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Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade EFEITOS DA EXPOSIÇÃO AO AGROTÓXICO NO SISTEMA AUDITIVO EFERENTE ATRAVÉS DAS EMISSÕES OTOACÚSTICAS TRANSIENTES COM SUPRESSÃO Rio de Janeiro 2012 Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Instituto de Estudos em Saúde Coletiva Doutorado em Saúde Coletiva

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Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

EFEITOS DA EXPOSIÇÃO AO AGROTÓXICO NO SISTEMA AUDITIVO

EFERENTE ATRAVÉS DAS EMISSÕES OTOACÚSTICAS TRANSIENTES

COM SUPRESSÃO

Rio de Janeiro

2012

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Ciências da Saúde

Instituto de Estudos em Saúde Coletiva

Doutorado em Saúde Coletiva

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Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

EFEITOS DA EXPOSIÇÃO AO AGROTÓXICO NO SISTEMA AUDITIVO

EFERENTE ATRAVÉS DAS EMISSÕES OTOACÚSTICAS TRANSIENTES

COM SUPRESSÃO

Tese de Doutorado apresentada ao

programa de Pós-Graduação em Saúde

Coletiva da UFRJ, como requisito

parcial à obtenção do Título de Doutora

em Saúde Coletiva.

Orientador: Prof. Armando Meyer, Dr.

Rio de Janeiro

2012

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A553e Andrade, Maria Isabel Kós Pinheiro de.

Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente

através das emissões otoacústicas transientes com supressão / Maria

Isabel Kós Pinheiro de Andrade. – Rio de Janeiro: UFRJ / Instituto

de Estudos em Saúde Coletiva, 2012.

110 f.: il.; 30 cm.

Orientador: Armando Meyer.

Tese (Doutorado) - UFRJ/Instituto de Estudos em Saúde

Coletiva, 2012.

Referências: f. 90-95.

1. Audição. 2. Praguicidas. 3. Transtornos da audição. 4. Riscos

ocupacionais. I. Meyer, Armando. II. Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva.III. Título.

CDD 617.8

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Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

i

DEDICO ESTA TESE

Ao meu amado marido, Flavio e

meus filhos, Antonio, José e Maria,

pelo apoio, força, incentivo, companheirismo e

amizade, sem isso, nada disso seria possível.

Aos meus queridos pais,

Arthur Octavio e Maria Altina,

que por uma vida de dedicação, amor e

trabalho sempre possibilitaram a seus filhos a

oportunidade de realizar sonhos e conquistas.

Aos meus queridos amigos, Patrícia e Clemente,

que sempre me deram força, me apoiaram,

meus pais “adotivos”.

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Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

ii

AGRADECIMENTOS

A Deus por me amparar nos momentos difíceis, me dar força interior para

superar as dificuldades, mostrar o caminho nas horas incertas e me suprir em todas as

minhas necessidades.

Ao meu orientador, Prof. Armando Meyer, por acreditar em mim, me mostrar o

caminho da ciência, fazer parte da minha vida nos momentos bons e ruins, por ser

exemplo de profissional e de que sempre fará parte da minha vida.

À minha família, a qual amo muito, pelo carinho, paciência e incentivo.

A Prof. Silvana Frota por sua ajuda nos momentos mais críticos, por acreditar no

futuro deste projeto e contribuir para o meu crescimento profissional e por ser também

um exemplo a ser seguido. Sua participação foi fundamental para a realização deste

trabalho.

Aos meus amigos, Ana Paula Perez e Francisco José Osterne, que fizeram parte

desses momentos, sempre me ajudando e incentivando.

Aos meus colegas de pesquisa, Tatiana Garcia, Gesiele Verissimo, Maria de

Fátima Miranda, Joana Donadio, e as alunas Janinne e Carolyne que participaram

diretamente deste trabalho, me ajudaram em todos os momentos e tornaram o trabalho

em campo mais divertido.

Aos meus amigos de Journal, Juliana Chrisman, Patrícia Boccolini, Gesiele

Verissimo, Aline Espindola, Tatiana Garcia, Ludmila Lifon, Cleber Cremonese, Róber,

que sempre estiveram do meu lado dando força e apoio.

Aos professores do IESC, em especial Volney Camara, Carmen Fróes Asmus e

Raphael Guimarães, por me receberem tão bem, me ajudarem e participarem deste

trabalho.

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iii

A todos os amigos do Serviço de Fonoaudiologia e de Otorrinolaringologia do

Hospital Universitário Clementino Fraga Filho - UFRJ e da Clínica OtorrinoBarra pelo

carinho e apoio.

A todos os colegas e professores do curso de Fonoaudiologia da UFRJ pelos

apoio, compreensão e ajuda, neste momento tão importante.

A empresa Phonak, pelo empréstimo dos equipamentos audiológicos para

realização da pesquisa.

Aos meus amigos, que sempre estiveram do meu lado.

Agradecimentos especiais aos alunos, professores e funcionários da Escola

Estadual Rei Alberto I (IBELGA) que nos receberam com muito carinho, e por sua

participação, colaboração, presteza antes, durante e depois da coleta dos dados.

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iv

RESUMO

Introdução: Apesar de o ruído ser claramente o principal risco ocupacional para a

audição, pesquisas sobre conservação auditiva têm demonstrado que exposições

químicas, muitas vezes presentes no ambiente de trabalho, também podem causar

alterações auditivas. Objetivo: O objetivo do estudo foi avaliar o sistema olivococlear

medial em indivíduos expostos a agrotóxicos. Metodologia: Trata-se de um estudo

epidemiológico, descritivo, transversal. Após definir os critérios de inclusão, foram

avaliados 205 alunos de uma escola agrícola do município de Nova Friburgo, Rio de

Janeiro, expostos aos agrotóxicos. Os procedimentos utilizados na avaliação foram

questionário para avaliar o grau de exposição ao agrotóxico, Emissões Otoacústicas

Transientes (EOAT) e pesquisa do efeito supressor das EOAT. Resultados: Na

pesquisa das EOAT com supressão, 38% dos indivíduos apresentaram ausência na

orelha direita, 45,9% na orelha esquerda, 38% das EOAT apresentaram ausência

unilateral e 39% bilateral. Os dados obtidos no estudo permitem dizer que há uma

associação entre a ausência de supressão e os escores de exposição. Conclusão: As

exposições crônicas aos agrotóxicos podem afetar o sistema olivococlear medial,

independentemente da exposição concomitante ao ruído.

Palavras-chave: Audição. Agrotóxico. Emissões Otoacústicas Transientes.

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v

ABSTRACT

Introduction: Though noise is clearly the main ocupational risk for hearing,

researches on hearing conservation have demonstrated that chemical exposure,

many times present in the work environment, may also cause hearing alterations.

Objetctive: The objective of the study was to evaluate the medieval olivocochlear

system in subjects exposed to agrochemicals. Method: It’s an epidemiologic,

descriptive, transversal study. After the inclusion criteria, 205 students from an

agricultural school in Nova Friburgo, Rio de Janeiro, that were exposed to

agrochemicals were evaluated. The procedures used on the evaluation were

questionnaire to evaluate the degree of exposure to the agrochemical, Transient

Otoacoustic Emissions (TOAEs) and analyse of the supressor effect of the TOAEs.

Results: On the TOAEs research with supression 38% of the individuals presented

lack on the right ear, 45,9% on the left ear, 38% of the TOAEs presented unilateral

lack and 39% bilateral. The data obtained on the study allow to say that there is an

association between the lack of supression and the quartiles of exposure.

Conclusion: The chronic exposure to pesticides may affect the medial

olivocochlear system, independent on the concomitant exposure to noise.

Keywords: Audition. Pesticides, Transient Otoacoustic Emissions.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÃO

CCE – Células Ciliadas Externas

CCI – Células Ciliadas Internas

dB – Decibel / Decibéis

dB NPS – Decibel Nível de Pressão Sonora

dB NA – Decibel Nível de Audição

EOA – Emissões Otoacústicas

EOAPD - Emissões Otoacústicas produto distorção

EOAT - Emissões Otoacústicas Transientes

PAIR – Perda Auditiva Induzida pelo Ruído

EPI – Equipamento de Proteção Individual

PAC – Processamento Auditivo Central

LRF – Limiare de Recepção de Fala

IPRF – Índice Percentual de Reconhecimento de Fala

Hz – Hertz

kHz – quilohertz

ms – milissegundos

OD – Orelha Direita

OE – Orelha Esquerda

* - Valor estatisticamente significante

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES E QUADROS

Imagens

Imagem 1 – Residência familiar, Baixada de Salinas, Nova Friburgo (Maria Isabel Kós, 2011)

11

Imagem 2 – Mapa região da Baixada de Salinas e São Lourenco, Nova Friburgo (Google Map, 2012)

12

Imagem 3 – Mapa região da Baixada de Salinas e São Lourenco, Nova Friburgo (Google Map, 2012)

12

Imagem 4 – Centro Familiar de Formação por Alternância Colégio Estadual Agrícola Rei Alberto I

(Maria Isabel Kós, 2011)

13

Imagem 5 – Local aonde foram realizados os exames, CFFA CEA Rei Alberto I (Maria Isabel Kós,

2011)

14

Imagem 6 – Audiometria tonal (Maria Isabel Kós, 2011)

18

Imagem 7 – Equipamento de Emissões Otoacústicas ILO 288 (Site Otodynamics, 2012)

20

Imagem 8 – Sonda da EOA ILO 288 (Site Otodynamics, 2012)

21

Imagem 9 – Gráfico do exame de EOAT ILO 288 (Site Otodynamics, 2012)

21

Imagem 10 – Exame de emissões otoacústicas transientes (Maria Isabel Kós, 2012)

22

Quadro

Quadro 1: Divisão de escore por quartil do grupo de 205 estudantes que participaram da pesquisa

16

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 1

1.1 OTOTOXICIDADE 3

1.2 AUDIÇÃO X AGROTÓXICOS 3

1.3 EMISSÕES OTOACÚSTICAS 5

1.4 SISTEMA EFERENTE OLIVOCOCLEAR MEDIAL 6

1.5 EMISSÕES OTOACÚSTICAS X PERDA AUDITIVA INDUZIDA PELO RUÍDO 7

1.6 EMISSÕES OTOACÚSTICAS X EFEITO DE SUPRESSÃO X PRODUTO QUÍMICO 8

2 JUSTIFICATIVA 9

3 OBJETIVOS 10

4 MATERIAL E MÉTODO 11

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 25

ARTIGO 1: REVISÃO SISTEMÁTICA: EFEITOS DA EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS

SOBRE O SISTEMA AUDITIVO PERIFÉRICO E CENTRAL

26

ARTIGO 2: PADRÃO DE EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS EM POPULAÇÃO RURAL DO

RIO DE JANEIRO

46

ARTIGO 3: EFEITOS DA EXPOSIÇÃO AO AGROTÓXICO NO SISTEMA AUDITIVO

EFERENTE ATRAVÉS DAS EMISSÕES OTOACÚSTICAS TRANSIENTES COM

SUPRESSÃO

65

6 CONCLUSÃO 88

REFERÊNCIAS 90

APÊNDICES 96

ANEXOS 106

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Inúmeros estudos vêm acumulando evidências de que a exposição a substâncias

químicas pode causar danos ao meio ambiente e à saúde humana (OPAS, 2005). A

degradação das matas, dos rios, do ar e o impacto na saúde humana têm se revelado em

decorrência de um contato excessivo, de forma aguda ou gradativa, com tais substâncias. Não

é possível negar que substâncias químicas também produzem benefícios, dos quais o homem

moderno não está disposto a se privar, como novos medicamentos, cosméticos, agroquímicos,

componentes sintéticos para a indústria de automóveis, aditivos alimentares, dentre outros,

que além de buscar aumentar o conforto da população humana, produzem reflexos na

economia mundial, gerando empregos e divisas aos países. Os gastos mundiais com

agrotóxicos têm um aumento exponencial. No Brasil, o aumento de vendas de agrotóxicos

cresceu 945,51% entre 1998 e 2008. Nos últimos anos, a agricultura nacional foi a que mais

cresceu em exportações (SINDAG, 2012).

Se por um lado o desenvolvimento tecnológico avança a passos largos, por outro, as

pesquisas acerca dos efeitos de tais tecnologias sobre a saúde humana e o meio ambiente não

se desenvolvem com tanta rapidez. Considerando-se que as pesquisas se iniciam a partir de

um fato gerador, entende-se que o desconhecimento inicial do impacto dessas substâncias

químicas no mundo pode ser muito mais nocivo e danoso do que o esperado. Uma vez que a

legislação também é lenta, os efeitos maléficos já instalados causam problemas de saúde à

sociedade e degradação do meio ambiente, inclusive para as futuras gerações.

O uso de agrotóxicos vem aumentando gradualmente, principalmente nos países em

desenvolvimento. De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE, 2010), nos últimos nove anos houve um aumento médio de 11% ao ano na

venda de agrotóxicos no Brasil. Os agrotóxicos são utilizados em larga escala no país e mais

intensamente no setor rural, na agricultura. No ano de 2009, as vendas mundiais de

agrotóxicos movimentaram cerca de US$ 48 bilhões, sendo que entre os anos de 2000 e 2009,

enquanto o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 94%, o mercado brasileiro cresceu 172%

(PRADO, 2010). Esse crescimento rendeu ao Brasil a liderança do ranking mundial de

consumo de agrotóxicos em 2008, ano em que as lavouras brasileiras consumiram 986,5 mil

1 INTRODUÇÃO

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toneladas de agrotóxicos e as vendas desses produtos no país somaram US$ 7,1 bilhões, mais

do que o dobro em relação ao ano de 2003 (ANVISA, 2009).

Em 2006, o Ministério da Saúde, por meio do Sistema Nacional de Informações

Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), registrou 107.958 casos de intoxicação humana, com 488

óbitos, o que gerou uma letalidade de 0,45% para o país, sendo que a maior letalidade foi

observada nas exposições aos agrotóxicos de uso agrícola. Dos 6.588 casos de intoxicação

ocupacionais ocorridos naquele ano, 1.874 (28,4%) foram causados pelos agrotóxicos

(SINITOX, 2006). As intoxicações agudas têm sido o principal foco das pesquisas sobre os

efeitos adversos à saúde decorrentes da exposição a agrotóxicos (FARIA et al., 2009). No

entanto, são raros os estudos devotados às exposições crônicas, que lentamente vão

provocando alterações físicas e neuropsicológicas de forma irreversível.

Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, 1980), vários

agrotóxicos são neurotóxicos, a exemplo dos organofosforados, inseticidas que afetam o

sistema nervoso central. Os organofosforados foram desenvolvidos no início do século XIX.

No entanto, a descoberta de seus efeitos deletérios em seres humanos somente ocorreu a partir

de 1932. Alguns destes agrotóxicos são extremamente tóxicos para os seres humanos, tanto

que foram utilizados como arma química durante a Segunda Guerra Mundial. O principal

mecanismo de ação dos organofosforados é a inibição, de forma irreversível, da enzima

acetilcolinesterase, responsável pela degradação do neurotransmissor acetilcolina na fenda

sináptica neuroneuronal e neuromuscular. Assim, a inibição da acetilcolinesterase provoca um

acúmulo de acetilcolina nas fendas e a consequente superestimulação de receptores

colinérgicos (HOSHINO et al., 2008).

Além dos efeitos clínicos, gerados pelos organofosforados, identificados no exame

neurológico, podem ser observados sintomas subclínicos avaliados por meio de exames

neurofisiológicos e neuropsicológicos (ELLENHORN, 1997). Por muitas vezes, as

exposições crônicas aos agrotóxicos produzem alterações clínicas que não são detectadas por

marcadores biológicos e que, silenciosamente, modificam a vida do trabalhador

(NEWCOMBE et al., 1993). As manifestações clínicas mais comuns devido à exposição aos

agrotóxicos são: náuseas, tontura, fraqueza, falta de apetite, nervosismo, dores de cabeça,

alergias, lesões renais e hepáticas, câncer e alterações genéticas (GUPTA et al., 1979;

KÖRBES, 2009; PACHECO-FERREIRA et al., 2000; QUINONES et al., 1976).

Diversos estudos demonstraram alterações neurotóxicas atribuídas à exposição aos

agrotóxicos, o que pode afetar diferentes porções do sistema nervoso central e periférico

(MANJABOSCO, 2005). Produtos neurotóxicos podem levar a problemas tão ou mais sérios

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do que a perda auditiva periférica. Porém há evidências de que a perda auditiva possa ser uma

manifestação precoce de intoxicação (AZEVEDO, 2004).

1.1 OTOTOXICIDADE

Para os toxicologistas industriais, os ototóxicos compreendem todos os elementos

físicos e químicos capazes de provocar dano à função auditiva. Jerger (apud ALMEIDA et al.,

1993) acredita que a ototoxicidade é uma reação tóxica indesejável sobre os sistemas auditivo

e vestibular.

Trabalhadores estão, por vezes, expostos às substâncias químicas que agem de forma

insidiosa, lenta, acumulando-se no organismo e produzindo efeitos a médio e longo prazo. As

intoxicações tardias, causadas pela exposição em longo prazo e em baixas doses, são as mais

difíceis de ser detectadas. Estudos histológicos revelam que os agentes tóxicos lesionam

primeiramente as células ciliadas da crista da ampola e da mácula do sáculo e utrículo. O

mesmo ocorre com as células ciliadas externas (CCE) do órgão de Corti, passando para

células ciliadas internas (CCI) e nervo auditivo (GUEDES et al., 1978; KÖRBES, 2009).

Para Almeida et al. (1993), a lesão nos sistemas auditivo e vestibular pode ocorrer de

formas diferentes para cada tipo de ototoxicante e suas variações vão depender da

suscetibilidade individual a determinadas intoxicações, além de variações de comportamento

para diferentes drogas. Seu efeito pode ser potencializado quando em associação a outros

químicos e, em condições favoráveis, sua concentração pode ser elevada. São, ainda, fatores

agravantes o paciente ser uma criança ou um idoso, a associação do ototoxicante com a

exposição ao ruído ou, então, com a ingestão de dois ou mais tipos de ototoxicantes

simultaneamente.

A perda auditiva pode ser de rápida instalação ou insidiosa, e a gravidade depende da

quantidade, do tempo de exposição e da interação com o ototóxico em questão. Pode ocorrer

durante a exposição ou meses depois e é sempre irreversível. Normalmente é uma perda

bilateral simétrica, mas pode ocorrer, mais raramente, na forma unilateral e assimétrica (KÓS;

KÓS, 2003).

1.2 AUDIÇÃO X AGROTÓXICOS

Em estudo realizado por Beckett et al. (2000) com 1.727 agricultores utilizando

questionário e, em parte do grupo (416), também audiometria tonal, os achados sugeriram que

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os fazendeiros apresentaram alta prevalência de alterações auditivas, principalmente se

associadas com o envelhecimento, sexo masculino, baixa escolaridade, uso de outros produtos

químicos e exposição a ruído. Em outro estudo realizado com fazendeiros e residentes

próximos a regiões agrícolas, Hwang et al. (2001) estudaram exposição ocupacional e

ambiental, avaliando a percepção auditiva através de questionário, e puderam observar uma

prevalência de perda auditiva nos fazendeiros agravada principalemente pela exposição a

ruído.

Teixeira et al. (2002) demonstraram, em pesquisa realizada com pulverizadores de

veneno contra dengue, que 56% dos expostos apresentaram alterações de processamento

auditivo central (PAC), com risco relativo 7,58 para o grupo exposto (IC95% 2,9-19,8) de

desenvolver alteração de PAC, comparando com os não expostos. Os resultados sugeriram

que as exposições a piretroides e organofosforados afetam as funções auditivas centrais.

Teixeira (2003) sugeriu que exposições químicas devem ser monitoradas e controladas como

parte do esforço para prevenir a perda auditiva. Trabalhadores com exposição a substâncias

químicas neurotóxicas devem ser incluídos em programas de conservação auditiva,

independentemente de haver exposição a ruído, isso porque as exposições crônicas aos

inseticidas piretroides e organofosforados podem afetar o sistema auditivo periférico, com ou

sem a exposição concomitante ao ruído.

Manjabosco et al. (2004), em estudo realizado com trabalhadores rurais, encontraram

no grupo exposto um percentual de 60% (25) dos agricultores que apresentaram limiares

alterados. Destes, 23 foram sugestivos de perdas auditivas ocupacionais, incluindo as perdas

auditivas induzidas por ruído (PAIR) e por ototóxicos (17% expostos somente a ruído e 83% a

ruído e agrotóxicos). O zumbido frequente esteve presente em 57% (13) dos casos. No grupo

controle, apenas 7% (3) dos sujeitos apresentaram limiares alterados.

Em estudo realizado com 150 trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos, com

audiometria tonal e vocal, mostrou-se uma evidência substancial de que a atividade agrícola

pode trazer risco para a audição. A razão de taxa para expostos a inseticida foi de 1,19

(IC95%1,04-1,35) e a organofosforados foi de 1,17 (IC95%1,03-1,31). A razão de taxa para

perda auditiva foi elevada para aqueles casos em que ocorreu exposição aguda ao agrotóxico

com valor de 1,81 (IC95%1,25-2,62) (CHOI et al, 2005). Também o estudo realizado por

Crawford et al. (2008), com aplicadores de agrotóxico, observou-se que a perda auditiva está

significativamente associada às atividades agrícolas, e que pode ser agravada com a presença

de ruído.

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Körbes (2009), por sua vez, realizou estudo em cobaias submetidas a exposição de

agrotóxico e considerou o organofosforado um agente lesivo agudo das células ciliadas

externas (CCE), visto a correlação entre a dosagem aplicada e a quantidade de alterações

observadas à microscopia eletrônica. As lesões morfológicas da cóclea ocorrem de maneira

predominante nos estereocílios das CCE e progridem para espira basal. Körbes et al. (2009)

observaram alterações morfológicas na cóclea, no sáculo e no utrículo de cobaias que foram

expostas a doses diárias de organofosforado, evidenciando o efeito degradante dos

agrotóxicos no sistema vestibulococlear.

Em outro estudo realizado com agricultores, foi observada associação estatisticamente

significante entre o índice de exposição a agrotóxico e pior desempenho nos testes de

processamento auditivo temporal, sugerindo que essa substância pode ser nociva para as vias

auditivas centrais (BAZILIO, 2010).

Foltz, Soares e Reichembac (2010) encontraram ocorrência de perda auditiva

sugestiva de perda auditiva induzida pelo ruído em 29,3% dos pilotos agrícolas avaliados.

Houve tendência estatística na associação entre configuração audiométrica e contato com

agrotóxico (p=0,088). O estudo concluiu que pilotos agrícolas apresentaram alto índice de

perda auditiva. Tal atividade ocupacional envolve contato com agrotóxicos e nível alto de

ruído.

No estudo realizado por Guida, Morini e Cardoso (2010) com trabalhadores expostos a

ruído e trabalhadores expostos a ruído e praguicidas, realizando audiometria tonal, os

trabalhadores expostos ao ruído ocupacional e a praguicidas possuíam maior risco para perda

auditiva do que os trabalhadores expostos somente ao ruído. Oliveira, Vargas e Sena (2012),

por sua vez, realizaram estudo com agricultores utilizando questionário de índice de qualidade

de vida e audiometria tonal. O estudo observou que os agricultores usuários de agrotóxicos

apresentaram piores escores de qualidade de vida quando comparados aqueles que não os

utilizaram. Outro aspecto relevante foi que o uso de agrotóxico e sua classe toxicológica

interferiram de maneira impactante no grau de perda auditiva apresentada pelos trabalhadores.

1.3 EMISSÕES OTOACÚSTICAS

As emissões otoacústicas (EOA) são sons detectados no meato acústico externo

(MAE), produzidos na cóclea, sendo especificamente o registro da mobilidade e da habilidade

mecânica das células ciliadas externas (CCE). Os movimentos das CCE podem ser

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espontâneos (na ausência de estímulo acústico) ou evocados, em resposta a um estímulo

acústico (KEMP, 1989).

A cóclea não só recebe energia acústica de uma maneira passiva, mas também

amplifica ativamente certos sons. O mecanismo passivo é acionado por sons intensos,

movendo diretamente os estereocílios das células ciliadas internas (CCI) e o mecanismo ativo

é acionado por sons de fraca intensidade, quando a energia é insuficiente para movimentar

diretamente as CCI, provocando a movimentação dos estereocílios das CCE (COUBE;

COSTA FILHO, 2003).

O processo eletrobiomecânico ativo coclear, embora não funcione como receptores

cocleares, tem capacidade de contração rápida e lenta, funcionando como efetores cocleares

ativos, uma vez que, ao liberar energia mecânica durante as contrações rápidas, torna-se

responsável pelas EOA (VEUILLET; COLLET; DUCLAUX, 1991). As emissões

otoacústicas transientes (EOAT) são desencadeadas por um estímulo breve de banda larga,

avaliando a cóclea como um todo, e sua presença pode confirmar a integridade do mecanismo

coclear, já que quando ausente, e sem alteração de orelha externa e média, é significativo de

uma perda auditiva em torno de 25 a 30 dB NA (decibel nível de audição) (LOPES FILHO;

CARLOS, 2005).

1.4 SISTEMA EFERENTE OLIVOCOCLEAR MEDIAL

Em 1940, Grant L. Rasmussen descreveu pela primeira vez o sistema olivococlear e, a

partir de então, inúmeras investigações estão sendo realizadas. Anatomicamente, esse sistema

é composto por dois feixes: um feixe lateral, formado por fibras desmielinizadas, basicamente

ipsilateral, passando da região lateral do complexo olivar superior até as CCI, e outro feixe

medial, composto por fibras mielinizadas, que se projeta ipsi e contralateralmente da região

medial do complexo olivar superior até as CCE do órgão de Corti. São de origem contralateral

59% das fibras eferentes, passando por baixo do assoalho do IV ventrículo, 29% são de

origem ipsilateral e 12% são de origem desconhecida. A fisiologia desse sistema ainda é

discutida, desde a época de Rasmussen (1946), e o dado fisiológico mais significante até o

presente momento é que a estimulação acústica da cóclea pode modificar a resposta das fibras

aferentes contralaterais do nervo auditivo, fazendo a supressão da via aferente (VEUILLET ;

COLLET; DUCLAUX, 1991). Diversos estudos demonstram que a estimulação contralateral

das fibras eferentes modifica o potencial das CCI (VEUILLET ; COLLET; DUCLAUX,

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

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1991), sugerindo que seja um efeito indireto mediado pelas CCE. O sistema olivococlear

medial tem como funções: manter a membrana basilar na posição estática optimal para

transdução, propiciar o controle de ganho nas CCE, atuar como sistema de proteção contra

ruídos intensos e na atenção seletiva.

A supressão é caracterizada pelo decréscimo da amplitude, bem como pelo decréscimo

de fase dos picos da emissão. A comparação de teste e re-teste mostra que os efeitos

supressivos são repetitivos e que a supressão das EOA é útil clinicamente na avaliação e

administração de perdas auditivas periféricas e centrais (HOOD et al.,1996).

O efeito de supressão das EOAT em indivíduos sem alteração ou queixas auditivas foi

estudado por vários autores. Eles utilizaram como estímulo ruído de banda larga contralateral

a 60 dBNPS (decibel nível de pressão sonora) e seus resultados evidenciaram efeito de

supressão maior que 1dB em 90% a 100% das orelhas. A faixa de variação das diferenças

entre o exame realizado com e sem o ruído situou-se entre 0,1 a 5,5 dBNPS (RYAN; KEMP,

1996; RABINOVICH, 1999; BERNARDI, 2000; PEREZ, 2006).

As fibras eferentes mediais podem inibir o fenômeno contrátil ativo das CCE,

regulando as contrações lentas com atenuação das contrações rápidas, diminuindo, assim, a

amplitude das EOA, quando afetadas na presença de estimulação elétrica, química ou ruído

(ipsi, contra ou binaural). Tal ajuste é mediado por neurotransmissores, tais como acetilcolina

(Ach) e adenosina trifosfato (ATP) (OLIVEIRA, 2007).

1.5 EMISSÕES OTOACÚSTICAS X PERDA AUDITIVA INDUZIDA PELO RUÍDO

As EOA podem ser utilizadas para detectar os primeiros sinais de alteração coclear, e

a disfunção coclear pode alterar o resultado das EOA antes de alterar o audiograma. Segundo

Fiorini e Fischer (2000), as EOAT podem ser um importante instrumento na detecção precoce

das alterações cocleares, pois podem ocorrer lesões difusas em mais de 30% das células

ciliadas externas antes de ser detectada qualquer perda auditiva. A redução das amplitudes de

respostas na região de frequência específica da perda auditiva induzida por ruído (PAIR) tem

sido observada em diversos trabalhos, isso devido à vulnerabilidade das CCE a agentes

químicos e sonoros.

Marques e Costa (2006) e Muniz et al. (2000) avaliaram a possibilidade de as

emissões otoacústicas produto de distorção (EOAPD) serem um método de diagnóstico de

alterações fisiopatológicas iniciais provocadas por exposição ao ruído ocupacional. Os autores

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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observaram que mesmo em indivíduos cuja audiometria tonal indicava limiares dentro da

normalidade apresentaram alteração no exame das EOAPD, concluindo ser este um método

importante para diagnóstico precoce da PAIR.

1.6 EMISSÕES OTOACÚSTICAS X EFEITO DE SUPRESSÃO X PRODUTO QUÍMICO

Em estudo realizado com frentistas de postos de gasolina expostos a solventes

orgânicos foi observada a presença de emissões otoacústicas transientes (EOAT) maior na

orelha esquerda no grupo exposto e nos grupo controle. O efeito supressor das EOAT na

orelha direita foi maior nos sujeitos do grupo exposto (62,5%) e na orelha esquerda foi

superior no grupo controle (86,9%). Não foram encontrados sinais de alteração nas células

ciliadas externas nem no sistema olivococlear medial nos sujeitos expostos a solventes

orgânicos (QUEVEDO, 2012).

Nenhum trabalho relacionando emissões otoacústicas efeito de supressão e agrotóxico

foi encontrado.

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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O enfoque nas abordagens relacionadas à saúde auditiva de trabalhadores tem se dado,

quase que com absoluta exclusividade, às exposições ao ruído. Entretanto, ao se considerar

alteração auditiva ocupacional, é importante também que se reconheça a potencialidade de

outros agentes e sua possível interação com o ruído sobre a saúde auditiva dos trabalhadores,

como a associação que pode ocorrer entre ruído e produtos químicos.

Existem evidências de que os produtos químicos podem levar a diversas alterações

auditivas, inclusive a perda auditiva, independentemente da presença do ruído (AZEVEDO,

2004; TEIXEIRA et al., 2003). Dentre os principais agentes químicos que podem levar à

alteração auditiva, incluem-se solventes, metais, asfixiantes e agrotóxicos (SLIWINSKA-

KWALSKA, 2007; TEIXEIRA et al., 2003).

A legislação brasileira, bem como a internacional, não exige monitoramento da audição

dos trabalhadores expostos a certos produtos químicos, exceto os que estejam expostos a

níveis de ruído acima dos limites de exposição permitidos. Mais recentemente a União

Europeia (EUROPEAN UNION, 2003), em sua nova diretiva relacionada ao controle da

exposição ao ruído, recomendou que os programas de conservação auditiva devessem atender

as necessidades dos trabalhadores expostos a riscos químicos.

Este aumento da quantidade e qualidade de evidências acerca dos riscos de danos

auditivos decorrentes da exposição química traz à tona a necessidade de que esse tipo de

exposição ocupacional seja levado em consideração nas avaliações da capacidade auditiva de

trabalhadores. Isso traz uma série de desafios metodológicos, uma vez que a simples aferição

dos limiares tonais, através da audiometria tonal, representa um método limitado e

inadequado para avaliar as consequências de alteração das vias auditivas. Assim, um grande

número de trabalhadores encontra-se potencialmente desprotegido, o que torna ineficazes os

programas de prevenção de perdas auditivas.

Acredita-se que essa seja uma das razões para que as alterações auditivas ocupacionais

permaneçam sendo um importante problema em todo o mundo, apesar de todos os esforços

para sensibilizar a população exposta e o governo (TEIXEIRA et al., 2003).

2 JUSTIFICATIVA

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Frente ao exposto, este estudo tem por objetivo avaliar a magnitude da associação

entre trabalho agrícola, exposição a agrotóxicos e ototoxicidade em agricultores do Estado do

Rio de Janeiro através das emissões otoacústicas transientes com supressão.

3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Realizar um levantamento da bibliografia relacionada a audição e agrotóxico;

b) Realizar um estudo do grau de exposição ao agrotóxico de uma comunidade de

Friburgo;

c) Avaliar a frequência e a magnitude da supressão contralateral das emissões

otoacústicas transientes, estabelecendo uma associação com o grau de exposição ao

agrotóxico;

d) Estimar a magnitude da ocorrência de ototoxicidade de trabalhadores agrícolas.

4.1 DESENHO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo epidemiológico, descritivo, de desenho transversal.

4.2 LOCAL DO ESTUDO

São Lourenço está situado no 3° Distrito de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Brasil. Sua

população é composta por aproximadamente 650 pessoas. Essa região localiza-se a uma

altitude entre 1000 e 1200 metros, e as montanhas que a cercam são as principais do Estado, a

Serra do Mar e a Serra dos Órgãos, que chegam a alcançar 2.400 m. O principal meio de

produção do Vale São Lourenço está na agricultura familiar, e todas as pessoas participam do

processo de trabalho, já que o local é um maiores produtores de legumes do estado do Rio de

Janeiro (PERES et al., 2009).

3 OBJETIVOS 4 MATERIAL E MÉTODO

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Imagem 1 – Residência familiar, Baixada de Salinas, Nova Friburgo (Maria Isabel Kós, 2011).

Os indivíduos residentes em São Lourenço são expostos aos agrotóxicos pelas vias

ambiental, ocupacional e alimentar. A exposição ambiental ocorre pela contaminação dos

compartimentos ambientais, quando os agrotóxicos contaminam as águas, a atmosfera e o

solo; a exposição ocupacional ocorre durante o processo de trabalho; e a alimentar quando os

residentes consomem o que plantam.

Imagem 2 – Mapa região de Baixada de Salinas e São Lourenco, Nova Friburgo (Google Map, 2012).

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Imagem 3 – Mapa região de Baixada de Salinas e São Lourenco, Nova Friburgo (Google Map, 2012).

Para seleção da população estudada, foi realizado contato com a Secretaria Estadual de

Agricultura, que sugeriu o Centro Familiar de Formação por Alternância – Colégio Estadual

Agrícola Rei Alberto I (CEFFA – CEA Rei Alberto I - IBELGA). Essa escola foi escolhida

por apresentar alunos que participam da agricultura familiar, possibilitada pela pedagogia de

alternância, que intercala um período de convivência na sala de aula com outro no campo,

diminuindo a evasão escolar.

O Colégio Estadual Agrícola Rei Alberto I é um Centro Familiar de Formação por

Alternância (CEFFA), é uma instituição de ensino público que nasceu a partir de um convênio

entre o Governo do Estado do Rio de Janeiro e o Instituto Bélgica Nova Friburgo (IBELGA).

A unidade desenvolve um projeto de Educação do Campo aplicando a Pedagogia da

Alternância. Assim, atendendo a Legislação Federal que dá às famílias rurais o direito de

serem assistidas por uma educação que atenda suas especificidades sociais, econômicas e

culturais, permitindo uma diminuição da evasão escolar. Sendo um CEFFA, este Colégio

valoriza a participação da família no processo formativo do jovem e a inclusão dos estudantes

no meio profissional de sua região: a agricultura.

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Imagem 4 – Centro Familiar de Formação por Alternância Colégio Estadual Agrícola Rei Alberto I1

4.3 POPULAÇÃO DE ESTUDO

Após a aplicação do critério de inclusão e exclusão da amostra inicial de 356, a

pesquisa ficou constituída de 205 sujeitos. Desses 356, 4 foram excluídos por não

preencherem adequadamente o questionário, 76 por não serem estudantes da escola e 71 por

apresentarem alteração de orelha média e / ou qualquer grau de perda de audição.

A população estudada foi composta de 205 alunos do Ensino Fundamental I, Ensino

Fundamental II, Ensino Médio e Curso de Especialização em Agronomia do Colégio Estadual

Agrícola Rei Alberto I (IBELGA), de ambos os sexos, com idade variando entre 8 a 30 anos,

e com exposição aos agrotóxicos.

4.4 LOCAL DA PESQUISA

O presente estudo foi desenvolvido em uma sala silenciosa, no Colégio Estadual

Agrícola Rei Alberto I.

1 Situado à Estrada dos Três Picos, s/nº, Baixada de Salina, Nova Friburgo (RJ), CEP 28600-000 e telefone (22)

2543-6911.

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Imagem 5 – Local aonde foram realizados os exames, CFFA CEA Rei Alberto I (Maria Isabel Kós, 2011).

4.5 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Foram incluídos no estudo alunos do Ensino Fundamental II, do Ensino Médio e do

Curso de Especialização em Agronomia do Colégio Estadual Agrícola Rei Alberto I, sem

alterações otológicas, que apresentaram exame audiométrico dentro dos limites de

normalidade (FROTA, 2003), com presença de curva timpanométrica tipo A (JEGER;

STACH, 1991) e presença das emissões otoacústicas transientes (KENNEDY et al, 1998).

Além disso, os participantes tinham que se capaz de responder ao questionário e compreender

as ordens necessárias para a realização dos exames. E ter a assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido pelo aluno e responsável (nos menores d 18 anos).

4.6 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Foram excluídos da amostra todos os que não eram alunos da Escola Estadual Rei

Alberto I, e foram também excluídos da amostra da pesquisa todos os indivíduos que

apresentaram:

a) Presença de rolha de cera ou corpo estranho no meato acústico externo;

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b) Perda auditiva condutiva, mista e neurossensorial de qualquer grau, ou ainda

alterações de orelha externa e/ou média;

c) Limiar de recepção de fala (LRF) acima de 10 dB da média tritonal (500, 1.000 e

2.000 Hz);

d) Escore inferior a 88% no índice percentual de reconhecimento de fala (IPRF);

e) Timpanometria com curva tipo Ar, Ad, B e C;

f) Respostas alteradas no exame de emissões otoacústicas transientes, com a resposta

geral inferior a 6 dB e reprodutibilidade da resposta e estabilidade da sonda inferior a

70% (KENNEDY et al, 1998).

4.7 PROCEDIMENTOS PARA SELEÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA

Com o objetivo de selecionar a população estudada foram aplicados: questionário,

meatoscopia, avaliação audiológica básica, imitanciometria e emissões otoacústicas

transientes. Todos os procedimentos foram realizados em uma sala silenciosa na Escola

Estadual Rei Alberto I.

4.7.1 Questionário

Os estudantes foram submetidos a um questionário (Anexo A) contendo perguntas

estruturadas com a finalidade de obter informações pessoais (endereço, sexo, estado civil e

escolaridade, questões do Grupo I), informações de ocupação e hábitos (ocupação, local de

moradia, quantas horas gasta na lavoura, distância da lavoura mais perto, presença de horta na

residência, atividades que realiza na lavoura, questões do grupo II), informações de saúde

geral (presença de pressão alta, colesterol e diabete, consumo de bebida alcoólica, fumo e

medicamentos, questões do Grupo III), informações auditivas (histórico auditivo e como o

indivíduo percebe sua audição, questões do Grupo IV).

Além disso, o questionário conteve perguntas pertinentes ao processo de trabalho:

questões com informação sobre uso do agrotóxico (questões do Grupo V), questões com

informações de outras exposições, como a exposição a ruídos e solventes, que podem ser

fatores de confundimento para a pesquisa (questões do Grupo VI), questões que avaliam os

hábitos de trabalho, como uso de EPI e o número de horas diárias de trabalho (questões do

Grupo VII).

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O grau de exposição aos agrotóxicos foi avaliado através de um questionário adaptado

do Agricultural Health Study (1996), utilizando algumas das questões do grupo II, V, VI e

VII. Ele foi testado e os coletores de dados foram previamente treinados. Para categorizar a

exposição foi atribuída uma pontuação considerando-se os escores propostos por Dosemeci et

al. (2002).

Os pontos variaram entre 0 e 9 pontos. Algumas questões entre 0 e 1, outras 0, 1 e 2,

outras entre 0, 1, 2, 3 e 4, dependendo do número de repostas que poderia ser dado. As

questões em que foi avaliado o contato direto com o agrotóxico, a pontuação dada foi de 0, 8

ou 9. Com a soma da pontuação de cada questionário chegou-se a um escore. Os que

apresentaram maior pontuação foram classificados como indivíduos mais exposto, e os que

apresentaram menor pontuação foram classificados como indivíduos com pouca exposição.

Através do questionário, foi possível classificar os estudantes quanto ao grau de

exposição, para o que foi atribuída uma pontuação (Anexo B). O escore final encontrado

variou de 0 (menos expostos) podendo chegar até 76 pontos (mais expostos). O grupo

estudado o escore variou de 0 até 63 pontos e o resultado final foi dividido em quartil para

classificação do grau de exposição, conforme quadro 1.

Quadro 1: Divisão de escore por quartil do grupo de 205 estudantes que participaram da pesquisa.

Quartil Pontos

1 0 – 3

2 4 – 20

3 21 – 42

4 43 – 63

Todos os indivíduos que nas questões do Grupo IV (informações auditivas) relataram

histórico de cirurgia otológica ou de alguma doença que possa ter afetado a audição foram

excluídos.

4.7.2 Meatoscopia

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Após aplicação do questionário, os estudantes foram submetidos a meatoscopia, por

meio de otoscópio clínico da marca Heine, modelo MINI 2000, com a finalidade de se realizar

uma inspeção cuidadosa do meato acústico externo e a visualização da membrana timpânica,

excluindo indivíduos com presença de corpo estranho e de rolha de cera, o que impediria a

obtenção correta dos limiares tonais, da pesquisa das emissões otoacústicas e dos resultados

da timpanometria (FROTA, 2003).

4.7.3 Avaliação audiológica básica: audiometria tonal e vocal

Após a primeira etapa, foi realizada a avaliação audiológica básica, composta por:

audiometria tonal liminar por via aérea e por via óssea, índice percentual de reconhecimento

da fala (IPRF) para monossílabos e limiar de reconhecimento de fala (LRF), a partir de Frota

e Sampaio (2003). A avaliação audiológica foi realizada com o audiômetro da marca

Intercoustic, modelo AC30, e com fone TDH-49P. Esses procedimentos foram aplicados em

cabina acústica, seguindo-se as determinações da ISO 8253 (2010).

Imagem 6 – Audiometria tonal (Maria Isabel Kós, 2011)

O objetivo da audiometria tonal liminar é a determinação dos limiares de audibilidade,

isto é, o estabelecimento do mínimo de intensidade sonora necessária para provocar a

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sensação auditiva, e a comparação destes valores ao padrão de normalidade, usando-se como

referência um tom puro (SANTOS, 2007). Na audiometria tonal liminar foram pesquisadas

por via aérea, as frequências de 250, 500, 1.000, 2.000, 3.000, 4.000, 6.000 e 8.000 Hz (hertz)

e por via óssea, as frequências de 500, 1.000, 2.000, 3.000 e 4.000 Hz. Os limiares tonais

foram obtidos através da técnica descendente descrita por Frota (2003). Consideraram-se

limiares dentro da normalidade até 20 dB, de acordo com a classificação do grau de perda

auditiva proposta por Lloyd e Kaplan (1978). Foram excluídos todos os indivíduos que

apresentaram algum grau de perda auditiva, com limiares piores que 20 dB.

O índice percentual de reconhecimento de fala (IPRF) é a medida da inteligibilidade

da fala em uma intensidade fixa, na qual o indivíduo consegue repetir corretamente o maior

número de palavras (RUSSO et al., 2007). Para tanto, foi utilizada uma lista contendo 25

palavras monossílabas, e cada foi erro representado por 4%. Excluíram-se da pesquisa os

indivíduos que obtiveram escore de acertos inferior a 88%.

O limiar de recepção de fala (LRF) tem como objetivo confirmar os limiares tonais da

via aérea e exprime a menor intensidade para a qual o indivíduo consegue identificar 50% das

palavras apresentadas. O LRF foi obtido utilizando-se palavras trissílabas e polissílabas por

meio de técnica descendente, como relatado por Frota e Sampaio (2003). Os resultados

obtidos deveriam coincidir com a média dos limiares tonais das frequências de 500, 1.000 e

2.000 hertz, ou até 5 ou 10 decibéis acima dessa média. Os indivíduos que não obtiveram esse

resultado foram excluídos da pesquisa.

4.7.4 Imitanciometria

Também se realizou a timpanometria, com a finalidade de excluir afecções de orelha

média. A análise da imitância acústica foi realizada com o imitanciômetro da marca

Interacoustic, modelo AZ7, de acordo com os critérios de Rossi (2003). Os resultados da

pesquisa foram analisados segundo o padrão de normalidade sugerido por Jerger e Stach

(1991), no qual timpanogramas normais são classificados com curva tipo A, ou seja, ponto de

máxima admitância em ou próximo à pressão atmosférica normal, dentro da faixa de 0 a 100

da Pa. Só foram incluídos os indivíduos com timpanograma com curva tipo A.

4.7.5 Exame de emissões otoacústicas transientes

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Para finalizar a seleção da amostra estudada, foi realizada a pesquisa das emissões

otoacústicas transientes (EOAT). As emissões otoacústicas refletem as propriedades

micromecânicas e ativas do órgão de Corti (KEMP, 2002), sendo que as células ciliadas

externas (CCE) parecem estar particularmente envolvidas na sua geração (DALLOS; HE,

2000).

A captação das emissões otoacústicas transientes (EOAT), uma das formas de obter as

EOA, ocorre quando a orelha é estimulada por estímulo breve de banda larga (clique). Trata-

se de um procedimento não invasivo, rápido, aplicável em locais sem tratamento acústico,

objetivo (não depende da resposta do indivíduo) e sensível a perdas de grau leve a profundo,

uni ou bilaterais.

A pesquisa das EOAT foi efetuada por meio do aparelho Otodynamics, modelo OEA

EZ – Screen da marca ILO. Foram realizadas as EOAT (clique) nas faixas de frequência de 1;

1,5; 2; 3 e 4 kHz e a resposta geral das emissões, com reprodutibilidade da resposta e

estabilidade da sonda superior a 70%, de acordo com os critérios de Bonfils e Uziel (1989),

Kemp, Ryan e Bray (1990), Lopes Filho e Carlos (2005).

Considerou presença de EOAT quando: a resposta geral esteve igual ou acima de 6 dB

(relação sinal / ruído), e quando a amplitude mínima foi igual ou maior que 6 dB para pelo

menos 3 das 4 bandas de as frequências testadas (Kennedy et al, 1998). Os indivíduos que não

obtiveram esses resultados foram excluídos da pesquisa.

4.8 PROCEDIMENTO DA PESQUISA

Foi realizado o exame de emissões otoacústicas transientes e emissões otoacústicas

transientes com supressão, com ruído contralateral, de acordo com os critérios de Kemp et al.

(1990).

O equipamento utilizado para realizar as EOA foi um aparelho Otodynamics OEA EZ

– Echoport ILO288 da marca ILO, acoplado a um notebook da marca Samsung, com

processador Intel Core, 8GB de memória e tela Led tamanho 15”, sistema operacional

Windows7 Professional.

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Imagem 7 – Equipamento de Emissões Otoacústicas ILO 288 (Site Otodynamics, 2012).

Para vedar o conduto e captar a resposta, foi utilizada a sonda modelo SGD General

TE + DPOAE Probe, compatível com o equipamento de EOA ILO288, da marca

Otodynamics Audiology Sistems.

Imagem 8 – Sonda da EOA ILO 288 (Site Otodynamics, 2012)

Para gerar o ruído na orelha contralateral foi usado o audiômetro da marca

Intercoustic, modelo AC 30, com fone TDH - 49P.

No exame de emissões otoacústicas evocadas por estímulo transiente foi utilizado o

protocolo "TE Screen 70% a 3 / 4 frequências", que testou as bandas de frequência de 1, 1,5,

2, 3 e 4 kHz, porém foram analisados somente as bandas de frequências de: 1,5, 2, 3 e 4kKHz

com relação à reprodutibilidade, a amplitude e relação sinal / ruído.

O tipo de estímulo utilizado foi o clique não linear com pulsos regulares de 200 µs, de

polaridade rarefeita e frequência de repetição de estímulo de 47 ciclos / s. A intensidade do

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Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

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estímulo foi de 75 a 80 dB NPS (três cliques na mesma polaridade e um de polaridade

oposta), com largura de banda de 6 kHz e janela de análise de 16,6 ms (milissegundos).

Imagem 9 – Gráfico do exame de EOAT ILO 288 (Site Otodynamics, 2012)

A pesquisa do efeito supressor das EOAT foi realizado com registro das EOAT com

clique não linear de 75 a 80 dB NPS, através da comparação da amplitude das EOA sem e

com a presença de ruído branco contralateral. O ruído contralateral foi apresentado numa

intensidade a 60dBNA (PEREZ; KÓS; FROTA, 2006). com fone TDH 39 coxim MX 41 do

Audiômetro da marca Interacoustic modelo AC30®. O fone foi posicionado no mesmo

momento em que a sonda, para que esta não mudasse de posição para avaliação do efeito

supressor.

Para a realização das EOAT, foi adaptada uma sonda (com uma oliva de borracha na

ponta) para registro das respostas na primeira orelha a ser testada, e o teste iniciou-se assim

que foram alcançadas condições satisfatórias de estabilização do estímulo. As EOAT foram

captadas inicialmente na orelha direita sem ruído branco contralateral, e em seguida com

ruído. O mesmo procedimento foi feito na orelha esquerda. Na realização das emissões

otoacústicas se teve o cuidado de mesmo antes da colocação do ruído, posicionar o fone para

que não houvesse diferença entre as respostas pelo efeito de oclusão e deslocamento da sonda.

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Imagem 10 – Exame de emissões otoacústicas transientes (Maria Isabel Kós, 2012).

A supressão das EAOT foi determinada pela subtração do nível de resposta das EOAT

sem ruído branco contralateral do nível de resposta das EAOT com ruído branco contralateral.

Foram consideradas respostas positivas quando houve redução maior ou igual a 1dB entre a

amplitude de respostas das emissões otoacústicas sem e com presença de ruído branco

contralateral (efeito de supressão presente). Foi considerado ausência de supressão, quando a

redução da amplitude foi inferior à 1dB, considerando a resposta das emissões com e sem

presença de ruído branco contralateral (ausência do efeito de supressão) (Collet et al, 1992).

Supressão = EOAT sem ruído (–) EOAT com ruído

4.9 ANÁLISE ESTATÍSTICA

A população foi dividida em quartil de acordo com o escore de exposição, e os valores

de supressão em orelha direita (OD) e orelha esquerda (OE); suas respectivas estatísticas

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(média, mediana, etc.) foram avaliadas de acordo com esses quartis. Ainda, os valores de

supressão das EOAT em OD e OE foram correlacionados ao escore de exposição, tratado

agora como variável contínua. Para o cálculo da correlação, utilizou-se o coeficiente de

Spearman (r).

Após análise descritiva, procedeu-se à análise bivariada, considerando-se como

desfecho a ausência de supressão em OD, em OE, ausência de supressão unilateral (OD ou

OE) e ausência de supressão bilateral (OD e OE). Para comparar a ocorrência de ausência de

supressão, de acordo com as variáveis estudadas, foi utilizado o teste Qui-Quadrado de

Pearson.

Finalmente, observou-se, tendo o 1º quartil de exposição (menos expostos) como

referência, a razão de chance (OR) para ausência de supressão nos demais quartis de

exposição. Para isso, utilizou-se a técnica de regressão logística, cuja variável de desfecho foi

a ausência de supressão e a variável de exposição de interesse foram os quartis de exposição.

As análises estatísticas foram realizadas com o programa SPSS, versão 20 for Mac.

4.10 ASPECTOS ÉTICOS

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto de

Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC-UFRJ) sob o

número 67/2011 (Anexo C).

O estudo considerou os aspectos éticos recomendados pela Resolução 196/96 sobre

pesquisa envolvendo seres humanos, incluindo, entre outros, a obtenção do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido dos indivíduos (Anexo 4) e Autorização do Responsável

(Anexo 5), para menores de idade. Todos os indivíduos receberam orientação sobre o

procedimento da pesquisa, e os menores de 18 anos a receberam em conjunto com os pais ou

responsável e concordaram em participar mediante a assinatura em Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido aprovado pela Comissão de Ética do IESC-UFRJ, sob o protocolo nº

67/2011. Foi assegurado que a participação não acarretaria nada que pudesse levar a danos

físicos, psíquicos, morais, intelectuais, sociais, culturais ou espirituais a essas pessoas.

Os casos em que foram detectadas alterações em qualquer uma das avaliações citadas

anteriormente, essas avaliações foram dadas como devolutivas aos sujeitos e/ou aos

responsáveis, bem como foi feito devido encaminhamento para tratamento.

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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Como discussão e resultados serão apresentados três artigos:

- REVISÃO SISTEMÁTICA: EFEITOS DA EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS SOBRE O

SISTEMA AUDITIVO PERIFÉRICO E CENTRAL

- PADRÃO DE EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS EM POPULAÇÃO RURAL DO RIO DE

JANEIRO

- EFEITOS DA EXPOSIÇÃO AO AGROTÓXICO NO SISTEMA AUDITIVO EFERENTE

ATRAVÉS DAS EMISSÕES OTOACÚSTICAS TRANSIENTES COM SUPRESSÃO

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

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REVISÃO SISTEMÁTICA: EFEITOS DA EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS SOBRE

O SISTEMA AUDITIVO PERIFÉRICO E CENTRAL

ARTIGO 1

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REVISÃO SISTEMÁTICA: EFEITOS DA EXPOSIÇÃO A

AGROTÓXICOS SOBRE O SISTEMA AUDITIVO PERIFÉRICO E

CENTRAL

Maria Isabel Kós*

Ana Cristina Hoshino**

Carmen Ildes Fróes Asmus**

Raphael Mendonça**

Armando Meyer**

RESUMO

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as intoxicações agudas por

agrotóxicos são da ordem de três milhões anuais, com 2,1 milhões de casos só nos países em

desenvolvimento. Na última década, no Brasil, o uso de agrotóxicos assumiu proporções

assustadoras. Entre 2001 e 2008 a venda desses produtos saltou de pouco mais de U$2 bilhões

para mais de U$7 bilhões, quando o país alcançou a posição de maior consumidor mundial de

venenos (LONDRES, 2011). O objetivo do trabalho é evidenciar, por meio de revisão

sistemática, se o agrotóxico é ou não ototóxico e, sendo assim, qual seria sua forma de

atuação no sistema auditivo periférico, central, ou se há alterações cognitivas de forma a

contribuir para o diagnóstico e acompanhamento da exposição. Trata-se de uma revisão

sistemática dos estudos publicados sobre os efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema

auditivo. Analisaram-se os estudos contemplados na íntegra e também sua qualidade

metodológica. A pesquisa identificou 143 estudos sobre o tema, sendo que 16 se enquadraram

nos critérios de inclusão. Todos os artigos analisados evidenciaram que a exposição ao

agrotóxico é ototóxica e induz ao dano periférico e/ou central e/ou à alteração cognitiva.

Palavras-chave: Agrotóxicos. Perda auditiva. Perda auditiva central.

* Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ); Curso de

Fonoaudiologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. **

Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ)

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ABSTRACT

Introduction: According to the World Health Organization – WHO, the acute pesticide

intoxications are in the magnitude of three million per year, with 2,1 million cases only in

developing countries. Over the last decade, in Brazil, the use of agrochemicals rose to scary

proportions. Between 2001 and 2008 the selling of these products in the country rocketed

from little more than Us$ 2 billions to more than Us$ 7 billions, reaching the position of

world’s largest consumer of poison. Objective: The objective of the paper, through

systematic revision, is to put in evidence if the agrochemical is or not ototoxic and, if so

being, how would it act on the peripheral or on the central auditory system or if there are

cognitive modifications to contribute for the diagnosis and monitoring of the exposure.

Methodology: It’s a systematic review of published studies about the effects of exposure to

agrochemicals on the auditory system. The fully contemplated studies and also their

methodological quality were analysed. Results: The research identified 143 studies about the

theme, being that 16 fitted the inclusion criteria. Conclusion: All the analysed articles showed

that the exposure to agrochemicals is ototoxic and induces damage to the peripheral and/or

central auditory systems and/or induces cognitive modification.

Keywords: Pesticides. Hearing loss. Central hearing loss.

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Introdução

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as intoxicações agudas por

agrotóxicos são da ordem de três milhões anuais, com 2,1 milhões de casos só nos países em

desenvolvimento. O número de mortes atinge 20 mil em todo o mundo e 14 mil nos países do

terceiro mundo. Mas, acreditam os especialistas, as estatísticas reais devem ser ainda maiores,

pois há falta de documentação a respeito das intoxicações subagudas, causadas por exposição

moderada ou leve a produtos de alta toxicidade e de aparecimento lento com sintomatologia

subjetiva; e das intoxicações crônicas que requerem meses ou anos de exposição e

tardiamente revelam danos à saúde.

Na última década, no Brasil, o uso de agrotóxicos assumiu proporções assustadoras.

Entre 2001 e 2008 a venda desses produtos saltou de pouco mais de U$2 bilhões para mais de

U$7 bilhões, quando o país alcançou a posição de maior consumidor mundial de venenos

(LONDRES, 2011). Levantamentos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) e pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola

(Sindag), em 2009, mostraram um crescimento de 4,59% da área cultivada no período entre

2004 e 2008. Enquanto que no mesmo período as quantidades vendidas de agrotóxicos

subiram aproximadamente 44,6% (CARNEIRO; SOARES, 2010).

No Brasil, em 2009 foram registrados 188 óbitos relacionados ao uso de agrotóxicos, o

que gerou uma letalidade de 3,26% para o país como um todo (segundo o Sistema Nacional

de Informações Tóxico-Farmacológicas – Sinitox), sendo que a maior letalidade foi gerada

pelos agrotóxicos de uso agrícola. Ainda conforme o Sinitox (2009), dos 5612 casos de

intoxicação ocupacional registrados naquele ano, 1163 (20,7%) foram causados por

agrotóxicos.

De acordo com os dados divulgados pelo IBGE em 2010, nos nove anos anteriores

houve um aumento médio de 11% ao ano na venda de agrotóxico. A maior utilização dessas

substâncias é na agricultura, mas elas também são utilizadas na saúde pública, na eliminação e

no controle de vetores transmissores de doenças endêmicas, e ainda no tratamento de madeira

para construção, no armazenamento de grãos e sementes, na produção de flores, para combate

de piolhos e outros parasitas, na pecuária, etc. Além da exposição ocupacional, a

contaminação ambiental coloca em risco de intoxicação outros grupos populacionais, como as

famílias dos agricultores e, em menor grau, a população em geral, que tem a possibilidade de

intoxicar-se principalmente na ingestão de alimentos contaminados (OPAS, 1996).

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Os efeitos nocivos do uso de agrotóxicos para a saúde humana têm sido objeto de

diversos estudos elaborados por profissionais da saúde, os quais têm detectado a presença

dessas substâncias em amostras de sangue humano, no leite materno e resíduos presentes em

alimentos consumidos pela população em geral, apontando para a possibilidade de ocorrência

de anomalias congênitas (RONDA et al., 2005), de câncer (KOIFMAN; HATAGINA, 2003),

de doenças mentais (EDDLESTON; PHILLIPS, 2004), de disfunções na reprodutividade

humana (RUPA; REDDY; REDDI, 1991) relacionadas ao uso de agrotóxicos (SIQUEIRA;

KRUSE, 2008).

Além disso, estudos com substância química têm associado alterações auditivas com

uso de drogas ototóxicas, como na exposição a solventes orgânicos (MORATA et al., 1993) e

agrotóxicos (TEIXEIRA et al., 2003). Até então, todos os estudos sobre os danos auditivos

relacionados à saúde de trabalhadores eram associados quase que exclusivamente aos riscos

de exposição ao ruído. (ATHERLEY, 1971; MORATA et al., 1993; TEIXEIRA et al., 2003).

Muitas vezes a intoxicação ocupacional e ambiental por agrotóxicos é lenta e

silenciosa e as populações podem não sentir dificuldades auditivas que possam ser

demonstradas em um audiograma, mas no seu cotidiano perdem a qualidade sonora de uma

boa compreensão de fala, o que pode se refletir na dificuldade escolar e mesmo na

comunicação com o meio social (AGRAWAL; PLATZ; NIPARKO, 2008).

O objetivo deste estudo foi avaliar através de uma revisão sistemática se a exposição

ao agrotóxico causa alterações auditivas no sistema auditivo periférico e/ou central, atentando

assim para a importância da avaliação auditiva em populações expostas de forma crônica ou

aguda.

1 Métodos

Foi realizada uma revisão sistemática dos estudos publicados a respeito dos efeitos

sobre o sistema auditivo periférico e/ou central relacionados à exposição ao agrotóxico, de

janeiro de 1966 a maio de 2012, período coberto pelo conjunto de bases de dados disponíveis.

Os critérios de inclusão foram: artigos originais de pesquisa, resumos de congressos

específicos e trabalhos de mestrado e doutorado publicados nos anos de 1966 a 2010, em

português, inglês, francês e espanhol, que estudaram os efeitos agudos ou crônicos do

agrotóxico nas vias auditivas periféricas e/ou centrais. Puderam ser incluídos todos os tipos de

estudo: ensaio clínico, estudo de coorte e caso controle, sem restrição de idiomas. Não houve

restrição com relação ao sexo e idade das populações estudadas, nem ao tempo de exposição.

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Foram excluídos artigos de revisão, metanálise, editoriais e relatos de casos e artigos que

relacionavam alterações auditivas com presença de ruído, e não com a exposição ao

agrotóxico.

Foi realizada uma busca para identificar estudos que atendessem aos critérios de

inclusão e exclusão estabelecidos. Na fase de busca não houve restrição com relação ao

idioma dos artigos. Para isso, foram pesquisados os bancos de dados MedLine, de janeiro de

1966 a junho de 2012, Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciências de la Salud

(Lilacs), de janeiro de 1982 a junho de 2012, Scientific Eletronic Library Online (Scielo), de

janeiro de 1997 a junho de 2012, Web of Science e Science Direct e Scopus. Foram ainda

realizadas buscas eletrônicas e manuais por referências citadas nos artigos solicitados; em

sítios eletrônicos relacionados ao tema, como Excerpta Medica, versão on-line (Embase),

Anvisa e Sinitox, Academia Brasileira de Audiologia (ABA), The international Congress of

Audiology (ICA), American Academy of Audiology (AAA) em busca de estudos

apresentados em anais de congressos especializados e em bancos de teses, como o da

Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Istituto

Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC). Os descritores

utilizados, combinados entre si, foram: “audição” ou “hearing” ou “perda auditiva” ou

“hearing loss” ou “alteração cognitiva” ou “cognitive effects” ou “audiometria” ou

“audiometry” e “organofosforado” ou “organophosphates” ou “pesticida” ou “pesticides” ou

“saúde ambiental” ou “ambiental health”.

As referências dos estudos selecionados através da pesquisa nos bancos de dados

foram examinadas em busca de artigos que atendessem aos critérios de seleção. Todos os

estudos selecionados foram inicialmente analisados através dos seus resumos. Aqueles em

que o estudo pesquisou associação do agrotóxico com alteração auditiva foram analisados na

íntegra.

Os dados de cada estudo foram coletados, independentemente, por dois revisores

através de formulários pré-delineados, que incluíram: variáveis correspondentes aos critérios

de elegibilidade, variáveis referentes aos indivíduos envolvidos nos estudos (idade, sexo,

ocupação), tipo de estudo (seccional, coorte, caso controle), variáveis de exposição (crônica

ou aguda), número de indivíduos do estudo, presença de grupo controle, utilização de

biomarcadores, tipo de avaliação realizada no estudo (questionários, audiometria, emissão

otoacústicas, imitanciometria, potencial evocado e/ou testes cognitivos) e conclusão

compatível com os resultados.

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Os trabalhos foram avaliados quanto à qualidade metodológica. Foi desenvolvida uma

tabela, adaptada da avaliação de qualidade Cochrane Collaboration (HIGGINS; GREEN,

2009), do resumo de risco de viés. Foram analisados oito itens nos artigos: especificação dos

critérios de inclusão da população; presença de justificativa para o tamanho da amostra;

presença de grupo controle; ausência de viés de seleção, aferição e perda; qualidade da

avaliação realizada para pesquisar as vias auditivas; exposição somente a agrotóxico; presença

de biomarcador; e a conclusão compatível com os resultados. Cada uma dessas questões foi

respondida com “sim”, “não”.

3 Objetivos

O objetivo do trabalho foi evidenciar, por meio de revisão sistemática, se o agrotóxico

é ou não ototóxico e, sendo assim, qual seria sua forma de atuação no sistema auditivo

periférico, central, ou se há alterações cognitivas de forma a contribuir para o diagnóstico e

acompanhamento da exposição. Tratou-se de uma revisão sistemática dos estudos publicados

sobre os efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo.

2 Resultados

A pesquisa eletrônica identificou nas bases de dados 135 estudos publicados sobre o

tema; foram identificados mais oito estudos através de pesquisas por referência bibliográfica

de forma manual, sendo que um deles é uma tese, e não foi encontrado nenhum tema livre.

As principais revistas em que os estudos foram encontrados: Journal of Agricultural Safety

and Health (14), American Journal of Industrial Medicine (13) e Journal of Agromedicine (7).

Inicialmente foram excluídos 42 estudos, por estarem repetidos. Dos 101 estudos

restantes, 64 foram excluídos por serem revisões de literatura, estudos realizados em

laboratório ou com cobais, ou por não estarem associados ao assunto pesquisado. Outros 4

resumos foram excluídos por estarem em outra língua (polonês, russo e alemão). Os 33

estudos restantes foram analisados com os textos completos, sendo que 17 foram excluídos,

por associarem as alterações auditivas somente com exposição ao ruído, sem abordarem o uso

do agrotóxico, ou por estudarem somente alterações vestibulares (do labirinto) (THELIN,

1983; KARLOVICH, 1988; PLAKKE, 1992; GOMEZ, 2001; SOLECKI, 2002; WILLIAMS,

2003; Stewart, 2003; Kerr, 2003; Solecki, 2003; Miyakita, 2004; HASS-SLAVI, 2005;

YOKOYAMA, 2006; CARRUTH, 2007; GATES, 2007; ESKENAZI, 2007; AYBEK, 2009;

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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LOWER, 2010). Somente 16 estudos satisfizeram os critérios de inclusão. Apesar de a

pesquisa ter abrangido estudos a partir de 1966, só foram encontrados artigos relacionados ao

assunto estudado a partir de 2000 (Figura 1).

Figura 1 — Descrição dos estudos encontrados nas bases de dados

A Tabela 1 traz informações sobre os estudos incluídos nesta revisão. Dos 16 artigos

que se enquadraram nos critérios de inclusão, dois foram realizados com crianças e

adolescentes, avaliando a exposição ambiental. Um desses artigos avaliou indivíduos que

tentaram se suicidar com doses elevadas de agrotóxico, estudando a exposição aguda, outro

avaliou pilotos agrícolas com exposição aos agrotóxicos, e doze avaliaram agricultores com

exposição crônica a agrotóxicos. Onze artigos foram publicados no idioma inglês e cinco em

língua portuguesa, sendo que seis estudos foram realizados nos Estados Unidos, três no Sri

Lanka, um na Alemanha e seis no Brasil. A maior parte abordou o efeito crônico de

agrotóxico em trabalhadores rurais e/ou familiares, sendo que quatro deles estudaram também

o efeito da exposição ao ruído ocupacional, emitido principalmente pelo trator. Em conjunto,

os estudos cobriram uma população de 20.763 indivíduos, variando de estudo com grupo de

32 indivíduos a estudo com grupo de 14.229 indivíduos. Entre esses estudos somente um

135 estudos foram identificados através de busca pelas bases de dados

42 foram removidos por estarem duplicados

8 estudos foram identificados através outras pesquisas (referências, pesquisa manual).

101 estudos foram triados

33 artigos completos foram elegíveis para serem avaliados

16 estudos foram incluídos na pesquisa

17 estudos foram excluídos por associarem as alterações auditivas somente com ruído, sem levarem em

consideração o uso do agrotóxico.

68 foram excluídos por serem estudos de revisão ou com cobaias ou em línguas de difícil tradução.

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realizou pesquisa de biomarcador através da pesquisa de metabolito para organofosforado na

urina. O estudo que avaliou a exposição aguda fez o diagnóstico através de avaliação clínica

do quadro de sintomas e sinais, todos os outros estudos avaliaram a exposição a agrotóxicos

através de questionários.

A população estudada foi principalmente de agricultores expostos a agrotóxicos (12

estudos) e dois artigos foram voltados para pulverizadores de veneno para dengue. Foram

realizadas pesquisas somente através de questionário para avaliar a alteração auditiva (dois),

que foram os estudos seccionais. Dois avaliaram a função cognitiva, nove avaliaram a audição

periférica através da audiometria tonal e vocal, um avaliou o processamento auditivo central e

três avaliaram as vias auditivas centrais através do potencial evocado auditivo de média e

longa latência.

Dentre os 16 estudos encontrados, 25% deles possuíam delineamento seccional; 12,5%

eram estudos de coorte, sendo 6,25% coorte prospectivo e 6,25% coorte retrospectivo; e,

finalmente, 62,5% foram estudos descritivos. Com relação ao tipo de exposição, 18,75%

foram estudos com exposição ambiental; 18,75% com exposição ocupacional e ambiental e

62,5% somente com exposição ocupacional. Sobre os sintomas, 50% avaliaram as vias

auditivas através da audiometria tonal; 18,75% avaliaram com potenciais evocados; 18,75%

avaliaram disfunção cognitiva/processamento auditivo; e 12,5% utilizaram somente

questionário para avaliar capacidade auditiva. Consensualmente, todos os estudos,

considerando suas medidas de ocorrência/associação, encontraram correlação entre a

exposição avaliada e alteração nas vias auditivas (periférica e/ou central).

Todos os artigos analisados evidenciaram que a exposição ao agrotóxico induz ao

dano periférico e/ou central e/ou à alteração cognitiva; nos artigos que avaliaram também o

ruído, foi observado que este é um fator que potencializa os efeitos tóxicos.

Com relação à avaliação da qualidade metodológica (Tabela 2) dos artigos, as

especificações de inclusão da população em todos os estudos foram feitas de maneira

criteriosa. Sete estudos usaram um tamanho de amostra reduzido, sem justificá-lo, somente

nove tiveram presença de grupo controle. Com relação à qualidade da avaliação realizada para

pesquisar as vias auditivas, quatro estudos utilizaram somente questionários, diminuindo a

acurácia da avaliação, e um estudo utilizou audiometria tonal em somente parte da população

(1727 / 416). Somente um dos estudos realizou a pesquisa de biomarcador, essa pesquisa foi

realizada através do estudo dos metabólitos. Todos os estudos obtiveram conclusões

compatíveis com os resultados encontrados. A maioria dos artigos teve avaliação moderada

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por parte dos revisores, pelos seguintes motivos: ausência de grupo controle, avaliação

exclusivamente realizada através de questionários e ausência de biomarcador.

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Tabela 1 – Descrição dos estudos selecionados para revisão sistemática.

Autor, ano População

exposta

Substância

química

Tipo de

estudo

Tipo de

exposição

N.

Pop.

Sintomas

estudados

Resultado Resultados estatísticos

BECKETT

et al., 2000.

Fazendeiros Agrotóxicos Seccional Ocupacional

e ambiental

1727 Questionário, em

parte do grupo

audiometria tonal

(416)

Os achados sugeriram que os

fazendeiros apresentaram uma alta

prevalência de alterações auditivas,

principalmente se associada com o

envelhecimento, sexo masculino,

baixa escolaridade, uso de outros

produtos químicos e exposição a

ruído.

p<0,05 associação perda auditiva com

idade, sexo, baixa escolaridade, uso de

produtos químicos e ruído.

Aplicadores de pesticida apresentaram 3%

a mais de perda auditiva do que aqueles

que referiram não serem aplicadores.

Homens apresentaram sete vezes mais

perda auditiva nas frequências agudas que

as mulheres.

BOSMA et

al., 2000.

Indivíduos

expostos a

organofosforado,

solventes

orgânicos, metais

e outras

substâncias

químicas

Agrotóxicos,

solventes

orgânicos,

metais e/ou

outras

substâncias

tóxicas

Seccional Crônico,

ocupacional e

ambiental

1604 Disfunção

cognitiva leve

Os achados do estudo sugeriram que

o risco de desenvolver disfunção

cognitiva leve é aproximadamente

cinco vezes maior no grupo exposto

a pesticidas do que no grupo não

exposto.

Expostos a pesticidas apresentaram OR:

4,94 (IC95% 1,53 - 16,1) de

desenvolverem disfunção cognitiva leve.

HWANG et

al., 2001.

Fazendeiros ou

residentes

próximos às

fazendas

Agrotóxico Descritivo Ocupacional

e ambiental

1622 Questionário

sobre dificuldade

auditiva

Foi observada maior prevalência de

PA nos fazendeiros, agravada pela

exposição a ruído.

Prevalência de perda auditiva em

agricultores expostos a ruído e pesticida:

1º quartil 8.6% 1.0

2º quartil 16.8% 1.94 (1.32-2.85 -

IC 95%)

3º quartil 26.7% 3.09 (2.17-4.41 -

IC 95%)

4º quartil 35.9% 4.15 (2.95-5.85 -

IC 95%)

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

36

TEIXEIRA

et al., 2002.

Pulverizadores

de veneno contra

dengue

Organofosfor

ado e

piretroides

Coorte

Retrospectiva

Ocupacional 152 Teste de

processamento

auditivo central

Os resultados sugerem que a

exposição a piretroides e

organofosforado afetam as funções

auditivas centrais.

56% dos expostos apresentaram

alterações de processamento auditivo

central, RR: 7,58 para o grupo exposto

(IC95% 2,9-19,8), comparando com os

não expostos.

TEIXEIRA

et al., 2003.

Pulverizadores

de veneno contra

dengue

Organofosfor

ado e

piretroides

Descritivo Ocupacional 149 Audiometria

tonal e vocal

Os resultados sugerem que as

exposições crônicas aos inseticidas

piretroides e organofosforados

podem afetar o sistema auditivo

periférico, independentemente de

exposição ao ruído.

Dentre os expostos apenas aos inseticidas,

63,8% apresentaram PA, com tempo

médio para desenvolver a PA de 7,3 anos.

Para o grupo com exposição a ruído e

agrotóxico a PA foi de 66,7%, com tempo

médio para desenvolver a PA de 3,4.

MANJABO

SCO et al.,

2004.

Trabalhadores

rurais

Agrotóxicos Descritivo Ocupacional 84 Audiometria

tonal e vocal

O fator ocupacional dos

trabalhadores da empresa agrícola

estudada teve grande impacto nos

achados audiométricos dos

indivíduos avaliados, não só o ruído

mas a exposição ao agrotóxico

tiveram influência na audição.

No exposto, 60% (25) dos agricultores

apresentam limiares alterados. Destes, 23

foram sugestivos de PA ocupacionais,

incluindo as PAIR, e por ototóxicos (17%

expostos somente a ruído e 83% a ruído e

agrotóxicos). O zumbido frequente esteve

presente em 57% (13) dos casos. No

grupo controle, apenas 7% (3) dos sujeitos

apresentaram limiares alterados.

CHOI et al.,

2005.

Trabalhadores

rurais

Agrotóxicos Seccional Ocupacional 150 Audiometria

tonal e vocal

Este estudo mostrou uma evidência

substancial de que a atividade

agrícola pode trazer risco para a

audição.

A RT para expostos a inseticida foi de

1,19 (IC95% 1,04-1,35) e para

organofosforado de 1,17 (IC95% 1,03-

1,31). A RT para perda auditiva foi

elevada para aqueles em que ocorreram

casos agudos 1,81 (IC95% 1,25-2,62).

LIZARDI

et al., 2007.

Crianças

hispânicas

moradoras de

uma comunidade

agrícola

Organofosf. Descritivo Ambiental 48 Função cognitiva

e

comportamental

Em todas as crianças foram

detectados níveis mínimos de

metabólitos de organofosforado

(OP). Concentrações elevadas de

metabólitos de OP foram associadas

significantemente com um

desempenho mais pobre nos testes

cognitivos e comportamentais.

Níveis altos de concentração de

metabólitos de organofosforado tiveram

alto índice de correlação com erros nos

testes cognitivos:

r = 0.31(p = 0.03)

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

37

CRAWFOR

D et al.,

2008.

Aplicadores de

pesticidas /

indivíduos não

expostos

ocupacionalment

Herbicidas,

inseticidas,

fungicidas,

fumigantes.

Coorte Ocupacional 14229 Dificuldade

auditiva,

avaliada através

de questionários

O estudo mostrou que a perda

auditiva está significativamente

associada às atividades agrícolas,

e que podem ser agravadas com

presença de ruído.

O PA na melhor orelha apresentou RR =

1,62; para perda assimétrica, RR = 1,67; e

a queixa de não escutar bem, registrada

através de questionário, foi de RR = 1,96.

A exposição a pesticida apresentou OR de

1.19 (1.04 – 1.35, IC95%) para perda de

audição.

RENICK et

al., 2009.

Crianças e

adolescentes

moradores de

cidades rurais

Agrotóxicos Descritivo Ocupacional

e ambietal

212 Audiometria

tonal e vocal

O estudo sugeriu que perda auditiva

é um problema comum nos

fazendeiros adultos, e que talvez

possa ser um problema para jovens

fazendeiros também.

Aprox. 50% dos jovens fazendeiros

apresentaram uma queda nas altas

frequências, em particular a de 6000 Hz.

Essa perda é aproximadamente 2 vezes

maior que a da população nacional.

DASSANA

YAKE et

al., 2009.

Trabalhadores

expostos a

organofosforados

Organofosf. Descritivo Ocupacional 73 Pesquisa do

potencial de

longa latência

Foi encontrado aumento da latência

P300 nos indivíduos intoxicados por

organofosforado (OP) em relação ao

grupo controle.

Na comparação da latência do P300 nos

grupos controle e indivíduos intoxicados

com OP, o p valor foi de 0,003 com

diferença média 39,9 (13,7-66,0, IC95%).

DASSANA

YAKE et

al., 2009.

Fazendeiros. Organofosf. Descritivo Ocupacional 73 Pesquisa do

potencial

evocado auditivo

de média e longa

latência

Os fazendeiros apresentaram mais

erros na contagem de oddball. A

latência do P300 e N2 apresentou

diferença estatística significativa

entre os dois grupos.

Foi observada diferença significativa

entre os grupos controle e agricultores nos

seguintes resultados:

latência N200 p = 0,019 dif. 14,2

(2,4-25,9 IC95%)

latência P300 p = 0,0006 dif.

32,1(14,1-50,0 IC95%)

erros contagem p = 0,044 dif.

1,5(0,4-3,0 IC95%)

FOLTZ et

al., 2010.

Pilotos agrícolas Agrotóxicos Descritivo Ocupacional 41 Questionário

sobre rotina de

trabalho e

audição e

audiometria tonal

O estudo concluiu que pilotos

agrícolas apresentaram um alto

índice de perda auditiva. Tal

atividade ocupacional envolve

contato com agrotóxicos e nível alto

de ruído.

Ocorrência de perda auditiva sugestiva de

PAIR em 29,3%. Houve tendência

estatística na associação entre

configuração audiométrica e contato com

agrotóxico (p = 0,088).

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

38

GUIDA et

al., 2010.

Trabalhadores

expostos a ruído

e expostos a

ruído e

praguicidas

Praguicidade

(produto

químico

Malathion)

Descritivo Ocupacional 80 Análise de

prontuário

hospitalar e

audiometria tonal

Os trabalhadores expostos ao ruído

ocupacional e aos praguicidas

possuem maior risco de perda

auditiva do que os trabalhadores

expostos somente ao ruído

Foi observada diferença significativa

entre os grupos na orelha esquerda em

3.000Hz com p = 0,008 e na frequência de

4.000Hz na orelha direita com

p = 0,007 e orelha esquerda com

p = 0,023.

JAYASING

HE;

PATHIRA

NA, 2011.

Agricultores que

igeriram

paraquat e

organofosforado

Organofosf. e

paraquat

Descritivo Ambiental 168 Potencial

evocado auditivo

de tronco

encefálico

Não foi observada alteração

significativa nas vias auditivas

comparando o grupo controle com

os agricultores que ingeriram

paraquat e organofosforado.

A latência de interpico não apresentou

diferença estatística significante entre o

grupo controle e a primeira avaliação,

nem entre o controle e a segunda

avaliação e nem primeira e segunda

avaliação do grupo intoxicado.

OLIVEIRA

et al., 2012.

Agricultores Agrotóxicos Seccional Ocupacional 351 Questionário de

índice de

qualidade de

vida e

audiometria

tonal

Este estudo observou que os

agricultores usuários de agrotóxicos

apresentaram piores escores de

qualidade de vida quando

comparados com aqueles que não

utilizaram. Outro aspecto relevante

foi que o uso de agrotóxico e sua

classe toxicológica interferiram de

maneira impactante no grau de

perda auditiva apresentada nos

participantes.

Apresentaram resultados estatisticamente

significantes, com p<0,001, entre o grupo

não usuário e usuário de agrotóxico, idade

do trabalhador, tempo de trabalho rural,

presença de dor, vitalidade e saúde mental.

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

39

Tabela 2 – Descrição qualitativa dos estudos selecionados para revisão sistemática.

Cri

téri

os

de

incl

usã

o d

a

po

pu

laçã

o

Tam

anh

o d

a

amo

stra

Gru

po

co

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ole

Au

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s

Av

alia

ção

real

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estu

do

Ex

po

siçã

o

som

ente

a

agro

tóx

ico

Pre

sen

ça d

e

bio

mar

cado

r

Res

ult

ado

con

cret

o

BECKETT, 2000

BOSMA, 2000

HWANG, 2001

GOMEZ, 2001

TEIXEIRA, 2002

TEIXEIRA et al., 2003

MANJABOSCO, 2004

CHOI et al., 2005

LIZARDI et al., 2007

DASSANAYAKE,

2007

CRAWFORD, 2008

RENICK et al., 2009

DASSANAYAKE,

2009

FOLTZ, 2010

GUIDA, 2010

OLIVEIRA, 2012

Sim (baixo risco de viés)

Não (alto risco de viés)

3 Discussão

Apesar da busca exaustiva em bases de dados e do período coberto pela revisão (vinte

e um anos), foram encontrados apenas dezesseis trabalhos sobre o tema, dos quais apenas seis

foram realizados no Brasil (TEIXEIRA et al., 2003; TEIXEIRA et al., 2003; MANJABOSCO

et al., 2004; FOLTZ et al., 2010; GUIDA, 2010; OLIVEIRA, 2012), evidenciando o incipiente

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

40

desenvolvimento da audiologia relacionada às substâncias químicas. O uso de agrotóxicos,

principalmente em países subdesenvolvidos, vem aumentando a cada dia, sendo

importantíssima a realização de estudos sobre a exposição ocupacional e ambiental.

Uma vez reconhecido que os agrotóxicos são neurotóxicos e que sua atuação pode ser

lenta e insidiosa (ASMUS et al., 2002), encontramos apenas três estudos que avaliaram o

sistema auditivo central e a grande maioria foram estudos seccionais e não de coorte. A

exposição a longo prazo produz alterações clínicas que muitas vezes não são detectadas no

exame neurológico e nem pelos marcadores biológicos e que, silenciosamente, modificam a

vida do indivíduo exposto. Os sintomas subclínicos, considerados como sinal precoce da

intoxicação (LEVERIDGE, 1998; GOMES et al., 1998) podem ser avaliados por meio de

exames neurofisiológicos e neuropsicológicos (ELLENHORN, 1997), apresentando

alterações tanto do sistema nervoso periférico como do central (LAL et al., 2004; ARAÚJO et

al., 2007).

Os sujeitos que foram incluídos nas pesquisas eram, em sua grande maioria,

trabalhadores expostos de formas variadas à substância química, assim, não conseguimos

chegar a um consenso sobre quais são as ocupações mais insalubres ou quais são as atividades

que mais expõem os trabalhadores.

A falta de descrição exata dos tipos de agrotóxicos utilizados corrobora com a

literatura no consenso de que os agricultores utilizam vários tipos de agrotóxicos ao mesmo

tempo, de variados graus de periculosidade (HOSHINO, 2009). Essa dificuldade dos

pesquisadores em delimitar a substância química é um fator que restringe a avaliação clínica,

o diagnóstico e o tratamento, principalmente se os marcadores biológicos não são aferidos nas

pesquisas. Apenas um artigo utilizou tal instrumento de avaliação.

É necessário que sejam realizados novos estudos para avaliar principalmente as

alterações que os agrotóxicos podem causar no sistema auditivo central e tentar correlacionar

com os diferentes tipos de substâncias químicas (herbicidas, fungicidas, inseticidas,

praguicidas, etc.).

4 Conclusão

A adversidade das pesquisas demonstra que o monitoramento e a avaliação dos riscos

causados pela exposição são múltiplos, com uma heterogeneidade importante. A maior

dificuldade da literatura se encontra exatamente neste ponto, pois se torna difícil a

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

41

comparação. Os estudos demonstram que os agrotóxicos são ototóxicos, lesando diversas

áreas do sistema auditivo periférico e central.

Na medida em que essa revisão mostra evidência de associação entre exposição a

agrotóxicos e alteração auditiva periférica e central, é importante que se faça um bom

diagnóstico audiológico para que sejam aplicadas medidas preventivas para minimizarem ou

acabarem com as intoxicações agudas e crônicas.

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

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PADRÃO DE EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS EM POPULAÇÃO RURAL DO RIO

DE JANEIRO

ARTIGO 2

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

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PADRÃO DE EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS EM POPULAÇÃO RURAL DO RIO

DE JANEIRO

Maria Isabel Kós*

Tatiana Garcia*

Gesiele Veríssimo**

Janinne Alves **

Carolyne Cosme**

Raphael Mendonça**

Armando Meyer**

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi descrever o padrão de exposição aos agrotóxicos dentre alunos e

familiares de uma escola agropecuária, inserida numa região de intensa atividade agrícola em

Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, considerando características sociodemográficas, hábitos e

práticas de trabalho relacionadas aos agroquímicos. A população estudada foi composta de

alunos e familiares de ambos os sexos, com idade variando entre 06 e 85 anos (N =356).

Através de um questionário foi analisado o grau de exposição ao agrotóxico de moradores da

região. Foram entrevistados 167 indivíduos do sexo feminino (47,4%) e 185 do sexo

masculino (52,6%). As idades variaram de 6 a 85 anos, com predomínio da faixa etária entre

de 10 e 19 anos (71,3%), da população solteira (77,5%) e com ensino fundamental incompleto

(54,5%). Em relação à ocupação, 162 (45,5%) declararam ser agricultores e 141 (39,6%)

estudantes. Do total, 15,5% disseram também trabalhar na lavoura, apesar de não se

considerarem agricultores. As variáveis que mostraram associação com a exposição foram

sexo (p<0,001), escolaridade (p<0,001) e ocupação (p<0,001). O estudo mostra que a

população infantojuvenil está tão exposta aos agroquímicos quanto os adultos, e sugere que o

sexo e a escolaridade estão associados diretamente ao escore de exposição.

Palavras-chave: Agricultor. Questionário. Agrotóxico.

_________________________

* Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ); Curso de

Fonoaudiologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. **

Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ)

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

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ABSTRACT

Objective: The objective of this paper was to describe the pattern of exposure to

agrochemicals between students and family members of an agricultural school, inserted in a

region of intense agricultural activity in Nova Friburgo, Rio de Janeiro, considering socio-

demographic characteristics, habits, and work practics related to agrochemicals. Methods:

The studied population was formed by students and familiy members of both genders, of ages

ranging from 06 to 86 years old (N=356). With a questionnaire it was analysed the degree of

exposure to agrochemicals of the inhabitants in the area. Results: 167 individuals of the

feminine gender (47,4%) and 185 of the masculine gender (52,6%) were interviewed. The

ages ranged from 6 to 85 years old, with predominance between 10 and 19 years old (71,3%),

single, (77,5%) and with unfinished fundamental education (54,5%). As to ocupation, 162

(45,5%) declared being farmers and 141 (39,6%) students. Of the total, 15,5% said also work

with farming, though did not declare themselves farmers. The variables that showed

association with the exposure were gender (p<0,001), schooling (p<0,001) and occupation

(p<0,001). Conclusion: The study showed that the juvenile population is as exposed to the

agrochemicals as are the adults, and suggests that gender and schooling are associated directly

to the exposure score.

Keywords: Farmer.Questionnaire. Pesticides.

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Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

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Introdução

Após a Segunda Guerra Mundial, no cenário social, político e econômico, a fome

mostrava-se cada vez mais grave em várias partes do mundo. Os países vencedores buscaram

na agricultura a alternativa para manter os grandes lucros obtidos no período de conflito. A

Revolução Verde passou a ser tratada como a resolução do problema da fome através do

direcionamento das sobras de material de guerra (indústria química e mecânica) para o

campo, transformando-o num cenário de profunda modernização agrícola, integrado com

capitais industriais, comerciais e financeiros (ANDRADES; GANIMI, 2007).

No Brasil, foi na década de 1970 que os agrotóxicos, adubos e fertilizantes químicos

ganharam espaço no setor do agronegócio. Quem implantou esse modelo foi o governo, junto

a empresas multinacionais, através do uso de maquinários no processo de produção,

estimulado principalmente pela implantação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR).

Esse sistema vinculava a concessão de empréstimos à fixação de percentual a ser gasto com

agrotóxicos (PERES, 1999). Como consequência, algumas modificações impactantes sobre o

ambiente e a saúde humana foram sendo observadas (MOREIRA et al., 2002; ALVES, 2000).

Com o intuito de aumentar a oferta de alimento para população junto à pressão do

mercado para melhorar a aparência dos produtos, o uso desses químicos ainda hoje é a

principal estratégia utilizada no campo para o combate e prevenção de pragas agrícolas

(OLIVEIRA-SILVA et al., 2001; ARAÚJO, 2007). Os gastos mundiais com agrotóxicos têm

um aumento exponencial. No Brasil, o aumento de vendas de agrotóxicos cresceu 945,51%

entre 1998 e 2008. Nos últimos anos, a agricultura nacional foi a que mais cresceu em

exportações (SINDAG, 2012).

A região serrana do Rio de Janeiro é uma das principais produtoras de hortaliças do

Estado. Dados do IBGE de 2002 mostraram que essa região teve o maior índice de consumo

de agrotóxicos do país, chegando a um consumo médio estimado em 56,5 kg de

agrotóxicos/trabalhador/ano (PERES, 1999). A dupla sazonalidade das lavouras

(verão/inverno) permite o cultivo anual ininterrupto. Há predominância da policultura, com

mão de obra 100% familiar – características típicas de comunidades camponesas, fruto da

origem europeia dos núcleos familiares da região –, onde adultos e crianças se ajudam

mutuamente no trabalho, colocando-se sob o risco de contaminação ocupacional e ambiental.

A exposição química pode ser a mais preocupante, uma vez que as residências e as escolas

estão localizadas muito próximas das lavouras, possibilitando a contínua exposição não

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Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

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ocupacional (MOREIRA et al., 2002). A inexistência de indústrias nessa microrregião afasta a

possibilidade de qualquer outra fonte de exposição além daquela de origem agrícola.

Estudos prévios dessa região mostraram que adultos e crianças estão diretamente

expostos aos inseticidas aplicados no campo, apresentando níveis reduzidos de colinesterase

plasmática e acetilcolinesterase eritrocitária (MOREIRA et al., 2002; ARAÚJO et al., 2007).

Os impactos sobre a saúde humana dos trabalhadores brasileiros residentes em áreas de

exposição significativa e elevada a múltiplos agrotóxicos precisam ser apontados e

acompanhados como no Estudo de Saúde Agrícola (Agricultural Health Study – AHS). Este é

o maior estudo longitudinal com agricultores no mundo, que através de um programa

multicêntrico nos EUA tem providenciado grande sorte de informações, as quais têm sido

usadas para criação de ambientes de trabalho mais seguros e estilos de vida mais saudáveis

entre as famílias rurais.

O objetivo deste trabalho foi descrever o padrão de exposição aos agrotóxicos dentre

alunos e familiares de uma escola agropecuária, inserida numa região de intensa atividade

agrícola em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, considerando características

sociodemográficas, hábitos e práticas de trabalho relacionadas aos agroquímicos. Esse estudo

também teve o intuito de determinar associações entre graus de exposição e dados

sociodemográficos e de ocupação.

1 Materiais e métodos

Inicialmente realizamos uma pesquisa para escolha do local de estudo. A seleção do

Colégio Estadual Agrícola Rei Alberto I (IBELGA) de ensino em agropecuária se deu pelo

contato com a secretaria estadual de agricultura de Nova Friburgo. Os alunos dessa escola

participam da agricultura familiar, facilitados pela pedagogia de alternância, que intercala um

período de convivência na sala de aula com outro no campo, com intuito de diminuir a evasão

escolar.

O Colégio pesquisado está localizado na micro região da bacia de São Lourenço. Essa

região localiza-se a altitude entre 1000 e 1200 metros, e as montanhas que a cercam são as

principais do estado, a Serra do Mar e a Serra dos órgãos, que chegam a alcançar 2.400 m

entre os morros dos Três Picos e da Caledônia, a 45 km sudoeste da sede do município de

Nova Friburgo. Nessa região as lavouras são localizadas nas encostas coluviais e nas

planícies.

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Apesar de o colégio estar localizado na micro região da bacia de São Lourenço, seus

alunos residem principalmente em outras comunidades do Terceiro Distrito do Campo do

Coelho. Essa população também encontra-se exposta aos agrotóxicos por via ambiental,

ocupacional e alimentar.

Foram convidados a participar do estudo todos os alunos do IBELGA e seus

familiares. A população estudada foi composta de alunos e familiares de ambos os sexos, com

idade variando entre 06 e 85 anos (N = 356). Todos os indivíduos que aceitaram participar da

pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi submetido e

aprovado, seguindo as normas do Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos em

Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob o número 67/2011.

Para estimar o grau de exposição, utilizamos um questionário adaptadado do Farmer

Applicator Questionnaire (AGRICULTURAL HEALTH STUDY, 1996). A aplicação do

questionário foi realizada por dois aplicadores previamente treinados.

O questionário continha informações gerais (endereço, sexo, estado civil e

escolaridade); de ocupação e hábitos (ocupação, tempo de trabalho, tipo de atividades e

cultivos na lavoura); de saúde (presença de pressão alta, colesterol e diabetes, consumo de

medicamentos); e informações auditivas (história auditiva, percepção auditiva e zumbido). Os

agrotóxicos mais utlizados na região também foram investigados através do instrumento, bem

como o processo de trabalho, o tempo e o tipo de exposição.

Com o intuito de estabelecer um escore da exposição, foram atribuídas pontuações

para cada variável relacionada à exposição aos agrotóxicos. Para classificar a idade com que o

indivíduo entrou em contato com o agrotóxico, foi utilizado uma pergunta com pontuação

variando de 0 a 2 pontos. Para o tempo de exposição, horas trabalhadas, proximidade da

residência com a lavoura e a quantidade de uso do veneno por mês a pontuação variou entre 0

a 3 pontos para cada item. Para o contato direto com os agrotóxicos houve uma variação entre

0 a 4 pontos. As atividades realizadas na lavoura foram categorizadas considerando os escores

propostos por Dosemeci et al. (2002), essa pontuaçãos variou entre 0 e 9 pontos (Tabela 1).

A maior pontuação classificou os indivíduos mais expostos e as menores pontuações

os indivíduos menos expostos. Assim, através do questionário, os indivíduos puderam

apresentar scores variando de 0 a 76 pontos.

As variáveis sociodemográficas foram analisadas em conjunto com as variáveis de

exposição. Para as variáveis quantitativas com distribuição normal foram usados os testes de

T de Student e para as variáveis de distribuição assimétrica os testes de Mann-Whitney. O

nível de significância adotado foi de 0,05.

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Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

51

Foi realizada a análise multivariada através da técnica de regressão linear múltipla,

cujas variáveis (sexo, idade, estado civil, escolaridade e profissão) inseridas no modelo,

através da técnica stepwise, foram aquelas com significância estatística evidenciada na análise

bivariada. A análise estatística dos dados foi realizada através do programa SPSS para

Windows versão 20.0.

Tabela 1 – Categorização das atividades realizadas na lavoura

Às vezes Sempre Nunca

Atividades

realizadas

na lavoura

Capinar 1 ponto 1 ponto 0 pontos

Covar 1 ponto 1 ponto 0 pontos

Semear 1 ponto 1 ponto 0 pontos

Adubar 1 ponto 1 ponto 0 pontos

Fazer leras 1 ponto 1 ponto 0 pontos

Estercar 1 ponto 1 ponto 0 pontos

Desbrotar 1 ponto 1 ponto 0 pontos

Colher 1 ponto 1 ponto 0 pontos

Preparar

veneno p/

aplicação

9 pontos 9 pontos 0 pontos

Puxar

mangueira p/

pulverização

8 pontos 9 pontos 0 pontos

Pulverizar c/

costal ou

mangueira

9 pontos 9 pontos 0 pontos

Lavar costal

depois da

aplicação

8 pontos 8 pontos 0 pontos

Armazenar o

agrot./veneno

9 pontos 9 pontos 0 pontos

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Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

52

2 Resultados

Foram aplicados 356 questionários, sendo quatro deles excluídos da análise por

problemas no preenchimento. O resultado encontrado refere-se aos informantes desta pesquisa

(n = 352), não tendo o objetivo de representar toda a população.

Os principais dados sociodemográficos da amostra estudada estão demonstrados na

Tabela 2. Foram entrevistados 167 indivíduos do sexo feminino (47,4%) e 185 do sexo

masculino (52,6%). As idades variaram de 6 a 85 anos, com predomínio entre a faixa etária de

10 a 19 anos (71,3%), população solteira (77,5%) e com ensino fundamental incompleto

(54,5%). Em relação à ocupação, 162 (45,5%) declararam ser agricultores e 141 (39,6%)

estudantes. Do total, 15,5% disseram também trabalhar na lavoura, apesar de não se

considerarem agricultores.

Tabela 2 – Dados sociodemográficos da população estudada (n = 352)

Variáveis selecionadas N %

Sexo

Homens 185 52,6

Mulheres 167 47,4

Distribuição (faixa etária)

0 – 9 anos 6 1,7

10 – 19 anos 254 72,2

20 – 39 anos 53 15,1

40 – 59 anos 31 8,8

> 60 anos 8 2,3

Escolaridade

Analfabeto 7 2

Fundamental 218 62,6

Médio 105 30,2

Superior incompleto 18 5,1

Estado civil

Solteiro 276 80,7

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53

Casado 58 17

Outros 8 2,4

Ocupação

Agricultor 162 45,5

Estudante 141 39,6

Outras 49 14,9

A maioria dos entrevistados, 200 (57%) deles, participa ativamente do processo

produtivo agrícola, seja na lavoura e/ou na horta da residência. Os cultivos mais frequentes

registrados foram de: tomate (33,33%), couve-flor (19,71%), salsa (7,51%), brócolis (6,57%)

e alface e couve (6,10%).

Foram 44 os agrotóxicos referidos no questionário como utilizados pelos indivíduos;

os agrotóxicos são pulverizados sozinhos ou combinados pelos agricultores. Os mais citados

foram os herbicidas glifosato e paraquat, o fungicida carbamato e os inseticidas avermectina e

organofosforados (Tabela 3).

Tabela 3 – Agrotóxicos mais utilizados na comunidade rural

Tipo agrotóxico Nome Grupo químico % uso

Inseticidas Tamaron®

Organofosforado 33,4

Inseticidas Polytrin®

Organofosforado 24,7

Inseticidas Turbo® Piretroides 7,7

Inseticidas Fastac®

Piretroides 14,8

Inseticidas Verimec®

Avermactina 33,8

Herbicidas Roundup®

Aminofosforado 75,3

Herbicidas Gramoxone®

Bipiridicos 51,7

Fungicidas Curzate br®

Dimetilditro carbamato 43,8

A maioria da população estudada referiu ter algum contato com agrotóxico, sendo que

22,7% dos entrevistados afirmaram ter contato direto manipulando a mistura e aplicando na

lavoura, e 23,3% puxando a mangueira. 19,3% relataram ter contato indireto com o

agrotóxico, seja por ter a lavoura no mesmo terreno da casa ou somente por lavar o costal.

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Apenas 34,3% disseram não ter contato com agrotóxicos (Tabela 4). A pontuação variou entre

0 pontos (considerados nesse estudo como menos expostos), e 76 pontos (considerados nesse

estudo como menos expostos para os mais expostos), com média de 20,83 e desvio padrão de

13,48.

Tabela 4 – Caracterização da exposição na população

Escore Frequência %

Ocupação

Agricultor 1 162 45,5

Outros 0 194 54,5

Horas de trabalho na agricultura

0 hora por dia 0 191 53,7

1 - 4 horas diárias 1 22 6,2

5 - 8 horas diárias 2 45 12,6

9 - 10 horas diárias 3 88 24,7

+ 10 horas diárias 4 10 2,8

Distância da lavoura da residência

Mais de 200 metros 0 80 22,5

100 - 200 metros 1 34 9,6

50 - 100 metros 2 61 17,1

menos de 50 metros 3 181 50,8

Há quanto tempo trabalha com veneno

Nunca trabalhou 0 263 73,9

1 - 5 anos 1 46 12,9

5 - 20 anos 2 22 6,2

+ 20 anos 3 25 7

Qual contato tem com os agrotóxicos

Nenhum contato 0 126 35,4

Indireto (lavoura é no mesmo terreno da casa) 1 4 1,1

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55

Indireto (lava o costal) 2 64 18

Direto (puxa a mangueira) 3 82 23

Direto (mistura e aplica na lavoura) 4 80 22,5

Tempo de aplicação do veneno na última estação

Nenhum dia 0 215 60,4

1 - 5 dias 1 67 18,8

6 - 25 dias 2 53 14,9

26 - 50 dias 3 7 2

+ 50 dias 4 14 3,9

Quantas vezes por mês usa agrotóxico

Nenhum 0 201 56,5

1 - 5 vezes 1 105 29,5

5 - 10 vezes 2 36 10,1

+ 10 vezes 3 14 3,9

A Tabela 5 descreve os resultados da análise bivariada entre o escore de exposição e as

variáveis sociodemográficas. As variáveis que mostraram associação com a exposição foram

sexo (p<0,001), escolaridade (p<0,001) e ocupação (p<0,001).

Tabela 5 – Análise bivariada entre escore de exposição e variáveis sociodemográficas.

Variáveis Média p valor

Sexo

Feminino 13,02 <0,001

Masculino 28,64

Faixa etária

0 – 9 6,83 0,381

10 – 19 20,91

20 - 29 22,67

30 - 39 23,58

40 – 59 23,7

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60 ou mais 23,12

Escolaridade

Analfabeto 35 <0,001

Fundamental incompleto 18,71

Fundamental completo 26,87

Médio incompleto 25

Médio completo 27,29

Superior incompleto 25,83

Superior completo 2,75

Estado civil

Solteiro 20,7 0,43

Casado 26,06

Viúvo 14,66

Separado 3,8

Ocupação

Agricultor 36,49 <0,001

Outros 8,09

Finalmente, utilizando as variáveis apontadas pela análise bivariada, procedeu-se à

análise multivariada por regressão linear múltipla. Devido ao efeito de associação, pela

técnica stepwise, o modelo final excluiu a variável escolaridade, pois esta variável, em

comparação às demais, apresentou menor associação. Com isso, a modelagem final obtida

considerou as variáveis sexo e ocupação. A Tabela 6 apresenta os dados referentes à

modelagem utilizando somente a variável ocupação e, em seguida, considerando as variáveis

ocupação e sexo.

Tabela 6: Regressão linear múltipla

Modelo Variáveis R2*

β** IC 95% p valor

A Ocupação 0,532 28,43 25,57 - 31,28 < 0,001

B Ocupação

0,573 26,07 23,21 – 28,92

< 0,001 Sexo 8,11 5,26 – 19,96

Legenda: *R2 – coeficiente de determinação; β**– coeficiente linear

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57

Observou-se, pelo coeficiente de determinação, o alto valor preditivo dos modelos

encontrados. A variável ocupação, isoladamente, explica 53,2% da exposição. Ao incluir a

variável sexo, esta predição aumenta para 57,3%. Através dos coeficientes lineares, notamos

que o peso dessas duas variáveis define pontuações altas para o escore final, sendo, portanto,

as duas variáveis de melhor explicação para exposição a agrotóxicos.

3 Discussão

Nossos resultados mostram que a população dessa região de Nova Friburgo está

intensamente exposta aos agrotóxicos. A maior parte dos participantes declararam residir a

menos de 50 metros da lavoura mais próxima, 43,5% referiram-se usar agrotóxico pelo menos

uma vez ao mês, 19% estão expostos indiretamente aos agrotóxicos e 22% preparam e

pulverizam os agroquímicos em suas plantações. Esses resultados são similares àqueles

encontrados na coorte de agricultores no AHS. Em um dos primeiros achados do AHS,

Gladen et al. (1998) mostraram que 21% das casas localizavam-se a 50 metros da área de

mistura dos agrotóxicos, que 27% das famílias armazenavam os agroquímicos em casa

(garagem ou porão) e que a maioria das roupas contaminadas eram lavadas misturadas às

outras roupas da família.

Os dados da população estudada sugerem que escolaridade e sexo estão associados

diretamente ao escore de exposição aos agrotóxicos. Aqueles com menor nível de

escolaridade apresentaram escores muito mais elevados que os participantes com nível

superior, o que é explicado pela contribuição dos professores não agricultores no estudo.

Quando comparados os escores entre os participantes de ensino fundamental e médio,

percebemos uma similaridade entre os graus de exposição, sendo que os mais velhos possuem

escore um pouco mais elevado, devido ao simples fato de terem mais tempo de experiência na

lavoura.

As mulheres obtiveram escores estatisticamente significativos mais baixos que os

homens. O trabalho na lavoura é pesado, e na maioria das vezes são os homens os

responsáveis pelo contato direto com os agroquímicos. As mulheres costumam estar expostas

indiretamente através das suas atividades cotidianas, como lavar as roupas e equipamentos

utilizados no campo, bem como ajudar na pulverização puxando a mangueira e limpar a

poeira da casa. Outros estudos nessa região exibiram resultados semelhantes (ARAÚJO et al.,

2007). Na coorte americana, pelo menos metade das mulheres relataram também trabalhar no

campo e 40% reportaram preparar e aplicar a mistura de agrotóxicos. Além disso, mais da

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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metade das crianças americanas maiores de 11 anos possuíam tarefas agrícolas que as

colocavam em contato com os agrotóxicos (GLADEN et al., 1998). Essa é uma realidade

comum à população infantil de Nova Friburgo, que participa ativamente da agricultura. Nosso

estudo contou com 72% dos participantes da faixa etária de 10 a 19 anos de idade, os quais

apresentaram uma média de escore igual a 20,9. Os adultos participantes do estudo tiveram

média de apenas 3 pontos superiores. Essa diferença é pequena quando comparada à média de

36,5 do escore entre os agricultores de todas as idades, o que reafirma a elevada exposição

dessa população a agrotóxicos explicada somente pelo fato de se morar na região.

Crianças e adolescentes possuem diferentes características nas etapas de

desenvolvimento, tornando-os um grupo suscetível às exposições químicas ao longo dos

estágios de desenvolvimento orgânico. Além das atividades de ajuda na lavoura, as crianças

do meio rural têm contato mais próximo com ambientes contaminados através das

brincadeiras nos campos, lagos, rios e plantações que muitas vezes acabaram de ser

pulverizadas com agrotóxicos (MAZOTO et al., 2011). Tal vulnerabilidade humana precisa

ser considerada, pois sua exposição é diferente da dos adultos, tanto quantitativamente quanto

qualitativamente, podendo os mais jovens apresentarem maior sensibilidade à toxicidade

induzida por esses químicos (SARCINELLI, 2003). Os efeitos desses poluentes à saúde

infantil vêm ganhando cada vez mais importância no mundo científico, pois é sabido que

danos causados ao sistema fisiológico antes do desenvolvimento completo podem ser

irreparáveis.

Já foram observadas associações entre a exposição aos agrotóxicos na infância e a

incidência de câncer e polimorfismo genético (INFANTE-RIVARD et al., 1999; MEINERT

et al., 2000; REYNOLDS, 2009). Um estudo mexicano mostrou redução na capacidade

mental e incremento do comportamento agressivo entre crianças de 4 a 5 anos de idade

expostas aos agrotóxicos numa região de uso intensivo desses tóxicos (GUILLETTE et al.,

1998). Outros estudos também já mostraram correlação significativa entre concentrações de

agrotóxico na urina infantil e a poeira encontrada nas casas (BECKER et al., 2006;

BOUCHARD et al., 2010; BARR et al., 2010). Bem como já foram observadas maiores

concentrações urinárias de agrotóxicos em crianças moradoras de regiões rurais quando

comparadas a outras não moradoras (PANUWET et al., 2009).

O AHS tem mostrado que entre as famílias agricultoras americanas a taxa de

mortalidade geral é menor que o esperado. O mesmo acontece para cânceres em geral. Por

outro lado, a incidência para alguns tipos específicos de câncer é significantemente maior que

para a população de comparação (KOUTROS et al., 2010). Kamel et al. (2006) mostraram

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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que os trabalhadores que pulverizaram por mais de 400 dias ao longo da vida tiveram um

aumento de quase 2 vezes no risco para Parkinson. Crawford et al. (2008) encontraram maior

risco para perda auditiva no grupo de agricultores que se expôs a algum evento de alta

exposição aos agrotóxicos. Recentemente, Stark et al. (2011) reportaram que um ou mais

eventos de alto grau de exposição podem contribuir, independentemente de intoxicações

diagnosticadas, para resultados adversos do sistema nervoso central, como o

comprometimento da velocidade motora e de processamento.

São muitas as consequências para a saúde humana relacionadas à exposição humana a

químicos de origem agrícola. Estudos nacionais e internacionais correlacionam o uso de

agrotóxicos a efeitos adversos crônicos, como depressão e suicídio (CHRISMAN et al.,

2009), distúrbios respiratórios (CASTRO-GUTIERREZ et al., 1997; VALCIN et al., 2007),

imunológicos (CHATZI et al., 2007; OKABE et al., 2010), reprodutivos (MEYER et al.,

1999; KOIFMANet al., 2002; GIBSON; KOIFMAN, 2008), efeitos neurotóxicos e

teratogênicos (HETZMAN et al., 1990; LIOU et al., 1997; LANDRIGAN et al., 2005),

genotóxicos (BOLOGNESI, 2009), neurotóxicos (TANNER CN, 2009) e câncer

(ALAVANJA et al., 2005; MEYER et al., 2003; KOIFMAN; KOIFMAN, 2003; TURNER et

al., 2010).

Toda a população residente em regiões de intensa atividade agrícola químico-

dependente está à mercê dos perigos inerentes a essa exposição. Devido à pulverização desses

químicos, a poluição aérea por agrotóxicos é uma das principais responsáveis pela

contaminação ambiental dessas famílias, principalmente quando a topografia é plana ou

fracamente ondulada. A toxicidade por essa rota é maior que pela via respiratória, pois

quando inalados na fase gasosa ou adsorvidos a partículas menores que 2,5 µm os agrotóxicos

têm fácil absorção pela via respiratória (NOYES et al., 2009). Ela é influenciada pela

temperatura, pela umidade, pelo índice pluviométrico e pelos ventos (BLOOMFIELD et al.,

2006). No campo, o sol estimula o processo de volatilização quando o solo está úmido, e o

vento promove um equilíbrio das concentrações de resíduos entre o solo e o ar (VAN DEN

BERG et al., 1999). Os ventos também são importantes na distância de deslocamento dessas

moléculas (SIEBERS et al., 2003), e o índice pluviométrico ao mesmo tempo em que limpa o

ar também contamina o solo a distâncias ditadas pelo vento (BEYER et al., 2003). A

contaminação das águas de abastecimento das populações é outra importante via de exposição

de comunidades que não dispõem de sistemas de distribuição de água e esgoto. Assim, a água

utilizada é aquela coletada em minas que nascem nas proximidades ou diretamente nos rios ou

lençóis contaminados.

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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Outras investigações já mostraram que os jovens são iniciados nas atividades de lavoura

muito cedo pelas próprias características culturais da população camponesa. No presente

estudo, a apresentação dos escores de exposição confirmaram que somente o fato de morar

numa região de intensa pulverização agroquímica já predispõe um indivíduo desde criança a

níveis de exposição, mesmo que ambiental, consideravelmente altos e similares àqueles dos

indivíduos com exposição direta na lavoura. Seja por dormir num quarto com as janelas

próximas a uma cultura recém-pulverizada, ou por caminhar pelas estradas ao lado de

plantações, ou por comer do próprio cultivo com agroquímicos.

Conclusão

O presente estudo buscou avaliar se características sociodemográficas e de hábitos e

práticas de trabalho estão associadas a padrões de exposição aos agrotóxicos. Nossos

resultados mostram que a população infanto juvenil está tão exposta aos agroquímicos quanto

os adultos, e sugerem que o sexo e a escolaridade estão associados diretamente ao escore de

exposição.

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EFEITOS DA EXPOSIÇÃO AO AGROTÓXICO NO SISTEMA AUDITIVO

EFERENTE ATRAVÉS DAS EMISSÕES OTOACÚSTICAS TRANSIENTES COM

SUPRESSÃO

ARTIGO 3

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EFEITOS DA EXPOSIÇÃO AO AGROTÓXICO NO SISTEMA AUDITIVO

EFERENTE ATRAVÉS DAS EMISSÕES OTOACÚSTICAS TRANSIENTES COM

SUPRESSÃO

Maria Isabel Kós*,**

Tatiana Garcia*,**

Maria de Fátima Miranda*

Raphael Mendonça**

Armando Meyer**

RESUMO

Apesar de o ruído ser claramente o principal risco ocupacional para a audição, pesquisas sobre

conservação auditiva têm demonstrado que exposições químicas, muitas vezes presentes no

ambiente de trabalho, também podem causar alterações auditivas. O objetivo do estudo foi

avaliar o sistema olivococlear medial em sujeitos expostos a agrotóxicos. Trata-se de um

estudo epidemiológico, descritivo, transversal. Após definir os critérios de inclusão, foram

avaliados 205 alunos de uma escola agrícola do município de Nova Friburgo, Rio de Janeiro,

expostos aos agrotóxicos. Os procedimentos utilizados na avaliação foram questionário para

avaliar o grau de exposição ao agrotóxico, Emissões Otoacústicas Transientes (EOAT) e

pesquisa do efeito supressor das EOAT. Na pesquisa das EOAT com supressão, 38% dos

indivíduos apresentaram ausência na orelha direita, 45,9% na orelha esquerda, 38% das

EOAT apresentaram ausência unilateral e 39% bilateral. Os dados obtidos no estudo

permitem dizer que há uma associação entre a ausência de supressão e os quartis de

exposição. As exposições crônicas aos agrotóxicos podem afetar o sistema olivococlear

medial, independentemente da exposição concomitante ao ruído.

Palavras-chave: Audição. Agrotóxico. Emissões Otoacústicas Transientes. Saúde ambiental.

_________________________

* Curso de Fonoaudiologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

** Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ)

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Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

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ABSTRACT

Introduction: Though noise is clearly the main ocupational risk for hearing, researches

on hearing conservation have demonstrated that chemical exposure, many times present

in the work environment, may also cause hearing alterations. Objetctive: The objective

of the study was to evaluate the medieval olivocochlear system in subjects exposed to

agrochemicals. Method: It’s an epidemiologic, descriptive, transversal study. After the

inclusion criteria, 205 students from an agricultural school in Nova Friburgo city, Rio de

Janeiro, that were exposed to agrochemicals were evaluated. The procedures used on the

evaluation were questionnaire to evaluate the degree of exposure to the agrochemical,

Transient Otoacoustic Emissions (TOAEs) and research of the supressor effect of the

TOAEs. Results: On the TOAEs research with supression 38% of the individuals

presented lack on the right ear, 45,9% no the left ear, 38% of the TOAEs presented

unilateral lack and 39% bilateral. The data obtained on the study allow to say that there is

an association between the lack of supression and the quartiles of exposure. Conclusion:

The chronic exposure to insecticides may affect the medieval olivocochlear system,

independent on the concomitant exposure to noise.

Keywords: Hearing. Pesticides. Transient otoacoustic emissions. Ambiental health.

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Introdução

Apesar de o ruído ser claramente o principal risco ocupacional para a audição,

pesquisas sobre conservação auditiva têm demonstrado que exposições químicas, muitas

vezes presentes no ambiente de trabalho também podem causar alterações auditivas (EU-

OSHA, 2009; JOHNSON; MORATA, 2010). Por exemplo, os solventes aromáticos têm

sido demonstrados como sendo ototóxicos e podem mesmo agravar os efeitos da

exposição ao ruído em animais (LATAYE et al., 2000.) e humanos (MORATA et al.,

1994; SLIWINSKA-KOWALSKA et al., 2003). No entanto, nem a diretiva europeia nem

as normas de ruído americanas (EU-OSHA, 2009) levam em consideração outros tipos de

exposições, incluindo produtos químicos, que possam ser a causa de perda auditiva

ocupacional.

As desordens do sistema auditivo também têm sido associadas às drogas

medicamentosas (amionoglicosídeos, quinino e outras) ou a solventes orgânicos usados

pela indústria de manufatura. Segundo Teixeira et al. (2003), para a maioria dos

diferentes grupos de compostos químicos suspeitos de serem neurotóxicos, as

propriedades ototóxicas nunca foram testadas. Entre esses grupos estão os agrotóxicos.

Os agrotóxicos são utilizados em larga escala no Brasil e mais intensamente no

setor rural, na agricultura. No ano de 2009, as vendas mundiais de agrotóxicos

movimentaram cerca de US$ 48 bilhões, sendo que entre os anos de 2000 e 2009,

enquanto o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 94%, o mercado brasileiro cresceu

172% (PRADO, 2010). Esse crescimento rendeu ao Brasil a liderança do ranking

mundial de consumo de agrotóxicos em 2008, ano em que as lavouras brasileiras

consumiram 986,5 mil toneladas de agrotóxicos e as vendas desses produtos no país

somaram US$ 7,1 bilhões, mais do que o dobro em relação ao ano de 2003 (ANVISA,

2009).

Produtos químicos do tipo agrotóxicos, alguns conhecidos por suas propriedades

neurotóxicas, são frequentemente considerados como responsáveis por intoxicações de

trabalhadores que os manuseiam e aplicam na agricultura dos países em desenvolvimento

(TEIXEIRA et al., 2003). Mas muitas vezes a intoxicação ocupacional e ambiental por

agrotóxicos é lenta e silenciosa e essas populações podem não sentir dificuldades auditivas

que possam ser demonstradas em um audiograma, mas no seu cotidiano, perdem a qualidade

sonora de uma boa compreensão de fala, podem apresentar desde uma dificuldade escolar até

dificuldades na comunicação com o meio social em que vivem. (AGRAWAL et al., 2008).

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As exposições crônicas aos inseticidas piretroides e organofosforados podem

afetar o sistema auditivo periférico, independentemente da exposição concomitante ao

ruído. Estudo realizado por Teixeira et al., (2003) indica que exposições químicas devem

ser monitoradas e controladas como parte do esforço para prevenir a perda auditiva.

Trabalhadores com exposição a substâncias químicas neurotóxicas devem ser incluídos

em programas de conservação auditiva, independentemente de exposição a ruído.

Em diversos estudos realizados com agricultores expostos a agrotóxicos foi

observada uma prevalência de perda auditiva (BECKETT et al., 2000; HWANG et al.,

2001; TEIXEIRA et al., 2002; MANJABOSCO et al., 2004; CHOI, 2005; CRAWFORD

et al., 2008), principalmente em associação com a baixa escolaridade, o uso de outros

produtos químicos e a exposição ao ruído.

As emissões otoacústicas (EOA) são sons detectados no meato acústico externo,

produzidos pela cóclea, sendo especificamente o registro da mobilidade e da habilidade

mecânica das células ciliadas externas (CCE). Esses movimentos podem ser espontâneos,

sem estímulo prévio ou evocado (COUBE; COSTA, 2003).

O processo eletrobiomecânico ativo coclear, embora não funcione como

receptores cocleares, tem capacidade de contração rápida e lenta, funcionando como

efetores cocleares ativos, uma vez que, ao liberar energia mecânica durante as contrações

rápidas, torna-se responsável pelas EOA (DENZIN et al., 1999; CASTOR et al., 1994;

PEREZ et al., 2006). Esse processo é controlado pelas vias auditivas eferentes do sistema

olivococlear, que é formado por dois feixes: um feixe lateral, composto por fibras

desmielinizadas, basicamente ipsilateral, passando da região lateral do complexo olivar

superior até as células ciliadas internas, e outro feixe medial composto por fibras

mielinizadas, que se projeta ipsi e contralateralmente da região medial do complexo

olivar superior até as CCE do órgão de Corti (AZEVEDO, 2003; PEREZ et al., 2006).

Quando as EOA são registradas na presença competitiva de ruído, seja ele

ipsilateral, contralateral ou bilateral, as vias eferentes do sistema olivococlear medial são

ativadas, de forma a afetar o processo coclear (AMORIM et al., 2010; HOOD et al.,

1996). Segundo Perez (2006), as fibras eferentes mediais podem inibir o fenômeno

contrátil ativo das CCE, regulando as contrações lentas com atenuação das contrações

rápidas, diminuindo assim a amplitude das EOA, quando afetado na presença de

estimulação elétrica, química ou ruído (ipsi, contra ou binaural).

Em estudo realizado com frentistas de postos de gasolina expostos a solventes

orgânicos foi observada a presença de emissões otoacústicas transientes (EOAT) maior

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na orelha esquerda no grupo exposto e nos grupo controle. O efeito supressor das EOAT

na orelha direita foi maior no sujeitos do grupo expostos (62,5%) e na orelha esquerda foi

superior no grupo controle (86,9%). Não foram encontrados sinais de alteração nas CCE

nem no sistema olivococlear medial nos sujeitos expostos a solventes orgânicos

(QUEVEDO et al., 2012).

Há uma ausência na literatura de evidências sobre associação entre exposição a

agrotóxico e alteração na EAOT com supressão. Diante do exposto, o objetivo da

presente pesquisa foi avaliar comparativamente o sistema olivococlear medial em sujeitos

expostos a diferentes níveis de exposição a agrotóxicos.

1 Método

1.1 Desenho do estudo

O presente trabalho é um estudo epidemiológico, descritivo, transversal.

1.2 População e local de estudo

A pesquisa foi constituída de 205 sujeitos. Os indivíduos da pesquisa eram todos

alunos do Colégio Estadual Agrícola Rei Alberto I (IBELGA). Essa escola foi escolhida

por apresentar alunos que participam da agricultura familiar, possibilitada pela pedagogia

de alternância, que intercala um período de convivência na sala de aula com outro no

campo, diminuindo a evasão escolar. A escola está localizada em São Lourenço, situado

no 3° Distrito de Nova Friburgo (RJ). O principal meio de produção do Vale São

Lourenço está voltado para a agricultura familiar, e todas as pessoas participam do

processo de trabalho, sendo que o local é um dos maiores produtores de legumes do

estado do Rio de Janeiro (PERES et al., 2009).

Os critérios de inclusão dos sujeitos foram: ser estudante da escola (Ensino

Fundamental I, Fundamental II, Ensino Médio e curso de especialização em agricultura), não

possuir passado otológico, apresentar limiares auditivos dentro da normalidade (250-8000

Hz), curva timpanométrica tipo A e presença de EOAT.

Os critérios de exclusão foram: ter algum grau de perda auditiva, ter alguma alteração

de orelha externa ou média e ausência das EOAT.

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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70

Todos os sujeitos realizavam algum tipo de trabalho agrícola, alguns com maior

exposição a agrotóxicos e outros com menos exposição.

1.3 Coleta de dados

Os procedimentos realizados foram: questionário, inspeção do meato acústico externo,

imitanciometria, audiometria tonal por via aérea e via óssea, audiometria vocal, pesquisa das

Emissões Otoacústicas Transientes (EOAT) e supressão das EOAT.

A coleta de dados e os exames foram realizados na própria escola em uma sala

silenciosa. As avaliações audiológicas foram realizadas em uma cabine acusticamente tratada.

Para estimar o grau de exposição, foi utilizado um questionário adaptado do Farmer

Applicator Questionnaire (AGRICULTURAL HEALTH STUDY, 1996). O questionário foi

montado com perguntas relacionadas a informações: gerais (endereço, sexo, estado civil e

escolaridade), de ocupação e de hábitos (ocupação, tempo de trabalho, tipo de atividades e

cultivos na lavoura), de saúde (presença de pressão alta, colesterol e diabetes, consumo de

medicamentos), e auditivas (história auditiva, percepção auditiva e zumbido). O questionário

investigou, também, os agrotóxicos mais aplicados na região, o objetivo foi identificar os

compostos químicos mais utilizados. O tempo, o tipo de exposição e o processo de trabalho

também foram analisados.

Com o intuito de estabelecer um escore de exposição, foram atribuídas pontuações

para cada variável relacionada à exposição aos agrotóxicos. Para classificar a idade com que o

indivíduo entrou em contato com o agrotóxico, foi utilizada uma pergunta com uma

pontuação variando de 0 a 2 pontos. Para o tempo de exposição, horas trabalhadas,

proximidade da residência com a lavoura e quantidade de uso do veneno por mês, a pontuação

variou entre 0 a 3 pontos para cada item (4 itens). Para o contato direto com os agrotóxicos

houve uma variação entre 0 a 4 pontos. As atividades realizadas na lavoura foram

categorizadas considerando-se os escores propostos por Dosemeci et al. (2002); essas

pontuações variaram entre 0 e 9 pontos.

A partir da análise do questionário (VERÍSSIMO et al., 2012) estabeleceu-se o escore

de exposição no grupo estudado. Foi encontrada uma variação de 0 (menos exposto) até 63

pontos (mais exposto). O grupo de 205 pessoas foi divido em quartis pelo grau de exposição:

1º quartil: 0 - 3 pontos; 2º quartil: 4 - 19 pontos; 3º quartil: 21 - 36 pontos; 4º quartil: 37 - 63

pontos.

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71

A inspeção do meato acústico externo foi realizada com o Otoscópio Clínico Mini

2000, da marca Heine, visando verificar a presença excessiva de cerúmen ou qualquer outra

alteração que pudesse alterar o resultado das EOAT.

A avaliação audiológica consistiu na realização da audiometria tonal liminar nas

frequências de 0,25 até 8 KHz por via aérea e 0,5 até 4 KHz por via óssea. Foi

pesquisado o índice percentual de reconhecimento da fala (IPRF) para monossílabos e do

limiar de reconhecimento de fala (LRF) para confirmação dos limiares tonais por v ia

aérea. A avaliação audiológica foi realizada com o audiômetro da marca Interacoustic,

modelo AC30. A análise da imitância acústica foi realizada com o imitanciômetro da

marca Interacoustic, modelo AZ7.

As EOAT e a observação do efeito de supressor das EOAT foram efetuadas por

meio do aparelho Otodynamics ILO 288, da marca ILO. Foram analisadas as EOAT

(clique) e a resposta geral nas faixas de frequência de 1; 1,5; 2; 3 e 4 KHz das emissões

(LOPES FILHO; CARLOS, 2005). Considerou-se presença de EOAT quando a resposta

geral estava acima de 6 dB, com reprodutibilidade da resposta e estabilidade da sonda

superior a 70%.

A pesquisa do efeito supressor das EOAT foi realizada com registro das EOAT

com clique não linear 75 a 80 dBNPA, sem e com a presença de ruído branco

contralateral a 60 dBNPS, com fone TDH 39 do audiômetro da marca Interacoustic,

modelo AC30. O fone foi posicionado no mesmo momento em que a sonda, para que esta

não mudasse de posição para avaliação do efeito supressor.

A supressão das EAOT foi determinada pela subtração do nível de resposta das

EOAT sem ruído branco contralateral do nível de resposta das EAOT com ruído branco

contralateral. Foram consideradas respostas positivas quando houve redução maior ou

igual a 1 dB entre a amplitude de respostas das emissões otoacústicas sem e com

presença de ruído branco contralateral (efeito de supressão presente). Considerou-se

ausência de supressão quando não houve redução da amplitude de respostas das emissões

na presença de ruído branco contralateral (ausência do efeito de supressão) (COLLET et

al., 1992).

1.4 Análise de dados

O escore de exposição, para efeito de análise, foi dividido em quartis, e os valores

de supressão em orelha direita (OD) e orelha esquerda (OE), e suas respectivas

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72

estatísticas (média, mediana, etc.), foram avaliadas de acordo com esses quartis. Os

valores de supressão das EOAT na OD e OE foram correlacionados ao escore de

exposição, tratado agora como variável contínua. Para o cálculo da correlação, utilizou-se

o coeficiente de Spearman (r).

Após análise descritiva, procedeu-se à análise bivariada, considerando como

desfecho a ausência de supressão na OD, na OE, ausência de supressão unilateral (OD ou

OE) e ausência de supressão bilateral (OD e OE). Para comparar a ocorrência de ausência

de supressão de acordo com as variáveis estudadas, foi utilizado o teste de Qui-Quadrado

de Pearson.

Finalmente, observou-se, tendo o 1º quartil de exposição (menos expostos) como

referência, a razão de chance (OR) para ausência de supressão nos demais quartis de

exposição. Para isso, utilizou-se a técnica de regressão logística, cuja variável desfecho

foi a ausência de supressão e a variável de exposição de interesse foram os quartis de

exposição.

As análises estatísticas foram realizadas com o SPSS versão 20 for Mac.

1.5 Considerações éticas

Os indivíduos foram avaliados após lerem e assinarem o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE). Os menores de idade tiveram autorização dos pais ou

responsáveis para participar da pesquisa.

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto

de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC-UFRJ)

sob o número 67/2011.

2 Resultados

O grupo estudado foi representado por 48,3% de pessoas do sexo feminino e

51,7% do sexo masculino, variando entre 8 a 30 anos, com idade média de 15,58 anos.

Toda a amostra era de alunos do Colégio Estadual Agrícola Rei Alberto I (IBELGA)

sendo que a maior parte cursava o Ensino Fundamental II (42,9%) ou o Ensino Médio

(37,4%). Da amostra estudada, 22% referiram estarem expostos a ruído e 11,2% a

solvente.

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73

Apesar da maior parte da amostra ser de estudantes, 78% desses indivíduos disseram

também trabalhar na agricultura, gastando em média 3,5 horas de trabalho por dia, variando

de 0 a 12 horas/dia. Os cultivos mais frequentes foram: tomate (32,9%), hortaliças (27,7%),

couve-flor (21,7%) e brócolis (15,4%). Da amostra entrevistada, 74,6% disseram ter lavoura

ou horta em casa, estando ela a menos de 50 metros da casa em 54,3% dos casos; de 50 a 100

metros em 18,3%; de 100 a 200 metros em 11,2%; e a mais de 200 metros em 16,2%.

Das atividades realizadas frequentemente na lavoura, os estudantes relataram fazer:

58,1% capinar; 40% covar; 51,2% semear; 48,3% adubar; 39% fazer leras; 42,9% estercar;

46,4% desbrotar; e 61,8% participam ativamente da colheita. Com relação ao uso de veneno,

21,6% relataram realizar o preparo do agrotóxico, 49% durante a pulverização puxam a

mangueira, 26,5% pulverizam com costal, 30% lavam o costal e 22,5% armazenam o

agrotóxico com frequência.

Foram 44 os agrotóxicos referidos no questionário, que são usados sozinhos ou

combinados pelos estudantes. Os mais referidos como utilizados foram os inseticidas do

grupo químico organofosforado: Tamaron®

foi referido por 35,1% dos participantes e

Polytrin®

por 29,3%; os inseticidas do grupo químico piretroides: Turbo®

por 9,3% e

Fastac®

por 16,6%; e os inseticidas do grupo químico avermactina: Verimec®

por 37,6%;

dos herbicidas, os mais citados foram os do grupo químico gilfosato: Roundup®

por

33,2%, e do grupo químico paraquat: Gramoxone®

por 56,1%; e dos fungicidas, o do

grupo químico dimetilditro carbamato: Curzate br®

, referido por 47,8% dos estudantes.

Na pesquisa das EOAT com supressão 38% dos indivíduos apresentaram ausência na

orelha direita, 45,9% na orelha esquerda, 38% as EOAT apresentaram ausencia unilateral e

39% bilateral.

As EOAT para orelha direita apresentaram média da amplitude geral de 15,61 dBNPS,

com valor mínimo de 6,1 dBNPS e máximo de 26,3 dBNPS sem ruído contralateral e média

de 15,17 dBNPS, com valor mínimo de 4,6 dBNPS e máximo de 26,00 dBNPS com ruído

contralateral. O valor médio do efeito de supressão foi de 0,55 dBNPS com valor mínimo de –

7,3 dBNPS e máximo de 7,7 dBNPS.

As EOAT para orelha esquerda apresentaram média da amplitude geral de 15,76

dBNPS, com valor mínimo de 6 dBNPS e valor máximo de 27,8 dBNPS sem ruído

contralateral e média 14,90 dBNPS, com valor mínimo de -5,7 dBNPS e máximo de 27,1

dBNPS com ruído contralateral. O valor médio do efeito de supressão foi de 0,80 dBNPS,

com valor mínimo de -3,5 dBNPS e máximo de 9,5 dBNPS.

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A Tabela 1 mostra os valores médios das amplitudes das EOAT sem e com ruído e o

efeito de supressão, dividido por quartil na orelha direita e esquerda.

Tabela 1– Valores médios das relações sinal/ruído das EOAT sem ruído, com ruído contralateral e o efeito

de supressão, dividido por quartil. Rio de Janeiro, 2012.

Orelha direita Orelha esquerda

EOAT EOAT c/ ruído Supressão EOAT EOAT c/ ruído Supressão

1º Quartil 15,77 15,62 0,66 16,45 15,7 0,93

2º Quartil 16,2 15,85 0,50 15,91 15,24 0,78

3º Quartil 15,36 14,85 0,49 15,59 14,06 1,01

4º Quartil 14,37 13,94 0,48 14,43 13,60 0,49

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75

A Figura 1 apresenta, via boxplot, os valores de supressão em OD e OE segundo

quartis de exposição. Observa-se que há diferenças na distribuição dos valores de supressão

em cada quartil, com variações na magnitude, na distância interquartílica e na ocorrência de

outliers. Observa-se, ainda, que há diferença na apresentação dos boxplots comparando-se OD

e OE.

Figura 1 – Valores das estatísticas de supressão em OD e OE segundo quartis de exposição.

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A Figura 2 apresenta a correlação entre os valores dos escores de exposição

(variável contínua) e os valoes de supressão OD e OE.

Figura 2 –: Correlação entre os valores dos escores de exposição (variável contínua) e os valoes de

supressão OD e OE.

a. OD = orelha direita; OE = orelha esquerda

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77

Percebe-se que há uma correlação positiva e estatisticamente significativa entre a

exposição e a supressão. Ainda, observa-se que a correlação é mais forte e significativa para

OE, comparada a OD.

A Tabela 2 apresenta a análise bivariada para supressão de OD, OE, unilateral (OD ou

OE) e bilateral (OD e OE) e as variáveis de estudo.

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Tabela 2 – Análise bivariada para supressão de OD, OE, unilateral (OD ou OE) e bilateral (OD e OE) e as variáveis de estudo. Rio de Janeiro, 2012.

Supressão ODa

Supressão OEb

Supressão unilateral Supressão bilateral

Variáveis Ausência Presença p valorc

Ausência Presença p valorc

Ausência p valorc

Ausência p valorc

N % n % n % N % n % N %

Sexo

Feminino 45 45,5 54 54,5 54 54,5 45 45,5 27 37,5 27 50,0

Masculino 33 31,9 73 68,9 0,044 40 37,7 66 62,3 0,018 20 37,7 0,999 20 27,4 0,015

Faixa etária

Crianças/Adolescentes 72 39,1 112 60,9 86 46,7 98 53,3 43 37,4 43 37,4

Adultos 6 28,6 15 71,4 0,478 8 38,1 13 61,9 0,478 4 40,0 0,560 4 40,0 0,280

Expostos a ruído

Não 61 38,4 98 61,6 78 49,1 81 50,9 40 40,4 40 40,0

Sim 17 37,8 28 62,2 0,999 15 33,3 30 66,7 0,065 7 28,0 0,182 7 25,9 0,131

Expostos a solventes

Não 69 38,1 112 61,9 86 17,5 95 52,5 43 38,4 43 38,4

Sim 9 39,1 14 60,9 0,999 7 30,4 16 69,6 0,181 4 33,3 0,496 4 26,7 0,280

Quartis

1 24 44,4 30 55,6 16 29,6 38 70,4 20 45,5 10 29,4

2 20 51,3 19 48,3 0,001 18 46,2 21 53,8 <0,001 26 78,8 0,021 6 46,2 <0,001

3 42 72,4 16 27,6 36 62,1 22 37,9 18 64,3 30 75,0

4 41 75,9 13 24,1 41 75,9 13 24,1 4 70 34 85,0

a. OD = orelha direita; b. OE = orelha esquerda; c. p valor obtido através do teste de Qui-Quadrado de Pearson.

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79

Os dados obtidos no estudo permitem dizer que há uma associação entre todos

os tipos de supressão e os quartis de exposição. Evidenciou-se, ainda, associação para a

variável sexo; entretanto, a associação só foi encontrada para a ausência de supressão

nas orelhas individualmente e ausência de supressão bilateral. Em virtude disso,

procedeu-se à técnica de regressão logística, em que se considerou como variável de

desfecho a ausência de supressão, e como variável de exposição os quartis, ajustados

pela variável sexo.

Finalmente, a Tabela 3 compara a ocorrência de ausência de supressão por

quartis de exposição, considerando o primeiro quartil como categoria de referência.

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Tabela 3 – Análise multivariada para supressão de OD, OE, unilateral (OD ou OE) e bilateral (OD e OE) e as variáveis de estudo. Rio de Janeiro (2012).

Ausência supressão ODa

Ausência supressão OEb

Ausência supressão unilateral Ausência supressão bilateral

Variáveis ORbc (IC95%) ORa

d (IC95%) ORb

c (IC95%) ORa

d (IC95%) ORb

c (IC95%) ORa

d (IC95%) ORb

c (IC95%) ORa

d (IC95%)

Qu

arti

s

1 1 1 1 1 1 1 1 1

2 1,32 (0,58-3,01) 1,34(0,58-3,07) 2,08(0,88-4,95) 2,27(0,94-5,48) 4,51(1,61-12,66) - 2,06(0,55-7,67) 2,15(0,56-8,13)

3 3,28(1,49-7,21) 3,20(1,45-7,06) 3,78(1,72-8,34) 4,04(1,76-9,25) 2,27(0,85-6,06) - 7,20(2,58-29,2) 8,07(2,79-23,76)

4 3,94(1,73-8,98) 3,44(1,40-8,45) 7,29(3,10-17,17) 6,79(2,58-17,87) 2,95(0,95-9,12) - 13,60(4,35-42,48) 13,53(3,66-50,05)

p trend* 0,010 0,018 0,052 0,028 0,793 - 0,039 0,024

a. OD = orelha direita; b. OE = orelha esquerda; c. ORb = odds ratio bruta; d. ORa = odds ratio ajustada pelo sexo; p trend* = valor de p de tendência.

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81

Pode-se observar que encontrou-se um gradiente para os quartis, com

significância estatística, para a ausência de supressão na OD e na OE isoladas e

bilateral, tanto para a medida bruta quanto ajustada por sexo. Além disso, ao observar a

ausência bilateral, vê-se que a razão de chance entre o segundo e terceiro quartis

aumenta exponencialmente, sugerindo um efeito de interação multiplicativa com o sexo.

3 Discussão

O grupo estudado foi representado por alunos de uma escola agrícola, sendo

48,3% do sexo feminino e 51,7% do sexo masculino, principalmente formado por

crianças e adolescentes (89,8%) (Tabela 1). A amostra estudada, na sua maioria, não era

exposta a ruído (77,6%) e nem a solventes (88,3%). Apesar de a população analisada ser

de estudantes, a maior parte (78%) também realiza trabalho agrícola, sendo que muitos

utilizam e manipulam agrotóxicos de forma direta ou indireta (69,3%). Segundo Araújo

et al. (2007), esta pesquisa vem confirmar outras investigações epidemiológicas no

campo, que mostram essa realidade adversa que é um problema de saúde pública, onde

jovens se iniciam no trabalho agrícola em idade escolar, com exposição, mesmo que

indireta, aos pesticidas durante a aplicação – ao segurarem a mangueira ou

transportarem os produtos. Em outro estudo (MOREIRA et al., 2002) realizado nessa

mesma região, os autores observaram que as crianças desde cedo utlizavam agrotóxicos,

sendo os mais comuns: o Paraquat, herbicida altamente tóxico; o Mancozeb, fungicida

de baixa toxicidade aguda; e o Metamidophos, inseticida organofosforado altamente

tóxico. São produtos similares aos que foram citados pelos estudantes no presente

estudo.

Pode-se observar presença do efeito supressor em 62% em OD e 54,1% em OE.

Em estudo realizado com exposição a solvente, a presença do efeito supressor foi maior

no grupo estudo (62,5%) em relação ao grupo controle (56,52%) na orelha direita,

porém não houve diferença estatisticamente significante. Em contrapartida, na orelha

esquerda, a presença do efeito supressor foi superior e estatisticamente significante no

grupo controle (86,96%) em relação ao grupo estudo (54,17%) (QUEVEDO, 2012).

Pode-se observar que os valores encontrados no grupo controle estão similares aos

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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valores encontrados no presente estudo. Outro estudo (FUENTE, 2008) mostrou

presença do efeito supressor na orelha direita em 73,97% dos indivíduos expostos a

solventes e 75,5% dos indivíduos não expostos, e na orelha esquerda em 68,65% dos

sujeitos expostos a solventes e 75,75% dos indivíduos não expostos. Entretanto os

achados do autor não foram estatisticamente significantes.

Na Figura 1 é possível observar que há diferenças na distribuição dos valores de

supressão em cada quartil, com variações na amplitude, na distância interquartílica e na

ocorrência de outliers. Observa-se, ainda, que há diferença na apresentação dos boxplots

comparando-se OD e OE. E na Figura 2 é possível perceber que há uma correlação

positiva e estatisticamente significativa entre a exposição e a supressão. Observa-se,

ainda, que a correlação é mais forte e significativa para a OE, comparada à OD.

Mesmo realizando uma ampla busca na literatura disponível, não foi possível

encontrar outros estudos que utilizaram questionário para estabelecer escore que

possibilitasse a subdivisão em quartis, motivo pelo qual não se tem outros estudos para

fazer comparações em relação ao grau de exposição e alterações no sistema eferente

medial.

A comparação dos valores médios da amplitude geral da resposta das EOAT

entre as orelha direita e esquerda não mostrou diferença estatisticamente significante.

Samelli e Schochat (2002) e Mor e Azevedo (2005) observaram resultados semelhantes

em seus estudos. A Tabela 1 mostrou os valores médios das amplitudes gerais das

EOAT sem ruído e com ruído contralateral divididos por quartis. É possível observar

que quanto mais exposto o quartil, menor é a amplitude das EOAT, com exceção do 2º

quartil da orelha direita.

O valor médio da amplitude da resposta geral entre as orelhas situou-se entre

15,61 e 15,76 dBNPS, valores semelhantes aos descritos por Bernardi (2000), Carvallo

et al. (2000) e Mor e Azevedo (2005) em população de jovens e adultos.

No presente estudo constatou-se uma alta variabilidade entre os valores da

amplitude geral de resposta das EOAT nas situações com e sem presença de ruído

branco contralateral, apresentando-se desde a não redução até o aumento. Os valores

médios das EOAT sem ruído situaram-se, no grupo estudo, entre 6,1 e 26,3 dBNPS na

OD, e entre 6 e 27,8 dBNPS na OE. Outros pesquisadores (COLLET et al., 1992;

RYAN; KEMP, 1996; MOR; AZEVEDO, 2005) também encontraram uma ampla faixa

de variabilidade individual quando há estimulação acústica contralateral.

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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A Tabela 2 apresentou a análise bivariada para ausência de supressão de OD,

OE, unilateral (OD ou OE) e bilateral (OD e OE) e as variáveis de estudo. Os dados

obtidos no estudo permitem dizer que existe uma associação entre a ausência de

supressão e os quartis de exposição. Evidenciou-se, ainda, associação para a variável

sexo, entretanto a associação só foi encontrada para a ausência de supressão nas orelhas

individualmente (OD/OE) e ausência de supressão bilateral. Em estudo com agricultores

realizado por Beckett et al. (2000), os autores encontraram associação significante, com

p<0,05, entre alteração auditiva e idade, sexo, baixa escolaridade, uso de produtos

químicos e ruído. Aplicadores de pesticida apresentaram 3% mais alteração auditiva do

que os que informaram não serem aplicadores. Homens apresentaram sete vezes mais

perda auditiva nas frequências agudas que as mulheres.

A Tabela 3 comparou a ocorrência de ausência de supressão por quartis de

exposição, considerando o primeiro quartil como categoria de referência. Pode-se

observar que encontrou-se gradiente para os quartis, com significância estatística, para a

ausência de supressão em OD e OE isoladas e bilateral, tanto para a medida bruta

quanto ajustada por sexo. Ainda, ao observar a ausência bilateral, pode-se ver que a

razão de chance entre o segundo e terceiro quartis aumenta exponencialmente,

sugerindo um efeito de interação multiplicativa com o sexo. Em estudo realizado por

Hwang et al. (2001), os autores encontraram prevalência de perda auditiva em

agricultores expostos a ruído e pesticidas, com os seguintes resultados para os quartis:

1º quartil: 8.6%, 1.0; 2º quartil: 16.8%, 1.94 (1.32-2.85 - IC 95%); 3º quartil: 26.7%,

3.09 (2.17-4.41 - IC 95%); e 4º quartil: 35.9%, 4.15 (2.95-5.85 - IC 95%).

Em estudo realizado com agricultores, foi observada associação

estatisticamente significativa entre o índice de exposição a agrotóxico e pior

desempenho nos testes de processamento auditivo temporal, sugerindo que essa

substância pode ser nociva para as vias auditivas centrais (BAZILIO, 2010).

Foltz et al. (2010) encontraram ocorrência de perda auditiva sugestiva de

perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR) em 29,3%. Houve tendência estatística

na associação entre configuração audiométrica e contato com agrotóxico (p =

0,088). O estudo concluiu que pilotos agrícolas apresentaram alto índice de perda

auditiva. Tal atividade ocupacional envolve contato com agrotóxicos e nível alto de

ruído. Em outro estudo com trabalhadores expostos a ruído e expostos a ruído e

praguicidas, Guida et al. (2010) realizaram audiometria tonal e verificaram que os

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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trabalhadores expostos ao ruído ocupacional e a praguicidas possuíam maior risco

para perda auditiva do que os trabalhadores expostos somente ao ruído.

Oliveira et al. (2012) realizaram estudo com agricultores utilizando

questionário de índice de qualidade de vida e audiometria tonal. Esse estudo

observou que os agricultores usuários de agrotóxicos apresentaram piores escores

de qualidade de vida quando comparados com aqueles que não os utilizavam. Outro

aspecto relevante foi que o uso de agrotóxico e sua classe toxicológica interferiram

de maneira impactante no grau de perda auditiva apresentada por esses agricultores.

Körbes et al. (2009) observaram alterações morfológicas na cóclea, no

sáculo e no utrículo de cobaias que foram expostas a doses diárias de

organofosforado, evidenciando o efeito degradante dos agrotóxicos no sistema

vestibulococlear.

Conclusão

As exposições crônicas aos inseticidas afetam o sistema olivococlear medial de

forma progresssiva, ou seja, quanto maior o grau de exposição maior o

comprometimento auditivo central, demonstrado pela aumento da ocorrência de

ausência do efeito de supressão.

Dados do presente estudo e de recentes publicações indicam que exposições

químicas devem ser monitoradas e controladas como parte do esforço para prevenir

alterações np sistema auditivo central.

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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88

A adversidade das pesquisas demonstra que o monitoramento e a avaliação dos

riscos causados pela exposição são múltiplos, com uma heterogeneidade importante. A

maior dificuldade da literatura se encontra exatamente neste ponto, pois se torna difícil a

comparação. Os estudos demonstram que os agrotóxicos são ototóxicos, lesando

diversas áreas do sistema auditivo periférico e central. Na medida em que a revisão

sistemática mostra evidência de associação entre exposição a agrotóxicos e alteração

auditiva periférica e central, é importante que se faça um bom diagnóstico audiológico

para que sejam aplicadas medidas preventivas para minimizarem ou acabarem com as

intoxicações agudas e crônicas.

O estudo dos alunos e familiares da Escola Municipal Rei Alberto I (IBELGA)

buscou avaliar se características sociodemográficas, de hábitos e práticas de trabalho

estão associadas a padrões de exposição aos agrotóxicos. Nossos resultados mostram

que a população infanto juvenil está tão exposta aos agroquímicos quanto os adultos, e

sugerem que o sexo e a escolaridade estão associados diretamente ao escore de

exposição.

Outras investigações já mostraram que os jovens são iniciados nas atividades de

lavoura muito cedo pelas próprias características culturais da população camponesa. No

presente estudo, a apresentação dos escores de exposição confirmaram que somente o

fato de morar numa região de intensa pulverização agroquímica já predispõe um

indivíduo desde criança a níveis de exposição, mesmo que ambiental,

consideravelmente altos e similares àqueles dos indivíduos com exposição direta na

lavoura. Seja por dormir num quarto com as janelas próximas a uma cultura recém-

pulverizada, ou por caminhar pelas estradas ao lado de plantações, ou por comer do

próprio cultivo com agroquímicos.

6 CONCLUSÃO

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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As exposições crônicas aos inseticidas afetam o sistema olivococlear medial de

forma progresssiva, ou seja, quanto maior o grau de exposição maior o

comprometimento auditivo central, demonstrado pela aumento da ocorrência de

ausência do efeito de supressão.

Dados do presente estudo e de recentes publicações indicam que exposições

químicas devem ser monitoradas e controladas como parte do esforço para prevenir

alterações auditivas periféricas e centrais.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – Perfil da amostra estudada (n = 205).

Variável N %

Sexo

Feminino 99 48,3

Masculino 106 51,7

Faixa etária

Crianças/Adolescentes 184 89,8

Adultos 21 10,2

Exposto a ruído

Não 159 77,6

Sim 45 22

Expostos a solventes

Não 181 88,3

Sim 23 11,2

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APÊNDICE B – Caracterização da exposição na população.

Escore Frequência %

Horas de trabalho na agricultura

0 horas por dia 0 109 53,7

1 - 4 horas diárias 1 13 6,2

5 - 8 horas diárias 2 26 12,6

9 - 10 horas diárias 3 51 24,7

+ 10 horas diárias 4 6 2,8

Distância entre a lavoura e a residência

Mais de 200 metros 0 33 16,2

100 - 200 metros 1 23 11,2

50 - 100 metros 2 37 18,3

Menos de 50 metros 3 112 54,3

Há quanto tempo trabalha com veneno

Nunca trabalhou 0 66 31,8

1 - 5 anos 1 89 43,6

5 - 20 anos 2 46 22,6

+ 20 anos 3 4 2

Qual contato tem com os agrotóxicos

Nenhum contato 0 63 30,7

Indireto (lavoura é no mesmo terreno da casa) 1 48 23,4

Indireto (lava o costal) 2 58 28,3

Direto (Puxa a mangueira) 3 33 16,1

Direto (mistura e aplica na lavoura) 4 3 1,5

Tempo de aplicação do veneno na última estação

Nenhum dia 0 115 56,1

1 - 5 dias 1 43 21

6 - 25 dias 2 33 16,1

26 - 50 dias 3 3 1,5

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+ 50 dias 4 11 5,4,

Quantas vezes por mês usam agrotóxico

Nenhuma 0 91 44,4

1 - 5 vezes 1 75 36,5

5 - 10 vezes 2 29 14,1

+ 10 vezes 3 10 4,9

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

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APÊNDICE C – Agrotóxicos mais utilizados pela população estudada.

Tipo de agrotóxico Nome Grupo químico % uso

Inseticidas Tamaron®

Organofosforado 35,1

Inseticidas Polytrin®

Organofosforado 29,3

Inseticidas Turbo® Piretroides 9,3

Inseticidas Fastac®

Piretroides 16,6

Inseticidas Verimec®

Avermactina 37,6

Herbicidas Roundup®

Glifosato 33,2

Herbicidas Gramoxone®

Paraquat 56,1

Fungicidas Curzate br®

Dimetilditro carbamato 47,8

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APÊNDICE D – Resultado dos exames de emissões otoacústicas transientes sem e com ruído, o efeito de

supressão na orelha direita e esquerda.

Ind. Idade EOAT OD EOAT OD c/ ruído

supressão OD

EOAT OE EOAT OE c/ ruído

supressão OE

escore

1 14 24,7 23,6 1,1 18,2 17,7 1,1 0

2 15 21,3 18,3 3 18,8 17,8 1 0

3 28 15,4 14,3 1,1 13,5 12,1 1,4 0

4 28 13,8 14,7 -0,9 14,2 14,2 0 0

5 15 15,6 15 1,3 15,8 12,7 3,1 0

6 12 11,2 10,7 0,5 14,8 13,5 1,3 0

7 12 13,9 13,6 0,3 17,7 16,1 1,5 0

8 14 17,1 18,9 -1,8 20,8 19,1 1,7 0

9 17 16,4 16,6 -0,2 18,3 19 -0,7 0

10 10 17,3 16,3 1 20,8 20,1 1,2 0

11 15 18,9 18,2 1,2 21,9 21,5 0,4 0

12 14 14,1 13,5 0,6 19,4 18 1,4 0

13 16 26,3 26 1,4 25 23,4 1,6 0

14 15 17 17 1 15,1 14,8 1,3 0

15 16 15,9 14,8 1,1 12,2 10,2 2 0

16 15 23,6 24 -0,6 16,9 20,1 -3,2 1

17 16 11,4 9,7 1,7 18,2 16,4 1,8 1

18 15 18,5 19,5 -1 17,6 16,9 1,1 1

19 14 13,1 12,5 1,1 11 10,3 1,2 1

20 15 20,7 20,9 -0,3 19,6 17,4 2,2 1

21 14 17,2 15,7 1,5 19,4 17,4 2 1

22 11 15,6 14 1,6 19,1 18,3 1,3 1

23 15 18,8 18,2 1,5 19,1 17,2 1,9 2

24 18 16 15,5 1,2 13 13,1 -0,1 2

25 20 21,8 20,2 1,6 23,1 21,3 1,8 2

26 13 23,7 24,8 -1,1 24 23 1 2

27 14 21,2 13,5 7,7 19,8 18,9 1,3 2

28 14 6,5 13,8 -7,3 23 23,2 -0,2 2

29 19 9 7,9 1,1 7,6 8,1 -0,5 2

30 11 11,4 13,3 1,9 13 12,9 1,1 2

31 12 24,3 24,2 0,1 13,5 13,8 -0,3 2

32 12 15,1 16,2 -1,1 15,2 16,2 -1 2

33 12 14,7 15,2 -0,5 12,7 12,1 1,2 2

34 14 16,3 15,3 1 14,2 13,4 1,1 2

35 14 13 10,9 2,1 10,4 9,6 1,1 2

36 16 12,5 11,6 1,1 13,3 13,7 -0,5 2

37 16 9,4 9,8 -0,4 13,6 12,9 1,2 3

38 16 16,7 16,9 -0,2 20,1 18,6 1,5 3

39 18 21,6 21,5 1,2 10,9 9,8 1,1 3

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

40 13 21,3 20,1 1,2 18,1 15,6 2,1 3

41 16 9,9 10,6 -0,7 16,4 16,8 -0,2 3

42 20 14,1 13,9 0,2 15,8 15,5 0,3 3

43 11 12,6 8,1 4,5 21,6 21,5 0,1 3

44 12 20,4 20,7 -0,3 17,3 17 0,3 3

45 14 14,5 11,3 3,2 13 11,3 1,7 3

46 14 14 13 1 15,5 17,9 1,1 3

47 15 18,4 17,7 1,3 18,2 16,7 1,5 3

48 17 6,9 8,1 -1,2 12 12,3 -0,3 3

49 13 16,4 17,5 -1,1 11,8 11 1,1 3

50 16 22,1 21,8 0,3 20,7 19,1 1,7 3

51 15 15,8 16 -0,2 19,3 18,2 1,1 3

52 16 16 14,8 1,2 16,9 16,3 0,6 3

53 16 9,3 8 1,3 7,7 6,3 1,4 3

54 16 12,1 11,5 0,6 9,2 7,5 1,7 3

55 8 20,8 20,6 0,2 12,3 13 1,2 4

56 28 22 21,3 1,2 20,2 19,4 1,3 4

57 15 21,6 20,1 1,5 15,7 13,7 2 4

58 13 10,7 11,2 -0,5 10,9 9,4 1,5 4

59 15 17,8 17,3 1,5 13,2 13,3 -0,1 5

60 15 14,4 14,5 -0,1 15,6 14,7 1,1 5

61 12 16,5 17 -0,5 12 11,2 1,2 5

62 11 11,1 8,8 1,3 11,4 11,2 0,2 5

63 13 17,8 16,5 1,3 16,1 15,1 1 5

64 17 14,4 13,9 1,4 16,7 16,1 0,6 5

65 15 19,2 18,8 0,4 19,6 15,5 4,1 6

66 14 20,2 19,8 1,1 21,4 20,4 1 6

67 12 9,4 15,2 -5,9 14,4 10,9 -3,5 6

68 13 17,7 16,7 1 15,4 13,2 2,2 6

69 20 22,9 22,5 1 20,9 21 -0,1 6

70 11 11,9 13,6 1,7 15,7 15,5 0,2 6

71 23 12,2 12 0,2 7,4 7,4 0 6

72 15 9,7 11,5 -1,8 7,1 8 -0,9 6

73 16 15,3 15 0,3 17,5 16 1,5 7

74 13 12 10,1 1,9 15,1 13,2 1,9 7

75 15 16,6 15,8 1,2 18,1 18,9 -0,8 7

76 12 25,8 25,2 0,6 23,5 21,9 1,6 7

77 8 18,5 17,6 1,1 15,9 15,2 0,7 9

78 12 9,9 9,4 0,5 13,6 11,5 2,1 9

79 12 21,7 20,1 1,6 22,7 21,4 1,3 9

80 17 17,7 16,4 1,3 16,4 16,3 0,1 9

81 16 16,8 17,8 1 18,8 19,1 -0,3 10

82 12 17,8 17,4 0,4 19,6 18,8 0,8 10

83 13 19,8 18,9 0,9 20,9 21,2 -0,3 10

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

84 14 9 8,5 0,5 10,1 10,1 0 10

85 20 17,6 17,2 0,4 19,5 17,4 2,1 11

86 15 6,7 7,1 -0,4 7,9 6,7 1,2 11

87 15 17,3 17 0,3 19,9 18,3 1,6 11

88 16 14 11,6 2,4 11,6 11,7 -0,1 11

89 15 17,1 16,3 0,8 13,2 10,9 2,3 11

90 16 15,9 15,2 0,7 15,6 14,2 1,4 11

91 12 11,3 10,7 0,6 6,2 4,8 1,4 13

92 12 19,8 18,7 1,1 20,4 19,7 0,7 13

93 17 21,2 20,1 1,1 19 18,4 0,6 13

94 18 21 20,2 0,8 16,8 15,5 1,3 14

95 16 14,9 14,9 0 11,7 11 0,7 15

96 13 9,4 9,2 0,2 14,8 14,1 0,7 14

97 12 16,5 16,3 0,2 19,8 19,2 0,6 15

98 11 19,5 21 -1,5 21,8 22,1 -0,3 16

99 30 19,9 19,6 0,3 18,1 17,8 0,3 16

100 17 7,8 6,9 0,9 16,4 15,2 1,2 17

101 8 7,8 8,4 -1 14,1 13,4 -0,7 17

102 14 15,7 14,2 1,5 16 14,4 1,6 18

103 13 18,1 17,7 0,4 16 15,6 0,4 19

104 14 17,8 17,5 0,3 21,4 21 0,4 19

105 13 17,9 17,8 0,1 16,4 16,3 0,1 19

106 11 21,8 21,7 0,1 24,3 23,2 1,1 20

107 18 19,4 18,5 0,9 19,1 17,7 1,4 19

108 14 12,4 12,5 -0,1 14,7 13,2 1,5 21

109 16 18,6 17,7 0,9 6 6,5 -0,5 21

110 16 13,6 13,3 0,3 12,4 12 0,4 20

111 13 16 14,8 1,2 13 11,8 1,2 22

112 11 18,2 17,1 1,1 18,4 17,8 0,6 22

113 16 6,1 4,9 1,2 6 2 4 23

114 13 14,5 14,3 0,2 16,1 15,9 0,2 23

115 19 16,9 15,8 0,3 21,9 20,1 1,8 24

116 15 15,4 13,2 2,2 9,9 9,4 0,5 24

117 14 11,8 12,7 -0,9 15,2 15,1 0,1 25

118 14 19,9 21,2 -1,3 27,8 27,1 0,6 24

119 14 19,4 18,8 0,6 20,7 19,2 1,5 26

120 13 17,9 16,7 1,2 12,9 11,2 1,7 25

121 14 23,5 23,4 0,1 17,2 17,8 -0,6 25

122 18 8,8 8,6 0,2 15,4 14,3 1,1 26

123 13 15,4 14,1 1,3 13,9 9,9 4 27

124 16 18,1 16,7 1,4 18,6 17,4 1,2 26

125 15 6,6 5,7 0,9 10,4 10,1 0,3 26

126 17 19,3 18,7 0,6 21,9 21,6 0,3 27

127 12 13,4 12,4 1 14,2 14,6 -0,4 27

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

128 16 12,6 11,5 1,1 12,9 12,6 0,3 28

129 12 19,4 19,9 -0,5 16,7 16 0,7 28

130 13 18,6 18,9 -0,3 21,3 21,3 0 28

131 14 18,8 17,7 1,1 19 17,2 1,8 28

132 16 20,3 19,1 1,2 10,5 9,8 0,7 30

133 13 12,2 13,6 -1,4 12 11,6 0,4 30

134 26 13,1 13,1 0 22,6 13,1 9,5 30

135 24 9,7 10,1 -0,4 7 6,5 0,5 30

136 12 16,4 15,6 0,8 20,1 19,7 0,4 30

137 16 15,3 14,9 0,4 17,3 16,8 0,5 31

138 15 16,7 15,7 1 18,6 16,6 2 31

139 14 16,3 14,3 2 23,3 22,7 0,6 31

140 11 16,6 15,8 0,8 18,7 18,3 0,4 31

141 15 15 14,1 0,9 12,5 11,2 1,3 31

142 12 20,5 20,8 -0,3 18,9 18,4 0,5 32

143 11 17,9 17,9 0 16,8 17,4 -0,6 32

144 12 6,1 5,9 0,2 7,6 7,8 -0,2 33

145 17 16,4 14,9 1,5 19,6 18,6 1 32

146 16 15,7 15 0,7 14,4 14,2 0,2 33

147 18 16 15,4 0,6 19,4 18,1 1,1 33

148 13 18,6 17,1 1,5 15,5 17,1 1,6 34

149 27 20,2 19,7 0,5 19,1 17,5 1,6 33

150 17 13,5 14,7 -1,2 15,4 14,8 0,6 33

151 14 12,4 12 0,4 14,4 13,8 0,6 34

152 12 10,5 10 0,5 10 9,7 0,3 35

153 12 14,2 14,3 -0,1 14,9 14,1 0,7 35

154 18 14,9 14,9 0 18,1 17,6 0,5 36

155 17 15,8 15,1 0,7 14,8 14,2 0,6 37

156 16 13,8 13,4 0,4 11,4 9,3 2,1 38

157 19 9,3 9,9 -0,6 10,1 9,4 0,7 39

158 16 6,6 4,6 2 10 -5,7 -2,8 39

159 16 6,7 5,7 1 6,4 6,4 0 39

160 11 19,4 18,9 0,5 19,2 16,8 2,4 42

161 18 12 12 0 6,7 6,6 0,1 42

162 17 18,3 17,2 1,1 14 12,7 1,3 43

163 14 17,2 18,2 -1 13 14,1 -1,1 43

164 13 18,4 17,7 0,7 20 18,2 1,8 45

165 11 11,3 11 0,3 13,4 13,3 0,1 45

166 28 14,3 13,3 1 15,7 15,2 0,5 46

167 16 15,3 13,4 1,9 16,8 15,5 1,3 47

168 18 14,7 13,7 1 16,1 15,3 0,8 47

169 15 15,3 15,7 -0,4 12,5 13 -0,5 47

170 14 16,6 12,9 4,3 16 13,9 2,1 48

171 13 15,1 16 0,9 17,5 17 0,5 49

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

172 17 16,8 17,2 0,4 17,4 17,1 0,3 49

173 11 14,4 14,5 -0,1 12 11,7 0,3 49

174 28 16,4 15,9 0,5 16,6 16,2 0,4 49

175 16 7,2 9,7 2,5 9,7 8,9 0,8 50

176 17 12,3 11,9 0,4 12,2 11,3 0,9 50

177 13 16,1 15 1,1 18,6 17,1 1,5 50

178 14 19,1 19,9 -0,8 19,1 18 1,1 50

179 16 17 15,7 0,9 15 14,5 0,5 51

180 13 15,7 15,9 -0,2 13,9 15,6 -1,7 51

181 30 13,7 13,5 0,2 12,8 13,5 -0,7 52

182 20 19,1 18,9 0,2 16 16,5 -0,5 52

183 17 22,3 23,1 -0,8 20,7 20,5 0,2 53

184 17 16 13,8 2,2 19,4 19,2 0,2 53

185 16 16,1 16,1 0 19,6 18,5 1,1 54

186 18 13,8 14,4 -0,6 14,9 14,1 0,8 54

187 17 13,9 13,4 0,5 14,5 14 0,5 54

188 18 20,1 19 1,1 19,7 18,9 0,8 55

189 18 16,5 16,1 0,4 6,3 8,3 -2 55

190 19 9,9 10,1 -0,2 9 9,6 -0,6 55

191 29 6,6 6,7 -0,1 8,5 8,3 0,2 56

192 15 18,9 18,3 0,5 19,7 18,9 0,8 56

193 16 8,5 8,3 0,2 15,2 15 0,2 56

194 17 14,8 13,5 1,3 6,7 5,4 1,3 56

195 16 13,2 12,1 0,8 18,6 17,6 1 56

196 17 10,8 11,6 -0,8 12 11,4 0,6 56

197 18 16,9 17,1 0,2 21,5 20,8 0,7 57

198 26 14,5 13,4 1,1 16,4 14,5 1,9 57

199 22 18,2 17,5 0,7 20 19,4 0,6 57

200 13 6,8 5,9 0,9 7,4 6,2 0,9 57

201 19 13,6 11,6 2 8 7,9 0,1 57

202 21 17,4 17,1 0,3 18,8 17 1,8 58

203 17 15,5 15,4 0,1 15,2 13,5 0,7 59

204 20 15,7 15,4 0,3 17,1 16,8 0,3 60

205 17 14,4 14,6 -0,2 16 15,5 0,5 63

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

APÊNDICE E – Caracterização do efeito de supressão das EOAT.

Supressão ODa

Ausência 78 38

Presença 127 62

Supressão OEb

Ausência 94 45,9

Presença 111 54,1

Ausência de Supressão

Unilateral 78 38

Bilateral 80 39

a. OD = orelha direita

b. OE = orelha esquerda

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

ANEXOS

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

ANEXO A – Questionário

1. NOME:____________________________________________________________________

2. IDADE - dia, mês e ano nasceu? dia |__|__| mês |__|__| ano |__|__|__|____| OU ____ anos

3. SEXO: ( ) F ( ) M 4. ESTADO CIVIL:_______________________________________

5. ENDEREÇO:________________________________________________________________

6. BAIRRO:_________________________ 7. CIDADE:__________________________

8. CEP.:____________ 9. TEL.:________________________________________________

9. Mora em SÍTIO/FAZENDA/VILAREJO:________________________________________

10. ESCOLARIDADE:

( ) Analfabeto ( ) Fundamental II completo ( ) Médio completo

( ) Fundamental I completo ( ) Fundamental II incompleto ( ) Médio incompleto

( ) Fundamental I incompleto ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo

Quantos anos de escolaridade? _________________________ (caso não saiba responder acima)

11. OCUPAÇÃO: ( ) agricultor ( ) outros _____________________________________

12. Há quanto tempo trabalha nesta ocupação? _______ anos; _______ meses; _______ dias.

13. Trabalha ou trabalhou em outra ocupação? ( ) SIM ( ) NÃO QUAL? ____________

HÁ QUANTO TEMPO? __________ E continua atualmente? ( ) SIM ( ) NÃO

** Se NÃO É AGRICULTOR, pule para o item 17 **

14. QUANTAS HORAS gasta na lavoura? |__|__| Horas por dia

15. QUAIS SÃO OS CULTIVOS na lavoura? ______________________________________

_____________________________________________________________________________

16. A lavoura em que você trabalha fica na sua residência? ( ) SIM ( ) NÃO

17. Qual a DISTÂNCIA da sua residência para a lavoura mais perto?

( ) menos de 50 metros ( ) 100-200 metros

( ) 50-100 metros ( ) mais de 200 metros

18. Quando ocorre aplicação de agrotóxicos/venenos nas lavouras, você é capaz de sentir o cheiro dentro

de casa? ( ) SIM ( ) NÃO

19. Você tem HORTA EM CASA? ( ) SIM ( ) NÃO

20. Você CONSOME O QUE PLANTA? ( ) SIM ( ) NÃO

21. Quais as atividades em que você trabalha/ajuda na lavoura?

Atividades Sim não nunca às vezes sempre

Capinar

Covar

Semear

I - INFORMAÇÕES GERAIS

II - INFORMAÇÕES DE OCUPAÇÃO E HÁBITOS

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

Adubar

Fazer leras

Estercar

Desbrotar

Colher

Preparar veneno p/ aplicação

Puxar mangueira p/ pulverização

Pulverizar c/ costal ou mangueira

Lavar costal depois da aplicação

Armazenar o agrot./veneno

Outros:_____________________

22. Você já TEVE ou TEM algum PROBLEMA DE SAÚDE? ( ) SIM ( ) NÃO

( ) Pressão Alta ( ) Colesterol alto ( ) Diabetes ( ) Câncer ( ) Aids

( ) Alt. neurológica ( ) Olhos ( ) Pele ( ) Pulmões ( ) Intestino

( ) Cabeça ( ) Fígado ( ) Outros_________________________________

25. Faz uso de medicamento? ( ) SIM ( ) NÃO

QUAL/QUAIS?_______________________________________________________________________

____

26. Você tem ALGUM PROBLEMA de audição? ( ) SIM ( ) NÃO

27. Você já percebeu algum LÍQUIDO saindo do ouvido (otorreia)? ( ) SIM ( ) NÃO

28. Você já fez alguma CIRURGIA no ouvido? ( ) SIM ( ) NÃO

29. Já teve perfuração do tímpano? ( ) SIM ( ) NÃO

30. Já trabalhou exposto a ruídos fortes? ( ) SIM ( ) NÃO

QUAIS?_________________________ Por quanto tempo? ___________________________

31. Você acha que ESCUTA BEM em ambiente SILENCIOSO? ( ) SIM ( ) NÃO

32. Você acha que ESCUTA BEM em ambiente RUIDOSO? ( ) SIM ( ) NÃO

33. Você tem zumbido? ( ) SIM ( ) NÃO

34. Qual VENENO você USA em seu TRABALHO?

( ) Actara (inseticida/nicotinoide) ( ) Curzate Br (fungicida/dimetilditiocarbamato)

( ) Decis (inseticida/piretroide) ( ) Fastac (inseticida/piretroide)

( ) Glifosato (herbicida/glifosato) ( ) Gramoxone (herbicida/paraquat)

( ) Lannate (inseticida/metilcarbamato) ( ) Polytrin (inseticida/organofosforado)

( ) Premio (inseticida/antranilamida) ( ) Roundup (herbicida/glifosato)

( ) Tamaron (inset., acaricida/organofosforado) ( ) Tordon (herbicida/picloram)

( ) Turbo (inseticida/piretroide) ( ) Vertimec (inset., acaricida,

nematicida/avermactina)

III - INFORMAÇÕES DE SAÚDE

IV - INFORMAÇÕES AUDITIVAS

V - INFORMAÇÕES SOBRE USO DO AGROTÓXICO

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

( ) Outros ______________________________

35. Há QUANTO TEMPO você TRABALHA COM VENENO NA PLANTAÇÃO?

( ) menos de 1 ano ( ) 11 - 20 anos

( ) 1 - 5 anos ( ) 21 - 30 anos

( ) 5 - 10 anos ( ) mais de 30 anos

36. QUAL CONTATO VOCÊ TEM COM OS AGROTÓXICOS/VENENOS?

( ) direto (manipula a mistura e aplica na lavoura)

( ) direto (puxa a mangueira)

( ) indireto (a lavoura é no mesmo terreno de casa)

( ) indireto (lava o costal)

37. Durante a ÚLTIMA ESTAÇÃO, QUANTOS DIAS você APLICOU VENENO?

( ) Nunca

( ) 1 - 5 dias

( ) 6 - 25 dias

( ) 26 - 50 dias

( ) mais de 50 dias

38. Quantos litros e/ou quilos você usa por semana/mês?_____________________________

39. QUANTAS VEZES POR MÊS VOCÊ USA O VENENO ?

( ) 1 vez ( ) 5 - 10 vezes

( ) 1 - 5 vezes ( ) mais de 10 vezes

40. Com QUANTOS ANOS você COMEÇOU a ter CONTATO com AGROTÓXICO?

( ) 5 - 10 anos ( ) 15 - 20 anos

( ) 10 - 15 anos ( ) 21 anos ou mais

41. QUANTAS VEZES VOCÊ REALIZA ESSAS ATIVIDADES?

41.1. EXPOSIÇÃO A RUÍDO (barulho muito alto) – Dirigir caminhões, tratores, ônibus, moer alimentos

ou soldar?

( ) Nunca, ou menos de 1 vez por mês

( ) 1 - 3 vezes por mês (mensalmente)

( ) 1 - 5 vezes por semana (semanalmente)

( ) 6 - 7 vezes por semana (diariamente)

41.2. MANUSEIA GASOLINA OU ALGUM SOLVENTE PARA LIMPEZA?

( ) Nunca ou menos de 1 vez por mês

( ) 1 - 3 vezes por mês (mensalmente)

( ) 1 - 5 vezes por semana (semanalmente)

( ) 6 - 7 vezes por semana (diariamente)

41.3. PINTAR

( ) Nunca ou menos de 1 vez por mês

( ) 1 - 3 vezes por mês (mensalmente)

( ) 1 - 5 vezes por semana (semanalmente)

( ) 6 - 7 vezes por semana (diariamente)

VI - HÁBITOS DE TRABALHO

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Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

42. QUANTAS HORAS você TRABALHA por dia?

( ) 4 horas ( ) 10 horas

( ) 6 horas ( ) 12 horas

( ) 8 horas ( ) mais de 12 horas

43. Com qual FREQUÊNCIA você USA EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO (EPI) quando em contato

com AGROTÓXICO?

( ) sempre ( )às vezes ( ) nunca uso

EM CASO NEGATIVO, POR QUE NÃO USA FREQUENTEMENTE?

( ) não precisa ( ) atrapalha ( ) dificulta o trabalho

( ) se sente mal ( ) não tem ( ) outros ______________________________

CASO USE EPI, RESPONDA ÀS QUESTÕES ABAIXO:

QUAIS EPIs VOCÊ USA?

( ) máscara de papel ( ) máscara de pano ( ) respirador ( ) botas

( ) roupas descartáveis ( ) luvas de borracha ( ) luvas de lã ( ) óculos

( ) macacões ( ) avental ( ) outro____________________

44. HÁ QUANTO TEMPO VOCÊ USA EPI?

( ) há menos de 1 ano ( ) mais de 10 anos

( ) 1 - 5 anos ( ) sempre usou

( ) 5 - 10 anos

45. Tipos de VESTIMENTA que utiliza quando APLICA OS AGROTÓXICOS ou PUXA A

MANGUEIRA:

46. Quantos dias você usa a mesma roupa para preparação e aplicação do veneno? ___ dias

47. Você lava suas mãos durante ou após o trabalho? ( ) SIM ( ) NÃO

48. Você toma banho logo após aplicar os agrotóxicos/venenos? ( ) SIM ( ) NÃO

49. Você costuma comer durante a aplicação dos agrotóxicos? ( ) SIM ( ) NÃO

50. Qual a frequência de lavagem das vestimentas utilizadas na aplicação dos venenos na lavoura?

( ) logo após a aplicação de agrotóxicos ( ) outro dia em diante

51. É você quem lava as vestimentas utilizadas na lavoura? ( ) SIM ( ) NÃO

No pé ( ) calçado aberto ( ) calçado fechado

Vestimenta superior ( ) sem camisa ( ) manga curta ou sem manga ( ) manga comprida

Vestimenta inferior ( ) bermuda ou short ( ) calça comprida

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

ANEXO B – Código de Pontuação

Variável Respostas Pontuação

Horas de trabalho por dia

0 - 1 hora 0 pontos

1 - 4 horas 1 ponto

5 - 8 horas 2 pontos

08 horas ou mais 3 pontos

Lavoura na residência Não 0 pontos

Sim 1 ponto

Distância da residência até a

lavoura

Menos de 50 metros 3 pontos

50-100 metros 2 pontos

100-200 metros 1 ponto

Mais de 200 metros 0 pontos

Tempo de exposição

Nunca 0 pontos

1-5 anos 1 ponto

5-20 anos 2 pontos

21-30 anos 3 pontos

Dias de uso durante a última

estação

Nunca 0 pontos

1-5 dias 1 ponto

6-25 dias 2 pontos

26-50 dias 3 pontos

Mais de 50 dias 4 pontos

Quantidade de uso por mês

Nunca 0 pontos

1-5 vezes 1 ponto

6-30 vezes 2 pontos

Mais de 50 vezes 3 pontos

Idade do início do contato com

agrotóxico

18 anos ou mais 0 pontos

10-17 anos 1 ponto

05-10 anos 2 pontos

Contato com os agrotóxicos

manipula a mistura e

aplica na lavoura

4 pontos

puxa a mangueira 3 pontos

a lavoura é no mesmo

terreno de casa 2 pontos

lava o costal 1 ponto

Sim Não Às vezes Sempre

Atividades realizadas na

lavoura

Capinar 1 ponto 0 ponto 1 ponto 1 ponto

Covar 1 ponto 0 ponto 1 ponto 1 ponto

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

Semear 1 ponto 0 ponto 1 ponto 1 ponto

Adubar 1 ponto 0 ponto 1 ponto 1 ponto

Fazer leras 1 ponto 0 ponto 1 ponto 1 ponto

Estercar 1 ponto 0 ponto 1 ponto 1 ponto

Desbrotar 1 ponto 0 ponto 1 ponto 1 ponto

Colher 1 ponto 0 ponto 1 ponto 1 ponto

Preparar veneno p/

aplicação 9 pontos 0ponto 1 ponto 9 pontos

Puxar mangueira p/

pulverização 9 pontos 0 ponto 8 pontos 9 pontos

Pulverizar c/ costal ou

mangueira 8 pontos 0 ponto 9 pontos 9 pontos

Lavar costal depois da

aplicação 9 pontos 0 ponto 8 pontos 8 pontos

Armazenar o

agrot./veneno 9 pontos 0 ponto 9 pontos 9 pontos

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ANEXO C – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

ANEXO D – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O Sr. está sendo convidado a participar da pesquisa que se intitula “EFEITOS

DA EXPOSIÇÃO AO AGROTÓXICO NO SISTEMA AUDITIVO ATRAVÉS DAS

EMISSÕES OTOACÚSTICAS TRANSIENTES COM SUPRESSÃO”. O objetivo é

analisar os efeitos crônicos da ototoxicidade em trabalhadores rurais que fazem uso de

agrotóxicos sobre o sistema auditivo através do exame objetivo de emissões

otoacústicas. Em caso de dúvida você pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa da

UFRJ pelo telefone (21) 2598-9293 ou email: [email protected] e/ou

[email protected].

Caso você aceite participar como sujeito desta pesquisa, você terá a audição

avaliada por meio dos seguintes testes: audiometria tonal e vocal, imitanciometria e

exame de emissões otoacústicas. Inicialmente será colocado um fone, com apitos de

fraca intensidade para avaliar o limiar auditivo, em seguida será colocada uma sonda

que exercerá uma pequena pressão para avaliar a mobilidade da membrana timpânica. E

por último será colocada uma sonda no conduto auditivo externo que emitirá sons de

fraca intensidade e na orelha contrária será colocado um fone com ruído. Todos os

procedimentos não machucam e nem causam qualquer desconforto para o paciente.

Não existem benefícios médicos diretos para o sujeito deste estudo, entretanto os

resultados deste estudo confirmarão como está sua audição, e caso seja confirmada

alguma alteração você receberá encaminhamento para tratamento. Não existem riscos

médicos ou desconfortos associados com este projeto. Você receberá tantas interrupções

quanto necessárias durante a sessão de teste.

Fica claro que sua participação é voluntária, não sendo obrigado a realizar todos

os exames se não quiser, mesmo que já tenha assinado o consentimento de participação.

Se desejar, poderá retirar seu consentimento a qualquer momento e isto não trará

nenhum prejuízo ao seu atendimento.

A examinadora não pagará nenhum valor em dinheiro ou qualquer outro bem pela

sua participação, assim como o(a) Sr.(a) não terá nenhum custo adicional. Como

qualquer paciente, o(a) Sr.(a) só terá que arcar com as despesas de condução.

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

Os seus dados serão mantidos em sigilo. Serão analisados em conjunto com os de

outros pacientes e não serão divulgados dados de nenhum paciente isoladamente. O(A)

Sr.(a) poderá esclarecer suas dúvidas durante toda a pesquisa com a fonoaudióloga

Maria Isabel Kós pelo telefone (21) 8725-3919 .

Em caso de dano pessoal diretamente causado pelos procedimentos ou

tratamentos propostos neste estudo (nexo causal comprovado), o participante terá direito

a um tratamento médico na Instituição Universidade Federal do Rio de Janeiro, bem

como às indenizações legalmente estabelecidas.

Eu, como pesquisador responsável, comprometo-me a utilizar os dados coletados

somente para esta pesquisa.

Acredito ter sido suficientemente informado(a) a respeito das informações que li

ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo “Efeitos da exposição ao agrotóxico

no sistema auditivo através das emissões otoacústicas transientes com supressão”.

Eu discuti com a fonoaudióloga Maria Isabel Kós sobre a minha decisão em

participar do estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os

procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de

confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.

Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas. Concordo

voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a

qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo, ou perda

de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste serviço.

____________________________________

Nome do paciente

____________________________________ ____/____/______

Assinatura do paciente Data

____________________________________ ____/____/______

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

Assinatura da testemunha Data

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e

Esclarecido deste paciente para a participação neste estudo.

___________________________________ ____/____/______

Assinatura do responsável pelo estudo Data

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Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

ANEXO E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – autorização do responsável

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Seu(Sua) filho(a) está sendo convidado(a) a participar, como voluntário(a), de

uma pesquisa com o objetivo de avaliar alteração auditiva. Após ser esclarecido(a)

sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final

deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador

responsável. Em caso de recusa você e seu menor não serão penalizados de forma

alguma. Em caso de dúvida você pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa da

UFRJ pelo tel. (21) 2598-9293.

O(A) seu(sua) filho(a) está sendo convidado(a) a participar da pesquisa que se

intitula “EFEITOS DA EXPOSIÇÃO AO AGROTÓXICO NO SISTEMA AUDITIVO

ATRAVÉS DAS EMISSÕES OTOACÚSTICAS TRANSIENTES COM

SUPRESSÃO”. O objetivo é analisar os efeitos crônicos da ototoxicidade em

trabalhadores rurais que fazem uso de agrotóxicos sobre o sistema auditivo através do

exame objetivo de emissões otoacústicas. Em caso de dúvida você pode procurar o

Comitê de Ética em Pesquisa da UFRJ pelo telefone (21) 2598-9293 ou email:

[email protected] e/ou [email protected].

Caso você aceite que seu(sua) filho(a) participe como sujeito desta pesquisa,

ele(a) terá a audição avaliada por meio dos seguintes testes: audiometria tonal e vocal,

imitanciometria e exame de emissões otoacústicas. Inicialmente será colocado um fone,

com apitos de fraca intensidade para avaliar o limiar auditivo, em seguida será colocada

uma sonda que exercerá uma pequena pressão para avaliar a mobilidade da membrana

timpânica. E por último será colocada uma sonda no conduto auditivo externo que

emitirá sons de fraca intensidade e na orelha contrária será colocado um fone com ruído.

Todos os procedimentos não machucam e nem causam qualquer desconforto para o

paciente.

Não existem benefícios médicos diretos para o sujeito deste estudo, entretanto os

resultados deste estudo confirmarão como está sua audição, e caso seja confirmada

alguma alteração você receberá encaminhamento para tratamento. Não existem riscos

médicos ou desconfortos associados com este projeto. Ele receberá tantas interrupções

quanto necessárias durante a sessão de teste.

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

Fica claro que a participação é voluntária, não sendo obrigatório realizar todos os

exames se não quiser, mesmo que já tenha assinado o consentimento de participação. Se

desejar, poderá retirar seu consentimento a qualquer momento e isto não trará nenhum

prejuízo ao seu atendimento.

A examinadora não pagará nenhum valor em dinheiro ou qualquer outro bem pela

sua participação, assim como o(a) Sr.(a) não terá nenhum custo adicional. Como

qualquer paciente, o(a) Sr.(a) só terá que arcar com as despesas de condução.

Os dados de seu(sua) filho(a) serão mantidos em sigilo. Serão analisados em

conjunto com os de outros pacientes e não serão divulgados dados de nenhum paciente

isoladamente. O(A) Sr.(a) poderá esclarecer suas dúvidas durante toda a pesquisa com a

fonoaudióloga Maria Isabel Kós pelo telefone (21) 8725-3919 .

Em caso de dano pessoal, diretamente causado pelos procedimentos ou

tratamentos propostos neste estudo (nexo causal comprovado), o participante terá direito

a um tratamento médico na Instituição Universidade Federal do Rio de Janeiro, bem

como às indenizações legalmente estabelecidas.

Eu, como pesquisador responsável, comprometo-me a utilizar os dados coletados

somente para esta pesquisa.

Acredito ter sido suficientemente informado(a) a respeito das informações que li

ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo “Efeitos da exposição ao agrotóxico

no sistema auditivo através das emissões otoacústicas transientes com supressão”.

Eu discuti com a fonoaudióloga Maria Isabel Kós sobre a minha decisão em

participar do estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os

procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de

confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.

Ficou claro também que a participação de meu(minha) filho(a) é isenta de

despesas. Concordo voluntariamente em deixá-lo(a) participar deste estudo e poderei

retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem

penalidades ou prejuízo, ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou

no meu atendimento neste serviço.

____________________________________

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Efeitos da exposição ao agrotóxico no sistema auditivo eferente através das emissões otoacústicas transientes com supressão

Maria Isabel Kós Pinheiro de Andrade

Nome do menor de idade

____________________________________ _____/____/______

Assinatura do responsável Data

____________________________________ _____/____/______

Assinatura da testemunha Data

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e

Esclarecido deste paciente para a participação neste estudo.

___________________________________ ____/____/______

Assinatura do responsável pelo estudo Data