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1Especialista em Pedagogia Escolar, graduada em Geografia. Professora PDE 2010 da rede pública

do Estado do Paraná, lotada no Colégio Estadual Nestor de Castro – EFM. E-mail: [email protected]

2Mestre em Geografia/UFRJ e Geógrafo. Doutor em História/UFF. Professor dos Cursos de

Graduação, Especialização e Mestrado em Geografia da Unicentro – PR. Vice-Líder do Grupo de Pesquisa Estudos da Dinâmica Econômica (CNPq). Co-coordenador do Laboratório de Estudos em GeoEconômica (LABGECON) – Unicentro. E-mail:[email protected]

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CONSUMO RESPONSÁVEL: propostas para o

destino do lixo urbano em Sulina PR

Renita Teresinha Scherer1

Pierre Alves Costa2

Resumo

O presente artigo relata o desenvolvimento de um projeto aplicado no meio escolar, que investigou a necessidade de ampliar o conhecimento e o debate a respeito do lixo domiciliar urbano e o gerenciamento do mesmo, enfocando a importância da separação dos resíduos para a reciclagem e a disposição correta do mesmo, promovendo a Educação Ambiental através de uma reflexão crítica para compreender que essa problemática contemporânea está inserida no contexto econômico, político, social e cultural. Por acreditar que é possível promover uma sensibilização que leve à consciência da necessidade de mudança, com a formação de novos valores humanos, comprometidos com a preservação ambiental, iniciando pelo espaço mais próximo, o seu lugar, aplicou-se 06 (seis) atividades com temas sobre o lixo e a reciclagem com o objetivo de promover uma reflexão crítica sobre os mesmos e despertar para a mudança de alguns hábitos, para caminhar em direção da diminuição da produção de resíduos e dar-lhes um destino adequado. O projeto foi aplicado aos alunos da 7ª série A do Colégio Estadual Nestor de Castro – Ensino Fundamental e Médio do município de Sulina (PR), com idade média entre 12 (doze) e 15 (quinze) anos. Foi possível perceber e comprovar a importância do trabalho proposto pelo envolvimento dos alunos nas atividades, destacando o conhecimento da situação do lixo produzido no seu lugar, a atividade de campo que foi a visita ao aterro sanitário municipal e do contato direto com os catadores do lixo. O trabalho veio comprovar que a educação ambiental deve iniciar a partir do espaço mais próximo do aluno(a) e ser contínua para desenvolver posturas mais comprometidas com o espaço em que vive.

Palavras-chave: Lixo urbano; reciclagem; educação ambiental

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1 Introdução

A necessidade de reforçar a educação ambiental no meio escolar

promovendo o conhecimento e o debate a respeito do lixo urbano para que os

alunos adotem posturas mais críticas em seu dia a dia nos desafia a refletirmos mais

a respeito da geração e do destino final do lixo, que é um problema e um desafio

para a sociedade nos dias de hoje. Devemos discutir sobre as questões referentes à

produção e ao descarte responsável do lixo para conseguirmos desenvolver

reflexões críticas que resultem em maior compromisso social, pois a educação é o

principal instrumento de transformação da sociedade.

A Geografia como ciência envolvida com as questões sociais, ambientais e

econômicas pode fazer uma ponte entre as relações de consumo, lixo e meio

ambiente. Com base nesta constatação, buscamos promover um espaço de

confronto e diálogo entre o conhecimento científico e a temática do lixo urbano ou

resíduos sólidos, enfocando a importância da separação dos resíduos nas

residências, para a reciclagem e disposição correta do lixo domiciliar urbano,

abordando o assunto nas diferentes dimensões do conhecimento, através das

metodologias críticas de ensino aprendizagem.

Em busca da experiência, realizamos uma revisão bibliográfica, na qual

encontramos o suporte para elaborar uma intervenção pedagógica que aborda

diversas atividades relacionadas ao lixo com saída de campo com os alunos ao

aterro sanitário e entrevista com os coletores do lixo de Sulina, o que seria nosso

meio para atingir os objetivos propostos.

A temática em torno do lixo domiciliar urbano foi desenvolvida no Colégio

Estadual Nestor de Castro – Ensino Fundamental e Médio, do município de Sulina

(PR), com o objetivo de promover uma reflexão crítica sobre o lixo domiciliar urbano

e a reciclagem a fim de desenvolver nos alunos posturas mais significativas de

preservação do meio ambiente .

Propôs-se atividades com metodologias de fácil aplicação para os alunos da

7a série A (8º ano), do Ensino Fundamental, turno matutino, coerentes com as

Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Geografia do Estado do Paraná,

contempladas nos conteúdos estruturantes, perpassando as dimensões política,

econômica, socioambiental e cultural.

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Como as mudanças devem começar partindo das situações mais próximas

da nossa realidade, direcionamos o projeto com o foco para o lixo urbano, utilizando

a realidade do município de Sulina – PR, para aplicar nas atividades práticas.

A reflexão sobre a temática do lixo urbano busca oferecer maior formação na

dimensão ambiental, ampliando o conhecimento e o debate a respeito do lixo

urbano, envolvendo o contexto da realidade social do aluno para que assim, a

aprendizagem se torne mais significativa e ele encare os desafios com mais

segurança.

Dessa forma foi possível realizar uma prática pedagógica que partiu da

realidade social concreta, favorecendo um direcionamento do processo pedagógico

ao professor e proporcionando uma aprendizagem significativa aos alunos, trazendo

novos conhecimentos, contribuindo com atitudes mais responsáveis no momento do

descarte do seu lixo.

2 Fundamentação Teórica

A necessidade e a urgência em aprofundar a temática ambiental na escola,

que passe além das ações pontuais, nos motiva a buscar um maior conhecimento

científico para podermos atender com maior atenção ao que nos é solicitado como

professor e professora. É claro que a busca pelo conhecimento não se dá somente

pela escola, mas é nela que podemos refletir com mais especificidade, baseados na

ciência, contextualizando os fatos, esclarecendo, questionando, para que o aluno se

torne crítico.

A educação busca a transformação nas pessoas e é na escola que ela

(...) ganha especificidade, a de oferecer o espaço onde se pensa, onde se reflete o mundo físico e social, para que se possa ler melhor o lugar onde se vive, e se situe no mundo de forma a agir sobre ele (GOMES, p. 274).

A Lei Federal no 9.795 de 27/04/1999 que instituiu a Política Nacional de

Educação Ambiental estabelece uma proposta programática de Educação Ambiental

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com responsabilidades e obrigações para todos os setores da sociedade. Nas

Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná – DCEs os

conteúdos estruturantes que norteiam o ensino de Geografia, perpassam o espaço

geográfico nas dimensões política, econômica, socioambiental, cultural e

demográfica. Assim, a temática do lixo urbano se encontra inserida nas relações

entre essas dimensões.

A produção de lixo faz parte do dia-a-dia das pessoas, isso é inevitável. É

nos centros urbanos que a degradação ambiental e a queda da qualidade de vida se

acentuam mais, pois rios, fundos de vales e bairros residenciais periféricos dividem o

espaço com o lixo e a miséria.

Ao verificarmos fatos da história, nos encontramos hoje em uma situação sem precedentes com relação ao lixo: nossos espaços de reserva estão diminuindo e a Terra parece estar tornando-se pequena demais para a crescente população mundial. A pressão do homem sobre a Terra é cada vez maior, causando desequilíbrio em seus ecossistemas, afetando, inclusive, a biodiversidade de espécies. A falta de avaliação de impactos ambientais para a instalação de aterros contribui e omite este grave problema (GRIPPI, 2006, p.21).

Os processos de industrialização e urbanização, intensificados a partir do

século XX provocaram a formação de novos valores pautados no poder de compra.

Assim, nas últimas décadas acumularam-se evidências de que o desenvolvimento

econômico está causando efeitos trágicos sobre o meio ambiente e, à grande

parcela da população.

Os meios de comunicação constantemente mostram notícias sobre

queimadas, poluição de águas, desertificação, alterações climáticas, enchentes,

acúmulo de lixo inadequadamente, mostrando-nos situações em que o meio

ambiente foi alterado e sempre para o pior. Esse alarmismo da mídia muitas vezes

traz um sensacionalismo aos problemas globais relacionados ao meio ambiente,

onde a verdade se encontra camuflada pelo sensacionalismo de grande parte da

mídia nacional e internacional.

Nestas ocasiões, seria muito interessante e construtivo abordar os problemas conseqüentes à falta de planejamento e orientação geral nos assentamentos urbano-industriais e rurais, fato marcante quando se

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observa, principalmente nos países não-desenvolvidos, a supervalorização do planejamento econômico em detrimento do planejamento social (MENDONÇA, 2010, p.13).

Isso demonstra a necessidade cada vez maior de ampliar o debate, informar,

socializar e viabilizar o repasse de informações e conhecimentos científicos à

sociedade. De acordo com Gomes (2009), percebe-se também uma fragilidade no

processo pedagógico em educação ambiental. Os propósitos e as ações trazem

boas intenções, porém prevalecem as práticas que exploram o lado sentimental

(afetivo), em prejuízo da reflexão crítica e problematizadora, gerando um caráter

simplista de educação ambiental.

[...] não a problematizam como sendo produto da intervenção da sociedade sobre a natureza, dentro de uma complexidade. Colaborando muitas vezes para que os verdadeiros produtores destes problemas – os detentores e reprodutores do capital -, sejam colocados à margem dessa discussão e, muitas vezes, sejam considerados como os produtores do “desenvolvimento” (GOMES, 2009, p.284).

O sistema econômico capitalista em sua avidez pelo lucro tem se mostrado

insustentável na utilização dos recursos e reservas naturais gerando problemas

ambientais, sociais e econômicos graves, originando um mundo farto de

contradições e disparidades. De acordo com Mendonça (2010, p.10), o rápido

processo de industrialização acabou alterando a dinâmica da natureza e provocando

a degradação ambiental através dos diversos tipos de poluição, desmatamento,

interferindo na qualidade da água, do ar e na extinção de muitas espécies de

animais, comprometendo assim “a qualidade de vida da população”.

Nestes aproximadamente duzentos anos de industrialização do planeta, a produtividade de bens materiais e seu consumo se deu de forma bastante acelerada. Como esse processo de industrialização desrespeitou a dinâmica dos elementos componentes da natureza, ocorreu uma considerável degradação do meio ambiente (MENDONÇA, 2010, p.10).

De acordo com Leff (2009, p.15-32), na fase atual da história da

humanidade, a construção e reconstrução do mundo se dá pela intervenção do

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homem na economia, ciência e tecnologia numa grande complexidade, onde se forja

o saber ambiental pelas políticas do neoliberalismo que busca integrar a economia

com a dinâmica ecológica e populacional. A degradação ambiental, a desigualdade

e a pobreza são características de crise da atualidade, marcadas pelo modelo do

desenvolvimento da razão tecnológica sobre a organização da natureza e do

crescimento econômico orientado pelo mercado livre.

Gomes (2009, p.285), afirma que as diferentes paisagens são resultado das

relações sociais estabelecidas nos lugares, as quais são “reconstruídas

constantemente, conforme os interesses sociais”, com o predomínio do interesse do

capital. E como a “globalização econômica se faz apoiada na desigualdade entre os

lugares”, se faz necessário utilizar o raciocínio geográfico para a compreensão da

problemática ambiental.

[...] esta característica das sociedades capitalistas impõe várias dimensões ao desafio ambiental: “(1) separa-se quem produz de quem consome (quem produz não é o proprietário do produto) e: (2) a produção não se destina ao consumo direto dos produtores, (3) assim como o lugar que produz não é necessariamente o lugar de destino da produção. Alienação por todo o lado” (PORTO GONÇALVES, 2004, p.68).

De acordo com Leff (2009, p.56-57), a crise ambiental é resultado do

crescimento econômico. Porém, ela reflete não somente a degradação ambiental

ecológica, mas mostra-se também uma “crise de civilização que questiona a

racionalidade do sistema social, os valores, os modos de produção e os

conhecimentos que o sustentam”. Assim, de acordo com autor acima citado, a

problemática ambiental possibilitou um processo de transformação do

conhecimento:

A questão ambiental não se esgota na necessidade de dar bases ecológicas aos processos produtivos, de inovar tecnologias para reciclar os rejeitos contaminantes, de incorporar normas ecológicas aos agentes econômicos, ou de valorizar o patrimônio de recursos naturais e culturais para passar para um desenvolvimento sustentável. Não só responde à necessidade de preservar a diversidade biológica para manter o equilíbrio ecológico do planeta, mas de valorizar a diversidade étnica e cultural da espécie humana e fomentar diferentes formas de manejo produtivo da biodiversidade, em harmonia com a natureza (LEFF, 2009, p. 57).

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A necessidade de mudança no tratamento das questões globais críticas,

suas causas e inter-relações no contexto social e histórico deram origem à educação

ambiental que nasceu nos movimentos sociais e sofreu diversas transformações ao

longo de sua história originando um amplo processo em nível global, direcionado

para a criação de condições que levem à consciência do valor da natureza para a

humanidade. Foi nesse contexto que iniciou a concepção de um modelo de

desenvolvimento sustentado.

O início da crise ambiental global ocorreu nas décadas de 1960 e 1970

quando a sociedade se defrontou com sinais visíveis e evidentes dos problemas

ambientais originados pela exploração desenfreada da natureza. Nos anos de 1970

ocorreram muitos movimentos sociais que questionavam os modelos de vida e de

desenvolvimento adotados pela sociedade industrial moderna e a partir de então,

ocorreram diversas conferências para elaborar políticas públicas sobre a questão

ambiental, enfocando a Educação Ambiental e a conscientização pública para a

preservação do meio ambiente, como:

a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente em Estocolmo – 1972;

a Conferência de Belgrado em 1975;

a Conferência de Tbilisi em 1977;

a Conferência de Moscou em 1987;

a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

em 1992 – CNUMAD, também conhecida como RIO 92 ou ECO 92 –

considerada a II Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, ocorrida no Rio

de Janeiro;

Rio + 10, ocorrida na África do Sul em 2002;

Rio + 20 ocorrida no Rio de Janeiro em junho de 2012.

Particularmente no Brasil, foi a partir da ECO 92, realizada no Rio de

Janeiro, em 1992, que a noção de desenvolvimento sustentável começou a ser

amplamente empregada pelos estudiosos e políticos do meio ambiente.

Com a Constituição de 1988, a Educação Ambiental tomou formas mais

consistentes no nosso país. Em seu artigo 225, parágrafo 1º, inciso VI declara que

compete ao poder público: “promover a educação ambiental em todos os níveis de

ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.

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Em 1994 foi criado o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA)

com o objetivo de promover a articulação das ações educativas voltadas às

atividades de proteção, recuperação e melhoria sócio ambiental, e de potencializar a

função da educação para as mudanças culturais e sociais. A Educação Ambiental é

recomendada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, para ser trabalhada na

perspectiva transversal, através da temática Meio Ambiente, buscando uma

educação integrada, voltada à cidadania, sugerindo o desenvolvimento de valores,

atitudes e posturas éticas acerca da problemática dos resíduos sólidos, estando

amparada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação publicada em 20 de dezembro

de 1996.

Como parte do processo educativo mais amplo, todos tem direito à educação ambiental, incumbindo: I – ao Poder Público, nos termos dos arts.205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente [...] IV – aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação (LDB, n

o 9.394/96,

art. 3o ).

A educação ambiental busca a contribuição para uma mudança de valores e

atitudes no meio social e ambiental, tornando-se necessário o conhecimento do

ambiente em sua totalidade e dos problemas relacionados a ele, bem como da

presença da humanidade nele.

A Agenda 21 sugere que haja limites para o desenvolvimento que devem ser

respeitados e conclui que é tecnicamente possível prover as necessidades mínimas

de uma população até o próximo século, de forma sustentável, sem a continuidade

da degradação dos ecossistemas globais, mas que para isso seria necessária uma

grande mudança nos níveis de consumo dos países desenvolvidos. Assim

poderemos ter um desenvolvimento sustentável, capaz de “satisfazer as

necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade do suprimento das

necessidades das gerações futuras”.

O documento “Nosso Futuro Comum” de 1987, da Comissão Mundial sobre

o Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU considera o desenvolvimento

sustentável como desenvolvimento economicamente viável, ambientalmente

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adequado e socialmente justo para toda a humanidade. Para ser alcançado,

depende de planejamento a longo prazo e do reconhecimento de que os recursos

naturais são finitos e de todos. Torna-se necessário encontrar um caminho que

garanta o desenvolvimento integrado e participativo e que considere a valorização e

o uso racional dos recursos naturais. Isso sugere a necessidade de mudança dos

padrões de consumo atuais, da substituição da quantidade pela qualidade, da

redução do uso de matérias-primas e produtos e do aumento da reutilização e da

reciclagem.

Como o aumento de consumo é crescente, a quantidade de resíduos

também vai aumentando e causando impactos ambientais com graves reflexos na

população. Atualmente vive-se na época em que as embalagens ou produtos são

utilizados uma só vez e em seguida são jogados fora. São milhares de toneladas de

lixo produzido diariamente, além do desperdício de alimentos, energia, água e outros

materiais que jogamos fora.

Junto a essas questões nos deparamos com a contraditória lógica da sociedade produtora de mercadorias e de descartáveis, uma organização social que estimula o consumo descontrolado e afirma a importância da preservação ambiental como maneira de preservar a sua existência. Neste contexto, o reaproveitamento dos resíduos sólidos, a reciclagem, aparece como uma das possibilidades de frear o avassalador processo de degradação ambiental (LEAL, 2002, p.178).

A humanidade está vivendo um momento extremamente forte em termos de

produção e desperdício de modo a comprometer os recursos naturais. Há

necessidade de uma transformação e a respeito do lixo urbano é possível diminuir

essa produção, reduzindo o desperdício e reutilizando sempre que possível, além de

separar os materiais recicláveis para a coleta seletiva; e, de acordo com Grippi

(2006, p.120), “(...) se for possível reusar ou reciclar, não é lixo!”

Não é fácil compreender o complexo de relações que envolvem a

reciclagem. Segundo Leal (2002 p.179-182), a reciclagem permite o

reaproveitamento do lixo através da reindustrialização do mesmo e a sua

recolocação no mercado. Assim, pontua-se a preservação de certos recursos

naturais que seriam utilizados na fabricação de novos produtos. E, existe o outro

lado desse processo produtivo. A reciclagem gera lucro e as empresas não tem

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como objetivo principal a preservação ambiental e sim, a lucratividade. Dessa forma,

a reciclagem é um verdadeiro negócio. Porém, a indústria da reciclagem se ocupa

somente dos materiais que tem garantido potencial lucrativo como a lata, o papel, o

ferro, o alumínio, plástico e alguns outros.

O mesmo autor também coloca que a reintrodução de parte do material

descartado na cadeia produtiva, como mercadoria, é produto do trabalho humano e

o valor desse trabalho é pouco reconhecido. Os trabalhadores dos lixões e os

coletores são cidadãos, que recebem dinheiro em troca dos materiais recicláveis, o

qual será utilizado para pagar outros produtos adquiridos para a sua sobrevivência.

A quantidade e a composição do lixo estão diretamente ligadas ao poder

aquisitivo da população. A classe social mais pobre produz um lixo composto

basicamente por materiais orgânicos. Por outro lado, a classe social mais rica gera

uma quantidade maior de lixo e com maior quantidade de produtos recicláveis, pelo

uso maior de embalagens. Porém, os problemas e os prejuízos que geram ao meio

ambiente, causados pelo consumismo, são socializados; e, de acordo com Leal

(2002 p. 183), sendo as populações mais pobres os que mais sofrem com esta

situação.

Em inúmeras cidades que possuem lixões se observa um grande

contingente de pessoas com baixo poder aquisitivo que trabalha na coleta de

materiais recicláveis para a venda e de alimentos. Este é um problema difícil de ser

administrado.

De acordo com Leal (2002, p.180), a reciclagem de resíduos sólidos é uma

atividade muito complexa, “(...) compondo um imenso circuito produtivo (...)”, no qual

trabalham vários participantes com papéis diferenciados, sendo o catador o principal

trabalhador desse círculo produtivo; porém, o que é menos valorizado, trabalhando

em condições indignas e recebendo pouco, podendo ser considerado como

trabalhador miserável.

A importância da mudança de hábitos e mentalidade da sociedade no seu

conjunto emerge cada vez mais. Leal (2002 p. 180) também aponta que jogar fora o

lixo e investir apenas em sua coleta e destinação não é suficiente para resolver o

problema, uma vez que a estrutura e a lógica de organização da sociedade

capitalista possuem em vista uma produção cada vez maior e, em vista das

transformações tecnológicas que influem na “(...) alteração da durabilidade,

toxidade, volume e descartabilidade (...)” dos produtos, haverá uma produção cada

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vez maior de resíduos. A lógica do capitalismo é se apropriar da natureza para

transformá-la em mercadoria, assim como também faz com o trabalho humano. Esse

é um imenso circuito de interesses capitalistas.

Na perspectiva de uma sociedade sustentável o desafio é economizar

matérias-primas e gerar menos lixo. Para tanto se torna necessário reduzir a

geração de resíduos, usando menos materiais e menos embalagens; reutilizar ao

máximo os materiais, evitando sempre que possível o uso de descartáveis; quando

não for possível reduzir ou reutilizar, reciclar para reaproveitar as matérias-primas,

reciclando os materiais.

Na medida em que a sociedade compreender que o problema é ambiental e

civilizatório, estando também intimamente relacionado ao modelo de

desenvolvimento econômico, reconhecerá a importância de lutar por uma nova

mentalidade que produza atitudes diferentes, que eduque e modifique os hábitos e

melhore a qualidade de vida das pessoas criando assim uma forma mais

responsável de relacionar-se com o meio ambiente.

3 Trabalhando com a questão do lixo no C. E. Nestor de Castro - EFM

A presente pesquisa foi idealizada com a aplicação de atividades no ensino

da Geografia, na 7ª série A (8o ano), a alunos com faixa etária entre12 e 15 anos em

média, do turno matutino, no Colégio Estadual Nestor de Castro – Ensino

Fundamental e Médio, no município de Sulina (PR), para mostrar que este é um

material didático que pode e deve ser utilizado, de forma adequada, a fim de se

compreender a temática do lixo domiciliar urbano nas suas diferentes dimensões no

processo de ensino e aprendizagem de Geografia, para incentivar a separação do

lixo domiciliar reciclável.

O propósito do trabalho é promover o conhecimento para despertar atitudes

mais críticas em relação ao destino correto do lixo. A pesquisa foi desenvolvida no 2o

semestre de 2011. Foram previstas 15 (quinze) horas/aulas para a aplicação das

atividades, sendo estimado o tempo de 02 (duas) horas/aulas por semana para cada

atividade. Para a aula de campo que foi a visita ao aterro sanitário, foram previstas

03 (três) horas/aula para a visita e 02 (duas) horas/aulas previstas para a

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socialização da visita em sala de aula e elaboração de síntese escrita sobre a aula

de campo. As atividades foram realizadas no período de 06 (seis) semanas, nos

meses de agosto e setembro de 2011.

As atividades foram divididas em 06 (seis) temas diferentes, com

apresentação de textos, vídeos, atividades em grupos e individuais com a intenção

de discutir com o aluno(a) o que é bom para a sua cidade, promovendo a reflexão

sobre a separação do lixo na escala local e mundial.

3.1 Implementação do projeto na escola

O desenvolvimento das atividades propostas a seguir, tem como objetivos

específicos:

- Promover a compreensão da temática do lixo domiciliar urbano nas dimensões

socioeconômicas, políticas, culturais e éticas;

- Incentivar a separação do lixo domiciliar reciclável;

- Desenvolver nos alunos posturas mais significativas de preservação do meio

ambiente.

As atividades iniciaram com uma conversa de interação com os alunos a

respeito do que eles já conhecem sobre o assunto, sendo em seguida apresentado o

projeto e o convite à participação dos trabalhos. Foi possível observar uma

curiosidade por parte de alguns alunos como também uma posição de neutralidade

por outros.

Na etapa seguinte, os alunos participaram das aulas que trataram sobre os

seguintes temas:

Lixo, um problema de escala local a mundial;

As origens e implicações socioeconômicas presentes no lixo;

As vantagens da reciclagem e a ética no ato de consumir;

O gerenciamento do lixo local e as condições de vida e trabalho dos coletores

do lixo municipal;

O lixo e suas relações naturais, socioeconômicas, políticas e culturais;

Ética e problemas ambientais.

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As temáticas foram desenvolvidas com textos adaptados, vídeos, atividades

individuais e em grupos, figuras, aula de campo, pesquisa e jogo, utilizando a sala

de aula como também a sala de informática, além do uso da TV Pendrive e projetor

multimídia.

O processo de avaliação ocorreu de forma paralela às atividades sugeridas.

Os alunos foram informados sobre os critérios da avaliação onde seriam levados em

consideração a compreensão, o questionamento e a participação nas aulas, com

demonstração de posicionamento crítico frente ao conteúdo proposto. As atividades

propostas foram avaliadas levando-se em consideração a participação, as

perguntas, o interesse, a colaboração, o envolvimento dos alunos nas diferentes

atividades, as conclusões próprias nos debates, nos textos e sínteses escritas,

valorizando sempre a qualidade, a criatividade e a coerência dos trabalhos por eles

produzidos.

Na primeira atividade - Lixo, um problema de escala local a mundial - os

alunos tiveram conhecimento introdutório ao tema, com a identificação de situações

problema do seu lugar. Os procedimentos metodológicos foram: exposição resumida

do assunto: “Educação Ambiental e consumo responsável: propostas para o destino

do lixo urbano”, esclarecendo sobre as atividades sugeridas no decorrer da

proposta; problematização dos conceitos lixo domiciliar urbano, resíduos sólidos,

coleta seletiva, reciclagem, lixão, aterro sanitário, buscando trazer as ideias dos

alunos para o grande grupo, para acontecer um debate a respeito do que eles

conhecem sobre o assunto. Em seguida, a apresentação do texto 1 que traz

informações que tratam da composição e quantidade de lixo produzido em média,

seu destino e a vantagem da reciclagem, com conversação sobre as ideias

principais, sempre trazendo para as escalas local, nacional e mundial.

Seguindo foi apresentada uma imagem sobre a forma inadequada de

disposição final de resíduos sólidos, orientando para observação do uso do solo,

cobertura vegetal, recursos hídricos, os catadores e sua exposição às doenças.

Após foi realizada a leitura do texto 2 que descreveu sobre o lixo urbano do

município de Sulina (PR), para que os alunos tivessem conhecimento da situação do

lixo produzido no seu lugar. Os dados foram conseguidos no Centro de Saúde

Municipal de Sulina – PR, contendo pesquisa realizada pela Vigilância Sanitária

Municipal do referido município, que apresentou o total de lixo coletado numa

semana, no mês de março de 2010. Este texto produziu uma surpresa nos alunos,

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pois eles não tinham noção sobre a quantidade de lixo produzida na cidade. Houve

bastante interesse e discussão sobre esse assunto.

Para concluir, foi apresentado o vídeo que mostra o lixo presente no oceano,

principalmente o plástico, e as consequências dele para a vida marinha. O conteúdo

da aula despertou muito o interesse dos alunos para saber mais sobre a temática do

lixo.

A segunda atividade – As origens e implicações socioeconômicas presentes

no lixo – foi iniciada com o vídeo que trata da história do lixo desde os primeiros

tempos da história da humanidade destacando os problemas que surgiram com o

aumento da população e principalmente a partir da Revolução Industrial. Foi por

volta de 1950 que os problemas despertaram para a necessidade da mudança. Este

vídeo também mostra que o lixo é um indicador de riqueza, característica do sistema

capitalista que incentiva ao consumismo e assim promove os problemas ambientais.

Após o vídeo foi realizado debate sobre o conteúdo do mesmo e

apresentado um texto sobre a evolução do lixo na história, relacionando com o vídeo

apresentado anteriormente, enfatizando o grande desafio da atualidade que é

promover o desenvolvimento sustentável. Relacionando aos comentários

apresentou-se mais uma figura de lixão, para aguçar as trocas de ideias.

Neste momento havia a previsão de fazer um jogo sobre o lixo e a

reciclagem, para proporcionar entre os alunos o debate e a argumentação de

conceitos referentes à temática em questão. Porém, o laboratório de informática

estava com problemas e esta atividade precisou ser substituída. Os alunos foram

incentivados a levantar sugestões para diminuir o lixo produzido na escola,

principalmente nas salas de aula. Primeiro ocorreu a discussão em pequenos grupos

e ao final em grande grupo. Esta atividade gerou grande debate nos grupos e

também boa participação no grande grupo. Foi possível perceber que os alunos

observam que é grande a quantidade de lixo que é produzido na sala de aula por

eles mesmos, principalmente papel, que são folhas que arrancam de seus cadernos,

embalagens de balas, chicletes e lixo orgânico. Sugerem que se faça a coleta

seletiva do papel na escola.

Apresentamos uma tarefa complementar extraclasse, solicitando aos alunos

para fazer a observação do lixo reciclável que é produzido nas suas casas durante

uma semana, explicando que eles deverão coletar e acondicionar em algum lugar da

residência para fazer a experiência do lixo que é produzido em casa (tipos e

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quantidade). Ao final da semana poderão analisar o lixo (tipos e quantidade, bem

como as implicações que tiveram quanto ao acondicionamento do mesmo na casa e

para a família, etc.), relatando por escrito essa experiência. Nem todos os alunos

puderam fazer esta atividade por completo. Alguns disseram que a sua mãe não

permitiu guardar o lixo orgânico. Os relatos foram breves, porém confirmam que a

maior parte dos materiais que são descartados nas residências podem ser

reaproveitados na reciclagem. Entre os materiais mais citados foram sacolas

plásticas, embalagens plásticas, latas, vidros, garrafas PET e embalagens longa

vida. Vários alunos citaram o aproveitamento do lixo orgânico na produção de adubo

para ser utilizado nas hortas de suas residências. Poucos alunos disseram que foi

difícil realizar a tarefa pelo fato de provocar cheiro ruim, pois foi explicado que

deveriam lavar os materiais para armazená-los.

A terceira atividade, trouxe por tema as vantagens da reciclagem e a ética

no ato de consumir e iniciou com uma reflexão apresentando uma figura que mostra

lixo abandonado na beira da estrada, para relacionar com a importância da

qualidade de vida no dia a dia das pessoas. Seguindo a aula, foi apresentado um

vídeo que comenta a história, a origem dos lixões e como o lixo nos incomoda; o

tempo que o lixo leva para se decompor e que afetará as populações futuras.

Também leva à reflexão das desigualdades sociais e convida à reciclagem.

Para complementar o vídeo, os alunos leram o texto “Coleta Seletiva e

reciclagem: uma forma de promover o desenvolvimento sustentável”, sempre

estimulando comentários, opiniões e contribuições, inclusive com o vídeo “minuto

animado” que incentiva à coleta seletiva. As reflexões procuraram questionar sobre

o lixo produzido nas residências e a forma do seu descarte e o reaproveitamento das

embalagens. A seguir os alunos receberam um texto contendo alguns materiais e o

tempo que levam para se decomporem na natureza, trazendo exemplos de como a

reciclagem pode favorecer a diminuição da exploração dos recursos naturais.

Após a leitura, foi sugerido aos alunos pesquisarem outros resíduos e seu

respectivo tempo de decomposição na natureza, bem como as vantagens da

reciclagem, utilizando o laboratório de informática e a biblioteca, sendo que alguns

sites foram sugeridos e alguns livros da biblioteca foram previamente selecionados

para a atividade. Os alunos foram organizados em grupos e tiveram tempo limitado

para a atividade. No momento da socialização da atividade, os grupos chegaram à

conclusão que foi muito interessante e importante; que conhecendo o impacto da

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produção de alguns materiais na natureza, fica mais evidente a necessidade da

reciclagem.

A próxima atividade foi uma aula de campo com a visita ao aterro sanitário

municipal. O tema foi o gerenciamento do lixo local e as condições de vida e

trabalho dos coletores do lixo municipal. Antes de sair a campo os alunos foram

preparados para essa visita, além de se organizar em conjunto um questionário para

entrevista, que incluiu as condições de trabalho como remuneração, horário de

trabalho, riscos à saúde e vida, se o trabalho é terceirizado, de que forma os

materiais são separados e vendidos, a sua satisfação neste trabalho, a aceitação do

catador de lixo pela sociedade, se o catador sabe do valor de seu trabalho para o

meio ambiente.

Com o auxilio de um ônibus do transporte escolar os alunos se dirigiram ao

aterro municipal, acompanhados da professora Renita e da diretora do colégio. Os

catadores estavam trabalhando na separação dos materiais, receberam bem os

alunos e responderam às perguntas do questionário, mostrando-se satisfeitos com o

seu trabalho, sua remuneração e as condições de trabalho. Disseram que trabalham

com carteira assinada e recebem um salário que lhes permite viver em condições

dignas com sua família; são aceitos normalmente na sociedade, não se sentem

envergonhados por causa do trabalho e sabem a importância de seu trabalho para a

preservação do meio ambiente. Disseram também que a coleta do lixo no município

é terceirizada, sendo realizada pela empresa Sabiá Ecológico, do município de Nova

Esperança do Iguaçu, PR.

Mostraram como acondicionam os materiais recicláveis até terem um

estoque para a venda, a qual é realizada com compradores dos municípios de

Laranjeiras do Sul - PR e Pato Branco – PR. Eles separam os materiais em 06 (seis)

categorias: plástico, papel, metal, vidro, rejeitos e matéria orgânica. A matéria

orgânica e os rejeitos que não podem ser reaproveitados são acondicionados num

contêiner que é levado até um lixão de propriedade da empresa Sabiá Ecológico, em

outro município. Os alunos observaram tudo, inclusive o entorno do aterro sanitário.

De volta para a escola, os alunos comentaram sobre o mau cheiro no local,

observaram que um dos catadores estava sem luvas e que foi interrogado sobre o

fato, ao que ele respondeu que tinha alergia às luvas emborrachadas, mas que

procurava se cuidar. Também chamou atenção que um dos funcionários fumava

enquanto estava fazendo a separação de materiais; perceberam que muitos dos

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sacos que acondicionavam o lixo das residências traziam o lixo seco misturado com

o lixo orgânico, cacos de vidro misturados a papéis e plásticos, o que pode provocar

ferimentos na hora da triagem. Os alunos observaram a área do terreno onde se

localiza o aterro sanitário e perceberam que é uma área pequena, é um terreno

levemente inclinado, tendo na propriedade vizinha um córrego que poderia vir a ser

contaminado se o lixo fosse depositado ali.

Para comparar o trabalho dos catadores do município, foi apresentado um

vídeo sobre uma associação de catadores que mostrou o trabalho organizado de

recolhimento do lixo antes dele ir para o lixão. Chamou a atenção dos alunos à

economia que gera em torno da coleta seletiva do lixo: empregos, salários,

sobrevivência, um novo mercado de trabalho e outros.

Na quinta atividade, o tema tratou sobre o lixo e suas relações naturais,

socioeconômicas, políticas e culturais. A temática foi aberta com questionamento

aos alunos sobre as relações que podemos perceber entre o lixo e as diferentes

dimensões acima citadas, sendo seguido pela leitura do texto “O lixo: suas relações

e complicações”, que apresentou a natureza e a sociedade interligados num sistema

organizado naturalmente; porém, a organização econômica da sociedade atual se

desviou dessa ordem natural, explorando os recursos naturais muito intensamente

em nome do lucro, de modo que a destruição acaba sendo muito mais rápida que a

renovação dos recursos naturais. O lixo produzido é um grande provocador de

poluição, sendo originado principalmente pelo consumismo das classes sociais com

maior poder aquisitivo. A reciclagem é uma forma de conter os impactos gerados

pela intensa produção ao reaproveitar as matérias-primas, poupando energia e ser

fonte de renda para muitos trabalhadores, porém também está fundamentado na

lógica capitalista.

Após a leitura e uma discussão sobre o conteúdo do texto, apresentou-se

um vídeo rápido, animado, para descontrair, que demonstra como na natureza tudo

funciona de forma inter-relacionada. Na sequência a reflexão continuou a respeito do

lixo, dos trabalhadores que trabalham com a coleta de lixo e como estamos

encarando os três Rs – reduzir, reutilizar e reciclar no nosso cotidiano.

Para compreender melhor o complexo conjunto de relações que envolvem a

temática do lixo, apresentamos o vídeo “A Ilha das Flores”, após o qual o debate

continuou com um levantamento de questões como:

As causas da degradação ambiental;

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A composição do lixo das diferentes classes sociais;

As vantagens econômicas e naturais da reciclagem;

A falta de políticas públicas para catadores e trabalhadores dos lixões;

A discriminação a esses trabalhadores;

Os custos que a coleta e a disposição final do lixo geram;

A existência do modismo e consumismo na sociedade e a importância do

trabalho das ONGs.

A última atividade trouxe como tema “Ética e problemas ambientais” e iniciou

questionando os alunos sobre como anda a nossa vontade e disposição para tratar o

nosso lixo com responsabilidade, dando-lhe o destino correto? Em seguida foi

apresentado o texto “Problemas ambientais e éticos” que apresenta o ser humano

inteligente, livre, com caráter e capacidade crítica para agir diante dos problemas

ecológicos. Foram comentadas algumas expressões que não fazem parte da

linguagem habitual dos alunos, como, cultura, valores, identidade, caráter, moral e

ético. A atividade proposta na produção didático pedagógica foi suspensa por já ter

sido trabalhada, com alteração adequada, na temática 2 como substituição ao jogo

sobre a reciclagem.

Seguiu-se com a atividade “Pegada Ecológica” no laboratório de informática,

onde cada aluno, depois de acessar o endereço eletrônico e encontrar a página,

completou a atividade. Após cada um conferir o tamanho de sua pegada ecológica,

a turma voltou para a sala e foi reunida em grande grupo, para discutir alguns

objetivos para diminuir a sua pegada no planeta.

Para aproximar mais ainda o convite à coleta seletiva e à reciclagem foi

apresentado o último texto que, de forma alegre apresenta a liberdade que temos

para escolher um caminho que encaminhará ao nosso futuro. E, após a leitura, foi

lançado o questionamento: De que forma o texto se aproxima do convite à

separação correta do lixo urbano, para a coleta seletiva e a reciclagem? Foi

solicitada a elaboração de um texto a partir das seguintes palavras-chaves:

consumo, lixo, coleta seletiva, reciclagem, meio ambiente, desperdício, atitudes,

valores.

Nesta última atividade, os alunos se mantiveram mais reservados,

participando menos nas conversações. Os textos que foram escritos demonstraram

que os alunos acumularam um bom conhecimento sobre a temática do lixo e que

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depende de cada um deles assumir o seu compromisso perante os objetivos da

intervenção pedagógica, colocados anteriormente.

Por ser interessante e divertido o jogo sobre o lixo e a reciclagem foi

realizado após a aplicação de todas as temáticas, numa aula além do que foi

previsto. Os alunos foram reunidos em grupos e jogaram um de cada vez,

comparando os resultados ao final. A empolgação no decorrer do jogo mostrou que

esta é uma atividade interessante, prazerosa e ao mesmo tempo educativa e que

pode ser utilizada para fortalecer os conceitos referentes ao destino correto do lixo.

3.2 Considerações de alunos, direção, equipe pedagógica e professores

participantes do Grupo de Trabalho em Rede (GTR)

Foi unânime a opinião dos alunos sobre a possibilidade de se fazer a coleta

seletiva e a reciclagem em suas residências; que o conhecimento pode modificar

hábitos pessoais, quando a pessoa compreende que é para o seu próprio bem, por

isso a sociedade precisa se conscientizar da necessidade de separar o lixo orgânico

do reciclável em suas casas e criar o hábito da separação do lixo em sua casa, o

que irá contribuir para que essa prática aconteça também em lugares públicos.

As variadas metodologias utilizadas no decorrer das temáticas foram

aprovadas pelos alunos pelo fato de comentarem com os colegas de outras turmas

sobre o projeto que estavam desenvolvendo. A equipe pedagógica e a direção

acompanharam a implementação, dando total apoio, aprovando a forma como o

projeto foi aplicado.

Os professores participantes do Grupo de Trabalho em Rede - GTR

contribuíram com suas opiniões a respeito da intervenção pedagógica na escola,

ressaltando a importância da Educação Ambiental que é um dos temas discutidos

constantemente nas esferas científicas, acadêmicas e públicas e que ela deve

permear também discussões em sala de aula, principalmente em Geografia, onde o

objeto de estudo é o espaço geográfico (natureza e sociedade), sendo fundamental

para o desenvolvimento de uma consciência crítica em relação ao meio ambiente.

Em suas discussões enfatizavam que a educação deve promover a

consciência para levar o indivíduo a ter atitudes e comportamentos responsáveis

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perante a sociedade e a disciplina de Geografia pode fazer uma ponte entre as

relações de consumo, lixo e meio ambiente, analisando mais o que a mídia nos

mostra, conversando sobre as reportagens, propagandas e outros, levando os

alunos a perceber o jogo de interesses que existe por trás das propagandas.

De acordo com os professores, o projeto apresenta ótimos textos que

proporcionam aos alunos aprofundar seus conhecimentos a respeito do tema em

questão, fazendo um resgate histórico até chegarmos aos dias de hoje. A

diversidade metodológica presente (textos, vídeos, aula de campo, etc.) enriquece o

conhecimento, e acima de tudo desperta e motiva os alunos para que participem

efetivamente na elaboração de propostas para solucionar este problema e colocá-las

em prática não só no âmbito escolar, mas em toda a sociedade.

Destacam que a produção Didático-Pedagógica foi muito bem elaborada,

uma vez que foi inserida numa problemática econômica, política, social e cultural,

que enfatiza a necessidade de mudança e a questão da formação de valores por

nossos alunos, dando a eles condições de discussão e mudança de atitudes.

As atividades elaboradas também foram bem construtivas ao abordar a

problemática desafiadora da produção e destinação do lixo no processo de

educação, cuja solução se passa pela compreensão do indivíduo com parte atuante

no meio em que vive. Quando se parte da problemática local, da realidade do

educando, a compreensão ocorre de maneira concreta, pois ele vivencia os fatos e

vê a transformação. A questão do lixo é um dos grandes desafios que todas as

cidades enfrentam e que procuram soluções para resolvê-lo.

4 Considerações Finais

Este trabalho buscou realizar um conhecimento mais amplo da questão do

lixo urbano no meio escolar, abordando os diversos aspectos que envolvem este

problema, para promover uma reflexão crítica e gerar hábitos e posturas mais

significativas que sejam incorporadas na cultura da sociedade.

A utilização de metodologias variadas no decorrer das aulas foi bem

interessante, pois as aulas se tornaram dinâmicas e participativas, o que foi

importante diante do fato de os alunos serem inquietos e agitados. A atividade de

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campo foi a mais importante, pelo fato dos alunos constatarem a real situação do

destino do lixo local. A observação, a entrevista, o diálogo com os agentes que

atuam diretamente com o lixo local, conhecer o aterro sanitário, como se faz o

processamento do lixo recolhido pelo caminhão, foi um fato marcante na vida destes

alunos. Eles manifestaram surpresa, curiosidade e muitos comentários. A partir de

então pôde-se perceber o início de mudanças na postura diante do convite à

separação do lixo.

É o conhecimento que leva às mudanças, por gerar a reflexão, e este fato foi

constatado quando os alunos sugeriram fazer a coleta seletiva do papel descartado

na escola. Podemos dizer com toda a certeza que quanto mais práticas forem as

formas de abordar os problemas no meio escolar, melhores resultados teremos.

Porém as mudanças acontecem num ritmo muito lento por serem fruto da vontade e

do bom senso de cada um. As mudanças também não acontecem de maneira igual.

Alguns alunos são mais resistentes às mudanças, mesmo com o conhecimento, não

assumem um compromisso sério, “esquecendo” do cuidado para com seu próprio

lixo. Mas acreditamos que com o tempo eles também assumirão posturas mais

responsáveis perante a problemática ambiental, na sociedade.

Sendo um problema cultural, sentimos e defendemos que a educação

ambiental não pode se resumir a questões pontuais. Ela deve ser constante dentro

da escola num processo de conscientização com a maior abrangência possível, para

despertar o senso crítico e criar novas posturas comprometidas com a preservação

do meio ambiente e com a qualidade de vida da sociedade, em prol de um

desenvolvimento sustentável.

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