Educação para valores, atitudes e comportamentos 4... · a educação de que falamos aqui e a...
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho de pesquisa intitula-se “Educação para valores, atitudes e
comportamentos, estudo de caso no Jardim Nova Esperança” e foi realizado no âmbito
da investigação científica concernente à conclusão da etapa de Licenciatura em
Educação de Infância e Praxis Educativa na Universidade de Cabo Verde.
A pesquisa foi desenvolvida no jardim Nova Esperança, situada na localidade de
Pensamento, concelho da Praia, uma instituição privada e teve como principal objectivo
analisar a possibilidade de implementar a educação para valores, atitudes e
comportamentos positivos nos jardins-de-infância
A escolha desse tema teve como motivação inicial a minha experiência de trabalho,
durante três anos, como professora do EBI no Bairro de Pensamento onde constatei que
algumas crianças desse bairro apresentavam um comportamento destacadamente fora do
padrão considerado “normal”.
Daí surgiu a ideia de pesquisar sobre essa problemática e tentar compreender como
os valores, atitudes e comportamento estão sendo trabalhados nos jardins dominância,
visto que desde tempos remotos que nas mais variadas culturas e regiões do mundo, a
educação aparece como o alicerce das sociedades.
No decorrer dos tempos e com a evolução da humanidade, o processo de
desenvolvimento trouxe consigo mudanças sociais, económicas e culturais. Desse ponto
de vista, o século XX foi particularmente marcante. Nesse processo, alguns valores
foram se alterando, e até transformados, a ponto de perderem a sua força como
referência simbólica de capital importância na estruturação de uma sociedade. Esse
facto afectou a sociedade no seu todo, e de forma particular reflectiu-se na família, na
escola, nas organizações políticas e noutras instituições que compõem uma sociedade.
De diversas formas, sociedades europeias, asiáticas, africanas e americanas, apresentam
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os sintomas dessas “crises de valores”, cujos sinais mais visíveis manifestam-se no seio
das crianças, dos adolescentes e dos jovens, os grupos sociais mais vulneráveis a esse
problema.
Nesse processo, a escola, sobretudo o jardim, enquanto um dos mais importantes
agentes de socialização, continua a ter um dos maiores desafios que é a educação/
formação do ser humano, particularmente das novas gerações, mas enfrentando novas
forças “contra-corrente” que a obriga a repensar as suas estratégias, tendo presente que a
sua finalidade última é contribuir para uma sociedade mais justa, com maiores
oportunidades, com maior equidade, sobretudo nas classes menos favorecidas.
Em suma, o presente trabalho foi muito pertinente tendo em conta que a educação
para valores, atitudes e comportamentos é um tema de extrema importância na chamada
primeira infância, sobretudo quando se está ciente de que se trata, na perspectiva da
pedagogia, de construir a base da personalidade para a formação do indivíduo, visto
que, da infância à idade adulta, as pessoas devem ser educadas, tendo em conta os três
pilares da Educação: “saber ser, saber estar e saber fazer”. Se o pessoal docente e a
comunidade educativa não colocar esse tema em prática nada disso terá valia, porque
hoje, sem a dimensão cidadania, as pessoas continuarão a ter uma formação incompleta.
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Justificação
Cabo Verde enquanto país emergente, com apenas três décadas de independência,
possui uma sociedade vulnerável, que muito recentemente adoptou a democracia como
o modelo de organização social e política – uma tendência mundial - que influenciou
bastante a dinâmica da sua sociedade.
Nesse processo, a educação é daquelas áreas que mais se ressentiu com as
mudanças ocorridas. Foram traçadas novas metas e, em consequência, novos
instrumentos foram adoptados de acordo com as exigências da própria sociedade que
tende a reclamar da escola maiores responsabilidades no cumprimento do seu papel. É
notório que se vive tempos de mudanças radicais, a todos os níveis. Isso gera problemas
e desafios.
Hoje vivemos num mundo globalizado, o que acaba por originar não só aspectos
positivos como também a degradação de alguns valores e atitudes que antes eram
considerados importantes. Apesar disso, entre nós a escola e o “sucesso escolar”,
continuam sendo muito valorizados pela sociedade que vê a educação como “a chave
que abre todas as portas” e por isso lhe dá uma atenção particular, ciente das constantes
transformações de valores que tem vindo a verificar-se a nível mundial.
Efectivamente, no mundo actual, a sociedade vive marcada pelas violências e não há
segurança plena para uma boa convivência ou lazer, devido à fragilização de certos
valores, tendo na origem alguns factores, nomeadamente:
Influência das novas tecnologias de comunicação, como a Internet, a televisão, cujo
acesso é cada vez mais massificado, reduzindo o controlo na selecção e absorção de
conteúdos, principalmente pelas crianças e adolescentes;
A dificuldade por parte dos pais/encarregados de educação em ajudar os filhos a
distinguirem valores positivos dos negativos, tendo em conta que a família é um dos
alicerces mais importantes para a formação de uma boa conduta;
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O não cumprimento dos valores, atitudes e comportamentos por parte dos adultos
que revelam as incoerências e contradições das sociedades, com reflexos directos na
educação das novas gerações que facilmente ficam marcadas, pois nesse campo
“uma acção vale mais do que mil palavras”;
O papel do professor que, nos últimos tempos, teve a sua capacidade de influência
consideravelmente diminuída junto dos alunos;
A adopção (por substituição) de “novos valores” através dos novos meios de
comunicação, em detrimentos dos valores culturais, locais e nacionais. No caso cabo-
verdiano, nota-se que, entre os mais jovens, existe uma absorção rápida de “novos
valores” que devido à facilidade de manifestação são facilmente adoptados, e
A fraca consciência de certos valores, como os símbolos nacionais (Hino, bandeira) e
os significados que comportam em termos de agregação e reforço do sentimento de
pertença e comprometimento do indivíduo para com a sua comunidade/ país.
Por tudo isso, entendemos que o tema proposto é oportuno, tendo em conta a
realidade cabo-verdiana e, de forma particular, o bairro de Pensamento onde muitos
adolescentes e crianças apresentam comportamentos fora do padrão desejado, inclusive
no próprio estabelecimento do Ensino Básico Integrado local.
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De um modo geral, o propósito desse trabalho é responder a seguinte questão:
Em que medida os valores, atitudes e comportamentos podem influenciar o sucesso
escolar no jardim-de-infância “Nova Esperança”?
-Especificamente, o trabalho pretende:
Identificar valores, atitudes e comportamentos que condicionam o sucesso escolar no
Jardim Nova Esperança da localidade de Pensamento,
Conhecer e dar a conhecer as causas que condicionam o sucesso escolar no Jardim
Nova Esperança,
Propor medidas conducentes a promoção de valores, atitudes e comportamentos
positivos que contribuem para o sucesso do Jardim “Nova Esperança”.
Hipótese
Parte-se da hipótese de que o sucesso escolar nos jardins-de-infância depende em
grande medida dos valores, atitudes e comportamentos apreendidos nesses meios.
METODOLOGIA
Em função das exigências do trabalho e dos objectivos a alcançar, este foi
desenvolvido seguindo a metodologia de investigação do tipo qualitativo, recorrendo-se
preferencialmente à análise de dados, que foram comparados e sistematizados de forma
a explicar as interrogações levantadas inicialmente.
A consulta de bibliografia especializada, documentos e pesquisa na internet foi de
essencial importância e permitiu uma familiarização com conceitos, uma melhor
compreensão de certos aspectos da problemática em estudo.
Ainda de referir que foram feitas pesquisas de dados no EBI da localidade, no
próprio jardim “Nova Esperança”, particularmente os referentes às programações anuais
(planificação), verificação dos temas abordados e metodologias utilizadas, além dos
materiais pedagógicos.
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Por fim, fizemos observação in loco, assistindo algumas sessões ministradas pelas
monitoras no próprio jardim o que possibilitou-nos registar importantes informações.
De realçar ainda que o facto de ter trabalhado durante três anos no EBI local,
permitiu um conhecimento empírico da realidade desta comunidade.
Tendo em conta os objectivos traçados, optamos pela realização de entrevistas aos
principais actores que intervêm nesse processo educativo, através de aplicação de vários
questionários, elaborados a partir da identificação das necessidades específicas em
termos de informação.
Assim, foram efectuadas entrevistas às monitoras do jardim “Nova Esperança”, e
às coordenadoras do pré-escolar, bem como aos professores do primeiro ano de
escolaridade do Ensino Básico Integrado (EBI) de Pensamento, além da directora geral
do EBI e pré-escolar. No total realizamos nove (9) entrevistas.
As entrevistas foram estruturadas de forma a permitir a recolha de informações
específicas de cada um dos entrevistados. Todavia, todos eles continham algumas
questões comuns sobre a temática em análise (cfr. anexo).
Em simultâneo, procedemos à recolha de dados de carácter mais quantitativo,
relativos à situação do pré-escolar em Cabo Verde, e que nos permitiu fazer uma
caracterização mais objectiva da educação a esse nível.
Nesse sentido recolhemos os dados relativos, não só a situação actual do pré-
escolar, mas também procuramos obter informações que nos permitissem falar, mesmo
que resumidamente, da política do Ministério da Educação para esse nível de ensino.
Ao optarmos por entrevistar os professores do primeiro ano do EBI da localidade
de Pensamento, tentamos obter informações que possibilitassem, na sua perspectiva,
uma avaliação dessas crianças quanto aos valores, atitudes e comportamentos. Pois, no
contexto em análise, eles são aqueles observadores que estariam melhor colocados para
nos ajudarem a fazer uma leitura mais aproximada da realidade.
Aqui importa referir que, segundo alguns autores, o uso da entrevista é
recomendável para algumas situações, nomeadamente “nos casos em que o investigador
tem questões relevantes, cuja resposta não encontra na documentação disponível”
(CARMO, H. e FERREIRA M.M. 1998:128).
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Estrutura do trabalho
Este trabalho encontra-se estruturado em quatro (4) capítulos, precedidos de uma
introdução, no qual se faz a justificação e a metodologia.
O capítulo I contém a exposição dos principais conceitos relacionados com o tema
ou seja, corresponde à parte teórica.
O capítulo II é inteiramente dedicado ao enquadramento histórico de Educação de
infância, a nível histórico, mundial e em Cabo Verde.
No capítulo III fazemos a caracterização social do bairro de Pensamento do jardim
“Nova Esperança”.
No capítulo IV apresentamos a análise de todo os dados obtidos a partir das
entrevistas aplicadas e das observações directas, focalizando os aspectos mais relevantes
da pesquisa.
Finalmente, elaboramos uma conclusão, que sintetiza a reflexão feita durante o
desenvolvimento deste trabalho, incluindo algumas recomendações.
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CAPITULO I
Fundamentação teórica
1-Educação Hoje: Novos conceitos, novos desafios.
Quando falamos da educação para valores, atitudes e comportamentos, estamos a
falar da formação do indivíduo enquanto um ser social que por causa dessa sua
condição, deve seguir determinados padrões de comportamentos que lhe fazem
pertencer a uma determinada comunidade.
As comunidades humanas se formam e funcionam tendo por base referencias
culturais e sociais comuns que lhes permitem existirem como um conjunto mais ou
menos harmónico. Ou seja, uma comunidade humana tem necessidade de partilhar entre
os seus membros aspectos culturais, económicos, políticos e religiosos que lhe dão
sentido como grupo social (Maffesoli 1984: 29)
Nas sociedades modernas esse processo de consolidar esses valores e
comportamentos e feito pelos chamados agentes de socialização que são instituições
fundamentais para o funcionamento de uma sociedade, designadamente a família, a
escola, as igrejas, as empresas, etc.
Entre esses agentes, a escola desempenha um papel crucial. E através dela que os
indivíduos são preparados para viver em sociedade.
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Nesse ponto iremos clarificar os conceitos de Educação, valores, atitudes e
comportamentos, a partir de autores diversos que analisaram a importância de cada um.
Contudo, antes faremos uma breve abordagem sobre escola e sua missão, hoje, pois
a educação de que falamos aqui e a educação escolar, mas na perspectiva de uma “nova
educação”e, de uma educação que esteja virada para os valores, atitudes e
comportamentos, particularmente aquela que acontece na primeira infância. Isso requer
mudanças no modelo mais tradicional, classico, que prioriza um ensino mais técnico,
mais para aquisição de conhecimentos do que a “formação integral do individuo”.
Nesse processo os professores são peça chave porque “A mudança em educação
depende daquilo que os professores pensarem dela e dela fizerem e da maneira como
eles a conseguirem construir activamente” (THULLER, Mónica. 1994).
Sobre este assunto, há décadas que alguns estudiosos tinham concluído que a
educação tal qual era feita estava ultrapassada e que “As escolas realmente precisam de
mudanças drásticas em todos os níveis. Mas o que nos precisamos não e de uma” não-
escola”, e sim de uma instituição de ensino que funcione e que seja administrada
adequadamente.” (DRUCKER, 1975: 255.). Isto porque as sociedades tem passado por
mudanças e o mundo vive uma evolução acelerada. Contudo, concluem outros, essa
mudança não depende apenas de uma instituição e não e automática. E no campo de
educação “só e possível uma transformação profunda e radical da educação quando
também a sociedade tenha se transformado radicalmente.” (FREIRE, Paulo, e ILLICH,
I. 1975: 30).
De facto, como resultado de varias pesquisas, em diversos países, chegou-se a
conclusão de que as escolas tinham de mudar e que a sua missão vocacao deveria incluir
novos desafios.
Nessa linha, as novas teorias defendem que a escola deve ser “Um lugar, um
ambiente, em que as crianças se reúnem entre si e com educadores profissionais para
tomarem consciência mais profunda de suas aspirações e valores mais íntimos e mais
legítimos, e tomarem decisões mais esclarecidas sobre sua vida, a partir de
aprendizagens significativas. (SCHMITZ, E.F. 1982: 28.).
É nesse contexto que novas ideias sobre a educação foram desenvolvidas.
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1.1-Educação
Hoje, os conceitos de educação estão mais aprofundado e mais alargado. Tornou-se
num conceito central em diversos campos: na economia, na politica, no domínio social,
ou cultural.
Vários estudos realizados, em vários domínios, trouxeram novos conhecimentos da
realidade social. Em consequência, especialistas e educadores realizaram reflexões e
debates para clarificar e consolidar as novas ideias.
Segundo Mayor (1998, p.46), “ A educação é a chave do desenvolvimento
sustentável, auto- suficiente, uma educação fornecida a todos os membros da sociedade,
segundo modalidades de ensino e com a ajuda de tecnologias, de tal maneira que cada
um se beneficie de chances reais de se instruir ao longo da vida. Devemos estar
preparados, em todos os países, para remodelar o ensino, de forma a promover atitudes
e comportamentos que sejam portadores de uma cultura da sustentabilidade”.
Essa nova educação exige mudanças daqueles que mais directamente lidam com a
questão - os professores. São eles os agentes fundamentais desse processo de mudanças
e consolidação dessa nova educação que a sociedade moderna reclama.
O “ novo professor” tem de estar mais consciente de sua missão, por isso deve ser
alguém que “solicita, convida e estimula os seus alunos”, alguém que “tem entusiasmo,
que e optimista, que acredita nas possibilidades do aluno”, para dessa forma poder
“exercer uma influencia benéfica na classe como um todo e em cada um
individualmente, pois sua atitude e estimulante e provocadora de comportamentos
ajustados” (MARQUES, J. C. 1997: 61).
1.1.1 -Educação e professores
Em qualquer sociedade, o professor possui um papel inquestionável no processo
educativo e na formação do indivíduo. Porém, quase sempre, ele segue modelos do seu
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tempo, indo na linha do sistema em que esta inserido. Muitas vezes, segue-os de forma
pouco crítica, sem nada questionar.
Paulo Freire veio chamar a atençao para este atitude, fazendo a destinçao entre duas
concepções bàsicas sobre a educação: a educação bancaria e a educação libertadora.
Segundo afirma numa das suas obras, “A educação bancaria consiste no acto de
depositar, de transferir, de transmitir conhecimentos… que mantem e estimula a
contradição educador-educando”. (FREIRE, Paulo. 1975, p.67-8).
No lado oposto desta concepçao esta uma inovadora ideia desenvolvida por ele, na qual
defende que “a educação libertadora implica a superação da contradição
educador/educandos. A educação libertadora, problematizadora, já não pode ser o acto
de depositar, ou de narrar, ou de transferir, ou de transmitir conhecimentos e valores aos
educandos, meros pacientes, à maneira da educação bancaria. Desta maneira, o
educador já não é o que apenas educa, mas o que, emquanto educa, é educado, em
diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa.” (FREIRE, Op. Cit., p.
78-9).
Como se ve, em ambos os modelos analisados por ele, o professor tem um lugar central
nas mudanças que podem ocorrer.
1.1.2- Educação e valores
Falar de educaçao é, inevitavelmente, falar de valores. Isto deve-se as
características intrínsecas do próprio processo de educar que contém, implícito e acima
de tudo, a preocupação em transmitir e ensinar normas sociais de uma dada
comunidade, que constitui parte do seu património social e cultural. Definitivamente, “a
educação não esta livre de valores. Tem de ser ideológica. Se educar é dirigir, por
carácter ou a personalidade, encaminhar o indivíduo numa determinada direcção, a
educação não pode ser neutra. As finalidades educativas são valores na medida em que
são opções, preferências, eleições.” (Campa, 1990:124).
Os valores estão presentes em todos os campos da vida humana.
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Segundo Garcia, W. E., (1981: 135.) ” Podemos dizer que desde que o homem se
relaciona com a natureza, ou com os outros homens, ele está valorando. Atribuir sentido
especial às coisas é, portanto, um ato que exige uma situação concreta, na qual o
indivíduo manifesta sua adesão a determinadas coisas ou repulsa para outras tantas. Pelo
fato de viver, o homem está constantemente sendo solicitado a escolher e, ao fazer suas
escolhas, inevitavelmente está atribuindo significado de bom, mau, útil, inútil às coisas
que o rodeiam.”
Porem, no acto de educar, os valores aparece com maior expressão.
Historicamente, educar sempre significou a passagem de conhecimentos e saberes –
heranças e patrimónios - adquiridos evolutivamente por uma sociedade. Portanto, todas
as sociedades estariam convencidas de que ensinam o melhor que possuem aos seus
filhos, capacitando-os para competirem com outras. Nesse sentido, toda a educação e
ideológica. Não há neutralidade. E os valores nascem em contextos históricos. São
propriedades de algumas culturas, alguma comunidade.
1.1.3-Educação, valores, atitudes e comportamentos
O educador brasileiro Paulo Freire (1974:64) afirma que o destino do ser humano
“não e consignar-se, mas humanizar-se.”
E humanizar-se quer dizer crescer como pessoa, como ser social, o que implica
estar sempre a aprender novas coisas da vida. E na escola que de forma particular o
indivíduo desperta para um novo mundo onde aprende novas coisas através de “um
processo de aquisição e assimilação, mais ou menos consciente, de novos padrões e
novas formas de perceber, ser, pensar e agir”. (SCHMITZ, E. F. 1982: 53)
1.2-Valores
Nas sociedades humanas, os valores sempre estiveram presentes enquanto
elementos integrantes na formação da pessoa humana, como membro de uma
comunidade e enquanto elementos que caracterizam uma cultura.
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Quanto a isso, “Podemos dizer que desde o momento que o homem se relaciona
com a natureza ou com os outros homens, ele esta valorando. Atribuir sentido especial a
coisas é, portanto, um acto que exige uma situação concreta, na qual o indivíduo
manifesta sua adesão a determinadas coisas ou repulsa para outras tantas.” (GARCIA
W. E. 1981.135).
Por isso, impõe-se clarificar do que falamos, quanto nos referimos aos valores.
O conceito de valores integram varia perspectivas. Podem ser entendidos numa
perspectiva pessoal, isto e, como algo que orientam um indivíduo na sua conduta. Mas
contem igualmente, uma perspectiva mais social.
Na perspectiva mais estrita, do indivíduo, refira-se que “os valores humanos são
fundamentos morais e espirituais da consciência humana (…). Muitas das causas que
afligem a humanidade esta na negação destes valores como suporte e inspiração para o
desenvolvimento integral do potencial individual e consequentemente social. A vivencia
dos valores alicerça o carácter, e reflecte-se na conduta como uma conquista espiritual
da personalidade.” Consideram-se como principais a “Honestidade, verdade, justiça,
ética, disciplina, integridade, paz e amor” (www.google.com.pt, 23 de Julho, as 14
horas).
A perspectiva mais virada para a importância social dos valores demonstra que
valores “Representam convicções dominantes, as crenças básicas, aquilo em que a
maioria das pessoas da organização acredita.” Isto quer dizer que “Os valores definem
as balizas do que se pretende em termos de padrão de comportamentos de todos os
membros do grupo na busca da paz, do bem-estar e do desenvolvimento.” (LIMA
CANUTO, 2009: 9).
Qualquer cultura possui os seus valores que tem raízes na sua história particular.
Essas herancas historicas são passadas de gerações em gerações sob múltiplas formas,
designadamente através de contos tradicionais, proverbio |maximas, normais, morais,
etc.
Habitualmente os membros de qualquer comunidade aprendem esses valores
estando inseridos na própria comunidade, através de rituais ou no quotidiano, através de
práticas comportamentais dos adultos.
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As culturas têm os seus mecanismos de ensino desses valores, sendo certo que e na
infância que todas procuram” passar” esses valores as crianças porque existe a convirão
de que “ A formação da consciência social duma criança pode não significar mais do
que a interiorização dos padrões de valor do ser grupo” (TITIEV, M. 1991:278).
E quando não acontece a “interiorização dos padrões de valor de seu grupo” fica
estabelecido o quadro para a ocorrência de conflitos culturais e de crise identitária
(TITIEV, M. ibidem).
Portanto, a cultura e portadora de um conjunto de valores e símbolos que dão
sentido a sua comunidade e permitem e tornam a convivência social o melhor possível.
Segundo Henriques Rojas (1994:131), os valores são cruciais na cultura actual.
Entende esse autor que muitos problemas sociais actuais decorrem da ausência certos
valores e do predomínio de alguns “valores materiais”. Por isso, defende, “é necessário
um regresso a outros valores” (…) que permitem a formado de códigos de contusa que
sejam amplos, mas onde os perfis sejam nítidos, de forma a tornarem o homem mais
digno e mais humano”.
1.3 “Atitude
É um sistema de avaliações positivas ou negativas, sentimentos, emoções e
tendências de acções favoráveis ou desfavoráveis no que se refere a objectos sociais “
(KRECH, D., e CRUTCHFIELD, R. S. 194)
A interiorização duma atitude não se faz de maneira definitiva sem passar pela
experiência directa, sem que o próprio experimente as emoções e sentimentos ligados à
realização de acções concretas, de experiências pessoais. (Masco, 1968; De Ketele,
1986).
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1.3.1 Campos de atitudes e valores segundo MORISSETTE, D. e GINGRAS M.
(1989)
Os que englobam toda a existência e que constituem, desse modo, aquisições básicas
para a pessoa chamada a viver em sociedade (a tolerância, por exemplo);
Os que são necessários para realizar qualquer processo de aprendizagem escolar e
que constituem, por isso, os pré-requisitos de toda a educação escolar (a motivação,
por exemplo);
Finalmente, os mais modestos que resultam dos conteúdos específicos de cada
programa disciplinar e que condicionam de alguma maneira a aquisição de algumas
habilidades propostas (desejo de precisão, uso adequado dos instrumentos, etc.).
1.3.2- Atitudes e comportamentos
O estudo das atitudes não é propriamente um objecto de observação recente nas
ciências sociais. Dentro deste âmbito existe uma significativa produção científica ligada
quer à sociologia, quer à psicologia social. Inicialmente pensava-se que as atitudes
seriam uns preditos do comportamento, contudo, após alguns estudos verificou-se que
este pressuposto nem sempre era verdadeiro. Diversos autores entendem a noção de
atitudes como uma estrutura tridimensional que integra as componentes cognitivas
(julgamentos e crenças), afectiva (sentimentos favoráveis ou desfavoráveis) e
comportamental (tendência para determinada acção). Nesse sentido, podem-se
considerar as atitudes como uma forma de motivação social que impulsiona e orienta
certas acções, para tentar
Obter determinadas meta predefinidas. Quando utilizamos a noção de atitudes
pretende-se caracterizar algumas intenções ou comportamentos dos múltiplos actores
sociais em interacção. No entanto, as atitudes podem apresentar um carácter individual
ou colectivo, mediante cada situação concreta. “Assim, as atitudes estão relacionadas
com os valores interiorizados pelos indivíduos e, necessariamente, com os processos de
socialização a que o mesmo está sujeito. (...). Mas estariam igualmente ligados a
processos cognitivos que se situam no plano da racionalidade e do conhecimento,
sempre limitado e contingente, de que o indivíduo dispõe. E têm que ver com as
intencionalidades dos sujeitos, no plano dos interesses, gerados pelas situações
concretas de acção inter-individual em que os mesmos se acham inseridos. Tudo isto
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significa que as atitudes são, de facto, realidades complexas, embora susceptíveis de
uma (lenta) evolução no tempo”. FREIRE, João (2002)
1. 4- Comportamentos-: “É apenas uma resposta em função de um estímulo ou de
uma situação “ (conjunto de estímulos) ( Watson, John Brodus).
1.4.1- Interpretar o comportamento da criança
O grau de agitação e a falta de controlo da criança determinam a resposta dos pais.
Uma observação cuidadosa do seu comportamento ajuda-os a perceber se basta um
simples olhar de reprovação, se não precisas algumas palavras de aviso ou se é
necessário entrar em acção. (T. Berry Brazelton; Joshua D. Sparrow, 2004).
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CAPÍTULO II
Enquadramento histórico de Educação de infância
Contexto histórico mundial
Foi no início do século XVII que surgiram as primeiras preocupações com a
educação de infância. Essas preocupações foram resultados do reconhecimento e
valorização que elas passaram a ter no meio em que viviam.
As mudanças ocorreram nas atitudes das famílias e no quadro educacional.
Campanella (1568-1639), na sua obra “Cidade do sol”, criticou o ensino servil da
gramática e da lógica aristotélica e ressaltou a importância das crianças aprenderem as
ciências, costumes, historias pintadas nas paredes das cidades, “sem enfado, brincando”.
A partir dessa data outros pensadores interessaram-se pelo estudo desse facto
incansavelmente, como por exemplo: Campanella (1568-1639), na sua obra “Cidade do
sol”, Jean Jaques Rousseau (1712-1772), centralizou a questão da pequena infância na
educação, evidenciando a necessidade de não mais considerar a criança como um
homem pequeno, mas que ela vive num mundo próprio cabendo o adulto compreendê-
la. Realçou a necessidade de ver a infância como um período distinto, com suas
características próprias citadas na sua obra “Emílio”.
Ovide Decroly (1871-1932), Para qual preocupação maior era substituir o ensino
formalista baseado no estudo dos livros tradicionais, por uma educação voltada para os
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interesses e necessidades das crianças. Tendo apresentado dois programas, primeiro “A
criança e suas necessidades” e segundo “Acriança e o seu meio”.
Vários outros teóricos deram as suas contribuições, John Dewey (1859-1952),
Maria Montessori (1870-1952), Jean Piaget (1896-1980), Vygotsky (1896-1934) e
tantos outros.
A evolução da situação em Cabo Verde
Breve percurso histórico
Em relação a Cabo Verde, a preocupação com a infância, enquanto realidade que
merece uma atenção particular, é um facto muito recente.
Foi a partir da década de 70, quando muita s mulheres-mães começaram a
trabalhar, é que surgiram dificuldades em conciliar a vida profissional com o devido
cuidado aos filhos mais peque nos que ficavam em casa. Tornou-se evidente a
necessidade de um lugar ou de pessoas exclusivamente para cuidarem dessas crianças.
A tradicional solidariedade dos vizinhos que se apoiavam mutuamente, revelou-se
insuficiente. Com as constantes mudanças sociais, nasceram novas necessidades que
levaram ao aparecimento de “casas” que passaram a desempenhar esse papel e que
posteriormente, com melhores estruturas, passaram a ser designadas de “jardins-de-
infância”.
Com o decorrer do tempo, nesses jardins, as crianças começaram com algumas
tarefas e não só brincavam mas, também aprendiam a contar, as regras de uma boa
educação e conheciam algumas letras. Mas tudo era feito de forma espontânea e
tradicional.
Anos mais tarde, essa prática e essa vontade foram reconhecidos pelas autoridades,
que se consciencializaram sobre os efeitos benéficos de uma intervenção precoce nas
crianças e reconheceram, também, as falhas no cumprimento de um dos direitos da
criança fixados na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e na própria
Convenção dos Direitos da Criança (1989).
Nesse domínio, a Cruz vermelha de Cabo Verde foi uma instituição pioneira, tendo
iniciado os serviços de creche em 1949, na cidade da Praia. Nos finais dos anos 80 e,
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sobretudo, na década de 90, os jardins multiplicaram-se, com destaque para os serviços
do Instituto Cabo-verdiano de Solidariedade (ICS) que abriu serviços em quase todas as
ilhas, as Câmaras Municipais, algumas ONGs e pessoas a título individual. De facto,
nos últimos dez anos os privados têm sido os protagonistas na prestação desse serviço,
correspondendo assim ao aumento da demanda, o que reflecte não apenas a necessidade
mas a importância social adquirida, estando as pessoas cientes do investimento humano
e pedagógico que é a educação pré-escolar ou a simples frequência de um jardim-de-
infância.
O enquadramento legal do Pré-escolar
Foi na década de 90 que as autoridades cabo-verdianas aprovaram a lei de Base do
Sistema Educativo Cabo-verdiano, dando ao pré-escolar um carácter facultativo - Lei nº
103/90 de Dezembro, 1999, (artº 14). Assim, toda a criança com a idade compreendida
entre os zero e seis anos passou a ter a possibilidade de frequentar o Ensino Pré-escolar.
Em 1990, o Ministério da Educação reforçou essa medida ao editar um guia de
actividades curriculares (lei no 103|III|90) cuja finalidade é fornecer orientações aos
coordenadores/ monitoras desta área. Dada à importância da mesma no processo de
consolidação dessa área, apresentamos, a seguir, os principais tópicos abordados nesse
guia.
No referido documento o jardim-de-infância é considerado como “um
estabelecimento de educação que presta serviços orientados para o desenvolvimento e a
aprendizagem da criança dos 0 a 6 anos, proporcionando-lhe actividades educativas e
actividades complementares de apoio à família” visando os seguintes objectivo:
- Comportamentais (saudar, apresentar, perguntar, enumerar, agrupar, adquirir,
reagir, realizar, manifestar, reconhecer, preparar, explorar, ajudar, organizar,
promover…). Esses objectivos serão atingidos quando há envolvimento dos pais e
encarregados de educação, do educador e da sociedade em geral nas preocupações e
necessidade de cada criança;
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- Organização de espaços e materiais educativos adequados, equipados e que vem
de encontro às características das crianças;
- Actividades curriculares respeitando às 3 (três) vertentes do desenvolvimento
pessoal, social, expressão, comunicação e conhecimento do mundo;
O guia propõe conjunto de actividades aos educadores a serem desenvolvidas de
modo que as crianças possam adquirir conhecimentos práticos, sem grandes esforços:
dramatizações, jogos didácticos, observação de gravuras, visionamento de filmes e
desenhos infantis, visitas de estudo, exploração do quotidiano dos alunos através de
conversas e outros assuntos.
Objectivos e princípios gerais do sistema educativo (Pré-escolar)
O sistema educativo Cabo-verdiano é regido pelas leis, normas que servem para
regulamentar o próprio sistema. Sendo assim o sub sistema Pré-escolar também é regido
por essas leis. Por isso, a lei define e clarifica alguns aspectos dessa Educação, quanto
aos objectivos e princípios gerais definindo como princípio que “A educação visa a
formação integral do indivíduo” (artigo 5).
Em relação à Educação pré-escolar, ao fazer a caracterização e definição (artº. 13),
a lei diz:
“A educação pré-escolar enquadra-se nos objectivos de protecção da infância e
consubstancia-se num conjunto de acções articuladas com a família visando, por um
lado o desenvolvimento da criança e, por outro, a sua preparação para o ingresso no
sistema escolar.”
No entanto, apesar de toda essa preocupação e clarificação do que deve ser a
educação nessa fase, a lei contém um detalhe contraditório quando indica a não-
obrigatoriedade dessa mesma educação, afirmando taxativamente que “A educação pré-
escolar é de frequência facultativa” e destina-se às crianças com idades compreendidas
entre os 3 anos e a idade de ingresso no ensino básico”.
De referir igualmente que o mesmo diploma (artº 14) traça com clareza alguns
aspectos orientadores para os principais intervenientes nessa matéria.
Assim, define os objectivos essenciais da educação pré-escolar, nomeadamente:
21
a) Apoiar o desenvolvimento equilibrado das potencialidades da criança;
b) Possibilidade à criança a observação e a compreensão do meio que a cerca;
c) Contribuir para a estabilidade e segurança afectiva da criança;
d) Facilitar o processo de socialização da criança;
e) Favorecer a revelação de características específicas da criança e garantir uma
eficiente orientação das suas capacidades.
Devemos lembrar que a lei a que nos referimos diz também quem deve organizar a
educação pré-escolar. Conforme o artigo 15:
1. A rede de educação pré-escolar será essencialmente da iniciativa das autarquias
locais e de instituições oficiais, bem como de entidades de direito privado constituídas
sob forma comercial ou cooperativa, cabendo ao Estado fomentar e apoiar tais
iniciativas, de acordo com as possibilidades existentes.
2. A educação pré-escolar faz-se em jardins-de-infância ou em instituições
análogas oficialmente reconhecidas.
3. O Estado definirá normas pedagógicas e técnicas a aplicar na educação pré-
escolar.
Com isso concluímos que, em Cabo Verde, a educação Pré-escolar possui um
enquadramento legal que lhe permite uma organização e funcionamento mais ajustado
com a importância que de facto possui. É claro que este, apesar de ser importante, é
apenas um dos elementos necessário na estruturação desse sub sistema educacional.
Pré-escolar: os dados de uma estrutura educativa em crescimento
A integração do ensino Pré-Escolar na Direcção Geral do Ensino Básico Integrado
é um indicador de uma mudança ao nível do Ministério da Educação.
Um outro elemento novo e que reflecte essa mudança geral da própria sociedade
quanto a isso, é o facto de desde de 2005 terem sido criados cursos de educadores de
infância no Instituto pedagógico (médio) e na Universidade de Cabo Verde (superior).
Além disso, ao longo dos anos, os responsáveis de muitas desses jardins têm promovido
muitas formações de curta duração para capacitar as monitoras.
22
A par disso, a direcção do ensino Pré-escolar informou sobre a edição pelo próprio
MEES ter editado um Guia de orientação para educadores de infância com inclusão de
educação para valores, atitudes e comportamentos.
Presentemente, em Cabo Verde existem 1.028 (mil e vinte e oito) profissionais de
PIE sendo 21 educadores, 246 monitoras. A nível do Concelho da Praia há maior
concentração, com 213 profissionais, sendo 7 educadores, 76 monitoras e 130
orientadores. Hoje, em todos os municípios de CaboVerde existem jardins-de-infância,
quer das Câmaras Municipais, quer dos privados.
Esse crescimento obrigou a uma melhor organização desta área, com destaque para
as novas estratégias como os encontros de planificação mensal que acontecem em todos
os concelhos, e que segundo a directora geral do pré-escolar, tem tido boa frequência
das monitoras que têm sabido tirar bom proveito desses momentos onde são partilhados
as várias experiencias.
Actualmente, o MEES já realiza encontros anuais a nível nacional, o que lhe
permitiu fazer uma avaliação do corpo docente para essa área de ensino. Assim, de
acordo com a mesma, estão identificados alguns pontos fortes, nomeadamente:
Todos os concelhos têm jardim-de-infância;
Gradativamente os jardins vão sendo remodelados e apetrechados com
equipamentos e material adequado;
Tem se apostado na formação dos profissionais de educação pré-escolar;
Melhoramento gradativo dos salários em alguns concelhos;
Aumento de coordenadores locais com formação específica em educação infantil
Mas existem também insuficiências ou pontos fracos, como:
Escassez de material didáctico nos jardins;
Grande número de pessoal sem formação;
23
Pouca participação dos pais;
Limitações financeiras;
Desmotivação das monitoras devido ao baixo salário;
Insuficiência no seguimento aos jardins;
Não definição de política clara para a pequena infância.
Com esses elementos, verificamos um crescimento das necessidades no sector da
educação de infância em CaboVerde, em simultâneo com as respostas, quer da
sociedade civil, quer das estruturas do Estado, através do Ministério de Educação.
Contudo, ainda são notórias as insuficiências sobretudo em termos de qualidade.
24
CAPÍTULO III
CARACTERIZAÇÃO GERAL DO ESPAÇO| BAIRRO e do JARDIM
3.1. O Bairro/ Comunidade de Pensamento
O bairro de Pensamento, esta localizado a norte da cidade da Praia, e fica
delimitado pelos bairros de Calaceira, S. Pedro e Achada Eugénio Lima. A maioria dos
seus habitantes é constituída por pessoas oriundas do interior da ilha de Santiago, com
nível económico muito fraco e de baixa escolaridade.
Segundo o Instituto Nacional das Estatísticas (INE, Censo), no ano 2000 essa
comunidade era habitada por 2.059 (duas mil e cinquenta e nove pessoas), sendo a
maioria crianças e jovens. Nesse conjunto, merece destaque o facto de nesse ano haver
1.052 (mil e cinquenta e duas) crianças a frequentar o EBI, número que, por si só,
indicada a necessidade que deverá existir em termos de prestação de serviços para esse
grupo etário, nomeadamente o pré-escolar.
Sendo um bairro recente e que possui uma localização das mais distantes do centro
da cidade, vive também algumas dificuldades decorrentes dessa sua situação,
nomeadamente a escassez de transportes públicos, a insuficiência de urbanização, com
fracas condições de habitabilidade para grande parte delas, sem água canalizada e
energia eléctrica, tudo isso como resultado da inexistência de uma urbanização.
25
Relativamente aos espaços públicos e de utilidade para a comunidade, existem
poucas, nomeadamente: uma escola do EBI, um jardim infantil, um centro de saúde, um
lar de idosos, dois chafarizes, uma capela e um campo de futebol.
Quadro 1. Perfil dos professores do E.B.I Pensamento (2009)
Nível
escolar
Tempo de
serviço
Formação
pedagógica
Outras formações
10º Ano 30 Anos Instituto
Pedagógico
Educação para cidadania
HIV- Sida
12º Ano 14 Anos Instituto
Pedagógico
Educação para cidadania
12º Ano 6 Anos. Instituto
Pedagógico
Educação para cidadania
Necessidades educativas especiais
Proscrever
De assinalar que a comunidade, apesar das suas limitações, vai providenciando e
superando as suas necessidades, criando outros serviços, designadamente algumas
mercearias e bares, locais de uso da internet, de telefone publico, salão de cabeleireiro,
etc.
Em termos sociais assinala-se uma certa dinâmica da comunidade católica local,
particularmente os jovens escuteiros, que tem uma presença significativa nalgumas
áreas, apoiando a escola e outras actividades.
Contudo, existem alguns problemas com a população juvenil, como a
delinquência, questão que actualmente afecta alguns bairros da capital cabo-verdiana.
3.2. O Jardim Nova Esperança
O jardim “Nova Esperança” está localizado no bairro Pensamento, e foi criado
em 1998, por iniciativa de um grupo de moradores pertencentes a Associação para o
Desenvolvimento do Bairro de Pensamento.
A sua estrutura física reúne as condições mínimas de funcionamento para um
espaço educativo, com boas condições higiénicas e tendo três salas ventiladas,
organizadas para corresponder às actividades ali desenvolvidas, embora nota-se a falta
de alguma organização em termos de “cantinhos”.
26
Os equipamentos e materiais lúdico didáctico existentes são insuficientes para o número
de crianças existentes em cada sala.
O jardim é composto por uma secretaria, uma cozinha, uma despensa, três salas de
aulas e uma casa de banho com uma divisória para sexos diferentes. O horário de
funcionamento abarca um período único, das oito as quinze horas, mas algumas crianças
permanecem ate as doze horas. Anote-se que esse funcionamento não está conforme as
normas estabelecidas pelo Ministério da Educação.
3.3. Recursos humanos
O funcionamento é assegurado por um total de sete funcionários:
- Um presidente, que também preside a associação, um director e um subdirector que,
igualmente, fazem parte desta mesma associação, uma cozinheira e três monitoras,
sendo que duas delas sem a formação especifica para esse trabalho, mas com outras
capacitações (uma com conhecimentos na luta contra o sida, contra a pobreza, francês
turístico e exclusão social e uma terceira com formação na área da educação, saúde,
inglês, informática, administração de sistema informática e que também estuda primeiro
ano de enfermagem).
De referir que o jardim não conta com nenhum apoio a não ser a mensalidade
dos pais, no montante de 500$00 (quinhentos escudos) por criança, mais uma cota de
cento e vinte escudos, destinada a uma refeição quente diária como ajuda para o lanche
que o ICASE oferece.
As monitoras do jardim “Nova Esperança”não têm formação adequada para
trabalharem nesta área, particularmente a parte pedagógica que é fundamental. A nível
da escolaridade, apenas uma delas tem o liceu completo. Complementarmente, têm
algumas formações em aspectos sociais.
27
Quadro 2. Perfil das monitoras do jardim “Nova Esperança”Pensamento.
Idade Nível de
escolaridade
Tempo de
serviço
Formação
pedagógica
Outras Formações
capacitações
24 7 2 Anos Não Não
38
12
11 Anos
Sim
Aleitamento materno exclusivo;
Planificação projecto HIV;
Administração e gestão;
Informática;
Monitora do Jardim;
32
9
5 Anos
Não
Luta contra pobreza
Exclusão social
Francês turístico
3.4. Os utentes: Crianças, pais e encarregados de educação.
No total, o Jardim é frequentado por 73 crianças, sendo 29 de quatro anos, 36 de
cinco anos e 8 bebes, oriundas de famílias mais desfavorecidas da zona de Calaceira e
Pensamento.
A faixa etária dessas crianças está compreendida entre doze (12) meses e os seis (6)
anos, com maior predominância de crianças com cinco (5) anos de idade.
Os pais e encarregados de educação dessas crianças estão na faixa etária dos vinte e
cinco (25) aos quarenta e cinco (45) anos de idade, tendo habilitações literárias e
profissões muito variáveis, desde formação média a vendedeiras. Muitos trabalham na
própria comunidade.
A participação dos pais na vida do jardim pode ser considerada muito fraca, tendo
em conta que têm pouca presença nas actividades e reuniões promovidas pelo jardim.
3.5. Politica e gestão do jardim
Sendo propriedade da Associação de Apoio ao Desenvolvimento Comunitário de
Pensamento (ADCP), instituição que trabalha com o intuito de ajudar as crianças,
jovens e velhos menos favorecidos no seu desenvolvimento educacional, integral,
seguem uma política de gestão social. Para cada criança paga-se uma mensalidade
28
simbólica de quinhentos escudos (500$00) com excepção dos bebés que pagam 900$00
escudos visto que permanecem até à hora do encerramento, o que exige mais trabalho.
Quinzenalmente, o presidente da ADCP reúne-se com as monitoras para análise dos
aspectos de gestão (frequência das crianças, finanças, desempenho das monitoras,
participação dos pais, etc.).
As quatro (4) funcionárias que trabalham no jardim, são pagos com a receita
proveniente do pagamento das mensalidades das crianças, condição que não garante
uma regularidade nesse pagamento e que pode interferir com o normal funcionamento
dos serviços.
29
CAPÍTULO IV – ANÁLISE DOS DADOS RECOLHIDOS
Os valores na visão dos agentes educativos: monitores, coordenadores e
professores
Para a realização deste trabalho optamos pela pesquisa qualitativa, através da
análise de estude de caso.
Os dados foram recolhidos através de observações directas, realizadas no jardim
“Nova Esperança” da localidade de Pensamento e através de entrevista por questionário,
às monitoras, coordenadoras e professores do primeiro ano de escolaridade da escola do
EBI local.
Valores: Noção e conhecimento
Ao questionarmos as monitoras sobre o significado de” valores”, notamos que
não têm uma noção clara do conceito, limitando-se a afirmar tratar-se de um “ bem
precioso”.
A resposta dada pelas coordenadoras contém mais elementos, embora com
definição pouco clara. Verificam que existe algum conhecimento do significado;
Assim, uma definiu valores como:
“ Todo bem que devem respeitar, cumprir, preservar para o bom funcionamento da
sociedade ”.
30
E na outra resposta:
“ Pré-requisitos que nos permite passar a sociedade bons hábitos, costumes, boas
condutas para uma boa cidadania”.
Nestas duas respostas encontramos expressões que apontam para importância que as
entrevistadas atribuem aos valores, particularmente como algo fundamental da própria
sociedade. O que podemos realçar é que as coordenadoras têm uma melhor formação a
nível pedagógico e por isso tem mais informação sobre o assunto, embora não tenham
apresentado uma ideia consistente sobre o mesmo.
Analisando a percepção dessas monitoras quanto aos “valores”, verificamos que
todas elas são de opinião que actualmente, os valores não são preservados. Porém as
justificações apresentadas contém ideias soltas, sem muita objectividade. O que se nota
nessas respostas é a opinião de que a sociedade está em mudança e que, por isso, os
valores também mudaram. Vejamos as três opiniões:
A- “Tudo na vida mudou e os valores também”
B- “ Porque agora a era é outra (tempo) ”
C- “ Porque tudo se tornou mais claro, tendo em conta que vêem e ouvem nas
pessoas e na televisão e copiam-na também.”
As respostas dessas monitoras reflectem uma opinião um pouco generalizada de que
os valores “perderam-se” por causa das mudanças sociais ocorridas em Cabo Verde.
Contudo, fica-nos difícil analisar a coerência destas opiniões, considerando que não
apresentaram com clareza o que para elas significa “valores.”
Em relação ao ensino dos valores, todas consideraram ser algo, igualmente
importante relativamente aos outros aspectos (atitudes e comportamentos).
A opinião dos professores do EBI.
Ao questionarmos também os professores do EBI sobre o mesmo tema
quisermos recolher elementos que nos permitissem conhecer a opinião de todos os
31
agentes educativos (formais) e fazer uma análise mais objectiva que nos desse um
quadro de opinião geral do corpo docente que trabalha nessa comunidade.
Também neste pequeno grupo notamos que as opiniões sobre a questão dos
valores reflectem pouco conhecimento ou clareza, ou uma certa dificuldade em emitir a
sua opinião, como é possível observar no quadro seguinte:
Quadro 3. Opinião dos professores do EBI sobre valores
Professores
Opinião
O que são Valores?
Hoje estão
preservados?
Porque?
1.
“Conjunto de
comportamentos”
Sim
“Se dentro duma sociedade
não tem valores a sociedade
degrada-se”
2. “É um conjunto de
maneiras que uma pessoa
mostra”
Sim
“Porque ainda em alguns
lugares nos encontramos
alguns valores preservados”
“É tudo que nós
preservamos e valorizamos”
Não
“Existem valores que
antigamente eram preservados
e actualmente não. Ex:
Virgindade
Trabalhar os valores no jardim “Nova Esperança”.
Os principais intervenientes - As monitoras.
Ao tentarmos saber como são abordados os valores nesse jardim, procuramos entender
como é feito esse trabalho, que metodologia utilizam que materiais didácticos e que
dificuldades são vividas pelas monitoras. O quadro seguinte (4) ilustra a situação.
32
Quadro 4. Como se trabalha os valores no jardim “Nova Esperança”?
Monitoras
Opinião
Os Valores são
trabalhados?
Como?
Com que
Frequência?
Como avalia o
trabalho?
Sente
dificuldades em
leccionar esta
área?
A.
Sim
“Através da
planificação
escolhemos os
temas”
De vez em
quando
(5) Mto bom
Não
B. Sim “Através da
oralidade”
“Em todos os
momentos”
(5) Mto Bom
Não
C. Sim “Nos contos
infantis e
oralmente”
“De vez em
quando”
(4) Bom Não
Todas as monitoras afirmaram que os valores são temas abordados no jardim.
Porém, quando questionadas acerca de frequência, uma responde é feito sempre e duas
disseram que só “de vez em quando”, indicando que a temática não teria a frequência
desejada.
Notamos ainda que, embora na sua avaliação são de opinai que essa abordagem
vai de “bom” a “muito bom”, utilizam poucos materiais pedagógicos nesse trabalho,
limitando-se a oralidades. Este aspecto contradiz uma outra reposta dada, na qual
afirmam que não sentem dificuldades em trabalhar essa temática, o que não se verifica,
pois, se assim fosse apresentariam mais variedade na metodologia que utilizam.
Ou seja, as monitoras não admitem o défice no trabalho sobre os valores e por
isso, fazem uma auto-avaliação muito elevada do seu trabalho.
Por outro lado, ao dizerem que não recebem apoio para trabalharem esta área,
revelam duas coisas. De um lado, o facto da coordenação na Praia não lhes dar o apoio
de que necessitam, de outro também pode significar que não solicitaram esse apoio ou
se o fizerem não terão insistido nessa necessidade.
O que podemos retirar dessa situação é a insuficiência no acompanhamento e
supervisão a esse jardim por parte por parte da coordenação ao nível da Praia.
33
O facto de pertencer a um bairro que está distante do centro e ter uma gestão
privada também pode ter contribuído para a situação registada.
Se atendermos ao facto de essas monitoras não terem uma formação adequada
para puderem desempenhar melhor a função de educadora de infância, torna-se evidente
que essas áreas específicas como os valores não têm abordagem pedagógica própria,
mesmo que seja assunto tratado com as crianças.
Atitudes e comportamentos
Ao analisarmos as respostas que as monitoras deram sobre “atitudes” e
“comportamentos”, vimos que elas revelam alguma confusão de ideias e a mistura de
uma coisa com outra. Em quase todas as respostas falaram de atitudes como se do
comportamento se tratasse, e vice-versa.
O quadro a seguir exemplifica todas as opiniões expressas e permite que
visualizemos em simultâneo as três opiniões, sendo notória essa mistura de ideias.
Quadro nº 5. Opinião das monitoras sobre atitudes.
Monitoras Opinião
O que são atitudes?
A. É a forma de estar e comportamentar
B. É a maneira de falar, de vestir e comportar
C. É a maneira de falar, de vestir e comportar
Tomamos como referencia o conceito de atitudes como “formas organizadas e coerentes
de pensar, sentir e de reagir de um indivíduo nas relações com o outro, com os
acontecimentos do quotidiano e com o meio físico.” (LIMA CANUTO, (Coord.)
2009:10).
Nas respostas, todas admitem que é algo que é trabalhado no jardim mas não
conseguem defini-la com clareza. Dessa forma, perde um pouco de significado as
34
respostas às questões seguintes relativos ao tratamento ou não que é dado a este aspecto
e a pontuação (auto-avaliação) a esse trabalho.
Todas consideram que a abordagem não é feita com muita frequência, ou seja
esse trabalho e feito “de vez em quando”. Essa concordância das monitoras demonstra
um reconhecimento de que não se trata a questão sistematicamente. Implicitamente
deixam entender que não há regularidade na planificação do tema. As razões não são
evidentes.
Todavia, neste ponto, evidenciam uma contradição quando atribuem,
consensualmente, a classificação de “bom” ao ensino/trabalho sobre as atitudes no
jardim “Nova Esperança”.
De novo, neste pormenor, as monitoras não terão conseguido fazer uma
avaliação equidistante da prática que fazem no jardim. Porque tal como tinham dito em
relação aos valores, também em relação as “atitudes” afirmaram que o trabalho é feito
através da oralidade e de contos infantis, o que reflecte limitações pedagógicos e de
materiais didácticos. No entanto, na sua opinião, não sentem nenhuma dificuldade em
leccionar esta área.
Os comportamentos
Neste particular as monitoras apresentam algumas ideias muito básicas sobre a
temática.
E ao responder à questão sobre o tratamento que é dado ou não ao assunto no
seu trabalho de dia-a-dia, duas responderam afirmativamente e uma dela reconhece, de
forma franca, que o assunto não é trabalhado no jardim.
Todas elas reconhecem o papel da família e dos pais na educação para melhorar
o comportamento das crianças e afirmam que, enquanto educadoras, é esta a intervenção
que lhes falta: um trabalho com os pais destas crianças. Ou seja, elas têm a consciência
de que o seu trabalho é incompleto se não abrangerem as famílias dos seus educandos.
Por outro lado nenhuma delas menciona a formação/capacitação como um factor
que pode melhorar o seu desempenho.
35
O olhar dos professores do EBI
Os três professores do EBI entrevistados falaram das atitudes e dos
comportamentos dos seus alunos, que na sua maioria foram utentes do jardim “Nova
Esperança”.
Quando questionados acerca da diferença de atitudes e comportamentos que
existem entre os alunos que passaram pelo jardim “Nova Esperança” e os outros que
não o frequentaram, esses professores são unânimes em reconhecer que notaram-se as
diferenças.
Desde logo, apontam o facto de se notar diferenças “na forma de ser,
comportarem”; ou ainda, como afirmou um outro professor “dá para notar através de
comportamentos em relação aos professores dá para ver que trazem algumas atitudes
positivas”.
Sobre as atitudes dos alunos que frequentam o jardim “Nova Esperança”, os três
professores disseram que esses alunos demonstram que tiveram alguns trabalhos feitos
nesta matéria porque:
1-“ Na forma de vestir demonstram isso”
2- “Dá para notar através de comportamentos em relação a professores”
3- “ Nota-se na forma de se comportarem antes de lhes ensinarem qualquer coisa”
Portanto, da opinião do corpo docente do EBI local, podemos deduzir que esses
alunos que passaram por este jardim apresentam alguma atitude diferente, pela positiva,
perceptível aos olhos dos seus professores.
Num outro momento, esses mesmos professores foram mais convictos quando,
em relação ao comportamento, afirmaram:
- “Comportam muito bem”
- “Comportam de forma diferente”
36
- “Alguns desses alunos têm comportamentos excelentes”.
Analisando as respostas dadas por esses professores, considerando que eles são
os “observadores privilegiados” dessas crianças, porque são os primeiros a estar em
contacto de forma regular após a fase do jardim, podemos concluir que, da percepção
deles, existem algumas diferenças de atitudes e comportamentos entre os alunos que
frequentaram o jardim “ Nova Esperança” e aquelas que não o frequentaram. Ou seja,
de alguma forma, os valores, atitudes e comportamentos são trabalhadas pelas
monitoras, e tem algum reflexo na integração escolar deles.
37
Recomendaçoes
As Monitoras devem receber mais apoio e formacoes por parte do Ministério
da Educação no que tange ao tema em estudo.
O Ministério da Educação deve apoiar os jardins na melhoria das suas
condições e exigir que todos cumpram com as suas obrigações.
38
Conclusão
Ao realizar este trabalho sobre a educação de infância, focalizando na “educação para
valores, atitudes e comportamentos”, podemos cruzar algumas informações, analisar
outros dados que nos permitem tecer alguns comentários a título de considerações
finais, sendo uns de carácter geral, sobre a educação de infância em Cabo Verde e
outros, mais específicos, sobre o trabalho feito no jardim “Nova Esperança”, no bairro
de Pensamento “ Praia”.
A nível de Cabo Verde assinala-se o facto de que em todos os concelhos haver
jardim infantis a funcionarem e 1.028 profissionais do pré-escolar (os quais 21 são
educadores e 246 monitoras) o que reflecte a importância desse nível de educação e
reconhecimento, quer pelo Estado, quer pela sociedade.
A cidade da Praia, por ser a capital, concentra um grande número de
profissionais, reflexo do aumento da procura desse serviço educativo pelas famílias.
O jardim “ Nova Esperança”, em Pensamento (Praia), com onze anos de
experiencia realiza um trabalho de grande utilidade para a sua comunidade. Porém,
ainda existem muitas deficiências a superar.
Quanto à Educação para valores, atitudes e comportamentos realizados nesse
jardim, ela ainda não acontece de forma regular e consistente. Ou seja, não existe um
programa, no verdadeiro sendo do termo.
39
As suas monitoras reconhecem a importância dessa abordagem para formação
integral do indivíduo, mas possuem algumas limitações ao nível pedagógico.
A educação para valores, atitudes e comportamento exige uma abordagem
diferente e especifica que requer competências e materiais didácticos diversos. Essa
exigência ainda não é atendida pelo jardim Nova Esperança que, sendo uma
organização privada, comunitária, tem algumas dificuldades financeiras, e também
défices na gestão.
As monitoras desse jardim carecem de uma formação adequada e devem ter
capacitação permanente, particularmente neste domínio da educação para valores,
atitudes e comportamentos, onde são notórias as maiores dificuldades.
Apesar disso tudo, assinala-se um esforço desse jardim na educação das crianças
e que de alguma forma é reconhecido pelos professores do EBI dessa localidade que
testemunham algumas diferenças, pela positiva, no comportamento dos alunos que
passaram pelas suas mãos.
Ou seja, da análise desse caso, temos elementos suficientes que nos mostram que
a educação para valores, atitudes e comportamentos contribuem para algum sucesso
escolar das crianças e para a melhoria de comportamentos como reconheceram os
professores.
A falta de preparação adequada das monitoras e a carência de materiais
didácticos próprios, condicionam os resultados dos trabalhos dessas monitoras,
limitando a eficácia do mesmo. A par disso, a inadequação das estruturas do jardim, os
fracos recursos humanos e financeiros, e também deficiente conhecimento dos
instrumentos de gestão por parte dos responsáveis do jardim, contribuem para
resultados menos favoráveis aos utentes.
Trabalhar quase de costas viradas para os pais foi identificado como uma das
falhas de todo o trabalho feito no jardim e um desafio a vencer.
Da parte do Ministério da Educação e Ensino Superior, deve-se apostar na
formação de monitoras e educadoras de infância, melhorando o seu nível de
intervenção, a fim de melhorar também a qualidade do seu trabalho, juntamente com
uma melhoria na coordenação, seguimento e avaliação dos trabalhos.
40
Em relação a hipótese (a educação para os valores, atitudes e comportamentos nos
jardins de infância como factor de sucesso escolar) foi verificada parcialmente, uma vez
que dos dados obtidos registamos os alunos que passaram por esta estrutura educativa
demonstraram alguma diferença na opinião dos professores do EBI.
Acreditamos que num futuro muito próximo, a maioria das monitoras estarão
capacitados com uma formação adequada para poderem ministrar aos alunos do pré-
escolar, as aulas de educação para valores, atitudes e comportamentos e não só, para que
possam ser cidadãos formados integralmente, o que pode potenciar favoravelmente a
sua integração social.
Em vistas destas considerações, concluímos que a educação para valores
atitudes e comportamentos é um tema muito pertinente que deve ser trabalhado desde
base.
41
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