EDUCAÇÃO ESTÉTICA E ARTÍSTICA

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EDUCAÇÃO ESTÉTICA E ARTÍSTICA ABORDAGENS TRANSDISCIPLINARES Coordenação da Edição Joãú Pedro Fróis Autores Abigail Housen, Bjarne Sode FUllCh, Colín Martíndale, Drnitry Leontiev, Elisa de Barros Marques, Holger Bage,João Pedro Fróis, Michae1 Parsons, Philip Ycnawine, Rui Mário Gonçalves TEXTOS DA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL EDUCAÇÃO ESTÉTICA E ARTÍSTICA FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN SERVIÇO DE E BOLSAS

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Page 1: EDUCAÇÃO ESTÉTICA E ARTÍSTICA

EDUCACcedilAtildeO ESTEacuteTICA E ARTIacuteSTICA

ABORDAGENS TRANSDISCIPLINARES

Coordenaccedilatildeo da Ediccedilatildeo Joatildeuacute Pedro Froacuteis

Autores Abigail Housen Bjarne Sode FUllCh Coliacuten Martiacutendale Drnitry Leontiev

Elisa de Barros Marques Holger BageJoatildeo Pedro Froacuteis Michae1 Parsons Philip Ycnawine Rui Maacuterio Gonccedilalves

TEXTOS DA CONFEREcircNCIA INTERNACIONAL EDUCACcedilAtildeO ESTEacuteTICA E ARTIacuteSTICA

FUNDACcedilAtildeO CALOUSTE GULBENKIAN

SERVICcedilO DE EDUCACcedil~O E BOLSAS

Traduccedilatildeo Maria Emiacutelia Castel-Branco

Tratamento dos graacuteficos do texto de Michael Parsons Carlos Fazenda

Reservados todos os direitos de acordo com a lei Ediccedilatildeo da

FUNDACcedilAtildeO CALOUSTE GULBENKIAN Av de Berna ILisboa

2000

Depoacutesito Legal N 158 85300 ISBN 972-31-0905-0

IacuteNDICE

Nota Preacutevia 9

Apresentaccedilatildeo

Manuel Carmelo Rosa 11

Introduccedilatildeo

Nataacutelia Pais 13

Arte e Ciecircncia no Seacuteculo XX

Rui Maacuterio Gonccedilalves 17

Esteacutetica Experimental Origens Experiecircncias e Aplicaccedilotildees

Holger H6ge 29

Esteacutetica e Cogniccedilatildeo

Colin Martindale 67

Tipos de Apreciaccedilatildeo Artiacutestica e sua Aplicaccedilatildeo na Educaccedilatildeo de Museu

Bjame Sode Funch 109

Ftmccedilotildees da Arte e Educaccedilatildeo Esteacutetica

Dmitry A Leontiev 127

O Olhar do Observador Investigaccedilatildeo Teoria e Praacutetica

Abigail Housen 147

Dos Repertoacuterios agraves Ferramentas Ideias como

das Obras de Arte

Michael Parsons

Ferramentas para a Compreensatildeo

169

Da Teoria agrave Praacutetica Estrateacutegias do Pensamento Visual

Philip Yenawine 191

A Educaccedilatildeo Esteacutetica e Artiacutestica na Formaccedilatildeo ao Longo da Vida

Joatildeo Pedro Froacuteis Elisa de Barros Marques Rui Maacuterio Gonccedilalves 201

Notas biograacuteficas 245

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FUNCcedilOtildeES DA ARTE E EDUCACcedilAtildeO ESTEacuteTICA

DMTRY A lEONTIEV

A educaccedilatildeo esteacutetica como problema

Qualquer tipo de educaccedilatildeo eacute uma praacutetica social que prossegue o objecshytivo de proporcionar agraves pessoas determinados aspectos da experiecircncia social acumulada partilhada dentro de determinada sociedade Exemplos de uma tal experiecircncia partilhada satildeo o conhecimento do universo normas sociais conshycepccedilotildees do mundo crenccedilas e ideologias incluindo reliacutegiotildees e know-how assim como aptidotildees praacuteticas do quotidiano A apropriaccedilatildeo de toda esta experiecircncia pelos indiviacuteduos eacute uma parte substancial se natildeo uma parte significativa do proshycesso de socializaccedilatildeo Um aspecto da socializaccedilatildeo eacute a adaptaccedilatildeo social de uma pessoa a um sistema especifico de normas e regulamentos sociais que o desenvolvimento da competecircncia praacutetica e social para a interacccedilatildeo efectiva com o sistema social para a adaptaccedilatildeo satisfatoacuteria e efectiva agraves regras sociais Um outro aspecto eacute o desenvolvimento da identidade social de lima pessoa Temos de ter presente que cada pessoa possui uma identidade social muacuteltipla porque ela pertence a um determinado nuacutemero de entidades sociais que diferem em extensatildeo e criteacuterios do sentido de pertenccedila Mais evidentes satildeo as identidades sociais nacionais e eacutetnicas (eu sou russo afro-americano ou portushy

religiosase ideoloacutegicas (eu sou catoacutelico budista ou comunista) profisshysionais e ocupacionais (eu sou um universitaacuterio um trabalhador industrial ou um comerciante) Menos evidentes mas natildeo menos importantes satildeo as identishydades microssociais tais como a consciecircncia que uma pessoa tem de si mesma como membro de uma determinada famiacutelia grupo de pares escola clube bando etc O niacutevel mais elevado de identidade pode designar-se identidade transocial que eacute a consciecircncia que uma pessoa tem de si mesma como ser humano e cidadatildeo do mundo tendo muito em comum com pessoas do outro lado das barreiras nacionais eacutetnicas religiosas liacutenguiacutesticas e de quaisquer outras Todavia muitas pessoacuteas nunca atingem este niacutevel de identidade Todos os niacuteveis de identidade social baseiam-se na apropriaccedilatildeo e assimilaccedilatildeo da expeshyriecircncia de valores e significados de outras formas de mitologia social acumushylada dentro do correspondente sistema social que satildeo transmitidas atraveacutes do sistema de ensino

A educaccedilatildeo esteacutetica natildeo se insere perfeitamente neste esquema Quando falamos de educaccedilatildeo esteacutetica eacute bastante difiacutecil definir o que estamos a ensinar Certamente que natildeo estou a falar do conhecimento da Histoacuteria e Teoria da Arte que se ensinam e aprendem como qualquer outra teoria do conhecimento

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A educaccedilatildeo esteacutetica natildeo se pode reduzir exclusivamente ao conhecimento nem agrave informaccedilatildeo Sabemos tanto teoacuterica como intuitivamente (experimentalmente) que o contacto com a arte adequadamente vivido e assimilado tem algo a ver com o processo mais iacutentimo do desenvolvimento pessoal e da personalidade do que simplesmente com a adaptaccedilatildeo social Abraham Maslow (1971) insistiu que a educaccedilatildeo esteacutetica tem de se tornar no modelo no paradigma para todas as outras formas de educaccedilatildeo porque actualmente natildeo faz sentido que o ensino tenha apenas um conteuacutedo profissional em faculdades e universidades muito do qual jaacute estaacute completamente ultrapassado por ocasiatildeo da conclusatildeo da licenshyciatura O objectivo da educaccedilatildeo devia consistir em promover a auto-realizaccedilatildeo dos alunos o seu desenvolvimento pessoal ajudando-os a desenvolver o melhor do seu potencial Para a educaccedilatildeo esteacutetica este objectivo parece ser extreshymamente evidente mas a sua realizaccedilatildeo parece menos oacutebvia

Natildeo obstante a ideia de Maslow poder deparar com diferentes opiniotildees natildeo resta qualquer duacutevida que a educaccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute uma parte integral da educaccedilatildeo em geral Difere pelo seu objecto meacutetodos propoacutesitos e resultados pretendidos Em determinado sentido aproxima-se mais da Psicoterapia e da Formaccedilatildeo Psicoloacutegica do que da Educaccedilatildeo entendida no seu sentido tradishycional uma vez que a Educaccedilatildeo Esteacutetica se ocupa da transformaccedilatildeo da persoshy

nalidade no seu conjunto Entatildeo quais satildeo os objectivos e resultados pretendidos da Educaccedilatildeo

Esteacutetica Vale a pena discutir este ponto A primeira resposta eacute que aquilo que devemos ensinar na Educaccedilatildeo Esteacutetica eacute a capacidade de perceber e entender a arte e a beleza em geral Esta simples formulaccedilatildeo levanta no entanto muitas questotildees O que eacute a arte O que quer dizer perceber e entender (adeshyquadamente) a arte Porque eacute que as pessoas deviam ser capazes de realizar este objectivo Que resultados sociais e psicoloacutegicos deveriacuteamos esperar e promover Uma abordagem da Educaccedilatildeo Esteacutetica natildeo pode ignorar estas

questotildees O que torna difiacutecil responder a estas questotildees eacute que a arte genuiacutena tem

uma natureza multifacetada - pode interagir com diferentes pessoas e mesmo ateacute com uma soacute pessoa a diferentes niacuteveis e de diferentes maneiras

O que eacute a arte e porque eacute que as pessoas precisam dela Considero ser esta a pergunta chave da Psicologia da Arte (ver Leontiev 1992) Na linguashygem da proacutepria arte a formulaccedilatildeo mais precisa deste problema eacute a pergunta

do priacutencipe Hamlet

o que significa Heacutecuba para ele e ele para Heacutecuba para que ele chore por ela

(Shakespeare W Hamet acto 2 cena 2)

A arte tem muitos aspectos e alguns destes aspectos partilham caracteriacutesshyticas comuns com outros fenoacutemenos (por exemplo os meacutedia a comunicaccedilatildeo interpessoal a psicoterapia o amor etc) enquanto outros satildeo uacutenicQs e idiossinshycraacuteticos Alguns satildeo essenciais e outros permanecem superficiais O que eacute mais essencial na arte - isto eacute a sua capacidade de transmitir significados pessoais humanos de realidade - natildeo corresponde aquilo que a torna uacutenica ou seja a capacidade de exercer um impacto profundamente sentido no acircmago da pershysonalidade hUf1ana (ver Leontiev 1992 1998) A arte devia ser definida atraveacutes das suas caracteriacutesticas uacutenicas essenciais que soacute se podem ver nos efeitos da sua interacccedilatildeo com uma pessoa Por outro lado deviacuteamos ter consciecircncia que a arte nem sempre manifesta estes traccedilos mais profundos mostrando muitas vezes apenas a sua estrutura superficial Umadefiniccedilatildeo a priori da arte eacute quase imposshysiacutevel no entanto vou propor um tipo de definiccedilatildeo depois de uma anaacutelise mais detalhada Como ponto de partida temos de aceitar que a arte eacute tudo o que se designa a si mesma arte por qualquer razatildeo Este pressuposto embora incorshyrecto de um ponto de vista acadeacutemico estaacute todavia muito perto do verdadeiro ponto de partida de um principiante inculto e inexperiente no mundo da arte e dos objectos quase-arte que natildeo possui qualquer criteacuterio para diferenciar a laquoverdadeiraraquo arte dos seus substitutos

Arte e personalidade monoacutelogo ou diaacutelogo

Seraacute que um especialista erudito possui os criteacuterios para distinguir a vershydadeira arte Em determinado sentido sim Com efeito tem-se demonstrado que os especialistas e principiantes natildeo soacute revelam diferentes niacuteveis de competecircnshycia como tambeacutem processam a informaccedilatildeo esteacutetica de modo diferente A pershycepccedilatildeo artiacutestica baseia-se em diferentes mecanismos psicoloacutegicos nestes dois casos (Cupchik Gebotys 1988) Estas variantes foram conceptualizadas em tershymos de diferenccedilas entre modos reactivos natildeo criacuteticos e superficiais de reagir agrave arte por um lado e por outro entre modos profundamente penetrantes e reflectidos (Cupchik Winston 1992) e ainda mais tarde em termos diferentes entre o laquoeu pensanteraquo middote o laquoeu enquanto estafgto (Cupchik Leonard 1997) Este esquema dualista eacute todavia ccedillemasiado simples A reacccedilatildeo espontacircnea imediata de um principiante sem reflectir sobre o sentido eacute seguramente superficial e ingeacutenua No entanto a resposta reflectida de um especialista baseada numa proshyfunda penetraccedilatildeo na produccedilatildeo artiacutestica que implica um profundo processashymento pode tambeacutem ser incompleta se perder em relevacircncia e envolvimento pessoais e se for isolada do contexto pessoal Esta dicotomia reproduz essenshycialmente a dicotomia do cognitivo versus afectivo razatildeo versus sentimento mantida pela ciecircncia da psicologia desde tempos remotos Eu considero esta dicotomia ambiacutegua Nem uma atitude reflectiva sem envolvimento pessoal nem

I 129128

I oL

uma reacccedilatildeo emocional sem uma penetraccedilatildeo mais profunda conseguem proshyporcionar uma compreensatildeo adequada da arte

Se tratarmos a arte como uma forma de comunicaccedilatildeo (ver por exemplo A A Leontiev 1997) vemos que tanto a laquosituaccedilatildeo do especialistaraquo como a laquosituashy

do principianteraquo representam posiccedilotildees de comunicaccedilatildeo monoloacutegica No caso o espedalista surge como o sujeito e a produccedilatildeo artiacutestica como

o obJecto do juiacutezo No segundo caso a produccedilatildeo artiacutestica surge como o sujeito e o receptor inexperiente como deg objecto do impacto artiacutestico O modelo aplica-se perfeitamente ao consumo da cultura de massas que eacute um exemplo da orientaccedilatildeo estritamente monoloacutegica Poreacutem a comunicaccedilatildeo genuiacutena profunda e iacutentima eacute de natureza dialoacutegica Num diaacutelogo ambos os parceiros estatildeo abertos entre si prontos a mudar com os seus mundos interiores prontos a interagir (ver por exemplo Bakhtin 1979 Davis 1988) Se levarmos a seacuterio que a arte tem algo a ver com o desenvolvimento da personalidade temos de aceitar que isto soacute pode ocorrer em diaacutelogo na interacccedilatildeo de dois mundos com significado A traduccedilatildeo a recepccedilatildeo de informaccedilatildeo (cogniccedilatildeo) e a expressatildeo de emoccedilotildees natildeo pressupotildeem relaccedilotildees dialoacutegicas

O que soacute acontece em diaacutelogo eacute a conversatildeo do significado pessoal ou sentido pessoal (ver O Leontiev 1991) A N Leontiev caracterizou a arte como laquoa actividade que preenche a tarefa de revelar expressar e comunicar um senshytido pessoal da realidaderaquo (1983 p 237) Uma obra de arte natildeo se revela les que a tratam como um texto em vez de a tratar como um microcosmos de significados vivos do nosso mundo Para se poder penetrar para aleacutem do texto para aleacutem do quadro e conseguir entrar em contacto com os significados viacutevos uma pessoa tem de renunciar temporariamente agrave sua posiccedilatildeo uacutenica pessoal (parcial) no mundo assim como renunciar ao seu ponto de vista exclusivo e aceitar a posiccedilatildeo do artista olhando para o mundo atraveacutes dos olhos do artista Uma obra de arte eacute uma janela para o mundo do artista que estaacute aberta apenas para uma visatildeo de um ponto de vista uacutenico ou o do autor Para se assumir a posiccedilatildeo do autor uma pessoa tem de renunciar ao seu ponto de vista pessoal transformando-o numa atitude esteacutetica que eacute essencialmente uma atishytude de diaacutelogo a atitude de uma aceitaccedilatildeo imparcial e sem viacutenculos emoshycionais O paradoxo da percepccedilatildeo esteacutetica reside no facto de que soacute renunshyciando agrave percepccedilatildeo pessoal de uma obra de arte atraveacutes do prisma dos proacuteprios

pessoais ecirc que o observador consegue compreender a obra em toda a plenitude do seu significado e nesta enriquecer o seu proacuteprio mundo interior O primeiro passo neste processo ver uma imagem do mundo de determinada pessoa por detraacutes da do mundo e assumir em relaccedilatildeo a ela uma atitude empaacutetica de diaacutelogo permite ir mais longe ou da imagem do mundo para o mundo em si Nesta fase os significados contidos na obra interagem com as estruturas de sentido da personalidade do receptor Este processo conduz agrave absorccedilatildeo dos novos conteuacutedos e aspectos nas estrumiddot

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tmas de significado individuais se natildeo houver contradiccedilatildeo entre elas ou no efeito de catarse se houver contradiccedilatildeo entre os significados contidos na obra de arte e os que satildeo inerentes agrave do mundo do indiviacuteduo Isto pro move o colapso dos estereoacutetipos de sentido pessoais acrescido de um relevo enriquecido de uma percepccedilatildeo do mundo e do desenvolviacutemento da capacidade de ver objectos e eventos simultaneamente de muitos pontos de vista em muitos contextos e significados potenciais Este uacuteltimo eacute o preacute-requisito indisshypensaacutevel para o desenvolvimento da faculdade humana baacutesica para a objectivishydade (ver Fromm 1956 pp 64-65) Eacute por isso que ao desenvolver contactos com a arte um indiviacuteduo torna as suas relaccedilotildees com o mundo mais flexiacuteveis sigshynificativas e orientadas para o futuro tornando-se mais adaptadas no sentido mais lato do termo laquoA arte daacute-me a oportunidade de viver vaacuterias vidas em vez de uma soacute e consequentemente de enriquecer a experiecircncia da minha vida real de me unir a partir da interiacuteor com outra vida soacute com essa finalidade e em beneficio do seu significado vitahgt (Bakhtin 1979 p72)

EVasilyuk (1988) introduziu o conceito de experiecircncia como actividade interior do espiacuterito ao lidar com transformaccedilotildees das estruturas de sentido da personalidade para restaurar a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo indivishyduai da realidade e a vida pessoal Vasilyuk lidou com situaccedilotildees importantes na vida e elaborou as suas ideias de experiecircncia para incluir o contexto psicotera-

Foi o primeiro a descrever transformaccedilotildees decisivas de uma esfera de sentido pessoal - produccedilatildeo do tal como designou este processo que ecirc uma consequecircncia do conflito insoluacutevel da incompatibilidade do mundo inteshyrior de uma pessoa com a realidade do mundo exterior Podemos encontrar transformaccedilotildees deste gecircnero em dois outros tipos de (ver D Leontiev 1997) Uma ecirc a situaccedilatildeo de profunda comunicaccedilatildeo dialoacutegica interpessoal com alteridades significativas que resulta no fenoacutemeno do laquoinvestimento da pershysonalidaderaquo (petrovsky J985) quando eu sinto a presenccedila de uma alteridade sigshynificativa dentro de mim e da sua influecircncia relativa agraves minhas decisotildees e acccedilotildees Um outro tipo eacute a situaccedilatildeo de interacccedilatildeo dialoacutegica com uma obra de arte

Estas trecircs classes de tecircm algo em comum Com efeito as transshyformaccedilotildees de sentido podem apenas ocorrer como resultado do encontro do meu proacuteprio mundo iacutentimo com um outro mundo que revela uma certa conshytradiccedilatildeo entre esses dois m1ll1dos Este segundo mundo pode ser o mundo exteshyrior onde eu vivo como no caso de situaccedilotildees vitais descritas por F pode ser o mundo interior de uma alteridade signit1cativa tal como nos efeitos do investimento de personalidade ou pode ser um mundo criado e objectivado numa peccedila de arte tal como no caso dos efeitos transformadores do encontro cataacutertico com a arte O que eacute diferente nestes trecircs casos eacute em primeiro lugar o grau de necessidade destas transformaccedilotildees de sentido Em momentos de crise

ou em situaccedilotildees vitais o sujeito depara-se com a impossibilidade de manter o sistema estabelecido de relaccedilotildees com o mundo natildeo existe uma altershy

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nativa razoaacutevel para esta mudanccedila excepto por uma forte defesa psicoloacutegica e porventura o desenvolvimento de uma psicopatologia Nos encontros com a arte pelo contraacuterio natildeo existe qualquer necessidade externa de mudanccedila Aceitar ou natildeo novos significados eacute uma questatildeo de livre escolhat por isso que Vygotsky escreveu laquoA arte eacute a organizaccedilatildeo do nosso futuro comportamento eacute um requisito que jamais pode ser preenchido mas que nos obriga a lutar para aleacutem da nossa vida em direcccedilatildeo a tudo o que a transcenderaquo (1971 p 253) r~ta foacutermula ajuda-nos a compreender a ligaccedilatildeo da arte com o lado pragmaacutetico da existecircncia humana Sem duacutevida a arte transcende sempre quaisquer necessishydades de uma determinada situaccedilatildeo imediata Contudo natildeo eacute irrelevante para os aspectos adaptativos da vida Eacute como se fosse uma aprendizagem latente sem uma ideia clara de quando e como aplicar os talentos adquiridos - natildeo se pode designar inuacutetil embora possa parececirc-lo A comunicaccedilatildeo interpessoal assume uma posiccedilatildeo intermeacutedia o seu acircmago eacute revelar e assimilar os significados que tecircm as coisas para os outros o que natildeo eacute absolutamente imprescindiacutevel mas desejaacutevel se se quer viver em harmonia com os outros

Adquirir novos significados em consequecircncia de um encontro com o mundo de uma criaccedilatildeo artiacutestica pode considerar-se um criteacuterio necessaacuteshyrio quer tenha havido ou natildeo total compreensatildeo da obra Este processo presshysupotildee mais do que a descoberta destes significados O aspecto mais importante eacute o processo de relacionar o proacuteprio mundo significativo do receptor com o mundo do artista objectivado na peccedila de arte dois significados laquotecircm de entrar em contacto iacutentimo ou em ligaccedilatildeo de sentido entre siraquo (Bakhtin 1979 p 219) Um especialista imparcial extrai de uma produccedilatildeo artiacutestica determinashydos significados semacircnticos um espectador inexperiente extrai determinadas emoccedilotildees superficiais Ambos satildeo incapazes de tocar no acircmago da verdadeira arte que eacute o sentido pessoal O que deviacuteamos ensinar eacute a atitude dialoacutegica para com a arte a capacidade natildeo apenas de ver o mundo significativo que transshycende os meios expressivos mas tambeacutem de nos relacionarmos pessoalmente com este mundo de nos abrirmos a ele e de nos enriquecermos com os

nificados aiacute descobertos

Variaacutevel intermeacutedia competecircncia esteacutetica

Todavia mesmo pessoas potencialmente capazes de chegar a um tal encontro dialoacutegico significativo nem sempre tecircm ecircxito As razotildees para este frashycasso podem tanto atribuir-se agraves proacuteprias pessoas (agraves suas motivaccedilotildees comshypetecircncia esteacutetica ou mundo interior) aos objectos de arte como agrave situaccedilatildeo

Comecemos pelo primeiro Nem todos os receptores conseguem que todas as obras de arte lhes

falem Eacute necessaacuterio uma chave especial em cada caso Eu dou a esta chave o

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nome de competecircncia esteacutetiacuteca que implica a capacidade do leitor espectador ouvinte para extrair conteuacutedos de significado de diferentes niacuteveis de profundishydade da textura esteacutetica de uma produccedilatildeo artiacutestica Esta variaacutevel reflecte o niacutevel geral do desenvolvimento esteacutetico de uma pessoa a sua experiecircncia de enconshytros pessoais com a arte

A competecircncia esteacutetica eacute um dos factores essenciais que determinam o processo e os resultados do encontro ~sectsoaaill embora natildeo seja o uacutenico (ver D Leontiev 1998) Dois outros factores satildeo o mundo interior (a estrutura de sentido da personalidade) e as necessidades dominantes que definem subsshytancialmente a opccedilatildeo individual dos geacuteneros estilos escolas e obras de arte que se encontram

Com base nas obras teoacutericas e experimentais existentes podemos destacar pelo menos trecircs aspectos interligados da compeliJnciCl esteacutetica O primeiro

ly aspecto eacute a ltQllpexidade cognitiva da visatildeo do mundo que um indiviacute~uo ~m

lQ a capacidade Qessoal dJJQID~flder a ambi~dade e de vs as QossibilJ$Qes l ~_()isas tecircm de mudar de ser diferenes O segundo aspecto eacute o domiacutenio g que uma pessoa tem das laquolinguagens)) especiais de diferentes tipos geacuteneros e d estilos de arte que requer-m conjunto de laquocoacutedigQsraquo culturais (Lotman1994)

que tornam possiacutevel descodificar a informasatildeo contida nOLteXtOatildert1sti5~de modo a traduzir a estmtura de sinais de uma PLQCcedilluccedilatildeo ~tica na liacutengua materna das emoccedilotildees e significados humaQos O terceiro aspecto da com- Otilde

petecircncia esteacuteti~-o~iundo das caracteriacutesticas de actividade da percepccedilatildeo artiacutesshysi a tica (ver a seguir) eacute o~lde mestr~_~~~c_omp~~1Sias e pi9otildee~_()pe0c9ais

que define a capacidade pessoal para desempenhar a actividade de desobjectishyvaccedilatildeo de textos relevante para um determinado texto Todos estes trecircs aspectos estatildeo evidentemente ligados mas o caraacutecter da sua ligaccedilatildeo representa uma tarefa para um estudo especial

---gt lgtI- O desenvolvimento da competecircncia esteacutetica eacute assim um outro alvo para a educaccedilatildeo esteacutetica natildeo obstante ser um objectivo muito mais trivial e tradishycional A grande parte do puacuteblico de todos os geacuteneros de arte situa-se ao niacutevel inferior da competecircncia esteacutetica A induacutestria da cultura de massas contribui grandemente para-ordf ma~enccedilatildeo deste niacutevel dentro das massas produzindo obras de arte ~e-ar~er a seguir) gue exigem apenas um niacutevel muito primitivo de cORet~_~~ia Admite-se que o processo e o resultado da pershycepccedilatildeo individual de obras de laquoarte superiorraquo dependem em grande parte da competecircncia esteacutetica e de outras variaacuteveis da personalidade enquanto que no caso de obras de laquoculturas de massasraquo considera-se que esta dependecircncia eacute muito diminuta (obscurecida nos termos de C Martindale) Contudo a comshypetecircncia esteacutetica natildeo explica todas ou a maior parte das diferenccedilas individuais - do consumo de arte Existem diferenccedilas qualitativas substanciais dentro do mesmo niacutevel de competecircncia esteacutetica que exigem uma abordagem diferente

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~ flFL~E

Mais variaacuteveis intermeacutedias estrateacutegias individuais do consunlO da arte

G B Shaw observou na introduccedilatildeo a Santa Joana que muitos frequenmiddot tadores de teatro vatildeo ao teatro pelas mesmas razotildees que muitas pessoas vatildeo agrave igreja para exibir o traje para se manterem actualizados com a moda para terem

sobre que falar para admirar uma estrela para passar a noite num siacutetio qualmiddot quer excepto em casa Por outras palavras ir ao teatro eacute muitas vezes motivado por tudo excepto o interesse que diz respeito agrave produccedilatildeo dramaacutetica em si Com base na teoacuterica e existente no campo do consumo de arte (uso aqui deliberadamente este termo econoacutemicoporque nesta fase da anaacutelise esta palavra eacute a uacutenica que consegue incluir todas as diferentes formas de intemiddot

pessoamiddotarte) podemos acrescentar a esta lista de nova informaccedilatildeo sobre o mundo o seguinte recriaccedilatildeo procura de modelos de comportamento procura da soluccedilatildeo para problemas pessoais procura de significado Qrocura de certos

jlt e~tados emocionais que a vida 9UQlidiana patildeO [2[QJo[ciQ1il obtenccedilatildeo de apoio para os valores pessoais alivio dos proacuteprios pensamentos e ansiedades confirshymaccedilatildeo da proacutepria visatildeo do mundo etc etc

Em todos estes casos a arte eacute _SlII~i~_tecirc~E~lQre_ltndiltordf-lt~ifer~tes espectro destas diferentes maneiras parece contudo ser limitado

Referirmiddotmemiddotei a uma seacuterie de estudos experimentais em que procurei aplicar uma abordagem individual ao consumo de arte por oposiccedilatildeo agrave tradicional teoacutericamiddotnormativa (Leontiev 1992 1998) A abordagem teoacuterica-normativa presshysupotildee a existecircncia de um tipo padratildeo perfeito avanccedilado de laquoverdadeiraraquo pershycepccedilatildeo esteacutetica Todos os processos empiacutericos imperfeitos de consumo de arte devem ser avaliados de acordo com a proximidade destes processos empiacutericos relacionados com o processo teoacutericomiddotnormativo Do meu ponto de vista esta abordagem eacute ambiacutegua porque reduz todas as peculiaridades qualitativas da intemiddot racccedilatildeo pessoa-arte a uma uacutenica climensatildeo de laquoadequaccedilatildeoraquo Com efeito a permiddot cepccedilatildeo esteacutetica perfeita natildeo ocorre com muita frequecircncia mesmo lidando com sujeitos sofisticados Ao mesmo tempo os tipos empiacutericos ltltimperfeitos) de conmiddot sumo de arte natildeo satildeo apenas fracassos de um tipo peacuterfeito Tecircm especificidades qualitativas proacuteprias e merecem atenccedilatildeo especiaL Pode existir uma gama comshypleta de contactos entre uma pessoa e uma producatildeo artiacutestica mesmo se e_te

--__~-~-~ ------~--contacto nao tem nada a ver Coru a com~mictccedil~ordm~~ laquoExigecircncias e expec-

eS1DelclIacuteic~LS do puacuteblico podem transformar a substatildencia sigmiddot nificativa de uma produccedilatildeo artiacutestica passando esta assim a desempenhar as suas funccedilotildees sociais a adquirir popularidade e a influenciar eficazmente o puacuteblico no caso em que natildeo eacute avaliada por criteacuterios esteacuteticos e em que estaacute efectivamente fora do sistema da percepccedilatildeo esteacutetica no verdadeiro sentido do termoraquo (Dondurei 1975 p 28) Tem de se ter presente a diferenccedila entre per-Aacute p ~ fIacute=

cepccedilatildeo artiacutestia c percepccedilatildeo esteacutetica t percepcatildeo artiacutestica nem sempre eacute (e Vshynem sequer como regra) uma percepccedilatildeo esteacutetica todavia natildeo devemos excluir

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do nosso foco de interesse formas natildeo-esteacuteticas de consumo de arte espeshycialmente ao lidar com os problemas da educaccedilatildeo esteacutetica

A abordagem individual que eacute uma alternativa agrave abordagem teoacuterica-nor mativa baseiamiddotse na primazia da anaacutelise fenomenoloacutegica qualitativa dos proces sos empiacutericos da interacccedilatildeo pessoamiddotarte em toda a sua diversidade Uma teacutecnica especial de investigaccedilatildeo de livres descriccedilotildees (FD)() foi elaborada para este propoacutesito (ver Leontiev Kharchevin 1994) Pediu-se aos sujeitos que indicassem ~ quatro livros (filmes peccedilas de teatro pinturas) que tivessem recentemente lido ou visto Ao terminarem a pediumiddotsemiddotlhes que escrevessem qualquer coisa mais ou menos meia paacutegina normalizada sobre cada um destes 4 itens de modo que o leitor pudesse ter uma ideia deles

De seguida aplicaacutemos uma espeacutecie de anaacutelise de conteuacutedo agraves feitas Usando certas categorias de palavras e juiacutezos como indicadores de tipos especiacuteficos de processamento de informaccedilatildeo (no sentido mais amplo do termo) descrevemos conjuntos de estrateacutegias de descrifatildeo liacutevre Verificaacutemos que a maior parte das estrateacutegias eram essencialmente as mesmas nos estudos de difeshyrentes artes outras eram mais especiacuteficas Todo o conjunto de estrateacutegias verifi cado na nossa investigaccedilatildeo com literatura (com S Kharchevin e I Pavlova) tura (com E Dimitriyeva e E Belyaeva) e teatro (com L Lagutina) eacute apresentado no Quadro L

Numa seacuterie de estudos experimentais verificaacute mos o seguinte

1) Diferentes satildeo muttlamente independentes isto eacute natildeo reve Iam correlaccedilotildees positivas significativas entre si

2) As estrateacutegias satildeo individualmente especiacuteficas isto eacute em cada tema exisshytem 1-2 estrateacutegias claramente dominantes

3) Elas satildeo estaacuteveis intramiddotindividualmente isto eacute satildeo geralmente repro dutIacuteveis em estudos de repeticcedilatildeo do teste apoacutes 1 ano

estrateacutegias revelam certas diferenccedilas de gecircnero e manifesta dinacircmica de desenvolvimento na infacircncia

5) Elas tambeacutem revelam correlaccedilotildees significativas com determinadas variaacuteveis da personalidade

Resumindo as conclusotildees de diferentes estudos podemos concluir que existem pelo menos 7 estrateacutegias invariantes reproduzidas em todos os estudos

1 - Emocional 2 De orientaccedilatildeo para o enredOVida 3 Estiliacutesticatecnoloacutegica 4 De siacutentese

() Free descriptiolls

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QUADRO I

Estrateacutegias de descriccedilotildees livres c criteacuterios para sua identificaccedilatildeo

UTERATITRA PINTIJRA

Emocional Emocional (palavras e juiacutezos que contecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral dos livros como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata do livro)

Orientaccedileiacuteo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Analiacutetica Quiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico de arte uma anaacutelise

I I laquocondescendente usando

termos profissionais de criacutetica literaacuteria)

~ IEStiliacutestica referindo-se

~ y~ ___~~s do estilo linguagem forma esteacutetica do livro)

-

De siacutentese Quiacutezos que expressam a idela geral do livro o seu significado ou moral)

Interpretativa (Juiacutezos sobre problemas pessoais sociais e filosoacuteficos de caraacutecter geral relacionados por associaccedilatildeo ao conteuacutedo do livro)

Orientada para () autor (Juiacutezos relacionados com a posiccedilatildeo do autor em vez de se relacionarem com () livro em si comparaccedilatildeo com outros autores e outras obras do mesmo autor)

(Palavras e juiacutezos transmitem sensaccediloes e sentimentos provocados pelo quadro sua avaliaccedilatildeo geral emocionaL)

Orientaccedilc1o (Palavras descrevem as pinturas como uma peccedila de vida real uma situaccedilatildeo desenvolvida no tempo)

-k Estiliacutestica juiacutezos referindo-se esquemas artiacutesticos a sua funccedilatildeo o peculiaridades

De siacutentese (Interpretaccedilatildeo do conteuacutedo do quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Associativa (Associaccedilotildees sobre diferentes temas provocadas pelo quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Orientada jJara o autor (Palavras de juiacutezos indicando a intenccedilatildeo estado psicoloacutegico e contexto biogratildefico do autor)

136

TEATRO

Emocional (Palavras e juiacutezos que conshytecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral da peccedila como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata da peccedila)

Orientaccedilatildeo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Tecnoloacutegica (Juiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico do teatro avaliaccedilatildeo da encenaccedilatildeo trabalho do produtor e do actor meios expressivos)

I De siacutentese (Associaccedilotildees sobre questotildees do dia a dia pessoais filosoacuteficas suscitadas pela peccedila)

Associativa (Associaccedilotildees sobre questotildees do diacutea-a-dia pessoais filosoacutel1cas suscitadas pela

I peccedila)

(Continua)

UTERATURA

Fragmentada (Descriccedilatildeo de um episoacutedio ou episoacutedios distintos sem ligaccedilatildeo loacutegica entre si)

Enumemtiva (Enumerando uma lista de toacutepicos ou idelas de que trata o livro)

Orientada para as personagens (Descriccedilatildeo de uma personagem (personagens) os selLS traccedilos pensamentos feitos e expressotildees)

lmpressiva (Descriccedilatildeo de algum impacto que transcende a resposta emocional imediata das mudanccedilas na visatildeo do mundo e na personalidade suscitada pelo livro)

PINTIJRA

lmpressiva (Palavras e juiacutezos que descrevem o impacto concreto do quadro e os seus pormenores distintos)

Graacutefica (Palavras e apresentando o quadro como um quadro emoldurado sua descriccedilatildeo do ponto de vista de um espectador passivo)

Cultural (Palavras e juiacutezos que caracterizam o quadro contexto cultural mencionado outros autores e outras obras do mesmo autor)

Metafoacuterica (Descriccedilotildees usando metaacuteforas siacutembolos e comparaccedilotildees )

137

TEATRO

introspectiva (Anaacutelise dos proacutepdos estados e experiecircncias suscitada pela peccedila)

Espaccedilo do teatro (Juiacutezos sobre a atmosfera interior eventos que ocorrem fora do palco no aacutetrio do teatro)

nlstoncas ou esteacuteticas) do autor etc)

Pessoal (Relacionado a peccedila

I ~ ~ntexto da b ~rs~~alidade

-ri se--~ -J --~~ ecirc~ ~-~~

5 - Culturalde orientaccedilatildeo para o autor 6 Associativainterpretativa 7 - Impressivaintrospectiva

Natildeo noS eacute possiacutevel apresentar aqui em detalhe todos os dados relevantes O que eU gostaria de fazer eacute discutir a natureza destas estrateacutegias AQIIacute1l5ira euroJ 1shyfase da interacccedilatildeo de uma pessoa com uma obra de arte eacute a reconstruccedilatildeo menshytal dessa obra a transiccedilatildeo mental do mundo real de objectos materiatildei$(comO o livro que estou a ler neste momento) para o mundo de ficccedilatildeo de imagens artiacutesshyticas de ficccedilatildeo reconstruiacutedas atraveacutes dos meus mecanismos mentais a partir de letratildeS impressas ~Patildepecirc[de pontos coloridos numa teIa ou de pessoas a moverem-se e a falar num palco de teatro Os nossos estudOs de livre descriccedilatildeo ~ tornam evidente que essa prossegue em assuntos dilerentes de diferentes maneiras e conduz a resultados diferentes Os autores alematildees introshyduziram o conceito de Kommunikat para caracterizar este resultado de reconsshytruccedilatildeo mental do mundo de um livro que eacute o primeiro resultado imediato da leitura de seguida as respostas e impressotildees do leitor referem-se ao Kommunikat em vez de se referirem ao livro original (Viehoff 1992) Existem maneiras diferentes de construir o Kommunikat do mesmo livro ou de outra produccedilatildeo artiacutestica e as estrateacutegias aacutee livre descriccedilatildeo reflectem suponho eu estas variaccedilotildees AlgumaSECcedilQ~em a narrativa outras emoccedilotildees outras n~dos outras o contexto cultural ou~~~~s proacuteprias impJs~~2-e~c5~lltras ainda as capacidades teacutecnicas e descobertas do autor Qual destas estrateacutegias ~ estaacute laquocertaraquo IDe 52ygaltpestatildeo leYanta-~e sobre o que ensinar Eu recomenshydari ensiDilr toda~~~m2~~~LQsectQh9JLPordfriacutel yerllJII obra de arte dentro ~ltgt~~s_rr~_~~~~~i~Ccedil~PJ~f9~~tSfisectmiddotJia realiqade ~dasssectgordf~ga~ Esectlt~~ ()~~na~~s~~o longo dest dimensatildeo quantitativa com bastante precisatildeo A variedade qualitativa soacute pode ser adequadamente tratada em termos de estruturas da actividade mental do suieito na

construccedilatildeo do Kommunikat

Percepccedilatildeo artiacutestica como actividade mental - 0~~~Ccedil ~

( A ideia de que a percepccedilatildeo artiacutestica eacute um tipo de actividade mental comshy) plicada e natildeo um processo automaacutetico eacute uma consequecircncia do postulado da natureza criativa comum d~~ecfiGlordfOtilde) artiacutesticas U-~_~Jii ~melhanccedila estrutural como tambeacutem da SlIa semclb3nccedilmiddota jnt~ca O t$m de ser congenial com o poeta e ao percepcionar a obra de arte eacute como se a cecriasse de noyo Pndemos pois definir o processo de percepccedilatildeo comoo processo restituiacutedo e reproduzido de criaccedilatildeoraquo (Vygotsky 1926 p 255 cf Hoege 1997) Uma das mais importantes desta conceptualizaccedilatildeo da pershy

cepccedilatildeo esteacutetica eacute a conviccatildeo ~ordfde interna ccedilgmplexa Qimeiro passo Esta ideia (Vygotsky 1926) no capiacutetulo sobre - o menos conhecido dos seus escritos Nesta obra ele virou-se psicoloacutegica (le encontro~ entre a arte e JSJ2~sectsect9jsect~rbais Ele declarou que ~ toda a gente consegue s2mJ2~ltend~r l~la obra de arte e o processo da pershy

cepccedilatildeo artiacutestica eacute unCYt$QlJl~ntordfLfQmpl~~2~S~~ficTI-(I61atilde p Z5i)lomo ele explicou o conteuacutedo deste trabalho desta actividade mental permanecemL desconhecidas ~ aRenas evident~q~-(e~~Sllll_aordfCcedil1~yjpordfd~~ltEU~g~shylllif[l~mplexa que eacute desempenhada por um espectador ou ouvinte que constroacutei e cria um objecto esteacutetico com base nas impressotildees externas dadas Todas as suas respostas subsequentes referem-se apenas a este objecto Com efeito um quadro eacute apenas uma peccedila rectangular de tela com um determinado nuacutemero de cores Quando o espectador interpreta esta tela e estas cores como um retrato de um homem de determinado objecto ou de um evento este comshyplexo trabalho de transformar a tela colorida no quadro eacute inteiramente feito pela mente do observadorraquo (ibid p 252) Vemos aqui bastante claramente o protoacutetipo da ideia do Kommunikat acima referido Todavia as ideias teoacuterishycas de Vygotsky natildeo foram exploradas nos estudos emDIacutericos a natildeo ser haacute pouco tempo

Mais tarde a ideia das caracteriacutesticas activas da percepccedilatildeo artiacutestica foi repetida pelo filoacutesofo Valentine Asmous (1961) Asmous afirmou que uma imagem artiacutestica complexa produz inevitavelmente variaccedilotildees individuais na sua compreensatildeo e avaliaccedilatildeo Contudo natildeo representa o caraacutecter subjectivo da pershycepccedilatildeo esteacutetica Pelo contraacuterio lima verdadeira obra de arte tem um conteuacutedo objectivo profundo independentemente das eventuais impressotildees do receptor Poreacutem soacute atraveacutes da actividade interna complexa do leitor ou do espectador eacute que este conteuacutedo objectivo se pode tambeacutem transformar no conteuacutedo da sua mente Nesta actividade criativa ela consciecircncia o leitor ou espectador segue o caminho traccedilado pelo autor recriando o conteuacutedo impliacutecito de uma obra de arte atraveacutes de linhas de orientaccedilatildeo expliacutecitas contidas na obra laquoDois leitores que se deparam com a mesma obra literaacuteria podem comparar-se a dois marishynheiros que atiram as suas sondas no oceano A profundidade que atinge cada um natildeo excederaacute o comprimento da sua sondaraquo (Asmous 1961 p

A inovaccedilatildeo contudo estava associada agrave ideia da abordagem da Teoria da Actividade em Psicologia (Leontiev 1983) desenvolvida com base na abordagem hiacutestoacuterico-cultural de Vygotsky isto eacute que em os processos mentais humanos natildeo resultam apenas de funccedilotildees externas conforme Vygotsky mas tambeacutem mantecircm as caracteriacutesticas activas e a estrutura activa intactas embora reduzidas mas restauraacuteveis Durante o periacuteodo compreendido entre 1930 e 1970 a abordagem da Teoria da Actividade russa aplicou o conshy

138 139

~

ceito de actividade mental apenas aos processos cognitivos enquanto nas uacuteltishymas duas deacutecadas se tem feito muito para revelar vaacuterias estrutUl~JS de actividade de processos complexos de experiecircncia e de transformaccedilotildees do sentido pesshysoal Verificou-se especialmente um progresso notaacutevel no acircmbito da teoria psicoloacutegica e investigaccedilatildeo experimental da arte como um instrumento (ou o instrumento) para formar a personalidade humana mudando as suas estruturas psico loacutegicas

Satildeo dignos de mencionar vaacuterios estudos experimentais que tecircm obtido ecircxito em demonstrar a possibilidade de desenvolvimento das capacidades para compreender diferentes gecircneros de arte com a ajuda de meacutetodos especiais elaborados com base nas caracteriacutesticas de actividade dos processos de pershycepccedilatildeo e compreensatildeo artiacutesticas Como exemplo referirei os estudos realizados por V Guruzhapov (1983) sobre artes visuais E Bodrova (1984) e R Karakozov (1991 1994 1997) sobre literatura

V Guruzhapov (1983) fez a distinccedilatildeo entre diferentes niacuteveis de comshypreensatildeo artiacutestica em crianccedilas na idade escolar entre os 7 e 9 anos de idade procurando depois acelerar o desenvolvimento das aptidotildees correspondentes usando teacutecnicas especiais baseadas na actividade As diferenccedilas de niacutevel na comshypreensatildeo artiacutestica foram definidas em termos de capacidade para compreender uma obra de arte como um todo integrado e diferenciado (10 niacutevel) como um todo natildeo-diferenciado (2 0 niacutevel) ou como um conjunto de elementos (3 0 niacutevel) 92 dos sujeitos corresponderam de iniacutecio ao terceiro niacutevel O proshycesso de ensino usado no grupo experimental incluiacutea o desenvolvimento da capacidade da crianccedila para integrar diferentes partes do quadro reconsshytruindo a intenccedilatildeo do pintor e para perceber a paleta de cores usada no qlladro como expressando determinada imagem integrada Gllruzhapov concluiu que foi possiacutevel desenvolver em crianccedilas dos 7 aos 9 anos de idade a capacidade de compreender inlagens complexas caracteriacutesticas da arte laquoadultaraquo

E Bodrova (1984) investigou a compreensatildeo de textos literaacuterios por crianshyccedilas em idade preacute-escolar entre os 5 e 7 anos de idade Este processo foi definido em termos de construccedilatildeo do significado e do sentido do texto em contextos pessoais e outros E Bodrova adiantou a hipoacutetese que a causa das maacutes intelpreshytaccedilotildees dos textos estava relacionada com uma estrutura relativamente comshyplexa das relaccedilotildees entre as personagens e as suas as quais se podem todas encontrar na inadequaccedilatildeo da estrutura da compreensatildeo do sentido mais do que na falta de conhecimento das suas relaccedilotildees O ponto mais difiacutecil de comshypreensatildeo para os sujeitos pareceu ser a dinacircmica do estado interior das persoshynagens e as possibilidades alternativas das suas acccedilotildees em diferentes situaccedilotildees que precisam de ser tomadas em consideraccedilatildeo para se poder compreender o sentido das suas verdadeiras acccedilotildees O processo de ensino incluiacutea um diaacutelogo especial com os sujeitos e experimentaccedilatildeo com o texto isto eacute diferentes transformaccedilotildees da narrativa propostas pelo experimentador Este processo

140

aprofundou significativamente a compreensatildeo do significado das acccedilotildees das personagens e do conjunto do texto pelos sujeitos Esta capacidade manifesshytou-se tambeacutem na anaacutelise de textos desconhecidos

R Karakozov (199119941997) estudou a compreensatildeo do significado e sentido pessoal de obras literaacuterias por estudantes universitaacuterios Ele conseguiu destacar determinadas estruturas riacutetmicas na organizaccedilatildeo espaccedilo-temporal de obras comuns (M Proust W Faulkner) Ele designou-as segundo M Bakhtin estruturas cronotoacutepicas e provou que a actividade interna de reconstmccedilatildeo destas estruturas eacute um preacute-requisito indispensaacutevel para a compreensatildeo adeshy

do significado e sentido da obra como um todo Revelou tambeacutem um sistema de operaccedilotildees mentais consideradas como base da actividacle interna da compreensatildeo da prosa e elaborou o procedimento de ensino designado laquoo modelo de leitura cronotoacutepicall Este procedimento provou tambeacutem ser altamente eficaz no aprofundamento da compreensatildeo do significado e sentido de obras comuns (A Pushkin A Chekhov) pelos sujeitos

Voltando de novo agrave questatildeo O que ensinarraquo jaacute podemos formulaacute-Ia da seguinte maneira devemos desenvolver as estruturas da actividade mental da percepccedilatildeo artiacutestica Estas estruturas incluem uma hierarquia de objectivos e operaccedilotildees mentais alicerccediladas em mecanismos reguladores baseados no senshytido pessoal

Cultura de massas o caminho de menor resistecircncia

Todavia laquoo trabalho mental complexo e difiacutecil como Vygotsky caracterishyzou a percepccedilatildeo artiacutestica natildeo atrai toda a gente A vontade que muitos tecircm de se libertarem de esforccedilos mentais eacute ainda mais forte do que o esforccedilo para minimizar o trabalho fiacutesico Soacute uma minoria criativa () natildeo evita e ateacute prefere e aprecia a complexidade (ver por exemplo May 1975)

O que acontece se um receptor natildeo se sente com vontade de fazer este quando se depara com uma gama completa de produccedilotildees artiacutesticas Os

esquemas prinlIacutetivos de percepccedilatildeo reduzem o esforccedilo exigido indo buscar aos estratos mais simples o enredo e o laquotrajecto emocionah A maior parte dos livros fUmes peccedilas de teatro que se inserem na esferJ de verdadeira arte salvo algum trabalho experimental de avant-garde contecircm estes estratos que mal podem competir a estes niacuteveis com os thrillers de massas novelas de acccedilatildeo e romance e filmes Um receptor que jamais procura qualquer coisa para aleacutem do enredo e das tem muito poucas hipoacuteteses de colher algo mais proshyfundo - digamos significado ou prazer do estilo A actividade mental da pershycepccedilatildeo artiacutestica eacute substituiacuteda neste caso pela aplicaccedilatildeo passiva de simples esquemas mentais em que todo o processo da percepccedilatildeo eacute atalhado e reduzido Seria correcto designar este processo por quase-percepccedilatildeo O receptor natildeo se

141

esforccedila por adquirir nada de novo Pelo contraacuterio ele quer reconhecer algo bem conhecido de modo a identificar a projecccedilatildeo das suas atitudes valores vonshy

tades e sonhos natildeo realizados e nada mais A quase-percepccedilatildeo daacute origem agrave quase-arte Se os puacuteblicos massivos de

leitores ou espectadores soacute precisam de um enredo excitante e de fortes emoccedilotildees todo o resto eacute inuacutetil Basta fazer o enredo o mais vibrante e emoshycionalmente intenso possiacutevel sem nada de mais profundo que se eacute bem-suceshydido Pode mesmo ter-se ecircxito com obras claacutessicas produzindo um resumo ou puro enredo extraiacutedos de um livro Os leitores de histoacuterias de intriga sentem-se felizes por lerem resumos porque eacute tudo o que precisam

A cultura industrial de massas baseia-se no princiacutepio do reconhecimento na aplicaccedilatildeo de estereoacutetipos automaacuteticos de plug-and-play da percepccedilatildeo enquanto uma obra de verdadeira arte laquo eacute criada intencionalmente para romper com os automatismos perceptuais e eacute feita especialmente de modo que a pershycepccedilatildeo paacutera nela atingindo a sua forccedila e duraccedilatildeo maacuteximas)) (Shklovsky 1966 p 343) Gostaria de acrescentar o criteacuterio de verdadeira arte que tirei da minha proacutepria experiecircncia como laquoconsumidoDgt de arte o cerne de uma obra de vershydadeira arte - o seu significado - natildeo eacute dado directamente e requerem vez disso que se transcenda a narrativa A quase-arte industrial natildeo tem qualquer outro conshyteuacutedo e significado excepto o que eacute directamente dito eou representado

A quase-arte natildeo exerce qualquer efeito na personalidade a natildeo ser agradar ou chocar as emoccedilotildees Podemos definir a distinccedilatildeo entre quase-arte e verdadeira arte em termos da seguinte dicotomia arte para as emoccedilotildees versus arte para a personalidade (Leontiev 1992) A arte para as emoccedilotildees natildeo conteacutem novOS significados Proporciona reconhecimento em vez de cogniccedilatildeo Nenhum receptor pode receber deste tipo de arte senatildeo prazer emocional transitoacuterio (ou outras emoccedilotildees) O encontro com a quase-arte eacute semelhante a uma aventura passageira de uma noite

A quase-arte por sua vez produz quase-puacuteblicos Bertoid Brecht observou uma vez que a falta de gosto das massas estaacute mais profundamente enraizada na realidade do que o gosto dos intelectuais A quase-arte natildeo carece apenas de efeitos de desenvolvimento mas mais do que isso conserva uma visatildeo do mundo e a personalidade em geral impedindo a capacidade humana de mudar de haver desenvolvimento pessoal e adaptaccedilatildeo criativa ao mundo em transformaccedilatildeo

Seja em que circunstacircncias for a quase-percepccedilatildeo natildeo eacute perversa A necesshysidade recreativa eacute inerente a todos os seres humanos Mesmo intelectuais altamente criativos e esteticamente competentes usam a quase-arte para satisshyfazer esta necessidade e por vezes a quase-arte desempenha esta funccedilatildeo com mais eficaacutecia do que a verdadeira arte Toma-se perversa quando toma o lugar de verdadeira arte para muitas pessoas que natildeo conhecem outra forma de arteraquo e acreditam que eacute verdadeira arte As caracteriacutesticas deste quase-puacuteblico satildeo a rejeiccedilatildeo de Qualauer actividade mental em encontros com a arte o hedonismo

142

a procura do prazer sem a prontidatildeo para recQnhecer o que jaacute eacute bem conhecido a rejeiccedilatildeo do novo a absolutizaccedilatildeo das proacuteprias opiniotildees e juiacutezos (que as massas partilham) Este quase-puacuteblico produz uma quase-percepccedilatildeo encerrando assim o ciacuterculo que se auto-sustenta e que alimenta a tendecircncia c1e fazer com que a verdadeira arte morra de sua proacutepria morte

Funccedilotildees da Arte e Educaccedilatildeo Esteacutetica

Nas secccedilotildees anteriores olhaacutemos para os problemas dos sistemas de ensino de Esteacutetica atraveacutes do prisma das necessidades individuais emiddot maneiras de lidar com a arte Eacute agora altura de inverter este ponto de vista e de olhar para as necessidades e especificidades individuais atraveacutes do prisma das tarefas e cateshygorias da Educaccedilatildeo Esteacutetica

Faz sentido deste ponto de vista incluir toda a diversidade de funccedilotildees psicoloacutegicas que a arte preenche em conjunto com os beneficios psicoloacutegicos que promete e oferece a trecircs grandes grupos de acordo com o principal efeito que eacute suposto resultar do encontro recreaccedilatildeo socializaccedilatildeo e desenvolvimento pessoal Embora estas trecircs funccedilotildees possam coexistir em produccedilotildees artiacutesticas existem tipos especiais de arte em que algumas delas predominam de um modo evidente

A funccedilatildeo da recreaccedilatildeo estaacute associada agraves necessidades psicoloacutegicas baacutesicas sendo a recreaccedilatildeo necessaacuteria a todos os seres humanos A maior parte dos tipos geacuteneros e estilos de arte conteacutem uma componente recreativa mais ou menos evidente porque a arte sempre pertenceu agrave esfera da livre actividade indepenshydentemente de quaisquer deveres sociais ou profissionais Especialmente bemshy-sucedida em cumprir esta funccedilatildeo recreativa eacute todavia a quase-arte industrial porque prossegue apenas este objectivo atraveacutes do caminho mais curto possiacuteshyvel A cultura de massas de hoje em dia tem assim tendecircncia para acentuar demasiadamente os aspectos recreativos da arte os que transformam os objecshytos de arte em ecircxitos com um elevado valor de mercado excluindo todos os outros geacuteneros de esforccedilos mentais A funccedilatildeo recreativa da arte eacute muito mais procurada do que qualquer outro tipo e estaacute disponiacutevel para todos A aborshydagem da arte como um instrumento recreativo natildeo requer pois educaccedilatildeo porque o mundo dos objectos quase-arte recreativos adapta-se perfeishytamente ao niacutevel mais baixo (zero) de educaccedilatildeo e de competecircncia esteacutetica

A arte de orientaccedilatildeo socializante fornece informaccedilatildeo sobre o mundo sobre os valores culturais e normas sobre padrotildees de comportamento e modeshylos de identidade pessoaL As tarefas de socializaccedilatildeo satildeo compatiacuteveis tanto com a cultura de massas como com a arte superiorraquo Haacute anos designava-se a Literatura por o livro escolar da vidaraquo mas actualmente as pessoas obtecircm mais conhecimento sobre a vida a partir de histoacuterias de detectives e filmes de

143

do que da arte superiofl natildeo obstante as artes visuais se poderem chamar laquooficinas da maneira como verraquo Uma vez que esta funccedilatildeo natildeo pressupotildee um eleshyvarlo niacutevel de competecircncia tem naturalmente menos procura A maior parte das pessoas prefere aprender de outras fontes Esta funccedilatildeo natildeo eacute especiacutefica da arte os jornais satildeo mais eficazes para atingir este objectivuuml A educaccedilatildeo releshyvante para esta funccedilatildeo eacute a educaccedilatildeo geral tradicional em vez da educaccedilatildeo

esteacutetica A arte orientada para o desenvolvimento pessoal pelo contraacuterio quebra

normas e clicheacutes confere novOS significados e novas maneiras de ver e de avaliar a realidade A arte orientada para o desenvolvimento pressupotildee e exige frequentemente um elevado niacutevel de competecircncia esteacutetica assim como motishyvaccedilatildeo para fazer determinado trabalho mental no decorrer da interacccedilatildeo com a arte Exige muito e promete muito ao mesmo tempo As recompensas que se recebem de profundos encontros com a verdadeira arte jamais se podem alcanccedilar de outro modo Todavia apenas uma minoria de um puacuteblico potencial consegue compreender e apreciar esta promessa a promessa do significado Eacute aqui que reside o objectivo mais importante da educaccedilatildeo esteacutetica No entanto para nos tornarmos conscientes deste objectivo e aceitaacute-lo temos primeiro de perceber as diferenccedilas entre os efeitos da arte e a quase-arte a niacuteveis diferentes de encontros que temos com elas Na medida em que a Educaccedilatildeo visa o desenshyvolvimento pessoal torna-se antagocircnica da cultura comercial de massas na luta

pela dimensatildeo humana noS seres humanos

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1 145

144

Page 2: EDUCAÇÃO ESTÉTICA E ARTÍSTICA

Traduccedilatildeo Maria Emiacutelia Castel-Branco

Tratamento dos graacuteficos do texto de Michael Parsons Carlos Fazenda

Reservados todos os direitos de acordo com a lei Ediccedilatildeo da

FUNDACcedilAtildeO CALOUSTE GULBENKIAN Av de Berna ILisboa

2000

Depoacutesito Legal N 158 85300 ISBN 972-31-0905-0

IacuteNDICE

Nota Preacutevia 9

Apresentaccedilatildeo

Manuel Carmelo Rosa 11

Introduccedilatildeo

Nataacutelia Pais 13

Arte e Ciecircncia no Seacuteculo XX

Rui Maacuterio Gonccedilalves 17

Esteacutetica Experimental Origens Experiecircncias e Aplicaccedilotildees

Holger H6ge 29

Esteacutetica e Cogniccedilatildeo

Colin Martindale 67

Tipos de Apreciaccedilatildeo Artiacutestica e sua Aplicaccedilatildeo na Educaccedilatildeo de Museu

Bjame Sode Funch 109

Ftmccedilotildees da Arte e Educaccedilatildeo Esteacutetica

Dmitry A Leontiev 127

O Olhar do Observador Investigaccedilatildeo Teoria e Praacutetica

Abigail Housen 147

Dos Repertoacuterios agraves Ferramentas Ideias como

das Obras de Arte

Michael Parsons

Ferramentas para a Compreensatildeo

169

Da Teoria agrave Praacutetica Estrateacutegias do Pensamento Visual

Philip Yenawine 191

A Educaccedilatildeo Esteacutetica e Artiacutestica na Formaccedilatildeo ao Longo da Vida

Joatildeo Pedro Froacuteis Elisa de Barros Marques Rui Maacuterio Gonccedilalves 201

Notas biograacuteficas 245

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FUNCcedilOtildeES DA ARTE E EDUCACcedilAtildeO ESTEacuteTICA

DMTRY A lEONTIEV

A educaccedilatildeo esteacutetica como problema

Qualquer tipo de educaccedilatildeo eacute uma praacutetica social que prossegue o objecshytivo de proporcionar agraves pessoas determinados aspectos da experiecircncia social acumulada partilhada dentro de determinada sociedade Exemplos de uma tal experiecircncia partilhada satildeo o conhecimento do universo normas sociais conshycepccedilotildees do mundo crenccedilas e ideologias incluindo reliacutegiotildees e know-how assim como aptidotildees praacuteticas do quotidiano A apropriaccedilatildeo de toda esta experiecircncia pelos indiviacuteduos eacute uma parte substancial se natildeo uma parte significativa do proshycesso de socializaccedilatildeo Um aspecto da socializaccedilatildeo eacute a adaptaccedilatildeo social de uma pessoa a um sistema especifico de normas e regulamentos sociais que o desenvolvimento da competecircncia praacutetica e social para a interacccedilatildeo efectiva com o sistema social para a adaptaccedilatildeo satisfatoacuteria e efectiva agraves regras sociais Um outro aspecto eacute o desenvolvimento da identidade social de lima pessoa Temos de ter presente que cada pessoa possui uma identidade social muacuteltipla porque ela pertence a um determinado nuacutemero de entidades sociais que diferem em extensatildeo e criteacuterios do sentido de pertenccedila Mais evidentes satildeo as identidades sociais nacionais e eacutetnicas (eu sou russo afro-americano ou portushy

religiosase ideoloacutegicas (eu sou catoacutelico budista ou comunista) profisshysionais e ocupacionais (eu sou um universitaacuterio um trabalhador industrial ou um comerciante) Menos evidentes mas natildeo menos importantes satildeo as identishydades microssociais tais como a consciecircncia que uma pessoa tem de si mesma como membro de uma determinada famiacutelia grupo de pares escola clube bando etc O niacutevel mais elevado de identidade pode designar-se identidade transocial que eacute a consciecircncia que uma pessoa tem de si mesma como ser humano e cidadatildeo do mundo tendo muito em comum com pessoas do outro lado das barreiras nacionais eacutetnicas religiosas liacutenguiacutesticas e de quaisquer outras Todavia muitas pessoacuteas nunca atingem este niacutevel de identidade Todos os niacuteveis de identidade social baseiam-se na apropriaccedilatildeo e assimilaccedilatildeo da expeshyriecircncia de valores e significados de outras formas de mitologia social acumushylada dentro do correspondente sistema social que satildeo transmitidas atraveacutes do sistema de ensino

A educaccedilatildeo esteacutetica natildeo se insere perfeitamente neste esquema Quando falamos de educaccedilatildeo esteacutetica eacute bastante difiacutecil definir o que estamos a ensinar Certamente que natildeo estou a falar do conhecimento da Histoacuteria e Teoria da Arte que se ensinam e aprendem como qualquer outra teoria do conhecimento

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A educaccedilatildeo esteacutetica natildeo se pode reduzir exclusivamente ao conhecimento nem agrave informaccedilatildeo Sabemos tanto teoacuterica como intuitivamente (experimentalmente) que o contacto com a arte adequadamente vivido e assimilado tem algo a ver com o processo mais iacutentimo do desenvolvimento pessoal e da personalidade do que simplesmente com a adaptaccedilatildeo social Abraham Maslow (1971) insistiu que a educaccedilatildeo esteacutetica tem de se tornar no modelo no paradigma para todas as outras formas de educaccedilatildeo porque actualmente natildeo faz sentido que o ensino tenha apenas um conteuacutedo profissional em faculdades e universidades muito do qual jaacute estaacute completamente ultrapassado por ocasiatildeo da conclusatildeo da licenshyciatura O objectivo da educaccedilatildeo devia consistir em promover a auto-realizaccedilatildeo dos alunos o seu desenvolvimento pessoal ajudando-os a desenvolver o melhor do seu potencial Para a educaccedilatildeo esteacutetica este objectivo parece ser extreshymamente evidente mas a sua realizaccedilatildeo parece menos oacutebvia

Natildeo obstante a ideia de Maslow poder deparar com diferentes opiniotildees natildeo resta qualquer duacutevida que a educaccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute uma parte integral da educaccedilatildeo em geral Difere pelo seu objecto meacutetodos propoacutesitos e resultados pretendidos Em determinado sentido aproxima-se mais da Psicoterapia e da Formaccedilatildeo Psicoloacutegica do que da Educaccedilatildeo entendida no seu sentido tradishycional uma vez que a Educaccedilatildeo Esteacutetica se ocupa da transformaccedilatildeo da persoshy

nalidade no seu conjunto Entatildeo quais satildeo os objectivos e resultados pretendidos da Educaccedilatildeo

Esteacutetica Vale a pena discutir este ponto A primeira resposta eacute que aquilo que devemos ensinar na Educaccedilatildeo Esteacutetica eacute a capacidade de perceber e entender a arte e a beleza em geral Esta simples formulaccedilatildeo levanta no entanto muitas questotildees O que eacute a arte O que quer dizer perceber e entender (adeshyquadamente) a arte Porque eacute que as pessoas deviam ser capazes de realizar este objectivo Que resultados sociais e psicoloacutegicos deveriacuteamos esperar e promover Uma abordagem da Educaccedilatildeo Esteacutetica natildeo pode ignorar estas

questotildees O que torna difiacutecil responder a estas questotildees eacute que a arte genuiacutena tem

uma natureza multifacetada - pode interagir com diferentes pessoas e mesmo ateacute com uma soacute pessoa a diferentes niacuteveis e de diferentes maneiras

O que eacute a arte e porque eacute que as pessoas precisam dela Considero ser esta a pergunta chave da Psicologia da Arte (ver Leontiev 1992) Na linguashygem da proacutepria arte a formulaccedilatildeo mais precisa deste problema eacute a pergunta

do priacutencipe Hamlet

o que significa Heacutecuba para ele e ele para Heacutecuba para que ele chore por ela

(Shakespeare W Hamet acto 2 cena 2)

A arte tem muitos aspectos e alguns destes aspectos partilham caracteriacutesshyticas comuns com outros fenoacutemenos (por exemplo os meacutedia a comunicaccedilatildeo interpessoal a psicoterapia o amor etc) enquanto outros satildeo uacutenicQs e idiossinshycraacuteticos Alguns satildeo essenciais e outros permanecem superficiais O que eacute mais essencial na arte - isto eacute a sua capacidade de transmitir significados pessoais humanos de realidade - natildeo corresponde aquilo que a torna uacutenica ou seja a capacidade de exercer um impacto profundamente sentido no acircmago da pershysonalidade hUf1ana (ver Leontiev 1992 1998) A arte devia ser definida atraveacutes das suas caracteriacutesticas uacutenicas essenciais que soacute se podem ver nos efeitos da sua interacccedilatildeo com uma pessoa Por outro lado deviacuteamos ter consciecircncia que a arte nem sempre manifesta estes traccedilos mais profundos mostrando muitas vezes apenas a sua estrutura superficial Umadefiniccedilatildeo a priori da arte eacute quase imposshysiacutevel no entanto vou propor um tipo de definiccedilatildeo depois de uma anaacutelise mais detalhada Como ponto de partida temos de aceitar que a arte eacute tudo o que se designa a si mesma arte por qualquer razatildeo Este pressuposto embora incorshyrecto de um ponto de vista acadeacutemico estaacute todavia muito perto do verdadeiro ponto de partida de um principiante inculto e inexperiente no mundo da arte e dos objectos quase-arte que natildeo possui qualquer criteacuterio para diferenciar a laquoverdadeiraraquo arte dos seus substitutos

Arte e personalidade monoacutelogo ou diaacutelogo

Seraacute que um especialista erudito possui os criteacuterios para distinguir a vershydadeira arte Em determinado sentido sim Com efeito tem-se demonstrado que os especialistas e principiantes natildeo soacute revelam diferentes niacuteveis de competecircnshycia como tambeacutem processam a informaccedilatildeo esteacutetica de modo diferente A pershycepccedilatildeo artiacutestica baseia-se em diferentes mecanismos psicoloacutegicos nestes dois casos (Cupchik Gebotys 1988) Estas variantes foram conceptualizadas em tershymos de diferenccedilas entre modos reactivos natildeo criacuteticos e superficiais de reagir agrave arte por um lado e por outro entre modos profundamente penetrantes e reflectidos (Cupchik Winston 1992) e ainda mais tarde em termos diferentes entre o laquoeu pensanteraquo middote o laquoeu enquanto estafgto (Cupchik Leonard 1997) Este esquema dualista eacute todavia ccedillemasiado simples A reacccedilatildeo espontacircnea imediata de um principiante sem reflectir sobre o sentido eacute seguramente superficial e ingeacutenua No entanto a resposta reflectida de um especialista baseada numa proshyfunda penetraccedilatildeo na produccedilatildeo artiacutestica que implica um profundo processashymento pode tambeacutem ser incompleta se perder em relevacircncia e envolvimento pessoais e se for isolada do contexto pessoal Esta dicotomia reproduz essenshycialmente a dicotomia do cognitivo versus afectivo razatildeo versus sentimento mantida pela ciecircncia da psicologia desde tempos remotos Eu considero esta dicotomia ambiacutegua Nem uma atitude reflectiva sem envolvimento pessoal nem

I 129128

I oL

uma reacccedilatildeo emocional sem uma penetraccedilatildeo mais profunda conseguem proshyporcionar uma compreensatildeo adequada da arte

Se tratarmos a arte como uma forma de comunicaccedilatildeo (ver por exemplo A A Leontiev 1997) vemos que tanto a laquosituaccedilatildeo do especialistaraquo como a laquosituashy

do principianteraquo representam posiccedilotildees de comunicaccedilatildeo monoloacutegica No caso o espedalista surge como o sujeito e a produccedilatildeo artiacutestica como

o obJecto do juiacutezo No segundo caso a produccedilatildeo artiacutestica surge como o sujeito e o receptor inexperiente como deg objecto do impacto artiacutestico O modelo aplica-se perfeitamente ao consumo da cultura de massas que eacute um exemplo da orientaccedilatildeo estritamente monoloacutegica Poreacutem a comunicaccedilatildeo genuiacutena profunda e iacutentima eacute de natureza dialoacutegica Num diaacutelogo ambos os parceiros estatildeo abertos entre si prontos a mudar com os seus mundos interiores prontos a interagir (ver por exemplo Bakhtin 1979 Davis 1988) Se levarmos a seacuterio que a arte tem algo a ver com o desenvolvimento da personalidade temos de aceitar que isto soacute pode ocorrer em diaacutelogo na interacccedilatildeo de dois mundos com significado A traduccedilatildeo a recepccedilatildeo de informaccedilatildeo (cogniccedilatildeo) e a expressatildeo de emoccedilotildees natildeo pressupotildeem relaccedilotildees dialoacutegicas

O que soacute acontece em diaacutelogo eacute a conversatildeo do significado pessoal ou sentido pessoal (ver O Leontiev 1991) A N Leontiev caracterizou a arte como laquoa actividade que preenche a tarefa de revelar expressar e comunicar um senshytido pessoal da realidaderaquo (1983 p 237) Uma obra de arte natildeo se revela les que a tratam como um texto em vez de a tratar como um microcosmos de significados vivos do nosso mundo Para se poder penetrar para aleacutem do texto para aleacutem do quadro e conseguir entrar em contacto com os significados viacutevos uma pessoa tem de renunciar temporariamente agrave sua posiccedilatildeo uacutenica pessoal (parcial) no mundo assim como renunciar ao seu ponto de vista exclusivo e aceitar a posiccedilatildeo do artista olhando para o mundo atraveacutes dos olhos do artista Uma obra de arte eacute uma janela para o mundo do artista que estaacute aberta apenas para uma visatildeo de um ponto de vista uacutenico ou o do autor Para se assumir a posiccedilatildeo do autor uma pessoa tem de renunciar ao seu ponto de vista pessoal transformando-o numa atitude esteacutetica que eacute essencialmente uma atishytude de diaacutelogo a atitude de uma aceitaccedilatildeo imparcial e sem viacutenculos emoshycionais O paradoxo da percepccedilatildeo esteacutetica reside no facto de que soacute renunshyciando agrave percepccedilatildeo pessoal de uma obra de arte atraveacutes do prisma dos proacuteprios

pessoais ecirc que o observador consegue compreender a obra em toda a plenitude do seu significado e nesta enriquecer o seu proacuteprio mundo interior O primeiro passo neste processo ver uma imagem do mundo de determinada pessoa por detraacutes da do mundo e assumir em relaccedilatildeo a ela uma atitude empaacutetica de diaacutelogo permite ir mais longe ou da imagem do mundo para o mundo em si Nesta fase os significados contidos na obra interagem com as estruturas de sentido da personalidade do receptor Este processo conduz agrave absorccedilatildeo dos novos conteuacutedos e aspectos nas estrumiddot

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tmas de significado individuais se natildeo houver contradiccedilatildeo entre elas ou no efeito de catarse se houver contradiccedilatildeo entre os significados contidos na obra de arte e os que satildeo inerentes agrave do mundo do indiviacuteduo Isto pro move o colapso dos estereoacutetipos de sentido pessoais acrescido de um relevo enriquecido de uma percepccedilatildeo do mundo e do desenvolviacutemento da capacidade de ver objectos e eventos simultaneamente de muitos pontos de vista em muitos contextos e significados potenciais Este uacuteltimo eacute o preacute-requisito indisshypensaacutevel para o desenvolvimento da faculdade humana baacutesica para a objectivishydade (ver Fromm 1956 pp 64-65) Eacute por isso que ao desenvolver contactos com a arte um indiviacuteduo torna as suas relaccedilotildees com o mundo mais flexiacuteveis sigshynificativas e orientadas para o futuro tornando-se mais adaptadas no sentido mais lato do termo laquoA arte daacute-me a oportunidade de viver vaacuterias vidas em vez de uma soacute e consequentemente de enriquecer a experiecircncia da minha vida real de me unir a partir da interiacuteor com outra vida soacute com essa finalidade e em beneficio do seu significado vitahgt (Bakhtin 1979 p72)

EVasilyuk (1988) introduziu o conceito de experiecircncia como actividade interior do espiacuterito ao lidar com transformaccedilotildees das estruturas de sentido da personalidade para restaurar a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo indivishyduai da realidade e a vida pessoal Vasilyuk lidou com situaccedilotildees importantes na vida e elaborou as suas ideias de experiecircncia para incluir o contexto psicotera-

Foi o primeiro a descrever transformaccedilotildees decisivas de uma esfera de sentido pessoal - produccedilatildeo do tal como designou este processo que ecirc uma consequecircncia do conflito insoluacutevel da incompatibilidade do mundo inteshyrior de uma pessoa com a realidade do mundo exterior Podemos encontrar transformaccedilotildees deste gecircnero em dois outros tipos de (ver D Leontiev 1997) Uma ecirc a situaccedilatildeo de profunda comunicaccedilatildeo dialoacutegica interpessoal com alteridades significativas que resulta no fenoacutemeno do laquoinvestimento da pershysonalidaderaquo (petrovsky J985) quando eu sinto a presenccedila de uma alteridade sigshynificativa dentro de mim e da sua influecircncia relativa agraves minhas decisotildees e acccedilotildees Um outro tipo eacute a situaccedilatildeo de interacccedilatildeo dialoacutegica com uma obra de arte

Estas trecircs classes de tecircm algo em comum Com efeito as transshyformaccedilotildees de sentido podem apenas ocorrer como resultado do encontro do meu proacuteprio mundo iacutentimo com um outro mundo que revela uma certa conshytradiccedilatildeo entre esses dois m1ll1dos Este segundo mundo pode ser o mundo exteshyrior onde eu vivo como no caso de situaccedilotildees vitais descritas por F pode ser o mundo interior de uma alteridade signit1cativa tal como nos efeitos do investimento de personalidade ou pode ser um mundo criado e objectivado numa peccedila de arte tal como no caso dos efeitos transformadores do encontro cataacutertico com a arte O que eacute diferente nestes trecircs casos eacute em primeiro lugar o grau de necessidade destas transformaccedilotildees de sentido Em momentos de crise

ou em situaccedilotildees vitais o sujeito depara-se com a impossibilidade de manter o sistema estabelecido de relaccedilotildees com o mundo natildeo existe uma altershy

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nativa razoaacutevel para esta mudanccedila excepto por uma forte defesa psicoloacutegica e porventura o desenvolvimento de uma psicopatologia Nos encontros com a arte pelo contraacuterio natildeo existe qualquer necessidade externa de mudanccedila Aceitar ou natildeo novos significados eacute uma questatildeo de livre escolhat por isso que Vygotsky escreveu laquoA arte eacute a organizaccedilatildeo do nosso futuro comportamento eacute um requisito que jamais pode ser preenchido mas que nos obriga a lutar para aleacutem da nossa vida em direcccedilatildeo a tudo o que a transcenderaquo (1971 p 253) r~ta foacutermula ajuda-nos a compreender a ligaccedilatildeo da arte com o lado pragmaacutetico da existecircncia humana Sem duacutevida a arte transcende sempre quaisquer necessishydades de uma determinada situaccedilatildeo imediata Contudo natildeo eacute irrelevante para os aspectos adaptativos da vida Eacute como se fosse uma aprendizagem latente sem uma ideia clara de quando e como aplicar os talentos adquiridos - natildeo se pode designar inuacutetil embora possa parececirc-lo A comunicaccedilatildeo interpessoal assume uma posiccedilatildeo intermeacutedia o seu acircmago eacute revelar e assimilar os significados que tecircm as coisas para os outros o que natildeo eacute absolutamente imprescindiacutevel mas desejaacutevel se se quer viver em harmonia com os outros

Adquirir novos significados em consequecircncia de um encontro com o mundo de uma criaccedilatildeo artiacutestica pode considerar-se um criteacuterio necessaacuteshyrio quer tenha havido ou natildeo total compreensatildeo da obra Este processo presshysupotildee mais do que a descoberta destes significados O aspecto mais importante eacute o processo de relacionar o proacuteprio mundo significativo do receptor com o mundo do artista objectivado na peccedila de arte dois significados laquotecircm de entrar em contacto iacutentimo ou em ligaccedilatildeo de sentido entre siraquo (Bakhtin 1979 p 219) Um especialista imparcial extrai de uma produccedilatildeo artiacutestica determinashydos significados semacircnticos um espectador inexperiente extrai determinadas emoccedilotildees superficiais Ambos satildeo incapazes de tocar no acircmago da verdadeira arte que eacute o sentido pessoal O que deviacuteamos ensinar eacute a atitude dialoacutegica para com a arte a capacidade natildeo apenas de ver o mundo significativo que transshycende os meios expressivos mas tambeacutem de nos relacionarmos pessoalmente com este mundo de nos abrirmos a ele e de nos enriquecermos com os

nificados aiacute descobertos

Variaacutevel intermeacutedia competecircncia esteacutetica

Todavia mesmo pessoas potencialmente capazes de chegar a um tal encontro dialoacutegico significativo nem sempre tecircm ecircxito As razotildees para este frashycasso podem tanto atribuir-se agraves proacuteprias pessoas (agraves suas motivaccedilotildees comshypetecircncia esteacutetica ou mundo interior) aos objectos de arte como agrave situaccedilatildeo

Comecemos pelo primeiro Nem todos os receptores conseguem que todas as obras de arte lhes

falem Eacute necessaacuterio uma chave especial em cada caso Eu dou a esta chave o

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nome de competecircncia esteacutetiacuteca que implica a capacidade do leitor espectador ouvinte para extrair conteuacutedos de significado de diferentes niacuteveis de profundishydade da textura esteacutetica de uma produccedilatildeo artiacutestica Esta variaacutevel reflecte o niacutevel geral do desenvolvimento esteacutetico de uma pessoa a sua experiecircncia de enconshytros pessoais com a arte

A competecircncia esteacutetica eacute um dos factores essenciais que determinam o processo e os resultados do encontro ~sectsoaaill embora natildeo seja o uacutenico (ver D Leontiev 1998) Dois outros factores satildeo o mundo interior (a estrutura de sentido da personalidade) e as necessidades dominantes que definem subsshytancialmente a opccedilatildeo individual dos geacuteneros estilos escolas e obras de arte que se encontram

Com base nas obras teoacutericas e experimentais existentes podemos destacar pelo menos trecircs aspectos interligados da compeliJnciCl esteacutetica O primeiro

ly aspecto eacute a ltQllpexidade cognitiva da visatildeo do mundo que um indiviacute~uo ~m

lQ a capacidade Qessoal dJJQID~flder a ambi~dade e de vs as QossibilJ$Qes l ~_()isas tecircm de mudar de ser diferenes O segundo aspecto eacute o domiacutenio g que uma pessoa tem das laquolinguagens)) especiais de diferentes tipos geacuteneros e d estilos de arte que requer-m conjunto de laquocoacutedigQsraquo culturais (Lotman1994)

que tornam possiacutevel descodificar a informasatildeo contida nOLteXtOatildert1sti5~de modo a traduzir a estmtura de sinais de uma PLQCcedilluccedilatildeo ~tica na liacutengua materna das emoccedilotildees e significados humaQos O terceiro aspecto da com- Otilde

petecircncia esteacuteti~-o~iundo das caracteriacutesticas de actividade da percepccedilatildeo artiacutesshysi a tica (ver a seguir) eacute o~lde mestr~_~~~c_omp~~1Sias e pi9otildee~_()pe0c9ais

que define a capacidade pessoal para desempenhar a actividade de desobjectishyvaccedilatildeo de textos relevante para um determinado texto Todos estes trecircs aspectos estatildeo evidentemente ligados mas o caraacutecter da sua ligaccedilatildeo representa uma tarefa para um estudo especial

---gt lgtI- O desenvolvimento da competecircncia esteacutetica eacute assim um outro alvo para a educaccedilatildeo esteacutetica natildeo obstante ser um objectivo muito mais trivial e tradishycional A grande parte do puacuteblico de todos os geacuteneros de arte situa-se ao niacutevel inferior da competecircncia esteacutetica A induacutestria da cultura de massas contribui grandemente para-ordf ma~enccedilatildeo deste niacutevel dentro das massas produzindo obras de arte ~e-ar~er a seguir) gue exigem apenas um niacutevel muito primitivo de cORet~_~~ia Admite-se que o processo e o resultado da pershycepccedilatildeo individual de obras de laquoarte superiorraquo dependem em grande parte da competecircncia esteacutetica e de outras variaacuteveis da personalidade enquanto que no caso de obras de laquoculturas de massasraquo considera-se que esta dependecircncia eacute muito diminuta (obscurecida nos termos de C Martindale) Contudo a comshypetecircncia esteacutetica natildeo explica todas ou a maior parte das diferenccedilas individuais - do consumo de arte Existem diferenccedilas qualitativas substanciais dentro do mesmo niacutevel de competecircncia esteacutetica que exigem uma abordagem diferente

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~ flFL~E

Mais variaacuteveis intermeacutedias estrateacutegias individuais do consunlO da arte

G B Shaw observou na introduccedilatildeo a Santa Joana que muitos frequenmiddot tadores de teatro vatildeo ao teatro pelas mesmas razotildees que muitas pessoas vatildeo agrave igreja para exibir o traje para se manterem actualizados com a moda para terem

sobre que falar para admirar uma estrela para passar a noite num siacutetio qualmiddot quer excepto em casa Por outras palavras ir ao teatro eacute muitas vezes motivado por tudo excepto o interesse que diz respeito agrave produccedilatildeo dramaacutetica em si Com base na teoacuterica e existente no campo do consumo de arte (uso aqui deliberadamente este termo econoacutemicoporque nesta fase da anaacutelise esta palavra eacute a uacutenica que consegue incluir todas as diferentes formas de intemiddot

pessoamiddotarte) podemos acrescentar a esta lista de nova informaccedilatildeo sobre o mundo o seguinte recriaccedilatildeo procura de modelos de comportamento procura da soluccedilatildeo para problemas pessoais procura de significado Qrocura de certos

jlt e~tados emocionais que a vida 9UQlidiana patildeO [2[QJo[ciQ1il obtenccedilatildeo de apoio para os valores pessoais alivio dos proacuteprios pensamentos e ansiedades confirshymaccedilatildeo da proacutepria visatildeo do mundo etc etc

Em todos estes casos a arte eacute _SlII~i~_tecirc~E~lQre_ltndiltordf-lt~ifer~tes espectro destas diferentes maneiras parece contudo ser limitado

Referirmiddotmemiddotei a uma seacuterie de estudos experimentais em que procurei aplicar uma abordagem individual ao consumo de arte por oposiccedilatildeo agrave tradicional teoacutericamiddotnormativa (Leontiev 1992 1998) A abordagem teoacuterica-normativa presshysupotildee a existecircncia de um tipo padratildeo perfeito avanccedilado de laquoverdadeiraraquo pershycepccedilatildeo esteacutetica Todos os processos empiacutericos imperfeitos de consumo de arte devem ser avaliados de acordo com a proximidade destes processos empiacutericos relacionados com o processo teoacutericomiddotnormativo Do meu ponto de vista esta abordagem eacute ambiacutegua porque reduz todas as peculiaridades qualitativas da intemiddot racccedilatildeo pessoa-arte a uma uacutenica climensatildeo de laquoadequaccedilatildeoraquo Com efeito a permiddot cepccedilatildeo esteacutetica perfeita natildeo ocorre com muita frequecircncia mesmo lidando com sujeitos sofisticados Ao mesmo tempo os tipos empiacutericos ltltimperfeitos) de conmiddot sumo de arte natildeo satildeo apenas fracassos de um tipo peacuterfeito Tecircm especificidades qualitativas proacuteprias e merecem atenccedilatildeo especiaL Pode existir uma gama comshypleta de contactos entre uma pessoa e uma producatildeo artiacutestica mesmo se e_te

--__~-~-~ ------~--contacto nao tem nada a ver Coru a com~mictccedil~ordm~~ laquoExigecircncias e expec-

eS1DelclIacuteic~LS do puacuteblico podem transformar a substatildencia sigmiddot nificativa de uma produccedilatildeo artiacutestica passando esta assim a desempenhar as suas funccedilotildees sociais a adquirir popularidade e a influenciar eficazmente o puacuteblico no caso em que natildeo eacute avaliada por criteacuterios esteacuteticos e em que estaacute efectivamente fora do sistema da percepccedilatildeo esteacutetica no verdadeiro sentido do termoraquo (Dondurei 1975 p 28) Tem de se ter presente a diferenccedila entre per-Aacute p ~ fIacute=

cepccedilatildeo artiacutestia c percepccedilatildeo esteacutetica t percepcatildeo artiacutestica nem sempre eacute (e Vshynem sequer como regra) uma percepccedilatildeo esteacutetica todavia natildeo devemos excluir

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~

do nosso foco de interesse formas natildeo-esteacuteticas de consumo de arte espeshycialmente ao lidar com os problemas da educaccedilatildeo esteacutetica

A abordagem individual que eacute uma alternativa agrave abordagem teoacuterica-nor mativa baseiamiddotse na primazia da anaacutelise fenomenoloacutegica qualitativa dos proces sos empiacutericos da interacccedilatildeo pessoamiddotarte em toda a sua diversidade Uma teacutecnica especial de investigaccedilatildeo de livres descriccedilotildees (FD)() foi elaborada para este propoacutesito (ver Leontiev Kharchevin 1994) Pediu-se aos sujeitos que indicassem ~ quatro livros (filmes peccedilas de teatro pinturas) que tivessem recentemente lido ou visto Ao terminarem a pediumiddotsemiddotlhes que escrevessem qualquer coisa mais ou menos meia paacutegina normalizada sobre cada um destes 4 itens de modo que o leitor pudesse ter uma ideia deles

De seguida aplicaacutemos uma espeacutecie de anaacutelise de conteuacutedo agraves feitas Usando certas categorias de palavras e juiacutezos como indicadores de tipos especiacuteficos de processamento de informaccedilatildeo (no sentido mais amplo do termo) descrevemos conjuntos de estrateacutegias de descrifatildeo liacutevre Verificaacutemos que a maior parte das estrateacutegias eram essencialmente as mesmas nos estudos de difeshyrentes artes outras eram mais especiacuteficas Todo o conjunto de estrateacutegias verifi cado na nossa investigaccedilatildeo com literatura (com S Kharchevin e I Pavlova) tura (com E Dimitriyeva e E Belyaeva) e teatro (com L Lagutina) eacute apresentado no Quadro L

Numa seacuterie de estudos experimentais verificaacute mos o seguinte

1) Diferentes satildeo muttlamente independentes isto eacute natildeo reve Iam correlaccedilotildees positivas significativas entre si

2) As estrateacutegias satildeo individualmente especiacuteficas isto eacute em cada tema exisshytem 1-2 estrateacutegias claramente dominantes

3) Elas satildeo estaacuteveis intramiddotindividualmente isto eacute satildeo geralmente repro dutIacuteveis em estudos de repeticcedilatildeo do teste apoacutes 1 ano

estrateacutegias revelam certas diferenccedilas de gecircnero e manifesta dinacircmica de desenvolvimento na infacircncia

5) Elas tambeacutem revelam correlaccedilotildees significativas com determinadas variaacuteveis da personalidade

Resumindo as conclusotildees de diferentes estudos podemos concluir que existem pelo menos 7 estrateacutegias invariantes reproduzidas em todos os estudos

1 - Emocional 2 De orientaccedilatildeo para o enredOVida 3 Estiliacutesticatecnoloacutegica 4 De siacutentese

() Free descriptiolls

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QUADRO I

Estrateacutegias de descriccedilotildees livres c criteacuterios para sua identificaccedilatildeo

UTERATITRA PINTIJRA

Emocional Emocional (palavras e juiacutezos que contecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral dos livros como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata do livro)

Orientaccedileiacuteo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Analiacutetica Quiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico de arte uma anaacutelise

I I laquocondescendente usando

termos profissionais de criacutetica literaacuteria)

~ IEStiliacutestica referindo-se

~ y~ ___~~s do estilo linguagem forma esteacutetica do livro)

-

De siacutentese Quiacutezos que expressam a idela geral do livro o seu significado ou moral)

Interpretativa (Juiacutezos sobre problemas pessoais sociais e filosoacuteficos de caraacutecter geral relacionados por associaccedilatildeo ao conteuacutedo do livro)

Orientada para () autor (Juiacutezos relacionados com a posiccedilatildeo do autor em vez de se relacionarem com () livro em si comparaccedilatildeo com outros autores e outras obras do mesmo autor)

(Palavras e juiacutezos transmitem sensaccediloes e sentimentos provocados pelo quadro sua avaliaccedilatildeo geral emocionaL)

Orientaccedilc1o (Palavras descrevem as pinturas como uma peccedila de vida real uma situaccedilatildeo desenvolvida no tempo)

-k Estiliacutestica juiacutezos referindo-se esquemas artiacutesticos a sua funccedilatildeo o peculiaridades

De siacutentese (Interpretaccedilatildeo do conteuacutedo do quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Associativa (Associaccedilotildees sobre diferentes temas provocadas pelo quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Orientada jJara o autor (Palavras de juiacutezos indicando a intenccedilatildeo estado psicoloacutegico e contexto biogratildefico do autor)

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TEATRO

Emocional (Palavras e juiacutezos que conshytecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral da peccedila como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata da peccedila)

Orientaccedilatildeo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Tecnoloacutegica (Juiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico do teatro avaliaccedilatildeo da encenaccedilatildeo trabalho do produtor e do actor meios expressivos)

I De siacutentese (Associaccedilotildees sobre questotildees do dia a dia pessoais filosoacuteficas suscitadas pela peccedila)

Associativa (Associaccedilotildees sobre questotildees do diacutea-a-dia pessoais filosoacutel1cas suscitadas pela

I peccedila)

(Continua)

UTERATURA

Fragmentada (Descriccedilatildeo de um episoacutedio ou episoacutedios distintos sem ligaccedilatildeo loacutegica entre si)

Enumemtiva (Enumerando uma lista de toacutepicos ou idelas de que trata o livro)

Orientada para as personagens (Descriccedilatildeo de uma personagem (personagens) os selLS traccedilos pensamentos feitos e expressotildees)

lmpressiva (Descriccedilatildeo de algum impacto que transcende a resposta emocional imediata das mudanccedilas na visatildeo do mundo e na personalidade suscitada pelo livro)

PINTIJRA

lmpressiva (Palavras e juiacutezos que descrevem o impacto concreto do quadro e os seus pormenores distintos)

Graacutefica (Palavras e apresentando o quadro como um quadro emoldurado sua descriccedilatildeo do ponto de vista de um espectador passivo)

Cultural (Palavras e juiacutezos que caracterizam o quadro contexto cultural mencionado outros autores e outras obras do mesmo autor)

Metafoacuterica (Descriccedilotildees usando metaacuteforas siacutembolos e comparaccedilotildees )

137

TEATRO

introspectiva (Anaacutelise dos proacutepdos estados e experiecircncias suscitada pela peccedila)

Espaccedilo do teatro (Juiacutezos sobre a atmosfera interior eventos que ocorrem fora do palco no aacutetrio do teatro)

nlstoncas ou esteacuteticas) do autor etc)

Pessoal (Relacionado a peccedila

I ~ ~ntexto da b ~rs~~alidade

-ri se--~ -J --~~ ecirc~ ~-~~

5 - Culturalde orientaccedilatildeo para o autor 6 Associativainterpretativa 7 - Impressivaintrospectiva

Natildeo noS eacute possiacutevel apresentar aqui em detalhe todos os dados relevantes O que eU gostaria de fazer eacute discutir a natureza destas estrateacutegias AQIIacute1l5ira euroJ 1shyfase da interacccedilatildeo de uma pessoa com uma obra de arte eacute a reconstruccedilatildeo menshytal dessa obra a transiccedilatildeo mental do mundo real de objectos materiatildei$(comO o livro que estou a ler neste momento) para o mundo de ficccedilatildeo de imagens artiacutesshyticas de ficccedilatildeo reconstruiacutedas atraveacutes dos meus mecanismos mentais a partir de letratildeS impressas ~Patildepecirc[de pontos coloridos numa teIa ou de pessoas a moverem-se e a falar num palco de teatro Os nossos estudOs de livre descriccedilatildeo ~ tornam evidente que essa prossegue em assuntos dilerentes de diferentes maneiras e conduz a resultados diferentes Os autores alematildees introshyduziram o conceito de Kommunikat para caracterizar este resultado de reconsshytruccedilatildeo mental do mundo de um livro que eacute o primeiro resultado imediato da leitura de seguida as respostas e impressotildees do leitor referem-se ao Kommunikat em vez de se referirem ao livro original (Viehoff 1992) Existem maneiras diferentes de construir o Kommunikat do mesmo livro ou de outra produccedilatildeo artiacutestica e as estrateacutegias aacutee livre descriccedilatildeo reflectem suponho eu estas variaccedilotildees AlgumaSECcedilQ~em a narrativa outras emoccedilotildees outras n~dos outras o contexto cultural ou~~~~s proacuteprias impJs~~2-e~c5~lltras ainda as capacidades teacutecnicas e descobertas do autor Qual destas estrateacutegias ~ estaacute laquocertaraquo IDe 52ygaltpestatildeo leYanta-~e sobre o que ensinar Eu recomenshydari ensiDilr toda~~~m2~~~LQsectQh9JLPordfriacutel yerllJII obra de arte dentro ~ltgt~~s_rr~_~~~~~i~Ccedil~PJ~f9~~tSfisectmiddotJia realiqade ~dasssectgordf~ga~ Esectlt~~ ()~~na~~s~~o longo dest dimensatildeo quantitativa com bastante precisatildeo A variedade qualitativa soacute pode ser adequadamente tratada em termos de estruturas da actividade mental do suieito na

construccedilatildeo do Kommunikat

Percepccedilatildeo artiacutestica como actividade mental - 0~~~Ccedil ~

( A ideia de que a percepccedilatildeo artiacutestica eacute um tipo de actividade mental comshy) plicada e natildeo um processo automaacutetico eacute uma consequecircncia do postulado da natureza criativa comum d~~ecfiGlordfOtilde) artiacutesticas U-~_~Jii ~melhanccedila estrutural como tambeacutem da SlIa semclb3nccedilmiddota jnt~ca O t$m de ser congenial com o poeta e ao percepcionar a obra de arte eacute como se a cecriasse de noyo Pndemos pois definir o processo de percepccedilatildeo comoo processo restituiacutedo e reproduzido de criaccedilatildeoraquo (Vygotsky 1926 p 255 cf Hoege 1997) Uma das mais importantes desta conceptualizaccedilatildeo da pershy

cepccedilatildeo esteacutetica eacute a conviccatildeo ~ordfde interna ccedilgmplexa Qimeiro passo Esta ideia (Vygotsky 1926) no capiacutetulo sobre - o menos conhecido dos seus escritos Nesta obra ele virou-se psicoloacutegica (le encontro~ entre a arte e JSJ2~sectsect9jsect~rbais Ele declarou que ~ toda a gente consegue s2mJ2~ltend~r l~la obra de arte e o processo da pershy

cepccedilatildeo artiacutestica eacute unCYt$QlJl~ntordfLfQmpl~~2~S~~ficTI-(I61atilde p Z5i)lomo ele explicou o conteuacutedo deste trabalho desta actividade mental permanecemL desconhecidas ~ aRenas evident~q~-(e~~Sllll_aordfCcedil1~yjpordfd~~ltEU~g~shylllif[l~mplexa que eacute desempenhada por um espectador ou ouvinte que constroacutei e cria um objecto esteacutetico com base nas impressotildees externas dadas Todas as suas respostas subsequentes referem-se apenas a este objecto Com efeito um quadro eacute apenas uma peccedila rectangular de tela com um determinado nuacutemero de cores Quando o espectador interpreta esta tela e estas cores como um retrato de um homem de determinado objecto ou de um evento este comshyplexo trabalho de transformar a tela colorida no quadro eacute inteiramente feito pela mente do observadorraquo (ibid p 252) Vemos aqui bastante claramente o protoacutetipo da ideia do Kommunikat acima referido Todavia as ideias teoacuterishycas de Vygotsky natildeo foram exploradas nos estudos emDIacutericos a natildeo ser haacute pouco tempo

Mais tarde a ideia das caracteriacutesticas activas da percepccedilatildeo artiacutestica foi repetida pelo filoacutesofo Valentine Asmous (1961) Asmous afirmou que uma imagem artiacutestica complexa produz inevitavelmente variaccedilotildees individuais na sua compreensatildeo e avaliaccedilatildeo Contudo natildeo representa o caraacutecter subjectivo da pershycepccedilatildeo esteacutetica Pelo contraacuterio lima verdadeira obra de arte tem um conteuacutedo objectivo profundo independentemente das eventuais impressotildees do receptor Poreacutem soacute atraveacutes da actividade interna complexa do leitor ou do espectador eacute que este conteuacutedo objectivo se pode tambeacutem transformar no conteuacutedo da sua mente Nesta actividade criativa ela consciecircncia o leitor ou espectador segue o caminho traccedilado pelo autor recriando o conteuacutedo impliacutecito de uma obra de arte atraveacutes de linhas de orientaccedilatildeo expliacutecitas contidas na obra laquoDois leitores que se deparam com a mesma obra literaacuteria podem comparar-se a dois marishynheiros que atiram as suas sondas no oceano A profundidade que atinge cada um natildeo excederaacute o comprimento da sua sondaraquo (Asmous 1961 p

A inovaccedilatildeo contudo estava associada agrave ideia da abordagem da Teoria da Actividade em Psicologia (Leontiev 1983) desenvolvida com base na abordagem hiacutestoacuterico-cultural de Vygotsky isto eacute que em os processos mentais humanos natildeo resultam apenas de funccedilotildees externas conforme Vygotsky mas tambeacutem mantecircm as caracteriacutesticas activas e a estrutura activa intactas embora reduzidas mas restauraacuteveis Durante o periacuteodo compreendido entre 1930 e 1970 a abordagem da Teoria da Actividade russa aplicou o conshy

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~

ceito de actividade mental apenas aos processos cognitivos enquanto nas uacuteltishymas duas deacutecadas se tem feito muito para revelar vaacuterias estrutUl~JS de actividade de processos complexos de experiecircncia e de transformaccedilotildees do sentido pesshysoal Verificou-se especialmente um progresso notaacutevel no acircmbito da teoria psicoloacutegica e investigaccedilatildeo experimental da arte como um instrumento (ou o instrumento) para formar a personalidade humana mudando as suas estruturas psico loacutegicas

Satildeo dignos de mencionar vaacuterios estudos experimentais que tecircm obtido ecircxito em demonstrar a possibilidade de desenvolvimento das capacidades para compreender diferentes gecircneros de arte com a ajuda de meacutetodos especiais elaborados com base nas caracteriacutesticas de actividade dos processos de pershycepccedilatildeo e compreensatildeo artiacutesticas Como exemplo referirei os estudos realizados por V Guruzhapov (1983) sobre artes visuais E Bodrova (1984) e R Karakozov (1991 1994 1997) sobre literatura

V Guruzhapov (1983) fez a distinccedilatildeo entre diferentes niacuteveis de comshypreensatildeo artiacutestica em crianccedilas na idade escolar entre os 7 e 9 anos de idade procurando depois acelerar o desenvolvimento das aptidotildees correspondentes usando teacutecnicas especiais baseadas na actividade As diferenccedilas de niacutevel na comshypreensatildeo artiacutestica foram definidas em termos de capacidade para compreender uma obra de arte como um todo integrado e diferenciado (10 niacutevel) como um todo natildeo-diferenciado (2 0 niacutevel) ou como um conjunto de elementos (3 0 niacutevel) 92 dos sujeitos corresponderam de iniacutecio ao terceiro niacutevel O proshycesso de ensino usado no grupo experimental incluiacutea o desenvolvimento da capacidade da crianccedila para integrar diferentes partes do quadro reconsshytruindo a intenccedilatildeo do pintor e para perceber a paleta de cores usada no qlladro como expressando determinada imagem integrada Gllruzhapov concluiu que foi possiacutevel desenvolver em crianccedilas dos 7 aos 9 anos de idade a capacidade de compreender inlagens complexas caracteriacutesticas da arte laquoadultaraquo

E Bodrova (1984) investigou a compreensatildeo de textos literaacuterios por crianshyccedilas em idade preacute-escolar entre os 5 e 7 anos de idade Este processo foi definido em termos de construccedilatildeo do significado e do sentido do texto em contextos pessoais e outros E Bodrova adiantou a hipoacutetese que a causa das maacutes intelpreshytaccedilotildees dos textos estava relacionada com uma estrutura relativamente comshyplexa das relaccedilotildees entre as personagens e as suas as quais se podem todas encontrar na inadequaccedilatildeo da estrutura da compreensatildeo do sentido mais do que na falta de conhecimento das suas relaccedilotildees O ponto mais difiacutecil de comshypreensatildeo para os sujeitos pareceu ser a dinacircmica do estado interior das persoshynagens e as possibilidades alternativas das suas acccedilotildees em diferentes situaccedilotildees que precisam de ser tomadas em consideraccedilatildeo para se poder compreender o sentido das suas verdadeiras acccedilotildees O processo de ensino incluiacutea um diaacutelogo especial com os sujeitos e experimentaccedilatildeo com o texto isto eacute diferentes transformaccedilotildees da narrativa propostas pelo experimentador Este processo

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aprofundou significativamente a compreensatildeo do significado das acccedilotildees das personagens e do conjunto do texto pelos sujeitos Esta capacidade manifesshytou-se tambeacutem na anaacutelise de textos desconhecidos

R Karakozov (199119941997) estudou a compreensatildeo do significado e sentido pessoal de obras literaacuterias por estudantes universitaacuterios Ele conseguiu destacar determinadas estruturas riacutetmicas na organizaccedilatildeo espaccedilo-temporal de obras comuns (M Proust W Faulkner) Ele designou-as segundo M Bakhtin estruturas cronotoacutepicas e provou que a actividade interna de reconstmccedilatildeo destas estruturas eacute um preacute-requisito indispensaacutevel para a compreensatildeo adeshy

do significado e sentido da obra como um todo Revelou tambeacutem um sistema de operaccedilotildees mentais consideradas como base da actividacle interna da compreensatildeo da prosa e elaborou o procedimento de ensino designado laquoo modelo de leitura cronotoacutepicall Este procedimento provou tambeacutem ser altamente eficaz no aprofundamento da compreensatildeo do significado e sentido de obras comuns (A Pushkin A Chekhov) pelos sujeitos

Voltando de novo agrave questatildeo O que ensinarraquo jaacute podemos formulaacute-Ia da seguinte maneira devemos desenvolver as estruturas da actividade mental da percepccedilatildeo artiacutestica Estas estruturas incluem uma hierarquia de objectivos e operaccedilotildees mentais alicerccediladas em mecanismos reguladores baseados no senshytido pessoal

Cultura de massas o caminho de menor resistecircncia

Todavia laquoo trabalho mental complexo e difiacutecil como Vygotsky caracterishyzou a percepccedilatildeo artiacutestica natildeo atrai toda a gente A vontade que muitos tecircm de se libertarem de esforccedilos mentais eacute ainda mais forte do que o esforccedilo para minimizar o trabalho fiacutesico Soacute uma minoria criativa () natildeo evita e ateacute prefere e aprecia a complexidade (ver por exemplo May 1975)

O que acontece se um receptor natildeo se sente com vontade de fazer este quando se depara com uma gama completa de produccedilotildees artiacutesticas Os

esquemas prinlIacutetivos de percepccedilatildeo reduzem o esforccedilo exigido indo buscar aos estratos mais simples o enredo e o laquotrajecto emocionah A maior parte dos livros fUmes peccedilas de teatro que se inserem na esferJ de verdadeira arte salvo algum trabalho experimental de avant-garde contecircm estes estratos que mal podem competir a estes niacuteveis com os thrillers de massas novelas de acccedilatildeo e romance e filmes Um receptor que jamais procura qualquer coisa para aleacutem do enredo e das tem muito poucas hipoacuteteses de colher algo mais proshyfundo - digamos significado ou prazer do estilo A actividade mental da pershycepccedilatildeo artiacutestica eacute substituiacuteda neste caso pela aplicaccedilatildeo passiva de simples esquemas mentais em que todo o processo da percepccedilatildeo eacute atalhado e reduzido Seria correcto designar este processo por quase-percepccedilatildeo O receptor natildeo se

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esforccedila por adquirir nada de novo Pelo contraacuterio ele quer reconhecer algo bem conhecido de modo a identificar a projecccedilatildeo das suas atitudes valores vonshy

tades e sonhos natildeo realizados e nada mais A quase-percepccedilatildeo daacute origem agrave quase-arte Se os puacuteblicos massivos de

leitores ou espectadores soacute precisam de um enredo excitante e de fortes emoccedilotildees todo o resto eacute inuacutetil Basta fazer o enredo o mais vibrante e emoshycionalmente intenso possiacutevel sem nada de mais profundo que se eacute bem-suceshydido Pode mesmo ter-se ecircxito com obras claacutessicas produzindo um resumo ou puro enredo extraiacutedos de um livro Os leitores de histoacuterias de intriga sentem-se felizes por lerem resumos porque eacute tudo o que precisam

A cultura industrial de massas baseia-se no princiacutepio do reconhecimento na aplicaccedilatildeo de estereoacutetipos automaacuteticos de plug-and-play da percepccedilatildeo enquanto uma obra de verdadeira arte laquo eacute criada intencionalmente para romper com os automatismos perceptuais e eacute feita especialmente de modo que a pershycepccedilatildeo paacutera nela atingindo a sua forccedila e duraccedilatildeo maacuteximas)) (Shklovsky 1966 p 343) Gostaria de acrescentar o criteacuterio de verdadeira arte que tirei da minha proacutepria experiecircncia como laquoconsumidoDgt de arte o cerne de uma obra de vershydadeira arte - o seu significado - natildeo eacute dado directamente e requerem vez disso que se transcenda a narrativa A quase-arte industrial natildeo tem qualquer outro conshyteuacutedo e significado excepto o que eacute directamente dito eou representado

A quase-arte natildeo exerce qualquer efeito na personalidade a natildeo ser agradar ou chocar as emoccedilotildees Podemos definir a distinccedilatildeo entre quase-arte e verdadeira arte em termos da seguinte dicotomia arte para as emoccedilotildees versus arte para a personalidade (Leontiev 1992) A arte para as emoccedilotildees natildeo conteacutem novOS significados Proporciona reconhecimento em vez de cogniccedilatildeo Nenhum receptor pode receber deste tipo de arte senatildeo prazer emocional transitoacuterio (ou outras emoccedilotildees) O encontro com a quase-arte eacute semelhante a uma aventura passageira de uma noite

A quase-arte por sua vez produz quase-puacuteblicos Bertoid Brecht observou uma vez que a falta de gosto das massas estaacute mais profundamente enraizada na realidade do que o gosto dos intelectuais A quase-arte natildeo carece apenas de efeitos de desenvolvimento mas mais do que isso conserva uma visatildeo do mundo e a personalidade em geral impedindo a capacidade humana de mudar de haver desenvolvimento pessoal e adaptaccedilatildeo criativa ao mundo em transformaccedilatildeo

Seja em que circunstacircncias for a quase-percepccedilatildeo natildeo eacute perversa A necesshysidade recreativa eacute inerente a todos os seres humanos Mesmo intelectuais altamente criativos e esteticamente competentes usam a quase-arte para satisshyfazer esta necessidade e por vezes a quase-arte desempenha esta funccedilatildeo com mais eficaacutecia do que a verdadeira arte Toma-se perversa quando toma o lugar de verdadeira arte para muitas pessoas que natildeo conhecem outra forma de arteraquo e acreditam que eacute verdadeira arte As caracteriacutesticas deste quase-puacuteblico satildeo a rejeiccedilatildeo de Qualauer actividade mental em encontros com a arte o hedonismo

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a procura do prazer sem a prontidatildeo para recQnhecer o que jaacute eacute bem conhecido a rejeiccedilatildeo do novo a absolutizaccedilatildeo das proacuteprias opiniotildees e juiacutezos (que as massas partilham) Este quase-puacuteblico produz uma quase-percepccedilatildeo encerrando assim o ciacuterculo que se auto-sustenta e que alimenta a tendecircncia c1e fazer com que a verdadeira arte morra de sua proacutepria morte

Funccedilotildees da Arte e Educaccedilatildeo Esteacutetica

Nas secccedilotildees anteriores olhaacutemos para os problemas dos sistemas de ensino de Esteacutetica atraveacutes do prisma das necessidades individuais emiddot maneiras de lidar com a arte Eacute agora altura de inverter este ponto de vista e de olhar para as necessidades e especificidades individuais atraveacutes do prisma das tarefas e cateshygorias da Educaccedilatildeo Esteacutetica

Faz sentido deste ponto de vista incluir toda a diversidade de funccedilotildees psicoloacutegicas que a arte preenche em conjunto com os beneficios psicoloacutegicos que promete e oferece a trecircs grandes grupos de acordo com o principal efeito que eacute suposto resultar do encontro recreaccedilatildeo socializaccedilatildeo e desenvolvimento pessoal Embora estas trecircs funccedilotildees possam coexistir em produccedilotildees artiacutesticas existem tipos especiais de arte em que algumas delas predominam de um modo evidente

A funccedilatildeo da recreaccedilatildeo estaacute associada agraves necessidades psicoloacutegicas baacutesicas sendo a recreaccedilatildeo necessaacuteria a todos os seres humanos A maior parte dos tipos geacuteneros e estilos de arte conteacutem uma componente recreativa mais ou menos evidente porque a arte sempre pertenceu agrave esfera da livre actividade indepenshydentemente de quaisquer deveres sociais ou profissionais Especialmente bemshy-sucedida em cumprir esta funccedilatildeo recreativa eacute todavia a quase-arte industrial porque prossegue apenas este objectivo atraveacutes do caminho mais curto possiacuteshyvel A cultura de massas de hoje em dia tem assim tendecircncia para acentuar demasiadamente os aspectos recreativos da arte os que transformam os objecshytos de arte em ecircxitos com um elevado valor de mercado excluindo todos os outros geacuteneros de esforccedilos mentais A funccedilatildeo recreativa da arte eacute muito mais procurada do que qualquer outro tipo e estaacute disponiacutevel para todos A aborshydagem da arte como um instrumento recreativo natildeo requer pois educaccedilatildeo porque o mundo dos objectos quase-arte recreativos adapta-se perfeishytamente ao niacutevel mais baixo (zero) de educaccedilatildeo e de competecircncia esteacutetica

A arte de orientaccedilatildeo socializante fornece informaccedilatildeo sobre o mundo sobre os valores culturais e normas sobre padrotildees de comportamento e modeshylos de identidade pessoaL As tarefas de socializaccedilatildeo satildeo compatiacuteveis tanto com a cultura de massas como com a arte superiorraquo Haacute anos designava-se a Literatura por o livro escolar da vidaraquo mas actualmente as pessoas obtecircm mais conhecimento sobre a vida a partir de histoacuterias de detectives e filmes de

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do que da arte superiofl natildeo obstante as artes visuais se poderem chamar laquooficinas da maneira como verraquo Uma vez que esta funccedilatildeo natildeo pressupotildee um eleshyvarlo niacutevel de competecircncia tem naturalmente menos procura A maior parte das pessoas prefere aprender de outras fontes Esta funccedilatildeo natildeo eacute especiacutefica da arte os jornais satildeo mais eficazes para atingir este objectivuuml A educaccedilatildeo releshyvante para esta funccedilatildeo eacute a educaccedilatildeo geral tradicional em vez da educaccedilatildeo

esteacutetica A arte orientada para o desenvolvimento pessoal pelo contraacuterio quebra

normas e clicheacutes confere novOS significados e novas maneiras de ver e de avaliar a realidade A arte orientada para o desenvolvimento pressupotildee e exige frequentemente um elevado niacutevel de competecircncia esteacutetica assim como motishyvaccedilatildeo para fazer determinado trabalho mental no decorrer da interacccedilatildeo com a arte Exige muito e promete muito ao mesmo tempo As recompensas que se recebem de profundos encontros com a verdadeira arte jamais se podem alcanccedilar de outro modo Todavia apenas uma minoria de um puacuteblico potencial consegue compreender e apreciar esta promessa a promessa do significado Eacute aqui que reside o objectivo mais importante da educaccedilatildeo esteacutetica No entanto para nos tornarmos conscientes deste objectivo e aceitaacute-lo temos primeiro de perceber as diferenccedilas entre os efeitos da arte e a quase-arte a niacuteveis diferentes de encontros que temos com elas Na medida em que a Educaccedilatildeo visa o desenshyvolvimento pessoal torna-se antagocircnica da cultura comercial de massas na luta

pela dimensatildeo humana noS seres humanos

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Page 3: EDUCAÇÃO ESTÉTICA E ARTÍSTICA

FUNCcedilOtildeES DA ARTE E EDUCACcedilAtildeO ESTEacuteTICA

DMTRY A lEONTIEV

A educaccedilatildeo esteacutetica como problema

Qualquer tipo de educaccedilatildeo eacute uma praacutetica social que prossegue o objecshytivo de proporcionar agraves pessoas determinados aspectos da experiecircncia social acumulada partilhada dentro de determinada sociedade Exemplos de uma tal experiecircncia partilhada satildeo o conhecimento do universo normas sociais conshycepccedilotildees do mundo crenccedilas e ideologias incluindo reliacutegiotildees e know-how assim como aptidotildees praacuteticas do quotidiano A apropriaccedilatildeo de toda esta experiecircncia pelos indiviacuteduos eacute uma parte substancial se natildeo uma parte significativa do proshycesso de socializaccedilatildeo Um aspecto da socializaccedilatildeo eacute a adaptaccedilatildeo social de uma pessoa a um sistema especifico de normas e regulamentos sociais que o desenvolvimento da competecircncia praacutetica e social para a interacccedilatildeo efectiva com o sistema social para a adaptaccedilatildeo satisfatoacuteria e efectiva agraves regras sociais Um outro aspecto eacute o desenvolvimento da identidade social de lima pessoa Temos de ter presente que cada pessoa possui uma identidade social muacuteltipla porque ela pertence a um determinado nuacutemero de entidades sociais que diferem em extensatildeo e criteacuterios do sentido de pertenccedila Mais evidentes satildeo as identidades sociais nacionais e eacutetnicas (eu sou russo afro-americano ou portushy

religiosase ideoloacutegicas (eu sou catoacutelico budista ou comunista) profisshysionais e ocupacionais (eu sou um universitaacuterio um trabalhador industrial ou um comerciante) Menos evidentes mas natildeo menos importantes satildeo as identishydades microssociais tais como a consciecircncia que uma pessoa tem de si mesma como membro de uma determinada famiacutelia grupo de pares escola clube bando etc O niacutevel mais elevado de identidade pode designar-se identidade transocial que eacute a consciecircncia que uma pessoa tem de si mesma como ser humano e cidadatildeo do mundo tendo muito em comum com pessoas do outro lado das barreiras nacionais eacutetnicas religiosas liacutenguiacutesticas e de quaisquer outras Todavia muitas pessoacuteas nunca atingem este niacutevel de identidade Todos os niacuteveis de identidade social baseiam-se na apropriaccedilatildeo e assimilaccedilatildeo da expeshyriecircncia de valores e significados de outras formas de mitologia social acumushylada dentro do correspondente sistema social que satildeo transmitidas atraveacutes do sistema de ensino

A educaccedilatildeo esteacutetica natildeo se insere perfeitamente neste esquema Quando falamos de educaccedilatildeo esteacutetica eacute bastante difiacutecil definir o que estamos a ensinar Certamente que natildeo estou a falar do conhecimento da Histoacuteria e Teoria da Arte que se ensinam e aprendem como qualquer outra teoria do conhecimento

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A educaccedilatildeo esteacutetica natildeo se pode reduzir exclusivamente ao conhecimento nem agrave informaccedilatildeo Sabemos tanto teoacuterica como intuitivamente (experimentalmente) que o contacto com a arte adequadamente vivido e assimilado tem algo a ver com o processo mais iacutentimo do desenvolvimento pessoal e da personalidade do que simplesmente com a adaptaccedilatildeo social Abraham Maslow (1971) insistiu que a educaccedilatildeo esteacutetica tem de se tornar no modelo no paradigma para todas as outras formas de educaccedilatildeo porque actualmente natildeo faz sentido que o ensino tenha apenas um conteuacutedo profissional em faculdades e universidades muito do qual jaacute estaacute completamente ultrapassado por ocasiatildeo da conclusatildeo da licenshyciatura O objectivo da educaccedilatildeo devia consistir em promover a auto-realizaccedilatildeo dos alunos o seu desenvolvimento pessoal ajudando-os a desenvolver o melhor do seu potencial Para a educaccedilatildeo esteacutetica este objectivo parece ser extreshymamente evidente mas a sua realizaccedilatildeo parece menos oacutebvia

Natildeo obstante a ideia de Maslow poder deparar com diferentes opiniotildees natildeo resta qualquer duacutevida que a educaccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute uma parte integral da educaccedilatildeo em geral Difere pelo seu objecto meacutetodos propoacutesitos e resultados pretendidos Em determinado sentido aproxima-se mais da Psicoterapia e da Formaccedilatildeo Psicoloacutegica do que da Educaccedilatildeo entendida no seu sentido tradishycional uma vez que a Educaccedilatildeo Esteacutetica se ocupa da transformaccedilatildeo da persoshy

nalidade no seu conjunto Entatildeo quais satildeo os objectivos e resultados pretendidos da Educaccedilatildeo

Esteacutetica Vale a pena discutir este ponto A primeira resposta eacute que aquilo que devemos ensinar na Educaccedilatildeo Esteacutetica eacute a capacidade de perceber e entender a arte e a beleza em geral Esta simples formulaccedilatildeo levanta no entanto muitas questotildees O que eacute a arte O que quer dizer perceber e entender (adeshyquadamente) a arte Porque eacute que as pessoas deviam ser capazes de realizar este objectivo Que resultados sociais e psicoloacutegicos deveriacuteamos esperar e promover Uma abordagem da Educaccedilatildeo Esteacutetica natildeo pode ignorar estas

questotildees O que torna difiacutecil responder a estas questotildees eacute que a arte genuiacutena tem

uma natureza multifacetada - pode interagir com diferentes pessoas e mesmo ateacute com uma soacute pessoa a diferentes niacuteveis e de diferentes maneiras

O que eacute a arte e porque eacute que as pessoas precisam dela Considero ser esta a pergunta chave da Psicologia da Arte (ver Leontiev 1992) Na linguashygem da proacutepria arte a formulaccedilatildeo mais precisa deste problema eacute a pergunta

do priacutencipe Hamlet

o que significa Heacutecuba para ele e ele para Heacutecuba para que ele chore por ela

(Shakespeare W Hamet acto 2 cena 2)

A arte tem muitos aspectos e alguns destes aspectos partilham caracteriacutesshyticas comuns com outros fenoacutemenos (por exemplo os meacutedia a comunicaccedilatildeo interpessoal a psicoterapia o amor etc) enquanto outros satildeo uacutenicQs e idiossinshycraacuteticos Alguns satildeo essenciais e outros permanecem superficiais O que eacute mais essencial na arte - isto eacute a sua capacidade de transmitir significados pessoais humanos de realidade - natildeo corresponde aquilo que a torna uacutenica ou seja a capacidade de exercer um impacto profundamente sentido no acircmago da pershysonalidade hUf1ana (ver Leontiev 1992 1998) A arte devia ser definida atraveacutes das suas caracteriacutesticas uacutenicas essenciais que soacute se podem ver nos efeitos da sua interacccedilatildeo com uma pessoa Por outro lado deviacuteamos ter consciecircncia que a arte nem sempre manifesta estes traccedilos mais profundos mostrando muitas vezes apenas a sua estrutura superficial Umadefiniccedilatildeo a priori da arte eacute quase imposshysiacutevel no entanto vou propor um tipo de definiccedilatildeo depois de uma anaacutelise mais detalhada Como ponto de partida temos de aceitar que a arte eacute tudo o que se designa a si mesma arte por qualquer razatildeo Este pressuposto embora incorshyrecto de um ponto de vista acadeacutemico estaacute todavia muito perto do verdadeiro ponto de partida de um principiante inculto e inexperiente no mundo da arte e dos objectos quase-arte que natildeo possui qualquer criteacuterio para diferenciar a laquoverdadeiraraquo arte dos seus substitutos

Arte e personalidade monoacutelogo ou diaacutelogo

Seraacute que um especialista erudito possui os criteacuterios para distinguir a vershydadeira arte Em determinado sentido sim Com efeito tem-se demonstrado que os especialistas e principiantes natildeo soacute revelam diferentes niacuteveis de competecircnshycia como tambeacutem processam a informaccedilatildeo esteacutetica de modo diferente A pershycepccedilatildeo artiacutestica baseia-se em diferentes mecanismos psicoloacutegicos nestes dois casos (Cupchik Gebotys 1988) Estas variantes foram conceptualizadas em tershymos de diferenccedilas entre modos reactivos natildeo criacuteticos e superficiais de reagir agrave arte por um lado e por outro entre modos profundamente penetrantes e reflectidos (Cupchik Winston 1992) e ainda mais tarde em termos diferentes entre o laquoeu pensanteraquo middote o laquoeu enquanto estafgto (Cupchik Leonard 1997) Este esquema dualista eacute todavia ccedillemasiado simples A reacccedilatildeo espontacircnea imediata de um principiante sem reflectir sobre o sentido eacute seguramente superficial e ingeacutenua No entanto a resposta reflectida de um especialista baseada numa proshyfunda penetraccedilatildeo na produccedilatildeo artiacutestica que implica um profundo processashymento pode tambeacutem ser incompleta se perder em relevacircncia e envolvimento pessoais e se for isolada do contexto pessoal Esta dicotomia reproduz essenshycialmente a dicotomia do cognitivo versus afectivo razatildeo versus sentimento mantida pela ciecircncia da psicologia desde tempos remotos Eu considero esta dicotomia ambiacutegua Nem uma atitude reflectiva sem envolvimento pessoal nem

I 129128

I oL

uma reacccedilatildeo emocional sem uma penetraccedilatildeo mais profunda conseguem proshyporcionar uma compreensatildeo adequada da arte

Se tratarmos a arte como uma forma de comunicaccedilatildeo (ver por exemplo A A Leontiev 1997) vemos que tanto a laquosituaccedilatildeo do especialistaraquo como a laquosituashy

do principianteraquo representam posiccedilotildees de comunicaccedilatildeo monoloacutegica No caso o espedalista surge como o sujeito e a produccedilatildeo artiacutestica como

o obJecto do juiacutezo No segundo caso a produccedilatildeo artiacutestica surge como o sujeito e o receptor inexperiente como deg objecto do impacto artiacutestico O modelo aplica-se perfeitamente ao consumo da cultura de massas que eacute um exemplo da orientaccedilatildeo estritamente monoloacutegica Poreacutem a comunicaccedilatildeo genuiacutena profunda e iacutentima eacute de natureza dialoacutegica Num diaacutelogo ambos os parceiros estatildeo abertos entre si prontos a mudar com os seus mundos interiores prontos a interagir (ver por exemplo Bakhtin 1979 Davis 1988) Se levarmos a seacuterio que a arte tem algo a ver com o desenvolvimento da personalidade temos de aceitar que isto soacute pode ocorrer em diaacutelogo na interacccedilatildeo de dois mundos com significado A traduccedilatildeo a recepccedilatildeo de informaccedilatildeo (cogniccedilatildeo) e a expressatildeo de emoccedilotildees natildeo pressupotildeem relaccedilotildees dialoacutegicas

O que soacute acontece em diaacutelogo eacute a conversatildeo do significado pessoal ou sentido pessoal (ver O Leontiev 1991) A N Leontiev caracterizou a arte como laquoa actividade que preenche a tarefa de revelar expressar e comunicar um senshytido pessoal da realidaderaquo (1983 p 237) Uma obra de arte natildeo se revela les que a tratam como um texto em vez de a tratar como um microcosmos de significados vivos do nosso mundo Para se poder penetrar para aleacutem do texto para aleacutem do quadro e conseguir entrar em contacto com os significados viacutevos uma pessoa tem de renunciar temporariamente agrave sua posiccedilatildeo uacutenica pessoal (parcial) no mundo assim como renunciar ao seu ponto de vista exclusivo e aceitar a posiccedilatildeo do artista olhando para o mundo atraveacutes dos olhos do artista Uma obra de arte eacute uma janela para o mundo do artista que estaacute aberta apenas para uma visatildeo de um ponto de vista uacutenico ou o do autor Para se assumir a posiccedilatildeo do autor uma pessoa tem de renunciar ao seu ponto de vista pessoal transformando-o numa atitude esteacutetica que eacute essencialmente uma atishytude de diaacutelogo a atitude de uma aceitaccedilatildeo imparcial e sem viacutenculos emoshycionais O paradoxo da percepccedilatildeo esteacutetica reside no facto de que soacute renunshyciando agrave percepccedilatildeo pessoal de uma obra de arte atraveacutes do prisma dos proacuteprios

pessoais ecirc que o observador consegue compreender a obra em toda a plenitude do seu significado e nesta enriquecer o seu proacuteprio mundo interior O primeiro passo neste processo ver uma imagem do mundo de determinada pessoa por detraacutes da do mundo e assumir em relaccedilatildeo a ela uma atitude empaacutetica de diaacutelogo permite ir mais longe ou da imagem do mundo para o mundo em si Nesta fase os significados contidos na obra interagem com as estruturas de sentido da personalidade do receptor Este processo conduz agrave absorccedilatildeo dos novos conteuacutedos e aspectos nas estrumiddot

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tmas de significado individuais se natildeo houver contradiccedilatildeo entre elas ou no efeito de catarse se houver contradiccedilatildeo entre os significados contidos na obra de arte e os que satildeo inerentes agrave do mundo do indiviacuteduo Isto pro move o colapso dos estereoacutetipos de sentido pessoais acrescido de um relevo enriquecido de uma percepccedilatildeo do mundo e do desenvolviacutemento da capacidade de ver objectos e eventos simultaneamente de muitos pontos de vista em muitos contextos e significados potenciais Este uacuteltimo eacute o preacute-requisito indisshypensaacutevel para o desenvolvimento da faculdade humana baacutesica para a objectivishydade (ver Fromm 1956 pp 64-65) Eacute por isso que ao desenvolver contactos com a arte um indiviacuteduo torna as suas relaccedilotildees com o mundo mais flexiacuteveis sigshynificativas e orientadas para o futuro tornando-se mais adaptadas no sentido mais lato do termo laquoA arte daacute-me a oportunidade de viver vaacuterias vidas em vez de uma soacute e consequentemente de enriquecer a experiecircncia da minha vida real de me unir a partir da interiacuteor com outra vida soacute com essa finalidade e em beneficio do seu significado vitahgt (Bakhtin 1979 p72)

EVasilyuk (1988) introduziu o conceito de experiecircncia como actividade interior do espiacuterito ao lidar com transformaccedilotildees das estruturas de sentido da personalidade para restaurar a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo indivishyduai da realidade e a vida pessoal Vasilyuk lidou com situaccedilotildees importantes na vida e elaborou as suas ideias de experiecircncia para incluir o contexto psicotera-

Foi o primeiro a descrever transformaccedilotildees decisivas de uma esfera de sentido pessoal - produccedilatildeo do tal como designou este processo que ecirc uma consequecircncia do conflito insoluacutevel da incompatibilidade do mundo inteshyrior de uma pessoa com a realidade do mundo exterior Podemos encontrar transformaccedilotildees deste gecircnero em dois outros tipos de (ver D Leontiev 1997) Uma ecirc a situaccedilatildeo de profunda comunicaccedilatildeo dialoacutegica interpessoal com alteridades significativas que resulta no fenoacutemeno do laquoinvestimento da pershysonalidaderaquo (petrovsky J985) quando eu sinto a presenccedila de uma alteridade sigshynificativa dentro de mim e da sua influecircncia relativa agraves minhas decisotildees e acccedilotildees Um outro tipo eacute a situaccedilatildeo de interacccedilatildeo dialoacutegica com uma obra de arte

Estas trecircs classes de tecircm algo em comum Com efeito as transshyformaccedilotildees de sentido podem apenas ocorrer como resultado do encontro do meu proacuteprio mundo iacutentimo com um outro mundo que revela uma certa conshytradiccedilatildeo entre esses dois m1ll1dos Este segundo mundo pode ser o mundo exteshyrior onde eu vivo como no caso de situaccedilotildees vitais descritas por F pode ser o mundo interior de uma alteridade signit1cativa tal como nos efeitos do investimento de personalidade ou pode ser um mundo criado e objectivado numa peccedila de arte tal como no caso dos efeitos transformadores do encontro cataacutertico com a arte O que eacute diferente nestes trecircs casos eacute em primeiro lugar o grau de necessidade destas transformaccedilotildees de sentido Em momentos de crise

ou em situaccedilotildees vitais o sujeito depara-se com a impossibilidade de manter o sistema estabelecido de relaccedilotildees com o mundo natildeo existe uma altershy

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nativa razoaacutevel para esta mudanccedila excepto por uma forte defesa psicoloacutegica e porventura o desenvolvimento de uma psicopatologia Nos encontros com a arte pelo contraacuterio natildeo existe qualquer necessidade externa de mudanccedila Aceitar ou natildeo novos significados eacute uma questatildeo de livre escolhat por isso que Vygotsky escreveu laquoA arte eacute a organizaccedilatildeo do nosso futuro comportamento eacute um requisito que jamais pode ser preenchido mas que nos obriga a lutar para aleacutem da nossa vida em direcccedilatildeo a tudo o que a transcenderaquo (1971 p 253) r~ta foacutermula ajuda-nos a compreender a ligaccedilatildeo da arte com o lado pragmaacutetico da existecircncia humana Sem duacutevida a arte transcende sempre quaisquer necessishydades de uma determinada situaccedilatildeo imediata Contudo natildeo eacute irrelevante para os aspectos adaptativos da vida Eacute como se fosse uma aprendizagem latente sem uma ideia clara de quando e como aplicar os talentos adquiridos - natildeo se pode designar inuacutetil embora possa parececirc-lo A comunicaccedilatildeo interpessoal assume uma posiccedilatildeo intermeacutedia o seu acircmago eacute revelar e assimilar os significados que tecircm as coisas para os outros o que natildeo eacute absolutamente imprescindiacutevel mas desejaacutevel se se quer viver em harmonia com os outros

Adquirir novos significados em consequecircncia de um encontro com o mundo de uma criaccedilatildeo artiacutestica pode considerar-se um criteacuterio necessaacuteshyrio quer tenha havido ou natildeo total compreensatildeo da obra Este processo presshysupotildee mais do que a descoberta destes significados O aspecto mais importante eacute o processo de relacionar o proacuteprio mundo significativo do receptor com o mundo do artista objectivado na peccedila de arte dois significados laquotecircm de entrar em contacto iacutentimo ou em ligaccedilatildeo de sentido entre siraquo (Bakhtin 1979 p 219) Um especialista imparcial extrai de uma produccedilatildeo artiacutestica determinashydos significados semacircnticos um espectador inexperiente extrai determinadas emoccedilotildees superficiais Ambos satildeo incapazes de tocar no acircmago da verdadeira arte que eacute o sentido pessoal O que deviacuteamos ensinar eacute a atitude dialoacutegica para com a arte a capacidade natildeo apenas de ver o mundo significativo que transshycende os meios expressivos mas tambeacutem de nos relacionarmos pessoalmente com este mundo de nos abrirmos a ele e de nos enriquecermos com os

nificados aiacute descobertos

Variaacutevel intermeacutedia competecircncia esteacutetica

Todavia mesmo pessoas potencialmente capazes de chegar a um tal encontro dialoacutegico significativo nem sempre tecircm ecircxito As razotildees para este frashycasso podem tanto atribuir-se agraves proacuteprias pessoas (agraves suas motivaccedilotildees comshypetecircncia esteacutetica ou mundo interior) aos objectos de arte como agrave situaccedilatildeo

Comecemos pelo primeiro Nem todos os receptores conseguem que todas as obras de arte lhes

falem Eacute necessaacuterio uma chave especial em cada caso Eu dou a esta chave o

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nome de competecircncia esteacutetiacuteca que implica a capacidade do leitor espectador ouvinte para extrair conteuacutedos de significado de diferentes niacuteveis de profundishydade da textura esteacutetica de uma produccedilatildeo artiacutestica Esta variaacutevel reflecte o niacutevel geral do desenvolvimento esteacutetico de uma pessoa a sua experiecircncia de enconshytros pessoais com a arte

A competecircncia esteacutetica eacute um dos factores essenciais que determinam o processo e os resultados do encontro ~sectsoaaill embora natildeo seja o uacutenico (ver D Leontiev 1998) Dois outros factores satildeo o mundo interior (a estrutura de sentido da personalidade) e as necessidades dominantes que definem subsshytancialmente a opccedilatildeo individual dos geacuteneros estilos escolas e obras de arte que se encontram

Com base nas obras teoacutericas e experimentais existentes podemos destacar pelo menos trecircs aspectos interligados da compeliJnciCl esteacutetica O primeiro

ly aspecto eacute a ltQllpexidade cognitiva da visatildeo do mundo que um indiviacute~uo ~m

lQ a capacidade Qessoal dJJQID~flder a ambi~dade e de vs as QossibilJ$Qes l ~_()isas tecircm de mudar de ser diferenes O segundo aspecto eacute o domiacutenio g que uma pessoa tem das laquolinguagens)) especiais de diferentes tipos geacuteneros e d estilos de arte que requer-m conjunto de laquocoacutedigQsraquo culturais (Lotman1994)

que tornam possiacutevel descodificar a informasatildeo contida nOLteXtOatildert1sti5~de modo a traduzir a estmtura de sinais de uma PLQCcedilluccedilatildeo ~tica na liacutengua materna das emoccedilotildees e significados humaQos O terceiro aspecto da com- Otilde

petecircncia esteacuteti~-o~iundo das caracteriacutesticas de actividade da percepccedilatildeo artiacutesshysi a tica (ver a seguir) eacute o~lde mestr~_~~~c_omp~~1Sias e pi9otildee~_()pe0c9ais

que define a capacidade pessoal para desempenhar a actividade de desobjectishyvaccedilatildeo de textos relevante para um determinado texto Todos estes trecircs aspectos estatildeo evidentemente ligados mas o caraacutecter da sua ligaccedilatildeo representa uma tarefa para um estudo especial

---gt lgtI- O desenvolvimento da competecircncia esteacutetica eacute assim um outro alvo para a educaccedilatildeo esteacutetica natildeo obstante ser um objectivo muito mais trivial e tradishycional A grande parte do puacuteblico de todos os geacuteneros de arte situa-se ao niacutevel inferior da competecircncia esteacutetica A induacutestria da cultura de massas contribui grandemente para-ordf ma~enccedilatildeo deste niacutevel dentro das massas produzindo obras de arte ~e-ar~er a seguir) gue exigem apenas um niacutevel muito primitivo de cORet~_~~ia Admite-se que o processo e o resultado da pershycepccedilatildeo individual de obras de laquoarte superiorraquo dependem em grande parte da competecircncia esteacutetica e de outras variaacuteveis da personalidade enquanto que no caso de obras de laquoculturas de massasraquo considera-se que esta dependecircncia eacute muito diminuta (obscurecida nos termos de C Martindale) Contudo a comshypetecircncia esteacutetica natildeo explica todas ou a maior parte das diferenccedilas individuais - do consumo de arte Existem diferenccedilas qualitativas substanciais dentro do mesmo niacutevel de competecircncia esteacutetica que exigem uma abordagem diferente

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~ flFL~E

Mais variaacuteveis intermeacutedias estrateacutegias individuais do consunlO da arte

G B Shaw observou na introduccedilatildeo a Santa Joana que muitos frequenmiddot tadores de teatro vatildeo ao teatro pelas mesmas razotildees que muitas pessoas vatildeo agrave igreja para exibir o traje para se manterem actualizados com a moda para terem

sobre que falar para admirar uma estrela para passar a noite num siacutetio qualmiddot quer excepto em casa Por outras palavras ir ao teatro eacute muitas vezes motivado por tudo excepto o interesse que diz respeito agrave produccedilatildeo dramaacutetica em si Com base na teoacuterica e existente no campo do consumo de arte (uso aqui deliberadamente este termo econoacutemicoporque nesta fase da anaacutelise esta palavra eacute a uacutenica que consegue incluir todas as diferentes formas de intemiddot

pessoamiddotarte) podemos acrescentar a esta lista de nova informaccedilatildeo sobre o mundo o seguinte recriaccedilatildeo procura de modelos de comportamento procura da soluccedilatildeo para problemas pessoais procura de significado Qrocura de certos

jlt e~tados emocionais que a vida 9UQlidiana patildeO [2[QJo[ciQ1il obtenccedilatildeo de apoio para os valores pessoais alivio dos proacuteprios pensamentos e ansiedades confirshymaccedilatildeo da proacutepria visatildeo do mundo etc etc

Em todos estes casos a arte eacute _SlII~i~_tecirc~E~lQre_ltndiltordf-lt~ifer~tes espectro destas diferentes maneiras parece contudo ser limitado

Referirmiddotmemiddotei a uma seacuterie de estudos experimentais em que procurei aplicar uma abordagem individual ao consumo de arte por oposiccedilatildeo agrave tradicional teoacutericamiddotnormativa (Leontiev 1992 1998) A abordagem teoacuterica-normativa presshysupotildee a existecircncia de um tipo padratildeo perfeito avanccedilado de laquoverdadeiraraquo pershycepccedilatildeo esteacutetica Todos os processos empiacutericos imperfeitos de consumo de arte devem ser avaliados de acordo com a proximidade destes processos empiacutericos relacionados com o processo teoacutericomiddotnormativo Do meu ponto de vista esta abordagem eacute ambiacutegua porque reduz todas as peculiaridades qualitativas da intemiddot racccedilatildeo pessoa-arte a uma uacutenica climensatildeo de laquoadequaccedilatildeoraquo Com efeito a permiddot cepccedilatildeo esteacutetica perfeita natildeo ocorre com muita frequecircncia mesmo lidando com sujeitos sofisticados Ao mesmo tempo os tipos empiacutericos ltltimperfeitos) de conmiddot sumo de arte natildeo satildeo apenas fracassos de um tipo peacuterfeito Tecircm especificidades qualitativas proacuteprias e merecem atenccedilatildeo especiaL Pode existir uma gama comshypleta de contactos entre uma pessoa e uma producatildeo artiacutestica mesmo se e_te

--__~-~-~ ------~--contacto nao tem nada a ver Coru a com~mictccedil~ordm~~ laquoExigecircncias e expec-

eS1DelclIacuteic~LS do puacuteblico podem transformar a substatildencia sigmiddot nificativa de uma produccedilatildeo artiacutestica passando esta assim a desempenhar as suas funccedilotildees sociais a adquirir popularidade e a influenciar eficazmente o puacuteblico no caso em que natildeo eacute avaliada por criteacuterios esteacuteticos e em que estaacute efectivamente fora do sistema da percepccedilatildeo esteacutetica no verdadeiro sentido do termoraquo (Dondurei 1975 p 28) Tem de se ter presente a diferenccedila entre per-Aacute p ~ fIacute=

cepccedilatildeo artiacutestia c percepccedilatildeo esteacutetica t percepcatildeo artiacutestica nem sempre eacute (e Vshynem sequer como regra) uma percepccedilatildeo esteacutetica todavia natildeo devemos excluir

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~

do nosso foco de interesse formas natildeo-esteacuteticas de consumo de arte espeshycialmente ao lidar com os problemas da educaccedilatildeo esteacutetica

A abordagem individual que eacute uma alternativa agrave abordagem teoacuterica-nor mativa baseiamiddotse na primazia da anaacutelise fenomenoloacutegica qualitativa dos proces sos empiacutericos da interacccedilatildeo pessoamiddotarte em toda a sua diversidade Uma teacutecnica especial de investigaccedilatildeo de livres descriccedilotildees (FD)() foi elaborada para este propoacutesito (ver Leontiev Kharchevin 1994) Pediu-se aos sujeitos que indicassem ~ quatro livros (filmes peccedilas de teatro pinturas) que tivessem recentemente lido ou visto Ao terminarem a pediumiddotsemiddotlhes que escrevessem qualquer coisa mais ou menos meia paacutegina normalizada sobre cada um destes 4 itens de modo que o leitor pudesse ter uma ideia deles

De seguida aplicaacutemos uma espeacutecie de anaacutelise de conteuacutedo agraves feitas Usando certas categorias de palavras e juiacutezos como indicadores de tipos especiacuteficos de processamento de informaccedilatildeo (no sentido mais amplo do termo) descrevemos conjuntos de estrateacutegias de descrifatildeo liacutevre Verificaacutemos que a maior parte das estrateacutegias eram essencialmente as mesmas nos estudos de difeshyrentes artes outras eram mais especiacuteficas Todo o conjunto de estrateacutegias verifi cado na nossa investigaccedilatildeo com literatura (com S Kharchevin e I Pavlova) tura (com E Dimitriyeva e E Belyaeva) e teatro (com L Lagutina) eacute apresentado no Quadro L

Numa seacuterie de estudos experimentais verificaacute mos o seguinte

1) Diferentes satildeo muttlamente independentes isto eacute natildeo reve Iam correlaccedilotildees positivas significativas entre si

2) As estrateacutegias satildeo individualmente especiacuteficas isto eacute em cada tema exisshytem 1-2 estrateacutegias claramente dominantes

3) Elas satildeo estaacuteveis intramiddotindividualmente isto eacute satildeo geralmente repro dutIacuteveis em estudos de repeticcedilatildeo do teste apoacutes 1 ano

estrateacutegias revelam certas diferenccedilas de gecircnero e manifesta dinacircmica de desenvolvimento na infacircncia

5) Elas tambeacutem revelam correlaccedilotildees significativas com determinadas variaacuteveis da personalidade

Resumindo as conclusotildees de diferentes estudos podemos concluir que existem pelo menos 7 estrateacutegias invariantes reproduzidas em todos os estudos

1 - Emocional 2 De orientaccedilatildeo para o enredOVida 3 Estiliacutesticatecnoloacutegica 4 De siacutentese

() Free descriptiolls

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QUADRO I

Estrateacutegias de descriccedilotildees livres c criteacuterios para sua identificaccedilatildeo

UTERATITRA PINTIJRA

Emocional Emocional (palavras e juiacutezos que contecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral dos livros como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata do livro)

Orientaccedileiacuteo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Analiacutetica Quiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico de arte uma anaacutelise

I I laquocondescendente usando

termos profissionais de criacutetica literaacuteria)

~ IEStiliacutestica referindo-se

~ y~ ___~~s do estilo linguagem forma esteacutetica do livro)

-

De siacutentese Quiacutezos que expressam a idela geral do livro o seu significado ou moral)

Interpretativa (Juiacutezos sobre problemas pessoais sociais e filosoacuteficos de caraacutecter geral relacionados por associaccedilatildeo ao conteuacutedo do livro)

Orientada para () autor (Juiacutezos relacionados com a posiccedilatildeo do autor em vez de se relacionarem com () livro em si comparaccedilatildeo com outros autores e outras obras do mesmo autor)

(Palavras e juiacutezos transmitem sensaccediloes e sentimentos provocados pelo quadro sua avaliaccedilatildeo geral emocionaL)

Orientaccedilc1o (Palavras descrevem as pinturas como uma peccedila de vida real uma situaccedilatildeo desenvolvida no tempo)

-k Estiliacutestica juiacutezos referindo-se esquemas artiacutesticos a sua funccedilatildeo o peculiaridades

De siacutentese (Interpretaccedilatildeo do conteuacutedo do quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Associativa (Associaccedilotildees sobre diferentes temas provocadas pelo quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Orientada jJara o autor (Palavras de juiacutezos indicando a intenccedilatildeo estado psicoloacutegico e contexto biogratildefico do autor)

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TEATRO

Emocional (Palavras e juiacutezos que conshytecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral da peccedila como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata da peccedila)

Orientaccedilatildeo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Tecnoloacutegica (Juiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico do teatro avaliaccedilatildeo da encenaccedilatildeo trabalho do produtor e do actor meios expressivos)

I De siacutentese (Associaccedilotildees sobre questotildees do dia a dia pessoais filosoacuteficas suscitadas pela peccedila)

Associativa (Associaccedilotildees sobre questotildees do diacutea-a-dia pessoais filosoacutel1cas suscitadas pela

I peccedila)

(Continua)

UTERATURA

Fragmentada (Descriccedilatildeo de um episoacutedio ou episoacutedios distintos sem ligaccedilatildeo loacutegica entre si)

Enumemtiva (Enumerando uma lista de toacutepicos ou idelas de que trata o livro)

Orientada para as personagens (Descriccedilatildeo de uma personagem (personagens) os selLS traccedilos pensamentos feitos e expressotildees)

lmpressiva (Descriccedilatildeo de algum impacto que transcende a resposta emocional imediata das mudanccedilas na visatildeo do mundo e na personalidade suscitada pelo livro)

PINTIJRA

lmpressiva (Palavras e juiacutezos que descrevem o impacto concreto do quadro e os seus pormenores distintos)

Graacutefica (Palavras e apresentando o quadro como um quadro emoldurado sua descriccedilatildeo do ponto de vista de um espectador passivo)

Cultural (Palavras e juiacutezos que caracterizam o quadro contexto cultural mencionado outros autores e outras obras do mesmo autor)

Metafoacuterica (Descriccedilotildees usando metaacuteforas siacutembolos e comparaccedilotildees )

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TEATRO

introspectiva (Anaacutelise dos proacutepdos estados e experiecircncias suscitada pela peccedila)

Espaccedilo do teatro (Juiacutezos sobre a atmosfera interior eventos que ocorrem fora do palco no aacutetrio do teatro)

nlstoncas ou esteacuteticas) do autor etc)

Pessoal (Relacionado a peccedila

I ~ ~ntexto da b ~rs~~alidade

-ri se--~ -J --~~ ecirc~ ~-~~

5 - Culturalde orientaccedilatildeo para o autor 6 Associativainterpretativa 7 - Impressivaintrospectiva

Natildeo noS eacute possiacutevel apresentar aqui em detalhe todos os dados relevantes O que eU gostaria de fazer eacute discutir a natureza destas estrateacutegias AQIIacute1l5ira euroJ 1shyfase da interacccedilatildeo de uma pessoa com uma obra de arte eacute a reconstruccedilatildeo menshytal dessa obra a transiccedilatildeo mental do mundo real de objectos materiatildei$(comO o livro que estou a ler neste momento) para o mundo de ficccedilatildeo de imagens artiacutesshyticas de ficccedilatildeo reconstruiacutedas atraveacutes dos meus mecanismos mentais a partir de letratildeS impressas ~Patildepecirc[de pontos coloridos numa teIa ou de pessoas a moverem-se e a falar num palco de teatro Os nossos estudOs de livre descriccedilatildeo ~ tornam evidente que essa prossegue em assuntos dilerentes de diferentes maneiras e conduz a resultados diferentes Os autores alematildees introshyduziram o conceito de Kommunikat para caracterizar este resultado de reconsshytruccedilatildeo mental do mundo de um livro que eacute o primeiro resultado imediato da leitura de seguida as respostas e impressotildees do leitor referem-se ao Kommunikat em vez de se referirem ao livro original (Viehoff 1992) Existem maneiras diferentes de construir o Kommunikat do mesmo livro ou de outra produccedilatildeo artiacutestica e as estrateacutegias aacutee livre descriccedilatildeo reflectem suponho eu estas variaccedilotildees AlgumaSECcedilQ~em a narrativa outras emoccedilotildees outras n~dos outras o contexto cultural ou~~~~s proacuteprias impJs~~2-e~c5~lltras ainda as capacidades teacutecnicas e descobertas do autor Qual destas estrateacutegias ~ estaacute laquocertaraquo IDe 52ygaltpestatildeo leYanta-~e sobre o que ensinar Eu recomenshydari ensiDilr toda~~~m2~~~LQsectQh9JLPordfriacutel yerllJII obra de arte dentro ~ltgt~~s_rr~_~~~~~i~Ccedil~PJ~f9~~tSfisectmiddotJia realiqade ~dasssectgordf~ga~ Esectlt~~ ()~~na~~s~~o longo dest dimensatildeo quantitativa com bastante precisatildeo A variedade qualitativa soacute pode ser adequadamente tratada em termos de estruturas da actividade mental do suieito na

construccedilatildeo do Kommunikat

Percepccedilatildeo artiacutestica como actividade mental - 0~~~Ccedil ~

( A ideia de que a percepccedilatildeo artiacutestica eacute um tipo de actividade mental comshy) plicada e natildeo um processo automaacutetico eacute uma consequecircncia do postulado da natureza criativa comum d~~ecfiGlordfOtilde) artiacutesticas U-~_~Jii ~melhanccedila estrutural como tambeacutem da SlIa semclb3nccedilmiddota jnt~ca O t$m de ser congenial com o poeta e ao percepcionar a obra de arte eacute como se a cecriasse de noyo Pndemos pois definir o processo de percepccedilatildeo comoo processo restituiacutedo e reproduzido de criaccedilatildeoraquo (Vygotsky 1926 p 255 cf Hoege 1997) Uma das mais importantes desta conceptualizaccedilatildeo da pershy

cepccedilatildeo esteacutetica eacute a conviccatildeo ~ordfde interna ccedilgmplexa Qimeiro passo Esta ideia (Vygotsky 1926) no capiacutetulo sobre - o menos conhecido dos seus escritos Nesta obra ele virou-se psicoloacutegica (le encontro~ entre a arte e JSJ2~sectsect9jsect~rbais Ele declarou que ~ toda a gente consegue s2mJ2~ltend~r l~la obra de arte e o processo da pershy

cepccedilatildeo artiacutestica eacute unCYt$QlJl~ntordfLfQmpl~~2~S~~ficTI-(I61atilde p Z5i)lomo ele explicou o conteuacutedo deste trabalho desta actividade mental permanecemL desconhecidas ~ aRenas evident~q~-(e~~Sllll_aordfCcedil1~yjpordfd~~ltEU~g~shylllif[l~mplexa que eacute desempenhada por um espectador ou ouvinte que constroacutei e cria um objecto esteacutetico com base nas impressotildees externas dadas Todas as suas respostas subsequentes referem-se apenas a este objecto Com efeito um quadro eacute apenas uma peccedila rectangular de tela com um determinado nuacutemero de cores Quando o espectador interpreta esta tela e estas cores como um retrato de um homem de determinado objecto ou de um evento este comshyplexo trabalho de transformar a tela colorida no quadro eacute inteiramente feito pela mente do observadorraquo (ibid p 252) Vemos aqui bastante claramente o protoacutetipo da ideia do Kommunikat acima referido Todavia as ideias teoacuterishycas de Vygotsky natildeo foram exploradas nos estudos emDIacutericos a natildeo ser haacute pouco tempo

Mais tarde a ideia das caracteriacutesticas activas da percepccedilatildeo artiacutestica foi repetida pelo filoacutesofo Valentine Asmous (1961) Asmous afirmou que uma imagem artiacutestica complexa produz inevitavelmente variaccedilotildees individuais na sua compreensatildeo e avaliaccedilatildeo Contudo natildeo representa o caraacutecter subjectivo da pershycepccedilatildeo esteacutetica Pelo contraacuterio lima verdadeira obra de arte tem um conteuacutedo objectivo profundo independentemente das eventuais impressotildees do receptor Poreacutem soacute atraveacutes da actividade interna complexa do leitor ou do espectador eacute que este conteuacutedo objectivo se pode tambeacutem transformar no conteuacutedo da sua mente Nesta actividade criativa ela consciecircncia o leitor ou espectador segue o caminho traccedilado pelo autor recriando o conteuacutedo impliacutecito de uma obra de arte atraveacutes de linhas de orientaccedilatildeo expliacutecitas contidas na obra laquoDois leitores que se deparam com a mesma obra literaacuteria podem comparar-se a dois marishynheiros que atiram as suas sondas no oceano A profundidade que atinge cada um natildeo excederaacute o comprimento da sua sondaraquo (Asmous 1961 p

A inovaccedilatildeo contudo estava associada agrave ideia da abordagem da Teoria da Actividade em Psicologia (Leontiev 1983) desenvolvida com base na abordagem hiacutestoacuterico-cultural de Vygotsky isto eacute que em os processos mentais humanos natildeo resultam apenas de funccedilotildees externas conforme Vygotsky mas tambeacutem mantecircm as caracteriacutesticas activas e a estrutura activa intactas embora reduzidas mas restauraacuteveis Durante o periacuteodo compreendido entre 1930 e 1970 a abordagem da Teoria da Actividade russa aplicou o conshy

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~

ceito de actividade mental apenas aos processos cognitivos enquanto nas uacuteltishymas duas deacutecadas se tem feito muito para revelar vaacuterias estrutUl~JS de actividade de processos complexos de experiecircncia e de transformaccedilotildees do sentido pesshysoal Verificou-se especialmente um progresso notaacutevel no acircmbito da teoria psicoloacutegica e investigaccedilatildeo experimental da arte como um instrumento (ou o instrumento) para formar a personalidade humana mudando as suas estruturas psico loacutegicas

Satildeo dignos de mencionar vaacuterios estudos experimentais que tecircm obtido ecircxito em demonstrar a possibilidade de desenvolvimento das capacidades para compreender diferentes gecircneros de arte com a ajuda de meacutetodos especiais elaborados com base nas caracteriacutesticas de actividade dos processos de pershycepccedilatildeo e compreensatildeo artiacutesticas Como exemplo referirei os estudos realizados por V Guruzhapov (1983) sobre artes visuais E Bodrova (1984) e R Karakozov (1991 1994 1997) sobre literatura

V Guruzhapov (1983) fez a distinccedilatildeo entre diferentes niacuteveis de comshypreensatildeo artiacutestica em crianccedilas na idade escolar entre os 7 e 9 anos de idade procurando depois acelerar o desenvolvimento das aptidotildees correspondentes usando teacutecnicas especiais baseadas na actividade As diferenccedilas de niacutevel na comshypreensatildeo artiacutestica foram definidas em termos de capacidade para compreender uma obra de arte como um todo integrado e diferenciado (10 niacutevel) como um todo natildeo-diferenciado (2 0 niacutevel) ou como um conjunto de elementos (3 0 niacutevel) 92 dos sujeitos corresponderam de iniacutecio ao terceiro niacutevel O proshycesso de ensino usado no grupo experimental incluiacutea o desenvolvimento da capacidade da crianccedila para integrar diferentes partes do quadro reconsshytruindo a intenccedilatildeo do pintor e para perceber a paleta de cores usada no qlladro como expressando determinada imagem integrada Gllruzhapov concluiu que foi possiacutevel desenvolver em crianccedilas dos 7 aos 9 anos de idade a capacidade de compreender inlagens complexas caracteriacutesticas da arte laquoadultaraquo

E Bodrova (1984) investigou a compreensatildeo de textos literaacuterios por crianshyccedilas em idade preacute-escolar entre os 5 e 7 anos de idade Este processo foi definido em termos de construccedilatildeo do significado e do sentido do texto em contextos pessoais e outros E Bodrova adiantou a hipoacutetese que a causa das maacutes intelpreshytaccedilotildees dos textos estava relacionada com uma estrutura relativamente comshyplexa das relaccedilotildees entre as personagens e as suas as quais se podem todas encontrar na inadequaccedilatildeo da estrutura da compreensatildeo do sentido mais do que na falta de conhecimento das suas relaccedilotildees O ponto mais difiacutecil de comshypreensatildeo para os sujeitos pareceu ser a dinacircmica do estado interior das persoshynagens e as possibilidades alternativas das suas acccedilotildees em diferentes situaccedilotildees que precisam de ser tomadas em consideraccedilatildeo para se poder compreender o sentido das suas verdadeiras acccedilotildees O processo de ensino incluiacutea um diaacutelogo especial com os sujeitos e experimentaccedilatildeo com o texto isto eacute diferentes transformaccedilotildees da narrativa propostas pelo experimentador Este processo

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aprofundou significativamente a compreensatildeo do significado das acccedilotildees das personagens e do conjunto do texto pelos sujeitos Esta capacidade manifesshytou-se tambeacutem na anaacutelise de textos desconhecidos

R Karakozov (199119941997) estudou a compreensatildeo do significado e sentido pessoal de obras literaacuterias por estudantes universitaacuterios Ele conseguiu destacar determinadas estruturas riacutetmicas na organizaccedilatildeo espaccedilo-temporal de obras comuns (M Proust W Faulkner) Ele designou-as segundo M Bakhtin estruturas cronotoacutepicas e provou que a actividade interna de reconstmccedilatildeo destas estruturas eacute um preacute-requisito indispensaacutevel para a compreensatildeo adeshy

do significado e sentido da obra como um todo Revelou tambeacutem um sistema de operaccedilotildees mentais consideradas como base da actividacle interna da compreensatildeo da prosa e elaborou o procedimento de ensino designado laquoo modelo de leitura cronotoacutepicall Este procedimento provou tambeacutem ser altamente eficaz no aprofundamento da compreensatildeo do significado e sentido de obras comuns (A Pushkin A Chekhov) pelos sujeitos

Voltando de novo agrave questatildeo O que ensinarraquo jaacute podemos formulaacute-Ia da seguinte maneira devemos desenvolver as estruturas da actividade mental da percepccedilatildeo artiacutestica Estas estruturas incluem uma hierarquia de objectivos e operaccedilotildees mentais alicerccediladas em mecanismos reguladores baseados no senshytido pessoal

Cultura de massas o caminho de menor resistecircncia

Todavia laquoo trabalho mental complexo e difiacutecil como Vygotsky caracterishyzou a percepccedilatildeo artiacutestica natildeo atrai toda a gente A vontade que muitos tecircm de se libertarem de esforccedilos mentais eacute ainda mais forte do que o esforccedilo para minimizar o trabalho fiacutesico Soacute uma minoria criativa () natildeo evita e ateacute prefere e aprecia a complexidade (ver por exemplo May 1975)

O que acontece se um receptor natildeo se sente com vontade de fazer este quando se depara com uma gama completa de produccedilotildees artiacutesticas Os

esquemas prinlIacutetivos de percepccedilatildeo reduzem o esforccedilo exigido indo buscar aos estratos mais simples o enredo e o laquotrajecto emocionah A maior parte dos livros fUmes peccedilas de teatro que se inserem na esferJ de verdadeira arte salvo algum trabalho experimental de avant-garde contecircm estes estratos que mal podem competir a estes niacuteveis com os thrillers de massas novelas de acccedilatildeo e romance e filmes Um receptor que jamais procura qualquer coisa para aleacutem do enredo e das tem muito poucas hipoacuteteses de colher algo mais proshyfundo - digamos significado ou prazer do estilo A actividade mental da pershycepccedilatildeo artiacutestica eacute substituiacuteda neste caso pela aplicaccedilatildeo passiva de simples esquemas mentais em que todo o processo da percepccedilatildeo eacute atalhado e reduzido Seria correcto designar este processo por quase-percepccedilatildeo O receptor natildeo se

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esforccedila por adquirir nada de novo Pelo contraacuterio ele quer reconhecer algo bem conhecido de modo a identificar a projecccedilatildeo das suas atitudes valores vonshy

tades e sonhos natildeo realizados e nada mais A quase-percepccedilatildeo daacute origem agrave quase-arte Se os puacuteblicos massivos de

leitores ou espectadores soacute precisam de um enredo excitante e de fortes emoccedilotildees todo o resto eacute inuacutetil Basta fazer o enredo o mais vibrante e emoshycionalmente intenso possiacutevel sem nada de mais profundo que se eacute bem-suceshydido Pode mesmo ter-se ecircxito com obras claacutessicas produzindo um resumo ou puro enredo extraiacutedos de um livro Os leitores de histoacuterias de intriga sentem-se felizes por lerem resumos porque eacute tudo o que precisam

A cultura industrial de massas baseia-se no princiacutepio do reconhecimento na aplicaccedilatildeo de estereoacutetipos automaacuteticos de plug-and-play da percepccedilatildeo enquanto uma obra de verdadeira arte laquo eacute criada intencionalmente para romper com os automatismos perceptuais e eacute feita especialmente de modo que a pershycepccedilatildeo paacutera nela atingindo a sua forccedila e duraccedilatildeo maacuteximas)) (Shklovsky 1966 p 343) Gostaria de acrescentar o criteacuterio de verdadeira arte que tirei da minha proacutepria experiecircncia como laquoconsumidoDgt de arte o cerne de uma obra de vershydadeira arte - o seu significado - natildeo eacute dado directamente e requerem vez disso que se transcenda a narrativa A quase-arte industrial natildeo tem qualquer outro conshyteuacutedo e significado excepto o que eacute directamente dito eou representado

A quase-arte natildeo exerce qualquer efeito na personalidade a natildeo ser agradar ou chocar as emoccedilotildees Podemos definir a distinccedilatildeo entre quase-arte e verdadeira arte em termos da seguinte dicotomia arte para as emoccedilotildees versus arte para a personalidade (Leontiev 1992) A arte para as emoccedilotildees natildeo conteacutem novOS significados Proporciona reconhecimento em vez de cogniccedilatildeo Nenhum receptor pode receber deste tipo de arte senatildeo prazer emocional transitoacuterio (ou outras emoccedilotildees) O encontro com a quase-arte eacute semelhante a uma aventura passageira de uma noite

A quase-arte por sua vez produz quase-puacuteblicos Bertoid Brecht observou uma vez que a falta de gosto das massas estaacute mais profundamente enraizada na realidade do que o gosto dos intelectuais A quase-arte natildeo carece apenas de efeitos de desenvolvimento mas mais do que isso conserva uma visatildeo do mundo e a personalidade em geral impedindo a capacidade humana de mudar de haver desenvolvimento pessoal e adaptaccedilatildeo criativa ao mundo em transformaccedilatildeo

Seja em que circunstacircncias for a quase-percepccedilatildeo natildeo eacute perversa A necesshysidade recreativa eacute inerente a todos os seres humanos Mesmo intelectuais altamente criativos e esteticamente competentes usam a quase-arte para satisshyfazer esta necessidade e por vezes a quase-arte desempenha esta funccedilatildeo com mais eficaacutecia do que a verdadeira arte Toma-se perversa quando toma o lugar de verdadeira arte para muitas pessoas que natildeo conhecem outra forma de arteraquo e acreditam que eacute verdadeira arte As caracteriacutesticas deste quase-puacuteblico satildeo a rejeiccedilatildeo de Qualauer actividade mental em encontros com a arte o hedonismo

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a procura do prazer sem a prontidatildeo para recQnhecer o que jaacute eacute bem conhecido a rejeiccedilatildeo do novo a absolutizaccedilatildeo das proacuteprias opiniotildees e juiacutezos (que as massas partilham) Este quase-puacuteblico produz uma quase-percepccedilatildeo encerrando assim o ciacuterculo que se auto-sustenta e que alimenta a tendecircncia c1e fazer com que a verdadeira arte morra de sua proacutepria morte

Funccedilotildees da Arte e Educaccedilatildeo Esteacutetica

Nas secccedilotildees anteriores olhaacutemos para os problemas dos sistemas de ensino de Esteacutetica atraveacutes do prisma das necessidades individuais emiddot maneiras de lidar com a arte Eacute agora altura de inverter este ponto de vista e de olhar para as necessidades e especificidades individuais atraveacutes do prisma das tarefas e cateshygorias da Educaccedilatildeo Esteacutetica

Faz sentido deste ponto de vista incluir toda a diversidade de funccedilotildees psicoloacutegicas que a arte preenche em conjunto com os beneficios psicoloacutegicos que promete e oferece a trecircs grandes grupos de acordo com o principal efeito que eacute suposto resultar do encontro recreaccedilatildeo socializaccedilatildeo e desenvolvimento pessoal Embora estas trecircs funccedilotildees possam coexistir em produccedilotildees artiacutesticas existem tipos especiais de arte em que algumas delas predominam de um modo evidente

A funccedilatildeo da recreaccedilatildeo estaacute associada agraves necessidades psicoloacutegicas baacutesicas sendo a recreaccedilatildeo necessaacuteria a todos os seres humanos A maior parte dos tipos geacuteneros e estilos de arte conteacutem uma componente recreativa mais ou menos evidente porque a arte sempre pertenceu agrave esfera da livre actividade indepenshydentemente de quaisquer deveres sociais ou profissionais Especialmente bemshy-sucedida em cumprir esta funccedilatildeo recreativa eacute todavia a quase-arte industrial porque prossegue apenas este objectivo atraveacutes do caminho mais curto possiacuteshyvel A cultura de massas de hoje em dia tem assim tendecircncia para acentuar demasiadamente os aspectos recreativos da arte os que transformam os objecshytos de arte em ecircxitos com um elevado valor de mercado excluindo todos os outros geacuteneros de esforccedilos mentais A funccedilatildeo recreativa da arte eacute muito mais procurada do que qualquer outro tipo e estaacute disponiacutevel para todos A aborshydagem da arte como um instrumento recreativo natildeo requer pois educaccedilatildeo porque o mundo dos objectos quase-arte recreativos adapta-se perfeishytamente ao niacutevel mais baixo (zero) de educaccedilatildeo e de competecircncia esteacutetica

A arte de orientaccedilatildeo socializante fornece informaccedilatildeo sobre o mundo sobre os valores culturais e normas sobre padrotildees de comportamento e modeshylos de identidade pessoaL As tarefas de socializaccedilatildeo satildeo compatiacuteveis tanto com a cultura de massas como com a arte superiorraquo Haacute anos designava-se a Literatura por o livro escolar da vidaraquo mas actualmente as pessoas obtecircm mais conhecimento sobre a vida a partir de histoacuterias de detectives e filmes de

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do que da arte superiofl natildeo obstante as artes visuais se poderem chamar laquooficinas da maneira como verraquo Uma vez que esta funccedilatildeo natildeo pressupotildee um eleshyvarlo niacutevel de competecircncia tem naturalmente menos procura A maior parte das pessoas prefere aprender de outras fontes Esta funccedilatildeo natildeo eacute especiacutefica da arte os jornais satildeo mais eficazes para atingir este objectivuuml A educaccedilatildeo releshyvante para esta funccedilatildeo eacute a educaccedilatildeo geral tradicional em vez da educaccedilatildeo

esteacutetica A arte orientada para o desenvolvimento pessoal pelo contraacuterio quebra

normas e clicheacutes confere novOS significados e novas maneiras de ver e de avaliar a realidade A arte orientada para o desenvolvimento pressupotildee e exige frequentemente um elevado niacutevel de competecircncia esteacutetica assim como motishyvaccedilatildeo para fazer determinado trabalho mental no decorrer da interacccedilatildeo com a arte Exige muito e promete muito ao mesmo tempo As recompensas que se recebem de profundos encontros com a verdadeira arte jamais se podem alcanccedilar de outro modo Todavia apenas uma minoria de um puacuteblico potencial consegue compreender e apreciar esta promessa a promessa do significado Eacute aqui que reside o objectivo mais importante da educaccedilatildeo esteacutetica No entanto para nos tornarmos conscientes deste objectivo e aceitaacute-lo temos primeiro de perceber as diferenccedilas entre os efeitos da arte e a quase-arte a niacuteveis diferentes de encontros que temos com elas Na medida em que a Educaccedilatildeo visa o desenshyvolvimento pessoal torna-se antagocircnica da cultura comercial de massas na luta

pela dimensatildeo humana noS seres humanos

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Page 4: EDUCAÇÃO ESTÉTICA E ARTÍSTICA

A educaccedilatildeo esteacutetica natildeo se pode reduzir exclusivamente ao conhecimento nem agrave informaccedilatildeo Sabemos tanto teoacuterica como intuitivamente (experimentalmente) que o contacto com a arte adequadamente vivido e assimilado tem algo a ver com o processo mais iacutentimo do desenvolvimento pessoal e da personalidade do que simplesmente com a adaptaccedilatildeo social Abraham Maslow (1971) insistiu que a educaccedilatildeo esteacutetica tem de se tornar no modelo no paradigma para todas as outras formas de educaccedilatildeo porque actualmente natildeo faz sentido que o ensino tenha apenas um conteuacutedo profissional em faculdades e universidades muito do qual jaacute estaacute completamente ultrapassado por ocasiatildeo da conclusatildeo da licenshyciatura O objectivo da educaccedilatildeo devia consistir em promover a auto-realizaccedilatildeo dos alunos o seu desenvolvimento pessoal ajudando-os a desenvolver o melhor do seu potencial Para a educaccedilatildeo esteacutetica este objectivo parece ser extreshymamente evidente mas a sua realizaccedilatildeo parece menos oacutebvia

Natildeo obstante a ideia de Maslow poder deparar com diferentes opiniotildees natildeo resta qualquer duacutevida que a educaccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute uma parte integral da educaccedilatildeo em geral Difere pelo seu objecto meacutetodos propoacutesitos e resultados pretendidos Em determinado sentido aproxima-se mais da Psicoterapia e da Formaccedilatildeo Psicoloacutegica do que da Educaccedilatildeo entendida no seu sentido tradishycional uma vez que a Educaccedilatildeo Esteacutetica se ocupa da transformaccedilatildeo da persoshy

nalidade no seu conjunto Entatildeo quais satildeo os objectivos e resultados pretendidos da Educaccedilatildeo

Esteacutetica Vale a pena discutir este ponto A primeira resposta eacute que aquilo que devemos ensinar na Educaccedilatildeo Esteacutetica eacute a capacidade de perceber e entender a arte e a beleza em geral Esta simples formulaccedilatildeo levanta no entanto muitas questotildees O que eacute a arte O que quer dizer perceber e entender (adeshyquadamente) a arte Porque eacute que as pessoas deviam ser capazes de realizar este objectivo Que resultados sociais e psicoloacutegicos deveriacuteamos esperar e promover Uma abordagem da Educaccedilatildeo Esteacutetica natildeo pode ignorar estas

questotildees O que torna difiacutecil responder a estas questotildees eacute que a arte genuiacutena tem

uma natureza multifacetada - pode interagir com diferentes pessoas e mesmo ateacute com uma soacute pessoa a diferentes niacuteveis e de diferentes maneiras

O que eacute a arte e porque eacute que as pessoas precisam dela Considero ser esta a pergunta chave da Psicologia da Arte (ver Leontiev 1992) Na linguashygem da proacutepria arte a formulaccedilatildeo mais precisa deste problema eacute a pergunta

do priacutencipe Hamlet

o que significa Heacutecuba para ele e ele para Heacutecuba para que ele chore por ela

(Shakespeare W Hamet acto 2 cena 2)

A arte tem muitos aspectos e alguns destes aspectos partilham caracteriacutesshyticas comuns com outros fenoacutemenos (por exemplo os meacutedia a comunicaccedilatildeo interpessoal a psicoterapia o amor etc) enquanto outros satildeo uacutenicQs e idiossinshycraacuteticos Alguns satildeo essenciais e outros permanecem superficiais O que eacute mais essencial na arte - isto eacute a sua capacidade de transmitir significados pessoais humanos de realidade - natildeo corresponde aquilo que a torna uacutenica ou seja a capacidade de exercer um impacto profundamente sentido no acircmago da pershysonalidade hUf1ana (ver Leontiev 1992 1998) A arte devia ser definida atraveacutes das suas caracteriacutesticas uacutenicas essenciais que soacute se podem ver nos efeitos da sua interacccedilatildeo com uma pessoa Por outro lado deviacuteamos ter consciecircncia que a arte nem sempre manifesta estes traccedilos mais profundos mostrando muitas vezes apenas a sua estrutura superficial Umadefiniccedilatildeo a priori da arte eacute quase imposshysiacutevel no entanto vou propor um tipo de definiccedilatildeo depois de uma anaacutelise mais detalhada Como ponto de partida temos de aceitar que a arte eacute tudo o que se designa a si mesma arte por qualquer razatildeo Este pressuposto embora incorshyrecto de um ponto de vista acadeacutemico estaacute todavia muito perto do verdadeiro ponto de partida de um principiante inculto e inexperiente no mundo da arte e dos objectos quase-arte que natildeo possui qualquer criteacuterio para diferenciar a laquoverdadeiraraquo arte dos seus substitutos

Arte e personalidade monoacutelogo ou diaacutelogo

Seraacute que um especialista erudito possui os criteacuterios para distinguir a vershydadeira arte Em determinado sentido sim Com efeito tem-se demonstrado que os especialistas e principiantes natildeo soacute revelam diferentes niacuteveis de competecircnshycia como tambeacutem processam a informaccedilatildeo esteacutetica de modo diferente A pershycepccedilatildeo artiacutestica baseia-se em diferentes mecanismos psicoloacutegicos nestes dois casos (Cupchik Gebotys 1988) Estas variantes foram conceptualizadas em tershymos de diferenccedilas entre modos reactivos natildeo criacuteticos e superficiais de reagir agrave arte por um lado e por outro entre modos profundamente penetrantes e reflectidos (Cupchik Winston 1992) e ainda mais tarde em termos diferentes entre o laquoeu pensanteraquo middote o laquoeu enquanto estafgto (Cupchik Leonard 1997) Este esquema dualista eacute todavia ccedillemasiado simples A reacccedilatildeo espontacircnea imediata de um principiante sem reflectir sobre o sentido eacute seguramente superficial e ingeacutenua No entanto a resposta reflectida de um especialista baseada numa proshyfunda penetraccedilatildeo na produccedilatildeo artiacutestica que implica um profundo processashymento pode tambeacutem ser incompleta se perder em relevacircncia e envolvimento pessoais e se for isolada do contexto pessoal Esta dicotomia reproduz essenshycialmente a dicotomia do cognitivo versus afectivo razatildeo versus sentimento mantida pela ciecircncia da psicologia desde tempos remotos Eu considero esta dicotomia ambiacutegua Nem uma atitude reflectiva sem envolvimento pessoal nem

I 129128

I oL

uma reacccedilatildeo emocional sem uma penetraccedilatildeo mais profunda conseguem proshyporcionar uma compreensatildeo adequada da arte

Se tratarmos a arte como uma forma de comunicaccedilatildeo (ver por exemplo A A Leontiev 1997) vemos que tanto a laquosituaccedilatildeo do especialistaraquo como a laquosituashy

do principianteraquo representam posiccedilotildees de comunicaccedilatildeo monoloacutegica No caso o espedalista surge como o sujeito e a produccedilatildeo artiacutestica como

o obJecto do juiacutezo No segundo caso a produccedilatildeo artiacutestica surge como o sujeito e o receptor inexperiente como deg objecto do impacto artiacutestico O modelo aplica-se perfeitamente ao consumo da cultura de massas que eacute um exemplo da orientaccedilatildeo estritamente monoloacutegica Poreacutem a comunicaccedilatildeo genuiacutena profunda e iacutentima eacute de natureza dialoacutegica Num diaacutelogo ambos os parceiros estatildeo abertos entre si prontos a mudar com os seus mundos interiores prontos a interagir (ver por exemplo Bakhtin 1979 Davis 1988) Se levarmos a seacuterio que a arte tem algo a ver com o desenvolvimento da personalidade temos de aceitar que isto soacute pode ocorrer em diaacutelogo na interacccedilatildeo de dois mundos com significado A traduccedilatildeo a recepccedilatildeo de informaccedilatildeo (cogniccedilatildeo) e a expressatildeo de emoccedilotildees natildeo pressupotildeem relaccedilotildees dialoacutegicas

O que soacute acontece em diaacutelogo eacute a conversatildeo do significado pessoal ou sentido pessoal (ver O Leontiev 1991) A N Leontiev caracterizou a arte como laquoa actividade que preenche a tarefa de revelar expressar e comunicar um senshytido pessoal da realidaderaquo (1983 p 237) Uma obra de arte natildeo se revela les que a tratam como um texto em vez de a tratar como um microcosmos de significados vivos do nosso mundo Para se poder penetrar para aleacutem do texto para aleacutem do quadro e conseguir entrar em contacto com os significados viacutevos uma pessoa tem de renunciar temporariamente agrave sua posiccedilatildeo uacutenica pessoal (parcial) no mundo assim como renunciar ao seu ponto de vista exclusivo e aceitar a posiccedilatildeo do artista olhando para o mundo atraveacutes dos olhos do artista Uma obra de arte eacute uma janela para o mundo do artista que estaacute aberta apenas para uma visatildeo de um ponto de vista uacutenico ou o do autor Para se assumir a posiccedilatildeo do autor uma pessoa tem de renunciar ao seu ponto de vista pessoal transformando-o numa atitude esteacutetica que eacute essencialmente uma atishytude de diaacutelogo a atitude de uma aceitaccedilatildeo imparcial e sem viacutenculos emoshycionais O paradoxo da percepccedilatildeo esteacutetica reside no facto de que soacute renunshyciando agrave percepccedilatildeo pessoal de uma obra de arte atraveacutes do prisma dos proacuteprios

pessoais ecirc que o observador consegue compreender a obra em toda a plenitude do seu significado e nesta enriquecer o seu proacuteprio mundo interior O primeiro passo neste processo ver uma imagem do mundo de determinada pessoa por detraacutes da do mundo e assumir em relaccedilatildeo a ela uma atitude empaacutetica de diaacutelogo permite ir mais longe ou da imagem do mundo para o mundo em si Nesta fase os significados contidos na obra interagem com as estruturas de sentido da personalidade do receptor Este processo conduz agrave absorccedilatildeo dos novos conteuacutedos e aspectos nas estrumiddot

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tmas de significado individuais se natildeo houver contradiccedilatildeo entre elas ou no efeito de catarse se houver contradiccedilatildeo entre os significados contidos na obra de arte e os que satildeo inerentes agrave do mundo do indiviacuteduo Isto pro move o colapso dos estereoacutetipos de sentido pessoais acrescido de um relevo enriquecido de uma percepccedilatildeo do mundo e do desenvolviacutemento da capacidade de ver objectos e eventos simultaneamente de muitos pontos de vista em muitos contextos e significados potenciais Este uacuteltimo eacute o preacute-requisito indisshypensaacutevel para o desenvolvimento da faculdade humana baacutesica para a objectivishydade (ver Fromm 1956 pp 64-65) Eacute por isso que ao desenvolver contactos com a arte um indiviacuteduo torna as suas relaccedilotildees com o mundo mais flexiacuteveis sigshynificativas e orientadas para o futuro tornando-se mais adaptadas no sentido mais lato do termo laquoA arte daacute-me a oportunidade de viver vaacuterias vidas em vez de uma soacute e consequentemente de enriquecer a experiecircncia da minha vida real de me unir a partir da interiacuteor com outra vida soacute com essa finalidade e em beneficio do seu significado vitahgt (Bakhtin 1979 p72)

EVasilyuk (1988) introduziu o conceito de experiecircncia como actividade interior do espiacuterito ao lidar com transformaccedilotildees das estruturas de sentido da personalidade para restaurar a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo indivishyduai da realidade e a vida pessoal Vasilyuk lidou com situaccedilotildees importantes na vida e elaborou as suas ideias de experiecircncia para incluir o contexto psicotera-

Foi o primeiro a descrever transformaccedilotildees decisivas de uma esfera de sentido pessoal - produccedilatildeo do tal como designou este processo que ecirc uma consequecircncia do conflito insoluacutevel da incompatibilidade do mundo inteshyrior de uma pessoa com a realidade do mundo exterior Podemos encontrar transformaccedilotildees deste gecircnero em dois outros tipos de (ver D Leontiev 1997) Uma ecirc a situaccedilatildeo de profunda comunicaccedilatildeo dialoacutegica interpessoal com alteridades significativas que resulta no fenoacutemeno do laquoinvestimento da pershysonalidaderaquo (petrovsky J985) quando eu sinto a presenccedila de uma alteridade sigshynificativa dentro de mim e da sua influecircncia relativa agraves minhas decisotildees e acccedilotildees Um outro tipo eacute a situaccedilatildeo de interacccedilatildeo dialoacutegica com uma obra de arte

Estas trecircs classes de tecircm algo em comum Com efeito as transshyformaccedilotildees de sentido podem apenas ocorrer como resultado do encontro do meu proacuteprio mundo iacutentimo com um outro mundo que revela uma certa conshytradiccedilatildeo entre esses dois m1ll1dos Este segundo mundo pode ser o mundo exteshyrior onde eu vivo como no caso de situaccedilotildees vitais descritas por F pode ser o mundo interior de uma alteridade signit1cativa tal como nos efeitos do investimento de personalidade ou pode ser um mundo criado e objectivado numa peccedila de arte tal como no caso dos efeitos transformadores do encontro cataacutertico com a arte O que eacute diferente nestes trecircs casos eacute em primeiro lugar o grau de necessidade destas transformaccedilotildees de sentido Em momentos de crise

ou em situaccedilotildees vitais o sujeito depara-se com a impossibilidade de manter o sistema estabelecido de relaccedilotildees com o mundo natildeo existe uma altershy

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nativa razoaacutevel para esta mudanccedila excepto por uma forte defesa psicoloacutegica e porventura o desenvolvimento de uma psicopatologia Nos encontros com a arte pelo contraacuterio natildeo existe qualquer necessidade externa de mudanccedila Aceitar ou natildeo novos significados eacute uma questatildeo de livre escolhat por isso que Vygotsky escreveu laquoA arte eacute a organizaccedilatildeo do nosso futuro comportamento eacute um requisito que jamais pode ser preenchido mas que nos obriga a lutar para aleacutem da nossa vida em direcccedilatildeo a tudo o que a transcenderaquo (1971 p 253) r~ta foacutermula ajuda-nos a compreender a ligaccedilatildeo da arte com o lado pragmaacutetico da existecircncia humana Sem duacutevida a arte transcende sempre quaisquer necessishydades de uma determinada situaccedilatildeo imediata Contudo natildeo eacute irrelevante para os aspectos adaptativos da vida Eacute como se fosse uma aprendizagem latente sem uma ideia clara de quando e como aplicar os talentos adquiridos - natildeo se pode designar inuacutetil embora possa parececirc-lo A comunicaccedilatildeo interpessoal assume uma posiccedilatildeo intermeacutedia o seu acircmago eacute revelar e assimilar os significados que tecircm as coisas para os outros o que natildeo eacute absolutamente imprescindiacutevel mas desejaacutevel se se quer viver em harmonia com os outros

Adquirir novos significados em consequecircncia de um encontro com o mundo de uma criaccedilatildeo artiacutestica pode considerar-se um criteacuterio necessaacuteshyrio quer tenha havido ou natildeo total compreensatildeo da obra Este processo presshysupotildee mais do que a descoberta destes significados O aspecto mais importante eacute o processo de relacionar o proacuteprio mundo significativo do receptor com o mundo do artista objectivado na peccedila de arte dois significados laquotecircm de entrar em contacto iacutentimo ou em ligaccedilatildeo de sentido entre siraquo (Bakhtin 1979 p 219) Um especialista imparcial extrai de uma produccedilatildeo artiacutestica determinashydos significados semacircnticos um espectador inexperiente extrai determinadas emoccedilotildees superficiais Ambos satildeo incapazes de tocar no acircmago da verdadeira arte que eacute o sentido pessoal O que deviacuteamos ensinar eacute a atitude dialoacutegica para com a arte a capacidade natildeo apenas de ver o mundo significativo que transshycende os meios expressivos mas tambeacutem de nos relacionarmos pessoalmente com este mundo de nos abrirmos a ele e de nos enriquecermos com os

nificados aiacute descobertos

Variaacutevel intermeacutedia competecircncia esteacutetica

Todavia mesmo pessoas potencialmente capazes de chegar a um tal encontro dialoacutegico significativo nem sempre tecircm ecircxito As razotildees para este frashycasso podem tanto atribuir-se agraves proacuteprias pessoas (agraves suas motivaccedilotildees comshypetecircncia esteacutetica ou mundo interior) aos objectos de arte como agrave situaccedilatildeo

Comecemos pelo primeiro Nem todos os receptores conseguem que todas as obras de arte lhes

falem Eacute necessaacuterio uma chave especial em cada caso Eu dou a esta chave o

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nome de competecircncia esteacutetiacuteca que implica a capacidade do leitor espectador ouvinte para extrair conteuacutedos de significado de diferentes niacuteveis de profundishydade da textura esteacutetica de uma produccedilatildeo artiacutestica Esta variaacutevel reflecte o niacutevel geral do desenvolvimento esteacutetico de uma pessoa a sua experiecircncia de enconshytros pessoais com a arte

A competecircncia esteacutetica eacute um dos factores essenciais que determinam o processo e os resultados do encontro ~sectsoaaill embora natildeo seja o uacutenico (ver D Leontiev 1998) Dois outros factores satildeo o mundo interior (a estrutura de sentido da personalidade) e as necessidades dominantes que definem subsshytancialmente a opccedilatildeo individual dos geacuteneros estilos escolas e obras de arte que se encontram

Com base nas obras teoacutericas e experimentais existentes podemos destacar pelo menos trecircs aspectos interligados da compeliJnciCl esteacutetica O primeiro

ly aspecto eacute a ltQllpexidade cognitiva da visatildeo do mundo que um indiviacute~uo ~m

lQ a capacidade Qessoal dJJQID~flder a ambi~dade e de vs as QossibilJ$Qes l ~_()isas tecircm de mudar de ser diferenes O segundo aspecto eacute o domiacutenio g que uma pessoa tem das laquolinguagens)) especiais de diferentes tipos geacuteneros e d estilos de arte que requer-m conjunto de laquocoacutedigQsraquo culturais (Lotman1994)

que tornam possiacutevel descodificar a informasatildeo contida nOLteXtOatildert1sti5~de modo a traduzir a estmtura de sinais de uma PLQCcedilluccedilatildeo ~tica na liacutengua materna das emoccedilotildees e significados humaQos O terceiro aspecto da com- Otilde

petecircncia esteacuteti~-o~iundo das caracteriacutesticas de actividade da percepccedilatildeo artiacutesshysi a tica (ver a seguir) eacute o~lde mestr~_~~~c_omp~~1Sias e pi9otildee~_()pe0c9ais

que define a capacidade pessoal para desempenhar a actividade de desobjectishyvaccedilatildeo de textos relevante para um determinado texto Todos estes trecircs aspectos estatildeo evidentemente ligados mas o caraacutecter da sua ligaccedilatildeo representa uma tarefa para um estudo especial

---gt lgtI- O desenvolvimento da competecircncia esteacutetica eacute assim um outro alvo para a educaccedilatildeo esteacutetica natildeo obstante ser um objectivo muito mais trivial e tradishycional A grande parte do puacuteblico de todos os geacuteneros de arte situa-se ao niacutevel inferior da competecircncia esteacutetica A induacutestria da cultura de massas contribui grandemente para-ordf ma~enccedilatildeo deste niacutevel dentro das massas produzindo obras de arte ~e-ar~er a seguir) gue exigem apenas um niacutevel muito primitivo de cORet~_~~ia Admite-se que o processo e o resultado da pershycepccedilatildeo individual de obras de laquoarte superiorraquo dependem em grande parte da competecircncia esteacutetica e de outras variaacuteveis da personalidade enquanto que no caso de obras de laquoculturas de massasraquo considera-se que esta dependecircncia eacute muito diminuta (obscurecida nos termos de C Martindale) Contudo a comshypetecircncia esteacutetica natildeo explica todas ou a maior parte das diferenccedilas individuais - do consumo de arte Existem diferenccedilas qualitativas substanciais dentro do mesmo niacutevel de competecircncia esteacutetica que exigem uma abordagem diferente

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~ flFL~E

Mais variaacuteveis intermeacutedias estrateacutegias individuais do consunlO da arte

G B Shaw observou na introduccedilatildeo a Santa Joana que muitos frequenmiddot tadores de teatro vatildeo ao teatro pelas mesmas razotildees que muitas pessoas vatildeo agrave igreja para exibir o traje para se manterem actualizados com a moda para terem

sobre que falar para admirar uma estrela para passar a noite num siacutetio qualmiddot quer excepto em casa Por outras palavras ir ao teatro eacute muitas vezes motivado por tudo excepto o interesse que diz respeito agrave produccedilatildeo dramaacutetica em si Com base na teoacuterica e existente no campo do consumo de arte (uso aqui deliberadamente este termo econoacutemicoporque nesta fase da anaacutelise esta palavra eacute a uacutenica que consegue incluir todas as diferentes formas de intemiddot

pessoamiddotarte) podemos acrescentar a esta lista de nova informaccedilatildeo sobre o mundo o seguinte recriaccedilatildeo procura de modelos de comportamento procura da soluccedilatildeo para problemas pessoais procura de significado Qrocura de certos

jlt e~tados emocionais que a vida 9UQlidiana patildeO [2[QJo[ciQ1il obtenccedilatildeo de apoio para os valores pessoais alivio dos proacuteprios pensamentos e ansiedades confirshymaccedilatildeo da proacutepria visatildeo do mundo etc etc

Em todos estes casos a arte eacute _SlII~i~_tecirc~E~lQre_ltndiltordf-lt~ifer~tes espectro destas diferentes maneiras parece contudo ser limitado

Referirmiddotmemiddotei a uma seacuterie de estudos experimentais em que procurei aplicar uma abordagem individual ao consumo de arte por oposiccedilatildeo agrave tradicional teoacutericamiddotnormativa (Leontiev 1992 1998) A abordagem teoacuterica-normativa presshysupotildee a existecircncia de um tipo padratildeo perfeito avanccedilado de laquoverdadeiraraquo pershycepccedilatildeo esteacutetica Todos os processos empiacutericos imperfeitos de consumo de arte devem ser avaliados de acordo com a proximidade destes processos empiacutericos relacionados com o processo teoacutericomiddotnormativo Do meu ponto de vista esta abordagem eacute ambiacutegua porque reduz todas as peculiaridades qualitativas da intemiddot racccedilatildeo pessoa-arte a uma uacutenica climensatildeo de laquoadequaccedilatildeoraquo Com efeito a permiddot cepccedilatildeo esteacutetica perfeita natildeo ocorre com muita frequecircncia mesmo lidando com sujeitos sofisticados Ao mesmo tempo os tipos empiacutericos ltltimperfeitos) de conmiddot sumo de arte natildeo satildeo apenas fracassos de um tipo peacuterfeito Tecircm especificidades qualitativas proacuteprias e merecem atenccedilatildeo especiaL Pode existir uma gama comshypleta de contactos entre uma pessoa e uma producatildeo artiacutestica mesmo se e_te

--__~-~-~ ------~--contacto nao tem nada a ver Coru a com~mictccedil~ordm~~ laquoExigecircncias e expec-

eS1DelclIacuteic~LS do puacuteblico podem transformar a substatildencia sigmiddot nificativa de uma produccedilatildeo artiacutestica passando esta assim a desempenhar as suas funccedilotildees sociais a adquirir popularidade e a influenciar eficazmente o puacuteblico no caso em que natildeo eacute avaliada por criteacuterios esteacuteticos e em que estaacute efectivamente fora do sistema da percepccedilatildeo esteacutetica no verdadeiro sentido do termoraquo (Dondurei 1975 p 28) Tem de se ter presente a diferenccedila entre per-Aacute p ~ fIacute=

cepccedilatildeo artiacutestia c percepccedilatildeo esteacutetica t percepcatildeo artiacutestica nem sempre eacute (e Vshynem sequer como regra) uma percepccedilatildeo esteacutetica todavia natildeo devemos excluir

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~

do nosso foco de interesse formas natildeo-esteacuteticas de consumo de arte espeshycialmente ao lidar com os problemas da educaccedilatildeo esteacutetica

A abordagem individual que eacute uma alternativa agrave abordagem teoacuterica-nor mativa baseiamiddotse na primazia da anaacutelise fenomenoloacutegica qualitativa dos proces sos empiacutericos da interacccedilatildeo pessoamiddotarte em toda a sua diversidade Uma teacutecnica especial de investigaccedilatildeo de livres descriccedilotildees (FD)() foi elaborada para este propoacutesito (ver Leontiev Kharchevin 1994) Pediu-se aos sujeitos que indicassem ~ quatro livros (filmes peccedilas de teatro pinturas) que tivessem recentemente lido ou visto Ao terminarem a pediumiddotsemiddotlhes que escrevessem qualquer coisa mais ou menos meia paacutegina normalizada sobre cada um destes 4 itens de modo que o leitor pudesse ter uma ideia deles

De seguida aplicaacutemos uma espeacutecie de anaacutelise de conteuacutedo agraves feitas Usando certas categorias de palavras e juiacutezos como indicadores de tipos especiacuteficos de processamento de informaccedilatildeo (no sentido mais amplo do termo) descrevemos conjuntos de estrateacutegias de descrifatildeo liacutevre Verificaacutemos que a maior parte das estrateacutegias eram essencialmente as mesmas nos estudos de difeshyrentes artes outras eram mais especiacuteficas Todo o conjunto de estrateacutegias verifi cado na nossa investigaccedilatildeo com literatura (com S Kharchevin e I Pavlova) tura (com E Dimitriyeva e E Belyaeva) e teatro (com L Lagutina) eacute apresentado no Quadro L

Numa seacuterie de estudos experimentais verificaacute mos o seguinte

1) Diferentes satildeo muttlamente independentes isto eacute natildeo reve Iam correlaccedilotildees positivas significativas entre si

2) As estrateacutegias satildeo individualmente especiacuteficas isto eacute em cada tema exisshytem 1-2 estrateacutegias claramente dominantes

3) Elas satildeo estaacuteveis intramiddotindividualmente isto eacute satildeo geralmente repro dutIacuteveis em estudos de repeticcedilatildeo do teste apoacutes 1 ano

estrateacutegias revelam certas diferenccedilas de gecircnero e manifesta dinacircmica de desenvolvimento na infacircncia

5) Elas tambeacutem revelam correlaccedilotildees significativas com determinadas variaacuteveis da personalidade

Resumindo as conclusotildees de diferentes estudos podemos concluir que existem pelo menos 7 estrateacutegias invariantes reproduzidas em todos os estudos

1 - Emocional 2 De orientaccedilatildeo para o enredOVida 3 Estiliacutesticatecnoloacutegica 4 De siacutentese

() Free descriptiolls

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QUADRO I

Estrateacutegias de descriccedilotildees livres c criteacuterios para sua identificaccedilatildeo

UTERATITRA PINTIJRA

Emocional Emocional (palavras e juiacutezos que contecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral dos livros como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata do livro)

Orientaccedileiacuteo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Analiacutetica Quiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico de arte uma anaacutelise

I I laquocondescendente usando

termos profissionais de criacutetica literaacuteria)

~ IEStiliacutestica referindo-se

~ y~ ___~~s do estilo linguagem forma esteacutetica do livro)

-

De siacutentese Quiacutezos que expressam a idela geral do livro o seu significado ou moral)

Interpretativa (Juiacutezos sobre problemas pessoais sociais e filosoacuteficos de caraacutecter geral relacionados por associaccedilatildeo ao conteuacutedo do livro)

Orientada para () autor (Juiacutezos relacionados com a posiccedilatildeo do autor em vez de se relacionarem com () livro em si comparaccedilatildeo com outros autores e outras obras do mesmo autor)

(Palavras e juiacutezos transmitem sensaccediloes e sentimentos provocados pelo quadro sua avaliaccedilatildeo geral emocionaL)

Orientaccedilc1o (Palavras descrevem as pinturas como uma peccedila de vida real uma situaccedilatildeo desenvolvida no tempo)

-k Estiliacutestica juiacutezos referindo-se esquemas artiacutesticos a sua funccedilatildeo o peculiaridades

De siacutentese (Interpretaccedilatildeo do conteuacutedo do quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Associativa (Associaccedilotildees sobre diferentes temas provocadas pelo quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Orientada jJara o autor (Palavras de juiacutezos indicando a intenccedilatildeo estado psicoloacutegico e contexto biogratildefico do autor)

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TEATRO

Emocional (Palavras e juiacutezos que conshytecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral da peccedila como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata da peccedila)

Orientaccedilatildeo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Tecnoloacutegica (Juiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico do teatro avaliaccedilatildeo da encenaccedilatildeo trabalho do produtor e do actor meios expressivos)

I De siacutentese (Associaccedilotildees sobre questotildees do dia a dia pessoais filosoacuteficas suscitadas pela peccedila)

Associativa (Associaccedilotildees sobre questotildees do diacutea-a-dia pessoais filosoacutel1cas suscitadas pela

I peccedila)

(Continua)

UTERATURA

Fragmentada (Descriccedilatildeo de um episoacutedio ou episoacutedios distintos sem ligaccedilatildeo loacutegica entre si)

Enumemtiva (Enumerando uma lista de toacutepicos ou idelas de que trata o livro)

Orientada para as personagens (Descriccedilatildeo de uma personagem (personagens) os selLS traccedilos pensamentos feitos e expressotildees)

lmpressiva (Descriccedilatildeo de algum impacto que transcende a resposta emocional imediata das mudanccedilas na visatildeo do mundo e na personalidade suscitada pelo livro)

PINTIJRA

lmpressiva (Palavras e juiacutezos que descrevem o impacto concreto do quadro e os seus pormenores distintos)

Graacutefica (Palavras e apresentando o quadro como um quadro emoldurado sua descriccedilatildeo do ponto de vista de um espectador passivo)

Cultural (Palavras e juiacutezos que caracterizam o quadro contexto cultural mencionado outros autores e outras obras do mesmo autor)

Metafoacuterica (Descriccedilotildees usando metaacuteforas siacutembolos e comparaccedilotildees )

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TEATRO

introspectiva (Anaacutelise dos proacutepdos estados e experiecircncias suscitada pela peccedila)

Espaccedilo do teatro (Juiacutezos sobre a atmosfera interior eventos que ocorrem fora do palco no aacutetrio do teatro)

nlstoncas ou esteacuteticas) do autor etc)

Pessoal (Relacionado a peccedila

I ~ ~ntexto da b ~rs~~alidade

-ri se--~ -J --~~ ecirc~ ~-~~

5 - Culturalde orientaccedilatildeo para o autor 6 Associativainterpretativa 7 - Impressivaintrospectiva

Natildeo noS eacute possiacutevel apresentar aqui em detalhe todos os dados relevantes O que eU gostaria de fazer eacute discutir a natureza destas estrateacutegias AQIIacute1l5ira euroJ 1shyfase da interacccedilatildeo de uma pessoa com uma obra de arte eacute a reconstruccedilatildeo menshytal dessa obra a transiccedilatildeo mental do mundo real de objectos materiatildei$(comO o livro que estou a ler neste momento) para o mundo de ficccedilatildeo de imagens artiacutesshyticas de ficccedilatildeo reconstruiacutedas atraveacutes dos meus mecanismos mentais a partir de letratildeS impressas ~Patildepecirc[de pontos coloridos numa teIa ou de pessoas a moverem-se e a falar num palco de teatro Os nossos estudOs de livre descriccedilatildeo ~ tornam evidente que essa prossegue em assuntos dilerentes de diferentes maneiras e conduz a resultados diferentes Os autores alematildees introshyduziram o conceito de Kommunikat para caracterizar este resultado de reconsshytruccedilatildeo mental do mundo de um livro que eacute o primeiro resultado imediato da leitura de seguida as respostas e impressotildees do leitor referem-se ao Kommunikat em vez de se referirem ao livro original (Viehoff 1992) Existem maneiras diferentes de construir o Kommunikat do mesmo livro ou de outra produccedilatildeo artiacutestica e as estrateacutegias aacutee livre descriccedilatildeo reflectem suponho eu estas variaccedilotildees AlgumaSECcedilQ~em a narrativa outras emoccedilotildees outras n~dos outras o contexto cultural ou~~~~s proacuteprias impJs~~2-e~c5~lltras ainda as capacidades teacutecnicas e descobertas do autor Qual destas estrateacutegias ~ estaacute laquocertaraquo IDe 52ygaltpestatildeo leYanta-~e sobre o que ensinar Eu recomenshydari ensiDilr toda~~~m2~~~LQsectQh9JLPordfriacutel yerllJII obra de arte dentro ~ltgt~~s_rr~_~~~~~i~Ccedil~PJ~f9~~tSfisectmiddotJia realiqade ~dasssectgordf~ga~ Esectlt~~ ()~~na~~s~~o longo dest dimensatildeo quantitativa com bastante precisatildeo A variedade qualitativa soacute pode ser adequadamente tratada em termos de estruturas da actividade mental do suieito na

construccedilatildeo do Kommunikat

Percepccedilatildeo artiacutestica como actividade mental - 0~~~Ccedil ~

( A ideia de que a percepccedilatildeo artiacutestica eacute um tipo de actividade mental comshy) plicada e natildeo um processo automaacutetico eacute uma consequecircncia do postulado da natureza criativa comum d~~ecfiGlordfOtilde) artiacutesticas U-~_~Jii ~melhanccedila estrutural como tambeacutem da SlIa semclb3nccedilmiddota jnt~ca O t$m de ser congenial com o poeta e ao percepcionar a obra de arte eacute como se a cecriasse de noyo Pndemos pois definir o processo de percepccedilatildeo comoo processo restituiacutedo e reproduzido de criaccedilatildeoraquo (Vygotsky 1926 p 255 cf Hoege 1997) Uma das mais importantes desta conceptualizaccedilatildeo da pershy

cepccedilatildeo esteacutetica eacute a conviccatildeo ~ordfde interna ccedilgmplexa Qimeiro passo Esta ideia (Vygotsky 1926) no capiacutetulo sobre - o menos conhecido dos seus escritos Nesta obra ele virou-se psicoloacutegica (le encontro~ entre a arte e JSJ2~sectsect9jsect~rbais Ele declarou que ~ toda a gente consegue s2mJ2~ltend~r l~la obra de arte e o processo da pershy

cepccedilatildeo artiacutestica eacute unCYt$QlJl~ntordfLfQmpl~~2~S~~ficTI-(I61atilde p Z5i)lomo ele explicou o conteuacutedo deste trabalho desta actividade mental permanecemL desconhecidas ~ aRenas evident~q~-(e~~Sllll_aordfCcedil1~yjpordfd~~ltEU~g~shylllif[l~mplexa que eacute desempenhada por um espectador ou ouvinte que constroacutei e cria um objecto esteacutetico com base nas impressotildees externas dadas Todas as suas respostas subsequentes referem-se apenas a este objecto Com efeito um quadro eacute apenas uma peccedila rectangular de tela com um determinado nuacutemero de cores Quando o espectador interpreta esta tela e estas cores como um retrato de um homem de determinado objecto ou de um evento este comshyplexo trabalho de transformar a tela colorida no quadro eacute inteiramente feito pela mente do observadorraquo (ibid p 252) Vemos aqui bastante claramente o protoacutetipo da ideia do Kommunikat acima referido Todavia as ideias teoacuterishycas de Vygotsky natildeo foram exploradas nos estudos emDIacutericos a natildeo ser haacute pouco tempo

Mais tarde a ideia das caracteriacutesticas activas da percepccedilatildeo artiacutestica foi repetida pelo filoacutesofo Valentine Asmous (1961) Asmous afirmou que uma imagem artiacutestica complexa produz inevitavelmente variaccedilotildees individuais na sua compreensatildeo e avaliaccedilatildeo Contudo natildeo representa o caraacutecter subjectivo da pershycepccedilatildeo esteacutetica Pelo contraacuterio lima verdadeira obra de arte tem um conteuacutedo objectivo profundo independentemente das eventuais impressotildees do receptor Poreacutem soacute atraveacutes da actividade interna complexa do leitor ou do espectador eacute que este conteuacutedo objectivo se pode tambeacutem transformar no conteuacutedo da sua mente Nesta actividade criativa ela consciecircncia o leitor ou espectador segue o caminho traccedilado pelo autor recriando o conteuacutedo impliacutecito de uma obra de arte atraveacutes de linhas de orientaccedilatildeo expliacutecitas contidas na obra laquoDois leitores que se deparam com a mesma obra literaacuteria podem comparar-se a dois marishynheiros que atiram as suas sondas no oceano A profundidade que atinge cada um natildeo excederaacute o comprimento da sua sondaraquo (Asmous 1961 p

A inovaccedilatildeo contudo estava associada agrave ideia da abordagem da Teoria da Actividade em Psicologia (Leontiev 1983) desenvolvida com base na abordagem hiacutestoacuterico-cultural de Vygotsky isto eacute que em os processos mentais humanos natildeo resultam apenas de funccedilotildees externas conforme Vygotsky mas tambeacutem mantecircm as caracteriacutesticas activas e a estrutura activa intactas embora reduzidas mas restauraacuteveis Durante o periacuteodo compreendido entre 1930 e 1970 a abordagem da Teoria da Actividade russa aplicou o conshy

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ceito de actividade mental apenas aos processos cognitivos enquanto nas uacuteltishymas duas deacutecadas se tem feito muito para revelar vaacuterias estrutUl~JS de actividade de processos complexos de experiecircncia e de transformaccedilotildees do sentido pesshysoal Verificou-se especialmente um progresso notaacutevel no acircmbito da teoria psicoloacutegica e investigaccedilatildeo experimental da arte como um instrumento (ou o instrumento) para formar a personalidade humana mudando as suas estruturas psico loacutegicas

Satildeo dignos de mencionar vaacuterios estudos experimentais que tecircm obtido ecircxito em demonstrar a possibilidade de desenvolvimento das capacidades para compreender diferentes gecircneros de arte com a ajuda de meacutetodos especiais elaborados com base nas caracteriacutesticas de actividade dos processos de pershycepccedilatildeo e compreensatildeo artiacutesticas Como exemplo referirei os estudos realizados por V Guruzhapov (1983) sobre artes visuais E Bodrova (1984) e R Karakozov (1991 1994 1997) sobre literatura

V Guruzhapov (1983) fez a distinccedilatildeo entre diferentes niacuteveis de comshypreensatildeo artiacutestica em crianccedilas na idade escolar entre os 7 e 9 anos de idade procurando depois acelerar o desenvolvimento das aptidotildees correspondentes usando teacutecnicas especiais baseadas na actividade As diferenccedilas de niacutevel na comshypreensatildeo artiacutestica foram definidas em termos de capacidade para compreender uma obra de arte como um todo integrado e diferenciado (10 niacutevel) como um todo natildeo-diferenciado (2 0 niacutevel) ou como um conjunto de elementos (3 0 niacutevel) 92 dos sujeitos corresponderam de iniacutecio ao terceiro niacutevel O proshycesso de ensino usado no grupo experimental incluiacutea o desenvolvimento da capacidade da crianccedila para integrar diferentes partes do quadro reconsshytruindo a intenccedilatildeo do pintor e para perceber a paleta de cores usada no qlladro como expressando determinada imagem integrada Gllruzhapov concluiu que foi possiacutevel desenvolver em crianccedilas dos 7 aos 9 anos de idade a capacidade de compreender inlagens complexas caracteriacutesticas da arte laquoadultaraquo

E Bodrova (1984) investigou a compreensatildeo de textos literaacuterios por crianshyccedilas em idade preacute-escolar entre os 5 e 7 anos de idade Este processo foi definido em termos de construccedilatildeo do significado e do sentido do texto em contextos pessoais e outros E Bodrova adiantou a hipoacutetese que a causa das maacutes intelpreshytaccedilotildees dos textos estava relacionada com uma estrutura relativamente comshyplexa das relaccedilotildees entre as personagens e as suas as quais se podem todas encontrar na inadequaccedilatildeo da estrutura da compreensatildeo do sentido mais do que na falta de conhecimento das suas relaccedilotildees O ponto mais difiacutecil de comshypreensatildeo para os sujeitos pareceu ser a dinacircmica do estado interior das persoshynagens e as possibilidades alternativas das suas acccedilotildees em diferentes situaccedilotildees que precisam de ser tomadas em consideraccedilatildeo para se poder compreender o sentido das suas verdadeiras acccedilotildees O processo de ensino incluiacutea um diaacutelogo especial com os sujeitos e experimentaccedilatildeo com o texto isto eacute diferentes transformaccedilotildees da narrativa propostas pelo experimentador Este processo

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aprofundou significativamente a compreensatildeo do significado das acccedilotildees das personagens e do conjunto do texto pelos sujeitos Esta capacidade manifesshytou-se tambeacutem na anaacutelise de textos desconhecidos

R Karakozov (199119941997) estudou a compreensatildeo do significado e sentido pessoal de obras literaacuterias por estudantes universitaacuterios Ele conseguiu destacar determinadas estruturas riacutetmicas na organizaccedilatildeo espaccedilo-temporal de obras comuns (M Proust W Faulkner) Ele designou-as segundo M Bakhtin estruturas cronotoacutepicas e provou que a actividade interna de reconstmccedilatildeo destas estruturas eacute um preacute-requisito indispensaacutevel para a compreensatildeo adeshy

do significado e sentido da obra como um todo Revelou tambeacutem um sistema de operaccedilotildees mentais consideradas como base da actividacle interna da compreensatildeo da prosa e elaborou o procedimento de ensino designado laquoo modelo de leitura cronotoacutepicall Este procedimento provou tambeacutem ser altamente eficaz no aprofundamento da compreensatildeo do significado e sentido de obras comuns (A Pushkin A Chekhov) pelos sujeitos

Voltando de novo agrave questatildeo O que ensinarraquo jaacute podemos formulaacute-Ia da seguinte maneira devemos desenvolver as estruturas da actividade mental da percepccedilatildeo artiacutestica Estas estruturas incluem uma hierarquia de objectivos e operaccedilotildees mentais alicerccediladas em mecanismos reguladores baseados no senshytido pessoal

Cultura de massas o caminho de menor resistecircncia

Todavia laquoo trabalho mental complexo e difiacutecil como Vygotsky caracterishyzou a percepccedilatildeo artiacutestica natildeo atrai toda a gente A vontade que muitos tecircm de se libertarem de esforccedilos mentais eacute ainda mais forte do que o esforccedilo para minimizar o trabalho fiacutesico Soacute uma minoria criativa () natildeo evita e ateacute prefere e aprecia a complexidade (ver por exemplo May 1975)

O que acontece se um receptor natildeo se sente com vontade de fazer este quando se depara com uma gama completa de produccedilotildees artiacutesticas Os

esquemas prinlIacutetivos de percepccedilatildeo reduzem o esforccedilo exigido indo buscar aos estratos mais simples o enredo e o laquotrajecto emocionah A maior parte dos livros fUmes peccedilas de teatro que se inserem na esferJ de verdadeira arte salvo algum trabalho experimental de avant-garde contecircm estes estratos que mal podem competir a estes niacuteveis com os thrillers de massas novelas de acccedilatildeo e romance e filmes Um receptor que jamais procura qualquer coisa para aleacutem do enredo e das tem muito poucas hipoacuteteses de colher algo mais proshyfundo - digamos significado ou prazer do estilo A actividade mental da pershycepccedilatildeo artiacutestica eacute substituiacuteda neste caso pela aplicaccedilatildeo passiva de simples esquemas mentais em que todo o processo da percepccedilatildeo eacute atalhado e reduzido Seria correcto designar este processo por quase-percepccedilatildeo O receptor natildeo se

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esforccedila por adquirir nada de novo Pelo contraacuterio ele quer reconhecer algo bem conhecido de modo a identificar a projecccedilatildeo das suas atitudes valores vonshy

tades e sonhos natildeo realizados e nada mais A quase-percepccedilatildeo daacute origem agrave quase-arte Se os puacuteblicos massivos de

leitores ou espectadores soacute precisam de um enredo excitante e de fortes emoccedilotildees todo o resto eacute inuacutetil Basta fazer o enredo o mais vibrante e emoshycionalmente intenso possiacutevel sem nada de mais profundo que se eacute bem-suceshydido Pode mesmo ter-se ecircxito com obras claacutessicas produzindo um resumo ou puro enredo extraiacutedos de um livro Os leitores de histoacuterias de intriga sentem-se felizes por lerem resumos porque eacute tudo o que precisam

A cultura industrial de massas baseia-se no princiacutepio do reconhecimento na aplicaccedilatildeo de estereoacutetipos automaacuteticos de plug-and-play da percepccedilatildeo enquanto uma obra de verdadeira arte laquo eacute criada intencionalmente para romper com os automatismos perceptuais e eacute feita especialmente de modo que a pershycepccedilatildeo paacutera nela atingindo a sua forccedila e duraccedilatildeo maacuteximas)) (Shklovsky 1966 p 343) Gostaria de acrescentar o criteacuterio de verdadeira arte que tirei da minha proacutepria experiecircncia como laquoconsumidoDgt de arte o cerne de uma obra de vershydadeira arte - o seu significado - natildeo eacute dado directamente e requerem vez disso que se transcenda a narrativa A quase-arte industrial natildeo tem qualquer outro conshyteuacutedo e significado excepto o que eacute directamente dito eou representado

A quase-arte natildeo exerce qualquer efeito na personalidade a natildeo ser agradar ou chocar as emoccedilotildees Podemos definir a distinccedilatildeo entre quase-arte e verdadeira arte em termos da seguinte dicotomia arte para as emoccedilotildees versus arte para a personalidade (Leontiev 1992) A arte para as emoccedilotildees natildeo conteacutem novOS significados Proporciona reconhecimento em vez de cogniccedilatildeo Nenhum receptor pode receber deste tipo de arte senatildeo prazer emocional transitoacuterio (ou outras emoccedilotildees) O encontro com a quase-arte eacute semelhante a uma aventura passageira de uma noite

A quase-arte por sua vez produz quase-puacuteblicos Bertoid Brecht observou uma vez que a falta de gosto das massas estaacute mais profundamente enraizada na realidade do que o gosto dos intelectuais A quase-arte natildeo carece apenas de efeitos de desenvolvimento mas mais do que isso conserva uma visatildeo do mundo e a personalidade em geral impedindo a capacidade humana de mudar de haver desenvolvimento pessoal e adaptaccedilatildeo criativa ao mundo em transformaccedilatildeo

Seja em que circunstacircncias for a quase-percepccedilatildeo natildeo eacute perversa A necesshysidade recreativa eacute inerente a todos os seres humanos Mesmo intelectuais altamente criativos e esteticamente competentes usam a quase-arte para satisshyfazer esta necessidade e por vezes a quase-arte desempenha esta funccedilatildeo com mais eficaacutecia do que a verdadeira arte Toma-se perversa quando toma o lugar de verdadeira arte para muitas pessoas que natildeo conhecem outra forma de arteraquo e acreditam que eacute verdadeira arte As caracteriacutesticas deste quase-puacuteblico satildeo a rejeiccedilatildeo de Qualauer actividade mental em encontros com a arte o hedonismo

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a procura do prazer sem a prontidatildeo para recQnhecer o que jaacute eacute bem conhecido a rejeiccedilatildeo do novo a absolutizaccedilatildeo das proacuteprias opiniotildees e juiacutezos (que as massas partilham) Este quase-puacuteblico produz uma quase-percepccedilatildeo encerrando assim o ciacuterculo que se auto-sustenta e que alimenta a tendecircncia c1e fazer com que a verdadeira arte morra de sua proacutepria morte

Funccedilotildees da Arte e Educaccedilatildeo Esteacutetica

Nas secccedilotildees anteriores olhaacutemos para os problemas dos sistemas de ensino de Esteacutetica atraveacutes do prisma das necessidades individuais emiddot maneiras de lidar com a arte Eacute agora altura de inverter este ponto de vista e de olhar para as necessidades e especificidades individuais atraveacutes do prisma das tarefas e cateshygorias da Educaccedilatildeo Esteacutetica

Faz sentido deste ponto de vista incluir toda a diversidade de funccedilotildees psicoloacutegicas que a arte preenche em conjunto com os beneficios psicoloacutegicos que promete e oferece a trecircs grandes grupos de acordo com o principal efeito que eacute suposto resultar do encontro recreaccedilatildeo socializaccedilatildeo e desenvolvimento pessoal Embora estas trecircs funccedilotildees possam coexistir em produccedilotildees artiacutesticas existem tipos especiais de arte em que algumas delas predominam de um modo evidente

A funccedilatildeo da recreaccedilatildeo estaacute associada agraves necessidades psicoloacutegicas baacutesicas sendo a recreaccedilatildeo necessaacuteria a todos os seres humanos A maior parte dos tipos geacuteneros e estilos de arte conteacutem uma componente recreativa mais ou menos evidente porque a arte sempre pertenceu agrave esfera da livre actividade indepenshydentemente de quaisquer deveres sociais ou profissionais Especialmente bemshy-sucedida em cumprir esta funccedilatildeo recreativa eacute todavia a quase-arte industrial porque prossegue apenas este objectivo atraveacutes do caminho mais curto possiacuteshyvel A cultura de massas de hoje em dia tem assim tendecircncia para acentuar demasiadamente os aspectos recreativos da arte os que transformam os objecshytos de arte em ecircxitos com um elevado valor de mercado excluindo todos os outros geacuteneros de esforccedilos mentais A funccedilatildeo recreativa da arte eacute muito mais procurada do que qualquer outro tipo e estaacute disponiacutevel para todos A aborshydagem da arte como um instrumento recreativo natildeo requer pois educaccedilatildeo porque o mundo dos objectos quase-arte recreativos adapta-se perfeishytamente ao niacutevel mais baixo (zero) de educaccedilatildeo e de competecircncia esteacutetica

A arte de orientaccedilatildeo socializante fornece informaccedilatildeo sobre o mundo sobre os valores culturais e normas sobre padrotildees de comportamento e modeshylos de identidade pessoaL As tarefas de socializaccedilatildeo satildeo compatiacuteveis tanto com a cultura de massas como com a arte superiorraquo Haacute anos designava-se a Literatura por o livro escolar da vidaraquo mas actualmente as pessoas obtecircm mais conhecimento sobre a vida a partir de histoacuterias de detectives e filmes de

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do que da arte superiofl natildeo obstante as artes visuais se poderem chamar laquooficinas da maneira como verraquo Uma vez que esta funccedilatildeo natildeo pressupotildee um eleshyvarlo niacutevel de competecircncia tem naturalmente menos procura A maior parte das pessoas prefere aprender de outras fontes Esta funccedilatildeo natildeo eacute especiacutefica da arte os jornais satildeo mais eficazes para atingir este objectivuuml A educaccedilatildeo releshyvante para esta funccedilatildeo eacute a educaccedilatildeo geral tradicional em vez da educaccedilatildeo

esteacutetica A arte orientada para o desenvolvimento pessoal pelo contraacuterio quebra

normas e clicheacutes confere novOS significados e novas maneiras de ver e de avaliar a realidade A arte orientada para o desenvolvimento pressupotildee e exige frequentemente um elevado niacutevel de competecircncia esteacutetica assim como motishyvaccedilatildeo para fazer determinado trabalho mental no decorrer da interacccedilatildeo com a arte Exige muito e promete muito ao mesmo tempo As recompensas que se recebem de profundos encontros com a verdadeira arte jamais se podem alcanccedilar de outro modo Todavia apenas uma minoria de um puacuteblico potencial consegue compreender e apreciar esta promessa a promessa do significado Eacute aqui que reside o objectivo mais importante da educaccedilatildeo esteacutetica No entanto para nos tornarmos conscientes deste objectivo e aceitaacute-lo temos primeiro de perceber as diferenccedilas entre os efeitos da arte e a quase-arte a niacuteveis diferentes de encontros que temos com elas Na medida em que a Educaccedilatildeo visa o desenshyvolvimento pessoal torna-se antagocircnica da cultura comercial de massas na luta

pela dimensatildeo humana noS seres humanos

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Page 5: EDUCAÇÃO ESTÉTICA E ARTÍSTICA

uma reacccedilatildeo emocional sem uma penetraccedilatildeo mais profunda conseguem proshyporcionar uma compreensatildeo adequada da arte

Se tratarmos a arte como uma forma de comunicaccedilatildeo (ver por exemplo A A Leontiev 1997) vemos que tanto a laquosituaccedilatildeo do especialistaraquo como a laquosituashy

do principianteraquo representam posiccedilotildees de comunicaccedilatildeo monoloacutegica No caso o espedalista surge como o sujeito e a produccedilatildeo artiacutestica como

o obJecto do juiacutezo No segundo caso a produccedilatildeo artiacutestica surge como o sujeito e o receptor inexperiente como deg objecto do impacto artiacutestico O modelo aplica-se perfeitamente ao consumo da cultura de massas que eacute um exemplo da orientaccedilatildeo estritamente monoloacutegica Poreacutem a comunicaccedilatildeo genuiacutena profunda e iacutentima eacute de natureza dialoacutegica Num diaacutelogo ambos os parceiros estatildeo abertos entre si prontos a mudar com os seus mundos interiores prontos a interagir (ver por exemplo Bakhtin 1979 Davis 1988) Se levarmos a seacuterio que a arte tem algo a ver com o desenvolvimento da personalidade temos de aceitar que isto soacute pode ocorrer em diaacutelogo na interacccedilatildeo de dois mundos com significado A traduccedilatildeo a recepccedilatildeo de informaccedilatildeo (cogniccedilatildeo) e a expressatildeo de emoccedilotildees natildeo pressupotildeem relaccedilotildees dialoacutegicas

O que soacute acontece em diaacutelogo eacute a conversatildeo do significado pessoal ou sentido pessoal (ver O Leontiev 1991) A N Leontiev caracterizou a arte como laquoa actividade que preenche a tarefa de revelar expressar e comunicar um senshytido pessoal da realidaderaquo (1983 p 237) Uma obra de arte natildeo se revela les que a tratam como um texto em vez de a tratar como um microcosmos de significados vivos do nosso mundo Para se poder penetrar para aleacutem do texto para aleacutem do quadro e conseguir entrar em contacto com os significados viacutevos uma pessoa tem de renunciar temporariamente agrave sua posiccedilatildeo uacutenica pessoal (parcial) no mundo assim como renunciar ao seu ponto de vista exclusivo e aceitar a posiccedilatildeo do artista olhando para o mundo atraveacutes dos olhos do artista Uma obra de arte eacute uma janela para o mundo do artista que estaacute aberta apenas para uma visatildeo de um ponto de vista uacutenico ou o do autor Para se assumir a posiccedilatildeo do autor uma pessoa tem de renunciar ao seu ponto de vista pessoal transformando-o numa atitude esteacutetica que eacute essencialmente uma atishytude de diaacutelogo a atitude de uma aceitaccedilatildeo imparcial e sem viacutenculos emoshycionais O paradoxo da percepccedilatildeo esteacutetica reside no facto de que soacute renunshyciando agrave percepccedilatildeo pessoal de uma obra de arte atraveacutes do prisma dos proacuteprios

pessoais ecirc que o observador consegue compreender a obra em toda a plenitude do seu significado e nesta enriquecer o seu proacuteprio mundo interior O primeiro passo neste processo ver uma imagem do mundo de determinada pessoa por detraacutes da do mundo e assumir em relaccedilatildeo a ela uma atitude empaacutetica de diaacutelogo permite ir mais longe ou da imagem do mundo para o mundo em si Nesta fase os significados contidos na obra interagem com as estruturas de sentido da personalidade do receptor Este processo conduz agrave absorccedilatildeo dos novos conteuacutedos e aspectos nas estrumiddot

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tmas de significado individuais se natildeo houver contradiccedilatildeo entre elas ou no efeito de catarse se houver contradiccedilatildeo entre os significados contidos na obra de arte e os que satildeo inerentes agrave do mundo do indiviacuteduo Isto pro move o colapso dos estereoacutetipos de sentido pessoais acrescido de um relevo enriquecido de uma percepccedilatildeo do mundo e do desenvolviacutemento da capacidade de ver objectos e eventos simultaneamente de muitos pontos de vista em muitos contextos e significados potenciais Este uacuteltimo eacute o preacute-requisito indisshypensaacutevel para o desenvolvimento da faculdade humana baacutesica para a objectivishydade (ver Fromm 1956 pp 64-65) Eacute por isso que ao desenvolver contactos com a arte um indiviacuteduo torna as suas relaccedilotildees com o mundo mais flexiacuteveis sigshynificativas e orientadas para o futuro tornando-se mais adaptadas no sentido mais lato do termo laquoA arte daacute-me a oportunidade de viver vaacuterias vidas em vez de uma soacute e consequentemente de enriquecer a experiecircncia da minha vida real de me unir a partir da interiacuteor com outra vida soacute com essa finalidade e em beneficio do seu significado vitahgt (Bakhtin 1979 p72)

EVasilyuk (1988) introduziu o conceito de experiecircncia como actividade interior do espiacuterito ao lidar com transformaccedilotildees das estruturas de sentido da personalidade para restaurar a correspondecircncia entre a representaccedilatildeo indivishyduai da realidade e a vida pessoal Vasilyuk lidou com situaccedilotildees importantes na vida e elaborou as suas ideias de experiecircncia para incluir o contexto psicotera-

Foi o primeiro a descrever transformaccedilotildees decisivas de uma esfera de sentido pessoal - produccedilatildeo do tal como designou este processo que ecirc uma consequecircncia do conflito insoluacutevel da incompatibilidade do mundo inteshyrior de uma pessoa com a realidade do mundo exterior Podemos encontrar transformaccedilotildees deste gecircnero em dois outros tipos de (ver D Leontiev 1997) Uma ecirc a situaccedilatildeo de profunda comunicaccedilatildeo dialoacutegica interpessoal com alteridades significativas que resulta no fenoacutemeno do laquoinvestimento da pershysonalidaderaquo (petrovsky J985) quando eu sinto a presenccedila de uma alteridade sigshynificativa dentro de mim e da sua influecircncia relativa agraves minhas decisotildees e acccedilotildees Um outro tipo eacute a situaccedilatildeo de interacccedilatildeo dialoacutegica com uma obra de arte

Estas trecircs classes de tecircm algo em comum Com efeito as transshyformaccedilotildees de sentido podem apenas ocorrer como resultado do encontro do meu proacuteprio mundo iacutentimo com um outro mundo que revela uma certa conshytradiccedilatildeo entre esses dois m1ll1dos Este segundo mundo pode ser o mundo exteshyrior onde eu vivo como no caso de situaccedilotildees vitais descritas por F pode ser o mundo interior de uma alteridade signit1cativa tal como nos efeitos do investimento de personalidade ou pode ser um mundo criado e objectivado numa peccedila de arte tal como no caso dos efeitos transformadores do encontro cataacutertico com a arte O que eacute diferente nestes trecircs casos eacute em primeiro lugar o grau de necessidade destas transformaccedilotildees de sentido Em momentos de crise

ou em situaccedilotildees vitais o sujeito depara-se com a impossibilidade de manter o sistema estabelecido de relaccedilotildees com o mundo natildeo existe uma altershy

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nativa razoaacutevel para esta mudanccedila excepto por uma forte defesa psicoloacutegica e porventura o desenvolvimento de uma psicopatologia Nos encontros com a arte pelo contraacuterio natildeo existe qualquer necessidade externa de mudanccedila Aceitar ou natildeo novos significados eacute uma questatildeo de livre escolhat por isso que Vygotsky escreveu laquoA arte eacute a organizaccedilatildeo do nosso futuro comportamento eacute um requisito que jamais pode ser preenchido mas que nos obriga a lutar para aleacutem da nossa vida em direcccedilatildeo a tudo o que a transcenderaquo (1971 p 253) r~ta foacutermula ajuda-nos a compreender a ligaccedilatildeo da arte com o lado pragmaacutetico da existecircncia humana Sem duacutevida a arte transcende sempre quaisquer necessishydades de uma determinada situaccedilatildeo imediata Contudo natildeo eacute irrelevante para os aspectos adaptativos da vida Eacute como se fosse uma aprendizagem latente sem uma ideia clara de quando e como aplicar os talentos adquiridos - natildeo se pode designar inuacutetil embora possa parececirc-lo A comunicaccedilatildeo interpessoal assume uma posiccedilatildeo intermeacutedia o seu acircmago eacute revelar e assimilar os significados que tecircm as coisas para os outros o que natildeo eacute absolutamente imprescindiacutevel mas desejaacutevel se se quer viver em harmonia com os outros

Adquirir novos significados em consequecircncia de um encontro com o mundo de uma criaccedilatildeo artiacutestica pode considerar-se um criteacuterio necessaacuteshyrio quer tenha havido ou natildeo total compreensatildeo da obra Este processo presshysupotildee mais do que a descoberta destes significados O aspecto mais importante eacute o processo de relacionar o proacuteprio mundo significativo do receptor com o mundo do artista objectivado na peccedila de arte dois significados laquotecircm de entrar em contacto iacutentimo ou em ligaccedilatildeo de sentido entre siraquo (Bakhtin 1979 p 219) Um especialista imparcial extrai de uma produccedilatildeo artiacutestica determinashydos significados semacircnticos um espectador inexperiente extrai determinadas emoccedilotildees superficiais Ambos satildeo incapazes de tocar no acircmago da verdadeira arte que eacute o sentido pessoal O que deviacuteamos ensinar eacute a atitude dialoacutegica para com a arte a capacidade natildeo apenas de ver o mundo significativo que transshycende os meios expressivos mas tambeacutem de nos relacionarmos pessoalmente com este mundo de nos abrirmos a ele e de nos enriquecermos com os

nificados aiacute descobertos

Variaacutevel intermeacutedia competecircncia esteacutetica

Todavia mesmo pessoas potencialmente capazes de chegar a um tal encontro dialoacutegico significativo nem sempre tecircm ecircxito As razotildees para este frashycasso podem tanto atribuir-se agraves proacuteprias pessoas (agraves suas motivaccedilotildees comshypetecircncia esteacutetica ou mundo interior) aos objectos de arte como agrave situaccedilatildeo

Comecemos pelo primeiro Nem todos os receptores conseguem que todas as obras de arte lhes

falem Eacute necessaacuterio uma chave especial em cada caso Eu dou a esta chave o

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nome de competecircncia esteacutetiacuteca que implica a capacidade do leitor espectador ouvinte para extrair conteuacutedos de significado de diferentes niacuteveis de profundishydade da textura esteacutetica de uma produccedilatildeo artiacutestica Esta variaacutevel reflecte o niacutevel geral do desenvolvimento esteacutetico de uma pessoa a sua experiecircncia de enconshytros pessoais com a arte

A competecircncia esteacutetica eacute um dos factores essenciais que determinam o processo e os resultados do encontro ~sectsoaaill embora natildeo seja o uacutenico (ver D Leontiev 1998) Dois outros factores satildeo o mundo interior (a estrutura de sentido da personalidade) e as necessidades dominantes que definem subsshytancialmente a opccedilatildeo individual dos geacuteneros estilos escolas e obras de arte que se encontram

Com base nas obras teoacutericas e experimentais existentes podemos destacar pelo menos trecircs aspectos interligados da compeliJnciCl esteacutetica O primeiro

ly aspecto eacute a ltQllpexidade cognitiva da visatildeo do mundo que um indiviacute~uo ~m

lQ a capacidade Qessoal dJJQID~flder a ambi~dade e de vs as QossibilJ$Qes l ~_()isas tecircm de mudar de ser diferenes O segundo aspecto eacute o domiacutenio g que uma pessoa tem das laquolinguagens)) especiais de diferentes tipos geacuteneros e d estilos de arte que requer-m conjunto de laquocoacutedigQsraquo culturais (Lotman1994)

que tornam possiacutevel descodificar a informasatildeo contida nOLteXtOatildert1sti5~de modo a traduzir a estmtura de sinais de uma PLQCcedilluccedilatildeo ~tica na liacutengua materna das emoccedilotildees e significados humaQos O terceiro aspecto da com- Otilde

petecircncia esteacuteti~-o~iundo das caracteriacutesticas de actividade da percepccedilatildeo artiacutesshysi a tica (ver a seguir) eacute o~lde mestr~_~~~c_omp~~1Sias e pi9otildee~_()pe0c9ais

que define a capacidade pessoal para desempenhar a actividade de desobjectishyvaccedilatildeo de textos relevante para um determinado texto Todos estes trecircs aspectos estatildeo evidentemente ligados mas o caraacutecter da sua ligaccedilatildeo representa uma tarefa para um estudo especial

---gt lgtI- O desenvolvimento da competecircncia esteacutetica eacute assim um outro alvo para a educaccedilatildeo esteacutetica natildeo obstante ser um objectivo muito mais trivial e tradishycional A grande parte do puacuteblico de todos os geacuteneros de arte situa-se ao niacutevel inferior da competecircncia esteacutetica A induacutestria da cultura de massas contribui grandemente para-ordf ma~enccedilatildeo deste niacutevel dentro das massas produzindo obras de arte ~e-ar~er a seguir) gue exigem apenas um niacutevel muito primitivo de cORet~_~~ia Admite-se que o processo e o resultado da pershycepccedilatildeo individual de obras de laquoarte superiorraquo dependem em grande parte da competecircncia esteacutetica e de outras variaacuteveis da personalidade enquanto que no caso de obras de laquoculturas de massasraquo considera-se que esta dependecircncia eacute muito diminuta (obscurecida nos termos de C Martindale) Contudo a comshypetecircncia esteacutetica natildeo explica todas ou a maior parte das diferenccedilas individuais - do consumo de arte Existem diferenccedilas qualitativas substanciais dentro do mesmo niacutevel de competecircncia esteacutetica que exigem uma abordagem diferente

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~ flFL~E

Mais variaacuteveis intermeacutedias estrateacutegias individuais do consunlO da arte

G B Shaw observou na introduccedilatildeo a Santa Joana que muitos frequenmiddot tadores de teatro vatildeo ao teatro pelas mesmas razotildees que muitas pessoas vatildeo agrave igreja para exibir o traje para se manterem actualizados com a moda para terem

sobre que falar para admirar uma estrela para passar a noite num siacutetio qualmiddot quer excepto em casa Por outras palavras ir ao teatro eacute muitas vezes motivado por tudo excepto o interesse que diz respeito agrave produccedilatildeo dramaacutetica em si Com base na teoacuterica e existente no campo do consumo de arte (uso aqui deliberadamente este termo econoacutemicoporque nesta fase da anaacutelise esta palavra eacute a uacutenica que consegue incluir todas as diferentes formas de intemiddot

pessoamiddotarte) podemos acrescentar a esta lista de nova informaccedilatildeo sobre o mundo o seguinte recriaccedilatildeo procura de modelos de comportamento procura da soluccedilatildeo para problemas pessoais procura de significado Qrocura de certos

jlt e~tados emocionais que a vida 9UQlidiana patildeO [2[QJo[ciQ1il obtenccedilatildeo de apoio para os valores pessoais alivio dos proacuteprios pensamentos e ansiedades confirshymaccedilatildeo da proacutepria visatildeo do mundo etc etc

Em todos estes casos a arte eacute _SlII~i~_tecirc~E~lQre_ltndiltordf-lt~ifer~tes espectro destas diferentes maneiras parece contudo ser limitado

Referirmiddotmemiddotei a uma seacuterie de estudos experimentais em que procurei aplicar uma abordagem individual ao consumo de arte por oposiccedilatildeo agrave tradicional teoacutericamiddotnormativa (Leontiev 1992 1998) A abordagem teoacuterica-normativa presshysupotildee a existecircncia de um tipo padratildeo perfeito avanccedilado de laquoverdadeiraraquo pershycepccedilatildeo esteacutetica Todos os processos empiacutericos imperfeitos de consumo de arte devem ser avaliados de acordo com a proximidade destes processos empiacutericos relacionados com o processo teoacutericomiddotnormativo Do meu ponto de vista esta abordagem eacute ambiacutegua porque reduz todas as peculiaridades qualitativas da intemiddot racccedilatildeo pessoa-arte a uma uacutenica climensatildeo de laquoadequaccedilatildeoraquo Com efeito a permiddot cepccedilatildeo esteacutetica perfeita natildeo ocorre com muita frequecircncia mesmo lidando com sujeitos sofisticados Ao mesmo tempo os tipos empiacutericos ltltimperfeitos) de conmiddot sumo de arte natildeo satildeo apenas fracassos de um tipo peacuterfeito Tecircm especificidades qualitativas proacuteprias e merecem atenccedilatildeo especiaL Pode existir uma gama comshypleta de contactos entre uma pessoa e uma producatildeo artiacutestica mesmo se e_te

--__~-~-~ ------~--contacto nao tem nada a ver Coru a com~mictccedil~ordm~~ laquoExigecircncias e expec-

eS1DelclIacuteic~LS do puacuteblico podem transformar a substatildencia sigmiddot nificativa de uma produccedilatildeo artiacutestica passando esta assim a desempenhar as suas funccedilotildees sociais a adquirir popularidade e a influenciar eficazmente o puacuteblico no caso em que natildeo eacute avaliada por criteacuterios esteacuteticos e em que estaacute efectivamente fora do sistema da percepccedilatildeo esteacutetica no verdadeiro sentido do termoraquo (Dondurei 1975 p 28) Tem de se ter presente a diferenccedila entre per-Aacute p ~ fIacute=

cepccedilatildeo artiacutestia c percepccedilatildeo esteacutetica t percepcatildeo artiacutestica nem sempre eacute (e Vshynem sequer como regra) uma percepccedilatildeo esteacutetica todavia natildeo devemos excluir

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~

do nosso foco de interesse formas natildeo-esteacuteticas de consumo de arte espeshycialmente ao lidar com os problemas da educaccedilatildeo esteacutetica

A abordagem individual que eacute uma alternativa agrave abordagem teoacuterica-nor mativa baseiamiddotse na primazia da anaacutelise fenomenoloacutegica qualitativa dos proces sos empiacutericos da interacccedilatildeo pessoamiddotarte em toda a sua diversidade Uma teacutecnica especial de investigaccedilatildeo de livres descriccedilotildees (FD)() foi elaborada para este propoacutesito (ver Leontiev Kharchevin 1994) Pediu-se aos sujeitos que indicassem ~ quatro livros (filmes peccedilas de teatro pinturas) que tivessem recentemente lido ou visto Ao terminarem a pediumiddotsemiddotlhes que escrevessem qualquer coisa mais ou menos meia paacutegina normalizada sobre cada um destes 4 itens de modo que o leitor pudesse ter uma ideia deles

De seguida aplicaacutemos uma espeacutecie de anaacutelise de conteuacutedo agraves feitas Usando certas categorias de palavras e juiacutezos como indicadores de tipos especiacuteficos de processamento de informaccedilatildeo (no sentido mais amplo do termo) descrevemos conjuntos de estrateacutegias de descrifatildeo liacutevre Verificaacutemos que a maior parte das estrateacutegias eram essencialmente as mesmas nos estudos de difeshyrentes artes outras eram mais especiacuteficas Todo o conjunto de estrateacutegias verifi cado na nossa investigaccedilatildeo com literatura (com S Kharchevin e I Pavlova) tura (com E Dimitriyeva e E Belyaeva) e teatro (com L Lagutina) eacute apresentado no Quadro L

Numa seacuterie de estudos experimentais verificaacute mos o seguinte

1) Diferentes satildeo muttlamente independentes isto eacute natildeo reve Iam correlaccedilotildees positivas significativas entre si

2) As estrateacutegias satildeo individualmente especiacuteficas isto eacute em cada tema exisshytem 1-2 estrateacutegias claramente dominantes

3) Elas satildeo estaacuteveis intramiddotindividualmente isto eacute satildeo geralmente repro dutIacuteveis em estudos de repeticcedilatildeo do teste apoacutes 1 ano

estrateacutegias revelam certas diferenccedilas de gecircnero e manifesta dinacircmica de desenvolvimento na infacircncia

5) Elas tambeacutem revelam correlaccedilotildees significativas com determinadas variaacuteveis da personalidade

Resumindo as conclusotildees de diferentes estudos podemos concluir que existem pelo menos 7 estrateacutegias invariantes reproduzidas em todos os estudos

1 - Emocional 2 De orientaccedilatildeo para o enredOVida 3 Estiliacutesticatecnoloacutegica 4 De siacutentese

() Free descriptiolls

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QUADRO I

Estrateacutegias de descriccedilotildees livres c criteacuterios para sua identificaccedilatildeo

UTERATITRA PINTIJRA

Emocional Emocional (palavras e juiacutezos que contecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral dos livros como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata do livro)

Orientaccedileiacuteo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Analiacutetica Quiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico de arte uma anaacutelise

I I laquocondescendente usando

termos profissionais de criacutetica literaacuteria)

~ IEStiliacutestica referindo-se

~ y~ ___~~s do estilo linguagem forma esteacutetica do livro)

-

De siacutentese Quiacutezos que expressam a idela geral do livro o seu significado ou moral)

Interpretativa (Juiacutezos sobre problemas pessoais sociais e filosoacuteficos de caraacutecter geral relacionados por associaccedilatildeo ao conteuacutedo do livro)

Orientada para () autor (Juiacutezos relacionados com a posiccedilatildeo do autor em vez de se relacionarem com () livro em si comparaccedilatildeo com outros autores e outras obras do mesmo autor)

(Palavras e juiacutezos transmitem sensaccediloes e sentimentos provocados pelo quadro sua avaliaccedilatildeo geral emocionaL)

Orientaccedilc1o (Palavras descrevem as pinturas como uma peccedila de vida real uma situaccedilatildeo desenvolvida no tempo)

-k Estiliacutestica juiacutezos referindo-se esquemas artiacutesticos a sua funccedilatildeo o peculiaridades

De siacutentese (Interpretaccedilatildeo do conteuacutedo do quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Associativa (Associaccedilotildees sobre diferentes temas provocadas pelo quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Orientada jJara o autor (Palavras de juiacutezos indicando a intenccedilatildeo estado psicoloacutegico e contexto biogratildefico do autor)

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TEATRO

Emocional (Palavras e juiacutezos que conshytecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral da peccedila como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata da peccedila)

Orientaccedilatildeo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Tecnoloacutegica (Juiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico do teatro avaliaccedilatildeo da encenaccedilatildeo trabalho do produtor e do actor meios expressivos)

I De siacutentese (Associaccedilotildees sobre questotildees do dia a dia pessoais filosoacuteficas suscitadas pela peccedila)

Associativa (Associaccedilotildees sobre questotildees do diacutea-a-dia pessoais filosoacutel1cas suscitadas pela

I peccedila)

(Continua)

UTERATURA

Fragmentada (Descriccedilatildeo de um episoacutedio ou episoacutedios distintos sem ligaccedilatildeo loacutegica entre si)

Enumemtiva (Enumerando uma lista de toacutepicos ou idelas de que trata o livro)

Orientada para as personagens (Descriccedilatildeo de uma personagem (personagens) os selLS traccedilos pensamentos feitos e expressotildees)

lmpressiva (Descriccedilatildeo de algum impacto que transcende a resposta emocional imediata das mudanccedilas na visatildeo do mundo e na personalidade suscitada pelo livro)

PINTIJRA

lmpressiva (Palavras e juiacutezos que descrevem o impacto concreto do quadro e os seus pormenores distintos)

Graacutefica (Palavras e apresentando o quadro como um quadro emoldurado sua descriccedilatildeo do ponto de vista de um espectador passivo)

Cultural (Palavras e juiacutezos que caracterizam o quadro contexto cultural mencionado outros autores e outras obras do mesmo autor)

Metafoacuterica (Descriccedilotildees usando metaacuteforas siacutembolos e comparaccedilotildees )

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TEATRO

introspectiva (Anaacutelise dos proacutepdos estados e experiecircncias suscitada pela peccedila)

Espaccedilo do teatro (Juiacutezos sobre a atmosfera interior eventos que ocorrem fora do palco no aacutetrio do teatro)

nlstoncas ou esteacuteticas) do autor etc)

Pessoal (Relacionado a peccedila

I ~ ~ntexto da b ~rs~~alidade

-ri se--~ -J --~~ ecirc~ ~-~~

5 - Culturalde orientaccedilatildeo para o autor 6 Associativainterpretativa 7 - Impressivaintrospectiva

Natildeo noS eacute possiacutevel apresentar aqui em detalhe todos os dados relevantes O que eU gostaria de fazer eacute discutir a natureza destas estrateacutegias AQIIacute1l5ira euroJ 1shyfase da interacccedilatildeo de uma pessoa com uma obra de arte eacute a reconstruccedilatildeo menshytal dessa obra a transiccedilatildeo mental do mundo real de objectos materiatildei$(comO o livro que estou a ler neste momento) para o mundo de ficccedilatildeo de imagens artiacutesshyticas de ficccedilatildeo reconstruiacutedas atraveacutes dos meus mecanismos mentais a partir de letratildeS impressas ~Patildepecirc[de pontos coloridos numa teIa ou de pessoas a moverem-se e a falar num palco de teatro Os nossos estudOs de livre descriccedilatildeo ~ tornam evidente que essa prossegue em assuntos dilerentes de diferentes maneiras e conduz a resultados diferentes Os autores alematildees introshyduziram o conceito de Kommunikat para caracterizar este resultado de reconsshytruccedilatildeo mental do mundo de um livro que eacute o primeiro resultado imediato da leitura de seguida as respostas e impressotildees do leitor referem-se ao Kommunikat em vez de se referirem ao livro original (Viehoff 1992) Existem maneiras diferentes de construir o Kommunikat do mesmo livro ou de outra produccedilatildeo artiacutestica e as estrateacutegias aacutee livre descriccedilatildeo reflectem suponho eu estas variaccedilotildees AlgumaSECcedilQ~em a narrativa outras emoccedilotildees outras n~dos outras o contexto cultural ou~~~~s proacuteprias impJs~~2-e~c5~lltras ainda as capacidades teacutecnicas e descobertas do autor Qual destas estrateacutegias ~ estaacute laquocertaraquo IDe 52ygaltpestatildeo leYanta-~e sobre o que ensinar Eu recomenshydari ensiDilr toda~~~m2~~~LQsectQh9JLPordfriacutel yerllJII obra de arte dentro ~ltgt~~s_rr~_~~~~~i~Ccedil~PJ~f9~~tSfisectmiddotJia realiqade ~dasssectgordf~ga~ Esectlt~~ ()~~na~~s~~o longo dest dimensatildeo quantitativa com bastante precisatildeo A variedade qualitativa soacute pode ser adequadamente tratada em termos de estruturas da actividade mental do suieito na

construccedilatildeo do Kommunikat

Percepccedilatildeo artiacutestica como actividade mental - 0~~~Ccedil ~

( A ideia de que a percepccedilatildeo artiacutestica eacute um tipo de actividade mental comshy) plicada e natildeo um processo automaacutetico eacute uma consequecircncia do postulado da natureza criativa comum d~~ecfiGlordfOtilde) artiacutesticas U-~_~Jii ~melhanccedila estrutural como tambeacutem da SlIa semclb3nccedilmiddota jnt~ca O t$m de ser congenial com o poeta e ao percepcionar a obra de arte eacute como se a cecriasse de noyo Pndemos pois definir o processo de percepccedilatildeo comoo processo restituiacutedo e reproduzido de criaccedilatildeoraquo (Vygotsky 1926 p 255 cf Hoege 1997) Uma das mais importantes desta conceptualizaccedilatildeo da pershy

cepccedilatildeo esteacutetica eacute a conviccatildeo ~ordfde interna ccedilgmplexa Qimeiro passo Esta ideia (Vygotsky 1926) no capiacutetulo sobre - o menos conhecido dos seus escritos Nesta obra ele virou-se psicoloacutegica (le encontro~ entre a arte e JSJ2~sectsect9jsect~rbais Ele declarou que ~ toda a gente consegue s2mJ2~ltend~r l~la obra de arte e o processo da pershy

cepccedilatildeo artiacutestica eacute unCYt$QlJl~ntordfLfQmpl~~2~S~~ficTI-(I61atilde p Z5i)lomo ele explicou o conteuacutedo deste trabalho desta actividade mental permanecemL desconhecidas ~ aRenas evident~q~-(e~~Sllll_aordfCcedil1~yjpordfd~~ltEU~g~shylllif[l~mplexa que eacute desempenhada por um espectador ou ouvinte que constroacutei e cria um objecto esteacutetico com base nas impressotildees externas dadas Todas as suas respostas subsequentes referem-se apenas a este objecto Com efeito um quadro eacute apenas uma peccedila rectangular de tela com um determinado nuacutemero de cores Quando o espectador interpreta esta tela e estas cores como um retrato de um homem de determinado objecto ou de um evento este comshyplexo trabalho de transformar a tela colorida no quadro eacute inteiramente feito pela mente do observadorraquo (ibid p 252) Vemos aqui bastante claramente o protoacutetipo da ideia do Kommunikat acima referido Todavia as ideias teoacuterishycas de Vygotsky natildeo foram exploradas nos estudos emDIacutericos a natildeo ser haacute pouco tempo

Mais tarde a ideia das caracteriacutesticas activas da percepccedilatildeo artiacutestica foi repetida pelo filoacutesofo Valentine Asmous (1961) Asmous afirmou que uma imagem artiacutestica complexa produz inevitavelmente variaccedilotildees individuais na sua compreensatildeo e avaliaccedilatildeo Contudo natildeo representa o caraacutecter subjectivo da pershycepccedilatildeo esteacutetica Pelo contraacuterio lima verdadeira obra de arte tem um conteuacutedo objectivo profundo independentemente das eventuais impressotildees do receptor Poreacutem soacute atraveacutes da actividade interna complexa do leitor ou do espectador eacute que este conteuacutedo objectivo se pode tambeacutem transformar no conteuacutedo da sua mente Nesta actividade criativa ela consciecircncia o leitor ou espectador segue o caminho traccedilado pelo autor recriando o conteuacutedo impliacutecito de uma obra de arte atraveacutes de linhas de orientaccedilatildeo expliacutecitas contidas na obra laquoDois leitores que se deparam com a mesma obra literaacuteria podem comparar-se a dois marishynheiros que atiram as suas sondas no oceano A profundidade que atinge cada um natildeo excederaacute o comprimento da sua sondaraquo (Asmous 1961 p

A inovaccedilatildeo contudo estava associada agrave ideia da abordagem da Teoria da Actividade em Psicologia (Leontiev 1983) desenvolvida com base na abordagem hiacutestoacuterico-cultural de Vygotsky isto eacute que em os processos mentais humanos natildeo resultam apenas de funccedilotildees externas conforme Vygotsky mas tambeacutem mantecircm as caracteriacutesticas activas e a estrutura activa intactas embora reduzidas mas restauraacuteveis Durante o periacuteodo compreendido entre 1930 e 1970 a abordagem da Teoria da Actividade russa aplicou o conshy

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~

ceito de actividade mental apenas aos processos cognitivos enquanto nas uacuteltishymas duas deacutecadas se tem feito muito para revelar vaacuterias estrutUl~JS de actividade de processos complexos de experiecircncia e de transformaccedilotildees do sentido pesshysoal Verificou-se especialmente um progresso notaacutevel no acircmbito da teoria psicoloacutegica e investigaccedilatildeo experimental da arte como um instrumento (ou o instrumento) para formar a personalidade humana mudando as suas estruturas psico loacutegicas

Satildeo dignos de mencionar vaacuterios estudos experimentais que tecircm obtido ecircxito em demonstrar a possibilidade de desenvolvimento das capacidades para compreender diferentes gecircneros de arte com a ajuda de meacutetodos especiais elaborados com base nas caracteriacutesticas de actividade dos processos de pershycepccedilatildeo e compreensatildeo artiacutesticas Como exemplo referirei os estudos realizados por V Guruzhapov (1983) sobre artes visuais E Bodrova (1984) e R Karakozov (1991 1994 1997) sobre literatura

V Guruzhapov (1983) fez a distinccedilatildeo entre diferentes niacuteveis de comshypreensatildeo artiacutestica em crianccedilas na idade escolar entre os 7 e 9 anos de idade procurando depois acelerar o desenvolvimento das aptidotildees correspondentes usando teacutecnicas especiais baseadas na actividade As diferenccedilas de niacutevel na comshypreensatildeo artiacutestica foram definidas em termos de capacidade para compreender uma obra de arte como um todo integrado e diferenciado (10 niacutevel) como um todo natildeo-diferenciado (2 0 niacutevel) ou como um conjunto de elementos (3 0 niacutevel) 92 dos sujeitos corresponderam de iniacutecio ao terceiro niacutevel O proshycesso de ensino usado no grupo experimental incluiacutea o desenvolvimento da capacidade da crianccedila para integrar diferentes partes do quadro reconsshytruindo a intenccedilatildeo do pintor e para perceber a paleta de cores usada no qlladro como expressando determinada imagem integrada Gllruzhapov concluiu que foi possiacutevel desenvolver em crianccedilas dos 7 aos 9 anos de idade a capacidade de compreender inlagens complexas caracteriacutesticas da arte laquoadultaraquo

E Bodrova (1984) investigou a compreensatildeo de textos literaacuterios por crianshyccedilas em idade preacute-escolar entre os 5 e 7 anos de idade Este processo foi definido em termos de construccedilatildeo do significado e do sentido do texto em contextos pessoais e outros E Bodrova adiantou a hipoacutetese que a causa das maacutes intelpreshytaccedilotildees dos textos estava relacionada com uma estrutura relativamente comshyplexa das relaccedilotildees entre as personagens e as suas as quais se podem todas encontrar na inadequaccedilatildeo da estrutura da compreensatildeo do sentido mais do que na falta de conhecimento das suas relaccedilotildees O ponto mais difiacutecil de comshypreensatildeo para os sujeitos pareceu ser a dinacircmica do estado interior das persoshynagens e as possibilidades alternativas das suas acccedilotildees em diferentes situaccedilotildees que precisam de ser tomadas em consideraccedilatildeo para se poder compreender o sentido das suas verdadeiras acccedilotildees O processo de ensino incluiacutea um diaacutelogo especial com os sujeitos e experimentaccedilatildeo com o texto isto eacute diferentes transformaccedilotildees da narrativa propostas pelo experimentador Este processo

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aprofundou significativamente a compreensatildeo do significado das acccedilotildees das personagens e do conjunto do texto pelos sujeitos Esta capacidade manifesshytou-se tambeacutem na anaacutelise de textos desconhecidos

R Karakozov (199119941997) estudou a compreensatildeo do significado e sentido pessoal de obras literaacuterias por estudantes universitaacuterios Ele conseguiu destacar determinadas estruturas riacutetmicas na organizaccedilatildeo espaccedilo-temporal de obras comuns (M Proust W Faulkner) Ele designou-as segundo M Bakhtin estruturas cronotoacutepicas e provou que a actividade interna de reconstmccedilatildeo destas estruturas eacute um preacute-requisito indispensaacutevel para a compreensatildeo adeshy

do significado e sentido da obra como um todo Revelou tambeacutem um sistema de operaccedilotildees mentais consideradas como base da actividacle interna da compreensatildeo da prosa e elaborou o procedimento de ensino designado laquoo modelo de leitura cronotoacutepicall Este procedimento provou tambeacutem ser altamente eficaz no aprofundamento da compreensatildeo do significado e sentido de obras comuns (A Pushkin A Chekhov) pelos sujeitos

Voltando de novo agrave questatildeo O que ensinarraquo jaacute podemos formulaacute-Ia da seguinte maneira devemos desenvolver as estruturas da actividade mental da percepccedilatildeo artiacutestica Estas estruturas incluem uma hierarquia de objectivos e operaccedilotildees mentais alicerccediladas em mecanismos reguladores baseados no senshytido pessoal

Cultura de massas o caminho de menor resistecircncia

Todavia laquoo trabalho mental complexo e difiacutecil como Vygotsky caracterishyzou a percepccedilatildeo artiacutestica natildeo atrai toda a gente A vontade que muitos tecircm de se libertarem de esforccedilos mentais eacute ainda mais forte do que o esforccedilo para minimizar o trabalho fiacutesico Soacute uma minoria criativa () natildeo evita e ateacute prefere e aprecia a complexidade (ver por exemplo May 1975)

O que acontece se um receptor natildeo se sente com vontade de fazer este quando se depara com uma gama completa de produccedilotildees artiacutesticas Os

esquemas prinlIacutetivos de percepccedilatildeo reduzem o esforccedilo exigido indo buscar aos estratos mais simples o enredo e o laquotrajecto emocionah A maior parte dos livros fUmes peccedilas de teatro que se inserem na esferJ de verdadeira arte salvo algum trabalho experimental de avant-garde contecircm estes estratos que mal podem competir a estes niacuteveis com os thrillers de massas novelas de acccedilatildeo e romance e filmes Um receptor que jamais procura qualquer coisa para aleacutem do enredo e das tem muito poucas hipoacuteteses de colher algo mais proshyfundo - digamos significado ou prazer do estilo A actividade mental da pershycepccedilatildeo artiacutestica eacute substituiacuteda neste caso pela aplicaccedilatildeo passiva de simples esquemas mentais em que todo o processo da percepccedilatildeo eacute atalhado e reduzido Seria correcto designar este processo por quase-percepccedilatildeo O receptor natildeo se

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esforccedila por adquirir nada de novo Pelo contraacuterio ele quer reconhecer algo bem conhecido de modo a identificar a projecccedilatildeo das suas atitudes valores vonshy

tades e sonhos natildeo realizados e nada mais A quase-percepccedilatildeo daacute origem agrave quase-arte Se os puacuteblicos massivos de

leitores ou espectadores soacute precisam de um enredo excitante e de fortes emoccedilotildees todo o resto eacute inuacutetil Basta fazer o enredo o mais vibrante e emoshycionalmente intenso possiacutevel sem nada de mais profundo que se eacute bem-suceshydido Pode mesmo ter-se ecircxito com obras claacutessicas produzindo um resumo ou puro enredo extraiacutedos de um livro Os leitores de histoacuterias de intriga sentem-se felizes por lerem resumos porque eacute tudo o que precisam

A cultura industrial de massas baseia-se no princiacutepio do reconhecimento na aplicaccedilatildeo de estereoacutetipos automaacuteticos de plug-and-play da percepccedilatildeo enquanto uma obra de verdadeira arte laquo eacute criada intencionalmente para romper com os automatismos perceptuais e eacute feita especialmente de modo que a pershycepccedilatildeo paacutera nela atingindo a sua forccedila e duraccedilatildeo maacuteximas)) (Shklovsky 1966 p 343) Gostaria de acrescentar o criteacuterio de verdadeira arte que tirei da minha proacutepria experiecircncia como laquoconsumidoDgt de arte o cerne de uma obra de vershydadeira arte - o seu significado - natildeo eacute dado directamente e requerem vez disso que se transcenda a narrativa A quase-arte industrial natildeo tem qualquer outro conshyteuacutedo e significado excepto o que eacute directamente dito eou representado

A quase-arte natildeo exerce qualquer efeito na personalidade a natildeo ser agradar ou chocar as emoccedilotildees Podemos definir a distinccedilatildeo entre quase-arte e verdadeira arte em termos da seguinte dicotomia arte para as emoccedilotildees versus arte para a personalidade (Leontiev 1992) A arte para as emoccedilotildees natildeo conteacutem novOS significados Proporciona reconhecimento em vez de cogniccedilatildeo Nenhum receptor pode receber deste tipo de arte senatildeo prazer emocional transitoacuterio (ou outras emoccedilotildees) O encontro com a quase-arte eacute semelhante a uma aventura passageira de uma noite

A quase-arte por sua vez produz quase-puacuteblicos Bertoid Brecht observou uma vez que a falta de gosto das massas estaacute mais profundamente enraizada na realidade do que o gosto dos intelectuais A quase-arte natildeo carece apenas de efeitos de desenvolvimento mas mais do que isso conserva uma visatildeo do mundo e a personalidade em geral impedindo a capacidade humana de mudar de haver desenvolvimento pessoal e adaptaccedilatildeo criativa ao mundo em transformaccedilatildeo

Seja em que circunstacircncias for a quase-percepccedilatildeo natildeo eacute perversa A necesshysidade recreativa eacute inerente a todos os seres humanos Mesmo intelectuais altamente criativos e esteticamente competentes usam a quase-arte para satisshyfazer esta necessidade e por vezes a quase-arte desempenha esta funccedilatildeo com mais eficaacutecia do que a verdadeira arte Toma-se perversa quando toma o lugar de verdadeira arte para muitas pessoas que natildeo conhecem outra forma de arteraquo e acreditam que eacute verdadeira arte As caracteriacutesticas deste quase-puacuteblico satildeo a rejeiccedilatildeo de Qualauer actividade mental em encontros com a arte o hedonismo

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a procura do prazer sem a prontidatildeo para recQnhecer o que jaacute eacute bem conhecido a rejeiccedilatildeo do novo a absolutizaccedilatildeo das proacuteprias opiniotildees e juiacutezos (que as massas partilham) Este quase-puacuteblico produz uma quase-percepccedilatildeo encerrando assim o ciacuterculo que se auto-sustenta e que alimenta a tendecircncia c1e fazer com que a verdadeira arte morra de sua proacutepria morte

Funccedilotildees da Arte e Educaccedilatildeo Esteacutetica

Nas secccedilotildees anteriores olhaacutemos para os problemas dos sistemas de ensino de Esteacutetica atraveacutes do prisma das necessidades individuais emiddot maneiras de lidar com a arte Eacute agora altura de inverter este ponto de vista e de olhar para as necessidades e especificidades individuais atraveacutes do prisma das tarefas e cateshygorias da Educaccedilatildeo Esteacutetica

Faz sentido deste ponto de vista incluir toda a diversidade de funccedilotildees psicoloacutegicas que a arte preenche em conjunto com os beneficios psicoloacutegicos que promete e oferece a trecircs grandes grupos de acordo com o principal efeito que eacute suposto resultar do encontro recreaccedilatildeo socializaccedilatildeo e desenvolvimento pessoal Embora estas trecircs funccedilotildees possam coexistir em produccedilotildees artiacutesticas existem tipos especiais de arte em que algumas delas predominam de um modo evidente

A funccedilatildeo da recreaccedilatildeo estaacute associada agraves necessidades psicoloacutegicas baacutesicas sendo a recreaccedilatildeo necessaacuteria a todos os seres humanos A maior parte dos tipos geacuteneros e estilos de arte conteacutem uma componente recreativa mais ou menos evidente porque a arte sempre pertenceu agrave esfera da livre actividade indepenshydentemente de quaisquer deveres sociais ou profissionais Especialmente bemshy-sucedida em cumprir esta funccedilatildeo recreativa eacute todavia a quase-arte industrial porque prossegue apenas este objectivo atraveacutes do caminho mais curto possiacuteshyvel A cultura de massas de hoje em dia tem assim tendecircncia para acentuar demasiadamente os aspectos recreativos da arte os que transformam os objecshytos de arte em ecircxitos com um elevado valor de mercado excluindo todos os outros geacuteneros de esforccedilos mentais A funccedilatildeo recreativa da arte eacute muito mais procurada do que qualquer outro tipo e estaacute disponiacutevel para todos A aborshydagem da arte como um instrumento recreativo natildeo requer pois educaccedilatildeo porque o mundo dos objectos quase-arte recreativos adapta-se perfeishytamente ao niacutevel mais baixo (zero) de educaccedilatildeo e de competecircncia esteacutetica

A arte de orientaccedilatildeo socializante fornece informaccedilatildeo sobre o mundo sobre os valores culturais e normas sobre padrotildees de comportamento e modeshylos de identidade pessoaL As tarefas de socializaccedilatildeo satildeo compatiacuteveis tanto com a cultura de massas como com a arte superiorraquo Haacute anos designava-se a Literatura por o livro escolar da vidaraquo mas actualmente as pessoas obtecircm mais conhecimento sobre a vida a partir de histoacuterias de detectives e filmes de

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do que da arte superiofl natildeo obstante as artes visuais se poderem chamar laquooficinas da maneira como verraquo Uma vez que esta funccedilatildeo natildeo pressupotildee um eleshyvarlo niacutevel de competecircncia tem naturalmente menos procura A maior parte das pessoas prefere aprender de outras fontes Esta funccedilatildeo natildeo eacute especiacutefica da arte os jornais satildeo mais eficazes para atingir este objectivuuml A educaccedilatildeo releshyvante para esta funccedilatildeo eacute a educaccedilatildeo geral tradicional em vez da educaccedilatildeo

esteacutetica A arte orientada para o desenvolvimento pessoal pelo contraacuterio quebra

normas e clicheacutes confere novOS significados e novas maneiras de ver e de avaliar a realidade A arte orientada para o desenvolvimento pressupotildee e exige frequentemente um elevado niacutevel de competecircncia esteacutetica assim como motishyvaccedilatildeo para fazer determinado trabalho mental no decorrer da interacccedilatildeo com a arte Exige muito e promete muito ao mesmo tempo As recompensas que se recebem de profundos encontros com a verdadeira arte jamais se podem alcanccedilar de outro modo Todavia apenas uma minoria de um puacuteblico potencial consegue compreender e apreciar esta promessa a promessa do significado Eacute aqui que reside o objectivo mais importante da educaccedilatildeo esteacutetica No entanto para nos tornarmos conscientes deste objectivo e aceitaacute-lo temos primeiro de perceber as diferenccedilas entre os efeitos da arte e a quase-arte a niacuteveis diferentes de encontros que temos com elas Na medida em que a Educaccedilatildeo visa o desenshyvolvimento pessoal torna-se antagocircnica da cultura comercial de massas na luta

pela dimensatildeo humana noS seres humanos

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1 145

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Page 6: EDUCAÇÃO ESTÉTICA E ARTÍSTICA

nativa razoaacutevel para esta mudanccedila excepto por uma forte defesa psicoloacutegica e porventura o desenvolvimento de uma psicopatologia Nos encontros com a arte pelo contraacuterio natildeo existe qualquer necessidade externa de mudanccedila Aceitar ou natildeo novos significados eacute uma questatildeo de livre escolhat por isso que Vygotsky escreveu laquoA arte eacute a organizaccedilatildeo do nosso futuro comportamento eacute um requisito que jamais pode ser preenchido mas que nos obriga a lutar para aleacutem da nossa vida em direcccedilatildeo a tudo o que a transcenderaquo (1971 p 253) r~ta foacutermula ajuda-nos a compreender a ligaccedilatildeo da arte com o lado pragmaacutetico da existecircncia humana Sem duacutevida a arte transcende sempre quaisquer necessishydades de uma determinada situaccedilatildeo imediata Contudo natildeo eacute irrelevante para os aspectos adaptativos da vida Eacute como se fosse uma aprendizagem latente sem uma ideia clara de quando e como aplicar os talentos adquiridos - natildeo se pode designar inuacutetil embora possa parececirc-lo A comunicaccedilatildeo interpessoal assume uma posiccedilatildeo intermeacutedia o seu acircmago eacute revelar e assimilar os significados que tecircm as coisas para os outros o que natildeo eacute absolutamente imprescindiacutevel mas desejaacutevel se se quer viver em harmonia com os outros

Adquirir novos significados em consequecircncia de um encontro com o mundo de uma criaccedilatildeo artiacutestica pode considerar-se um criteacuterio necessaacuteshyrio quer tenha havido ou natildeo total compreensatildeo da obra Este processo presshysupotildee mais do que a descoberta destes significados O aspecto mais importante eacute o processo de relacionar o proacuteprio mundo significativo do receptor com o mundo do artista objectivado na peccedila de arte dois significados laquotecircm de entrar em contacto iacutentimo ou em ligaccedilatildeo de sentido entre siraquo (Bakhtin 1979 p 219) Um especialista imparcial extrai de uma produccedilatildeo artiacutestica determinashydos significados semacircnticos um espectador inexperiente extrai determinadas emoccedilotildees superficiais Ambos satildeo incapazes de tocar no acircmago da verdadeira arte que eacute o sentido pessoal O que deviacuteamos ensinar eacute a atitude dialoacutegica para com a arte a capacidade natildeo apenas de ver o mundo significativo que transshycende os meios expressivos mas tambeacutem de nos relacionarmos pessoalmente com este mundo de nos abrirmos a ele e de nos enriquecermos com os

nificados aiacute descobertos

Variaacutevel intermeacutedia competecircncia esteacutetica

Todavia mesmo pessoas potencialmente capazes de chegar a um tal encontro dialoacutegico significativo nem sempre tecircm ecircxito As razotildees para este frashycasso podem tanto atribuir-se agraves proacuteprias pessoas (agraves suas motivaccedilotildees comshypetecircncia esteacutetica ou mundo interior) aos objectos de arte como agrave situaccedilatildeo

Comecemos pelo primeiro Nem todos os receptores conseguem que todas as obras de arte lhes

falem Eacute necessaacuterio uma chave especial em cada caso Eu dou a esta chave o

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nome de competecircncia esteacutetiacuteca que implica a capacidade do leitor espectador ouvinte para extrair conteuacutedos de significado de diferentes niacuteveis de profundishydade da textura esteacutetica de uma produccedilatildeo artiacutestica Esta variaacutevel reflecte o niacutevel geral do desenvolvimento esteacutetico de uma pessoa a sua experiecircncia de enconshytros pessoais com a arte

A competecircncia esteacutetica eacute um dos factores essenciais que determinam o processo e os resultados do encontro ~sectsoaaill embora natildeo seja o uacutenico (ver D Leontiev 1998) Dois outros factores satildeo o mundo interior (a estrutura de sentido da personalidade) e as necessidades dominantes que definem subsshytancialmente a opccedilatildeo individual dos geacuteneros estilos escolas e obras de arte que se encontram

Com base nas obras teoacutericas e experimentais existentes podemos destacar pelo menos trecircs aspectos interligados da compeliJnciCl esteacutetica O primeiro

ly aspecto eacute a ltQllpexidade cognitiva da visatildeo do mundo que um indiviacute~uo ~m

lQ a capacidade Qessoal dJJQID~flder a ambi~dade e de vs as QossibilJ$Qes l ~_()isas tecircm de mudar de ser diferenes O segundo aspecto eacute o domiacutenio g que uma pessoa tem das laquolinguagens)) especiais de diferentes tipos geacuteneros e d estilos de arte que requer-m conjunto de laquocoacutedigQsraquo culturais (Lotman1994)

que tornam possiacutevel descodificar a informasatildeo contida nOLteXtOatildert1sti5~de modo a traduzir a estmtura de sinais de uma PLQCcedilluccedilatildeo ~tica na liacutengua materna das emoccedilotildees e significados humaQos O terceiro aspecto da com- Otilde

petecircncia esteacuteti~-o~iundo das caracteriacutesticas de actividade da percepccedilatildeo artiacutesshysi a tica (ver a seguir) eacute o~lde mestr~_~~~c_omp~~1Sias e pi9otildee~_()pe0c9ais

que define a capacidade pessoal para desempenhar a actividade de desobjectishyvaccedilatildeo de textos relevante para um determinado texto Todos estes trecircs aspectos estatildeo evidentemente ligados mas o caraacutecter da sua ligaccedilatildeo representa uma tarefa para um estudo especial

---gt lgtI- O desenvolvimento da competecircncia esteacutetica eacute assim um outro alvo para a educaccedilatildeo esteacutetica natildeo obstante ser um objectivo muito mais trivial e tradishycional A grande parte do puacuteblico de todos os geacuteneros de arte situa-se ao niacutevel inferior da competecircncia esteacutetica A induacutestria da cultura de massas contribui grandemente para-ordf ma~enccedilatildeo deste niacutevel dentro das massas produzindo obras de arte ~e-ar~er a seguir) gue exigem apenas um niacutevel muito primitivo de cORet~_~~ia Admite-se que o processo e o resultado da pershycepccedilatildeo individual de obras de laquoarte superiorraquo dependem em grande parte da competecircncia esteacutetica e de outras variaacuteveis da personalidade enquanto que no caso de obras de laquoculturas de massasraquo considera-se que esta dependecircncia eacute muito diminuta (obscurecida nos termos de C Martindale) Contudo a comshypetecircncia esteacutetica natildeo explica todas ou a maior parte das diferenccedilas individuais - do consumo de arte Existem diferenccedilas qualitativas substanciais dentro do mesmo niacutevel de competecircncia esteacutetica que exigem uma abordagem diferente

133

------

~ flFL~E

Mais variaacuteveis intermeacutedias estrateacutegias individuais do consunlO da arte

G B Shaw observou na introduccedilatildeo a Santa Joana que muitos frequenmiddot tadores de teatro vatildeo ao teatro pelas mesmas razotildees que muitas pessoas vatildeo agrave igreja para exibir o traje para se manterem actualizados com a moda para terem

sobre que falar para admirar uma estrela para passar a noite num siacutetio qualmiddot quer excepto em casa Por outras palavras ir ao teatro eacute muitas vezes motivado por tudo excepto o interesse que diz respeito agrave produccedilatildeo dramaacutetica em si Com base na teoacuterica e existente no campo do consumo de arte (uso aqui deliberadamente este termo econoacutemicoporque nesta fase da anaacutelise esta palavra eacute a uacutenica que consegue incluir todas as diferentes formas de intemiddot

pessoamiddotarte) podemos acrescentar a esta lista de nova informaccedilatildeo sobre o mundo o seguinte recriaccedilatildeo procura de modelos de comportamento procura da soluccedilatildeo para problemas pessoais procura de significado Qrocura de certos

jlt e~tados emocionais que a vida 9UQlidiana patildeO [2[QJo[ciQ1il obtenccedilatildeo de apoio para os valores pessoais alivio dos proacuteprios pensamentos e ansiedades confirshymaccedilatildeo da proacutepria visatildeo do mundo etc etc

Em todos estes casos a arte eacute _SlII~i~_tecirc~E~lQre_ltndiltordf-lt~ifer~tes espectro destas diferentes maneiras parece contudo ser limitado

Referirmiddotmemiddotei a uma seacuterie de estudos experimentais em que procurei aplicar uma abordagem individual ao consumo de arte por oposiccedilatildeo agrave tradicional teoacutericamiddotnormativa (Leontiev 1992 1998) A abordagem teoacuterica-normativa presshysupotildee a existecircncia de um tipo padratildeo perfeito avanccedilado de laquoverdadeiraraquo pershycepccedilatildeo esteacutetica Todos os processos empiacutericos imperfeitos de consumo de arte devem ser avaliados de acordo com a proximidade destes processos empiacutericos relacionados com o processo teoacutericomiddotnormativo Do meu ponto de vista esta abordagem eacute ambiacutegua porque reduz todas as peculiaridades qualitativas da intemiddot racccedilatildeo pessoa-arte a uma uacutenica climensatildeo de laquoadequaccedilatildeoraquo Com efeito a permiddot cepccedilatildeo esteacutetica perfeita natildeo ocorre com muita frequecircncia mesmo lidando com sujeitos sofisticados Ao mesmo tempo os tipos empiacutericos ltltimperfeitos) de conmiddot sumo de arte natildeo satildeo apenas fracassos de um tipo peacuterfeito Tecircm especificidades qualitativas proacuteprias e merecem atenccedilatildeo especiaL Pode existir uma gama comshypleta de contactos entre uma pessoa e uma producatildeo artiacutestica mesmo se e_te

--__~-~-~ ------~--contacto nao tem nada a ver Coru a com~mictccedil~ordm~~ laquoExigecircncias e expec-

eS1DelclIacuteic~LS do puacuteblico podem transformar a substatildencia sigmiddot nificativa de uma produccedilatildeo artiacutestica passando esta assim a desempenhar as suas funccedilotildees sociais a adquirir popularidade e a influenciar eficazmente o puacuteblico no caso em que natildeo eacute avaliada por criteacuterios esteacuteticos e em que estaacute efectivamente fora do sistema da percepccedilatildeo esteacutetica no verdadeiro sentido do termoraquo (Dondurei 1975 p 28) Tem de se ter presente a diferenccedila entre per-Aacute p ~ fIacute=

cepccedilatildeo artiacutestia c percepccedilatildeo esteacutetica t percepcatildeo artiacutestica nem sempre eacute (e Vshynem sequer como regra) uma percepccedilatildeo esteacutetica todavia natildeo devemos excluir

134

~

do nosso foco de interesse formas natildeo-esteacuteticas de consumo de arte espeshycialmente ao lidar com os problemas da educaccedilatildeo esteacutetica

A abordagem individual que eacute uma alternativa agrave abordagem teoacuterica-nor mativa baseiamiddotse na primazia da anaacutelise fenomenoloacutegica qualitativa dos proces sos empiacutericos da interacccedilatildeo pessoamiddotarte em toda a sua diversidade Uma teacutecnica especial de investigaccedilatildeo de livres descriccedilotildees (FD)() foi elaborada para este propoacutesito (ver Leontiev Kharchevin 1994) Pediu-se aos sujeitos que indicassem ~ quatro livros (filmes peccedilas de teatro pinturas) que tivessem recentemente lido ou visto Ao terminarem a pediumiddotsemiddotlhes que escrevessem qualquer coisa mais ou menos meia paacutegina normalizada sobre cada um destes 4 itens de modo que o leitor pudesse ter uma ideia deles

De seguida aplicaacutemos uma espeacutecie de anaacutelise de conteuacutedo agraves feitas Usando certas categorias de palavras e juiacutezos como indicadores de tipos especiacuteficos de processamento de informaccedilatildeo (no sentido mais amplo do termo) descrevemos conjuntos de estrateacutegias de descrifatildeo liacutevre Verificaacutemos que a maior parte das estrateacutegias eram essencialmente as mesmas nos estudos de difeshyrentes artes outras eram mais especiacuteficas Todo o conjunto de estrateacutegias verifi cado na nossa investigaccedilatildeo com literatura (com S Kharchevin e I Pavlova) tura (com E Dimitriyeva e E Belyaeva) e teatro (com L Lagutina) eacute apresentado no Quadro L

Numa seacuterie de estudos experimentais verificaacute mos o seguinte

1) Diferentes satildeo muttlamente independentes isto eacute natildeo reve Iam correlaccedilotildees positivas significativas entre si

2) As estrateacutegias satildeo individualmente especiacuteficas isto eacute em cada tema exisshytem 1-2 estrateacutegias claramente dominantes

3) Elas satildeo estaacuteveis intramiddotindividualmente isto eacute satildeo geralmente repro dutIacuteveis em estudos de repeticcedilatildeo do teste apoacutes 1 ano

estrateacutegias revelam certas diferenccedilas de gecircnero e manifesta dinacircmica de desenvolvimento na infacircncia

5) Elas tambeacutem revelam correlaccedilotildees significativas com determinadas variaacuteveis da personalidade

Resumindo as conclusotildees de diferentes estudos podemos concluir que existem pelo menos 7 estrateacutegias invariantes reproduzidas em todos os estudos

1 - Emocional 2 De orientaccedilatildeo para o enredOVida 3 Estiliacutesticatecnoloacutegica 4 De siacutentese

() Free descriptiolls

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---

--

QUADRO I

Estrateacutegias de descriccedilotildees livres c criteacuterios para sua identificaccedilatildeo

UTERATITRA PINTIJRA

Emocional Emocional (palavras e juiacutezos que contecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral dos livros como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata do livro)

Orientaccedileiacuteo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Analiacutetica Quiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico de arte uma anaacutelise

I I laquocondescendente usando

termos profissionais de criacutetica literaacuteria)

~ IEStiliacutestica referindo-se

~ y~ ___~~s do estilo linguagem forma esteacutetica do livro)

-

De siacutentese Quiacutezos que expressam a idela geral do livro o seu significado ou moral)

Interpretativa (Juiacutezos sobre problemas pessoais sociais e filosoacuteficos de caraacutecter geral relacionados por associaccedilatildeo ao conteuacutedo do livro)

Orientada para () autor (Juiacutezos relacionados com a posiccedilatildeo do autor em vez de se relacionarem com () livro em si comparaccedilatildeo com outros autores e outras obras do mesmo autor)

(Palavras e juiacutezos transmitem sensaccediloes e sentimentos provocados pelo quadro sua avaliaccedilatildeo geral emocionaL)

Orientaccedilc1o (Palavras descrevem as pinturas como uma peccedila de vida real uma situaccedilatildeo desenvolvida no tempo)

-k Estiliacutestica juiacutezos referindo-se esquemas artiacutesticos a sua funccedilatildeo o peculiaridades

De siacutentese (Interpretaccedilatildeo do conteuacutedo do quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Associativa (Associaccedilotildees sobre diferentes temas provocadas pelo quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Orientada jJara o autor (Palavras de juiacutezos indicando a intenccedilatildeo estado psicoloacutegico e contexto biogratildefico do autor)

136

TEATRO

Emocional (Palavras e juiacutezos que conshytecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral da peccedila como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata da peccedila)

Orientaccedilatildeo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Tecnoloacutegica (Juiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico do teatro avaliaccedilatildeo da encenaccedilatildeo trabalho do produtor e do actor meios expressivos)

I De siacutentese (Associaccedilotildees sobre questotildees do dia a dia pessoais filosoacuteficas suscitadas pela peccedila)

Associativa (Associaccedilotildees sobre questotildees do diacutea-a-dia pessoais filosoacutel1cas suscitadas pela

I peccedila)

(Continua)

UTERATURA

Fragmentada (Descriccedilatildeo de um episoacutedio ou episoacutedios distintos sem ligaccedilatildeo loacutegica entre si)

Enumemtiva (Enumerando uma lista de toacutepicos ou idelas de que trata o livro)

Orientada para as personagens (Descriccedilatildeo de uma personagem (personagens) os selLS traccedilos pensamentos feitos e expressotildees)

lmpressiva (Descriccedilatildeo de algum impacto que transcende a resposta emocional imediata das mudanccedilas na visatildeo do mundo e na personalidade suscitada pelo livro)

PINTIJRA

lmpressiva (Palavras e juiacutezos que descrevem o impacto concreto do quadro e os seus pormenores distintos)

Graacutefica (Palavras e apresentando o quadro como um quadro emoldurado sua descriccedilatildeo do ponto de vista de um espectador passivo)

Cultural (Palavras e juiacutezos que caracterizam o quadro contexto cultural mencionado outros autores e outras obras do mesmo autor)

Metafoacuterica (Descriccedilotildees usando metaacuteforas siacutembolos e comparaccedilotildees )

137

TEATRO

introspectiva (Anaacutelise dos proacutepdos estados e experiecircncias suscitada pela peccedila)

Espaccedilo do teatro (Juiacutezos sobre a atmosfera interior eventos que ocorrem fora do palco no aacutetrio do teatro)

nlstoncas ou esteacuteticas) do autor etc)

Pessoal (Relacionado a peccedila

I ~ ~ntexto da b ~rs~~alidade

-ri se--~ -J --~~ ecirc~ ~-~~

5 - Culturalde orientaccedilatildeo para o autor 6 Associativainterpretativa 7 - Impressivaintrospectiva

Natildeo noS eacute possiacutevel apresentar aqui em detalhe todos os dados relevantes O que eU gostaria de fazer eacute discutir a natureza destas estrateacutegias AQIIacute1l5ira euroJ 1shyfase da interacccedilatildeo de uma pessoa com uma obra de arte eacute a reconstruccedilatildeo menshytal dessa obra a transiccedilatildeo mental do mundo real de objectos materiatildei$(comO o livro que estou a ler neste momento) para o mundo de ficccedilatildeo de imagens artiacutesshyticas de ficccedilatildeo reconstruiacutedas atraveacutes dos meus mecanismos mentais a partir de letratildeS impressas ~Patildepecirc[de pontos coloridos numa teIa ou de pessoas a moverem-se e a falar num palco de teatro Os nossos estudOs de livre descriccedilatildeo ~ tornam evidente que essa prossegue em assuntos dilerentes de diferentes maneiras e conduz a resultados diferentes Os autores alematildees introshyduziram o conceito de Kommunikat para caracterizar este resultado de reconsshytruccedilatildeo mental do mundo de um livro que eacute o primeiro resultado imediato da leitura de seguida as respostas e impressotildees do leitor referem-se ao Kommunikat em vez de se referirem ao livro original (Viehoff 1992) Existem maneiras diferentes de construir o Kommunikat do mesmo livro ou de outra produccedilatildeo artiacutestica e as estrateacutegias aacutee livre descriccedilatildeo reflectem suponho eu estas variaccedilotildees AlgumaSECcedilQ~em a narrativa outras emoccedilotildees outras n~dos outras o contexto cultural ou~~~~s proacuteprias impJs~~2-e~c5~lltras ainda as capacidades teacutecnicas e descobertas do autor Qual destas estrateacutegias ~ estaacute laquocertaraquo IDe 52ygaltpestatildeo leYanta-~e sobre o que ensinar Eu recomenshydari ensiDilr toda~~~m2~~~LQsectQh9JLPordfriacutel yerllJII obra de arte dentro ~ltgt~~s_rr~_~~~~~i~Ccedil~PJ~f9~~tSfisectmiddotJia realiqade ~dasssectgordf~ga~ Esectlt~~ ()~~na~~s~~o longo dest dimensatildeo quantitativa com bastante precisatildeo A variedade qualitativa soacute pode ser adequadamente tratada em termos de estruturas da actividade mental do suieito na

construccedilatildeo do Kommunikat

Percepccedilatildeo artiacutestica como actividade mental - 0~~~Ccedil ~

( A ideia de que a percepccedilatildeo artiacutestica eacute um tipo de actividade mental comshy) plicada e natildeo um processo automaacutetico eacute uma consequecircncia do postulado da natureza criativa comum d~~ecfiGlordfOtilde) artiacutesticas U-~_~Jii ~melhanccedila estrutural como tambeacutem da SlIa semclb3nccedilmiddota jnt~ca O t$m de ser congenial com o poeta e ao percepcionar a obra de arte eacute como se a cecriasse de noyo Pndemos pois definir o processo de percepccedilatildeo comoo processo restituiacutedo e reproduzido de criaccedilatildeoraquo (Vygotsky 1926 p 255 cf Hoege 1997) Uma das mais importantes desta conceptualizaccedilatildeo da pershy

cepccedilatildeo esteacutetica eacute a conviccatildeo ~ordfde interna ccedilgmplexa Qimeiro passo Esta ideia (Vygotsky 1926) no capiacutetulo sobre - o menos conhecido dos seus escritos Nesta obra ele virou-se psicoloacutegica (le encontro~ entre a arte e JSJ2~sectsect9jsect~rbais Ele declarou que ~ toda a gente consegue s2mJ2~ltend~r l~la obra de arte e o processo da pershy

cepccedilatildeo artiacutestica eacute unCYt$QlJl~ntordfLfQmpl~~2~S~~ficTI-(I61atilde p Z5i)lomo ele explicou o conteuacutedo deste trabalho desta actividade mental permanecemL desconhecidas ~ aRenas evident~q~-(e~~Sllll_aordfCcedil1~yjpordfd~~ltEU~g~shylllif[l~mplexa que eacute desempenhada por um espectador ou ouvinte que constroacutei e cria um objecto esteacutetico com base nas impressotildees externas dadas Todas as suas respostas subsequentes referem-se apenas a este objecto Com efeito um quadro eacute apenas uma peccedila rectangular de tela com um determinado nuacutemero de cores Quando o espectador interpreta esta tela e estas cores como um retrato de um homem de determinado objecto ou de um evento este comshyplexo trabalho de transformar a tela colorida no quadro eacute inteiramente feito pela mente do observadorraquo (ibid p 252) Vemos aqui bastante claramente o protoacutetipo da ideia do Kommunikat acima referido Todavia as ideias teoacuterishycas de Vygotsky natildeo foram exploradas nos estudos emDIacutericos a natildeo ser haacute pouco tempo

Mais tarde a ideia das caracteriacutesticas activas da percepccedilatildeo artiacutestica foi repetida pelo filoacutesofo Valentine Asmous (1961) Asmous afirmou que uma imagem artiacutestica complexa produz inevitavelmente variaccedilotildees individuais na sua compreensatildeo e avaliaccedilatildeo Contudo natildeo representa o caraacutecter subjectivo da pershycepccedilatildeo esteacutetica Pelo contraacuterio lima verdadeira obra de arte tem um conteuacutedo objectivo profundo independentemente das eventuais impressotildees do receptor Poreacutem soacute atraveacutes da actividade interna complexa do leitor ou do espectador eacute que este conteuacutedo objectivo se pode tambeacutem transformar no conteuacutedo da sua mente Nesta actividade criativa ela consciecircncia o leitor ou espectador segue o caminho traccedilado pelo autor recriando o conteuacutedo impliacutecito de uma obra de arte atraveacutes de linhas de orientaccedilatildeo expliacutecitas contidas na obra laquoDois leitores que se deparam com a mesma obra literaacuteria podem comparar-se a dois marishynheiros que atiram as suas sondas no oceano A profundidade que atinge cada um natildeo excederaacute o comprimento da sua sondaraquo (Asmous 1961 p

A inovaccedilatildeo contudo estava associada agrave ideia da abordagem da Teoria da Actividade em Psicologia (Leontiev 1983) desenvolvida com base na abordagem hiacutestoacuterico-cultural de Vygotsky isto eacute que em os processos mentais humanos natildeo resultam apenas de funccedilotildees externas conforme Vygotsky mas tambeacutem mantecircm as caracteriacutesticas activas e a estrutura activa intactas embora reduzidas mas restauraacuteveis Durante o periacuteodo compreendido entre 1930 e 1970 a abordagem da Teoria da Actividade russa aplicou o conshy

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~

ceito de actividade mental apenas aos processos cognitivos enquanto nas uacuteltishymas duas deacutecadas se tem feito muito para revelar vaacuterias estrutUl~JS de actividade de processos complexos de experiecircncia e de transformaccedilotildees do sentido pesshysoal Verificou-se especialmente um progresso notaacutevel no acircmbito da teoria psicoloacutegica e investigaccedilatildeo experimental da arte como um instrumento (ou o instrumento) para formar a personalidade humana mudando as suas estruturas psico loacutegicas

Satildeo dignos de mencionar vaacuterios estudos experimentais que tecircm obtido ecircxito em demonstrar a possibilidade de desenvolvimento das capacidades para compreender diferentes gecircneros de arte com a ajuda de meacutetodos especiais elaborados com base nas caracteriacutesticas de actividade dos processos de pershycepccedilatildeo e compreensatildeo artiacutesticas Como exemplo referirei os estudos realizados por V Guruzhapov (1983) sobre artes visuais E Bodrova (1984) e R Karakozov (1991 1994 1997) sobre literatura

V Guruzhapov (1983) fez a distinccedilatildeo entre diferentes niacuteveis de comshypreensatildeo artiacutestica em crianccedilas na idade escolar entre os 7 e 9 anos de idade procurando depois acelerar o desenvolvimento das aptidotildees correspondentes usando teacutecnicas especiais baseadas na actividade As diferenccedilas de niacutevel na comshypreensatildeo artiacutestica foram definidas em termos de capacidade para compreender uma obra de arte como um todo integrado e diferenciado (10 niacutevel) como um todo natildeo-diferenciado (2 0 niacutevel) ou como um conjunto de elementos (3 0 niacutevel) 92 dos sujeitos corresponderam de iniacutecio ao terceiro niacutevel O proshycesso de ensino usado no grupo experimental incluiacutea o desenvolvimento da capacidade da crianccedila para integrar diferentes partes do quadro reconsshytruindo a intenccedilatildeo do pintor e para perceber a paleta de cores usada no qlladro como expressando determinada imagem integrada Gllruzhapov concluiu que foi possiacutevel desenvolver em crianccedilas dos 7 aos 9 anos de idade a capacidade de compreender inlagens complexas caracteriacutesticas da arte laquoadultaraquo

E Bodrova (1984) investigou a compreensatildeo de textos literaacuterios por crianshyccedilas em idade preacute-escolar entre os 5 e 7 anos de idade Este processo foi definido em termos de construccedilatildeo do significado e do sentido do texto em contextos pessoais e outros E Bodrova adiantou a hipoacutetese que a causa das maacutes intelpreshytaccedilotildees dos textos estava relacionada com uma estrutura relativamente comshyplexa das relaccedilotildees entre as personagens e as suas as quais se podem todas encontrar na inadequaccedilatildeo da estrutura da compreensatildeo do sentido mais do que na falta de conhecimento das suas relaccedilotildees O ponto mais difiacutecil de comshypreensatildeo para os sujeitos pareceu ser a dinacircmica do estado interior das persoshynagens e as possibilidades alternativas das suas acccedilotildees em diferentes situaccedilotildees que precisam de ser tomadas em consideraccedilatildeo para se poder compreender o sentido das suas verdadeiras acccedilotildees O processo de ensino incluiacutea um diaacutelogo especial com os sujeitos e experimentaccedilatildeo com o texto isto eacute diferentes transformaccedilotildees da narrativa propostas pelo experimentador Este processo

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aprofundou significativamente a compreensatildeo do significado das acccedilotildees das personagens e do conjunto do texto pelos sujeitos Esta capacidade manifesshytou-se tambeacutem na anaacutelise de textos desconhecidos

R Karakozov (199119941997) estudou a compreensatildeo do significado e sentido pessoal de obras literaacuterias por estudantes universitaacuterios Ele conseguiu destacar determinadas estruturas riacutetmicas na organizaccedilatildeo espaccedilo-temporal de obras comuns (M Proust W Faulkner) Ele designou-as segundo M Bakhtin estruturas cronotoacutepicas e provou que a actividade interna de reconstmccedilatildeo destas estruturas eacute um preacute-requisito indispensaacutevel para a compreensatildeo adeshy

do significado e sentido da obra como um todo Revelou tambeacutem um sistema de operaccedilotildees mentais consideradas como base da actividacle interna da compreensatildeo da prosa e elaborou o procedimento de ensino designado laquoo modelo de leitura cronotoacutepicall Este procedimento provou tambeacutem ser altamente eficaz no aprofundamento da compreensatildeo do significado e sentido de obras comuns (A Pushkin A Chekhov) pelos sujeitos

Voltando de novo agrave questatildeo O que ensinarraquo jaacute podemos formulaacute-Ia da seguinte maneira devemos desenvolver as estruturas da actividade mental da percepccedilatildeo artiacutestica Estas estruturas incluem uma hierarquia de objectivos e operaccedilotildees mentais alicerccediladas em mecanismos reguladores baseados no senshytido pessoal

Cultura de massas o caminho de menor resistecircncia

Todavia laquoo trabalho mental complexo e difiacutecil como Vygotsky caracterishyzou a percepccedilatildeo artiacutestica natildeo atrai toda a gente A vontade que muitos tecircm de se libertarem de esforccedilos mentais eacute ainda mais forte do que o esforccedilo para minimizar o trabalho fiacutesico Soacute uma minoria criativa () natildeo evita e ateacute prefere e aprecia a complexidade (ver por exemplo May 1975)

O que acontece se um receptor natildeo se sente com vontade de fazer este quando se depara com uma gama completa de produccedilotildees artiacutesticas Os

esquemas prinlIacutetivos de percepccedilatildeo reduzem o esforccedilo exigido indo buscar aos estratos mais simples o enredo e o laquotrajecto emocionah A maior parte dos livros fUmes peccedilas de teatro que se inserem na esferJ de verdadeira arte salvo algum trabalho experimental de avant-garde contecircm estes estratos que mal podem competir a estes niacuteveis com os thrillers de massas novelas de acccedilatildeo e romance e filmes Um receptor que jamais procura qualquer coisa para aleacutem do enredo e das tem muito poucas hipoacuteteses de colher algo mais proshyfundo - digamos significado ou prazer do estilo A actividade mental da pershycepccedilatildeo artiacutestica eacute substituiacuteda neste caso pela aplicaccedilatildeo passiva de simples esquemas mentais em que todo o processo da percepccedilatildeo eacute atalhado e reduzido Seria correcto designar este processo por quase-percepccedilatildeo O receptor natildeo se

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esforccedila por adquirir nada de novo Pelo contraacuterio ele quer reconhecer algo bem conhecido de modo a identificar a projecccedilatildeo das suas atitudes valores vonshy

tades e sonhos natildeo realizados e nada mais A quase-percepccedilatildeo daacute origem agrave quase-arte Se os puacuteblicos massivos de

leitores ou espectadores soacute precisam de um enredo excitante e de fortes emoccedilotildees todo o resto eacute inuacutetil Basta fazer o enredo o mais vibrante e emoshycionalmente intenso possiacutevel sem nada de mais profundo que se eacute bem-suceshydido Pode mesmo ter-se ecircxito com obras claacutessicas produzindo um resumo ou puro enredo extraiacutedos de um livro Os leitores de histoacuterias de intriga sentem-se felizes por lerem resumos porque eacute tudo o que precisam

A cultura industrial de massas baseia-se no princiacutepio do reconhecimento na aplicaccedilatildeo de estereoacutetipos automaacuteticos de plug-and-play da percepccedilatildeo enquanto uma obra de verdadeira arte laquo eacute criada intencionalmente para romper com os automatismos perceptuais e eacute feita especialmente de modo que a pershycepccedilatildeo paacutera nela atingindo a sua forccedila e duraccedilatildeo maacuteximas)) (Shklovsky 1966 p 343) Gostaria de acrescentar o criteacuterio de verdadeira arte que tirei da minha proacutepria experiecircncia como laquoconsumidoDgt de arte o cerne de uma obra de vershydadeira arte - o seu significado - natildeo eacute dado directamente e requerem vez disso que se transcenda a narrativa A quase-arte industrial natildeo tem qualquer outro conshyteuacutedo e significado excepto o que eacute directamente dito eou representado

A quase-arte natildeo exerce qualquer efeito na personalidade a natildeo ser agradar ou chocar as emoccedilotildees Podemos definir a distinccedilatildeo entre quase-arte e verdadeira arte em termos da seguinte dicotomia arte para as emoccedilotildees versus arte para a personalidade (Leontiev 1992) A arte para as emoccedilotildees natildeo conteacutem novOS significados Proporciona reconhecimento em vez de cogniccedilatildeo Nenhum receptor pode receber deste tipo de arte senatildeo prazer emocional transitoacuterio (ou outras emoccedilotildees) O encontro com a quase-arte eacute semelhante a uma aventura passageira de uma noite

A quase-arte por sua vez produz quase-puacuteblicos Bertoid Brecht observou uma vez que a falta de gosto das massas estaacute mais profundamente enraizada na realidade do que o gosto dos intelectuais A quase-arte natildeo carece apenas de efeitos de desenvolvimento mas mais do que isso conserva uma visatildeo do mundo e a personalidade em geral impedindo a capacidade humana de mudar de haver desenvolvimento pessoal e adaptaccedilatildeo criativa ao mundo em transformaccedilatildeo

Seja em que circunstacircncias for a quase-percepccedilatildeo natildeo eacute perversa A necesshysidade recreativa eacute inerente a todos os seres humanos Mesmo intelectuais altamente criativos e esteticamente competentes usam a quase-arte para satisshyfazer esta necessidade e por vezes a quase-arte desempenha esta funccedilatildeo com mais eficaacutecia do que a verdadeira arte Toma-se perversa quando toma o lugar de verdadeira arte para muitas pessoas que natildeo conhecem outra forma de arteraquo e acreditam que eacute verdadeira arte As caracteriacutesticas deste quase-puacuteblico satildeo a rejeiccedilatildeo de Qualauer actividade mental em encontros com a arte o hedonismo

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a procura do prazer sem a prontidatildeo para recQnhecer o que jaacute eacute bem conhecido a rejeiccedilatildeo do novo a absolutizaccedilatildeo das proacuteprias opiniotildees e juiacutezos (que as massas partilham) Este quase-puacuteblico produz uma quase-percepccedilatildeo encerrando assim o ciacuterculo que se auto-sustenta e que alimenta a tendecircncia c1e fazer com que a verdadeira arte morra de sua proacutepria morte

Funccedilotildees da Arte e Educaccedilatildeo Esteacutetica

Nas secccedilotildees anteriores olhaacutemos para os problemas dos sistemas de ensino de Esteacutetica atraveacutes do prisma das necessidades individuais emiddot maneiras de lidar com a arte Eacute agora altura de inverter este ponto de vista e de olhar para as necessidades e especificidades individuais atraveacutes do prisma das tarefas e cateshygorias da Educaccedilatildeo Esteacutetica

Faz sentido deste ponto de vista incluir toda a diversidade de funccedilotildees psicoloacutegicas que a arte preenche em conjunto com os beneficios psicoloacutegicos que promete e oferece a trecircs grandes grupos de acordo com o principal efeito que eacute suposto resultar do encontro recreaccedilatildeo socializaccedilatildeo e desenvolvimento pessoal Embora estas trecircs funccedilotildees possam coexistir em produccedilotildees artiacutesticas existem tipos especiais de arte em que algumas delas predominam de um modo evidente

A funccedilatildeo da recreaccedilatildeo estaacute associada agraves necessidades psicoloacutegicas baacutesicas sendo a recreaccedilatildeo necessaacuteria a todos os seres humanos A maior parte dos tipos geacuteneros e estilos de arte conteacutem uma componente recreativa mais ou menos evidente porque a arte sempre pertenceu agrave esfera da livre actividade indepenshydentemente de quaisquer deveres sociais ou profissionais Especialmente bemshy-sucedida em cumprir esta funccedilatildeo recreativa eacute todavia a quase-arte industrial porque prossegue apenas este objectivo atraveacutes do caminho mais curto possiacuteshyvel A cultura de massas de hoje em dia tem assim tendecircncia para acentuar demasiadamente os aspectos recreativos da arte os que transformam os objecshytos de arte em ecircxitos com um elevado valor de mercado excluindo todos os outros geacuteneros de esforccedilos mentais A funccedilatildeo recreativa da arte eacute muito mais procurada do que qualquer outro tipo e estaacute disponiacutevel para todos A aborshydagem da arte como um instrumento recreativo natildeo requer pois educaccedilatildeo porque o mundo dos objectos quase-arte recreativos adapta-se perfeishytamente ao niacutevel mais baixo (zero) de educaccedilatildeo e de competecircncia esteacutetica

A arte de orientaccedilatildeo socializante fornece informaccedilatildeo sobre o mundo sobre os valores culturais e normas sobre padrotildees de comportamento e modeshylos de identidade pessoaL As tarefas de socializaccedilatildeo satildeo compatiacuteveis tanto com a cultura de massas como com a arte superiorraquo Haacute anos designava-se a Literatura por o livro escolar da vidaraquo mas actualmente as pessoas obtecircm mais conhecimento sobre a vida a partir de histoacuterias de detectives e filmes de

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do que da arte superiofl natildeo obstante as artes visuais se poderem chamar laquooficinas da maneira como verraquo Uma vez que esta funccedilatildeo natildeo pressupotildee um eleshyvarlo niacutevel de competecircncia tem naturalmente menos procura A maior parte das pessoas prefere aprender de outras fontes Esta funccedilatildeo natildeo eacute especiacutefica da arte os jornais satildeo mais eficazes para atingir este objectivuuml A educaccedilatildeo releshyvante para esta funccedilatildeo eacute a educaccedilatildeo geral tradicional em vez da educaccedilatildeo

esteacutetica A arte orientada para o desenvolvimento pessoal pelo contraacuterio quebra

normas e clicheacutes confere novOS significados e novas maneiras de ver e de avaliar a realidade A arte orientada para o desenvolvimento pressupotildee e exige frequentemente um elevado niacutevel de competecircncia esteacutetica assim como motishyvaccedilatildeo para fazer determinado trabalho mental no decorrer da interacccedilatildeo com a arte Exige muito e promete muito ao mesmo tempo As recompensas que se recebem de profundos encontros com a verdadeira arte jamais se podem alcanccedilar de outro modo Todavia apenas uma minoria de um puacuteblico potencial consegue compreender e apreciar esta promessa a promessa do significado Eacute aqui que reside o objectivo mais importante da educaccedilatildeo esteacutetica No entanto para nos tornarmos conscientes deste objectivo e aceitaacute-lo temos primeiro de perceber as diferenccedilas entre os efeitos da arte e a quase-arte a niacuteveis diferentes de encontros que temos com elas Na medida em que a Educaccedilatildeo visa o desenshyvolvimento pessoal torna-se antagocircnica da cultura comercial de massas na luta

pela dimensatildeo humana noS seres humanos

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~ flFL~E

Mais variaacuteveis intermeacutedias estrateacutegias individuais do consunlO da arte

G B Shaw observou na introduccedilatildeo a Santa Joana que muitos frequenmiddot tadores de teatro vatildeo ao teatro pelas mesmas razotildees que muitas pessoas vatildeo agrave igreja para exibir o traje para se manterem actualizados com a moda para terem

sobre que falar para admirar uma estrela para passar a noite num siacutetio qualmiddot quer excepto em casa Por outras palavras ir ao teatro eacute muitas vezes motivado por tudo excepto o interesse que diz respeito agrave produccedilatildeo dramaacutetica em si Com base na teoacuterica e existente no campo do consumo de arte (uso aqui deliberadamente este termo econoacutemicoporque nesta fase da anaacutelise esta palavra eacute a uacutenica que consegue incluir todas as diferentes formas de intemiddot

pessoamiddotarte) podemos acrescentar a esta lista de nova informaccedilatildeo sobre o mundo o seguinte recriaccedilatildeo procura de modelos de comportamento procura da soluccedilatildeo para problemas pessoais procura de significado Qrocura de certos

jlt e~tados emocionais que a vida 9UQlidiana patildeO [2[QJo[ciQ1il obtenccedilatildeo de apoio para os valores pessoais alivio dos proacuteprios pensamentos e ansiedades confirshymaccedilatildeo da proacutepria visatildeo do mundo etc etc

Em todos estes casos a arte eacute _SlII~i~_tecirc~E~lQre_ltndiltordf-lt~ifer~tes espectro destas diferentes maneiras parece contudo ser limitado

Referirmiddotmemiddotei a uma seacuterie de estudos experimentais em que procurei aplicar uma abordagem individual ao consumo de arte por oposiccedilatildeo agrave tradicional teoacutericamiddotnormativa (Leontiev 1992 1998) A abordagem teoacuterica-normativa presshysupotildee a existecircncia de um tipo padratildeo perfeito avanccedilado de laquoverdadeiraraquo pershycepccedilatildeo esteacutetica Todos os processos empiacutericos imperfeitos de consumo de arte devem ser avaliados de acordo com a proximidade destes processos empiacutericos relacionados com o processo teoacutericomiddotnormativo Do meu ponto de vista esta abordagem eacute ambiacutegua porque reduz todas as peculiaridades qualitativas da intemiddot racccedilatildeo pessoa-arte a uma uacutenica climensatildeo de laquoadequaccedilatildeoraquo Com efeito a permiddot cepccedilatildeo esteacutetica perfeita natildeo ocorre com muita frequecircncia mesmo lidando com sujeitos sofisticados Ao mesmo tempo os tipos empiacutericos ltltimperfeitos) de conmiddot sumo de arte natildeo satildeo apenas fracassos de um tipo peacuterfeito Tecircm especificidades qualitativas proacuteprias e merecem atenccedilatildeo especiaL Pode existir uma gama comshypleta de contactos entre uma pessoa e uma producatildeo artiacutestica mesmo se e_te

--__~-~-~ ------~--contacto nao tem nada a ver Coru a com~mictccedil~ordm~~ laquoExigecircncias e expec-

eS1DelclIacuteic~LS do puacuteblico podem transformar a substatildencia sigmiddot nificativa de uma produccedilatildeo artiacutestica passando esta assim a desempenhar as suas funccedilotildees sociais a adquirir popularidade e a influenciar eficazmente o puacuteblico no caso em que natildeo eacute avaliada por criteacuterios esteacuteticos e em que estaacute efectivamente fora do sistema da percepccedilatildeo esteacutetica no verdadeiro sentido do termoraquo (Dondurei 1975 p 28) Tem de se ter presente a diferenccedila entre per-Aacute p ~ fIacute=

cepccedilatildeo artiacutestia c percepccedilatildeo esteacutetica t percepcatildeo artiacutestica nem sempre eacute (e Vshynem sequer como regra) uma percepccedilatildeo esteacutetica todavia natildeo devemos excluir

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~

do nosso foco de interesse formas natildeo-esteacuteticas de consumo de arte espeshycialmente ao lidar com os problemas da educaccedilatildeo esteacutetica

A abordagem individual que eacute uma alternativa agrave abordagem teoacuterica-nor mativa baseiamiddotse na primazia da anaacutelise fenomenoloacutegica qualitativa dos proces sos empiacutericos da interacccedilatildeo pessoamiddotarte em toda a sua diversidade Uma teacutecnica especial de investigaccedilatildeo de livres descriccedilotildees (FD)() foi elaborada para este propoacutesito (ver Leontiev Kharchevin 1994) Pediu-se aos sujeitos que indicassem ~ quatro livros (filmes peccedilas de teatro pinturas) que tivessem recentemente lido ou visto Ao terminarem a pediumiddotsemiddotlhes que escrevessem qualquer coisa mais ou menos meia paacutegina normalizada sobre cada um destes 4 itens de modo que o leitor pudesse ter uma ideia deles

De seguida aplicaacutemos uma espeacutecie de anaacutelise de conteuacutedo agraves feitas Usando certas categorias de palavras e juiacutezos como indicadores de tipos especiacuteficos de processamento de informaccedilatildeo (no sentido mais amplo do termo) descrevemos conjuntos de estrateacutegias de descrifatildeo liacutevre Verificaacutemos que a maior parte das estrateacutegias eram essencialmente as mesmas nos estudos de difeshyrentes artes outras eram mais especiacuteficas Todo o conjunto de estrateacutegias verifi cado na nossa investigaccedilatildeo com literatura (com S Kharchevin e I Pavlova) tura (com E Dimitriyeva e E Belyaeva) e teatro (com L Lagutina) eacute apresentado no Quadro L

Numa seacuterie de estudos experimentais verificaacute mos o seguinte

1) Diferentes satildeo muttlamente independentes isto eacute natildeo reve Iam correlaccedilotildees positivas significativas entre si

2) As estrateacutegias satildeo individualmente especiacuteficas isto eacute em cada tema exisshytem 1-2 estrateacutegias claramente dominantes

3) Elas satildeo estaacuteveis intramiddotindividualmente isto eacute satildeo geralmente repro dutIacuteveis em estudos de repeticcedilatildeo do teste apoacutes 1 ano

estrateacutegias revelam certas diferenccedilas de gecircnero e manifesta dinacircmica de desenvolvimento na infacircncia

5) Elas tambeacutem revelam correlaccedilotildees significativas com determinadas variaacuteveis da personalidade

Resumindo as conclusotildees de diferentes estudos podemos concluir que existem pelo menos 7 estrateacutegias invariantes reproduzidas em todos os estudos

1 - Emocional 2 De orientaccedilatildeo para o enredOVida 3 Estiliacutesticatecnoloacutegica 4 De siacutentese

() Free descriptiolls

135

---

--

QUADRO I

Estrateacutegias de descriccedilotildees livres c criteacuterios para sua identificaccedilatildeo

UTERATITRA PINTIJRA

Emocional Emocional (palavras e juiacutezos que contecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral dos livros como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata do livro)

Orientaccedileiacuteo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Analiacutetica Quiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico de arte uma anaacutelise

I I laquocondescendente usando

termos profissionais de criacutetica literaacuteria)

~ IEStiliacutestica referindo-se

~ y~ ___~~s do estilo linguagem forma esteacutetica do livro)

-

De siacutentese Quiacutezos que expressam a idela geral do livro o seu significado ou moral)

Interpretativa (Juiacutezos sobre problemas pessoais sociais e filosoacuteficos de caraacutecter geral relacionados por associaccedilatildeo ao conteuacutedo do livro)

Orientada para () autor (Juiacutezos relacionados com a posiccedilatildeo do autor em vez de se relacionarem com () livro em si comparaccedilatildeo com outros autores e outras obras do mesmo autor)

(Palavras e juiacutezos transmitem sensaccediloes e sentimentos provocados pelo quadro sua avaliaccedilatildeo geral emocionaL)

Orientaccedilc1o (Palavras descrevem as pinturas como uma peccedila de vida real uma situaccedilatildeo desenvolvida no tempo)

-k Estiliacutestica juiacutezos referindo-se esquemas artiacutesticos a sua funccedilatildeo o peculiaridades

De siacutentese (Interpretaccedilatildeo do conteuacutedo do quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Associativa (Associaccedilotildees sobre diferentes temas provocadas pelo quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Orientada jJara o autor (Palavras de juiacutezos indicando a intenccedilatildeo estado psicoloacutegico e contexto biogratildefico do autor)

136

TEATRO

Emocional (Palavras e juiacutezos que conshytecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral da peccedila como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata da peccedila)

Orientaccedilatildeo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Tecnoloacutegica (Juiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico do teatro avaliaccedilatildeo da encenaccedilatildeo trabalho do produtor e do actor meios expressivos)

I De siacutentese (Associaccedilotildees sobre questotildees do dia a dia pessoais filosoacuteficas suscitadas pela peccedila)

Associativa (Associaccedilotildees sobre questotildees do diacutea-a-dia pessoais filosoacutel1cas suscitadas pela

I peccedila)

(Continua)

UTERATURA

Fragmentada (Descriccedilatildeo de um episoacutedio ou episoacutedios distintos sem ligaccedilatildeo loacutegica entre si)

Enumemtiva (Enumerando uma lista de toacutepicos ou idelas de que trata o livro)

Orientada para as personagens (Descriccedilatildeo de uma personagem (personagens) os selLS traccedilos pensamentos feitos e expressotildees)

lmpressiva (Descriccedilatildeo de algum impacto que transcende a resposta emocional imediata das mudanccedilas na visatildeo do mundo e na personalidade suscitada pelo livro)

PINTIJRA

lmpressiva (Palavras e juiacutezos que descrevem o impacto concreto do quadro e os seus pormenores distintos)

Graacutefica (Palavras e apresentando o quadro como um quadro emoldurado sua descriccedilatildeo do ponto de vista de um espectador passivo)

Cultural (Palavras e juiacutezos que caracterizam o quadro contexto cultural mencionado outros autores e outras obras do mesmo autor)

Metafoacuterica (Descriccedilotildees usando metaacuteforas siacutembolos e comparaccedilotildees )

137

TEATRO

introspectiva (Anaacutelise dos proacutepdos estados e experiecircncias suscitada pela peccedila)

Espaccedilo do teatro (Juiacutezos sobre a atmosfera interior eventos que ocorrem fora do palco no aacutetrio do teatro)

nlstoncas ou esteacuteticas) do autor etc)

Pessoal (Relacionado a peccedila

I ~ ~ntexto da b ~rs~~alidade

-ri se--~ -J --~~ ecirc~ ~-~~

5 - Culturalde orientaccedilatildeo para o autor 6 Associativainterpretativa 7 - Impressivaintrospectiva

Natildeo noS eacute possiacutevel apresentar aqui em detalhe todos os dados relevantes O que eU gostaria de fazer eacute discutir a natureza destas estrateacutegias AQIIacute1l5ira euroJ 1shyfase da interacccedilatildeo de uma pessoa com uma obra de arte eacute a reconstruccedilatildeo menshytal dessa obra a transiccedilatildeo mental do mundo real de objectos materiatildei$(comO o livro que estou a ler neste momento) para o mundo de ficccedilatildeo de imagens artiacutesshyticas de ficccedilatildeo reconstruiacutedas atraveacutes dos meus mecanismos mentais a partir de letratildeS impressas ~Patildepecirc[de pontos coloridos numa teIa ou de pessoas a moverem-se e a falar num palco de teatro Os nossos estudOs de livre descriccedilatildeo ~ tornam evidente que essa prossegue em assuntos dilerentes de diferentes maneiras e conduz a resultados diferentes Os autores alematildees introshyduziram o conceito de Kommunikat para caracterizar este resultado de reconsshytruccedilatildeo mental do mundo de um livro que eacute o primeiro resultado imediato da leitura de seguida as respostas e impressotildees do leitor referem-se ao Kommunikat em vez de se referirem ao livro original (Viehoff 1992) Existem maneiras diferentes de construir o Kommunikat do mesmo livro ou de outra produccedilatildeo artiacutestica e as estrateacutegias aacutee livre descriccedilatildeo reflectem suponho eu estas variaccedilotildees AlgumaSECcedilQ~em a narrativa outras emoccedilotildees outras n~dos outras o contexto cultural ou~~~~s proacuteprias impJs~~2-e~c5~lltras ainda as capacidades teacutecnicas e descobertas do autor Qual destas estrateacutegias ~ estaacute laquocertaraquo IDe 52ygaltpestatildeo leYanta-~e sobre o que ensinar Eu recomenshydari ensiDilr toda~~~m2~~~LQsectQh9JLPordfriacutel yerllJII obra de arte dentro ~ltgt~~s_rr~_~~~~~i~Ccedil~PJ~f9~~tSfisectmiddotJia realiqade ~dasssectgordf~ga~ Esectlt~~ ()~~na~~s~~o longo dest dimensatildeo quantitativa com bastante precisatildeo A variedade qualitativa soacute pode ser adequadamente tratada em termos de estruturas da actividade mental do suieito na

construccedilatildeo do Kommunikat

Percepccedilatildeo artiacutestica como actividade mental - 0~~~Ccedil ~

( A ideia de que a percepccedilatildeo artiacutestica eacute um tipo de actividade mental comshy) plicada e natildeo um processo automaacutetico eacute uma consequecircncia do postulado da natureza criativa comum d~~ecfiGlordfOtilde) artiacutesticas U-~_~Jii ~melhanccedila estrutural como tambeacutem da SlIa semclb3nccedilmiddota jnt~ca O t$m de ser congenial com o poeta e ao percepcionar a obra de arte eacute como se a cecriasse de noyo Pndemos pois definir o processo de percepccedilatildeo comoo processo restituiacutedo e reproduzido de criaccedilatildeoraquo (Vygotsky 1926 p 255 cf Hoege 1997) Uma das mais importantes desta conceptualizaccedilatildeo da pershy

cepccedilatildeo esteacutetica eacute a conviccatildeo ~ordfde interna ccedilgmplexa Qimeiro passo Esta ideia (Vygotsky 1926) no capiacutetulo sobre - o menos conhecido dos seus escritos Nesta obra ele virou-se psicoloacutegica (le encontro~ entre a arte e JSJ2~sectsect9jsect~rbais Ele declarou que ~ toda a gente consegue s2mJ2~ltend~r l~la obra de arte e o processo da pershy

cepccedilatildeo artiacutestica eacute unCYt$QlJl~ntordfLfQmpl~~2~S~~ficTI-(I61atilde p Z5i)lomo ele explicou o conteuacutedo deste trabalho desta actividade mental permanecemL desconhecidas ~ aRenas evident~q~-(e~~Sllll_aordfCcedil1~yjpordfd~~ltEU~g~shylllif[l~mplexa que eacute desempenhada por um espectador ou ouvinte que constroacutei e cria um objecto esteacutetico com base nas impressotildees externas dadas Todas as suas respostas subsequentes referem-se apenas a este objecto Com efeito um quadro eacute apenas uma peccedila rectangular de tela com um determinado nuacutemero de cores Quando o espectador interpreta esta tela e estas cores como um retrato de um homem de determinado objecto ou de um evento este comshyplexo trabalho de transformar a tela colorida no quadro eacute inteiramente feito pela mente do observadorraquo (ibid p 252) Vemos aqui bastante claramente o protoacutetipo da ideia do Kommunikat acima referido Todavia as ideias teoacuterishycas de Vygotsky natildeo foram exploradas nos estudos emDIacutericos a natildeo ser haacute pouco tempo

Mais tarde a ideia das caracteriacutesticas activas da percepccedilatildeo artiacutestica foi repetida pelo filoacutesofo Valentine Asmous (1961) Asmous afirmou que uma imagem artiacutestica complexa produz inevitavelmente variaccedilotildees individuais na sua compreensatildeo e avaliaccedilatildeo Contudo natildeo representa o caraacutecter subjectivo da pershycepccedilatildeo esteacutetica Pelo contraacuterio lima verdadeira obra de arte tem um conteuacutedo objectivo profundo independentemente das eventuais impressotildees do receptor Poreacutem soacute atraveacutes da actividade interna complexa do leitor ou do espectador eacute que este conteuacutedo objectivo se pode tambeacutem transformar no conteuacutedo da sua mente Nesta actividade criativa ela consciecircncia o leitor ou espectador segue o caminho traccedilado pelo autor recriando o conteuacutedo impliacutecito de uma obra de arte atraveacutes de linhas de orientaccedilatildeo expliacutecitas contidas na obra laquoDois leitores que se deparam com a mesma obra literaacuteria podem comparar-se a dois marishynheiros que atiram as suas sondas no oceano A profundidade que atinge cada um natildeo excederaacute o comprimento da sua sondaraquo (Asmous 1961 p

A inovaccedilatildeo contudo estava associada agrave ideia da abordagem da Teoria da Actividade em Psicologia (Leontiev 1983) desenvolvida com base na abordagem hiacutestoacuterico-cultural de Vygotsky isto eacute que em os processos mentais humanos natildeo resultam apenas de funccedilotildees externas conforme Vygotsky mas tambeacutem mantecircm as caracteriacutesticas activas e a estrutura activa intactas embora reduzidas mas restauraacuteveis Durante o periacuteodo compreendido entre 1930 e 1970 a abordagem da Teoria da Actividade russa aplicou o conshy

138 139

~

ceito de actividade mental apenas aos processos cognitivos enquanto nas uacuteltishymas duas deacutecadas se tem feito muito para revelar vaacuterias estrutUl~JS de actividade de processos complexos de experiecircncia e de transformaccedilotildees do sentido pesshysoal Verificou-se especialmente um progresso notaacutevel no acircmbito da teoria psicoloacutegica e investigaccedilatildeo experimental da arte como um instrumento (ou o instrumento) para formar a personalidade humana mudando as suas estruturas psico loacutegicas

Satildeo dignos de mencionar vaacuterios estudos experimentais que tecircm obtido ecircxito em demonstrar a possibilidade de desenvolvimento das capacidades para compreender diferentes gecircneros de arte com a ajuda de meacutetodos especiais elaborados com base nas caracteriacutesticas de actividade dos processos de pershycepccedilatildeo e compreensatildeo artiacutesticas Como exemplo referirei os estudos realizados por V Guruzhapov (1983) sobre artes visuais E Bodrova (1984) e R Karakozov (1991 1994 1997) sobre literatura

V Guruzhapov (1983) fez a distinccedilatildeo entre diferentes niacuteveis de comshypreensatildeo artiacutestica em crianccedilas na idade escolar entre os 7 e 9 anos de idade procurando depois acelerar o desenvolvimento das aptidotildees correspondentes usando teacutecnicas especiais baseadas na actividade As diferenccedilas de niacutevel na comshypreensatildeo artiacutestica foram definidas em termos de capacidade para compreender uma obra de arte como um todo integrado e diferenciado (10 niacutevel) como um todo natildeo-diferenciado (2 0 niacutevel) ou como um conjunto de elementos (3 0 niacutevel) 92 dos sujeitos corresponderam de iniacutecio ao terceiro niacutevel O proshycesso de ensino usado no grupo experimental incluiacutea o desenvolvimento da capacidade da crianccedila para integrar diferentes partes do quadro reconsshytruindo a intenccedilatildeo do pintor e para perceber a paleta de cores usada no qlladro como expressando determinada imagem integrada Gllruzhapov concluiu que foi possiacutevel desenvolver em crianccedilas dos 7 aos 9 anos de idade a capacidade de compreender inlagens complexas caracteriacutesticas da arte laquoadultaraquo

E Bodrova (1984) investigou a compreensatildeo de textos literaacuterios por crianshyccedilas em idade preacute-escolar entre os 5 e 7 anos de idade Este processo foi definido em termos de construccedilatildeo do significado e do sentido do texto em contextos pessoais e outros E Bodrova adiantou a hipoacutetese que a causa das maacutes intelpreshytaccedilotildees dos textos estava relacionada com uma estrutura relativamente comshyplexa das relaccedilotildees entre as personagens e as suas as quais se podem todas encontrar na inadequaccedilatildeo da estrutura da compreensatildeo do sentido mais do que na falta de conhecimento das suas relaccedilotildees O ponto mais difiacutecil de comshypreensatildeo para os sujeitos pareceu ser a dinacircmica do estado interior das persoshynagens e as possibilidades alternativas das suas acccedilotildees em diferentes situaccedilotildees que precisam de ser tomadas em consideraccedilatildeo para se poder compreender o sentido das suas verdadeiras acccedilotildees O processo de ensino incluiacutea um diaacutelogo especial com os sujeitos e experimentaccedilatildeo com o texto isto eacute diferentes transformaccedilotildees da narrativa propostas pelo experimentador Este processo

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aprofundou significativamente a compreensatildeo do significado das acccedilotildees das personagens e do conjunto do texto pelos sujeitos Esta capacidade manifesshytou-se tambeacutem na anaacutelise de textos desconhecidos

R Karakozov (199119941997) estudou a compreensatildeo do significado e sentido pessoal de obras literaacuterias por estudantes universitaacuterios Ele conseguiu destacar determinadas estruturas riacutetmicas na organizaccedilatildeo espaccedilo-temporal de obras comuns (M Proust W Faulkner) Ele designou-as segundo M Bakhtin estruturas cronotoacutepicas e provou que a actividade interna de reconstmccedilatildeo destas estruturas eacute um preacute-requisito indispensaacutevel para a compreensatildeo adeshy

do significado e sentido da obra como um todo Revelou tambeacutem um sistema de operaccedilotildees mentais consideradas como base da actividacle interna da compreensatildeo da prosa e elaborou o procedimento de ensino designado laquoo modelo de leitura cronotoacutepicall Este procedimento provou tambeacutem ser altamente eficaz no aprofundamento da compreensatildeo do significado e sentido de obras comuns (A Pushkin A Chekhov) pelos sujeitos

Voltando de novo agrave questatildeo O que ensinarraquo jaacute podemos formulaacute-Ia da seguinte maneira devemos desenvolver as estruturas da actividade mental da percepccedilatildeo artiacutestica Estas estruturas incluem uma hierarquia de objectivos e operaccedilotildees mentais alicerccediladas em mecanismos reguladores baseados no senshytido pessoal

Cultura de massas o caminho de menor resistecircncia

Todavia laquoo trabalho mental complexo e difiacutecil como Vygotsky caracterishyzou a percepccedilatildeo artiacutestica natildeo atrai toda a gente A vontade que muitos tecircm de se libertarem de esforccedilos mentais eacute ainda mais forte do que o esforccedilo para minimizar o trabalho fiacutesico Soacute uma minoria criativa () natildeo evita e ateacute prefere e aprecia a complexidade (ver por exemplo May 1975)

O que acontece se um receptor natildeo se sente com vontade de fazer este quando se depara com uma gama completa de produccedilotildees artiacutesticas Os

esquemas prinlIacutetivos de percepccedilatildeo reduzem o esforccedilo exigido indo buscar aos estratos mais simples o enredo e o laquotrajecto emocionah A maior parte dos livros fUmes peccedilas de teatro que se inserem na esferJ de verdadeira arte salvo algum trabalho experimental de avant-garde contecircm estes estratos que mal podem competir a estes niacuteveis com os thrillers de massas novelas de acccedilatildeo e romance e filmes Um receptor que jamais procura qualquer coisa para aleacutem do enredo e das tem muito poucas hipoacuteteses de colher algo mais proshyfundo - digamos significado ou prazer do estilo A actividade mental da pershycepccedilatildeo artiacutestica eacute substituiacuteda neste caso pela aplicaccedilatildeo passiva de simples esquemas mentais em que todo o processo da percepccedilatildeo eacute atalhado e reduzido Seria correcto designar este processo por quase-percepccedilatildeo O receptor natildeo se

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esforccedila por adquirir nada de novo Pelo contraacuterio ele quer reconhecer algo bem conhecido de modo a identificar a projecccedilatildeo das suas atitudes valores vonshy

tades e sonhos natildeo realizados e nada mais A quase-percepccedilatildeo daacute origem agrave quase-arte Se os puacuteblicos massivos de

leitores ou espectadores soacute precisam de um enredo excitante e de fortes emoccedilotildees todo o resto eacute inuacutetil Basta fazer o enredo o mais vibrante e emoshycionalmente intenso possiacutevel sem nada de mais profundo que se eacute bem-suceshydido Pode mesmo ter-se ecircxito com obras claacutessicas produzindo um resumo ou puro enredo extraiacutedos de um livro Os leitores de histoacuterias de intriga sentem-se felizes por lerem resumos porque eacute tudo o que precisam

A cultura industrial de massas baseia-se no princiacutepio do reconhecimento na aplicaccedilatildeo de estereoacutetipos automaacuteticos de plug-and-play da percepccedilatildeo enquanto uma obra de verdadeira arte laquo eacute criada intencionalmente para romper com os automatismos perceptuais e eacute feita especialmente de modo que a pershycepccedilatildeo paacutera nela atingindo a sua forccedila e duraccedilatildeo maacuteximas)) (Shklovsky 1966 p 343) Gostaria de acrescentar o criteacuterio de verdadeira arte que tirei da minha proacutepria experiecircncia como laquoconsumidoDgt de arte o cerne de uma obra de vershydadeira arte - o seu significado - natildeo eacute dado directamente e requerem vez disso que se transcenda a narrativa A quase-arte industrial natildeo tem qualquer outro conshyteuacutedo e significado excepto o que eacute directamente dito eou representado

A quase-arte natildeo exerce qualquer efeito na personalidade a natildeo ser agradar ou chocar as emoccedilotildees Podemos definir a distinccedilatildeo entre quase-arte e verdadeira arte em termos da seguinte dicotomia arte para as emoccedilotildees versus arte para a personalidade (Leontiev 1992) A arte para as emoccedilotildees natildeo conteacutem novOS significados Proporciona reconhecimento em vez de cogniccedilatildeo Nenhum receptor pode receber deste tipo de arte senatildeo prazer emocional transitoacuterio (ou outras emoccedilotildees) O encontro com a quase-arte eacute semelhante a uma aventura passageira de uma noite

A quase-arte por sua vez produz quase-puacuteblicos Bertoid Brecht observou uma vez que a falta de gosto das massas estaacute mais profundamente enraizada na realidade do que o gosto dos intelectuais A quase-arte natildeo carece apenas de efeitos de desenvolvimento mas mais do que isso conserva uma visatildeo do mundo e a personalidade em geral impedindo a capacidade humana de mudar de haver desenvolvimento pessoal e adaptaccedilatildeo criativa ao mundo em transformaccedilatildeo

Seja em que circunstacircncias for a quase-percepccedilatildeo natildeo eacute perversa A necesshysidade recreativa eacute inerente a todos os seres humanos Mesmo intelectuais altamente criativos e esteticamente competentes usam a quase-arte para satisshyfazer esta necessidade e por vezes a quase-arte desempenha esta funccedilatildeo com mais eficaacutecia do que a verdadeira arte Toma-se perversa quando toma o lugar de verdadeira arte para muitas pessoas que natildeo conhecem outra forma de arteraquo e acreditam que eacute verdadeira arte As caracteriacutesticas deste quase-puacuteblico satildeo a rejeiccedilatildeo de Qualauer actividade mental em encontros com a arte o hedonismo

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a procura do prazer sem a prontidatildeo para recQnhecer o que jaacute eacute bem conhecido a rejeiccedilatildeo do novo a absolutizaccedilatildeo das proacuteprias opiniotildees e juiacutezos (que as massas partilham) Este quase-puacuteblico produz uma quase-percepccedilatildeo encerrando assim o ciacuterculo que se auto-sustenta e que alimenta a tendecircncia c1e fazer com que a verdadeira arte morra de sua proacutepria morte

Funccedilotildees da Arte e Educaccedilatildeo Esteacutetica

Nas secccedilotildees anteriores olhaacutemos para os problemas dos sistemas de ensino de Esteacutetica atraveacutes do prisma das necessidades individuais emiddot maneiras de lidar com a arte Eacute agora altura de inverter este ponto de vista e de olhar para as necessidades e especificidades individuais atraveacutes do prisma das tarefas e cateshygorias da Educaccedilatildeo Esteacutetica

Faz sentido deste ponto de vista incluir toda a diversidade de funccedilotildees psicoloacutegicas que a arte preenche em conjunto com os beneficios psicoloacutegicos que promete e oferece a trecircs grandes grupos de acordo com o principal efeito que eacute suposto resultar do encontro recreaccedilatildeo socializaccedilatildeo e desenvolvimento pessoal Embora estas trecircs funccedilotildees possam coexistir em produccedilotildees artiacutesticas existem tipos especiais de arte em que algumas delas predominam de um modo evidente

A funccedilatildeo da recreaccedilatildeo estaacute associada agraves necessidades psicoloacutegicas baacutesicas sendo a recreaccedilatildeo necessaacuteria a todos os seres humanos A maior parte dos tipos geacuteneros e estilos de arte conteacutem uma componente recreativa mais ou menos evidente porque a arte sempre pertenceu agrave esfera da livre actividade indepenshydentemente de quaisquer deveres sociais ou profissionais Especialmente bemshy-sucedida em cumprir esta funccedilatildeo recreativa eacute todavia a quase-arte industrial porque prossegue apenas este objectivo atraveacutes do caminho mais curto possiacuteshyvel A cultura de massas de hoje em dia tem assim tendecircncia para acentuar demasiadamente os aspectos recreativos da arte os que transformam os objecshytos de arte em ecircxitos com um elevado valor de mercado excluindo todos os outros geacuteneros de esforccedilos mentais A funccedilatildeo recreativa da arte eacute muito mais procurada do que qualquer outro tipo e estaacute disponiacutevel para todos A aborshydagem da arte como um instrumento recreativo natildeo requer pois educaccedilatildeo porque o mundo dos objectos quase-arte recreativos adapta-se perfeishytamente ao niacutevel mais baixo (zero) de educaccedilatildeo e de competecircncia esteacutetica

A arte de orientaccedilatildeo socializante fornece informaccedilatildeo sobre o mundo sobre os valores culturais e normas sobre padrotildees de comportamento e modeshylos de identidade pessoaL As tarefas de socializaccedilatildeo satildeo compatiacuteveis tanto com a cultura de massas como com a arte superiorraquo Haacute anos designava-se a Literatura por o livro escolar da vidaraquo mas actualmente as pessoas obtecircm mais conhecimento sobre a vida a partir de histoacuterias de detectives e filmes de

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do que da arte superiofl natildeo obstante as artes visuais se poderem chamar laquooficinas da maneira como verraquo Uma vez que esta funccedilatildeo natildeo pressupotildee um eleshyvarlo niacutevel de competecircncia tem naturalmente menos procura A maior parte das pessoas prefere aprender de outras fontes Esta funccedilatildeo natildeo eacute especiacutefica da arte os jornais satildeo mais eficazes para atingir este objectivuuml A educaccedilatildeo releshyvante para esta funccedilatildeo eacute a educaccedilatildeo geral tradicional em vez da educaccedilatildeo

esteacutetica A arte orientada para o desenvolvimento pessoal pelo contraacuterio quebra

normas e clicheacutes confere novOS significados e novas maneiras de ver e de avaliar a realidade A arte orientada para o desenvolvimento pressupotildee e exige frequentemente um elevado niacutevel de competecircncia esteacutetica assim como motishyvaccedilatildeo para fazer determinado trabalho mental no decorrer da interacccedilatildeo com a arte Exige muito e promete muito ao mesmo tempo As recompensas que se recebem de profundos encontros com a verdadeira arte jamais se podem alcanccedilar de outro modo Todavia apenas uma minoria de um puacuteblico potencial consegue compreender e apreciar esta promessa a promessa do significado Eacute aqui que reside o objectivo mais importante da educaccedilatildeo esteacutetica No entanto para nos tornarmos conscientes deste objectivo e aceitaacute-lo temos primeiro de perceber as diferenccedilas entre os efeitos da arte e a quase-arte a niacuteveis diferentes de encontros que temos com elas Na medida em que a Educaccedilatildeo visa o desenshyvolvimento pessoal torna-se antagocircnica da cultura comercial de massas na luta

pela dimensatildeo humana noS seres humanos

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1 145

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Page 8: EDUCAÇÃO ESTÉTICA E ARTÍSTICA

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QUADRO I

Estrateacutegias de descriccedilotildees livres c criteacuterios para sua identificaccedilatildeo

UTERATITRA PINTIJRA

Emocional Emocional (palavras e juiacutezos que contecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral dos livros como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata do livro)

Orientaccedileiacuteo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Analiacutetica Quiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico de arte uma anaacutelise

I I laquocondescendente usando

termos profissionais de criacutetica literaacuteria)

~ IEStiliacutestica referindo-se

~ y~ ___~~s do estilo linguagem forma esteacutetica do livro)

-

De siacutentese Quiacutezos que expressam a idela geral do livro o seu significado ou moral)

Interpretativa (Juiacutezos sobre problemas pessoais sociais e filosoacuteficos de caraacutecter geral relacionados por associaccedilatildeo ao conteuacutedo do livro)

Orientada para () autor (Juiacutezos relacionados com a posiccedilatildeo do autor em vez de se relacionarem com () livro em si comparaccedilatildeo com outros autores e outras obras do mesmo autor)

(Palavras e juiacutezos transmitem sensaccediloes e sentimentos provocados pelo quadro sua avaliaccedilatildeo geral emocionaL)

Orientaccedilc1o (Palavras descrevem as pinturas como uma peccedila de vida real uma situaccedilatildeo desenvolvida no tempo)

-k Estiliacutestica juiacutezos referindo-se esquemas artiacutesticos a sua funccedilatildeo o peculiaridades

De siacutentese (Interpretaccedilatildeo do conteuacutedo do quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Associativa (Associaccedilotildees sobre diferentes temas provocadas pelo quadro e seu significado pensamentos e sentimentos das personagens)

Orientada jJara o autor (Palavras de juiacutezos indicando a intenccedilatildeo estado psicoloacutegico e contexto biogratildefico do autor)

136

TEATRO

Emocional (Palavras e juiacutezos que conshytecircm uma avaliaccedilatildeo emocional geral da peccedila como um todo ou dos seus aspectos e impressatildeo imediata da peccedila)

Orientaccedilatildeo para o enredo (Descriccedilatildeo das acccedilotildees da personagem sucessatildeo de eventos enredo narrativa)

Tecnoloacutegica (Juiacutezos feitos como se do ponto de vista de um criacutetico do teatro avaliaccedilatildeo da encenaccedilatildeo trabalho do produtor e do actor meios expressivos)

I De siacutentese (Associaccedilotildees sobre questotildees do dia a dia pessoais filosoacuteficas suscitadas pela peccedila)

Associativa (Associaccedilotildees sobre questotildees do diacutea-a-dia pessoais filosoacutel1cas suscitadas pela

I peccedila)

(Continua)

UTERATURA

Fragmentada (Descriccedilatildeo de um episoacutedio ou episoacutedios distintos sem ligaccedilatildeo loacutegica entre si)

Enumemtiva (Enumerando uma lista de toacutepicos ou idelas de que trata o livro)

Orientada para as personagens (Descriccedilatildeo de uma personagem (personagens) os selLS traccedilos pensamentos feitos e expressotildees)

lmpressiva (Descriccedilatildeo de algum impacto que transcende a resposta emocional imediata das mudanccedilas na visatildeo do mundo e na personalidade suscitada pelo livro)

PINTIJRA

lmpressiva (Palavras e juiacutezos que descrevem o impacto concreto do quadro e os seus pormenores distintos)

Graacutefica (Palavras e apresentando o quadro como um quadro emoldurado sua descriccedilatildeo do ponto de vista de um espectador passivo)

Cultural (Palavras e juiacutezos que caracterizam o quadro contexto cultural mencionado outros autores e outras obras do mesmo autor)

Metafoacuterica (Descriccedilotildees usando metaacuteforas siacutembolos e comparaccedilotildees )

137

TEATRO

introspectiva (Anaacutelise dos proacutepdos estados e experiecircncias suscitada pela peccedila)

Espaccedilo do teatro (Juiacutezos sobre a atmosfera interior eventos que ocorrem fora do palco no aacutetrio do teatro)

nlstoncas ou esteacuteticas) do autor etc)

Pessoal (Relacionado a peccedila

I ~ ~ntexto da b ~rs~~alidade

-ri se--~ -J --~~ ecirc~ ~-~~

5 - Culturalde orientaccedilatildeo para o autor 6 Associativainterpretativa 7 - Impressivaintrospectiva

Natildeo noS eacute possiacutevel apresentar aqui em detalhe todos os dados relevantes O que eU gostaria de fazer eacute discutir a natureza destas estrateacutegias AQIIacute1l5ira euroJ 1shyfase da interacccedilatildeo de uma pessoa com uma obra de arte eacute a reconstruccedilatildeo menshytal dessa obra a transiccedilatildeo mental do mundo real de objectos materiatildei$(comO o livro que estou a ler neste momento) para o mundo de ficccedilatildeo de imagens artiacutesshyticas de ficccedilatildeo reconstruiacutedas atraveacutes dos meus mecanismos mentais a partir de letratildeS impressas ~Patildepecirc[de pontos coloridos numa teIa ou de pessoas a moverem-se e a falar num palco de teatro Os nossos estudOs de livre descriccedilatildeo ~ tornam evidente que essa prossegue em assuntos dilerentes de diferentes maneiras e conduz a resultados diferentes Os autores alematildees introshyduziram o conceito de Kommunikat para caracterizar este resultado de reconsshytruccedilatildeo mental do mundo de um livro que eacute o primeiro resultado imediato da leitura de seguida as respostas e impressotildees do leitor referem-se ao Kommunikat em vez de se referirem ao livro original (Viehoff 1992) Existem maneiras diferentes de construir o Kommunikat do mesmo livro ou de outra produccedilatildeo artiacutestica e as estrateacutegias aacutee livre descriccedilatildeo reflectem suponho eu estas variaccedilotildees AlgumaSECcedilQ~em a narrativa outras emoccedilotildees outras n~dos outras o contexto cultural ou~~~~s proacuteprias impJs~~2-e~c5~lltras ainda as capacidades teacutecnicas e descobertas do autor Qual destas estrateacutegias ~ estaacute laquocertaraquo IDe 52ygaltpestatildeo leYanta-~e sobre o que ensinar Eu recomenshydari ensiDilr toda~~~m2~~~LQsectQh9JLPordfriacutel yerllJII obra de arte dentro ~ltgt~~s_rr~_~~~~~i~Ccedil~PJ~f9~~tSfisectmiddotJia realiqade ~dasssectgordf~ga~ Esectlt~~ ()~~na~~s~~o longo dest dimensatildeo quantitativa com bastante precisatildeo A variedade qualitativa soacute pode ser adequadamente tratada em termos de estruturas da actividade mental do suieito na

construccedilatildeo do Kommunikat

Percepccedilatildeo artiacutestica como actividade mental - 0~~~Ccedil ~

( A ideia de que a percepccedilatildeo artiacutestica eacute um tipo de actividade mental comshy) plicada e natildeo um processo automaacutetico eacute uma consequecircncia do postulado da natureza criativa comum d~~ecfiGlordfOtilde) artiacutesticas U-~_~Jii ~melhanccedila estrutural como tambeacutem da SlIa semclb3nccedilmiddota jnt~ca O t$m de ser congenial com o poeta e ao percepcionar a obra de arte eacute como se a cecriasse de noyo Pndemos pois definir o processo de percepccedilatildeo comoo processo restituiacutedo e reproduzido de criaccedilatildeoraquo (Vygotsky 1926 p 255 cf Hoege 1997) Uma das mais importantes desta conceptualizaccedilatildeo da pershy

cepccedilatildeo esteacutetica eacute a conviccatildeo ~ordfde interna ccedilgmplexa Qimeiro passo Esta ideia (Vygotsky 1926) no capiacutetulo sobre - o menos conhecido dos seus escritos Nesta obra ele virou-se psicoloacutegica (le encontro~ entre a arte e JSJ2~sectsect9jsect~rbais Ele declarou que ~ toda a gente consegue s2mJ2~ltend~r l~la obra de arte e o processo da pershy

cepccedilatildeo artiacutestica eacute unCYt$QlJl~ntordfLfQmpl~~2~S~~ficTI-(I61atilde p Z5i)lomo ele explicou o conteuacutedo deste trabalho desta actividade mental permanecemL desconhecidas ~ aRenas evident~q~-(e~~Sllll_aordfCcedil1~yjpordfd~~ltEU~g~shylllif[l~mplexa que eacute desempenhada por um espectador ou ouvinte que constroacutei e cria um objecto esteacutetico com base nas impressotildees externas dadas Todas as suas respostas subsequentes referem-se apenas a este objecto Com efeito um quadro eacute apenas uma peccedila rectangular de tela com um determinado nuacutemero de cores Quando o espectador interpreta esta tela e estas cores como um retrato de um homem de determinado objecto ou de um evento este comshyplexo trabalho de transformar a tela colorida no quadro eacute inteiramente feito pela mente do observadorraquo (ibid p 252) Vemos aqui bastante claramente o protoacutetipo da ideia do Kommunikat acima referido Todavia as ideias teoacuterishycas de Vygotsky natildeo foram exploradas nos estudos emDIacutericos a natildeo ser haacute pouco tempo

Mais tarde a ideia das caracteriacutesticas activas da percepccedilatildeo artiacutestica foi repetida pelo filoacutesofo Valentine Asmous (1961) Asmous afirmou que uma imagem artiacutestica complexa produz inevitavelmente variaccedilotildees individuais na sua compreensatildeo e avaliaccedilatildeo Contudo natildeo representa o caraacutecter subjectivo da pershycepccedilatildeo esteacutetica Pelo contraacuterio lima verdadeira obra de arte tem um conteuacutedo objectivo profundo independentemente das eventuais impressotildees do receptor Poreacutem soacute atraveacutes da actividade interna complexa do leitor ou do espectador eacute que este conteuacutedo objectivo se pode tambeacutem transformar no conteuacutedo da sua mente Nesta actividade criativa ela consciecircncia o leitor ou espectador segue o caminho traccedilado pelo autor recriando o conteuacutedo impliacutecito de uma obra de arte atraveacutes de linhas de orientaccedilatildeo expliacutecitas contidas na obra laquoDois leitores que se deparam com a mesma obra literaacuteria podem comparar-se a dois marishynheiros que atiram as suas sondas no oceano A profundidade que atinge cada um natildeo excederaacute o comprimento da sua sondaraquo (Asmous 1961 p

A inovaccedilatildeo contudo estava associada agrave ideia da abordagem da Teoria da Actividade em Psicologia (Leontiev 1983) desenvolvida com base na abordagem hiacutestoacuterico-cultural de Vygotsky isto eacute que em os processos mentais humanos natildeo resultam apenas de funccedilotildees externas conforme Vygotsky mas tambeacutem mantecircm as caracteriacutesticas activas e a estrutura activa intactas embora reduzidas mas restauraacuteveis Durante o periacuteodo compreendido entre 1930 e 1970 a abordagem da Teoria da Actividade russa aplicou o conshy

138 139

~

ceito de actividade mental apenas aos processos cognitivos enquanto nas uacuteltishymas duas deacutecadas se tem feito muito para revelar vaacuterias estrutUl~JS de actividade de processos complexos de experiecircncia e de transformaccedilotildees do sentido pesshysoal Verificou-se especialmente um progresso notaacutevel no acircmbito da teoria psicoloacutegica e investigaccedilatildeo experimental da arte como um instrumento (ou o instrumento) para formar a personalidade humana mudando as suas estruturas psico loacutegicas

Satildeo dignos de mencionar vaacuterios estudos experimentais que tecircm obtido ecircxito em demonstrar a possibilidade de desenvolvimento das capacidades para compreender diferentes gecircneros de arte com a ajuda de meacutetodos especiais elaborados com base nas caracteriacutesticas de actividade dos processos de pershycepccedilatildeo e compreensatildeo artiacutesticas Como exemplo referirei os estudos realizados por V Guruzhapov (1983) sobre artes visuais E Bodrova (1984) e R Karakozov (1991 1994 1997) sobre literatura

V Guruzhapov (1983) fez a distinccedilatildeo entre diferentes niacuteveis de comshypreensatildeo artiacutestica em crianccedilas na idade escolar entre os 7 e 9 anos de idade procurando depois acelerar o desenvolvimento das aptidotildees correspondentes usando teacutecnicas especiais baseadas na actividade As diferenccedilas de niacutevel na comshypreensatildeo artiacutestica foram definidas em termos de capacidade para compreender uma obra de arte como um todo integrado e diferenciado (10 niacutevel) como um todo natildeo-diferenciado (2 0 niacutevel) ou como um conjunto de elementos (3 0 niacutevel) 92 dos sujeitos corresponderam de iniacutecio ao terceiro niacutevel O proshycesso de ensino usado no grupo experimental incluiacutea o desenvolvimento da capacidade da crianccedila para integrar diferentes partes do quadro reconsshytruindo a intenccedilatildeo do pintor e para perceber a paleta de cores usada no qlladro como expressando determinada imagem integrada Gllruzhapov concluiu que foi possiacutevel desenvolver em crianccedilas dos 7 aos 9 anos de idade a capacidade de compreender inlagens complexas caracteriacutesticas da arte laquoadultaraquo

E Bodrova (1984) investigou a compreensatildeo de textos literaacuterios por crianshyccedilas em idade preacute-escolar entre os 5 e 7 anos de idade Este processo foi definido em termos de construccedilatildeo do significado e do sentido do texto em contextos pessoais e outros E Bodrova adiantou a hipoacutetese que a causa das maacutes intelpreshytaccedilotildees dos textos estava relacionada com uma estrutura relativamente comshyplexa das relaccedilotildees entre as personagens e as suas as quais se podem todas encontrar na inadequaccedilatildeo da estrutura da compreensatildeo do sentido mais do que na falta de conhecimento das suas relaccedilotildees O ponto mais difiacutecil de comshypreensatildeo para os sujeitos pareceu ser a dinacircmica do estado interior das persoshynagens e as possibilidades alternativas das suas acccedilotildees em diferentes situaccedilotildees que precisam de ser tomadas em consideraccedilatildeo para se poder compreender o sentido das suas verdadeiras acccedilotildees O processo de ensino incluiacutea um diaacutelogo especial com os sujeitos e experimentaccedilatildeo com o texto isto eacute diferentes transformaccedilotildees da narrativa propostas pelo experimentador Este processo

140

aprofundou significativamente a compreensatildeo do significado das acccedilotildees das personagens e do conjunto do texto pelos sujeitos Esta capacidade manifesshytou-se tambeacutem na anaacutelise de textos desconhecidos

R Karakozov (199119941997) estudou a compreensatildeo do significado e sentido pessoal de obras literaacuterias por estudantes universitaacuterios Ele conseguiu destacar determinadas estruturas riacutetmicas na organizaccedilatildeo espaccedilo-temporal de obras comuns (M Proust W Faulkner) Ele designou-as segundo M Bakhtin estruturas cronotoacutepicas e provou que a actividade interna de reconstmccedilatildeo destas estruturas eacute um preacute-requisito indispensaacutevel para a compreensatildeo adeshy

do significado e sentido da obra como um todo Revelou tambeacutem um sistema de operaccedilotildees mentais consideradas como base da actividacle interna da compreensatildeo da prosa e elaborou o procedimento de ensino designado laquoo modelo de leitura cronotoacutepicall Este procedimento provou tambeacutem ser altamente eficaz no aprofundamento da compreensatildeo do significado e sentido de obras comuns (A Pushkin A Chekhov) pelos sujeitos

Voltando de novo agrave questatildeo O que ensinarraquo jaacute podemos formulaacute-Ia da seguinte maneira devemos desenvolver as estruturas da actividade mental da percepccedilatildeo artiacutestica Estas estruturas incluem uma hierarquia de objectivos e operaccedilotildees mentais alicerccediladas em mecanismos reguladores baseados no senshytido pessoal

Cultura de massas o caminho de menor resistecircncia

Todavia laquoo trabalho mental complexo e difiacutecil como Vygotsky caracterishyzou a percepccedilatildeo artiacutestica natildeo atrai toda a gente A vontade que muitos tecircm de se libertarem de esforccedilos mentais eacute ainda mais forte do que o esforccedilo para minimizar o trabalho fiacutesico Soacute uma minoria criativa () natildeo evita e ateacute prefere e aprecia a complexidade (ver por exemplo May 1975)

O que acontece se um receptor natildeo se sente com vontade de fazer este quando se depara com uma gama completa de produccedilotildees artiacutesticas Os

esquemas prinlIacutetivos de percepccedilatildeo reduzem o esforccedilo exigido indo buscar aos estratos mais simples o enredo e o laquotrajecto emocionah A maior parte dos livros fUmes peccedilas de teatro que se inserem na esferJ de verdadeira arte salvo algum trabalho experimental de avant-garde contecircm estes estratos que mal podem competir a estes niacuteveis com os thrillers de massas novelas de acccedilatildeo e romance e filmes Um receptor que jamais procura qualquer coisa para aleacutem do enredo e das tem muito poucas hipoacuteteses de colher algo mais proshyfundo - digamos significado ou prazer do estilo A actividade mental da pershycepccedilatildeo artiacutestica eacute substituiacuteda neste caso pela aplicaccedilatildeo passiva de simples esquemas mentais em que todo o processo da percepccedilatildeo eacute atalhado e reduzido Seria correcto designar este processo por quase-percepccedilatildeo O receptor natildeo se

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esforccedila por adquirir nada de novo Pelo contraacuterio ele quer reconhecer algo bem conhecido de modo a identificar a projecccedilatildeo das suas atitudes valores vonshy

tades e sonhos natildeo realizados e nada mais A quase-percepccedilatildeo daacute origem agrave quase-arte Se os puacuteblicos massivos de

leitores ou espectadores soacute precisam de um enredo excitante e de fortes emoccedilotildees todo o resto eacute inuacutetil Basta fazer o enredo o mais vibrante e emoshycionalmente intenso possiacutevel sem nada de mais profundo que se eacute bem-suceshydido Pode mesmo ter-se ecircxito com obras claacutessicas produzindo um resumo ou puro enredo extraiacutedos de um livro Os leitores de histoacuterias de intriga sentem-se felizes por lerem resumos porque eacute tudo o que precisam

A cultura industrial de massas baseia-se no princiacutepio do reconhecimento na aplicaccedilatildeo de estereoacutetipos automaacuteticos de plug-and-play da percepccedilatildeo enquanto uma obra de verdadeira arte laquo eacute criada intencionalmente para romper com os automatismos perceptuais e eacute feita especialmente de modo que a pershycepccedilatildeo paacutera nela atingindo a sua forccedila e duraccedilatildeo maacuteximas)) (Shklovsky 1966 p 343) Gostaria de acrescentar o criteacuterio de verdadeira arte que tirei da minha proacutepria experiecircncia como laquoconsumidoDgt de arte o cerne de uma obra de vershydadeira arte - o seu significado - natildeo eacute dado directamente e requerem vez disso que se transcenda a narrativa A quase-arte industrial natildeo tem qualquer outro conshyteuacutedo e significado excepto o que eacute directamente dito eou representado

A quase-arte natildeo exerce qualquer efeito na personalidade a natildeo ser agradar ou chocar as emoccedilotildees Podemos definir a distinccedilatildeo entre quase-arte e verdadeira arte em termos da seguinte dicotomia arte para as emoccedilotildees versus arte para a personalidade (Leontiev 1992) A arte para as emoccedilotildees natildeo conteacutem novOS significados Proporciona reconhecimento em vez de cogniccedilatildeo Nenhum receptor pode receber deste tipo de arte senatildeo prazer emocional transitoacuterio (ou outras emoccedilotildees) O encontro com a quase-arte eacute semelhante a uma aventura passageira de uma noite

A quase-arte por sua vez produz quase-puacuteblicos Bertoid Brecht observou uma vez que a falta de gosto das massas estaacute mais profundamente enraizada na realidade do que o gosto dos intelectuais A quase-arte natildeo carece apenas de efeitos de desenvolvimento mas mais do que isso conserva uma visatildeo do mundo e a personalidade em geral impedindo a capacidade humana de mudar de haver desenvolvimento pessoal e adaptaccedilatildeo criativa ao mundo em transformaccedilatildeo

Seja em que circunstacircncias for a quase-percepccedilatildeo natildeo eacute perversa A necesshysidade recreativa eacute inerente a todos os seres humanos Mesmo intelectuais altamente criativos e esteticamente competentes usam a quase-arte para satisshyfazer esta necessidade e por vezes a quase-arte desempenha esta funccedilatildeo com mais eficaacutecia do que a verdadeira arte Toma-se perversa quando toma o lugar de verdadeira arte para muitas pessoas que natildeo conhecem outra forma de arteraquo e acreditam que eacute verdadeira arte As caracteriacutesticas deste quase-puacuteblico satildeo a rejeiccedilatildeo de Qualauer actividade mental em encontros com a arte o hedonismo

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a procura do prazer sem a prontidatildeo para recQnhecer o que jaacute eacute bem conhecido a rejeiccedilatildeo do novo a absolutizaccedilatildeo das proacuteprias opiniotildees e juiacutezos (que as massas partilham) Este quase-puacuteblico produz uma quase-percepccedilatildeo encerrando assim o ciacuterculo que se auto-sustenta e que alimenta a tendecircncia c1e fazer com que a verdadeira arte morra de sua proacutepria morte

Funccedilotildees da Arte e Educaccedilatildeo Esteacutetica

Nas secccedilotildees anteriores olhaacutemos para os problemas dos sistemas de ensino de Esteacutetica atraveacutes do prisma das necessidades individuais emiddot maneiras de lidar com a arte Eacute agora altura de inverter este ponto de vista e de olhar para as necessidades e especificidades individuais atraveacutes do prisma das tarefas e cateshygorias da Educaccedilatildeo Esteacutetica

Faz sentido deste ponto de vista incluir toda a diversidade de funccedilotildees psicoloacutegicas que a arte preenche em conjunto com os beneficios psicoloacutegicos que promete e oferece a trecircs grandes grupos de acordo com o principal efeito que eacute suposto resultar do encontro recreaccedilatildeo socializaccedilatildeo e desenvolvimento pessoal Embora estas trecircs funccedilotildees possam coexistir em produccedilotildees artiacutesticas existem tipos especiais de arte em que algumas delas predominam de um modo evidente

A funccedilatildeo da recreaccedilatildeo estaacute associada agraves necessidades psicoloacutegicas baacutesicas sendo a recreaccedilatildeo necessaacuteria a todos os seres humanos A maior parte dos tipos geacuteneros e estilos de arte conteacutem uma componente recreativa mais ou menos evidente porque a arte sempre pertenceu agrave esfera da livre actividade indepenshydentemente de quaisquer deveres sociais ou profissionais Especialmente bemshy-sucedida em cumprir esta funccedilatildeo recreativa eacute todavia a quase-arte industrial porque prossegue apenas este objectivo atraveacutes do caminho mais curto possiacuteshyvel A cultura de massas de hoje em dia tem assim tendecircncia para acentuar demasiadamente os aspectos recreativos da arte os que transformam os objecshytos de arte em ecircxitos com um elevado valor de mercado excluindo todos os outros geacuteneros de esforccedilos mentais A funccedilatildeo recreativa da arte eacute muito mais procurada do que qualquer outro tipo e estaacute disponiacutevel para todos A aborshydagem da arte como um instrumento recreativo natildeo requer pois educaccedilatildeo porque o mundo dos objectos quase-arte recreativos adapta-se perfeishytamente ao niacutevel mais baixo (zero) de educaccedilatildeo e de competecircncia esteacutetica

A arte de orientaccedilatildeo socializante fornece informaccedilatildeo sobre o mundo sobre os valores culturais e normas sobre padrotildees de comportamento e modeshylos de identidade pessoaL As tarefas de socializaccedilatildeo satildeo compatiacuteveis tanto com a cultura de massas como com a arte superiorraquo Haacute anos designava-se a Literatura por o livro escolar da vidaraquo mas actualmente as pessoas obtecircm mais conhecimento sobre a vida a partir de histoacuterias de detectives e filmes de

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do que da arte superiofl natildeo obstante as artes visuais se poderem chamar laquooficinas da maneira como verraquo Uma vez que esta funccedilatildeo natildeo pressupotildee um eleshyvarlo niacutevel de competecircncia tem naturalmente menos procura A maior parte das pessoas prefere aprender de outras fontes Esta funccedilatildeo natildeo eacute especiacutefica da arte os jornais satildeo mais eficazes para atingir este objectivuuml A educaccedilatildeo releshyvante para esta funccedilatildeo eacute a educaccedilatildeo geral tradicional em vez da educaccedilatildeo

esteacutetica A arte orientada para o desenvolvimento pessoal pelo contraacuterio quebra

normas e clicheacutes confere novOS significados e novas maneiras de ver e de avaliar a realidade A arte orientada para o desenvolvimento pressupotildee e exige frequentemente um elevado niacutevel de competecircncia esteacutetica assim como motishyvaccedilatildeo para fazer determinado trabalho mental no decorrer da interacccedilatildeo com a arte Exige muito e promete muito ao mesmo tempo As recompensas que se recebem de profundos encontros com a verdadeira arte jamais se podem alcanccedilar de outro modo Todavia apenas uma minoria de um puacuteblico potencial consegue compreender e apreciar esta promessa a promessa do significado Eacute aqui que reside o objectivo mais importante da educaccedilatildeo esteacutetica No entanto para nos tornarmos conscientes deste objectivo e aceitaacute-lo temos primeiro de perceber as diferenccedilas entre os efeitos da arte e a quase-arte a niacuteveis diferentes de encontros que temos com elas Na medida em que a Educaccedilatildeo visa o desenshyvolvimento pessoal torna-se antagocircnica da cultura comercial de massas na luta

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nosti (The priciacuteple of reflected personhood in the psychologiacutecal study of personality) Voprosy Psikhologiiacute 417middot30

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Page 9: EDUCAÇÃO ESTÉTICA E ARTÍSTICA

-ri se--~ -J --~~ ecirc~ ~-~~

5 - Culturalde orientaccedilatildeo para o autor 6 Associativainterpretativa 7 - Impressivaintrospectiva

Natildeo noS eacute possiacutevel apresentar aqui em detalhe todos os dados relevantes O que eU gostaria de fazer eacute discutir a natureza destas estrateacutegias AQIIacute1l5ira euroJ 1shyfase da interacccedilatildeo de uma pessoa com uma obra de arte eacute a reconstruccedilatildeo menshytal dessa obra a transiccedilatildeo mental do mundo real de objectos materiatildei$(comO o livro que estou a ler neste momento) para o mundo de ficccedilatildeo de imagens artiacutesshyticas de ficccedilatildeo reconstruiacutedas atraveacutes dos meus mecanismos mentais a partir de letratildeS impressas ~Patildepecirc[de pontos coloridos numa teIa ou de pessoas a moverem-se e a falar num palco de teatro Os nossos estudOs de livre descriccedilatildeo ~ tornam evidente que essa prossegue em assuntos dilerentes de diferentes maneiras e conduz a resultados diferentes Os autores alematildees introshyduziram o conceito de Kommunikat para caracterizar este resultado de reconsshytruccedilatildeo mental do mundo de um livro que eacute o primeiro resultado imediato da leitura de seguida as respostas e impressotildees do leitor referem-se ao Kommunikat em vez de se referirem ao livro original (Viehoff 1992) Existem maneiras diferentes de construir o Kommunikat do mesmo livro ou de outra produccedilatildeo artiacutestica e as estrateacutegias aacutee livre descriccedilatildeo reflectem suponho eu estas variaccedilotildees AlgumaSECcedilQ~em a narrativa outras emoccedilotildees outras n~dos outras o contexto cultural ou~~~~s proacuteprias impJs~~2-e~c5~lltras ainda as capacidades teacutecnicas e descobertas do autor Qual destas estrateacutegias ~ estaacute laquocertaraquo IDe 52ygaltpestatildeo leYanta-~e sobre o que ensinar Eu recomenshydari ensiDilr toda~~~m2~~~LQsectQh9JLPordfriacutel yerllJII obra de arte dentro ~ltgt~~s_rr~_~~~~~i~Ccedil~PJ~f9~~tSfisectmiddotJia realiqade ~dasssectgordf~ga~ Esectlt~~ ()~~na~~s~~o longo dest dimensatildeo quantitativa com bastante precisatildeo A variedade qualitativa soacute pode ser adequadamente tratada em termos de estruturas da actividade mental do suieito na

construccedilatildeo do Kommunikat

Percepccedilatildeo artiacutestica como actividade mental - 0~~~Ccedil ~

( A ideia de que a percepccedilatildeo artiacutestica eacute um tipo de actividade mental comshy) plicada e natildeo um processo automaacutetico eacute uma consequecircncia do postulado da natureza criativa comum d~~ecfiGlordfOtilde) artiacutesticas U-~_~Jii ~melhanccedila estrutural como tambeacutem da SlIa semclb3nccedilmiddota jnt~ca O t$m de ser congenial com o poeta e ao percepcionar a obra de arte eacute como se a cecriasse de noyo Pndemos pois definir o processo de percepccedilatildeo comoo processo restituiacutedo e reproduzido de criaccedilatildeoraquo (Vygotsky 1926 p 255 cf Hoege 1997) Uma das mais importantes desta conceptualizaccedilatildeo da pershy

cepccedilatildeo esteacutetica eacute a conviccatildeo ~ordfde interna ccedilgmplexa Qimeiro passo Esta ideia (Vygotsky 1926) no capiacutetulo sobre - o menos conhecido dos seus escritos Nesta obra ele virou-se psicoloacutegica (le encontro~ entre a arte e JSJ2~sectsect9jsect~rbais Ele declarou que ~ toda a gente consegue s2mJ2~ltend~r l~la obra de arte e o processo da pershy

cepccedilatildeo artiacutestica eacute unCYt$QlJl~ntordfLfQmpl~~2~S~~ficTI-(I61atilde p Z5i)lomo ele explicou o conteuacutedo deste trabalho desta actividade mental permanecemL desconhecidas ~ aRenas evident~q~-(e~~Sllll_aordfCcedil1~yjpordfd~~ltEU~g~shylllif[l~mplexa que eacute desempenhada por um espectador ou ouvinte que constroacutei e cria um objecto esteacutetico com base nas impressotildees externas dadas Todas as suas respostas subsequentes referem-se apenas a este objecto Com efeito um quadro eacute apenas uma peccedila rectangular de tela com um determinado nuacutemero de cores Quando o espectador interpreta esta tela e estas cores como um retrato de um homem de determinado objecto ou de um evento este comshyplexo trabalho de transformar a tela colorida no quadro eacute inteiramente feito pela mente do observadorraquo (ibid p 252) Vemos aqui bastante claramente o protoacutetipo da ideia do Kommunikat acima referido Todavia as ideias teoacuterishycas de Vygotsky natildeo foram exploradas nos estudos emDIacutericos a natildeo ser haacute pouco tempo

Mais tarde a ideia das caracteriacutesticas activas da percepccedilatildeo artiacutestica foi repetida pelo filoacutesofo Valentine Asmous (1961) Asmous afirmou que uma imagem artiacutestica complexa produz inevitavelmente variaccedilotildees individuais na sua compreensatildeo e avaliaccedilatildeo Contudo natildeo representa o caraacutecter subjectivo da pershycepccedilatildeo esteacutetica Pelo contraacuterio lima verdadeira obra de arte tem um conteuacutedo objectivo profundo independentemente das eventuais impressotildees do receptor Poreacutem soacute atraveacutes da actividade interna complexa do leitor ou do espectador eacute que este conteuacutedo objectivo se pode tambeacutem transformar no conteuacutedo da sua mente Nesta actividade criativa ela consciecircncia o leitor ou espectador segue o caminho traccedilado pelo autor recriando o conteuacutedo impliacutecito de uma obra de arte atraveacutes de linhas de orientaccedilatildeo expliacutecitas contidas na obra laquoDois leitores que se deparam com a mesma obra literaacuteria podem comparar-se a dois marishynheiros que atiram as suas sondas no oceano A profundidade que atinge cada um natildeo excederaacute o comprimento da sua sondaraquo (Asmous 1961 p

A inovaccedilatildeo contudo estava associada agrave ideia da abordagem da Teoria da Actividade em Psicologia (Leontiev 1983) desenvolvida com base na abordagem hiacutestoacuterico-cultural de Vygotsky isto eacute que em os processos mentais humanos natildeo resultam apenas de funccedilotildees externas conforme Vygotsky mas tambeacutem mantecircm as caracteriacutesticas activas e a estrutura activa intactas embora reduzidas mas restauraacuteveis Durante o periacuteodo compreendido entre 1930 e 1970 a abordagem da Teoria da Actividade russa aplicou o conshy

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~

ceito de actividade mental apenas aos processos cognitivos enquanto nas uacuteltishymas duas deacutecadas se tem feito muito para revelar vaacuterias estrutUl~JS de actividade de processos complexos de experiecircncia e de transformaccedilotildees do sentido pesshysoal Verificou-se especialmente um progresso notaacutevel no acircmbito da teoria psicoloacutegica e investigaccedilatildeo experimental da arte como um instrumento (ou o instrumento) para formar a personalidade humana mudando as suas estruturas psico loacutegicas

Satildeo dignos de mencionar vaacuterios estudos experimentais que tecircm obtido ecircxito em demonstrar a possibilidade de desenvolvimento das capacidades para compreender diferentes gecircneros de arte com a ajuda de meacutetodos especiais elaborados com base nas caracteriacutesticas de actividade dos processos de pershycepccedilatildeo e compreensatildeo artiacutesticas Como exemplo referirei os estudos realizados por V Guruzhapov (1983) sobre artes visuais E Bodrova (1984) e R Karakozov (1991 1994 1997) sobre literatura

V Guruzhapov (1983) fez a distinccedilatildeo entre diferentes niacuteveis de comshypreensatildeo artiacutestica em crianccedilas na idade escolar entre os 7 e 9 anos de idade procurando depois acelerar o desenvolvimento das aptidotildees correspondentes usando teacutecnicas especiais baseadas na actividade As diferenccedilas de niacutevel na comshypreensatildeo artiacutestica foram definidas em termos de capacidade para compreender uma obra de arte como um todo integrado e diferenciado (10 niacutevel) como um todo natildeo-diferenciado (2 0 niacutevel) ou como um conjunto de elementos (3 0 niacutevel) 92 dos sujeitos corresponderam de iniacutecio ao terceiro niacutevel O proshycesso de ensino usado no grupo experimental incluiacutea o desenvolvimento da capacidade da crianccedila para integrar diferentes partes do quadro reconsshytruindo a intenccedilatildeo do pintor e para perceber a paleta de cores usada no qlladro como expressando determinada imagem integrada Gllruzhapov concluiu que foi possiacutevel desenvolver em crianccedilas dos 7 aos 9 anos de idade a capacidade de compreender inlagens complexas caracteriacutesticas da arte laquoadultaraquo

E Bodrova (1984) investigou a compreensatildeo de textos literaacuterios por crianshyccedilas em idade preacute-escolar entre os 5 e 7 anos de idade Este processo foi definido em termos de construccedilatildeo do significado e do sentido do texto em contextos pessoais e outros E Bodrova adiantou a hipoacutetese que a causa das maacutes intelpreshytaccedilotildees dos textos estava relacionada com uma estrutura relativamente comshyplexa das relaccedilotildees entre as personagens e as suas as quais se podem todas encontrar na inadequaccedilatildeo da estrutura da compreensatildeo do sentido mais do que na falta de conhecimento das suas relaccedilotildees O ponto mais difiacutecil de comshypreensatildeo para os sujeitos pareceu ser a dinacircmica do estado interior das persoshynagens e as possibilidades alternativas das suas acccedilotildees em diferentes situaccedilotildees que precisam de ser tomadas em consideraccedilatildeo para se poder compreender o sentido das suas verdadeiras acccedilotildees O processo de ensino incluiacutea um diaacutelogo especial com os sujeitos e experimentaccedilatildeo com o texto isto eacute diferentes transformaccedilotildees da narrativa propostas pelo experimentador Este processo

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aprofundou significativamente a compreensatildeo do significado das acccedilotildees das personagens e do conjunto do texto pelos sujeitos Esta capacidade manifesshytou-se tambeacutem na anaacutelise de textos desconhecidos

R Karakozov (199119941997) estudou a compreensatildeo do significado e sentido pessoal de obras literaacuterias por estudantes universitaacuterios Ele conseguiu destacar determinadas estruturas riacutetmicas na organizaccedilatildeo espaccedilo-temporal de obras comuns (M Proust W Faulkner) Ele designou-as segundo M Bakhtin estruturas cronotoacutepicas e provou que a actividade interna de reconstmccedilatildeo destas estruturas eacute um preacute-requisito indispensaacutevel para a compreensatildeo adeshy

do significado e sentido da obra como um todo Revelou tambeacutem um sistema de operaccedilotildees mentais consideradas como base da actividacle interna da compreensatildeo da prosa e elaborou o procedimento de ensino designado laquoo modelo de leitura cronotoacutepicall Este procedimento provou tambeacutem ser altamente eficaz no aprofundamento da compreensatildeo do significado e sentido de obras comuns (A Pushkin A Chekhov) pelos sujeitos

Voltando de novo agrave questatildeo O que ensinarraquo jaacute podemos formulaacute-Ia da seguinte maneira devemos desenvolver as estruturas da actividade mental da percepccedilatildeo artiacutestica Estas estruturas incluem uma hierarquia de objectivos e operaccedilotildees mentais alicerccediladas em mecanismos reguladores baseados no senshytido pessoal

Cultura de massas o caminho de menor resistecircncia

Todavia laquoo trabalho mental complexo e difiacutecil como Vygotsky caracterishyzou a percepccedilatildeo artiacutestica natildeo atrai toda a gente A vontade que muitos tecircm de se libertarem de esforccedilos mentais eacute ainda mais forte do que o esforccedilo para minimizar o trabalho fiacutesico Soacute uma minoria criativa () natildeo evita e ateacute prefere e aprecia a complexidade (ver por exemplo May 1975)

O que acontece se um receptor natildeo se sente com vontade de fazer este quando se depara com uma gama completa de produccedilotildees artiacutesticas Os

esquemas prinlIacutetivos de percepccedilatildeo reduzem o esforccedilo exigido indo buscar aos estratos mais simples o enredo e o laquotrajecto emocionah A maior parte dos livros fUmes peccedilas de teatro que se inserem na esferJ de verdadeira arte salvo algum trabalho experimental de avant-garde contecircm estes estratos que mal podem competir a estes niacuteveis com os thrillers de massas novelas de acccedilatildeo e romance e filmes Um receptor que jamais procura qualquer coisa para aleacutem do enredo e das tem muito poucas hipoacuteteses de colher algo mais proshyfundo - digamos significado ou prazer do estilo A actividade mental da pershycepccedilatildeo artiacutestica eacute substituiacuteda neste caso pela aplicaccedilatildeo passiva de simples esquemas mentais em que todo o processo da percepccedilatildeo eacute atalhado e reduzido Seria correcto designar este processo por quase-percepccedilatildeo O receptor natildeo se

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esforccedila por adquirir nada de novo Pelo contraacuterio ele quer reconhecer algo bem conhecido de modo a identificar a projecccedilatildeo das suas atitudes valores vonshy

tades e sonhos natildeo realizados e nada mais A quase-percepccedilatildeo daacute origem agrave quase-arte Se os puacuteblicos massivos de

leitores ou espectadores soacute precisam de um enredo excitante e de fortes emoccedilotildees todo o resto eacute inuacutetil Basta fazer o enredo o mais vibrante e emoshycionalmente intenso possiacutevel sem nada de mais profundo que se eacute bem-suceshydido Pode mesmo ter-se ecircxito com obras claacutessicas produzindo um resumo ou puro enredo extraiacutedos de um livro Os leitores de histoacuterias de intriga sentem-se felizes por lerem resumos porque eacute tudo o que precisam

A cultura industrial de massas baseia-se no princiacutepio do reconhecimento na aplicaccedilatildeo de estereoacutetipos automaacuteticos de plug-and-play da percepccedilatildeo enquanto uma obra de verdadeira arte laquo eacute criada intencionalmente para romper com os automatismos perceptuais e eacute feita especialmente de modo que a pershycepccedilatildeo paacutera nela atingindo a sua forccedila e duraccedilatildeo maacuteximas)) (Shklovsky 1966 p 343) Gostaria de acrescentar o criteacuterio de verdadeira arte que tirei da minha proacutepria experiecircncia como laquoconsumidoDgt de arte o cerne de uma obra de vershydadeira arte - o seu significado - natildeo eacute dado directamente e requerem vez disso que se transcenda a narrativa A quase-arte industrial natildeo tem qualquer outro conshyteuacutedo e significado excepto o que eacute directamente dito eou representado

A quase-arte natildeo exerce qualquer efeito na personalidade a natildeo ser agradar ou chocar as emoccedilotildees Podemos definir a distinccedilatildeo entre quase-arte e verdadeira arte em termos da seguinte dicotomia arte para as emoccedilotildees versus arte para a personalidade (Leontiev 1992) A arte para as emoccedilotildees natildeo conteacutem novOS significados Proporciona reconhecimento em vez de cogniccedilatildeo Nenhum receptor pode receber deste tipo de arte senatildeo prazer emocional transitoacuterio (ou outras emoccedilotildees) O encontro com a quase-arte eacute semelhante a uma aventura passageira de uma noite

A quase-arte por sua vez produz quase-puacuteblicos Bertoid Brecht observou uma vez que a falta de gosto das massas estaacute mais profundamente enraizada na realidade do que o gosto dos intelectuais A quase-arte natildeo carece apenas de efeitos de desenvolvimento mas mais do que isso conserva uma visatildeo do mundo e a personalidade em geral impedindo a capacidade humana de mudar de haver desenvolvimento pessoal e adaptaccedilatildeo criativa ao mundo em transformaccedilatildeo

Seja em que circunstacircncias for a quase-percepccedilatildeo natildeo eacute perversa A necesshysidade recreativa eacute inerente a todos os seres humanos Mesmo intelectuais altamente criativos e esteticamente competentes usam a quase-arte para satisshyfazer esta necessidade e por vezes a quase-arte desempenha esta funccedilatildeo com mais eficaacutecia do que a verdadeira arte Toma-se perversa quando toma o lugar de verdadeira arte para muitas pessoas que natildeo conhecem outra forma de arteraquo e acreditam que eacute verdadeira arte As caracteriacutesticas deste quase-puacuteblico satildeo a rejeiccedilatildeo de Qualauer actividade mental em encontros com a arte o hedonismo

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a procura do prazer sem a prontidatildeo para recQnhecer o que jaacute eacute bem conhecido a rejeiccedilatildeo do novo a absolutizaccedilatildeo das proacuteprias opiniotildees e juiacutezos (que as massas partilham) Este quase-puacuteblico produz uma quase-percepccedilatildeo encerrando assim o ciacuterculo que se auto-sustenta e que alimenta a tendecircncia c1e fazer com que a verdadeira arte morra de sua proacutepria morte

Funccedilotildees da Arte e Educaccedilatildeo Esteacutetica

Nas secccedilotildees anteriores olhaacutemos para os problemas dos sistemas de ensino de Esteacutetica atraveacutes do prisma das necessidades individuais emiddot maneiras de lidar com a arte Eacute agora altura de inverter este ponto de vista e de olhar para as necessidades e especificidades individuais atraveacutes do prisma das tarefas e cateshygorias da Educaccedilatildeo Esteacutetica

Faz sentido deste ponto de vista incluir toda a diversidade de funccedilotildees psicoloacutegicas que a arte preenche em conjunto com os beneficios psicoloacutegicos que promete e oferece a trecircs grandes grupos de acordo com o principal efeito que eacute suposto resultar do encontro recreaccedilatildeo socializaccedilatildeo e desenvolvimento pessoal Embora estas trecircs funccedilotildees possam coexistir em produccedilotildees artiacutesticas existem tipos especiais de arte em que algumas delas predominam de um modo evidente

A funccedilatildeo da recreaccedilatildeo estaacute associada agraves necessidades psicoloacutegicas baacutesicas sendo a recreaccedilatildeo necessaacuteria a todos os seres humanos A maior parte dos tipos geacuteneros e estilos de arte conteacutem uma componente recreativa mais ou menos evidente porque a arte sempre pertenceu agrave esfera da livre actividade indepenshydentemente de quaisquer deveres sociais ou profissionais Especialmente bemshy-sucedida em cumprir esta funccedilatildeo recreativa eacute todavia a quase-arte industrial porque prossegue apenas este objectivo atraveacutes do caminho mais curto possiacuteshyvel A cultura de massas de hoje em dia tem assim tendecircncia para acentuar demasiadamente os aspectos recreativos da arte os que transformam os objecshytos de arte em ecircxitos com um elevado valor de mercado excluindo todos os outros geacuteneros de esforccedilos mentais A funccedilatildeo recreativa da arte eacute muito mais procurada do que qualquer outro tipo e estaacute disponiacutevel para todos A aborshydagem da arte como um instrumento recreativo natildeo requer pois educaccedilatildeo porque o mundo dos objectos quase-arte recreativos adapta-se perfeishytamente ao niacutevel mais baixo (zero) de educaccedilatildeo e de competecircncia esteacutetica

A arte de orientaccedilatildeo socializante fornece informaccedilatildeo sobre o mundo sobre os valores culturais e normas sobre padrotildees de comportamento e modeshylos de identidade pessoaL As tarefas de socializaccedilatildeo satildeo compatiacuteveis tanto com a cultura de massas como com a arte superiorraquo Haacute anos designava-se a Literatura por o livro escolar da vidaraquo mas actualmente as pessoas obtecircm mais conhecimento sobre a vida a partir de histoacuterias de detectives e filmes de

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do que da arte superiofl natildeo obstante as artes visuais se poderem chamar laquooficinas da maneira como verraquo Uma vez que esta funccedilatildeo natildeo pressupotildee um eleshyvarlo niacutevel de competecircncia tem naturalmente menos procura A maior parte das pessoas prefere aprender de outras fontes Esta funccedilatildeo natildeo eacute especiacutefica da arte os jornais satildeo mais eficazes para atingir este objectivuuml A educaccedilatildeo releshyvante para esta funccedilatildeo eacute a educaccedilatildeo geral tradicional em vez da educaccedilatildeo

esteacutetica A arte orientada para o desenvolvimento pessoal pelo contraacuterio quebra

normas e clicheacutes confere novOS significados e novas maneiras de ver e de avaliar a realidade A arte orientada para o desenvolvimento pressupotildee e exige frequentemente um elevado niacutevel de competecircncia esteacutetica assim como motishyvaccedilatildeo para fazer determinado trabalho mental no decorrer da interacccedilatildeo com a arte Exige muito e promete muito ao mesmo tempo As recompensas que se recebem de profundos encontros com a verdadeira arte jamais se podem alcanccedilar de outro modo Todavia apenas uma minoria de um puacuteblico potencial consegue compreender e apreciar esta promessa a promessa do significado Eacute aqui que reside o objectivo mais importante da educaccedilatildeo esteacutetica No entanto para nos tornarmos conscientes deste objectivo e aceitaacute-lo temos primeiro de perceber as diferenccedilas entre os efeitos da arte e a quase-arte a niacuteveis diferentes de encontros que temos com elas Na medida em que a Educaccedilatildeo visa o desenshyvolvimento pessoal torna-se antagocircnica da cultura comercial de massas na luta

pela dimensatildeo humana noS seres humanos

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ceito de actividade mental apenas aos processos cognitivos enquanto nas uacuteltishymas duas deacutecadas se tem feito muito para revelar vaacuterias estrutUl~JS de actividade de processos complexos de experiecircncia e de transformaccedilotildees do sentido pesshysoal Verificou-se especialmente um progresso notaacutevel no acircmbito da teoria psicoloacutegica e investigaccedilatildeo experimental da arte como um instrumento (ou o instrumento) para formar a personalidade humana mudando as suas estruturas psico loacutegicas

Satildeo dignos de mencionar vaacuterios estudos experimentais que tecircm obtido ecircxito em demonstrar a possibilidade de desenvolvimento das capacidades para compreender diferentes gecircneros de arte com a ajuda de meacutetodos especiais elaborados com base nas caracteriacutesticas de actividade dos processos de pershycepccedilatildeo e compreensatildeo artiacutesticas Como exemplo referirei os estudos realizados por V Guruzhapov (1983) sobre artes visuais E Bodrova (1984) e R Karakozov (1991 1994 1997) sobre literatura

V Guruzhapov (1983) fez a distinccedilatildeo entre diferentes niacuteveis de comshypreensatildeo artiacutestica em crianccedilas na idade escolar entre os 7 e 9 anos de idade procurando depois acelerar o desenvolvimento das aptidotildees correspondentes usando teacutecnicas especiais baseadas na actividade As diferenccedilas de niacutevel na comshypreensatildeo artiacutestica foram definidas em termos de capacidade para compreender uma obra de arte como um todo integrado e diferenciado (10 niacutevel) como um todo natildeo-diferenciado (2 0 niacutevel) ou como um conjunto de elementos (3 0 niacutevel) 92 dos sujeitos corresponderam de iniacutecio ao terceiro niacutevel O proshycesso de ensino usado no grupo experimental incluiacutea o desenvolvimento da capacidade da crianccedila para integrar diferentes partes do quadro reconsshytruindo a intenccedilatildeo do pintor e para perceber a paleta de cores usada no qlladro como expressando determinada imagem integrada Gllruzhapov concluiu que foi possiacutevel desenvolver em crianccedilas dos 7 aos 9 anos de idade a capacidade de compreender inlagens complexas caracteriacutesticas da arte laquoadultaraquo

E Bodrova (1984) investigou a compreensatildeo de textos literaacuterios por crianshyccedilas em idade preacute-escolar entre os 5 e 7 anos de idade Este processo foi definido em termos de construccedilatildeo do significado e do sentido do texto em contextos pessoais e outros E Bodrova adiantou a hipoacutetese que a causa das maacutes intelpreshytaccedilotildees dos textos estava relacionada com uma estrutura relativamente comshyplexa das relaccedilotildees entre as personagens e as suas as quais se podem todas encontrar na inadequaccedilatildeo da estrutura da compreensatildeo do sentido mais do que na falta de conhecimento das suas relaccedilotildees O ponto mais difiacutecil de comshypreensatildeo para os sujeitos pareceu ser a dinacircmica do estado interior das persoshynagens e as possibilidades alternativas das suas acccedilotildees em diferentes situaccedilotildees que precisam de ser tomadas em consideraccedilatildeo para se poder compreender o sentido das suas verdadeiras acccedilotildees O processo de ensino incluiacutea um diaacutelogo especial com os sujeitos e experimentaccedilatildeo com o texto isto eacute diferentes transformaccedilotildees da narrativa propostas pelo experimentador Este processo

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aprofundou significativamente a compreensatildeo do significado das acccedilotildees das personagens e do conjunto do texto pelos sujeitos Esta capacidade manifesshytou-se tambeacutem na anaacutelise de textos desconhecidos

R Karakozov (199119941997) estudou a compreensatildeo do significado e sentido pessoal de obras literaacuterias por estudantes universitaacuterios Ele conseguiu destacar determinadas estruturas riacutetmicas na organizaccedilatildeo espaccedilo-temporal de obras comuns (M Proust W Faulkner) Ele designou-as segundo M Bakhtin estruturas cronotoacutepicas e provou que a actividade interna de reconstmccedilatildeo destas estruturas eacute um preacute-requisito indispensaacutevel para a compreensatildeo adeshy

do significado e sentido da obra como um todo Revelou tambeacutem um sistema de operaccedilotildees mentais consideradas como base da actividacle interna da compreensatildeo da prosa e elaborou o procedimento de ensino designado laquoo modelo de leitura cronotoacutepicall Este procedimento provou tambeacutem ser altamente eficaz no aprofundamento da compreensatildeo do significado e sentido de obras comuns (A Pushkin A Chekhov) pelos sujeitos

Voltando de novo agrave questatildeo O que ensinarraquo jaacute podemos formulaacute-Ia da seguinte maneira devemos desenvolver as estruturas da actividade mental da percepccedilatildeo artiacutestica Estas estruturas incluem uma hierarquia de objectivos e operaccedilotildees mentais alicerccediladas em mecanismos reguladores baseados no senshytido pessoal

Cultura de massas o caminho de menor resistecircncia

Todavia laquoo trabalho mental complexo e difiacutecil como Vygotsky caracterishyzou a percepccedilatildeo artiacutestica natildeo atrai toda a gente A vontade que muitos tecircm de se libertarem de esforccedilos mentais eacute ainda mais forte do que o esforccedilo para minimizar o trabalho fiacutesico Soacute uma minoria criativa () natildeo evita e ateacute prefere e aprecia a complexidade (ver por exemplo May 1975)

O que acontece se um receptor natildeo se sente com vontade de fazer este quando se depara com uma gama completa de produccedilotildees artiacutesticas Os

esquemas prinlIacutetivos de percepccedilatildeo reduzem o esforccedilo exigido indo buscar aos estratos mais simples o enredo e o laquotrajecto emocionah A maior parte dos livros fUmes peccedilas de teatro que se inserem na esferJ de verdadeira arte salvo algum trabalho experimental de avant-garde contecircm estes estratos que mal podem competir a estes niacuteveis com os thrillers de massas novelas de acccedilatildeo e romance e filmes Um receptor que jamais procura qualquer coisa para aleacutem do enredo e das tem muito poucas hipoacuteteses de colher algo mais proshyfundo - digamos significado ou prazer do estilo A actividade mental da pershycepccedilatildeo artiacutestica eacute substituiacuteda neste caso pela aplicaccedilatildeo passiva de simples esquemas mentais em que todo o processo da percepccedilatildeo eacute atalhado e reduzido Seria correcto designar este processo por quase-percepccedilatildeo O receptor natildeo se

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esforccedila por adquirir nada de novo Pelo contraacuterio ele quer reconhecer algo bem conhecido de modo a identificar a projecccedilatildeo das suas atitudes valores vonshy

tades e sonhos natildeo realizados e nada mais A quase-percepccedilatildeo daacute origem agrave quase-arte Se os puacuteblicos massivos de

leitores ou espectadores soacute precisam de um enredo excitante e de fortes emoccedilotildees todo o resto eacute inuacutetil Basta fazer o enredo o mais vibrante e emoshycionalmente intenso possiacutevel sem nada de mais profundo que se eacute bem-suceshydido Pode mesmo ter-se ecircxito com obras claacutessicas produzindo um resumo ou puro enredo extraiacutedos de um livro Os leitores de histoacuterias de intriga sentem-se felizes por lerem resumos porque eacute tudo o que precisam

A cultura industrial de massas baseia-se no princiacutepio do reconhecimento na aplicaccedilatildeo de estereoacutetipos automaacuteticos de plug-and-play da percepccedilatildeo enquanto uma obra de verdadeira arte laquo eacute criada intencionalmente para romper com os automatismos perceptuais e eacute feita especialmente de modo que a pershycepccedilatildeo paacutera nela atingindo a sua forccedila e duraccedilatildeo maacuteximas)) (Shklovsky 1966 p 343) Gostaria de acrescentar o criteacuterio de verdadeira arte que tirei da minha proacutepria experiecircncia como laquoconsumidoDgt de arte o cerne de uma obra de vershydadeira arte - o seu significado - natildeo eacute dado directamente e requerem vez disso que se transcenda a narrativa A quase-arte industrial natildeo tem qualquer outro conshyteuacutedo e significado excepto o que eacute directamente dito eou representado

A quase-arte natildeo exerce qualquer efeito na personalidade a natildeo ser agradar ou chocar as emoccedilotildees Podemos definir a distinccedilatildeo entre quase-arte e verdadeira arte em termos da seguinte dicotomia arte para as emoccedilotildees versus arte para a personalidade (Leontiev 1992) A arte para as emoccedilotildees natildeo conteacutem novOS significados Proporciona reconhecimento em vez de cogniccedilatildeo Nenhum receptor pode receber deste tipo de arte senatildeo prazer emocional transitoacuterio (ou outras emoccedilotildees) O encontro com a quase-arte eacute semelhante a uma aventura passageira de uma noite

A quase-arte por sua vez produz quase-puacuteblicos Bertoid Brecht observou uma vez que a falta de gosto das massas estaacute mais profundamente enraizada na realidade do que o gosto dos intelectuais A quase-arte natildeo carece apenas de efeitos de desenvolvimento mas mais do que isso conserva uma visatildeo do mundo e a personalidade em geral impedindo a capacidade humana de mudar de haver desenvolvimento pessoal e adaptaccedilatildeo criativa ao mundo em transformaccedilatildeo

Seja em que circunstacircncias for a quase-percepccedilatildeo natildeo eacute perversa A necesshysidade recreativa eacute inerente a todos os seres humanos Mesmo intelectuais altamente criativos e esteticamente competentes usam a quase-arte para satisshyfazer esta necessidade e por vezes a quase-arte desempenha esta funccedilatildeo com mais eficaacutecia do que a verdadeira arte Toma-se perversa quando toma o lugar de verdadeira arte para muitas pessoas que natildeo conhecem outra forma de arteraquo e acreditam que eacute verdadeira arte As caracteriacutesticas deste quase-puacuteblico satildeo a rejeiccedilatildeo de Qualauer actividade mental em encontros com a arte o hedonismo

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a procura do prazer sem a prontidatildeo para recQnhecer o que jaacute eacute bem conhecido a rejeiccedilatildeo do novo a absolutizaccedilatildeo das proacuteprias opiniotildees e juiacutezos (que as massas partilham) Este quase-puacuteblico produz uma quase-percepccedilatildeo encerrando assim o ciacuterculo que se auto-sustenta e que alimenta a tendecircncia c1e fazer com que a verdadeira arte morra de sua proacutepria morte

Funccedilotildees da Arte e Educaccedilatildeo Esteacutetica

Nas secccedilotildees anteriores olhaacutemos para os problemas dos sistemas de ensino de Esteacutetica atraveacutes do prisma das necessidades individuais emiddot maneiras de lidar com a arte Eacute agora altura de inverter este ponto de vista e de olhar para as necessidades e especificidades individuais atraveacutes do prisma das tarefas e cateshygorias da Educaccedilatildeo Esteacutetica

Faz sentido deste ponto de vista incluir toda a diversidade de funccedilotildees psicoloacutegicas que a arte preenche em conjunto com os beneficios psicoloacutegicos que promete e oferece a trecircs grandes grupos de acordo com o principal efeito que eacute suposto resultar do encontro recreaccedilatildeo socializaccedilatildeo e desenvolvimento pessoal Embora estas trecircs funccedilotildees possam coexistir em produccedilotildees artiacutesticas existem tipos especiais de arte em que algumas delas predominam de um modo evidente

A funccedilatildeo da recreaccedilatildeo estaacute associada agraves necessidades psicoloacutegicas baacutesicas sendo a recreaccedilatildeo necessaacuteria a todos os seres humanos A maior parte dos tipos geacuteneros e estilos de arte conteacutem uma componente recreativa mais ou menos evidente porque a arte sempre pertenceu agrave esfera da livre actividade indepenshydentemente de quaisquer deveres sociais ou profissionais Especialmente bemshy-sucedida em cumprir esta funccedilatildeo recreativa eacute todavia a quase-arte industrial porque prossegue apenas este objectivo atraveacutes do caminho mais curto possiacuteshyvel A cultura de massas de hoje em dia tem assim tendecircncia para acentuar demasiadamente os aspectos recreativos da arte os que transformam os objecshytos de arte em ecircxitos com um elevado valor de mercado excluindo todos os outros geacuteneros de esforccedilos mentais A funccedilatildeo recreativa da arte eacute muito mais procurada do que qualquer outro tipo e estaacute disponiacutevel para todos A aborshydagem da arte como um instrumento recreativo natildeo requer pois educaccedilatildeo porque o mundo dos objectos quase-arte recreativos adapta-se perfeishytamente ao niacutevel mais baixo (zero) de educaccedilatildeo e de competecircncia esteacutetica

A arte de orientaccedilatildeo socializante fornece informaccedilatildeo sobre o mundo sobre os valores culturais e normas sobre padrotildees de comportamento e modeshylos de identidade pessoaL As tarefas de socializaccedilatildeo satildeo compatiacuteveis tanto com a cultura de massas como com a arte superiorraquo Haacute anos designava-se a Literatura por o livro escolar da vidaraquo mas actualmente as pessoas obtecircm mais conhecimento sobre a vida a partir de histoacuterias de detectives e filmes de

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do que da arte superiofl natildeo obstante as artes visuais se poderem chamar laquooficinas da maneira como verraquo Uma vez que esta funccedilatildeo natildeo pressupotildee um eleshyvarlo niacutevel de competecircncia tem naturalmente menos procura A maior parte das pessoas prefere aprender de outras fontes Esta funccedilatildeo natildeo eacute especiacutefica da arte os jornais satildeo mais eficazes para atingir este objectivuuml A educaccedilatildeo releshyvante para esta funccedilatildeo eacute a educaccedilatildeo geral tradicional em vez da educaccedilatildeo

esteacutetica A arte orientada para o desenvolvimento pessoal pelo contraacuterio quebra

normas e clicheacutes confere novOS significados e novas maneiras de ver e de avaliar a realidade A arte orientada para o desenvolvimento pressupotildee e exige frequentemente um elevado niacutevel de competecircncia esteacutetica assim como motishyvaccedilatildeo para fazer determinado trabalho mental no decorrer da interacccedilatildeo com a arte Exige muito e promete muito ao mesmo tempo As recompensas que se recebem de profundos encontros com a verdadeira arte jamais se podem alcanccedilar de outro modo Todavia apenas uma minoria de um puacuteblico potencial consegue compreender e apreciar esta promessa a promessa do significado Eacute aqui que reside o objectivo mais importante da educaccedilatildeo esteacutetica No entanto para nos tornarmos conscientes deste objectivo e aceitaacute-lo temos primeiro de perceber as diferenccedilas entre os efeitos da arte e a quase-arte a niacuteveis diferentes de encontros que temos com elas Na medida em que a Educaccedilatildeo visa o desenshyvolvimento pessoal torna-se antagocircnica da cultura comercial de massas na luta

pela dimensatildeo humana noS seres humanos

BIBLIOGRAFIA

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Page 11: EDUCAÇÃO ESTÉTICA E ARTÍSTICA

esforccedila por adquirir nada de novo Pelo contraacuterio ele quer reconhecer algo bem conhecido de modo a identificar a projecccedilatildeo das suas atitudes valores vonshy

tades e sonhos natildeo realizados e nada mais A quase-percepccedilatildeo daacute origem agrave quase-arte Se os puacuteblicos massivos de

leitores ou espectadores soacute precisam de um enredo excitante e de fortes emoccedilotildees todo o resto eacute inuacutetil Basta fazer o enredo o mais vibrante e emoshycionalmente intenso possiacutevel sem nada de mais profundo que se eacute bem-suceshydido Pode mesmo ter-se ecircxito com obras claacutessicas produzindo um resumo ou puro enredo extraiacutedos de um livro Os leitores de histoacuterias de intriga sentem-se felizes por lerem resumos porque eacute tudo o que precisam

A cultura industrial de massas baseia-se no princiacutepio do reconhecimento na aplicaccedilatildeo de estereoacutetipos automaacuteticos de plug-and-play da percepccedilatildeo enquanto uma obra de verdadeira arte laquo eacute criada intencionalmente para romper com os automatismos perceptuais e eacute feita especialmente de modo que a pershycepccedilatildeo paacutera nela atingindo a sua forccedila e duraccedilatildeo maacuteximas)) (Shklovsky 1966 p 343) Gostaria de acrescentar o criteacuterio de verdadeira arte que tirei da minha proacutepria experiecircncia como laquoconsumidoDgt de arte o cerne de uma obra de vershydadeira arte - o seu significado - natildeo eacute dado directamente e requerem vez disso que se transcenda a narrativa A quase-arte industrial natildeo tem qualquer outro conshyteuacutedo e significado excepto o que eacute directamente dito eou representado

A quase-arte natildeo exerce qualquer efeito na personalidade a natildeo ser agradar ou chocar as emoccedilotildees Podemos definir a distinccedilatildeo entre quase-arte e verdadeira arte em termos da seguinte dicotomia arte para as emoccedilotildees versus arte para a personalidade (Leontiev 1992) A arte para as emoccedilotildees natildeo conteacutem novOS significados Proporciona reconhecimento em vez de cogniccedilatildeo Nenhum receptor pode receber deste tipo de arte senatildeo prazer emocional transitoacuterio (ou outras emoccedilotildees) O encontro com a quase-arte eacute semelhante a uma aventura passageira de uma noite

A quase-arte por sua vez produz quase-puacuteblicos Bertoid Brecht observou uma vez que a falta de gosto das massas estaacute mais profundamente enraizada na realidade do que o gosto dos intelectuais A quase-arte natildeo carece apenas de efeitos de desenvolvimento mas mais do que isso conserva uma visatildeo do mundo e a personalidade em geral impedindo a capacidade humana de mudar de haver desenvolvimento pessoal e adaptaccedilatildeo criativa ao mundo em transformaccedilatildeo

Seja em que circunstacircncias for a quase-percepccedilatildeo natildeo eacute perversa A necesshysidade recreativa eacute inerente a todos os seres humanos Mesmo intelectuais altamente criativos e esteticamente competentes usam a quase-arte para satisshyfazer esta necessidade e por vezes a quase-arte desempenha esta funccedilatildeo com mais eficaacutecia do que a verdadeira arte Toma-se perversa quando toma o lugar de verdadeira arte para muitas pessoas que natildeo conhecem outra forma de arteraquo e acreditam que eacute verdadeira arte As caracteriacutesticas deste quase-puacuteblico satildeo a rejeiccedilatildeo de Qualauer actividade mental em encontros com a arte o hedonismo

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a procura do prazer sem a prontidatildeo para recQnhecer o que jaacute eacute bem conhecido a rejeiccedilatildeo do novo a absolutizaccedilatildeo das proacuteprias opiniotildees e juiacutezos (que as massas partilham) Este quase-puacuteblico produz uma quase-percepccedilatildeo encerrando assim o ciacuterculo que se auto-sustenta e que alimenta a tendecircncia c1e fazer com que a verdadeira arte morra de sua proacutepria morte

Funccedilotildees da Arte e Educaccedilatildeo Esteacutetica

Nas secccedilotildees anteriores olhaacutemos para os problemas dos sistemas de ensino de Esteacutetica atraveacutes do prisma das necessidades individuais emiddot maneiras de lidar com a arte Eacute agora altura de inverter este ponto de vista e de olhar para as necessidades e especificidades individuais atraveacutes do prisma das tarefas e cateshygorias da Educaccedilatildeo Esteacutetica

Faz sentido deste ponto de vista incluir toda a diversidade de funccedilotildees psicoloacutegicas que a arte preenche em conjunto com os beneficios psicoloacutegicos que promete e oferece a trecircs grandes grupos de acordo com o principal efeito que eacute suposto resultar do encontro recreaccedilatildeo socializaccedilatildeo e desenvolvimento pessoal Embora estas trecircs funccedilotildees possam coexistir em produccedilotildees artiacutesticas existem tipos especiais de arte em que algumas delas predominam de um modo evidente

A funccedilatildeo da recreaccedilatildeo estaacute associada agraves necessidades psicoloacutegicas baacutesicas sendo a recreaccedilatildeo necessaacuteria a todos os seres humanos A maior parte dos tipos geacuteneros e estilos de arte conteacutem uma componente recreativa mais ou menos evidente porque a arte sempre pertenceu agrave esfera da livre actividade indepenshydentemente de quaisquer deveres sociais ou profissionais Especialmente bemshy-sucedida em cumprir esta funccedilatildeo recreativa eacute todavia a quase-arte industrial porque prossegue apenas este objectivo atraveacutes do caminho mais curto possiacuteshyvel A cultura de massas de hoje em dia tem assim tendecircncia para acentuar demasiadamente os aspectos recreativos da arte os que transformam os objecshytos de arte em ecircxitos com um elevado valor de mercado excluindo todos os outros geacuteneros de esforccedilos mentais A funccedilatildeo recreativa da arte eacute muito mais procurada do que qualquer outro tipo e estaacute disponiacutevel para todos A aborshydagem da arte como um instrumento recreativo natildeo requer pois educaccedilatildeo porque o mundo dos objectos quase-arte recreativos adapta-se perfeishytamente ao niacutevel mais baixo (zero) de educaccedilatildeo e de competecircncia esteacutetica

A arte de orientaccedilatildeo socializante fornece informaccedilatildeo sobre o mundo sobre os valores culturais e normas sobre padrotildees de comportamento e modeshylos de identidade pessoaL As tarefas de socializaccedilatildeo satildeo compatiacuteveis tanto com a cultura de massas como com a arte superiorraquo Haacute anos designava-se a Literatura por o livro escolar da vidaraquo mas actualmente as pessoas obtecircm mais conhecimento sobre a vida a partir de histoacuterias de detectives e filmes de

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do que da arte superiofl natildeo obstante as artes visuais se poderem chamar laquooficinas da maneira como verraquo Uma vez que esta funccedilatildeo natildeo pressupotildee um eleshyvarlo niacutevel de competecircncia tem naturalmente menos procura A maior parte das pessoas prefere aprender de outras fontes Esta funccedilatildeo natildeo eacute especiacutefica da arte os jornais satildeo mais eficazes para atingir este objectivuuml A educaccedilatildeo releshyvante para esta funccedilatildeo eacute a educaccedilatildeo geral tradicional em vez da educaccedilatildeo

esteacutetica A arte orientada para o desenvolvimento pessoal pelo contraacuterio quebra

normas e clicheacutes confere novOS significados e novas maneiras de ver e de avaliar a realidade A arte orientada para o desenvolvimento pressupotildee e exige frequentemente um elevado niacutevel de competecircncia esteacutetica assim como motishyvaccedilatildeo para fazer determinado trabalho mental no decorrer da interacccedilatildeo com a arte Exige muito e promete muito ao mesmo tempo As recompensas que se recebem de profundos encontros com a verdadeira arte jamais se podem alcanccedilar de outro modo Todavia apenas uma minoria de um puacuteblico potencial consegue compreender e apreciar esta promessa a promessa do significado Eacute aqui que reside o objectivo mais importante da educaccedilatildeo esteacutetica No entanto para nos tornarmos conscientes deste objectivo e aceitaacute-lo temos primeiro de perceber as diferenccedilas entre os efeitos da arte e a quase-arte a niacuteveis diferentes de encontros que temos com elas Na medida em que a Educaccedilatildeo visa o desenshyvolvimento pessoal torna-se antagocircnica da cultura comercial de massas na luta

pela dimensatildeo humana noS seres humanos

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Page 12: EDUCAÇÃO ESTÉTICA E ARTÍSTICA

do que da arte superiofl natildeo obstante as artes visuais se poderem chamar laquooficinas da maneira como verraquo Uma vez que esta funccedilatildeo natildeo pressupotildee um eleshyvarlo niacutevel de competecircncia tem naturalmente menos procura A maior parte das pessoas prefere aprender de outras fontes Esta funccedilatildeo natildeo eacute especiacutefica da arte os jornais satildeo mais eficazes para atingir este objectivuuml A educaccedilatildeo releshyvante para esta funccedilatildeo eacute a educaccedilatildeo geral tradicional em vez da educaccedilatildeo

esteacutetica A arte orientada para o desenvolvimento pessoal pelo contraacuterio quebra

normas e clicheacutes confere novOS significados e novas maneiras de ver e de avaliar a realidade A arte orientada para o desenvolvimento pressupotildee e exige frequentemente um elevado niacutevel de competecircncia esteacutetica assim como motishyvaccedilatildeo para fazer determinado trabalho mental no decorrer da interacccedilatildeo com a arte Exige muito e promete muito ao mesmo tempo As recompensas que se recebem de profundos encontros com a verdadeira arte jamais se podem alcanccedilar de outro modo Todavia apenas uma minoria de um puacuteblico potencial consegue compreender e apreciar esta promessa a promessa do significado Eacute aqui que reside o objectivo mais importante da educaccedilatildeo esteacutetica No entanto para nos tornarmos conscientes deste objectivo e aceitaacute-lo temos primeiro de perceber as diferenccedilas entre os efeitos da arte e a quase-arte a niacuteveis diferentes de encontros que temos com elas Na medida em que a Educaccedilatildeo visa o desenshyvolvimento pessoal torna-se antagocircnica da cultura comercial de massas na luta

pela dimensatildeo humana noS seres humanos

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