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1600 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E INFÂNCIA: ESTUDOS BRASILEIROS E A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA AMBIENTAL ENVIRONMENTAL EDUCATION AND CHILDHOOD: BRAZILIAN STUDIES AND THE CONTRIBUTION OF ENVIRONMENTAL PSY- CHOLOGY Lucas Matoso Alves 1 Arnaldo Oliveira Rodrigues 2 1 Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET-MG Unidade Curvelo Estudante do Curso Técnico Integrado de Meio Ambiente e-mail: [email protected] 2 Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET-MG Unidade Curvelo Psicólogo/Psicanalista – CRP 04/34944 Coordenação de Política Estudantil - CPE e-mail: [email protected] RESUMO Em princípio, Educação Ambiental é todo processo educativo que almeja preservar o meio natural de vivência humana, estabelecendo desta maneira, uma relação harmônica; de forma que este processo se faz necessário para atingir um mundo ecologicamente sustentável. Neste artigo advoga-se a necessidade do contato humano saudável com a natureza, tendo como refe- rência o olhar da Psicologia Ambiental. Destarte, as crianças devem conviver com a natureza, para que assim, no futuro se tornem adultos conscientes que preservem a mesma. O objetivo deste artigo foi analisar a produção teórica nacional acerca da temática em questão mediante a pesquisa em dois sites de produção acadêmica utilizando os unitermos: educação ambiental, psicologia ambiental e infância. Os resultados apontam a escassa produção científica acerca do tema; as contribuições da Psicologia para o desenvolvimento de uma consciência ambiental; a Educação Ambiental como campo multidisciplinar e temática transversal a muitas disciplinas e a existência de diversos trabalhos valorizando abordagens teórico-práticas no Brasil. Os au- tores concluem que a implementação de ações desde a infância, no processo educacional que sejam voltadas para maior contato com a natureza de forma respeitosa faz com que a ação e mentalidade de preservação a natureza, esteja presente na consciência geral desde cedo. Palavras chaves: Educação Ambiental, Psicologia Ambiental, Infância, Meio ambiente, Desen- volvimento.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E INFÂNCIA: ESTUDOS BRASILEIROS E A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA

AMBIENTAL

ENVIRONMENTAL EDUCATION AND CHILDHOOD: BRAZILIAN STUDIES AND THE CONTRIBUTION OF ENVIRONMENTAL PSY-

CHOLOGY

Lucas Matoso Alves1

Arnaldo Oliveira Rodrigues2

1Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET-MG Unidade CurveloEstudante do Curso Técnico Integrado de Meio Ambiente

e-mail: [email protected]

2Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET-MG Unidade CurveloPsicólogo/Psicanalista – CRP 04/34944

Coordenação de Política Estudantil - CPEe-mail: [email protected]

RESUMOEm princípio, Educação Ambiental é todo processo educativo que almeja preservar o meio natural de vivência humana, estabelecendo desta maneira, uma relação harmônica; de forma que este processo se faz necessário para atingir um mundo ecologicamente sustentável. Neste artigo advoga-se a necessidade do contato humano saudável com a natureza, tendo como refe-rência o olhar da Psicologia Ambiental. Destarte, as crianças devem conviver com a natureza, para que assim, no futuro se tornem adultos conscientes que preservem a mesma. O objetivo deste artigo foi analisar a produção teórica nacional acerca da temática em questão mediante a pesquisa em dois sites de produção acadêmica utilizando os unitermos: educação ambiental, psicologia ambiental e infância. Os resultados apontam a escassa produção científi ca acerca do tema; as contribuições da Psicologia para o desenvolvimento de uma consciência ambiental; a Educação Ambiental como campo multidisciplinar e temática transversal a muitas disciplinas e a existência de diversos trabalhos valorizando abordagens teórico-práticas no Brasil. Os au-tores concluem que a implementação de ações desde a infância, no processo educacional que sejam voltadas para maior contato com a natureza de forma respeitosa faz com que a ação e mentalidade de preservação a natureza, esteja presente na consciência geral desde cedo.

Palavras chaves: Educação Ambiental, Psicologia Ambiental, Infância, Meio ambiente, Desen-volvimento.

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INTRODUÇÃO

Em princípio, Educação Ambiental é todo processo educativo que almeja preservar o meio natural de vivência humana, estabelecendo desta maneira, uma relação harmônica; de for-ma que este processo se faz necessário para atingir um mundo ecologicamente sustentável.

Neste artigo advoga-se a necessidade do contato humano saudável com a natureza, ten-do como referência o olhar da Psicologia Ambiental. Destarte, as crianças devem conviver com a natureza, para que assim, no futuro se tornem adultos conscientes que preservem a mesma.

Monbiot (2012, tradução livre dos autores) afi rma que “com metade do tempo desper-diçado em telas, a próxima geração estará pobremente equipada para defender o mundo natural de danos”, o que nos faz refl etir sobre os cuidados que devem ser destinados à infância, enquan-to possibilidade de desenvolvimento. Na contemporaneidade, as crianças têm passado mais tempo em frente a telas do que ao ar livre, limitando sua sensibilidade e sua criatividade, na maioria das vezes, a tecnologia é um dispositivo digital substituível; toda essa rotina simplista de sensações e descobertas tem limitado a liberdade criativa de meninos e meninas na infância, inclusive o sentimento de pertencimento ao que é vivo, ou seja, natural no meio ambiente.

Partindo desta premissa, o objetivo deste artigo foi analisar a produção teórica nacional acerca da temática em questão mediante a pesquisa em dois sites de produção acadêmica uti-lizando os unitermos: educação ambiental, psicologia ambiental e infância. Pretende-se trazer refl exões sobre situações referentes à educação ambiental, reforçar sua importância e com isto apresentar o papel da psicologia ambiental necessidade de cuidar da educação infantil. Em suma, este traz uma junção de diversas visões educacionais, vastas são as ciências presentes, como a arquitetura, psicologia, pedagogia, ecologia e antropologia.

Sabemos que a complexidade acerca de problemas ambientais cresce cada dia mais, em parte, pela falta de preservação de nossos recursos, os quais foram utilizados de maneiras não sustentáveis. Sabemos também dos múltiplos interesses que norteiam o discurso ambiental, tais como os interesses políticos neoliberais.

Com base no olhar ecológico da educação ambiental, é possível notar que a relação indivíduo-ambiente está empobrecida, principalmente nas escolas de educação infantil, onde se observa a ausência das próprias crianças no processo criativo de seu ambiente de convivência umas com as outras e também com os adultos.

Na análise da produção teórica nacional acerca das temáticas em questão é possível compreender diversos projetos de educação ambiental na escola, que visam aproximar as crian-ças com o meio ao seu redor, e com as crises que o mesmo, hoje apresenta. Segundo pesquisas, há uma escassez de estudos que escutam as crianças antes para só posteriormente intervir no espaço, com modifi cações; prova de que os ambientes que são criados para elas, mas não con-tam com a participação delas nos planejamentos.

A organização do ambiente é um refl exo da maneira que o projeto educacional ali vi-gente é levado, o que também mostra na maioria dos casos quais são os objetivos dos líderes e organizadores para com a educação dos pequenos. Assim como diversos outros modelos edu-

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cacionais presentes em nosso cotidiano são desenvolvidos, como educação sexual e educação alimentar, a educação ambiental também deve ser vista; despertando o conhecimento do ser humano como integrante do ambiente e não apenas como um expectador.

Assim como a Educação Ambiental vem ocupar recentemente a agenda político social das discussões no Brasil, a Psicologia ambiental é uma especialidade ainda muito recente no Brasil, possuindo representatividade baixa por aqui, mas já traz contribuições importantes para a temática discutida.

“Com a emergência da consciência ambiental, na segunda metade do século passado, foram incorporadas as temáticas da ecologia e da degradação ambiental, que se juntaram a outras questões como os direitos humanos, a migração e a democracia. Todos (esses) objetos de estudo para o psicólogo ambiental”, diz a professora Eda Terezinha de Oliveira Tassara, do Instituto de Psicologia da USP. A partir de teses a respeito da essência instintiva ou não da hu-manidade, a Psicologia Ambiental trata das inter-relações entre o indivíduo e o ambiente, seja este construído ou natural, urbano ou rural (CRP – SP, s.d.).

Neste artigo, trazemos estas temáticas à tona, articulando educação ambiental, psicolo-gia ambiental e infância.

MATERIAL E MÉTODOS

Os artigos que compõem a presente revisão foram buscados nos sites scielo e research-gate, partindo das palavras-chaves: “educação ambiental”, “psicologia ambiental” associados ao unitermo “infância”. No researchgate foram encontrados 31 trabalhos sobre educação am-biental e infância e 6 artigos sobre psicologia ambiental e infância. No scielo foram encontrados 1 artigo sobre educação ambiental e infância e 2 artigos sobre psicologia ambiental e infância. Após a leitura dos resumos, foram mantidos 6 artigos do researchgate e 3 artigos do scielo, sendo que 1 artigo é comum a ambas bases de dados.

Foram incluídos todos os trabalhos de texto completo disponível nos referidos sites, desde que apresentassem produções nacionais, escritos em português, independentemente da data de produção. Por outro lado, foram excluídos os trabalhos que não se apresentavam dispo-níveis na íntegra no site, trabalhos que não abordassem as temáticas em foco e trabalhos escritos em outras línguas, que não o português.

Os trabalhos foram então lidos, resumidos e identifi cadas as categorias, mediante a Análise de Conteúdo. As categorias foram defi nidas a posteriori, ou seja, emanaram da leitura dos artigos, sendo encontradas as categorias comuns e não comuns aos trabalhos, mas que se destacam por sua relevância para os objetivo da pesquisa. Optou-se por realização da análise de conteúdo temática que, de acordo com Moraes (1999, s.p.) ocorre “quando uma pesquisa utilizando análise de conteúdo se dirige à questão para dizer o quê? o estudo se direciona para as características da mensagem propriamente dita, seu valor informacional, as palavras, argu-mentos e ideias nela expressos”. As categorias temáticas seguem no próximo item.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste item faremos considerações iniciais sobre cada um dos 8 artigos que compõem esta revisão, de forma a apresentar sinopse de cada um e que serviu para ser norteador das ca-tegorias temáticas.

Silva et al (s.a.), um grupo formado por engenheiros fl orestais, biólogos, economistas e professores, em seu trabalho, apresentam inicialmente o que é educação ambiental, tomando como base a Lei Nº. 9.795/1999. Apresentam modelos educacionais presentes em nosso coti-diano, como a educação sexual e a alimentar, cuja importância foi comparada a da educação ambiental, um modelo que visa despertar o conhecimento do ser humano como integrante do ambiente e não apenas como um expectador do mesmo, proporcionando consequentemente maior qualidade de vida à sociedade. O trabalho apresentado pelos autores é um projeto de educação ambiental a se realizar com estudantes de ensino fundamental, visando mostrar às crianças respostas sustentáveis para os confl itos contemporâneos.

Olinda (2006), enfermeira, advogada e professora, articula inclusão social e saúde, mostrando que há uma grande diferença prática entre a fala e nas ações executadas referentes à saúde. Explicita as desigualdades sociais, a exclusão, como problemas sociais e se apoia na Constituição Federal de 1988 para assinalar os diversos direitos sociais e a importância na lei de se considerar a pobreza como uma variável a ser combatida. Neste sentido, cita a Agenda 21 brasileira retirada da Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992, e entra na temática do meio ambiente, articulando-o ao desenvolvimento, à pobreza e às políticas públicas para o desenvolvimento, sobretudo, regional.

Elali (2003) apresenta que, com a ecologia e sustentabilidade em alta atualmente se faz mais do que necessário verifi car o que as escolas ensinam atualmente em termos de pessoa-ambiente e assinala a importância do ambiente físico para o desenvolvimento infantil. Elali (2003) afi rma que a educação ambiental é algo que deve ser intrínseco em todas as disciplinas, para um resultado mais efetivo. Atualmente o contato com a natureza tem sido substituído pelo uso de recursos tecnológicos, infelizmente. O contato infantil com o seu ambiente o traz para o presente, controla a ansiedade e ainda causa uma sensação de pertencimento ao seu meio, dei-xando de ser um espectador para virar um participante. A autora é uma arquiteta, que expõe seus argumentos sobre a infl uência direta de projetos arquitetônicos de salas de aula no desenvolvi-mento educacional da criança, através de uma visão pedagógica, segundo ela, falta de espaço poda a criatividade e a liberdade das crianças.

Cruz e Cruz (2017), professoras, fi zeram uma revisão de literatura tomando com o refe-rência a perspectiva de Loris Malaguzzi, um educador italiano, em suas percepções da estética na educação infantil no município de Reggio Emilia, que fi ca na Itália. O ambiente é visto por ele como um terceiro educador, pois as relações estabelecidas no mesmo tem grande força, seja a relação entre crianças e adultos, crianças com crianças ou delas com os objetos ao seu redor. A autora aproxima as ideias de Malaguzzi das ideias de Henri Wallon e Paulo Freire, assinalando as contribuições destes para a constituição da identidade da criança. O ambiente é um cenário para as emoções, os sentimentos, descobertas e o desenrolar do processo criativo, que é próprio do humano, processos estes primordiais para tomada de consciência sobre um pertencimento

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socioambiental.Moreira e Souza (2016) trazem as contribuições da pedagogia, psicologia ambiental e

psicologia escolar para construir um ambiente escolar ideal na educação infantil. Aqui, nova-mente a questão do ambiente ser um refl exo da maneira que o projeto educacional ali vigente é desenvolvido, é a pauta; a falta da presença das crianças na organização do seu ambiente educacional corta em parte o pertencimento das mesmas com seu local de estudo, convivência e desenvolvimento social. Apresentam que há uma escassez de estudos e intervenções que escu-tam as crianças antes das modifi cações no espaço físico. O ambiente é um fator relevante e deve ser cuidadosamente planejado com base em frequentes diálogos entre diversas áreas, como a pedagogia, arquitetura, sociologia, psicologia e antropologia, para que tanto crianças quanto adultos se sintam pertencentes ali dentro.

Batista, Costa-Neto e Spagnoletti (2017) discutem a relação entre humanos e primatas, mais especifi camente entre os moradores da cidade de Paulo Afonso na Bahia devido à “inva-são” de macacos-prego-galego no bairro, causada pelas frequentes alterações antrópicas aos habitats naturais dessas criaturas. Foram feitas entrevistas e conversas mais informais com os moradores do bairro, para ver a que se associa a aparição dos macacos, como lidam com esse evento e por fi m pincelar a importância da educação ambiental nessa questão socioambiental. Atualmente, ocorrem diversos outros desastres/desequilíbrios ambientais devido falta de har-monia de nossa raça para com as outras e com o nosso ambiente. Os resultados obtidos nessa pesquisa, a coleta de dados, entrevistas, conversas informais e dados científi cos devem ser di-vulgados para a população local, quanto mais conhecimento a respeito de ecologia e biologia da conservação melhor será, principalmente, para equilibrar o que a muito tempo tem “clamado” por atenção.

Iared e Oliveira (2018), uma doutora em ecologia e a outra, doutora em ciências da engenheira ambiental, apresentam a pesquisa geradora do artigo no qual se objetivou compre-ender a experiência estética de um grupo de dezessete pessoas no Cerrado. Utilizaram duas técnicas de coleta de dados: a entrevista e a “walking ethnography”. Para as autoras, o corpo, a sensibilidade e os elementos pré-refl exivos são dimensões a serem consideradas no fazer pes-quisa de cientistas sociais, marcando uma possibilidade de ampliar o diálogo e a compreensão do fenômeno, tomando outros ângulos metodológicos.

Gonçalves, Dias e Mota (2014), doutoras em educação, tomando como base fundamen-tos da biopolítica, se dedicam inicialmente a questionar quais as funções que a escola possui hodiernamente e o que faz para atingí-las, tendo em vista a vigência de um panorama político neoliberal. Neste contexto atual, os diversos problemas ambientais estão em alta e a educação ambiental tem tomado mais foco, mostrando inclusive que as escolhas que sempre pautaram a conduta do planeta nunca se fi zeram sustentáveis e deve haver um reordenamento das ações visando o controle de risco. Destarte, a ligação das políticas públicas, em concordância com as necessidades socioambientais atuais, alargam as funções da escola e o sujeito ambiental, sujeito pós-moderno é criação do contexto neoliberal.

Partindo da comparação entre estes artigos, foram encontradas diversas categorias te-máticas relevantes, tais como:

Integração da Educação Ambiental ao cotidiano da vida;i)

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Articulação da Educação ambiental com outros conteúdos, tais como saúde ii) pública, educação sexual, alimentação, dentre outros;Espaço como terceiro educador;iii) Relevância do meio ambiente para a aprendizagem;iv) Função social da escola;v) Conceitos de educação ambiental;vi) Conceitos de psicologia ambiental, dentre outras.vii)

Aqui apresentaremos as seguintes categorias que mais se aproximam da infância, que foi um dos unitermos utilizados na pesquisa. Serão apresentadas as seguintes:

Escola, educação ambiental e formação do indivíduo;i) Espaço físico e educação;ii) Brincadeira, interação com o meio e aprendizagem;iii)

Por sua relevância, apresentamos também as seguintes categorias:Legislações e meio ambiente;i) Políticas públicas, ambiente e infância;ii) Desenvolvimentos.iii)

Escola, educação ambiental e formação do indivíduo

A articulação entre a escola e a educação ambiental enquanto contribuições importantes para a formação do indivíduo é apresentada por 62,5% dos artigos, sendo que quanto mais cedo a escola se dedicar a trabalhar as temáticas da educação ambiental maiores são as chances de formação de indivíduos conscientes com relação a sua contribuição para o desenvolvimento como um todo.

Tal como um “círculo virtuoso”, a educação ambiental por sua vez, ao ser trabalhada na escola contribui para o desenvolvimento humano saudável, principalmente se voltada às particularidades da infância. Elali (2003) assinala a “grande importância do ambiente para o de-senvolvimento infantil e da preferência da criança pelo contato com a natureza” (p.310). Cruz e Cruz (2017, p.72) afi rmam que “o ambiente tem um papel muito importante na pedagogia voltada para as crianças pequenas e, portanto, recebe a atenção de muitos autores do campo da educação infantil.(...). É consenso, para esses estudiosos, que o ambiente determina, em grande parte, a forma de sentir, pensar e agir das pessoas”.

Moreira e Souza (2016) mostram que há uma grande literatura e legislações que va-lorizam o meio ambiente e do espaço físico como importantes para a educação das crianças e consideram fundamental que os adultos possam oportunizar meios para a participação ativa das crianças mediante seu interesse e desejo no planejamento das atividades e da organização do espaço escolar.

Na mesma linha de pensamento, os artigos desta categoria trazem a contribuição de teóricos da Educação e da Psicologia, no sentido de mostrar que a afetividade, o incentivo a autonomia das crianças e o ato de escutá-las e torna-las participantes do planejamento muito contribui para a formação da personalidade/identidade, da autoestima e também da consciência ambiental.

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Espaço físico e educação

Entre os artigos estudados, parte deles tratam especifi camente da importância da organi-zação do espaço físico para o desenvolvimento infantil. É o caso dos trabalhos de Elali (2003), Cruz e Cruz (2017) e Moreira e Souza (2016). Além destes, observa-se em todos os demais, a menção ao espaço e ao ambiente como fatores signifi cativos para a infância e/ou educação, donde se percebe que considerar o espaço físico como parte da educação é mostrar que esta vai muito além das práticas docentes.

Estes textos assinalam a inexistência de neutralidade nas práticas educativas. Aspecto este corroborado por Gonçalves, Dias e Mota (2014) que, de forma incisiva, associa a educação atual e a educação ambiental como práticas decorrentes do discurso neoliberal que engendra a categoria de sujeito ambiental, autônomo, livre, responsável pelo desenvolvimento como um todo e incute tais ideias desde a mais tenra infância nas práticas educativas.

Segundo Cruz e Cruz (2017, p.72) “a organização do ambiente da instituição de edu-cação infantil nunca é neutra, mas reveladora da concepção pedagógica e dos princípios pre-dominantes sobre educação, criança e processos de ensino e aprendizagem”, informação esta verifi cada de forma similar em Elali (2003) e em Moreira e Souza (2016).

Moreira e Souza (2016), que tratam especifi camente da organização do espaço escolar, da arquitetura destes espaços e da legislação que norteia as construções, se dedicam a fazer uma compilação dos estudos brasileiros que apresentam a organização de ambientes educacionais infantis em articulação com as contribuições trazidas pela Psicologia Ambiental. Afi rmam que a preocupação com a construção de escolas que favoreçam o contato da criança com a natureza tem sido frequente no discurso, legislação e práticas no Brasil, porém ainda não de forma satis-fatória haja vista a falta de planejamento adequado destes espaços que, muitas vezes incorrem em erros básicos (não favorecer a interação das crianças com o meio ambiente, por exemplo) e/ou não atendem à legislação.

Contudo, é lugar comum a ideia de que, maior contato com a natureza, maior a aprendi-zagem, sendo o ambiente um elemento constituinte das práticas educativas.

Brincadeira, interação com o meio e aprendizagem

Moreira e Souza (2016), Elali (2003) e Cruz e Cruz (2017) enfatizam o papel das rela-ções estabelecidas entre as crianças, entre as crianças e os adultos, entre as crianças e a natureza e entre as crianças e o espaço físico/ambiente escolar como importantes para a constituição da identidade da criança.

Evangelista (2016, p.9 citada por CRUZ; CRUZ, 2017, p.73) afi rma que crianças “an-seiam por um espaço mais colorido, onde possam brincar, movimentar-se, ser mais livres, onde suas individualidades sejam respeitadas, possam fazer amizades e ter contato com a natureza”.

Iared e Oliveira (2018) pontuam acerca do movimento, da corporeidade e da afetivida-de/sentimentos para a aprendizagem e percepção da natureza. Para as autoras, o contato com a natureza faz parte do “sensível”, que é anterior à linguagem e a pesquisa em Educação Ambien-

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tal deve se dedicar a investigar a “materialidade da experiência” (p.4).A própria construção da escola infl uencia em práticas educativas a serem desenvolvidas

de modo que, as escolas planejadas e construídas por adultos pouco têm de paralelo com os desejos e interesses das crianças (ELALI, 2003) ao passo que há outros elementos a serem con-siderados no processo ensino-aprendizagem tais como o prazer e a alegria. Cruz e Cruz (2017) assinalam que a escola deve ser “um lugar dinâmico, interrelacional, qualifi cado e aberto às múltiplas possibilidades de atuações humanas” (p.75), “a escola deve ser pequena, acolhedora, agradável e atenta à individualidade” (p.76).

Legislações e meio ambiente

As legislações são apresentadas em 75% dos artigos e são de diversas ordens: leis e resoluções municipais, manuais norteadores de projetos, Constituição Federal de 1988, docu-mentos do Ministério da Educação e do Meio Ambiente, legislações ambientais, dentre outros.

Tais legislações servem como norteadores das práticas desenvolvidas: norteiam as cons-truções das escolas; a divisão dos espaços físicos, separando áreas verdes e de contato com a natureza das áreas administrativas e salas de aula; norteiam a porcentagem a ser dedicada a cada uma das referidas áreas bem como determinam quais são direitos, deveres e/ou estabelecem normas a serem seguidas no âmbito educacional.

As legislações específi cas referentes à infância e as referentes ao meio ambiente tam-bém são trazidas para as discussões dos autores. Exemplo disso é Batista, Costa Neto e Spagno-letti (2017) que fazem uso do “Tratado de Educação Ambiental para sociedades sustentáveis e responsabilidade global” e do “Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção” para discutirem a relação dos primatas com os humanos em uma relação criada pela apropriação humana de espaços antes destinados à natureza e fauna e fl ora nativas.

Gonçalves, Dias e Mota (2014) fazem uso dos documentos, manuais e demais norma-tivas referentes aos Programa Dinheiro Dentro da Escola e Projeto Escolas Sustentáveis para discutir o alargamento das funções da escola para englobar a transversalidade da Educação Ambiental.

Olinda (2006) traz a Constituição Federal para discutir a inclusão social, a saúde e as re-lações da pobreza, desigualdades e exclusão social, assinalando a necessidade de investimento público em políticas públicas para desenvolvimento sustentável, territoriais e regionais.

Políticas públicas, ambiente e infância.

Especifi camente no que se refere às políticas públicas, direta ou indiretamente, elas são trabalhadas em todos os artigos e se associa intrinsecamente com a categoria temática acima elencada haja vista a aplicabilidade das políticas públicas ser regulamentada por leis, normas e resoluções.

Exemplos disso são Silva et al (s.d.) que trazem a Lei de Educação Ambiental (Lei nº 9.795 de 1999) para apresentar o conceito de Educação ambiental e para estabelecer os objeti-vos de um projeto que articula educação ambiental, educação sexual e alimentação. Gonçalves,

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Dias e Mota (2014, p.552) que, em seu trabalho, se dedica a “uma análise a partir da docu-mentação ofi cial concernente aos três primeiros anos do Ensino Fundamental e, para compor o corpus analítico, foram selecionados documentos que se referem ao Ciclo da Infância, os que apontam direcionamentos para o ciclo da alfabetização, e às escolas sustentáveis”.

Desenvolvimentos

Os artigos estudados mostram que o campo da Educação Ambiental é por demais di-versifi cado. Para verifi car tal informação basta comparar o texto de Rodrigues (2009) com os artigos estudados. Se as adjetivações ao conceito de desenvolvimento são várias, parte delas aparece ilustrada nos artigos deste trabalho.

Silva et al (s.d.) articulam desenvolvimento às questões de saúde, ao planejamento fa-miliar, ao controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis, sem lhe atribuir um adjetivo es-pecífi co. Olinda (2006) também trata das questões de saúde, porém utiliza as seguintes adjeti-vações para o desenvolvimento: sustentável e regional, e diz de elementos do desenvolvimento territorial.

Gonçalves, Dias e Mota (2014) mostram a infl uência do desenvolvimento econômico nas regulações do desenvolvimento sustentável e no planejamento de riscos dos governos ne-oliberais.

Elali (2003) se dedica mais às teorias psicológicas aplicadas ao meio ambiente e à infância e trata do desenvolvimento humano e da ecologia do desenvolvimento humano, esta desenvolvida por Urie Bronfenbrenner. Cruz e Cruz (2017) e Moreira e Souza (2017) também adotam a perspectiva do desenvolvimento humano.

De certa forma, também se dedicam ao desenvolvimento social, embora esta adjetiva-ção não apareça em nenhum dos trabalhos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo de diferentes metodologias de pesquisa, de diferentes referenciais de análise, os trabalhos aqui englobados assinalam a riqueza da Educação Ambiental como campo de pes-quisa. As pesquisas, unanimemente qualitativas, mostram a articulação desta área com diversas outras: Arquitetura, Pedagogia, Psicologia, Direito, Enfermagem, Engenharias, dentre outras; defi nitivamente afi rmando o “lugar” transversal e transdisciplinar da Educação Ambiental que, longe de ser mais um “modismo” veio para ocupar a agenda das discussões contemporâneas.

Os resultados encontrados nesta pesquisa apontam a escassa produção científi ca acerca do tema nestes dois sites pesquisados (researchgate e scielo) articulando as palavras-chaves propostas, ao passo que isoladamente, cada palavra-chave gera número considerável de produ-ções teóricas, datadas, sobretudo das décadas mais recentes, pós Constituição de 1988, o que corrobora a ideia de que a Educação Ambiental, a Psicologia Ambiental e a maior preocupação com a sustentabilidade são recentes.

No que se refere especifi camente às contribuições da Psicologia observa-se a impor-tância desta para o desenvolvimento de uma consciência ambiental; para nortear práticas peda-

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gógicas/educativas e auxiliar na organização do espaço físico de modo a favorecer maior de-senvolvimento e aprendizagem às crianças. As múltiplas formas de interação (criança-criança, criança-adulto, criança-espaço físico, criança-natureza) contribuem para o desenvolvimento saudável, sendo que a implementação de ações desde a infância, no processo educacional que sejam voltadas para maior contato com a natureza de forma respeitosa faz com que a ação e mentalidade de preservação a natureza, esteja presente na consciência geral desde cedo.

A Educação, como processo, como atividade, não se mostra neutra, tendo sempre um caráter ético, estético, político, social e variam suas funções no tempo e espaço, donde devemos ser cuidados com a sua implementação de forma a não sermos meros reprodutores, mas de fato contribuir para os desenvolvimentos múltiplos possíveis a partir dela.

REFERÊNCIAS

BATISTA , Wallace Pinto; COSTA NETO, Eraldo Medeiro; SPAGNOLETTI, Noemi. Relação entre humanos e primatas (Sapajus sp.) às margens do Rio São Francisco, Nordeste, Brasil. Eth-noscientia. v.2. 2017. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/317594934_Relacao_entre_humanos_e_primatas_Sapajus_sp_as_margens_do_Rio_Sao_Francisco_Nor-deste_Brasil>. Acesso em: 25.jul.2018.

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