Educacao e Violencia

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EDUCAÇÃO VIOLÊNCIA E FAMÍLIA Dora Lorch 1. Problemas pedagógicos com determinantes psíquicos 2. Comportamentos a observar: Agressividade Hiperatividdae Necessidade de atenção Tristeza/ Acuamento Lutos Indisciplinas de modo geral Falta de limites Dificuldade de aprendizagem Obesidade Comportamento Delinquente 3. Trabalhando junto: a inclusão da família nos atendimento 4. A importância do lazer 5. Vítimas de abuso e violência doméstica 1 1

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Sabe aquelas vezes em que o professor já fez tudo o que conhecia e parece que o aluno não consegue aprender? Pois é talvez o problema não seja pedagógico, mas envolva questões mais profundas, questões nas quais o aluno não consegue se desligar

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EDUCAO SADE E FAMLIA

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EDUCAO VIOLNCIA E FAMLIADora Lorch1. Problemas pedaggicos com determinantes psquicos

2. Comportamentos a observar:

Agressividade

Hiperatividdae

Necessidade de ateno

Tristeza/ Acuamento

Lutos

Indisciplinas de modo geral

Falta de limites

Dificuldade de aprendizagem

Obesidade

Comportamento Delinquente3. Trabalhando junto: a incluso da famlia nos atendimento

4. A importncia do lazer

5. Vtimas de abuso e violncia domstica

1- Problemas pedaggicos com determinantes psquicos

Sabe aquelas vezes em que o professor j fez tudo o que conhecia e parece que o aluno no consegue aprender? Pois talvez o problema no seja pedaggico, mas envolva questes mais profundas, questes nas quais o aluno no consegue se desligar. Pode ser a briga constante dos pais, pode ser a doena de algum querido, ou at problemas de dinheiro (que no adianta saber porque ele se sente impotente frente ao problema).

Pior que isso: mesmo que ns achemos um rtulo que explique o problema o nome por si s no resolve nossa dificuldade.

A idia deste captulo tentar compreender o que pode estar acontecendo de modo que cada professor possa encontrar a melhor soluo para a questo, nem que seja encaminh-lo a um profissional que possa resolver a situao.

De maneira geral o problema pode estar em casa, na escola, ou com a criana, mas com certeza onde quer que comece refletir nos outros lugares. Por isso to importante poder trabalhar em aliana. Alm de ajudar a criana a ultrapassar o problema podemos estar ensinando algo mais valioso ainda: no desistir, agir em conjunto, olhar as falhas sem medo e pensar uma maneira eficaz de lidar com elas.2- Comportamentos a observar

E para refletir...

a) Agressividade

Criana pequena tenta conseguir o que quer atravs da fora, isso instinto primitivo. Porm, depois de algumas vezes em que mostramos que bater di, que o amigo sente igual a ela, a tendncia parar com este tipo de comportamento. Claro tambm que esporadicamente a criana pequena pode lanar mo deste expediente para conseguir o que acha que merece.

Neste item estaremos nos referindo s crianas que habitualmente nem que seja por um curto espao de tempo usam a agressividade para se impor. Estamos falando de crianas que mordem, respondem, agridem verbal ou fisicamente amigos e professores. Estas crianas no conseguem perceber hierarquia, e com isso mostram que no conhecem os limites da lei em outras palavras no percebem que existem normas a que todos ns estamos sujeitos, inclusive os adultos. So normas/ leis de convivncia em grupo.Nossa experincia mostra que estes alunos possivelmente convivem em ambientes onde o seu prprio limite no costuma ser respeitado. So pessoinhas que podem estar sendo vtima de vrios nveis de violncia inclusive aquelas que os pais no conseguem evitar (por exemplo, ficar sozinho porque a me tem que sair para trabalhar e no tem com quem ou onde deix-los). Outras vezes a agressividade simplesmente a imitao do comportamento que a criana v em sua casa. Isso especialmente verificvel em crianas pequenas que mordem. Podemos concluir ento que a agressividade pode na maioria dos casos ser um pedido de socorro.

Agora, imagine algum que se sente massacrado o tempo todo, como lidar com o ambiente... Vou contar um caso verdico de uma criana que mordia todo mundo que chegasse perto. As professoras j tinham pensado em todo tipo de alternativa possvel, conversar com calma, falar com a me, por de castigo, ignorar, porm nada disso conseguia faz-lo parar. Ento o encaminharam para o servio de psicologia. Ali a psicloga foi abaixar para falar com ele e do nada o menino deu um tapa na cara dela. Ela olhou para o pai e perguntou: o senhor costuma bater neste menino? Finalmente descobriu-se que o pai era muito carinhoso e presente enquanto no bebia, depois disso era intempestivo e estourava sem que ningum entendesse o porqu. Acredito que a criana no sabia precisar quando ia apanhar ou quando ia receber carinho e cada vez que algum se aproximasse dele repentinamente era agredido como forma de se defender. Aps orientar a me e o pai a criana comeou a apresentar melhoras na escola, mas depois de muito pouco tempo a agresso voltou a aparecer. A diretora ento chamou a me novamente e descobriu o pai havia sado de casa. Este exemplo mostra como situaes to diferentes podem gerar respostas semelhantes. Inicialmente a questo era a agresso do pai, depois a falta dele.Aproveito para contar que as pesquisas mostram que os meninos se ressentem mais com a sada do pai de casa do que as meninas porque eles interpretam como se a me tivesse expulsado o pai de casa e neste raciocnio ele tambm como homem poderia ser expulso. Talvez a esteja o cerne da agressividade deste menino que estou contando e que ainda estamos tratando.Como este, muitos outros casos podem ser lembrados: o menino que ameaa os amigos na escola, rouba e considerado uma peste, nas frias de vero apanhou tanto que foi parar no hospital com risco de fratura craniana. Ser que ele s apanhou neste dia? Ser que algum apanha tanto de um dia para o outro, ou seria uma escalada de violncia? Provavelmente a segunda resposta.

Ambos os casos de violncia mostram que a colocao muito rgida e seca de limites ao contrrio de ajudar s aumenta a agressividade. Nestes casos o melhor somar ao limite de regras, firmeza, carinho e respeito, atitudes que os pequenos no devem estar acostumados e que apreciam.Em ltimo caso encaminhar a um psiclogo pode ajudar e muito.

b) Hiperatividade

J ouvi falar de hiperatividade, mas nos dois anos em que estamos atendendo crianas hiperativas, ainda no conheci nenhum caso neurologicamente determinante.

Primeiro porque todas as crianas que no conseguem ficar quietas ou que no conseguem aprender recebem este rtulo. Isto quer dizer que existem muitos problemas diferentes dentro de uma mesma denominao. Mas o mais srio que em geral resolvemos este problema dando remdios que deixam as crianas mais calmas, o que pode atrapalhar de mais seu desenvolvimento.

Um caso comum so as crianas criadas em apartamentos ou casas pequenas, num perodo e em outro ficam em casa jogando videogame, tendo aulas diversas (ficam comendo) ou outra coisa assim. Depois de um tempo no conseguem ficar quietas. Por que ser? Elas no precisam de remdio, elas precisam de espao para brincar e de tempo para isso. A movimentao fundamental para o desenvolvimento humano saudvel, e se no houver condies de se mexer fora da escola, a criana se mexer na sala de aula.

Alm disso, a hiperatividade pode ser uma maneira de pedir socorro por algo que incomoda tanto a criana/ adolescente no consegue manifestar de outra maneira. Lembro-me do caso de um menino que de uma hora para outra apresentou sintomas de hiperatividade. Procuramos de vrias maneiras o que poderia estar acontecendo, at que a coordenadora da escola avisou que o adolescente tinha feito um desenho que demonstrava depresso e abuso. Moral da histria: o menino tinha sido ameaado no banheiro da escola e no conseguia ficar quieto desde o momento de entrar na escola at a hora de ir embora. Claro que ele no tinha contado para ningum porque sentia vergonha da situao. Ser que dar remdio para este menino ficar calmo ajudaria?

Estes exemplos mostram quanto importante saber exatamente o que esta acontecendo antes de tomar qualquer atitude. Mostra tambm que muitas vezes demora um pouco para podermos saber o que esta incomodando nosso aluno, e s a confiana e disponibilidade podem nos levar ao cerne da questo.

Agora vocs devem estar se perguntando o que devem fazer em sala de aula. Nestas ocasies a aliana com a famlia pode ser determinante na descoberta e encaminhamento do caso. Inclusive porque trabalhar aliado famlia muito mais eficiente do que trabalhar contra ela. Para isso importante que as professoras conversem com os pais sempre e no s para dizer que tem alguma coisa errada; importante mandar bilhetes tambm elogiando seus alunos. Elogiar no s quando tira dez, mas quando ele capricha na lio, quando demonstra interesse ou esforo. Se voc conseguir isso, seus alunos se desenvolvero melhor. E para criana angustiadas (como so a maioria das hiperativas) poder pontuar cada uma de suas vitrias pode ser o caminho para o entrosamento da criana com a escola.

Outro aspecto a ser considerado; uma antiga tese de psicologia mostra que os alunos mais perfeccionistas, aqueles que no admitem erros eram os mais ansiosas, os mais agitados da sala de aula. Isto lhe lembra alguma coisa? Quem sabe um pouco de auto-confiana possa ser mais teraputico do que as broncas e as demonstraes que o aluno no esta rendendo?...c) Necessidade de ateno

Aprender a ler, especialmente nas escolas pblicas, nem sempre fcil.

Tenho recebido muitas crianas de dez anos ou mais que no aprenderam ainda.

Ser que o problema da escola? do professor? do aluno?

Lembro de um menino adolescente que no sabia ler, nem escrever.

Usando uma tcnica premiada pedi para ele escrever o nome do sabo em p que a me usava.

Surpresa, li num papelzinho: Omo multiao.

Perguntei: mas no era voc que no sabia escrever? E qual a marca de biscoito que sua me costuma comprar?

Ele pensou um pouco, escreveu maisena e me perguntou: com leite ou sem leite?

Respondi: como que voc sabe se com leite?

Quer dizer que as crianas sabem mais do que percebem, mas acham que no sabem.

Talvez no se sintam seguras para expressarem o que sabem e o que no sabem.

Esse menino no voltou mais. Acho que percebeu que podia aprender, por isso no precisou mais de ajuda.

Talvez este seja o segredo, mostrar para as crianas que elas podem, que elas conseguem atravs de esforo e ajuda.

Mas no isso que as escolas oferecem.

Sei que os professores esto sobrecarregados, especialmente os professores de escolas pblicas onde h muitos estudantes, e pouco apoio. Mas so eles que podem mudar a vida de seus alunos.

Preocupada com tantas reclamaes, fiz uma pequena pesquisa entre os pais e jovens nos trs projetos sociais que participo, e com as pessoas amigas: perguntei o que eles lembravam de bom e de ruim do tempo de colgio. Quem estudou em escolas particulares, tinham boas lembranas relacionadas aos amigos: recreio, festas, conversas, e lembranas ruins atreladas aos professores.

Entretanto, as pessoas vindas de escolas pblicas, ou que tiveram que parar de estudar tinham boas lembranas sempre correlacionadas aos professores, especialmente queles que as acolhiam e as incentivavam a continuar estudando.

O que ser que isto quer dizer?

Joaquim um menino diferente. Ele calmo, quieto e eu nunca tinha visto ele dar risada. Alis, mal levantava os olhos para ver qualquer pessoa.

Quando veio a primeira vez no Florescer da Fbrica, percebi que sua camisa plo estava abotoada at o pescoo. Como fazia calor, o abotoamento me incomodou. Porque um pr-adolescente andaria to abotoado?

Porque to contido?

Percebemos que nem os pais nem a escola sabiam o que fazer com aquele menino.

Ele se recusava a fazer as tarefas, mas no era agressivo. Quer dizer que no aprendia, mas no criava caso.

Com o tempo comeou a no ir mais aos projetos sociais, ficava pela rua andando de bicicleta, ia s lan houses, brincava com o pessoal.

Claro que adolescentes sem superviso de adultos tem mais chances de se meter em encrencas, e foi isso mesmo que aconteceu com o Joaquim. Um belo dia, disseram que Joaquim tinha roubado, mas ele contou outra histria: um amigo pedira para ele guardar a bicicleta, ele nem sabia que no era do amigo.

Joaquim tinha mesmo jeito de laranja: muito tmido, sem malcia, sem adultos cuidando...

Desesperados os pais foram me procurar, porque o dono do objeto era homem violento, e queria resolver o problema na fora: batendo ou matando.

Decidimos ento que o melhor era a me parar de trabalhar e dar suporte ao menino. A famlia iria com ele devolver o objeto, e acertar as contas, se houvesse alguma. A presena da famlia seria uma forma de determinar at aonde havia pendncias, de modo a no deix-lo ser chantageado.

Certo dia, levei Joaquim para conhecer um sebo, e perguntei se ele gostaria de levar algum exemplar. Ele procurou, olhou e escolheu um gibi do batman. Depois me contou que estava lendo todos os dias aquele livro.

No final de dois meses liguei para escola para saber como ele estava. Ouvi que no tinham expectativa quanto ao Joaquim, porque ele demorou tanto para aprender a ler que acharam que ele teria alguma deficincia.

Provavelmente a incapacidade no era na aprendizagem, era na auto-estima. Ele no sabia que podia.

A boa escola tambm ensina a pedir ajuda e acolhe o erro, porque as conseqncias no so drsticas, afirma o professor Fredric Litto, da USP.

No final do ano, quando os professores esto to cansados, deixo minha solidariedade e a esperana que atravs deles, o futuro destas crianas possa ser mais risonho.

d) Tristeza/ Acuamento

Poucos so os professores que acham que alunos quietos podem ter problema. Normalmente ficam aliviados de terem alguns santos que no lhes exija ateno. Ocorre que crianas quietas podem estar sofrendo por questes delas ou por no conseguirem se relacionar com as outras crianas.

No se trata de mudar a maneira de ser de cada um: tem pessoas tmidas tem extrovertidas. Comea a preocupara quando impede algum de conseguir o que quer ou precisa. Quer dizer ser tmido tudo bem, no conseguir falar em entrevistas de emprego j outra coisa.

Da mesma forma aconselhamos observar os alunos mais quietos tambm.

Havia uma criana calada, ensimesmada, que veio me ver porque fazia xixi na cama. Ela j tinha 5 anos e isso estava fora do comum, alm do que comportamentos assim demonstram um tipo de tristeza profunda. Pedi que a menina desenhasse a sua famlia. Ela desenhou a me, o padrasto, o irmozinho, a tia e a av. Perguntei se no faltava alguma coisa. Ela no sabia. O irmo mais velho estava por perto e perguntei:- Voc esta sentindo falta de alguma coisa? - Sim, meu av.

- Ele mora com vocs?

- No. Morreu antes deu nascer.

Oras, o que estava faltando era justamente a criana e seu irmo, filhos do primeiro casamento da me, mas como ficou patente, eles no se sentiam parte desta famlia formada pelo padrasto, me e irmo caula. Esta era a tristeza. Trabalhar com as crianas aliadas a me com certeza mais rpido e eficiente.

Mas no s a famlia quem causa este tipo de problema. Tempos atrs atendi uma menininha que tremia feito vara verde cada vez que algum mencionava a palavra escola. Chegou a tal ponto que ela no conseguia assistir aula sem que um dos pais estivesse presente na classe. Motivo: a professora brava com alguma coisa ameaou jogar um grampeador nela. Nem mudar de turma foi o suficiente, tiveram que mud-la de escola. Neste caso em especial a professora tambm a colocou de castigo olhando para a parede, em pleno sculo XXI! D para acreditar?

Ser professor(a) tarefa difcil e desgastante, mas nunca podemos ameaar crianas. Por isso fundamental que nos tratemos e tenhamos apoio e lugar para conversar e ver os problemas sobre outros ngulos.

e) Lutos

Considerarmos que luto algo ocasional na vida das crianas, porm acho melhor olharmos esta questo mais de perto. Para comear o luto se instala quando perdemos algo ou algum a quem amamos, ou ao menos consideramos. Apesar de no parecer, o processo do crescimento ocasiona muitos lutos: uns bons outros amargos. Assim passar da pr-escola para o ensino fundamental gera ganhos e perdas, perdas que podem ser difceis de ultrapassar. Mudar de casa, de escola, de cidade pode at ser para melhor, mas deixa para trs situaes e pessoas que nem sempre conseguimos manter. Ganhar um irmo, ou perder um (em casamentos, porque entrou na faculdade em outra cidade, porque casou, etc) trs perdas. E nas perdas repensamos nossos caminhos e valores e quanto maior a perda, mais interfere em nosso esquema de prioridades. Ser que valeu a pena tanto tempo perdido com x e perder o contato com y?

Especialmente dolorido o contato com a morte: da av, do tio, do animal de estimao, do pai que saiu de casa, do abandono... Nestas ocasies a criana / adolescente percebe que nem tudo como ele quer. Querer nem sempre poder. Tem o limite da vida.

Obvio que so experincias riqussimas, principalmente porque di muito e no tem remdio a no ser deixar o tempo se encarregar delas. E passa. Ao passar di cada vez menos. A lembrana fica, mas a dor se modifica. Atenua...A no ser que esteja coberta por culpa, mas a j outra conversa...

Os lutos so demorados, tristes, dodos, a energia parece que escoa pelos dedos, d cansao.(J reparou como um velrio ou enterro cansam? a dor: sofrer cansa muito!) Nestas ocasies no adianta forar, o melhor mesmo dar tempo para que a criana e o adulto tambm, porque no, possam se cuidar e lidar com esta tristeza to funda. Ficar em casa ou no aconchego de algum que lhe seja importante, chorar, falar do acontecido quanto quiser, lembrar de coisas boas e ruins que aconteceram. Rir e chorar. E lamber as feridas devagar. Por isso os dias de luto so respeitados em todo mundo: ningum consegue se concentrar frente a certas tristezas.

Portanto lembre-se: o luto tira as energias o que significa que o aluno vai fazer tudo mais lentamente, vai ter menos pacincia, a tristeza aumenta, a disposio para tudo inclusive brincadeiras diminui, fica-se mais calado, mais circunspecto (introvertido), mais explosivo, mais devagar. Os adultos podem ser continentes, carinhosos e deixar o tempo fazer sua parte. Nem todas as explicaes do mundo conseguem diminuir o sofrimento. Mas apesar de no diminuir, um abrao, ficar perto, ouvir ajuda a tornar o peso um pouco suportvel.f) Indisciplinas de modo geral

A falta de limites pode ter muitas razes como as j citadas acima e outras. Entretanto a mais comum o stress. Isso mesmo cansao. Quando no tem castigo, punio, carinho, explicao que faa a criana /adolescente parar podemos estar frente a de um caso de fadiga onde nem a prpria pessoa se d conta.

Havia um menino, tranqilo a maior parte das vezes, que de uma hora para outra ficava irascvel e saia jogando o que encontrasse pela frente mesa, cadeira, ficava furioso. Depois de muitas tentativas os pais vieram procurar ajuda. Descobrimos que este garoto ficava fora de casa 12 horas e quando chegava ainda esperava acordado at tarde o pai chegar. No ele no dormia no meio do dia na escola porque achavam que ele j era grande para isso estava na pr-escola! Tinha um irmo mais velho com quem se identificava, e brincava com os amigos deste irmo. E claro, quando os pais ficavam muito irritados com ele, o esquema era o castigo fsico. Analisamos, pais e psicloga, que talvez o menino se sentisse muito exigido por andar somente com crianas maiores (o modelo dele era seu irmo e os amigos dois anos mais velhos, o que significava muitas etapas na frente). Pedi que ele fosse incentivado a ter seus prprios amigos (quer dizer a me incentivar o convite de amigos da mesma idade para visit-lo), que o pai escolhesse um horrio fixo para v-lo, por exemplo, pela manh, e na impossibilidade de estar com o filho que ligasse diariamente. Finalmente acordamos com a escola que sugerisse que ele dormisse quando comeasse a ficar irritado. Neste caso no cheguei a ver o menino nenhuma vez. No foi necessrio. Liguei algumas vezes para saber se nossa conversa tinha surtido algum resultado: uma semana depois da consulta o menino tinha apresentado a tal irritao e a escola sugeriu que ele descansasse; acordou tranqilo. Os pais relataram que nenhum outro episdio desta natureza tinha ocorrido depois.

Aqui podemos notar que o stress estava relacionado com o cansao, com a exigncia que a prpria criana tinha de si mesma e provavelmente com a punio fsica. Por que? Porque em geral a punio fsica vem quando os pais j perderam as esperanas e a vontade de explicar, em outras palavras o tapa o limite para a criana parar. Ocorre que nem sempre ela sabe porque sta apanhando, e isso a deixa sobressaltada sem saber como deve agir. Soma-se a isso o fato de estarmos sem pacincia em momento diferentes o que no d para a criana padro de comportamento (exemplo: no posso insistir seno apanho) o que a coloca de prontido aumentando a chance de stress.

Agora, se o professor no perceber que aquela indisciplina o corpo pedindo arrego, a briga vai ficar estremecida e ningum vai chegar a lugar algum. Pior que isso, ambos vo se desgastar e aumentar o stress mtuo. Ento em caso de indisciplina que tal dar uma parada e conversar com o aluno para juntos vocs tentarem descobrir outro meio de agir? Se no for o suficiente, que tal chamar a famlia para juntos descobrirem o que esta fora de lugar?Por que ningum acorda de manh e resolve que aquele um belo dia para infernizar o professor.g) Falta de Limites

Cansei de ouvir que falta de limites na escola falta de limites em casa, e teria acreditado no fosse a vivncia com crianas vtima de maus tratos. Durante cerca de dois anos recebi crianas de diversas idades e sries, cuja reclamao era hiperatividade, falta de limites e agressividade. Interessantemente a quase totalidade das crianas ou apanhava dos pais, ou era tratada com brutalidade. Estas observaes me mostraram que em geral a falta de limite esta correlacionada com limites demais, ou abandono. No entenda aqui abandono como m conduta materna: muitas vezes a nica soluo: salrio achatado, nem sempre os pais ajudam nas despesas, escola perodo integral ainda para poucos privilegiados, ento sobra deixar o filho em casa sozinho, com o irmo mais velho ou com uma empregada quase nunca qualificada.

Quem ensina a fazer lio? A pesquisar? A estudar para prova?Quem ensina a conversar e no usar a fora bruta?

Quem ensina a ter pacincia que agora a vez do outro?

As professoras ainda acham que as mes depois de um dia estafante tem que ter tempo e pacincia para ajudar os filhos nas lies. E conversar sobre tudo o que aconteceu. E cuidar da roupa. E fazer comidinha saborosa e diferente a cada dia. E ter pacincia de ouvir as brigas. E fazer economia. Algum consegue?

Algumas escolas pblicas no conseguem dar conta nem de ensinar a ler e querem que as mes faam esta tarefa!?!?

Outras escolas particulares contam com as mulheres em casa cuidando dos filhos. Ser que d?Acho que trabalhar fora de casa uma necessidade alm da econmica: no consigo pensar em algum tranqilo e saudvel que passe o dia inteiro disposio dos filhos. Cansa! Desgasta! E nunca o suficiente. Alm disso, ensina que algum deve estar sempre sua disposio. Que horror!

claro que tm criana mimada, aquelas que os adultos fazem as coisas antes mesmo delas tentarem. Ns reles mortais que temos que fazer tudo por ns mesmos achamos que elas se julgam superiores. Ledo engano! As crianas super-protegidas no se sentem superiores, sentem-se inseguras. Se algum faz por mim deve ser porque no tenho competncia. Mas jamais confessaro! No contaro de seus receios. Elas precisam de segurana e amparo para conseguir ultrapassar as barreiras que as outras crianas ultrapassaram normalmente. E claro, saber que o mundo no esta sua disposio.Voltando questo do limite, minha experincia mostra que as crianas mais exigidas, aquelas que os cuidadores mais pressionam com regras o tempo todo so as que mais folgam, porque tem que existir um lugar onde elas possam voltar a ser crianas.

Portanto, antes de reclamar de um aluno com falta de limites procure saber como ele na realidade, e quem sabe fazer um acordo dos momentos em que ele pode bagunar e quando precisa ficar concentrado.

h) Dificuldade de aprendizagem

Existem dificuldades de aprendizagem por questes de inteligncia, de problemas neurolgicos, ou deficincias diversas. H tambm as dificuldades que a medicina no explica como o menino considerado dbil mental que me disse: no escrevo porque no gosto de nada que no tenha motivos tnico. Conclui que dbil ele no era!

Ento o que pode causar a dificuldade de aprender?

Concentrao. Pode haver problemas que ocupem toda a sua ateno como por exemplo separao dos pais, como um pai ter apanhado do outro, como problemas srios de dinheiro, como casamento de um dos pais, etc.

Faltar um pedao para compreender o que esta sendo explicado. Em matemtica e histria isso comum: para compreender certos conceitos preciso que se tenha alguns pr-requisitos, por exemplo no entende frao quem no entende diviso, quem no sabe tabuada, quem no sabe o que significa aquele trao com os nmeros em cima e em baixo. Outra coisa, ns prestamos mais ateno quando conhecemos uma estria desde o comeo. Isso significa que entender a independncia do Brasil depende de entendermos um pouco como era a situao do Brasil colonial, o que tinha acontecido antes e depois, o que iria mudar, o que permaneceria como estava. Os filmes de poca ajudam muito. Porque no us-los? Ser que aprender tem que ser chato? Ser que explicar que at o rei na poca tinha que fazer xixi no penico no pode tornar a histria mais engraada (e o penico real, de porcelana pintada, esta em exposio no museu do Ipiranga ou museu Paulista!)Hormnios. Na adolescncia, o sexo oposto exerce uma atrao irresistvel. E ocupa toda a nossa ateno. A matemtica vai para o espao porque o raciocnio no mais lgico. intuitivo. A insegurana reina. Ler nas entrelinhas o que todos esperam. Inseguranas, comparaes, alegrias e tristezas, alteraes de humor que no se sabe de onde vem nem para onde vo. Ai meu Deus, que bom e que difcil passar por isso! O que ser que o amigo vai dizer desta roupa? Ser que ela vai notar o meu cabelo? Ser que ele me viu? Ento seno Poe contra, una-se a eles: d problemas que espelhem esta fase: tenho x de dinheiro no bolso e s posso gastar um tero com a minha namorada... ou aproveite em historia para contar os bastidores de como era a vida j que a maioria dos reis e rainhas eram adolescentes (vocs no identificaram a frasese no tem po comam brioches de Maria Antonieta com um adolescente? Ela tinha 14 anos!)Achar que nunca vai aprender. Esta uma tarefa das mais difceis, porque antes de falar sobre a matria preciso convencer o pequeno que ele to capaz quanto qualquer um. s vezes aprender se distanciar de pai e me e pode ser doloroso. Quando ainda estava na faculdade, milnios atrs, recebi um mocinho que estava na faculdade de direito e veio fazer testa para ser cobrador de nibus. Ele no passou nos testes, justamente por ter muito mais requisitos do que os pedidos para o cargo. Quando eu fui avis-lo ele comeou a chorar e contou que a sua famlia era toda de cobradores e motoristas e ele queria fazer parte deste grupo. Veja ser advogado para este moo era uma vitria e uma derrota, porque ele poderia ir mais longe do que os seus, mas tambm ficaria cada vez mais distante deles. Se os parentes por um lado sentiam orgulho, por outro devia haver inveja. Ver algum que voc gosta ganhando algo muito legal quando voc tambm tem como alcanar as suas metas, caso contrrio demonstra a sua impotncia, e isso di.

Ento com a criana que acha que no vai aprender,comparar com outra que sabe pode ser a morte! Outra coisa, as crianas mais ansiosas, as que desistem logo, segundo pesquisas so as perfeccionistas. Quer dizer que se exigem coisas que no podem cumprir e ao perceberem seus limites tendem a desistir por se verem como incapazes. Com estas preciso convenc-las que podem. O resto fcil. Mas para isso precisamos compreender o que esta se passando com a criana. Como fazer?Que tal tarefas gradualmente mais difceis? Que tal grifar cada acerto?Que tal mostrar os erro frisando a parte que ele conseguiu fazer certo e apontando de leve o momento onde no foi bem compreendido? Que tal no incentivar tanto o errar e sim o corrigir?Principalmente no dizer em pblico que seu aluno incapaz, burro, no vale o esforo!i) Obesidade

Num mundo onde a aparncia vale mais do que o contedo, quando ter vale mais do que ser, a gordura um problema dos grandes porque visvel.

O pior que muito da gordura esta na dinmica da famlia:

comem porque no pode deixar nada no prato ( feio) mesmo que no tenha mais fome; comem porque no tem mais nada o que fazer ou aonde brincar;

comem porque os pais trazem guloseimas como forma de compensar sua ausncia;

comem porque maioria das comidas semi-prontas so menos nutritiva e mais engordurada a (cheeseburguers, frituras, pizzas, esfihas, macarronadas diversas, etc);

comem porque as mes e pais se desesperam quando um filho pula uma refeio (mesmo que jure que no esta com fome, mesmo que tenha comido uma lasanha inteira no almoo);

comem porque no so treinados a perceberem se esto saciados ou com apetite;

comem porque no percebem o que o corpo esta pedindo;

comem porque esta a nica hora em que a famlia esta reunida;

e finalmente comem por hbito sem querer mesmo- e depois passam mau.

Apesar de tudo isso a criana obesa que tem que ouvir dos colegas gozao pelo seu formato. Ela depreciada, desvalorizada, feita de bode expiatrio. Quando chega a puberdade piora porque ningum ousa dizer que ele/ela sexi e desta forma o jovem acaba ficando margem dos namoros e paqueras. Pior vira melhor amigo daquele/a a quem ama. Tenta encontrar uma maneira de sobressair nem sempre adequada.

Dentro desta realidade acaba valorizando um lado que nem sempre verdadeiro: aquele que esta sempre bem, aquele que amigo de todas as horas, o confidente, freqentemente passando por cima de seus prprios sentimentos, A esta o que preciso ficar atento e o que pode ser deletrio para a personalidade: engordar porque est infeliz, engolir porque no sente que haja qualquer outra soluo. Engorda por engolir a tristeza, por engolir a sexualidade, por engolir a vontade de revidar.Isso mesmo, no poder se expressar em sua plenitude, no poder sair com os amigos, se mostrar atraente, ou at sentir aqueles sentimentos que tentamos combater, que a igreja condena, mas que todos ns temos pode fazer muito mau e engordar s um dos possveis sintomas. Claro que melhor viver sem inveja, sem dio, sem raiva, mas para combat-los preciso primeiramente perceber que eles existem e onde esto a ento quem sabe luz da razo e da compreenso podemos nos dar conta que estes sentimentos so desnecessrios.

Ento liberdade de expressar seus sentimentos, valorizao da pessoa e espao para poder se movimentar podem ser os melhores aliados nesta jornada. E obviamente um mdico e um psiclogo podem ajudar no resto.

j) Condutas DelinqentesThiago tem 12 anos e estava na 6 srie do Ensino Fundamental. Como muitos garotos desta idade, gostava mais de conversar do que de fazer lies.

Ele j teve muitos problemas na escola: agressivo, irrequieto, mentiroso. Sua me, Mrcia, procurou ajuda num dia desesperada porque tinha lhe dado uma surra como nunca antes e percebeu que estava perto de perder totalmente o controle.

Ela foi casada com um homem agressivo, que a xingava constantemente, e a traia com regularidade. No dia em que a ameaa do marido veio recheada com uma faca, ela achou que era melhor sair de casa, antes que algo mais grave acontecesse.

Mrcia foi morar com a me e os irmos, e o filho. Mas sabe como av: mima o neto e nem sempre quer educ-lo. Os tios queriam dar ordens, mas as ordens ficavam desencontradas. Mas como em terra onde muitos mandam, ningum obedece, Thiago ficou sem direo.

Resultado, o menino ficou ainda pior.

E comeou atirar coisas dos outros: usava os tnis do tio, a blusa do outro tio, tudo sem pedir permisso. Nada acontecia.

Vendo este panorama sua me decidiu que o melhor seria ele morar com o pai, que poderia ficar de olho nele o tempo todo, e mudar-se para mais perto de ambos, de modo a v-lo com freqncia. Ela no tinha condies de alugar um lugar decente para viverem juntos. O pai concordou, e as coisas iam bem, at que Thiago pegou um celular que h dias estava no balco da loja de sua me.

Sandra, sabendo que teria que devolver o aparelho a sua cliente, pressionou o filho, que acabou confessando que tinha pegado o objeto.

Conversando com ele via-se que o menino no medira as conseqncias de seu ato, mas no fizera por mau. Achou que ningum sentiria falta; no percebera que a me era responsvel pelo bem esquecido.

Chateado, envergonhado, contou que vendera o aparelho a um amigo e se comprometeu a reverter a situao.

Mas no conseguiu sozinho, pois o amigo se recusava a desfazer o negcio.

Foi, ento, que a me dele resolveu entrar em ao e ajudar o filho a conseguir o bem de volta. E ouviu quando Thiago contou aos amigos o acontecido. Os amigos recriminaram seu filho, mas nem por isso Thiago recuou. O negcio foi desfeito.

A coordenadora da escola, sabendo do acontecido, chamou a me e a intimou a assinar o desligamento do menino da escola. O outro garoto, ou seja, o receptador, foi suspenso.

Vejam a incoerncia: assumir um deslize esta sendo considerado sinal de m ndole.

Se um menino brinca com blocos, no quer dizer que ser um engenheiro. Ento, por que este episdio esta marcando Thiago como se ele fosse um ladro?

Sem perceber a escola valorizou mais quem ficou quieto, do que o que tentou concertar. No considerou a coragem e fora de vontade necessria para assumir o erro publicamente e tentar achar o caminho correto.

E reclama que nesta escola s tem garotos problemas.

Por que ser?

Por isso, peo de corao que seja concedida uma chance para que Thiago, Paulo, Andr e tantos outros na mesma situao saibam que falar a verdade e ser honesto vale a pena.

S desta maneira poderemos sonhar com um mundo melhor

3- Trabalhando junto: a incluso da famlia nos atendimentosAo longo dos ltimos anos uma equipe de psiclogos atende as crianas e suas famlias no Joo XXIII em vrios problemas. As crianas e adolescentes so atendidos por um profissional e as mes e pais por outro. As crianas/ adolescentes aprendem a lidar com a raiva, com a agressividade, com a timidez e com os problemas que tiverem. Os cuidadores recebem orientao de como lidar com os filhos, tentam compreender e se colocar no lugar dos pequenos e pensar juntos possibilidades de agir de acordo com seus recursos e possibilidades. Primeiro ouvem desconfiados e medida que vo se sentindo mais fortes vo tambm dando seus palpites.As professoras so contatadas pelas mes, psiclogas ou elas mesmas ligam para conversar.

Notamos que as melhoras so super rpidas porque trabalhamos em conjunto, porque sabemos que estamos todos do mesmo lado: estamos todos tentando desatar os ns que aquele comportamento causa.

O segredo saber que no importa de quem a culpa, mas que a soluo depende de todos ns. saber que se h um problema que se origina em casa no por m f dos pais, no por descuido. Pode ser por falta de conhecimento especfico, mas isso fcil de arrumar!O mesmo vale para os professores: nem sempre a atitude do professor estudada, ele tambm se irrita, cansa, perde a pacincia. Claro que no caso do professor h mais controle. Primeiro porque o envolvimento emocional muito menor do que o dos pais; depois porque o tempo com a criana bem menor, finalmente ele tem conhecimentos especficos para conseguir lidar com situaes conflituosas. Pelo menos deveria ter.No podemos esquecer em hiptese alguma que nossa meta melhorar a vida da criana, e que desavenas pequenas deveriam ser deixadas de lado em nome de algo maior. Falar mau de um filho responsabilizar os pais. Mas no aprender a ler responsabilidade do professor.

Tirar notas baixas responsabilidade de quem mesmo? Ser que da me? Ser que si da criana?

Quando ns professores vamos comear a assumir que nossa responsabilidade ensinar e motivar? Quando vamos nos dar conta que a mdia da classe a nossa nota como professor?4- A importncia do lazer

Vi ontem pela televiso um menininho que desobedecia a me consistentemente, mas que tinha uma agenda cheia, igualzinha a um adulto. Idade estimada: trs anos. Ia a escola, fazia jud, natao, ingls, informtica. S no tinha tempo para ser criana, para brincar sem que algum dissesse do que deveria ser a brincadeira. Fora a questo do cansao, no ter espao para brincar terrvel. Brincar uma atividade muito sria para a criana, porque atravs da brincadeira que os pequenos tentam compreender o mundo adulto. Por isso brincam de situaes que eles no conseguem entender, e se no brincam, como fazer para digerir tantas informaes novas e estranhas?

Quando trabalhei na Cruz Vermelha Brasileira, achava engraado que as crianas brincavam com as bonecas de morrer. Naquela poca, no conseguia alcanar o simbolismo que estava contido nesta encenao: na verdade era uma tentativa de entender a morte e lidar com a angustia profunda que esta questo levantava. Para uma criana pequena, morrer sem sentido, especialmente se pensarmos que o tempo, que para ns concreto, para elas abstrato e muito longo. Basta lembrar que elas insistem em perguntar: quanto tempo falta para o meu aniversrio? E os pais explicam quantos meses, ou quantas ocasies festivas vo ter que esperar (vai passar o natal, depois as frias, o carnaval, a pscoa, depois em seu aniversrio); outras vezes quantas vezes a criana ter que dormir e acordar para chegar ao final de semana, ou o dia de visitar a av. Portanto, morrer e no ver nunca mais mais ou menos o que eles sentem entre a sada da me para o trabalho e sua volta: passa-se uma eternidade!

Depois, esta histria de dormir para sempre tambm estranha demais.

Mas tem muitas outras esquisitices no mundo adulto. Como saber o que significa desempregado, ou como avaliar o anuncio de uma separao? Creio que grande parte da tristeza tenha a ver com o desconhecimento do que isso significa na prtica. Ser que vou ver meu pai ou minha me com freqncia? Ser que meu pai vai arranjar outros filhos e esquecer que eu existo? Uma ex-paciente explicou para seus filhos que papai e mame iam morar em casas separadas, assim como a vov e a titia viviam separada deles, e nem por isso as crianas deixavam de visit-las.

Se no triste, porque ser que os adultos choram tanto? nas brincadeiras que estes sentimentos e informaes vo ser processados.

Assim, quando os pais brigam muito e disputam entre si quem esta com a razo, seus filhos podem espelhar tal comportamento competindo agressivamente nos jogos, respondendo aos professores, ou discutindo acaloradamente com seus amigos. Olhando com vagar, podemos notar que adultos e crianas repetem o que no compreendem, o que ainda no conseguiram elaborar, portanto repetem pela vida (na escola, nos passeios) aqueles comportamentos que vem, mas no conseguem alcanar o significado. ( bom lembrar disso a prxima vez que seu carto de crdito estourar!)

Nas crianas pequenas o brincar ajuda a compreender o mundo adulto e treina comportamentos fundamentais como perseverana, planejamento, e noes de estrutura. Por exemplo quando um bebe esta construindo uma montanha e as peas caem, ele descobre que ter que continuar insistindo se quiser ver a montanha pronta (perseverana), que precisa por os maiores em baixo (planejamento) e que tem que ter cuidado para no derrub-los antes da hora. Nos meninos e meninas maiores, os jogos mostram a importncia das regras, da equipe, da solidariedade, e principalmente que nem sempre se ganha, mas em compensao, nem sempre se perde. Ensina a no desistir, nem se deitar nos louros da vitria.

No ter tempo disponvel para brincadeiras, to srio quanto deixar as crianas sem comer. E a propsito, cansao faz com que a criana desobedea, fique mau humorada, irritadia e chata. E se nem tem como desvendar como o mundo dos adultos interferem na sua vidinha, a situao complica. O remdio nestes casos simples: dormir e brincar.

5- Vtimas de abuso e violncia domstica

Nunca pensei em atender crianas vtimas de violncia. Pensei que no agentaria. At que recebi uma menininha de trs anos que tinha sido vtima de abuso por uma pr-adolescente. A famlia raivosa, com razo, queria vingana. A me do menino- homem expulsou o coitado de casa. Esta atitude no melhorou nada para o coitado, nem para a menininha. Ser que algum pode contar para estes adolescentes que crescem sozinhos que desejar pode, fazer que no pode.Outra coisa terrvel: quem abusa, quase sempre foi abusado. No estou dizendo que isso desculpa para um ato to traumatizante, mas com certeza um indcio de que no estamos indo para o lugar certo. Se deixamos nossas crianas soltas sozinhas na mo de outros adolescentes que no conseguem cuidar delas adequadamente, se ns sociedade achamos que os menos preparados podem ficar com as crianas menores, se no temos gente capacitada para cuidar de nossas crianas, se pagamos mau os mais carentes e deixamos seus filhos jogados, ento estamos todos fritos, porque o feitio ira se voltar contra ns mesmos. Aqueles que foram deixados sem rumo, criaro as prprias regras e como dizia Piaget, quanto menos esclarecido mais severas as regras. Da para olho por olho um passo. E a violncia como resposta da violncia ns percebemos que no chega a lugar nenhum.Os Muitos Vus Que Temos

Era uma mulher mulumana e vinha de vu, xador e tudo o que tinha direito. Num primeiro momento, houve a associao com o oriente e as histrias das mil e uma noites, mas em seguida, me senti constrangida. Algo ali no estava certo e no tinha a ver com o aspecto religioso. Havia como que uma parede entre minha paciente e eu. Era como se mesmo ali, sozinhas, outros olhos nos observassem.

Depois de algumas sesses percebi que no era o vu de pano que incomodava, mas os inmeros vus que aquela mulher e tantas outras carregam consigo. Era como se toda a tradio humana pudesse penetrar em seus medos, segredos e anseios. No que ela quisesse algo to absurdo: s queria melhorar o relacionamento com o marido.

Depois que ela saiu, fiquei pensando que ns mulheres temos muitos vus. S que aqui, no ocidente, os vus no so visveis. Mesmo assim, cedemos a vrias geraes de tradio e obedincia sociedade paternalista.

Por exemplo, as pesquisas mostram que grande parte das mulheres mantm relacionamento sexual com os companheiros para eles no ficarem bravos, para que no pensem que elas tm um caso etc. De uma maneira ou de outra, parece que elas esto se sujeitando ao desejo do marido. Pesquisas tambm apontam que essas mulheres apresentam mais problemas ginecolgicos do que as demais. No seria esse um de nossos vus?

Trouxe o assunto para podermos conversar sobre aquela mulher que pulou do seu apartamento em Guarulhos. Pouco se sabe ainda sobre o que realmente aconteceu naquele dia, mas uma coisa certa: para se jogar pela janela, ainda por cima com o filho pequeno, porque l dentro o perigo era maior. O desespero tambm.

Sabemos tambm que a mulher j havia feito boletins de ocorrncia contra o ex-marido, que a agredira e ameaara, mas nenhuma providncia tinha sido tomada.

Quero falar um pouco sobre a lei Maria da Penha, que comeou a vigorar a pouco tempo: a lei leva o nome de uma vtima que foi muito agredida pelo marido e que tentou mat-la duas vezes. Na segunda tentativa acabou por deix-la paraltica.

Nesta ocasio, no muito tempo atrs, a punio para um homem que batia na mulher era somente a doao de uma cesta bsica, ou mais ou menos R$ 50,00 como fiana. Mas, Maria da Penha lutou como pde, por ela e por uma legio de outras mulheres na mesma situao. Hoje a pena por agredir ou maltratar a mulher pode chegar a anos de cadeia. Bater (ou maltratar) a mulher, hoje no Brasil, crime.

A lei determina que o homem que ameaa a mulher pode ser condenado a no chegar perto dela, de no poder ver os filhos menores, ou, dependendo do caso, at priso. Mas, uma coisa existir a lei, outra coisa fazer com que seja cumprida. E ns nem podemos culpar as autoridades, porque tm muito trabalho, e nem sempre do conta de atender a tantos casos.

Ou seja, o juiz pode proibir que o marido chegue perto da mulher, mas se ele no cumprir, algum tem que denunciar para que a polcia possa agir, e nem sempre a vtima tem condies de tomar as devidas providncias. A mulher que est sendo ameaada no pode ter vergonha de pedir ajuda e de ter amigas com quem contar, porque ela pode precisar. Por isso to vital que voc no deixe sua vizinha sofrendo sem oferecer ajuda.

E aqui entra a nossa parte: conversar, apoiar as mulheres que esto ao nosso redor e esto padecendo, e at chamar a polcia se for o caso. Claro que ningum quer se meter em relacionamentos, mas se voc acha que sua vizinha, ou amiga est sofrendo, pergunte que tipo de ajuda ela quer. Muitas vezes as pessoas ficam to constrangidas com o comportamento do parceiro que no sabem nem o que precisam, de tanta vergonha. Vergonha de estar se submetendo a este tipo de atitude.

preciso ir devagar e com delicadeza, porque quem no consegue sair deste crculo vicioso, pode estar to fraca e deprimida que no encontra uma sada possvel. E este o papel de amiga e cidad: ouvir, conversar, dar sua opinio e mostrar que ela pode contar com voc. Quem sabe se com mais solidariedade as mulheres possam tirar os seus vus e evitar que casos como o de Guarulhos sejam evitados.

O QUE FAZER EM CASOS DE VIOLNCIAProcurar o Conselho Tutelar da sua regio, e/ou ongs que atuem com casos desta natureza.

Se houver necessidade de internao, ou de abrigamento procurar a delegacia da mulher mais prxima.

Se no houver delegacia da mulher, promotoria da infncia e juventude.

O Conselho Tutelar pode encaminhar e instruir como fazer.

Em So Paulo voc pode procurar o CNRVV Conselho de Vtimas de Violncia que fica no SEDES SAPIENTAE, ou o CRAMI ligado USP, ou o FLORESCER DA FBRICA que funciona na Liga Solidria na zona oeste de So Paulo.

Alm do encaminhamento e atendimento s vtimas, estes locas orientam e apiam quem faz a denncia. Publicado inicialmente em HYPERLINK "http://www.comunicacaocatolica.com.br" www.comunicacaocatolica.com.br coluna Educao e Famlia - Aprendendo a Aprender

Premio do banco de tecnologia do Banco do Brasil ensina ler a partir de marcas conhecidas pela criana.

Frase citada no site da escola Amorim Lima que inovou na educao do pas.

Publicado inicialmente em HYPERLINK "http://www.comunicacaocatolica.com.br" www.comunicacaocatolica.com.br coluna Educao e Famlia sob Ttulo Que valres estamos passando?

Texto publicado inicialmente em HYPERLINK "http://www.comunicacaocatolica.com.br" www.comunicacaocatolica.com.br coluna Educao e Famlia sob o Ttulo Simplesmente Brincar.

Voc pode encontrar mais informaes a respeito em Winnicott O brincar e a Realidade , e Bruno Bethelheim Uma vida para seu filho. Boa leitura

Texto publicado inicialmente em HYPERLINK "http://www.comunicacaocatolica.com.br" www.comunicacaocatolica.com.br coluna Educao e Famlia sob o mesmo ttulo

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