EDUCAÇÃO ESPECIAL NO CONTEXTO DAS ALTAS … · estaduais e no Distrito Federal, foram inaugurados...

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I MATRIC RIOS DE AZEVEDO SOUZA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO CONTEXTO DAS ALTAS HABILIDADES: O NÚCLEO DE ATIVIDADES DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO BAHIA SALVADOR 2008

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I

MATRIC RIOS DE AZEVEDO SOUZA

EDUCAÇÃO ESPECIAL NO CONTEXTO DAS ALTAS HABILIDADES: O NÚCLEO DE ATIVIDADES DE ALTAS

HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO BAHIA

SALVADOR 2008

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I

MATRIC RIOS DE AZEVEDO SOUZA

EDUCAÇÃO ESPECIAL NO CONTEXTO DAS ALTAS HABILIDADES: O NÚCLEO DE ATIVIDADES DE ALTAS

HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO BAHIA Monografia apresentada como exigência para obtenção do Grau de Licenciatura em Pedagogia para Educação Básica pela Universidade do Estado da Bahia sob a orientação da Profª. Dra. Isnáia Junquilho Freire.

SALVADOR 2008

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EDUCAÇÃO ESPECIAL NO CONTEXTO DAS ALTAS HABILIDADES: O NÚCLEO DE ATIVIDADES DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

BAHIA

MATRIC RIOS DE AZEVEDO SOUZA

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MATRIC RIOS DE AZEVEDO SOUZA

EDUCAÇÃO ESPECIAL NO CONTEXTO DAS ALTAS

HABILIDADES: O NÚCLEO DE ATIVIDADES DE ALTAS

HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO BAHIA

Monografia apresentada como exigência para obtenção do Grau de Licenciatura em Pedagogia para Educação Básica pela Universidade do Estado da Bahia sob a orientação da Profª. Dra. Isnáia Junquilho Freire.

Data de aprovação: ____/ ____/ _____

Banca Examinadora:

________________________________________________ Profa. Dra. Isnáia Junquilho Freire – Presidente da Banca Examinadora Universidade do Estado da Bahia – Orientadora

________________________________________________ Profa. Ms. Maria Naddija Nunes Bittencourt Universidade do Estado da Bahia – Departamento de Educação/Campus I ________________________________________________ Profa. Ms. Maria de Fátima Urpia Universidade do Estado da Bahia – Departamento de Educação/Campus I

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pois sem ele nada sou.

À família, fonte de suporte e de vibrações positivas, em todo e para todo tempo.

À Profa. Dra. Isnáia Junquilho Freire, pela oportunidade de crescimento, pelos incentivos, e

pelo intenso aprendizado no decorrer do desenvolvimento deste trabalho.

A todos os professores, por me guiar no caminho do conhecimento, em especial Profa. Maria

Naddija Nunes Bittencourt, Ângela Camargo Rodrigues, Maria de Fátima Urpia e Lívia

Britto.

A todos os colegas, pois sempre é um aprendizado estar na presença de outrem, com

concepções e visões de mundo diferentes (ou não!). Em especial, Raimundo Dias de Matos,

Alexsandro Pereira Esteves, Sidcley D. Caldas, Adson Alves Fernandes, Camile Viana,

Magno Guimarães, e os colegas que participaram juntos da turma do TCC: Cilene Oliveira

Silva, Edirute Silva Gabriel de Jesus, Ana Márcia Torres e Anderson Venicio Santos.

Ao corpo pedagógico do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação Bahia, por

terem aceitado a minha presença para realização da pesquisa. E também aos alunos, que me

acolheram no decorrer da pesquisa, e também contribuíram para o êxito desta.

Aos amigos, pelo entendimento que a ausência foi por uma razão maior.

Muito obrigado!

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Não é bastante ensinar uma especialidade. Através dela

o indivíduo pode tornar-se uma espécie de máquina útil,

mas não uma personalidade harmoniosa.

É essencial que o profissional adquira compreensão e

sensibilidade, viva para valores... tenha o senso do belo

e do moralmente bom.

Se tal não acontecer, com todo o seu conhecimento

especializado, ele parecerá mais um animal bem

treinado do que um ser humano.

Albert Einstein

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RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo realizar uma reflexão acerca da intervenção dos profissionais do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) Bahia junto aos estudantes identificados como portadores de altas habilidades. Foram também observadas e descritas atividades de ensino/aprendizagem no âmbito do NAAH/S Bahia. Além disso, identificaram-se elementos didático/pedagógicos utilizados para o acompanhamento de tais alunos, refletiu-se acerca da relevância da modalidade de educação especial para os sujeitos com altas habilidades/superdotação, e investigou-se como alunos e profissionais percebem a intervenção do NAAH/S Bahia. Participaram deste estudo cinco profissionais que compõem o corpo pedagógico e nove alunos que são atendidos no núcleo. Para a coleta de dados, utilizou-se de observações não-participantes e de entrevistas semi-estruturadas. Foi constatado que o NAAH/S Bahia se constitui num ambiente que se pretende estimulador, e também que as atividades realizadas junto aos alunos são intervenções pedagógicas pouco focadas na perspectiva de enriquecimento, do desenvolvimento das inteligências, conforme recomendações do MEC/SEESP. Reconhecer a relevância da educação especial para educandos com altas habilidades/superdotação é perceber que todos têm direito a uma educação que atenda às suas necessidades. Além disso, valorizá-la significa contribuir com uma sociedade melhor, pois tais estudantes podem vir a dar positivas e significativas contribuições, ao invés de se enveredarem por caminhos tortuosos, como a criminalidade.

Palavras-chave: educação especial, inteligência, altas habilidades/superdotação, talentos, NAAH/S Bahia

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ABSTRACT

This research aims to achieve a reflection about the intervention of professionals in the Activity Center of High Abilities/Giftedness (NAAH/S) from Bahia to students identified as individuals with high abilities. Activities of teaching/learning within the NAAH/S Bahia were also observed and described. Moreover, didactic/pedagogical elements used for the monitoring of such students were identified, the relevance of the form of special education for subjects with high abilities/giftedness was reflected on, and the way students and professionals perceive the intervention of NAAH/S Bahia was investigated. The subjects of this study were five that make up the pedagogical body and nine teaching students who are attended at the center. For data collection, non-participant observations and semi-structured interviews were used. It was verified that the NAAH/S Bahia is an environment that intends to be stimulating, and also that the activities carried out with the students are pedagogical interventions little focused on the perspective of enrichment, and of the development of intelligence, according to MEC/SEESP’s recommendations. Recognizing the relevance of special education for students with high abilities/giftedness is to realize that everyone is entitled to an education that meets their needs. Furthermore, promoting it means to contribute to a better society, because these students are likely to make significant and positive contributions, instead of embarking on tortuous paths, such as criminality. Keywords: special education, intelligence, high abilities/giftedness, talents, NAAH/S Bahia

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO.....................................................................10

CAPÍTULO II..................................................................................................13

2.1 INTELIGÊNCIA: CONCEITOS E TEORIAS.....................................................13

2.2 EDUCAÇÃO ESPECIAL DO PASSADO AO PRESENTE: PARADIGMAS E

AS LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS.........................................................................16

2.2.1 Educação Especial no contexto das altas habilidades: histórico, legislação

e conceitos.........................................................................................................20

2.2.1.1 Mitos e realidades: desvelando o conceito das altas

habilidades/superdotação.......................................................................22

2.2.1.2 Superdotação: o que é isso?.......................................................24

2.2.1.3 Legislação e documentos amparadores.....................................29

2.2.1.4 Serviços especiais: como suprir as necessidades educativas

destes sujeitos?......................................................................................30

CAPÍTULO III – METODOLOGIA...............................................................34

3.1 LOCAL E PARTICIPANTES................................................................................34

3.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS......................................................35

3.3 PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS..........................................35

CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS..........37

4.1 O CORPO PEDAGÓGICO REVELANDO O NAAH/S BAHIA..........................37

4.2 OS ALUNOS REVELANDO O NAAH/S BAHIA................................................46

4.3 OBSERVAÇÕES DAS ATIVIDADES..................................................................52

CAPÍTULO V – CONCLUSÃO.......................................................................55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................58

APÊNDICE A – OBSERVAÇÕES DAS INTERVENÇÕES

PEDAGÓGICAS...............................................................................................61

APÊNDICE B – ROTEIROS DE ENTREVISTAS........................................67

ANEXOS............................................................................................................68

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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

Compreende-se a educação especial como uma modalidade de educação escolar que

visa assegurar um conjunto de recursos e serviços educacionais especializados, a fim de que

se garanta a educação escolar e que se promova o desenvolvimento das potencialidades

daqueles que apresentam necessidades educacionais especiais, seja em quaisquer níveis,

etapas e modalidades da educação (BRASIL, 2001, Art. 3°, III). A partir desta conceituação,

o senso comum apenas identifica educação especial como sendo aquela destinada a

indivíduos portadores de deficiências (sejam elas físicas, sensoriais, ou intelectuais).

Entretanto, a educação especial também contempla a educação destinada aos alunos

com altas habilidades/superdotação (popularmente a estes alunos são atribuídos termos como

“gênio”, “prodígio”, “precoce”, “talentoso”). Assim, superdotação é um conceito que serve

para expressar alto nível de inteligência e indica desenvolvimento acelerado das funções

cerebrais (SIMONETTI, 2005). A definição brasileira, atual, considera os educandos com

altas habilidades/superdotação aqueles que apresentam grande facilidade no aprendizado,

levando-os ao rápido domínio de conceitos, procedimentos e atitudes (BRASIL, 2001, Art.

5°, III).

Apesar de possuírem uma dinâmica de aprendizado acima da média, esses estudantes

também necessitam de acompanhamento especial, seja por meio da educação inclusiva, ou

também em instituições que possam prover este atendimento diferenciado, acompanhando o

desenvolvimento dos alunos nos aspectos cognitivo, emocional e social.

Ao longo dos anos, tem-se associado à educação especial para alunos com altas

habilidades/superdotação bastantes mitos e concepções errôneas, o que tende a induzir não

só a opinião do público em geral, assim como a de alguns educadores, a ideologia de que tal

modalidade não necessita de tanto suporte.

Para que se alcance resultados satisfatórios em tal modalidade de ensino, requer-se

aprofundados estudos e reflexão, no tocante às concepções, metodologias e ações

pedagógicas. Além disso, é preciso também que haja uma grande interação e colaboração

entre educando, corpo pedagógico e a família.

No Brasil, a educação especial para alunos com altas habilidades/superdotação ainda é

uma modalidade de educação em estruturação. Ações mais incisivas a respeito do

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reconhecimento da modalidade começaram a ser tomadas a partir da Lei de Diretrizes e Bases

(1996). Dados do Censo Escolar referentes ao ano de 2005 informam que apenas 0,003% dos

alunos matriculados na educação básica foram classificados como portadores de altas

habilidades (BRASIL, 2006). De acordo com a Lei das Probabilidades, estima-se que numa

população qualquer a porcentagem desses indivíduos seria de 3 a 5% (GUENTHER, 2000).

Desta forma, os números revelam uma deficiência na identificação desses indivíduos, visto

que há diferença significativa entre as porcentagens. Com a implantação de Núcleos de

Atividades de Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S, cada um localizado nas capitais

estaduais e no Distrito Federal, foram inaugurados espaços especiais para o atendimento desta

clientela, e também para auxiliar nesta identificação ante as escolas.

Reconhecer esta modalidade de ensino como de grande importância, e investir na

mesma implicará na identificação de novos indivíduos portadores de altas habilidades, assim

como no proporcionar de um ensino mais adequado a estes jovens. Valorizar a educação

especial para alunos com altas habilidades/superdotação significa garantir o direito destes

sujeitos a ter suas capacidades e habilidades desenvolvidas, a ter oportunidades de expandir

seus potenciais, e em conseqüência disso ter a possibilidade de aumentar sua qualidade de

vida. Além disso, nenhuma sociedade moderna pode se dar o luxo de ignorar seus talentos

(IZQUIERDO, 1996 in GONZALEZ, 2007), haja vista que estes indivíduos podem vir a dar

contribuições expressivas à humanidade.

Assim, o presente trabalho tem como tema a educação especial no contexto das altas

habilidades. Interessa-nos a intervenção pedagógica do Núcleo de Atividades de Altas

Habilidades/Superdotação (NAAH/S) Bahia junto a estudantes na Escola Parque para o

desenvolvimento dos talentos destes jovens. Com este estudo, pretende-se tomar

conhecimento de como o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação

(NAAH/S) Bahia realiza o acompanhamento a sujeitos com indicativos de altas

habilidades/superdotação, partindo do pressuposto que um ambiente concebido para o

atendimento especial da clientela de alunos com indicativos de altas habilidades/superdotação

contribui para o desenvolvimento dos talentos destes jovens. Isto porque o NAAH/S Bahia é

provido de pessoal capacitado para orientar e estimular o educando. Além disso, supõe-se que

o contato com outros pares que tenham ritmos de aprendizado semelhantes (e com idades

semelhantes) também contribuirá para uma boa formação do estudante.

Desse modo, esta monografia tem como objetivo geral refletir sobre a intervenção

pedagógica do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) Bahia

junto aos estudantes na Escola Parque, e como objetivos específicos observar e descrever

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atividades de ensino/aprendizagem no ambiente do Núcleo de Atividades de Altas

Habilidades/Superdotação (NAAH/S) Bahia. Interessa-nos, ainda, identificar elementos

didático-pedagógicos utilizados nas intervenções junto aos alunos, discutir acerca da

importância da modalidade de educação especial para portadores de altas

habilidades/superdotação, e identificar o modo pelo qual os alunos e professores percebem a

intervenção do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) Bahia.

No segundo capítulo do presente trabalho, iremos abordar as bases teóricas que

cercam o trabalho, iniciando com a apresentação de conceitos da Educação Especial. Em

seguida, iremos apresentar alguns conceitos sobre inteligência. Na seqüência, discorreremos

acerca das altas habilidades, desde o seu histórico, passando pelas legislações e documentos

oficiais, terminologias, conceitos, características do indivíduo com altas habilidades, tipos de

serviços especiais para intervir pedagogicamente junto a este sujeito, e por fim relacionamos

alguns mitos comumente atribuídos ao portador de altas habilidades.

No terceiro capítulo, que corresponde à metodologia, iremos delimitar os sujeitos da

pesquisa, o local onde foram realizadas as observações, e os instrumentos de coleta de dados.

Em seguida, no quarto capítulo, apresentaremos os dados obtidos junto aos sujeitos da

pesquisa, e também realizaremos a discussão dos resultados. Finalmente, no quinto capítulo

iremos realizar as considerações finais, fazendo um paralelo entre a teoria e a prática

vivenciada no Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) Bahia, e

apresentando as conclusões e contribuições do trabalho.

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CAPÍTULO II

No presente capítulo, discorre-se sobre as bases teóricas que permearam este estudo.

Primeiramente, esclarece-se sobre conceitos e abordagens acerca da inteligência. Em seguida,

são introduzidos histórico, conceitos, e algumas legislações e documentos concernentes à

Educação Especial. Por fim, apresentam-se, em relação às altas habilidades/superdotação,

histórico, alguns mitos associados à temática, conceitos, legislações e documentos, e

alternativas de atendimento ao indivíduo portador de altas habilidades.

2.1 INTELIGÊNCIA: CONCEITOS E TEORIAS

Segundo a etimologia, a palavra ‘inteligência’ vem do verbo latino intelligere, que

significa discernir, distinguir, entender, conhecer, perceber, saber. Desmembrando a palavra

latina, temos dois termos: inter, que significa entre, por entre; e legere, que é escolher, eleger,

ler, surpreender (ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL, 1986).

Ao se remeter à inteligência em conversas informais, logo se é capaz de identificar

sobre o que o locutor fala. No entanto, na comunidade científica, este não é um termo

facilmente nem precisamente definido, podendo ser encontradas diversos conceitos (às vezes

bem distintos) acerca do mesmo.

Rabuske (1995) cita diversas conceituações para inteligência. Segundo o autor, o

psicologista Stern define inteligência como sendo a capacidade geral de um indivíduo

consciente ajustar seu pensar a novas exigências, ou seja, a adaptabilidade do sujeito a novas

situações. Binet correlaciona inteligência com “compreensão, invenção, administração e

crítica”. Arnold e Bowie (1986) apud Rabuske (1995) declaram que inteligência não é algo

que possa ser perfeitamente definido, dissecado, nem que desmontemos o cérebro. Simons

(1984 apud Rabuske, 1995) apresenta definições atribuídas a vários autores como os que se

seguem: Tearman, “capacidade de conceituar e de compreender o seu significado”; Vernon,

“capacidade geral de pensamento ou eficiência mental”; Burt, “habilidade inata, geral e

cognitiva”; Helm, “compreensão do essencial de uma situação e resposta reflexa apropriada”;

e Wechsler, “capacidade agregada ou global de um indivíduo agir com propósito de pensar

racionalmente, e de se adaptar eficientemente ao meio”.

Piaget (1978), com a sua teoria da epistemologia genética, entende inteligência como

uma adaptação. Prosseguindo, ele define adaptação como um equilíbrio entre assimilação e

acomodação. Assim, chegamos à conclusão que inteligência é esse ato de assimilar

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(incorporar dados das experiências) e acomodar (modificar os esquemas para ajustá-los aos

novos dados), chegando à equilibração. Já Gardner (1994) conceitua inteligência como a

capacidade de resolução de problemas ou de criação de produtos que sejam culturalmente

valorizados.

As abordagens concernentes ao estudo da inteligência vêm se mostrando dicotômicas.

O primeiro tipo é a abordagem quantitativa, a qual se concentrou na avaliação das diferenças

entre os indivíduos, visando basicamente à mensuração. É aquela dos conhecidos teste de

Quociente de Inteligência (QI), entre os quais podemos citar o Stanford-Binet, a escala

Wechsler de inteligência, e as Matrizes Progressivas de Raven. Já o segundo tipo focou em

desvelar as leis gerais de um comportamento inteligente, em se descobrir as diferentes formas

de cognição.

Continuando com as diferentes teorias acerca da inteligência, apresentamos três

abordagens quantitativas. A primeira, a teoria bifatorial de Spearman, baseia-se na idéia de

que existe um fator geral (G), que pode ser medido em quaisquer testes, atuante ao lado de

outros fatores (aptidões) específicos. Burt, por sua vez, define sua teoria como hierárquica de

habilidades mentais, e acredita que além do fator geral (G), existem ainda fatores de grupo,

que se revelariam em alguns testes e não em outros. Na verdade, sua teoria é uma variante da

teoria bifatorial de Spearman (ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL, 1986).

Outra teoria é a multifatorial de Thurnstone onde ele elenca sete fatores: inteligência verbal,

inteligência numérica, raciocínio em geral, memória, inteligência espacial, fluência verbal, e

rapidez de percepção (GARDNER, 1994; FALCÃO, 2001). Finalmente, Guilford critica tais

abordagens anteriores, afirmando serem insuficientes, pois ele chega à conclusão de que

existiriam 120 fatores diferentes (FALCÃO, 2001).

Dentre as abordagens qualitativas, iniciamos por Thorndike, que faz referência a três

tipos de inteligência, as quais são relacionadas aos campos de atividade nos quais a pessoa

pode se sair bem: inteligência abstrata, que está associada à facilidade ao lidar com

representações simbólicas (palavras, números, fórmulas, diagramas, códigos); inteligência

mecânica, que seria ligada à facilidade de lidar com máquinas e dispositivos mecânicos; e

inteligência social, que é o tato e vivacidade nos relacionamentos interpessoais. Segundo o

mesmo, esses três tipos estão inter-relacionados, apesar de que o indivíduo apresente destaque

em apenas um dos três tipos (idem, 2001).

Pereira (1995), numa perspectiva da teoria de Wallon, afirma que inteligência é o

conjunto de funções, atitudes, atividades e operações que possibilitam ao indivíduo a

interação com o meio, em diferentes domínios e direções. A primeira direção é a inteligência

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expressiva (ou de situações), que se apresenta no espaço das interações sociais. Outra direção

é a inteligência prática (ou espacial), a qual está voltada para o mundo físico, para a interação

com os objetos. Já a terceira é a inteligência teórica, que diz respeito à atividade intelectual

abstrata.

Uma teoria bastante significativa acerca da inteligência é a Teoria Triárquica de

Sternberg. Sternberg e Wagner (1993 apud BEE, 2003) argumenta que há três aspectos de

inteligência, os quais são: inteligência analítica, inteligência criativa, e inteligência prática. A

analítica está associada a planejamento, organização, memória, e inclui o que, de maneira

geral, se mede em testes de QI. A criativa (ou experiencial) é relacionada à percepção de

relações, a insights nas experiências. E a prática (ou contextual) é aquela conhecida como

“esperteza das ruas”, e está ligada a problemas da vida cotidiana, ao modelar e resolver com

habilidade problemas da vida real.

Outra teoria de grande relevância é a Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner

(1994). O autor apresenta sete tipos distintos de inteligência, a seguir:

• Lingüística: presume considerável domínio da tétrade lingüística (fonologia,

sintaxe, semântica e pragmática);

• Musical: domínio de tons, melodias, ritmos, timbres, canto;

• Lógico-Matemática: associada a abstrações, cálculos, classificações,

raciocínio, inferências;

• Espacial: percepção do mundo visual, orientação, reconhecimento de objetos e

cenas, representações gráficas, sensibilidade em relação às diversas linhas de

força presentes nas artes ou na natureza;

• Corporal-Cinestésica: capacidade de usar o próprio corpo de maneiras

diferenciadas e hábeis para propósitos expressivos;

• Intrapessoal: entendimento e orientação do próprio comportamento, acesso aos

próprios afetos e emoções;

• Interpessoal: observação e entendimento em relação aos sentimentos alheios,

distinção entre os seus aspectos íntimos e os de outrem (GARDNER, 1994).

Por fim, não poderia deixar de ser citada a inteligência emocional de Goleman (1995),

pois essa perspectiva tira o foco da cognição, que é o ponto central das abordagens

qualitativas de inteligência. Ao invés, ele define inteligência emocional como o conjunto de

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características que trazemos para a vida, tais quais: capacidade de auto-motivação, de

controlar impulsos, de se manter em bom estado de espírito, e de ser empático e

autoconfiante.

Tais abordagens qualitativas são bastante interessantes, uma vez que trazem visões

alternativas ao que se comumente fala sobre inteligência. Comumente, ao se pensar em

inteligência, pensa-se logo no QI, ou nos testes de verificação. Porém, tais mecanismos não

contemplam os diferentes aspectos trazidos nas teorias abordadas anteriormente, valorizando

apenas o conhecimento lingüístico e lógico-matemático, em detrimento dos demais. Assim,

um mau resultado num teste de QI não significa que o indivíduo não seja inteligente; por

outro lado, se um indivíduo com notável talento não é identificado como inteligente em

virtude do resultado do teste, isso só vem a reiterar que tais instrumentos não são suficientes

para identificação de sujeitos com inteligência superior. Sternberg e Wagner (1993 apud BEE,

2003) registram que no mundo além das paredes da escola outros tipos de inteligência podem

ser tão ou mais necessários que as habilidades medidas nos testes de QI. Outra questão

importante é que tais abordagens derrubam as teorias de inteligência baseadas num fator geral

(G), que acreditavam que se um indivíduo fosse notável em alguma área, em qualquer teste ao

qual ele fosse submetido teria resultado expressivo, o que se sabe que não é bem o que ocorre.

2.2 EDUCAÇÃO ESPECIAL DO PASSADO AO PRESENTE: PARADIGMAS E AS

LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS

No decorrer da História, a atenção voltada àqueles portadores de necessidades

especiais modificou-se bastante, a depender da visão de mundo de cada sociedade, em cada

um dos seus momentos históricos. Por muito tempo esses indivíduos foram marginalizados,

rejeitados, discriminados, tiveram seus direitos cerceados.

Na Antiguidade, a pessoa com limitações funcionais e necessidades diferenciadas era

simplesmente desprezada, abandonada, seja pelo medo de doença, ou que se pensava que a

deficiência fosse uma maldição dos deuses. Pode-se citar como exemplo a seleção biológica

dos espartanos, os quais eliminavam aqueles que nasciam com malformações e/ou

deficiências (FONSECA, 1995). Na Idade Média, com o surgimento da Igreja Católica, o

deficiente era entendido como um ser digno de pena, dependendo da boa vontade e caridade

humana. Inclusive, por volta do século XII, começaram a surgir as primeiras instituições para

abrigar os deficientes mentais. A partir da Inquisição, a concepção de deficiência passou a ser

metafísica, religiosa, e a pessoa deficiente era considerada demoníaca, ou a escolhida para

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purgação dos pecados dos seus semelhantes, tanto para o catolicismo, quanto para o

protestantismo. Já nos séculos XVI e XVII, com o surgimento da Medicina, a tese da

organicidade foi fortalecida. Em outras palavras, passou-se a acreditar que a deficiência não

era conseqüência de fatores espirituais, mas sim, naturais, biológicos (ARANHA, 2005).

A partir daí, começam a ser construídos conventos e asilos, onde as pessoas com

deficiência eram mantidas, com objetivo de tratamento, mas que na prática se constituía em

confinamento, isolamento da sociedade. Tal conjunto de práticas ficou conhecido como

Paradigma da Institucionalização. Esse modelo perdurou por séculos, até que por volta de

1960 começou-se a questionar a sua adequação e eficiência em recuperar e preparar as

pessoas para a vida em sociedade, por duas razões. Uma era o custo em se manter essa

população segregada, improdutiva, sendo oneroso à administração pública. E a segunda era a

efervescência das discussões acerca dos direitos humanos (e das minorias), impulsionada pela

elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Assim, criou-se o conceito

de integração, que se referia à necessidade de modificar a pessoa com necessidades especiais

para que esta pudesse ser inserida, e se tornasse útil à sociedade. Ou seja, torná-la o mais

“normal” possível. A sociedade deveria prover os serviços e recursos necessários a viabilizar

esta “normalização”. É o que se denominou de Paradigma de Serviços, o qual foi organizado

em três etapas: avaliação das necessidades, intervenção (oferecimento de atendimento e

recursos), e encaminhamento à vida em comunidade (Ibid).

Contudo, tal paradigma não demorou muito a ser criticado. Representantes da

academia científica e das próprias pessoas com deficiência perceberam as reais dificuldades

do processo de busca da “normalização”. Constatou-se que as diferenças não podem ser

simplesmente apagadas, mas sim administradas. Ao invés de serem negadas, a sociedade deve

reconhecer as pessoas com deficiências como cidadãs, detentores dos mesmos direitos que os

outros. Desta forma, assumiu-se que além de avaliar e capacitar as pessoas deficientes, deve-

se proporcionar a estes o acesso a todo e qualquer recurso da sociedade, independentemente

das suas individualidades. Tal conjunto de idéias ficou conhecido como o Paradigma de

Suporte. Com isso, passou-se a fomentar a Inclusão Social, diferindo da “normalização”.

Assim, prevêem-se intervenções decisivas e afirmativas no que diz respeito aos processos de

desenvolvimento do sujeito, e de ajuste da realidade social (Ibid).

Existem alguns documentos norteadores, que embasam filosoficamente a Educação

Especial, além de legislações relacionadas a tal modalidade de ensino como, por exemplo, a

Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), proclamada pela Assembléia Geral das

Nações Unidas, afirma que “todos os homens nascem livres e iguais, em dignidade e direitos”

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(Art. 1º). Continuando, “... sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,

religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento,

ou qualquer outra condição” (Art 2º, grifo nosso).

Ainda, aconteceu em 1994 a “Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais

Especiais: Acesso e Qualidade”, na cidade de Salamanca, Espanha. Nesta oportunidade foi

elaborada uma produção denominada Declaração de Salamanca e Estrutura de Ação em

Educação Especial, que trata de princípios, políticas e práticas na modalidade em questão.

Desta forma, os países signatários acordaram que:

• Todas as crianças, de ambos os sexos, têm direito fundamental à educação;

• Cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de

aprendizagem que lhe são próprios;

• Os sistemas educativos devem ser projetados e os programas aplicados de

modo que tenham em vista toda a gama dessas diferentes características e

necessidades;

• Os governos devem desenvolver uma pedagogia centrada na criança, capaz de

educar com sucesso todos os meninos e meninas, inclusive os que sofrem de

deficiências graves;

• As escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas

condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Além

disso, deveriam incluir crianças com deficiências e superdotadas, crianças de

rua e trabalhadoras, crianças de origem remota, pertencentes a minorias

lingüísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desavantajados ou

marginalizados. (UNESCO, 1994)

A Constituição da República Federativa do Brasil, assim como o Estatuto da Criança e

do Adolescente, asseguram à criança e ao adolescente “atendimento educacional

especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”

(BRASIL, 1988, Cap. 3, Seção I, Art. 208, III; BRASIL, 1990, Cap. IV, Art. 54, III). A Lei de

Diretrizes e Bases de 1996 (Lei nº 9394/96) reitera o direito ao atendimento especializado aos

portadores de deficiência, em seu Artigo 4º, e em seus Artigos 58º e 59º define Educação

Especial, seu locus, e os direitos assegurados no sistema de ensino, os quais são:

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• currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos,

para atender às suas necessidades;

• terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido

para a conclusão do Ensino Fundamental, em virtude de suas deficiências, e

aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os

superdotados;

• professores com especialização adequada, em nível médio ou superior, para

atendimento especializado, bem como professores do ensino regular

capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;

• educação especial para o trabalho, visando sua efetiva integração na vida em

sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem

capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os

órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade

superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora. (BRASIL, 1996)

Por sua vez, a Lei nº 7853, de 24 de outubro de 1989 estabelece normas para que as

pessoas portadoras de deficiências possam exercer os seus direitos individuais e sociais. Para

tal, em seu Artigo 2º, inciso I, preconiza as medidas a serem tomadas, as quais são: inclusão

da Educação Especial no sistema educacional de maneira abrangente, a todas as modalidades

e níveis; inserção das escolas especiais, de caráter privado ou público; oferta obrigatória da

Educação Especial na rede pública de ensino; obrigatoriedade do oferecimento de programas

de educação hospitalar, por prazo igual ou maior que um ano, onde haja portadores de

deficiência internados; direito aos benefícios garantidos a todos os estudantes; e, matrícula

obrigatória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particulares aos portadores de

deficiência que tenham capacidade de se integrar no sistema regular de ensino (MAZZOTTA,

2001).

Além destes, relevante citar também a Resolução CNE/CEB nº2, de 2001, que institui

as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica.

Gonzalez (2007) define Educação Especial como “o conjunto de recursos pessoais e

materiais colocados à disposição do sistema educacional para que este possa responder

adequadamente às necessidades que, de forma transitória ou permanente, alguns dos alunos

possam apresentar”. A Resolução CNE/CEB nº2 (2001), por sua vez, entende que Educação

Especial é:

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uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica. (BRASIL, 2001, p. 69)

Ainda segundo a Resolução CNE/CEB nº2 (2001), são considerados educandos com

necessidades educacionais especiais aqueles que venham a apresentar dificuldades elevadas

de aprendizagem ou limitações (seja de causa orgânica ou não), dificuldades de comunicação

e sinalização diferenciadas dos demais, e altas habilidades/superdotação. Tal modalidade de

ensino pode (e deve) ocorrer em todas as instituições escolares, sejam elas públicas ou

privadas, de quaisquer modalidades de ensino previstas na Lei de Diretrizes e Bases (1996).

Em caráter extraordinário, os serviços de educação especial poderão ser oferecidos em classes

especiais, escolas especiais, classes hospitalares e no domicílio (BRASIL, 2001).

Portanto, verifica-se que em termos filosóficos e legislativos o Brasil se encontra

bastante amparado. Cabe então aos órgãos competentes assegurar que os direitos dos

indivíduos com necessidades educacionais especiais sejam garantidos, que as normas e

diretrizes sejam cumpridas e seguidas, para que se tenha de verdade uma educação não igual

para todos, mas equalizadora, que respeite as diferenças entre os indivíduos.

2.2.1 Educação Especial no contexto das altas habilidades: histórico, legislação e

conceitos

Neste item apresenta-se o caminho percorrido pelas altas habilidades/superdotação no

decorrer da História, e alguns documentos e legislações que amparam tal modalidade de

educação. Além disso, discorre-se acerca de mitos que cercam o contexto das altas

habilidades, expõem-se conceitos relacionados, e também se mostram as alternativas de

atendimento para suprir as necessidades educacionais especiais dos alunos identificados como

participantes desta clientela.

Ao contrário do que se pode pensar, a superdotação não é uma questão que emergira

somente no século XX. O interesse pelos indivíduos que se destacam em relação aos seus

semelhantes devido ao fato de apresentar desempenho superior é antigo. Nos mais diversos

períodos históricos, nas mais diversas culturas encontram-se registros acerca de altas

habilidades/superdotação. Na Grécia Antiga, por exemplo, Platão defendia a idéia de que as

crianças que apresentassem indicativos de inteligência superior deveriam ser selecionadas e

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treinadas para o benefício do Estado (“crianças de ouro”). Em Esparta, a partir de tenra idade

os indivíduos considerados mais capazes fisicamente eram selecionados para compor o

exército, e os considerados mais capazes intelectualmente também eram privilegiados,

recebendo tratamento especial. Na China, há mais de 2000 anos antes de Cristo existia um

conjunto de exames a fim de selecionar as crianças que se destacavam, as quais passavam a

ser atendidas de maneira especial, e eram encaminhadas à Corte, tidas como um sinal de

prosperidade (ALENCAR, 2001).

Da mesma forma, existem relatos a respeito do tratamento especial aos mais talentosos

em outros momentos históricos chineses, na civilização turca (século XV), e na cultura

japonesa (séculos XVII a XIX), para que estes indivíduos pudessem ser estimulados e

tivessem condições de desenvolver as suas potencialidades (ALENCAR, 2001; FLEITH,

2007, vol. 1).

Em contrapartida, na Idade Moderna não foram concedidos benefícios a quem

apresentasse habilidades extraordinárias. Houve quem fosse punido, até mesmo com pena de

ateamento à fogueira, por apresentar capacidade de realizar o que parecia impossível para

outros indivíduos. Isso ocorrera no período do Renascimento, momento no qual a genialidade

era vista como um desvio, uma instabilidade ou doença mental (VIRGOLIM, 1997).

No Brasil, o primeiro registro de atendimento a superdotados é de 1929, quando foi

publicada a Reforma do Ensino Primário, Profissional e Normal do Estado do Rio de Janeiro,

onde se previu o atendimento aos super-normaes. No mesmo ano, a psicóloga russa Helena

Antipoff foi convidada para lecionar a cadeira de psicologia experimental na Escola de

Aperfeiçoamento Pedagógico em Belo Horizonte (DELOU in FLEITH, 2007, vol. 1). A

Profa. Helena Antipoff publicou uma série de estudos a respeito dos alunos com

potencialidades superiores, os quais ela denominava “bem-dotados”. O seu primeiro trabalho

na área foi iniciado em 1945, no Instituto Pestalozzi do Brasil, situado no Rio de Janeiro. Lá

ela dirigia reuniões com pequenos grupos de alunos identificados com potencial superior, e

realizava, com estes, estudos sobre literatura, música, teatro. Posteriormente, ela criou um

programa de atendimento ao superdotado na Fazenda do Rosário, em Ibirité-MG, voltado aos

alunos da zona rural e da periferia urbana (ALENCAR, 2001). Cabe aqui também citar mais

alguns programas contemporâneos aos de Helena Antipoff, como: a Fundação Educacional,

desde 1975, no Distrito Federal; a Fundação José Carvalho (em Pojuca-BA) que, iniciada em

1978, encerrou quinze anos após; o Projeto de Desenvolvimento e Investigação do Talento

(Poit), da Universidade Paulista, desde 1986; o Centro para Desenvolvimento do Potencial e

Talento (CEDET), de Lavras-MG, desde 1993, criado pela Professora Zenita Guenther; e

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mais recentemente, em 2007, a implantação dos Núcleos de Atividades de Altas

Habilidades/Superdotação (NAAH/S) em todos os Estados brasileiros e no Distrito Federal.

2.2.1.1 Mitos e realidades: desvelando o conceito das altas habilidades/superdotação

A partir de agora se discorre a respeito de alguns mitos, algumas interpretações

errôneas, alguns falsos conceitos que costumeiramente têm sido levados à tona pela

população, não só pelos pais, mas inclusive por uma grande parcela de educadores, psicólogos

e outros profissionais que atuam na área de educação especial com foco em altas habilidades.

Para tal, apresenta-se o Quadro 1, construído com a partir da discussão dos teóricos Winner

(1998), Guenther (2000), Alencar (2001), e Fleith (2007, vol. 1), que faz um comparativo

entre os mitos relacionados às altas habilidades/superdotação e o que de fato acontece.

Quadro 1: Altas habilidades/superdotação – Mitos x Fatos

MITOS FATOS

Superdotado e Gênio são sinônimos.

O superdotado nem sempre (na verdade, na maioria das vezes) irá apresentar desempenho surpreendentemente significativo e superior, com contribuições originais e grandiosas à humanidade. Costuma-se erroneamente utilizar como grau de comparação com o superdotado os grandes gênios da humanidade, como Mozart, Leonardo da Vinci e Einstein. Essa comparação que ainda é feita é um resquício dos primeiros estudos acerca da superdotação, como Terman, nos anos de 1920, que utilizava a nomenclatura ‘gênio’ para se referir às crianças com altas habilidades.

As crianças superdotadas seguem adiante para tornar-se adultos

criativos e eminentes.

Muitas crianças superdotadas, inclusive os prodígios, não se tornam eminentes na fase adulta, e muitos adultos eminentes não foram prodígios. Algumas continuam demonstrando competência e habilidade, porém sem brilhantismo. E aquelas que foram tratadas como peças de exibição pelos pais, às vezes negam o domínio inicial de aptidão.

O superdotado consegue se desenvolver sozinho, não

necessitando de ajuda alheia para tal, devido aos seus recursos

intelectuais.

Muitos desses indivíduos chegam a apresentar desempenho baixo, até abaixo da média, e na fase adulta não se tornam produtivos, justamente devido à falta de incentivos, de estímulo, de um ambiente favorável, que atenda às suas necessidades educacionais.

O superdotado apresenta rendimento acadêmico excelente.

Nem sempre ele é o melhor da classe. Muitos fatores podem acarretar num desempenho inferior, que podem ser individuais (baixa auto-estima, depressão, ansiedade, perfeccionismo, irritabilidade, não-conformismo, hostilidade e comportamento agressivo, déficit de atenção, necessidade de ser aceito), familiares (baixas expectativas parentais, atitudes inconsistentes dos pais a respeito das suas realizações, excessiva pressão, conflitos familiares, família que não oferece suporte, segurança e compreensão), educacionais (ambiente pouco estimulante, ensino centrado no professor, excesso de exercícios repetitivos, baixas expectativas do professor, padronização do conteúdo) e sociais (cultura anti-intelectualista, que prega rótulos discriminatórios e pejorativos, e maior valorização da beleza física que a inteligência, principalmente no gênero feminino).

A participação em programas especiais torna o superdotado

arrogante e vaidoso.

A prática tem indicado que isso não vem efetivamente acontecendo, e que quando o atendimento é de boa qualidade, o resultado são estudantes mais satisfeitos, entusiasmados, mais ajustados social e emocionalmente, crescendo em competência e habilidade.

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Quadro 1: Altas habilidades/superdotação – Mitos x Fatos (cont.) MITOS FATOS

Superdotados são meninos, franzinos, de classe média, e que

gostam geralmente de leitura.

A superdotação não escolhe sexo, etnia, classe social. As proporções de classe sócio-econômica entre os superdotados acompanham a distribuição sócio-econômica do local onde ele está inserido (sua cidade, seu país). Assim, constata-se que é decorrente deste mito que se encontram poucas meninas identificadas como portadoras de altas habilidades, além de número reduzido de identificações em algumas etnias, e tendência à valorização das habilidades acadêmicas em detrimento das outras categorias de inteligência.

A aceleração do aluno superdotado gera mais malefícios

que benefícios.

Resultados de pesquisas têm indicado que quando o processo é bem estudado antes de ser implementado, e bem acompanhado, por profissionais competentes e com sensibilidade, o aluno não se sente desajustado, e não diminui o seu rendimento acadêmico por estar em séries mais avançadas

O superdotado tem maior predisposição a apresentar

problemas sociais e emocionais.

As crianças superdotadas são melhores ajustadas, mais populares e mais felizes.

Nem um, nem outro. Muitos alunos com altas habilidades/superdotação caracterizam-se por um melhor ajustamento emocional e social. Em contrapartida, aquelas crianças extremamente superdotadas geralmente não têm interesses em comum com os seus pares, e são consideradas estranhas. Assim, tendem a se isolar, sendo recompensadas pelo tempo de solidão, pois o tempo pode levar ao desenvolvimento ainda maior de suas habilidades. Estas crianças também tendem, por outro lado, a tornarem-se extremamente críticas e arrogantes.

O bem-dotado nasce assim, e nada pode modificá-lo, nem para

melhor, nem para pior.

A superdotação é inteiramente inata.

A superdotação é inteiramente uma questão de trabalho duro.

O potencial proveniente do plano genético é grandemente influenciado por fatores externos (ambientais). Já existem provas de que a inteligência é algo que pode ser desenvolvido e aumentado, a partir de estímulos externos ao indivíduo. Ou seja, não podemos simplesmente associar dotação aos fatores genéticos, ou somente aos fatores ambientais. O que ocasiona num talento superior é uma sinergia entre estes fatores. As crianças comuns que são disciplinadas a trabalhar duro, podem também atingir altos níveis de habilidade, entretanto elas são dependentes de um apoio extensivo por parte de adultos, o que as diferencia das superdotadas, uma vez que estas requerem apoio e instrução mínimos para desenvolver suas potencialidades.

Superdotação é sinônimo de QI alto.

As crianças podem ser extremamente superdotadas em áreas não-acadêmicas do conhecimento, e por isso os testes de QI não irão apontar scores elevados. Geralmente, as crianças com superdotação musical também apresentam desempenho acadêmico acima da média, talvez em virtude da compreensão de notações de linguagem e número. Além disso, podemos citar o exemplo dos savants, que possuem QI extremamente baixos, mas apesar disso são deslumbrantes em algum domínio formal.

As crianças academicamente superdotadas possuem um poder intelectual geral, o que as torna

superdotadas em todas as matérias escolares (superdotação global).

Raramente a criança vai apresentar desempenho excepcional em todos os domínios acadêmicos. Os superdotados tendem a ser específicos em alguns domínios, e não é incomum o indivíduo mostrar-se excelente em um campo do conhecimento e não se destacar em outros campos.

Os superdotados são as crianças com alta habilidade acadêmica. Já os com alta habilidade artística ou

musical são talentosos.

É uma distinção falsa. Tanto as crianças com superdotação acadêmica quanto as artísticas mostram precocidade, divergência, e fúria por dominar.

As crianças superdotadas são criadas por pais exigentes, que os

levam a superdesempenhar.

As crianças não desenvolvem seus dons sem alguém que as encoraje, que as motive. No entanto, os pais não criam o dom. As crianças é que exigem dos pais, emitindo sinais de que necessitam de um algo mais, e os pais tentam adaptar-se a esta realidade. Porém, se há cobrança em demasia, a criança pode desistir de buscar ampliar suas competências, e se amargurar.

Fonte: Winner (1998), Guenther (2000), Alencar (2001), Fleith (2007, vol. 1).

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2.2.1.2 Superdotação: o que é isso?

Analisando a palavra “superdotação”, podemos perceber que ela foi formada do

prefixo “super”, e do substantivo “dotação”. “Super” agrega um valor semântico de superior,

de extraordinário, de excesso, de máximo. Já o substantivo “dotação” denota dom, dádiva,

habilidade incomum. Em outras línguas, os vocábulos empregados são bem semelhantes, com

significados equivalentes. A seguir alguns dos termos em outros idiomas e os significados

mais próximos, numa tradução literal: sobredotado (sobredotado - espanhol); superdotado

(superdotado – italiano); surdonné (sobredotado – francês); hochbegabt (muito dotado,

altamente talentoso – alemão); gifted (dotado – inglês) (DUARTE, 1992). É interessante

observar que o significado da palavra da língua inglesa é simplesmente “dotado”, ao invés de

“superdotado”, como observado nas outras línguas supracitadas. Não se encontra na literatura

norte-americana o termo supergifted, que teria mais equivalência com o termo empregado na

língua portuguesa.

Existem bastantes termos que podemos encontrar na literatura para rotular o indivíduo

que apresente alguma habilidade, algum talento, alguma potencialidade destacada. Podemos

citar, por exemplo, os seguintes: precoce, prodígio, gênio, idiot-savant, superdotado,

talentoso, bem-dotado. Segundo Virgolim (2007), a habilidade superior, a superdotação, a

precocidade, o prodígio e a genialidade são gradações de um mesmo conceito. A população

em geral ouve alguns desses termos, e na maioria das vezes os emprega de maneira

equivocada, já que é influenciada pela mídia, que tem contribuído também para a divulgação

errônea dos termos.

Precoces são os que apresentam, em tenra idade, alguma habilidade específica em

qualquer campo do conhecimento. Estes ainda não podem ser considerados como

superdotados, prodígios, ou gênios, pois não podemos antever o nível que este indivíduo irá

alcançar. Para tal, seria necessário acompanhar o seu desenvolvimento mais de perto. Nem

sempre uma criança precoce se torna um adulto eminente, apesar do destaque obtido na

infância. “Prodígio” é utilizado para designar a criança precoce que é uma especialista

extrema em uma área específica, apresentando inclusive nível de um profissional adulto.

Demonstram domínio rápido, e sem esforço aparente, e são extremamente raros na sociedade.

Podemos citar como exemplo de prodígios Wolfgang Amadeus Mozart, e o norte-americano

Gregory Smith. Já o termo “gênio” tem sido utilizado para se referir àqueles sujeitos que

contribuíram à humanidade de maneira original, significativa e excepcional, de grande valia.

Podemos elencar, como por exemplo, Leonardo da Vinci, Stephen Hawkins, Mahatma

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Gandhi, Heitor Villa-Lobos, e Edson Arantes do Nascimento, o Pelé (ALENCAR, 2001;

VIRGOLIM, 2007). Nem sempre um gênio é reconhecido ainda em vida, pois suas

contribuições podem ser tão vanguardistas que a sociedade da sua época não admita como

notável. Continuando, o idiot-savant é aquele com habilidade superior em alguma área

específica, porém possui um retardo mental. Esse indivíduo se destaca pela alta qualidade em

suas produções, porém se comporta primitivamente (FLEITH, 2007, vol. 1).

Segundo Virgolim (2007), os termos “pessoa com altas habilidades” e “superdotado”

são mais adequados para denominar aquela criança ou adolescente que apresente desempenho

superior em alguma área do conhecimento, comparado com a média. Assim, o superdotado

não necessariamente possui uma habilidade excepcional (ao nível de um prodígio, ou um

gênio). No meio científico, há uma grande discussão a respeito do emprego do termo

“superdotado”, uma vez que nos remete aos superpoderes, aos talentos sobrenaturais dos

super-heróis que tanto ouvimos falar, enfatizando a questão inatista do talento, em detrimento

da questão ambiental. Em virtude disso, muitos pesquisadores, inclusive Guenther (2000),

utilizam o termo “bem-dotado” ou “talentoso”.

Guenther (2000, p. 28) conceitua o indivíduo bem-dotado/talentoso como aquele que

tem “capacidade de desempenhar em elevado grau de qualidade, não apenas como indivíduo,

mas também em comparação com o grupo maior detentor de características semelhantes”. De

acordo com a mesma, a definição de capacidade elevada mais comumente aceita é baseada no

conceito de desempenho médio, que afirma que a distribuição de características humanas

segue o padrão de uma Distribuição Normal. Tal distribuição se aplica a situações onde

valores moderados são mais prováveis que valores extremos (DOWNING, 2003). Uma

característica importante da Distribuição Normal é que cerca de 68% dos valores estão a

menos de um desvio-padrão da média, cerca de 95% estão a menos de dois desvios-padrão em

relação à média, e cerca de 99,7% de todos os valores se encontram a menos de três desvios-

padrão em relação à média (TRIOLA, 1999; DOWNING, 2003). Segundo Guenther (2000), a

inteligência média está representada pelo intervalo que compreende a média mais ou menos

um desvio-padrão (aproximadamente 66% da população), os com inteligência acima e abaixo

da média estão representados pelos intervalos de um a dois desvios-padrão em relação à

média (aproximadamente 26% da população), e os excepcionais (superiores e inferiores) estão

representados pelos dois intervalos cuja distância em relação à média é superior a dois

desvios-padrão, o que corresponde a aproximadamente 3 a 5% da população (para cada um

dos intervalos). Assim, os indivíduos com capacidade elevada estariam representados pelo

intervalo dos excepcionais superiores. Como se pode perceber, a distribuição da inteligência

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média se aproxima do postulado na teoria da Estatística a respeito da Distribuição Normal. A

autora também reconhece que existem quatro expressões de talento diferenciadas, as quais

seriam: talento acadêmico (verbal, relacionado às áreas de Linguagem e Comunicação; ou

pensamento abstrato, associado ao desempenho nas áreas de Ciências e Matemática), talento

criativo (originalidade, pensamento holístico, intuição), talento psicossocial e talento

psicomotor.

Para Winner (1998), o superdotado é aquele que possui desempenho acima à média

em um ou mais campos do conhecimento, em comparação à população geral da mesma faixa

etária. Partindo desta definição, a autora identifica, assim como Guenther (2000), quatro

domínios de superdotação/talento: matemático, verbal, artístico e musical.

Segundo a Secretaria de Educação Especial, educandos com altas

habilidades/superdotação são aqueles que têm “grande facilidade de aprendizagem que os leve

a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes” (BRASIL, 2001, Art. 5°, III).

Ainda, são identificados como portadores de altas habilidades/superdotação ou talentosos:

[...] os educandos que apresentarem notável desempenho ou elevada potencialidade

em qualquer dos seguintes aspectos isolados ou combinados: capacidade intelectual

geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criativo-produtivo, capacidade de

liderança, talento especial para artes e capacidade psicomotora (idem, 1995 apud

VIRGOLIM, 2007, p. 28).

Para Renzulli (2003, p. 22), “comportamento superdotado consiste em pensamento e

ação resultantes de uma interação entre três grupamentos básicos de traços humanos”

(tradução nossa), os quais são: habilidade geral e/ou específica acima da média, alto nível de

comprometimento com a tarefa e alto nível de criatividade. Tal concepção de superdotação é

conhecida como a Teoria dos Três Anéis. As crianças superdotadas são aquelas que “possuem

ou são capazes de desenvolver este conjunto de traços e aplicá-los a qualquer área

potencialmente valorizada do desempenho humano” (Renzulli, 1978 apud Renzulli, 2004, p.

85). Segundo o autor, quando há a junção entre esses traços que ocorre o que ele chama de

“comportamentos de superdotação”. Além disso, o mesmo afirma que nem sempre o

indivíduo superdotado apresentará os três traços; logo, os comportamentos superdotados são

exibidos em determinados momentos e em determinadas circunstâncias, não vindo sempre à

tona (VIRGOLIM, 2007). Ainda segundo Renzulli (2003), existem dois tipos de

superdotação: escolar ou acadêmica, e produtivo-criativa. A escolar ou acadêmica é aquele

tipo mais equivalente ao tipo de conhecimento cobrado nas situações de aprendizagem

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escolar, onde são valorizados o raciocínio analítico, memória, e bom desempenho nas

atividades em geral. Já a produtivo-criativa é aquela cujos aspectos em evidência são o

desenvolvimento de idéias e/ou produtos, expressões artísticas, e de impacto sobre públicos-

alvo.

Guenther (2000) caracteriza as crianças bem-dotadas como crianças normais, como as

outras, mas que tem as suas diferenças devido aos fatores culturais aos quais cada uma está

submetida no meio em que convivem. Além disso, possuem as características relacionadas ao

talento, as quais a autora classifica em duas vias: vivacidade mental, e automotivação e

confiança. Vivacidade mental está associada aos seguintes fatores: curiosidade, gostar de

enfrentar desafios, senso de humor, boa memória, domínio sobre um considerável fundo de

conhecimento e informações, aprender com facilidade e por vários meios. Automotivação e

confiança estão relacionadas a: ter “cabeça própria”, independência, persistência,

compromisso com a tarefa e motivação interna, aceitar correr riscos, iniciativa,

responsabilidade e presença própria (podendo apresentar-se animadas, participantes,

confiantes e seguras, ou autocontidas e envolvidas com seus interesses pessoais). Por sua vez,

Renzulli & Reis (1997a apud VIRGOLIM, 2007) faz uma dicotomia entre as peculiaridades

dos indivíduos com superdotação acadêmica e produtivo-criativa. Para a acadêmica, ela

elenca as seguintes peculiaridades cognitivas: tira notas boas na escola, tem rico vocabulário,

gosta de questionar, aprende com facilidade e rapidez, apresenta longos períodos de

concentração, tem boa memória, perseverança, excelente raciocínio verbal e/ou numérico, é

consumidor de conhecimento, lê por prazer, tende a agradar os professores, gosta de ler livros

técnicos/profissionais, e tendência a gostar do ambiente escolar. As afetivo-emocionais são:

exigir de si mesmo metas irreais (que nem sempre poderá cumprir), perseverança nas

atividades motivadoras, necessidade de estimulação verbal, grande intensidade emocional,

paixão em aprender, e intenso perfeccionismo.

Para a superdotação produtivo-criativa, a autora menciona as seguintes características

cognitivas: não necessariamente tem QI superior, pensa por analogias, é criativo e original,

usa humor, demonstra diversos interesses, gosta de fantasiar, de brincar com as idéias, é

inventivo, produtor de conhecimento, não gosta de rotina, e encontra ordem no caos. As

afetivo-emocionais deste grupo são as seguintes: investem significativa energia emocional no

que fazem, apresentam preocupação moral precocemente, necessitam de professores sensíveis

aos seus sentimentos (frustração, raiva, paixão, entusiasmo, desespero), precisam da ajuda dos

adultos para persistir em suas tarefas ou serem mais eficientes, frequentemente questionam

regras/autoridade, sensibilidade/empatia, autoconsciência, perceptividade, capacidade de

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reflexão, senso agudo de justiça, e imaginação vívida. Já para Winner (1998), o superdotado

tem três características principais: precocidade, insistência em fazer as coisas do seu jeito, e

fúria por dominar (obsessão por aprender mais e mais a área na qual são precoces).

A mesma cita que, de maneira geral, as crianças superdotadas não têm problemas à

emoção nem à convivência social. Entretanto, não é raro encontrar alunos com potencial

acima da média que manifestam alguns problemas relacionados a essas questões, em sua

maioria das vezes conseqüência dos altos níveis de exigência que eles submetem a si mesmos.

Davis e Rimm (1994 apud FLEITH, 2007, vol. 1) faz uma relação de algumas características

que se associam a problemas emocionais mais freqüentes nos portadores de altas habilidades:

dificuldades nos relacionamentos sociais, dificuldade em aceitar críticas, resistência a

autoridades, recusa em realizar tarefas rotineiras e repetitivas, excesso de competitividade,

intensidade de emoções, preocupações éticas e estéticas, ansiedade, persistência e

autoconsciência elevada. A seguir, apresento o Quadro2 que ilustra algumas características

emocionais e possíveis problemas relacionados, construído a partir de afirmações encontradas

em Webb (1993 apud Alencar , 2001) , e Pardo e Fernández (2002 apud Fleith, 2007, vol. 1).

Quadro 2: Características da Superdotação e Possíveis Problemas

CARACTERÍSTICAS POSSÍVEIS PROBLEMAS

Perfeccionismo Expectativas pouco realistas e muitas horas de trabalho

com baixa produtividade Pensamento crítico elevado, em relação a si próprio e

aos demais Intolerante ou crítico dos demais, pode tornar-se

desencorajado, deprimido

Hipersensibilidade do sistema nervoso Hiperatividade e distração que levam a déficits de

atenção Iniciativa e auto-suficiência Tendência em dominar as discussões e atividades

Poder de concentração e comportamento dirigido para metas

Resistência a interrupções, negligencia tarefas ou pessoas, obstinação

Avançadas estratégias de análise e resolução de problemas, percepção de relações complexas entre

idéias e fatos, originalidade e criatividade

Visto pelos outros como fora de compasso. Pensamento divergente, provocando em seus pares discriminação e

rejeição

Rapidez na aquisição e retenção de informações Impaciência com a lentidão dos colegas, não gosta de

rotina nem repetição

Aprendizagem eficiente, boa memória, e capacidade de observação

Desenvolvimento de hábitos improdutivos de trabalho, pouca dedicação e interesse em buscar novas estratégias

de resolução de problemas, e baixo rendimento acadêmico

Ampla base de conhecimentos, amplas informações em áreas avançadas

Tédio em relação à escola e aos colegas, visto pelos outros como o “sabe-tudo”

Curiosidade, atitude questionadora Faz perguntas que incomodam o professor

Independência e inconformismo Repulsa por uma estrutura rígida de aula, rebeldia,

rejeita o que é imposto pelos pais, educadores e pares Sensibilidade e intensidade emocionais, desejo de ser

aceito Sensibilidade em relação às críticas ou rejeição, sente-se

diferente, alienado

Grande senso de humor Podem revelar-se sarcásticos e ofender aos que estão

próximos Fonte: Webb (1993 apud Alencar , 2001) , Pardo e Fernández (2002 apud Fleith, 2007, vol. 1)

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Além destes problemas de ordem social/emocional contemplados acima, encontram-se

indivíduos que, ao mesmo tempo em que possuem altas habilidades, apresentam “processos

diferenciados em seu desenvolvimento, tais como dificuldades de aprendizagem, dislexia,

síndrome de Asperger, entre outras condições [...]” (FLEITH, 2007, vol. 1, p. 61), fato este

que surpreende, pois tais condições são antagônicas em relação à superdotação.

O presente trabalho enxerga pontos positivos em vários autores. Guenther (2000)

possui uma linha humanista, visando o desenvolvimento integral do ser, ao invés de focar no

desenvolvimento dos talentos, como Renzulli o faz. Renzulli (2003) já envereda por uma

linha mais comportamentalista, insistindo bastante no termo “comportamentos superdotados”.

Ainda assim, vale ressaltar um ponto importante do seu trabalho quando ele fala que o

indivíduo não é “superdotado” todo o tempo, e que as altas habilidades ocorrem quando os

três fatores convergem (habilidade acima da média, envolvimento com a tarefa, e

criatividade). São fatores dinâmicos, e nem sempre o indivíduo vai apresentá-los no mesmo

instante. Sendo assim, ele evita classificar o indivíduo em superdotado ou não, preferindo

afirmar que o indivíduo tem ou não capacidade de “desenvolver comportamentos

superdotados”, e trabalha neste foco. Interessante também a definição de altas

habilidades/superdotação da Secretaria de Educação Especial, já que reconhece as múltiplas

inteligências, deixando de lado aquele conceito retrógrado de que o indivíduo com altas

habilidades seria somente aquele com alto QI, ou com desempenho acadêmico elevado. Por

fim, penso que Winner (1998) caracterizou o indivíduo superdotado com precisão, quando ela

enumera uma de suas peculiaridades como “ter fúria por dominar”. Esses sujeitos têm uma

motivação intrínseca, e a motivação de outros não é essencial para que eles tenham a sede por

conhecimento, por aprender. Essa “fúria por dominar” está relacionada também ao

envolvimento com a tarefa, levantado por Renzulli (2003).

2.2.1.3 Legislações e documentos amparadores

Cabe aqui elencar alguns textos de documentos oficiais que estão relacionados à

educação especial para altas habilidades/superdotação. A Constituição da República

Federativa do Brasil, promulgada em 1988, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº

8069, sancionada em 1990), estabelecem que é dever do Estado com a educação assegurar o

“acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação científica, segundo a

capacidade de cada um” (BRASIL, 1988, Cap. III, Seção I, Art. 208, V; idem, 1990, Cap. IV,

Art. 54, V).

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Conforme citado anteriormente, a Declaração de Salamanca também menciona o

termo ‘super-dotado’, versando que “ [...] escolas deveriam acomodar todas as crianças

independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou

outras. Aquelas deveriam incluir crianças deficientes e super-dotadas [...]” (UNESCO, 1994,

pg. 3). Já a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 (Lei nº 9394) vem a reiterar no seu Artigo 4º

aquilo que já havia sido postulado na Constituição Federal, e no Estatuto da Criança e do

Adolescente, no relativo ao dever do Estado de prover acesso aos mais elevados níveis de

ensino, pesquisa, e artes. Na mesma lei, o Capítulo V é inteiramente dedicado à Educação

Especial, e vale ressaltar o Artigo 59º, situado neste Capítulo, que fala no direito à

“aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados”

(BRASIL, 1996, Cap. V, Art. 59, II), e à “educação especial para o trabalho [...] bem como

para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou

psicomotora” (Ibid, Cap. V, Art. 59, IV). No que tange a aceleração de estudos há também as

seguintes afirmações: “independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita

pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua

inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de

ensino” (Ibid, Cap. II, Seção I, Art. 24, II, “c”); e, “alunos que tenham extraordinário

aproveitamento nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros instrumentos de

avaliação específicos, aplicados por banca examinadora especial, poderão ter abreviada a

duração de seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino” (Ibid, Cap. II, Art.

47, § 2º).

Por fim, o texto das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação

Básica reconhece os alunos que apresentam altas habilidades/superdotação como portadores

de necessidades educacionais especiais, desta forma automaticamente lhes concedendo os

mesmos direitos previstos no Capítulo V da Lei de Diretrizes e Bases.

2.2.1.4 Serviços especiais: como suprir as necessidades educativas destes sujeitos?

Inúmeras alternativas são sugeridas para se trabalhar com o aluno com altas

habilidades. De antemão, vale ressaltar que os serviços que serão apresentados a seguir não

são mutuamente excludentes, ou seja, eles se relacionam entre si, havendo pontos em comum.

Fleith (2007, vol. 1) classifica estes serviços em: agrupamento, flexibilização/aceleração e

enriquecimento.

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O serviço de agrupamento consiste em, a partir do nível de habilidade ou desempenho,

separar os alunos classificados como portadores de altas habilidades em grupos, de forma

diferenciada dos demais estudantes. Essa modalidade de atendimento pode ocorrer em centros

específicos, ou em escola regular. No caso de ocorrer na escola regular, o atendimento pode

ser realizado na própria sala de aula, em períodos determinados, ou fora da sala. Alencar

(2001) denomina esta modalidade de “segregação”.

Flexibilização/aceleração consiste em proporcionar ao aluno uma oportunidade de

concluir o programa escolar em tempo menor que o previsto. O direito a este serviço é

evidenciado na Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996, Cap. V, Art. 59, II), conforme já

registrado anteriormente neste capítulo. Virgolim (2007) dissocia esse tipo de serviço em duas

terminologias: compactação, e aceleração. Compactação segundo esta autora é “prosseguir de

forma mais rápida com o conteúdo, eliminando a rotina de passar por exercícios repetitivos

desnecessariamente”. Já a aceleração ela entende como sendo o avançar de séries, a fim de

cumprir em menor tempo o ensino básico. Pode incluir tanto o ingresso precoce no sistema de

ensino, quanto pular séries. Freeman e Guenther (2000 apud FLEITH, 2007, vol. 1), no que

diz respeito às diferentes possibilidades de aceleração, listando as seguintes: entrada mais

cedo na fase seguinte do processo educativo, saltar séries escolares, aceleração por disciplina,

agrupamento vertical (classes mistas, com variedade de idades e séries), cursos especiais fora

da escola, estudos paralelos (cursar Ensino Fundamental e o Ensino Médio ao mesmo tempo,

e assim por diante), estudos compactados (completar currículo normal em menor tempo),

planos de estudo auto-organizados, trabalho com um mentor (especialista) na área de

interesse, e cursos paralelos.

Por sua vez, atividades de enriquecimento (como o próprio nome já sugere) são

aquelas que oferecem ao aluno experiências de aprendizagem diversas das que o currículo

normalmente apresenta (HEWARD e ORLANSKY apud GIBSON e EFINGER, 2001 in

FLEITH, 2007, vol. 1). Ou seja, acréscimos de conteúdos, ou aumento do nível de

profundidade destes, atividades exploratórias, e desenvolvimento de projetos originais, tanto

na sala como fora dela.

Dentre os modelos de enriquecimento, destaca-se o Modelo de Enriquecimento

Escolar (Schoolwide Enrichment Model – SEM), proposto por Renzulli & Reis (1997a apud

VIRGOLIM, 2007). Entre as estratégias propostas neste modelo, evidenciam-se o Portifólio

do Talento Total e o Modelo Triádico de Enriquecimento. O Portifólio do Talento Total é

utilizado para que se possa fazer um inventário das características do aluno, dos seus

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interesses, das suas habilidades, das suas formas de se expressar. Fleith (2007, vol. 2)

identifica as metas do portifólio como sendo as que seguem:

• Obter e registrar de informações sobre habilidades, pontos fortes,

características, atividades escolares ou extra-escolares realizadas pelo aluno;

• Organizar dados do aluno relacionados ao estilo de aprendizagem, preferências

por campos do conhecimento, habilidades sociais e pessoais, interesses,

necessidades específicas e desafios pessoais a serem superados;

• Fornecer bases para que se elaborem planejamentos educacionais, e que se

estabeleçam condições favoráveis à aprendizagem do educando;

• Destacar estilos de expressão e de pensamento dos alunos.

A segunda estratégia, a qual é o Modelo Triádico de Enriquecimento, propõe o

desenvolvimento de atividades de enriquecimento de três tipos, os quais são chamados de

Tipo I, Tipo II, e Tipo III. As atividades do Tipo I são atividades exploratórias ou

introdutórias que visam fazer com que o aluno tenha contato com assuntos que usualmente

não são abordados no currículo escolar. Nesse tipo de atividade de enriquecimento, é possível

a participação de todos os alunos. Importante que a atividade seja de interesse dos alunos, ou

pelo menos de um aluno, para que a curiosidade, as discussões surjam naturalmente. Os

objetivos das atividades do Tipo I são a promoção de atividades que aumentem e enriqueçam

a experiência de todos os alunos, e o despertar de novos interesses que venham a desencadear

atividades dos tipos II e III. Nas atividades do Tipo II, são usados métodos, técnicas e

materiais que irão auxiliar no desenvolvimento de níveis superiores de pensamento,

habilidades criativas e críticas, habilidades de pesquisa e processos ligados ao

desenvolvimento pessoal e social. O objetivo é desenvolver nos alunos habilidades

instrumentais, que possam auxiliá-los na investigação de problemas reais. Já as atividades do

Tipo III são as próprias investigações de problemas reais, nas quais o aluno será ao mesmo

tempo “aprendiz de primeira mão” e produtor de conhecimento, agindo como um especialista

da área de conhecimento. Segundo Renzulli (2004, pg 101), a meta final do Enriquecimento

do Tipo III é “substituir a dependência e a aprendizagem passiva pela independência e

aprendizagem engajada”. Ele cita também uma série de características-chave deste tipo de

enriquecimento:

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• O aprendiz único: as experiências de aprendizagem do Tipo III devem ser

desenvolvidas de forma a considerar as capacidades, interesses e estilos de

aprendizagem do aluno;

• O papel do prazer: as atividades devem ser criadas de forma que se considere

tanto o prazer, quanto as metas de crescimento cognitivo;

• Personalização da aprendizagem: a aprendizagem é mais significativa quando

o conhecimento e o processo são aprendidos num contexto real, atual, próximo

dos estudantes;

• Recursos metodológicos: usar métodos autênticos de investigação profissional,

ajudar o jovem a localizar, entender e utilizar recursos metodológicos;

• Foco nos produtos e serviços: utilizar os talentos para que venha a se criar um

produto/serviço de qualidade como resultado da atividade. Essa expectativa de

criação de um trabalho é o que traz a energia, comprometimento e a paixão

pelo trabalho (Ibid).

Desta forma, concluem-se as discussões a respeito das teorias que cercam a educação

especial para altas habilidades/superdotação. No capítulo a seguir, caracterizam-se o local e os

sujeitos do presente estudo, assim como se apresentam os instrumentos de coleta de dados e

se descrevem os procedimentos utilizados para a obtenção dos dados.

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CAPÍTULO III

METODOLOGIA

3.1 LOCAL E PARTICIPANTES

A presente investigação ocorreu no Núcleo de Atividades de Altas

Habilidades/Superdotação (NAAH/S) da Bahia, lotado no Centro Educacional Carneiro

Ribeiro (Escola Parque), situado à Rua Saldanha Marinho, no bairro Caixa d’Água, na cidade

de Salvador-BA.

Os sujeitos desde trabalho são cinco profissionais pertencentes ao corpo pedagógico,

indicados por P1 a P5, e nove estudantes que são atendidos no núcleo, indicados por A1 a A9.

Quadro 3: Formação acadêmica das profissionais do NAAH/S Professor Resposta

P1 Sou pedagoga, e sou orientadora também educacional, e sou especialista em Educação Especial para bem dotados e talentosos, ou seja, superdotados.

P2 Pedagogia [...] dentro da área de ensino normal e, supervisão escolar, e também especialização em Educação, Ciências e Contemporaneidade.

P3 É Serviço Social. Agora antes de fazer serviço social eu fiz magistério né, no Ensino Médio [...]. P4 Eu fiz Psicologia.

Do corpo pedagógico, todos são do gênero feminino, sendo uma Mestre em Educação

(P5), duas pedagogas (P1 e P2, sendo P1 especialista em Educação Especial para Altas

Habilidades, e coordenadora do NAAH/S), uma assistente social (P3) e uma psicóloga (P4). A

profissional do serviço social tem o foco do seu trabalho no atendimento à família, e a

psicóloga atende tanto o aluno quanto a família do mesmo. Porém, têm sido deslocadas da sua

atividade primordial e eventualmente ambas têm visitado escolas para divulgar a respeito da

temática de altas habilidades/superdotação, e do trabalho do NAAH/S Bahia.

Quadro 4: Idade, série escolar, habilidades identificadas e escolas onde os alunos estudaram Alu-no

Idade Série

escolar Habilidade identificada

Escolas onde estudou

A1 14 Sexta Acadêmica e Artística

Marcos Vinícus, Classe II. Todas públicas.

A2 14 Quarta Acadêmica Creche, Paroquiana N. Sra. Da Boa Viagem, Colégio Municipal Dr. Augusto Lopes Pontes. Todas públicas.

A3 13 Oitava Acadêmica e Artística

Pequeno Príncipe, Escola Crescimento, Escola Dom Diego, agora desde a quinta série é a Classe III. Só a Classe III que é pública.

A4 21 Segundo

ano. Psicossocial

Escola Polivalente San Diego, Escola Classe III, Paulo VI, e SESI. Todas públicas, exceto SESI.

A5 15 Sétima Acadêmica Escola Sonho dos Palmares, Classe IV. Escola Classe IV é pública [estuda desde a quinta série nela].

A6 11 Quinta Acadêmica Escola Trenzinho da Alegria, Salesiano, Adventista, Anísio Teixeira. Somente Anísio Teixeira é pública [estuda desde a quarta série nela].

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Por sua vez, no conjunto de alunos, são oito do gênero masculino e um do gênero

feminino (A2). Exceto A4, todos se encontram na faixa etária de 11 a 15 anos, e cursando

séries próximas entre si no Ensino Fundamental. Destes, oito são estudantes da rede pública

de ensino, cursando o Ensino Básico, desde a 4ª série do Ensino Fundamental ao 3º ano do

Ensino Médio, e um que concluiu o Ensino Médio em 2008 (A8). Os alunos atendidos pelo

núcleo vêm sempre estudando em colégios da rede pública de ensino, ou têm ingressado a

mesma na 4ª ou na 5ª série do Ensino Fundamental. As habilidades identificadas constam no

quadro acima, sendo que a maioria foi identificada como portadores de altas habilidades do

tipo acadêmica. Alguns alunos possuem, em paralelo aos indicativos de altas habilidades,

questões como aparência sindrômica (A5), comportamentos introspectivos (A3), histórico de

dislexia (A2). Cabe chamar a atenção para A4, que sugere possuir alguma síndrome, de

natureza desconhecida, tendo comportamentos aquém do esperado para a sua idade

cronológica (21 anos).

3.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Os instrumentos de coleta de dados utilizados na realização deste estudo foram:

observações estruturadas, não-participantes, da atuação dos profissionais junto aos jovens que

são acompanhados no Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação Bahia, e

também entrevistas semi-estruturadas com os sujeitos, tanto do corpo pedagógico, quanto do

alunado. A opção pela entrevista semi-estruturada se deu com o intuito de deixar o

entrevistado mais livre para responder as questões, podendo assim extrair mais dados a partir

do discurso, e também a flexibilidade de se introduzir novas perguntas à medida que se

mostrasse necessário, a depender do retorno do entrevistado, fato que ocorreu durante todas as

entrevistas. Os sujeitos totalizaram dez entrevistas, sendo que quatro do corpo pedagógico (P5

não foi entrevistada, pois no decorrer do estudo foi transferida do NAAH/S Bahia) e seis

entrevistas foram realizadas com os alunos do núcleo (A1 a A6).

3.3 PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS

Antes de iniciar a obtenção de dados a partir de observações, foi marcada uma visita

ao Núcleo de Atividades para Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) Bahia, no dia 07 de

julho de 2008, para que fosse apresentada a proposta do trabalho e que fosse concedida a

autorização para iniciar o mesmo. A partir do dia 09 de julho de 2008, começamos a

acompanhar as atividades do núcleo, especialmente as de intervenção junto aos alunos,

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realizando as observações, o que se estendeu até o dia 05 de setembro de 2008. Enquanto se

desenrolavam as observações, foram elaborados os roteiros de entrevistas (corpo pedagógico

e alunos). No dia 27 de agosto de 2008, o corpo pedagógico foi informado de que seriam

realizadas as entrevistas na semana seguinte, quando a fase de observação estivesse encerrada.

Todos os entrevistados eram informados a respeito do objetivo da pesquisa, que não seria

utilizada para prejuízo dos mesmos, e que seus nomes seriam mantidos em sigilo. Informamos

apenas em linhas gerais sobre o que seria abordado na pesquisa, para evitar que os dados

fossem enviesados. Assim, entre os dias 05 e 11 de setembro de 2008 foram realizadas as

entrevistas com o corpo pedagógico, e entre os dias 10 e 17 de setembro de 2008 foram

realizadas com os alunos participantes do núcleo. As entrevistas ocorreram no próprio espaço

do núcleo, em sala separada, e foram individuais, gravadas, e transcritas. Foi escolhido o

espaço do próprio núcleo, já que era um lugar de comum acesso a todos, e cada entrevistado

(do corpo pedagógico e do alunado) possuía dias previstos para comparecer ao recinto. A

escolha de sala separada foi para evitar que respostas dos primeiros entrevistados pudessem

influenciar respostas dos entrevistados seguintes. Além disso, no caso dos alunos, tal escolha

teve o intuito de que estes se sentissem à vontade para expressar suas opiniões, e que não se

sentissem intimidados pela presença dos professores para responder o que realmente

pensavam a respeito do que lhes era indagado.

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CAPÍTULO IV

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste trabalho, conforme citado no capítulo anterior, utilizou-se dois instrumentos de

coleta de dados: observações das intervenções pedagógicas e entrevistas. Desta forma,

primeiramente iremos apresentar e discutir sobre os dados coletados através das entrevistas

com o corpo pedagógico e com os alunos participantes das atividades do Núcleo de

Atividades de Altas Habilidades/Superdotação Bahia, e em seguida sobre os dados obtidos

através das observações. Assim, no próximo item serão apresentados excertos das entrevistas

com o corpo pedagógico e serão realizadas as devidas discussões.

4.1 O CORPO PEDAGÓGICO REVELANDO O NAAH/S BAHIA Quadro 5: O que é o NAAH/S para você? Professor Resposta

P1 O NAAH/S é um espaço onde a gente tem a possibilidade de estar buscando reconhecimento dos alunos com capacidade acima da média, oferecendo a esses alunos um atendimento adequado às suas necessidades, e não só desses alunos, mas também dos pais, da família desses alunos, e dos professores que atuam também com esses alunos, pra que essas necessidades sejam mais rapidamente e possivelmente cumpridas e atendidas e esses alunos cheguem ao potencial que eles dispõem.

P2 É uma atividade nova pra mim, bastante enriquecedora, com um vasto conhecimento embora não devastado ainda, infelizmente a gente ainda não tem tanta literatura, algo muito extenso de bibliografia a respeito disso, mas acho que tem muito ainda que caminhar, acho que é uma atividade muito enriquecedora, que a gente ainda tem que ir, ir desbravando ao longo dos anos.

P3 É um desafio, [...] é um espaço educativo né, de enriquecimento, só que ao mesmo tempo é desafiador, porque as pessoas não acreditam, na proposta, assim, basicamente os professores [...].

P4 O NAAH/S para mim é uma oportunidade, do governo, se preocupar mais com a educação, uma demonstração disso.

De acordo com o Documento Orientador para a Implantação dos NAAH/S (BRASIL,

2006), tais núcleos constituem serviços “[...] de apoio ao sistema de ensino e deve compor o

conjunto de políticas públicas [...]” para atender às demandas da rede de ensino, no tocante às

altas habilidades/superdotação. Segundo Virgolim (2007), os NAAH/S são espaços não só de

atendimento ao aluno, mas também de formação e capacitação dos professores acerca deste

alunado, além de acompanhamento da família destes.

As impressões dos profissionais do corpo pedagógico do NAAH/S são bem distintas,

podendo-se perceber três enfoques. O primeiro é o NAAH/S em relação aos alunos, citado

como espaço de reconhecimento, atendimento e enriquecimento dos alunos, para que estes

tenham seus potenciais desenvolvidos. O segundo enfoque é a representação do núcleo em

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relação a si mesmas, enquanto desafio, e enquanto atividade nova e enriquecedora. O terceiro

e último é o núcleo na perspectiva governamental, como uma oportunidade e/ou

demonstração de preocupação em relação à educação. Destes três, o que mais se aproxima do

que é afirmado pelo Documento Orientador para a Implantação dos NAAH/S, e por Fleith

(2007, vol. 1) é o enfoque de P1, já que faz menção aos três principais focos dos NAAH/S: o

aluno, o professor, e a família. As outras três entrevistadas não mencionam algo a respeito do

desenvolvimento dos talentos, ou dos potenciais.

Quadro 6: Quanto tempo a senhora tem de experiência com altas habilidades? Professor Resposta

P1 Eu posso considerar como experiência desde o momento que eu estive reestruturando o projeto de atendimento ao superdotado no final de 2002 até a presente data, 2008, seis anos. Diretamente com o aluno a partir de 2003.

P2 Dois anos. P3 Eu comecei aqui em 2006 [...], então praticamente foi 2006, metade de 2007 e agora 2008. P4 Estou há... três anos, quatro, três anos. Mas dentro do campo da Psicologia, eu trabalhei quinze anos

com psicoteste e avaliação psicológica [...] eu tenho lembrança ao longo da minha vida de duas pessoas, que eu identifiquei, com potencial de QI bem elevado [...] muitas vezes eu tava lidando com isso.

Três das entrevistadas responderam que possuem experiência entre dois e três anos no

trabalho com altas habilidades/superdotação. Apenas a coordenadora (P1) possui experiência

mais vasta, de seis anos, decorrente do trabalho no Núcleo de Projetos Especiais da Escola

Parque. P2 e P3 afirmaram que nunca haviam ouvido falar de altas habilidades durante as suas

respectivas formações acadêmicas. Assim, de maneira geral, as profissionais estão ainda em

processo de apropriação da própria temática, e do trabalho com tal tipo de alunado. P3

também comenta que durante a sua carreira de psicóloga trabalhou com avaliação

psicométrica e que eventualmente se deparava com indivíduos com altas habilidades.

Quadro 7: Tem participado de capacitações, cursos sobre altas habilidades? Professor Resposta

P1 Eu tenho participado de alguns cursos de capacitação oferecidos pelo MEC, em Brasília, foram dois cursos. Um curso e um congresso, mas também que o congresso tinha também uma função de curso né, a presença de cursos e oficinas que eu também posso considerar como capacitação né, e também aqui pela Secretaria... de Educação, um curso foi ministrado pela Professora Zenita Cunha Guenther, no ano de 2007, com quarenta horas... foi o último curso de capacitação que eu participei.

P2 Nós iniciamos em 2006, tendo a capacitação em serviço, através de P1, que é a coordenadora e especialista da área, após isso nós tivemos, é, um curso oferecido em Brasília, ano passado, que eu pude participar, onde houve assim uma preparação imensa, nós trouxemos aqueles quatro módulos e, tivemos outro curso com Zenita, Zenita Guenther, em... 2007, foi, 2007, e o fórum, então a cada, é, é, é, evento que ocorre a gente vai aprendendo um pouquinho mais, através das leituras, dos seminários, das palestras, e dos cursos que foram oferecidos pelo MEC, o MEC já ofereceu três cursos, 2005, 2006, e 2007, eu participei do de 2007.

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Quadro 7: Tem participado de capacitações, cursos sobre altas habilidades? (cont.) P3 [...] todas as atividades desenvolvidas a nível de Secretaria de Educação, ou daqui do NAAH/S, todas eu

tenho participado, videoconferências, palestras, é, um curso de formação foi com Zenita [...]. Quando a gente chegou aqui, a gente se reunia muito, tanto nos ACs, quanto no NAAH/S, pra tar estudando [...].

P4 Sim... nós fizemos [...] um curso com Dra. Zenita, que veio dar um curso aqui pra gente no ano passado, eu fui a Brasília no segundo encontro de todo país né? Todos os NAAH/S, de todo o país [...]. No início que nós fizemos todo um estudo específico com P1, fazendo leituras do material que chega [...].

Todas as entrevistadas afirmaram que têm participado de cursos e capacitações a

respeito da temática, desde 2006 (ano de implantação dos NAAH/S em todo o Brasil), sendo

que todas citaram o curso com a Profa. Dra. Zenita Guenther, realizado em 2007, em

Salvador-BA. Além disso, outros eventos mencionados foram curso e congresso em Brasília-

DF, a própria capacitação em serviço, e o I Fórum Estadual para Altas

Habilidades/Superdotação, realizado em julho de 2008. Foi citado também por P3 durante a

entrevista que a mesma se inscrevera num curso à distância sobre altas habilidades, porém

que o mesmo ainda não foi iniciado, nem se tem previsão a esse respeito. Constata-se então,

com tais dados, que desde a implantação do NAAH/S Bahia os Governos Federal e Estadual

têm promovido eventos cuja pauta é a Educação Especial para Altas

Habilidades/Superdotação, para que os profissionais se apropriem dos conceitos e dos

procedimentos. Isso tem sido fundamental, já que três das entrevistadas não tinham

conhecimentos prévios sobre tal modalidade de ensino.

Quadro 8: O processo de identificação e as atividades desenvolvidas no NAAH/S estão em concordância com os referenciais teóricos da Educação Especial para Altas Habilidades? Professor Resposta

P1 A gente tem tentado fazer com que a nossa nossa práxis, tanto no que diz respeito à identificação, quanto à questão do próprio atendimento da criança... a gente tem buscado estar adequando o mais próximo possível do que é preconizado, do que é postulado na na teoria que a gente dispõe. O que é feito de adaptação diz respeito à própria realidade, que a gente vive, né, [...], então algumas práticas que estão orientadas, recomendadas por renomados pesquisadores de países mais desenvolvidos, a gente encontra dificuldades pelas barreiras mesmo né, que a gente encontra, governamentais e não-governamentais, que diz respeito à também às condições também sócio-econômicas também do nosso país e que a gente às vezes encontra certas dificuldades de estar desenvolvendo na íntegra.

P2 Eu acho que sim, porque como a gente não tem nenhum material que seja produzido por nós, então a gente tenta caminhar estudando alguns teóricos, baseando no que eles já tem construído, e no que deu certo, então a gente sempre tá usando esses instrumentos para identificação, baseado em alguém que já fez isso e que continua a fazer, porque tá dando resultado, como por exemplo Zenita.

P3 Tá, porque assim, a gente vem, seguindo, Renzulli e Zenita, né, [...] a gente vive seguindo essas orientações, e isso tem dado resultado, porque assim, é o parâmetro que a gente tem pra tar avaliando realmente se o menino tem ou não indicação de altas habilidades, então são esses parâmetros que a gente vem seguindo, desses dois autores.

P4 É, são interessantes os referenciais... que ela (Zenita Guenther) faz, o trabalho que ela faz [...]. Mais ou menos. Porque nós temos que considerar, nós temos que considerar a fase... do núcleo, as condições da educação, as condições do próprio núcleo, os recursos materiais, e os encaminhamentos, as próprias condições de tar trabalhando com esses pais né, quando a gente tem, em muitos casos, distantes, que não tem o transporte pra se fazer presente, pra atender os chamados, as evasões, todas que nós vamos ver que reflete o contexto geral da educação e os recursos.

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Segundo as entrevistadas, vem-se seguindo os referenciais teóricos, tanto na

identificação, quanto no próprio atendimento aos estudantes. P1 e P4 inclusive comentam que

são feitas as devidas adaptações para que o trabalho seja melhor realizado, levando-se em

consideração a realidade do núcleo, os recursos (financeiros e humanos), as dificuldades, e

todo o contexto da educação brasileira.

Percebeu-se que as bases teóricas centrais do núcleo são as concepções de Renzulli e

de Guenther, sendo Renzulli (2003) na questão da Teoria dos Três Anéis e do Modelo

Triádico de Enriquecimento, e Guenther (2000) no que diz respeito à formação integral do

indivíduo, que tem como objetivo não só o desenvolvimento dos talentos, mas também o

desenvolvimento enquanto ser humano. Além disso, procura-se seguir as orientações do

material elaborado pela Secretaria de Educação Especial (SEESP) do Ministério da Educação

e Cultura (MEC), composto de quatro volumes, e que trata das questões que permeiam as

altas habilidades, desde as conceituais até as relativas ao próprio atendimento em si.

De acordo com o Documento Orientador (BRASIL, 2006), em relação ao aluno, os

NAAH/S têm a função de:

Promover a orientação das necessidades educacionais especiais dos alunos indicados [...]; oferecer um espaço de trabalho para o desenvolvimento de atividades de interesse, aprofundamento de conhecimento, aprofundamento, modificação, diferenciação e enriquecimento curricular; prestar atendimento suplementar para que estes alunos explorem áreas de interesse, aprofundem conhecimentos já adquiridos e desenvolvam habilidades relacionadas à criatividade, à resolução de problemas e raciocínio lógico, desenvolvimento de habilidades sócio-emocionais e motivação, e; oferecer oportunidades de construção de conhecimentos referentes à aprendizagem de métodos e técnicas de pesquisa e ao desenvolvimento de projetos (BRASIL, 2006, p. 21)

Adicionalmente, os NAAH/S podem oferecer minicursos em áreas específicas,

estimular desenvolvimento de projetos, e possibilitar a ida a eventos diversos (seminários,

feiras, congressos) (ibid). Assim, apesar das recomendações supracitadas, durante as

observações da intervenção do NAAH/S Bahia não se observaram atividades de

enriquecimento. As atividades presenciadas estão aquém daquelas sugeridas pelo material do

MEC/SEESP, não se diferenciando das que ocorrem (ou que se espera que ocorram) no

Ensino Básico, indo de encontro ao conceito de enriquecimento de Heward e Orlansky (apud

GIBSON e EFINGER, 2001 in FLEITH, 2007, vol. 1), citado no capítulo II. Isto porque,

apesar do núcleo dispor em seu espaço de uma boa quantidade de material didático, livros,

revistas, jogos, existe uma carência em atividades diversas que possam chamar a atenção do

aluno, para que isso venha a ser um ponto de partida para o desenvolvimento de atividades de

criação de projetos e investigações próprias, conforme postula Renzulli (2003). Tais

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atividades devem ser visitas a museus, palestras acerca dos mais variados temas (ciências,

artes, matemática, esportes, saúde, meio ambiente, música, etc.), a fim de que os educandos

desenvolvam ainda mais as suas habilidades.

Quadro 9: Qual a sua concepção de altas habilidades? Professor Resposta

P1 É, o indivíduo que dispõe de um diferencial de inteligência, em qualquer área. Então... diz respeito assim, tanto à questão do talento como do potencial né, o que ele dispõe que tá, que pode estar ali latente, isso pra mim indica né, supõe, um potencial acima da média.

P2 [...] aquela pessoa que apresenta um potencial acima da média e que seja visível, que é percebido por alguém [...] que aquela pessoa tá se destacando naquela área, naquele tipo de conhecimento. Não um super do super, um gênio, que eu acho que é, isso a gente, se a gente encontrar, excelente, mas a gente não tá à procura de um gênio, a gente tá à procura de alguém que tenha um talento, um talento que é diferenciado dos demais, e que é notável.

P3 [...] não vou muito assim nessa coisa do ah, que se destaca, em alguma área... do conhecimento e tal... se destaca realmente [...], mas o que eu tenho visto é que junto a isto existem outras questões também. [...] tem talento, é, história da família, tem um conjuunto, na verdade né que engloba, que se destaca mais em determinadas áreas do conhecimento, com certeza, mas que também tem as questões familiares, o contexto escolar, a relação de amigos, que também influencia muito né, então acho que é o conjunto de todos esses aspectos [...].

P4 [...] o potencial... desenvolvido... que alguém possa apresentar... e, esse desenvolvimento ele pode... ter um incentivo do ambiente que favoreça, né, estimule, acelere, manifeste, como pode também estar... restrito... estar... camuflado, pela falta de condição [...]. Desenvolvido ou a desenvolver. Que tem destaque, no coletivo, dos pares [...].

As concepções de altas habilidades colocadas pelas profissionais do núcleo expressam

alguns termos chave, como “potencial”, “diferencial”, “inteligência”, “talento”, “destaque”.

Importante atentar que o entendimento de altas habilidades das entrevistadas se aproxima

bastante do conceito de Renzulli (2003) quando em seus discursos reconhecem que indivíduos

com altas habilidades têm potenciais, sejam latentes ou aparentes. Interessante também a

compreensão que se tem de altas habilidades como não sendo, obrigatoriamente, um fator

global; ao invés, nos depoimentos há muitas referências à inteligência, ao talento direcionado

a uma área, e que pode ser qualquer área do conhecimento. Então, a concepção de altas

habilidades/superdotação do NAAH/S Bahia está em concordância com os referenciais

teóricos já levantados no capítulo II, como Guenther(2000), Winner(1998), Brasil (2001),

Virgolim (2007) e Renzulli (1978 apud Renzulli, 2004).

Quadro 10: Qual o objetivo/importância do acompanhamento destes alunos? Professor Resposta

P1 [...]que ele chegue ao potencial que ele dispõe, que ele se sinta pleno ao estar desenvolvendo aquilo que ele dispõe de potencial, e depois que esse próprio desenvolvimento desse potencial que o tornaria mais pleno, mais realizado enquanto pessoa, possa contribuir também decisivamente no meio social em que ele está inserido. Então, eu acho que assim, primeiro trabalhar com o indivíduo para que ele se sinta pleno, se sinta realizado, se sinta mais feliz, enquanto pessoa, individual que ele é, com todas essas nuances né, e todas essas possibilidades e direito que ele tem de se sentir pleno enquanto cidadão, e depois ele se sentindo pleno, que ele possa contribuir, é, decisivamente nessa sociedade, a gente vai criar com isso uma reserva social de pessoas inteligentes, que com capacidades também bem aproveitadas, que isso possa é, repercutir numa melhoria de condições de vida né, de forma geral, tanto para ele enquanto indivíduo, como para a sociedade [...]

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Quadro10: Qual o objetivo/importância do acompanhamento destes alunos? (cont.) P2 A importância é que esse talento possa se desenvolver, que essa pessoa é, possa levar adiante isso,

futuramente, até profissionalmente, e que esse talento não seja perdido, encaminhado, ou desviado pra um caminho que não seja o melhor. [...] o nosso objetivo é justamente trabalhar este talento, pra que ele não seja perdido nem desviado, e sim aperfeiçoado.

P3 [...] o maior de todos é não se perder né, porque assim, se não tem, se não existe esse acompanhamento, com certeza eles vão ser considerados como ou CDF, ou maluco, ou estranho, né, porque foge do padrão normal né de meninos que tem, e que eu acho que é muito sofredor também pra eles né, se não tem uma política voltada né, se não tem um acompanhamento direcionado pra o que eles sabem fazer, pra o que eles necessitam [...].

P4 É ter a possibilidade de contribuir pra o desenvolvimento, o aproveitamento da alta habilidade.

De posse dos discursos acima, observa-se que P2 e P4 focam o objetivo/importância

da intervenção pedagógica junto aos alunos apenas no desenvolvimento e aproveitamento das

altas habilidades. Já P1 e P3 trazem não só essa questão, mas também que o trabalho visa

trabalhar o indivíduo como um todo, visa o desenvolvimento das questões extrínsecas e

intrínsecas ao sujeito, como por exemplo o autoconceito, e outros fatores de caráter

emocional.

Segundo Guenther (2000), um Centro de enriquecimento deve oferecer aos alunos

oportunidades de ampliar e aprofundar o currículo estudado, além de promover o bem-estar

social e pessoal destes. Assim, um Centro tem compromisso de “estimular o desenvolvimento

do potencial e capacidade [...] pelo enriquecimento de experiências, ampliação da visão de

mundo, e convivência responsável” (GUENTHER, 2000, p. 162). Já Renzulli (2004) traz que

há duas finalidades aceitas para este acompanhamento: fornecer oportunidades para

crescimento cognitivo e auto-realização, estimulando o desenvolvimento em uma ou mais

áreas de desempenho, e aumentar a reserva social de indivíduos produtores de conhecimento e

arte, contribuindo assim para solucionar os problemas da sociedade.

Por conseguinte, embora o grupo esteja parcialmente em concordância com os teóricos

no que diz respeito ao objetivo/importância do atendimento aos alunos, isto não tem se

refletido na prática. Como comentado anteriormente neste mesmo capítulo, não se tem

proporcionado atividades de enriquecimento, ou de ampliação dos

conhecimentos/habilidades. Assim, há uma incoerência em relação ao discurso das

entrevistas, pois não há estímulo de habilidades sem que se realizem as atividades

preconizadas pelos teóricos.

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Quadro 11: Como é o trabalho com alunos com altas habilidades provenientes de classes sócio-econômicas menos favorecidas? Há algum diferencial? Professor Resposta

P1 Não, não existe assim diferencial, porque a maioria esmagadora dos nossos alunos aqui que com indicativo de altas habilidades são de classes menos favorecidas. [...] Se a gente vai implantar um serviço de identificação, de atendimento em, em ambas as, ou em qualquer classe social, vai se respeitar o quê, a capacidade de produção é, acadêmica ou ou não, de inteligência, intelectual desse indivíduo, considerando as condições econômicas a que ele pertence. [...] você tem que considerar as, as, as respostas que cada um vai dar de acordo com o que foi recebido de estímulo ao longo da vida dele, né?

P2 Acho que não tem diferença, eu acho que quando a pessoa tem realmente um talento, uma dotação, eu acho que independente de classe social, ele tendo é, condições, oportunidades de se desenvolver, acho que vai ser a mesma, acho que tudo é uma questão de oportunidade, quem tem o talento e é de classe mais abastada a própria família vai investir, vai tar oferecendo várias coisas, cursos, vai tar oportunizando ele, cada vez mais aperfeiçoar aquele talento que ele tá apresentando. Já na classe baixa, às vezes não é percebido, não é visível, ou não é dado importância, então a criança acaba não tendo oportunidade de desenvolver, porque na escola não oferece, a família acaba não percebendo, não dando tanto importância praquilo, e acaba se perdendo [...].

P3 O que tem é a falta de estrutura assim na verdade, [...] eu acho que a gente poderia oferecer mais né, principalmente porque economicamente eles têm menos né, então a gente não consegue oferecer mais, eu acho que a nível de recursos, de organização do próprio trabalho, [...] talvez pelo fato de eu trabalhar sempre com essa clientela eu não vejo dificuldade, diferenças, eu nunca trabalhei com clientela rica também então assim eu não tenho nem parâmetros porque eu sempre trabalhei com essa população.

P4 [...] alguns estímulos são mais fáceis para quem tem um padrão de vida mais elevado não é, que tem [...] por exemplo, nós temos aqui jogos que o que tem condição ele tem em casa não é, mas também vai ser muito relativo, que até que ponto ele dá importância. A diferença é que há alguns recursos... mais básicos... a gente tem que partir de um ponto anterior... do que não tem as condições [...].

Colocou-se que o trabalho não tem diferenças devido ao fato de se estar lidando com

um grupo proveniente de classes sócio-econômicas menos favorecidas. Porém ao mesmo

tempo é trazida essa questão do contexto de onde cada um é proveniente. Assim, quando se

pretende fazer alguma intervenção pedagógica se leva em consideração o histórico, as

experiências dos educandos. Logo, devem-se proporcionar vivências novas a esses sujeitos,

para que isso lhes possa servir como estímulo para o desenvolvimento. Por esse motivo, é

interessante que eles tenham contato com jogos, filmes, instituições, museus, entre outras

atividades. Não que tais atividades não sejam aplicáveis a estudantes de classes mais

abastadas, mas para os menos favorecidos elas ganham uma maior relevância, justamente pela

carência de oportunidades, de acesso a estes suportes, a estes ambientes citados. P4 comenta

que estímulos são mais fáceis para os de classe social elevada. Penso que neste excerto fica

evidente o preconceito, e a concepção mitológica de que a inteligência acima da média não

aparece nas camadas sociais mais baixas. A questão não é que seja mais fácil para os mais

ricos, mas sim que eles estão mais acostumados a determinados estímulos. Não precisa ser

rico para que os estímulos sejam mais eficazes, precisa apenas dar oportunidades a todos,

independentes das condições sociais. Por outro lado, P3 acha que se deveria oferecer mais aos

alunos, justamente para se suprir tais carências, já que isto quase que não ocorre nos espaços

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onde ele convive. Como diz Guenther (2000), por estes estudantes de classes menos

favorecidas geralmente iniciarem seus estudos em escolas deficitárias e carentes, um

programa para o desenvolvimento de habilidades deve procurar sanar estas deficiências. Além

disso, procurar desenvolver as potencialidades destes alunos, dando-lhes conhecimento

prático, visando facilitar a sua futura inserção no mercado de trabalho. Somado a isso, não se

pode esquecer da formação global do indivíduo, para que eles tenham uma boa visão de

futuro, de planejamento de vida.

Quadro 12: Qual o seu grau de satisfação com o trabalho desenvolvido? Professor Resposta

P1 [...] por um lado eu me sinto realizada por ter de alguma forma é, contribuído né, mesmo que, que, que, modestamente, singelamente, mas contribuído pra oferecer pelo menos alguma coisa de diferente de estímulo, de, de, desses alunos que hoje, até eles mesmos podem chegar e, e, e relatar isso nos meios né, na mídia, falada, escrita né, eles já falaram no rádio, eles já falaram no, já deram depoimentos no jornal, na televisão também, no programa Mosaico já noticiou isso assim, de que hoje se sentem pessoas mais, mais plenas, mais felizes né, [...] hoje já se sente, já tem uma perspectiva de vida melhor, já tem uma meta a seguir, então quando você vê pelo menos uma esperança né, de um menino desse que hoje vê uma perspectiva, vê um horizonte na sua vida, algo que possa buscar, que possa alcançar, então isso pra gente já nos, nos, favorece, já nos, realiza né. [...] agora, o, o, o quanto que a gente ainda precisa conseguir, o quanto que a gente precisa ainda de parceria, de envolvimento da sociedade como um todo, civil organizada, da sociedade, ou, ou, as entidades governamen... mentais né, [...], tudo que a gente precisa ainda caminhar né, do próprio sistema educacional mesmo, que tem que ter uma flexibilização maior, que tem que, que aproximar mais a, a, o discurso teórico né, da práxis, que a gente vê que há uma dicotomia muito grande do que prega [...] que há uma distorção muito grande com a, com a, com o que se tem na prática, então [...] não tou satisfeita ainda né, eu acho que [...] meu grau de satisfação ainda carece de [...] alguns fatos né que venham a, a, a eu dizer assim poxa, eu estou agora satisfeita [...].

P2 Eu ainda não es... não me sinto satisfeita! [...] a gente depende muito da escola, do professor, e nem sempre a gente tem essa receptividade, então o trabalho emperra às vezes. Então ainda falta muito, eu acho. [...] a gente já ouviu alguns depoimentos tanto deles como da família as mudanças que ocorreram neles desde que começaram a fazer parte daqui desse grupo. Aí a gente sente satisfeita [...].

P3 Ó, eu desmotivo assim, com, assim, com essa, com essa coisa que eu falei, da falta de recursos né, assim, das dificuldades que a gente tem própria do trabalho, que é transporte, é, não tem como manter o menino [...]. Meu nível de satisfação é bom, embora eu tenha algumas críticas em relação à forma como é feito o trabalho entendeu, as dificuldades que a gente encontra a nível mesmo de parceria fora daqui né, com outros professores, então assim, uma coisa que eu acho que compromete... cada um tem um horário então enquanto grupo a gente não tem muitos momentos... divididas [...].

P4 [...] muitas questões são difíceis que por exemplo cabem ao psicólogo que são dificuldades que ele pode avaliar, dificuldades psicológicas... e requer muito a família, tem, tem sido difícil [...] contar com o apoio deles. Eu estou satisfeita mas um pouco apreensiva com essa condição, mas como a todo momento tá sujeito a uma mudança no governo, está sujeito a inovações, eu creio que possa estar surgindo possibilidades que nos ajude.

As entrevistadas não se sentem totalmente satisfeitas com o trabalho realizado devido

aos seguintes fatores: evasão ocasionada pelas dificuldades financeiras dos alunos; falta de

acompanhamento do trabalho por parte dos pais; professores desmotivados em relação à

educação de modo geral, que não acreditam no trabalho (ou nas altas habilidades no contexto

da escola pública); falta de um maior apoio por parte de instituições governamentais e não-

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governamentais; adesão por parte da sociedade civil organizada; horários distintos de trabalho

no ambiente do núcleo e por conseqüência menos tempo para reflexão sobre o trabalho.

Apesar disso, reportam que se sentem satisfeitas com as diferenças entre como os

alunos entram no núcleo e a evolução deles no decorrer do acompanhamento. Mencionam que

os próprios estudantes têm falado na mídia as mudanças enquanto pessoa que ocorreram com

eles, e que isso é o que torna o trabalho prazeroso e recompensador.

Como P1 afirma, ainda é necessário aproximação entre a teoria e a práxis. E isso se

aplica inclusive ao NAAH/S Bahia, uma vez que as atividades de enriquecimento estipuladas

pelos teóricos não são realizadas neste espaço. Um dos pontos que dificulta, conforme

relatado nas entrevistas, é a falta de parcerias e recursos. Como se pode proporcionar visitas a

diversas instituições, palestras com profissionais das mais diversas áreas, minicursos para

desenvolvimento dos talentos, se há uma carência de recursos? Deve-se procurar proporcionar

as atividades de enriquecimento de acordo com as condições do núcleo, e em paralelo

procurar angariar recursos, parcerias e profissionais dos mais diversos campos de

conhecimento, para que o NAAH/S Bahia realmente venha a ser um espaço que desenvolva

as potencialidades dos estudantes.

Quadro 13: Existe algo que poderia melhorar no trabalho realizado? O quê? Professor Resposta

P1 Adesão [...] incondicional mesmo das, das entidades governamentais, educacionais, pessoas que estão à frente mesmo, desse, desse modelo né, de, de, de sistema, realmente perceber a importância de se trabalhar com a criança superdotada, com o aluno superdotado, com o indivíduo superdotado, criar condições para que haja flexibilizações também nas escolas né, que os professores também possam se envolver mais né, é um plano é, digamos, de cargos e salários, pra que a gente, [...] medidas de políticas públicas que realmente atendam a todas aquelas necessidades que a gente pontuou ali no fórum [...].

P2 [...] aceitação dos professores, [...] facilidade da gente se locomover que a gente não tem, então pra gente ir tem que ir com o nosso recursos [...] sem beneficiar outros, de outros bairros, de outras localidades, porque a gente não tem como ir, [...] falta de apoio que eu acho que a Secretaria (de Educação) não dá [...].

P3 É..., assim eu acho que a equipe né, precisaria estar mais... não sei se é coesa, enfim, caminhando na mesma direção. Eu acho que um dificultador é a questão dos horários, a gente não se encontra sempre, então isso dificulta um pouco assim o maior entrosamento da equipe, em relação ao trabalho. [...] a questão dos recursos, eu acho que ajudaria muito mais, se a internet funcionasse, se tivesse mais jogos né, se a gente tivesse uma parceria maior da Secretaria de Educação [...], a gente não consegue juntar família, o professor da escola, todas essas informações [...]. Assim, a gente não tem parceria com nenhuma outra instituição, então isso também é algo que falta no núcleo.

P4 É, vamos ver se as perspectivas... que estão surgindo possam oferecer toda a falta que eu tava te citando. [...] Teve o fórum também que eu esqueci como um evento né, um evento pra se pensar e trabalhar as necessidades, e ver o quê que através da Secretaria de Educação pode ser incrementado né, então vamos ver depois daquele fórum o quê que pode fluir dele, né.

O que se pensa que poderia melhorar no núcleo está relacionado aos fatores citados no

Quadro 12, como sendo aqueles que impedem que as entrevistadas se sintam plenamente

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satisfeitas. Entre estes, há a questão de uma necessidade maior de recursos, para que venha a

se oportunizar atividades de fato enriquecedoras aos alunos, para o desenvolvimento dos

talentos. Inclusive foi comentado que o apoio dado pela direção da Escola Parque é

fundamental, já que a Secretaria de Educação Especial não tem dado um suporte mais

significativo. Além disso, outro item bastante trazido à tona é a urgência na criação de

parcerias com outras instituições (governamentais ou não-governamentais), e de políticas

públicas que venham a suprir as demandas elencadas na síntese do I Fórum Estadual para

Altas Habilidades/Superdotação, o qual consta no Anexo.

No próximo item apresentamos os dados obtidos através das entrevistas realizadas

junto aos alunos identificados como portadores de altas habilidades/superdotação, que são

acompanhados no NAAH/S Bahia, assim como realizamos as discussões concernentes.

4.2 OS ALUNOS REVELANDO O NAAH/S BAHIA Quadro 14: O que é o NAAH/S para você? Aluno Resposta

A1 Muitas coisas. Um núcleo de altas habilidades, cursos, professores. A2 É um lugar pra gente aprender, se divertir, e se tornar uma pessoa melhor. A3 O curso que eu mais gosto aqui da Parque é esse aqui. É um espaço que eu gosto. A4 É um núcleo extra daqui da Escola Parque, ele na verdade ajuda as pessoas que tem um

desenvolvimento melhor, a ir melhorando mais, eu acho que é isso. A5 É parte da minha vida. É uma coisa interessante. É várias coisas que eu nem sei dizer. Fico sem

palavras, é verdade. A6 É uma forma de aprender, se divertindo.

Analisando as respostas, percebe-se que emergem idéias relacionadas a aprendizagem

e divertimento. Assim, conclui-se que os alunos participantes da entrevista têm uma visão

positiva a respeito do NAAH/S Bahia, o percebem como um espaço acolhedor, que eles

sentem prazer em freqüentar, e que lá se pode aprender de maneira lúdica. Além disso, foi

dito que ajuda no desenvolvimento do indivíduo como um todo, por exemplo, no discurso de

A2. Porém, não há comentários em relação ao desenvolvimento dos talentos, que é o objetivo

do NAAH/S no atendimento dos alunos.

Quadro 15: O que você gosta de pesquisar, quais as atividades que você gosta de fazer? Aluno Resposta

A1 Esporte, Olimpíadas, um bocado de coisa que as professora passa. A2 História, gosto das civilizações antigas, e... Geografia, Matemática, Ciências, e as aulas de Inglês. A3 Jogos de raciocínio lógico. Sudoku, xadrez, dominó. Gosto de ler Harry Potter. Também gosto de

escrever. A4 Jogos eu prefiro mais jogo de aventura, não gosto de futebol, guerra, não gosto muito. Eu gosto mais de

aventura, e aqui se eu pudesse pesquisar eu pesquisaria sobre o mundo, sobre alguns países, essas coisas assim, como lá na escola fez. Se eu fizesse ia ser sobre o Canadá. Ciência, Química.

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Quadro 15: O que você gosta de pesquisar, quais as atividades que você gosta de fazer?(cont.) A5 Pesquisar, ler, essas são as atividades que me chamam a atenção. [Gosto de pesquisar] o que der na telha, o

que tiver disponível pra pesquisar. A6 Gosto de pesquisar sobre o Sistema Solar. Gosto muito sobre os planetas. Ficar o dia todo no computador,

e canal fechado.

Analisando o quadro acima, conclui-se que os gostos são os mais variados como

esportes, história, leitura, ciências, raciocínio lógico. Desta forma, vê-se que o indivíduo com

altas habilidades não segue a um padrão uniforme de características. São indivíduos que

possuem suas peculiaridades, estilos e gostos diferentes, inclusive entre si. Além disso,

percebe-se também o gosto por atividades exploratórias, às vezes independente do tema,

simplesmente pelo gosto de conhecer coisas novas.

Quadro 16: Por que você acha que foi indicado para participar do núcleo? Aluno Resposta

A1 Não sei, só com a professora. A2 Porque eu sou superdotada. A3 Porque meu pai percebeu que eu comecei a ler muito cedo. Com dois [anos]. A4 Aí eu não sei. Até hoje eu tou sem idéia. A5 Por ter... superdotação? Não sei bem o motivo, pra mim eles acham que eu sou uma pessoa especial,

enfim, sei lá. A6 Não sei direito.

Os alunos não sabem responder sobre a razão de eles terem sido convidados a

participar do núcleo. Por política do núcleo, procura-se não rotular o aluno como

“superdotado”, pois os educandos que participam das atividades a princípio tem indicativos

de altas habilidades, e as próprias atividades são mecanismos de constatação ou não da

superdotação. Assim, a intenção é privar o aluno de uma decepção no caso de uma indicação

equivocada.

Apesar disso, os dados parecem apontar na direção da existência de problemas no

NAAH/S Bahia para atingir, de fato, seus objetivos, na medida em que os alunos não sabem

ao certo a razão de terem sido indicados. Embora exista uma conversa inicial com todos os

alunos que chegam ao núcleo, percebe-se que não tem sido totalmente efetiva, pois nas

respostas acima os alunos, exceto A3, não comentam a respeito de características suas, ou a

suas capacidades, que poderiam nos remeter às altas habilidades/superdotação. Isto também é

um reflexo da falta de atividades de enriquecimento, e da falta de transparência dos objetivos

do trabalho junto aos alunos.

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Quadro 17: Como você foi convidado para participar do núcleo? Aluno Resposta

A1 A professora foi na escola e indicou dois alunos, um deles foi eu. A2 Foi minha outra escola que me indicou para um colégio lá em Brotas, e de lá me indicou pro CEEBA,

onde P1 trabalhava, aí de lá, aí da CEEBA P1 me indicou para projetos especiais. A3 Meu pai disse à professora (que começou a ler cedo), e a professora falou com P5, que marcou uma

reunião. Eu vim aqui com meu pai. A4 No dia que me convidaram pra cá, foi uma surpresa. O diretor veio me falar... porque você não vai pro

núcleo lá de altas habilidades. Foi um susto! A5 P1 ligou lá pra escola, e lá pra casa, falou sobre mim, ligou minha mãe, pra convidar, pra convidar pra

eu vir estudar aqui nessa escola. A6 A psicóloga da escola falou pra minha mãe que era pra me mandar pra cá pro núcleo.

O convite para participar do núcleo ocorre de duas maneiras: ou através do processo

de identificação, cujo modelo adotado é o de Guenther (2000), ou por indicação de

professores ou outros profissionais da educação que estejam em contato com os alunos. É

citado por A3 que o primeiro contato com o NAAH/S Bahia foi realizado por seu pai, porém

observa-se que o núcleo tem sempre procurado tomar informações diretamente com

profissionais da escola, para que eles possam dar seu parecer em relação ao estudante.

Quadro 18: Há quanto tempo está freqüentando? Aluno Resposta

A1 Peraê, deixa eu perguntar aqui [um ano]. A2 Desde ano passado que eu tou aqui. A3 Desde 2005. A4 Eu acho que dois, três anos. Eu acho. Mais ou menos. A5 Quatro anos. A6 Comecei a freqüentar esse ano.

Os alunos têm entre um a quatro anos que recebem acompanhamento do núcleo. Cabe

observar que antes de 2006 o NAAH/S Bahia ainda não existia. Entretanto, o trabalho com

alunos portadores de altas habilidades já existia vinculado ao Núcleo de Projetos Especiais, da

própria Escola Parque. Este acompanhamento é realizado uma vez por semana, em turno

oposto ao da escola, em grupos de três a quatro estudantes. Nestes três anos de NAAH/S

Bahia, as atividades que mais se aproximam do preconizado na teoria foi uma apresentação de

slides na Escola Parque, sobre temas de interesse próprio, realizada por dois alunos (sendo um

deles A5). Isto só vem a reforçar que desde a implantação do NAAH/S Bahia, as intervenções

pedagógicas desenvolvidas foram bastante afastadas do que é postulado nos quatro volumes

orientadores do MEC/SEESP.

Quadro 19: Você gosta de freqüentar o NAAH/S? Por quê? Aluno Resposta

A1 Muito. Porque dos melhores núcleos que tem aqui o mais bom é o daqui. A2 Eu acho legal. Me divirto. Faço amigos e aprendo coisas muito interessantes. A3 Gosto muito. Porque é um espaço legal, é um espaço que eu gosto de ficar.

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Quadro 19: Você gosta de freqüentar o NAAH/S? Por quê? (cont.) A4 Se eu não gostasse você acha que eu taria aqui? Aqui eu converso. Aqui eu tenho meus amigos. Aqui eu

brinco! Aqui eu faço atividade sem precisar alguém tar mandando. Aqui pra mim é uma casa assim, é uma casa de diversão. E a escola é um parque realmente.

A5 Gosto. Lógico. Lhe transforma em alguém na vida. Faz os amigos. É legal, é divertido, tem pessoas muito importantes.

A6 É, eu acho legal, porque a gente faz várias coisas legais aqui.

Conforme comentado anteriormente, o NAAH/S é visto por todos os alunos

entrevistados como um espaço legal, divertido onde se realizam atividades interessantes.

Além disso, mencionou-se também o aspecto de desenvolvimento próprio enquanto pessoa, e

o aspecto social.

Quadro 20: O que é que você faz aqui? Aluno Resposta

A1 Jogo as brincadeiras, a professora ensina a fazer frases... em português, ensina um bocado de coisa, Matemática...

A2 Eu pesquiso, estudo... pesquisas sobre a Grécia Antiga. Acho interessante. Me deixa fascinada. A3 Jogos... atividades de apresentação... filmes... o senhor sabe de que tipo de filmes eu tou falando.

Aqueles filmes que deixam uma mensagem no final. A4 Atividades. Cada quarta tem uma atividade diferente. Essa quarta agora foi jornal, já teve dia do

cinema, assim, são atividades que eu acho que pra ajudar a gente a interagir mais com o mundo, eu acho. Já teve cinema, já teve jornal, já teve filme, que assisti até Charles Chaplin.

A5 Escrevo, leio, desenho, crio projetos, faço jornais, e de vez em quando uma baguncinha. A6 Jogos. Eu aprendo algumas coisas.

Diversas atividades são desenvolvidas, como pesquisas, jogos, brincadeiras, filmes. E

sempre procurando utilizar o lúdico, além de também estimular o pensamento crítico nos

jovens. No entanto, tais atividades não se diferenciam das que ocorrem na escola comum (ou

do esperado que ocorra), e desta maneira não se estimula o potencial específico de cada aluno.

O principal foco dos NAAH/S, segundo o documento orientador (BRASIL, 2006) é

justamente o desenvolvimento destes potenciais, com atividades de enriquecimento,

aprofundamento de conteúdos, oportunidades de construção de produtos, e estimulação para

aumentar as habilidades. Segundo Fleith (2007, vol. 2), as atividades de enriquecimento do

tipo I devem ser aquelas que não são (ou são pouco) contempladas no currículo escolar, e que

sejam de interesse dos alunos, ou então que os deixem curiosos. Desta forma, ao se propor

atividades semelhantes à da escola comum não se está oferecendo um tratamento diferenciado

à clientela, nem mesmo suprindo as suas necessidades educativas. Além disso, ao comparar

este quadro com o Quadro 15, percebe-se que nem todas as atividades de interesse, ou que

despertem a curiosidade dos estudantes estão sendo trazidas à tona.

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Quadro 21: Você acha importante o trabalho desenvolvido no NAAH/S? Por quê? Aluno Resposta

A1 Aqui é bom né, tira os meninos da rua, que fazem coisa errada, fica aqui, passa o tempo aqui, tudo mais. A2 Porque ajuda as crianças superdotadas porque nem sempre nos colégios elas são compreendidas, a

desenvolver a inteligência, e também ajuda, ajuda pra caramba assim. A3 Acho. Porque revela as habilidades das pessoas. Tem muita gente que tem altas habilidades, e não sabe

que tem. A4 Aham. Porque o NAAH/S na verdade ele ajuda pessoas, por exemplo, se a pessoa tem uma deficiência,

que não consegue passar para outra pessoa, que ela tem deficiência, quando a pessoa vem aqui pro NAAH/S a pessoa começa tímido, mas depois vai adquirindo amizade, e já pra melhorar mais.

A5 Acho. Porque, de acordo com os trabalhos que você faz, você vai ganhando conhecimento, além de passar conhecimento pros outros.

A6 Acho. Ajuda muito os alunos que estão aqui.[...] O que ensina cada um entende da sua maneira, e pode ajudar em alguma coisa.

Todos os alunos entrevistados concebem o NAAH/S como um espaço importante,

mesmo apesar de não haver atividades de enriquecimento. Os aspectos comentados acerca da

importância do núcleo são: tirar os meninos da rua, para que eles possam desenvolver

atividades úteis; aprendizagem e desenvolvimento da inteligência; troca de conhecimento com

os professores e com os colegas; criação de laços afetivos; e descoberta de habilidades. Tais

fatores levantados se aproximam dos apontados por Guenther (2000) e Renzulli (2004), já que

trazem a questão do desenvolvimento cognitivo, junto com a satisfação pessoal. Porém, os

fatores aparecem de maneira isolada em cada entrevista e não são afirmados claramente, o que

permite concluir que eles não compreendem totalmente a verdadeira função do NAAH/S

Bahia.

Quadro 22: Além daqui do núcleo, de que oficinas você participa na Escola Parque? Aluno Resposta

A1 Futsal, artes plásticas e reforço de Português. A2 Só artes plásticas. A3 Capoeira, basquete e reforço de Matemática. A4 Não, não tô participando de nenhuma não. Mas eu já participei de várias. Já fiz padaria, fotografia,

pintura em tela, handebol, as que eu lembro é essa, mas tem mais. Tem mais de dez. A5 Reforço de Matemática e futsal. A6 Teatro.

Todos os alunos que freqüentam o núcleo participam ou já participaram de oficinas no

âmbito da Escola Parque. A escola oferece uma gama de atividades que vão desde as artes a

conhecimentos profissionais. Os alunos do núcleo são contemplados ao participar destas

oficinas, já que a estrutura atual do NAAH/S Bahia não dispõe de tal gama de opções de

enriquecimento. Desta forma, percebe-se que as oficinas que acontecem no âmbito da Escola

Parque têm uma grande relevância para o processo de acompanhamento dos estudantes com

indicativos de altas habilidades/superdotação, pois abre um leque de atividades diferenciadas

que podem ser usufruídas por estes indivíduos, contribuindo para o desenvolvimento geral

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destes. Porém, nem sempre os talentos específicos dos estudantes do núcleo são trabalhados

nestas oficinas. Além disso, cabe salientar que tais oficinas ocorrem no âmbito da Escola

Parque, e não no NAAH/S Bahia.

Quadro 23: Você sabe o que é um aluno com altas habilidades? O que é isso para você? Aluno Resposta

A1 Um aluno que tem um talento. A2 Um aluno que... com QI acima da média, superinteligente... e incompreendido. A3 Aquela pessoa que tem um dom... um dom acima da média. A4 É uma pessoa que tem um dom, uma capacidade maior do que outra pessoa pra fazer um certo tipo de

atividade. A5 Um aluno com inteligência, acima do QI normal. Ou seja, um aluno com conhecimento alto. A6 Muito energético.

Constata-se a partir das respostas que os profissionais do NAAH/S Bahia não tratam

diretamente da temática de altas habilidades com os alunos, e que a conversa inicial que eles

têm ao ingressar o núcleo não contempla estas questões. Foram feitas menções a QI acima da

média, que segundo os teóricos é apenas uma das nuances da superdotação, já que tais testes

apenas mensuram conhecimentos lingüísticos e lógico-matemáticos. Interessante também

observar que de maneira geral eles têm uma boa idéia a respeito do conceito, já que foram

encontradas nas respostas referências a talento, dom e capacidade maior, porém nenhum

comenta algo que pudesse ser remetido às múltiplas inteligências, modelo de inteligência que

é defendido pelos volumes orientadores do MEC/SEESP. Outro dado relevante é que A2 e A6

agregaram à suas concepções de altas habilidades características que eles enxergam neles

próprios (como “incompreendido” e “energético”).

Quadro 24: Existe algo que poderia melhorar no trabalho realizado, nas atividades, ou no núcleo? O quê? Aluno Resposta

A1 Não, nem nada. A2 Não, não. A3 Eu acho que a única coisa de ruim aqui é que só tem esse (núcleo de altas habilidades) aqui na Parque. A4 Não. Melhorar só se tivesse duas casinha igual a essa, com mais, mais aluno, mais atividade, melhorar

aumentar. A5 Pra mim não. Pra mim está tudo ótimo. Usar os computador. E colocar um videogame novo! A6 Tá tudo perfeito. [...] Ah! Só que os alunos não quebrem os computadores porque tem outras pessoas

que precisam usar.

Os alunos entrevistados têm uma percepção bastante positiva em relação ao NAAH/S

Bahia. Eles entendem que o núcleo é muito bom do jeito em que se encontra, e que de

maneira geral não precisa de modificações. Todos negam reiteradamente que precise de

alguma mudança, ou que haja algo de ruim no ambiente do núcleo. Apenas A5 e A6 fizeram

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ressalvas, ambos a respeito dos computadores, que carecem de melhor manutenção e

cuidados. Já A3 atenta para o fato de que só há um núcleo de altas habilidades, e que queria

que houvesse mais, “[...] porque tem gente que tem altas habilidades e não sabe que tem”.

Segundo o mesmo, apenas um núcleo não é o suficiente para identificar mais alunos. Os

estudantes não têm visão crítica a respeito do trabalho realizado com os mesmos, e a

percepção positiva advém das boas relações sociais construídas no NAAH/S Bahia, com os

professores e com os colegas.

No item a seguir, apresentam-se e discutem-se os dados obtidos a partir das

intervenções pedagógicas realizadas no NAAH/S Bahia, junto aos educandos que foram

identificados como portadores de altas habilidades/superdotação.

4.3 OBSERVAÇÕES DAS ATIVIDADES

O Quadro 25 mostrado a seguir sintetiza as informações obtidas através das

observações das intervenções pedagógicas realizadas no NAAH/S Bahia. Após, são realizadas

as discussões, fazendo-se referências ao ocorrido durante tais atividades junto aos alunos.

Quadro 25: Atividades de intervenção pedagógica presenciadas Observação Atividades desenvolvidas

1 Construção do “Jornal do Eu Mesmo” e jogo de palavras 2 Jogo “WAR” 3 Operações com o ábaco e problemas lógico-matemáticos envolvendo palitos 4 Resolução de problemas lógico-matemáticos (inclusive envolvendo palitos), e

jogo “Perfil” 5 Continuação do “Jornal do Eu Mesmo” 6 Construção do “Jornal do Eu Mesmo”, e jogo “Banco Imobiliário” 7 Construção do Portifólio do Talento 8 Leitura do “Jornal do Eu Mesmo”, e jogo “Perfil” 9 Construção do “Jornal do Eu Mesmo”, Sudoku, caça-palavras, jogo de

palavras, leitura e discussão de texto “A História do Lápis” 10 Leitura e discussão do texto “Um país que cai de bunda e chora”

Uma atividade que foi bastante utilizada, de acordo com as observações (Quadros 26,

30, 31, 33 e 34, no Apêndice A), foi a construção do “Jornal do Eu Mesmo”. Tal atividade é

uma das indicadas por Fleith (2007, vol. 2) para o desenvolvimento do autoconceito positivo

nos estudantes. Segundo a autora, autoconceito é o conjunto de crenças que o indivíduo tem a

seu próprio respeito, é a maneira como ele se enxerga enquanto ser social, formada a partir

das suas interações com o ambiente. Autoconceito é aquilo que “pensamos ou sentimos sobre

nós mesmos [...]” (DUARTE, 1992, p. 79). Assim, sugere-se tal atividade para que se eleve a

auto-estima do estudante, para que ele possa se autoconhecer. Ao mesmo tempo pode-se

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observar sua organização, suas habilidades de produção, e também características da

personalidade do indivíduo, a fim de que se possa trabalhar o melhor possível não só no

desenvolvimento das habilidades, mas também da pessoa humana.

Pôde-se observar também que em muitos encontros houve a utilização de jogos nas

intervenções com os alunos. Podemos citar as atividades lógico-matemáticas mencionadas

nos Quadros 28 e 29 (no Apêndice A), nas quais ocorria a presença do lúdico, seja nas

próprias discussões de problemas lógicos, ou nos problemas envolvendo palitos. Os alunos,

de maneira geral, tentavam com entusiasmo resolver os problemas e solucionar os desafios

propostos. Houve também uso de jogos em atividades envolvendo a Língua Portuguesa, como

os jogos de construção de palavras citados nos Quadros 26 e 34 (no Apêndice A), onde se

estimulou a criatividade para formar palavras com conjuntos de letras aleatórios. Além disso,

utilizou-se também de jogos como WAR, Banco Imobiliário e Perfil. Com tais jogos, pode-se

trabalhar com Geografia, com Matemática, desenvolvimento de estratégias, conhecimentos

gerais, tratamento de informações, atenção, respeito a regras, e também o “saber perder e

ganhar”. Além disso, como se pode perceber no Quadro 34 e 35 (no Apêndice A), estimulou-

se a discussão de temas a partir de textos diversos, como os presentes no Anexo.

O Quadro 32 (no Apêndice A) refere-se à atividade de construção do Portifólio do

Talento Total, que consiste em levantar os interesses e estilos de aprendizagem ou expressão

dos alunos, e agrupar produções já realizadas pelos mesmos. A partir daí, podem ser tomadas

decisões mais acuradas na indicação de futuros projetos a serem realizados pelos estudantes

(FLEITH, 2007, vol. 2). Assim, o passo posterior é a elaboração de um projeto de pesquisa,

como atividade de enriquecimento, com base nas informações que puderam ser extraídas dos

inventários do portifólio.

Um fato importante a evidenciar é a falta de planejamento das atividades realizadas.

Ao se questionar a respeito da existência de algum tipo de planejamento, foi reportado que

não se elabora planos de aula, nem outra sorte de plano informal, sem maiores justificativas.

Tal constatação leva a crer que não há organização a respeito das atividades a serem

desenvolvidas juntamente com os alunos, ou então que o tamanho da equipe é insuficiente

para a realização de todas as atividades do núcleo, deixando-se o planejamento das

intervenções junto aos estudantes em prioridade menor. As atividades do núcleo vão desde o

acompanhamento dos alunos, passando por reuniões na Secretaria de Educação, organização e

participação em eventos a respeito das altas habilidades/superdotação, visitação a escolas para

divulgação do núcleo e identificação de novos alunos, tratamento das listas de identificação

preenchidas por professores destas escolas, até a própria orientação de pais dos alunos. Cabe

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ressaltar também que durante o período de observação, a professora P5 deixou o NAAH/S

Bahia para trabalhar no Instituto Anísio Teixeira (IAT), o que dificultou ainda mais o trabalho

no núcleo.

Desta forma, encerramos a apresentação e discussão dos dados obtidos através das

entrevistas e das observações de atividades. No capítulo a seguir, realizam-se as

considerações finais, fazendo um paralelo entre os teóricos abordados neste trabalho e o que

foi observado na prática realizada no NAAH/S Bahia.

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CAPÍTULO V

CONCLUSÃO

O presente estudo teve como objetivo geral compreender acerca da intervenção

pedagógica do NAAH/S Bahia junto aos educandos com indicativos de altas

habilidades/superdotação na Escola Parque. Além disso, observaram-se e descreveram-se

atividades de ensino/aprendizagem no ambiente do NAAH/S Bahia, identificou-se elementos

didático-pedagógicos utilizados nas intervenções junto aos alunos, e também se identificou o

modo pelo qual os professores e os estudantes percebem a intervenção do NAAH/S Bahia,

além de ter-se discutido sobre a importância da modalidade de educação especial para

portadores de altas habilidades/superdotação. Assim, constatou-se que os elementos utilizados

nas atividades, e as próprias atividades em si não se caracterizam como enriquecedores, nem

estimuladores do desenvolvimento das habilidades, que é o objetivo do NAAH/S Bahia em

relação aos estudantes. Ainda, conclui-se que apesar dos profissionais demonstrarem ter

ciência dos conceitos relativos às altas habilidades/superdotação, não vêm sido propostas

atividades de enriquecimento, conforme preconizado pelos teóricos citados no capítulo II. E

por fim, verificou-se que os estudantes não têm uma visão crítica das atividades que eles

participam, já que entendem que não é preciso mudanças no espaço, nem nas atividades. Eles

compreendem o NAAH/S Bahia como um espaço lúdico, de aprendizagem, e também de

interações sociais positivas.

A partir dos resultados obtidos a partir das observações e entrevistas, pôde-se verificar

que o espaço do NAAH/S Bahia não se constitui num ambiente estimulador em relação ao

desenvolvimento dos talentos dos educandos. No núcleo encontram-se diversos suportes

textuais à disposição dos alunos como, por exemplo, revistas variadas, almanaques, livros de

curiosidades, história, romance, sudoku (quebra-cabeça baseado na colocação lógica de

números), caça-palavras, e palavras cruzadas. Esse conjunto de suportes de leitura funciona

como uma biblioteca, onde os alunos podem retirar os livros que acharem necessários,

mediante registro de empréstimo. Além destes, há no núcleo globo terrestre, filmes,

computadores, e jogos de tabuleiro diversos (como WAR, Perfil, Banco Imobiliário, Imagem

e Ação). Desta forma, o núcleo proporciona aos alunos interessantes atividades, sem serem

enfadonhas, já que em suas atividades há a presença do lúdico.

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Entretanto, tais práticas desenvolvidas no âmbito do NAAH/S Bahia não se

caracterizam como atividades de enriquecimento, ou atividades estimuladoras dos potenciais,

como preconiza a série de quatro volumes de orientação, produzida pelo MEC/SEESP. Com

base nos dados das observações, percebe-se que o trabalho do núcleo assemelha-se do que a

escola comum se propõe a realizar, desta forma distanciando-se do foco que é justamente

prover condições para que os alunos desenvolvam os seus talentos. E, para que isso ocorra,

necessita-se que haja atividades que enriqueçam a experiência dos estudantes, que os

instiguem a realizar pesquisas, fazer projetos e/ou produtos do próprio interesse, e através

disso trabalhe-se para o crescimento cognitivo dos mesmos, como postula Renzulli (2003).

Tal clientela exige atividades nos variados temas (poesia, artes, profissões, esportes,

tecnologia, saúde, línguas estrangeiras, e outros), e com um maior nível de profundidade, em

relação às observadas no NAAH/S Bahia.

Conforme verbalizado pelas profissionais do núcleo, existe a necessidade de uma

maior gama de recursos, que é um fator dificultador para o provimento de atividades

realmente condizentes com as necessidades educativas destes alunos. Devem ser criadas

parcerias com outras instituições (não só de ensino), governamentais e não-governamentais,

pois tais instituições, dando o suporte e acompanhamento nas diversas áreas do conhecimento,

podem estimular o desenvolvimento destes jovens. Neste sentido, a Escola Parque é um

parceiro muito importante do NAAH/S Bahia, já que oferece oficinas nos mais variados

campos do conhecimento. Tal parceria poderia ser melhor aproveitada, para de fato serem

estimulados os potenciais dos estudantes nestas oficinas, diferentemente do que tem ocorrido.

Apesar de serem atividades interessantes, não se tem focado no desenvolvimento das

habilidades. Cabe ao NAAH/S Bahia sistematizar com a Escola Parque a possibilidade de um

encaminhamento diferenciado nas oficinas, aproveitando a questão da proximidade física. No

caso de se conseguir parcerias externas à Escola Parque é importante salientar que as

atividades se dêem no âmbito do NAAH/S, já que o transporte dos alunos é outra dificuldade

constatada, inclusive motivo de evasão.

Os profissionais do NAAH/S Bahia percebem o núcleo como atividade desafiadora e

enriquecedora, que visa o desenvolvimento dos talentos dos educandos, e também entendem

como uma oportunidade/demonstração da preocupação do governo em relação à educação.

Além disso, concebem o trabalho como relevante, já que se propõem a desenvolver o

indivíduo integralmente, não somente das suas habilidades, mas também enquanto indivíduo.

Porém, em seus discursos se percebe uma visão incompleta em relação ao que o Documento

Orientador para a Implantação dos NAAH/S declara, uma vez que nem todas as entrevistadas

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falam a respeito dos três principais focos de atendimento do núcleo: o aluno, a família e os

professores. Também se observou que falta nos discursos das professoras (exceto por uma) a

menção ao desenvolvimento das potencialidades, que é a questão central para um

centro/núcleo de altas habilidades. No que diz respeito ao trabalho realizado, as profissionais

se sentem parcialmente satisfeitas. Isto porque existe uma série de problemas como a falta de

recursos (humanos e materiais), falta de uma maior interação na equipe (devido aos horários

diferenciados), de apoio de instituições governamentais e não-governamentais, e também a

desmotivação do professor em relação à educação.

Por sua vez, os alunos entendem o NAAH/S Bahia como um espaço acolhedor, que

ajuda a desenvolver os talentos, onde se aprende naturalmente e se divertindo, e que também

no mesmo se faz amigos, se encontra pessoas legais. Percebe-se que os estudantes não têm

postura crítica em relação à intervenção pedagógica, já que foi afirmado que não há o que se

melhorar no ambiente no NAAH/S, nem mesmo nas atividades, ainda que não se realizem

atividades estimuladoras de potenciais, e que existem temas de seus interesses que não são

explorados no núcleo.

Realizar o acompanhamento de indivíduos portadores de altas

habilidades/superdotação é bastante importante por dois fatores. O primeiro é em relação ao

desenvolvimento do indivíduo. Todos os educandos têm direito à educação, independente das

suas necessidades educacionais especiais. Desta maneira, atender tais necessidades, no

contexto da modalidade em questão significa dar suporte ao desenvolvimento dos talentos

destes estudantes em especial. Eles possuem demandas de aprendizagem, devido à sua “fúria

por dominar” (WINNER, 1998) e em virtude disso precisam não de motivação, mas sim de

um apoio, de algum educador que venha a ser um norteador na busca pelo conhecimento, pelo

desenvolvimento das habilidades superiores, em potencial ou já aparentes. Além disso, o

próprio desenvolvimento enquanto ser humano, que penso ser essencial em qualquer

modalidade de educação. Trabalhar o indivíduo nos aspectos motivacionais, sociais, para que

ele se sinta realizado enquanto pessoa, e tenha um autoconceito positivo. Já o segundo fator é

que se tais indivíduos, identificados com potencial superior, tiverem suas necessidades

educacionais atendidas, tiverem seus talentos acompanhados, estimulados, e direcionados

num caminho pró-sociedade, “do bem”, o próprio governo é beneficiado diretamente, e a

humanidade por conseqüência, pois terá se criado uma reserva social de pessoas bastante

competentes, dispostas a servir à sociedade. Do contrário, ou os talentos serão desperdiçados,

ou serão canalizados para caminhos torpes, como a criminalidade.

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APÊNDICE A – Observações das intervenções pedagógicas

Quadro 26: Observação do dia 11/07/2008

Ação das professoras (P1 e P2) Ação dos alunos (A3 e A7)

• P1 fala aos alunos que a atividade da tarde é

construir o “Jornal do Eu Mesmo”.

Questiona aos alunos se eles sabem como

fazer um jornal, e se lêem jornais

frequentemente;

• P1 fala da importância da leitura de jornais, e

explica como construir o próprio jornal;

• Na volta do intervalo, P2 realiza uma

atividade de jogo de palavras, que consiste

em formar palavras da Língua Portuguesa

com um conjunto de letras dado, em um

tempo definido;

• Após o término da rodada, P2 estimulava o

uso do dicionário para verificar se as

palavras apresentadas eram válidas segundo

as regras do jogo.

• Respondem que não têm costume de ler

jornais, que tem mais de seis meses que

não lêem um jornal;

• Concentram-se e começam a separar os

espaços para as diferentes seções.

Após, desenvolvem a primeira página

dos seus respectivos jornais, até o

intervalo do lanche;

• Escrevem as palavras num papel, no

intervalo de tempo definido;

• Acompanham a correção junto com P2.

Fonte: Dados da pesquisa de campo. Participantes: P1, P2, A3, A7.

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Quadro 27: Observação do dia 27/07/2008 Ação da professora (P5) Ação dos alunos (A1, A4 e A8)

• P5 fala aos alunos que a atividade da tarde é

o jogo “WAR”. Questiona aos alunos se eles

conhecem as regras, se já jogaram alguma

vez;

• P5 explica em linhas gerais como é o jogo.

Após, lê o livro de regras;

• Explica sobre os continentes, sobre os

territórios do “WAR” e inicia o jogo;

• P5 pega um globo terrestre, explica que o

mapa é uma planificação do globo, e que

Alaska e Vladivostok são bem próximos;

• Respondem que já ouviram falar do

jogo, mas nunca jogaram;

• Acompanham a leitura. Após um

tempo, ficam impacientes e sugerem o

início do jogo;

• Começam a distribuir as cartas, e ficam

animados durante o jogo. A1 fica em

dúvida porque é possível atacar do

território Vladivostok para Alaska, já

que estão em extremos opostos do

mapa;

• A1 mostra-se surpreso. Os alunos

continuam o jogo, até sair um

vencedor, que foi A4.

Fonte: Dados da pesquisa de campo. Participantes: P5, A1, A4, A8. Quadro 28: Observação do dia 06/08/2008

Ação da professora (P2) Ação dos alunos (A1 e A4)

• P2 introduz aos alunos as atividades da tarde,

que serão lógico-matemáticas. Diz que

inicialmente trabalhará com o computador

antigo;

• P2 diz que o objetivo da aula é que os alunos

percam o medo da Matemática, que não

achem difícil, e que acreditem que são

capazes de realizar as tarefas. Pergunta aos

alunos se, quando eles têm um objetivo, eles

desistem;

• P2 explana sobre a história da Matemática;

• P2 realiza atividades de representação de

números, além de operações como soma e

subtração, utilizando o ábaco;

• A4 diz que é o ábaco, e que a partir

deste foram criados os computadores

modernos. A1 fica meio desatento;

• A4 fala que tenta algumas vezes, mas

se não consegue desiste. A1 fala que

quem não deve não teme, e que encara

os objetivos;

• Ficam bem atentos à explicação.

Mostram-se bem interessados;

• Acompanham as atividades, e resolvem

os exercícios que P2 solicita. A4 realiza

com facilidade. A1 tem um pouco de

dificuldade, mas logo entende e realiza

com sucesso;

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Quadro 28: Observação do dia 06/08/2008 (cont.) Ação da professora (P2) Ação dos alunos (A1 e A4)

• P2 pega um livro de atividades matemáticas

e passa problemas envolvendo palitos, como

desafio para os alunos.

• Concentram-se para resolver os

problemas. A4 facilmente soluciona os

problemas, enquanto A1 demora um

pouco mais, porém também consegue

encontrar as soluções.

Fonte: Dados da pesquisa de campo. Participantes: P2, A1, A4. Quadro 29: Observação do dia 13/08/2008

Ação da professora (P2) Ação dos alunos (A4, A5, A6 e A7)

• P2 pergunta qual a metade de dois mais dois;

• P2 anota as respostas num papel em branco,

e pede para que os alunos justifiquem as suas

respostas;

• P2 afirma que há mais de uma resposta

correta para esta questão;

• P2 pergunta se é mais barato levar um amigo

ao cinema duas vezes, ou levar dois amigos

ao cinema apenas uma vez;

• P2 faz a discussão das respostas. Após, passa

um problema envolvendo palitos, para ser

resolvido individualmente;

• P2 chama A6 para participar da atividade,

sem sucesso;

• P2 pega o jogo “Perfil”, e explica a dinâmica

do mesmo.

• Respondem individualmente à

pergunta;

• Explicam as suas respectivas linhas de

raciocínio;

• Alunos discutem sobre as respostas;

• Respondem à pergunta, cada um à sua

maneira, e discutem entre si, para

chegar à resposta correta;

• A7 sai do espaço do núcleo, pois tem

oficina em outro local na escola. A6 se

dirige a outra sala, onde há um painel

sobre o sistema solar. A5 e A4

começam a resolver o problema, sem

maiores dificuldades;

• Após terminar a resolução, A4 vai ao

encontro de A6, e o convence a retornar

para as atividades;

• Jogam até o final da tarde, bem

entusiasmados, juntamente com P2.

Fonte: Dados da pesquisa de campo. Participantes: P2, A4, A5, A6, A7.

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Quadro 30: Observação do dia 22/08/2008 Ação da professora (P1) Ação da aluna (A2)

• P1 fala pra construir a seção dinheiro,

imaginar que ganha um salário e escrever

como vai administrá-lo;

• P1 pergunta se a aluna pratica algum esporte,

a fim de orientá-la a desenvolver a seção

esportes ;

• P1 dá instruções sobre a seção social;

• P1 fala que a seção classificados é uma

oportunidade pra anunciar o que se quer

“comprar” de bom para a sua personalidade

e o que quer “vender” de ruim;

• P1 orienta sobre a seção viagens, sugerindo

que a aluna dê alguma dica de viagem, ou

fale de algum lugar legal que conheceu;

• P1 dá instruções sobre a seção cidade, para

que se escreva algo sobre a sua cidade, sobre

algum ponto turístico dela;

• P1 orienta acerca da seção política,

sugerindo que a aluna faça sua plataforma

política para algum cargo fictício.

• Pensa no que vai colocar. Rapidamente

após termina a seção dinheiro;

• Responde que gosta de basquete,

beisebol e futebol americano, e escreve

a sua seção esportes;

• Desenvolve a seção social, falando dos

dois irmãos, e que costuma brigar com

eles. Além disso, relata que freqüenta a

seicho-no-ie;

• Fala que não pensa em nada que

gostaria de “comprar” ou “vender” de

características da sua personalidade;

• Pensa um pouco e redige a seção

viagens;

• Fala do Montserrat, que acha lá bonito,

e começa a desenvolver a seção cidade;

• Desenvolve a seção política sem

demorar muito.

Fonte: Dados da pesquisa de campo. Participantes: P1, A2. Quadro 31: Observação do dia 27/08/2008

Ação da professora (P2) Ação dos alunos (A1 e A5)

• P2 apresenta a atividade da tarde, que é a

confecção do “Jornal do Eu Mesmo”.

Distribui papéis pardos, material e pergunta

aos alunos se eles lembram quais são as

seções de um jornal;

• P2 mostra um jornal desenvolvido por outro

aluno, para eles terem uma idéia de como

seria o formato;

• Respondem que a preferida deles é a

seção esportes. Em seguida, citam

diversas seções;

• Começam a conversar bastante entre si.

A5 até consegue desenvolver

simultaneamente, porém A1 se dispersa

e não inicia de imediato a atividade;

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Quadro 31: Observação do dia 27/08/2008 (cont.) Ação da professora (P2) Ação dos alunos (A1 e A4)

• P2 chama a atenção de A1, falando que A5

conversa, porém desenvolve;

• P2 fala para eles voltarem à atividade;

• Na volta do intervalo, P2 dá o jogo Banco

Imobiliário.

• A1 então começa a criar as suas seções.

A5 se levanta, abre a mochila e tira

álbuns de figurinhas. A1 também

levanta e começa a olhar os álbuns,

largando a tarefa;

• Pedem para que eles possam concluir o

jornal na semana seguinte. Dá o horário

do intervalo, e eles vão lanchar;

• Já conhecem o jogo, e ficam se

divertindo, até o fim da tarde.

Fonte: Dados da pesquisa de campo. Participantes: P2, A1, A5. Quadro 32: Observação do dia 28/08/2008 (manhã)

Ação da professora (P1) Ação dos alunos (A2 e A9)

• P1 passa uma lista de questões, com a

finalidade de construir o Portifólio do

Talento dos alunos;

• Respondem o questionário;

Fonte: Dados da pesquisa de campo. Participantes: P1, A2, A9. Quadro 33: Observação do dia 28/08/2008 (tarde)

Ação das professoras (P1, P3 e P4) Ação dos alunos (A3 e A7)

• P1 pede para A3 ler o seu “Jornal do Eu

Mesmo”;

• P1, P3 e P4 fazem considerações e

indagações a respeito do jornal de A3;

• P1 adverte A7 para que ele não chegue mais

atrasado. Fala que tem percebido que ele está

desinteressado, não só no núcleo, mas

também na escola;

• P1 pega o jogo “Perfil”.

• A3 lê o jornal para as professoras;

• A3 responde às indagações e termina a

leitura do jornal. A7 chega após o

horário do intervalo;

• A7 pede desculpas e diz que irá

melhorar;

• Jogam até o fim da tarde, juntamente

com P1 e P2. Mostram-se bem

entusiasmados com o jogo.

Fonte: Dados da pesquisa de campo. Participantes: P1, P3, P4, A3, A7.

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Quadro 34: Observação do dia 03/09/2008 Ação da professora (P2) Ação dos alunos (A1, A3, A4 e A6)

• P2 fala que a atividade da tarde é a

construção do “Jornal do Eu Mesmo”;

• P2 orienta a respeito da atividade do jornal;

• P2 separa A4 e A6 em mesas diferentes na

sala. Fala para eles voltarem as atenções para

a produção do jornal;

• P2 chama a atenção dos alunos para que eles

evitem discussões, que não se dispersem, e

que se concentrem nas atividades solicitadas;

• P2 faz uma atividade de jogo de palavras,

determinando o tempo, e o conjunto de

letras;

• P2 pega um texto de Paulo Freire, intitulado

“A História do Lápis”. Explica em linhas

gerais do que se trata, e lê para os alunos.

• A1 fala que vai começar depois de

terminar o caça-palavras. A3 fica

resolvendo problemas de Sudoku. A4 e

A6 pegam o material para começar a

atividade;

• A4 desenvolve rapidamente. Já A6 faz

apenas o título, e se concentra na

marcação de linhas, sem desenvolver

texto algum. Um pouco após, A4 e A6

começam a discutir;

• A1 termina o caça-palavras e retoma o

seu jornal. A6 continua sem produzir, e

faz ruído para chamar a atenção. A1 e

A4 terminam suas atividades;

• Ouvem atentamente;

• A1, A3 e A4 participam com ânimo da

atividade, procurando fazer o máximo

de palavras. A6 continua desmotivado,

e não se esforça para formar as

palavras;

• Acompanham atentamente a leitura.

Após, realizam as discussões

juntamente com P2. Expressam que

gostaram do texto.

Fonte: Dados da pesquisa de campo. Participantes: P2, A1, A3, A4, A6. Quadro 35: Observação do dia 05/09/2008

Ação da professora (P2) Ação dos alunos (A3, A7 e A8)

• P2 faz a leitura do texto “Um país que cai de

bunda e chora”, de James Pizarro;

• P2 estimula as discussões, e que eles

expressem o que acharam do texto;

• P2 fala para A7 expor as opiniões dele sobre

o texto.

• Acompanham a leitura do texto, bem

interessados;

• Participam ativamente das discussões,

expondo seus pontos de vista, exceto

A7, que fica calado todo o tempo;

• A7 diz que não tem nada a falar.

Fonte: Dados da pesquisa de campo. Participantes: P2, A3, A7, A8.

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APÊNDICE B – Roteiros de Entrevistas

1. Roteiro de entrevista com o corpo pedagógico do NAAH/S Bahia:

- O que é o NAAH/S para você?

- Qual a sua formação acadêmica?

- Quanto tempo a senhora tem de experiência com altas habilidades?

- Tem participado de capacitações, cursos sobre altas habilidades?

- O processo de identificação e as atividades desenvolvidas no NAAH/S estão em

concordância com os referenciais teóricos da educação especial para altas habilidades?

- Qual a sua concepção de altas habilidades?

- Qual o objetivo/importância do acompanhamento a estes alunos?

- O que você teria a me dizer sobre altas habilidades junto a estudantes carentes? Há algum

diferencial no trabalho, algo de peculiar?

- Qual o grau de satisfação com o trabalho desenvolvido?

- Existe algo que poderia melhorar no trabalho realizado, na sua opinião? O quê?

2. Roteiro de entrevista com os estudantes que freqüentam o NAAH/S Bahia:

- O que é o NAAH/S para você?

- Qual a sua idade? E a sua série escolar?

- Você lembra o nome das escolas que você estudou? Eram todas públicas?

- O que você gosta de pesquisar, quais as atividades que você gosta de fazer?

- Por que você acha que foi indicado para participar do núcleo? Como você foi convidado?

- Há quanto tempo freqüenta o NAAH/S?

- Você gosta de freqüentar o NAAH/S? Por quê?

- O que é que você faz aqui?

- Você acha importante o trabalho desenvolvido aqui no NAAH/S? Por quê?

- Além daqui do núcleo, de que oficinas você participa aqui na Escola Parque?

- Você sabe o que é um aluno com altas habilidades? O que é isso para você?

- Existe algo que poderia melhorar no trabalho realizado, nas atividades, ou no núcleo? O

quê?

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ANEXOS

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A História do Lápis

Paulo Coelho

O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura, perguntou:

- Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E por acaso, é uma história sobre mim?

A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:

- Estou escrevendo sobre você; é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele, quando crescesse.

O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial. - Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida!

- Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo.

"Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade".

"Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas no final, ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas o farão ser uma pessoa melhor".

"Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da justiça".

"Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você".

"Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida, irá deixar traços, e procure ser consciente de cada ação".