Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do...

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O quadro político que Aloizio Mercadante tinha na disputa ao governo de São Paulo em 2010 era o mais favorável em sua carreira eleitoral: pleiteava o cargo que o ocupante do PSDB havia abandonado antes de completar o mandato, deixando expostos vários gargalos administrativos; e havia a aprovação recorde do presidente Lula, seu aliado político, que lhe garantiria bom desempenho eleitoral. Entretanto, ele não conseguiu vencer a hegemonia do PSDB no Estado. A presente pesquisa avalia, sob a ótica do marketing político, a campanha eleitoral, a participação do candidato no horário eleitoral gratuito e nos debates, e a cobertura dada pela imprensa à sua campanha para avaliar quais foram os erros que o impediram de avançar no segundo turno e se aproximar da vitória eleitoral.

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ELAIDES BASILIO ANDRELINO

Eleição para governador de São Paulo –

2010: As variáveis petistas e a confirmação

do continuísmo

Monografia apresentada ao Departamento de Relações

Públicas, Propaganda e Turismo da Escola de

Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em

cumprimento parcial às exigências do Curso de

Especialização, para obtenção do título de Especialista em

Marketing Político e Propaganda Eleitoral sob a orientação

do Prof. Dr. Celso Toshito Matsuda.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Comunicações e Artes

São Paulo

Dezembro de 2011

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Banca Examinadora:

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Dedico à minha querida mãe Francisca Andrelino Basilio e

meus irmãos Edivino, Joelma e Francisco Ivan, pela pessoa que

me tornaram e, em especial ao meu pai José Basilio que,

infelizmente, não pôde estar presente para ver esse trabalho.

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Agradecimentos

Ao meu orientador Prof. Dr. Celso Toshito Matsuda pela preciosa atenção no decorrer

deste trabalho. Aos demais professores da casa e aos professores convidados que despertaram

em mim o gosto pelo saber e pela reflexão, principalmente aos professores Ivan Santo

Barbosa, Mariângela Furlan Haswani, Reinaldo Polito, Vera Chaia e Vera Crevin, os quais

tenho uma grande admiração, por serem fundamentais na base de construção dessa pesquisa e

por contribuírem para uma abertura de um novo olhar fascinante para o Marketing Político.

Sobretudo ao professor Mitsuru Higuchi Yanaze que teve papel fundamental na organização

de minhas ideias durante suas aulas, na disciplina Planejamento Estratégico de Marketing e a

Comunicação Integrada (stricto sensu), e lançou feixes de luz que me ajudaram a desenvolver

propostas e sugestões embasadas em sua metodologia, não somente para uma próxima

campanha, mas para uma nova forma de gestão de marketing como princípio de trabalho

eficaz, que se encontra no final desta pesquisa.

Não poderia deixar de agradecer aos entrevistados, pela credibilidade dada a esta

pesquisa e por dividirem suas experiências que foram essenciais para refletir e escrever este

trabalho: Carlos Cordeiro, Geraldo Figueiredo de Almeida, Luiz dos Santos Pereira

Mendonça, Paulo Victor de Angeli Filho, Vereador Chico Macena, Vereador José Américo, e,

em especial, a Justino Pereira Junior que de alguma forma teve influência no meu interesse e

na escolha pelo Marketing Político.

A Nilton Sousa Lopes, que atendeu, gentilmente, o meu pedido para a diagramação da

capa dessa monografia.

Aos colegas da turma e, principalmente, os que viraram amigos, Fábio de Lima, Paula

Bragalda, Carla Silva e Walter Mello.

Aos amigos e colegas de trabalho: Luciano Somenzari por acreditar que conseguiria

superar as diversas dificuldades que ocorreram desde o início do curso, e Jaime Silva, por

contribuir com o empréstimo de alguns livros que me ajudaram, e muito. Como também às

amigas Agnes Guidini e Shirley Valadares pela paciência de escutar minhas descobertas no

decorrer desta pesquisa mesmo não havendo muito interesse pelo assunto.

Agradeço também à Renata Sales, amiga de todas as horas, pelo apoio.

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À minha amiga Francisca Ramalho que, como sempre, não poderia deixar de estar

presente nos momentos mais importantes de minha vida, e que ainda abriu o caminho para a

obtenção de uma importante entrevista.

Ao compadre Vitor Manuel Olival D’Assunção pela doação de um livro que, após ser

utilizado, foi para o sebo e, como num passe de mágica, acabou voltando para esta

pesquisadora.

Aos queridos amigos Paulo Pepe e Elisângela Cordeiro pela boa vontade e disposição

para conversar diversas vezes sobre o andamento do trabalho e, por terem contribuído na

indicação de um entrevistado.

Aos meus sogros: Waltão e Dona Marlene, e cunhadas: Adriana e Márcia, que

gentilmente mudaram as datas dos festejos familiares que aconteciam aos sábados para que eu

pudesse participar.

Enfim, aos homens da minha vida que sempre acreditaram no meu potencial,

dedicando todo amor e apoio imprescindíveis nesse percurso, sem os quais não seria possível

chegar até aqui: Walter de Sousa Junior, meu grande amor e companheiro, pelo apoio

incondicional, sempre disposto a discutir sobre o tema, dando contribuições importantes para

o desenvolvimento desta pesquisa e pelo precioso trabalho de transcrição das entrevistas; aos

meus queridos filhos Geancarlo e Cauã, pela paciência, compreensão de minha ausência no

decorrer do curso e que me ensinam muito sobre a vida; à minha filha de coração, Beatriz, que

de alguma forma também fez parte desse processo fazendo companhia ao pai nos momentos

em que eu não poderia estar presente.

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Convicção cada dia mais enraizada, de que não menos que as iniciativas,

tem importância o controle para que elas se realizem, para que meios e fins

coincidam perfeitamente (coincidência que não deve ser entendida

materialmente). Convicção de que não se pode falar de querer um fim

quando se sabe predispor com exatidão, acuidade, meticulosidade os meios

adequados, suficientes e necessários (nem mais, nem menos; nem para cá

nem para lá do objetivo).

Antonio Gramsci, (Cadernos do cárcere – planejamento).

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RESUMO

O quadro político que Aloizio Mercadante tinha na disputa ao governo de São Paulo em 2010

era o mais favorável em sua carreira eleitoral: pleiteava o cargo que o ocupante do PSDB

havia abandonado antes de completar o mandato, deixando expostos vários gargalos

administrativos; e havia a aprovação recorde do presidente Lula, seu aliado político, que lhe

garantiria bom desempenho eleitoral. Entretanto, ele não conseguiu vencer a hegemonia do

PSDB no Estado. A presente pesquisa avalia, sob a ótica do marketing político, a campanha

eleitoral, a participação do candidato no horário eleitoral gratuito e nos debates, e a cobertura

dada pela imprensa à sua campanha para avaliar quais foram os erros que o impediram de

avançar no segundo turno e se aproximar da vitória eleitoral.

PALAVRAS-CHAVE: Eleições, marketing político, PT, PSDB, Mercadante, horário

político, debates, imprensa.

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ABSTRACT

The political framework that Mercadante was in the race for governor of São Paulo in 2010

was the most favorable election in his career, pleaded to the charge that the inmate PSDB was

abandoned before completion of the term, exposing various administrative bottlenecks, and

there was record approval of President Lula, his political ally, would enjoy good electoral

performance. However, he failed to win the hegemony of the PSDB in the State. This study

evaluates, from the perspective of political marketing, election campaign, the applicant's

participation in and free electoral debate and press coverage of their campaign to assess what

were the errors that prevented him from advancing in the second round and approach the

election victory.

KEYWORDS: Elections, political marketing, PT, PSDB, Mercadante, political time,

political debates, the press.

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LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

Gráfico 1: Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha um mês antes do pleito

sobre a expectativa de vitória ........................................................................... 23

Gráfico 2: Pesquisa feita pelo Instituto IBOPE pós-eleição ............................................. 24

Gráfico 3: O tamanho dos partidos no Estado ................................................................... 66

Gráfico 4: Prefeituras do Estado de São Paulo divididas por partido ............................... 67

Gráfico 5: Prefeituras conquistadas por partidos nas eleições 2008 no Estado de

São Paulo .......................................................................................................... 128

Tabela 1: Programa de debate realizado pela TV Bandeirantes dividido por tema .......... 108

Tabela 2: Programa de debate realizado pela TV Record dividido por tema .................... 112

Tabela 3: Programa de debate realizado pela TV Globo dividido por tema ..................... 115

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANDES – Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior

ARENA – Aliança Renovadora Nacional

BBDO – Batten, Barton, Durstin, e Osborne

CEUs – Centros Educacionais Unificados

CNB – Construindo um Novo Brasil

Contraf – Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro

CPMI – Comissão Parlamentar Mista de Inquérito

CUT – Central Única dos Trabalhadores

DCE – Diretório Central dos Estudantes

DEM – Democratas

DF – Distrito Federal

DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda

FHC – Fernando Henrique Cardoso

FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas

FMI – Fundo Monetário Internacional

HGPE – Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral

IBOPE – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

IUPERJ – Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro

LOPP – Lei Orgânica dos Partidos Políticos

MDB – Movimento Democrático Brasileiro

MP – Ministério Público

OAB – Ordem dos Advogados do Brasil

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PC do B – Partido Comunista do Brasil

PCB – Partido Comunista Brasileiro

PCC – Primeiro Comando da Capital

PCO – Partido da Causa Operária

PDS – Partido Democrático Social

PDT – Partido Democrático Trabalhista

PF – Polícia Federal

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PFL – Partido da Frente Liberal

PL – Partido Libertador

PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PP – Partido Progressista

p.p. – pontos percentuais

PR – Partido da República

PRB – Partido Republicano Brasileiro

PRN – Partido da Reconstrução Nacional

PRP – Partido Republicano Progressista

PRTB – Partido Renovador Trabalhista Brasileiro

PSD – Partido Social Democrático

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira

PSDC – Partido Social Democrata Cristão

PSF – Programa Saúde da Família

PSOL – Partido Socialismo e Liberdade

PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado

PT do B – Partido Trabalhista do Brasil

PT – Partidos dos Trabalhadores

PTB – Partido Trabalhista Brasileiro

PTN – Partido Trabalhista Nacional

SBT – Sistema Brasileiro de Televisão

SMSBCD – Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema

STF – Supremo Tribunal Federal

SUS – Sistema Único de Saúde

TSE – Tribunal Superior Eleitoral

UDN – União Democrática Nacional

Univesp – Universidade Virtual do Estado de São Paulo

UPAs – Unidades de Pronto Atendimento

VLT – Veículo Leve sobre Trilhos

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SUMÁRIO

Introdução......................................................................................................................... 15

Capítulo 1

O processo de reconstrução da democracia brasileira.................................................. 18

1.1 Redemocratização e ascensão do PMDB.......................................................... 18

1.2 O surgimento do PT: novidade e inovação....................................................... 20

1.3 Assembléia Nacional Constituinte e o surgimento do PSDB........................... 25

1.4 São Paulo e o quercismo................................................................................... 28

1.5 Ascensão do PSDB e do PT.............................................................................. 29

Capítulo 2

A revolução do marketing político e da propaganda eleitoral..................................... 35

2.1 A propaganda política e a evolução do horário eleitoral gratuito..................... 42

2.2 Os programas de debate político....................................................................... 50

2.3 A cobertura da imprensa................................................................................... 54

Capítulo 3

Premissas e variáveis para as eleições 2010................................................................... 61

3.1 Histórico político de Aloizio Mercadante........................................................ 61

3.2 Campanha de 2010........................................................................................... 63

3.3 Divergência das pesquisas................................................................................ 70

Capítulo 4

Metodologia e análise dos dados...................................................................................... 75

4.1 Análise de conteúdo e comparação das justificativas dos entrevistados.......... 78

4.2 Estratégia de campanha.................................................................................... 78

4.3 Imagem do candidato....................................................................................... 83

4.4 Diferenças entre os eleitores de Mercadante e Alckmin.................................. 84

4.5 Hegemonia do PSDB no Estado de São Paulo................................................. 88

4.6 Desempenho da militância entre majoritários e proporcionais e os gargalos com

os candidatos proporcionais............................................................................. 91

4.7 Capacitação e qualificação da equipe envolvida na campanha........................ 92

4.8 Reta final e o que faltou para chegar ao segundo turno................................... 96

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Capítulo 5

Campanha na TV e a cobertura da imprensa............................................................... 100

5.1 Análise do HGPE e dos programas de debate............................................ 100

5.1.1 Propaganda eleitoral veiculada em 18 de agosto.......................................... 101

5.1.2 Propaganda eleitoral veiculada em 8 de setembro........................................ 103

5.1.3 Propaganda eleitoral veiculada em 29 de setembro...................................... 104

5.2 Análise do HGPE por tema........................................................................... 106

5.2.1 Estratégia de campanha................................................................................. 106

5.2.2 Ausência de discurso de oposição................................................................. 106

5.2.3 Crítica e apelo emocional.............................................................................. 107

5.3 Análise dos debates........................................................................................ 108

5.3.1 Programa de debate: TV Bandeirantes.......................................................... 108

5.3.2 Programa de debate: TV Record................................................................... 112

5.3.3 Programa de debate: Rede Globo.................................................................. 114

5.4 Análise da cobertura dos jornais impressos................................................. 118

5.4.1 Folha de S. Paulo.......................................................................................... 119

5.4.2 Diário de S. Paulo......................................................................................... 122

Considerações finais......................................................................................................... 125

Propostas e sugestões....................................................................................................... 128

Referências Bibliográficas............................................................................................... 131

Apêndices.......................................................................................................................... 138

Entrevistas com coordenadores da campanha e militantes.......................................... 139

Coordenadores........................................................................................................ 139

Militantes................................................................................................................ 158

Anexos................................................................................................................................ 184

Propagandas eleitorais..................................................................................................... 185

Programa veiculado em 18 de agosto de 2010....................................................... 185

Programa veiculado em 8 de setembro de 2010..................................................... 186

Programa veiculado em 29 de setembro de 2010................................................... 188

Cobertura da Imprensa................................................................................................... 190

Folha de S. Paulo................................................................................................... 190

Diário de S. Paulo.................................................................................................. 195

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Introdução

A campanha para o governo estadual de São Paulo em 2010 revelou um conjunto de

variáveis que parecia apontar para uma possível disputa com o PT no segundo turno, partido

que tinha como candidato o senador Aloizio Mercadante. Entre essas variáveis se destacavam:

um Estado comandado há 16 anos pelo mesmo partido, o PSDB, e uma gestão de governo

interrompida, a de José Serra, que ao optar pela candidatura à Presidência da República, havia

exposto uma série de gargalos que contribuíam para os argumentos da campanha petista:

pedágios caros, programas de educação questionáveis, segurança envolta na guerra entre

polícias, saúde e transporte ruim. Por outro lado, a popularidade do presidente Luiz Inácio

Lula da Silva, companheiro partidário de Mercadante, inédita na história política do país,

contribuía para puxar-lhe votos, especialmente na reta final da campanha, quando o próprio

presidente intensificou sua participação no horário eleitoral gratuito. Mesmo assim, a vitória

do candidato da situação, Geraldo Alckmin, foi acachapante: 50,63% dos votos válidos (11,5

milhões de votos) contra 35,23% de Mercadante (8 milhões de votos), o que garantiu a eleição

ainda no primeiro turno. A possível explicação para a vitória do tucano, que seria o fato de a

corrida presidencial ter sido levada para o segundo turno, não justifica, à primeira vista, o

desempenho de Alckmin, pois o candidato do PSDB à presidência, José Serra, só conseguiu

avançar por conta do súbito crescimento da candidata do PV, Marina Silva. Assim, ficam as

questões a serem analisadas nesta pesquisa: O que impediu o candidato da oposição de

conseguir ao menos levar a disputa ao segundo turno? Quais oportunidades foram

desperdiçadas pela organização da campanha que justificasse o mau desempenho ante tantas

variáveis favoráveis? Por que essas variáveis não influenciaram o eleitor a ponto de fazer

valer a proposta oposicionista num estado que, apesar da fama de ser conservador, revelou

disposição para mudar pelo menos na última semana de campanha, quando Mercadante

apresentou crescimento nas intenções de voto mostradas pelas pesquisas eleitorais?

Essas e outras questões serão abordadas neste trabalho, no intuito de avaliar os

motivos pelos quais as variáveis envolvidas na campanha de Aloizio Mercadante não o

ajudaram a superar a vantagem do candidato da situação, Geraldo Alckmin, e evitar que o

pleito fosse decidido no primeiro turno.

A pesquisa foi desenvolvida e fundamentada em quatro eixos: análise de entrevistas

com membros que participaram da coordenação da campanha e militantes, análise das

propagandas políticas na televisão, dos programas de debate, e da cobertura da imprensa.

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Com o objetivo de demonstrar se as estratégias de campanha usadas pelo PT –

considerando os argumentos desfavoráveis ao candidato da situação – foram bem

empregadas, e de avaliar os erros e acertos no período de campanha, foram realizadas

entrevistas com coordenadores (articuladores/políticos) da campanha de Mercadante, assim

como com militantes que conduziram a campanha. Além disso, foram analisados três

propagandas eleitorais e três debates para que se pudesse compreender o desempenho do

candidato na argumentação do seu plano de governo e na defesa das variáveis que acreditou

serem cruciais para a comparação, por parte do eleitor, entre ele e seus oponentes. Por fim, foi

realizada uma pesquisa nos jornais Folha de S. Paulo e Diário de S. Paulo, para avaliar como

estes cobriram a campanha de Mercadante, se foi de forma isenta ou tendenciosa. O trabalho

buscou também discutir que estratégias poderiam ter sido empregadas e não foram, e quais as

usadas pelo candidato da situação que inviabilizaram o bom desempenho do candidato petista.

Na bibliografia consultada estão autores como Adolpho Queiroz, Marcus Figueiredo e

equipe, Mitsuru Higuchi Yanaze e colaboradores, Nelson Jahr Garcia, Paulo Roberto Figueira

Leal, Rubens Figueiredo, Wilson Gomes, entre outros. No entanto, para fazer a análise de um

dos eixos da pesquisa, o da propaganda eleitoral, optou-se pela metodologia de Marcus

Figueiredo e equipe. E, para desenvolver parte das propostas e sugestões para o próximo

pleito, foi empregada a metodologia de Mitsuru Higuchi Yanaze e colaboradores.

Convém esclarecer duas questões consideradas importantes para a pesquisadora acerca

do desenvolvimento desta pesquisa. Primeiro, este trabalho não pretende explicar ou justificar

o resultado eleitoral da campanha pesquisada, mas chegar mais próximo de analisar as

variáveis que, de alguma forma, poderiam ter contribuído para um impulso maior em direção

a uma possível disputa no segundo turno e, principalmente, os principais fatores que

impediram esse avanço. Segundo, esta pesquisa se limita a analisar apenas um lado do diálogo

da campanha eleitoral, apenas o desempenho da campanha do Mercadante. Infelizmente, não

tivemos tempo hábil para investigar como o eleitor se comportou no decorrer da campanha

em relação à recepção do que era divulgado, como o horário de propaganda eleitoral gratuita e

os programas de debates.

A monografia está composta por cinco capítulos. No primeiro abordamos o processo

de reconstrução da democracia brasileira nos últimos 25 anos, e o papel desempenhado pelas

diversas forças políticas para a construção da democracia, pós Ditadura Militar, para

contextualizar nosso objeto de pesquisa. No capítulo 2, fizemos uma reflexão sobre uma breve

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história da revolução do marketing político e da propaganda eleitoral, da propaganda política

e a evolução do horário eleitoral gratuito, dos programas de debate político e da cobertura da

imprensa nas campanhas eleitorais, para dar base aos quatro eixos de nossa pesquisa. Já no

capítulo 3 constituímos as premissas e as variáveis para as eleições de 2010. Nos capítulos 4 e

5 fizemos as análises do material que resultou de nossa pesquisa empírica, sendo o capítulo 4

dedicado à metodologia e à análise das entrevistas, e no 5 à análise da campanha na televisão

e da cobertura da imprensa. Após nossas considerações finais foram apresentadas propostas e

sugestões de marketing para fechamento da pesquisa.

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Capítulo 1

O processo de reconstrução da democracia brasileira

Nas últimas duas décadas e meia, diversas forças políticas desempenharam papéis

importantes na democracia construída após o período de Ditadura Militar. Este capítulo tem o

objetivo de reconstruir esse cenário para que se contextualize o objeto da presente pesquisa.

1.1 Redemocratização e ascensão do PMDB

As eleições diretas no Brasil foram retomadas em meio ao longo processo de

redemocratização, que teve início com a Anistia em 1979 e chegou ao seu ponto mais alto

com o fim da ditadura militar em 1985. Um ano antes, a despeito da mobilização política e

social pelas Diretas Já, não se conseguiu vencer a votação da emenda Dante de Oliveira,

derrotada no Congresso. O processo de redemocratização só iria viabilizar a primeira eleição

presidencial em 1989. Mas, antes disso, as primeiras eleições para governador ocorreram em

1982 e foram marcadas pelas vitórias notáveis, considerando o novo cenário brasileiro, de

Franco Montoro para o governo do Estado de São Paulo, e as de Leonel Brizola no Rio de

Janeiro e de Tancredo Neves em Minas Gerais.

Naquele ano, André Franco Montoro concorria ao governo do Estado de São Paulo

pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB, antigo MDB) tendo como

adversários Reynaldo de Barros, do Partido Democrático Social (PDS); Jânio Quadros, do

Partido Trabalhista Brasileiro (PTB); Rogê Ferreira, pelo Partido Democrático Trabalhista

(PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva, candidato pela primeira vez pelo recente Partido dos

Trabalhadores (PT).

O período marcou também o início de uma nova política em meio ao processo de

abertura, que envolveu a troca do bipartidarismo pelo multipartidarismo, de modo que a

disputa entre o MDB (oposição) e a ARENA (Aliança Renovadora Nacional, governista),

embora com legendas renovadas – PMDB e PDS – continuou polarizando as eleições neste

novo cenário político partidário. Mesmo assim, o período foi de diversificação política. Abriu-

se espaço para a criação de novos partidos, entre eles PTB, PDT, PP e PT, inaugurando um

novo cenário político com a possibilidade de disputas diversificadas e multipartidárias.

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Nesse processo, porém, interferiram alguns casuísmos políticos criados pelo regime

militar para interferir nas escolhas políticas, como a proibição de coligações e a

obrigatoriedade do voto vinculado – o eleitor era obrigado a votar em candidatos da mesma

chapa e de um mesmo partido – determinação que privilegiava senadores, deputados federais

e estaduais do partido, quando o voto era apenas para governador e, vereadores quando a

escolha era apenas para o candidato a prefeito. Se houvesse, durante a votação, qualquer

indicação de partidos diferentes o voto era anulado.

Nesta eleição, Franco Montoro se elegeu governador pelo PMDB, partido criado em

1980 por uma grande quantidade de políticos integrantes do MDB (Movimento Democrático

Brasileiro), que catalisou a oposição durante o período militar. A nova legenda continuou

sendo reconhecida pelos eleitores como oposição e principal agente do processo de

redemocratização do país. Por esse motivo e por seu potencial eleitoral, demonstrado ainda

sob a ditadura, o partido teve papel central no processo de democratização do país. Uma de

suas principais conquistas se deu em 1985, quando Tancredo Neves venceu as eleições

indiretas para a Presidência da República, fato que inaugurou a chamada Nova República.

Embora tenha adoecido e falecido antes da posse, o exercício do primeiro mandato nacional

do PMDB coube a José Sarney.

Durante o governo Figueiredo, José Sarney era do PFL, mas, como o

presidente faltou o seu compromisso com ele, no final do governo mudou de

partido, (...). Então ele foi convidado a se inscrever no PMDB. Aceitando a

proposta, foi escolhido para vice-presidente na chapa de Tancredo Neves.1

Um ano mais tarde, em 1986, o PMDB se tornaria o maior partido da América do Sul

ao obter seu melhor saldo eleitoral em função do Plano Cruzado, recurso de Sarney para

conter a inflação e que, num primeiro momento, deu bons resultados. Com isso, o partido

conseguiu eleger grande parte dos governadores no pleito daquele ano. Logo, dava início à

consolidação do processo da redemocratização brasileira. Contudo, em pouco tempo o projeto

eleitoral do PMDB começou a entrar em declive. Uma grave crise econômica evoluiu para o

crescimento de inflação, na época hiperinflação, e a declaração da moratória do país. Com

isso, nomes importantes do partido deixaram a legenda para integrar ou fundar novos partidos.

Entre eles, surgiria, anos depois, o PSDB, principal dissidente do PMDB.

1 CARNEIRO, Maria Cecília Ribas. História da República Brasileira: preâmbulo de uma nova era 1979/1989.

Editora Três, São Paulo, 1999, p. 102.

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Em 1986, novas eleições para o governo do Estado de São Paulo tinham como

principais atores no cenário político Orestes Quércia, então candidato pelo PMDB, Antônio

Ermírio de Moraes (PTB), Paulo Maluf (PDS) e Eduardo Suplicy (PT). A eleição ficou

marcada na história do país por ser completamente influenciada pelo Plano Cruzado. O

PMDB, como foi mencionado, dominou o pleito: elegeu 22 governadores dos 23 estados

brasileiro. Apenas o estado de Sergipe elegeu o governador pelo PFL.

1.2 O surgimento do PT: novidade e inovação

Diferentemente de outros partidos, o Partido dos Trabalhadores foi criado de baixo

para cima. Nasceu das bases sociais, ou seja, da profunda relação com os movimentos sociais

e com o novo sindicalismo do ABC e outras cidades do Estado de São Paulo, entre elas

Campinas, Osasco, Santos, além de algumas cidades de outros estados: Rio de Janeiro (RJ),

Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS). O PT foi erigido com um viés socialista

democrático. Sua criação foi efeito da convergência de diferentes forças políticas mobilizadas

por sindicalistas, políticos, intelectuais de esquerda e católicos ligados à Teologia da

Libertação, impulsionados por um mesmo ideal, o da fundação de um partido popular.

Em 1978, numa Conferência de Petroleiros em Salvador (BA), o sindicalista Luiz

Inácio Lula da Silva2, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do

Campo e Diadema (SMSBCD), e que havia liderado as intensas greves no ABC paulista nos

últimos anos, anunciou perante a imprensa o plano de fundação do partido formado pela

classe trabalhadora. Somente um ano mais tarde a idéia foi oficializada na cidade de Lins (SP)

no IX Congresso dos Metalúrgicos, Eletricitários e Mecânicos do Estado de São Paulo, por

meio de um documento elaborado por um grupo de trabalhadores, nomeado Carta de

Princípios, que firmava o compromisso do partido com as classes menos favorecidas. O

documento, lançado oficialmente nas comemorações do 1º. de Maio de 1979 nas diversas

capitais brasileiras, afirmava o seu comprometimento “com a democracia plena, exercida

diretamente pelas massas, pois não há socialismo sem democracia nem democracia sem

socialismo”.3 E defendia que “um partido que almeja uma sociedade socialista e democrática

2 É eleito presidente do SMSBCD em 1975. Comandou uma greve de metalúrgicos que paralisou as fabricas em

São Paulo, em 1979. Foi preso pelo DOPS por 31 dias em 1980. Em 1986, é eleito Deputado Federal. 3 Trechos da Carta de Princípios do PT, retirado do site do próprio partido. Disponível em:

<http://www.pt.org.br/portalpt/dados/bancoimg/c091003192854cartadeprincipios.pdf>. Acesso em: 29 de mai.

2011.

Page 21: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

tem de ser, ele próprio, democrático nas relações que se estabelecem em seu interior”.4 Desta

forma, a carta assegurava que o PT seria constituído respeitando “o direito das minorias de

expressar seus pontos de vista”.5 Objetivando uma organização política que visasse “elevar o

grau de mobilização, organização e consciência de massas”,6 buscando o seu fortalecimento e

a independência política e ideológica dos mais variados setores populares, especialmente dos

trabalhadores.7 Dessa forma, garantia que:

(...) o PT irá promover amplo debate de suas teses e propostas de forma a

que se integrem nas discussões:

• lideranças populares, mesmo que não pertençam ao partido;

• todos os militantes, trazendo, inclusive, para o interior do debate partidário

proposições de quaisquer setores organizados da sociedade e que se

considerem relevantes com base nos objetivos do PT.8

Justifica-se, portanto, que o PT já em sua fundação possuía uma estrutura diferenciada

de outros partidos, sendo o primeiro partido portador de grandes novidades para o cenário

político do Brasil com a forte atuação dos trabalhadores e a representação das grandes massas.

Como cita Margareth Elizabeth Keck:

(...) o Partido dos Trabalhadores constitui um fato novo entre as instituições

políticas brasileiras por diversas razões: primeira, porque ele se propôs a ser

um partido que expressa o direito dos trabalhadores e dos pobres na esfera

política; segunda, porque procurou ser um partido internamente democrático;

e, por fim, porque queria representar todos os seus membros e

responsabilizar-se perante eles por seus atos. Todos esses conceitos

evoluíram muito desde sua fundação, mas permaneceram elementos centrais

na identidade do partido e são justamente o que faz dele uma inovação.9

Nesse sentido, vale destacar que a criação do PT foi marcada por suas singularidades.

Primeiro, pela sua origem que foi organizada em volta “das mobilizações do ‘novo

sindicalismo’; de parte dos movimentos urbanos [...]; de setores da intelectualidade e da

classe política de oposição envolvidos com o debate da reforma partidária; e de grupos de

4 Idem.

5 Ibidem.

6 Ibidem.

7 Ibidem.

8 Ibidem.

9 KECK , Margareth Elisabeth. PT – a lógica da diferença: o Partido dos Trabalhadores na construção da

democracia brasileira. Ed. Ática, São Paulo, 1991, p. 271.

Page 22: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

esquerda”10

– tanto na sua concepção de organização e funcionamento interno como em sua

proposta política, conforme defende Rachel Meneguello:

Sua organização e funcionamento interno são seu segundo destaque.

Escapando dos moldes impostos pelo LOPP [Lei Orgânica dos Partidos

Políticos], o PT introduz na estrutura partidária elementos para uma ligação

mais estreita com suas organizações de base, dando maior ênfase às lutas

sociais e menor importância, comparado aos outros partidos, à luta eleitoral-

parlamentar. Seu perfil é o de uma organização mais complexa, definida pela

formação deu um núcleo profissional e de uma atuação permanente, extra-

eleitoral.11

E, como terceiro destaque aponta a sua proposta política. “Com uma orientação

ideológica definida, traçada basicamente pela demanda de inserção no sistema político

brasileiro dos setores até então marginalizados”, assim o PT dá início a sua inserção trazendo

“novos temas na arena do conflito partidário traduzido nas eleições de 1982”.12

Esse período também foi marcado pelo início das grandes discussões de diversas

forças políticas em torno da ideia de fundar um partido que permitia apenas a entrada de

trabalhadores, o que diminuía as possibilidades de formação de alianças políticas. Em torno

dessas discussões se encontrava o grupo sindicalista, políticos e intelectuais, entre eles Lula,

Almino Afonso13

e Fernando Henrique Cardoso. Ainda que essas conversas tivessem sido

embasadas por objetivos que atingissem o âmbito nacional, existiam variáveis que permitiram

a evolução das propostas petistas no Estado de São Paulo. Contudo, abriram espaço para

novas discussões internas no MDB sobre a criação de outros partidos, o que resultou na

criação do PMDB, e também pelas organizações de grêmios para atender às necessidades

locais de cada demanda política. Nessas conversam também participavam articuladores como

Fernando Henrique Cardoso e José Serra, que uma década depois fundaram o PSDB.

Nas eleições de 1986, Lula é eleito deputado federal pelo Estado de São Paulo pela

primeira vez, sendo o candidato mais bem votado pela Câmara Federal, e dando início à

concretização de suas aspirações político partidárias.

Em 1988, período pós-redemocratização, o PT dá uma virada no quadro eleitoral da

disputa à prefeitura da cidade de São Paulo, maior colégio eleitoral do País, e elege a primeira

10

MENEGUELLO, Rachel. PT: a formação de um partido (1979-1982). Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1989,

p. 40. 11

Idem. 12

Ibidem. 13

Ex-ministro do Trabalho no governo de João Goulart, cassado pela Ditadura Militar, passou doze anos exilado.

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prefeita da capital, Luiza Erundina, nordestina da cidade de Uiraúna (PB). Até às vésperas da

eleição, seu principal adversário, Paulo Salim Maluf (PDS), liderou as pesquisas eleitorais,

chegando a ter mais de 40% da intenção de votos. O crescimento de Maluf era apontado como

resultado do esforço das forças conservadoras que tinham como opção João Leiva (PMDB) e

José Serra (PSDB), e que depositavam confiança maior no ex-governador de São Paulo.

Pesquisa estimulada feita pelo Instituto Datafolha um mês antes das eleições sobre a

expectativa de vitória para prefeito da cidade de São Paulo apontava Maluf como favorito. Ele

estava à frente, com 44,9%; João Leiva (PMDB) em segundo, com 33,0%; e José Serra

(PSDB) em terceiro, com 1,4%, mesma parcela de Luiza Erundina, que aparecia em quarto.

Ou seja, Erundina estava bem distante de conquistar a prefeitura e, na opinião dos eleitores,

não teria chances de vitória.

Contudo, existia uma variável importante: 18,01% dos eleitores não sabiam em quem

votar. Se grande parte dessa parcela decidisse votar em Erundina, mesmo assim a vitória não

estaria garantida, conforme demonstra o gráfico da pesquisa realizada um mês antes do pleito

sobre a expectativa de vitória.

Gráfico 1 – Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha14

14

Datafolha Instituto de Pesquisas. In: Tendências. Opinião pública, vol. VI, no. 2, Campinas, outubro de 2000.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-62762000000200006>. Acesso

em: 28 de mai. 2011.

Page 24: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Apesar do crescimento contínuo de Maluf durante a campanha vir das forças

conservadoras, a pesquisa pós-eleitoral feita pelo Instituto Datafolha apontou Erundina, entre

os principais concorrentes, o candidato que obteve mais vantagem revertida em mudanças

eleitorais das últimas horas e dos últimos dias.

Os dados também mostram que as intenções de voto na então candidata Luiza

Erundina advieram dos eleitores que depositaram mais confiança, ou seja, aqueles que de

alguma forma se identificaram com partidos de esquerda ou ao centro, enquanto Paulo Maluf

teve o apoio de um eleitorado mais flexível. Conclui-se que o eleitorado que votou em

Erundina e em Maluf eram bem diferentes, e essa distinção, nas variadas categorias

comparadas no final das eleições, destaca os contrastes do perfil do eleitorado paulistano.

A eleição foi um marco na história de São Paulo tanto pela virada de última hora, com

o favorecimento de Luiza Erundina, quanto pela surpresa causada nos institutos de pesquisas,

coordenações de campanhas e nos próprios eleitores. Foi também a primeira vez que a capital

do maior Estado do Brasil, cujo eleitorado era considerado politicamente conservador , elegeu

a primeira mulher, além de tudo nordestina e petista.

O gráfico a seguir, de pesquisa do Instituto IBOPE, aponta a surpresa da vitória da

Luiza Erundina:

Gráfico 2 – Pesquisa feita pelo Instituto IBOPE pós-eleição15

15

Disponível em: <Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-

62762000000200006>. Acesso em: 28 de mai. 2011.

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1.3 Assembléia Nacional Constituinte e o surgimento do PSDB

A edição do Plano Cruzado em abril de 1986 por José Sarney colocou em vigor o

seguro-desemprego, além de medidas de estabilização de uma nova moeda, que viria

substituir o cruzeiro, e que incluía ainda o aumento do salário mínimo e o congelamento dos

preços de todos os produtos e serviços. Porém, já em novembro daquele ano, é anunciado o

aumento de 60% nos preços dos combustíveis, o que dá início à derrocada do Plano Cruzado.

Em 21 de novembro o governo comunica, por intermédio dos ministros Dílson Funaro e João

Sayad,16

da Fazenda e do Planejamento, respectivamente, o Plano Cruzado II. O Brasil se via

num momento em que o aumento dos preços de telefone, energia, cigarro e bebida somava até

120% desde o fim do primeiro Plano Cruzado. A medida se mostrou impopular, pois a

população saiu às ruas em Brasília para se manifestar contrariamente ao Plano Cruzado II.

No meio desse clamor, pouco antes, em 3 setembro de 1986, Sarney criara uma

Comissão Provisória de Estudos Constitucionais, também conhecida como Comissão

Composta, pois reunia cinquenta membros entre políticos, juristas e intelectuais, presidida

pelo jurista Afonso Arinos, com o objetivo de redigir um anteprojeto de Constituição.

A Assembléia Nacional Constituinte é instalada pelo Supremo Tribunal Federal (STF)

em fevereiro de 1987, tendo no seu comando José Carlos Moreira Alves. No mês seguinte o

PMDB assume a direção do processo constituinte com Ulysses Guimarães17

à frente.

Tinha início o processo de encerramento do ciclo imposto pelos militares, enfim com a

remoção do chamado “entulho autoritário”, legislação editada pelo antigo regime, e com o

restabelecimento dos direitos fundamentais dos brasileiros. A Constituição de 1988 pôs fim à

tortura e às ações armadas contra aqueles que se opusessem ao estado democrático,

qualificando esses atos como crimes inafiançáveis. Dessa maneira, a Constituição conseguiu

instalar a ordem, bloqueando golpes de qualquer espécie. Com a nova ordem constitucional o

direito democrático do cidadão foi restabelecido para que fossem viabilizadas eleições diretas

para a Presidência da República, Governador de Estado e do Distrito Federal, Senador,

Deputado Federal, Estadual e Distrital, Prefeito e Vereador.

Em meio aos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, o PMDB transforma-se

numa frente ampla, com políticos influentes da cena política nacional. Em diversos estados

havia parlamentares que se denominavam como participantes da ala mais progressista do

16

Os Ministros Dilson Funaro (Fazenda) e João Sayad (Planejamento) que implementaram o Plano Cruzado e

Plano Cruzado II. 17

Ulysses Guimarães acumula o cargo com as presidências do PMDB, da Câmara e da Constituinte.

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PMDB e que eram a favor do parlamentarismo e do mandato de quatro anos para presidente

da República (a eleição indireta de Sarney previa um mandato de cinco anos). Entre eles

estavam Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, Mário Covas, José Serra, Geraldo

Alckmin, de São Paulo; Aécio Neves, de Minas Gerais; Euclides Scalco e José Richa, do

Paraná; Egídio Ferreira Lima e Cristina Tavares, de Pernambuco; Moema Santiago e Ciro

Gomes, do Ceará, entre outros. Essa ala divergia também dos caminhos políticos que o

PMDB estava percorrendo a partir da promulgação da nova Constituição. Essa divisão da

opinião coletiva do partido fez surgir um importante grupo de trabalho que transformou a voz

destoante em dissidência. A partir desse grupo surge o Partido da Social Democracia

Brasileira (PSDB). Estudos sobre a origem desse partido revelam que três fatores

fundamentais motivaram a formação do PSDB:

O primeiro seria relativo às distensões internas na bancada parlamentar do

PMDB durante os trabalhos na Assembléia Nacional Constituinte entre 1987

e 1988, principalmente nas questões sobre sistema de governo –

presidencialismo versus parlamentarismo – e da duração do mandato do

presidente José Sarney – quatro ou cinco anos (Kinzo, 1993). O segundo

fator seria o predomínio do grupo quercista em São Paulo que disputava

posições de poder no interior do PMDB. Orestes Quércia, que controlava a

organização peemedebista, venceu esses políticos influentes, deixando-os

sem espaço de atuação no interior do partido (Melhen, 1998). Já o terceiro

seria a apresentação da candidatura de João Leiva para a prefeitura de São

Paulo, articulada no interior do PMDB paulista a partir de uma aliança entre

políticos conservadores do PFL e o prefeito de São Paulo, Jânio Quadros.18

Aliás, segundo Lamounier, acredita-se que foi a composição dessa candidatura, o

principal fator que motivou a interrupção do relacionamento entre os fundadores do PSDB

com o PMDB.19

Além desses três elementos, Celso Roma, no artigo A institucionalização do

PSDB entre 1988 e 1999, publicado na Revista Brasileira em Ciências Sociais, acredita que

existem outros três agentes causadores da dissidência que ainda não foram estudados com

maior profundidade. Para ele, não foi considerado que o governo de José Sarney limitou o

acesso dos fundadores do PSDB à atuação política. Já o segundo, seria o afastamento destes

políticos do pleito decisório, impossibilitando assim a continuação deles no processo de

18

ROMA, Celso. A institucionalização do PSDB ente 1988 e 1999. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.

XVII, no. 49, São Paulo, junho de 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-

69092002000200006&script=sci_arttext>. Acesso em: 06 de jun. 2011. 19

LAMOUNIER, Bolívar. (1989), Partidos e utopias: o Brasil no limiar dos anos 90 apud ROMA, Celso. A

institucionalização do PSDB ente 1988 e 1999. Op. Cit.

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escolha da candidatura para a sucessão da Presidência da República. O terceiro elemento seria

a junção desses dois fatores, que, combinados, supriram as necessidades existentes entre a

articulação de políticos e eleitores do Centrão – frente parlamentar que aprovou a maior parte

das emendas discutidas durante a Constituinte –, que estavam aborrecidos com a dificuldade

de relacionamento com o governo nacional e a carência de espaço de poder. A partir daí, tais

fatores propiciaram uma abertura para a base social-democrata se organizar, defendendo o

desenvolvimento do país e uma maior justiça social.

O PSDB começou a ganhar força política em 1989, dando início à conquista de

prefeituras e governos estaduais após o lançamento da candidatura de Mário Covas (SP) para

presidente da República. Este acabou em quarto lugar, sendo superado por Fernando Collor de

Mello (PRN) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que polarizaram a disputa, e por Leonel de

Moura Brizola (PDT). Embora não tenha obtido vitória eleitoral, o partido começa a avançar

no processo político. Um indicativo que o partido estaria disposto a criar bases sociais foi a

decisão pelo apoio político à candidatura de Lula no segundo turno, contra Collor.

A conquista do espaço no poder político se dá em 1994, apenas seis anos após a sua

fundação, com a eleição de Fernando Henrique Cardoso para a presidência da República. Esse

êxito foi possível em razão do apoio das alas de centro-direita, estabelecido através de uma

aliança que tinha como escopo alcançar a cadeira de presidente do Brasil. E, ainda continuou

garantindo conquistas importantes para o partido com a aprovação da reeleição, que até então

não existia no Brasil. Através desse artifício, conseguido por meio de uma Emenda

Constitucional, foi possível assegurar o segundo mandato de Fernando Henrique, garantindo

ao PSDB a continuidade no poder por mais quatro anos. Dessa forma, revela-se certa

incoerência de discurso, pois durante a fundação do partido, anos antes, um dos pontos de

discordância com o PMDB havia sido justamente o prolongamento do mandato para

presidente.

[...] a origem do PSDB pode ser explicada com maior consistência por sua

orientação mais pragmático-eleitoral do que ideológica. Tratou-se da cisão

de um grupo de deputados federais e senadores que acreditavam somente ter

possibilidade de conquistar cargos no governo federal, principalmente a

presidência da República, aproveitando-se do capital político acumulado

pelo e no PMDB, mas por meio de outro partido. Nesse contexto, as

lideranças peessedebistas apresentaram-se, na sua origem, com um discurso

de centro-esquerda, diferenciando-se do governo José Sarney, do qual

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estavam excluídos, e da sua base de sustentação formada por parlamentares

de centro-direita, filiados ao PMDB e PFL.20

Nesse sentido, conclui-se que a fundação do PSDB, diferentemente da composição

inicial do PT – que veio de origem de articuladores da massa trabalhadora e dos sindicatos –

nasceu com força peculiar, a do Congresso Nacional, a partir da decisão de parlamentares

(deputados e senadores). Portanto, o partido foi criado de cima para baixo, ou seja, sem

nenhuma base popular, a não ser a eleitoral.

1.4 São Paulo e o quercismo

Orestes Quércia nasceu em Pedregulho, interior de São Paulo, cidade próxima a

Campinas, onde iniciou sua carreira política. Lá, se elegeu vereador em 1962 pelo Partido

Libertador (PL). Quando o bipartidarismo foi instalado pelo regime militar, alinhou-se com o

MDB. Foi deputado estadual por Campinas e, dois anos depois, se elegeu prefeito da cidade.

Em 1974 derrotou Carvalho Pinto (Arena) na disputa para o Senado, vencendo o favoritismo

do candidato governista, que tentava a reeleição.

Nessa eleição, o Estado de São Paulo passou a ter dois senadores oposicionistas. Além

de Montoro, considerado um político com muita expertise e muito respeitado, e que tinha um

número significativo de adesistas, entre eles Samir Achôa e Roberto Cardoso Alves, que

reuniam parlamentares, vereadores e prefeitos de uma tendência mais conservadora, Quércia

era acompanhado pela esquerda e pela Juventude do MDB. Na época era considerado muito

jovem, pois tinha 36 anos quando a idade mínima para ser candidato era de 35 anos. Por isso

acabou cercado pelo grupo jovem do partido.

Sua trajetória alcança novo ponto alto em 1982 quando concorre na primeira eleição a

governador em vinte anos, processo bloqueado pela ditadura. Quércia retorna já no PMDB,

após a volta do pluripartidarismo. Depois de muita resistência, decide ser candidato a vice-

governador na chapa de Franco Montoro, após aliança feita em último momento. Houve um

consenso de que ambos não venceriam sozinhos. A chapa do PMDB se elegeu; porém uma

inconsistência logo surgiu e a imagem de unidade, apresentada durante a campanha, foi se

quebrando com uma maior evidência da dicotomia dentro do partido: “quercistas” e

“montoristas” disputavam espaço e o comando do Diretório Estadual desde o extinto MDB,

contenda que persistiu dentro do PMDB.

20

ROMA, Celso. Op. Cit.

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Quércia criou e liderou a Frente Municipalista no Brasil, movimento que conquistou

vitória importante no processo de elaboração da Constituição de 1988, que deu aos

municípios direitos iguais dentro dos estados. Conseguiu também a elevação da participação

dos municípios no bolo da arrecadação tributária nacional, garantindo maior agilidade nas

transferências de recursos entre as duas esferas de poder. Sua capacidade de mobilizar e

representar estabeleceu uma nova maneira de relacionamento entre municípios, Estados e

União. Com essas importantes vitórias conquistou o apoio dos prefeitos do interior do Estado

de São Paulo. Com sua habilidade e experiência ganhou força na política interiorana e passou

a usar seu poder e influência para aprofundar a mobilização para futuras conquistas.

Em São Paulo, Quércia manteve a hegemonia em 1986, quando se elegeu governador

do Estado, substituindo Franco Montoro. Cumpriu seu mandato até o fim, e com bons índices

de aprovação de governo pela população do Estado de São Paulo, conseguiu eleger o seu

sucessor, um desconhecido da população paulista, Luiz Antonio Fleury, ex-secretário de

Segurança Pública do governo Quércia.

O novo governador, porém, se tornou conhecido por deixar de cumprir bem o

mandato, concluindo seu mandato com uma alta dívida pública e com obras inacabadas. Seu

governo foi marcado principalmente pelo massacre de 111 presos durante uma rebelião no

presídio do Carandiru. Com o mau desempenho político, não conseguiu fazer seu sucessor,

abrindo um hiato político que, a partir dali, seria ocupado pelo PSDB, a partir da vitória de

Mário Covas nas eleições de 1994.

1.5 Ascensão do PSDB e do PT

O PSDB consegue se valer da boa reputação de Covas à frente do governo de São

Paulo, afinal ele lutou contra a ditadura, tornou-se presidente do MDB, depois virou líder da

bancada do PMDB no Senado durante a Assembléia Constituinte, e em 1989 foi escolhido

presidente nacional do PSDB. A forma de organização e de funcionamento do PSDB, baseada

na integração e na reunião de duas linhas de estrutura e ação, estabelece estratégias

fundamentais de aliança que propiciam maior eficiência, seja na maneira de conduzir

estrategicamente as eleições, seja no modelo de governar. Porém, um fato que chama muito a

atenção é uma nova mudança de direcionamento de alianças eleitorais: é que as candidaturas

para presidente e para governador aconteciam isoladamente de outros partidos.

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Somente a partir da chegada de Fernando Henrique Cardoso à presidência em 1994 é

que são formadas alianças de potência com diversos partidos, mas, principalmente, com os

chamados partidos de direita. O forte apoio de FHC resulta na capacitação de recursos para

atrair um maior número de políticos interessados na coalizão com o PSDB. Com essas

medidas se nota um aumento considerável na bancada do partido, e sua representação política

se torna relevante. No período de 1993 a 1996 a quantidade de políticos eleitos pelo partido

cresceu substancialmente. As bancadas das Câmaras Municipais do país triplicaram e dobrou

o número de prefeitos filiados ao partido e de governadores eleitos em 1994.

Houve um crescimento significativo do PSDB após os dois mandatos de Fernando

Henrique Cardoso à frente da presidência da República. Atualmente, é a principal força de

oposição ao governo do PT:

Existem evidências que confirmam a hipótese de que crescimento eleitoral

do PSDB está associado à consumação de coligações com partidos de

centro-direita. Dada a preferência dos eleitores brasileiros, o partido teria

crescido eleitoralmente ao se adequar à distribuição dos eleitores. O número

de eleitores à direta é maior que à esquerda e estes são mais facilmente

conquistados que os da esquerda. Assim, quando mais à direita estiverem

seus aliados, maior seria o número de votos alcançados pelo partido. Como o

PSDB está localizado no centro de espectro político, seus candidatos

estariam em condições de estabelecer coligações com partidos de diferentes

matizes ideológicos. Sobre uma análise mais detalhada da política de

alianças e o desempenho eleitoral do PSDB (...).21

A prova dessa evolução são as vitórias sucessivas do partido em importantes estados,

com grandes colégios eleitorais. Como o Paraná, em que Beto Richa foi eleito (2004) e

reeleito (2008) prefeito de Curitiba, renunciou ao mandato no início de 2010 para se

candidatar a governador, sendo eleito no primeiro turno. Também em Minas Gerais, com as

vitórias de Eduardo Azeredo (1994) para o governo estadual, o PSDB ficou apenas um

mandato afastado do poder, cedendo a vaga ao PMDB (Itamar Franco). Em seguida voltou

com mais força, elegendo Aécio Neves para governador em 2002, reeleito em 2006, e

conseguindo eleger seu sucessor em 2010, Antonio Augusto Anastasia. E no Rio Grande do

Sul, onde elege uma mulher ao governo, Yeda Rorato Crusius (2006).

Enquanto que, no Estado de São Paulo, sua força se consolidava ainda mais com a

eleição de Mário Covas (1994), reeleito em 1998, sendo substituído, em 2001, pelo então

21

Idem.

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vice-governador Geraldo Alckmin, após a sua morte. Alckmin permaneceu no governo com a

vitória nas eleições de 2002, sendo sucedido por José Serra na disputa eleitoral de 2006. Este

vencera no primeiro turno contra Mercadante (PT) – até então nenhum candidato a

governador de São Paulo havia vencido no primeiro turno – tendo renunciado ao cargo de

prefeito por São Paulo, eleito em 2004. Alckmin volta a ser eleito governador em 2010 contra

Mercadante, repetindo o feito de Serra em 2006 de se eleger num só turno. Assim, o PSDB

permanece no poder do Estado de São Paulo por 17 anos, podendo completar 20 anos caso

não aconteça nenhuma surpresa que interrompa o atual governo.

Por sua vez, o Partido dos Trabalhadores, apesar de ter sua primeira conquista eleitoral

em 1982, com a eleição de Gilson Menezes para a Prefeitura de Diadema no Estado de São

Paulo, só veio adquirir força indicativa de crescimento em todo o País, com o êxito na eleição

de Erundina em 1988. Os efeitos desse pleito foram estimulantes para o PT porque o partido

conseguiu eleger 1.007 vereadores e 38 prefeitos em todo o País – em 1982, tinha conquistado

apenas duas prefeituras e 179 vereanças –, entre elas, três de importantes capitais: São Paulo,

Porto Alegre e Vitória. Foi quando conduziu Luiza Erundina à Prefeitura de São Paulo com o

forte apoio de grandes movimentos de massa e de somente uma parte do PT (esquerda

petista), por causa de uma dicotomia interna ocorrida durante as prévias disputadas com

Plínio de Arruda Sampaio. Apesar disso, Erundina fez uma boa gestão. Isso apesar de análises

pessimistas, como a de Joaquim Leonel de Rezende Alvim22

(1991), que em sua dissertação

de mestrado em Ciências Jurídicas pela PUC/RJ afirma que o governo da prefeita, ex-

assistente social e com sólidas raízes políticas nos movimentos sociais, obteve um mau êxito

na experiência de envolver a população na administração pública. Contudo, há visões mais

otimistas que afirmam que as vitórias do PT em 1988 e os governos à frente das prefeituras,

tanto de São Paulo como de Porto Alegre (RS), com Olívio Dutra, foram fatores essenciais

para a inovação na composição de forças no modo de organização da política brasileira. Como

defende Meneguello, essas vitórias indicam “o reconhecimento do partido por amplos setores

sociais como força política e a sua [do PT] consolidação como ator relevante da esfera de

competição pelo poder”.23

E de Paulo Roberto Figueira Leal24

, que defende de maneira

22

ALVIM, Joaquim Leonel de Rezende. O projeto de participação popular da administração municipal de São

Paulo sob a gestão do PT (1989-1990): uma tentativa de mudança na representação política. Dissertação

(Mestrado) em Ciências Jurídicas - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1991, p.

147-148. Acesso em: 7 de jul. 2011. 23

MENEGUELLO, Rachel, Op. Cit., p. 197.

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consistente que os primeiros sinais de elevação petista se dão em São Paulo, enquanto sua

consolidação se dá no Rio Grande do Sul, com a implementação daquilo que se tornaria a

grande marca de governo: “Capaz de conciliar sucesso administrativo com ampliação de

participação popular: orçamento participativo”.25

A relevância desse marco aponta, sem dúvida, às consecutivas vitórias do PT em Porto

Alegre, com Olívio Dutra (1988), depois elegendo seus sucessores Tarso Fernando Herz

Genro (1992), Raul Pont (1996) e, Tarso novamente em 2000 e, anos mais tarde, elegendo os

ex-prefeitos de Porto Alegre a governador do Estado (Olívio Dutra, em 2002), e Tarso Genro

nas últimas eleições (2010). Desta forma, o PT deixou definitivamente a oposição e o

isolamento, que de certo modo havia se auto-imposto. Ampliando sua proposta, iniciada em

1982, de governo popular, trazia uma novidade, pois desta vez alcançou o objetivo de difundir

e direcionar o anseio de inovação política de uma grande parte da população.

As vitórias de 1989 foram cruciais para a consolidação do PT, pois ele já havia

participado de importantes disputas eleitorais e da elaboração da nova constituição do Brasil

(1987-1988). Progredindo nas urnas desde 1986, o período teve uma importância especial

para o PT, que se mostrou, a partir dos grupos de trabalho partidário – agremiações – mais

coeso quanto ao perfil ideológico, apoiando de maneira mais sólida os temas discutidos.26

Com esse processo, construiu ideologicamente aqueles que seriam eleitos seus representantes,

essenciais ao PT, na Assembléia Nacional Constituinte.

Vencer as eleições municipais, com um número significativo de prefeitos e de

vereadores em 1988 foi crucial para a campanha presidencial do ano seguinte (1989). E,

principalmente, alertou para a inserção do PT de forma mais estruturada e efetiva nos meios

institucionais. Porque até então só se conhecia poucas experiências petistas em gestão, e por

sinal conflituosas, como aconteceu em Diadema em 1982. Nesse sentido o PT se via

incumbido de repensar a elaboração de planos de governos que atendessem às exigências da

lógica democrática.

Lula entrou na disputa das eleições presidenciais de 1989 como favorito, pois tinha o

respaldo da eleição de Luiza Erundina à Prefeitura de São Paulo no ano anterior (1988).

Mesmo perdendo para Collor, o PT sai fortalecido do pleito presidencial. Além do

24

LEAL, Paulo Roberto Figueira. O PT e o dilema da representação política: Os deputados federais são

representantes de quem? Ed. FGV, Rio de Janeiro, 2005, p. 45-46. 25

Idem. 26

MENEGUELLO, Rachel, Op. Cit., p. 201.

Page 33: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

aprendizado político ganho com a disputa, Lula e o PT elegem em São Paulo o senador

Eduardo Suplicy, que se reelege nas eleições seguintes, mantendo-se no cargo até os dias

atuais. Suplicy defende a implementação de um programa chamado Renda Básica de

Cidadania, que teria entre os seus princípios básicos a transferência de renda, ou seja, garantir

a todos os cidadãos brasileiros o direito de ter uma renda de maneira igualitária e

incondicional para suprir suas necessidades básicas. A proposta, mais tarde, foi aprovada e

instituída como Renda Mínima.

Nos anos seguintes, quando então a sociedade se mobiliza pelo impeachment de

Collor, mais uma vez o PT sai à frente, organizando sindicatos e estudantes, estes sintetizados

no movimento dos “caras-pintadas”. Lula, como presidente do PT, articula o processo de

impeachment no Congresso, reunindo toda a oposição, movimento que rendeu a abertura do

processo e a consequente renúncia de Collor em 29 de dezembro de 1992.

Em São Paulo, o partido deu continuidade com inovação à sua política com a vitória

de Marta Suplicy à Prefeitura em 2000 – venceu no segundo turno com 58,51% dos votos

válidos, deixando para trás Paulo Maluf, candidato do Partido Progressista Brasileiro (PPB). 27

A vitória e a gestão de Marta Suplicy (2001 a 2004) vêm inegavelmente ao encontro

dessas variáveis que contribuíram para a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições

presidenciais de 2002. Sua gestão também fora marcada pela abertura e pelo impulso das

políticas públicas, abrindo espaço para as políticas de inclusão social, entre elas a

descentralização do poder com a criação das subprefeituras, a proposta de inclusão digital por

meio dos Telecentros, e por ampliar a participação da sociedade civil no governo, com o

Plano Diretor28

, o Programa de Renda Mínima e o Orçamento Participativo (OP).29

O último foi extinto por seu sucessor José Serra (PSDB), em 2005, assim que assumiu

a prefeitura.30

É possível analisar que essa progressão de inclusão social nas experiências das

gestões do PT em Porto Alegre (RS) e nas duas gestões em São Paulo é um processo de

aprendizado, organização e incorporação dessas novas políticas – expandido para grandes

27

Posteriormente mudou o nome para Partido Progressista (PP). 28

O Plano Diretor vigente, em São Paulo, foi aprovado pela Lei nº 13.430, de 13 de setembro de 2002, fixa as

diretrizes gerais da política de desenvolvimento e de expansão urbana, determina a obrigatoriedade de

implementação para os municípios com mais de 20 mil habitantes. 29

O Orçamento Participativo (OP) é um mecanismo alternativo de democracia participativa de tratamento dos

recursos públicos, que permite inserir os cidadãos no poder de decidir ou influenciar sobre os orçamentos

públicos municipais. 30

DIAS, João Marcus Pires. O orçamento participativo na cidade de São Paulo: confrontos e enfrentamentos no

circuito do poder. Dissertação (Mestrado) em Ciências Sociais – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

São Paulo, 2006, p. 49.

Page 34: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

cidades governadas pelo PT como Guarulhos, segunda maior cidade do Estado de São Paulo,

então governada por Elói Pietá, eleito em 2001 e reeleito em 2004, sendo sucedido pelo atual

prefeito Sebastião Almeida (PT), eleito em 2008.

É incontestável que tais políticas do PT, iniciadas em 1988, estabelecem pela primeira

vez um novo cenário:

[...] ao propor um novo formato de governo local, com ênfase nos laços entre

prefeitura, partido e bases sociais, parece configurar-se como o centro de sua

estratégia de consolidação organizacional ampla popular, ocupando o espaço

de um abrangente partido de massas, tal como eram os objetivos iniciais de

seus fundadores.31

Essa consolidação política foi o fator essencial para o sucesso da eleição de 2002, que

elegeu Luiz Inácio Lula da Silva o primeiro presidente sindicalista do Brasil, vindo da classe

menos abastada. Além disso, deu rumos melhores para o desenvolvimento do ambicioso

programa de transformações sociais e políticas do partido. Aliás, sendo um dos grandes

fatores de sucesso do governo Lula, e culminando com o programa para a redução da fome,

antes chamado de Programa Fome Zero, e hoje, com o Bolsa-Família. Com isso, Lula

consegue apoio popular e se reelege em 2006, além de ser um dos responsáveis pela vitória da

sua sucessora Dilma Rousseff em 2010.

Portanto, em linhas gerais, é perceptível a ascensão do PT a partir das eleições

municipais de 1988, de modo que seu crescimento eleitoral se dá principalmente quando ele

assume um novo modelo de política, fundamentalmente aceitando a formação de parcerias, ou

seja, coligações.

Em resumo, vimos neste capítulo que a consolidação dessas duas forças partidárias –

PT e PSDB – concentra a construção do processo democrático pós-ditadura, que se dá nos

últimos trinta anos. O quadro político que ambas desenham engloba tanto a base eleitoral das

classes menos favorecidas quanto o pensamento liberal e republicano das classes médias e

altas. Com isso, as forças conservadoras que deram apoio ao período militar perdem impulso,

sendo substituídas pelo projeto modernizador e pela vontade de renovação por parte do

eleitorado. Mas o que será analisado aqui é a forma como o embate entre essas duas forças se

dá no quadro político atual. E, em especial, no Estado de São Paulo. Antes, porém, vamos

acompanhar a evolução do marketing político no quadro eleitoral brasileiro.

31

Idem, p. 197.

Page 35: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Capítulo 2

A revolução do marketing político e da propaganda eleitoral

Embora possa parecer que o marketing político e eleitoral tenha surgido recentemente

no Brasil, estudos como o de Adolpho Queiroz e Débora Cristina Tavares no artigo A

propaganda política no Brasil republicano32

revelam que, desde o início da Primeira

República já se utilizavam muitas ferramentas estratégicas de ações político-eleitorais, pelo

menos, nas campanhas para Presidente. Um dos mais antigos registros do uso de estratégias

eleitorais no Brasil é de 1894, quando Prudente de Morais,33

que seria eleito o primeiro

presidente civil da República, lançou mão dos meios de comunicação para dificultar as

manobras políticas dos adversários e para se aproximar do povo. Os meios disponíveis na

época eram o jornal e o telégrafo, além de materiais impressos que permitiam um contato

direto com seus possíveis eleitores (cartão de felicitações). Morais elaborou até uma lista para

a distribuição de materiais a seus possíveis eleitores, além de usar um slogan com três

palavras de ordem que davam o mote da sua campanha: “Constituição, Educação e

Estabilidade”. Sua estratégia política foi planejada começando pelo discurso, procurando a

linguagem mais apropriada para os eleitores daquela época.34

Além de Prudente de Morais, os

presidentes que vieram depois, entre eles Campos Salles35

e Getúlio Vargas,36

que também

tiveram o mesmo tipo de preocupação de cuidar de sua imagem pública para conquistar o

interesse e a simpatia do povo. Cada um deu particular importância à opinião pública e

atentou para a comunicação e para a estratégia de suas campanhas de acordo com as

ferramentas que a época lhes permitia.

Vargas imprimiu sua marca na propaganda política não só por promover o controle

dos meios durante o Estado Novo, quando criou o famigerado Departamento de Imprensa e

Propaganda (DIP) como tornou o rádio o meio para popularizar sua plataforma política. No

mesmo sentido, durante a Segunda Guerra Mundial, Adolf Hitler e Joseph Goebbels

utilizaram largamente o rádio para persuadir o povo com suas propostas nazistas.

32

QUEIROZ, Adolpho (Org.). No espaço cênico da propaganda política: mídia, comunicação e marketing

político nas campanhas presidenciais brasileiras. Ed. Papel Brasil, Taubaté, 2011, p.312. 33

Primeiro Presidente do Brasil, eleito em 1894, por eleições diretas e pelo voto popular. 34

QUEIROZ, Adolpho (Org.). Op. Cit. 35

Presidente eleito em 1898. 36

Presidente eleito, em 1930, por via indireta, por Assembleia Nacional Constituinte.

Page 36: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Um dos cases mais citados de uso do rádio na comunicação política é a campanha de

Jânio Quadros à presidência da República em 1960. Mesmo permanecendo por um período

curto de tempo no poder – renunciaria após sete meses da posse –, ele usou a comunicação no

rádio para proliferar sua popularidade, recorrendo a estratégias de fixação de sua proposta. A

vassoura foi a marca de sua campanha – utilizada como símbolo de limpeza na política –,

sendo explorada nas diversas mídias, tanto impressa, como eletrônica, tornando-se popular,

principalmente, pela utilização do jingle Varre, varre vassourinha, em ritmo de marchinha

carnavalesca, gênero popular no rádio.37

Vera Chaia constatou por meio da análise do

percurso político de Jânio Quadros de 1941 a 1990 que suas estratégias de autovalorização,

sem sombra de dúvidas, é um modelo de marketing político.38

Enfim, o marketing político, em seu formato moderno, surge em 1952, nos Estados

Unidos, na ocasião em que “pela primeira vez, os republicanos contrataram a agência BBDO

(Batten, Barton, Durstin, e Osborne) para fazer a campanha do general Eisenhower”.39

Acredita-se que, no Brasil, a necessidade de consultoria em marketing político

profissional está aliada à emergência de novos dispositivos de criação e inovação na

comunicação ora utilizados de maneira inexperiente no decorrer da cena política desde 1894

até início dos anos 1980. Segundo Wilson Gomes, a profissionalização das consultorias de

campanhas ou da comunicação política entra em cena “provavelmente” quando

(...) a esfera da política reconhece que os partidos políticos não podem

atender completamente às suas necessidades eleitorais e de administração de

imagem. A rigor, as campanhas, mas também o jogo político regular,

demandam habilitações e serviços técnicos especializados voltados para

comunicação com público que os partidos e os seus filiados não estão em

condições de prover.40

37

NETO, Maugeri. Considerado um dos melhores publicitários de São Paulo na década de 1950, também

compôs o hino da seleção brasileira na Copa de 1958, A taça do mundo é nossa. 38

CHAIA, Vera. A liderança política de Jânio Quadros (1947-1990) apud HECKER, Alexandre. Socialismo

sociável: história da esquerda democrática em São Paulo (1945-1965). Fundação Editora da UNESP, São Paulo,

1998. P. 151. 39

MAAREK. Philippe J. Communication et marketing de I’homme politque. Paris, Lítec, 1992 apud

FIGUEIREDO, Rubens. Marketing político e persuasão eleitoral. Fundação Konrad Adenauer, Rio de Janeiro,

2002, p. 17. 40

FARRELL, D.; KOLODNY, R; MEDVIC, S. “Parties and campaign professionals in a digital age: political

consultants in the United States and their counterparts overseas”, in Harvard International Journal of Press

Politcs, 6 (4), 2001, p. 12 apud GOMES, Wilson. Transformações da política na Era da comunicação de massa.

Paulus, Rio de Janeiro, 2004, p. 72-73.

Page 37: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Como acontece em diversos setores ou áreas quando há inovações tecnológicas, surge

a necessidade de pessoas especializadas para atender tal demanda. O mesmo ocorre no

processo da cultura e da comunicação de massa; cada área demanda uma nova técnica, uma

nova especialização. E na comunicação política não poderia ser diferente. As pessoas

envolvidas nesse sistema – políticos, filiados, simpatizantes ou voluntários do partido – não

têm habilidade para utilizar todas as ferramentas e nem precisam, necessariamente, ser

especialistas para exercerem as funções que os novos meios de comunicação exigem.

“Entende-se por profissional a pessoa que se dedica integralmente à atividade e ao seu

aperfeiçoamento técnico”.41

Ainda sob a concepção de Gomes, os profissionais do marketing político, entre muitas

competências, precisam lidar com:

Organização de equipes, levantamento de dados, pesquisa de opinião,

administração do dia-a-dia da campanha, estratégias, criação e disseminação

de mensagens, escritura de discursos, contato por telefone com eleitores,

coordenação dos voluntários, correspondência, corpo-a-corpo, criação e

manutenção de web sites, produção para a comunicação de massa.42

Do mesmo modo, precisam desenvolver mensagens diferentes para públicos

específicos, ou seja, cuidar para que os conteúdos das mensagens sejam elaborados de

maneira estruturada e adaptados à linguagem e ao local onde essas mensagens circularão.

Além disso, o profissional da comunicação política tem a expertise que os partidos por si só

não têm. Isto é, o preparo para ter o desempenho adequado para pensar a seleção dos meios de

comunicação de massa onde as mensagens e os materiais de campanha devem ser divulgados,

de modo a atingir as mais variadas mídias para que, com isso, consiga superar os adversários

eleitorais.

A primeira empresa a prestar serviço de consultoria política profissional no Brasil foi a

de Ronald A. Kuntz, nas eleições de 1982 – “primeira eleição para cargos majoritários (exceto

presidente da República)”.43

A partir da redemocratização do Brasil as técnicas se tornam

mais especializadas e o serviço de consultoria de marketing político e eleitoral é utilizado de

41

KUNTZ, Ronald A. Manual de campanha eleitoral: marketing político. Global, 7ª edição, São Paulo, 1998, p.

15. 42

Idem, p. 74. 43

BARBOSA, Ivan Santo e SAISI, Katia. E quando o assunto é política, como é que fica?. In: BARBOSA, Ivan

Santo e PEREZ, Clotilde. (Org. ). Hiperpublicidade: Fundamentos e interfaces. Thomson Learning, São Paulo,

2007, v. 1, p. 285.

Page 38: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

forma sistemática. Contudo, a atividade profissional começa a evoluir durante a década,

especialmente a partir da campanha das “Diretas Já”, que defendeu a volta das eleições diretas

para presidente da República, suspensas desde o Golpe Militar de 1964. As eleições

presidenciais, entretanto, só seriam retomadas em 1989. Por conta desse lapso de tempo sem

eleições, segundo Ivan Santo Barbosa e Katia Saisi

(...) o setor de propaganda especializada em eleições permaneceu

adormecido. Vivia-se uma ditadura, com apenas dois partidos políticos

legalizados, sendo um – a Arena (Aliança Renovadora Nacional) –

explicitamente favorável e defensor do regime vigente, e outro – o MDB

(Movimento Democrático Brasileiro) – aceito mais para legitimar do que

para exercer efetiva oposição ao sistema.44

A atividade começa a tomar rumos mais elevados em 1989, na arena da disputa entre

Fernando Collor de Mello,45

pelo Partido da Reconstrução Nacional (PRN) e Luiz Inácio Lula

da Silva (PT). O primeiro, um candidato pouco conhecido pela população brasileira, a não ser

em seu Estado (Alagoas). Com o trabalho profissional do marketing eleitoral, usando de suas

mais variadas ferramentas de comunicação – fator essencial para o desenvolvimento efetivo

de uma campanha –, conseguiu alcançar a preferência dos eleitores, conquistando a simpatia

e, principalmente o voto. O mote de sua campanha era o slogan em que se autodenominava

“caçador de marajás”, designando por marajás os altos funcionários públicos que ganhavam

gordos salários, embora fossem os seus familiares os políticos que instituíram esses marajás

no seu Estado.

Dentro dessa configuração, Figueiredo afirma:

Collor não era bem visto na elite política brasileira, não tinha estrutura

partidária (aliás, criou um partido para ser candidato), a seis meses da data

da eleição era desconhecido em termos nacionais e não tinha uma sólida

carreira política a amparar suas ambições [...]. Não obstante tudo isso, Collor

foi considerado, com razões de sobra, um fenômeno, ganhando a eleição

com uma campanha fulminante.46

44

Idem, p. 284-285. 45

Presidente eleito em 1989 pelo voto direto e afastado 1992, devido ao processo de impugnação de seu mandato

– Impeachment. Tendo renunciado antes que o processo fosse aprovado in

<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/FernandoCollor>. Acesso em: 13 de jul. 2011. 46

FIGUEIREDO, Rubens. Marketing político e persuasão eleitoral. Fundação Konrad Adenauer, Rio de Janeiro,

2002, p. 12.

Page 39: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Nesse mesmo sentindo, o candidato Paulo Maluf, candidato à prefeitura de São Paulo

em 1992 também se beneficiou de estratégias de marketing político eleitoral. Com altos

índices de rejeição desde a campanha para o governo do Estado de São Paulo (1986), recorreu

ao profissional de marketing político Duda Mendonça, que aplicou muito bem as ferramentas

de marketing eleitoral, com planejamento e estratégias para angariar votos – mudou até a

armação dos óculos usados pelo candidato para melhorar sua imagem –, conseguindo elegê-

lo.

Kuntz alerta que há uma diferenciação importante entre marketing político e

marketing eleitoral. Assim, redefine o primeiro como “marketing político-governamental”,

que pode ser colocado em prática somente a partir da consolidação e da ocupação do poder,

seja do Executivo, seja do Legislativo. Ele é desenvolvido por meio da exploração das

características positivas do trabalho e da imagem do candidato, objetivando sempre deixar a

sua “marca” para que ele seja lembrado de maneira positiva nas eleições futuras, com isso

buscando conquistar a confiabilidade e a credibilidade do eleitor. Se assim o fizer, e de

maneira efetiva, diminuirá as vantagens dos concorrentes durante o pleito. Kuntz diz ainda

que, o marketing político-governamental “é frio e calculista e visa produzir seus efeitos que

atendem objetivos a longo prazo, entre eles o maior de todos: vencer as eleições futuras e

levar o grupo dominante a permanecer no poder”.47

Isto é, o marketing político tem

participação direta na construção satisfatória e duradoura da relação entre político e eleitor.

Enquanto que o marketing eleitoral, para ele, “é o marketing da conquista, que reúne a

força e a convicção obstinada da paixão com a astúcia, o planejamento e a estratégia da

guerra, é vibrante e seria afoito se não fossem as pesquisas, dado seu objetivo a curto prazo e

imediatismo”.48

Dentro dessa configuração, Barbosa e Saisi seguem a mesma linha de

raciocínio e sinalizam a relevância dos dois para a atuação política:

Em ambos os casos, trata-se de definição estratégica, em que é preciso estar

de olho nos adversários, acompanhar o posicionamento dos concorrentes,

definir se vale ou não a pena atacá-los e, finalmente, dirigir o discurso para o

público-alvo, de modo a, num primeiro momento, tornar o candidato

conhecido do maior número de eleitores possível e, em seguida, diferenciá-

lo dos demais – obviamente, mostrá-lo como alguém melhor do que os

outros.49

47

KUNTZ, Ronald A. Marketing Político: Manual de Campanha Eleitoral, Editora Global, São Paulo, 2006,

p.19. 48

Idem. 49

BARBOSA, Ivan Santo e SAISI, Katia. Op. Cit. p. 292.

Page 40: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Segundo Celso Toshito Matsuda,50

é inegável que o marketing eleitoral, mesmo

quando o candidato não vença o pleito, contribui na construção da imagem do candidato,

reforçando a sua marca para a eleição seguinte. “(...) o candidato pode até não ganhar num

primeiro momento, mas será lembrado no segundo e o resultado é sempre positivo”.51

Nesse Mesmo sentido Mitsuru Higuchi Yanaze e Matsuda afirmam que “o marketing

eleitoral é uma etapa do marketing político partidário. Consequentemente, um bom

desempenho do marketing partidário fortalece o eleitoral, e vice-versa.”52

Contudo, eles

advertem que há diferença para elaboração do planejamento estratégico entre um e o outro

para alcançar os objetivos, seja produtos políticos oferecidos, mercados-alvo ou

posicionamento buscado.53

Porém, apesar de haver distinções entre ambos, tanto nos objetivos, quanto em

estratégias específicas, eles são interligados e seus efeitos, a longo prazo, asseguram o reforço

na contribuição de resultados satisfatórios para o partido e candidato.

Um fato que não se pode deixar de lado é que todo esse trabalho profissional deve

estar sempre aliado à pesquisa política e eleitoral. Em quaisquer trabalhos nessa área, seja de

marketing político ou de marketing eleitoral, as pesquisas de opinião são primordiais. Acerca

dessa importância, Barbosa e Saisi defendem:

O primeiro passo em toda campanha eleitoral é conhecer tudo sobre o

público-alvo: o que pensa, sente e necessita. As pesquisas podem ajudar a

identificar o que o eleitor pensa do candidato como pessoa e político, o que

acha de seus prováveis adversários, quais são suas preocupações, desejos e

expectativas em relação ao futuro.54

Constituídos nessa perspectiva e integrados no mesmo contexto, Barbosa, Saisi e

Figueiredo partilham da mesma ideia ao afirmarem a importância das pesquisas antes e

durante o processo da campanha eleitoral. Figueiredo assinala o papel da pesquisa na

construção da estratégia de campanha, aliada a outras ferramentas:

50

Prof. Dr. pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. 51

MATSUDA, Celso Toshito. In <http://www.jusbrasil.com.br/politica/5063419/celso-matsuda-aponta-erros-e-

acertos-em-uma-campanha>. Acesso em: 13 de jul. 2011. 52

YANAZE, Mitsuru Higuchi. Gestão de Marketing e Comunicação: avanços e aplicações; colaboradores Celso

Toshito Matsuda [et al.], Ed. Saraiva, 2ª ed., São Paulo, 2011, p. 690. 53

Idem. 54

BARBOSA, Ivan Santo e SAISI, Katia. Op. Cit., p. 294.

Page 41: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Interpretando as pesquisas corretamente e aproveitando os erros dos

adversários, Duda Mendonça fez um trabalho excepcional na campanha

presidencial de Lula em 2002. Assim, aliou a boa estratégia a uma política,

inclusive interferindo no discurso do Partido dos Trabalhadores (PT), como

havia feito com Maluf e Pita no passado, coisa que muitos analistas políticos

achavam impossível – inclusive eu e até o presidente Fernando Henrique

Cardoso.55

Nesse mesmo sentido, há metodologias mais complexas e integradas adaptadas ao

marketing político. Um exemplo é a Gestão de Marketing e Comunicação desenvolvida e

ajustada para a realidade brasileira por Mitsuru Higuchi Yanaze e colaboradores,56

que

apresenta uma estrutura para o desenvolvimento eficaz de monitoramento que pode ser

aplicada, além de empresas, em partidos políticos para o bom desenvolvimento do trabalho

dos profissionais de marketing político e marketing eleitoral. Por meio do Sistema de

Informação de Marketing (SIM) –, a estrutura deve ter três objetivos essenciais: a operação

rotineira: “o SIM dever ser capaz de disponibilizar informações para otimizar ou aperfeiçoar

a atividade diária normal da empresa”57

– nesse caso, do partido; a solução de problemas: “o

SIM deve estar sempre em condições de mobilizar tempestivamente, no mais breve período,

informações com as quais enfrentar a ocorrência de imprevistos”;58

alimentar o planejamento:

“o SIM tem de reunir e oferecer o máximo de informações necessárias à elaboração de planos

para a atuação da empresa, tanto para uma ação isolada quanto para a formação de uma nova

estratégia”.59

Salientamos que as pesquisas quantitativas e qualitativas são fundamentais nesse

processo de monitoramento.

A partir dessas metodologias, pode-se considerar que o marketing político e o

marketing eleitoral integrado à pesquisa, à informação e à comunicação têm contribuído para

a construção da imagem pública do candidato e influenciado de forma qualitativa, não

somente para a obtenção de voto, como também para fortalecer a imagem do político e do

partido. E, principalmente, chegar mais próximo de atender as necessidades e expectativas do

eleitorado.

55

FIGUEIREDO, Rubens (Org.). Marketing político em tempos modernos. Konrad-Adenauer-Stiftung, Rio de

janeiro, 2008, p. 13. 56

Yanaze e equipe. desenvolveram metodologias de Gestão de Marketing e Comunicação baseados em métodos

de autores conceituados como Kotler, Sandhusen e Samara/Barros; porém, com uma visão diferenciada, a de um

comunicador que buscou meios que permitem a aplicação das ferramentas de modo prático e imediato. Elas

podem ser encontradas em YANAZE, Mitsuru Higuchi. Gestão de Marketing e Comunicação: avanços e

aplicações; colaboradores Celso Toshito Matsuda [et al.], Ed. Saraiva, 2ª ed., São Paulo, 2011. 57

Idem, p. 271. 58

Ibidem. 59

Ibidem.

Page 42: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

2.1 A propaganda política e a evolução do horário eleitoral gratuito

Assim como o marketing político eleitoral, a propaganda política tem evoluído

largamente nos últimos anos, deixando para trás o amadorismo e se tornando cada vez mais

profissionalizada. As campanhas eleitorais ao longo do tempo deixaram de ser intuitivas, e,

em grande parte essa mudança se deu com a união entre pesquisa política e eleitoral. Nesse

sentido, Figueiredo sinaliza a diferença entre candidato e produto:

A propaganda – de um produto ou candidato – está no fim de um longo

processo de marketing em que a pesquisa tem papel fundamental. Quando o

produto ou candidato está posicionado incorretamente, não há propaganda

que vá funcionar. Isso por que o candidato não é propriamente um produto,

como muitos gostariam que fosse ou pensam que é. Um produto geralmente

é visto por um determinado ângulo; da praticidade, do preço, da magia etc.

Mas um candidato é como se fosse uma esfera, vista por todos pontos, a

começar pelo de sua reputação.60

A propaganda política eleitoral tem o propósito de mostrar o perfil do candidato ao

eleitor. Conforme observa Nelson Jahr Garcia, ela visa maximizar os pontos fortes do

candidato e apresenta, de forma elaborada, os trabalhos realizados em outros momentos, além

dos que fazem parte do seu projeto de governo.61

No entanto, isso não é suficiente para

persuadir e cativar o eleitorado, pois a propaganda é parte importante de um conjunto de

ferramentas e estratégias de comunicação e marketing. Explicam Barbosa e Saisi: “E isso se

dá por meio do somatório de diferentes linguagens: verbal, gestual, sonora e imagética”.62

Nesse mesmo sentido, Mariângela Haswani considera que:

Imagem é o revestimento que se dá a identidade com o objetivo de atingir

um determinado conceito. É a “roupa” com que se veste a identidade do

candidato para apresentá-lo ao eleitorado. É no trabalho de criação e

execução da imagem que se concentram os esforços da propaganda

eleitoral.63

60

FIGUEIREDO, Rubens (Org.). Op. Cit., p. 12-13. 61

GARCIA, Nelson Jahr. O que é propaganda ideológica. Brasiliense, 10ª edição, São Paulo, 1992, p. 8. 62

BARBOSA, Ivan Santo e SAISI, Katia. Op. Cit., p. 300. 63

HASWANI, Mariângela apud BARBOSA, Ivan Santo e SAISI, Katia. E quando o assunto é política, como é

que fica?. In: BARBOSA, Ivan Santo e PEREZ, Clotilde. (Org. ). Hiperpublicidade: Fundamentos e interfaces.

Thomson Learning, São Paulo, 2007, v. 1, p. 300.

Page 43: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Não obstante, durante o Regime Militar essa construção da imagem foi bloqueada pela

Lei Falcão,64

aprovada em 1976, tendo vigorado até as eleições de 1982.65

Tratava-se de um

recurso que os militares usaram para tentar frear o avanço da oposição cujo desempenho

eleitoral nos anos 1970 superaram aos da situacionista Arena. Conhecida pelo codinome “Lei

da Mordaça”, ela impunha limites severos às campanhas eleitorais e tinha o escopo de tolher

os candidatos de expor suas idéias verbalmente durante a campanha nas emissoras de

televisão e rádio. A lei permitia apenas que aparecesse a foto do candidato em formato 3x4, e

uma locução em off, que informava um breve currículo, a legenda e o número do candidato.

Também era permitido divulgar, se fosse o caso, o local e a hora do comício. Era uma

propaganda eleitoral sem atrativo algum, como era intenção da lei.

Nesse modelo limitado, a propaganda eleitoral ficava à mercê dos padrões impostos

pela lei e, por conseguinte, o marketing político possuía apenas um espaço estreito para ser

colocado em prática. Durante o tempo em que a Lei Falcão esteve em vigor aconteceram as

eleições de 1978 e 1982. Somente em 1984 a propaganda volta à arena com maior abertura

para o marketing político se expandir com a revogação da lei. Contudo, os partidos só

conquistaram o direito de acesso à propaganda eleitoral gratuita através da televisão e do

rádio com a Constituição 1988.66

Conforme explicam Barbosa e Saisi:

Nas eleições de 1996, foram permitidos o uso das gravações externas,

montagem, trucagens, a presença da plateia, convidados, atores e

personalidades, recomendando votos neste ou naquele candidato. A

novidade daquele pleito foi a inclusão de inserções de 30 segundos ao longo

da programação veiculada das 8 horas às 24 horas, todos os dias.67

A partir daí “o horário eleitoral brasileiro, fornecendo espaço de mídia gratuito para

todos os partidos e candidatos, independentemente de seu poder econômico, abre espaço para

os atores políticos”.68

Com isso, oferece-lhes “a possibilidade de apresentar sua própria versão

da campanha e da realidade política”.69

A partir daí os comerciais aumentam

64

A Lei 6.339 ficou conhecida como Lei Falcão em função do nome então ministro da justiça Armando Falcão. 65

BARBOSA, Ivan Santo e SAISI, Katia. Op. Cit., p. 303. 66

Idem, p. 304. 67

Ibidem. 68

FIGUEIREDO, Marcus; ALDÉ, Alessandra; DIAS, Heloisa e JORGE, Vladimyr L. apud FIGUEIREDO,

Rubens (org.). Op. Cit,, p.167-168. 69

ALBUQUERQUE, Afonso. A batalha pela Presidência: o horário gratuito de propaganda eleitoral na

campanha 1989. Tese (Doutorado) apresentada à Escola de Comunicação, Rio de Janeiro, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, 1996, p. 267 apud FIGUEIREDO, Rubens (org.). Op. Cit., p. 167.

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qualitativamente; acredita-se que a inserção de vinhetas de 30 segundos durante os intervalos

comerciais reforçam e apetecem o espectador a assistir a programação eleitoral com maior

duração de tempo.

O marketing político ganha espaço para introduzir ferramentas que permitem

incrementar a propaganda eleitoral de uma maneira mais natural, com o auxilio de recursos de

edição, montagem, música, junção de jingle com imagem, recursos lúdicos e bem humorados

para atrair a atenção do eleitorado e tocar sua emoção, deixando para trás a propaganda

cansativa e entediante imposta pela ditadura.

Resultado disso são os exemplos das últimas campanhas do PT para a prefeitura de

São Paulo e para a presidência da República, a começar pela de Marta de 2000 – naquela

época ainda com o sobrenome Suplicy – aproveitando-se da má avaliação da gestão de Celso

Pitta, quando a maioria da população avaliava a administração como ruim ou péssima

(75,2%), uma parte considerava regular (18,4%) e apenas uma pequena parte da população

avaliava como ótima ou boa (6,4%).70

A partir desse cenário e, aliado às propostas do PT, a

equipe de campanha de Marta construiu propostas de um governo participativo e, sobretudo,

explorando as fraquezas que os dois últimos governos (Maluf e Pitta) haviam deixado, foram

usadas as mais variadas peças impressas e eletrônicas em busca da conquista do maior

número de eleitores. Citam-se as que foram divulgadas por meio do Horário Gratuito de

Propaganda Eleitoral (HGPE), que apostaram numa campanha anticorrupção com o slogan

São Paulo vai dar a volta por cima – dando a ideia para o eleitor que, com a esquerda no

poder a gestão da Marta ia lutar pela transformação, dando prioridade à educação e

trabalhando com transparência e honestidade. Reconstruindo a cidade, recomeçando com a

ajuda do povo, colocaria São Paulo de volta no lugar. O primeiro pronunciamento da

candidata Marta no HGPE reforçava essa ideia:

Eu acredito que é possível encontrar soluções para os problemas de São Paulo,

vamos abrir um canal direto de comunicação com a população. Hoje as pessoas se

sentem completamente abandonadas. Juntos, vamos dar um jeito na nossa cidade. Eu

tenho certeza que fechando as torneiras da corrupção e trabalhando em parceria com

a população, com todos os segmentos da sociedade, nós vamos sim, nós vamos fazer

São Paulo dar a volta por cima.71

70

REIS, Andréia. A dança dos números: o impacto das pesquisas eleitorais nas estratégias de comunicação do

HGPE na eleição de 2000 em São Paulo. Dissertação (Mestrado) em Ciências Sociais e área de concentração

política, apresentada à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em março de 2003, orientada por Vera

Chaia. 71

Idem, p. 70.

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Para Chaia, Meneguello, Azevedo e Schmitt, na campanha para a prefeitura de São

Paulo de 2000, a candidata Marta Suplicy (PT) defendeu uma proposta baseada na gestão

participativa, na transparência e na ética. Para isso, propôs a divisão da cidade em

subprefeituras, os conselhos de representantes e o orçamento participativo.72

Além disso, a

propaganda eleitoral da Marta trazia o “Programa Operação Estrela” que dava início a uma

ação estruturada contra a violência da cidade atuando diretamente em suas causas. Isso se

dava em dois aspectos de curto prazo e de médio e longo prazo. O primeiro consistia em

melhorar a atuação da Guarda Metropolitana nos locais públicos de maior concentração

populacional, como praças e escolas e, na conservação e no melhoramento da iluminação. O

segundo, com novos projetos para a educação integral, e trazendo a família como agente

fundamental nessa construção. É tanto que as principais propostas de governo de Marta

viabilizavam uma educação mais qualificada com o “Programa Renda Mínima” e “Bolsa-

Trabalho”. Em sua propaganda eleitoral de 20 de setembro de 2000, seu discurso salientava a

importância da proposta educacional: “[...] para o PT, educação é prioridade, e lugar de

criança é na escola”. Posteriormente, em sua gestão (2001-2004), as promessas se

confirmaram com a implementação desses programas e dos Centros Educacionais Unificados

(CEUs).

Na campanha do Lula em 2002, depois de três tentativas consecutivas e malsucedidas

em eleições para a presidência, o marketing político, por meio do HGPE, deu sua contribuição

essencial para uma mudança não somente da imagem de Lula, mas do seu discurso. Do pleito

de 1989 – quando disputou com Collor – até as últimas eleições, Lula passou por uma

perceptível transformação. Naquele primeiro momento, ao contrário de Collor, Lula não tinha

o preparo de especialistas de marketing político como teve a partir das eleições de 2002.

Nesse pleito a estratégia de sua equipe descobriu novos caminhos que apontavam a

solução da melhoria da imagem do Lula, mostrando ele como conciliador, com vestimentas

mais adequadas que transmitiam uma nova imagem, a de um homem elegante. Esse trabalho

foi desenvolvido por uma equipe de profissionais de qualidade. A postura de Lula apresentava

uma novidade, um Lula disposto a dar seguimento à linha econômica do governo de FHC;

72

CHAIA, V.; MENEGUELLO, R.; AZEVEDO, F. e SCHMITT, R. São Paulo: embate partidário, mídia e

comportamento eleitoral. apud VEIGA, Luciana Fernandes; SOUZA, Nelson Rosário e CERVI, Emerson Urizzi.

As estratégias de retórica na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2004: PT, mandatário, versus PSDB,

desafiante. Opinião Pública, Campinas, vol. 13, nº 1, Junho, 2007, p.51-74. In

<http://www.scielo.br/pdf/op/v13n1/v13n1a02.pdf>. Acesso em: 19 de jul. 2011.

Page 46: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

manteria também os contratos assumidos com o FMI.73

Além disso, seu discurso revelava um

Lula mais flexível para negociar todos os interesses do país, evidenciando que o partido

contava com grandes especialistas para ajudá-lo a governar o Brasil. Pesquisas qualitativas

apontavam que o eleitorado tinha em Lula a imagem de alguém capaz de viabilizar os temas

sociais e de governar o país com mais força de vontade e entusiasmo.74

Duda Mendonça foi o responsável pela mudança, levando para a campanha de 2002 a

versão de um candidato mais humanizado, tornando-o eleitoralmente viável e desenvolvendo

a figura do Lulinha Paz e Amor, de bem com o eleitorado e sem disposição para confrontos

com seus opositores. Mendonça considera que aquela campanha foi feita com base em um

trabalho emocional, investindo principalmente na televisão. Um dos comerciais que mostra

bem essa ideia é o que foi inserido no final da campanha, quando a equipe detectou que Lula

precisava ampliar sua votação entre as mulheres. O vídeo começa com várias grávidas

andando juntas, vestidas de branco e sorridentes – umas acariciando a barriga, algumas com

criança ao colo – servindo de trilha sonora, o Bolero, de Ravel. Do meio para o final do vídeo

surge ao fundo a voz de Chico Buarque recitando o texto: “Você não pode escolher se seu

filho será menino ou menina, não pode escolher sua altura, nem a cor dos seus olhos, muitos

menos o que ele vai ser quando crescer, mas uma coisa você pode escolher, que tipo de país

você quer pra ele. Se você não muda, o Brasil também não muda”. Ao término dessa

mensagem uma criança, no colo da mãe, levanta a estrela do PT.

Mendonça considera a televisão como “(...) o mais rico e poderoso de todos os meios

de comunicação que conhecemos (...)”,75

pois ela está presente em todos os lugares do país,

desde a classe social mais baixa até a mais alta. Para ele “conhecer a sua linguagem significa,

portanto, ter o domínio da mídia principal (...)”.76

Afirmação que ecoa, de alguma forma, Rick

Ridder,77

que diz ser importante escolher um meio de comunicação e a partir daí dominá-lo.

Na campanha de 2006 seguiu a mesma linha, com inovação, porém com diversas

contribuições, entre elas, a base da política governamental e uma boa avaliação de governo.

73

Fundo Monetário Internacional, organização internacional que visa garantir funcionamento adequado do

sistema financeiro mundial por meio do monitoramento das taxas de câmbio e da balança de pagamentos, através

de assistência técnica e financeira. 74

CARRO, Rodrigo e FELÍCIO, César. Qualitativas norteiam horário eleitoral. apud FIGUEIREDO, Rubens e

COUTINHO, Ciro. A eleição de 2002. Opinião pública, vol. 9, no. 2, Campinas, outubro de 2003. Disponível

em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-62762003000200005&script=sci_arttext>. Acesso em: 21 de

jul. 2011. 75

MENDONÇA, Duda. Casos e Coisas. Globo, São Paulo, 2001, p. 159. 76

Idem. 77

Especialista, norte-americano, em campanhas eleitorais.

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Para afastá-lo dos escândalos de acusações de corrupção do primeiro governo a equipe de

marketing eleitoral optou por deixar longe a imagem do candidato do vermelho do PT e usar

cores que lembrasse o trabalho dele pelo país, fortalecendo-o com o verde e o amarelo. Com

isso se aproximou dos eleitores que apoiavam a continuidade de Lula no governo,

especialmente a partir do slogan É Lula de novo com a força do povo que denota a

combinação de uma identidade enraizada pelo PT entre as classes populares e o candidato.

Já na campanha da Dilma Roussef (PT), em 2010, João Santana, que respondeu por

seu marketing eleitoral, trabalhou com a ideia de “continuidade da mudança”, sempre se

apoiando nas ações dos dois governos de Lula. Daí surgiu o slogan Dilma 13, para o Brasil

seguir mudando. Naquele momento ainda pouco conhecida pela população brasileira, a

imagem de Dilma foi associada, desde o primeiro programa de televisão, com a de Lula. A

equipe apostou nessa estratégia durante toda a campanha. Em uma entrevista à Folha de S.

Paulo João Santana diz que sua equipe tinha

(...) a missão de fazer Dilma conhecida e ao mesmo tempo amada; uma

personagem original, independente, de ideias próprias e, ao mesmo tempo,

uma pessoa umbilicalmente ligada a Lula; uma pessoa capaz de continuar o

governo Lula, mas também capaz de inovar.78

Um dos programas que deixa bem claro que as propostas de Dilma seguem com a

continuidade da mudança é o comercial que foi ao ar em agosto de 2010 quando percorre

vários estados do país apontando obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),

iniciadas durante o governo de Lula, quando era Ministra da Casa Civil, afirmando que

continuaria conduzindo as obras que fariam o Brasil seguir crescendo. Era a imagem da

executora de obras, que fazia frente ao discurso da oposição, sempre apoiado nessa mesma

imagem.

No decorrer desse processo de evolução do horário eleitoral gratuito é possível avaliar,

a princípio, que o PT possui uma tendência emocional crescente ao elaborar seus programas

de televisão. Nas eleições da Marta, Lula e Dilma, nota-se que existe uma preocupação em

trazer o eleitor pra junto do partido/candidato (a). Em todos os programas, durante os três

processos eleitorais, é perceptível que os eleitores são superestimados. O discurso utilizado

78

Entrevista de João Santana concedida ao jornal Folha de S. Paulo in < http://m.folha.uol.com.br/poder/826409-

caso-erenice-provocou-2-turno-diz-marqueteiro-de-dilma.html>. Acesso em: 25 de jul. 2011.

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pelo PT, em seus programas de TV, segue a mesma linha, inclusive no pleito de 1989, quando

seu slogan Sem medo de ser feliz foi utilizado pela primeira vez, sendo reutilizado nas

campanhas seguintes.

Por sua parte, o apelo do PSDB sempre foi o racional. Desde a campanha de Alckmin

em 2000, quando então era vice-governador do Mário Covas (SP) e disputava a prefeitura de

São Paulo pela primeira vez – seus principais opositores eram a Marta Suplicy, Paulo Maluf,

Luiza Erundina – o programa exibido em 1º. de agosto de 2000 se inicia com uma vinheta em

que o narrador diz em off: “Você vai conhecer agora uma nova opção para São Paulo:

Geraldo Alckmin, o prefeito com a cabeça no lugar”. A imagem a seguir é a de um candidato

apresentado em perfil com um semblante sério e sereno. O narrador começa a traçar sua vida

política desde o início de sua carreira em Pindamonhangaba (SP), apresenta-o como um

político executor obras: “Este é Geraldo Alckmin, um administrador experiente, equilibrado,

que governa para as pessoas e tem a cabeça no lugar”. As fotos ilustram sua experiência em

outros cargos, ao passo que a imagem do executivo gerente é reforçada pela postura do

candidato num escritório lendo ou escrevendo. Em seu pronunciamento apresenta suas

propostas de maneira racional, embora de alguma forma no final da frase tente emprestar um

pouco de emoção, ainda que sutil – quase imperceptível. “E só tem um jeito: não roubar, não

deixar roubar e nem permitir bagunça, dar o exemplo e exigir caráter. Eu quero ser o

prefeito da esperança, que trabalhe junto das pessoas com os olhos voltados para o futuro,

com a cabeça no lugar e, principalmente, com a nossa cidade no coração”.

No pleito de 2002, quando Geraldo Alckmin disputou o governo do Estado de São

Paulo – onde se saiu vitorioso – os programas eleitorais de televisão seguiram o mesmo estilo.

O candidato aparece arregaçando as mangas, passando a mensagem de que “um bom gestor

precisa ser gerente”. A ideia é a de que o serviço público precisa se assemelhar ao setor

privado.

Nas eleições de 2006, quando enfim disputou a presidência – sendo derrotado por Lula

– seus programas eleitorais transmitidos pelo HGPE não são muito diferentes, mostram a

construção de um candidato inteligente dando ar de superioridade em relação ao seu opositor.

O jingle mostra isso de uma forma transparente: “Ele sabe o que faz, ele sabe o caminho para

um país decente”. As imagens que remetem à eficiência administrativa, sempre atreladas ao

candidato, mostram-no coordenando equipes, acompanhando obras de governo ou usando

capacete ao operar máquinas de construção.

Page 49: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Quando José Serra (PSDB) concorreu à Prefeitura de São Paulo em 2004 contra a

candidata da situação Marta Suplicy (PT) – e se elegeu no segundo turno – suas propagandas

eleitorais gratuitas o mostravam como ex-ministro da Saúde do governo de Fernando

Henrique Cardoso, elevando seus pontos positivos. Os programas exploraram o currículo do

candidato com um discurso racional, apontando-o como um administrador competente e

buscando mostrar para os eleitores uma imagem de homem trabalhador como afirmação da

figura pública. Por estar ligado fortemente à saúde, aproveita-se da ocasião para demonstrar

que esta área seria o seu ponto forte, ao contrário de Marta que, apesar de estar no governo,

dizia ser necessário fazer muito ainda pela saúde. Serra tenta se apropriar do discurso social

da Marta dizendo que continuará os programas implementados pela administração do PT,

enfatizando que fará a integração do Bilhete Único – estrela da propaganda de Marta – ao

metrô e ao trem, serviços a cargo da esfera estadual de poder. Nos programas, o candidato tira

proveito ainda das obras do governo do Estado e de aparições do então governador Geraldo

Alckmin. Durante essa campanha, Serra assumiu em cartório o compromisso de não deixar a

prefeitura para se candidatar ao governo do Estado em 2006, promessa que não cumpriu,

dando argumentos até hoje aos seus adversários.

Na campanha de 2006, quando disputou o cargo de governador do Estado – sendo

eleito – seus programas de televisão praticamente repetiam o mesmo discurso: apresentação

de seu currículo como “o melhor ministro da Saúde” e mostrando para o seu eleitorado que

seria “o mais preparado” para governar o Estado. Como na campanha de 2004, Serra aparece

com as mangas dobradas, sentado à mesa como um homem trabalhador e ao mesmo tempo

descontraído, se mostrando firme e sério. Um ator apresenta um texto com a trajetória

profissional do Serra: É... tá todo mundo com o Serra. E não é à toa: o Serra já foi secretário,

deputado, senador, ministro duas vezes, e prefeito de São Paulo. E, além disso, é economista

e professor. Por toda essa bagagem. José Serra é o mais preparado para governar um estado

da importância de São Paulo.

Analisando os pleitos acima do PT e do PSDB é possível verificar que mesmo quando

há um interesse de um partido em tentar se apropriar das ideias do outro partido na realização

do seu marketing político, torna-se evidente que há diferença de práticas políticas e de

propostas, na maior parte das vezes antagônicas, seja nos projetos para a cidade de São Paulo,

para o Estado ou em nível nacional. A distinção é inteligível quando se observa o discurso e

as propostas. De um lado o PSDB com suas propostas conservadoras mesmo em alguns

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momentos tentando se apropriar do projeto de esquerda. Do outro lado o PT tentando dar

continuidade aos seus projetos iniciados nos anos anteriores.

Enfim, o apelo emocional do PSDB é quase disfarçado, prevalecendo a imagem do

gerente em detrimento à do político. Enquanto o discurso do PT sempre se apoia no pronome

“nós”, atribuindo-lhe uma “força de transformação”, no discurso do PSDB, o pronome “eu”

ressalta a experiência administrativa do candidato e a sua liderança racional na execução de

uma política instrumental.

2.2 Os programas de debate político

Os programas de debate político na televisão surgem pela primeira vez em 1960, na

disputa pela presidência dos Estados Unidos, com o debate de John Kennedy e Richard

Nixon, sendo que um deles foi fator importante para vitória de Kennedy, fazendo com que,

naquele momento79

se tornasse evidente a importância da imagem do candidato. Especialistas

americanos estavam de acordo com a mesma ideia de que o primeiro encontro, no debate da

TV, mudou a direção da campanha, beneficiando, claro, Kennedy. O primeiro foi treinado por

especialista para debater nas redes de televisão, pois aparecia perante as câmeras um homem

jovem, maquiado, com sorriso largo e confiante; já o segundo, se apresentava abatido e tenso,

não possuía o domínio da imagem diante da TV. O debate foi transmito pelos canais de

televisão e pelo rádio. Para quem acompanhava o debate pelo rádio, admitia que Nixon tinha

se saído melhor. Porém, quem assistia ao debate pela TV defendia que Kennedy era quem

havia vencido o debate.

Enquanto no Brasil a primeira tentativa para a realização de um debate correu no

mesmo ano que na América do Norte. Aqui também os candidatos concorriam à presidência

da República. Jânio Quadros (UDN) contra Marechal Henrique Teixeira Lott (PSD/PTB). O

primeiro rejeitou a proposta de participar das discussões perante as câmeras e, mesmo assim,

se saiu vitorioso no pleito.

No período do governo militar (1964-1985), o Brasil ficou 25 anos sem eleições

diretas para a presidência. Durante esses anos ocorreram três debates de campanhas eleitorais

transmitidos pela televisão, sendo que o primeiro deles aconteceu no Rio Grande do Sul, em

79

MAAREK. Philippe J. apud FIGUEIREDO, Rubens. Op. Cit., p. 17.

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1974, com os candidatos ao senado Nestor Jost (ARENA) e Paulo Brossard (MDB).80

O

segundo e mais conhecido foi em 1982, nas eleições para governador de São Paulo entre

Franco Montoro (PMDB) e Reynaldo de Barros (PDS), no canal 4 (TVS) – atual Sistema

Brasileiro de Televisão (SBT) – coordenado pelo jornalista Ferreira Neto. Segundo

reportagem do jornal Folha de S. Paulo, de 23 de março de 1982, o apresentador Silvio

Santos e dono da emissora de televisão, mudou as regras do debate de última hora e ficou o

tempo todo no comando para evitar situações desagradáveis que pudessem causar problemas

políticos para o seu canal de televisão.81

Já o terceiro e último debate, na mesma eleição, antes

da vigência da Lei Falcão, ocorreu no mesmo Estado, só que com uma diferença do primeiro

debate em São Paulo: dele participaram todos os candidatos que disputavam o pleito naquele

ano. Coordenado por Joelmir Beting,82

foi transmitido pela Rádio e Rede Bandeirantes de

televisão e publicado na íntegra pela Folha de S. Paulo. O debate foi acompanhado e

publicado pelo mesmo jornal na manhã do dia seguinte. O mediador inicia o pronunciamento:

(...) neste momento, na presença de uma centena de convidados especiais,

um debate eleitoral de importância política e histórica. Pela primeira vez, nas

eleições de 82, ou pela primeira vez nos últimos vinte anos, para não dizer a

primeira vez na história republicana do País, há um debate com os

candidatos ao governo do Estado de São Paulo; com todos os candidatos. 83

Antes de apresentar os cinco participantes dos debates, Joelmir fez mais um

pronunciamento sobre a importância do debate para a política brasileira da época: “Este

Debate Completo não pretende, evidentemente, fazer o vestibular para governador; pretende,

indo além, funcionar como autêntico simpósio de realidade brasileira”.84

Em seguida

apresentou os nomes dos candidatos pela ordem de sorteio: Rogê Ferreira (PDT), Luiz Inácio

Lula da Silva (PT), Franco Montoro (PMDB), Reynaldo de Barros (PDS) e Jânio Quadros

(PTB). A mesa era composta por quatro jornalistas, dois da Folha, Ruy Lopes e Odon Pereira;

e José Augusto Ribeiro e Salomão Esper pela Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão. O

80

MACHADO, Maria Berenice da Costa. Debates nas campanhas presidenciais: Brasil 1989-2010. Artigo

apresentado no GT de História da Publicidade e Comunicação Institucional, integrante do VIII Encontro

Nacional de História da Mídia, 2011. 81

Acervo digital do jornal Folha de S. Paulo. Regras do debate são mudadas à última hora. Primeiro caderno,

23 de março de 1982, p, 4. In <http://acervo.folha.com.br>. Acesso em: 4 de ago. 2011. 82

Jornalista da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão. 83

Idem. Os cinco, no único debate completo. Primeiro caderno, 14 de setembro de 1982, p, 14. In

<http://acervo.folha.com.br>. Acesso em: 4 de ago. de 2011. 84

Ibidem, p. 14.

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mediador reforça que o debate terá como base o regulamento da carta magna discutida,

elaborada e aprovada previamente pelas equipes de consultoria política de todos os candidatos

de todos os partidos presentes. O debate era dividido em dois tempos, de uma hora e quarenta

minutos no total de três horas e vinte minutos (cem minutos corridos em cada tempo). No

primeiro, os jornalistas entrevistavam o candidato – cada pergunta teria trinta segundos para

ser formulada e cada resposta teria que ser dada em três minutos e, cada jornalista teria o

tempo de trinta segundos, se quisesse, para uma réplica e ao candidato era dado um minuto

para a segunda resposta. No segundo, os candidatos faziam perguntas entre si, se houvesse

alguma sobra de tempo disponível ao final da segunda parte, esta ficaria disponível para os

jornalistas fazerem mais perguntas aos candidatos até completar o tempo estabelecido pelas

regras. A seguir iremos apresentar a transcrição apenas das perguntas de um jornalista e a

resposta de um candidato. A primeira pergunta e a resposta seguem na íntegra; contudo, as

demais, com exceção da última resposta do candidato, seguem resumidas pela autora

objetivando auxiliar a leitura e também por não caber neste momento a transcrição completa

do debate.

O jornalista Odon pergunta para o candidato Lula: “Lula, três assaltantes

vão numa casa, assaltam-na, violentam as mulheres da casa, estupram uma

criança de oito anos; a polícia os sitia, pode salvar algumas pessoas se

matar os assaltantes. A polícia pode ou não matar os assaltantes? Um

pedido: além do seu discurso, diga “sim” ou “não”. Eu gostaria de dos

candidatos ao governo de São Paulo um “sim” ou “não”, pelo menos uma

vez na resposta. Eu gostaria de ouvir de você, além do discurso, isto: a

polícia pode ou não matar três assaltantes que estupraram uma criança e

podem matar mais algumas pessoas dentro de uma casa que está sendo

assaltada em São Paulo, numa cena rotineira da nossa cidade?”

Lula responde: “Odon, a sua pergunta não é uma pergunta simples de “sim”

ou “não”. Eu acho que tem um fundo social aí no meio, e, tem algumas

coisas para trás que você precisa explicar à opinião pública. Primeiro, acho

que a polícia pode matar alguém em legítima defesa. Como eu acho que

qualquer cidadão tem o direito de, em legítima defesa, safar a sua própria

vida. Entretanto, eu acho que o Estado, enquanto figura jurídica, não pode

simplesmente achar que a matança de um homem de um homem por outro

homem coloca fim a aos crimes bárbaros que existem neste País e nesta

cidade. Temos países onde há pena de morte, em que efetivamente tem

morrido mesmo gente do que aqui no Brasil, que não tem pena de morte e

nem por isso têm diminuído os crimes neste Brasil. Se você pergunta para as

pessoas que foram vítimas... Se eu fosse vítima, eu diria para você: não

precisaria nem a polícia matar eu mesmo matava. Entretanto, o Estado

precisa criar condições, bastante objetivas, para que a ação da polícia

possa evitar que haja estupros. A pessoa que estupra uma criança de oito

Page 53: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

anos de idade, na verdade, não é uma pessoa normal, é um louco e precisa,

quem sabe, de um tratamento psiquiátrico; quem sabe precisa ser tratado

antes. E se um hospital, um país ou estado tivesse condições de tratar essas

pessoas, quem sabe não houvesse os estupros que há e tampouco os

assassinatos que há”.85

Odon, insatisfeito com a resposta de Lula, insiste de forma mais incisiva. E Lula

responde reforçando o que havia dito sobre as obrigações do Estado. Porém Odon insiste mais

uma vez e, Lula, em resposta, diz para finalizar: Odon, o que eu queria dizer para você,

primeiro, é que a minha resposta não tem o objetivo de contentar o jornalista, mas o objetivo

de informar a opinião pública. Segundo, dizer para você que não cabe ao governo do Estado,

enquanto governo, ser o mandante de um crime. Cabe a ele, sim, evitar crimes.86

Ao analisar esse debate na íntegra tanto as perguntas quantos as respostas entre

jornalistas e candidatos, e os questionamentos e argumentos entre candidatos, é possível notar

que, naquela eleição, todos os envolvidos no debate se sentiam livres e muito à vontade para

formular suas perguntas ou para responder. Possivelmente, isso se deu em razão de o país

estar há anos sob a censura imposta pela Lei Falcão e pelo Regime Militar.

Os ventos da redemocratização trouxeram rapidamente os programas de debates para

as campanhas eleitorais no Brasil, ganhando força principalmente com as eleições para

presidente de 1989, na disputa entre Collor e Lula. Dos primeiros debates até hoje houve uma

grande mudança. Os debates foram sofrendo um engessamento gradual. Antes existia o

confronto direto de jornalistas e candidatos, o que hoje não há mais – antes eram debates mais

reais, os candidatos respondiam as perguntas de jornalistas. Hoje é um formato criado para

não se discutir ideias, mas apenas apresentar plataformas de governo de forma resumida.

Evita-se o confronto, o candidato se preocupa o tempo todo em não cometer gafes enquanto a

equipe passa minuto a minuto monitorando a reação do eleitor. Importaram-se também

formatos de debates da TV americana, que já haviam definido regras que impedem o

confronto. Além disso, o sistema se torna confortável para as emissoras, que não precisam

tomar tanto cuidado para não expor as suas preferências eleitorais.

85

Ibidem. 86

Ibidem.

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2.3 A cobertura da imprensa

A cobertura da grande imprensa brasileira dos processos eleitorais tem ocorrido,

infelizmente, de maneira antidemocrática e parcial, em diversos momentos alterando a

linguagem e a estética do que está sendo apresentando de acordo com seu próprio interesse, o

que Garcia chama de propaganda ideológica.87

Segundo Garcia, as mensagens propagadas são

subliminares de modo a tentar esconder sua origem e os objetivos propostos. Há sempre

interesses de pessoas ou de grupos que, encobertos, manipulam a informação, de modo que

atendem a posições doutrinárias e procuram persuadir quem está do outro lado do processo de

comunicação, ou seja, o receptor. Garcia defende que:

(...) eles conseguem, muitas vezes, controlar todos os meios e formas de

comunicação, manipulando o conteúdo das mensagens deixando passar

algumas informações e censurando outras, de tal forma que só é possível ver

e ouvir aquilo que lhes interessa.88

No Brasil os programas jornalísticos de televisão de sinal aberto de maior audiência

ainda são da TV Globo, entre os quais se destaca o Jornal Nacional. No entanto não se pode

deixar de lado a relevância dos demais jornais de outras emissoras. Pode-se notar que há um

desequilíbrio na cobertura dos noticiários, ou seja, é possível perceber – principalmente em

relação à Rede Globo – que há uma oscilação entre uma neutralidade aparente e, ao mesmo

tempo, um favoritismo explícito.

Analisando a cobertura de algumas campanhas eleitorais é possível verificar que a

interpretação do jornalismo unilateral muitas vezes se torna evidente, como ocorreu

especialmente na cobertura das eleições de 1982 para governador do Estado do Rio de

Janeiro. Na ocasião, durante a primeira eleição direta do país desde 1964, ainda em plena

ditadura, da qual o Jornal Nacional foi praticamente o órgão oficioso, a emissora apoiou

Wellington Moreira Franco, do PDS (antiga Arena), contra Leonel Brizola, do PDT, partido

de esquerda fundado por ele. A emissora considerava o candidato um estorvo ameaçador, caso

se elegesse, em relação aos seus interesses. Acredita-se que o início das diferenças ideológicas

entre a emissora e o político se deu ainda durante a Ditadura Militar, quando Brizola, genro de

João Goulart, presidente deposto, assumiu abertamente uma postura contrária às ideias do

regime. Brizola não abriu mão de suas convicções e bateu de frente com os militares e com a

87

GARCIA, Nelson Jahr. Op. Cit., p. 10-11. 88

Idem.

Page 55: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Globo. A partir daí as divergências entre ele e a empresa foram crescendo e se agravaram com

o escândalo do Proconsult, em 1982.89

Apoiar Moreira Franco com o objetivo de impedir o crescimento da imagem de

Brizola passou a ser fator fundamental para as Organizações Globo. Ela se mobilizou, usando

o seu poder de difusão para tentar manipular seus telespectadores e leitores apresentando

Moreira Franco como o melhor candidato para governar o Rio de Janeiro, tentando convencer

os eleitores de que não existia outro candidato melhor para assumir o cargo. Além disso, a

emissora trabalhou negativamente a imagem do oposicionista Brizola, apontando que ele não

seria o melhor representante para a população do Rio. As mídias impressas e eletrônicas

apresentavam visões antagônicas do processo eleitoral: enquanto o Jornal do Brasil e a Rádio

JB divulgavam a liderança de Brizola, a Rede Globo e seu jornal O Globo apontavam Moreira

Franco na dianteira. Após a Globo colocar em dúvida a lisura da apuração, Brizola acabou

proclamado governador.

No período de restauração democrática, quando José Sarney assume a presidência com

a morte de Tancredo Neves, as Organizações Globo passam a apoiá-lo claramente, pois além

de defender suas posições políticas, se tratava do dono de uma de suas subsidiárias no

Nordeste.

Ainda dentro dessa configuração, a imprensa, principalmente a Globo, deu nova

cobertura tendenciosa a um caso policial que coincidiu com o pleito de 1989, cujo segundo

turno foi disputado por Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva. O sequestro do

empresário Abílio Diniz (então presidente do Grupo Pão de Açúcar) teve seu desfecho às

vésperas do segundo turno, quando os jornais de televisão mostraram os responsáveis pelo

crime vestindo camisetas com a estrela do PT. Além disso, a polícia afirmou ter encontrado

uma grande quantidade de materiais da campanha do Lula de posse dos sequestradores. A

versão foi desmontada tanto pela Polícia Civil quanto a Polícia Federal (PF) no mês seguinte

às eleições, quanto estas já haviam definido Collor como vencedor.90

Nessa mesma eleição a emissora se propôs a realizar um debate com os candidatos.

Segundo estudiosos, o desempenho de Lula foi de boa qualidade; no entanto, o resumo do

89

Suposto esquema de fraude na eleição 1982 ao governo do Rio de Janeiro que transferia os votos de Brizola

para favorecer Moreira Franco. O processo funcionaria na etapa final de contagem dos votos por meio de um

programa instalado nos computadores da empresa Proconsult, contratada pelo TRE do Rio de Janeiro. 90

SOUZA, Diana Paula de. Jornalismo e narrativa: uma análise discursiva da construção de personagens

jornalísticos no sequestro de Abílio Diniz e suas repercussões políticas. Trabalho apresentado ao GP Teorias do

Jornalismo, IX Encontro dos Grupos/Núcleos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXII

Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 4 a 7 de setembro de 2009.

Page 56: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

debate que foi apresentado aos telespectadores da Globo no dia seguinte, véspera da eleição,

possuía duas versões. A primeira, apresentada durante o Jornal Hoje, foi feita de maneira

mais equilibrada e menos tendenciosa, diferentemente da exibida à noite, no Jornal Nacional,

que favorecia Collor de Mello. Esse conjunto de manipulações jornalísticas acabou definindo

a eleição e garantindo a vitória de Collor.

Outro exemplo do comportamento tendencioso da mídia, nesse caso, a impressa, e que

vem ao encontro da ideia de que em diversos momentos a imprensa tem agido de maneira

unilateral, é a cobertura dada pela revista Veja no caso dos dois escândalos cognominados

pela mídia de Mensalões, um dos quais envolvendo o Partido dos Trabalhadores, em 2005, e

outro o Democratas (DEM), em 2009. Uma análise mais próxima das edições resulta no

indicativo de como a publicação tem dedicado espaço e cobertura de forma diferenciada,

conforme seus próprios interesses e os interesses políticos dos seus leitores, em sua maioria

das classes A e B, conforme constatou pesquisa acadêmica de Fábio Jammal Makhoul.91

Indo diretamente para os resumos dos fatos, conforme publicado pela própria Veja em

seu site:

No Brasil, 2005 entrou para a história como o ano em que o vocabulário da

roubalheira nacional ganhou a palavra "mensalão". Um dos períodos em que o

Brasil assistiu à mais alucinante sucessão de escândalos de desvio do dinheiro

público teve início com um vídeo em que Maurício Marinho, chefe de

departamento nos Correios, é flagrado embolsando uma propina de 3.000

reais. Divulgado por VEJA em maio daquele ano, o vídeo levou o então

deputado Roberto Jefferson a denunciar as entranhas do petismo e acabou por

desencadear a maior crise política do governo do presidente Luiz Inácio Lula

da Silva.92

O que se chamou de “mensalão” foi um possível esquema em que deputados

receberiam uma mesada do governo federal para aprovar projetos de seu interesse. A

organização do esquema – que mais tarde se revelou ser para fazer caixa de campanhas, e

ultrapassou as fronteiras do “petismo” e atingiu o senador Eduardo Azeredo, do PSDB,

igualmente denunciado no Supremo Tribunal Federal (STF) – ficava a cargo de Delúbio

Soares, na época tesoureiro do PT e os pagamentos realizados pelo publicitário Marcos

91

MAKHOUL, Fábio Jammad. A cobertura da revista Veja no primeiro mandato do presidente Lula.

Dissertação (Mestrado) em Ciências Políticas apresentada à Pontifícia Universidade Católica em 12 de maio de

2009, orientado por Vera Chaia. 92

Revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/mensalao-pt-marcos-valerio-delubio-

soares-jose-dirceu-roberto-jefferson.shtml>. Acesso em: 16 de ago. 2011.

Page 57: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Valério, feitos com dinheiro desviado de empresas estatais.93

A crise desencadeada pelas

denúncias de Jefferson chegou a pressionar o presidente Lula, de modo que a oposição e a

própria publicação (Veja) passaram a pedir o seu impedimento. A denúncia da possível

“negociação” foi entregue pelo Ministério Público (MP) ao STF seis meses depois da sua

deflagração, o que incluía 40 nomes de políticos ligados ou não ao PT. Entre os que sofreram

prejuízos políticos e perdas de cargo no governo estão José Dirceu, Antonio Palocci, Silvio

Pereira e José Genoíno. A denúncia foi acolhida em agosto de 2007.

Veja dedicou ampla cobertura da crise política desencadeada pela propina nos

Correios, incluindo 18 capas sobre o tema. Segundo levantamento realizado por Makhoul em

sua dissertação, entre 2005 e 2006 Veja dedicou 49 capas negativas ao presidente Lula, o que

incluiu a cobertura do Mensalão do PT.

A revista não foi nada sutil em sua estratégia, pelo contrário, foi arrogante,

agressiva, preconceituosa. O preconceito, aliás, foi uma das modalizações

discursivas contra o governo mais utilizadas pela publicação, principalmente

na capa. Desde o primeiro ano do mandato, em 2003, a revista procurou

tematizar sobre a ética no PT. O enunciador sempre deixou claro que ela não

passava de discurso para chegar ao poder, mas, assim que os escândalos

começaram, Veja tratou de provar que o PT era pior que os demais partidos

neste quesito. Entre os muitos preconceitos despejados pelo enunciador na

capa está a associação entre o PT e bandidos; de traficantes a assassinos.94

Já o Mensalão do DEM – que, sintomaticamente, não conta com resumo no site de

Veja –, explodiu, de forma inequívoca, com a Operação Caixa de Pandora, da Polícia

Federal, que, com a colaboração de Durval Barbosa, ex-secretário nos governos de José

Roberto Arruda e Joaquim Roriz, do Distrito Federal, revelou um esquema de pagamento de

propinas, fartamente documentado em trinta vídeos feitos pelo próprio Barbosa. No dia 27 de

novembro de 2009 a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em 24

endereços, recolhendo computadores, documentos, e R$ 700 mil em espécie.

Com a autorização do STF, a PF colocou equipamentos de gravação nas roupas de

Barbosa quando este se reuniu com Arruda para negociar valores para pagamento da base

aliada do governo que aprovaria projetos de seu interesse. A partir daí, as provas se tornaram

irrefutáveis. O impedimento de Arruda foi solicitado pela Ordem dos Advogados do Brasil

93

Idem. 94

Entrevista concedida por Makhoul a Rodrigo Vianna, do blog Escrevinhador. Disponível em:

<http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/pesquisa-da-puc-veja-se-transformou-no-maior-fenomeno-de-

anti-jornalismo.html>. Acesso em: 17 de ago. 2011.

Page 58: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

(OAB) no final de novembro de 2009, após os vídeos terem sido amplamente divulgados

pelas emissoras de televisão. O pedido incluiu também o vice-governador Paulo Octávio e

três deputados distritais.

Em 11 de fevereiro de 2010 foi pedida a prisão preventiva de Arruda, sob a acusação

de dificultar a apuração do esquema pela PF. Ao pedir desfiliação do DEM, o partido que o

elegeu, Arruda é acusado pelo Tribunal Superior Eleitoral de infidelidade partidária, e tem seu

mandato cassado. Assume então o seu vice Paulo Octávio, que renuncia em 23 de fevereiro.

Em 25 de julho de 2010, enfim, a Câmara Legislativa do Distrito Federal sugere ao Ministério

Público do DF o indiciamento de 22 pessoas, entre elas Arruda, Octávio e Roriz.

Apesar da grande repercussão causada com a exibição exaustiva dos vídeos em que

políticos e funcionários do DF aparecem recolhendo maços de notas em bolsos, meias e

cuecas, Veja não deu a mesma cobertura dedicada ao Mensalão do PT. Quando a Operação

Caixa de Pandora deflagrou o esquema, Veja estampou, quase uma semana depois, em 2 de

dezembro, a chamada de capa “O poder da Autoajuda”. Havia sim, matéria de cinco páginas

explicando como funcionava o esquema. Mas somente na edição seguinte, de 9 de dezembro,

fez referência ao farto registro em vídeo da corrupção no DF, estampando uma meia cheia de

dinheiro, com a chamada “O Natal dos safados”, sem nominar o partido envolvido no

escândalo. Nas edições seguintes, o tema sumiu das capas.

Havia, entretanto, um dado que parecia justificar o pouco destaque dado pela

publicação ao evento jornalístico: Arruda, até a deflagração do esquema, era o político mais

cotado para ocupar a vaga de candidato à vice-presidência na chapa do então pré-candidato

José Serra. Embora envolvesse esquema similar de pagamento de propinas, de desvendar os

meandros da distribuição do dinheiro e de documentar parte dos atos ilícitos, a pauta não

alcançou as capas de Veja, muito embora, ao contrário do Mensalão do PT, os envolvidos

tivessem perdido os seus mandatos, seja por falta eleitoral, seja por renúncia.

Quanto ao preceito básico do bom jornalismo, que é dar voz aos envolvidos e aos

acusadores para que o leitor faça, daí, o seu juízo, parece ter sido abandonado nas duas

ocasiões. Prevaleceram os interesses da publicação, como aponta Makhoul:

Essa história de imparcialidade da imprensa não existe. Os veículos de

comunicação são empresas e têm seus interesses e preferências políticas. O

jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, sempre foi conservador e nunca

escondeu isso. Assumir uma posição ideológica ou política não é ruim. É até

saudável e democrático, os grandes jornais da Europa e dos Estados Unidos

Page 59: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

fazem isso. Pelo menos, o leitor sabe claramente qual é a orientação editorial

da publicação. O problema é quando se abandona o jornalismo para se

transformar num panfleto político-partidário. E foi o que aconteceu com Veja

de 2005 para cá.95

Impossível não incluir nessa discussão o momento de crise por que passa o jornalismo

escrito face o avanço das mídias digitais, especialmente a internet. A perda intensa de leitores

para os blogs e versões online dos jornais – em alguns casos publicações que deixaram de

circular para se restringir aos sites, como o caso recente do Jornal do Brasil – e a

possibilidade imediata de verificação das informações prestadas pelos jornais, se não têm

mudado radicalmente a forma de praticar o jornalismo, tem colocado em confronto as versões

impressas e online. Tanto que a maior parte das denúncias resultantes do processo eleitoral de

2010 teve merecida desmontagem imediata por conta de leitores atentos que buscam a

informação correta e desmontam as versões publicadas por jornais, revistas e até mesmo

veiculadas pela televisão. Dessa forma, é possível analisar que houve duas correntes de

interpretação com coberturas tendenciosas, mas que se posa de imparcial.

Esse cenário, segundo Wilson Gomes, surge ante a emergência da sociedade do

espetáculo, que fez da política uma arte de representações. Para fazer frente a ela e defender

posições políticas veladas, os meios de comunicação recorrem também a representações

próprias. Cabe ao político constituir múltiplos personagens para, no palco dos meios de

comunicação, conseguir construir uma representação positiva para atingir o receptor.

A arte da produção de boas representações consiste, então, em dominar os

recursos pelos quais se estabelecem as estratégias que prevêem e solicitam as

respostas da recepção. Para tanto, a arte deve ser capaz de controlar bem a

elaboração de três ou quatro elementos que, em ordem decrescente de

importância, segundo a perspectiva de Aristóteles, constela-se no quadro

seguinte:

a) a composição do enredo ou a economia da narração ou encenação;

b) a caracterização dos personagens ou a economia da “personalidade” (em

sentido teatral). Primeiro do ponto de vista das características estáveis

psicológico-morais do personagem, depois a partir da expressão

lingüística pela qual se exteriorizam as reflexões e decisões do

personagem e que figuram uma sua identidade;

c) a composição dos meios da representação: a linguagem, o ritmo, a

melodia (quando for o caso) e o cenário.96

95

Idem. 96

GOMES, Wilson. Transformações da política na Era da comunicação de massa. Paulus, Rio de Janeiro, 2004,

p. 296.

Page 60: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Foi o que conseguiu fazer, por exemplo, o então presidente Lula. Ante as denúncias,

manteve sua representação, tornando-se inatingível pela campanha midiática que pedia seu

impedimento. Não só conseguiu se reeleger como elegeu sua sucessora, demonstrando

domínio do chamado theatrum politicum.97

Desta forma, há de se reconhecer que as

ferramentas do marketing político, apesar de serem vistas ainda de maneira preconceituosa,

têm contribuído para um melhor desenvolvimento nas estratégias de ações na construção de

uma imagem sólida do governante e do candidato.

Em resumo, o que se procurou apresentar neste capítulo é a história do surgimento do

Marketing Político e da Propaganda Eleitoral no Brasil e tentar mostrar como eles têm

evoluído nos últimos anos. É possível dizer, em linhas gerais, que sua grande transformação

ocorreu a partir das eleições para a presidência da República de 1989, por ter apresentado

diversas novidades depois de mais de vinte anos sem eleições diretas. Foi a partir desse

cenário que as campanhas eleitorais se desenvolveram efetivamente e de maneira mais

profissional. Ou seja, usando como aliados fundamentais a propaganda política, as pesquisas

de opinião, os programas de debates político – nas cidades que possuem TV aberta. Por fim,

que a cobertura da imprensa e sua maneira como é conduzida pode afetar positiva ou

negativamente no processo de decisão do eleitorado, dependendo de um posicionamento do

candidato para que ele construa sua imagem ante o eleitorado.

No próximo capítulo faremos uma análise das premissas e variáveis para as eleições

de 2010 para tentar entender o caminho percorrido pela campanha de Mercadante para, a

partir daí, iniciar a nossa pesquisa empírica.

97

O teatro da política, o que Gomes define como “A política e arte de compor representações”.

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Capítulo 3

Premissas e variáveis para as eleições 2010

3.1 Histórico político de Aloizio Mercadante

Aloizio Mercadante Oliva nasceu em Santos (SP) em 13 de maio de 1954, filho de um

general do Exército e ex-comandante da Escola Superior de Guerra. Casou-se em 1984 com a

socióloga Maria Regina Barros, com quem tem dois filhos: Mariana e Pedro. Formou-se em

Economia pela Universidade de São Paulo (USP), tendo cumprido os programas de Mestrado

em Ciência Econômica e de Doutorado em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de

Campinas (Unicamp). Atuou no movimento estudantil ainda quando secundarista, quando foi

presidente do Centro Acadêmico de Visconde da Cairu e da Associação Atlética da mesma

escola, quando ajudou a organizar protestos contra o assassinato do estudante Alexandre

Vannucchi Leme98

e do jornalista Vladimir Herzog pela Ditadura Militar. Na universidade,

foi presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de Economia e Administração da USP em

1975 e participou do Diretório Central dos Estudantes DCE Livre.

É professor licenciado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e

da Unicamp. Presidiu também a Associação de Professores da PUC/SP de 1979 a 1984; e de

1982 a 1983 foi Vice-Presidente da Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior

(ANDES).99

Começou a trabalhar formalmente em 1974, aos vinte anos, como estagiário

pesquisador na Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). Iniciou sua carreira

política partidária em 1980 no Partido dos Trabalhadores do qual foi um de seus fundadores,

além de assessor econômico. Participou da elaboração dos programas de governo do PT e, em

1982, nas eleições para governo do Estado de São Paulo, coordenou o Programa de Governo e

a campanha eleitoral do PT. No ano seguinte, ajudou a fundar a Central Única dos

Trabalhadores (CUT), durante o 1º. Congresso Nacional da Classe Trabalhadora, realizado

em São Bernardo do Campo (SP). De 1984 a 1988 foi assessor econômico da entidade.

Participou como coordenador das campanhas presidenciais em 1989, 1994, 1998 e 2002.

Esteve à frente da vice-presidência Nacional do PT de 1991 a 1998. Em 1994 foi candidato à

98

Estudante de Geologia da USP foi torturado até a morte, aos 22 anos, pela ditadura militar, em 1973, por

integrar o movimento estudantil e militar no grupo clandestino Ação Libertadora Nacional (ALN). Em sua

homenagem o DCE Livre da USP traz o seu nome. 99

Currículo Lattes. Disponível em: < http://lattes.cnpq.br/6976756962014956>. Acesso em: 26 de ago. 2011.

Page 62: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Vice-Presidente da República com Luiz Inácio Lula da Silva.100

E em 1996 foi candidato a

Vice-Prefeito de São Paulo na chapa de Luiza Erundina.

Nas eleições de 2006 e 2010, pleiteou o cargo de governador de São Paulo, tendo

recebido, respectivamente, 6.771.582 votos na disputa com José Serra e 8.016.866 votos com

Geraldo Alckmin.101

Sendo que nos dois pleitos a votação foi insuficiente para chegar ao

segundo turno. No entanto, é possível observar que houve uma evolução expressiva na

votação da primeira para a segunda eleição.

Em 1990 se elegeu Deputado Federal (1991-1995), o mais votado do PT, sendo eleito

novamente em 1998 para o mandato de 1999 a 2003, ocasião em que foi o candidato ao cargo

mais bem votado do país, com 241.559 votos.102

Permaneceu até o final dos dois mandatos.

Nesses dois períodos foi membro de diversas comissões da Câmara dos Deputados entre as

mais importantes, no primeiro mandato, à Comissão de Finanças e Tributação e à Comissão

de Relações Exteriores e de Defesa Nacional. Integrou, no Congresso Nacional, a Sub-

Comissão Bancária da CPMI do Collor e a CPMI do Orçamento. Nesse mesmo mandato, em

1991, foi vice-líder da Bancada do PT na Câmara dos Deputados. No segundo mandato foi

presidente da Comissão de Economia, de 1999 a 2000, e da Indústria e Comércio, tendo

participado também da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. E no Congresso

Nacional atuou como membro da Comissão Mista de Combate à Pobreza. Liderou a Bancada

do PT de 2000 a 2001, e foi vice-líder da mesma Bancada de 2001 a 2002.

Em 2002 foi eleito como Senador mais bem votado do país até então, com 10.497.348

votos.103

No período de 2003 a 2011 atuou como membro em várias Comissões, as de maior

destaque foram a Presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (2007 a 2009) e

participação na de Justiça e Cidadania. Além de líder, em 2003, do Governo no Congresso

Nacional e no Senado Federal de 2003 a 2006, foi e Líder da Bancada do PT e do Bloco de

Apoio ao Governo de 2009 a 2010.

Em agosto de 2009 Mercadante se mostrou descontente com a decisão do PT de

arquivar a abertura de investigação contra o presidente do Senado José Sarney (PMDB), no

Conselho de Ética. Chegou a anunciar publicamente que renunciaria à liderança do partido no

Senado, mas desistiu após conversa com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sua

100

Idem. 101

Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 102

Idem. 103

Ibidem.

Page 63: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

posição política dentro do partido é ligada à mesma corrente que pertence Lula, entre outros

políticos renomados do PT, campo majoritário, a Construindo um Novo Brasil (CNB).104

no primeiro Congresso do PT, o partido tinha dezesseis correntes.105

E esse foi um dos fatores

que trouxe para a arena política um partido como novidade em sua organização, pois essas

correntes propiciavam debates mais valiosos.

Desde 2007 Mercadante tem atuado como Representante do Brasil no Parlamento do

Mercosul, que presidiu entre 2008 e 2009 e atuou como vice-presidente em 2009 e 2010.

Retornou à presidência do órgão em agosto de 2010 onde permanece até hoje. Atualmente é

Ministro da Ciência e Tecnologia no Governo de Dilma Rousseff.106

3.2 Campanha de 2010

A oficialização do nome de Aloizio Mercadante na disputa ao governo de São Paulo

ocorreu em 29 de março de 2010, quando o senador Eduardo Suplicy – que também concorria

internamente – desistiu da candidatura depois de ter sido convencido pela Executiva Estadual

do PT em favor de Mercadante. Mesmo com os resultados de pesquisas indicando que

Suplicy aparecia à frente do outro candidato, o primeiro com 19%, o segundo com 13%, o PT

decidiu que deveria investir mais uma vez em Mercadante que, em 2006, havia vencido as

prévias no partido contra Marta Suplicy, e concorreu à eleição para o governo do Estado

contra o então candidato José Serra (PSDB), que se saiu vitorioso com 57,93% contra 31,68%

dos votos válidos.107

Já o lançamento oficial de sua pré-candidatura, em 2010, ocorreu quase

um mês depois, em 24 de abril, em encontro no Sindicato dos Bancários paulista, no centro de

São Paulo.

Na disputa, além dos candidatos que polarizaram a escolha do eleitor, Mercadante e

Alckmin, concorreram os candidatos Celso Ubirajara Russomanno, pelo Partido Progressista

104

A CNB surgiu em 1983, depois do Manifesto dos 113 – era simbolicamente liderado por Lula, o grupo tinha

como objetivo principal dar um centro político unificador ao partido, defesa pelo PT de massas, de luta e

democrático – em busca da organização de uma grande parte de militantes oriundos de vertentes da esquerda

histórica e que não faziam parte das tendências já existentes no partido. No início de sua criação, a corrente foi

denominada de Articulação-Unidade na Luta. Posteriormente outros grupos foram se agregando, por isso nos

anos 2000 o nome foi mudado para Campo Majoritário, depois de 2005 a corrente passou por uma reorganização

mudando o nome para Construindo um Novo Brasil. 105

SECCO, Lincoln. História do PT 1978-2010. Ateliê Editorial, Cotia – SP, 2011, p. 92-93. 106

Currículo Lattes. Disponível em: < http://lattes.cnpq.br/6976756962014956>. Acesso em: 26 de ago. 2011. 107

Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Page 64: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

(PP);108

Paulo Antonio Skaf, Partido Socialista Brasileiro (PSB);109

Fábio José Feldmann pelo

Partido Verde (PV);110

Luiz Carlos Prates (conhecido como Mancha), Partido Socialista dos

Trabalhadores Unificado (PSTU);111

Anaí Caproni Pinto, Partido da Causa Operária

(PCO);112

Paulo Bufalo, Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)113

e Igor Grabois, Partido

Comunista Brasileiro (PCB).114

O quadro político das eleições de 2010 acenava para uma disputa acirrada entre

Aloizio Mercadante e Geraldo Alckmin devido às variáveis a favor do candidato do PT, pois

o partido contava com um crescimento nunca visto na história do PT e do país, e com a

aprovação recorde de 85% do governo de Lula.115

Acreditava-se que de alguma forma esse

percentual poderia contribuir para atrair votos para Aloizio Mercadante. Outras variáveis que

também apontavam para um páreo acirrado entre PT e PSDB incluíam o fato de o governo do

Estado estar nas mãos do PSDB desde 1995, ou seja, o quarto mandato consecutivo à frente

do governo de São Paulo. Acredita-se que nesse período o trabalho realizado pelas gestões de

Mário Covas, Alckmin e Serra não evoluiu o suficiente nas áreas da Saúde, Transporte

Público, Habitação, Educação e Segurança Pública; a ponto da população sentir que o Estado

não oferece serviços públicos e proteção que cause bem-estar social. Aliás, sobre essas duas

últimas áreas, a Educação foi marcada, no governo de José Serra, pela falta de diálogo entre

governo e professores;116

e a Segurança Pública, no primeiro e no segundo mandatos de

108

Ex-PPB, nasceu da fusão do PPR (Partido Progressista Reformador) com o PP e PRP. Sua base é formada por

políticos do antigo PDS, surgido da antiga ARENA. Seu principal representante no Estado de São Paulo é Paulo

Maluf. 109

Com o final do Estado Novo, formou-se a Esquerda Democrática, abrindo espaço para a fundação do partido,

1947, com base em ideias socialistas que buscam a transformação da sociedade, a melhoria da qualidade de vida

dos cidadãos brasileiros. Seus principais fundadores: José Lins do Rego, Jader de Carvalho, Sergio Buarque de

Hollanda e Antonio Candido. 110

Criado em 1986, de base ideológica ecológica, suas lutas são em busca de uma sociedade capaz de crescer

com respeito à natureza, com direitos civis, qualidade de vida e forma alternativa de gestão pública. Um dos

principais fundadores é Fernando Gabeira. 111

Fundado em 1994 por dissidentes do PT, sua base é formada por ideias do antigo regime do Leste Europeu.

Defende o fim do capitalismo e busca um sistema que os trabalhadores consigam mais poder e participação

social. 112

Dissidente do PT, seus formadores eram militantes da corrente Causa Operária do PT, que foram expulsos do

partido em 1991 por discordarem das ideias de alianças com outros partidos. Defende um governo operário, luta

pelo socialismo e a independência de classe diante da burguesia. Seu registro oficial se deu em 1997. 113

Criado por dissidentes do PT, em 2004. Luta pelo socialismo como forma de governo, é um partido de

esquerda contrário ao sistema capitalista e ao neoliberalismo. 114

Formado em 1922, é um partido de esquerda baseado nas ideias de Marx e Engels. É contra o sistema

capitalista e o neoliberalismo. 115

Pesquisa realizada pelo Instituto IBOPE de 25-27 setembro de 2010 sobre a aprovação do presidente.

Pergunta: o (a) sr(a). aprova ou desaprova a maneira como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem

administrando o país? 116

Manifestação de professores na USP, em 2010, por melhores condições de trabalho.

Page 65: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Geraldo Alckmin, experimentou a afirmação do poder da facção criminosa Primeiro

Comando da Capital (PCC), desafiando o Estado. Em 2001 a facção comandou uma grande

rebelião em 29 equipamentos prisionais do Estado e que causou a morte de 16 pessoas. Em

2003, ela seria responsável pelo assassinato do juiz-corregedor Antônio José Machado Dias e,

já em 2006, conseguiu paralisar o Estado disseminando o pânico entre a população. O

resultado dessa última iniciativa foram 207 mortos, entre agentes penitenciários, policiais

civis e militares, agentes de segurança, guardas municipais e civis. Nesse período, o governo

do Estado estava sob o comando de Cláudio Lembo (então PFL, hoje DEM), vice-governador

que assumiu em substituição a Geraldo Alckmin, afastado para disputar a presidência da

República nas eleições de 2006.117

Na época dos ataques do PCC, Geraldo Alckmin estava

fora do Brasil e foi procurado pelo programa Dateline, do canal australiano SBS para uma

entrevista. Ele aceitou, mas se recusou a continuar a entrevista quando o assunto foi abordado.

Lembrou ao repórter que o assunto em pauta era de responsabilidade do governador Cláudio

Lembo, seu vice.118

Apesar de tantas variáveis envolvidas em favor de Mercadante, o pleito dava sinais de

que a campanha não seria uma tarefa fácil de conduzir e o PT em São Paulo teria uma missão

bastante árdua. Por exemplo, a militância teria de dividir esforços entre as campanhas

estadual, presidencial e legislativa. Outra questão era que no Estado de São Paulo, maior

colégio eleitoral do País, o PSDB se inseria com mais força, ou seja, detinha o maior número

de cargos, seja no Executivo ou no Legislativo. Enquanto o PSDB tinha em seu poder 216

prefeitos, o PT possuía 64, menos de um terço das prefeituras. Em relação à vereança, o

PSDB somava 1.170 vagas. Já o PT apresentava pouco menos da metade, 520. Até em

relação à quantidade de vice-prefeitos o PT se saía com menor força; enquanto o PSDB tinha

em seu quadro 137, o PT possuía 62. Quando se mensurava os deputados federais o PSDB

tinha em cena 17 e o PT 14. Já os deputados estaduais 21, e o PT 19.119

Dentro dessa configuração, o PSDB detinha 31,8% do total dos prefeitos em relação a

todos os partidos envolvidos, destacando-se em primeiro lugar; e o PT 10,2%, posicionando- 117

STORINO, Fabio Franklin. Um partido, três agendas? Política de Segurança Pública no Estado de São Paulo

(1995-2006). Tese (Doutorado) em Administração Pública e Governo apresentada a Fundação Getúlio Vargas

em 2008, orientado por Fernando Luiz Abrucio. 118

Acervo digital do jornal Folha de S. Paulo. Questão sobre o PCC fez Alckmin parar entrevista a TV

australiana. Primeiro caderno, 12 de outubro de 2006, p, A6. In <http://acervo.folha.com.br>. Acesso em: 9 de

set. 2011. 119

Revista IstoÉ Independente. Disponível em:

<http://www.istoe.com.br/reportagens/60731_MERCADANTE+E+ALCKMIN+ENTRAM+NO+JOGO>.

Acesso em: 16 de set. 2011.

Page 66: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

se em quarto lugar. O partido que estava mais próximo do PSDB, em segundo lugar, era o

DEM (11,5%), e em terceiro, o PMDB com 11,1% dos prefeitos. O partido que aparecia mais

próximo do PT era o PTB com 9,5%. Os outros partidos apareciam com participação abaixo

dos 5% do total.120

Para demonstrar melhor o cenário apresentado naquele momento, seguem

gráficos que ilustram o que acabamos de citar.

O tamanho dos partidos no Estado de São Paulo

Gráfico 3 - FONTE: revista IstoÉ Independente121

120

Fundação Prefeito Faria Lima – Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (CEPAM).

Perfil dos prefeitos do Estado de São Paulo: 2009 a 2012. Disponível em:

<http://www.cepam.sp.gov.br/arquivos/Perfil/perfil_completo_web_.pdf>. Acesso em: 16 de set. 2011. 121

Disponível em:

<http://www.istoe.com.br/reportagens/60731_MERCADANTE+E+ALCKMIN+ENTRAM+NO+JOGO>.

Acesso em: 16 de set. 2011.

Page 67: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Prefeituras do Estado de São Paulo divididas por partido

Gráfico 4 – FONTE: TSE e Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (CEPAM)122

Nesse contexto fica evidente que o cenário era a favor de Alckmin. Por outro lado,

havia variáveis favoráveis para o PT, como o seu crescimento em nível nacional, aliado à

popularidade do então presidente Lula, companheiro partidário de Mercadante, e a formação

de alianças com outros partidos para tentar quebrar a hegemonia do PSDB no Estado, que

resultou na Coligação União para mudar, que abarcou os partidos PRB, PDT, PTN, PR,

PSDC, PRTB, PRP, PC do B e PT do B.

A coordenação da campanha de Mercadante acreditou nessas variáveis e desenvolveu

estratégias para pegar os pontos vulneráveis do opositor, conforme relata o vereador Chico

Macena, um dos articuladores da campanha:

A orientação desde o início foi apresentar propostas que tirassem o estado de

São Paulo do imobilismo. Vamos lembrar que no auge do crescimento

econômico do país, todos os estados cresceram, aproveitando as políticas do

governo Lula e São Paulo foi o estado que menos cresceu. Além de

apresentar propostas para educação, saúde e segurança (problemas que São

Paulo não resolveu) e, projeto de desenvolvimento que incorporasse

propostas regionais.123

122

Disponível em: <http://www.cepam.sp.gov.br/arquivos/Perfil/perfil_completo_web_.pdf>. Acesso em: 16 de

set. 2011. 123

MACENA, Chico. Entrevista concedida para esta pesquisadora em 5 de set. 2011. Todas as referências a esse

nome inseridas nesta monografia referem-se a essa entrevista.

Page 68: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Nesse sentido, o Programa de Governo de Mercadante foi pensado e elaborado com

base nas realizações dos oito anos de Lula na presidência do país. O primeiro item de sua

estrutura evidencia que os projetos de Mercadante, caso eleito, seguiria a linha da gestão do

PT na presidência da República: “(...) estabilidade, crescimento, distribuição de renda,

democracia, liberdade, respeito internacional, liderança na agenda ambiental e elevado grau

de aprovação popular. O exemplo de Lula guiará Mercadante na transformação de São

Paulo”.124

Dentro dessa configuração, o programa mostra que uma das suas principais

estratégias era colar a imagem do candidato ao governo à imagem de Lula. O slogan também

deixa claro essa ideia: O que Lula fez para o Brasil, Mercadante poderá fazer por São Paulo.

O segundo item de sua estrutura revela como parte da estratégia eleitoral aproveitar

como oportunidade os problemas que as últimas gestões do PSDB haviam deixado. No

programa é feita uma citação que generaliza o período político pós-ditadura, incluindo os

mandatos do PMDB (1983-1994) e do PSDB (1995-2010): “Depois de 27 anos de comando

do mesmo grupo político, São Paulo não desenvolveu o seu potencial econômico e os

problemas sociais se agravaram. São Paulo não acompanhou o Brasil que Lula construiu e

está ficando para trás”.

Ao comparar as propostas dos planos de governo dos dois candidatos, percebe-se que

há discrepância entre as propostas de Alckmin e as de Mercadante. O primeiro procura manter

as políticas iniciadas pelo PSDB desde sua primeira gestão, em 1995, ou seja, reforça uma

ideia de continuidade das políticas dos governos anteriores, tratando-as com coesão. Há

apenas um diferencial no item “Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda”125

referente

às desonerações tributárias iniciadas na sua última gestão no governo (2002 e 2006) e que

foram interrompidas por José Serra quando este assumiu o governo em 2007. Alckmin propõe

reduzir os tributos com o objetivo de maximizar a competitividade dos produtos no Estado. Já

na Educação, ele promete valorizar os professores de maneira contínua, ampliar as escolas

que atendem em horário integral e “ampliar os cursos à distância oferecidos pela Universidade

Virtual do Estado de São Paulo (Univesp)”.126

Na área da Saúde, Alckmin promete

aperfeiçoar o Programa de Saúde da Família (PSF) fazendo a integração com os programas

de transferência de renda, e propõe parceria entre o Sistema Único de Saúde (SUS) e entidades

filantrópicas. Já na Segurança, Alckmin apresenta propostas de ampliação na construção de

124

Bases do Programa de Governo 2010 de Aloizio Mercadante, p. 6. 125

Propostas de eleições 2010 de Geraldo Alckmin, p. 9. 126

Idem, p. 7.

Page 69: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

presídios, aumento na quantidade de delegados de polícia e extinção da carceragem nas

delegacias. E no Transporte, continua prometendo a ampliação do metrô, além de propor a

criação de um terceiro terminal no Aeroporto de Guarulhos (em parceria com o Governo

Federal) e “viabilizar o Expresso Aeroporto” expandindo o trem metropolitano para

Guarulhos. E a construção de um sistema de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) na Baixada

Santista.

Enquanto Mercadante apresenta propostas de políticas aliadas com os programas

desenvolvidos pelo governo Lula. A estrutura do programa de governo de Mercadante elege

como prioridades as áreas de Educação, Segurança Pública, Saúde, Transporte Público e

Habitação. Na Educação, Mercadante apresenta uma Nova Política de Educação com

“prioridade absoluta” para a contratação de professores; promete extinguir o sistema de

aprovação automática, propõe a construção de escolas e a criação de cursos noturnos para

adultos, além de articular com a USP, Unesp e Unicamp (universidades estaduais) a criação

da “Universidade do Professor”, incentivando a formação contínua em toda rede estadual. Na

área da Saúde, diferentemente de Alckmin, propõe ampliar a parceria com o governo federal

para os programas já existentes criados pelo governo do PT, entre eles o Programa Saúde da

Família (PSF) e com as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Na Segurança, propõe

implementar com prioridade uma Nova Política de Segurança Pública , “que assegure o

direito à vida e à integridade física dos jovens”.127

O grande passo para isso é reformular os

planos de carreiras, investir em formação continuada para a valorização dos policiais e

agentes penitenciários. Também defende a integração das polícias com o governo federal,

com a Polícia Federal e com o Programa Nacional de Segurança e Cidadania (Pronasci) no

Estado. Apresenta propostas de integração dos órgãos do Sistema de Justiça Criminal e

Segurança, ou seja, entre as forças policiais, o Poder Judiciário, o Ministério Público e as

Guardas Municipais. O programa mostra uma preocupação em ampliar o controle policial dos

presídios apresentando proposta de reconstrução do sistema prisional. No transporte, assim

como nas demais áreas mencionadas, o seu programa de governo apresenta propostas de Nova

Política de Transporte Público. Porém, nessa área as propostas são similares em relação à

ampliação do metrô e à construção da linha de trem em Guarulhos. Em relação aos pedágios,

área que o PT insistiu em atacar o governo do PSDB pelo aumento das praças de cobranças e

127

Bases do Programa de Governo 2010 de Aloizio Mercadante, p. 28.

Page 70: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

pelo preço abusivo, Mercadante apresenta proposta de redução das tarifas após reavaliação

dos contratos entre governo e concessionárias das rodovias.

3.3 Divergência das pesquisas

Já no processo de campanha, as primeiras pesquisas para governador foram realizadas

entre 27 a 29 de julho pelo Instituto IBOPE e publicadas no dia 30 de julho. Mostravam

Alckmin na dianteira com 50% de intenção de voto e Mercadante com 14%. O mesmo

Instituto divulgou uma segunda pesquisa um mês depois, realizada entre 24 e 26 de agosto, e

que apontava um crescimento importante nas intenções de voto em Mercadante, que aparecia

com 23%, ou seja, crescimento de 9 pontos percentuais (p.p.) em relação à primeira pesquisa.

Alckmin, com 47%, mantinha de certa forma o mesmo quadro do mês anterior, dentro da

margem de erro.

Novas pesquisas foram realizadas entre 31 de agosto e 2 de setembro, publicadas em 4

de setembro, revelando que Alckmin havia crescido 4 p.p. em relação ao período anterior:

aparecia com 51% enquanto Mercadante tinha 20%, ou seja, o mesmo quadro, levando em

consideração a margem de erro de 2 p.p.. O IBOPE realizou, uma semana depois, outra

pesquisa divulgada no dia 10 de setembro que apontava uma queda de 5 p.p. de Alckmin, que

aparecia com 46%; e Mercadante, com 22%, continuava oscilando dentro da margem de erro.

Na semana seguinte, 17 de setembro, foi divulgado que Mercadante voltava a crescer

gradualmente, 24%, enquanto Alckmin aparecia com 48%, dando sinais de que mantinha a

mesma posição do início da campanha, quando apareceu com 50%.

As pesquisas realizadas uma semana antes da eleição, em 25 de setembro, revelavam

praticamente os mesmo números para Alckmin 48%, enquanto Mercadante se mantinha em

crescimento, com 26%. Um dia antes do dia da eleição, 2 de outubro, nova pesquisa

apresentava novo crescimento para Mercadante (29%), enquanto Alckmin aparecia com 45%,

uma baixa de 5 p.p. em relação à primeira pesquisa. Com isso surgia um novo cenário

eleitoral, que apontava para uma possível disputa no segundo turno, pois Mercadante havia

crescido 15 p.p. desde a primeira pesquisa.128

Ou seja, se considerada a margem de erro, que é

de dois pontos percentuais para mais ou para menos, haveria a possibilidade do candidato do

PSDB ter 49%, o que poderia provocar um segundo turno. Já quando considerados os votos

128

Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE). Disponível em: <www.ibope.com.br>. Acesso

em: 12 de set. 2011.

Page 71: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

válidos, Alckmin chegaria a 51% enquanto Mercadante teria 33%. Na reta final da campanha

as pesquisas de diversos institutos apontavam divergências que levantavam dúvidas se haveria

ou não uma disputa no segundo turno.

A incerteza se acentuava principalmente quando se verificava o resultado das

pesquisas de outros institutos, como as do Datafolha, que desde agosto apresentavam

Alckmin à frente, com certa vantagem (54%), e Mercadante com 14% das intenções de voto.

As pesquisas realizadas por este instituto seguiram mostrando o candidato do PSDB sempre

na dianteira, com algumas oscilações em virtude do crescimento do candidato do PT, até a

véspera da eleição, quando apresentava números que definiam a eleição já no primeiro turno,

levando em consideração os votos válidos: Alckmin com 55% contra 28% de Mercadante.129

Quando os resultados de um terceiro Instituto de Pesquisa eram analisados, do Vox

Populi, estes indicavam a possibilidade do pleito ser disputado no segundo turno. Nas

pesquisas feitas em julho Alckmin aparecia com 47%, e Mercadante com 18%. Em agosto

Alckmin aumentou dois pontos percentuais, ou seja, subiu para 49% – dentro da margem de

erro –, e Mercadante também mantinha a margem de erro, com 17%. Já na última pesquisa

realizada antes das eleições, em setembro, Alckmin perdia 9 p.p. em relação ao mês anterior,

enquanto Mercadante (28%) crescia 11 pontos percentuais.130

Em relação aos índices de rejeição dos dois candidatos, pesquisas realizadas no início

da campanha, mais precisamente entre 27 a 29 de julho, pelo IBOPE mostram que o candidato

da oposição iniciou a campanha com uma rejeição de 17%. Enquanto o candidato da situação

apresentava 13%. Já as pesquisas do Datafolha, no mesmo período, revelava uma rejeição

maior para Mercadante 20% e Alckmin com 14%. Ao final da campanha, o IBOPE levantou,

de 21 a 23 de setembro, que Mercadante tinha 19% contra 16% de Alckmin. Em alguns

momentos, durante a campanha, pesquisas realizadas pelo IBOPE (entre 24 e 26 de agosto),

apresentavam que ambos partilhavam de índices de rejeição semelhantes entre o eleitorado:

Mercadante 16% e Alckmin 15%.

No decorrer da campanha, mesmo com o candidato do PSDB se mantendo na

liderança das intenções de voto nas três pesquisas apresentadas, sua vantagem caía à medida

que a do candidato do PT progredia, diminuindo a distância e indicando um cenário mais

129

Datafolha Instituto de Pesquisas. Disponível em: <http://Datafolha.folha.uol.com.br>. Acesso em: 13 de set.

de 2011. 130

Vox Populi. Disponível em: <http://www.voxpopuli.com.br/eleicoes.html>. Acesso em : 13 de set. 2011.

Page 72: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

favorável a uma segunda disputa, em novembro. Ou seja, os resultados das pesquisas

mostravam que Mercadante vinha ganhando força na reta final.

Diferentemente do cenário da campanha de 2006 quando o governo do então

presidente Lula (2003-2006) enfrentou uma agenda negativa na mídia devido aos escândalos

“Mensalão” e “Dossiê dos aloprados”, o que não reduziu o seu desempenho eleitoral – as

pesquisas davam 43% de intenção de votos –, a cena política na eleição de 2010 para

Mercadante foi bem mais propícia, como foi mencionado ao longo deste capítulo. Dessa vez o

governo do PT era avaliado positivamente, com mais de 85% de aprovação.

Foi nesse cenário que a campanha foi desenvolvida. A equipe de Mercadante

acreditava que os demais candidatos teriam desempenhos mais eficazes a ponto de interferir

no resultado do primeiro turno, conforme aponta o vereador Chico Macena:

A disputa ficou muito centralizada entre o Mercadante e Alckmin, tivemos

39 % dos votos e o Alckmin pouco mais que 50%, ou seja, foi por muito

pouco que não chegamos ao segundo turno. Acreditávamos que outros

candidatos teriam um desempenho melhor em cima dos votos do Alckmin,

como o Celso Russomanno, que obteve um bom desempenho durante os

debates. Também imaginávamos que Paulo Skaf teria um pouco mais de

votos, mas isso não ocorreu e por menos de 1% não conseguimos ir para o

segundo turno.131

A eleição, enfim, decidida no primeiro turno, registrou o total 11.519.314 de votos

para Alckmin e 8.016.866 para Mercadante, a maior votação do PT em eleições para o

governo do Estado de São Paulo. Tal insucesso foi atribuído pelos articuladores e militantes

do PT, entre outros motivos, ao voto conservador no Estado. Sobre tais afirmações, Secco é

enfático ao apontar que “(...) não existe povo naturalmente conservador”.132

E justifica sua

afirmação baseada nos dados da eleição presidencial, no Estado de São Paulo:

Dilma Rousseff obteve 37,31% dos votos contra 40,66% do adversário no

primeiro turno. Da diferença de cerca de catorze milhões e meio de votos

que ela obteve sobre o segundo colocado, quase nove milhões foram votos

paulistas. No segundo turno a vantagem de Dilma sobre Serra foi cerca de

doze milhões de votos. Em São Paulo ela obteve 10.462.447 milhões de

votos contra 12.308.483 de José Serra.133

131

MACENA, Chico. Questionário respondido para esta pesquisa em 5 de set. 2011.Todas as referências a esse

nome nesta monografia referem-se a essa entrevista. 132

SECCO, Lincoln. Op. Cit. p. 245 133

Idem.

Page 73: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

A respeito dessa fundamentação, sabe-se que não existe apenas um, mas diversos

fatores que influenciam a decisão do voto, como: propaganda político-institucional,

propaganda eleitoral, identificação partidária, debates eleitorais, a mídia, etc.134

Nesse sentido,

o consultor de marketing político Justino Pereira, que participou da coordenação da campanha

de Mercadante, aponta, ao ser questionado sobre a hegemonia do PSDB no Estado, que existe

uma tendência conservadora de parte do eleitorado paulista, enquanto o PT cresce em várias

regiões do País:

Aparentemente, por algumas razões, entre elas: um certo viés conservador de

parte do eleitor paulista, em especial nas pequenas cidades; a forma pouco

agressiva/condescendente como a mídia paulista trata o governo do PSDB

paulista desde o mandato Mário Covas, a avalanche publicitária do governo

estadual (praticamente todos os programas noticiosos de TV e rádio tem

publicidade estatal diária), o fato de o PT desde 1982 só ter conseguido

repetir seu candidato a governador em 2006 e 2010 (o que dificultou a

construção da marca), alguns anacronismos na forma do partido fazer

campanha etc.135

Dentro dessa configuração, Pereira defende também que a mídia foi tendenciosa em

favor do PSDB, embora sua interferência venha reduzindo com o passar do tempo sobre a

decisão do voto. Para ele, o eleitor passou a buscar outras fontes de informações além da

mídia tradicional; porém, é inegável que a mídia seleciona critérios em sua pauta, de maneira

intencional ou não, o que acaba causando prejuízo para alguns candidatos em benefício de

outros:

Como em eleições passadas, a mídia tentou direcionar a opinião pública. O

resultado eleitoral mostrou que esse objetivo não foi alcançado, pois cada

vez mais as pessoas formam suas opiniões por outros meios, além da mídia

(conversa com parentes e amigos, vizinhos, colegas de trabalho, internet

etc.).136

Nesses últimos parágrafos entramos, de maneira sutil, nas possíveis causas que

levaram o eleitor a escolher o seu voto. Contudo, o objetivo deste trabalho é analisar as

134

Mais detalhes sobre a decisão do voto, consultar: BORBA, Felipe de Moraes. Razões para escolha eleitoral:

a influência da campanha política na decisão do voto em Lula durante as eleições presidenciais de 2002.

Dissertação (Mestrado) em Ciências Política apresentada ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de

Janeiro (IUPERJ) em 2005, orientado por Marcus Figueiredo. Disponível em:

< http://doxa.iesp.uerj.br/artigos/felipe_borba-dissertacao.pdf>. Acesso em: 19 set. 2011. 135

PEREIRA, Justino. Questionário respondido para esta pesquisa em 5 de jul. 2011. Todas as referências a esse

nome nesta monografia referem-se a essa entrevista. 136

Idem.

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hipóteses criadas a partir das variáveis envolvidas na campanha de Aloizio Mercadante e que

não o ajudaram a se aproximar do candidato da situação nas pesquisas de intenção de voto, de

modo a evitar que o pleito fosse decidido no primeiro turno.

Assim, ficam abertas as questões, que serão analisadas no próximo capítulo – por meio

do desempenho do candidato no decorrer da campanha: nos debates, nos programas do

HGPE, na cobertura dos jornais impressos e da análise das justificativas dos envolvidos na

campanha: o que impediu o candidato da oposição de conseguir ao menos levar a disputa ao

segundo turno? Quais oportunidades foram desperdiçadas pela organização da campanha que

justificaram o mal desempenho ante tantas variáveis favoráveis? Por que essas variáveis não

influenciaram o eleitor modal a ponto de fazer valer a proposta oposicionista num Estado que,

apesar da tradição conservadora, revelou disposição para mudar pelo menos na última semana

de campanha, quando Mercadante apresentou crescimento nas intenções de voto mostradas

pelas pesquisas eleitorais?

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Capítulo 4

Metodologia e análise dos dados

Para investigar as possíveis causas envolvidas na campanha de Mercadante,

considerando as variáveis, e com o objetivo de tentar entender quais fatores dificultaram ao

PT lograr um bom êxito no resultado eleitoral, faremos uma análise comparativa a partir das

respostas obtidas nas entrevistas realizadas junto aos articuladores e aos militantes envolvidos

na campanha. Além disso, no próximo capítulo (5), será feita uma análise descritiva do

conteúdo do HGPE para tentar identificar os elementos que formaram o conjunto da

linguagem política utilizada nas propagandas eleitoral divulgadas, à noite, nos canais de

televisão. Também será objeto de análise o desempenho dos candidatos Mercadante e

Alckmin nos debates. E, por fim, uma análise da cobertura dos jornais impressos Folha de S.

Paulo e Diário de S. Paulo.

Com a realização do estudo desses elementos, e baseado na fundamentação teórica do

capítulo 2, objetiva-se obter respostas mais precisas sobre a articulação do PT e as estratégias

de comunicação empregadas antes e durante o processo eleitoral, as quais não causaram o

efeito esperado pelo PT.

Procurando entender o universo que envolveu a campanha e, principalmente, as

variáveis aqui expostas, a pesquisa busca extrair os principais fatores que influenciaram na

construção de nossas hipóteses. Para que a investigação atinja seu escopo, foram ponderados

alguns parâmetros na definição da amostra das entrevistas qualitativas.

Primeiro, procurou-se entrevistar as principais pessoas que atuaram na coordenação da

campanha, ou seja, as que fizeram parte das estratégias de comunicação e marketing, com

uma amostragem de três entrevistas. Segundo, buscou-se entrevistar militantes que tenham

atuado antes em outras campanhas do Mercadante e, principalmente, por ser parte

fundamental na história de lutas do PT. Deu-se preferência a representantes da Capital e da

Grande São Paulo, com uma amostragem de quatro entrevistas.

Ao total foram realizadas sete entrevistas, três delas com membros da coordenação da

campanha – uma na Câmara Municipal de São Paulo, no gabinete do entrevistado, e duas

respondidas por e-mail. E quatro com militantes, sendo duas delas realizadas em lanchonetes,

uma na residência do entrevistado e a última na sede da Confederação Nacional dos

Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), ambiente de trabalho do entrevistado.

Page 76: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Com exceção das duas entrevistas respondidas por e-mail, as demais foram gravadas e,

posteriormente, transcritas. Foram elaborados dois questionários diferentes, cada um com

doze perguntas, um visando extrair os principais pontos da campanha para a equipe de

coordenação, e outro no mesmo sentido, porém com a visão direcionada às perspectivas e

dificuldades dos militantes. Para ambos os questionários elaborados, seguiu-se o roteiro de

temas pré-estabelecidos; porém algumas perguntas foram inseridas naturalmente no decorrer

das entrevistas, com exceção das respostas enviadas por e-mail. As entrevistas, gravadas,

duraram de dez a trinta minutos, apenas uma, a última delas, com Carlos Cordeiro, durou

quarenta minutos. Os entrevistados foram avisados, antes do agendamento, que a entrevista se

destinava a uma pesquisa acadêmica, e que tinha o objetivo de descobrir, entre tantas

variáveis, ou chegar mais próximo, dos motivos que impediram Mercadante de chegar ao

segundo turno da eleição de 2010.

A coleta dos dados aconteceu nos meses de julho, agosto e setembro de 2011, de

acordo com a disponibilidade de agenda de cada entrevistado. Os questionários e a íntegra das

entrevistas estão disponíveis na seção de Apêndices desta pesquisa.

Foram entrevistados os seguintes coordenadores de campanha e militantes (seguem os

nomes acompanhados dos minicurrículos):

José Américo Ascêncio Dias é jornalista e vereador por São Paulo no terceiro mandato. Foi

Coordenador de Comunicação da campanha de Mercadante nas eleições de 2010. Na gestão

de Marta Suplicy foi Secretário de Abastecimento e de Comunicação da Prefeitura de São

Paulo, e Secretário de Comunicação da cidade de Mauá. Entre suas principais atuações no PT

destacam-se a sua participação nas campanhas presidenciais de Lula (1989 e 1998) quando

coordenou os programas de TV e Rádio. Nas eleições de 2006 para o governo de São Paulo

fez parte da equipe de comunicação e estratégia de marketing. Esteve à frente da presidência

do Diretório Municipal (DM) do PT de São Paulo no biênio 2008-2009. (Entrevista concedida

em 18/08/2011 em seu gabinete na Câmara Municipal de São Paulo).

Francisco (Chico) Macena é administrador e vereador por São Paulo, em seu segundo

mandato. Foi integrante, de grande importância, da equipe de coordenação da campanha de

Mercadante de 2010. Para assumir tal responsabilidade abriu mão de sua candidatura a

deputado estadual. Também participou de todas as campanhas de Mercadante. Prestou

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assessoria para o candidato no Senado Federal. Durante a gestão de Marta Suplicy na

Prefeitura de São Paulo esteve à frente da presidência da Companhia e Engenharia de Tráfego

(CET). Atualmente é secretário de comunicação do Diretório Municipal do PT. (Respostas

enviadas por e-mail em 05/09/2011).

Justino Pereira Júnior é jornalista e consultor de Marketing Político. Participou da equipe

de comunicação da campanha de Mercadante Governador de 2010. Foi secretário de

Comunicação da Prefeitura de Guarulhos nas duas gestões de Elói Pietá (PT), 2001-2008, e

secretário de Governo da mesma prefeitura – gestão de Sebastião Almeida (PT), em 2010, e

coordenador de Publicidade da Prefeitura de São Paulo na gestão de Marta Suplicy (2001-

2004). Esteve à frente da coordenação de mais de 30 campanhas bem sucedidas, majoritárias

e proporcionais. As de maiores destaques são as campanhas para a prefeitura de Guarulhos:

Elói Pietá, em 1992, 2000, 2004, e em 2008; a de Sebastião Almeida (PT), atual prefeito de

Guarulhos. (Respostas enviadas por e-mail 05/07/2011).

Carlos Cordeiro é economista, funcionário do Itaú Unibanco e dirigente sindical. Atualmente

é presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro

(Contraf/CUT) e presidente da UNI Américas Finanças. Participou, como militante, da

campanha de Mercadante, principalmente na zona oeste da Capital. É atuante sindical há mais

de 14 anos e milita no PT desde garoto, em diversas campanhas. (Entrevista realizada na sede

da Contraf/CUT em 13/09/2011).

Paulo Victor de Angeli é publicitário e coordenador do SAMU e da frota da Prefeitura de

Carapicuíba. Participou das duas campanhas de Mercadante ao governo de São Paulo, 2006 e

2010. Trabalhou na secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Paulo, na gestão de Marta

Suplicy, como responsável por toda a logística e distribuição de materiais publicitários na

Secretaria da Comunicação. Suas principais atuações no partido foram nas campanhas de Lula

(2002) e Marta (2004 e 2008). (Entrevista realizada numa lanchonete de São Paulo em

14/09/2011).

Geraldo Figueiredo de Almeida é assessor parlamentar da Assembléia Legislativa do Estado

de São Paulo (ALESP). Militou nas duas campanhas de Mercadante para o governo do Estado

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(2006 e 2010). Na administração da Marta Suplicy trabalhou na São Paulo Transportes

(SPTrans). Foi chefe de gabinete do Deputado Vicente Cândido. É militante do PT desde

1982. Foi Presidente do Diretório Zonal (DZ) de Pirituba por duas vezes. Participou da

coordenação de diversas campanhas proporcionais e majoritárias, sendo as de maiores

destaques: Luiza Erundina (1989) e Marta Suplicy (2000, 2004 e 2008). Militou em todas as

campanhas de Lula. (Entrevista realizada em sua residência em 11/09/2011).

Luiz dos Santos Pereira Mendonça é advogado e Procurador Chefe da Fundação de

Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON) de Guarulhos e Presidente da Comissão de

Direito do Terceiro Setor pela 57º Subseção da OAB-SP. Atuou como militante em diversas

campanhas do PT, inclusive na última de Mercadante, na cidade de Guarulhos. Foi Chefe de

Gabinete do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Guarulhos e trabalhou na

Coordenadoria de Publicidade da Prefeitura de São Paulo. (Entrevista realizada numa

lanchonete de Guarulhos em 12/09/2011).

4.1 Análise de conteúdo e comparação das justificativas dos entrevistados

Foram incluídos nos questionários alguns temas específicos definidos pela

pesquisadora de modo a integrar as variáveis definidas nos capítulos anteriores. A análise

desses temas passa a ser feita a seguir.

4.2 Estratégia de campanha

Segundo o vereador José Américo, coordenador de comunicação, a campanha fez um

diagnóstico profundo para estudar do ponto de vista social e econômico o Estado de São

Paulo baseado em pesquisas desenvolvidas por órgãos estaduais, municipais e federais, como

IBGE etc. Posteriormente foi feito um diagnóstico político por meio de dados fornecidos

pelos Diretórios Municipais e Regionais, para conhecer melhor o perfil político dos líderes e

moradores de cada região. Foram feitas também pesquisas diagnósticas para analisar o

“espectro político ideológico do Estado” e pesquisas qualitativas (focus group) para auxiliar

na obtenção de um melhor diagnóstico. Nessa perspectiva, José Américo, diz que a estratégia

da campanha se baseou em dois eixos:

O primeiro eixo era que o Mercadante tinha que ser o candidato que tinha

uma relação muito grande com o governo Lula – a história pessoal dele

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contribuía para isso. O próprio PT geralmente associado ao presidente Lula,

mas a gente sempre soube que isso não era suficiente para ganhar uma

eleição. [Segundo], nós tínhamos também que fazer a disputa regional e o

Mercadante se apresentar como alternativa regional.137

Nesse mesmo sentido, Chico Macena afirma que “a orientação desde o início foi

apresentar propostas que tirassem o Estado de São Paulo do imobilismo”. Tanto Américo

como Macena confirmam as mesmas estratégias e partilham que a orientação inicial para a

campanha permaneceu a mesma em todo o processo da campanha: “associação com o

governo Lula” e “projeto de desenvolvimento que incorporasse propostas regionais”. Américo

defende que em alguns momentos a campanha precisou mudar as táticas, “fazer alguns

ajustes”, porém as estratégias permaneceram as mesmas, em nenhum momento o fundamento

da campanha foi alterado.

Além desses dois eixos principais Américo apresenta um terceiro eixo, o “eixo

crítico”, ou seja, “procurar fazer uma crítica consistente ao governo de Alckmin e o governo

do PSDB no Estado”. Do mesmo modo, Macena defende que: “a única coisa que mudou foi

que em determinado momento resolvemos responder aos ataques pessoais da campanha de

Geraldo Alckmin”. Ou seja, uma de suas principais estratégias da campanha era colar à

imagem do Mercadante à de Lula. Privilegiando-se da influência de Lula e de seu governo;

apresentar projetos que favorecessem desenvolvimentos regionais; e fazer uma crítica

consistente ao governo do PSDB no Estado. Em relação ao último item se pode observar que

existe um apelo explícito presente no programa de governo, elaborado com base na

comparação do governo Alckmin. Aliás, poucas vezes dá para perceber uma proposta original

que não seja apoiada na comparação.

A orientação inicial da campanha para a militância, segundo Paulo Victor de Angeli

Filho, “era descaracterizar o governo Serra, porque o Alckmin perante o eleitorado, ele é

colado ao Serra”.138

O militante Luiz dos Santos Pereira Mendonça recebeu a orientação para

que se empenhasse muito na campanha de Mercadante, especialmente porque a sua área de

atuação foi a cidade de Guarulhos, em cuja prefeitura o PT exerce seu terceiro mandato

137

AMÉRICO, José. Entrevista concedida para esta pesquisadora em 18 de ago. 2011. Todas as referências a

esse nome inseridas neste capítulo referem-se a essa entrevista. 138

ANGELI, Paulo Victor de. Entrevista concedida para esta monografia em 14 de set. 2011. Todas as

referências a esse nome neste capítulo referem-se a essa entrevista.

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consecutivo.139

Já o terceiro entrevistado, Geraldo Figueiredo de Almeida, ao ser questionado

sobre o mesmo tema, revela que a campanha já iniciara com alguns gargalos que dificultariam

o desempenho de parte da militância e de grandes líderes em defender o nome de Mercadante:

Nesse momento tivemos uma situação muito difícil que foi a consequência

das prévias na Capital para o governo do Estado em 2006. Mercadante

ganhou as prévias no Estado, mas a Marta ganhou na Capital. Eu acho que

isso dificultou muito as últimas campanhas na Capital e no Estado, gerou a

divisão do partido, nas prévias teve a derrota da Marta, que não contribuiu

muito com a campanha do Mercadante, e isso, as prévias, gera muita divisão

dentro do partido e a militância acaba não assumindo de fato a campanha

total. O ideal é todo mundo unido num objetivo.140

Analisando esse recorte é possível extrair alguns elementos que chamam a atenção, e

que não estavam previstos nas hipóteses consideradas no início deste trabalho. A partir daí

passou-se a procurar referências para tentar apurar até que ponto as disputas entre as correntes

internas do PT pode afetar o envolvimento, não somente dos militantes, mas principalmente

das grandes lideranças, em uma campanha. Descobriu-se que já no primeiro Congresso do

Partido dos Trabalhadores havia dezesseis tendências internas.141

Foi então necessário

questionar se elementos como diferença de pensamento, de algumas ideias, de diversas

tendências poderiam, em algum momento, ficar acima do objetivo principal do partido, o

projeto do PT.

Nesse sentindo, Almeida afirma que essa divisão interna, desde as eleições de 2006

para o governo do Estado, implicou no comprometimento de alguns grupos na hora de

defender Mercadante. Diz ainda que é contrário às prévias no partido porque “prejudica muito

o PT”. Segundo ele, as “prévias deixam muita divisão, muitos rancores. Acho que o PT tem

que ter o consenso de uma candidatura (...)”. Quando isso não acontece provoca resultados

como uma dicotomia de apoio tanto de militantes quanto de grandes líderes. Ainda dentro

dessa configuração, o militante Carlos Cordeiro, analisa que:

Nesse problema das tendências e dos grupos eu acho que são legítimos, mas

eu acho que pra você fazer parte de uma tendência, pra fazer parte de um

grupo, e pra se contrapor a outro, acho que você tem que ter muito claro o

139

MENDONÇA, Luiz. Entrevista concedida para esta pesquisadora em 12 de set. 2011. Todas as referências a

esse nome inseridas neste capítulo referem-se a essa entrevista. 140

ALMEIDA, Geraldo Figueiredo de. Entrevista concedida para esta pesquisadora em 11 de set. 2011. Todas as

referências a esse nome inseridas neste capítulo referem-se a essa entrevista. 141

SECCO, Lincoln. História do PT 1978-2010. Op. Cit.

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que você pensa, qual é a diferença entre um grupo e outro. Diferenças

ideológicas, de concepção, acho que é natural, é salutar e é bom que a gente

tenha diferenças, dentro do nosso partido inclusive. Elas têm que ser

pequenas porque as diferenças têm que ser com os outros partidos.142

Cordeiro, a princípio, vê as tendências como fator positivo para gerar discussões

dentro do partido, e acredita que, apesar do PT apresentar diversas correntes internas, isso não

significa que as visões sejam muito diferentes, ou seja, os grupos podem discordar em alguns

pontos, mas permanece a mesma visão ideológica. Ele acredita que, quando existe uma

separação, por exemplo, “grupo da Marta e grupo do Mercadante”, é arriscado tentar

identificar. “Qual a diferença entre Marta e o Mercadante? Ideologicamente, o que um

defende que o outro não defende?”. Para ele, é “(...) um equívoco quando o partido tem que se

dividir em grupos e grupos relacionados a pessoas, [a impressão] é que estão muito mais

ligados a projetos pessoais deste grupo, o que leva a uma ausência de projeto para a cidade e

para o Estado”. Com isso os mais prejudicados são o próprio partido e a população. Nesse

sentido, ele acredita que quando os grupos insistem na disputa interna

[...] infelizmente para esse grupo A se consolidar ele precisa enfraquecer o

grupo B e a maneira às vezes como é feito isso é tão violenta que, depois,

quando um dos dois precisa ceder, um não vai conseguir apoiar o outro.

Quando o individual supera o coletivo, ele tem um problema muito grande

na frente pra você juntar. Isso eu vejo no movimento sindical. São mais de

cem sindicatos que tem na nossa confederação e lá também se divide em

grupos de pessoas e a gente vai tentando diminuir a fervura, a maneira como

vão sendo feitos os embates porque lá na frente a gente precisa juntar.

Será que esse comportamento aconteceu fortemente nas campanhas de 2006 para cá,

nos pleitos da cidade de São Paulo e do Estado? Será que Mercadante, por causa da disputa

com a corrente a que pertence Marta, deixou de ter o apoio essencial para ir para o segundo

turno na campanha de 2010? Talvez essa questão que envolve as correntes dentro do PT seja

assunto para ser investigado em uma nova pesquisa. No entanto, um dos militantes

entrevistados é enfático em apontar que:

Ele [Mercadante] não teve apoio na Grande São Paulo, de muito pouco

candidato proporcional. Acho que os maiores puxadores de voto no

legislativo infelizmente não eram do grupo dele. Infelizmente o PT é isso.

142

CORDEIRO, Carlos. Entrevista concedida para esta pesquisadora em 13 de set. 2011. Todas as referências a

esse nome inseridas nesta monografia referem-se a essa entrevista.

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Ele é democrático e existem vários setores do partido. E esses setores não

estavam com Mercadante.

O mesmo Angeli analisa que grande parte dos candidatos aos cargos legislativos não

contribuíram no que era necessário para a campanha de Mercadante. E que não conseguiram

transferir votos “em virtude do afastamento do candidato com esses proporcionais”. Segundo

ele, a campanha de Mercadante fez uma opção errônea quando decidiu buscar maior apoio,

principalmente, no interior de São Paulo. “Sendo que a grande força do PT é na Grande São

Paulo”. Angeli considera que a campanha não deu importância para isso. E cita o exemplo de

um candidato da Grande São Paulo, para o qual prestou serviço, que divulgou muito pouco a

campanha do candidato petista.

Questões que envolvem Mercadante com resquícios de problemas mal resolvidos e

que causam gargalos em campanhas não é um fato novo. Cloves Luiz Pereira Oliveira, em sua

tese de doutorado apresentada e defendida no Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de

Janeiro (IUPERJ),143

relata um caso ocorrido na campanha de 1996 à prefeitura, que provoca

uma reflexão acerca dessa questão, quando Mercadante fazia parte da chapa de Luiza

Erundina como vice-prefeito:144

Curiosamente uma das primeiras vozes a se levantar contra a estratégia da

campanha foi o candidato a vice-prefeito da chapa de Erundina, o

economista Aloizio Mercadante. Segundo Loducca, às criticas de

Mercadante ao conceito da campanha seria resultado do ressentimento desse

político por ter sido vencido por Erundina nas eleições internas do partido

para a escolha do candidato à sucessão à prefeitura.145

Segundo o pesquisador, as críticas de Mercadante, apoiadas por uma ala do PT,

insistiam que a postura ideal para a campanha seria bater na administração de Maluf para

atingir a imagem de Pitta. Tal fundamentação acabou derrubando o mote da campanha que

durou somente quinze dias. Como resultado dessa mudança de estratégia, perdeu-se todo o

conceito de marketing político eleitoral adotado para a campanha, criando a necessidade de

143

OLIVEIRA, Cloves Luiz Pereira. A inevitável visibilidade da cor: estudo comparativo das campanhas de

Benedita da Silva e Celso Pitta, às prefeituras do Rio de Janeiro e São Paulo, nas eleições de 1992 e 1996. Tese

(Doutorado) em Ciências Humanas e área de concentração Política apresentada ao Instituto Universitário de

Pesquisa do Rio de Janeiro (IUPERJ), orientado por Marcus Figueiredo. Ano de obtenção: 2007. Acesso em: 30

de set. 2011. 144

Mercadante entrou na chapa como vice de Luiza Erundina depois de uma disputa acirrada dentro do PT entre

ambos por meio das prévias, até então a intenção era que ele fosse o candidato. 145

Idem.

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repensar em uma nova marca. No decorrer desse processo, que chamou a atenção

principalmente da imprensa, o coordenador da campanha, Celso Loducca, afirmou: “Ele deu

uma facada em Erundina me utilizando como punhal”. A ideia abalizada por Mercadante deu

outro rumo à campanha, totalmente antagônico, que seguiu de forma agressiva. Ou seja, do

“light” para o agressivo. O resultado foi a vitória de Celso Pitta.

4.3 Imagem do candidato

Embora Mercadante ao longo de sua vida tenha participado de diversas campanhas,

construído uma carreira política bem sucedida e de grande relevância dentro do partido, é

perceptível que o trabalho desenvolvido pelos profissionais de Marketing Político para

garantir uma boa imagem do candidato ainda não atingiu seu ponto almejado. Mesmo tendo

profissionais qualificados no seu comando, o Marketing Político provou mais uma vez que a

construção de uma boa imagem não depende só, e exclusivamente, de uma boa equipe que

saiba utilizar suas ferramentas, mas principalmente do candidato. E, não somente nas eleições,

como também em seus mandatos.

Os quatro militantes entrevistados apontam que ainda há problemas na imagem de

Mercadante que precisam ser trabalhados. Mendonça afirma: “A figura do Mercadante não é

uma figura simpática, a visão que eu tenho é que o marketing precisa trabalhar para que ele

seja uma pessoa mais sorridente”. Dentro do mesmo contexto, Cordeiro declara: “Acho que

Mercadante é muito irritado. Isso estou dizendo por que presenciei, não é que ouvi dizer. As

pessoas falam isso também”. Cita como referência uma situação ocorrida durante o

lançamento de um comitê sindical, no centro de São Paulo, em que a qualidade do som estava

muito ruim. “Ele conseguiu ser muito mais antipático da maneira como ele falava que o som

não funcionava”. Cordeiro defende que é até justo o candidato mostrar o que sente, porém

num processo eleitoral, “ele deve tomar muito cuidado com sua imagem, muito cuidado com

aquilo que fala, muito cuidado com aquilo que está transparecendo”. Ele ainda sugere que

Mercadante poderia “dialogar com aquela militância que estava ali para fazer a campanha

dele, pra colocar a campanha na rua”. Ou seja, naquele momento ele deveria incentivar, isto é,

estimular a militância, “jogar pra cima”. “Ele não têm paciência, ele não tem sensibilidade

para entender a figura que representa no momento que é candidato”, afirma o militante. Para

ele, Mercadante, muitas vezes, torna-se antipático por não ter autocontrole sobre sua postura,

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principalmente na hora em que ele precisa ser “mais cuidadoso com o que falar e com sua

imagem”.

Nesse mesmo sentido, Angeli considera que:

[...] infelizmente, o nosso candidato ao governo não consegue emplacar, o

carisma dele é complicado. Parecido com o dos tucanos. Se você colocasse o

Alckmin como candidato do PT ele não iria a lugar nenhum. Se você colocar

o Mercadante como candidato do PSDB, ele seria governador do Estado.

Além de partilhar das mesmas convicções que Mendonça e Cordeiro, Angeli crê que

ambos os candidatos têm imagem parecida. No entanto, o que pesou mais nessa eleição foi a

força do PSDB. Contudo, Mendonça defende: “Se você olhar pro Alckmin, ele está sempre

sorrindo, sempre contente, mesmo que o momento não leve para isso. Acho que essa postura

ajudou muito na imagem do candidato”. Tratando do mesmo tema, Almeida acredita que

entre os principais problemas de imagem que a campanha enfrentou, foram “as acusações do

dossiê de 2006 [que] ainda prejudica a imagem do Mercadante. Eu acho que essa questão o

PT novamente não soube administrar”.

Ao analisar as posições dos três militantes – Cordeiro, Mendonça e Angeli – sobre a

imagem de Mercadante, à luz das considerações dos autores aqui apresentados, nota-se que,

na construção das reflexões e argumentos, eles são unânimes em afirmar que faltava coerência

entre a imagem apresentada do candidato como um homem de carreira consolidada e a

dificuldade de controlar certas atitudes em público.

Em relação ao pensamento do militante Almeida, sobre a mesma abordagem, pode-se

entender que a exposição negativa da imagem do candidato ocorrida em 2006 afetou,

inegavelmente, a campanha naquele momento. No entanto, há poucos indícios de que ela

tenha tido tanta visibilidade na arena política de 2010. Contudo, mesmo tendo o processo do

“Dossiê dos aloprados” sido arquivado pelo Supremo Tribunal Federal, há de se convir que

ele ainda é um fantasma a assombrar a imagem do candidato.

4.4 Diferenças entre os eleitores de Mercadante e Alckmin

Foi perguntado aos entrevistados que diferença eles vêem entre os eleitores de

Mercadante e os de Alckmin e quais os critérios que eles consideram na avaliação dos

candidatos: experiência no Executivo, propostas e partido. Nesse primeiro momento será

tratada a primeira questão.

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Para Américo, existem três fatores que contribuem para diferenciar o público de um e

do outro. Primeiro, Alckmin recebeu o apoio da mídia, que, na sua opinião, “tem sido muito

tolerante” com o candidato. Segundo, Alckmin “conseguia passar a ideia de um homem

bonzinho, que tinha experiência administrativa”. Terceiro, “o diálogo” que ele tem com a

“classe média conservadora”. Ele acredita que os dois primeiros, pesaram em favor de

Alckmin, ao passo que o terceiro fator foi o que pesou fortemente, embora tenha consciência

de que essa classe de eleitores “não é suficiente para ganhar a eleição”. E justifica sua defesa:

[...] ela tem ainda peso muito grande na formação da opinião pública no

interior do Estado. Nas cidades pequenas e médias. Ela tem muito peso na

formação da opinião pública e nessa medida nós podemos dizer que esse

setor social foi fechado pelo Alckmin. Não quis saber se funciona o metrô,

não quis saber se a segurança piorou, isso pouco importa, se piorou ponho

uma grade na frente da minha casa, mas eu quero o Alckmin por causa da

inspiração conservadora do Alckmin.

Américo analisa que além da “classe média conservadora” existe também “outros

setores da chamada classe média emergente” – “aquele cidadão que agora chegou à classe

média, ele tem comportamento contraditório, às vezes ele é proletário, às vezes ele é pequeno

burguês” – que é mais próxima do PT. Ele reconhece que a campanha poderia ter avançado

sobre esses setores, mas não conseguiu avançar: “Nós começamos a recuperar esse terreno,

mas não recuperamos o suficiente. Faltava também de nossa parte (...) propostas consistentes

para esse setor. Esse setor você não conquista com Bolsa-família”.

Segundo Américo, a campanha de Mercadante conseguiu se aproximar de parte desses

setores na Capital. O principal indicador disso foi o resultado das eleições, com diferença de

apenas cinco pontos entre Alckmin e Mercadante. Ele acredita que a Educação, com o

Programa Universidade para Todos (ProUni), foi um dos pontos que contribuiu para que o

PT tenha avançado na cidade de São Paulo. Porém, “(...) no interior, precisava de alguma

coisa mais complexa, um programa mais completo”.

Do mesmo modo, o militante Angeli defende essa ideia focalizando que existe

[...] a cultura reacionária do Estado... No Estado em si, não na Grande São

Paulo. Porque na Grande São Paulo você consegue cinturões. A maioria das

cidades da Grande São Paulo são governadas pelo PT. Mas no interior do

Estado, infelizmente, existe ainda uma grande rejeição ao partido e isso

inviabiliza uma eleição de qualquer candidato do PT.

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Na mesma linha, Mendonça acredita que São Paulo: “É um Estado muito voltado para

a direita. Sempre teve um relacionamento estreito com a direita”.

Macena quando fala do voto na Capital, acredita que, dividindo “regionalmente” os

eleitores dos dois candidatos, os que votaram em Mercadante e em outros candidatos do PT

foram os das “(...) regiões mais carentes de serviços públicos”. E aponta que: “Algumas

regiões da classe média, como Vila Prudente, a votação ficou mais equilibrada”.

Nesse mesmo caminho segue a linha de pensamento do militante Almeida. Para ele,

“(...) o eleitor faz uma avaliação precisa, principalmente no nome que tem uma referência

popular, tem uma garantia, se de fato o eleitor conseguir sentir que tem uma proposta de

inserção popular, que tem uma inserção forte que vá ao encontro de suas vontades, ele vota

nesse candidato”. E defende que “(...) Mercadante consegue garantir essa colocação com o

eleitor. Acho que o eleitor do Alckmin tem outro ponto de vista”. Porém ele não aponta quais

são as referências que o eleitor usa como base para estabelecer sua decisão de votar no

candidato do PSDB.

Já o militante Cordeiro acredita que a visão que o eleitorado tem sobre Mercadante e

Alckmin e o que diferencia um do outro provém da “(...) imagem que a imprensa passa de

cada um deles. E que a gente sabe que não é verdadeira”. E cita como exemplo a avaliação

dada a ambos pelo senso comum afirmando que “Alckmin é um bom moço, tem [a] expressão

de bom moço. E aquilo que falam do Mercadante aparece como alguém arrogante”. Ele

afirma que quando há problemas de pequenas ou grandes proporções que envolvem as gestões

de políticos do PSDB, a imprensa não dá tanta visibilidade. Quando dá, não vincula a imagem

dos gestores “tucanos”. E, com administrações do PT ocorre o contrário. Cordeiro acredita

que o poder que a imprensa tem está passando por um processo de mudança, contudo analisa

que “ela ainda é muito forte, não só na formação da opinião”, como também em rotular a

imagem, seja dos políticos, seja dos partidos. Ele conclui que a maneira como a mídia expõe

políticos/candidatos, não chega a ser determinante na formação da imagem dos

políticos/candidatos ora apresentados para os eleitores, mas que é um fator importante na

formação de opinião de quem está do outro lado.

Sua linha de raciocínio não deixa de fazer sentido – aliás, sua reflexão vem ao

encontro do que foi construído na fundamentação teórica desta pesquisa. Dentro desse

contexto, Pereira vai mais fundo em sua análise:

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Parte do eleitorado tem um voto “ideológico”, baseado nos valores mais

permanentes seus, dos candidatos e partidos. E parte tem um voto mais

“pragmático”, baseado nos seus interesses do momento. Claro que o perfil

do candidato também conta muito. Mas o fator predominante de decisão do

voto muda a cada eleição (ora é a ética, ora é a experiência, ora é a

novidade...).

Em relação à segunda questão apresentada sobre os critérios de avaliação do

candidato, Américo afirma que “o eleitor dá importância para o currículo do candidato, mas

assim como pré-condição. Essa importância para o currículo é mais preconceituosa do que

real”. Para isso ele faz uma comparação do currículo dos dois candidatos: Alckmin é formado

em Medicina, porém pouco exerceu essa função. Enquanto Mercadante é formado em

Economia e exerceu por muito mais tempo a sua profissão. Aliás, de maneira bem sucedida,

inclusive ministrou disciplinas pertinentes à área de seu conhecimento em universidades

conceituadas e até hoje desenvolve pesquisas acadêmicas. Porém, no Poder Executivo ainda

não tem experiência, mas no Legislativo tem uma história reconhecida. Já Alckmin possui um

acúmulo de experiência no Executivo, para isso abandonou sua profissão de formação.

Américo defende que “do ponto de vista profissional, não tem nem comparação”.

Mercadante supera o Alckmin. E explica que o candidato do PSDB não tem uma carreira

profissional, e sim uma carreira política. Ele acredita que a comparação do currículo quando

enfoca somente a experiência política, revela um lado preconceituoso, porque para “[o]

currículo político eles dão importância”. Nesse sentido, ele acredita que esse aspecto “não é o

grande fator de definição de voto”. E apresenta como importantes fatores a imagem que o

político representa; da esperança em relação a futuro; da segurança que o candidato consegue

transmitir. Para ele, “esses são fatores de ordem subjetiva que têm mais peso”.

Ele afirma ainda que no Estado de São Paulo “a questão ideológica é muito marcante”.

E que as campanhas do PT precisam considerar essa questão. Procurar novos meios de

trabalhar para que evite estimular certos preconceitos no eleitor que, na sua opinião, é “muito

sujeito à pregação ideológica”. “Esse Estado tem uma ideologia muito definida”.

Macena considera que o partido e as propostas são critérios ponderáveis. Salienta que

a Capital e o Estado de São Paulo possuem características distintas por região. Por isso,

acredita que é “arriscado generalizar as características dos eleitores”; porém, acrescenta que

“uma das características do eleitor paulista, que é difícil de negar, é que ele é conservador e

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precisa ser estimulado a pensar os motivos de seu voto para que ele possa mudá-lo com

segurança de que está fazendo uma escolha melhor”.

Cordeiro considera que a experiência é um fator importante, contudo observa “que o

eleitor [até] vê como importante a questão da experiência”, porém, não tem certeza se o

eleitorado possui “mecanismos para avaliar”.

Nas respostas apresentadas sobre as duas questões, é interessante notar que dos sete

entrevistados a maioria aponta para a existência do voto conservador no Estado de São Paulo,

e que a mídia favoreceu o candidato do PSDB.

Ao analisar a questão do “eleitor conservador” é difícil não pensar que, de um certo

modo, a campanha faz uma projeção do que deveria ser de sua responsabilidade para o

eleitorado paulista. Sabe-se que o senso comum avalia o Rio Grande do Sul tão conservador

quanto São Paulo, muitas vezes até separatista e preconceituoso. No entanto, este Estado

elegeu como seus governadores candidatos do PT em 2002 (Olívio Dutra) e em 2010 (Tarso

Genro). Sem citar sua capital, Porto Alegre, que elegeu candidatos do PT para a prefeitura por

quatro mandatos consecutivos (1988, 1992, 1996 e 2000), conforme explicamos no Capítulo

1 desta pesquisa sobre a ascensão do PT. Outras questões que nos permite refletir sobre esses

apontamentos é que até mesmo no Estado de São Paulo, o PT elegeu prefeitos em cidades

como Ribeirão Preto (1992 e 2000), região que cresceu em função da cultura cafeeira

comanda pela elite rural paulista. Campinas, considerada a capital do quercismo, elegeu como

prefeito, Jacó Bittar (PT), em 1988, inclusive quando Quércia era governador do Estado; e

posteriormente elegeu Toninho do PT (2000). Em Santos elegeu Telma de Souza (1998). Sem

citarmos outras cidades que o PT conquistou na Grande São Paulo, além da Capital.

Levando em consideração outro fator para tentar entender “o eleitor conservador”, o

Estado de São Paulo, diferentemente de outros Estados considerados conservadores, elege

políticos de meia idade, como foi o caso do próprio Alckmin (que tinha menos de 50 anos

quando assumiu o governo pela primeira vez) e de Quércia (49 anos ao assumir em 1987), o

que pode ser um sinal de pouco conservadorismo do eleitor paulista.

4.5 Hegemonia do PSDB no Estado de São Paulo

O viés conservador do eleitor também é o argumento da coordenação da campanha

para explicar o porquê de o PSDB manter a hegemonia política no Estado há tanto tempo. O

método argumentativo de Américo consiste em atribuir ao Estado de São Paulo “um viés

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conservador”. “Ele tem uma mídia muito conservadora, conservadora e partidária”. Justifica

que existe uma concentração de setores relevantes da burguesia paulista e da burguesia

brasileira nesse Estado. Contudo, admite a necessidade de o PT refletir de um modo mais

consistente a sua atuação objetivando buscar políticas alternativas para, a partir daí, dialogar

com esses setores. Dentro dessa reflexão, ele acredita que o PT não pode simplesmente

explicar sua posição, mas procurar novas formas de como trabalhar essa questão para quebrar

a hegemonia:

É o Estado mais conservador? É verdade. É o Estado que tem a mídia mais

conservadora do Brasil? Sim. É o Estado que tem a mídia mais tucana? É

verdade. Isso tudo explica, mas não justifica as nossas derrotas. Isso também

vem de falhas e limitações nossas, da incapacidade de ter um discurso mais

convidativo, mais sedutor pra setores médios da população. Acho que isso

vai ficando possível agora, porque a classe média conservadora está

perdendo espaço, está ficando menor do ponto de vista proporcional. Quem

está aumentando e crescendo é a classe média emergente, que nós temos

mais chance com ela.

Dentro dessa mesma linha, Macena aponta que:

O PSDB tem a máquina do Estado, apesar do acomodamento em relação às

políticas públicas. O Estado de São Paulo é muito conservador e o PT não

rompeu alguns desgastes, e terceiro São Paulo, ao contrário dos outros

Estados, não percebeu com o mesmo impacto as políticas de inclusão do

governo Lula, de desenvolvimento, que diminuiu as desigualdades

econômicas e regionais.

Examinando atentamente tanto o reconhecimento de Américo quanto a afirmação de

Macena, confirmamos uma das hipóteses iniciais desta pesquisa: a falta de projeto do partido

direcionado para o Estado de São Paulo. A impressão é que os poucos projetos desenvolvidos

foram pensados e elaborados apenas às vésperas das eleições, e que não houve uma

preocupação fora do contexto pré-campanha e campanha eleitoral.

Pereira compartilha em parte da mesma ideia, contudo vai além, e indica três

elementos importantes. Primeiro, a reciprocidade entre governo estadual e mídia paulista:

“(...) a avalanche publicitária do governo estadual”, ocorre “praticamente [em] todos os

programas noticiosos de TV e rádio tem publicidade estatal DIÁRIA”.146

Segundo, a decisão

do PT, desde 1982, de ter optado somente nas duas últimas eleições, 2006 e 2010, por apostar

146

Palavra marcada em caixa alta pelo próprio entrevistado, que encaminhou suas respostas por e-mail.

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no mesmo candidato para governador. Terceiro e último, “alguns anacronismos na forma do

partido fazer campanha”. O derradeiro elemento condiz com uma hipótese que ganha força a

partir da análise das entrevistas: que o partido reconheça a necessidade de ter do seu lado

profissionais de marketing político para que eles possam entrar em cena – full time –, e não

apenas nas campanhas eleitorais. Sobretudo se o PT tem como objetivo tirar o PSDB do

comando do governo estadual.

Novamente, como no tema Estratégia de campanha, a leitura que a militância faz é

diferente: atribui a vantagem eleitoral do PSDB a problemas internos do PT que, se fossem

resolvidos, garantiria um partido mais forte, capaz de vencer os pleitos para o governo do

Estado. Almeida insiste em apontar a divisão do partido:

O PT não consegue quebrar essa hegemonia no Estado de São Paulo porque

primeiramente o PT de São Paulo não pode se dividir, tem que somar, tem

que refletir, tem que organizar. Acho que as tendências do partido em São

Paulo estão dividindo muito o PT, e com isso não consegue achar um eixo

que de fato consiga navegar para uma vitória aqui em São Paulo [Estado].

Tem convicção de que no momento em que o PT encontrar o eixo para trabalhar

melhor esse gargalo, o partido alcançará a vitória: “se nós [o partido] nos organizarmos” –

cita como exemplo as vitórias do PT na Capital –, “nós temos condições totais de ganhar as

eleições” tanto na Capital, quanto no Estado.

A visão de Angeli é que o estigma de “comunista” ainda acompanha o PT,

principalmente no interior de São Paulo:

O PT ainda cheira a comunismo, parece... É brincadeira falar isso, mas é

verdade... Hoje as pessoas no Interior, eu sinto isso, sou do interior de São

Paulo, eu sei, eu tenho na pele isso e você é taxado de comunista. É aquela

coisa de achar que... E já passou, né? Só que, infelizmente, é reacionário

mesmo e pra mudar essa visão, não sei, é difícil.

Cordeiro é enfático ao afirmar a falta de projeto do PT para o Estado enquanto

oposição. E menciona como exemplo um debate organizado pelos estudantes, em São Paulo,

sobre o aumento da tarifa de ônibus. Ele faz uma critica a sua própria Central Sindical, a

CUT:

Eu não vi a CUT organizando esse movimento que eu acho importante, a

gente sabe que na CUT 95% dos seus filiados são petistas. Eu não vi o

Partido dos Trabalhadores discutindo essa questão do aumento da tarifa de

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ônibus, nessas lutas populares, nesses clamores populares, você vê hoje em

São Paulo o serviço de transporte é péssimo, tanto do município quanto do

governo do Estado, a saúde é péssima e nós não vemos uma atuação

institucional do partido discutindo esses problemas que a cidade tem. E o

partido aparece onde? No momento da eleição.

Seguindo com um certo rigor argumentativo, vê o PT dos dias atuais como “um

partido que está muito preocupado em ser governo federal e pouco preocupado em ser

oposição onde ele não é governo”. E defende que é fundamental “quando você é governo

você tem projeto, se você é oposição você também tem projeto. E aqui no Estado de São

Paulo eu vejo uma ausência gigantesca de projeto do partido”. Ele reconhece que, “nós [o

partido] não tivemos a capacidade de fazermos uma reflexão e entender a conjuntura e

rediscutir o nosso papel”.

4.6 Desempenho da militância entre majoritários e proporcionais e os gargalos com os

candidatos proporcionais

Do ponto de vista da coordenação da campanha, existe consenso entre dois

entrevistados ao afirmarem que os militantes conseguiram dividir seus esforços entre os

candidatos majoritários e os candidatos proporcionais. Segundo Américo, “o PT geralmente é

o partido que melhor articula essas duas coisas”. No mesmo sentido, Macena afirma que, “a

militância se empenhou tanto na campanha majoritária como na proporcional”. Dentro desse

contexto, ele levanta uma questão interessante: “Agora, vamos lembrar que definimos nosso

candidato ao governo tardiamente”. Até que ponto isso interfere no desempenho da campanha

para o governo estadual? Será que a preocupação de Macena em algum momento será

considerada pelo partido?

Apesar dos dois articuladores acreditarem que houve um equilíbrio de esforços por

parte dos militantes, o terceiro, Pereira, diz que “os militantes, de maneira geral, focam seu

apoio primeiramente nos deputados a quem são ligados, com quem se identificam. E as

campanhas dos deputados ajudam a reforçar as campanhas majoritárias”. Ele acredita que

“poucas pessoas fazem campanha apenas para os candidatos majoritários”. Essa ideia dá

abertura para considerar que não há igualdade de esforços, pois estão concentrados

primeiramente no candidato proporcional; entretanto acaba levando, de certo modo, à

candidatura do majoritário. Isso, quando há um ambiente propício para tal empenho. O que

não foi o caso da campanha em estudo. Há passagens, no início deste capítulo, que leva a

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acreditar que não houve apoio “equilibrado”. O depoimento do militante Angeli revela que

Mercadante não teve apoio total dos proporcionais, o que consequentemente refletiu no

desempenho da militância.

Outro militante, Cordeiro, oferece bases que novamente não se harmonizam com o

pensamento dos dois primeiros coordenadores da campanha quando afirma que os candidatos

ao Legislativo não contribuíram satisfatoriamente para a campanha de Mercadante. Sua

defesa parte das justificativas apresentadas por quem está do outro lado, e sente a ausência de

debates da parte do PT. Segundo ele, o partido não discute o trabalho em conjunto, não tem

estratégias articuladas em torno dessas candidaturas. No seu entender, o modelo utilizado

atrapalha porque são muitos cargos para se eleger. Não resta “(...) dúvidas de que os

parlamentares, os candidatos a deputado contribuíram muito pouco”. Finaliza afirmando que

“eles [candidatos ao Legislativo] ficam mais preocupados com sua eleição do que com esse

projeto mais amplo”. Na mesma tendência, vem a fundamentação de Almeida: “Alguns

candidatos só se preocuparam com a sua campanha e o Mercadante ficou aí esperando uma

articulação maior de votos (...)”. Enfim, enxerga essa campanha como uma experiência muito

grande para o partido fazer uma reflexão.

4.7 Capacitação e qualificação da equipe envolvida na campanha

Procurando identificar as dificuldades da militância em defender seus candidatos

durante a campanha de Mercadante, foi perguntado se ela observa uma evolução na sua

preparação para realizar um trabalho mais eficaz, com investimento em formação,

treinamentos motivacionais e desenvolvimento efetivo de pessoal, como é feito em empresas

modelos por meio do departamento de Recursos Humanos.

De acordo com as respostas obtidas, os militantes consideram que não conseguem ver

uma evolução. Um deles até cita que, pelo contrário, houve uma involução. Para Angeli, não

houve uma evolução nas campanhas envolvendo a preparação da militância. De maneira

saudosista, ele diz que “infelizmente isso se perdeu”. “(...) dificilmente as pessoas atuam de

corpo e alma como antigamente”. E dá como exemplo a campanha para presidente de 1989,

disputa entre Lula e Collor:

(...) eu na época era bancário, o Collor com aquela estrutura toda, com

banners gigantes, outdoors pra todo lado e a gente pregava uma foto do Lula

no papelão, colava num pedaço de pau e saia pra rua! Quer dizer, isso era

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militância. E você não recebia um real por isso. Hoje não, infelizmente

acabou. Acredito que o militante tem que confiar no candidato. Com o Lula,

por exemplo, os candidatos faziam questão de colocar o Lula no folheto

deles. Por quê? O carisma do cara, não tem jeito. E ele é a alma do PT. Se

nós conseguíssemos outras lideranças como o Lula, com certeza. Mas hoje

eu não vejo alguém que vai pra rua defender um candidato de corpo e alma.

O militante Mendonça acredita que o que atrapalha ainda mais, além da falta de

preparo da militância, e que acaba influenciando na ausência de comprometimento, são as

correntes. É interessante notar que, outra vez, esse setor liga o sinal de alerta sobre a divisão

do partido:

Não temos unidade total sobre nossos candidatos. Acho que o fato, às vezes,

de algumas correntes só entrarem depois na campanha acabam atrapalhando

a desenvoltura da imagem do nosso candidato, que foi o caso de Mercadante

na última eleição. Acho que faltou sim, faltou um pouco mais de empenho.

Para Almeida, “poderia ser trabalhado melhor diante de cada diretório de cada cidade,

deveria envolver mais a militância, seus próprios diretórios, seus próprios presidentes de

diretórios. Acho que o PT falhou um pouco nessa organização”. Ele aponta essa questão como

uma “certa culpa do partido”. Avalia que o PT poderia envolver melhor os Diretórios

Municipais e Zonais no treinamento da militância:

No PT falta a questão da formação, do treinamento, mas acho que ainda é o

partido que mais traz a discussão partidária. Há reuniões do diretório, tem

encontros, tem várias atividades que acho que em todos os partidos não

acontece isso. Vejo que no PT ainda continua sendo o partido que mais

mobiliza, mas acho que, de fato, o PT precisa trazer mais uma valorização da

estância pra região (...).

O militante Almeida acredita que o PT dos anos 1980 tinha uma preocupação maior

com o desenvolvimento e a valorização da militância. Para ele, naquela época “a militância do

partido era maior que o PT (...). O PT não estava no poder, mas tinha o PT no poder de várias

ações.” Nesse ponto de vista, ele define a importância que existia entre o partido e a

militância. Comparando aquele tempo com os dias atuais – com o crescimento do partido em

diversas regiões e, principalmente em nível nacional –, Almeida acredita que, a medida que o

PT se tornou poder, isso tem dificultado e afastado muito a relação do partido com a

militância.

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Já Cordeiro faz uma análise crítica envolvendo um “mea culpa”, tanto dele enquanto

filiado, que atua mais como militante, em virtude de sua atividade como dirigente sindical lhe

tomar grande parte de seu tempo, quanto ao partido, que ele observa que “não tem um projeto

[unificado] de ocupação de espaço”, seja no Transporte, na Saúde ou na Educação. Em seu

rigor argumentativo ele defende que o espaço não é conquistado apenas na eleição, e sim o

tempo todo. “Então quando chega o momento da eleição, cada um vai cuidar da sua vida, o

deputado da dele, o candidato a governador da dele, o candidato a senador da dele e não tem

projeto”. Quanto ao processo de formação de filiados e militantes, ele sente

(...) uma ausência completa de formação, mas ela está dentro dessa ausência

maior, que é gritante, uma ausência de um planejamento estratégico, que

você não faz nos seis meses da campanha, se faz desde já. Acho que a gente

aprende muito com escola de samba. Na hora que termina um carnaval se

começa a preparar o outro. E o partido, infelizmente, termina uma eleição e

ele fica dormindo, fica hibernando, próximo da eleição ele acorda e sai

correndo de novo pra ver como sobrevive pra poder hibernar por mais um

período.

Ele reconhece que não só o partido, mas a militância também é responsável por não

arriscar interferir mais nas decisões do partido: “nós não temos formação, nós não temos visão

estratégica, nós não temos planejamento, acho que essa é a combinação imperfeita, por isso

acho que nós estamos nessa situação. Culpa da militância e culpa do partido”.

A mesma questão foi feita aos envolvidos na coordenação da campanha. Américo

afirma que o PT é o partido que mais se preocupa em desenvolver práticas para a formação e

o envolvimento dos filiados. E continua sua defesa: “Não acredito que tenha uma empresa

com mais motivação do que o PT”. Não podemos deixar de concordar, em parte,

principalmente porque vimos em nosso cenário, no Capítulo 1, a história do surgimento do PT

e a sua consolidação. E é justamente este um dos motivos que fez surgir a necessidade de

inserir essa questão na pesquisa para tentar entender o que vem acontecendo no

relacionamento do PT com a sua militância. Ele justifica que “o PT ainda tem uma militância

voluntária grande”, e que “faz treinamento, faz preparação”. No entanto, em relação às

pessoas que estão diretamente ligadas as campanhas, ele reconhece que:

(...) nós precisaríamos ter um preparo melhor não só do ponto de vista

motivacional, mas do ponto de vista técnico, organizativo, trabalhar com as

pesquisas, como falar com as pessoas, como abordar, como convencer, como

seduzir as pessoas, como não agredir. O militante petista, às vezes, o mais

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fiel, eles vêm da periferia e às vezes é um pouco agressivo para falar com as

pessoas.

E acaba concordando que o partido precisa amadurecer nesse quesito, mesmo

defendendo que ele venha fazendo um trabalho neste sentido ao longo de sua história. Porém,

acredita que o trabalho desenvolvido pelo PT “ainda está muito aquém do necessário. (...)

tanto do ponto de vista motivacional quando do de técnica de marketing para abordar e

convencer as pessoas”.

Segundo Américo, “isso vem um pouco da cultura do improviso que tem na política

brasileira; você tem uma cultura de amadorismo, de improviso que vige na maioria dos

partidos brasileiros (...)”. Ele nota que somente hoje é que as agremiações políticas estão

começando a aceitar a ideia de que as campanhas devam ser organizadas de maneira mais

profissional. E acredita que, de certa forma, “eles também tinham preconceitos, achando que

se fosse profissional demais é como se estivessem traindo a política”.

Entretanto, recentemente passaram a ter consciência de que tal pensamento não

corresponde ao que o marketing político propõe. Porém, afirma que, até então, a visão das

agremiações políticas em relação às campanhas políticas era de que “o bom é aquilo que é

improvisado, que é espontâneo, que é amador”.

Na mesma perspectiva segue o ponto de vista de Macena, que pontua os trabalhos que

estão sendo realizados pelo PT :

Durante a campanha e no período pré-eleitoral, o partido realiza caravanas,

que têm como objetivo unificar o discurso dos militantes, prepará-los e

motivá-los a defender e divulgar o projeto e os ideais do partido durante as

eleições. Esses eventos costumam ocorrer aos finais de semana, e em cada

diretório zonal ou em cada região. A ideia é realizar eventos que consigam

alcançar com facilidade o militante do PT. Mas o partido sabe que muitas

questões podem e devem ser melhoradas com sugestões e métodos diferentes

de preparação para a campanha.

Entretanto, Pereira reconhece que ainda não tem base necessária para adentrar na

questão treinamento para o partido à moda das empresas. Porém, considera “que o PT precisa

reciclar sua forma de fazer campanha porta-a-porta, que deu muito certo no passado, mas que

hoje parece estar esgotada”.

É curioso observar que, tanto a coordenação quanto a militância sentem a necessidade

de o PT se renovar, seja no seu processo de fazer campanha, seja na aproximação e no

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comprometimento da militância com a instância maior, que é o partido. Tanto com novos

métodos de treinamento para estimular a motivação de seus filiados e militantes, quanto na

inserção mais ampla do marketing político. A militância vai além, está em consenso que essa

renovação do PT seja feita até mesmo na sua na forma de pensar projetos para o Estado, e

examina atentamente que há ausência de projetos do partido enquanto oposição.

4.8 Reta final e o que faltou para chegar ao segundo turno

A coordenação não aponta um ponto central que impediu um processo cumulativo de

forças no segundo turno e partilha do pensamento de que faltou muito pouco. Américo

acredita que “qualquer coisa” pode explicar o fato de o PT ter chegado muito próximo de

decidir com o PSDB num novo turno. No entanto, ele aponta que a queda da Dilma nos

últimos quarenta dias de campanha acabou influenciando o crescimento de Mercadante.

Porque a campanha do petista “estava muito associada à Dilma. E na reta final colamos mais”.

Pereira defende que, do mesmo modo que existiam diversas variáveis a favor de

Mercadante, “também havia muitas variáveis contrárias”. Já para Macena, a coordenação

acreditava que outros candidatos teriam um melhor desempenho e isso provocaria uma nova

disputa entre o PT e o PSDB.

Mais uma vez, diferentemente da coordenação, a militância aponta diversos gargalos.

Os militantes só concordam em um ponto com a articulação: que faltou muito pouco para

Mercadante disputar outro turno. Para Mendonça o gargalo central veio da base aliada:

(...) o maior problema ainda em relação ao Aloizio Mercadante é a gente

discutir um pouco mais, ter uma base aliada mais contundente, forçando essa

base aliada a trabalhar em nome de Mercadante. Não adianta nada você ter

um candidato aliado, que pode fazer uma divulgação, mas você não ver um

ato dessa base aliada pra eleger Mercadante. Acredito que o grande

problema foi esse.

Seguindo um caminho próximo ao da visão de Mendonça, Almeida bateu no mesmo

ponto; acredita que o problema principal que implicou uma disputa entre Mercadante e

Alckmin foi a falta de

(...) consenso do partido diante de uma candidatura, faltou uma visão de que

a prévia prejudica o partido, prejudica a campanha, tem divisão da

militância, tem rancores, muitos militantes acabam não fazendo a campanha,

acho que isso dificultou muito a campanha de Mercadante. Não só nessa

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campanha, mas em todas as campanhas do PT, se tiver prévia, nós não

vamos chegar a lugar nenhum, porque vai estar dividido.

Já Angeli acredita que o carisma de Lula, contribuiu muito para o crescimento de

Mercadante na reta final. Ele levanta uma questão interessante ao exemplificar com um caso

local. Parte da constatação de que nessa campanha o PT não investiu na cidade de

Carapicuíba. Contudo, aponta que o resultado das eleições para o candidato ao governo do

Estado do PT na cidade foi expressiva, aproximadamente 49% dos votos para Mercadante e

37% para Alckmin. Analisa:

Se investiu em Carapicuíba? Não. Entendeu? Ah, tá, 49% a 37%, tudo bem,

mas porque Carapicuíba deu 49 a 37? Isso que é o grande segredo.

Funcionou? Como que o pessoal local conseguiu colar o Mercadante na

imagem do prefeito? Não sei em outras cidades, acho que não funcionou. O

prefeito, no caso, é muito importante. Se ele é do partido do candidato, ele

tem que agregar voto. Acho que lá é um exemplo muito interessante pra se

pesquisar. Se você consegue transferir 49% dos votos pro seu candidato a

administração está sendo bem avaliada (...).

Isso mostra não apenas a boa avaliação da gestão do PT pela população, mas

principalmente o empenho do prefeito com seu Diretório Municipal, mesmo não tendo total

apoio da articulação central da campanha.

Cordeiro partilha da mesma ideia de que a presença de Lula foi extremamente

importante para a elevação progressiva de Mercadante. Porém aponta outros fatores que

contribuíram como: o HGPE e os debates. Mas quando questionado sobre o que faltou para

uma disputa no segundo turno, insiste que:

(...) faltou planejamento estratégico. Campanha você faz antes, durante, não

depois, mas no final. Não vi um planejamento estratégico em cada etapa

desse processo de conquistar votos. Acho que nós estamos com

planejamentos muito ruins. Se tivesse planejado melhor, dividido melhor os

recursos, as estruturas, as pessoas... Acho que cada uma dessas etapas eram

previsíveis.

Afirma que o fato de a imprensa não apoiar o PT, esconder o Alckmin, não falar dos

problemas do governo do PSDB, já era esperado. Para ele não houve nenhuma novidade, da

parte da campanha do Alckmin, que pudesse surpreender a campanha do Mercadante. Todas

essas situações eram previsíveis. E defende que: “Num planejamento você tem isso. Você

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sabe que a sua chance, quanto mais você está ocupando espaço, vai tendo que trabalhar mais.

Acho que foi falta de planejamento”.

Além dos temas analisados, não se pode deixar de lado uma questão de extrema

importância num processo de campanha apontada por dois militantes: a distribuição de

materiais. Cordeiro afirma que a militância sentiu a falta de materiais de divulgação de

Mercadante e, mesmo quando se propunham a buscar, encontravam dificuldade em obtê-los:

Quantas vezes a gente tentou ir atrás do diretório, nos espaços buscar

materiais e não tinha. Especialmente dos majoritários. Porque os

proporcionais têm as suas estruturas de arrecadação, de rodar material, de

confecção de material, então a hora que a gente muitas vezes precisava de

material dos majoritários pra fazer a gente não tinha ou era material já

repetido, não vi muita estrutura, planejamento disso. Infelizmente, como já

falamos, as pessoas estão mais preocupadas com os seus mandatos de

parlamentar do que nas eleições dos majoritários.

Angeli percebeu que a distribuição de materiais estava muito desorganizada e

dificultava fazer uma logística em um curto espaço de tempo para distribuí-los na cidade onde

o militante atua:

Eu senti isso, a divulgação de material foi muito ruim, se mandavam muita

coisa e, em cima da hora, você tinha dois dias pra desenvolver, um dia pra

divulgar o comício na cidade toda, mandava um milhão de folhetos e era

impossível distribuir. A campanha dele errou muito aí.

Em suma, pode-se concluir que, além dos acertos, ocorreram diversos erros na

campanha. Um deles foi a equipe de comunicação e de estratégia de marketing arriscar

demais apostando no crescimento de outros candidatos para que, a partir daí, o seu candidato

ganhasse força. É como assistir a um jogo de futebol, torcer para o time ganhar, porém,

quando acontece uma falta ou um pênalti, você não pode interferir para mudar o rumo do

jogo. Essa expectativa é aceitável somente para o eleitor, que define seu voto e permanece na

torcida para que seu candidato evolua e vença.

A ausência de formação e treinamento de filiados e militantes inviabiliza um

comprometimento maior entre o Partido e sua militância. Além disso, deixa passar a

oportunidade de colocar na linha de frente da campanha pessoas mais preparadas para

defender o candidato de maneira eficaz. A visão de que o eleitor paulista tem um voto

conservador implica culpar o próprio eleitor, além de atestar a dificuldade do partido para

desenvolver uma estratégia para persuadi-lo. Nesse sentido, de que vale o marketing político?

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No entanto, esses fatores não estão sendo apontados como o deslize crucial. O que se

percebe é que dois elementos se destacam como forças inviabilizadoras do bom desempenho

do candidato. Primeiro, as correntes internas do PT, que interferiram intensamente no apoio a

Mercadante. Quando há necessidade de disputa interna a partir de prévias eleitorais, o apoio

de quem perdeu é incerto para quem ganhou a disputa. São questões humanas que ainda são

difíceis de serem trabalhadas – não aceitar que sua própria derrota momentânea, de alguma

forma possa soar como vitória para o partido: o saber perder para aprender ganhar. E,

segundo, a falta de um projeto eleitoral mais estruturado para tentar quebrar a hegemonia do

PSDB.

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Capítulo 5

Campanha na TV e a cobertura da imprensa

5.1 Análise do HGPE e dos programas de debate

Para viabilizar a análise dos programas eleitorais seguiremos o mesmo modelo

metodológico utilizado nas entrevistas, ou seja, faremos uma análise de conteúdo dos

programas veiculados pela campanha de Mercadante na televisão. Optamos por desenvolver a

análise com três amostras de programas veiculados no período noturno, sendo o primeiro

programa da campanha, na sequência, a propaganda veiculada no meio da campanha,

exatamente em 8 de setembro, e o último programa, exibido à véspera do dia da eleição.

A escolha por utilizar em nossa análise apenas as propaganda eleitorais noturnas,

justifica-se por três motivos. Primeiro, porque verificamos que os partidos lançam seus

programas no horário noturno (20h), ficando reservada aos programas da tarde (13h) a reprise

das propagandas da noite anterior. Segundo, essa escolha é feita por profissionais de

comunicação e marketing com base em estudos que revelam que o horário noturno é

considerado nobre, pois permite alcançar um número maior de espectadores. E terceiro, tendo

esses aspectos sido considerados por diversos pesquisadores do HGPE como importantes,

seguiremos a mesma linha metodológica.

Nossa análise de conteúdo do discurso das estratégias no HGPE será realizada com

base na metodologia desenvolvida por Figueiredo e sua equipe, então pesquisadores do

IUPERJ. Contudo, fizemos algumas pequenas adaptações para tentar adequar às amostras

aqui selecionadas.

O método desenvolvido pelos pesquisadores do Rio de Janeiro para realizar estudos de

estratégias de comunicação de campanhas eleitorais147

consiste na categorização, de maneira

exaustiva, dos elementos semânticos que envolvem a propaganda política, seja em textos, seja

em peças de comunicação, “como comerciais, noticiários e outros”. O “objetivo é desvendar a

estrutura semântica do discurso e, com base nessa estrutura, inferir uma metalinguagem que

represente a estratégia discursiva do ator sob observação”.148

Ou seja, categorizando os

elementos semânticos, simbólicos, performáticos e tecnológicos nas propagandas políticas, o

147

Em 1996, Figueiredo [et al]. desenvolveram um novo método de análise de conteúdo propaganda política que

pudessem fazer comparações com pesquisas realizadas em outros países, principalmente no Estados Unidos. 148

FIGUEIREDO, Marcus; ALDÉ, Alessandra; DIAS, Heloisa e JORGE, Vladimyr L. apud FIGUEIREDO,

Rubens (org.). Op. Cit,, p.157-159.

Page 101: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

estudo pode observar de forma mais eficaz as estratégias de comunicação das campanhas,

seus formatos, suas técnicas de produção, a maneira como foram elaborados os discursos,

seus apelos, como também os objetivos das mensagens, as características pessoais, enfim, o

clima geral dos comerciais e os temas levantados.149

Segundo Figueiredo, o método propicia uma inferência mais segura para “identificar

as estratégias” do candidato, “aumentar nossa capacidade de previsão e explicar o processo

eleitoral”.150

Contudo, pelo exíguo espaço de tempo para desenvolver esta pesquisa, a opção

foi escolher programas que pudessem identificar as estratégias de comunicação escolhidas

pela campanha.

Não faremos o modelo de comparação com as propagandas eleitorais dos demais

candidatos que concorreram no mesmo pleito, como também entre Mercadante e Alckmin.

Ateremo-nos a analisar apenas o nosso objeto, a campanha de Mercadante, ou seja, sua

estratégia de marketing para persuadir o eleitor.

Acerca da comparação entre os dois principais candidatos (oposição e situação), ela

será feita mais adiante no processo de análise dos programas de debates e, somente entre os

dois principais candidatos. Como na proposta de análise dos programas eleitorais,

analisaremos também apenas três programas de debates, estes selecionados por emissoras: TV

Bandeirantes, TV Record e Rede Globo.

As propagandas eleitorais usadas em nossa análise estão disponíveis na internet e

foram transcritos na íntegra, podendo ser encontrados nos anexos desta pesquisa. Já os

programas de debates estarão disponíveis apenas nos endereços eletrônicos para acesso na

internet.

A seguir as análises de conteúdo das propagandas eleitorais de Mercadante veiculadas

na televisão:

5.1.1 Propaganda eleitoral veiculada em 18 de agosto151

O primeiro programa eleitoral de Mercadante, com duração de quatro minutos e

dezessete segundos, foi ao ar com a visível estratégia de colar a imagem do candidato à de

Lula. A propaganda tem início com a apresentação, pela locução em off, de um breve

149

Idem 150

Ibidem. 151

Vídeo postado no site Youtube [18 de ago. 2010] pela equipe de Mercadante (mercadante13). Disponível em:

< http://www.youtube.com/watch?v=Y1IDCSVlagI&feature=related>. Acesso em: 24 de set. 2011.

Page 102: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

currículo político do candidato, reforçando a experiência adquirida nos últimos oito anos no

Senado, unindo sempre as conquistas realizadas por Lula a Mercadante. Depois da narração

em off, Lula é o primeiro a se pronunciar e faz a introdução ao discurso com o depoimento

sobre a estreita relação entre os dois. Em seguida, Mercadante também faz o seu

pronunciamento, confirmando a amizade e as parcerias que fizeram no decorrer de suas

carreiras políticas. Lula fala de sua admiração pelo candidato: O que eu mais gosto no

Mercadante é que ele é um cara que batalha pelas coisas que acredita. Sabe dialogar, sabe

ouvir, estuda os problemas e o mais importante: aponta soluções.

A propaganda é desenvolvida, o tempo todo, estabelecendo um diálogo entre ambos:

ora, o orador dominante é Lula, ora Mercadante. Porém, eles aparecem em cenários

diferentes. A imagem de Mercadante é apresentada em local ao ar livre, enquanto Lula

aparece em um escritório. Os efeitos técnicos e o enquadramento de ambos são bem

dinâmicos, dando a impressão de que estão num bate-papo, o que sugere uma forte ligação

emocional entre Lula e o candidato.

Mercadante enfatiza sua importância no Senado para as realizações políticas do

Governo Lula. E este reforça que Mercadante está preparado para governar São Paulo e pede

para o eleitor depositar no candidato a mesma confiança que depositou nele. Ambos

estabelecem um diálogo mostrando, de início, que uma das estratégias principais era vincular

a imagem de um ao outro, ou seja, colar o candidato no Lula. Também é feita uma crítica ao

governo do PSDB: São Paulo, esse estado grandioso, fantástico, infelizmente não teve, nos

últimos anos, governantes capazes de acompanhar o ritmo do Brasil. Fizeram muito pouco

metrô, os jovens passam de ano sem aprender, não existe uma política de desenvolvimento

para o interior. Os pedágios são cada vez mais abusivos.

Ao final da propaganda, enquanto os atores cantam o jingle “O Lula já mostrou que

vale a pena mudar. Só depende de você, é só confiar! Mercadante governador”, são

mostradas cenas do candidato em uma caminhada e apertando a mão de uma eleitora,

denotando uma linguagem de proximidade com o povo.

Page 103: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

5.1.2 Propaganda eleitoral veiculada em 8 de setembro152

O segundo programa escolhido para analisar foi ao ar com a duração de quatro

minutos e dezenove segundos. A propaganda inicia de forma similar à do primeiro programa,

mesmo estando a campanha em sua metade, com a introdução feita pelo locutor em off, desta

vez mostra que sua presença no Senado trouxe verbas para obras e programas de saúde em

São Paulo. Novamente, faz críticas à gestão do PSDB, só que dessa vez inicia sua crítica

direcionando-a ao governo Fernando Henrique. E pede oportunidade ao eleitor para

experimentar um jeito novo de governar com ideias novas, sangue novo, agilidade e vontade

de fazer. E Lula endossa sua proposta de inovação para o governo de São Paulo. Propõe ao

eleitor que dê oportunidade a Mercadante para que ele possa implantar no Estado de São

Paulo o que o Governo Lula implantou no Brasil, ou seja, o jeito de governar do PT. Mais

uma vez a propaganda buscou colar o prestígio de Lula à imagem de Mercadante.

Mercadante critica, fortemente, os problemas enfrentados na Saúde pública do Estado

e reforça sua defesa com depoimentos de três eleitores (na rua) explorando o formato “o povo

fala”. Eles expõem as dificuldades de marcar um exame ou uma consulta. Mercadante, em

sintonia com os eleitores, aparece em um estúdio com enquadramento revelando suas

expressões faciais, dando a entender de forma sutil uma proximidade emocional entre ele e o

eleitor.

Nesse programa a estratégia principal é a área da Saúde, e apresenta a criação do

ProUni da Saúde, mostrando uma proposta estruturada de como vai fazer para implementar,

comparando ao ProUni – Universidades, como medida preventiva. E como proposta de longo

prazo, fala da construção de mais 30 Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs) e oito

hospitais. Porém, nesse programa, ele não pontua em que região vai começar.

Para trazer o eleitor para a realidade sobre o tamanho e a importância de São Paulo,

compara o Estado a países que têm territórios equivalentes ou são menores. E pela terceira

vez faz críticas aos últimos governantes do Estado: Você sabe, quando a gente foge da

responsabilidade nunca resolve as dificuldades. Eu quero mudar essa atitude. O que

incomodar São Paulo e os paulistas será um problema meu. Para finalizar sua fala ele faz um

apelo emocional aos eleitores: Me dê uma chance.

152

Vídeo postado no site Youtube [09 de set. 2010] pela equipe de Mercadante (mercadante13). Disponível em:

< http://www.youtube.com/watch?v=T9F-xOta0Ig>. Acesso em: 24 de set. 2011.

Page 104: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Entre as várias participações e depoimentos apresentados durante a propaganda foram

reprisadas imagens de um comício realizado em Guarulhos, em que aparecem, além do

prefeito da cidade, Sebastião Almeida, Lula, Marta, Netinho e outras personalidades públicas

demonstrando apoio ao candidato e assegurando que nesse ponto a campanha estava nas ruas

e empolgando a cidade.

O programa é finalizado convidando os eleitores para participarem do próximo

comício que seria realizado em Ribeirão Preto com a presença de Lula e Dilma. Aparece,

rapidamente, a imagem dos três, Lula, Dilma e Mercadante com as mãos elevadas.

5.1.3 Propaganda eleitoral veiculada em 29 de setembro153

O último programa HGPE de Mercadante foi ao ar com duração de quatro minutos e

dezenove segundos. O locutor em off faz a abertura do programa acusando Alckmin de ter

fugido do debate direto com Mercadante na Rede Globo. Enquanto o locutor fala, são

apresentadas, rapidamente, as manchetes/chamadas de três jornais sobre a cobertura da

campanha, informando que Alckmin se esquivou dos confrontos com Mercadante. O locutor

finaliza afirmando que está na hora de São Paulo mudar com Mercadante. Um governador

com coragem, atitude e novas ideias. Como nosso Estado merece.

Mercadante introduz seu discurso com um agradecimento ao eleitor pela atenção e

carinho demonstrados no decorrer da campanha. Em seguida, diz que o Brasil vai tão bem,

que a economia de São Paulo é tão vibrante, que se o governador do Estado não fizer nada,

tem gente que pode achar que está tudo bem. Mas um Estado como São Paulo não pode ser

governado por alguém que fica sentado no palácio dos Bandeirantes, esperando quatro anos

para fazer, de novo, as promessas que não cumpriu antes. Até porque pode parecer que está

tudo bem (...). Ele começa a fazer críticas ao governo do PSDB e chama a atenção da

população mais carente para as dificuldades na hora de utilizar os serviços públicos:

Educação, Saúde, Segurança e Trânsito.

Em seguida, entra o quadro “o povo fala”, com depoimentos: o primeiro, de uma

estudante, transmite uma mensagem evidenciando a união dos dois candidatos: Dilma e

Mercadante. Com isso, ele cola a imagem em Dilma. O segundo, de um estudante ensinando a

153 Vídeo postado no site Youtube [29 de set. 2010] pela equipe da campanha: mercadante13. Disponível em: <

http://www.youtube.com/watch?v=IA4RULvFlVE>. Acesso em: 24 de set. 2011.

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votar no número do partido (13) e nos dois candidatos: governo e presidência. O locutor em

off apresenta, assim como nas duas propagandas analisadas, um breve currículo do candidato.

Mercadante entra falando dos valores familiares e, na sequência, faz críticas ao PSDB com

argumentação estruturada. Nesse momento, é possível observar um apelo emocional e que o

candidato usa uma retórica de sedução: O que é mais importante na sua vida são seus filhos,

não é verdade? Eu sou pai e sei que o futuro dos nossos filhos é o que mais nos preocupa, por

isso eu falo tanto de educação, porque eu não me conformo que no Estado mais rico do

Brasil só tenha direito a ensino de qualidade quem pode pagar. É interessante notar que da

forma como essa estratégia de comunicação e marketing é empregada, a mensagem acaba

ficando dúbia: se é o Estado mais rico, seria coerente que quem possa pagar tenha o melhor

ensino; ou, então, ele deveria destacar que apesar de rico, essa riqueza não é bem distribuída

e, por isso, só quem tem dinheiro pode ter ensino de qualidade? Mesmo assim, esse discurso

que confunde oposição (no Estado) e continuidade (da candidata a presidente, na qual ele

cola) é transmitido no sentido de humanizar seu perfil, entendido como objetivo e pragmático.

Também usa uma comunicação persuasiva para convencer o eleitor: Mas pode acreditar, eu

quero ser o governador para enfrentar e vencer esse desafio. Termina seu discurso fazendo

um apelo emocional: Por isso, no domingo que vem, quando você estiver frente à urna

eletrônica, vote no futuro de seu filho. E eu vou devolver a você o prazer de saber que todo o

sacrifício que você faz pelos seus filhos vai valer a pena porque ele vai ter preparo pra ser

alguém na vida.

Como os estudantes no quadro “o povo fala”, o locutor em off ensina a votar no

número “13”. E, como no segundo programa analisado, convida o eleitor a participar de um

comício no dia seguinte em São Bernardo do Campo com a presença do então Presidente

Lula.

Enquanto uma multidão canta o jingle: Lula, guerreiro do povo brasileiro, Lula,

guerreiro do povo brasileiro, o programa é finalizado com imagens do comício de

encerramento ocorrido em São Paulo, onde aparecem Lula, Dilma, Marta e Netinho e outras

autoridades políticas, e Lula (no comício) reforçando o pedido do voto em Mercadante.

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5.2 Análise do HGPE por tema

5.2.1 Estratégia de campanha

No primeiro programa é possível identificar que a campanha de Mercadante usa a

mesma semântica empregada no programa eleitoral da candidata a presidente, em que Lula

apresenta Dilma ao eleitor: só que ela era desconhecida e Mercadante já havia sido candidato

ao governo em 2006 e ao Senado em 2002, tendo sido eleito até então o senador mais bem

votado do Estado de São Paulo. Ou seja, o eleitor já o conhecia. Observamos que a estratégia

principal era colar em Lula, usando, inclusive, as “marcas” do governo Lula, como, por

exemplo, o ProUni. É interessante notar que em diversos momentos dos programas as cenas

utilizadas são muito similares às da propaganda de Dilma.

5.2.2 Ausência de discurso de oposição

O discurso de oposição não foi colocado desde o início da campanha. Como pode ser

visto no primeiro programa, a referência ao governo do PSDB é quase incidental, ficando a

maior parte do tempo na apresentação do candidato por Lula, como se Mercadante fosse um

desconhecido do eleitor paulista. Certamente o oponente Alckmin tinha uma maior exposição,

pois já havia sido governador, mas talvez se o candidato petista se ocupasse inicialmente em

apontar os desgastes do opositor, talvez sua posição ficasse mais clara para o eleitor.

Figueiredo e equipe avaliam que “visando convencer os eleitores, todos constroem um

mundo atual possível, igual ou pouco diferente do mundo atual real, e com base nele projetam

um novo e bom futuro possível”. Ele apresenta uma estrutura de argumentação com duas

vertentes: “o mundo atual está ruim, mas ficará bom ou o mundo atual está bom e ficará ainda

melhor”. Para ele, “a primeira vertente é típica da argumentação da oposição e a segunda da

situação”.154

A opção por colar na candidata à presidência e por usar o então presidente Lula como

referência colocou Mercadante num impasse em seu discurso de campanha: ao mesmo tempo

em que se apoia no discurso da continuidade, que é a tônica de Dilma, em São Paulo ele

precisa ser oposição, pois o Estado vivia há 16 anos sob o comando do PSDB. Ao oscilar

entre um e outro, sua posição não é clara. Ao mesmo tempo em que critica o governo do

PSDB apontando falhas e atacando frontalmente, ao se apoiar no discurso do PT, acaba

154

FIGUEIREDO, Marcus; ALDÉ, Alessandra; DIAS, Heloisa e JORGE, Vladimyr L. apud FIGUEIREDO,

Rubens (org.). Op. Cit,, p. 152.

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deixando margem de dúvida ao eleitor. Um exemplo disso é o trecho do discurso de

encerramento da campanha: o Brasil vai tão bem, que a economia de São Paulo é tão

vibrante, que se o governador do Estado não fizer nada, tem gente que pode achar que está

tudo bem. Ou, o trecho de discurso usado no programa do meio da campanha: Mas um Estado

como São Paulo não pode ser governado por alguém que fica sentado no Palácio dos

Bandeirantes, esperando quatro anos para fazer, de novo, as promessas que não cumpriu

antes. Até porque pode parecer que está tudo bem... Ante tal retórica, possivelmente o eleitor

não consegue distinguir o bom do ruim e a tendência é acreditar que tudo vai bem.

Ressaltamos que a estratégia de colar num político ou num candidato que tem uma boa

avaliação não é errônea, pelo contrário, ajuda, e muito. Porém, ao optar por essa estratégia ela

não pode ser de forma desmedida, desmerecendo outros pontos centrais que deveriam ser

destacados no planejamento da estratégia de campanha.

5.2.3 Crítica e apelo emocional

Em diversos momentos, durante os três programas, o candidato buscou se solidarizar e

se identificar com os problemas do eleitor paulista, pontuando as áreas consideradas mais

críticas pela campanha: Educação, Saúde, Segurança e Trânsito. Na forma como o candidato

se dirigiu ao público é possível perceber que há o uso de apelos emocionais, tentando

persuadi-lo e provocar determinados sentimentos no eleitor, seja nos momentos de crítica ou

de apelos.

A tônica das propagandas muitas vezes foi emocional, exemplo disso é a aposta no

discurso final de ressaltar a segurança do “futuro do filho”. No entanto, infelizmente, não é

possível avaliar se a mensagem atingiu o eleitor de maneira eficaz pelo fato desta pesquisa se

propor a estudar apenas um lado dos dois envolvidos na campanha (candidato e eleitor).

Enfim, nossa proposta se ateve a analisar apenas o lado do candidato.

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5.3 Análise dos debates

5.3.1 Programa de debate: TV Bandeirantes

O primeiro debate entre os candidatos ao governo do Estado foi realizado ao vivo na

TV Bandeirantes,155

em 12 de agosto, às 22h, seis dias antes do início da propaganda eleitoral

gratuita, sob a mediação do jornalista Bóris Casoy. Neste debate, além de Alckmin e

Mercadante, estiveram presentes os candidatos Celso Russomanno, Paulo Skaf, Paulo Bufalo

e Fabio Feldmann. Contudo, como mencionado anteriormente, iremos analisar apenas o

desempenho de Mercadante e Alckmin. Para isso serão pontuados nos quadros a seguir –

criados por esta pesquisadora com a finalidade de facilitar a análise dos dados –, os temas e as

posições de cada candidato (ataque, defesa, programa de governo e provocação).

Tabela 1 – Programa de debate realizado pela TV Bandeirantes dividido por tema156

POSIÇÃO MERCADANTE ALCKMIN

BLOCO 1

Ataque 16 anos do PSDB: economia, transporte,

saúde, segurança e educação ineficazes.

------------------------------------

Defesa

------------------------------------

Crescimento do Estado nos últimos anos

“desde a época de Mário Covas” na economia,

saúde e educação.

BLOCO 2

Ataque Economia: aumento da carga tributária; abuso

dos pedágios; perda de indústrias para outros

estados; privatização. Com governo do PSDB

o Estado vem perdendo eficiência e

competitividade.

Educação: falta de investimento na educação

superior, aprovação automática, metade dos

professores da rede pública sem concurso e

sem carreira, o sistema de ensino de São Paulo

não avalia e nem prepara para o futuro.

Segurança: O PCC tomou conta dos presídios

em São Paulo

Educação: “o senador é ótimo para criticar,

mas eu não conheço nada que ele tenha feito

por São Paulo”; o Brasil inteiro investe 25%

em educação, aqui em São Paulo investimos

30%; o PT na prefeitura reduziu o dinheiro

para educação.

Defesa Orgulho de ser líder na bancada do Governo

Lula;

O país cresce com investimento do Governo

Lula.

Transporte: defesa as acusações de abusos

pedágios.

Educação: valorizar o professor com

capacitação e reforço escolar para os alunos;

redução da evasão escolar; avanço com a

construção das ETECs e FATECs; levou a

155

O debate teve a iniciativa pelo Grupo Bandeirantes. Além de ser transmitido pela TV Bandeirantes, outros

equipamentos do grupo também fez a transmissão ao vivo: BandNews TV, Rádio BandNews FM e Rádio

Bandeirantes AM e no portal www.eband.com.br. 156

Youtube. Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=uejKUFyEG7A&feature=relmfu>. Acesso em:

30 de out. 2011.

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USP para a Zona Leste.

Saúde: Salário do Médico (ganha R$ 600 por

plantão de 12h).

Programa Economia: investir no desenvolvimento do

interior do Estado, dar incentivo fiscal.

Educação: parceria as universidades e instituto

tecnológicos, parceria com o governo federal,

valorização dos professores, tecnologia nas

escolas.

Segurança: valorizar a polícia com o aumento

de salário, humanizar a relação com a polícia,

investir na inteligência policial, batalhão de

proteção escolar para vigiar a segurança dos

alunos.

Meio Ambiente: redução do CO2;

Transporte: expansão do metrô.

BLOCO 3

Ataque Segurança: o ex-governador Alckmin permitiu

que crime organizado (PCC) tomasse conta

dos presídios.

Educação: aprovação automática.

Saúde: governo federal se nega a pagar,

através do SUS, tratamento para os

dependentes químicos, o PT não investiu na

saúde no Estado.

Programa Saúde: política de segurança de combate ao

crack, clínicas para tratar dos usuários de

drogas.

Educação: qualidade na educação como

prevenção dos problemas com drogas, escola

acolhedora e preparada para as novas

tecnologias do século XXI; incentivo aos

professores.

Segurança: trabalho integrado com o sistema

penitenciário, polícia civil, militar e federal

para erradicação do crack.

Segurança: policiamento nas portas das

escolas.

Saúde: programa junto com as prefeituras para

redução da obesidade; rede de prevenção e

tratamento do câncer;

Trânsito: dependentes químicos e saúde

mental.

BLOCO 4

Ataque Economia: privatização do Banespa que era

instrumento fundamental para o

desenvolvimento do Estado para agricultura,

pequena e media empresa; O PSDB é incapaz

de fazer autocrítica e de reconhecer os graves

erros que cometeu.

Esvaziamento do interior pela falta de

alternativa de emprego para a juventude;

O PSDB tem visão privatizante e neoliberal;

O governo federal mandou investimento para

a COPA e o PSDB fica em cima do muro para

começar as obras;

O PSDB promete o VLT em Santos há mais

dez anos e não faz;

O PSDB sucateou e abandonou as ferrovias

porque não tem pedágio;

O PSDB é contra o Trem Bala que vai ligar

Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro;

O PSDB privatizou um terço da Petrobras por

R$ 5 bilhões;

No governo de FHC só tinha recessão e

desemprego.

Sugere que há uma aliança entre o PT e o

malufismo;

Transporte: em 8 anos não foi construído um

trilho do Ferroanel do PT;

Critica ao Governo Lula: caos nos Aeroporto

de Cumbica e o Viracopos; Porto de Santos

fica quarenta dias para embarcar açúcar.

Defesa Transporte: a ferrovia Norte Sul tem 400 km,

Transnordestina 100 km prontos e gerou 10

Economia: Privatização do Banespa no

governo do Mário Covas;

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mil empregos (governo federal);

Recuperou 1.000 km de ferrovias no Brasil;

O governo federal vai recuperar as ferrovias e

construir;

A Petrobrás com o governo Lula vale mais de

200 bilhões por ter descoberto o Pré-Sal;

Transporte: obras do metrô, rodoanel,

Imigrantes;

Investimento: Hospitais, AMEs, Etec, Fatec,

Segurança Pública. Alega falta de

conhecimento do candidato do PT sobre banco

de fomento;

Economia: interior em crescimento com a

chegada de fábricas automotivas;

O metrô da linha 4 vai ficar pronto em um

ano;

O governo vai apoiar a COPA, mas sem

colocar dinheiro público em estádio.

Programa Economia: Agência de desenvolvimento,

como o BNDS para o Brasil, para fomentar,

estimular e impulsionar o Estado;

Transporte: Modernização do porto de Santos

para acolher os passageiros turistas.

------------------------------------

BLOCO 5

Ataque Contradiz as realizações listadas por Alckmin.

Ataca a Segurança Pública, Saúde, Educação.

“Não fizeram mesmo após 16 anos de

governo”. Percorreu Estado com Lula,

ajudando Lula e Dilma a governar.

------------------------------------

Programa

Propõe que vai governar, e não fazer ataques

pessoais. E que vai fazer parcerias com o

governo federal.

“Casamento” entre e a formação profissional e

a necessidade do mercado de trabalho;

Educação: avanço na educação com ETECs,

FATECs, na Universidade Pública;

Saúde: AMEs, Hospitais, leitos públicos;

Segurança: reduzir os índices de homicídios.

O primeiro pronunciamento de Mercadante no debate, diferentemente do início da

propaganda eleitoral, começou com ataques aos 16 anos de governo do PSDB nas áreas da

Economia, Transporte, Segurança, Saúde e, principalmente, Educação. Aliás, a Educação foi

o ponto central desse primeiro momento de sua fala: Se vocês me derem a chance de governar

São Paulo, eu quero ser o governador da Educação. Considero que nós podemos ter um

ensino de qualidade, e quero ser avaliado pela qualidade do ensino que nós vamos implantar,

se os alunos evoluírem positivamente eu devo ser aprovado, e aqueles que governaram e não

foram capazes de melhorar a educação, humildemente, sinceramente, eu acho que deveriam

perder as eleições. É curioso observar que, diferentemente, da sua propaganda eleitoral,

Mercadante inicia o debate sem colar em Lula. Em momento nenhum de sua apresentação do

primeiro bloco, ele menciona o nome de Lula ou dos programas realizados por seu governo.

Já o candidato da situação, no início de sua fala, cola à imagem de Mário Covas e

defende que o Estado de São Paulo avançou muito desde a época do saudoso governador

Mário Covas; o Estado recuperou sua capacidade de investimento (...). No primeiro

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momento do debate Alckmin não cita o nome de seu aliado, José Serra, então candidato à

Presidência, e nem das realizações dele quando à frente do governo de São Paulo; sequer

afirma que continuará com os projetos iniciados por ele. Diz que vai dar continuidade aos

projetos desenvolvidos pelo seu próprio governo. Somente no segundo bloco Alckmin cita

rapidamente o nome de Serra quando estimulado pela pergunta do candidato Fabio Feldmann.

Os candidatos Alckmin e Mercadante tiveram um confronto direto no segundo bloco,

quando os candidatos podiam escolher a quem fazer a pergunta; e no quarto bloco, quando as

perguntas eram feitas por jornalistas. Logo no início desse bloco, o jornalista José Paulo de

Andrade fez pergunta a Alckmin sobre a privatização do Banespa e a compra da Nossa Caixa

Nosso Banco pelo Banco do Brasil, pedindo o comentário de Mercadante. Da mesma

maneira, o jornalista Joelmir Beting perguntou para Mercadante sobre o Transporte no Porto

de Santos e sobre o Pré-Sal, com comentário de Alckmin.

A estratégia de Mercadante consistiu em atacar o governo do PSDB em todos os

blocos, nas cinco áreas: Economia, Transporte, Saúde, Segurança e Educação. Os ataques

foram mais agressivos no quarto bloco, quando os temas já estavam bem desenvolvidos, e

quando teve a oportunidade de interagir de maneira mais direta com o candidato da situação.

Em alguns momentos defendeu o governo Lula dos ataques de Alckmin.

Somente no último bloco foi possível perceber de forma mais nítida que Mercadante

colou em Lula ao mencionar o apoio a Dilma, mostrando uma união entre os candidatos ao

governo e à Presidência. Ele se despediu agradecendo ao público e aos candidatos presentes,

ressaltando que o eleitor teve uma boa oportunidade para comparar as propostas, de modo a

ter várias questões para refletir: Você, sinceramente, acha que a Segurança Pública está boa

em São Paulo? Você está tranquilo com seus filhos quando eles saem para uma festa ou vão

para a escola? Você acha que a Saúde pública vai bem, as filas, as dificuldades de

atendimento que a gente vê por toda parte na porta dos hospitais? Você acha que a Educação

em São Paulo pode continuar como está, com essa aprovação automática, com os salários

que são pagos aos funcionários, aos professores, aos policiais? Eu acho que você pensa

como eu: que não pode continuar assim.

Já Alckmin, na maior parte do tempo se defendeu não só de Mercadante, como

também dos outros candidatos. No segundo bloco ficou visivelmente irritado quando

Mercadante leu um relatório, do então governador José Serra, ao Tribunal de Contas relatando

a precariedade do sistema de ensino deixado pelo seu antecessor, o próprio Alckmin.

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Responde à pergunta também atacando: O senador é ótimo para criticar, mas eu não conheço

nada que ele tenha feito por São Paulo. No terceiro bloco, Alckmin avança em seus ataques

ao Governo Lula, principalmente, na área da Saúde. No começo do quarto bloco antes de

responder à pergunta do jornalista Joelmir Beting, sugere que havia uma aliança entre o PT e

o malufismo. Nesse bloco ele intensifica os ataques ao Governo Lula, dessa vez na área de

Transporte. Apenas nas considerações finais cita o nome de Serra espontaneamente,

possivelmente, porque o candidato estava entre os convidados, na plateia, assistindo ao

debate.

5.3.2 Programa de debate: TV Record

O segundo programa de debate a ser analisado ocorreu quase quarenta dias depois do

primeiro, em 20 de setembro, na TV Record,157

coordenado pela jornalista Luciana Liviero.

Como no debate realizado pelo Grupo Bandeirantes, o da Record também foi transmitido ao

vivo. Participaram os mesmos candidatos do debate anterior e, diferentemente do primeiro,

este teve somente quatro blocos.

Tabela 2 – Programa de debate realizado pela TV Record dividido por tema158

POSIÇÃO MERCADANTE ALCKMIN

BLOCO 1

Ataque Transporte: abuso nos pedágios;

Saúde: enfrentar as filas na Saúde;

Economia: privatização e venda dos Bancos

Governo FHC;

Segurança: controle dos presídios pelo PCC;

maior rebelião da história do Estado;

Saúde:

Falta de investimento e financiamento em

agricultura;

Falta em São Paulo um governo com mais

sensibilidade social.

Currículo do Mercadante

Defesa Economia: defendeu as realizações do

governo Lula, o Brasil é um dos países que

mais cresceram e aponta dados para justificar.

Antecipou ao eleitor que ele ouviria ataques

dos candidatos;

Educação: defendeu a Educação dando dados

positivos do governo do PSDB; São Paulo

investe 30% na Educação;

Economia: São Paulo cresce mais que o Brasil

desde 2004.

Programa Educação: ser o governador da Educação;

Economia: Investimento no interior do Estado;

Educação: Investir na Educação Infantil,

escola em tempo integral; capacitação e

157

A retransmissão ocorreu também pela Rádio Record, portal www.R7.com e cobertura da RecordNews. 158

Notícias R7. Disponível em: <http://noticias.r7.com/eleicoes-2010/noticias/veja-a-cobertura-completa-dos-

debates-entre-os-candidatos-aos-governos-20100921.html>. Acesso em: 2 de nov. 2011.

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resgatar a dignidade da polícia civil.

Trabalho: Gerar emprego e renda

Redução das tarifas do pedágio para a

indústria voltar para o interior;

Segurança: Separar os presos por grau de

periculosidade (introduzir trabalho e educação

nos níveis de menor periculosidade) e

monitoramento eletrônico.

aumento do salário dos professores; expansão

do ensino técnico e tecnológico;

Trabalho: Via rápida para o emprego com

cursos rápido;

Meio Ambiente: desenvolvimento sustentável;

preservação do meio ambiente;

Transporte: terminar o Rodoanel;

Economia: redução de impostos.

BLOCO 2

Ataque Segurança: Permitiu que o PCC comandasse o

crime dos presídios; aumento de assalto, roubo

e furto.

Transporte: Abuso nos pedágios;

Educação: aprovação automática;

----------------------------------------------

Defesa Defesa aos ataques de Alckmin no horário

eleitoral;

Acusa os outros candidatos de fazer acusação

orquestrada contra ele;

Segurança: dos ataques dos outros candidatos;

Contra argumenta sua defesa com realizações

na segurança pública;

Cola em Mário Covas: “a ética eu aprendi

com Mário Covas”.

Provocação Ele está nervoso com o meu crescimento nas

pesquisas, ele não acompanha o governo Lula.

--------------------------------------------

BLOCO 3

Ataque Educação: ao sistema de ensino;

Cola em Lula e ataca a Educação em SP.

--------------------------------------------

Defesa

-----------------------------------------

Saúde: defesa do SUS, AMEs, hospital

Mandaqui;

Meio ambiente: implementação do rodízio.

Programa Educação: Ensino Fundamental, Creche.

Prioridade de governo: Saúde; investimento

no Instituto do Câncer;

Transporte público de alta capacidade: metrô.

BLOCO 4

Ataque Educação, Saúde, Segurança. Progressão continuada foi criada pela gestão

do PT (Erundina);

Transporte: comparação das estradas no país

com as de São Paulo.

São Paulo tem que continuar crescendo para o

Brasil não parar de crescer.

Defesa

-------------------------------------------

Educação: da aprovação automática, como

progressão continuada.

Provocação Ele esperava Alckmin debater mais uma vez e

ele não fez;

É fácil colocar um ator para criticar, mas é

mais verdadeiro sustentar o que disse.

-----------------------------------------------

Alckmin dá inicio ao debate atacando o currículo de Mercadante de forma indireta:

São Paulo quer um governo à altura desse Estado, que não pense pequeno, que tenha

liderança, que tenha experiência. E, antecipa-se na defesa aos possíveis ataques dos

candidatos: Certamente vocês vão ouvir aqui críticas descabidas, dados errados.

Page 114: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Diferentemente do primeiro programa, Mercadante inicia o debate no mesmo sentido

da propaganda eleitoral, ou seja, colando no Governo Lula e propondo trazer para São Paulo

as experiências boas que Lula trouxe para o Brasil. No entanto, num certo momento ele

confunde o eleitor ao dizer: Vou manter o que está bom, mas trazer o melhor do governo Lula

pra gente mudar mais rápido São Paulo. O discurso deixa abertura para o eleitor imaginar se

o candidato é da situação ou da oposição.

A estratégia do ataque ao governo do PSDB permaneceu durante todo o programa. No

primeiro bloco ele investiu fortemente, em especial na área da Segurança; em diversos

momentos citou os problemas ocorridos durante a gestão de Alckmin, entre eles os ataques do

PCC, dizendo que São Paulo foi vítima de uma facção criminosa; e a falta de combate ao

tráfico de drogas.

É inegável que houve mudança de estratégia tanto de Mercadante, quanto de Alckmin.

A do candidato do PT em relação ao primeiro debate foi a de colar em Lula, mas

intensificando ainda mais os seus ataques ao governo do Estado. No decorrer do programa

Mercadante aproveitou e se defendeu da acusação de Alckmin sobre sua falta de experiência,

e citou alguns projetos sobre Segurança Pública que desenvolveu quando estava no

Legislativo. No final, ele provoca Alckmin dizendo que esperava que o candidato debatesse

diretamente com ele mais uma vez, o que não ocorreu.

Alckmin evitou o confronto direto com Mercadante, esquivando-se, atacando menos

do que no debate da Bandeirantes, e colou diversas vezes em Mário Covas. Sua estratégia

consistiu em aproveitar a maior parte do debate para se defender e apresentar propostas.

Contudo, no final fez seu agradecimento se defendendo das acusações da “aprovação

automática” e voltou a atacar, transferindo para o PT a responsabilidade pela “progressão

continuada”, dizendo que foi criada no governo de Luiza Erundina quando era prefeita de São

Paulo pelo PT. Ele inverte o slogan da campanha do PT e diz que: São Paulo tem que

continuar crescendo para o Brasil não parar de crescer.

5.3.3 Programa de debate: Rede Globo

O último debate dos candidatos ao governo do Estado de São Paulo aconteceu na Rede

Globo no dia 28 de setembro de 2010, quatro dias antes das eleições, sob a coordenação do

jornalista Chico Pinheiro. O programa contou com a presença dos seis candidatos que

participaram dos outros dois debates analisados e teve cinco blocos. Trouxe novos ataques

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dos opositores a Alckmin, que se encontrava na dianteira das pesquisas de intenção de voto,

que também apontavam uma subida gradual de Mercadante. O debate foi marcado por uma

falha no áudio que chegou a interromper o quarto bloco para que fosse corrigida. Talvez por

este motivo a Globo praticamente erradicou os vídeos da internet, o que impossibilitou uma

análise completa, como a feita com os debates anteriores. O que se conseguiu foi avaliar o

desempenho de Alckmin em todos os cinco blocos, de modo que a participação de

Mercadante, objeto desta pesquisa, não pôde ser acessada na íntegra, apenas parte do primeiro

bloco. As análises aqui presentes foram baseadas na repercussão publicada pelos jornais no

dia seguinte ao debate, pontuando os ataques do candidato petista, além da cobertua minuto a

minuto feita pelos sites.

Tabela 3 – Programa de debate realizado pela TV Globo dividido por tema159

POSIÇÃO MERCADANTE ALCKMIN

BLOCO 1

Ataque Desenvolvimento econômico: 16 anos do

PSDB, abuso dos pedágios no interior,

privatização do Banespa e a venda da Nossa

Caixa, aumento dos impostos; falta de

incentivo para manter os investimentos em

São Paulo o que levou a perda de muitas

empresas;

Funcionalismo público recebe um salário

“indecente”;

Educação: aprovação automática;

Transporte: aumento do número de pedágios

ao longo dos 16 anos do governo do PSDB.

-------------------------------------------

Defesa Cita projetos realizados em benefício do

Estado;

Funcionalismo público: No meu governo não

teve greve, especialmente na área do

magistério.

Programa Emprego: cita números do governo federal e

diz que irá fazer por São Paulo o que Lula fez

pelo Brasil;

Transporte: recuperar ferrovias e recuperar o

financiamento público para as áreas mais

abandonadas do interior.

Valorizar o funcionalismo público de São

Paulo, projeto habitacional para os

funcionários públicos, capacitação permanente

continuada, aumento acima da inflação,

inclusive para aposentados e pensionistas;

Habitação: continuidade ao programa de

Serra, Rede Dignidade, para idosos.

BLOCO 2

Ataque “O candidato Alckmin teve duas

oportunidades para perguntar pra mim, mas

ele não pergunta. Fica falando de mim na

159

Disponível em: Acervo digital do jornal Folha de S. Paulo. Alvo, Alckmin se esquiva de confrontos. Caderno

especial, 29 de setembro de 2010, p, 10. In <http://acervo.folha.com.br>. Acesso em: 4 de nov. 2011.

Disponível também nos sites: <http://www.youtube.com/watch?v=vybe3m8OhHE&feature=related>,

<http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/09/debate-da-tv-globo-reune-seis-candidatos-ao-

governo-de-sp.html> e <http://eleicoes.uol.com.br/2010/sao-paulo/ultimas-noticias/2010/09/29/mercadante-

chama-alckmin-para-debate-no-2-turno-tucano-evita-petista.jhtm>. Acesso em: 4 de nov. 2011.

Page 116: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

propaganda, mas na hora de discutir olho no

olho ele foge”.

“Eu não consigo aceitar que no Estado mais

rico desse País saiam da escola como essas

crianças estão saindo”

-------------------------------------------

Defesa

------------------------------------------

São poucos os municípios do Estado que tem

problemas do destino final do lixo, São Paulo

preserva o meio ambiente, o lençol freático, a

água, gera emprego através da coleta seletiva.

Agricultura paulista: O Estado tem avançado

com crédito agrícola e investimento nas

estradas vicinais

Programa Educação: os recursos precisam ser investido

em educação.

--------------------------------------------

BLOCO 3

Ataque Educação: inconformismo por essa área estar

abaixo do potencial do “Estado mais rico da

Federação”; aprovação automática;

Falta de política para o saneamento básico.

Respeito é bom e não faltar à verdade.

Defesa Reconhece os avanços sociais do PT, mas

acredita que essas conquistas podem ir além

do que já foi feito. “O Bolsa Família veio para

preparar o pobre para ter as mesmas

possibilidades”. É o primeiro passo. “A porta

de saída é a Educação. É a única oportunidade

para o filho do trabalhador sair da pobreza”.

Desenvolvimento do interior: Aponta números

sobre a economia do interior de SP: o interior

de São Paulo tem economia do tamanho de

países latinos americanos; a cidade que mais

se desenvolve no Brasil é Araraquara; São

Paulo é o estado que tem os menores impostos

do Brasil;

Franca é a cidade que mais gera emprego no

país;

SP cresce acima do PIB brasileiro.

Programa

---------------------------------------------

Com o crédito da agência de Fomentos; via

rápida para empregos, cursos rápidos para os

trabalhadores;

Provocação Alckmin teve a terceira oportunidade para

perguntar para mim, e não fez”; no “segundo

turno ele não vai ter como fugir do debate”.

---------------------------------------------

BLOCO 4

Ataque

---------------------------------------------

O PT que quer fazer o controle sobre a

imprensa, restringir o direito de imprensa,

agora quer restringir sobre o meu direito de

perguntar.

Defesa Defende a candidatura Dilma: ninguém nunca

viu seu nome envolvido com atos secretos.

Mudança de ideia em relação a Sarney:

desistiu de renunciar por defender o projeto do

presidente Lula.

Educação: Desmente os ataques a essa área e

defende a Progessão Continuada, dizendo que

os países mais desenvolvidos adotam o

sistema.

Programa Precisamos de concurso para novos

professores, tem de ter avaliação do aluno e

ensino profissionalizante no ensino médio.

Educação: “Eu vou investir no professor”

Provocação “Eu primeiro queria dizer que o Alckmin mais

uma vez deixou de fazer a pergunta pra mim.

E fez a crítica ao PT, mais uma vez pelas

costas”.

---------------------------------------------

BLOCO 5

Ataque

--------------------------------------------

São Paulo tem um dos menores índices de

homicídios, é 10 por 100 mil habitantes, Brasil

é 26; aqui a polícia trabalhou.

Defesa “O povo brasileiro demorou muito tempo para São Paulo cresce acima do Brasil, lidera o

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perder o medo e confiar no Lula. E quando

mudou, o País mudou pra melhor”.

desenvolvimento do Brasil;

Desenvolvimento do interior com empresas

automobilísticas e aponta números de fábricas;

São Paulo foi o primeiro Estado do hemisfério

Sul a aprovar uma lei moderna de mudanças

climáticas, redução de 20% do gás de efeito

estufa;

São Paulo tem o menor índice de homicídios.

Programa

Transporte: “acredita na redução dos

pedágios, na melhoria da Saúde e mudança da

Educação para melhor”;

Trazer a experiência do governo Lula para São

Paulo

Compromisso com Meio ambiente empenho

no Código Florestal;

São Paulo cresce acima do Brasil;

Defende que o desenvolvimento econômico

pode ser contabilizado com o Meio Ambiente.

Alckmin, desde o início do programa, tentou se manter na defensiva ante os ataques

feitos por todos os demais candidatos, aproveitando as oportunidades para se concentrar no

discurso de apresentação de propostas. Assim, evitou confrontos diretos com seu principal

opositor, Mercadante. Contudo, a estratégia de seguir o debate sem atacar foi se desfazendo

no quarto bloco, logo depois da pane do áudio, momento em que faria uma pergunta para

outro candidato e aproveitou para atacar o partido do Mercadante: O PT, que quer fazer o

controle sobre a imprensa, restringir o direito de imprensa, agora quer restringir sobre o

meu direito de perguntar. Como no segundo programa, insistiu em defender que São Paulo é

um Estado que ajuda o Brasil, afirmando que o Estado cresce acima do PIB brasileiro.

Em resposta às provocações de Mercadante, de ter fugido do confronto, Alckmin usou

uma frase atribuindo-a a um aliado de Mercadante, José Eduardo Dutra: Quem está em

primeiro não pergunta para quem está em segundo. Contudo, esta frase foi dita após o

término do debate, quando os candidatos deram entrevista coletiva sobre o debate.

Enquanto Mercadante atacava a “oligarquia tucana” e tentava colar em Lula, contou

com o apoio de quase todos os candidatos nos ataques. Além de provocar Alckmin em

diversos momentos sobre sua estratégia de recuar a evitar ataques diretos a ele, Mercadante

encontrou formas de atacá-lo durante a elaboração de suas perguntas ou respostas para outros

candidatos: Quero registrar que Alckmin teve a quarta oportunidade de perguntar para mim,

e não perguntou. E fez o ataque ao PT pelas costas, quando deveria fazer para mim.

Nesse debate Mercadante colou fortemente em Lula. Em muitos momentos citou os

projetos realizados pelo governo, propondo trazer a mesma política de governo para São

Paulo. Apontou deficiências em diversas áreas do governo do PSDB: desenvolvimento

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econômico, funcionalismo público, pedágio, despoluição do Tietê, etc. Porém, a área que

mais criticou foi a Educação. E apresentou propostas, reagindo ao discurso da situação.

A análise dos três debates torna possível perceber que a campanha de Mercadante foi

mudando sua estratégia, de modo a aproveitar as lacunas e trazer à discussão os temas

evitados pelo concorrente: pedágios, Segurança, Saúde, Educação. E se manteve criticando

fortemente o governo do PSDB. Porém, se aproveitou mais dos programas e projetos do

governo Lula, defendendo o nome de Dilma.

Alckmin, por sua vez, mesmo sendo questionado em todos os debates pelos demais

candidatos, também mudou sua estratégia, diminuindo a quantidade de ataques a Mercadante

e ao governo do PT. Porém, as poucas vezes em que atacou, foi bem agressivo em suas

críticas. Em alguns momentos parecia tentar fazer uma aliança com outro candidato

(Feldman), quando sentia que havia alguma afinidade entre os dois, para tentar equilibrar os

ataques da maioria dos candidatos. Contudo, essas tentativas malograram. Nos últimos dois

programas ele evitou ao máximo confrontar diretamente o seu principal adversário na disputa,

Mercadante. Preferiu fazer uso da imagem do falecido Mário Covas, a colar no então

candidato a presidente do seu partido, Serra. Aliás, Alckmin pareceu agir como se não tivesse

existido o governo Serra, usando como exemplos a gestão do seu guru político, Mário Covas.

A postura de Mercadante era condizente com sua condição de candidato da oposição,

ou seja, agressivo na medida apropriada. Mostrava segurança e propriedade sobre os assuntos

levantados. Aparentava tranquilidade e era assertivo na maneira de fazer perguntas ou para

responder. A forma como se dirigia às câmeras era apropriada para atrair positivamente a

atenção do eleitor, ou seja, falava diretamente com o telespectador. Contudo, não conseguia

disfarçar sua dificuldade em sorrir ou demonstrar uma empatia mais profunda, o que é uma

falha grave para a imagem de um candidato.

5.4 Análise da cobertura dos jornais impressos

Para desenvolver a análise de conteúdo da cobertura da mídia impressa foram

escolhidos os jornais Folha de S. Paulo e Diário de S. Paulo, edições veiculadas no período

de 12 de agosto a 7 de outubro de 2010. A opção por esses dois jornais se justifica pelo fato

de serem reconhecidos por seu posicionamento político, principalmente dentro do Estado, sua

capacidade de alcance informacional, periodicidade diária e, por sua capacidade de atingir as

diversas classes sociais. O primeiro tem sua linha editorial direcionada ao público da classe

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média e média alta (A e B), com circulação diária nacional média de 294.498.160

O segundo

tem a maioria dos seus leitores nas classes B e C (82%)161

e sua circulação local média é de

41.222 exemplares diários.162

A decisão de não optarmos pelo jornal O Estado de S. Paulo,

principal concorrente da Folha de S. Paulo, foi especialmente pela identificação de

semelhanças do comportamento editorial como estratégia na construção de sua linguagem

para atingir o seu público-alvo. O que não é o caso dos dois jornais escolhidos.

A coleta do material da Folha de S. Paulo foi feita a partir do acervo digitalizado

disponível na internet; já a do Diário de S. Paulo foi feita com material impresso. O objetivo

foi identificar a abordagem dada na cobertura da campanha de Aloizio Mercadante para

governador do Estado, de acordo com o segmento social aos quais se destinam. Optou-se por

não verificar as variações e diferentes orientações políticas apresentadas pelos veículos de

comunicação por não haver tempo hábil para tal análise.

Para tentar extrair o significado das notícias foram feitos recortes do material

jornalístico, a fim de contornar as dificuldades de avaliação do significado da notícia,

informação ou opinião.

A seguir a análise dos jornais, sendo que os recortes estão disponíveis, na íntegra, nos

anexos desta pesquisa.

5.4.1 Folha de S. Paulo

A Folha de S. Paulo opta por não dar uma cobertura mais intensa às campanhas

estaduais, reservando grande parte do espaço dedicado às eleições ao pleito presidencial.

Mesmo o caderno dedicado ao tema, sempre acaba sendo ocupado com as questões

envolvendo os candidatos Dilma Rousseff e José Serra. Com exceção da cobertura dos

debates e dos resultados das pesquisas de intenção de voto, que recebe espaço maior, as

contendas entre as duas campanhas passam sem registro. Aliás, em geral essas são apenas

usadas em comentários de seções dedicadas à política, geralmente assinadas por jornalistas.

Por exemplo, Painel, assinada por Renata Lo Prete. Assim, entre agosto e início de outubro,

período de campanha, o jornal publicou as seguintes notas:

12/08 – Poder

160

Associação Nacional de Jornais. Disponível em: <http://www.anj.org.br/>. Acesso em: 5 de nov. 2011. 161

Marplan – abr/09 a mar/10 – Gde. São Paulo in Apresentação do novo Diário de S. Paulo. 162

Idem.

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FÍGADO: Mercadante (PT), candidato ao governo de SP, ganhou ontem um

presente inusitado: ervas medicinais indicadas para melhorar o

funcionamento do fígado. ‘Sabe como é... em campanha, a gente come muito

pastel’.

13/08 – Painel

Na plateia Serra riu satisfeito quando Alckmin disse que Mercadante, como

senador, nunca fez nada por São Paulo. Já Marta Suplicy queria pedir direito

de resposta quando o tucano afirmou que ela, à frente da prefeitura da

capital, reduziu o investimento em educação.

11/09 – Painel

Tiroteio – “Como o Fura-Fila do Pitta, o trem-bala de Dilma e Mercadante

está na plataforma dos marqueteiros, sem nenhum compromisso com as

necessidades da população.” Deputado Estadual, Bruno Covas (PSDB).

12/9 – Painel

Colateral – Alguns petistas avaliam que o “Receitagate”, embora até agora

improdutivo do ponto de vista eleitoral para José Serra (PSDB) pode ter

contribuído para conter o crescimento de Aloízio Mercadante em São Paulo.

Ele, que desde o início do horário eleitoral gratuito havia escalado oito

pontos, recuou um no novo DataFolha, e está com 23%.

13/9 – Notas (Debate DILMA x SERRA)

Mercadante faltou... – Durante o intervalo do segundo bloco do programa,

os telões do estúdio passaram a propaganda do PSDB que acusa Aloizio

Mercadante, candidato ao governo do Estado de São Paulo, de faltar a

votações no Senado. “Eu vou pedir direito de resposta!”, brincou ele,

sentado na plateia.

13/9 – Painel

Pulverizado – O ato de apoio a Aloizio Mercadante que o PT havia marcado

para hoje no Anhembi foi substituído por um “dia de mobilização” em todo

o Estado.

20/9 – Mônica Bérgamo

Deputados do PT de SP têm pregado, discretamente, o segundo voto ao

Senado em Aloysio Nunes Ferreira – e não em Netinho (PC do B), que faz

chapa com Marta Suplicy. Um deles, pedindo sigilo, afirmou à coluna que,

mesmo sendo adversário, o tucano daria “mais qualidade” ao debate no

parlamento. Já o grupo mais ligado a Aluísio Mercadante (PT) trabalha para

que Netinho tenha mais votos que Marta.

23/9 – Painel

Linha vermelha – Aloízio Mercadante faz suspense sobre a utilização de

imagens da pane no metrô em sua propaganda na TV. No Twitter reprova os

investimentos em manutenção.

Em geral, essas colunas consideram a confiança do leitor nos jornalistas que a

assinam, o que lhes dá certa liberdade editorial. Por exemplo, de mencionar uma informação

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sem precisar citar a fonte. Ou de usar informação negativa em tom de brincadeira, como se

apenas estivesse exercitando seu bom humor. Em outros casos, como no Painel, de citar a

opinião de um correligionário de um dos candidatos sem a necessidade de dar o mesmo

espaço ao outro para equilibrar. Com isso, e usando os exemplos acima listados, é possível ter

o seguinte subtexto em relação a Mercadante: mal humorado (fígado); contribui com o

opositor de Dilma dando-lhe argumentos em relação à sua atuação no Senado; tem uma

plataforma de governo que não será cumprida; conta com dissidência dentro da campanha;

não leva a sério as acusações do seu opositor; e vive uma profunda cisão dentro da campanha,

a ponto dos próprios colegas de partido fazerem campanha para o candidato ao Senado do

outro partido.

A abordagem usada no noticiário geral não é muito diferente. No dia 16/8, início da

campanha, a chamada do caderno Poder indica: “Campanha em São Paulo repetirá ‘todos

contra Alckmin’: adversários vão criticar governo do Estado, dirigido há 16 anos pelo

PSDB”. A abordagem parte da constatação da dianteira do candidato do PSDB nas pesquisas

e lembra ao leitor/eleitor que o partido já governa o Estado há mais de uma década e meia. No

mesmo caderno, ao tratar das estratégias de marketing, usa de chamada no mínimo duvidosa

em termos de seriedade: “‘Baianidade’ e estratégia fazem o marketing petista”, chamada que

poderia até reafirmar algum preconceito regional. Dois dias depois, ao analisar um debate on-

line promovido pelo próprio jornal, conclui: “Alckmin é o único a lucrar num debate sem

vencedor – tucano não ficou acuado diante da tabelinha Mercadante-Russomanno”.

Novamente coloca o candidato tucano na posição de defesa (“todos contra ele”) e dando-lhe

vantagem competitiva. Um mês depois, em setembro, as chamadas passam a focar uma

possível divisão interna do PT: “Nova propaganda do PT-SP é alvo de críticas internas:

candidatos a deputado, antes excluídos do espaço, ironizaram programa” (10/09); e “Marta

cobra mais apoio de Mercadante” (15/09). Por fim, às vésperas das eleições, o jornal retoma a

abordagem da defesa do tucano: “Alvo, Alckmin se esquiva de confrontos” (29/09),

acompanhado da linha fina: “Líder, tucano não faz as questões a Mercadante, que o acusa de

‘fugir’ do debate”. Interessante como o recurso das aspas na palavra “fugir” esvazia a

acusação de Mercadante, assumindo um tom de crítica. Dois dias antes do pleito, o avanço na

reta final do candidato petista é minimizado: “Mercadante sobe entre menos escolarizados”

(1/10), seguida da linha fina: “Em pesquisa Datafolha divulgada ontem, petista reduziu

diferença para Alckmin de 28 para 22 pontos percentuais”.

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Apesar de não publicar reportagens tendenciosas, a habilidade na abordagem é que dá

um tom crítico à campanha petista, inclusive tocando no seu ponto mais sensível: a divisão

interna.

5.4.2 Diário de S. Paulo

O jornal Diário de S. Paulo, por sua vez, tem uma cobertura bastante regionalizada e

estreou no noticiário eleitoral em 2010, pois passou por uma reestruturação um ano antes,

quando foi adquirido da família Marinho pelo grupo J. Hawilla. Nitidamente a posição do

jornal pendeu para os candidatos do PSDB, tanto na cobertura da campanha para presidente

de José Serra quanto da campanha para governador de Geraldo Alckmin. No primeiro caso,

chegou-se a publicar uma reportagem de capa destacando o polvo Paul, que na época da Copa

do Mundo teria o dom de profetizar quem venceria os jogos, só que, perguntado pela

publicação quem seria o próximo presidente da República este teria “escolhido” Serra. Na

mesma linha, destaca, logo após a divulgação dos resultados do primeiro turno (7 de outubro)

e confirmado o segundo turno para a presidência: “Nos presídios, Dilma e Mercadante são

‘eleitos’ no primeiro turno”. A linha fina que segue à chamada aponta: “Candidatos do PT à

Presidência e ao governo vencem com facilidade entre detentos. No Senado, Marta e Netinho

são os preferidos”; e, para reforçar, o destaque da matéria diz: “Administradores dos presídios

paulistas há 16 anos, os tucanos têm alta rejeição entre aqueles que cumprem pena.” Para

fechar a reportagem, que revela a votação de 1.865 presos, sendo que 779 votaram em

Mercadante e 256 em Alckmin, é ouvido um “psicólogo e professor da USP”, Chico Oliveira,

que afirma: “A maioria que está ali é do último estrato da população e vai na onda do governo

Lula”.

Na cobertura da campanha para o governo de São Paulo, vários desses recursos

também foram usados. A cobertura começa em 19 de agosto, descrevendo o primeiro dia de

horário eleitoral gratuito, com a chamada: “Alckmin lista obras e Lula elogia petista”, seguido

do destaque: “Mercadante recebe ajuda na TV do presidente já na estreia da propaganda

política de governador, enquanto o tucano promete ‘pisar no acelerador’”. A fragilização do

candidato petista é ressaltada logo de saída. Num determinado trecho da reportagem, a tônica

é para um candidato que já parte para a agressão antes de se apresentar: “Correndo risco de

perder já no primeiro turno, Mercadante nem sequer fez as apresentações triviais de sua

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carreira. Partiu logo para o discurso da mudança total e atacou tudo: saúde, educação,

segurança, pedágios.”

Mas a tônica maior é sempre na presença do então presidente Lula em São Paulo para

“ajudar” o candidato petista. Em 31 de agosto, publica a chamada: “Para segurar Alckmin,

Lula desembarca em SP”. Alguns trechos da matéria: “A ordem de Lula é levar a disputa no

estado para o segundo turno de qualquer jeito. Para isso, ele próprio e Dilma devem

intensificar as agendas em São Paulo ao lado do candidato petista Aloizio Mercadante.” (...)

“Lula já deu vários pitacos na campanha de Mercadante, inclusive pedindo para o candidato

sorrir mais e humanizar os programas do horário eleitoral.” Na mesma edição e na sequência

da matéria mencionada, há a seguinte nota (com os mesmos destaques dados pelo jornal):

Mercadante é punido – O TRE tirou mais 80 segundos do programa de

Mercadante no rádio e 26 segundos da TV. É a quinta vez que o candidato

do PT ao governo do estado é punido pelo tribunal. Os juízes entenderam

que Mercadante invadiu o tempo de propaganda dos candidatos a deputado.

Ele ainda pode recorrer ao TSE.

Ou seja, é reforçada a fragilidade que carece de apoio de Lula e um caráter de

agressividade eleitoral que não escapa à vigilância do Judiciário. No dia 21 de agosto, fora do

noticiário eleitoral, o jornal destaca a inauguração de uma nova estação do metrô na cidade de

São Paulo: “Próxima estação: Vila Prudente”. Diz o destaque da matéria: “No começo, a nova

estação funcionará das 9h30 até 15h, de segunda a sexta-feira. Prolongamento da Linha Verde

irá desafogar movimento de passageiros na Sé”. Comandada pelo PSDB, o governo aparece

como protagonista de uma ação cujo efeito deverá ser imediato: melhorar a vida do cidadão.

Num quadro anexo à matéria aparece: “Trens novos com tecnologia de ponta. 20 km é a

extensão total de vagões novos enfileirados”. Apesar dos vagões terem sidos fabricados pela

Alstom, empresa de origem francesa cuja negociação com o governo do Estado de São Paulo

foi alvo de denúncias na imprensa internacional, seu nome não é mencionado. Além disso, os

vagões enfileirados consideram o total de 107 unidades, embora até aquele momento somente

54 haviam sido entregues, sendo 35 ao metrô e 19 à CPTM. Enfim, a reportagem tende a

favorecer quem entrega a obra, ou seja, o governo a cargo do PSDB, o que provoca efeito

colateral positivo na campanha do partido.

A partir de 13 de setembro o jornal passa a pautar suas matérias na possibilidade de

não haver segundo turno em São Paulo. Baseia-se em pesquisa própria de intenção de voto

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(Diário/Ipespe), que desde 27 de agosto dá metade dos votos a Alckmin. Faz reportagem

sobre as “vantagens” financeiras de não ter o segundo turno, estas apontadas por Giovani

Marangoni, professor de marketing político da ESPM. A última pesquisa do jornal, publicada

em 24 de setembro, merece a chamada: “Alckmin já está 25 pontos à frente”, com a linha

fina:“Candidato do PSDB subiu para 49% das intenções de voto e pode ganhar disputa já no

primeiro turno. Aloizio Mercadante (PT) caiu para 24% e Celso Russomanno (PP) para 7% da

preferência do eleitor”. É interessante notar que a pesquisa vai na direção contrária das

apresentadas pelos demais institutos que acompanham a corrida eleitoral no Estado e que

apontavam uma subida de Mercadante na reta final.

Enfim, a reportagem publicada no dia da eleição, com a intenção declarada de auxiliar

o eleitor na sua escolha, aponta as características de cada candidato sob o título “Quem é

ele?”:

Alckmin – Candidato ignora provocação de adversário e o apelido de ‘picolé

de chuchu’ para voltar ao Palácio dos Bandeirantes. Vitória interrompe

ostracismo político gerado no embate, em 2006, com José Serra pela

candidatura à presidência.

Por que voto nele: Lars Grael.

Mercadante – De presidente de centro acadêmico a líder do PT no Senado,

Mercadante seguiu uma trilha que lhe dá de novo a chance de buscar seu

primeiro cargo executivo.

Por que voto nele: Mário Sergio Cortella

A apresentação de Alckmin já o dá como vencedor do pleito, além de mostrá-lo como

uma pessoa que está acima das provocações. Tem a seu lado uma figura popular, o esportista

Grael, desafortunadamente vitimado por um acidente, o que causou comoção popular. Já

Mercadante tem como destaque a sua carreira política, evidentemente reduzida e sem atuação

no Executivo. O apoio que tem é de um filósofo, desconhecido da população, o que poderia

dar a entender que se trata de um apoio somente da elite.

Por fim, confirmada a vitória de Alckmin ainda no primeiro turno, o Diário de S.

Paulo publica, no dia 4 de outubro, reportagem de página dupla nomeada “Obstáculos no

ninho tucano”, sobre os desafios do novo governador, que, segundo a linha fina, “terá que

aplicar soluções eficientes para problemas como meio ambiente, habitação, saúde e

segurança”. Ou seja, todos os temas “proibidos” durante a campanha e que serviram de

argumento ao discurso de Mercadante surgem deliberadamente na última reportagem, com a

vaga já assegurada ao candidato do PSDB.

Page 125: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Considerações finais

Foi identificado na análise das entrevistas que, entre os diversos fatores que

impediram o confronto de forças num segundo turno, o que pesou fortemente para que

Mercadante não conseguisse alcançar uma votação mais expressiva foram as orientações

políticas do próprio partido – com suas variadas tendências internas, que foram criadas para

tornar as discussões mais democráticas e como forma de enriquecer o debate interno. O PT

ainda não conseguiu a unidade necessária para evitar as prévias, tanto nas eleições para a

Capital quanto para o Estado de São Paulo. É perceptível que essa construção tem causado

muitos conflitos em diversos momentos da história do PT. E, principalmente, em se tratando

da arena política das eleições de 2010, na disputa de Mercadante ao Palácio dos Bandeirantes.

Podemos considerar que esses gargalos estão mais ligados diretamente à disputa entre

Mercadante – da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) – e Marta – da Novo Rumo, que

ocorre desde as prévias de 2006, nas quais ambos mediram forças pela candidatura ao

governo de São Paulo. Mercadante não recebeu o apoio integral não apenas de sua

companheira partidária, como também de grandes líderes do partido.

Em segundo lugar, a falta de um projeto estruturado para o Estado, e não somente

durantes as campanhas eleitorais, considerando as prefeituras ocupadas pelo PT, os diretórios

municipais e zonais, e a formação de alianças com outros partidos, principalmente com os que

tiveram maior número de prefeitos eleitos em 2008. É difícil imaginar, no cenário da

campanha de 2010, que o PT conseguisse ganhar as eleições no Estado sem uma forte aliança

com o PMDB. Como também – a própria articulação da campanha assume – faltou um

projeto para a classe média emergente, a que o Governo Lula tanto impulsionou, mas ainda

não criou nenhuma proposta concreta para ganhar o voto do segmento no Estado, muito

menos procurou maneiras para atrair essa classe.

Terceiro, pesou a decisão de não levar em consideração os possíveis aliados potenciais

que já possuem força consolidada na Capital e Grande São Paulo, deixando Mercadante de

fazer alianças com esses candidatos ao Legislativo e, optando por buscar maior apoio no

Interior, sem que este tivesse condições suficientes para transferir-lhes votos naquele

momento. A estratégia mais prudente seria optar por equilibrar as alianças da capital e do

Interior. É possível perceber que todas essas ações estão inegavelmente interligadas aos

gargalos com as tendências.

Page 126: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Percebemos também que há um forte entrave em relação à forma do candidato se

expressar perante o público. Essa questão foi reforçada nos quatro eixos da pesquisa, desde a

análise dos entrevistados, da propaganda eleitoral, dos programas de debates e da cobertura

dos jornais. Todos apontam que o candidato não conseguiu construir um discurso de

oposição, trocando-o por uma posição de confronto. Além disso, ficou clara a sua dificuldade

em trabalhar uma imagem positiva, uma empatia mais profunda, apesar de Mercadante ter

uma boa desenvoltura discursiva tanto no HGPE quanto nos debates, mostrando segurança e

conhecimento do que falava. No entanto, são questões que o candidato ainda deixa muito a

desejar. Nesse sentido, Gomes define que na dramaturgia política os espectadores/eleitores

têm plena consciência de o que estão assistindo se trata de uma representação do ator político

e não do próprio candidato. Contudo, para assegurar que o espetáculo tenha mais

credibilidade, a representação não pode ser feita de maneira despropositada ou irreal demais,

pois do mesmo modo que num espetáculo dramático, o público consegue identificar os maus

atores.163

Em relação ao envolvimento e ao desempenho da militância com o candidato

majoritário, constatamos que o partido poderia ter se empenhado melhor; apesar do PT ter

uma militância muito ativa, um partido político, assim como instituições particulares, públicas

ou do terceiro setor, deve ter em sua estrutura um setor de treinamento atento às necessidades

de auxílio requeridas por seus membros. Ou seja, um setor com habilidades e competência

para inserir novas ferramentas para ajudar sua equipe a adquirir eficiência no trabalho. Além

de contribuir para um melhor desempenho de sua função, o treinamento contribui para a

formação, aperfeiçoamento profissional e autossatisfação do treinando. O modelo adotado

para empresas pode ser aplicado em partidos políticos, consideradas as devidas proporções.

Nesse caso, especialmente ao PT.

Não propomos apenas que sua aplicação seja feita em período de campanha ou de pré-

campanha, recomenda-se que sua aplicação deva ser contínua, e em níveis variados de

integração e coerência com o marketing político, uma vez que ambos buscam maximizar e

preparar o indivíduo em sua totalidade – não somente militante e candidato, mas todos os

envolvidos no processo eleitoral – para o desenvolvimento efetivo de uma campanha. Além

disso, a atuação política, vinculada ao exercício da cidadania, é a principal escola para o

aprimoramento do marketing político.

163

GOMES, Wilson. Op. Cit., p.388-390.

Page 127: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Foi verificado que nas propagandas eleitorais do candidato, do início até o final,

apontava como principal estratégia colar em Lula. É incontável o número de vezes que a

imagem do então presidente foi utilizada. Aliás, Lula aparece nos programas praticamente o

mesmo tempo que o próprio candidato. As “marcas” das realizações do Governo Lula foram

exploradas em todos os programas. Nas três amostras do HGPE se constatou que existiu uma

grande ausência de discurso de oposição, muitas vezes deixando brechas para causar dúvidas

no eleitor. Porém, essa hipótese não pode ser comprovada, pois não se sabe de que forma o

eleitorado entendeu esse formato de discurso, pois o estudo se ateve a analisar apenas um lado

dos envolvidos num pleito eleitoral, o da campanha. Porém, segundo os estudos

desenvolvidos por Figueiredo e sua equipe do IUPERJ, é possível detectar duas vertentes para

o discurso argumentativo: o da oposição é que “o mundo atual está ruim, mas ficará bom”; o

da situação é que “o mundo atual está bom e ficará ainda melhor”.164

A crítica esteve presente

no HGPE, porém ela foi melhor desenvolvida nos programas de debates. Aliás, esses recortes

de bom desempenho nos debates foram introduzidos em algumas propagandas eleitorais,

inclusive, nas inserções dos spots.

Os três debates deixam evidente que houve mudança de estratégia nas participações do

candidato nas três emissoras, confirmando as justificativas de um dos eixos da pesquisa

empírica. E mostrou uma melhora significante no decorrer de suas participações nesses

programas. O destaque conferido ao uso das estratégias de marketing político contribuiu para

reforçar sua atuação nos programas.

A análise da cobertura jornalística confirma o que parte dos entrevistados acusou em

relação ao candidato Mercadante: é uma abordagem partidária e definida a favor do PSDB,

mas não assumida. A estratégia é minar o candidato petista com pequenas acusações,

moldando sua personalidade e atacando pontos da campanha, inclusive aqueles aqui

assinalados como críticos, como a cisão entre tendências internas do partido. Muitos desses

pontos usados pela cobertura também podem ser trabalhados pelo marketing político. Aliás, a

crítica da imprensa só atinge o candidato em pontos que ainda precisam ser trabalhados pelo

marketing político. Afinal, não foi usado nenhum argumento contra que não fosse detectado

no restante da pesquisa empírica. Em geral a crítica direta à imprensa não tem se demonstrado

uma estratégia eficiente, pois o contra-argumento sempre implica em “controle da imprensa”,

164

FIGUEIREDO, Marcus; ALDÉ, Alessandra; DIAS, Heloisa e JORGE, Vladimyr L. apud FIGUEIREDO,

Rubens (org.). Op. Cit,, p. 152.

Page 128: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

“censura à liberdade de expressão”, etc. Por isso as ferramentas de marketing político devem

trabalhar o discurso e a imagem, para que se sobressaiam às críticas.

Propostas e sugestões

Com base na análise dos quatro eixos desta pesquisa, consideramos que se mostra

evidente a necessidade de um planejamento estratégico de marketing político e de

comunicação integrada para um funcionamento mais eficaz na próxima campanha eleitoral

(2014). Deve ser colocado em prática imediatamente, começando pela elaboração das

estratégias para eleger os prefeitos pelo PT na campanha de 2012. Isso levando em conta o

quadro dos prefeitos eleitos no Estado pelo partido (2008-2012), presente no cenário da

eleição de 2010, conforme gráfico abaixo:

Gráfico 5 – Prefeituras conquistadas por partidos nas eleições 2008 no Estado de São Paulo165

165

Fundação Prefeito Faria Lima – Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (CEPAM). Perfil

dos prefeitos do Estado de São Paulo: 2009 a 2012. Disponível em:

<http://www.cepam.sp.gov.br/arquivos/Perfil/perfil_completo_web_.pdf>. Acesso em: 16 de set. 2011.

Page 129: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

O grande desafio será a manutenção das prefeituras conquistadas pelo PT e o

desenvolvimento de projetos estruturados para vencer o pleito em novas cidades. Buscar atrair

partidos para a formação de alianças políticas, avaliar a construção de alianças eleitorais com

partidos que tenham maior número de prefeituras no Estado, sempre respeitando os princípios

que constituem a identidade partidária. Não esquecer que uma aliança com o PMDB é

fundamental para conseguir chegar ao governo do Estado, especialmente porque a liderança

estadual está nas mãos do vice-presidente da República, Michel Temer.

É necessário criar propostas regionais estruturadas já nas próximas campanhas de

2012 para as prefeituras, principalmente no Interior, o que não significa menosprezar a

Grande São Paulo e a Capital. Pelo contrário, a região metropolitana é o carro-chefe de uma

campanha ao governo.

Da mesma forma, é expressamente necessário repensar uma maneira de evitar as

prévias, costurando acordos internos para que não se promovam mais cisões internas, o que já

parece ser a estratégia adotada pelo ex-presidente Lula, por exemplo, que articula um nome de

consenso para concorrer à prefeitura de São Paulo em 2012. Quando houver a necessidade de

disputa interna, será necessário trabalhar para que as prévias durem o menor tempo possível

para que não haja desgaste entre militantes e articuladores na hora de apoiar qualquer

candidatura. No Brasil, a prévia é uma eleição antes da eleição: convoca-se uma convenção

em que os militantes se confrontam. Ou seja, é um formato que estimula a divisão e não

promove o consenso.

É preciso aproximar o candidato majoritário dos candidatos proporcionais – que já

estão no poder, e que pretendem se manter nele – e dos novos candidatos que almejam

alcançá-lo, para que esses tenham segurança e vontade de defendê-lo, do mesmo modo

quando pedem votos para sua própria campanha.

Em relação à militância e aos filiados, é importante realizar treinamentos de maneira

efetiva e não somente nas pré-campanhas ou campanhas eleitorais. Além de motivar, valorizar

o trabalho desses parceiros fundamentais, pois assim o partido terá do seu lado pessoas

capazes de defender a ideologia partidária, seus candidatos, e, principalmente, o interesse da

população, baseados em argumentos persuasivos com maior capacidade de conquistar o voto.

Se for o caso de investir no mesmo candidato das eleições de 2006 e 2010, repensar as

alternativas de fortalecer ainda mais seus pontos positivos e buscar disfarçar os pontos fracos

com o auxilio de profissionais de marketing político a fim de reforçar sua marca.

Page 130: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Além disso, é preciso criar estratégias para a campanha na Web. Apesar desta pesquisa

não ter em sua estrutura estudo sobre o uso da internet nas eleições, convém investir

fortemente nesse novo meio e “dominar” essa ferramenta.

Enfim, há a necessidade imediata de criar um grupo permanente de estudo eleitoral e

estudo de governo dentro do Partido dos Trabalhadores por meio de um programa de Sistema

de Informação de Marketing (SIM) para monitorar/acompanhar os trabalhos que estão sendo

desenvolvidos pelos diretórios e prefeituras já conquistadas pelo partido, para ter bases

confiáveis para desenvolver suas estratégias não somente de campanha, mas para governos.

Para isso, é necessário recrutar especialistas em gestão de marketing, ou seja, uma boa equipe

de marketing político. Estudos mostram que esse tipo de monitoramento demanda muito

trabalho, porém seus resultados são cofiáveis no momento de identificar os problemas

principais que precisam ser trabalhados por meio de novos projetos de estratégias.

Page 131: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

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completa-dos-debates-entre-os-candidatos-aos-governos-20100921.html>.

Vídeo postado no site Youtube [9 de set. 2010] pela equipe de Mercadante (mercadante13).

Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=T9F-xOta0Ig>.

Vídeo postado no site Youtube [17 de ago. 2010] pela Band.

Vídeo postado no site Youtube [18 de ago. 2010] pela equipe de Mercadante (mercadante13).

Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=Y1IDCSVlagI&feature=related>.

Vídeo postado no site Youtube [29 de set. 2010] pela equipe da campanha: mercadante13.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=IA4RULvFlVE>.

Entrevistas:

AMÉRICO, José. Entrevista [18 de ago. 2011] concedida a Elaides Basilio Andrelino.

MACENA, Chico. Questionário [5 de set. 2011] respondido por e-mail para esta monografia.

PEREIRA, Justino. Questionário [5 de jul. 2011] respondido por e-mail para esta monografia.

CORDEIRO, Carlos. Entrevista [13 de set. 2011] concedida a Elaides Basilio Andrelino.

ANGELI, Paulo Victor de. Entrevista [14 de set. 2011] concedida a Elaides Basilio

Andrelino.

ALMEIDA, Geraldo Figueiredo de. Entrevista [11 de set. 2011] concedida a Elaides Basilio

Andrelino.

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MENDONÇA, Luiz. Entrevista [12 de set. 2011] concedida a Elaides Basilio Andrelino.

Capa:

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<http://blogs.estadao.com.br/radar-politico/2010/08/12/debate-de-candidatos-ao-governo-de-

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Page 138: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

APÊNDICES

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Entrevistas com coordenadores da campanha e militantes

Coordenadores

Vereador José Américo

1- Há quanto tempo participa da articulação das campanhas do PT? E das

campanhas de Aloizio Mercadante?

Em primeiro lugar eu queria dizer que eu trabalho nas campanhas do Mercadante, em

particular, eu tive uma ajuda na área de comunicação, já quando ele foi candidato ao governo

do Estado em 2006. Embora não fosse coordenador de comunicação, eu ajudei principalmente

na parte de televisão. E estratégia de marketing. Isso em 2006. E em 2010 aí eu fui o

responsável por toda a parte de comunicação, em particular na parte de TV e rádio e pela

criação mais geral da campanha. No PT eu participei de várias outras campanhas, uma delas

foi a de 89, do Lula, eu também fui o coordenador de rádio e televisão, contra o Collor. Em 98

contra o Fernando Henrique eu também fui o coordenador de rádio e TV e depois me afastei

disso e só voltei pra campanha do Mercadante em 2006 e depois em 2010.

2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?

Que ajustes formam feitos no decorrer da campanha?

Nós primeiro fizemos um grande diagnóstico do Estado de São Paulo do ponto de vista

econômico e social, coletando dados tanto dos órgãos de pesquisa do governo do Estado, de

órgãos da prefeitura, das principais prefeituras, de órgãos federais, IBGE, etc. Um diagnóstico

desse tipo. Depois nós fizemos um diagnóstico político, a partir de informações prestadas por

nossos diretórios. Quem é quem em cada região, do ponto de vista político, e fizemos um

diagnóstico de pesquisa. Pra você estudar o espectro político ideológico do Estado. Aí você

tem uma bibliografia que não é muito vasta, mas de qualquer formar nós tivemos muitas

pesquisas nessa área. E fizemos também um conjunto de pesquisas qualitativas, que os

americanos chamam de focus group, essas pesquisas qualitativas também permitiram que nós

fizéssemos um grande diagnóstico. A estratégia básica a partir desse diagnóstico foi a

seguinte: a campanha tinha que ter dois eixos. O primeiro eixo era que o Mercadante tinha

Page 140: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

que ser o candidato que tinha uma relação muito grande com o governo Lula. A história

pessoal dele contribuía pra isso. O próprio PT geralmente associado ao presidente Lula, mas a

gente sempre soube que isso não era suficiente para ganhar uma eleição. Nós tínhamos

também que fazer a disputa regional e o Mercadante se apresentar como alternativa regional.

O eleitor paulista é um eleitor que costuma separar, ele separa. Uma coisa é presidência, outra

coisa é o governo do Estado, outra coisa é o município. Então fizemos uma estratégia que

tinha essas duas... a campanha do Mercadante foi até o fim, ela trabalhou com essas duas,

esses dois eixos. Associação com o governo do presidente Lula, ser aquilo que o presidente

Lula está sendo para o Brasil no Estado de São Paulo, de um lado, e de outro, de alguém que

irá governar, ganhando a eleição em nome de um partido forte, de uma coligação forte, e que

tem a capacidade de apresentar uma alternativa consistente de governo para o Estado de São

Paulo, nas áreas que nós julgávamos as mais críticas, e que também foram as áreas que a

gente mais bateu, onde o eleitorado sempre viu com mais vulnerabilidade no governo do

PSDB, que era a educação, nós batemos muito na questão da progressão continuada, a criança

passar sem saber, etc.; na questão da segurança pública, que é uma calamidade, toda a gestão

Alckmin foi uma gestão, todos os seis anos do governo Alckmin antes dele se candidatar em

2010 foi o período onde o crime organizado mais cresceu no Estado de São Paulo. O PCC

existia antes do Alckmin, mas com o Alckmin cresceu bastante porque a estratégia do

Alckmin de combate ao crime organizado é uma estratégia política, que procura esconder

aquilo que existia. Então o crime organizado cresceu muito no governo Alckmin. E o terceiro

eixo crítico – nós tanto apresentávamos a proposta como fazíamos a crítica – era a área de

transporte. O Alckmin é o governador que menos construiu metrô no Estado de São Paulo. A

média de construção de metrô do Alckmin é de 800 metros por ano. Ninguém construiu

menos que ele. De modo que nós trabalhamos essas questões, tanto a área de educação, de

transporte e de segurança pública, eram as áreas que nós mais apresentamos propostas, e

também as áreas que nós mais criticamos. Os debates, os programas, grande parte das nossas

críticas, elas eram, podemos dizer, variações sobre esses três temas. Poucas vezes nós saímos

desses três temas. Mas a estratégia principal sempre foi: governo Lula, colar no governo Lula,

mas procurar fazer uma crítica consistente ao governo do Alckmin, aos governos que o

Alckmin e que o PSDB teve, e procurar se apresentar como alternativa aos governos do

PSDB, com propostas consistentes nessas três áreas que para nós eram as áreas mais críticas.

A população, pelas nossas pesquisas, se mostravam mais interessadas e mais vulneráveis,

Page 141: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

mais suscetíveis. Nós tivemos, ao longo do processo, tivemos que fazer alguns ajustes, mas

em nenhum momento nós alteramos o fundamento da nossa campanha. Os ajustes foram que

nós precisamos trabalhar um pouco a informalidade do Mercadante, procurando mostram o

lado dele de professor, o lado de amigo, o lado de companheiro, trabalhar um pouco aspectos

afetivos, emocionais, procuramos atacar alguns temas que se apresentavam com mais força

naquela época a partir das pesquisas, mas de qualquer forma, a estratégia geral nós nunca

mudamos. Nós mudamos as táticas, mas a estratégia nós nunca mudamos. Tem um problema

no Estado de São Paulo para o PT, que é muito grave, que é o seguinte: o PSDB é o partido da

mídia, é o partido da classe média conservadora do Estado de São Paulo, mas é também o

partido da mídia. Você tem uma identidade ideológica muito grande entre 80% das rádios, dos

jornais, de jornais do interior, da grande imprensa, com a articulação do PSDB e a

participação do PT é muito pequena. Qualquer tipo de problema nosso é amplificado, mesmo

na campanha isso existe. Nós não podemos esquecer que na campanha o noticiário de rádio e

TV é controlado, mas a mídia impressa não é controlada. Então, as nossas coisas sempre

tinham mais efeito, tinham mais repercussão. As deles não. Isso você tem que multiplicar

pelas rádios do interior, pelos jornais do interior, a grande maioria ou faz isso de forma direta,

pela identidade ideológica com a articulação do PSDB, ou faz isso porque segue a Folha de S.

Paulo, segue a TV Globo, etc. A TV Globo, entre todos os órgãos de comunicação, foi a mais

imparcial. Todos os outros... e a Record num certo sentido. Meio eletrônico, televisão, é

submetido a um controle muito grande nas campanhas eleitorais. O problema é que a mídia

impressa não é. Então eles têm uma mídia a favor. Uma classe média conservadora que tem

uma vinculação ideológica com o PSDB e que tem peso político institucional no Estado de

São Paulo. O Estado de São Paulo, diferentemente dos outros Estados é o Estado do

progresso. O cidadão é pobre, de repente ele vira classe média e ele acha que ele vai crescer,

que ele vai ficar rico. Então, ele tem um pouco de receio, assim, que um partido que fale em

bolsa-família, que defende os sem-terra, esse medo da radicalização do PT assusta um pouco

essa classe média conservadora. Certamente isso teve influência negativa na campanha e

impediu que a gente tivesse qualquer sucesso, por exemplo, ir para o segundo turno. De

qualquer forma, eu acho que as condições de São Paulo são muito boas, os episódios Erenice

e os episódios, aquela coisa do aborto, etc., num certo sentido puxaram também a gente pra

baixo. A Dilma, na nossa pesquisa diária, chama-se tracking, ela em 50% das opções, ela

estava muito na frente do Serra, tinha feito água a campanha do Serra, mesmo no Estado de

Page 142: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

São Paulo. O Mercadante estava subindo aos poucos. A tendência dele era equalizar. O PT é

sempre assim. É muito difícil o candidato a presidente ter 35 e o candidato a governador ter

10. Isso não existe. A tendência é chegar perto, como chegou. Na hora da chegada, aqui no

Mercadante chegava muito perto do ponto de vista eleitoral. Mas a coisa da Erenice teve peso

negativo, a coisa do aborto também, a reação conservadora contra a candidatura da presidente

Dilma, ela puxou a campanha da Dilma pra baixo e consequentemente a campanha do PT pra

baixo e isso levou o Mercadante pra baixo. Eu mesmo conversava muito com ele e entre nós,

com o Augusto [Fonseca], que era o nosso coordenador de publicidade, o nosso marqueteiro,

e a gente falava: não tem jeito, é uma coisa que puxa a gente pra baixo. O nosso destino está

muito amarrado à Dilma, ao sucesso dela. Não adianta a gente querer se descolar. Nossa

vocação é colar nela. A gente pode se descolar sim, não só pra se apresentar como autônomo,

nós não somos apenas uma extensão dela, nós temos cara própria, personalidade própria. Mas

isso o Mercadante mostrou. De qualquer forma, esse descolamento é muito parcial, muito

pequeno. A gente sabia que, embora pudesse fazer isso, até um limite, mas, digamos assim, se

ela caísse a gente caia e se ela se mantivesse na posição de 40, 50 dias atrás, antes daquela

guerra santa que foi feita contra nós, guerra diabólica, não guerra santa, se tivesse prevalecido

aquilo, certamente teria segundo turno em São Paulo. A queda da Dilma é que tava, como eu

digo pra você... tem tracking aqui em que ela tava, dois meses antes ela chegou a estar vinte

pontos na frente do Serra. Quinze, vinte pontos. O Mercadante vinha subindo aos poucos.

Mas a gente sabia que, no fundo, ia equalizar. Ia chegar junto com ela. Mas o que aconteceu?

O Serra vinha se aproximando dela, o Serra acabou ganhando dela no Estado, e nós perdemos

pro Geraldo Alckmin. Então é isso.

3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você

acredita que o eleitor considera que critérios na avaliação do candidato:

experiência no executivo, propostas, partido?

O Alckmin, até por conta do apoio que ele sempre recebeu da mídia, eu chegava a dizer que é

quase um inimputável. Ele fez 800 metros de metrô, mas isso jornal nenhum escreve. Ele é o

governador que permitiu o nascimento do PCC, mas ninguém fala disso. Quando tem crime

organizado em São Paulo ele é considerado geração espontânea. Não construiu o metrô

porque tinha uma rocha na frente. Coisas assim. A mídia foi evidentemente muito tolerante

com ele. E ele conseguia passar a ideia de um homem bonzinho, que tinha experiência

Page 143: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

administrativa. Isso certamente pesou em favor dele. Mas pesou também o diálogo que ele

tinha com essa classe média conservadora, que ela não é suficiente para ganhar a eleição. Mas

ela tem ainda peso muito grande na formação da opinião pública no interior do Estado. Nas

cidades pequenas e médias. Ela tem muito peso na formação da opinião pública e nessa

medida nós podemos dizer que esse setor social foi fechado pelo Alckmin. Não quis saber se

funciona o metrô, não quis saber se a segurança piorou, isso pouco importa, se piorou ponho

uma grade na frente da minha casa, mas eu quero o Alckmin por causa da inspiração

conservadora do Alckmin. Nós vimos casos em que se via esses setores da classe média que

ficava irritada com ele por causa da segurança, por causa do transporte, do pedágio, mas

houve identificação ideológica. É como, digamos assim, você pode ver que a classe

trabalhadora organizada tem uma identificação ideológica com o Lula. Podem estar irritados

com o PT, mas acabam votando. O caso dessa classe média conservadora é isso. Agora, de

qualquer forma, eu quero te dizer isso: se é verdade que a classe média conservadora foi esse

cordão ideológico em favor do Alckmin, essa grande massa que ajudou a formar a opinião

pública, a maioria pelo Alckmin, é verdade também que você tem outros setores da chamada

classe média emergente que nós poderíamos ter avançado sobre esses setores e não

conseguimos avançar. Então essa classe média emergente, aquele cidadão que agora chegou à

classe média, ele tem comportamento contraditório, às vezes ele é proletário às vezes ele é

pequeno burguês, esse setor é muito próximo da gente. A gente considera uma parte, mas não

ganhamos o suficiente para irmos ao segundo turno. Aqui na cidade de São Paulo esse setor é

distribuído geograficamente. A classe média conservadora mora em Pinheiros, Moema, Lapa,

Vila Mariana. A classe média emergente mora onde? No centro de Itaquera, no centro de

Guaianazes, mora também perto de Santo Amaro, mora na Vila Matilde. Essa gente está

muito próxima da gente. Nós começamos a recuperar esse terreno, mas não recuperamos o

suficiente. Faltava também de nossa parte, faltou, propostas consistentes para esse setor. Esse

setor você não conquista com bolsa-família. O Aloizio conseguiu conquistar uma parte aqui

na cidade de São Paulo, se eleição tivesse sido aqui teria tido segundo turno, ele perdeu aqui

pro Alckmin por cinco pontos, diferença muito pouca. Aqui na capital nós fomos bem

sucedidos até. Em cima da questão do ProUni, da educação. Ele conseguiu dialogar com esses

setores. Mas no interior, precisava de alguma coisa mais complexa, um programa mais

completo.

Page 144: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

O eleitor dá importância para o currículo do candidato, mas assim como pré-condição. Essa

importância pro currículo é mais preconceituosa do que real. Por exemplo, o Alckmin é

médico. Um médico que praticamente nunca exerceu a medicina. Do ponto de vista

profissional, o Mercadante é muito melhor que o Alckmin. Ele é um economista bem

sucedido. E o Alckmin não é um médico bem sucedido. O Alckmin é político profissional.

Mas um é médico, o outro economista, então você tendo essa pré-condição, tudo bem. Se

você não tem formação, se não tem nível universitário, eu vou ficar falando mal de você. Por

isso que eu digo que a comparação é preconceituosa, porque a hora que você vai comprar o

Alckmin com o Mercadante, do ponto de vista profissional não tem nem comparação. O

Alckmin não tem uma carreira profissional, uma carreira de político. O currículo político eles

dão importância. Mas não é o grande fator de definição de voto. O grande fator de definição

do voto são coisas assim de imagens, da imagem que o político representa, da esperança, do

futuro que ele consegue transmitir e da segurança que ele consegue transmitir. Esses são

fatores de ordem subjetiva que têm mais peso. São Paulo eu acho que é um Estado onde a

questão ideológica é muito marcante. As nossas campanhas têm que levar muito em

consideração isso. Tentar trabalhar o eleitor pra não estimular certos preconceitos, pra não

amedrontar o eleitor em relação a certas coisas. É um eleitor, na minha opinião, muito sujeito

a pregação ideológica. Você me perguntaria: mas o eleitor em geral não é assim? Não, não é.

O eleitor carioca, por exemplo, é um eleitor mais livre desse tipo de coisa. É um eleitor que

faz opções. Parece que ele tem mais capacidade de ousar. Pode pegar a história política do

Rio de Janeiro e é assim. Os eleitores do Nordeste, daquelas periferias do Recife, Fortaleza,

aqueles setores radicalizados, eles querem mais é ousar, coisa nova. O eleitor paulista e

paulistano não é bem assim. Esse Estado tem uma ideologia muito definida. Para esse Estado

as pessoas vinham para ganhar dinheiro e ficar rico. E o paulista, mesmo o paulista pobre,

quando ele sai aqui, ele se sente rico, ele é tratado como tal. Então tem um aspecto de caráter

ideológico no Estado de São Paulo que é muito marcante. Isso é extensivo para o Paraná,

Santa Catarina, essa região Sul do Brasil é meio assim. Rio de Janeiro não é assim. BH não é

assim. E os Estados do Nordeste muito menos.

4- A que atribui a consolidação do adversário na dianteira das pesquisas de intenção

de voto? Que estratégia foi adotada que permitiu o crescimento de Mercadante

nas últimas semanas de campanha?

Page 145: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

O Geraldo Alckmin manteve uma estratégia de... Como ele tinha um recall alto, era bem

lembrado pelas pessoas, era associado a ele uma série de valores que as pessoas davam

importância, como segurança, competência, o bom moço, o cara legal, o Geraldinho, etc., toda

a campanha dele procurava lembrar esses valores. E nós, para crescer, o que nós fizemos para

crescer? Nós acentuamos os valores do Mercadante, começávamos a fazer coisas sobre a

biografia política do Mercadante, a associação dele como Lula, e uma crítica muito dura ao

Geraldo Alckmin. Mas o que mais pegou foi o negócio do pedágio e da progressão

continuada. Isso pegou. E a segurança pública também. Uma parte da população não é trouxa.

Uma parte da população nunca se deixou levar. Tem sensibilidade para a questão da

segurança pública, para esses problemas que ele criou e que não conseguiu combater. Nós

colamos muito na campanha presidencial, fizemos as críticas aos pontos errados dele e

colamos tanto na Dilma quanto no Lula. O canal pra chegar na Dilma era o Lula. Tinham

muitas peças com Mercadante e Lula, pra fazer a colagem, pra não escapar. O eleitor que

fosse pra Dilma, trazido pelo Lula não escapasse como realmente, na prática, escapou

realmente muito pouca gente.

5- Por que Mercadante não conseguiu se beneficiar desde o início da campanha da

popularidade do Presidente Lula, de modo a aparecer como favorito nas

pesquisas?

Isso é normal porque a transferência de voto do presidente Lula é uma coisa sempre limitada.

A do presidente Lula foi uma das maiores que teve. Pra Dilma. E pro Mercadante também. A

transferência de voto no Estado de São Paulo pra Dilma e pro Mercadante foi bem alta. O

Lula tinha aqui uma intenção de voto... Ele transferiu na faixa de uns 30%. Mas que isso é

muito difícil. Outra coisa é que no Estado de São Paulo é um Estado onde a popularidade do

Lula não era das maiores. Uma coisa é a popularidade dele e outra coisa é achar que se a

pessoa gosta do Lula então vai votar no candidato dele. Ele tem, sei lá, 60% de aprovação. E

40% só que acompanhava. Então, em geral é assim. Poucos políticos na história do Brasil

conseguiram transferir tanto quanto o Lula. Para a Dilma e inclusive para o Mercadante.

6- Por que o PSDB mantém a hegemonia do eleitorado paulista quando o PT cresce

em todas as regiões do país?

Page 146: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

As características do Estado. Acho que, principalmente, eu já tinha falado, o Estado tem um

viés conservador, tem uma mídia muito conservadora, conservadora e partidária, setores

importantes da burguesia paulista, da burguesia brasileira estão aqui, mas também eu acho

que o PT deveria fazer uma reflexão mais consistente pra buscar políticas alternativas. Quer

dizer, ele tem que dialogar com esses setores. Não pode simplesmente explicar. É o Estado

mais conservador? É verdade. É o Estado que tem a mídia mais conservadora do Brasil? Sim.

É o Estado que tem a mídia mais tucana? É verdade. Isso tudo explica, mas não justifica as

nossas derrotas. Isso também vem de falhas e limitações nossas, da incapacidade de ter um

discurso mais convidativo, mais sedutor pra setores médios da população. Acho que isso vai

ficando possível agora, porque a classe média conservadora está perdendo espaço, está

ficando menor do ponto de vista proporcional. Quem está aumentando e crescendo é a classe

média emergente, que nós temos mais chance com ela.

7- Na sua opinião o candidato teve um desempenho satisfatório nos programas de

debates? Houve estratégias diferenciadas para a sua participação nos debates das

emissoras? Nas pesquisas e avaliações feitas pela equipe de marketing político

durante os debates, o que se avaliou em relação ao desempenho do candidato? O

quanto esses debates influem na decisão do eleitor comum, uma vez que são

exibidos tarde da noite?

Em geral a nossa estratégia foi sempre à mesma, até porque os programas se diferenciavam

pouco do ponto de vista da sua organização. Nós achamos, mas em geral, no nosso tracking, o

Mercadante levou a melhor em praticamente todos os debates. Mas o que acontece? O debate

hoje a vitória é sempre por pontos. Não tem mais vitória por nocaute. Acabou. Você não

ganha mais eleição através do debate. O Mercadante, em vários debates ele ganhou e empatou

com o Alckmin. Mas, e daí? Você não tem vitória por nocaute. O debate virou um espaço

institucional para as pessoas se informarem sobre os candidatos, mas não é onde você ganha

eleição. Os tracking que nós fizemos e as pesquisas quantitativas durante o debate ele aparecia

bem. Os candidatos vão preparados para os debates, que são tão engessados, as regras são

engessadas porque ninguém confia na mídia. Ninguém confia em jornalista, nenhum

candidato confia. Você acaba criando regras em acordo, que tornam os debates muito

engessados. O que você ganha do debate em termos de simpatia do candidato é muito pouco.

As audiências em geral são baixas, são exibidos tarde da noite e acabam ficando muito chatos.

Page 147: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

8- Como avalia os programas do horário eleitoral gratuito do candidato? Houve

apoio suficiente dos candidatos do partido? Estes conseguiram transferir votos a

Mercadante?

Eu acho que o programa de televisão dele foi bom e ajudou ele crescer, ajudou a fazer a

vinculação com a Dilma, com o Lula, ajudou a mostrar ele como uma pessoa capaz, ter

propostas específicas para São Paulo, acho que o programa foi determinante pra que ele tenha

crescido na reta final. Na verdade, os candidatos a deputado tiveram uma campanha muito

próxima do Mercadante, não teve nenhum problema de fragmentação, de alguém que fez

campanha pra outros candidatos, foi uma campanha muito unificada. E os candidatos a

deputado federal, estadual, ajudaram a capilarizar a campanha. Agora, o determinante foi a

campanha do Mercadante. Acho que dependeu menos das campanhas dos deputados e mais

da própria campanha dele na televisão.

9- A cobertura de imprensa da campanha foi tendenciosa para o adversário? Os

escândalos gerados durante a campanha (quebra de sigilo, Erenice Guerra, etc.)

afetaram o desempenho do candidato? Isso influiu na decisão do eleitor?

Na televisão não foi. Foi razoável a cobertura. No rádio, um pouco tendenciosa, nas áreas

interioranas principalmente. E na mídia impressa, aí claramente tendenciosa. Esses escândalos

não explicam 30, 40% dos votos. Mas aquilo que eu estava dizendo. A Dilma tinha tudo pra

ganhar do Serra no Estado de São Paulo. Erenice mais a questão do aborto foi responsável por

ela ter perdido uns 10, 15% no Estado de São Paulo. Tirou da gente também isso. Nós não

fomos pro segundo turno por 40 mil votos. Qualquer coisa explica o nosso insucesso no

Estado de São Paulo. Se o Mercadante vai para o segundo turno a realidade era outra. Nós não

fomos por 40 mil votos. A Dilma perdeu nos últimos 50 dias alguma coisa em torno dos 10,

15% dos votos. Nós atribuímos à Erenice e ao aborto e também às pauladas que você vai

levando na reta final. De qualquer forma, esse conjunto de coisas, sendo essas duas as mais

importantes, esse conjunto de críticas e reta final explicam essa queda. Ela tinha lá 45, 47% e

caiu para a faixa dos 30. Isso puxou o Mercadante também, deu um teto menor para o

Mercadante.

10- Levando em consideração quantidade de deputados estaduais, federais e até

mesmo uma senadora, eleitos pelo PT no Estado de São Paulo (2010), até que

Page 148: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

ponto os militantes conseguem dividir seus esforços entre eles, candidatos

(proporcionais) e os candidatos aos cargos majoritários?

Acho que dividem bem. O candidato a governador foi bem, não foi pro segundo turno, mas

chegou perto, e nós fizemos as maiores bancadas, Na Assembleia Legislativa foi o PT que fez

a maiores bancadas. Na Federal também, nós fizemos as maiores bancadas individualmente

falando. Acho que se dividiu muito bem. O PT geralmente é o partido que melhor articula

essas duas coisas.

11- Além dos trabalhos que o partido faz para a formação dos filiados e militantes,

por que não é feito um treinamento e um desenvolvimento efetivo de pessoal,

como ocorre nas grandes empresas, para eles se prepararem melhor para

defender o partido e, consequentemente, os candidatos durante as eleições e os

mandatos?

É o partido que mais faz isso. Acho que o PT já conseguiu fazer um pouco isso. Não acredito

que tenha empresa com mais motivação do que o PT. O PT ainda tem uma militância

voluntária grande, o PT faz treinamento, faz preparação. Agora, realmente as pessoas que

fazem campanha, nós temos discutido muito isso, nós precisaríamos ter um preparo melhor

não só do ponto de vista motivacional, mas do ponto de vista técnico, organizativo, trabalhar

com as pesquisas, como falar com as pessoas, como abordar, como convencer, como seduzir

as pessoas, como não agredir. O militante petista, às vezes, o mais fiel, eles vêm da periferia e

às vezes é um pouco agressivo para falar com as pessoas. Eu concordo. Apesar do PT fazer

isso, tem feito isso ao longo da sua história, eu acho que ele ainda está muito aquém do

necessário. Quer dizer, tanto do ponto de vista motivacional quando do de técnica de

marketing pra abordar e convencer as pessoas. Você não pode só pensar em marketing quando

vai na televisão. Tem que ver que o PT é um partido que sempre teve muita gente na rua e

essas pessoas que estão na rua são a cara do partido. Portanto essas pessoas têm que ser muito

bem treinadas. Acho que isso vem um pouco da cultura do improviso que tem na política

brasileira, você tem uma cultura de amadorismo, de improviso que vige na maioria dos

partidos brasileiros, no PT, no PSDB. Eu tenho amigos nos outros partidos e todos eles falam

isso. Hoje é que se está pensando que campanhas políticas devam ser coisas organizadas de

forma mais profissional. Mesmo nos partidos com viés ideológico maior, que sempre se

organizaram melhor. Mas até certo ponto. A partir de certo ponto, eles também tinham

Page 149: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

preconceito, achando que se fosse profissional demais é como se estivessem traindo a política.

Quando a gente sabe que isso não é verdade. Hoje existe uma mentalidade que é necessário

uma organização mais profissional. Mas essa mentalidade é muito recente. Há quinze, vinte

anos atrás não existia não. Existia claramente o culto do improviso. Eu ouvi isso de gente do

PSDB, do partido do Maluf, do PMDB. Não, o cara fala, aqui também, a cultura do

improviso. Parece que o bom é aquilo que é improvisado, que é espontâneo, que é amador.

12- Enfim, por que com tantas variáveis a favor do candidato, este não conseguiu ir

ao segundo turno?

Eu acho que foi a queda da Dilma nos últimos quarenta dias. Se não tivesse havido esse

problema a gente teria ido para o segundo turno. Até porque, repito, a nossa não ida para o

segundo turno pode ser explicada por qualquer coisa. Foi tão pequena a diferença. Acho que a

nossa campanha foi, ela teve os limites que ela tinha. Ela estava muito associada à Dilma. E

na reta final colamos mais. Aí tinha as vantagens e desvantagens. A campanha presidencial no

Brasil é muito forte, é muito difícil você descolar de um partido como o PT. Nem era o caso.

Mas eu acho que a Dilma caiu aí, 10, 15% na reta final e a gente caiu. Se não tivesse

acontecido isso, com certeza, tínhamos ido para o segundo turno.

Page 150: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Vereador Chico Macena

1- Há quanto tempo participa da articulação das campanhas do PT? E das

campanhas de Aloizio Mercadante?

Fiz parte da criação do partido, então posso dizer que participei de todas as campanhas que

houveram do partido em São Paulo, desde o surgimento do PT. Participei de todas

campanhas do Mercadante.

2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?

Que ajustes foram feitos no decorrer da campanha?

A orientação desde o início foi apresentar propostas que tirassem o estado de São Paulo do

imobilismo. Vamos lembrar que no auge do crescimento econômico do país, todos os estados

cresceram, aproveitando as políticas do governo Lula e São Paulo foi o estado que menos

cresceu. Além de apresentar propostas para educação, saúde e segurança (problemas que São

Paulo não resolveu) e, projeto de desenvolvimento que incorporasse propostas regionais. A

única coisa que mudou foi que em determinado momento resolvemos responder aos ataques

pessoais da campanha do Geraldo Alckmin.

3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você

acredita que o eleitor considera que critérios na avaliação do candidato:

experiência no executivo, propostas, partido?

Ao pegar o exemplo dos eleitores do Mercadante e do Alckmin divididos regionalmente na

cidade de São Paulo, as regiões mais carentes de serviços públicos foram as que mais votaram

no Mercadante e nos candidatos do PT, Cidade Tiradentes, Guaianases, Capela do Socorro.

Algumas regiões de classe média, como Vila Prudente, a votação ficou mais equilibrada. A

eleição para governador é delicada, pois o foco da mídia e conseqüentemente dos eleitores

está mais voltada para os candidatos ao governo federal.

Quanto aos critérios dos eleitores para escolha do candidato - Sim, o partido e as propostas

são critérios levados em consideração. A cidade e o estado de São Paulo tem características

distintas por região é arriscado generalizar as características dos eleitores, mas uma das

características do eleitor paulista que é difícil negar é que ele é conservador e precisa ser

Page 151: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

estimulado a pensar os motivos de seu voto para que ele possa mudá-lo com segurança de que

está fazendo um escolha melhor.

4- A que atribui a consolidação do adversário na dianteira das pesquisas de intenção

de voto? Que estratégia foi adotada que permitiu o crescimento de Mercadante

nas últimas semanas de campanha?

Foram realizadas pesquisas qualitativas durante a veiculação das propagandas eleitorais, que

possibilitaram a equipe de campanha avaliar se as mensagens que queríamos passar para a

população durante a campanha atingia a população, a ponto dela mudar sua intenção de voto.

Percebemos que muitos dos eleitores do Alckmin votavam nele simplesmente porque não

refletiram nos problemas enfrentados pela população que são relacionados a medidas tomadas

pelo governo do estado como segurança e educação e que esses problemas podem ser

solucionados com um outro candidato no poder. As pesquisas nos ajudaram a atualizar nossas

estratégias de campanha principalmente na televisão, que é o meio mais utilizado para obter

informações sobre políticas pela maioria da população.

5- Por que Mercadante não conseguiu se beneficiar desde o início da campanha da

popularidade do Presidente Lula, de modo a aparecer como favorito nas

pesquisas?

Um dos critérios é a falta de atenção da população sobre as eleições ao governo do estado,

que é colaborada com a cobertura em menor grau da mídia, outro é que as pessoas quase não

relacionam os problemas vivenciados por ela a medidas adotadas pelo governo do estado.

6- Por que o PSDB mantém a hegemonia do eleitorado paulista quando o PT cresce

em todas as regiões do país?

O PSDB tem a máquina do estado, apesar do acomodamento em relação as políticas públicas.

O Estado de São Paulo é muito conservador e o PT não rompeu alguns desgastes, e terceiro

São Paulo, ao contrário dos outros estados, não percebeu com o mesmo impacto as políticas

de inclusão do governo Lula, de desenvolvimento, que diminuiu as desigualdades econômicas

e regionais.

Page 152: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

7- Na sua opinião o candidato teve um desempenho satisfatório nos programas de

debates? Houve estratégias diferenciadas para a sua participação nos debates das

emissoras? Nas pesquisas e avaliações feitas pela equipe de marketing político

durante os debates, o que se avaliou em relação ao desempenho do candidato? O

quanto esses debates influem na decisão do eleitor comum, uma vez que são

exibidos tarde da noite?

Sim, o desempenho do Mercadante no debate foi bom, após o debate, não me lembro em

quais canais, era feito uma pesquisa com as pessoas que estavam assistindo para saber a

avaliação delas sobre o debate, e em todas avaliações o resultado foi positivo para o

Mercadante. Claro que em alguns debates os resultados foram melhores. Sim houve

estratégias diferentes de preparação para os debates, não tanto pelo o que o candidato iria

falar, pois o Mercadante estava muito preparado e ciente dos problemas que o estado enfrenta,

mas as estratégias foram mais referente a forma de falar e a imposição da voz e do corpo

diante das Câmeras. Pode-se dizer que a maioria dos eleitores não assiste o debate, mas são

atingidos direta e indiretamente pelos comentários no ônibus, metrô, lugares públicos em

geral e por comentários na Internet.

8- Como avalia os programas do horário eleitoral gratuito do candidato? Houve

apoio suficiente dos candidatos do partido? Estes conseguiram transferir votos a

Mercadante?

Sim, houve apoio dos outros candidatos e acredito que eles conseguiram transferir votos

para o Mercadante. O horário eleitoral gratuito foi um meio de haver está transmissão. A

forma utilizada para fazer o programa eleitoral gratuito como já dito na questão anterior,

se adaptava conforme o resultado das analises que eram feitas com as pesquisas

qualitativas, ocorridas durante os horários eleitorais.

9- A cobertura de imprensa da campanha foi tendenciosa para o adversário? Os

escândalos gerados durante a campanha (quebra de sigilo, Erenice Guerra, etc.)

afetaram o desempenho do candidato? Isso influiu na decisão do eleitor?

A grande imprensa tem um papel importante para sociedade, a maior parte das informações

que ajudam a formar a opinião da população chegam através dela, mas sabemos que assim

como às pessoas ela tem um posicionamento e sua preferência. O jornal O Estado de S. Paulo

Page 153: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

admitiu em seu editorial que o seu candidato a presidência era o Serra, conseqüentemente

também seria o Alckmin para governador. Achei o posicionamento do jornal adequado, pois

os outros grandes veículos também demonstraram ter a mesma opinião, mas admitiram. È

difícil não reparar que a revista, mais vendida do Brasil, tenha veiculado, também neste

período, matérias tendenciosas e que afetam direta e indiretamente a opinião da população na

hora de votar.

10- Levando em consideração quantidade de deputados estaduais, federais e até

mesmo uma senadora, eleitos pelo PT no Estado de São Paulo (2010), até que

ponto os militantes conseguem dividir seus esforços entre eles, candidatos

(proporcionais) e os candidatos aos cargos majoritários?

A militância se empenhou tanto na campanha majoritária como na proporcional. Agora vamos

lembrar que definimos nosso candidato ao governo tardiamente e a polarização da disputa

nacional prevaleceu, tivemos pouco espaço na mídia da disputa estadual e das propostas.

Tudo isso pesou no resultado da disputa majoritária.

11- Além dos trabalhos que o partido faz para a formação dos filiados e militantes,

por que não é feito um treinamento e um desenvolvimento efetivo de pessoal,

como ocorre nas grandes empresas, para eles se prepararem melhor para

defender o partido e, consequentemente, os candidatos durante as eleições e os

mandatos?

Durante a campanha e no período pré-eleitoral, o partido realiza Caravanas, que têm como

objetivo unificar o discurso dos militantes, prepará-los e motivá-los a defender e divulgar o

projeto e os ideais do partido durante as eleições. Esses eventos costumam ocorrer aos finais

de semana, e em cada diretório zonal ou em cada região. A ideia é realizar eventos que

consigam alcançar com facilidade o militante do PT. Mas o partido sabe que muitas questões

podem e devem ser melhoradas com sugestões e métodos diferentes de preparação para a

campanha.

12- Enfim, por que com tantas variáveis a favor do candidato, este não conseguiu ir

ao segundo turno?

Page 154: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

A disputa ficou muito centralizada entre o Mercadante e Alckmin, tivemos 39 % dos votos e o

Alckmin pouco mais que 50 %, ou seja, foi por muito pouco que não chegamos ao segundo

turno. Acreditávamos que outros candidatos teriam um desempenho melhor encima dos votos

do Alckmin como o Celso Russomano, que obteve um bom desempenho durante os debates,

também imaginávamos que Paulo Skaf teria um pouco mais de votos, mas isso não ocorreu e

por menos de 1% não conseguimos ir para o segundo turno.

Page 155: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Justino Pereira Junior

1- Há quanto tempo participa da articulação das campanhas do PT? E das campanhas

de Aloizio Mercadante?

Desde 1988. Participei da disputa do Mercadante nas prévias contra a senadora Marta Suplicy, em

2006, e participei do grupo de Comunicação da campanha para governador em 2010.

2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?

Que ajustes foram feitos no decorrer da campanha? A campanha lutou para viabilizar a presença do

candidato no segundo turno, o que não foi conseguido por muito pouco.

3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você acredita

que o eleitor considera que critérios na avaliação do candidato: experiência no

executivo, propostas, partido?

Parte do eleitorado tem um voto “ideológico”, baseado nos valores mais permanentes seus, dos

candidatos e partidos. E parte tem um voto mais “pragmático”, baseado nos seus interesses do

momento. Claro que o perfil do candidato também conta muito. Mas o fator predominante de

decisão do voto muda a cada eleição (ora é a ética, ora é a experiência, ora é a novidade...).

4- A que atribui a consolidação do adversário na dianteira das pesquisas de intenção de

voto? Que estratégia foi adotada que permitiu o crescimento de Mercadante nas últimas

semanas de campanha?

O adversário havia sido governador e candidato a prefeito da Capital. Contou também com o

suporte da máquina estadual e com uma boa-vontade da mídia tradicional. O avanço de

Mercadante se deveu e m parte à identificação do candidato com o PT e Lula, em parte aos

atributos do próprio candidato petista e em parte aos problemas na gestão tucana que a campanha

de TV conseguiu mostrar bem, como os pedágios caros e a aprovação automática na educação na

rede estadual.

5- Por que Mercadante não conseguiu se beneficiar desde o início da campanha da

popularidade do Presidente Lula, de modo a aparecer como favorito nas pesquisas?

Page 156: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Porque isso não é automático. As pessoas separam os diversos níveis de governo e o fato de

gostar do presidente de um partido, não significa automaticamente projetar esse apoio para todos

os candidatos do mesmo partido.

6- Por que o PSDB mantém a hegemonia do eleitorado paulista quando o PT cresce em

todas as regiões do país?

Aparentemente, por algumas razões, entre elas: um certo viés conservador de parte do eleitor

paulista, em especial nas pequenas cidades; a forma pouco agressiva / condescendente como a

mídia paulista trata o governo do PSDB paulista desde o mandato Mário Covas, a avalanche

publicitária do governo estadual (praticamente todos os programas noticiosos de TV e rádio tem

publicidade estatal DIÁRIA), o fato de o PT desde 1982 só ter conseguido repetir seu candidato a

governador em 2006 e 2010 (o que dificultou a construção de marca), alguns anacronismos na

forma do partido fazer campanha etc.

7- Na sua opinião o candidato teve um desempenho satisfatório nos programas de

debates? Houve estratégias diferenciadas para a sua participação nos debates das

emissoras?

Nas pesquisas e avaliações feitas pela equipe de marketing político durante os debates, o que se

avaliou em relação ao desempenho do candidato? O quanto esses debates influem na decisão do

eleitor comum, uma vez que são exibidos tarde da noite? O candidato teve boa participação nos

debates, embora esse não seja um fator decisivo na definição do voto. Em geral, a menos que

ocorra um desastre, os debates só servem para reafirmar opiniões que os eleitores já tem sobre os

candidatos.

8- Como avalia os programas do horário eleitoral gratuito do candidato? Houve apoio

suficiente dos candidatos do partido? Estes conseguiram transferir votos a Mercadante?

O programa de TV foi bom, feito de acordo com as circunstâncias. Os candidatos a deputado

deram todo o apoio que podiam dar.

9- A cobertura de imprensa da campanha foi tendenciosa para o adversário? Os

escândalos gerados durante a campanha (quebra de sigilo, Erenice Guerra, etc.)

afetaram o desempenho do candidato? Isso influiu na decisão do eleitor?

Page 157: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Como em eleições passadas, a mídia tentou direcionar a opinião pública. O resultado eleitoral

mostrou que esse objetivo não foi alcançado, pois cada vez mais as pessoas formam suas opiniões

por outros meio s, além da mídia (conversa com parentes e amigos, vizinhos, colegas de trabalho,

internet etc.).

10- Levando em consideração quantidade de deputados estaduais, federais e até mesmo

uma senadora, eleitos pelo PT no Estado de São Paulo (2010), até que ponto os

militantes conseguem dividir seus esforços entre eles, candidatos (proporcionais) e os

candidatos aos cargos majoritários?

Os militantes, de maneira geral, focam seu apoio primeiramente nos deputados a quem são

ligados, com quem se identificam. E as campanhas dos deputados ajudam a reforçar as

campanhas majoritárias. Poucas pessoas fazem campanha apenas para os candidatos majoritários.

11- Além dos trabalhos que o partido faz para a formação dos filiados e militantes, por

que não é feito um treinamento e um desenvolvimento efetivos de pessoal, como ocorre

nas grandes empresas, para eles se prepararem melhor para defender o partido e,

consequentemente, os candidatos durante as eleições e os mandatos?

Não saberia responder a essa pergunta. De qualquer forma, considero que o PT precisa reciclar

sua forma de fazer campanha porta-a-porta, que deu muito certo no passado, mas que hoje parece

estar esgotada.

12- Enfim, por que com tantas variáveis a favor do candidato, este não conseguiu ir ao

segundo turno?

Porque também havia muitas variantes contrárias. Mas faltou muito pouco e esse é um processo

cumulativo de forças.

Page 158: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Militantes

Entrevista com Carlos Cordeiro

1- Há quanto tempo participa das campanhas do PT? E das campanhas de Aloizio

Mercadante?

Bom, no PT, desde a Luiza Erudina. Que ano foi? Aliás, antes, desde o Plínio, eu era garoto, o

Plínio de Arruda Sampaio em casa, o Hélio Bicudo, por conta do envolvimento da Igreja.

Então, desde garoto eu participo das campanhas do PT. OP Mercadante, por estar dentro do

PT, todas elas eu acabei participando.

2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?

Que dificuldades a militância encontrou no decorrer da campanha?

Olha, vou falar como militante, porque sou dirigente sindical, eu fiz uma opção de não estar

dentro da estrutura do partido. Mas sempre que têm esses processos eleitorais, a gente acaba

disponibilizando um tempo para fazer essas campanhas. Eu acho que, primeiro, não só na

campanha do Mercadante pra majoritário, mas para os demais, e vendo um pouco como nós

nos organizamos no bairro, o pessoal da Igreja, a gente sempre teve mais dificuldade, muito

grande de fazer campanhas para os majoritários. Porque no meu entendimento eu acho muito

bom a gente ter vereadores, deputados estaduais, deputados, federais e senadores, mas,

infelizmente normalmente a militância está muito vinculada ao mandato do parlamentar.

Então boa parte hoje dos militantes, e está cada vez mais vinculado aos mandatos dos

parlamentares, já que temos bastante parlamentares hoje também, atrás, quando comecei não

tinha tanto, então, o que eu vi nessa história toda não só de militância, não só nas campanhas

de Mercadante mas nas demais é que os militantes estão muito envolvidos com os gabinetes,

com os mandatos parlamentares e muito pouco envolvidos com esse projeto geral, no caso,

por exemplo, a eleição pra governador. O nosso grupo, no bairro, que a gente forma pra

discutir esse processo, nós, inclusive, cada um tem o seu candidato, a gente, no caso

deputados ou vereadores, a gente chama todos eles pra conversar com o grupo. Mas a gente

sempre faz a campanha para o majoritário. Então por isso fazer o tal do pedágio nas principais

avenidas do bairro, nós convidávamos todos os outros apoiadores de outras candidaturas, mas

eles nunca iam, porque estavam sempre preocupados em fazer a campanha para os seus

Page 159: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

deputados, seus vereadores. Então o nosso grupo ficava sempre sozinho fazendo bandeirada,

pregando display, entregando panfletos, porque nós não éramos vinculados a uma candidatura

de parlamentar, candidatura de vereador ou deputado. Então nós éramos sempre preocupados

com essa questão do majoritário. A nossa divisão, a divisão do grupo, estou te dizendo, o

grupo lá de onde a gente participa, da Igreja, é essa. Não só na campanha do Mercadante, mas

nas anteriores, infelizmente com militância não tem participação direta nas campanhas dos

majoritários.

3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você

acredita que o eleitor considera quais critérios na avaliação do candidato:

experiência no executivo, propostas, partido?

Eu acho que a grande diferença que os eleitores enxergam no Mercadante e no Alckmin,

como agente fala aqui no Estado de São Paulo, é a imagem que a imprensa passa de cada um

deles. E que a gente sabe que ela não é verdadeira. Tanto que a gente escuta muito dizer que o

Alckmin é um bom moço, tem essa expressão do bom moço. E aquilo que falam do

Mercadante aparece como alguém arrogante. Mas isso, no meu entendimento, é construído

por essa mídia paulista, que tem lado, que trabalha o tempo todo com isso, todos os

programas envolvendo o governo do Estado, do PSDB, a imprensa paulista primeiro não

mostra os problemas e os poucos que tem ele não vincula à imagem dos governadores

tucanos, por exemplo. Quando a gente vê, quando tem governos petistas e quando tem um

tipo de problema na cidade, a imprensa coloca diretamente o problema relacionado à pessoa

que está no comando. A gente vê que essa prática inexiste quando você tem governos tucanos.

Quando você tem problemas no metrô, quando você tem greve de ônibus, quando você tem

problemas de saúde,quando você tem problemas de enchente, a mídia, e aí você vê a pior

delas que é a Veja, quando teve a enchente aqui em São Paulo, falou que isso era um

problema do aquecimento global, que estava chovendo muito. Em governos petistas não, fala

que é incompetência da prefeita, assim que a imprensa paulista sempre faz. Eu acho que isso

ta mudando, está mudando um pouco esse espaço que a imprensa tem, mas eu acho que ela

ainda é muito forte não só na formação da opinião, mas em carimbar as pessoas e esses

políticos que nós temos, tanto do PT quanto do PSDB e de outros partidos. Eu acho que a

diferença entre dois para o eleitor, infelizmente é essa exposição de mídia. Eu acho que eles

não têm claro quem é o Mercadante, eles não têm claro quem é o Alckmin. Quam foi o

Page 160: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Mercadante ou quem foi o Alckmin. Com a história do Mercadante e com a história do

Alckmin, até porque o Mercadante é menos conhecido do que o Alckmin. Por uma questão

lógica, ele aparece muito pouco na imprensa, a gente pode fazer um paralelo entre a CUT e a

Força Sindical. Eu não tenho dúvida da história da CUT, não tenho dúvida com o

compromisso que o companheiro Artur Henrique tem, mas a mídia coloca a toda hora o tal do

Paulinho da Força, assim é que ele se apresenta, ele é parlamentar, a mídia tem um interesse

nisso, então, hoje, por exemplo, apesar de representar menos trabalhadores, a Força Sindical,

o Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, pra população ele é muito mais conhecido do que o

Artur Henrique, que representa muito mais trabalhadores. Acho que essa exposição na mídia,

que ela é trabalhada, ela é pra mim muitas vezes, eu não diria determinante, mas

extremamente importante pra esse conhecimento dos candidatos. Os eleitores... Experiência

eu acho que pesa. Só não sei se eles têm mecanismos pra avaliar. Eu acho que o eleitor vê

como importante a questão da experiência. Ele não tem critérios pra ver essa experiência. A

informação que ele recebe pra analisar de onde vem? Vem da imprensa. Se a imprensa não

mostrar o currículo daquela pessoa, o que ela foi, o que ela fez, se é a principal fonte de

informação que o eleitor tem, ele vai se basear nessa informação que ele está recebendo. Se

você for avaliar as gestões petistas que nós temos em todo o país, são avaliações positivas se

comparadas com outras gestões, mas como nem toda a população usa aqueles serviços, você

pega, por exemplo, em qualquer parte do país, o serviço público de saúde. Nós bancários, por

exemplo, não utilizamos serviço público de saúde, nós temos convênio médico, garantido na

nossa convenção coletiva assim como muitos trabalhadores. Eu não utilizo. Então como é que

eu vou avaliar esse serviço? Então eu vou nos lugares em que as nossas gestões vão melhor

nesse quesito, e ela não aparece porque nós, inclusive, não temos como avaliar. E aí qual é a

avaliação? Não só de quem usa, mas aquela que é publicada pela mídia. Em muitos momentos

as nossas gestões estão muito melhores se comparadas com a deles, nós temos muito mais

experiência se comparada com a deles, mas eu acho quer nós temos dois problemas. Um é que

à imprensa, como estou dizendo, ela não é imparcial. E seguindo porque nós erramos demais.

Porque nós não temos um veículo de comunicação, nós não temos instrumentos de

comunicação que possam ser eficientes pra dialogar com tudo aquilo que a gente faz. Dou um

exemplo de Araçatuba. O governo federal, nas enchentes que tiveram no começo do ano, pra

cada um real que o Alckmin colocava, o governo federal colocava 99. E a imprensa de lá, e o

partido de lá não teve a capacidade de mostra isso. Para aquela população quem ajudou, quem

Page 161: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

esteve presente, o Alckmin foi lá três vezes, não teve ninguém do governo federal presente e

isso mostra que o partido tem um problema seríssimo de comunicação. Ele não consegue se

comunicar com eleitores daquilo que ele realmente está fazendo. Esse caso de Araçatuba é um

caso que eu pude acompanhar, foi um caso gritante, que o governo do Estado não fez

absolutamente nada, não colocou quase nenhum recurso, mas esteve lá, tirando fotografia,

estando com a imprensa do local e a população está extremamente contente com o Alckmin, e

não viu que a maior parte dos recursos quer colocou foi o governo federal e... O prefeito de lá

é petista. A gente reclama muito e com razão, dessa imparcialidade, a maneira como essa

imprensa trabalha, dizendo que as pessoas não são experientes, vai criando esses conceitos,

essas características, só que eu acho que isso muitas vezes esconde a nossa incapacidade de

termos uma comunicação eficiente junto aos eleitores.

4- Por que você acha que o candidato adversário se consolidou na dianteira das

pesquisas de intenção de voto desde o início? Por que você acha que Mercadante

não conseguiu se beneficiar do apoio de Lula e de Dilma desde o início da

campanha? Que problemas de imagem o candidato enfrentou nesta campanha?

Bom, primeiro porque o Alckmin é muito mais conhecido do que o Mercadante. A imprensa

trabalha isso. Então você vê pouca informação. Aliás, o PSDB trabalhou muito isso na

campanha pro Senado depois dizendo o que o Suplicy fez pro seu Estado. Senador parece

muito pouco. Aliás, a própria Assembléia Legislativa aqui de São Paulo aparece muito pouco.

Senador de São Paulo aparece muito pouco, ele não tem visibilidade. Apesar de ter o apoio do

Lula, do Lula andar com ele e dizer sobre a importância, em vários momentos ter o Lula ao

lado dele, você também... com todos os problemas que tem aqui no Estado de São Paulo, uma

eleição para deputado estadual, eleição pra deputado federal, eleição pra senador, e você ter

eleição pra governador e pra presidente da República, você tem que dividir muitos holofotes.

E a gente sabe do conservadorismo do Estado de São Paulo, sabe o quanto essa comunicação

aqui é importante, é fundamental. Até então também o Lula não ganhava nada aqui, perdia

tudo. Nesse último mandato ele foi importante. E acho que esse fato do Lula estar apoiando

não foi explorado o suficiente, nem por nós nem pela própria imprensa que não teve

logicamente vontade estratégica de fazer isso. Acredito que um dos fatores que ajuda

muito o Mercadante não ocupar o espaço que, inclusive, é merecido, pelo político que é, pelo

militante que é, e o compromisso que tem com o partido, ele sempre disputou esses cargos

Page 162: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

nessas eleições que têm cinco candidatos diferentes que você tem que votar. Talvez se pensar

num outro debate pra prefeito, o espaço que ele vai ter talvez seja maior do que sendo

senador, sendo governador, sendo deputado, são muitos outros fatores. Eu acho que não ter se

beneficiado tanto quanto deveria pelo apoio do Lula, acho que é uma conversão de fatores,

essa mídia paulistana, esse conservadorismo paulistano, esse monte de cargos pra eleger, acho

que é um conjunto de fatores.

Eu acho que o Mercadante é muito irritado. Isso estou dizendo porque presenciei, não é que

ouvi dizer. As pessoas falam isso também. Fomos num lançamento de um comitê sindical na

rua da Consolação em que estava ele, estava a Marta, estava o Netinho, e realmente o espaço

era muito pequeno, mas era ali o comitê de sindicalistas, estava um calor muito forte, não

tinha ar condicionado, tinha um monte de gente na rua, o que é inclusive positivo, foi um

monte de gente. Só que chegou lá. Por exemplo, o som não estava funcionando. Aliás, estava

péssimo, horrível. Nesse momento, se com os militantes ele é assim, e em outros lugares eu

acho que ele também repete isso, ele não tem a paciência, ele não têm paciência, ele não tem

sensibilidade para entender a figura que ele representa no momento que ele é candidato. Ele

transparece demais a irritação dele e nem sempre, não que não seja justo você mostrar o que

você está sentindo, mas num processo eleitoral, ele deve tomar muito cuidado com a sua

imagem, muito cuidado com aquilo que você fala, muito cuidado com aquilo que você está

transparecendo. Embora com todo justiça, porque o som não estava funcionando, mas ele

conseguiu ser muito mais antipático da maneira como ele falava que o som não funcionava do

que dialogar com aquela militância que estava ali pra fazer a campanha dele, pra colocar a

campanha na rua, no momento que ele tinha que jogar pra cima. Apesar da dificuldade com o

som, apesar de tudo isso, nós estamos aqui, vamos pra frente, vamos ganhar, precisamos do

apoio de vocês, muitas vezes ele se torna antipático porque eu acho que ele não tem esse

autocontrole de, na hora que ele é candidato ele ser um pouco mais cuidadoso com o que fala

e com a sua imagem.

5- Com o PT crescendo em diversas regiões do país, porque a militância não

consegue quebrar a hegemonia do PSDB em São Paulo?

Eu acho que o PT mudou muito. Desde que o presidente Lula ganhou pela primeira vez, nós

tínhamos uma cultura de militância. Uma cultura de muito mais entrega, de transformar o

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país, de conquistar pela campanha de filiação, nós tínhamos princípios muitos rígidos, a gente

sempre bateu no peito dizendo que era um partido ético, um partido transformador, um

partido lutador, e desde que o Lula assumiu, eu acho que nós não tivemos a capacidade de

fazermos uma reflexão e entender a conjuntura e rediscutir o nosso papel. Com o debate da

própria direita, a questão de mensalão, agora essa questão de corrupção, o partido, ao tomar

espaço no poder, no meu entendimento ficou muito mais claro, as disputas internas do partido

pra disputa de espaço dentro da máquina, outras disputas inclusive que são legítimas, mas

acho que infelizmente hoje, olhando os diretórios, olhando as entidades co-irmãs... Por

exemplo, nós tivemos um debate agora puxado pelos estudantes em São Paulo, que era a

questão do aumento da tarifa de ônibus. Primeiro até fazer uma crítica à central de que eu

participo. Eu não vi a CUT organizando esse movimento que eu acho importante, a gente sabe

que na CUT 95% dos seus filiados são petistas, eu não vi o Partidos dos Trabalhadores

discutindo essa questão do aumento da tarifa de ônibus, nessas lutas populares, nesses

clamores populares, você vê hoje em São Paulo o serviço de transporte é péssimo, tanto do

município quanto do governo do Estado, a saúde é péssima e nós não vemos uma atuação

institucional do partido discutindo esses problemas que a cidade tem. E o partido aparece

onde? No momento da eleição. O que o partido está discutindo sobre os problemas que

estamos enfrentando? Inclusive o problema do Rodoanel. É um absurdo a maneira como está

sendo feita, vai levar muito problema para a periferia, não estou nem falando da questão

ambiental, mas o monte de famílias que estão ali estão largadas, estão soltas, e eu vejo o

partido, nesse sentido, impotente. Um partido que está muito preocupado em ser governo

federal e pouco preocupado em ser oposição onde ele não é governo. Eu acho que quando

você é governo você tem projeto, se você é oposição você também tem projeto. E aqui no

Estado de São Paulo eu vejo uma ausência gigantesca de projeto do partido.

Tendências internas

Acho que isso é um problema da esquerda, não do Brasil, mas do mundo inteiro. Conheço

pouco lá fora, conheço muito aqui. Nesse problema das tendências e dos grupos eu acho que

são legítimos, mas eu acho que pra você fazer parte de uma tendência, pra fazer parte de um

grupo, e pra se contrapor a outro, acho que você tem que ter muito claro o que você pensa,

qual é a diferença entre um grupo e outro. Diferenças ideológicas, de concepção, acho que é

natural, é salutar e é bom que a gente tenha diferenças, dentro do nosso partido inclusive. Elas

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têm que ser pequenas porque as diferenças têm que ser com os outros partidos. Eu não vejo

problema. Agora, me parece que de 17 tendências, não acho que nós temos 17 visões

ideológicas diferentes. Como, por exemplo, se eu perguntar qual a diferença entre a Marta e o

Mercadante, ideologicamente, o que um defende que o outro não defende? E a gente fala: o

grupo da Marta e o grupo do Mercadante. Acho que isso mostra um equívoco que o partido

tem de se dividir em grupos e grupos relacionados a pessoas, e que estão muito mais ligados a

projetos pessoais deste grupo, o que leva a uma ausência de projeto pra cidade. Infelizmente o

partido hoje está muito focado nos grupos, com diferença ideológica nenhuma, inclusive de

práticas, são muito parecidas e porque tem que optar entre Mercadante e entre a Marta? Os

grupos onde eu frequento, especialmente o grupo de militância da Igreja católica, do PT e do

movimento sindical, isso vai muito pelos cargos que os dois ocuparam e como eles se

relacionaram ao longo desses anos com esses apoiadores. E a gente vê que tem bastante

diferenças mas não são visões determinantes. Esse grupo pensa essa coisa, essa liderança

pensa essa coisa e não concorda com o outro. Existe muito a disputa entre grupos,

infelizmente para esse grupo A se consolidar ele precisa enfraquecer o grupo B e a maneira às

vezes como é feito isso é tão violenta que, depois, quando um dos dois precisa ceder, um não

vai conseguir apoiar o outro. Quando o individual supera o coletivo, ele tem um problema

muito grande na frente pra você juntar. Isso eu vejo no movimento sindical. São mais de cem

sindicatos que tem na nossa confederação e lá também se divide em grupos de pessoas e a

gente vai tentando diminuir a fervura, a maneira como vão sendo feitos os embates porque lá

na frente a gente precisa juntar. A disputa individual é tão grande que um dos dois, um dos

três, um dos quatro, um só vai ficar e os outros vão ter que apoiar, fica tão ruim a disputa

como foi feita, que depois você continua com o famoso “fogo amigo”. Por quê? Porque essas

disputas são feitas num patamar em que não deveriam ser feitas no meu entendimento.

6- A militância sentiu alguma melhora no desempenho do candidato após a sua

participação nos debates? Isso, aliás, influencia na escolha do eleitor?

Eu acho que já influenciou mais. Mas acredito que influencia muito porque quando você não

tem espaço democrático para dialogar nos meios de comunicação, eu acho que os programas

eleitorais e os debates, que você tem os marqueteiros, eles estão ali por trás, num debate fica

muito mais fácil você fazer pergunta, de você responder, de você naturalmente mostrar quem

você é e quem é o outro. Então, esses debates são importantes e eu não tenho dúvida, os

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debates ajudaram muito essa melhora na visão do Mercadante, não só essa visão de quem é o

Mercadante, mas nessa disputa dele com o Alckmin, de quem é o Alckmin, que essa imprensa

também sempre escondeu. Não tenho dúvida de que os debates, nessa última disputa entre

Mercadante e Alckmin, não tenho dúvida de que o Mercadante se saiu muito bem.

7- E os programas do horário eleitoral gratuito do candidato, exercem influência

determinante na escolha do eleitor?

Olha, propaganda eleitoral eu confesso que tenho visto muito pouco. Não acompanhei as

propagandas eleitorais, agora eu acredito que elas ajudam muito. Acho que todo o espaço que

você pode dialogar diretamente com o eleitor sem passar pelo crivo de nenhuma censura, de

nenhum corte, acho que é importante. Eu não vou conseguir avaliar para você se a propaganda

eleitoral foi adequada ou não, porque eu vi muito pouco a propaganda eleitoral.

8- Você acha que a cobertura da imprensa dessa campanha atrapalhou a

candidatura do PT ao governo? Aliás, o que os jornais e a televisão dizem sobre o

candidato Mercadante interfere na escolha do eleitor?

Atrapalha muito e interfere muito. Porque a imprensa tem lado. Eu acho o seguinte, inclusive

a ausência de falar atrapalha muito. Acho que têm uma influência fundamental na ausência de

falar, no debate do estado do que de qualquer outra forma. O PSDB está aí há quase vinte

anos, isso em nenhum momento foi explorado por essa imprensa, ao ponto daquele absurdo

de ter a enchente e o Alckmin falar: olha isso não se resolve do dia pra noite. Quer dizer, você

imagina se fosse o oposto, se o PT estivesse aí há vinte anos e um governante do PT dissesse

isso... Se uma bolinha de papel que foi na cabeça do Serra a Rede Globo fez aquele escarcéu

todo, ainda bem que nós temos essas redes sociais, inclusive até outro canais concorrentes da

Globo que mostraram o contrário, mas acho que isso ilustra muito bem o papel que a mídia

tem nas campanhas, ou seja, ela tem lado. Na questão do Mercadante tanto a ausência de

informações, o Mercadante viajava o interior do Estado, cinco vezes na mesma cidade e a

imprensa não deu nem um destaque. O Alckmin ia uma vez e era uma festa, só se falava disso

o tempo todo. Então, eu não tenho dúvida que essa questão da mídia tem uma influência

muito grande não só no desempenho do Mercadante, mas de qualquer candidatura petista aqui

no Estado. Porque aqui eles têm um lado muito claro e trabalham muito pra isso.

Page 166: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

9- Você acha que os candidatos do partido aos cargos legislativos contribuíram para

o que era necessário para a campanha de Mercadante? Eles conseguiram

transferir votos para o candidato?

Absolutamente não. O partido não debate isso, não discute, não tem como estratégia

articulado dessas candidaturas, acho que o modelo também atrapalha muito, são muitos

cargos que você tem que eleger, é muito espaço que você tem pra dividir, mas eu não tenho

dúvidas que os parlamentares, os candidatos a deputado contribuíram muito pouco. Eles estão

muito preocupados, e dá para entender, não isso justifique, mas dá pra entender também que

eles querem o espaço deles. Se reclama muito, por exemplo, que na campanha do partido eles

quase não aparecem, são poucos os que aparecem. Eles ficam muito mais preocupados com a

sua eleição do que com esse projeto mais amplo. Acho que o partido não debate isso e acho

que vai ter muita dificuldade de alterar. Acho que eles ajudam e contribuem muito pouco.

10- Uma campanha, quando vai para as ruas, tem como principal preocupação a

mobilização adequada dos seus militantes, oferecendo para isso material e

discurso de campanha. No entanto esses militantes têm de dividir esforços para

diversos candidatos, sejam eles majoritários (presidente, governador) ou

proporcionais (deputados e senadores). Isso atrapalha na hora de dividir esforços

com aqueles que precisam mais de corpo a corpo, como foi o caso de

Mercadante?

Pra responder isso eu tenho que fazer um “mea culpa” antes. Eu sou filiado ao partido, fiz

uma opção, uma questão de tempo e de família, como estou no movimento sindical, não tenho

muitas condições de atuar dentro do partido. Apesar de ser filiado, vivo ser simplesmente um

militante. Ao fazer a crítica dos diretórios regionais, da direção estadual e da direção nacional

do partido, eu acho que isso não existe. No que pese a minha ausência, já que eu sou filiado

ao partido e deveria estar contribuindo e mudando dentro do meu diretório, acho que isso é a

autocrítica que eu faço, senão também não adianta a gente sempre querer culpar a direção do

partido, quem está à frente, porque eu acho que o partido é muito maior do que a sua direção,

a sua militância é muito maior. Mas fazendo essa “mea culpa”, como eu disse a você, o

partido não tem um projeto de ocupação de espaço. Você não ocupa só o espaço no momento

da eleição. Estou voltando atrás o que eu falei aqui e que eu acho importante: você não tem

uma disputa de espaço em transporte, não tem uma disputa de espaço em saúde, não tem uma

Page 167: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

política de espaço na educação. Então quando chega no momento da eleição, cada um vai

cuidar da sua vida, o deputado da dele, o candidato a governador da dele, o candidato a

senador da dele e não tem projeto. Tem um pouco do governo federal, que preparou uns

documentos pra falar dos números do governo federal, e que distribuía, mas eu acho não só do

Mercadante, mas de qualquer campanha para prefeito que a gente faça, não só não tem

materiais pra você estar se formando e dialogando com a população, como também não há...

Ninguém nunca me chamou, não, vamos fazer uma reunião pra fazer uma preparação, um

planejamento estratégico, pra ser reproduzido nos diretórios regionais, nos núcleos, não sei,

nem núcleos têm mais, nos espaços, nos grupos que são constituídos pra esses processos

eleitorais. É uma ausência completa de formação, mas ela está dentro dessa ausência maior,

que é gritante, uma ausência de um planejamento estratégico, que você não faz nos seis meses

da campanha, se faz desde já. Acho que a gente aprende muito com escola de samba. Na hora

que termina um carnaval se começa a preparar o outro. E o partido, infelizmente, termina uma

eleição e ele fica dormindo, fica hibernando, próximo da eleição ele acorda e sai correndo de

novo pra ver como sobrevive pra poder hibernar por mais um período.

Nos anos 80 não havia isso?

É o que te falei lá no início da conversa. A militância tem uma característica até a eleição do

Lula. A partir da eleição do Lula ela muda essa característica. Não tem nada a ver hoje a

militância que nós temos com aquela militância que tinha. Lá trás tínhamos aquele sonho que

era conquistar, que achávamos importante, que todos os problemas seriam resolvidos, a gente

achava então que o salário mínimo, a hora que a gente ganhasse, de uma hora pra outra

resolvia, a gente achava que a questão da saúde de uma hora pra outra resolvia, e nós sabemos

que não é assim. Hoje eu vejo uma preocupação gritante, por exemplo, e que eu acho

estratégica, aliás, três: a reforma política, eu estava vendo o Emir Sader falar outro dia,

quantos parlamentares tem ligados aos trabalhadores rurais? Deputados federais, são quatro.

Ele falou assim: quantos parlamentares têm ligados ao agronegócio? Deputados federais:

quarenta. Muito internamente aqui com os sindicatos da federação, se a gente quiser ter um

outro país, que hoje é a sétima economia do mundo, tá indo pra quinta, país mais rico do

mundo, mas também ainda está entre os dez piores na distribuição de renda, nós vamos ter

que ocupar o nosso espaço na sociedade. E discutir, por exemplo, a reforma política. O que a

gente entende por essa reforma política? Quem é a referência dos trabalhadores pra uma

Page 168: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

reforma política? Se perguntar hoje para os trabalhadores o que eles pensam, eles não sabem.

Essa é a demonstração clara que nós não estamos fazendo o nosso papel. Nem o partido nem

o movimento social. Aí você também pega a reforma tributária, que é que Estado você vai ter,

de quem você vai arrecadar, como é que isso vai ser distribuído. Quem é a referência dos

trabalhadores hoje de uma reforma tributária? São os empresários com o “impostômetro” aqui

na rua Boa Vista, dizendo que se paga muito. Então os empresários que não pagam, como boa

parte dos empresários não pagam, os ricos não pagam, quem paga são os pobres, aqui o

imposto é sobre o consumo e não sobre renda, mas nós não ocupamos o nosso espaço na

sociedade. Nós estamos esperando quem? O presidente do partido, a executiva do partido

fazer isso? Acho que não. Outro que não posso deixar de falar, puxar a sardinha aqui pro

nosso lado, é a reforma do sistema financeiro. Vai ser desenvolvido a partir de um sistema

financeiro que não disputa crédito, a partir do direcionamento do crédito. Acho que essas três

reformas são importantes pra gente mudar. Lá atrás, antes do Lula ganhar, nós não tínhamos

isso, a gente queria chegar ao poder. Então a militância tinha toda a sua conjuntura naquele

momento político, social, econômico, voltada pra ganhar e pra chegar ao poder. Nós

chegamos, mas não levamos o Congresso com a gente, mas estamos governando, estamos

transformando. Agora é um outro papel que a gente tem que ocupar, e esse papel realmente é

transformar essas estruturas e, infelizmente, como você falou, nós não temos formação, nós

não temos visão estratégica, nós não temos planejamento, acho que essa é a combinação

imperfeita, por isso acho que nós estamos nessa situação. Culpa da militância e culpa do

partido.

Muitas vezes a gente sente falta de materiais. Quantas vezes a gente tentou ir atrás do

diretório, nos espaços buscar materiais e não tinha. Especialmente dos majoritários. Porque os

proporcionais têm as suas estruturas de arrecadação, de rodar material, de confecção de

material, então a hora que a gente muitas vezes precisava de material dos majoritários pra

fazer a gente não tinha ou era material já repetido, não vi muita estrutura, planejamento disso.

Infelizmente, como já falamos, as pessoas estão mais preocupadas com os seus mandatos de

parlamentar do que nas eleições dos majoritários.

11- Você, como militante, observa uma evolução nas campanhas que envolve a

preparação da militância para um trabalho mais eficaz? Isso aconteceu na última

campanha para governador?

Page 169: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Não vejo. Vejo uma involução, inclusive.

12- Enfim, o que funcionou nesta campanha que favoreceu o candidato a ter um

crescimento acentuado na reta final da campanha? O que faltou para ele chegar

lá?

A figura do Mercadante, quando ele tem espaço pra mostrar quem ele é, acho que isso foi

fundamental. Tanto nos programas eleitorais, apesar de eu não ter visto, mas é um espaço que

ele se mostra, quanto nos debates que só ocorreram no final da campanha. E o próprio apoio

que o Lula deu. Essa conjunção de fatores, do horário eleitoral, e lembrando também que

apesar do Lula ser de São Paulo, o Lula virou eleições em vários lugares, rodava o tempo

inteiro, não ficou muito tempo aqui, senadores, quantos foram derrotados que eram ligados ao

DEM, ao PSDB, por conta dessas andanças do Lula, então acho que essa pouca presença do

Lula em São Paulo, se ela fosse uma presença maior, poderia ter ajudado mais. Mas acho que

o pouco que o Lula ficou aqui e esse espaço nos debates e nos programas eleitorais, onde o

Mercadante aparece e o Lula também, por ser notícia, ela faz com que o Mercadante apareça

mais ao lado dele. Acho que esses fatores é que fizeram com que o Mercadante crescesse na

reta final. E o que faltou... Acho que faltou um planejamento estratégico. Campanha você faz

antes, durante, não depois, mas no final. Não vi um planejamento estratégico em cada etapa

desse processo de conquistar votos. Acho que nós estamos com planejamentos muito ruins. Se

tivesse planejado melhor, dividido melhor os recursos, as estruturas, as pessoas... Acho que

cada uma dessas etapas eram previsíveis. Todas elas. Não teve novidade nenhuma. A

imprensa não dar apoio, esconder o Alckmin, não falar dos problemas, tudo isso era

previsível. Num planejamento você tem isso. Você sabe que a sua chance, quanto mais você

está ocupando espaço, vai tendo que trabalhar mais. Acho que foi falta de planejamento.

E o caso Erenice, influenciou na campanha?

São Paulo não. Isso estava muito ligado ao debate presidencial, se ia ou não ter o segundo

turno. Acho que foi fundamental, inclusive, para que tivesse segundo turno. Isso teve uma

influência direta, a estratégia que a direita tinha era de levar a eleição para o segundo turno.

Eles conseguiram e o caso da Erenice foi fundamental. Pra esse processo presidencial. Mas

para o processo aqui de São Paulo influenciou muito pouco.

Page 170: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Entrevista com Paulo Victor de Angeli Filho

1- Há quanto tempo participa das campanhas do PT? E das campanhas de Aloizio

Mercadante?

Do Mercadante participei das duas últimas, 2006 e 2010, para governador.

2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?

Que dificuldades a militância encontrou no decorrer da campanha?

A ideia inicial era descaracterizar o governo Serra, porque o Alckmin, perante o eleitorado,

ele é colado ao Serra. Isso não acontece na verdade, eles são muito rachados. Mas até então, a

cultura do eleitorado paulista ainda é isso, que o PSDB é um só, ele não têm racha e você

desconstruindo o governo Serra você atingiria o Alckmin, provavelmente. Só que,

infelizmente, o nosso candidato ao governo não consegue emplacar, o carisma dele é

complicado. Parecido com o dos tucanos. Se você colocasse o Alckmin como candidato do

PT ele não iria a lugar nenhum. Se você colocar o Mercadante como candidato do PSDB, ele

seria governador do Estado.

3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você

acredita que o eleitor considera quais critérios na avaliação do candidato:

experiência no executivo, propostas, partido?

Como eu disse, a cultura reacionária do Estado... No Estado em si, não na Grande São Paulo.

Porque na Grande São Paulo você consegue cinturões. A maioria das cidades da Grande São

Paulo são governadas pelo PT. Mas no interior do Interior do Estado, infelizmente, existe

ainda uma grande rejeição ao partido e isso inviabiliza uma eleição de qualquer candidato do

PT.

4- Por que você acha que o candidato adversário se consolidou na dianteira das

pesquisas de intenção de voto desde o início? Por que você acha que Mercadante

não conseguiu se beneficiar do apoio de Lula e de Dilma desde o início da

campanha? Que problemas de imagem o candidato enfrentou nesta campanha?

O timing da campanha... Ele não se aproximou dos candidatos proporcionais, acho que a

divulgação do material vinha muito pelos proporcionais e ele não tinha o apoio na Grande São

Page 171: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Paulo desses candidatos. É onde estaria a grande chance dele, colar nos candidatos da Grande

São Paulo. Ele priorizou o interior de São Paulo, achando que ele conseguiria em alguns

rincões do Estado parcerias, mas foram insuficientes, isso ficou mostrado. E os proporcionais,

como força do partido, ficaram renegados, acredito eu. Eu senti isso, a divulgação de material

foi muito ruim, se mandavam muita coisa e, em cima da hora, você tinha dois dias pra

desenvolver, um dia pra divulgar o comício na cidade toda, mandava um milhão de folhetos e

era impossível distribuir. A campanha dele errou muito aí.

5- Com o PT crescendo em diversas regiões do país, porque a militância não

consegue quebrar a hegemonia do PSDB em São Paulo?

A cultura do interior de São Paulo é muito complicada, o PT ainda cheira a comunismo,

parece até brincadeira falar isso, mas é verdade... Hoje as pessoas no Interior, eu sinto isso,

sou do interior de São Paulo, eu sei, eu tenho na pele isso e você é taxado de comunista. É

aquela coisa de achar que... já passou, né? Só que, infelizmente, é reacionário mesmo e pra

mudar essa visão, não sei, é difícil.

6- A militância sentiu alguma melhora no desempenho do candidato após a sua

participação nos debates? Isso, aliás, influencia na escolha do eleitor?

Não, porque as regras dos debates travam muito, não tem como você desenvolver. Sempre

tem os minoritários, no caso, que vão travar o debate. Você não pode fazer perguntas diretas,

dificilmente, uma ou duas e isso fica impossível. Na verdade não é um debate. Você tem... é

um discurso de cada candidato.

7- E os programas do horário eleitoral gratuito do candidato, exercem influência

determinante na escolha do eleitor?

É uma ferramenta importante, mas se você não conseguir emplacar sua campanha, se você

não conseguir fazer com que seu candidato tenha uma... sei lá... consiga agregar valores e

situações, não vejo muito não. Porque ele pode ter as melhores ideias possíveis, se ele chegar

aí e pegar um pedaço de papel e ficar seguindo o roteiro, se ele não passar confiança, é

impossível.

Page 172: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

8- Você acha que a cobertura da imprensa dessa campanha atrapalhou a

candidatura do PT ao governo? Aliás, o que os jornais e a televisão dizem sobre o

candidato Mercadante interfere na escolha do eleitor?

A imprensa nunca vai ser a favor do PT. Isso é um ponto. Só que o governo Lula provou... O

Lula provou que, com o carisma dele, ele conseguiu mudar um pouco isso. Um pouco não, ele

mudou muito. Ele revolucionou essa história da imprensa, ele conseguiu meio que mudar a

visão de algumas pessoas, foi o que viabilizou a eleição dele. Com certeza.

9- Você acha que os candidatos do partido aos cargos legislativos contribuíram para

o que era necessário para a campanha de Mercadante? Eles conseguiram

transferir votos para o candidato?

Não conseguiram em virtude do afastamento do candidato com esses proporcionais, com os

candidatos ao legislativo. Ele fez uma opção que acho que foi errada de ir para o Interior de

São Paulo. Sendo que a grande força do PT é na Grande São Paulo. E ele não deu... Eu

trabalhei para um candidato particularmente que divulgou muito pouco a campanha dele.

10- Uma campanha, quando vai para as ruas, tem como principal preocupação a

mobilização adequada dos seus militantes, oferecendo para isso material e

discurso de campanha. No entanto esses militantes têm de dividir esforços para

diversos candidatos, sejam eles majoritários (presidente, governador) ou

proporcionais (deputados e senadores). Isso atrapalha na hora de dividir esforços

com aqueles que precisam mais de corpo a corpo, como foi o caso de

Mercadante?

Ele não teve apoio na Grande São Paulo, de muito pouco candidato proporcional. Acho que os

maiores puxadores de voto no legislativo, infelizmente, não eram do grupo dele. Infelizmente

o PT é isso. Ele é democrático e existem vários setores do partido. E esses setores não

estavam com Mercadante.

11- Você, como militante, observa uma evolução nas campanhas que envolve a

preparação da militância para um trabalho mais eficaz? Isso aconteceu na última

campanha para governador?

Page 173: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Não, infelizmente isso se perdeu. A campanha toda é profissionalizada, dificilmente as

pessoas atuam de corpo e alma como antigamente. Na campanha do Collor e do Lula, eu na

época era bancário, o Collor com aquela estrutura toda, com banners gigantes, outdoors pra

todo lado e a gente pregava uma foto do Lula no papelão, colava num pedaço de pau e saia

pra rua! Quer dizer, isso era militância. E você não recebia um real por isso. Hoje não,

infelizmente acabou. Acredito que o militante tem que confiar no candidato. Com o Lula, por

exemplo, os candidatos faziam questão de colocar o Lula no folheto deles. Por quê? O

carisma do cara, não tem jeito. E ele é a alma do PT. Se nós conseguíssemos outras lideranças

como o Lula, com certeza. Mas hoje eu não vejo alguém que vai pra rua defender um

candidato de corpo e alma.

12- Enfim, o que funcionou nesta campanha que favoreceu o candidato a ter um

crescimento acentuado na reta final da campanha? O que faltou para ele chegar

lá?

A candidatura do Serra deu uma fraquejada no final muito forte e isso deu pra dar uma colada.

O Lula, claro, tinha muito... o carisma dele puxou, o que deu pra ele fazer pelo Mercadante no

Estado, na Grande São Paulo, ele conseguiu. Carapicuíba, por exemplo, foi 49 a 37, 49

Mercadante e 37 Alckmin. Se investiu em Carapicuíba? Não. Entendeu? Ah, tá, 49% a 37%,

tudo bem, mas porque Carapicuíba deu 49 a 37? Isso que é o grande segredo. Funcionou?

Como que o pessoal local conseguiu colar o Mercadante na imagem do prefeito? Não sei em

outras cidades, acho que não funcionou. O prefeito, no caso, é muito importante. Se ele é do

partido do candidato, ele tem que agregar voto. Acho que lá é um exemplo muito interessante

pra se pesquisar. Se você consegue transferir 49% dos votos pro seu candidato a

administração está sendo bem avaliada. E isso foi muito importante.

Page 174: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Entrevista com Geraldo Figueiredo de Almeida

1- Há quanto tempo participa das campanhas do PT? E das campanhas de Aloizio

Mercadante?

Participo das campanhas do PT desde 82, quando eu participava já da Pastoral da Juventude

na Igreja católica, naquele momento já participava de algumas campanhas do PT sem ser

militante, sem ser filiado. Das campanhas do Aloizio Mercadante participo em torno de oito

anos, desde quando ele saiu pela primeira vez candidato ao governo do Estado, já participei da

organização da própria campanha dele.

2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?

Que dificuldades a militância encontrou no decorrer da campanha?

Nesse momento tivemos uma situação muito difícil que foi a conseqüência das prévias na

Capital de São Paulo para o governo do Estado em 2006. Mercadante ganhou as prévias no

Estado, mas a Marta ganhou na Capital. Eu acho que isso dificultou muito as últimas

campanhas na Capital e no Estado, gerou a divisão do partido, nas prévias teve a derrota de

Marta, que não contribuiu muito com a campanha do Mercadante e isso, as prévias, gera

muita divisão dentro do partido e a militância acaba não assumindo de fato a campanha total.

O ideal é todo mundo unido num objetivo.

Você acha que essa divisão interna prejudica a preparação dos militantes para defender

o seu candidato?

Prejudica totalmente, sou totalmente contra as prévias dentro do partido, e isso, já houve

vários motivos dentro do partido, que na prévia deixa muita divisão, muitos rancores. Acho

que no PT tem que ter consenso de uma candidatura, e isso, eu acho que demonstrou muito na

gestão da campanha do Mercadante.

3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você

acredita que o eleitor considera quais critérios na avaliação do candidato:

experiência no executivo, propostas, partido?

Acho que o eleitor faz uma avaliação precisa, principalmente no nome que tem uma

referência popular, tem uma garantia, se de fato o eleitor conseguir sentir que tem uma

Page 175: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

proposta de inserção popular, que tem uma inserção forte que vá ao encontro de suas vontades

ele vota nesse candidato. O Mercadante consegue garantir essa colocação com o eleitor. Acho

que o eleitor do Alckmin tem outro ponto de vista.

Acho que a gestão das campanhas do PT tem toda uma situação totalmente diferenciada do

PSDB. O PT tem uma organização, principalmente na campanha, que todo mundo se

organiza, vai para os bairros, discute o programa do partido, discute o programa do PT, de

campanha, e isso colabora muito para uma vitória. Na questão da organização partidária e o

governamental o PT se consolida muito bem preparado pra se organizar. No Alckmin, acho

que simplesmente é campanha só. Não tem uma certa organização após a campanha, eles tem

todo um trajeto totalmente diferente do nosso, que não consolida a questão popular de fato.

4- Por que você acha que o candidato adversário se consolidou na dianteira das

pesquisas de intenção de voto desde o início? Por que você acha que Mercadante

não conseguiu se beneficiar do apoio de Lula e de Dilma desde o início da

campanha? Que problemas de imagem o candidato enfrentou nesta campanha?

Eu acho que o candidato Alckmin, do PSDB, sempre esteve na frente porque de fato tem uma

estrutura na capital de São Paulo e também no Estado de São Paulo, o governo do Estado, tem

uma estrutura muito forte relacionada à questão da mídia, tem o poder do PSDB na capital,

acho que demonstra, tantos anos de governo no Estado de São Paulo, e isso reflete também

um pouco na capital, toda uma articulação de todos os setores públicos e, de fato, a própria

campanha deles. Acho que primeiramente o PT aqui em São Paulo tem que parar de fazer

disputa interna e acho que o PT em São Paulo tem que sair unido em toda a campanha. A

partir das prévias, e acho que isso devido parte do partido, ter rancores, ter sentimentos ruins.

Isso atrapalha de fato a unidade para contrapor de fato a força do PSDB aqui na capital. Com

isso o PSBD acaba, de fato, ganhando todo o espaço. As acusações do dossiê dos aloprados

[de 2006], ainda prejudicam a imagem do Mercadante. Eu acho que essa questão o PT

novamente não soube administrar.

5- Com o PT crescendo em diversas regiões do país, por que a militância não

consegue quebrar a hegemonia do PSDB em São Paulo?

O PT não consegue quebrar essa hegemonia no Estado de São Paulo porque primeiramente o

PT de São Paulo não pode se dividir tem que somar, tem que refletir, tem que organizar. Acho

Page 176: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

que as tendências do partido em São Paulo estão dividindo muito o PT e, com isso não

consegue achar um eixo que de fato consiga navegar pra uma vitória aqui em São Paulo. Eu

tenho certeza absoluta que o PT, se conseguir achar esse eixo no Estado de São Paulo. Acho

que já demonstramos isso na capital. Se nós conseguirmos nos organizar pra isso, nós temos

condições totais de ganhar as eleições na capital e no Estado de São Paulo.

6- A militância sentiu alguma melhora no desempenho do candidato após a sua

participação nos debates? Isso, aliás, influencia na escolha do eleitor?

Sim, acho que influencia bastante. O nosso candidato precisa, primeiramente, ser um

candidato que tenha referência popular, ter uma boa imagem, não digo que precisa ser bem

conhecido. Mas acho que dentro de uma aliança, dentro do próprio Estado, dentro da própria

capital isso facilita muito pro candidato, porque não adianta ter simplesmente nome, precisa

ter aliança, precisa ter a discussão da composição de governo, se houver essa possibilidade,

dentro da capital e do Estado, acho que isso facilita muito pela vitória do partido.

7- E os programas do horário eleitoral gratuito do candidato, exercem influência

determinante na escolha do eleitor?

Acho que o PT tem um programa muito bom. Eu não desprezo o programa do Partido dos

Trabalhadores. Acho que o PT hoje tem referência ainda no Estado, tem referência na capital,

tem uma criatividade muito grande dentro do partido, tem inserção nos movimentos

populares, a maioria das pessoas acha ainda que o PT se distanciou muito dos movimentos

populares, eu acho que não. Tem referência ainda muito dos movimentos populares, acho que

a referência, se souber usar isso, se souber trabalhar bastante a questão da participação da

militância dentro dos movimentos, acho que ainda o os programas do PT fica muito forte.

Acho que o Lula demonstrou isso bastante, acho que no Estado de São Paulo e na capital não

souberam trabalhar muito bem essa questão. Acho que o Lula, a nível nacional trabalhou

muito bem isso, mostrou inserção na periferia, na relação com os movimentos, na relação com

as comunidades, e isso no Nordeste, em vários locais, acho que o PT tem que aprender um

pouco com o Lula, de como trabalhar essas questões.

Page 177: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

8- Você acha que a cobertura da imprensa dessa campanha atrapalhou a

candidatura do PT ao governo? Aliás, o que os jornais e a televisão dizem sobre o

candidato Mercadante interfere na escolha do eleitor?

Acho que o PT não tem que se preocupar tanto com isso. Acho que o PT está falhando

bastante de se preocupar com os jornais, de se preocupar com o adversário, acho que o PT tem

muita inserção, tem muito trabalho dentro das comunidades, acho que o PT tinha que

demonstrar mais isso, sem se preocupar com os adversários. Tem uma demanda dentro do PT

muito forte ainda hoje que o próprio adversário não tem. Acho que o PT tem que

simplesmente operar isso, demonstrar esse trabalho com as comunidades, do que se preocupar

com adversário. Acho que o PT está se preocupando muito com o adversário, se preocupando

muito com técnicas, acho que o PT tem que demonstrar mais o trabalho que ele está fazendo.

9- Você acha que os candidatos do partido aos cargos legislativos contribuíram para

o que era necessário para a campanha de Mercadante? Eles conseguiram

transferir votos para o candidato?

Acho que conseguiram transferir votos para o Mercadante, mas o que eu acho mais é que

faltou uma aliança maior dentro de uma postura no Estado de São Paulo, que eu acho hoje que

dá pra fazer. Naquele momento faltou um articulador principal. Acho que não dá pra ganhar o

Estado de São Paulo sem o PSB, sem o PMDB, sabe, setores de outros partidos e hoje eu acho

que merece uma reflexão maior dentro dessa articulação. Acredito que alguns candidatos só

se preocuparam com a sua campanha e o Mercadante ficou aí esperando uma articulação

maior de votos dos seus próprios candidatos. Acho que é uma experiência muito grande pro

partido, tem que fazer uma reflexão.

10- Uma campanha, quando vai para as ruas, tem como principal preocupação a

mobilização adequada dos seus militantes, oferecendo para isso material e

discurso de campanha. No entanto esses militantes têm de dividir esforços para

diversos candidatos, sejam eles majoritários (presidente, governador) ou

proporcionais (deputados e senadores). Isso atrapalha na hora de dividir esforços

com aqueles que precisam mais de corpo a corpo, como foi o caso de

Mercadante?

Page 178: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Cada um que está levando a sua candidatura a deputado estadual, deputado federal, está de

fato levando a candidatura do Mercadante, tem um esforço de todos os candidatos pra isso, eu

não vejo nenhum problema de levar a candidatura do Mercadante. Porque eu acho que de fato

é essa candidatura que puxa toda a questão das candidaturas estadual e federal.

11- Você, como militante, observa uma evolução nas campanhas que envolve a

preparação da militância para um trabalho mais eficaz? Isso aconteceu na última

campanha para governador?

Acho que não, acho que poderia ser trabalhado melhor diante de cada diretório, de cada

cidade, deveria envolver mais a militância, seus próprios diretórios, seus próprios presidentes

de diretórios. Acho que o PT falhou um pouco nessa organização. Ficou muito numa certa

culpa do partido e não trouxe um pouco pra referência melhor que poderia envolver melhor os

diretórios, que poderia envolver as regionais, os diretórios municipais. No PT falta a questão

da formação, do treinamento, mas acho que ainda é o partido que mais traz a discussão

partidária. Há reuniões do diretório, tem encontros, tem várias atividades que acho que em

todos os partidos não acontece isso. Vejo que no PT ainda continua sendo o partido que mais

mobiliza, mas acho que, de fato, o PT precisa trazer mais uma valorização da estância pra

região. O PT precisa valorizar mais as regiões, os próprios diretórios zonais, municipais, e os

encontros. Porque acho que não valoriza muito. Acho que o PT naquela época (anos 80) tinha

uma preocupação maior, porque acho que a militância do partido era maior que o PT. Naquele

momento tinha o movimento de solidariedade da América Latina, Nicarágua, El Salvador,

outros países, a militância do PT rodava ruas, regiões, às vezes sem interferência da direção

do partido, tinha uma militância mais aguerrida, tinha uma militância mais... Acredito que

pelo auge da situação, naquele momento, acho que chamava a atenção da militância pra isso.

Hoje tem uma diferença muito grande, eu acho que o PT não consegue ter uma direção

relacionada à questão dos militantes. Acho que o PT hoje mudou, daquela época. Naquela

época o PT não estava no poder, mas tinha o PT no poder de várias ações. Isso era

superimportante. Hoje o PT tem poder nacional, em vários municípios, em vários Estados, e o

PT hoje desenvolveu de uma forma como partido que se tornou o poder e isso dificulta muito

a própria relação com a militância. Se tornou uma coisa muito fácil, militar, trabalhar dentro

do partido. Então isso diferencia muito daquele militante que não tinha nem dinheiro, às vezes

pagava o partido pra militar. Hoje não. Hoje uma campanha tem uma certa grana, tem um

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certo dinheiro pra trabalhar. Então isso mudou muito. Tirou aquela coisa muito bonita que de

fato existia dentro do PT.

12- Enfim, o que funcionou nesta campanha que favoreceu o candidato a ter um

crescimento acentuado na reta final da campanha? O que faltou para ele chegar

lá?

Faltou de fato, logo no início, faltou o consenso do partido diante de uma candidatura, faltou

uma visão de que a prévia prejudica o partido, prejudica a campanha, tem divisão da

militância, tem rancores, muitos militantes acabam não fazendo a campanha, acho que isso

dificultou muito a campanha de Mercadante. Não só nessa campanha, mas em todas as

campanhas do PT, se tiver prévia, nós não vamos chegar a lugar nenhum, porque vai estar

dividido.

Page 180: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Luiz dos Santos Pereira Mendonça

1- Há quanto tempo participa das campanhas do PT? E das campanhas de Aloizio

Mercadante?

No PT desde 1994. E em todas do Aloizio. Todas em que o Aloizio teve a gente participou.

2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?

Que dificuldades a militância encontrou no decorrer da campanha?

Na verdade a orientação era que nós nos empenhássemos muito na campanha do Mercadante.

E as dificuldades que a gente teve foi a organização dos militantes e filiados, que hoje são

muitos. Só em Guarulhos são 15 mil filiados. Pra organizar todo esse povo não foi fácil. Essa

foi a maior dificuldade.

3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você

acredita que o eleitor considera quais critérios na avaliação do candidato:

experiência no executivo, propostas, partido?

O Alckmin posa de bom moço, era mais fácil. Como foi vice do Covas, assumiu o Estado que

o Covas deixou... Acabou alinhando e foi... Um chuchu, um verdadeiro chuchu. Mas aí agora

melhorou muito, nessa última campanha dele, ele mostrou a cara, acho que foi o diferencial

pra fazer ele se manter. Mas acho que na próxima a gente leva, com certeza. Avalio que em

São Paulo há um diferencial. É um Estado muito mais voltado para a direita. Sempre teve um

relacionamento estreito com a direita. Isso acaba sendo vicioso em relação ao embate da

esquerda. Mas agora, depois do Lula, está muito mais fácil. Agora, como disse, na próxima

eleição a gente leva. A experiência administrativa também pesa bastante. E isso o Alckmin

adquiriu como vice do Mário Covas.

4- Por que você acha que o candidato adversário se consolidou na dianteira das

pesquisas de intenção de voto desde o início? Por que você acha que Mercadante

não conseguiu se beneficiar do apoio de Lula e de Dilma desde o início da

campanha? Que problemas de imagem o candidato enfrentou nesta campanha?

Bom, o fato da gente ter uma eleição pra governador e pra presidente, isso acaba dividindo

muito o trabalho de campanha direcionado para o Mercadante. Acho que uma das grandes

Page 181: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

dificuldades... Porque o Lula não podia simplesmente sair em defesa dele, nós tínhamos aí

muitos Estados precisando do apoio do Lula. Eu acho que a figura do Mercadante não é uma

figura simpática, a visão que eu tenho é que o marketing precisa trabalhar para que ele seja

uma pessoa mais sorridente. Se você olhar pro Alckmin, ele está sempre sorrindo, sempre

contente, mesmo que o momento não leve para isso. Acho que essa postura ajudou muito na

imagem do candidato.

5- Com o PT crescendo em diversas regiões do país, porque a militância não

consegue quebrar a hegemonia do PSDB em São Paulo?

São Paulo é um estado totalmente capitalista. Tanto é que ninguém imaginaria que o Kassab

um dia fosse prefeito. Ele foi prefeito e reeleito. A cidade de São Paulo, o Estado é industrial.

Acho que isso ajuda muito. Os empresários entram na campanha do PSDB. Acho que isso é o

nosso grande problema. A classe trabalhadora ainda não conseguiu fomentar uma organização

pra quebrar isso.

6- A militância sentiu alguma melhora no desempenho do candidato após a sua

participação nos debates? Isso, aliás, influencia na escolha do eleitor?

Com certeza, acho que é fundamental. No debate que ele consegue avaliar realmente, mesmo

aquele que não tenha uma experiência administrativa, se ele vai ter capacidade de governar o

Estado. Mas acho que não alterou muito a imagem dele. Acho que faltou o PT trabalhar muito

mais a imagem do Mercadante dentro dos debates.

7- E os programas do horário eleitoral gratuito do candidato, exercem influência

determinante na escolha do eleitor?

Sim, também. Influenciou muito. Tanto que a campanha que a gente teve do governo federal

ajudou. Mas acho que nós não acertamos o marketing para desenvolver a campanha do

Mercadante.

8- Você acha que a cobertura da imprensa dessa campanha atrapalhou a

candidatura do PT ao governo? Aliás, o que os jornais e a televisão dizem sobre o

candidato Mercadante interfere na escolha do eleitor?

Page 182: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Acho que a nossa imprensa é totalmente direitista. Ela não se preocupa em ser imparcial. Isso

acaba atrapalhando muito, acontecendo muito. Nós tivemos dificuldade com o Mercadante

para desenvolver. Ela acabou mostrando que ele era ruim e não mostrou as propostas que ele

tinha e eram ótimas. Uma excelente proposta para São Paulo.

9- Você acha que os candidatos do partido aos cargos legislativos contribuíram para

o que era necessário para a campanha de Mercadante? Eles conseguiram

transferir votos para o candidato?

O que eu posso falar é sobre Guarulhos. Guarulhos, a nossa candidata Janete, a federal, e o

Alencar, deputado estadual, desenvolvemos um trabalho excelente em prol de Mercadante.

10- Uma campanha, quando vai para as ruas, tem como principal preocupação a

mobilização adequada dos seus militantes, oferecendo para isso material e

discurso de campanha. No entanto esses militantes têm de dividir esforços para

diversos candidatos, sejam eles majoritários (presidente, governador) ou

proporcionais (deputados e senadores). Isso atrapalha na hora de dividir esforços

com aqueles que precisam mais de corpo a corpo, como foi o caso de

Mercadante?

Acho que aqui em Guarulhos faltou o Mercadante ser mais conhecido. O fato da gente

trabalhar o nome dele na campanha, mesmo tendo uma expressiva votação pra senador,

quando é um cargo pro executivo, acho que a campanha tem que ser diferente. Diferente do

cargo legislativo. Você acaba trabalhando com alguns pontos que você pode elevar o seu

índice de aprovação. Isso é mais difícil. Você tem que ter propostas mais contundentes. Acho

que faltou isso na divulgação, na campanha do Mercadante em todo o Estado, não só em

Guarulhos.

11- Você, como militante, observa uma evolução nas campanhas que envolve a

preparação da militância para um trabalho mais eficaz? Isso aconteceu na última

campanha para governador?

Acredito que o grande problema do PT e nós temos que encarar isso, são as correntes. Não

temos unidade total sobre nossos candidatos. Acho que o fato, às vezes, de algumas correntes

só entrarem depois na campanha, acabam atrapalhando a desenvoltura da imagem do nosso

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candidato, que foi o caso do Mercadante na última eleição. Acho que faltou sim, faltou um

pouco mais de empenho. Todo muito entrou, na reta final. Nós temos que fazer isso no

mínimo três meses antes.

12- Enfim, o que funcionou nesta campanha que favoreceu o candidato a ter um

crescimento acentuado na reta final da campanha? O que faltou para ele chegar

lá?

Faltou muito pouco pra gente eleger o nosso candidato Mercadante. Mas eu acredito que o

maior problema ainda em relação ao Aluízio Mercadante é a gente discutir um pouco mais, ter

uma base aliada mais contundente, forçando essa base aliada a trabalhar em nome de

Mercadante. Não adianta nada você ter um candidato aliado, que pode fazer uma divulgação,

mas você não ver um ato dessa base aliada pra eleger Mercadante. Acredito que o grande

problema foi esse. Faltou uma reação imediata contra, por exemplo, as grandes mentiras que a

Internet jogou aí na... Enlameou, na verdade, o nome de Mercadante. Hoje o Brasil tem um

público muito voltado pra essa Internet. Você joga uma mensagem na internet, mesmo ela

sendo inverídica, mentirosa, tudo, a gente conseguir reverter isso... No caso de Mercadante

grande mentiras foram ditas e a gente não teve tempo hábil pra poder reverter isso. Em cima

disso, na próxima eleição, nós queremos criar um setorial jurídico. Acho que o Brasil peca

nesse momento por não ter uma legislação específica pra internet. Hoje é muito fácil você ir

lá, difamar alguém pela internet, até você reverter isso a pessoa já sofreu os danos. O que

faltou pra nós foi exatamente isso. Essa ferramenta da internet, ela nos prejudicou muito. Nós

não conseguimos inverter isso, acho que o PT tem que pensar nessa estratégia, como

combater esse tipo de injúrias que acontecem. Acho que a internet mais do que nos

prejudicou. E por culpa dos marqueteiros. São mentiras jogadas no ar... A legislação brasileira

tem que pensar nisso nas próximas eleições.

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ANEXOS

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Propagandas eleitorais

Programa veiculado em 18 de agosto de 2010

Locutor em off: Quando o Brasil elegeu o Lula em 2002, São Paulo elegeu Mercadante, o

senador mais votado da história do Brasil, com mais de 10 milhões de votos. Nesses últimos

oito anos, ele foi o líder do Governo Lula no senado e decisivo, para que a gente conquistasse

avanços importantes que mudaram a cara do Brasil e fizeram o brasileiro um povo mais feliz.

Mercadante foi uma peça chave na hora de negociar a aprovação de projetos importantes para

o país. E, como poucos, ele conhece os problemas de São Paulo, e o mais importante: está

preparado, maduro e tem experiência para resolvê-los com garra e agilidade.

Lula: O Mercadante é, sem dúvida, uma das pessoas mais preparadas desse país. Eu me

lembro que em 2002, eu convidei ele para ser ministro e ele disse: “Presidente, você vai

precisar muito mais de mim lá no Senado”. E graças a ele, a gente conseguiu um bocado de

vitórias. Porque para governar, pra fazer as coisas, a gente teve que travar muitas baralhas

políticas.

Mercadante: A minha história com o Lula tem mais de 30 anos. E eu me orgulho muito de

ser seu amigo, de ter partilhado com ele esse sonho de construção de um novo país. E de ter

chegado até aqui, lado a lado com ele.

Lula: O que eu mais gosto no Mercadante é que ele é um cara que batalha pelas coisas que

acredita. Sabe dialogar, sabe ouvir, estuda os problemas e o mais importante: aponta soluções.

Mercadante: Não foi fácil, não. Nós lutamos muito. Primeiro para fazer as propostas, depois

negociar, aprovar no Congresso. O novo salário mínimo. Depois o ProUni que beneficiou

mais de 760 mil estudantes. Nós tivemos o Luz para Todos, o Bolsa Família, são mais de 12

milhões de famílias beneficiadas. Foi tudo muito emocionante, mas muita luta. Inclusive na

crise, quando nós fizemos o Minha Casa Minha Vida pra dar alternativa de moradia pra muita

gente que nunca teve essa chance. Por tudo isso, valeu a pena lutar.

Lula: Pedi a ele para ser o meu candidato ao governo de São Paulo, porque eu sei que ele tem

o perfil que São Paulo precisa para voltar a crescer no ritmo que o Brasil está crescendo hoje.

Mercadante: E ter liderado o Governo Lula ao longo desses oito anos no Senado foi uma

experiência muito marcante na minha vida.

Page 186: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Lula: Mercadante amadureceu muito na liderança do governo, ficou ainda mais preparado.

Ele aprendeu que a gente só consegue atingir os nossos objetivos, se tiver paciência e

perseverança.

Mercadante: Eu sinto um orgulho enorme de ter ajudado a construir esse Brasil onde os

brasileiros são mais felizes. Com mais de 13 milhões de novos empregos com carteira de

trabalho assinada, 23 milhões de pessoas que saíram da pobreza e 30 milhões de brasileiros

que estão chegando na classe média. Um país com crescimento, estabilidade econômica,

respeito lá fora e a dívida externa resolvida.

Lula: Eu gostaria muito que você depositasse no Mercadante a mesma confiança que

depositou em mim. Estou cada vez mais convencido de que assim como mudamos o Brasil

para melhor, o Mercadante vai conseguir fazer o mesmo em São Paulo.

Mercadante: São Paulo, esse estado grandioso, fantástico, infelizmente não teve, nos últimos

anos, governantes capazes de acompanhar o ritmo do Brasil. Fizeram muito pouco metrô, os

jovens passam de ano sem aprender, não existe uma política de desenvolvimento para o

interior. Os pedágios são cada vez mais abusivos. Eu queria o seu apoio, pra ser governador,

pra começar a reverter isso e pra que você possa crescer junto com São Paulo. Assim como o

Lula foi bom para o Brasil, pode acreditar, vamos fazer um governo muito bom pra São

Paulo.

Lula: Eu confio que o Mercadante vai ser um governador que o povo de São Paulo vai se

orgulhar muito.

Jingle: Lula já mostrou que vale a pena mudar. Só depende de você é só confiar! Mercadante

governador.

Programa veiculado em 8 de setembro de 2010

Locutor em off: Começa agora o programa de Mercadante, o governador que vai trabalhar

dia e noite para melhorar a qualidade da saúde em todo o estado de São Paulo. Líder do

governo Lula no Senado, Mercadante sempre teve acesso direto ao presidente e aos ministros.

Por causa disso, foi o senador que mais trouxe verbas para obras e programas de saúde em

São Paulo, recursos para construção e reforma de hospitais, centros de saúde, de

especialidades médicas, pronto atendimento, unidades do SAMU, equipes de Saúde da

Família, Farmácia Popular e obras de saneamento básico. Se Mercadante fez tudo isso pela

saúde como senador, imagine o que ele pode fazer, daqui pra frente, como governador.

Page 187: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

Mercadante: Por muito tempo o Brasil só fez esperar. Esperou por emprego, esperou por

crédito, por uma casa própria, esperou pra ver um filho na faculdade, esperou pra melhorar de

vida. Mas, do governo Lula pra cá, o Brasil deixou de esperar e começou a andar, a sair do

marasmo. É isso que eu estou propondo a você, eu vou governar com ânimo, ideias novas,

sangue novo, agilidade e vontade de fazer. E São Paulo tem como deixar de esperar e fazer

com que as coisas aconteçam de uma forma melhor. E melhor pra todos.

Lula (num comício na cidade de Guarulhos): Era muito importante que a gente fizesse uma

experiência para que São Paulo possa experimentar o jeito de governar que nós implantamos

no Brasil.

Mercadante: Da mesma maneira que eu proponho dar um salto de qualidade na educação,

com mais investimentos, compromisso, ousadia e firmeza eu vou me dedicar dia e noite para

melhorar a qualidade da saúde em todo o estado de São Paulo.

Depoimentos de eleitores (na rua):

Rosa Barbosa: E a saúde você fica um ano para conseguir um exame.

Cleonice dos Santos: Às vezes as pessoas precisam de médico e demora seis, sete meses pra

uma consulta.

Misael Moco: Exames para três, quatro meses.

Mercadante: Você que está aí em casa e que não pode pagar um plano de saúde sabe disso.

Melhor que ninguém você sabe disso porque vive o problema na pele.

Locutor em off: Mercadante vai criar o ProUni da Saúde.

Mercadante: Do mesmo jeito que o Governo Lula comprou mais 700 mil vagas nas

universidades particulares por um custo muito baixo e fez o ProUni, nós vamos fazer o

ProUni da Saúde no estado de São Paulo. O Governo do Estado vai comprar os horários

vagos das clínicas e laboratórios particulares para atender quem está na fila para fazer um

exame ou uma consulta. Isto é uma solução de emergência que vai começar a acontecer nos

primeiros dias do meu governo. Ao mesmo tempo vou cobrar da minha equipe soluções

definitivas, que são a construção de mais 30 AMEs e oito hospitais regionais: a contratação de

médicos especialistas e a compra e o conserto de aparelhos de exames.

Lula: E em São Paulo, trabalhando junto como Governo Federal, a gente vai crescer mais, a

gente vai fazer muito mais, e a gente vai melhorar cada vez mais a vida do povo trabalhador.

Mercadante: A economia do estado de São Paulo é três vezes maior que a do Chile, o dobro

da Venezuela, maior que as economias da Colômbia e da própria Argentina, por isso é que

Page 188: Eleição para governador de São Paulo - 2010: As variáveis petistas e a confirmação do continuísmo - Elaides Basilio Andrelino

digo: que o estado de São Paulo precisa ser governado como um país. Não dá mais pra pensar

pequeno, não pode ser administrado como uma simples prefeitura. O governador de São Paulo

tem a obrigação de encarar os desafios e procurar resolvê-los e nós vamos fazer isso. Acabar

com a aprovação automática e com o drama da espera por exames e consultas na rede estadual

de saúde. São Paulo é forte e rico e tem como fazer isso. Nos últimos 16 anos, o PSDB

procurou transferir os próprios erros para os prefeitos ou para o Governo Federal. Você sabe,

quando a gente foge da responsabilidade nunca resolve as dificuldades. Eu quero mudar essa

atitude. O que incomodar São Paulo e os paulistas será um problema meu. Me dê uma chance.

Locutor em off. E nesta quinta-feira, a partir das 7h da noite, em Ribeirão Preto, tem Lula,

Dilma e Mercadante num grande comício, na Esplanada do Teatro Pedro II. Venha, participe!

Música: Agora é a nossa vez de vencer!

Programa veiculado em 29 de setembro de 2010

Áudio

Locutor em off:

No debate da Globo, Alckmin teve quatro oportunidade de perguntar pra Mercadante e, de

novo, fugiu. Como fez nos outros debates. Não dá para governar São Paulo, sem atitude,

fugindo dos problemas. Está na hora de São Paulo mudar com Mercadante. Um governador

com coragem, atitude e novas ideias. Como nosso Estado merece.

Mercadante: Hoje é último dia do nosso horário eleitoral e eu queria aqui antes de mais nada,

agradecer você pela sua atenção e pelo carinho ao longo de toda essa campanha. Eu costumo

dizer que o Brasil vai tão bem, que a economia de São Paulo é tão vibrante, que se o

governador do Estado não fizer nada, tem gente que pode achar que está tudo bem. Mas um

Estado como São Paulo não pode ser governado por alguém que fica sentado no palácio dos

Bandeirantes, esperando quatro anos para fazer, de novo, as promessas que não cumpriu

antes. Até porque pode parecer que está tudo bem, mas depois de 16 anos de PSDB não pode

estar bem se seu filho passa de ano sem aprender por causa dessa aprovação automática. Não

pode estar bem, se você e sua família esperam até um ano por uma consulta ou um exame.

Não pode estar bem se na porta da escola tem traficante e não tem segurança. Não pode estar

bem se as pessoas pagam um pedágio abusivo ou passam até seis horas no trânsito pra ir e pra

voltar do trabalho.

Depoimentos de eleitores (na rua):

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Ana Letícia Barbosa: Para o Brasil seguir mudando com a Dilma, São Paulo precisa estar na

mesma sintonia e só vai estar com Mercadante.

Antonio Henrique: 13 duas vezes: 13 para presidente, 13 para governador.

Locutor em off: Quando o Brasil elegeu Lula em 2002, São Paulo elegeu Mercadante, o

senador mais votado da história do Brasil, com 10,5 milhões de votos. Líder do governo,

Mercadante foi uma peça chave na hora de negociar a aprovação de projetos importantes para

o país. Ele conhece como poucos os problemas de São Paulo e o mais importante está

preparado, maduro e tem experiência para resolvê-los com garra e agilidade.

Mercadante: O que é mais importante na sua vida, são seus filhos, não é verdade? Eu sou pai

e sei que o futuro dos nossos filhos é o que mais nos preocupa, por isso eu falo tanto de

educação, porque eu não me conformo que no Estado mais rico do Brasil só tenha direito a

ensino de qualidade quem pode pagar. Isso não está certo, quem não pode pagar uma escola

particular tem que ter direitos iguais porque paga seus impostos. Com essa aprovação

automática que está aí, os alunos saem da escola sem aprender direito. É o seu filho que não

vai ter oportunidade no mercado de trabalho. É ele que não vai poder sonhar com um futuro

melhor. Eu quero mudar isso. Eu quero que o seu filho tenha a mesma oportunidade dos filhos

de quem pode pagar uma escola particular. Vai ser do dia para a noite? Não. Vai dar trabalho?

Muito. Mas pode acreditar, eu quero ser o governador para enfrentar e vencer esse desafio.

Por isso, no domingo que vem, quando você estiver frente à urna eletrônica, vote no futuro de

seu filho. E eu vou devolver a você o prazer de saber que todo o sacrifício que você faz pelos

seus filhos vai valer a pena porque ele vai ter preparo pra ser alguém na vida.

Locutor em off:

Para mudar com segurança vote 13 e confirme. Mercadante Governador! Amanhã a partir das

seis da tarde, tem comício em São Bernardo. Com Mercadante e o Presidente Lula. Venha,

você não pode perder.

Multidão cantando: “Lula, guerreiro do povo brasileiro. Lula, guerreiro do povo

brasileiro”.

Lula: Nós precisamos, no dia 13 de outubro, eleger Aloizio Mercadante, governador do

Estado de São Paulo.

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Cobertura da Imprensa

Folha de S. Paulo

Cobertura: 12 de agosto a 4 outubro

12/08 – Poder

FÍGADO: Mercadante (PT), candidato ao governo de SP, ganhou ontem um presente

inusitado: ervas medicinais indicadas para melhorar o funcionamento do fígado. ‘Sabe como

é... em campanha, a gente come muito pastel’.

13/08 – Painel

Na plateia Serra riu satisfeito quando Alckmin disse que Mercadante, como senador, nunca

fez nada por São Paulo. Já Marta Suplicy queria pedir direito de resposta quando o tucano

afirmou que ela, à frente da prefeitura da capital, reduziu o investimento em educação.

14/08

Pesquisa de intenção de voto – Data Folha

Alckmin 54%

Mercadante 16%

Pesquisa prevê cinco Estados sem 2ª etapa: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Bahia e

Pernambuco.

15/08 – Primeiro caderno

A Folha e o UOL, o maior jornal e maior portal de notícias do país, promovem nessa semana

dois debates eleitorais inéditos, ambos transmitidos em áudio e vídeo, ao vivo, pela internet,

nos dias 17 e 18 de agosto. O primeiro debate, dia 17, terá a participações dos candidatos mais

bem colocados na disputa pelo governo do Estado de São Paulo: Geraldo Alckmin (PSDB),

Aloizio Mercadante (PT) e Celso Russomanno (PP) (...).

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16/08 – Poder

Campanha em São Paulo repetirá ‘todos contra Alckmin’: adversários vão criticar governo do

Estado, dirigido há 16 anos pelo PSDB.

Augusto Fonseca e Marcelo Simões:

‘Baianidade’ e estratégia fazem o marketing petista.

Sócio de Gonzalez, marqueteiro volta ao primeiro plano.

Opinião A2

Editoriais

Fernando de Barros e Silva

Vários analistas têm destacado que as eleições deste ano tendem a ser marcadas pela

continuidade, a começar pelo favoritismo de Dilma Rousseff (...). Em São Paulo, Geraldo

Alckmin ampliou ainda mais sua distância oceânica sobre Aloizio Mercadante (54% a 16%)...

17/08 – Primeiro caderno

Folha e UOL fazem primeiro debate de São Paulo hoje.

Alckmin, Mercadante e Russomanno participam do primeiro debate on-line entre candidatos

ao governo paulista.

18/08 – Capa

Polarização marca debate on-line sobre governo SP

O internauta (...) pergunta a Alckmin se colocaria filhos em escola pública.

Poder A10

No debate, candidatos distorcem dados: Alckmin infla salários policiais, e Mercadante atribui

ao governo do estado responsabilidade que é da CBF.

Análise:

Alckmin é o único a lucrar num debate sem vencedor – tucano não ficou acuado diante da

tabelinha Mercadante-Russomanno.

19/08 – Primeiro caderno p. 6

Campanha estadual na TV

Mercadante não citou o nome de Dilma, mas Lula apareceu por 20 segundos, pedindo ao

eleitor que depositasse no candidato a confiança que depositou nele.

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10/09

Nova propaganda do PT-SP é alvo de críticas internas: candidatos a deputado, antes

excluídos do espaço, ironizaram programa.

11/09 – Painel

Tiroteio

“Como o Fura-Fila do Pitta, o trem-bala de Dilma e Mercadante está na plataforma dos

marqueteiros, sem nenhum compromisso com as necessidades da população. (Deputado

Estadual, Bruno Covas (PSDB).

12/9 – Painel

Colateral – Alguns petistas avaliam que o “Receitagate”, embora até agora improdutivo do

ponto de vista eleitoral para José Serra (PSDB) pode ter contribuído para conter o crescimento

de Aloízio Mercadante em São Paulo. Ele, que desde o início do horário eleitoral gratuito

havia escalado oito pontos, recuou um no novo DataFolha, e está com 23%.

13/9 – Notas (Debate DILMA x SERRA)

Mercadante faltou... – Durante o intervalo do segundo bloco do programa, os telões do

estúdio passaram a propagando do PSDB que acusa Aloizio Mercadante, candidato ao

governo do Estado de São Paulo, de faltar a votações no Senado. “Eu vou pedir direito de

resposta!”, brincou ele, sentado na plateia.

13/9 – Painel

Pulverizado – O ato de apoio a Aloizio Mercadante que o PT havia marcado para hoje no

Anhembi foi substituído por um “dia de mobilização” em todo o Estado.

14/9

PT aposta em vídeo de Lula para alavancar Mercadante (Presidente gravou diálogo com

candidato petista para programa eleitoral).

15/9

Marta cobra mais apoio de Mercadante.

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16/9

Suspeitos no caso do dossiê de aloprados vão ser denunciados hoje (Origem do dinheiro ainda

não é conhecida).

(...) Lacerda, que trabalhava na campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), então

candidato a governado e também neste ano, não foi preso. Hoje é fazendeiro no sul da Bahia,

como revelou a Folha em abril.

16/9

Mercadante cola em Lula e critica candidatura de Tiririca.

17/9

Alckmin evita duelo com Mercadante em debate.

20/9 – Mônica Bérgamo

Deputados do PT de SP Têm pregado, discretamente, o segundo voto ao Senado em Aloysio

Nunes Ferreira – e não em Netinho (PC do B), que faz chapa com Marta Suplicy. Um deles,

pedindo sigilo, afirmou à coluna que, mesmo sendo adversário, o tucano daria “mais

qualidade” ao debate no parlamento. Já o grupo mais ligado a Aluísio Mercadante (PT)

trabalha para que Netinho tenha mais votos que Marta.

21/9

PT-SP vai focar em eleitor de Dilma que escolhe Alckmin (Partido usará tempo na TV para

ligar Mercadante à candidata à Presidência).

23/9 – Painel

Linha vermelha – Aloízio Mercadante faz suspense sobre a utilização de imagens da pane no

metrô em sua propaganda na TV. No Twitter reprova os investimentos em manutenção.

28/9

Campanha na TV – Em programa conjunto, Netinho (PC do B) e Marta Suplicy (PT)

simulam briga por votos. Lula intercede e lembra que o eleitor deve escolher dois senadores.

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A dupla (que só aparecia junta em comícios) também bateu ponto no programa de

Mercadante.

28/9 – Eleições

A coluna de Elio Gaspari de 26/9 traz uma informação incorreta a respeito da proposta do

candidato Aloízio Mercadante na área de transporte ferroviário.

Em nenhum momento Mercadante se comprometeu a levar o trem-bala a cidades do interior

paulista. A proposta é aproveitar a obra do governo federal para revitalizar a sucateada malha

ferroviária do Estado. A ideia é criar ramais de trens rápidos, de até 200 km/h, interligando ao

trem-bala as cidades de Sorocaba, Ribeirão Preto e Bauru.

José Américo, coordenador de comunicação da campanha Mercadante Governador (São

Paulo, SP).

29/9

Alvo, Alckmin se esquiva de confrontos (Líder, tucano não faz as questões a Mercadante, que

o acusa de “fugir” do debate).

30/9

Cai diferença entre Alckmin e Mercadante (Vantagem do tucano cai 6 pontos, mas ele ainda

venceria no primeiro turno, segundo Datafolha).

1/10

Mercadante sobe entre menos escolarizados (Em pesquisa Datafolha divulgada ontem, petista

reduziu diferença para Alckmin de 28 para 22 pontos percentuais).

2/10

Chuva atrapalha fim da campanha em São Paulo (Aluizio Mercadante mantém agenda de rua

apesar do mau tempo e se declara confiante em segundo turno).

4/10

Alckmin vence em São Paulo no 1º. Turno por margem estreita

50,6% dos votos válidos contra 49,4% dos outros, sendo Mercadante com 35%.

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Diário de S. Paulo

Cobertura: 19 de agosto à 7 de outubro

19/8

Alckmin lista obras e Lula elogia petista – Mercadante recebe ajuda na TV do presidente já

na estreia da propaganda política de governador, enquanto o tucano promete ‘pisar no

acelerador’.

Trecho: “Correndo risco de perder já no primeiro turno, Mercadante nem sequer fez as

apresentações triviais de sua carreira. Partiu logo para o discurso da mudança total e atacou

tudo: saúde, educação, segurança, pedágios.”

21/8

Próxima estação: Vila Prudente – No começo, a nova estação funcionará das 9h30 até 15h,

de segunda a sexta-feira. Prolongamento da Linha Verde irá desafogar movimento de

passageiros na Sé.

Destaques: “Trens novos com tecnologia de ponta. 20 km é a extensão total de vagões novos

enfileirados”.

27/8

Alckmin lidera disputa com 49% e Mercadante sobe três pontos – Pesquisa Diário/Ipespe:

tucano seria eleito governador no 1º. Turno; diferença entre Serra e Dilma cai de 11 para 2

pontos em SP.

31/8

Para segurar Alckmin, Lula desembarca em SP

Trecho: “A ordem de Lula é levar a disputa no estado para o segundo turno de qualquer jeito.

Para isso, ele próprio e Dilma devem intensificar as agendas em São Paulo ao lado do

candidato petista Aloizio Mercadante.” “Lula já deu vários pitacos na campanha de

Mercadante, inclusive pedindo para o candidato sorrir mais e humanizar os programas do

horário eleitoral.”

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Nota: Mercadante é punido – O TRE tirou mais 80 segundos do programa de Mercadante

no rádio e 26 segundos da TV. É a quinta vez que o candidato do PT ao governo do estado

é punido pelo tribunal. Os juízes entenderam que Mercadante invadiu o tempo de

propaganda dos candidatos a deputado. Ele ainda pode recorrer ao TSE.

8/9

Líderes nas pesquisas ganham mais dinheiro – Candidatos com maiores percentuais de

votos também recebem mais doações para financiar campanha. Dilma arrecada mais do que

adversários somados e Marta Suplicy tem doações de candidato majoritário.

Mercadante – 10,2 milhões / 1,3 milhão gastos com serviços terceirizados e 580 mil com

publicidade (placas, faixas, etc.).

Alckmin – 6 milhões / 3,2 milhões com serviços terceirizados e 1,2 milhão com material

impresso.

13/9

São Paulo pode ficar sem 2º. Turno – Pela primeira vez desde a redemocratização há

chances das eleições presidenciais e para o governo do estado acabarem no dia 3 de outubro e

eleitores da capital só votarem uma vez.

13/9

Entrevista com Giovani Marangoni, professor de marketing político da ESPM

Decisão na 1ª. Votação reduz custos financeiro e político.

16/9

Disputa ao governo tem debate morno – Líder nas pesquisas, Geraldo Alckmin é alvo

principal dos adversários, mas foge das grandes polêmicas e evita bater boca com Aloizio

Mercadante.

24/9

Alckmin já está 25 pontos à frente – Candidato do PSDB subiu para 49% das intenções de

voto e pode ganhar disputa já no primeiro turno. Aloizio Mercadante (PT) caiu para 24% e

Celso Russomanno (PP) para 7% da preferência do eleitor.

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“Aloizio Mercadante parece estacionado em torno de 24% das intenções de voto”, Jairo

Pimentel Júnior, consultor de pesquisa.

28/9

Nota: Mercadante terá que tirar Alckmin da TV

O juiz auxiliar Luís Francisco Aguilar Cortez determinou a imediata suspensão da propaganda

eleitoral do candidato a governador do PT, Aloizio Mercadante, com imagens do tucano

Geraldo Alckmin. Nas peças, Alckmin aparecia fazendo promessas na campanha de 2002 e

um locutor rebatia dizendo que o ex-governador não cumpriu quando esteve no poder.

29/9

Alckmin vira alvo em debate de TV – Tentando ir ao 2º. Turno, Mercadante repete

dobradinha com Russomanno para atacar governos do PSDB e acusa tucano de fugir do

confronto direto.

3/10 (dia da eleição)

Quem é ele?

Alckmin – Candidato ignora provocação de adversário e o apelido de ‘picolé de chuchu’ para

voltar ao Palácio dos Bandeirantes. Vitória interrompe ostracismo político gerado no embate,

em 2006, com José Serra pela candidatura à presidência.

Por que voto nele: Lars Grael.

Mercadante – De presidente de centro acadêmico a líder do PT no Senado, Mercadante

seguiu uma trilha que lhe dá de novo a chance de buscar seu primeiro cargo executivo

Por que voto nele: Mário Sergio Cortella.

4/10

Análise do governo que Alckmin assume:

Obstáculos no ninho tucano – Novo governador terá que aplicar soluções eficientes para

problemas como meio ambiente, habitação, saúde e segurança.

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7/10

Nos presídios, Dilma e Mercadante são ‘eleitos’ no primeiro turno – Candidatos do PT à

Presidência e ao governo vencem com facilidade entre detentos. No Senado, Marta e Netinho

são os preferidos (matéria de Fernando Zanelato).

1865 presos: 779 votaram em Mercadante (65,46%) e Alckmin com 256.

“Administradores dos presídios paulistas há 16 anos, os tucanos têm alta rejeição entre

aqueles que cumprem pena.”

Análise do psicólogo e professor da USP, Chico Oliveira: “A maioria que está ali é do

último estrato da população e vai na onda do governo Lula”, diz.