EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA: estudo de caso em uma Instituição de Ensino Técnico e Tecnológico

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    UNIVERSIDADE FUMEC

    FACULDADE DE CIÊNCIAS EMPRESARIAIS – FACE

    MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

    OSVALDO NOVAIS JÚNIOR

    EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA: estudo de caso em umaInstituição de Ensino Técnico e Tecnológico

    Belo Horizonte – MG

    2012 

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    OSVALDO NOVAIS JÚNIOR 

    EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA: estudo de caso em umaInstituição de Ensino Técnico e Tecnológico 

    Dissertação apresentada ao Curso de Mestradoem Administração da Universidade FUMEC,como parte dos requisitos para a obtenção dotítulo de Mestre em Administração. 

    Área de concentração: Gestão Estratégica deOrganizações.

    Linha de pesquisa: Estratégia emOrganizações e Comportamento

    OrganizacionalOrientador: Prof. Dr. Henrique CordeiroMartins 

    Belo Horizonte – MG2012

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    Novais Júnior, Osvaldo

    N935e Educação empreendedora : estudo de caso em umainstituição de ensino técnico e tecnológico / Osvaldo NovaisJúnior – Belo Horizonte, 2012.

    130 f. : il.

    Orientador: Prof. Dr. Henrique Cordeiro Martins

    Dissertação (Mestrado em Administração) – UniversidadeFUMEC. FACE, Belo Horizonte, 2012.

    1. Empreendedorismo. 2. Educação empreendedora. 3.Desenvolvimento econômico. I. Martins, Henrique Cordeiro. II.Universidade FUMEC. FACE. III. Programa de Mestrado emAdministração. IV. Título.

    CDU 377.36

    Catalogação: Biblioteca Tarquínio J. B. de Oliveira - IFMG – Campus Ouro Preto 

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    Dedico esta dissertação aos meus pais, Osvaldo

    Novais (in memoriam) e Dona Lia, à minha

    esposa Dulce e aos meus filhos, Gabriela e Filipe.

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus, por me permitir existir e conviver com as pessoas que me são próximas.

    Aos meus pais, por terem valorizado minha educação e terem sempre me ajudado a vencer as

    dificuldades do caminho.

    A minha esposa e a meus filhos, por preservarem em mim o desejo de continuar a caminhada,

    buscando aprender mais e melhorar sempre como pessoa.

    Às minhas irmãs e a toda minha família, por eu poder compartilhar com eles minhas

    dificuldades e alegrias.

    Ao Prof. Dr. Henrique Cordeiro Martins, coordenador do Minter FUMEC/IFMG e orientador

    deste trabalho, pela disponibilidade e competente apoio ao longo do desenvolvimento desta

    pesquisa.

    Ao Prof. Dr. Luiz Antônio Antunes Teixeira e à Profa. Dra. Zélia Miranda Kilimnik, pelas

    críticas e sugestões enriquecedoras para conclusão desta pesquisa.

    A todos os colegas da primeira turma do Minter FUMEC/IFMG, pelo ambiente de cooperação

    e amizade durante o curso.

    Aos colegas da CODAAUT, pela amizade, pelo incentivo, pelo apoio e pelos momentos que

    sempre tenho o prazer de desfrutar com eles.

    A todos os servidores do IFMG e da FUMEC envolvidos no MINTER, pelo empenho em

    tornar um sucesso este Programa de Mestrado Interinstitucional.

    Aos alunos da primeira turma do IFMG em João Monlevade, pela honra de ter sido

    homenageado como paraninfo e pela preciosa ajuda para a realização desta pesquisa.

    Aos professores da primeira turma do IFMG em João Monlevade, por terem acreditado na

    proposta do Programa de Educação Empreendedora do curso e colaborado para que esta

    pesquisa fosse possível.

    A todos os professores do Minter FUMEC/IFMG, que me abriram as portas para a aquisição

    dos conhecimentos necessários para a conclusão deste trabalho.

    A todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram para este trabalho e com as quais pude

    conviver e aprender um pouco mais a cada dia. 

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    “Uma sociedade que sonha, composta porindivíduos cujo sonho é realizar o sonho dacomunidade, é uma ameaça para os que tentampreservar a estrutura de poder e impedirmudanças. Nesse sentido, sonhar é perigoso.”

    Fernando Dolabela 

    “Os resultados provêm do aproveitamento dasoportunidades e não da solução de problemas. Asolução de problemas só restaura a normalidade.As oportunidades significam explorar novoscaminhos.”

    Peter Druker

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    RESUMO 

    O Empreendedorismo é um tema que vem sendo discutido e incentivado em instituições devários níveis de ensino. Este trabalho buscou analisar a percepção dos atores envolvidos na

    implementação de um Programa de Educação Empreendedora em um curso técnico de uma

    Instituição de Ensino Técnico e Tecnológico, em relação ao conhecimento gerado pela sua

    implementação. O objetivo do Programa de Educação Empreendedora, unidade de observação

    desta pesquisa, foi mesclar formação técnica com desenvolvimento de habilidades gerenciais

    e empreendedoras. Quanto à metodologia, esta pesquisa é um estudo de caso, com objetivos

    descritivos e de natureza qualitativa e quantitativa. A coleta de dados foi realizada por meio depesquisa de campo, com a realização de entrevista focalizada de grupo, com três professores,

    e aplicação de questionários a 54 alunos egressos do curso. Para análise dos dados coletados

    na entrevista com os professores do curso, foi utilizada uma abordagem predominantemente

    qualitativa, com análise de conteúdo. Os dados obtidos com os questionários dos egressos

    foram tratados na versão 18 do software estatístico PASW, que possibilitou a realização das

    análises quantitativas do tipo exploratória, bivariada e cluster , além de algumas tabulações

    cruzadas. A análise das informações obtidas com os professores e com os egressos do curso, juntamente com os dados levantados na revisão bibliográfica, indicou a importância do ensino

    do empreendedorismo no contexto socioeconômico atual e a pertinência de sua promoção nas

    instituições de ensino. Essa categoria de ensino tem buscado o desenvolvimento de

    habilidades empreendedoras, além das habilidades técnicas específicas. Houve um grande

    comprometimento tanto dos professores quanto dos alunos em relação à abordagem

    metodológica do Programa de Educação Empreendedora desenvolvido durante o curso.

    Foram também identificadas e sugeridas algumas ações para o aprimoramento de um

    Programa de Educação Empreendedora no âmbito da Instituição. Os resultados apontam que,

    na percepção dos atores participantes do Programa de Educação Empreendedora, os

    conhecimentos adquiridos significaram o desenvolvimento de habilidades e atitudes que irão

    tanto fortalecer os egressos na carreira corporativa como incentivar e possibilitar a criação de

    novos negócios. 

    Palavras-chave: Empreendedorismo. Educação Empreendedora. DesenvolvimentoEconômico. 

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    ABSTRACT

    Entrepreneurship has been a discussed and incentivized subject within educational institutions

    of many teaching levels. The present work sought for the analysis of the understanding of

    engaged participants in the implementation of an Entrepreneurship Education Program in a

    technical course of a Technological and Technical Teaching Institution with regard to the

    knowledge what had been generated throughout its implementation. The purpose of such an

    Entrepreneurship Education Program, a unit under attention of this research, was combining

    technical background together with the development of managerial and entrepreneurial skills.

    As far as methodology is concerned this very research is a case study with descriptive

    objectives based on qualitative and quantitative approaches. Data collection wasaccomplished by means of a field study and the conducting of directed interviews with a

    group of 3 teachers making use of questionnaires to 54 recent graduated students. For the

    analysis of collected data during the interviews with the course teachers it had been

    predominantly used a qualitative approach with analysis of contents. All data compiled from

    applied questionnaires to the mentioned recent graduates had been computed through 18

    version of PASW statistics software which had enabled the accomplishment of the

    quantitative analysis of exploratory bivaried and cluster type besides some cross-checkedtabulations. From the analysis of obtained information from teachers and graduates, together

    with data considered in the bibliographic revision, it has been evidenced the importance of the

    instruction of entrepreneurship within present social and economic contexts and the

    pertinency of its furtherance at educational institutions aiming the evolution of

    entrepreneurism skillfulness as well, beyond specific technical abilities. Along with the

    development of the course, there had been a great commitment among teachers and students

    as to the methodological approach of the Entrepreneurship Education Program. It also had

    been pointed out and suggested some actions for the betterment and improvements of an

    Entrepreneurship Education Program within the scope of the institution. The outcome

    discloses that according to the perception of the participant actors to the Entrepreneurship

    Education Program, the acquired knowledge do represent the development of skills, abilities

    and disposition that will strengthen newcomers in the field of corporative careers as well as

    encouraging and making feasible the establishment of new business.

    Keywords: Entrepreneurship. Entrepreneurship Education. Economic Development. 

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    LISTA DE GRÁFICOS

    GRÁFICO 1: Evolução da taxa de empreendedores iniciais (TEA) – Brasil: 2002-2010 ... 30

    GRÁFICO 2: Empreendedores iniciais segundo tipo de atividade – Brasil: 2002-2010 ..... 32GRÁFICO 3: Característica dos programas de empreendedorismo, segundo a naturezadas IES .................................................................................................................................. 43

    GRÁFICO 4: Atividades de integração mais desenvolvidas, segundo a natureza das IES . 44

    GRÁFICO 5: Resultados esperados do Programa de Empreendedorismo ......................... 44

    GRÁFICO 6: Sugestão de aprimoramento do Programa de Empreendedorismo ............... 45

    GRÁFICO 7: Distribuição da amostra segundo o sexo ....................................................... 63

    GRÁFICO 8: Distribuição da amostra segundo a faixa etária ............................................ 64

    GRÁFICO 9: Distribuição da amostra segundo o estado civil ............................................ 64

    GRÁFICO 10: Distribuição da amostra segundo o grau de escolaridade ........................... 65

    GRÁFICO 11: Distribuição da amostra segundo a renda ................................................... 65

    GRÁFICO 12: Distribuição da atividade profissional atual ................................................ 66

    GRÁFICO 13: Familiares próximos possuem ou possuíram negócio próprio .................... 67

    GRÁFICO 14: Participação anterior em alguma outra atividade de ensinoempreendedorismo ................................................................................................................ 67

    GRÁFICO 15: Exerceu alguma atividade empreendedora (negócio próprio, mesmo que

    informal) ............................................................................................................................... 68GRÁFICO 16: Intenção de abrir um negócio próprio ......................................................... 69

    GRÁFICO 17: Área de interesse em abrir um negócio próprio .......................................... 69

    GRÁFICO 18: Distribuição do número de clusters ............................................................ 80

    GRÁFICO 19: Importância do apoio e incentivo ao empreendedorismo para odesenvolvimento econômico e social do país ....................................................................... 103

    GRÁFICO 20: O estudo do empreendedorismo deve se iniciar nos primeiros anos doensino fundamental .............................................................................................................. 103

    GRÁFICO 21: O desenvolvimento de habilidades empreendedoras nos alunos dos cursostécnicos é tão importante quanto a formação técnica específica .......................................... 104

    GRÁFICO 22: Somente a formação técnica de qualidade é suficiente para que os alunosegressos dos cursos técnicos enfrentem as exigências do mercado de trabalho atual .......... 104

    GRÁFICO 23: O empreendedorismo deve ser tratado como diretriz prioritária no doscursos técnicos ...................................................................................................................... 105

    GRÁFICO 24: As atividades propostas nas disciplinas e projetos desenvolvidos dentrodo Programa de Educação Empreendedora do curso foram calcadas mais na atividade dopróprio aluno, de forma mais prática e contextualizada com experiências do mundo real .. 105

    GRÁFICO 25: O Programa de Educação Empreendedora foi focado exclusivamente nateoria de administração do negócio ...................................................................................... 106

    GRÁFICO 26: Houve a presença de objeto claro no Programa de Educação

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    Empreendedora do curso para desencadear atitude proativa nos alunos .............................. 106

    GRÁFICO 27: A elaboração do plano de negócios é fundamental para uma avaliação daviabilidade técnica e econômica antes de abrir um negócio próprio .................................... 107

    GRÁFICO 28: As habilidades e competências empreendedoras buscadas no curso foramimportantes para quem pretende abrir e gerenciar um negócio próprio ............................... 107

    GRÁFICO 29: As habilidades e competências empreendedoras buscadas no curso foramimportantes para quem optar trabalhar como empregado em Uma empresa ....................... 108

    GRÁFICO 30: O Programa de Educação Empreendedora do curso ajudou você adesenvolver habilidades de trabalho em equipe ................................................................... 108

    GRÁFICO 31: O Programa de Educação Empreendedora do curso mostrou aimportância do estabelecimento de metas e planejamento ................................................... 109

    GRÁFICO 32: O Programa de Educação Empreendedora do curso ajudou a difundir nos

    alunos os conceitos sobre associativismo e competitividade ............................................... 109GRÁFICO 33: O Programa de Educação Empreendedora do curso ajudou a desenvolvera capacidade de compreensão sobre o papel da cooperação e da parceria comercial esocial ..................................................................................................................................... 110

    GRÁFICO 34: O Programa de Educação Empreendedora do curso ajudou despertar ointeresse dos alunos pelas questões ambientais e sociais ..................................................... 110

    GRÁFICO 35: O Programa de Educação Empreendedora do curso o habilitou a fazeruma análise dos riscos envolvidos para abrir um negócio próprio ....................................... 111

    GRÁFICO 36: O Programa de Educação Empreendedora do curso o despertou parabuscar identificar oportunidades no mercado para abrir um negócio próprio ...................... 111

    GRÁFICO 37: O Programa de Educação Empreendedora do curso o habilitou a fazeruma análise de viabilidade financeira para abrir um negócio próprio .................................. 112

    GRÁFICO 38: O Programa de Educação Empreendedora do curso o estimulou a buscarmais conhecimento administrativo ....................................................................................... 112

    GRÁFICO 39: O Programa de Educação Empreendedora do curso despertou em você anecessidade de criar modificações comportamentais ........................................................... 113

    GRÁFICO 40: O Programa de Educação Empreendedora do curso ajudou você a refletire compreender a importância da Ética Profissional .............................................................. 113

    GRÁFICO 41: O Programa de Educação Empreendedora do curso técnico que vocêconcluiu deu suporte (disciplinas, carga horária, infraestrutura) para abrir um negócio ..... 114

    GRÁFICO 42: Um grande empecilho para iniciar um negócio próprio hoje é o risco de onegócio dar prejuízo ............................................................................................................. 114

    GRÁFICO 43: Avalio os riscos econômicos de abrir um negócio próprio ......................... 115

    GRÁFICO 44: Analiso de forma criteriosa os desafios enfrentados para abrir um negóciopróprio .................................................................................................................................. 115

    GRÁFICO 45: Um grande empecilho para iniciar um negócio próprio hoje é anecessidade de alto investimento .......................................................................................... 116

    GRÁFICO 46: Possuo familiares ou outras fontes que podem me auxiliarfinanceiramente para abrir meu negócio .............................................................................. 116

    GRÁFICO 47: Um grande empecilho para iniciar um negócio próprio hoje é a grande

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    concorrência .......................................................................................................................... 117

    GRÁFICO 48: Avalio os riscos mercadológicos de abrir um negócio próprio ................... 117

    GRÁFICO 49: Um grande empecilho para iniciar um negócio próprio hoje é a

    burocracia (tempo necessário para abertura da empresa) ..................................................... 118GRÁFICO 50: Persisto e luto para abrir um negócio próprio, por mais que meu paísapresente barreiras burocráticas que dificultem esse processo ............................................. 118

    GRÁFICO 51: Um grande empecilho para iniciar um negócio próprio hoje é a falta deconhecimento técnico ........................................................................................................... 119

    GRÁFICO 52: Acredito que minha formação acadêmica contribui para minha intençãode abrir um negócio próprio ................................................................................................. 119

    GRÁFICO 53: Um grande empecilho para iniciar um negócio próprio hoje é a falta deexperiência profissional ........................................................................................................ 120

    GRÁFICO 54: Acredito que minha(s) experiência(s) profissional(is) anterior(es)contribui(em) para minha intenção de abrir um negócio próprio ......................................... 120

    GRÁFICO 55: Um grande empecilho para iniciar um negócio próprio hoje é adificuldade em enxergar uma boa oportunidade ................................................................... 121

    GRÁFICO 56: Estou sempre alerta às oportunidades e tento identificar empreendimentospouco explorados no mercado .............................................................................................. 121

    GRÁFICO 57: Um grande empecilho para iniciar um negócio próprio hoje é a alta cargatributária no Brasil ................................................................................................................ 122

    GRÁFICO 58: Avalio os riscos legais de abrir um negócio próprio ................................... 122

    GRÁFICO 59: Uma vantagem de trabalhar em um negócio próprio é a possibilidademaior de fazer o que gosta .................................................................................................... 123

    GRÁFICO 60: Considero ter capacidade para tomar as decisões necessárias para abrirum negócio próprio ............................................................................................................... 123

    GRÁFICO 61: Tenho confiança que sou capaz de abrir um negócio próprio ..................... 124

    GRÁFICO 62: Eu acredito que consigo fazer tudo que é preciso para abrir um negóciopróprio .................................................................................................................................. 124

    GRÁFICO 63: Eu tenho liberdade para tomar decisões relacionadas a abrir um negóciopróprio .................................................................................................................................. 125

    GRÁFICO 64: Se houvesse o apoio de uma incubadora de empresas estaria maisdisposto a abrir um negócio próprio hoje ............................................................................. 125

    GRÁFICO 65: Conto com o apoio de pessoas que fazem parte da minha rede derelacionamentos para abrir um negócio próprio ................................................................... 126

    GRÁFICO 66: Creio que é importante consultar minha rede de contatos antes de tomardecisões sobre abrir um negócio próprio .............................................................................. 126

    GRÁFICO 67: Procuro oportunidades de conhecer pessoas que possam me auxiliar aabrir meu negócio próprio .................................................................................................... 127

    GRÁFICO 68: Avalio se a qualidade do(s) meu(s) produto(s) e/ou serviço(s) atende(m)ao mercado antes de abrir um negócio próprio ..................................................................... 127 

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    LISTAS DE QUADROS

    QUADRO 1: Taxas médias TEA segundo o nível de desenvolvimento econômico ......... 31

    QUADRO 2: Aspectos do processo empreendedor ........................................................... 35

    QUADRO 3: O empreendedorismo em cursos de graduação no Brasil (1981/1999) ....... 39

    QUADRO 4: Objetivos da educação empreendedora ....................................................... 41

    QUADRO 5: Competências empreendedoras ................................................................... 42

    QUADRO 6: Descrição dos instrumentos de coletas de dados ......................................... 49

    QUADRO 7: Matriz curricular do Curso Técnico ............................................................ 54 

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    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 - Caracterização da amostra total segundo as dimensões do programa de

    empreendedorismo ...................................................................................... 71

    TABELA 2 - Avaliação dos escores referentes às dimensões de Programa deEducação Empreendedora na amostra total ................................................ 71

    TABELA 3 - Caracterização da amostra total segundo a dimensão“Empreendedorismo” ................................................................................... 72

    TABELA 4 - Caracterização da amostra total segundo a dimensão “Metodologia deeducação empreendedora” .......................................................................... 73

    TABELA 5 - Caracterização da amostra total segundo a dimensão “Implicações eexpectativas do conhecimento gerado” ....................................................... 74

    TABELA 6A - Caracterização da amostra total segundo a dimensão “Iniciar umnegócio próprio” ......................................................................................... 75

    TABELA 6B - Caracterização da amostra total segundo a dimensão “Iniciar umnegócio próprio” ......................................................................................... 76

    TABELA 7 - Avaliação dos escores referentes às dimensões do Programa deEducação Empreendedora na amostra total por sexo ................................. 77

    TABELA 8 - Níveis médios das dimensões do Programa de EducaçãoEmpreendedora na amostra total entre as duas categorias da faixaetária ............................................................................................................ 77

    TABELA 9 - Níveis médios das dimensões do Programa de EducaçãoEmpreendedora na amostra total entre as duas categorias do estadocivil ............................................................................................................. 78

    TABELA 10 - Níveis médios das dimensões do Programa de Educação

    Empreendedora na amostra total entre as duas categorias da renda ........... 78

    TABELA 11 - Caracterização dos clusters na amostra total .............................................. 81

    TABELA 12 - Estatísticas descritivas das dimensões do Programa de EducaçãoEmpreendedora para os diferentes grupos (clusters) de estudantes ............ 82

    TABELA 13 - Tabulação cruzada: sexo versus cluster ..................................................... 83

    TABELA 14 - Tabulação cruzada: faixa etária versus cluster ........................................... 83

    TABELA 15 - Tabulação cruzada: estado civil versus clusters  ......................................... 84

    TABELA 16 - Tabulação cruzada: renda versus clusters  .................................................. 84

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CESBRASIL Centro Brasileiro de Empresas Simuladas

    CRC Centro de Recondicionamento de Computadores

    ENANPAD Encontros da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação emAdministração

    FGV Fundação Getúlio Vargas

    GEI Global Education Initiative

    GEM Global Entrepreneurship Monitor

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    IES Instituição de Ensino Superior

    IFMG Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais

    MBA Master of Business Administration

    MEC Ministério da Educação

    MP Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

    MPE Micro e Pequena Empresa

    ONU Organização das Nações Unidas

    PEE Programa de Educação Empreendedora

    PIB Produto Interno Bruto

    PIBEX Programa Institucional de Bolsas de ExtensãoSEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

    SLTI Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação

    TEA Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial

    TI Tecnologia da Informação

    UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization 

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    SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 17

    1.1 Objetivos ................................................................................................................. 19

    1.1.1 Objetivo geral ......................................................................................................... 19

    1.1.2 Objetivos específicos .............................................................................................. 20

    1.2 Justificativa ............................................................................................................. 20 

    2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 22

    2.1 Empreendedorismo ................................................................................................. 22

    2.1.1 Os pioneiros no campo do empreendedorismo....................................................... 222.1.1.1 A escola econômica ................................................................................................ 22

    2.1.1.2 A escola comportamentalista .................................................................................. 26

    2.1.2 O campo de pesquisa do empreendedorismo ......................................................... 27

    2.1.3 Empreendedorismo e desenvolvimento econômico ............................................... 29

    2.2 O processo empreendedor ...................................................................................... 33

    2.3 Educação empreendedora ....................................................................................... 38 

    3 METODOLOGIA ................................................................................................... 46

    3.1 Tipo de pesquisa ..................................................................................................... 46

    3.2 Unidade de observação e sujeitos de pesquisa ....................................................... 48

    3.3 Coleta e tratamento de dados .................................................................................. 48

    3.3.1 Instrumentos de coleta de dados ............................................................................. 48

    3.3.2 Técnica de análise da entrevista em grupo com professores .................................. 49

    3.3.3 Técnica de análise dos questionários com os egressos ........................................... 51

    3.4 Descrição do caso ................................................................................................... 52

    3.4.1 O IFMG .................................................................................................................. 52

    3.4.2 O curso .................................................................................................................... 53

    3.4.3 Projetos desenvolvidos durante o PEE do curso .................................................... 55

    3.4.3.1 O Projeto CRC ........................................................................................................ 55

    3.4.3.2 O Projeto Empresa Simulada .................................................................................. 57 

    4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................ 59

    4.1 Entrevista com os professores ................................................................................ 59

    4.2 Questionário aplicado aos egressos ........................................................................ 63

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    4.2.1 Análise descritiva das variáveis demográficas e ocupacionais ............................... 63

    4.2.2 Análise descritiva das experiências e intenções empreendedoras .......................... 66

    4.2.3 Análise descritiva das dimensões do PEE .............................................................. 70

    4.2.4 Análise bivariada .................................................................................................... 76

    4.2.5 Análise de cluster .................................................................................................... 79

    4.2.6 Análise da tabulação cruzada dos clusters versus variáveis demográficas ............. 82 

    5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .............................................................. 86 

    REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 91 

    ANEXO A - Planos de Ensino das Disciplinas de Gestão e Empreendedorismo... 96 

    APÊNDICE A – Carta de Apresentação ................................................................. 98 

    APÊNDICE B – Instrumento de Pesquisa .............................................................. 99 

    APÊNDICE C – Histogramas dos indicadores da terceira parte do questionário .. 103 

    APÊNDICE D – Respostas à questão aberta da quarta parte do questionário ...... 128

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    BÜLLAU, 2005; SOUZA, 2005). A pesquisa SEBRAE (2007) mostra uma melhora nas taxas

    de sobrevivência e de queda na mortalidade de empresas no Brasil nos anos 2000. Essa

    pesquisa ainda aponta a falta de habilidades gerenciais, baixa capacidade empreendedora e

    problemas de logística operacional como as principais causas do insucesso do empreendedor.

    Nessa perspectiva, vários estudos destacam a importância dos programas de educação

    empreendedora para o desenvolvimento de habilidades, atitudes e comportamentos

    necessários para criar empregos, promover o crescimento econômico, melhorar as condições

    de vida e estimular a inovação para enfrentar os desafios que as mudanças globais impõem

    (DOLABELA, 1999; CRUZ JR. et al., 2006; LOPES, 2010; GEI, 2009).

    Nesse contexto de aceleradas mudanças econômicas e tecnológicas que estão acontecendo nas

    empresas, organizações filantrópicas, públicas e privadas, assim como na sociedade em geral,

    observa-se uma grande transformação no planejamento e na gestão das carreiras (BARUCH,

    2011). As instituições de ensino técnico e tecnológico, que há pouco tempo tinham uma

    perspectiva de carreira para seus egressos apenas dentro de grandes organizações, devem hoje

    também se preocupar em prepará-los para fortalecer sua empregabilidade e para buscar

    caminhos alternativos que possam contribuir para o sucesso em suas carreiras.

    O Global Entrepreneurship Monitor (GEM), desde 1999, monitora o nível de

    empreendedorismo no Brasil e em 59 países. Na área de educação e capacitação para o

    empreendedorismo, esse grupo de pesquisa preconiza que, para o fortalecimento do

    empreendedorismo no Brasil, é necessário que as escolas revejam seus currículos e insiram

    neles projetos pedagógicos que mesclem formação técnica com desenvolvimento de

    habilidades empreendedoras.

    O processo de Educação Empreendedora, segundo Filion (1999), é diferente do processo de

    ensino tradicional. A Educação Empreendedora deve se calcar mais na atividade do próprio

    aluno, de forma mais prática e contextualizada com experiências do mundo real. Essa seria

    uma forma de preparar o indivíduo para lidar com as incertezas, a falta de recursos e os

    desafios típicos do início de um empreendimento. Também segundo Lopes (2010), na

    Educação Empreendedora fica clara a ênfase na ligação entre o mundo real e esse tipo de

    ensino, que deve usar recursos, estratégias e contexto com os quais os participantes se

    defrontarão ou já se defrontaram na vida, criando, assim, uma aprendizagem significativa.

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    De acordo com Degen (2009), a Educação Empreendedora, na maioria das escolas técnicas e

    universidades, promove o empreendedorismo focado exclusivamente na tecnologia e na

    administração do negócio. Entretanto outras abordagens são possíveis e têm muito a

    contribuir para os candidatos a empreendedor e ajudá-los a desenvolver oportunidades de

    negócio voltadas para o desenvolvimento sustentável e para promover a inclusão social. As

    instituições de ensino devem ter ações de extensão e de pesquisa que desenvolvam a cultura

    empreendedora, oferecendo cursos e treinamentos, desenvolvendo projetos de pesquisa em

    inovação e empreendedorismo, tanto de negócios quanto social (GUERRA; GRAZZIOTIN,

    2010).

    O curso técnico objeto de observação desta pesquisa teve sua matriz curricular planejada deforma que, em cada semestre letivo, fosse ofertada uma disciplina obrigatória voltada para o

    desenvolvimento de competências e habilidades na área de gestão e empreendedorismo.

    Durante o curso, foi desenvolvido um projeto interdisciplinar de extensão chamado Projeto

    Centro de Recondicionamento de Computadores - CRC, que possibilitou aos alunos

    colocarem em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula por meio de atividades

    integradas com as empresas e a comunidade da região. No final do curso, foi proposto um

    trabalho em grupo chamado Projeto Empresa Simulada, em que os alunos fizeram aapresentação de planos de negócios abrangendo todos os conhecimentos desenvolvidos

    durante as disciplinas de gestão e empreendedorismo. As disciplinas obrigatórias na área de

    gestão e empreendedorismo, juntamente com o Projeto Empresa Simulada e o projeto

    interdisciplinar de extensão, constituíram o Programa de Educação Empreendedora do curso.

    Esta pesquisa foi desenvolvida a partir da seguinte questão: a proposta desta pesquisa é

    conhecer quais são as percepções dos atores envolvidos em um Programa de EducaçãoEmpreendedora, em relação ao conhecimento gerado com a sua implementação?

    1.1 Objetivos

    1.1.1 Objetivo geral

    Analisar a percepção dos atores envolvidos na implementação de um Programa de Educação

    Empreendedora (PEE) em um curso técnico de uma instituição de ensino técnico e

    tecnológico, em relação ao conhecimento gerado pela sua implementação.

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    1.1.2 Objetivos específicos

    Com esta pesquisa buscou-se:

    −  Avaliar a metodologia utilizada na percepção dos atores envolvidos na

    implementação de um Programa de Educação Empreendedora.

    −  Avaliar os resultados e as expectativas dos conhecimentos gerados com a

    implantação de um Programa de Educação Empreendedora em um curso técnico.

    −  Identificar novas ações necessárias para o aprimoramento de um Programa de

    Educação Empreendedora no âmbito de uma instituição de ensino técnico e

    tecnológico.

    1.2 Justificativa

    O Empreendedorismo é considerado hoje uma força que pode ter um grande impacto no

    crescimento econômico e no aprimoramento das condições de vida da população, com a

    geração de empregos e desenvolvimento social (CORDEIRO; ARAÚJO; SILVA, 2006;

    CRUZ JR. et al., 2006; DEGEN, 2009; DOLABELA, 1999; LOPES, 2010; GEI, 2009;

    HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2009).

    […] chama a atenção a Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial (TEA)em 2010, de 17,5%, que é a maior já registrada desde que a GEM começou aser realizada no país. Levando em conta uma população adulta no país emtorno de 120 milhões de pessoas, esse valor representa 21,1 milhões debrasileiros empreendendo no ano passado. Em números absolutos deempreendedores, este é menor apenas que o registrado na China (GEM,2010, p. 25). 

    Segundo Hisrich, Peters e Shepherd (2009), o empreendedorismo vem sendo cada vez maisincentivado por instituições educacionais, governos, sociedade e corporações. A importância

    da educação empreendedora é cada vez maior e, em várias instituições de ensino de diversos

    países, observa-se o oferecimento de cursos e incentivos à pesquisa acadêmica nessa área.

    Vários pesquisadores afirmam que, para o futuro, essa tendência continuará e que a formação

    para o empreendedorismo deverá acompanhar essa demanda por cursos e disciplinas

    específicas na área. 

    O estudo do empreendedorismo é relevante atualmente não só porque ajudaos empreendedores a melhor atender a suas necessidades pessoais, mas

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    também devido à contribuição econômica dos novos empreendimentos. Maisdo que aumentar a renda nacional através da criação de novos empregos, oempreendedorismo atua como uma força positiva no crescimento econômicoao servir como ponte entre a inovação e o mercado (HISRICH; PETERS;SHEPHERD, 2009, p. 43). 

    A educação e capacitação para o empreendedorismo dentro dos cursos técnicos e tecnológicos

    é uma alternativa viável não só para abrir portas para iniciativas mais seguras de criação de

    novos negócios, como também para o desenvolvimento de competências muito valorizadas

    atualmente pelas empresas (CORDEIRO; ARAÚJO; SILVA, 2006).

    A educação empreendedora é um tema que tem despertado o interesse de pesquisadores e

    gestores de várias instituições de ensino. Entretanto, segundo Lopes (2010, p. XIII), “atemática Educação Empreendedora ainda carece de uma discussão mais sólida e embasada,

    que ajude em seu amadurecimento e norteamento, estimulando sua disseminação de forma

    mais profissional e eficaz”.

    As pesquisas mais recentes sobre empreendedorismo e educação empreendedora no Brasil

    apontam para a necessidade de um enfoque voltado para a avaliação da satisfação dos alunos

    egressos dos cursos e programas de empreendedorismo (SOUZA; GUIMARÃES, 2005).

    […] justifica-se estudar até que ponto os programas de estímulo e educaçãoempreendedora têm sido eficazes. Existem muitos meios e recursosdisponíveis para a busca de aprendizado e informação relacionados aoempreendedorismo, mas é necessário saber até que ponto a participação deum indivíduo num programa dessa natureza cria modificaçõescomportamentais e estimula-o a buscar mais conhecimento administrativo(ROESE; BINOTTO; BÜLLAU, 2005, p. 3). 

    Este trabalho pretende contribuir para a compreensão de fatores que ajudem na eficácia dosmétodos e técnicas de ensino do empreendedorismo em uma instituição de ensino técnico e

    tecnológico.

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    2 REFERENCIAL TEÓRICO

    Neste capítulo, apresenta-se a fundamentação teórica que sustenta este trabalho. No primeiro

    tópico deste capítulo, o tema empreendedorismo é analisado sob a ótica dos seus principais

    autores, quais sejam, Bruyat e Julien (2000); Drucker (2008); Gartner (1989); Schumpeter

    (1961; 1988); McClelland (1972) e Shane e Venkataraman (2000), por meio de uma revisão

    da literatura. São apresentados os principais conceitos e teorias sobre o empreendedorismo

    que formam a base de conhecimento que permite compreender o que é o empreendedorismo e

    quem é o empreendedor. A importância do empreendedorismo para o desenvolvimento

    econômico dos países também é discutida nesse tópico. A seguir, busca-se explicar como

    acontece a ação empreendedora e as principais etapas de elaboração de um plano de negócio

    para explorar uma oportunidade. No final deste capítulo, aborda-se o surgimento e a evolução

    do ensino do empreendedorismo no Brasil e no mundo, assim como os princípios da educação

    empreendedora.

    2.1 Empreendedorismo

    2.1.1 Os pioneiros no campo do empreendedorismo

    Duas correntes principais de pesquisadores sobre o empreendedorismo são identificadas nos

    trabalhos sobre esse tema (CAMARGO; CUNHA; BULGACOV, 2008; DOLABELA, 1999;

    MACÊDO; BOAVA, 2008; MACÊDO; BOAVA; SILVA, 2009; LIMA, 2008; SALVADOR,

    2007). Inicialmente, os economistas, pioneiros no campo, que associaram o empreendedor à

    inovação e têm como destaque o economista Joseph Alois Schumpeter. Mais tarde, os

    comportamentalistas, que se concentraram nos aspectos atitudinais, como a intuição e acriatividade.

    2.1.1.1 A escola econômica

    O termo “empreendedor” surgiu na França entre os séculos XVII e XVIII para identificar

    pessoas com espírito aventureiro que estimulariam o progresso econômico, encontrando novas

    formas de fazer as coisas. Segundo Oliveira, Filion e Chirita (2008), Richard Cantillon foi oprimeiro a utilizar o termo no seu livro Ensaio sobre a natureza do comércio em geral (1755).

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    Nessa obra, Cantillon descreve o empreendedor como um indivíduo que paga certo preço para

    comprar a matéria-prima que transformará e revenderá a um preço incerto, assumindo o risco

    dessa operação.

    Outro francês, Jean-Baptiste Say, descreveu o empreendedor no seu Tratado de economia

     política (1803) como um indivíduo que possui certas qualidades que lhe permitem criar novas

    empresas e que, ao mesmo tempo, tem perspicácia excepcional para compreender as

    necessidades da sociedade e as maneiras de satisfazê-las (OLIVEIRA; FILION; CHIRITA,

    2008). Para Say (1803) citado por Oliveira, Filion e Chirita (2008), o empreendedor é

    diferente do capitalista, já que este assume risco ou incertezas, enquanto a característica

    principal daquele é a capacidade de obter e organizar fatores de produção, criando valor.

    No início do século XX, o economista Joseph Alois Schumpeter associou o termo

    empreendedor à ideia de inovação, atribuindo ao perfil inovador do empreendedor a origem

    da força motora que sustenta o capitalismo. Schumpeter ajudou a formar e a compreender o

    conhecimento que se tem hoje sobre o processo empreendedor, principalmente sobre os

    fatores relevantes no processo de identificação de oportunidades no empreendedorismo

    (DOLABELA, 1999; BRUYAT; JULIEN, 2000).

    Segundo Schumpeter (1988), o fenômeno do empreendedorismo é o fator de inovação e

    mudança responsável pelo desenvolvimento econômico. Ele descreve a figura do

    empreendedor como um agente econômico que traz novos produtos para o mercado por meio

    de novas e mais eficientes combinações dos fatores de produção ou pela aplicação prática de

    alguma invenção ou inovação tecnológica.

    Schumpeter (1961) chamou de “processo de destruição criadora” à identificação e ao

    desenvolvimento de oportunidades e ao uso, de modo inovador, dos fatores produtivos

    disponíveis.

    […] o impulso fundamental que põe e mantém em funcionamento a máquinacapitalista procede dos novos bens de consumo, dos novos métodos deprodução ou transporte, dos novos mercados e das novas formas deorganização industrial criadas pela empresa capitalista (SCHUMPETER,

    1961, p. 110).

    Por meio desse processo, são gerados constantemente no mundo capitalista novos produtos,

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    serviços, métodos de produção e mercado, aos quais ele chamou de “novas combinações”.

    Segundo Schumpeter (1988), essas novas combinações são desenvolvidas por indivíduos

    portadores de características especiais, portanto detentores de habilidades específicas,

    responsáveis pela promoção do desenvolvimento econômico. Essas novas combinações

    podem ser classificadas em cinco categorias:

    1) Introdução de um novo bem ou qualidade de um bem, portanto algo com que os

    consumidores ainda não estão familiarizados.

    2) Introdução de um novo método de produção ou de uma nova maneira de manejar

    comercialmente uma mercadoria. Uma nova descoberta científica para um método

    que ainda não tenha sido testado em um ramo específico da indústria detransformação.

    3) Abertura de um novo mercado, ou seja, um mercado no qual um produto ou

    serviço ainda não tenha sido explorado ou mesmo existido.

    4) Descoberta de uma nova fonte de matéria-prima ou de bens semimanufaturados

    que ainda não tenham sido explorados ou mesmo conhecidos.

    5) Estabelecimento de uma nova organização qualquer na indústria, como a ruptura

    ou a criação de uma posição de monopólio.

    A realização de novas combinações é supostamente o emprego diferente da oferta dos meios

    produtivos existentes no sistema econômico. Portanto a função do empreendedor, na visão de

    Schumpeter (1988), é de reformar ou revolucionar os meios de produção, criando novas

    possibilidades tecnológicas para produção de novos produtos ou serviços.

    Para a realização de combinações novas, o financiamento é apontado por Schumpeter (1988)como um recurso especial e fundamentalmente necessário, tanto na prática quanto na teoria.

    Sem esse recurso, não seria possível a obtenção das somas necessárias à aquisição dos meios

    de produção, caso o empreendedor não as tivesse. Assim, ele atribui um papel fundamental ao

    crédito como uma transferência temporária do poder de compra, a fim de possibilitar ao

    empreendedor executar novas combinações e promover o desenvolvimento econômico.

    Schumpeter (1988) chama a atenção também para a distinção que deve ser feita entre o

    empreendedor, o gerente, o administrador, o empresário ou capitalista. Alguém só é

    empreendedor quando efetivamente leva a cabo novas combinações, e, muitas vezes, pode

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    perder esse caráter depois de ter montado o seu negócio e passado a administrá-lo como

    fazem muitos homens de negócios no seu dia a dia. Ele também afirma que, embora os

    empresários possam naturalmente ser inventores, deve ser feita uma distinção entre invenção

    e inovação. As invenções são irrelevantes economicamente enquanto não forem levadas à

    prática. As inovações, por outro lado, cuja realização é função dos empresários, não precisam

    ser necessariamente invenções.

    Para Schumpeter (1988), a atividade econômica pode ter qualquer motivo, até mesmo

    espiritual, porém seu significado é sempre a satisfação de necessidades. Esse aspecto da

    satisfação de necessidade é muito importante na identificação de oportunidades e consequente

    definição do objetivo da produção tecnológica. Segundo esse autor, não haveria nenhumaação econômica se não houvesse nenhuma necessidade. O sistema econômico é que determina

    o desenvolvimento de métodos produtivos para bens procurados, portanto é o gerador de

    inovações.

    Apesar de o empresário inovador ser apresentado como um tipo especial, talentoso, motivado

    e capaz de perceber as oportunidades para satisfação de necessidades do mercado e realização

    de negócios rentáveis, a motivação dele não seria devida exclusivamente ao desejo de lucro:

    […] antes de tudo, há o sonho e a vontade de fundar um reino particular,geralmente, embora não necessariamente, uma dinastia também […]. Depoishá o desejo de conquistar; o impulso de lutar, para provar a si mesmo que ésuperior aos outros, ter sucesso, não pelos frutos que podem daí advir, maspelo sucesso em si […]. Finalmente há a alegria de criar, de realizar ascoisas, ou simplesmente de exercitar sua energia e engenhosidade(SCHUMPETER, 1988, p. 65).

    Camargo, Cunha e Bulgacov (2008) consideram que a leitura cuidadosa da obra pioneira deSchumpeter aponta o empreendedor não como uma variável única, mas como um agente

    envolvido em uma rede de relações sociais que lhe dá suporte. A ação empreendedora é, nesse

    ponto de vista, um processo coletivo e um fenômeno social, e a liderança do empreendedor

    também é fator fundamental para o sucesso dessa ação.

    […] o significado da ação empreendedora é mais bem apreendido enquantoação social que descreve o empreendedor nas suas relações com capitalistas

    e gerentes, nas quais utiliza seu carisma e liderança para convencer eintroduzir no mercado os novos produtos e serviços. O que aqui se destacasão as relações sociais dando suporte à ação empreendedora, ao mesmotempo em que a inovação vai provocar mudanças no ambiente e nas relações

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    sociais. [...] o empreendedor exerce o papel de líder; aquele que enfrentapreconceitos, supera resistências, educa consumidores para que aceitemnovas combinações e consegue concessão de crédito junto aos capitalistas(CAMARGO; CUNHA; BULGACOV, 2008, p. 114).

    2.1.1.2 A escola comportamentalista

    David C. McClelland foi o autor pioneiro a evidenciar a contribuição das ciências do

    comportamento para o estudo empreendedorismo. McClelland (1972) descreve sua pesquisa,

    em que buscou demonstrar, por métodos rigorosamente quantitativos, que certos fatores

    psicológicos são importantes no desenvolvimento econômico. Seu trabalho consistiu em

    buscar elementos para comprovar a hipótese de que o fator psicológico, ao qual ele chamoude nível de “n Realização” (abreviatura de “necessidade de realização”), era responsável pelo

    desenvolvimento econômico.

    Segundo esse autor,

    […] em termos genéricos, a hipótese afirma que uma sociedade que tenhaum nível geralmente elevado de n Realização produzirá um maior número de

    empresários ativos, os quais, por sua vez, darão origem a umdesenvolvimento econômico mais rápido (MCCLELLAND, 1972, p. 254).

    Por seu trabalho, McClelland é considerado o pai da escola comportamentalista, que dominou

    o campo do empreendedorismo por 20 anos, até o início dos anos de 1980. Naquela época,

    inúmeras publicações descreveram uma série de características atribuídas aos

    empreendedores, tais como: inovação, liderança, riscos moderados, independência,

    criatividade, energia, tenacidade, originalidade, otimismo, orientação para resultados,

    flexibilidade, habilidade para conduzir situações, necessidade de realização, autoconsciência,autoconfiança, envolvimento em longo prazo, tolerância à ambiguidade e à incerteza,

    iniciativa, capacidade de aprendizagem, habilidade na utilização de recursos, sensibilidade ao

    outro, agressividade, tendência a confiar nas pessoas e visão do dinheiro como medida de

    desempenho (FILION, 1999).

    Macêdo e Boava (2009) observam que a principal distinção entre a perspectiva econômica e a

    comportamental do empreendedorismo é que, enquanto os economistas, em seus estudos,

    privilegiam a questão da inovação como fator chave, os comportamentalistas têm como

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    referência básica de investigação a questão do perfil empreendedor. Apesar dessas diferenças

    de abordagem do empreendedorismo, tanto McClelland, como Schumpeter veem o

    empreendedor como um agente do desenvolvimento econômico.

    […] ambos os teóricos compartilham da mesma concepção instrumental desociedade, marcada por uma positividade que é própria da modernidade e daciência moderna: ambos legitimam um modelo econômico essencialmentede mercado (CAMARGO; CUNHA; BULGACOV, 2008, p. 119). 

    2.1.2 O campo de pesquisa do empreendedorismo

    O campo de estudos de empreendedorismo é reconhecido como de fundamental importância

    para nossa economia e, após a década de 1980, passou por considerável expansão em

    diferentes áreas, como a social, a econômica, a política e a comportamental (SOUZA, 2005).

    As alterações presenciadas nas condições de trabalho nas três últimas décadas justificam a

    necessidade de se encontrarem alternativas para inclusão da força de trabalho (MELLO et al.,

    2010).

    Mello et al. (2010) observam que, no Brasil, as pesquisas na área ganharam volume a partir da

    década de 1990 e passaram a ser sistematizadas a partir de 2000, principalmente por meio da

    divulgação dos trabalhos sobre empreendedorismo nos encontros da Associação Nacional dos

    Programas de Pós-Graduação em Administração (ENANPAD). A criação de duas subáreas

    temáticas no ENANPAD relacionadas ao campo – Empreendedorismo e Comportamento

    Empreendedor e Empreendedorismo e Negócios Inovadores – parece tentar sistematizar os

    estudos dentro das perspectivas comportamentalista e econômica.

    O fenômeno do empreendedorismo é muito mais complexo e heterogêneo do que se pensava

    na década de 1980 (BRUYAT; JULIEN, 2000). Os conceitos “empreendedor” e

    “empreendedorismo” são essencialmente ambíguos e incertos (GARTNER, 1989; SHANE;

    VENKATARAMAN, 2000). Alguns pesquisadores chegam a considerar que o

    empreendedorismo está em uma fase pré-paradigmática (BOAVA; MACÊDO, 2006).

    Gartner (1989) sistematicamente revisou, extraiu, categorizou e organizou o que já havia sido

    pesquisado sobre o empreendedor na tentativa de montar um quebra-cabeça no esforço de

    formar uma figura de onde emergiria uma definição do empreendedor. Ele juntou, para isso,definições de mais de 30 autores e propôs uma nova definição: “empreendedorismo é a

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    criação de novas empresas” (GARTNER, 1989, p. 47). Segundo esse autor, o

    empreendedorismo termina quando o estágio de criação da organização termina.

    Gartner (1989) defende que a abordagem comportamental é uma perspectiva mais promissora

    para futuras pesquisas sobre empreendedorismo. “As características de personalidade do

    empreendedor são auxiliares ao comportamento do empreendedor. As pesquisas sobre o

    empreendedor devem focar em o que o empreendedor faz e não em quem o empreendedor é”

    (GARTNER, 1989, p. 57). De acordo com dados da pesquisa que realizou, esse autor destacou

    alguns elementos que foram mencionados para expressar o tema investigado:

    1) Empreendedor: indivíduo com características únicas de personalidade e

    habilidades.2) Inovação: fazer algo novo – ideia, produto, serviço, mercado ou tecnologia – em

    uma organização nova ou já estabelecida.

    3) Criação de organizações.

    4) Criação de valor.

    Para Shane e Ventakaraman (2000), o empreendedorismo está relacionado à descoberta e

    exploração de novas oportunidades de lucro e não necessariamente à criação de novasempresas. Esses autores criticam a definição de empreendedor como aquele que cria uma

    nova empresa. Isso porque essa definição não inclui considerações sobre a qualidade das

    oportunidades que são identificadas por diferentes pessoas, levando os pesquisadores a

    negligenciarem a avaliação das oportunidades. Assim, o campo do empreendedorismo é

    considerado por eles como um exame acadêmico de como, por quem e com que efeitos as

    oportunidades são descobertas, avaliadas e exploradas para criar bens e serviços futuros.

    Apesar de também reconhecerem que ainda não surgiu uma definição concisa e

    universalmente aceita do empreendedorismo, Hisrich, Peters e Shepherd (2009, p. 30)

    consideram as perspectivas empresarial, administrativa e pessoal para definir o

    empreendedorismo como:

    [...] o processo de criar algo novo com valor, dedicando o tempo e o esforçonecessários, assumindo os riscos financeiros, psíquicos e sociais

    correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfação e daindependência financeira e pessoal.

    Segundo Bruyat e Julien (2000), nenhuma definição é boa em si mesma. Uma definição é um

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    constructo a serviço das questões de pesquisa que são de interesse de uma comunidade

    científica em um determinado momento. Porém esses autores observaram que certo número

    de ideias básicas tem sido compartilhado por pesquisadores no campo do empreendedorismo:

    1) O reconhecimento do indivíduo como um importante, até mesmo vital, elemento

    na criação de um novo valor.

    2) A afirmação de que o indivíduo não é simplesmente uma máquina que reage

    automaticamente aos estímulos do ambiente. O indivíduo tem a habilidade de

    aprender e criar, é capaz de exercer sua liberdade de ação, em um ambiente que

    proporcione oportunidades ou mesmo que imponha restrições.

    3) A crença de que os recursos no ambiente podem exercer um papel de facilitador

    ou estimulador, ajudando no aumento do número de empreendedores em uma região.

    2.1.3 Empreendedorismo e desenvolvimento econômico

    Ainda que existam hoje algumas concepções teóricas divergentes sobre o empreendedorismo,

    ele é considerado um agente de grande impacto no desenvolvimento econômico e social dos

    países (CAMARGO; CUNHA; BULGACOV, 2008).

    O principal indicador utilizado pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM) para avaliar o

    nível de atividade empreendedora em 59 países é a Taxa de Empreendedorismo em Estágio

    Inicial (TEA).

    A Taxa de Empreendedorismo em Estágio Inicial, TEA, é a proporção depessoas na faixa etária entre 18 e 64 anos envolvidas em atividadesempreendedoras na condição de empreendedores de negócios nascentes ouempreendedores à frente de negócios novos, ou seja, com menos de 42

    (quarenta e dois) meses de existência (GEM, 2010, p. 34). 

    Como se pode observar no GRAF. 1, a seguir, em 2010 o Brasil alcançou 17,5% – sua

    maior TEA desde que a pesquisa GEM começou a ser realizada no país (2002). Isso

    significa que 21,1 milhões de brasileiros entre 18 e 64 anos estavam à frente de atividades

    empreendedoras no ano. Em números absolutos, somente a China possui mais

    empreendedores que o Brasil, considerando que a TEA chinesa de 14,4% representa 131,7

    milhões de adultos exercendo atividades empreendedoras no país (GEM, 2010). 

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    GRÁFICO 1 - Evolução da taxa de empreendedores iniciais (TEA) – Brasil: 2002-2010

    Fonte: Adaptado de GEM, 2010.

    Scherma (2011) observa que no Brasil é muito comum a mídia divulgar as altas taxas médias

    de empreendedorismo como um dado positivo que, por si só, confirmaria o fato de o Brasil ser

    um país empreendedor e que isso contribuiria significativamente para a economia, tanto no

    que diz respeito ao crescimento econômico quanto à geração de emprego e renda.

    Entretanto a pesquisa feita pelo GEM divide os países participantes em três grupos, segundo a

    fase de desenvolvimento econômico:

    1) economias baseadas na extração e comercialização de recursos naturais, tratadascomo países impulsionados por fatores;

    2) economias norteadas para a eficiência e a produção industrial em escala, que se

    configuram como os principais motores do desenvolvimento, nominados países

    impulsionados pela eficiência;

    3) economias fundamentadas na inovação ou simplesmente impulsionadas pela

    inovação.

    O QUADRO 1, a seguir, mostra que, conforme aumenta o grau de maturidade econômica dos

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    países, diminui a TEA, que atinge a menor média justamente no grupo dos países

    “impulsionados pela inovação”, com uma taxa de 5,5%.

    QUADRO 1 - Taxas médias TEA segundo o nível de desenvolvimento econômico

    PAÍSES TEA (%) 

    Máximo Mínimo Média 

    Todos os países participantes 52,2 2,3 11,7 

    Impulsionados por fatores 52,2 7 22,8 

    Impulsionados pela eficiência 27,2 3,9 11,7 

    Impulsionados pela inovação 10,6 2,3 5,5 

    BRASIL 17,5 

    Fonte: Adaptado de GEM, 2010.

    Portanto não é correto imaginar que os países com as maiores taxas de atividade

    empreendedora são também aqueles com economia mais robusta. Somente o indicador TEA

    não pode ser utilizado para relacionar a atividade empreendedora com desenvolvimento

    econômico. Assim, a pesquisa GEM busca qualificar esse índice, classificando os

    empreendedores em duas categorias que levam em consideração a motivação para iniciar uma

    atividade empreendedora: aqueles que empreendem por necessidade e os que o fazem por

    oportunidade, diferenciando o impacto de ambos na economia.

    [...] o empreendedorismo por oportunidade é mais benéfico para a economiados países onde os empreendedores que iniciaram o seu negócio porvislumbrarem uma oportunidade no mercado para empreender e como formade melhorar sua condição de vida têm maiores chances de sobrevivência esucesso. Em compensação há pessoas que empreendem como única opção,ou seja, pela falta de melhores alternativas profissionais. São osempreendedores por necessidade (GEM, 2010, p. 39-40).

    Alguns dados da pesquisa GEM (2010) ajudam a explicar as diferenças na TEA para grupos

    de países em diferentes fases de desenvolvimento. Scherma (2011) cita como exemplo a TEA

    de 38,6% na Bolívia em 2010. Essa alta TEA seria decorrente da falta de oportunidades de

    emprego assalariado, o que levaria as pessoas a considerar o empreendedorismo como única

    opção. Assim, uma alta TEA não reflete um crescimento econômico robusto no país, devido

    às características desses empreendedores e de seus negócios. Por outro lado, ainda segundo

    Scherma (2011), nas economias mais desenvolvidas, o raciocínio seria o seguinte:

    […] economias mais desenvolvidas têm um número maior de grandes

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    empresas que abastecem o mercado satisfatoriamente, além de gerarem maisoportunidades de trabalho assalariado. Isso gera níveis menores deempreendedorismo por necessidade, fazendo com que o empreendedorismopor oportunidade concentre-se em setores mais inovadores. Assim, a TEAcomo um todo diminui, mas está mais qualificada, não sendonecessariamente um dado negativo (SCHERMA, 2011, p. 4-5). 

    Segundo a pesquisa GEM (2010), o Brasil apresenta, desde 2003, mais empreendedores por

    oportunidade do que empreendedores por necessidade. Em 2010, o país apresentou uma razão

    de 2,1 empreendedores por oportunidade para cada empreendedor por necessidade. Esse valor

    é semelhante à média de 2,2 empreendedores por oportunidade para cada um por necessidade

    nos países que participaram do estudo nesse mesmo ano.

    Outro aspecto importante do empreendedorismo brasileiro diz respeito à segmentação da

    atividade econômica. O GEM utiliza no Brasil a Classificação Nacional de Atividades

    Econômica (CNAE), que é elaborada pelo IBGE. O GRAF. 2, a seguir, mostra a distribuição

    dos empreendedores iniciais no Brasil de 2002 a 2010, segundo o tipo de atividade

    econômica. 

    GRÁFICO 2 - Empreendedores iniciais segundo tipo de atividade - Brasil: 2002-2010

    Fonte: Adaptado de GEM, 2010.

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    Como se pode observar, o foco dos negócios criados no Brasil está no atendimento ao

    consumidor final: 29% em empresas ligadas ao comércio varejista, 14% em empresas da

    indústria da transformação e 11% em alojamento e alimentação. Portanto mais de 50% são

    negócios com alta propensão à informalidade, pela baixa necessidade de recursos financeiros

    para sua abertura e pela simplificação da complexidade organizacional.

    Segundo a pesquisa GEM (2010) e Scherma (2011), a qualidade da atividade empreendedora

    (por necessidade ou por oportunidade) parece ser mais importante para o crescimento

    econômico do que a quantidade de empreendedores por si só. Além disso, a distribuição das

    empresas nascentes por atividade econômica é um fator que pode indicar a qualidade da

    atividade empreendedora.

    Degen (2009) aponta outros fatores que favorecem a qualidade da atividade empreendedora e

    que influenciam no desenvolvimento de um país:

    •  a educação e o treinamento da população;

    •  o número e a qualidade dos centros de pesquisa e de tecnologia;

    •  a disponibilidade de capital de risco;

    •  a profundidade do mercado;•  a existência de infraestrutura adequada;

    •  uma legislação que facilite a atividade empreendedora.

    2.2 O processo empreendedor

    Vários modelos já foram propostos para explicar o processo empreendedor (DEGEN, 2009;

    FILION, 1993; HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2009; TIMMONS; SPINELLE, 2010).Um grupo muito grande desses modelos é caracterizado por um processo que se inicia com

    um resultado almejado e se concentra nos meios para gerar esse resultado. Os modelos desse

    grupo são caracterizados pela casualidade ou processo causal.

    Outra abordagem que surgiu em meados de 2000 e que se contrapõe à lógica causal é

    conhecida como  Effectuation  (SARASVATHY, 2001). A abordagem effectual  é baseada na

    ideia de que os empreendedores, ao iniciar um novo negócio, estão muito mais preocupadosem quanto eles suportam perder do que no retorno de seu investimento. Assim, nesse modelo,

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    o propósito é reduzir as incertezas das estratégias e combinações de recursos e não maximizar

    os potenciais resultados financeiros.

    […] a abordagem  effectual combina o learning by doing  com a prática detentativa e erro. As escolas de negócio do mundo todo ensinam que, para queum novo empreendimento se torne realidade, deve-se partir da definição esegmentação de mercados-alvo, seguidos do estabelecimento de planos demarketing e do posicionamento de um conjunto de produtos e serviços – achamada lógica causal. A visão effectual, por sua vez, inverte a relação decausa-efeito. Os empreendedores, nesse caso, partem da definição de um dosmuitos mercados em que poderiam trabalhar. Eles optam por iniciar o novonegócio pautado por menos informações, mas aproveitam as contingências eparcerias que forjam, por meio de experimentações, a venda efetiva de seusprodutos e serviços (ANDREASSI; FERNANDES, 2010, p. 203). 

    De acordo com Andreassi e Fernandes (2010), apesar de uma grande quantidade de novos

    negócios abertos no Brasil e no mundo parecer obedecer mais à lógica effectual  do que à

    lógica causal, as práticas de ensino do empreendedorismo ainda estão, em sua maioria,

    fundamentadas na lógica causal, que tem como ferramenta mais utilizada a elaboração do

    plano de negócio. O processo empreendedor de quatro fases proposto por Hisrich, Peters e

    Shepherd (2009) representa bem o processo causal, uma vez que todos os seguintes elementos

    estão presentes:

    1) identificação e avaliação da oportunidade;

    2) desenvolvimento do plano de negócio;

    3) determinação dos recursos necessários;

    4) administração da empresa resultante.

    O QUADRO 2, a seguir, detalha essas fases que, embora ocorram progressivamente, não

    devem ser tratadas de forma isolada, podendo até acontecer que uma fase ainda não esteja

    totalmente concluída antes do início de outra. Além disso, cada fase envolve aspectos

    pessoais, ambientais, sociais e organizacionais que irão definir a realização (ou não) do

    negócio.

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    QUADRO 2 - Aspectos do processo empreendedorIdentificação eavaliação daoportunidade

    Desenvolvimento deum plano de negócio

    Recursos necessários Administração daempresa 

    Avaliação daoportunidade Página de títulos Determinar os recursosnecessários Desenvolver o estiloadministrativo Criação edimensão daoportunidade

    SumárioDeterminar os recursosexistentes

    Conhecer asprincipais variáveispara o sucesso 

    Valor real e valorpercebido daoportunidade

    Resumo executivoIdentificar a falta derecursos e osfornecedoresdisponíveis

    Identificarproblemas epossíveis problemas 

    Riscos e retornosda oportunidade

    Principais seções1. Descrição do negócio

    2. Descrição do setor3. Plano tecnológico4. Plano de marketing5. Plano financeiro6. Plano de produção7. Plano organizacional8. Plano operacional9. Resumo

    Desenvolver acesso aosrecursos necessários

    Implementarsistemas de controle 

    Oportunidadesversus aptidões emetas pessoais

    ApêndicesDesenvolver aestratégia decrescimento 

    Ambientecompetitivo

    Fonte: HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2009, p. 32.

    De acordo com Timmons e Spinelle (2010), a identificação da oportunidade é a essência do

    processo empreendedor. Empreendedores bem sucedidos sabem diferenciar uma simples ideia

    de uma boa oportunidade de negócio. Do mesmo modo, Dolabela (1999) explica em que

    consiste a oportunidade em relação a uma ideia:

    Oportunidade é uma ideia que está vinculada a um produto ou serviço queagrega valor ao seu consumidor, seja através da inovação ou dadiferenciação. Ela tem algo de novo e atende a uma demanda dos clientes,representando um nicho de mercado. Ela é atrativa, ou seja, tem potencialpara gerar lucros, surge em um momento adequado em relação a quem iráaproveitá-la – o que a torna pessoal – é durável e baseia-se em necessidadesinsatisfeitas (DOLABELA, 1999, p. 87).

    Portanto a avaliação de uma oportunidade é o elemento mais crítico no processo de

    empreender, uma vez que o empreendedor deve ser capaz de avaliar se um determinado

    produto ou serviço irá oferecer o retorno necessário considerando os recursos exigidos.

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    Segundo Hisrich, Peters e Shepherd (2009), o tamanho do mercado e a extensão da “janela de

    oportunidade” são os alicerces que suportarão a determinação dos riscos e compensações.

    Dolabela (1999) complementa que é necessário agarrar uma oportunidade no momento

    propício e ter capacidade de desenvolvê-la. Portanto outro fator não menos importante em

    relação à avaliação de uma oportunidade são as habilidades e os objetivos pessoais do

    empreendedor. O empreendedor deve ser capaz de dispensar o tempo e o esforço necessários

    para fazer o empreendimento avançar com sucesso. Para isso, é necessário também que o

    empreendedor tenha capacidade de buscar os recursos financeiros, tecnológicos e humanos,

    assim como saber gerenciá-los (HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2009).

    No modelo de processo empreendedor de Hisrich, Peters e Shepherd (2009), uma vez

    identificada e avaliada uma oportunidade, deve-se desenvolver um bom plano de negócios

    para explorar a oportunidade definida.

    Um bom plano de negócio não só é importante no desenvolvimento daoportunidade, como também é essencial na determinação dos recursosnecessários, na obtenção desses recursos e na administração bem-sucedidado empreendimento resultante (HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2009, p.35).

    Degen (2009) afirma que o plano de negócios é uma etapa decisiva no desenvolvimento de

    um novo negócio, e que esse deve ser o documento que descreve o conceito do negócio, os

    atributos de valor da oferta, os riscos, a forma como administrar os riscos, o potencial de lucro

    e crescimento do negócio, a estratégia competitiva, assim como o plano de marketing e

    vendas, o plano de operação e o plano financeiro, com a projeção do fluxo de caixa e o

    cálculo da remuneração esperada. Também para Dolabela (2009), o plano de negócios é uma

    ferramenta fundamental para a análise do potencial de lucro oferecido por uma ideia.

    Andreassi e Fernandes (2010) vão além e consideram que o plano de negócio deve ser parte

    integrante do planejamento de qualquer projeto, podendo ser utilizado tanto na criação quanto

    na expansão de um negócio. Hisrich, Peters e Shepherd (2009) também consideram que, em

    qualquer organização, é desejável a elaboração de planos financeiros, de marketing, de

    recursos humanos, de produção e de vendas, dentre outros, com o propósito de oferecer

    direcionamento e estrutura para a administração em um ambiente de mercado em rápida

    mutação.

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    Existem disponíveis no mercado vários modelos de planos de negócios e até mesmo

    programas de computador com a finalidade de auxiliar no planejamento e na avaliação de um

    negócio. Entretanto é importante ter em mente que o plano de negócios não transforma o

    processo de criação de uma empresa em algo inteiramente racional (DOLABELA, 1999). Além

    disso, Timmons e Spinelle (2010) alertam para o fato de que a elaboração de um plano de

    negócios deve ser um processo dinâmico, pois, com o ritmo de mudanças da era tecnológica e

    da informação, esse é um documento que tende a ficar obsoleto até mesmo ao acabar de sair

    da impressora.

    Degen (2009) relaciona alguns benefícios que a preparação do plano de negócios proporciona

    ao empreendedor:•  reúne e ordena todas as informações e ideias sobre o negócio;

    •  força o empreendedor a analisar, formalizar e justificar os aspectos críticos do

    novo negócio;

    •  ajuda o empreendedor a vender o negócio para si mesmo;

    •  permite ao empreendedor simular as consequências de diferentes estratégias

    competitivas, ofertas de valor e planos financeiros;

    •  permite expor as ideias do novo negócio a pessoas experientes que possam validá-las e/ou fazer críticas e sugestões;

    •  ajuda o empreendedor e os possíveis sócios a focalizar a atenção nos riscos do

    novo negócio e em como superá-los;

    •  testa a oportunidade do negócio, o conhecimento, a motivação e a dedicação do

    empreendedor e seus possíveis sócios e colaboradores;

    •  auxilia na busca de recursos financeiros externos em bancos, agências de fomento

    e todo tipo de capital de risco;•  orienta a montagem e a operação do novo negócio no primeiro ano;

    •  controla o investimento em montagem e os custos de operação pela projeção do

    fluxo de caixa no primeiro ano.

    Apesar dos benefícios da utilização do plano de negócios como ferramenta de planejamento e

    gestão de um empreendimento, Cruz Jr. et al. (2006) concluíram, em um trabalho sobre o grau

    de importância que micro e pequenos empresários dão ao plano de negócio, que, entre osempreendedores, ainda é grande a negligência quanto à prática do planejamento e utilização

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    dessas ferramentas gerenciais para avaliar uma oportunidade.

    2.3 Educação empreendedora

    O ensino do empreendedorismo teve origem nas faculdades de Administração dos Estados

    Unidos no final da década de 1940 e hoje está presente em quase todos os países (LAVIERI,

    2010). A revolução empreendedora que aconteceu nos Estados Unidos não teve impacto

    somente no cenário cultural e econômico daquele país. “A revolução empreendedora dos

    Estados Unidos se tornou um modelo para executivos, educadores e elaboradores de políticas

    em todo o mundo” (TIMMONS; SPINELLE, 2010, p. 7).

    Nos Estados Unidos, o Programa de Empreendedorismo desenvolvido pelo Babson College é

    considerado um dos mais importantes do mundo nessa área. Na Europa também se destacam

    vários programas de empreendedorismo como o da London Business School, na Inglaterra, e

    o ESADE, na Espanha, que realiza um programa semelhante no Brasil em conjunto com a

    Fundação Getúlio Vargas (FGV). Outro grande programa de formação de empreendedores é o 

    EMPRETEC, promovido pela ONU em mais de 40 países, inclusive no Brasil, em parceria

    com o SEBRAE (LAVIERI, 2010; CRUZ JR. et al., 2006).

    No Brasil, o primeiro curso de empreendedorismo tinha foco na criação de negócios e foi

    introduzido em 1981, por meio de uma disciplina ministrada em um curso de especialização

    da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

    Mais tarde, essa disciplina passou também a ser oferecida na graduação, no mestrado, no

    doutorado e no MBA. A FGV possui hoje um Centro de Empreendedorismo e Criação de

    Novos Negócios (GVcenn) que fomenta o ensino e a pesquisa da atividade empreendedora(LAVIERI, 2010; CRUZ JR. et al., 2006; DEGEN, 2009).

    Além dessa iniciativa pioneira da FGV, na década de 1980 algumas poucas instituições de

    ensino superior começaram a oferecer cursos para formação de empreendedores e criação de

    novos negócios no nível de graduação (QUADRO 3). Foi somente a partir da década de 1990

    que começaram a surgir, em várias universidades brasileiras, o ensino de empreendedorismo,

    principalmente nos cursos de Administração, Engenharia e Ciências da Computação.

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    QUADRO 3 - O empreendedorismo em cursos de graduação no Brasil (1981/1999) (continua) 

    ANO INSTITUIÇÃO CURSOS 

    1981 Escola de Administração de Empresas

    da Fundação Getúlio Vargas - São Paulo

    Curso de Especialização em Administração

    para Graduados. 

    1984 Escola de Administração de Empresasda Fundação Getúlio Vargas - São Paulo

    O curso foi estendido para a graduação, sobo nome de "Criação de Novos Negócios –Formação de Empreendedores". 

    1984 Universidade de São Paulo – FEA-USP Criação de Empresas – curso de graduaçãoem Administração. 

    1985 Universidade de São Paulo – FEA-USP Criação de Empresas e Empreendimentosde Base Tecnológica, no Programa de Pós-Graduação em Administração. 

    1989 CIAGE - Centro Integrado de GestãoEmpreendedora

    Formação de Empreendedores

    1992 Departamento de Informática daUniversidade Federal de Pernambuco eFundação de Apoio à Ciência do Estadode Pernambuco (FACEPE)

    Criação do CESAR - Centro de Estudos eSistemas Avançados do Recife. 

    1992 Universidade Federal de Santa Catarina ENE - Escola de Novos Empreendedores. 

    1993 Programa Softex do CNPq-UFMG Metodologia de Ensino deEmpreendedorismo, oferecida no curso degraduação em Ciência da Computação daUFMG.. 

    1995 Departamento de Informática daUniversidade Federal de Pernambuco eFundação de Apoio à Ciência do Estadode Pernambuco (FACEPE).

    CESAR cria uma pré-incubadora voltadapara projetos de exportação de software,que mais tarde transformou-se no Recife-Beat, inserido no Programa Softex. 

    1995 Escola Federal de Engenharia deItajubá, em Minas Gerais – EFEI

    Criação do GEFEI - Centro Empresarial deFormação Empreendedora de Itajubá. 

    1995 Universidade de Brasília, UNB Criação da Escola de Empreendedores como apoio do SEBRAE-DF. 

    1996 CESAR - Centro de Estudos e SistemasAvançados do Recife

    Disciplina de Ensino deEmpreendedorismo no curso de graduaçãoem Ciência da Computação. 

    1996 O Programa Softex, criado pelo CNPq –Sociedade Softex

    Implantação de dois projetos: o Gênesis, naárea de incubação universitária, e oSoftstart, na área de ensino deempreendedorismo. 

    1997 PUC–RIO Criação do Instituto Gênesis para Inovaçãoe Ação Empreendedora. 

    1997 IEL-MG, FUMSOFT, Secretaria deEstado de Ciência e Tecnologia eFundação João Pinheiro

    Lançamento do Programa REUNE, Redede Ensino Universitário deEmpreendedorismo. 

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    ANO INSTITUIÇÃO CURSOS 

    1998 CNI-IEL e SEBRAE Nacional Lançamento do Programa REUNE-Brasil,expandindo a filosofia da rede universitáriade ensino de empreendedorismo para todoo país. 

    1998 Capítulo Brasileiro do ICSB,International Counsil for SmallBusiness

    Programas nacionais deempreendedorismo. 

    1999 Várias instituições brasileiras No ensino de empreendedorismo atinge-seum público de cerca de 8.000 alunos.

    Fonte: PARDINI; SANTOS, 2008, p. 163.

    Depois disso, várias outras iniciativas de incentivo ao empreendedorismo foramimplementadas no Brasil em instituições de todos os níveis de ensino (DOLABELA, 2003;

    DEGEN, 2009; LOPES, 2010; PIRES 2006). Também em quase todos os países houve um

    crescente interesse em incentivar