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THAILLA FABIANE KATAOKA LOPES EDUCAÇÃO ESTÉTICA: AS NARRATIVAS DISCENTES NO PROCESSO FORMATIVO NO CURSO DE PEDAGOGIA UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2016

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THAILLA FABIANE KATAOKA LOPES

EDUCAÇÃO ESTÉTICA: AS NARRATIVAS DISCENTES NO PROCESSO

FORMATIVO NO CURSO DE PEDAGOGIA

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

2016

THAILLA FABIANE KATAOKA LOPES

EDUCAÇÃO ESTÉTICA: AS NARRATIVAS DISCENTES NO PROCESSO

FORMATIVO NO CURSO DE PEDAGOGIA

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito exigido para obtenção do título de Mestre em Educação junto à Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), sob a orientação da Profª. Drª. Margaréte May Berkenbrock-Rosito.

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

2016

Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional

L864e Lopes, Thailla Fabiane Kataoka. Educação estética: as narrativas discentes no processo formativo no curso de pedagogia. / Thailla Fabiane Kataoka Lopes. São Paulo, 2016. 216 p. Inclui bibliografia

Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade de São Paulo - Orientadora: Profa. Dra. Margaréte May Berkenbrock-Rosito.

1. Educação estética. 2. Formação docente. 3. Curso de Pedagogia. I. Berkenbrock-Rosito, Margaréte May, orient. II. Título.

CDD 371.1

Banca Examinadora

________________________________________ Profa. Dra. Margaréte May Berkenbrock Rosito - Orientadora

________________________________________ Profa. Dra. Adelina de Oliveira Novaes

________________________________________ Profa. Dra. Maria de Fátima Ramos de Andrade

Dedico este trabalho а todos que acreditam na

Educação e na Educação Estética, no processo da

humanização e da sensibilidade. Agradeço ao

mundo por mudar as coisas, por nunca fazê-las ser

da mesma forma, pois assim tive о qυе pesquisar,

descobrir е desvelar.

AGRADECIMENTOS

“E aprendi que se depende sempre De tanta, muita, diferente gente

Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias

de outras tantas pessoas. É tão bonito quando a gente entende

Que a gente é tanta gente Onde quer que a gente vá.

É tão bonito quando a gente sente Que nunca está sozinho

Por mais que pense estar...” (Caminhos do coração – Gonzaguinha)

A Deus, por ser o maior mestre, pelo dom da vida e por ter me dado saúde e

força para enfrentar este grande desafio.

A esta Universidade que faz parte da minha história e trajetória de vida,

pessoal, profissional e acadêmica oportunizando horizontes do saber, aprender e

conhecer, como a possibilidade para concretizar o programa de Mestrado em

Educação.

A Pró-Reitoria de Educação à distância por ajudar-me a tornar realidade esse

horizonte do conhecimento.

A minha orientadora Profa. Margaréte May Berkenbrock Rosito pela

sensibilidade e doçura, pela confiança, dedicação a mim, pelos exemplos éticos e

estéticos que ampliaram meus horizontes, pelo apoio e presença nos momentos de

dificuldade, por sentir-me desafiada e encorajada, por enriquecer este trabalho e por

fazer me aprender com todas as orientações para a conclusão deste estudo.

Às professoras Adelina de Oliveira Novaes e Maria de Fátima Ramos de

Andrade, por serem pessoas especiais e sensíveis, incentivando e motivando

sempre. Por fazerem parte da minha formação acadêmica e, com muito orgulho e

honra, aceitarem o convite de compor a Banca Examinadora de Qualificação e

Defesa, enriquecendo e embelezando este trabalho.

A todos os professores do Programa de Mestrado que contribuíram no modo

de ver, perceber e vislumbrar a pesquisa, oportunizarem o conhecimento.

A professora Maria Thais pelo paciente trabalho de revisão da redação.

A todos os professores, Professora Adriana Botto Vianna, Professor Dirceu

Zaleski, Professora Maria Heloísa Aguiar, Professora Marisa Laporta, da minha

graduação que sempre acreditaram na realização desse sonho, no meu potencial e

incentivaram a continuar na jornada acadêmica.

Ao meu marido, José Alberto que partilhou todas as angústias, aflições,

momentos de alegria e tristeza, seu apoio nos altos e baixos, ao longo desta

jornada, me inspira a continuar, a vencer os desafios, a produzir e acima de tudo a

ser feliz.

A Cristal e Mel que compreenderam a ausência e vivenciaram essa etapa tão

importante sempre ao meu lado, nos momentos mais significativos.

A todos aos colegas e amigos que, durante a preparação e confecção dessa

dissertação, caminharam ao meu lado, com uma escuta atenta, respeitosa,

iluminando meu percurso formativo.

Meu agradecimento especial аоs amigos Jusselma, Malu e Gilmar Talarico

companheiros de pesquisa е irmãos na amizade, qυе fizeram parte da minha

formação е vão continuar presentes em minha vida com certeza. Obrigada pelos

palpites, opiniões e conselhos.

Ao amigo Geraldo Barbosa Neto pela inspiração com seus exemplos de

coragem, de persistência, paciência, determinação e muitas outras características

enriqueceram este trabalho.

A secretaria Sheila e o auxiliar Guilherme, o meu sincero agradecimento pela

paciência, apoio e esclarecimentos.

A todos compartilho a felicidade, alegria e entusiasmo nesse momento tão

importante e conclusivo.

A todos que fizeram parte da minha formação a minha gratidão eterna, o meu

carinho e o contentamento do o aprendizado de ser e estar em relação com o outro.

Muito obrigada!

Creio que aqueles que mais entendem de felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão...

Ver girar essas pequenas almas leves, loucas, graciosas e que se movem é o que,

de mim, arrancam lágrimas e canções. Eu só poderia acreditar em um Deus que soubesse

dançar. E quando vi meu demônio, pareceu-me sério, grave,

profundo, solene. Era o espírito da gravidade. ele é que faz cair todas

as coisas. Não é com ira, mas com riso que se mata. Coragem!

Vamos matar o espírito da gravidade! Eu aprendi a andar. Desde então, passei por mim a

correr. Eu aprendi a voar. Desde então, não quero que me

empurrem para mudar de lugar. Agora sou leve, agora vôo, agora vejo por baixo de

mim mesmo, agora um Deus dança em mim!

Nietszche

RESUMO

O presente estudo busca o sentido de intervenção nos processos formativos à luz da Educação Estética. Apresenta como objetivos analisar, compreender e interpretar a dimensão estética nas narrativas discentes sobre a participação na metodologia formativa no dispositivo “Colcha de retalhos”, desenvolvida por Berkenbrock-Rosito (2010). Nos processos formativos no Curso de Pedagogia, a dimensão estética raramente é contemplada e, na pesquisa, é pouco estudada. Há mesmo uma lacuna no estudo do tema e é neste contexto que estabelecemos como guia para a investigação as perguntas-problema: Como o desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos ocorre via “Colcha de Retalhos”? Quais são as possibilidades da “Colcha de Retalhos” como metodologia formativa no Curso de Pedagogia? Para proceder à análise das questões levantadas, recorre-se ao conceito de autonomia, em Freire, o de emancipação, em Adorno, o de Educação Estética, entre o sensível e a razão, em Schiller (2002). O entendimento a respeito do lugar da educação estética considera as emoções como uma questão epistemológica nos processos formativos. O material analisa as narrativas discentes do 4º e 5º semestres do curso de Pedagogia sobre a metodologia da “Colcha de Retalhos” e conduz à compreensão da biografia e da autobiografia por meio da narrativa escrita, oral e pictórica, um exercício de voltar-se para si, para sua história, suas vivências, ao rememorar e refletir sobre os caminhos e experiências estéticas vividas, as narrativas dão visibilidade às marcas que falam do sensível, do cultivo da beleza, da inteireza do ser, em conexão com a razão e sensibilidade ou, ao contrário, que falam da interdição, da negação, da desconexão. No horizonte do estudo, as narrativas indicam a possibilidade de desenvolvimento da emancipação e autonomia do discente em seu processo formativo, bem como a as reflexões acerca da metodologia formativa da “Colcha de Retalhos” como contribuição com novas proposições e estratégias no processo de formação docente-pesquisador. Palavras-chave: Educação Estética, Formação Docente, Curso de Pedagogia.

ABSTRACT This study seeks the intervention of sense in the formative processes in the light of Aesthetic Education. It has the objective to analyze, understand and interpret the aesthetic dimension in students narratives about participation in training methodology on the device "Colcha de Retalhos", developed by Berkenbrock-Rosito (2010). In the formative processes in Education Course, the aesthetic dimension is rarely contemplated and, in research, it is little studied. There is even a gap in the study of the subject and in this context we set it as a guide to research the problem-questions: How does the development of autonomy and emancipation of the subjects occurs via "Colcha de Retalhos"? What are the possibilities of "Colcha de Reatalhos" as a formative methodology in Education Course? To proceed with the analysis of these issues, we resort to the concept of autonomy in Freire, the emancipation, in Adorno, the Aesthetic Education, between the sensible and the reason, Schiller (2002). The understanding of the place of aesthetic education considers emotions as an epistemological question in the formative processes. The material analyzes the students’ narratives from the 4th and the 5th semesters of Education Course on the methodology of "Colcha de Retalhos" and leads to understanding of biography and autobiography through narrative writing, oral and pictorial, an exercise in turning to themselves, for their history, their experiences, to look back and reflect on the ways and vivid aesthetic experiences the narratives give visibility to the brands which speak of sensitive, beauty culture, the wholeness of being, in connection to reason and sensitivity or on the contrary, speaking of the ban, the denial, the disconnection. On the horizon of the study, the narratives indicate the possibility to develop students’ emancipation and autonomy in their educational process, as well as reflections about the training methodology of "Colcha de Retalhos" as a contribution to new proposals and strategies in the teacher-researcher training process.

Keywords: Aesthetic Education, Teacher Education, Pedagogy Cours.

.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Colcha de retalhos – A transformação de si 34

Figura 2: Transformação 35

Figura 3: Nascimento da pesquisa 43

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Quadro Linha da Vida da pesquisadora 27

Quadro 2: Fases da entrevista narrativa 92

Quadro 3: Seleção de nomes para as narrativas discentes referentes à questão norteadora 95

Quadro 4: Seleção de nomes para as narrativas das discentes dos 5º semestres referentes à questão introdutória. 96

Quadro 5: Seleção de nomes para as narrativas das discentes dos 4º semestres referentes à questão introdutória. 97

O ato de conhecer, de Criar e recriar objetos faz da educação uma arte. A educação é simultaneamente uma certa teoria de conhecimento entrando na prática, um ato político, ético e estético. Gestos, entonações de voz, o caminhar na sala de aula, poses, participam da natureza estética do ato do conhecimento, do seu impacto sobre a formação dos estudantes através do ensino. (FREIRE, SHOR, 1986, p.145).

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 14

1 “METÁFORA DA METAMORFOSE”: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

UM ENCONTRO DE SI ENTRE MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES 18

1.1 O casulo: a narrativa escrita como um momento de olhar para si 18

1.1.1 Narrativa Pictórica: um outro modo de olhar para si 33

1.2 A saída do casulo: o sentido e significados dos sujeitos e sua historicidade 36

1.3 O voo: um olhar para si e olhar para o outro na história tecida no retalho 43

2 FORMAÇÃO DE PROFESSORES-PESQUISADORES À LUZ DA EDUCAÇÃO

ESTÉTICA 51

2.1 Educação Estética: um caminho de humanização dos sujeitos ..........................51

2.2 Experiência Estética: a narrativa como produção do conhecimento nos

processos formativos 60

2.3 A estética da narrativa: a possibilidade de desenvolvimento da autonomia e

emancipação dos sujeitos 75

3. COLCHA DE RETALHOS: UMA POSSIBILIDADE DE DESENVOLVIMENTO DA

AUTONOMIA E EMANCIPAÇÃO NA FORMAÇÃO 89

3.1 Narrativas discentes: uma compreensão sob o enfoque hermenêutico 89

3.2 A estética do casulo: encasular, isolar, fechar e mudar no processo formativo

101

3.3 A estética da metamorfose: um processo de transformação e possibilidades de

humanização 113

3.4 A estética do voo: despertar para um olhar para si e para o outro 122

CONSIDERAÇÕES FINAIS 135

REFERÊNCIAS 140

ANEXOS 145

ANEXO A 146

ANEXO B 164

ANEXO C 184

14

INTRODUÇÃO

Este estudo é um recorte de uma pesquisa maior intitulada “Educação

Estética, Formação e Narrativas”, coordenada por Berkenbrock-Rosito, cadastrada

no CNPq. Como objeto de estudo, propõe-se a compreensão do dispositivo “Colcha

de Retalhos”, uma metodologia e epistemologia desenvolvidas por Berkenbrock-

Rosito, desde 2001, como proposta de formação do professor-pesquisador, por meio

das narrativas escrita, pictórica e oral, que são produzidas pelos participantes do

grupo, seja da graduação ou do mestrado, concretizadas dentro da abordagem da

pesquisa (Auto) Biográfica à luz da Educação Estética.

Neste trabalho, com a “Colcha de Retalhos”, recorre-se aos conceitos de

autonomia e de emancipação, respectivamente, em Freire (2011; 2014) e em

Adorno (1982), Schiller (2002), com o entendimento a respeito do lugar da Educação

Estética, que considera as emoções como uma questão epistemológica nos

processos formativos.

Neste estudo, com o intuito de contribuir com esta pesquisa maior, focaliza-se

a dimensão estética das narrativas discentes em seu sentido político, que é a

possibilidade de uma intervenção pedagógica no desenvolvimento da autonomia e a

emancipação dos sujeitos, contribuindo para um aprofundamento dos aspectos

teóricos e práticos da Educação Estética, por meio da narrativa de vida e do

caminho para a humanização na formação no Curso de Pedagogia.

Diante do exposto, mostra-se como problema de estudo: o sentido da

dimensão estética nas narrativas discentes produzidas no dispositivo formativo

“Colcha de Retalhos” no Curso de Pedagogia, em 2013, na Universidade Cidade de

São Paulo. Neste contexto, as perguntas-problema se apresentam como

norteadoras do estudo: Como o desenvolvimento da autonomia e emancipação dos

sujeitos ocorre via “Colcha de Retalhos”? Quais são as possibilidades da “Colcha de

Retalhos” como metodologia formativa no Curso de Pedagogia?

A hipótese norteadora é que o desenvolvimento da autonomia e da

emancipação dos sujeitos ocorre na dimensão estética, na metodologia formativa

“Colcha de Retalhos”, no Curso de Pedagogia.

Em Paulo Freire (2014), a autonomia dos sujeitos ocorre pelas dimensões:

política, ideologia, poder, estética, ética, moral, que para o autor constituem-se como

linhas invisíveis que conduzem a atitude de todos os sujeitos na tomada de decisões

15

e a compreensão sobre a sua inserção no mundo. Para o autor, o desenvolvimento

da autonomia e emancipação, consiste em um caminho de realização de justiça

entre os homens, por meio da estética, na construção de um olhar estético à

formação de professores, em prol da possibilidade de intervenção dos sujeitos.

A dimensão estética raramente é contemplada e, na pesquisa, é pouco

estudada. Neste viés, o presente trabalho, elege a dimensão estética com o objetivo

de compreender a importância da dimensão da Estética na Educação nos processos

formativos no Curso de Pedagogia, visando o desenvolvimento da autonomia e

emancipação dos sujeitos.

A realização desse estudo justifica-se pelo fato de que a dimensão da estética

e da Educação Estética tem sido pouco estudada, apresentando-se como uma

lacuna no estudo sobre os processos formativos no Curso de Pedagogia, no Ensino

Superior. Compreender a importância da Educação Estética nos processos

formativos no Curso de Pedagogia, visando o desenvolvimento da autonomia dos

sujeitos, faz parte do trabalho do aluno em buscar estratégias para ser autor do seu

processo de formativo.

Propõe-se uma reflexão sobre os conceitos de estética em Adorno, Schiller,

Freire e Perissé, contemplando o papel educativo do professor como fundamental na

construção de valores estéticos e éticos pelos alunos, visando à consciência crítica

de sua atuação como cidadão, nos Cursos de Graduação em Pedagogia.

As narrativas discentes sobre a experiência da participação na “Colcha de

Retalhos” é o material a ser analisado, com enfoque hermenêutico na perspectiva de

Gadamer (2000). No capítulo 3, descrevo como os dados foram coletados, a

organização e análise dos dados. Com possibilidade de compreensão dos sentidos

construção dos significados atribuídos pelos discentes sobre o contar as

experiências vividas.

A organização deste estudo terá a seguinte estrutura: no primeiro capítulo, a

narrativa autobiográfica escrita, como trajetória pessoal profissional e acadêmica

(pesquisa-formação). A narrativa escrita é transformada em um registro da própria

trajetória pessoal e profissional, que concede analisar e aprofundar os momentos de

um processo de autoformação, do individual construído no coletivo, teorizando como

autoria desta pesquisa. No segundo capítulo, aborda-se o conceito de Educação

Estética e a prática docente, bem como analisar a formação profissional no campo

da educação, visando à humanização do sujeito.

16

No terceiro capítulo, apresentam-se as análises das narrativas e suas

categorias das dimensões estéticas. Assim busca-se a compreensão dos conceitos

de autonomia, emancipação, processo formativo, Educação Estética e dimensões

estéticas, a partir da “Colcha de Retalhos”, como sendo um dos potenciais para

estabelecer a humanização do sujeito.

17

Há muito tempo que eu saí de casa Há muito tempo que eu caí na estrada Há muito tempo que eu estou na vida

Foi assim que eu quis, e assim eu sou feliz (Caminhos do Coração – Gonzaguinha)

18

1 “METÁFORA DA METAMORFOSE”: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

UM ENCONTRO DE SI ENTRE MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES

a consciência nasce quando interpretamos um objeto com o nosso sentido autobiográfico, a nossa identidade e a nossa capacidade de anteciparmos o que há de vir. (JOSSO, 2002, p. 8)

Este capítulo resgata o processo (auto) formativo da pesquisadora, como um

momento de encontro consigo e com a metáfora da metamorfose por meio da

narrativa da história de vida, participando da metodologia e epistemologia da

“Colcha de Retalhos”, desenvolvida por Berkenbrock-Rosito (2014), dentro da

abordagem da pesquisa (Auto) Biográfica. Este material (auto) biográfico foi

produzido quando participei da disciplina “Fundamentos da Educação Estética”,

como aluna especial (ouvinte) no segundo semestre de 2013, no Programa de

Mestrado em Educação, na Universidade Cidade de São Paulo, onde vivenciei a

proposta da “Colcha de Retalhos” que me proporcionou um olhar para a Educação

Estética nos processos formativos do professor-pesquisador.

A narrativa escrita, pictográfica e oral é fonte documental, que permite

pesquisar momentos de um processo de autoformação do indivíduo construído no

coletivo, assim como compreendê-los e teorizá-los como fonte de autoria desta

pesquisa. É material empírico, a ser investigado, transformado em conhecimento,

como abordado por Berkenbrock-Rosito (2014). Apresenta-se o enfoque

hermenêutico, na perspectiva de Gadamer (2000), que fundamenta a compreensão

filosófica da história de vida da pesquisadora.

Ao final apresenta-se a fundamentação teórico-prática da proposta

metodológica e epistemológica da “Colcha de Retalhos”, desenvolvida por

Berkenbrock-Rosito, desde 2001, como possibilidade de intervenção nos processos

formativos visando as possibilidades e limites de desenvolvimento da autonomia e

emancipação dos sujeitos no Curso de Pedagogia.

1.1 O casulo: a narrativa escrita como um momento de olhar para si

O passado não reconhece seu lugar: ele está sempre presente. QUINTANA (2006, p. 14)

19

Nasci no dia 3 de outubro de 1985, primeira filha e a segunda neta, mas de

um relacionamento conflituoso, com uma gravidez não planejada, logo na fase inicial

de namoro dos meus pais e com uma família maternal rígida com regras, imposições

e disciplina.

Momento em que apesar de ser apenas um bebê, já vivia em situações de

luta pela sobrevivência. De um lado uma família paternal que acolheu e do outro a

família maternal que expulsou a recém-mãe do seu lar, pois para meus avós ela

havia infringido as regras da casa e era inadmissível ser mãe aos 17 anos para 18

anos de idade, teria que casar e arcar com as consequências.

Nesse período, minha mãe que cursava o curso de Matemática na

Universidade, teve que trancá-lo e meu pai que fazia o mesmo curso, por sua vez

também, para que pudessem transformar suas vidas, trabalhando e cuidando da

filha.

Os dois, então, passaram a morar na casa dos fundos de minha avó paterna,

a avó Rosa, pelo que foi relatado durante essa fase, momentos de grandes

incertezas cercavam os dois. Essas lembranças são de situações que fazem parte

da história de vida familiar, mas que durante o tempo foi contada e recontada até

minha fase de adolescência.

Nesse cenário tumultuado, passou-se cerca de um ano e meus avós

maternos decidiram se reconciliaram com minha mãe. Foi a partir daqui que se

iniciava uma nova fase, pois agora o meu lar passava a ser a casa dos meus avós

maternos, ficando sob seus cuidados. Este foi um momento de ruptura entre mãe e

filha, com momentos de visitas, que passaram a ser cada vez mais espaçadas.

Aos dois anos de idade, houve o divórcio de meus pais e isso fez com que

minha mãe retornasse a morar com meus avós, mas estes não esperaram a nova

notícia que ela trazia e foram surpreendidos por uma nova gravidez, minha irmã.

Nesse turbilhão de emoções, conflitos e sentimentos, as decisões eram

tomadas de forma impulsiva e totalmente intolerantes, pois logo minha mãe decidiu

que iria morar sozinha, grávida, mas que eu ficaria na casa dos meus avós, pois não

teria condições financeiras para cuidar de duas crianças pequenas.

Assim, passei a morar com meus avós maternos definitivamente. Durante

minha infância, esses relatos foram sendo contados, mas não sabia exatamente, em

nenhum momento, o que de fato ou ideia meus pais tinham a respeito de querer,

enfim, só ouvia e crescia.

20

Durante toda a minha infância, tive uma educação rígida, disciplinada e

autoritária, em que tudo deveria sempre sair de acordo com o planejado. Lembro-me

que desde pequena minha avó cuidava da casa e fazia sempre deliciosas comidas,

meu avô sempre trabalhador, era um vendedor exemplar, ambos pararam de

estudar no antigo ginásio, no quarto ano e sempre faziam questão de lembrar.

Já frequentando a pré-escola, lembro-me dos momentos de arrumar os

materiais escolares na mochila (caderno, estojo e lápis de cor) e a lancheira com

limonada e um pão de forma recheado. Desta fase, consigo lembrar até do gosto do

lanche e do cheiro do ambiente da pré-escola.

Aos quatro anos de idade comecei a ler e escrever, já que brincadeiras de

correr, pular, ou movimentadas eram deixadas de lado, para que eu pudesse

desenvolver mais a leitura e a escrita. Escrevia inúmeras palavras e ficava feliz com

os elogios que recebia, minha avó “coruja”, como sempre, reforçava ainda mais esse

processo de aprendizagem, tanto que, ao chegar em casa, depois da aula, à noite,

ela sempre ditava várias palavras e depois corrigia.

Nessa época, tínhamos um dicionário em casa, daqueles grandes, com quase

20 cm de altura, que ela chamava de “pai dos burros” e sempre que eu errava

alguma palavra ou a desconhecesse, dizia que deveria consultá-lo. Recordo-me até

hoje, do cheiro, da cor amarelada do papel e do peso do dicionário.

Minha avó materna sempre incentivou a pintura de desenhos, caça-palavras e

caligrafia, consequentemente tinha muitos cadernos, lápis de colorir, enfim, tudo que

fosse possível uma criança ser cercada pela educação formal. Lembro que era um

orgulho para a família, pois tão cedo já sabia ler e era rodeada de livros de contos

de fadas.

Minha tia materna, neste período, estava deixando a profissão de professora,

mas sempre levava as atividades pedagógicas que realizava com os alunos da

Educação Infantil, para que eu realizasse também em casa.

Sendo assim, posso dizer que tive uma infância rodeada de familiares

preocupados com a educação formal, de tal modo que, ao crescer, não repetisse a

história de minha mãe ou a deles.

Aos seis anos de idade, ainda não era possível ingressar no Ensino

Fundamental I, no entanto, meu avô, com muita insistência com a Secretaria da

Escola e com a Direção, levou os meus cadernos e mostrou o desempenho que eu

tinha na Educação Infantil. Todos os dias, ele levava-me até a escola, para saber se

21

tínhamos novidade do processo de ingresso. Até que finalmente, foi possível e a

vaga foi disponibilizada.

Lembro-me como se fosse hoje de arrumar a mochila, lancheira e os

cadernos todos encapados com papel camurça e figura da personagem infantil da

época “moranguinho”. Minha primeira professora foi a senhora Rosa, sempre muito

carinhosa, acolhedora, encantadora, regrada e disciplinada.

Desde aquela época, eu me sentia feliz em aprender e descobrir todos os

dias algo novo. Curiosa em aprender, era cercada de enciclopédias e livros de

histórias infantis. As descobertas do ambiente escolar eram deslumbrantes, aguçava

ainda mais minha vontade de aprender o que era desconhecido.

Os dias em que havia a chamada “aula de leitura” eram fantásticos. Entrar

naquela biblioteca preparada para que pudéssemos pegar os livros que nos

interessava e ficar horas folheando, nos permitia viajar pelo mundo das letras,

encantamentos e imaginação.

O prazer e o gosto pelo ambiente escolar, de aprender e fazer parte desse

contexto, passaram a permear minha rotina e não havia um dia sequer que me

ausentava da escola, sempre no horário e em dia com as tarefas escolares.

Recordo-me de momentos em que era necessário chegar da escola, almoçar e fazer

as tarefas designadas pelos professores, as denominadas lições de casa.

A minha brincadeira predileta na época era de escola e eu adorava ser a

professora. Lembro que fazia atividades em folhas de sulfite, folha de papel almaço

e já com dez anos de idade, com o advento do computador e da conexão com a

internet, fazia impressão de desenhos para colorir. Quando era possível, brincava

com duas amigas do bairro, mas também brincava com meus primos.

Cresci envolvida pela educação e pelo conhecimento, assim logo na infância,

aprendi as relações sociais e até profissionais. Em um bairro simples, da zona leste

de São Paulo, morava com meus avós maternos, não por opção, mas um ato de

submissão e decorrente de situações vividas pelo divórcio dos meus pais.

Todo o meu processo formativo na educação básica até o Ensino Médio,

sempre foi regrado e vigiado de modo que as minhas notas sempre fossem as mais

altas, mas pude ter uma educação privilegiada, pois sempre fui amparada e estudei

na melhor escola da rede pública estadual de outra região.

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Esse processo de formação pessoal e educacional fez com que, ao longo da

minha vida, escolhesse ser professora, no entanto, por contratempos, essa não foi

minha primeira profissão exercida.

Aos quinze anos tomei a decisão que iria morar com meu pai, pois apesar de

ter avós sempre acolhedores, fazendo o melhor, precisava dar um grito de liberdade

para ter uma nova visão de mundo, não apenas por diversão, mas também pela

busca do equilíbrio entre a vida pessoal, escolar e amizades. O que pela minha

família paterna era reprimido, não podia ter amizades e as duas amigas que citei

eram porque brincavam na minha casa e em horário determinado.

Enfim, outro momento de muito conflito e até de atos violentos, mas que ao

fim, fui morar com meu pai e minha madrasta.

Nesse intervalo, aos dezessete anos, conclui o Ensino Médio e minha escolha

do curso para o Ensino Superior não foi ao encontro do que meu pai gostaria, pois

sempre quis fazer Pedagogia, mas ele dizia que essa área não era reconhecida e

principalmente não era bem remunerada. Preocupado com meu futuro, ele sempre

me questionava como sobreviveria com o pequeno salário, comparado à melhor

remuneração que poderia obter na área de Tecnologia de Informação e Sistemas.

Ingressei aos 17 anos na primeira universidade e conceituada para fazer

Análises e Desenvolvimento de Sistemas. Nesse momento, fazia um ano que estava

namorando com o meu atual marido, para o qual liguei para que fosse me buscar,

pois não aguentava ficar naquele lugar. Depois, ao chegar em casa, não encontrei

meu pai, que sempre chegava após às 23h do trabalho. Assim que ele chegou,

contei que não gostaria de fazer aquele curso, já que não me identificava.

Meu pai então disse que trancaria a matrícula e somente retornaria quando eu

escolhesse de fato o que queria, contudo se eu optasse pela Pedagogia teria que

começar a trabalhar e pagar. Um mês depois, ele começou a levar-me na empresa

que trabalhava aos finais de semana como free lancer e ajudava a programar

computadores.

Em nossa sociedade contemporânea, vivemos uma realidade de consumo e

de padrões a serem seguidos. Neste contexto, com uma ruptura familiar e a

necessidade de ter uma formação e profissão, minha atuação deu-se na área de

Tecnologia da Informação e Sistemas, área de renome, valor e prestígio, foi então,

que iniciei minha carreira profissional, aos 17 anos de idade.

23

Fui contratada para trabalhar na empresa e iniciei minha atuação profissional

na área de Tecnologia da Informação e Sistemas, fazendo parte de projetos e

manutenção de sistemas do Banco Santander, por uma consultoria.

É claro que no início tudo era novidade e gostava do que fazia, mas não me

identificava. Foi então, que tivemos que implementar a gestão da qualidade de

sistemas com processos, procedimentos e metodologias dos projetos, logo então,

me encontrei, pois envolvia um relacionamento com diversas áreas, demais

departamentos e treinamento.

Paralelamente, o relacionamento com minha madrasta não estava sendo

bom. Sendo assim, resolvi sair de casa e numa decisão abrupta e rápida, numa

noite, quando voltei do trabalho, entrei peguei tudo que pude e fui embora com o

meu carro, isso aos dezoito anos de idade. Passei a morar com uma amiga, dividir o

aluguel da casa e todas as despesas. Neste momento, mais do que nunca,

precisava continuar trabalhando e atuando na área de tecnologia e sistemas, pois

precisaria manter-me financeiramente, garantindo minha independência e minha

paz.

Assim, permaneci trabalhando intensamente, de domingo a domingo, aos

feriados e sem horários determinados. Foram três anos de muito aprendizado,

crescimento e compreensão do que era atuar em empresas, de fato aprendi o que

era trabalhar. Durante essa fase, não cursava nenhuma universidade, apenas

realizei cursos específicos e determinados da área.

Com dezenove anos, recebi uma proposta de uma empresa de grande porte e

ainda continuaria atuando com o Banco Santander, a proposta foi promissora e em

consenso com o diretor da empresa, resolvi embarcar em novos desafios.

Em 2005, iniciei o curso de Auditoria e Controle de Qualidade nas Empresas

(hoje denominado Gestão da Qualidade) que vinha ao encontro do meu trabalho no

setor de qualidade, na Universidade Cidade de São Paulo.

Com quase vinte anos, um salário bom para alguém com essa idade, tempo

de experiência e formação foram os alicerces para alavancar projetos pessoais.

Tendo uma renda melhor, pude retomar os estudos, conciliando com o trabalho.

Assim, todos os dias uma jornada de trabalho intensa e à noite ia à universidade, um

trajeto de quase uma hora, pois a empresa era localizada próxima a Consolação, no

centro da cidade e a Universidade na zona leste, na Vila Carrão. Apesar de parecer

24

bem intenso e cansativo, foram momentos de entusiasmo e alegria, só que,

novamente, pelo excesso de trabalho, tive que trancar o curso.

Após dois anos nessa empresa, decidi atuar em outra consultoria, porém não

foi de acordo com o que planejei e resolvi sair. Depois de quinze dias, recebi uma

ligação com uma proposta de trabalho, na Vila Olímpia, agendei a entrevista e sai de

lá com mais duas entrevistas agendadas no cliente que atuaria. Compareci em todas

as entrevistas e fui aprovada, a empresa agora era a TAM Linhas Áreas, em 2006.

Fiquei muito contente, pois sempre almejamos o crescimento e ascensão

profissional. Assim, pude retomar meu curso na Universidade Cidade de São Paulo

e depois de um ano e meio, pude concluí-lo, sendo minha primeira graduação.

Em 2007, a empresa TAM Linhas Áreas realizou um processo de outsourcing

(terceirização) do setor de sistemas, foi quando fui atuar na empresa IBM do Brasil,

como líder de equipe do setor de qualidade.

Finalmente, em 2009, consegui ingressar no curso de Pedagogia. Na

graduação, a minha relação com o conhecimento sempre foi bastante intensa,

realizei o curso que sempre quis, dessa forma sempre fui fascinada pela pesquisa,

pela leitura e pela prática reflexiva. Os meus professores sempre procuravam buscar

dentro de nós essa vocação, dom ou a vontade de sermos docentes para nossa

formação em um ensino para compreensão, de modo que nos desenvolvêssemos

professores capazes de serem críticos e reflexivos para formar nossos futuros

alunos cidadãos.

Todas as produções de textos, sínteses e resenhas sempre foram baseadas

em leituras em autores importantes para a Educação de acordo com a área de

conhecimentos e a minha relação de autoria, durante as elaborações era de

fundamental importância fazer suas relações, comparações e análises entre as

ideias dos autores e minha compreensão a respeito daquelas questões.

Participávamos de vários projetos para alinhar a teoria com a prática escolar,

com vistas a garantir uma visão ampla, para que quando fôssemos a campo, ou

seja, na sala de aula, em estágios ou regência, já possuiríamos conhecimentos

prévios para observação e reflexão posterior.

Aproveitei todas as aulas que tive na universidade, sem exceção, um dos

módulos fascinantes era o Eixo Comum quando se reunia os alunos de todos os

cursos de Licenciatura para discussão de assuntos comuns da prática, ação e

didática docentes.

25

Realizei as atividades acadêmicas complementares de modo que pudesse

ampliar meu repertório além da sala de aula e sempre buscando aprimorar os

conhecimentos e minha profissão futura.

As minhas relações com os professores sempre foram permeadas de muita

dinâmica, envolvimento e trocas de experiências, de modo que pudesse ampliar

meus conhecimentos na área de atuação, bem como para que pudéssemos criar

projetos integrados para a Universidade.

Também atuei como aluna tutora no curso de Pedagogia, quando podia

acompanhar os alunos com dificuldades no curso e direcionar os alunos com a

Coordenação do Curso e a Tutora da Pedagogia.

Neste contexto, compreendo que tive uma relação de autoria no Ensino

Superior, já que ao longo da trajetória do curso, estava bastante envolvida com os

estudos e fui muito ativa em eventos, como Semana da Educação e atividades

acadêmicas, como apresentação de trabalho nas DREs procurava me fazer

presente. Posso afirmar que fui uma aluna dedicada e comprometida durante os três

anos da Licenciatura em Pedagogia, tanto em sala, como na participação em

eventos e cursos extracurriculares, garantindo uma visão global do conhecimento

científico e social para ser docente.

A partir dessas reflexões, foi possível perceber que apesar de no início a

educação familiar ser tradicional, autoritária, havia um sujeito que gritava dentro de

mim, para que pudesse ser autor de sua história, exercendo sua autonomia e

emancipando-se.

Vale destacar aqui os três momentos que marcaram a minha formação no

Ensino Superior. O primeiro momento foi quando pude ampliar meu conhecimento

do mundo, por meio das visitas programadas a Pinacoteca, Museu da Língua

Portuguesa, Museu Catavento e o Museu da Estação Ciência. Conhecer estes

espaços e explorá-los permitiu que eu pudesse perceber que muitas vezes nos

limitamos ao consumo e passeios apenas influenciados pela sociedade, mas que

com o acesso ao mundo acadêmico, foi possível compreender que existem novos

espaços de aprendizado e de saber. Estas visitas marcaram uma nova visão de

mundo, pois pude compreender a educação como parte da vida pessoal, não apesar

profissional e que ambas caminham juntos. A partir do momento que se tem esse

acesso, posso transformar o conhecimento ingênuo numa consciência crítica e uma

nova leitura de mundo. Assim, visitas deste tipo passaram a fazer parte da minha

26

rotina de vida e social, não ficando apenas restritas a museus, mas também a outros

locais culturais e de arte, de modo a exercer plenamente minha ação no processo de

construção de conhecimento, o que caracterizaria uma relação de autoria.

Um segundo momento marcante foi o acesso às escolas para realização dos

estágios. O que, aparentemente, era algo simples, foi um momento muito

importante. Inicialmente parecia não haver complicações, pois bastava obter as

documentações, escolher a escola e fazer o estágio supervisionado, porém nas

duas primeiras escolas que compareci na região em que moro, o acesso foi negado.

A direção informava que não estavam aceitando estagiárias no momento, mesmo

sendo apenas para observação, outra informou que já havia estagiárias na escola e

a procura era grande, que deveria comparecer em outra ocasião. Assim, uma

sensação de desprezo e de rejeição veio à tona, como se fôssemos pessoas que

iriam vigiar e denunciar e que não estávamos ali por um motivo de aprendizado e

formação, para contribuir para uma educação de qualidade. Desta forma, por meio

deste processo de reflexão sobre a realidade posta à minha frente, acredito ter

assumido uma posição de autoria com relação ao conhecimento.

No entanto, não desisti e fui à busca de outras escolas, que abriram as portas

com prazer e entusiasmo, com dizeres de que ficavam felizes por existirem jovens

em formação para licenciaturas e que acreditavam na educação. Nesse sentido,

percebemos ainda uma rejeição da profissão professor, mas que por outro lado,

dependerá muito em que contexto a escola está e até mesmo das pessoas que

ocupam aquele espaço, se de fato, praticam a educação ou simplesmente a

reproduzem.

Por fim, o terceiro momento marcante foi quando ao acessar a escola, pude

ter contato com práticas pedagógicas nas salas de aulas das professoras diferentes

dos discursos e da visão escolar. As escolas se dizem interacionistas, construtivistas

e humanistas, mas na realidade os alunos e professores ainda permanecem com

uma prática tradicional, aliada ao uso do giz e da lousa, centrada na transmissão de

um conteúdo, tenho o professor como detentor do saber. Sendo assim, cada vez

mais pude transformar a visão inicial da educação como um ambiente que tem como

função social, o aprendizado e a formação de cidadãos, mas que ainda permanecem

em sua maioria com práticas arcaicas.

Neste contexto, para minha formação este foi o ponto crucial de reflexão, pois

precisava buscar compreender como e por que metodologias e concepções tão

27

tradicionais ainda persistiam nos dias atuais, por que os professores são resistentes

às mudanças, às inovações, às novas ideias, à quebra de paradigmas, às

tecnologias e principalmente por que não colocavam em prática o ensino de forma

humanizada. Novamente, fui levada a conflitantes de reflexões, buscando entender

o contexto educacional em que vivemos, o que não se consegue apenas com

leituras e discussões na universidade, o que me mostra mais um momento de

autoria no Ensino Superior.

Com isso, a minha transformação foi ainda maior, pois de fato, com o acesso

ao mundo que tive, apesar da rejeição que senti e das práticas vivenciadas, não

perdi a vontade de fazer a diferença no ambiente educacional e fui buscar cada vez

mais conhecimento, fazendo cursos extras, participando de seminários e

congressos, a fim de perceber o mundo em que estou inserida e diante de tantas

possibilidades, a vontade de conhecer, mudar e transformar a visão de ser professor

permanecia em mim.

Esse processo formativo vem ao encontro do que afirma Schiller (2002), em

sua concepção de estética, que significa o equilíbrio entre o sensível e a razão.

Assim, para o mesmo, tal conceito denota um jogo estético, no qual ocorre a

reflexão de um caminho para se chegar ao conhecimento por meio da arte. Para que

isto ocorra, faz-se necessária uma Educação Estética, que é capaz de provocar

mudanças no ser humano, de forma que este aprenda a conviver com a estética e

consigo mesmo.

Organizando o quadro linha da vida, que consiste no relato autobiográfico

aponto quatro momentos charneiras que são os seguintes:

Categorias de Espaço e Tempo

2000/2003 2008 2009 2014

Vida Familiar Rupturas familiares

Vida Acadêmica

Autoconhecimento e do mundo

Vida Profissional

Depressão

Pessoas

Marido

Livros/ Filmes/ Músicas

Tudo ou Nada – Roberto Shinyashiki

Quadro 1: Quadro Linha da Vida da pesquisadora Fonte: Elaborado pela pesquisadora

28

Com os momentos de rupturas familiares em 2000, a busca pela liberdade e

pela autonomia, a vontade de alçar novos voos, de conhecer o mundo, outras

relações sociais e pessoas, fazia com que gritasse dentro de mim um ser que queria

emancipar-se. Afinal havia sido reprimida pela educação rígida dos avós maternos,

pois no período em que percebiam o meu amadurecimento de criança para

adolescência, o que de fato queriam era que eu fosse apenas uma jovem formada

para depois casar, ter filhos e não ser dona de minhas escolhas e decisões.

Nesse momento, aprendi que precisamos buscar de fato o que nos move

como ser humano, como sujeitos que somos em nossa história, não apenas nos

deixar levar pelas decisões alheias e ser submissa a elas, mas ter autonomia, com

uma consciência crítica, de modo, que perceba que consequências podem vir, mas

que se você tem um pensamento crítico e reflexivo diante das circunstâncias, o

melhor sempre são as suas escolhas e decisões tomadas por você.

Neste processo, passei então a morar na casa do meu pai, juntamente com a

minha madrasta, momentos que, por dois anos, foram de uma relação sempre

baseada no diálogo, conversa e autêntica. No entanto, em 2003, uma explosão de

sentimentos, emoções e aflições, já não deixavam as relações familiares

permanecerem as mesmas. Assim, estabeleceu-se uma “guerra de egos” e “de

papéis”, cada qual querendo defender o seu lugar.

Com essa luta intensiva, sai de casa à noite em tempo recorde, em cinco

minutos, consegui tirar quase todos os meus pertences pessoais, sendo os mais

importantes, coloquei tudo dentro do carro em sacos plásticos e fui embora, sem

falar, sem dar satisfação, apenas iniciando uma trajetória que não teria mais volta.

Nesse momento, novamente surgiu um aprendizado, posto que diante de

determinadas situações precisamos transformar a realidade, do contrário ficamos

imersos em relações em que ao invés de amadurecer, tornam-se prisões e não

conseguimos ter nossos voos em busca da satisfação e realização pessoal. Desta

maneira, fui à busca do meu lar, passei a viver com uma amiga, conquistando minha

independência para depois, com o passar do tempo, morar junto com meu atual

marido. Durante toda essa trajetória de vida, esses momentos mais marcantes,

puderam fazer parte da minha constituição de identidade pessoal e profissional.

Nesse período, tudo o que mais dava sentido e significado para continuar

acreditar que tudo poderia ser melhor e diferente, foi dedicar-me exclusivamente ao

trabalho, na área de Tecnologia. Então, passava horas e horas, apenas no local de

29

trabalho, pois era o que mais, nesse momento, me trazia realização e

pertencimento.

No entanto, não percebi que apenas vivendo uma parte do que nos cerca na

vida, deixando menos tempo para a vida pessoal, estava adoecendo. Foi então que

no final do ano de 2008, apesar de todo o clima de renovação, esperança,

comemorações e festas, percebi que não estava sentindo-me parte desse momento

e em janeiro, logo nos primeiros dias do ano, adoeci em uma depressão inicial e

diagnosticada.

A depressão foi um momento de aprendizagem e houve uma mudança de

referenciais sobre a vida, um novo olhar diante da forma de viver, de enxergar a vida

e sua totalidade. De certa forma, ela se constituiu numa experiência estética, pois

agora compreendo que o sofrimento contribui para uma ampliação da consciência

estética, por meio da busca de olhar para nós e para o outro, que pode ser

reafirmada com May (1992), conforme o trecho abaixo que traduz a minha

compreensão da crise existencial vivida:

Eu continuo muito grato pelo assim chamado colapso nervoso que sofri quando tinha vinte e um anos. [...] Esse acontecimento forçou-me a “acordar” para vida, a sentir, a não passar pela vida sonambulicamente, a não permitir que meus modelos neuróticos obstruíssem minha apreciação da beleza. Se não tivesse sido por causa de meu caos interior, eu teria, provavelmente pensado: “Bem, esses campos de papoulas vermelhas são bonitos,” e teria prosseguido em meu caminho, sem fazer caso delas. Mas o que aconteceu foi que senti uma afinidade com aquelas papoulas em minha solidão; apanhei uma delas e a estudei com ternura. Senti uma afinidade com toda a natureza, com o universo das madrugadas e das estrelas; eu tinha sido sacudido para fora de minha antiga rotina. (MAY, 1992, p. 162).

Um momento singular que apenas quem passa sabe exatamente quais são

os pensamentos que nos atormentam, as incertezas, os choros, o isolamento, o

escuro, os pensamentos acelerados e uma ansiedade, compreendida também como

excesso de futuro, que não havia como controlar, mas que o acompanhamento

médico e terapia comportamental auxiliaram e continuam auxiliando até o momento.

Neste contexto, deixei o trabalho da IBM para buscar o meu eu interior, os

sentidos e transformação que preciso. Com o apoio, incentivo e até mesmo as

“broncas” de meu marido, para ver diferente a vida, refleti sobre o que, de fato,

poderia fazer ver o mundo novamente claro, sair do casulo e fazer um voo para

lindos lugares, assim deu-se o meu ingresso na Pedagogia em 2009.

30

Assim, o trabalho passou a tomar outro papel em minha vida, pois o que

antes era fuga no trabalho na tecnologia, agora, era realizado com prazer, amor,

alegria, entusiasmo, o que me fez perceber que antes eu apenas sobrevivia, e que

então conseguia viver de forma plena.

Durante o curso, comecei a observar novas situações, ter visões de mundo

diferente, novos sentidos de vida, principalmente nas aulas de Psicologia da

educação, História da educação, por meio das quais pude emergir e transformar a

minha vida, com o autoconhecimento e a leitura de um mundo que nos cerca.

Foram três anos intensivos de tratamento e acompanhamento, mas que fez

despertar o que estava há muito tempo guardado na memória e reprimido pela vida,

buscar minha formação como professora, que antes fora julgada pelo pai como uma

profissão nada promissora. Assim, concretizei meu sonho e conclui minha segunda

graduação.

Contudo, aqui também se faz presente uma discussão de concepção na qual

me vi engendrada, pois o que passei a questionar significava ser bem sucedida, se

seria apenas o acúmulo de riquezas ou se seria realizar com prazer determinada

atividade, de forma que tivesse sentido para sua vida.

Peres (2004) contribui para esta discussão apontando que

tecemos uma rede de imagens fomentadoras de nossas representações e vivências acadêmicas. [...] E é dessa configuração que decorre o nosso poder de recriar o mundo diuturnamente, pois o imaginário é, consequentemente, fundamental nas criações do pensar humano. (PERES, 2004, p. 10).

Neste viés, podemos perceber como a vida pessoal, profissional e acadêmica

são interligadas, não há como segmentar, o que é possível perceber que antes de

ser racional, também somos sensíveis. “A vida precisa do vazio: a lagarta dorme

num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta”. (ALVES, 2003, p. 102)

Ao assistir ao filme Colcha de Retalhos, produzido nos Estados Unidos e

dirigido por Jocelyn Mohouse, narro as cenas que me afetaram e impactaram como

espectadora, principalmente diante da história de vida da personagem e as

metáforas que aparecem nas cenas do filme como forma de construção e

desconstrução do ser humano.

Assim como destaca Berkenbrock-Rosito (2014a), cada metáfora tem um

significado que pode ser utilizada para representar o trajeto formativo na escola e

31

fora dela de cada participante, sendo necessário imergir nos retalhos da vida para

conseguir narrar sua própria história.

A primeira cena é bastante impactante, pois apresenta um grupo de mulheres

confeccionando uma colcha para presentear a protagonista (Finn) e o tema

escolhido por todas elas é “onde mora o amor”. No decorrer do filme, Finn fica

conhecendo as histórias e segredos de cada uma daquelas senhoras, e isto serve

para que ela vá, aos poucos, refletindo sobre o que realmente quer de sua vida.

Esse momento pode servir para uma analogia para algumas ocasiões da

minha trajetória de vida, como quando estive em depressão, bem como os

momentos em que cheguei à fase adulta e quis identificar quais são os reais

objetivos da vida, como estou, quem sou e como vou conduzir a minha vida daqui

para frente. Um destes momentos também foi em 2014, quando decidi realizar o

processo seletivo para o ingresso ao Mestrado em Educação. Após, ser aluna

especial na disciplina de “Fundamentações da Estética”, no segundo semestre de

2013.

No momento atual em que me encontro, 4º semestre do Mestrado, perto da

conclusão desta pesquisa, percebo com quantos “nós” ainda preciso lidar, mas que

muitas vezes não tenho como desatá-los de um dia para o outro, sendo necessário

enfrentar as situações e buscar soluções de forma processual, para atingir o real

objetivo, compreendendo-se de forma singular.

Dessa forma, fazendo a leitura da cena, considero que a todo o momento

preciso reanalisar, avaliar, refletir e agir diante das situações, para que possamos

sempre ter em mente nossos ideais de vida. Nesse sentido, vejo que somos

responsáveis por fazer e bordar a nossa colcha de retalhos, pois assim não seremos

coadjuvantes, mas sim protagonistas da nossa própria história de vida.

A segunda cena impactante é constituída do desenrolar de um carretel de

linha, fazendo uma comparação entre este procedimento e a vida do ser humano: a

vida se desenrola aos poucos, em uma sequência, exatamente da mesma forma que

o rolo de linha. Ao pensar nesta imagem, remeto-me ao analisar os momentos

charneiras que tive em minha vida, no qual durante os anos de 2014 e 2015, os

pensamentos e ações estão voltados ao Mestrado.

É perceptível um momento de reclusão, um momento de isolamento diante de

demais áreas, no entanto, com um olhar aguçado e estético, que possibilitou a

identificação do belo ou do feio. Compreendo, ao longo da minha trajetória e história

32

de vida, como é fascinante perceber e analisar, principalmente refletir com o uso da

narrativa, pois o autoconhecimento e a autoavaliação acontecem em um processo

contínuo. Sendo assim, vejo que a aprendizagem só ocorre quando é experimentada

e vivenciada, de modo que haja crescimento e maturidade do ser humano, bem

como entender que para tudo há o tempo certo.

A terceira cena impactante é quando as mulheres passam a contar seus

segredos, sendo que as primeiras a contarem são a tia e a avó, Jaci e Gladi. Ao

encontrar-se desesperada pelo fato de seu marido estar à beira da morte, acaba

envolvendo-se, com o marido de Gladi. Na mesma cena em que Gladi descobre a

traição do marido com a irmã, há construção de uma metáfora: ela quebra tudo o

que vê pela frente, recolhe todos os cacos e faz obras de arte nas paredes de sua

casa.

Muitas vezes, nos deparamos com situações como essa relatada, o caso de

descontruir tudo o que há e construir um novo caminho. Enfrentam-se situações de

querer “jogar tudo para o alto”, relações cotidianas que nos remetem à vontade de

agir como a personagem Gladi. Quando me deparo com situações como essa,

procuro recolher todos os “por quês” para uma reflexão, diante do contexto, tempo e

espaço em que estou, para que possa amenizar a minha dor. Exatamente como fiz

quando entrei em depressão, busquei descobrir o que me levava àquela situação.

A quarta cena impactante é quando acontece um vendaval que aparece como

uma metáfora das ideias da moça, cuja cabeça está confusa, principalmente depois

da conversa com sua mãe, que dizia que tudo o que a mãe lhe ensinara até agora

estava errado, ela afirmava que estava enganada. Depois do vendaval tudo ficou

mais claro para Finn, e também para outras pessoas.

Esta é uma situação bastante comum em nossas vidas, quando não sabemos

o que acontecerá, ficamos confusos com as nossas ideias, não sabemos como

começar ou que atitude tomar perante uma situação, mas apenas com o tempo e

com as nossas atitudes é que fazemos com que aos poucos, tudo vai acontecendo

da melhor forma. Em vários momentos de minha vida, com tantas mudanças de

casa, ora vivendo com meus avós maternos, ora com meu pai, assim como minha

saída de casa, parecia que realmente havia passado um vendaval, em que tudo

havia retirado de seu lugar e precisava ser recolocado, ou seja, promover novos

significados para cada situação.

33

1.1.1 Narrativa Pictórica: um outro modo de olhar para si

Durante a construção da “Colcha de Retalhos”, uma reflexão individual ocorre

de forma interna, fazendo com possa ver sua história de vida tecida em retalho, mas

que impacta fortemente ao fazer a narração coletiva no grupo de pesquisa. De

acordo com Berkenbrock-Rosito (2014) esse momento é a importância de “tomar” a

consciência da ligação pessoal que o pesquisador mantém com seu trabalho de

pesquisa.

Nesse sentido, podemos pensar que de acordo com Paulo Freire auxiliando-

nos na inspiração da compreensão da humanização, um ser humano histórico e

inacabado pode, por meio do processo de conscientização, aprender a pensar a

partir do vivido: retomando a trajetória pessoal e profissional para ampliar o alcance

da Educação Estética aos educadores no desenvolvimento da criatividade como

prática da arte.

Eis que estavas dentro de mim e eu te buscava do lado de fora. Eu, disforme, lançava-me sobre as coisas belas que tu fizeste. Estavas comigo, eu não estava contigo. Mantinham-me longe de ti aquelas coisas que, se não fossem em ti, não existiriam. Chamaste, gritaste, venceste minha surdez. Resplandeceste, brilhaste e ofuscaste minha cegueira. Exalaste teu perfume. Eu o aspirei e suspiro por ti. Eu te provei e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me e ardi no desejo de tua paz. (AGOSTINHO, 1996, p. 38)

Acredito que todo o exposto aqui pode ser observado melhor na construção

de meu retalho, com suas metáforas e criações representativas de cada questão

envolvida, conforme abaixo.

34

Figura 1: Colcha de retalhos – A transformação de si Fonte: Confeccionada pela pesquisadora

Vale destacar que as histórias narradas de cada retalho individual instigam e

sugerem uma desconstrução e construção da ideia inicial, pois a construção escrita,

a narrativa oral e sua construção pictórica transformam o olhar e leitura da sua

própria história. Ao descrever e relatar a história de vida, podemos perceber os

acontecimentos que tivemos em nossa vida e que nos movem de forma, às vezes,

imperceptível aos nossos olhos.

Neste sentido, é importante refletir sobre o quanto da minha trajetória e

história de vida me constitui como um sujeito social que sou hoje. Como

determinados acontecimentos podem transformar-nos em um ser humano capaz de

ser crítico e reflexivo, diante do que não está dito ou exposto.

Toda a história de vida nos permeia e quando trazemos isso para a narrativa,

vamos percebendo o quanto podemos agir de formas diferentes enquanto

educadores e seres humanos, desde que possamos perceber o que vivemos ou

vivenciamos. É pela experiência que o aprendizado acontece, ressaltando que nada

acontece de maneira isolada, já que estamos inseridos coletivamente, onde uma

ação profissional, por exemplo, afeta diretamente em outras categorias da vida.

Diante da participação da Colcha de Retalhos, busquei como metáfora, algo

que pudesse ser representativo sobre mudanças e transformações, sendo assim,

35

com um estudo e pesquisa no Borboletário do Museu Nacional de História Natural e

da Ciência, pude constatar que a “Metamorfose da Borboleta”, como também

apresentado em imagem pictórica em minha colcha, esta é a metáfora que

representa a minha vida em todos os sentidos.

As borboletas apresentam metamorfose completa, isto é, à medida que vão

se desenvolvendo ocorrem mudanças na forma e na estrutura do corpo, assim como

acontece no processo de construção do conhecimento.

Figura 2: Transformação Fonte: http://www.artflakes.com/en/shop/christian-schloe

A metamorfose é um processo de transformação do seu modo de vida e que

apesar das mudanças, sempre busca a perfeição. Durante a sua fase larva, ela se

alimenta de uma pequena variedade de plantas ou de uma única espécie vegetal.

Este vínculo relativamente à sua planta hospedeira faz com que a área de

distribuição das borboletas seja em parte condicionada pela própria distribuição das

plantas.

A metamorfose, como metáfora da dissertação, apresenta o momento das

mudanças que ocorrem durante o período de realização do curso de Mestrado em

Educação. A cada aula, a cada nova disciplina, a cada reunião com o grupo de

36

pesquisa, novas mudanças ocorrem a fim de estruturar o pensamento e

conhecimento, um processo de metamorfose ocorre na formação profissional do

docente pesquisador.

No momento do casulo, o animal fica em repouso e não se alimenta. Essa

fase pode durar de dias a meses, dependendo da espécie. Nas borboletas, após a

fase de pupa, o casulo se rompe, saindo dele uma borboleta adulta, o imago. Após

sair do casulo, a borboleta aguarda algumas horas até que suas asas endureçam.

Esse momento é representando para mim como um período de alimentar-se

de conhecimento, a busca pelo saber, a realização das disciplinas do mestrado para

a elaboração, reflexão, análise e compreensão dos autores para tecer a escrita em

linhas de sentido e significado.

1.2 A saída do casulo: o sentido e significados dos sujeitos e sua historicidade

A narrativa autobiográfica encontra o seu sentido desde que se compreende

que “nós não fazemos a narrativa de nossa história de vida porque temos uma

história, temos uma história porque fazemos a narrativa da nossa história de vida”.

(DELORY-MOMBERGER, 2009, p. 9).

A narrativa da história de vida de cada sujeito é composta de recortes das

recordações e lembranças de fatos que deixaram marcas e influenciam as tomadas

de decisões dos sujeitos como pessoas e profissionais. Com Josso (1999) e Nóvoa

(1995), podemos refletir sobre a formação plena para o exercício da docência

significa que não é possível limitar esta formação aos aspectos técnicos e

tecnológicos, pois ela não se dá apenas em modalidades formais e no contexto

escolar, pois os professores são pessoas que se vão se formando em seus

diferentes contextos, ao longo da sua vida.

Na produção da narrativa há a possibilidade de se refletir sobre a

profissionalização e a profissão, como indagações sobre: O que é ser professor? O

que é ser um bom professor? Como transformar minha prática? E podemos elencar

diferentes questões sobre a narrativa singular as políticas e práticas de promoção da

igualdade de oportunidades por meio da educação.

Assim, podemos contextualizar que hoje vivemos em uma sociedade em

constante mudança, tanto econômica, quanto política e culturalmente, obrigando-nos

a rever as nossas ideias para mapear as intervenções. As mudanças afetam

37

diretamente a igualdade de oportunidades, uma tendência econômica forte, e a

desigualdade pela fragmentação cultural da população, uma vez que afeta

diretamente o Estado e as chances de mobilidade social e as distinções entre as

diferentes categorias sociais.

Tardif (2008) nos faz refletir sobre três questões que envolvem a

profissionalização do ensino e da formação de professores, são elas: quais são os

saberes profissionais dos professores? Em que e como esses saberes profissionais

se distinguem dos conhecimentos universitários? Quais as relações que deveriam

existir entre os saberes profissionais e os conhecimentos universitários? A fim de

identificar estas respostas é preciso tratar conjuntamente a conjuntura social da

profissionalização, a epistemologia da prática profissional, isto é, a pesquisa para o

ensino e também características da prática de professores.

Sarmento (2009) traz uma abordagem sobre as questões humanas da

profissão docente, principalmente sobre a contação de histórias de professores, por

meio da qual traz reflexões sobre a voz dos professores como base de

conhecimento das suas experiências formativas, prosseguindo numa linha

interacionista simbólica. Demonstra que é possível aprender com as histórias de

vida de professores, da profissão em família, da profissão em contexto quase

informais, da profissão na modalidade profissional, além das aprendizagens com os

pares, da profissão na escola e com as crianças.

De acordo com Sarmento (2009) o “paradigma ecológico”, construção

interativa entre o professor-pessoa e os contextos habitados, precisa ser

considerado diante dos contextos de vida pessoal, partindo das histórias de vida,

para compreender o perfil profissional do docente perante as escolhas, valores,

pensamentos e atitudes que se estabelecem nestas relações e ainda considerar os

papéis sociais em diferentes contextos em que se realizam a sua prática e

interações.

Para que se possa compreender esse processo, a abordagem indicada pela

autora como mais adequada é o acesso à história de vida, sendo utilizada como

recurso metodológico ou para acesso ao conhecimento de experiências de vida e

significado dos atores sociais.

Ao narrar, o sujeito cria sentido às suas experiências prévias, transformando-se essa atribuição de significado em formação [...] e ao mesmo tempo, permite-nos acender ao conhecimento sobre as vidas dos professores.

38

Interessa, aqui, reconhecer o valor que s atores sociais atribuem às suas memórias como interveniente na sua aprendizagem profissional. (SARMENTO, 2009, p. 304).

Desta forma, o professor, ao narrar a sua própria história, constrói

representações comuns da sociedade contemporânea e vivência como aluno e

professor. Durante o texto, a autora traz diferentes autores que tratam a questão de

dar vozes aos professores, na busca de conhecer seus percursos de vida.

Neste viés, essa narração busca captar a realidade que é construída

socialmente e para que se possam compreender os significados dos atores sociais.

Assim, o interacionismo simbólico, apresentado por Ritzer (1993) apud Sarmento

(2009), traz à luz os significados que as pessoas constituem com base em suas

experiências, num processo de interpretação na interação social entre a biografia e a

sociedade.

Diante das concepções de Ferrarotti (1983) apud Sarmento (2009) a práxis

dialética, a razão dialética e a teoria das mediações buscam o sentido “se nós

somos, se cada indivíduo representa a representação singular do universo social e

histórico que o cerca, nós podemos conhecer o social a partir da ‘práxis individual’.”

(SARMENTO, 2009, p, 51).

Contudo, podemos perceber que todo o processo de contar as histórias,

envolve o pensar, o sentir, a voz, a sensibilidade e a racionalidade de cada professor

buscando elementos para sua identidade profissional, sobre uma relação de

contextos de vida e aprendizagem, isto é, como define Boltanski (1982) apud

Sarmento (2009), a profissão do humano.

Sendo assim, é essencial tomar consciência dos fundamentos históricos, ter

uma postura mais questionadora e autônoma, ressignificando a partir de um novo

olhar é preciso um retorno a História.

A História da Educação aborda conceitos teóricos fundamentados sempre no

tempo histórico, no sujeito histórico, nos fatos históricos e na memória, ou seja, todo

estudo envolve o contexto e a história, para que haja uma compreensão do contexto

vivido, principalmente e devido as constantes evoluções históricas.

Nosso pensamento ocorre de forma linear, mas com um tempo e fatos

circulares, assim existem pensamentos e práticas que permanecem e outras são

rompidas em um determinado momento. Transpondo esses conceitos, percebemos

que a história é uma espiral, com a experiência humana e formas de compreensão.

39

De acordo com Zeichner (2008), a prática reflexiva dos professores dispensa

uma visão apenas técnica do saber fazer, pois tem o compromisso do saber e saber

ser, uma vez que se faz necessário trabalhar de forma coletiva e ativa nos

propósitos educacionais, especialmente como professor pensar para identificar

problemas e solução, isto é, refletir antes para tomada de decisão.

Nesse sentido, percebe-se claramente a importância de se conhecer o

passado por meio da historicidade, a cultura e o contexto de forma que seja possível

dominar os conceitos e relacionar com a sociedade contemporânea, conforme

aponta Mário Quintana (2006, p. 14) “O passado não reconhece seu lugar: ele está

sempre”, o que confirma o processo de construção e de autoria da pesquisa,

principalmente para obter diferentes pontos de vista para análise de um determinado

objetivo ou objeto.

Sendo assim, podemos afirmar que aprofundar nossos conhecimentos em

História da Educação e da Pedagogia é trabalhar com os modos de conhecer. Na

antiguidade, tínhamos como foco principal os mitos, em seguida contamos com a

Filosofia e a Arte. Já na Idade Média, através da Teologia, passamos a ter um

pensamento hegemônico da religião cristã católica no ocidente. Na Idade Moderma,

com a ênfase dada à ciência, temos a arte e a filosofia relegadas a segundo plano

como modos de conhecer a realidade. Afinal, a ciência postula que a razão deve ser

considerada como única fonte de elucidação dos fenômenos e inovações. Temos

ainda o desenvolvimento industrial que alia-se ao desenvolvimento científico.

Reveladas as circunstâncias dos modos de conhecer, busquei a definição e

conceito de educação a partir do que foi despertado com as discussões sobre a

Paideia, a educação da cultura grega do século V a.C, ênfase na educação da

consciência relacionada à moral e à ética, à estética como pilares que sustentavam

o ideal de educação do ser humano.

Assim, deleitei-me correlacionando o cenário atual da educação e a

Pedagogia, que tem como eixo norteador a formação plena do sujeito para o

exercício da docência, envolvendo a função social dentro dos ambientes

educacionais, principalmente como destaca Freire (2014) que envolve aspectos da

ética, a estética, a moral, a política, o poder e a ideologia.

Sendo assim, de acordo com Campbell (1990), a Paideia conduziu um

movimento coerente com um determinado tempo histórico, o sujeito histórico, fatos

históricos, registros, rupturas e reflexões acerca do ser humano e da dinâmica da

40

sociedade. Tendo como pressuposto que o sujeito é construído pelo ser humano de

acordo com sua evolução.

Diante do conceito da Paideia, concatenei com o filme 1492 – A descoberta

do Paraíso, pois as formas de conhecimentos presentes na época e como se

desencadeava o aprendizado englobava o valor do ser humano e de sua cultura, a

partir da concepção da sua totalidade que envolve a economia, a política, o

conhecimento e a da organização do poder, diferentemente daquilo que se percebe

na educação atual.

Relacionando os fatos históricos, Aranha (2006) mostra a necessidade de se

compreender o processo de estabelecimento de status em relação à formação,

representação na sociedade e poder social. O modo de conhecer e de produzir

conhecimento, no decorrer da história humana, transformou-se, passando por

diversas fases (como pelos pensamentos mítico, filosófico, racional) e continua

alterando-se até os dias de hoje. O conhecimento de fatos de períodos históricos

possibilita uma reflexão para o conceito de Paideia como um sistema de educação e

formação da cultura, o modo como ela, apesar de surgida na Grécia antiga, ainda

ser capaz de refletir a vida do ser humano no cotidiano, sem separar a vida.

Na Idade Moderna é possível conceber a ideologia do positivismo (causa e

consequência), no entanto, deve se considerar a existência humana de que sempre

há conceitos e as histórias envolvidas para que defina que matriz se utilizar em um

determinado contexto, como afirma Aranha (2006), que aborda a existência humana,

porque, além disso, se forma uma trajetória de vida, alertando que desta dimensão

existencial vem a opção filosófica.

Neste sentido, a contação de história é um processo que auxiliará na busca

da identidade de ser professor, de buscar a sua própria história, proporcionando um

autoconhecimento de seu percurso de vida, de modo a buscar a reflexão sobre a

sua ação, principalmente conscientizando-se de que não há como trabalhar de

forma isolada e alienada, pois tudo está interligado como numa rede.

Assim, romper o isolamento que ainda perpetua em muitos, pois é na troca,

na interação, na colaboração, no compartilhamento que aprendemos, passa a ser

possível ver o mundo com outros olhos e de forma diferente. Além disso, constituir

um novo olhar para si como educador, pois lidamos com pessoas que se formam em

diversos contextos de vida.

41

Consoante, Tedesco (2004) mostra que só mobilizar competências científicas

e técnicas dos indivíduos e grupos sociais não é suficiente, cabe também mobilizar

os seus sistemas de valores básicos, demonstrando que a decisão ética antecede a

definição de estratégias políticas. Em seguida, o autor traz aspectos sobre as

estratégias políticas a fim de romper com o determinismo social dos resultados da

aprendizagem, o qual denomina de "política da subjetividade”, tratando as políticas

de cuidados na primeira infância e estratégias de mudança educacional de forma

global.

Podemos relacionar a estas questões o conceito de “modismo pedagógico”,

desenvolvido por Houssaye (1988), que funcionada com a lógica da ênfase, o que

possibilita o surgimento do lugar do morto no triângulo pedagógico. Ele utiliza a

imagem do triângulo como referência ao equilíbrio que deve se fazer presente nas

relações pedagógicas que compreendem os processos pedagógicos e a prática

pedagógica. Os processos pedagógicos compreendem: ensino, aprendizagem e

formação. A prática pedagógica é formada por três sujeitos: o

saber/conteúdo/conhecimento, o professor e os alunos. Na lógica da ênfase dois

desses elementos se constituem como sujeitos enquanto que o terceiro dessa

relação deve aceitar o papel de morto ou fazer-se de louco. O sujeito é aquele com o

qual posso estabelecer numa dada situação, uma relação privilegiada, não pode

haver sujeito sem que o outro o reconheça como tal.

O processo de ensinar privilegia o eixo professor-saber; o formar privilegia o

eixo professor-alunos; já o aprender privilegia o eixo alunos-saber. A quem cabe o

papel de morto em cada um dos processos?

No processo de ensinar é atribuído aos alunos o papel de morto, sendo

privilegiada a relação professor-saber. No processo formar cabe ao saber o papel de

morto, a relação privilegiada é dos alunos e professor. O processo de aprender

privilegia os alunos e o saber, cabendo ao professor o papel de morto. Porém, é um

morto eficaz sendo um preparador e acompanhante da situação de aprendizado. O

morto pode ganhar o jogo, como explana Houssaye (1988).

Ao analisarmos o aspecto do triângulo pedagógico e de seus processos, é

possível perceber que ao serem adotadas as políticas de ciclos de aprendizagem,

enfoca-se o processo aprender, que privilegia o aluno e o saber, deixando para o

professor o papel de morto. Contudo, a situação não se sustenta, porque o aluno

não aprende sozinho. Outro aspecto a destacar é que o professor no lugar do morto

42

pode ganhar o jogo, ou seja, ao ganhar o jogo o eixo professor-saber volta a ser

hegemônico e o aluno no lugar do morto. O aluno no morto também pode recuperar

o jogo perdido e, temos o quadro da não aprendizagem. Como diz Freire (1997),

“não se pode dizer que ensinou se não houve aprendizagem. Aprendizagem

precede o ensino”. (FREIRE, 1997, p. 47)

Numa relação pedagógica em que o aluno não aprende, ele não é sujeito

dessa relação. Assim, é possível se questionar qual a função do professor e do

saber se não houve aprendizagem efetiva. O aluno, então, se torna o morto. O

morto, segundo o autor, é aquele que estabeleceu um buraco nas relações que eu

não posso mais reconhecer como sujeito. Já o louco é aquele que recusa os termos

do funcionamento comuns, não é reconhecido como sujeito. Ele perdeu as regras do

entendimento comum e o faz saber, perturbando o jogo normal.

Com base no texto de Houssaye (1988) sobre a metáfora do Triângulo

Pedagógico para refletir os modelos pedagógicos que fundamentam as ações dos

professores e, nesse contexto, busca refletir sobre as concepções que imperam e

determinam para promover uma consciência sobre a importância do equilíbrio entre

os elementos da prática pedagógica e os processos pedagógicos, assim como sobre

a fissura entre a teoria e a prática da ação educativa.

A metáfora do Triângulo Pedagógico, em Houssaye (1988), em analogia à

prática pedagógica e aos processos pedagógicos, significa para o autor que os

modelos pedagógicos vêm sendo construídos sob a lógica da ênfase. Tal lógica

prioriza um eixo da prática pedagógica e de seus processos, deixando um elemento

no lugar do morto, o louco, que pode ganhar o jogo, o que desequilibra a lógica.

Nesse sentido, o papel formativo da pedagogia envolve processos

pedagógicos (ensinar, aprender e formar) e a prática pedagógica (professor, aluno e

saber), no qual deve refletir sobre se há um ensino para a submissão ou para a

autonomia.

Diante dessa realidade, é de suma importância o aprofundamento teórico,

para que seja o aporte da análise realizada dos dados coletados para compreender

e mergulhar na compreensão do desenvolvimento da autonomia e emancipação dos

sujeitos. Cabe nos perguntar o que tem ficado no lugar do morto nos processos

formativos dos profissionais em educação?

43

1.3 O voo: um olhar para si e para o outro na história tecida no retalho

Figura 3: Nascimento da pesquisa

Fonte: https://pontosnosisetracosnostes.wordpress.com/tag/viver/

Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.

Paulo Freire (1996)

Neste estudo, o que tem ficado no lugar do morto nos processos formativos

são as narrativas de vida dos sujeitos que dele participam. Nesse aspecto, torna-se

pertinente apresentar a proposta de Berkenbrock-Rosito (2014) sobre os processos

formativos e prática docente, no que tange a metodologia e epistemologia presente

no dispositivo “Colcha de Retalhos”. Nesta proposta, percebe-se uma inquietação

epistemológica sobre os modos de como conhecer e produzir conhecimentos,

principalmente quanto ao lugar que o sujeito ocupa durante a construção do

conhecimento, no ensino, na pesquisa ou na extensão. Além disso, compreende-se

que a construção do conhecimento ocorre por meio das narrativas biográficas e

autobiográficas dos sujeitos, durante o processo de ensino-aprendizagem.

As narrativas têm um sentido epistemológico a partir da produção de

conhecimento que os sujeitos atribuem à formação docente. Nesse aspecto, a

formação docente será proveniente de cada narrativa de vida, isto é, diante de cada

experiência de vida que o sujeito teve durante sua trajetória.

44

Berkenbrock-Rosito (2014) ainda aponta que a interdisciplinaridade e a

transdisciplinaridade são frutos libertadores da dominação como objeto, pois o

sujeito produz saber com sentido e significado de mundo, por meio da linguagem,

sendo a base fundamental da epistemologia e assim a educação assume seu

sentido.

A autora faz menção a Bachelard e Piaget como inspiradores da

compreensão da ideia de sujeitos como indivíduos que constroem conhecimentos,

que, para isso, precisam articular os conhecimentos científicos com as demais

áreas, como a arte, ciência, filosofia e formação docente, distanciando e superando

o senso comum. Nesse aspecto, a autora encontra eco com o que preza Paulo

Freire em sua crítica à Educação Bancária, já que defende uma educação autônoma

e não de sujeitos passivos, mas de promoção da educação para a cultura científica

como transformação do senso comum.

Com isso, a autora propõe a “Colcha de Retalhos” como forma de mudança

no âmbito pedagógico, de construir e reconstruir a compreensão do papel docente

em formação, pois se trata de um dispositivo com um processo metodológico e

epistemológico de formação e com o uso das narrativas de vida, busca-se analisar a

experiência, pessoal e profissional, fruto da prática a ser fundamentado à luz de

teorias da educação.

A “Colcha de Retalhos” é composta por um processo de autonarrativa

(biografia e autobiográfica) que valoriza a estética, partindo do pressuposto que a

autonomia, emancipação e autoria do sujeito ocorrem pela dimensão da Educação

Estética.

Perante o estudo, é possível compreender que a formação docente deve

buscar o desenvolvimento do sujeito em sua totalidade, para que isso ocorra se faz

necessária a discussão sobre a organização curricular, para unir várias áreas do

conhecimento, apresentada por Libâneo e Santos (2010), que afirmam que o

conhecimento é construído pelas experiências de vida, pois envolve conhecimentos

científicos e empíricos.

Alguns outros movimentos de Berkenbrock-Rosito (2014) influenciam a sua

visão de compreender o trabalho docente. Sua experiência como aluna de Paulo

Freire é relatada, destacando que aprendeu com suas discussões sistematizar e

implementar os temas geradores associados à realidade e a educação, que

envolvem pesquisas, leituras, trabalhos coletivos e reconstrução do conhecimento,

45

desenvolvendo valores éticos, estéticos, morais, ideológicos e políticos para sua

transformação como sujeito e da cultura que o cerca, trazendo essa compreensão

para a “Colcha de Retalhos”.

A outra experiência fecunda de Berkenbrock-Rosito foi sua experiência como

membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade (GEPI),

coordenado por Fazenda, em 2004, na qual pode compreender a

interdisciplinaridade como uma categoria de ação, na sua dimensão filosófica,

cultural e existencial, usando-se de metáforas, símbolos, histórias de vida,

entrevistas na construção da maturidade intelectual, emocional e no

desenvolvimento da sensibilidade na formação do sujeito.

Esses processos fizeram a autora perceber que um trabalho visando à

humanização do sujeito nos processos pedagógicos, pois possibilita a participação

para sentir, pensar e fazer a relação com a realidade, compreendendo suas

representações e imagens, não poderia ficar apenas no discurso. Compreende a

importância do uso da história de vida dos sujeitos envolvidos nos processos

formativos, no contexto universitário, em que predomina uma formação do ensino

tecnicista, ou apropriação de um discurso crítico que não envolvia a participação do

sujeito, pois ele recebe o discurso crítico pronto, uma dimensão política importante,

mas que é limitada, recusando o grande valor da formação humana do profissional,

visando um pensamento crítico, reflexivo e criativo, necessários no âmbito

educacional para emancipação dos sujeitos, a partir de sua trajetória formativa.

Como modo de conhecer e produzir conhecimento, parte do pressuposto das

narrativas autobiográficas, que, de acordo com Josso (2002) e Nóvoa (2009), que

tratam a história de vida como um processo de conscientização, compreensão e

formação, envolvendo práticas e didáticas no processo de ensino aprendizagem,

ligado às experiências de vida e o modo de aprender de cada sujeito.

Josso (2002), outra referência de destaque para a autora, apresenta uma

reflexão importante nesse aspecto que é “o caminhar para si” que não trata de

enfatizar questões psicológicas ou fragmentar o conhecimento, mas de compreender

a experiência de vida que envolve diferentes níveis de realidade e dimensões

políticas, psicológicas, econômicas, sociológicas, históricas e culturais. Dessa forma,

as narrativas autobiográficas são importantes, pois são possibilidades do processo

de conscientização do sujeito histórico, por isso são fundamentais no processo

pedagógico.

46

Consoante, Adorno (2004) e Freire (2011) trazem sua crítica à mídia e os

sujeitos como oprimidos, pois criam falsas representações da realidade, a

submissão, o esvaziamento das potencialidades criadoras do ser humano e

capacidades criativas.

Nesse sentido, destacamos a importância do movimento de conscientização,

em Paulo Freire, da curiosidade estética e curiosidade epistemológica, no trabalho

docente, pois não há uma disciplina específica, mas sim se dá e ocorre pelas

relações com o professor, aluno e conteúdo, assim como destaca Schiller (2002) “o

homem não pensa, ele sente antes de pensar”, assim com os relatos das narrativas

temos à dimensão do sensível e este á algo silenciado e invisível.

O processo de descrever os momentos formativos foi desenvolvimento por

Berkenbrock-Rosito (2014), como um processo metodológico e epistemológico,

dentro da abordagem (auto)biográfica, proporcionando a autoria do sujeito.

Esse procedimento contempla o uso de um questionário narrativo que passa

por três dimensões da narrativa: a escrita, a oralidade e a pictórica para a coleta de

dados, que serão analisados e interpretados sobre as dimensões pessoais,

acadêmicas e profissionais.

A “Colcha de Retalhos” é produzida a partir das narrativas: escrita, oral e

pictográfica. A narrativa escrita é produzida a partir de três estratégias. A primeira

estratégia consiste no relato biográfico de três cenas marcantes do Ensino Superior.

Após o relato, é necessário refletir sobre a relação com o conhecimento, a relação

com o professor se foi de autonomia ou submissão, em seguida sobre que aluna fui

no Ensino Superior.

A segunda estratégia, o relato autobiográfico, é produzida utilizando-se do

“Quadro da linha da Vida”, buscando “os momentos divisores de água”, inspirados

nos “momentos charneiras”, em Josso (2002) que fazem parte do processo de

formação. O “Quadro Linha da Vida” consiste em ter foco nas categorias de espaços

e tempos, as subcategorias: vida familiar, escolar/acadêmica, profissional, pessoas,

professores, livros, filmes, relações amorosas, deslocamento geográfico, buscando,

no percurso de vida da pessoa, fazer o mapeamento desses momentos charneiras.

Em Josso (2002), o conceito de “momentos charneiras” é apresentado como as

vivências que marcam uma mudança de referencial de visão de si e do mundo na

trajetória do sujeito, decorrência de uma aprendizagem, que acontece na escola e

fora dela, que refletidas transformam-se em experiências de vida.

47

A terceira estratégia é a narrativa fílmica, que teve como disparador da escrita

o filme Colcha de Retalhos, produzido nos Estados Unidos e dirigido por Jocelyn

Monhouse, assistido em sala de aula, na disciplina “Fundamentos da Educação

Estética”, no Programa de Mestrado em Educação, do qual se extraem metáforas

para estabelecer uma relação com os processos educativos, sobretudo, o sentido da

experiência de um percurso formativo.

A narrativa escrita é transformada em narrativa pictográfica, que é o registro

da história da trajetória pessoal, acadêmica e profissional tecida em um retalho. A

narrativa oral ocorre quando a história tecida no retalho é contada em sala de aula.

Depois, costura-se cada retalho, formando a “Colcha de Retalhos”, representando a

história daquele grupo.

A narrativa escrita compreende a narrativa biográfica na educação básica ou

na graduação, na qual resgata três cenas marcantes e sua reflexão sobre o tipo de

relação do conhecimento com o professor e consigo mesmo, se foi de autoria ou de

submissão. Também se utiliza do “Quadro linha da vida” criado por Berkenbrock-

Rosito (2014), possui categorias de espaço e tempo: vida familiar, escolar,

profissional, formadores, livros e filmes, e fundamenta-se em Josso (2002) para

identificação dos momentos charneiras, que são os momentos de mudança de

referenciais, que influenciam o modo de ser.

As narrativas escrita, oral e pictórica transformam se em estudo documental,

biográfico e autobiográfico, que quando analisados com enfoque hermenêutico de

Gadamer (2000), passam a servir como fundamento para compreensão e

interpretação do percurso de cada sujeito.

A reconstrução da história traz marcas artísticas, atos de criar e reconstruir a

narrativa, relacionando-se com Freire (1997), que destaca que a educação pode ser

encarada como uma arte, expressada por meio da estética. Deste modo, há

possibilidades de superar a educação bancária, pois o professor não será

transmissor de conteúdo.

Durante esse processo, ainda numa concepção freiriana, a educação

possibilita perceber o plano de fundo social e cultural, no qual o sujeito vai construir

um novo contexto de seus valores morais, éticos e estéticos, à medida que

desenvolve sua autonomia, como capacidade de refletir, criticar, o que envolve a

ética e moral no processo de formação. A ética é constituída dos modos de proceder

48

nos espaços, ou como aponta Dussel (2000), a ética deve ser vista como conceito

de vida: reprodução, manutenção e desenvolvimento.

A ética [...] diz respeito à reprodução, manutenção, desenvolvimento da vida humana. Caberia às áreas do conhecimento a responsabilidade da dignidade, por exemplo, a medicina sendo responsável pela reprodução e a psicologia pela manutenção da vida, à educação caberia o desenvolvimento das potencialidades criativas dos sujeitos, com a atitude ética se configurando como princípio de respeito, solidariedade, compaixão, autonomia, participação na prática do bem a favor da vida. (BERKENBROCK-ROSITO, 2007, p. 302).

A autora fundamenta esse raciocínio em Dussel (2000) para refletir o

processo de aprender privilegiado pela escola. Portanto, partindo do argumento que

a formação deve ser voltada para aquisição do pensamento crítico, percebe a

importância de envolver a arte como processo criativo, pois abrange a razão e

sensibilidade, como no método de História de vida e no dispositivo “Colcha de

Retalhos”, que ao costurar os retalhos temos a construção do sujeito que possibilita

construir e reconstruir as dimensões formativas e pedagógicas.

A arte de narrar experiências e histórias tem como possibilidade o

desenvolvimento do pensamento crítico, entre o sensível e o racional para o

desenvolvimento da sensibilidade.

Além disso, quando não existe uma preocupação no uso da história de vida

dos sujeitos envolvidos nos processos formativos, privilegia-se o ensino tecnicista,

desvalorizando a formação humana do profissional, que envolve um pensamento

crítico, reflexivo e criativo para emancipação dos sujeitos.

Logo, a formação exige muito mais do conhecimento científico, pois envolve

sentimento, emoção e a razão, somente com essa totalidade é que haverá a

conscientização de ser e estar no mundo. Dessa forma, as narrativas

autobiográficas são importantes, pois são possibilidades do processo de

conscientização do sujeito histórico, fundamental no processo pedagógico.

Dessa forma, o primeiro momento para reflexão é como nos tornamos

profissionais da educação. Nessa questão, Tardif (2008) destaca que os saberes

profissionais são constituídos de um conjunto de saberes: saber (conteúdo), saber

fazer (enfoque pragmático, aplicar os conhecimentos da área específica) e saber ser

(atitude) que é a epistemologia da prática profissional.

49

Acreditamos que as discussões até aqui apresentadas contribuíram para a

compreensão do desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos,

compreender e interpretar as possibilidades e limites de desenvolvimento da

autonomia e emancipação dos sujeitos participantes na “Colcha de Retalhos”, um

dispositivo formativo de professores e pesquisadores desenvolvido por Berkenbrock-

Rosito (2014) concretizada dentro da abordagem da pesquisa (Auto) Biográfica.

Sendo assim, a compreensão da Educação Estética ocorre por meio da

participação em um procedimento importante de desenvolvimento, que auxilia os

sujeitos participantes a se tornarem conscientes de sua autonomia e emancipação

na conjuntura da contemporaneidade, proporcionando um olhar reflexivo, uma

possibilidade de romper com a educação bancária.

Um momento de pleno envolvimento, comprometimento e dedicação,

arrebatada pela criação e fruição, ao deslumbrar e encantar-se com os fundamentos

e conceitos de História de vida, autonomia e emancipação, sentidos e significados,

emoções, criatividade e a identidade docente.

Este processo de construção de conhecimento, de formação da identidade

docente e docente-pesquisador, não se dá apenas na prática da pesquisa. Deste

modo, buscamos compreender como isso se dá entre alunos do curso de

Pedagogia.

50

E são tantas marcas Que já fazem parte

Do que eu sou agora Mais ainda sei me virar...

(Lanterna Dos Afogados - Herbert Vianna)

51

2 FORMAÇÃO DE PROFESSORES-PESQUISADORES À LUZ DA EDUCAÇÃO

ESTÉTICA

A necessária promoção da ingenuidade à criticidade não pode ou não deve ser feita à distância de uma rigorosa formação ética ao lado sempre da estética. Decência e boniteza de mãos dadas. (FREIRE, 2014, p.34).

O objetivo deste capítulo é compreender a fundamentação teórica sobre o

sentido da dimensão estética na educação e processos formativos do professor-

pesquisador no Curso de Pedagogia, que formam o professor, o coordenador

pedagógico e o gestor educacional. Busca-se compreender o desenvolvimento da

autonomia e emancipação dos sujeitos à luz da educação estética como um

caminho de justiça entre os homens.

Busca-se, nesse contexto, em Freire (2014), o desenvolvimento da

autonomia, em Adorno, a emancipação da estética da indústria cultural fomentadora

da massificação dos sujeitos. Procura-se ainda, em Schiller (2002), a percepção do

sensível e da razão, destacando a experiência estética, como possibilidade de

construção e produção do conhecimento pelos sujeitos, por meio das narrativas, em

prol da construção de um olhar estético à formação de professores-pesquisadores.

2.1 Educação Estética: um caminho de humanização dos sujeitos

A Educação, etimologicamente, traz dois significados: educere no sentido de

fazer sair, lançar, tirar para fora, trazer à luz, educar; educare significando criar,

amamentar, sustentar, elevar, instruir, ensinar. Este duplo sentido da palavra

educação faz referência ao desenvolvimento e seus resultados educere, e

intervenção educativa educare. (Maurice Debesse e Gaston Mialaret (1974); Giustini

Broccolini, 1990) “A palavra Educação é, na língua portuguesa, formada pelo verbo

educar e o sufixo ação, indica um movimento de desenvolvimento e possibilidade de

intervenção”. (MARTINS, 2001, p. 243)

Faz-se necessário ressaltar que a educação ocorre em todos os espaços da

sociedade, desenvolvida por humanos e para os humanos, na convivência entre

pessoas e natureza, entre pessoas e pessoas, que ocorre em instituições sociais de

todas as áreas com o propósito de perpetuar as experiências que proporcionam bem

estar, felicidade e prazer.

52

É interessante aqui conhecer a origem da palavra Estética, que deriva dos

termos gregos, Aisthétikos, a faculdade de sentir, e Aisthesis, como sensação.

Assim, a Estética pode ser compreendida como uma dimensão própria do homem,

que vai além da vida humana, que traz a sensação como fruição, criação ou,

ruptura, como também consegue mover vontades e despertar interesses.

Buscando compreender melhor o conceito de Estética, Perissé (2009)

sabendo dos inúmeros sentidos do vocábulo, aponta a obra do filósofo francês

Etienne Souriau (1892-1979) e sua filha Anne, onde encontrou 1400 páginas, com

cerca de 1800 verbetes, entre estes, o termo Esthétique, com quatro páginas

dedicadas à sua compreensão. Já o vocabulário de Souriau apresenta também as

concepções de estética, entre outras, hegeliana, kantina, platônica, marxista,

freudiana. Traz ainda a estética vista nos traços da arte cristã, islâmica, japonesa,

egípcia. Assis Brasil, em seu dicionário do conhecimento estético, expõe 87

verbetes, constando as relações entre a arte e o cérebro, a feiúra, a beleza, o jogo, a

liberdade, a política, a religião, a terapia, a estética.

Considerado o criador da palavra Estética, Alexander Gottlieb Baumgarten

(1714-1762) (2000), remete também às origens gregas do termo. Em sua tese de

doutorado, publicada em 1735, aparece a palavra aesthetica. Baumgartem foi

bastante influenciado por Leibniz (1646-1716) e Wolf (1679-1754) influenciaram

Baumgarten, que se referem aos antigos gregos e os padres da Igreja, destacando a

diferença entre coisas percebidas pelos sentidos (aistheta) e coisas conhecidas pela

inteligência (noeta). Assim, temos as duas estruturas para configurar a realidade: “as

realidades noéticas estão no campo da lógica, e a realidade sensível é considerada,

uma gnoseologia inferior”. (BAUMGARTEN apud PERISSÉ, 2009, p. 11).

Deste modo, Baumgarten (2000) vê a Estética como uma disciplina científica,

ciência da estética, ciência da percepção, que denota doutrina do conhecimento

sensível. Assim, a compreensão das inúmeras sensações confusas, obscuras e

desconcertantes, experimentadas e vivenciadas diante das artes, como poesia,

pintura, música, enfim, das artes em geral é a finalidade desta disciplina. Para

Baumgarten: “A Estética nos permitirá aperfeiçoar nosso conhecimento da beleza, a

arte de pensar a beleza e de pensar belamente”. (BAUMGARTEN apud PERISSÉ,

2009, p. 11).

A estética é mais do que um ramo da filosofia, uma teoria da arte, é um

conceito polissêmico que foi sendo construído ao longo do tempo. É com século

53

XVIII que a estética abrange a arte ao ser compreendida com a ciência filosófica do

belo. Neste sentido, Herwitz (2010) pontua que:

pensar que a beleza, e muito menos a arte, constitui um objeto de estudo filosófico genuíno [...] a arte é tudo que há de pior, pois, se a poesia e uma droga performativa, então, a pintura e a escultura são meras cópias de cópias, tentativas de simular o mundo de um modo indecifrável a partir de seu modelo. (HERWITZ, 2010, p. 19).

Platão presenteia a poesia quando a compara à filosofia, ou seja, quando a

mesma brinda o conhecimento, endossado por Aristóteles que admira a poesia, ou

seja, o drama trágico, por ser profunda e reconhecer que ela é “mais filosófica do

que a história” (HERWITZ, 2010, p. 22). Assim,

a estética nasce como uma disciplina quando a beleza se torna o foco central. A beleza somente pode tornar-se o foco central, porque a filosofia está pronta para libertar sua experiência de conhecimento, quando ela está pronta para entender o valor da experiência na medida que ela tem seu próprio fim. (HERWITZ, 2010, p. 25).

Herwitz (2010) descreve que a disciplina da estética filosófica surge no século

XVIII, sendo que a mesma já havia sido analisada por filósofos como Platão que a

tratava negativamente, pois estava no campo do sensível. Para ele, a beleza, em

sua filosofia, estava nas formas ideais que eram compreendidas por meio da

verdadeira realidade das coisas, Platão tratava como insanidade.

A obra Educação estética do homem, escrita em 1795, por Friedrich Schiller

(2002), poeta, filósofo e dramaturgo alemão, consiste na origem à formação de suas

ideias sobre Estética nas cartas enviadas ao príncipe Augustenburg. As cartas de

Schiller sobre a Educação Estética do homem exaltam o meio transitório para

chegar-se ao estado moral, para transformar os postulados morais em práxis

cotidianas. Cabe a uma nova humanidade íntegra e perfeita, criar o Estado moral, e

não ao Estado moral, imposto criar a nova humanidade. O autor ainda defende que

a estética faz as vezes também de uma doutrina da virtude de uma ética que vem

completar o sistema moral.

Schiller utiliza-se muito de conceitos desenvolvidos por Kant na formação de

suas ideias sobre Estética, emoldurando seu argumento com a terminologia kantiana

de entendimento, a razão e a imaginação. No entanto, ele também modifica

visivelmente muitas das teorias de Kant. Schiller (2002) destaca o que ele vê como

54

as falhas do dualismo kantiano, propondo mudanças sutis, mas radicais, para o

modo como entendemos a liberdade, e (talvez o mais importante) a moralidade.

Alternadamente abraçando e lidando com noções de Kant sobre o ser humano e sua

capacidade de experimentar a beleza e alcançar a visão moral, Schiller (2002)

demonstra o potencial interior do indivíduo que reúne os princípios morais e

estéticos.

Schiller é o precursor no emprego do conceito de Educação Estética. O autor

já dizia que o homem é um ser sensível e racional e propõe uma via para libertação

do ser humano, voltada para a reunificação entre corpo e mente. Sendo este

sensível inerente à natureza humana, emerge de forma espontânea e o racional que

é cultural.

O sensível é algo que chega por meio dos sentidos. Não é próprio do

sensível, mas sem ele nem advém, nem permanece. Somos seres em conjunção,

entendida aqui como o movimento que une o gênero próximo ao específico do nosso

ser. Assim temos o sensível dado e o sensível produzido, pois como aponta Santos

(1996), “todos nós somos estéticos, ao fim e ao cabo tudo o que nos chega através

dos sentidos, sensivelmente constituído é estético também.” (SANTOS, 1996, p.

216).

A estética compreende tudo aquilo que chega pelos sentidos, mas o mundo

não se constitui por apenas que chega aos nossos sentidos, mas também pelo

sentido que lhe damos, ou seja, pelo modo de reflexão do sensível. É mediante a

cultura ou Educação Estética, quando se encontra no “estado de jogo”

contemplando o belo que o ser humano poderá desenvolver-se plenamente, tanto

em suas capacidades intelectuais quanto sensíveis. Esse é, aliás, o sentido da

passagem mais famosa de Schiller (2002), que destaca

suportará o edifício inteiro da arte estética e da bem mais dificultosa arte de viver. Pois, para dizer tudo de vez, o homem joga somente quando é homem e no pleno sentido da palavra e somente é homem pleno quando joga. (SCHILLER, 2002, p. 76).

Schiller sublinha “jogo”, “prazer” e “imaginação”, três conceitos que ele

persegue em seus escritos estéticos. Em seu estudo, Schiller (2002) argumenta que

os gregos possuíam uma espécie de unidade divina entre a imaginação e a razão, a

coerência interna da natureza humana foi dilacerada. Em suas notas, Schiller

55

relaciona essas palavras ao movimento e mudança, e, na verdade, ele está

profundamente interessado em transformar o indivíduo em primeiro lugar e,

finalmente, a sociedade por meio de sua noção de educação.

Schiller (2002) estabelece uma relação tridimensional, ou seja, apesar da

força existente entre opostos, ele acredita numa relação entre o impulso sensível

que “é aquele ao qual se prende, por fim, toda a aparição da humanidade” e o

“impulso formal que parte da existência absoluta do ser humano ou da sua natureza

racional” (Schiller, 2002, p. 60). Ambos resultam numa terceira dimensão: a do

impulso lúdico, cuja significação está baseada na compreensão da beleza, no qual o

sensível e o racional se fundem, desta maneira “este impulso lúdico seria

direcionado, portanto, a suprimir o tempo no tempo, a ligar o devir ao ser absoluto, a

modificação à identidade (SCHILLER, 2002, p. 60).

No estado do jogo o “impulso lúdico”, razão e sensibilidade atuam juntas e

não pode mais falar da tirania de uma sobre a outra. Por meio do belo, o ser humano

é como que recriado em todas as suas potencialidades e recupera sua liberdade

tanto em face das determinações do sentido quanto em face das determinações da

razão. Pode-se afirmar, então, que essa “disposição lúdica” suscitada pelo belo é um

estado de liberdade para o ser humano.

O autor ainda esclarece que o impulso sensível parte da existência sensível

do ser humano, já o impulso formal parte da existência racional do ser humano. Num

primeiro momento, parece que o ser humano se reduz a isso e não há conciliação

possível, mas para Schiller existe um terceiro impulso que é o impulso lúdico, que se

apresenta como um jogo. Não podemos ser pura sensibilidade, nem razão pura. A

solução é o equilíbrio entre estas duas forças que acontece neste jogo lúdico, no

qual a beleza exerce o papel de mediação.

Essas espécies de efeito de beleza, contudo, devem ser uma só segundo a Ideia. Ela deve dissolver quando faz igualmente tensas as duas naturezas, e deve dar tensão quando as dissolve por igual. Isso resulta desde logo do conceito de uma ação recíproca em que as duas partes se condicionam mutuamente com necessidade, ao mesmo tempo que são mutuamente condicionadas, e cujo produto mais puro é a beleza. (SCHILLER, 2002, p. 79).

Schiller (2002) articula também que por meio da veracidade e da equidade

inseridas em seus conceitos, a arte e o belo, como intervenção para o impulso lúdico

56

e para o ideal do ser humano, não podem se corrompidos. Ele acredita que a

libertação tem de acontecer no interior para que seja extravasada exteriormente.

Deste modo, Schiller elabora os conceitos de impulso sensível, formal e lúdico

e propõe a Educação Estética, ou seja, a formação do ser humano sensível, de

maneira que proporcione ao ser humano a apreciação do belo, pois este, como os

outros gostos, são aprendidos. O sensível aqui não se refere apenas à sensibilidade

artística, mas ao todo da existência humana, como meio para a conquista do ser

humano ideal, o ser humano que domina sua natureza selvagem e busca a

humanidade com ética. É pela intervenção de uma Educação Estética, que ocorre a

possibilidade do nascimento de um sujeito moral e ideal.

Daí nascem as duas tendências opostas no homem, as duas leis fundamentais da natureza sensível-racional. A primeira exige racionalidade absoluta; deve tornar mundo tudo o que é mera forma e trazer ao fenômeno todas as suas disposições. A segunda exige a formalidade absoluta: ele deve aniquilar em si mesmo tudo que é apenas mundo e introduzir coerência em todas as suas modificações; deve exteriorizar todo o seu interior e formar todo o exterior. (SCHILLER, 2002, p. 57).

Para Schiller, estética e ética estão associadas, de maneira que a estética

gera a ética como um caminho eficiente para a melhora da humanidade, a arte,

aliada à sensibilidade e a racionalidade, é um caminho que leva ao desenvolvimento

da autonomia do sujeito. Afinal, a Educação Estética, ou seja, a relação do sensível

com o racional, ou ainda a possibilidade de aprendizagem do belo, e as mudanças

que essa aprendizagem pode trazer para quem a aprende, podem contribuir para

essa conscientização do ser humano como ser interligado com o mundo. O objetivo

de Schiller (2002) é preservar a sensibilidade do ataque da liberdade e,

concomitantemente, assegurar a proteção da personalidade contra o poder das

sensações. Para ele o objetivo comum é a formação, seja da capacidade de sentir

ou da capacidade racional, contemplando a primeira e a segunda tarefa da cultura

respectivamente.

Ao colocar o foco na sensibilidade, não está dizendo que os conceitos não

estarão presentes. As faculdades são os que tornam os seres humanos autônomos.

O ponto aqui é que a sensibilidade, a imaginação e o juízo são reunidos na teoria da

estética.

A Educação Estética é, em Schiller (2002), basicamente, caracterizada como

a educação por meio da capacitação do olhar, a fim de entender as manifestações

57

das sensações boas ou más diante de obras artísticas ou da arte da relação

consigo, com o outro e com a cultura. O refletir sobre o que nos ocorre aguça a

sensibilidade, para perceber a beleza como expressão da autonomia de pensar e

descobrir-se sujeito que sente e pensa sobre o que sente atentando para todos os

matizes. A Educação Estética, como primordial e inerente ao ser humano, não é

privilégio da arte, uma vez que engloba o julgamento do belo, o gosto e o

sentimento, que são matérias subjetivas, que vão fazer aflorar a sensibilidade.

Educação Estética consiste, na visão de Schiller, refletir sobre o significado

daquilo que nos afeta causando prazer ou desprazer, gosto ou desgosto. Nesse

sentido, a aprendizagem não é só consequência da transmissão de conhecimentos

explícitos no currículo oficial, mas se dá, principalmente, pelas interações sociais

que ocorrem nos espaços educativos e formativos, no qual o jogo lúdico, entre

buscar o equilíbrio da razão e emoção são eixos importantes nessa relação

formativa.

Nesse sentido, cabe compreender na perspectiva de Schiller a dimensão

estética na educação e formação. A primeira dimensão estética encontra-se no

próprio conteúdo que a educação evidencia. A segunda dimensão constitui-se do

ambiente envolvente do processo educativo dá conta dos espaços, dos objetos, dos

instrumentos, enfim, do meio pedagógico visto como um todo, ambiente que

harmonize a qualidade estética com o meio cultural e humano. Santos (1996)

adverte, no entanto, que esse não poderá ser entendido como um processo

incondicional do estético, esteticização da vida, em que tudo seja reduzido e

limitado, pois essa condição levaria à morte a estética que, somente, pode mostrar a

sua pujança na multiplicidade, na diversidade.

A terceira dimensão, o mediador pedagógico, destaca o princípio da

simplicidade e da singeleza, mostrando que o grande mérito de um gênio é fazer-se

compreender por uma criança, despindo-se da afetação para resgatar o valor

estético e pedagógico da imagem, da metáfora, do símbolo. Essa dimensão traduz-

se na capacidade de exibir no sensível a forma e a liberdade exigidas por uma

educação intelectual e racional, como ainda esclarece Santos (1996).

Em sua quarta dimensão, a própria finalidade e horizonte da educação,

Schiller propõe o desenvolvimento integrado das potencialidades do espírito

humano. Chama a atenção para os perigos da evolução de uma das faculdades em

detrimento das demais, o que resultaria em prejuízo para a coletividade. Propõe que

58

se faça uma inversão que venha a contemplar o jogo livre e harmônico de todas as

dimensões humanas. Santos (1996) esclarece que, para Schiller, se existe um

enorme progresso em determinadas faculdades espirituais pode originar homens

extraordinários, contudo apenas a harmonia das faculdades conseguirá formar

homens felizes e perfeitos. O autor ainda defende que essa totalidade destruída pela

cultura somente será restabelecida com o advento de uma nova e mais elevada

cultura.

A Educação Estética é, por certo, também educação para a arte e pela arte

assim se nomeou a quinta dimensão Schilleriana como proposta pedagógica. O que

se observa nessa proposta é a busca da correção da arte e da prática da educação

artística que contemplam faculdades isoladas, para Schiller, as artes deveriam

metamorfosear-se em todas as outras.

A sexta dimensão pedagógica se refere à forma mesma e o espírito de toda a

educação. Santos (1996) discorre sobre as atitudes do agir pedagógico,

evidenciando que a estética é o domínio da liberdade, da livre liberdade, da

liberdade sem coação. Assim, tem-se nessa dimensão mais uma vez a reiteração da

integração dos objetos e sentido.

É importante destacar que a estética não se restringe à arte, mas diz respeito

também à natureza humana. A estética está presente em todas as dimensões de

nossa vida. As relações humanas são estéticas, as nossas atitudes para com o outro

podem ser bonitas ou feias, um prédio, o bairro, nossa cidade, o ambiente escolar,

tudo ao nosso redor é estética, o que incomoda é a estética do feio presente nas

guerras, na fome, na violência, na miséria de milhões de pessoas que é a expressão

estética do feio.

Em consonância, Adorno e Horkheimer (1985) desenvolvem a concepção da

estética da massificação cultural, advinda do termo criado por eles, filósofos

alemães da escola de Frankfurt, cunhado sob a teoria da indústria cultural, a fim de

designar a situação da arte na sociedade capitalista industrial. De acordo com

Adorno e Horkheimer (1985), na indústria cultural, tudo se torna negócio e, enquanto

negócio, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada

exploração de bens considerados culturais. Um exemplo disso, dirá ele, é o cinema:

O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A verdade é que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem. Eles se definem

59

a si mesmos como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais suprimem toda dúvida quanto à necessidade social de seus produtos. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 114).

Nesta perspectiva, é possível destacar que a arte tornou-se um meio eficaz

de manipulação dos sujeitos.

Em primeiro lugar, há uma transformação básica na chamada superestrutura, confundindo-se os planos da economia e da cultura. A indústria cultural determina toda a estrutura de sentido da vida cultural pela racionalidade estratégica da produção econômica, que se inocula nos bens culturais enquanto se convertem estritamente em mercadorias; a própria organização da cultura, portanto, é manipulatória dos sentidos dos objetos culturais, subordinando-os aos sentidos econômicos e políticos e, logo, à situação vigente. (ADORNO, 1995, p. 21).

Adorno e Horkheimer (1985) explicitam que isto funciona como uma indústria

de produtos culturais visando o consumo, para eles a indústria cultural transforma as

pessoas em consumidores de mercadorias culturais, suprimindo toda a seriedade da

cultura erudita, assim como sua autenticidade. A indústria cultural tem como objetivo

a submetida a elevar-se da técnica que é usada pelos meios de comunicação de

forma original e criativa que impede o ser humano de pensar de forma crítica, de

imaginar, doutrinando as consciências por meio dos gostos padronizados e da

indução para o consumo. Assim a indústria cultural substituiu o termo cultura de

massa, pois não se trata da valorização da cultura, mas de uma ideologia que

desconsidera diferenças culturais e padroniza todo mundo, com forte apelo

publicitário.

Adorno busca na estética contemporânea a viabilidade de um resgate da

percepção dos sentidos, pois sabemos que a obra de arte não estabelece uma

identificação imediata, mas de mediação com a realidade social que a produziu.

Neste sentido, caso a dimensão estética da obra artística por si só não se constitua

como determinante de mudanças das condições sociais, ela contém em si pelo

menos a possibilidade de articular tais mudanças.

A educação social é importante para compreender as raízes da desigualdade

e procurar encontrar meios para diminuí-las, levando os alunos a uma reflexão

estética. O rigor e o jogo são os polos da filosofia, o pensamento e a sensibilidade

são os polos da resistência. É esta tensão a única via para a possibilidade de uma

ação transformadora, uma ação que não se perca como pseudo-ação porque

emanada de uma pseudo-realidade- como nos alerta Adorno (1982).

60

Esse processo de conscientização compreende o desenvolvimento da

autonomia e da emancipação que ocorre por meio da estética. Pensar a dimensão

estética nos processos formativos significa priorizar a humanização do indivíduo,

que em Freire (1975), contempla a Pedagogia Libertadora uma oposição à

Educação Bancária e visaria ao desenvolvimento de autonomia dos sujeitos, em

Adorno (1995), a emancipação em relação à manipulação estética da indústria

cultural.

Neste viés,

A prática educativa supõe uma ética que contribua à formação de sujeitos morais e à construção de grupos, instituições e sociedades com relações baseadas em princípios éticos universais, como a justiça, o cuidado e o respeito. (AMORIM NETO; BERKENBROCK-ROSITO, 2007, p. 620).

Em nosso corpo habita o sensível, que nos possibilita condição de vida e do

conhecimento. O ser humano estético valoriza as emoções e os sentimentos, mas

sem esquecer o racional. Não é possível, nem desejável, desprezar a razão, mas a

própria ciência já avançou o suficiente para saber que apenas o conhecimento

técnico-científico não é capaz de dar conta do ser humano em suas múltiplas

dimensões.

Pensando num sujeito estético devemos concebê-lo como um ser em busca

do equilíbrio entre emoção e razão e se como diz Larrosa (2002) “caminhar não é

tanto ir de um lugar a outros, mas levar a passear o olhar. E o olhar não é senão

interpretar o sentido do mundo, ler o mundo” (LARROSA, 2002, p. 5). Deste modo,

ousamos pensar o sujeito estético como um ser humano capaz de passear e pousar

o olhar, interpretando e agindo diante do cenário que tem diante dos seus olhos.

2.2 Experiência Estética: a narrativa como produção do conhecimento nos

processos formativos

Podemos definir como uma experiência estética, como um processo de

aprendizagem, um fenômeno que não se deixa ver, porém, está presente na relação

com o ambiente físico e com as pessoas que convivemos. Emerge de sensações de

gosto e desgosto, prazer e desprazer, que arrebatam e têm impacto diretamente nos

61

sujeitos. Uma aprendizagem estética do espaço educativo que não ocorre via o

conteúdo oficial de uma disciplina, mas sim sentido pelos sujeitos.

A experiência estética abre porta para uma compreensão radical da realidade e do ser humano. Uma obra de arte com a qual se possa relacionar de maneira a iluminar a concepção de mundo é uma via privilegiada de acesso também a si mesmo, um convite instigante para se repensar a própria conduta, para se reavaliar a hierarquia dos valores, uma provocação para se questionar possíveis conivências pessoais com a mediocridade, com a falta de criatividade que se nota em comportamentos intolerantes, autoritários, rígidos, pragmáticos, egocêntricos, materialistas, niilistas, reducionistas etc. (PERISSÉ, 2004, p. 75).

A experiência estética é parte dos conceitos empregados para capturar as

vicissitudes do ser humano considerado como um objeto de estudo. Essa parte da

mente, do espírito, da emoção, da reação que a ciência deveria detalhar, permite

que o ser humano tenha as experiências e extraia as consequências que ele possa

extrair dessa experiência. Quando falamos em experiência estética, estamos nos

referindo ao ambiente da aprendizagem, onde todos os detalhes são importantes.

Assim, temos a contribuição de Freire (1997), para quem a expressão da estética na

educação ocorre por meio de gestos, entonação da voz, quando e como o educador

se posiciona na sala de aula, dando início a uma relação estética. A estética da

sensibilidade deverá substituir a da repetição, estimulando a criatividade, a

curiosidade e a afetividade.

O foco sobre a experiência estética incide sobre a experiência individual e não

sobre o valor social, apesar de ser também importante. Começa a liberdade do

cerceamento da religião e do controle monárquico. Consiste para a estética filosófica

libertar a beleza do ônus do conhecimento. Seu ponto será considerar algo belo que

não deva ser considerado conhecer ou aprender algo, mas um tipo de experiência

que tem valor por si mesma.

A experiência de relação estética é a experiência do sujeito com o outro,

consigo mesmo e com o mundo, mediada por uma postura que contraria as relações

baseadas apenas no utilitário com o mundo externo. Por sua vez,

o estético só se dá na dialética do sujeito e do objeto e que, portanto, não pode ser deduzido das propriedades da consciência humana, de certa estrutura dela, da psique ou de determinada constituição biológica do sujeito. A consciência estética, o sentido estético, não é algo dado, inato ou biológico, mas surge histórica e socialmente, sobre a base da atividade

62

prática material que é o trabalho, numa relação peculiar na qual o sujeito só existe para o objeto e este para o sujeito. (VASQUÉZ, 1978, p. 97).

Os objetos despertam os sentidos pela sensação de gosto ou desgosto, pela

emoção que são capazes de despertar e esses são sentimentos originários no ser

humano, que podem ser desenvolvidos ou aguçados, mais em uns do que em

outros.

Portanto, refletir sobre o significado daquilo que o afeta causando prazer ou

desprazer, gosto ou desgosto, singularmente, auxilia o processo de humanização da

educação, sem buscar “coisificar” o sujeito para o consumo.

Sócrates em “conhece-te a ti mesmo”, um marco no pensamento filosófico,

transforma a frase do oráculo em missão de vida, atribuindo a razão ao ser humano.

Procurou levar os homens a interrogarem-se para reconhecer a insensatez e a

ignorância de si próprios, despertando as suas consciências. Talvez tentar se

compreender para agir de acordo com o que se pensa é a busca pelo seu

conhecimento para se aproximar da verdade, (479-399 A.C).

Sendo assim, o papel da universidade e do professor, com base na

intervenção e na produção de conhecimento com os alunos, precisa ir além da

reprodução do conhecimento e da transmissão de informações, uma vez que este

tipo de transferência de saberes pode ocorrer ao serem utilizados livros,

enciclopédias e/ou recursos como a Internet.

A respeito das práticas educativas, Freire (1997) diz que:

Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes. (FREIRE, 1997, p. 54).

Ainda a respeito das práticas educativas, Freire e Shor (1986) elucidam que:

O ato de conhecer, de criar e recriar objetos faz da educação uma arte. A educação é simultaneamente uma certa teoria de conhecimento entrando na prática, um ato político, ético e estético. Gestos, entonações de voz, o caminhar na sala de aula, poses, participam da natureza estética do ato do conhecimento, do seu impacto sobre a formação dos estudantes através do ensino. (FREIRE; SHOR, 1986, p. 145).

63

A construção e produção do conhecimento de acordo com Freire (2014),

ocorre a partir da curiosidade estética que os sujeitos desenvolvem a curiosidade

epistemológica. É a partir dessa curiosidade, que o mundo desperta em nós, que

queremos ir além do senso comum e procurar as justificativas para os fenômenos

naturais e sociais no mundo em que estamos inseridos. A curiosidade é inerente a

todos os seres humanos, não é apenas um sentimento.

Esta disposição permanente que tem o ser humano de espantar-se diante das pessoas, do que elas fazem, do que elas dizem, do que elas parecem; diante dos fatos, dos fenômenos, da boniteza, da feiúra, esta incontida necessidade de compreender para explicar, de buscar a razão de ser dos fatos sem ou com rigor metódico. Esse desejo sempre vivo de sentir, de viver, de perceber o que se acha no campo de suas “visões de fundo.” (FREIRE, 2012, p. 124).

A curiosidade estética ou que nos emociona comparado ao impulso sensível

descrito por Schiller é sentida na relação do dia a dia, como citado por Freire (2012).

De acordo com Freire (2012), a boniteza não é imunidade de uma

comunidade, mas uma elaboração em que todos participam e é preciso ser nas

relações, nas decisões, através de ensaios, de maneira que se torne possível por

meio das atitudes de produzir o mundo.

Neste contexto, é essencial que devemos sair do automatismo estratificado e

questionar o porquê estamos fazendo determinadas coisas e isto se faz por meio da

validade do conhecimento (gnosiologia) e para que isto ocorra é necessário que haja

crítica, ou uma curiosidade epistemológica, impulso formal na visão de Schiller.

Josso (2002) é uma referência importante para as reflexões sobre os

processos formativos, no que tange as narrativas sobre as histórias de vida. Traz

uma reflexão sobre a importância de se trabalhar com a história de vida, para isso a

autora relata seu procedimento a partir da metáfora dos nós dos marinheiros, como

uma figura de ligação, que reúne dois fios e muitos outros, vista a complexidade de

ligação entre os seres humanos tem-se a importância do estudo do processo de

formação e de conhecimento.

Portanto, há necessidade de pensar com ética e criticidade para vencer os obstáculos colocados à frente, para construção de uma sociedade que tenha voz ativa, cidadãos que faça uma leitura de mundo antes da leitura da palavra, ou seja, consciência crítica. “A “autobiografia” expressa o “escrito da própria vida” (JOSSO, 2002, p. 343).

64

Josso (2006) apresenta seu procedimento de histórias de vida que envolve os

eixos de vida, relato e história de vida, que propõem o olhar para si, para o outro e o

cruzamento destes olhares, um procedimento que demanda interpretação, análise e

diálogo, buscando a compreensão e reconstrução da sua história de vida.

Diante disso, depara-se com a necessidade de buscar um caminho de nos

conhecermos, criarmos laços sociais, em busca de uma humanidade não desligada

e partilhada.

Durante o processo de pesquisa e formação, envolve-se um resgate a sua

história de vida, revisitar seu passado e encontrar possíveis respostas para

compreender o que se tornou hoje, desatando nós para abrir novos caminhos e

possibilidades do conhecimento.

A importância do elo que se estabelece por meio de um acordo coletivo e

ético, definindo-se os limites e confiança diante dos relatos e reflexão comuns, forma

o primeiro laço que é formado implicitamente e que ocorre durante toda a vida.

Este é o momento de escolha individual e momentânea, que será desatado

no processo biográfico, nomeado nó de atracação ou nó de cabestan. Esse nó é

feito de tal forma que não se rompe facilmente, mas que ao final do processo

formativo poderá ser desatado.

Neste contexto formativo, há diversos laços presentes nos relatos biográficos,

sendo elos do ser no mundo e que precisam, durante sua história, de vida ser

revisitados. Os laços apresentados por Josso (2006), de forma breve, são,

primeiramente os laços de parentescos, que são os mais presentes nos relatos, em

forma de aliança ou que se rompem durante o tempo, cumprindo sua missão e

tempo de permanência em sua vida.

Em seguida, temos os laços de lealdade e de fidelidade, que representam a

preservação de determinadas relações sociais. Os laços transgeracionais propõem

uma reflexão sobre a formação a partir de uma consciência histórica que ocorre no

ambiente familiar ou escolar.

Já os laços geracionais podem ser reconhecidos nas diferenças do grupo ou

dos mais velhos. Associados a eles, temos os laços de apego, laços de afinidade e

de interesses e laços de lealdade e de fidelidade, que geram amizade, amor e que

afetam diretamente a formação das sensibilidades.

Os laços profissionais são os elos estabelecidos pela atividade profissional e

pela relação com o ambiente, semelhante aos laços de parentescos, geralmente

65

profissionais que são sensíveis as atividades que realizam. Os laços simbólicos

apresentam-se pelos ideais profissionais pela prática ou por escolhas, diante das

circunstâncias. Por fim, são indicados os laços religiosos ou espirituais, que

representam a dimensão misteriosa de nossa presença.

Essas são condições em que se formam os laços biográficos, após identifica-

los, inicia-se o procedimento de história de vida, momento de escolha individual e

momentânea que será desatado para novos laços de “ligar”, “religar” ou “desligar-se”

de determinadas relações.

Sendo assim, para compreender os processos de formação e de

conhecimento é preciso conhecer que envolvem outros nós, elencados por Josso

(2002). Temos inicialmente o nó górdio, que diz respeito de todos os laços que

queremos ou nós sejam desatados, sempre aparecerem nos relatos e

principalmente laços familiares, aparece frequentemente figura feminina ou

masculina que liga à sua vida.

O nó do enforcado representa os elos que trazem riscos e ameaças a nossos

próprios olhos e dos próximos. O nó direito é utilizado para unir os acontecimentos

ou situações temporárias que envolvem amadurecimento. Já o nó esquerdo denota

todas as relações que vivemos ao longo dos anos. O equilíbrio entre as relações é

concebido no nó da espia. Por fim, o nó de pescador simboliza o fato de ligar os

momentos que são recorrentes e semelhantes.

Deste modo, com os laços e os nós identificados, a reflexão biográfica se faz

necessária, de modo a revelar os significados sobre a formação e transformação

visualizando os desafios da nossa existência.

De acordo com Josso (2006), durante esse procedimento de história de vida,

escrita e oral, surgem nós invisíveis, assim é preciso a compreensão de si,

constituinte da sua história, criando consciência do que nos move, nos interessa,

nos atrai e nos guia.

Sendo assim, o trabalho biográfico proposto pela autora não é apenas um

procedimento para retomada das lembranças, é preciso encontrar os momentos

charneiras, isto é, momento de reconstrução no percurso de vida relatado. Esse

momento deve ser articulado ao processo de formação, compreender as

lembranças, vinculando ao passado e ao futuro, buscando assim uma compreensão

para novos tipos de laços.

66

Nesse aspecto, Josso (2006) esclarece que o ser cognição e de memória nos

remete a diversas formas de epistemologia de ligação no contexto do pensamento e

ação e uma cultura, a partir de uma visão de mundo.

Contudo, o ser cognição visa analisar, interpretar e compreender os

processos de formação, criando novos laços e desatando outros, a fim de buscar

seus fios condutores, considerando que todo relato é interpretativo e de análise que

desvela os fatos da vida de um sujeito. O ser ação permite enxergar as formas que

os laços se estabelecem por meio da interação social, mobilizando todas as ações

do ser para sua transformação desejada.

Tardif (2008) identifica diversas questões que conduzem à reflexão dos

saberes que envolvem e constituem a formação docente e profissional, como: Quais

são os saberes que servem como base ao ofício do professor? Quais são os

conhecimentos, o saber-fazer, as competências e habilidades que os professores

mobilizam diariamente, nas salas de aula e nas escolas, a fim de realizar

concretamente as diversas tarefas?

Ainda nesse aspecto, embora, se diga que há uma ruptura bancária para a

democracia do pensamento, é perceptível que na prática ainda não há uma

mudança na prática pedagógica e processos educacionais, que se busque uma

formação empenhada, assim como destaca Nóvoa (2009) “formar é formar-se”, que

todo o conhecimento é autoconhecimento e que toda a formação é autoformação.

Com foco no Ensino Superior, considera-se que nesse processo de formação

e até mesmo ampliando para a construção do conhecimento, se faz necessária a

leitura da realidade e de mundo, transpondo para o processo formativo e ver o que

está invisível aos olhos.

Esse processo dará o sentido com duas significações, no sentido etimológico

de acordo com a Hermenêutica de Gadamer e será o desenvolvimento das

potencialidades humanas, inerentes aos homens que criam, sentem e pensam.

Nessa leitura, é preciso propor os questionamentos de quem é o sujeito?

Como saber lidar? São essenciais para a educação de qualidade e humanizadora

diante da contemporaneidade, assim o sujeito será criador e não consumidor.

Assim, todo ser humano tem uma educação, seja ética ou não, o que deve

analisar é que tipo de educação possui e que tipo de cultura. Ao se tratar de ética,

você pode analisar essa cultura e relacionar com a ética e a moral que estabelece

seu modo de ser, isso é se comprometer com a vida humana.

67

Assim, de acordo com Berkenbrock-Rosito (2014) ética é o que vem a ser da

vida, moral é a cultura: regras, regulamentos e modo de ser.

Considerando tudo que já foi exposto, espera-se contribuir para a

compreensão dos processos formativos visando a importância da Educação Estética

diante das possibilidades e limites do desenvolvimento da autonomia e emancipação

dos sujeitos no Curso de Pedagogia.

Dessa forma, é possível identificar a composição que resulta na problemática

dos saberes docente existente na prática docente, sendo: saber disciplinar, saber

curricular, saber formação profissional e saber da experiência.

O saber disciplinar é o saber para atender a sociedade, em formatos de

disciplinas que estão nos programas dos cursos. O saber curricular são conteúdos,

objetivos e métodos que a escola ou instituição de ensino estabelece em seu

programa ou projeto político pedagógico para compor os saberes sociais,

selecionados por uma cultura e como modelos. O saber da formação profissional

são os conhecimentos que os profissionais e docentes precisam ter para saber-fazer

e por fim a o saber da experiência que são fundamentos em seu cotidiano e meio

em que vive que surge com base na experiência e são válidos.

Neste viés, busca-se a compreensão do que é o saber docente e sua

composição, procurando enfatizar que não há como separar os saberes sociais dos

saberes da experiência, pois quando falamos de saberes e conhecimentos, se faz

necessário trazer para reflexão o contexto social e cultural que está sendo estudado,

uma vez que envolve valores éticos, morais e princípios, bem como conhecimentos

específicos de onde se atuará, como suas variações de níveis de ensino e não

apenas pensar nas técnicas do ensino.

Diante disso, é preciso que os profissionais que atuam na educação e que os

docentes sejam produtores de conhecimentos e reflexivos sobre a sua prática, de

modo que possam saber-fazer com competência e habilidade, ser pesquisador e

não apenas um mero executor, reprodutor e cumpridor de planos de aula.

Nesse aspecto, a instituição educativa deve romper as linhas diretrizes e

centralizadoras, uma vez que a educação é coletiva e não é detentora do saber e

precisa compartilhar sua constituição quando da seleção de quais saberes

curriculares e, disciplinares são necessários e irão de fato formar cidadãos críticos e

reflexivos na produção de conhecimento e não reprodutores de uma sociedade que

se altera e modifica constantemente.

68

Sabemos que em grande parte ou a maioria das escolas não atuam dessa

forma democrática ou libertadora de ensino, pois ainda estão em seu modelo

tradicional e continuam a reproduzir modelos e conhecimentos sem relação com o

social, como destacada Tardif (2008) abaixo:

A relação que os professores mantêm com os saberes é a de “transmissores”, de “portadores” ou de “objetos” de saber, mas não de produtores de um saber ou de saberes que podem impor como instância de legitimação social de sua função e como espaço de verdade de sua prática. Noutras palavras, a função docente define em relação aos saber, mas parece incapaz de definir um saber produzido ou controlado pelos que a exercem. (TARDIF, 2008, p. 40).

Partindo desse pressuposto, compreende-se, segundo Tardif (2008) que os

professores se sentem desvalorizados e não têm reconhecimento da sua profissão,

no entanto, se esquecem de que a experiência precisa ser levada às universidades,

de forma que possam perceber os valores desses saberes práticos que se integram

à prática docente, pois é isso que se constitui a representação e a cultura docente

em ação. Isso se dará por meio de pesquisas e produção de conhecimentos

acadêmicos científicos.

Para tanto, é necessário inovar a profissão docente, para uma nova cultura

profissional com base em valores de transformação social e educativa, isto é, mudar

a nossa concepção de ensino-aprendizagem de tradicional, romper práticas do

passado e focar nas formações centradas nas situações das inovações alinhadas a

sua ação docente.

Contudo, vemos que para esse processo ocorrer, é essencial que se promova

uma reformulação, para que exista uma interação e troca de conhecimentos entre

professores, para o desenvolvimento de ser professor no coletivo, até mesmo,

aproximar as escolas e com as universidades, de modo que haja um

desenvolvimento cognitivo e de carreira, bem como uma constante autoavaliação do

seu processo, isto é, descobrir, organizar, fundamentar, revisar e reconstruir sua

prática na teoria com competência.

Em pleno exercício da profissão, é preciso “ser”, atuando de forma a mobilizar

os demais saberes: saber e saber fazer, e isso se retroalimentará por meio da sua

prática profissional e uma formação continuada crítica, que analise, reflita, observe e

consiga identificar pontos de melhoria contínua do ensino, da pesquisa e

principalmente sobre a construção da identidade do professor.

69

Outra questão refere-se à crise do profissionalismo, em que alguns pontos

devem ser considerados. Primeiramente, a crise da perícia profissional, na qual se

procura solucionar os problemas ou situações de forma rápida, mas nem sempre

eficaz, pois se envolve apenas a racionalidade. Além disso, temos o impacto na

profissão devido à crise da perícia profissional com críticas e insatisfação, contra a

formação universitária. Somados a estes dois pontos, temos a crise do poder

profissional e confiança do público e por fim a crise do profissionalismo é a crise da

ética profissional, que coloca em questão os valores, os princípios e ideologias que

deveriam guiar o profissional e dar confiança ao público.

Essa crise coloca os atores das reformas na educação, reformas de ensino e

da profissão como obrigados de um lado profissionalizar o ensino, a formação e o

ofício do educador e de outro as profissões perdem o seu valor e prestígio. Nesse

sentido, destaca Tardif (2008) que devemos buscar respostas a estas questões

crítica e reflexivamente.

É, portanto, nesse contexto duplamente coercitivo que a questão de uma epistemologia da prática profissional acha sua verdadeira pertinência. De fato, se admitirmos que o movimento de profissionalização é, em grande parte, uma tentativa de renovar os fundamentos epistemológicos do ofício do professor, então devemos examinar seriamente a natureza desses fundamentos e extrair daí elementos que nos permitam entrar num processo reflexivo e crítico a respeito de nossas próprias práticas como formadores e pesquisadores. (TARDIF, 2008, p. 8).

Com base nessas inquietações e partindo do pressuposto de Freire (2011), é

possível concluir que os saberes profissionais dos professores não podem

permanecer alienados e segregados dos conhecimentos universitários, ou seja, da

pesquisa e do coletivo, pois é por meio dos elementos da epistemologia da prática

profissional dos professores que identificaremos o que se realiza no seu cotidiano,

revelando seus saberes e compreendendo como transforma a sua prática e como

desempenha seu papel, assim buscando o sentido das competências e suas

dimensões identitárias.

Vale ressaltar, que, como já abordado anteriormente neste trabalho, os

professores precisam ser vistos como sujeitos do conhecimento, pois constroem ao

longo de sua prática profissional o seu saber e saber-fazer e conjuntamente com a

universidade estudam o conjunto de saberes mobilizado para suas tarefas, além de

que, como destaca Tardif (2008) “o objeto do trabalho do docente são seres

70

humanos e, por conseguinte, os saberes dos professores carregam as marcar do ser

humano.” (TARDIF, 2008, p. 266).

Portanto, penso que um processo de emancipação do sujeito professor, a

mobilizar os seus saberes (saber, saber fazer e saber ser) e do trabalho coletivo com

outros professores (troca de experiências) é de suma importância para o processo

de mudanças.

Neste contexto, Nóvoa (2009) traz um retrato sobre a história da formação de

professores, a formação na atualidade, sua preocupação com a formação e

cidadania e propõe práticas para um bom professor e a modernidade escolar. Ele

defende que há um excesso de discurso, longo e prolixo sobre a prática docente,

entretanto não se encontram reflexões para uma melhoria na formação,

profissionalização e ensino, mas sim permanecendo no senso comum sem relação

com a prática profissional.

Com isso, vemos que é necessária uma compreensão e investigação de

caráter acadêmico, de forma que a profissão docente possa ser refletida na sua

realidade, com uma análise crítica do seu próprio trabalho, pois será constituída e

construída no interior da sua realidade profissional, do contrário, estaremos

dissociando a teoria da prática. Para que isso aconteça, assim como defende o

autor, deve haver a promoção de novos modos de organização da profissão, isto é,

trabalhadas coletivamente e com autonomia conjunta.

Nesse sentido, Nóvoa (2009) elucida que a formação de professores precisa

inspirar-se para mudar, através do estudo aprofundado de cada caso, sobretudo dos

casos de insucesso escolar, bem como da análise coletiva das práticas

pedagógicas, contando também com a obstinação e persistência profissional para

responder às necessidades e anseios dos alunos e compromisso social e vontade

de mudança.

Sendo assim, teremos novas formas de organização do trabalho da profissão,

reforçando a dimensão pessoal e a presença pública, estabelecendo uma

construção coletiva, assim dando voz aos professores.

Ao mesmo tempo, vale repensar sobre o que é ser um bom professor. A

respeito desta questão, Nóvoa (2009) define que:

Sabemos todos que é impossível definir o “bom professor”, a não ser através dessas listas intermináveis de “competências”, cuja simples enumeração se torna insuportável. Mas é possível, talvez, esboçar alguns

71

apontamentos simples, sugerindo disposições que caracterizam o trabalho docente nas sociedades contemporâneas. (NÓVOA, 2009, p. 28).

Portanto, apesar de existirem muitas variações sobre “o bom professor”,

podemos elencar alguns elementos como: o conhecimento, a cultura profissional, o

tato pedagógico, o trabalho em equipe e o compromisso social, bem como estar

centrado na aprendizagem dos alunos e na prática.

Desta maneira, pode-se relacionar com Tardif (2008), como já apontado

anteriormente, o saber, o saber fazer e o saber ser. Além disso, o autor busca

compreender a subjetividade dos professores, imerge uma reflexão sobre as

concepções tradicionais quanto a relação entre teoria e prática e as consequências

políticas sobre a formação dos professores, da pesquisa e organização do trabalho

docente.

A leitura direciona para a necessidade de compreender o professor como

sujeito do conhecimento e não como objeto, ou seja, deve ser considerado o saber e

o saber-fazer das competências e das habilidades no ambiente escolar, de modo a

dar voz aos professores, para isso é preciso ouvi-los como agentes ativos desse

processo e atores diretamente na relação da formação de outros sujeitos e

cidadãos.

Neste viés, Sarmento (2009) também propõe uma reflexão do sujeito

professor, considerando a voz dos professores, suas experiências formativas,

aprendizado com as histórias de vida, isto é, envolve o pensar, o sentir, a

sensibilidade e a racionalidade de cada um na busca de elementos para a

construção de sua identidade profissional. É importante, também, destacar a relação

de contextos de vida e aprendizagem para a definição da “profissão do humano”.

Assim, afirma-se que os professores são sujeitos do conhecimento, pois

constroem ao longo de sua prática profissional o seu saber e saber-fazer, para isso

se faz necessário considerar a subjetividade partindo do pressuposto de Tardif

(2008), este sujeito docente traz consigo os estudos da sua formação e deve

relacioná-la com a prática, sendo o saber do lado da teoria e o saber-fazer produzido

pela prática.

O professor, sendo um sujeito do conhecimento, faz com que ocorram

transformação e mobilização de saberes, como: pesquisa em universidades, nas

quais se sabe que existe ainda uma ruptura e segregação do conhecimento que

pode agregar valor e melhorias ao ensino e a formação, pois exige que haja uma

72

mudança radical nas concepções e prática que temos instauradas em nossa

sociedade contemporânea, principalmente porque afeta questões sociais, culturais e

até mesmo de formação de identidade e não apenas ser reprodutor de

conhecimentos já estabelecidos.

[...] o professor não passa de um boneco de ventríloquo ou aplica saberes produzidos por peritos que detêm a veracidade a respeito de seu trabalho ou é o brinquedos inconsciente no jogo das forças sociais que determinam o seu agir, forças que somente os pesquisadores das ciências sociais podem realmente conhecer. (TARDIF, 2008, p. 230).

Ao relacionar sujeito, teoria e prática com a pesquisa universitária, teremos

benefícios imensamente válidos, se colocados em prática, uma vez que os

professores precisam ser considerados como pesquisadores e não deixar os méritos

exclusivos apenas aos sujeitos que estão na “academia universitária”. Este deve

participar da elaboração de diversas pesquisas e segmentos sobre o que os

professores consideram sobre a profissão, sendo produtores, colaboradores e

coautores.

Com base nisso, essa ação vislumbraria e acrescentaria uma pesquisa para o

ensino e não apenas sobre o ensino com o objetivo de alinhar a formação de

professores dando de fato voz ao sujeito do conhecimento, principalmente pelo fato

de que todo conhecimento é temporal.

Para que isso se concretize se faz necessário que as políticas públicas e

autoridades educacionais escolares e universitárias reconheçam esses saberes e

que o professor, tendo o direito de falar, discutir e dialogar sobre a sua profissão,

uma formação para que habilite os professores capazes de exercerem com

qualidade e competência, ou seja, com saberes formativos, com currículos

integrados, evitando a fragmentação do ensino com o cotidiano e de reprodução.

Todavia, ainda há uma desvalorização dos saberes dos professores, como

professores pesquisadores e envolvidos para um processo de transformação social.

Consoante, Imbérnon (2011) destaca pontos importantes como a redefinição

da docência como profissão, a inovação na docência, um debate sobre a

profissionalização docente e o conhecimento profissional do docente, assim como

diante dos desafios da sociedade globalizada, do conhecimento e da informação e a

necessidade da formação como elemento principal, não único, mas permanente.

73

Dessa forma, é possível identificar uma urgência no preparo dos docentes

para o tempo das mudanças, principalmente uma vez que para que isso ocorra não

há como ser repentinamente, já que há um processo de adaptação e internalização,

composto de uma nova redefinição da profissão docente, partindo de um ser

profissional que possa ter autonomia nas tomadas de decisões, mas para isso são

necessárias competências e habilidades educativas.

Nesse processo, tanto a docência como a instituição educativa precisam

abandonar a mera transmissão de conhecimento, de modo que possamos praticar e

formar para a democracia com valores éticos, morais e princípios, não apenas nas

técnicas e conhecimentos específicos.

Diante disso, fica evidente que se faz necessário sentir, agir e pensar diante

das novas gerações dos contextos sociais de modo que possamos pensar, criticar e

analisar quaisquer situações e informações apresentadas.

Neste sentido, há que se mudar de dentro para fora no âmbito social e

cultural, no que diz respeito não apenas a currículos prescritos, mas nos currículos

ocultos, na formação de cidadãos, com vistas a uma dialogicidade e interação com

os sujeitos do processo educativo, de modo que deixem de apenas reproduzir e

decorar conhecimentos, ou melhor, informação, tornando-se analfabetos funcionais

e cívicos.

Assim sendo, para que esse tipo de ensino não se perpetue o educador, a

escola e a sociedade como um todo devem atuar de forma coletiva e mútua, para

que possa realmente transformar e mudar, no intuito, de termos realmente cidadãos

que exerçam o seu papel na sociedade e de conhecerem seus direitos e deveres,

bem como analisar e criticar todas as questões pertinentes à educação, a saúde, a

sociedade, a política, a economia e tudo que é de responsabilidade de um cidadão,

além de aprender que é a escola é um local capaz de transformar pequenos seres

humanos em grandes pensadores.

Em suma, compreender que para se exercer a docência e ser um profissional

da educação é preciso buscar pela emancipação das pessoas, ajudando a torná-las

livres e independentes dos poderes sejam econômicos, sociais e políticos. Esse

processo se dará pela construção e reconstrução da sua prática com a teoria bem

como a sua atuação de forma coletiva e que não seja modismo ou reprodução, mas

inovações com autonomia diante de uma sociedade da informação e do

74

conhecimento, pois deverá saber fazer, saber por que fazer, como fazer e para que

fazer, isso é ser docente.

Contudo, vemos que para esse processo é necessário que haja uma

reformulação na formação inicial, bem como na formação permanente dos docentes

para o desenvolvimento de ser professor, mesmo não sendo estes decisivos e

conclusivos, pois parte do conhecimento de si mesmo, desenvolvimento cognitivo e

de carreira é capaz de aprimorar a prática, com uma constante autoavaliação do seu

processo, pela descoberta, organização, fundamentação, revisão e reconstrução de

sua prática na teoria com competência.

Desde a formação inicial do professor, se faz necessária uma formação com

conhecimentos pedagógicos, científicos, culturais, contextuais, psicopedagógicos e

de identidade própria, que fundamentará a prática e ação docente, de modo que a

escola seja uma extensão do conhecimento de mundo e não um modelo

assistencialista. A prática docente faz parte de seu currículo oculto, no qual de

acordo com Sacristán (2000) apud Imbérnon (2011) sua representatividade,

demonstra os valores, morais e princípios estabelecidos por uma educação imposta,

com um pensamento pedagógico dominante.

Percebe-se que as competências do professor são inúmeras, mas uma

atitude interativa e dialética, que valorize a busca do conhecimento para promover e

provocar mudanças, intervenções, análises e reflexões, é o princípio para uma

educação emancipadora do formador e cidadão.

Tendo essas concepções, é possível compreender que a formação docente

acontece na prática, através da experiência, mas nesse momento é preciso alinhar

teoria e prática e não como muitos professores falam no senso comum de que a

teoria não funciona, mas sim por meio de uma união entre a teoria, prática e sua

técnica (conhecimentos técnicos e fundamentos) que sustentem sua prática

pedagógica.

Esse modelo de pensamento deve se concretizar em seus próprios espaços

educativos, procurando promover sempre a dialogicidade e o trabalho coletivo, para

que haja compartilhamento e interações, pois por meio das discussões e debates,

podem-se estabelecer diferentes percepções, visando à colaboração e contribuição,

ou seja, a pesquisa-ação.

Assim como afirma Imbérnon (2011), sobre os contrastes das ideias e o

predomínio do ensino simbólico:

75

É preciso, pois, derrubar o predomínio do ensino simbólico e promover um ensino mais direto, introduzindo na formação inicial uma metodologia que seja presidida pela pesquisa-ação como importante processo de aprendizagem da reflexão educativa, e que vincule constantemente teoria e prática. (IMBÉRNON, 2011, p. 67).

O autor ainda aponta que o formador pode atuar como assessor de formação

permanente de modo a instigar e promover essas ações educativas para formação

dos professores de programas educativos especiais e o desenvolvimento curricular,

partindo sempre das suas experiências e situações vivenciadas, levando assim

contribuições, mas também ajudando a resolver os problemas profissionais,

envolvendo todo educador para ação-reflexão.

Sendo assim, é possível perceber que os professores apesar da sua

formação inicial, referindo-se aqui à sua graduação, ao chegar à escola se sente

perdido e despreparado, não sabe por onde começar, além disso, usa-se um

discurso evasivo de que “a teoria é uma coisa e a prática é outra”, o que pode ser

entendido como um pensamento fechado e obsoleto, pois uma é sustentada pela

outra, sendo que a teoria é a ciência pura instrumental para, na e pela prática.

O que se observa é que há muita resistência, quando se provocam

mudanças, levam-se novas ideias e um novo sentido do que é ser professor, assim,

podem-se elencar algumas variáveis e hipóteses, como: contexto histórico, repetição

e reprodução do que era como aluno, um currículo de Pedagogia que não forma

professores capazes para atuar nesses contextos e tempos de incertezas.

2.3 A estética da narrativa: a possibilidade de desenvolvimento da autonomia e

emancipação dos sujeitos

A proposta de uma Educação Estética, sob o ponto de vista filosófico, deve

partir da reflexão, mediada pela sensibilidade, tomando a educação, não apenas

pela transmissão de conhecimentos, que pode de alguma maneira cristalizar

discursos totalitários, mas compreender assim a importância da estética nos

processos formativos de desenvolvimento da autonomia e da emancipação dos

sujeitos.

Relaciona-se a esta questão a afirmação de Enriquez (1997), de que todo

grupo funciona baseado na idealização, na crença e na ilusão, porque para que uma

ação, projeto ou trabalho a ser desenvolvido na formação de professores necessita

76

de um disparador que permita uma reflexão acerca dos seus valores, crenças e

representações diante da leitura que é realizada do seu contexto.

Sob essa perspectiva, a aprendizagem está fundamentada na estética, na

ética, na política, na ideologia, na moral e no poder que, na visão de Freire (1997),

são linhas invisíveis que sustentam uma pedagogia da autonomia dos sujeitos. Esse

processo de conscientização compreende o desenvolvimento da autonomia e da

emancipação que ocorre por meio da estética, o que remete a Enriquez (1997),

quando apresenta como aspectos da intersubjetividade interferem no processo

formativo, pois envolvem questões políticas, sociais, culturais, morais, éticas e

ideológicas.

No entanto, o que se observa é que há muita resistência, quando se provoca

mudanças, novas ideias e novos sentidos são propostos para rever o que é ser

professor, assim, podem-se elencar algumas variáveis e hipóteses, como: contexto

histórico, repetição e reprodução do que era como aluno, um currículo de Pedagogia

que não forma professores capazes para atuar nesses contextos e tempos de

incertezas.

Nesta perspectiva, temos a contribuição de Enriquez (1997):

As organizações também terão sempre uma atitude ambivalente diante dos grupos que existem no interior delas mesmas: elas preconizam o espírito de equipe que permite a competição, a emulação, a melhoria dos desempenhos. Elas mesmas estão divididas entre o desejo de ver cada grupo reforçar a autonomia e o medo de que esses grupos tenham projetos de mudanças radicais. (ENRIQUEZ, 1997, p. 11).

Contudo, os processos formativos, visando à educação do cidadão

democrático, reflexivo, analítico, com consciência crítica, ou seja, a relação do

indivíduo e mundo pode ocorrer por meio da Educação Estética.

Em consonância, temos a crítica de Freire sobre a “Educação Bancária”, que

se refere ao fato de o indivíduo se tornar passivo quando é apenas receptor de

informações, não sendo levado a pensar, criticar e analisar quaisquer situações e

informações apresentadas, tanto no sentido do conhecimento teórico (científico),

como também, no próprio conhecimento da vida e como sujeito que está inserido em

um determinado contexto social.

Nesse aspecto, Ferry (1997) destaca-se também:

77

Cuando hablamos de docentes nos referimos de transmisón de conocimíentos a niños y adolescentes. Esta problemática de transmisón de conociméntos se ha reproducido en la formácion de docentes. La prioridad está em transmisón y en los modos de evalución. (FERRY, 1997, p. 60).

Diante disso, temos que nos propor a fazer mudanças que gerem condições e

projeções, com eticidade (ética e moral) de presença no mundo com condições

sociais e políticas, isto é, um processo de transformação, sendo indispensável rever,

adequar e mudar a educação atual.

A importância da dimensão da Educação Estética nos processos formativos

como destaca Banzato:

Trata-se da arte de ensinar, aprender e formar, consubstanciada nos sentidos, sensível e sensibilidade que configuram o desenvolvimento de autonomia e emancipação, como possibilidade de intervenção dos sujeitos por via da Estética. (BANZATO, 2012, p. 104).

A dimensão estética nos processos formativos, como já abordado

anteriormente, busca a humanização do indivíduo, que para Freire (1975) requer

uma oposição à Educação Bancária, por meio de uma Pedagogia Libertadora, com

vistas ao desenvolvimento de autonomia dos sujeitos, conforme também aponta

Adorno (1995), buscando a emancipação frente à manipulação estética da indústria

cultural.

Nesse sentido, a educação se afirma como aprendizagem de vivências

baseadas na estética, na ética, na política, na ideologia, na moral e no poder, que na

visão de Freire (2014) sustentam uma pedagogia da autonomia dos sujeitos. Esse

processo de conscientização compreende o desenvolvimento da autonomia e da

emancipação que ocorre por meio da estética.

Estes conceitos estão associados à educação libertadora, cujo objetivo é a

humanização do indivíduo, que em Freire, seria uma oposição à Educação Bancária,

buscando o desenvolvimento de uma maior consciência dos sujeitos em relação à

manipulação estética inerente à indústria cultural, em Adorno.

Dessa forma, faz-necessário pensarmos e repensarmos sobre como podemos

favorecer a aprendizagem dos alunos a fim de que estes se tornem sujeitos mais

autônomos e independentes com relação a sua aprendizagem. Além disso, os

educandos precisam desenvolver os atos de aprender e colaborar, fazendo com o

que todos sejam partes do processo de aprendizagem, ensino e formação mútuas.

78

Assim, a universidade precisa assumir seu papel como espaço de construção

de conhecimento, bem como o professor compreender seu papel no processo de

ensino aprendizagem, considerando que não há mais espaço para a mera

transmissão e reprodução de conhecimentos, já que vivemos num período de

grande acesso à informação.

A transformação dos sujeitos pode e deve ocorrer por meio de uma educação

que perceba o aluno enquanto um sujeito crítico, ou seja, aquele que pensa, reflete

e buscar, a partir de seus conhecimentos e vivências, atuando sobre a realidade que

o cerca. Sob esse ângulo, a respeito das práticas educativas, Freire (1997) ressalta

que “na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas

para transformá-lo.” (FREIRE, 1997, p. 54).

Ainda de acordo com a crítica de Freire (2014), a “Educação Bancária”, traz o

professor como o responsável pelo “depósito” do conhecimento e, no dia da

avaliação, este realiza o “saque” para constatar se o aluno sabe ou não o que foi

ministrado em sala de aula, atribuindo uma nota ao conhecimento demonstrado pelo

aluno. Neste caso, o aluno apenas reproduz o que obteve em aula e não realiza uma

crítica, tampouco reflete sobre um conteúdo.

O desenvolvimento da autonomia é a estética do belo, valorizando os modos

de participar e decidir como princípio de humanização. Nesse sentido, a importância

do desenvolvimento da autonomia como chave para a construção de sua prática

pedagógica e educativa, para que se consiga ser um sujeito questionador,

investigador, que elabore questões para melhoria de um contexto e que seja um

diferencial e inovador. Esse processo só acontecerá no momento em que se

tomarem decisões autonomamente, com intervenções e argumentação.

Esses pontos são mais explícitos quando passamos a pensar em uma

Educação Humanizadora de questionar, pensar, refletir, pesquisar e agir e não a

ênfase do sempre estar correto e se adequado aos padrões, mas focar na formação

do sujeito com uma postura ativa que permita se desenvolver autonomia e

emancipação para a construção de novos conhecimentos com consciência crítica.

Nesse sentido, remeto a frase de Descartes (1596-1650) “eu penso, logo

existo”, que na verdade parte da dúvida de Santo Agostinho (354-430), “se eu

duvido, descubro no meu pensamento aquilo que já sabia desde sempre: eu existo,

e tenho a certeza absoluta de que existo”.

79

Em vista disso, de acordo com Freire (2014) a consciência existe, pois é

importante para a cidadania, que move e conduz para o desenvolvimento da

autonomia, partindo da dúvida, para elaborar e formar o pensamento.

Assim, cabe ao educador consciente ver e apontar esses caminhos para uma

perspectiva ética existencial fundamentada a formação dando-se na coexistência. A

consciência crítica é saber que existe a consciência ingênua, mas ainda

compreender que temos diferenças e conseguir lidar com elas, permitir que haja

uma expansão do pensamento e que hoje as suas crenças e valores passam por

transformações e novas se constituem, assim, para desenvolver essas atitudes parte

do desenvolvimento de pesquisas, que deixe de ser consumidor para produtor,

desenvolvendo novas habilidades e competências.

Os princípios nesse desenvolvimento humanizado iniciam-se pela

responsabilidade do educador e do aluno, pelo diálogo, o que quebra o paradigma

apenas da metodologia e didática, pois é pelo pensamento dialético que há

construção.

No entanto, ainda temos a ênfase de que é o professor que ensinará o aluno

a aprender, desconsiderando todo o processo de construção e processos de

aprendizagem, que envolvem concepções pedagógicas de Piaget, Vygostky e

Wallon, respectivamente, ação sobre o objeto de estudo, interação e cultura e

sentimentos e emoções.

Partindo desses princípios, vemos que, em suma, a maioria os alunos ainda

continua com um pensamento tradicional de que ao entrar em sua formação, o

professor é responsável por ensinar e dar “receitas” de como ser um bom professor,

no entanto, como vimos, existem contextos culturais, sociais, econômicos, políticos e

individuais que precisam ser considerados para se aplicar os conhecimentos e

construir novos. No entanto, sabemos também que os sujeitos resistem às

mudanças e não lidam com suas frustrações e fracassos e ao mostrar aos alunos

essas sombras existe a resistência.

Concomitantemente a esse processo, relacionamos ao mito de Sísifo escrito

pelo filosófico Albert Camus, em 1941, que demonstra o ser humano em busca de

sentido, unidade e clareza, que remete à figura do professor que a todo o momento

tendo que refazer sua prática.

80

Sísifo um personagem da mitologia grega, condenado a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra até o topo de uma montanha, sendo que, toda vez que estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo, até o ponto de partida, invalidando o duro esforço despendido. (CAMUS, 2002, p. 21).

Estamos também condenados à vulnerabilidade da autonomia de nosso

corpo. Anjos (2005) aponta a questão da vulnerabilidade para uma compreensão

mais profunda da autonomia. A autonomia é uma empreitada que não ocorre sem a

vulnerabilidade hospedada em seu corpo, a corporeidade. Isso significa perceber as

implicações do “vir-a-ser” da independência à dependência de aparelhos ou

medicamentos como recurso de sobrevivência à doença: mal de Parkinson, câncer,

mal de Alzeihmer, esquizofrenia e outras doenças mentais que interferem na

autonomia dos sujeitos. O que leva ao conceito de dignidade, co-implicado na

relação eu-outro.

No espelho da dignidade, podemos nos ver com entusiasmo em nossa corporeidade. Mas com realismo se descobrirá ali a necessidade de aprender a lidar com a própria vulnerabilidade e a dos outros. (ANJOS, 2005, p. 327).

Embora a vulnerabilidade pareça tipicamente hospitalar, ocorre também na

escola e universidade. “No contexto da escola, a vulnerabilidade dos alunos consiste

em supostamente não saber o conteúdo a ser ensinado pelo professor, também

vulnerável em não saber como o aluno aprende”. (AMORIM-NETO;

BERKENBROCK-ROSITO, 2007, p. 623).

Paira um silêncio sobre o papel do corpo nos processos educativos e formativos. Na disciplina, como condição de aprendizagem, requer-se a amputação dos movimentos corporais, por desconhecimento da biofisiologia do corpo, mostrando o desejo de controle sobre os movimentos corporais involuntários. [...] O corpo também hospeda um sujeito sensível, perceptivo. Na fenomenologia, a subjetividade diz respeito à vida interior, pessoal, do sujeito, de sua maneira de relacionar-se com o mundo, características que o tornam diferente dos demais. O mesmo objeto afeta de diferentes maneiras os sujeitos. Cada sujeito tem uma propriedade, um talento que o torna único. [...] Cabe a dimensão ética da educação o desenvolvimento das potencialidades criativas das pessoas. O desafio de educar-ir além do simples instruir- abre dimensões mais amplas do ser humano: formação da consciência crítica, participativa e política, que envolve responsabilidade e o respeito à pluralidade, o que exige uma consciência transformadora. (AMORIM-NETO; BERKENBROCK-ROSITO, 2007, p. 623).

81

A representação do corpo influenciada, especialmente, por grupos

econômicos favorece a compreensão fragmentada da identidade dos sujeitos em

mente e corpo. Sendo assim, a criança não é um corpo em que os conteúdos

programados são despejados. Essa compreensão de criança-objeto não leva em

consideração a percepção que a criança tem de si mesma e das representações do

conhecimento para compreender a sua realidade. Com isso, a proposta de ciclos

demonstra ser favorável à melhoria da política pública educacional que possam levar

em consideração o que pensam as crianças é uma maneira de preservar e resgatar

a dignidade humana.

A autonomia, a responsabilidade, o respeito, o diálogo são valores éticos e

políticos que devem permear todo o processo de educação e formação. Tal visão

requer uma prática docente diferenciada em consonância com uma formação

também diferenciada, crítica e reflexiva, guiada por valores. Para Freire (2014), “a

consciência crítica parte da compreensão do ser humano como ser no mundo, ser

de relações, finito, inacabado, inconcluso” (FREIRE, 2014, p. 72).

A autonomia vai se constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões que vão sendo tomadas. [...] uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade. (FREIRE, 2014, p. 107).

É fundamental termos a clareza de que nós como seres humanos estamos

em constante construção, que nossas ações são escolhas feitas por nós, não são

predeterminadas, podemos mudar o rumo de nossas escolhas.

A raiz mais profunda da politicidade da educação se acha na educabilidade mesma do ser humano, que se funda na sua natureza inacabada e da qual se tornou consciente. Inacabado e consciente de seu inacabamento, histórico, necessariamente o ser humano se faria um ser ético, um ser de opção, de decisão. Um ser ligado a interesses e em relação aos quais tanto pode manter-se fiel à eticidade quanto pode transgredi-la. (FREIRE, 1997, p.110)

Não é diferente com os profissionais de educação ao fazerem escolhas são

responsáveis por elas. Essas escolhas devem ser feitas tendo a clareza que devem

ser regidas sob uma concepção de ética para fundamentar o processo pedagógico.

82

Neste sentido, percebemos que a escola tem privilegiado apenas um eixo da

prática pedagógica, enfatizando o processo ensinar, colocando em segundo plano o

eixo de aprender e formar.

Sendo assim, compreendemos a prática pedagógica na articulação dos

processos de ensinar, formar e aprender. Não se trata de escolha de um dos

processos, já que a escolha por um dos processos segue a lógica da exclusão. A

exclusão recai na não inclusão das diferentes lógicas que são plasmadas na sala de

aula e no interior da escola. Isso significa a exclusão dos sujeitos coletivos.

Agora, se você aprende, faça também “ensinar” (não se refira sistematicamente aos documentos de todo aluno que vem lhe pedir uma explicação ou um complemento) e em “formar” (é o momento de levar em conta a dinâmica do grupo e de prestar atenção especial aos alunos dependentes ou em dificuldades). (HOUSSAYE, 1988, p. 17).

Ao refletir sobre a aprendizagem dos discentes não podemos deixar no lugar

de “morto” o conteúdo ou o lugar do professor como elementos dos processos que

compõem a prática pedagógica. É necessário que o professor priorize o aprender,

mas terá que ter conhecimento de como o aluno aprende, o que causa a dificuldade

de aprendizagem, como intervir, quais atividades deverão ser planejadas para

intervenção em seu processo de desenvolvimento humano. Para tanto, é preciso

compreender que o ser humano se humaniza na construção e apropriação do

conhecimento (conteúdo), como também ter como objetivo o que precisa ser

ensinado, quais os conteúdos devem ser priorizados e como devem ser apropriados

pelos alunos, tendo em vista o tipo de cidadão que se quer formar.

Segundo Berkenbrock-Rosito (2014), aprendemos o que tem sentido para

nós, o que nos toca por inteiros. O que pode ser compreendido nas palavras de

Freire:

Ninguém pode conhecer por mim assim como não posso conhecer pelo aluno. O que posso e o que devo fazer é, [...] ao ensinar-lhe certo conteúdo, desafiá-lo a que se vá percebendo na e pela própria prática, sujeito capaz de saber. (FREIRE, 1997, p. 124).

É preciso que o professor tenha clareza de que sua tarefa não se resume em

transferir conhecimentos, mas sim de ser um facilitador para que o aluno construa

seu conhecimento.

83

Mulheres e homens, somos os únicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de apreender. Por isso, somos os únicos em que aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito. (FREIRE, 1997, p. 69).

Mais do que isso, o professor representa muito para os alunos, suas atitudes

são observadas, analisadas e comparadas com o seu discurso. O professor ensina

não só Língua Portuguesa, Matemática, entre outras disciplinas, como também por

meio de suas atitudes ele forma eticamente seus alunos, ou seja, ele deve se

preocupar com a formação integral do aluno.

Às vezes, mal se imagina o que se pode passar a representar na vida de um aluno um simples gesto do professor. O que pode um gesto aparentemente insignificante valer como força formadora ou como contribuição à do educando por si mesmo. (FREIRE, 1997, p. 42).

Como educar é uma escolha e como a sua prática não é neutra, toda ação

educativa tem uma intenção. Cabe ao professor e a equipe pedagógica como um

todo decidir se quer apenas ensinar ou fazer com que a maioria dos alunos aprenda.

É importante ressaltar que esta tarefa não é responsabilidade única do professor.

É preciso reconhecer a necessidade de uma educação para o pensar, que

reflita e confronte uma lógica implícita no discurso para que serve o pensar. Educar

para o pensar e sentir responsáveis de si, do outro e do contexto, trata-se de refletir

sobre o pensar como essencial na maneira de viver, tomando consciência de ser e

estar no mundo.

Neste viés, são necessárias mudanças para que a qualidade de ensino e a

formação de professores possam ter uma concepção diferente, visando à educação

como a autonomia dos sujeitos, para ética com valores, qualidade, compromisso e

comprometimento, isso acontecerá quando ensinar um conteúdo não seja apenas

para sua reprodução, mas seja ético na sua profissão para reflexão e formação da

emancipação do sujeito autônomo.

Assim, devemos considerar que a formação inicial com a contextualização de

que a prática formativa acontece permanentemente e que para melhoria deve se ter

a relação entre o cenário de atuação com a prática pedagógica, buscando respostas

para possíveis incertezas.

84

Freire contribui para esta questão esclarecendo que “não há docência sem

discência” (FREIRE, 1997, p. 12). Nesta obra, o autor discute a formação de

professores a partir de uma pedagogia crítica, contrapondo a Educação Bancária,

assim como retrata os principais pontos que o professor precisa apropriar-se para

promover a autonomia em sua prática educativa, para construção de uma sociedade

consciente.

Assim, na perspectiva de Freire (2012, p. 21), “ensinar não é transferir

conhecimentos”, propõe o sujeito do conhecimento (professor-aluno) com

possibilidades de produção e criação de conhecimento, envolvendo suas

concepções entre a teoria na prática e questões sociais e políticas.

Diante dessas reflexões de Freire (1997), é possível inferir que se faz

necessária uma prática pedagógica fundamentada e com base na teoria; e sua

teoria fundamentada na prática concretamente e não apenas em seu discurso,

nessa dimensão o autor destaca o “pensar certo” que envolve a reflexão crítica.

Ao pensar nesse aspecto e no termo reflexão por Freire (1997) e Zeichner

(2008), apresentado no XIV Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino

(ENDIPE), a reflexão deve ser utilizada para pensar sobre a sua prática, dialogando

como um fim em si mesmo, sobre o seu desenvolvimento como sujeito e não como

objeto.

Além disso, toda ação realizada é imprescindível que haja uma reflexão,

nesse aspecto, Freire (2014) estabelece que ensinar exige consciência do

inacabado, reconhecendo que somos um ser inacabado e que só coloca em prática

aquilo que se realiza e o que está em seu discurso.

Sabe-se que vivemos em uma sociedade oprimida, que reflete diretamente na

educação, sendo assim não temos liberdade, mas uma liberdade vigiada como diria

Foucault (2001), já que o ser humano é facilmente controlado e vigiado a todo o

momento. O autor propõe uma reflexão da “liberdade vigiada” na qual estamos

submetidos diariamente, pois na realidade o ser humano é controlado sem se dar

conta disto, tem a ilusão de ser livre. Dessa forma, transpondo a educação, ser

oprimido é não ter acesso à educação e com qualidade.

Como destaca Freire (2011), temos de nos propor a fazer mudanças que

gerem condições e projeções, com eticidade (ética e moral) de presença no mundo

com condições sociais e políticas, sendo que num um processo de transformação é

indispensável rever, adequar e mudar a educação atual.

85

Para tanto, compreendo também que isso só ocorrerá se houver a autonomia

do sujeito, que são as tomadas das decisões e como diz Freire (1997)

Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por outro lado, ninguém amadurece de repente, aos vinte e cinco anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser. (FREIRE, 1997, p. 25).

Analisar, refletir, observar e contextualizar para além dos paradigmas

científicos ou técnicos, e partir para uma perspectiva mais ampla, introduzindo a

dimensão ética que nos permite justificar o porquê e o que queremos construir uma

sociedade, em que todos tenham as mesmas oportunidades e os sistemas de

valores básicos dos cidadãos e grupos sociais.

O dilema que temos estabelecido de aceitar e concordar que vivemos em um

mundo que deixa de fora uma grande porcentagem da população, não está

desenvolvendo uma política ética de uma sociedade justa. Para isso, a

compreensão da concepção de ética se faz necessária, uma vez que com esta

pode-se construir uma sociedade baseada nos princípios de justiça e equidade, por

meio de ações e metas tangíveis.

Além disso, temos a questão da subjetividade que pode recuperar grande

parte do debate sobre o que tem sido chamado de novas desigualdades, no qual é

preciso reconhecer a importância da dimensão subjetiva diante novos desafios para

a teoria da ação política e os fenômenos sociais, assim, compreender a concepção

de sujeito que é a capacidade de articular uma história em imagens e

representações ligadas ao caminho e sua narrativa de vida, de modo que possa

dizer o que aconteceu, seus sentimentos e suas interações com a mudança de

ambiente, para transformar.

No contexto desta pesquisa, é possível compreender que a Educação

Estética ocorre por meio das narrativas de história de vida de cada sujeito, o que

permite direcionar o olhar para a própria história como possibilidade epistemológica

de conhecer e produzir conhecimentos, ao mesmo tempo desenvolve a

sensibilidade. Com isso, a estética do trabalho docente é aprendida nas relações

estéticas, desde ao entrar na sala de aula.

A criação e recriação de história por meio do registro e comunicação

possibilitam a autoria e construção do ser no mundo. A comunicação ocorre por

86

meio de símbolos e metáforas, o que não ocorre no ensino. Ela força o potencial

criativo do sujeito e a interpretação do ser humano consigo, com o outro e com o

mundo.

A sociedade contemporânea tem o consumo como importante aspecto, por

isso é necessário manter em alerta nossa curiosidade para não haver uma dicotomia

da capacidade de imaginação e elaboração do conhecer. O automatismo vivenciado

atualmente pela sociedade acaba, de certa forma, aniquilando o potencial criativo do

sujeito e como consequência o sujeito perde a capacidade de resolver novos

problemas. Temos aqui a reverberação do conceito já apresentado neste trabalho de

Educação Bancária, pois

memorização mecânica dos conteúdos, em certos casos, com exercícios repetitivos que ultrapassam o limite razoável e não damos nenhuma atenção quase a uma crítica educação da curiosidade. (FREIRE, 2012, p. 125).

Contudo, compreende-se que, independentemente do período histórico, a

educação antevê como um modelo primário a elaboração e apropriação do

conhecimento, assim como a maiêutica Socrática, que tem como sentido “dar a luz”,

como o parto, na busca do entendimento e da verdade por intermédio de perguntas

e respostas.

Esse processo, como a própria definição nos remete, é doloroso e por isso

pode ser lento e deve ser sensível, pois no movimento da busca pelo conhecimento

abrange a dúvida, a reflexão, o desenvolvimento e a autonomia, no qual se leva

tempo para conhecer, considera-se a maturidade do sujeito e o momento.

Para que isso ocorra, se faz necessário buscar formação com a intenção de

saber lidar com as diferentes realidades e culturas, estabelecendo um processo

educacional que desafie a construção de conhecimentos embasados e

fundamentos, e avance do senso comum para o conhecimento científico.

Neste viés, a proposta pedagógica de Freire traz o processo de

conscientização, para que o sujeito não permaneça na vitimização, fatalismo ou

determinismo, assim o sujeito passa da consciência ingênua para sua consciência

crítica. Nesta proposta de Freire, a curiosidade é a proposta epistemológica para

abertura do conhecimento, um movimento entre a curiosidade estética e ética por

87

meio das relações humanas e espaço, pois a sala de aula deve ser a extensão da

vida.

Portanto, aqui, temos o trabalho biográfico em si, que estabelece a

consciência e presença de si, que possibilita enxergar novos caminhos e

oportunidades, nesse processo adquirimos um saber existencial para lidar com

outros laços e os obstáculos da vida, tornam-se trampolim de conquista de ser.

88

Cada um sabe a dor e a delícia De ser o que é

(Dom de iludir - Caetano Veloso)

89

3 COLCHA DE RETALHOS: UMA POSSIBILIDADE DE DESENVOLVIMENTO DA

AUTONOMIA E EMANCIPAÇÃO NA FORMAÇÃO

O objetivo deste capítulo consiste em apresentar a análise da coleta de dados

das narrativas discentes registradas a partir da atividade realizada por Berkenbrock-

Rosito no Curso de Pedagogia da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). A

análise das narrativas discentes presente nos registros diários sobre a participação

na elaboração da “Colcha de Retalhos” é o objeto deste estudo, e, mais

especificamente, o conteúdo desse capítulo permite identificar as possibilidades no

processo de desenvolvimento da emancipação e autonomia do discente que

ocorrem via estética na metodologia formativa “Colcha de Retalhos”, visando

contribuir para a reflexões acerca de proposições e estratégias no processo de

formação docente.

Deste modo, será possível elucubrar sobre a proposta “Colcha de Retalhos”

de forma crítica, refletindo sobre a prática e, a partir daí, reorganizar o trabalho em

sala de aula, para compreender a importância da construção da narrativa nos

processos formativos, como metodologia e epistemologia de trabalho pedagógico.

3.1 Narrativas discentes: uma compreensão sob o enfoque hermenêutico

A abordagem desta pesquisa é qualitativa e o procedimento análise

documental. O material analisado são as narrativas discentes dos 4º e 5º semestres

do Curso de Pedagogia da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) uma

universidade privada com sede na cidade de São Paulo, localizada na Zona Leste.

O Curso de Pedagogia, na Universidade Cidade de São Paulo, tem como

desafio a formação de profissionais da educação, professores e gestores,

preocupados não apenas em compreender o contexto atual, mas como poderia ser o

campo educacional brasileiro, considerando a necessidade de dinamismo e

inovação para buscarmos um desenvolvimento do cenário contemporâneo.

A disciplina “História da Educação e da Pedagogia”, ministrado por

Berkenbrock-Rosito, em 2013, de acordo com o Projeto Pedagógico do Curso de

Pedagogia da UNICID, aborda conceitos teóricos fundamentados sempre no tempo

histórico, no sujeito histórico, nos fatos históricos e na memória, ou seja, todo estudo

envolve o contexto e a história, para que haja uma compreensão do contexto vivido,

90

principalmente devido às constantes evoluções, além de promover a reflexão sobre

seu processo autofomativo.

As reflexões de seu processo reflexivo foram apresentadas na forma dos

Registros Diários, que consistiam em registros individuais sobre as aulas. Essa

prática foi adotada por Berkenbrock-Rosito, docente da disciplina, de modo que as

alunas pudessem registrar a experiência vivenciada em sala de aula, bem como

trazer fragmentos que de alguma forma sensibilizaram e foram arrebatadores para o

seu processo de aprendizagem.

Tais registros diários auxiliam na busca do sentido identitário de quem os

escreve, pois, apesar de todos os alunos terem como objetivo o registro de aula,

cada um faz a sua escolha dos tópicos e a forma de registrar as vivências, no qual

compõem páginas próprias, de autoria e singular.

Elege-se como material de estudo os registros diários produzidos pelo 4º e 5º

semestres, em 2013, que participaram da disciplina “História da Educação e da

Pedagogia”, ministrada por Berkenbrock-Rosito. Vale destacar que os alunos dos

dois semestres formam uma turma única. Assim, nesta classe, os alunos do 4º

semestre não haviam participado da “Colcha de Retalhos”. Entretanto, as alunas do

5º semestre precisavam finalizar o trabalho com a “Colcha de Retalhos”, iniciado no

semestre anterior, onde cada aluna contou a história tecida no retalho, porém,

faltava a costura dos retalhos para dar forma ao produto final. A solução encontrada

para que todos participassem foi organizar os alunos do 4º semestre em dois

grupos, assim como no 5º semestre, sendo que a tarefa dos primeiros foi realizar

uma entrevista narrativa cujo produto faria parte dos registros diários que eram a

sistematização de cada aula, que todos faziam.

Esse material assume, neste trabalho, o papel de documento a ser

investigado. Os dados coletados pelas alunas do 4º semestre utilizando o

procedimento da Entrevista Narrativa, que é uma técnica que busca a coleta de

informações sobre um assunto e que são diretamente solicitados aos sujeitos

pesquisados (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002). Ressalta-se que a narração está

inserida em um esquema autogerador, no qual as informações, relevâncias e

acontecimentos constroem as histórias de quem narra, com defendem Jovchelovitch

e Bauer (2002). Neste viés, afirmam os autores:

91

O estudo da narrativa conquista uma nova importância nos últimos anos. Este renovado interesse tem um tópico antigo: narrativas e narratividade tem suas origens na Poética de Aristóteles e está relacionada com a consciência do papel que contar histórias desempenha na conformação de fenômenos sociais. No despertar desta nova consciência, as narrativas se tornaram um método de pesquisa muito difundido nas Ciências Sociais. A discussão sobre narrativas vai, contudo, muito além de seu emprego como método de investigação. A narrativa como forma discursiva, como história, como histórias de vida e histórias sociais, foram abordadas por teóricos culturais e literários, linguistas, filósofos da história, psicólogos e antropólogos. (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002, p. 90)

As narrativas podem participar da formação do ser humano ao conduzir a

uma vivência simbólica, social e pedagógica, como também à possibilidade do

sujeito produzir sua própria história, como narrador e personagem, baseada em

fatos da própria vida pessoal e profissional. Jovchelovitchv e Bauer (2002) afirmam

que o uso de narrativas, como forma de expressão, ao contar um fato ou narrar uma

história se faz presente em toda a história humana.

A entrevista narrativa, na perspectiva de Jovchelovitch e Bauer (2002),

compreende as seguintes fases: a preparação, por meio da exploração do campo e

da identificação dos sujeitos envolvidos; a iniciação, com a formulação do tópico

inicial para narração; a narração central, que consiste numa narração livre por parte

dos sujeitos; a fase de perguntas, com questões desencadeadoras formuladas pelo

entrevistador e a fase conclusiva.

O momento de preparação e iniciação da entrevista acontece quando

elegemos alguns retalhos produzidos pelo 5º semestre e a autora contava a sua

história para as alunas do 4º semestre. Em seguida, o 4º semestre assistia a costura

dos retalhos e conversavam com outras autoras sobre a sua história. Convém

salientar que as histórias já haviam sido contadas por cada participante. Todavia,

sentiu-se a necessidade de que algumas histórias fossem recontadas para que os

alunos do 4º semestre pudessem sentir o trabalho realizado. Essa experiência e a

troca de conhecimentos se estabeleceram de modo que partilharam as

aprendizagens da importância de relatar a sua história de vida.

Em seguida, ocorreu a narração central. Os alunos do 4º semestre foram

divididos em dois grupos e os do 5º, também em dois. Assim, coube ao 4º semestre

lançar as informações adquiridas a partir da pergunta: Conte-nos o que significou

para você a participação na elaboração da “Colcha de Retalhos” no curso de

Pedagogia. Durante a entrevista, as alunas faziam os questionamentos,

92

estabelecendo-se o momento de narração central. A conversa foi gravada e

transcrita pelas alunas do 4º semestre.

Na fase conclusiva, realizou-se um questionário com as seguintes questões: o

resgate do processo (auto) formativo no contar como reconheceu que aprendeu

resgatar episódios marcantes, reconhecer as pessoas, professores, livros que

influenciaram a sua escolha profissional? O que significou refletir sobre a sua

relação com o conhecimento, professor e consigo mesmo se de autoria ou não, ou

seja, permitiu perceber que a trajetória pessoal e profissional não são distantes e

que influenciam os modelos de práticas e a decisão profissional? O que significou

transformar sua narrativa escrita na narrativa pictórica (imagem no tecido do

retalho)? Foi importante narrar sua história tecida no retalho para o grupo e ouvir a

do outro? Por quê? Você considera que a atividade “Colcha de Retalhos” foi

importante para a formação de professores no curso de Pedagogia? Por quê? O que

você parabeniza, critica e propõe para a atividade “Colcha de Retalhos”?.

A fim de elucidarmos melhor este processo, trazemos aqui um quadro com as

fases da narrativa sintetizadas.

Preparação Local e sujeitos

Iniciação

Retalhos produzidos pelo 5º semestre e relato da autora sobre a sua história para as alunas do 4º semestre. Em seguida, o 4º semestre assistia a costura dos retalhos e conversavam com outras autoras sobre a sua história.

Narração central

Os alunos do 4º semestre e do 5º foram divididos em dois grupos. Ao 4º semestre coletou as informações adquiridas a partir da pergunta: Contem-nos o que significou para você a participação na elaboração da “Colcha de Retalhos” no curso de Pedagogia.

Conclusão

Questionário com as questões: o resgate do processo (auto) formativo no contar como reconheceu que aprendeu resgatar episódios marcantes, reconhecer as pessoas, professores, livros que influenciaram a sua escolha profissional? O que significou refletir sobre a sua relação com o conhecimento, professor e consigo mesmo se de autoria ou não, ou seja, permitiu perceber que a trajetória pessoal e profissional não são distantes e que influenciam os modelos de práticas e a decisão profissional? O que significou transformar sua narrativa escrita na narrativa pictórica (imagem no tecido do retalho)? Foi importante narrar sua história tecida no retalho para o grupo e ouvir a do outro? Por quê? Você considera que a “Colcha de Retalhos” foi importante para a formação de professores no curso de Pedagogia? Por quê? O que você parabeniza, critica e propõe para a atividade “Colcha de Retalhos”?

Quadro 2: Fases da entrevista narrativa Fonte: Elaborado pela pesquisadora

93

Assim se efetivou a coleta de dados pelos alunos do 4º semestre de

Pedagogia. O material empírico a ser analisado, bem como os dados coletados

utilizando como procedimento a Entrevista Narrativa com os discentes que

participaram do dispositivo formativo, contribuiu para identificar o sentido e o

significado que é dado para cada sujeito.

Nesta perspectiva, vale aqui destacar Suárez recorrendo a Connely e

Clandinin (1995), que esclarece que tais narrativas

podem ser consideradas como uma qualidade estruturada da experiência humana e social, entendida e vista como relatos. Esses relatos são reconstruções dinâmicas das experiências nas quais seus atores dão significado ao acontecido e vivido, mediante um processo reflexivo e, em geral recursivo. Por isso, nessa perspectiva, pode-se afirmar que as narrativas estruturam nossas práticas sociais e que essa “linguagem da prática” tende a esclarecer os propósitos dessas práticas, fazendo que a linguagem narrativa não fale apenas sobre elas, mas que, além disso, as constitua e colabore na sua produção. [...] narrar histórias, nas quais os atores educativos encontram-se envolvidos na ação, e interpretar essas práticas à luz das narrativas surge como uma perspectiva peculiar de pesquisa [...] que pretende reconstruir, documentar, questionar e tornar críticos os sentidos e compreensões pedagógicas que os docentes constroem, reconstroem e negociam quando escrevem, leem, refletem. E conversam entre colegas sobre suas próprias práticas educativas. (SUARÉZ, 2008, p. 110).

Consoante, Monteiro (2003) defende que os espaços de formação precisam

proporcionar uma perspectiva reflexivo-investigativa, propiciando momentos de uso

da narrativa de formação. Ainda explana que cada processo de reflexão associado à

investigação possibilita o acesso a teorias implícitas, pessoais ou profissionais, o

que origina novas compreensões sobre estas e novos avanços progressivamente

em todos os níveis de conhecimento profissional docente. Quando este processo de

reflexão e investigação está aliado à formação, é possível afirmar que se constroem

coletivamente novos conhecimentos e práticas de emancipação.

O procedimento de análise de narrativa seguiu a Análise Temática sugerida

por Jovchelovitch e Bauer (2002) para o processo gradual de redução do texto

qualitativo. Desta forma, cada unidade do texto foi reduzida, inicialmente, em uma

paráfrase. Assim, parafrasearam-se, em uma sentença sintética, as passagens

inteiras ou parágrafos obtidos, sendo que, em seguida, definiram-se algumas

palavras-chave para essas sentenças. Em seguida, após a descrição do nome

fictício do narrador na primeira coluna, o texto principal foi exposto em três colunas,

contendo a transcrição íntegra, de forma a manter a originalidade, a veracidade e

94

até mesmo as emoções contidas nos dados relatados pelas alunas, na segunda

coluna; a paráfrase ou redução da frase, na terceira; e as respectivas palavras-

chave na quarta coluna. Ressalta-se que uma quinta coluna foi acrescentada na

tabela originada ao final do processo, com a finalidade de conter o “sistema de

categorias ou eixo”. A classificação das palavras-chave em eixos buscou facilitar a

discussão dos resultados encontrados.

Na análise temática, constrói-se um referencial de codificação, por isso é

recomendado pelos autores que seja um procedimento gradual de redução do texto

qualitativo. Desta maneira, as unidades do texto vão sendo reduzidas

progressivamente, constituindo-se então numa série de paráfrases, até se conseguir

extrair as palavras-chave.

A tabulação dos dados buscou identificar por meio das narrativas discentes,

qual a visão dos alunos, tanto do 4º quanto do 5º semestre, sobre a participação na

confecção da “Colcha de retalhos”.

Após esta separação dos dados coletados em tabelas, foi possível iniciar o

processo de análise temática, envolvendo as paráfrases, as palavras-chave e as

categorias, buscando compreender se houve um processo de autoria ou submissão,

diante das suas narrativas. Este processo está documentado e vários trechos serão

utilizados durante a análise, contudo temos o material completo nos anexos.

Para conclusão da análise, foram tabuladas as narrativas acerca do

questionário sobre o resgate (auto) formativo, incluindo as questões realizadas pelas

alunas do 4º semestre que não participaram do processo de feitura da “Colcha de

retalhos” para as alunas do 5º semestre que realizaram a construção.

Em seguida, tivemos a transcrição dos dados coletados para as sete

perguntas, a fim de analisar “Quais os limites e possibilidades do desenvolvimento

da autonomia e emancipação dos sujeitos?”. Neste processo, também utilizamos os

procedimentos da análise temática, de forma a identificar os eixos temáticos,

conforme pode ser observado nos anexos.

A título de organização e de preservação do anonimato, as alunas receberam

nome de borboletas para preservar as identidades e autoria das narrativas. A

escolha pelas borboletas remete à metáfora que permeia a dissertação, destacando

os processos de mudança e transformações que trazem liberdade, alegria, cor e

novas possibilidades. O nome das borboletas foi escolhido de forma aleatória, pois

todas, nas suas mais diferentes espécies, demarcam transformações e mudanças,

95

do mesmo modo que ocorre com os sujeitos, que vão se modificando ao longo do

processo formativo.

Sendo assim, a criatividade foi aflorada e pude dar asas a imaginação para

nomear, a partir de estudos e pesquisas de imagens, obras de artistas e citações

que envolvem o processo da metamorfose, pesquisas sobre voos, borboletas e

transformação, bem como a partir da pesquisa de informações breve sobre zoologia,

no Borboletário do Museu Nacional de História Natural.

A analogia da borboleta ao processo formativo pode ser percebida desde o

seu processo de nascimento, seu casulo, lagarta, sua metamorfose e seu voo. Cada

borboleta tem seu próprio desenvolvimento de forma singular, sua espécie, sua cor,

seu tamanho e seu tempo para fazer seu voo. O contraste das diversas cores e das

diferentes espécies é uma arte e nos leva ao belo. Segundo Schiller (2002), talvez

para alguns despertasse o feio ou a agonia, pela forma que se transforma de um

pequeno ser para um que voe.

Vale destacar que as participantes da pesquisa têm sua identidade

relacionada a cada questão norteadora. No caso do anexo A, temos os trechos

relacionados à questão “Conte-nos o que significou participar da ‘Colcha de

Retalhos’”, contando apenas com alunas do 5º semestre, com a relação abaixo.

Sujeitos Discentes

Narrador 1 Borboleta marrom

Narrador 2 Borboleta três cores

Narrador 3 Borboleta laranja

Narrador 4 Borboleta Vermelha

Narrador 5 Borboleta amarela

Narrador 6 Borboleta polidama

Narrador 7 Borboleta preta e vermelha

Narrador 8 Borboleta 88

Narrador 9 Borboleta Azul

Narrador 10 Borboleta Branca

Narrador 11 Borboleta branca camuflada

Narrador 12 Borboleta branca da madeira

Narrador 13 Borboleta coruja

Narrador 14 Borboleta estranha

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Narrador 15 Borboleta mórmon

Narrador 16 Borboleta Rainha Alexandra

Narrador 17 Borboleta transparente

Narrador 18 Borboleta zebra

Narrador 19 Borboleta-aquática

Narrador 20 Borboleta-pavão

Narrador 21 Borboleta-apolo

Narrador 22 Borboleta bananeira

Narrador 23 Borboleta-folha

Narrador 24 Borboleta Monarca

Narrador 25 Esmeralda cauda-fina

Narrador 26 Borboleta preta e laranja

Narrador 27 Borboleta estaleira-cinza

Narrador 28 Borboleta maracujá

Narrador 29 Borboleta Castanha-vermelha

Narrador 30 Borboleta dos olhos verdes

Narrador 31 Borboleta do Manacá

Narrador 32 Borboleta verde

Narrador 33 Borboleta Rosa

Quadro 3: Seleção de nomes para as narrativas discentes referentes à questão norteadora Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Já os dados obtidos foram dispostos no anexo C, são compostos por trechos

com relação à questão introdutória “Qual a percepção das alunas dos 5º semestre

sobre a feitura da ‘Colcha de Retalhos’?’”, tendo como participantes os narradores

descritos a seguir.

Sujeitos Discentes

Narrador 1 Borboleta Artista

Narrador 2 Borboleta Boneca

Narrador 3 Borboleta Cometa

Narrador 4 Borboleta Diferente

Narrador 5 Borboleta Filha

Narrador 6 Borboleta Palmeira

Narrador 7 Borboleta Geométrica

Narrador 8 Borboleta Hidro

97

Narrador 9 Borboleta Joaninha

Narrador 10 Borboleta Limoeiro

Narrador 11 Borboleta Jardim

Narrador 12 Borboleta Floral

Narrador 13 Borboleta Numeral

Narrador 14 Borboleta Mental

Narrador 15 Borboleta da Casa

Narrador 16 Borboleta Alerta

Narrador 17 Borboleta do Sul

Narrador 18 Borboleta do Norte

Narrador 19 Borboleta do Leste

Quadro 4: Seleção de nomes para as narrativas das discentes dos 5º semestres referentes à questão introdutória Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Esta mesma questão introdutória respondida pelas alunas dos 4º semestre,

tem os dados dispostos no anexo B, tendo as participantes seus nomes elencados

abaixo.

Sujeitos Discentes

Narrador 1 Borboleta Maria

Narrador 2 Borboleta Pororo azul

Narrador 3 Borboleta Estaleira

Narrador 4 Borboleta Tigre

Narrador 5 Borboleta da Couve

Narrador 6 Borboleta Andorinha

Narrador 7 Borboleta Adelpha

Narrador 8 Borboleta Vanille

Narrador 9 Borboleta Amathea

Narrador 10 Borboleta Menipe

Narrador 11 Borboleta Biblis

Narrador 12 Borboleta Anamathea

Narrador 13 Borboleta Satyri

Narrador 14 Borboleta Rosa de Luto

Narrador 15 Borboleta Thoas

Narrador 16 Borboleta Beija-Flor

98

Narrador 17 Borboleta Seda

Narrador 18 Borboleta Estrela

Narrador 19 Borboleta Cristal

Narrador 20 Borboleta Esmeralda

Narrador 21 Borboleta Rubi

Narrador 22 Borboleta Ametista

Narrador 23 Borboleta Pérola

Narrador 24 Borboleta Diamante

Narrador 25 Borboleta Princesa

Narrador 26 Borboleta Grafite

Narrador 27 Borboleta Agata

Narrador 28 Borboleta Marinha

Narrador 29 Borboleta Citrino

Quadro 5: Seleção de nomes para as narrativas das discentes dos 4º semestres referentes à questão introdutória Fonte: Elaborado pela pesquisadora

A partir deste processo de parafrasear os dados obtidos, desenvolve-se um

sistema com o qual todos os textos podem ser codificados, constituindo ao fim uma

interpretação das narrativas, unindo as estruturas de relevância dos informantes

com as do pesquisador. “A fusão dos horizontes dos informantes e do pesquisador é

algo que tem a ver com a hermenêutica”. (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002, p.107).

Assim, temos a contribuição de Gadamer (2000), na busca da interpretação

hermenêutica das narrativas discentes. Para Gadamer (2000), a hermenêutica,

enquanto compreensão filosófica, é a arte de interpretar, traduzir, explicitar e

compreender, é o pensar e o conhecer, com equilíbrio, na busca da compreensão. À

vista disso, compreender, para Gadamer (2000), é um movimento que vai da palavra

ao conceito e do conceito à palavra, é um processo de revelar os horizontes, para

encontrar no texto o sentido de algo que diz por si mesmo.

Este horizonte se diferencia e pode variar de acordo com a época, o momento

histórico e cultural, principalmente porque existem peculiaridades, por meio das

quais se constroem diferentes perspectiva de mundo. Esta não é fixa ou estática,

mas um processo de crescimento e desenvolvimento.

Diante disso, concebe-se o conceito da hermenêutica, que tem o objetivo de

analisar qualquer que seja o estudo, para isso deve-se considerar a historicidade,

99

para uma compreensão livre de estereótipos provenientes dos preconceitos e

julgamentos da sociedade contemporânea.

Lawn (2011) destaca a ausência de clareza com os termos interpretação e

hermenêutica por serem tratados como semelhantes e essa ambiguidade pode ter

sido iniciada devido à origem da palavra hermenêutica que deriva do verbo grego

hermeneuein, que significa interpretar. Com o uso de uma metáfora em que Hermes

(que deriva de hermeneuein) um mensageiro dos deuses gregos que fazia o papel

de transmitir as mensagens destes aos mortais.

A hermenêutica, ou seja, “a arte de interpretar” com seus próprios

procedimentos e técnicas, tendo o papel de proteger e revelar a mensagem oculta.

Esta interpretação segue essa trajetória que trilha da palavra ao conceito, para então

a descoberta do conceito à palavra, para atingir a compreensão coerente do texto,

com objetivo de revelar e desvendar efetivamente um determinado conceito. Assim,

para Gadamer (2000) compreender é:

Compreender não é, em todo caso, estar de acordo com o que ou com quem se compreende. Tal igualdade seria utópica. Compreender significa que eu posso pensar e ponderar o que o outro pensa. Compreender não é portanto, uma dominação do que nos está à frente, do outro e, em geral, do mundo objetivo. Pode até também se compreender, que se compreenda para dominar. Assim, é também natural a vontade de dominação dos homens sobre a natureza, o que, de fato, torna possível a nossa sobrevivência. (GADAMER, 2000. p. 23).

Na Hermenêutica, a primeira interpretação ou compreensão é feita da pré-

compreensão, de pré-juízos, de pré-conceito, o sujeito que interpreta precisa ter

consciência dessa importância, limpar a sua mente e buscar o sentido real do texto e

não aquilo que se imagina ou pressupõe que o autor disse, exige um esforço na

interpretação para que possa chegar ao sentido do que não foi dito.

O objetivo é compreender o sentido das comunicações, seu conteúdo dito ou

não dito, as significações explícitas ou ocultas, principalmente que a tendência da

sociedade moderna é reproduzir como verdade o que é dito, mas sem compreender.

Buscando interpretar às diferentes leituras e linguagens com consciência crítica e

reflexiva, distanciando cada vez mais do processo de submissão altamente

reproduzido na sociedade.

Esse processo não é imediato, é um processo de desconstrução e

reconstrução. Assim, une-se ao conceito do Círculo da Compreensão na perspectiva

100

hermenêutica, em Gadamer (2000): o sentido de um texto é remover da parte, da

palavra ao conceito e do conceito à palavra, ampliando-se o horizonte de mundo.

Nesse aspecto, toda frase pronunciada tem muitos sentidos e cada um

precisa fazer o esforço de interpretar e compreender e argumentar o sentido da

frase no contexto. A primeira regra da hermenêutica é estudar textos, imagens,

filme, fotografias, do estudo, analisando sua intencionalidade de acordo com o

retrato de sua época, depois distanciar-se das interpretações óbvias e por isso, as

interpretações devem ser feitas sem pressa, podendo vivenciar o momento estético

da experiência da aprendizagem estética de pesquisa.

“A hermenêutica é, muito antes, uma visão fundamental acerca do que

significa em geral, o pensar e o conhecer para o homem na vida prática, mesmo se

trabalhando com métodos científicos” (GADAMER, 2000, p. 19). Desta forma, é

necessário permitir que o texto fale para que seja compreendido, pois o mesmo não

foi idealizado para que só o intérprete mostre o que pensa.

Diante desse conceito, a interpretação do mundo e do passado não pode ser

desconsiderada, pois à luz da hermenêutica desvelamos os saberes ocultos para a

compreensão contemporânea. Partindo desta concepção, a história não nos

pertence, e sim pertencemos a ela e na medida em que a interpretamos surge um

modelo de reflexão, de pensamento e de ação.

Em suma, a cada interpretação que é realizada, parte do princípio do que se

conhece e esse conhecimento será reconstruído, constituindo-se assim um espiral,

dentro do qual há um movimento cíclico entre uma parte do texto e seu sentido

global, que fundamenta a hermenêutica filosófica.

À vista disso, a hermenêutica é o pilar de que a mudança é constante, o que

demanda:

a consciência de que nossa compreensão depende da linguagem que se realiza no diálogo que somente no encontro com outras pessoas que pensam de outra forma podemos superar nossos próprios horizontes interpretativos. (HERMANN, 2002, p. 60).

Nesse aspecto, o desafio da hermenêutica, ciência da arte de interpretar não

só textos, mas também todos os elementos da própria vida, constitui-se numa

batalha infinita, assim toda frase pronunciada tem muitos sentidos e cada um precisa

101

fazer o esforço de interpretar e compreender e argumentar o sentido da frase no

contexto.

Esse caminho é uma possibilidade de alinhavar, tecer, fiar e bordar as teorias,

os dados, os encontros e os desencontros ocorridos ao longo da investigação.

Contudo, a partir da análise da perspectiva hermenêutica, a busca será no sentido

da Educação Estética nas narrativas discentes e a compreensão do

desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos no curso de Pedagogia.

3.2 A estética do casulo: encasular, isolar, fechar e mudar no processo

formativo

“Conte-nos o que significou participar da ‘Colcha de Retalhos’” perguntam as

alunas do 4º semestre e as alunas do 5º semestre expõem seus pontos de vista.

Reconhecer e relembrar o que aconteceu na minha vida escolar é um dos pontos principais que me fez ser uma futura professora. O que me influenciou a ser professora, foram meus primeiros anos escolares, que foram atribulados e difíceis, que deixaram profundas lacunas em meu aprendizado. No entanto, eu como professora pretendo inverter este quadro, (no que depender de mim) sendo observadora e tendo um conhecimento sigiloso sobre todos os meus alunos e especificamente com aqueles alunos que tem mais dificuldades no aprendizado, pois todo indivíduo é inteligente e capaz. O que precisamos descobrir é a fonte estimuladora deste aprendizado. Significou momentos de sofrimentos e alegrias. O que dificultou o pensamento, a escolha e também a decisão de qual imagem retratava melhor estes momentos. (Borboleta Marrom, 5º sem.).

Apresentam-se “memórias” da narradora sobre acontecimentos de sua vida.

As lembranças da infância no espaço escolar influenciaram a sua escolha pela

profissão, a aluna reconhece a origem do desejo de ser uma professora diferente. A

possibilidade de transformação afetada pelas emoções também está presente na

narrativa da Borboleta Laranja e Três Cores:

Acredito que o resgate de episódios marcantes, ou melhor, reconhece-los, se deu através do olhar para si e para a história de vida e perceber que através da intuição, os pontos que permitem as transformações, ou seja, através da intuição (motiva, emocional e intelectual) as fissuras entre os acontecimentos, o eu neste. É essencial na formação de professores no curso de pedagogia, pois o profissional da educação é o único que inicia a sua formação ao nascer, e olhar, refletir toda a história de sua formação, inclusive no contexto educacional é primordial para favorecer a formação de profissionais conscientes, críticos e reflexivos, autores e autônomos,

102

portanto, mais capazes de promover transformações sociais. (Borboleta Laranja, 5º sem.).

Perceber que tudo tem ligação, elas não imaginavam que pudesse resgatar o ensino fundamental no ensino médio. Existem algumas coisas que não lembravam e com a colcha elas forçavam as lembranças. (Borboleta três Cores, 5º sem.)

A vivência da feitura da “Colcha de Retalhos” pelas alunas do 5º semestre de

acordo com o registro das alunas do 4º semestre, foi de momentos permeados pela

emoção. A Borboleta Geométrica ilustra essa constatação: “Durante a aula algumas

meninas relataram suas histórias do ensino fundamental ou fato de vida que marcou.

[...] Todas ficaram muito emocionadas em relatar suas histórias.” (Borboleta

Geométrica, 4º sem.).

A narrativa como dimensão estética do conhecimento também está presente

nos registros de Hidro, Joaninha e Borboleta do Leste:

relatam as histórias de suas vidas, no qual conquistas, perdas, mas acima de tudo realizações tanto na vida profissional como na pessoal. [...] Fiquei emocionada e pensando se um dia também poderei fazer uma colcha. (Borboleta Hidro, 4º sem.). A colcha emociona envolve, desmorona, reflete momentos de nossa vida e é através da experiência e lição de vida dos outros e nossas. [...] Descobrimos que ninguém é perfeito, sempre vai haver momentos em nossas vidas que choramos momentos dolorosos, alucinantes, bons, maravilhosos, enfim a vida não para. (Borboleta Joaninha, 4º sem.).

Esses pequenos pedaços de panos diversificados (bordados, pintados, expressos, fotografados) entre outros, eram representações de vidas de cada aluna, que tentavam retratar e passar seus sentimentos de perda, saudades, vitórias, conquistas e suas lembranças e até suas esperanças em forma de um desenho, foto, imagem, pintura e cores diversas. (Borboleta do Leste, 4º sem.).

A emoção está claramente presente nas narrativas. Com isso, podemos

afirmar que o momento das alunas do 5º semestre contarem sobre a feitura e

participação na “Colcha de Retalhos” para as alunas do 4º semestre foram

momentos de experiência estética do conhecimento, permeados pela emoção, do

gosto e do desgosto, tanto para as alunas entrevistadas como para as

entrevistadoras. A aprendizagem é uma vivência que ocorre via a emoção,

constituindo-se na dimensão estética do conhecimento. Cabe aqui ressaltar que

para Josso (2004) a experiência só ocorre por meio da reflexão sobre a vivência.

Assim, é possível compreender a trajetória formativa por meio da história de vida,

103

percebendo que aprendizagem só ocorre quando é vivenciada e experimentada, um

modo de crescimento, maturidade intelectual e emocional do ser humano.

Ao refletir sobre minha trajetória me lembrei de muitos momentos diferentes aos que escrevi na narrativa, mas reconheci aqueles que escrevi como mais importantes porque foram os que causaram emoções mais fortes.(Borboleta Polidama, 5º sem.)

As alunas do 4º semestre também puderam constatar durante a entrevista

narrativa que existe uma reflexão individual, fazendo com que possa ver sua história

de vida tecida em retalho e que é impactada fortemente ao fazer a narração coletiva.

A respeito disso, a Borboleta Artista, do 5º semestre, declara a importância da

troca de experiência: “troca de experiência entre os alunos [...] O registro é de

extrema importância e o retalho é o registro de algo marcante na vida” (Borboleta

Artista, 5º sem.). Já outra aluna destaca que: "pudemos trazer experiências, e até

compartilhar momentos da época da elaboração da colcha. Nós falamos aquilo que

julgamos necessário as pessoas saberem.” (Borboleta Anamathea, 5º sem.). A

borboleta Diamante diz que a Colcha de Retalhos possibilita: “relembrar de todos os

momentos e das histórias de vida”. (Borboleta Diamante, 5º sem.).

À vista disso, na narrativa de Borboleta Amarela relata o fato de que para

acontecer mudanças de pensamento é importante que haja conhecimento, no qual

são realizados no processo formativo, além de não se segregar a trajetória pessoal,

profissional ou acadêmica.

Me levou a pensar sobre a minha história e sobre mim mesma e assim perceber os significados que tiveram alguns acontecimentos em minha vida. Talvez autoria no processo de conhecimento sobre minha trajetória pessoal seja marcado pelo esclarecimento de que as minhas atitudes no momento em que eu vivia (passava por alguns acontecimentos em minha vida) seriam os responsáveis pelo rumo que iria tomar minha vida, sendo assim minhas escolhas dependiam de mim, retirando do papel de vítima e me colocando no papel de responsável pela minha história. (Borboleta Amarela, 5º sem.).

Evidencia-se na narrativa acima um valor estético a responsabilidade. A

necessidade de cada ser humano assumir a responsabilidade de ser autor da sua

história, um princípio que se aprende e sustenta uma atitude cidadã, implica ao

mesmo tempo outro valor estético o desenvolvimento da autonomia no processo de

formação.

104

É possível afirmar que o desenvolvimento da autonomia por meio da narrativa

de si é um processo que envolve a resistência, passa pelo medo da reprovação do

outro, um processo que envolve o autoconhecimento. Conforme podemos vislumbrar

nas seguintes narrativas:

No começo achei essa ideia um pouco estranha, pensei logo que seria chato, que não iria dar certo, mas com o passar dos dias fui entendendo o que seria esse trabalho, o significado, e logo me peguei pensando no que faria como faria... É engraçado, pois quando alguém nos mostra algo novo, algo que temos que fazer por nós mesmos logo negou, falamos que não vai dar certo ou que vai dar muito trabalho, só pelo fato de que somos nós, e só nós, que temos que fazer. (Borboleta Citrino, 5º sem.). Esse trabalho foi de extrema importância, pois consegui ver além do que foi dito, expor as nossas histórias e nossas experiências para o próximo. Sei que devemos separar a nossa vida profissional da pessoal, mas em alguns momentos será necessário trazer algumas coisas da vida pessoa ao trabalho. [...] nem sempre estamos preparados para recordar algo que passou na vida, mas é preciso trazer as lembranças para superar, aprender e porque não, fazer igual ou diferente [...] saber um pouco das nossas fraquezas e autodefesa, mas para isso, precisamos nos conhecer como um todo e isso começa pelo nosso passado. (Borboleta Ametista, 5º sem.). a maioria passou para seu retalho algo de muito importante e emocionante que havia ocorrido em sua vida, outros, assim como eu optaram por algo que não envolvesse muito a família, algo mais superficial, não sei ao certo porque, talvez alguns de nós ainda não se sentia tão a vontade com a exposição, ainda por vergonha e receio de falar sobre o que passou. (Borboleta Esmeralda, 5º sem.).

As narrativas de Borboleta Citrino, Borboleta Ametista e Borboleta Esmeralda

indicam um movimento preocupado com a aprovação do outro, mostram que a

resistência é uma necessidade de permanecer um pouco mais no casulo. Enxergar-

se e perceber-se, não é algo tão simples, se faz necessário aprender a lidar com as

emoções, sentimentos sobre o que nos afeta, o que se desvela durante a revelação

da trajetória de vida.

O não-dito na resistência de contar sua história pode ter relação com a

vergonha. Na obra As origens da vergonha de 2006, Gaulejac constata, em seu

trabalho com o método da História de Vida, que quando os sujeitos contam suas

histórias há uma busca de reconhecimento tanto no plano afetivo como social,

habitado pela vergonha de ser rebaixado ou ridicularizado pelo outro. Assim:

a vergonha é, por natureza, um sentimento sobre o qual não se fala. Exceto quando se quer dela se livrar pelo testemunho de violências humilhantes que se pode sofrer. Não seria, pois, concebível pedir para as pessoas falarem de sua vergonha. (GAULEJAC, 2006, p. 21).

105

O que mostrar? O que ocultar? São momentos de escolhas e decisões que o

narrador vivencia e aqui compreendemos como condição de desenvolvimento da

autonomia e aprendizado de uma atitude de responsabilidade. Ele escolhe o que

falar para falar de si, de representação de si mesmo. Mostrar ou ocultar são

movimentos que dizem quem eu sou. Entretanto, a vergonha de mostrar algo de sua

trajetória pode indicar uma sabedoria: de um lado, a consciência de não saber lidar

com o olhar de desaprovação do outro, por outro lado, o outro também pode não

saber lidar com a história alheia.

Nesse sentido, o isolamento no casulo é um tempo necessário para o

amadurecimento intelectual e emocional, e para o fato de que não se sentiam ainda

à vontade para expor seus relatos pessoais. Conforme as narrativas seguintes:

Fazer a colcha de retalhos foi materializar muitas coisas, foi uma transformação interior, reflexões e autoconhecimento. O dono do tempo tem suas cenas, tristezas, felicidades e podemos perceber que existem coisas que não podemos falar, pois existem críticas e nem sempre estamos preparados para as críticas, pois às vezes estamos frágeis. (Borboleta Mórmon, 5º sem.).

compartilhamos histórias de nossas vidas através da colcha de retalho [...] Pude perceber que algumas pessoas ainda não estão prontas para recordar histórias, porém algumas tiraram a resistência do início. Esse trabalho trouxe autoconfiança, nos mostrou que somos fortes e suficientes para passar por aquilo e nos mostrou a vitória que conquistamos, mostrou o respeito que temos que ter com o próximo, e não julgar pela aparência, aprendemos a nos conhecer realmente ao ponto de estarmos prontos para toda a ocasião que ocorrer na nossa vida ou pelos menos resolver com sabedoria. (Borboleta Princesa, 5º sem.). Algumas pessoas tem resistência em participar do trabalho, pois tem dificuldades em expor sua vida, porque podem ouvir críticas de outras pessoas. [...] a importância do trabalho trouxe um olhar para o outro, de outra forma, reflexão, amadurecimento, transformação e quebras de tabus. (Borboleta Pérola).

O reconhecimento se deu através da importância dos episódios, das pessoas, professores etc., e acredito que os mesmos foram resgatados facilmente porque estão vivos em mim. (Borboleta Apolo, 5º sem.)

Enriquez (1997) mostra que o conflito está bastante presente quando se

provocam mudanças, novas ideias e novos sentidos são propostos. Neste mesmo

viés, Dominicé (1988) diz que a história de vida é outro modo de conceber a

educação, pois não se trata de aproximá-la da vida, mas sim de compreender a vida

106

como espaço formativo. Desta forma, a educação é composta de momentos que só

possuem sentido na história de uma vida.

Enfim, pode-se perceber que o pertencimento envolve uma rede de relações

que envolvem o sujeito traçando representações que interiorizadas dialogam o

tempo todo com as representações aceitas socialmente, o que fica evidente nas

narrativas:

O momento de narração da história tecida em retalhos em grupo permite o reforço da identidade profissional ao mesmo tempo em que se permite a identificação entre as histórias de cada um. A criação e construção do sentimento de pertencimento. (Borboleta Laranja, 5º sem.)

Para fazer minha Colcha de Retalhos, precisei relembrar os fatos mais marcantes dos últimos anos de minha vida e ambos os fatos estavam interligados, com o ingresso na universidade, o início do namoro, a viagem para a Bahia. Para ingressar na faculdade tive inspiração do meu antigo professor de História do ensino médio, que passou para assistirmos o filme "O pianista". Meu namorado conheci no meu atual emprego, ele estava para concluir a 1ª graduação dele e já tinha interesse em iniciar a 2ª então ele me incentivou bastante a iniciar meus estudos este ano, foi assim que pude concluir um acontecimento ligado ao outro. (Borboleta Vermelha, 5º sem.)

Esse movimento de construir e reconstruir a sua própria história produz um nó

afetivo, ou seja, permite aferir o verdadeiro sentido diante dos acontecimentos e

direcionando novos caminhos, pondo em prática a reflexão biográfica dos laços e os

nós identificados, abordados por Josso (2002), de modo a revelar os significados

sobre a formação e transformação visualizando os desafios da nossa existência.

Para se compreender os processos de formação é preciso envolver outros

nós e todos os laços. Nós que queremos que sejam desatados e laços mantidos.

Nesse movimento, os laços familiares, representações de pessoas que nos

cativaram são indestrutíveis.

Descobrir dentro de si mesmo, o seu tempo de permanência no casulo, sua

metamorfose, suas asas coloridas ou unicolores e seu voo, desvenda a pessoa em

que se transformou e que determina suas ações presentes, num processo de

reflexão sobre a vida. Essa situação manifesta o sentimento experimentado durante

a feitura da “Colcha de Retalhos”, conforme demonstrado nas narrativas da

Borboleta Azul e Borboleta Coruja:

Foi um momento que pude rever momentos fundamentais com um novo olhar que o ensino superior me proporcionou. Pelo sentimento que elas

107

deixaram raiva, saudade e carinho. Foram cruciais para a escolha da profissão. (Borboleta Azul, 5º sem.). Foi muito difícil, pois percebi o quanto é complicado olhar os momentos vividos. Aprendi que devemos olhar com carinho cada momento vivido. (Borboleta Coruja, 5º sem.).

Na visão das alunas, a “Colcha de Retalhos” mostrou a necessidade de outro

olhar para as possibilidades de aprendizado, afetado pelos sentimentos de gosto e

desgosto, que são inevitáveis e cruciais para o desenvolvimento humano seja

pessoal, profissional e acadêmico.

O trecho da narrativa Borboleta Rosa de Luto, expressa a reflexão de Josso

(2006), daquilo que ganha vida no momento do resgate da história de vida.

relembrar de toda nossa jornada para construir nosso retalho, pensar novamente no nosso momento charneira e o que nos motiva na vida. [...] Ver as lágrimas nos olhos de quem conseguia ganhar a luta ou entrar em uma. A colcha de retalhos me fez pensar no meu motivo de viver, motivo que faz levantar da cama todos os dias. E assim quero conseguir fazer meus futuros alunos pensarem o porquê de estar ali e porque continuar. (Borboleta Rosa de Luto, 5º sem.).

Sendo assim, é possível notar que ao contar a história de vida, é perceptível a

identificação desses processos formativos, conforme o que Josso (2004) fala a

respeito, ou seja, de extrair da vivência dos momentos charneiras/marcantes,

identificando os percursos formativos. São esses momentos que proporcionam

aprendizagem e uma experiência quando se reflete sobre o que nos ocorre na

vivência em diferentes espaços, dentro e fora da escola, transformam-se em

experiência de vida.

Neste viés, a consciência de seus sentimentos em sua totalidade pessoal e

profissional emergiu ao observar as respostas das Borboletas Monarca, Pavão e

Polidama:

Reconheci os episódios marcantes porque eles mudaram a minha maneira de enxergar o mundo. É bem fácil, perceber como a pessoal influência no profissional. (Borboleta Monarca, 5º sem.). Cada escolha que fazemos em nossa vida tem uma consequência, sendo ela positiva ou não e cada escolha nos faz refletir e repensar em cada momento vivido. Retratar o momento não é fácil, principalmente se ele nos traz lembranças que preferimos esquecer, porém depois da colcha creio que é necessário rever e pensar em certos momentos da nossa vida, pois são com esses momentos que reflito e melhoro pessoa que sou por isso

108

depois da colcha aprendi que sou uma pessoa em constante transformação tanto pessoal como profissional. (Borboleta Pavão, 5º sem.).

Em vários momentos de minha reflexão consegui relacionar tudo o que muito que havia lido sobre a pedagogia até aqui à minha vida pessoal e profissional. (Borboleta Polidama, 5º sem.)

As falas discentes são repletas de sentidos e significados em relação aos

momentos charneiras apresentados como vivências que assinalam uma alteração

de referências, tanto da visão de si como do mundo, no percurso do sujeito.

Corroborando com essa narrativa, podemos afirmar que a sensação de resgatar os

episódios marcantes provoca o desejo do autoconhecimento. Assim como também

se compreende que a motivação é gerada pelas relações interpessoais e pelo olhar

para si.

Reconheci pelas minhas próprias experiências de vida, de influência com o meio social, aprendi com a minha família e principalmente com meus pais. (Borboleta Branca da Madeira, 5º sem.). Aprendi com a convivência com outras pessoas, acho que o contato com livros ajuda você ampliar seu conhecimento. (Borboleta Branca, 5º sem.). Através de uma professora na 8ª série, seu carinho, atenção e dedicação, foram essenciais na minha escolha profissional. (Borboleta estranha, 5º sem.)

Desvelam-se assim as relações interpessoais sendo o eu e o outro, o outro e

o eu, no diálogo com o professor, com colegas ou família. Um caminho que deve ser

percorrido e superado, pois é rodeado de obstáculos, para isso a importância de um

olhar aguçado e sensível objetivando a humanização, diante do belo interligando ao

mundo. “Significou um momento especial, pois fiz o retalho com a minha mãe e

irmão, isso foi um momento único na minha vida”. (Borboleta Coruja, 5º sem.).

Buscando entender os inúmeros fatores determinantes dessas relações,

temos as narrativas que destacam o seguinte: “com este trabalho, os alunos podem

refletir e conhecer melhor, olhar para si e até entender como está se tornando

aquele profissional que quero ser e nos questionar”. (Borboleta Estaleira-Cinza, 5º

sem.). Neste mesmo viés, a aluna relata que “significou muito esse resgate, olhar

para as minhas atitudes hoje e olhar o que eu fiz antes me faz ver o quanto o ensino

superior me transforma a cada dia.” (Borboleta Preta e Vermelha, 5º sem.).

109

As narrativas da Borboleta Laranja, Borboleta Amarela e Borboleta Branca da

Madeira acrescentam a dimensão estética como resgate e caminho para o sentido

de vida, de existir e ser, um processo de autoconhecimento:

O resgate do processo (auto) formativo, na formação de professores é essencial, pois permite o autoconhecimento na relação com o saber, o ensinar e o conviver com demais pessoas, e este autoconhecimento permite compreender-se, desenvolver-se, construir sua autonomia e emancipação. (Borboleta Laranja, 5º sem.). A colcha de retalhos é mais do que importante na formação de professores porque possibilita a reflexão de nossa história pessoal. Acredito que o autoconhecimento é o facilitador de toda escolha que fazemos na vida. (Borboleta Amarela, 5º sem.). Significou o autoconhecimento de si mesmo, significou uma reflexão sobre a vida, significou um pensamento e ideias críticas. (Borboleta Branca da Madeira, 5º sem.).

As narrativas das alunas do 5º semestre demonstram as emoções,

concomitantemente, para o reencontro de memórias atrelado à formação e o

conhecimento:

A costura da colcha de retalhos foi muito gratificante e emocionante ver algumas colegas relembrando suas histórias. Voltar a esse momento é saber "lembranças felizes ou tristes: assim é a vida". São momentos marcantes que fazem parte de cada história, como uma recordação de detalhes onde cada pessoa volta ao passado e reencontra momentos que marcaram uma vida inteira. A costura é fundamental para matéria da História da Educação, pois o mesmo é uma pequena construção de grandes princípios para uma nova história da educação se adquirir a quem quer ouvir e participar nessa formação. (Borboleta Thoas, 5º sem.).

Nesta perspectiva, vale ressaltar que esses momentos são uma compreensão

do desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos no curso de

Pedagogia relacionando com autoria como prática educativa.

para a formação de professores no curso de pedagogia, porém teria mais sentido profissional, se a colcha tivesse sido feita no último semestre do curso, relatando as experiências e opiniões vividas por nós futuras professoras durante o curso. Porque a colcha apresentada acabou em relatos pessoais. (Borboleta Vermelha, 5º sem.)

Na visão da Borboleta Vermelha, não há possibilidade da relação da vida

pessoal com a vida acadêmica e profissional. Nóvoa (1995), diz que na formação de

professores, que hoje não é mais possível separar o “eu pessoal do eu profissional,

110

sobretudo numa profissão impregnada de valores e ideais, e muito exigentes do

ponto de vista do empenhamento e da relação humana” (NÓVOA, 1995, p. 9). Este

fato fica claro na narrativa da Borboleta Coruja, que afirma que: “a nossa trajetória

de vida tem tudo haver (sic) com a vida, profissional e pessoal. O que vamos aplicar

na vida e o que temos referente à nossa cultura.” (Borboleta Coruja, 5º sem.).

Josso (1999) diz que as narrativas de si no campo da formação de

professores, apontam-no como um método que possibilita uma reflexão sobre a

trajetória de formação na qual ao efetivar a rememoração o sujeito toma consciência

de si.

Considerando que se pode conhecer e produzir conhecimento por meio das

narrativas autobiográficas, conforme Josso (2002) e Nóvoa (2009), é preciso tratar a

história de vida tal qual um processo de conscientização, compreensão e formação,

que envolvem práticas e didáticas, sempre relacionadas às experiências de vida e o

modo de aprender de cada sujeito.

Como salienta Freire (1975) o caminho para a conscientização, para o Belo,

não é adquirido apenas em livros, ou em pacotes pedagógicos advindos das

Políticas Públicas de Educação, ou mesmo na fala do professor. Está posta em toda

a relação estabelecida entre os sujeitos e o local em que se vive, o que demonstra a

necessidade da continuidade do processo de reflexão e conhecimento.

Esse aspecto pode ser percebido nas narrativas de Borboleta Estranha e

Borboleta Bananeira, em que processo de reflexão é uma possibilidade para o

desenvolvimento da autonomia e emancipação que ocorre pelo sentir. “Retratar uma

das maiores marcas da vida foi trazer à tona a história mais importante da minha

vida. Uma dadiva de Deus.” (Borboleta estranha, 5º sem.). Já a outra aluna destaca

que: “foi importante para a formação de professores, pois através da atividade,

fazemos uma retrospectiva da nossa vida, refletindo quais os caminhos que

tomamos para chegar aqui.” (Borboleta Bananeira).

O trecho extraído da narrativa da Borboleta Pororo Azul expõe os sentimentos

vivenciados:

cada pedacinho daquela colcha guarda uma história, vivenciada por cada um de nós. Histórias tristes, alegres, algumas emocionantes. Histórias que valem a pena ser lembradas, pois de alguma forma atribuíram para o nosso crescimento pessoal. (Borboleta Pororo Azul, 5º sem.).

111

No relato, percebe-se a possibilidade e a prática no processo de autonomia

desvelada pela tomada de decisões, a partir do momento em que se escolhe o que

dizer, o que fazer, mas fica claro o limite no processo de ensino-aprendizagem

quanto aos sentidos e significados que construímos, desencadeados pelas

emoções. Assim como, as falas das Borboleta Satyri e Borboleta Beija-Flor:

cada retalho a costura da nossa colcha onde se traz em cada retalho uma história de vida, uma história de superação e de muitas outras emoções envolvidas, dá o sentido ao que se foi e é expresso na colcha. (Borboleta Satyri, 5º sem.). foi emocionante o que os desenhos nas estampas, nos representa, voltamos a chorar, dar risadas, ver cada um de nós costurando o retalho e recordando os momentos vividos que marcaram nossas vidas. [...] compartilhamos nossas emoções, nosso aprendizado, através da entrevista com as alunas do 4º semestre. (Borboleta Beija-Flor, 5º sem.).

Nesse sentido, de acordo com Sarmento (2009) resgatar a história de vida

traz a reflexão e uma abertura para a busca do sentido de sua identidade

profissional, sobre um contexto de vida e aprendizagem.

Como nos conta a Borboleta Estaleira Cinza em sua narrativa, que a partir

“dessas relações que estabelecemos que vá juntando os pedaços para formar nosso

quebra-cabeça, ou seja, nossa identidade profissional.” (Borboleta Estaleira Cinza,

5º sem.).

A narrativa da Borboleta Andorinha apresenta a relação da experiência

estética com a identidade profissional e sua escolha:

Foi um momento rico de grandes emoções, pois relembramos nossos momentos charneiras. [...] Ao contemplar aquela imagem no chão pude perceber a importância e o valor de cada símbolo representa para cada uma de nos alunas. [...] tive a convicção que essa foi uma das minhas melhores escolhas ter optado a ser pedagoga. (Borboleta Andorinha, 5º sem.).

Os trechos de relatos apresentados acima possibilitam verificar o casulo do

autoconhecimento na feitura da “Colcha de Retalhos”, que se apresenta como o

caminho para a realização profissional, o embelezamento encontra-se na disposição

de enfrentar o desafio como oportunidade de crescimento pessoal e profissional,

percebendo seu desenvolvimento com os alunos e futuros professores.

112

A leitura das análises de dados nos possibilita perceber nas narrativas

discentes que, durante o processo formativo, acontecem mudanças de pensamento

e concepções de ensino-aprendizagem, acompanhadas de emoções e sentimentos.

A experiência de narrar a própria história e resgatar o processo de formação é

um momento deslumbrante, belo, durante o qual as alunas do curso de Pedagogia

se descobriram e também se deram conta do que existe em seus corações. Esta

experiência estética do sentir, lembrar, resgatar, emocionar, traz à memória valores

e objetivos.

É notória aqui a existência do momento de retiro, de afastamento diante do

que se vivencia, mas munido de um olhar aguçado e estético, que possibilita a

identificação do belo ou do feio. Contudo, a maioria das narrativas da questão

norteadora sobre a participação na “Colcha de Retalhos” destaca a relação da

beleza do conhecimento, autoconhecimento com a trajetória de vida, tendo como

valor de se reconhecer enquanto sujeito no processo formativo. Os valores éticos e

estéticos estão presentes tanto nos procedimentos de apropriação dos

conhecimentos teóricos, na visão de mundo de professores.

Essa experiência estética promove uma experiência formadora ao refletir

sobre a emergência dos momentos charneiras, situações e acontecimentos que

modificaram os referenciais de vida do indivíduo. Para abrir-se para os momentos

marcantes parece ser necessário isolar-se, permanecer no casulo, em busca do

sentido de vida, de existir e ser, um processo de autoconhecimento em busca da

mudança. A metodologia formativa “Colcha de Retalhos” é um processo que envolve

a arte da escrita, da oralidade, do tecer a história em retalhos, de costurar como

processo criativo, pois abrange a razão e sensibilidade, que ao escrever, contar,

costurar os retalhos obtém-se a construção do sujeito que possibilita construir e

reconstruir as dimensões formativas e pedagógicas.

Nesta perspectiva assim como Freire, Schiller (2002) explana sobre a

educação da faculdade do sentir, que seria um meio de tornar efetiva na vida uma

inteligência aperfeiçoada e faz uma analogia entre o trabalho do escultor com a

matéria. O pedagogo artista é aquele para quem “educar é como criar uma obra de

arte” (SCHILLER, 2002, p. 218), respeitando a liberdade e especificidade da matéria

(ser humano).

Aqui, podemos retomar Sarmento (2009) que traz à luz o valoroso processo

de conhecer seu percurso de vida, processo significativo de dar voz aos professores.

113

Esta concepção se faz presente neste estudo, que, através do dispositivo “Colcha de

retalhos” propõe a futuro professores, que por meio do ato de narrar a sua própria

história, possam refletir sobre este processo formativo, construindo-se

representações comuns da sociedade contemporânea e vivência como aluno e

professor.

Ainda é possível relacionar estes conceitos à crítica de Freire a “Educação

Bancária”, que considera o indivíduo como mero receptor de informações passivo.

Deste modo, ele não é levado a pensar, criticar e refletir acerca de quaisquer

situações e informações apresentadas, tanto cientificamente quando na sua vida,

enxergando seu contexto social.

Sendo assim, torna-se pertinente reiterar a proposta de Berkenbrock-Rosito

(2014) sobre os processos formativos e prática docente, no que tange a metodologia

e epistemologia presente no dispositivo “Colcha de Retalhos”, vislumbra-se a

construção do conhecimento por meio das narrativas biográficas e autobiográficas

dos sujeitos, permeando todo o processo de ensino-aprendizagem.

A narrativa então passa ser vista como dimensão estética do processo

formativo. As experiências estéticas do conhecimento mostram que emoção está

presente nas narrativas, permeadas pelo gosto e desgosto. A narrativa permite que

a discente construa sua história e sua memória que é um movimento de voltar para

trás. De fazer escolhas e decidir o que quer mostrar ou ocultar. Aqui é preciso

ressaltar que comprova a hipótese desse estudo que o desenvolvimento da

autonomia e emancipação dos sujeitos ocorre via estética. Uma vez que as

lembranças são carregadas de emoções. As emoções são possibilidades de

produção e construção de conhecimento de si, do outro, da cultura, enfim, do mundo

em que está inserido.

3.3 A estética da metamorfose: um processo de transformação e

possibilidades de humanização

As alunas do 4º semestre, ao observarem o processo da “Colcha de Retalhos”

das alunas do 5º semestre, em seus registros compreendem o processo de

transformação para os que são participantes:

114

Ao ver o relato de algumas delas cheguei até me emocionar. [...] naquele pequeno pedaço de pano, somos capazes de contar um pouco da nossa história, momentos bons ou ruins, mas que marcaram nossas vidas. [...] quando ouvia falar dela, acha uma chatice, mas hoje percebi uma grande importância para as pessoas. (Borboleta Diferente, 4º sem.).

Apesar das alunas do 4º semestre serem observadoras e entrevistadoras,

elas puderam fazer a leitura do objetivo formativo do dispositivo metodológico e

epistemológico “Colcha de Retalhos”. O registro das alunas do 4º semestre deixa

clara a intenção formativa da metodologia:

resgatar as memórias da infância e adolescência de nossas colegas com o objetivo de destacar a importância das experiências de vividas na escola em ser professoras. [...] Todas se emocionaram bastante e no relato extremamente pessoal de cada uma delas percebia-se profundamente como cada ser humano é único, a experiência pode ser parecida ou até a mesma, mas a percepção, o jeito com o qual cada um irá sentir e reagir são únicos [...] e constrói a personalidade de uma pessoa. [...] acredito que as alunas em que sua trajetória de vida passaram por experiências boas irão reproduzi-las e as que passaram por ruins encontrarão nesses exemplos alternativas de superá-las. A história pessoal ajuda na compreensão sobre quem somos e as escolhas pela qual tomamos, fazendo descobrimos que tudo o que nos tornamos é reflexivo do passado e entender a importância de nossa prática pedagógica na vida dos nossos alunos. (Borboleta Mental, 4º sem.). tivemos a oportunidade de conversar com outras pessoas e de conhecer rapidamente algumas histórias através dos retalhos de tecidos, de diferentes formas, de sonhos, texturas, carregados de desejos, emoções, conquistas, realizações, sofrimento, angústia, raiva e carinho. [...] Esse movimento entre passado e presente, pode ser pensado como uma reelaboração de retalhos que darão forma a uma colcha que será tecida ao longo da vida com texturas e cores diversas que vão sendo costuradas e formando um todo com significados. [...] Para formação de professores e pesquisadores o saber pensar, refletir e analisar sobre sua própria prática é fundamental e através desse trabalho vão tecendo cada vez mais seus conhecimentos. (Borboleta Casa, 4º sem.).

Os registros das alunas do 4º semestre mostram que é possível desenvolver

a autonomia ao realizar uma releitura do modo de viver e superar-se. A narrativa de

Borboleta Castanha-Vermelha aborda o desenvolvimento da autonomia e expõe

como foi seu resgate (auto) formativo durante a sua participação na “Colcha de

Retalhos”:

Escolhi para ser professora, não com o colégio, pois os professores eram autoritários e não eram dinâmicos. Mas foi na adolescência que entrou [sic] em uma ONG e participou [sic] de um projeto voluntário, quando decidiu [sic]abrir os olhos para fazer faculdade e escolheu a pedagogia. Lembro-me de apenas um professor que incentivou a fazer o curso de pedagogia, os outros falavam para ela sair. É importante o professor se importar com o

115

aluno. Ao ouvir histórias houve um crescimento na vida e fez que com que mudasse atitudes e refletisse na questão profissional e fez com que buscasse mais conhecimento. (Borboleta Castanha-Vermelha, 5º sem.).

Borboleta Castanha-Vermelha aponta em sua narrativa a possibilidade de

autonomia e emancipação profissional e pessoal, para a prática docente. Entretanto,

salienta que esta não é exercida, ao relembrar de seus professores em sua trajetória

escolar, o que provoca o sentimento de horror que a aluna demonstra ao perceber

que existem professores que ainda agem de forma autoritária.

Convém salientar que o autoritarismo não é uma característica exclusiva da

educação bancária. É possível compreender que a concepção de educação, que

fundamenta a prática pedagógica dos professores da Borboleta Castanha-Vermelha,

é decorrente de uma cultura fabricada pela educação bancária.

A crítica à educação bancária é pelo efeito de passividade sobre o aluno

quando o professor age como um agente reprodutor de um sistema centralizador,

enfatiza-se o processo de ensinar, o professor como detentor do conhecimento, sem

abertura e consideração sobre o que pensam os alunos sobre aquilo que é lhe

proposto aprender. Entretanto, a aluna através de sua vivência na ONG, relata ter

conseguido enxergar as possibilidades de ser um agente transformador diante das

necessidades da sociedade na contemporaneidade.

Deste modo, mostra-se a pertinência de práticas que possibilitem a

manifestação do sujeito, até em ser livre para escolher a profissão que lhe agrada,

que primem pela Pedagogia da Libertação, defendida por Freire (1975), como uma

forma de pensar sobre a vida. Pensar sobre o que exerce influência em nossas

decisões e escolhas é um processo de humanização.

As narrativas de Borboleta-Apolo, Borboleta–Folha e Borboleta Preta e

Laranja manifestam esse pensamento crítico sobre o processo de humanização que

consente com Freire (2012) em que a boniteza está nas relações, nas decisões, por

meio das atitudes de se produzir o mundo:

para sermos indivíduos socialmente e profissionalmente emancipados é importante que antes ocorra um resgate de nosso processo formativo, pois para auxiliar o processo de formação de nossos alunos precisamos compreender o nosso próprio processo de formação. (Borboleta-Apolo, 5º sem.). A tomada de decisão importante não é na própria vida de futuros professores, mas também seus futuros alunos. Como condutores nosso dever esta na influência da autoafirmação e da autonomia, sem

116

começarmos por nós mesmos jamais chegaremos aos nossos alunos. (Borboleta-Folha, 5º sem.).

Foi um processo de conhecimento de submissão no ensino fundamental e médio, isso afeta muito no lado profissional. através da colcha de retalhos você será o autor da sua história, a pessoa irá voltar ao seu passado e fazer perguntas a ela mesma se questionar. (Borboleta Preta e Laranja, 5º sem.). Com certeza porque cada escolha e decisão sempre iram refletir no amanhã/futuro, levará você colher o que plantou, para semear seus objetivos. Cada aprendizado construirá o nosso conhecimento. (Borboleta Estranha, 5º sem.).

Sendo assim, para corroborar a afirmação de Freire (2014), e a possibilidade

de autoria, a Borboleta Aquática revela que: “a minha história começou sem autoria

própria, mas com o tempo e com a maturidade, pude torná-la diferente.” (Borboleta

Aquática, 5. Semestre) A respeito deste processo, vale aqui trazer a narrativa da

Borboleta Rosa, que expõe como a participação da “Colcha de Retalhos” a afetou,

implica a possibilidade de desenvolvimento da autonomia: “ foi Importante para o

desenvolvimento da reflexão e tomada de decisões em todos os campos da vida.”

(Borboleta Rosa, 5. semestre).

No tocante, temos a necessidade de refletir sobre seu contexto, as narrativas

da Borboleta Seda e da Borboleta Agata retratam a importância de reviver os

marcos de vida do passado com o presente, possibilitando as transformações e a

autoria:

Esse projeto da Colcha de Retalhos foi de suma importância para que eu me reencontrasse, fazendo que revivesse histórias que nem sabia que já havia vivido muito menos o impacto que causou. [...] pude entender como afetou minha vida pessoal e profissional alguns desses impactos foi à timidez e uma escolaridade de péssima qualidade. [...] estou no caminho certo, que os meus momentos charneiras, fizeram comigo o desabrochar, entender é preciso vencer seus medo, timidez, angústias e sempre que em conflito se permite uma autoavaliação. [...] muitos se mostraram proativos colaborando para que uma harmonia entre as imagens fossem encontrada, [...] é nítida a importância do passado, para que as transformações aconteçam com o indivíduo. [...] a mudança é complicada, mas é possível. (Borboleta Seda, 5º sem.). coleção de memórias, histórias de vidas tecidas em retalhos, histórias singulares construídas no coletivo. A escrita autobiográfica e todo o processo de contar a minha história tecida no retalho permitiu-me um encontro comigo mesma, fez-me refletir sobre minha vida... Talvez seja hora de reinventar-me ou inventar outras fantasias. Estou terminando minha graduação com uma única certeza, eu mudei, tornei-me uma pessoa melhor, vim para faculdade com o objetivo de ter uma profissão, compreendi a importância da educação para a humanidade e, principalmente, entendi o papel do professor como peça chave no processo de construção do

117

conhecimento, sendo ele responsável pelo desenvolvimento do ser humano nos anos iniciais. (Borboleta Agata, 5º sem.).

Consoante à metáfora da metamorfose, aguçar a curiosidade epistemológica

surge do mundo despertado de si, desvelada pela narrativa de Borboleta Laranja

que reafirma a possibilidade de transformação do sujeito, da submissão para um

processo de autoria e produção do conhecimento:

É essencial na formação de professores no curso de pedagogia, pois o profissional da educação é o único que inicia a sua formação ao nascer, e olhar, refletir toda a história de sua formação, inclusive no contexto educacional é primordial para favorecer a formação de profissionais conscientes, críticos e reflexivos, autores e autônomos, portanto, mais capazes de promover transformações sociais. (Borboleta Laranja, 5º sem.).

A importância de uma reflexão sobre si para a construção de um sujeito

autônomo é apontada pela Borboleta Maria, manifestando a transformação e de

reconhecimento de si, transcendendo para tornar-se autor:

o encanto nos toma e aflora os nossos sentimentos. [...] o entusiasmo tomava conta do ambiente. Embasadas em uma teoria de Gramsci de autogestão e auto-organização que defende a capacidade do ser humano se autogovernar. [...] Refleti que a historia de vida é muito importante para a nossa formação, principalmente para a formação de indivíduos sociais, sendo por ela o desenvolvimento de uma identidade pedagógica. Que tipo de professor quero ser? Que a nossa prática em sala de aula precisa ser diferenciada para preparar sujeitos participativos ativos, autônomos e críticos capazes de intervir e modificar a sociedade. (Borboleta Maria, 5º sem.).

O despertar da consciência é um movimento de fruição e criação, quando o

sujeito transforma-se em autor e ator de seu papel. A respeito disso, evidenciam-se

os relatos da Borboleta Tigre e Couve:

Deixo anotadas três palavras marcantes na aula da reunião da colcha de retalhos: Colaboração, criatividade e histórias. (Borboleta Tigre, 5º sem.) As colegas dos outros semestres tiveram um contato com o término da colcha, o que eles no futuro irão construir também. Compartilhar novamente a nossa história se alimentando e a trilha sonora fez toda a diferença. (Borboleta Couve, 5º sem.)

Em suas narrativas, pode se desvelar os resquícios de um perfil de sujeito

passivo em seu processo de ensino-aprendizagem, que se limita a relatar o óbvio,

descartando o processo de construção do conhecimento que envolve a reflexão,

118

crítica e aprendizagem. O que se demonstra um rito de passagem e

desenvolvimento da sua autonomia e emancipação.

A Borboleta Tigre ao mencionar a colaboração, criatividade e histórias,

apresenta elementos que se constituem o sujeito e a metodologia, revelando o

sentimento pela busca do conhecimento, pelo aprendizado, pelo saber e pela

pesquisa, que abrange sua vida acadêmica, mas que influencia a vida profissional e

pessoal. Já a Borboleta Couve ainda complementa em sua fala a necessidade da

continuidade sobre as histórias de vida, com as demais colegas do outro semestre,

demonstrando um movimento de ressignificação do que vivenciou durante a sua

participação plena na feitura da “Colcha de Retalhos”, buscando aguçar a sua

curiosidade epistemológica.

Os princípios desse desenvolvimento humanizado envolvem a quebra de

paradigmas, pois é com um pensamento dialético que existe construção do

conhecimento, no processo formativo. “Sim é importante, pois com a colcha

refletimos com a relação com o conhecimento, professores, consigo a prática e a

educação.” (Borboleta Branca Camuflada, 5º sem.).

Borboleta-Pavão, ao relatar sua visão sobre sua participação na “Colcha de

Retalhos”, mostra a transformação de sua visão sobre o processo formativo, o que

antes havia resistência e um julgamento prévio, levou-a a beleza e contemplação na

descoberta do sentido da narrativa de si.

Retratar o momento não é fácil, principalmente se ele nos traz lembranças que preferimos esquecer, porém depois da colcha creio que é necessário rever e pensar em certos momentos da nossa vida, pois são com esses momentos que reflito e melhoro como pessoa que sou, por isso depois da colcha aprendi que sou uma pessoa em constante transformação tanto pessoal como profissional. No primeiro momento não levei muito a sério, mais [sic] hoje vejo o quanto é e foi importante, pois me ajuda a refletir sobre muita coisa, até mesmo no momento do registro, adorei ter participado dessa experiência. (Borboleta-Pavão, 5º sem.).

Diante da fala, percebe se que o processo formativo desvela-se pelas

múltiplas linguagens e sentidos, como o caso da escrita, um momento individual e

solitário, a seguir a oralidade, o momento do diálogo e relação com os sujeitos

envolvidos e finalizando-se com a imagem (pictórica), a representação do vir a ser e

no desenvolvimento de tomada de decisões. Conceito este descrito nas narrativas:

119

Significou um exercício de se utilizar de outra linguagem, a imagem por si só utiliza de diversos símbolos que combinados colocam um significado. A imagem é única, portanto, representa um indivíduo. O meu retalho sou eu. (Borboleta Laranja, 5º sem.). A transformação foi mais significativa, as imagens tem mais impacto do que palavras. (Borboleta Três Cores, 5º sem.) Foi muito bom, às vezes nos expressamos melhor quando não usamos as palavras e descobri que é muito legal pintar, adorei. (Borboleta Branca Camuflada, 5º sem.) Foi significativa, a expressão através da imagem da minha vida, o percurso que fiz para chegar até aqui onde estou num curso superior é a realização de uma etapa dos meus sonhos. (Borboleta estaleira-cinza, 5º sem.)

Afloram os sentimentos e emoções ao perceber que a sua história de vida

está marcada em si e pode ser um registro de sua unicidade, como vemos na

seguinte narrativa “Muito importante pude ver claramente cada detalhe da minha

história desenhada na colcha, o que me fez perceber minha vida um retalho”.

(Borboleta Preta e Vermelha, 5º sem.).

Borboleta Manacá mostra a importância do ato de relembrar o modo de

aprender:

Lembro-me dos professores que pegaram a sua mão para ensinar. A narrativa mexeu muito, pois é algo concreto, um fato empírico é túnel do tempo se lembrar das coisas das escolas e das imagens. E que muitas coisas passam pela cabeça, mas tem que filtrar, porque nem tudo as pessoas tem que saber. Aprender como erros dos outros, você já está ganhando tempo é um incentivo. (Borboleta do Manacá, 5º sem.).

Na narrativa seguinte, também se evidencia a necessidade de mapear os

acontecimentos de nossa trajetória formativa onde existe a possibilidade da

reinvenção:

os acontecimentos em nossas vidas, seja ele um marco de tristeza ou de alegria, podem ser o marco inicial para mudar nossas atitudes [...] tornar sensível diante das diferenças, das desigualdades na sociedade.[...] A escola é o ambiente mais favorável em tornar sujeitos com sendo crítico, flexível, ativo, autonomia para liderar suas vidas. (Borboleta Boneca, 5º sem.).

Esse movimento de reconstrução e reinvenção faz com que haja a ruptura de

reproduções dos padrões culturais que doutrinam a consciência, como aclara

Adorno (1985) ao retratar a manipulação cultural que impede o ser humano de

pensar de forma crítica.

120

Nas narrativas da Borboleta Estrela e Coruja sobre sua participação na

“Colcha de retalhos”, diz que:

relatamos para as colegas do quarto semestre nossas histórias ou os momentos que nos influenciariam para a elaboração do nosso retalho, [...] conquista de autonomia, independência (libertação de uma situação de aprisionamento), dor, perdas marcantes ou momentos de transformação. [...] se faz necessário a colaboração do outro. [...] nos sentimos aliviadas, pois acabamos de contar e dividir nossas experiências (boas ou ruins). (Borboleta Estrela, 5º sem.). Foi importante, pois ouvi histórias lindas, de sofrimento e com uma conquista no final, isso é muito prazeroso. (Borboleta Coruja, 5º sem.)

A narrativa sinaliza que o processo de humanização é um processo de

libertação do sofrimento que aprisiona o sujeito. Parece que o aprisiona é a

capacidade de pensar sobre o sente e de alguma forma impede sua capacidade

criativa. Nesse sentido, podemos pensar que de acordo com Paulo Freire (1975)

auxiliando-nos na inspiração da compreensão da humanização, um ser humano

histórico e inacabado pode, através do processo de conscientização, aprender a

pensar a partir do vivido: retomando a trajetória pessoal, acadêmico e profissional

para ampliar o alcance de sua formação no desenvolvimento da criatividade como

prática da arte de viver.

Evidencia-se a relação entre o ato de relatar sua trajetória, a relação com o

conhecimento, a necessidade de transformação e ressignificação, dando

importância de se refletir sobre o que nos afeta a alegria ou tristeza, o gosto ou não

gosto, como possibilidade de desenvolvimento e amadurecimento intelectual e

emocional, visando à autonomia dos sujeitos.

Neste viés, o desenvolvimento da autonomia, a que Freire (2014) aponta

como uma das finalidades do processo educativo constitui-se através da passagem

do indivíduo pelo exercício do autoconhecimento, adquirindo uma expressão

adequada do que se sente e se pensa a respeito de si mesmo e dos outros e do

mundo.

Assim, é pertinente o que diz Freire (2014) a passagem da consciência

ingênua para a consciência crítica que só é possível se for levada em conta a

dimensão ética. Deste modo, “não podemos nos assumir como sujeitos da procura,

da decisão da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não

ser assumindo-nos como sujeitos éticos” (FREIRE, 2014, p. 17).

121

Neste sentido, de acordo com Freire (2014), a equidade, o respeito, a

solidariedade, a autonomia, responsabilidade social, entre outros, são valores éticos

e estéticos que sustentam os processos formativos, visando à educação do cidadão

democrático, reflexivo, analítico, com consciência crítica, ou seja, a relação do

indivíduo e mundo.

Desta forma, é cabível compreender que a “Colcha de Retalhos” possibilita

um rico processo para a aprendizagem da ética e da estética na prática da relação

dos sujeitos-alunos e sujeitos-professores com o conhecimento, pode tornar sensível

ou embrutecer as relações, a partir do que não se vê, mas que é uma estratégia

formativa processual.

Para Berkenbrock-Rosito (2014) os processos de ensinar, aprender e formar

buscam a humanização do sujeito, já que promovem uma reflexão sobre sua relação

com a realidade, que não pode ser mantido apenas no discurso. Assim, o uso da

história de vida das pessoas nos processos formativos, no contexto universitário, faz

sentido. Uma vez que sempre se elege uma formação do ensino tecnicista, ou

apropriação de um discurso pronto que não envolva a participação do sujeito, pois

ele recebe o discurso crítico pronto, que não valoriza a formação humana do

profissional, a construção de um pensamento crítico, reflexivo e criativo, necessários

no âmbito educacional para emancipação dos sujeitos, partir de sua trajetória

formativa. Como afirma Freire (2014, p. 33) “ensinar exige respeito aos saberes dos

educandos”.

Certamente, este dispositivo formulado por Berkenbrock-Rosito (2014) traz a

influência de Paulo Freire, de quem foi aluna. Assim, esta compreensão de que é

essencial a reconstrução do conhecimento, desenvolvendo valores éticos, estéticos,

morais, ideológicos e políticos para sua transformação como sujeito e da cultura que

o cerca, compõe a “Colcha de Retalhos”.

Berkenbrock-Rosito (2014) salienta se aprendemos o que faz sentido para

nós, o que nos toca por inteiros e, consoante com Freire (1997), não se pode

conhecer pelo outro, que perceberá na e pela sua experiência o desafio do professor

de que seu dever não é apenas transferir conhecimento, mas possibilitar que o aluno

o construa e produza.

As narrativas reafirmam a necessidade da formação na busca da autoria de

ser sujeito, tanto professores como alunos, uma busca que se legitima, conforme

apresentado por Freire (2014), o aluno só desenvolve a autonomia quando aprende

122

a refletir no próprio processo de tomar suas decisões e fazer escolhas. Deste modo,

o professor deve ter a clareza de estar atento à participação dos alunos e criar

condições para que ela possa ser estabelecida, de forma que professores e alunos

atuem como sujeitos e criem possibilidades para a produção e construção do

conhecimento, proporcionando a leitura do contexto escolar e do mundo.

A dimensão Estética na Educação, defendida por Schiller (2002), compreende

pensar o conjunto de sensações, emoções, sentimentos, buscando sua experiência

de mundo. O sujeito consegue entender e elucidar a sensação manifestada,

mediante a razão, ocorrendo assim um jogo lúdico entre o sensível e a razão,

movimento que caracteriza a Educação Estética. Nesse processo, surge a

consciência da estética do sujeito, de compreender seu modo de ver, conhecer e

produzir reflexões, conhecimento, de leitura e de si, culminando numa reconstrução

de si por meio das narrativas escritas, orais e pictóricas.

Assim, é imprescindível reconhecer a necessidade de uma educação para o

pensar aquilo que nos afeta, gosto ou desgosto, que promova a reflexão e o

confronto com uma lógica implícita no discurso para que serve o pensar. Educar

para o pensar a fruição de sensação e sentimentos implica responsabilidade,

respeito, compromisso sobre si, sobre o outro e sobre o contexto, consiste em

entender o pensar como algo essencial na maneira de viver, tomando consciência

de ser e estar no mundo.

3.4 A estética do voo: despertar para um olhar para si e para o outro

O respeito aparece como valor estético na relação com o outro, conforme a

narrativa de Borboleta Rosa: “Importante para se perceber, enxergar ao nosso redor

e o mundo que nos cerca. Ter respeito as pessoas com que convivemos apesar das

diferenças.” (Borboleta Rosa). Para outra discente também “foi muito importante,

pois entendemos o outro, a história do outro, compreendemos a vida do outro e o

pensamento do grupo.” (Borboleta Branca da Madeira).

Esta ideia também se faz presente no seguinte relato: “Foi muito importante,

pois passamos a olhar de outra forma, refletir mais respeitar a história do outro,

enxergar o aluno, entender seu processo de vida. Mas em tudo é superação do ser.”

(Borboleta Mórmom).

123

A fala da Borboleta Estaleira, mostra que o respeito é mais um dos elementos

primordiais com o outro, esse sentimento é aguçado pela sensibilidade:

chamou-me atenção, conhecer suas experiências de vida, porque me ensinou a respeitar as diferenças, a ter um olhar pelo próximo de compaixão e amor, reconhecer que todos possuem limitações, dificuldades e que passam por diversidades que são superadas quando há solidariedade para com outrem. (Borboleta Estaleira, 5º sem.).

O respeito manifesta-se na narrativa Borboleta Menipe, pela troca de

experiências, oportunizando o movimento de olhar para si e para o outro, um

movimento que requer o resgate de sua própria história de vida:

tivemos poucas situações em que pudéssemos saber um pouco da vida de nossas colegas, coisas, situações que viveram e que as marcaram e modificou, no momento da costura houve uma união, uma cooperação entre nós, a cada passada de agulha, nossos retalhos iam se tornando uma coisa só, foi um momento de escolha, de dividir tarefas, funções, de ter sensibilidade, de autogovernada. [...] o aprendizado em relação ao respeito para com outro, pois todas ali tínhamos o mesmo objetivo. (Borboleta Menipe, 5º sem.).

Uma lembrança de vida de cada um e proporciona a quem ouve certa experiência e podemos comparar as histórias vividas. (Borboleta Coruja, 5º sem.)

Nestas narrativas fica evidente a importância de olhar reflexivo para si e para

o outro, que foi possibilitado durante a sua participação na “Colcha de Retalhos”

uma transformação das linguagens escrita e oral afetada pelos sentidos e emoções,

que ocorre por meio da Educação Estética.

Outro aspecto importante abordado é a necessidade do conhecimento de si e

relacionar-se com o outro, pois a partir do momento em que há o reconhecimento de

si há a possibilidade de compreensão do outro, isto é, somente reconheço o outro a

partir do eu.

Tenho certeza que o autoconhecimento e o respeito ao outro aumentam muito após essa descoberta. [...] Os retalhos retratam as histórias individuais e me faz ter certeza de quão importante é conhecer o nosso aluno, valorizar a sua história. [...] Foi um encontro agradável, me fez refletir que cada um tem orgulho ou medo de sua própria história, mas que na exposição, se sentiram aliviadas. [...] Me autoconheço e auto avalio. [...] Transformações ocorreram e ocorrem a cada dia, a cada aula, sendo assim, as metodologias também deveram ser alteradas. (Borboleta do Sul, 5º sem.).

124

Sim, ao ouvir cada história percebi quanto às pessoas são fortes e pude tirar um exemplo, e é gratificante ouvir e perceber o objetivo atingido por mim e pelos meus colegas. (Borboleta transparente, 5º sem.)

A narrativa da Borboleta Branca Camuflada retrata a sensação e emoção da

compreensão da história de vida e a importância de ter condições de coparticipação:

É muito importante conhecer a história do outro, você passa a ver a pessoa de outra forma, porém na hora de narrar a minha história achei muito difícil, meu deu um branco, não me senti muito à vontade, para contar o que tinha escrito para todas. Sim, essa atividade acaba nos trazendo à tona quem realmente somos, mostra nossos valores e um professor deve se conhecer por completo, para assim conhecer e entender o outro. (Borboleta Branca Camuflada, 5º sem.).

Essa condição é uma possibilidade de desenvolvimento da responsabilidade

e compromisso da aluna com a prática docente. Nesse sentido, saber ouvir significa

prestar atenção ao discurso e do desejo do outro, esta atitude pode contribuir para o

desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos, que ocorre via estética,

do gosto de se tornar um profissional mais consciente de seu papel, na melhoria da

qualidade dos processos de ensino e aprendizagem, que reverbera na formação de

cidadãos que dotados de sensibilidade possam realizar uma intervenção na

sociedade respeitando o bem comum.

Neste viés, é pertinente o que diz a narrativa norteadora sobre a participação

de Borboleta Três Cores:

Foi importante porque nos faz conhecer o lado mais oculto do colega de sala. Com essa experiência nos mostra que todos tiveram dificuldades para enfrentar as dificuldades. Dando oportunidade para o outro saber mais da nossa história. (Borboleta Três Cores, 5º sem.).

A ideia de que saber ouvir o outro proporciona uma formação da sensibilidade

no ser humano, como elemento fundamental e centro chave de um desenvolvimento

estético interior harmônico do sujeito, nos leva para uma compreensão maior deste

mundo contemporâneo que é tecnológico, epistemológico e sensível.

Isto fica evidente nas narrativas abaixo, a respeito da participação da “Colcha

de Retalhos”, deixando claros o sentido e o significado do ato de ouvir e

compreender:

125

Só conhecemos as pessoas quando passamos a conhecer - ouvir suas histórias. E ao narrar minha narrativa, senti que pude passar um pouco da minha história para minhas colegas. Sim. Achava que era uma besteira esse projeto, mas ao ouvir outras narrativas passei a imaginar as minhas trajetórias um aprendizado para minha formação. (Borboleta Branca, 5º sem.). este exercício fez com que eu expressasse tudo o que havia guardado em mim, além de me fazer ouvir, respeitar e procurar entender melhor o outro. (Borboleta-Apolo, 5º sem.).

Essa condição é uma possibilidade de desenvolvimento da ressignificação na

formação do sujeito, despertando o olhar para perceber a ‘beleza’ como expressão

da autonomia de pensar e descobrir-se como sujeito que sente e pensa sobre o que

esta diante da realidade, que segundo Schiller (2002), é caracterizada como a

educação através da capacitação do olhar, aguçando a sensibilidade.

A vivência do respeito pode ser revelada também na narrativa da Borboleta

dos olhos verdes: “aprendi a conviver em grupo e a lidar com os colegas. Uma

construção de respeito ao próximo. Critico o envolvimento das pessoas e falta de

união.” (Borboleta dos olhos verdes, 5º sem.).

A Borboleta Biblis demonstra em seu registro como é primordial romper com o

que é imposto, buscando novos olhares e compreensões sobre si, sobre o outro e

sobre o mundo.

Fazendo-se uma analogia com a construção do conhecimento do senso comum, eu diria que a colcha de retalhos "traduz em um saber ordinário", cujas partes costuradas manualmente, juntando cada parte da história de vida de cada uma ali presente, colocando paciência, resignação, revolta, dor, compreensão, fé, carinho, raiva, acima de tudo, com arte. Para mim o resultado desta costura é extremamente significativo, pois é repleta de vitalidade, já que brotou de uma relação direta do ser humano com o mundo e com os seus pares. É preferível "pensar" sem disto ter consciência crítica, isto é, participar de uma concepção de mundo imposta, mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos vários grupos sociais, nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente. (Borboleta Biblis, 5º sem.).

Nesse aspecto, percebe que há uma possibilidade de um olhar e espelhar-se

na história de vida relatada pelas colegas de sala, mas limitando se a reflexão sobre

o outro, pois aquilo que me afeta, também arrebata o outro, no qual ainda encontra-

se como limite em seu pensamento.

Opondo-se a fala da Borboleta dos olhos verdes, temos a Borboleta Vanille,

que em seu relato traz a estética do olhar sensível:

126

as nossas histórias de vida estão ligadas, seja pela escolha profissional seja por algum fato na vida particular, pois a vida é algo imprevisível e sempre nos surpreende. [...] Muitas vezes convivendo com as colegas diariamente possuímos uma imagem formada delas, porém quando conhecemos um pouco de sua história passamos a enxergá-las de maneira diferente. [...] refletir nestas coisas e com isso ajudou a tornar o meu olhar sensível em relação ao outro. (Borboleta Vanille, 5º sem.).

Este movimento de olhar para si e para o outro provoca a emergência das

emoções na feitura da “Colcha de Retalhos”, como ressalta a aluna que: “ao ouvir

histórias houve um crescimento na vida e fez que com que mudasse atitudes e

refletisse na questão profissional e fez com que buscasse mais conhecimento.”

(Borboleta Castanha-Vermelha, 5º sem.).

O significado de participar da “Colcha de Retalhos” está presente na narrativa

da Borboleta de Olhos verdes afirmando que se compõe como “uma construção de

respeito ao próximo.” (Borboleta dos olhos verdes, 5º sem.). A outra discente deixa

bem claro este processo, afirmando que “pude conhecer um pouco de mim e até

mesmo entender o meu jeito de ser. Aprender a respeitar a pessoa que cada é

devido a sua história ou trajetória de vida.” (Borboleta Estaleira-cinza, 5º sem.).

De acordo com as narrativas é possível afirmar que a estética como mediação

na construção do conhecimento, pode promover a capacidade de interagir com os

outros, que respeitem as diversas diferenças que encontram na sociedade, que

tenham atitude de cooperação, que abominem qualquer tipo de violência, que

respeitem as regras, capazes de solucionar problemas em grupo, respeitando as

diferentes opiniões.

Isso pode se vislumbrar na narrativa da Borboleta Três-Cores, que aponta

uma mudança de paradigma ao salientar a importância da reflexão e agir

diferentemente do que teve em sua formação escolar, já que: “aprendemos a ver o

outro com um olhar diferente, a entender o professor em sala de aula, tentando

mudar. Não fazer o que fazia no fundamental com professores. Valorizar os

professores.” (Borboleta Três Cores, 5º sem.).

A respeito desta visão de ver o outro, a Borboleta Manacá defende que: “é um

autoconhecimento porque você olha os outros de forma diferente, você enxerga o

seu aluno e olha o próximo de outra maneira.” (Borboleta do Manacá, 5º sem.).

A construção do sujeito pela e para a sensibilidade, está presente na seguinte

narrativa:

127

trocar experiências de vida enquanto se costura a várias mãos a colcha de retalhos. [...] a formar uma linda composição de vidas em que nós todas nos reconhecemos. [...] um grande tecido de vidas entrelaçadas. [...] uma experiência muito libertadora [...] como histórias tristes e que desoladoras sempre estão acompanhadas de momentos de grandes felicidades, conquistas e vitórias. [...] Impressionante a riqueza de detalhes de cada retalho, carregados de emoção, mas ao mesmo tempo trazia a leveza, a delicadeza, mostrando a história de vida de cada uma. Uma experiência verdadeiramente transformadora, ninguém saiu incólume, pois todas afetaram e foram afetadas. [...] esse tipo de atividade é tão importante para a futura pedagoga, pois somente passando por tais experiências transformadoras pode-se adquirir consciência da real dimensão do papel e da responsabilidade da profissão. (Borboleta Floral, 5º sem.).

O relato de Borboleta Amathea traz a estética do olhar sensível como um

aspecto de qualidade das relações interpessoais:

importante para todas, porque cada uma costurou um pedaço de sua história, foi bom compartilhar as histórias [...] muitos seres humanos julgam os outros, mas ninguém sabe o que cada um passa qual a dificuldade que cada um passa problemas? Todo tem, mas um diferente dos outros. [...] um dia de lição de vida, muitas experiências compartilhadas, alegrias e até mesmo tristezas. (Borboleta Amathea, 5º sem.).

Esta experiência de enxergar o outro, de maneira diversa e conseguir

perceber a si, é enfatizada na narrativa da Borboleta Cristal:

Com a colcha de retalhos cada pessoa teve a oportunidade de conhecer mais o indivíduo. Foi uma experiência de reconhecer o outro com suas diferenças. Teve uma socialização com diversas pessoas diferentes. Teve a troca de experiências por meio da socialização. [...] A união que o objetivo em comum é possível acontecer, mas com argumentos e ideias pautáveis. (Borboleta Cristal, 5º sem.).

Nesta situação, observamos que a experiência estética passa pela

experiência do sujeito com o outro, consigo e com o mundo, sempre com uma

mediação da emoção que contraria a ideia com base apenas no utilitário com o

mundo externo. Esta relação interpessoal destaca-se novamente como elemento

crucial com o registro da aluna do 4º semestre.

contribui para minha formação pessoal e profissional, sobre ouvir a história de cada um, o que marcou na vida pessoal delas. [...] poder contar a história e fazer a junção da costuram, cada uma tem sua história e essa história faz parte de outra história. (Borboleta Jardim, 4º sem.).

128

Aquilo que nos emociona no cotidiano ordinário da sala de aula, manifesta-se

na narrativa abaixo:

foi bem emocionante e nos fez refletir sobre cada história de vida. [...] este projeto promove ainda mais a integração, favorecendo o fortalecimento dos vínculos, o que beneficia a formação pessoal e moral, edificando assim, a formação do cidadão responsável, solidário e ético. [...] a cada história contada refletirmos mais sobre os fatos abordados e despertando a curiosidade sobre a vida das colegas e o mundo que as cercam. [...] É deslumbrante a arte deste belo trabalho desenvolvido na formação de professores, pois trabalha a autonomia e emancipação do ser. (Borboleta Palmeira).

Sob essa perspectiva, é necessário perceber que a aprendizagem

fundamenta-se nas emoções. Este arrebatamento estético se vê claramente no

seguinte relato: “me contaram que saíram da sala muito emocionada e conhecendo

pessoas que ao menos um bom dia dava”. (Borboleta Numeral, 5º sem.). Apesar de

simples e breve, este registro denota a transformação do olhar para o outro, de

como o dispositivo “Colcha de Retalhos” possibilita a construção de um ser humano

mais reflexivo e sensível.

Olhar o outro despido de seus conceitos e julgamentos, além da construção

do respeito ao outro e às suas vivências, estão identificados na narrativa a seguir:

O retalho é apenas uma parte de nossa história de vida, por isso não posso julgar o próximo apenas com o que ele compartilha de sua vida [...] transformar a narrativa escrita em uma imagem no tecido me fez chorar muito, me trouxe a lembrança de muitas coisas e me fez avaliar a si mesma. [...] Narrar a história para outras pessoas ouvirem foi importante para elas construir respeito ao próximo a não julgar pela aparência, aprender com o erro dos outros. [...] respeitar as diferenças, a enxergar o aluno e respeitar sua história de vida e com isso buscar maneiras de trabalhar com eles. (Borboleta do Norte, 5º sem.).

A necessidade de se colocar no lugar do outro, de modo que possa haver

cumplicidade, tolerância e respeito com o próximo, são práticas sociais que ainda

encontram-se como limite para algumas alunas do 5º semestre, apesar de terem

vivenciado e experimentado a metodologia.

Ao relacionar a narrativa das alunas do 5º semestre destaca-se a

necessidade de união, apesar de fortalecer os valores como cidadão:

foi bem emocionante e nos fez refletir sobre cada história de vida. [...] este projeto promove ainda mais a integração, favorecendo o fortalecimento dos vínculos, o que beneficia a formação pessoal e moral, edificando assim, a

129

formação do cidadão responsável, solidário e ético. [...] a cada história contada refletirmos mais sobre os fatos abordados e despertando a curiosidade sobre a vida das colegas e o mundo que as cercam [...] É deslumbrante a arte deste belo trabalho desenvolvido na formação de professores, pois trabalha a autonomia e emancipação do ser. (Borboleta Limoeiro, 5º sem.).

Este processo de reflexão é evidente no relato da discente sobre “Colcha de

Retalhos”:

percebi que houve comoção na hora que cada colega foi falando sobre suas escolhas simbólicas retratadas nos retalhos houve muita curiosidade por parte de nós do quarto semestre em cada pedacinho uma história surpreendente cada pedaço era de um pouco de cada colega [...] através das respostas de cada uma vi que para elas foi uma experiência boa importante pelo fato do resgate de situações importantes de suas vivências. (Borboleta Alerta, 4º sem.).

Como dito, apesar de ainda encontrar-se este limite, temos a possibilidade de

desenvolvimento, a partir do momento que suas falas apresentam a necessidade de

reflexão. Essa relação apresenta-se no registro da Borboleta Rubi:

O trabalho em sala da colcha trouxe uma visão sobre o outro. Aprendi a respeitar o momento de cada um, escutar suas histórias e compreender o momento vivido de cada pessoa. Trouxe vários sentimentos, emoções, choros, alegrias e sabedoria. Escutar, compreender e aprender foi o que consegui no trabalho. Histórias maravilhosas, revelações, aprendizado e conhecimento. Aprendi a conhecer o outro lado de cada pessoa da sala. Foi um momento de refletirmos sobre os sentimentos vividos. (Borboleta Rubi, 5º sem.).

Perceber o colega como ser humano, repleto de experiências e histórias,

enxergá-lo como resultado de suas vivências, é mostrado no seguinte relato: “cada

integrante do grupo pegava um pedaço seu da colcha de retalho e explicava o

significado daquele retalho. Gostei bastante” (Borboleta Filha, 4º sem.).

Corroborando, Tardif (2008) menciona que “o objeto do trabalho do docente são

seres humanos e, por conseguinte, os saberes dos professores carregam as marcar

do ser humano.” (TARDIF, 2008, p. 266).

Nos relatos das narrativas de Borboleta Rainha Alexandra, Borboleta-

Aquática e Borboleta Marinha, surge a experiência estética da convivência entre os

sujeitos durante o processo formativo e a capacidade de se colocar no lugar do

outro:

130

O reconhecimento das situações vividas foi através da reflexão, se colocar no lugar do outro o modo de pensar diferente e também pelo fato das mesmas terem me marcada bastante. (Borboleta Rainha Alexandra, 5º sem.). ouvindo o outro também aprendeu e dá valor a nossa história. (Borboleta-Aquática, 5º sem.). O ato de costurar os retalhos possibilitou o exercício da autonomia, pois durante a elaboração do retalho pudemos decidir o que gostaríamos, ou não, de compartilhar com a classe. A costura nos faz perceber que ao longo do curso todas nós nos relacionamos, com algumas pessoas mais do que com outras, fazemos parte de um todo, com objetivos em comum, e que mesmo sem desejar provocamos mudanças na vida das pessoas, e elas também provocam mudanças em nossa vida. Ouvir a história do outro nos faz respeitá-lo e compreendê-lo melhor, pois muitas vezes julgamos as atitudes das pessoas sem procurar entender o porquê delas agirem de determinada maneira. Como pedago/gas, cotidianamente vamos costurar a teoria com a prática, compartilhar nossas experiências com o outro, e para isso precisamos saber nos expressar e ouvir o que o outro tem a nos dizer. (Borboleta Marinha, 5º sem.).

Ao equiparar as narrativas da Borboleta Adeplha e da Borboleta Grafite,

percebemos que ambas apresentam a necessidade de colaboração e cooperação,

apesar de muitos momentos não concordarmos, precisamos saber ceder e aprender

a lidar com a singularidade de cada um:

colocar em prática parte do aprendizado. [...] houve um entrosamento entre as alunas apesar de não concordar com algumas colocações que foram feitas e imposições, tudo transcorreu melhor forma possível. [...] Desta forma, observei que muitas vezes devemos abrir mão da nossa opinião e a vontade para que possamos atender a necessidade do outro. [...] Colocar em prática as nossas vidas precisamos da colaboração e participação de todos que estão empenhados no mesmo ideal. (Borboleta Adelpha). relembrando as histórias, algumas foram costurá-la. Foi um trabalho lindo, pois uns pequenos desenhos demostramos tantas coisas, fazendo sentido para cada uma. Minhas sensações foram inesperadas. Não saberia que mexeria tanto comigo. Me fez refletir que cada ser humano tem sua singularidade. (Borboleta Grafite).

Nestas narrativas também fica claro o respeito pela vulnerabilidade do outro e

de nós mesmos, compreensão que se faz necessária para a construção da

autonomia, como aponta Anjos (2005), além do conceito de dignidade, co-implicado

na relação eu-outro.

A troca de experiências contribui para que ocorra esta compreensão, o que

também auxilia no desenvolvimento de olhar para si e para o outro, conforme aponta

o seguinte relato:

131

pude refletir sobre quão difícil é você partilhar de momentos que foram marcantes em sua (nossas) vidas e na carreira profissional [...] representar em um simples retalho imagens que denunciassem suas angústias e trajetórias que marcaram a história [...] uma experiência de poder observar um pouco da história do outro de um contexto de ideais, influencias encontro e desencontros que levaram a refletir e relembrar épocas anteriores, contribuindo para o meu processo de aprendizagem. [...] com sua agulha e linha entrelaçassem suas histórias juntamente com as outras compartilhando essa troca de experiência que nos possibilita a conhecer um pouco mais do outro. (Borboleta Cometa, 5º sem.).

As narrativas expressam a forma como o indivíduo se vê, como se coloca no

lugar do outro, buscando a compreensão e entendimento do outro e como se

constitui na diferença em relação ao outro. A narrativa da Borboleta Preta e

Vermelha destaca que: “nos faz refletir em cada ação e pensamento que fizemos e

nos faz refletir nas ações do eu e do outro.” Já a Borboleta Alexandra Rainha

acredita que “foi de grande importância, pois através da narração da minha história

pude contar aquilo que estava guardando dentro de mim.” Neste mesmo sentido,

temos a contribuição da Borboleta Zebra:

Foi importante para enxergar as qualidades das outras pessoas e não olhar apenas para a minha história, pois quando olhamos para as outras pessoas, a primeira vista podemos ter uma má impressão e quando conhecemos sua história. (Borboleta Zebra).

Nesse viés, as narrativas sobre o significado de participar da “Colcha de

Retalhos” revelam que durante o processo formativo os sentimentos e emoções

afetam sua reflexão de escolha, perante o que vê de si e do outro. As Borboletas

Azul, Polidama e Folha expressam a necessidade desse olhar:

Pelo sentimento que elas deixaram raiva, saudade e carinho. Foram cruciais para a escolha da profissão. (Borboleta Azul). Significou a possibilidade de refletir e reconhecimento o quanto é importante o papel do professor em nossas vidas e nossas escolhas. No curso de pedagogia fala-se muito sobre a importância do professor conhecer seus alunos e lembrar que por trás de cada um deles tem uma história. A atividade traz esse ensinamento para a prática. (Borboleta Polidama). Alguns momentos charneiras são inesquecíveis. Ao pensar em escola, o aprendizado surge imediatamente, outros momentos são de pura reflexão ou em conversas com outros indivíduos que fazem parte da minha vida ou sozinho. (Borboleta Folha).

Por outro lado, temos narrativas que consideram a metodologia da “Colcha de

Retalhos” como um momento de desabafo:

132

Foi ótimo falar e ouvir passamos três anos e não conhecemos as pessoas, foi uma forma de desabafo e união da sala. (Borboleta azul, 5º sem.). é uma experiência boa ao relatar e compartilhar com o grupo cada um tem histórias diferentes para serem divididas. (Borboleta 88, 5º sem.). foi muito importante, no meu caso em especial serviu como desabafo. (Borboleta Polidama, 5º sem.). Conclui que são trajetórias distantes e não influenciaram os modelos de práticas, a Colcha de Retalhos foi um trabalho mais pessoal, que serviu para aproximação da turma, que por se tratar de um semestre estavam todos separados e enquadrados já em seus grupos. (Borboleta Vermelha, 5º sem.).

O olhar para si e para o outro despertam emoções e sentimentos diversos

que arrebatam de forma invisível, sendo um despertar para realidade, pois ao olhar

para si é possível compreender como ocorre a formação do sujeito e o olhar para o

outro, no processo de ressignificação.

Dessa forma, de acordo com Moscovici (2005) apud Sousa e Novaes (2013),

é necessário considerar que a concepção de que cada sujeito é singular, único e

social, sua historicidade que afeta diretamente o sujeito em suas interações sociais.

Assim cada sujeito constrói a sua representação social, pois tem diferentes

contextos e culturas e juntos compartilhamos as representações sociais, a

representação é uma construção de conhecimento na relação do objeto ausente.

Assim como, as representações alternam a memória. Representa-se por meio de

signos e símbolos partilhados e aceitos socialmente, assim não há uma

representação isolada, mas que está envolvida com o social, o tempo, pessoas,

referindo-se aos fenômenos de identidade e alteridade.

Consoante, Adorno (2004) e Freire (2011) trazem sua crítica à mídia e os

sujeitos como oprimidos, pois se criam falsas representações da realidade, a

submissão, o esvaziamento das potencialidades criadoras do ser humano e

capacidades criativas.

Com isso, como no método de História de vida e no dispositivo “Colcha de

Retalhos”, que ao costurar os retalhos temos a construção do sujeito que possibilita

construir e reconstruir as dimensões formativas e pedagógicas. Deste modo, pode-

se perceber que a narrativa de experiências e histórias possibilita o exercício do

pensamento crítico, entre o sensível e o racional para o desenvolvimento da

sensibilidade.

133

Berkenbrock-Rosito (2014) menciona que as narrativas têm um sentido

epistemológico a partir da produção de conhecimento que os sujeitos atribuem sobre

a formação docente. Nesse aspecto, a formação docente será proveniente de cada

narrativa de vida, isto é, diante de cada experiência de vida que o sujeito teve

durante sua trajetória.

Aqui se evidencia que o processo de emancipação dos sujeitos passa pelo

trabalho coletivo, por meio da troca de experiências, sendo imprescindível para o

processo de mudanças, conforme aponta Tardif (2008), quando destaca a

necessidade de saber ser, construir uma atitude para com o outro, de respeito.

Consoante, Zeichner (2008) defende que a prática reflexiva dos professores

não pode ter apenas uma visão técnica do saber fazer, já que possui também o

compromisso do saber ser, pois é essencial trabalhar de forma coletiva e ativa nos

propósitos educacionais.

Com isso, é também é uma possibilidade de não se render aos encantos do

“modismo pedagógico”, que trabalha com a lógica da ênfase era dada a uma

Educação tradicional focada em conteúdo, o aluno no lugar do morto,

posteriormente com os avanços das pesquisas prevalece uma ampliação de uma

educação para a formação do sujeito como cidadão crítico e reflexivo e que para

isso, a ênfase recai na relação professor e alunos, o conteúdo no lugar do morto, a

Educação da Escola Nova como novos pensamentos sobre a aprendizagem do

aluno na relação com o conhecimento, entende-se equivocadamente, que ele

aprende sem a intervenção do professor, portanto, o professor assumiria o lugar do

morto.

No contexto desta pesquisa, é possível compreender que a Educação

Estética ocorre por meio das narrativas de história de vida de cada sujeito, o que

permite direcionar o olhar para a própria história como possibilidade de

epistemológica de conhecer e produzir conhecimentos, ao mesmo tempo que se

desenvolve a sensibilidade do equilíbrio dos processos pedagógicos ensinar,

aprender e formar e da prática pedagógica a relação professor, aluno e

conhecimento.

134

Eu prefiro ser Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo (Metamorfose Ambulante - Raul Seixas)

135

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi objeto de estudo a compreensão sobre o desenvolvimento da autonomia e

a emancipação dos sujeitos, contribuindo para um aprofundamento dos aspectos

teóricos e práticos da Educação Estética, por meio da narrativa de vida e a partir do

dispositivo “Colcha de Retalhos”, uma metodologia e epistemologia desenvolvidas

por Berkenbrock-Rosito, desde 2001, como proposta de formação do professor-

pesquisador, a concepção de Educação Estética considerando as emoções como

uma questão epistemológica nos processos formativos.

Iniciei o estudo contando a minha trajetória de vida e minhas experiências,

uma contextualização entre mudanças e transformações, que são dados da minha

infância, a vida familiar, destacando fatos e pessoas marcantes nas diversas fases,

visando à compreensão de trajetória formativa, na dimensão pessoal e profissional.

Com isso, fica claro quem é a pesquisadora, momento de perceber onde

meus pés pisam ou já pisaram. Isso é importante para uma pesquisa na abordagem

qualitativa, sob o enfoque hermenêutico, que a análise, compreensão e

interpretação dos dados não ocorre de forma neutra, há intencionalidade.

Como proposta para esta pesquisa trouxe a “Metáfora da metamorfose”, que

foi o fio condutor para analisar e tecer os aspectos que representam a vida em todos

os sentidos, seja no casulo, na metamorfose e no voo.

Para isso, busquei a compreensão teórica e prática sobre a formação de

professores-pesquisadores à luz da Educação Estética, a fim de elucidar as

concepções de estética, dimensão estética, experiência estética, aprendizagem

estética, Educação Estética. Assim foi possível estabelecer as possibilidades e

limites entre os conceitos e compreender a presença da aprendizagem estética nas

narrativas discentes, refletir sobre a humanização, o caminho de humanização dos

sujeitos por meio da Educação Estética. Deste modo, concebe-se a narrativa como

produção do conhecimento no processo formativo desvelada pela experiência

estética e estética da narrativa como possibilidade de desenvolvimento e autonomia

e emancipação dos sujeitos.

Esses movimentos fundamentam a análise, compreensão e interpretação do

material do estudo: o sentido e significado da dimensão estética nas narrativas

discentes produzidas no dispositivo formativo “Colcha de Retalhos” no Curso de

Pedagogia, em 2013, que participaram da disciplina “História da Educação e da

136

Pedagogia”, ministrada por Berkenbrock-Rosito, na Universidade Cidade de São

Paulo.

Os dados foram coletados utilizando a Entrevista Narrativa, um momento em

que as alunas do 5º semestre contaram sobre a participação na “Colcha de

Retalhos” para as alunas do 4º semestre. Os dados foram analisados sob o enfoque

hermenêutico na perspectiva de Gadamer (2000), buscando a compreensão dos

sentidos construção dos significados atribuídos pelos discentes sobre o contar as

experiências vividas na feitura da Colcha de Retalhos.

Neste contexto, cabe a resposta acerca das perguntas-problema norteadoras

do estudo: “Como o desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos

ocorre via Colcha de Retalhos?” e “Quais são as possibilidades e limites da Colcha

de Retalhos como metodologia formativa no Curso de Pedagogia?”

A emoção é uma experiência estética no processo formativo que esteve

presente nas narrativas das histórias de vida, durante a vivência da feitura da

“Colcha de Retalhos” pelas alunas do 5º semestre de acordo com o registro das

alunas do 4º semestre, constatando pelos relatos a possibilidade de transformação

afetada pelas emoções.

A aprendizagem revelada pelo relato é uma vivência que ocorre via emoção,

constituindo-se como uma dimensão estética do conhecimento. Esses momentos de

aprendizagem foram ensejos de uma experiência estética, que surgiram a partir do

pensar sobre a fruição do gosto e do desgosto, que resultaram na produção de um

conhecimento sobre os processos formativos dos profissionais, despontando a

responsabilidade como um valor estético essencial para esta trajetória.

Nas narrativas sobre a experiência, emergiram a escola, como lugar de

memórias das narradoras e acontecimentos de sua vida, episódios relacionados

tanto na escola como na família e que influenciaram a sua escolha pela profissão

docente. Nestes momentos, ocorreram lampejos de conscientização, como um

processo de autoconhecimento, no reencontro de memórias atrelado à formação,

um sentimento de responsabilidade com sua trajetória formativa.

É importante destacar que a formação dos professores é constituída por

momentos e histórias que ocorrem dentro e fora da escola, sendo as memórias do

espaço escolar ou de acontecimentos vividos fora dela que influenciam na formação

profissional.

137

Em alguns relatos são declarados os limites da relação da vida pessoal com a

vida acadêmica e profissional, mas que são contraditórias em sua maioria, quando

mencionam que trajetória de vida tem a ver com a vida, pois nesse aspecto envolve

tanto a dimensão profissional quanto a pessoal.

A resistência é elucidada em narrativas como medo da reprovação do outro,

indicando a necessidade de aprovação do outro, aparece como sendo uma

necessidade de permanecer um pouco mais no casulo, pois é preciso amadurecer e

para isso o envolve a compreensão do sentido de ser e existir, plenamente um

processo de autoconhecimento.

Diante disso, é possível constatar que o desenvolvimento da autonomia e da

emancipação dos sujeitos ocorreu durante todo o processo de construção das

narrativas, pois envolveu escolhas e tomadas de decisões sobre o que ocultar e o

que mostrar sobre a própria história em suas narrativas escrita, oral e pictórica, bem

como possibilitam o sujeito a tomada de consciência de si e relacionando a autoria

como prática educativa.

O respeito apareceu como mais um valor estético e essencial nas relações

humanas, destacando-se a relevância do saber ouvir o outro e a indispensável

formação da sensibilidade, centro chave de um desenvolvimento estético do sujeito,

ao aliar a emoção e a razão.

Ficaram claros o sentido e o significado do ato de ouvir e compreender,

retratados pela troca de experiências, oportunizando o movimento de olhar para si e

para o outro, sendo uma possibilidade de desenvolvimento e ressignificação na

formação do sujeito, como expressão da autonomia de pensar e descobrir-se como

sujeito, que sente e pensa sobre o mundo em que está inserido.

Assim sendo a relação entre eu e o outro, o outro e o eu, no diálogo com o

professor, com colegas ou família, evidencia a importância da troca de experiência

coletiva, pois somente reconheço o outro a partir do eu e pela estética do olhar

sensível.

A experiência estética da convivência é desvelada ao refletir sobre essa

colaboração e cooperação, na troca de experiências coletivas e importante das

relações interpessoais, sendo um aprendizado primordial para lidar com a

singularidade de cada um.

Nesse sentido, compreende-se que existem momentos diferentes na

compreensão da trajetória formativa, que apesar de compor um mesmo grupo em

138

formação, percebe-se nos relatos das narrativas discentes, que algumas

permaneciam no casulo, pois ainda precisam tornar-se maduros tanto

intelectualmente quanto emocionalmente.

Os valores estéticos de responsabilidade e compromisso são explicitados

pelos relatos das discentes e falam do outro para falar de si, buscando o

reconhecimento de si como possibilidade de compreensão do outro. Isso acontece

pela emoção, na busca de compreender a história de vida do outro e de si. Aqui, os

valores estéticos desvelados precisam ser aprendidos e envolvem uma ação

reflexiva sobre o que nos causa, como possibilidade de transformação, extraindo o

visível do invisível, uma vez que a estética não se ensina, mas se aprende nas

relações.

Neste viés, vale ressaltar a visão das discentes com relação à aprendizagem

estética, que ocorre em diferentes momentos de uma trajetória, ou seja, não segue

uma linearidade, é algo processual e contínuo, a favor do desenvolvimento de um

olhar estético à formação de professores.

Nos relatos, foi possível vislumbrar que esse movimento de olhar para si e

para o outro, na feitura da “Colcha de Retalhos”, provocou a emergência de

emoções ao perceber o colega como ser humano repleto de experiências e histórias,

enxergá-lo e identificar histórias que não são tão diferentes das suas, aflorando os

sentimentos e emoções. As atitudes e práticas de valores como a cumplicidade,

tolerância e respeito com o próximo, ainda se encontram como limite para algumas

alunas do 5º semestre, apesar de terem vivenciado e experimentado a metodologia.

Outras discentes despertavam sobre a sua transformação e refletiam sobre

seu processo de mudança, no processo da metamorfose e outras narrativas

vislumbravam um olhar para o outro, um voo e despertar para a realidade.

O conhecimento sobre si e sobre o mundo compõe a identidade do docente-

pesquisador, sendo favorecido pelo processo formativo com a metodologia da

“Colcha de Retalhos”, desencadeado pelo resgate de sua trajetória de vida e o

desenvolvimento da autoria em suas histórias e colaborando na formação estética

do ser.

Outro ponto importante para se destacar é que diante dos relatos são

desveladas as múltiplas linguagens e sentidos, nas etapas da metodologia da

“Colcha de Retalhos”, como a escrita, um momento individual e solitário, a seguir a

oralidade, o momento do diálogo e relação com os outros e o último momento da

139

imagem (pictórica). A representação do vir a ser e o desenvolvimento de tomada de

decisões, constatando a importância do despertar da consciência, são movimentos

de fruição e criação, quando o sujeito transforma-se em autor e ator de seu papel.

Por fim, os relatos das discentes trazem ponderações acerca de ser

professor, procurando compreender a subjetividade da prática docente, como o

saber, o saber fazer e o saber ser, emergindo uma reflexão sobre as concepções

tradicionais relacionando teoria e prática.

Portanto, a metodologia formativa “Colcha de Retalhos” demonstrou ser uma

estratégia pertinente à formação do professor-pesquisador, possibilitando o

desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos que ocorre pela

dimensão estética, já que, nas narrativas, há evidências do desenvolvimento

intelectual, afetivo e emocional.

Além disso, a partir da minha experiência com a Colcha de Retalhos, e com a

experiência docente e com a oportunidade deste estudo, pude identificar que

comparando essa metodologia da Colcha de Retalhos com outras da área da

educação, é possível perceber que por trabalhar com as múltiplas linguagens, por

meio da escrita, por meio da imagem e pela oralidade é possível explorar o ser

humano em sua totalidade, principalmente com o enfoque das narrativas

autobiográficas.

Sendo assim, as narrativas possibilitaram identificar e compreender o caráter

formador das vivências de cada participante. Contar sobre o percurso formativo é

uma possibilidade de perceber-se na narrativa daquilo que já foi vivido, além de

fomentar novas compreensões a partir do narrado que podem alterar a consciência

daquilo que já foi vivido. Desta forma, os professores podem, pelo caminho das

narrativas, tanto realizar projeções para o futuro, quanto reinterpreta sua história,

extraindo dela outras lições e se tornar autores e sujeitos de fato.

Esse movimento de reconstrução e reinvenção como estratégia formativa faz

com que sejam possíveis as rupturas de reproduções e um desabrochar da

consciência epistemológica, na busca da autoria, a caminho de um processo de

humanização e colaborando na formação estética do ser, demonstra-se assim, como

diz, Freire, uma busca pela justiça entre os homens.

140

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ANEXOS

146

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

Sujeito Narrador Pergunta1 Pergunta 2 Pergunta 3 Pergunta 4 Pergunta 5 Pergunta 6 Pergunta 7

Borboleta Marrom

Narrador 1

Relembrar a escola básica me fez ver e refletir, sobre tudo que deveria ter aprendido e o quanto isso me fez falta.

Reconhecer e relembrar o que aconteceu na minha vida escolar é um dos pontos principais que me fez ser uma futura professora. O que me influenciou a ser professora, foram meus primeiros anos escolares, que foram atribulados e difíceis, que deixaram profundas lacunas em meu aprendizado. No entanto, eu como professora pretendo inverter este quadro, (no que depender de mim) sendo observadora e tendo um conhecimento

Com certeza a minha trajetória de vida e principalmente a minha vida escolar, influenciaram quanto à escolha de ser um profissional da educação.

Significou momentos de sofrimentos e alegrias. O que dificultou o pensamento, a escolha e também a decisão de qual imagem retratava melhor estes momentos.

Expor minha história, algo que sempre esteve "cravado" em meu coração, na memória e poder compartilhar, particularmente foi primordial. Poder ouvir também a história de cada um foi emocionante! Porque cada história, sendo boa ou ruim, nos traz grandes aprendizados, reflexões, conhecimento, afim de não cometermos os mesmos erros como futuras educadoras.

Sim. A atividade Colcha de Retalhos nos traz "um olhar" amplo no que diz a respeito à formação na área da Educação. É um curso que tem como objetivo uma preparação sendo também um ótimo curso para a vida de qualquer ser humano, por nos ajudar primeiramente como cidadãos, visando também que precisamos uns dos outros. O retalho quando está sendo costurado mostra exatamente isso, e o quanto a interferência do outro pode acrescentar grandes riquezas em nossas vidas.

Este trabalho foi criativo e bem elaborado. Uma maneira de conhecermos melhor umas as outras. Quanto a critica, em minha opinião, os retalhos quando feitos ficaram melhores se fossem todos do mesmo tamanho, facilitaria na hora de juntar todos para a construção da colcha.

147

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

sigiloso sobre todos os meus alunos e especificamente com aqueles alunos que tem mais dificuldades no aprendizado, pois todo indivíduo é inteligente e capaz. O que precisamos descobrir é a fonte estimuladora deste aprendizado.

Borboleta três cores

Narrador 2

Perceber que tudo tem ligação, elas não imaginavam que pudesse resgatar o ensino fundamental no ensino médio. Existem algumas coisas que não lembravam e com a colcha elas forçavam as lembranças

Pelo impacto, os episódios, no fez passar pelo o que leu, conviveu e viveu.

Aprendemos a ver o outro com um olhar diferente, a entender o professore em sala de aula, tentando mudar. Não fazer o que fazia no fundamental com professores. Valorizar os professores

A transformação foi mais significativa, as imagens tem mais impacto do que palavras.

Foi importante porque nos conhece o lado mais oculto do colega de sala. Com essa experiência nos mostra que todos tiveram dificuldades para enfrentar as dificuldades. Dando oportunidade para o outro saber mais da nossa história.

A atividade é importante porque nos faz pensar na nossa trajetória até aqui e nos mostra o porquê escolhemos esse curso. Também passar o que aprendemos para os nossos futuros alunos.

Uma atividade legal, a crítica deveria não ter só importância no curso de pedagogia. Parabenizado por nos dar a oportunidade de conhecer o outro.

148

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

Borboleta laranja

Narrador 3

O resgate do processo (auto) formativo, na formação de professores é essencial, pois permite o autoconhecimento na relação com o saber, o ensinar e o conviver com demais pessoas, e este autoconhecimento permite compreender-se, desenvolver-se, construir sua autonomia e emancipação.

Acredito que o resgate de episódios marcantes, ou melhor, reconhece-los, se deu através do olhar para si e para a história de vida e perceber que através da intuição, os pontos que permitem as transformações, ou seja, através da intuição (motiva, emocional e intelectual) as fissuras entre os acontecimentos, o eu neste.

Sim, porém não é uma tarefa fácil e necessária atenção, prontidão e disponibilidade.

Significou um exercício de se utilizar de outra linguagem, a imagem por si só utiliza de diversos símbolos que combinados colocam um significado. A imagem é única, portanto, representa um indivíduo. O meu retalho sou eu.

Sim, o momento de narração da história tecida em retalhos em grupo permite o reforço da identidade profissional ao mesmo tempo em que se permite a identificação entre as histórias de cada um. A criação e construção do sentimento de pertencimento.

Sim. É essencial na formação de professores no curso de pedagogia, pois o profissional da educação é o único que inicia a sua formação ao nascer, e olhar, refletir toda a história de sua formação, inclusive no contexto educacional é primordial para favorecer a formação de profissionais conscientes, críticos e reflexivos, autores e autônomos, portanto, mais capazes de promover transformações sociais.

Parabenizo a atividade pela inovação, criatividade, metodologia e caminho que propõe aos estudantes aprimorarem através do autoconhecimento, sua autoformação. Sugiro, apenas, que ele seja desenvolvido por mais tempo, por 2 semestres consecutivos, para que se possa iniciar a fundamentação teórica.

Borboleta Vermelha

Narrador 4

Fazer a colcha juntamente com a minha turma de 1o.semestre do curso, significou muito, primeiro relembrei

Para fazer minha Colcha de Retalhos, precisei relembrar os fatos mais marcantes dos

Conclui que são trajetórias distantes e não influenciaram os modelos de práticas, a Colcha de

Sim, para a formação de professores no curso de pedagogia, porém teria mais sentido profissional, se a

----------------- ----------------- Parabenizo a professora por ter incluído em sala de aula uma proposta diferente um trabalho realizado não em

149

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

acontecimentos da minha vida, mas relembrei apenas momentos bons, e no dia da apresentação das histórias da Colcha de Retalhos, a maioria das histórias que jamais eu poderia imaginar que eles passaram. Ou seja, conhecer o nome da pessoa e vê-la todo dia não significa que conhecemos sua história de vida.

últimos anos de minha vida e ambos os fatos estavam interligados, com o ingresso na universidade, o início do namoro, a viagem para a Bahia. Para ingressar na faculdade tive inspiração do meu antigo professor de História do ensino médio, que passou para assistirmos o filme "O pianista". Meu namorado conheci no meu atual emprego, ele estava para concluir a 1 a.graduação dele e já tinha interesse em iniciar a 2 a. então ele me incentivou bastante a iniciar meus

Retalhos foi um trabalho mais pessoal, que serviu para aproximação da turma, que por se tratar de um semestre estavam todos separados e enquadrados já em seus grupos.

colcha tivesse ido feita no último semestre do curso, relatando as experiências e opiniões vividas por nós futuras professoras durante o curso. Porque a colcha apresentada acabou em relatos pessoais.

grupo, mas em turma, envolvendo todas as classes. Parabenizado também às orientações antecessoras a formação da colcha de retalhos (o filme e as discussões em sala). Critico o período em que a colcha foi feita, logo no início do semestre. Eu daria como sugestão fazer uma nova Colcha de retalhos no 5o. Contando as experiências adquiridas do curso e da vivência nos ambientes escolares.

150

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

estudos este ano, foi assim que pude concluir um acontecimento ligado ao outro.

Borboleta amarela

Narrador 5

O significado do resgate do processo autoformativo do ensino médio e fundamental foi à possibilidade de reflexão das coisas que vem acontecido em minha vida e o significado em minha formação.

Me levou a pensar sobre a minha história e sobre mim mesma e assim perceber os significados que tiveram alguns acontecimentos em minha vida

Talvez autoria no processo de conhecimento sobre minha trajetória pessoal seja marcado pelo esclarecimento de que as minhas atitudes no momento em que eu vivia (passava por alguns acontecimentos em minha vida) seriam os responsáveis pelo rumo que iria tomar minha vida, sendo assim minhas escolhas dependiam de mim, retirando do papel de vitima e me colocando no papel de

A colcha de retalhos é mais do que importante na formação de professores porque possibilita a reflexão de nossa história pessoal. Acredito que o autoconhecimento é o facilitador de toda escolha que fazemos na vida

-------------- -------------- Parabenizo todo o processo de construção da colcha, inclusive o filme que me ajudou a ter uma compreensão melhor sobre o significado da colcha que simboliza minha história.

151

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

responsável pela minha história.

Borboleta polidama

Narrador 6

Significou a possibilidade de refletir e reconhecimento o quanto é importante o papel do professor em nossas vidas e nossas escolhas

Ao refletir sobre minha trajetória me lembrei de muitos momentos diferentes aos que escrevi na narrativa, mas reconheci aqueles que escrevi como mais importantes porque foram os que causaram emoções mais fortes.

Sim, em vários momentos de minha reflexão consegui relacionar tudo o que muito que havia lido sobre a pedagogia até aqui à minha vida pessoal e profissional.

O reconhecimento da própria história.

Sim, foi muito importante, no meu caso em especial serviu como desabafo.

No curso de pedagogia fala-se muito sobre a importância do professor conhecer seus alunos e lembrar que por trás de cada um deles tem uma história. A atividade traz esse ensinamento para a prática.

Parabenizo o trabalho em todos seus aspectos. Não tenho critica alguma, apenas sugiro que talvez a colcha - finalizada possa ser entregue a uma das alunas, tipo sorteio.

Borboleta preta e vermelha

Narrador 7

Significou muito esse resgate, olhar para as minhas atitudes hoje e olhar o que eu fiz antes me faz vir o quanto o ensino superior me transforma a cada dia.

Foi um momento de reflexão, parar e analisar tudo, escolhas e incertezas.

------------- Muito importante pude ver claramente cada detalhe da minha história desenhada na colcha, o que me fez perceber minha vida um retalho.

-------------- Sim, pois nos faz refletir em cada ação e pensamento que fizemos e nos faz refletir nas ações do eu e do outro.

Obrigada pelo desafio, obrigada por me fazer refletir e analisar minha vida, minha transformação constante. No primeiro momento juro que pensei: ah, não vou fazer, mas acabou me fazendo bem e melhor.

Borboleta 88 Narrador 8

Significou um momento bom, lembranças que

Bom, reconheci e aprendi momentos

-------------- Significou um momento criativo e emocionante ao

Sim, porque é uma experiência boa ao relatar e

Sim, Considero porque faz a gente pensar e

Foi ótimo trabalho, e emocionante este momento,

152

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

ficou guardada em minha memória por muito tempo, posso descrever que foram ótimos momentos no Ensino Fundamental.

marcantes e as pessoas que estão nesta narrativa e muito valiosos apesar do tempo que passou, mas frequento a escola do ensino fundamental e reencontro todos simplesmente incrível.

passar um momento marcante para o tecido do retalho.

compartilhar com o grupo cada um tem histórias diferentes para serem divididas.

refletir. parabenizo a você professora pela oportunidade.

Borboleta Azul

Narrador 9

Foi um momento que pude rever momentos fundamentais com um novo olhar que o ensino superior me proporcionou

Pelo sentimento que elas deixaram raiva, saudade e carinho. Foram cruciais para a escolha da profissão

Sim. Pude ver que preciso conhecer e resolver minhas confusões para assim poder ser um profissional de qualidade

Foi confuso transformar sentimentos em desenho, mais muito prazeroso.

Sim. Foi ótimo falar e ouvir passamos três anos e não conhecemos as pessoas, foi uma forma de desabafo e união da sala.

Sim, porque nos faze refletir nosso percurso e repensar o que iremos fazer na vida pessoal e profissional.

A sala esta de parabéns. Os depoimentos foram lindos. Não tenho críticas

Borboleta Branca

Narrador 10

Foi significativo, porque resgatei lembranças e ouvir muitas histórias bonitas.

Aprendi com a convivência com outras pessoas, acho que o contato livros ajuda você ampliar seu conhecimento.

Sim. Quando comecei a ouvir as histórias de vidas e relacionar com os estudos de sala, acho que juntos podemos observar isso

No começo achei difícil passar para um pano uma história, a imagem que representei o que vivo. Mas quando falei minha narrativa para a sala descobri que meu desenho

Só conhecemos as pessoas quando passamos a conhecer - ouvir suas histórias. E ao narrar minha narrativa, senti que pude passar um

Sim. Achava que era uma besteira esse projeto, mas ao ouvir outras narrativas passei a imaginar as minhas trajetórias um aprendizado para minha formação.

Eu parabenizo todas por seus retalhos pelas histórias emocionantes. A professora pela iniciativa de fazer esse trabalho com as alunas. Proponho que

153

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

com as práticas vividas.

representou bem a minha história

pouco da minha história para minhas colegas.

esse trabalho continue por muitas décadas

Borboleta branca camuflada

Narrador 11

Foi muito bom, pois pude ver o quanto cresci, aprendi e evolui

Procurei colocar no papel pessoas e momentos que mudaram a minha vida em alguma parte dela, recorri ao histórico da minha vida e resgatei aquilo que me marcou de alguma forma.

------------- Foi muito bom, às vezes nos expressamos melhor quando não usamos as palavras e descobri que é muito legal pintar, adorei.

É muito importante conhecer a história do outro, você passa a ver a pessoa de outra forma, porém na hora de narra a minha história achei muito difícil, meu deu um branco, não me senti muito a vontade, para contar o que tinha escrita para todas.

Sim, essa atividade acaba nos trazendo a tona quem realmente somos, mostra nossos valores e um professor deve se conhecer por completo, para assim conhecer e entender o outro.

Parabenizo a tudo, achei uma atividade muito importante e proponho que essa colcha a cada semestre, seja feita uma nova com as nossas histórias.

Borboleta branca da madeira

Narrador 12

Significou o autoconhecimento de si mesmo, significou uma reflexão sobre a vida, significou um pensamento e ideias criticas.

Reconheci pelas minhas próprias experiências de vida, de influência com o meio social, aprendi com a minha família e principalmente com meus pais.

Sim tudo tem uma relação e ligação, pois fazemos escolhas que influenciam ou mudam a própria história de vida e pessoal.

Significou uma nova experiência, uma aprendizagem sobre a história de vida da escola, da parte profissional.

Sim, foi muito importante, pois entendemos o outro, a história do outro, compreendemos a vida do outro e o pensamento do grupo.

Sim é importante, pois com a colcha refletimos com a relação com o conhecimento, professores, consigo a prática e a educação.

Parabenizo o trabalho todo e geral em minha opinião não tem nenhuma crítica sobre a atividade. Proponho a continuação desse trabalho para a formação de professores, da prática, da educação, na faculdade, na área acadêmica.

154

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

Borboleta coruja

Narrador 13

Para resgatar todas essas lembranças foi significativo, lembrei o quanto foi bom o meu processo de ensino.

Foi muito difícil, pois percebi o quanto é complicado olhar os momentos vividos. Aprendi que devemos olhar com carinho cada momento vivido

A nossa trajetória de vida tem tudo haver com a vida, profissional e pessoal. O que vamos aplicar na vida e o que temos referente à nossa cultura.

Significou um momento especial, pois fiz o retalho com a minha mãe e irmão, isso foi um momento único na minha vida.

Sim, foi importante, pois ouvi histórias lindas, de sofrimento e com uma conquista no final, isso é muito prazeroso.

Sim, pois é uma lembrança de vida de cada um e proporciona a quem ouve certa experiência e podemos comparar as histórias vividas.

Eu só tenho que agradecer a professor, pois resgatou momentos únicos da minha vida, me proporcionou lembranças maravilhosas. Continue com o seu trabalho e se alguém não quiser falar sobre esse trabalho saiba que a pessoa que mais tocou assim como eu.

Borboleta estranha

Narrador 14

Foi essencial, porque sem ter passado por esses níveis de ensino, acho que não conseguiria estar no ensino superior e rumo à conclusão. Sei sim que por aqui não paro, isso foi só um pequeno marco para crescer com uma aluna que sempre ira buscar conhecimentos e como indivíduo que estará mais

Através de uma professora na 8a. Série, seu carinho, atenção e dedicação, foram essenciais na minha escolha profissional. A mesma fazia com que cada aula fosse um aprendizado diferente.

Sim, com certeza porque cada escolha e decisão sempre iram refletir no amanhã/futuro, levará você colher o que plantou, para semear seus objetivos. Cada aprendizado construirá o nosso conhecimento.

Retratar uma das maiores marcas da vida foi trazer à tona a história mais importante da minha vida. Uma dadiva de Deus

Sim, porque relatar algo tão importante faz com que essa história se renove como uma chama que arde sem sessar. Trazer ao grupo um milagre que somente Deus pode realizar e que esta vivo, é meu maior presente que a vida/ Deus poderia me dar.

-------------- ---------------

155

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

preparado a vida Borboleta mórmon

Narrador 15

Na época da escola não sabia que o curso iria cursar na faculdade. Foi através de uma ONG onde trabalhou que descobriu que faria Pedagogia. A experiência na escola é que não há democracia. Já na faculdade teve outra visão de vida.

Os momentos marcantes de sua infância em sala de aula lembra que seu professor era muito legal, era amigo, e foi grande importância de seu caráter.

O professor de sua infância teve grande influencia em sua formação educacional.

Fazer a colcha de retalhos foi materializar muitas coisas, foi uma transformação interior, reflexões e autoconhecimento. O dono do tempo tem suas cenas, tristezas, felicidades e podemos perceber que existem coisas que não podemos falar, pois existem críticas e nem sempre estamos preparados para as críticas, pois às vezes estamos frágeis.

Narrar é difícil, pois existem vários lados, espiritual, pessoa e profissional, pois falamos sobre nossas dificuldades, momentos ruins, bons, junto vêm o amadurecimento às experiências vivenciadas ao ouvir as outras histórias. Em tudo aprendemos com os erros e acertos, e a respeitar a historia de cada um.

Foi muito importante, pois passamos a olhar de outra forma, refletir mais respeitar a história do outro, enxergar o aluno, entender seu processo de vida. Mas em tudo é superação do ser.

O trabalho foi maravilhoso, foi fundamentado pela professora muito bem elaborado. Extraiu o que todos tinham de melhor naquele momento, e é lógica a eficácia do trabalho. Parabéns a todas.

Borboleta Rainha Alexandra

Narrador 16

Tive um significado muito grande, pois foi através dessas recordações pude entender a pessoa que eu sou hoje e o profissional que irei ser.

O reconhecimento das situações vividas foi através da reflexão, se colocar no lugar do outro o modo de pensar diferente e também pelo

Sim Foi um momento de reflexão, onde eu passei a pensar sobre a minha história e foi um momento de grande aprofundamento, pois tive que pensar muito a passar a minha

Foi de grande importância, pois através da narração da minha história pude contar aquilo que estava guardando dentro de mim.

Sim, porque com esse trabalho paramos para refletir sobre o que passamos que eramos e a quem passamos a ser depois dessa reflexão e a quem vamos a ser como profissionais da

Eu parabenizo todas as etapas desse trabalho, pois através dele que paramos para pensar quem somos e a quem vamos ser, e como mudamos nosso caminho e a nós mesmos através

156

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

fato das mesmas terem me marcada bastante.

história para o retalho.

área da educação.

do que passamos e das escolhas que tomamos.

Borboleta transparente

Narrador 17

O resgate das lembranças vividas foi muito prazeroso, pois pude perceber o quanto evolui nos meus pensamentos e ideias

O filme me mostrou muito a como atingir o objetivo, pude perceber que já passei por vários momentos que tinha caído no esquecimento.

Sim, pelo que vimos nos textos trabalhados em sala, a vida profissional esta ligada a pessoas, às vezes a gente tenta separar, mas não é possível, pois às vezes uma lição de casa pode aplicar no nosso crescimento pessoal ou familiar.

Um processo interessante, porque tudo que eu escrevi na narrativa se transformou em palavras.

Sim, ao ouvir cada história percebi quanto às pessoas são fortes e pude tirar um exemplo, e é gratificante ouvir e perceber o objetivo atingido por mim e pelos meus colegas.

Sim, pois praticamos a escrita em várias fases.

Eu só posso agradecer uma atividade como está só nós traz o reconhecimento que a cada dia que estamos crescendo e evoluindo. Muito obrigada por proporcionar, professora.

Borboleta zebra

Narrador 18

Representou para mim tristeza, pois tive uma queda na escola que estudava, provocando convulsões que se repetiam no horário de entrada das aulas, mas que foram ao longo do tempo superadas.

O filme me mostrou muito a como atingir o objetivo, pude perceber que já passei por vários momentos que tinha caído no esquecimento.

Sim, pelo que vimos nos textos trabalhados em sala, a vida profissional esta ligada a pessoas, às vezes a gente tenta separar, mas não é possível, pois às vezes uma

Representar a minha narrativa, na forma de retalhos significou representar em imagens minha fé e superação.

Foi importante para enxergar as qualidades das outras pessoas e não olhar apenas para a minha história, pois quando olhamos para as outras pessoas, a primeira vista podemos ter

Considero a atividade importante para conhecer, compartilhar e compreender as pessoas, atitudes importantes no trabalho como professor que se relaciona constantemente.

Parabenizo a atividade, proponho apenas que haja uma melhor organização na colcha de retalhos.

157

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

lição de casa podemos aplicar no nosso crescimento pessoal ou familiar.

uma má impressão e quando conhecemos sua história, percebemos o quanto estamos errados.

Borboleta-aquática

Narrador 19

São fases marcantes que jamais esqueceremos. Foi importante resgatar esses momentos, podendo notar o que sou hoje são marcas do passado.

Reconhecer as pessoas, os momentos e as nossas fases, são importantes para refletir e dar o devido valor a cada um. Perceber o que somos hoje é marcas do passado.

Pude notar que a minha história começou sem autoria própria, mas com o tempo e com a maturidade, pude torná-la diferente.

Foi importante, pois tive a noção que isso significou para mim.

Sim, o porquê ouvindo o outro também aprendeu e dá valor a nossa história.

Sim, pois nos fez refletir sobre nossas vidas, nossas práticas, fazendo com que melhoremos a cada dia mais.

Achei a atividade muito construtiva, pois com ela podemos relacionar e estudar nosso passado com o presente.

Borboleta-pavão

Narrador 20

Foi muito importante para a minha formação, foi no ensino fundamental e médio que os meus professores nos estimularam para o ensino superior, foi um processo que animou, creio que por isso escolhi ser pedagoga, tenho ótimas lembranças dessa

Creio que esse reconhecimento foi marcante, por isso ainda esta na minha memória, lembro-me de cada detalhe e de cada professor que passou pela minha vida de estudante, foram importantes para a minha

Cada escolha que fazemos em nossa vida tem uma consequência, sendo ela positiva ou não e cada escolha nos faz refletir e repensar em cada momento vivido.

Retratar o momento não é fácil, principalmente se ele nos traz lembranças que preferimos esquecer, porém depois da colcha creio que é necessário rever e pensar em certos momentos da nossa vida, pois são com esses momentos que

O momento foi muito especial, pois me fez perceber que o meu momento ou a minha situação é menor ao que as dos outros, ou menos dolorosa.

A colcha como já disse nos faz refletir o que já vivemos e o que ainda vamos viver isso é fundamental para nossa profissão, onde passamos pela história de muitos alunos e que levam as pessoas a refletir sobre suas ações.

No primeiro momento não levei muito a sério, mais hoje vejo o quanto é e foi importante, pois me ajuda a refletir sobre muita coisa, até mesmo no momento do registro, adorei ter participado dessa experiência.

158

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

época. escolha profissional.

reflito e melhoro pessoa que sou por isso depois da colcha aprendi que sou uma pessoa em constante transformação tanto pessoal como profissional.

Borboleta-apolo

Narrador 21

O presente resgate foi importante, pois auxiliou-me a compreender a formação na educação básica, contribui para a minha formação como indivíduo.

O reconhecimento se deu através da importância dos episódios, das pessoas, professores etc., e acredito que os mesmos foram resgatados facilmente porque estão vivos em mim.

Sim Foi um processo interessante, pois para transformar a minha narrativa escrita em imagem tive que me aprofundar ainda mais na minha história de vida para poder compreendê-la ainda mais.

Sim, pois este exercício fez com que eu expressasse tudo o que havia guardado em mim, além de me fazer ouvir, respeitar e procurar entender melhor o outro.

Sim, porque para sermos indivíduos socialmente e profissionalmente emancipados é importante que antes ocorra um resgate de nosso processo formativo, pois para auxiliar o processo de formação de nossos alunos precisamos compreender o nosso próprio processo de formação.

Parabenizo todo o enredo do trabalho e a princípio não tenho crítica, mas como proposta, acredito que seria interessante a professora compartilhar a sua história com nós, para que a colcha também tivesse o seu retalho, pois assim teríamos conhecimento de seu processo formativo.

Borboleta bananeira

Narrador 22

------------ ------------ ------------ Significou enfatizar minha narrativa no tecido, com o pensamento, que estava fazendo era. Para ser apresentado tive que dar o melhor

Sim, muito importante, não foi narrar, mas sim ouvir, pois muitas vezes pensamos que nossa vida é difícil, que

Foi importante para a formação de professores, pois através da atividade, fazemos uma retrospectiva da nossa vida,

Parabenizo, pois podemos conhecer as histórias de vida de nossos colegas.

159

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

sofremos no dia a dia, para conseguir estar na universidade, mas ouvindo o grupo percebemos que tem pessoas que sofre, mas que nós.

refletindo quais os caminhos que tomamos para chegar aqui.

Borboleta-folha

Narrador 23

Crescimento. Ao tecer cada pedaço da minha história, lembrando-se de cada acontecimento, levando em consideração os fatos que foram marcantes, senti certa confiança e conforto em relação às decisões e caminhos que resolvi tomar e seguir.

Alguns momentos charneiras são inesquecíveis. Ao pensar em escola, o aprendizado surge imediatamente, outros momentos são de pura reflexão ou em conversas com outros indivíduos que fazem parte da minha vida ou sozinho.

Com certeza. A tomada de decisão importante não é na própria vida de futuros professores, mas também seus futuros alunos. Como condutores nosso dever esta na influencia da autoafirmação e da autonomia, sem começarmos por nós mesmos jamais chegaremos aos nossos alunos.

-------------- ------------------ Sim, fazer a colcha foi um despertar, um encantamento e uma esperança. Passou por momento de reflexão, negar, aceitar, escrever e sorrir.

Achei tudo interessante, não tenho críticas. Adorei a ideia de escrever, conversar pelo fato de aprender algo novo: costurar.

Borboleta Monarca

Narrador 24

O resgate me trouxe a memória

Reconheci os episódios

É bem fácil, perceber como

------------------ ------------------- Achei essa atividade

Achei importante porque me levou a

160

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

episódios marcantes que eu vivi no Ensino Fundamental e o mais interessante foi perceber que nada estava relacionado ao conteúdo e sim com as coisas que aprendemos de maneira informal

marcantes porque eles mudaram a minha maneira de enxergar o mundo

a pessoal influência no profissional.

surpreendente, pois me levou a refletir sobre a minha vida e minhas escolhas, no meu caso é interessante ver como meus momentos charneiras sempre se relacionaram com os filhos e profissão, em situações de conflitos em que tive que tomar decisões.

refletir e compreender a escolha do curso de pedagogia, agora a criticai é que tive vergonha de expor momentos familiares, mas quando ouvi relatos, percebi que havia situações ainda mais constrangedoras e difíceis.

Borboleta preta e laranja

Narrador 26

Foi um processo dificultoso, no começo relembrar tudo aquilo do passado e depois resgatar detalhes para passar para outra pessoa, mas gostei da experiência vivida.

Após conhecer a professora, ela mostrou o processo da colcha de retalhos e o filme, assim as aulas foram me levando a rever a minha trajetória de vida e relembrar das diversas situações para escolher a pedagogia.

Foi um processo de conhecimento de submissão no ensino fundamental e médio, isso afeta muito no lado profissional.

------------------- ----------------- Sim, porque através da colcha de retalhos você será o autor da sua história, a pessoa irá voltar ao seu passado e fazer perguntas a ela mesma se questionar.

Parabenizo que a colha de retalhos é um trabalho ótimo, onde deve se continuar, fazendo e proporcionar isto sempre.

Borboleta estaleira-

Narrador 27

Foi importante, pois a partir do

A partir do mergulho na

Sim, pois é a partir dessas

Foi significativa, a expressão através

Sim, porque elas pude

Sim, porque com este trabalho, os

Quero parabenizar todo o trabalho,

161

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

cinza resgate pude compreender melhor as situações vividas e refletir o que ficou marcada como aprendizagem na construção da minha identidade como docente e as relevâncias que isso afetou.

memória, pude resgatar e relembrar os momentos que fizeram ter a certeza do caminho que deveria seguir e que a docência era realmente o que eu queria fazer da minha vida.

relações que estabelecemos que vá juntando os pedaços para formar nosso quebra-cabeça, ou seja, nossa identidade profissional.

da imagem da minha vida, o percurso que fiz para chegar até aqui onde estou num curso superior é a realização de uma etapa dos meus sonhos.

conhecer um pouco de mim e até mesmo entender o meu jeito de ser. Aprender a respeitar a pessoa que cada é devido a sua história ou trajetória de vida

alunos podem refletir e conhecer melhor, olhar para si mesmo e até entender como esta se tornando aquele profissional que quero ser e nos questionar.

não tenho criticas. Proponho que na atividade dê mais ênfase na importância de sensibilizar os alunos a fazerem parte, para que possam olhar para si e entender-se.

Borboleta maracujá

Narrador 28

Importante para relembrar como me portava antes e agora

Borboleta Castanha-vermelha

Narrador 29

Escolhi para ser professora, não com o colégio, pois os professores eram autoritários e não eram dinâmicos. Mas foi na adolescência que entrou em uma ONG e participou de um projeto voluntário, quando decidiu abrir os olhos para fazer faculdade e escolheu a pedagogia.

Lembro-me de apenas um professor que incentivou a fazer o curso de pedagogia, os outros falavam para ela sair. É importante o professor se importar com o aluno

Através de alguns professores acabamos influenciando e tomando algumas decisões em nossas vidas ou por gostar o não

------------------ Ao ouvir histórias houve um crescimento na vida e fez que com que mudasse atitudes e refletisse na questão profissional e fez com que buscasse mais conhecimento

------------------- -------------------

162

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

Borboleta dos olhos verdes

Narrador 30

Formei-me na época da ditadura e a forma que os professores ministravam eram autoritários, não estimulavam o pensamento. Cursou dois anos de nutrição e optou pela pedagogia. Aprendi a conviver em grupo e a lidar com os colegas.

--------------------- --------------------- --------------------- Uma construção de respeito ao próximo

--------------------- Critico o envolvimento das pessoas e falta de união

Borboleta do Manacá

Narrador 31

Como se estivesse em um túnel do tempo, como uma tartaruga marinha resgatando tudo o que aconteceu e adequar os parâmetros em nossos dias e também aprendeu a se colocar no lugar do outro.

Lembro-me dos professores que pegaram a sua mão para ensinar

A narrativa mexeu muito, pois é algo concreto, um fato empírico é túnel do tempo se lembrar das coisas das escolas e das imagens. E que muitas coisas passam pela cabeça, mas tem que filtrar, porque nem tudo as pessoas tem que saber.

Aprender como erros dos outros, você já esta ganhando tempo é um incentivo.

------------------ É um autoconhecimento porque você olha os outros de forma diferente, você enxerga o seu aluno e olha o próximo de outra maneira.

Parabenizo pela inovação

Borboleta verde

Narrador 32

Gostei de relembrar as

--------------- --------------- --------------- --------------- --------------- ---------------

163

ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”

trajetórias. Borboleta Rosa

Narrador 33

Importante para se perceber, enxergar ao nosso redor e o mundo que nos cerca. Ter respeito as pessoas com que convivemos apesar das diferenças

--------------- --------------- A representação da minha vida.

--------------- Importante para o desenvolvimento da reflexão e tomada de decisões em todos os campos da vida

Parabéns.

Legenda:

1. o resgate do processo (auto) formativo no contar como reconheceu que aprendeu resgatar episódios marcantes, reconhecer as

pessoas, professores, livros que influenciaram a sua escolha profissional?

2. O que significou refletir sobre a sua relação com o conhecimento, professor e consigo mesmo se de autoria ou não?

3. permitiu perceber que a trajetória pessoal e profissional não são distantes e que influenciam os modelos de práticas e a decisão

profissional?

4. O que significou transformar sua narrativa escrita na narrativa pictórica (imagem no tecido do retalho)?

5. Foi importante narrar sua história tecida no retalho para o grupo e ouvir a do outro? Por quê?

6. Você considera que a atividade “Colcha de Retalhos” foi importante para a formação de professores no curso de Pedagogia? Por quê?

7. O que você parabeniza, critica e propõe para a atividade “Colcha de Retalhos”?.

164

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador Sujeito Narração Paráfrase Palavras-chave Eixo Categoria

Narrador 1

Borboleta Artista

O que mais me chamou a atenção foi à troca de experiência, pois na sala tinha alunos que não tinham a mínima ideia de como foi desenvolvida a colcha, mas através da entrevista ele ficou mais sabendo, ou seja, ouve as trocas de experiências entre os alunos. Essa aula foi muito importante para a disciplina, pois estamos aprendendo que o registro é de extrema importância, pois ele comprova um fato e o retalho foi um registro de algo marcante na vida de cada aluno.

"(...) troca de experiência entre os alunos” " O registro é de extrema importância e o retalho é o registro de algo marcante na vida"

Registro 3.2 Casulo Autoria

Narrador 2

Borboleta Boneca

Através dos relatos feitos pelas alunas sobre a colcha de retalhos pude observar que os acontecimentos em nossas vidas, seja ele um marco de tristeza ou de alegria, pode ser o marco inicial para mudar nossas atitudes para mudar nossas atitudes diante das situações que nos impedem de nos tornarmos melhores ou nos impulsionarem para o engrandecimento como pessoa. Não digo ser grande se tornam do arrogante, egoísta, mas sim se tornar sensível diante das diferenças, das desigualdades na sociedade. Acreditar que podemos transformar situações critica através

"(...) os acontecimentos em nossas vidas, seja ele um marco de tristeza ou de alegria, podem ser o marco inicial para mudar nossas atitudes” “tornar sensível diante das diferenças, das desigualdades na sociedade." “A escola é o ambiente mais favorável em tornar sujeitos com sendo crítico, flexível, ativo, autonomia para liderar suas vidas.” “O professor deve ter autonomia para exercer sua função de ensinar”.

Experiência 3.3 Metamorfose

Submissão

165

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

do nosso conhecimento científico, moral, com o intuito de revolucionarmos um momento histórico social cultural. Ser feliz por completo é quando nos tornarmos importantes para a sociedade, contribuindo para o bem de todos e consequentemente formando um mundo melhor. A escola é o ambiente mais favorável em tornar sujeitos com sendo crítico, flexível, ativo, autonomia para liderar suas vidas. O professor deve ter autonomia para exercer sua função de ensinar dominando todos os termos que determinados por sua capacitação em lecionar de forma coerente, criativa, participativa, responsável com o seu trabalho e alunos. Juntos vamos desenvolver um novo conceito de mundo diante de nossas virtudes. O conhecimento sempre será o caminho certo para nos libertarmos dos conflitos do pensamento que nos aprisiona e que impede nosso desenvolvimento.

166

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 3

Borboleta Cometa

Nesta aula, enquanto cada colega relatava a história que estava sendo representada através da imagem em pequenos recortes de tecidos, pude refletir sobre quão difícil é você partilhar de momentos que foram marcantes em sua (nossas) vidas, de como esses momentos influenciaram em nossas escolhas na vida, na carreira profissional e como foram capazes de representar em um simples retalho imagens que denunciassem suas angústias e trajetórias que marcaram a história de cada uma. Durante a aula pude observar o momento em que as colegas se organizam para costurar suas histórias. Para mim foi de grande experiência poder observar um pouco da história do outro de um contexto de ideais, influencias encontro e desencontros que levaram a refletir e relembrar épocas anteriores, contribuindo para o meu processo de aprendizagem. Ao começarem a costurar seus trajetos, eu idealizei que seria um momento único, onde cada uma com sua agulha e linha entrelaçassem suas histórias juntamente com as outras compartilhando essa troca de experiência que nos possibilita a conhecer um pouco mais do outro.

"(...) pude refletir sobre quão difícil é você partilhar de momentos que foram marcantes em sua (nossas) vidas e na carreira profissional" “representar em um simples retalho imagens que denunciassem suas angústias e trajetórias que marcaram a história” "uma experiência de poder observar um pouco da história do outro de um contexto de ideais, influencias encontro e desencontros que levaram a refletir e relembrar épocas anteriores, contribuindo para o meu processo de aprendizagem. " "com sua agulha e linha entrelaçassem suas histórias juntamente com as outras compartilhando essa troca de experiência que nos possibilita a conhecer um pouco mais do outro.”

Outro

3.4 Olhar Autoria

167

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Percebi que de início havia entusiasmo, mas aos poucos os grupos foram se desintegrando, a maioria foi embora, ficando apenas algumas colegas costurando e construindo suas histórias, entendo que algumas trabalham e não dispõe de horário, mas penso que é um momento de construção e deveria ter um pouco mais de assiduidade entre o grupo.

Narrador 4

Borboleta Diferente

A aula de hoje foi bem emocionante, percebi que cada pedacinho daquela colcha representava uma parte muito especial de cada das meninas. Ao ver o relato de algumas delas cheguei até me emocionar. Percebi que ali naquele pequeno pedaço de pano, somos capazes de contar um pouco da nossa história, momentos bons ou ruins, mas que marcaram nossas vidas. Faz-nos relembrar de dificuldades, superação, vitórias que precisamos passar para aprender com a vida, nos tornando pessoas mais fortes, experientes capazes de ultrapassar quaisquer obstáculos na vida. Ainda não passei pela colcha de retalhos, e quando ouvia falar dela, acha uma chatice, mas hoje percebi uma grande importância para as

"Ao ver o relato de algumas delas cheguei até me emocionar.” "naquele pequeno pedaço de pano, somos capazes de contar um pouco da nossa história, momentos bons ou ruins, mas que marcaram nossas vidas." " quando ouvia falar dela, acha uma chatice, mas hoje percebi uma grande importância para as pessoas”.

Resgate

3.3 Metamorfose

Autoria

168

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

pessoas, nos faz refletir qual o seu ideal, pelo que você esta batalhando, quais as dificuldades superadas, quais ainda serão superadas com sua força de vontade, realmente fiquei ansiosa para chegar a minha vez. Quando as meninas começaram a costurar, se via certo carinho, dedicação, pois ali estava um pedaço de cada uma, foi muito interessante, adorei o trabalho proposto pela professora e o empenho das meninas.

Narrador 5

Borboleta Filha

A aula se iniciou com uma apresentação do grupo do 5o. Semestre. A colcha de retalhos com uma exposição dos grupos. Cada integrante do grupo pegava um pedaço seu da colcha de retalho e explicava o significado daquele retalho. Em seguida, os grupos juntos começaram a costurar a colcha. Foi muito diferente e gostei bastante. Nos do 4o. semestre fizemos uma entrevista com os grupos do 5o. semestre com os grupos.

“Cada integrante do grupo pegava um pedaço seu da colcha de retalho e explicava o significado daquele retalho.” “Gostei bastante”

Gosto 3.2 Casulo Submissão

169

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 6

Borboleta Palmeira

O dia da costura da colcha de retalhos procedeu de forma organizada, foi bem emocionante e nos fez refletir sobre cada história de vida. Percebi que com este projeto pode-se promover ainda mais a integração, favorecendo o fortalecimento dos vínculos, o que beneficia a formação pessoal e moral, edificando assim, a formação do cidadão responsável, solidário e ético. A participação das alunas contando suas histórias (nascimento de um filho, aventura na infância, traumas, realizações, viagens...) nos fez emocionar com os relatos e sendo que, a cada história contada refletirmos mais sobre os fatos abordados e despertando a curiosidade sobre a vida das colegas e o mundo que as cercam e também colaborando na confecção da colcha. É deslumbrante a arte deste belo trabalho desenvolvido na formação de professores, pois trabalha a autonomia e emancipação do ser.

"foi bem emocionante e nos fez refletir sobre cada história de vida.” “este projeto promove ainda mais a integração, favorecendo o fortalecimento dos vínculos, o que beneficia a formação pessoal e moral, edificando assim, a formação do cidadão responsável, solidário e ético.” “a cada história contada refletirmos mais sobre os fatos abordados e despertando a curiosidade sobre a vida das colegas e o mundo que as cercam” É deslumbrante a arte deste belo trabalho desenvolvido na formação de professores, pois trabalha a autonomia e emancipação do ser.

Formação 3.3 Metamorfose

Autoria

170

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 7

Borboleta Geométrica

A aula foi diferente porque iniciamos a construção da Colcha de Retalhos, formação de professores e pesquisadores na história tecida em retalhos. Também fizeram um café comunitário. Durante a aula as meninas do 5o. Semestre se organizaram para iniciar a costura dos retalhos. Durante a aula algumas meninas relataram suas histórias do ensino fundamental ou fato de vida que marcou. Após, o relato as meninas iniciaram a costura para finalização da colcha. As meninas do 4o. Semestre entrevistaram as 5o. Sobre perguntas de como foi à construção dos retalhos? Como foi realizar essa atividade? Todas ficaram muito emocionadas em relatar suas histórias.

"Durante a aula algumas meninas relataram suas histórias do ensino fundamental ou fato de vida que marcou. " "Todas ficaram muito emocionadas em relatar suas histórias."

Emoção

3.2 Casulo Autoria

Narrador 8

Borboleta Hidro

Começamos com um excelente café da manhã, pois seria uma aula diferente. O dia da colcha de retalhos. As alunas do 5o. Semestre fizeram um trabalho em retalho onde relatam as histórias de suas vidas, no qual conquistas, perdas, mas acima de tudo realizações tanto na vida profissional como na pessoal. Iniciou a costura todas juntas e a emoção de ver aqueles

"relatam as histórias de suas vidas, no qual conquistas, perdas, mas acima de tudo realizações tanto na vida profissional como na pessoal." " Fiquei emocionada e pensando se um dia também poderei fazer uma colcha”.

Sentimento 3.2 Casulo Autoria

171

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

pedaços de retalhos se transformando em uma inda colcha com sentimentos diversos. Fiquei emocionada e pensando se um dia também poderei fazer uma colcha dessas e espero que sim, foi muito bom estar participando dessa costura e fazer parte dessa turma.

Narrador 9

Borboleta Joaninha

A colcha emociona envolve, desmorona, reflete momentos de nossa vida e é através da experiência e lição de vida dos outros e nossas. Descobriremos que ninguém é perfeito, feliz para sempre por mais que tente sempre vai haver momentos em nossas vidas que choramos momentos dolorosos, alucinantes, bons, maravilhosos, enfim a vida não para. Houve momentos difíceis para algumas alunas, pude ver na entrevista algumas resistentes em comentários do trabalho. O café foi maravilhoso. A aula serviu para que pudesse compreender como é importante saber um pouco de cada um, saber que o outro também passou por momentos bons ou ruins, mas que continuam seguindo seu caminho. Nunca devemos parar

"A colcha emociona envolve, desmorona, reflete momentos de nossa vida e é através da experiência e lição de vida dos outros e nossas.” “Descobrimos que ninguém é perfeito, sempre vai haver momentos em nossas vidas que choramos momentos dolorosos, alucinantes, bons, maravilhosos, enfim a vida não para. " "Houve algumas resistentes em comentários do trabalho.”.

Emoção

3.2 Casulo Autoria

172

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 10

Borboleta Limoeiro

Esta aula foi importante, conheci um pouco mais algumas colegas de sala, umas que nem sabia o nome e muito menos sua história. Quando a professor foi escolhendo alguns retalhos eu torcia para que pegasse os que eu sentia mais interessante e fui muito feliz, pois um dos que queria foi escolhido. Embora eu ainda gostasse de ter ouvido todas as histórias. Me emocionei e até chorei em alguns momentos. A entrevista foi marcante também e só deixo-me curiosa e com vontade de chegar a minha vez de fazer o meu retalho. Embora percebi falta de união na confecção, mas como no final de toda história deu tudo certo.

"conheci um pouco mais algumas colegas de sala, umas que nem sabia o nome e muito menos sua história. " "Me emocionei e até chorei em alguns momentos." “deixo-me curiosa e com vontade de chegar a minha vez de fazer o meu retalho.” " Embora percebi falta de união na confecção, mas como no final de toda história deu tudo certo.”.

Emoção

3.2 Casulo Autoria

Narrador 11

Borboleta Jardim

A aula contribui para minha formação pessoal e profissional, sobre ouvir a história de cada um, o que marcou na vida pessoal delas. Na entrevista grande parte respondeu que sim, gostou de poder contar a história e fazer a junção da costuram, cada uma tem sua história e essa história faz parte de outra história.

“contribui para minha formação pessoal e profissional, sobre ouvir a história de cada um, o que marcou na vida pessoal delas. “ poder contar a história e fazer a junção da costuram, cada uma tem sua história e essa história faz parte de outra história."

Ouvir Relacionar

3.4 Olhar Autoria

173

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 12

Borboleta Floral

Foi uma manhã muito agradável com cheiro de bolo assado e café quentinho. Uma atmosfera de cada da vovó, aconchegante e convidativa, perfeita para desenvolvimento da proposta, a de espontaneamente trocar experiências de vida enquanto se costura a várias mãos a colcha de retalhos. Foi como se cada história, cada pedacinho de vida, tecida de diferentes s também fossem costuradas de maneira a formar uma linda composição, uma colcha de retalhos de vidas em que nós todas nos reconhecemos. Foi como se todos nós formássemos uma só vez, em um único golpe de vista, um grande tecido de vidas entrelaçadas. De foi uma experiência muito libertadora, pois a sensação que foi um alivio, foi como se todos fizessem as pazes com o passado. Percebemos como histórias tristes e que desoladoras sempre estão acompanhadas de momentos de grandes felicidades, conquistas e vitórias. Impressionante a riqueza de detalhes de cada retalho, carregados de emoção, mas ao mesmo tempo trazia a leveza, a delicadeza, mostrando a história de vida de cada uma. Pareceu-me um

“trocar experiências de vida enquanto se costura a várias mãos a colcha de retalhos.” Foi como se cada história, cada pedacinho de vida, tecida de diferentes experiências também fossem costuradas de maneira a formar uma linda composição de vidas em que nós todas nos reconhecemos. "um grande tecido de vidas entrelaçadas.” “uma experiência muito libertadora” “como histórias tristes e que desoladoras sempre estão acompanhadas de momentos de grandes felicidades, conquistas e vitórias.” “Impressionante a riqueza de detalhes de cada retalho, carregados de emoção, mas ao mesmo tempo trazia a leveza, a delicadeza, mostrando a história de vida de cada uma." Uma experiência verdadeiramente transformadora, ninguém

Transformação Olhar

3.4 Olhar Autoria

174

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

desabafo, passei a conhecer mais intensamente algumas colegas, pessoas que só cumprimentava, mas não as enxergava. Uma experiência verdadeiramente transformadora, ninguém saiu incólume, pois todas afetaram e foram afetadas. Adorei ter presenciado um momento tão importante das meninas. Vejo também que esse tipo de atividade é tão importante para a futura pedagoga, pois somente passando por tais experiências transformadoras pode-se adquirir consciência da real dimensão do papel e da responsabilidade da profissão.

saiu incólume, pois todas afetaram e foram afetadas. “esse tipo de atividade é tão importante para a futura pedagoga, pois somente passando por tais experiências transformadoras pode-se adquirir consciência da real dimensão do papel e da responsabilidade da profissão”.

Narrador 13

Borboleta Numeral

Foi uma aula muito interessante, como eu sou aluna do 4o. Semestre já tive a oportunidade de estudar com as meninas que fizeram a apresentação do seu retalho. Após a apresentação delas, eu muito curiosa queria saber como havia sido elas me contaram que saíram da sala muito emocionada e conhecendo pessoas que ao menos um bom dia dava.

“me contaram que saíram da sala muito emocionada e conhecendo pessoas que ao menos um bom dia dava”.

Emoção 3.2 Casulo Submissão

Narrador 14

Borboleta Mental

A atividade Colcha de retalhos realizada na aula procurou de forma geral resgatar as memórias da infância e adolescência de nossas colegas com o objetivo de destacar

"resgatar as memórias da infância e adolescência de nossas colegas com o objetivo de destacar a importância das

Conhecimento 3.3 Metamorfose

Autoria

175

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

a importância das experiências de vividas na escola em ser professoras. Todas se emocionaram bastante e no relato extremamente pessoal de cada uma delas percebia-se profundamente como cada ser humano é única, a experiência pode ser parecida ou até a mesma, mas a percepção, o jeito com o qual cada um irá sentir e reagir são únicos e constrói a personalidade de uma pessoa. Segundo o conteúdo da Paideia, Santo Agostinho sobre a influência das ideias de Platão afirma que "as ideias estão dentro de si, porque no seu interior há cristo", portanto acredito que as alunas em que sua trajetória de vida passou por experiências boas irão reproduzi-las e as que passaram por ruins encontrarão nesses exemplos alternativas de superá-las. A história pessoal ajuda na compreensão sobre quem somos e as escolhas pela qual tomamos, fazendo descobrimos que tudo o que nos tornamos é reflexivo do passado e entender a importância de nossa prática pedagógica na vida dos nossos alunos.

experiências de vividas na escola em ser professoras.” " Todas se emocionaram bastante e no relato extremamente pessoal de cada uma delas percebia-se profundamente como cada ser humano é única, a experiência pode ser parecida ou até a mesma, mas a percepção, o jeito com o qual cada um irá sentir e reagir são únicos e constrói a personalidade de uma pessoa. " Segundo o conteúdo da Paideia, Santo Agostinho sobre a influência das ideias de Platão afirma que "as ideias estão dentro de si, porque no seu interior há cristo", portanto acredito que as alunas em que sua trajetória de vida passaram por experiências boas irão reproduzi-las e as que passaram por ruins encontrarão nesses exemplos alternativas de superá-las. A história pessoal ajuda na compreensão sobre quem somos e as escolhas pela

176

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

qual tomamos, fazendo descobrimos que tudo o que nos tornamos é reflexivo do passado e entender a importância de nossa prática pedagógica na vida dos nossos alunos.

177

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 15

Borboleta da Casa

A aula do dia 24 de Abril foi feito um café da manhã onde tivemos a oportunidade de conversar com outras pessoas e de conhecer rapidamente algumas histórias através dos retalhos de tecidos, de diferentes formas, desenhos, texturas, carregados de desejos, emoções, conquistas, realizações, sofrimento, angústia, raiva e carinho. Uma emoção muito grande demonstrada por elas e muito contagiante. Através da entrevista ficou claro que o trabalho desenvolvido pela turma do quinto e sexto semestre sobre a colcha de retalhos foi muito rico e de grande importância para as pessoas, onde puderam fazer uma retrospectiva em suas vidas, uma viagem ao tempo, lembrando-se de algumas coisas que no início não gostariam de compartilhar com ninguém por vários motivos e após algumas pessoas narrarem suas histórias encorajam os mais receosos. Esse movimento entre passado e presente, pode ser pensado como uma reelaboração de retalhos que darão forma a uma colcha que será tecida ao longo da vida com texturas e cores diversas que vão sendo costuradas e formando um todo com significados. Para

"tivemos a oportunidade de conversar com outras pessoas e de conhecer rapidamente algumas histórias através dos retalhos de tecidos, de diferentes formas, de sonhos, texturas, carregados de desejos, emoções, conquistas, realizações, sofrimento, angústia, raiva e carinho." Esse movimento entre passado e presente, pode ser pensado como uma reelaboração de retalhos que darão forma a uma colcha que será tecida ao longo da vida com texturas e cores diversas que vão sendo costuradas e formando um todo com significados. “Para formação de professores e pesquisadores o saber pensar, refletir e analisar sobre sua própria prática é fundamental e através desse trabalho vão tecendo cada vez mais seus conhecimentos”.

Conhecimento 3.3 Metamorfose

Autoria

178

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

formação de professores e pesquisadores o saber pensar, refletir e analisar sobre sua própria prática é fundamental e através desse trabalho vão tecendo cada vez mais seus conhecimentos.

179

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 16

Borboleta Alerta

Tive a oportunidade de testemunhar a costura da colcha de retalhos percebi que houve comoção na hora que cada colega foi falando sobre suas escolhas simbólicas retratadas nos retalhos houve muita curiosidade por parte de nós do quarto semestre em cada pedacinho uma história surpreendente cada pedaço era de um pouco de cada colega particularmente gostei muito dessa aula para mim foi a melhor depois as entrevistamos e foi uma parte interessante também por que através das respostas de cada uma vi que para elas foi uma experiência boa importante pelo fato do resgate de situações importantes de suas vivências. Mas teve um momento muito chato em minha opinião, muitas meninas não colaboraram na costura deixando a responsabilidade para algumas como se elas não tivessem nada a ver com o trabalho foi uma falta de respeito.

"percebi que houve comoção na hora que cada colega foi falando sobre suas escolhas simbólicas retratadas nos retalhos houve muita curiosidade por parte de nós do quarto semestre em cada pedacinho uma história surpreendente cada pedaço era de um pouco de cada colega” “através das respostas de cada uma vi que para elas foi uma experiência boa importante pelo fato do resgate de situações importantes de suas vivências.” “muitas não colaboraram na costura deixando a responsabilidade para algumas como se elas não tivessem nada a ver com o trabalho foi uma falta de respeito”.

Emoção 3.2 Casulo Autoria

180

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 17

Borboleta do Sul

Na aula a professora deu continuidade ao trabalho da colcha de retalho, iniciado no semestre passado com alunas do 5º e 6º semestre. Foi proposto que nós, alunas do 4º semestre observássemos a metodologia e a gestão escolhida para a costura. Particularmente eu lamento por ter participado apenas desse momento do projeto. Tenho certeza que o autoconhecimento e o respeito ao outro aumentam muito após essa descoberta. Os retalhos retratam as histórias individuais e me faz ter certeza de quão importante é conhecer o nosso aluno, valorizar a sua história. Senti que faltou uma base, para nós do 4º semestre, interpretarmos corretamente essa proposta. Teria dito mais valor e encanto se soubéssemos de onde surgiu esse insight para trabalhar assim, sua história e outras coisas que as meninas dos outros semestres comentaram vagamente conosco. Foi um encontro agradável, me fez refletir que cada um tem orgulho ou medo de sua própria história, mas que na exposição, se sentiram aliviadas. Para mim, não há problemas em contar a minha história, até gosto muito de repetir minhas histórias

"Tenho certeza que o autoconhecimento e o respeito ao outro aumentam muito após essa descoberta.” Os retalhos retratam as histórias individuais e me faz ter certeza de quão importante é conhecer o nosso aluno, valorizar a sua história. "Foi um encontro agradável, me fez refletir que cada um tem orgulho ou medo de sua própria história, mas que na exposição, se sentiram aliviadas." “Me autoconheço e auto avalio. " Conhecer a história da Educação e da Pedagogia, assim como a história individual, ou de um determinado público é muito importante para a atuação em na educação, pois essa não é algo estático e imutável. "Transformações ocorreram e ocorrem a cada dia, a cada aula, sendo assim, as metodologias também deveram ser alteradas."

Autoconhecimento, Formação e Transformação.

3.4 Olhar Autoria

181

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

para quem se interessar, mas a cada nova vez que eu a conto, compreendo um pouco melhor tudo que eu passei, e venho passando. Me autoconheço e auto avalio. Conhecer a história da Educação e da Pedagogia, assim como a história individual, ou de um determinado público é muito importante para a atuação em na educação, pois essa não é algo estático e imutável. Transformações ocorreram e ocorrem a cada dia, a cada aula, sendo assim, as metodologias também devem ser alteradas. Conhecendo as necessidades do grupo de professores, gestão, alunos e comunidade, podemos guiar a nossa prática para que se torne significante e prazerosa. Assim temos mais chances de alcançarmos os objetivos estipulados.

"Conhecendo as necessidades do grupo de professores, gestão, alunos e comunidade, podemos guiar a nossa prática para que se torne significante e prazerosa.”.

182

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 18

Borboleta do Norte

O retalho é apenas uma parte de nossa história de vida, por isso não posso julgar o próximo apenas com o que ele compartilha de sua vida, outra aluna disse que este fato empírico marcou a vida de lá porque ela teve que ter o cuidado ao selecionar os fatos para não expor coisas particulares, transformar a narrativa escrita em uma imagem no tecido me fez chorar muito, me trouxe a lembrança de muitas coisas e me fez avaliar a si mesma. Narrar a história para outras pessoas ouvirem foi importante para elas construir respeito ao próximo a não julgar pela aparência, aprender com o erro dos outros. Para a formação no curso de pedagogia este trabalho foi importante porque ensinou a elas respeitar as diferenças, a enxergar o aluno e respeitar sua história de vida e com isso buscar maneiras de trabalhar com eles.

O retalho é apenas uma parte de nossa história de vida, por isso não posso julgar o próximo apenas com o que ele compartilha de sua vida “ " transformar a narrativa escrita em uma imagem no tecido me fez chorar muito, me trouxe a lembrança de muitas coisas e me fez avaliar a si mesma. " " Narrar a história para outras pessoas ouvirem foi importante para elas construir respeito ao próximo a não julgar pela aparência, aprender com o erro dos outros." (...) respeitar as diferenças, a enxergar o aluno e respeitar sua história de vida e com isso buscar maneiras de trabalhar com eles."

Transformação e Formação.

3.4 Olhar Autoria

183

ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 19

Borboleta do Leste

Este registro é referente à costura do 5º semestre. Neste dia de entrosamento as alunas foram as protagonistas de cada pedaço de retalho que junto formaram a colcha de retalho. Esses pequenos pedaços de panos diversificados (bordados, pintados, expressos, fotografados) entre outros, eram representações de vidas de cada aluna, que tentavam retratar e passar seus sentimentos de perda, saudades, vitórias, conquistas e suas lembranças e até suas esperanças em forma de um desenho, foto, imagem, pintura e cores diversas. A colcha está ficando bonita e colorida, têm cores fortes e opacas, por todas as partes da colcha, sendo que o tamanho do retalho é diversificado e colocado onde combinasse melhor. As aulas do 4º semestre ficaram como receptoras e observadoras, ouvindo nossas mensagens que eram transmitidas como, histórias resumidas, frases ou palavras que ali estava expressa em nossas emoções, lembranças naqueles pequenos pedaços de panos.

"Esses pequenos pedaços de panos diversificados (bordados, pintados, expressos, fotografados) entre outros, eram representações de vidas de cada aluna, que tentavam retratar e passar seus sentimentos de perda, saudades, vitórias, conquistas e suas lembranças e até suas esperanças em forma de um desenho, foto, imagem, pintura e cores diversas.” “As aulas do 4º semestre ficaram como receptoras e observadoras, ouvindo as mensagens que eram transmitidas como, histórias resumidas, frases ou palavras que ali estava expressa em nossas emoções, lembranças naqueles pequenos pedaços de panos”.

Representação 3.4 Olhar Autoria

184

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador Sujeito Narração Paráfrase Palavras-chave Eixo Categorias

Narrador 1

Borboleta Maria

Nós costuramos a colcha de retalhos que tínhamos iniciado no semestre anterior e voltamos ao nosso momento charneira, mais uma vez o encanto nos toma e aflora os nossos sentimentos. A turma ficou em círculo e as alunas foram espalhando os delicados retalhos no chão, o entusiasmo tomava conta do ambiente. Nós do 5o. Semestre já nos organizávamos para começar a costura, inclusive a professora. Embasadas em uma teoria de Gramsci de autogestão e auto-organização que defende a capacidade do ser humano se autogovernar. Fiquei frustrada, pois pude perceber que uma parte das alunas do 5o. Semestre não estavam nem ligando para a costura, pode até ser impressão minha, mas percebi que tomavam o café de confraternização, enquanto estávamos envolvidas realizando a costura. Achei uma falta de ética com a professora e a sua própria formação. Refleti que a historia de vida é muito importante para a nossa formação, principalmente para a formação de indivíduos sociais, sendo por ela o desenvolvimento de uma identidade pedagógica. Que tipo de professor quero ser? Que a nossa prática em

"o encanto nos toma e aflora os nossos sentimentos." "o entusiasmo tomava conta do ambiente." "Embasadas em uma teoria de Gramsci de autogestão e auto-organização que defende a capacidade do ser humano se autogovernar.” “Refleti que a historia de vida é muito importante para a nossa formação, principalmente para a formação de indivíduos sociais, sendo por ela o desenvolvimento de uma identidade pedagógica. Que tipo de professor quero ser? Que a nossa prática em sala de aula precisa ser diferenciada para preparar sujeitos participativos ativos, autônomos e críticos capazes de intervir e modificar a sociedade.”.

Formação 3.3 Metamorfose

Autoria

185

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

sala de aula precisa ser diferenciada para preparar sujeitos participativos ativos, autônomos e críticos capazes de intervir e modificar a sociedade.

Narrador 2

Borboleta Pororo azul

A confraternização da colcha de retalhos foi linda. Saber que cada pedacinho daquela colcha guarda uma história, vivenciada por cada um de nós. Histórias que por alguma razão marcaram nossas vidas. Histórias tristes, alegres, algumas emocionantes e outras mirabolantes que envolvem objetivos e metas, que em algumas delas ficam a experiência de cometer os mesmos erros ou de alcançar os objetivos desejados. Histórias que valem a pena ser lembradas, pois de alguma forma atribuíram para o nosso crescimento pessoal. Por isso, estou aqui no 5o. Semestre de pedagogia para iniciar outra bela história na área da educação. Histórias que sempre vão estar registradas na nossa colcha de retalhos.

“cada pedacinho daquela colcha guarda uma história, vivenciada por cada um de nós. " "Histórias tristes, alegres, algumas emocionantes” “Histórias que valem a pena ser lembradas, pois de alguma forma atribuíram para o nosso crescimento pessoal.”.

Sentimentos 3.2 Casulo Autoria

186

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 3

Borboleta Estaleira

Nesta aula foi realizada a costura da colcha de retalho depois das apresentações de cada aluna do seu tecido, explicando a escolha da figura e o que representou para ela realizar este trabalho. O trabalho que as alunas realizaram chamou-me atenção, conhecer suas experiências de vida, porque me ensinou a respeitar as diferenças, a ter um olhar pelo próximo de compaixão e amor, reconhecer que todos possuem limitações, dificuldades e que passam por diversidades que são superadas quando há solidariedade para com outrem.

"chamou-me atenção, conhecer suas experiências de vida, porque me ensinou a respeitar as diferenças, a ter um olhar pelo próximo de compaixão e amor, reconhecer que todos possuem limitações, dificuldades e que passam por diversidades que são superadas quando há solidariedade para com outrem."

Respeito 3.4 Olhar Autoria

Narrador 4

Borboleta Tigre

Deixo anotadas três palavras marcantes na aula da reunião da colcha de retalhos: Colaboração, criatividade e histórias.

Colaboração, criatividade e histórias.

Palavras 3.2 Casulo Submissão

Narrador 5

Borboleta da Couve

A organização do nosso café e na costura da colcha de retalhos foi ótima. A trilha sonora, perfeita, a professora preparou tudo com muito cuidado e atenção. As colegas dos outros semestres tiveram um contato com o término da colcha, o que eles no futuro irão construir também. Compartilhar novamente a nossa história se alimentando e a trilha sonora fez toda a diferença. O fechamento com as fotos e as filmagens foi a cereja do bolo, e as frases da colega "Cássia", sem

"Compartilhar a nossa história se alimentando e a trilha sonora fez toda a diferença.”

Compartilhar 3.2 Casulo Submissão

187

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

comentários: lindas e inspiradoras.

Narrador 6

Borboleta Andorinha

A aula anterior foi muito especial, devido ao nosso trabalho da Colcha de Retalhos que teve inicio no semestre passado e foi dada a continuidade nesse semestre. Foi um momento rico de grandes emoções, pois relembramos a nossos momentos charneiras. Ao contemplar aquela imagem no chão pude perceber a importância e o valor de cada símbolo representa para cada uma de nos alunas. A aula foi ótima do princípio ao fim principalmente quando a Colega de classe por nome Cássia fez a leitura de sua carta para todos os ouvintes, aquilo me serviu como motivação, pois naquele mesmo instante tive a convicção que essa foi uma das minhas melhores escolhas ter optado a ser pedagoga. O trabalho em conjunto na costura dos retalhos, o momento em que foi entrevistada pelas meninas do quarto ano, enfim esse dia ficará para sempre em minha memória e pretendo futuramente aplicar essa mesma atividade para meus alunos, pois é perfeita.

"Foi um momento rico de grandes emoções, pois relembramos a nossos momentos charneiras.” " Ao contemplar aquela imagem no chão pude perceber a importância e o valor de cada símbolo representa para cada uma de nos alunas." “tive a convicção que essa foi uma das minhas melhores escolhas ter optado a ser pedagoga.”

Emoção Símbolo

3.2 Casulo Autoria

188

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 7

Borboleta Adelpha

Após a narrativa e a confecção do retalho, finalmente pudemos nos organizar para finalizar a colcha. Foi um trabalho bastante interessante, pois pudemos colocar em prática parte do aprendizado. Ao nos reunirmos para definir como seriam dispostos os retalhos, houve um entrosamento entre as alunas apesar de não concordar com algumas colocações que foram feitas e imposições, tudo transcorreu melhor forma possível. Desta forma, observei que muitas vezes devemos abrir mão da nossa opinião e a vontade para que possamos atender a necessidade do outro. Todas as alunas colaboraram para que o trabalho em conjunto desse certo. Assim será a nossa vida como educadoras, pois para que possamos colocar em prática as nossas vidas precisamos da colaboração e participação de todos que estão empenhados no mesmo ideal e não somente ficar olhando de fora e criticando como as coisas são feitas, pois quando trabalhamos em grupo geramos aprendizado e aprendemos também

"colocar em prática parte do aprendizado." " houve um entrosamento entre as alunas apesar de não concordar com algumas colocações que foram feitas e imposições, tudo transcorreu melhor forma possível." " Desta forma, observei que muitas vezes devemos abrir mão da nossa opinião e a vontade para que possamos atender a necessidade do outro. "Colocar em prática as nossas vidas precisamos da colaboração e participação de todos que estão empenhados no mesmo ideal"

Outro 3.4 Olhar Autoria

189

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 8

Borboleta Vanille

Costuramos a Colcha de Retalhos retomando algumas histórias para que as meninas do 5o. Semestre pudessem fazer os registros de aula. Também participamos de uma entrevista com elas, onde relembramos a importância de contarmos as nossas histórias de vida e o que elas influenciaram na nossa escolha profissional e a nossa ação pedagógica. Enquanto costurávamos a colcha pensei que de alguma forma as nossas histórias de vida estão ligadas, seja pela escolha profissional seja por algum fato na vida particular, pois a vida é algo imprevisível e sempre nos surpreende. Muitas vezes convivendo com as colegas diariamente possuímos uma imagem formada delas, porém quando conhecemos um pouco de sua história passamos a enxergá-las de maneira diferente. Esta aula foi importante para refletir nestas coisas e com isso ajudou a tornar o meu olhar sensível em relação ao outro, assim podendo compreender melhor o rendimento dos meus alunos, a partir do que acontece em todas as áreas de sua vida, interferem diretamente e indiretamente na sua vida escolar.

“as nossas histórias de vida estão ligadas, seja pela escolha profissional seja por algum fato na vida particular, pois a vida é algo imprevisível e sempre nos surpreende.” Muitas vezes convivendo com as colegas diariamente possuímos uma imagem formada delas, porém quando conhecemos um pouco de sua história passamos a enxergá-las de maneira diferente. " " “refletir nestas coisas e com isso ajudou a tornar o meu olhar sensível em relação ao outro”,

Outro Olhar

3.4 Olhar Autoria

190

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 9

Borboleta Amathea

A Colcha de retalhos foi um momento importante para todas, porque cada uma costurou um pedaço de sua história, foi bom compartilhar as histórias, pois muitos seres humanos julgam os outros, mas ninguém sabe o que cada um passa qual a dificuldade que cada um passa problemas? Todo tem, mas um diferente dos outros. A costura foi muito bem organizada, apesar de que eu não sabia costurar direito, mas o que vale é a intenção, trabalhar em conjunto e ser um momento nosso. No dia da apresentação dos retalhos não pude participar, mas tenho certeza que foi um dia de lição de vida, muitas experiências compartilhadas, alegrias e até mesmo tristezas.

"importante para todas, porque cada uma costurou um pedaço de sua história, foi bom compartilhar as histórias” muitos seres humanos julgam os outros, mas ninguém sabe o que cada um passa qual a dificuldade que cada um passa problemas? Todo tem, mas um diferente dos outros. " um dia de lição de vida, muitas experiências compartilhadas, alegrias e até mesmo tristezas."

Outro 3.4 Olhar Autoria

191

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 10

Borboleta Menipe

O momento da costura foi um momento em que nossas histórias se entrelaçaram, por mais que já estivéssemos há quase três anos juntas, tivemos poucas situações em que pudéssemos saber um pouco da vida de nossas colegas, coisas, situações que viveram e que as marcaram e modificou, no momento da costura houve uma união, uma cooperação entre nós, a cada passada de agulha, nossos retalhos iam se tornando uma coisa só, foi um momento de escolha, de dividir tarefas, funções, de ter sensibilidade, de autogovernada. Refletindo sobre esse momento, fica claro o aprendizado em relação ao respeito para com outro, pois todas ali tínhamos o mesmo objetivo que era a costura da colcha, então a colaboração era imprescindível para a condução do nosso trabalho, já que o fazer e o pensar andam juntos, foi preciso que nós pensássemos juntas como guiaríamos nosso percurso para que o fazer se concretizasse.

"tivemos poucas situações em que pudéssemos saber um pouco da vida de nossas colegas, coisas, situações que viveram e que as marcaram e modificou, no momento da costura houve uma união, uma cooperação entre nós, a cada passada de agulha, nossos retalhos iam se tornando uma coisa só, foi um momento de escolha, de dividir tarefas, funções, de ter sensibilidade, de autogovernada.” " o aprendizado em relação ao respeito para com outro, pois todas ali tínhamos o mesmo objetivo”.

Outro 3.4 Olhar Autoria

Narrador 11

Borboleta Biblis

Fazendo-se uma analogia com a construção do conhecimento do senso comum, eu diria que a colcha de retalhos "traduz em um saber ordinário", cujas partes costuradas manualmente, juntando cada parte da

Fazendo-se uma analogia com a construção do conhecimento do senso comum, eu diria que a colcha de retalhos

Consciência 3.4 Olhar Autoria

192

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

história de vida de cada uma ali presente, colocando paciência, resignação, revolta, dor, compreensão, fé, carinho, raiva, acima de tudo, com arte. Para mim o resulta desta costura é extremamente significativo, pois é repleta de vitalidade, já que brotou de uma relação direta do ser humano com o mundo e com os seus pares. Segundo o olhar de Gramsci para a Colcha de Retalhos, como ele vê, não é muito generoso, posto que ele coloque em oposição e subjacente a outra possibilidade de conhecimento, denotando, assim uma hierarquização dos saberes, quando lança o seguinte problema: É preferível "pensar" sem disto ter consciência crítica, isto é, participar de uma concepção de mundo imposta, mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos vários grupos sociais, nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente (...). Com relação ao meu processo de desenvolvimento intelectual, afirmo e assumo não ter feito os registros diários, pois por simplesmente, que durante as aulas não tive compreensão do que estava sendo ensinado, e só então, após algumas aulas percebi que tínhamos aprendido uma dialética diferente, com práticas de um conceito

"traduz em um saber ordinário", cujas partes costuradas manualmente, juntando cada parte da história de vida de cada uma ali presente, colocando paciência, resignação, revolta, dor, compreensão, fé, carinho, raiva, acima de tudo, com arte. Para mim o resulta desta costura é extremamente significativo, pois é repleta de vitalidade, já que brotou de uma relação direta do ser humano com o mundo e com os seus pares. “É preferível "pensar" sem disto ter consciência crítica, isto é, participar de uma concepção de mundo imposta, mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos vários grupos sociais, nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua

193

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

importante dentro da perspectiva crítica dos elementos pedagógicos.

entrada no mundo consciente (...). Com relação ao meu processo de desenvolvimento intelectual, afirmo e assumo não ter feito os registros diários, pois por simplesmente, que durante as aulas não tive compreensão do que estava sendo ensinado, e só então, após algumas aulas percebi que tínhamos aprendido uma dialética diferente, com práticas de um conceito importante dentro da perspectiva crítica dos elementos pedagógicos.

Narrador 12

Borboleta Anamathea

Fizemos um café comemorativo, juntamos todos os retalhos em formato de colcha, para alinhavarmos e posteriormente a costureira colocá-los na colcha. Foi muito legal, ver pedacinhos da vida sendo costurado. A turma do 4o. Semestre não participou da construção e elaboração da colcha, apenas no momento da costura. Sendo assim, elas acabaram pedindo para algumas pessoas relatarem sobre aquelas imagens que acharam mais

"Pudemos trazer experiências, e até compartilhar momentos da época da elaboração da colcha.” Nós falamos aquilo que julgamos necessárias as pessoas saberem.

Experiências 3.3 Casulo Autoria

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ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

interessantes. Participamos de uma entrevista com as alunas do 4o. Semestre. Elas fizeram perguntas tipo: o que significou voltar ao tempo para colocar algo da nossa vida no retalho? Que relação pode ser feito do que foi ensinado na faculdade com o que tiveram como alunas nos ensinos anteriores? Entre outras. Pudemos trazer experiências, e até compartilhar momentos da época da elaboração da colcha. Colocamos em prática o pouco que lemos de Gramsci sobre a autogestão. Nós falamos aquilo que julgamos necessárias as pessoas saberem. Nós colocamos a imagem que julgamos pertinentes à história, ou seja, nos coordenamos o rumo da nossa história na construção da colcha.

195

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 13

Borbole

ta

Satyri

Demos continuidade à colcha de retalhos, onde se teve início no semestre passado, e que neste semestre continuaríamos a partir de cada retalho a costura da nossa colcha onde se traz em cada retalho uma história de vida, uma história de superação e de muitas outras emoções envolvidas. Com isso, podemos partilhar o trabalho como ele foi produzido e a partir do que foi elaborado, para mostrarmos para que não tivesse realizado que foi o 4o. Semestre. Mais com a entrevista elas entenderam a partir de como foi e é elaborado esse trabalho tão dedicado, e que tanto tem haver com a matéria aplicada, onde traz passado e o que se foi desenvolvido durante o tempo de escola até os dias de hoje. A aula é aplicada nos da o sentido ao que se foi e é expresso na colcha, que nos dá e mostra qual a importância da material para o desenvolvimento do retalho.

“cada retalho a costura da nossa colcha onde se traz em cada retalho uma história de vida, uma história de superação e de muitas outras emoções envolvidas." da o sentido ao que se foi e é expresso na colcha”

Emoções 3.2 Casulo Autoria

196

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 14

Borboleta Rosa de Luto

Na última aula pudemos relembrar de toda nossa jornada para construir nosso retalho, pensar novamente no nosso momento charneira e o que nos motiva na vida. Sincronizar nossas histórias e todas juntas trabalharmos para concretizar algo que nos uniria indiretamente para toda existência da colcha. Ver as lágrimas nos olhos de quem conseguia ganhar a luta ou entrar em uma. "Vencer a si próprio é o maior das vitórias" - Platão. A colcha de retalhos me fez pensar no meu motivo de viver, motivo que faz levantar da cama todos os dias. E assim quero conseguir fazer meus futuros alunos pensarem o porquê de estar ali e porque continuar. Por fim todas aceitaram as diferenças das outras e demos ênfase na relevância que essa diversidade de sentimentos e valores que tem no processo de elaboração do trabalho como um todo. Cada uma a seu modo, contribuiu com a melhor de si para o trabalho.

"relembrar de toda nossa jornada para construir nosso retalho, pensar novamente no nosso momento charneira e o que nos motiva na vida.” “Ver as lágrimas nos olhos de quem conseguia ganhar a luta ou entrar em uma. A colcha de retalhos me fez pensar no meu motivo de viver, motivo que faz levantar da cama todos os dias. E assim quero conseguir fazer meus futuros alunos pensarem o porquê de estar ali e porque continuar.

Autoconhecimento 3.2 Casulo Autoria

197

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 15

Borboleta Thoas

A costura da colcha de retalhos foi muito gratificante e emocionante ver algumas colegas relembrando suas histórias. Ver como cada colega tem sua marca de vida que cada história é um fortalecimento para seguir em frente. Voltar a esse momento é saber "lembranças felizes ou tristes: assim é a vida". São momentos marcantes que fazem parte de cada história, como uma recordação de detalhes onde cada pessoa volta ao passado e reencontra momentos que marcaram uma vida inteira. Cada momento da costura foi um registro novo, não como "artigo", mas sim de tempos atuais deixaram grandes saudades de um tempo que se passou tão rápido aos resgatar cada detalhe que parecia não relembrar tão cedo. Esses poemas abaixo definem esse momento tão especial da costura "O tempo pode apagar lembranças de um rosto, um corpo, mas jamais apagará lembranças de pessoas que souberam fazer de pequenos instantes grandes momentos" Paulo Coelho. “Lembrança é quando, mesmo sem autorização, o seu pensamento reapresenta um capítulo". Adriana Falcão.

A costura da colcha de retalhos foi muito gratificante e emocionante ver algumas colegas relembrando suas histórias. Voltar a esse momento é saber "lembranças felizes ou tristes: assim é a vida". São momentos marcantes que fazem parte de cada história, como uma recordação de detalhes onde cada pessoa volta ao passado e reencontra momentos que marcaram uma vida inteira. “ A costura é fundamental para matéria da História da Educação, pois o mesmo é uma pequena construção de grandes princípios para uma nova história da educação se adquirir e transmitir a quem quer ouvir e participar nessa formação.

Lembranças 3.2 Casulo Autoria

198

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

“Todo o dia é uma ocasião especial”. "Guarde apenas o que tem ser guardado: lembranças, sorrisos, poemas, cheiros, saudades, momentos” Martha Medeiros. Esse momento da costura é fundamental para matéria da História da Educação, pois o mesmo é uma pequena construção de grandes princípios para uma nova história da educação se adquirir e transmitir a quem quer ouvir e participar nessa formação.

199

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 16

Borboleta Beija-Flor

Na aula passada começamos a aula descontraída e animadas por causa do dia que tanto esperávamos costura da colcha de retalhos, foi emocionante o que os desenhos nas estampas, nos representa, voltamos a chorar, dar risadas, ver cada um de nós costurando o retalho e recordando os momentos vividos que marcaram nossas vidas. Foi legal! O café da manhã também foi divertido todas colaboraram de alguma forma, dessa maneira compartilhamos nossas emoções, nosso aprendizado, através da entrevista com as alunas do 4o. Semestre. Elas puderam presenciar o quão importante foi, ou seja, reunidas expressamos os nossos sentimentos, comentamos sobre o filme e o bom de estarmos juntas em um só propósito.

(...) foi emocionante o que os desenhos nas estampas, nos representa, voltamos a chorar, dar risadas, ver cada um de nós costurando o retalho e recordando os momentos vividos que marcaram nossas vidas. (...) compartilhamos nossas emoções, nosso aprendizado, através da entrevista com as alunas do 4o. semestre.

Experiência 3.2 Casulo Autoria

200

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 17

Borboleta Seda

Esse projeto da Colcha de Retalhos foi de suma importância para que eu me reencontrasse, fazendo que revivesse histórias que nem sabia que já havia vivido muito menos o impacto que causou. Foram tantas dificuldades, obstáculos e também vitórias conquistadas ao longo da minha caminhada. Como foi grandioso, relembrar minha fase escolar pude compreender que tipo de criança fui e o reflexo que carreguei para a vida adulta. No início do desenvolvimento da minha narrativa, pude entender como afetou minha vida pessoal e profissional alguns desses impactos foi à timidez e uma escolaridade de péssima qualidade. Quanto mais escrevia mais difícil ficava para escolher o momento charneira, como saber qual foi esse momento diante de tantos já vividos, foi nesse momento que veio a decisão por relatar fases que deixaram cicatrizes e durante muitos anos não abri sobre ele a ninguém. Com esse trabalho percebi que estou no caminho certo, que os meus momentos charneiras, fizeram comigo o desabrochar, entender é preciso vencer seus medo, timidez, angústias e sempre que em conflito se permite uma

Esse projeto da Colcha de Retalhos foi de suma importância para que eu me reencontrasse, fazendo que revivesse histórias que nem sabia que já havia vivido muito menos o impacto que causou. (...) pude entender como afetou minha vida pessoal e profissional alguns desses impactos foi à timidez e uma escolaridade de péssima qualidade. (...) estou no caminho certo, que os meus momentos charneiras, fizeram comigo o desabrochar, entender é preciso vencer seus medo, timidez, angústias e sempre que em conflito se permite uma autoavaliação. (...) muitos se mostraram proativo colaborando para que uma harmonia entre as imagens fossem encontrada, (...) é nítida a importância do

Autoconhecimento

3.3 Metamorfose

Autoria

201

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

autoavaliação. Nesse momento da costura da colcha, vivemos uma experiência fantástica que carregaremos conosco, foi um privilégio reviver nossas histórias de uma forma singela e agradável fazendo com que o respeito e o relacionamento interpessoal das colegas fossem renovados. A maneira que foi conduzida a costura teve a contribuição de todos e muitos se mostraram proativo colaborando para que uma harmonia entre as imagens fossem encontrada, cada detalhe foi discutido e fundamentado até que todos estivessem de acordo. Entrelaçando como a disciplina é nítida a importância do passado, para que as transformações aconteçam com o individuo. Muitas vezes revivendo o passado, temos a possibilidade de mudar ou fazer algo que não fez naquele período seja porque não quis ou por falta de conhecimento, a mudança é complicada, mas é possível.

passado, para que as transformações aconteçam com o individuo. (...) a mudança é complicada, mas é possível.

202

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 18

Borboleta Estrela

Foi realizada uma confraternização, onde escrevemos na lousa mensagens de motivação, e trajetória, pois era isso que esse momento nos remetia de maneira sútil. Tivemos um café da manhã para começarmos unidades e sem interrupções já era o dia da tão esperada costura da colcha de retalhos. Iniciamos decidindo como ficariam os nossos retalhos, decidindo posicionamento por tamanho. Depois que os retalhos estavam colocados e prontos para a costura, relatamos para as colegas do quarto semestre nossas histórias ou os momentos que nos influenciariam para a elaboração do nosso retalho, que nada mais eram do que momentos que marcaram nossas vidas como filhos, conquista de autonomia, independência (libertação de uma situação de aprisionamento), dor, perdas marcantes ou momentos de transformação. Finalizamos após os relatos costurando uma atividade onde se faz necessário a colaboração do outro. Quando estamos ligando nossas histórias percebemos que nos sentimos aliviadas, pois acabamos de contar e dividir nossas experiências (boas ou ruins) onde muitas disseram se sentir aliviadas pelo relato. Costurando um ponto sim um

(...) relatamos para as colegas do quarto semestre nossas histórias ou os momentos que nos influenciariam para a elaboração do nosso retalho, (...) conquista de autonomia, independência (libertação de uma situação de aprisionamento), dor, perdas marcantes ou momentos de transformação. (...) se faz necessário a colaboração do outro. (...) nos sentimos aliviadas, pois acabamos de contar e dividir nossas experiências (boas ou ruins)

Transformação 3.4 Olhar Autoria

203

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

não, uma história na outra como fazemos tantas vezes na nossa vida, quando contamos nossa historia para alguém e esse alguém passa, a saber, da nossa experiência e quando alguém nos conta e sabemos das experiências delas assim é a nossa colcha de retalhos ou colcha dos mistérios, pois cada desenho possui um significado que graças à socialização sabemos cada segredo que cada colega carrega e aprendemos a respeitar a partir daí o espaço de cada um pelo peso que carrega.

204

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 19

Borboleta Cristal

A colcha de retalhos foi um histórico da vida de pessoal totalmente diferente uma das outras. Foi uma experiência nova para cada pessoa. Com a colcha de retalhos cada pessoa teve a oportunidade de conhecer mais o indivíduo. Cada uma conheceu a história de vida da outra, vida pessoal, afetiva, profissional e familiar. Foi uma experiência de reconhecer o outro com suas diferenças. Teve uma socialização com diversas pessoas diferentes. Teve a troca de experiências por meio da socialização. A Colcha mostrou o trabalho em conjunto, pois cada uma ajudava a outra para chegar a um objetivo com. Trouze a reflexão de qua união de pessoas difererentes para ter um trabalho cada vez mellhor e significativo. A união que o objetivo em comum é possível acontecer, mas com argumentos e ideias pautáveis.

Com a colcha de retalhos cada pessoa teve a oportunidade de conhecer mais o indivíduo. Foi uma experiência de reconhecer o outro com suas diferenças. Teve uma socialização com diversas pessoas diferentes. Teve a troca de experiências por meio da socialização. (...) A união que o objetivo em comum é possível acontecer, mas com argumentos e ideias pautáveis.

Reconhecer Outro

3.4 Olhar Autoria

205

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 20

Borboleta Esmeralda

Essa aula foi muito legal, relembramos algumas histórias e unimos nossos retalhos. A primeira etapa que trabalhamos na colcha foi no semestre passado, foi uma aula muito importante para todos, a maioria passou para seu retalho algo de muito importante e emocionante que havia ocorrido em sua vida, outros, assim como eu optaram por algo que não envolvesse muito a família, algo mais superficial, não sei ao certo porque, talvez algum de nós ainda não se sentia tão à vontade com a exposição, ainda por vergonha e receio de falar sobre o que passou. Com a costura unimos uma história à outra, transformando aquele simples pedaço de pano em coisa especial para nós Vejo a aula e outras etapas da colcha como algo importante para a formação. Passei a enxergar o próximo de outra maneira e entender melhor as atitudes das várias pessoas

(...) a maioria passou para seu retalho algo de muito importante e emocionante que havia ocorrido em sua vida, outros, assim como eu optaram por algo que não envolvesse muito a família, algo mais superficial, não sei ao certo porque, talvez alguns de nós ainda não se sentia tão a vontade com a exposição, ainda por vergonha e receio de falar sobre o que passou.

Olhar 3.4 Olhar Autoria

206

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 21

Borboleta Rubi

O trabalho em sala da colcha trouxe uma visão sobre o outro. Aprendi a respeitar o momento de cada um, escutar suas histórias e compreender o momento vivido de cada pessoa. Trouxe vários sentimentos, emoções, choros, alegrias e sabedoria. Escutar, compreender e aprender foi o que consegui no trabalho. Histórias maravilhosas, revelações, aprendizado e conhecimento. Aprendi a conhecer o outro lado de cada pessoa da sala. Foi um momento de refletirmos sobre os sentimentos vividos, no dia da apresentação um momento de expectativa, para as alunas do 4o. Semestre que ainda não participam. Percebi muita ansiedade pelas alunas na sala. Durante a entrevista feita pelas alunas, meus olhos se encheram de lágrimas ao lembrar-se das histórias de todas. De poder fazer parte daquele momento de desabafo.

O trabalho em sala da colcha trouxe uma visão sobre o outro. Aprendi a respeitar o momento de cada um, escutar suas histórias e compreender o momento vivido de cada pessoa. Trouxe vários sentimentos, emoções, choros, alegrias e sabedoria. Escutar, compreender e aprender foi o que consegui no trabalho. Histórias maravilhosas, revelações, aprendizado e conhecimento. Aprendi a conhecer o outro lado de cada pessoa da sala. “Foi um momento de refletirmos sobre os sentimentos vividos.

Respeito 3.4 Olhar

207

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 22

Borboleta Ametista

Na aula costuramos os retalhos e tivemos a oportunidade de recordar algumas histórias e participarmos de uma pesquisa - entrevista para que as alunas do 4o. Semestre. Esse trabalho foi de extrema importância, pois consegui ver além do que foi dito, expor as nossas histórias e nossas experiências para o próximo. Sei que devemos separar a nossa vida profissional da pessoal, mas em alguns momentos será necessário trazer algumas coisas da vida pessoa ao trabalho. O mais importante que pude entender no dia de hoje, foi que nem sempre estamos preparados para recordar algo que passou na vida, mas é preciso trazer as lembranças para superar, aprender e porque não, fazer igual ou diferente. Posso entender que esse trabalho tenha uma importância para a nossa vida profissional, pois temos a oportunidade de nos conhecermos, saber um pouco das nossas fraquezas e autodefesa, mas para isso, precisamos nos conhecer como um todo e isso começa pelo nosso passado.

Esse trabalho foi de extrema importância, pois consegui ver além do que foi dito, expor as nossas histórias e nossas experiências para o próximo. Sei que devemos separar a nossa vida profissional da pessoal, mas em alguns momentos será necessário trazer algumas coisas da vida pessoa ao trabalho. (...) nem sempre estamos preparados para recordar algo que passou na vida, mas é preciso trazer as lembranças para superar, aprender e porque não, fazer igual ou diferente(...) saber um pouco das nossas fraquezas e autodefesa, mas para isso, precisamos nos conhecer como um todo e isso começa pelo nosso passado.

Recordar 3.2 Casulo Autoria

208

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 23

Borboleta Pérola

Vivenciando este trabalho percebi que devemos respeitar o próximo com sua história. Algumas pessoas tem resistência em participar do trabalho, pois tem dificuldades em expor sua vida, porque podem ouvir críticas de outras pessoas, mas a importância do trabalho trouxe um olhar para o outro, de outra forma, reflexão, amadurecimento, transformação e quebras de tabus. Nós como pedagogas passamos a enxergar a sala de aula diferente, entender a melhor a vida.

"Vivenciando este trabalho percebi que devemos respeitar o próximo com sua história. "Algumas pessoas tem resistência em participar do trabalho, pois tem dificuldades em expor sua vida, porque podem ouvir críticas de outras pessoas. " a importância do trabalho trouxe um olhar para o outro, de outra forma, reflexão, amadurecimento, transformação e quebras de tabus. "

Olhar 3.4 Olhar Autoria

Narrador 24

Borboleta Diamante

Este dia foi importante, pois me fez relembrar de todos os momentos e das histórias de vida, as meninas do 4o. Semestre fizeram perguntas sobre a elaboração e isso foi bom, pois no proporcionou a conversa e o conhecimento sobre o momento de cada uma passou na sua vida escolar e nos fez refletir sobre diversos aspectos.

“relembrar de todos os momentos” e das histórias de vida. As meninas do 4o. Semestre fizeram perguntas sobre a elaboração e no proporcionou a conversa e o conhecimento sobre o momento de cada uma passou na sua vida escolar e nos fez refletir sobre diversos aspectos.

Relembrar 3.3 Metamorfose

Autoria

209

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 25

Borboleta Princesa

Na aula de hoje fizemos uma roda de conversa, onde compartilhamos histórias de nossas vidas através da colcha de retalho, após, alguns alunos falarem, algumas costuravam e também participamos da entrevista com o 4o. Semestre. Pude perceber que algumas pessoas ainda não estão prontas para recordar histórias, porém algumas tiraram a resistência do início. Esse trabalho trouxe autoconfiança, nos mostrou que somos fortes e suficientes para passar por aquilo e nos mostrou a vitória que conquistamos, mostrou o respeito que temos que ter com o próximo, e não julgar pela aparência, aprendemos a nos conhecer realmente ao ponto de estarmos prontos para toda a ocasião que ocorrer na nossa vida ou pelos menos resolver com sabedoria.

"compartilhamos histórias de nossas vidas através da colcha de retalho” Pude perceber que algumas pessoas ainda não estão prontas para recordar histórias, porém algumas tiraram a resistência do início. Esse trabalho trouxe autoconfiança, nos mostrou que somos fortes e suficientes para passar por aquilo e nos mostrou a vitória que conquistamos, mostrou o respeito que temos que ter com o próximo, e não julgar pela aparência, aprendemos a nos conhecer realmente ao ponto de estarmos prontos para toda a ocasião que ocorrer na nossa vida ou pelos menos resolver com sabedoria.

Julgar

3.4 Olhar Autoria

210

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 26

Borboleta Grafite

Fizemos uma breve apresentação dos retalhos às alunas do 4o. Semestre. Depois deste momento relembrando as histórias, algumas foram costurá-la. Foi um trabalho lindo, pois uns pequenos desenhos demostramos tantas coisas, fazendo sentido para cada uma que ali estava. Ver a sua história fazendo parte de um trabalho tão lindo e significante. Pudéssemos costurar cada coisa que gostamos pertinho da gente. Minhas sensações foram inesperadas. Não saberia que mexeria tanto comigo. Me fez refletir que cada ser humano tem sua singularidade. Logo, após, fomos conversar com as colegas do 4o. Semestre para descrever nossas sensações no preparo da colcha.

relembrando as histórias, algumas foram costurá-la. Foi um trabalho lindo, pois uns pequenos desenhos demostramos tantas coisas, fazendo sentido para cada uma. Minhas sensações foram inesperadas. Não saberia que mexeria tanto comigo. Me fez refletir que cada ser humano tem sua singularidade.

Ser humano 3.4 Metamorfose

Autoria

Narrador 27

Borboleta Agata

Na aula nos reunirmos para costurar os retalhos que contam a história da vida de cada uma. No chão da sala de aula, uma coleção de memórias, histórias de vidas tecidas em retalhos, histórias singulares construídas no coletivo, após muitas opiniões e decisões sobre a organização dos retalhos, finalmente, pegamos linhas e agulhar para costurara cada tecido formando uma Colcha de Retalhos. A escrita autobiográfica e todo o processo de contar a minha história tecida no retalho permitiu-me um encontro comigo mesma, fez-me refletir sobre

No chão da sala de aula, uma coleção de memórias, histórias de vidas tecidas em retalhos, histórias singulares construídas no coletivo, após muitas opiniões e decisões sobre a organização dos retalhos. A escrita autobiográfica e todo o processo de contar a minha história tecida no retalho permitiu-me um

Humanidade 3.4 Olhar Autoria

211

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

minha vida... talvez seja hora de reinventar-me ou inventar outras fantasias, aliás, foi você, professora, que me disse isso em um dos meus registros. Estou terminando minha graduação com uma única certeza, eu mudei, tornei-me uma pessoa melhor, vim para faculdade com o objetivo de ter uma profissão, não podia continuar dependendo financeiramente do meu marido, isto é fato, mas cheguei aqui e me encantei pela essência da pedagogia, compreendi a importância da educação para a humanidade e, principalmente, entendi o papel do professor como peça chave no processo de construção do conhecimento, sendo ele responsável pelo desenvolvimento do ser humano nos anos iniciais. Para Kant, "O Homem só pode tornar-se homem pela educação, e ele é tão somente o que a educação fez dele" (ARANHA, 2006, P.181). Diante disso, quero muito ir pra sala de aula e poder fazer o melhor, dar o melhor de mim, tem certeza que vou conseguir, quero, também, continuar a estudar.

encontro comigo mesma, fez-me refletir sobre minha vida... Talvez seja hora de reinventar-me ou inventar outras fantasias, aliás, foi você, professora, que me disse isso em um dos meus registros. Estou terminando minha graduação com uma única certeza, eu mudei, tornei-me uma pessoa melhor, vim para faculdade com o objetivo de ter uma profissão, compreendi a importância da educação para a humanidade e, principalmente, entendi o papel do professor como peça chave no processo de construção do conhecimento, sendo ele responsável pelo desenvolvimento do ser humano nos anos iniciais.

212

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 28

Borboleta Marinha

Na aula foi realizada a costura da Colcha de Retalhos, retalhos. O ato de costurar os retalhos possibilitou o exercício da autonomia, pois durante a elaboração do retalho pudemos decidir o que gostaríamos, ou não, de compartilhar com a classe, e durante a costura organizamos os mesmos de forma que todos os retalhos entrassem em sintonia para dar à colcha um aspecto especial. A costura nos faz perceber que ao longo do curso todas nós nos relacionamos, com algumas pessoas mais do que com outras, fazemos parte de um todo, com objetivos em comum, e que mesmo sem desejar provocamos mudanças na vida das pessoas, e elas também provocam mudanças em nossa vida. Ouvir a história do outro nos faz respeitá-lo e compreendê-lo melhor, pois muitas vezes julgamos as atitudes das pessoas sem procurar entender o porquê delas agirem de determinada maneira. Além disso, algumas histórias são exemplo de motivação, e nos incentivam a lutar por tudo que desejamos. Como pedagogas, cotidianamente vamos costurar a teoria com a prática, compartilhar nossas experiências com o outro, e para isso precisamos saber nos expressar e ouvir o que o outro tem a nos dizer.

O ato de costurar os retalhos possibilitou o exercício da autonomia, pois durante a elaboração do retalho pudemos decidir o que gostaríamos, ou não, de compartilhar com a classe. A costura nos faz perceber que ao longo do curso todas nós nos relacionamos, com algumas pessoas mais do que com outras, fazemos parte de um todo, com objetivos em comum, e que mesmo sem desejar provocamos mudanças na vida das pessoas, e elas também provocam mudanças em nossa vida. Ouvir a história do outro nos faz respeitá-lo e compreendê-lo melhor, pois muitas vezes julgamos as atitudes das pessoas sem procurar entender o porquê delas agirem de determinada maneira. Como pedagogas, cotidianamente vamos

Ouvir 3.4 Olhar Autoria

213

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Algumas de nós foram entrevistadas pelas alunas do 4º Semestre de Pedagogia, que ainda não realizaram este trabalho. A cada pergunta feita, voltamos nosso pensamento, para situações que se encontravam adormecidas em nossa mente, e quando relembradas trouxeram consigo as mais variadas emoções. Da mesma maneira que o pedagogo materializa, mesmo que involuntariamente, as atitudes de professores que passaram por ele ao longo de sua formação, a costura da colcha assemelha-se a formação deste profissional, pois ao longo do seu percurso, muitos episódios serão marcantes, alguns positivamente, outros negativamente, e ficarão guardados em sua lembrança. Os episódios positivos servirão como base para situações semelhantes às quais ele possa vir a enfrentar, e os negativos podem incentivá-lo a realizar uma transformação que o leve a aperfeiçoar-se, tanto pessoalmente quanto profissionalmente.

costurar a teoria com a prática, compartilhar nossas experiências com o outro, e para isso precisamos saber nos expressar e ouvir o que o outro tem a nos dizer.

214

ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos

Narrador 29

Borboleta Citrino

No começo achei essa ideia um pouco estranha, pensei logo que seria chato, que não iria dar certo, mas com o passar dos dias fui entendendo o que seria esse trabalho, o significado dele, e logo me peguei pensando no que faria como faria... É engraçado, pois quando alguém nos mostra algo novo, algo que temos que fazer por nós mesmos logo negou, falamos que não vai dar certo ou que vai dar muito trabalho, só pelo fato de que somos nós, e só nós, que temos que fazer.

No começo achei essa ideia um pouco estranha, pensei logo que seria chato, que não iria dar certo, mas com o passar dos dias fui entendendo o que seria esse trabalho, o significado, e logo me peguei pensando no que faria como faria... É engraçado, pois quando alguém nos mostra algo novo, algo que temos que fazer por nós mesmos logo negou, falamos que não vai dar certo ou que vai dar muito trabalho, só pelo fato de que somos nós, e só nós, que temos que fazer.

Sentimento 3.2 Casulo Autoria