EFEITOS NEGATIVOS DA PRÁTICA DESPORTIVA DE ......À minha família, pelo apoio e compreensão...

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Dissertação Artigo de Revisão Bibliográfica Mestrado Integrado em Medicina EFEITOS NEGATIVOS DA PRÁTICA DESPORTIVA DE ALTA COMPETIÇÃO EM IDADE PEDIÁTRICA Luís Filipe Ferreira Vidal Gonçalves Orientadora: Susana Paula da Silva Ferreira Pinto Porto, 2016

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Dissertação – Artigo de Revisão Bibliográfica

Mestrado Integrado em Medicina

EFEITOS NEGATIVOS DA PRÁTICA DESPORTIVA DE ALTA

COMPETIÇÃO EM IDADE PEDIÁTRICA

Luís Filipe Ferreira Vidal Gonçalves

Orientadora: Susana Paula da Silva Ferreira Pinto

Porto, 2016

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EFEITOS NEGATIVOS DA PRÁTICA DESPORTIVA DE ALTA

COMPETIÇÃO EM IDADE PEDIÁTRICA

Luís Filipe Ferreira Vidal Gonçalves1

Dissertação de candidatura ao grau de mestre em Medicina, submetida ao

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto

Orientadora: Susana Paula da Silva Ferreira Pinto2

1 Aluno do Mestrado Integrado em Medicina. Número mecanográfico: 201004885.

2 Médica especialista em Pediatria. Assistente Hospitalar Graduada de Pediatria no Centro

Materno-Infantil do Norte/Centro Hospitalar do Porto

Porto, 2016

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Agradecimentos

Embora a Dissertação de Mestrado se assuma como um trabalho individual, a sua

realização nunca seria possível sem o importante contributo de outras pessoas, a quem dedico

este espaço.

Desta forma, agradeço a quem, direta ou indiretamente, contribuiu para a concretização

desta dissertação.

À Doutora Susana Pinto, pela disponibilidade prestada na orientação deste trabalho, pelas

revisões críticas, conselhos e sugestões, e sobretudo pelo estímulo e confiança depositados.

Aos meus amigos e fisioterapeutas, Carlos Alberto e Rui Silva, por serem incansáveis e

por se prestarem a apoiar-me desde o início com os seus conhecimentos e recursos.

À Rita, pelas palavras certas na altura certa, pelo carinho e apoio, pela paciência

inesgotável, e por sempre me transmitir a força e a confiança necessárias nos os momentos mais

difíceis.

À minha família, pelo apoio e compreensão incondicional e pelo encorajamento constante

para a conclusão deste trabalho.

Por fim, aos meus amigos, pela entreajuda, pela paciência, e pela amizade que tanto

prezo.

A todos, reitero o meu apreço e o meu profundo agradecimento.

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Índice

I. Lista de Abreviaturas ........................................................................................................... 5

II. Resumo ............................................................................................................................... 6

III. Abstract ............................................................................................................................ 7

IV. Introdução ........................................................................................................................ 8

V. Discussão .......................................................................................................................... 10

1. Implicações da atividade física no crescimento, maturação e desenvolvimento ................ 10

2. Especialização desportiva precoce.................................................................................... 13

3. Consequências físicas....................................................................................................... 15

4. Consequências psicossociais ............................................................................................ 24

5. Rendimento escolar .......................................................................................................... 27

VI. Conclusão ...................................................................................................................... 29

VII. Referências Bibliográficas .............................................................................................. 31

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I. Lista de Abreviaturas

AFH Amenorreia Funcional Hipotalâmica

DMO Densidade Mineral Óssea

EDP Especialização Desportiva Precoce

FSH Hormona Folículoestimulante

GH Hormona do Crescimento (do inglês Growth Hormone)

GnRH Hormona Libertadora de Gonadotrofinas

IC Idade Cronológica

IGF-1 Insuline-like Growth Factor 1

IMC Índice de Massa Corporal

LH Hormona Luteínica

PVC Pico de Velocidade de Crescimento

SOT Síndrome de overtraining

TAF Tríade da Atleta Feminina

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II. Resumo

Introdução: O incentivo à iniciação da prática desportiva surge cada vez mais como uma

importante estratégia de promoção de saúde e combate do sedentarismo que marcam a

sociedade atual. Adicionalmente, um mundo desportivo manifestamente mais popular, rentável

e competitivo, contribuiu para o marcado progresso do desporto organizado infantil nas últimas

duas décadas. O benefício do exercício físico para o desenvolvimento biopsicossocial das

crianças é inegável. No entanto, em muitos casos, esta prática transforma-se numa atividade

precoce, excessiva e desproporcional para a faixa etária, orientando os atletas para a alta

competição e para o desenvolvimento máximo das suas capacidades. Sob o lema olímpico de

Henri Didon “Citius, Altius, Fortius” - “Mais Rápido, Mais Alto, Mais Forte”, estes atletas são

sujeitos a uma série de condições inerentes a esta atividade e que compreendem, por exemplo,

rigorosas opções nutricionais, sobrecargas horárias ou stress competitivo, nem sempre

benéficas para o seu desenvolvimento.

Objetivo: Revisão e abordagem das implicações negativas de uma prática desportiva de

alto rendimento em idade pediátrica, na sua componente física e psicossocial, e no desempenho

escolar.

Metodologia: Esta revisão baseia-se na pesquisa de artigos científicos publicados na base

de dados “PubMed” e em revistas da especialidade, e na seleção e análise detalhada dos

mesmos.

Discussão: Considerando as implicações do desporto de alta competição, o deficiente

aporte nutricional, a sobrecarga física e horária, associadas a uma atmosfera de stress e pressão

constantes constituem os principais fatores que predispõem as crianças e adolescentes aos seus

efeitos negativos. Os principais problemas desta atividade compreendem lesões a nível físico –

alterações hormonais e lesões de sobrecarga –, alterações a nível psicossocial (burnout e

isolamento social). No que respeita ao rendimento escolar, embora com as dificuldades inerentes

à conciliação das atividades desportiva e académica, os atletas não demonstram piores

resultados que os demais colegas, muito pela boa cooperação interinstitucional.

Conclusão: As crianças e adolescentes não são adultos em miniatura, mas sim seres em

plena evolução. O comprometimento deste desenvolvimento harmonioso pode condicionar

danos irreversíveis na normal constituição física e função motora, perda de independência e

autonomia, assim como comportamentos antissociais. Contudo as implicações da alta

competição tendem a não comprometer a performance académica.

Palavras-chave: Desenvolvimento pediátrico; Alta competição; Especialização desportiva

precoce; Alterações hormonais; Lesões de sobrecarga; Burnout; Rendimento escolar.

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III. Abstract

Introduction: Encouraging the initiation of sport appears increasingly as an important

health promotion strategy and combat the sedentary lifestyle that mark the current society. In

addition, a sports world clearly more popular, profitable and competitive, contributed to the

marked progress of child organized sport in the last two decades. The benefit of exercise for the

biopsychosocial development of children is undeniable. However, in many cases, this practice

becomes an early, excessive and disproportionate activity for the age group, guiding athletes to

high competition and the maximum development of their capabilities. Under the Olympic motto of

Henri Didon "Citius, Altius, Fortius" - "Faster, Higher, Stronger", these athletes are subject to a

number of conditions attached to this activity and include, for example, stringent nutritional

options, time overloads or competitive stress, not always beneficial for their development.

Purpose: Review and approach of the negative implications of an high performance sport

practice in children, in their physical and psycho-social component, and school performance.

Methods: This review is based on the research of scientific articles published in the

database "PubMed" and in speciality magazines, and its detailed selection and analysis.

Discussion: Considering the implications of the high-level sport, poor nutritional intake,

physical and time overload associated with an atmosphere of constant stress and pressure are

the main factors that predispose children and adolescents to its negative effects. The main

problems of this activity are physical injury - hormonal changes and overuse injuries -

psychosocial changes (burnout and social isolation). Regarding school performance, although

with the difficulties inherent in reconciling sports and academic activities, athletes do not show

worse results than other colleagues, much due to a good interinstitutional cooperation..

Conclusion: Children and adolescents are not mini adults, but beings evolving. The

commitment of this harmonious development can condition irreversible damage to the normal

physical constitution and motor function, loss of independence and autonomy, as well as

antisocial behavior. However the implications of high competition tend to not compromise

academic performance.

Keywords: Pediatric development; High competition; Early sport specialization; Hormonal

changes; Overuse injuries; Burnout; School performance.

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IV. Introdução

A atividade física e desportiva é parte integrante do quotidiano da sociedade atual como

evento social, cultural e económico. A mudança de século acentuou a sua importância, que se

traduziu num crescimento exponencial no número de participantes, sobretudo ao nível das faixas

etárias mais baixas, obrigando também a um desenvolvimento no desporto organizado. (1) (2)

Tomando como exemplo o caso particular de Portugal, de 2003 a 2014, o número de praticantes

desportivos federados aumentou de 376.465 para 546.348. Se nos focarmos apenas nos

participantes até ao escalão “júnior” (correspondendo, aproximadamente, aos 18 anos de idade),

o aumento foi de 185.302 para 321.204. (3)

A prática desportiva contribui de forma inquestionável para um melhor desenvolvimento

das crianças e adolescentes, pelo que deve ser promovida e incentivada. O fenómeno de

aumento de praticantes é consequência desta mesma contribuição, que passa sobretudo pelo

combate à obesidade e sedentarismo, pelo desenvolvimento músculo-esquelético saudável, pela

construção da personalidade, autoconfiança e interação social, prevenção de comportamentos

de risco (álcool, tabaco, drogas…) e outros mais que confluem num benefício da atmosfera

biopsicossocial. (4) (5) (6)

No entanto, é também evidente a influência de uma era em que a competição e o êxito

desportivo são valorizados e recompensados financeira e socialmente. Não só as crianças e

adolescentes, inspirados na imagem dos seus ídolos, mas também pais e treinadores assumem

a atividade física como meio para alcançar esse mesmo sucesso. (7) (8) (9) Assim, o desporto

jovem tem evoluído de uma atividade livre e recreativa para um meio altamente estruturado,

especificamente focado no desenvolvimento das capacidades e habilidades dos seus

praticantes. (9)

Alcançar o nível de alta competição exige esforço e sacrifício por parte de quem o

ambiciona. Algumas teorias procuram explicar os fatores necessários para atingir esta categoria.

Um ensaio realizado por Ericsson et al (1993) (10), que ficou conhecido como a “Regra das

10000 horas”, estabeleceu que um nível elevado de perícia em determinada atividade pode ser

atingido se esta for praticada desde tenra idade (antes dos 5-7 anos) num volume de 10000

horas ao longo de, pelo menos, uma década. Este estudo foi desenvolvido entre músicos ou

matemáticos, e não propriamente em atletas. (10) (11) Ainda assim, esta teoria alimenta a ideia

de ser necessária uma prática incessante e restrita a um desporto ou atividade, conduzindo

muitas vezes à chamada Especialização Desportiva Precoce (EDP).

A EDP pode ser identificada em situações onde se estabelece a prática de uma

modalidade desportiva específica, abdicando de uma experiência física variada, nos estadios

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precoces de desenvolvimento motor das crianças. É um tipo de atividade que muitas vezes

resulta em casos de treino desajustado, quer por volume excessivo, quer por modelo

inadequado, desrespeitando as etapas de evolução da própria modalidade. (12)

Os praticantes em idade pediátrica tornam-se mais suscetíveis aos efeitos negativos

desta especialização, principalmente por se encontrarem em desenvolvimento e maturação

física, psicológica e social. A exigência física e nutricional, aliada à execução de movimentos

repetitivos e característicos de uma só modalidade, constitui um agente passível de provocar no

praticante alterações hormonais (no âmbito da sua maturação), lesões de sobrecarga e

síndromes músculo-esqueléticos como Doença de Osgood-Schlatter, Doença de Sever ou

Doença de Sinding-Larsen-Johansson. (13) (14) (15) (16)

Um maior isolamento social, com sobrecarga horária e reduzidos níveis de descanso,

assim como o stress associado à competição, são simultaneamente fatores predisponentes a

problemas no âmbito psicossocial do crescimento do atleta, podendo inclusivamente atingir o

estado de burnout. (16) (17)

Há ainda a considerar o facto de estes jovens atletas a quem nos referimos serem também

estudantes. Desta forma, o rendimento escolar poderá estar em causa, tendo em conta não só

a carga horária excessiva e o stress, mas também o estabelecimento de prioridades. Isto é, o

foco no objetivo e na ambição de ser cada vez melhor no desporto pode desviar a atenção das

questões académicas. (18)

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V. Discussão

1. Implicações da atividade física no crescimento, maturação e desenvolvimento

Crescimento, maturação e desenvolvimento são três conceitos habitualmente utilizados

como sinónimos, mas que, embora relacionados, apresentam definições distintas. O

crescimento é uma atividade de domínio biológico que envolve alterações físicas mensuráveis

do tamanho corporal, ou de partes do mesmo, e da sua composição. A maturação, mais

dificilmente definida, relaciona-se com o processo de atingimento do grau de maturidade,

afetando todos os tecidos, órgãos, enzimas, funções e composição química. O

desenvolvimento representa uma noção mais abrangente, caracteristicamente englobando dois

importantes conceitos: desenvolvimento biológico e desenvolvimento comportamental. Os três

interagem entre si, e é desta interação que resulta a evolução do autoconceito, da autoestima e

do conhecimento das capacidades próprias das crianças e adolescentes. (19) (20)

No panorama desportivo, a procura de talentos é muitas vezes orientada pelas

características dos atletas, tendo em conta a modalidade em questão e o potencial do atleta. As

capacidades físicas e motoras acompanham geralmente o crescimento e a maturação. Tendo

em consideração a enorme variabilidade da escala de desenvolvimento, quando o mesmo ocorre

precocemente, geralmente constitui uma vantagem e promove uma maior tendência à seleção

desses jovens para determinada atividade. Portanto, permanecem dúvidas sobre a influência da

atividade física no crescimento e maturação, colocando-se a questão de as características de

desenvolvimento observadas nos desportistas se deverem à ação da prática em si ou à

variabilidade de um processo observada num grupo selecionado. (21) (22) (23) (24) (25)

1.1. Componente Física

Na tentativa de estabelecer uma relação sobre a influência da atividade física no

crescimento e maturação, o uso da idade cronológica como marcador, apesar de frequente,

revela-se pouco eficaz dada a grande variabilidade com que se apresentam indivíduos com a

mesma idade. Assim, é mais fiável o recurso a quatro outros parâmetros: Estatura, Pico de

Velocidade de Crescimento (PVC), Maturação Esquelética e Maturação Sexual. (26)

Os trabalhos realizados no âmbito desta temática, embora escassos, refletem uma

necessidade de distinção entre os diferentes tipos de atividade física. Isto é, o estudo da

influência da atividade física sobre o desenvolvimento biológico de crianças e adolescentes

compreende o desporto recreativo ou moderadamente praticado e o desporto de elite ou de alta

competição.

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O exercício físico quando praticado de forma adequada ao escalão etário dos indivíduos,

não interfere com o crescimento estrutural e somático, sendo que ligeiras diferenças

existentes entre grupos de atletas e não-atletas são justificáveis pela normal variabilidade deste

tipo de crescimento, como já supracitado. Também no PVC não é significativa a influência do

exercício, com a ressalva de que este parâmetro tem sido determinado com mais dificuldade. A

insuficiência de dados não permite a confirmação, mas parece haver uma tendência para que o

PVC ocorra em idades ligeiramente mais tardias em praticantes de modalidades como a ginástica

ou o ballet, não havendo, no entanto, diferenças na estatura final atingida. (23) (26) (27) (28)

No que diz respeito à maturação esquelética e sexual, os estudos revelam que, à

semelhança dos parâmetros anteriormente descritos, também aqui não há influência significativa

da prática de exercício físico regular e moderado. (23) (26) (28)

Embora não sejam utilizados como marcadores de crescimento e maturação, a massa

óssea e a constituição corporal são dois parâmetros onde é notada a influência da atividade

física regular. Em comparação com os indivíduos sedentários, os jovens atletas apresentam um

aumento da massa mineral óssea, assim como uma redução da massa gorda, com consequente

aumento da magra. (26) (29) (30)

As diferenças são evidentes quando nos debruçamos sobre o desporto de alta

competição. Uma maior intensidade e carga física inerentes a este tipo de atividade estão

associadas a alterações dos marcadores de crescimento e maturação referidos anteriormente,

destacando-se a menor estatura e PVC. Esta situação é resultante de transtornos hormonais e

metabólicos que serão posteriormente aprofundados neste trabalho e que acarretam

consequências também para a massa óssea e idade da menarca (no caso das jovens atletas

femininas). Este efeito poderá estar acentuado em modalidades em que o peso é importante

para a técnica/estética (como a ginástica ou o ballet) ou para a definição de classes (desportos

de combate), aliando alta intensidade física e restrições alimentares potencialmente nocivas para

o normal crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes. (26) (27) (31) (32) (33)

1.2. Componente Psicossocial

No processo dinâmico de desenvolvimento de crianças e jovens desportistas, em conjunto

com a componente física, o processo de evolução comportamental tem uma elevada

importância.

A prática de uma atividade desportiva dá aos jovens a possibilidade de desenvolverem

capacidades comportamentais e cognitivas ou life skills, no âmbito pessoal e interpessoal. Há

uma forte influência não só na criação da própria personalidade, como também na forma como

é encarada a relação social e os problemas e objetivos de vida. Competências como a

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autoestima e o autocontrolo, a capacidade de liderança, o companheirismo e o respeito, entre

outras, contribuem para a evicção de comportamentos de risco (drogas, crime, etc.), bem como

a perspetivas futuras mais positivas em termos socioeconómicos, educacionais e de saúde

mental. (34) (35) (36) (37)

Apesar destas vantagens, quando entramos no campo do desporto de elite ou de alta

competição, as capacidades psicossociais positivas em questão são ameaçadas, predispondo

ao aparecimento de sérias consequências para os atletas, que serão abordadas neste trabalho.

(35) (36)

Outros fatores têm implicações no desenvolvimento físico e comportamental dos jovens

atletas. Fatores genéticos, ambientais e socioeconómicos podem também contribuir para a

variabilidade de resultados e influenciar as conclusões correspondentes à influência da atividade

física. (19)

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2. Especialização desportiva precoce

Como discutido anteriormente, a influência da atividade física no crescimento e maturação

de crianças e adolescentes depende do tipo de envolvimento das mesmas. Isto é, há uma

importante diferença entre a contribuição do desporto moderado e recreativo e o desporto de

elite ou de alta competição. O segundo, principal foco deste trabalho, visa o alcance de objetivos

superiores em termos desportivos e para tal os atletas estão sujeitos também a um maior nível

de exigência. Neste tipo de atividade ocorre um fenómeno denominado Especialização

Desportiva Precoce (EDP), sendo essencial perceber o que é, o que o promove e perpetua e as

suas implicações.

A definição de EDP engloba quatro itens específicos:

Idade precoce de iniciação desportiva;

Envolvimento em apenas uma modalidade;

Idade precoce de iniciação do treino focado e de alta intensidade;

Início precoce no desporto de competição. (38)

A EDP consiste, portanto, na prática intensiva e exclusiva de um desporto específico, em

idade jovem. (39)

Algumas teorias defendem que o segredo para atingir a excelência numa atividade passa

por um elevado número de horas de contacto com a mesma, pela sua prática intensa e precoce.

No entanto, estes estudos foram validados para outro tipo de atividades como a música ou a

matemática, mantendo-se a discussão sobre a sua aplicabilidade à atividade física. Outros

trabalhos evidenciam o facto de uma especialização mais tardia poder ser benéfica para o

sucesso desportivo e, da mesma maneira, para a saúde dos atletas. (1) (10) (40) (41) (42)

Com o crescimento exponencial do desporto organizado surgem também mais atletas de

elite e, por conseguinte, um aumento dos casos de EDP. As causas que justificam este fenómeno

são multifatoriais.

O sucesso desportivo é cada vez mais valorizado no quadro mundial e aqueles que o

atingem são de sobremaneira compensados financeiramente e pelo reconhecimento social.

A díade de interação pais-atletas e treinadores-atletas é também determinante para este

fenómeno. Em ambos os casos há uma forte influência quer para a iniciação desportiva, quer

para a especialização precoce, sendo que os treinadores parecem ter um papel mais

preponderante para a intensificação do treino numa só modalidade. (8) (9) Estas situações advêm

da procura de investimento em jovens que poderão trazer no futuro uma oportunidade de

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sucesso e compensação financeira, assim como das situações em que pais e treinadores veem

refletidos nos jovens atletas os seus próprios objetivos incumpridos. (2) (7) (43)

A alta competição exige muito tempo, esforço e dedicação. Os atletas cumprem, desde

muito cedo, esquemas e modelos rígidos de trabalho, comportamento e nutrição, muitas vezes

discordantes com a sua motivação. (44)

A tentativa de atingir um nível de excelência no desporto através da EDP muitas vezes

descura aspetos indispensáveis ao bem-estar das crianças e adolescentes, colocando-os, assim,

numa posição mais vulnerável aos efeitos negativos da atividade de elite.

Atualmente persiste a discussão na procura de se estabelecerem modelos ideais de treino

adequado às diferentes modalidades e aos atletas. À luz das teorias que defendem que uma

melhor performance advém do maior tempo de contacto possível com a prática, são evidentes

os casos de sobrecarga horária. Além disto, os treinos de força são comuns na busca do

desenvolvimento máximo das capacidades físico-motoras, constituindo uma preocupação e um

risco para os praticantes em idade pediátrica. (45) (46)

Na presença da referida sobrecarga horária, existe naturalmente menos tempo de

descanso, lazer, vida social e familiar. Pela mesma razão são inerentes condições de stress e

pressão competitiva. Estas premissas estão implicadas no surgimento de consequências

sobretudo psicológicas, que serão abordadas posteriormente. (38) (47)

Outra condição geralmente associada com a EDP relaciona-se com plano nutricional.

Embora a maior parte das vezes sejam propostos regimes saudáveis e adequados às exigências

físicas, em muitas modalidades que implicam o controlo do peso (como ginástica ou desportos

de combate) podem ser negligenciadas necessidades nutricionais com comprometimento do

normal desenvolvimento dos atletas. (32) (48)

A Especialização Desportiva Precoce merece a atenção de todos os profissionais que

lidam com crianças e adolescentes, no sentido de procurar um equilíbrio entre o que é aceitável

e benéfico para o desenvolvimento desportivo minimizando os efeitos negativos para o atleta, a

nível físico e psicossocial. (39)

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3. Consequências físicas

Cerca de um terço das lesões verificadas em jovens ocorrem no contexto da prática

desportiva, sendo mais comum o seu aparecimento em adolescentes em comparação com as

crianças, tendo em conta a fase de desenvolvimento pubertário em que se encontram. (49) (50)

Abordando especificamente as consequências físicas negativas da prática desportiva de

elite, destacam-se dois principais problemas: as alterações hormonais e as lesões de

sobrecarga.

3.1. Alterações hormonais

Os atletas de alta competição em idade pediátrica, sobretudo na fase pubertária,

experimentam períodos importantes de crescimento e maturação óssea e sexual, sendo que a

ativação fisiológica e complexa interação entre os eixos Hormona do Crescimento (GH) –

Insuline-like Growth Factor 1 (GH/IGF-1), Hipotálamo - Hipófise - Adrenal (HHA) e também

Hipotálamo Hipofisário Gonadal desempenha um papel fundamental nesta adaptação. (26) (51)

(52)

3.1.1. Hormona do Crescimento e estatura

A hormona do crescimento e o seu eixo interagem ativamente com a prática de exercício

físico. Como já analisado anteriormente, a atividade física estimula a sua produção e, por

conseguinte, os seus efeitos no crescimento e maturação dos indivíduos. (53)

No entanto, para níveis de intensidade como os observados no desporto de alta

competição, são discutidas alterações na GH, no peptídeo IGF-1, no normal funcionamento do

eixo e as devidas consequências na estatura dos atletas. Os ensaios realizados reforçam ainda

mais esta discussão, tendo em conta os diferentes resultados apresentados, para os valores de

IGF-1 em comparação com não atletas ou atletas de atividades menos intensas. (51) (54) (55)

(56)

A ginástica de alta competição é o paradigma da discussão sobre a estatura. É

extremamente comum observarem-se ginastas, sobretudo do sexo feminino, com estaturas mais

baixas. Este parâmetro é dependente não só da ação da GH e IGF-1, como também apresenta

influência genéticas e de outras hormonas relacionadas também com a maturação e crescimento

pubertário. Estudos prévios sobre os níveis de IGF-1 nestas atletas apontam para valores mais

reduzidos. (33) (51) (55) (56) Pelo contrário, outros autores defendem que a alta intensidade da

modalidade não tem influência sobre a estatura final geneticamente definida, apenas afetando a

massa corporal. (52) (57) (58)

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A explicação mais admitida para a relação entre o eixo GH/IGF-1 e a prática desportiva

de alta intensidade passa pela influência do aporte energético. A síntese destas hormonas

depende de um bom suporte nutricional e energético, que muitas vezes é negligenciado no

desporto de elite e em particular em modalidades como a ginástica, o ballet ou a patinagem. A

restrição calórica em sinergismo com o overtraining contribuem para um menor efeito das

hormonas no crescimento estatural dos atletas. (51) (59)

3.1.2. Tríade da Atleta Feminina

A desregulação da síntese e efeitos das hormonas constitui um problema sobretudo

destacado para jovens atletas de alta competição do sexo feminino, acentuado pela crescente

participação das mesmas no mundo desportivo. (60) (61)

A Tríade da Atleta Feminina (TAF) foi inicialmente definida como uma síndrome clínica

caracterizada por três parâmetros concomitantes e intimamente interligados: problemas

alimentares, amenorreia e osteoporose. (62) Em 2007, uma atualização do conceito definiu a TAF

como um espectro de alterações na disponibilidade energética, função menstrual e densidade

mineral óssea, sem que os três critérios tenham que estar presentes simultaneamente. (63)

Em termos epidemiológicos, antes de 2007, os números constatados demonstravam uma

baixa percentagem de atletas (na ordem dos 1 a 4%) que apresentavam os três critérios que

compõem a tríade. Com a atualização da definição, e considerando que deixou de ser necessária

a presença simultânea dos três, a percentagem de atletas do sexo feminino que apresentam dois

dos critérios é estimada entre 5 e 27%. Este valor é ainda superior quando consideramos a

presença de um ou mais critérios, tendo sido verificado em cerca de 78%. Existe uma grande

variabilidade de valores e alguma dificuldade na sua determinação, na medida em que, com

exceção da densidade mineral óssea, a avaliação das atletas é feita através de questionários,

com o risco inerente de subjetividade. (64) (65) (66)

A especialização desportiva precoce, carga e comportamento inadequados nos treinos ou

problemas referentes à alimentação, características inerentes à prática desportiva de alta

competição, constituem exemplos de fatores de risco para o surgimento da TAF recentemente

reconhecidos. (67)

As consequências a longo prazo desta condição passam sobretudo por maior propensão

para problemas de fertilidade, lesões como fraturas, disfunção endotelial e do metabolismo

lipídico, depressão e ansiedade, assim como maior risco de mortalidade. (66) (68)

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Relativamente às disfunções hormonais presentes nesta síndrome, importa perceber de

que forma o exercício de alta intensidade influencia os três parâmetros e como estes se

relacionam entre si.

3.1.2.1. Disponibilidade Energética

Contrariando o conceito original deste critério da tríade, atualmente não é necessário que

exista exatamente um distúrbio alimentar, mas sim um desequilíbrio no aporte energético. Por

outras palavras, um balanço energético negativo pode ser resultado não só de problemas como

a anorexia ou a bulimia, mas também de um gasto de calorias superior à quantidade ingerida.

Um Índice de Massa Corporal (IMC) inferior a 17,5 kg/m2 com uma história detalhada do plano

nutricional e desportivo ajudam a perceber uma baixa disponibilidade energética, desadequada

para uma prática desportiva de alta competição. (63) (67)

Esta condição predispõe ao aparecimento dos outros problemas, inclusivamente aqueles

envolvidos nesta Tríade da Atleta Feminina.

3.1.2.2. Função Menstrual

As irregularidades da função menstrual/reprodutiva em resposta ao exercício de alta

intensidade variam na sua apresentação, num espectro que compreende a amenorreia (primária

ou secundária), oligomenorreia e anovulação, sendo a primeira a mais comummente discutida.

(69)

A Amenorreia Funcional Hipotalâmica (AFH) é o tipo de amenorreia com maior relação

com o desporto de alta competição e, consequentemente, com a TAF. A AFH caracteriza-se pela

ausência de menstruação como resultado de uma supressão do eixo hipotálamo-hipófise-ovário,

sem que tenha sido identificada alguma anomalia orgânica ou anatómica. Os efeitos negativos

decorrem de irregularidades na pulsatilidade da secreção da Hormona Libertadora de

Gonadotrofinas (GnRH), estimuladora da síntese da Hormona Luteínica (LH) e da Hormona

Folículoestimulante (FSH). (51) (66) (69) (70)

Como resultado, a função normal destas hormonas é perturbada, manifestando-se

através de alterações nos níveis de estrogénios e progesterona, com consequentes distúrbios

do ciclo menstrual acima mencionados, mas também com preocupantes riscos para a densidade

mineral óssea, que discutiremos posteriormente. (69) (70) (71)

As causas que originam as irregularidades hormonais referidas e a AFH são multifatoriais.

No entanto, é importante ressalvar que a grande maioria se relacionam com as características

do desporto de alta competição. Isto é, distúrbios do aporte energético/estado nutricional, stress,

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sobrecarga de exercício, entre outras alterações hormonais. (71) O balanço energético negativo

parece ser mesmo uma das explicações mais fiáveis, sendo a FHA uma forma de defesa do

organismo. Na prática, o sistema reprodutivo é “desligado”, dando-se prioridade a outros sistemas numa

situação de baixa disponibilidade de energia. (72)

3.1.2.3. Densidade Mineral óssea

A atualização da definição da TAF veio substituir a osteoporose pela diminuição da

densidade mineral óssea (DMO), englobando assim os problemas de osteopenia e osteoporose.

(73)

O pico de massa óssea ocorre geralmente entre os 11 e os 14 anos de idade, sendo a

menarca um sinal indicativo de ocorrência do mesmo. (66) (70) É assim percetível que problemas

hormonais nesta fase contribuam para maiores alterações na densidade mineral óssea. (51)

Estudos mostram que quanto mais tardia a idade da menarca, maior a associação com a

diminuição da DMO. (64) (74)

Este efeito justifica que as disfunções menstruais sejam a maior contribuição para a baixa

DMO presente na tríade. (75) Tanto a oligomenorreia como a amenorreia predispõem o

surgimento de estados hipoestrogénicos, semelhante aos estados de pré-puberdade. Os

estrogénios são protetores da reabsorção óssea e contribuem para o saudável crescimento

ósseo, logo, a diminuição da sua produção constitui um fator de risco para os efeitos negativos

da diminuição da DMO. (51) (66) (69)

Outras causas influenciam este critério para além da disfunção menstrual. Mais uma vez,

dos efeitos característicos do desporto de alta competição, o défice de aporte energético e

problemas nutricionais têm influência. Neste caso, é de relevância superior o papel da vitamina

D e do cálcio, atendendo à sua função na construção e manutenção da saúde óssea. (67)

As consequências a longo prazo resultantes dos baixos níveis de densidade mineral

óssea passam evidentemente pelo desenvolvimento de osteoporose e sobretudo fraturas, sendo

mais comum o surgimento de fraturas de stress. (51) (76)

3.1.3. Outras hormonas

Além dos efeitos negativos já referidos, outras hormonas surgem neste contexto, embora

subsista a investigação sobre os seus papéis. Dois dos casos são a testosterona e o cortisol,

que demonstram ter implicações na regulação neuromuscular e músculo-esquelética (com

ênfase no equilíbrio anabólico/catabólico), com particular preponderância no treino de alta

intensidade, principalmente em jovens atletas masculinos. Embora se reconheça que neste tipo

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de atividade ocorre uma modificação do basal funcionamento destas hormonas endógenas,

permanecem por clarificar as consequências a longo prazo dessa mesma desregulação. (77) (78)

3.2. Lesões de sobrecarga

As lesões desportivas podem resultar de dois tipos de mecanismo: macro e

microtraumatismo. Se o primeiro é característico de lesões agudas como entorses, contusões,

ou estiramentos, o segundo, por seu lado, está na base do desenvolvimento de lesões de

sobrecarga, também denominadas lesões por esforços repetidos. (79) São então definidas como

lesões crónicas que resultam de microtraumatismos aplicados de forma constante nos tecidos

(tendões, músculos, ossos, cartilagens) no contexto da prática repetitiva e extenuante de gestos

técnicos específicos das modalidades. Não há um momento identificável de lesão, mas sim um

desenvolvimento gradual da mesma, perpetuado por períodos de recuperação inadequados e/ou

uma execução incorreta dos movimentos. (79) (80) (81)

A incidência destas lesões é crescente, acompanhando o já referido aumento da

participação em idades mais precoces dos atletas no desporto de alta competição. A sobrecarga

é responsável por cerca de 50% das lesões desportivas verificadas em crianças e adolescentes.

(81) (82)

A lista de fatores de risco para o desenvolvimento destas lesões inclui aqueles que são

extrínsecos ou intrínsecos do indivíduo praticante de atividade física de alta intensidade. (79)

Os fatores extrínsecos e modificáveis, prendem-se sobretudo com as características da

modalidade em questão e dos programas de treino.

A prática de gestos técnicos repetitivos, por vezes de forma desadequada, num volume e

intensidade elevados, associados a um tempo de repouso desadequado, são características

inerentes à especialização desportiva e com um papel importante no surgimento de lesões de

sobrecarga. (83) (84) (85) Por serem lesões crónicas, são muitas vezes negligenciadas. Não

produzem um impacto imediato, traduzem-se por dores muitas vezes suportáveis, que fazem

com que os atletas prossigam com os movimentos, contribuindo para o agravamento da

deterioração. (86)

Os equipamentos inapropriados e ambientes desfavoráveis podem também ser

considerados fatores de risco para lesões de sobrecarga. (79) (84) (85) (87)

Os fatores intrínsecos dizem respeito sobretudo às características biológicas individuais.

Em idade pediátrica, como já discutido, os atletas encontram-se mais suscetíveis às lesões,

especialmente na prática de exercício físico de alta intensidade. Especialmente naqueles que se

encontram no pico de crescimento, as suas cartilagens, ossos, músculos e tendões são mais

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vulneráveis às alterações provocadas pelo stress constantemente aplicado. A placa de

crescimento ou placa epifisária, responsável pelo crescimento longitudinal dos ossos, e as

apófises, locais de inserção tendinosa, são áreas particularmente frágeis. (79) (80) (88) (89)

Para além da idade e estadio de desenvolvimento, também o género feminino parece

acarretar mais risco de desenvolvimento destas lesões, sobretudo pelo surgimento de disfunções

menstruais e diminuição da massa mineral óssea, como já discutido acerca da tríade da atleta

feminina. (85) (90)

Outros fatores de risco intrínsecos e não modificáveis passam por desequilíbrios posturais

ou de alinhamento, laxidão ligamentar, instabilidade articular, pouca flexibilidade ou mesmo

lesões prévias. (91) (92)

Os jovens atletas podem ser afetados por vários tipos de lesão de sobrecarga e em

diferentes regiões anatómicas. Apofisites, fraturas de stress ou tendinopatias são alguns dos

exemplos que afetam particularmente tornozelos, joelhos, cotovelos e punho, embora a anca e

a coluna vertebral sejam também áreas muito afetadas. (79) (93)

Na ausência de diagnóstico ou de cuidados adequados às lesões em causa, as

consequências podem ser críticas. Podem resultar em alterações anatómicas e estruturais das

articulações, artrite, dor persistente, fraturas graves ou paragem parcial ou total do processo de

crescimento, além de todo o condicionamento da produtividade desportiva. (79) (94) (95)

3.2.1. Apofisites

Por força da sua imaturidade esquelética, em comparação com os adultos, os atletas

jovens podem apresentar lesões nas placas de crescimento (fises), epífises e apófises. Esta

última, em particular, constitui um tipo de lesão de sobrecarga característico dos desportistas de

elite que se encontram em fase de desenvolvimento musculosquelético. (80) (93) (96)

As apófises são locais de inserção dos tendões/músculos no osso em crescimento e que,

nos jovens atletas, formam um centro de ossificação secundária, constituído por fibrocartilagem.

O desfasamento entre o desenvolvimento do sistema esquelético e de sistema

músculotendinoso, associado à relativa fragilidade destas inserções e ao constante impacto de

forças de tração, fazem das apófises um local comum de lesão. (15) (79) (80) (96) (97)

Estes microtraumatismos são passíveis de provocar inflamação e irritação das mesmas,

originando as apofisites, que posteriormente poderão resultar em fraturas ósseas por avulsão.

As apofisites, em geral, são condições autolimitadas e que resolvem com a fusão do centro de

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ossificação. Por isso, o tratamento é habitualmente conservador, com exceção dos casos mais

graves, em que pode ser necessário o recurso a cirurgia. (93) (96) (98) (99)

Os exemplos mais comummente observados deste tipo de lesões são a Doença de

Osgood-Schlatter, a Doença de Sinding-Larsen-Johansson e Doença de Sever.

3.2.1.1. Doença de Osgood-Schlatter

A Doença de Osgood-Schlatter é a lesão de sobrecarga mais comum entre os jovens

atletas. (99) Consiste numa apofisite do tubérculo tibial resultante de forças de tração provocadas

pelas contrações repetitivas do músculo quadríceps. (93) (97)

Habitualmente surge entre os 11 e os 15 anos de idade, sendo mais comum entre os

praticantes masculinos de atividades desportivas que envolvem corrida, saltos, rápidas

mudanças de direção ou remates. (97) (100) Em 30% dos casos é bilateral. (100) Clinicamente

manifesta-se por dor no joelho afetado, que pode ser intermitente ou constante, associada a

edema da tuberosidade. (97) (100)

O tratamento conservador, que inclui repouso e o possível uso de anti-inflamatórios não

esteroides é geralmente suficiente para a sua resolução. A cirurgia é reservada para os casos

refratários e graves. (85) (99) (100)

3.2.1.2. Doença de Sinding-Larsen-Johansson

Também conhecido como Apofisite Inferior da Rótula, trata-se de uma patologia que se

desenvolve num processo semelhante ao da Doença de Osgood-Schlatter, embora menos

frequente. É resultado de forças excessivas exercidas pelo tendão rotuliano sobre a zona inferior

da própria rótula. (100) (101)

Jovens atletas entre os 10 e os 14 anos são principalmente afetados, sobretudo quando

envolvidos em desportos que impliquem cargas resultantes do movimento extensor da perna. Os

sintomas são também a dor e o edema local, com elevado prejuízo funcional. (93) (97) (101)

Habitualmente é uma condição autolimitada, com o método de tratamento semelhante à

patologia anteriormente abordada. (97) (101)

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3.2.1.3. Doença de Sever

A Doença de Sever ou Apofisite do Calcâneo é a segunda lesão de sobrecarga mais

comum e a principal causa de dor no calcanhar de jovens atletas de alta competição. Origina-se

a partir de microtraumatismos na inserção do tendão da Aquiles. (15) (97) (102)

É mais comum em rapazes entre os 9 e os 12 anos, especialmente praticantes de

modalidades com frequente contração dos músculos gastrocnémio e solear, e envolve ambos os

calcâneos em cerca de 60% das situações. (93) (102) A apresentação típica é de dor e edema

locais, com comprometimento da marcha. (103) (104)

Pausa desportiva, reabilitação e uso de anti-inflamatórios são habitualmente suficientes

para a resolução desta condição. (80) (99) (103)

3.2.2. Fraturas de stress

As fraturas de stress representam uma fração importante das lesões de sobrecarga entre

os jovens atletas de elite. O sexo feminino é especialmente afetado, muito pelos efeitos

hormonais abordados anteriormente e que predispõem as atletas a estes danos. Apesar do vasto

leque de regiões anatómicas afetadas, a maior parte das fraturas de stress surgem nos membros

inferiores, particularmente na tíbia, tarsos e metatarsos. (105) (106)

A remodelação óssea surge em resposta à carga constante e repetitiva exercida. No

entanto, um desequilíbrio entre a reabsorção e a formação óssea propicia o aparecimento de

microfraturas que culminam em fraturas de stress. (97) (106) (107)

Clinicamente manifestam-se por dor agravada pela atividade física e que pode persistir

durante o repouso, dor à palpação e edema. Alguns testes podem ser realizados para obter o

diagnóstico, mas a imagiologia tem um papel fundamental no mesmo. (105) (106) (107)

O diagnóstico precoce é importante para o sucesso do tratamento. Habitualmente este é

feito de modo conservador com repouso e analgesia, sendo o regresso à atividade feito de uma

forma progressiva. Há especial atenção na adolescência devido ao sistema esquelético ainda

imaturo, o que pode resultar em alterações estruturais e progressão para fraturas completas. (97)

(105) (107) Nos casos refratários ao tratamento conservador deve procurar-se uma abordagem

cirúrgica. (106)

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3.2.3. Outras lesões

As fises e epífises, da forma semelhante às apófises, são também áreas propensas a

lesões de sobrecarga, como são exemplo as denominadas Little Leaguer’s Shoulder (Epifisite

umeral proximal) e Gymnast’s Wrist (Epifisite radial distal). (108)

Tendinopatias surgem como lesões de sobrecarga mais frequentemente em adultos do

que em crianças e adolescentes, devido à maior fragilidade da apófise em relação ao tendão,

como já discutido previamente. (93) Tendinites e tendinoses podem surgir, sendo as mais

comuns o Jumper’s Knee (Tendinite Rotuliana), Tendinite do Aquiles e Tendinite da Coifa dos

Rotadores. (79) (93)

A espondilólise define-se como um defeito ósseo no istmo vertebral (pars interarticularis),

uni ou bilateral. É causa comum de queixas de dor lombar em crianças e adolescentes atletas,

apresentando-se como um tipo particular de fratura de stress, comum em atividades que

envolvem hiperextensão ou rotação da coluna lombar (ginástica, natação, dança, etc.). Este

problema torna mais provável o deslizamento anterior dos corpos vertebrais sobre os segmentos

mais caudais (espondilolistesis), perpetuando a dor e suscitando outras consequências como a

degenerescência discal, radiculopatias, alterações posturais e motoras. (109) (110)

Os escalões etários jovens são, sem dúvida, os mais afetados pelas lesões ao nível físico.

A imaturidade do seu sistema esquelético, aliada às implicações já discutidas da prática

desportiva de alta competição, promove o aparecimento de danos que não se encontram ou

surgem em muito menos número nos adultos. (49)

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4. Consequências psicossociais

Como já discutido anteriormente, embora o desporto contribua para o saudável

desenvolvimento dos atletas, a atividade de alta intensidade e as suas implicações colocam as

crianças e adolescentes numa posição vulnerável ao surgimento de problemas não só físicos,

mas também do foro psicológico e social. Ser um atleta de alto rendimento obriga a um intenso

desgaste físico, mas a capacidade mental é igualmente necessária para suportar as suas

exigências.

A sobrecarga horária implica não só uma maior exposição a possíveis lesões físicas,

como também retira às crianças e adolescentes tempo livre, com necessidade de estes

abdicarem de atividades próprias de lazer e relacionamento social. Da mesma forma, alta

intensidade de treinos e competições provoca desgastes físico e mental que necessitam de

recuperação e nutrição adequadas, por vezes negligenciadas. (38) (40) (79) (111) (112)

As expectativas de bons resultados e a pressão social da família, treinadores e clube

coloca os atletas sob elevado stress, com total foco nos objetivos competitivos, perdendo-se

assim o sentido recreativo do desporto, com o risco de diminuir a motivação de quem o pratica.

Além disto, a alta competição cria ilusões e sonhos nos próprios praticantes, muitas vezes

obrigando-os a lidar com o insucesso. (38) (79)

Estes fatores desgastantes são motivadores do surgimento de problemas como

overtraining, burnout, assim como de isolamento social e comprometimento de um saudável

desenvolvimento de personalidade e identidade que se poderão refletir na vida adulta. (38) (111)

(112) (113)

4.1. Overtraining e Burnout

A síndrome de overtraining (SOT) e o burnout fazem parte de um espetro de problemas

resultantes do efeito deletério das pressões do desporto de alta competição.

O SOT advém de um desequilíbrio entre o desgaste suportado e a capacidade de

recuperação, com depressão da performance desportiva associada, ou não, a sinais e sintomas

fisiológicos e psicológicos, cuja recuperação pode durar meses. (113) (114) Embora exista uma

grande relação com a sobrecarga física e horária, esta condição não é o único fator

desencadeante, reforçando a ideia de que se trata de uma etiologia multifatorial e a importância

da avaliação de outras condições passíveis de fomentar a acumulação de stress e desgaste.

(114) (115)

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O burnout surge como o uma situação de resposta ao stress crónico. Define-se como

uma síndrome psicológica caracterizada pela exaustão emocional e física dos atletas,

desvalorização desportiva e sensação de não-realização. (116) (117) (118) Há uma perda de

motivação para a prática de uma atividade outrora entusiasmante, e uma sensação de pressão

e perda de controlo emocional, resultantes de uma incapacidade de resposta, principalmente, às

exigências mentais do desporto de alta competição. (113) Algumas características pessoais são

fatores que contribuem para a maior incidência desta condição, entre elas a ansiedade e baixa

autoestima, o perfecionismo ou a necessidade de agradar a outros. (87) (119)

Ambas as situações apresentam sinais e sintomas comuns, sendo a ansiedade, fadiga,

depressão, perda de apetite ou perturbações do sono, alguns dos exemplos. (87)

Para alguns autores, o overtraining é considerado precursor do burnout. (87) (113) No

entanto, outras abordagens defendem que podem consideradas situações paralelas, com o SOT

mais relacionado com desequilíbrio stress/recuperação no seu componente físico, e o burnout

com a componente psicológica/emocional. (113) (120)

4.2. Desenvolvimento Social

O exercício físico em geral permite o convívio entre atletas e promove o saudável

desenvolvimento da personalidade e valores dos mesmos.

No entanto, o envolvimento cada vez mais precoce na especialização desportiva e na alta

competição acarreta consequências naquilo que é o desenvolvimento da interação social das

crianças e adolescentes. (121)

A EDP e a ausência de experiência de diversificação das atividades físicas contribuem,

não apenas para a perda de oportunidades e aquisição de competências noutras área, como

também para um maior risco de perda de motivação para a prática contínua da mesma

modalidade. (38) (40)

As exigências da alta competição são muitas vezes um entrave à gestão do tempo que

deve ser dedicado à atividade desportiva e a momentos livres, de lazer, diversão e interação com

os pares da mesma faixa etária e com a família. A sobrecarga horária e o foco na competição

conduzem muitas vezes a um isolamento social que se repercute no desenvolvimento

comportamental, havendo inclusivamente uma tendência para comportamentos antissociais. (38)

(40) (111)

Outro dos aspetos importantes é a influência do comportamento dos treinadores e do

ambiente que criam em torno dos atletas. A positividade desta influência prende-se com aquilo

que é a orientação para a motivação dos atletas e o desenvolvimento de capacidades como a

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liderança, cooperação e resolução de problemas, importantes para o comportamento desportivo

e social. (36) (122) No entanto, os problemas surgem quando é criada uma atmosfera

egocêntrica, em que a atitude das crianças e adolescentes tenda a ser focada apenas em vencer

os outros e na demonstração de superioridade. Para além de aumentar o stress e ansiedade,

retira o fator motivação/diversão e aumenta a tendência para comportamentos conflituosos. (36)

(111)

As influências negativas do desporto de alta competição sobre o desenvolvimento

comportamental e social dos jovens atletas têm impacto na vida futura. A falta de autonomia e

independência, os comportamentos antissociais e conflituosos, as atitudes de presunção ou a

incapacidade para lidar com o insucesso são algumas das importantes consequências descritas.

(36) (111) (113)

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5. Rendimento escolar

O desporto assume uma importância cultural cada vez maior e é por isso visto como um

modo de vida futura por muitas crianças e jovens. São inúmeras as situações em que se percebe

esta tendência, principalmente quando lhes é perguntado “o que querem ser quando forem

grandes”. No entanto, só uma minoria consegue atingir estes objetivos e, mesmo para estes,

trata-se de uma profissão efémera. Assim, acentua-se a discussão sobre a necessidade de

existência de uma formação académica de base, que garanta aos atletas um meio de

sustentabilidade na vida pós-desporto.

Atualmente, permanece o preconceito de que os desportistas são indivíduos com pouca

formação, conhecido como dumb jocks ou, em português, “atletas patetas”, mas não significa

que se coadune com a realidade. (123)

Os atletas de alta competição são sujeitos a condições específicas que se revelam um

entrave à sua formação académica. Isto é, embora a aprendizagem dependa das características

pessoais de cada aluno, a atividade de alto rendimento implica uma vida dupla que nem sempre

se compatibiliza com a gestão das atividades escolares. (124) É muita a dedicação a treinos e

competições com vista a atingir a excelência, retirando espaço para outras atividades, e muitas

vezes deixando suspensa a própria vida académica. (124) (125)

Uma das principais dificuldades na conciliação da vida desportiva e académica prende-

se com a questão do tempo. Além da questão da sobrecarga horária dos treinos já referida neste

trabalho, as aulas, as viagens, porventura trabalhos de casa e estudo, fazem as 24 horas de um

dia curtas para estes atletas. (124) (125) A fadiga e o stress acumulam-se, muitas vezes por não

existir tempo suficiente para recuperação, lazer e convívio. A pressão a que estão sujeitos, quer

pelos resultados desportivos, quer pelos escolares, podem gerar ansiedade com potencial para

afetar o rendimento escolar. (124) (126) (127)

O foco apenas no desporto e desvalorização dos estudos ou falta de motivação para os

mesmos, as lesões e dores que muitas vezes afetam os atletas, assim como a falta de

cooperação entre escolas e instituições desportivas são outros fatores que influenciam a

harmonização entre alta competição e rendimento escolar. (128) (129)

No entanto, os estudos existentes não comprovam que exista uma influência negativa no

desporto de alta competição no rendimento escolar. Em geral, atletas de alta competição não

apresentam resultados pior do que os seus colegas não desportistas. (123) (124) (130) (131) (132)

A cooperação entre as instituições, com flexibilidade horária ou com marcação de exames

fora das datas de competição podem contribuir para estes resultados. (124) (133) Por outro lado,

a integração do desporto competitivo nos serviços escolares/universitários, como na antiga União

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Soviética ou nos Estados Unidos, poderá ser uma solução para ajudar a conciliar vida desportiva

e académica. (133)

As competências adquiridas pelos jovens com a sua experiência desportiva, como a

capacidade de gerir o tempo ou tomar decisões, aliadas ao apoio familiar e de treinadores,

permitem uma melhor gestão das dificuldades que a alta competição imprime na tentativa de

participação ativa na vida académica. (125) (126)

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VI. Conclusão

O exercício físico e a atividade desportiva contribuem de forma fundamental para um

saudável crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes. A fronteira entre os

benefícios e os efeitos prejudiciais do desporto é determinada pela prática de atividade física de

alta competição e pela especialização desportiva precoce. A procura desmedida de sucesso,

numa sociedade que cada vez mais valoriza os feitos desportivos, leva a um aumento

preocupante deste tipo de prática em idades precoces.

Os atletas em idade pediátrica são particularmente suscetíveis às consequências do

exercício desmedido e desadequado ao seu desenvolvimento. As características do exercício de

alta intensidade, por si só, constituem fatores de risco para problemas ao nível físico e

psicossocial.

O desadequado aporte energético desempenha um papel fundamental na etiologia das

anomalias da função do eixo da hormona do crescimento e tem especial importância na interação

com a função menstrual e densidade mineral óssea na atleta feminina. Nos atletas em pleno

desenvolvimento ósseo e muscular, a prática excessiva e repetitiva de movimentos específicos,

em associação com outros fatores extrínsecos e intrínsecos, está na base do surgimento de

lesões de sobrecarga. As fraturas de stress e as doenças musculoesqueléticas com alta

incidência nesta faixa etária podem levar a alterações irreversíveis da normal constituição

motora.

O desporto promove a saudável interação social e a aquisição de valores e capacidades

importantes para o desenvolvimento psicossocial das crianças e adolescentes. No entanto, a

sobrecarga horária, o stress, a pressão e a ansiedade gerados em torno dos atletas, facilitam a

exaustão psicológica e o isolamento social. Além de contribuir para o abandono da prática

desportiva, há uma maior tendência para o surgimento de jovens atletas em estado de burnout,

com menos autonomia e independência, associados a atitudes e comportamentos antissociais.

No que diz respeito ao rendimento escolar, apesar das dificuldades inerentes à

conciliação da atividade desportiva de elite com a vida académica, estes estudantes-atletas não

demonstram piores resultado em relação aos demais colegas, muito devido ao contributo das

boas medidas de cooperação interinstitucional.

Embora a preocupação e a atenção ao tema por parte dos investigadores sejam

crescentes, os estudos existentes são ainda escassos, fazendo com que os efeitos negativos do

desporto de alta competição em idade pediátrica permaneçam um tema não consensual. Soares

(2013) defende que, excetuando casos obviamente irresponsáveis, não existe evidência

científica destas consequências. Acrescenta ainda que, pela sua experiência profissional, os

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atletas com quem convive não deixam de ser alegres, sociáveis e bons alunos, embora tenham

uma carga horária considerável. (134)

A investigação deve seguir no sentido do desenvolvimento de medidas de prevenção,

como o acompanhamento médico e psicológico, e do reconhecimento completo dos fatores que

contribuem para estes efeitos negativos, sabendo-se que existirá sempre a influência da

variabilidade genética e ambiental.

Indiscutível é que as crianças e os adolescentes não podem ser vistos simplesmente

como adultos em miniatura, havendo necessidade de adaptar e gerir multidisciplinarmente a sua

integração em modelos de competição.

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VII. Referências Bibliográficas

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