Eleição Corporativa - William W. (Arminianismo.com)

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William W. Klein - É a Eleição Corporativa uma Mera Eleição Virtual? É a Eleição Corporativa uma Mera Eleição Virtual? Um Estudo de Caso em Contextualização William W. Klein[1] Em seus diversos tratamentos da questão da eleição, os assim chamados “calvinistas” freqüentemente descartam qualquer conceito significativo de eleição corporativa. Embora muitos, incluindo o próprio Calvino, possam perfeitamente admitir que a Igreja é o corpo eleito de Cristo, Calvino e seus homônimos rapidamente acrescentam que essa noção não faz sentido a menos que os membros particulares daquele corpo sejam especificamente escolhidos para estarem incluídos em suas fileiras. Por exemplo, nas palavras de C. S. Storms, A Divina Eleição pode ser definida como aquela decisão amorosa e misericordiosa do Deus Pai para conceder a vida eterna para alguns, mas não todos, pecadores dignos do inferno. Não se entra nas fileiras da Eleição reunindo uma condição, seja ela a fé ou o arrependimento. Entra-se nas fileiras da eleição pela virtude da escolha totalmente graciosa e livre de Deus e como resultado da mesma, ele nos capacita ao arrependimento e fé.[2] Na visão de muitos intérpretes como Storms, nós não podemos falar da questão de eleição, de qualquer maneira significativa, sem posicionar, fundamentalmente, que Deus escolhe especificamente indivíduos para a salvação. A escolha pode surgir da inescrutável vontade e propósito de Deus em definir sua escolha de indivíduos específicos (para os calvinistas), ou ela pode ser baseada no seu pré-conhecimento de quem irá exercer fé (para os clássicos arminianos), porém muitos estudiosos insistem que Deus escolhe indivíduos para a salvação, e que a igreja é o único corpo eleito, pois ela é composta de indivíduos eleitos. Eu desejo desafiar essa noção e construir uma hipótese de que podemos realmente falar da escolha divina da igreja em Cristo sem também implicar que Deus especificamente escolhe indivíduos que irão compor esta igreja. Uma forma de chegar a isso é responder a um determinado estudioso que escreveu especificamente sobre este assunto. Em março de 1993, na edição da JETS – JOURNAL OF THE EVANGELICAL THEOLOGICAL SOCIETY[3] – Thomas Schreiner conduziu um estudo em Romanos 9 para determinar se lá Paulo ensina que Deus selecionou indivíduos específicos para a salvação eterna.[4] Ele responde àquilo que ele acredita ser as duas objeções mais comuns para a posição calvinista em Romanos 9: (1) Que Romanos 9 fala de nações e não indivíduos, e (2) que Romanos 9 trata da salvação de entidades corporativas, não individuais. Eu proponho responder à sua tentativa de salvar a compreensão calvinista em Romanos 9, e no processo mostrar, eu espero, que a eleição do corpo corporativo de Cristo não é uma abstração sem sentido ou, em um termo mais contemporâneo, não apenas uma eleição virtual. Primeiro, muitos intérpretes bíblicos afirmam juntamente com estudiosos como Schreiner e outros, que a evidência de Rm 9.15 mostra que a preocupação de Paulo é com a salvação de indivíduos. Lá Paulo diz, como você irá recordar, “Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia (Corrigida, fiel ao texto original)”. Admito: Deus demonstra misericórdia ou endurece a quem ele quiser, indivíduos ou grupos. O equivoco aqui não é se Deus lida com indivíduos – nem a salvação de indivíduos – mas a base sobre a qual ele responde aos indivíduos e a base sobre a qual ele confere salvação a eles.[5] Como toda a seção de Rm 9.30 – 10.21 deixa claro, a preocupação de Paulo é com a falta de fé de Israel – podemos dizer, com a falta de fé dos judeus individualmente. O critério que Deus aplica às pessoas individualmente é este: Creia no Cristo ressurreto como Senhor e serás salvo; busque ou insista na retidão por quaisquer outros meios, e você deixará de atingir a salvação (10.9; 9.30-32). O problema para as pessoas é a presença ou a ausência de fé, não se eles foram individualmente escolhidos por Deus para salvação. Segundo, os calvinistas tipicamente alegam que a presença de um remanescente envolve a seleção de indivíduos de um grupo corporativo maior. Novamente, eu admito; mas a questão permanece a mesma: qual o critério que determina se um indivíduo é membro ou não do remanescente? De acordo com Paulo, a maior parte dos judeus não estava entre o remanescente devido à sua incredulidade e não porque Deus nunca os elegeu para a salvação. Em Rm 11.20 Paulo diz, “... Eles foram quebrados por causa da sua incredulidade, mas tu estás em pé somente pela fé.” Então, no capítulo 11.23, Paulo complementa, “E mesmo aqueles de Israel, se eles não Rating 5.00 (1 Vote) Detalhes Data de publicação Categoria: William W. Klein Acessos: 1731

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William W. Klein - É a Eleição Corporativa uma Mera Eleição Virtual?

É a Eleição Corporativa uma Mera Eleição Virtual?

Um Estudo de Caso em Contextualização

William W. Klein[1]

Em seus diversos tratamentos da questão da eleição, os assim chamados “calvinistas” freqüentementedescartam qualquer conceito significativo de eleição corporativa. Embora muitos, incluindo o próprio Calvino,possam perfeitamente admitir que a Igreja é o corpo eleito de Cristo, Calvino e seus homônimos rapidamenteacrescentam que essa noção não faz sentido a menos que os membros particulares daquele corpo sejamespecificamente escolhidos para estarem incluídos em suas fileiras. Por exemplo, nas palavras de C. S. Storms,

A Divina Eleição pode ser definida como aquela decisão amorosa e misericordiosa do Deus Pai paraconceder a vida eterna para alguns, mas não todos, pecadores dignos do inferno. Não se entra nas fileirasda Eleição reunindo uma condição, seja ela a fé ou o arrependimento. Entra-se nas fileiras da eleição pelavirtude da escolha totalmente graciosa e livre de Deus e como resultado da mesma, ele nos capacita aoarrependimento e fé.[2] Na visão de muitos intérpretes como Storms, nós não podemos falar da questão de eleição, de qualquer

maneira significativa, sem posicionar, fundamentalmente, que Deus escolhe especificamente indivíduos para asalvação. A escolha pode surgir da inescrutável vontade e propósito de Deus em definir sua escolha de indivíduosespecíficos (para os calvinistas), ou ela pode ser baseada no seu pré-conhecimento de quem irá exercer fé (para osclássicos arminianos), porém muitos estudiosos insistem que Deus escolhe indivíduos para a salvação, e que aigreja é o único corpo eleito, pois ela é composta de indivíduos eleitos. Eu desejo desafiar essa noção e construiruma hipótese de que podemos realmente falar da escolha divina da igreja em Cristo sem também implicar queDeus especificamente escolhe indivíduos que irão compor esta igreja.

Uma forma de chegar a isso é responder a um determinado estudioso que escreveu especificamente sobre

este assunto. Em março de 1993, na edição da JETS – JOURNAL OF THE EVANGELICAL THEOLOGICAL SOCIETY[3]– Thomas Schreiner conduziu um estudo em Romanos 9 para determinar se lá Paulo ensina que Deus selecionouindivíduos específicos para a salvação eterna.[4] Ele responde àquilo que ele acredita ser as duas objeções maiscomuns para a posição calvinista em Romanos 9: (1) Que Romanos 9 fala de nações e não indivíduos, e (2) queRomanos 9 trata da salvação de entidades corporativas, não individuais. Eu proponho responder à sua tentativa desalvar a compreensão calvinista em Romanos 9, e no processo mostrar, eu espero, que a eleição do corpocorporativo de Cristo não é uma abstração sem sentido ou, em um termo mais contemporâneo, não apenas umaeleição virtual.

Primeiro, muitos intérpretes bíblicos afirmam juntamente com estudiosos como Schreiner e outros, que a

evidência de Rm 9.15 mostra que a preocupação de Paulo é com a salvação de indivíduos. Lá Paulo diz, como vocêirá recordar, “Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tivermisericórdia (Corrigida, fiel ao texto original)”. Admito: Deus demonstra misericórdia ou endurece a quem elequiser, indivíduos ou grupos. O equivoco aqui não é se Deus lida com indivíduos – nem a salvação de indivíduos –mas a base sobre a qual ele responde aos indivíduos e a base sobre a qual ele confere salvação a eles.[5] Comotoda a seção de Rm 9.30 – 10.21 deixa claro, a preocupação de Paulo é com a falta de fé de Israel – podemosdizer, com a falta de fé dos judeus individualmente. O critério que Deus aplica às pessoas individualmente é este:Creia no Cristo ressurreto como Senhor e serás salvo; busque ou insista na retidão por quaisquer outros meios, evocê deixará de atingir a salvação (10.9; 9.30-32). O problema para as pessoas é a presença ou a ausência de fé,não se eles foram individualmente escolhidos por Deus para salvação.

Segundo, os calvinistas tipicamente alegam que a presença de um remanescente envolve a seleção de

indivíduos de um grupo corporativo maior. Novamente, eu admito; mas a questão permanece a mesma: qual ocritério que determina se um indivíduo é membro ou não do remanescente? De acordo com Paulo, a maior partedos judeus não estava entre o remanescente devido à sua incredulidade e não porque Deus nunca os elegeu para asalvação. Em Rm 11.20 Paulo diz, “... Eles foram quebrados por causa da sua incredulidade, mas tu estás em pésomente pela fé.” Então, no capítulo 11.23, Paulo complementa, “E mesmo aqueles de Israel, se eles não

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persistirem na incredulidade, serão enxertados...” Portanto, a questão não é se se pode referir a um grupochamado “remanescente” como escolhido; a questão diz respeito ao que se leva em conta para sua escolha.

Talvez uma lembrança de uma das maiores parábolas de Jesus esteja em foco aqui, pois ela diz respeito à

inclusão e exclusão de pessoas do reino dos céus. A parábola do banquete de casamento registrado em Mt 22.1-14deixa claro, penso eu, a questão central. O rei na historia não predeterminou quem ia finalmente sentar na salapara desfrutar da festa. Ser incluído no banquete exigia-se responder ao convite do rei nos seus termos. “Poismuitos são chamados, mas poucos são escolhidos” (22.14). Quanto ao significado da parábola, está claro que osjudeus rejeitaram o convite de Deus para si e foram desqualificados – na parábola o rei “destruiu aquelesassassinos e queimou a sua cidade” (22.7). Entretanto, “os de fora” foram convidados e recolhidos para a festa.Jesus define os eleitos como aqueles que respondem ao convite de Deus para crer Nele.

Terceiro, em seus ensaios Schreiner interpreta mal a minha (e de outros) posição quando ele diz que nós

somos incoerentes em Rm 9.30 – 10.21, pois lá nós apelamos para as decisões dos indivíduos – de fato, como eufiz acima. Embora eu não afirmo ser capaz de evitar a inconsistência, eu não tenho dúvida de que Paulo fala deindivíduos nesta seção. Eu certamente concordo com Schreiner que o debate de Paulo gira em torno das nações eentidades corporativas de um lado, e a filiação de indivíduos nesses grupos corporativos do outro. A nação de Israelfoi corporativamente eleita, mas os judeus individualmente podiam ou não fazer parte do remanescente. Agora,com a vinda de Jesus, os judeus devem crer Nele para serem salvos. Paulo deixou claro, “Pois nem todos osisraelitas pertencem a Israel” (9.6; NRSV). Nesta época a igreja assume a categoria de “meu povo” anteriormenteaplicada a Israel (9.25-26; cf. 1Pe 2.9, 10), porém os indivíduos se tornam membros desse povo apenas através desua fé em Jesus Cristo. Paulo não faz menção da eleição para explicar por que os indivíduos fazem parte do novopovo escolhido.

Em outras palavras, eu não estou dizendo que a ênfase sobre entidades corporativas em Rm 9.1-29 exclui

todas as referências a indivíduos dentro dessas entidades. Meu ponto é simplesmente este: quando Paulo diz queDeus escolheu Isaque (um indivíduo) e seus descendentes (corporativo) ou Jacó e seus descendentes, Pauloesclarece a formação da nação de Israel, não como os israelitas individualmente obtiveram a salvação eterna. Aquestão do endurecimento de Faraó (um indivíduo) diz respeito a seu papel no drama das nações, não em suasalvação pessoal. Como eu argumento em meu livro, The New Chosen People. A Corporate View of Election[6] (ONovo Povo Escolhido. Uma Visão Corporativa da Eleição), os autores bíblicos citam muitos exemplos da escolhadivina de indivíduos – isto é, pessoas selecionadas para ministérios e funções, como os exemplos de Abraão,Isaque, Jacó e o Faraó mostram em Romanos 9.[7] Entretanto, quando Paulo chega a discutir como Deus dispensasalvação aos indivíduos (ou membros de grupos corporativos), ele destaca que a fé é a chave para obtê-la.

Quarto, e aqui nós chegamos à principal questão do nosso estudo, Schreiner vê uma falha lógica em

qualquer tentativa de basear a salvação sobre a fé dos indivíduos sem a predeterminação de Deus daquela fé(como na visão calvinista). Ele pensa que para Deus eleger um grupo inteiro, tal como a igreja, logicamente implicaque a fé de cada membro do grupo salvo deve também ser um presente dado por Deus antes do início do tempo, eestas são as suas palavras (página 36). Somente um calvinista, ou alguém que pensa como ele neste ponto,sentiria a força desta objeção, pois ela assume uma visão determinista da realidade. Isto é, de acordo com estetipo de pensamento, se Deus elege um grupo – a igreja – então, visto que os membros desse grupo são eleitosantes da fundação do mundo (no pré-conhecimento de Deus), Deus deve predeterminar que cada membro dessegrupo deve vir à fé. Deste modo, para o ponto de vista de Schreiner, a eleição corporativa implica que “a féindividual não é decisiva para a salvação” (pagina 36; minha ênfase).

Deixem-me repetir: Schreiner acredita que alguém que afirma que Deus elegeu um grupo corporativo tal

como a igreja deve também afirmar que a fé de um indivíduo que vem a Cristo não é decisiva para a sua salvação.É claro, isto contradiz e viola muitos textos explícitos no Novo Testamento. Schreiner realmente acredita quealguém sustente uma visão que nega este dado mais fundamental? Nós todos concordamos que a fé individual édecisiva. Então, qual é a resposta?

Bem, se não se aceitar tal visão determinista, esta objeção cai por terra. Novamente, em muitos locais a

Bíblia claramente estipula que a fé é decisiva para a salvação. Nas apresentações do evangelho feitas por Paulo epor Jesus aos seus ouvintes, a necessidade dos indivíduos de confiar em Cristo é precisamente o que é decisivopara sua salvação e a falta da mesma confiança é que os exclui da vida eterna (por exemplo, Jo 3.16-21; At 2.37-42; 13.38f.; Rm 10.9-13 para citar alguns). Apesar das alegações de alguns escritores, eu acredito que osescritores do Novo testamento não dizem que Deus determina que certos indivíduos serão salvos e que outros serãocondenados.

Assumindo a tradicional visão do pré-conhecimento de Deus,[8] me parece lógico dizer que um Deus que

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sabe tudo, conheceria à frente do tempo quem seria salvo (isto é puramente uma questão de presciência, do queDeus conhece sobre o futuro) – e chama esse grupo de seus “escolhidos” – e todavia requer que a fé pessoal emCristo de cada indivíduo estabeleça se ou não ele ou ela será uma parte desse corpo. Simplesmente porque o Deusonisciente sabe quem vai entrar no grupo não exige logicamente que Deus controle cada decisão pessoal doindivíduo para abraçar ou rejeitar a Cristo, isto é, entrar nesse grupo. Em um caso isso é uma questão do que Deussabe; no outro é uma questão do que cada indivíduo faz com os créditos de Cristo. Quanto a isso, Deus tambémsabe quais indivíduos rejeitarão a Cristo. Deus determina suas rejeição e conseqüente perdição? Um deterministaconsistente teria que afirmar que sim, e esta é precisamente a conclusão de John Piper em seu livro, TheJustification of God[9] (A Justificação de Deus). Mas eu não concordo que para Deus escolher a igreja corporativaem Cristo implica sua seleção de cada indivíduo para estar nesse corpo. Ef 1.4 afirma precisamente a eleição daigreja em Cristo sem nenhuma alusão à escolha de Deus de indivíduos para compor esse corpo.[10]

Muitos calvinistas acreditam que no fim a eleição corporativa acaba sendo a eleição de uma mera entidade

abstrata, o que nós poderíamos chamar eleição meramente virtual e, portanto, algo a ser rejeitado como ilógico,por um lado, e não bíblico por outro. Schreiner usa uma analogia da formação de uma nova equipe profissional debaseball para mostrar quão absurdo é para ele a construção de uma eleição corporativa. Mas, de fato, sua analogiademonstra a imperfeição do seu argumento. Ele alega, “Não faz sentido dizer, ‘eu vou comprar um time profissionalde baseball’ que não tem membros nem jogadores e então permitir a qualquer um que deseja vir jogar no time”(página 37). Em tal cenário, Schreiner acredita, “Você escolheu que há uma equipe, a composição da qual estátotalmente fora do seu controle”. Finalmente ele diz, “O ponto da analogia é que se existe realmente tal coisa comoa escolha de um grupo específico, então, a eleição individual está implícita na eleição corporativa” (página 37).

Recentes acontecimentos no Colorado argumentam em contrário. O ano de 1993 marcou o primeiro ano

para um novo time de baseball, o Colorado Rockies. Vários anos antes disso, um grupo de proprietários fez umaapresentação para a Liga Nacional de Baseball a fim de solicitar uma franquia para o Colorado e a região dasmontanhas rochosas. A proposta foi aceita pela Liga. A essa altura o Colorado tinha um time de baseball, mastambém não tinha jogadores, nem membros, nem mesmo um gerente! Mas o time tinha sido escolhido; ele já tinhaum nome. Mas, contrariamente à avaliação de Schreiner, simplesmente não era verdade que a composição da novaequipe estava totalmente fora de controle do grupo proprietário. Também contrário à presunção de Schreiner, osnovos proprietários simplesmente não convidaram qualquer um que queira jogar baseball para se juntar ao novogrupo. Mas era verdadeiro – tal como acontece com todas as equipes – que a filiação aos Rockies tecnicamenteestava aberta para todos os jogadores qualificados. A nova equipe gerencial classificou, traçou, e adquiriu osdireitos para os jogadores, mas a gerência e os jogadores tinham que negociar os termos dos contratos até que atotalidade dos membros do time realmente se formou.

Assim, é possível comprar (podemos dizer, escolher) um time que não tem membros. Isso aconteceu!

Subseqüentemente, jogadores foram solicitados e aqueles que reuniam os critérios exigidos para inclusão, e queconcordaram com os termos do time, se tornaram parte dele. No entanto, nós orgulhosos habitantes do Coloradoreivindicamos os Rockies como “nosso time” mesmo antes que quaisquer jogadores fossem escolhidos; na verdade,eles compraram um número sem precedentes de bilhetes para a temporada em antecipação à primeira temporadado time. Usando esta ilustração, Schreiner está simplesmente errado ao insistir que a eleição corporativa implicaem eleição individual (página 37). Foi possível escolher que haveria um time antes que ele tivesse qualquermembro. Vamos admitir: Isto raramente acontece no baseball, e mais raramente ainda na Heilsgeschichte (históriada salvação), mas pode acontecer. Não é ilógico permitir essa possibilidade.

Agora, é claro, eu posso ter mostrado somente que a analogia de Schreiner foi pobremente escolhida,

talvez tenha escolhido um espantalho (Nota do tradutor: uma falácia) porque pensava que provaria melhor o seuponto de vista. Mas, de fato, eu creio que a falha da analogia é mais séria para a alegação calvinista inteira de quea eleição corporativa seja a escolha de uma entidade abstrata. Pois, nas mentes de muitos calvinistas, a objeção àeleição corporativa depende precisamente de se alguém pode prever um grupo eleito à parte de ter os membrosindividuais do grupo também especificamente escolhidos para estar no grupo. Como é típico dos defensores daeleição individual, Schreiner condena o conceito de eleição corporativa por vê-la como uma entidade abstrata ouuma classe vazia. Dando a ela um rótulo pejorativo, ele acredita que pode rejeitá-la.

Eu, por exemplo, nunca argumento que Deus escolheu uma entidade abstrata, mais do que quando Deus

selecionou Israel para ser o seu povo escolhido, Israel era uma mera entidade abstrata. Israel como nação foiescolhida e cada um dos israelitas individualmente era uma pessoa escolhida. Quando Deus falou aquelas palavrasfatídicas para Abraão em Gn 12.1-3, ele estava selecionando uma nação – nele. Correspondentemente, a Igreja é onovo povo escolhido de Deus[11] e cada cristão individualmente é uma pessoa eleita – Nele, isto é, em Cristo. Issoexplica por que numerosos textos do Novo Testamento afirmam que os cristãos são eleitos (por exemplo, Rm 8.33;Ef 1.4; 2Ts 2.13). Entretanto, a questão chave permanece: como alguém se torna parte do povo escolhido? Quanto

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a Israel, nascer de pais judeus determinaria quem fosse fazer parte do povo escolhido. Na era cristã nascer denovo (ou nascer do Espírito) adiciona a pessoa à Igreja, o corpo eleito de Cristo. Nascer de novo exige fé. Confiarem Cristo coloca alguém no Cristo corporativo, Seu corpo eleito.

Chegando a uma conclusão, deixe-me focar no que vejo como o raciocínio de Paulo na última parte de

Romanos 10. Paulo, citando Isaías, que está falando por Deus, lamenta a falha dos israelitas em crer a despeito daclara pregação da mensagem (10.16-21). Por que Deus parece expressar frustração sobre a falha dos judeus emaceitar a mensagem se Ele sabia muito bem que Ele não os elegeu para salvação? Pelo contrário, Ele os chama “umpovo obstinado e desobediente” (10.21; NIV). A propósito, isto se assemelha ao lamento de Jesus sobre Jerusalém,quando ele diz, “Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo dasasas, e tu não quiseste!” (Mt 23.37; Corrigida, fiel ao texto original, ênfase adicionada).

Schreiner acredita que eu estou impondo aqui “uma lógica ocidental” em levantar esta objeção. Mas essa

fácil rejeição do sentido do texto só funciona se um intérprete iniciar a interpretação assumindo um ponto de vistacalvinista. Eu afirmo que uma leitura simples do texto me leva a concluir que Deus não predeterminou quaisindivíduos serão salvos. Deus pode, na verdade, querer que todo mundo seja salvo, como vários textos do Novotestamento claramente implicam (por exemplo, 1Tm 2.4; 2Pe 3.9; Jo 3.16) e a lógica disto poderia bem afirmar quea aplicação da salvação então depende da decisão individual de crer ou rejeitar a provisão de Deus. A explicaçãoúltima por que nem todos serão salvos pode então repousar na sua falha em crer, não na decisão misteriosa deDeus em não eleger aqueles que Ele ama e deseja que sejam salvos.

Porém, de forma bastante típica de certos interpretes, Schreiner prefere retirar-se para o conveniente

refúgio de “mistério”. Ele transforma isto numa virtude: o apelo ao mistério mostra que os calvinistas não sãodominados pela lógica ocidental (pagina 39)! Mas não poderia ser que eles estão tão dominados pelo seu sistemaque quando confrontados pelos insuperáveis obstáculos eles somente podem apelar para o mistério? O próprioSchreiner admite que a explicação fornecida pela visão de uma eleição corporativa elimina a necessidade depostular mistério aqui.

Cada intérprete deve decidir onde o equilíbrio das evidências repousa. Minha preocupação é que não é

dado espaço bastante para as alternativas ao Calvinismo. Talvez seja porque elas não são tão adequadas naexplicação dos dados quanto são as explicações calvinistas. Se assim for, elas devem ser merecidamente rejeitadascom toda veemência. Ou talvez, as alternativas ao Calvinismo não têm sido adequadamente apresentadas,defendidas ou honestamente escutadas. Esta curta refutação é uma pequena tentativa de dar uma alternativa umpouco mais elaborada.[12] Mas pode haver o surgimento de uma questão diferente. Como podemos contextualizaressa discussão? Lembro-me de um orador aqui na Capela do Denver Seminary há uma década ou mais – SamuelEscobar, um estudioso latino americano que na época estava ensinando na América do Norte. Ele nos disse que emsuas pregações no norte e sul da fronteira com o México, ele freqüentemente pedia às pessoas em suas palestraspara interpretar a expressão familiar de Jesus: “Os pobres vós sempre tendes convosco” (Jo 12.8). A interpretaçãotípica norte-americana era algo como: “Não importam quais esforços sejam gastos para ajudar os pobres, semprehaverá pessoas pobres.” Então ele recitou a explicação de uma mulher mexicana de um subúrbio afastado. Elainterpretou as palavras de Jesus como: “Sempre haverá pessoas ricas para nos explorar”. As duas respostas dizemalgo muito diferente a respeito do contexto dos intérpretes.

Que diferença faz qual visão se defende no debate sobre a eleição corporativa ou individual? E o que a

própria conclusão diz sobre o intérprete? Por que os intérpretes são convencidos de forma tão passional que estãocertos, mesmo quando eles chegam a conclusões aparentemente opostas? Não há dúvida que lutamos paracompreender muitos mistérios da Bíblia. Mas devemos perguntar: Alguns textos são misteriosos porque eles apelampara categorias ou abraçam um sistema de lógica que nos é estranho ou fora de nosso alcance, ou eles sãointricados porque estamos tentando fazê-los ajustar-se aos nossos próprios limites preconcebidos?[13] Nóspodemos estar num impasse aqui. Pergunto-me se o problema depende de algum tipo de lógica ocidental ouoriental, que um lado está mais em contato com a verdadeira perspectiva dos textos, enquanto o pensamento dooutro lado está obscurecido. Ou é realmente um problema de compromissos pessoais anteriores?[14] Ocompromisso anterior dos assim chamados calvinistas ou arminianos (ou qualquer que seja o rótulo queescolhemos) pode exercer muito mais força do que podemos admitir e fortemente determinam seus resultadosexegéticos. Esta é a razão pela qual nós devemos seriamente examinar nossos pressupostos e honestamentequestionar quão frequentemente nós fazemos os textos significar aquilo que nós queremos que eles signifiquem.[15] Como os agentes imobiliários nos lembram, “Localização, localização, localização”, nós intérpretes devemoscompreender as implicações de “Contexto, contexto, contexto” – não meramente o contexto antigo do texto, mas onosso também.

Tradução: Cloves Rocha dos Santos

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[1] Willian W. Klein é professor de Novo Testamento no Denver Seminary, P.O. Box 100.000, Denver, CO 80250-0100.

[2] C. S. Storms, Chosen For Life. An Introductory Guide to the Doctrine of Div ine Election (Escolhidos para a Vida. Um Guia Introdutório à

Doutrina da Eleição) (Grand Rapids: Baker, 1987), 30-31.

[3] Nota do tradutor: JETS – Journal of the Evangelical Theological Society – Revista da Sociedade de Teologia Evangélica: É uma revista ou

periódico trimestral que fornece cobertura e análises de religião e filosofia. Seu endereço na Internet é: www.etsjets.org/?q=publications.

[4] “Does Romans 9 Teach Indiv idual Election unto Salvation? Some Exegetical and Theological Reflections (Romanos 9 Ensina Eleição Indiv idual

para Salvação? Algumas Reflexões Exegéticas e Teológicas)” JETS 36/1 (1993) 25-40. Reimpresso com algumas revisões menores em T. R. Schreiner e

B. A. Ware, ed. (A Graça de Deus, A Escravidão da Vontade), 2 vols. (Grand Rapids: Baker, 1995), I: 89-106 e reimpresso novamente em idem. Still

Sovereign. Contemporary Perspectives on Election, Foreknowledge, and Grace (Ainda Soberano. Perspectivas Contemporâneas sobre a Eleição,

Pré-conhecimento e Graça) (Grand Rapids: Barker, 2000). Os números das páginas em parênteses no texto abaixo irão se referir ao artigo original da

JETS.

[5] Eu acredito que Schreiner equivocadamente pensa que os defensores da assim chamada Eleição Corporativa negam que nesta seção, Romanos

9-11, Paulo está despreocupado com a salvação de indiv íduos. O que não é, simples e obviamente, o caso. Nós cremos que Paulo está preocupado

com a salvação de indiv íduos, mas também que ele usa os princípios da seleção div ina de Abraão, Isaac, Jacó, Faraó – e as nações que eles

representam – para assinalar que Deus escolhe e que Deus tem o direito de escolher como lhe apraz. Porém, isto é diferente do que dizer que a

passagem defende a v isão de que Deus escolhe indiv íduos específicos para a salvação.

[6] W. W. Klein, The New Chosen People. A Corporate View of Election (O Novo Povo Escolhido. Uma Visão Corporativa da Eleição (Grand

Rapids: Zondervan, 1990; Eugene, OR: Wipf and Stock, 2001).

[7] Sobre a escolha div ina de indiv íduos no Velho Testamento, veja G. Quell e G. Shrenk, verbete “εκλέγομαι,” TDNT 4 (Grand Rapids: Eerdmans,

1967): 152-59.

[8] É claro, alguns estudiosos sustentam varias v isões do pré-conhecimento de Deus que não são tradicionais. Por exemplo, alguns contendem que

Deus não conhece as ações futuras das criaturas que têm livre-arbítrio, desde que não existe nada a ser conhecido até que aquelas ações ocorram.

Veja, por exemplo, R. Rice, “Div ine Foreknowledge and Free-Will Theism” (Pré-conhecimento Div ino e o Livre-arbítrio Teísta), em C. H. Pinnock,

ed., The Grace of God. The Will of Man (A Graça de Deus. A Vontade do Homem) (Grand Rapids: Zondervan, 1989) 121-139, os various ensaios em

C. H. Pinnock, ed. The Openness of God (A Abertura de Deus) (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1994), J. Sanders, The God Who Risks (O

Deus que se Arrisca) (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1998), e G. A. Boyd, God of the Possible: A Biblical Introduction to the Open View of

God (Deus do Possível: Uma Introdução Bíblica à Visão Aberta de Deus (Grand Rapids: Baker, 2000). Embora levantem fascinantes e importantes

questões, neste ponto não podemos nos desviar dos nossos principais objetivos.

[9] John Piper, The Justification of God (A Justificação de Deus) (Grand Rapids: Baker, 1983).

[10] Em seus comentários sobre esta seção, K. Snodgrass, Ephesians (Efésios), NIVAC, (Grand Rapids: Zondervan, 1996), observa “... A eleição é

primariamente um termo corporativo. Nada em Efésios 1 foca sobre os indiv íduos; antes, o texto foca coletivamente sobre aqueles que estão em

Cristo. Isto muda a teologia. Pessoas se tornam eleitas somente no Eleito – Cristo.... Indiv íduos não são eleitos e então colocados em Cristo. Eles estão

em Cristo e, portanto, eleitos” (49). E. Best, Ephesians (Efésios), ICC (Edinburgh: T. & T. Clark, 1998) chega a uma conclusão compatível: “A eleição

e a predestinação em nossas páginas não estão relacionadas primariamente com a salvação indiv idual, mas com o propósito de Deus” (119). Para uma

visão oposta, veja P. T. O’Brien, The Letter to the Ephesians (A Carta aos Efésios), Pillar (Grand Rapids: Eerdmans; Leicester, England: Apollos,

1999), que observa: “É inapropriado, entretanto, sugerir que a eleição em Cristo é primariamente corporativa antes que pessoal e indiv idual” (99).

[11] Por isso o título do meu livro, The New Chosen People (O Novo Povo Escolhido).

[12] Para outra coleção de defesas de pontos de vista similares ao apresentado aqui (e em meu livro) veja os vários artigos em C. H. Pinnock, ed.,

The Grace of God. The Will of Man (A Graça de Deus. A Vontade do Homem) (Grand Rapids: Zondervan, 1989).

[13] No seu livro Exegetical Fallacies (Falácias Exegéticas), 2a ed. (Grand Rapids: Baker, 1996), D. A. Carson esclarece quatro sentidos no que as

pessoas querem dizer quando usam o termo ‘lógica’ (página 87 e seguintes). Eu concordo com ele que nós precisamos evitar infringir a ‘lógica’ no

sentido de proposições universais consentidas, “as ‘leis’ fundamentais da lógica, tais como a lei da não contradição e a lei do terceiro excluído...” (89).

Dado este entendimento, então, a questão não deve ser de modos ocidental ou oriental de pensar quando falamos de ‘lógica’. O que significa para

alguém afirmar que Deus deseja que todos sejam salvos e afirmar que Deus seleciona somente alguns para salvação? Isto contradiz a ‘lógica’ no

sentido abordado por Carson acima (isto é, vai contra a lei da não contradição)? Parece-me que sim, e nenhuma porção de alegações para mistérios

ou tipo de lógica não ocidental apagará essa falta de lógica. Da sua parte sobre a questão da div ina soberania e o livre-arbítrio, Carson acredita que

devemos aceitar a tensão que os próprios escritores bíblicos ou nunca sentiram ou nunca tentaram resolver. Veja D. A. Carson, Divine Sovereignty

and Human Responsibility. Biblical Perspectives in Tension (Soberania Div ina e Responsabilidade Humana. Perspectivas Bíblicas em Tensão) (Atlanta:

John Knox, 1981).

[14] Tenho tido várias oportunidades de ensinar na Ucrânia a estudantes de muitos ex-países soviéticos. Sempre me impressiona como eles são

“arminianos”; como eles intuitivamente questionam o pensamento calv inista. Sem a presunção de saber todas as questões, me pergunto se suas

experiências de perseguição – e os testemunhos de ex-membros da igreja que abandonaram a fé – os levam a concluir que as pessoas podem

Page 6: Eleição Corporativa - William W. (Arminianismo.com)

“perder” a salvação. É claro, não se pode basear teologia em experiência, mas suas experiências podem afetar como eles entendem certos textos. Os

estudiosos são menos afetados?

[15] Para perspectivas adicionais sobre questões a respeito de pressupostos de intérpretes veja W. W. Klein, C. L. Blomberg e R. L. Hubbard, Jr.,

Introduction to Biblical Interpretation (Introdução à Interpretação Bíblica) (Dallas: Word, 1993) 98-116; 138-51.