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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP EDY CARLOS SANTOS DE LIMA ESTUDO DOS EFEITOS SOCIOAMBIENTAIS SOBRE A AGRICULTURA FAMILIAR DA EXPANSÃO CANAVIEIRA NOS NOROESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO CAMPO GRANDE – MS 2016

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP

EDY CARLOS SANTOS DE LIMA

ESTUDO DOS EFEITOS SOCIOAMBIENTAIS SOBRE A AGRICULTURA FAMILIAR DA EXPANSÃO CANAVIEIRA NOS NOROESTE DO ESTADO DE

SÃO PAULO

CAMPO GRANDE – MS

2016

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Edy Carlos Santos de Lima

A expansão canavieira e seus impactos ambientais e sociais em propriedades localizadas na região noroeste do Estado de São Paulo

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional da

Universidade Anhanguera-Uniderp, como

parte dos requisitos para a obtenção do

título de Doutor em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional.

Comitê de Orientação Prof. Dr. Ademir Kleber Morbeck de

Oliveira

Profa. Dra. Rosemary Matias

Prof. Dr. Sandino Hoff

CAMPO GRANDE – MS 2016

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Dedico

À minha esposa Greice Kelli, filhos Ana Laura e Gabriel, pelo amor,

carinho, companheirismo e paciência a mim dedicados.

À minha mãe Maria e ao pai Adelson (in memorian) e Padrasto Ivo (in

memoriam), a quem devo minha educação e formação.

A minha irmã Marta e a minha sobrinha Luana, Pela amizade e carinho.

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AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, agradeço ao Grande Arquiteto do Universo pelas

oportunidades de crescimento intelectual e moral.

A minha família, em especial a minha mãe Maria, meu padrasto Ivo

Pastore (in memoriam), minha esposa Greice Kelli, meus filhos Ana Laura e

Gabriel, à minha irmã Marta e a minha sobrinha Luana, que souberam me

compreender, incentivar e apoiar em todos os momentos, não me deixando

abalar pelas dificuldades.

Aos meus orientadores, Prof. Dr. Ademir Kleber Morbeck de Oliveira,

Profa. Dra. Rosemary Matias e Prof. Dr. Sandino Hoff, pelo seu apoio e

confiança. Sou-lhes grato por acreditar em minhas ideias e me deixar expô-las

na forma deste trabalho;

Aos Professores da Pós-Graduação em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional da Anhanguera-Uniderp pelos ensinamentos,

discussões e contribuições. E um agradecimento especial aos Professores, Dr.

Gilberto Luiz Alves e Dr. José Sabino pelos conhecimentos, apoio, amizade e

cortesia inigualável;

Aos professores Dr. José Antônio Maior Bono e Dra. Antonia Railda Roel

pelas valorosas contribuições em minha qualificação que impulsionaram a

concretização deste estudo.

Aos professores Dr. José Antônio Maior Bono, Dr. Jorge de Souza Pinto,

Dr. Antonio Conceição Paranhos Filho e Dra. Silvia Rahe Pereira pelas

valorosas contribuições em minha defesa que impulsionaram a concretização

deste estudo.

A todos os funcionários da Pós-Graduação em Meio Ambiente de

Desenvolvimento Regional, em especial a Alinne Signorelli, sempre incansável

em nos orientar, atender e apoiar em nossas necessidades administrativas;

Ao Professor Me. Itzhak David Simão Kavesk pelo apoiou na análise dos

dados do meu processo de doutoramento, cujo caráter, profissionalismo,

empenho e sensatez são exemplos. Sua amizade não será esquecida;

Agradeço a Rafael Medeiros, professor e amigo, pelos seus

conhecimentos de geoprocessamento imprescindíveis para o domínio do

ferramental do SPRING/ArcGis para realizar minha proposta de trabalho;

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Aos colegas mestrandos e doutorandos meu muito obrigado pela

convivência e amizade, em especial a Jorge, Jiyan Yari, Robson, Vespasiano,

Fábio Fernando, Pina, Leonel, Valtecir, Margareth, Sthefany e a Marisa;

A todos os produtores rurais que contribuíram para efetivação do

trabalho. Funcionários da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, em

especial aos funcionários dos Escritórios de Desenvolvimento Rural de Jales e

Fernandópolis.

A todos agradeço pelo companheirismo, a amizade, os incontáveis

préstimos e o respeito profissional. Que suas conquistas sejam sempre

iluminadas.

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“A base de toda a sustentabilidade é o desenvolvimento humano que

deve contemplar um melhor relacionamento do homem com os

semelhantes e a Natureza”.

Nagib Anderáos Neto

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Sumário 1. Resumo Geral....................................................................................... 09 General Summary..................................................................................... 10 Introdução Geral....................................................................................... 11 4. Revisão da Literatura............................................................................ 14 4.1. Perspectiva histórica sobre agricultura familiar no Brasil................... 14 4.1.1. Gestão: Propriedade x família......................................................... 18 4.1.2. Relação: Propriedade x família....................................................... 18 4.2. Agricultura familiar no estado de São Paulo...................................... 19 4.3. Caracterização da Gestão Pública Estadual de Produção Rural....... 22 4.3.1. Estratificação fundiária e tipos de produção................................... 24 4.4. Perspectiva histórica da cultura da cana-de-açúcar.......................... 25 4.5. Expansão da produção canavieira e seus impactos......................... 28 4.6. Zoneamento Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro...................... 33 4.7. Questão Ambiental............................................................................. 35 4.8. Contribuições do geoprocessamento e sensoriamento para

análise da agricultura familiar e expansão canavieira.............................. 36 5. Referências Bibliográficas..................................................................... 39 6. Artigos 52 Artigo I - Características socioeconômicas dos produtores rurais da região noroeste do Estado de São Paulo, Brasil...................................... 52 Resumo..................................................................................................... 52 Abstract..................................................................................................... 53 Introdução................................................................................................. 53 Material e métodos.................................................................................... 54 Resultados e Discussão............................................................................ 56 Considerações Finais................................................................................ 68 Referências Bibliográficas......................................................................... 69 Artigo II - Fatores de influência para os produtores rurais arrendarem suas terras para usina canavieira na região de Jales e

Fernandópolis, São Paulo, Brasil.............................................................. 75 Resumo..................................................................................................... 75 Abstract..................................................................................................... 76 Introdução................................................................................................. 76 Material e Métodos.................................................................................... 78 Resultados e Discussão............................................................................ 80 Considerações Finais................................................................................ 87 Referências Bibliográficas......................................................................... 88 Artigo III - Avaliação multitemporal do uso e ocupação do solo entre e 2014 na zona de expansão canavieira na região de Jales e Fernandópolis, São Paulo, Brasil.............................................................. 93 Resumo..................................................................................................... 93 Abstract..................................................................................................... 93 Introdução................................................................................................. 94 Material e Métodos.................................................................................... 96 Resultados e Discussão........................................................................... 99 Considerações Finais............................................................................... 107 Referências Bibliográficas........................................................................ 108 7. Conclusão Geral.................................................................................. 114

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1. Resumo Geral O objetivo central do trabalho é realizar a caracterização da expansão

canavieira e seus impactos ambientais e sociais, identificando a relação da

sociedade com o ambiente e o desenvolvimento regional sustentável. Para

atender ao objetivo proposto, realizou um levantamento de campo, com

aplicação de 373 formulários aos proprietários rurais, onde os dados foram

tabulados no software Sphinx Léxica 5.0 e SPSS 13.0, aplicando-se análises

fatoriais. Foi realizada uma análise multitemporal do uso e ocupação do solo

entre os anos de 1984 e 2014. Os resultados demonstram a predominância de

empreendedores rurais, do sexo masculino, idosos e com um nível de

escolaridade insatisfatório; os produtores rurais possuem a propriedade a mais

de 20 anos, sendo como principal origem a herança e aquisição de parentes.

Destaca-se renda mensal da maioria dos produtores superior a quatro salários

mínimos; identificou-se que as atividades de horticultura, fruticultura,

silvicultura, lavoura de grãos, bovinocultura de corte e de leite, avicultura,

suinocultura, piscicultura, apicultura, ovinocultura, caprinocultura, heveicultura e

cana-de-açúcar são as mais desenvolvidas dentro da empresa rural. A maioria

dos entrevistados não participa de cooperativas e associações e declararam

também que a maior dificuldade para ter acesso ao crédito rural é o projeto

técnico detalhado. Após a análise fatorial, verifica-se que cinco fatores motivam

o interesse dos produtores rurais em arrendar terras: rentabilidade, impactos,

caracterização, origem da empresa rural e a utilização de mão de obra externa

e finalmente qualidade de vida. Identificou-se com a análise multitemporal que

houve um crescimento de 3000% da área canavieira, e uma redução de

20,01% das áreas de pastagens, 30,34% da vegetação florestal, 82,60% da

vegetação campestre e 21,68% dos corpos d’água. Essa mudança de uso e

ocupação do solo começou a trazer impactos socioeconômicos (alterações na

renda, saúde, infraestrutura, produção alimentícia e a não sucessão familiar

dentro da empresa rural) e ambientais (mudança da paisagem, perda da

biodiversidade, degradação e poluição dos ecossistemas). Palavras-chave: Agroenergético, Área canavieira, Desenvolvimento rural,

Agricultura familiar, Uso e ocupação do solo.

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2. General Summary The main goal of this paper is to perform the characterization of

sugarcane expansion and its environmental and social impacts, identifying the

relationship between society and the environment and sustainable regional

development. In order meet the proposed objective, a field survey was carried

out, applying 373 forms to rural owners, where the data were tabled in Sphinx

Lexica 5.0 and SPSS 13.0 software, applying factorial analysis. A multitemporal

analysis of land use and occupation was carried out between 1984 and 2014.

The results show the predominance of rural entrepreneurs, male, elderly and

with an unsatisfactory educational level; the rural producers own the property

more than 20 years, being as main origin the inheritance and acquisition of

relatives. It stands out monthly income of the majority of the producers superior

to 4 minimum salaries; it has been identified that the activities of horticulture,

fruit growing, silviculture, grain farming, beef and dairy farming, poultry farming,

swine farming, pisciculture, beekeeping, sheep farming, goat breeding,

heveculture and sugar cane are the most developed within the rural company.

Most interviewees do not participate in cooperatives and associations and also

stated that the greatest difficulty in gaining access to rural credit is the detailed

technical project. After the factorial analysis, five factors motivate the interest of

rural producers in renting land: profitability, impacts, characterization, origin of

the rural enterprise and the use of external labor and finally quality of life. It was

identified with the multitemporal analysis that there was a 3000% growth of the

sugarcane area, and a reduction of 20.01% of the pasture areas, 30.34% of the

forest vegetation, 82.60% of the country vegetation and 21.68 % of water

bodies. This change in land use and occupation began to bring socioeconomic

impacts (changes in income, health, infrastructure, food production and non-

family succession within the rural enterprise) and environmental changes

(landscape change, biodiversity loss, degradation and pollution of ecosystems).

Keywords: Agroenergy, Sugar Cane area, Rural development, Family

agriculture, Soil use and occupation.

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3. Introdução Geral Desde a década de 1970, o governo brasileiro vem proporcionando

investimentos para incentivar a produção da cana-de-açúcar. Com o projeto

Proálcool, o setor canavieiro ganhou ênfase, e começou a expansão pelo

território brasileiro, causando impactos socioambientais, mudanças no arranjo

fundiário e em algumas regiões, gerou um conflito com a produção de

alimentos (SOUZA, 2009). Estas mudanças também levaram a uma alteração

no processo de sucessão familiar dentro dos empreendimentos rurais, que é

uma das formas de manter ativas as atividades do campo. Essas atividades

para terem uma continuidade com eficiência e eficácia dependem das próximas

gerações assumirem a gestão do empreendimento rural. Esta é uma questão

muito importante, levando-se em consideração o grau de importância que o

setor agropecuário tem para o país, uma vez que é do campo que sai a

alimentação do dia a dia.

De acordo com a EMBRAPA (2014), a agricultura familiar possui peso

representativo bastante forte no Brasil, mobilizando 14 milhões de pessoas, o

equivalente a 60% dos trabalhadores na agricultura. Os pequenos

estabelecimentos representam 75% das propriedades rurais, 25% das terras

cultivadas e geram 35% da produção agrícola nacional. Uma diversidade de

alimentos, em especial aqueles que são a base da dieta da população,

originam-se das pequenas propriedades familiares, com estudos estimados de,

aproximadamente, 31% do arroz, 70% do feijão e 49% do milho venham da

agricultura familiar.

Percebe-se que a expansão canavieira trouxe não apenas impactos

socioeconômicos, mas também grandes impactos ambientais, como a

alteração do ecossistema com a contaminação da água e solo e mudanças

drásticas da paisagem na região.

Segundo LIBONI e CEZARINO (2012), os impactos da expansão

canavieira no ambiente incluem os efeitos na qualidade do ar e no clima global,

no uso e conservação do solo e biodiversidade, nos recursos hídricos e no uso

de defensivos e fertilizantes.

Além disso, o próprio INPE (2015), através do monitoramento da

expansão canavieira, afirma que muitas culturas de alimentos perderam área

para cana nos últimos anos. Essa substituição pode causar impactos

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ambientais, tendo em vista a alteração do ecossistema, que em tese já estava

estabilizado (PEREIRA, 2007).

Portanto, o que se verifica é que a expansão canavieira está

contribuindo para a não sucessão familiar e à diminuição de áreas de plantio

alimentício. Como consequência, a ausência ou pequena oferta de alguns

produtos em função do reduzido número de produtores ainda ligados à

atividade de produção alimentícia, principalmente verduras, queijos, doces e

derivados, etc., levando-se à busca desses produtos alimentícios em outras

regiões do Brasil (SHIKIDA e SOUZA, 2009).

Dentre os problemas observados, ALVES (2012) afirma que no

Município de Goianésia – GO ocorreram sérios problemas em relação a

aumento da criminalidade, tendo em vista o uso de drogas por trabalhadores

que atuavam no corte da cana-de-açúcar. Estes, para manterem seus vícios,

buscavam alternativas, como furto e roubo.

Outra questão a ser considerada são os problemas de saúde em função

de poeira, ruído e aplicação de defensivos via aérea, que entre outros

problemas, causam sérios danos à integridade física dos trabalhadores e da

população nestas regiões (PARAISO e GOUVEIA, 2015).

A expansão observada nesta cultura ocorre principalmente nos Estados

do Sudeste e Centro-Oeste, São Paulo entre eles. Este último estado responde

por 30% do PIB agropecuário, com destaque para as atividades agropecuárias

ligadas a produção de legumes, fruticultura, verduras, milho, feijão, algodão,

amendoim, pecuária de corte e leiteira. Também é a maior produtora mundial

de açúcar e álcool e suco de laranja, além de outros itens (SAA, 2016;

BUAINAIN et al., 2013). Para o melhor acompanhamento das atividades

agropecuárias no Estado, o mesmo foi dividido em Escritórios de

Desenvolvimento Rural - EDRs.

As EDRS de Jales e Fernandópolis são compostas por pequenas

propriedades rurais, predominando a agricultura familiar (CATI, 2016); Segundo

INPE (2015), nessa região ocorreu uma expansão canavieira nos últimos anos

na ordem de 3000%. Em função desse crescimento, pode estar ocorrendo uma

nova dinâmica na região, com proprietários abandonando suas propriedades e

consequentemente, ocorrendo o êxodo rural (SHIKIDA e SOUZA, 2009).

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Com base nestas informações, justifica-se investigar a expansão

canavieira na região noroeste do Estado de São Paulo.

Desta maneira, como objetivo geral, realizou-se a caracterização da

expansão canavieira e seus impactos ambientais e sociais na região.

Como objetivos específicos:

● Analisar as transformações ambientais através da alteração de

paisagens ocorridas na região;

● Identificar o perfil socioeconômico das famílias rurais, levando em

conta aspectos como escolaridade, tamanho, sucessão familiar,

rendimento familiar per capita, composição da força de trabalho,

buscando relacionar o perfil encontrado com as transformações

em curso no meio rural brasileiro, e;

● Analisar os fatores que influenciam os produtores rurais a

arrendarem suas terras para usina canavieira.

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4. Revisão de Literatura 4.1. Perspectiva histórica sobre agricultura familiar no Brasil

GRZYBOVSKI e TEDESCO (1998) caracterizam uma empresa familiar

aquela de capital aberto como sendo uma organização empresarial que tem

sua origem e história vinculadas a uma mesma família há pelo menos duas

gerações. Ou ainda aquela que mantém membros da família na administração

ou controle dos negócios.

Para PANZUTTI (2005), o conceito remonta aos séculos XVIII e XIX,

como uma forma de agricultura que evoluiu gradualmente na Europa. No início,

foi estruturada por poucos proprietários e grande contingente de trabalhadores

assalariados e, posteriormente, na maioria por pequenos proprietários.

Paulatinamente, os camponeses foram se adaptando a uma nova estrutura, em

que predominavam estabelecimentos com dimensões adequadas à exploração

pelo trabalho da família.

Segundo ALTAFIN (2007), a agricultura familiar não é propriamente um

termo novo, mas de uso recente, com penetração ampla nos meios

acadêmicos, nas políticas de governo e nos movimentos sociais, adquire novas

significações.

Para SILVA e MENDES (2009), a agricultura familiar é caracterizada

pela relação entre terra, trabalho e família, e apresenta algumas

especificidades, além da diferenciação regional/local que assegura sua

inserção e reprodução na sociedade contemporânea. Esses autores afirmam

que este tipo de agricultura apresenta uma junção íntima entre terra, trabalho e

família, na qual a administração/gerência e o trabalho são realizados pela

família, sendo que os meios de produção lhes pertencem.

No Brasil, fica evidente a inter-relação existente entre agricultura familiar,

propriedade familiar ou mesmo o conceito de agricultor familiar, com a pequena

extensão de terras na legislação concebida para regulamentar as políticas

públicas para a agricultura e reforma agrária.

Segundo a lei 4.504/64, artigo 4º inciso II, propriedade familiar é o imóvel

rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes

concentra toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o

progresso social e econômico, que é fixada para cada região e tipo de

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exploração e, eventualmente, trabalhado com a ajuda de terceiros (BRASIL,

1964).

Outro fator que interfere neste conceito é o modo de vida, ou a relação

do produtor e da família com a propriedade em si. Nesse sentido, ALTAFIN

(2007) cita duas correntes de pensamento: uma que considera a produção

familiar como parte de um contexto histórico, extremamente dependente da

terra, mantendo com ela uma relação de subsistência. A outra, que considera

uma agricultura familiar voltada para o mercado, que incorpora novas

tecnologias e mantém com a terra uma relação moldada com base em

conceitos capitalistas.

De acordo com GONÇALVES e SOUZA (2005), agricultura familiar é

aquela que possui até quatro módulos fiscais de extensão de terras, em que o

serviço é explorado pelo agricultor e sua família, e eventualmente trabalha com

a ajuda de terceiros.

No Brasil, pequena propriedade é definido por leis que regulamentam o

uso da terra, a reforma agrária, bem como as políticas públicas para o setor

agrícola, e é ligado ao tamanho (área) das propriedades, principalmente, à

capacidade de geração de renda e sobrevivência do pequeno agricultor

(TALASKA e ETGES, 2013; INCRA, 2016).

Segundo o artigo 4º da lei nº 8.629 de 25 de fevereiro de 1993 que,

dispõe sobre a regulamentação dos dispositivos constitucionais relativos à

reforma agrária, previstos no Capítulo III, Título VII, da Constituição Federal,

conceitua-se como pequena propriedade, o imóvel rural com área de até quatro

módulos fiscais (BRASIL, 1993).

Paralelamente ao conceito de módulo fiscal, existe o conceito de módulo

rural, que segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

(INCRA), é derivado do conceito de propriedade familiar. Sendo assim, é uma

unidade de medida, expressa em hectares, que busca exprimir a

interdependência entre a dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e

a forma e condições do seu aproveitamento econômico (INCRA, 2008).

Ainda segundo INCRA (2008), a diferença entre módulo rural e fiscal

está no objeto a que se aplica. Enquanto o módulo rural é calculado para cada

imóvel rural em separado e sua área reflete o tipo de exploração predominante

no imóvel rural, segundo sua região de localização, o módulo fiscal é

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estabelecido para cada município, e procura refletir a área mediana dos

Módulos Rurais dos imóveis rurais do município.

Portanto, entende-se como agricultura familiar o cultivo da terra,

realizado por pequenos produtores rurais, que não tenha área maior do que 4

módulos fiscais (104 ha), com uso predominante de mão de obra da própria

família e sua renda ser originada das atividades econômicas vinculadas as

empresas rurais. É importante, salientar que a agricultura brasileira sofreu um

processo de modernização em seus processos.

Para PETINARI et al. (2004), o processo de modernização da agricultura

brasileira se iniciou na década de 1960 e foi marcado pela transformação da

base técnica dos estabelecimentos rurais, em que os avanços tecnológicos

aliaram-se à manutenção do latifúndio. Ainda nesta época, muitos produtores,

principalmente os menos favorecidos, se viram encurralados pelos grandes

estabelecimentos rurais e sem nenhum incentivo do governo para se adaptar a

essa nova realidade acabou vendendo suas terras e indo morar nas cidades, o

que foi chamado de êxodo rural.

Nos anos de 1970 a 1980, as transformações que estavam ocorrendo na

agricultura brasileira eram analisadas como similares àquelas ocorridas nos

países capitalistas avançados, tanto em seus aspectos positivos como nos

negativos. Nos anos 1970, sustentava-se que a chamada “questão agrícola”

havia sido superada pelo processo de modernização baseado na mecanização

e na utilização de variedades selecionadas de sementes e de insumos

químicos. Em 1980, este processo de modernização aprofundara a integração

da agricultura com os capitais industriais, comerciais e financeiros que a

envolvem, formando o que foi chamado de “complexos agroindustriais”.

De acordo com SCHNEIDER (1994), foi a partir da década de 1970 que

a economia internacional sofreu significativas mudanças, acumuladas depois

da Segunda Guerra Mundial, provocando também efeitos de reestruturação na

agricultura.

SILVA e MENDES (2009) afirmaram que a modernização da agricultura

brasileira legitimou apenas a agricultura empresarial moderna, ocasionando o

crescimento dos problemas sociais, econômicos e territoriais dos pequenos

agricultores.

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A agricultura familiar é de grande importância social, sendo alvo de

estudos científicos e políticas públicas, como é o caso do PRONAF – Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, que foi criado em 28 de

junho de 1996, instituído através do Decreto n.º 1946, da Presidência da

República. Seu intuito é de promover o desenvolvimento sustentável do

segmento rural constituído pelos agricultores familiares, de modo a propiciar-

lhes o aumento da capacidade produtiva, a geração de emprego e melhoria de

renda (BRASIL, 1996).

O PRONAF foi elaborado para ofertar para os agricultores familiares o

crédito de custeio e de investimento, objetivando fornecer condições de

modernização para o empreendimento rural. PIRES (2013) destaca que os

créditos de custeio contemplam às atividades ligadas ao ciclo de produção,

entressafra e à agregação de valor, armazenamento e comercialização de

produtos agropecuários nos empreendimentos rurais. Os créditos de

investimento, relacionados aos ativos que objetivam a ampliação e

modernização do empreendimento, bem como, atividades à comercialização,

turismo rural, preservação ambiental, etc.

No período entre 1997 e 2002 ocorreram várias mudanças no programa

PRONAF, destacando-se que o mesmo deixou de fazer parte do Ministério da

Agricultura, sendo incorporado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário –

MDA. Com essa incorporação, criou-se a Secretaria de Agricultura Familiar –

SAF, promovendo uma maior visibilidade e centralização a atividade (ALEIXO

et al., 2007).

Os autores acima destacam que em relação às linhas de atuação do

PRONAF, ocorreram mudanças de proibição de recursos destinados à cultura

do fumo, à inclusão dos silvicultores, a atividades não agrícolas (artesanato e

turismo rural, entre outras). Segundo BIANCHINI (2015), atualmente as linhas

de créditos PRONAF disponíveis para o empreendedor rural são amplas e

entre estas se podem citar Pronaf Custeio, Pronaf Mulher, Pronaf Investimento,

Pronaf Agroecologia, Pronaf ECO Dendê, Pronaf ECO Seringueira, Pronaf

Agroindústria, entre outros.

A implementação do programa também contribuiu para a redução do

hiato entre o potencial produtivo e o efetivo da agropecuária, proporcionando

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uma nova realidade para o empreendedor rural (PEREIRA e NASCIMENTO,

2014).

4.1.1. Gestão: Propriedade x Família O conceito de gestão, comumente é confundido com outros termos,

principalmente com o termo utilizado em administração. Segundo MAXIMIANO

(2009), as palavras gestão, administração e management têm o mesmo

significado: um processo dinâmico de tomar decisões sobre a utilização de

recursos, para possibilitar a realização de objetivos.

Dentro do universo da agricultura familiar, de acordo PATRIARCA e

FRANCIS (2003), as formas de gestão da propriedade acabam sendo

influenciadas pela diferença existente entre a agricultura familiar tradicional,

empresa familiar e a ideologia existente que visa a homogeneização do setor.

Percebe-se que os empreendimentos rurais estão sujeitos a vários

fatores. Estes são o clima, políticas públicas, novas tecnologias, hábitos

alimentares, políticas econômicas, etc., que unificado as diferentes

características e formas de gerir o empreendimento rural, influenciam no

resultado que a gestão alcançará (COSTA et al., 2015).

PATRIARCA e FRANCIS (2003) também colocam que o conhecimento e

capacidade de adaptar ao mercado, verificando-se os fatores que estão

influenciando, acabam por direcionar à gestão dos empreendimentos. Isto

permite um aproveitamento mais racional de seus recursos, além de terem

seus potenciais voltados para a busca da obtenção de melhores resultados que

beneficiarão a todos.

4.1.2. Relação Propriedade x Família Verifica-se entre os anos de 1960 e 1980, que através do fenômeno de

modernização das atividades agrícolas, o êxodo rural cresceu sensivelmente,

ocorrendo assim uma diminuição do caráter agrário e rural dentro do país.

De acordo com CARVALHO (2007), as atividades relacionadas com os

empreendimentos rurais foram perdendo status, e o jovem acabou se

deslocando para o meio urbano. Essa transferência, além de reduzir as

características agrícolas dos municípios, acabou gerando aumento do número

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de pessoas idosas na área rural, agravando os processos de masculinização e

do envelhecimento dessas comunidades (SPAVENELLO, 2008).

Esta situação levou ao problema de envelhecimento da população rural

e da sucessão familiar na propriedade. SILVESTRO et al. (2001) citam que o

processo de sucessão da gestão no empreendimento rural é quase inexistente,

tendo como consequência a oferta de terras das gerações que envelheceram e

o desejo dos jovens que não podem satisfazer suas vocações profissionais

dentro da propriedade paterna. Em decorrência desse não processo de

sucessão familiar associado a idade do empreendedor rural, acaba ocorrendo o

arrendamento de terras para o plantio de cana-de-açúcar.

4.2. Agricultura familiar no Estado de São Paulo Segundo BAPTISTA FILHO (1967), no século XVIII, a preocupação com

a lavoura passou a ser mais nítida à medida que se expandia o povoamento da

região, já no século XVII. No princípio, o governo doava milhares de alqueires

para a plantação, que se chamavam sesmarias, mas com o passar dos anos,

essas propriedades foram divididas com os sucessores familiares ou

desmembradas para a venda em pequenos lotes.

Para o autor acima, a natureza da atividade agrícola e o tipo de cultura

determinam o tamanho da propriedade. Em São Paulo, a lavoura cafeeira

estabeleceu os limites mínimos e úteis da propriedade rural, com os

investimentos nas propriedades rurais sendo maiores do que nas das demais

propriedades do país.

NARDOQUE (2005) afirma que São Paulo foi diferente da Região Sul,

pois o que predominou foi a imigração subvencionada, que empregava a mão

de obra dos imigrantes nas grandes lavouras de café. É certo que existiam as

pequenas propriedades, mas em menor número comparadas à região Sul. Por

existir a necessidade da mão de obra nas lavouras, muitos defendiam a

formação das pequenas propriedades compostas de imigrantes.

Apesar da importância desses fatores, pode-se considerar, com certo

grau de simplificação, que os quatro principais condicionantes do

desenvolvimento rural são os incentivos que os produtores têm para investir e

produzir, a disponibilidade de recursos, particularmente terra, água, mão de

obra, capital e tecnologia (BATALHA, 2009).

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Estes determinam o potencial de produção, o acesso aos mercados,

insumos, informações e serviços que influem de forma decisiva na capacidade

efetiva de produção. E, finalmente, as instituições, que influenciam as decisões

dos agentes e inclusive sua capacidade, possibilidade e disposição para

produzir (GUANZIROLI et al., 2003).

Desta maneira, qualquer política de desenvolvimento e promoção da

agricultura familiar deve necessariamente levar em conta a situação desses

quatro fatores e sua influência sobre a dinâmica da produção familiar. O

fortalecimento e desenvolvimento da agricultura familiar requerem, pois, a

integração das políticas macroeconômica, agrícola e de desenvolvimento rural,

de forma a reduzir os atritos e aumentar a convergência e sinergia entre os

diversos níveis de intervenção do setor público (DELGADO, 2012).

Já para os autores TEIXEIRA e PINTO (2012), à política

macroeconômica incide diretamente sobre os incentivos e a disponibilidade de

recursos, que também influencia os preços reais, o grau de proteção efetiva, a

disponibilidade de recursos e o custo de oportunidade para a utilização desses

recursos.

Além disso, essas políticas afetam também as variáveis estruturais como

a dinâmica da oferta e demanda a distribuição de renda e a disponibilidade e

qualidade da infraestrutura (TEIXEIRA e PINTO, 2012).

É necessário reforçar e melhorar os resultados das políticas agrárias,

cuja implementação deve apoiar-se em diagnósticos regionais e instrumentos

de planejamento participativo. Desta forma, em um país como o Brasil, é

impossível ignorar as diferenças regionais e especificidades locais. É de

fundamental importância conhecer as potencialidades e o desenvolvimento

local, buscando soluções locais concertadas com os agentes relevantes

(GRISA e SCHNEIDER, 2014).

Estes diagnósticos evidenciam a enorme heterogeneidade de problemas

e a enorme variação de políticas a serem aplicadas. Em algumas partes, o

problema é a terra, mas em outros, a educação, tecnologia, água, instituições,

etc. ocupam um lugar predominante (GRISA e SCHNEIDER, 2014).

Além disto, permitem a definição de políticas diferenciadas em favor dos

agricultores familiares. Em primeiro lugar, é preciso indicar que as políticas

devem ser desenhadas a partir de diagnósticos precisos sobre a situação da

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agricultura familiar. Desta maneira, identificando assim o meio físico, os

principais sistemas de produção, a potencialidade da região e dos sistemas de

produção dominantes e a disponibilidade de infraestrutura (GUANZIROLI et al.,

2003).

Os diagnósticos também permitem identificar as instituições locais

relevantes para desenvolvimento da agricultura familiar, como entidades

públicas e instituições, pontos de estrangulamentos econômicos, políticos e

institucionais, além de informações sobre a tipologia dos produtores

(FERREIRA et al., 2009).

Os critérios utilizados pela Secretaria Estadual de Agricultura e

Abastecimento (Tabela 1), para seleção de Unidades Produtivas Familiares –

UPAfs são, o tamanho das Unidades Produtivas - UPAs, a presença do

trabalho familiar, a não contratação e a contratação de até dois trabalhadores

permanentes.

Tabela 1. Critérios utilizados para seleção de UPA Familiar, Estado de São

Paulo

Créditos UPA (n.) %

1. Até 4 módulos fiscais 273.407 84,2

2. Uso de trabalho familiar (1 membro no mínimo) 246.094 75,8

3a. Não Contratam 222.207 68,5

3b. Contratam até 2 trabalhadores permanentes 80.077 24,7

3c. Contratam acima de 3 trabalhadores 22.317 6,9

4. Renda agrícola acima de 50% 173.564 53,5

Total 324.601 100

Fonte: FREDO e OTANI (2015).

Segundo FREDO e OTANI (2015), a agricultura familiar no Estado

totaliza 121.812 Unidades Produtivas Familiares, ocupando uma área de

2.676.547,0 ha e representando assim uma significativa parcela de 37,5% das

Unidades Produtivas e 13,1% da área total do Estado.

Os autores acima afirmam ainda que este segmento de produção em

São Paulo ocorre preponderantemente em áreas entre 2 e 50 ha, que

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representam 75,0% do total da área e 89,8% do total das UPAfs, sendo que

40% de UPAs são formadas pelas UPAfs do estado.

Verifica-se que os Escritórios de Desenvolvimento Rural do Estado de

São Paulo que acabam se destacando pelo maior número de UPAfs são, Jales,

Presidente Venceslau, Andradina, Fernandópolis e Votuporanga, concentrando

mais de 50% das UPAfs e importantes produtores para o mercado de alimentos

(CATI, 2016).

4.3. Caracterização da Gestão Pública Estadual de Produção Rural De acordo com MARTINS (1991), no ano de 1891 ocorreu a criação da

Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas no Estado de São Paulo,

demonstrando a preocupação do Estado para com a agricultura, onde as

competências deste órgão eram assuntos relativos à agricultura, terras públicas

e particulares e serviço cadastral, colonização, núcleos coloniais, imigração,

aldeamento e adaptação de índios, jardins e passeios públicos, engenhos

centrais, navegação fluvial e marítima, canais, trabalhos hidráulicos, correios e

telégrafos, Comissão Geográfica e Geológica, obras públicas, estradas de

ferro, estradas e caminhos comuns e de rodagem, mineração, comércio,

indústria, sistema de pesos e medidas, serviço astronômico e meteorológico,

iluminação pública, abastecimento de água e esgotos.

A Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - CATI foi criada em

1967 e tem sua sede instalada no município de Campinas. O seu foco de

atuação é promover o desenvolvimento sustentável, com geração de renda,

emprego e melhoria de qualidade de vida para as famílias rurais paulistas.

De acordo com CATI (2016), após uma ampla reforma na Secretaria de

Agricultura e Abastecimento, o Estado de São Paulo substituiu as 14 Divisões

Regionais Agrícolas – DIRAs por 40 Escritórios de Desenvolvimento Rural –

EDRs, realizando assim um novo modelo de agrupamento dos municípios.

Os 40 EDRs estão subordinados a Coordenadoria de Assistência

Técnica Integral – CATI da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, e

englobam a Secretaria Municipal de Agricultura (Casa da Agricultura) de cada

município (SAA, 2016).

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Portanto, cabe aos EDRs implementar ações que promovam o

desenvolvimento rural sustentado nas diferentes regiões do Estado,

objetivando (SAA, 2016):

✓ Transferência de tecnologia agropecuária ao produtor rural;

✓ Planejar, coordenar e apoiar a execução de atividades relativas

agropecuárias;

✓ Promover a integração do Escritório com os demais órgãos da

Pasta e com outras entidades públicas e privadas relacionadas

com os agronegócios;

✓ Acompanhar, controlar e propor convênios e similares no âmbito

da CATI;

✓ Promover a implantação dos Conselhos Regionais e Municipais

de Desenvolvimento Rural;

✓ Identificar a necessidade, planejar e executar programas de

treinamento e capacitação de recursos humanos, de produtores e

trabalhadores rurais e interessados ligados aos agronegócios.

Com isto, verifica-se que a função dos EDRs, através da CATI é

proporcionar um suporte ao produtor agropecuário, auxiliando na gestão de sua

propriedade rural.

Os EDRs de Jales e Fernandópolis abrangem 34 municípios em uma

área total de 609.734,6 ha. Do EDR de Jales fazem parte os municípios de

Aparecida d'Oeste, Aspásia, Dirce Reis, Dolcinópolis, Jales, Marinópolis,

Mesópolis, Nova Canaã Paulista, Palmeira d'Oeste, Paranapuã, Pontalinda,

Rubinéia, Santa Albertina, Santa Clara d'Oeste, Santa Fé do Sul, Santa Rita

d'Oeste, Santa Salete, Santana da Ponte Pensa, São Francisco, Três

Fronteiras, Urânia e Vitória Brasil, com área total de 318.831,7 ha; o EDR de

Fernandópolis, municípios de Estrela d'Oeste, Fernandópolis, Guarani d'Oeste,

Indiaporã, Macedônia, Meridiano, Mira Estrela, Ouroeste, Pedranópolis,

Populina, São João das Duas Pontes e Turmalina, com área total de 290.902,9

ha (SAA, 2016).

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4.3.1. Estratificação fundiária e tipos de produção A estratificação é caracterizada como a concentração de pequenas

propriedades com até quatro módulos fiscais, onde se necessitam de

assistência técnica, crédito e conhecimento para consolidação de

desenvolvimento rural (MDA, 2009).

A atividade agropecuária presente nos Escritórios de Desenvolvimento

Rural de Fernandópolis e Jales tem como características principais a

diversidade de culturas, com predominância da agricultura familiar e da

pequena propriedade (FREDO e OTANI, 2015; CATI, 2016).

Segundo INCRA (2014), a média do módulo fiscal para os municípios

que compõem os EDRs de Jales e Fernandópolis é de 26 hectares. Neste

sentido, o tamanho máximo da pequena propriedade rural é de 104 hectares,

área superior ao tamanho de grande parte das propriedades rurais.

Dados da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI)

apontam que aproximadamente 91,51% das propriedades no município

possuem área inferior a 104 hectares, sendo que a maioria destas

propriedades se encontra em faixas de área que vão de 2 a 50 hectares (CATI,

2016) (Figura 1).

Figura 1. Estratificação fundiária das EDRs de Jales e Fernandópolis, Estado

de São Paulo. Fonte: Adaptado de CATI (2016).

Segundo dados IEA (2015), pode-se afirmar que as atividades

agropecuárias predominantes na região de estudo são: a fruticultura com

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produção de laranja e uva; a olericultura, produzindo tomate, abobrinha,

berinjela, jiló e feijão-vagem; a piscicultura, com a tilápia; heveicultura,

silvicultura do eucalipto, produção canavieira e ovinocultura de corte e leiteira,

com menor predominância.

4.4. Perspectiva histórica da cultura da cana-de-açúcar Segundo MATTOS (1942), a cultura da cana-de-açúcar (Saccahrum

officinarum L.), da família Poaceae, de origem asiática, foi oficialmente

introduzida no Brasil por Martin Afonso de Souza, em 1532, sendo encontrada

hoje em todos os Estados brasileiros.

NUNES JÚNIOR (1992) e VASCONCELOS (1998) destacaram que as

variedades cultivadas no Brasil foram principalmente a Creoula (1532-1810),

Caiana (1811-1880) e até o ano de 1925, a Manteiga. Os autores ainda

destacam que a partir de 1932, muitas outras variedades foram importadas,

além do Instituto Agronômico de Campinas – IAC desenvolver variedades

nacionais para produção brasileira, permitindo um aumento da produtividade.

Analisando historicamente o uso e ocupação do solo brasileiro, percebe-

se que a partir da década de 1970, começou uma alteração da paisagem das

terras agrícolas. A produção canavieira, influenciada pela crise do petróleo no

ano de 1973, proporcionou a criação do Programa Nacional do Álcool -

Proálcool em 1975, objetivando diminuir a dependência de importação de

combustíveis derivados de petróleo, que aumentavam o déficit da balança

comercial do Brasil (NATALE NETTO, 2007).

O Proálcool contribui muito para o desenvolvimento tecnológico do setor

sucroenergético e em aproximadamente 15 anos após sua criação, a área

plantada de cana de açúcar cresceu 129,47%, levando a um aumento de

produção na ordem de 228,5% (Tabela 2).

Segundo SZMRECSÁNYI (1994), até o início da década de 1980, a

produção agrícola era realizada sem a preocupação com as questões

ambientais. Portanto, as mudanças ocorridas na estrutura fundiária e na própria

agricultura, trouxeram grandes consequências ao ambiente, tendo como

principais atores para essas consequências a monocultura e a exploração não

sustentável dos recursos naturais, como água e solo.

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Tabela 2. Evolução da área plantada, produção e produtividade brasileira da

cana-de-açúcar no período de 1975 a 2014, no Brasil

Ano Área plantada (Milhões

de hectares)

Produção (Milhões de

toneladas)

Produtividade

(t/ha)

1975 1,90 88,92 46,80

1984 3,86 241,39 62,54

1994 4,36 292,10 67,00

2004 5,63 415,20 73,75

2014 9,00 642,09 71,34

Fonte: Adaptado pelo autor de dados do IBGE (2016).

Percebe-se que com a criação do Proálcool, a principal preocupação do

governo era a viabilidade da produção do etanol e aperfeiçoamento do motor,

objetivando diminuir a dependência energética. Porém não foi levado em

consideração a implementação de ações para a correta utilização dos recursos

naturais, uma vez que demandava a utilização de maiores áreas para o plantio

canavieiro para suprir as demandas futuras do mercado; ou seja, não existiu

um planejamento ambiental (KOHLHEPP, 2010).

Segundo ROSSETO (2008), a produção canavieira sempre esteve

ligada às questões econômicas, mas atualmente é interligada também às

questões ambientais, estendendo-se a questão social. Portanto, não se podem

desvincular as questões agrícolas das ambientais, sociais e econômicas. No

caso do plantio da cana-de-açúcar, após a implementação do Proálcool, a

questão econômica aliada à estrutura fundiária, trouxeram impactos inegáveis

ao ambiente e à sociedade, que têm reflexos até os dias de hoje.

O Estado de São Paulo possui uma expressiva produção de álcool e

açúcar, relacionada ao grande cultivo de cana. Diversos pólos sucroalcooleiros

foram instalados, levando ao desenvolvimento deste setor. Com o

engendramento e posterior revitalização do Proálcool, passou a ser um polo

produtor deste biocombustível e referência neste setor agroenergético.

De acordo com CARVALHO e OLIVEIRA (2007), este fator ocorreu

porque o parque industrial açucareiro e alcooleiro já estava instalado. Com isto,

a implantação do Proálcool se deu da forma mais eficiente, aproveitando a

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existência de economias internas (capacidade ociosa), externas e de escala, os

chamados fatores aglomerativos.

Assim, de acordo com estes autores, a fato da preexistência de um

parque industrial sucroalcooleiro foi fundamental para o crescimento do setor,

bem como a implantação do Proálcool, que fortaleceu o mercado do álcool

combustível.

Segundo Instituto de Economia Agrícola (IEA, 2016), a cultura da cana-

de-açúcar é o principal produto da agropecuária paulista, sendo que sua

participação no Valor da Produção Agropecuária e Florestal total do Estado, no

final de 2015, foi de 37,4% (R$ 23,88 bilhões).

Atualmente, a cana-de-açúcar ocupa cerca de 6,17 milhões de hectares,

distribuídos em 78,3% dos municípios. Dos 40 Escritórios de Desenvolvimento

Rural -EDRs, 50% deles foram responsáveis em 2015 por 85,0% da produção

de cana-de-açúcar (MAPA, 2016).

A produção paulista representou 53,4% (337,7 milhões de toneladas) da

produção nacional, 48,4% (13,7 bilhões de litros) da produção de etanol e

61,6% (21,9 bilhões de toneladas) da produção do açúcar na safra 2014/2015

(UNICA, 2016).

Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (ÚNICA, 2016), na

safra 2015/16, houve um incremento de 9,3% na produção paulista. Porém, em

decorrência das condições climáticas e um menor investimento na produção,

em razão da crise financeira do setor, o teor de açúcares totais recuperáveis

(ATR) foi menor em relação à safra passada.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2015)

informa que, no Estado de São Paulo está presente 42,7% das usinas

produtoras de açúcar e álcool. Entretanto, desde a crise de 2008, o número de

usinas diminuiu 11,0% no Brasil e 20,0% em São Paulo, passando de 418 para

372, e de 199 para 159 unidades de produção, respectivamente.

No ano de 2015, com os ajustes na tributação do etanol em alguns

Estados, a elevação do preço da gasolina e a maior produção do renovável

pela indústria, tendo em vista à demanda aquecida por etanol no mercado

interno, garantiram bons resultados, gerando maiores receitas para as

unidades industriais.

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4.5. Expansão da produção canavieira e seus impactos O governo brasileiro, por meio de suas políticas públicas como: crédito

rural, alterações na política cambial, inventivos fiscais para produtores de

açúcar e etanol, incentivos na área de pesquisa de biotecnologia etc., acabam

interferindo na competitividade das indústrias e setores agroindustriais. Os

autores VIAN e BELIK (2003) afirmam que, o governo federal através de

elaboração e aplicação de políticas públicas, sempre se fez presente na

atuação a grupos econômicos, objetivando ter privilégios, e melhorar a

concorrência.

A implementação de instrumentos de política econômica, afetando o

desempenho do agronegócio, podem ser classificados como: genéricos,

elaborados e implementados para toda a economia (políticas fiscal e cambial)

e, específicos, que acabam afetando diretamente o desempenho das unidades

de produção (política de crédito rural; política de preços mínimos e a política de

seguro rural) (BACHA, 1997).

Portanto, observa-se que o governo, desde a época da colonização,

sempre implementou mudanças institucionais relativas às políticas

macroeconômicas e setoriais, onde provocaram grandes alterações no

ambiente em que as empresas estavam competindo.

Mesmo com o processo de desregulamentação setorial sucroenergético,

o governo possui algumas tarefas importantes junto ao setor, como.

✓ Inserção melhor do Brasil no mercado internacional do açúcar e

etanol, através de produtos de melhor qualidade;

✓ Fortalecer as empresas e as tecnologias nacionais de produção

de etanol, açúcar e subprodutos da cana;

✓ Melhoria da qualidade dos empregos gerados no Complexo

Canavieiro e a ampliação da renda dos trabalhadores;

✓ Implementar ações para a redução dos impactos ambientais

causados pela queima da cana.

Essas tarefas vêm ao encontro às empresas do setor sucroenergético,

permitindo mais competitividade a este mercado, causando grandes impactos

para o meio onde está atuando.

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Pode-se citar como exemplo o Estado de São Paulo, que através da

instituição da lei estadual 11.241/2002. Esta dispõe sobre a eliminação

gradativa da queima da palha da cana-de-açúcar até 2021 para toda a área

mecanizável plantada com cana e até 2031, áreas não mecanizáveis, com

percentagem de declividade superior a 12% (SÃO PAULO, 2002).

Esta iniciativa irá trazer impactos para toda a cadeia sucroenergético,

onde pode-se citar os trabalhadores rurais, fornecedores, usinas e

fornecedores de cana.

Dentre os fatores conjunturais que aumentaram a demanda por

produção, podem-se citar as alterações em variáveis microeconômicas, como:

✓ Aumento da demanda pelo etanol no mercado interno;

✓ Aumento na quantidade de produção de veículos bicombustíveis;

✓ Interesse do açúcar e etanol pelo mercado externo.

O consumo do combustível etanol vem crescendo desde o ano de 2012,

ficando na dependência da época e da região, o consumidor escolher o que é

mais atrativo abastecer com combustível etanol em relação à gasolina (ANP,

2016). GIESECKE et al. (2007) afirmam a importância do crescimento da

produção dos veículos flex para a consolidação do mercado de etanol no

Brasil, concluindo que esse crescimento da produção de veículos,

acompanhado pela produção de etanol, caracteriza uma resposta rápida da

oferta de etanol, fazendo com que seu preço fique mais atrativo.

Portanto, verifica-se que o aumento da produção de veículos, acaba

sendo um fator primordial para atrair interesse de novos investidores no setor

canavieiro, provocando assim a expansão das áreas plantadas de cana-de-

açúcar, além do aumento do volume de exportação de açúcar e etanol (ANP,

2016).

Porém, apesar do crescimento do setor sucroenergético, nos últimos 8

anos vem ocorrendo uma crise de incertezas frente as políticas públicas para

biocombustíveis nos principais países consumidores, além da queda de preço

dos combustíveis fósseis. Esta situação contribuiu para o aumento das

despesas financeiras e endividamento dos produtores do setor.

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A União da Indústria de cana-de-açúcar destaca a crise no setor

sucroenergético, conforme descrito abaixo (ÚNICA, 2016):

✓ Em 2015, somente na região Centro-Sul, 10 usinas encerraram

suas atividades;

✓ 67 unidades produtoras em recuperação judicial, considerando as

usinas em operação e aquelas inativas;

✓ A dívida líquida média das empresas do setor sucroenergético

supera seu faturamento bruto anual de R$ 70 bilhões;

✓ Na média, quase 15% da receita está comprometida com o

pagamento de juros;

✓ Para 26% das usinas ativas, essa situação é ainda mais

preocupante: mais de 20% da receita é utilizada para o

pagamento do serviço da dívida;

✓ Apenas nos últimos 2 anos, esse movimento levou à perda de

mais de 100 mil empregos diretos no setor produtivo;

✓ Empresas de bens de capital voltadas para o setor registram,

desde 2010, queda de 50% no faturamento, com perda de mais

de 50.000 postos de trabalho;

✓ As expectativas para a indústria de base são desanimadoras, já

que não há um único pedido de uma nova usina em carteira;

✓ Municípios canavieiros estão enfrentando queda acentuada de

arrecadação, com forte deterioração no comércio e serviços;

✓ Do ponto de vista da segurança energética, a crise do setor e

consequente redução do crescimento da oferta do etanol, levou o

País a importar de 2011 até junho de 2015 cerca de 13 bilhões de

litros de gasolina, representando um déficit de US$ 9,2 bilhões à

balança comercial;

✓ A eliminação gradativa da CIDE (Contribuição de Intervenção no

Domínio Econômico) cobrada sobre a gasolina, a partir de 2005,

promoveu diretamente a perda potencial de preço do etanol

hidratado em cerca de R$ 0,20 por litro. Considerando, porém,

seus efeitos sistêmicos sobre a cadeia produtiva da cana-de-

açúcar (isto é, seus impactos secundários sobre as receitas

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obtidas com etanol anidro e açúcar), a retração da receita

potencial do setor atinge quase R$ 10 bilhões por safra.

Para incentivar o setor canavieiro e implementar medidas para combater

a crise no setor, o governo federal introduziu medidas no início de 2015. Entre

estas, autorizou o aumento de etanol anidro na gasolina de 25% para 27%,

reintroduziu o imposto CIDE para gasolina, além de aumentar os níveis de

PIS/COFINS somente para gasolina, proporcionando alívio aos grupos

sucroalcooleiros (BRASIL, 2015; MME, 2015).

Com estas ações do governo, o etanol voltou a ser visto como um

potencial substituto da gasolina e do diesel para abastecer a frota, incentivando

as empresas sucroalcooleiras na abertura de novas áreas para aumentar sua

produção.

Por outro lado, a expansão da cultura canavieira também vem

proporcionando impactos sociais devido à sazonalidade da maioria dos

empregos gerados por esse setor econômico. Esta situação desarticula os

empreendimentos rurais familiares e aumenta a concentração de renda e de

terra no campo, gerando como consequência à pratica em menor escala das

atividades agropecuárias tradicionais (SANTOS et al., 2009; LELIS e

HESPANHOL, 2015).

Segundo LIBARDI e CARDOSO (2007), outros fatores importantes

gerados pelo crescimento da área para o cultivo da cana-de-açúcar para a

produção de etanol e açúcar, é a pressão sobre fragmentos de florestas,

deslocamentos da produção de alimentos e impactos na estrutura fundiária.

AGUIAR e SOUZA (2014) afirmam que no Estado de São Paulo, ocorreu

movimento significativo de substituição de produtos no sistema produtivo. Isto

acarretou uma queda da área colhida da maior parte das culturas, tais como

milho, feijão, laranja, algodão, arroz, sorgo e soja. Os autores afirmam ainda

que, as atividades mencionadas perderam área, em decorrência de sua

substituição em sua quase totalidade pelo cultivo da cana-de-açúcar.

A expansão da produção canavieira vem gerando várias discussões

sobre o impacto ambiental e socioeconômico que ela causa na região em que

está inserida. PEREIRA (2007) afirma que essa substituição pode causar

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diferentes impactos, tendo em vista a alteração de um ambiente, em tese, já

estabilizado.

Isto acaba contribuindo para a não sucessão familiar e à diminuição de

áreas de plantio alimentício. Como consequência, a ausência de alguns

produtos em função do reduzido número de produtores ainda ligados à

atividade de produção alimentícia, afetando principalmente a produção de

verduras, queijos, doces e derivados, por exemplo, o que leva a necessidade

de importação de outras áreas.

A queima da palha de cana-de-açúcar, realizada durante a colheita,

também gera o aumento de compostos como o monóxido e dióxido de

nitrogênio na atmosfera, entre outros, que levam a diferentes problemas de

saúde na população do entorno destas áreas (BORGES e BORGES, 2009).

Segundo PATERLINI (2007), no município de Araraquara, quando

ocorreram picos nas emissões de partículas, três dias depois aumentavam

também os números de internações por doenças de asma e hipertensão. O

autor afirma ainda que, durante o mesmo período, verificou-se o aumento de

monóxido de nitrogênio e dióxido de nitrogênio na atmosfera. Essas partículas

liberadas em decorrência da queima da palha, além de contribuem para o

efeito estufa, causam prejuízos ao bem-estar e saúde da população.

O aumento da criminalidade é outra consequência apontada como

decorrência da expansão canavieira nos municípios, relacionado ao problema

de baixa qualificação da mão de obra, que após o período de colheita muitas

vezes não consegue emprego em outras atividades. O aumento da

mecanização na colheita da cana no Estado tem permitido que as empresas

utilizassem áreas contínuas e segundo IEA (2015), aproximadamente 84,8% da

produção de cana em São Paulo já é mecanizada, e este percentual deve

crescer de forma consistente nos próximos anos. Esta situação cada vez mais

leva a despensa dos trabalhadores rurais, já que a produção é mecanizada.

De acordo com TSUKADA (2011), a atuação da usina Cosan no

município de Maracaí, região de Marilia, Estado de São Paulo, atraiu mão de

obra de outros Estados; porém com o decorrer do tempo, acabou contribuindo

para o aumento de índices de criminalidade, de acordo com dados levantados.

Além do problema do desemprego e criminalidade, outra situação

enfrentada pelas regiões canavieiras é um aumento na utilização de drogas,

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assunto relacionado ao duro trabalho exercido pelos trabalhadores braçais

nesta cultura. ALVES e PARANAIBA (2012) afirmam que os trabalhadores

braçais, objetivando o aumento da capacidade de trabalho durante o corte da

cana, acabam consumindo drogas (maconha e crack) para amenizar o cansaço

físico e aumentar a produtividade. Eles afirmam ainda que, na entressafra, a

falta de trabalho, pode levar esses trabalhadores braçais a desenvolver desvios

de comportamento, transgressões e até cometer crimes, em busca dessas

drogas.

Outro ponto que merece destaque é a questão de problemas

relacionados com a contaminação da água e solo pelo uso excessivo de

fertilizantes e defensivos, saturação de solos, além do aumento do controle

privado sobre a água doce. A utilização excessiva de vinhoto, utilizado como

fertilizante, também está relacionado a problemas de contaminação do lençol

freático, um problema de difícil resolução.

De acordo com MATO GROSSO DO SUL (2009), a utilização de

fertilizantes para aumentar a produtividade agrícola pode causar a eutrofização

das águas, acidificação dos solos, contaminação de aquíferos e reservatórios

de água, além da geração de gases associados ao efeito estufa.

Esta situação é relatada por MORETTI (2010), descrevendo que para a

existência da cultura de cana-de-açúcar, acaba-se utilizando uma variedade de

nutrientes, alterando a composição do solo; além disto, também ocorre o uso

inadequado de maquinários que também podem prejudicar a estrutura do solo,

levando a compactação, quando seu uso é incorreto.

4.6. Zoneamento Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro O Governo do Estado de São Paulo, através da parceria entre as

Secretarias do Meio Ambiente (SMA) e a de Agricultura e Abastecimento, em

18 de setembro de 2008, disponibilizou mapa do Zoneamento Agroambiental

do Setor Sucroalcooleiro no Estado de São Paulo (ZAA), levando-se em

consideração as diferentes condições ambientais existentes. Este zoneamento

objetivou disciplinar e organizar a expansão e ocupação do solo pelo setor

sucroenergético, além de subsidiar a elaboração de políticas públicas voltadas

para as questões relacionadas ao setor, sendo este Zoneamento alterado em

24 de setembro de 2009 (SMA, 2016).

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Conhecendo condições climáticas, qualidade do ar, relevo, solo,

disponibilidade e qualidade de águas, áreas de proteção ambiental e unidades

de conservação existentes e indicadas, e fragmentos de manutenção da

conectividade, foi elaborado um único mapa indicando áreas adequadas e

inadequadas para o cultivo de cana-de-açúcar. Neste mapa observa-se em

relação à área total do Estado, na qual a atividade canavieira é efetivamente

exercida, que 26% está em áreas adequadas, 45% em áreas adequadas com

limitações ambientais, 28% em áreas adequadas com restrições ambientais e

apenas 1% em áreas inadequadas (SMA, 2016).

As classes de áreas com diferentes graus de aptidão agroambiental

indicam:

I. Áreas adequadas: correspondem ao território com aptidão

edafoclimática favorável para o desenvolvimento da cultura da

cana-de-açúcar e sem restrições ambientais específicas;

II. Áreas adequadas com limitação ambiental: correspondem ao

território com aptidão edafoclimática favorável para cultura da

cana-de-açúcar e incidência de Áreas de Proteção Ambiental;

áreas de média prioridade para incremento da conectividade,

conforme indicação do Projeto BIOTA-FAPESP; e as bacias

hidrográficas consideradas críticas;

III. Áreas adequadas com restrições ambientais: correspondem ao

território com aptidão edafoclimática favorável para a cultura da

cana-de-açúcar e com incidência de zonas de amortecimento das

Unidades de Conservação de Proteção Integral; as áreas de alta

prioridade para incremento de conectividade indicadas pelo

Projeto BIOTA-FAPESP; e áreas de alta vulnerabilidade de águas

subterrâneas do Estado de São Paulo, conforme publicação IG-

CETESB-DAEE - 1997;

IV. Áreas inadequadas: correspondem às Unidades de Conservação

de Proteção Integral - Estaduais e Federais; aos fragmentos

classificados como de extrema importância biológica para

conservação, indicados pelo projeto BIOTA-FAPESP para a

criação de Unidades de Conservação de Proteção Integral; às

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Zonas de Vida Silvestre das Áreas de Proteção Ambiental; às

áreas com restrições edafoclimáticas para cultura da cana-de-

açúcar e às áreas com declividade superior a 20%.

Ao final, o mapa do ZAA, regulamentado pela Resolução Conjunta

SMA/SAA nº 04/2008 e alterado pela Resolução Conjunta SMA/SAA nº

06/2009, foi utilizado para a elaboração da Resolução SMA nº 88, de 19 de

dezembro de 2008, que define parâmetros e diretrizes para o licenciamento

ambiental de unidades agroindustriais, com o objetivo de criar condições

sustentáveis para o desenvolvimento do setor no Estado de São Paulo.

Segundo SMA (2016), para as três primeiras classes citadas acima, são

definidos parâmetros específicos de acordo com cada área, para a obtenção de

licenças e operação dos empreendimentos e para a última classe, não são

aceitos pedidos de licenciamento para instalação ou ampliação de

empreendimentos.

4.7. Questão ambiental A partir da década de 1980, surgiram muitos movimentos ecológicos,

tornando-se cada vez mais forte os conceitos de eco-desenvolvimento,

preservação ambiental e desenvolvimento sustentável, sendo que esses

conceitos começaram a fazer parte do “roll” de discussões em reuniões

internacionais (IPEA, 2010).

No ano de 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e o

Desenvolvimento (UNCED) e Organizações das Nações Unidas (ONU),

presidida pela primeira ministra Noruega, Sra. Brundtland, apresentou um

relatório intitulado “Nosso futuro comum”. Este ficou mundialmente conhecido

como Relatório Brundtland, onde pela primeira vez citou-se o conceito de

agricultura sustentável (ROSSETTO, 2008).

O mesmo autor explica que no referido Relatório, constam problemas

ambientais que eram vistos como pontuais e localizados, como de interesse

global da sociedade mundial. Portanto, além de apresentar os problemas, foi

apontada uma lista de medidas a serem seguidas no que diz respeito às

responsabilidades das nações com o meio ambiente.

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De acordo com ASSIS et al. (2012), a partir deste momento, ações

começaram a ser realizadas visando consolidar novos rumos à agricultura no

Brasil, estabelecendo uma maior integração entre as questões ambientais,

sociais e econômicas e favorecendo assim uma maior preservação dos

recursos naturais.

A partir de uma nova visão, o conceito de sustentabilidade começa a

entrar na mentalidade de quem faz uso dos recursos naturais; porém é um

processo que ocorre de forma lenta, precisando principalmente da educação e

conscientização. A utilização dos recursos a partir dessa concepção começou a

mudar, levando o homem a buscar medidas para se adequar a essa nova

realidade. Porém muitos não tiveram esta visão, utilizando áreas inadequadas

para a agricultura, buscando a qualquer custo somente a lucratividade e

levando a perdas nos recursos naturais (DEUS e BAKONYI, 2012).

4.8. Contribuições do geoprocessamento e sensoriamento remoto para análise da agricultura familiar e expansão canavieira

A tecnologia de geoprocessamento e sensoriamento remoto apresentam

grande potencial para serem utilizadas na agricultura. Através desta

ferramenta, é possível obter informações sobre: estimativa de área plantada,

produção agrícola, vigor vegetativo das culturas, além de fornecer subsídios

para o manejo agrícola em nível de país, estado, município ou ainda em nível

de microbacia hidrográfica ou fazenda.

ROSA (2005) destaca que a geotecnologia é um conjunto de tecnologia

para coleta, processamento, análise e oferta de informações com referência

geográfica, compostas por interação entre hardware, software e peopleware,

que juntos auxiliam na tomada de decisão. Destacam-se dentre estas: sistemas

de informação geográfica, cartografia digital, sensoriamento remoto, sistema de

posicionamento global e a topografia.

Segundo CÂMARA et al. (2003), o Sistema de Informação Geográfica –

SIG é uma das ferramentas computacionais de Geoprocessamento, que

permite realizar análises complexas, integrando dados de diversas fontes e

criando bancos de dados georreferenciados. É considerada uma ferramenta

para a produção de mapas, no suporte para análise espacial de fenômenos ou

como banco de dados geográficos, com funções de armazenamento e

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recuperação da informação espacial às áreas de agricultura, ambiente e

urbanismo. Permite desenvolver atividades de medição, mapeamento,

monitoramento e modelagem (STAR e ESTES, 1990; CÂMARA, 1995).

Para FLORENZANO (2011), pode-se conceituar sensoriamento remoto

como uma tecnologia que permite obter imagens e outros tipos de dados da

superfície terrestre, através da captação de energia refletida ou emitida pela

superfície, por meio de sensores instalados em plataformas terrestres, aéreas e

orbitais.

De acordo com CÂMARA (1995), através do uso da tecnologia SIG

(Sistema de Informação Geográfica) é possível realizar um mapeamento

temático, diagnóstico e avaliação de impacto ambiental de determinadas áreas,

objetivando um gerenciamento eficiente e eficaz. Portanto o geoprocessamento

pode ser utilizado como ferramenta de monitoramento de áreas, objetivando

acompanhar o uso e ocupação de solo no período escolhido. O processo de

aquisição de dados de sensoriamento remoto envolve diferentes elementos: sol

(fonte de energia); propagação da energia através da atmosfera e as

interações da energia com as características da superfície terrestre (vegetação,

água, solo, etc.) que absorvem e/ou refletem a energia.

Percebe-se que essa energia refletida é retransmitida através da

atmosfera e são registradas por sensores, que podem estar acoplados em

aeronaves ou satélites (NOGUCHI, 2004). O autor afirma ainda, que essas

informações, registradas pelo sensor, são processadas para análise posterior,

e como resultados, são obtidos dados na forma de imagem e/ou fotografias.

Portanto, para realização do geoprocessamento, faz-se necessário a

atribuição de um significado a um pixel em função de suas propriedades

espectrais e ou espaciais. Essa classificação pode ser não supervisionada,

com os pixels alocados em classes, apenas por dedução, ou seja, sem

conhecimento prévio da área, ou uma classificação supervisionada, onde a

mesma é realizada com um conhecimento prévio do analista, coletando

algumas amostras das classes de interesse in loco (NOVO, 2010).

Um aspecto importante que permite a utilização do uso de imagens de

sensoriamento para verificação e análise do plantio da cana-de-açúcar é o fato

da cultura ser semiperene, atingindo seu crescimento máximo em abril e por

sua safra estender-se até dezembro. Portanto, essa longa permanência da

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cultura, permite a chance de aquisição de imagens livres de nuvens, o que é

fundamental para mapear as áreas cultivadas, o acompanhamento da colheita

e avaliação da mudança dinâmica de uso da terra (RUDORFF et al., 2010).

Atualmente, existem grandes quantidades de trabalhos de

sensoriamento remoto, onde se tem utilizado a cultura da cana como objeto de

estudo em diferentes contextos. SIMÕES et al. (2003) e PONTES et al. (2005)

realizaram estudos do comportamento espectro temporal da cultura de cana-

de-açúcar em diferentes escalas. SIMÕES et al. (2003) foram pioneiros em

tentar distinguir o comportamento espectral de diferentes variedades de cana-

de-açúcar em talhões do município de Araras, São Paulo. PONTES et al.

(2005) tentaram associar os dados espectrais a parâmetros agronômicos de

2.029 talhões no mesmo município.

Já GALVÃO et al. (2005), para discriminar variedades de cana-de-

açúcar, utilizou de sensores de resolução hiperespectral. Através de técnicas

de classificação não supervisionada e interpretação visual de imagens dos

satélites Landsat e China-Brazil Earth Resources Satellite (CBERS),

RUDORFF et al. (2004) realizaram o mapeamento anual da área plantada com

cana-de-açúcar na região Centro-Sul.

Portanto, verifica-se que através do uso de imagens de satélite em

conjunto com SIG, é gerada a obtenção de informações precisas e com rapidez

sobre a expansão da cultura canavieira. Essas imagens podem ser utilizadas

pelos órgãos ambientais para o efetivo cumprimento da legislação ambiental

estadual e para a produção sustentável da cana-de-açúcar que respeite os

recursos naturais.

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6. Artigos

Artigo I Características socioeconômicas dos produtores rurais da região noroeste do estado de São Paulo, Brasil Edy Carlos Santos de Lima

Resumo O presente trabalho analisa as características socioeconômicas dos

produtores rurais e as atividades agrícolas predominantes nos Escritórios de

Desenvolvimento Rural – EDRs de Jales e Fernandópolis, localizados na

região noroeste do estado de São Paulo. A agricultura familiar é de grande

importância para o país, tendo em vista que é através desta atividade que são

produzidos a maior parte dos alimentos que abastecem o mercado interno

brasileiro. A população de estudo foi identificada através do Levantamento

Censitário de Unidades de Produção Agropecuária, obtido junto à

Coordenadoria de Assistência Técnica Integral do Estado de São Paulo - CATI.

Como instrumento de pesquisa foi aplicado um questionário semiestruturado

aos produtores. Os resultados demonstram a predominância de

empreendedores rurais de sexo masculino e idosos; em relação ao nível de

escolaridade, os entrevistados possuem nível insatisfatório. A maioria dos

empreendedores possui a propriedade a mais de 20 anos, sendo como

principal origem a herança e aquisição. A renda mensal da maioria está na

faixa superior a quatro salários mínimos, com a maior parte vinculada aos que

arrendaram suas terras para as usinas sucroenergéticas. Identificou-se que as

atividades agropecuárias que mais contribuem para renda do produtor são:

cana-de-açúcar (41%), fruticultura (30%), bovinocultura de corte (19%) e de

leite (16%). A maioria dos entrevistados não participa de cooperativas e

associações e declararam também que a maior dificuldade para ter acesso ao

crédito rural é o projeto técnico detalhado. Dessa forma, conclui-se a

importância da caracterização de regiões rurais, a fim de buscar construir

melhores oportunidades para os produtores rurais e um desenvolvimento

econômico baseado na agricultura familiar.

Palavras-chave: Produtor familiar, Jales, Fernandópolis, LUPA.

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Socioeconomic characteristics of rural producers in the northwest region of the state of São Paulo, Brazil Abstract

The present paper analyzes the socioeconomic characteristics of the

rural producers and the predominant agricultural activities in the Rural

Development Offices - EDRs of Jales and Fernandópolis, located in the

northwest region of the state of São Paulo. Family farming is of great

importance for the country, since it is through this activity that is produced most

of the food that supplies the Brazilian domestic market. The study population

was identified through the Censitary Survey of Agricultural Production Units,

obtained from the Coordination of Integral Technical Assistance of the State of

São Paulo (CATI). As a research instrument, a semi-structured questionnaire

was applied to the producers. The results demonstrate the predominance of

male and elderly rural entrepreneurs; in relation to the educational level, the

interviewees have an unsatisfactory level. Most entrepreneurs have owned the

properties more than 20 years, being the main source of inheritance and

acquisition. The monthly income of the majority is in the range of more than 4

minimum wages, most of which are tied to those that leased their lands to the

sugar-energy plants. It was identified that the agricultural activities that

contribute most to the producers' income are: sugar cane (41%), fruit growing

(30%), beef cattle breeding (19%) and milk (16%). Most interviewees do not

participate in cooperatives and associations and also stated that the greatest

difficulty in gaining access to rural credit is the detailed technical project. Thus,

we conclude the importance of the characterization of rural regions, in order to

build better opportunities for rural producers and economic development based

on family farming.

Key words: Family producer, Jales, Fernandópolis, LUPA.

Introdução

A agricultura familiar possui grande importância no Brasil, pois é deste

ramo da agricultura que são provenientes a maior parte dos alimentos

consumidos pela população, situação que tem desencadeado ações que cada

vez mais reforçam as políticas públicas destinadas ao setor.

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Verifica-se que esse setor é responsável pela maior parte da produção

de produtos tais como mandioca (84%), feijão (70%), bovinocultura de leite

(54%), milho (49%), aves e ovos (40%) e suínos (58%), sendo responsável por

1/3 do PIB brasileiro na área e 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros

(GUILHOTO et al., 2006; DONINI et al., 2009; MDA, 2016).

Os resultados da caracterização da agricultura familiar por EDR no

estado de São Paulo obtidos por Fredo e Otani (2015), demonstram que os

EDRs de Jales e Fernandópolis, localizados na região noroeste do estado de

São Paulo, tem sua economia baseada principalmente na agropecuária, sendo

que 91,52% das suas propriedades possuem até 100 ha (4 módulos fiscais).

Sua economia é baseada principalmente na agropecuária, tendo como

atividades a bovinocultura de leite e corte, frutas, verduras, milho, feijão e

seringueira, entre outras (CATI, 2016; SAA, 2016).

De acordo com os critérios do Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar (PRONAF), pode-se dizer que embora nem toda

propriedade pequena seja familiar, todas as propriedades familiares localizadas

nessas EDRs são pequenas (COSTA et al., 2012).

Trabalhos de pesquisa, como o de BERGAMASCO (1993);

ABRAMOVAY et al. (1996); CARVALHO e KUHN (1999) e OTANI et al. (2001),

demonstram a importância de se avaliar a agricultura familiar no âmbito de

Estados e municípios, como uma atividade especifica.

Desta maneira, objetivou-se caracterizar o perfil dos produtores rurais e

as atividades agrícolas predominantes nas EDRs de Jales e Fernandópolis,

Estado de São Paulo.

Material e Métodos

O estudo foi realizado nos 34 municípios (Figura 1) pertencentes aos

EDRs de Jales e Fernandópolis, localizados na região noroeste do estado de

São Paulo, onde identificou-se a existência de 14.131 unidades produtivas, em

uma área total de 673.776 ha.

Foi feita a análise dos dados de fontes primárias obtidas a partir da

aplicação de 373 formulários semiestruturados aos proprietários de áreas com

até 100 ha de uma população finita de 12.932 propriedades.

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Figura 1. Localização dos municípios das EDRs Jales e Fernandópolis, Estado

de São Paulo, Brasil. Fonte: Adaptado pelo autor do IBGE (2014).

O formulário aplicado identificou a localização da propriedade e sua

estrutura física, o perfil do produtor rural, sucessão familiar, atividades

exploradas na propriedade e interesse em arrendar suas terras.

A população amostral foi identificada através do Levantamento

Censitário de Unidades de Produção Agropecuária (LUPA), obtidos junto a

Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), da Secretaria de

Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Para determinação da amostra desse estudo, utilizou-se a fórmula

proposta por FONSECA e MARTINS (1996), utilizadas em populações finitas.

Com base nessa fórmula, admitiu-se um nível de confiança de 95% e um erro

amostral de 5%. Da população amostral considerada (12.932), obteve-se uma

amostra de 373 propriedades rurais. Após, aplicou-se a regra de

proporcionalidade para identificação de quantas propriedades seriam visitadas

em cada município. Em seguida, depois de cadastradas por numeração todas

as propriedades foram realizadas o sorteio via Excel, para selecionar as 373

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propriedades para aplicação dos formulários. A pesquisa foi realizada no

período de junho e dezembro de 2015. Após a aplicação, os mesmos foram

tabulados e analisados, utilizando-se o software Sphinx 5.0.

Este trabalho foi submetido, analisado e aprovado pelo Comitê de Ética

em Pesquisa (CEP) da Universidade Anhanguera–Uniderp (parecer: 359.847).

Resultados e Discussão

A divisão da população dos entrevistados por gênero é de 80% do sexo

masculino e 20% do sexo feminino. Em relação a idade dos produtores rurais,

observa-se na Tabela 1, que a maioria (56,1%) está na faixa acima de 60 anos

e apenas 2,4%, entre 22 a 29 anos. Os responsáveis das propriedades rurais

tendem a serem pessoas mais maduras, demonstrando a pequena

porcentagem de jovens no meio rural, podendo supor que os mesmos têm

outras aspirações do que a labuta do trabalho no campo.

Os resultados demonstram o nítido processo de envelhecimento da

população, não ocorrendo à sucessão familiar na propriedade. Os motivos que

levam os filhos não estarem trabalhando nas propriedades com suas famílias,

podem estar relacionados ao pequeno tamanho das propriedades, à falta de

mecanismos para aumentar a renda, ao desfavorecimento da política agrícola,

além dos pais também defenderem a saída dos filhos para as cidades em

busca de melhores oportunidades de renda (PETINARI et al., 2008; BUAINAIN

et al., 2007; CASTRO, 2008).

Tabela 1. Idade média dos proprietários rurais, Escritórios de Desenvolvimento

Rural de Jales e Fernandópolis, São Paulo, Brasil

Faixa Etária Frequência absoluta Frequência relativa (%)

De 22 a 29 anos 9 2,4

De 30 a 39 anos 18 4,8

De 40 a 49 anos 37 9,9

De 50 a 59 anos 100 26,8

Acima de 60 anos 209 56,1

Total 373 100

Fonte: Dados da pesquisa.

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Com relação à escolaridade (Tabela 2), constatou-se que 11,8% dos

entrevistados não possuem qualquer escolaridade formal, enquanto que 9,9%

possuem ensino fundamental completo. A grande maioria (50,9%), apenas

possui o ensino fundamental incompleto. No conjunto, pode-se afirmar que a

maior parte dos entrevistados tem um nível insatisfatório de educação formal.

Tabela 2. Nível de instrução dos proprietários rurais, Escritórios de

Desenvolvimento Rural de Jales e Fernandópolis, São Paulo, Brasil

Nível de Escolaridade Frequência absoluta Frequência relativa (%)

Analfabeto 44 11,8

Fundamental Incompleto 190 50,9

Fundamental Completo 32 9,9

Médio Incompleto 21 5,6

Médio Completo 48 12,9

Superior Incompleto 1 0,3

Superior Completo 32 8,6

Total 373 100

Fonte: Dados da pesquisa.

A baixa escolaridade no meio rural tem a premissa de que os pais

destes agricultores não valorizavam a escola como um fator importante para a

vida futura de seus filhos; os homens eram criados para o trabalho no campo e

as mulheres para o trabalho doméstico. Ou seja, o trabalho na propriedade e

doméstico estavam em primeiro lugar (FAVERO, 2011; HEITOR et al., 2013).

SILVESTRO et al. (2001) destacam que a não valorização da educação

escolar acaba tornando o futuro proprietário uma pessoa de pouca ou nenhuma

qualificação; desta maneira permanece na atividade rural desenvolvendo

apenas as atividades básicas, sem incorporar novas tecnologias. Esta situação

de baixa escolaridade na área rural é encontrada em todas as regiões do

Brasil, sendo talvez em determinadas regiões, a norma é o analfabetismo,

como no Nordeste; porém também existem locais que ocorre um mínimo de

ensino formal, como no sul do país (PERES, 2011).

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Esse analfabetismo ou semianalfabetismo pode gerar sérias

consequências na gestão da propriedade rural, tendo em vista que nos dias

atuais, exige-se tratar a propriedade rural como empresa. Para gerenciar a

empresa, necessita-se aplicar ferramentas como Planejamento, Organização,

Direção e Controle, analisando as informações que estão no mercado

(LACOMBE, 2009; MAXIMIANO, 2011; ARAUJO, 2014).

A função da gestão é planejar, controlar, decidir e avaliar os resultados,

a partir de conhecimentos dos fatores externos e internos da propriedade

(DALCIN et al., 2010; DALCIN e MACHADO, 2015), sendo necessário ao

produtor rural uma gestão rural eficiente e eficaz, onde implemente das ações

de decidir: o que, quando e como produzir, controlar o andamento dos

trabalhos e avaliar os resultados obtidos (SANTOS et al., 2002).

Quanto ao tempo transcorrido de propriedade da terra (Figura 2), 67%

são detentores da área a mais de 20,1 anos, enquanto que 6%, em torno de 5

anos.

Figura 2. Tempo de propriedade da terra dos proprietários rurais. Fonte:

Escritórios de Desenvolvimento Rural de Jales e Fernandópolis, São Paulo,

Brasil.

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59

Portanto, verifica-se que os produtores rurais têm uma grande

experiência frente às atividades rurais. Esse tempo frente à empresa rural pode

ser explicado em decorrência da transferência da empresa rural de geração em

geração (ZAGO, 2016).

É importante ressaltar que na origem da aquisição da propriedade

(Figura 3), 58% advêm de parte de herança de família, e apenas 1% de posse.

Também o elevado número de compras de propriedades de parentes indica

que ainda ocorre a sucessão familiar dentro das propriedades, de diferentes

formas.

Figura 3. Origem da propriedade da terra, dos proprietários rurais. Fonte:

Escritórios de Desenvolvimento Rural de Jales e Fernandópolis, São Paulo,

Brasil.

Pesquisadores como MARCONDES (2011), em estudos sobre a

ocupação do Estado de São Paulo, descrevem que após o ano de 1822

vigorou a posse “mansa e pacífica”, desde que a área fosse cultivada. Esta

situação foi legitimada pela lei de terras de 1850 e essas posses continuaram a

ser reconhecidas, dependendo da região, até o início do século XX; também

ocorreram doações de terras por parte do Estado, em geral a colonos, no

começo do século XX.

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60

O mesmo autor afirma que a compra de terras se tornou cada vez mais

comum na década de 1800, como forma de aquisição de propriedades,

tornando-se uma das principais formas declaradas no registro paroquial de

1854, gerando transferências das pequenas propriedades para outros

proprietários.

Na região Noroeste Paulista, onde estão localizados as EDRs

estudadas, por volta da década de 1940, também ocorreu a “frente pioneira”,

criada por especuladores, levando a fragmentação de grandes propriedades

em pequenos lotes (NARDOQUE, 2007).

Portanto, o alto índice de entrevistados que adquiriram a propriedade

rural através de herança, pode ser explicado pelo fato de seus antecessores

terem adquirido as referidas propriedades entre os séculos XIX e início do XX.

Isso ocorreu principalmente através da posse “mansa e pacífica” e por doação

do próprio Estado, onde receberam documentos de proprietários legítimos.

Com a legalização, os proprietários poderiam vender ou deixar de heranças

para os seus sucessores. Porém algumas pequenas propriedades surgiram

mais recentemente, como citado por NARDOQUE (2007).

Segundo dados da pesquisa, 90% dos entrevistados tem como principal

fonte renda as atividades do empreendimento rural. Em relação à remuneração

(Tabela 3), 53% dos entrevistados recebem acima de 4,1 salários mínimos e

que apenas 2% recebem um salário mínimo. Esse resultado está relacionado

com arrendamentos de terras para usina sulcroenergética, onde 38% dos

entrevistados arrendaram suas terras. E os outros 15%, podem estar

relacionados com a gestão eficiente e eficaz da propriedade, aplicando

técnicas e métodos com mais precisão. A gestão profissional da propriedade

rural resulta em redução de custos, aumento da produtividade, melhoria das

vendas e facilita a identificação de novas oportunidades, favorecendo assim,

uma melhor renda para o produtor (SEBRAE, 2016).

O empreendedor rural que realiza gestão da sua propriedade,

independentemente de sua dimensão, tem uma maior credibilidade junto aos

outros setores da economia, demonstrando uma organização e conhecimento

sobre as atividades que realiza (ALVES, 2010).

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Tabela 3. Renda mensal bruta dos proprietários rurais, dos proprietários rurais,

Escritórios de Desenvolvimento Rural de Jales e Fernandópolis, São Paulo,

Brasil

Renda familiar (SM) Frequência absoluta Frequência relativa (%)

Até 1 7 2%

De 1,1 a 2 37 10%

De 2,1 a 3 71 19%

De 3,1 a 4 59 16%

Superior a 4 199 53%

Total 373 100%

Fonte: Dados da pesquisa. SM=salário mínimo.

A adoção de práticas de gestão é primordial para o sucesso da empresa

junto a esse ambiente que a empresa está inserida, principalmente em

períodos de instabilidade econômica, tal como a que o país vem vivendo

atualmente. Por isso, segundo os autores BORGES et al. (2015) e LEAL et al.

(2015), a estruturação, a informação e o aprimoramento dos processos de

gestão são de grande importância para a empresa, proporcionando ganhos de

competitividade e sustentabilidade do negócio agropecuário a longo prazo.

A consequência desta melhor gestão é um maior ganho, em termos de

rendimento. Desta maneira, a maior lucratividade observada seria um indicativo

de eficiência da maior parte dos proprietários.

Também é observado que 77% dos entrevistados possuem outras fontes

de renda (Tabela 4), do qual a principal fonte de recebimento é aposentadoria

(78%). Segundo MPS (2015), dos benefícios emitidos pela previdência social

na região estudada em 2014, 49% é de aposentadoria rural.

Segundo GUANZIROLI et al. (2001), a maioria dos empreendedores

familiares acabam dependendo de rendas extras, destacando-se, por exemplo,

aposentadorias ou atividades não agrícolas.

Pode-se perceber que, para o produtor rural, a renda advinda de outras

fontes é um meio para que o mesmo realize investimentos necessários ao

desenvolvimento da propriedade. Com uma renda extra, o proprietário rural,

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consegue realizar melhorias em sua propriedade sem a necessidade de

recorrer a financiamentos em bancos.

Tabela 4. Outras fontes de rendas x origem de outras fontes de rendas, dos

proprietários rurais, Escritórios de Desenvolvimento Rural de Jales e

Fernandópolis, São Paulo, Brasil

Outras fontes de rendas Sim Não

Origem de outras fontes de rendas 77% 23%

Aposentadoria 78%

Emprego no meio rural 1%

Emprego no comércio 2%

Funcionário Público Municipal, Estadual ou Federal 5%

Outros 14%

Fonte: Dados da pesquisa.

Entre as atividades desenvolvidas dentro do empreendimento rural,

destacam-se: horticultura, fruticultura, silvicultura, lavoura de grãos,

bovinocultura de corte e de leite, avicultura, suinocultura, piscicultura,

apicultura, ovinocultura, caprinocultura, heveicultura e cana-de-açúcar.

Anteriormente, a atividade cafeeira se destacava na região. Porém com

a crise cafeeira a partir da década de 1980, os empreendedores rurais tiveram

que buscar novas alternativas de produção e de emprego. Desta maneira,

atualmente as atividades que mais contribuem para renda da propriedade são

a cana-de-açúcar (41%), fruticultura (30%), bovinocultura de corte (19%) e de

leite (16%). As que menos contribuem piscicultura (1%), apicultura (1%) e

ovinocultura (1%).

A maioria destas atividades envolve mão de obra diária e esforço físico,

o que pode se tornar problemático quando o produtor já apresenta uma idade

avançada, pouca qualificação e não possui mão de obra externa para realizar

as tarefas diárias.

Apesar da certa diversidade de atividades que geram renda, 55% dos

entrevistados (Tabela 5) não recebem assistência técnica do governo ou

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particular. Este tipo de situação é um agravante para os proprietários, pois

limita muito seu potencial de produção.

Segundo CATI (2016), a não prestação de serviços de assessoria

técnica por parte do governo decorre da quantidade de propriedades produtivas

na região estudada (14.504) e o número insuficiente de funcionários para

realizarem a prestação de serviço. Além disto, muitos proprietários acabam não

procurando a assistência, de acordo com os técnicos.

Por outro lado, dos 45% dos entrevistados que recebe assistência

técnica, 74% declararam que é uma assistência de boa qualidade, 23%

disseram que é regular e apenas 3% citaram que é ruim.

Sobre a percepção dos que recebem assistência técnica a declararem

boa, MERCÊS e SANT’ANA (2005), afirmam que a assistência é realizada de

forma eficiente e eficaz, onde o técnico busca adiantar-se ao processo e

assumir uma posição propositiva, fornecendo um acompanhamento sistemático

sobre as atividades desenvolvidas na propriedade.

Em relação a participação em entidades de classe, 73% dos

entrevistados não participam de cooperativas, entidades de classe ou

associações. Apenas 21% participam de cooperativas e 6%, associações.

Segundo a justificativa dos entrevistados para a não participação em

cooperativas, entidades de classe ou associações é a perda de confiança em

tais entidades, tendo em vista que elas normalmente vislumbram apenas

interesses de poucos proprietários e não o coletivo, fugindo assim do

verdadeiro objetivo do grupo.

Declararam ainda, que muitos proprietários rurais acabaram perdendo

suas propriedades para bancos, em função de decisões erradas da diretoria,

que levaram as entidades de classe a contraírem dívidas de financiamento

altíssimas, onerando os produtores, que não conseguiram arcar com os custos.

Outro fator mencionando foi o fato dos gestores não serem profissionais da

área, ou seja, quem administra e determina os caminhos são os produtores que

estão na diretoria, não contratando pessoas preparadas (ensino superior) para

o gerenciamento.

Segundo os autores SALVARO et al. (2014) e ESTEVAM et al. (2015),

nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, há cooperativas,

associações ou entidades de classe, operando com sucesso. Os autores

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afirmam ainda que isso é em decorrência, no caso das pequenas entidades, da

participação de todos nas decisões e da transparência da gestão, além da

cultura de ajuda mútua entre eles. Já no caso das grandes cooperativas e

associações, a contratação de profissionais capacitados e trabalho sério da

diretoria acabam direcionando para resultados positivos.

O que se percebe é que, para um sucesso efetivo dessas associações e

cooperativas, precisa-se além de pessoas que queiram realmente representar

o grupo com ações de melhoria com eficiência e eficácia, implementar boas

práticas de governança corporativa. Ou seja, é necessária transparência,

prestação de contas, avaliação de desempenho, remuneração justa e

responsabilização pelas decisões, contrapesos independentes no processo

decisório, respeito às formalidades, controles e supervisão independentes,

comportamento ético das lideranças, cooperação entre colaboradores e

promoção do interesse coletivo da organização, além de outras ações

fundamentais para o bom funcionamento de toda a organização.

Caso não ocorra o funcionamento da entidade de acordo com as boas

regras de governança, o prejuízo é de todos. BIALOSKORSKI NETO e

BALIEIRO (2001) afirmam que as organizações possibilitam aos produtores

associados um aumento de suas rendas, tendo em vista que essas

organizações apoiam os pequenos produtores na transferência de tecnologia e

também na organização da propriedade rural.

Verifica-se que a organização é fundamental para o fortalecimento e

resolução de problemas dos produtores. Porém os mesmos precisam

desenvolver formas de organização que lhes propiciem melhores resultados na

compra e venda dos produtos, assim como na resolução de problemas

coletivos. Quando se participa de algum tipo de organização, fica muito mais

fácil fazer reivindicações junto aos governos, seja na esfera Federal, Estadual

ou Municipal, os quais podem redundar em políticas públicas atendem a todos

em um espaço de tempo menor.

Em relação ao crédito rural, 49% dos entrevistados consideram possuir

dificuldades de acesso ao crédito em decorrência da exigência de projeto

técnico detalhado; já para 25%, o problema são as garantias reais de bens;

para 15%, a contrapartida exigida é a principal dificuldade; 11% dos

entrevistados citam outras dificuldades.

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Constata-se que a exigência do projeto técnico detalhado aparece como

a principal dificuldade para a busca de financiamentos rurais, podendo isso ser

função da existência de poucos profissionais qualificados na região, para

elaboração do mesmo.

Segundo os entrevistados, eles contam apenas com a Assistência

Técnica oferecida pela Secretaria Municipal de Agricultura em parceria com a

Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, através da Coordenadoria

de Assistência Técnica Integral. Essa assistência é realizada por um

Engenheiro Agrônomo, um Técnico Agropecuário e um Médico Veterinário;

portanto, fica difícil para os profissionais atenderem aos proprietários em tempo

real, tendo em vista a quantidade de propriedades.

Sobre as garantias reais, os produtores acabam não tendo o valor

necessário para ser oferecido como garantia, dificultando o acesso, resultado

de uma dificuldade de geração de renda pela própria propriedade.

As dificuldades das contrapartidas vêm em função dos proprietários já

estarem solicitando recursos financeiros para investimento em sua

propriedade. E as instituições exigirem que uma parte desses recursos

financeiros liberados fique aplicada como poupança ou títulos de capitalização,

prejudicando o valor liberado.

COSTA et al. (2015) declaram que essas dificuldades encontradas pelo

pequeno produtor rural poderiam ser minimizadas, caso eles pertencessem a

associações, cooperativas ou entidades de classe. Essas entidades poderiam

representar esses proprietários junto a órgãos financeiros e governamentais,

além de auxiliar na elaboração de projetos técnicos. Porém isto acaba não

ocorrendo, já que boa parte dos proprietários não participa de tais entidades.

Desta maneira, uma parte significativa começa a arrendar suas terras.

Até o ano de 1999, 23,3% dos entrevistados tinham suas rendas

baseada apenas nas atividades desenvolvidas dentro da propriedade e 60,1%

dos entrevistados complementavam essa renda com aposentadoria. A partir do

ano de 2000, começa a expansão canavieira na EDR de Jales, para atender

necessidade da empresa sucroenergética instalada na EDR de Fernandópolis,

ocorrendo uma maior incidência no ano de 2008 com a instalação de novas

plantas sucroenergéticas.

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Em relação a porcentagem de empreendedores rurais, mesmo com a

necessidade novas áreas de plantio de cana-de-açúcar para atender as usinas,

59% dos entrevistados, não tiveram interesse no arrendamento, mesmo com a

possibilidade de aumento da renda mensal de até três salários mínimos (49%).

Dos 41% dos entrevistados que arrendaram suas terras, verifica-se que

a incidência de área em (ha) arrendada, está entre 50,1 a 75 ha (36%), seguida

de 75,1 a 100 ha (34%) (Tabela 5).

Tabela 5. Área de hectares arrendados para usina canavieira, Escritórios de

Desenvolvimento Rural de Jales e Fernandópolis, São Paulo, Brasil

ha arrendados Frequência absoluta Frequência relativa (%)

0,1 – 25 19 12%

25,1 - 50 27 18%

50,1 – 75 55 36%

75,1 – 100 53 34%

Total 154 100%

Fonte: Dados da pesquisa.

Os dados revelam que existe uma grande proporção de proprietários

que arrendam suas terras para as usinas canavieiras, tendo como justificativas:

a idade avançada, dificuldades de trabalhar, não sucessão familiar, e o valor

pago pela usina canavieira por hectare arrendado, que na região está na média

de R$172,00 mês.

Este valor permite um aumento de renda significativo para grande parte

dos proprietários (Tabela 6), indicando que a renda mensal bruta dos que

optaram por arrendar suas terras (93%) está na faixa superior de quatro

salários mínimos. Apenas 1% dos arrendatários recebem 1,1 a dois salários

mínimos.

Porém estes arrendamentos acabam trazendo para região outros

impactos, tais como a mudança da paisagem e também o aumento do preço de

produtos alimentares, como: leite, legumes, frutas, verduras, carnes etc.

De acordo com HOFFMANN (2006) e CARLESSO NETO e VERÍSSIMO

(2015), a competição pelo uso dos recursos e o crescimento da produção de

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etanol vêm produzindo impactos sobre o preço de alimentos. Uma menor área

para produção de alimentos básicos, em função da expansão canavieira,

contribui para que os supermercados ou empresas de comercialização de

alimentos realizem a importação de outras regiões, o que leva a um

crescimento nos custos na logística de transporte e acaba onerando o preço

dos produtos.

Tabela 6. Arrendamento de terras x Renda mensal bruta dos produtores rurais,

Escritórios de Desenvolvimento Rural de Jales e Fernandópolis, São Paulo,

Brasil

Arrendou terras para usina Sim Não

41% 59%

Renda (salário mínimo)

Até 1 0% 3%

De 1,1 a 2 1% 16%

De 2,1 a 3 3% 30%

De 3,1 a 4 3% 25%

Superior a 4 93% 26%

Total 100% 100%

Fonte: Dados da pesquisa.

Por outro lado, os empreendedores rurais (30%) que não quiseram

arrendar suas terras para plantio de cana recebem, em média, na faixa entre

2,1 a três salários mínimos; apenas 25% dos entrevistados recebem acima de

4,1 salários mínimos. Segundo INÁCIO e SANTOS (2011), o arrendamento de

terras para usina canavieira pode gerar renda que, associada ao valor da

aposentadoria, pode propiciar uma boa qualidade de vida.

A justificativa para o não arrendamento se baseia, de acordo com os

proprietários, na valorização de suas raízes no campo. Os mesmos afirmam

que após arrendarem suas terras por cinco anos, a usina não teria mais

interesse após esse tempo, devido à queda de produtividade e os

investimentos necessários para recuperar o solo.

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Os proprietários ponderam então que não saberiam o que fazer com a

propriedade, tendo em vista que para o cultivo da cana, a maior parte ou todas

as benfeitorias são removidas, deixando a “terra nua” e sem vegetação (exceto

a protegida por lei), modificando totalmente a paisagem da propriedade. Desta

maneira, caso o proprietário novamente queira arrendar, o valor a ser pago

seria menor.

Porém observou-se que 59% dos entrevistados que arrendaram suas

terras tem idade superior a 60 anos, confirmando que com o aumento da idade,

ocorre uma tendência no aumento da cessão de terras as usinas. Porém são

contratos regulares, 97% registrados em cartório, com duração em torno de 60

meses (98%), demonstrando segurança jurídica, o que incentiva o

arrendamento.

Considerações Finais

A análise dos dados desta pesquisa indica que a maioria dos

proprietários entrevistados tem um baixo índice de escolaridade e idade

avançada, e estão na atividade rural a mais de 20 anos.

A maioria dos entrevistados optaram pelo não arrendamento de terras

para usina sulcroenergética, entretanto, percebe-se que a renda bruta mensal

dos proprietários que arrendaram suas terras, em sua maioria, situou-se no

patamar superior a quatro salários mínimos por mês. Além da principal fonte de

renda apresentada ser o arrendamento, destaca-se também a renda resultante

de benefícios sociais, como aposentadoria, demonstrando o envelhecimento

dessa população rural e a não sucessão familiar.

Esse arrendamento de terras, apesar de contribuir para a renda do

produtor rural, acaba impactando diretamente a produção de alimentos na

região estudada, onde se percebe a substituição da produção alimentos pela

cultura canavieira.

Uma grande parcela de proprietários não participa de cooperativas ou

associações, por não acreditarem na importância do grupo, e também possuem

dificuldade para acesso ao crédito rural, relacionada a exigência de projeto

técnico detalhado, entre outros.

Dessa forma, é importante ressaltar a importância de se utilizar as

características socioeconômicas, fatores sistêmicos, políticas

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macroeconômicas etc., para melhor compreender os fatores a serem

superados ou ampliados, vistos à construção de melhores oportunidades para

os produtores rurais e um desenvolvimento econômico baseado na agricultura

familiar.

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Artigo II Fatores de influência para os produtores rurais arrendarem suas terras para usina canavieira na região de Jales e Fernandópolis, São Paulo, Brasil Edy Carlos Santos de Lima Resumo

A indústria canavieira está em constante expansão no Estado de São

Paulo e parte da ocupação de novas áreas ocorre através do arrendamento de

terras. Este trabalho buscou analisar os fatores que influenciam o interesse dos

produtores rurais a arrendarem suas propriedades, relacionando isto com o

avanço do cultivo da cana-de-açúcar nos Escritórios de Desenvolvimento Rural

- EDRs de Jales e Fernandópolis, São Paulo. A pesquisa classifica-se como

descritiva e quantitativa e para coleta de informações, utilizou-se um

questionário aplicado a 373 proprietários rurais, com dados avaliados pela

análise fatorial exploratória. Os resultados demonstram que a maioria dos

entrevistados é do sexo masculino e aposentados. O nível de escolaridade é

baixo e a renda familiar dos que arrendam terras é superior a quatro salários

mínimos. Os fatores que motivaram os produtores ao arrendamento são a

rentabilidade, impactos, caracterização, origem da empresa rural e a utilização

de mão de obra externa e por último, a qualidade de vida. Nas famílias

entrevistadas, a principal mão de obra utilizada é a familiar; entretanto os filhos

não têm mais interesse em continuar a sucessão familiar da propriedade.

Constatou-se que 41% dos produtores rurais estão se desfazendo de suas

empresas rurais, para arrendar à terra a indústria sucroalcooleira, em função

de um rendimento que no momento é mais vantajoso. Esse arrendamento

acaba trazendo vários impactos socioeconômicos (segurança alimentar e

custos maiores de alimentos) e ambientais (supressão da vegetação

desaparecimento de araras, tucanos e passarinhos) e (aparecimento nos

quintais de casa de onças, tamanduás, mico leões etc).

Palavras-chave: Produtor rural, Escritórios de Desenvolvimento Rural – EDRs,

Expansão canavieira, Impactos ambientais da cana.

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Influence factors for rural producers to lease their land to sugarcane mills in the region of Jales and Fernandópolis, São Paulo, Brazil Abstract

The sugarcane industry is constantly expanding in the State of São

Paulo and part of the occupation of new areas occurs through the lease of land.

This work aimed to analyze the factors that influence the interest of rural

producers to rent their properties, relating this to the advance of sugarcane

cultivation in the Rural Development Offices - EDRs of Jales and

Fernandópolis, São Paulo. The research was classified as descriptive and

quantitative and for the collection of information, a questionnaire was applied to

373 rural owners, with data evaluated by the exploratory factorial analysis. The

results show that the majority of respondents are male and retired. The level of

education is low and the family income of those who rent land is more than 4

minimum wages. The factors that motivated the producers to rent are the

profitability, impacts, characterization, origin of the rural enterprise and the use

of external labor and, finally, the quality of life. In the interviewed families, the

main labor force used is family; however, the children are no longer interested

in continuing the family succession of the property. It was found that 41% of

rural producers are discarding their rural enterprises to lease to the sugar and

alcohol industry, due to an income that is currently more advantageous. This

lease ends up bringing several socioeconomic impacts (food security and

higher food costs) and environmental (suppression of the disappearing

vegetation of macaws, toucans and birds) and (appearance in the backyards of

jaguars, anteaters, golden lion tamarins, etc.).

Key words: Rural production, Rural Development Offices - RTEs, Sugarcane

Expansion, Environmental impacts of sugarcane.

Introdução

Historicamente verifica-se que a expansão canavieira no Estado de São

Paulo, como também nos demais Estados brasileiros, foi em decorrência de um

bom desempenho do setor, como também uma existência de demanda por

produtos como açúcar e etanol. Com solo e clima favorável ao cultivo

canavieiro, a produção e ocupação de novas áreas aumentaram; além disto,

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regras institucionais adequadas para o funcionamento do mercado interno

permitiram uma grande expansão do setor (OLIVEIRA e MENDES, 2014).

O crescimento do setor resultou em impactos positivos na economia do

país, apesar das crises recentes. De acordo com o Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA), o agronegócio sucroenergético movimenta

cerca de U$$ 43,4 bilhões por ano, o que corresponde a aproximadamente 2%

do PIB nacional. Na safra 2014/2015, o país produziu 35,6 milhões de

toneladas de açúcar e 28,9 bilhões de litros de etanol (MAPA, 2016). No ano de

2015, o Brasil exportou 1,861 bilhões de litros de etanol e 23,427 milhões de

toneladas de açúcar bruto e refinado, gerando uma receita da ordem de US$

8,309 bilhões (MDIC, 2016).

O Estado de São Paulo, principal Estado produtor de açúcar e etanol do

país, produz aproximadamente 53,7% da cana do país, algo em torno de

342,04 milhões de toneladas, em uma área de 6,078 milhões de hectares ou

54,6% da área plantada no território nacional (IBGE, 2016).

Pode-se citar que variáveis microeconômicas e macroeconômicas, como

aumento da demanda pelo etanol combustível no mercado interno e do

interesse no mercado externo, associado à crise da Petrobras e alterações no

mercado de petróleo, além da excelente tecnologia de produção, acabam

sendo fatores de fundamental importância para atrair o interesse de novos

investidores no setor, e provocar a expansão das áreas plantadas de cana

(MELO e SAMPAIO, 2014).

Esta expansão ocorre muitas vezes em relação às pequenas

propriedades rurais. Segundo TALASKA e ETGES (2013) e INCRA (2016), a

pequena propriedade é definida por leis que regulamentam o uso da terra, a

reforma agrária, bem como as políticas públicas para o setor agrícola. O

conceito é ligado ao tamanho (área) das propriedades e, principalmente à

capacidade de geração de renda e sobrevivência do pequeno agricultor.

Na região estudada, a lei nº 8.629 de 25 de fevereiro de 1993, em seu

artigo 4º, define como pequena propriedade o imóvel rural com área de até

quatro módulos fiscais, onde cada módulo equivale a 26 hectares (BRASIL,

1993).

A região Noroeste do Estado de São Paulo é composta, em sua maioria,

por pequenas propriedades rurais, predominando a agricultura familiar (CATI,

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2016). Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), ocorreu

especificamente na região dos Escritórios de Desenvolvimento Rural de Jales e

Fernandópolis, composta por 34 municípios, uma expansão canavieira nos

últimos anos na ordem de 3000% (INPE, 2013). Portanto, perceber-se que

essa expansão está ocorrendo junto a pequenas propriedades rurais, onde os

pequenos proprietários em consequência do arrendamento de terras estão

deixando suas raízes agrárias para trás, ao vislumbrar uma renda melhor da

área arrendada. Esta situação gera a necessidade de verificar os impactos que

essas mudanças possam trazer a comunidade como um todo e os motivos que

levam a isso.

Assim, objetivou-se analisar os fatores que influenciam o interesse dos

produtores rurais a arrendarem suas propriedades e relacionar isto com o

avanço do cultivo da cana-de-açúcar nos EDRs de Jales e Fernandópolis, São

Paulo.

Material e Métodos O presente trabalho teve como universo de pesquisa produtores rurais

com propriedades de até 100 ha, em 34 municípios do Noroeste do Estado de

São Paulo, que compõem os EDRs (Figura 1).

Figura 1. Localização dos municípios dos Escritórios de Desenvolvimento

Rural de Jales e Fernandópolis, Estado de São Paulo, Brasil. Fonte: Adaptado

pelo autor do IBGE (2014).

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Levantamento de Campo O instrumento utilizado para coleta de dados foi aplicação de um

formulário composto por questões abertas e fechadas, para 373 proprietários

ou responsáveis pelas propriedades. Através da aplicação do formulário, foi

possível identificar a localização de sua propriedade e sua estrutura física, o

perfil do produtor, existência da sucessão familiar, atividades exploradas na

propriedade, identificação de percepção de impactos no ambiente e o interesse

em arrendar terras para usina canavieira.

A população amostral foi identificada por meio do Levantamento

Censitário de Unidades de Produção Agropecuária (LUPA), obtido junto à

Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), Secretaria de

Agricultura e Abastecimento do Estado.

Conhecendo o tamanho do universo, calculou-se o tamanho da amostra,

considerando a variável nominal e a população finita, com nível de confiança e

erro amostral de 5%, de acordo com FONSECA e MARTINS (1996):

Onde:

n = número de elementos da amostra;

Z = abscissa da curva normal padrão, fixado a um nível de confiança de 95%.

Para esse nível de confiança considera-se, z = 1,96;

N = número de elementos da população;

p = estimativa da verdadeira proporção de um dos níveis da variável escolhida;

q = 1 – p;

d = erro amostral admitido, expresso em decimais.

Admite-se suportar entre p e q, sendo: N = 12.932; z = 1,96; p = 0,50; q

= 0,50 e d = 0,05 (5%).

De 12.932 propriedades rurais de até 100 ha, foi aplicada a regra de

proporcionalidade para identificação de quantas propriedades de cada

município teriam que ser entrevistadas em função da população identificada.

Em seguida, depois de cadastradas por numeração, foi realizado o sorteio via

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Excel, para selecionar as 373 propriedades para aplicação dos questionários,

aplicados entre junho e dezembro de 2015.

Para a análise dos dados, utilizou-se o teste estatístico denominado

Análise Fatorial Exploratória (AFE), que permite sintetizar as relações

observadas entre um conjunto de variáveis inter-relacionadas, buscando

identificar fatores comuns. Este tipo de análise permitiu identificar um número

relativamente pequeno de fatores comuns que podem ser utilizados para

representar relações entre um grande número de variáveis inter-relacionadas

(FAVERO et al., 2009).

Para testar a aplicabilidade da análise fatorial, é necessário analisar a

matriz de correlações, verificando-se a existência de valores significativos que

justifiquem a utilização do método. Para tanto, aplicou-se o teste KMO (Kaiser-

Meyer-Olkin), que avaliou a adequação da amostra quanto ao grau de

correlação. Ou seja, confronta as correlações simples com as correlações

parciais observadas, indicando que quando os valores são próximos de 1, os

coeficientes de correlações parciais são pequenos e pode-se realizar a análise

fatorial. O objetivo do teste é certificar-se quanto à possibilidade de ser a matriz

de correlações a matriz identidade, sendo o seu resultado capaz de validar o

tratamento dos dados por meio da análise fatorial (FAVERO et al., 2009).

Com objetivo de minimizar o número de variáveis, ou seja, agrupar os

fatores que influenciam o interesse dos produtores rurais em arrendarem suas

terras para usina canavieira e simplificar a interpretação dos fatores utilizou-se

o Método de Rotação Varimax, com extração pelo método dos componentes

principais. Segundo HAIR et al. (2009), o método Varimax “maximiza a soma

de variâncias de cargas exigidas da matriz fatorial”, visando a simplificar as

colunas da matriz fatorial, indicando uma divisão mais evidente dos fatores.

Os fatores foram interpretados com base em estudos anteriores de

ANDRADE e DINIZ (2007) e SOUZA e CLEPS JÚNIOR (2012), os quais

indicaram as variáveis que possibilitam analisar o interesse no arrendamento

de terras.

Resultados e discussão

Os dados obtidos (Tabela 1) permitiram identificar que na administração

da empresa rural predomina o sexo masculino, com a maior parte dos

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entrevistados com idade acima dos 50 anos, indicando o nítido envelhecimento

da população rural. Essa mesma situação, foi encontrada em 27 municípios na

região central do Rio Grande do Sul, onde a masculinização e o

envelhecimento não são processos isolados, causando como consequência a

não sucessão familiar, interferindo assim na dinâmica social e produtiva do

espaço rural (FROEHLICH et al., 2011).

Dos entrevistados, 61% têm o fundamental incompleto e completo e

12% são analfabetos, sendo que essas, em decorrência de problemas de

acesso à educação em décadas anteriores. PERES (2011) afirma que essa

exclusão educacional contribui sensivelmente para o crescimento da miséria

social, necessitando assim de ação do Estado na forma de políticas públicas. O

autor afirma ainda que, ações como “Bolsa-Escola” e “Bolsa-Família”, onde o

governo federal proclama a melhoria da renda da população, não passam na

verdade, de medidas paliativas e, não promovem uma mudança estrutural e

qualitativa nas condições de vida e no acesso aos direitos sociais.

Em relação à renda, pouco mais de 50% possuem uma renda bruta

superior a quatro salários mínimos. Essa renda pode ser considerada alta,

comparada a outras EDRs do Estado, tendo em vista que a média da renda de

produtores rurais familiares é de dois salários mínimos, provenientes das

atividades de bovinocultura leiteira e de corte, fruticultura e hortaliças (ZAGO,

2016).

Também se identificou que 85% dos proprietários obtiveram a posse da

propriedade através da herança recebida e aquisição dos próprios parentes,

demonstrando que no passado era muito comum a sucessão familiar. De

acordo com GAZOLLA e SCHNEIDER (2013), no ano de 2000, o governo

federal criou o Ministério de Desenvolvimento Agrário – MDA, com a finalidade

de consolidar o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar) a fim de incentivar e apoiar jovens a investirem na atividade

agropecuária, objetivando o incentivo a sucessão familiar.

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Tabela 1. Informações Socioeconômicas e demográficas dos produtores rurais

entrevistados (%), Escritórios de Desenvolvimento Rural, Jales e

Fernandópolis, São Paulo, Brasil

GÊNERO Masculino 80% Feminino 20% IDADE De 22 a 29 anos 2% De 30 a 49 anos 15% Acima de 50 anos 83% ESCOLARIDADE Analfabeto 12% Fundamental Incompleto e Completo 61% Médio Incompleto e Completo 18% Superior Incompleto e Completo 9% RENDA FAMILIAR Até dois salários mínimos 12% De 2,1 a quatro salários mínimos 35% Superior a quatro salários mínimos 53% ORIGEM DA EMPRESA RURAL Herança recebida e aquisição de parentes 85% Aquisição de terceiros 14% Posse 1%

Fonte: Dados da pesquisa

Resultados da Análise Fatorial Exploratório

O teste KMO resultou no valor de 0,818, indicando que o método de

análise fatorial é adequado. Ainda, realizou-se o teste de esfericidade de

Bartlett, que demonstrou significância de 0,000, valor inferior a 0,05.

Tabela 2. Análise Fatorial (Rotação Varimax) do arrendamento de terras para

usina canavieira

Itens/Indicadores Fatores/Dimensões

F 1 F 2 F 3 F 4 F5

1. Qual a faixa de renda mensal

bruta, que é obtida das atividades

da propriedade 0,805

2. Qual o valor de arrendamento

por hectare 0,777

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3. Alguma parte das terras do seu

estabelecimento rural é arrendada

para usina canavieira 0,770

4. Qual o período de contrato do

arrendamento 0,769

5. Quantos hectares (ha) você

arrendou 0,753

6. Estão averbadas área de

reserva legal e/ou Áreas de

Preservação Permanente 0,659

7. Caso a propriedade possua rios,

córregos ou nascentes, a

qualidade da água, percebida pelo

senhor(a), continua a mesma

0,963

8. Para o plantio da cana-de-

açúcar, arrancaram-se muitas

árvores, arbustos e vegetação na

área arrendada

0,934

9. Após o arrendamento da área

para a usina, você percebeu que

alguns animais e pássaros

desapareceram

0,903

10. Qual a mão de obra utilizada

0,612

11. Recebe assistência técnica de

quais órgãos

0,890

12. Em caso positivo da questão

anterior, qual a qualidade da

assistência técnica

0,874

13. Quais das atividades

econômicas são desenvolvidas na

propriedade

0,506

14. A propriedade utiliza-se de

mão de obra externa

0,824

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15. É proprietário desse

estabelecimento

-0,597

16. A renda da propriedade tem

contribuído para melhoria do

conforto da família

0,725

17. A principal fonte de renda vem

da propriedade

0,655

Autovalores (eigenvalue) 6,357 2,520 1,903 1,307 1,073

% Variância explicada 37,392 14,823 11,192 7,688 6,312

% Variância acumulada 37,392 52,215 63,407 71,095 77,407

Teste de KMO e Bartlett

Kaiser-Meyer-Olkin 0,818

Bartlett 0,000

Fonte: Dados da pesquisa.

Caracterização dos Fatores

A análise possibilitou a identificação de cinco fatores, explicando 77,41%

das variações das medidas originais, indicando um bom nível de representação

dos dados.

O Fator 1 foi caracterizado como “Rentabilidade” e refere-se a qual

motivo leva o empreendedor a arrendar suas terras. Esse fator avalia qual faixa

de renda mensal bruta é obtida através das atividades; o valor de

arrendamento; se alguma parte das terras do seu estabelecimento rural é

arrendada para usina canavieira; o período de contrato do arrendamento;

quantos hectares (ha) você arrendou; e, se área de reserva legal e/ou áreas de

preservação permanente estão averbadas.

Aqui se percebe que os produtores rurais estão arrendando suas terras

para usina canavieira em decorrência de obterem melhores rendas. Nessa

mesma linha, SOUZA e CLEPS JÚNIOR (2012) afirmam que em função das

dificuldades de acesso aos créditos aos agricultores, percebe-se que o

arrendamento acaba sendo um caminho viável para o empreendedor manter

suas relações de trabalho com terra e garantir seu sustento, além de

possibilitar sua inserção no mercado. SANCHEZ e BRAY (2003) também

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afirmam que o arrendamento de terras para as usinas canavieiras por

pequenos, médios e grandes proprietários se tornou um fenômeno comum,

sendo uma alternativa de renda para os produtores rurais.

Segundo DULLEY e SANTOS (1990), a redução dos riscos inerentes à

produção agrícola, a dificuldade de administrar toda propriedade por conta

própria, os problemas na obtenção de financiamento agrícola, a dificuldade em

investir na compra de máquinas e equipamentos necessários para expandir a

área de cultivo próprio e, a dedicação do proprietário a outras atividades

econômicas, além da agricultura, são motivos para buscar o arrendamento de

sua propriedade.

O Fator 2 foi denominado “Impactos”. Esse fator explicou 14,82%,

congregando os itens que analisam impactos ambientais. Aqui, os produtores

rurais informam a qualidade percebida sobre rios, córregos ou nascentes após

arrendamento (0,963%); nos itens seguintes, percebe-se uma carga fatorial

alta, onde declaram se houve a supressão de árvores, arbustos e vegetação

para o arrendamento (0,943%), se animais e pássaros desaparecerem após

arrendamento (0,903%) e, qual a mão de obra utilizada na propriedade.

Verifica-se por esse Fator que 98,05% dos entrevistados declararam que

mesmo após o arrendamento das terras para usina, a qualidade da água

continua a mesma. Esta afirmação contrapõe pesquisas de ANDRADE e DINIZ

(2007), que afirmam que a expansão canavieira traz consigo a contaminação

de águas superficiais e subterrâneas, por meio da prática excessiva de

adubação química, corretivos minerais, disposição de vinhaça e aplicação de

herbicidas e defensivos agrícolas. Porém a resposta dos proprietários também

pode ser encarada de maneira subjetiva, pois é a sua percepção, sem levar em

consideração uma análise química da água, que poderia indicar contaminação

(ou não).

Em relação ao desaparecimento de animais e pássaros, os

entrevistados afirmaram que após arrendamento, houve sim o

desaparecimento de alguns pássaros, tais como araras, tucanos e passarinhos

de pequeno porte; entretanto, começaram a aparecer animais no quintal da

propriedade, como tamanduás, mico leões e, às vezes, onças pardas, situação

correlacionada com o desaparecimento de áreas naturais e seus recursos,

obrigando determinadas espécies a procurar outras locais para refúgio e

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alimentação. Verificou-se que 54,55% dos entrevistados afirmaram houve a

supressão das árvores, arbustos e vegetação. Esta supressão é muito comum

na cultura canavieira, devido à necessidade de mecanização de grandes áreas

de maneira uniforme, sem o incômodo de vegetação que traria mudanças no

percurso das máquinas, por exemplo, resultando então em mudanças na

paisagem (ANDRADE e DINIZ, 2007).

O Fator 3 foi denominado como “Caracterização”, onde se identificou a

diversificação das atividades exercidas dentro da propriedade rural e a

qualidade da assistência técnica recebida dos órgãos governamentais, como a

CATI. Dentre as atividades desenvolvidas destacam-se a horticultura,

fruticultura, silvicultura, lavoura de grãos, bovinocultura de corte e de leite,

avicultura, suinocultura, piscicultura, apicultura, ovinocultura, caprinocultura,

heveicultura e plantio de cana-de-açúcar. As que mais contribuíram para renda

do produtor foram à cana-de-açúcar, fruticultura e bovinocultura de corte e leite;

as que menos contribuem: piscicultura, apicultura e ovinocultura. Identificou-se

que dos 45% dos entrevistados que recebem assistência técnica, 74%

declararam que é de boa qualidade, ou seja, atendem suas expectativas.

Existe uma diversidade de atividades nas propriedades. Porém apenas

algumas geram uma renda significativa para os produtores, sendo a principal a

cana. Esta situação se repete em outros Estados, como Goiás e Minas Gerais

(CARVALHO e MARIN, 2011; VERÍSSIMO e MATOS, 2015), e também na

EDR de Tupã-SP e na região oeste do Estado de São Paulo (LOURENZANI e

CALDAS, 2014; FONSÊCA et al., 2015), onde esta cultura se destaca, em

termos de rendimento. De acordo com FERRANTE e BARONI (2011), isto não

seria o correto, pois pode criar uma dependência dos produtores em relação a

um determinado produto e torná-lo susceptível as oscilações de mercado. O

mais adequado, segundo ESCHER (2014), é uma diversidade de atividades,

permitindo a produção de diferentes itens que se contrapõem, gerando uma

receita contínua.

Em relação ao Fator 4, “Origem da empresa rural e a mão de obra

utilizada”, destaca-se como o produtor rural adquiriu sua empresa e qual mão

de obra é utilizada, ou seja, familiar ou terceirizada. A grande maioria dos

entrevistados recebeu sua propriedade através de herança e aquisição de

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parentes que abandonavam a atividade rural, ocorrendo nesse momento a

sucessão familiar, mesmo que de forma indireta.

Verificou-se ainda, que a mão de obra utilizada é a familiar; entretanto,

aqui se percebe que essa mão de obra é composta pelo pai, mãe e filhos em

idade de ensino fundamental. Porém quando os mesmos atingem a idade de

16 anos, buscam oportunidade de empregos na cidade e nesse caso, não

ocorrendo à sucessão familiar. Segundo FORGUESATTO et al. (2016), as

dificuldades financeiras associadas a baixa escolaridade dos agricultores são

fatores que contribuem para a saída dos jovens do meio rural em busca de

oportunidades de trabalho no meio urbano. Os proprietários que não mais

possuem ajudam na lida diária tendem com o passar do tempo e aumento da

idade, a arrendar suas terras ou a vendê-las.

O Fator 5, “Qualidade de vida”, está relacionado se a principal fonte

renda vem da propriedade e se a mesma tem contribuído para o conforto da

família. Verificou-se que a renda mensal bruta dos entrevistados que optaram

por arrendar suas terras (93%) para usina canavieira está na faixa superior de

quatro salários mínimos.

Já os produtores rurais que não quiseram arrendar suas terras recebem

na faixa de 2,1 a três salários mínimos. Os dados encontrados são

concordantes com as pesquisas de SANCHEZ e BRAY (2003) e INÁCIO e

SANTOS (2011), os quais afirmam que o produtor rural, após o arrendamento

de terras para a usina canavieira, teve uma melhoria considerável na renda

mensal, o que associado o valor da aposentadoria, pode gerar uma qualidade

de vida boa. Esta qualidade significa, para o produtor, acesso a determinados

bens de consumo, tais como geladeiras, televisões, automóveis, entre outros,

que somente podem ser adquiridos com um maior poder aquisitivo (AZEVEDO

et. al., 2009).

Considerações finais Como resultado, encontraram-se cinco fatores que contribuíram para

que os produtores rurais arrendassem suas terras para a indústria canavieira,

os quais foram caracterizados: rentabilidade, impactos, caracterização, origem

da empresa rural e mão de obra utilizada, e qualidade de vida.

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Verificou-se que o arrendamento das terras para usina canavieira,

propicia uma maior rentabilidade em comparação a outras atividades

desenvolvidas na propriedade, sendo o valor recebido superior a quatro

salários mínimos, o que para a maioria dos agricultores, ser um rendimento que

no momento é mais vantajoso.

Observou-se que os impactos no ambiente advindos do arrendamento

de terras para a cana, na percepção dos proprietários, existiram principalmente

a supressão da vegetação, mudando a paisagem e levando ao

desaparecimento de araras, tucanos e passarinhos de pequeno porte e

aparecimento nos quintais de casa de onças, tamanduás, mico leões etc,

entretanto, os entrevistados, acabam tendo a percepção que os impactos foram

mínimos, não sendo problemas para realização de arrendamento.

No fator caracterização da propriedade rural, identificou-se que dentre as

atividades desenvolvidas, a que mais contribuía em termos de ganhos

financeiros e menos dedicação a propriedade seria o plantio de cana-de-

açúcar, tendo em vista o valor pago pela usina e também por ela realizar toda

preparação da terra, plantio e colheita.

Identificou-se que maior parte dos entrevistados adquiriu a propriedade

rural através de herança e de compra de parentes, onde predominava a mão

de obra familiar (pai, mãe e filhos em idade de estudo de ensino fundamental),

porém com o decorrer do tempo e o envelhecimento dos proprietários,

associado ao não interesse dos filhos de continuar na propriedade rural, ocorre

então o arrendamento de terras para usina ou a própria venda da propriedade.

O último fator identificado demonstra que os proprietários estão

associando a qualidade de vida que estão vivendo atualmente com o

recebimento da renda advinda do arrendamento da propriedade para usina,

que somada à renda da aposentadoria têm contribuído para o conforto da

família, com aquisição de bens e serviços.

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Artigo III Análise multitemporal do uso e ocupação do solo entre 1984 e 2014 na zona de expansão canavieira na região de Jales e Fernandópolis, São Paulo, Brasil Edy Carlos Santos de Lima Resumo

O presente artigo faz uma análise multitemporal do uso e ocupação do

solo entre os anos de 1984 e 2014, verificando as mudanças na paisagem no

Escritório de Desenvolvimento Rural - EDR de Jales e Fernandópolis,

localizados na região noroeste do Estado de São Paulo, utilizando imagens do

satélite Landsat 5/TM, bandas 3, 4 e 5 dos anos de 1984, 1994 e 2004, nos

meses de agosto, abril e março, e imagens do satélite Landsat 8/OLI, bandas

4, 5 e 6, do mês de fevereiro, onde são consideradas equivalentes. Os

resultados obtidos são apresentados em mapas temáticos mostrando

qualitativamente e quantitativamente a real condição do uso e ocupação do

solo, constatando para um crescimento de 3000% da área canavieira, e como

consequência a redução de 20,01% das áreas de pastagens, 30,34% da

vegetação florestal, 82,60% da vegetação campestre e 21,68% dos corpos

d’água. Verificou-se também que até o ano de 2004, a presença canavieira era

mais presente no EDR de Fernandópolis, entretanto, após esta data, a área

canavieira também começou a expandir para o EDR de Jales. Por sua vez,

verifica-se que houve alterações na paisagem, além da substituição de

atividades agropecuárias nas propriedades rurais.

Palavras-chave: Paisagem rural, Alterações ambientais, Imagem de satélite,

Geoprocessamento, Cana-de-açúcar.

Multitemporal analysis of land use and occupation between 1984 and 2014 in the sugarcane expansion zone in the Jales and Fernandópolis region, São Paulo, Brazil Abstract

This article presents a multitemporal analysis of land use and occupation

between 1984 and 2014, verifying the changes in the landscape in the Rural

Development Office - JR and Fernandópolis EDR, located in the northwest

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region of the State of São Paulo, using images Landsat 5 / TM satellite, bands

3, 4 and 5 of the years 1984, 1994 and 2004, in August, April and March, and

images of Landsat 8 / OLI satellite, bands 4, 5 and 6 of the month of February,

where they are considered equivalent. The obtained results are presented in

thematic maps showing qualitatively and quantitatively the real condition of the

use and occupation of the soil, noting for a growth of 3000% of the sugarcane

area, and therefore the reduction of 20.01% of pasture areas, 30, 34% of the

forest vegetation, 82.60% of the country vegetation and 21.68% of the water

bodies. It was also verified that until the year 2004, the sugar cane presence

was more seen in the EDR of Fernandópolis, however, after that date, the

sugarcane area also began to expand to the EDR of Jales. In turn, there are

changes in the landscape, as well as the replacement of agricultural activities in

rural properties.

Keywords: Rural Scene, Environmental Changes, Satellite Image,

Geoprocessing, Sugarcane.

Introdução Os principais fatores que proporcionaram a expansão da cultura

canavieira no Brasil estão relacionados a diversos incentivos governamentais,

tais como a isenção do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

(IPVA), associado à compra de carro a álcool, mudança da política

governamental intervencionista visando ao aumento da competitividade do

álcool frente à gasolina e liberação das exportações de açúcar com bom preço

no mercado (RUDORFF et al., 2010; VEIGA FILHO et al., 2008).

Além disto, outros eventos contribuíram para esta expansão, tal como o

aumento do preço do petróleo, a introdução dos veículos flex fuel a partir de

2003, aumento na exportação do etanol para ser adicionado à gasolina em

função do preço do petróleo e efeito estufa, aumento do consumo de açúcar no

mercado interno e externo, diminuição do subsídio aos produtores de beterraba

na Europa e, a entrada de capital estrangeiro (RUDORFF et al., 2010; VEIGA

FILHO et al., 2008).

Outro ponto a ser considerado da expansão do setor sucroenergético é a

grande valorização dos produtos derivados de cana-de-açúcar, em relação aos

produtos agrícolas, com um grande aproveitamento na integra da matéria

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prima. Além disso, o domínio e baixo custo da produção do etanol e açúcar, se

comparado com produtos similares de outras fontes, tornaram esta cultura mais

atrativa aos produtores (CARVALHO e MARIN, 2011; VERÍSSIMO e MATOS,

2015).

Com isto, o crescimento da área de plantio brasileira foi contínuo e no

ano de 2012, ocupou uma área de 9.752.328 milhões de hectares, sendo

geradora de emprego e renda e, se constituindo uma das principais atividades

da economia nacional (IEA, 2015).

Desta maneira, o Brasil vem se destacando, tanto na produção de

açúcar, como também na de etanol. Entre outros motivos, isto ocorre por ser ao

mesmo tempo, um grande consumidor e exportador destas commodities, em

decorrência de sua competitividade na produção da matéria-prima e sua

transformação eficiente nestes dois produtos.

Porém a expansão das áreas vem trazendo mudanças na paisagem.

SIMON et al. (2012) afirmam que esses impactos incluem a prática de

queimadas para a colheita canavieira e a demanda por novas áreas. Essa

situação acaba provocando a substituição de outras culturas e áreas de

pastagens, ou mesmo a destruição de áreas de vegetação nativa

remanescente, levando a diferentes impactos econômicos e sociais.

Para o levantamento das alterações de paisagens, a análise do uso e

ocupação do solo é uma ferramenta importante para estudos ambientais, para

uma gestão eficiente e eficaz dos recursos naturais. Segundo NUNES e ROIG

(2015), objetiva-se por meio do uso e ocupação de solo em escala de uma

região, buscar conhecer a forma com que área é utilizada, permitindo a

caracterização das interações antrópicas com o ambiente. A partir dessa

caracterização, constrói-se uma representação espacial dessas interações.

Assim, as geotecnologias têm permitido diversos estudos multitemporais de

uso e ocupação de solo, principalmente na avaliação de impactos na área

ambiental.

Deste 1972, diversos estudos ambientais são realizados, baseados em

mapeamento de cobertura de uso e ocupação do solo, por meio de imagens do

satélite Landsat, utilizando-se de técnicas de Processamento Digital de

Imagens – PDI (BAKR et al., 2010).

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BATISTA e SANTOS (2011) afirmam que o processamento digital de

imagens é um conjunto de técnicas que realizam o tratamento de imagens

digitais, proporcionando que uma imagem seja processada, classificada,

interpretada e analisada, com o objetivo de melhorar a qualidade das imagens

através da composição de cores. Portanto, através da utilização da

geotecnologia, é possível verificar-se que a busca pelo capital de forma

desordenada, tem provocado uma série de impactos negativos, como a

degradação ambiental.

Tendo em vista o avanço da cultura da cana em determinadas regiões

brasileiras, resultado do crescimento e desenvolvimento econômico desta

cultura, percebe-se que as alterações de paisagem muitas vezes não são

adequadamente tratadas. Assim, o presente trabalho tem como objetivo

verificar as mudanças da paisagem nos últimos 30 anos nas regiões de Jales e

Fernandópolis.

Material e Métodos Área de Estudo

A área se localiza nos Escritórios de Desenvolvimento Rural de Jales e

Fernandópolis, na região noroeste do Estado de São Paulo, compreendendo

34 municípios, com uma área total de 673.776,00 ha (Figura 1), que fazem

parte da área dos Escritórios Rurais de Desenvolvimento Rural – EDRs de

Jales e Fernandópolis.

O clima predominante na região é o tropical semi-úmido com inverno

seco e verão chuvoso, com precipitações médias de 1.362 mm. As

temperaturas médias mínimas e máximas atingem, respectivamente, 17 e 33,5

°C (CEPAGRI, 2015).

Nos EDRs de Jales e Fernandópolis, foram identificadas e mapeadas as

classes Argissolo, Latossolo e Planossolo (Figura 1), sendo predominante o

Argissolo-Vermelho (IAC, 2016; EMBRAPA, 2016).

Segundo IBGE (2014), a vegetação nativa encontrada compreende os

seguintes grupos de vegetação no domínio da Mata Atlântica: encraves

de campos cerrados e zonas de tensão ecológica (áreas de transição situadas

entre tipos distintos de vegetação possuindo características ambíguas. Pode

ocorrer local com características predominantes de cerrado e outros de mata) e

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floresta estacional semidecidual (mata caducifólia – porcentagem de árvores

decíduas variando entre 25 a 50%).

Observa-se ainda na área, tipos genéricos de vegetação nativa, tais

como: floresta estacional semidecidual primária; floresta estacional

semidecidual secundária, em seus vários estágios; floresta estacional

secundária ribeirinha (formações ripárias) em seus vários estágios; floresta

paludosa (mata de brejo); floresta com característica de transição mata –

cerrado, em seus vários estágios, além de agrupamentos arbóreos e árvores

isoladas.

Métodos Para a delimitação da área das EDRs de Jales e Fernandópolis, utilizou-

se o shape de municípios do Estado de São Paulo, disponibilizados pelo

Instituto Brasileiro de Geografia Estatística – IBGE (Figura 1).

Figura 1. Imagem recorte das áreas dos Escritórios de Desenvolvimento Rural

de Jales e Fernandópolis, Estado de São Paulo, Brasil. Fonte: Adaptado pelo

autor do IBGE (2014).

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Na elaboração das cartas de uso do solo, foram feitas interpretações de

imagens de satélite Landsat 5/TM, bandas 3, 4 e 5 dos anos de 1984, 1994 e

2004, nos meses de agosto, abril e março, respectivamente, adquiridas

gratuitamente no site do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Já

com relação à imagem de 2014 do mês de fevereiro, foi realizada a

interpretação de imagens Landsat 8/OLI, bandas 4, 5 e 6, disponibilizadas

gratuitamente através do site da USGS (United States Geological Survey) no

subtítulo Earth Explorer.

As imagens foram importadas e georreferenciadas por meio de pontos

de controle passíveis de identificação na imagem, sendo utilizada uma imagem

ortorretificada pancromática da área como base para registrar as novas

imagens de satélite, trabalhados no SIG Spring 5.2.6 e no SIG ArcGis® 10.

Após o georreferenciamento, o contraste foi executado no SIG Spring®

5.2.6 a fim de melhorar a qualidade da imagem, utilizando a opção equalizar

histograma. A partir deste contraste foi salva a imagem sintética b3g4r5 das

imagens Landsat 5, classificando o uso do solo por meio de classificação

supervisionada. Para sua classificação, foi feito visita a campo com objetivo de

reconhecer a área e coletar pontos de coordenadas para realização do

georreferenciamento. Utilizou-se GPS de navegação map 62sc da marca

Garmin para a coleta dos pontos de coordenadas geográficas, além de uso

máquina fotográfica para o registro das áreas.

Após a classificação, foram definidas classes temáticas da cobertura

vegetal e uso da terra:

Vegetação Antrópica de Pastagens, com área de plantio

predominante de braquárias (Brachiaria spp.);

Vegetação Natural Campestre, gramíneas e ervas nativas da

região, tais como rabo-de-burro (Andropogon bicornis L.) e

Aristida longifolia Trin.;

Áreas Antrópicas Urbanizadas, sendo construções de casas,

pavimentação de ruas, calçamentos e terrenos sem cobertura

vegetal com fins urbanos;

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Áreas Antrópicas Agrícolas de Lavouras Temporárias, com plantio

de grãos, tais como soja (Glycine max L.) e milho (Zea mays L.),

verduras e hortaliças;

Áreas Antrópicas Agrícolas de Cana-de-Açúcar, com plantio de

Saccharum officinarum;

Corpos D’água, com presença de rios, córregos, lagoas e açudes;

Vegetação de Florestas Plantadas, cobertas por vegetação de

porte arbóreo, como eucalipto (Eucalyptus spp.) e seringueira

[Hevea brasiliensis (Willd. ex Adr. de Juss.) Muell-Arg.];

Vegetação Natural Florestal, cobertas por vegetação de porte

arbóreo, como cerradões, cerrado e matas estacionais.

Por fim, a imagem classificada foi importada no ArcGis® 10, para corrigir

os erros que o Spring® ocasiona na classificação, analisando-se cada região e

alterando aquelas que apresentavam erros, levando assim seu atributo de

acordo com a realidade mostrada na imagem de satélite.

Resultados e Discussões Em 1984, observa-se que a vegetação antrópica de pastagens era

predominante na área de estudo, ocupando uma área de 503.410,95 ha, ou

seja, 74,71%, onde teve um crescimento de área até o ano de 2004 de 2,98%.

Nos últimos 10 anos, ocorreu uma redução de 22,3% (Tabela 1, Figuras 2, 3, 4

e 5). Ou seja, a atividade de pecuária está sendo substituída por atividades,

tais como lavouras temporárias e plantio de cana-de-açúcar. Esta situação

ocorre devido ao fato da cultura canavieira propiciar uma maior rentabilidade,

frente à pecuária de corte (AGUIAR e SOUZA, 2014).

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Tabela 1. Evolução do uso do solo, em hectares, nas áreas dos Escritórios de

Desenvolvimento Rural de Jales e Fernandópolis, Estado de São Paulo, Brasil

nos anos de 1984, 1994, 2004 e 2014

Classes de Uso do Solo

1984 1994 2004 2014 Área (ha) Área (ha) Área (ha) Área (ha)

Pastagens 503.410,95 505.729,21 518.364,02 402.701,01 Vegetação Campestre 1.737,28 1.244,96

Áreas Urbanizadas 5.817,45 9.696,95 Cana-de-Açúcar 3.246,45 7.019,53 16.004,62 99.586,25

Lavouras Temporárias 2.639,16 5.526,08 9.545,47 32.679,39 Eucalipto e Seringueira < 0,00 7.134,16 1.406,59 17.581,00

Corpos D’água 38.389,73 3.801,52 3.923,54 30.066,31 Vegetação Florestal 115.154,03 111.976,05 85.356,40 80.220,13

Total 673.776,00 673.776,00 673.776,00 673.776,00 Fonte: Dados da pesquisa.

Segundo MAHL (2013), LELIS e HESOANHOL (2014) e NARDOQUE

(2014), a ocupação e uso dessa região iniciou-se na década de 1920 por meio

da expansão cafeeira e da bovinocultura, além das culturas do amendoim e

algodão. Os autores afirmam ainda que a essa ocupação cafeeira ocorreu até o

início dos anos de 1980, quando somado ao longo período de estiagem, à

queda do consumo mundial, à grande quantidade de café estocado, aos

problemas de nematoides e das variações climáticas, houve uma

reestruturação produtiva na propriedade rural.

Essa crise acabou delineando três grupos de produtores, com o primeiro

concentrando-se em grandes áreas para a atividade de pecuária, o segundo,

mantendo a cultura do café e o terceiro, as culturas de fruticultura e olericultura

(LELIS e HESPANHOL, 2014; NARDOQUE, 2014), justificando, assim, a

predominância de pastagens no ano de 1984 (Tabela 1, Figuras 2, 3, 4 e 5).

Em relação às formações nativas, percebe-se uma variação temporal

das florestas, constatando-se um balanço negativo no período de 30 anos.

Ocorreu uma redução percentual do ano de 1984 para 2014 de 30,34% e da

vegetação campestre, uma redução de 82,6% (Tabela 1, Figuras 2, 3, 4 e 5).

Estas áreas que tiveram sua vegetação removida são formadas, em sua

maioria, por argissolos, de boa fertilidade. Estes são classificadas em

argissolos vermelhos (PV) – Podzólico Vermelho Escuro e, argissolos

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vermelho–amarelos (PVA), Podzólicos Vermelho–Amarelos, todos aptos para a

exploração agrícola e plantio de pastagens, em função da fertilidade.

Essas mudanças de paisagem, com a retirada da vegetação original

sem a preocupação com os impactos subsequentes, podem acarretar inúmeros

impactos negativos. Entre eles, a extinção de espécies mais sensíveis, a

erosão em áreas de declividade acentuada e empobrecimento dos solos, a

diminuição dos índices pluviométricos e a elevação das temperaturas,

resultado da diminuição das áreas florestadas, a proliferação de pragas e

doenças devido ao desaparecimento de predadores ou mesmo seus hábitats

de origem, além do assoreamento de corpos d’água (rios e córregos) resultado

do escoamento superficial sem controle em determinadas áreas (TEIXEIRA e

COUTO, 2013).

Na área de estudo, verifica-se que houve redução de 21,68% de corpos

d’água (rios e córregos) do ano de 1984 para 2014 (Tabela 1, Figuras 2, 3, 4 e

5). Esta situação pode acarretar problemas, tais como a redução da vazão

regular dos rios e depois das enchentes, o abastecimento urbano de água, a

navegabilidade de alguns rios e o desaparecimento de nascentes.

Além disto, segundo SCREMIN e KEMERICH (2010), a aplicação de

agrotóxicos nas lavouras pode ocasionar a contaminação do meio físico, tanto

do solo como da água, causando impacto no meio antrópico. DORES et al.

(2008) escrevem que o uso do agrotóxico para produção de cana-de-açúcar

tem contaminado os recursos hídricos, causando infiltração de poluentes nos

lençóis freáticos e prejudicando a vida dos habitantes destes locais, por tornar

a água imprópria para o consumo e processamento dos produtos. A água

utilizada nas culturas que volta aos recursos hídricos pode estar com índices

de poluição acima da taxa permitida para produção industrial. Além da

utilização de agrotóxicos, as empresas vêm utilizando a vinhaça na área

canavieira com o objetivo de reduzirem seus custos com uso de fertilizantes

químicos.

Entretanto segundo LAIME et al. (2011) e SILVESTRE et al. (2014), a

vinhaça (vinhoto, tiborna ou garapão), um resíduo do processo de destilação do

álcool, produzida à razão de 10,3 a 11,9 litros, por cada litro de álcool,

apresenta vários problemas, tais como temperatura elevada e pH ácido. Seu

despejo em grande quantidade nos rios, lagos e lagoas podem provocar

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eutrofização e morte dos peixes. Esta situação é causada pelo alto teor de

potássio e quantidades significativas de nitrogênio, fósforo, sulfatos, cloretos,

entre outros nutrientes.

Estes mesmos nutrientes são a razão de sua grande utilização como

fertilizante nas lavouras. Porém quando utilizado em excesso, pode acarretar

diversos problemas, tais como alteração das propriedades físicas do solo e

salinização do mesmo, tornando-o pouco fértil; também pode ocorrer a

contaminação do freático devido aos processos de lixiviação do líquido. Outro

grave problema relacionado é a proliferação da mosca do estábulo ou da

vinhaça, que se reproduz neste meio, tornando-se um incômodo para as

pessoas e animais e muitas vezes, impossibilitando a atividade pecuária no

entorno (WAKEEL, 2013; ANJOS et al., 2015).

Figura 2. Imagem recorte das áreas dos Escritórios de Desenvolvimento Rural

de Jales e Fernandópolis, Estado de São Paulo, Brasil, 1984, a partir de

imagem Landsat 5 TM_222_74, composição 345RGB.

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Figura 3. Imagem recorte das áreas dos Escritórios de Desenvolvimento Rural

de Jales e Fernandópolis, Estado de São Paulo, Brasil, 1994, a partir de

imagem Landsat 5 TM_222_74, composição 345RGB.

Figura 4. Imagem recorte das áreas dos Escritórios de Desenvolvimento Rural

de Jales e Fernandópolis, Estado de São Paulo, Brasil, 2004, a partir de

imagem Landsat 5 TM_222_74, composição 345RGB.

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Em relação ao avanço do cultivo da cana observou-se uma maior

presença canavieira na área da EDR de Fernandópolis até o ano de 2004, em

comparação a área da EDR de Jales. Essa característica marcante da EDR de

Fernandópolis pode ser relacionada a presença de uma empresa do setor

sucroenergético, inicialmente apenas neste município.

Os dados do IEA (2015) comprovam que a produção canavieira no EDR

de Jales começou no ano de 2000, no município de Pontalinda, 2001,

municípios de Paranapuã e Urânia, município de Vitória Brasil, 2002 e

município de Aparecida D’Oeste, a partir de 2003. Verificou-se ainda que, nos

outros municípios, a produção canavieira iniciou-se a partir de 2007. Esta

expansão canavieira vem causando impactos sobre o ambiente e muitas vezes

ameaçando a segurança alimentar da população (CORDEIRO, 2008).

A necessidade de produção de cana-de-açúcar está incorporando áreas

de pequenos produtores e áreas agrodiversas de produção alimentar e, se

mantiver as taxas de crescimentos que ocorreram nos últimos três anos,

podem contribuir para diminuição de alimentos ofertados no mercado

(CORDEIRO, 2008). Esta situação é resultado da diminuição dos

estabelecimentos responsáveis pela alimentação da população brasileira,

dificultando o mercado interno e externo e além de aumentar os preços dos

produtos (CARVALHO e MARIN, 2011).

As diminuições da área de pastagens e dos corpos d’água também

estão relacionadas com o crescimento das áreas urbanizadas (155,09%), área

de vegetação florestal plantada (Eucalipto e Seringueira) (511,30%), áreas

agrícolas de lavouras temporárias (1.138,25%) e áreas de cana-de-açúcar

(2.967,64%). Segundo RUDORFF et al. (2010), a expansão canavieira ocorreu

principalmente em áreas que antes havia pastagens e cereais, além de

algumas áreas de florestas também terem sido ocupadas. Segundo ABDALA e

RIBEIRO (2011), a agropecuária e a cana-de-açúcar estão deslocando suas

atividades, pressionando a abertura de novas áreas, aumentando o

desmatamento e prejudicando as áreas de preservação permanente (APP) e

consequentemente, causando alterações nas nascentes ou locais de

drenagem.

CAMARGO et al. (2008) afirmam que no oeste do Estado de São Paulo,

região tradicional na pecuária de corte, a área cedida por pastagem, no período

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de 2001 a 2006, correspondeu a 62%, seguida de áreas com a cultura do

milho, feijão e arroz sequeiro, podendo assim justificar a mudança do uso e

ocupação do solo.

Segundo LOURENZANI e CALDAS (2014), os principais produtos que

cederam área (ha) para o plantio de cana-de-açúcar na região estudada foram:

pastagem cultivada, milho, feijão, pastagem natural, sorgo, arroz, abacaxi,

manga, tomate, mandioca, banana e uva, evidenciando que o produtor rural

está buscando uma melhor renda através do arrendamento.

Figura 5. Imagem recorte das áreas dos Escritórios de Desenvolvimento Rural

de Jales e Fernandópolis, Estado de São Paulo, Brasil, 2014, a partir de

imagem Landsat 8 OLI_222_74, composição 456RGB.

Observando-se o avanço da cultura da cana em grandes áreas, afirma-

se que esta atividade agrícola vem causando diferentes impactos ambientais,

tais como perda de parte da biodiversidade. De acordo com OLIVEIRA et al.

(2009) e CARVALHO e MARIN (2011), as usinas ao efetuarem o arrendamento

das propriedades, retiram parte da vegetação nativa para melhorar o

desempenho dos maquinários.

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De acordo com estudos de SOANE e van OUWERKERK (2000),

REICHERT et al. (2007) e SEVERIANO et al. (2010), também ocorre

problemas de compactação do solo nestas áreas, processo intensificado com a

modernização da agricultura em decorrência de utilização de máquinas e

implementos agrícolas cada vez maiores e pesados. Uma vez que ocorre uma

alteração na estrutura do solo, pode ocorrer uma aproximação de suas

partículas, e diminuir as trocas gasosas e a limitação dos nutrientes no solo,

além de levar a diminuição da taxa de infiltração de água e recarga do lençol

freático e aumento da erosão hídrica.

A ocupação de novas áreas pela cultura da cana, deslocando as

populações, também leva a diversos problemas nas cidades. Segundo

CENTENARO (2011), no Estado de Mato Grosso do Sul constatou-se que em

três municípios, onde estão instalados 33% das usinas sucroenergéticas do

Estado, ocorreu um crescimento populacional de 17,87%, bem superior à

média do Estado. O autor afirma que esse crescimento trouxe diversos

problemas para área da saúde, educação e infraestrutura, que não estavam

preparadas para o aumento da demanda.

Na região estudada, percebe-se também que houve um aumento da

população urbana na ordem de 8,18%, além de decréscimo na população rural

de 25,9% (IBGE, 2016). Isso pode ser em decorrência do arrendamento de

propriedades rurais para as usinas e também pela idade avançada da

população rural. Desta maneira, os antigos proprietários passam a se

estabelecer nas cidades, levando ao crescimento destas e ao esvaziamento do

campo.

A busca por trabalho no setor canavieiro também propicia a chegada de

muitos colaboradores externos a região, que migram dos seus Estados de

origem em busca de melhores condições de vida. Quando estes chegam ao

destino, muitas vezes encontram situações diferentes daquelas prometidas,

passando a morar em alojamentos em condições inadequadas, com o retorno

financeiro não sendo o esperado. Mesmo assim, ficam longas temporadas

ligados a produção de cana, pois embora o trabalho possa não ser o esperado,

ainda é melhor do que o encontrado em sua região de origem (BOAS e DIAS,

2008; MINAYO-GOMEZ, 2011).

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A empresa, neste caso, acaba transferindo a responsabilidade do

serviço para o trabalhador que tem a obrigação de responder por tudo que está

ocorrendo em seu departamento (área) e até pelos critérios de rentabilidade.

Nessa linha, tanto SMITH (2008) como MARX (2014), criticavam

veementemente essa forma de pagamento, tendo em vista que o pagamento

por produção transfere ao trabalhador a responsabilidade pelo ritmo do

trabalho, sendo uma atribuição do capitalista.

Desta forma, esses migrantes buscam nos meses de safra conseguir

dinheiro para sobreviver, ou para custear suas famílias que ficaram no

município de origem; entretanto o que se vê é que as usinas não têm nenhum

vínculo trabalhista com eles e consideram seu serviço como apenas como o de

"bóias-frias" (LOURENÇO, 2012). Outra situação, de acordo com FICARELLI e

RIBEIRO (2010), é que os produtores, motivados pelos preços pagos pelas

usinas, acabam arrendando suas áreas, acreditando terem uma vantagem

lucrativa por alguns anos. Porém, com passar dos anos, a monocultura em

grandes áreas favorece ao empobrecimento do solo tornando o arrendamento

inviável.

O processamento das imagens obtidas permitiu a montagem de um

banco de dados do uso e ocupação do solo, indicando a atual situação da

região. Estes dados poderão ser utilizados no planejamento da expansão da

cultura, levando-se em consideração a atual situação e futuros problemas

ambientais.

Considerações finais Os resultados demonstram que é crescente a participação e a

importância dos EDRs de Jales e Fernandópolis para o agronegócio

sucroenergético nacional e estadual, destacando o interesse dos produtores

rurais em arrendarem suas terras associado às condições edafoclimáticas.

Verifica-se que houve alteração da composição agropecuária na região

estudada, principalmente nos últimos 10 anos, sendo que essa incorporação de

áreas cultiváveis se dá, predominantemente pelo cultivo canavieiro em

substituição de áreas de pastagem cultivada, milho, feijão, pastagem natural,

sorgo, arroz, abacaxi, manga, tomate, mandioca, banana e uva.

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Portanto essas alterações ambientais em decorrência do avanço da

cultura da cana-de-açúcar acabam contribuindo para mudança da estrutura

agrícola, criando riscos à segurança alimentar, tendo em vista que esses

alimentos não serão produzidos na região, sendo necessário vir de outras

localidades com custos maiores, capacidade produtiva do produtor rural,

impactar preço da terra e distribuição de renda.

Como resultado, ocorreu uma redução da vegetação campestre,

florestal, dos corpos d´água e áreas de pastagens, influenciando também no

crescimento urbano da região.

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7. Conclusão Geral No Brasil, a agricultura familiar tem sido reconhecida com um grau de

importância cada vez maior, o que tem desencadeado ações para estudar e

avaliar as políticas públicas destinadas ao setor.

Identificou-se através da pesquisa, que o perfil dos proprietários indica

que a maioria dos entrevistados possuem mais de 60 anos de idade e de 20

anos na atividade rural, indicando um processo de envelhecimento da

população rural, além do nível de escolaridade dos produtores rurais é mínimo,

com grande parte podendo ser considerados semianalfabetos.

Verificou-se que a maior parte dos entrevistados adquiriu a propriedade

rural através de herança e de compra de parentes, onde predominava a mão

de obra familiar (pai, mãe e filhos em idade de estudo de ensino fundamental),

porém com o decorrer do tempo e o envelhecimento dos proprietários,

associado ao não interesse dos filhos de continuar na propriedade rural, tendo

como consequência a não sucessão familiar.

As principais atividades desenvolvidas nas propriedades são:

horticultura, fruticultura, silvicultura, lavoura de grãos, bovinocultura de corte e

de leite, avicultura, suinocultura, piscicultura, apicultura, ovinocultura,

caprinocultura, heveicultura e cana-de-açúcar, destacando-se para contribuição

da renda da propriedade o cultivo da cana-de-açúcar, da fruticultura e

bovinocultura de corte e de leite.

Uma grande parcela de proprietários não participa de cooperativas ou

associações, por não acreditarem na importância do grupo, e também possuem

dificuldade para acesso ao crédito rural, relacionada à exigência de projeto

técnico detalhado, entre outros.

A maioria dos entrevistados optou pelo não arrendamento de terras

para usina sulcroenergética, entretanto, percebe-se que a renda bruta mensal

dos proprietários que arrendaram suas terras, em sua maioria, situou-se no

patamar superior a quatro salários mínimos por mês, associada a benefício

social aposentadoria.

Para os entrevistados que arrendaram suas rendas, foram encontrados

cincos fatores que contribuíram, os quais foram caracterizados: rentabilidade,

impactos, caracterização, origem da empresa rural e mão de obra utilizada, e

qualidade de vida.

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Esse arrendamento de terras, apesar de contribuir para a renda do

produtor rural, acaba impactando diretamente a produção de alimentos

(pastagem cultivada, milho, feijão, pastagem natural, sorgo, arroz, abacaxi,

manga, tomate, mandioca, banana e uva) na região estudada, pela substituição

da cultura canavieira, além dos impactos no ambiente, através da supressão

da vegetação, mudando a paisagem e levando ao desaparecimento de alguns

animais (onças, tamanduás, mico leões etc), entretanto, ficou evidenciado que

os proprietários estão associando a qualidade de vida que estão vivendo

atualmente com o recebimento da renda advinda do arrendamento da

propriedade para usina, que somada à renda da aposentadoria têm contribuído

para o conforto da família, com aquisição de bens e serviços.

Essas alterações ambientais em decorrência do avanço da cultura da

cana-de-açúcar acabam contribuindo para mudança da estrutura agrícola,

criando riscos à segurança alimentar, tendo em vista que esses alimentos não

serão produzidos na região, sendo necessário vir de outras localidades com

custos maiores, capacidade produtiva do produtor rural, impactar preço da terra

e distribuição de renda.

Portanto, os resultados demonstram que é crescente a participação e a

importância dos EDRs de Jales e Fernandópolis para o agronegócio

sucroenergético nacional e estadual, destacando o interesse dos produtores

rurais em arrendarem suas terras associado às condições edafoclimáticas.