EDITORIAL EVENTOS CIENTÍFICOS EM 2013 - ufrgs.br · Lembro de tentativas de resgate de múmias...

5
Boletim Informativo das Pesquisas do Projeto Paleotocas Número 24 – dezembro de 2012 Responsável: Prof. Heinrich Frank Site: www.ufrgs.br/paleotocas Contato: [email protected] EDITORIAL Neste último Boletim de 2012 desejamos agradecer a todos que auxiliaram nas atividades do Projeto Paleotocas. Sem o auxílio de tanta gente não seria possível fazer tantas descobertas. Também desejamos transmitir a todos os nossos votos de final de ano. Portanto, um FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO DE 2013 ! EVENTOS CIENTÍFICOS EM 2013 Durante o ano de 2013 estão previstos, até o momento, pelos menos 40 eventos científicos no Brasil nas áreas das Ciências da Terra. A grande maioria ocorre em cidades distantes (BA, RN, etc.) e os custos acabam inviabilizando nossa participação. A lista completa de eventos está disponível para download em www.museumin.ufrgs.br/Eventos2013.pdf Entretanto, há dois eventos que nos interessam particularmente, pela proximidade e pela oportunidade de apresentar e discutir novidades a respeito das paleotocas com a comunidade geocientífica: Simpósio Sul-Brasileiro de Geologia (julho em Porto Alegre) e o 23º Congresso Brasileiro de Paleontologia (outubro em Gramado). Serão duas oportunidades em que as novidades a respeito das paleotocas poderão ser apresentadas e discutidas com a comunidade geocientífica. Além destes eventos, ainda há a IX Jornada de Iniciação Científica FZB-FEPAM e as Reuniões PALEO de final de ano. NOTA DE FALECIMENTO É com grande pesar que comunicamos o falecimento de Livio Incastaciato, nosso grande amigo, presidente do Centro Espeleologico Uruguayo Mario Isola – CEUMI. Livio faleceu em 14 de novembro pp., em Salto (Uruguai), aos 76 anos, pouco depois da realização do IV Encuentro Uruguayo de Espeleogia. Livio foi “um grande lutador com um enorme coração que dedicou sua vida ao estudo das cavernas, sua grande paixão de sempre”. Leia mais no site: http://www.redcamelot.com/ceumi_uruguay/

Transcript of EDITORIAL EVENTOS CIENTÍFICOS EM 2013 - ufrgs.br · Lembro de tentativas de resgate de múmias...

Boletim Informativo das Pesquisas do Projeto Paleotocas

Número 24 – dezembro de 2012

Responsável: Prof. Heinrich Frank Site: www.ufrgs.br/paleotocas

Contato: [email protected]

EDITORIAL

Neste último Boletim de 2012

desejamos agradecer a todos que

auxiliaram nas atividades do Projeto

Paleotocas. Sem o auxílio de tanta gente

não seria possível fazer tantas

descobertas. Também desejamos

transmitir a todos os nossos votos de

final de ano. Portanto, um

FELIZ NATAL E UM

PRÓSPERO ANO DE 2013 !

EVENTOS CIENTÍFICOS

EM 2013

Durante o ano de 2013 estão previstos,

até o momento, pelos menos 40 eventos

científicos no Brasil nas áreas das Ciências da

Terra. A grande maioria ocorre em cidades

distantes (BA, RN, etc.) e os custos acabam

inviabilizando nossa participação. A lista

completa de eventos está disponível para

download em www.museumin.ufrgs.br/Eventos2013.pdf

Entretanto, há dois eventos que nos

interessam particularmente, pela proximidade e

pela oportunidade de apresentar e discutir

novidades a respeito das paleotocas com a

comunidade geocientífica:

8º Simpósio Sul-Brasileiro de

Geologia (julho em Porto Alegre) e o

23º Congresso Brasileiro de

Paleontologia (outubro em Gramado).

Serão duas oportunidades em que as

novidades a respeito das paleotocas poderão

ser apresentadas e discutidas com a

comunidade geocientífica. Além destes

eventos, ainda há a IX Jornada de Iniciação

Científica FZB-FEPAM e as Reuniões PALEO

de final de ano.

NOTA DE FALECIMENTO

É com grande pesar que

comunicamos o falecimento de Livio

Incastaciato, nosso grande amigo,

presidente do Centro Espeleologico

Uruguayo Mario Isola – CEUMI.

Livio faleceu em 14 de

novembro pp., em Salto (Uruguai), aos

76 anos, pouco depois da realização do

IV Encuentro Uruguayo de Espeleogia.

Livio foi “um grande lutador com um

enorme coração que dedicou sua vida ao

estudo das cavernas, sua grande paixão

de sempre”. Leia mais no site:

http://www.redcamelot.com/ceumi_uruguay/

E SE ENCONTRARMOS ?

O conhecido paleontólogo Prof. Dr. César Schultz, da Universidade Federal do Rio Grande

do Sul, já comentou conosco em certa oportunidade que “um dia vocês vão achar os ossos dos

bichos dentro de uma das paleotocas”. Continuando a pesquisa, entrando em paleotocas cada vez

menos conhecidas, é possível que a gente encontre realmente o esqueleto de um dos animais que

escavaram as paleotocas. Particularmente, acredito que será um esqueleto de preguiça gigante. E se

encontrarmos, o que faremos ?

Um recente episódio no Paraguai mostra os problemas que podem ocorrer. Entre muitos

outros fósseis, encontraram em uma caverna em rocha calcária o esqueleto completo de uma

preguiça gigante. Os ossos já estavam sendo preparados para remoção quando a população se

mobilizou, a retirada foi suspensa e só retomada quando houve um acordo entre paleontólogos,

governo e população. Mas neste intervalo o esqueleto foi roubado. Mais detalhes do episódio no

Boletim da Sociedade Brasileira de Espeleologia, no seguinte endereço eletrônico:

http://www.cavernas.org.br/sbenoticias/SBENoticias_243.pdf .

Em outras situações, em outros locais do mundo, a divulgação de determinado achado

também trouxe problemas. Normalmente o mais aconselhável é não divulgar absolutamente

nada até que a situação esteja sob controle. Lembro de dois episódios em que esta precaução

muito provavelmente salvou os achados: dentro de uma mina de sal na Alemanha foi encontrada

uma grande caverna contendo cubos de sal com até um metro de aresta, cristalizados nas paredes.

Os mineiros não contaram nada a ninguém, fecharam o acesso à caverna e só divulgaram o achado

depois da queda do Muro de Berlim. Hoje a caverna é visitável, com acesso controlado e tal. Em

outra oportunidade, no Texas, um grupo de espeleólogos encontrou dentro de uma caverna um “rio”

de calcita branca cristalizada com 4 km de comprimento, que é o maior espeleotema do mundo. A

descoberta só foi tornada pública vários anos mais tarde, depois de tomadas todas as precauções

para evitar o acesso de vândalos.

Além disso, ossos dentro de uma paleotoca podem representar um enorme problema,

pois muito provavelmente não estão fossilizados (petrificados), apenas conservados. Nestas

condições, os ossos são extremamente frágeis e podem simplesmente desintegrar-se ao mais leve

toque. Lembro de tentativas de resgate de múmias incas encontradas em topos de montanhas nos

Andes: os ossos se desmancham à menor tentativa de remoção. O mesmo aconteceu em muitos

sítios arqueológicos do Sul do Brasil: quando os arqueólogos tocavam nos ossos dos índios ali

enterrados, os ossos simplesmente se desintegravam. Portanto, ossos são um problema e exigem

uma operação especial para sua avaliação e eventual resgate.

PALEOTOCAS em EVENTO CIENTÍFICO no URUGUAI

Em setembro recebemos um convite do Presidente do Centro Espeleologico do Uruguay

Mario Isola, o Arq. Livio, de apresentar um trabalho no 4º Encuentro Uruguayo de Espelología,

que transcorreu em outubro. Como nos anos anteriores, o Geól. Rafael Ogando revisou e apresentou

o trabalho. O trabalho tem por título “As paleotocas Cenozóicas e seu potencial para investigações

arqueológicas: dois exemplos do Sul do Brasil” e discute duas paleotocas com arte rupestre em suas

paredes. O Resumo e a Apresentação estão disponíveis para download em

www.ufrgs.br/Paleotocas/Producao.htm

PALEOTOCAS em EVENTO CIENTÍFICO em PORTO ALEGRE

Este ano houve mais uma edição do CIGEO, que é a Câmara de Iniciação Científica, uma

iniciativa do Centro Acadêmico dos Estudantes de Geologia - CAEG, do Instituto de Geociências

da UFRGS. Comparecemos ao evento para apresentar quatro trabalhos, que estão disponíveis no

site do Projeto, em www.ufrgs.br/Paleotocas/Producao.htm . Foi uma ótima oportunidade de

divulgar e discutir mais achados em relação às paleotocas.

PALEOTOCAS em EVENTO CIENTÍFICO em SÃO PAULO

Outro trabalho sobre paleotocas será apresentado na Reunião PALEO-SP de Ribeirão

Preto, em São Paulo, entre 13 e 14 de dezembro próximo. O trabalho apresenta as gigantescas

paleotocas escavadas em minério de ferro em Minas Gerais. São salões com 10 a 40 metros de

comprimento, 5 a 10 metros de largura e 2 a 4 metros de altura. As paredes dos salões estão

cobertas por marcas de garra formando duplas. O tamanho dos salões sugere que foram escavadas

por preguiças gigantes e que as preguiças tinham hábitos gregários, ou seja, formavam grupos.

Uma enorme paleotoca muito destruída

Durante o feriado de 15 de novembro pp., visitamos mais uma vez a Gruta dos Índios, em

Vale Real (RS). Contando com o apoio do Sr. José que reside nas proximidades e devidamente

autorizados pelo proprietário da área, Sr. Luís Massochini, formamos dois grupos na caverna. Um

grupo, utilizando um teodolito, realizou um levantamento topográfico planimétrico, visando

desenhar uma planta baixa da caverna. Geologicamente, a caverna é muito interessante, já que neste

tipo de rocha (arenito Botucatu) não se formam cavidades naturalmente. Como não há sinais de

águas subterrâneas que possam ter formado a caverna, ela deve ter sido escavada. Os indígenas

brasileiros, por outro lado, certamente não foram os escavadores, visto que não dispunham das

ferramentas metálicas indispensáveis para escavar cavernas neste tipo de rocha. As formações

minerais brancas que ainda existem em algumas das paredes da caverna mostram que ela

certamente tem mais de 10.000 anos de idade. O mapa assim obtido mostra uma cavidade muito

irregular, com várias feições que podem ser interpretadas como câmaras. Recentemente houve

escavações na caverna feitas por caçadores de tesouros que modificaram algumas das feições e

encheram de areia o pequeno poço de água potável que havia na caverna.

Planta baixa da caverna. A entrada está em baixo. A escala à direita em

baixo é de 5 metros.

O grupo que trabalhou na caverna era formado por 9 pessoas.

Uma equipe fazendo a topografia da caverna

O outro grupo procedeu a uma investigação das inscrições deixadas pelos visitantes nas

paredes da caverna. O método foi o do perímetro, avaliando metro a metro os 165 metros de

paredes da caverna. Foram constatadas mais de 2.600 inscrições nas paredes, um registro de intensa

visitação da caverna. As datas mais antigas referem-se a 1891, com muitas datas ao redor de 1914 e

outras ao redor de 1930, evidenciando uma visitação por mais de 120 anos. Entre as inscrições

antigas há uma em francês e duas em alemão gótico, além de muitas artisticamente gravadas na

rocha, com enfeites como flores e palmeiras. Entre os episódios históricos, está gravada a visita dos

Construtores da Ponte do Arroio do Ouro em 1930 e a visita da Comissão da Escola do Arroio do

Ouro em 1935, entre outros. Dezenas de nomes completos permitem identificar muitos dos

visitantes da caverna, como Leopoldo Berwanger (de 1902), Fredolino Zimmer (de 1904),

Marichen Wickert (de 1916), Leopoldo Ruschel (de 1916), Matilde Zimmer (de 1917) e Jacob

Schmitt, que visitou a caverna em 1897.

São registros extremamente interessantes, que tornam a caverna um patrimônio histórico

desta região. A caverna é tão interessante que alguns resultados desta pesquisa já foram

apresentados na CIGEO na UFRGS neste final de novembro. A equipe voltará à caverna em breve

para completar a pesquisa, a fim de publicar os resultados mais tarde em uma revista científica.

Nesta caverna não há nenhum sinal de água corrente que possa ter escavado a caverna. Para

explicar a origem da caverna, com mais de 300 metros cúbicos de volume, estamos usando as

feições elipsoidais que lembram câmaras e que estão preservadas em alguns pontos da caverna.

Estas feições, bem como a ausência de indícios de escavação pelo Homem, sugerem que a caverna

era uma enorme paleotoca que passou por episódios de afogamento, entupimento das entradas,

desabamento do teto e escavação do piso por caçadores de tesouros. Mas, inicialmente, foi uma

paleotoca escavada por preguiças gigantes da Megafauna. Até prova em contrário.

Obrigado pela leitura.

Equipe fazendo o levantamento dos grafismos nas paredes, na mais completa escuridão e se esgueirando por todos os cantos da caverna.

Grafismo artístico deixado pela visitante Marichen Wickert em 12 de novembro de 1916.