Eleições nas capitais brasileiras em 2012

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    Eleiesnas Capitais

    Brasileirasem 2012Estudos sobre o HGPE em disputas municipais

    Luciana Panke eEmerson Cervi (Org.)

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    Eleies

    nas CapitaisBrasileirasem 2012Estudos sobre o HGPE em disputas municipais

    Organizao:Luciana Panke e Emerson CerviPreparao: Luciana PankeComposio grfica:Luciano B. LemosISBN(e-book): 978-85-915195-0-7

    PANKE, Luciana e CERVI, Emerson U. (org.)Eleies nas capitais brasileiras em 2012: um estudo sobre o

    HGPE em disputas municipais / Luciana Panke e Emerson U.Cervi (organizadores).

    Independente. Curitiba: Ps-graduao em Comunicao ePs-graduao em Cincia Poltica Universidade Federal doParan (UFPR), 2013. 110 p.

    Edio 1.1. E-book Verso PDF.

    1. Comunicao 2. Cincia Poltica 3. Propaganda Eleitoral. 4Estudos sobre as eleies de 2012. 5. Cincias Sociais

    ISBN 978-85-915195-0-7

    APOIO

    POLITICOM

    Sociedade Brasileira dos Profissionais e Pesquisadores em

    Comunicao e Marketing Poltico

    Programa de Ps-graduao em Comunicao Social UFPR

    Programa de Ps-graduao em Cincia Poltica UFPR

    Copyright 2013

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    Sumrio

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    Apresentao

    Regio Sul

    1. A disputa poltica em Porto Alegre: a eleio que o povo rejeitou - Srgio Roberto Trein UNISINOS

    2. HGPE na nica capital onde o prefeito no seguiu para o segundo turno

    Luciana Panke e Emerson Cervi (UFPR)

    Regio Sudeste

    3. HGPE nas eleies municipais majoritrias de 2012: o caso do Rio de Janeiro - Carolina de Paula

    (IESP-UERJ)

    4. A cobertura da Folha de S.Paulo nas eleies municipais de 2012: inovaes e contradies -

    Adolpho Queiroz, Rmullo Dawid e Camila Dias (Mackenzie)

    5. Tcnicas De Produo Publicitria Em Campanhas Eleitorais: Uma Anlise Das Aes

    De Fernando Haddad Como Candidato Majoritrio Nas Eleies De 2012 Em So Paulo -

    Flvio Ferreira e Roberto Gondo Macedo (Mackenzie)

    6. Passado ou futuro? O duelo entre as realizaes e propostas de Marcio Lacerda e Patrus

    Ananias na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte em 2012 - Helcimara Telles e Nayla Lopes

    (UFMG)

    Regio Nordeste

    7. A construo da imagem pblica na campanha eleitoral prefeitura de Fortaleza:

    uma anlise discursiva dos debates em tv e nas redes sociais

    Paulo Eduardo Cajazeira e Digenes Cardoso DArce Luna (UFC)

    8. Anlise do uso dos meios de comunicao tradicionais por candidatos a prefeito de

    Natal/Rn - Aryovaldo de Castro Azevedo Junior, Alice Marina Lira Lima e

    Patricia Reis Ferreira da Silva (UFRN)

    9. Recife: o poder do apadrinhamento poltico - Marco Mondaini e Rogrio Covaleski (UFPE)

    Regio Centro-Oeste

    10. De Cachoeira e Demstenes ao voto nulo: a eleio de 2012 em Goinia e as estratgias dos prin-

    cipais candidatos no HGPE Pedro Santos Mundim, Helosa Dias Bezerra e Mariana G. Nogueira (UFG)

    Regio Norte

    11. O HGPE nas Eleies Municipais 2012 em Palmas (TO) Malena Mota (Umesp)

    12. Grande uso de um pequeno tempo: a arrancada de Clcio Lus no primeiro turno da eleio de

    Macap em 2012 Gabriel Bozza, Jeferson Thauny e Rui Fontoura (UFPR)

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    A proposta do livro Eleies nas Capitais Brasileiras em 2012: estudos

    sobre o HGPE em disputas municipais resultado da necessidade de se discutir osprocessos de comunicao das eleies municipais brasileiras. O esforo coletivo depesquisadores de todas as regies do pas tornou possvel traar um panorama na-cional sobre o Horrio Gratuito de Propaganda Eleitoral e suas inter-relaes comoutros veculos de comunicao.

    Da regio sul, a coletnea traz o trabalho do prof. Dr. Srgio Trein (Unisi-nos) que destaca a legitimao do discurso da gesto concorrente reeleio e odesinteresse da populao no processo eleitoral. Sobre Curitiba, os pesquisadores Lu-ciana Panke e Emerson Cervi (UFPR) apresentam o caso indito do prefeito que noconseguiu conquistar votos suficientes para disputar o segundo turno na cidade.

    Do Rio de Janeiro, a doutoranda Carolina de Paula (UFRJ) analisa comofoi a reeleio no primeiro turno de Eduardo Paes (PMDB). J da maior cidade do pas,o ebook publica dois captulos. O primeiro, de autoria de Adolpho Queiroz, RmuloDawid e Camila Dias (Mackenzie), faz a leitura das eleies a partir do vis do jornalA Folha de So Paulo. O segundo, de Roberto Gondo e Flvio Ferreira (Mackenzie),enfatiza a campanha do candidato petista Fernando Haddad (PT). Sobre as disputaseleitorais em Belo Horizonte (MG), Helcimara Telles (UFMG) e Nayla Lopes (UFMG)analisam o duelo entre manter conquistas do passado e a confiana em promessas deum futuro diferente para a capital de Minas Gerais.

    Do Nordeste, Paulo Eduardo Cajazeira e Digenes Cardoso DArce Luna(UFC) observam a disputa prefeitura de Fortaleza sob o vis de uma anlise discur-siva dos debates em tv e nas redes sociais. Os pesquisadores da UFRN, Aryovaldo deCastro Azevedo Junior, Alice Marina Lira Lima e Patricia Reis Ferreira da Silva, trazemas impresses das eleies em Natal O apadrinhamento poltico tema do captulosobre o pleito em Recife, escrito por Marco Mondaini e Rogrio Covaleski da UFPE.

    A regio centro-oeste representada pelos pesquisadores da UFG, PedroSantos Mundim, Helosa Dias Bezerra e Mariana G. Nogueira, que relacionam o mo-mento eleitoral a um conto policial em funo dos personagens polticos envolvidos.

    Na regio norte, a eleio do candidato do PSOL em Macap, Clcio Lus,est no captulo de Gabriel Bozza, Jeferson Thauny e Rui Fontoura. O cenrio da capi-tal do Tocantins, Palmas, relatado pela jornalista Malena Mota, onde o candidatocolombiano venceu as eleies, saindo de 1% das intenes de voto em junho de 2012a 49,65% dos votos vlidos em outubro.

    Com o material, esperamos que outras pesquisas sejam estimuladas epossamos ir realizando um registro histrico das eleies municipais nas capitais bra-sileiras. Outro objetivo manter ativa a rede de pesquisa sobre meios de comuni-

    cao tradicionais nas campanhas eleitorais brasileiras, para que novos estudos decaso sejam feitos sobre futuras disputas, no apenas municipais, mas estaduais e atem eleies nacionais.

    Boa leitura!

    Apresentao

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    RESUMO:

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    A disputa poltica em PortoAlegre: a eleio que

    o povo rejeitou

    Prof. Dr. Srgio Roberto Trein O cenrio eleitoral inicial dedisputa Prefeitura Municipal de PortoAlegre no foi nada diferente das demaiscapitais brasileiras. Ou seja, um candidato

    buscando a reeleio e diversos candi-datos com maior ou menos expresso,colocando-se na oposio. Aos pou-cos, entretanto, as pesquisas eleitorais,a cobertura poltica na mdia e a prpriaopinio pblica comearam a apresentarum interessante quadro eleitoral: uma re-

    jeio a qualquer perspectiva de mudan-a na administrao pblica municipal.A tal ponto que se pode configurar umahiptese de que a eleio 2012 para a Pre-feitura de Porto Alegre serviu, muito mais,para legitimar a atual gesto municipaldo que qualquer outra coisa. Ou ainda, deque o eleitorado porto-alegrense no re-

    jeitou apenas os candidatos de oposioe suas propostas de debate poltico. Mas,sim, rejeitou a prpria eleio.Palavras-chave: Comunicao poltica,eleies, Porto Alegre, HGPE.

    1 - Professor dos cursos de Comunicao Social e Coordenador do curso de Publicidade e Propaganda na Universidade do Valedo Rio dos Sinos (UNISINOS). E-mail: [email protected]

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    O horrio eleitoral, em rdio e televiso, transformou-se, ao longo das ltimas

    dcadas, em uma pea fundamental da democracia brasileira, porque se constituiuem uma ocasio privilegiada para a valorizao das imagens partidrias. O modelobrasileiro de propaganda poltica possui caractersticas nicas: ele combina, comonenhum outro modelo no mundo, a gratuidade do acesso televiso e ao rdio comuma cobertura e uma abrangncia miditica, que permite uma considervel eficinciacomunicativa. Para Wolton (1990, p. 135):

    Se tomarmos as caractersticas de base da televiso, que so o espetculo,a identificao, a representao e a racionalizao, compreenderemos que essascaractersticas remetem diretamente ao papel de lao social da televiso1.

    De acordo com Albuquerque (1999), a concesso de horrio gratuito para apropaganda poltica, no Brasil, comeou em 1962. No incio, o impacto eleitoralfoi mnimo, pois a televiso era, ainda, um meio regional e o nmero de aparelhosreceptores no pas no atingia a marca de dois milhes. Dois anos mais tarde, aomesmo tempo em que a ditadura militar relegou as eleies a um papel secundrio navida nacional, o mesmo regime desempenhou um papel importante na consolidaode uma infraestrutura nacional de telecomunicaes. Passado este perodo de exceo,somente em 1985 que a propaganda poltica ganhou uma dimenso poltica relevante.Atualmente, no existe um formato preestabelecido para a propaganda poltica noHorrio Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE). Os partidos podem produzir seusprogramas de acordo com sua capacidade criativa e seus recursos financeiros, embora,a partir de 1993, como ressalta Albuquerque (1999), a Justia Eleitoral tenha proibido ouso de trucagens e montagens na edio dos programas eleitorais2.

    Para aumentar suas chances, os partidos recorrem a diversas estratgias, entreelas as coligaes partidrias. Boa parte dos acordos entre os partidos tenta garantira governabilidade em caso de vitria, para formar uma frente nica para enfrentardeterminados adversrios. Mas a conquista de tempo para a propaganda polticana televiso e no rdio o que tem se constitudo como o fator de maior estmuloa estas coligaes. Mesmo que o HGPE tenha uma delimitao de espao bemdefinida3, a propaganda poltica acaba estabelecendo um dilogo com o restante da

    programao das emissoras de rdio e TV. Ao longo dos anos, desenvolveu-se, nosmeios de comunicao, uma programao variada de opes, como filmes, novelas,esportes, telejornalismo, documentrios, programas de auditrio etc. Este cardpiodiversificado no representou apenas mais opes aos telespectadores. Permitiu,tambm, a incorporao de uma srie de linguagens novas, que foram se moldandoumas s outras, interferindo, diretamente, nos formatos dos programas eleitorais.

    Por tudo isso, em especial atravs do HGPE, a comunicao poltica oinstrumento que liga a ao e o pensamento dos polticos com a sociedade civil.Segundo Wolton (1998, p. 177), a poltica inseparvel da comunicao, sobretudo emdemocracia, onde os polticos devem explicar suas propostas para ganhar as eleies

    ou assegurar a reeleio. Na verdade, este um caminho de duplo sentido: enquanto1 - Pode-se dizer o mesmo em relao ao rdio.2 - A cada novo pleito, a Justia Eleitoral incorpora novas regras, tentando minimizar o poderio econmico e financeiro nas campanhas polticas.3 - Tanto no vdeo (no caso da televiso), como no rdio, uma locuo em off, informa o incio e o final do HGPE.

    Introduo

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    as instncias polticas informam o seu trabalho, tambm a sociedade informa as suasopinies e necessidades. Sendo assim, como ressalta Ochoa (1999, p. 4), a comunicaopoltica desempenha um papel fundamental no funcionamento dos sistemas polticos.

    Na campanha eleitoral Prefeitura Municipal de Porto Alegre foi possvel

    perceber todo este cenrio de espetculo e a tentativa de ligao entre os postulantesao cargo de Prefeito e a populao. Na verdade, pode-se dizer que havia dois contextosdiferentes de disputa: a campanha de rdio e TV, com todas as suas caractersticasde espetacularizao; e a campanha das ruas, que no refletia exatamente a mesmadinmica da disputa miditica. Esse quadro de apagamento e distanciamento daspessoas em relao ao processo poltico chegou a ser abordado diversas vezes emreportagens do jornal Zero Hora, principal jornal do Rio Grande do Sul. Este , portanto,o objetivo deste estudo: compreender a utilizao do HGPE, por parte dos candidatos,na eleio municipal de Porto Alegre e qual sua influncia em termos de resultado ecomo instrumento de convencimento persuasivo e eleitoral.

    Durante dezesseis anos, a capital gacha foi governada por sucessivasadministraes petistas. At que, em 2004, Jos Fogaa venceu a eleio, juntamentecom seu vice, Eliseu Santos4. Em 2008, Fogaa concorreu reeleio. Desta vez, seuvice era Jos Fortunatti, ex-vereador e ex-deputado federal. Em 2010, Jos Fogaarenunciou ao cargo de Prefeito para concorrer ao Governo do Estado. No venceu.Mas, em funo disso, Fortunatti assumiu a Prefeitura de Porto Alegre. Agora, ento,em 2012, o prefeito decidiu concorrer reeleio, pelo seu partido, PDT. Teve, comoadversrios, Manuela Dvila (PC do B), eleita a vereadora mais jovem de Porto Alegre,em 2004. E, posteriormente, eleita a deputada federal mais votada em 2006 e adeputada federal mais votada na histria do Rio Grande do Sul em 2010. Teve, tambm,a concorrncia do deputado federal Ado Villaverde (PT), Wambert di Lorenzo (PSDB),Roberto Robaina (PSOL), Jocelin Azambuja (PSL) e rico Corra (PSTU).

    Estes quatro ltimos candidatos, na verdade, tiveram muito mais um papelde figurantes na disputa eleitoral, em funo do tamanho de seus partidos, da baixaexpressividade poltica e, at mesmo, da falta de projetos polticos mais concretos.

    Ainda assim, todos os candidatos, seus partidos e suas coligaes so apresentados aseguir:

    - Jos Fortunatti (PDT): eleito ainda no primeiro turno, com 517.969 votos (65,22% dosvotos) teve como candidato a vice-prefeito Sebastio Melo, do PMDB. A ColigaoPor Amor a Porto Alegre era composta por nove partidos polticos: PRB, PP, PDT, PTB,PMDB, PTN, PPS, DEM e PMN.

    - Manuela Dvila (PC do B): teve 141.073 votos (17,76% dos votos). Seu candidato avice-prefeito foi Nelcir Tessaro, do PSD. A Coligao Juntos por Porto Alegre reuniacinco partidos polticos: PSC, PHS, PSB, PSD e PC do B.

    - Ado Villaverde (PT): conquistou 76.548 votos (9,68% do total de votos). Coronel

    4 - Eliseu Santos foi assassinado em 2010.

    O contexto da disputa eleitoral em Porto Alegre

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    Bonete, do PR, era o candidato a vice-prefeito. A Coligao Frente Popular era formadapor sete partidos: PT, PR, PTC, PV, PPL, PRTB e PT do B.

    - Wambert Di Lorenzo (PSDB): recebeu 19.514 votos (2,46% dos votos). Seu candidatoa vice-prefeito foi Marco Dangui, do PRP. A Coligao Porto Alegre para Todos era

    composta apenas pelos dois partidos dos candidatos.

    - Roberto Robaina (PSOL): teve 30.577 votos (3,85% dos votos). Goretti Grossi, doPCB, foi sua candidata a vice-prefeita. A Coligao Aliana de Esquerda era formadasomente pelos dois partidos dos candidatos.

    - rico Corra (PSTU): atingiu apenas 4.122 votos (0,52% dos votos). Maria ResplandeBatista, do prprio PSTU, era sua candidata a vice-prefeita. O partido no estabeleceucoligao com nenhum outro.

    - Jocelin Azambuja (PSL): obteve 4.412 votos (0,56% dos votos). Seu candidato a vice-prefeito foi Luiz Carlos Machado, tambm do PSL. A Coligao Renova Porto Alegreinclua, ainda, o PSDC.

    Desde o incio do processo eleitoral, quando eram feitas as primeiras rodadas depesquisa de inteno de votos, os resultados mostravam que a disputa seria entreJos Fortunatti e Manuela Dvila, com a posio permanente de Ado Villaverde naterceira colocao. Os demais candidatos nunca alcanaram ndices relevantes, emtermos de disputa ao cargo, como se pode observar na figura abaixo.

    Figura 1: Sequncia de pesquisas eleitorais realizadas pelo Instituto Datafolha,contratadas pelos jornais Zero Hora, de Porto Alegre, e Folha de So Paulo

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    Fonte: http://eleicoes.uol.com.br/2012/pesquisas-eleitorais/porto-alegre/ O principal contexto, que envolveu a disputa poltica em Porto Alegre especialmente em seu momento inicial de campanha eleitoral foi a Copa do Mundode 2012 e os preparativos da cidade em relao ao evento esportivo. Temas comoa segurana, transporte, infraestrutura da cidade, economia e gerao de renda,

    qualificao da mo-de-obra atravs dos programas poltico-sociais, predominaramnas primeiras mensagens, tanto veiculadas no HGPE, como nos noticirios e agendasdos candidatos. De um lado, Jos Fortunatti, candidato de situao, procurandodemonstrar as obras que estavam sendo realizadas no municpio e seus efeitos eo que representavam estas melhorias para a vida da capital gacha. De outro lado,praticamente que em bloco, os candidatos adversrios procurando mostrar osproblemas da cidade e as consequncias disso para o cotidiano da populao e emrelao Copa do Mundo.

    No subcaptulo seguinte, vamos apresentar os aspectos discursivos, persuasivos,estratgicos e publicitrios dos principais candidatos Prefeitura Municipal de PortoAlegre. Entretanto, para este estudo, foram analisadas apenas as campanhas eleitoraisdos trs candidatos primeiros colocados: Jos Fortunatti, Manuela Dvila e AdoVillaverde, porque os demais candidatos jamais demonstraram reais possibilidades devitria ou mesmo chegar a um eventual segundo turno. Em termos de relevnciapoltica e eleitoral, Fortunatti, Manuela e Villaverde so, de fato, os objetos de estudomais importantes.

    Para analisar melhor cada um dos itens, tais como posicionamento do candidato,elementos estticos de composio de cena, tons do discurso, dimenso temporal,produo sonora e musical e personagens nos programas do HGPE, a abordagem dostrs candidatos a prefeito em Porto Alegre foi feita de forma individual. Inicialmente, apartir de Jos Fortunatti, que venceu a eleio; em seguida, Manuela Dvila, segundacolocada; e, por fim, Ado Villaverde, na terceira colocao.

    Jos Alberto Reus Fortunati nasceu no municpio de Flores da Cunha/RS,no dia 24 de outubro de 1955. Formado em Matemtica, Administrao Pblica,

    Administrao de Empresas e Direito, foi presidente do Diretrio Acadmico dosEstudantes de Matemtica. Funcionrio concursado do Banco do Brasil, em 1985assumiu a presidncia do Sindicato dos Bancrios de Porto Alegre. Em 1987 foi eleitodeputado estadual. Em 1990 assumiu como deputado federal em Braslia, sendoreeleito em 1994. Em 1997 tornou-se vice-prefeito da capital e secretrio de governo.Em 2000 foi eleito vereador. Em 2003 foi secretrio estadual da Educao. No final de2006 assumiu como secretrio municipal do Planejamento.

    Em 2008, concorrendo juntamente com Jos Fogaa, foi eleito vice-prefeitode Porto Alegre e tornou-se, tambm, Secretrio Extraordinrio da Copa do Mundode 2014 em Porto Alegre. Em 30 de maro de 2010, com a renncia de Jos Fogaa

    para concorrer ao governo do estado, Fortunati assumiu a prefeitura at o final domandato, em 31 de dezembro de 2012. A figura a seguir apresenta Jos Fortunatti.

    Anlise dos aspectos discursivos, persuasivos e publicitrios do HGPE

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    Figura 2: Jos FortunattiFonte: www.google.com.br

    Por toda a sua histria na comunidade gacha e sua trajetria poltica,podemos afirmar que Fortunatti enquadra-se na categoria Igual ao Eleitor, definidapor Schwartzenberg (1978). Na verdade, bem antes da campanha eleitoral atravs dasua assessoria de comunicao e de imprensa Fortunatti participou ativamente detodas as discusses em torno da cidade, em especial, daquelas relacionadas Copado Mundo de 2014. Seus programas iniciais do HGPE mostraram-se pouco atrativos,com elementos publicitrios sem destaque, o que permitiu um ligeiro crescimentoda candidatura de Manuela Dvila, que apresentou programas de rdio e de TV mais

    dinmicos e mais criativos. Em funo disso, podemos dividir a anlise dos aspectosdiscursivos, persuasivos e publicitrios em dois momentos. Como referimos, osprogramas iniciais privilegiavam apenas a figura de Jos Fortunatti, sem elementosimportantes em termos estticos. A composio de cena apresentava um candidatogrisalho, em roupas em tons de cinza e fundo branco. Ou seja, sem chamar a ateno.Nem mesmo o tom do discurso era atraente.

    Com o crescimento de Manuela Dvila nas pesquisas e as constantes crticasaos programas do HGPE de Fortunatti tanto por parte da opinio pblica, como namdia a linha de comunicao do candidato mudou totalmente. Fortunatti assumiuoutra categoria definida por Schwartzenberg (1978), que foi a de lder. O branco e o cinza

    predominantes no cenrio deram lugar ao azul. Imagens de Porto Alegre passaram aintegrar os programas todos os dias, principalmente imagens de obras e melhoriasna cidade. Tcnicas de persuaso, classificadas por Roiz (1994), como a exploraode sentimentos, a simplificao e a repetio de temas de forma sistemtica foramincrementadas no HGPE e deram um tom mais agressivo e convincente aos discursosdo candidato.

    A explorao de sentimentos a partir da ideia de uma cidade se transformando,se qualificando, modernizando e se tornado melhor. Depoimentos emocionados depessoas do povo e um jingle mais atraente (vamos falar disso na sequncia) mudaramcompletamente o astral dos programas. A tcnica da simplificao reforava aimportncia de continuidade na gesto poltica e reduzia, claramente, a opo devoto a dois campos: um, com valores positivos, que representava a continuidade desteprojeto de modernizao de Porto Alegre; e outro, com supostos valores negativos,

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    que induzia dvida se estes projetos continuariam ou no e o risco que a cidadecorria, caso realmente os projetos parassem. A tal ponto que a candidata ManuelaDvila passou a responder, em seus programas, que as obras pertenciam cidadee no ao prefeito Fortunatti. Por fim, a repetio de temas de forma sistemtica foiexatamente a manuteno de toda esta linguagem. Uma frmula que passou a dar

    certo. A figura a seguir apresenta as novas cores adotadas nos programas de Fortunatti.

    Figura 3: Abertura do programa de TV de Jos FortunattiFonte: www.google.com.br

    O prprio jingle de Fortunatti, que at ento no havia se destacado, com a

    nova roupagem dos programas ganhou maior evidncia e tornou-se um elementotextual importante. Nos ltimos dias da campanha eleitoral este mesmo jingle recebeuum arranjo diferente, com uma verso de msica mais tpica do Rio Grande do Sul ereforando no refro Fortunatti, Fortunatch. O jingle era cantado por um personagemcaracterizado como um gacho do campo e, alm dele, novos personagens do povoparticipavam dos clipes, como se pode ver na sequncia.

    Figura 4: Jingle FortunatchFonte: www.google.com.br

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    Estas mudanas deram um novo ritmo e um novo rumo campanha de JosFortunatti, que a partir de ento comeou a subir nas pesquisas, at conquistar aeleio ainda no primeiro turno.

    Manuela Pinto Vieira dvila nasceu em Porto Alegre, no dia 18 de agosto de

    1981. Formada em Jornalismo. Comeou sua carreira no movimento estudantil edepois ingressou na poltica partidria pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Foia vereadora mais jovem de Porto Alegre, sendo eleita aos 23 anos. deputada federaldesde 2007, tendo sido a candidata mais votada para o cargo no Rio Grande do Sul.Em 2008, concorreu prefeitura de Porto Alegre, ficando na terceira colocao. Em2010, reelegeu-se deputada federal com a maior votao do estado. A figura a seguirapresenta a candidata Manuela Dvila.

    Figura 5: Manuela DvilaFonte: www.google.com.br

    Em pouco tempo de vida poltica, Manuela conseguiu se aproximar dos jovens,mostrando a importncia da poltica e da participao deste pblico nas discussesregionais e nacionais. Em todos os momentos, sua linha de campanha manteve sempreo mesmo tom, buscando no letramento poltico aos jovens a sua principal estratgia.Ou seja, mais do que conquistar votos, atravs de suas mensagens de letramento, elaatraa os jovens para a poltica. E, assim, ela prpria construa a imagem de uma novapoltica.

    Inicialmente, ela poderia ser enquadrada na categoria Lder Charmosa, definidapor Schwartzenberg (1978). Uma candidata jovem, bonita, simptica, com boacapacidade de se expressar sempre foram caractersticas de Manuela. Seus primeirosprogramas at tentaram reforar este perfil. Seus depoimentos eram emotivos, falandoque uma jovem tinha condies de governar uma cidade como Porto Alegre. Ela nofalava diretamente para a cmera e, sim, como se estivesse conversando com umentrevistador, de acordo com a seguinte figura:

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    Figura 6: Programa de TV de Manuela DvilaFonte: www.google.com.br

    Entretanto, aos poucos, o seu tom agressivo dos discursos passou a enquadr-lana classificao de poltica Tradicional. Nem mesmo os elementos estticos modernosde seus programas de rdio e televiso conseguiram convencer. Em um primeiromomento, diante da falta de qualidade e do tom morno dos programas de Fortunatti,Manuela conseguiu crescer nas pesquisas. Porm, aos poucos, em funo de uminsistente tom de desqualificao dos oponentes, Manuela Dvila passou a perder

    pontos. A tal ponto que ao final do processo eleitoral, Manuela alcanou metade dosvotos em relao a sua posio inicial nas pesquisas eleitorais. E sua rejeio dobrouem apenas quarenta e cinco dias de campanha.

    Do ponto de vista da forma, podemos afirmar que os programas do HGPE deManuela seguiram rigorosamente todos os passos publicitrios indicados e encontradosem quase todos os manuais e literaturas tcnicas, que tratam de programas de rdioe de televiso. S que o contedo inserido nestas mensagens fugiu totalmente docontexto eleitoral da disputa em Porto Alegre. Um erro que custou no apenas aderrota da candidata, mas um forte abalo em sua prpria imagem poltica.

    Ado Villaverde nasceu em Alegrete/RS, em 6 de fevereiro de 1958. Engenheiroe professor. Em 1989, presidiu o Diretrio Municipal do Partido dos Trabalhadores nacapital, durante o primeiro governo do partido, em Porto Alegre. Entre 1999 e 2002, foisecretrio estadual da Cincia e Tecnologia. Eleito deputado federal em 2002. A figuraa seguir apresenta o candidato Villaverde.

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    Figura 7: Ado VillaverdeFonte: www.google.com.br

    Em Porto Alegre, o Partido dos Trabalhadores sempre teve uma tradio forte,como partido. No toa que governou a cidade durante dezesseis anos. Nesteperodo, formou lideranas importantes, como Tarso Genro (atual Governador doEstado), Olvio Dutra, Raul Pont, Maria do Rosrio, Marco Maia (atual Presidente daCmara dos Deputados), entre outros. Porm, desde a derrota do PT para Jos Fogaa,em 2004 juntamente com episdios como o do mensalo, em 2005 o partidoperdeu muita fora na capital gacha. Grande parte dos principais lderes deixoude concorrer a cargos executivos e legislativos. Antes das eleies, havia notcias ecomentrios polticos de que o PT se coligaria a algum outro partido, talvez at comovice-candidato, por causa da falta de lideranas importantes.

    Neste contexto surgiu a figura de Ado Villaverde. Embora com algumarepresentatividade junto opinio pblica e mdia, Villaverde no era exatamente umcandidato natural do PT s eleies. Sua imagem precisava ser trabalhada, ainda maisdiante das primeiras pesquisas eleitorais, que o colocavam em um distante terceirolugar.

    Inicialmente, Ado Villaverde procurou se posicionar como um candidato deoposio, fazendo crticas ao atual prefeito, Jos Fortunatti. Para tentar melhorar a suaposio, passou a criticar, tambm, a candidata Manuela Dvila. Sem surtir grandesefeitos, Villaverde passou a se apresentar como o candidato da presidente Dilma

    Rousseff e do ex-presidente Lula, que gravou algumas participaes especiais nosprogramas de rdio e televiso.

    Do ponto de vista esttico e discursivo, estes programas eram muito confusos.No possuam uma unidade de linguagem verbal e visual. Somente nas ltimas duassemanas que passou a ter esta unidade, a partir da presena de Lula em todos osprogramas. Mesmo assim, as mensagens utilizavam quase que uma estrutura derecado, pois basicamente era o ex-presidente Lula quem falava a maior parte do tempo,pedindo para que as pessoas votassem em Villaverde. Os dois apareciam sempre

    juntos, em um ambiente que lembrava um escritrio, como pode ser verificado nafigura abaixo:

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    Figura 8: Programa de TV de Ado VillaverdeFonte: www.google.com.br

    Entretanto, em um cenrio poltico em que o PT perdeu muito de sua fora, estetipo de mensagem se mostrou pouco convincente. Poderia, por exemplo, junto comesta estrutura de linguagem adotada, ao menos ter resgatado a trajetria e a histricapetista em Porto Alegre nos anos 1980 e 1990, e sob uma tima mais emocional.Em nenhum momento, por exemplo, a estrela do partido foi utilizada nos programas.

    Talvez, at mesmo, para desvincular a imagem de Villaverde do PT, especialmenteaps os sucessivos julgamentos envolvendo o mensalo, em que vrios membrosimportantes do Partido dos Trabalhadores foram condenados.

    Ado Villaverde acabou tendo uma baixa votao, muito longe das eleiesem que o PT venceu na capital gacha. Distante at mesmo de eleies em que o PTperdeu, mais ao menos chegou ao segundo turno. No se pode dizer, nem mesmo,que Villaverde plantou a sua imagem para futuras eleies executivas ou legislativas.

    Assim como nas demais capitais brasileiras, Porto Alegre apresentou o seucenrio de disputa: um prefeito candidato reeleio, uma candidata de oposiocom mandato legislativo e boa imagem pblica, um segundo candidato de oposiode um partido tradicional, e uma srie de candidatos menores representando partidosmais ou menos conhecidos. Porm, desde o incio do processo eleitoral, as pesquisasdemonstravam um desinteresse por parte da populao. Em nenhum momento osargumentos, falas e discursos dos candidatos oponentes encontrou eco e repercusso

    no eleitorado porto-alegrense.

    A capital gacha, que em outras ocasies foi palco de grandes disputas polticas

    Consideraes finais

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    e acirradas, entre partidos e candidatos o que a levou ser considerada como umadas cidades mais politizadas do pas agora, novamente, se diferenciava dos demaismunicpios. Porm, desta vez, pela falta de mobilizao e de interesse poltico porparte da populao. A inexistncia de um tema que agendasse a discusso poltica e aprpria relao de Jos Fortunatti com a cidade de Porto Alegre e o reconhecimento

    do seu trabalho, acabaram esfriando o cenrio eleitoral. Em funo disso, os adversriosde Fortunatti tiveram que buscar temas ou crticas que tentassem acender o climaeleitoral em Porto Alegre. Sem entretanto, muito sucesso.

    Apesar do tom agressivo de algumas mensagens dos candidatos ManuelaDvila e Ado Villaverde, principalmente, Jos Fortunatti foi o segundo prefeito maisvotado entre todas as capitais brasileiras. Ou seja, a populao legitimou e aprovou agesto municipal. Na verdade, o processo eleitoral todo serviu para isso: para confirmara continuidade da administrao pblica municipal. Nem mesmo as mensagens deManuela Dvila pedindo aos eleitores que ampliassem o debate poltico, elegendo-apara o segundo turno, foram suficientes e convenceram a populao. A resposta veiomuito mais em um sentido contrrio, de que no havia o interesse em continuar oprocesso eleitoral, pois a populao rejeitou os candidatos opositores e at mais:rejeitou a eleio para a Prefeitura Municipal e qualquer perspectiva que no fosseessa, da vitria de Jos Fortunatti.

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    ALBUQUERQUE, Afonso de. Aqui voc v a verdade na tev: a propaganda poltica na

    televiso. Niteri: MCII, 1999.

    OCHOA, Oscar. Comunicacin poltica y opinin pblica. Mxico: McGraw-Hill, 1999.

    ROIZ, Miguel Flix. Tcnicas modernas de persuasin. Madrid: Eudema, 1994.

    SCHWARTZENBERG, Roger-Grard. O Estado Espetculo. Rio de Janeiro: DifusoEditorial, 1978.

    WOLTON, Dominique. Elogio do grande pblico. So Paulo: tica, 1990.

    WOLTON, Dominique. Las contradiciones de la comunicacin poltica. In: GAUTHIER,Gilles; GOSSELIN, Andr; MOUCHON, Jean (Orgs.). Comunicacin y poltica. Barcelona:Gedisa, 1998.

    Sites consultados:

    http://eleicoes.uol.com.br/2012/pesquisas-eleitorais/porto-alegre/

    www.google.com.br

    Referncias

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    RESUMO:

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    HGPE 2012 na nica capitalonde o candidato

    reeleio no chegou ao

    segundo turno

    Luciana PankeEmerson Cervi

    O cenrio eleitoral no pleito prefeitura de Curitiba, em 2012, apresen-tou um cenrio peculiar. A cidade foi anica capital brasileira que no aprovou a

    ida do prefeito, candidato reeleio, aosegundo turno. O quadro tambm apre-sentou o candidato que vinha em 3.o. lu-gar nas pesquisas como o novo prefeitoda cidade. Para completar, a tradicionalcapital sulista levou ao segundo turnoum candidato com o maior apelo popu-laresco. Diante deste contexto, o artigoapresenta uma anlise do Horrio Gra-tuito de Propaganda Eleitoral veiculadoem Curitiba, durante o primeiro turno.Palavras-chave: comunicao poltica,HGPE, marketing eleitoral, Curitiba.

    1 - Material produzido com base nos dados compilados pelo Grupo de Pesquisa Comunicao Eleitoral, cuja participao dosmestrandos Gabriel Bozza, Jeferson Thauny e Rui Fontoura destacada.2 - Doutora em Cincias da Comunicao (USP); Professora da Universidade Federal do Paran no curso de graduao em Co-

    municao Social (Publicidade e Propaganda) e do Programa de Ps-Graduao em Comunicao. Vice-Presidente da SociedadeBrasileira de Profissionais e Pesquisadores de Marketing Poltico (Politicom) e lder do grupo de Pesquisa Comunicao Eleitoral.3 - Professor adjunto do Departamento de Cincias Sociais e dos Mestrados em Cincia Poltica e em Comunicao, da Universi-dade Federal do Paran (UFPR). Doutor em Cincia Poltica (Iuperj). Lder do grupo de Pesquisa Comunicao Eleitoral. Professoradjunto do Departamento de Cincias Sociais e dos Mestrados em Cincia Poltica e em Comunicao, da Universidade Federaldo Paran (UFPR). Doutor em Cincia Poltica (Iuperj). Lder do grupo de Pesquisa Comunicao Eleitoral.

    2.

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    HGPE 2012 na nica capital onde o candidato reeleio no chegou ao segundo turno

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    Em 2012 o contexto poltico apontava para uma disputa polarizada entre oento prefeito e candidato reeleio, Luciano Ducci (PSB) e o ex-deputado federalGustavo Fruet (PDT), que pertencera at um ano antes ao mesmo grupo poltico deDucci. A proximidade poltica entre eles era tamanha que em 2008, na campanha dereeleio de Ducci como vice-prefeito de Beto Richa (PSDB), Fruet tinha participadoda coordenao financeira da campanha. Ento, a expectativa era que a principaldisputa se desse entre perfis distintos, porm, do mesmo campo poltico, que era oda continuidade da administrao de ento. No entanto, os eleitores surpreenderama elite poltica e deram a um jovem deputado federal, Ratinho Junior (PSC), a primeiracolocao no primeiro turno das eleies, com 34,09%. O segundo lugar foi umadisputa voto a voto. Gustavo Fruet ficou com 27,22% dos votos vlidos, apenas 4.402votos (0,44 ponto percentual de diferena) frente do ento prefeito Luciano Ducci.

    Em quarto lugar ficou o ex-prefeito e ex-ministro no governo FHC, Rafael Grecca deMacedo (PMDB), com 10,45% de votos vlidos. Todos os demais candidatos ficaramabaixo de um por cento de votos1.

    No segundo turno o mais provvel era que eleitores de Ducci e Grecca migrassemem massa para Fruet, que se aproximava mais do perfil daqueles polticos do que paraRatinho Jr. Foi o que aconteceu. Fruet teve 60,6% dos votos vlidos, contra 39,3% deRatinho Jr., que conseguiu crescer pouco mais de 10% (equivalente a cinco pontospercentuais) na segunda rodada, em relao primeira. Com isso, pela primeira vezem sua histria Curitiba no reelegeu o candidato reeleio, embora o eleito sejaidentificado pelo eleitor mdio como representante da continuidade de Beto Richa.

    Em relao aos apoios polticos no primeiro turno, Ducci contava com o apoiointensivo do governador Beto Richa, de quem tinha sido vice-prefeito de Curitiba entre2005 e 2011. Richa deixou a prefeitura em 2011 para assumir o governo do Estado. Todoo staff de governo apoiava e participava da campanha de Ducci. J Gustavo Fruet, quecosturou uma aliana com o Partido dos Trabalhadores (PT), contava com o apoiodo partido da presidente Dilma Rousseff. Por vrias ocasies durante a campanha,ministros de Estado vieram a Curitiba apoiar Fruet. Porm, o candidato do PDT contoucom o apoio principal de dois ministros: Paulo Bernardo, das comunicaes, e GleisiHoffmann, da Casa Civil, que foram os principais patrocinadores da coligao entrePDT e PT para aquela disputa. Rafael Grecca foi apoiado pelo ex-governador e ento

    senador, Roberto Requio, o que fez com que sua campanha se transformasse naprincipal oposicionista tanto em nvel municipal, como estadual. Ratinho Jr, porpertencer a um partido da base aliada do governo federal, conseguiu que a presidenteDilma Rousseff ficasse de fora da disputa na capital paranaense. No entanto, ele nocontou com nenhum grande apoiador no primeiro turno.

    J no segundo turno as foras polticas se reorganizaram. O PSDB do governadorRicha e o PMDB do senador Requio passaram a apoiar a candidatura de Ratinho Jr.com a participao de secretrios de Estado na campanha e a presena do prprio ex-candidato Rafael Grecca, no Horrio Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) de Ratinho

    1 -

    Em 2012, os desempenhos eleitorais das coligaes e candidatos prefeitura, segundo dados oficiais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) noprimeiro turno foram os seguintes: Ratinho Jr. (PSC, PR, PCdoB, PTdoB) 332.408 votos; Gustavo Fruet (PDT, PT, PV) 265.451 votos; Luciano Ducci

    (PSB, PRB, PP, PSL, PTN, PPS, DEM, PSDC, PHS, PMN, PTC, PRP, PSDB, PSD, PTB) 261.049 votos; Rafael Grecca de Macedo (PMDB) 101.866 votos;

    Bruno Meirinho (Psol, PCB) 8.878 votos; Alzimara Bacelar (PPL) 4.518 votos e Avanilson Araujo (PSTU) 1.012 votos.

    Introduo

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    Jr. A Gustavo Fruet restou a manuteno do apoio do PT, embora sem a presena dapresidente Dilma Rousseff e do principal cabo eleitoral do partido, o ex-presidente Lula.

    Embora a elite poltica se organize a partir de lgicas e interesses prprios dospartidos, nem sempre o eleitor segue a mesma lgica. O grfico 1 a seguir mostra

    o desempenho nas intenes de voto dos trs principais candidatos prefeitura deCuritiba em 2012, segundo os principais institutos de pesquisa que realizaram mediesao longo da campanha e publicaram os resultados. O grfico est dividido em trspartes: antes do HGPE (do incio oficial da campanha em 7/7 at 21/8 quando comeao HGPE), durante o HGPE de primeiro turno e aps a votao de primeiro turno.

    possvel perceber uma curva crescente e constante do candidato R atinho Jrao longo de toda a campanha. O incio do HGPE serviu para consolidar a lideranadele em todo o primeiro turno. Aps o incio da campanha e antes do HGPE, Fruetliderava as pesquisas de inteno de voto, com pequena vantagem sobre Ratinho.Com o incio do HGPE nota-se uma queda constante das intenes de voto de Fruet

    at a segunda quinzena de setembro, quando o candidato comea a reagir. Isso fezcom que Fruet iniciasse o ms de outubro em empate tcnico com Ducci. O candidato reeleio, que no incio da campanha ocupava o terceiro lugar, consegue reagir como incio do HGPE, ficando em segundo lugar e mantendo-se estvel com pequenasoscilaes at o final do primeiro turno. As curvas mostram que Ratinho Jr. estavagarantido no segundo turno desde o incio do HGPE, Ducci demonstrou ter umadificuldade de crescimento na campanha, o que resultou em queda gradativa ao final,com transferncia de votos para os outros concorrentes, em especial para Fruet. Ocandidato do PDT comeou a campanha de HGPE muito mal, com saldo negativo deintenes de voto, at conseguir reverter essa tendncia ao final de setembro, com atransferncia de eleitores de Ducci e de indecisos para ele.

    Grf. 1 Intenes de voto dos principais candidatos prefeitura

    de Curitiba em 2012Fonte: autores a partir de divulgao de institutos de pesquisa (Ibope,Datafolha, IRG e resultados TRE).

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    HGPE 2012 na nica capital onde o candidato reeleio no chegou ao segundo turno

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    Outra informao que possvel tirar do grfico 1 diz respeito ao papel doHGPE na campanha de Curitiba. As oscilaes nas curvas mostram uma relao entreo desempenho dos candidatos e as imagens pblicas deles transmitidas durante acampanha, em especial no perodo de exibio do horrio eleitoral. Ratinho Jr. foi ocandidato mais beneficiado durante o perodo de exibio do HGPE, o que nos permite

    apresentar como hiptese que o horrio eleitoral dele tenha sido o que conseguiuagradar mais os eleitores. J Luciano Ducci teve um desempenho estvel durante aexibio do horrio eleitoral, demonstrando que seus programas no conseguiramatrair novos eleitores, embora tambm no se possa dizer que ele tenha afastadoos que j pretendiam votar no ento prefeito no incio da campanha. Gustavo Fruetapresentou um desempenho distinto dos dois anteriores.

    No incio do HGPE suas intenes de voto caram, para, na ltima quinzenaelas voltarem a subir. No possvel afirmar que a inverso tenha sido resultado demudanas no horrio eleitoral do candidato, mas, seria lgico dizer que o conjuntode escolhas dos candidatos resultou em um conjunto de estmulos informacionais

    aos eleitores, que por sua vez se rearranjaram em relao s opes oferecidas pelospartidos polticos e apresentadas durante a campanha eleitoral. O incio do HGPE nordio e televiso marca uma inverso importante na campanha para os eleitores. Atento, a discusso sobre poltica estava restrita aos espaos pblicos, portanto, stomava conhecimento dela aqueles que tinham interesse no tema. A partir do inciodo HGPE a campanha passa a fazer parte da esfera privada do eleitor, entrando emsua casa, pelo rdio e televiso. Agora ele tem acesso s informaes e precisa tomarposies (CERVI, 2010). ento que as escolhas comeam a ser definidas pelo eleitorcomum. Para demonstrar as opes dos candidatos ao longo da disputa pela prefeiturade Curitiba, no prximo tpico apresentamos uma descrio do HGPE de 2012 nacapital do Paran a partir da tcnica de anlise de contedo.

    O programa do HGPE tem o valor simblico de iniciar a disputa com maisintensidade. o momento de causar a primeira impresso para o eleitor e, normalmente, uma das exibies com mais audincia. Portanto, uma oportunidadeque deve ser planejada estrategicamente com vistas a apontar os princpios de uma

    candidatura.Para a anlise da campanha eleitoral veiculada pelo HGPE, consideramos

    analisar a projeo da imagem dos candidatos, tendo em vista que:

    La imagen se construye con los siguientes elementos: el reconocimiento que tiene que

    ver con la recordacin que el pblico tenga del candidato y se crea con la frecuencia y la

    claridad de los mensajes de la campaa; el Juicio de valor, que est dado en el impacto

    que tiene el candidato sobre el elector y que lo diferencia, son los calificativos que usa

    el elector para asociar con el nombre del candidato ( y que con el tiempo llamaramos

    reputacin) y por ltimo el Juicio emocional, que tiene relacin con los sentimientos, esdecir adems del juicio que el elector tiene sobre el candidato tambin existe una conexin

    Anlise 1. Turno

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    Eleies nas Capitais Brasileiras em 2012

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    emocional con los valores del candidato y con lo que representa2. (AGUILERA, 2011, p. 119)

    Para o detalhamento da anlise, optamos por analisar os programas veiculadosno HGPE de televiso dos trs principais candidatos deste pleito: Gustavo Fruet,Luciano Ducci e Ratinho Jr. Os programas veiculados em televiso no Horrio Gratuitode Propaganda Eleitoral (HGPE), durante o primeiro turno, foram decupados3 emensurados de acordo com a classificao temtica proposta pelo Grupo de PesquisaComunicao Eleitoral. Para as campanhas locais, foram pautadas as seguintescategorias: sade, educao, segurana, esportes, lazer, cultura, religio, meio-ambiente, assistncia social, habitao, saneamento, energia, infraestrutura urbana,mobilidade urbana, servios urbanos, assuntos econmicos, administrao pblica,candidato, desqualificao e cidade.

    Com as categorias determinadas, realizamos anlise de contedo, mensurandoa presena de cada uma delas no discurso dos trs principais candidatos. Nesta anlise,contabilizamos os programas veiculados noite, considerando que o horrio nobredo HGPE.

    O candidato teve quase seis minutos de HGPE (558) cujo tempo foi distribudodesproporcionalmente entre as categorias temticas. Mais da metade do total foi

    dedicado projeo da imagem do candidato, com 50,4% do tempo. Os outrostemas mais abordados foram sade (11,7%), cidade (8,3%) e educao (8,2%). Ouseja, metade do tempo de horrio eleitoral de Fruet foi destinado apresentao docandidato, sua trajetria e os motivos que o levaram a se afastar do PSDB para seaproximar do PT do Paran.

    2 - A imagem se constri com os elementos: reconhecimento que tem a ver com a lembrana que o pblico tenha do candidato e se cria a

    partir da frequncia e clareza das mensagens da campanha, o juzo de valor que se d conforme o impacto que o candidato tenha sobre o

    eleitor e o que o di ferencia, so os adjetivos que o eleitor associa com o nome do candidato (e com o tempo chamamos de reputao), e por

    ltimo o juzo emocional que tem relao com os sentimentos, ou seja, h uma conexo emocional entre os valores do candidato e o que ele

    representa. (traduo livre)

    3 - As decupagens compreendem a transcrio de todas as falas dos programas, acrescentadas do tempo e da descrio das imagens

    correspondentes. Inserimos, tambm, um campo para adicionar o tema tratado, conforme classificao abaixo, e demais observaes pertinentes

    ao trecho relatado. (PANKE, Luciana; GANDIN, Lucas; BUBNIAK, Taiana; GALVO, Tiago, 2011)

    Gustavo Fruet - Coligao Curitiba quer mais

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    Grf. 2- Temtica de Gustavo Fruet no 1. Turno do HGPE televiso noite.

    Apesar do nosso foco quantitativo ser nos programas noturnos, consideramosna anlise qualitativa o que foi exibido no perodo da tarde e noite. O primeiro vdeoda campanha, no programa da tarde, trouxe Curitiba como enfoque: a capital dascapitais. Em 124 a cidade foi enaltecida como inovadora em um texto narrado emtom potico com trilha sonora emocional. A imagem do candidato foi criada a partirde uma nuvem de palavras que caracterizariam sua personalidade: honestidade,competncia, liderana, inovao, saber ouvir.

    A seguir, o candidato deu depoimento em sala neutra sem olhar para cmera.

    Toda sua fala indicou lugares tradicionais da cidade e o jingle verso acstica, estava defundo. Na biografia, contou sobre sua infncia, participao no movimento estudantil,enfatizando esprito bairrista de ser curitibano e o fato de ser filho do poltico tradicionalparanaense, Mauricio Fruet, ex-prefeito da cidade.

    Apesar da aliana com o PT e de no ser candidato da situao, Fruet pode serconsiderado um candidato tradicional pois, alm de ser filho de poltico conhecidona cidade, apresenta em seu histrico diversas participaes no cenrio poltico queauxiliaram a fortalecer seu nome por conta prpria.

    Entende-se o candidato tradicional como aquele animal poltico cuja histria e nome

    j estejam gravados no cenrio poltico da localidade, tenha presena e at mesmo domnio

    sobre o jogo poltico e que se apresenta como uma continuidade enquanto presena

    pessoal ou de um determinado grupo poltico. (ITEN e KOBAYASHI, 2002. p127).

    No primeiro programa, o candidato aparece trabalhando em uma mesa deescritrio, meia-luz e com camisa azul arremangada, vestindo um dos trajes maiscomuns na projeo de candidato srio, trabalhador e lder. No apenas nessemomento, mas praticamente em todos os programas, Fruet tinha alguma fala emescritrio. Candidato em reunio de trabalho (sempre de p ou em posio dedestaque): demonstra que tem equipe, liderana, preparo, conhecimento superior,autoridade (KUNZ, 1994, p.23)

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    Quando essa imagem pareceu distanci-lo do eleitor, comeou a gravar seudiscurso ao ar livre, caminhando, indicando agilidade e destreza. As tticas adotadasna construo dos programas foram variadas, mas adaptadas ao meio televisivo:apresentao de propostas sem demonstrar concretamente a execuo, storytellingcom vistas a despertar aspectos emocionais e apelo a autoridade na voz de especialistas.

    Sobre a narrao de histrias, ou storytelling, destaca-se que, j no segundo diado HGPE, quando o programa trouxe a encenao de uma atriz sobre o consumo dedrogas.

    Faz dias que eu no vejo meu filho. Eu no sei de quem a culpa por ele estar assim.O que eu sei mesmo que ele precisa de ajuda. Eu tenho f que isso vai passar, mas eu no

    sei muito bem o que fazer, quem eu tenho que procurar. Ele vivia na rua sem fazer nada, da

    vieram as ms companhias. O comportamento dele mudou, ele ficou agressivo, comearam a

    sumir coisas aqui em casa. Todos os dias eu peo a Deus foras, peo uma luz pra trazer meufilho de volta, para ele voltar a ser aquele menino saudvel, cheio de planos. Eu acho que ele

    est doente. Ele precisa de remdio, de tratamento, de uma nova chance. Eu no sei mais o que

    fazer. (FRUET, HGPE, 24/08/2012)

    A dramaturgia esteve aliada a tcnicas de interpretao e trilha sonora dramtica,em uma evidente tentativa de sensibilizar o eleitor para as ideias que se seguiriam aoespetculo poltico.

    Apesar de a desqualificao aparecer apenas 4,6%, o candidato aproveitava o

    assunto geral do programa para apontar o que o ento prefeito no havia cumpridoe para criticar as propostas de Ratinho Jr, conforme exemplo que segue, exibido naprimeira noite de campanha na TV.

    Comea agora o Programa Curitiba Quer Mais, Gustavo Fruet Prefeito. Ser mais Curitiba

    uma soma que vai alm dos nmeros. o olhar que brilha quando nos deparamos com a

    simplicidade. ofcio reconhecido, valorizado, transformado. ir alm do bvio e trabalhar

    pelo ideal, fazendo disso uma realidade para todos. dar mais, dar respeito, dar cuidado,

    oferecendo mais em troca. Aqui, no h espao para apostas sem sentido, para promessas

    no cumpridas. (FRUET, HGPE,22/08/2012 grifo nosso)

    A categoria esteve presente, tambm, ao se referir aos resultados das pesquisasde inteno de voto. Como estratgia, o questionamento veio por parte da populao.O vdeo foi usado em vrias ocasies.

    Reprter: A senhora alguma vez j respondeu alguma pesquisa eleitoral?

    Pessoas:

    No.

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    Este ano, no.

    No.

    Nunca.

    No, esse ano no.

    Ainda no.

    No.

    At o momento, nenhuma.

    No, dessa eleio, no.

    Reprter: Voc vota pra quem pra prefeito nesta eleio?

    Pessoas:

    A melhor proposta para Curitiba, eu creio que o Gustavo Fruet.

    Gustavo Fruet.

    Gustavo Fruet, com certeza.

    Gustavo Fruet.

    Voto pro Gustavo com certeza.

    Voto pro Gustavo.

    Gustavo Fruet

    Gustavo Fruet, com certeza.

    o Gustavo Fruet mesmo.

    Gustavo.

    O meu voto do Gustavo.

    Eu voto 12, eu voto Gustavo Fruet. Mas a propsito eu gostaria de perguntar como que um

    candidato que tem o menor ndice de rejeio nas pesquisas aparece em terceiro lugar?Tem alguma coisa errada. (FRUET, HGPE, 26/09/2012)

    Por mais que o PT no tenha muita fora em Curitiba, Fruet teve como principaisapoiadoras a presidente Dilma Rousseff e a ministra-chefe da casa civil, que apareceramem 23 dos 38 programas e 8 dos 38, respectivamente. Em um discurso voltado scamadas mais populares, a nfase era dada em relao aos programas sociais dogoverno. Outro argumento usado era em relao ao apoio poltico. Ao explicitar oapoio do governo federal, o postulante insinuava a entrada de mais recursos para o

    municpio.

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    Em meu governo, voc j sabe. Vou aumentar para 30% os investimentos na educao. E

    tem mais. Vou ainda trazer recursos atravs da parceria que tenho com o governo Dilma.

    Com esse dinheiro, vou ampliar as atuais creches, construir novas unidades e garantir mais

    vagas para as nossas crianas. (FRUET, HGPE,24/09/2012)

    Com medo do crescimento de Fruet, o discurso de desqualificao dosprincipais opositores, em especial do ento prefeito, Luciano Ducci, buscava manchara imagem de honestidade ao afirmar em vrios momentos que Fruet, apesar de criticaranteriormente o PT, agora aceitaria seu apoio. um claro exemplo de argumentocontradio (Perelman, Olbrechts-Tyteca, 1996) que os adversrios adotaram paraatacar. Por sua vez, o discurso de defesa de Fruet foi realizado em um cenrio deescritrio, com trilha sonora ao fundo e olhando para a cmera:

    Queriam que eu fosse marionete, mas eu tenho pontos de vista, eu tenho convices,no me submeto a esse jogo. Sempre defendi minhas ideias e convices de peito aberto.

    Sempre tomei partido e assumi lado. (FRUET, HGPE,14/09/2012)

    O tema cidade permeou a maioria dos programas. Na vinheta de abertura, oudio do locutor era Curitiba quer ser mais e no vdeo Curitiba quer mais. A presenado verbo ser implica a presena de um carter mais humano, personalizando a cidade.

    O candidato tambm teve como apoiadora a ex-ministra Marina Silva, destacando

    o fato de ter vrias mulheres apoiadoras. No ltimo programa, por exemplo, a me, aesposa, a vice e a presidente Dilma, participam das gravaes. Na ltima apresentaodo 1. Turno, h uma nfase no histrico do candidato, com forte referncia figurapoltica do pai Mauricio Fruet e os valores verdade, tica, sinceridade, seriedade soenfatizados em diversas oportunidades. Ao ar livre, no Parque Barigui, local tradicionalna cidade, o candidato veste uma camisa lils e em primeiro plano fala olhando para acmera: Aqui no h lugar para promessas no cumpridas e propostas irresponsveis.Sou homem de palavra e quero ser cobrado por cada um dos compromissos que assumicom todos vocs. (FRUET, HGPE, 03/10/2012). O candidato tambm a aparece rodeadode crianas simbolizando o futuro. E ainda no mesmo raciocnio de sensibilizao eaproximao de Fruet com a populao, o programa encerra com os principais apoios

    femininos que recebeu Dilma Rousseff, Gleisi Hoffmann, Marina Silva, por exemplo e, em especial, com o depoimento alegre de sua me. No subestimando, nemdesprezando outros candidatos, mas ele o melhor (gargalhadas) (IVETE FRUET,HGPE, 03/10/2012).

    O candidato teve 1045 e apresentou programas pulverizados, geralmente trsassuntos por edio, mas destacando um tema especfico, no sendo raro uma nicacategoria temtica ocupar mais de 60% do tempo total de uma exibio. Na contagemtotal, a categoria mais abordada foi candidato, com 25,8%, seguida de assistncia

    Luciano Ducci - Coligao Curitiba Sempre na Frente

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    social com 10,1%, sade com 9,8% e mobilidade urbana com 9,5%. Ducci foi ocandidato que menos se apresentou no horrio eleitoral. Ele destinou apenas de seutempo na televiso para falar de sua trajetria poltica, como funcionrio pblico, vice-prefeito e ento prefeito. Isso fez com que houvesse uma certa despersonalizao desua campanha no HGPE. Apesar disso, nenhum tema isolado ganhou mais espao

    nos programas de Ducci do que nos de seus adversrios. Assistncia Social, Sade eMobilidade Urbana giraram em torno de 10%, cada um, do total de tempo utilizadopelo candidato. Nem mesmo a sade, que o tema dominante do mdico-candidato reeleio, e que poderia ser relacionado sua trajetria poltica ganhou mais espaono horrio eleitoral.

    Grfico 3- Temtica de Luciano Ducci no 1. Turno do HGPE em televisonoite.

    Pelos nmeros da anlise quantitativa, pode-se perceber que alm de se fazerconhecido por supostas qualidades, Ducci enfatizou a categoria de assistncia social,possivelmente para gerar mais empatia com o eleitor. Nesse quesito empatia epresena, o aliado Beto Richa, governador do Paran foi fundamental. J no primeirodia, ele aparece como avalista da candidatura.

    (...) agora eu volto a pedir o seu voto de confiana. Desta vez para o meu parceiro

    e companheiro de todas as horas, Luciano Ducci, que foi mais que meu vice-prefeito, foi

    meu brao direito e me ajudou a governar trabalhando em todos os nossos projetos. Tenho

    certeza que esse trabalho que fez nos ltimos dois anos e que colocou Curitiba em um

    novo patamar tem origem na experincia que juntos adquirimos. Meus amigos, Luciano

    Ducci o meu candidato. E tenho certeza que, com o seu voto, ele vai continuar sendo um

    grande prefeito. Porque juntos, ele, voc e eu vamos trabalhar para que Curitiba no perca

    tudo que foi construdo at agora. (BETO RICHA, in Programa de DUCCI, HGPE, 22/08/2012)

    No total, o governador foi citado no texto e/ou imagens em 23 programas, e

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    aparece falando em 11, o que demonstra uma participao na maioria das exibiesvalidando sua imagem pblica como uma fora para a falta de carisma do seu candidato.

    Ainda no mesmo programa, a categoria candidato aparece como uma formatambm de discurso governamental, quando Ducci trazia algumas das principais

    obras que havia realizado na cidade. Para fortalecer o apelo para suposta competnciaadministrativa, usou outro avalista:

    No por acaso que Luciano Ducci recebeu os prmios Prefeito Empreendedor, Prefeito

    Inovador e Prefeito Amigo da Criana. Curitiba, na sua administrao, foi considerada pelo

    secretrio geral da ONU como um modelo global de sustentabilidade. (DUCCI, HGPE,

    22/08/2012).

    A disputa por quem teria o apoio de Dilma Rousseff tambm estava evidente.Dilma foi citada em nove programas e sua imagem em dois (o mesmo programarepetido, dias 10 e 12 de setembro). A presena da presidente esteve relacionada,em especial, com o segundo tema mais tratado na campanha: a assistncia social. Oobjetivo era deixar claro que a prefeitura tem e continuaria a ter o apoio do governofederal para manter projetos sociais. Os projetos eram, em maioria, contados em formade storytelling com presena de atores, personagens reais, imagens em slow e trilhasonora dramtica.

    Em Curitiba, todos os dias milhares de pessoas acordam para ajudar outras pessoas. Elesfazem parte da grande rede de servios que a prefeitura mantm para garantir oportunidade

    a todas as famlias. E os CRAS so a porta de entrada para tudo que a prefeitura garante

    (DUCCI, HGPE, 03/09/2012)

    Sade e mobilidade urbana foram os outros temas com mais presena. Oprimeiro, especialmente relacionado com aes que j foram relacionados pela gestode Ducci e que poderiam ser ampliados futuramente.

    Com os programas que implantamos naquele tempo e que no pararam de se renovar,

    ano aps ano, conseguimos resultados extraordinrios. Olha, Curitiba a cidade que mais

    reduziu a mortalidade materna e infantil entre todas as capitais brasileiras. Outro grande

    avano que ns tivemos foi a reduo para prximo de zero da transmisso vertical do

    vrus da Aids da me para a criana. Essas conquistas foram muito importantes para a

    tranquilidade das pessoas e das famlias da nossa cidade. (DUCCI, HGPE, 27/08/2012)

    Pode-se observar no exemplo traos de discurso governamental, ao afirmar:

    Outro grande avano que ns tivemos foi a reduo para prximo de zero datransmisso vertical do vrus da Aids da me para a criana (DUCCI, HGPE, 27/08/2012).Nas candidaturas de reeleio, h uma necessidade de prestao de contas, o que faz

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    com que os argumentos adotados sejam distintos. Para a oposio, a necessidade demudana destacada. Para a situao, o destaque para as melhorias.

    A mobilidade urbana, tema de crticas da populao, foi retratada da mesmamaneira, entretanto a promessa que est nas campanhas h mais de uma dcada

    retornou no discurso de Ducci.

    Olha, o metr o grande projeto da nossa prxima gesto. J viabilizamos todos os recursos

    para fazermos o metr, iniciarmos as obras. E aqui vai ser, o terminal do Pinheirinho vai ser

    um dos primeiros terminais do nosso metr. (DUCCI, HGPE, 24/09/2012)

    O discurso de Ducci exibiu um esforo no sentido de valorar sua administrao,trazendo o discurso do medo se houvesse mudana de gestor. Para isso, os

    argumentos se pautavam na categoria argumentao pelo exemplo cujos textostraziam personagens que ilustravam as supostas conquistas da prefeitura e tambmna argumentao quase-lgica (Perelman, Olbrechts-Tyteca, 1996) onde os nmerosbuscavam evidenciar o trabalho municipal.

    O candidato teve 354 e no HGPE predominou a categoria candidato com

    49%, seguida de educao e administrao pblica ambas com 7,9%. Ratinho Jr.apresentou uma estratgia de presena no horrio eleitoral mais prxima de Fruetdo que de Ducci. Cerca de metade do tempo foi ocupado para a apresentao docandidato, seu passado, vida familiar e trajetria poltico/profissional predominaramnesses espaos. Essa estratgia justifica-se por ser a primeira disputa majoritria nacapital da qual ele participava. Apesar de ter sido o deputado federal mais votado emCuritiba em 2010, faltava-lhe ser conhecido como candidato em uma disputa local.O fato de ter alcanado mais de 1/3 de votos tanto no primeiro, quanto no segundoturno, demonstra que a estratgia de visibilidade pessoal surtiu resultados positivos.

    Ratinho Jr - Coligao Curitiba Criativa

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    Grfico 4 - Temtica de Ratinho Jr. no 1. Turno do HGPE em televiso noite.

    Na primeira noite do HGPE, Ratinho Jr se apresentou como um:

    Foi aqui, neste bairro, em Santa Felicidade, onde eu e meus irmos crescemos. Eu estudei

    em escola pblica, e eu brincava na rua com meus amigos. Sem medo de violncia, sem

    medo das drogas. E eu acredito que isso que ns temos que fazer: resgatar a tranquilidade,

    a paz para as famlias de Curitiba. (RATINHO JR, HGPE, 22/08/2012)

    O outro tema foi educao

    Na educao, Ratinho Junior vai zerar a fila da creche. E estender o horrio de todas as

    creches at s 19h. Vai distribuir uniformes para os alunos das escolas municipais. Diminuir

    a carga horria dos educadores de 8 para 6 horas. E fazer escola em tempo integral de

    verdade (RATINHO JR, HGPE, 17/09/2012)

    E com a mesma porcentagem, administrao pblica.

    Ratinho Junior e Ricardo Mesquita. Um prefeito e um vice-prefeito que vo trabalhar pela

    famlia curitibana, pela Curitiba das novas ideias. O Plano de Governo do prefeito Ratinho

    Junior tem seis eixos estruturantes (RATINHO JR, HGPE, 14/08/2012)

    O discurso mais popular

    A apario do apresentador Ratinho pai se deu apenas em um programa do dia22/08 (noite), ao todo 70" (1 minuto e 10 segundos). Ele nunca mais apareceu num

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    programa do HGPE. Apenas houve cinco menes depois feitas pelo prprio RatinhoJr. No dia 12/09 (noite), ele fala que "no adianta censurar, proibir seu pai de aparecerna TV..." e nos ltimos quatro programas eleitorais, menciona o pai ao reforar a origemmais humilde da famlia.

    O HGPE dos trs principais candidatos, no que diz respeito tematizao, foi muitoparecido. Educao, Sade, Mobilidade e Intra-estrutura predominaram nos programaseleitorais de Ducci, Fruet e Ratinho Jr. Os demais temas tiveram participao residual.Porm, a principal diferena se deu na estratgia de visibilidade do candidato noshorrios eleitorais. Enquanto Fruet e Ratinho Jr. apresentaram-se mais utilizandocerca de metade do tempo para compor suas imagens de candidatos Ducci restringiusua apario a do tempo.

    A forma como os partidos polticos se organizam para disputar as eleies, o perfil daslideranas apresentadas como candidatos e a distribuio dos apoiadores no campopoltico so importantes para explicar o resultado de uma campanha, porm, nosuficientes. As escolhas feitas pelos candidatos ao longo da campanha, principalmentedepois do incio do HGPE, no podem ser desconsideradas nas explicaes sobreprocessos de deciso de voto no Brasil. O caso da eleio municipal de Curitiba em2012 ilustra isso: de incio, as lideranas polticas imaginavam uma disputa polarizadaentre dois candidatos com maiores estruturas polticas. O ento prefeito Luciano Ducci,apoiado pelo governador do Estado, e o ex-deputado Gustavo Fruet, apoiado pelo PT.Bastou a campanha comear para se perceber que o eleitor comum discordava dessasopes, colocando em primeiro lugar o que seria a terceira ou quarta fora poltica noincio da disputa Ratinho Jr.

    A busca pela vitria reflete a necessidade de reforar aspectos positivos da almejadaadministrao. Desse modo, os aspectos pessoais prevaleceram nos trs candidatosanalisados, em detrimento de apresentao de propostas. O HGPE se mostrou oespao de divulgao de um discurso unilateral, onde a busca pela imagem idealesteve evidente.

    Uma imagem a soma das crenas, ideias, e impresses que o eleitor tem do candidato

    e quanto mais ela contribuir para reforar e justificar o comportamento do eleitor,maiores sero as possibilidades de vir a obter seu voto (LIMA, 1988, p.56).

    A disputa, portanto, recebeu o foco na personalizao dos atores polticos e no nosgrupos ou propostas. Como j afirmava Manin:

    (...) le personnel politique est maintenant principalement constitu ou environn dindividus

    appartenant des cercles particuliers, distincts du reste de la population par leur profession,

    leur culture et leur mode de vie4 (MANIN, 1996, p. 249)

    4 Os polticos so praticamente formados por cidados que pertencem a crculos privados, separados do resto da populao por sua ocupao,

    sua cultura e estilo de vida. (Traduo livre)

    Consideraes finais

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    No podemos, com isso, afirmar que o eleitorado de Curitiba em 2012 escolheuseus candidatos apenas em funo do que assistiu no HGPE, mas sim que o horrioeleitoral foi o momento de condensao do dilogo entre a imagem desejada pelos

    candidatos e pretendida pelos eleitores. Nesse sentido, fundamental a apresentaode personalidades que consigam convencer o eleitor, principalmente o indeciso, arespeito da melhor deciso de voto.

    A anlise de contedo do HGPE televisivo de Curitiba mostrou uma imagem pblica deRatinho Jr. como o candidato da renovao, das ideias novas, o mais preparado paraa mudana necessria. Gustavo Fruet apresentava-se como o candidato da mudanasegura, ou, em outros termos, da continuidade com algumas transformaes. Issoporque ele era identificado pelos eleitores ainda como pertencente ao grupo polticodo governador Beto Richa. O ento prefeito Luciano Ducci apresentou no HGPE comoo nico candidato capaz de realizar as promessas, pois ele j estava na prefeitura e

    conhecia a mquina pblica. E, para o eleitor esse foi o problema principal. Sempreque um candidato reeleio usa mais o verbo no futuro (serei capaz de fazer sereeleito) que no presente/pretrito, ele permite ao eleitor uma pergunta simples: se o atual prefeito e est prometendo que far, por que no fez ainda? Quando essaindagao acompanhada de pelo menos duas alternativas viveis politicamente, aschances de reeleio do prefeito decaem enormemente. A ponto de Ducci ter sidoo nico candidato reeleio em capitais brasileiras que no conseguiu passar aosegundo turno em 2012.

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    AGUILERA, Jorge. Los cuatro ciudadanos. In PANKE, Luciana; SERPA, Marcelo.Comunicao eleitoral: conceitos e estudos sobre as eleies presidenciais de 2010no Brasil. Rio de Janeiro: 2011. Disponvel em http://issuu.com/lupanke/docs/com_eleit_conceitos_e_estudos_sobre_as_elei__es_pr

    CERVI, Emerson. O tempo da poltica e a distribuio dos recursos partidrios: umaanlise do HGPE. Revista Em Debate, Belo Horizonte, v. 2 n 8, (p. 12 a 17).

    DUCCI, Luciano. Programas veiculados no Horrio Gratuito de Propaganda Eleitoral

    em televiso, 2012. Disponveis em www.youtube.com/ocanalpanke

    FRUET, Gustavo. Programas veiculados no Horrio Gratuito de Propaganda Eleitoralem televiso, 2012. Disponveis em www.youtube.com/ocanalpanke

    ITEN, Marco; KOBAYASHI, Sergio. Eleio: vena a sua! As boas tcnicas de marketingpoltico. So Paulo: ITEN, Marco; KOBAYASHI, Sergio, 2002.

    KUNZ, Ronald. Voc sabe que um candidato mentiroso e tenta engan-lo quando:

    In DIMENSTEIN, Gilberto. Como no ser enganado nas eleies. So Paulo: Bomlivro,1994. P. 22-23.

    LIMA, Marcelo O. Coutinho de. Marketing Eleitoral: para no desperdiar recursos.So Paulo: cone, 1988.

    MANIN, Bernard. Principes du gouvernement Reprsentatif. Flammarion: Champs,1996.

    PANKE, Luciana; GANDIN, Lucas; BUBNIAK, Taiana; GALVO, Tiago. O que os candidatos Presidncia do Brasil falaram nos programas do HGPE, nas ltimas eleies? Artigoapresentado durante o IV Encontro da Compoltica, na Universidade do Estado doRio de Janeiro, Rio de Janeiro, 13 a 15 de abril de 2011. Disponvel em . Acesso em:23 jun. 2011.

    PERELMAN, Cham; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. O tratado da argumentao. SoPaulo: Martins Fontes, 1996.

    RATINHO Jr. Programas veiculados no Horrio Gratuito de Propaganda Eleitoral emteleviso, 2012. Disponveis em www.youtube.com/ocanalpanke.

    Referncias

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    RESUMO:

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    HGPE nas eleiesmunicipais majoritrias de

    2012: o caso do

    Rio de Janeiro

    Carolina de Paula O objetivo do texto realizaruma anlise panormica do HGPE rela-tivo disputa ao Executivo municipal doRio de Janeiro de 2012. Oito partidos/

    coligaes disputaram o pleito e soma-ram um total de 60 minutos dirios nateleviso e rdio trs vezes por sema-na, entre 21 de agosto e 04 de outubro.O mtodo da pesquisa consistiu numaanlise qualitativa de todos os programasdos cinco principais candidatos, Eduar-do Paes (PMDB), Marcelo Freixo (PSOL),Rodrigo Maia (DEM), Otavio Leite (PSDB)e Aspsia Camargo (PV). OS principaistemas observados no contedo dos pro-gramas foram: o posicionamento do can-didato, os tons do discurso, a dimensotemporal, os personagens, os elemen-tos estticos de composio de cena, aproduo sonora e musical. O texto con-clui que o HGPE nessa eleio no Rio deJaneiro pode ser visto enquanto uma pos-sibilidade analtica que extrapolaria a di-cotomia de estratgias de ataque-defesa.Palavras-chave: Comunicao eleitoral,

    HGPE, Rio de Janeiro.

    1 - Doutoranda em Cincia Poltica do IESP- UERJ, bolsista CNPq. Agradeo a Afonso Albuquerque pelos comentrios ao texto.

    3.

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    Em 2012 a disputa majoritria ao Executivo do municpio do Rio de Janeirocontou com a participao de oito candidaturas/coligaes. O ento prefeito do PMDB,Eduardo Paes, disputou reeleio apoiado por uma extensa coligao partidria1,tendo a seu favor o permanente apoio do governador do estado, tambm do PMDB,Srgio Cabral, e da presidente do pas, Dilma Rousseff (PT)2. Os trs senadores do estadodo RJ em exerccio, Lindberg Farias (PT), Francisco Dornelles (PP) e Eduardo Lopes(PRB), tambm estiveram na base de sustentao do candidato. Das sete candidaturasdesafiantes ao peemedebista, apenas uma firmou coligao, Rodrigo Maia, atualdeputado federal pelo DEM, disputou o pleito em uma aliana com o PR, lanandocomo candidata vice-prefeita a deputada estadual Clarissa Garotinho. As demaisseis chapas foram: pelo PSOL, Marcelo Freixo, atual deputado estadual na ALERJ; pelo

    PV, a tambm deputada estadual Aspsia Camargo; pelo PSDB, o deputado federalOtvio Leite; pelo PSTU, Cyro Garcia (sem mandato); pelo PPL, Fernando Siqueira (semmandato); pelo PCO, Antnio Carlos (sem mandato).

    Para alm de um cenrio partidrio local fortemente favorvel a sua candidatura,o atual prefeito, Eduardo Paes (PMDB), contava com uma elevada taxa de aprovaopopular de seu mandato. No final do primeiro ms oficial da campanha iniciada em06 de julho de 2012 , o DATAFOLHA3divulgou uma pesquisa de avaliao de gestomunicipal em que o prefeito do Rio de Janeiro apareceu em segundo lugar no rankingdentre os prefeitos das seis maiores capitas brasileiras, sua nota foi de 6,3. Dentre ospossveis critrios de avaliao da pesquisa, timo, bom, regular, ruim ou pssimo,

    Eduardo Paes tambm ficou em segundo lugar, 45% dos entrevistados responderampositivamente, isto , para estes seu governo seria bom ou timo. No que diz respeitos pesquisas de inteno de voto, Eduardo Paes sempre manteve a dianteira, conformeo grfico abaixo sua vitria era esperada logo no 1 turno do pleito.

    1 - A coligao Somos um Rio envolveu vinte legendas: PMDB, PT, PRB, PP, PDT, PTB, PSL, PTN, PSC, PPS, PSDC, PRTB , PHS, PMN, PTC, PSB, PRP,PSD, PC do B, PT do B.2 - Tambm esteve ao lado de Paes o ex-presidente Lula (PT).3 - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/55846-eleitores-dao-nota-44-para-kassab-a-pior-de-6-capitais.shtml

    Introduo

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    Grfico 1 - Inteno de votos para prefeito do Rio de Janeiro (%) 2012

    Fonte: elaborao prpria a partir de DATAFOLHA/Folha de S.Paulo4

    A primeira rodada da srie de intenes de voto ilustradas no grfico 1, foirealizada em 21/7 e apontava uma enorme distncia entre o candidato do PMDB reeleio, Eduardo Paes, (54%) e o segundo colocado, Marcelo Freixo do PSOL, (10%).Destaco que nesse momento o Horrio Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) nordio e na televiso ainda no havia comeado o incio foi exatamente um msdepois, em 21 de agosto , justificando assim o alto ndice de entrevistados indecisos(14%), taxa esperada nos primeiros momentos de qualquer campanha eleitoral. Talveza maior surpresa dessa primeira rodada de pesquisas tenha sido o baixo percentualdas intenes de voto na chapa Um Rio melhor para os Cariocas, (apenas 6%),encabeada pelo deputado federal Rodrigo Maia do DEM e sua vice, a deputadaestadual Clarissa Garotinho do PR. A coligao representava uma aliana inusitada,porm, supostamente forte, entre antigos adversrios polticos no cenrio fluminense.De um lado Csar Maia (DEM), pai de Rodrigo Maia, eleito trs vezes prefeito da cidadedo Rio de Janeiro (em 1992, 2000 e 2004), e a principal liderana dos Democratasna cidade. De outro lado, o ex-governador Anthony Garotinho (eleito em 1998)5 e

    Rosinha Garotinho (eleita governadora em 2002)6

    , ambos do PR, pai e me de ClarissaGarotinho. Seria racionalmente crvel que a unio de foras das famlias Maia-Garotinhose convertesse em uma chapa no mnimo competitiva ao atual prefeito, contudo, nofoi o que aconteceu. Muito pelo contrrio, as pesquisas de intenes de voto seriamprogressivamente decepcionantes para a campanha de Rodrigo e Clarissa, j que narodada subsequente, em 29/08 com o HGPE em exibio a pesquisa DATAFOLHAapontou reduo nas intenes de voto na candidatura do DEM-PR, saindo de 6% para5% (em 12/09), para 4% (em 27/09,) marcando 2% (em 4/10) e 3% na ltima rodada (em6/10)7.

    4 - http://eleicoes.uol.com.br/2012/pesquisas-eleitorais/rio-de-janeiro/ 5 - Foi candidato presidncia da Repblica em 2002, conquistou o terceiro lugar na disputa e uma considervel votao dentre o eleitoradoevanglico, atualmente deputado federal pelo RJ.6 - Foi eleita prefeita do municpio de Campos (RJ) em 2008 e conseguiu se reeleger em 2012, apesar dos escndalos e processos por corrupo.7 - Sabe-se que pesquisas de intenes de voto so realizadas por amostragem no Brasil, ou seja, capta apenas o intervalo que o dado foi encon-trado na amostra, no o percentual real da disputa. Dessa forma tal decrscimo que apontei estaria dentro daquilo que se costuma margem deerro. Contudo, o destaque aqui para os baixos ndices de Rodrigo Maia em todas as rodadas das pesquisas foi pela no decolagem da campanha.O hbito em comentar pesquisas de tal natureza serve tambm para contextualizar a disputa para o pblico em geral.

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    Em oposio ao ocorrido com a campanha de Rodrigo Maia e ClarissaGarotinho, a candidatura do psolista Marcelo Freixo apresentou relativo sucesso namedida em que consideramos o desconhecimento do candidato frente ao eleitoradocarioca8, alm da ausncia de apoio de outras legendas partidrias, sendo o PSOL umpartido de fraca expresso na Cmara Municipal do Rio de Janeiro, possui apenas um

    vereador9. Conforme citado anteriormente, Freixo partiu de 10% das intenes de votona pesquisa de 21/07 para uma constante ascenso ao longo das seis rodadas daspesquisas realizadas pelo DATAFOLHA: 13% na segunda rodada, 18% na terceira, 19%na quarta, 20% na quinta e 22% na ltima. Assim, j no incio da campanha e com adivulgao das pesquisas aps o incio do HGPE, ficaria claro que a efetiva disputa nacidade do Rio de Janeiro polarizaria o candidato Eduardo Paes (PMDB) e Marcelo Freixo(PSOL), tendo em vista a no decolagem de Rodrigo Maia (DEM). Os candidatos dosoutros partidos polticos mais expressivos no sistema partidrio brasileiro, Otvio Leitedo PSDB e Aspsia Camargo do PV, no conseguiram alavancar suas candidaturas. Oprimeiro manteve a faixa de 3 a 4% em todas as rodadas das pesquisas, e a candidatados verdes oscilou entre 1 e 2%. Os candidatos nanicos oscilaram entre 0 e 1%, comexceo de Cyro Garcia, do PSTU, que de acordo com o DATAFOLHA manteve 1% aolongo de toda a campanha.

    Apesar do otimismo, de determinada frao do eleitorado, pela concretizao deum segundo turno entre Eduardo Paes e Marcelo Freixo, o crescimento das intenesde voto no candidato pelo PSOL sequer foi suficiente para desestabilizar a campanhado atual prefeito. Paes manteve altssimas taxas de intenes de voto ao longo de todaa campanha, posicionando-se sempre acima dos 50%. Assim, o resultado da eleioem 07 de outubro de 2012, com a vitria de Eduardo Paes, foi o seguinte:

    Tabela 1 Resultado da eleio majoritria municipal ao Executivo do Rio de Janeiro,

    votos vlidos (em %)

    Candidato (partido) Votos vlidos (%)

    Eduardo Paes (PMDB) 64,60Marcelo Freixo (PSOL) 28,15Rodrigo Maia (DEM) 2,94Otavio Leite (PSDB) 2,47Aspsia Camargo (PV) 1,27Cyro Garcia (PSTU) 0,39Fernando Siqueira (PPL) 0,15

    Antonio Carlos (PCO) 0,03 Fonte: site do TSE

    A importncia do HGPE para as campanhas eleitorais refere-se a uma vastaabrangncia de aspectos que permeiam qualquer pleito no pas. Ainda no momentopr-eleitoral o HGPE entra no clculo da definio das coligaes partidrias, tendo

    em vista que o critrio de distribuio do tempo de TV e rdio no Brasil leva em conta8 - Deputado estadual exercendo o primeiro mandato na ALERJ (eleito em 2008), com bases eleitorais em Niteri. O candidato mudara o dom-iclio eleitoral pouco tempo antes da eleio de 2012.9 - No pleito de 2012 o PSOL obteve expressivo aumento na bancada do Legislativo, foram eleitos quatro vereadores.

    Anlise geral do HGPE

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    Eleies nas Capitais Brasileiras em 2012

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    o nmero de deputados que compe a chapa. A distribuio gratuita do tempo deTV sofreu diversas alteraes ao longo da histria, de 1985 a 1996 foram nove regras,de l pra c houve poucas mudanas, 1/3 do tempo (90 minutos totais) distribudoigualitariamente aos partidos e os outros 2/3 proporcionalmente ao tamanho da bancadano Legislativo (Campos, 2009)10. Dessa forma o poder de barganha de um partido

    nanico no pode ser desprezado de imediato, j que, ao menos potencialmente, seriainteressante aos partidos grandes disporem de mais tempo de propaganda na TV eno rdio, aceitando assim a entrada destes nanicos na chapa. Ou seja, conforma-sea um jogo de soma positiva em que as duas partes partidos grandes e nanicos levariam vantagem. Parece ser o caso da coligao Somos um Rio de Eduardo Paes(PMDB). Os vinte partidos que engendraram a coligao possibilitaram ao candidato reeleio dispor de 16min17s92 de exposio. O tempo de Paes representou mais dametade dos 30 minutos de durao total do programa eleitoral de TV dirio destinadoaos candidatos prefeitura do Rio de Janeiro. O contraste com os demais candidatosfoi evidente: Rodrigo Maia (DEM) teve 3min35s35; Otavio Leite (PSDB) 3min18s98;Marcelo Freixo (PSOL) 1min22s; Aspsia Camargo (PV) 1min40s73. Fernando Siqueira(PPL), Antnio Carlos (PCO) e Cyro Garcia (PSTU) tiveram 1min15s cada um.

    O HGPE de 2012 teve incio em 21 de agosto e foi at o dia 04 de outubro, sendoreservado aos candidatos ao Executivo municipal as segundas, quartas e sextas-feirasna TV (das 13h s 13h30 e das 20h30 s 21h) e tambm no rdio (das 7h s 7h30 e das 12hs 12h30). Uma particularidade da retransmisso do HGPE na Regio Metropolitana doRio de Janeiro a segmentao entre as emissoras de televiso e rdio. Por exemplo, aRede Globo exibiu o HGPE da capital fluminense, enquanto coube a Record a exibiodos programas dos candidatos de So Gonalo, ao SBT a apresentao dos candidatosde Duque de Caxias, j a Rede Bandeirantes exibiu os programas de Nova Iguau11. O

    processo de diviso das cidades aconteceu tambm entre as emissoras de rdio.Uma anlise geral do HGPE do Rio de Janeiro precisa levar em considerao o

    aspecto destacado acima, ou seja, a quase monopolizao do tempo total do programadirio pelo candidato Eduardo Paes. Ao observarmos o pleito anterior da cidade, adisputa de 2008, notamos que o mesmo no aconteceu. Ainda que Paes possusse omaior tempo no HGPE (6min48s), a pulverizao de candidaturas foi maior quandocomparada a deste ano. Em 2008 foram 12 chapas na disputa12, sendo que os partidosmais esquerda da coligao de Paes em 2012 (PT, PDT e PCdoB) optaram na ocasiopela candidatura solo, o PT apostou em Alessandro Molon, o PDT em Paulo Ramose o PCdoB lanou a candidatura de Jandira Feghali. Outra distino importante que

    certamente refletiu no HGPE de 2012 foi o rompimento da parceria entre PSDB e PV.Em 2008, coligados ao PPS, apostaram numa chapa encabeada por Fernando Gabeira(PV). Tal deciso garantiu a coligao Frente Carioca uma candidatura competitiva.Gabeira contava com 4min46s no HGPE, disputou o 2 turno contra Eduardo Paese antagonizou o pleito mais disputado entre as capitais brasileiras, perdendo poruma minscula diferena de 55.521 votos (1,6%). Conforme os dados da tabela 1 opercentual da votao de 2012 para o PSDB e o PV foi inexpressivo, o tucano Otavio

    10 - Cabe lembrar que a propaganda gratuita apenas aos partidos, mas no ao Estado, j que as retransmissoras recebem abono fiscal. Campos(2009) realiza um interessante estudo sobre o HGPE, os spots eleitorais e a propaganda partidria enquanto financiamento pblico de campanhaindireto. Ele calcula que em 2010 o Estado concedeu tendo como proxy do valor comercial dos espaos miditicos R$10, 9 bilhes aos parti-dos.11 - O critrio usado pelo TRE-RJ associa, de forma proporcional, a audincia oficial das emissoras ao eleitorado de cada municpio.12 - As doze candidaturas/coligao com o respectivo tempo de propaganda poltica foram: Eduardo Paes (PMDB coligado ao PP, PSL, PTB, com6min48s); Fernando Gabeira (PV coligado ao PSDB, PPS, com 4min46s); Alessandro Molon (PT, com 4min4s); Solange Amaral (DEM coligado aoPTC, PMN, com 3min36s); Jandira Feghali (PCdoB coligado ao PTN, PHS, PSB com 2min28s) Marcelo Crivella (PRB coligado ao PR, PSDC, PRTBcom 1min51s); Paulo Ramos (PDT, com 1min46s); Filipe Pereira (PSC coligado ao PRP com 1min11s); Chico Alencar (PSOL coligado ao PSTU, com57s); Vinicius Cordeiro (PTdoB, com 52s); Antonio Carlos (PCO, com 50s); Eduardo Serra (PCB, com 50s).

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    HGPE nas eleies municipais majoritrias de 2012: o caso do Rio de Janeiro

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    Leite conseguiu 2,47% e a candidata dos verdes, Aspsia Camargo, 1,27%.

    A breve anlise que segue abaixo, no que diz respeito aos atores e temticasdo HGPE, envolver as candidaturas de Eduardo Paes (PMDB), Marcelo Freixo (PSOL),Rodrigo Maia (DEM), Otavio Leite (PSDB) e Aspsia Camargo (PV).

    *Eduardo Paes: o peemedebista saiu em notria vantagem no tocante ao tempo deexposio no HGPE (16min17s92), porm, ocupar mais da metade da propagandaeleitoral diria poderia causar um demasiado cansao na imagem do candidato.Contudo, para alm da utilizao de apresentadores jovens intercalando fala doatual prefeito, a estratgia da equipe de Paes elaborou um interessante rodzio depersonalidades polticas de peso. A lista envolveu o atual governador do estadodo RJ, Srgio Cabral, a presidente, Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. O carterdinmico dos programas incluiu ainda uma intensa participao dos populares. Tpicode um candidato bem avaliado em sua gesto municipal, Paes priorizou temticas quepermitissem mostrar ao pblico suas realizaes ao longo dos ltimos quatro anos na

    rea da infraestrutura, segurana, educao e sade. Com nfase no sucesso da parceriajunto aos programas do estado e da federao. Bastante notrio foi o protagonismopelas regies mais pobres da cidade na explicitao das realizaes, especialmente narea de transporte (os chamados BRTs, corredores Trans e o Bilhete nico) o destaquefoi pela atual integrao da regio da zona oeste menos desenvolvida, e do subrbio,ao Centro e zona sul.

    *Marcelo Freixo: novato em disputas ao Executivo o candidato psolista precisavamanobrar um diminuto tempo no HGPE (1min22s) para fazer-se conhecido aoeleitorado carioca. Se falta