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  • 5/14/2018 Elaborar_projectos_sociais - Gl ria Perez Serrano p1-27

    II ColeccaoEducadioe Trabalho Social ~ PORTO EDITORAOirigida porProfessor Ooutor Adalberto O,as de Carvalho

    G lo ria P erez S erran o

    Elaboracao deProiectos Socia isC a s a s praticos

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    Introdu~ao

    "0 ser humano aprende na medida em que participa na descoberta e na inuencao . "E . Sabato . C o rr eia d a U n es co , Agosto, 1 9 9 0

    Actualmente estamos a viver uma epoca cheia de acontecimentos politicos,econornicos e sociais. Fazemos parte de uma sociedade industrial caracterizadapelas grandes revolucoes tecnologicas que tiveram uma enorme incidencia emtodos os dorrunios nos quais se desenvolve a vida do Homem. Esta situacao ternproporcionado novos poderes e tambern novos perigos.

    Numa sociedade em que se valoriza a eficiencia e as realizacoes concretas,quantas mais melhor, muitas vezes parece que damos mais valor as pessoas naopelo que elas "sao" mas pelo que "fazem". Neste sentido, aqueles que se dedicamao trabalho social correm 0 grande risco de frequentemente se encontraremenvolvidos na paixao de "fazer", E neste "frenesim" do fazer e sobretudo da tee-nica que vivea nossa sociedade, segundo Gonzalez Carvajal (1989:84):

    13-

    "E como se a tecnica tivesse deixado de ser um conjunto de meios para se transfor-mar num Jim em si mesma. E necessdrio chegar mais longe, mais rapidamente, aum ritmo mais vivo, nao importa aonde."

    N e ce ss id a de d a p la n ific a (:a oE necessario levar a cabo accoes concretas nas comunidades em que traba-

    lhamos, mas 0mais importante ainda e questionarmos para que, ou seja, queJinalidade pretendemos alcancar com elas. Nao nos podemos esquecer de que arealidade e melhorada nao por se fazer muito, mas por se planear uma accao sig-nificativa que propicie de forma optima a mudanca e a melhoria dessa realidade.Isto incita-nos a reflexao constante sobre 0 que fazemos, ao mesmo tempo quenos convida a repensarmos constantemente as nossas tarefas.

    Neste sentido, podemos questionar-nos: Ate que ponto analiso detalhada-mente a realidade com que trabalho? Defino previamente as finalidades e os

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    objectivos que pretendo alcancar? Reflicto sobre os pIanos, os recursos e as acti-vidades? Penso de forma continua sobre 0que faco para poder melhorar a minhaac~ao?

    Formulamos reiteradamente estas perguntas e muitas outras quando para-mos para pensar sobre a forma, 0modo, 0procedimento e 0metoda para melho-rar os nossos procedimentos. Ora, urn dos graves problemas do nosso tempo e afalta de reflexao sobre 0 que fazemos, porque parece que dedicamos poucotempo a pensar, a mais nobre tarefa do ser humano, a mais especffica e peculiar.Nao existe uma unica resposta a razao pela qual nao dedicamos mais tempoa reflexao, dado que as causas tambern nao sao iinicas, mas multiplas e variadas.E conveniente constatar que 0Homem de fins do seculo XXe dos alvores doseculo XXIesta consumido pela voragem do "fazer": alguns especialistas denomi-naram este fen6meno como a droga da accao ou a vertigem do fazer. Neste sen-tido, Fromm (1985:15)afirma:

    "Um novo espectro anda a solta entre nos, e poucos 0 viram com clareza. Nao setrata do velho Jantasma do comunismo ou do Jascismo, mas de um novo espec-tro: uma sociedade completamente mecanizada, dedicada a maxima producao eao maximo consumo de materiais e dirigida por mdquinas computorizadas. (... Jo proprio Homem, bem alimentado e divertido, embora passivo, apagado epouco sentimental, esta a transJormar-se numa parte da maquinaria total."

    -14 Tra~os q ue c ara cteriza m a s oc ieda de a ctu alOs traces que se valorizam na sociedade actual poem a claro urn tipo de

    homem que sente paixao pela eficacia, pela produtividade, aspiracao muitonobre que pode ocultar no ser humano a incapacidade de se enfrentar e de sededicar a cultivar outros valores. Deste modo, deixa-se pouco tempo para 0 lazerformativo, tempo de gratuidade, para 0 fomento e desenvolvimento dos valorespessoais e sociais que nao tern como fim ultimo a eficacia e a produtividade, masa busca de urn maior desenvolvimento da pessoa e da sociedade.

    Como grandes traces que caracterizam a sociedade actual destacamos, comMarafion (1992:8),os seguintes:

    1.0 Homem tern cada vez mais 0 sentimento profundo e firme de que con-trola 0 seu presente e 0 seu futuro e ao mesmo tempo 0mundo. Isto leva-oa sentir que nao existem limites para 0ser humano.oHomem acredita num progresso ilimitado e, a partir desta conviccao, tomadecisoes que reaImente 0 colocam na perigosa situacao de "se endeusar",Este novo 6pio do povo que e a fe no progresso cria uma situacao de gravedificuldade para 0 desenvolvimento equilibrado do ser humano e da socie-dade em que elevive.

    2. 0 crescente desequilfbrio entre ricos e pobres. Isto e mais evidente entrenacoes, mas tambem acontece nas diferentes camadas de uma mesmasociedade. Fala-se de urn progresso solidario, mas a verdade e que urn

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    bloco - chamado Norte - se torna cada vez mais rico, enquanto 0 outro-chamado Sul- empobrece cada vez mais.

    3.As mudancas e inovacoes cientfficas nao sao sempre acompanhadas dereformas pohticas. Isto pressup6e 0 crescimento de suspeicoes e receios,uma vez que as grandes potencias econornicas, que tern as maiores possi-bilidades de progresso, possuem 0 controlo - embora nao de forma abertae reconhecida - sobre os pafses pequenos ou pobres que dependem delespara avancarern tecnicamente e para poderem criar a sua propria industria.

    4. Da-se urn crescimento simultaneo das formas de producao e das formas dedestruicao. Anecessidade imperiosa de materias-primas esta a levar a des-truicao continuada de ecossistemas imprescindfveis para a vida equili-brada da Natureza, e isto inclui 0Hornem, e afecta a sua futura permanen-cia na Terra. Hoje somos capazes de avancar e aperfeicoar sistemas medi-cos ou de desenvolvimento que proporcionam a todos uma vida maisdigna, mas tarnbern somos capazes de nos autodestruir com 0 arsenal dearmas atornicas e convencionais que 0progresso e os avances tecnologicosnos permitem construir e aperfeicoar.

    Isto faz com que 0Homem do seculo XXIse debata entre a ansia do progressoe 0medo relativamente ao que 0 dito progresso pode trazer a sociedade dofuturo.

    Ameta do Homem de hoje pode ser definida como "ser mais": mas, dado 0tipo de sociedade em que 0Homem se desenvolve - onde se estabelece como 1!meta "ter mais" -, esta questao torna-se uma fonte de conflito permanente para 0sujeito.

    Alguns sao de opiniao de que a crise da sociedade actual e uma crise cultural:estamos perante uma disjuncao entre os valores funcionais de ordem tecnico--economica e a realidade estetico-expressiva da cultura pos-rnoderna.

    Na obra intitulada Aprender a ser, elaborada a pedido da UNESCO, Fauredefende como tese central que 0 mais importante e conseguir que 0 Homem,mediante a educacao, aprenda a ser ele mesmo. Faure (1972:116)tarnbern afirmaque

    "a educacao, pelo conhecimento que proporciona do ambiente onde se desen-volve, pode ajudar a sociedade a tomar consciencia dos seus proprios problemase que. na condicao de dirigir os seus esforcos para a formacao de homens com-pletos, comprometidos conscientemente no caminho da sua emancipacao colec-tiva e individual. pode contribuir, em grande medida, para a transformacao ehumanizacao das sociedades".

    No campo social devemos ter em conta com que tipo de homem trabalhamose que homem queremos forrnar, pois e importante orientar os nossos esforcospara a formacao integral dos homens, como nos indica a obra da UNESCOa quefizemos alusao. Ora, no ambito social vao surgindo novas necessidades e solicita-coes, assim como novas metodologias. Por isso, e muito importante proporcionaruma formacao cada vez mais completa a todos os que se dedicam a esta linha de

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    trabalho. A sociedade actual, submetida a transformacoes constantes, torna cadavez mais necessaria a sistematizacao do trabalho diario,

    Sistematizacao: u rg en c ia e n ec es s id adeQualquer ambito de opcao e decisao da vida humana pressupoe partir de cri-

    terios previamente estabelecidos, mais ou menos explfcitos ou implfcitos, que nosproporcionam urn quadro de referencias e urn plano que nos ajuda a seleccionaralternativas.

    Nesta sociedade tao complexa, rica e dinarnica em que vivemos e necessarioestarmos preparados para realizar diversas tarefas, sem que isso implique ou pres-suponha uma dispersao pessoal. Neste sentido, sistematizar 0 trabalho que reali-zamos da-nos uma ajuda de valor incalculavel.

    Ao falarmos de Projectos Sociais, verificamos que este processo de sistemati-zacao tern de ser realizado com a participacao do conjunto dos membros implica-dos, pois sao eles os que con tam com a informacao necessaria para 0empreendere para tentar resolver os seus problemas de ambito pratico.

    o q ue en ten dem o s p or p ro jec to ?Podemos afirmar que a elaboracao de Projectos Sociais nasce como conse-

    quencia do desejo de melhorar a realidade onde estamos inseridos. Os projectospodem ser muito diferentes e variados, tanto no que toea aos objectivos como asua metodologia; todos eles tern uma caracterfstica comum que os identifica comotais. Em linhas gerais, podemos afirmar que urn projecto e urn avanco antecipadodas accoes a realizar para conseguir determinados objectivos. Deve apresentaruma unidade propria na medida em que tenta atingir determinados objectivospara cujo alcance efectivo requer uma estrutura intern a que the permita alcancaro fim proposto.

    o projecto e urn plano de trabalho com caracter de proposta que consubstan-cia os elementos necessaries para conseguir alcancar os objectivos desejaveis, Terncomo missao pre ve r, o rie nt ar e preparar bern 0caminho do que se vai fazer, para 0seu posterior desenvolvimento. Em qualquer projecto esta sempre subjacente:

    - uma descricao do que se quer alcancar, indicando com precisao a finalidadedomesmo;- uma adaptacao do projecto as caracterfsticas do meio e as pessoas que 0vaolevar a cabo;- os dados e as informacoes tecnicas para 0melhor desenvolvimento do pro-jecto, assim como instrumentos de recolha de dados;- os recursos mfnimos imprescindfveis para a sua aplicacao:- uma calendarizacao precis a para 0desenvolvimento do projecto.

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    o que e u m p ro jec to s oc ia l?Uma vez esclarecido 0 que entendemos por projecto, passaremos a precisar 0

    que se entende por social. Em sentido amplo podfamos definir esta nocao como 0processo que afecta 0 ser humano e as suas condicoes de vida, relacoes comoutros sistemas de valores, em conclusao, aquilo que contribui para a configura-cao da cultura de urn povo; este ultimo conceito e entendido tal como nos e apre-sentado por Ander-Egg (1981: 13):

    "- como aquisicao de urn conjunto de saberes e como resultado dessa aquisiciio;- como estilo de ser, de fazer e de pensar e como conjunto de obras e instituicoes;- como criacao de urn destino pessoal e colectiuo."

    Da uniao dos dois conceitos anteriores, projecto e social, nasce urn novo: "Pro-jecto Social". Este deveria contemplar fundamental mente 0 que faz referencia asnecessidades basicas do individuo, que, segundo os organismos internacionais,sao: saude, educacao, emprego e habitacao.

    Segundo Maslow, existem outros tipos de necessidades: de dignidade, de auto--estima, de reconhecimento, de seguranca, de consideracao. de capacidade deencontrar sentido para a vida e para 0mundo que nos rodeia, etc. Todas estasnecessidades sao imperiosas para 0ser humano; nao obstante, a nocao de necessi-dade varia no tempo e no espaco, consoante a cultura e a ideologia de cada povo.

    Na esteira de Ander-Egg (1989: 19): 17-"Entendemos por necessidades culturais todas aquelas que se relacionam com osprocessos de auto-realizacao e de expressao criativa. Nutrem-se, principalmente,das actividades que favorecem a aquisicao de conhecimentos e 0 desenvolvimentodo uso critico ilustrado da razdo, das que permitem 0 acesso a determinadosbens, das que favorecem a expressiio, constituindo, ao mesmo tempo formas deiniciaciio ou de desenvolvimento das linguagens criatiuas, das manifestacoesludicas e da criadio de dmbitos de encontro e de comunicaciio que favorecem avida associatiua."

    Este tipo de necessidades deve ser estudado principalmente em tres ambitos:-umgrupo;- uma organizacao ou instituicao:- uma zona ou area territorial.

    E m q ue direC t;8 0 s e o rien ta m o s p ro jec to s?Os Projectos Sociais orientarn-se para a resolucao de problemas, com 0 fim

    de tentar satisfazer as necessidades basicas do indivfduo. Neste sentido podere-mos afirmar que existe uma certa relacao entre a "fragilidade" e a carencia, porurn lado, e a responsabilidade, por outro. A responsabilidade num trabalhadorsocial aumenta ao mesmo tempo que cresce 0 poder que gera uma fragilidade

    C ET S -E P S - 0 2

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    complementar. 0 filosofo Hans Jonas, autor do Principe Responsabilite [PrincfpioResponsabilidadeJ, esclarece que a responsabilidade tern como vis-a-vis 0especf-fico,0 fragil, ou seja, em simultaneo, 0perecfvel por debilidade natural e 0 amea-cado pelos golpes de violencia que parece fazer em parte do agir humano.o filosofo chama principio a este imperativo da responsabilidade porque sesitua a cabeca de todas as obrigacoes que derivam dele em diversas areas. Masencontramo-Io envolvido precisamente num sentimento - 0 sentimento deresponsabilidade. Com efeito, somos tocados num plano fundamental - urnStirnrnung - pelo apelo que nos chega precisamente do fragil, que nos requer, quenos pede ajuda, ou seja, que nos ordena que 0 facamos crescer, que permitamos asua realizacao e desenvolvimento.

    Contemplem uma crianca que nasce: so pelo facto de estar at, obriga. 0 fragiltorna-nos responsaveis. E 0 que significa, entao, a obrigacao? Isto: quando 0 fragile urn ser humano, urn ser vivo, e confiado aos nossos cuidados, entregue a nossacustodia. Esta a nosso cargo. Algo- alguern - e confiado ao nosso cuidado. 0 serfragil conta connosco, espera a nossa ajuda e os nossos cuidados; confia em quecumpriremos a nossa palavra. Em resumo, uma promessa tacit a cria 0 vinculoentre 0 apelo do fragil e a resposta da responsabilidade. 0 vinculo de confianca efundamental. E impartante que 0 animadar sociocultural 0 potencie e 0 coloqueacima da suspeita que e 0 seu verdadeiro contrario. Esta eminentemente ligado asolicitacao, a implicacao, ao imperativo do Principia Responsabilidade.

    Esta forma de entender a responsabilidade, segundo Ricoeur (1993:3), passa 0centro do passado para 0 futuro.

    "0 apelo que vern do frdgil orienta-nos para 0futuro. Que farernos com esse ser trwfrdgil? Que fa remos por ele? Todos os exernplos defragilidade vinculados a extensaodos nossos poderes advogarn uma responsabilidade face ao futuro: do planeta, davida, da economia mundial, da comunicacao planetaria, em jim, da democracia."

    Os Projectos Sociais tentam sempre resolver uma carencia, uma necessidade eolham sempre para 0 futuro, que tentam melhorar. Par essa razao poderao serclassificados segundo a forma como tentam satisfazer a necessidade ou as necessi-dades daqueles a quem se dirigem. Na opiniao de Forni (1988: 15), podem serinventariados os seguintes:

    "1. Os que apontam para a satisfaciio directa de uma determinada carencia combase em standards socia is.Em geral, este tipo de projectos supoe uma transfe-rencia directa de recursos.

    2. Os que facilitam indirectamente a satisfaciio de uma necessidade especial,como 0estabelecimento de um infantdrio, de aulas para a terceira idade, etc.

    3. Os que introduzem novos sistemas produtivos para melhorar situacoes sociais.Um exemplo disto e a execucao de projectos dirigidos a criacao de emprego.

    4. Os que afectam a distribuiciio de rendimentos. Como exemplo caracteristicopodemos citar os projectos de reforma agrdria.

    5. Os que se prendem com situacoes que se afastam de uma normalidade social-mente definida, implicando inclusive um desuio em relacao a normalidade do

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    seu proprio grupo. Exemplo: os que se dedicam aos menores abandonados,toxicodependentes, delinquentes juuenis, etc.

    6. Os que introduzem tecnologias organizativas para produzir mudancas nassituacoes socia is. Eo caso das cooperativas de trabalho."

    Existe, pois, uma grande variedade de Projectos Sociais, definidos cada urn emrelacao com a problematic a social que representa, condicao que influi nomomento da sua elaboracao, Tal como nos diz Ander-Egg (1989: 27):

    '~ elaboracao de um projecto consiste essencialmente em organizar um conjuntode accoes e actividades a realizar que implicam 0 uso e aplicacao de recursoshumanos, financeiros e tecnicos, numa determinada area ou sector, com 0Jim dealcancar certas metas ou objectivos ."

    A elaboracao de projectos implica "sistematizar", ou seja, construir urn sis-tema para atingir uma ordem. Implica hierarquizar e articular uma serie de fac-tos, de objectos ou de ideias, aparentemente dispersos, para os poder compreen-der e interpretar melhor. Implica, alem disso, a reflexao autocritica que nos ajudea planear accoes que nos permitam obter uma maior qualidade nos nossos traba-lhos.a Projecto Social, como qualquer outro projecto, tern sempre a intencao clarade alcancar 0pretendido com a maior eficacia e qualidade. Neste sentido, e con-veniente descrever pormenorizadamente 0 processo a seguir, ter a capacidadepara preyer os passos do seu desenvolvimento, as accoes a realizar, os mecanis-mos a par em jogo, a avaliacao dos resultados obtidos, tal como os possiveisdesajustamentos no desenvolvimento do projecto.

    E conveniente que todos estes aspectos sejam previstos, na medida do possf-vel, a fim de se poder evitar consequencias posteriores que sao sempre mais diff-ceis de resolver.

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    o q ue irn plic a u rn P ro jec to S o cia l?Urn Projecto Social implica sempre:1.Uma reflexao seria e rigorosa sobre 0problema social concreto que preten-demos melhorar.

    2. Tomar consciencia das rmiltiplas necessidades existentes, das situacoes pro-blernaticas e, uma vez analisada e estudada a complexa realidade social, se 0projecto pretende ser eficaz deve escolher urn problema concreto que neces-site de solucao e, alem disso, que essa solucao se constate como possfvel.

    3. Seleccionar urn problema concreto que apresente uma solucao viavel,embora seja diffcil e custosa.

    4. Elaborar urn plano 0mais completo possfvel, sistematico e reflexivo, ou seja,cientifico.

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    5.Adapta-Io a pratica a fim de a transformar e melhorar.6. Abertura e flexibilidade na sua aplicacao. A abertura nao deve ser so enten-dida como abertura ao meio e a envolvente social, mas tambem como tendoa capacidade de gerar inovacao e mudanca.

    7. Originalidade e criatividade na elaboracao do projecto, tentando respondera necessidades concretas.8. Partir sempre da pratica, segundo a optica de quem vive 0problema, comoo vive e que possibilidades vislumbra para a sua solucao.

    Com base nestes topicos, tentaremos oferecer algumas pistas para elaborarProjectos Sociais de urn ponto de vista teorico e pratico. Nas aplicacoes praticasque realizarnos, a metodologia revelou tanto a sua validade como as suas limita-coes. Note-se que nao apresentamos urn material acabado, mas sim aberto asugestoes de todos aqueles que pretendam enriquece-lo. Nao obstante, cremos serconveniente indicar que, na medida em que sirva para ajudar a sistematizar 0 tra-balho social nos seus mais diversos ambitos, teremos alcancado 0nosso objectivo:contribuir, ainda que de forma modesta, para a realizacao, com maior precisao erigor, do trabalho social.

    Apresentamos, com esta obra, urn material destinado as organizacoes sociais,educadores, animadores socioculturais e investigadores, com 0 proposito dedivulgar 0que fomos reelaborando no nosso trabalho quotidiano, na tarefa de for-macae de animadores socioculturais. Partimos da base de que todas as nossastarefas sao educativas, na medida em que pressupoern uma melhoria do sujeitoque as realiza. Por tudo isso, a sistematizacao dos projectos que aqui apresenta-mos permitiu-nos retirar licoes concretas apreendidas da pratica nos mais diver-sos ambitns do trabalho social. Com esta obra pretendemos elevar 0 nfvel de cons-ciencia pro fissional dos trabalhadores sociais, e, ao mesmo tempo, criar lacescomuns entre todos os que se dedicam a mais nobre tarefa do desenvolvimentohumano, social e cultural, em suma, entre os que de forma desinteressada contri-buem, com humanidade, para "ajudar os outros a ser",

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    EL EM ENT O S PA R AEL A B O R A R U M PR O J ECT O

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    Introdu~ao

    A forrnulacao precisa e concreta de urn projecto exige a conjugacao harmonicade todos os passos que nos levam a prossecucao do mesmo, tanto na fase de diag-nostico de necessidades, de identificacao de objectos, de especificacao de activi-dades e do tempo de execucao, como na dos recursos de que se dispoe para levar acabo 0projecto.

    Para Espinoza Vergara (1986: 83), "a forrnulacao do projecto consiste na iden-tificacao precisa do mesmo, especificando os seus objectivos, metas, calendario deexecucao e recursos".

    Aformulacao de urn projecto exige combinar factores humanos, tecnicos e finan-ceiros para a obtencao de certos objectivos e metas que se estabelecem como hipote-ses para resolver a situacao diagnosticada dentro de urn prazo determinado. Destaforma, os criterios basicos de avaliacao sao definidos com antecedencia, em funcaoda especificacao das condicoes que devem ocorrer para que 0 projecto cumpra 0 seuproposito, 0 modelo da avaliacao fica entao determinado pelo que se pretendealcancar com a implementacao do projecto e 0 que se obtem efectivamente atravesda sua operacionalizacao, complementado com uma apreciacao de como seria 0estado da situacao se nao fosse desenvolvida nenhuma accao a tal respeito.

    Tradicionalmente, afirmou-se que formular urn projecto consiste em respon-der a uma serie de perguntas que Ander-Egg (1981: 168), a partir de urn ponto devista operativo, nos apresenta no seguinte quadro:

    23-

    S e gu nd o u m p on to d e v is ta o pe ra tiv o.p ro gra m ar u m a a c~ i!o c om p orta d ar re sp os ta a s s eg uin te s q ua std as :

    o Q U E se quer fazer N aturez a do projectoP O R Q U E se quer fazer O rigem e fundamentoP A R A Q U E se quer fazer O b jectivosQ U A N D O se quer fazer M etasO N D E se quer faz er localizaeao fisicaC O M O se quer faz er A ctividades e tarefas a realiz ar. M etodologiaQ U E M o vai faz er R ecursos h um anosC O M Q U E se vai faz er R ecursos materia is

    se vai c ustear R ecursos financeiros

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    E le m en to s p ara e la bo ra r u rn p ro je cto

    Na formulacao do projecto combinarn-se factores historicos, tecnicos e finan-ceiros com 0 fim de se alcancar os objectivos que permitam resolver as situacoesproblematicas. De urn ponto de vista operacional, consiste em ir descrevendo deforma clara, precisa e ordenada 0 caminho a seguir para resolver 0 problema parao qual tentamos procurar a melhor solucao de entre todas as que podemos consi-derar possfveis. A tarefa de forrnulacao do projecto consistira em ordenar toda ainformacao e as decisoes disponfveis, de acordo com urn esquema logico desequencia de informacao sobre 0 que se vai fazer com ele. De seguida, analisare-mos breve mente cada uma das fases arras enunciadas:

    1.Natureza do projecto. Aprimeira ideia sobre a natureza do projecto e dadapelo seu titulo. A natureza do projecto - alguns tambem a denominam demotivacao - deve ser explicada a partir dos seguintes pontos de vista:- a deflnicao da ideia central do projecto implica a caracterizacao breve daideia que representa 0 projecto, identificando 0 programa a que per-tence, a instituicao e a unidade de que depende;- a origem da ideia do projecto ou a necessidade que the deu origem:consiste em especificar se a ideia teve origem na inexistencia de urn ser-vico necessario na localidade, na insuflciencia do mesmo, na melhoriada qualidade da prestacao, da aplicacao polttica de planos especfficosou da conveniencia de promover ou acelerar algum aspecto em desen-volvimento.

    2. Pundamentacao, Especificar os antecedentes que foram detectados pelodiagnostico e a justiflcacao doutrinaria e tecnica que levou a escolha do pro-cesso que define 0projecto. E conveniente justificar os criterios que preva-leceram na determinacao da estrategia e assinalar em termos previsfveis osefeitos que tera a sua execucao nas condicoes actuais dos beneficiaries.Para completar a fundamentacao podem-se assinalar:- dados estatfsticos relacionados directamente com as necessidades que 0projecto pretende atacar;- alguns elementos que justifiquem a estrategia a seguir;- algumas previsoes sobre 0 estado futuro da situacao problematica quepretendemos resolver.

    3. Objectivos. Sao os propositos que se pretendem alcancar com a execucaode uma accao. Os objectivos devem ser claros, realistas e pertinentes.Classificaremos os objectivos como gerais e especfficos. Na elaboracao deprojectos nao e urn requisito indispensavel formular diferentes tipos deobjectivos, mas e conveniente enuncia-los de forma precisa para permitir asua compreensao.

    4.Metas. Uma meta e urn objectivo quantificado e qualificado. Formular umameta e assinalar que quantidade queremos alcancar de cada objectivo equal a sua qualidade. Tal como os objectivos, as metas tern de ser realistas ealcancaveis com os meios disponfveis.

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    5. Locallzacao. Consiste na deterrninacao bern delimit ada da area geogra-fica onde se localizara, assinalando 0 lugar especifico do seu funciona-mento. A apresentacao deve ser feita tendo em conta do is aspectos: amacrolocalizacao e a microlocalizacao,

    6.Metodologia. Expressa 0 conjunto de actividades a desenvolver, ou seja,as associacoes e os procedimentos que e necessario realizar para alcancaras met as e os objectivos propostos. Nao podemos esquecer que 0metodoe 0 caminho escolhido para a obtencao de urn fim. A apresentacao dametodologia implica a definicao de tarefas, normas e procedimentos paraa sua execucao. A descricao do processo a utilizar e apresentada identifi-cando todas as etapas que se podem considerar processos autonomos.Para levar a cabo este processo e preciso enumerar e dar uma explicacaodos diversos passos tecnicos que se devem cumprir ou das varias etapasque deve conter 0processo tecnico.A apresentacao da metodologia implica definicao das tarefas, de normas ede procedimentos para a execucao. A metodologia tenta responder a per-gunta - como se faz?

    7. Locallzacao temporal. Tambern se po de denominar calendarizacao doprojecto ou calendario das actividades. A calendarizacao do projecto servirade base para a elaboracao dos graficos de apoio, especialmente para fazer 0cronograma ou grafico de Gantt. Como indica Ander-Egg (1989: 133), "0diagrama de Gantt serve para ter uma visao do conjunto das actividades arealizar, 0momenta em que se deve iniciar e a duracao das mesmas".8. Recursos humanos. Consiste em descrever a quantidade e a qualidadedas pessoas que sao necessarias para a execucao das actividades que con-templa 0projecto e as suas responsabilidades.

    9. Recursos materiais. Sera necessario definir, entre outras coisas, as insta-lacoes, os materiais, os instrumentos e as equipas.

    10.Recursos financeiros. Sao constitufdos por dois aspectos basicos: o orca-mento e 0financiamento. A transparencia orcamental e financeira sera urnelemento muito importante para a avaliacao da sua eficiencia.

    Uma vez indicados os pressupostos previos a ter em conta para a elaboracaodos Projectos Sociais, pensamos ser conveniente apresentar 0 esquema a seguirpara a elaboracao e desenvolvimento dos mesmos. Estamos conscientes de que esteesquema nao e exaustivo, nem contempla todas as possibilidades; pretende, noentanto, indicar pistas que possam ajudar a elaboracao de projectos; pistas que, semduvida, terao de se adaptar as circunstancias e exigencias de cada caso concreto.

    Para elaborar projectos de caracter social e preciso ter em conta as seguintesfases (quadros 1 e 2):

    - Diagnosticos.- Planificacao.- Aplicacaotexecucao.- Aualiacao.

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    E le me nto s p ara e la bo ra r u rn p ro je cto

    Q u a d ro 1F ases pa ra a ela bo ra cao de urn P ro je cto S ocia l

    - D e te cta r n ec es sid ad es- E s ta b ele ce r p rio rid ad es- F u nd am e nta r 0 proj ecto- - D e lim ita r 0 p r o b l e m aDiagnost ico - L oc aliz a r 0 proj ecto

    D e t e cta r n e ce s sid a d es - R e ve r a b ib lio gra fiaInput - P re v e r a p o pu la c a o- P re v e r o s re cu rso s

    O b j ec ti vo s * Gerais* Especi f icos

    p Pl ani f ica~ i io M e to d olo g ia * Act iv idades* T ec nic as e in stru m e nto sR o q ue fa z er * D e f in ir a p o pu la ~iio0 * Id en tif ic ar a a m os traC * R e co lh a d e d a d o s* A n a lis e d e d a d o sE C a l e n d a ri z a ~ iioS R ec urs os * H u m a n o sS * M ater ia is* Financeiros0 Apl ica~ i io l - D e se nvo lv im en to d o p ro je cto

    Execu~ i io - A co m pa n ha m en to d o p ro je cto- C o ntro lo d o p ro je c to

    Aval ia~ i io - A v alia ~iio d ia qn os tic o '--o q ue f oi a lc an ca do - A v alia ~iio p ro ce ssoOutput - A v alia ~iio f in al H e la to rio f in a l n

  • 5/14/2018 Elaborar_projectos_sociais - Gl ria Perez Serrano p1-27

    lntroducao

    O uadro 2S i s te rn a tiz a c a o d o P r o je c to S o c ia l

    TempoL o caliza ltao R ecurso s

    27-