Educação intercultural

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Carla Rêgo Pires Página 1 ESE - PORTO Mestrado e Administração Organizações Educativas Carla Rego Pires [EDUCAÇÃO INTERCULTURAL EDUCAR NA DIVERSIDADE CULTURAL] Trabalho realizado sob a orientação do Professor Doutor Fernando Diogo, no âmbito da unidade curricular Currículo e Gestão Curricular.

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2010

ESE - PORTO

Mestrado em

Administração de

Organizações

Educativas

Carla Rego Pires

[EDUCAÇÃO INTERCULTURAL

– EDUCAR NA DIVERSIDADE

CULTURAL]

Trabalho realizado sob a orientação do Professor Doutor Fernando Diogo, no

âmbito da unidade curricular Currículo e Gestão Curricular.

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Índice:

ÍNDICE: 2

1. INTRODUÇÃO: 3

2. CULTURA DE ESCOLA: 4

3. A ESCOLA E A DIVERSIDADE CULTURAL: 6

4. O LUGAR DA ESCOLA E DO CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO INTERCULTURAL: 8

4.1 A RESPOSTA DA ESCOLA: 9

4.2 ALTERNATIVAS CURRICULARES: 10

5. GLOBALIZAÇÃO E DIVERSIDADE: O PAPEL DO PROFESSOR: 12

6. BIBLIOGRAFIA: 15

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1. Introdução:

Aspiro com este texto abordar o lugar da Escola, dos seus actores educativos e do

currículo na estruturação de uma educação multicultural, procurando compreender a relação

entre a Escola e a Cultura Escolar.

A Escola tem pretendido respostas e evoluções nas suas concepções educativas. O

contacto de diferentes raças, etnias e culturas de base por parte dos discentes tem vindo a

crescer dada a abertura política à emigração. Interagir neste melting pot traz consequências no

desenvolvimento do currículo e na actuação dos docentes na sua aplicação. É imperativo atender

à diversidade e à educação intercultural numa Escola que se afirma para todos.

De acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo, «Todos os portugueses têm direito à

educação, à cultura, nos termos da Constituição da República», art.2º. Ora, aqui reside o desafio

da Escola, atender a todos, num mesmo local, com as mesmas condições, mas para um leque

diversificado de indivíduos que buscam sapiência no usufruto pleno da sua cidadania.

Assim, a abordagem desta temática da diversidade cultural é actual e fulcral a partir do

momento em que a Escola busca respostas num ensino integrador e respeitador das diferenças.

Aliás, a própria escola tem a sua identidade, rodeada por uma comunidade diferente das outras

no plano geográfico, económico e até cultural. A comunidade educativa contempla idiossincrasias

que a identificam numa sociedade heterogénea. Seria contraproducente não fazer um trabalho

diversificado, envolvendo actividades realizadas em grupo ou individuais, no sentido de se

favorecer a riqueza da troca de experiências, tão importante no crescimento de cada um.

Os indivíduos são o resultado de influências exteriores que recebem num espaço e num

tempo específico. Ao professor cabe o papel de ponderar e aplicar a democratização do ensino,

«garantindo o direito a uma justa e efectiva igualdade de oportunidades no acesso e sucesso

escolares», LBSE.

Os desafios no sentido de diversificarmos o trabalho docente são o currículo e a

interdisciplinaridade, mobilizadora de potencialidades; e uma necessidade de rasgar o sistema

convencional de ensino e promover diferentes sapiências em diferentes níveis de ensino. Olhar

para a diferença cultural com curiosidade e respeito por costumes, rituais e crenças que não são

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da maioria, mas que devem ser privilegiados para que se possa estabelecer uma relação real

entre o que se ensina e a quem se ensina.

2. Cultura de Escola:

A Escola apresenta-se-nos como um campo de batalha cultural onde o vitorioso é aquele

que joga em casa. Na verdade, ainda hoje, se esquece a promoção de um intercâmbio cultural

em prol de uma perpetuação da cultura da maioria.

A concepção de Cultura torna-se fundamental na procura da compreensão da Escola e do

seu modo de funcionar. Os actores educativos e a própria organização escolar existem em

função de um tempo e de um espaço, logo, sob influências diversas que pautam a sua

identidade.

Ao não ser hermética, a Escola absorve conhecimentos e transmite-os, ou melhor dizendo,

trabalha-os dogmaticamente e desencadeia um diálogo constante com a comunidade educativa.

É deste contacto profícuo que se desenvolvem os conteúdos da educação, tais como hábitos,

valores, normas e competências. A Escola produz saberes, mas também os reproduz numa

dialéctica aberta à inclusão.

Aqui reside a diferença da organização escolar das demais – o melting pot cada vez mais

heterogéneo, reflectivo de uma encruzilhada de culturas providas de minorias que fazem parte do

nosso sistema educativo.

É da responsabilidade da Escola a sociabilização de todos, logo não poderá anular-se o

conteúdo cultural das minorias, promovendo-se apenas a cultura de base nacional. Até porque,

ao fazê-lo, estaria a ser deturpada a identidade escolar única e individual.

A intercessão deve ser reflexiva, não facultando a imposição de valores, crenças,

costumes e, mesmo, estereótipos estranguladores do direito a uma educação que «promove o

desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias,

aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com

espírito crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua

transformação progressiva». (LBSE; artº2)

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Ora, são destas condicionantes que surgem modelos de cidadania abertos a todas as

influências. O modo como este aspecto é trabalhado em contexto escola é primordial no

desenvolvimento cognitivo dos discentes, assim como da sua integração futura na sociedade

laboral, que se quer interventiva e proactiva.

A própria massificação da escolaridade e o seu alargamento democrático implicou que se

fosse abandonando a ideia de um ensino igualitário como sinónimo de democrático. Na verdade,

ao anularmos a individualidade, multiplicamos a desigualdade.

Presentemente, a Escola tem vindo a procurar responder a esta nova visão de cultura de

escola, afastando-se do ensino direccionado para o saber sobre, apostando mais no saber fazer.

O papel do docente é fundamental. Embora com uma formação académica teoricista e

tendencial no sentido de promover um ensino de massas, tem de se apostar numa formação

contínua direccionada para a abertura curricular à diversidade.

Compete à organização escolar a promoção de espaços de debate, reflexão e cooperação

entre pares e restantes membros da comunidade educativa, no sentido de se encontrarem

caminhos que, não desrespeitando a cultura nacional, cruzem, num mesmo espaço, projectos de

interesse a todos os envolvidos. Não podemos permitir que se martirize o que resiste à cultura

nacional, mas compreender e procurar interagir positivamente.

Cooperação será o sustentáculo de uma aprendizagem efectiva. A identidade da escola

construir-se-á a partir de relações e interacções entre os agentes educativos.

A cultura de escola será aquela que referencia valores, intenções, requisitos e

propósitos dos seus elementos.

A cultura escolar é activa e plural, pois implica mudanças ideológicas, comportamentais e,

mesmo, sentimentais, diminuindo o obstáculo a uma mudança efectiva. Importa, agora, falar em

Projecto Educativo e Cultura de Escola como uma dupla de conceitos fundamentais na definição

de identidades primordiais no rumo à integração dos actores na vida da escola.

O Projecto Educativo contribui para o desenvolvimento de um ensino de qualidade, ao

introduzir coesão e conformidade na acção educativa numa partilha de valores, numa visão

comum de objectivos a ansiar. O Projecto Educativo é, na verdade, um documento de base à

política educativa defendida pela organização escolar. Como complementaridade cultural, o

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Projecto Educativo contempla a identidade, imagem, valores e projectos que tornam cada escola

singular.

Esta singularidade existe na relação com os encarregados de educação, nas actividades

escolares, na realização de projectos comunitários, na celebração de datas específicas, na

apresentação da escola a novos elementos, enfim, em todos os actos que a caracterizam e que

se moldam em função de um público-alvo. Compete à Escola mediar este diálogo que se quer

permanente e conseguir equilibrar sentimentos, condutas sociais e, principalmente, promover

uma integração social dos discentes, afastando-se dos desequilíbrios de práticas educativas

alheias à diferença e centradas num ensino igualitário que não tira partido da magnificência do

multiculturalismo.

3. A Escola e a Diversidade Cultural:

Perceber que a Escola é um espaço de transferência de culturas implica aceitar a

diversidade de actores que por ela transitam e nela se reflectem. Esta intersecção cria situações

de tensão e salienta contrastes que, se não forem vistos num prisma de abertura, levam a

situações de parcialidade educativa.

A Escola representa um conjunto diversificado de conhecimentos e saberes, vivenciados

num espaço social e cultural partilhado por uma heterogeneidade de indivíduos. Estes devem ter

um espírito reflexivo e crítico, mas expressar o seu próprio pensamento sem atitudes de

superioridade perante a minoria. Esta miscelânea existente nas escolas recria a identidade

cultural de modo democrático se for aceite com orientações nesse sentido. Compete a todos os

actores, onde incluo a Escola e a Família, apelar a esta partilha de identidades culturais e

consequente convívio entre todas. A relação Escola/Família será fulcral neste processo de

sociabilização e na criação de vínculos entre todos os elementos da comunidade em questão.

Parece inevitável que se pense a questão do Currículo como um elemento onde seja

reflectido as motivações e carências dos discentes. Aqui a colaboração com entidades exteriores

à Escola, mas conhecedoras das características de minorias que a frequentam, parece ser

positiva no trabalho de se efectivar um currículo intercultural, promotor de sucesso escolar,

aproximando e escola e a comunidade num trabalho de partilha e cooperação intercomunitárias.

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Há que conhecer, respeitar, tecer atitudes críticas construtivas e transformar

responsavelmente, promovendo o usufruto de uma cidadania plena. A Escola mediatiza esta

troca significativa entre os indivíduos em processo de formação, mas também entre corpo

docente cuja sensibilidade para estas questões tem de ser trabalhada. Actualmente parte-se

muito para um ensino reprodutor de conhecimentos, numa sociedade conservadora e única.

A Escola deverá participar na divulgação de interculturalidades dada a sua população

escolar ser cada vez mais heterogénea. A organização escolar, hoje, continua a fazer turmas

com alunos agrupados em função das idades e dos conhecimentos. Estes aprendem os mesmos

conteúdos, num mesmo espaço físico e temporal. De seguida são submetidos aos mesmos

exames nacionais e respondem às mesmas questões. Agrupam-se em rankings que ignoram a

identidade de cada organização escolar, nem contemplam as idiossincrasias da comunidade

circundante - a este sistema chama-se ensino democrático.

É certo que a massificação do ensino que ocorreu pós 25 de Abril de 1974 criou

dificuldades às escolas. Foi necessário encontrarem-se estruturas logísticas e criarem-se normas

que possibilitasse aos docentes ministrar conjuntamente a tantos alunos.

Agora há que repensar estes valores que se creram elementares, mas que já não

respondem à crescente função socializadora da Escola. Hoje pensa-se que é importante ajustar

as práticas pedagógicas a uma disparidade social e cultural de alunos. Fala-se em respeito, mas

sobretudo em igualdade efectiva de oportunidades de sucesso académico e social.

A coabitação sociocultural implica tolerância e aceitação do pluralismo. Parece evidente

que há necessidade de uma intervenção política no caminho que se tem vindo a percorrer, mas

cada escola pode traçar o seu caminho na promoção de uma relação justa entre as diversidades

culturais.

O diálogo começa na sala dos professores e, só depois, será levado até ao contexto sala

de aula. A preparação do aluno está nas mãos do professor que se quer alerta para estas

problemáticas e em formação permanente no sentido de melhorar a sua aptidão académica e

profissional. Reconhecer as culturas e aceitar diferenças levará à divulgação de valores comuns

num futuro em conjunto.

Democratizar o ensino será comunicar em várias línguas e vários dialectos. Importa abrir a

Escola ao desafio e procurar uma cultura que seja capaz de interagir com outras, mobilizar os

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seus elementos, socializar e integrar pacificamente. A Escola deve reconhecer a necessidade da

mudança permanente e, consequente, busca de equilíbrio.

A aprendizagem não está apenas relacionada com aspectos biológicos dos indivíduos,

mas com estímulos recebidos ao longo da vida. Cada um tem a sua identidade particular e única,

reflexiva de factores exteriores que a escola não pode anular. Como diz Morin1, «a cultura é

constituída pelo conjunto de saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças,

ideias, valores, mitos, que se transmitem de geração em geração, se reproduzem em cada

individuo, controlam a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social

(…) Assim, sempre existe a cultura nas culturas, mas a cultura existe apenas por meio de

culturas».

4. O lugar da Escola e do Currículo na

Educação Intercultural:

Neste panorama de ideias, e citando Forquin (1989), «o pensamento pedagógico

contemporâneo não se pode esquivar de uma reflexão sobre a questão da cultura e dos

elementos culturais dos diferentes tipos de escolhas educativas». Ora, o saber é reflectido e

contextualizado na organização educativa. As escolas e o modo como transmitem conhecimentos

caracterizam as suas intenções pedagógicas que devem ser interculturais, criando experiências

nas quais a apropriação do saber se intersecciona com identidades culturais. Neste sentido, deve

haver investimento no corpo docente que deverá adaptar as suas atitudes pedagógicas à

instituição onde estão inseridos. Não podemos desprezar a problemática dos conteúdos e

programas curriculares, assim como também dos meios físicos e materiais que condicionam esta

adaptação, muitas vezes beneficiando desigualmente as culturas dos discentes da organização.

Presentemente, a Escola está atenta a estas diferenças e à necessária igualdade de

oportunidades, daí que o trabalho pedagógico tenha vindo a ser desenvolvido em torno de

valorização e produção cultural da escola.

1 Morin, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2001.

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4.1 A resposta da Escola:

Compreendemos que a diversidade é natural à espécie humana: seres humanos são

dissemelhantes nas suas práticas culturais, são particulares nas suas personalidades e são

também variados nas suas formas de conceber o mundo. Os seres humanos apresentam, ainda,

multiplicidade biológica.

Ora, ao estarem integrados na Escola, terá de ser aqui que se defende o direito de todos à

educação e formação e o direito à igualdade de oportunidades, logo não se pode negligenciar

este multiculturalismo nem as diversidades referidas

. Sabemos que a educação escolar é um factor fundamental no desenvolvimento do

indivíduo como pessoa e como ser social, daí que seja importante a promoção de um currículo

que responda às diversidades.

Os currículos e rotinas escolares que promovem este aspecto aproximam-se mais da

riqueza da diversidade humana, cultural e social, melhorando os processos de socialização de

todos. Sem diferenciação pedagógica teremos cada vez mais desigualdades que se acentuam.

Relativamente à diversidade cultural, somos diferentes, mas algo análogos. Há

comportamentos partilhados e outros que se apresentam como um desafio no caminho para a

convivência. A diversidade constrói-se num contexto social, histórico e político que tem de ser

trabalhado num diálogo aberto e susceptível de reinterpretações.

O Currículo reflecte essas reinterpretações e pontos de vista, levados em consideração

nas atitudes pedagógicas, nas relações sociais que se estabelecem nos actores que preenchem

determinado espaço escolar. O Currículo não é um processo de transmissão de conteúdos

programáticos, é, sim, um reflector de carácter político, histórico e social, onde se criam relações

de poder entre grupos sociais distintos. Assim, o Currículo é um conjunto de ideias, experiências

e práticas que se definem entre actores que partilham relações de poder efectivas.

O Currículo reflecte o facto de aos alunos lhes ter sido aceite o direito à diversidade na

própria Lei de Bases do Sistema Educativo - «O sistema educativo organiza-se de forma a: d)

Assegurar o direito à diferença, mercê do respeito pelas personalidades e pelos projectos

individuais da existência, bem como da consideração e valorização dos diferentes saberes e

culturas», Artº3º.

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Um dos aspectos presentes na Educação será a questão da política educacional num

panorama onde a Escola é vista como um espaço de socialização e inserção social numa

pluralidade cultural.

A aceitação deste facto permite o reconhecimento da cultura do professor, do aluno e da

comunidade da qual a organização faz parte. Ao reconhecermos as diversidades culturais em

todos os seus prismas – históricos, culturais e sociais – aceitamos a necessidade de um novo

modelo curricular: «A política curricular do ME deve, como é hoje admitido no discurso oficial,

reservar à escola opções e decisões acerca de o que ensinar e de quando ensinar e não apenas

acerca de como ensinar. Isto é, o currículo oficialmente prescrito deve ser aberto» (Diogo,

Fernando)2

Salvaguarde-se que o facto de as escolas perceberem a necessidade de interagirem com

a comunidade circundante e de desenvolverem o currículo em projectos interdisciplinares não

afasta a predomínio de um ensino ainda muito centrado na transmissão de conhecimentos e

menos na construção de saberes sobre o mundo que rodeia os discentes, facilitadores da sua

integração social.

Hoje é pertinente que se criem interacções em toda a estrutura da organização escolar. A

ligação Escola/Sociedade deve ser significativa e promotora do desenvolvimento de

competências, distantes da lógica da reprodução de saberes cognitivos.

4.2 Alternativas Curriculares:

Ao falarmos de diversidade curricular e igualdade de oportunidades somos levados a

pensar em alternativas curriculares promotoras destes princípios ideológicos e perceber qual o

papel do professor neste contexto de heterogeneidades.

À priori, percebemos que a existência de diversidades implica mudanças no currículo;

mudanças políticas; ideológicas e individuais. Há que repensar os discentes em todas as suas

vertentes, isto é, nas suas identidades e modos de interagiram.

Não esquecendo que a diversidade é uma grandeza social, compete à escola/professores

nutrir respeito e defender idiossincrasias. As atitudes pedagógicas dos docentes devem ser

2 DIOGO, Fernando (2007/08) «Teoria do Currículo e Desenvolvimento Curricular», Textos de Apoio: 33.

ESE

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fundamentadas por estas directrizes, compreendendo que a educação é um direito básico a todo

o ser humano, assim como a igualdade de oportunidades.

Assim sendo, a escola deve criar condições para que o direito universal à Educação e

igualdade de oportunidades, em conjunto com o respeito pelas individualidades dos alunos seja

um facto concreto. A flexibilização curricular dos currículos alternativos é prioritária no tratamento

deste facto.

Os currículos alternativos são uma forma de adequar e adaptar o currículo padrão à

diversidade dos discentes. Não é um currículo menor que se destina a alunos com dificuldades

de aprendizagem ou de integração escolar. Estes currículos apostam em finalidades sociais e

resolução de problemas de integração trazidas em consequência da massificação da

escolaridade.

O currículo alternativo não será mais do que uma medida para evitar a exclusão e o

abandono escolar, criando-se inclusivamente um maior envolvimento dos docentes que se

sentem mais realizados perante o sucesso dos seus clientes.

A flexibilização curricular reflectida no currículo alternativo resulta de posições críticas,

principalmente dos docentes, face à problemática inerente aos alunos que manifestam maiores

dificuldades de aprendizagem e integração social. A escola terá a possibilidade, na plenitude da

sua autonomia, de colmatar estas situações de desigualdade. Não é tarefa fácil, até porque

estamos a falar de um sem número de desigualdades às quais é necessário responder –

culturais, étnicas, sociais, cognitivas, individuais, etc. Mas, na verdade, o direito do aluno

escolher o seu percurso educativo e o reconhecimento das diferenças transformou a educação

de massas e alterou a visão sobre o currículo prescrito, em busca de dinâmicas de inclusão

efectivas na organização escolar.

A flexibilização curricular é uma forma de se enfrentar a reprodução de desigualdades

entre os alunos e atenuar as próprias desigualdades sociais. É certo que a Escola não poderá

solucionar todos os problemas relacionados com a estratificação social, mas pode dissipá-los. Ao

promover estes currículos promove a integração social tendo como base as expectativas dos

alunos e as suas condições individuais. Ao persistirmos em divulgar um currículo padrão prescrito

a nível nacional sentenciamos os alunos ao insucesso escolar e, consequentemente, ao

insucesso social. A intenção da Escola falha e a escola, enquanto promotora de igualdade de

oportunidades, deixa de fazer sentido.

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O currículo tem de ter significado e ser objectivamente claro para os seus destinatários. Na

verdade, a diferenciação curricular acontece no Projecto Curricular de Escola e, por conseguinte,

no Projecto Curricular de Turma, pois ambos dever ser responsáveis pela aceitação de

identidades específicas e respeitá-las de forma a promover o sucesso de todos. É clara uma

responsabilização nesta flexibilização do currículo do órgão de gestão da organização. Este

processo engloba todos actores da organização, principalmente os professores e implica um uso

da autonomia curricular inerente à autonomia das escolas. A configuração de currículos

específicos ao público a que se destinam implica um trabalho docente acentuado, assim como

também alterações a nível da organização do sistema educativo e da aplicação do currículo na

escola.

Saliente-se que o facto de um aluno estar integrado num currículo alternativo não implica

que não possa prosseguir estudos superiores futuramente.

5. Globalização e Diversidade: O papel do professor:

O currículo prescrito torna acessível para todos aprendizagens e competências

fundamentais. Este promove a distribuição de pré-requisitos para se apreender outras

aprendizagens importantes numa escola democrática e inclusiva. No entanto, não podemos

educar todos os alunos indiscriminadamente, sob o prejuízo de se desvalorizar o diálogo entre

culturas identificativas da comunidade onde o aluno está inserido.

Estamos numa era de globalização social/geográfica. Eliminaram-se fronteiras culturais e

formaram-se micro sociedades em espaços concretos. Hoje vive-se a concretização de

identidades históricas, sociais, étnicas e culturais em espaços de partilha e compromisso entre as

partes envolvidas.

A escola é um espaço privilegiado neste diálogo, uma vez que ao ser massificada e

obrigatória, tornou-se um local de preparação das crianças e dos jovens para a integração social

no mundo dos adultos.

A homogeneidade não existe, daí que se fale em conflitos entre a globalização e a

diversidade, mas é destes conflitos que sai um enriquecimento cultural. Aliás, o acto educativo

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não é simples. Já não se fala apenas em transmissão de conhecimentos do currículo oficial de

modo linear.

Hoje não se esquecem as singularidades, isto é, as subjectividades não ponderadas no

currículo nacional. Ora, insistirmos num currículo único seria negar o processo de globalização e

falhar nos princípios da própria escola de massas – igualdade de oportunidades e afastamento

da exclusão social.

5.1 O Professor:

O professor adquire um papel primordial neste processo de organização curricular em torno das

idiossincrasias da comunidade onde a escola está integrada. Ao currículo oficial nacional terá de

acrescentar um diálogo entre culturas e promover trocas saudáveis entre todos os actores. A

partir daqui poderá haver uma apropriação de conhecimentos e competências que a escola quer

divulgar. O conhecimento é trabalhado e adaptado à realidade, na verdade, há uma modelação

do currículo oficial feita pelo professor que se torna um investigador/observador participante.

O contacto in loco com os alunos em contexto sala de aula e escola facilita o acesso do professor

à análise das competências de cada um. O professor fará o filtro do sistema escolar, educativo e

social, criando ligações,contactos cognitivos e culturais positivos.

Como um espaço multicultural, a Escola será a possibilidade de se mostrarem todas as

identidades necessárias na estruturação das aprendizagens dos alunos. O Professor terá de ter

vontade em investigar no conhecimento dos seus discentes e resolver diariamente o conflito

entre a globalização e a diversidade. Ao apostar no respeito e consideração pela diferença faz do

currículo oficial o início de um currículo vivido plenamente pelos alunos no processo de coesão e

integração social.

6. Conclusão:

A educação intercultural tem subjacente uma gestão flexível do currículo de

suma importância na Escola e na actuação dos professores nas adaptações

curriculares que devem fazer. Fala-se numa adequação do trabalho docente à

diversidade dos contextos culturais no sentido de se atingir um ensino mais capaz de

promover a igualdade de oportunidades. É imperativo perceber que cada escola tem de

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ter um projecto educativo específico para a sua comunidade, logo terá de exercitar o

seu direito à autonomia escolar.

Os professores necessitam de participar nesta configuração de um ensino

menos centralizado. Educar é mais do que passar conhecimentos académicos; é

instruir sob o ponto de vista individual e social – eis o novo paradigma da escola

inclusiva.

Ora, é no exercício de interdisciplinaridade que o currículo vivido se integra mais

capazmente e se afasta do ensino monodisciplinar de até então.

A Escola abre-se à comunidade, criando relações entre ela e os seus elementos

que deverão ser tidas em conta quando se integram alunos oriundos de culturas, etnias

e raças diferentes. A criação de turmas de Percursos Alternativos e as Adaptações

Curriculares são as respostas, entre outras, como os Cursos de Formação Profissional,

que a escola procura no sentido de permitir a estes alunos uma escolha mais

adequada às suas expectativas de futuro laboral. No entanto, em momento algum lhe é

retirada a possibilidade de prosseguirem estudos a avançarem na sua vida académica.

Isto não seria possível se executássemos o currículo prescrito como único.

Para além de educar a escola procura nesta flexibilização curricular instruir os

discentes, mostrando aos docentes a possibilidade de livremente desenvolverem

processos significativos de transmitirem conteúdos, sem isolarem os alunos da sua

identidade cultural. Há, claramente, um afastamento das práticas lectivas uniformes,

quase estandardizadas.

No processo de globalização que se tem vindo a realizar deixou de ser profícuo

definir os mesmos objectivos, conteúdos, usar os mesmos materiais educativos e

organizar a carga lectiva nos mesmos moldes. Há que respeitar heterogeneidades,

estruturando dinâmicas de inclusão e interacção pedagogicamente diferenciadas.

Nesta perspectiva, torna-se imprescindível reconhecer à escola a sua

autonomia, e fazê-la acreditar que pode ser inovadora, mudando a visão que alguns

alunos nutrem pela escola. Os projectos curriculares, se adequados pelos professores,

são funcionais e promovem uma educação escolar de qualidade na construção de

saberes prescritos e vividos, só assim gerando inovação, integração e aproveitamento

de recursos no caminho para o sucesso de todos.

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Citando Diogo (2004)3, «A gestão flexível do currículo pressupõe e exige um

professor reflexivo e colaborativo que centre as suas preocupações e a sua acção na

aprendizagem e não no ensino, partilha conhecimento e interrogações, assume

responsabilidades e desafios e investiga com os seus pares os caminhos da

adequação educativa aos seus destinatários».

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