EDITORIAL PROJETO PALEOTOCAS ENTREGOU …É a chamada “Toca da Onça”, na estrada que vai de...

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Boletim Informativo das Pesquisas do Projeto Paleotocas Número 15 – Março de 2011 Site: www.ufrgs.br/paleotocas Distribuição Dirigida Responsável: Prof. Heinrich Frank Contato: [email protected] Fone: 51.30320382 EDITORIAL Nos últimos dois anos encontramos um grande número de paleotocas e de crotovinas (paleotocas preenchidas) na Região Metropolitana de Porto Alegre, principalmente. Construímos um Banco de Dados com mais de 200 túneis em tempo recorde. Estamos cientes, entretanto, que apenas encontramos as paleotocas e crotovinas mais óbvias, as mais fáceis de encontrar. Coisas expostas em escavações, túneis conhecidos há muito tempo. Agora começa a fase de encontrar os túneis difíceis, os esquecidos, aqueles aos quais ninguém deu importância e que ficaram para trás. Mais do que nunca, as lembranças das pessoas que se recordam de algo assim se tornam muito importantes. PALEOTOCAS NO PARQUE DE ITAPUÃ ? Um desses casos difíceis de encontrar se situa no Parque Estadual de Itapuã. A região é formada por rochas graníticas e, por experiência própria, sabemos que naquele Parque, nos morros, afloram as rochas inalteradas, os enormes matacões, alguns ainda marcados com o X vermelho do Prof. José Lutzenberger. Num determinado ponto, entretanto, há um túnel. Extremamente difícil de achar porque a mata está cheia de trilhas. Só um único guarda-parque sabe o caminho. Encontrar essa paleotoca é um dos nossos objetivos de 2011. PROJETO PALEOTOCAS ENTREGOU ARTIGOS Durante o mês de janeiro, os integrantes do Projeto Paleotocas se dedicaram a escrever um artigo, em inglês, sobre um dos temas apresentados no Simpósio Latinoamericano de Icnologia – SLIC, que transcorreu no final do ano passado na UNISINOS, em São Leopoldo. O artigo apresenta e discute os megatúneis – paleotocas com mais de dois metros de largura, que foram encontrados em 4 locais diferentes. Na próxima etapa o artigo passa por dois revisores para correções e adaptações e, depois, será publicado em uma revista científica. .O mês de fevereiro, por sua vez, foi dedicado à elaboração de outro artigo, desta vez sobre a característica de paleotocas em formar cavernas e crateras em superfície, o que lembra muito os fenômenos que acompanham rochas solúveis como calcários. Esses fenômenos são chamados de karst. Feições desta natureza podem ser encontrados em relação a paleotocas em arenitos e em granitos alterados. O artigo será submetido à revista Espelo-Tema e a previsão é de que seja publicado em julho. Com esses artigos, o Projeto Paleotocas continua divulgando o resultado de suas pesquisas, colocando as conclusões obtidas à disposição de todos.

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Page 1: EDITORIAL PROJETO PALEOTOCAS ENTREGOU …É a chamada “Toca da Onça”, na estrada que vai de Barão de Cotegipe a Erechim, no Rio Grande do Sul. Tem uma foto Panoramio no Google

Boletim Informativo das Pesquisas do Projeto Paleotocas Número 15 – Março de 2011 Site: www.ufrgs.br/paleotocas Distribuição Dirigida Responsável: Prof. Heinrich Frank Contato: [email protected] Fone: 51.30320382

EDITORIAL Nos últimos dois anos encontramos um grande número de paleotocas e de crotovinas (paleotocas preenchidas) na Região Metropolitana de Porto Alegre, principalmente. Construímos um Banco de Dados com mais de 200 túneis em tempo recorde. Estamos cientes, entretanto, que apenas encontramos as paleotocas e crotovinas mais óbvias, as mais fáceis de encontrar. Coisas expostas em escavações, túneis conhecidos há muito tempo. Agora começa a fase de encontrar os túneis difíceis, os esquecidos, aqueles aos quais ninguém deu importância e que ficaram para trás. Mais do que nunca, as lembranças das pessoas que se recordam de algo assim se tornam muito importantes.

PALEOTOCAS NO PARQUE DE ITAPUÃ ?

Um desses casos difíceis de encontrar se situa no Parque Estadual de Itapuã. A região é formada por rochas graníticas e, por experiência própria, sabemos que naquele Parque, nos morros, afloram as rochas inalteradas, os enormes matacões, alguns ainda marcados com o X vermelho do Prof. José Lutzenberger. Num determinado ponto, entretanto, há um túnel. Extremamente difícil de achar porque a mata está cheia de trilhas. Só um único guarda-parque sabe o caminho. Encontrar essa paleotoca é um dos nossos objetivos de 2011.

PROJETO PALEOTOCAS ENTREGOU ARTIGOS

Durante o mês de janeiro, os integrantes do Projeto Paleotocas se dedicaram a escrever um artigo, em inglês, sobre um dos temas apresentados no Simpósio Latinoamericano de Icnologia – SLIC, que transcorreu no final do ano passado na UNISINOS, em São Leopoldo. O artigo apresenta e discute os megatúneis – paleotocas com mais de dois metros de largura, que foram encontrados em 4 locais diferentes. Na próxima etapa o artigo passa por dois revisores para correções e adaptações e, depois, será publicado em uma revista científica. .O mês de fevereiro, por sua vez, foi dedicado à elaboração de outro artigo, desta vez sobre a característica de paleotocas em formar cavernas e crateras em superfície, o que lembra muito os fenômenos que acompanham rochas solúveis como calcários. Esses fenômenos são chamados de karst. Feições desta natureza podem ser encontrados em relação a paleotocas em arenitos e em granitos alterados. O artigo será submetido à revista Espelo-Tema e a previsão é de que seja publicado em julho. Com esses artigos, o Projeto Paleotocas continua divulgando o resultado de suas pesquisas, colocando as conclusões obtidas à disposição de todos.

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PORQUE OS BICHOS CAVARAM AS PALEOTOCAS ?

Quando começamos a descobrir as paleotocas compridas – com mais de 20 metros de

comprimento – já estávamos nos perguntando por que as tocas eram tão extensas. Bichos cavam

tocas para se proteger de predadores maiores que eles. O maior bicho cavador da atualidade, o

porco-da-terra (aardvark) africano, cava tocas com pouco mais de 10 metros de comprimento.

Nosso tatu canastra cava tocas de até 5 metros. Então porque paleotocas com 30 e até 80 metros de

comprimento ?

A pergunta se aplica especialmente aos megatúneis. Essas mega-paleotocas tem larguras de

até 4,1 metros. São muito mais largas que os tatus gigantes (larguras de corpo de aproximadamente

80 cm) e do que as preguiças gigantes (larguras de corpo de no máximo 1,5 m). E também são

muito mais largas que os predadores da época – os tigres de dentes de sabre Smilodon e os ursos

Arctotherium. Para se ter uma idéia: o peso das várias espécies de preguiças gigantes inicia em 800

quilos e vai a 5 toneladas. Os tigres e os ursos tinham pesos que não passavam dos 500 quilos.

Então, as paleotocas não foram cavadas para se esconder dos predadores, já que os predadores da

época entravam facilmente nesses túneis.

Nós acreditamos que a maior razão das paleotocas longas e profundas foi o clima da época.

Habitar em paleotocas com o clima de hoje é impossível, pois tem água demais. O ano todo.

Brotando das paredes, pingando do teto, correndo no piso – mesmo em épocas secas as paleotocas

são muito úmidas. Em épocas de chuvas fortes, então, são uma molhaceira só. Isso mostra, em

nossa opinião, que as paleotocas foram cavadas e habitadas em épocas de climas muito mais secos

e, provavelmente, bem mais frios que atualmente.

Portanto, um forte motivo para cavar as paleotocas foi o clima frio da época. Os bichos se

abrigavam nas tocas e, juntos, conseguiam passar mais confortavelmente os invernos. É o que

fazem, hoje em dia, os ursos no Hemisfério Norte. No caso dos ursos, os animais normalmente

ficam sozinhos em uma caverna ou outro local apropriado. No caso das paleotocas, entretanto, é

possível sugerir que elas serviam de abrigo para grupos de tatus e preguiças-gigantes. Manadas.

Porque mesmo para uma preguiça-gigante só os megatúneis são grandes demais.

Assim, à medida que mais paleotocas são descobertas, podemos chegar a conclusões melhor

fundamentadas, com argumentos mais fortes. É o conhecimento avançando.

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NOVAS OCORRÊNCIAS - 1 Algumas ocorrências continuam aparecendo pela internet, pesquisando imagens e textos: A) Paleotoca em Barão de Cotegipe É a chamada “Toca da Onça”, na estrada que vai de Barão de Cotegipe a Erechim, no Rio Grande do Sul. Tem uma foto Panoramio no Google Earth. É conhecida há muito tempo mas, pelo mapa e pelas fotos apresentados pelos Escoteiros, com certeza é uma paleotoca. B) Município de Balbina – AM Lá tem a “Caverna da Onça”

ou “Gruta da Onça”. Pode não ser

uma paleotoca, mas que parece,

parece.

Se você for para Balbina, faz

favor, passa lá e nos conta depois,

OK ?

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NOVAS OCORRÊNCIAS - 2 Ivoti é um município pródigo em paleotocas – basta procurar e acompanhar atentamente as grandes obras ali executadas. Fizemos mais um dia de campo algum tempo atrás e resolvemos dar uma olhada no campo de futebol do local chamado “Buraco do Diabo”, o popular Teufelsloch. Não deu outra. Várias paleotocas expostas nas paredes de arenito Botucatu nos vários cortes efetuados para criar espaço para o campo de futebol. As tocas estão completamente preenchidas – são crotovinas – inclusive com aquela argila marrom-escura típica de paleotocas afogadas: a paleotoca enche com água barrenta depois de chuvas fortes e essa argila lentamente decanta e vai enchendo a toca.

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NOVAS OCORRÊNCIAS - 3 Mais uma de Ivoti: no bairro chamado de “Zang” há dois loteamentos em implantação. Um ao Norte do pequeno arroio que corre no vale, o outro ao Sul do arroio. No loteamento ao Norte já achamos várias enormes crotovinas, já reportadas no TocaNews 12 (“Novas Ocorrências – 5”). Agora que iniciaram as obras no loteamento ao Sul do arroio, nos apresentamos ao responsável pelo loteamento e fomos verificar. Em um primeiro momento, não apareceu nada. Vários meses depois, em nova inspeção, finalmente surgiu uma crotovina bem definida, bem como estávamos esperando. Os cortes desse loteamento são muito menores que os cortes do loteamento ao Norte do arroio e, além disso, já estão finalizados. Portanto acreditamos que nesse ponto dificilmente surgirá algo novo.

Acima, aspecto geral do loteamento. Ao lado, a crotovina encontrada.

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NOVAS OCORRÊNCIAS - 4 Quando iniciamos as pesquisas de paleotocas na Região Metropolitana de Porto Alegre, dois anos atrás, iniciamos com uma ocorrência em Novo Hamburgo, ao lado da BR-116. Ao longo desses dois anos, várias vezes se escavou ali de novo e, até o momento, se conheciam 6 restos de paleotocas, somando quase 90 metros de túneis. Além disso, pelo menos 5 crotovinas. Recentemente foi escavado mais um pouco atrás da empresa de adesivos emborrachados e, pronto, surgiram mais 4 crotovinas. ` O conjunto completo, com um túnel aberto e as crotovinas. Bem à direita na foto, há mais um resto de túnel que ainda não abrimos (seta vermelha), mas basta escavar a “rolha” de terra na entrada que ele continua um pouco coxilha adentro.

Duas crotovinas. Uma com uma preenchimento horizontal coberto por outro material. Imagine ter que se arrastar pelo túnel com as dimensões da crotovina da direita...

O túnel a gente já conhecia, mas não essa crotovina estranha em cima dele.

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NOVAS OCORRÊNCIAS - 5 Durante a construção de uma casa na cidade de São José do Ouro, no norte do estado do Rio Grande do Sul, surgiu um “buraco” no terreno. Investigando mais um pouco, o pessoal descobriu que o “buraco” continuava por mais de 15 metros – era um túnel. Inicialmente se pensou em algum tipo de construção indígena. Cabe um voto de louvor ao pessoal que está construindo a casa. E à Prefeitura também. Ao invés de soterrar tudo e continuar a construção, pararam-se os trabalhos e foi feito um contato com a Universidade de Passo Fundo, que dispunha de arqueólogos. Alguns dias mais tarde, o arqueólogo Fabrício visitou o local e descartou, em um primeiro momento, alguma estrutura indígena. Suspeitou que se tratasse de uma paleotoca e entrou em contato conosco. Mais uma semana mais tarde, o Prof. Buchmann e a Dra Milene Fornari visitaram o local, mediram e fotografaram a paleotoca, que agora integra o Banco de Dados do Projeto Paleotocas. Salvou-se uma informação científica importante, pois paleotocas em regiões de basaltos alterados são muito raras. E agora a obra continua. O Projeto Paleotocas agradece a todos que permitiram nossa pesquisa no local.

Aspecto geral da obra

Aspecto da paleotoca

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NOVAS OCORRÊNCIAS - 6 No final de fevereiro fizemos mais uma excursão a Boqueirão do Leão, para trabalhar nos megatúneis da propriedade Ogliari. Além disso, fizemos um levantamento de geologia regional para verificar quais eram as rochas que ocorrem no município. Antes de iniciar o levantamento de geologia regional, fomos procurar uma farmácia para comprar creme dental. Rodando pela cidade, vimos uma escavação ao lado de uma mecânica e resolvemos verificar o tipo de rocha, adiando a compra do creme dental. Na parede da escavação, uma pequena gruta escavada com uma santa e – uma paleotoca! Uma das pequenas, com 80 cm de altura e largura. Cheia de lixo e resto de fogueiras. Na realidade, um restinho com 3 metros de comprimento, o início dela foi destruído durante a escavação.

A paleotoca da Mecânica Mantovani, em Boqueirão do Leão

Acompanhados de uma guia,

fomos depois verificar outro “buraco”

que se conhece na região. Muito

escondido, a ponto de ser muito difícil

de encontrar, no meio das macegas, em

um paredão de arenito Botucatu. É uma

toca com aproximadamente 3 metros de

comprimento e menos de 80 cm de

diâmetro, mas a forma típica e a

ausência de qualquer infiltração de

água evidenciam que se trata realmente

de uma paleotoca. A escala na foto é de

10 cm.