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5º FÓRUM INTERNACIONAL ECOINOVAR
1ª CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE SUSTENTABILIDADE E INOVAÇÃO
Santa Maria/RS – 9 a 12 de Agosto de 2016
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Eixo Temático: Inovação e Sustentabilidade
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM CONDOMÍNIOS: ESTUDO SOBRE A
CONSCIÊNCIA DA COLETA SELETIVA EM UM CONDOMÍNIO SANTANENSE.
SUSTAINABLE PRACTICES IN CONDOMINIUMS: STUDY ABOUT THE
CONSCIOUSNESS SELECTIVE COLLECTION IN A SANTANENSE
CONDOMINIUM.
Tainá Caroline Da Cruz Machado, Leonardo Caliari, Roberto Cardoso De Mello, Hiago Pacheco Rosa
e Jaqueline Silinske
RESUMO
Este estudo tem como objetivo analisar o gerenciamento do lixo produzido pelos condôminos
do Edifício Vivaldino Maciel em Santana do Livramento-RS. Caracteriza-se como uma
pesquisa descritiva com abordagem quali-quanti, sendo que na etapa qualitativa foram
entrevistados dois síndicos do condomínio, o atual e o da gestão anterior, e na etapa
quantitativa foram aplicados questionários referentes à temática coleta seletiva para os
moradores do condomínio. Nos resultados constatou-se que já houve uma tentativa de
implantar a coleta seletiva no condomínio, porém os problemas estruturais que demandaram
maior atenção da gestão, e a falta de um local apropriado para receber os resíduos,
acarretaram na suspensão da coleta seletiva no condomínio. Atualmente há interesse por parte
dos condôminos em uma possível reimplantação da coleta seletiva, no entanto, o fato da
estrutura do condomínio ainda não estar apta para abranger um sistema de triagem e coleta
seletiva, e o fato da própria cidade não possuir meios para efetuar as demais etapas do
processo (coleta, reciclagem, destinação final, etc.) dificulta a sua implantação.
Palavras-chave: Práticas Sustentáveis, Coleta Seletiva, Condomínios Residenciais.
ABSTRACT
This study aimed to analyze the management of the waste produced by the joint owners of the
Edifício Vivaldino Maciel in Santana do Livramento-RS. It is characterized as a descriptive
research with qualitative and quantitative approach, and in the qualitative phase were
interviewed two condominium managers, the current and the previous administration, and in
the quantitative stage questionnaires related to the theme selective collection were applied for
the residents of the condominium. The results found that there have been an attempt to
implement the selective collection in the condominium, but structural problems that required
more attention from management, and the lack of an appropriate place to receive waste,
resulted in the suspension of selective collection in the condominium. Currently there is
interest from tenants in a possible redeployment of selective collection, however, the fact that
the structure of the condominium also not be able to cover a sorting and selective collection
system, and the fact that the city itself doesn’t have the means to make the other stages of the
process (collection, recycling, disposal, etc.) hinders its implementation.
Keywords: Sustainable practices, selective collection, residential condominiums.
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1 INTRODUÇÃO
Com o crescimento populacional, a globalização e a evolução tecnológica, o ser
humano passou a consumir cada vez mais recursos, estes utilizados no seu cotidiano, gerando
o aumento de dejetos e resíduos a serem descartados, do qual se não for tomado o devido
cuidado, pode resultar em graves problemas ao meio ambiente, tais como a sobrecarga dos
aterros sanitários e também o desperdício dos recursos naturais que estão cada vez mais
extintos (HIRAMA; SILVA, 2009).
Em busca de realizar a destinação correta dos resíduos sólidos, a coleta seletiva surge
como importante programa que contribui na preservação ambiental, sendo que estimula o
exercício da cidadania, acarreta na inclusão de agentes ambientais para o mercado de trabalho,
diminui a quantidade de resíduos e, em consequência, amplia a vida útil de aterros, reduzindo
impactos negativos ao Meio Ambiente, além de poder gerar lucros (LEAL; PADILHA, 2007).
Pelo fato de produzirem grandes quantidades de resíduos, as habitações coletivas se
tornam as mais indicadas para implantação de um sistema de coleta seletiva (GUMIEL;
SOARES NETO, 2009). No entanto, apesar da sua relevância na redução dos resíduos
enviados a aterros e a valorização dos resíduos a ser reciclado, os sistemas de coleta seletiva
ainda são precários e com pouca eficácia em grande parte dos municípios, pelo fato de que
diversas cidades não possuem programas e nem estrutura suficiente para a correta destinação
final do lixo produzido em seu território (PASCHOALIN FILHO et al., 2014).
A prática da coleta seletiva depende de alguns fatores para ter êxito, é necessário que
exista sensibilização de todas as partes envolvidas, em todas as etapas do processo, desde o
momento do descarte, da armazenagem e até chegar à etapa da reciclagem, também é
necessário que se crie uma cultura de conscientização ambiental, para que os indivíduos
mudem algum de seus hábitos e costumes (PAULA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2010).
Neste contexto, o presente estudo tem como objetivo analisar o gerenciamento do
lixo produzido pelos condôminos do Edifício Vivaldino Maciel em Santana do Livramento-
RS.
A seguir é apresentado o referencial teórico sobre os temas resíduos sólidos, coleta
seletiva e coleta seletiva em condomínios residenciais; e posteriormente os procedimentos
metodológicos adotados para a realização deste estudo; e na seção posterior são discutidos os
resultados. Por fim, expõem-se as considerações finais do presente estudo.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Resíduos sólidos
Oriundo da elevação do crescimento populacional, que exige maior produção de
alimentos, e do avanço da industrialização de matérias-primas, que contribui para o seu
aumento, os resíduos sólidos tem sido alvo de muita preocupação da população mundial. Uma
vez que de acordo com Fonseca (1999), o caos originado pela elevada quantidade de resíduos
sólidos tem trazido consequências desastrosas não só para o meio ambiente, como para a
qualidade de vida da coletividade.
Conforme define a normativa 10004 da ABNT (2004), resíduos sólidos são
materiais indesejáveis para quem os descartou, resultantes de atividades da comunidade de
origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços ou de varrição.
Valle (2006) associa a proveniência dos resíduos sólidos às residências, haja vista
que nesses locais há maior incidência de descarte de restos de alimentos e embalagens. Aos
resíduos sólidos é dado vulgarmente o nome de “lixo doméstico”, sendo que no Brasil ele é
composto em média por 65% de matéria orgânica, proveniente do desperdício de alimentos,
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25% de papel; 4% de metal; 3% de vidro e 3% de plástico. Uma vez disposto em locais
impróprios, ao se decompor além de contaminar o solo com chorume, pode emitir gases de
efeito estufa e contribui para o aquecimento global e mudanças climáticas (JARDIM E
WELLS, 1995).
Assim, a conscientização acerca do processo de destinação dos resíduos sólidos
domésticos começa por meio de uma dimensão individual na medida em que cada cidadão é
responsável por depositar seus resíduos domésticos em local adequado. Porém deve ser
tratado como um problema de responsabilidade dos três âmbitos: individual, populacional e
dos poderes públicos, já que até 50 kg ou litros, tanto o lixo domiciliar quanto o lixo
doméstico são de responsabilidade do município, sendo os demais de responsabilidade do
próprio gerador (MUCELIN, BELLINI, 2008).
Além disso, para Ferreira (1995) a questão acerca da destinação final dos resíduos
ainda gera polêmica sobre a classificação de resíduos e o nível do risco que estes podem
apresentar ao meio ambiente, sendo ainda maior quando se considera que os resíduos
produzidos nas cidades estão, cada vez mais, constituídos de elementos que exigem um longo
tempo para degradar.
Em busca de possíveis alternativas para este problema, compreende-se como melhor
solução aquela na qual o meio ambiente e lucro estejam harmonizados de tal forma que não
só, as diretrizes do meio ambiente como os resultados financeiros sejam satisfatórios
(SANTOS, 2012). Neste caso, pode-se citar a implantação do processo de reciclagem, uma
vez que este, além de proporcionar ganhos financeiros e sociais, gerando trabalho e renda, e
contribuindo diretamente no âmbito ambiental para a diminuição do descarte de resíduos em
lixões e aterros (PAULA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2010).
2.2 Coleta seletiva
O fato de o consumo ser algo cotidiano e que dificilmente será interrompido, tem
despertado na população uma maior preocupação sobre o meio ambiente no que se refere ao
aumento dos resíduos produzidos, e os consequentes perigos ocasionados pelo acúmulo e má
disposição dos mesmos. No entanto tem contribuído também para que as pessoas se
conscientizem mais, a dar a destinação correta aos resíduos gerados em seus domicílios
(PASCHOALIN FILHO et al., 2014).
Neste contexto, uma forte tendência disseminada atualmente tem sido a utilização de
produtos que antes seriam jogados no lixo, na fabricação de novos objetos, e a realização da
reciclagem, considerada hoje uma das alternativas mais eficazes no processo de
desenvolvimento sustentável. Marodin, Barba e Morais (2004) defendem que com a
reciclagem, o lixo passa a ser visto como ferramenta de preservação do meio ambiente, uma
vez que contribui diretamente para a diminuição de resíduos nos lixões e aterros. No entanto
para que os resíduos possam ser reciclados, é necessário dar o primeiro passo, com a
implantação da coleta seletiva, sendo que esta engloba a participação consciente da
população, os processos de separação, descarte e recolhimento dos materiais.
Para Gumiel e Soares Neto (2009), a coleta seletiva pode ser entendida como um
sistema de recolhimento de materiais que tem a possiblidade de serem reutilizados ou
reciclados, como: papéis, plásticos, vidros, metais e orgânicos, previamente separados pela
fonte geradora. Moreira (2006) menciona que o objetivo da coleta seletiva é reduzir as
quantidades de resíduos que são descartados de maneira inadequada, mediante a utilização de
possíveis formas de reciclagem. Teixeira e Zanin (1999) apud Hirama e Silva (2009)
complementam que a coleta seletiva pode ocorrer de três formas, sendo elas:
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Coleta seletiva domiciliar – Um veículo percorre o trajeto similar ao da coleta
comum, recolhendo entre as residências, comércios, etc. os materiais previamente
separados pelos moradores e/ou proprietários;
PEVs (Ponto de entrega voluntária) ou LEVs (locais de entrega voluntária) – São
locais que apresentam condições de receber e armazenar os materiais recicláveis
levados pela população;
Catadores ou carrinheiros – São trabalhadores urbanos que recolhem de porta em
porta os resíduos sólidos recicláveis.
Para que implantação de um programa de coleta seletiva obtenha sucesso, é
necessário que os participantes estejam sensibilizados e conscientizados quanto à correta
maneira de manusear os resíduos desde ao descarte no coletor até a armazenagem, antes de
seguir para a reciclagem (PAULA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2010). Neste contexto, Hirama
e Silva (2009) mencionam a existência de uma padronização de cores para a segregação de
cada resíduo, sendo esta regulamentada pelo CONAMA 275/01, e apresentada no Quadro 1:
Quadro 1 – Determinação de cores da coleta seletiva
Cor Material
Azul Papel e Papelão
Verde Vidros
Vermelho Plásticos
Amarelo Metais
Preto Madeira
Branco Resíduos hospitalares
Laranja Resíduos perigosos
Roxo Resíduos radioativos
Marrom Resíduos Orgânicos
Cinza Resíduos não recicláveis ou misturados, ou
contaminado não passível de separação.
Fonte: Adaptado de Hirama e Silva (2009)
Sattler (2004) enfatiza que cada tipo de resíduo necessita de uma estratégia de
destinação diferente, sendo necessário aproveitá-los da melhor maneira possível e trata-los de
maneira descentralizada, ou seja, trata-los localmente e em pequenas escalas, separando os
diversos tipos de resíduos. O autor dá o exemplo dos conjuntos habitacionais, onde ele
recomenda que todos possuam recipientes para a realização da coleta seletiva, sendo no
mínimo dois: um para o lixo seco e outro para o orgânico. Em casos onde possuam diversos
tipos de resíduos, tais como plásticos, metais e vidros, estes podem ser comercializados para
cooperativas que realizam a destinação correta dos mesmos, sendo que isso pode gerar renda
para os moradores da comunidade (SATTLER, 2004).
A questão da coleta seletiva em condomínios residenciais é explanada de maneira
mais detalhada no tópico a seguir.
2.3 Coleta seletiva em condomínios residenciais
A degradação ambiental é constantemente relacionada à crescente expansão
populacional, da urbanização e da inexistência de políticas públicas de educação ambiental
aos cidadãos em relação aos resíduos sólidos gerados por eles, sendo que os volumes de
resíduos crescem de maneira significativa com o passar do tempo, e sua destinação final não é
realizada corretamente em grande parte das cidades brasileiras (LEAL et al., 2007). O
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crescimento das edificações urbanas acarreta impactos negativos ao meio ambiente e
consequentemente à qualidade de vida das pessoas, sendo que os resíduos sólidos gerados em
condomínios residenciais, se não tratados corretamente, podem se tornar um grande risco para
a sociedade como um todo (BACELO et al., 2012).
Pode-se conceituar condomínio residencial como um conjunto de pessoas que divide
uma mesma propriedade, com os mesmos deveres e direitos e que possuem como
característica principal a convivência em comunidade, pois, mesmo que cada um possua seu
próprio apartamento, todos vivem em um mesmo edifício e por isso devem tentar conviver de
maneira pacífica (PFITSCHER et al., 2009).
Conforme Gumiel e Soares Neto (2009) as habitações coletivas geram grandes
quantidades de resíduos sólidos, e por esse motivo é necessário implantar um sistema de
coleta seletiva, considerando a mudança de hábitos, cultura e costumes, para que,
possivelmente, seja realizada uma educação ambiental em conjunto, além de gerar renda e
melhorar a qualidade de vida dos moradores e da sociedade como um todo.
Implantar um sistema de coleta seletiva em um condomínio não é uma tarefa fácil,
pois são necessárias diversas etapas para conseguir maximizar resultados, minimizar custos de
implantação e conseguir atender as expectativas dos condôminos (SANTOS et al., 2007). No
total são seis etapas principais para a implantação da coleta seletiva em um condomínio,
sendo que estas etapas estão descritas no Quadro 2.
Quadro 2: Etapas da implantação da coleta seletiva em um condomínio. Etapa Descrição
1ª – Diagnosticar o grau de
conscientização dos
condôminos
Nesta etapa é analisado se os moradores do condomínio são conscientes
em relação à separação do lixo produzido, e apesar de ser considerada
por muitos uma etapa qualquer, é a mais importante de todas, pois é
aqui que se descobre se o projeto é viável para ser realizado ou não.
2ª – Caracterizar os resíduos
sólidos gerados
Identifica-se a quantidade de resíduos que são descartados por cada
condômino, dividindo-os em vidros, plásticos, metais, papéis, lixo
orgânico, dentre outros.
3ª – Capacitar os condôminos
em relação à educação
ambiental
É transmitido para os moradores a importância que a coleta seletiva tem
e sua contribuição para a qualidade de vida de todos, estimulando a
mudança de atitudes dos moradores em relação a questões sobre o meio
ambiente.
4ª – Adquirir os recipientes
para separação do lixo (coleta
seletiva)
Esta etapa toma como base o diagnóstico feito com os condôminos e as
características dos resíduos gerados, sendo que é realizado o
mapeamento do condomínio para saber o local adequado para instalar
os recipientes.
5ª – Elaborar materiais para
divulgação da coleta seletiva
Divulgação do projeto em todo o condomínio com o intuito de
estimular a participação de todos, para que cada um possa separar seu
lixo e fazer a destinação correta.
6ª – Realizar a destinação
correta dos resíduos sólidos
Após a separação do lixo é importante saber para onde ele será
recolhido, ou seja, nesta etapa é realizada uma pesquisa de mercado
para saber para onde o lixo será vendido/doado.
Fonte: Elaborado pelos autores com base em Santos et al. (2007).
Muitas vezes a coleta seletiva é iniciada de forma precipitada, sem ter realizado uma
pesquisa sobre o local onde será realizada a destinação final do lixo e também sobre o local de
estocagem temporária para os resíduos gerados (MOREIRA, 2006). Ressalta-se que, para o
sistema de coleta seletiva ter sucesso, é necessário que a população tenha consciência em
relação ao projeto e exista uma boa infraestrutura no local onde os recipientes de coleta
seletivas são instalados, além de que o lixo deve ser enviado para uma cooperativa de
reciclagem ou para um centro de separação, do qual estes realizaram a correta destinação dos
resíduos sólidos (LOURENÇO; VASCONCELOS; BARBOSA, 2013).
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Com a coleta seletiva é possível reduzir a quantidade de resíduos sólidos que são
remetidos para os aterros sanitários e a ocorrência de enfermidades devido ao
condicionamento equivocado do lixo gerado pelos condôminos (LEAL et al., 2007). Nota-se
que, possivelmente, a implantação da coleta seletiva em um condomínio residencial não seja
algo tão complexo de ser realizado, pois os gastos para esta implantação são baixos enquanto
os benefícios obtidos são enormes, considerando a relevância da realização da coleta seletiva
tanto para os moradores, quanto para as comunidades próximas ao condomínio (PFITSCHER
et al., 2009).
Depois de elaborado um referencial teórico sobre resíduos sólidos, coleta seletiva e
coleta seletiva em condomínios residenciais, no próximo capítulo será apresentado os
procedimentos metodológicos desta pesquisa.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O método escolhido para este estudo foi a pesquisa de campo, que, segundo Fonseca
(2002) se trata de investigações que, além de realizar pesquisas bibliográficas e/ou
documentais, são feitas coletas de informações junto a pessoas. É basicamente realizada
através da observação direta das ações de determinado grupo e/ou de entrevistas com pessoas
ou grupos para conseguir explicações e análises do que ocorre em determinada realidade que
é alvo do estudo (GIL, 2010). A pesquisa de campo será realizada em um condomínio
santanense, do qual buscará compreender a percepção dos síndicos e dos moradores sobre as
práticas sustentáveis adotas pelo condomínio, principalmente no que se refere à adoção de um
sistema de coleta seletiva.
Esta pesquisa é do tipo descritiva, que, de acordo com Gil (2010), tem como objetivo
caracterizar uma população ou um fenômeno pré-determinado, sendo que a sua utilização
consiste em um padrão de técnicas para coletar os dados, entre elas estão o questionário e a
observação sistemática. A abordagem será quanti-qualitativa, que, conforme Figueiredo
(2009), consiste em uma abordagem que possibilita a integração de uma análise estatística
com o estudo das relações interpessoais, fazendo com que o assunto que está sendo objeto de
estudo seja mais fácil de ser compreendido, tornando os dados mais simples de serem
interpretados.
Etapa Qualitativa: Entrevista semiestruturada seguindo um roteiro de entrevistas com
perguntas abertas elaboradas a partir dos artigos utilizados no referencial teórico. Nesta etapa
foram entrevistados o síndico da gestão anterior do condomínio, denominado S1, e a atual
síndica, denominada S2, para conhecer a opinião deles sobre a coleta seletiva em
condomínios. A partir dos dados coletados nas entrevistas, utilizou-se da técnica de analise de
dados denominada análise interpretativa, que na concepção de Severino (2007), interpretar
significa adotar uma posição em relação às ideias relatadas pela pessoa/grupo estudado,
realizando um diálogo com o mesmo com o intuito de gerar resultados a cerca de determinado
tema. No caso deste estudo, as respostas das entrevistas realizadas com os síndicos serão
analisadas e interpretadas pelos autores levando como base o referencial teórico elaborado
sobre á temática.
Etapa Quantitativa: Questionários com perguntas sobre a consciência em relação a
práticas sustentáveis e, principalmente, sobre a importância da coleta seletiva. Os
questionários foram distribuídos aos moradores do condomínio com a objetivo de identificar a
percepção deles em relação à temática. Após a obtenção dos dados, realizou-se análise por
distribuição de frequência. De acordo com Hair Jr et. al. (2005, p. 262) as distribuições de
frequência “examinam os dados de uma variável por vez e oferecem contagens das diferentes
respostas para os diversos valores da variável. O objetivo de uma distribuição de frequência é
demonstrar o número de respostas associadas com cada valor de uma variável”.
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Ressalta-se que os questionários para os condôminos e o roteiro da entrevista com os
síndicos foram elaborados com base no estudo de Gumiel e Soares Neto (2009). Após
definidos os procedimentos metodológicos deste estudo, serão apresentados e analisados os
resultados obtidos na pesquisa.
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1 Perfil sócio demográfico dos condôminos
A figura 1 a seguir apresenta os principais dados obtidos nos questionários em
relação ao perfil sócio demográfico dos 40 condôminos.
Figura 1: Perfil sócio demográfico dos condôminos
Fonte: Elaborada pelos autores
A partir da análise dos dados, verificou-se que 85% dos respondentes correspondem
ao gênero feminino. Ao que tange a faixa etária 55% está acima de 60 anos. Apesar de 33,3%
dos respondentes serem solteiros, há maior representação daqueles que alegam ser
separados/divorciados ou viúvo, com iguais 25,6% cada um. Já em relação ao nível de
escolaridade 65% dos respondentes possui ensino superior completo.
4.2 Percepção dos condôminos em relação às práticas sustentáveis
Com o intuito de conhecer a percepção dos condôminos, destinou-se a estes questões
relacionadas às práticas sustentáveis, sendo assim identificou-se que 92,5% dos respondentes
se preocupam com questões relacionadas ao meio ambiente. Procurou-se saber também em
que sexo, faixa etária e escolaridade a percepção referente às práticas sustentáveis são mais
evidentes, sendo os resultados apresentados na tabela a seguir.
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Tabela 1–Percepção ambiental de acordo com o perfil
Escolaridade
Preocupação com questões ambientais
SIM n(%) NÃO n(%) TOTAL n(%)
Ensino médio incompleto 2 (5%) 0 (0%) 2 (5%)
Ensino médio completo 7 (17,5%) 0 (0%) 7 (17,5%)
Superior incompleto 3 (7,5%) 2 (5%) 5 (12,5%)
Superior completo 25 (62,5%) 1 (2,5%) 26 (65%)
Total 37 (92,5%) 3 (7,5%) 40 (100%)
Idade
Abaixo de 20 anos 1 (2,5%) 0 (0%) 1 (2,5%)
Entre 21 e 28 anos 4 (10%) 0 (0%) 4 (10%)
Entre 29 e 36 anos 2 (5%) 0 (0%) 2 (5%)
Entre 37 e 44 anos 2 (5%) 1( 2,5%) 3 (7,5%)
Entre 45 e 52 anos 4 (10%) 0 (0%) 4 (10%)
Entre 53 e 60 anos 4 (10%) 0 (0%) 4 (10%)
Acima de 60 anos 20 (50%) 2 (5%) 22 (55%)
Total 37 (92,5%) 3 (7,5%) 40 (100%)
Gênero
Masculino 6 (15%) 0 (0%) 6 (15%)
Feminino 31 (77,5%) 3 (7,5%) 34 (85%)
Total 37 (92,5%) 3 (7,5%) 40 (100%)
Fonte: Elaborada pelos autores
Conforme os dados obtidos na Tabela 1, 62,5% dos respondentes que alegaram se
preocupar com questões ambientais possuem ensino superior completo. Em relação à idade,
essa preocupação foi percebida entre os 50% dos respondentes que estão na faixa de idade
acima de 60 anos. Essa preocupação mostrou-se mais evidente no gênero feminino, com
77,5% de respondentes, porém vale salientar que não há proporcionalidade no número de
respondentes homens e mulheres, uma vez que o número de condôminos mulheres é superior
ao número de condôminos homens.
Tabela 2 – Preocupação Ambiental x Consumo
Consumo de
produtos que
agridem menos o
meio ambiente
Preocupação com questões ambientais
SIM n(%) NÃO n(%) TOTAL n(%)
Sempre 3 (7,5%) 0 (0%) 3 (7,5%)
Quase sempre 7 (17,5%) 0 (0%) 7 (17,5%)
Ás vezes 8 (20%) 0 (0%) 8 (20%)
Nunca 19 (47,5%) 3 (7,5%) 22 (55%)
TOTAL 37 (92,5%) 3 (7,5%) 40 (100%)
Fonte: Elaborada pelos autores
Apesar da Tabela 2 apontar que 92,5% dos respondentes afirmam se importar com
questões ambientais, apenas 7,5% desses se preocupam sempre em escolher produtos que
agridam menos o meio ambiente, em contrapartida 47,5% afirmam que nunca se preocuparam
em escolher esses produtos. Ao que tange o conhecimento sobre coleta seletiva 57,5%
afirmou saber o que é, 37,5% alegou que já ouviu falar sobre o assunto e 5% não sabem o que
significa.
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Buscou-se também conhecer a quantidade de lixo produzida semanalmente pelos
entrevistados em suas residências, conforme os dados obtidos, 57,5% produz 1 saco grande de
lixo, 25% mais de um saco grande e 17,5% produz pouco menos de 1 saco. Um fato
interessante é que ao questionar a destinação dada a esse lixo produzido 60% dos
entrevistados afirmaram que separam para a coleta seletiva, no entanto ao perguntar se o lixo
era separado em orgânico e reciclável, identificou-se que somente 42,4% possuem essa
prática de separação.
Em relação aos materiais que os condôminos reutilizam com mais frequência,
podem ser citados: caixas de sapatos que são transformados por 47,5% dos respondentes em
embalagens para presentes ou em porta-objetos, e garrafas pets que são utilizados por 57,5%
dos respondentes para armazenar óleo de cozinha inutilizável.
Quando questionado para onde o lixo do município é levado, 75% dos respondentes
alegaram não saber. A fim de avaliar o conhecimento que condôminos possuem em relação
aos aterros sanitários, questionou-se se os aterros podem receber qualquer tipo de lixo,
havendo unanimidade daqueles que afirmaram que não, sendo salientado por 62,5% que o
lixo hospitalar deve ir para outro lugar e para 80% que é necessário o retorno das pilhas para
as empresas fabricantes.
4.3 A implantação do sistema de coleta seletiva no condomínio
A ampliação na quantidade de condomínios residenciais e/ou edificações urbanas
traz como consequência inúmeros impactos para o meio ambiente e principalmente no que
tange a qualidade de vida das comunidades próximas, relacionando à questão dos resíduos
que são gerados pelos condôminos e a sua destinação final (BACELO et al., 2012).
Habitações coletivas, de um modo geral, originam um grande volume de lixo, e com isso é de
suma importância a realização da coleta seletiva destes resíduos, enraizando para a população
a consciência ambiental em conjunto, além de que essas ações, possivelmente, podem gerar
lucros ao condomínio ao vender o lixo reciclado (GUMIEL; SOARES NETO, 2009).
Neste estudo buscou-se saber, por meio das entrevistas com a atual síndica (S2) e
com o sindico da gestão passada (S1), se em algum momento já houve interesse em implantar
um sistema de coleta seletiva no condomínio. Segundo o entrevistado S1, o interesse pela
coleta seletiva surgiu antes mesmo dele ser eleito para a sua primeira gestão de sindico em
2009 – 2010, quando um grupo que apoiava a sua candidatura sugeriu tal medida. Uma vez
eleito, a questão a cerca da separação do lixo foi levada aos demais condôminos que diante da
possibilidade de ganho financeiro com a venda dos resíduos inorgânicos apoiaram a
implantação, sendo esse assunto mais bem elucidado no trecho a seguir:
A sugestão de realizar a coleta seletiva do lixo partiu do grupo que apoio a
candidatura para síndico, sendo que foi feita assembleia geral e sugerido a proposta
de separação de lixo. No entanto, só foi conseguido o apoio uma vez que foi
evidenciado um possível ganho financeiro com a venda dos resíduos inorgânicos.
Recebida a autorização da assembleia geral, foram feitos diversos cartazes e enviado
mala direta para todos os moradores, notificando da decisão da assembleia da
obrigatoriedade da coleta seletiva, passível de multa caso houvesse desobediência.
Há no prédio um depósito, porém os produtos recicláveis eram recolhidos 2 vezes
por semana pelo porteiro do prédio diretamente na casa das pessoas em horários
combinados. Logo após o período de sensibilização (4 meses), foi destinado um
local ao lado do local tradicional de depósito do lixo, apenas para os lixos
recicláveis (S1).
Apesar da proposta da coleta seletiva ter dado um retorno positivo nos primeiros
anos, não houve a continuidade deste sistema, visto que havia no edifício problemas
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estruturais que demandavam maior atenção por parte da gestão. Além disso, a falta de um
local apropriado para receber os resíduos provenientes da coleta seletiva, que acabou atraindo
ratos e baratas gerando uma série de incômodos aos moradores, e também o baixo retorno
financeiro da implantação do sistema de coleta seletiva acarretaram na desistência por parte
do condomínio, conforme relato de S1.
Eu fui sindico do condomínio nas gestões 2009-2010 e 2014-2015, sendo que na
primeira oportunidade é que fizemos a coleta seletiva. Na segunda, não houve clima
para realização, pois havia problemas estruturais do prédio que demandavam mais
atenção. A administração 2011-2014 decidiu por não seguir, dado o baixo retorno
financeiro. Aliado a isso para que o retorno fosse possível, era necessário armazenar
no depósito para que houvesse um montante suficiente. O armazenamento atraiu
ratos e baratas. Acredito que a mudança na administração, aliada aos problemas já
comentados, foram decisivos para a não continuidade [...] Seriam necessários muitos
anos para que o incentivo fosse ambiental e não econômico, ou mesmo dos
incômodos da “lixeira aberta”, para a manutenção do programa. Foi feito o primeiro
passo e ele aconteceu, mas faltou um planejamento institucional para que
continuasse, acabou infelizmente sendo apenas um projeto de gestão (S1).
A tarefa de implantar a coleta seletiva em habitações coletivas é árdua, pois
necessita-se realizar uma sequência de etapas para maximizar seus resultados, minimizar os
custos para a implantação e atender os condôminos em relação as suas expectativas (SANTOS
et al., 2007). Em diversas ocasiões é dado inicio à implantação da coleta seletiva sem antes
averiguar o local para onde os resíduos serão destinados e disponibilizar um local adequado
para estocar temporariamente o lixo produzido (MOREIRA, 2006).
Na visão da atual sindica a falta de estrutura do município também é um empecilho
para que haja a coleta seletiva do lixo. A mesma alega que falta consciência sobre o assunto
por parte dos moradores, uma vez que já houve a tentativa de separação do lixo, porém por
falta de colaboração das pessoas a medida foi cancelada, como pode ser visto no trecho da
entrevista de S2.
Atualmente não é realizada coleta seletiva do lixo, pois não há estrutura no
município para isto. Houve uma tentativa de separação do lixo, mas não para coleta,
e acabou sendo cancelado, pois as pessoas não possuíam o hábito de separar o lixo.
[...] Em relação à opinião dos condôminos sobre a coleta seletiva eu não sei
responder, já que na minha gestão este assunto nunca foi colocado em pauta nas
reuniões realizadas com os moradores (S2).
Para que um sistema de coleta seletiva seja eficiente, além de haver conscientização
das pessoas envolvidas e que exista a infraestrutura necessária para a implantação, é
necessário que seja contatada uma cooperativa para a reciclagem do lixo ou um centro de
separação que realiza a correta destinação dos resíduos na cidade, pois não basta apenas
separar o lixo se o destino final do mesmo não for o ideal (LOURENÇO; VASCONCELOS;
BARBOSA, 2013).
Na opinião de S2 o fato do município não possuir estrutura para a destinação do lixo
é um fator relevante para a não execução da coleta seletiva no condomínio atualmente. Além
disso, em seu relato, a atual síndica (S2) menciona que os moradores não possuíam o habito
de separar o lixo, entretanto, como foi evidenciado na seção anterior, dos atuais moradores,
60% mencionam separar o lixo produzido em sua residência para coleta seletiva, havendo
uma divergência de opiniões entre os condôminos e a atual síndica.
Neste sentido, a fim de conhecer a opinião dos condôminos acerca deste assunto
específico, elaboraram-se duas questões, sendo que a primeira abordava diretamente a
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implantação da coleta seletiva e triagem, e a segunda questionava o interesse em participar da
coleta seletiva. Os resultados são apresentados no Quadro 3:
Quadro 3 – Opinião dos condôminos sobre a coleta seletiva Opinião sobre uma possível implantação da coleta seletiva e triagem no
condomínio
Boa ideia 38 (95%)
Não Funcionaria neste condomínio 2 (5%)
TOTAL 40 (100%)
Interesse em participar da coleta seletiva no condomínio
Sim 38 (95%)
Não 1 (2,5%)
Talvez 1 (2,5%)
TOTAL 40 (100%)
Fonte: Elaborado pelos autores
Conforme o Quadro 3, os resultados evidenciaram que 95% dos respondentes
consideraram que seria bom se houvesse a implantação de um programa de coleta seletiva e
triagem no condomínio, sendo que esta porcentagem se repetiu quando os entrevistados
manifestaram interesse em participar do programa.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo buscou-se analisar o gerenciamento do lixo produzido pelos
condôminos do Edifício Vivaldino Maciel em Santana do Livramento-RS. Nos resultados
pode-se destacar que já houve uma tentativa de implantar a coleta seletiva no condomínio, no
entanto, os problemas estruturais que demandavam maior atenção da gestão, e a falta de um
local apropriado para receber os resíduos, acarretaram na suspensão da coleta seletiva no
condomínio.
Constatou-se ao longo da pesquisa que a reimplantação de um sistema de coleta
seletiva no condomínio em estudo é parcialmente possível, já que a maioria dos moradores
demonstra interesse em participar, uma vez que esses já possuem o hábito de separar o lixo
em orgânico e reciclável. No entanto, estes dois fatores não são suficientes, pois de acordo
com os síndicos da atual e da gestão passada, a estrutura do condomínio ainda não está apta
para abranger um sistema de triagem e coleta seletiva. Além disso, o fato da própria cidade
não possuir meios para efetuar as demais etapas do processo (coleta, reciclagem, destinação
final, etc), dificulta a implantação. Vale ressaltar que os condôminos não adotaram a prática
de separação do lixo por motivos ambientais, e sim por motivos financeiros, tal fato pode ser
percebido no momento em que ambos os síndicos afirmam que o cancelamento da primeira
iniciativa se deu devido ao baixo retorno que a venda dos dejetos proporcionava.
Este estudo limitou-se a uma pesquisa quali-quanti em apenas um condomínio, do
qual foi possível verificar profundamente a questão da destinação do lixo produzido pelos
condôminos e a tentativa de implantação de um sistema de coleta seletiva no local. Neste
sentido, sugere-se para futuros estudos a realização de uma pesquisa quantitativa aplicando
questionários em um maior número de condomínios e conjuntos habitacionais, para traçar um
perfil dos condôminos, verificar se eles se importam com questões ambientais relacionadas à
coleta seletiva e se conhecem o destino final do lixo que é produzido em Santana do
Livramento-RS.
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