Dermi. Igreja Católica e seu papel político no Brasil . Revista Estudos Avançados da USP: Volume.18 n.52 São Paulo set./dez. 2004. 7 CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação Histórica de Alagoas . Maceió: EDUFAL.2015. p. 16.

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ocupação das terras alagoanas. Parcerias a que os conquistadores recorreram em

toda a Colônia.

A formação da sociedade alagoana, em sua mais importante base econômica, a atividade agrícola, foi inicialmente determinada pela distribuição das sesmarias. Esse processo iniciou em 1575, quando Cristóvão Lins recebeu, pelos seus feitos na bandeira dos irmãos Albuquerque, uma sesmaria localizada entre o rio Santo Antônio e Cabo de Santo Agostinho, abrangendo desde um pequeno pedaço do atual território sul pernambucano a São Luís do Quitunde, cobrindo as terras de doze municípios atuais (CARVALHO, 2015, p. 16).

A presença eclesiástica da Igreja Católica, em Alagoas, ocorreu

gradualmente, constituindo-se parte integrante da presença da administração do

Estado português no processo de povoamento e ocupação territorial8.

As primeiras paróquias foram instaladas nos quatro primeiros núcleos de

povoamento, entre os séculos XVI e XVII. Nesse processo, foram erigidas as

freguesias de N. Sra. da Apresentação, em Porto Calvo, por volta do ano de 1617,

de N. Sra. do Rosário, em Penedo, aproximadamente em 1615, de N. Sra. da

Conceição, no ano 1633, em Alagoas do Sul (cidade atual de Marechal Deodoro) e a

freguesia de Santa Luzia, de Siracusa, em 1654. Naquele período, as freguesias

estavam subordinadas à administração eclesiástica da Diocese de São Salvador da

Bahia (1551-1676)9.

Chamamos a atenção para a importância econômica e política desses quatro

primeiros núcleos de povoamento. Porto Calvo, na região norte, compreendia umas

das áreas com maior potencial agrícola para produção de açúcar, o que,

posteriormente, veio a se confirmar, pois abrigou uma grande quantidade de

engenhos e foi cenário de disputa entre holandeses e portugueses, no ano de 1631.

Penedo, situada às margens do Rio São Francisco, foi a porta de entrada do

colonizador para a ocupação do sertão de Alagoas e Sergipe. Aquele núcleo de

povoamento surgiu como porto natural, foi erguido em cima de um grande rochedo,

o que propiciou uma posição estratégica àquela povoação. Entre as suas atividades

econômicas, se destacavam as navegações, como porta de entrada pelo rio, a

pecuária, a agricultura de subsistência e a produção de cana10.

8 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p 90-95. 9 Idem. 10 CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação Histórica de Alagoas . Maceió: EDUFAL. 2015. p. 48-

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A presença da Igreja se fez de maneira suntuosa, naquela localidade, entre

os séculos XVI e XIX. O clero católico com nomes importantes na política e na

cultura locais forneceram atores da moldura de uma sociedade aristocrática,

patriarcal e fervorosa na fé. No ano de 1916, foi criada a Diocese de Penedo, pelo

papa Bento XV.

Santa Luzia de Siracusa, atual cidade de Santa Luzia, aos olhos dos

colonizadores apresentava uma posição geográfica estratégica, visto que estava

localizada na região das Lagoas Mundaú e Manguaba. Integrava a faixa litorânea e

era também uma porta de entrada para o interior do continente, através dos rios

Mundaú e Paraíba, que desaguam no estuário lagunar. Além desses elementos, as

terras extremamente férteis para a produção agrícola e a criação de animais, além

da água abundante, completaram o cenário ideal para a fundação da freguesia. No

silêncio dos séculos, sob o domínio dos senhores de engenho e os olhos vigilantes

do clero católico, caboclos nativos, escravos e a população pobre se entregaram ao

trabalho árduo, em uma devota obediência à casa grande e à Igreja11.

Santa Maria Madalena de Alagoas do Sul, atual Marechal Deodoro, sem

dúvida, foi a localidade mais ambicionada pelos conquistadores. Esse núcleo urbano

foi construído, estrategicamente, às margens da Lagoa Manguaba e tem do outro

lado, o Oceano Atlântico, cujas ondas se acalmam com os arrecifes. Aí está o ponto

central desse enredo. A chegada de possíveis invasores era facilitada pelo porto

natural, o que lhe trouxe o atual nome de praia do francês, que não lhe foi atribuído

por acaso12.

Do período colonial ao imperial, aquele núcleo de povoamento cresceu e se

desenvolveu, a partir das atividades agrícolas e, sobretudo, como entreposto

comercial de chegada e saída, mais de mercadorias do que de gente. Em destaque,

uma especiaria, o açúcar, que era exportado para a Europa pelo porto do francês.

Mais uma vez a Igreja católica se fez presente, por meio dos muitos clérigos que

ocuparam cargos públicos de destaque na administração local13.

Outro fato que demonstra a importância religiosa desse povoamento é o atual

conjunto arquitetônico de igrejas, conventos e mosteiros, no qual essas edificações

69. 11 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015.p 90-95. 12 Idem. 13 CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação Histórica de Alagoas. Maceió: EDUFAL, 2015. p. 18-22.

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impressionam pela beleza e suntuosidade. Sua relevância econômica e política

destacou-se quando foi elevada à condição de capital da Capitania de Alagoas, em

181714.

Com a continuidade da ocupação territorial, pelos conquistadores, que cada

vez mais adentravam para o interior do continente, no horizonte das próximas

conquistas estavam a zona da mata, o agreste e o sertão alagoanos. No processo

de povoamento foram protagonistas os senhores da terra, os senhores de engenho,

os proprietários de fazenda de gado e, no mesmo compasso, os representantes do

clero católico15.

Nessas freguesias, ao lado da administração colonial, a presença da Igreja Católica era sentida pela importância intelectual e política. Em 1706, as missões franciscanas, estabelecidas no século XVI, estavam em companhia de carmelitas, beneditinos, capuchinhos e jesuítas, realizando a catequese e organizando os aldeamentos indígenas, inicialmente na área canavieira, depois à margem do São Francisco; expandindo-se por todo o território, pelos povoados com suas missões evangelizadoras, onde se fixavam construindo capelas e igrejas (CARVALHO, 2015, p.22).

Os vestígios da história indicam que a Igreja protestante marcou presença,

nas terras alagoanas, no século XVII, no contexto do Brasil holandês. A vinda

desses protestantes esteve diretamente ligada ao projeto político e econômico mais

liberal, liderado pela Companhia das Índias Ocidentais16. Os holandeses possuíam

uma visão de tolerância para como as demais expressões religiosas, priorizando,

sempre, as relações produtivas e comerciais com os povos conquistados.

Embora tenha desenvolvido um trabalho missionário principalmente entre os indígenas, a Igreja Reformada Holandesa se estabeleceu no Nordeste brasileiro não como resultado do anúncio do evangelho. Ela foi simplesmente transplantada para cá por ocasião da ocupação holandesa, em 1630, e desapareceu em seguida à expulsão dos invasores, em 1654. Durou menos de um quarto de século (CÉZAR apud QUEIROZ, 2015, p. 149).

Conforme exposto, o modelo de colonização adotado pelos holandeses,

também visava à exploração econômica, porém, com atenuantes nas relações com

os povos aqui conquistados. Isso não significa que durante o domínio holandês, não

houvesse conflitos com os habitantes da região por eles controlada, com

14 Idem. 15 Idem. p. 112-117. 16 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 147-156.

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trabalhadores em geral ou ainda com a população escrava. Fica evidente, portanto,

que os holandeses utilizaram estratégias agregadoras, visando ao sucesso do seu

projeto mercantil, com a intenção clara da obtenção de lucros em seus negócios17.

Durante os vinte e quatro anos que os holandeses estiveram ocupando o

nordeste brasileiro, marcaram a história da região com importantes iniciativas no

campo da administração pública, da educação, do comércio, da cultura, das artes e

da religião18. Essa última teve uma presença relativamente significativa nas terras

que atualmente integram o estado de Alagoas. Os pastores da Igreja Reformada

exerceram importante papel no processo de catequese das localidades sob o

domínio holandês.

Por sua vez, Frans Leonard Schalkwijk, historiador holandês e pastor da Igreja Reformada, que viveu por muitos anos no Brasil, em sua obra Igreja e Estado no Brasil holandês, apresenta-nos algumas informações a respeito da atividade dos cristãos reformados nas Alagoas. De acordo com ele, existiram, naquele período, vinte e duas igrejas reformadas em solo brasileiro, sendo doze delas igrejas constituídas e organizadas e as outras dez comunidades em formação ou congregações (QUEIROZ, 2015, p. 149).

Ainda sobre os protestantes, em Alagoas, sob o domínio holandês,

constatamos, a partir das considerações de Queiroz (2015), que duas Igrejas se

destacavam pela sua estrutura e importância, inclusive contando com seus próprios

consistórios. Esses templos estavam localizados em Porto Calvo e no Forte

Maurício, às margens do Rio São Francisco, na atual cidade de Penedo. E, dentre

as congregações, figurava a de Alagoas do Sul, atual Marechal Deodoro, onde a

catequese ganhava espaço na formação de novos adeptos.

Um fato interessante e que expressa o simbolismo político da religiosidade

protestante holandesa no domínio da região foi o batizado, em uma Igreja Cristã

Reformada, de Domingos Fernandes Filho, natural de Porto Calvo, filho da senhora

Bárbara Cardoso e de Domingos Fernandes Calabar, sendo esse último um

personagem controvertido da história alagoana: proprietário de engenho, foi

acusado, pelos portugueses, de traidor, por apoiar os holandeses19.

Vinculada ao projeto político e econômico da Companhia das Índias

Ocidentais, a Igreja Cristã Reformada seguiu-lhe o destino quando da expulsão dos

17 CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação Histórica de Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 71-85. 18 Idem. 19 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015, p.147-156.

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flamengos do nordeste do Brasil, saindo de Alagoas ao mesmo tempo. Em 1645,

André Vidal de Negreiros, comandando aproximadamente 1.800 soldados bem

armados, reconquistou Penedo, Alagoas do Sul e Porto Calvo, expulsando, da

mesma forma, as igrejas e seus respectivos pastores20.

Em 1706, Alagoas deixou de ser a “região sul da Capitania de Pernambuco”:

por meio de uma Carta Régia, no mês de outubro daquele mesmo ano passou a ter

o status político de Comarca, tendo como sede a Vila de Alagoas. Na condição de

comarca, atravessou mais de um século, tempo suficiente para, por um lado,

estruturar sua economia baseada nos engenhos, mas com uma pecuária em

expansão e a formação da agricultura dos pequenos produtores de alimentos. E, por

outro, implantar uma estrutura administrativa própria, com aparelho burocrático,

autoridades judiciárias e militares na região21. A razão primeira da elevação de

Alagoas à condição de comarca era organizar e melhor distribuir,

administrativamente, o espaço territorial pernambucano22. Ao requerer ao rei

português a criação da comarca, o governador da Capitania de Pernambuco,

Francisco de Castro Morais, apresentou como justificativa para o pedido o

crescimento demográfico e a economia florescente das Alagoas.

A formação de uma estrutura jurídico-administrativa se inicia com o processo de organização da Comarca de Alagoas, em 1711, significando um avanço político-institucional de primeira ordem. A chegada de um embrionário poder judiciário, com a presença de uma magistratura togada, estranha ao meio social e amparada pelas forças das armas, a qual o Ouvidor-Geral poderia recorrer, representava uma instância para julgamento dos desmandos e das arbitrariedades muito comuns, mesmo que os recursos assegurados por lei fossem, quase sempre, de aplicação lenta e ineficaz, decidindo-se geralmente a favor dos mais fortes (CARVALHO, 2015, p. 111).

Sendo a produção canavieira a mais vultosa e lucrativa atividade econômica

do projeto político e econômico dos colonizadores, era conveniente que se

expandisse cada vez mais. E assim, desde a região norte até o centro do território,

os canaviais se estenderam, com seus engenhos, seus senhores e sua religião.

Desde sempre encontraram resistências, como nas guerras contra os indígenas –

lutando na invasão holandesa – e contra o Quilombo dos Palmares. Por outro lado, a

20 Idem. 21 CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação Histórica de Alagoas . Maceió: EDUFAL. 2015, p. 109-117. 22 Idem.

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desordem social e a violência eram intensas. A doce riqueza da elite provocava o

amargor das populações pobres e dos escravos. Assim, a presença mais forte do

Estado português, por meio de mecanismos representativos e mais próximos da

administração central se tornou realidade.

A comarca não possuía capacidade para criar tributos. Todas as receitas pertenciam à Fazenda Real, e os impostos cobrados na colônia eram enviados para o Rio de Janeiro ou diretamente para Lisboa. Os ouvidores não tinham orçamento próprio, e a Fazenda Real cobria suas despesas. A função do cargo era política, cabendo-lhes manter a ordem colonial numa sociedade em que predominava o atraso social absoluto. Nesse período, incluindo sua fase de relativa autonomia, a região sul de Pernambuco “vivia mergulhada na mais perfeita ignorância”, anota um analista atento. Tão atrasada que, somente em 1719, os franciscanos das vilas de Penedo e Alagoas do Sul deram o primeiro passo em direção ao ensino, com a instalação de aulas de gramática (CARVALHO, 2015, p. 112). Grifo nosso.

Ao mesmo tempo em que esses eventos políticos e econômicos se sucediam,

a organização da Igreja católica foi crescendo e, cada vez mais, se expandindo,

acompanhando a ocupação territorial do interior alagoano. Consequentemente,

outras freguesias e paróquias católicas foram erigidas ao longo dos séculos

seguintes23. No texto que segue apontamos as que mais se destacaram, ao longo da

história, pela sua importância econômica, social e, acima de tudo, pelos rebanhos de

fiéis sob a tutela dos clérigos titulares daquelas Igrejas.

Sob a jurisdição eclesiástica da Diocese de Pernambuco (1676-1900),

enumeramos as freguesias de maior destaque no século XVIII, em Alagoas24. Entre

elas a de N. Sra. do Ó, instalada em 1706, em uma região de solo fértil para a

produção açucareira e para a atividade agropecuária. Ao seu redor desenvolveu-se

a cidade de São Miguel dos Campos25. No norte do Estado, a freguesia de Bom

Jesus do Camaragibe, foi erguida por volta de 1708. Nessa mesma localidade foi

construído o convento dos Frades Carmelitas Descalços, que contavam com uma

fazenda própria e eram autossuficientes na produção dos gêneros primários26.

Ainda na região norte, chama nossa atenção a freguesia de São Bento,

erguida em 1717. O antigo núcleo de povoamento compõe o atual município de

Maragogi, localidade onde os monges beneditinos exerceram forte influência 23 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 95-101. 24 Idem. 25 Idem., p.95. 26 Idem, p.96.

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religiosa junto aos senhores de engenho e à população local27. Edificaram um

mosteiro, no alto de um morro, com uma excelente vista para o Atlântico. A

construção também serviu de abrigo, uma espécie de casa de hospedagem

itinerante para os religiosos em missão, os viajantes de negócios e outros assistidos

que nela recebiam acolhida. Aquela é também uma região vocacionada para a

produção agrícola, se destacando a cana - de - açúcar e outras culturas de

subsistência. Atualmente se destaca como um dos maiores polos turísticos de

Alagoas.

A freguesia do Poxim (perímetro urbano que pertence à atual cidade de

Coruripe) abrigou, em 1706, a Igreja da Santa Madre de Deus28. A região

apresentava uma intensa atividade açucareira, fazendas de gado e atividades

agrícolas de subsistência. Prosseguindo com a ocupação interior adentro, em

Atalaia, às margens do Rio Paraíba do Meio, em 1763, foi instalada a Freguesia de

N. Sra. das Brotas29. Localizada em uma região central, que fica no meio caminho

entre a zona da mata e o agreste, abastecida por água abundante, se tornou o

cenário ideal para uma grande concentração de engenhos de açúcar e fazendas. A

repercussão política dos integrantes do clero católico esteve sempre ativa, desde a

fundação da freguesia, até a elevação da Vila. Em 1834, estando à frente da

paróquia, o vigário, Pe. José Vicente de Macedo foi assassinado em uma

emboscada em virtude de disputas políticas. O religioso ocupava o cargo de

Deputado Geral da Província.

No ano de 1770, foi implantado um aldeamento missionário, pela Igreja

católica, para catequisar os índios Xucuru-Cariri. Como resultado desse processo,

por volta de 1798 foi erguida a Freguesia de N. Sra. do Amparo30. Assim nasceu o

povoamento de Palmeira dos Índios, localidade que abre os caminhos para o sertão

de Alagoas. Houve uma intensa participação do clero no desenvolvimento político,

educacional e cultural daquela localidade.

No dia 16 de setembro de 1817, D. Joao VI assinou o Alvará Régio por meio

do qual promoveu a independência política de Alagoas, desmembrando-a da

Capitania de Pernambuco31. O fato envolve uma série de especulações históricas.

27 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p.97-98. 28 Idem, p.98-99. 29 Idem, p.99-100. 30 Idem., p. 100-101. 31 CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação Histórica de Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p.

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De um lado, uma corrente de pesquisadores analisa que a decisão real foi para

premiar a elite local da então Comarca de Alagoas, por não participar dos conflitos

que ocorriam em Pernambuco, contestando o governo imperial. Por outro ângulo,

alguns historiadores afirmam que a emancipação política de Alagoas está

relacionada à própria dinâmica da economia local, ao crescimento intenso do

comércio açucareiro e ao aumento demográfico significativo da população residente.

Segundo Carvalho (2015) no mesmo decreto que determinava a emancipação

política de Alagoas, D. João VI nomeou Sebastião de Melo e Póvoas como primeiro

governador da Capitania de Alagoas. O ilustre era neto do Marquês de Pombal,

tinha experiência administrativa pelo fato de ter sido governador da Capitania do Rio

Grande do Norte. O novo mandatário assumiu, efetivamente, em janeiro de 1819,

instalando a junta administrativa, a arrecadação da real fazenda e inaugurando, no

porto de Jaraguá, a alfândega e a inspeção do açúcar e do algodão. Ordenou uma

reorganização urbana das vias próximas à região comercial portuária e estimulou a

construção de estradas nas regiões que concentravam as atividades açucareira e

algodoeira. A partir de 1821, por decisão do governo imperial, sob a liderança de D.

Joao VI, as capitanias passaram a se chamar províncias32.

As disputas políticas locais foram constantes, em virtude de uma cultura do

poder político local dos senhores de engenho, fazendeiros e proprietários de terras.

Muitos presidentes da província governaram apenas, por meses. Uma aristocracia

rural que nem sempre se entendia entre si, muito menos constituiria laços com um

governante que vinha de fora da província e era visto como estranho à dinâmica

política local.

No período imperial, os grupos oligárquicos que existiam e disputavam o mando político em Alagoas se transformaram em partidos. A partir de 1817, dois arranjos partidários se constituem: o do setor açucareiro da região norte mais conservador, identificado com a monarquia centralista, e no Sul, também açucareiro, mas influenciado pelo algodão, mais liberal e simpático ao federalismo. São frentes políticas com diversidade de interesses, porém, na defesa da estrutura de propriedade e na apropriação do resultado do trabalho escravo, “são diferentes, mas iguais”. Essa disputa vai se armando ao longo dos anos, confundindo-se com a história provincial (CARVALHO, 2015, p. 150).

145-147. 32 Idem, p. 149.

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Os tempos da Província foram conturbados para Alagoas. No plano político, a

evolução demográfica populacional e as ações administrativas por parte do poder

público não se faziam sentir, na medida em que poucas famílias – vinculadas aos

interesses agrários e com prestígio construído no período colonial – continuaram

com exclusividade durante toda a monarquia, dominando a província.

A vida política da então Província das Alagoas foi por demais tumultuada, recheada de intrigas mesquinhas e politicagem sórdida. As eleições aqui realizadas, no decorrer deste período, deixaram tristes recordes: chacinas, fraudes, violências, jornalismo desenfreado, lares difamados, famílias dilaceradas etc. (QUEIROZ, 1996, p. 11).

No entorno das famílias tradicionais gravitava um personagem, a serviço da

política coronelista e oligárquica: o cabo eleitoral, cuja dedicação era plena aos

conchavos políticos e aos expedientes necessários para eleger os representantes

políticos no legislativo estadual ou no paramento nacional. “Os chefes das

oligarquias recorriam, de quando em vez, quando era preciso opor à força numérica

do voto, a força decisiva do bacamarte” (CARVALHO, 2015, p.159). Com o território

todo ocupado, em plena vigência da escravidão e com a economia estabilizada em

torno da produção do açúcar e do algodão, a política provincial e as benesses

econômicas eram privilégio de poucos.

Esse processo reforçava o poder dos chefes locais, cuja clientela era a população rural, assistida ao longo do tempo e tutelada nas épocas eleitorais, com a sentida presença do clero católico. Como somente podiam votar os homens ricos, de uma população estimada, em 1842, de 200 mil habitantes, 884 senhores decidiam quem seriam os representantes políticos. Até 1881, as escolhas eram indiretas: os votantes escolhiam os eleitores que, por sua vez, elegiam os senadores e deputados (CARVALHO, 2015, p. 160).

Em tal contexto, constituíram-se os grupos políticos e econômicos

hegemônicos em Alagoas. Eles, por meio de uma profícua parceria com a Igreja

católica, protagonizaram a formação da sociedade alagoana com as características:

aristocrática, escravocrata e fervorosamente católica33. Nos engenhos e nas

propriedades rurais, nas vilas e nas cidades, não excluindo a capital, a vida social e

política eram permeadas pela fé. O catolicismo, em Alagoas, envolveu a todos. O

clero agiu, definitivamente, com perspicácia, na seara política, ora articulando com

33 QUEIROZ, Álvaro. Clero e Política nas Alagoas . Maceió: Gráfica Bom Conselho, 1996. p. 5-6.

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os representantes da coroa, ora sendo seus membros os ocupantes de cargos

políticos de grande destaque.

Mediante os esclarecimentos de Queiroz (2015) ainda sobre a presença da

Igreja e as suas relações de poder, durante o período provincial em Alagoas (1817 -

1889), verificamos que representantes do protestantismo histórico marcaram sua

presença34. O império brasileiro no bojo da expansão do capitalismo mercantil e

industrial estabelece forte parceria com os ingleses que marcaram presença nas

terras alagoanas, em detrimento da intensa movimentação comercial do açúcar no

porto de Jaraguá, em Maceió35. Estabeleceram relações comerciais, mas também

empreenderam, nas célebres palavras de Weber, atuações religiosas e econômicas

na concepção da ética protestante e do espírito capitalista.

Segundo Queiroz (2015) a chegada da Igreja anglicana até os alagoanos,

mesmo que não tenha causado nenhum processo numeroso de conversão, o

significado da sua presença está evidenciado no projeto político liberal que os

ingleses patrocinavam a todo vapor36. Entre os ricos comerciantes do açúcar, a

influência inglesa foi sentida, na medida em que muitos dos seus hábitos culturais de

consumo, compra e venda, lucros e lazer passaram a fazer parte do cotidiano37,

porém, sem o peso na consciência referente ao pecado da usura, pregado pela fé

católica. Os ingleses continuaram ainda presentes da segunda metade do século

XIX ao início do século XX, no processo de implantação das ferrovias,

estrategicamente importantes, para o transporte do açúcar até o porto de Jaraguá.

Nas Alagoas, a presença inglesa foi intensa, sobretudo no bairro portuário de Jaraguá, na Capital. Apesar da documentação pertinente ser escassa e quase inexistente, sabe-se que existiu, em Maceió, uma casa servindo de templo anglicano, bem como um cemitério para sepultar os fiéis falecidos por aqui, uma vez que eles não tinham direito a sepultamento nos campos santos administrados pela Igreja Católica.

[...] O historiador J. F. Maya Pedrosa em seu livro Histórias do velho Jaraguá, assevera que, nesta mesma época: ‘os súditos britânicos, certamente empenhados no comércio atacadista, já contavam aqui com uma igreja anglicana para seu culto’ (QUEIROZ, 2015, p. 150-151).

34 ______. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 151-153. 35 Idem., p. 151. 36 Idem., p.151-153. 37 PAIM, Antônio. (org.). História Econômica do Brasil . CDPB, 2011. p. 78-80.

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Por volta de 1884, deu-se a chegada dos batistas, oriundos dos Estados

Unidos, que vieram para Alagoas motivado pelo espírito missionário38. Na época

existia um forte movimento religioso no seio dessa congregação, chamado de

grandes avivamentos, os quais, por sua vez, foram influenciados por eventos

semelhantes verificados na Inglaterra.

Os avivamentos geraram inúmeras iniciativas religiosas, sociais e

educacionais entre os protestantes batistas, despertando neles um grande interesse

por missões de evangelização em âmbito mundial39. As missões batistas se

intensificaram, primeiramente, em solo norte americano e depois migraram para a

Inglaterra40. Entre os missionários batistas, além dos estadunidenses, estavam os

ingleses que chegavam impulsionados pelos empreendimentos comerciais, embora

também trouxessem a sua fé renovada pelo espírito missionário batista em suas

bagagens. Nesse sentido, as missões batistas chegaram à Alagoas. Um fato

interessante é que um padre católico, alagoano, se converteu ao protestantismo e se

tornou o primeiro pastor batista de naturalidade brasileira.

A chegada da Igreja Batista nas Alagoas está vinculada a esse mesmo ciclo missionário norte-americano. Alguns missionários batistas, oriundos dos EUA e estabelecidos no Sudeste do país, batizaram o primeiro adepto brasileiro, que era alagoano. Trata-se de um padre católico de nome Antônio Teixeira de Albuquerque, que abandonou o ministério sacerdotal e fugiu de Maceió para Recife, seguindo depois para São Paulo. Estabeleceu-se em Capivari, sendo batizado pelo pastor Robert Thomas, na Vila de Santa Bárbara. Pouco depois foi consagrado ao ministério batista, como pastor. Foi também o primeiro pastor batista brasileiro (QUEIROZ, 2015, p. 152).

Esse clérigo, convertido ao protestantismo batista, desempenhou papel

relevante nas diversas frentes missionárias batistas. Em 1884, esteve duas vezes

em Maceió, pregando para alguns grupos. Em 1885, foi implantada a primeira Igreja

Batista das Alagoas, com dez membros. O pastor Antônio Teixeira de Albuquerque

permaneceu, até sua morte, à frente da nova Igreja. Faleceu em 1887, deixando a

comunidade batista com oitenta adeptos. Atualmente a comunidade batista, após

movimentos de renovação, continua presente em Alagoas.

No ano de 1886, o missionário Rockwell Smith, vindo dos Estados Unidos,

empreendeu uma missão evangelizadora na região sanfranciscana, fundando

38 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 152. 39 Idem., p. 152-153. 40 Idem.

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congregações da Igreja Presbiteriana em Penedo e Pão de Açúcar41. O catequizador

norte-americano realizou também uma jornada missionária em Maceió. Como

consequência dos seus trabalhos doutrinários, em 1887, foi erguida, em Maceió,

uma Igreja Presbiteriana.

Como bem informa Queiroz (2015), a expansão da Igreja Católica segue com

vigor no processo de povoamento e ocupação territorial, durante o Brasil Império e já

na República. Ainda no século XIX novas freguesias foram instaladas, deixando

claro o papel evangelizador, mas também evidenciando que houve uma intensa

atuação política do clero, que se fez presente na fundação de todas as povoações,

vilas e cidades de Alagoas.

Em 1819, foi instituída a paróquia de Nossa Sra. dos Prazeres42, para a qual a

presença do clero católico foi estrategicamente pensada. A importância econômica,

cultural e populacional que a localidade adquiria, em virtude do porto de Jaraguá, foi

um oásis para o aumento do rebanho católico. A antiga Vila de Maceió tinha sido

desmembrada, no dia 5 de dezembro de 1815, da então Vila de Santa Maria

Madalena das Alagoas do Sul, atual Marechal Deodoro.

Em 9 de dezembro de 1839, deu-se a elevação à condição de cidade,

principalmente por causa do desenvolvimento advindo das operações comerciais do

porto de Jaraguá, um porto natural que facilitava o atracamento de embarcações,

por onde eram exportados açúcar, algodão, tabaco, coco e couro, entre outros

produtos43. Devido à sua progressiva importância econômica, Maceió veio a se

tornar a capital da Província das Alagoas, especificamente em 9 de dezembro de

1839. Consequentemente, foram erigidas novas igrejas para servir à população. À

medida que a cidade emergiu economicamente, ganhou status político de capital e o

clero católico do local também foi conquistando, cada vez mais, espaço e prestígio

na sociedade alagoana44.

Na zona da mata alagoana foram edificadas duas freguesias extremamente

relevantes para o projeto de consolidação da elite açucareira, e, em especial, da

Igreja Romana.

41 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 153. 42 Idem., p. 103-110. 43 CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação Histórica de Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 185-198. 44 Idem.

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Em 1835, foi erguida a freguesia de Santa Maria Madalena, no atual

município de União dos Palmares45, localizado no vale do Rio Mundaú e aos pés da

Serra da Barriga. Suas terras férteis abrigaram grande número de engenhos,

senhores e senhoras da aristocracia, trabalhadores e escravos. Todos eles eram

convidados, com vigor, pelo clero, a professarem a fé católica. O exercício ou a

articulação com a política era recorrente. Vale destacar que o local tem um

significado emblemático, pois, muito próximo dali, no alto da serra, ficava localizado

o Quilombo dos Palmares, onde, em 1694, os africanos foram aniquilados por

Domingos Jorge Velho, a mando da coroa portuguesa46.

A freguesia do Senhor Bom Jesus do Bonfim, foi criada, em 1835, localizada

na cidade atual de Viçosa47. Essa povoação surgiu no Vale do Rio Paraíba do Meio,

consolidando o domínio das terras de massapê pelos senhores de engenho. Não é

novidade afirmar que a localidade se desenvolveu economicamente com o açúcar.

Sua população testemunhou a desenvoltura política e o domínio literário dos ilustres

clérigos católicos. Ficou conhecida como “Atenas das Alagoas”48, visto que, entre os

séculos XIX e XX, apresentou ao país uma gama de personalidades ilustres.

Destacamos aqui o cardeal primaz do Brasil, D. Avelar Brandão Vilela. Após sua

emancipação, em 1892, a cidade viveu o seu auge econômico – com a cana - de -

açúcar e o algodão – social, cultural e político.

Compreendendo um amplo e bem-sucedido processo de ocupação e

povoamento das terras alagoanas, ainda durante o período provincial apontamos

para edificação de duas importantes freguesias no sertão. Pela ordem cronológica,

foi erigida a Freguesia de N. Sra. Sant’ana, na atual cidade de Santana do Ipanema,

instituída no ano de 183649. Sua gênese remonta à velha aldeia da Ribeira do

Ipanema, onde o Pe. Francisco José Correia de Albuquerque exerceu profícua

missão catequética, tendo sido o fundador daquele povoamento, no ano de 1787. A

cidade emancipou-se, em 1875, e se desenvolveu, significativamente, ao longo dos

séculos XIX e XX, se destacando com as fazendas de criação de gado, do cultivo do

45 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 104. 46 CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação Histórica de Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 95-105. 47 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 104. 48 SÁ, Elói Loureiro Brandão. Viçosa-Cidade das Alagoas : Formação e desenvolvimento. Maceió: Grafitex Editora, 2001. p. 36. 49 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 105.

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algodão e da produção do feijão50. A cidade se tornou, no século XX, um polo

comercial, político e cultural. Vale destacar que aquela localidade abrigou, desde a

sua fundação, destacadas figuras do clero católico. Esses foram responsáveis pela

propagação da fé católica, influenciando na moral, nos costumes na educação e na

cultura daqueles sertanejos51.

Em 1º de junho de 1864, foi criada a freguesia de Nossa Senhora da

Conceição, na atual cidade de Água Branca52. Seu povoamento foi motivado pelas

riquezas naturais da região, fertilidade do solo, pastagens e localização estratégica

na ampliação das fronteiras territoriais nos limites com a Bahia. Em 1770, foi

construída a primeira Igreja, em plena mata, pelo Major Francisco Casado de Melo.

O conjunto arquitetônico da Cidade de Água Branca é o testemunho vivo do

prestígio que a Igreja católica alcançou na região. Basta verificar a Igreja Matriz, um

suntuoso templo que não perde em beleza para as catedrais brasileiras. O clero

católico conseguiu moldar o pensar e o agir daqueles sertanejos, tendo ao seu

alcance doutrinário, os senhores da terra e seus trabalhadores53. O templo católico

fica vizinho ao imponente palacete do Barão de Água Branca. O clero soube

articular-se com as autoridades locais.

A consolidação eclesiástica da Igreja Católica, em Alagoas, ocorreu com a

fundação de mais duas dioceses. Em Penedo (conforme já referido), o bispado foi

criado em 1916, ainda por Bento XV54. Tardiamente a essa cronologia, a Diocese de

Palmeira dos Índios foi criada somente em 1962, pelo papa João XXIII55. Vale

destacar que na criação dessas circunscrições eclesiásticas, foram levadas em

consideração, sobretudo para com as suas cidades-sede, os aspectos econômicos,

demográficos, sociais e políticos, todos decisivos.

Mediante as afirmações de Queiroz (2015) as relações institucionais entre o

Governo e a Igreja ficavam evidentes, no relatório provincial de Alagoas, em 1855,

no qual a fala do Presidente da Província, Antônio Coelho Sá, reflete a preocupação

com as freguesias e as suas respectivas Igrejas, localizadas no interior do Estado.

Segundo ele, na província, “quase todas as Matrizes precisam de reparos e

50 MELO, Araújo Floro. Santana do Ipanema conta sua História . Estabelecimento Gráfico Borsoi, 1976. p. 19-42. 51 Idem. 52 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p.107. 53 FEITOSA, Edvaldo de Araújo. Água Branca: Cidade história do sertão. 2004, p. 09-44. 54 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 221-225. 55 Idem., p. 227-235.

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paramentos, e em algumas freguesias novos templos são necessários, mas os

cofres públicos não podem acudir a todas as necessidades”56.

Conforme exposto, ficaram evidentes as relações estreitas entre a Igreja e o

poder público em Alagoas, no processo de povoamento e posterior delineamento da

sociedade alagoana em todos os seus recantos.

Em nível local e nacional, durante o Império, as relações de poder entre os

integrantes da Igreja e as autoridades constituídas prosseguem, se complementam e

se consolidam. A configuração da presença do clero católico na administração

pública atinge o seu auge com o regime do padroado no Brasil57. O imperador

nomeia os bispos e interfere politicamente nos assuntos eclesiásticos das dioceses.

Por sua vez, os párocos, enquanto servidores públicos, deveriam exercer suas

funções seguindo as orientações e normas do império brasileiro. Conflitos existiram,

porém, não comprometeram o projeto da nação católica e do império58.

À medida que os religiosos catequizavam, aumentando o rebanho da Igreja,

enquanto servidores públicos os membros do clero ajudavam na administração do

Estado e, por conseguinte, legitimavam o poder das elites, por meio da autoridade

política e espiritual que exerciam. Claro que nos confins do Brasil continental, essa

parceria encontrou obstáculos políticos e econômicos com o poder local. Também

encontrou excelentes parcerias.

O financiamento do Rei pelo regime do padroado não era de grande ajuda para os eclesiásticos ali residentes no território alagoano. Apesar do monarca ter sido o principal chefe da Igreja Católica em suas conquistas, devendo assim prover os religiosos com côngruas e edificações de novas Igrejas, o mesmo deixava, por muitas vezes, que a situação dos clérigos nas conquistas do Atlântico se transformasse em uma vida regada as atividades profanas e fora dos elementos cristãos. Estabilizar a fé, administrar os sacramentos, zelar pela boa conduta moral dos colonos, esperar pelo financiamento da Coroa Portuguesa com as redizimas não eram atitudes suficientes para sobrevivência nos trópicos. Era necessária uma atividade extra, principalmente no que tangia aos relacionamentos materiais ou políticos... diversos foram os casos de eclesiásticos que se desvirtuaram de seus ofícios religiosos e decidiram entrar em atividades “ilícitas” como as de cunho econômico.

56 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 102. 57 CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem e Teatro de Sombras . 2. ed. Rio de Janeiro: UFRJ, Relume Dumará, 1996. p. 436. 58 Idem.

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A vida material nos trópicos era importante e necessária. Se valer da política, usar a máquina administrativa, tudo isso significaria que uma “boa base” (falando em temos materiais e imateriais) para cumprir seus deveres de cônegos na hora da salvação das almas, e até mesmo da própria alma (ROLIM, 2012, p. 129).

A proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, abriu caminho

definitivo para separação entre a Igreja e o Estado. O início do regime republicano

foi o primeiro passo para a concretização do estado laico. Essa laicidade, podemos

assim dizer, significou, na prática, a extinção dos laços jurídicos entre o Estado e a

Igreja Católica59.

Carvalho (2015) nos esclarece que os anos iniciais da República, em Alagoas

(1889-1900), foram extremamente conturbados60. O dia da proclamação coincidiu,

exatamente, com a data da posse do último presidente da Província, nomeado pelo

Império, meses antes. Pedro Moreira Ribeiro não tomou posse e teve que retornar

para o Rio de Janeiro. No seu lugar assumiu, provisoriamente, uma junta

governativa, sob a presença da guarnição federal. Ainda que tivessem formação

monarquista, esses militares apoiaram o novo governo que foi instaurado por dois

marechais alagoanos: Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto61.

Apenas três dias depois, substituiu a junta governativa o comendador Tibúrcio

Valeriano, um monarquista histórico. Três semanas depois, o governante foi

substituído pelo irmão do Marechal Deodoro, o coronel reformado Pedro Paulino da

Fonseca. No período de 1889 a 1897, ocuparam a chefia do governo estadual 22

governantes provisórios. A instabilidade política não permitia um ambiente propício

para eleições. As oligarquias locais, com acirramentos e disputas, não o permitam.

Finalmente foi eleito Manoel da Fonseca, pelo voto indireto dos deputados estaduais

no ano de 189762.

Carvalho (2015) ao analisar o jogo político local, durante a primeira república

em Alagoas, constata que todos os governadores possuem um traço comum: as

origens sociais aristocráticas, fato que também é recorrente na maioria dos

municípios, por meio das oligarquias locais. Todos eles compartilhavam de um

59 SOUZA, Josias Jacinto de. Separação entre Religião e Estado no Brasil: Utopia Constitucional. Tese de Doutoramento Programa de Pós-Graduação em Direito. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC – SP). 2009. p. 197-200. 60 CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação Histórica de Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 238-240. 61 Idem., p. 239-240. 62 Idem., p. 240-244.

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mesmo projeto político conservador. Entre elas se destacaram as oligarquias dos

Malta, procedentes de Mata Grande e Penedo, as tradicionais famílias de Fernandes

Lima e Batista Acioly, que representavam o açúcar na região norte, o clã dos Góis

Monteiro, que dominou a política estadual, na região de São Luiz do Quitunde, entre

os anos trinta e cinquenta do século XX63.

No dia sete de janeiro de 1890, o Governo Provisório publicou o decreto de

separação entre a Igreja e o Estado, proibindo, no art. 1°, “o Governo Federal se

utilizar das leis, regulamentos, ou atos administrativos sobre religião”; declarando, no

art. 2°, “o direito de todas as confissões religios as ao exercício de seu culto sem

obstáculos aos seus atos particulares ou públicos”; assegurando, no art. 3°, “a

liberdade religiosa, não só aos indivíduos, isoladamente considerados, mas ainda às

igrejas que os unem numa mesma comunhão”; no art. 4°, “está abolido o padroado

com todas as suas instituições, recursos e prerrogativas; e estabelecendo, no art. 5°,

a personalidade jurídica e mantendo a cada uma o domínio de seus bens64.

Pelo exposto, fica evidente que o pensamento liberal se apresenta com toda a

sua força política na República brasileira e que seus raios de ação atingem a religião

católica, instituição que foi pilar central da monarquia e se fez presente em todos os

atos e ações políticas do governo imperial. Essa relação institucional entre a Igreja e

o Estado, nos moldes republicanos se tornou insustentável65.

Foram muitos os positivistas e os livres pensadores na Assembleia Constituinte de 1891. Contudo, embora em maior número, não puderam colher todos os loiros da vitória. Sofreram também revezes. A Igreja encontrou quem advogasse a sua causa. Graças à atuação de uma bancada fragorosa e combativa, a Constituição de 24 de fevereiro de 1891 não conteve dispositivo algum que impedisse a liberdade da Igreja. Apesar disso, a influência ideológica comteana fez inscrever na nossa bandeira o emblema de sua filosofia, e os liberais conseguiram secularizar a constituição, banindo a religião do ensino e da educação (QUEIROZ, 1996, p. 25).

Como bem afirma Queiroz (1996), por muitas razões a Igreja Católica teve um

papel crucial na definição do novo regime de relações entre Estado e religião no

Brasil republicano. Ressalta-se, aí, o fato de que a Igreja Católica foi contrária a sua

separação com o Estado, pelo fato de perder o status de religião oficial da nação

brasileira e, consequentemente, as benesses políticas. 63 CARVALHO, Cícero Péricles de. Formação Histórica de Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 240-245. 64 QUEIROZ, Álvaro. Clero e Política nas Alagoas . Maceió: Gráfica Bom Conselho, 1996. p. 24. 65 Idem., p. 26.

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Contudo, outra ala da Igreja romana se incomodava com a ingerência política

do governo imperial nos assuntos eclesiásticos. Nesse aspecto, a República

ofereceu à Igreja uma liberdade de ação administrativa e eclesiástica reclamada por

parte dos seus representantes desde o Império66.

Com a instauração do regime republicano, o episcopado brasileiro, em um

primeiro momento, ficou atônito com o desamparo oficial ao catolicismo. Porém com

o passar do tempo foi percebendo os benefícios da sua autonomia perante o novo

modelo estabelecido de laicização do Estado67.

Ainda segundo Queiroz (2015) os ventos que sopravam fortemente frente à

mudança do regime político no Brasil, acelerou nas decisões do sumo pontífice

romano na criação de novas dioceses. Ainda em 1897, o Papa Leão XIII, por meio

da bula Ad universas orbis ecclesias reordenou a divisão administrativa eclesiástica

no Brasil. Passando de uma para duas províncias eclesiásticas, uma no norte, com

sede em Salvador, e outra no sul, sediada no Rio de Janeiro. Na mesma bula, erigiu

mais cinco novas dioceses: Amazonas, Paraíba, Niterói, Curitiba e Espirito Santo68.

Essas decisões do papa para com a Igreja no Brasil impressionaram a todos,

gerando muitas expectativas em uma população que, majoritariamente, professava a

fé católica. Ficou, então, evidente, que essa sociedade, historicamente moldada pelo

catolicismo, mediante anseios terrenos e genuínos desejos de amparo espiritual,

necessitava de pastores.

Queiroz (2015) afirma que essa expansão administrativa da estrutura

eclesiástica da Igreja no Brasil, despertou e provocou a comunidade católica

alagoana a se empenhar na implantação de uma diocese no estado. Logo formou-se

uma Comissão Central do Patrimônio da Igreja, presidida pelo Pe. José Vieira

Marques e por outras figuras consideradas ilustres da sociedade alagoana, entre

outros representantes do clero local.

Outras subcomissões foram criadas por representantes dos diversos

segmentos da sociedade, funcionários públicos estaduais e federais, exército,

comerciantes, comerciários e artistas69. Essas organizações se espalharam pelos

municípios do estado, levantando fundos para garantir uma campanha sólida em

66 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 161-165. 67 Idem., p. 161-162. 68 Idem., p. 161-163. 69 Idem., p. 162-165.

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favor da implantação do bispado. D. Antônio Brandão prelado alagoano à frente do

episcopado do Pará, fez campanha apoiando a reinvindicação dos alagoanos.

A atuação oficial, por parte do governo estadual, chamou bastante a atenção,

intermediando e enviando projeto de lei para a Assembleia Legislativa, no intuito de

oferecer as condições materiais e financeiras para a implantação da Diocese. É

interessante observar que vigorava o regime republicano, no preceito do estado

laico, com uma legislação federal que proibia a subvenção a quaisquer

congregações religiosas70.

Ocupava a cadeira de governador de Alagoas, em 1898, Manoel José Duarte,

que enviou a seguinte mensagem para a Assembleia Legislativa, no dia 19 de abril

de 1898:

Associando-me ao empenho da população, que é totalmente católica, em obter a criação do bispado de Alagoas, vos proponho, que, deduzida as despesas, concedais o produto de venda, arrendamento, ou aforamento de terras devolutas para fazer o patrimônio do mesmo bispado (DUARTE apud QUEIROZ, 2015, p. 162)

A resposta do parlamento estadual ocorreu naquele mesmo ano, aprovando e

promulgando Lei de 9 de junho de 1898, através da qual concedia o produto da

venda, arrendamento e aforamento de terras devolutas para constituição dos

proventos e do patrimônio da futura diocese71.

Segundo Queiroz (2015), as ações em caráter oficial do governo de Alagoas,

para a implantação do bispado, continuaram incisivamente. O governador agiu

pessoalmente: articulando-se junto ao representante da Santa Sé, na época,

expressou, enquanto chefe de governo e representante de Alagoas, as enormes

expectativas e aspiração, sua e dos católicos, pela implantação da sede diocesana

nas terras caetés72. Numa nova mensagem à Assembleia, o governante assim se

posicionou:

Sendo a criação do bispado de Alagoas uma forte aspiração do povo alagoano, logo que foi promulgada a lei de 09 de junho do ano passado, que providenciou sobre a instituição do patrimônio do bispado e cedeu um dos próprios estabelecimentos para servir provisoriamente de palácio episcopal, dirigi-me ao Internúncio Apostólico no Rio de Janeiro, Monsenhor José Macchi, no sentido de

70 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 161-165. 71 Idem., p. 162. 72 Idem., p. 162-163.

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ser solicitada ao Santo Padre a bula de criação da nova diocese (DUARTE apud QUEIROZ, 2015, p. 163).

Houve questionamentos, da parte da nunciatura apostólica para o

governador, referente às questões estruturais e financeiras necessárias para o

funcionamento da sede episcopal73. A preocupação maior, da Santa Sé, era a

garantia de proventos para a instalação da futura sede administrativa eclesiástica,

bem como a de não expor o futuro prelado a situações vexatórias e,

consequentemente, a imagem da Igreja74. Ao governador restou a tarefa de explicar

e apresentar as garantias, detalhando sobre os trabalhos da comissão de patrimônio

para a diocese, das ações do próprio governo e do empenho da sociedade em

garantir os recursos financeiros e materiais.

O ano de 1900 foi, indiscutivelmente, um marco histórico para a população

majoritariamente católica de Alagoas.

A área territorial do estado de Alagoas será elevada à condição de diocese durante o pontificado de Leão XIII pelo decreto, com valor de Carta Apostólica, Postremis hisce temporibus, da Sagrada Congregação Consistorial, datado de 2 de julho de 1900.Desmembrado do “poder espiritual” da Diocese de Olinda, o estado de Alagoas, respeitada a sua área e limites, constituído, segundo dados apresentados pelo decreto, de 34 igrejas paroquiais e com uma população de 511.440 habitantes, é atribuído ao “Bispado de Alagoas” (MEDEIROS, 2007, p. 38).

Medeiros (2007), esclarece que o ocupante do cargo chefe do executivo

estadual que recebeu a jubilosa notícia da Santa Sé, foi o governador Euclides

Malta. Aqui merece o registro de que esse governante inaugurou um período

oligárquico que durou doze anos de governo de uma mesma família, ficando

conhecido como “Era Malta”. Euclides Malta adotou a mesma postura do seu

antecessor, colocando em prática as medidas administrativas e financeiras para a

implantação da Diocese.

Nessa empreitada religiosa e política, constatamos como, em Alagoas, nas

vésperas do século XX e no alvorecer do regime republicano, prevaleceram as

estreitas ligações entre a Igreja e o poder público. Esse expediente será comum, e

recorrente, em todas as paróquias das cidades alagoanas durante o século XX e até

os dias atuais. Salvaguardando-se as devidas proporções culturais e políticas do

século XXI. 73 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 163. 74 Idem.

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Nesse sentido:

A participação governamental na criação da Diocese de Alagoas, seja com os veementes pedidos à Santa Sé, seja com a contribuição financeira na constituição de seu patrimônio, é um bom indicativo das relações amistosas entre o Estado Republicano em Alagoas e a Igreja, sobretudo se considerada a proibição, pela Constituição de fevereiro de 1891 (art. 72, 7°), das subvenções ofi ciais a qualquer culto ou igreja, e mesmo das “relações de dependência ou aliança” destas com o Governo da União ou dos estados (MEDEIROS, 2007, p. 41).

Como bem informa Queiroz (2015), a sociedade maceioense e alagoana

testemunhou a nomeação do primeiro bispo diocesano, na pessoa de D. Antônio

Manuel de Castilho Brandão, prelado que era alagoano e se encontrava, conforme já

referido, à frente da Diocese do Pará. Através de decreto apostólico de 22 de junho

de 1901, o papa Leão XIII oficializou a titularidade de D. Antônio Brandão à frente da

Diocese das Alagoas.

A posse solene do primeiro bispo ocorreu no dia 23 de agosto de 1901. O

comparecimento da alta sociedade alagoana, bem como a presença maciça da

população maceioense, ilustra o prestígio da Igreja católica e o significado político

do evento religioso75. D. Antônio Brandão desembarcou no porto de Jaraguá e foi

recepcionado, ao som dos hinos nacional brasileiro e de Alagoas, sendo prestigiado

pelas autoridades civis e militares, entre as quais o próprio governador Euclides

Malta, e os demais representantes dos poderes constituídos. O trajeto entre o porto

e a catedral de N. Sra. dos Prazeres foi totalmente ornamentado e tomado pelos

fiéis76.

A Santa Sé, atenta ao gesto político colocado em prática pelo governo de

Alagoas, na concretização da implantação da Diocese, logo enviou novas

mensagens e solicitou todo apoio material e auxílios adequados para que o bispo

recém-nomeado, e seus sucessores, pudessem “gozar da dignidade episcopal no

pastoreio do rebanho católico em Alagoas”:

Do Governo do estado de Alagoas, que tinha como governador à época Euclides Vieira Malta, a Diocese teria recebido para a constituição do patrimônio, cem contos de réis em apólices estaduais (MEDEIROS, 2007, p. 40).

75 QUEIROZ, Álvaro. Notas de História da Igreja nas Alagoas . Maceió: EDUFAL, 2015. p. 168. 76 Idem., p. 168-169.

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Sua Santidade deseja ardentemente e espera que o Governo do Estado de Alagoas e os fiéis dessa região cuja piedade é grandemente louvada, e em cuja promoção espiritual a Sé Apostólica se empenhou através da criação do Bispado, ofereçam generosamente auxílios adequados com os quais possam o novo Bispo e seus sucessores manter convenientemente a dignidade episcopal, prover oportunidade ao culto divino, às necessidades dos ministros sagrados e às obras diocesanas (QUEIROZ, 2015, p. 167)77.

Merece ênfase, o fato já referido de o governo de Euclides Malta ter

inaugurado a predominância de uma engenhosa oligarquia, o que, naqueles

turbulentos anos iniciais do regime republicano, acirrou ainda mais as disputas

locais. Seu governo e o do seu irmão foram marcados por ardilosas estratégias

políticas, pontuados por episódios que envolveram relações de poder, violência,

política e religião.

Pacificando os ânimos da classe agrária açucareira, evitando a polarização política entre grupos de Maceió e Penedo ou entre regiões, afagando os santuários intelectuais que são reduzidos mas têm ressonância, como o Instituto Histórico para quem adquiriu sede própria, velha aspiração daquela instituição cultural, dando permanente ajuda às instituições pias, aos asilos, santas casas de misericórdia, prestigiando sempre a Igreja Romana, principalmente na instalação do bispado, tão caro p ara a grande população católica , formando e fortalecendo um núcleo de imprensa situacionista para rebater os últimos bastiões da oposição e consolidando a aliança com os detentores do poder federal dentro do espírito da “política dos governadores”, Euclides Malta assegurou o comando indiscutível da política local, convertendo-se em verdadeira figura caudilhesca. [...] O povo, como sempre foi mantido afastado do centro das decisões e à força policial foram sempre oferecidas condições para manter a segurança e assegurar a estabilidade da estrutura oligárquica (TENÓRIO, 1997, p. 92). Grifo nosso.

Segundo Carvalho (2015) no contexto nacional da Política dos

Governadores78, Euclides Malta, que era genro do Barão de Traipu, manteve-se

alinhado ao governo central e dominou, juntamente com seus irmãos, em absoluto, a

política em Alagoas. O modo de agir da Era Malta significou o controle partidário, a

influência e o domínio, nas administrações municipais, do clientelismo, do nepotismo

e do paternalismo, resultando na anulação de qualquer projeto oposicionista. 77 Decreto consistorial apostólico da implantação da Diocese das Alagoas. Arquivo da Cúria Metropolitana de Maceió (ACMM). 78 Entende-se por Política dos Governadores, um acordo realizado durante os primeiros anos da República Velha (1890-1930), em que o Governo Federal apoiava os governos estaduais sem restrições e em troca, estes, fazendo uso de seus coronéis, elegiam bancadas pró-Governo Federal.

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O fim da Era Malta ocorreu com a sua deposição. As forças políticas

opositoras estimularam e organizam a Liga dos Combatentes Republicanos: uma

organização civil, com caráter miliciano, que invadiu o Palácio dos Martírios e

obrigou o governador a fugir. Eles acusavam o governador, Euclides Malta, de

manter estreitas relações de amizade com os pais e mães de santo, participando

dos cultos e fazendo oferendas aos orixás com o intuito de se perpetuar no poder.

A seguir transcrevemos um trecho de uma série de reportagens intituladas

“Bruxarias”, publicadas pelo Jornal de Alagoas, entre os dias 04 e 08 de ferreiro de

1912. O conteúdo dessas reportagens é resultado de uma vasta pesquisa

documental de Ulisses Neves Rafael sobre a Quebra de 1912. Fica evidente o tom

adotado para desqualificar o xangô e atingir o governador Euclides Malta.

Nas ocasiões em que frequentava aquela casa, Euclides Malta supostamente não aparecia na sala em que o resto da audiência permanecia. Segundo a crônica da época, havia um quarto reservado com exclusividade para essa autoridade onde, além dos serviços religiosos, outros favores menos sagrados lhe eram prestados. Dizem que, nesse quarto de mistérios, existia um altar velado por um cortinado de lençóis alvos, na verdade, uma cama confortável sobre a qual despencava languidamente um laço de fita vermelho preso no alto de uma cúpula repleta de ofás, disposta sobre a abertura anterior desse leito. O Dr. Euclides Malta, segundo as más línguas, dispunha, vez por outra, de uma filha de santo, na flor da idade, para o seu deleite, a qual era “sacrificada a Ali-babá”, o ídolo da animação e do prazer em forma de menino. Além dessa imagem, havia uma outra mais expressiva, coberta com um pano vermelho e cingida por colares, que presidia as obrigações luxuriantes (RAFAEL, 2012, p. 33).

O Livro “Xangô rezado Baixo: Religião e política na Primeira República”, de

autoria de Ulisses Rafael (2012) retrata com robustez o episódio trágico do “Quebra

dos Terreiros”, de 1912, trazendo à tona fatos reveladores: a presença negra na vida

social de Alagoas, as estreitas ligações com as maiores autoridades políticas do

Estado, tradicionalmente católico e conservador. Por outro lado, retratam com

fidelidade histórica as disputas políticas que levaram à perseguição de inúmeros

líderes religiosos dos terreiros de xangô em Alagoas naquele mesmo ano. “O

Quebra do 12”, como ficou conhecido, foi marcado pelo terror: houve

espancamentos, violência física, invasões e destruição de terreiros – em muitos foi

ateado fogo – e morte dos praticantes daquela doutrina religiosa de matriz africana.

No período em que se verifica a destruição das casas de Xangôs de Maceió, o terreiro supostamente frequentado por Euclides Malta era

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o da Tia Marcelina. Esse teria sido um dos primeiros focos das perseguições realizadas pela turba enlouquecida, ainda no primeiro dia de fevereiro, quando as suas instalações foram invadidas por mais de quinhentas pessoas, segundo o jornalista do Jornal de Alagoas que se encontrava no local, na ocasião. Foi num dos aposentos dessa casa, mais especificamente no que se convencionou chamar de Peji, que foram encontrados retratos que atestaram essa ligação entre o governador e os xangôs (RAFAEL, 2012, p. 129).

Essas relações estreitas entre a Igreja Católica e o Estado, que oficialmente

tinham sido extintas com a primeira Constituição republicana de 1891, perduraram

ainda com vínculos oficiais ao longo da primeira metade do século XX. Exemplos

não faltam, como ocorreu em Alagoas. Porém, a retirada do status da Igreja Católica

de religião oficial do país, abre espaço para atuação gradual e crescente de outras

doutrinas religiosas.

Guimbelli (2008) afirma que o término do vínculo jurídico entre a Igreja

Católica e o Estado brasileiro, abriu caminho para a autonomia eclesiástica do clero

católico. Porém, a laicização e sua consequente liberdade religiosa, facilitaram a

propagação de novas doutrinas, com destaque para o protestantismo. Por outro, a

Igreja católica soube se valer da sua histórica presença nas entranhas da sociedade

brasileira. Se articulou politicamente e, junto ao governo, conseguiu uma legislação

que favorecesse, ao máximo, sua influência na sociedade.

Ressaltamos que, a partir de então, a Igreja Católica passou a concorrer com

o protestantismo, que passou a gozar de liberdade religiosa. Os líderes e

representantes católicos se empenharam para obter algum tipo de reconhecimento,

por parte do Estado, da preeminência do catolicismo na constituição da

nacionalidade brasileira. E conseguiram.

Tais empenhos foram em parte recompensados no texto da Constituição de 1934, na qual, por exemplo, o ensino religioso é permitido e o casamento religioso volta a ter validade civil; além disso, o princípio da separação é temperado pela possibilidade de “colaboração” entre Estado e religiões (GIUMBELLI, 2008, p. 82).

A Igreja Católica, em uma perspectiva de articulação junto à sociedade,

inspirada pelo modelo da igreja italiana, criou o Movimento da Ação Católica

Brasileira. Seu precursor, no Brasil, foi o Cardeal Sebastião Leme, em 1935, no Rio

de Janeiro. O objetivo era o de formar leigos para colaborar com a missão da Igreja,

de "salvar as almas pela cristianização dos indivíduos, da família e da sociedade".

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O movimento foi adquirindo uma moldura social e solidária, não excluindo a

sua face proselitista. Como ficou conhecida, a Ação Católica se constituía de cinco

núcleos específicos: juventude agrária, estudantil, independente, operária e

universitária católica.

Segundo Queiroz (2015), em Alagoas, foi realizada, em janeiro de 1944, a

Semana de Ação Católica, liderada pelo bispo de Penedo e apoiada pelo arcebispo

de Maceió, D. Ranupho Farias e em 1945, foi oficialmente instalada, em toda a

Igreja Católica de Alagoas. O movimento teve uma grande repercussão em toda a

sociedade, por causa da adesão da juventude, das famílias e da classe média

católica, que contribuíam com recursos para os projetos assistenciais que atendiam

as famílias pobres e excluídas na periferia da capital e nos bolsões de miséria no

interior do estado.

A força da Igreja em todos os setores sociais era sentida também através da Ação Católica e dos Círculos Operários, que fugiam um pouco do modelo geral de pastoral de massas e atuavam mais diretamente nos diversos segmentos populares organizados [...].

Um padre culminou na política nessa era populista por sua palavra sempre eloquente e por seu estilo inconfundível – Luís de Medeiros Neto (QUEIROZ, 1996, p. 32).

Muitos leigos se encantaram com o espírito de renovação desse movimento,

instrumento que fez com que a Igreja saísse do interior de seus templos e chegasse

até as pessoas. Assim católicos que participaram do movimento despertaram para

além do espírito solidário cristão, e acordaram, enquanto agentes sociais, reforçando

a articulação e a presença política da Igreja na sociedade.

No século XX, coexiste, em Alagoas, uma sociedade aristocrática, com

famílias tradicionais de posses, ligadas às atividades agropecuárias, conciliando

com um segmento emergente nas camadas sociais: os profissionais liberais. Em tal

cenário, a Igreja Católica intensificou sua atuação junto à sociedade, por meio de

instituições educacionais, constituindo uma rede de ensino, em Alagoas, que atendia

a formação dos filhos da elite. Podemos destacar o Colégio do Santíssimo

Sacramento, fundado em 1904; Colégio Diocesano, atual Marista, fundado em 1904;

Colégio da Imaculada Conceição em 1915; Escola Nossa Senhora do Amparo, em

1932; Colégio Madalena Sofia, da rede Damas, em 1950, entre outras inúmeras

instituições católicas espalhadas pelo interior do estado.

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Assim, foi construída uma ponte sólida para o ensino superior e, como

resultado, surgiu uma gama de intelectuais e profissionais liberais, esses que serão

parte integrante da nova geração urbanizada. Muitos deles se destacaram nas

licenciaturas, nas letras, no direito, na medicina, na engenharia e em outras áreas.

Outros tantos se inclinaram à carreira política, atuando com vigor e retroalimentando

uma tríplice relação: poder público, Igreja e sociedade.

No que se refere às relações entre política e religião, nesses novos tempos da

República, em Alagoas, a Igreja Católica continuou a se fazer presente em todos os

municípios, num total de 102, seja direta ou indiretamente. O catolicismo está

representado nas igrejas, capelas, instituições educacionais, projetos sociais,

movimentos de evangelização e, acima de tudo, na profissão de fé e na cultura da

maioria dessa população.

Cabe aqui uma ressalva, não conseguimos, naturalmente, analisar a

densidade de fatos e acontecimentos históricos de Alagoas no período republicano,

particularmente na primeira metade do século XX. E claro, nos referimos de modo

particular às relações estreitas entre clérigos e a política. Há muito que pesquisar e

resgatar desse processo histórico, acontecimentos, ainda, por vezes, inexplorados

enquanto fontes primárias que sobreviveram ao tempo. Entre os quais, documentos

escritos oficiais e particulares, imagens, fotografias, vídeos e/ou testemunhos orais.

Como já foi apresentado, o nosso foco de investigação compreende o ano de

1990 a 2010. Isso não significa que este autor não reconheça a relevância de um

estudo adequado e com a profundidade que o tema e o período merecem. Porém, a

racionalidade nos convidou à realidade, que foi a de trabalharmos com as fontes e

recursos materiais disponíveis.

O tema não se esgota, ao contrário, entendemos que com essa pesquisa

contribuímos para o interesse daqueles que desejam caminhar pelo terreno fértil das

ciências da religião. Especialmente os estudos referentes à história da religião e da

política em Alagoas. Consideramos que no contexto das fontes bibliográficas e das

possibilidades materiais possíveis, apresentamos elementos e vestígios históricos

relevantes acerca do processo da formação histórica da sociedade alagoana, por

meio da história religiosa e política, dialogando assim com o tempo presente.

Nesse sentido, esclarecemos que no terceiro capítulo dessa pesquisa,

retomaremos algumas reflexões referentes ao poder político e as relações com os

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representantes das igrejas católicas e evangélicas, particularmente na segunda

metade do século XX, a partir dos anos de 1980. Assim sendo, dedicaremos nossas

considerações, com maior riqueza de detalhes e análise, sobre a chegada e a

presença das igrejas pentecostais em Alagoas, em virtude da ligação dessa corrente

com os personagens políticos contemporâneos foco da nossa pesquisa.

A seguir, no segundo capítulo daremos prosseguimento ao objeto de

investigação desse trabalho, direcionamos nossos esforços para compreender o

surgimento de novos atores políticos com origens e/ou estreitas ligações com a

igreja católica e igrejas pentecostais evangélicas, especialmente após a

redemocratização no Brasil na década de 1980.

Para tanto, refletimos as teorias, estudos e teses acerca do pentecostalismo,

neopentecostalismo e do movimento católico carismático, como também de seus

representantes/integrantes que cada vez mais disputam espaço na sociedade e na

política.

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2 REFLEXÕES SOBRE OS POLÍTICOS DE CRISTO E O VOTO R ELIGIOSO

NO BRASIL ATUAL

Ao longo desse capítulo, promovemos um diálogo com os principais teóricos

que, no Brasil, tratam da participação dos representantes do pentecostalismo

evangélico e dos carismáticos católicos, na cena política brasileira. A partir desses

referenciais, apresentaremos um panorama geral da presença desses políticos

religiosos no poder público institucionalizado, no contexto das profundas mudanças

no campo religioso brasileiro, compreendendo as décadas de 1980 a 2000 e suas

repercussões posteriores.

Com a redemocratização do país, a partir da década de 1980, novos atores

religiosos adentram o cenário político, propondo projetos de leis, representando suas

respectivas doutrinas, debatendo e propondo uma agenda política que os

represente. Em destaque, a disputa entre os evangélicos e os católicos na busca de

todos os espaços possíveis na sociedade.

Não se pode mais ignorar a visibilidade pública da religião na cena contemporânea. Quer no plano da cultura e do cotidiano, quer no da esfera pública e da política, os atores religiosos movimentam-se e trazem a público sua linguagem, seu ethos, suas demandas, nas mais diversas direções. Ora esses processos contribuem para caracterizar formas pluralistas e dialógicas de convivência e de enfrentamento de problemas sociais e políticos, ora apontam para o estreitamento dos canais de comunicação e para a escalada da violência e da intolerância. Em muitos países, organizações, movimentos e pessoas ligadas a diferentes religiões ocupam espaços de representação e de participação, em seu próprio nome ou como parte da sociedade civil organizada (BURITY, 2008, p. 84).

A inserção dos representantes e líderes religiosos, católicos e evangélicos, na

seara política, no Brasil, ganhou novos contornos a partir de 1980, o que foi

motivado por vários fatores. A sociedade brasileira estava iniciando um novo passo

com a redemocratização, o multipartidarismo, a intensificação do pluralismo religioso

e a inserção dos grupos neopentecostais, quando o mundo estava no auge da

globalização, as influências da pós-modernidade ficaram mais evidentes e a

inserção de novos atores religiosos na política.

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Segundo Burity (2001), essa arena política é resultado do recuo da influência

do catolicismo no espaço da sociedade, mas, acima de tudo, na política brasileira

após a segunda metade do século XX. Com o fortalecimento do Estado liberal, na

República, passando pelo período populista, a Era Vargas e chegando ao auge com

a ditadura. Todavia, o novo regime não permitiu protagonismos da Igreja Católica

nos espaços institucionalizados de poder.

Vale lembrar que essa mesma igreja apoiou, no início, os militares e,

posteriormente, liderada por uma ala progressista, padres e bispos promoveram

uma militância política intensa, denunciando o regime militar. As políticas públicas

adotadas durante a ditadura elegeram a elite como prioridade, foram beneficiados

segmentos da indústria, do latifúndio e do mercado internacional. A pobreza e a

exclusão social só aumentaram. A Igreja Católica passou a assistir o cansaço, o

descrédito e o desânimo de grande parte da sociedade brasileira com a política, com

o governo e, inclusive, com a religião. O catolicismo não mais conseguia cumprir seu

papel enquanto pilar de sustentação de fé e de esperança em um mundo melhor.

Desde o período da Ditadura Militar, os evangélicos vinham ensaiando uma

importante aproximação com o Estado brasileiro, pois tinham, em comum, um olhar

conservador79. Os líderes evangélicos pregam a palavra de Deus com autoridade,

enfatizando a célula da família como espaço de obediência. Por outro lado, foram

ganhando cada vez mais terreno no campo religioso brasileiro, por meio de uma

mensagem espiritual fervorosa e também com um forte trabalho assistencial junto às

comunidades mais pobres das periferias urbanas.

Nessa aproximação, o governo militar ganhou mais legitimidade junto à

população, visto que líderes evangélicos representavam grupos de adeptos que só

faziam aumentar no Brasil. Já os evangélicos pentecostais e neopentecostais

reivindicaram o reconhecimento do seu papel na sociedade. As instâncias do poder

público foram, então, vistas como portas interessantes para se afirmarem ainda

mais. Posteriormente ao fim do regime militar, os evangélicos, já interessados na

política, participaram, com vigor, da elaboração da Constituição de 1988. Uma nova

força surgiu, então: a dos neopentecostais. Os católicos, percebendo as perdas de

sua representação junto à sociedade brasileira, reagiram, estrategicamente,

lançando candidatos aos cargos públicos por meio dos seus representantes, 79 Disponível em http://perspectivahistorica.com.br/revistas/1434420486.pdf. p. 179. Revista Perspectiva Histórica, Julho/Dezembro de 2012, Nº3.

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sobretudo aqueles que tinham vínculos com a Renovação Carismática Católica

(RCC).

O surgimento das inúmeras agremiações partidárias, após o processo de

redemocratização do Brasil, significou uma participação mais plural dos diversos

segmentos da sociedade brasileira na política nacional. O grande número de

partidos que surgiu após a década de 1980, demonstra o mosaico de interesses e as

disputas de forças, dos mais diversos segmentos da sociedade exercendo seus

direitos políticos. Claro que incluindo aí os mais diversos interesses econômicos,

políticos e religiosos.

Porém, acima de tudo, o multipartidarismo político foi fundamental para a

legitimidade democrática, da qual depende o desempenho dos partidos, dos seus

representantes e, principalmente, dos governantes eleitos por intermédio deles. É

visível que, no caso brasileiro, cidadãos e partidos necessitaram consolidar os

mecanismos democráticos, por meio de uma distribuição da representação política

proporcional à complexa realidade dos diversos segmentos da sociedade brasileira.

O fato considerável é que, com a redemocratização, esse multipartidarismo passou

a vigorar, e iniciou uma nova etapa na história política nacional. Dali em diante,

novos segmentos passaram a ter representação nos espaços de poder

institucionalizados.

Os partidos políticos são instituições que buscam o poder político, competem entre si por votos e apoio político, organizam a competição eleitoral por meio da integração e mobilização do eleitorado e dão inteligibilidade ao sistema político-eleitoral. Além desses fatores, as agremiações partidárias são cruciais na formação e sustentação de maiorias governantes, na organização do processo legislativo, no recrutamento de lideranças e na canalização de demandas sociais em políticas públicas. E, por último, mas não de somenos importância, são canais de ligação entre os cidadãos e o Estado (FERREIRA, 2002, p. 35).

A institucionalização da democracia, no Brasil, passou, inevitavelmente, pelos

partidos políticos enquanto instâncias de representação dos diversos setores da

sociedade brasileira na seara do poder político. O protagonismo dos partidos

políticos, na esfera governamental, no regime democrático, constitui um poderoso

instrumento de representação social coletiva. O país passou a conviver, sem

sobressaltos, com consultas eleitorais regulares. Apesar do fato de esses partidos

não representarem, a contento, o complexo cenário da realidade social, política e

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cultural no Brasil, essas instâncias desempenham um papel decisivo, se articulando

com uma parcela significativa da nossa sociedade.

Apesar dos aspectos negativos que surgem do cotejo entre metas, ideais e a realidade do funcionamento dos partidos, o sistema partidário, ao longo dos últimos anos, vem apresentando melhores resultados no que tange à sua representatividade, à disciplina interna, à organização e principalmente ao funcionamento parlamentar. A continuidade do sistema democrático e a repetição das competições eleitorais, com menos intervenções externas ao sistema devem conduzir à sedimentação do multipartidarismo brasileiro (RODRIGUES, 2002, p. 194).

Em suas considerações, Mariano (2010), avalia que o pluralismo religioso,

resultado da nossa formação histórica, é um elemento relevante nas disputas, cada

vez maiores, por parte das religiões em busca de adeptos. Nesse cenário, surgiu um

novo modelo de interação entre os grupos religiosos, mesmo expressando poderes

desiguais no campo religioso. Surgiu, assim, uma nova forma de interação na qual

tende a prevalecer a concorrência aberta entre as diferentes instituições religiosas,

isto é, tende a vigorar uma situação de mercado ou de competição por adeptos,

recursos, poder, privilégios entre outros.

Ainda segundo Mariano (2010), o pluralismo religioso, no Brasil, tem

funcionado como o motor da concorrência entre as religiões e, consequentemente,

tem contribuído para transformar, igualmente, a relação dos grupos religiosos com a

esfera pública, despertando seus representantes para a inserção no espaço político

institucionalizado. Impulsionadas por seu crescente poderio religioso e demográfico,

sobretudo as congregações e igrejas pentecostais, abandonaram os habituais

apoliticismos80 e distanciamentos dos meios de comunicação de massa e passaram,

então, a instrumentalizar-se para participar da política partidária, a partir das últimas

décadas.

É inconteste que merece nossa atenção a pluralidade religiosa no Brasil,

marcado, em sua história, pela presença dominante do catolicismo romano, ao longo

dos séculos de colonização, embora convivendo, desde o início, com a presença da

matriz religiosa africana e com as contribuições da religiosidade politeísta dos

indígenas, às quais se juntaram, depois, os evangélicos, que chegaram em

diferentes períodos da nossa história, com as suas mais variadas correntes, das 80 Apoliticismo in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2017. [consult. 2017-03-05 23:16:36]. Disponível em https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/apoliticismo

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quais citamos o protestantismo histórico81, o pentecostalismo82 e

neopentecostalismo83.

Esse pluralismo religioso impulsionou os representantes católicos e

evangélicos ao ativismo político, como instrumento de afirmação da esfera religiosa

na sociedade. Passaram a enfrentar os concorrentes religiosos e a combater os

posicionamentos antagonistas laicos, bem como a defender e promover seus

interesses institucionais, seus valores e sua moral tradicionalista nos legislativos e

nos meios de comunicação de massa.

No caso brasileiro, a ampla liberdade religiosa resultante da secularização do Estado está na raiz da desmonopolização religiosa, da formação e expansão do pluralismo religioso e, por consequência, do acirramento da concorrência religiosa. Isto é, a concessão de liberdade religiosa e a separação Igreja-Estado romperam definitivamente o monopólio católico, abrindo caminho para que outros grupos religiosos pudessem ingressar e se formar no país, disputar e conquistar novos espaços na sociedade, adquirir legitimidade social e consolidar sua presença institucional. Fenômeno que não ocorreu do dia para a noite, mas paulatinamente e aos tropeços (MARIANO, 2013, p. 112).

Consequentemente, esse ativismo religioso, político e midiático, repercutiu no

alcance do poder institucional, exercendo maior influência sobre questões de seu

81 Compreende aquelas denominações resultantes das atividades missionárias no Brasil, desde o início da segunda metade do século XIX, incluindo uma vertente do protestantismo de imigração como os luteranos e anglicanos e também por missionários metodistas, presbiterianos, congregacionais e batista transplantados dos Estados Unidos e da Inglaterra. Eram portadores de uma mensagem de "conversão", extremamente austeros e conservadores nos rituais, dogmas e interpretação dos evangelhos o que implicava em uma relativa ruptura com a cultura latina e católica. Revista Horizonte, Belo Horizonte, v. 9, n. 22, p. 504-533, jul./set. 2011 - ISSN: 2175-5841 82 É um movimento de renovação que dá ênfase especial à experiência direta e pessoal com o Espírito Santo. Surgiu nos Estado Unidos a partir dos séculos XVIII e XIX, e atingiu com vigor o século XX, já chegando em outros países. Para os cristãos, este evento comemora a descida do Espírito Santo sobre os seguidores de Jesus Cristo. Pentecostais tendem a ver que seu movimento reflete o mesmo tipo de poder espiritual, estilo de adoração e ensinamentos que foram encontrados na Igreja primitiva. No início do século XX, o pentecostalismo passou a enfatizar o batismo no Espírito Santo como revestimento de poder, as línguas estranhas como evidência da manifestação do Espírito Santo no crente. Disponível em: http://www.ultimato.com.br/file/capitulos/Pentecostalismo-leia.pdf 83 O neopentecostalismo ou terceira onda do pentecostalismo é um movimento dissidente que congrega denominações oriundas do pentecostalismo clássico ou mesmo das igrejas cristãs tradicionais como os batistas, metodistas, entre outras. Possuem um perfil teológico do reavivamento, do fervor da fé e da ação do espírito santo, de uma vida em comunhão com Deus, com contexto de suas realidades materiais e conflitos existenciais. Surgiu na década de sessenta, do século XX, nos Estados Unidos. No Brasil, são representantes dessa corrente a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus, a Igreja Renascer em Cristo, a Igreja Mundial do Poder de Deus, a Sara Nossa Terra, entre outras. MARIANO, Ricardo. Neopentecostais : Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil. Revista Compromisso, 1º trimestre de 2003, págs. 79-80.

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interesse. Fica evidente que a desprivatização do religioso, resultou em uma

presença cada vez maior de representantes religiosos na política partidária e na

esfera pública. Essa disposição dos políticos religiosos em ampliarem sua

participação e poder político foi interessante para os setores conservadores da

sociedade e do sistema político brasileiro, pois possuem objetivos comuns.

Outro ingrediente interessante no campo religioso está relacionado à

modernidade84. A dinâmica do capitalismo globalizado, o desenvolvimento

econômico, científico e tecnológico, o mundo midiático, ultrapassou as fronteiras

políticas e culturais locais. O indivíduo passa a receber um conjunto de informações

variadas, em uma velocidade nunca antes vista, sendo levado a constantes

mudanças nos seus conceitos e na sua forma de enxergar o mundo. Assim sendo,

instituições historicamente consolidadas, como o Estado, a Igreja, a família, as

escolas, entre outras, passaram a ter seus modelos estabelecidos questionados.

Todo esse processo de mudanças atingiu o campo religioso brasileiro. A

modernidade passou a influenciar a maneira como muitos fiéis olhavam para o

interior da Igreja, ao avaliarem o papel das instituições em suas vidas, refletindo

sobre sua própria experiência de fé, seus sentidos e significados.

Cabe destacar, ainda, em relação à crise da Modernidade, que seus efeitos diretos na esfera político-econômica mundial que ficaram conhecidos como globalização – ou mundialização –, também se estenderam para outras dimensões da realidade social, particularmente no seio das camadas populares das nações periféricas. As transformações no perfil das religiões, bem como as mudanças de comportamento verificadas entre os religiosos brasileiros, mais particularmente os evangélicos pentecostais e neopentecostais, corroboram, assim, a ideia de um esgotamento da capacidade do Estado em prover condições mínimas de sobrevivência para as populações mais carentes economicamente e, na mesma medida, uma progressiva desilusão dessas populações com a democracia e com os atores políticos. Dessa forma, essas camadas populacionais vêm sendo seduzidas por promessas de ascensão social imediata e sem esforços através de uma relação utilitarista e mercadológica com o Divino (SANTOS, 2009, p. 3).

84 A ideia de modernidade substitui Deus no centro da sociedade pela ciência, deixando as crenças religiosas para a vida privada. Não basta que estejam presentes as aplicações tecnológicas da ciência para que se fale de sociedade moderna. É preciso, além disso, que a atividade intelectual seja protegida das propagandas políticas ou das crenças religiosas, que a impessoalidade das leis proteja contra o nepotismo, o clientelismo e a corrupção, que as administrações públicas e privadas não sejam instrumentos de um poder pessoal, que vida pública e vida privada sejam separadas, assim como devem ser as fortunas privadas do orçamento do Estado ou das empresas. TOURAINE, Alain. Crítica da modernidade, Trad. Elia Ferreira Edel. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 18.

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Posteriormente, e de maneira avassaladora, as influências da pós-

modernidade85 na vida das pessoas, levaram-nas a questionar e ressignificar tudo

que se encontrava ao seu redor. Esse novo fenômeno pode ser compreendido como

um conjunto de conceitos flutuantes que derivam da sociedade moderna e

globalizada, que se redefinem conforme a velocidade das informações que transitam

a todo o momento e atingem o mundo inteiro. Tudo isso possibilitou ao fiel a

experiência de novos conteúdos religiosos, o acesso a novos sistemas de crença,

que podem tanto fazê-lo perceber a religião tradicional como apenas mais uma entre

as demais, quanto lhe abrir um leque de ressignificações e de trocas simbólicas

impulsionadas pelas experiências da vida cotidiana. Todo o processo culminando

em uma autopermissão para vivenciar novas experiências, inclusive as religiosas.

A partir desses episódios, o campo religioso brasileiro dinamizou-se e

acirrou-se, o que conduziu a sua maior diversificação. Considera-se, nesse sentido,

que, em boa parte, o sucesso do protestantismo, presente no Brasil, está assentado

em um modelo teológico do reavivamento ocorrido nas igrejas da Europa e dos

Estados Unidos, no século XIX.

Nesse cenário da diversidade religiosa, as identidades foram se delineando a

partir de negociações, tendo como principal critério a conversão, na qual o indivíduo

é levado a enxergar o seu sentido de vida e existência dentro de um corpo

doutrinário, tido como verdadeiro e absoluto. Assim, milhares de brasileiros,

desiludidos com sua doutrina de origem, ou com a da tradição da sua família, sem

esperanças em um mundo ausente de políticas públicas eficazes, vivendo em

condições materiais precárias ou, ainda, em situações particulares em que as suas

religiões já não traziam sentido nenhum as suas vidas. Portanto é nesse caos

existencial que as pessoas passam a cada vez mais a buscar ressignificações para

suas vidas através de outras experiências religiosas. A teologia pentecostal traz uma

mensagem de alento, de renovação, de renascimento por meio da graça 85 Pós-modernidade é o estado ou condição de ser pós-moderno em reação àquilo que é moderno. Na concepção de que a modernidade compreende um período ou condição largamente identificado como Era Progressiva, a Revolução Industrial, ou o Iluminismo. A pós-modernidade refere-se ao estado ou condição da sociedade existir depois da modernidade, uma condição histórica que marca os motivos do fim da modernidade. Essa utilização é atribuída aos filósofos Jean-François Lyotard. Lyotard entendeu a modernidade como uma condição cultural caracterizada pela mudança constante na perseguição do progresso. Disponível em http://reverbe.net/cidades/wp-content/uploads/2011/aulas/pos-modernidade.pdf ADELMAN, Miriam. Visões da Pós-modernidade: discursos e perspectivas teóricas. Sociologias, Porto Alegre, ano 11, nº 21, jan./jun. 2009, p. 184-217.

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extraordinária do espírito santo. É inegável que essas Igrejas despertem um

sentimento de esperança e uma energia renovadora naqueles indivíduos que

padecem das mais graves carências materiais, emocionais e existenciais.

Nesse mundo ilusório sonhos foram destruídos, modelos alternativos de

sociedade foram abandonados. No lugar da prometida felicidade, agravaram-se os

problemas da humanidade, e os contrastes se tornaram mais agudos. A velocidade

dos acontecimentos na sociedade contemporânea, no último século XX e atual, deu

asas ao sonho capital de transformar o mundo em um imenso supermercado global,

em tese, a tecnologia avançada garantiria a produção infinita de mercadorias e o

mercado regido pela competição livre e sem fronteiras com a globalização,

asseguraria a nova ordem mundial, a paz e a felicidade86. Nesse mundo ilusório

sonhos foram destruídos, modelos alternativos de sociedade foram abandonados.

Todavia, em lugar da prometida felicidade, agravaram-se os problemas da

humanidade e os contrastes se tornaram mais agudos87.

O retorno à face do sagrado vem acontecendo com vigor a partir da segunda

metade do século XX até os dias atuais. Nos olhares das pessoas que revelam um

misto de alegria e tristeza, verifica-se a transitoriedade, o ritmo veloz e instável da

sociedade do materialismo e do artificialismo. Não raro constatar, um grande número

de jovens oriundos de famílias cujos vínculos já estão destruídos ou se tornam cada

vez mais tênues. Em outros casos situações precárias como salário insuficiente,

desemprego, doenças, violência, mortes prematuras e a angústia de uma vida sem

expectativas, sem sonhos88.

Nesse mundo de desilusão a fragilidade dos vínculos com a própria

comunidade de fé, a passagem frequente de um credo a outro, a facilidade em

misturar religiões e formas de culto, atribuindo a todas, igual valor e compondo,

muitas vezes, com esses retalhos, uma forma própria de pensar e viver a religião89.

Oposto a isso, não é raro notar posições fundamentalistas, radicais e até

discriminatórias, como pessoas que afirmam com absoluta segurança: “único e

verdadeiro é o meu Deus e a minha religião”. Há uma penetração muito vasta das

novas formas do pentecostalismo protestante, do neopentecostalismo católico por

86 Disponível em https://www.paulinas.org.br/dialogo/?system=paginas&action=read&id=7327 87 Idem. 88 Idem. 89 Idem.

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meio da Renovação Carismática. Não excluindo aí centenas de outras doutrinas nas

prateleiras do mercado da fé, com o crescimento do islamismo, o kardecismo e as

religiões afro no Brasil. No caso do campo religioso brasileiro, ocorre uma

predominância entre os cristãos católicos e evangélicos. A mudança ou a busca da

religião por respostas e soluções para as angústias terrenas também ocorre na

seara política. Portanto, vamos dedicar atenção aos caminhos percorridos pelos

protestantes históricos, pentecostais, neopentecostais e carismáticos católicos no

mercado da fé e no mundo da política no Brasil.

É importante destacar que os adeptos do protestantismo histórico detinham

uma visão liberal da sociedade, defendiam a liberdade religiosa, eram inclinados à

ideia do progresso por meio do trabalho, considerado um instrumento edificante para

transformar as vidas das famílias. Porém, esses crentes não eram engajados

politicamente nas estruturas partidárias. Não existia uma articulação política formal

desses grupos evangélicos.

O Protestantismo, contudo, apesar de minoritário, era ativo, e seus projetos de transformação social, retoricamente expresso ou não, se inspiravam em alguns ideais dos norte-americanos, tais como liberdade de consciência, separação entre Igreja e Estado e forma republicana de governo. Deve-se registrar também que, por meio do proselitismo, o Protestantismo tornava os novos convertidos praticantes muito mais de um misticismo voltado à rejeição do mundo do que de uma utopia transformadora da sociedade política e da cultura. Nesse sentido, para se usar uma terminologia de Louis Dumont (1991:35ss), o Protestantismo da segunda metade do século XIX gerou, a princípio, no Brasil, “indivíduos-fora-do-Mundo”, para tão somente décadas mais tarde dar origem ao que o Calvinismo fez surgir na Europa e nas colônias inglesas da América do Norte, o “indivíduo-no-mundo” (BURITY (org.), 2006, p. 31).

Esses adeptos do protestantismo estão voltados para uma experiência

individual com Deus, visto que as coisas do mundo não lhes oferecem nada, pois

estão contaminadas com a ambição e os pecados humanos. O rebanho era

orientado a viver uma vida de resiliência e fé. O mundo contaminado da política não

era visto como possibilidade e espaço possível para a transformação da vida dessas

pessoas.

Porém, apesar dos avanços na mentalidade protestante brasileira, a prática religiosa cotidiana dos convertidos no interior do país preservava tendências de negação do mundo e da sociedade. Até porque a conversão ao Protestantismo implicava no rompimento de todas as amarras sociais e políticas, cujo cimento eram as representações simbólicas do passado expressas na religião de seus

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antepassados – o Catolicismo. Resultaram disso posturas escapistas e sectárias, desenvolvendo-se uma mentalidade que acreditava ser possível a fuga e a negação da sociedade, uma tendência que se tornou mais acirrada quando da chegada de missionários presbiterianos, batistas e metodistas oriundos do Sul dos Estados Unidos, que já tinha sido derrotado pelo Norte “progressista” e “liberal”. Para alguns desses missionários, ainda decepcionados com as repercussões políticas da ação das Igrejas protestantes naquele País, antes, durante e depois da Guerra da Secessão, o verdadeiro Cristianismo não deveria se preocupar com coisas da terra e, sim, conforme nos mostra Antônio Gouvêa Mendonça, com a salvação individual da alma e a espera da Canaã celestial, isto é, do “celeste porvir” (BURITY (org.), 2006, p. 33).

Porém, algumas lideranças das igrejas ligadas ao protestantismo histórico

ingressaram na política brasileira, ainda na primeira metade do século XX. Esses

políticos evangélicos não tinham suas carreiras vinculadas exclusivamente as suas

congregações e nem sempre contavam com apoio financeiro ou institucional, de

maneira sistemática. A carreira política era um protagonismo mais pessoal, e eles

agiam conforme suas consciências e interesses. Não eram subordinados as suas

doutrinas religiosas.

Porém, a maioria desses políticos foi eleita em função do capital econômico ou simbólico acumulado por suas famílias ou por eles mesmos. Muitas deles eram protestantes de segunda ou de terceira geração, filhos de famílias que se destacaram por serem fazendeiros ou novos ricos oriundos do comércio, pessoas que podiam dar uma educação superior aos seus filhos. Cabe também ressaltar que não havia ainda estratégias corporativistas, fundamentadas em condições objetivas de que os evangélicos poderiam eleger os seus representantes, embora já houvesse em alguns a aspiração política (CAMPOS, 2002, p. 3).

O próprio Campos (2002) faz numerosas referências a políticos evangélicos

que mais se destacaram. Em 1902, Francisco Augusto Pereira, um rico fazendeiro

de café, convertido ao presbiterianismo, foi prefeito de Lençóis Paulista (SP);

Ernesto Luiz de Oliveira, engenheiro e pastor da Igreja Presbiteriana Independente,

em Curitiba, foi Secretário da Agricultura do Paraná; Luiz Alexandre de Oliveira,

batista, foi deputado federal por Mato Grosso; o Rev. Antonio Teixeira Gueiros,

pastor da Igreja Presbiteriana, foi vice-governador do Pará, tendo a família Gueiros

obtido enorme prestígio político em vários estados nordestinos, até os tempos da

ditadura militar (1964-1985); o ex-pastor presbiteriano e batista, Ephigênio de Sales,

foi governador do Amazonas e senador; João Café Filho, vice-presidente de Getúlio

Vargas, em 1954, era filho de presbiterianos independentes do nordeste brasileiro;

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Natanael Cortez, pastor presbiteriano e rico fazendeiro, no Ceará, ocupou

importante papel na política daquele estado; do Rio Grande Sul, da Igreja Metodista

Central de Porto Alegre, despontou para a política o jovem engenheiro Leonel

Brizola. Em São Paulo, no final dos anos 40, surgem, na Câmara Municipal, nomes

de evangélicos que depois se tornariam conhecidos como deputados estaduais ou

federais, entre os quais Camilo Ashcar e Lauro Monteiro da Cruz.

Pelo exposto, fica evidente que, para os evangélicos, naquele período, não

existia ainda uma ação sistemática, das congregações religiosas, estruturada em

organizações partidárias. Muitos dos políticos religiosos construíram suas carreiras

sustentadas no protagonismo próprio. Atuavam mais alinhados aos seus partidos, do

que declaradamente articulados aos valores doutrinários das suas congregações

religiosas.

A dinâmica de adesão ao pentecostalismo contribuiu, de alguma forma, para

o rompimento com o universo tradicional do catolicismo e das religiões afro-

brasileiras; aliás, essas últimas, à luz das persuasivas pregações evangélicas feitas

em discursos que, através da mídia, notadamente nas comunidades carentes das

periferias das metrópoles, passaram a representar uma vida pregressa que era,

muitas vezes, demonizada. Assim, a nova vida do crente passou a constituir-se uma

oposição à vida antiga90.

O processo inclui arrependimento e conversão, bem como adesão a um novo

estilo de espiritualidade e a uma sociabilidade na qual o fiel torna-se, imediatamente,

um irmão. O pentecostalismo se apresenta como extraordinariamente novo, em

oposição ao que acontece nas estruturas muitas vezes anônimas do universo

religioso católico tradicional. Se antes a pessoa era apenas mais uma na multidão,

com a pertença pentecostal, passa a ser vista, identificada pelo seu papel; dessa

forma, ela assume um lugar social em um grupo que crê e se comporta de modos

determinados91.

Os evangélicos pentecostais e neopentecostais, a partir da década de 1980,

revolucionaram com a adoção de um modelo de evangelização que chega aos

lugares que a Igreja Católica não conseguiu atingir, ou não ofertou uma assistência

espiritual suficiente. Nesse cenário, os evangélicos avançam, saindo do interior dos

90 JÚNIOR, Arnaldo Érico Huff. Campo religioso brasileiro e história do tempo pres ente . P.3-5. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ceru/article/viewFile/11857/13634 91 Idem.

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templos e chegando até as pessoas, nas periferias das cidades e nas comunidades

mais carentes espalhadas pelo país afora. Nesse sentido, o campo religioso

brasileiro, que antes era majoritariamente dominado pela Igreja Católica, passou por

uma diversificação que incluiu novas experiências e vivências doutrinárias da fé

cristã.

No pentecostalismo brasileiro podemos destacar uma primeira geração, que

chegou no início do século XX, representada pelas Igrejas Assembleia de Deus e

Congregação Cristã do Brasil. Uma segunda geração, a partir da década de 1950, a

exemplo da “Igreja Quadrangular”, do “Brasil para Cristo”, “Casa da Benção” e “Deus

é Amor”; e uma terceira geração, que surgiu entre os anos de 1970 e 1990, na qual

se destacam a “Igreja Universal do Reino de Deus”, e sua dissidente, a “Igreja

Mundial do Poder de Deus”. Seguindo o pensamento de Freston (1993), verifica-se

que, até a década de 1980, as congregações evangélicas estavam mais

preocupadas com seus projetos evangelizadores, buscando ocupar os espaços

possíveis, na TV, no rádio, nas praças, nos púlpitos entre outros. Estavam em

questão, os meios de comunicação necessários à propagação dos seus respectivos

projetos evangelizadores. Portanto, o pentecostalismo e o neopentecostalismo

ampliaram sua presença, com um modelo de evangelização que afirma renovar,

salvar e libertar todos aqueles que sofrem de males materiais e espirituais. Passava,

assim, a atingir grandes parcelas da população, antes desprovidas de assistência

espiritual e que, excluídas, vivenciavam, além da pobreza material, um vazio

espiritual oriundo do seu desencantamento com o mundo. Isso significa dizer que,

famílias inteiras, com problemas econômicos, sociais e emocionais, entre outros,

passaram a contar com uma assistência espiritual, muitas vezes acompanhadas de

projetos assistenciais originados naquelas igrejas evangélicas.

Além disso, os cultos evangélicos adotaram celebrações dinâmicas, com

pregações e discursos fervorosos, interpretando o evangelho com uma mensagem

persuasiva, se utilizando de um tom emocional eficaz para aquele momento em que

o crente se encontra na casa de Deus. Outra novidade foi o recurso à dimensão

musical: hinos de louvor, música gospel, coreografias ensaiadas, ambiente festivo

de adoração ao senhor. Nesse aspecto, os evangélicos foram bem-sucedidos,

conseguiram arrebanhar um grande número de fiéis, alcançando idosos, adultos e

jovens.

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2.1 Os evangélicos na política brasileira após a Constituição de 1988

A entrada dos evangélicos na política partidária brasileira está diretamente

ligada com a redemocratização, que ocorreu após o último governo militar, do

General João Batista Figueiredo, encerrado em 1985. Foi José Sarney quem

assumiu o governo e conduziu o país para a transição democrática. Gradativamente,

a elite brasileira adotou algumas medidas para levar o Brasil à condição de

democracia liberal. Entre elas, a liberdade de expressão política, o multipartidarismo,

mais liberdade religiosa, anistia aos presos políticos, eleições livres e diretas para os

cargos públicos, permissão para as classes trabalhadoras se organizarem e

constituírem sindicatos.

Para a formalização do regime democrático, foi convocada uma Assembleia

Nacional Constituinte, composta por deputados e senadores, e presidida por Ulisses

Guimarães. A nova Constituição Federal foi promulgada em 1988. Os evangélicos

atuaram na constituinte junto ao “Centrão” – grupo de parlamentares do PMDB, PFL,

PDS e PTB – reunidos em uma ala mais conservadora, que conseguiu influenciar

em muitos dos resultados da redação final da nova carta magna92. Os evangélicos

objetivavam garantir, na legislação, instrumentos legais para a sua atuação no

contexto da sociedade brasileira.

Sobre a participação dos evangélicos na política, no período da

redemocratização do Brasil, Machado (2006) indica que essa participação se

intensificou durante a Constituinte de 1988. Ela descreve:

Segmento com discreta atuação no cenário político até os anos 1970, os evangélicos ganharam visibilidade durante a Assembleia Constituinte de 1988, quando a maioria de seus representantes se posicionou de forma alinhada nas discussões parlamentares, atuando como uma bancada religiosa, mais precisamente evangélica. As investigações sobre a inserção eclesial e o comportamento dos atores religiosos naquele contexto destacavam o fisiologismo, o conservadorismo e o corporativismo dos evangélicos, mas também a debilidade das teses do apoliticismo dos setores pentecostais, que constituem a maioria dos fiéis desse universo religioso (MACHADO, 2006, p. 17).

92 SIQUEIRA, Neusa Valadares. Laicidade e confessionalismo no processo constituci onal de 1988. P. 63-64. Disponível em: http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/bitstream/tede/870/1/NEUSA%20VALADARES% 20SIQUEIRA.pdf

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Porém, a partir da efervescência do pentecostalismo, os representantes

dessas igrejas passaram, cada vez mais, a se fazer presentes no espaço político.

Esses candidatos buscavam chegar aos cargos públicos para, por meio da

legislação, obter as garantias necessárias de atuação das suas congregações

religiosas.

Depois dessas primeiras gerações de “políticos evangélicos”, uma nova leva de políticos eleitos pelos protestantes seriam eleitos para a Constituinte de 1986, os quais foram estudados por Paul Freston (1994;1993). Dentro desse grupo houve alguns parlamentares evangélicos de esquerda, entre outros, Lysânias Dias Maciel e Benedita da Silva. Porém, focalizamos aqui, não os antigos “políticos evangélicos” e, sim, os políticos de nova geração, dos anos de 1990, cuja performance, atuação e discurso de legitimação passaram a se valer de uma “escolha divina” intermediada pela Igreja. São para esses políticos que temos reservado o nome de um tipo ideal: os “políticos evangélicos” nasceu em um contexto de um explosivo crescimento pentecostal no Brasil, o que fez os evangélicos pentecostais saírem do território marginalizado em que se situavam, para assumirem uma atuação mais sistemática e calculista tanto no espaço público como no campo político (BURITY, 2006, p. 46).

As igrejas pentecostais e neopentecostais passaram a apresentar o maior

número possível de candidatos para os cargos legislativos – os mais cobiçados –,

visto que as atribuições do legislador viabilizam caminhos para a apresentação de

projetos e propostas favoráveis aos anseios das comunidades evangélicas. Entre as

primeiras, estão as concessões de TV e rádio, pois por meio desses canais podem

gradativamente ampliar o alcance das camadas da sociedade. Os evangélicos se

articulavam com forças políticas que compartilhassem dos mesmos interesses,

geralmente com segmentos conservadores dos espaços legislativos, nas três

esferas de poder.

Para Freston (1993), essa prática corporativista ressalta que o fato de os

políticos de Cristo terem se articulado com as forças conservadoras, tinham por

interesse maior garantir o máximo de espaço possível nas diversas instâncias

públicas e, naquele momento, os veículos de comunicação eram a prioridade.

Concessões de TV e rádio têm sido importante moeda política, fruto do sistema político que incentiva a prática fisiológica e da lei da comunicação. A bancada evangélica ganhou pelo menos duas concessões de TV e sete de rádios. Em alguns casos, as rádios foram transferidas para as respectivas igrejas. Mas como nos disse Daso Coimbra “mais ou menos cem deputados tiveram estações de rádio, e se sete evangélicos receberam, isto não é nada dentro do universo”. Ou seja, os evangélicos estão bem adaptados à cultura

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política e não são vilões; como também não são o “sal da terra” de que fala a sua própria retórica (FRESTON, 1993, p. 58).

Os políticos de Cristo passaram a atuar em diversas comissões no Congresso

Nacional, concentrando suas atuações nas comissões sobre a família, educação,

ciência, tecnologia e comunicação. Claramente, o objetivo desses representantes

era delinear as políticas públicas relativas à família, à criminalização do aborto, à

rejeição de qualquer iniciativa progressista quanto aos direitos das pessoas do

mesmo sexo ao casamento ou ainda serem reconhecidos como constituição de

família. Além disso, dedicaram uma especial atenção à legislação referente aos

meios de comunicação, como forma de garantir espaços para futuras concessões de

rádio e TV.

Nesse contexto, a religião, na esfera da política, reivindica, para seu raio de

ação, temas complexos que envolvem a liberdade individual e o livre exercício dos

cidadãos que, em uma sociedade laica, espera-se que sejam debatidos em uma

perspectiva dos valores democráticos, das sociedades liberais. A incursão dos

políticos de Cristo no poder constituído significa converter seus discursos

dogmáticos em leis para sociedade, implica uma série de questões a serem

discutidas.

Os políticos de Cristo se articularam, por meio da Frente Parlamentar

Evangélica, que se originou nos trabalhos da Constituição, em 1988; porém, ela

demonstrou sua força nas décadas de 1990 e 2000, defendendo, com veemência,

uma moralidade cristã restrita, em uma espécie de proselitismo religioso. Na sua

imensa maioria, eles são legisladores que defendem os valores doutrinários das

suas congregações pentecostais.

Verificamos, portanto, uma agenda conservadora que ignora as problemáticas

sociais, entre as quais a legalização da maconha, a descriminalização do aborto, a

união civil de homossexuais e a utilização de células embrionárias em pesquisas

científicas. Essa agenda progressista de direitos humanos fica engessada por uma

postura intransigente e corporativista, tanto dos evangélicos quanto dos católicos.

Isso fica evidente não apenas no púlpito, mas, sobretudo, no plenário, por ocasião

das votações, quando são apreciados os projetos de lei com perspectivas

progressistas e esses parlamentares fazem intervenções contrárias aos temas

levantados.

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Assim apareceram as “bancadas evangélicas”, formadas pelos “políticos de Cristo” de origem pentecostal, possibilitando reforçar o velho sonho sectário: eleger um Presidente da República evangélico. Trata-se, porém, de um sonho com lastro messiânico-milenarista, no qual há sempre o “salvador da pátria”, no caso, um “político de Cristo”, o qual iniciará uma “nova estirpe” elitista, da qual Garotinho, ex-governador do Rio, seria, em 2002, a ”bola da vez”. Parece tornar-se cada vez mais visível, nos projetos polít icos, o anseio registrado por Paul Freston, de um líder da Assembl éia de Deus que desabafou: “ somente os eleitos de Deus devem ocupar os postos-chave da nação ” (CAMPOS, 2002, p. 7). Grifo nosso.

Essas igrejas, para conseguirem votos dos fiéis, lançaram o slogan “irmão

vota em irmão”. A partir dessa frase, os templos evangélicos orientavam os seus

membros a votarem em candidatos apoiados por suas respectivas igrejas. A

justificativa dada era a de que essas pessoas eram as mais preparadas para

novamente conduzir a política brasileira à moralidade. Esse discurso foi uma

maneira de os políticos religiosos formarem e, posteriormente, consolidarem uma

base eleitoral a partir do apoio de lideranças evangélicas que, em troca, exigiram

benefícios públicos para suas denominações religiosas.

Na ótica de Freston (1993), essas mudanças de perspectiva política dos

pentecostais ocorreram pelo fato de os candidatos evangélicos, aos cargos públicos,

compreenderem que a estrutura administrativa e burocrática do Estado seria ideal

para oferecer condições objetivas à expansão das congregações religiosas que eles

representavam. Além disso, poderiam fazer frente à hegemonia da Igreja Católica na

sociedade, propor leis e projetos a partir dos valores doutrinários da sua pertença

religiosa.

Vimos, então, neste capítulo, que a politização de algumas igrejas pentecostais, sobretudo da Assembleia de Deus, a partir da cúpula, substituiu o apoliticismo oficial em 1986. Ajudada pela valorização como atores públicos por parte dos governos militares, pela mística da Constituinte e pela consciência da força numérica, a liderança fez uma releitura bíblica que atribuía aos evangélicos um destino político manifesto. Sob a rubrica da “liberdade religiosa ameaçada” rejeitava-se qualquer sinal de status inferior na religião civil e buscavam-se melhores condições de disputar a hegemonia do campo religioso. Sob a rubrica da “família” politizavam-se questões sócio-morais como o ato de defesa cultural frente ao impacto sobre os costumes causados pela estrutura nacional de comunicações de massa montada no regime militar e agora livre da censura. Ao mesmo tempo, o projeto das cúpulas buscava fortalecer lideranças do próprio campo religioso (FRESTON, 1993, p. 170).

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Fonseca (2002) aponta três fatores significativos sobre a participação dos

evangélicos, na política brasileira, no final do século XX. Primeiramente, o fato de

terem conseguido coesão e se constituído enquanto grupo, foi a “descoberta da sua

forma social”, ou seja, pelo aumento do número de adeptos. A segunda, foi a “busca

de legitimidade e prestígio social”, quando apresentaram como modelo de ser do

crente, um indivíduo altivo, alegre e fervoroso na fé, para, assim, expandirem seus

templos físicos, e sua participação no rádio e na TV; em suma, para influenciar os

diversos setores da sociedade. E, por fim, o acesso ao poder político

institucionalizado, ou seja, “o acesso ao poder para facilitar a

evangelização/proselitismo”. Na interpretação do autor, os evangélicos se veem

como perseguidos, discriminados e mal compreendidos pelos meios de

comunicação. Por isso, enxergam o acesso a instâncias políticas como uma forma

de reverter esta situação.

Em 1989, nas primeiras eleições diretas para presidente, realizadas no Brasil,

após a ditadura, rivalizaram na disputa Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor

de Melo. Os evangélicos entraram com força total ao criticarem Lula, associado ao

comunismo. Assim, o discurso nos templos alertava que, caso ele fosse eleito,

perseguiria os pentecostais, acabaria com a liberdade religiosa e reconduziria o

catolicismo à condição de religião oficial do país.

Por outro lado, Collor era visto como homem de Deus, honesto e culto. Esse

foi o vencedor, se apresentou como um líder jovem, porém comprometido com os

valores da família, o respeito à crença religiosa e defensor de um projeto de

modernização econômica favorável as elites. Nas eleições de 1994 e 1998,

disputaram Luís Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, sendo vencedor

o último. Mais uma vez houve uma campanha dos evangélicos contra Lula,

associando-o ao comunismo, enfatizando que, além de não estar preparado para ser

presidente, não possuía uma religião definida. A Igreja Universal do Reino de Deus -

IURD foi a que mais atacou o candidato.

Em julho, aconteceu no Rio de Janeiro um grande encontro no Aterro do Flamengo, denominado “Clamor pelo Brasil”. O objetivo era despertar os evangélicos para o risco de uma vitória das esquerdas. Naquela tarde, depois de pedir que todos os políticos abandonassem o palanque e deixassem ali somente os “homens de Deus”, Edir Macedo, disse que o Brasil estava mais uma vez entre Deus e o diabo, e, ele estava profetizando, o diabo seria vencido de novo (CAMPOS, 2002, p. 22).

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Em tal contexto, a Igreja Universal do Reino de Deus fundada, na década de

1970, pelo Bispo Edir Macedo, apresentou um crescimento significativo, inclusive

elegendo o maior número de políticos evangélicos nos cargos públicos disputados

até hoje. Conforme mostra Machado (2006), o sucesso eleitoral da IURD deve-se a

sua estratégia corporativista de lançar candidatos declaradamente representativos

daquela instituição. Outra estratégia relevante foi o uso do púlpito, dos meios de

comunicação e dos grandes eventos religiosos enquanto propaganda eleitoral e de

marketing. A IURD apoiou, abertamente, que os seus pastores e leigos se

candidatassem a cargos públicos no Brasil. Além disso, incentivou os seus fiéis a

votarem em seus representantes, com o já referido lema “irmão vota em irmão”.

Grande parte do eleitorado brasileiro é composto por seguidores de denominações evangélicas. Considera-se evangélico, no caso brasileiro, tanto as igrejas pentecostais, neopentecostais, como as Batistas, Metodistas, Presbiterianas, etc, com destaque para a Igreja Assembleia de Deus e a Igreja Universal do R eino de Deus. Estas duas igrejas foram representadas na 52ª Legis latura da Câmara Federal, entre 2003 e 2006, por nada meno s que 44 deputados federais . Este dado, por si só, já comprova a importância de se investigar a inserção evangélica na política institucional (GONÇALVES, 2011, p. 14). Grifo nosso.

Em 1991, foi criada a Associação Evangélica Brasileira (AEVB). Essa

organização lançou um documento – Decálogo do voto ético – que orientava os

evangélicos nas eleições, se posicionando claramente contra o clientelismo e o

fisiologismo. A IURD não aceitou os direcionamentos da AEVB e criou um

organismo paralelo, com o apoio da Igreja Assembleia de Deus, o chamado

Conselho Nacional dos Pastores do Brasil (CNPB). No entanto, esse mecanismo

não conseguiu as mesmas evidências sociais e visibilidade no meio evangélico, para

a mediação dos assuntos políticos nas instâncias públicas, assim, teve sua presença

esvaziada.

As estratégias representadas pelos representantes desses segmentos aproximam-se, e muito, do estilo de fazer política adotado pelo grupo de Edir Macedo. Campanha em templos, transformação de fiéis em cabos eleitorais e exploração das ações sociais nas conquistas dos votos. Ainda que se tenha observado o acirramento da competição entre os distintos grupos, a IURD conseguiu manter o mesmo número de atores políticos representando os seus interesses na Câmara dos Deputados. Seu grande triunfo, contudo, foi a conquista de uma cadeira no Senado Federal, primeiro passo para a transformação do Bispo Marcelo Crivella em uma liderança nacional (MACHADO, 2006, p. 63).

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Campos (2002) chama atenção para o fato de as eleições de 2002 serem as

primeiras ocorridas após a divulgação dos dados sobre o crescimento dos

evangélicos, nos anos 90. Sobre isso, é importante analisar alguns números

publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do governo

federal. Os dados93 a seguir indicam o alcance das mudanças que ocorreram no

campo religioso brasileiro.

Vejamos que os números dos que se declaravam católicos caiu de 95,2%

(1940), 93,1% (1960), 89,2% (1980) e 83,80% (1990) para 73,80% (2000). Os

evangélicos, que eram 9,1% da população brasileira, pularam para 15,5%. Os “sem

religião” também aumentaram de 4,8% para 7,3%. Já os que declararam pertencer a

“outras religiões” subiram de 2,4% para 3,6%. No cômputo geral da população

brasileira, os evangélicos (protestantes históricos, pentecostais e novos

pentecostais) subiram de 13,3 milhões para 26,1 milhões, dobrando, portanto, o

número de fiéis em 10 anos. O crescimento no número de convertidos às igrejas,

seitas e denominações evangélicas, aliado ao aumento da fidelidade dos novos

convertidos aos seus respectivos pastores e templos, causaram, sem dúvida

alguma, uma enorme e crescente visibilidade política dos evangélicos no Brasil.

De acordo com Machado (2006), os pentecostais marcam presença, cada vez

maior, no conjunto da sociedade brasileira; ao longo do processo de

redemocratização do país passaram a utilizar, em larga escala, a força interna que

possuíam. Sobre os evangélicos da Assembleia de Deus, esses cumprem o rigor

doutrinário imposto por suas lideranças, os seus membros obedecem, contribuem

fielmente com o dízimo, os pastores e responsáveis utilizam grandes somas de

dinheiro público e privado e com essas arrecadações internas promovem

candidaturas que saem vitoriosas na corrida eleitoral.

O crescimento dos evangélicos, apontado pelo IBGE no Censo de 2010,

revelou que entre os elementos favoráveis esteve o discurso enfático em defesa da

“família tradicional”. Fator relevante também para o crescimento da Assembleia de

Deus, que compreende 12 milhões de adeptos, e configura-se como o maior

93 Os dados foram coletados e analisados pelo pesquisador Leonildo de Campos. Eles constam no texto “Os políticos de Cristo: uma análise do comportamento de protestantes históricos e pentecostais”, que é um artigo preparado para o GT: Religião e Sociedade, do XXVI Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais – ANPOCS, realizado em Caxambu-MG.

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segmento evangélico, e o segundo maior segmento religioso do Brasil, atrás apenas

da Igreja Católica.

Os números94 referentes à participação política dos representantes da

Assembleia de Deus, no Congresso Nacional, desde a redemocratização até as

eleições de 2010, surpreendem. Em 1982, foram eleitos 12 deputados federais

evangélicos, sendo que 2 eram pentecostais. Em 1986 foram eleitos 32 deputados

evangélicos e 18 eram pentecostais. Os assembleianos obtiveram o maior sucesso

eleitoral, elegendo 13 deputados por esse segmento religioso. Nos anos seguintes,

conseguiram aumentar, gradativamente, a sua representatividade na política,

sobretudo no parlamento federal. A título de comparação e compreensão dessa

evolução, no pleito de 2010 foram eleitos 73 parlamentares evangélicos, sendo 70

deputados e 3 senadores, contra 36 integrantes eleitos em 2006, sendo que dos 70

parlamentares, cerca de 44 eram pentecostais e mais de 20, entre estes, eram

assembleianos.

Segundo Novaes (2001), os evangélicos pentecostais estão presentes, de

maneira significativa, entre as camadas sociais menos favorecidas, excluídas das

políticas públicas, sem qualidade de vida e sem recursos financeiros. O

pentecostalismo consegue penetrar nas franjas da sociedade, nas mais diversas

localidades, comunidades carentes, periferias e locais que têm se mostrado

inalcançáveis para outros segmentos religiosos. São segmentos sociais à margem

da sociedade, são espaços geográficos cuja precariedade de condições, revela, por

outro lado, a mais completa ausência do poder público.

2.2 Os católicos na política, no Brasil, após a redemocratização

A Igreja Católica, no processo de formação da sociedade brasileira sempre

atuou na esfera política e, conforme o curso da história se encaminhava, se

reposicionou na esfera pública a partir de uma série de novas formas de atuação na

94 Os números constam no artigo, sobre “Eleições legislativas e o protagonismo assembleiano no Congresso Nacional”. O trabalho, de autoria de Washington Carneiro, foi apresentado no I Congresso Nacional de Ciências Sociais, sediado pela Universidade Federal do Espírito Santo – UFES.

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sociedade civil e na política partidária. Na primeira metade do século, pode-se citar a

criação da Liga Eleitoral Católica (1932), dos movimentos de Ação Católica (1935) e

do Partido Democrata Cristão (1945).

Posteriormente, entre os anos de 1960 a 1980, segmentos progressistas da

Igreja Católica se engajaram na organização dos setores populares em várias partes

do país e foram atores políticos importantes, não só no combate à ditadura militar.

Os militantes católicos progressistas estão preocupados com a situação social

vivenciada pelas camadas pobres do mundo. Influenciados por pressupostos

marxistas, propõem ações de transformação social, reinterpretação das passagens

bíblicas e reformas estruturais no catolicismo romano. O grande expoente da ala

progressista católica foi a Teologia da Libertação e, no Brasil, as Comunidades

Eclesiais de Base.

De acordo com Oro (2003), as autoridades católicas, preocupadas com a

perda de milhares de adeptos para outros credos religiosos, a partir do final do

século XX, iniciaram uma série de pesquisas, elaboração de seminários, debates e

reuniões entre os bispos para terem um maior entendimento do fenômeno da

diversidade religiosa, das razões que levaram à perda de fiéis. Como resultado, três

estratégias foram adotadas: o retorno à devoção, o incentivo ao uso dos meios de

comunicação e o apoio à Renovação Carismática Católica - RCC.

Muitos bispos apoiaram as atividades da RCC, pois viam, nesse movimento, o

desenvolvimento de ações que poderiam atrair, novamente, as pessoas para as

práticas católicas. No entanto, Oro (2003) aponta que muitos clérigos progressistas

e conservadores se posicionaram contra os carismáticos, argumentando que estes

se aproximavam da doutrina dos protestantes e poderiam criar uma nova Igreja.

Como resultado desse embate, em 1994, foi lançado, pela CNBB, um documento

que regulamentou a ação da RCC em todas as dioceses do Brasil.

A Igreja Católica ensaiou uma reação, por meio do movimento da RCC, que

apresenta características importantes para o reavivamento da fé. As celebrações

religiosas resgatam um ritual fervoroso, inclusive nas próprias missas passaram a

contar com a presença de padres cantores (indo além das tradicionais homilias e

sermões), em cerimônias nas quais os fiéis são envolvidos em um ambiente de

músicas de louvor, de bênçãos de objetos – além das coreografias ensaiadas –, nos

retiros espirituais e nas pregações. Verificam-se testemunhos de fé com ritos

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simbólicos, como a imposição das mãos invocando a cura e a libertação por meio

dos dons do Espírito Santo e orações em “línguas”; os grupos jovens ganham

destaque na Igreja, e promovem encontros nos quais predomina uma atmosfera

alegre e musical, louvando e adorando a Deus.

Vale destacar que, no interior da Igreja Católica coexistem várias correntes

hierárquico-administrativas, que vão desde uma formal, mais próxima da vida

paroquiana, passando pelo catolicismo popular, com crenças e práticas heterodoxas

e informais, até uma carismática, em franco trânsito com influências do

pentecostalismo protestante e ainda outra libertária, engajada politicamente à

esquerda, mais próxima dos pobres e excluídos. A Igreja Católica, longe da

homogeneidade, convive, de modo conflituoso, sob o guarda-chuva institucional da

autoridade do Sumo Pontífice.

Nesse mosaico, a Igreja Católica deparou-se com um ambiente de

concorrência e ameaça por outros grupos religiosos, em um espaço até então

ocupado apenas por ela. A inserção dos membros da Igreja Católica e, sobretudo,

da RCC, na política brasileira, é uma tentativa de frear a entrada e a influência de

outros grupos religiosos na esfera política, sobretudo os evangélicos, para assim,

buscar manter o poderio do catolicismo e suas convicções doutrinárias. As

estratégias dos carismáticos católicos se aproximam de uma mensagem

salvacionista extraordinária, ainda mais em um cenário social e econômico de

contrastes, como é o caso do Brasil. Assim esses políticos que possuem vínculos

com o movimento carismático católico possuem uma identidade popular muito forte.

Em primeiro lugar pela capacidade que a RCC vem mostrando de entrar em sintonia com o imaginário mítico miraculoso, presente na religiosidade popular. Utilizando-se de recursos religiosos (cura, libertação, milagre, exorcismo) e incorporando habilmente elementos subjetivos (emoção, sentimento, conforto, tranquilidade), os carismáticos conseguem amortecer a aflição sofrida pelos fiéis diante de realidades sociais caóticas, nas quais as agências seculares (Estado, escola, direito, saúde...) estão cada vez mais ausentes. Na RCC, o fiel encontra recursos que o ajudam a suportar o atrito da vida cotidiana, como o atestam os inúmeros testemunhos de cura escutados nos cultos de libertação (CARRANZA, 2000, p. 57).

Além dos grupos de oração, a RCC possui comunidades carismáticas.95 São

instituições autônomas que possuem trabalhos específicos na sociedade, como

95 REIS, Marcos Vinicius de Freitas. Política e religião : O Envolvimento dos católicos carismáticos na política brasileira. p. 29-33.

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trabalhos com dependentes químicos e/ou alcoólatras, visitas a orfanatos, creches,

presídios, escolas, bairros pobres, entre outros. Essas comunidades podem ser de

vida – quando os membros identificados com sua forma de evangelização deixam a

vida secular e se dedicam às atividades da obra96. Mas também podem ser de

aliança – em que os membros possuem uma ligação com a comunidade sem se

desvincularem da vida cotidiana97.

Na prática, os membros da RCC estão cada vez mais interessados em

participar da política, defendendo uma plataforma conservadora, na qual os valores

morais estão postos como bandeira aparente de suas lutas.

A terceira mudança percebida na RCC se refere ao campo político, onde se encontram as maiores divergências entre a teologia da libertação e esse movimento. Apesar de existir um aparente consenso que a primeira se preocupa com o social e a RCC com o espiritual, na prática, esse consenso não ocorre: o movimento carismático tem o objetivo de ocupar o poder público por meio da política partidária desde suas origens. No Brasil, incentiva seus membros e lideranças a candidatar-se com uma orientação política definida (legislar em nome do movimento da Igreja e de Deus), estratégias traçadas (cartilhas, eventos, utilização de grupos de oração como plataforma política, apoio explícito da hierarquia) e articulação interna (CARRANZA, 2000, p. 38).

No final da década de 1990, surgiram emissoras de sintonia aberta para todo

o país, a exemplo da TV Canção Nova e TV Século XXI (ligadas ao movimento

carismático), Rede Vida de Televisão e TV Aparecida, além de outras emissoras de

alcance regional. Centenas de emissoras de rádio AM e FM foram criadas e

emissoras seculares abriram espaços, em sua programação, para programas

católicos.

Cabe destacar o programa diário do Padre Marcelo Rossi, veiculado pela

Rádio Globo, líder de audiência em várias localidades do país. Além disso, surgiram

jornais, revistas, sites, editoras e gravadoras. Segundo Souza (2005), muitas

dioceses investiram em marketing e atividades empresariais, em suas regiões, com

o intuito de aumentar suas receitas, garantir a presença católica nos diversos

espaços midiáticos e conquistar novos adeptos.

Entre as comunidades, podemos destacar Canção Nova, Shalom e Missão de

Filhos da Misericórdia. Para a divulgação e expansão do movimento, os integrantes

Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/991/3972.pdf?sequence=1 96 Idem 97 Idem.

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da RCC desenvolveram uma organização administrativa e hierárquica com equipes

no âmbito local, regional, nacional e internacional.

De acordo com Prandi (1996), um dos objetivos da RCC é a renovação

interior do indivíduo, sua conversão pessoal ao catolicismo. Depois que a pessoa

passou por este processo, está apta para atuar no campo político e social. A

mudança social e política, na visão dos carismáticos, começa a partir da mudança

de vida das pessoas e não por uma mudança inicial das estruturas sociais e políticas

do país. Neste contorno, há uma preocupação com a moral da família e do indivíduo.

O desinteresse por assuntos sociais no contexto da RCC é uma forma de

diminuir a movimentação da esquerda católica, representada fortemente pelas

Comunidades Eclesiais de Base, em declínio desde os anos finais da década de

198098. Com a chegada da redemocratização do Brasil e a volta do

multipartidarismo, os militantes das CEB’s descobriram, na política partidária, uma

nova forma de participação política e um possível espaço para a busca da

concretização dos seus ideais junto ao Estado.

A participação católica nos partidos políticos, no período da redemocratização do Brasil, não se deu apenas pelo PT com representantes da ala progressista. Políticos ligados a movimentos conservadores, como a Opus Dei, Tradição, Família e Propriedade (TFP) e leigos ligados a bispos conservadores se fizeram representar em vários partidos e participaram das discussões nas comissões da Constituinte para a elaboração da Constituição de 1988. De acordo com Freston (1993), a bancada católica foi composta por 33 nomes próximos à bancada evangélica. Alguns desses políticos são: o ex-governador de São Paulo, Mário Covas, o ex-Deputado Federal José Maria Eymael, o ex-Deputado Federal Severino Cavalcanti, ex-Senador Marco Maciel, o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-governador de São Paulo, Franco Montoro. Os políticos supracitados defendiam posições acerca da defesa da família, da propriedade privada, contra o aborto e favoráveis a alguns pressupostos moralistas defendidos pelos católicos (REIS, 2011, p. 35).

Tantos os adeptos do movimento carismático católico quanto os pentecostais,

ao lançarem-se candidatos aos cargos eletivos se utilizam de estratégias múltiplas

para atingir seus eleitores. É interessante observarmos que o discurso, sempre

inflamado e carregado com uma mensagem divina de transformação e libertação

das “armadilhas do mundo” é, sem dúvidas, um recurso indispensável para o

98 REIS, Marcos Vinicius de Freitas. Política e religião : O Envolvimento dos católicos carismáticos na política brasileira. p.34. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/991/3972.pdf?sequence=1

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sucesso eleitoral, somado ao carisma necessário à construção de uma imagem de

liderança, onde quer que esteja: do púlpito das igrejas ao plenário do parlamento.

Nesse sentido, observemos as considerações de Mariano:

Sob o ponto de vista da dominação carismática dos líderes, através do uso da máquina da igreja, a disciplina dos pastores e a obediência de boa parcela dos fiéis constituem importantes elementos do sucesso eleitoral desses pastores-candidatos. Na medida em que suas candidaturas são impulsionadas pelo clientelismo desses fiéis que os escolhem em virtude de seu papel enquanto líder religioso e não como administrador público. Durante as eleições, os templos exibem faixas com o nome e número dos candidatos oficiais da igreja. Pastores e bispos pedem abertamente votos para eles do alto do púlpito. Obreiros distribuem “santinhos”. Suas emissoras de rádio e TV fazem propaganda eleitoral, convidando seus candidatos, por exemplo, para participar de entrevistas em programas jornalísticos (MARIANO, 1999, p. 92).

Segundo Campos (2002), a diferenciação entre “políticos evangélicos” e

“políticos de Cristo”, relaciona-se com dois períodos distintos da nossa história. O

primeiro grupo, disperso, cuja origem remete à República Velha, não era composto

por representantes dos interesses corporativos de suas igrejas e se inspirava nos

ideais liberais dos norte-americanos. Já o segundo grupo passa ao largo de

ideologias ou programas partidários, representando, prioritariamente, as demandas

de suas organizações religiosas.

Nesse sentido, a fraqueza do sistema partidário brasileiro favorece a inserção

dos políticos de Cristo, que se distribuem por diferentes partidos, de acordo com as

negociações com dirigentes e maiores possibilidades eleitorais em cada local. Um

advento recente, o surgimento de uma nova classe média, seria também mais uma

oportunidade para algumas instituições religiosas ganharem poder político. O perfil

de liderança que se alimenta dessa situação é o de um líder carismático que, em

nome de Deus, se apresenta com tamanho fervor, que promove uma espécie de

arrebatamento nos fiéis, que experimentam sentimentos de fé e de esperança em

uma transformação das suas vidas, nas dimensões terrenas, sobretudo.

Oliveira (2004), afirma que a fragilidade dos partidos é um fator que favorece

o fortalecimento desses grupos religiosos na arena política.

O Estado é o campo próprio das políticas públicas, e é legítimo que igrejas e outros organismos da sociedade queiram influenciar o rumo dessas políticas. O problema é quando as igrejas – e outros organismos da sociedade – se comportam como se fossem partidos

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políticos e usam sua capacidade de influir nas eleições para reivindicar privilégios diante do Estado (p. 33).

E ainda argumenta:

Um Estado respaldado por partidos políticos fortes – como pretende o projeto cidadão de Reforma do Estado – pode resistir a tais pressões. Um Estado despolitizado, porém, é frágil diante de pressões indevidas. Infelizmente, é este o nosso caso (2004, p.34).

Algo importante de se ressaltar é que as bandeiras de temas mais

conservadores ligados a uma moral cristã não unem, necessariamente, todos os

membros da Frente Parlamentar Evangélica, mas conseguem agregar outros

setores do Parlamento e contam com os segmentos tradicionais, como as bancadas

ruralistas, e os próprios católicos.

Após anos de camuflagem, os deputados católicos que até o ano de 2015

não tinham apresentado uma formalização, por meio a liderança do Deputado

Givaldo Carimbão – PROS constitui a Frente Parlamentar Católica. O político

religioso protocolou junto à mesa diretora a sua oficialização desse novo grupo

constituído na época por 209 parlamentares99. Pela própria temporalidade recente

deste evento cabe maiores observações e análises. Contudo devido ao

protagonismo do Deputado Carimbão na criação dessa Frente Católica, trata-se de

personagem de interesse dessa pesquisa. Nesse aspecto, consta no trecho

dedicado a esse personagem político, no terceiro capítulo, maiores detalhes sobre

esse importante acontecimento. Na criação da Frente Parlamentar Católica, desde o

requerimento perante a Mesa da Câmara dos Deputados, passando pela elaboração

do estatuto e o discurso de apresentação proferido na Conferência Nacional do

Bispos do Brasil - CNBB, tem a forte presença e influência direta do parlamentar

alagoano.

Faria (2012), nos esclarece que a Frente Parlamentar Evangélica tem

estatuto, se manifesta, é visível e possui uma agenda que eles declaradamente

estão pautando. A Frente Parlamentar Católica, mesmo ainda em fase de

consolidação, na época, quando há assuntos de interesse, age estrategicamente.

As frentes católica e evangélica se articulam quando lhes é conveniente, com, por

exemplo, no pleito de 2010, quando temas morais vieram à tona no fim do primeiro

99 Informação do Protocolo de oficialização junto à mesa diretora da Câmara Federal.

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turno e no segundo do pleito presidencial, o que fortaleceu esses dois grupos.

Naquele mesmo ano, durante as eleições presidenciais, pela primeira vez

petencostais e neopentecostais perceberam que poderiam se aliar a alas

ultraconservadoras da Igreja Católica. O resultado dessa somatória foi positivo para

os dois lados.Ribeiro (2004), evidencia que bandeiras como a desaprovação a

uniões homoafetivas, o aborto, a legalização da maconha, a rejeição do debate da

identidade de gênero nos planos de educação, e sobretudo, a proposição de uma

agenda legislativa comum de regulamentação civil a partir dos referenciais da moral

cristã, unem os setores católicos e evangélicos. Antes de mais nada, se trata de

uma coalizão de interesses, e não uma aliança estratégica diante de um imperativo

ético. Para Ribeiro (2004), é necessário ampliar algumas discussões para toda a

sociedade, o que seria uma forma de superar os obstáculos interpostos pelos mais

conservadores.

Deliberadamente, católicos e evangélicos que se fazem presentes no poder

institucionalizado agem, sistematicamente, em nome de suas respectivas doutrinas,

se valendo dos fiéis de suas respectivas congregações, seus potenciais eleitores.

Agem em parceria, construindo uma agenda conservadora e moralista, colocando

esses temas na ordem do dia, na pauta política dos parlamentos federal, estadual e

municipal.

Alegam que estão atendendo às pressões dos movimentos sociais dos

segmentos cristãos e defendendo assuntos que preservam a família. A estratégia é

outra, trata-se de manter temas complexos, como o aborto, a homossexualidade e a

identidade de gênero, para exemplificar, restritos ao direcionamento das autoridades

eclesiásticas, como se elas, de fato, representassem o consenso de suas igrejas.

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3 OS ELEITOS DE DEUS NO CENÁRIO POLÍTICO DE ALAGOAS , NO

FINAL SÉCULO XX E INíCIO DO SÉCULO XXI

Nas palavras do cientista político Eduardo Magalhães100,

É difícil termos um Estado laico e como o Brasil é por excelência, marcado pela pobreza, as pessoas veem na religião uma esperança. Com isso, as igrejas passaram a fazer um trabalho forte e entraram na ideologia política. Esse é um processo natural, mas deveria ter como objetivo defender o direito dos cidadãos. [...] É necessário que não haja fanatismo na disputa política por parte de candidatos e até eleitores em relação à religião, para que não se crie uma segunda inquisição, como aconteceu na Idade Média, onde quem se mostrava contrário à determinada crença, era punido de forma rigorosa. Alagoas por ser um Estado pobre, a religião assume um papel significativo e até decisivo – grifo nosso. As igrejas não devem se transformar em grupos de pressão para que os fiéis votem em determinados candidatos (CADA MINUTO, 2010).

Levando em consideração a realidade social e econômica de extremos101 que

Alagoas historicamente vivencia, a religião e seus representantes com suas ações

pastorais e políticas repercutem de forma contundente na vida das pessoas,

sobretudo daquelas que vivem o calvário da fome, da pobreza e da violência no seu

cotidiano. Isto é, a dimensão do sagrado é ofertada pelos intermediários de Deus

como uma mensagem de alento e esperança. Na esteira, surgem os políticos

religiosos, que se mostram como representantes ideais para intermediar as

aspirações desses grupos mais excluídos da sociedade junto ao Estado.

Vale registar que em pleno século XXI, os alagoanos continuam a

testemunhar as oligarquias102 do açúcar e da pecuária à frente dos destinos do

100 O Professor Eduardo Magalhães, da Universidade Federal de Alagoas, é especialista em ciências políticas. Em 2010, o pesquisador analisou de forma contundente as relações entre religião e política numa entrevista para o site jornalístico Cada Minuto, de Maceió-AL, numa matéria intitulada: Políticos apostam na religião para conquistar eleitores em Alagoas. 101 Amparamo-nos nas informações e subsídios teóricos de Ruth Vasconcelos (2014): “Poder e a Cultura de Violência em Alagoas”; Fernando José Lira (1997): “Crise, Privilégio e Pobreza em Alagoas”; e Sandra Lira (2014): “Estados Brasileiros – Alagoas”, os quais são abordados ao longo desse capítulo. 102 Douglas Apratto (1997), na sua obra “Metamorfose das Oligarquias” nos apresenta um panorama político, social e econômico de Alagoas no século XX, onde as elites açucareiras e do gado se modernizam economicamente, ao tempo em que politicamente permanece a figura do coronel canalizador de votos, sempre as mesmas famílias com o poder político, o latifúndio e uma massa de trabalhadores analfabetos a sua permanente disposição.

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Estado. A alta concentração da riqueza de um lado, significa a pobreza, miséria e

violência na vida da maioria da população alagoana.

Esse sistema, que privilegia uma minoria sobre uma maioria dominada, elabora um conjunto de padrões sociais que corresponde as suas aspirações, e se utiliza dos aparelhos do Estado para fazer a legitimação dos seus ideais. Portanto, desde sua emancipação, há quase dois séculos, a intervenção do Estado na economia de Alagoas visa, de fato, proteger apenas uma pequena fração da população, não resultando daí qualquer alteração nas relações sociais de produção, e isso vem inibindo a expansão capitalista nos diversos setores (LIRA, 1997, p.18-19).

A ascensão dos políticos religiosos em Alagoas coincide com a década de

1990, que como bem afirma Sandra Lira (2014) será marcada pelo neoliberalismo103

na política econômica nacional, e atinge profundamente a questão social em

Alagoas. Nesse modelo econômico, ocorre a diminuição do papel do Estado, nas

políticas públicas como saúde, educação, moradia, segurança, entre outras áreas.

Esse fato torna-se um agravante, na medida em que a população alagoana que

historicamente é predominantemente pobre, passa por um processo ainda maior de

miserabilidade104.

Mediante ausência de políticas públicas consistentes por parte do Estado, do

agravamento da crise social, da miscelânea de partidos com frágeis projetos

políticos que apontem novos caminhos, novas formas de mediação da relação entre

sociedade civil e Estado, os políticos religiosos começam a surgir com vigor105. Tal

mediação que não é exercida de modo satisfatório pelos partidos, abre caminho

para novas representações da sociedade, os atores religiosos.

Contribuiu também nesse processo a própria liberdade política com a

redemocratização do Brasil, o pluripartidarismo, a intensificação do pluralismo

103 Corrente econômica que elege o mercado como balizador das relações produtivas, defende a não intervenção do Estado na economia a flexibilização das regras e trabalhistas, a política de privatização de empresas estatais, a livre circulação de capitais internacionais e ênfase na globalização, a abertura da economia para a entrada de multinacionais, a adoção de medidas contra o protecionismo econômico, a diminuição dos impostos e tributos e a diminuição do Estado na esfera púbica como um todo. Disponível no livro: Política Neoliberal e Sindicalismo no Brasil, de Armando Boto Júnior pela Editora Xamã, São Paulo, 1999. 104 Segundo o economista da Universidade Federal de Alagoas, Fernando José Lira, no seu livro “Crise privilégio e Pobreza”, os dados do Banco Mundial em 1993 indicam que a concentração de riqueza em Alagoas, e maior do que no Zimbábue, Zaire e Somália, onde convivem com a fome epidêmica. 105 Eduardo Lopes Cabral Maia, bacharel em sociologia e antropologia pela UNB analisa o fenômeno da presença dos evangélicos na política no Brasil a partir da década de 1980, e correlaciona com a crise de representação dos partidos políticos. O Artigo com o título: “Os Evangélicos e a Política”, publicado na Revista Eletrônica: Em Tese, dos Pós-Graduandos em Sociologia Política (Vol. 2, Nº 2 de 2006, p. 91-112), da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

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religioso, com o pentecostalismo e neopentecostalismo, na qual seus seguidores e

representantes passam a reivindicar espaço no poder político institucionalizado.

Nesse contexto surgem os políticos religiosos na seara política em

Alagoas106, que se apresentam em nome das suas respectivas Igrejas, como

mediadores capazes de encaminhar projetos políticos que contemplem a concepção

de sociedade pensada no seio dessas doutrinas. Claro que muitos desses políticos

religiosos também defendem seus interesses particulares.

Na análise de Paul Freston (2006), o político religioso se apresenta como

moralizador da política, mensageiro de uma moral cristã numa sociedade

corrompida, afirmam-se representantes dos valores da família, defendem propostas

políticas numa concepção de cidadania a luz das doutrinas pentecostais, não

excluindo exemplos semelhantes do próprio catolicismo, esses inflamados pela

renovação carismática. Esses políticos religiosos, apoiados pelas suas Igrejas atuam

junto à sociedade, e de modo particular, os evangélicos pentecostais, se fazem

presentes nas comunidades carentes das periferias das cidades, organizam

movimentos leigos de combate às drogas, acolhem os mais necessitados com

programas assistenciais, desenvolve uma catequese para os jovens e para as

famílias e atuam como mediadores na relação sociedade-Estado.

Em Alagoas a disputa política que historicamente foi marcada pela hegemonia

dos representantes das oligarquias, verifica-se nos anos de 1990 e se consolidando

nos anos 2000, a presença de novos atores na seara política. Esses políticos

religiosos representantes do pentecostalismo evangélico e do movimento

carismático católico são apoiados integralmente pelas suas Igrejas, na disputa por

espaço na sociedade através do poder político institucionalizado.

Assim surgem os eleitos de Deus nas legislaturas alagoanas107 na história

recente, destacando-se as figuras de Givaldo Carimbão eleito vereador por Maceió

106 Referimo-nos aqui sobre os políticos religiosos baseados no conceito de políticos de Cristo, de Paul Freston (1994), na obra: “Evangélicos na política brasileira: história ambígua e desafios éticos”. Teoria repercutida por Joanild Burity e Maria Campos Machado, organizadores da Obra: Os Votos de Deus (2006). Paul Freston esclarece que esses políticos religiosos são apresentados e patrocinados pelas igrejas evangélicas nos pleitos eleitorais, estes atuam prioritariamente defendendo os interesses doutrinários das suas respectivas congregações religiosas nos espaços institucionais de poder, sobretudo no legislativo. 107 Identificamos o perfil desses políticos religiosos a partir de referenciais teóricos de autores como Joanildo Burity, Leonildo de Campos, Maria das Dores Campos Machado na obra “Os Votos de Deus: Evangélicos, política e eleições no Brasil” e Paul Freston no livro “Religião e Política Sim, Igreja e Estado Não”, além das pesquisas na mídia jornalística de Alagoas, na Assembleia de Deus, Igreja Católica, Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Batista, dados eleitorais do TER-AL, fontes

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pela primeira vez em 1989, ligado à Igreja católica e à renovação carismática; o

Pastor João Luiz eleito vereador por Maceió em 1992, esse é líder da Igreja do

Evangelho Quadrangular. Nos anos 2000 verificamos a presença de representantes

da Igreja Assembleia de Deus, Jota Cavalcante que foi eleito deputado estadual em

2006 e Antônio Carlos Ramos Chamariz, que assumiu o mandato de deputado

federal em 2009.

No decorrer desse capítulo, apresentaremos em detalhes a biografia desses

parlamentares, suas trajetórias políticas e as estreitas ligações desses personagens

com as suas respectivas doutrinas religiosas.

Para melhor compreendermos o surgimento dessas figuras políticas religiosas

em Alagoas entre as décadas de 1990 e 2010, num cenário político marcado pelas

oligarquias tradicionais, percorremos a leitura de alguns temas de destaque na

história recente.

3.1 Quadro político, econômico e social de Alagoas (1990-2010)

Recorremos a Leda Almeida (1999), que nos informa sobre o agravamento do

quadro social em Alagoas, culminando com o desgaste e a queda das oligarquias

alagoanas a frente do governo estadual. Enquanto os maiores representantes

oligárquicos caiam, entrava em cena novos atores na política alagoana, tanto

militantes históricos da esquerda como também os políticos religiosos.

Consideramos relevante traçarmos algumas linhas gerais sobre o quadro

socioeconômico e político em Alagoas, como o aumento da pobreza, da

concentração da riqueza, da permanência do latifúndio, do aumento da favelização

na capital Maceió. Nesse cenário, surge um grave problema da sociedade

contemporânea: o drama dos jovens com as drogas, somado à falta de perspectiva

de futuro com a escassez de escolas e empregos. No período que coincide como

crescimento das Igrejas Pentecostais e da reação da Igreja Católica com a

Renovação Carismática, ocorre a inserção dos seus representantes nos espaços de

poder político institucionalizado em Alagoas. Após verificarmos o quadro

socioeconômico, retomaremos com o perfil a trajetória política dos eleitos de Deus.

documentais das casas legislativas: Congresso Nacional, Assembleia Legislativa de Alagoas e Câmara de Vereadores de Maceió.

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Segundo afirma Carvalho (2012), Alagoas atualmente ainda apresenta

características econômicas e sociais atrasadas108, uma herança da sua formação

colonial, que não se modernizou e, portanto, pagamos o ônus de todo atraso. Não

foi feita reforma agrária, não houve diversificação nas atividades econômicas, não se

superou as questões sociais, os indicadores são baixos, num Estado pobre

economicamente e socialmente problemático.

Gráfico 1 - Alagoas de 2003-2009: pobreza extrema a cada 2000 pessoas.

19391838

1747

16091559

1515

11231032

938

785711 722

676

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Pobreza

Extrema Pobreza

Fonte: IPEA – 2009 apud CARVALHO, Cícero Péricles. UFAL.

Pelo exposto, verificamos que durante toda primeira década do século XXI,

permanecem os altos índices de pobreza que coloca o Estado de Alagoas, como um

dos lugares com maior vulnerabilidade social. Entre os fatores que contribuem para

esse cenário social caótico, estão o domínio imperioso das oligarquias e sua

concentração de riqueza, e de modo particular, os reflexos do modelo econômico

neoliberal da década de 1990, privilegiando o capital industrial e os interesses do

mercado financeiro.

Conforme Carvalho (2015) afirma categoricamente, a renda em Alagoas é

muito concentrada, em detrimento da pobreza generalizada. Além disso, os acessos

aos bens públicos, como habitação, transporte, emprego, educação, saúde,

apresentam déficits muito altos. Não por acaso que Alagoas ostenta as piores

colocações no índice de desenvolvimento humano no Brasil. Ao verificarmos o

108 Avaliação do quadro econômico e social de Alagoas em 2011, realizada pelo Economista Cícero Péricles de Carvalho, numa matéria intitulada Rx da pobreza em Alagoas pelo site jornalístico Tribuna União. O economista utilizou dados de uma pesquisa de sua autoria, que posteriormente resultou na obra: Economia Popular, uma via de modernização, publicada, pela Editora da Universidade Federal de Alagoas.

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quadro social de Alagoas, na primeira década do século XXI, constatamos uma

realidade perversa, em que a pobreza se faz presente na maioria absoluta da sua

população109.

O predomínio da monocultura da cana de açúcar na zona da mata e dos

fazendeiros de gado com a pecuária extensiva no agreste e sertão alagoano

sintetizam o poder político e econômico nas mãos dessas oligarquias. Esses grupos

se mantêm no poder a frente dos destinos do Estado.

Nesse contexto, e por conta de seu envolvimento histórico, Alagoas continua submetida ao controle político das oligarquias rurais locais, e a ação do Estado a serviço dos interesses dessas oligarquias ainda hegemônicas tem se mantido. Isso remonta ao pacto colonial, substituído por um pacto de amplitude nacional como instrumento para o equilíbrio dos diferentes interesses de vários segmentos das elites. Como consequência, obteve-se a sustentação do desenvolvimento do capitalismo no país e na região e, através da forma particular como ele se realiza, também a manutenção de um tipo bem singular e arcaico de poder (LIRA, 2014, p.16).

Consequentemente, não existem investimentos na educação pública, as

escolas não são atrativas ou ainda não oferecem um ensino de qualidade, o

sucateamento da rede pública de saúde penaliza os mais pobres, os investimentos

na infraestrutura do estado são tímidos, em contraste com as belezas naturais e do

alto potencial turístico, não se verificam políticas consistentes para o homem do

campo, como por exemplo, que contemple a agricultura familiar, como a reforma

agrária e a devida assistência técnica110.

Pelo que nos informa Fernando Lira (1997), entre as décadas de 1980 e 1990

levas de trabalhadores rurais da zona canavieira e das fazendas do sertão, que com

a mecanização ou ainda novos modelos de gerenciamento desses espaços,

migraram para o sudeste do Brasil ou ainda para periferia de Maceió, se somando

às populações urbanas já existentes. As classes políticas oligárquicas não têm o

interesse de apresentar projetos políticos consistentes para alavancar a economia

local, visto que esses grupos se alimentam do modelo vigente.

Na avaliação de Sandra Lira (2014), o modelo político e econômico

atualmente vigente estrutura a vida social e política de Alagoas desde a fase colonial

e, como tal, tem longa perenidade em sua história, mantendo-se quase intacto na

109 Informações extraídas do livro Economia Popular: Uma Via de modernização para Alagoas (2012), do Professor de Economia da UFAL, Cícero Péricles de Carvalho. 110 Fernando José Lira (1997): “Crise, Privilégio e Pobreza em Alagoas” e Sandra Lira (2014): “Estados Brasileiros: Alagoas”, descrevem com precisão o cenário social e econômico de Alagoas.

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atualidade. A presença implacável dos representantes políticos das famílias

tradicionais no poder público em Alagoas, passando pelo executivo, legislativo e

judiciário revelam estratégias eficientes, na qual essas relações políticas e sociais

arcaicas convivem com modelos econômicos e políticos modernos. Porém, o

paradoxo dessa situação é aparente. A dinâmica arcaico-moderna da sociedade

alagoana está enraizada literalmente na terra, no latifúndio, que se moderniza

tecnologicamente, mas mantém relações políticas que remontam ao período

colonial.

Desde que foi emancipada, Alagoas sempre representou o grande guarda-chuva protetor de suas elites. Assim, logo após sua emancipação, a elite agrária capturou o Estado num processo com a qual ele quase se confunde com privado, manipulando-o largamente e sendo acobertado pelo manto da proteção estatal. Desse modo, os recursos federais e estaduais são apropriados e controlados por essa elite local, com o intuito de manter suas atividades econômicas e consolidar o seu poder político, pois objetiva a manutenção de um sistema arcaico de produção e dominação, assentado no coronelismo, no analfabetismo, na mortalidade infantil e na pobreza extrema de quase metade da população residente (LIRA, 2005, p.69).

A partir das informações de Leda Almeida (1999), os alagoanos vivenciaram

uma das maiores crises sociais, econômicas e políticas. Culminado com a queda do

Governo de Divaldo Suruagy (PMDB), o famoso 17 de Julho111, em 1997. A máquina

do estado tinha paralisado, chegando a oito meses de atraso nos pagamentos dos

funcionários públicos, a educação pública, a saúde e a segurança vivenciaram um

estado de convulsão social. Chegando às dezenas de casos de suicídios de

servidores públicos.

Segundo Sandra Lira (2014), o governo federal renegociou a dívida do

Estado impondo condições severas de juros, impôs exigências para o enxugamento

da máquina pública, como no do Plano de Demissão Voluntária – PDV, no qual

milhares de servidores sem encontrar saída, com os salários atrasados, aderiram ao

programa. Com as demissões em massa, várias áreas essenciais do serviço público

ficaram comprometidas, como a educação, saúde e segurança pública.

111 Pelo que nos informa Leda Maria de Almeida (1999), na obra “Rupturas e permanências em Alagoas: o 17 de Julho de 1997 em questão”, foi um dia importante que marcou a história recente de Alagoas, significou a queda dos representantes das oligarquias do açúcar, tendo como ápice uma das maiores manifestações populares já registrada em solo local, onde as pessoas foram às ruas para pressionar a Assembleia Legislativa que apreciava a votação de impeachment do governador do Estado Divaldo Suruagy. O governador se licenciou e em seguida renunciou ao cargo.

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Nesse contexto, tinha chegado à Alagoas o auge do modelo econômico do

neoliberalismo, somado à ganância dos representantes das oligarquias locais, com

seus modelos de gestão nada convencionais. As notícias recorrentes de desvios de

vultosos volumes de recursos públicos eram recorrentes, aprofundando ainda mais

as distorções sociais. Os reflexos desse quadro caótico serão sentidos também na

primeira década do século XXI.

O plano real (1994) agravou ainda mais o déficit público estadual, e o endividamento ampliou-se, gerando uma crise social e política. Sem recursos para custeio e investimentos, os serviços públicos em geral e a educação estadual desestruturaram-se, e os atrasos de salários forçaram os servidores a aderir ao PDV – Plano de Demissão Voluntária. Entre os cerca de 20 mil servidores demitidos, a maioria pertencia a educação, área que perdeu maior parte do seu contingente -12.580 pessoas do quadro da educação estadual, representando 59,15% do quadro efetivo da Secretaria Estadual de Educação. O caos econômico, social e político levou um amplo movimento social as ruas, pressionando o Legislativo para votar o impeachment do governador Suruagy (LIRA, 2014, p. 80).

A seguir verificamos um quadro alarmante das desigualdades sociais em

Alagoas, relacionando esses índices com o Brasil. O índice de Gini112 quanto mais

próximo de zero numa determinada sociedade, significa que a distribuição de renda

é mais justa e com mais igualdade social. Não é o caso de Alagoas, que apesar de

apresentar alguns avanços econômicos nos anos 2000, ainda apresenta uma trágica

desigualdade social.

112 Conforme as informações do Instituto de Pesquisas Econômicas – IPEA, o Índice de Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini, é um instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de zero a um (alguns apresentam de zero a cem). O valor zero representa a situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. O valor um (ou cem) está no extremo oposto, isto é, uma só pessoa detém toda a riqueza.

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Gráfico 2 - Alagoas, Nordeste e Brasil – Evolução do Índice de Gini (1995-2011)

0,6310,575 0,583

0,478

0,596 0,5830,558 0,512

0,5850,572

0,5480,508

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1,8

2

1995 2004 2008 2011

Brasil

Nordeste

Alagoas

Fonte: IBGE/PNAD - 2012 apud LIRA. UFAL.

Sandra Lira (2014), ao avaliar os índices sociais de Alagoas, nos apresenta

uma tímida melhora, ao tempo em que detalha sérias e graves distorções:

No ano de 2003, Alagoas tinha 57,90% de seus domicílios considerados pobres, ou seja, com renda domiciliar per capita inferior á linha da pobreza. Além disso, o Índice de Gini do estado era de 0,608, o que sinalizava uma alta concentração de renda na região. No entanto pode-se verificar que, a partir de 2004, esses indicadores vêm gradativamente melhorando, mostrando uma redução da pobreza no estado e uma evolução na distribuição de renda. Tal fato pode ser explicado pela ampliação dos programas assistencialistas (principalmente o Bolsa Família – PBF), direcionados á região Nordeste, os quais impactam diretamente nos estados mais pobres da Federação (LIRA, 2014, p.60).

Como nos esclarece Sandra Lira (2014), em 1998, os alagoanos elegem pela

primeira vez políticos de esquerda, profissionais liberais chegaram aos mais altos

postos do poder público. O engenheiro civil Ronaldo Lessa (PSB) se elegeu

Governador do Estado e Heloisa Helena ( PT) foi a primeira mulher senadora por

Alagoas. Entre outros políticos, sem ligação com a oligarquias, como a professora

Maria Jose Viana (PSB), o eletrotécnico Paulo Fernando dos Santos (PT), o

engenheiro civil Judson Cabral (PT), eleitos para cargo de deputado estadual. Vale

registrar que na Assembleia Legislativa e na esmagadora maioria dos cento e dois

municípios alagoanos prevaleceu o domínio das oligarquias.

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Na visão de Sandra Lira (2014) as mudanças no cenário eleitoral alagoano a

partir da década de 1990, na qual as velhas oligarquias perderam espaço para

novos atores políticos, estão relacionadas ao agravamento da crise social e

econômica que se instalou em Alagoas, sobretudo em 1997. Ocorreu uma reação de

setores da sociedade como os funcionários públicos, profissionais liberais,

movimentos estudantis, sindicatos e alguns setores mais progressistas da Igreja.

Cada ente reivindicou novos representantes na seara política, buscando assim

serem ouvidos no conjunto da sociedade e almejando amparo do poder público para

suas demandas.

Conforme nos esclarece Carvalho (2015), durante os dois mandatos do

Governo Ronaldo Lessa (1998 a 2006), o Estado de Alagoas obteve alguns avanços

pequenos, mais importantes no quadro social e econômico do Estado. Após

regularizar os atrasos na folha de pagamento dos servidores estaduais, medida que

ajudou a economia local, reaquecendo o comércio, o governador implementou

medidas administrativas importantes.

Ainda segundo Carvalho (2015), as parcerias do Governo Ronaldo Lessa com

o governo federal resultaram em projetos de infraestrutura como as rodovias

estaduais, ampliação do Porto, reforma do aeroporto internacional Zumbi dos

Palmares, incrementando o turismo. Construiu o centro de convenções e realizou

concursos públicos para áreas essenciais como a educação e saúde. O término do

seu segundo mandato foi mais tímido, enfrentou sérias resistências na Assembleia

Legislativa e no Tribunal de Justiça. Vale salientar que com o início do governo Lula,

em 2002, houve o aumento do repasse de recursos federais, sobretudo com os

programas sociais que amenizaram o drama da pobreza extrema ainda presente

numa parcela importante da população.

Sandra Lira (2014) esclarece que a eleição de Ronaldo Lessa, um militante

dos movimentos sociais, um profissional liberal que chegou ao cargo máximo do

poder executivo estadual, não significou uma transformação ampla e irrestrita dos

problemas sociais e econômicos de Alagoas. O seu governo também foi marcado

por alianças com setores conservadores, e que repercutiram na imprensa notícias

negativas quanto a essa conduta.

Sandra Lira (2014), analisa que durante o Governo Lessa a economia de

Alagoas continuou girando em torno da monocultura da cana – de – açúcar; não foi

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realizada a reforma agrária; a educação, a saúde, a segurança pública e a

infraestrutura do Estado continuaram deficitárias. As ações governamentais tanto na

esfera estadual como nos municípios alagoanos, não são capazes de modernizar-se

e promover projetos que dinamizem a economia e insira os alagoanos no mundo da

cidadania. Uma grande parcela dos eleitores é composta por analfabetos funcionais

e com limitado discernimento político para fiscalizar e exigir os seus direitos

fundamentais.

Segundo Fernando José de Lira,

Como o modelo político presente em todo Estado apoia-se na oligarquia ligada, basicamente, ao poder agrário, essa forte aliança tácita elimina toda e qualquer ação voltada para eliminar a pobreza e erradicar a miséria. Trata-se, na verdade, de uma elite cuja visão dominante é aquela presente no período colonial, que se encontra totalmente alheia à geração de ocupação, às relações de trabalho, na distribuição de renda e no desenvolvimento humano (LIRA, 2005, p.70).

Na avaliação de Sandra Lira (2014), é impossível qualquer governo sanar a

dívida de quase cinco séculos de domínio das elites do açúcar para com uma

população, na sua imensa maioria, marginalizada. As políticas públicas a serem

realizadas exigem disposição, apoio político e envolvem investimentos pesados em

educação, em especial, na saúde, na infraestrutura e, de modo especial, uma

reforma agrária.

Conforme nos esclarece Carvalho (2015), historicamente Alagoas vivencia um

processo de exclusão social perpetuado pelo uso da máquina pública pelas

oligarquias rurais e sua elite política. E o quadro social foi ainda mais agravado com

a implantação das políticas neoliberais no país na década de 1990, especialmente

porque foi associada à utilização da máquina pública estadual para dar suporte à

reestruturação produtiva do setor sucroalcooleiro. A falência das finanças estaduais,

resultante desse quadro, desestruturou a oferta de políticas sociais.

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Gráfico 3 - Alagoas – Taxa de homicídios (% 100 mil habitantes) 2001–2011

29,3 34,3 35,7 35,140,2

53,059,6 60,3

59,366,8

72,254,8

62,268,8

72,8

75,8

106,0

122,9 125,3124,9

150,4156,4

0

50

100

150

200

250

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Jovens 15 a 24 anos

População total

Fonte: Mapa da Violência 2013. Homicídios e Juventude no Brasil

O crescimento explosivo dos números de homicídios, sobretudo entre os

jovens que apresentam um salto de 54,8% em 2001 para 156,4% a cada cem casos

por ano. Na população em geral mais que dobra saindo de 29,3 % em 2001 para

72,2% em 2011. Entre os fatores que provocam esse cenário, existe historicamente

uma cultura de violência numa sociedade marcada pelo coronelismo, da afirmação

do poder e da honra por meio da morte daqueles que ousassem ultrapassar as

linhas da conduta de obediência. Mas, neste período em si, que a pesquisa

contempla, a violência está amparada em outros elementos, como as graves

distorções sociais, na falta de ocupação, nos altos índices de evasão escolar e na

inexistência de políticas públicas voltada para os jovens.

As taxas de homicídios de Alagoas no início da década de 1990 já eram altas, se comparadas a países e regiões do mundo com conflitos armados. Mas, no caso da juventude, não havia uma grande discrepância entre a taxa de homicídios entre a população em geral e a população juvenil. Destaque-se que o fenômeno da taxa de homicídios crescente vitimando a juventude já se apresentava no país, e Alagoas ocupava a oitava posição em termos gerais e a décima sexta em relação a juventude (LIRA, 2014, p.67).

Seguindo as análises de Sandra Lira (2014), constatamos que a partir dos

anos 2000, houve a elevação dos números de homicídio entre os jovens em

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Alagoas. Os dados são assustadores na medida em que revelam que a maioria

absoluta dessas mortes estão relacionadas aos jovens pobres que residem nas

periferias. Uma pobreza que arranca a dignidade e leva rapazes e moças ao mundo

das drogas. Muitos entram para traficar e obter dinheiro, nesse caminho se viciam,

como não têm dinheiro para pagar, sentenciam a própria morte. Entre as drogas

utilizadas, iniciam pela maconha, experimentam a cocaína e se entregam de

maneira avassaladora ao crack. Esse último se alastra de maneira epidêmica,

inclusive atingindo outros segmentos da sociedade.

[...] um elemento novo e externo somou-se a esses componentes, a chegada do derivado da cocaína – o “crack”, ou “noia”, como é mais conhecido. O consumo de cannabis, plantada no interior do estado distribuída nos bairros periféricos, não gerava uma rede de traficantes, tal como hoje está instituída. Mas os grupos que vieram instalar-se no Nordeste modificaram esta logística “artesanal” e introduziram um psicotrópico com efeitos muito mais fortes e causador de vício, e então estruturaram uma rede articulada, dentro do chamado “crime organizado” nacional. A violência desse processo é brutal e está explícita nos homicídios de jovens que se enredam ora como consumidores, ora como membros da organização criminosa, e matam e morrem todos os dias (LIRA, 2014, p.67).

Cabe aqui registrar o trabalho missionário e assistencial de católicos e

evangélicos voltados para as comunidades carentes, de catequese dos jovens e de

modo particular de assistência aos usuários de drogas113. A presença desses leigos

e obreiros dessas igrejas nas periferias de Maceió e nas demais cidades alagoanas

constitui uma estratégia relevante de evangelização. Se não conseguem alcançar a

maioria dos jovens, conseguem atender um número significativo. Muitos jovens

deixam as drogas por meio da conversão nos próprios templos e continuam com

acompanhamento espiritual. Em outras situações, os jovens são levados em comum

acordo com a famílias e aceitação do próprio dependente químico para espaços

terapêuticos, sendo muito desses espaços criados com o apoio das congregações

religiosas que aprofundaram seus trabalhos assistenciais.

3. 2 Em cena, os eleitores e os eleitos em nome de Deus

113 A Rede Acolhe é um projeto oficial do Estado de Alagoas que visa o acolhimento dos usuários de drogas em clínicas de saúde. Um convênio entre o Estado de Alagoas e diversas comunidades terapêuticas, onde se destacam o Deputado Federal Givaldo Carimbão com as Fazendas de acolhimento aos dependentes e o Deputado Pastor João Luiz com o Projeto “Fazer o bem sem olhar a quem”. Nas referências, disponibilizamos as fontes através dos sites da Secretaria de Paz de Alagoas, da Assembleia Legislativa e da Câmara Federal.

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No limiar do século XXI, os católicos carismáticos e os evangélicos

pentecostais encontraram em Alagoas um terreno fértil para o trabalho de

evangelização, onde uma parcela significativa da sua população que sempre esteve

à margem da sociedade, experimenta um processo de pobreza e pobreza e pobreza

extrema, como nos aponta Cícero Carvalho (2012).

Muitos desses alagoanos, esquecidos pelo poder público, desiludidos com a

política, com os governantes e abandonados pelos partidos políticos tradicionais e

hegemônicos, lhes restavam tão somente o sofrimento do cotidiano e a esperança

em Deus por dias melhores114. E nesse cenário que se constitui a presença de

líderes e representantes católicos e evangélicos, ingressando na política e logrando

êxitos no processo eleitoral alagoano, que se inicia em Alagoas na década de 90 do

século XX, e se consolida na primeira década do século XXI.

Esse novo momento da política alagoana a partir dos anos de 1990 e 2000,

contou também a participação dos representantes e líderes religiosos115

reivindicando espaço no poder público institucionalizado como a Câmara de Maceió,

a Assembleia Estadual de Alagoas e na Câmara dos Deputados em Brasília. Tanto

católicos quantos os evangélicos que desempenhavam importantes trabalhos de

evangelização e ações sociais na capital e no interior do Estado, perceberam a

importância de ocupar a política institucional em nome dos alagoanos

desamparados e desfavorecidos.

Mediante o olhar histórico de Leda Almeida (1999), o caos social e político da

década de 1990 protagonizado pelos representantes das oligarquias, em Alagoas,

também contribuiu para o surgimento de novas lideranças políticas. Pelo nosso

olhar, inclusive, aquelas lideranças oriundas dos púlpitos das Igrejas. Como afirma

Carvalho (2015), não que as oligarquias tenham desaparecido do poder, longe

disso, porém a disputa eleitoral passou a contar como novos atores políticos como

os militantes de esquerda e de outros segmentos da sociedade.

114 O Professor da UFAL e cientista político Eduardo Lira analisa o cenário alagoano nas vésperas das eleições de 2010, sobre religião e política, pobreza e estratégias de poder de alguns políticos religiosos. As informações constam num artigo publicado no site jornalístico Cada Minuto de Maceió-AL, numa matéria intitulada: Políticos apostam na religião para conquistar eleitores em Alagoas, referenciada no final deste trabalho. 115 Esses novos atores políticos religiosos: Chamariz, Carimbão, Joao Luiz e Jota Cavalcante, constam no decorrer desse trabalho, a partir da trajetória dos mesmos repercutidas em diversas matérias jornalísticas, nas informações dos sites institucionais das respectivas congregações religiosas, nos sites oficiais do poder legislativo municipal, estadual e federal.

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Antes de qualquer coisa, a entrada dos religiosos na política alagoana foi uma

estratégia inteligente, ao apresentarem-se como representantes de uma mensagem

libertadora de uma sociedade corrompida de valores, contaminada pela corrupção,

pela ambição material, sem compromissos com a família. Em suma, um cenário

desolador como o predomínio do desemprego, violência e o novo fenômeno

aterrorizador, como o avanço das drogas, destruindo a vida dos jovens, atingindo

famílias inteiras116.

As eleições municipais em Maceió, de 1989, marcam o início da presença dos

políticos religiosos no espaço do poder institucionalizado117. Nesse pleito sai

vitorioso para vereador Givaldo Carimbão (PSB), para os católicos, uma conquista

extraordinária, na medida em que um representante, com estreita ligação com o

movimento carismático, passa a ocupar um cargo com poder decisório na

elaboração de leis e projetos dentro da concepção cristã católica. Essa vitória

assume significados maiores, ainda mais num momento tão delicado para Igreja

Católica, com o crescimento dos evangélicos no campo religioso, e, por conseguinte

o acirramento na disputa por fieis, entre as congregações religiosas. Porém, o

crescimento dos evangélicos pentecostais chegará também na seara política.

Nas eleições seguintes, em 1993, o Pastor João Luiz (PFL), representando os

evangélicos, de modo particular a Igreja do Evangelho Quadrangular, foi eleito

vereador por Maceió. Sua vitória significou a consolidação de um projeto de

evangelização e de assistência social aos moradores de bairros periféricos que

margeiam a orla lagunar118. Uma região com uma natureza exuberante, porém

totalmente abandonada pelo poder público.

116 Avaliação do quadro econômico e social de Alagoas realizada pelo Economista Cícero Péricles de Carvalho, numa matéria intitulada Rx da pobreza em Alagoas , publicada em 2010 pelo site jornalístico Cada Minuto em Maceió. Em outro trabalho da Professora da UFAL Sandra Lira, intitulado Violência e desigualdade ela detalha os alto índice de homicídios de jovens ligado ao consumo de drogas a partir dos anos de 1990 em Alagoas, publicado no livro Estados Brasileiros: Alagoas, pela Fundação Perseu Abramo. 117 Pesquisa feita pelo autor desse presente trabalho junto ao Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas – TER-AL, referente às candidaturas e votações obtida, da coleta de dados biográficos nos site das casas legislativas: Câmara dos Deputados, Assembleia legislativa de Alagoas e Câmara de Vereadores de Maceió e dos diretórios partidários em Maceió: PROS (Givaldo Carimbão), DEM (Pastor João Luiz), PTB (Carlos Ramos Chamariz) e do PDT (Jota Cavalcante). 118 No dia 15 de maio de 2013 o blog oficial da Igreja do Evangelho Quadrangular - IEQ em Maceió publica uma reportagem com título: João Luiz 25 anos na presidência da Quadrangular em Alagoas, a ser comemorado no dia 19/05/2013. A publicação detalha a liderança do Pastor João Luiz e consolidação da IEQ em Alagoas, bem como do trabalho de evangelização e ação social em bairros pobres da orla lagunar da capital alagoana e de outras localidades de Alagoas.

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Nesse sentido, obtiveram êxito e permanecem na seara política e religiosa

nomes como do deputado estadual Pastor João Luís (DEM), líder da Igreja do

Evangelho Quadrangular, o deputado estadual Jota Cavalcante (PDT), e o deputado

federal Antônio Carlos Ramos Chamariz (PTB), esses dois representantes da Igreja

Assembleia de Deus e o Deputado Givaldo Carimbão (PROS), esse é católico

fervoroso, mantém estreitas relações com o movimento carismático católico.

Mais recentemente, outros políticos119 têm marcado presença nesse terreno

do religioso, podemos mencionar a candidatura a deputado estadual João Henrique

Caldas (PTN), eleito em 2010. O parlamentar é membro da Igreja Batista, elegeu-se

deputado federal nas eleições de 2014, sendo o parlamentar mais votado em

Alagoas. Um exemplo bastante peculiar está na construção da sucessão política

religiosa do deputado federal Givaldo Carimbão (PROS), na qual lançou seu filho

Givaldo Carimbão Júnior (PROS), oficialmente na política em 2012, se candidatando

a vice prefeito por Maceió, porém saiu derrotado. Já em 2014, “Carimbinho”, como

também é conhecido, foi eleito deputado estadual por Alagoas. O parlamentar segue

os mesmos passos do seu pai, com uma forte atuação junto a Igreja Católica. É

responsável por uma rede de rádios católicas que atua junto às paróquias e

dioceses nos eventos religiosos e promove projetos assistenciais vinculados à

catequese católica120.

Outros nomes121 com perfis políticos com estreitas ligações com a religião,

merecem destaque, entre os quais Alan Balbino (PSB) da Igreja Batista, Pastor Ildo

Rafael da Casa de Oração Cristã, denominação da vertente pentecostal, Joab

Nicácio ligado à Igreja Assembleia de Deus e Reginaldo de Jesus ligado à Igreja

Universal do Reino de Deus. Todos esses exerceram o mandato de vereador por

Maceió, no período de 2000 a 2004.

Mesmo não preenchendo, num primeiro momento o perfil do político

religioso, o Senador Fernando Collor (PTB) chamou atenção nas eleições de 2006 e 119 As informações foram extraídas das pesquisas do autor deste trabalho junto ao TRE-AL, diretórios partidários, sites jornalísticos como Gazeta Web, Tudo na hora, Cada Minuto, das respectivas denominações religiosas, das instituições ligadas aos políticos e nos sites oficiais do Congresso Nacional, Assembleia Legislativa e Câmara de vereadores de Maceió. No tópico referente ao perfil político desses políticos religiosos trabalho será referenciado as fontes por candidato. 120 Informações extraídas da base de dados do TRE/Alagoas e do site jornalístico Cada Minuto em reportagens do jornal Gazeta de Alagoas e do site jornalístico Cada Minuto, em outubro de 2014 121 Uma reportagem do Jornal Gazeta de Alagoas, publicada em dezembro de 2003 sob o título: Evangélicos constroem a terceira força política, onde repercutem as articulações desses políticos de diferentes congregações evangélicas, visando apoiar uma eventual candidatura a prefeitura de Maceió, do mais proeminente e bem sucedido político evangélico em Alagoas, o pastor João Luís.

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2014, por reivindicar sistematicamente a face do religioso, se apresentando como

um pai de família, homem de fé e cristão temente a Deus, destacando suas ações a

serviço da Igreja Católica122.

Atrelada aos graves contrates sociais da população alagoana, também estão

os baixos índices educacionais do seu eleitorado. O perfil educacional do eleitorado

alagoano foi revelado numa pesquisa, em 2012: o Tribunal Regional Eleitoral –TRE

de Alagoas constatou um cenário preocupante, na medida em que do total de

1.863.029 eleitores, 32% possuem o 1º grau incompleto e 39% são analfabetos.

Significa dizer que desse quase 2 milhões de votantes são analfabetos funcionais.

Ainda conforme os dados apenas 8% possuem o ensino médio completo e 3%

chegaram à universidade.

Gráfico 4 - Perfil Educacional do Eleitorado de Alagoas (2012)

Analfabetos

798.461

39%

1º grau

incompleto

651.018

32%

1º grau

90.178

(5%

2º grau

incompleto

265.775

13%

2º grau

160.390

8% Superior

68.585

3%

FONTE: TRE-AL (2012)

Pelo exposto o grau de leitura política do eleitorado alagoano é muito

pequeno, quanto constatamos que apenas 8% possuem o ensino médio e 3% o

nível superior fica evidente que a grande maioria dos votantes não tiveram

oportunidade de avançar nos estudos. Esses indícios apontam para uma realidade 122 Guia eleitoral do Senador Fernando Collor, no dia 27 de Agosto de 2014 o então candidato ao senado se apresenta como um católico fervoroso, participa de uma celebração religiosa, aparece numa procissão, discursa associando sua imagem numa estreita ligação com Frei Damião e anuncia emendas parlamentares para restauração das Igrejas sede da Diocese de Maceió e Penedo.

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na qual, a maioria desse recorte do eleitorado, vive em condições sociais

extremamente frágeis. Os dados de uma pesquisa inédita realizada pelo IPEA,

repercutida pelo Jornal Gazeta de Alagoas, em novembro de 2014, que compreende

o período de 2003 a 2013, revelam que a pobreza extrema em Alagoas, no ano de

2013123, atingiu um montante de 407,394 mil habitantes que passavam fome.

A realidade de pobreza e miséria que faz parte da vida de uma grande

parcela da população alagoana, está geograficamente localizada na periferia e

grotas de Maceió, como também nas comunidades carentes de cidades da zona da

mata, do agreste e do sertão alagoano. Um contingente populacional pobre, um

espaço ideal para atuação das Igrejas Evangélicas e também, e em menor

proporção, ocorre o trabalho de evangelização dos católicos.

A cidade cresceu rapidamente, mas foi “ruralizada” pela presença massiva de uma população originária do campo alagoano, que trouxe para a capital suas práticas e valores, determinando o cotidiano da vida de bairros inteiros. Outro aspecto importante desse crescimento urbano acelerado é que ele acontece de forma desigual, com um ritmo mais forte nas áreas dos aglomerados subnormais (favelas, palafitas, grotões, encostas, cortiços, loteamentos clandestinos, etc.) e nos bairros mais pobres e periféricos que na parte rica da cidade (condomínios fechados e nos bairros de classe média) (CARVALHO, 2012, p.34).

O sucesso dos políticos religiosos em Alagoas no processo eleitoral, a partir

da década de 1990, aos dias atuais, está relacionado a uma combinação de

elementos do modelo pentecostal e neopentecostal de evangelização. Esse avanço

do protestantismo alcançou um número significativo de pessoas nunca antes

enxergadas pelo poder público, e muito menos pela igreja católica.

Entre outros fatores, além do próprio cenário de exclusão social e violência,

verificam-se eficientes estratégias pastorais dos evangélicos, as inovações musicais

nos cultos, a disciplina das missões de evangelização, além de uma atuação

consistente na assistência social voltada para inúmeras comunidades pobres de

Alagoas. A presença das igrejas pentecostais e neopentecostais é maior nas

123 Matéria jornalística sobre a pobreza em Alagoas, intitulada: Mais de 400 mil alagoanos passam fome e vivem na miséria. Consta um levantamento minucioso da pobreza extrema por habitantes em Alagoas: 2003 (1.135,933 hab.), 2004 (1.042,581 hab.), 2005 (946.177 hab.), 2006 (790.927 hab.), 2007 (715.101 hab.), 2008 (725.151 hab.), 2009 (677.867 hab.), 2011 (472.609 hab.), 2012 (347.171 hab.), 2013 (407.394 hab.).

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camadas menos favorecidas a exemplo da expansão das Igrejas Assembleia de

Deus, Universal do Reino de Deus, Evangelho Quadrangular e da Igreja Mundial124.

As lideranças dessas Igrejas se sobressaem com habilidade política, carisma

e fervor religioso e doutrinário. Exercem grande influência entre os adeptos, que se

reconhecem crentes no sentido do termo. O exercício da fé, da disciplina e da

obediência às palavras do pastor.

Por sua vez os católicos, por meio dos trabalhos das diversas paróquias

espalhadas pelo Estado, acrescentando o relevante trabalho da Renovação

Carismática Católica, apoiadas pelas dioceses de Maceió, Penedo e Palmeia dos

Índios, vêm desempenhando uma forte ação de evangelização em todo o Estado de

Alagoas. Esses políticos religiosos mantêm vínculos estreitos com as suas

respectivas congregações religiosas, essas por sua vez estão localizadas nos

bairros periféricos pobres da capital ou nas pequenas cidades alagoanas que

apresentam índices de pobreza extrema.

O avanço das Igrejas Evangélicas em Alagoas, também se fez presente nas

classes médias, muito em função das transformações no campo religioso brasileiro.

Nesse sentido, destacamos a Igreja Batista Renovada, a Igreja Luterana, a Igreja

Presbiteriana, a Igreja Metodista, a Igreja Maranata e a Igreja Adventista. Na classe

média baixa verificamos a Congregação Cristã do Brasil e Testemunha de Jeová.

Essas denominações estão localizadas em maior número na capital, porém também

marcam suas presenças nas regiões interioranas.

Conforme nos esclarece Faustino Teixeira (2013), houve no Brasil, a partir da

década de 1980, uma maior inserção dos evangélicos na arena política a partir do

fenômeno do pentecostalismo e neopentecostalismo. Com esse aumento

significativo de fiéis dessas correntes evangélicas, consequentemente refletiu no

quadro eleitoral e no cenário político brasileiro.

Em Alagoas, entre os evangélicos constatamos um crescimento significativo

das Igrejas Assembleia de Deus, Evangelho Quadrangular e Universal do Reino de

Deus. Enquanto que no segmento do protestantismo histórico se destaca a Igreja

Batista. Todas essas congregações, juntamente com a Igreja Católica passaram a

contar com representantes políticos nas legislaturas alagoanas a partir das eleições

de 1989, acentuando -se nas décadas de 1990 e 2000.

124 Verificar tabela do Censo do IBGE/Alagoas nos anos 2000 e 2010.

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Gráfico 5 - Censo IBGE 2000 (População residente por religião - recorte das Igrejas

dos políticos religiosos alagoanos)

2.253.685

200.804 140.10426.508 19.658 13.762

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

Igreja

Católica

Romana

Evangélicas

Pentencostais

Igreja

Assembleia

de Deus

Igreja Missão

Evangélica

Batista

Igreja do

Evangelho

Quadrangular

Igreja

Universal do

Reino de

Deus

Pelo exposto no censo do ano 2000125, o estado Alagoas contava uma

população de 2.827.856 habitantes, desse total, a Igreja Católica em Alagoas lidera

com mais de 2.253,685 milhões de adeptos. Porém, os estudiosos alertam para o

fato de que a metodologia do IBGE predomina um olhar quantitativo. Nesses

levantamentos verifica-se um número decrescente de católicos.

No campo religioso brasileiro cada vez mais polissêmico, não sendo diferente

em Alagoas, aqueles que se definem como católicos, por exemplo, não o são no

sentido do termo. Isto é, não vão à missa aos domingos, não cumprem os

sacramentos ou ainda não estão dispostos a cumprir as normas doutrinárias

determinadas pelos seus líderes. Podemos deduzir que nesse aspecto o

crescimento e o fortalecimento dos evangélicos ganharam terreno, em detrimento de

uma acomodação dos católicos. Isso se reflete nas representações dessas

lideranças religiosas e políticas.

A Igreja Assembleia de Deus, também no censo de 2000, ocupa o segundo

lugar com 140.104 mil fiéis, se destacam pela presença maciça nos bairros e nas

comunidades mais excluídas nas cidades e no interior alagoano. Comportam-se

como verdadeiros soldados da evangelização, o que reflete numa profunda

125 Tabela 2012, referente a Alagoas sobre a População residente, por cor ou raça, segundo o sexo e a religião - Resultados Gerais, elaborada pelo IBGE no censo 2000.

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disciplina e consequentemente promovem uma expansão dos assembleianos em

Alagoas126.

Em terceiro lugar fica a Igreja Batista com 26.508 mil adeptos. Parecem

indicar um ambiente mais leve na condução pastoral doutrinária. Isso não significa

que essa congregação não exija dos fieis uma conduta de disciplina e obediência à

palavra do pastor. Os seus líderes religiosos convidam o rebanho a participarem da

vida da Igreja, debatendo, refletindo e convidando a contribuírem com a

evangelização127. Em quarto lugar ficou a Igreja do Evangelho Quadrangular com

19.658 integrantes. Essa última se destaca pelo trabalho de evangelização

extremamente articulado com as comunidades onde estão inseridos. Existe também

uma disposição ao diálogo junto às outras congregações evangélicas, construindo

sempre nos limites possíveis uma agenda comum junto à sociedade128. Em quinto

lugar ficou a Igreja Universal do Reino de Deus – IURD, com cerca de 13.762

adeptos que coloca em prática uma forte e agressiva estratégia de marketing nas

redes de televisão, rádios e, sobretudo com a construção de inúmeros templos. A

teologia da prosperidade será uma marca indelével dessa igreja, na medida em que

direciona um discurso de salvação para inúmeras pessoas que vivem afligidas pelos

problemas materiais e espirituais129.

O campo religioso brasileiro passa por grandes mudanças a partir da segunda

metade do século XX, de modo particular se intensifica na década de 1990. Assim,

enquanto os católicos apresentavam 83,3% em 1991, passaram para 73,8% em

2000 e 64,6% em 2010 da população brasileira, enquanto que os evangélicos

ascenderam em termos absolutos130.

Os dados sobre religião que emergiram do Censo do IBGE de 2010 confirmam as transformações no panorama religioso brasileiro em curso nas três últimas décadas em relação à queda do catolicismo e crescimento do grupo evangélico e sem religião. Os evangélicos

126 Informações levantadas no site oficial da Igreja Assembleia de Deus, na seção institucional e congregações presentes no território alagoano, consta nas referências. 127 Informações levantadas no site oficial da Igreja Batista do Farol, nas seções início, a Igreja e ministérios e reportagens jornalísticas sobre essa congregação em Alagoas. 128Informações do Blog oficial da Igreja do Evangelho Quadrangular - IEQ, numa matéria sobre 40 anos da congregação em Alagoas, somada as matérias jornalísticas sobre a IEQ que constam nas referências deste trabalho. 129 Informações do site oficial da Igreja Universal do Reino de Deus, na seção institucional; Referenciais do texto “Os Neopentecostais e a Teologia da Prosperidade” (MARIANO, 1996, p. 9-10) e “O Marketing como instrumento de manipulação da fé” (RIBEIRO, 200, p. 7-9). 130 Informações do artigo: O Campo religioso Brasileiro na ciranda dos dados, de Faustino Teixeira, publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos, em agosto de 2012.

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saltaram de 6,6% em 1980 para 22,2% da população em 2010. Em termos absolutos, o crescimento parece mais pujante: de 7.886 milhões em 1980, os evangélicos atingem a marca de 42.275 milhões, ou seja, um crescimento perto de 540% nas últimas três décadas (MENEZES; TEIXEIRA (Org.), 2013, p.161)

E aqui é importante esclarecer que a curva ascendente desse grupo religioso

se encontra diretamente relacionada com o movimento de diversificação e difusão

do pentecostalismo. Afinal, representando 49% dos evangélicos identificados em

1980, os pentecostais, nas últimas duas décadas do século XX, deixaram para trás

os chamados protestantes históricos, com sua taxa subindo para 67% em 1991 e

68% em 2000131.

Nesse sentido, Teixeira esclarece:

É extraordinário esse crescimento pentecostal em termos absolutos, na faixa de 17 milhões de fiéis entre os anos de 1991 a 2010. Mas os analistas advertem que o crescimento evangélico, incluindo os pentecostais, não pode ser muito otimizado, já que na última década, de 2000 a 2010, esse crescimento foi menor do que o ocorrido na década anterior. Como mostrou Paulo Ayres, o crescimento dos evangélicos entre 1991 e 2000 foi de 120%, enquanto na última década, de 2000 a 2010, esse crescimento foi de aproximadamente 62% (TEIXEIRA, 2013, p.25).

Voltamos nossa atenção para os números do censo religioso de 2010 em

Alagoas, particularmente para aquelas Igrejas diretamente relacionas a pertença dos

políticos religiosos alagoanos, os quais tem logrado êxito nas últimas eleições no

período 1990 a 2010. Vale salientar que esses políticos buscam se eleger nos

cargos do legislativo, um poder por excelência de apresentação de propostas e leis

que regulamentam a vida civil. Um espaço ideal de representação de poder para as

igrejas e seus legítimos representantes.

131 Idem.

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Gráfico 6 - Censo IBGE 2010 (População residente por religião -

recorte das Igrejas dos políticos religiosos alagoanos)

2.256.000

358.049232.686

44.918 26.065 27.082

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

Igreja Católica

Romana

Evangélicas

Pentencostais

Igreja

Assembleia de

Deus

Igreja Missão

Evangélica

Batista

Igreja do

Evangelho

Quadrangular

Igreja

Universal do

Reino de Deus

Os Dados do Censo 2010132, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE), revelam que a religião que possui mais adeptos no país ainda é

o catolicismo. Contudo, nos últimos cinquenta anos (1960-2010), a religião registrou

uma queda vertiginosa nos números de fiéis de 93,1% do total da população para

64,6%. Em Alagoas, com uma População de Alagoas de 3.120.494 habitantes os

católicos ainda lideram com mais de 2 milhões de seguidores, contudo o número de

evangélicos cresceram significativamente.

Conforme os dados expostos, as congregações religiosas evangélicas

apresentaram um aumento de adeptos, com destaque paras igrejas pentecostais. A

Igreja Assembleia de Deus lidera com mais de 232 mil fiéis, seguida por uma

representante do protestantismo histórico a Igreja Batista com quase 45 mil fiéis.

Porém, as Igrejas Universal do Reino de Deus e a Igreja do Evangelho

Quadrangular, respectivamente com quase 30 mil fiéis tem se destacado pelo forte

crescimento na periferia da capital Maceió. Esse capital religioso tem se convertido

em capital político. O exemplo maior disso está no fato da eleição sistemática do

Pastor João Luiz, eleito vereador em seis legislaturas e desde 2014 integra o

parlamento estadual.

132 Tabela 1489, referente a Alagoas sobre a População residente, por cor ou raça, segundo o sexo à religião - Resultados Gerais, elaborada pelo IBGE no censo 2010.

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Após discorremos os aspectos sociais, econômicos e políticos de Alagoas,

sobre as mudanças no campo religioso e sobre as primeiras incursões dos políticos

religiosos na arena política, achamos conveniente apresentarmos os Eleitos em

nome de Deus, que se consolidaram nas legislaturas alagoanas no período de 2000

a 2010, os quais vêm desde os anos de 1990 pleiteando mandatos nas legislaturas

alagoanas.

3.2.1 Antônio Carlos Ramos Chamariz (PTB) – Dados biográficos e perfil político133

Antônio Carlos Ramos Chamariz nasceu na cidade de Porto Real do Colégio,

AL, no dia 26 de fevereiro de 1956. É um político e empresário no ramo do comércio

em Maceió. Exerceu o mandato de Deputado Federal entre 2009 e 2010, e desde

2002 vem participando do processo eleitoral, sempre assumindo sua identidade

religiosa: se apresenta como um defensor dos valores cristãos. Esse evangélico da

Igreja Assembleia de Deus, é casado com a senhora Fatima Ramos com que têm

três filhos. Esse político religioso é pai de mais oito filhos de relacionamentos

anteriores, somando aí onze herdeiros.

Chamariz, se comparado, não obteve um desempenho eleitoral muito

expressivo, no que se refere a titularidade dos cargos que concorreu. Isso, porém

não significa que sua atuação política não mereça destaque. Antônio Carlos

Chamariz (PTB) tem uma história de vida marcada pelo drama pessoal do uso de

drogas na adolescência, chegando a viver nas ruas na cidade São Paulo, no final da

década de 1960134.

Ao receber o apoio de missionários religiosos consegue deixar o vício, volta a

estudar através da modalidade do supletivo concluindo o ensino médio. Desde o

encontro com aqueles missionários foi se aproximando da Igreja Assembleia de

Deus, se tornando um adepto desde então. Por volta de 1978, retorna para Alagoas

e começa a trabalhar na Companhia Energética de Alagoas. No período de 1980 e

1990 demonstrou habilidade na área de vendas, em menos de dez anos evoluiu do

133 Os dados biográficos e o perfil político foram extraídos do site oficial da Câmara dos Deputados, publicação da Ação do Parlamentar, página oficial da Igreja Assembleia de Deus em Alagoas, sites jornalísticos, dados dos diretórios dos partidos que constituíram sua carreira política. 134 Discurso do Deputado Federal Antônio Carlos Ramos Chamariz, na assunção do mandato parlamentar, em 04/02/2009.

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comércio ambulante em Maceió, para uma rede Lojas Chamariz, comercializando

miudezas, bijuterias e uma série de produtos importados135.

Nos anos 2000, o então empresário Chamariz deu início a sua atuação

político partidária (PSC: 2000 – 2002; PRONA: 2002 - 2006; PTB 2006 aos dias

atuais). Em 2002 concorreu pelo Partido Social Cristão (PSC), a uma vaga para

câmara de vereados de Maceió, obteve uma votação de mais 4 mil votos, porém

ficou como suplente. Chamariz encontrou no PSC, um partido de uma ideologia

conservadora com uma interpretação do pensamento cristão, balizador para uma

sociedade mais justa, declaram-se em defesa da vida e da família, contra qualquer

política progressista que atente contra a moral cristã136.

Por estratégia política e em virtude das articulações no objetivo de ascender

na sua carreira, Chamariz migrou para o Partido de Reedificação da Ordem Nacional

(PRONA), também de perfil conservador e permaneceu até 2006. Nas eleições de

2006, 2010 e 2014 concorreu para Deputado Federal pelo PTB, partido de perfil

conservador, sendo suplente em todos esses pleitos. Mesmo obtendo uma votação

ascendente não consegui a titularidade, porém através da suplência nas eleições de

2006, assumiu o mandato na Câmara dos Deputados em janeiro de 2009, devido à

renúncia de Cristiano Mateus da Silva e Sousa, eleito prefeito do município de

Marechal Deodoro, Alagoas.137.

No site da Igreja Assembleia de Deus, em outubro de 2010, consta de forma

muita clara que a candidatura de Antônio Carlos Ramos Chamariz foi constituída de

um projeto da representação, em Alagoas, da Convenção Geral das Assembleias de

Deus no Brasil. Assim fica evidente que a presença Chamariz na política, é resultado

da sua estreita ligação com o projeto de sociedade reivindicado pela a Assembleia

de Deus, em Alagoas138.

O empresário Antônio Carlos Chamariz do PTB também teve indicação do projeto da CGADB. Chamariz lançou sua candidatura para o cargo de deputado federal por Alagoas e conseguiu 39.864 os

135 Informações extraídas do site jornalístico Tudo na Hora, numa reportagem sobre as eleições de 2010 e os políticos evangélicos. 136 Informações referentes aos partidos foram extraídas dos sites oficiais dos diretórios nacional e estadual em Alagoas. 137 Informações extraídas dos sites do TRE, do site oficial do PTB, PRONA e dos sites jornalísticos Cada Minuto, Tudo na Hora e Gazeta de Alagoas. 138 O posicionamento oficial da Igreja Assembleia de Deus avaliando os resultados das eleições de 2010, no texto fica evidente que apesar do candidato Chamariz não ter conseguido a titularidade do cargo de Deputado Federal, mas representa uma significativa conquista para a congregação, em virtude da votação obtida.

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que representa 2,82% dos votos válidos (ASSEMBLEIA DE DEUS, 2010).

Gráfico 7: Antônio Carlos Ramos Chamariz (PTB) - Desempenho nas urnas

Fonte: TSE/TRE Alagoas

Antônio Carlos Ramos Chamariz (PTB), concorreu nas eleições de 2002 para

vereador por Maceió - AL, e ficou como suplente, o que se sucedeu nas eleições

gerais quando concorreu para deputado federal em 2006, 2010, 2014. O candidato

oscilou entre algumas votações significativas e outros resultados mais tímidos.

Em discurso oficial proferido pelo Deputado Chamariz, ao assumir o mandato

em 03 de fevereiro de 2009, se apresentou como cristão evangélico e agradeceu

aos pastores evangélicos e correligionários pela assunção do mandato parlamentar.

O deputado assumiu o compromisso de trabalhar junto à igreja em projeto

educativos e culturais para a crianças, para ele uma agenda muito particular devido

sua própria experiência de criança de rua.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em primeiro lugar, quero agradecer a Deus esta grande oportunidade e espero honrar Seu nome e as expectativas de todos os que me deram voto de confiança. Agradeço, ainda, a todos os pastores das Assembleias de Deus espalhadas em Alagoas e ao representante de todos eles, meu pastor José Antônio dos Santos, homem honrado e que tem depositado confiança em mim. [...] Vou lutar para que essas crianças tenham a garantia do princípio constitucional, que estabelece que todas as crianças têm direito à educação, à saúde e ao lazer, sabendo que elas são o futuro de nossa Nação. [...] sei da dor e da solidão de viver nas ruas, porque já as vivi, e é por isso que lutarei para fazer o melhor por essas milhares de crianças que vivem marginalizadas pelas ruas deste País afora139 (CAMARA DOS DEPUTADOS, 2009).

139 Discurso do Deputado Federal Antônio Carlos Ramos Chamariz, de agradecimento a pastores

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Pelo exposto fica evidente o apoio integral da Igreja Assembleia de Deus, a

partir de uma orientação das suas lideranças numa articulação conjunta para

viabilizar a presença do parlamentar no poder político institucionalizado.

A vida política de Antônio Carlos Ramos Chamariz, sempre foi pautada pelos

valores cristão, no discurso em defesa da família, em defesa dos ideais doutrinários

de sua igreja, se articulando junto a bancada evangélica e parlamentares católicos,

com o objetivo de combater todo e qualquer projeto progressista contrário ao

pensamento cristão, como por exemplo, a regulamentação do casamento entre

pessoas do mesmo sexo e a legalização do aborto.

O parlamentar atuou em defesa projetos voltados para o combate às drogas,

elaborou propostas que aumentassem os recursos para as Igrejas que possuem

projetos educacionais e culturais, integrou a Comissão Parlamentar de Inquérito

destinada a investigar as causas, consequências e responsáveis pelos

desaparecimentos de crianças e adolescentes no Brasil.

Conforme requerimento do Deputado Federal, a presidência da Câmara dos

Deputados, em setembro de 2009, pedindo a inclusão da Presidente do Centro de

Recuperação Social Desafio Jovem, sua esposa Fátima Ramos, no Seminário sobre

drogas e álcool.

Vejamos um trecho da justificativa do requerimento do parlamentar Chamariz,

no qual ele apresenta a instituição e justifica sua relevância:

O Desafio Jovem do Estado de Alagoas surgiu com o propósito exclusivo de proporcionar meios para transformar vidas. A luta é contra este mal que assola a sociedade. A missão do Desafio Jovem é alcançar dependentes de substâncias psicoativas e trazer uma resposta significativa através de valores cristãos procurando responder as necessidades físicas, psicológicas, emocionais e espirituais daqueles que procuram a entidade, desiludidos com a vida e marcados pela droga. O programa é focado no acompanhamento individual e visa a recuperação, reinserção familiar e social, para que essa pessoa tenha condições de viver de maneira autônoma, livre das drogas (CAMARA DOS DEPUTADOS, 2009).

O deputado também defendeu outras bandeiras, defendeu alterações na

legislação fiscal, segundo o qual o fisco autuava de maneira impiedosa prejudicando

as empresas e consequentemente a manutenção dos empregos e a renda dos

trabalhadores. Propôs projetos que uniformizassem os preços das ligações de

telefonia móvel, sem adicional de deslocamento. Chamariz tentou se reeleger em

evangélicos e correligionários pela assunção do mandato parlamentar, em 04/02/2009.

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2010, obteve uma votação significativa, mas ficou na suplência. Atualmente não

ocupa nenhum cargo político, mas continua atuando nos bastidores junto a suas

bases eleitorais.

Se por um lado houve motivações de uma bandeira política do empresário

Chamariz, por outro esse assembleiano encontrou nas fileiras da sua congregação

religiosa, o mais irrestrito apoio e legitimidade enquanto representante da

Assembleia de Deus nos caminhos da política alagoana.

3.2.2 Givaldo de Sá Gouveia Carimbão (PROS) - Dados biográficos e perfil

político140

Natural da cidade de Itabi, Sergipe, nasceu no dia 14 de outubro de 1957.

Exerce atualmente o quinto mandato consecutivo de Deputado Federal por Alagoas.

É líder e fundador da Frente Parlamentar Católica, na Câmara dos Deputados, e que

reivindica uma agenda conservadora no que se refere a propostas e projetos para

sociedade brasileira, sempre pautando nos valores e moral cristã, dentro da

concepção do catolicismo.

Givaldo Carimbão chegou a Alagoas, na década de 1970, e se destacou no

comércio a partir do ramo gráfico e de carimbos na capital Maceió. Sua inclinação à

política, facilidade na oratória e carisma foi conferindo destaque no meio empresarial

e junto à sociedade. Entre os anos de 1980 e 1990 exerceu várias funções no meio

empresarial e na sociedade civil organizada. Foi Presidente da Associação de

Bairros, da Associação dos Mutuários da Habitação do Estado de Alagoas,

Presidente Regional e Nacional, da Associação Brasileira da Indústria Gráfica; Direto

da Câmara de Diretores Lojistas (CDL), de Maceió, e Presidente da Comissão

Episcopal para vinda Rede Vida para Alagoas, em 1988. Sua facilidade na oratória e

carisma foi lhe conferindo destaque no meio empresarial, nas associações, na

militância leiga dentro da Igreja Católica o que posteriormente o levou a seara

política.

140 Os dados biográficos e o perfil político foram extraídos do site oficial da Câmara dos Deputados, de documentos oficiais da Câmara dos Deputados, como a biografia dos parlamentares dessa 55ª Legislatura, dados do TER-AL, do Relatório de Políticas e prevenção no Combate drogas da Câmara dos Deputados, dos sites institucionais da Igreja Católica em Alagoas, das informações dos diretórios dos partidos que constituíram sua carreira política e das mais variadas matérias jornalísticas.

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No seu quinto mandato, o deputado federal Givaldo Carimbão, em discurso

de posse, como coordenador da Frente Parlamentar Mista Católica Apostólica

Romana, durante missa celebrada na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

(CNBB), em agosto de 2015, assim se posicionou:

[...] a Frente tem por objetivo defender os princípios éticos, morais e doutrinários defendidos pela Igreja Católica. Foi essa igreja que trouxe e difundiu o cristianismo no Brasil. Indiscutivelmente, nosso País deve muito de seu passado e, certamente do seu futuro a ela, afirmou. [...] As primeiras catequeses, escolas e hospitais foram fundadas por ela (CARIMBÃO, 2015).

Carimbão, como é popularmente conhecido, chega ao auge da sua carreira

como um dos mais bem-sucedidos políticos religiosos. Enquanto líder da Frente

Parlamentar Mista Católica Apostólica Romana, instituída em Brasília no dia 26 de

março de 2015 na Câmara dos Deputados141, junto com os seus colegas consegue

pautar uma agenda conservadora nos princípios da fé católica. Esse sergipano é um

fervoroso católico ligado aos movimentos marianos e da Renovação Carismática

Católica. É casado e pai de três filhos. O mais novo, Carimbão Júnior segue o ramo

da política e dos caminhos da religião, exercendo mandato de deputado estadual na

Assembleia Estadual de Alagoas.

No entanto, sua carreira política partidária se inicia em 1988, filiando-se ao

extinto Partido Trabalhista Reformador (PTR)142, de centro direita, quando em 1989

se elegeu para vereador por Maceió, Alagoas, e que se repetiu nas eleições de

1992. Em 1993 migra para o Partido Verde (PV)143, uma agremiação que se

apresenta como de centro esquerda e permanece até 1997. Mais uma vez elegeu-se

vereador, agora pelo Partido Socialista Brasileiro – PSB144, permanecendo até 2013.

No ano de 1998, Carimbão concorreu ao mandato de Deputado Federal, sendo

reeleito sistematicamente. Desde 2013, Carimbão integra o Partido republicano da

Ordem Social – PROS. Essa agremiação possui um perfil ideológico de centro

141 O requerimento N° 1191, de 2015, protocolado na ch efia de gabinete da Câmara dos Deputados, institui a Frente Parlamentar Mista Católica Apostólica Romana, com a assinatura de 213 deputados e 05 senadores, cumprindo assim os termos do artigo 15, incisos I a VIII do Regimento Interno da Câmara e do Ato da Mesa Diretora Nº 69 de novembro de 2005, que rege sobre a composição de uma frente parlamentar. Registrado em ata, fica evidente os princípios e os objetivos dos parlamentares em legislar amparados na fé católica.

142 Informações extraídas do site do antigo PTR. 143 Informações extraídas do site oficial do PV. 144 Informações extraídas do site oficial do PSB.

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direita145, com um projeto de sociedade pautado no conservadorismo cristão,

reivindica a desburocratização do Estado, enxerga o trabalho como elemento de

valor social e moral para o indivíduo e a sociedade, defende uma legislação que

contemple projetos de combate às drogas e à violência.

Gráfico 8 - Givaldo de Sá Gouveia Carimbão (PROS) - Desempenho nas urnas

Fonte: TSE/TRE Alagoas

No gráfico acima, fica evidente o desempenho progressivo nas urnas do

Deputado Federal Givaldo Carimbão (PROS), que desde 1998 até as últimas

eleições gerais de 2014, vem se reelegendo sistematicamente. O parlamentar

católico continua mantendo estreitas relações com sua base, que compreende na

sua grande maioria os fiéis, e também a parte significativa do clero católico

alagoano.

Desde sempre o Deputado Givaldo Carimbão atuou politicamente junto a

Igreja Católica em diversas frentes, como a evangelização através de uma rede de

rádios, a disponibilidade de equipamentos e carros de sons para as paróquias e sua

maior bandeira é o combate às drogas. Nesse quesito, mantêm mais de trinta

comunidades terapêuticas em todo estado, em parceria com as dioceses alagoanas

e o governo estadual. Essas instituições recebem recursos públicos através da Rede

Acolhe Alagoas, da Secretaria da Paz. Nesses espaços, existem fortes atuações de

145 Informações extraídas do site oficial do PROS.

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leigos e religiosos, na qual a evangelização é vista como um remédio importante no

tratamento dos dependentes químicos.

Entre as várias comunidades terapêuticas, uma funciona dentro do santuário

Cidade de Maria, em Craíbas, Alagoas. Espaço que reúne um conjunto de

edificações, dentre elas, um teatro a céu aberto, onde anualmente é encenado o

espetáculo da Paixão de Cristo, ainda compõe capelas, monumentos religiosos e

edifícios administrativos. A Cidade de Maria abriga rotineiramente celebrações e

missas. Funciona ainda nesse espaço uma comunidade terapêutica que atende em

média de 80 a 100 dependentes químicos anualmente. Esse espaço conta com a

parceria da Diocese de Penedo, na pessoa de D. Valério Breda. Tudo isso tem o

apoio e direcionamento do deputado Carimbão.

Essas parcerias entre as comunidades terapêuticas idealizadas por Givaldo

Carimbão se repetem na Arquidiocese de Maceió e na Diocese de Palmeira dos

Índios, tendo apoio de D. Antônio Muniz e D. Dulcênio Fontes, respectivamente.

Em outubro de 2011 na Fazenda da Esperança Município, na cidade de

Marechal Deodoro, Alagoas, se reuniram líderes das igrejas católicas, evangélicas,

autoridades alagoanas, representantes das comunidades terapêuticas familiares e

dependentes químicos e jovens recuperados. O deputado Givaldo Carimbão se fez

presente, sendo uma das autoridades mais entusiasmadas com o evento. O

Encontro mediado pela Arquidiocese de Maceió146 teve como objetivo mostrar todo

trabalho que é realizado pela Rede Cristã de Comunidades Terapêuticas, que tem

como presidente D. Antônio Muniz.

A dependência química, problema complexo e de saúde pública, realidade

também em Alagoas, que está a cargo da Rede Cristã de Comunidades

Terapêuticas, tem recebido severas críticas dos conselhos de profissionais de

medicina e psicologia. A mistura de ingredientes políticos e religiosos no tratamento

dos dependentes químicos tem despertado olhares positivos e negativos, por parte

da sociedade alagoana.

O representante do Conselho Federal de Psicologia, Claudio Garcia Capitão,

em reunião ordinária do Conselho Nacional de Saúde, em março de 2015, onde foi

146 Encontro promovido pela Arquidiocese de Maceió, na pessoa de D. Muniz Falcão, ocorreu em outubro de 2011 numa comunidade terapêutica conhecida como Fazenda Esperança, reuniu políticos, promotores, especialistas e líderes e representantes das Igrejas católicas e evangélicas. O evento teve cobertura do site oficial da arquidiocese.

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debatido no Relatório da 4ª Inspeção Nacional de Direitos Humanos, os locais de

internação para usuários de drogas, publicado pela entidade em 2011. Segundo

Garcia, o documento revelou graves distorções dos protocolos de saúde no

tratamento implementado pelas comunidades terapêuticas ligadas às igrejas. O

documento, que contou com a participação de todos os Conselhos Regionais de

Psicologia (CRPs), procuradores, entidades sindicais, avaliou 68 comunidades

terapêuticas em vinte cinco Unidades da Federação.

Entre as conclusões do relatório do Conselho Federal de Psicologia, nas

palavras de Garcia:

A maioria dessas práticas sociais adota a opção por um credo pela fé religiosa como recurso de tratamento. Além da incompatibilidade com os princípios que regem as políticas públicas, o caráter republicano e laico delas, essa escolha conduz à violação de um direito, escolha de outro credo ou a opção de não adotar nenhum, ou seja, não seguir nenhuma crença. Na prática desses lugares, conforme relatado, os internos são constrangidos a participar de atividades religiosas, mesmo quando sua crença e fé são outras, até porque não existe outra possibilidade. Constando poucos profissionais de saúde, como médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, técnicos de enfermagem são encontrados. E onde estão presentes, as suas atuações são submetidas a princípios religiosos e morais. Poucos se orientam pelos saberes técnico-científicos, mas, essencialmente, poucos se orientam pela ética e saber.

Numa reportagem da Revista Caros Amigos, em janeiro de 2013, intitulada

“nem comunidades, nem terapêuticas”, a jornalista Gabriela Moncau repercutiu o

modelo de tratamento da Comunidade Terapêutica Divina Misericórdia, em Palmeira

dos Índios, Alagoas, ligada ao projeto Anjos da Paz do Deputado Carimbão.

Na reportagem Grabriela Moncau, descreve:

Sustentada financeiramente por pagamento de mensalidade e seguindo preceitos do catolicismo, recebe usuários encaminhados pela promotoria pública para internação compulsória, entre outros. Os internos podem se comunicar com o mundo externo somente por carta, uma vez por semana, dependendo do comportamento, sendo que todas as correspondências são lidas pelos psicólogos. Não podem fumar cigarro nem receber visita íntima, seus objetos pessoais e documentos são guardados pela direção da instituição. Existe um quarto com duas camas de alvenaria e grade na porta, trata-se de um espaço "utilizado para resguardar o usuário", de acordo com entrevistados pelos inspetores. Após a terceira advertência, o interno é preso nesse quarto por 24h. Segundo a

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comunidade terapêutica, a prática é ótima, pois o interno "fica refletindo o ocorrido" (MONCAU, 2013).

Em março de 2013, numa entrevista ao jornalista Evandro Èboli, do jornal O

Globo, o parlamentar saiu em defesa do seu trabalho cristão, de acolhimento aos

dependentes químicos. Afirmou ainda que as comunidades terapêuticas contam com

profissionais qualificados.

Na mesma ocasião, Carimbão partiu para o ataque contra os representantes

do Conselho Federal de Psicologia que afirmam que a instituição é meramente

mercadológica e que não tem interesse em atender os usuários indigentes.

Sobre as críticas do Conselho Federal de Psicologia, e de outros profissionais

de saúde ao modelo das comunidades terapêuticas, o Deputado Carimbão afirmou:

A entidade faz terrorismo por ser contra as comunidades terapêuticas que tratam de dependentes, muitas delas ligadas a entidades religiosas. [ ...] O Conselho Federal de Psicologia é um assassino de dependentes de drogas. Se é contra a internação de quem está na rua, na sarjeta, isso é assassinato. São 200, 300, 500 pessoas na miséria, que não têm quem dê a mão. Se deixa morrer, é assassinato. A Cracolândia, em São Paulo, por exemplo. Tem mil pessoas ali e não se pode ir lá para fazer uma busca ativa (e interná-los). O conselho é contra. Me desculpe, mas é assassinato de pessoas que morrem à míngua (CARIMBÃO, 2013).

Numa entrevista147 a um site jornalístico de Arapiraca, Alagoas, Carimbão,

bastante entusiasmado, saiu em defesa do seu trabalho político, no que tange o

acolhimento aos dependentes químicos. Afirmou que não existe nenhuma

contradição, o fato de ofertar a assistência espiritual, visto que o tratamento

psicológico é a base do tratamento nas comunidades terapêuticas.

O parlamentar declarou ser um sucesso seus projetos de combate às drogas,

destacando a importância do santuário de devoção Cidade de Maria, localizado em

Craíbas, Alagoas e de um conjunto de trinta comunidades terapêuticas espalhadas

por todo estado de Alagoas. Essas comunidades integram a Rede Acolhe Alagoas,

da Secretaria da Paz do Governo do Estado que executa políticas de prevenção e

tratamento a dependentes químicos. Segundo as próprias palavras de Carimbão:

É um projeto para acolher pessoas vítimas das drogas. Esta é a minha contribuição para reduzir a violência em Alagoas: Em quatro anos, colhemos mais de 13 mil pessoas usuários de drogas e hoje

147 O site Arapiraca legal é dedicado às informações jornalista da cidade de Arapiraca-AL e do agreste. Numa matéria sobre a Cidade de Maria e o trabalho com dependentes químicos no santuário religioso, que é também comunidade terapêutica, o seu idealizador e fundador Givaldo Carimbão detalhou suas ações políticas fundamentadas nos princípios religiosos.

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grande parte está recuperada e reinserida na sociedade. Já são mais de 30 instituições, acolhendo e tratando dependentes químicos, criadas com o meu apoio. Pelo Centro de Acolhimento na capital alagoana, já passaram mais de 13 mil pessoas que foram encaminhadas ás comunidades acolhedoras ligadas ao projeto Acolhe Alagoas. São milhares de vidas e famílias que ajudamos a se recuperar, graças a este projeto que idealizei em Alagoas. [...] O Centro de Acolhimento em Delmiro Gouveia/AL facilitou o atendimento das famílias sertanejas, que não precisam mais ir a Maceió/AL para buscar ajuda. E, esse espaço só foi possível graças a parceria com a Igreja daquela cidade. Anjos da Paz é mais um projeto criado por mim para acolher dependentes químicos. Para os traficantes, cadeia. E, para as vítimas das drogas acolhemos e recuperamos. Se todos os políticos fizessem um pouco do que faço, o mundo seria outro! (CARIMBÃO, 2014).

Na Câmara dos Deputados, ocupou a relatoria Comissão Especial do Sistema

Nacional de Políticas sobre Drogas, destinada a elaborar estudos, propostas e

projetos para prevenir e combater os efeitos das drogas. Na condição de relator do

Projeto de Lei Nº 7.663/2010 que dispõe da implantação do Sistema Nacional de

Políticas sobre Drogas, Givaldo Carimbão elaborou um extenso documento, sob o

título: “Propostas para políticas públicas sobre drogas no Brasil”, entre as inúmeras

proposições e destaques, cita o exemplo bem-sucedido em Alagoas. O parlamentar

enaltece sua atuação no Estado no combate ao vício das drogas e propõe a

ampliação para outras regiões do país.

Ocupando a relatoria da referida comissão, Givaldo Carimbão inicia o texto

enaltecendo o seu ativismo cidadão, o seu voluntariado no combate e no

acolhimento aos viciados em drogas. No documento o parlamentar apresenta

informações da sua atuação no acolhimento aos dependentes químicos em Alagoas.

O parlamentar se mostra credenciado a contribuir para política nacional no combate

as drogas, tendo como parâmetro a sua própria experiência de homem público

comprometido com valores cristãos:

Em 1989, fundei o Lar Sagrado Coração de Jesus, em Maceió, para acolher meninos de rua. Naquela época, a cola de sapateiro e a maconha, drogas significativamente menos danosas do que o crack, eram o problema a ser enfrentado. Nessa mesma época, floresceram interpretações equivocadas do Estatuto da Criança e do Adolescente, que esvaziaram a autoridade da família e do Estado, oferecendo a criança um patamar de adulto em miniatura, que tudo podia e cuja vontade não podia ser contrariada. [...] Por esse motivo e para prestar melhor relatoria a essa matéria, me aprofundei no tema, valendo-me dos 25 anos de experiência acumulada. Em 2009, solicitei ao Governador de Alagoas que criasse

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uma secretaria específica para gerir o sistema de atenção ao usuário de drogas e suas famílias [...] Alagoas hoje conta com a Secretaria de Estado da promoção da Paz, que é responsável pela gestão das políticas públicas sobre drogas e por dar efetividade á prevenção, acolhimento, tratamento e reinserção social e propor atualização da legislação do Estado (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2011).

Em outras frentes, numa demonstração clara da face do político religioso,

Carimbão se faz presente nas diversas cidades alagoanas, mantendo estreitas

relações com as paróquias católicas, com ações de apoio à evangelização148. O

deputado acompanha de perto todos os eventos católicos, ofertando apoio logístico

e comunicacional. De modo especial, as festas de padroeiros recebem especial

atenção, nas programações dessas festividades, missas, procissões, quermesses,

os bingos e outras atividades religiosas e culturais recebem total cobertura na sua

rede de rádios com programação católica.

Um instrumento de evangelização extremamente diferenciado é a Igreja

Móvel, acoplada sobre um caminhão que percorre as cidades alagoanas nas festas

religiosas ou ainda em datas especiais do calendário católico. Entre as festividades,

destacam-se as festas de padroeiro, as comemorações da páscoa, as festividades

natalinas e no mês mariano.

Um exemplo dessas ações foi veiculado, em 2012, pelo site jornalístico de

Maceió, Cada Minuto:

Igreja Móvel do deputado federal Givaldo Carimbão chegou nesta quarta-feira (04) a Pão de Açúcar, a pedido da Paróquia local, para servir de palco para as apresentações religiosas programadas pela Igreja Católica, na Praça Senhor do Bonfim, local das celebrações e outras atividades cristãs em homenagem ao Bom Jesus dos Navegantes (CADA MINUNTO, 2012).

Fazendo política no caminho religioso149, o deputado disponibiliza na maioria

dessas festividades católicas um conjunto de equipamentos com a identificação do

Carimbão, entre os quais consta carro de som, um trio elétrico, um templo móvel

acoplado sobre o caminhão, além das transmissões nas rádios de sua propriedade.

Sempre que possível nas festividades religiosas mais importantes, o deputado se

148 Conforme reportagens veiculadas sobre as estreitas relações de Carimbão com a Igreja Católica nos sites de notícias de Maceió, AL: Alagoas 24 horas, Cada Minuto, Gazeta Web, Tudo na hora, as páginas oficiais das dioceses de Maceió, Palmeiras dos Índios e Penedo. 149 As informações referentes às ações políticas religiosas do Deputado Carimbão nas festividades religiosas dos católicos em Alagoas, estão nos sites jornalísticos: Alagoas em tempo, Cada Minuto, Gazeta de Alagoas e Tudo na Hora.

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articula com as autoridades locais dessas cidades e proporciona o transporte para

os fiéis. Outra frente política religiosa está no incentivo de caravanas de fiéis

geralmente apoiadas pelas paróquias de Alagoas, rumo ao santuário Cidade de

Maria, idealizado e construído por Carimbão.

No Congresso Nacional em mais um discurso com forte teor religioso150, o

Deputado Federal Givaldo Carimbão saiu em defesa do projeto de Lei 6583/13 que

dispõe sobre o Estatuto da Família, durante audiência da Comissão Especial do

Estatuto da Família, em Brasília no dia 25 de junho de 2015, proferiu:

Fui eleito pelos que defendem a Igreja Católica, estou neste Congresso, assumidamente, para lutar pela Bíblia, a lei de Deus, que considero mais importante que a Constituição, a lei dos homens. Respeito cada uma das posições nesta Casa, pois são todas legítimas e representam um pensamento da sociedade, mas estou convicto de que meu trabalho aqui no Congresso está voltado para a defesa da família e da Bíblia (CARIMBÃO, 2015).

Sobre a questão da identidade de gênero, tema sensível a sociedade

brasileira, contemplado no Plano Nacional de Educação (2011-2020), o assunto foi

debatido na sessão da câmara dos deputados no dia 28 de maio de 2014, em seu

discurso151 Carimbão assim se posicionou:

Eu, Deputado Givaldo Carimbão, e o meu partido, PROS, que conheço muito bem, temos trabalhado. [...] Mas eu quero aqui abrir um parêntese e fazer um registro. Parabenizo a bancada que eu posso chamar de cristã — evangélicos, católicos, aqueles que têm compromisso com a vida, com a família. [...] a questão da ideologia de gênero não deveria entrar no Plano Nacional de Educação. Eu quero deixar registrado isso porque estou aqui em nome daqueles que me elegeram no meu Estado. Eu sou cristão assumido, católico apostólico romano, tenho uma irmã freira, um sobrinho padre, três tios padres. Tenho tradição de família cristã. As minhas convicções são essas e jamais viria à Câmara votar projeto em que gênero fosse discutido na educação e sua discussão autorizada aos professores (CARIMBÃO, 2014).

No que se refere aos movimentos sociais progressistas em defesa dos

direitos das minorias, dos homossexuais, a exemplo das famosas “paradas gay”, o

150 O trecho do discurso em defesa do Projeto de Lei 6583/13 que dispõe sobre o Estatuto da Família, foi extraído do site oficial do PROS. Disponível em: http://www.pros.org.br/givaldo-carimbao-al-reafirma-que-lutara-no-legislativo-pelo-fortalecimento-da-familia/. 151 O Discurso sobre: Posicionamento contrário a dispositivo constante da propositura sobre a questão do gênero, no Plano Nacional de Educação, da sessão 157.4.54. O da Câmara dos Deputados, no dia 29 de agosto de 2014.

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Deputado Carimbão os enxerga como uma ameaça aos valores cristãos e a família.

Na sessão da Câmara dos Deputados no dia 10 de junho de 2015, proferiu:

Para nós é sagrada e simbólica a hóstia sagrada. Imagine pegar um transexual e colocar num crucifixo, em uma cruz, que para nós, católicos, é sinal de salvação. Eu queria deixar registrado aqui, em nome dos companheiros católicos apostólicos romanos, em nome daqueles que trabalham pela vida, que mantêm o respeito e entendem que o maior patrimônio de uma sociedade é uma família viva, que eu não poderia, Sr. Presidente, como Presidente da Frente Parlamentar Católica, deixar passar isso em branco. Teria que deixar isso registrado aqui. Vamos, daqui para frente, ter uma conversa com a Frente Parlamentar Evangélica e com a Frente Parlamentar pela Vida para, juntos, tomarmos decisões daqui para frente (CARIMBÃO, 2015).

O parlamentar se considera um agraciado por Deus, demonstra com

convicção o seu próprio exemplo de vida de cristã, de político religioso que têm uma

missão de contribuir para uma sociedade ascética. Suas atividades legislativas e

ações políticas são propagadas nas suas bases eleitorais a todo instante, como

iniciativas inspiradas por Deus, necessárias a família, aos jovens e futuro do país.

Fica evidente que atuação política de Carimbão está orientada em princípios

da doutrina católica. Givaldo Carimbão constrói com maestria um enorme capital

político a partir dos caminhos da sua fé.

Encontra nas suas bases eleitorais aprovação e o respaldo que lhe credencia

o papel de representante legítimo dos católicos. Os limites da sua atuação enquanto

católico fervoroso, ocupando um cargo público no contexto do Estado laico, reflete

em desafios para a sociedade.

3.2.3 Pastor João Luiz Rocha (DEM) – Dados biográficos e perfil político152

O Deputado e Pastor João Luiz Rocha (DEM), é natural da cidade de Itajaí -

SC, nasceu em 1956, e já aos dezesseis anos de idade conheceu a Igreja do

Evangelho Quadrangular – IEQ em Santa Catarina. Na década de 1970, mudou-se

152 Os dados biográficos e do perfil político foram extraídos do site oficial da Assembleia Legislativa de Alagoas, da Câmara de Vereadores de Maceió, do site da Igreja do Evangelho Quadrangular, dos sites do diretório do Partido Democratas, e dos diversos sites jornalísticos de Alagoas nas matérias jornalísticas referentes a política e religião.

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para cidade de Paranaguá, PR, após uma promissora atuação pastoral foi

transferido em 1988 para assumir a liderança da IEQ, em Alagoas.

O Pastor João Luiz como é popularmente conhecido, possui o ensino

fundamental no ensino regular, e o curso de teologia bíblica pelo Instituto

Tecnológico Quadrangular – ITQ, interligado a Faculdade Life em Los Angeles

(EUA), sede mundial dos estudos bíblicos da Igreja do Evangelho Quadrangular153.

O pastor João Luiz é divorciado, pai de quatro filhos e concilia sua vida de

líder religioso e parlamentar desde 1989, quando ingressou na política alagoana, se

elegendo vereador por Maceió. Após seis mandatos consecutivos na câmara

municipal, João Luiz Rocha (DEM) consegue êxito nas eleições de 2014 para uma

cadeira na Assembleia Legislativa de Alagoas154.

O passo inicial do Pastor João Luiz enquanto líder da IEQ nos caminhos da

evangelização em Alagoas, ocorreu no final da década de 1980 na capital Maceió.

Nesse período, o país passava pelo processo da redemocratização, enfrentava uma

grave crise econômica, ao tempo que coincide com o avanço do pentecostalismo em

todo Brasil.

Os primeiros missionários da Igreja Quadrangular chegaram a Alagoas na

década de 1975 e escolheram os bairros periféricos da capital, para realização de

um projeto de evangelização. Fato esse atestado pela localização do primeiro

templo e sede da IEQ em Maceió, na Rua dos Timbiras, Nº 129, no Bairro de Ponta

Grossa, na parte baixa da cidade155. Integra essa mesma região outros bairros

populares importantes como a Levada, Vergel do Lago e Bom Parto, todas essas

localidades são pontos estratégicos para o projeto religioso e político do Pastor João

Luiz.

Além dos bairros acima referidos, existem outras comunidades adjacentes

extremamente pobres, localizadas nas margens da Lagoa Mundaú, como as favelas

do Sururu do Capote, Mundaú, Muvuca e Torre, são compostas na sua grande

maioria por catadores de sururu (molusco presente na lagoa), sendo essa a única

fonte de renda, convivendo com a miséria, a violência, a sujeira e os dejetos de

153 Informações obtidas na página da Igreja da Igreja do Evangelho Quadrangular da cidade de Paulínia – SP. 154 Informações extraídas do site Alagoas em tempo real, numa matéria publicada em agosto de 2015 sob o título: Assembleia concede o título de Cidadão Honorário ao Pastor João Luiz. 155 Matéria publicada no dia 26 de julho de 2015 no Blog oficial da Igreja Quadrangular de Maceió, sobre os 40 anos da presença da congregação em Alagoas.

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esgotos a céu aberto. Na verdade, sempre foram ignorados pela sociedade e o

poder público156. Podemos afirmar que toda essa região da parte baixa de Maceió,

foi o berço do projeto evangelizador da IEQ em Alagoas.

Portanto, foi nesse cenário que a partir de 1988 o Pastor Joao Luiz chega a

Maceió, e assume a liderança da Igreja do Evangelho Quadrangular, coloca em

prática um projeto de evangelização e de assistência social junto ás comunidades

carentes da parte baixa da capital alagoana. Verifica-se, desde então, um grande

impulso dessa congregação evangélica, e consequentemente o crescimento do

número de adeptos157.

Com um carisma extraordinário, o Pastor João Luiz foi se afirmando

enquanto liderança religiosa junto às comunidades residentes nos bairros periféricos

da capital, e posteriormente promoveu a expansão da Igreja Quadrangular para todo

estado. Para isso, o líder da IEQ em Alagoas, se valeu de um consistente trabalho

de evangelização, do assistencialismo social e de inúmeros projetos culturais e

esportivos, esse último voltado especialmente para as crianças e os jovens.

Merece registro que a partir dos anos de 1990 os adeptos da Igreja do

Evangelho Quadrangular aumentaram significativamente em Alagoas. Foi também

nesse período que deu início ao processo de interiorização dessa congregação

evangélica no estado158. Conforme o censo do IBGE do ano 2000 a IEQ chega à

casa de quase 20 mil fiéis se tornando a quarta maior congregação religiosa de

Alagoas, permanecendo nessa posição no censo de 2010, com mais de 26 mil

seguidores.

Ao decidir ingressar para o mundo da política ainda em 1989, o Pastor João

Luiz (DEM) faz um movimento em direção a um fenômeno nacional, onde

representantes do pentecostalismo reivindicaram mais espaço na sociedade,

inclusive como forma de se contrapor à hegemonia histórica do catolicismo. Não

apenas na sociedade, mas também em todas as instâncias do poder político.

156 Informações encontradas no Relatório da Pesquisa socioeconômica da “Orla Lagunar”, da Secretaria de Estado de Assistência e Desenvolvimento Social – SEADES, do Governo de Alagoas, publicado em 2008. 157 Histórico da chegada e da vida missionária do pastor João Luiz nas terras caetés numa matéria publicada no dia 20 de agosto de 2015, no site oficial da Assembleia Legislativa de Alagoas, em virtude da concessão do título de cidadão honorário alagoano. 158 Informações obtidas em matéria sobre os 40 anos da Igreja Quadrangular em Alagoas, no seu Blog oficial no dia 26 de julho de 2015. E também no site oficial da Assembleia Legislativa de Alagoas, numa reportagem publicada no dia 20 de Agosto de 2015 sobre a história da vida missionaria do pastor Joao Luiz desde que chegou em 1988 em Alagoas.

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119

O representante maior da IEQ em Alagoas ao perceber sua liderança

religiosa, não apenas na sua congregação, mas também no meio evangélico que

cada vez mais aumentava, enxergou um grande capital político religioso. Sua

candidatura representa os anseios do mundo evangélico, no mundo político

institucionalizado, visto que esse último é um espaço decisório da sociedade. Os

evangélicos percebem a relevância do poder legislativo como instrumento de

salvaguardar seus interesses. Ou seja, uma maior afirmação dos valores morais,

religiosos, modelos de família e de sociedade, a partir desse olhar bíblico.

Assim em 1989 o Pastor João Luiz (DEM) se filiou ao antigo Partido da Frente

Liberal - PFL, atual Democratas, uma agremiação de centro direita, adepta de uma

ideologia liberal, defensora do livre mercado, com um perfil conservador no que se

refere aos valores morais, religiosos e culturais159. Com essa formalização partidária,

João Luiz concorre no mesmo ano a uma vaga na Câmara de vereadores de Maceió

nas eleições municipais de 1989, se elegendo com menos de dois anos de domicílio

eleitoral em Maceió. O feito se repetiu nas eleições municipais de Maceió de 1992,

1996, 2000, 2004, 2008 e 2012160.

Em 2010 lançou sua primeira candidatura a deputado estadual obtendo uma

votação expressiva, porém não conseguiu ingressar na Casa de Tavares Bastos.

Contudo no pleito eleitoral de 2014, o Pastor Presidente da Igreja Quadrangular

conseguiu eleger-se para uma vaga na Assembleia Legislativa de Alagoas. O líder

da IEQ em Alagoas renuncia ao mandato de vereador por Maceió, pelo qual tinha

sido reeleito em 2012 pela sexta vez consecutiva e assume o mandato no

parlamento estadual.

A seguir disponibilizamos os dados eleitorais do Pastor João Luiz – DEM, nas

últimas eleições durante a primeira década do século XXI:

159 Considerações extraídas a partir do site oficial dos Democratas, do documento oficial Ideário dos Democratas. 160 Informações obtidas no perfil do parlamentar na Câmara de Vereadores de Maceió, e no site oficial do Tribunal Regional Eleitoral – TRE de Alagoas.

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Gráfico 9 - Pastor João Luiz Rocha (DEM) – Desempenho nas urnas

51747136

8225

16575

7489

17480

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

18000

20000

2000

2004

2008

2010

2012

2014

Fonte: TRE Alagoas

Conforme o gráfico evidencia, o Pastor João Luiz apresenta um desempenho

sistemático de vitorias nas urnas, além disso, em cada eleição disputada os

números são ascendentes.

A consolidação da carreira política do Pastor Deputado João Luiz (DEM),

entre outros fatores, está relacionada ao crescimento da Igreja Quadrangular em

Alagoas, sob sua liderança tem marcado uma presença na sociedade alagoana,

especialmente entre as camadas menos favorecidas.

Nesse sentido, verifica-se um projeto consistente de evangelização,

direcionado às comunidades carentes em Maceió e no interior alagoano. Inúmeras

famílias que no seu cotidiano enfrentam dificuldades materiais extremas,

consequentemente carregam suas angústias, seja de caráter pessoal, familiar e

existencial. Essas pessoas são acolhidas pelos pastores e obreiros da Igreja

Quadrangular, através das pregações são convidados a despertar para um novo

sentido de vida, ao tempo em que são assistidas com inúmeras ações assistências,

um alivio para os sofrimentos terrenos161.

Há quase três décadas o “Projeto Fazer o bem, sem olhar a quem”, idealizado

pelo Pastor João Luiz, oferece diversas ações assistências em inúmeras

comunidades carentes de Alagoas. Os fiéis, pastores e obreiros da Igreja do

Evangelho Quadrangular desenvolvem um trabalho assistencial que oferece desde

161 Dados obtidos na página oficial da Assembleia Legislativa de Alagoas, num matéria sobre o título de cidadão honorário de Alagoas, do Pastor João Luiz.

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cestas básicas, aparelhos auditivos, cadeiras de rodas, colchões para os doentes

acamados, materiais de construção, aulas de música e religião, consultas médicas,

acolhimento aos usuários de drogas, entre outros auxílios162.

A IEQ tem marcado presença com suas ações assistências também quando

ocorrem intempéries naturais, como por exemplo, durante o inverno com as chuvas

que atingem as favelas nas encostas e grotas em Maceió.

Essas ações assistenciais são direcionadas a casos específicos, ou seja, as

famílias mais necessitadas das comunidades assistidas. Porém no seu conjunto faz

a diferença para vida dessas pessoas, e, sobretudo para o crescimento da liderança

do Pastor João Luiz. Verifica-se ainda uma face proselitista nesses trabalhos sociais.

Durante uma entrevista concedida ao site jornalístico Cada Minuto, em 8 de

novembro de 2011, o Pastor Deputado João Luiz (DEM) falou a sobre a importância

do trabalho social da Igreja do Evangelho:

O trabalho realizado por nossa entidade em prol das comunidades carentes somente se tornou possível graças ao apoio que recebo de minha família ‘esposa, filhos e netos’, dos Pastores da Igreja, dos Diáconos, dos funcionários, dos fiéis, da comunidade e de outros que compõem a família Quadrangular, pois com a força de Deus e a união desse grupo, tudo fica mais fácil, bastando apenas ter boa vontade, compromisso social e seriedade no trabalho, que ações dessa natureza serão sempre realizadas visando minimizar os problemas dessas pessoas sofridas (CADA MINUTO, 2011).

Outro tema relevante e complexo para sociedade contemporânea, o combate

e a prevenção às drogas, é também uma bandeira reivindicada pelo Deputado

Pastor João Luiz (DEM), o parlamentar propôs o Projeto de Lei Nº 6.071/2010 que

dispõe sobre a prevenção e o uso de drogas, com a inclusão da disciplina

Cidadania, Direitos Humanos e Uso Indevido de Drogas na grade curricular do

ensino fundamental163. O parlamentar defende a ideia de que as crianças e

adolescentes devem ser orientados do perigo e da gravidade do uso das drogas,

além de ensinamentos dos valores cristãos e cívicos, para assim garantir uma boa

formação de cidadãos.

162 Informações do site jornalístico Alagoas Última Hora e Cada Minuto, sediados em Maceió -AL, em reportagens sobre os projetos sociais idealizados do Pastor João Luiz. 163 Informações extraídas no Diário Oficial da Prefeitura de Maceió, edição de 22 de setembro de 2010. Projeto de Lei N° 6.071/2010 de autoria do Ve reador João Luiz da Rocha. Lei Nº 5930 de setembro de 2010, que dispõe sobre a inserção de disciplina que trata de assuntos da Cidadania, Direitos Humanos e Uso Indevido de Drogas na grade curricular do ensino fundamental.

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O parlamentar se mostrou indignado numa sessão ordinária da Assembleia

Legislativa com relação às discussões em âmbito nacional para descriminalização

da maconha. Conforme reportagem do Jornal Tribuna Hoje naquele 19 de agosto de

2015, João Luiz declarou:

Eu convivo há 28 anos na beira da lagoa e conheço famílias com 5 filhos, onde todos são viciados em drogas. [...] Se liberarmos as drogas também iremos liberar os traficantes? Se a droga foi liberada aonde o usuário irá compra-la? Só quem tem o produto é o traficante. ... Conheço um morador do bairro da Ponta Verde, em Maceió, formado em Direito, proprietário de um lava jato que, após se viciar em crack, largou a família e se transformou em morador de rua (TRIBUNA HOJE, 2015).

Numa estratégia de aproximação com a juventude, o Pastor João Luiz (DEM),

criou o “Projeto Esporte e Fé”164, direcionado as crianças e adolescentes carentes,

na sua grande maioria residem no entorno das Igrejas do Evangelho Quadrangular,

localizadas nos bairros mais populares e periféricos de Maceió. Segundo o Pastor

João Luiz, essa ação que envolve o esporte e religião tem como objetivo prevenir

assistir aos jovens carentes, prevenindo no envolvimento com o uso das drogas,

entre outros delitos. Além disso, os seus idealizadores defendem a ideia de que o

projeto é também uma janela de oportunidades para os adolescentes que vivenciam

uma realidade socioeconômica extremamente difícil.

O Projeto “Esporte e F”é tornou-se uma ação institucional da Igreja

Quadrangular em Alagoas. Nesse aspecto verificamos uma relação de

interdependência entre o líder político religioso e a sua congregação. As ações

assistenciais são coordenadas pelo pastor João Luiz e colocadas em prática pelo

corpo da Igreja Quadrangular165.

Por um lado, o público atendido tem acesso a uma série de ações, tendo

como foco os torneios esportivos, incluindo atividades culturais, palestras com temas

que contemplam os valores religiosos e familiares. Uma novidade interessante e que

de algum modo faz a diferença no cotidiano dos jovens das comunidades carentes.

Por outro, atinge o objetivo de promover a imagem de liderança política e religiosa

164 Blog da Igreja Quadrangular em Alagoas destaca as ações do Pastor Presidente da Congregação João Luiz, em evidencia o Projeto Esporte e Fé direcionado aos jovens carentes. 165 Informações extraídas do site jornalístico Cada Minuto Deputado, numa reportagem do dia 29 de junho de 2015 na qual descreve que Pastor João Luiz promove torneio esportivo na Grota do Cigano dentro do Projeto Esporte e Fé.

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do Pastor João Luiz, e ainda seu conjunto essas ações fortalece a presença da

Igreja Quadrangular na sociedade alagoana166.

Numa entrevista ao site jornalístico Cada Minuto em 26 de junho de 2015, o

Pastor João Luiz comentou sobre a importância dos seus projetos sociais,

Sinto-me muito feliz por estar ajudando a comunidade da Grota do Cigano (Jacintinho) levando médico, psicólogos, advogado, cabeleireiros e ainda realizando um torneio de futebol para oito times tirando jovens da vulnerabilidade. A comunidade é muito carente e necessita do apoio do poder público do nosso estado e município (CADA MINUTO, 2015).

Nos torneios esportivos do Projeto Esporte e Fé, fica evidente sua face

evangelizadora e política conforme palavras do Pastor Luiz Antônio titular da IEQ no

bairro do Jacintinho, durante entrevista ao site jornalístico Cada Minuto, declarou:

O objetivo é levar aprendizados de Fé e esperança na vida das crianças e adolescentes. Mostrar que nada é impossível basta acreditar. As oportunidades estão sendo geradas aqui na comunidade através do apoio do Deputado Estadual Pastor João Luiz. E com certeza agora é só vitória (CADA MINUTO, 2015).

Com um perfil político pragmático, o Pastor Deputado João Luiz (DEM) é um

estrategista nas suas alianças, estabelecendo parcerias com diversos setores da

política alagoana, inclusive com as velhas oligarquias, quando o cenário eleitoral que

se apresenta exige. O Pastor político circula entre diferentes grupos articulando

forças, quando o tema é caro a sua agenda, como, por exemplo, as políticas sociais

e o combate às drogas que são assuntos de interesse comum, mais convergem do

que divergem167.

O político religioso adota uma postura conservadora, sobretudo quando se

trata de assuntos mais complexos aos olhos da sociedade, como os direitos dos

homossexuais, a identidade de gênero, a legalização do aborto, entre outros. O líder

da IEQ em Alagoas se posiciona contrário aos avanços dos assuntos de interesses

das minorias e ainda das mulheres, o mesmo recorre aos ensinamentos bíblicos

para justificar seu posicionamento, respaldado pela ampla maioria dos evangélicos,

sendo esse segmento a maioria dos eleitores168.

166 Matéria jornalística do dia 26 de junho de 2015 do site Cada Minuto, com o titulo Deputado João Luiz realiza trabalho social em comunidade carente. 167 Jornal Gazeta de Alagoas, matéria intitulada: Evangélicos constroem a terceira força política em Alagoas, publicada em dezembro de 2003. 168 Jornal Gazeta de Alagoas, matéria intitulada: Igualdade de gênero no âmbito da educação gera polêmica em Alagoas. Posicionamento do Pastor João Luiz.

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Nesse contexto merece destaque o posicionamento do Pastor João Luiz

(DEM), acerca da Identidade de Gênero como assunto de discussão e reflexão nas

escolas proposto no Plano Estadual de Educação de Alagoas – PEE (2015-2025). O

parlamentar considerou uma verdadeira aberração na formação educacional inserir

o tema na construção dos saberes dos alunos. Juntamente com a maioria dos seus

colegas reduziu e distorceu a identidade de gênero como uma doutrinação do

homossexualismo nas escolas169.

Durante uma entrevista ao Jornal Gazeta de Alagoas, no dia 14 de junho de

2015, o Pastor e Deputado João Luiz (DEM) declarou:

[...] levo em conta o dogma cristão, como também a defesa pela família tradicional. [...] a educação sexual deve partir da família e não de professores ou do Estado. Temos certeza que Deus criou o homem e a mulher. É muito preocupante colocar essa cartilha inserida dentro das escolas para nossas crianças. Se ela não é nada, como defendem, vai chegar o momento que vai ser liberado ter relações com tudo, animais, homens, mulher ou qualquer coisa. Isso é uma aberração. Não queremos tirar o direito de a família educar o seu filho (GAZETA DE ALAGOAS, 2015).

Nas eleições de 2014, o Deputado João Luiz (DEM) ganhou destaque em

todo estado de Alagoas, como primeiro pastor eleito para o parlamento estadual.

Porém, sua candidatura teve outras repercussões, nessa linha tênue entre política e

religião. O parlamentar enfrentou uma serie de investigações por parte do Ministério

Público Eleitoral de Alagoas170.

Sobre os ombros do político religioso foram lançadas graves acusações.

Desde a utilização da infraestrutura dos templos para realização de shows

religiosos, da transformação do púlpito em palanque eleitoral e do abuso do poder

de comunicação, na qual os fiéis, eram reverenciados na condição de eleitores. A

plataforma do candidato era discutida e propagada nesses eventos religiosos.

Na ocasião, o Deputado João Luiz (DEM) foi questionado pela imprensa

alagoana sobre a acusação de se utilizar da sua condição de Pastor Presidente da

Igreja Quadrangular, para fazer sua própria campanha política nos templos da

congregação, ao que ele respondeu:

169 Reportagem do Jornal Gazeta de Alagoas em 14 de junho de 2015, sob o título Igualdade de gênero no âmbito da educação gera polêmica em Alagoas. 170 Reportagem da imprensa local repercutida no site jornalístico Cada Minuto, numa matéria intitulada: Ministério Público Eleitoral pode impedir posse de Pastor João Luiz na Assembleia.

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Estou tranquilo. Foi uma eleição tranquila e cada um fala para o seu público. O médico fala para o seu paciente. Eu sou pastor e falo com meu povo. Não tenho nada de abuso. Foi uma eleição tranquila, limpa, correta, barata; uma eleição realmente de pé no chão. E estou realmente sossegado e tranquilo. Não tenho nenhuma irregularidade (CADA MINUTO, 2014).

Por sua vez o procurador Marcial Coelho, durante uma entrevista no dia 19 de

dezembro de 2014 a imprensa local em Maceió, explicou que a ação deverá se

debruçar sobre informações a respeito da realização de shows promovidos pela

igreja do Pastor João Luiz, em benefício de sua candidatura171.

A referida denuncia consta no TRE/AL sob protocolo nº 29.140/2014 de

17/12/214, uma ação de investigação impetrada pela Procuradoria Regional

Eleitoral:

Ação de investigação judicial eleitoral (AIJE) ajuizada contra João Luiz Rocha, o pastor João Luiz, candidato eleito ao cargo de deputado estadual em Alagoas, [...]. [...] A PRE recebeu denúncia de que ele teria se valido de sua posição de presidente da Igreja do Evangelho Quadrangular em Alagoas para promover de forma irregular sua candidatura e conquistar votos. E, com abuso de poder econômico, buscou obter vantagens no pleito eleitoral de 2014, afetando a igualdade de oportunidade entre os candidatos, convocando pastores e obreiros a distribuir material de campanha a arregimentar eleitores (JUSBRASIL, 2014).

O Pastor Deputado João Luiz (DEM), tomou posse do cargo de deputado

estadual normalmente em 2015 e exerce o mandato até os dias atuais. Na época os

advogados do parlamentar entraram com sua defesa, os trâmites seguintes não

foram publicados pela justiça eleitoral.

O Pastor Deputado João Luiz (DEM) tem sido atuante no parlamento

estadual, apresentando projetos e defendendo posicionamentos dentro da sua

agenda que considera prioridades. Na maioria das suas propostas, destacam-se a

área social, a educação, a saúde, o mercado de trabalho local, o combate e a

prevenção ao uso de drogas, além de proposições sistemáticas que visam

resguardar na legislação os preceitos religiosos e os seus valores morais172.

171 Reportagem da imprensa local repercutida no site jornalístico Cada Minuto, numa matéria intitulada: Pastor João Luiz diz estar tranquilo e MP explica ação que pode cassá-lo. 172 Entrevista concedida ao Jornal Tribuna Hoje, publicada no dia 23 de novembro de 2015, onde o Pastor João Luiz fala sobre o seu mandato, suas propostas, as discussões no parlamento estadual e seu posicionamento sobre a conjuntura política local e nacional.

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João Luiz tem reclamado das dificuldades na tramitação de algumas das suas

propostas. O parlamentar alega que o jogo político e a dinâmica interna da

Assembleia Legislativa impedem que os verdadeiros interesses da sociedade sejam

discutidos, e os projetos finalizados, com a sua devida execução173.

Numa entrevista concedida ao Jornal Tribuna Hoje, no dia 23 de novembro de

2015, o Pastor Deputado João Luiz (DEM), afirmou:

Apresentei vários projetos, muitos requerimentos e principalmente, trabalhei bastante o lado das obras abandonas: escolas, creches, Vale do Reginaldo, Santa Mônica, IML, e tenho a grata satisfação, pois o IML está quase pronto. Eu trabalho com o povo, eu passo aquilo que o povo me procura. [....] O andamento dos projetos na Assembleia é muito complicado, eu não sei ainda qual a dinâmica da Casa. Há muitos projetos, coisas que o povo deseja que a gente faz e a CCJ não aprova. Não chega a plenário e o povo não toma conhecimento. Outro projeto que nós apresentamos foi o da construção de um crematório estadual, [...] a gente tem debatido quase que diariamente e não tem resolvido. [...] a gente vai brigar os quatro anos pelo lado social (TRIBUNA HOJE, 2015).

Evidente que o Deputado Pastor João Luiz (DEM), se depara com um

parlamento estadual bem mais complexo do que a câmara municipal, visto que são

diversas forças políticas tradicionais hegemônicas, em proporções maiores. Muito

embora o seu perfil de político religioso se integre ao modelo de homem público

dotado de virtudes e valores morais, modelo esse reivindicado pelos seus pares.

Além disso, a presença oligárquica se faz presente com vigor, e consequentemente

reflete na apreciação e aprovação das propostas e projetos, em tramitação na Casa

de Tavares Bastos174.

Portanto a projeção do Pastor Deputado João Luiz (DEM) na Casa de

Tavares Bastos, implica também maiores desafios para esse político religioso, visto

que o parlamento possui uma predominância dos grupos políticos tradicionais, por

vezes os interesses convergem, porém nas ocasiões que divergem, a bancada

tradicional é sempre dominante.

173 Idem. 174 Douglas Apratto, no livro a Metamorfose das Oligarquias, explica o sistema político e econômico em Alagoas, nas páginas 131/132. Bem como o artigo do Prof. Alberto Saldanha com título: Políticos riem da cara do povo em Alagoas, publicado no dia 04 de abril de 2011 no site jornalístico Congresso em Foco.

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Numa entrevista ao site Congresso em foco, no dia 06 de abril de 2011 Prof.

Dr. Alberto Saldanha do curso de História da UFAL, ao analisar o perfil político da

Assembleia Legislativa de Alagoas, declarou:

O coronel tradicional, dono da fazenda, que toma conta do município e faz do município o seu quintal, hoje ele é ocupado pelo deputado estadual, com mesmo esquema do clientelismo e da violência, que monta verdadeiros esquadrões de eliminação de opositores, alcança votações grandes e vai para a Assembleia Legislativa [...] Muitos botam o filho prefeito de uma cidade, a filha de outro município, o primo vereador. E, como deputado estadual, estando na Assembleia Legislativa, tem capacidade de chantagear o governo. Aqui isso tem sido uma tônica. O governo não tem maioria, uma maioria de bancada programática (CONGRESSO EM FOCO, 2010).

E inegável, porém, que a figura pública do Pastor João Luiz possui um peso

político significativo no cenário político alagoano, sobretudo na região metropolitana

de Maceió. As bandeiras desse político religioso são em grande parte reclamadas

por setores tradicionais e dominantes da sociedade alagoana. Um liberal na

economia, um conservador na política e na religião.

Sem dúvidas o Pastor Deputado João Luiz (DEM), é o representante mais

exitoso entre os evangélicos na seara política alagoana, acumulando significativas

vitórias nos pleitos eleitorais desde o início da década de 1990.

3.3.4 Jota Cavalcante (PDT) – Dados biográficos e perfil político175

O ex-Deputado José Cavalcante dos Santos (PDT), popularmente conhecido

como Jota Cavalcante é natural da cidade de Pão de Açúcar, Alagoas, nasceu no

dia 06 de janeiro 1963, é casado com Rosiane Cavalcante, com quem têm três

filhos, é graduado em Direito, servidor concursado do Banco do Brasil, onde

atualmente desempenha suas atividades bancárias, numa agência em Maceió176. O

político religioso exerceu o mandato de deputado estadual por Alagoas, em três

legislaturas de 2000, 2006 e 2010.

175 Os dados biográficos e do perfil político foram extraídos do site oficial da Assembleia Legislativa de Alagoas, da página do Tribunal Regional Eleitoral – TRE/AL, do site da Igreja Assembleia de Deus, dos sites dos diretórios do Partido Socialista do Brasil – PSB e Partido Democrático Trabalhista - PDT, e dos diversos sites jornalísticos de Alagoas. 176 Informações extraídas do site oficial da Igreja Assembleia de Deus em Alagoas, numa matéria sobre a diplomação do Deputado Estadual Jota Cavalcante em 16 de dezembro de 2010.

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Jota Cavalcante (PDT) é evangélico da Igreja Assembleia de Deus - AD,

entrou na política com o apoio decisivo do seu pai, o Pastor José Antônio dos

Santos, Presidente da Convenção de Ministros da Assembleia de Deus em Alagoas

– Comadal. O Pastor Neco, como era carinhosamente conhecido, faleceu no dia 24

de julho de 2015177. A carreira política de Jota Cavalcante (PDT), desde sempre

representou um projeto estratégico da Igreja Assembleia de Deus em Alagoas, no

intento de eleger representantes no poder institucionalizado, especialmente no

parlamento estadual onde suas atribuições legislativas cobre todo o Estado de

Alagoas178.

O deputado evangélico Jota Cavalcante ingressou na política pelo Partido

Socialista Brasileiro (PSB), concorreu ao cargo de deputado estadual nas eleições

de 2002, conseguindo uma votação expressiva de mais 15 mil votos, contudo ficou

na suplência179. O político exerceu parte do mandato após acordo políticos,

mediante nomeação do titular da sua coligação para secretariado do governo

estadual. O filho do presidente da Assembleia de Deus em Alagoas ingressa no ano

de 2005 no Partido Democrático Trabalhista (PDT), concorre para deputado estadual

em 2006, obtendo significativa vitória.

O assembleiano parte para o segundo mandato consecutivo de quatro anos – embora tenha assumido algumas vezes, há seis anos, como suplente de deputado estadual. Quando foi eleito em 2006, Jota obteve pouco mais de 17 mil votos. Nas eleições de outubro deste ano foi o 17º, dos 27 candidatos mais bem votados. Após a apuração, ele ficou com 26.276 votos, o que representou 1,87% dos votos válidos (ADALAGOAS, 2010).

Jota Cavalcante (PDT), foi reeleito nas eleições gerais de 2010, concorre

novamente para deputado estadual em 2014, alcançou mais de 14 mil votos, porém

devido ao coeficiente eleitoral ficou na suplência de sua coligação partidária.

177 Matéria jornalística sobre a Biografia do Pastor Jose Antônio dos Santos, em virtude do seu aniversário de 79 anos de vida, publicada no site oficial da Igreja Assembleia de Deus em 06 de dezembro de 2010. 178 Dados do site Cada Minuto na cobertura das articulações para eleições de 2010, matéria do dia 21 de junho do mesmo ano sob o título: Pastores da Assembleia de Deus pedem votos para seus candidatos. 179 Relatório oficial de resultado das eleições do TRE/AL, no qual consta o nome do deputado, o cargo concorrido, o seu partido de filiação e a situação eleitoral de suplente.

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Gráfico 10 - Jota Cavalcante (PDT) – Desempenho nas urnas

17.022

26.276

14.507

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

Gerais-Deputado

Estadual

Gerais-Deputado

Estadual

Gerais-Deputado

Estadual

2006

2010

2014

Fonte: TSE/TER-AL

Numa entrevista ao site Cada Minuto, publicada no dia 21 de junho de 2010, o

Pastor Jadson Esdra da Igreja Assembleia de Deus, falou sobre a orientação e

influência dos pastores nos votos dos fieis nas eleições:

Precisamos de pessoas que defendam nossas causas. Tratamos do assunto em reuniões e nos cultos falamos também, só que menos. Nos reunimos com cada um dos candidatos, mas ainda haverá um encontro com todos juntos. Apresentamos nosso plano e se o candidato não tiver intenção de contribuir, procuramos outro que possa nos representar (CADA MINUTO, 2010).

O Pastor Neco colocou em pratica um consistente projeto de evangelização,

organizou o corpo da sua igreja com um aguerrido exército de pastores, obreiros e

fiéis que fizeram com que a Assembleia de Deus se tornasse a maior congregação

evangélica em Alagoas180. Jota Cavalcante, foi instruído na fé e na política pelo seu

pai, assumiu uma postura de missionário fervoroso, e percorreu todo território

alagoano. O nome de Jota Cavalcante, o filho do líder da AD também cresceu nos

caminhos da política.

Nesse contexto a Igreja Assembleia de Deus em Alagoas, foi se fazendo cada

vez mais presente na sociedade alagoana. A inserção de alguns dos seus membros

na seara política foi um processo decorrente do seu crescimento, mas também de

180 O Pastor Jose Antônio dos Santos, esteve há quase 30 anos a frente da Assembleia de Deus em Alagoas, promoveu sua expansão missionaria atingindo mais 153 campos eclesiásticos, centenas de congregações, subcongregações, chegando a total de mais de 150 mil fiéis, em 2014. Sendo instrumento fundamental desse feito a Escola Bíblica de Obreiros, apoiada pelo pastor. Conteúdo do site oficial da Igreja Assembleia de Deus, numa matéria sobre os 99 anos de fundação da congregação, publicada no dia 28 de agosto de 2014.

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movimentos estratégicos empreendidos pela sua cúpula eclesiástica. Entre os

candidatos assembleianos que disputaram as eleições para cargos legislativos em

Alagoas a partir dos anos 2000, o nome de Jota Cavalcante (PDT) Desponta como

símbolo de uma candidatura integralmente a serviço Igreja Assembleia de Deus181.

O deputado Jota Cavalcante falou para a igreja sobre alguns de seus projetos. Entre eles, a recente aquisição de um caminhão. A compra do caminhão foi feita em parceria com o Pb. Geraldo. O veículo vai funcionar como uma espécie de “igreja itinerante” para evangelização em todo o Estado. Jota Cavalcante falou também sobre a transmissão de cultos pela internet. “Os cultos de ensino da igreja se de já são transmitidos pela internet, em breve, estaremos transmitindo diariamente cultos de várias cidades” [...] (ADALAGOAS, 2009).

A Igreja Assembleia de Deus em Alagoas desenvolve institucionalmente um

trabalho de conscientização dos fiéis sobre a importância da participação no

processo eleitoral, da escolha dos verdadeiros representantes da Igreja nos cargos

públicos em disputa. Essas discussões são incentivadas, seja por meio de

comissões composta por pastores, obreiros e os próprios fieis mais ativos para

debater a conjuntura política.

Assim as lideranças da igreja envolvem os membros da comunidade, e no

entorno das suas congregações. Os discursos dos valores da família e da

obediência a palavra de Deus como caminho de salvação para sociedade, é também

transferido para os candidatos. Nesse sentido são alertados que irmão vota em

irmão, um voto consciente numa perspectiva de fazerem representantes legítimos no

poder político institucionalizado. E consequentemente que estes políticos que

defendam integralmente as orientações morais e religiosas da congregação.

O Deputado Jota Cavalcante (PDT) sempre contou com o apoio forma da

Assembleia de Deus Alagoas, na montagem de estratégias para sua carreira

política. Além de ter um vínculo filial com o Presidente da Congregação, tem a seu 181 O ex - Deputado Jota Cavalcante (PDT) além de ter um vínculo filial com o Presidente da Congregação, teve dele apoio institucional através do Projeto Cidadania A.D. Brasil, que oferece apoio as candidaturas evangélicas. Conforme consta na matéria do site oficial da igreja sob o título: Coordenador da comissão política da AD em Alagoas analisa eleições, publicada em 02 de outubro de 2010. Além disso, a própria postura do parlamentar ao assumir o púlpito credenciando sua vitorias a sua doutrina, como também atuando em favor das atividades missionarias e sociais da Igreja. Como por exemplo o Projeto Desafio Jovem de Alagoas, ação da voltada para acolhimentos de jovens dependentes químicos; Projeto Dorcas na capital no interior “de assistência as gestantes carentes”, Projetos Amigos de Deus e Projeto Social Movimenta. Todas essas ações são ligadas a Igreja Assembleia de Deus. Conforme consta nos registrado nas referências desse trabalho.

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favor uma importante ação institucional, através do Projeto Cidadania A.D. Brasil,

que oferece apoio às candidaturas evangélicas182.

Além disso, a própria postura do parlamentar ao assumir o púlpito

credenciando sua vitorias a sua doutrina, como também atuando em favor das

atividades missionárias e sociais da Igreja. Como por exemplo, o Projeto Desafio

Jovem de Alagoas, ação voltada para acolhimentos de jovens dependentes

químicos; “Projeto Dorcas”, de assistência as gestantes carentes, “Projetos Amigos

de Deus” e “Projeto Social Movimenta”. Todas essas ações da Igreja Assembleia de

Deus são voltadas para comunidades carentes, no vácuo das políticas públicas do

Estado, claro tem retorno político para os representantes dessas igrejas183.

3.3 Eleitos de Deus, Elementos Comuns na Vida Pessoal, na Experiência Religiosa

Político – Partidária

Para uma melhor análise e compreensão da vida pessoal e pública desses

personagens políticos ligados ao pentecostalismo evangélico e ao catolicismo

carismático, objeto dessa presente pesquisa, achamos pertinente elaborar duas

tabelas com alguns pontos de interrogação e observações que pudessem indicar

elementos políticos, religiosos, de experiência pessoal e a vida institucional

partidária que de alguma forma marcaram significativamente as respectivas

trajetórias dos mesmos.

Nesse intento, elaboramos alguns pontos de observação a partir do um lastro

teórico repercutido por Leonildo de Campo (2002), que esclarece o conceito de

“político evangélico”, que usa simplesmente as denominações evangélicas para

produzir votos que os elejam e depois procuravam defende-las na fronteira política.

O autor reflete o conceito do “político de Cristo”, segundo o qual se constitui um

novo ator político-religioso, pois empresta a sua personalidade para ser usada como

um instrumento da confissão religiosa que o escolheu candidato e fez dele o seu

defensor na fronteira política.

182 Disponível em: < http://adalagoas.com.br/noticias/8757/coordenador-da-comissao-politica-da-ad-em-alagoas-analisa-eleicoes>. Acesso em 17/06/2016. 183 Disponível em: < http://adalagoas.com.br/noticias/9624/projeto-dorcas-sera-ampliado-para-os- municipios-alagoanos>. Acesso em 15/06/2015.

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Também foi importante o conceito de político de René Remond (2003), o qual

afirma com objetividade acerca da importância da linha de análise do aspecto

político do indivíduo, do grupo ou segmento social e/ou religioso que o mesmo

pertença. Portanto, procedemos as nossas observações a partir dos fundamentos

desse renomado historiador da religião e da política. O mesmo dialoga com a

sociologia política, com a antropologia, com a cultura local e de modo particular com

o que ele chama de “variáveis religiosas”. Todos esses elementos também

contribuem na análise da trajetória histórica, politica, religiosa e pessoal, dos nossos

personagens pesquisados.

Para tentar entendermos quem são esses personagens imbricados entre e

político e o religioso, buscamos em Paul Freston (2006) relevantes considerações

sobre os modelos de atuação política existente no seio das intuições religiosas e

através dos seus integrantes, representantes e líderes.

Nesse sentido, Paul Freston (2006) faz referência ao modelo institucional, no

qual a igreja, enquanto instituição, entra na política defendendo as suas propostas,

as quais podem ser boas ou não. Muitas vezes, trata-se de mera defesa de seus

interesses institucionais. Outro modelo de atuação religiosa na política é o que o

autor chama de autogerado ou autoimpulsionado. Um indivíduo evangélico que

constrói uma projeção política, ou que já a possuía antes de se tornar evangélico,

atua de maneira autônoma e faz um apelo aos evangélicos para que votem nele.

O sociólogo das religiões Paul Freston, faz ainda referência e defende o

modelo comunitário, no qual os evangélicos devem se envolver politicamente não

em nome de suas igrejas ou instituições, mas em grupos de pessoas que pensam

politicamente de uma mesma forma, inspiradas pela sua compreensão da fé cristã.

Portanto buscamos nesses estudiosos das ciências sociais, da história e da

religião, subsídios teóricos para nossas análises acerca da trajetória pessoal e

política dos personagens, foco desta pesquisa. Essas respectivas informações estão

nas tabelas a seguir:

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TABELA – 1

Informações →

Elementos comuns da vida pessoal e religiosa 184

Políticos ↓

Antônio Carlos Ramos Chamariz

( PTB)

Idade: 60 anos.

Infância: Natural de Porto Real do Colégio - AL, marcada pela pobreza;

Adolescência: Migra junto com seus pais para São Paulo, e enfrenta uma fase marcada pelo uso de drogas, chegando a morar nas ruas;

Pertença Religiosa: Ao ser acolhido por missionários da Assembleia de Deus, deixou o vício das drogas, tornando-se um fiel fervoroso.

Fase adulta: Concluiu o ensino médio supletivo, retorna para Alagoas, consegue emprego fixo, mais tarde se torna comerciante em Maceió. É casado e pai de onze filhos, fruto de dois matrimônios.

Escolaridade: Graduado em Administração.

Givaldo de Sá Gouveia Carimbão

(PROS)

Idade: 59 anos.

Infância: Origem muito humilde, natural da cidade de Itabi – SE.

Adolescência: Chegou a Maceió, no início da juventude e ingressou no comercio de carimbos, dessa forma ajudava sua família.

Pertença religiosa: Criou-se no seio de uma família muito religiosa, desde cedo exerceu a fé católica, sendo muito ativo na igreja.

Fase adulta: Destacou-se no ramo de comercio, tornou-se proprietário de uma loja de carimbo e impressões gráficas. Com um grande carisma ganhou notoriedade na Igreja e na sociedade. Criou o Lar sagrado coração de Jesus, o Santuário Cidade de Maria e lançou uma Igreja itinerante. Carimbão é casado e pais de três filhos.

Escolaridade: Primário Incompleto.

João Luiz Rocha

(DEM)

Idade: 60 anos.

Infância: filho de uma família simples e muito humilde, originário da cidade de Itajaí – SC.

Adolescência: Com 16 anos de idade conhece a Igreja Evangélica, logo cedo, se destacou como um pregador fervoroso.

Pertença religiosa: Igreja do Evangelho Quadrangular. Fase adulta: Com 28 anos de idade foi transferido para Maceió – AL, tendo como missão presidir a sua congregação, tendo êxito até hoje. Criou vários projetos assistenciais nas periferias da capital e no interior, além de desenvolver missões de evangelização. É divorciado e pai de quatro filhos.

Escolaridade: Ensino Fundamental.

José Cavalcante dos Santos

(PDT)

Idade: 53 Infância: .Natural do sertão alagoano, cidade de Pão de Açúcar –AL.

Adolescência: Desde cedo conviveu com uma família austera, estruturada na doutrinação evangélica, tendo as referências do seu pai, que era pastor.

Pertença religiosa: Assembleia de Deus.

184 Pesquisa feita pelo autor desse trabalho junto ao Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas – TRE-AL, referente as candidaturas e votações obtida, a coleta de dados biográficos nos site das casas legislativas: Câmara dos Deputados, Assembleia legislativa de Alagoas e Câmara de Vereadores de Maceió e dos diretórios partidários em Maceió: PROS ( Givaldo Carimbão), DEM ( Pastor João Luiz), PTB (Carlos Ramos Chamariz) e do PDT (Jota Cavalcante).

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Fase adulta: Já residindo em Maceió, cursou Direito e prestou concurso para o Banco do Brasil. Na condição privilegiada de filho do Pastor Presidente da Congregação recebeu incentivo e integral apoio para construir-se enquanto liderança. É casado e pai de três filhos.

Escolaridade: Graduado em Direito.

Tabela - 2

Informações → Eleitos de Deus - percursos político -partidário 185

Políticos ↓

Antônio Carlos Ramos Chamariz

(PTB)

O Político (Ex – Deputado Federal)

Reivindicando sua própria história de vida e testemunho, o ex – menino de rua que se tornou empresário ingressou na política em 2002, recebeu apoio irrestrito da sua congregação. Empenhou-se nos mais variados projetos sociais e de evangelização. Candidatou-se 05 vezes e exerceu mandato parlamentar por duas ocasiões, sempre expressando suas convicções religiosas.

Partidos percorridos:

Partido Social Cristão – PSC (2000 – 2002); Partido de Reedificação da Ordem Nacional – PRONA (2002 – 2006); Partido Trabalhista Brasileiro - PTB (2006 aos dias atuais).

Givaldo de Sá Gouveia Carimbão

(PROS)

O Político (Deputado Fed eral)

Demonstrando desde sempre um carisma marcante, ganhou destaque dentro da igreja católica nos mais diversos grupos e projetos de evangelização. Com uma imensa habilidade política, ocupou lideranças de associações habitacionais, comerciais e de bairro. Entrou oficialmente na política em 1988, ganhou para vereador por Maceió –AL no ano seguinte. Participou até agora de oito eleições parlamentares, sendo vitorioso em todas elas. O parlamentar católico investe maciçamente em projetos de evangelização e comunidades terapêuticas para dependentes químicos.

Partidos percorridos:

Partido Trabalhista Reformador – PTR (1988 – 1992); Partido Verde - PV (1993 – 1997); Partido Socialista Brasileiro – PSB (1997 – 2013); Partido Republicano da Ordem Social - PROS (2013 até os dias atuais).

João Luiz Rocha

(DEM)

O Político (Deputado Estadual)

Ganhou notoriedade enquanto líder da Igreja do Evangelho Quadrangular, que cresceu na onda do pentecostalismo. Além disso, o Pastor - deputado possui notável habilidade com as palavras, revelando-se também um estrategista. Desenvolve inúmeros projetos da Igreja que possui alcance social, voltado para dependentes químicos, meninos de rua, assistencialismo nas periferias e o esporte. Ingressou na política em 1989, disputou até agora sete eleições

185 Pesquisa feita pelo autor desse presente trabalho junto ao Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas – TRE-AL, referente as candidaturas e votações obtida, a coleta de dados biográficos nos site das casas legislativas: Câmara dos Deputados, Assembleia legislativa de Alagoas e Câmara de Vereadores de Maceió e dos diretórios partidários em Maceió: PROS ( Givaldo Carimbão), DEM ( Pastor João Luiz), PTB (Carlos Ramos Chamariz) e do PDT (Jota Cavalcante).

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parlamentares e ganhou todas.

Partidos percorridos:

Desde 1989 até os dias atuais, permanece no Democratas.

José Cavalcante dos Santos

(PDT)

O Político ( Ex - Deputado Estadual)

Ingressou na política em 2002, conhecedor exímio da estrutura administrativa, eclesiástica e teológica da Assembleia de Deus. O parlamentar evangélico fez jus ao desejo de seu pai, na época presidente daquela congregação. Sua passagem pelo parlamentar foi voltada para os interesses da sua igreja. Disputou quatro eleições parlamentares, ganhou duas e enquanto suplente assumiu secretarias de Estado do governo de Alagoas.

Partidos percorridos:

Desde 2002 integra o Partido Democrático Trabalhista (PDT).

Pelo exposto, as informações referentes aos elementos comuns da vida

pessoal e religiosa dos personagens foco dessa pesquisa: Antônio Carlos Ramos

Chamariz (PTB), Givaldo de Sá Carimbão (PROS), João Luiz Rocha (DEM) e Jota

Cavalcante (PDT), indicam que suas experiências religiosas e de vida são

norteadoras do político que se tornaram. Num primeiro momento não significa que

seja positivo ou negativo. Por isso, mesmo se faz necessário um olhar atento por

parte da academia sobre esses fatos tão relevantes no campo das ciência da

religião.

Análises consistentes, especialmente no que se refere aos seus respectivos

posicionamentos políticos acerca dos mais variados temas da sociedade.

Posicionamentos esses, que são expressos nos discursos oficiais, nas defesas de

suas agendas políticas e nas aparições públicas. É oportuno registrar, que uma

análise mais aprofundada só será possível num outro momento. Um trabalho

inteiramente dedicado à atuação institucional desses legisladores.

Por ora, refletimos aqui a trajetória pessoal, religiosa e ascensão política

desses parlamentares católicos e evangélicos, que passaram a disputar o poder

com as velhas oligarquias alagoanas a partir dos anos de 1990 aos dias atuais.

Portanto nossas considerações direcionam para uma linha de apresentação da

trajetória política- religiosa desses Eleitos de Deus nas legislaturas alagoanas.

A trajetória pessoal e familiar dos mesmos coincide nos aspectos sociais

bastante humildes, e na busca através da migração por melhores condições de vida.

Vivenciaram uma experiência religiosa muito particular. A média de idade dos

quatros, está em torno de 60 anos. Outro ponto comum entre eles, está no fato de

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se apresentarem como indivíduos que buscam na religião um alicerce para suas

vidas, reconstruindo e prosseguindo com seus respectivos projetos de vida pessoal,

num primeiro momento.

Assim, chamou bastante nossa atenção à experiência pessoal de vida do ex –

Deputado Antônio Carlos Ramos (PTB), que chegou a morar nas ruas, sendo

inclusive, usuário de drogas. O político religioso se esforça em demonstrar através

da sua própria trajetória a partir da sua conversão ao protestantismo, que sua vida

foi transformada. Na medida em que se converteu, deixou o vício das drogas, voltou

a estudar, no ano de 1978 ingressou no mercado de trabalho, fez concurso e foi

aprovado para companhia energética estadual, na década seguinte tornou-se

empresário no ramo de miudeza e importados, posteriormente realizou o sonho de

fazer faculdade em Administração.

Esse testemunho pessoal de libertação e progresso de vida é capitalizado

para o espaço público. Ao lançar sua candidatura como fiel representante da

Assembleia de Deus, o Chamariz passa uma mensagem de que aquela doutrina e

os seus preceitos sagrados foram transformadores para sua vida. Ungido dessas

bênçãos libertadoras será um instrumento novo na política.

A história de vida de Givaldo Carimbão (PROS), também é marcada por

conquistas e testemunhos significativos. Tem nas suas origens a marca de uma

família católica muito humilde, que experimentou limitações materiais marcantes na

luta pela sobrevivência. Algo comum às inúmeras comunidades e famílias das

cidades interioranas do sertão nordestino. A transferência de sua família para

Maceió ocorreu no ano de 1970, possibilitou novas experiências e oportunidades.

Com espírito empreendedor trabalhou no comércio, se tornando posteriormente

empresário. Com relação à formação educacional, possui o primário incompleto. Ao

mesmo tempo em que cuidava dos negócios, nunca deixou de frequentar e

participar intensamente da Igreja. Católico convicto se engajou nos movimentos

Marianos e da Renovação Carismática, o que lhe rendeu bastante visibilidade.

Muito habilidoso nos discursos, extremamente diplomático, portador de um

carisma extraordinário, Carimbão foi conquistando respeito e admiração dentro da

Igreja e fora dela. Destacou-se ainda mais, ao desenvolver atividades assistenciais

com dependentes químicos e menores de rua, criando espaço de acolhimento,

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apoiando caravanas de evangelização, e participando das festividades religiosas,

seu nome caiu nas graças dos católicos alagoanos.

Assim, do leigo católico surgiu o político religioso. Convencido de seu

potencial, Givaldo Carimbão encontrou no rebanho católico, uma nobre causa

coletiva. A Igreja Católica precisava de representantes com voz e poder de decisão

dentro da política. Os interesses do povo de Deus, os valores da família e as

mazelas sociais, encontraram seu legítimo defensor. Para continuar sua missão

humanitária e religiosa era necessário conquistar os espaços institucionais de poder.

Givaldo Carimbão ingressou na política em Maceió em 1988, desde sempre sustenta

uma pauta voltada para os interesses da família católica, conforme os preceitos

norteadores da Igreja. Permanece no legislativo há 28 anos ganhando eleições.

É interessante observarmos a trajetória do Pastor João Luiz Rocha (DEM), o

mesmo apresenta algumas semelhanças com os seus colegas políticos religiosos.

Sua origem familiar é bastante simples, desde muito jovem se converteu ao

protestantismo. Sua migração de Santa Catarina para Alagoas, não foi motivada por

questões de dificuldades econômicas, como no caso dos outros três parlamentares.

Vale registrar que entre os quatro principais políticos religiosos, foco dessa

pesquisa, o único líder religioso é o Pastor João Luiz. O mesmo veio para Alagoas,

ciente de sua missão, liderar a Igreja do Evangelho Quadrangular. Umas junções de

fatores levaram ao crescimento da sua congregação e do seu próprio líder. A

excepcional vocação pastoral, o carisma e uma visão estratégica para projetos

assistenciais e de evangelização nas regiões periféricas mais pobres de Maceió. O

Pastor João Luiz com seus diversos projetos sociais e evangelizadores termina por

preencher as lacunas do Estado.

É justamente nesse quadro que surge a figura do político, somando-se a do

pastor. João Luiz Rocha impulsionado pela maré avassaladora do pentecostalismo a

partir da década de 1980, se faz presente nas localidades mais pobres da capital

alagoana. Leva consigo uma mensagem de testemunho de vida, de exemplo vivo de

que aceitando Jesus, foi ungido de bênçãos. Portanto, ele pode ser um instrumento

maior a serviço da Igreja para transformação de novas vidas. Esse homem se torna

mensageiro da palavra de Deus para um povo carente de tudo, inclusive de

esperança. Em 1989, um ano após sua chegada em Alagoas, se lançou candidato

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ao legislativo municipal e foi reeleito por seis eleições seguidas. A sua sétima vitória

foi para o legislativo estadual de Alagoas, cargo que exerce atualmente.

O quarto político religioso que compõe nossos estudos, o ex – Deputado Jota

Cavalcante (PDT), tem a sua gênese religiosa e política no âmago da Assembleia de

Deus de Alagoas. Na condição privilegiada de ser o filho do então Pastor Presidente

daquela congregação, Jota Cavalcante recebeu os ensinamentos doutrinários e

assessoramento institucional para se lançar na política. As publicações oficiais no

site da instituição apresentam o apoio explícito as suas candidaturas.

Jota Cavalcante é sertanejo, de família muito simples e teve nos seus pais as

maiores referencias religiosas. Desde cedo se empenhou nas ações sociais,

projetos de evangelização e se apresentou sempre como um evangélico convicto da

sua fé. Por influência do seu pai, entrou na política em 2000 e disputou quatro

eleições seguidas, sendo vitorioso em duas delas.

O parlamentar sempre assumiu sua identidade confessional, inclusive na

atuação do seu cargo com posturas favoráveis aos evangélicos e projetos de

evangelização e assistência social da Igreja Assembleia de Deus. O testemunho

maior foi da sua própria vida, filho de evangélicos, esposo dedicado, pai exemplar de

três filhos, formado em Direito e servidor público concursado. Sua vida é uma

síntese do evangélico probo e abençoado por Deus.

Sua candidatura representa esse conjunto de propósitos, valores morais e

bênçãos. Um servo de Deus na política alagoana. A ascensão política de Jota

Cavalcante significou a expressão do capital religioso dos fiéis da assembleia de

Deus em Alagoas, e outras denominações evangélicas. Claro, moldada pelas mãos

da cúpula da igreja, através do lema irmão vota em irmão.

No que se refere ao perfil político–partidário desses personagens

pesquisados, observa-se algumas particularidades. Alguns parlamentares

permanecem no mesmo partido desde o início das suas carreiras. Enquanto que

outros apresentam uma movimentação pelas mais variadas siglas. Outro ponto a ser

destacado é o fato de dois desses políticos religiosos, estarem filiados a partidos

historicamente de esquerda, todavia tem dado demonstrações do mais alto grau

conservador.

Antônio Carlos Ramos Chamariz (PTB), apresenta um perfil de centro-direita,

indica um posicionamento bastante liberal na economia, conservador na política. O

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político passou por três agremiações partidárias de centro direita (PSC, PRONA,

PTB).

O Deputado Federa Givaldo Carimbão (PROS), curiosamente iniciou carreira

por partidos de Direita (PTR), migrou para o Centro (PV), posteriormente se inclinou

para Esquerda com o (PSB) e voltou para Centro Direita com o (PROS) e (PHS).

Carimbão como os demais parlamentares apresenta um perfil político conservador, e

liberal na economia. O Pastor João Luiz (DEM), sempre representou esse partido,

antigamente era Partido da Frente Liberal – PFL. O pastor João Luiz tem

posicionamento políticos conservadores, é um entusiasta do liberalismo econômico.

Jota Cavalcante (PDT), curiosamente uma agremiação de esquerda, contradiz com

os posicionamentos políticos conservadores e defesas liberais para economia.

Essas mudanças partidárias parecem estar relacionadas às conjunturas

políticas de cada eleição. Esses parlamentares constituem coligações para se

fortalecerem nas disputas eleitorais, o que faz depender do quociente eleitoral186.

Além disso, num estado onde a classe política é majoritariamente oligárquica

e os partidos são comandados a mão de ferro, os políticos e inclusive os políticos

religiosos entram na dança das cadeiras conforme a conjuntura política se desenha.

Entendemos que se faz necessário trazermos algumas concepções teóricas

de estudiosos da religião e da história política, que ao nosso ver contribuem

significativamente para uma melhor compreensão desses fenômeno político-

religioso de parlamentares católicos carismáticos e evangélicos pentecostais

ocuparem cada vez mais espaço no poder institucionalizado.

Sobre os desafios de representantes de instituições religiosas atuarem na

política, o sociólogo Paul Freston (2006) reflete que não podemos ignorar a

legitimidade do cidadão ligado a uma determinada religião atuar na política. Isso não

significa, porém que possamos concordar com atuação do mesmo. Inclusive de

ficarmos atentos porque não se excluir a possibilidade de conversões oportunistas.

Podemos não concordar com as políticas deste ou daquele candidato e até achar que sua conversão foi oportunista, mas não devemos

186 O sistema funciona da seguinte maneira: cada circunscrição eleitoral, em cada partido apresenta-se às eleições com uma lista que comporta tantos nomes quanto os lugares a preencher (número de deputados a eleger). Depois da votação começa-se por determinar o quociente eleitoral. Este quociente é o resultado da divisão do número dos sufrágios exprimidos pelo número de lugares a preencher. Disponível em: http://www.opiniaopublica.ufmg.br/emdebate/noelle11.pdf>. Acesso em 22/09/2016.

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combatê-lo de tal forma a deslegitimar a razão da nossa própria participação política. A política não deve ser meio de fortalecer uma religião em detrimento de outras, mas dizer que a religião em si nada tem a ver com a conduta da política é lógica e historicamente falso (FRESTON, 2006, p.9).

Por outro lado, o estudioso alerta para o fato de que nem sempre a atuação

de um político religioso está comprometida com proselitismo doutrinário. Ao mesmo

tempo faz-se necessário uma análise aprofundada da atuação legislativa dos

políticos religiosos. Se os mesmos transferem as compreensões dogmáticas do

púlpito e para tribuna do legislativo.

Paul Freston (2006) parece nos chamar a atenção para não reproduzirmos a

negação da dimensão religiosa na seara política. É da natureza humana expressar a

fé. Buscar sentido no transcendente. Um político religioso pode muito bem

experimentar sua fé, tendo a consciência de que não é o portador da verdade

absoluta. Visto que a fé e as crenças são demasiadamente subjetivas.

Isso implica reconhecer, entre outras coisas, que há diferença entre ser um legislador evangélico e ser um governante evangélico. Em torno dos candidatos e políticos evangélicos há líderes e membros de igrejas com uma expectativa “messiânica” de que aquele candidato evangélico canalizará automaticamente as bênçãos de Deus sobre o Brasil, resolvendo todos os problemas que nos afligem. Esse messianismo é muito perigoso, para o país e para a Igreja. Ao contrário do que muitas vezes se afirma, a última parte do homem a se converter não é o bolso, é o fascínio pelo poder (FRESTON, 2006, p.10-11).

O bom-senso deve acompanhar sempre o parlamentar nas suas atividades

legisladoras, para que se evitem leis dogmáticas. Visto que o legislativo pode muito

contribuir com a sociedade, elaborando leis que contemple as múltiplas culturas

religiosas. Evitando assim brechas que contribuem para o preconceito com a religião

do outro. Como também combatendo o proselitismo religioso ferrenho. Não

excluindo também aquele típico católico e ou evangélico fervoroso, que evoca para

si o papel do messias. E anula todas as demais instancias da sociedade como os

sindicatos, movimentos sociais partidos políticos enquanto elos entre a sociedade e

o Estado na proposição e efetivação das políticas.

O Estado deve ser não-confessional. Foi justamente essa percepção por parte de alguns dos primeiros protestantes nos séculos 16 e 17 que deu início à separação entre Igreja e Estado. Com bases teológicas, eles perceberam que a visão cristã do Estado é que o Estado não deve ser “cristão”, no sentido de defender e promover uma determinada igreja ou religião. Este não é o papel de Estado

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nenhum da dispensação da graça. Entretanto, religião e política podem, sim, ser misturadas. Uma pessoa pode ser inspirada por sua fé religiosa a ingressar na política e defender certas propostas. Política confessional, sim; Estado confessional, não (FRESTON, 2006, p.10).

O exercício político do governante, do legislativo e em especial dos

parlamentares religiosos é muito delicado, pode acontecer daqueles que convencido

que sua religião é a verdade absoluta, vai querer impô-la os demais. Não é civilizado

um grupo restrito, um indivíduo ou até mesmo a maioria impor aos demais suas

convicções.

Portanto o desafio está tanto para os políticos de forma geral, políticos

religiosos, como também para líderes religiosos e a sociedade como um todo, para

construir um diálogo saudável entre religião e política. Vale registrar, que não é

possível até aqui afirmar de maneira absoluta que os personagens foco dessa

pesquisa, possuam um perfil religioso dogmático. Mas ao mesmo tempo o conjunto

de informações levantadas demonstra que as suas experiências religiosas, se fazem

presentes com veemência no modo como eles se apresentam para o exercício

político e como representantes do povo no parlamento.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fé é o horizonte último da política. Em outras palavras, o que a política busca, em última instância, é o conteúdo da fé. Por sua vez, a política é a mediação prioritária da fé no contexto latino americano. Todos os propósitos cristãos caem no vazio de piedosas abstrações se não encontram, na política, o meio de efetiva encarnação. Como diria São Tiago, autor da carta incluída no Novo Testamento, a política é o meio de realização das obras de fé (OLIVEIRA, 2004, p.24-25).

Ao lançarmos nosso olhar para história encontramos a religião como

elemento central e unificador nos aspectos políticos e culturais dos povos. O Estado

e as sociedades humanas tiveram como fio condutor a religião. A complexidade

cultural religiosa é ao mesmo tempo, sinônimo de união, de missão para uns, e para

outros motivos de discórdia, um jogo de interesses pelo poder.

A dimensão política da religião se constitui em um enorme desafio para os

fiéis e seus líderes. A política é uma força poderosa enquanto elemento de

argumentação e convencimento por meio das palavras e das ações concretas. Seja

para o bem ou para o mal. Na verdade, entre religião e política reside uma linha

tênue permanente. É possível que um fiel ou líder religioso possa assumir com toda

sua humanidade uma missão altruísta, mas também essa mesma condição humana

pode levar um indivíduo ao fascínio e a vaidade pelo poder. A tribuna de um palácio

legislativo e o púlpito de uma igreja são espaços por excelência de exercício da

palavra. Por conseguinte, de palavras que conduzem às ações políticas com as mais

diversas intenções.

O tempo e a história testemunharam com vigor as estreitas relações entre

política e religião, em Alagoas. Direcionamos nosso olhar para atuação da Igreja

Católica junto ao Estado lusitano e posteriormente brasileiro no processo da

formação do país, de modo particular com o povoamento através da implantação

das freguesias. Em Alagoas a maioria absoluta dessas freguesias fundada por

religiosos se transformaram nos atuais municípios.

Já no período republicano observamos uma continuidade da parceria entre o

clero católico e a aristocracia alagoana no processo de implantação da primeira

Diocese em Maceió, no ano de 1901, que mesmo com o fim do padroado, recebeu

vultosos recursos do governo estadual de Alagoas. Esse fato não foi isolado,

guardadas as circunstâncias específicas, se repetiu nos processos de criação e

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implantação das Dioceses de Penedo, Palmeira dos Índios e suas respectivas

paróquias, por meio de vínculos e favores políticos por parte do governos municipais

e oligarquias locais.

Alagoas foi moldada através do modelo da sociedade patriarcal e agrária com

forte tradição religiosa, onde ricos e pobres, ao longo dos séculos, conviveram sob

olhos vigilantes da Igreja e da política. Em tempo, a Igreja ou parte significativa dela

sempre foi complacente com as graves distorções sociais, provocadas pela

exploração econômica dos senhores da terra. Até hoje o estado de Alagoas

apresenta elevadas taxas de pobreza e uma das maiores concentrações de riqueza

e renda do Brasil. Nesse cenário, não fica difícil aparecer políticos com promessas

messiânicas.

Observamos o exercício político e de profissão de fé como instrumentos de

ação política e de assistencialismo social por parte dos representantes e líderes do

pentecostalismo evangélico e catolicismo carismático, sobretudo se fazendo

presentes nos plenários do legislativo, nas diferentes esferas de poder que

constituem o Estado brasileiro. Legislando inclusive em função das suas convicções

religiosas no contexto de uma aparente laicidade.

Em Alagoas a presença dos políticos religiosos, representando os segmentos

evangélicos pentecostais e católicos carismáticos têm ocorrido com regularidade na

Câmara de Vereadores de Maceió, na Assembleia Legislativa e no Congresso

Nacional. Alguns desses parlamentares que ingressaram na política na década de

1980, têm sido reeleitos desde 1989 até a atualidade. Esses representantes de

instituições religiosas se apresentam como um político diferenciado, mensageiros da

palavra sagrada, homens redimidos e tementes a Deus. Pais de família cristã,

cidadãos exemplares cumpridor das leis divinas e das leis do homem. Alguns

desses políticos religiosos declaram abertamente as instituições religiosas que

representam, noutros isso fica nítido nas suas próprias ações.

As propostas e posicionamentos dos mesmos sugerem uma atuação

proselitista. Como se verifica na captação de recursos para projetos de

evangelização, através do assistencialismo social, sejam de iniciativa pessoal ou

serviço de suas próprias igrejas. Nas proposições de isenção de impostos e taxas

para os templos, projetos de convenio com o governo para criação e /ou

manutenção de comunidades terapêuticas, sob a responsabilidade desses

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representantes. A construção de infraestrutura e acesso viário para santuários e

locais de peregrinação religiosa. Solicitação aos poderes públicos de apoio logístico

e benefícios fiscais para megaeventos religiosos.

Também verificamos alguns posicionamentos preocupantes na atuação das

bancadas alagoanas, que se aproximam de uma defesa dogmática dos valores

morais cristãos. A partir de defesas enfáticas de propostas legislativas para

regulamentação da vida civil, com leis que nascem das interpretações dos preceitos

religiosos. Como por exemplo não legalização do aborto em determinado casos

específicos, a não criminalização da homofobia, aprovação da retirada da identidade

de gênero dos planos educação, além do próprio desinteresse de legislarem

enquanto representante do povo. E também das casas legislativas serem de fato,

um espaço de debate e proposição de ideias plurais num ambiente republicano,

democrático e laico.

Paul Freston (2006), nos alerta:

De fato, existem maneiras de ligar religião e política eleitoral que são péssimas: o objetivo de favorecer seu grupo religioso, ou de impor a moral pessoal e social de sua religião sobre a população. Mas existe também uma maneira boa: a das propostas no mercado das ideias, na esperança de que elas venham a ser influentes na sociedade, independente de a maioria ser da nossa religião ou não, na base (muito firme na teologia bíblica) de que os valores cristãos não são arbitrários, mas correspondem à realidade do ser humano e do universo (FRESTON, 2006, p.31).

Faz-se necessário refletirmos sobre os valore humanistas universais que se

entrecruzam nas diferentes culturas religiosas. Como o respeito à vida e a dignidade

humana, a proteção às crianças, o respeito a natureza, os cuidados com os animais,

o zelo com o meio ambiente, a solidariedade humana com os mais frágeis, a luta

contra a fome, entre tantas outras causas humanitárias. São temas que nos une e

nos encoraja o diálogo.

E tudo isso perpassa pela política, que precisa ser arejada por esses valores

universais das religiões. Particularmente, no nosso caso o cristianismo, religião

predominante na nossa organização social.

Convidamos para uma reflexão sobre uma questão importante, a dimensão

religiosa e de fé interior. De cada indivíduo na face da terra se permite experimentar

a fé. E que essas experiências independem de instituições e líderes. Ao tempo que o

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comportamento desses indivíduos reflete na vida social e coletiva. Independente

muitas vezes de religiões institucionalizadas.

Faz-se necessário que a sociedade, igrejas e os políticos debatam a

relevância, mas também os limites da relação entre política e religião. Para não

alimentarmos espaço para o surgimento de guardiões de doutrinas religiosas com

posicionamentos radicais. Cabe alertar que os políticos religiosos mesmo movidos

pelo conjunto de valores culturais da moral cristã presente na sociedade, nem por

isso, podem impor uma legislação a partir de uma concepção doutrinária.

Precisamos entender que não se faz política, despido de crença religiosa.

Por que essa última também é uma dimensão presente e legítima das sociedades.

Porém somos desafiados a entender e agir no contexto de um regime democrático,

onde os espaços de poder político, em especial, as casas legislativas não concebem

posicionamentos dogmáticos. A pluralidade de pensamento e de credo é condição

inegociável para uma sociedade mais humana e mais justa.

Os valores cristãos convidam os políticos a serem honestos, sem jogo de

manipulações, que utilizem o mandato público para servir a sociedade, primando

pela ética, competência, solidariedade, sobretudo pelo respeito ao próximo e de um

profundo comprometimento com justiça social.

Jesus assumiu a espiritualidade do conflito, propagando a proposta da vida e do Reino de Deus, em choque com os partidários da morte do reino de Cézar. Sua espiritualidade abastecia-se na intimidade amorosa com o Pai e no contato direto com o povo. Os evangelhos mostram Jesus entregue a uma intensa atividade pública (Mt 9,35) que não o impedia de ficar horas em oração (Lc 6,12), sobretudo em momentos de opções decisivas. Nele não havia a contradição oração x ação. Sua disposição de serviço ao povo e sua fé reabasteciam-se no exercício de gratuidade amorosa que é a oração pessoal e comunitária (OLIVEIRA (org.), 2004, p.26).

Portanto, o exercício da política pode e deve caminhar com a religião, desde

que as autoridades do governo, os agentes públicos e os cidadãos compreendam

que o diálogo respeitoso entre essas dimensões, é imprescindível para alcançamos

os marcos civilizatórios e democráticos.

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