EFICÁCIA SIMBÓLICA E PRÁTICA MÉDICA

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O Que é Placebo?

A palavra placebo vem do latim de um texto da Bíblia cristã.

Ela apareceu em primeiro lugar no salmo 116 e foi adquirindo uma conotação científica nos dicionários ao longo do tempo.

PLACEBO Eu Vou Agradar (latim)

“Substância ou preparação inativa,administrada para satisfazer a necessidadepsicológica do paciente por medicamentos.Seu efeito depende da confiança depositada

pelo paciente na preparação que está recebendoe/ou no profissional que o indicou.”

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O Que é um Placebo

Hoje, o placebo é em primeiro lugar definido como uma substância inerte ou inativa, a que se atribui certas propriedades (como as de cura de uma doença) e que, ingerida, pode produzir um efeito que suas propriedades não possuem.

O placebo não existe apenas em forma de uma substância. Uma ‘cirurgia espiritual’, até que não se prove que ela genuinamente tenha acontecido, pode ser um placebo.

As chamadas terapias alternativas, como os florais, os cristais, a radiestesia e muitas vezes a própria psicoterapia ainda são consideradas por uma grande parte da ala científica como um placebo.

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O Que é um Placebo

O uso do placebo não está restrito à área científica ou à área das terapias alternativas:

As historias na hora de dormir de nossos avós (curavam as dores de seus filhos);

as orações promovendo os milagres (cura pela fé); E os remédios, que mesmo sendo fabricados com

uma fórmula teoricamente capaz de combater determinada doença, podem, por erro de fórmula não curar determinada doença, mas tomados para esse fim, podem ainda assim agir como um placebo.

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A eficácia dos placebos na pesquisa farmacológica

ESTUDO DUPLO-CEGO Pacientes são aleatoriamente distribuídos

em dois grupos, um dos quais receberá o medicamento a ser testado e o outro comprimidos - ou cápsulas, ou frascos, ou injeções - aparentemente idênticos mas sem o princípio ativo.

Cegamento grupo experimental

grupo controle

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O efeito do placebo

O nome "duplo-cego" deriva do fato que nem médicos nem pacientes sabem, até o final do experimento, quem recebe o quê. Características que evidenciem a ação do medicamento são medidas antes e depois do tratamento, e diferenças na progressão dos dois grupos são analisadas estatisticamente.

Quando um medicamento novo é submetido ao ESTUDO DUPLO-CEGO testa-se a diferença de seus efeitos contra um placebo.

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EFEITO PLACEBO POSITIVO

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Quando um Placebo é Benéfico

Um placebo pode ser especialmente benéfico quando algumas situações abaixo acontecem:

1. O médico, por observação clínica, tem de início um pré-diagnóstico da possível doença do paciente mas não deseja administrar uma droga química, devido aos efeitos colaterais indesejáveis, e então aplica um ‘remédio’ que na verdade não tem a função de curar aquela doença. O paciente toma e, acreditando estar tomando um remédio poderoso, fica livre da doença ou pelo menos dos sintomas.

2. O paciente deseja sinceramente se ver livre de alguma doença ou

problema físico e não só deposita esperança no remédio que está tomando, mas também permite que o remédio faça efeito.

3. O indivíduo, mesmo sabendo que está tomando um placebo, ainda assim deseja se livrar do desconforto físico e o próprio indivíduo, atribuem qualidades de cura ao ‘remédio’ e permite também que esse faça o efeito.

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Quando um Placebo é Benéfico

4. A simples ida ao médico, que compreende a presença do médico diante do paciente, o ritual da anamnese (coleta de dados) e da observação clínica, o toque da mão do médico na pessoa, a atenção, a roupa branca do médico, esse aparato, por si só, é passível de provocar o efeito placebo, quando o paciente manifesta melhoras, porque confia em seu médico.

5. Um placebo pode ser benéfico nos casos em que, ingerido em lugar de uma droga química, não provoca os efeitos colaterais que a droga provocaria. Existem pacientes que são sensíveis ou alérgicos a certos medicamentos, e o placebo, como uma substância inerte, não provoca efeitos colaterais.

6. Principalmente, um placebo é benéfico quando promove a cura, a melhora ou o alívio da doença.

7. Existem casos comprovados de melhora nas questões do stress e em pessoas com úlceras gástricas, verrugas, artrites e outras deficiências relacionadas ao sistema imunológico.

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Então por que a medicina "oficial" renega tanto esse efeito?

Substituição paulatina do modelo medieval, teocêntrico, de produção de verdades por uma nova lógica centrada na experimentação e na "ciência".

O modelo médico da modernidade, da causa-doença-tratamento,predomina quase exclusivo o discurso biológico

A terapêutica moderna, "científica", não supõe lugar para crenças, valores, "magia".

Todo o ritual da consulta médica(olhares, gestos, perguntas, a roupa branca) reveste-se de enorme importãncia simbólica. A crença do paciente - e do médico - nos poderes da medicina são um poderoso aliado em qualquer circunstância.

Porém, mesmo quando um efeito "concreto" é esperável, a eficácia simbólica pode ser um poderoso agente terapêutico, quer possibilitando o uso de doses menores, quer reduzindo efeitos colaterais, ou ainda garantindo a adesão dos pacientes ao tratamento proposto.

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EFEITO PLACEBO NEGATIVO

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Quando um Placebo Causa Danos

Existem riscos para o uso indiscriminado dos placebos (uso acaba evocando também a questão da ética). Por um lado, o médico não deve enganar o indivíduo, e, por outro lado, não pode furtar-se em aliviar suas dores.

1. Quando o paciente toma um placebo e sente melhora dos sintomas, mas na realidade a doença continua avançando e pode ser fatal.

2. Quando, diante de uma droga química comprovadamente eficaz para determinada, o médico opta por um placebo.

3. Alguns pacientes, relata o Dr. Brown, apresentam efeitos colaterais mesmo com um placebo. Ele não cita, porém, que efeitos seriam estes.

4. Na automedicação, quando um placebo é recomendado por um amigo ou comprado por conta própria na farmácia.

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Quando um Placebo Causa Danos

4. Na automedicação, quando um placebo é recomendado por um amigo ou comprado por conta própria na farmácia.

5. Quando a pessoa despende seu tempo, sua vida e suas economias com um tratamento tipo placebo que não é a melhor indicação para o seu caso.

6. O placebo pode não funcionar para doenças mais sérias como o câncer, para a qual seria mais indicado o tratamento tradicional.

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IATROGENIA (aquilo que deriva da intervenção médica)

Eventualmente, agravos iatrogênicos à saúde do paciente podem ser decorrentes de erros médicos, classicamente devidos a imperí cia, imprudência ou negligência.

Porém, deve levar em conta que a iatrogenia não está restrita às situações em que erros ou acidentes técnicos num sentido restrito.

Confecção da anamnese: a ênfase excessiva em determinadas funções corporais ou aspectos da história familiar podem levar à indução de sintomas, ou à criação/intensificação da ansiedade, que podem eventualmente levar ao agravamento ou mesmo desencadeamento de disfunções orgânicas.

Relação instituição médica-doença (subjetividade de ambos os pólos - médico e paciente - é negada).

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Outras práticas danosas...

Usar termos técnicos ou expressões em língua estrangeira na sua frente;

Comunicar diagnósticos (às vezes apenas suspeitos) de forma abrupta;

Dissimular - "isto vai passar, não é nada" - criam verdadeiros fossos entre médicos e pacientes;

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“Estar doente não implica perda das faculdades da razão”

Este princípio aparentemente tão óbvio é sistematicamente desconsiderado no dia-a-dia da prática médica

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Então como evitar a iatrogenia?

Num sentido absoluto talvez isso seja impossível; todo ato médico pode potencialmente afetar negativamente um paciente, e a única forma de evitar que qualquer problema ocorra é não exercer a medicina, o que, obviamente, está longe de ser uma atitude recomendável.

Como proceder então? Em primeiro lugar, admitindo-se a possibilidade de que as iatrogenias ocorram, mesmo conosco, mesmo com toda boa vontade. Outra regra é procurar sempre refletir sobre as condutas adotadas; por exemplo, perguntar-se se um dado exame é realmente necessário.

É fundamental um compromisso radical com o dever ético primordial da medicina - aliviar sempre, curar quando for possível - aliado à necessária humildade que ca racterizam em conjunto o verdadeiro terapeuta.

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Estudos conceituais e empíricos(Ir)racionalidade médica: os paradoxos da clínica

Este estudo assume como ponto de partida a produção teórica que delineou uma visão crítica da prática médica e suas relações com a sociedade.

Dividida em duas vertentes principais: uma lidando com aspectos referentes ao que se convencionou chamar medicalização e outra ligada às relações com complexo médico-industrial . ("externalidade“) algo internamente à própria prática e saber médicos

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Seria a medicina uma ciência?

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CIÊNCIA objeto de intensa polêmica

CIÊNCIA = RACIONALIDADE CIENTÍFICA

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Seria a medicina uma ciência?

A racionalidade científica caracteriza-se basicamente por ser um modo de produção de verdades mutáveis, a partir da aplicação de um método alçado à categoria de doxa, por sua imutabilidade, e que pressupõe a formulação de enunciados lógicos, preferencialmente em linguagem matemática.

Outra característica importante dessa racionalidade é a subdivisão, praticamente ao infinito, em disciplinas, isto é, domínios de enunciados científicos num cam po específico de construção de objetos de discurso.

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MEDICINA

1° Se refere tanto à prática quanto ao saber médicos

2° Não se constitui, em nenhum momento, no bloco conceitual monolítico que se supõe.

Sob o título "medicina" abrigam-se uma técnica de prospecção de queixas (anamnese), ou tra de esquadrinhamento de sinais (semiologia) e um inventário de categorias diagnósticas - "doenças" - e de seu tratamento (clínica).

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MEDICINA

Unidade básica = doença

- descricão (sinais e sintomas,

características laboratoriais e

epidemiológicas) - tratamento

(aniquilamento das doenças -

medicamentos e/ou cirurgias)

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MEDICINA

Envolve várias disciplinas:

fisiologia e a anatomia patológica (específicas) Biologia e química Epidemiologia

Ainda se subdivide em ramos ou “especialidades médicas”.

Medicina curiosa disciplina que ignora os conceitos fundamentais do próprio funcionamento.

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Três aspectos elementares do ato médico

a BUSCA pela atenção médica (como estratégia, socialmente aprendida, de eliminação ou con trole de um sofrimento);

a PRÁ TICA MÉDICA (entendida como pro cedimento padronizado de um corpo de especialistas)

e o SABER que a informa.

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Saber e prática médica e a busca pela saúde

Saber e prática médica formam um todo indissolúvel e harmônico, que tem como contrapartida a busca, individual ou coletiva, de uma ajuda especializada no combate a algum Mal.

cria fundamenta BUSCA PRÁTICA SABER

Porém, isto não é o que acontece. O conhecimento médico, originário da clínica( prática à beira do leito) migrou para os laboratórios, e médicos e pesquisadores parecem ter-se esquecido de suas origens.

Sustentação epistemológica do saber médico é determinada por dois marcos: o hospital e a necrópsia.

A verdade da doença deve ser buscada cada vez mais na intimidade microestrutural dos tecidos - especialmente nos tecidos mortos. Assim, diagnosticar passa a ser tarefa a ser realizada apesar do doente, incontrolável fonte de erros, e o saber médico torna-se então um critério científico de exclusão, a maneira correta pela qual os doentes deveriam comportar-se.

A "ciência médica" permanece como norma institucional(e como modelo ideal), e tudo que a contraria é afastado então, tudo que se refere à subjetividade é posto de lado como não científico, sendo objeto de uma "farmacologização" tão maciça quanto cega - sempre em nome da ciência.

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Sofrer e saber: subjetividade vs. objetividade, ou o confronto clínico

"Ponto de partida" da medicina = SOFRIMENTO Porém ,a relação do sofrer com o saber é bastante paradoxal: Para o paciente, a experiência da doença (sofrimento) é um fato concreto,

incapacitante de uma forma que transcende sua capacidade de autocuidado, tornando necessária a intervenção do especialista.

Para o médico, o sofrimento é irrelevante, e o paciente fonte de distorções. Sua relação dá-se com a doença, e o paciente é mero canal de acesso a ela.

O médico, apesar de procurar sempre o pólo objetivo, não está imune às contradições da subjetividade, uma vez que seu raciocínio está sujeito ao crivo de sua experiência, instância de ressituação do conhecimento "objetivo" na sua práxis.

O paciente é, por definição, INDIVÍDUO, e por isso sujeito a uma variabilidade infinita. Assim, enquanto o saber médico discursa sobre o coletivo, atua concretamente sobre o individual.

"História Natural" das doenças: pressupõe preexistência, DESCOBERTA, e não INVENÇÃO

Na coleta de dados, percebe-se que o médico passa a procurar no paciente a doença que, de antemão, já pressentia.(sinais e sintomas)

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Obrigado pela atenção!"A questão do placebo é um dos assuntos que mais fascinam e, ao mesmo tempo, mais causam controvérsias entre a classe científica. Com todo o conhecimento que a ciência hoje possui, o placebo ainda permanece um mistério e todo artigo sobre ele ainda é bastante incompleto. Seu bom ou mau uso pode significar uma vida, principalmente enquanto seus efeitos são pouco conhecidos a fundo e seu funcionamento, isto é, como realmente agem os placebos, ainda é alvo de muitas teorias, inclusive a abordagem psicológica."