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ISSN 2317-661X Vol. 12 – Num. 01 – Abril 2017
www.revistascire.com.br
EDUCAÇÃO ESPECIAL: REFLEXÕES SOBRE AS NECESSIDADES
EDUCACIONAIS DE UMA TURMADA ESCOLA MARIA AMÉLIA DE
PAULA BARBOSA-PE
Emanuelly Maria BarbosaLEAL1; Jéssica Souza daROCHA1; Maria Adrielly Pereira da
SILVA1; Nair Barbosa da SILVA1;Massillania GomesMEDEIROS2
1. Alunos do Curso de Licenciatura em Pedagogia da
2. Professor Orientador do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UVA/UNAVIDA.
RESUMO: Este trabalho teve por objetivo refletir sobre as dificuldades que professores encontram ao trabalhar
com alunos com necessidades especiais em suas salas de aula. Neste sentido, nos dirigimos a uma turma do
Infantil I da escola Maria Amélia de Paula Barbosa, localizada no município de Surubim-PE, objetivando
aplicar, durante três dias, uma sequência didática previamente elaborada, cujos objetivos eram, a partir do
conteúdo de leitura, despertar nos alunos a vontade pela busca do conhecimento, bem como a reflexão a partir
das diferenças, principalmente no que se refere ao autismo. A experiência nos mostrou que ainda precisamos
desenvolver muitas estratégias que facilitem a inclusão de fato, e não apenas para cumprimento a lei, mas
percebemos que o trabalho que se dá por meio da leitura lúdica pode se mostrar bastante eficaz para envolver a
turma e despertar o prazer pela leitura e suas capacidades interpretativas. Para tanto, tivemos por base Araújo
(1996), Ferreira (2002) e Rizzato (2001).
Palavras-Chave: Leitura lúdica; Inclusão; Autismo.
ABSTRACT: This study aimed to reflect on the difficulties that teachers are working with students with special
needs in their classrooms. In this sense, we turn to a class of Child I school Maria Amélia Paula Barbosa, located
in Surubim-PE district, aiming to apply for three days, a previously prepared didactic sequence, whose
objectives were, from reading content , awaken in students the desire for the pursuit of knowledge and the
reflection from the differences, particularly with regard to autism. Experience has shown us that we still need to
develop many strategies that facilitate the inclusion of fact, not only to comply with the law, but we realized that
the work is done through the playful reading can prove very effective to engage the class and awaken joy of
reading and its interpretative capabilities. To this end, we based Araujo (1996), Ferreira (2002) and Rizzato
(2001).
Keywords: ludic reading; Inclusion; Autism.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho teve por objetivo refletir sobre as dificuldades que professores
encontram ao trabalhar com alunos com necessidades especiais em suas salas de aula. Neste
sentido, nos dirigimos a uma turma do Infantil I da Escola Maria Amélia de Paula Barbosa,
localizada no município de Surubim-PE, objetivando aplicar, durante três dias, uma sequência
didática previamente elaborada, cujos objetivos eram, a partir do conteúdo de leitura,
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despertar nos alunos a vontade pela busca do conhecimento, bem como a reflexão a partir das
diferenças.
Diante deste contexto, um aluno em especial chamou-nos a atenção, pois ele é
portador de autismo (transtorno global do desenvolvimento caracterizado pela não interação
social e comunicativa) e, com um foco especial nele, desenvolvemos atividades que
promovessem a sua inclusão de fato, tendo por base o conteúdo de leitura lúdica, enfatizando
o conto Os músicos de Bremen.
Nesta perspectiva, destacamos a literatura infantil no contexto da inclusão de
alunos/as especiais no ensino regular, com a finalidade de sugerir novas práticas e fazer com
que os alunos sejam provocados a algo novo e diferente.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A educação especial é a parte da educação que se ocupa de disponibilizar
atendimento adequado para pessoas com deficiência, seja em escolas regulares e/ou em
ambientes especializados, como exemplo escolas para deficientes auditivos, deficientes
visuais e deficientes mentais. No Brasil, a educação inclusiva é uma realidade que se faz
presente. Desde a Declaração de Salamanca (1994), as escolas de ensino regular têm a
obrigação de se adequar para atender alunos com necessidades educacionais especiais.
Sabemos que a inclusão de um indivíduo na sociedade depende do patrimônio
cultural que ele recebe isto faz da educação um pilar fundamental para o desenvolvimento
deste, pois é objetivo da educação adaptar e ajudar no desenvolvimento das potencialidades,
contribuindo na construção da personalidade e caráter de cada ser humano.
A educação inclusiva é uma temática que vem ganhando significativo espaço nos
debates em torno da construção de uma educação de qualidade. No entanto, discutir a
educação inclusiva implica também refletir sobre as políticas públicas educacionais, sobre os
modelos construídos para abordarem o fenômeno educativo e sobre as dificuldades e
obstáculos que a instituição escolar deve transpor para que, de fato, venha a ser uma escola
para todos. Nesta perspectiva, discutiremos a importância da educação inclusiva para a
formação de alunos com necessidades especiais, em destaque os autistas, (as crianças autistas
apresentam transtorno global do desenvolvimento, caracterizado pela não interação social e
comunicativa).
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O autismo é considerado um dos desvios comportamental mais estudado e debatido,
entretanto, tem ainda suas causas desconhecidas, levando pesquisadores a se posicionarem em
dois grandes segmentos de teorias que se opõem: a psicogenética e a biológica. Em nosso
trabalho não abordaremos nenhum destes segmentos, visto que nosso objetivo principal é
discutir acerca de como alunos/as autistas estão sendo incluídos no ensino regular.
Ao analisarmos historicamente o contexto da educação inclusiva, tomamos
conhecimento de que as crianças autistas necessitam de abordagens educativas específicas,
visto que, não há como separar o desenvolvimento cognitivo, do afetivo e, de sua essência
biológica. O/a aluno/a autista deve ser analisado em sua particularidade. Nesta perspectiva,
podemos entender melhor como se dá o caminho conceitual da proposta da integração e da
inclusão de crianças autistas no âmbito institucional.
No que diz respeito à institucionalização, percebemos que a escola tanto em seu
aspecto físico quanto social, continua do mesmo jeito. Não houve nenhuma mudança para
adequá-la a nova realidade. Ou seja, pela LDB/96 a escola não pode se recusar a receber o
aluno com necessidades especiais, mas antes ela precisa se adequar. Entretanto, o aluno é
inserido no contexto escolar, mas não recebe o tratamento necessário para realmente fazer
parte deste sistema de inclusão. Na realidade, a integração que deveria promove a interação
nos grupos sociais, de maneira ativa com direitos e deveres estabelecidos, não passa de uma
teoria. Pois, o processo de integração que visa ao ajustamento do aluno à escola não depende
exclusivamente do professor que irá trabalhar com este aluno.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) em vigor “haverá,
quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às
peculiaridades da clientela de Educação Especial”, e, quando isso não for possível, “o
atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados”.
Entretanto, não é bem isso o que vemos. Na prática, os alunos estão sendo inseridos nas
escolas regulares, mas suas necessidades educacionais não estão sendo supridas porque a
escolar não disponibiliza de recursos que os atendam e/ou porque os profissionais da
educação ainda não estão sendo preparados para atender estas necessidades. Integrar/inserir
não significa incluir.
Complementando este discurso, Mantoan (2006, p.) diz que:
Os termos integração e inclusão, muitas vezes, são utilizados para expressar
situações consideradas semelhantes, mas adverte que os seus processos de
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construção teórico-metodológicos são distintos e fundamentam-se em momentos
históricos diferentes.
O processo de inclusão vivenciado pela educação brasileira está longe de ser uma
realidade satisfatória. Pois como já foi mencionado, integrar não significa incluir. E é
justamente a integração o que vem ocorrendo nas escolas brasileiras. Complementando esse
discurso, Sassaki (2006, p.33), explica que “a integração é representada pelo esforço
unilateral por parte da criança ou da família e considera as diferenças como uma dificuldade
para a aceitação”. O processo de integração visa ao ajustamento do aluno à escola e, o de
inclusão visa à adequação da escola para atender o alunado com necessidades especiais.
Diante dessa realidade, podemos dizer que o movimento de inclusão apresenta sérios
problemas. Muitos deles ocasionados pela má organização do sistema nacional de educação,
pela falta de comprometimento por parte dos órgãos públicos e também pela má formação dos
profissionais que trabalham com alunos que apresentam algum tipo de necessidade, isso sem
falar das não adequações das escolas.
Diante das mudanças nas legislações, as práticas de ensino têm originado algumas
confusões conceituais. Segundo Oliveira (2009) é necessário repensar o cotidiano,
possibilitando transformações no âmbito educacional e mudanças no ambiente escolar. Já
Mendes (2003, p.33) diz que “a inclusão não é algo para ser feito para uma pessoa, mas sim
um princípio que fornece critérios através dos quais os serviços devem ser planejados e
avaliados”.
Assim sendo, devemos levar em conta que o objetivo do movimento de inclusão é
uma proposta de ensino que atenda todos os alunos com necessidades especiais, respeitando
seu estilo de aprendizagem, ritmo, nível de desenvolvimento intelectual e característica do
funcionamento cognitivo.
No Brasil, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva (2008) inclui uma variedade de deficiências. Entretanto, esta realidade brasileira
nem sempre se fez presente no decorrer do processo histórico.
Complementando este discurso, Araújo (2000, p. 2) argumenta que:
[...] na antiguidade Clássica as crianças deficientes eram abandonadas e mesmo
eliminadas por não serem consideradas aptas para a arte de guerrear, durante a Idade
Média, com a difusão da doutrina cristã, instituições asilares foram criadas para
recolher indiscriminadamente loucos, prostitutas, mendigos e excepcionais, uma vez
tratarem-se “filhos de Deus”, incapacitados para uma vida social e econômica
aceitável.
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Nesta perspectiva, podemos dizer que ensinar crianças e jovens com necessidades
educacionais especiais (NEE) ainda é um grande desafio. Pois, nos últimos dez anos, período
em que a inclusão se tornou realidade, o que se viu foi a escola atendendo a essa nova
clientela sem ter uma preparação adequada, ou seja, não estava e nem está capacitada para
receber tais alunos.
Se analisarmos o cotidiano escolar de alguns municípios, encontraremos muitos
professores que acolhem alunos com deficiências ou transtorno global de desenvolvimento
(TGD) em suas salas de aula, mas não trabalham adequadamente atendendo tais necessidades
por falta de apoio governamental, de recursos e de formação especializada.
No que diz respeito a este fato, vejamos o depoimento abaixo de uma professora que
no ensino regular atende crianças com necessidades especiais:
Trabalhar com alunos especiais requer muita atenção e formação profissional. Mas,
infelizmente nós professores não somos preparados para atender essa clientela.
Existem leis que nos obrigam a receber tais alunos em nossas salas de aulas,
entretanto, os governos não nos fornecem nenhum recurso apropriado para isso.
Muitas vezes, pedimos apenas uma auxiliar e não somos atendidos (Luzinete
Barbosa da Silva, 2016).
Geralmente, as salas de aula regulares, estão abarrotadas de alunos/as e, mesmo
incluindo alunos/as com necessidades especiais, não há a preocupação dos responsáveis em
diminuir essa quantidade ou fornecer um profissional que auxilie o professor titular. Não há
nenhuma lei que ampare os educadores diante desta questão, diminuir o número de alunos nas
salas que tem NEE não é cogitado pelas autoridades. Assim, cabe aos professores brincar de
faz de conta, faz de conta que realmente está ocorrendo uma educação inclusiva de qualidade.
Diante desta perspectiva, percebemos que a educação especial é uma educação
organizada para atender especifica e exclusivamente alunos com determinadas necessidades
especiais. Apesar de possuir os mesmos objetivos da educação vivenciada no ensino regular, a
educação especial enfatiza o atendimento, ou seja, cada aluno irá receber atendimento de
acordo com suas necessidades. No caso de alunos autistas, existe uma metodologia apropriada
que o educador deverá dominar para trabalhar de maneira satisfatória com estes alunos.
No que diz respeito à legislação que assegura a inclusão no ensino regular,
destacamos o art. 58 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394 de 20 de
dezembro de 1996 que diz que “entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
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modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para
um educando portador de necessidades especiais”.
Sabendo disso, percebemos que educar uma criança com necessidades especiais
autista exige encantos, magias, compromisso e preparo. Pois, ensinar não pode ter padrão
específico, ideias específicas. Se quisermos mudanças temos que trabalhar com algo novo,
estabelecer ideias dinâmicas, capazes de manter o/a aluno/a com atenção voltada para o
universo da sala de aula, apesar de suas necessidades fazer com que ele/a interaja com
seus/suas colegas. Ou seja, temos que inovar diariamente para que haja interação e
comunicação dos/as alunos/as autistas com seus pares.
Uma dessas inovações que podem ser utilizadas em sala de aula, e a literatura
infantil. Esse método é bastante utilizado pelos professores do ensino regular, pois desperta a
curiosidade do aluno ao mostra histórias que possam refletir de forma imaginária. Como por
exemplo, animais falantes, objetos que se mexem e assim por diante. Neste sentido, é que
observamos que o poder público não está cumprindo com seus deveres, pois se os alunos não
estão tendo este direito de usufruírem de profissionais capacitados, logo, percebemos que seus
direitos não estão sendo respeitados. De acordo com FREIRE, em relação aos direitos do
cidadão:
[...] se faz necessário, neste exercício, relembrar que cidadão significa
indivíduo no gozo os direitos civis e políticos de um Estado e que cidadania
tem que ver com a condição de cidadão, quer dizer, com o uso dos direitos e
o direito de ter deveres de cidadão. (Freire, 2001:45).
No que diz respeito à prática educacional destinada ao atendimento as crianças com
necessidades especiais autistas, percebemos que nas últimas décadas vem sofrendo
modificações em seus aspectos históricos, culturais e sociais. Inovar todos os dias não é tarefa
fácil, mas se houver desejo, assessoria e disponibilidade, podemos testar muitas habilidades
em salas de aulas. Tais habilidades, com toda certeza irão ajudar no desenvolvimento
intelectual destes alunos. Pois, o progresso apesar de lento está acontecendo. E, hoje, a
educação especial, lançar olhar para o futuro, e assim, busca refazer a prática pedagógica,
observando as modificações estruturais do mundo com a finalidade de aliar cada vez mais
teoria com a prática para desta forma obter resultados positivos.
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A escola tem um papel fundamental neste processo de aprendizagem, pois é a partir
dela que os/as alunos/as autistas terão acesso ao mundo do conhecimento, a escola juntamente
com os órgãos governamentais tem o objetivo de fornecer materiais didáticos adaptados,
oferecer cursos aos educadores com a finalidade de conhecer novas práticas de ensino e
adaptação no currículo escolar.
De acordo com Coll (2004, p.43) “Quando uma escola estabelece entre seus
objetivos prioritários a inclusão de todos os alunos fica mais simples transferir a estratégia
posteriormente à prática educativa nas salas de aula”. Desta forma a escola deve estar
empenhada com a mudança, com a modificação da cultura e da organização da escola, para
desta forma poder oferecer uma educação de boa qualidade, principalmente, para aquelas
crianças com necessidades especiais autistas.
A educação especial é uma modalidade do sistema educacional que deve ser
oferecido para todos que dela necessitam. Entretanto, ainda há alunos/as com necessidades
especiais vivendo no interior das salas, abandonados, só contando em ser mais um número,
quando na verdade, deveriam estar incluídos nas salas de aula e recebendo uma educação com
qualidade, capaz de responder a todas as suas necessidades. E hoje, apesar das pessoas com
necessidades especiais terem seus direitos garantidos por várias leis e estarem cientes disso,
ainda existem aquelas que continuam excluídas do processo de ensino/aprendizagem.
3. DESCRIÇÃO DA ESCOLA
O nosso campo de estudo foi a Escola Municipal Maria Amélia de Paula Barbosa,
que é uma instituição de ensino inserida na perspectiva inclusiva. Já a turma onde o trabalho
foi realizado apresenta uma situação precária, principalmente quanto ao fato de que há muitos
alunos com necessidades especiais, e somente uma professora para atendê-los, sem auxiliar.
A escola, que tem como proposta educacional acolher e dar condições para que seu
alunado possa exercer suas atividades de maneira satisfatória no processo de
ensino/aprendizagem, está localizada na zona urbana da cidade de Surubim – PE. A clientela
da escola são alunos/as da educação Infantil e do Ensino Fundamental I.
Grande parte da comunidade escolar é constituída por pessoas de baixa renda, o
bairro em que a escola se localiza é de fácil acesso, a escola apresentar cômodos amplos e
arejados para melhor comodidade das crianças, principalmente as salas de aula que
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comportam adequadamente os alunos. Mesmo assim, ela ainda não está totalmente adequada
à realidade inclusiva.
4. RELATO DA EXPERIÊNCIA
No primeiro dia em que fomos para a sala de aula, iniciamos com uma breve
apresentação da nossa equipe, destacando o que iríamos trabalhar durante os três dias de
estágio. Em seguida, abordamos a história “Os músicos de Bremen” a mesma foi trabalhada
durante nossos encontros. Depois mostramos a “Caixa Surpresa”, pois iniciamos a história a
partir desta dinâmica. Ao vê-la, todos ficaram radiantes, ansiosos, formamos um círculo e, na
medida em que a caixa ia circulando entre eles, cada um ia retirando de dentro uma gravura e
ficavam se perguntando qual seria a função de cada elemento daqueles dentro da história,
neste momento o aluno em observação demonstrou um grande interesse pela dinâmica ,
Quando todos estavam entrosados com as gravuras, começamos a questioná-los: se gostavam
de histórias, se gostavam de instrumentos e se gostavam de animais, e a partir das respostas
fomos contando a história com a ajuda dos próprios alunos.
Em nossos encontros, sempre estávamos retomando a discussão acerca da história
“Os músicos de Bremen” e percebemos que todos ainda continuavam impressionados. Eles
gostaram tanto da história que nos lançaram várias perguntas, dentre elas uma nos
impressionou muito, animais falam? Naquele momento, paramos um pouco e, em seguida,
apresentamos trechos que mostravam animais falando, assim fizemos com que eles
compreendessem que nessa história todos os animais falavam!
Percebemos que, quando possibilitamos aos alunos que exponham a sua opinião, eles
conseguem expandir a sua imaginação e verdadeiramente participar daquilo que é proposto
como conteúdo. A aluna que nos fez a pergunta não era das mais tímidas da turma, mas a sua
pergunta demonstrou a sua capacidade imaginativa evidenciada, possibilitando aos demais a
ideia de que também poderiam reagir da mesma forma.
Continuamos trabalhando a mesma história com pinturas, entregamos uma atividade
onde nela estavam todos os personagens da história e pedimos para que eles a colorissem da
melhor maneira possível, neste momento nos chamou atenção à atitude do aluno já citado,
pois o mesmo apenas rabiscou a atividade e logo após amassou fazendo a mesma rotina,
rabiscando e amassando. Depois deste momento montamos um cantinho da leitura com vários
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livros que levamos para proporcioná-los novas experiências no mundo da fantasia. Eles
ficaram felizes com a presença de tantas histórias, ficaram tão curiosos que queriam conhecer
todas ao mesmo tempo. Como não teríamos tempo de contar todas elas, escolhemos outra
versão da história “Os músicos de Bremen” e sugerimos que os mesmo procurassem tais
livros para ler nos momentos livres, nos momentos de descontração.
Observamos um grande encantamento por eles, principalmente pelo aluno em
observação, pois tudo isso não fazia parte do seu roteiro escolar, contamos a segunda versão e
finalizamos nossos encontros com o agradecimento à professora e aos alunos por terem se
empenhado tanto, em nosso trabalho. Realizamos um momento de descontração onde
fazíamos perguntas relacionadas ao texto trabalhado onde cada resposta correta os alunos
ganhariam uma bala como prêmio.
Percebemos que eles ficaram muito felizes, pois, observamos que nosso objetivo foi
realmente alcançado, pois nestas aulas conseguimos a participação do aluno autista, a história
foi realmente compreendida não apenas pelas crianças ditas “normais”, mas também por
aquelas que apesar de suas dificuldades de interação compreenderam a história e participaram
da aula.
O nosso destaque foi o aluno já mencionado, ele se sentiu muito a vontade e quis
sempre participar de todas as brincadeiras, todas as atividades, de todos os momentos em que
nós proporcionamos a toda à turma.
5. AVALIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Esse ciclo de nosso estudo foi de grande importância a nós universitários,
principalmente no que diz respeito a nossa formação acadêmica, pois, conseguimos alcançar
parte dos nossos objetivos, contribuindo assim para o processo de ensino/aprendizagem do
alunado da escola Maria Amélia de Paula Barbosa. Tais experiências contribuíram bastante
para nossa vida profissional, já que através delas passamos a refletir sobre a importância do
papel do professor na sala de aula. Também descobrimos como trabalhar com crianças
especiais no contexto da escola regular. Mesmo com tantas dificuldades, vimos que é possível
desenvolver atividades que despertem nas crianças com necessidades especiais, o gosto e o
prazer pela aprendizagem. Dentre outras possibilidades, percebemos que isso é possível
trabalhando sempre de maneira lúdica.
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Sentimos prazer ao término de nossa experiência, porque além de cumprir com nosso
dever, percebemos que os alunos aprovaram a nossa participação, porque nos receberam de
forma positiva, carinhosa e realizaram todas as atividades propostas com entusiasmo. A
professora titular também nos apoiou bastante, ficou todo o tempo observando, e, sempre que
necessário nos dava total apoio. Diante deste contexto, podemos dizer que estamos realizadas
ao termino desta fase de nossos estudos porque alcançamos todas as metas que foram
colocadas em questão.
Entretanto, nota-se o quanto foi necessário que déssemos o nosso melhor para que
nada saísse errado. Houve alguns contratempos, mas nada que pudesse impedir a realização
de nossas atividades. O importante é que no final ficou o sentimento e a satisfação do dever
cumprido. Nós conseguimos interagir como pudemos e sempre buscando uma maneira muita
divertida para chamar a atenção dos alunos, em especial a criança com necessidade especial,
que sempre vinha atrás de algo diferente que não tinham no seu meio. Enfim, o trabalho foi
difícil, mais valeu à pena.
Por meio desse período vivenciado em sala de aula, percebemos as dificuldades com
que muitos profissionais da educação se deparam ao receber uma criança com necessidades
especiais, e como eles têm que se adaptar aquela realidade, onde muitas vezes não há
materiais adequados para trabalhar com elas. Além da não capacitação para a dura realidade
da inclusão no ensino regular, o maior desafio dos professores, é tentar motivar as crianças
com necessidades especiais sem nenhum material de apoio.
Procuramos utilizar uma metodologia em que o aluno pudesse apropriar-se de
conhecimentos de forma diferente e através de uma aula expositiva com histórias infantis,
destacando a história “Os Músicos de Bremen” que despertasse nos alunos o gosto pela leitura
tornando a aula mais dinâmica e também prazerosa. Os resultados foram muito satisfatórios e
significativos porque eles amaram a história que foi lida para os mesmos com muito
entusiasmo e alegria, pois mostramos que é possível aprender com o universo da leitura,
deixando um gostinho de quero mais e sentiram-se motivados.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em nossa produção, refletimos acerca da inclusão das crianças com necessidades
especiais, em destaque as autistas, no ensino regular, enfatizando a carência dos profissionais
que trabalham diariamente com tais crianças. Para tanto, analisamos o contexto da escola
Maria Amélia de Paula Barbosa, instituição de ensino regular que trabalha com alunos/as
autistas.
Uma das questões mais complexas que se apresenta em nosso estudo é a falta de
coerência entre as leis de inclusão e a dura realidade das escolas brasileiras e de seus
profissionais. Por isso, nos deparamos com muita inserção e pouca inclusão, ou seja, muitos
alunos/as são inseridos anualmente no espaço escolar, mas os responsáveis nem
disponibilizam de recursos que atendam suas necessidades, nem seus professores são
preparados para essa realidade.
Para compreendermos melhor nosso objeto, fizemos um apanhado historiográfico,
destacando alguns exemplos de inclusão no cenário educacional brasileiro, tentando discutir
se realmente a forma como os/as alunos/as especiais, em destaque os autistas, estão sendo
inseridos no ensino regular, contribui para uma aprendizagem satisfatória.
Assim, objetivando contribui de alguma forma com os profissionais que trabalham
com alunos/as especiais, o presente estudo que tem propósitos que se aproximam dos estudos
de autores como Amaral (1995), Araújo (2000), MANTOAN (2002) dentre outros, busca
destaca a inclusão de crianças especiais no ensino regular, discutindo a inserção de alunos/as
autistas na Escola Maria Amélia de Paula Barbosa.
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