Educação para valores, atitudes e comportamentos 4... · a educação de que falamos aqui e a...

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INTRODUÇÃO O presente trabalho de pesquisa intitula-se “Educação para valores, atitudes e comportamentos, estudo de caso no Jardim Nova Esperança” e foi realizado no âmbito da investigação científica concernente à conclusão da etapa de Licenciatura em Educação de Infância e Praxis Educativa na Universidade de Cabo Verde. A pesquisa foi desenvolvida no jardim Nova Esperança, situada na localidade de Pensamento, concelho da Praia, uma instituição privada e teve como principal objectivo analisar a possibilidade de implementar a educação para valores, atitudes e comportamentos positivos nos jardins-de-infância A escolha desse tema teve como motivação inicial a minha experiência de trabalho, durante três anos, como professora do EBI no Bairro de Pensamento onde constatei que algumas crianças desse bairro apresentavam um comportamento destacadamente fora do padrão considerado “normal”. Daí surgiu a ideia de pesquisar sobre essa problemática e tentar compreender como os valores, atitudes e comportamento estão sendo trabalhados nos jardins dominância, visto que desde tempos remotos que nas mais variadas culturas e regiões do mundo, a educação aparece como o alicerce das sociedades. No decorrer dos tempos e com a evolução da humanidade, o processo de desenvolvimento trouxe consigo mudanças sociais, económicas e culturais. Desse ponto de vista, o século XX foi particularmente marcante. Nesse processo, alguns valores foram se alterando, e até transformados, a ponto de perderem a sua força como referência simbólica de capital importância na estruturação de uma sociedade. Esse facto afectou a sociedade no seu todo, e de forma particular reflectiu-se na família, na escola, nas organizações políticas e noutras instituições que compõem uma sociedade. De diversas formas, sociedades europeias, asiáticas, africanas e americanas, apresentam

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa intitula-se “Educação para valores, atitudes e

comportamentos, estudo de caso no Jardim Nova Esperança” e foi realizado no âmbito

da investigação científica concernente à conclusão da etapa de Licenciatura em

Educação de Infância e Praxis Educativa na Universidade de Cabo Verde.

A pesquisa foi desenvolvida no jardim Nova Esperança, situada na localidade de

Pensamento, concelho da Praia, uma instituição privada e teve como principal objectivo

analisar a possibilidade de implementar a educação para valores, atitudes e

comportamentos positivos nos jardins-de-infância

A escolha desse tema teve como motivação inicial a minha experiência de trabalho,

durante três anos, como professora do EBI no Bairro de Pensamento onde constatei que

algumas crianças desse bairro apresentavam um comportamento destacadamente fora do

padrão considerado “normal”.

Daí surgiu a ideia de pesquisar sobre essa problemática e tentar compreender como

os valores, atitudes e comportamento estão sendo trabalhados nos jardins dominância,

visto que desde tempos remotos que nas mais variadas culturas e regiões do mundo, a

educação aparece como o alicerce das sociedades.

No decorrer dos tempos e com a evolução da humanidade, o processo de

desenvolvimento trouxe consigo mudanças sociais, económicas e culturais. Desse ponto

de vista, o século XX foi particularmente marcante. Nesse processo, alguns valores

foram se alterando, e até transformados, a ponto de perderem a sua força como

referência simbólica de capital importância na estruturação de uma sociedade. Esse

facto afectou a sociedade no seu todo, e de forma particular reflectiu-se na família, na

escola, nas organizações políticas e noutras instituições que compõem uma sociedade.

De diversas formas, sociedades europeias, asiáticas, africanas e americanas, apresentam

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os sintomas dessas “crises de valores”, cujos sinais mais visíveis manifestam-se no seio

das crianças, dos adolescentes e dos jovens, os grupos sociais mais vulneráveis a esse

problema.

Nesse processo, a escola, sobretudo o jardim, enquanto um dos mais importantes

agentes de socialização, continua a ter um dos maiores desafios que é a educação/

formação do ser humano, particularmente das novas gerações, mas enfrentando novas

forças “contra-corrente” que a obriga a repensar as suas estratégias, tendo presente que a

sua finalidade última é contribuir para uma sociedade mais justa, com maiores

oportunidades, com maior equidade, sobretudo nas classes menos favorecidas.

Em suma, o presente trabalho foi muito pertinente tendo em conta que a educação

para valores, atitudes e comportamentos é um tema de extrema importância na chamada

primeira infância, sobretudo quando se está ciente de que se trata, na perspectiva da

pedagogia, de construir a base da personalidade para a formação do indivíduo, visto

que, da infância à idade adulta, as pessoas devem ser educadas, tendo em conta os três

pilares da Educação: “saber ser, saber estar e saber fazer”. Se o pessoal docente e a

comunidade educativa não colocar esse tema em prática nada disso terá valia, porque

hoje, sem a dimensão cidadania, as pessoas continuarão a ter uma formação incompleta.

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Justificação

Cabo Verde enquanto país emergente, com apenas três décadas de independência,

possui uma sociedade vulnerável, que muito recentemente adoptou a democracia como

o modelo de organização social e política – uma tendência mundial - que influenciou

bastante a dinâmica da sua sociedade.

Nesse processo, a educação é daquelas áreas que mais se ressentiu com as

mudanças ocorridas. Foram traçadas novas metas e, em consequência, novos

instrumentos foram adoptados de acordo com as exigências da própria sociedade que

tende a reclamar da escola maiores responsabilidades no cumprimento do seu papel. É

notório que se vive tempos de mudanças radicais, a todos os níveis. Isso gera problemas

e desafios.

Hoje vivemos num mundo globalizado, o que acaba por originar não só aspectos

positivos como também a degradação de alguns valores e atitudes que antes eram

considerados importantes. Apesar disso, entre nós a escola e o “sucesso escolar”,

continuam sendo muito valorizados pela sociedade que vê a educação como “a chave

que abre todas as portas” e por isso lhe dá uma atenção particular, ciente das constantes

transformações de valores que tem vindo a verificar-se a nível mundial.

Efectivamente, no mundo actual, a sociedade vive marcada pelas violências e não há

segurança plena para uma boa convivência ou lazer, devido à fragilização de certos

valores, tendo na origem alguns factores, nomeadamente:

Influência das novas tecnologias de comunicação, como a Internet, a televisão, cujo

acesso é cada vez mais massificado, reduzindo o controlo na selecção e absorção de

conteúdos, principalmente pelas crianças e adolescentes;

A dificuldade por parte dos pais/encarregados de educação em ajudar os filhos a

distinguirem valores positivos dos negativos, tendo em conta que a família é um dos

alicerces mais importantes para a formação de uma boa conduta;

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O não cumprimento dos valores, atitudes e comportamentos por parte dos adultos

que revelam as incoerências e contradições das sociedades, com reflexos directos na

educação das novas gerações que facilmente ficam marcadas, pois nesse campo

“uma acção vale mais do que mil palavras”;

O papel do professor que, nos últimos tempos, teve a sua capacidade de influência

consideravelmente diminuída junto dos alunos;

A adopção (por substituição) de “novos valores” através dos novos meios de

comunicação, em detrimentos dos valores culturais, locais e nacionais. No caso cabo-

verdiano, nota-se que, entre os mais jovens, existe uma absorção rápida de “novos

valores” que devido à facilidade de manifestação são facilmente adoptados, e

A fraca consciência de certos valores, como os símbolos nacionais (Hino, bandeira) e

os significados que comportam em termos de agregação e reforço do sentimento de

pertença e comprometimento do indivíduo para com a sua comunidade/ país.

Por tudo isso, entendemos que o tema proposto é oportuno, tendo em conta a

realidade cabo-verdiana e, de forma particular, o bairro de Pensamento onde muitos

adolescentes e crianças apresentam comportamentos fora do padrão desejado, inclusive

no próprio estabelecimento do Ensino Básico Integrado local.

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De um modo geral, o propósito desse trabalho é responder a seguinte questão:

Em que medida os valores, atitudes e comportamentos podem influenciar o sucesso

escolar no jardim-de-infância “Nova Esperança”?

-Especificamente, o trabalho pretende:

Identificar valores, atitudes e comportamentos que condicionam o sucesso escolar no

Jardim Nova Esperança da localidade de Pensamento,

Conhecer e dar a conhecer as causas que condicionam o sucesso escolar no Jardim

Nova Esperança,

Propor medidas conducentes a promoção de valores, atitudes e comportamentos

positivos que contribuem para o sucesso do Jardim “Nova Esperança”.

Hipótese

Parte-se da hipótese de que o sucesso escolar nos jardins-de-infância depende em

grande medida dos valores, atitudes e comportamentos apreendidos nesses meios.

METODOLOGIA

Em função das exigências do trabalho e dos objectivos a alcançar, este foi

desenvolvido seguindo a metodologia de investigação do tipo qualitativo, recorrendo-se

preferencialmente à análise de dados, que foram comparados e sistematizados de forma

a explicar as interrogações levantadas inicialmente.

A consulta de bibliografia especializada, documentos e pesquisa na internet foi de

essencial importância e permitiu uma familiarização com conceitos, uma melhor

compreensão de certos aspectos da problemática em estudo.

Ainda de referir que foram feitas pesquisas de dados no EBI da localidade, no

próprio jardim “Nova Esperança”, particularmente os referentes às programações anuais

(planificação), verificação dos temas abordados e metodologias utilizadas, além dos

materiais pedagógicos.

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Por fim, fizemos observação in loco, assistindo algumas sessões ministradas pelas

monitoras no próprio jardim o que possibilitou-nos registar importantes informações.

De realçar ainda que o facto de ter trabalhado durante três anos no EBI local,

permitiu um conhecimento empírico da realidade desta comunidade.

Tendo em conta os objectivos traçados, optamos pela realização de entrevistas aos

principais actores que intervêm nesse processo educativo, através de aplicação de vários

questionários, elaborados a partir da identificação das necessidades específicas em

termos de informação.

Assim, foram efectuadas entrevistas às monitoras do jardim “Nova Esperança”, e

às coordenadoras do pré-escolar, bem como aos professores do primeiro ano de

escolaridade do Ensino Básico Integrado (EBI) de Pensamento, além da directora geral

do EBI e pré-escolar. No total realizamos nove (9) entrevistas.

As entrevistas foram estruturadas de forma a permitir a recolha de informações

específicas de cada um dos entrevistados. Todavia, todos eles continham algumas

questões comuns sobre a temática em análise (cfr. anexo).

Em simultâneo, procedemos à recolha de dados de carácter mais quantitativo,

relativos à situação do pré-escolar em Cabo Verde, e que nos permitiu fazer uma

caracterização mais objectiva da educação a esse nível.

Nesse sentido recolhemos os dados relativos, não só a situação actual do pré-

escolar, mas também procuramos obter informações que nos permitissem falar, mesmo

que resumidamente, da política do Ministério da Educação para esse nível de ensino.

Ao optarmos por entrevistar os professores do primeiro ano do EBI da localidade

de Pensamento, tentamos obter informações que possibilitassem, na sua perspectiva,

uma avaliação dessas crianças quanto aos valores, atitudes e comportamentos. Pois, no

contexto em análise, eles são aqueles observadores que estariam melhor colocados para

nos ajudarem a fazer uma leitura mais aproximada da realidade.

Aqui importa referir que, segundo alguns autores, o uso da entrevista é

recomendável para algumas situações, nomeadamente “nos casos em que o investigador

tem questões relevantes, cuja resposta não encontra na documentação disponível”

(CARMO, H. e FERREIRA M.M. 1998:128).

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Estrutura do trabalho

Este trabalho encontra-se estruturado em quatro (4) capítulos, precedidos de uma

introdução, no qual se faz a justificação e a metodologia.

O capítulo I contém a exposição dos principais conceitos relacionados com o tema

ou seja, corresponde à parte teórica.

O capítulo II é inteiramente dedicado ao enquadramento histórico de Educação de

infância, a nível histórico, mundial e em Cabo Verde.

No capítulo III fazemos a caracterização social do bairro de Pensamento do jardim

“Nova Esperança”.

No capítulo IV apresentamos a análise de todo os dados obtidos a partir das

entrevistas aplicadas e das observações directas, focalizando os aspectos mais relevantes

da pesquisa.

Finalmente, elaboramos uma conclusão, que sintetiza a reflexão feita durante o

desenvolvimento deste trabalho, incluindo algumas recomendações.

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CAPITULO I

Fundamentação teórica

1-Educação Hoje: Novos conceitos, novos desafios.

Quando falamos da educação para valores, atitudes e comportamentos, estamos a

falar da formação do indivíduo enquanto um ser social que por causa dessa sua

condição, deve seguir determinados padrões de comportamentos que lhe fazem

pertencer a uma determinada comunidade.

As comunidades humanas se formam e funcionam tendo por base referencias

culturais e sociais comuns que lhes permitem existirem como um conjunto mais ou

menos harmónico. Ou seja, uma comunidade humana tem necessidade de partilhar entre

os seus membros aspectos culturais, económicos, políticos e religiosos que lhe dão

sentido como grupo social (Maffesoli 1984: 29)

Nas sociedades modernas esse processo de consolidar esses valores e

comportamentos e feito pelos chamados agentes de socialização que são instituições

fundamentais para o funcionamento de uma sociedade, designadamente a família, a

escola, as igrejas, as empresas, etc.

Entre esses agentes, a escola desempenha um papel crucial. E através dela que os

indivíduos são preparados para viver em sociedade.

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Nesse ponto iremos clarificar os conceitos de Educação, valores, atitudes e

comportamentos, a partir de autores diversos que analisaram a importância de cada um.

Contudo, antes faremos uma breve abordagem sobre escola e sua missão, hoje, pois

a educação de que falamos aqui e a educação escolar, mas na perspectiva de uma “nova

educação”e, de uma educação que esteja virada para os valores, atitudes e

comportamentos, particularmente aquela que acontece na primeira infância. Isso requer

mudanças no modelo mais tradicional, classico, que prioriza um ensino mais técnico,

mais para aquisição de conhecimentos do que a “formação integral do individuo”.

Nesse processo os professores são peça chave porque “A mudança em educação

depende daquilo que os professores pensarem dela e dela fizerem e da maneira como

eles a conseguirem construir activamente” (THULLER, Mónica. 1994).

Sobre este assunto, há décadas que alguns estudiosos tinham concluído que a

educação tal qual era feita estava ultrapassada e que “As escolas realmente precisam de

mudanças drásticas em todos os níveis. Mas o que nos precisamos não e de uma” não-

escola”, e sim de uma instituição de ensino que funcione e que seja administrada

adequadamente.” (DRUCKER, 1975: 255.). Isto porque as sociedades tem passado por

mudanças e o mundo vive uma evolução acelerada. Contudo, concluem outros, essa

mudança não depende apenas de uma instituição e não e automática. E no campo de

educação “só e possível uma transformação profunda e radical da educação quando

também a sociedade tenha se transformado radicalmente.” (FREIRE, Paulo, e ILLICH,

I. 1975: 30).

De facto, como resultado de varias pesquisas, em diversos países, chegou-se a

conclusão de que as escolas tinham de mudar e que a sua missão vocacao deveria incluir

novos desafios.

Nessa linha, as novas teorias defendem que a escola deve ser “Um lugar, um

ambiente, em que as crianças se reúnem entre si e com educadores profissionais para

tomarem consciência mais profunda de suas aspirações e valores mais íntimos e mais

legítimos, e tomarem decisões mais esclarecidas sobre sua vida, a partir de

aprendizagens significativas. (SCHMITZ, E.F. 1982: 28.).

É nesse contexto que novas ideias sobre a educação foram desenvolvidas.

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1.1-Educação

Hoje, os conceitos de educação estão mais aprofundado e mais alargado. Tornou-se

num conceito central em diversos campos: na economia, na politica, no domínio social,

ou cultural.

Vários estudos realizados, em vários domínios, trouxeram novos conhecimentos da

realidade social. Em consequência, especialistas e educadores realizaram reflexões e

debates para clarificar e consolidar as novas ideias.

Segundo Mayor (1998, p.46), “ A educação é a chave do desenvolvimento

sustentável, auto- suficiente, uma educação fornecida a todos os membros da sociedade,

segundo modalidades de ensino e com a ajuda de tecnologias, de tal maneira que cada

um se beneficie de chances reais de se instruir ao longo da vida. Devemos estar

preparados, em todos os países, para remodelar o ensino, de forma a promover atitudes

e comportamentos que sejam portadores de uma cultura da sustentabilidade”.

Essa nova educação exige mudanças daqueles que mais directamente lidam com a

questão - os professores. São eles os agentes fundamentais desse processo de mudanças

e consolidação dessa nova educação que a sociedade moderna reclama.

O “ novo professor” tem de estar mais consciente de sua missão, por isso deve ser

alguém que “solicita, convida e estimula os seus alunos”, alguém que “tem entusiasmo,

que e optimista, que acredita nas possibilidades do aluno”, para dessa forma poder

“exercer uma influencia benéfica na classe como um todo e em cada um

individualmente, pois sua atitude e estimulante e provocadora de comportamentos

ajustados” (MARQUES, J. C. 1997: 61).

1.1.1 -Educação e professores

Em qualquer sociedade, o professor possui um papel inquestionável no processo

educativo e na formação do indivíduo. Porém, quase sempre, ele segue modelos do seu

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tempo, indo na linha do sistema em que esta inserido. Muitas vezes, segue-os de forma

pouco crítica, sem nada questionar.

Paulo Freire veio chamar a atençao para este atitude, fazendo a destinçao entre duas

concepções bàsicas sobre a educação: a educação bancaria e a educação libertadora.

Segundo afirma numa das suas obras, “A educação bancaria consiste no acto de

depositar, de transferir, de transmitir conhecimentos… que mantem e estimula a

contradição educador-educando”. (FREIRE, Paulo. 1975, p.67-8).

No lado oposto desta concepçao esta uma inovadora ideia desenvolvida por ele, na qual

defende que “a educação libertadora implica a superação da contradição

educador/educandos. A educação libertadora, problematizadora, já não pode ser o acto

de depositar, ou de narrar, ou de transferir, ou de transmitir conhecimentos e valores aos

educandos, meros pacientes, à maneira da educação bancaria. Desta maneira, o

educador já não é o que apenas educa, mas o que, emquanto educa, é educado, em

diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa.” (FREIRE, Op. Cit., p.

78-9).

Como se ve, em ambos os modelos analisados por ele, o professor tem um lugar central

nas mudanças que podem ocorrer.

1.1.2- Educação e valores

Falar de educaçao é, inevitavelmente, falar de valores. Isto deve-se as

características intrínsecas do próprio processo de educar que contém, implícito e acima

de tudo, a preocupação em transmitir e ensinar normas sociais de uma dada

comunidade, que constitui parte do seu património social e cultural. Definitivamente, “a

educação não esta livre de valores. Tem de ser ideológica. Se educar é dirigir, por

carácter ou a personalidade, encaminhar o indivíduo numa determinada direcção, a

educação não pode ser neutra. As finalidades educativas são valores na medida em que

são opções, preferências, eleições.” (Campa, 1990:124).

Os valores estão presentes em todos os campos da vida humana.

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Segundo Garcia, W. E., (1981: 135.) ” Podemos dizer que desde que o homem se

relaciona com a natureza, ou com os outros homens, ele está valorando. Atribuir sentido

especial às coisas é, portanto, um ato que exige uma situação concreta, na qual o

indivíduo manifesta sua adesão a determinadas coisas ou repulsa para outras tantas. Pelo

fato de viver, o homem está constantemente sendo solicitado a escolher e, ao fazer suas

escolhas, inevitavelmente está atribuindo significado de bom, mau, útil, inútil às coisas

que o rodeiam.”

Porem, no acto de educar, os valores aparece com maior expressão.

Historicamente, educar sempre significou a passagem de conhecimentos e saberes –

heranças e patrimónios - adquiridos evolutivamente por uma sociedade. Portanto, todas

as sociedades estariam convencidas de que ensinam o melhor que possuem aos seus

filhos, capacitando-os para competirem com outras. Nesse sentido, toda a educação e

ideológica. Não há neutralidade. E os valores nascem em contextos históricos. São

propriedades de algumas culturas, alguma comunidade.

1.1.3-Educação, valores, atitudes e comportamentos

O educador brasileiro Paulo Freire (1974:64) afirma que o destino do ser humano

“não e consignar-se, mas humanizar-se.”

E humanizar-se quer dizer crescer como pessoa, como ser social, o que implica

estar sempre a aprender novas coisas da vida. E na escola que de forma particular o

indivíduo desperta para um novo mundo onde aprende novas coisas através de “um

processo de aquisição e assimilação, mais ou menos consciente, de novos padrões e

novas formas de perceber, ser, pensar e agir”. (SCHMITZ, E. F. 1982: 53)

1.2-Valores

Nas sociedades humanas, os valores sempre estiveram presentes enquanto

elementos integrantes na formação da pessoa humana, como membro de uma

comunidade e enquanto elementos que caracterizam uma cultura.

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Quanto a isso, “Podemos dizer que desde o momento que o homem se relaciona

com a natureza ou com os outros homens, ele esta valorando. Atribuir sentido especial a

coisas é, portanto, um acto que exige uma situação concreta, na qual o indivíduo

manifesta sua adesão a determinadas coisas ou repulsa para outras tantas.” (GARCIA

W. E. 1981.135).

Por isso, impõe-se clarificar do que falamos, quanto nos referimos aos valores.

O conceito de valores integram varia perspectivas. Podem ser entendidos numa

perspectiva pessoal, isto e, como algo que orientam um indivíduo na sua conduta. Mas

contem igualmente, uma perspectiva mais social.

Na perspectiva mais estrita, do indivíduo, refira-se que “os valores humanos são

fundamentos morais e espirituais da consciência humana (…). Muitas das causas que

afligem a humanidade esta na negação destes valores como suporte e inspiração para o

desenvolvimento integral do potencial individual e consequentemente social. A vivencia

dos valores alicerça o carácter, e reflecte-se na conduta como uma conquista espiritual

da personalidade.” Consideram-se como principais a “Honestidade, verdade, justiça,

ética, disciplina, integridade, paz e amor” (www.google.com.pt, 23 de Julho, as 14

horas).

A perspectiva mais virada para a importância social dos valores demonstra que

valores “Representam convicções dominantes, as crenças básicas, aquilo em que a

maioria das pessoas da organização acredita.” Isto quer dizer que “Os valores definem

as balizas do que se pretende em termos de padrão de comportamentos de todos os

membros do grupo na busca da paz, do bem-estar e do desenvolvimento.” (LIMA

CANUTO, 2009: 9).

Qualquer cultura possui os seus valores que tem raízes na sua história particular.

Essas herancas historicas são passadas de gerações em gerações sob múltiplas formas,

designadamente através de contos tradicionais, proverbio |maximas, normais, morais,

etc.

Habitualmente os membros de qualquer comunidade aprendem esses valores

estando inseridos na própria comunidade, através de rituais ou no quotidiano, através de

práticas comportamentais dos adultos.

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As culturas têm os seus mecanismos de ensino desses valores, sendo certo que e na

infância que todas procuram” passar” esses valores as crianças porque existe a convirão

de que “ A formação da consciência social duma criança pode não significar mais do

que a interiorização dos padrões de valor do ser grupo” (TITIEV, M. 1991:278).

E quando não acontece a “interiorização dos padrões de valor de seu grupo” fica

estabelecido o quadro para a ocorrência de conflitos culturais e de crise identitária

(TITIEV, M. ibidem).

Portanto, a cultura e portadora de um conjunto de valores e símbolos que dão

sentido a sua comunidade e permitem e tornam a convivência social o melhor possível.

Segundo Henriques Rojas (1994:131), os valores são cruciais na cultura actual.

Entende esse autor que muitos problemas sociais actuais decorrem da ausência certos

valores e do predomínio de alguns “valores materiais”. Por isso, defende, “é necessário

um regresso a outros valores” (…) que permitem a formado de códigos de contusa que

sejam amplos, mas onde os perfis sejam nítidos, de forma a tornarem o homem mais

digno e mais humano”.

1.3 “Atitude

É um sistema de avaliações positivas ou negativas, sentimentos, emoções e

tendências de acções favoráveis ou desfavoráveis no que se refere a objectos sociais “

(KRECH, D., e CRUTCHFIELD, R. S. 194)

A interiorização duma atitude não se faz de maneira definitiva sem passar pela

experiência directa, sem que o próprio experimente as emoções e sentimentos ligados à

realização de acções concretas, de experiências pessoais. (Masco, 1968; De Ketele,

1986).

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1.3.1 Campos de atitudes e valores segundo MORISSETTE, D. e GINGRAS M.

(1989)

Os que englobam toda a existência e que constituem, desse modo, aquisições básicas

para a pessoa chamada a viver em sociedade (a tolerância, por exemplo);

Os que são necessários para realizar qualquer processo de aprendizagem escolar e

que constituem, por isso, os pré-requisitos de toda a educação escolar (a motivação,

por exemplo);

Finalmente, os mais modestos que resultam dos conteúdos específicos de cada

programa disciplinar e que condicionam de alguma maneira a aquisição de algumas

habilidades propostas (desejo de precisão, uso adequado dos instrumentos, etc.).

1.3.2- Atitudes e comportamentos

O estudo das atitudes não é propriamente um objecto de observação recente nas

ciências sociais. Dentro deste âmbito existe uma significativa produção científica ligada

quer à sociologia, quer à psicologia social. Inicialmente pensava-se que as atitudes

seriam uns preditos do comportamento, contudo, após alguns estudos verificou-se que

este pressuposto nem sempre era verdadeiro. Diversos autores entendem a noção de

atitudes como uma estrutura tridimensional que integra as componentes cognitivas

(julgamentos e crenças), afectiva (sentimentos favoráveis ou desfavoráveis) e

comportamental (tendência para determinada acção). Nesse sentido, podem-se

considerar as atitudes como uma forma de motivação social que impulsiona e orienta

certas acções, para tentar

Obter determinadas meta predefinidas. Quando utilizamos a noção de atitudes

pretende-se caracterizar algumas intenções ou comportamentos dos múltiplos actores

sociais em interacção. No entanto, as atitudes podem apresentar um carácter individual

ou colectivo, mediante cada situação concreta. “Assim, as atitudes estão relacionadas

com os valores interiorizados pelos indivíduos e, necessariamente, com os processos de

socialização a que o mesmo está sujeito. (...). Mas estariam igualmente ligados a

processos cognitivos que se situam no plano da racionalidade e do conhecimento,

sempre limitado e contingente, de que o indivíduo dispõe. E têm que ver com as

intencionalidades dos sujeitos, no plano dos interesses, gerados pelas situações

concretas de acção inter-individual em que os mesmos se acham inseridos. Tudo isto

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significa que as atitudes são, de facto, realidades complexas, embora susceptíveis de

uma (lenta) evolução no tempo”. FREIRE, João (2002)

1. 4- Comportamentos-: “É apenas uma resposta em função de um estímulo ou de

uma situação “ (conjunto de estímulos) ( Watson, John Brodus).

1.4.1- Interpretar o comportamento da criança

O grau de agitação e a falta de controlo da criança determinam a resposta dos pais.

Uma observação cuidadosa do seu comportamento ajuda-os a perceber se basta um

simples olhar de reprovação, se não precisas algumas palavras de aviso ou se é

necessário entrar em acção. (T. Berry Brazelton; Joshua D. Sparrow, 2004).

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CAPÍTULO II

Enquadramento histórico de Educação de infância

Contexto histórico mundial

Foi no início do século XVII que surgiram as primeiras preocupações com a

educação de infância. Essas preocupações foram resultados do reconhecimento e

valorização que elas passaram a ter no meio em que viviam.

As mudanças ocorreram nas atitudes das famílias e no quadro educacional.

Campanella (1568-1639), na sua obra “Cidade do sol”, criticou o ensino servil da

gramática e da lógica aristotélica e ressaltou a importância das crianças aprenderem as

ciências, costumes, historias pintadas nas paredes das cidades, “sem enfado, brincando”.

A partir dessa data outros pensadores interessaram-se pelo estudo desse facto

incansavelmente, como por exemplo: Campanella (1568-1639), na sua obra “Cidade do

sol”, Jean Jaques Rousseau (1712-1772), centralizou a questão da pequena infância na

educação, evidenciando a necessidade de não mais considerar a criança como um

homem pequeno, mas que ela vive num mundo próprio cabendo o adulto compreendê-

la. Realçou a necessidade de ver a infância como um período distinto, com suas

características próprias citadas na sua obra “Emílio”.

Ovide Decroly (1871-1932), Para qual preocupação maior era substituir o ensino

formalista baseado no estudo dos livros tradicionais, por uma educação voltada para os

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interesses e necessidades das crianças. Tendo apresentado dois programas, primeiro “A

criança e suas necessidades” e segundo “Acriança e o seu meio”.

Vários outros teóricos deram as suas contribuições, John Dewey (1859-1952),

Maria Montessori (1870-1952), Jean Piaget (1896-1980), Vygotsky (1896-1934) e

tantos outros.

A evolução da situação em Cabo Verde

Breve percurso histórico

Em relação a Cabo Verde, a preocupação com a infância, enquanto realidade que

merece uma atenção particular, é um facto muito recente.

Foi a partir da década de 70, quando muita s mulheres-mães começaram a

trabalhar, é que surgiram dificuldades em conciliar a vida profissional com o devido

cuidado aos filhos mais peque nos que ficavam em casa. Tornou-se evidente a

necessidade de um lugar ou de pessoas exclusivamente para cuidarem dessas crianças.

A tradicional solidariedade dos vizinhos que se apoiavam mutuamente, revelou-se

insuficiente. Com as constantes mudanças sociais, nasceram novas necessidades que

levaram ao aparecimento de “casas” que passaram a desempenhar esse papel e que

posteriormente, com melhores estruturas, passaram a ser designadas de “jardins-de-

infância”.

Com o decorrer do tempo, nesses jardins, as crianças começaram com algumas

tarefas e não só brincavam mas, também aprendiam a contar, as regras de uma boa

educação e conheciam algumas letras. Mas tudo era feito de forma espontânea e

tradicional.

Anos mais tarde, essa prática e essa vontade foram reconhecidos pelas autoridades,

que se consciencializaram sobre os efeitos benéficos de uma intervenção precoce nas

crianças e reconheceram, também, as falhas no cumprimento de um dos direitos da

criança fixados na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e na própria

Convenção dos Direitos da Criança (1989).

Nesse domínio, a Cruz vermelha de Cabo Verde foi uma instituição pioneira, tendo

iniciado os serviços de creche em 1949, na cidade da Praia. Nos finais dos anos 80 e,

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sobretudo, na década de 90, os jardins multiplicaram-se, com destaque para os serviços

do Instituto Cabo-verdiano de Solidariedade (ICS) que abriu serviços em quase todas as

ilhas, as Câmaras Municipais, algumas ONGs e pessoas a título individual. De facto,

nos últimos dez anos os privados têm sido os protagonistas na prestação desse serviço,

correspondendo assim ao aumento da demanda, o que reflecte não apenas a necessidade

mas a importância social adquirida, estando as pessoas cientes do investimento humano

e pedagógico que é a educação pré-escolar ou a simples frequência de um jardim-de-

infância.

O enquadramento legal do Pré-escolar

Foi na década de 90 que as autoridades cabo-verdianas aprovaram a lei de Base do

Sistema Educativo Cabo-verdiano, dando ao pré-escolar um carácter facultativo - Lei nº

103/90 de Dezembro, 1999, (artº 14). Assim, toda a criança com a idade compreendida

entre os zero e seis anos passou a ter a possibilidade de frequentar o Ensino Pré-escolar.

Em 1990, o Ministério da Educação reforçou essa medida ao editar um guia de

actividades curriculares (lei no 103|III|90) cuja finalidade é fornecer orientações aos

coordenadores/ monitoras desta área. Dada à importância da mesma no processo de

consolidação dessa área, apresentamos, a seguir, os principais tópicos abordados nesse

guia.

No referido documento o jardim-de-infância é considerado como “um

estabelecimento de educação que presta serviços orientados para o desenvolvimento e a

aprendizagem da criança dos 0 a 6 anos, proporcionando-lhe actividades educativas e

actividades complementares de apoio à família” visando os seguintes objectivo:

- Comportamentais (saudar, apresentar, perguntar, enumerar, agrupar, adquirir,

reagir, realizar, manifestar, reconhecer, preparar, explorar, ajudar, organizar,

promover…). Esses objectivos serão atingidos quando há envolvimento dos pais e

encarregados de educação, do educador e da sociedade em geral nas preocupações e

necessidade de cada criança;

20

- Organização de espaços e materiais educativos adequados, equipados e que vem

de encontro às características das crianças;

- Actividades curriculares respeitando às 3 (três) vertentes do desenvolvimento

pessoal, social, expressão, comunicação e conhecimento do mundo;

O guia propõe conjunto de actividades aos educadores a serem desenvolvidas de

modo que as crianças possam adquirir conhecimentos práticos, sem grandes esforços:

dramatizações, jogos didácticos, observação de gravuras, visionamento de filmes e

desenhos infantis, visitas de estudo, exploração do quotidiano dos alunos através de

conversas e outros assuntos.

Objectivos e princípios gerais do sistema educativo (Pré-escolar)

O sistema educativo Cabo-verdiano é regido pelas leis, normas que servem para

regulamentar o próprio sistema. Sendo assim o sub sistema Pré-escolar também é regido

por essas leis. Por isso, a lei define e clarifica alguns aspectos dessa Educação, quanto

aos objectivos e princípios gerais definindo como princípio que “A educação visa a

formação integral do indivíduo” (artigo 5).

Em relação à Educação pré-escolar, ao fazer a caracterização e definição (artº. 13),

a lei diz:

“A educação pré-escolar enquadra-se nos objectivos de protecção da infância e

consubstancia-se num conjunto de acções articuladas com a família visando, por um

lado o desenvolvimento da criança e, por outro, a sua preparação para o ingresso no

sistema escolar.”

No entanto, apesar de toda essa preocupação e clarificação do que deve ser a

educação nessa fase, a lei contém um detalhe contraditório quando indica a não-

obrigatoriedade dessa mesma educação, afirmando taxativamente que “A educação pré-

escolar é de frequência facultativa” e destina-se às crianças com idades compreendidas

entre os 3 anos e a idade de ingresso no ensino básico”.

De referir igualmente que o mesmo diploma (artº 14) traça com clareza alguns

aspectos orientadores para os principais intervenientes nessa matéria.

Assim, define os objectivos essenciais da educação pré-escolar, nomeadamente:

21

a) Apoiar o desenvolvimento equilibrado das potencialidades da criança;

b) Possibilidade à criança a observação e a compreensão do meio que a cerca;

c) Contribuir para a estabilidade e segurança afectiva da criança;

d) Facilitar o processo de socialização da criança;

e) Favorecer a revelação de características específicas da criança e garantir uma

eficiente orientação das suas capacidades.

Devemos lembrar que a lei a que nos referimos diz também quem deve organizar a

educação pré-escolar. Conforme o artigo 15:

1. A rede de educação pré-escolar será essencialmente da iniciativa das autarquias

locais e de instituições oficiais, bem como de entidades de direito privado constituídas

sob forma comercial ou cooperativa, cabendo ao Estado fomentar e apoiar tais

iniciativas, de acordo com as possibilidades existentes.

2. A educação pré-escolar faz-se em jardins-de-infância ou em instituições

análogas oficialmente reconhecidas.

3. O Estado definirá normas pedagógicas e técnicas a aplicar na educação pré-

escolar.

Com isso concluímos que, em Cabo Verde, a educação Pré-escolar possui um

enquadramento legal que lhe permite uma organização e funcionamento mais ajustado

com a importância que de facto possui. É claro que este, apesar de ser importante, é

apenas um dos elementos necessário na estruturação desse sub sistema educacional.

Pré-escolar: os dados de uma estrutura educativa em crescimento

A integração do ensino Pré-Escolar na Direcção Geral do Ensino Básico Integrado

é um indicador de uma mudança ao nível do Ministério da Educação.

Um outro elemento novo e que reflecte essa mudança geral da própria sociedade

quanto a isso, é o facto de desde de 2005 terem sido criados cursos de educadores de

infância no Instituto pedagógico (médio) e na Universidade de Cabo Verde (superior).

Além disso, ao longo dos anos, os responsáveis de muitas desses jardins têm promovido

muitas formações de curta duração para capacitar as monitoras.

22

A par disso, a direcção do ensino Pré-escolar informou sobre a edição pelo próprio

MEES ter editado um Guia de orientação para educadores de infância com inclusão de

educação para valores, atitudes e comportamentos.

Presentemente, em Cabo Verde existem 1.028 (mil e vinte e oito) profissionais de

PIE sendo 21 educadores, 246 monitoras. A nível do Concelho da Praia há maior

concentração, com 213 profissionais, sendo 7 educadores, 76 monitoras e 130

orientadores. Hoje, em todos os municípios de CaboVerde existem jardins-de-infância,

quer das Câmaras Municipais, quer dos privados.

Esse crescimento obrigou a uma melhor organização desta área, com destaque para

as novas estratégias como os encontros de planificação mensal que acontecem em todos

os concelhos, e que segundo a directora geral do pré-escolar, tem tido boa frequência

das monitoras que têm sabido tirar bom proveito desses momentos onde são partilhados

as várias experiencias.

Actualmente, o MEES já realiza encontros anuais a nível nacional, o que lhe

permitiu fazer uma avaliação do corpo docente para essa área de ensino. Assim, de

acordo com a mesma, estão identificados alguns pontos fortes, nomeadamente:

Todos os concelhos têm jardim-de-infância;

Gradativamente os jardins vão sendo remodelados e apetrechados com

equipamentos e material adequado;

Tem se apostado na formação dos profissionais de educação pré-escolar;

Melhoramento gradativo dos salários em alguns concelhos;

Aumento de coordenadores locais com formação específica em educação infantil

Mas existem também insuficiências ou pontos fracos, como:

Escassez de material didáctico nos jardins;

Grande número de pessoal sem formação;

23

Pouca participação dos pais;

Limitações financeiras;

Desmotivação das monitoras devido ao baixo salário;

Insuficiência no seguimento aos jardins;

Não definição de política clara para a pequena infância.

Com esses elementos, verificamos um crescimento das necessidades no sector da

educação de infância em CaboVerde, em simultâneo com as respostas, quer da

sociedade civil, quer das estruturas do Estado, através do Ministério de Educação.

Contudo, ainda são notórias as insuficiências sobretudo em termos de qualidade.

24

CAPÍTULO III

CARACTERIZAÇÃO GERAL DO ESPAÇO| BAIRRO e do JARDIM

3.1. O Bairro/ Comunidade de Pensamento

O bairro de Pensamento, esta localizado a norte da cidade da Praia, e fica

delimitado pelos bairros de Calaceira, S. Pedro e Achada Eugénio Lima. A maioria dos

seus habitantes é constituída por pessoas oriundas do interior da ilha de Santiago, com

nível económico muito fraco e de baixa escolaridade.

Segundo o Instituto Nacional das Estatísticas (INE, Censo), no ano 2000 essa

comunidade era habitada por 2.059 (duas mil e cinquenta e nove pessoas), sendo a

maioria crianças e jovens. Nesse conjunto, merece destaque o facto de nesse ano haver

1.052 (mil e cinquenta e duas) crianças a frequentar o EBI, número que, por si só,

indicada a necessidade que deverá existir em termos de prestação de serviços para esse

grupo etário, nomeadamente o pré-escolar.

Sendo um bairro recente e que possui uma localização das mais distantes do centro

da cidade, vive também algumas dificuldades decorrentes dessa sua situação,

nomeadamente a escassez de transportes públicos, a insuficiência de urbanização, com

fracas condições de habitabilidade para grande parte delas, sem água canalizada e

energia eléctrica, tudo isso como resultado da inexistência de uma urbanização.

25

Relativamente aos espaços públicos e de utilidade para a comunidade, existem

poucas, nomeadamente: uma escola do EBI, um jardim infantil, um centro de saúde, um

lar de idosos, dois chafarizes, uma capela e um campo de futebol.

Quadro 1. Perfil dos professores do E.B.I Pensamento (2009)

Nível

escolar

Tempo de

serviço

Formação

pedagógica

Outras formações

10º Ano 30 Anos Instituto

Pedagógico

Educação para cidadania

HIV- Sida

12º Ano 14 Anos Instituto

Pedagógico

Educação para cidadania

12º Ano 6 Anos. Instituto

Pedagógico

Educação para cidadania

Necessidades educativas especiais

Proscrever

De assinalar que a comunidade, apesar das suas limitações, vai providenciando e

superando as suas necessidades, criando outros serviços, designadamente algumas

mercearias e bares, locais de uso da internet, de telefone publico, salão de cabeleireiro,

etc.

Em termos sociais assinala-se uma certa dinâmica da comunidade católica local,

particularmente os jovens escuteiros, que tem uma presença significativa nalgumas

áreas, apoiando a escola e outras actividades.

Contudo, existem alguns problemas com a população juvenil, como a

delinquência, questão que actualmente afecta alguns bairros da capital cabo-verdiana.

3.2. O Jardim Nova Esperança

O jardim “Nova Esperança” está localizado no bairro Pensamento, e foi criado

em 1998, por iniciativa de um grupo de moradores pertencentes a Associação para o

Desenvolvimento do Bairro de Pensamento.

A sua estrutura física reúne as condições mínimas de funcionamento para um

espaço educativo, com boas condições higiénicas e tendo três salas ventiladas,

organizadas para corresponder às actividades ali desenvolvidas, embora nota-se a falta

de alguma organização em termos de “cantinhos”.

26

Os equipamentos e materiais lúdico didáctico existentes são insuficientes para o número

de crianças existentes em cada sala.

O jardim é composto por uma secretaria, uma cozinha, uma despensa, três salas de

aulas e uma casa de banho com uma divisória para sexos diferentes. O horário de

funcionamento abarca um período único, das oito as quinze horas, mas algumas crianças

permanecem ate as doze horas. Anote-se que esse funcionamento não está conforme as

normas estabelecidas pelo Ministério da Educação.

3.3. Recursos humanos

O funcionamento é assegurado por um total de sete funcionários:

- Um presidente, que também preside a associação, um director e um subdirector que,

igualmente, fazem parte desta mesma associação, uma cozinheira e três monitoras,

sendo que duas delas sem a formação especifica para esse trabalho, mas com outras

capacitações (uma com conhecimentos na luta contra o sida, contra a pobreza, francês

turístico e exclusão social e uma terceira com formação na área da educação, saúde,

inglês, informática, administração de sistema informática e que também estuda primeiro

ano de enfermagem).

De referir que o jardim não conta com nenhum apoio a não ser a mensalidade

dos pais, no montante de 500$00 (quinhentos escudos) por criança, mais uma cota de

cento e vinte escudos, destinada a uma refeição quente diária como ajuda para o lanche

que o ICASE oferece.

As monitoras do jardim “Nova Esperança”não têm formação adequada para

trabalharem nesta área, particularmente a parte pedagógica que é fundamental. A nível

da escolaridade, apenas uma delas tem o liceu completo. Complementarmente, têm

algumas formações em aspectos sociais.

27

Quadro 2. Perfil das monitoras do jardim “Nova Esperança”Pensamento.

Idade Nível de

escolaridade

Tempo de

serviço

Formação

pedagógica

Outras Formações

capacitações

24 7 2 Anos Não Não

38

12

11 Anos

Sim

Aleitamento materno exclusivo;

Planificação projecto HIV;

Administração e gestão;

Informática;

Monitora do Jardim;

32

9

5 Anos

Não

Luta contra pobreza

Exclusão social

Francês turístico

3.4. Os utentes: Crianças, pais e encarregados de educação.

No total, o Jardim é frequentado por 73 crianças, sendo 29 de quatro anos, 36 de

cinco anos e 8 bebes, oriundas de famílias mais desfavorecidas da zona de Calaceira e

Pensamento.

A faixa etária dessas crianças está compreendida entre doze (12) meses e os seis (6)

anos, com maior predominância de crianças com cinco (5) anos de idade.

Os pais e encarregados de educação dessas crianças estão na faixa etária dos vinte e

cinco (25) aos quarenta e cinco (45) anos de idade, tendo habilitações literárias e

profissões muito variáveis, desde formação média a vendedeiras. Muitos trabalham na

própria comunidade.

A participação dos pais na vida do jardim pode ser considerada muito fraca, tendo

em conta que têm pouca presença nas actividades e reuniões promovidas pelo jardim.

3.5. Politica e gestão do jardim

Sendo propriedade da Associação de Apoio ao Desenvolvimento Comunitário de

Pensamento (ADCP), instituição que trabalha com o intuito de ajudar as crianças,

jovens e velhos menos favorecidos no seu desenvolvimento educacional, integral,

seguem uma política de gestão social. Para cada criança paga-se uma mensalidade

28

simbólica de quinhentos escudos (500$00) com excepção dos bebés que pagam 900$00

escudos visto que permanecem até à hora do encerramento, o que exige mais trabalho.

Quinzenalmente, o presidente da ADCP reúne-se com as monitoras para análise dos

aspectos de gestão (frequência das crianças, finanças, desempenho das monitoras,

participação dos pais, etc.).

As quatro (4) funcionárias que trabalham no jardim, são pagos com a receita

proveniente do pagamento das mensalidades das crianças, condição que não garante

uma regularidade nesse pagamento e que pode interferir com o normal funcionamento

dos serviços.

29

CAPÍTULO IV – ANÁLISE DOS DADOS RECOLHIDOS

Os valores na visão dos agentes educativos: monitores, coordenadores e

professores

Para a realização deste trabalho optamos pela pesquisa qualitativa, através da

análise de estude de caso.

Os dados foram recolhidos através de observações directas, realizadas no jardim

“Nova Esperança” da localidade de Pensamento e através de entrevista por questionário,

às monitoras, coordenadoras e professores do primeiro ano de escolaridade da escola do

EBI local.

Valores: Noção e conhecimento

Ao questionarmos as monitoras sobre o significado de” valores”, notamos que

não têm uma noção clara do conceito, limitando-se a afirmar tratar-se de um “ bem

precioso”.

A resposta dada pelas coordenadoras contém mais elementos, embora com

definição pouco clara. Verificam que existe algum conhecimento do significado;

Assim, uma definiu valores como:

“ Todo bem que devem respeitar, cumprir, preservar para o bom funcionamento da

sociedade ”.

30

E na outra resposta:

“ Pré-requisitos que nos permite passar a sociedade bons hábitos, costumes, boas

condutas para uma boa cidadania”.

Nestas duas respostas encontramos expressões que apontam para importância que as

entrevistadas atribuem aos valores, particularmente como algo fundamental da própria

sociedade. O que podemos realçar é que as coordenadoras têm uma melhor formação a

nível pedagógico e por isso tem mais informação sobre o assunto, embora não tenham

apresentado uma ideia consistente sobre o mesmo.

Analisando a percepção dessas monitoras quanto aos “valores”, verificamos que

todas elas são de opinião que actualmente, os valores não são preservados. Porém as

justificações apresentadas contém ideias soltas, sem muita objectividade. O que se nota

nessas respostas é a opinião de que a sociedade está em mudança e que, por isso, os

valores também mudaram. Vejamos as três opiniões:

A- “Tudo na vida mudou e os valores também”

B- “ Porque agora a era é outra (tempo) ”

C- “ Porque tudo se tornou mais claro, tendo em conta que vêem e ouvem nas

pessoas e na televisão e copiam-na também.”

As respostas dessas monitoras reflectem uma opinião um pouco generalizada de que

os valores “perderam-se” por causa das mudanças sociais ocorridas em Cabo Verde.

Contudo, fica-nos difícil analisar a coerência destas opiniões, considerando que não

apresentaram com clareza o que para elas significa “valores.”

Em relação ao ensino dos valores, todas consideraram ser algo, igualmente

importante relativamente aos outros aspectos (atitudes e comportamentos).

A opinião dos professores do EBI.

Ao questionarmos também os professores do EBI sobre o mesmo tema

quisermos recolher elementos que nos permitissem conhecer a opinião de todos os

31

agentes educativos (formais) e fazer uma análise mais objectiva que nos desse um

quadro de opinião geral do corpo docente que trabalha nessa comunidade.

Também neste pequeno grupo notamos que as opiniões sobre a questão dos

valores reflectem pouco conhecimento ou clareza, ou uma certa dificuldade em emitir a

sua opinião, como é possível observar no quadro seguinte:

Quadro 3. Opinião dos professores do EBI sobre valores

Professores

Opinião

O que são Valores?

Hoje estão

preservados?

Porque?

1.

“Conjunto de

comportamentos”

Sim

“Se dentro duma sociedade

não tem valores a sociedade

degrada-se”

2. “É um conjunto de

maneiras que uma pessoa

mostra”

Sim

“Porque ainda em alguns

lugares nos encontramos

alguns valores preservados”

“É tudo que nós

preservamos e valorizamos”

Não

“Existem valores que

antigamente eram preservados

e actualmente não. Ex:

Virgindade

Trabalhar os valores no jardim “Nova Esperança”.

Os principais intervenientes - As monitoras.

Ao tentarmos saber como são abordados os valores nesse jardim, procuramos entender

como é feito esse trabalho, que metodologia utilizam que materiais didácticos e que

dificuldades são vividas pelas monitoras. O quadro seguinte (4) ilustra a situação.

32

Quadro 4. Como se trabalha os valores no jardim “Nova Esperança”?

Monitoras

Opinião

Os Valores são

trabalhados?

Como?

Com que

Frequência?

Como avalia o

trabalho?

Sente

dificuldades em

leccionar esta

área?

A.

Sim

“Através da

planificação

escolhemos os

temas”

De vez em

quando

(5) Mto bom

Não

B. Sim “Através da

oralidade”

“Em todos os

momentos”

(5) Mto Bom

Não

C. Sim “Nos contos

infantis e

oralmente”

“De vez em

quando”

(4) Bom Não

Todas as monitoras afirmaram que os valores são temas abordados no jardim.

Porém, quando questionadas acerca de frequência, uma responde é feito sempre e duas

disseram que só “de vez em quando”, indicando que a temática não teria a frequência

desejada.

Notamos ainda que, embora na sua avaliação são de opinai que essa abordagem

vai de “bom” a “muito bom”, utilizam poucos materiais pedagógicos nesse trabalho,

limitando-se a oralidades. Este aspecto contradiz uma outra reposta dada, na qual

afirmam que não sentem dificuldades em trabalhar essa temática, o que não se verifica,

pois, se assim fosse apresentariam mais variedade na metodologia que utilizam.

Ou seja, as monitoras não admitem o défice no trabalho sobre os valores e por

isso, fazem uma auto-avaliação muito elevada do seu trabalho.

Por outro lado, ao dizerem que não recebem apoio para trabalharem esta área,

revelam duas coisas. De um lado, o facto da coordenação na Praia não lhes dar o apoio

de que necessitam, de outro também pode significar que não solicitaram esse apoio ou

se o fizerem não terão insistido nessa necessidade.

O que podemos retirar dessa situação é a insuficiência no acompanhamento e

supervisão a esse jardim por parte por parte da coordenação ao nível da Praia.

33

O facto de pertencer a um bairro que está distante do centro e ter uma gestão

privada também pode ter contribuído para a situação registada.

Se atendermos ao facto de essas monitoras não terem uma formação adequada

para puderem desempenhar melhor a função de educadora de infância, torna-se evidente

que essas áreas específicas como os valores não têm abordagem pedagógica própria,

mesmo que seja assunto tratado com as crianças.

Atitudes e comportamentos

Ao analisarmos as respostas que as monitoras deram sobre “atitudes” e

“comportamentos”, vimos que elas revelam alguma confusão de ideias e a mistura de

uma coisa com outra. Em quase todas as respostas falaram de atitudes como se do

comportamento se tratasse, e vice-versa.

O quadro a seguir exemplifica todas as opiniões expressas e permite que

visualizemos em simultâneo as três opiniões, sendo notória essa mistura de ideias.

Quadro nº 5. Opinião das monitoras sobre atitudes.

Monitoras Opinião

O que são atitudes?

A. É a forma de estar e comportamentar

B. É a maneira de falar, de vestir e comportar

C. É a maneira de falar, de vestir e comportar

Tomamos como referencia o conceito de atitudes como “formas organizadas e coerentes

de pensar, sentir e de reagir de um indivíduo nas relações com o outro, com os

acontecimentos do quotidiano e com o meio físico.” (LIMA CANUTO, (Coord.)

2009:10).

Nas respostas, todas admitem que é algo que é trabalhado no jardim mas não

conseguem defini-la com clareza. Dessa forma, perde um pouco de significado as

34

respostas às questões seguintes relativos ao tratamento ou não que é dado a este aspecto

e a pontuação (auto-avaliação) a esse trabalho.

Todas consideram que a abordagem não é feita com muita frequência, ou seja

esse trabalho e feito “de vez em quando”. Essa concordância das monitoras demonstra

um reconhecimento de que não se trata a questão sistematicamente. Implicitamente

deixam entender que não há regularidade na planificação do tema. As razões não são

evidentes.

Todavia, neste ponto, evidenciam uma contradição quando atribuem,

consensualmente, a classificação de “bom” ao ensino/trabalho sobre as atitudes no

jardim “Nova Esperança”.

De novo, neste pormenor, as monitoras não terão conseguido fazer uma

avaliação equidistante da prática que fazem no jardim. Porque tal como tinham dito em

relação aos valores, também em relação as “atitudes” afirmaram que o trabalho é feito

através da oralidade e de contos infantis, o que reflecte limitações pedagógicos e de

materiais didácticos. No entanto, na sua opinião, não sentem nenhuma dificuldade em

leccionar esta área.

Os comportamentos

Neste particular as monitoras apresentam algumas ideias muito básicas sobre a

temática.

E ao responder à questão sobre o tratamento que é dado ou não ao assunto no

seu trabalho de dia-a-dia, duas responderam afirmativamente e uma dela reconhece, de

forma franca, que o assunto não é trabalhado no jardim.

Todas elas reconhecem o papel da família e dos pais na educação para melhorar

o comportamento das crianças e afirmam que, enquanto educadoras, é esta a intervenção

que lhes falta: um trabalho com os pais destas crianças. Ou seja, elas têm a consciência

de que o seu trabalho é incompleto se não abrangerem as famílias dos seus educandos.

Por outro lado nenhuma delas menciona a formação/capacitação como um factor

que pode melhorar o seu desempenho.

35

O olhar dos professores do EBI

Os três professores do EBI entrevistados falaram das atitudes e dos

comportamentos dos seus alunos, que na sua maioria foram utentes do jardim “Nova

Esperança”.

Quando questionados acerca da diferença de atitudes e comportamentos que

existem entre os alunos que passaram pelo jardim “Nova Esperança” e os outros que

não o frequentaram, esses professores são unânimes em reconhecer que notaram-se as

diferenças.

Desde logo, apontam o facto de se notar diferenças “na forma de ser,

comportarem”; ou ainda, como afirmou um outro professor “dá para notar através de

comportamentos em relação aos professores dá para ver que trazem algumas atitudes

positivas”.

Sobre as atitudes dos alunos que frequentam o jardim “Nova Esperança”, os três

professores disseram que esses alunos demonstram que tiveram alguns trabalhos feitos

nesta matéria porque:

1-“ Na forma de vestir demonstram isso”

2- “Dá para notar através de comportamentos em relação a professores”

3- “ Nota-se na forma de se comportarem antes de lhes ensinarem qualquer coisa”

Portanto, da opinião do corpo docente do EBI local, podemos deduzir que esses

alunos que passaram por este jardim apresentam alguma atitude diferente, pela positiva,

perceptível aos olhos dos seus professores.

Num outro momento, esses mesmos professores foram mais convictos quando,

em relação ao comportamento, afirmaram:

- “Comportam muito bem”

- “Comportam de forma diferente”

36

- “Alguns desses alunos têm comportamentos excelentes”.

Analisando as respostas dadas por esses professores, considerando que eles são

os “observadores privilegiados” dessas crianças, porque são os primeiros a estar em

contacto de forma regular após a fase do jardim, podemos concluir que, da percepção

deles, existem algumas diferenças de atitudes e comportamentos entre os alunos que

frequentaram o jardim “ Nova Esperança” e aquelas que não o frequentaram. Ou seja,

de alguma forma, os valores, atitudes e comportamentos são trabalhadas pelas

monitoras, e tem algum reflexo na integração escolar deles.

37

Recomendaçoes

As Monitoras devem receber mais apoio e formacoes por parte do Ministério

da Educação no que tange ao tema em estudo.

O Ministério da Educação deve apoiar os jardins na melhoria das suas

condições e exigir que todos cumpram com as suas obrigações.

38

Conclusão

Ao realizar este trabalho sobre a educação de infância, focalizando na “educação para

valores, atitudes e comportamentos”, podemos cruzar algumas informações, analisar

outros dados que nos permitem tecer alguns comentários a título de considerações

finais, sendo uns de carácter geral, sobre a educação de infância em Cabo Verde e

outros, mais específicos, sobre o trabalho feito no jardim “Nova Esperança”, no bairro

de Pensamento “ Praia”.

A nível de Cabo Verde assinala-se o facto de que em todos os concelhos haver

jardim infantis a funcionarem e 1.028 profissionais do pré-escolar (os quais 21 são

educadores e 246 monitoras) o que reflecte a importância desse nível de educação e

reconhecimento, quer pelo Estado, quer pela sociedade.

A cidade da Praia, por ser a capital, concentra um grande número de

profissionais, reflexo do aumento da procura desse serviço educativo pelas famílias.

O jardim “ Nova Esperança”, em Pensamento (Praia), com onze anos de

experiencia realiza um trabalho de grande utilidade para a sua comunidade. Porém,

ainda existem muitas deficiências a superar.

Quanto à Educação para valores, atitudes e comportamentos realizados nesse

jardim, ela ainda não acontece de forma regular e consistente. Ou seja, não existe um

programa, no verdadeiro sendo do termo.

39

As suas monitoras reconhecem a importância dessa abordagem para formação

integral do indivíduo, mas possuem algumas limitações ao nível pedagógico.

A educação para valores, atitudes e comportamento exige uma abordagem

diferente e especifica que requer competências e materiais didácticos diversos. Essa

exigência ainda não é atendida pelo jardim Nova Esperança que, sendo uma

organização privada, comunitária, tem algumas dificuldades financeiras, e também

défices na gestão.

As monitoras desse jardim carecem de uma formação adequada e devem ter

capacitação permanente, particularmente neste domínio da educação para valores,

atitudes e comportamentos, onde são notórias as maiores dificuldades.

Apesar disso tudo, assinala-se um esforço desse jardim na educação das crianças

e que de alguma forma é reconhecido pelos professores do EBI dessa localidade que

testemunham algumas diferenças, pela positiva, no comportamento dos alunos que

passaram pelas suas mãos.

Ou seja, da análise desse caso, temos elementos suficientes que nos mostram que

a educação para valores, atitudes e comportamentos contribuem para algum sucesso

escolar das crianças e para a melhoria de comportamentos como reconheceram os

professores.

A falta de preparação adequada das monitoras e a carência de materiais

didácticos próprios, condicionam os resultados dos trabalhos dessas monitoras,

limitando a eficácia do mesmo. A par disso, a inadequação das estruturas do jardim, os

fracos recursos humanos e financeiros, e também deficiente conhecimento dos

instrumentos de gestão por parte dos responsáveis do jardim, contribuem para

resultados menos favoráveis aos utentes.

Trabalhar quase de costas viradas para os pais foi identificado como uma das

falhas de todo o trabalho feito no jardim e um desafio a vencer.

Da parte do Ministério da Educação e Ensino Superior, deve-se apostar na

formação de monitoras e educadoras de infância, melhorando o seu nível de

intervenção, a fim de melhorar também a qualidade do seu trabalho, juntamente com

uma melhoria na coordenação, seguimento e avaliação dos trabalhos.

40

Em relação a hipótese (a educação para os valores, atitudes e comportamentos nos

jardins de infância como factor de sucesso escolar) foi verificada parcialmente, uma vez

que dos dados obtidos registamos os alunos que passaram por esta estrutura educativa

demonstraram alguma diferença na opinião dos professores do EBI.

Acreditamos que num futuro muito próximo, a maioria das monitoras estarão

capacitados com uma formação adequada para poderem ministrar aos alunos do pré-

escolar, as aulas de educação para valores, atitudes e comportamentos e não só, para que

possam ser cidadãos formados integralmente, o que pode potenciar favoravelmente a

sua integração social.

Em vistas destas considerações, concluímos que a educação para valores

atitudes e comportamentos é um tema muito pertinente que deve ser trabalhado desde

base.

41

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