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1 Editorial Olá, amigos.... Nossa aventura vai continuar, só que agora, vamos passear pela fazenda do meu avô, que fica localizada no sertão nor- destino, onde o clima predominante é o semiárido. Vamos conhecer e descobrir as riquezas da caatinga, bioma rico em biodiversidade que, a partir de agora, por meio da co- leção Agrinho: “Viver Bem no Semiárido”, vai ser considerada nas escolas, como parte do cotidiano das crianças, de maneira que, além de ser o ambiente em que vivem, pode e deve aprender melhor sobre ele, como parte de um projeto de aprendizagem em viver bem no semiárido. Então, convidamos todos vocês a descobrir os tesouros que têm na caatinga e, também, a dialogarmos nesta cartilha, sobre os dois grandes temas: “ Para Viver o Semiárido” e “Para Viver Bem no Semiárido”. Vamos comigo nessa aventura!!! Um abraço de seu amigo. Agrinho

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EditorialOlá, amigos....

Nossa aventura vai continuar, só que agora, vamos passear pela fazenda do meu avô, que fica localizada no sertão nor-destino, onde o clima predominante é o semiárido.

Vamos conhecer e descobrir as riquezas da caatinga, bioma rico em biodiversidade que, a partir de agora, por meio da co-leção Agrinho: “Viver Bem no Semiárido”, vai ser considerada nas escolas, como parte do cotidiano das crianças, de maneira que, além de ser o ambiente em que vivem, pode e deve aprender melhor sobre ele, como parte de um projeto de aprendizagem em viver bem no semiárido.

Então, convidamos todos vocês a descobrir os tesouros que têm na caatinga e, também, a dialogarmos nesta cartilha, sobre os dois grandes temas: “ Para Viver o Semiárido” e “Para Viver Bem no Semiárido”.

Vamos comigo nessa aventura!!!

Um abraço de seu amigo.Agrinho

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1. Conhecer e viver o semiárido ........................................................................................................... 111.1 Somos do semiárido ......................................................................................................................... 111.2 Semiárido: uma região para se reconhecer ..................................................................................... 131.3 Semiárido: um mapa de conhecimentos ......................................................................................... 15

2. Compreender e viver o bioma caatinga .......................................................................................... 162.1 Na região semiárida: vários ecossistemas ....................................................................................... 162.2 Um bioma chamado caatinga ........................................................................................................... 172.3 Reconhecendo a caatinga cearense .................................................................................................. 192.4 Há vida na caatinga cearense ............................................................................................................ 21

3. Conhecer, entender e viver o ambiente semiárido ........................................................................ 233.1 Entendendo o ambiente da caatinga: do clima à hidrografia ....................................................... 233.2 Entendendo o ambiente da caatinga: da hidrografia aos terrenos, ............................................ 25

seus relevos e solos.3.3 Entendendo o ambiente da caatinga: percorrendo os terrenos, ................................................. 26

conhecendo a vegetação e a fauna

4. Conhecer atividades econômicas e viver bem no semiárido ....................................................... 294.1 Viver a partir da agricultura ............................................................................................................. 294.2 Viver a partir da pecuária ................................................................................................................. 324.3 Conhecer a produção florestal ......................................................................................................... 334.5 Viver as atividades não agrícolas ..................................................................................................... 34

5. Enfrentar a degradação ambiental e viver bem o semiárido ....................................................... 355.1 Enfrentar o desmatamento e as queimadas .................................................................................... 355.2 Enfrentar a erosão .............................................................................................................................. 365.3 Enfrentar a salinização ..................................................................................................................... 375.4 Enfrentar a desertificação ................................................................................................................. 375.5 Enfrentar o uso indiscriminado de agrotóxico .............................................................................. 395.6 Enfrentar a caça e a pesca predatórias............................................................................................. 39

6. Identificar tecnologias adequadas e viver bem no semiárido ...................................................... 406.1 O que são técnicas agroflorestais? .................................................................................................... 406.2 O que são barragens subterrâneas?.................................................................................................. 416.3 O que são barragens sucessivas? ...................................................................................................... 426.4 O que são cisternas de placa? ........................................................................................................... 426.5 O que é o sistema de plantio direto? ................................................................................................ 436.6 Conhecendo outras atividades possíveis. ....................................................................................... 436.7 Conhecendo o sistema orgânico de produção. .............................................................................. 44

7. Conhecer alternativas sustentáveis para viver bem no semiárido ............................................... 457.1. Conhecendo práticas de manejo e conservação ............................................................................ 457.2. Conhecendo a recomposição das matas ......................................................................................... 467.3. Conhecendo a recuperação das áreas degradadas ......................................................................... 477.4. A educação ambiental como princípio ........................................................................................... 487.5. A estação ecológica de aiuaba-ce: um exemplo de proteção ambiental ..................................... 49

Indíce

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Como a Caatinga Passou a Esconder seu Tesouro

Nos tempos antigos, antes de haver plantas e animais, somente existiam o Sol, o Céu e a Terra. Era tudo muito triste porque não havia vida, e os dias passavam todos iguais.

Um dia, quando o Sol se preparava para se deitar, ao se despedir, mandou uns raios coloridos de luz, que pintaram a Terra e o Céu com lindas cores. E eles gostaram muito disso e, no outro dia, quando o Sol retornou de seu descanso, pediram que continuasse com aquela brincadeira luminosa. O Sol gostou muito do elogio e, a partir daí, sempre ao amanhecer e ao entardecer, enfeitava tudo com as mais lindas cores. Assim, o Céu viu a Terra, que antes era cinzenta e feia, brilhando de repente em cores de ouro. E a Terra admirou as lindas tonalidades de rosa no céu que combinavam tão bem com o seu azul e, mudando de um momento para o outro, pareciam dançar. E, assim, apaixo-naram-se, ao ver a beleza um do outro.

O Céu mandou o vento para afagar a Terra. Ele se enfeitou com as nuvens brancas que, com seu lindo movimento, suavizaram o rigor do azul imóvel, chegando a chuva fez refrescar a Terra.

A Terra também tinha vontade de dar algo ao Céu, mas nela só havia pedras e po-eiras, que nem mesmo serviam para enfeitá-la. Isso a deixou muito triste. Todavia, seu amor pelo Céu crescia cada vez mais, e ela recebia sempre seus presentes. Até que, um dia, o amor da Terra germinou uma semente que, alimentada pela chuva do Céu e pela poeira da Terra, brotou e formou a primeira planta.

Foi assim, através do amor entre A Terra e o Céu, que nasceram as plantas. Elas en-feitaram a Terra com um lindo manto verde e todas elas cresceram em direção ao Céu, expressando assim a vontade de a Terra querer aproximar-se do Céu. As que melhor conseguiram aproximar-se do Céu foram às árvores. Elas são os seres mais altos da Terra e mostram a afinidade entre a Terra e o Céu, tanto no porte como na coloração, apresentando na parte de baixo, no tronco a tonalidade da Terra, enquanto na parte de cima o verde das folhas é feito da mistura entre o azul do Céu e o amarelo do Sol. Elas, também, abrigam os pássaros, os mensageiros entre a Terra e o Céu.

A Terra ficou feliz em poder enfeitar-se e se aproximar do Céu, mas além disso que-ria dar um presente especial para o Céu. Assim, um dia todas as plantas começaram a florir e enfeitando a Terra com as mais lindas cores e exalando deliciosos perfumes que o vento levou até o Céu. Foi uma verdadeira festa de cores e perfumes e todos se admiraram com a coisa mais linda que eles tinham visto.

Quando, na manhã seguinte o Sol viu toda aquela beleza, ficou com ciúme. Antes todos o tinham reverenciado como a coisa mais linda e poderosa que existia, já que era dono das cores e do mo-

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vimento. Agora essas plantas descaradas, não apenas ti-nham criadas a cor verde que antes não existia e que o Sol não podia criar, como também usavam nas flores todas as outras cores que tinham pertencido, exclusivamente, ao Sol. E ainda, esses perfumes! Isso era demais!

Furioso, o Sol, resmungando em voz baixa disse: - “Eu vou mostrar quem é o mais bonito e poderoso! Vou quei-mar essas plantas!” E, imediatamente, ele começou a bri-lhar mais forte com raios que ardiam como lanças, para matá-las. No final da tarde cansado de tanto brilhar e dei-tou-se pensando que no outro dia iria matá-las com seus fortes raios.

Nessa hora o urubu desceu das alturas do Céu, onde estivera voando, e falou para as plantas: - “ Prestem atenção! Eu ouvi o Sol dizer que vai queimar vocês. Ele está com raiva!” E o vento sussurrou nas folhas das árvores: -“É isso mesmo!”

As plantas perguntaram o porquê do Sol está fazendo aquilo, estaria ele com raiva delas, mas o quê elas teriam feito, pois elas gostavam muito do Sol!

O Urubu explicou que o Sol havia ficado com inveja da beleza das flores das plantas e tem medo que diante dessa maravilha a beleza dele passe despercebida. Pois ele quer ser o único dono das cores e do movimento. Antes o único que tinha o poder de se mo-vimentar era ele. Agora os animais que correm e até o vento que balança as folhas das árvores, são ameaças a ele. Pois ele não quer entender que cada um de nós, contribui com nossa característica única, tornamos o mundo mais belo, mais rico e mais alegre. Porque cada um de nós sabe fazer uma coisa que os outros não sabem. Ele não entende que alguém que admirando a beleza de uma flor, não vai deixar de se emocionar com o esplendor de um pôr-do-sol. O Sol então ficou furioso quando viu a festa de coresalegres de suas flores e decidiu que vai queimar vocês todas. E o pior é que ele tem o poder de fazê-lo.

As plantas responderam: ”Então é por isso que sentimos tanto calor hoje! Bem, nós não temos medo da morte. Somos seres vivos, e cada ser vivo um dia vai morrer. Mas, se o Sol nos matar todas de uma só vez, a vida vai se acabar e a Terra

As plantas disseram que talvez por isso elas tenham sentido tanto calor naquele dia. E como não tinham medo da morte, mas teriam que proteger a mãe Terra dos abusos do Sol, resolveram pensar o quê fazer para que todos não morressem de uma vez só. As nuvens propuseram-se a cobrir o céu inteiro a fim de impedir que os raios do Sol chegassem até elas e assim estariam salvas. Mas, conforme as plantas pensaram que isso não daria certo por muito tempo. Pois todos precisam do Sol e do Céu para sobreviver. Depois de muito pensar e discutir a situação durante a noite, quando o dia amanheceu tinham achado uma solução.

O Sol levantou-se e foi logo brilhando intensamente. Pouco tempo depois ele reparou que as flores e folhas das plantas perderam o brilho das cores e murcharam. Durante o dia, as folhas aos poucos foram caindo e as flores foram perdendo o brilho de suas cores

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e murchando. Ao entardecer o Sol satisfeito com o resultado retirou-se para seu descanso e deu lugar à Lua. Mas ele, por estar tão longe da Terra, não havia percebido que as plantas não haviam morrido, tudo fazia parte do plano delas: elas tinham combinado de deixar as flores e folhas murcharem e caírem no chão, formando assim um tapete que protegia a Terra contra as queimaduras dos raios solares. Como também o aspecto desnudo dos troncos das árvores acalmaria o Sol, evitando que ele aumentasse o calor.

Eles tinham escolhido entre si algumas espécies de plantas para representar em algumas características da Caatinga. O JUAZEIRO: daria testemunho de vida, ele mantinha as folhas verdes o tempo todo para assinalar ao Céu que naquele lugar ainda havia vida. O ANGICO: recebeu uma tarefa es-pecial pois quando a seca estivesse ficando insuportável ele se cobriria totalmente de flores, criando man-chas coloridas na paisagem cinzen-ta para estimular o Céu a juntar as nuvens e abastecer a Caatinga com chuvas. Cada animal recebeu, tam-bém, uma tarefa específica para ajudar a Caatinga a viver. As plan-tas haviam combinado entre si que cada uma iria florir em diferentes épocas do ano para não despertar a inveja do Sol, e o MANDACARU resolveu abrir suas lindas flores so-mente à noite e não correr o risco de contrariar o Sol.

Assim ficou a Caatinga, até hoje, que esconde sua beleza na maior parte do ano, mantendo sua vida escondida aos olhos do Sol e protegendo a Terra com as folhas murchas até quando, no inverno, as nuvens a escondem do Sol, ela se revigo-ra com toda alegria e força da vida, se reves-tindo novamente de verde, expressando o amor entre a Terra e o Céu.

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Agrinho nas escolas:Aprendendo a viver bem no semiárido!

José maclecio de sousaAprendendo a viver bem no semiárido!

O material do projeto Agrinho chega à sua escola com o tema viver bem no Semiárido, convidando-o a dialogar e a aprender mais acerca dos bens naturais e das formas de organização comunitária presentes em sua localidade, oportunizando o desafio coletivo de pensarmos e construirmos novos modelos sociais que transformem, de forma positiva, o ambiente em que vivemos, contudo sempre protegendo o meio ambiente.

Acreditamos que esse projeto maior implique o conhecimento adequado das condições ambientais da nossa região, percebendo a sua ecologia peculiar, baseada, principalmente, em fatores climáticos os quais, interacionados a demais fatores e a elementos naturais – geologia, relevo, solo, hidrologia e vegetação – precisam ser compreendidos de maneira contextualizada, isto é, como parte integrante e fundamental da nossa base de sustentação de vida.

Dessa maneira, apresentamos dois grandes temas que nos ajudam ao projeto preten-dido, o de viver bem no Semiárido, são eles: Para Viver o Semiárido e Para Viver Bem no Semiárido.

Assim, oferecemos mais do que uma série de informações sobre o Semiárido onde habita-mos, propomos reafirmar que todos nós vivemos nesse ambiente e que o modo de vida o qual adotamos faz parte de um projeto social que requer estender e ampliar o nosso processo de educação da escola para os desafios concretos pelos quais passamos, inclusive, mudando costumes e hábitos, principalmente, diante da escassez de chuva.

É dessa maneira que o convidamos para passear dentro e fora da sala de aula, por entre saberes e fazeres do nosso Semiárido, encontrando o “Agrinho” como seu parceiro para mudarmos a nossa concepção de mundo, a partir de uma agenda escolar comprometida com a sua realidade cotidiana, fundando novas percepções, emoções e razões que possam a refletir em práticas individuais e coletivas de um viver bem em nossos locais, como parte de um compromisso político e social desafiador e empolgante.

Vamos juntos aprender com o Sertão!

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1. Conhecer e viver o semiárido1.1 somos do semiárido1.2 semiárido: uma região para se

reconhecer1.3 semiárido: um mapa de

conhecimentos

Os nossos grandes temas: um roteiro para se percorrer

2. Compreender e viver o biomacaatinga

2.1 na região semiárida: vários ecossistemas

2.2 um bioma chamado caatinga2.3 reconhecendo a caatinga

cearense2.4 há vida na caatinga cearense

3. Conhecer, entender e viver oambiente semiárido

3.1 Entendendo o ambiente da caatinga: do clima à hidrografia

3.2 Entendendo o ambiente da caatinga: da hidrografia aos terrenos, seus relevos e solos.

3.3 Entendendo o ambiente da caatinga: percorrendo os terrenos, conhecendo a vegetação e a fauna

4. Conhecer atividades econômicas e viver bem no semiárido

4.1 viver a partir da agricultura4.2 viver a partir da pecuária4.3 conhecer a produção florestal4.5 viver as atividades não agrícolas

5. Enfrentar a degradação ambiental e viverbem o semiárido

5.1 enfrentar o desmatamento e as queimadas

5.2 enfrentar a erosão5.3 enfrentar a salinização 5.4 enfrentar a desertificação5.5 enfrentar o uso indiscriminado de

agrotóxico5.6 enfrentar a caça e a pesca predatórias

6. Identificar tecnologias adequadas eviver bem no semiárido

6.1 O que são técnicas agroflorestais?6.2 O que são barragens subterrâneas?6.3 O que são barragens sucessivas?6.4 O que são cisternas de placa?6.5 O que é o sistema de plantio direto?6.6 Conhecendo outras atividades

possíveis.6.7 Conhecendo o sistema orgânico de

produção.6.8 O que é reserva estratégica

alimentar: humana e animal?

7. Conhecer alternativas sustentáveis para viver bem no semiárido7.1. Conhecendo práticas de manejo e de conservação7.2. Conhecendo a recomposição das matas7.3. Conhecendo a recuperação das áreas degradadas7.4. A educação ambiental como princípio7.5. A estação ecológica de aiuaba-ce: um exemplo de proteção ambiental7.6. Conhecendo a conservação dos alimentos para os rebanhos na seca.

Para viver o semiárido Para viver bem no semárido

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Para viver bem no SeriáridoIniciamos a aventura de melhor conhecer o Semiárido, em

uma jornada que não se faz distante dos lugares que se tem passado diariamente. Isso quer dizer que, ao lançarmos os assuntos para que você melhor compreenda esta região, marcada pelas condições ambientais do Bioma Caatinga, estamos visitando cada município a ela pertencente.

Mas, não se perca nesse mapa vasto, que ocupa gran-de parte da Região Nordeste Brasileira e algumas áreas próximas a ela. Inicie pensando na sua comunidade, no seu distrito, no seu município e no seu Estado, pois os te-mas que lhe apresentamos têm dinâmicas e formatos que se apresentam no ambiente que você habita. Que tal redescobri-lo? Que tal fazer desses co-nhecimentos uma forma de viver melhor a região a partir de sua realidade? Que tal darmos im-portância a esses conhecimentos, por meio de fatos vivenciados no cotidiano?

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1. Conhecer e viver o semiárido

O conhecimento sobre o semiárido envolve a nossa identificação cultural com o ambiente, por isso observe a sua comunidade. Homens, mulheres, jo-vens e crianças convivem e se organi-zam espacialmente com os fatores e os elementos naturais que os circundam, transformando-os, constantemente, apesar de ser condição indispensável, o nosso relacionamento com os bens da natureza tem-se realizado desconsi-derando as características próprias do contexto, no nosso caso, o semiárido; pior que isso, desvalorizando a ecologia presente nele.

Indicamos que existem outras ima-gens e conceitos de nosso povo e de nossa região. Basta pensarmos um pou-co sobre tudo o que nos cerca, os solos, os riachos, as matas, os bichos, o céu, as ocupações humanas, as atividades e o uso da terra os quais se apresentam desde os locais mais próximos que pas-samos àqueles que ainda não os conhe-cemos.

E é assim, conhecendo bem o se-miárido, que transformamos a nossa vida para melhor, fortalecendo a nossa identidade cultural, reconhecendo-nos como povos do semiárido e do bioma caatinga.

1.1 Somos do semiárido

O que significa afirmar: somos do se-miárido?

Em primeiro lugar, dizemos que so-

mos mais de 22 milhões de pessoas que habitam as áreas, no nordeste brasileiro, correspondentes às condições de semia-ridez, compondo a maior população do mundo de uma região semiárida, em-bora seja o semiárido mais úmido do planeta.

Nela, historicamente, imprimimos relações de vínculos afetivos com a na-tureza local, fazendo surgir uma iden-tidade social rica, baseada na cultura sertaneja, sustentada e recriada a par-tir das nossas relações, entre homens e mulheres, jovens e crianças da região.

Vaqueiro nordestino

Assim, a população sertaneja vem aprendendo a viver no semiárido, or-ganizando-se, socialmente, a partir do uso adequado dos recursos naturais disponíveis na região, procurando evi-tar desperdícios, compreendendo as ca-racterísticas próprias do contexto de se-

Pesquisa local:Informe o tamanho e

as principais características da população de seu

município: gênero, faixa etária, população rural e

urbana, etc

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miaridez, que exige reserva alimentar.

Todavia, a forte desigualdade social marcou a nossa história e até hoje atra-vessa a identidade do nosso povo, sendo um desafio que envolve todos os grupos sociais, podendo revalorizar a figura do sertanejo, encontrando e construindo modelos de vida que melhorem as con-dições que temos a partir das nossas re-alidades.

Isso envolve o enfrentamento de pro-blemas sociais que encontramos no se-miárido, como a baixa expectativa de vida, sendo uma das menores do país, associada à forte concentração de renda na região, formando grupos sociais em estado de miséria ou pobreza, que, vul-neráveis, têm maiores dificuldades de transformar as suas realidades.

Associando esse cenário à alta taxa de analfabetismo e evasão escolar, per-cebemos que todos os setores da socie-dade estão envolvidos nas mudanças necessárias para melhor viver no sertão.

Quando falamos de mudanças, base-amo-nos, por exemplo, em estudos que demonstram que a renda per capita do nordeste pode ser ampliada, pois, atual-mente, atinge apenas 70% de sua capa-cidade.

Ressaltamos a necessidade de inves-timentos para melhor desenvolver a economia da região, envolvendo polí-ticas públicas adequadas e empreendi-mentos compatíveis com o semiárido. Conhecer essas possibilidades amplia a capacidade de podermos participar na elaboração dos projetos de vida na re-gião e não apenas esperar que eles acon-teçam.

Não falamos apenas de grandes in-vestimentos, mas da capacidade de nossos pais e de membros da comuni-dade em implantar melhorias em suas atividades econômicas, pois pesquisas demonstram que a agricultura no semi-árido, muitas vezes, é realizada de ma-neira insipiente, assim como o extrati-vismo vegetal e a pecuária. Devemos, pois, buscar inovações compatíveis com a realidade, por exemplo, em projetos de pecuária bovina e caprina leiteiras, a ovinocultura, apicultura, avicultura, dentre outras.

Pelas razões descritas, justifica-se a fala

Diálogo com o local:Converse com membros

da sua comunidade e descubra aspectos da

cultura local – as diferentes atividades humanas, folclore, Mestres da cultura,

causos, artistas, músicas, cordel, etc.

Pesquisa local:Informe o tamanho e

as principais características da população de seu

município: gênero, faixa etária, população rural e

urbana, etc

Pesquisa local:Quais são as

principais atividades econômicas do seu município? Como

podem ser melhoradas? Quais

são os investimentos para a economia local?

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do escritor Euclides da Cunha, “o sertane-jo é considerado, antes de tudo, um forte”; por isso, dizer que somos do semiárido e que somos sertanejos é engradecer o projeto de vida que nos desafia, o de vi-ver bem em nossas localidades, fato que nos exige conhecer melhor quem somos e a nossa capacidade de mudança social, como temos observado acontecer na di-minuição de processos migratórios, co-nhecidos como êxodo rural – quando a população emigra para as grandes cidades devido às condições de pobreza social no campo, vivenciando novos problemas em razão da pobreza na cidade.

Para conhecer, ouvindo e cantando

Último pau de araraLuíz gonzagaComposição: venâncio / corumba / j.

GuimarâesA vida aqui só é ruimQuando não chove no chãoMas se chover dá de tudoFartura tem de montãoTomara que chova logoTomara meu deus tomaraSó deixo o meu caririNo último pau-de-arara (bis)Enquanto a minha vaquinhaTiver o couro e o ossoE puder com o chocalhoPendurado no pescoçoEu vou ficando por aquiQue deus do céu me ajudeQuem sai da terra natalEm outros cantos não paraSó deixo o meu caririNo último pau-de-arara (bis)

1.2. Semiárido: uma re-gião para se conhecer

No desafio de se viver bem no se-miárido, ainda é necessário conhecer melhor a nossa região; de maneira que superemos as visões que reduzem a di-versidade de características que temos em nossas localidades, desconsideradas em razão da imagem preponderante de uma percepção negativa, conceituando o nordeste como seco e pobre.

Caatinga período seco e chuvoso Lembramos que as condições climá-

ticas são marcantes na configuração das nossas paisagens. Vivemos, anualmen-te, tanto uma estação úmida quanto uma estação seca.

O início da estação úmida é incerto, e o período de concentração das preci-pitações que ocorrem durante o ano é cerca de 95% das chuvas. Assim, vive-mos a nossa estação chuvosa, variando

Pesquisa local:Observe e registre neste ano,

o início e a duração da estação chuvosa em sua comunidade e o início e

duração da estação seca, converse com os agricultores da região pesquisando como foram os resultados nos anos anteriores e o que fazer para

melhor viver na estação seca.

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de um ano para outro em termos de iní-cio e duração como, também, de volu-me de água gerado.

No período úmido, as chuvas apre-sentam elevada intensidade que, asso-ciada às características da maior parte dos nossos solos, por serem rochosos, permitem o escoamento superficial, formando pequenos córregos, riachos e rios, que, expostos a elevadas tempera-turas, passam pelo processo de evapo-transpiração na estação seca, fazendo que a maioria de nossos cursos d’água sejam temporários, também, chamados de intermitentes, isso reduz o aprovei-tamento natural das águas advindas da chuva, principalmente pela pequena capacidade de infiltração e armazena-mento de água subterrânea.

Porém, é preciso ressaltar que o semi-árido nordestino é um dos mais úmidos do planeta. Na maioria das zonas áridas de outros países, a precipitação média anual é na ordem de 80 a 250 mm. No semiárido da Bahia, por exemplo, a mé-dia de precipitação anual é de 750 mm.

Assim, o que podemos perceber, no semiárido brasileiro, não é a completa escassez hídrica, mas a baixa efetividade da chuva, ou seja, ela não é bem distribu-

ída durante o ano, concentrando-se em alguns meses. Temos ainda uma redu-zida capacidade de armazenamento de água no solo, como, também, a existên-cia de meses quentes e secos com tempe-raturas elevadas, favorecendo a perda de água para a atmosfera pela evapotrans-piração.

Portanto, o problema está na distri-buição pluviométrica irregular, isto é, a ocorrência de chuvas concentradas em períodos que duram entre dois a quatro meses do ano assim como os elevados índices de evapotranspiração, tornan-do ineficientes os sistemas de armaze-namento superficial de água – riachos, rios, açudes, etc.

São essas as condições climáticas que condicionam a quantidade e o tipo de ve-getação capaz de se adaptar às sazonali-dades presentes em nossa região, ou seja, alternância de períodos chuvosos e secos.

Encontrando no local:Identifique e registre a

quantidade de chuva, ou seja, a taxa de precipitação, de um período úmido e mensure e registre a temperatura dos

meses mais quentes. Discuta com seus colegas os

resultados. Caso não possua instrumentos, consulte esses

dados no site da Funceme.

Problematizando o local:Identifique os córregos de água de sua comunidade e observe a mudança que

apresentam entre as estações úmida e seca,

constatando se estes são temporários

(intermitentes) ou Permanentes (perenes).

Acervo culturalConsulte biografias e obras de

cearenses que indicam a riqueza cultural de nosso o povo, por exemplo: Raquel de Queiroz, Antonio Conselheiro, Padre Cícero, Fagner, Patativa do

Ceará, Cego Aderaldo, José de Alencar, Humberto Teixeira, Irmãos Aniceto, Ednardo,

Belchior, Amelinha, Raimundo Cela, ETC.

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1.3. Semiárido brasileiro: um mapa de conhecimentos

Você já consultou os diferentes ma-pas disponíveis sobre a nossa região?

Com os estudos e as técnicas carto-gráficas aplicadas no semiárido, é pos-sível compreender as dimensões ter-ritoriais da nossa região, quando, por exemplo, verificamos o mapa da região semiárida, além de encontrar outras in-formações relevantes, por meio dos de-mais temas hoje mapeados.

O semiárido no nordeste brasileiro

Dessa forma, estudos revelam que o semiárido brasileiro corresponde a,aproximadamente, 69,2% da região nor-deste, ocupando uma área de 982.563,3

Km², abrangendo, parcialmente, 8 esta-dos da região, além do norte de Minas Gerais.

Dos estados nordestinos, apenas o Maranhão não compõe o semiárido, apresentando outras características am-bientais.

Em relação ao território nacional, o semiárido corresponde a 11,53%, sen-do, portanto, uma região de grande im-portância, principalmente por ser habi-tada por uma população de mais de 22 milhões de pessoas, o equivale a 46,50% da população de toda a região nordeste.

É importante também ressaltar que a maior parte dessa população encontra-se em áreas rurais, cerca de 9.085.266 De pessoas.

Pesquisa local:Colete Mapas da Região

Nordeste e da região semiárida, localize o seu município e

Estado, verificando as dimensões que possuem em

relação à área de abrangência semiárida. Busque informações sobre a área total do município e compare com os dados que lhe

fornecemos.

Acervo culturalConsulte biografias e obras

de artista que retratam o nosso semiárido, por

exemplo, as canções de Luiz Gonzaga. Considerado o Reio

do Baião, retrata os problemas sociais vividos por nordestinos como também os

sonhos e a esperança de nosso povo.

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1616

Inicialmente, lembramos que o Bra-sil possui território com dimensão con-tinental, apresentando, pois, impor-tantes variações ambientais, em que grande parte das suas terras encontra-se na zona tropical, com climas e pai-sagens associadas à forte incidência so-lar; tendo os seus extremos situados ao norte perpassando a linha do equador, cujo calor tende a aumentar em vista da ampliação das incidências solares. Ao sul do país, situa-se a zona subtropical, apresentando menores temperaturas.

Esses fatores são importantes na di-versificação das paisagens, que, por sua vez, associando-os a outros fatores e elementos naturais, diversificam, nas zonas identificadas, os ecossistemas ne-les existentes. Por exemplo, a proximi-dade ou a distância do litoral, altas ou baixas altitudes, solos rochosos ou are-nosos, vegetação florestal ou arbustiva, abundância ou escassez de água de su-perfície ou subterrânea.

É a partir da diferenciação das con-dições ambientais em uma região que a diversificação dos ecossistemas se dá, por isso, considerando a extensão vasta da região semiárida nordestina, conse-quentemente, as suas diferentes geogra-fias, é que podemos encontrar ecossis-

Problematizando o local:Observe um globo terrestre ou um Mapa-múndi, veja as principais linhas horizontais que passam pelo território

brasileiro, verifique os locais em que no intervalo de um

ano recebem mais ou menos calor. Problematize como isso

condiciona mudanças das paisagens.

2. Compreender e vi-ver o bioma caatinga

Devemos continuar as nossas trilhas pelo sertão nordestino, desta vez desco-brindo as diferentes feições naturais que aqui estão contidas, advindas de rela-ções ecológicas particulares e essenciais à manutenção da vida de espécies vege-tais e animais que se adaptaram às al-ternâncias periódicas da estação úmida e seca, como vimos.

Assim, veremos os ecossistemas que vivemos, o bioma que eles formam na região semiárida, melhor conceituando a caatinga.

2.1. Na região semiárida: vários ecossistemas

Estudando a ecologia da nossa região semiárida, além de saber mais sobre os fenômenos naturais de semiaridez, con-seguimos descobrir as diversas feições ambientais que possuímos e que corres-pondem a importantes ecossistemas que diversificam as nossas paisagens. Você sabe quais são eles?

Ecossitemas do brasil

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temas diversos, como a:Caatinga - termo de origem indíge-

na/tupi, que significa, mata branca. É encontrada no sertão nordestino. Tra-ta-se de um ecossistema cujas espécies vegetais adaptam-se a condições do cli-ma semiárido, com períodos de chuva irregulares. Por isso, suas árvores são de pequeno porte, xerófilas ou caducifó-lias, ou seja, com espinhos e perdendo suas folhas nos períodos de seca, para reter água.

O cerrado – caracteriza-se, princi-palmente, pela presença de pequenas árvores de troncos torcidos e recurva-dos, com ramificações irregulares, e de folhas grossas. Essas espécies são en-contradas de maneira esparsa em meio a uma vegetação rala e rasteira, em campos limpos ou matas de árvores não muito altas.

A mata atlântica: ecossistema de flo-resta tropical, com vegetação heterogê-nea, geralmente perenes – verdes-, ou subperenes, principalmente, em áreas montanhosas ou litorâneas. É um dos ecossistemas mais devastados pela ocu-pação humana, que se deu, principal-mente, nas regiões litorâneas do país.

A restinga: ecossistema vinculado às áreas litorâneas cuja vegetação é rastei-ra, baixa e úmida, formando desde áre-

as com pouca cobertura vegetal a cam-pos com arbustos e moitas, adaptada a terrenos arenosos e com a influência da salinidade marinha.

O manguezal: ecossistema costeiro, formando a partir das condições de transição entre ambientes terrestres e marinhos, havendo encontro das águas dos rios com as do mar, sendo influen-ciado, portanto, pela alternância das marés, apresenta vegetação própria, com raízes longas, adaptadas a solos úmidos, salgados e lodosos.

2.2. Um bioma chamado caatinga

É importante destacar que as condi-ções climáticas de semiaridez marcam ou influenciam fortemente todos os ecossistemas presentes na região semi-árida, dos mais úmidos aos mais secos.

Essas condições abrangem uma di-mensão regional, como vimos, e, por isso, eles compõem o que denomina-mos de bioma caatinga.

Uma das características mais conhe-cidas desse bioma é a mudança de as-pectos da vegetação. Em períodos de seca, muitas plantas perdem as folhas, fazendo com que o verde da paisagem dê lugar ao predomínio de feições es-

Acervo cultural: Consulte biografias e obras de artistas que retratam esses ecossistemas:

canções de Dominguinhos sobre a Caatinga; Edinardo e Kátia Freitas sobre o

litoral; Nação Zumbi sobre manguezal; etc.

Encontrando no local:Identifique o ecossistema em que você está inserido

e observe as espécies vegetais e animais

atentando para forma como elas são

preservadas ou não pela comunidade.

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1818

branquiçadas - o que deu origem ao termo caatinga, conforme vimos, signi-fica mata branca.

Caatinga nordestina

A fisionomia seca advém dos baixos índices pluviométricos anuais, entre 500 mm a 700 mm, distribuídos de ma-neira desigual e concentrada durante alguns meses do ano.

Em certas regiões do Ceará, por exemplo, embora a média para os anos ricos em chuvas seja de 1.000 mm, nos anos de período chuvoso ruim, a média pode chegar a 200 mm, sendo conheci-dos como os anos mais secos.

A nossa região apresenta tempera-tura média elevada, entre 25ºc e 29°c, variando pouco durante o ano, o que favorece a evaporação e evapotranspi-ração das águas acumuladas nos perí-odos chuvosos, secando os reservató-rios superficiais, os riachos, os rios, as barragens, entre outros. Além disso, os ventos fortes e secos contribuem para a

aridez da paisagem nos meses de seca.

Por ser um ecossistema amplo, um bioma resulta do conjunto de ecossiste-mas que apresentam elementos e fenô-menos naturais presentes e comuns em uma região, no nosso caso as adaptações ecológicas vinculadas à semiaridez.

Estudos revelam que a caatinga, enquanto bioma, ocupa uma área de 734.478 Km², correspondendo a 8,62 % do território brasileiro e mais 70% da região nordeste, e no Ceará ultrapassa 90%.

Estende-se pelos estados do nordes-te - Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia – como também parte do norte de Minas Gerais.

Exclusivamente brasileiro, esse bioma reúne, nas paisagens da caatinga, impor-tante biodiversidade, cujas espécies ve-getais e animais somente são encontra-das nele. Estudos indicam que aqui está 1/3 das espécies endêmicas brasileiras, ou seja, elas são, exclusivamente, nossas, advêm do bioma caatinga.

Por essa razão e pelo histórico de uso e de ocupação da região, que devastou grandes extensões de matas naturais,

Pesquisa local:Observe e caracterize as condições ambientais e a paisagem natural de

sua comunidade, destaque os aspectos

climáticos, vegetacionais e a

distribuição de água.

Diálogo com o local:Converse com membros

de sua comunidade e perceba a importância do clima na caracterização da paisagem e indague sobre o que ocorre com as espécies vegetais e

animais nos períodos de umidade e de seca

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desabilitou animais, deixando os solos e as margens de rios descobertos e des-protegidos, que devemos manter cuida-dos ecológicos com o bioma caatinga, compreendendo que devemos reconhe-cê-lo como base de sustentação da vida de todos os seres vivos da região, inclu-sive, dos seres humanos.

Considerando a extensão regional e a diversidade biológica do bioma caatin-ga, é possível identificarmos, além dos ecossistemas que apresentamos na te-mática anterior, ecorregiões diferentes, como as 8(oito) ecorregiões propostas pelo the nature conservancy (organiza-ção de conservação ambiental no pla-neta, que atua em mais de 30 países) do Brasil em parceria com a associação plantas do nordeste. Conforme os estu-dos realizados, são essas as ecorregiões:

- O complexo do campo maior: lo-calizado, em sua maior parte, no estado do Piauí e na parte sudoeste do Mara-

nhão.- O complexo da ibiapaba-araripe: si-

tuado nas serras da ibiapaba e do arari-pe no estado do Ceará.

- A depressão sertaneja setentrional: envolve o extremo norte de Pernambu-co, grande parte dos estados da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará e uma pequena faixa ao norte do Piauí.

- O planalto da borborema: abrange partes do Rio Grande do Norte, da Pa-raíba, de Pernambuco e de Alagoas.

- A depressão sertaneja meridional: corresponde à maior parte do bioma, onde se insere grande parte do territó-rio cearense.

- As dunas do são francisco: localiza-das no centro-oeste do bioma.

- O complexo da chapada diaman-tina: situado no centro-sul do bioma, correspondendo aos relevos mais eleva-dos da caatinga.

- O raso da catarina: localizado no centro-leste do bioma.

2.3. Reconhecendo a caatin-ga cearense

Como sabemos, moramos no estado do Ceará e, pelos estudos que realizamos até agora, percebemos que estamos in-seridos no domínio do bioma caatinga. Você já havia pensado nisso?

Encontrando no local:Identifique os

ambientes naturais preservados em sua localidade e discuta com os colegas as

características dessas áreas e os impactos

humanos nelas.

Problematizando o local:Discuta com os membros das comunidades sobre as espécies naturais da Caatinga. Verifique com eles se as encontramos atualmente na mesma

quantidade que havia no passado. Indague-lhes o

que deve ter ocorrido.

Problematizando o local:

Cada Ecorregião dessas tem

características ambientais que

distinguem umas das outras. Apresente-as.

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2020

Vejamos, temos um período chuvo-so concentrado em, aproximadamente, quatro meses do ano, cuja sazonalidade, ou seja, a alternância da estação úmida e seca, é, também, parte da dinâmica na-tural do nosso estado.

Assim, o nosso clima é predominan-temente semiárido, com pluviosidades variadas de acordo com cada região do estado.

Nos inhamuns, as chuvas anuais po-dem ser menores que 500 mm, mas também, podem atingir 1.000 mm.

Em outras áreas, caracterizadas pelo clima semiárido brando, como na cha-pada do araripe, a temperatura média, também, é alta, mas com uma variação considerável, amenizando as sensações térmicas no topo das serras, as quais po-dem apresentar temperaturas em torno de 20°c, bem diferente dos sertões pró-ximos ao araripe, que apresentam mé-dia de 28°c.

Na depressão sertaneja, que correspon-de a maior parte do território cearense, cerca de 85% dele apresentam tempera-tura e sensação térmica bastante eleva-das, de maneira que os períodos de seca são mais intensos que nas demais regiões, no que se refere à escassez hídrica de ria-chos, rios e barragens, secando tempora-riamente.

Dessa sazonalidade, temos fauna e flora adaptadas às condições semiári-das.

Soldadinho do araripe

Assim como constatamos em torno da nossa região, o nosso estado, tam-bém, apresenta grande número de espé-cies endêmicas, isto é, próprias do bio-ma caatinga, principalmente, nos brejos e nas serras, ou seja, nas matas tropicais úmidas ou semiúmidas existentes.

A serra de Baturité é exemplo de uma região úmida e subúmida do Ceará. Nela 10% das espécies de aves são endêmicas.

Um exemplo de uma espécie endêmica ocorre na chapada do araripe, apenas, na-quela área, encontramos o soldadinho-do-araripe, conforme descobertas científicas do ano de 1996. Entre as aves encontradas na caatinga cearense, são característicos o uirapuru-laranja e a jandaia.

A flora é tão importante para o equi-líbrio ecológico da caatinga cearense quanto à fauna.

Pesquisa local:Identifique quais são as áreas

mais úmidas ou subúmidas nas proximidades de sua

comunidade – serras, açudes, rios, etc. - refletindo sobre a

biodiversidade encontrada tanto nelas quanto nas áreas mais

secas. Perceba a presença e a distribuição de seres vivos em

ambas as situações.

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Em nosso estado, encontramos es-pécies vegetais endêmicas, como a car-naúba, considerada a espécie símbolo do Ceará.

A cebola de calango, também, conhecida como cebola braba, flor original do habitat cearense, é mais um dos vários exemplos de espécies vegetais próprias da caatinga.

2.4. Há vida na caatinga cearense

Percorrendo pelos textos anterio-res e pelas veredas das nossas rea-lidades, constatamos que há muita vida na caatinga.

Vimos que, no Ceará, por exemplo, há muitas plantas e bichos que encontramos em nossas localidades. Mas, aqui amplia-mos as considerações sobre a vida na ca-atinga cearense, refletindo sobre como nós, seres humanos, temos habitado nela.

Lembramos que os períodos consi-derados secos, caracterizados pela não ocorrência de chuvas, são periódicos, e, por isso, desde sempre, os primeiros povos que habitaram as nossas terras, como as populações indígenas as quais ainda existem aqui, apesar da coloniza-ção portuguesa, tiverem que resolver o problema da escassez de água o qual os colonizadores enfrentaram com muita dificuldade pela falta de conhecimento dos fenômenos e dos elementos natu-rais da nossa região.

Mas, ao longo do tempo, a ocupação europeia, em nosso estado, consolidou-se, sustentando-se nos ciclos econômi-cos do algodão e do gado, realizados em grandes propriedades, mal distribuídos entre a população sertaneja, formando o que chamamos de latifúndios, sendo asprincipais fontes da produção de riqueza dos primeiros séculos da história do Cea-rá, entre os períodos do Brasil colônia e do Brasil império, mas também gerando a histórica desigualdade social até hoje encontrada em nossa região.

Entretanto, as populações, antes de consolidarem a ocupação do território cearense, dando forma ao que vemos hoje em nossos municípios, passaram grandes dificuldades em torno da escassez hídrica e da falta de conhecimentos e de tecnolo-

Diálogo com o local:Converse com os membros de sua família, investigando

o modo de vida que elestiveram em tempos

passados referentes às condições de semiaridez na nossa região. Discuta com

os colegas sobre as mudanças que perceberam em relação aos dias atuais

Diálogo com o local:Converse com membros de sua comunidade sobre os

locais mais habitados pelos seres vivos da Caatinga.

Discuta com eles se houve alguma mudança ao longo

do tempo acerca da presença de habitats

naturais das espécies.

Diálogo com o local:Entreviste os membros de sua família sobre os anos que menos choveram e

aqueles que eles consideram os anos de seca, como foram esses

períodos e registre as informações obtidas..

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2222

gias aplicadas a essa realidade.

Um dos registros históricos mais anti-gos dessa problemática ocorreu em 1606, ano em que a estação seca foi extensa.

Assim, os anos que menos choveram em toda a região semiárida, inclusive no Ceará, ficaram conhecidos como os anos de seca.

A história oficial destaca a “seca de 1606”, como a primeira, e ainda a “seca de 1777” e a de 1778 - anos de enfraqueci-mento da indústria das charqueadas du-rante o ciclo do gado, como falamos.

Na “seca” de 1877 a 1879, em razão das dificuldades vividas e das possibilidades tecnológicas da época, visando a ampliar a capacidade de armazenamento de água, foi iniciada a construção do açude do Ce-dro, localizado no município de Quixadá, no período do Brasil império, finalizada, apenas, no período da primeira república.

Açude do Cedro em Quixadá-CE

Apesar disso, a falta de estratégias, dos investimentos e das tecnologias adequadas para se viver no semiárido, como, também, as difíceis condições econômicas de grande parte dos habi-tantes da região, geralmente agriculto-res de pequenas propriedades, contri-buíram para que durante a história da urbanização brasileira, muitos sertane-

jos migrassem para os grandes centros, gerando uma problemática social co-nhecida como êxodo rural.

Visitando a história de nosso povo, percebemos que a ocupação do nosso território ocorreu em base de estraté-gias que, ao longo do tempo, viabiliza-ram a permanência do povo no sertão, mas que nem sempre foram suficientes para a sustentabilidade adequada da população.

Por isso, hoje, problematizamos o que chamamos de “ano de seca”, dando ou-tro significado, percebendo a existência da estação seca, por vezes prolongada, associada a uma estação úmida. Nela, precisamos encontrar formas de cap-tação e de armazenamento duradouros de água. Nesse sentido, estudos atuais monitoram as fontes hídricas cearenses.

Assim, conhecemos melhor as nossas bacias hidrográficas, que passaram a ser as nossas principais fontes de abasteci-mento, sobretudo, da população que re-

Problematizando o local:Muitas famílias cearenses

apresentam casos de pessoas que migraram para as grandes cidades durante as épocas de estiagem. É importante saber se encontraram melhores condições de vida, se

resolveram os problemas de miséria do Semiárido, se passaram a habitar a cidade em residências

apropriadas ou em favelas, se conseguiram melhores empregos?

Pesquisa local:Pesquise as fontes de

água de sua comunidade e a capacidade de

abastecer a população. Há falta de água? Por

quê?

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side nas cidades. Em sua totalidade, o Ceará possui 7(sete) bacias hidrográfi-cas, e a maior delas é a do rio jaguaribe.

A bacia hidrográfica do rio jaguari-be abrange 50% do estado do Ceará, na sua porção leste, tendo o rio principal, de mesmo nome, uma extensão de 610 km de curso d’água, perpassando vários municípios. Esse grande rio, possui ou-tros rios a ele interligados, chamados de afluentes, os mais importantes são os rios salgado e banabuiú.

Açude castanhão – ce

Nessa bacia, por meio da barragem do rio jaguaribe, foram construídos os dois maiores reservatórios de água do Ceará: o açude orós e o açude casta-nhão, com as respectivas capacidades de armazenamento de 2,1 e 6,7 bilhões de m³, tornando o rio jaguaribe o único curso d’água perene do estado, funda-mental para o sistema de abastecimento de várias regiões nele existentes.

Nesse sentido, dizemos que, além de haver vidas no sertão, há novas possibi-lidades de melhor viver nela.

3. Conhecer, enten-der e viver o ambiente semiárido

Com os temas anteriores, reunimos informações importantes sobre o se-miárido, principalmente, em termos de sua ecologia, conhecendo melhor o bioma caatinga, compreendendo que todos os elementos e os fatores da natu-reza estão intimamen-te relacionados.

Nesse intuito, é preciso considerar as potencialidades do meio, ou seja, as pos-sibilidades que os bens naturais nos oferecem, como, também, as li-mitações que eles pos-suem, para que não se desgastem nem se ex-tingam.

3.1 Entendendo o ambiente da caatinga: do clima à hidro-grafia

Será que as nossas ações humanas respeitam as dinâmicas da natureza dos componentes ambientais da caatinga? Para refletirmos sobre essa questão, precisamos conhecer as interações eco-lógicas existentes em nossa região.

Encontrando no local:

Qual o principal rio de sua região? A que

bacia hidrográfica pertence? Forneça-

nos essas informações.

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2424

Vimos que o clima é um dos fatores fundamentais do bioma caatinga. Ago-ra entenderemos as suas relações com os demais componentes ambientais, percebendo que a ação conjunta e inte-grada, entre cada um deles, formam os ambientes e as paisagens que habitamos e transformamos.

A nossa primeira consideração é a de que vivemos sob a influência do clima semiárido tropical, que apresenta tem-peraturas médias mensais acima de 25°c e baixos índices de precipitação anual. Condição que se altera conforme as ca-racterísticas ambientais de cada região, manifestando-se mais quente e seco em áreas planas e rebaixadas do nosso terri-tório; e com temperaturas mais amenas e umidade relativa do ar maior em áreas de altitudes mais elevadas, variando de acordo com a dimensão do relevo, além da proximidade ou da distância de fon-tes hídricas, a presença de matas, entre outras.

Lembramos, também, que o nosso clima é marcado pela alternância de duas estações: uma úmida, outra seca.

Os períodos quentes e secos são os mais duradouros, em média, 7 (sete) meses. Nesse período, as fontes hídricas de superfície secam, e a paisagem muda de aparência, alterando a abundância do verde das matas para o embranque-cer-se delas, principalmente, pela perda natural das folhas de muitas espécies vegetais.

É importante entender essa estação como um período que regularmente, ano a ano, ocorrerá, variando em rela-ção a sua extensão temporal, de maneira que devemos nos preparar, melhorando as nossas condições de abastecimento e armazenamento de água, para que não tenhamos problemas de escassez desse recurso.

Assim, a preparação do viver bem, sob as condições semiáridas, requer o conhecimento adequado da nossa qua-dra chuvosa, para que, a partir dela, de-senvolvamos tecnologias mais eficien-tes de armazenagem e abastecimento de água, que possam ser aplicadas em nosso cotidiano.

Nesse sentido, temos, no primeiro semestre do ano, de maneira irregular

Pesquisa local:Observe e verifique o

que ocorre com as águas da chuva nos

períodos chuvosos, por onde correm, onde se

acumulam, infiltram e o que ocorre com elas nos

períodos secos.

Problematizando o local:Discuta, com os colegas, acerca das regiões mais quentes e secas do nosso Estado como também as

menos secas e mais úmidas. Problematize os fatores que

influenciam nessas mudanças. Também, verifique em que áreas da sua comunidade, são as mais e as menos quentes, identificando os

fatores e os elementos que influenciam as mudanças de um

microclima.

Encontrando no local:Quais são os riachos, os

rios e as barragens de sua comunidade? Quais são os períodos que secam e enchem? As pessoas e os animais dependem deles? Existem outras fontes de

abastecimento?

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e concentrada, a ocorrência da estação chuvosa. É o período em que os riachos, os rios, as barragens e os reservatórios de água subterrânea são abastecidos pelo ciclo natural da água, desenhando a hidrografia da região, isto é, o conjun-to de trajetos e de áreas em que as águas se distribuem e se acumulam.

Dessa forma, a hidrografia da caatin-ga está integrada ao clima semiárido, pois este condiciona o volume de água distribuído todos os anos, em nossa região, influindo, diretamente, nas di-mensões das redes hidrográficas.

3.2 Entendendo o am-biente da caatinga: da hidro-grafia aos terrenos, os seus relevos e solos

A qualidade da rede de drenagem de uma região, da hidrografia, como fala-mos, depende, também, dos tipos de solos de onde as águas percorrem ou infiltram.

Os mais íngremes e rochosos favo-recem o escoamento superficial, for-mando importantes cursos d´água. Terrenos arenosos ampliam a capacida-de de infiltração das águas e a acumu-lação subterrânea de água, importantes lençóis freáticos ou aquíferos. Por isso, sabemos que os caminhos das águas do sertão são diversos, devido a suas dife-rentes geologias e relevos.

Por exemplo, os rios regionais do Nordeste nascem em serras e chapadas, percorrendo extensas áreas aplainadas - a depressão sertaneja - desembocando no mar, como o rio jaguaribe, no Cea-rá; o rio parnaíba, entre os estados do Piauí e do Maranhão, e, o maior rio do Nordeste, o são francisco, que percorre vários estados.

Nesse sentido, precisamos cuidar de todos os cursos d´água da região, mesmo aqueles que secam durante as estiagens, pois muitos deles compõem uma rede de rios, que alimentam um rio principal de uma bacia hidrográfica, como as dos rios de que falamos acima.

Os cuidados em torno da hidrografia de uma região tem relação com a prote-ção dos cursos d´água, da qualidade de água que contém, da manuntenção da mata de suas margens, do barramento

Acervo cultural: Consulte biografias e obras de artistas que

retratam esses aspectos canções de

Elba Ramalho, Zé Ramalho, Alceu

Valença, Geraldo Azevedo, etc.

Encontrando no local:Os terrenos da sua região

são mais rochosos ou arenosos? As águas da chuva tendem mais a

escoar ou infiltrar esses terrenos? Qual das fontes

hídricas a água fica disponível por mais

tempo?

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adequado, evitando a degradação tanto de suas nascentes, preservando os re-levos de elevadas altitudes, quanto de toda a sua extensão e adjacências.

Esses cuidados devem ocorrer pelas formas de uso e de ocupação que im-plantamos em todos os ambientes e os tipos de relevo, seja nos planaltos, seja nas grandes depressões da região, as principais formações do semiárido.

Delas, as paisagens mais conhecidas do nosso semárido apresentam-se nas depressões sertanejas, devido à gran-de extensão que possuem e aos signifi-cados sociais que lhes aplicaram, nem sempre positivos, como questionamos antes.

A depressão sertaneja corresponde a terrenos aplainados de baixa altitu-de, apresentando, no entorno, algumas colinas. São exemplos dela na região: a depressão sanfranciscana, a depressão cearense e a do meio norte.

Chapada do araripe/ce

As relações sistêmicas advindas do clima, da hidrografia, da geologia e do relevo, em nossa região, como também, da vegetação, dão forma e integram o sistema natural do bioma caatinga e a diversos tipos de solos aqui encontra-dos.

A diferenciação qualitativa deles de-pende da disponibilidade e da ação das águas da chuva, dos tipos rochosos ou arenosos de terrenos, da acumulação de matéria orgânica advindos das espécies vegetais e dos impactos e dos cuidados das atividades humanas neles.

De modo geral, considerando a pre-dominância semiárida do clima e da sua ação, como também, das extensas áreas rochosas aplainadas, muitos dos nossos solos são rasos, ácidos e de baixa ferti-lidade natural, sendo frequentes frag-mentos de rochas na superfície, dando aspecto pedregoso aos terrenos.

Isso demanda maior cuidado na lida com a terra por meio das atividades hu-manas, para não desgastar os nutrientes do solo nem degradá-los.

3.3 Entendendo o ambiente da caatinga: percorrendo os solos, conhecendo a vegetaçao e a fauna

Problematizando o local:

Como estão as condições

ambientais dos cursos d´água de sua região? Estão

preservados?

Diálogo com o local:Converse com os

membros de sua família e descubra os tipos de solo de sua comunidade, onde estão presentes os mais

férteis, os mais profundos, os mais rasos,

entre outros

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Como dissemos, todos os compo-nentes ambientais encontram-se integrados, naturalmente, em sistemas de relações ecológicas que permitem a vida brotar no semiárido e que nos possibilita viver bem nessa região.

Em se tratando de vida, fauna e flora da caatinga, são também, fundamentais para a ecologia da região, pois, adap-tando-se a ela, enriquecem o semiárido com a biodiversidade resultante, forta-lecendo os sistemas naturais existentes.

Mandacaru e juazeiro

Lembramos que o nosso bioma é bastante diversificado, uma vez que faz surgir vários tipos de vegetação, e a predominante é a caatinga devido à in-fluência preponderante da semiaridez. Podemos encontrá-la facilmente em paisagens menos degradadas das nossas localidades.

Das principais características dessa vegetação, destacam-se as adaptações que foram feitas, em relação ao habitat dos semiáridos, de maneira tal que se tornaram, pela evolução natural, espé-cies próprias do nosso bioma, ou seja, espécies endêmicas.

Algumas características definem as principais fisionomias da vegetação caa-tinga; predomina nela: espécies de árvo-res baixas, arbustos espinhosos, plantas que perdem as folhas na estação das se-cas chamadas de espécies caducifólias além de muitas cactáceas. O aspecto paisagístico, também, é marcante, pois, ao ocorreram as primeiras chuvas, a ca-atinga perdeu seu aspecto seco, tornan-do-se, rapidamente, verde e florida.

Outras caracterizações sobre a caatin-ga são fáceis de realizarmos, observan-do as nossas paisagens sertanejas, por exemplo, em relação ao porte das espé-cies: arbóreo (8 a 12 metros), arbustivo (2 a 5 metros) e o herbáceo (abaixo de 2 metros).

Considerando essas questões, não se pode afirmar que, por vivermos em uma região quente e seca, com regime de chuvas concentrado e períodos de seca prolongados, com terrenos rocho-sos e solos pouco férteis, que somos li-mitados, naturalmente. Ao contrário, são essas condições que mantêm a rica biodiversidade que os estudos sobre a caatinga têm indicado, por exemplo, estimando que há pelo menos 932 es-pécies registradas na região, das quais 380 são endêmicas.

Encontrando no local:Verifique os principais

aspectos da vegetação de sua localidade,

caracterizando-a, relacionando às

características aqui apresentadas com as que

você identificou.

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2828

Delas destacamos as espécies mais encontradas, que você já conhece ou pode encontrar em sua comunidade: catingueira, sabiá, unha-de-gato, jure-ma-branca, canafístula, jurema-preta, pau-ferro, catanduva, marmeleiro, fa-vela, mufumbo, juazeiro, aroeira, ca-mará imburana-de-cambão, pereiro, mandacaru, facheiro, coroa-de-frade, macambira e xique-xique.

Nessa compreensão ecológica, todos os seres vivos, inclusive, nós humanos, estamos, também, integrados no am-biente da caatinga.

Assim, consideramos que as espécies animais aves, répteis, anfíbios, peixes encontram, na caatinga, fonte de ali-mento como, também, importantes ha-bitats; além disso, fortalecem a susten-tação ecológica do ambiente por meio das suas diferentes interações naturais, equilibrando o meio.

É dessa maneira que, na caatinga, vive a sua fauna, composta por espécies como: teju ou teiú, jiboia, sapo-cururu, asa-branca, cotia, gambá, preá, veado-catingueiro, tatu-peba, sagui-do-nor-deste, entre outros, além de diversos tipos de aves: seriema, avoante, quen-quém, juriti e gralha, sendo o soldadi-

nho-do-araripe endêmico do Ceará. Temos, ainda, o tatu-peba, o macaco prego e o bicho preguiça.

Catalogações, já realizadas, listam que temos: 44 espécies de lagartos; 9(nove) espécies de anfisbenídeos (ex: cobra cega ou cobra de duas cabeças); 47 tipos de serpentes; 4(quatro) espé-cies de quelônios; 3(três) crocodilianas; 47 anfíbios, das quais apenas 15% são endêmicas.

Ressalvamos que algumas espécies encontram-se ameaçadas de extinção, como o gato-do-mato, o gato-maracajá, o patinho, a jararaca e a surucucu-bi-co-de-jaca, além da ararinha-azul e da arara-azul-de-lear, umas das que mais correm risco de extinção no mundo. No total, há 20 espécies correndo risco de desaparecerem, além daquelas que ainda desconhecemos.

Como indicam os levantamentos já realizados por cientistas confirmando a ameaça de extinção de várias espé-cies, os estudos sobre a fauna do bioma caatinga ainda são reduzidos, princi-palmente sobre os peixes.

Isso nos deixa em alerta, para que tenhamos atitudes de cuidado e de res-

Pesquisa local:Catalogue todos os nomes das espécies

vegetais presentes em sua comunidade,

colhendo informações sobre elas, nomes

científicos, quantidade existentes, entre outros.

Pesquisa local:Catalogue todos os nomes das espécies

animais presentes em sua comunidade, colhendo

informações sobre elas, nomes científicos,

quantidade existentes, entre outras informações

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peito ao meio ambiente, enquanto for-ma de se aprender a viver bem em nos-sa região.

Sapo cururu

Arara-azul-de-lear

Infelizmente, somos os únicos seres vivos que vêm desconsiderando as po-tencialidades e as limitações do bioma caatinga. Pior que isso, temos degrada-do os ambientes naturais com impactos irreversíveis nas paisagens, prejudican-do a manutenção da vida em nossa re-gião, não somente das plantas e dos bi-chos mas, também, ameaçando a nossa sobrevivência.

4. Para viver bem nosemiárido

Como dissemos no início da nossa aventura, precisamos viver os conheci-mentos sobre a nossa região, realizando essa tarefa, cotidianamente, ampliando a consciência sobre a nossa realidade.

Nesse sentido, pensando no projeto de viver bem no semiárido, a necessi-dade dos saberes ampliam-se; por isso, falaremos a partir do nosso segundo grande tema para viver bem no semi-árido, buscando saberes e fazeres não só necessários mas, também, possíveis de serem aplicados em nossa realida-de para juntos transformarmos a nossa vida.

4. Conhecer atividades eco-nômicas e viver bem no semi-árido

Conhecer as principais atividades econômicas adequadas à nossa realida-de é de fundamental importância para o desenvolvimento de práticas sociais que modifiquem a nossa vida, propiciando a sustentabilidade de nossas famílias e de comunidades, superando dificulda-des ainda presentes na região.

4.1. Viver a partir da agricul-tura

Sabemos que a agricultura e a pe-cuária são atividades econômicas que sustentam grande parte da nossa po-pulação, gerando diferentes sistemas de produção, que variam conforme as condições ambientais, sociais, culturais

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e os investimentos econômicos em cada lugar.

Assim, podemos caracterizar dife-rentes modelos de agricultura e pecuá-ria em nossa região. Desde as atividades dos pequenos produtores rurais, com forte caráter de subsistência, até os mo-delos agrícolas dos grandes produtores, adotando técnicas modernas e merca-dológicas, em torno, principalmente, da fruticultura irrigada.

Os pequenos produtores, apesar de grande parte não usufruir de tecnolo-gias modernas, diversificam suas cultu-ras, incluindo, geralmente, além das ati-vidades do cultivo agrícola, atividades pastoril e madeireira. Além disso, por comporem o que chamamos de agricul-tura familiar, são responsáveis por cer-ca de 70% da produção de alimentos do Brasil.

Enquanto os produtores da agricul-tura industrial, não característicos do semiárido, extremamente, especializa-dos e capitalizados, praticam a mono-cultura, ou seja, cultivam apenas uma cultura de maneira intensiva em suas terras, com foco no mercado externo.

Em relação às culturas tradicional-mente desenvolvidas pelos pequenos

produtores no semiárido, destacam-se estas: milho, feijão, gergelim, mandioca, fava, melancia, jerimum, pepino, algo-dão e várias outras; aparecendo sempre consorciadas, ou seja, cultivadas, simultaneamente, depen dendo da adequação de cada área para as culturas favoráveis.

Feijão

Mandioca

Pesquisa local:Pesquise, em sua

comunidade, a existência de

pequenos e grandes produtores rurais e

verifique as diferentes condições de cada um

deles.

Encontrando no local:Quais são as culturas que os agricultores locais de

sua comunidade produzem? Se existirem grandes produtores, o

que eles têm cultivado? Quais são os mercadores

consumidores de cada grupo?

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Entretanto, grande parte desses agri-cultores mantêm os sistemas de uso da terra dependentes da chuva, tornando-os suscetíveis às variações climáticas em torno do prolongamento dos períodos secos, como vimos, fazendo que muitos percam as próprias roças e o gado devi-do à falta d´água por essa via.

Outro problema que muitos produ-tores, também, enfrentam é o uso tra-dicional do desmatamento e das quei-madas nas áreas a serem plantadas. Com essas práticas, as terras de culti-vo permanecem geralmente desnudas de vegetação, com exposição do solo à erosão tanto eólica, na estação seca, quanto hídrica, no período das chuvas, havendo perda de nutrientes devido à ação direta desses mecanismos; sendo, portanto, predatórias dos recursos do solo e da vegetação, prejudicando a sus-tentabilidade dos próprios agricultores.

Assim, nem sempre os sistemas de produção agrícola realizam-se de ma-neira adequada. Estudos sobre a nos-sa região indicam diversos impactos ambientais que vêm desgastando os recursos e os bens naturais do semiári-do, essenciais, inclusive, para a própria economia, colocando-a em risco.

Vale ressaltar, porém, que a devasta-ção no bioma caatinga data do período colonial da nossa história, estendendo-se aos dias atuais, tendo como principal causa atividades agropecuárias inade-quadas e degradadoras do meio, que in-tervêm de modo negativo na caatinga.

A fim de encerrar o histórico de de-

gradação das terras e oportunizar o uso de técnicas adequadas, algumas alterna-tivas têm sido experimentadas por pro-dutores rurais, principalmente , junto aos pequenos, e estudadas por cientis-tas e técnicos, visando à sustentabilida-de das populações e do meio ambiente.

É uma preocupação que se acentua ao refletirmos que, para a recuperação completa das áreas naturais devastadas na caatinga, estima-se que o período mínimo de pousio do terreno seja de 45 anos.

Nesse período, a sequência de recupe-ração de uma mata da caatinga envolve algumas fases: 3(três) anos para a domi-nância das herbáceas (espécies rasteiras), 19 anos para os arbustos e 15 anos para o complexo arbustivo-arbóreo, quando,então, se verifica a recuperação das árvo-res que se completa cerca de 10 anos. Es-ses valores podem variar em função dos fatores locais, das flutuações climáticas e da disposição de sementes, principal-mente, das arbóreas.

O agravante, contudo, é que estudos apontam extensas áreas do sertão cea-rense que foram degradadas cujas terras estão abaixo de 10 anos de repouso, na dominância dos arbustos, não haven-do tempo suficiente para a recuperação

Problematizando o local:

Como estão as condições ambientais

das matas de sua região? As terras têm sido repousadas por

quanto tempo?

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completa do solo e da vegetação dessas áreas, e que, expostas à erosão, à perda de biodiversidade, apresentam queda dos índices de produção agrícola.

Refletindo sobre essas questões e identificando os avanços tecnológicos para os trabalhos no campo, o desen-volvimento da agricultura sustentável é de fundamental importância para o vi-ver bem no semiárido, de maneira que sejam adotados modelos compatíveis com as características dos solos de cada localidade, conservando e preservando os bens naturais, visando à realização das atividades humanas com equilíbrio ecológico. Para melhorarmos as nossas condições de vida no semiárido, preci-samos buscar alternativas que se adé-quem às nossas principais atividades econômicas e desenvolvam-nas.

Uma delas envolve a agricultura identificada como nômade ou migra-tória. Nela, os produtores agrícolas res-peitam o período mínimo de repouso da terra para a recuperação do solo e da vegetação das áreas utilizadas para as suas culturas, migrando para outros setores de sua propriedade, alternando o uso da terra. Os períodos e as alter-nâncias precisam ser pesquisados, de acordo com as atividades realizadas e as características da propriedade, o que

pode ser implantado por meio de ajuda de assistência técnica especializada dis-ponível nas regiões.

4.2. Viver a partir da pecuária

Como percebemos, a atividade agrí-cola tem expressiva importância para o nosso povo e pode ser realizada de ma-neiras diferentes, surgindo novos mo-delos de produção a partir de estudos e de tecnologias adequadas para a nossa região. Possibilidade que também pode ser incorporada por quem trabalha com a pecuária.

Enquanto atividade econômica, os sistemas pecuários são consolidados quando os produtores fazem uso da terra para a atividade pastoril, gerando cerca de 60% dos seus rendimentos.

Além da renda gerada na atualidade, lembramos a importância histórica da pecuária para a ocupação européia em nossas terras. Nos sertões cearenses, a pecuária foi a atividade que possibilitou a fixação dos portugueses no sertão, fa-zendo uso dos bens naturais da caatinga.

Entretanto, nesse período – Brasil colônia – predominaram o manejo pas-toril na região dos nossos sertões com o uso extensivo, sem praticamente, man-

Pesquisa local:Pesquise quais

técnicas agropecuárias

podem ser realizadas, de

maneira sustentável, na Caatinga

Pesquisa local:Pesquise quantos

produtores rurais de sua comunidade

trabalham com base em sistemas pecuários.

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ter cuidados em relação ao manejo das pastagens nativas, tornando a pecuária tradicional uma atividade predatória para o bioma caatinga. Modelo de pro-dução ainda existente em nossas terras, o qual precisa ser substituída por tecno-logias não degradantes.

Bovino

Assim, o impacto do pastejo contí-nuo sobre a vegetação, o solo e os recur-sos hídricos devem ser considerados, analisando a espécie animal criada, a sua carga suporte na pastagem, a pres-são que gera com o pastejo no tipo de solo, na vegetação e na topografia, ava-liando a adequação ou não da atividade. Podemos notar grandes diferenças de pastejo entre as espécies de herbívoros domésticos, observando, por exemplo, a preferência alimentar e o hábito de pastejo. Vejamos:

- Bovinos e ovinos compõem dieta basicamente com plantas herbáceas, sendo que os bovinos têm hábito de tosa mais elevado e os ovinos cortam a forragem rente ao solo.

Ovino caprino

- Caprinos alimentam-se com folhas de árvores e arbustos, com baixo im-pacto sobre o estrato das ervas.

Por essas questões, precisamos com-preender melhor a capacidade que tem o ambiente de manter-se e recuperar-sedos impactos que as atividades econô-micas realizam nele. Essa capacidade varia de acordo com o tipo de vegeta-ção, tipo de pastoreio e sua produtivi-dade, a espécie animal criada, os efeitos do clima, condicionando as precipita-ções pluviais à ocorrência de secas.

4.3. Conhecer a produção florestal

Como se pode perceber, a caatin-ga tem grande potencial ecológico que nem sempre foi bem relacionado com as atividades econômicas tradicionais, quadro que vem mudando na medida em que melhor compreendemos essa realidade.

Das experiências estudadas e experi-mentadas, o plantio florestal é um bom exemplo do intuito de equilibrar econo-mia à ecologia. Entretanto, a repercus-são tem sido baixa nos sertão cearense, ainda constituindo-se como uma ativi-dade rara na região.

Encontrando no local:Quais são os

principais animais de pastejo em sua

comunidade? Como são distribuídos e

criados em relação ao meio ambiente circundante?

Construa o seu acervo cultural:

Desenhe as paisagens do sertão, as naturais, as atividades humanas nela inseridas e faça, conjuntamente, uma exposição delas na

escola.

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3434

A base dessa atividade é o extrativis-mo vegetal, responsável pelas espécies da caatinga e pelo seu plantio para fins econômicos. Como o que ocorre com as espécies de algaroba, para usos di-versos, e de sabiá para a produção de estacas.

O plantio do sabiá, por exemplo, ge-ralmente, ocorre em áreas de melhor potencial agrícola, podendo ser consor-ciado às culturas agrícolas anuais, ten-do, também, a vantagem de apresentar baixos custos de implantação.

Os trabalhos de implantação incluem o preparo da área para o plantio dire-to de sementes da árvore e das cultu-ras anuais e de suas práticas de cultivo. Costuma-se utilizar a área para os reba-nhos somente a partir do 3º ano.

Área para produção florestal na caatinga

O ciclo de produção de estacas va-ria de 5(cinco) a 9(nove) anos para o primeiro corte e de 4(quatro) a 7(sete)

anos para os cortes subsequentes, a par-tir do manejo da rebrotação.

4.4. Viver as atividades não agrícolas

Passeando pelos diversos municípios de nossa região, percebemos as marcas culturais fortes da agropecuária na or-ganização social do nosso povo, como também, um conjunto de atividades socioeconômicas que diversificam e sustentam as populações no semiárido. São exemplos: o artesanato e o turismo.

Destacamos o artesanato pelo uso de peças que podem ser encontradas ou produzidas a partir de bens naturais do semiárido, além de envolver o traba-lho, que pode ser coletivo, de homens e mulheres sertanejos, suas famílias, cultuando e transformando com as suas diferentes gerações os valores do nosso povo.

O turismo, o ecológico e o religioso também possibilitam a valorização da natureza, a cultura e as paisagens locais, favorecendo projetos sociais de desen-volvimento da região, via preservação do crescimento ambiental e das cultu-ras dos povos sertanejos.

Problematizando o local:São muitas as atividades

socioeconômicas desenvolvidas ou que podem ser desenvolvidas em nossa região. Dessa maneira, quais são as que estão presentes em seu município? Qual a importância delas? Que

outras atividades poderiam ser realizadas?

Construa o seu acervo cultural:

Elabore crônicas, contando sobre o cotidiano de sua comunidade na

convivência com as espécies da Caatinga

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Quando indicamos essas possibili-dades, definimos um turismo sertanejo que seja alternativo, usando de custos reduzidos, conduzido pelas próprias fa-mílias da comunidade, que pode, inserir-se, por exemplo, no agroecotu-rismo, enfatizando a cultura regional e fortalecendo a comunidade local.

Entre as atividades em torno desse tipo de turismo, já realizadas no sertão cearense, citados estas: turismo para o voo livre em Quixadá; turismo arqueológico em Santana do Cariri; turismo religioso em Juazeiro do Norte-ce e Canindé-ce.

Alternativas econômicas como essas impulsionam a cadeia produtiva da po-pulação, ao mesmo tempo em que não descaracteriza a paisagem sertaneja nem causa a perda da nossa identidade cultural.

5. Enfrentar a degra-dação ambiental e vi-ver bem o semiárido

Sempre que buscamos conhecer o ambiente do semiárido, enfatizamos as problemáticas que precisamos superar a partir de nossas ações locais. Como dis-semos, os problemas ambientais exis-tentes ameaçam a vida não apenas da fauna e da flora da caatinga, mas todos os habitantes da região, pelo desgaste dos bens naturais realizado por toda a sociedade.

Identificaremos agora formas de de-gradação ambiental no semiárido, esti-mulando o enfrentamento coletivo des-sas ações, para o projeto de vivermos bem no semiárido.

5.1. Enfrentar o desmata-mento e as queimadas

A falta de preservação ambiental pre-judica a sobrevivência da flora e da fau-na silvestre, a qualidade da água, do solo e o equilíbrio do clima local, afetando todas as populações do semiárido; por isso, devemos enfrentar os problemas

Encontrando no local:Os terrenos da sua região

são mais rochosos ou arenosos? As águas da chuva tendem mais a

escoar ou infiltrar esses terrenos? Qual das fontes

hídricas a água fica disponível por mais

tempo?

Pesquisa local:Pesquise experiências de artesãos de sua região, como, também, locais onde são realizadas atividades turísticas. Discuta como seus

colegas as formas de realização dessas

atividades

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3636

de desmatamento e de queimadas em nossa região.

Esse problema ocorre de tal maneira que, da cobertura vegetal da caatinga, somente a metade é original. Estudos mostram que, no ano de 2008, a vege-tação remanescente era estimada em 53,62%.

Monitoramentos recentes do bio-ma, entre os anos de 2002 e 2008, de-tectaram uma devastação territorial de 16.576 Km², ou seja, 2% de todo o bioma, apenas nesse intervalo de tem-po. Nesse período, foram cerca de 2.763 km² áreas devastadas ao ano.

Umas das principais causas do des-matamento na caatinga é a extração de mata nativa para a produção de lenha e carvão vegetal destinado às fábricas gesseiras de cerâmica, padarias, pizza-rias, como também, a extração de mata nativa para o plantio de insumos vege-tais biocombustíveis e criação de gado.

Lembramos que tanto o desmata-mento quanto às queimadas desgastam os nutrientes presentes nos solos, dei-xando-os desprotegidos e frágeis, po-dendo extinguir as áreas agricultáveis.

5.2. Enfrentar a erosão

Outro problema grave que atinge o nosso bioma consiste na degradação pela erosão dos solos.

A erosão das nossas terras ocorre quando há o transporte do solo e do material geológico pela água ou pelo vento, que em si é parte da dinâmica natural de redesenho do relevo terres-tre: a erosão geológica ou normal.

Mas, quando as nossas ações huma-nas desprotegem o solo de sua vegeta-ção natural, por exemplo, por meio dos desmatamentos e das queimadas, pas-toreio contínuo e intensivo, a exposição direta aos efeitos do tempo amplia as forças erosivas.

Voçoroca (erosão linear)

Nesse caso, a água e o vento removem diversos materiais das nossas terras, com uma intensidade mil vezes maior do que a intensidade que se verifica quando o solo está naturalmente coberto. Esta re-moção acelerada do material do solo é chamada de erosão acelerada.

Alguns dados sugerem que cerca de 20 cm de solo perdidos pela erosão des-perdiçam de 140 a 700 anos de trabalho da natureza.

Problematizando o local:Há problemas de desmatamento e

práticas de queimadas da vegetação natural em

sua comunidade? Por que são realizados?

Teriam alternativas para elas?

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Dessa maneira, os impactos am-bientais da erosão acelerada degradam grandes quantidades de nutrientes das terras, tais como o nitrogênio, o fós-foro, o potássio, o cálcio e o magnésio, além de húmus e microorganismos benéficos, como também, devastando partes do próprio solo, perdidos pela ação erosiva.

Vale ressaltar que a formação dos nossos solos demanda séculos de ação conjunta e integrada dos agentes da na-tureza para se formarem, demorando, ainda mais, sob as condições semiári-das, devido à disponibilidade de água restrita, sendo, portanto, terrenos e so-los que precisam ser preservados fato que nos requer o enfrentamento dos processos erosivos de que falamos.

5.3. Enfrentar a salinização

A salinização dos solos é um proble-ma que afeta muitos produtores e mo-radores de nossa região; ocorre quando há presença concentrada de sais solúveis nas terras, prejudicando o rendimento econômico das culturas. Os prejuízos ocorrem, quando a salinização do solo afeta a germinação, a densidade das culturas e o desenvolvimento vegetati-vo, reduzindo a produtividade do local.

Solos salinizadosNos casos mais sérios, a concentra-

ção de sais no solo ocasiona a morte ge-neralizada das plantas.

Esse problema ocorre, de maneira geral, em solos que possuam lençol freático próximo da superfície, situ-ados em região de baixa precipitação pluviométrica. Nesse caso, o conheci-mento dos solo e o acompanhamento técnico especializado são fundamen-tais para evitar o acúmulo de sais e o surgimento do problema.

5.4. Enfrentar a desertifi-cação

Associados aos impactos humanos, na caatinga, os efeitos são preocupan-tes, o que vem ocorrendo com o que denominamos de processo de deserti-ficação.

A desertificação é o processo de mo-dificação ambiental ou climática que leva à formação de uma paisagem ári-da ou desértica, ou seja, mudaríamos as

Problematizando o local:

Há problemas de erosão em sua

comunidade? Onde? Quais são as

principais causas? Como enfrentá-las e

resolvê-las?

Pesquisa local:Pesquise se há problemas de

salinização do solo e/ou água em sua

comunidade, identificando as causas desse

fenômeno.

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condições de semiaridez, intensifican-do-as de maneira não natural.

Por exemplo, os desertos naturais são formados a partir de relações ecológi-cas específicas, mas a paisagem desér-tica que a ação humana produz a partir do processo de desertificação difere-se, pois, degrada a ecologia da caatinga, in-viabilizando o desenvol- vimento de vida nela.

Enfatizamos que, na nossa região, encontram-se as áreas mais susceptíveis à desertificação, em todo o Brasil, pela predominância do clima semiárido e os demais condicionantes ambientais que já descrevemos, anteriormente, fragili-zados pelas formas de uso e de ocupa-ção humana nelas.

Ressalvamos que temos uma po-pulação considerável que habita o se-miárido, o que destaca a importância do tema, como já foi mencionado.

Estudos orientam que as regiões mais atingidas pelo processo, são estas:

- Gilbués, localizados no estado do Piauí, considerado o maior núcleo de desertificação da américa latina;

- Seridó, situado entre os estados do

Rio Grande do Norte e da paraíba;

- Irauçuba, localizado no estado do Ceará;

- Cabrobó, situado no sertão per-nambucano, apresentando 40% do seu território atingido pela desertificação;

Região em processo de desertificação

Em relação às causas da desertifica-ção no Nordeste brasileiro, devemos identificá-las e superá-las, assim, enfa-tizamos estas:

- Utilização inadequada dos recursos vegetais;

- Desmatamento;

- Práticas inadequadas de manejo do solo, como o pastoreio intenso e contí-nuo, o sobrepasto e o cultivo excessivo das terras;

- Irrigação inadequada sem as devi-das precauções quanto ao uso dos re-cursos hídricos, salinizando o solo;

- Mecanização inadequada da agri-cultura provocando a erosão dos terre-nos;

- Uso de defensivos agrícolas, extin-guindo microrganismos do solo;

Problematizando o local:

A partir das condições ambientais de seu

município, é possível perceber riscos de

desertificação nele? Como? Por quê?

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- Introdução de modelos de desen-volvimento regionais mal planejados e imediatistas;

- Problemas socioeconômicos.

5.5. Enfrentar o uso inade-quado de agrotóxicos

Devemos, também, enfrentar o uso de agrotóxicos nas atividades agrícolas, devido aos problemas de saúde que cau-sam, associados à contaminação das es-pécies cultivadas e das criadas em áreas em que se aplicam o uso de substâncias químicas, como pesticidas, herbicidas, hormônio, nas propriedades agrícolas.

Essas substâncias agem de tal modo que podem ser encontradas em alimen-tos que costumamos ingerir, tais como verduras, legumes, frutas, grãos, açúcar, café e mel, além de alimentos de origem animal, leite, ovos, carnes e frangos, que podem conter substâncias nocivas, quando, por exemplo, o gado se alimen-ta de água ou ração contaminada pelos agrotóxicos.

Esse é um problema grave, uma vez que o Brasil é um dos maiores consumi-

dores de agrotóxicos do mundo, fazen-do, assim, que as intoxicações aumen-tem entre os trabalhadores rurais que ficam, diretamente, expostos durante a aplicação dessas substâncias, como to-das as pessoas que se contaminam por meio da ingestão dos alimentos.

As consequências da ingestão de ali-mentos contaminados são estudadas na atualidade, e alguns estudos já relata-ram a presença de agrotóxicos no leite materno, o que pode causar problemas genéticos nos bebês.

5.6. Enfrentar a caça e pesca predatórias

Todas as ações humanas de que fala-mos afetam as espécies da caatinga, que correm risco de predação e extinção.

Duas outras práticas, também, pro-blemáticas para a biodiversidade da

Encontrando no local:Verifique se as causas

da desertificação apresentam-se em sua

comunidade, identificando maneiras

de enfrentá-las.

Problematizando o local:

Os agricultores de sua região utilizam

agrotóxicos? Quais? Como? Eles

conhecem os perigos do uso?

Pesquisa local:Pesquise a

existência de técnicas florestais em sua região ou a

possibilidade de aplicação delas em sua comunidade.

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6. Identificar tecnologias adequadas e viver bem no semiárido

O conhecimento sobre a caatinga, o enfretamento das problemáticas socioambien-tais, como também a busca por tecnologias adequadas para transformarmos a nossa realidade passam pelo desafio de viver bem no semiárido, objetivo que pretendemos desenvolver nesta parte dos estudos.

6.1. O que são técnicas agroflorestais?

Desde os antigos, as técnicas agroflorestais foram desenvolvidas, principalmente pelos povos indígenas e pelos camponeses em diferentes partes do mundo, por meio do amplo conhecimento da natureza local e o respeito que mantém nas suas relações com ela.

Sistema agrosilvipastoril em sobral-ce.

região, são a caça e a pesca predatórias de animais da caatinga, responsáveis pelos riscos de desaparecimento de aves, peixes, mamíferos, anfíbio e répteis que habitam o semiárido.

Pesquisa local:Pesquise alternativas que substituam o uso

de agrotóxico, verificando se já

estão sendo utilizadas em seu

município.

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Apenas, recentemente, têm desper-tado interesse da atividade científica, definindo que os sistemas agroflorestais são de grande relevância, para contri-buir com o desenvolvimento das comu-nidades rurais.

Suas técnicas têm sido utilizadas com eficácia, atendendo às necessidades de produção de alimentos para a comuni-dade e para os animais, por meio dos cultivos agrícolas, da pecuária e do ma-nejo de espécies florestais. Entre os sis-temas técnicos existentes, destacamos estes:

- Agrossilviculturais: associam es-pécies florestais com culturas agrícolas anuais ou perenes.

- Agropastoris: combinam cultivos agrícolas anuais e perenes, com plantas forrageiras e criação de animais.

- Silvipastoris: combinam árvores ou arbustos com plantas forrageiras herbá-ceas e criação de animais.

- Agrossilvipastoris: combinam culti-vos, essências florestais e criação de ani-mais, em uma mesma área ou em uma sequência temporal.

6.2. O que são barragens sub-terrâneas?

Na melhoria das nossas condições de vida, é de fundamental importância co-nhecer e implementar técnicas de cap-tação e de armazenamento de água.

Nesse sentido, as barragens subterrâ-

neas contêm o fluxo de água da chuva que escoa na superfície e no solo, por meio da implantação de uma parede transversal ao sentido do escoamento das águas.

Para isso, ocorre a escavação do ter-reno até a sua camada impermeável - popularmente, conhecida como cabeça de carneiro – e o posterior revestimento da parede escavada com uma lona plás-tica, para que ela barre o fluxo de água, favorecendo o seu acúmulo dentro do solo.

Assim, a água da chuva é acumulada lentamente, elevando o lençol freático. Dessa forma, é importante a realização de estudos para a aplicação dessa téc-nica no sentido de evitar modificações drásticas do meio, impactando de ma-neira negativa o meio ambiente.

Esquema de uma barragem subterrânea

Pesquisa local:Pesquise as

tecnologias usadas para a contenção e

armazenamento das águas em sua região,

identificando se há barragens

subterrâneas.

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6.3. O que são barragens sucessivas?

Outros tipos de barragens das águas podem ser construídas, e a forma a ser aplicada depende de cada realidade ambiental e de finalidades pretendidas. Temos, por exemplo, a barragem do tipo sucessiva.

O objetivo dessa tecnologia é a retenção dos sedimentos gerados pela erosão à mon-tante do rio, pelo mau uso do solo, evitando a degradação do curso d´água.

Essas barragens contêm os sedimentos que chegariam do rio, por meio de uma es-trutura com pedras soltas, cuidadosamente, arrumadas no formato de um arco romano deitado, inseridos na rede de drenagem de uma microbacia hidrográfica, ou seja, em pequenos cursos d´água ou riachos afluentes de um rio maior, conforme temos na fi-gura abaixo:

Visão aérea de barragens sucessivas de contenção de sedimentos- Canindé – ce

6.4. O que são cisternas de placa?

A tecnologia advinda das cisternas de placa tem mudado a vida de muitas famílias sertanejas, propiciando a dis-ponibilidade hídrica nos períodos de seca para o consumo familiar.

Cisterna de placas

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As cisternas de placa são reservató-rios de captação e de armazenagem da água da chuva, construídos por meio de placas de cimento pré-moldadas.

A armazenagem possibilita água para o consumo básico das famílias rurais residentes na região semiárida, durante o período de estiagem ou quando não há disponibilidade de água potável para o consumo residencial.

6.5. O que é o sistema de plantio direto?

Como dissemos, há diferentes téc-nicas de plantio, não devastadoras do meio ambiente local, como o plantio direto.

Nele, o cultivo das plantas é realizado sobre os resíduos vegetais das culturas anteriores ou sobre a massa verde des-secada. Dessa maneira, trabalha-se a mobilização do solo apenas na linha de plantio, dispensando, assim, alterações físicas em todo o solo, evitando o des-gaste completo dele. Além da menor in-tensidade de mobilização do solo, essa técnica o protege pelo reduzido fluxo de máquinas no terreno.

Sistema de plantio direto

6.6. Conhecendo outras ati-vidades possíveis

É importante pesquisarmos sobre as oportunidades que podemos criar a partir das condições presentes em nos-sa realidade; tanto no que diz respeito aos modelos de tecnologias adotadas na agropecuária, o que vimos nas seções anteriores, quanto conhecendo ativida-des que complementem e diversifiquem a sustentação de quem vive no campo.

Apicultura

Entre as possibilidades, destaca-mos a apicultura, considerada uma das grandes opções, principalmente, para a agricultura familiar podendo ampliar as fontes de renda, via aproveitamento da potencialidade natural do meio am-biente.

Por meio da apicultura, a arte de criar abelhas, podem-se obter diversos pro-dutos derivados do mel, como a cera, a geleia real, o própolis, o pólen, contri-

Problematizando o local:

Existem cisternas de placas em sua

comunidade? Como foram construídas?

Com quais recursos?

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buindo com o meio ambiente mediante serviços de polinização às culturas ve-getais.

A existência de importantes redes de drenagens superficiais em nosso estado, riachos, rios, lagoas, açudes, etc., Propicia o desenvolvimento da piscicultura con-tinental, que pode alcançar posição de destaque no setor aquícola nacional, con-siderando a demanda por alimentos dessa natureza.

Para isso, percebemos a possibilida-de por meio das experiências já existen-tes de criação de peixes de água doce, envolvendo organizações comunitá-rias, havendo, inclusive, a capacitação das pessoas em torno dessa atividade, a exemplo da criação de tilápias.

Criação de tilápia no castanhão-ce

A criação de aves caipira é uma das atividades agropecuárias com perfil apropriado para a agricultura familiar do semiárido.

Essa atividade faz parte da tradição de muitos produtores da região e pro-porciona a segurança alimentar de mui-tas famílias rurais, requerendo baixos investimentos, podendo gerar boa lu-cratividade, via comercialização de car-ne e de ovos.

Criação de galinhas em Mombaça-ce 6.7. Conhecendo o sistema

orgânico de produção

Como alternativa de enfrentamento ao uso de agrotóxicos sintéticos, adubos químicos, fertilizantes solúveis, hormô-nios, sulfas, aditivos de rações animais, drogas veterinárias convencionais e de-mais produtos prejudiciais à saúde de quem produz e consome produtos agrí-colas, os sistemas orgânicos têm sido

Pesquisa local:Pesquise quantas

famílias de sua comunidade criam galinha caipira em

seus quintais, quais usam para

subsistência, quais as comercializam

Pesquisa local:Pesquise onde e como a pesca é realizada em sua

comunidade. Ocorrem como

atividade econômica organizada?

Diálogo com o local:Conheça e converse com os membros de

sua família que trabalham com a

apicultura, descobrindo as suas

técnicas e os produtos dela derivados.

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valorosos.

Nesses sistemas, os métodos agropas-toris procuram equilíbrio e estabilidade com a ecologia da região, produzindo alimentos saudáveis, limpos, de altos valores nutritivos e livres de resíduos tóxicos. Neles privilegia-se a policultu-ra, inclusive a integrando à criação de animais.

Com esses princípios básicos, pode-mos identificar, para o aprofundamen-to de informações, as seguintes formas de se trabalhar os produtos orgânicos: agricultura orgânica; agricultura biodi-nâmica; agricultura natural; permacul-tura; agricultura biológica; agricultura regenerativa; e leite orgânico.

Agricultura biodinâmica

7. Conhecer alter-nativas sustentáveis para viver bem no se-miárido

Percorremos vários caminhos, co-nhecendo detalhes da nossa região, suas potencialidades naturais como também seus limites, refletindo sobre os proble-mas socioambientais presentes; indo além, conhecendo atividades e técnicas que podem transformar as nossas reali-dades para melhor.

Nesse sentido, os passos finais dessa aventura indicam modelos e projetos sociais que reforçam o grande tema aqui trabalhado “para viver bem no semiári-do”, o que pode tornar-se um lema para orientarmos nossas atitudes individuais e coletivas. Para viver bem, propomos o manejo e a conservação dos bens natu-rais, a recuperação de áreas degradadas e a educação ambiental como princípio de base para as nossas vidas.

7.1. Conhecendo práticas de manejo e de conservação

A adequação dos modelos de ativi-dades agropecuárias às exigências na-turais é fundamental para a sustentabi-lidade das gerações presentes e futuras da nossa região.

Para isso, devemos desenvolver téc-nicas de manejo e conservação dos ambientes, enfrentando as explorações degradadoras dos bens naturais, mu-dando as formas de uso e ocupação que

Encontrando no local:

Verifique experiências de

produção de alimentos orgânicos em sua localidade.

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prejudicam os recursos naturais. Algumas dessas práticas têm sido

aplicadas de maneira satisfatória no se-miárido, a saber:

Terraço de contenção: são estrutu-ras transversais construídas na declivi-dade do terreno em nível, reduzindo o escoamento superficial das águas, a ve-locidade das enxurradas e o potencial da erosão, além de aumentar a infiltra-ção de água no solo.

Terraços de contenção em Canindé-ce

Cordões de pedra em contorno: são aplicados em ambientes onde há difi-culdade de uso da mecanização agríco-la, da tração motora ou animal, devido à declividade do relevo, e onde haja disponibilidade de materiais rochosos fragmentados. São feitos com eles cor-dões de pedras em contorno, segmen-tando o declive, prática que diminui o volume e a velocidade das enxurradas, forçando a deposição de sedimentos, nas áreas em que são construídos.

Cordões de pedra em contorno

Captação in situ: é uma técnica de preparo de solo, associada à captação e ao armazenamento da água de chuva em sulcos que, construídos em curva de nível, fechados e nivelados, retêm a umidade no solo por um período mais longo, para o melhor aproveitamento pelas plantas. Além disso, diminui os efeitos erosivos, favorecendo a infiltra-ção das águas.

Sulcamento com arado

Cordões com vegetação permanente: são faixas em contorno, que intercalam à cultura principal, plantas perenes de densa massa vegetal. São adequados para pequenas e médias propriedades em áreas que não possibilitam a cons-trução de terraços, devido à declividade ou nas quais a mecanização é realizada por tração animal.

Cordões em Pentecoste-ce

7.2. Conhecendo a recom-posição das matas

Às margens dos rios e dos riachos, no entorno de lagos, represas e nascentes, existe importante cobertura vegetal que

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evita a erosão e o assoreamento dos nossos cursos d´água, por isso deve ser preserva-da. Todavia, essa vegetação, denominada de mata ciliar, encontra-se em grande parte degradada.

Desse modo, a recomposição da mata ciliar - chamada, também, de mata ripária ou mata de galeria - é baseada em fundamentos técnicos, envolvendo estudos detalhados sobre o ambiente local, visando a um melhor entendimento e compreensão dos fatos associados à flora, à fauna, ao solo e ao ecossistema em questão.

Para a recomposição da mata ciliar, deve-se elaborar um planejamento bem defini-do, considerando a microbacia hidrográfica para as intervenções adequadas, conforme parâmetros de exigências determinadas na legislação.

O processo deve ser inicia-do pelas nascentes dos cursos d’água, as quais devem ser protegidas, integralmente, recompondo ou reflorestan-do a área, estendendo-se por todo o rio, em um raio de 50 metros, controlando os pro-cessos de erosão das margens. Por isso, em todos os rios, nas suas margens, a vegetação deve ser preservada.

As espécies escolhidas, para consolidar o processo de recomposição da mata ciliar, devem ser as da região ou aquelas que se assemelham a elas.

7.3. Conhecendo a recuperação das áreas degradadas

Pelas condições ambientais, já caracterizadas na primeira parte do nosso estudo e pela pressão humana que torna vulnerável o bioma caatinga, os projetos e as práticas de recuperação das áreas degradadas são fundamentais, para, se quisermos, desenvolver nossa região de maneira responsável.

Esse desafio envolve várias etapas com estudos, planejamentos e intervenções, que prescindem da contribuição coletiva, como:

Caracterizar a vegetação: classificando-a em herbácea, arbustiva e arbórea; primária, atual; avaliar sua evolução por um período de 5 (cinco) anos, a partir da implantação do projeto;

Estudar os solos detalhando-os e monitorando seus estados, durante todo o processo;

Etapas de reflorestamento

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Implantar a área piloto apresentando uma área base de recuperação e usando as téc-nicas em outras áreas degradadas da região semiárida;

Subsidiar técnicas que melhor se adaptem ao plano de recuperação dos ambientes degradados.

Fornecer subsídios para o planejamento das atividades do setor primário, recomen-dando e dando acesso a manejos autossustentáveis, que melhorem as condições de vida da comunidade.

Antes e depois de uma área degradada na Paraíba

7.4. A educação ambiental como princípio

A educação ambiental, como princípio para viver bem no semiárido, é mais que um tipo específico de educação ou uma disciplina, momento pequeno da nossa aprendizagem.

É um projeto social mais amplo, que traduz diferentes possibilidades de reunir-mos os nossos saberes e fazeres e transformamos, coletivamente, as nossas relações sociais e ambientais cotidianas, conservando e preservando o meio ambiente, vi-sando ao bem viver coletivo, presente e futuro, como condição fundamental.

Para o nosso semiárido se tornar um princípio, extremamente, importante, é

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necessário suscitar projetos diversos, inovadores, críticos e criativos, a par-tir do envolvimento e do relaciona-mento entre estudantes, professores, moradores, representantes do poder público e dos setores da economia privada, em jornadas instigantes pe-las escolas, pelas associações, pelas empresas e pelas instituições públicas, que visem a valorizar o bioma caatin-ga e os povos sertanejos, propiciando a socialização de saberes, de maneira contextualizada, que permitam o sur-gimento e a ampliação das comunida-des que buscam atingir a sustentabili-dade de sua vida e de seu ambiente.

7.5. A estação ecológica de Aiuaba: um exemplo de pro-teção ambiental

Conheceremos, nesta parte, um exemplo de como as relações de cui-dado com o ambiente podem ocorrer a partir do trabalho com o bioma caa-tinga, na estação ecológica de Aiuaba-ce. Ela é uma das poucas áreas de ca-atinga preservadas da região nordeste e, por isso, pioneira.

Foi criada entre o final dos anos de 1970 e o início de 1980, mas, decreta-das em lei apenas em 2001.

Está situada no município de Aiuaba, região dos inhamuns, no es-tado do Ceará, ocupando uma área de 11.525 hectares.

Nela, várias espécies da fauna e da flora do sertão encontram seus habi-tats preservados, como aroeira, imbu-

rana, angico, umbuzeiro, pau-d’arco, peroba, catingueira, juazeiro e outros tipos de cactos.

Além da preservação, a estação eco-lógica de Aiuaba mantém programas educativos, entre eles, a distribuição de mudas de árvores nativas, quando são entregues milhares de mudas por ano, produzidas em canteiro próprio.

Essa distribuição é um dos exem-plos das diversas possibilidades de educação ambiental em que se esti-mula a mudança de consciência dos agricultores para a necessidade de preservar o meio ambiente, indo além da ação de plantar a árvore, ou seja, visando a que todos se tornem defen-sores da ecologia.

Construa o seu projeto de educação ambiental:

Com os colegas e os professores, reúna os saberes socializados

neste material sobre o Semiárido, a Caatinga e

a nossa cultura, para que, juntos , possamos

elaborar projetos de educação ambiental,

tendo como base a sua realidade comunitária,

as potencialidades e os problemas a serem

superados. Boa Trabalho!

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Mas a aventura continua!A nossa jornada, neste material, termina aqui, mas a aventura

apenas começou, pois esperamos que ela se estenda, ainda mais, tendo como base os diferentes projetos educativos e sociais que podem ser aplicados em sua comunidade e, quem sabe, porque isso é possível, construídos, coletivamente, a partir das discussões entre vocês.

Também desejamos que esses projetos façam parte de um plano social maior, que nos permita viver bem no semiárido, no planeta terra, valorizando o que somos e onde estamos, promovendo o equilíbrio ecológico e a sustentabilidade ambiental.

Assim, esperamos reen-contra-los, mas, desta vez, com vocês nos socializando os próprios saberes e fazeres locais, dizendo-nos, também, como aprenderam viver bem no nosso semiárido.