EDITORIAL A Raia e o Iberismo do Séc · mento vai para além do meio milhão de euros, ... mais um...

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2 ALTO DA RAIA Alto da Raia FICHA TÉCNICA Director: Manuel Alcino Fernandes; Colaboradores: Luís Queirós; Hélio Bernardo Lopes; Jorge Carvalheira; António Lourenço André; João Borges Vieira; José Manuel F. Gonçalves; Carlos Barroco Esperança; Paulo J. Brito e Abreu; Domingos Lopes Cerqueira e Laura Brás Ramos. Fotografia: Samuel Fernandes; Paginação: Paulo Canelas - Casa Véritas - Guarda (Tel. 271 222 105); Impressão: Fábrica da Igreja Paroquial de S. Miguel da Sé. Tiragem: 1000 exemplares; Periodicidade: Bimestral; Depósito Legal: Nº. 107036/97; e-mail: [email protected]; Propriedade: Centro Social do Rio Seco * Largo da Capela Nº. 3 - 6355-160 S. Pedro de Rio Seco * Tel. 271 513 369 | 271 511 054 * NIB da conta corrente: 0035 0360 0006 1414 23044; * e-mail: [email protected] Actualidade Alguns municípios desta região apresentarem no outro dia, à Assembleia da República, um conjunto de propostas para adopção de medidas excepcionais que impeçam o êxodo e o crescente despovoamento do In- terior. Este «Movimento» autárquico foi ao encontro das medidas igualmente preconizadas pelo Governo, para inverter o abandono e a depressão económica e social das regiões de baixa densidade populacional. Mas o que há de substantivo, por parte do Governo, nestas propos- tas de «valorização do Interior»? Boas intenções à parte, o Terreiro do Paço dificil- EDITORIAL A Raia e o Iberismo do Séc.XXI mente criará as condições necessárias para desbloquear as áreas periféricas do país, em particular a nossa região. No máximo, a Administração Central tomará algumas medidas aleatórias que corrijam disparidades há muito manifestas. O rótulo de «valorização do Interior» não passa de uma estratégia comunicacional que visa, so- bretudo, travar um eventual projecto de ordenamento do território que se oponha, assumidamente, às disse- melhanças existentes entre o Litoral e o Interior do nosso país. Mas sem prejuízo de episódicos «milagres» de São Bento, não resta a quem ficou senão reivindicar o que é justo exigir para a nossa região. Doutro modo, e de- pois do falhanço da polémica regionalização, Lisboa não poderá atender aos efeitos devastadores que o ostracis- mo de anos a fio legou aos territórios do Interior, pro- curando reduzir, paulatinamente, assimetrias incompa- tíveis com quatro décadas de democracia em Portugal. A raia, enquanto território periférico e de escasso peso eleitoral, conhece bem as consequências dessa interio- ridade. Repare-se, por exemplo, no estudo da Federa- ção Espanhola de Municípios, divulgado há poucos meses, onde deparamos com idêntico cenário em maté- ria de desertificação dos povos vizinhos espanhóis. Naquele documento, pode ler-se que só 8% das povo- ações do mundo rural daquele país estão a salvo de extinção, a medio prazo, sem necessidade de tomar medidas excepcionais. Este retrocesso demográfico é «Antes ou depois, teremos que enfrentar o ordenamento do ter- ritório à escala ibérica e, com maior urgência, problemas de ordenamento transfronteiriço» particularmente constatável na província de Salaman- ca, onde o universo populacional não ultrapassa os 335 mil habitantes. De acordo com o mencionado estudo, na região Sa- lamantina existem 75 povoações com menos de 100 re- sidentes, panorama de iminente risco a curto prazo, e 300 localidades que não atingem os 500 habitantes, quadro que representa 84% desta província que limita com a fronteira portuguesa. Na raia, os municípios de Alameda de Gardón, Vilar de Argañan, Puerto Seguro e Bouça têm menos de 100 moradores e Aldea del Obispo, Vilar de Ciervo, Vilar de la Égua e Gallegos de Argañan situam-se, presentemente, entre os 200 e os 300 residentes. A debilidade competitiva desta franja fronteiriça his- pano-portuguesa, é claramente notória quando compa- rada com o resto da península ibérica. A este propósito, Valentin Cabero Diéguez escreveu em Iberografias: «os novos tempos exigem uma união de esforços entre Es- panha e Portugal para corrigir os desequilíbrios dos seus territórios, contribuindo para uma nova centralidade europeia na Península, de acordo com o seu esquema de desenvolvimento de um espaço policêntrico e equilibra- do. Antes ou depois, teremos que enfrentar, espanhóis e portugueses, o ordenamento do território à escala ibé- rica e, com maior urgência, problemas de ordenamento transfronteiriço. Este é um dos reptos mais difíceis do iberismo do séc. XXI». Manuel Alcino Fernandes Requalificação da Torre de Almofala A Torre de Almofala ou a Torre das Águias, como também é conhecida, teve «finalmente» o aval da Di- reção Regional da Cultura do Centro e financiamento comunitário para a realiza- ção das obras de requalifi- cação. Segundo o presiden- te da Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodri- go, o antigo templo romano, que na Idade Média foi con- vertido em atalaia, estava para ser requalificado «há mais de 16 anos». Paulo Langrouva disse à agência Lusa que «as obras já começaram e o investi- mento vai para além do meio milhão de euros, com um financiamento comunitário da ordem dos 400 mil eu- ros». A intervenção neste «monumento nacional com um um valor histórico e patrimonial incalculável», é considerada pelo autarca como «um marco importan- te, também, naquilo que será a oferta turística do conce- lho de Figueira de Castelo Rodrigo. Quando a obra estiver concretizada, trará benefícios acrescidos para o município», admitiu. Sobre as obras em curso, o responsável esclareceu que são minuciosas e estão a ser acompanhadas em perma- nência por uma equipa de arqueólogos. Após a requa- lificação do monumento, a autarquia presidida por Pau- lo Langrouva avançará com a construção de um Centro Interpretativo para acolhi- mento, receção e informação dos visitantes. Está ainda planeada uma intervenção relacionada com a melhoria das acessibilidades ao local. O futuro Centro Inter- pretativo da Torre de Almo- fala, que terá uma aposta forte nas novas tecnologias, deverá estar construído no início do próximo ano, vati- cina o autarca. Segundo o Município de Figueira de Castelo Rodrigo, em antigas escavações arqueológicas realizadas junto deste mo- numento foi encontrada uma Ara votiva do Casarão da Torre, que apresenta a inscrição «CIVITAS CO- BELCORVM». Pode en- tender-se como uma refe- rência à capital dos Cobel- cos, um povo de que não havia referência. O achado, que foi colocado em expo- sição na escadaria dos Paços do concelho do Município, leva a supor que terá existi- do no local uma povoação de certa importância. O arqueólogo António Ferreira refere que na epí- grafe pode ler-se a seguinte inscrição: IOVI… OPTV- MO / MAXVMO / CIVI- TAS / COBELCORVM, que se pode traduzir como «Júpiter Óptimo Máximo – a cidade dos Cobelcos». Este altar com cerca de 2000 anos e dedicado ao Deus Júpiter não só confirmou estarmos na presença de um templo romano como «afir- mou», inequivocamente, tratar-se de uma antiga Ci- «As obras já começaram e o in- vestimento ultrapassa o meio mi- lhão de euros, com um financia- mento comunitário da ordem dos 400 mil euros» dade Romana, sendo esta a capital administrativa e re- ligiosa da época romana nesta região. Civitas Cobel- corum era o nome desta importante cidade, localiza- da naquele pequeno cabeço aplanado junto à actual Bar- ragem de Santa Maria de Aguiar.

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22222ALTO DA RAIA

Alto da RaiaFICHA TÉCNICA

Director: Manuel Alcino Fernandes; Colaboradores: Luís Queirós; Hélio Bernardo Lopes; Jorge Carvalheira; António Lourenço André; João Borges Vieira; José ManuelF. Gonçalves; Carlos Barroco Esperança; Paulo J. Brito e Abreu; Domingos Lopes Cerqueira e Laura Brás Ramos. Fotografia: Samuel Fernandes; Paginação: Paulo Canelas- Casa Véritas - Guarda (Tel. 271 222 105); Impressão: Fábrica da Igreja Paroquial de S. Miguel da Sé. Tiragem: 1000 exemplares; Periodicidade: Bimestral; DepósitoLegal: Nº. 107036/97; e-mail: [email protected]; Propriedade: Centro Social do Rio Seco * Largo da Capela Nº. 3 - 6355-160 S. Pedro de Rio Seco * Tel. 271 513369 | 271 511 054 * NIB da conta corrente: 0035 0360 0006 1414 23044; * e-mail: [email protected]

Actualidade

Alguns municípios desta região apresentarem nooutro dia, à Assembleia da República, um conjunto depropostas para adopção de medidas excepcionais queimpeçam o êxodo e o crescente despovoamento do In-terior. Este «Movimento» autárquico foi ao encontro dasmedidas igualmente preconizadas pelo Governo, parainverter o abandono e a depressão económica e socialdas regiões de baixa densidade populacional. Mas o quehá de substantivo, por parte do Governo, nestas propos-tas de «valorização do Interior»?

Boas intenções à parte, o Terreiro do Paço dificil-

EDITORIAL

A Raia e o Iberismo do Séc.XXImente criará as condições necessárias para desbloquearas áreas periféricas do país, em particular a nossa região.No máximo, a Administração Central tomará algumasmedidas aleatórias que corrijam disparidades há muitomanifestas. O rótulo de «valorização do Interior» nãopassa de uma estratégia comunicacional que visa, so-bretudo, travar um eventual projecto de ordenamentodo território que se oponha, assumidamente, às disse-melhanças existentes entre o Litoral e o Interior do nossopaís.

Mas sem prejuízo de episódicos «milagres» de SãoBento, não resta a quem ficou senão reivindicar o queé justo exigir para a nossa região. Doutro modo, e de-pois do falhanço da polémica regionalização, Lisboa nãopoderá atender aos efeitos devastadores que o ostracis-mo de anos a fio legou aos territórios do Interior, pro-curando reduzir, paulatinamente, assimetrias incompa-tíveis com quatro décadas de democracia em Portugal.

A raia, enquanto território periférico e de escasso pesoeleitoral, conhece bem as consequências dessa interio-ridade. Repare-se, por exemplo, no estudo da Federa-ção Espanhola de Municípios, divulgado há poucosmeses, onde deparamos com idêntico cenário em maté-ria de desertificação dos povos vizinhos espanhóis.Naquele documento, pode ler-se que só 8% das povo-ações do mundo rural daquele país estão a salvo deextinção, a medio prazo, sem necessidade de tomarmedidas excepcionais. Este retrocesso demográfico é

«Antes ou depois, teremos queenfrentar o ordenamento do ter-

ritório à escala ibérica e, commaior urgência, problemas de

ordenamento transfronteiriço»

particularmente constatável na província de Salaman-ca, onde o universo populacional não ultrapassa os 335mil habitantes.

De acordo com o mencionado estudo, na região Sa-lamantina existem 75 povoações com menos de 100 re-sidentes, panorama de iminente risco a curto prazo, e300 localidades que não atingem os 500 habitantes,quadro que representa 84% desta província que limitacom a fronteira portuguesa. Na raia, os municípios deAlameda de Gardón, Vilar de Argañan, Puerto Seguroe Bouça têm menos de 100 moradores e Aldea delObispo, Vilar de Ciervo, Vilar de la Égua e Gallegos deArgañan situam-se, presentemente, entre os 200 e os 300residentes.

A debilidade competitiva desta franja fronteiriça his-pano-portuguesa, é claramente notória quando compa-rada com o resto da península ibérica. A este propósito,Valentin Cabero Diéguez escreveu em Iberografias: «osnovos tempos exigem uma união de esforços entre Es-panha e Portugal para corrigir os desequilíbrios dos seusterritórios, contribuindo para uma nova centralidadeeuropeia na Península, de acordo com o seu esquema dedesenvolvimento de um espaço policêntrico e equilibra-do. Antes ou depois, teremos que enfrentar, espanhóise portugueses, o ordenamento do território à escala ibé-rica e, com maior urgência, problemas de ordenamentotransfronteiriço. Este é um dos reptos mais difíceis doiberismo do séc. XXI».

Manuel Alcino Fernandes

Requalificação da Torre de AlmofalaA Torre de Almofala ou

a Torre das Águias, comotambém é conhecida, teve«finalmente» o aval da Di-reção Regional da Culturado Centro e financiamentocomunitário para a realiza-ção das obras de requalifi-cação. Segundo o presiden-te da Câmara Municipal deFigueira de Castelo Rodri-go, o antigo templo romano,que na Idade Média foi con-vertido em atalaia, estavapara ser requalificado «hámais de 16 anos».

Paulo Langrouva disse àagência Lusa que «as obrasjá começaram e o investi-mento vai para além do meiomilhão de euros, com umfinanciamento comunitárioda ordem dos 400 mil eu-ros». A intervenção neste«monumento nacional comum um valor histórico epatrimonial incalculável», éconsiderada pelo autarcacomo «um marco importan-te, também, naquilo que será

a oferta turística do conce-lho de Figueira de CasteloRodrigo. Quando a obraestiver concretizada, trarábenefícios acrescidos para omunicípio», admitiu.

Sobre as obras em curso,o responsável esclareceu quesão minuciosas e estão a seracompanhadas em perma-nência por uma equipa dearqueólogos. Após a requa-lificação do monumento, aautarquia presidida por Pau-lo Langrouva avançará coma construção de um CentroInterpretativo para acolhi-mento, receção e informaçãodos visitantes. Está aindaplaneada uma intervençãorelacionada com a melhoriadas acessibilidades ao local.

O futuro Centro Inter-pretativo da Torre de Almo-fala, que terá uma apostaforte nas novas tecnologias,deverá estar construído noinício do próximo ano, vati-cina o autarca. Segundo oMunicípio de Figueira deCastelo Rodrigo, em antigasescavações arqueológicasrealizadas junto deste mo-numento foi encontradauma Ara votiva do Casarãoda Torre, que apresenta ainscrição «CIVITAS CO-BELCORVM». Pode en-tender-se como uma refe-rência à capital dos Cobel-cos, um povo de que nãohavia referência. O achado,que foi colocado em expo-sição na escadaria dos Paços

do concelho do Município,leva a supor que terá existi-do no local uma povoaçãode certa importância.

O arqueólogo AntónioFerreira refere que na epí-grafe pode ler-se a seguinteinscrição: IOVI… OPTV-MO / MAXVMO / CIVI-TAS / COBELCORVM,

que se pode traduzir como«Júpiter Óptimo Máximo –a cidade dos Cobelcos».Este altar com cerca de 2000anos e dedicado ao DeusJúpiter não só confirmouestarmos na presença de umtemplo romano como «afir-mou», inequivocamente,tratar-se de uma antiga Ci-

«As obras já começaram e o in-vestimento ultrapassa o meio mi-lhão de euros, com um financia-

mento comunitário da ordem dos400 mil euros»

dade Romana, sendo esta acapital administrativa e re-ligiosa da época romananesta região. Civitas Cobel-corum era o nome destaimportante cidade, localiza-da naquele pequeno cabeçoaplanado junto à actual Bar-ragem de Santa Maria deAguiar.

33333ALTO DA RAIAGeral

Foi com um sentimento de tris-teza, mitigado pela satisfação documprimento de um dever, que, nopassado dia 16 de junho, pelas 15horas, me reuni com um pequenogrupo de dez pessoas,  na Casa doQuartel, em S. Pedro do Rio Seco,para oficializar o fim da Associa-ção Rio Vivo. Quando, no verão de2009, no lagar do Ti Norberto, osseis fundadores - eu, a Paula, oManuel Alcino, o António André,o Amândio Caldeira e o Jorge Car-valheira-, assinaram uma bela ebem intencionada carta de princí-pios, fizeram-no movidos peloimpulso de quem não aceita vermorrer aquilo que se ama. 

Durante a curta vida da associ-ação muita coisa se fez.  Recupe-rou-se o edifício da sede no antigoquartel da Guarda Fiscal, cedidopela Junta de Freguesia, vieramdezenas de jovens animar a aldeia,tentou-se introduzir uma nova for-ma de cultivar a terra, criou-se ummercado de produtos locais, espa-lhou-se arte pelas ruas, dançou-sena igreja, fizeram-se cursose workshops na velha escola, to-cou-se concertina em alegres arru-adas de adega em adega. No verãode 2011, recebemos gente impor-tante para homenagear o nossoconterrâneo, professor EduardoLourenço, e oferecemos à aldeia

Dissolução da Associação Rio Vivo

um singelo monumento evocativodo evento. Fizeram-se projetos etentativas de  recuperar ruínas. E,animados pelo espírito românticoe ecologista do Amândio Caldei-ra, até tentámos reintroduzir o me-xilhão de água doce na Ribeira deToirões. Com o nascimento do fi-lho da Caetana e do Zé Lambuça,o Zacarias, assistimos, em terras degente envelhecida, ao improvávelmilagre da renovação da vida.

Eu e a minha família investi-mos neste projeto tempo, algum di-nheiro e muita energia. Pessoal-mente, não me arrependo de nada,e até lamento não ter podido irainda mais longe. Apesar de saber,hoje, que tudo não passou de umailusão. Quando faltam as pessoasunidas por interesses comuns, es-gota-se a razão de ser das associ-ações pois elas são feitas de pes-

Luís Queirós

«Outro tempo virá. Que o exemplo da Associação Rio Vivosirva para ajudar os vindouros a construir um futuro melhor»

soas e para as pessoas. Em S. Pe-dro começam a escassear as duascoisas: há cada vez menos pesso-as e não existe um objetivo que asagregue para a construção do fu-turo.

Com o desaparecimento daAssociação Rio Vivo, é tambémuma parte de S. Pedro que desapa-rece. A lição que me fica destaexperiência é que pouco se pode

fazer para contrariar o progresso eo determinismo das mudanças queafetam sociedades e civilizações.Sei, agora, que nada voltará a sercom era antes. Não haverá maisgarotos descalços a correr as ruase a jogar à chona ou ao pica-chão,nem moços e moças dançando aosom das concertinas. Não haverámais matanças do porco no outo-no, nem bodas fartas nas primave-ras, nem fatos domingueiros nos

dias de festa. Acabou a dureza davida no campo quando a ceifa, adebulha e a trilha se faziam com oesforço dos homens e dos animais.

Mas, outro tempo virá. Sobreos escombros do tempo antigo, iráiniciar-se um novo ciclo, talvezuma nova forma de povoamento.Que o exemplo da Associação RioVivo sirva para ajudar os vindou-ros a construir um futuro melhor.

A vida política, indubitavel-mente, constitui-se numa autênti-ca peça de teatro. Uma peça repletade personagens que se vão suceden-do em regime de multiplicidademuito variada, com luzes e som-bras, e onde, de um modo muitogeral, nada é como se enuncia oumesmo como parece. É o grande ehistórico teatro da política.Todaesta peça se desenrola em torno deinteresses não confessados. O gran-de objetivo é conseguir vencer,sobretudo, parecendo conseguir-setal à luz de regras estabelecidassegundo princípios universalmen-te tomados como aceites. O quedepois se desenvolve por detrás dascenas visíveis, simplesmente nãoexiste. E quando se vem, um dia, asaber que até existiu, já só tem im-portância para os cultores da His-tória.

Acontece, todavia, que boaparte das miragens ao redor daspeças teatrais assim apresentadaspode bem ser percebida por muitagente, mas este conhecimento só setorna importante se for mostradoatravés dos grandes meios de comu-nicação social. E porque as coisas

ANÁLISE

O Teatro da Políticasão realmente assim, os produtoresdestas peças de teatro político aca-baram por montar estruturas dedominação dessa tal grande comu-nicação social.Ora, esta realidadepôde agora ser vista por todo omundo com a farsa levada à cenapor certo jornalista russo a viver naUcrânia.

Este caso do tal jornalista rus-so é interessante e deveras sintomá-tico: a historieta nunca existiu, ape-nas uma montagem, agora explica-da como se destinando a denunciaro que iria ter lugar!! Muito sincera-mente, custa-me acreditar que al-guém, minimamente inteligente,consiga acreditar, no seu íntimo, natal realidade ora apontada pelo far-sante. O leitor tem hoje aqui, nestafarsa confessa, uma explicação parao embuste do caso Skripal, clara-mente uma montagem do serviçosecreto do Reino Unido, destinadoa pôr em causa a imagem públicade Vladimir Putin, que desde sem-pre se determinou a defender a suaRússia e o seu povo, sem se deixarsubjugar à prepotência dos EstadosUnidos. Com Obama ou comTrump.

Com um pouco de atenção, oleitor também perceberá que tudoisto tem lugar quando se divulgaagora o relatório holandês do vooMH17. Objetivamente é fruta emdemasia, como usa dizer-se...Como refere um comunicado rus-so – é a verdade –, nenhuma provade qualquer tipo foi apresentada,apenas um vídeo muito chamativo,filmado com base em dados pré-fabricados pelos videobloggers daagência Bellingcat, que anterior-mente haviam sido acusados demanipular dados em apoio à versãoda implicação russa na queda daaeronave. Porém, repetido à exaus-tão na grande comunicação socialocidental, hoje claramente domina-da pela grande estratégia dos Esta-dos Unidos, as grandes massas,mesmo se desinteressadas do tema,lá vão guardando no subconscien-te uma reserva contra Putin e con-tra a Rússia.

Finalmente, o caso dos sinto-mas surgidos em diplomatas nor-te-americanos, primeiro em Cuba,agora na China. Ao mesmo tempo,o Canadá refere uma dezena decasos deste tipo. Sem estranheza

para mim, terá surgido alguém li-gado às autoridades norte-america-nas a referir, em privado, que nãose pode relacionar o incidente naChina com o que aconteceu emHavana, embora se estejam a estu-dar todas as possibilidades... Por-tanto, que pensar?

Tenho, para este caso, uma hi-pótese explicativa, que se liga, pre-cisamente, com o teatro da políti-ca. Os Estados Unidos, objetiva-mente, estão à procura de uma ra-zão que possa justificar uma guer-ra – nuclear, claro está – contra aChina e contra a Rússia. Com esta,lá se vêm fabricando os casos maisdiversos ao redor de um VladimirPutin que se vai vendendo como umverdadeiro Satanás. Mas contra aChina ainda falta um bom caminho.Ora, é essencial criar uma históriaque possa ser vendida no planointernacional. Estes casos de Hava-na e da China são duas peças destepuzzle, agora a ser montado.

O interessante, no meio de todaesta realidade, é o completo alhea-mento da União Europeia e dos seusEstados, cada um só pensando nos

seus interesses (materiais) e sem-pre subordinados à tal grande estra-tégia dos Estados Unidos. Infeliz-mente, os políticos europeus, de ummodo muito geral, pensaram aoinvés do que em tempos expliqueiao meu saudoso amigo Luís PauloTomé do Val: se se virem perdidoseconomicamente, com bases e es-quadras por todo o Planeta, os Es-tados Unidos irão para a guerra, senecessário com armas nucleares.Há muito se tornaram os donos domundo, como tão bem no-lo mos-tra o caso dos massacres israelitassobre palestinianos, ou a completainutilidade da ação de AntónioGuterres à frente da Organizaçãodas Nações Unidas. É o histórico eomnipresente teatro da política.

«Os Estados Unidos estão à procura de uma razão que possa justi-ficar uma guerra contra a China e contra a Rússia. E é essencialcriar uma história que possa ser vendida no plano internacional»

Hélio Bernardo Lopes

44444ALTO DA RAIA Geral

Almeida voltou a serpalco de actividades cultu-rais, concertos, exposições,jogos tradicionais e gastro-nomia, para assinalar oFeriado Municipal de 02 deJulho.

As Comemoraçõesabriram no sábado, dia 30,com Hipismo – Concursode Saltos Nacional C, noBaluarte de S. Francisco,uma arruada com os saxo-fonistas «Tintus BrassBand» e um Concerto comJoão Pedro Pais, na PraçaDr. Casimiro Matias.

No domingo, a par dediversas actividades per-manentes, destaque para oconcerto da Banda Filar-mónica da Malhada Sordae, na segunda-feira, dia 02de Julho, para a visita gui-ada no Centro Histórico deAlmeida.

O Espectáculo de Dan-ça «Ecos do Côa», tambémprevisto para este dia, nãose realizou, devido a máscondições atmosféricas.Trata-se de um projecto/

ALMEIDA

Vila ComemorouFeriado Municipal

Cultura em Rede das Beirase Serra da Estrela, que pre-tende constituir uma redecultural entre os 15 Muni-cípios da CIMBSE, vocaci-onada para a promoçãocultural deste território. Oprojeto assenta em três áre-as artísticas: dança, teatro emúsica.

Ainda no contexto dadivulgação do patrimóniode Almeida, o Centro deEstudos de ArquitecturaMilitar (CEAMA), tem vin-do a disponibilizar os seusserviços para oferecer aopúblico interessado activi-

dades como «Um olhar di-ferente», através de materi-ais elaborados pelo CEA-MA, onde o visitante pode-rá, de forma lúdica, conso-lidar e descobrir «tesourosescondidos» que Almeidaencerra. Ou «Brincandocomo Outrora», outra acti-vidade que se prende, so-bretudo, com as tradições,de forma a não deixar aca-bar este legado histórico eque todos possam recordare conhecer os passatemposque faziam também parteda vivência nos exércitosem trânsito dos acampa-mentos peninsulares.

Mais de 20 anos depoisda criação das Aldeias His-tóricas de Portugal e doinvestimento que começoua ser feito nos 12 locais si-tuados na Beira Interior, oestado atual da rede é de“fraca dinâmica e até dealguma estagnação”, con-clui a tese de doutoramen-to de Paula Reis, realizadana Faculdade de Letras daUniversidade de Coimbra.

Os 60 milhões de in-vestimentos não conse-guiram estancar o despo-voamento, disse à agênciaLusa a investigadora doCentro Interdisciplinar deCiências Sociais da Uni-versidade de Évora, acres-

ALMEIDA

VII Edição do “ConvívioIntergeracional”

O Setor de Educação, Saúde e AçãoSocial do Município de Almeida promo-veu, no dia 27 de Junho, mais uma edi-ção do “Momento Intergeracional –(EN)VOLVER GERAÇÕES ATIVAS7”, com jovens que participaram no pro-grama de “Férias Municipais” e Uten-tes das IPSS do nosso concelho. Após oalmoço/convívio teve lugar uma peque-na palestra, da responsabilidade daANPC, na qual foram ministradas algu-mas noções de Segurança e Proteção do

Ambiente, uma matéria que está hoje naordem do dia.

O Convívio continuou, desta vezcom o objetivo de comemorar os San-tos Populares, com música ao vivo noCoreto do jardim desta Estrela do Inte-rior. Naquele espaço, foram ensaiadosalguns passos de dança por parte das vá-rias gerações presentes, terminando, as-sim, com alegria, mais um encontro pro-movido pela Câmara Municipal de Al-meida.

Investigadora considera que Redeapresenta alguma estagnação

centando que há diversasvariáveis para esta estag-nação, como um excessode municipalização darede, que foi apoderada“por interesses do poderlocal”, o que provocou,como consequência, umdesinteresse de privados,que acabam por se afastarda estrutura.

No terreno, Paula Reisidentificou também “umaausência de cultura de par-ceria”, estando cada um atrabalhar por si, e a sobre-posição de outras marcas,como as Aldeias do Xistoou o Vale do Côa. “Tentamir a jogo a todas as marcase depois não estão em ne-

nhuma”, constatou. As 12aldeias integradas na redesão Almeida, Belmonte,Castelo Mendo, CasteloNovo, Castelo Rodrigo,Idanha-a-Nova, Linhares,Marialva, Monsanto, Pió-dão, Sortelha e Trancoso.

Com apoio de fundoscomunitários, entre 1994 e1999, foram investidos 26milhões de euros e, entre2000 e 2006, houve umacontinuidade do investi-mento (já com BelmonteTrancoso incluídos narede) de 18 milhões deeuros. Com a mudança dequadros comunitários, oinvestimento passou a fo-car-se na componente ima-

terial, entre 2007 e 2013,em que estavam aprovados100 milhões de euros até2015, mas que foram “ape-nas executados 25 milhõesde euros” – uma consequ-ência da crise financeiraque surgiu em 2008 e tam-bém do surgimento da as-sociação da rede, cuja en-trada se atrasou e que sóficou operacional em2011.

Se, por um lado, houveuma melhoria significativaem termos de infraestrutu-ras básicas nas aldeiasabrangidas, a falta de in-vestimento material entre2007 e 2013 criou uma des-continuidade na requalifi-

cação das localidades.“Causou um choque. Asoperações anteriores ti-nham lavado o rosto dashabitações, que estavamdesabitadas, com árvores acrescerem lá dentro, com otelhado a cair e paredescaídas. Hoje, estamos avoltar a essa fase”, subli-nhou Paula Reis.

Na tese de Paula Reis,são desenhadas várias es-tratégias para o futuro pe-los diferentes actores queentrevistou – habitantes,neo-rurais, visitantes, mu-nicípios, associações,CCDRC, entre outros – eque foram validadas porum grupo de especialistas.

«Excesso de municipalização darede, que foi apoderada ‘por inte-resses do poder local’, provocou umdesinteresse de privados, que aca-bam por se afastar da estrutura»

As estratégias apontampara a criação de uma es-trutura de missão indepen-dente, em permanência noterritório, mobilização dosactores para o desenvolvi-mento de estratégias deanimação do território,qualificação da oferta tu-rística, alargamento doscanais de promoção darede e criação de novosprodutos e práticas combase nos recursos locais. Ainvestigadora espera ago-ra que este trabalho possaservir de “auxílio para odesenho do próximo qua-dro comunitário” e influ-enciar a intervenção narede.

55555ALTO DA RAIARegional

Alto da Raia: Como avalia o seu pri-meiro mandato?

Manuel Gomes: Considero que o meuprimeiro mandato à frente da Junta de Fre-guesia de Vilar Formoso foi positivo e apopulação assim o demonstrou nas eleições.O primeiro mandato foi de aprendizagemtendo havido uma mudança, para melhor,na forma de estar da Junta de Freguesiarelativamente ao relacionamento com aCâmara Municipal de Almeida, Ayuntami-ento de Fuentes de Oñoro, mas acima detudo com os comerciantes e população. Anossa prioridade foi apoiar o nosso comér-cio, divulgando e promovendo Vilar For-moso na fronteira, em outdoors, na F.I.T.e através das coletividades que podem le-var a marca “Vilar Formoso” para lá donosso concelho.

Alto da Raia: Quais são as priorida-des da Junta de Freguesia para Vilar For-moso?

Manuel Gomes: Mais do que para esteano o nosso trabalho está organizado parao mandato e as nossas prioridades continu-am a ser as mesmas, ou seja, divulgar VilarFormoso e as suas potencialidades, permi-tindo que o nosso comércio continue a de-senvolver-se e mantendo as condições paraque haja qualidade de vida. Relativamentea obras para este ano, estas serão a renova-ção do telhado do Bar do recinto das festase a criação de sinalização turística junto aosmonumentos/pontos de interesse, por for-ma a conseguir criar um percurso orienta-do que permita visitar toda a nossa Vila.

Alto da Raia: O futuro espaço desti-nado à Feira Mensal de Vilar Formoso vaiser a sul, junto à Ribeira de Tourões e viaestruturante, ou no troço do IP5 que se es-tende do Cruzeiro até à rotunda do Emi-grante?

Manuel Gomes: Infelizmente esta lo-calização não depende da Junta de Fregue-

Manuel José Gomes - Presidente da Junta de Freguesia de Vilar Formoso

“Não devemos comparar a situação atual com o passado,temos de olhar para o futuro de uma forma positiva”

sia, pois não temos capacidade financeirapara criar este local, no entanto lutaremosjunto da Câmara Municipal para que seja omais próximo possível da área comercialde Vilar Formoso, pois a feira é fundamen-tal para os nossos comerciantes. Este pro-blema tem de ser resolvido o mais rapida-mente possível, pois o local onde se realizaa Feira neste momento não tem as condi-ções adequadas nem para os vendedores,nem para os moradores, nem para a Juntade Freguesia poder orientar adequadamenteesta feira.

Alto da Raia: A Junta de Freguesiaestabeleceu parcerias com o Ayuntamien-to de Fuentes de Oñoro, no sentido de re-forçar a cooperação transfronteiriça.Fale-nos de algumas medidas concretasacordadas entre as duas Autarquias.

Manuel Gomes: Tal como referi ante-riormente a colaboração entre Fuentes deOñoro e Vilar Formoso, no nosso entender,

é fundamental para o desenvolvimento dasduas Vilas; temos de deixar de pensar queos problemas de uns não afetam os outros.Estas duas Vilas juntas representam umapopulação de mais de 3000 pessoas. Para

podermos ter êxito necessitamos uns dosoutros, tanto ao nível das oportunidades deemprego, como de comércio, como na com-ponente lúdica. Por isso tem havido umacolaboração estreita na divulgação dasnossas Vilas, sendo exemplo disso a parti-cipação conjunta na F.I.T. assim como oapoio dado à realização de atividades des-portivas que envolvam as duas Vilas. Re-lativamente ao desafio da ligação entre asduas autoestradas A25 e A62, temos esta-do em permanente contato por forma a quena zona entre o nó de ligação destas e oparque TIR se criem condições para criarindustria/comércio que sirva de polo dedesenvolvimento das duas Vilas. Tambémem colaboração com o município de Almei-da, Territórios do Côa, ADECOCIR, entreoutros, realizou-se uma candidatura aoINTEREG com o objetivo de promover afronteira.

Alto da Raia: A polémica em torno doarranjo urbanistico junto à Igreja Matrizjá foi ultrapassada, ou aquele espaço ain-da vai ser sujeito a algumas modificações?

Manuel Gomes: A Junta de freguesiade Vilar Formoso dá por concluída a obrajunto à Igreja matriz. Começamos por alte-rar o nome deste Largo, passando a serchamado de “Largo Ezequiel AugustoMarcos” e colocando uma pedra com afotografia dele, homenageando este homem

Reeleito para um segundo mandato à frente da Junta de Freguesia de VilarFormoso, Manuel José Gomes mostra-se confiante no futuro da Vila, no panorama

económico e social. O autarca disse ao “Alto da Raia” que está empenhado nacooperação transfronteiriça e acredita que, entre o nó de ligação das duas autoestra-

das e o Parque TIR, se poderão criar condições para a dinamização comercial eindustrial que sirva de polo de desenvolvimento das duas Vilas – Vilar Formoso/

Fuentes de Oñoro.

que tanto fez por Vilar Formoso. Agorahouve uma intervenção no espelho de água

aí existente que não apresentava condiçõesde higiene e de segurança, situação que eraperigosa e que não tinha conseguido atin-gir os objetivos pretendidos, no projetoinicial da Câmara. Acreditamos que nestemomento esta solução dignifica o local e aVila. Relativamente a gostos, diria, comodizem os nossos vizinhos Espanhóis, “Paragustos, los colores”.

Alto da Raia: Há um ano, a CMA apre-sentou uma proposta de «Delimitação daÁrea de Reabilitação Urbana» de VilarFormoso. O Documento remete para trêsaspectos «potencialmente inovadores»: acriação de um polo atractivo em torno donúcleo Judaico; o tratamento das margensda ribeira de Tourões; a valorização, en-quanto centro urbano, da antiga estradanacional EN 16. O que nos pode dizer so-bre esta matéria?

Manuel Gomes: A criação da ARUpode ser uma mais-valia para Vilar Formo-so, tal como a criação do Memorial Aristi-des Sousa Mendes despoletou a atençãosobre a nossa Vila, no que respeita ao turis-mo relacionado com o Judaísmo. Outrasiniciativas nessa área serão sempre bem-vindas, pois poderão revitalizar a zona doPovo. Relativamente à ribeira dos Tourões,esta é de uma beleza inigualável; se seconseguir aproveitar mais este recursonatural seria positivo, tanto ao nível turís-tico como na melhoria da nossa qualidadede vida.

Alto da Raia: Como avalia o atualmomento da Vila e que panorama antevêpara Vilar Formoso, no futuro mais pró-ximo, no contexto económico, social e cul-tural?

Manuel Gomes: De uma vez por todastemos de parar de comparar a situação atu-al com o passado, temos de olhar para ofuturo de uma forma positiva. Existem emVilar Formoso/Fuentes de Oñoro oportu-nidades de trabalho e de negócio, na cami-onagem, no comércio, na hotelaria e na áreasocial. Ao nível cultural as Associações/Mordomias têm realizado ao longo do anomuitas atividades demonstrando dinamis-mo. Se conseguirmos que as pessoas fiquempor cá, de certeza que terão condições devida de qualidade e continuaremos a ser omaior polo de desenvolvimento do nossoConcelho.

«Vilar Formoso eFuentes de Oñoro, juntas,representam uma popula-ção de mais de 3000 pes-soas. Para podermos terêxito necessitamos unsdos outros, tanto ao níveldas oportunidades de em-prego, como de comércio,como na componentelúdica»

«Lutaremos, junto daCâmara Municipal, paraque a futura localizaçãoda Feira Mensal seja omais próximo possível daárea comercial de VilarFormoso, pois a feira éfundamental para os nos-sos comerciantes»

66666ALTO DA RAIA Regional

O inimigo tinha tomado a ini-ciativa e contra emboscando do-minava a situação. A violência defogo tornou-se impressionante,não nos dando capacidade de po-der responder. Alguns dos nossoshomens tentaram fazê-lo, mas semsucesso, num ápice a situação tor-nou-se melindrosa. Com o pode-rio de fogo com que nos sediava,o inimigo foi-se movimentando eposicionando-se numa espécie demeia-lua, tentou a manobra doencurralamento. Apercebendo-seda intenção, os nossos superiorestomaram a única decisão possível:Arrancar de peito aberto, arrastan-do consigo vários homens de en-tre os quais se destacou a equipado Abraços, que ininterruptamentefez accionar a MG. O primeiroCardoso grita-me: “Atrás de mim,Marrazes!”

Alheios ao fogo corremos pelomeio do trilho, em busca de umanesga por entre a cúpula das árvo-res; era fundamental fazer fogo demorteiro. As hipóteses não erammuitas, mas arriscámos. Dispará-mos as granadas com pouca incli-nação, mais parecia que saiam navertical. O inimigo estava em cimae as morteiradas tinham de fazermossa. E fizeram. De tal forma quecorri em direcção ao Coelho quetransportava as restantes quatro eintegrava uma das equipas de pro-

Fomos Mobilizados

MEMÓRIAS DO ULTRAMAR

Óhio e Mourés (II)

tecção à cauda. Já perto dele, deu-me um safanão para me esconder,apontando algo que se movimen-tava, tentando aproximar-se pelasbordas do trilho sob protecção davegetação.

Era um momento em que aintensidade do fogo tinha decres-cido e pelo que se apercebeu, per-mitir a um pequeno grupo que ten-tou penetrar por trás e louca oudestemidamente, a lograr os seusintentos, teria causado a maiorconfusão, com final imprevisível,mas por certo dramático. Numrelanço pelos colegas que estavamdeitados de bruços, todos tinhamos olhos fixos naquela movimen-tação e estáticos aguardavam. Deicomigo com a Walter na mão, quemecanicamente saquei e inertetambém esperei.

Estão a meia dúzia de metros.Os três indivíduos da frente topamo Almerindo e num repente prepa-ram-se para o abater, mas este maislesto antecipa-se e de rajada, des-

peja o carregador da G3. Simulta-neamente o Lopes e o Soares tam-bém tinham aberto fogo. O Alme-rindo para repor novo carregadorsoleva-se um pouco e surge umsegundo grupo que o atinge comuma rajada da cintura para cima.Ao sofrer o impacto solta um gru-nhido aterrador, fica estendido eestupefactos vemos correr na suadirecção dois elementos inimigos,que tudo parece o querem captu-rar. Não conseguem, os seus inten-tos impedidos pelo Lopes, qualmola mecânica se pôs de pé e osenfrentou, impedindo apropria-rem-se de tão valioso troféu.

O Almerindo estava deitado delado com o pescoço pendente ecabeça jazente por terra, com ocamuflado semi-aberto, o seu cor-po era uma banheira de sangue.Atabalhoadamente desapertei-lheo cinturão, enquanto outro colegatentava libertá-lo do restante equi-pamento. Gritámos pelo enfermei-ro, mas este ocupava-se naquele

momento a assistir outros três fe-ridos. Decidimos tirá-lo dali. Co-loquei-lhe as mãos por baixo dosbraços e com a ajuda de outrocolega arrastámo-lo pelo trilho atéao interior da coluna, tendo nestepercurso sido alvo de duas rajadasintencionais de (costureirinha) quenão nos acertaram e só paramosdeixando-o protegido por umaárvore de grande porte, que lhefazia boa protecção. O colega queme tinha ajudado correu pelo tri-lho fora como louco, à procura doenfermeiro.

Outro tirou o camuflado noqual deitámos aquele camarada,colocando-lhe as mãos por baixoda cabeça, tentando ao mesmotempo tamponar-lhe as perfura-ções por forma a estancar o san-gue, que fugidio nos escorregavaentre os dedos. O enfermeiro nãovinha e o Almerindo esvaía-se.Quando chegou, os olhos revira-vam-se, medicamentou-o, ajudá-mos a colocar compressas e liga-

duras, enquanto outros improvi-savam uma maca cortando ga-lhos. A emboscada tinha termina-do, mas não a presença do inimi-go que à distância nos dirigiaimpropérios tentando desmorali-zar-nos.

Crivado, o Almerindo resistiaagarrando-se à vida, mas da rapi-dez da evacuação dependia a suaexistência. Tomou-se a decisão deo fazer imediatamente palmilhan-do o trilho para fora da mata atéà primeira clareira com condiçõespara aterragem de um helicópte-ro. Sempre à ilharga, o inimigoapercebendo-se, com pequenasflagelações tentou dificultar-nosa acção. O tempo passava, não sepodiam correr riscos, foi necessá-rio a ajuda de dois aviões T6 quebombardearam a posição do ini-migo, dando abertura para a ater-ragem do helicóptero. Com oAlmerindo foram também evacu-ados outros dois feridos.

Não voltei a vê-lo.Tive maistarde conhecimento que resistiuestoicamente aos ferimentos edepois de longa recuperação,emigrou.Desejo-lhe a maior sor-te do mundo e se ainda por cáandar que viva a vida, pois parameu suplício de memória e seucalvário físico, bem chegou aque-le dia.

(Continua no próximo número)

Domingos L. Cerqueira

«Não voltei a vê-lo. Tive mais tarde conheci-mento que resistiu estoicamente aos ferimentose depois de longa recuperação, emigrou. Seainda por cá andar que viva a vida, pois paraseu calvário físico, bem chegou aquele dia»

Já sabíamos marchar, marcarpasso, pôr em sentido, apresentararmas e até dar uns tiros com umasespingardas que já tinham anda-do noutras lutas. Era agora preci-so cultivar cada uma das artesapropriadas aos conflitos que nosesperavam. E como numa guerranem todos andam aos tiros, umavez que tem de haver quem façaa comida, quem cure os feridos,quem conduza os carros, quemfaça reparações e até quem toquea corneta. Éramos, então, dividi-dos por diversos quartéis para ti-rar a Especialidade: de cozinhei-ro, de enfermeiro, de condutor, decorneteiro e por aí fora.

A maior parte ia para atirador,já que numa guerra a função prin-cipal é atirar. Uma espécie de ca-çadores que se pretendia fossemcaçar uns indivíduos que, numas

terras bem distantes, andavampara lá a apregoar que aquela ter-ra era deles, enquanto por cá secantava em coro: «É nossa». Umou outro soldado, a quem não seencontrasse jeito para nada, erarotulado de «Básico», que era omesmo que não servir para nada,mas quando se chegasse à guer-ra, logo se via, algum préstimohaveria de ter, nem que fosse nafaxina.

Ao fim de três ou quatro me-ses estávamos, enfim, preparadospara o que desse e viesse. Um tra-balhador rural, poderia passar aser atirador, cozinheiro, condutorde automóveis, ligeiros ou pesa-dos, a um empregado de escritó-rio ensinavam-lhe umas coisas demecânica e ficava logo ser res-ponsável pela manutenção deuma frota de carros militares,

enquanto que, por exemplo, umdesenhador era transformado emenfermeiro em menos da chamade um fósforo.

Habilitados com a tal Especi-alidade, éramos então colocadosnos quartéis estrategicamente co-locados pelo país a aguardar asentença. Alguns com uma ilusó-ria esperança que o raio caísse aolado e não fossem atingidos, masum dia o nome lá aprecia na Or-dem de Serviço e a partir daí erasó comunicar à família: «Fui mo-bilizado».

E como uma viagem deverá terum lugar de partida que, nestecaso, seria também o de chegadapara os que regressassem, quis otal destino que a região geral da-queles mancebos nascidos entre1941 e 1942 se fizesse em Estre-moz. E para lá marchámos, paranos agruparem em secções, pelo-tões, companhias que por sua vezdariam origem a um batalhão. E,uma vez tudo bem organizadinho,«em frente marche que o navio jávos espera atracado ao cais e, emjeito de despedida, não se esque-çam: Honrai a Pátria que ela voscontempla».

«Outros houve que não concordando coma situação viraram costas ao mar. Deramcorda aos sapatos e toca a rumar aos Piri-néus que para lá fica a França onde hásempre um parente ou amigo à espera»

Outros houve que não concor-dando com a situação, pela maisdiversas razões, viraram costas aomar. Deram corda aos sapatos atéque as solas se rompessem e, alaque se faz tarde, toca a rumar aosPirinéus que para lá fica a Françaonde há sempre um parente ouamigo à espera. «Não me apa-nham lá», terão pensado. Mas aFrança não foi o único refúgio dosdesertores. A Argélia tambémalbergou outro tipo de fugitivos,mais letrados, poetas que falavamcom o vento perguntando notíci-as de cá, ou endinheirados, sóDeus sabe. Outro destino, maiscruel e a exigir outras capacida-des, foi a pesca do bacalhau. Tro-cava-se a tropa por seis anos dedegredo nas águas geladas daTerra Nova. Não morreram naguerra, mas quantos ficaram per-didos para sempre no nevoeirotendo como caixão um pequenodóri. Ao Tenreiro, magnata dobacalhau faltavam braços para a«faina maior» e o compadrio láinventou uma alternativa que lhefacilitasse a vida e a fortuna.

Armando QueirósIn «O Meu Avô Andou na Guerra»

JornadasEuropeias doPatrimónio 2018

Entre os dias 28 e 30 deSetembro, comemoram-se asJornadas Europeias do Patri-mónio 2018, este ano subor-dinadas ao tema PartilharMemórias. Reavivar conti-nuamente a memória é fun-damental para que o passadonão seja esquecido, pois ca-pacita-nos a atualizar impres-sões ou informações, fazen-do com que a história se eter-nize na nossa consciência ese transmita de geração emgeração. Partilhá-la entre asdiferentes gerações, diferen-tes comunidades e diferentespaíses contribui para a cons-trução de um mundo maisesclarecido, mais tolerante emelhor.

A DGPC, entidade quecoordena a programação e di-vulgação das JEP a nível na-cional, convida as entidadespúblicas e privadas a associ-arem-se a estas Jornadas, or-ganizando iniciativas nesteâmbito.

77777ALTO DA RAIARegional

O Polo Museológico deVilar Formoso foi distin-guido com o «Prémio In-vestigação», trabalho daresponsabilidade da histo-riadora Margarida Maga-lhães Ramalho. A cerimó-nia da entrega do Prémio,que decorreu no Museu dosCoches (Lisboa), contoucom a presença do Presi-dente da República, Marce-lo Rebelo de Sousa, e doPresidente da Câmara deAlmeida, António Montei-ro Machado.

O Museu «Vilar Formo-

PRÉMIOS APOM 2018

Polo Museológico de Vilar Formosofoi distinguido como «Prémio Investigação»

so Fronteira da Paz» é umMemorial aos Refugiados eao Cônsul Aristides SousaMendes, inaugurado emAgosto do ano transactopelo Presidente da Repúbli-ca. O espaço museológicoocupa dois antigos arma-zéns ferroviários, junto àestação de Vilar Formoso,local por onde passaram,em Junho de 1940, milha-res de refugiados em fuga.O Pólo Museológico estádividido em 6 núcleos:“Gente como nós”, “Iníciodo pesadelo”, “A Viagem”,

“Vilar Formoso, Fronteirada Paz”, “Por terras de Por-tugal” e “Partida”.

Este equipamento cul-tural concebido pelo Muni-cípio de Almeida, está in-tegrado na Rede de Judia-rias de Portugal – Rotas deSefarad e foi apoiado peloEstado Português e peloEspaço Económico Euro-peu, importando em cercade um milhão e duzentosmil euros. De realçar o em-penhamento do ex-Presi-dente da Câmara de Almei-da, António Baptista Ribei-

ro, bem como da Arquitec-ta Luísa Pacheco Marquese de todos os técnicos doMunicípio Almeidense en-volvidos neste projeto.

Da lista de prémios atri-buídos pela AssociaçãoPortuguesa de Museologia(APOM) constam tambémo Museu Judaico de Bel-monte, que foi distinguidocom uma «Menção Honro-sa», e a Casa da MemóriaJudaica da Raia Sabugalen-se, que foi agraciada com o«Prémio Filme de Divulga-ção».

Estão abertas as candida-turas ao programa da Turis-mo Fundos que disponibili-za 25 milhões de euros paraoperações de investimentoimobiliário em territórios debaixa densidade, com vista adinamizar o investimento ea criação de emprego.O pro-grama destina-se a pequenase médias empresas cujos pro-jetos de investimento tradu-zam a valorização económi-ca dos ativos imobiliáriosatravés de atividades turísti-cas, ou outras relacionadas,que promovam o desenvol-vimento, a dinamização e asustentabilidade das econo-

Turismo Fundos disponibiliza25 M€ para dinamizar territóriosde baixa densidade

mias locais e regionais.São fatores diferencia-

dores o contributo para a re-dução das assimetrias regi-onais e sazonalidade na pro-cura dos territórios, para avalorização do patrimóniocultural e natural do país,assim como para o desen-volvimento sustentável dascomunidades locais e o graude inovação do projeto arealizar.A Turismo Fundospretende, assim, intensificara sua intervenção através dosfundos de investimento quetem sob gestão, que permi-tem disponibilizar às empre-sas recursos financeiros ime-

diatos, pela respetiva aliena-ção dos seus ativos patrimo-niais aos fundos e subse-quente tomada de arrenda-

mento. As candidaturas de-correm até 31 de julho de2018, no site da TurismoFundos.

Organizada conjuntamente pela Associação de Fre-guesias da Raia Sabugalense e Município do Sabugal,a Feira Agrícola vai contar, entre outras iniciativas, comuma mostra e degustação de sabores raianos, exposi-ção de máquinas agrícolas, garraiada, palestras,workshops, showcookings, mostra de artesanato e pro-dutos locais, mas também animação musical.

Ainda antes da abertura oficial da AgroRaia, pelas18h30, ocorre um leilão de gado, às 13h30, na ColóniaAgrícola Martim Rei. Segue-se um showcooking como chef Rui Cerveira, pelas 19 horas, em que o ‘Quinas’– pastel de castanha do concelho do Sabugal – vai estarem destaque, terminando este primeiro dia com umbaile, com o Grupo ‘NPJ’.

Para sábado, dia 14, está marcado um encerro a cava-lo, às 11 horas. Na parte da tarde, sucedem-se doisworkshops – descorna e ferração –, garraiada e demons-tração de pegas, pelos Forcados Amadores do Cartaxo. Oespetáculo com a fadista Cuca Roseta acontece pelas22h30, ao que se segue um baile com a Orquestra ‘Lu-men’ e Dj Nuñez. O programa do último dia do eventoinclui a condução de rebanho com o cão pastor border colliee workshop de tosquia, culminando a AgroRaia com umshowcooking dinamizado pelo chef Chakall, às 17 horas.

«A edição 2018 desta FeiraAgrícola realiza-se nos próximosdias 13, 14 e 15 de julho»

SABUGAL

AgroRaia vai ter lugarnos Forcalhos

Exposição convida a conheceras Catedrais portuguesas

Uma exposição inédita sobre o património das ca-tedrais do país, com 110 peças, muitas delas tesourosnacionais, constitui um convite aos visitantes paraconhecerem este “património único”. Sob o título «NaRota das catedrais», a mostra ficará patente ao públicoaté 30 de setembro deste ano, na Galeria D. Luís, noPalácio da Ajuda, em Lisboa. A exposição é uma ini-ciativa da Direção-Geral do Património Cultural(DGPC) e do Secretariado Nacional para os Bens Cul-turais da Igreja. Abrange todo o território português eenvolve parceiros locais, regionais e nacionais – atra-vés dos cabidos, paróquias e direções regionais deCultura – a par de outras entidades, que, ao longo dosanos, levaram a diversas ações de valorização do patri-mónio envolvido.

1010101010ALTO DA RAIA Geral

O presidente da Câma-ra Municipal da Guarda,Álvaro Amaro, entregou220 mil euros a associaçõesculturais, sociais, humani-tárias e desportivas do con-

CrataegusEste exemplar de crataegus monogyna que vemos

na foto, é, provavelmente, o Espinheiro alvar de maiorporte na folha de S. Pedro de Rio Seco e pode serobservado no sítio de «Casa Sola».

Noutros lugares da povoação, sobretudo em «Valedos Ferreiros» e na área da «Ponte Pequena», avistam-se mais plantas desta espécie de inúmeras virtudesmedicinais.

No mês de maio as alvas flores do crataegus des-pertam graciosamente na paisagem raiana para cele-brarem, com intenso perfume, a pródiga exuberânciada primavera.

Brígida VarandaLourenço

1923 - 2018A família de Brígida Varanda Lourenço agra-

dece a todos os que estiveram presentes no últimoadeus aos mais lindos olhos azuis da sua vida. Hámomentos na vida em que nada nos consegue acal-mar a dor que se sente, mas saber que existemamigos e pessoas que nos consolam, traz-nos con-forto. 

Queremos agradecer a todos os que manifesta-ram as suas condolências. O coração ainda dói, masa amizade que recebemos ajuda a minimizar a dor.

“Não me choreis, recordai-me  como era antese viverei sempre nos vossos corações”

Câmara da Guarda entrega 220 mileuros a 111 associações do concelho

«Segundo o autarca, foi disponibilizada a primeiraverba, enquanto a segunda, no mesmo valor, será dis-tribuída no final do ano»

celho, no âmbito do regula-mento da atribuição deapoios às coletividades lo-cais. Álvaro Amaro proce-deu à entrega da primeiraverba do valor global de

440 mil euros que a autar-quia destinou este ano paraas 111 coletividades doconcelho da Guarda.

No final da cerimónia daentrega dos valores aos di-

rigentes associativos locais,realizada na Sala AntónioAlmeida Santos, no edifíciodos Paços do Concelho, oautarca da Guarda lembrouque o município atribui ossubsídios pelo quarto anoconsecutivo, após a elabo-ração do regulamento, quepassou a definir “regrasmuito claras. É sempre ummomento que me dá umaenorme satisfação, ter naminha frente tantos homense mulheres que neste con-celho dão o melhor de si,prejudicam muitas vezes assuas vidas pessoais e fami-liares para dar dimensão àssuas associações.

Eu acho que isso é fan-tástico”, afirmou o presi-dente da Câmara Municipalda Guarda. Para o aumentode 60 associações que secandidataram no primeiroano e 111 em 2018, o querepresenta “praticamente odobro”, o autarca aponta adinâmica que foi criada noconcelho.

CRÓNICA

Meu corpo…

O Jota vive na cidade. Na cidade não há um palmode terra: há apenas pedra e tijolo.Nos jardins a erva éde plástico. O campo de futebol é de “relvadosintético”.As próprias árvores são esculturas em bor-racha, e as flores brinquedos.A ninguém parece fazerconfusão: cada cão faz cocó no chão de cimento. E cadadono, muito ciumento, agarra logo no dejecto do con-creto com medo de que alguém lho roube.

 As pessoas da cidade também parecem de pedra,

com fatos que vão da cabeça aos pés. Até o cabelodesaparece debaixo de algum chapéu.Se uma mulherusa saia: também se aperalta com bota alta. E se umturista usa calções: põe meias das sandálias à cintura.Asmãos estão sempre tapadas por luvas, e as caras cober-tas por uma máscara. Os olhos? Sempre atrás deóculos!Ninguém na cidade gosta de mostrar o que temdebaixo da roupa. E quando falam, parece que lançamfarpas da boca.

 O inverno anoitece. Mas o Jota aquece com umas

férias na aldeia.Entra numa baleia de ferro, que nadan-do vai ora acima ora abaixo ao longo de uma serpentenegra de alcatrão com riscas brancas de lado. E fica

«E se hoje for eu mesmo, semdisfarce? – Os adultos afastam-se e a criança olha divertida.Tira a roupa, segue o Jota feitalouca e reviram tudo, até a ruaficar nua»

pasmado com a paisagem.As lavras à distância deixam-no sem palavras mas com uma estranha ânsia de tocarna margem: um boi e uma vaca, com caras humanas,rasgam o chão que jamais chegara a ver!

 A baleia quere-o fora, e o Jota salta embora.Pousa

o pé com cuidado: não vá afundar-se! Nunca pisou nadaassim...Decide descalçar-se, para senti-lo melhor. Per-cebe pela primeira vez o que é o seu pé - muito estra-nho: parece a pata dum porco...

 O calor sufoca-o. Quer despir-se, mas tem vergo-

nha. Olha para a esquerda, olha para a direita. Olha paratrás, olha para a frente.Primeiro o chapéu, depois asluvas e a camisa, e por fim as calças - sem perceber porquê: rola no chão. E sem saber como: anda tambémcom a mão.Este Jota idiota é um porco muito janota.

 Ao nariz chega-lhe um aroma. Tenta seguir o chei-

ro, até que dá com um ribeirinho de outros porquinhosa rebolar numa lama de encantar.O Jota não resiste, egrunhe de alegria.Assim passa o dia. E a noite chega.E adormece junto dos companheiros.

 Toca o despertador. O Jota luta por abrir os

olhos.Está em casa. Atenta pela janela: a mesma cida-de cinzenta e amarela.«E se hoje for eu mesmo, semdisfarce?». O Jota sai de casa. Os adultos afastam-se.Mas uma criança olha divertida. Ela tira a roupa, e segueo Jota feita louca. E começam a foçar, e reviram tudo,até a rua ficar nua.

Assim é a vida!

Rodrigo SantosGonçalbocas, Junho/2018

1111111111ALTO DA RAIALocal

No “ALTO DA RAIA” deNovembro de 2017, Nº.85, colo-quei a seguinte observação:

Obs. O Assento de Casamen-to de Francisco Xavier Alves e deAntónia Rocha está praticamenteilegível, pelo que não me foi pos-sível encontrar os pais dos Con-juges e, portanto, me é possívelavançar com os ascendentes deAntónia Rocha.

Neste momento, estou emcondições de informar que Antó-nia Rocha casada com FranciscoXavier Alves antepassados das fa-mílias “ANTUNES” (exceptuan-do os descendentes de VenâncioAntunes c. c. Maria Antónia Go-mes, Luis Antunes c. c. Ana Au-gusta e António Joaquim Antunesc. c. Albertina Augusta Marcenei-ra e descentes destes casais) ealgumas famílias “ALVES”) erairmã de Manoel Monteiro Ra-mos, filhos, portanto, de MiguelMonteiro Sayrinho e Luisa Gon-çalves Rocha. Como cheguei aesta conclusão?

1 – No assento de Baptismo deMaria Baptista, filha de JoséFernandes Sardinha e de MariaMonteira Sairinha lê-se: “Forampadrinhos Manoel Monteiro Ra-mos e sua irmã Antonia Rocha”.

– O assento de Baptismo deLuisa Fernandes, filha de Mano-

MEMÓRIAS

ESCLARECIMENTOel Monteiro Ramos e de Margari-da Fernandes diz: “ ...Neta Pater-na de Miguel Monteiro Sairinho= e de sua molher Luisa Gonçal-ves ...”

Conclusão: Antónia Rocha eManoel Monteiro Ramos eramirmãos, filhos de Miguel Montei-ro Sairinho e de Luisa GonçalvesRocha, netos de Manoel AlvaresRocha, o Velho e de Teresa Gon-çalves.

Obs: Este esclarecimento de-via ter saído no anterior númerodo “ALTO DA RAIA”. Por faltade espaço, tal não foi possível.

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Em tempos, talvez há mais deum ano, Maria Estela RodriguesMartins, neta de Bonifácio Arroioperguntou-me se eu não teria en-contrado elementos sobre as ori-gens do apelido “Arroio”. Recor-do ter respondido que apenas ti-nha encontrado o nome de umsacerdote espanhol que tinha pas-sado uns dias em Vilar Formosoe assinado alguns Assentos. Pas-sou muito tempo mas a perguntanão ficou esquecida. Agora, estouem condições de prestar informa-ções precisas sobre o nascimentode Bonifácio Arroio, pai de Deo-linda dos Santos Arroio, e avô debastantes netos (as) e bisnetos(as). A todos eles informo que:

Bonifácio Arroio “nasceu noprimeiro dia do mes de Dezem-bro de mil oito centos e cincoe-ta e cinco e foi baptizado no diaoito de Dezembro do mesmoano. Era filho legítimo de Ma-noel Arroio e de Anna Mar-tins”, e nepto paterno de RomãoArroio de Barba de Porco e deMaria Fernandes, e materno énepto de António Martins dasSinouras e de Nurbina(a) Gra-cia natural da Alameda Reino deEspanha Bispado de CidadeRodrigo e da mesma Alameda énatural o pai e a avó paterna dobaptizado: foram padrinhosJerónimo Arroio, irmão do bap-tizado, e Izabel Martins destafreguesia (de Vale de Lamula).

No assento de Baptismo deBonifácio Arroio o nome da avómaterna, de dificil decifração,parece ser como atrás se refere.Contudo, no Assento de Bapti-mo de “Valentim” irmão de Bo-nifácio, parece decifrar-se como“Nicolaça Garcia” da sobredita

António André

Alameda.__________________________________

INFORMAÇÃO

Na minha última visita a S.Pedro, de 18 a 21 de Maio, próxi-mo passado, entreguei na Secre-taria do Centro Social do RioSeco, as importâncias de 100 e 20euros que, através de mim, foramofertadas ao Lar por dois conter-râneos, no momento em que rece-beram a sua Árvore Genealógica.O Centro Social agradece e envi-ará aos interessados o respectivorecibo. Para respeitar o pedido dosofertantes não se referem os res-pectivos nomes.

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HistóriaVerdadeira

E agora, para ocupar o poucoespaço que ainda me resta, aquivai uma pequena história verda-deira:

Dois jovens de oito anos brin-cavam livremente em persegui-ção um do outro, em correrias de-senfreadas como só jovens des-sa idade são capazes, alheios aperigos imprevistos que esprei-tam a qualquer esquina ou detrás

de qualquer porta.A certa altura, o que corria à

frente, fecha trás de si o portão queacabava de passar, numa tentati-va de atrasar quem vinha atrás desi. O perseguidor, sem tempo ereflexos para parar, bate com olábio superior. Sangue num e lá-grimas no outro. Quando os paisde ambos chegam, o das lágrimasestava inconsolável e pedia des-culpas pelo que tinha acontecido.O de lábio rachado pedia-lhe paranão chorar dando-se como culpa-do por não ter conseguido para atempo. E preocupado continuoua caminho do Hospital.

Terminada a sutura do lábiocom quatro pontos, os pais dão-se conta de que o nosso jovemcontinuava ansioso e desejoso deir ter com o companheiro de brin-cadeira. Para quê? (Façam umapausa na leitura e tentem encon-trar razões de tanta ansiedade).

Continuem a leitura e vejam seacertaram. Não, não foi para sevingar pelo golpe sofrido. Queriafalar novamente com o amigo quedeveria estar preocupado, quetalvez tivesse sido repreendido ouaté castigado pelos pais, para maisuma vez lhe dizer que não se pre-ocupasse porque o golpe foi cau-sado por não ter sido capaz deparar a tempo. Ele é que batera noportão e não o portão nele.

[email protected]

Em maio, o valor médio deavaliação bancária, realizada noâmbito de pedidos de crédito paraa aquisição de habitação, subiupara 1 176 euros por metro quadra-do (euros/m2), segundo dados di-vulgados pelo Instituto Nacionalde Estatística (INE). Quando com-parado com o mês anterior, o valormédio de avaliação dos apartamen-tos aumentou 8 euros em maio,para 1 232 euros/m2. Nas moradi-as o valor médio manteve-se em 1074 euros/m2.

A nível regional, as maioressubidas para o conjunto da habita-ção registaram-se no Algarve(1,4%) e no Alentejo (0,8%). Emcomparação com o período homó-logo, o valor médio das avaliaçõesaumentou 65 euros em maio, ten-do o valor de apartamentos e demoradias aumentado 6,1% e 4,4%,respetivamente. A maior taxa devariação homóloga para o conjun-

INQUÉRITO À AVALIAÇÃO BANCÁRIA

Valor da habitação subiupara 1 176 eurospor metro quadrado

to das avaliações verificou-se noNorte (7,4%) e a menor no Alen-tejo (2,3%).

No mês em análise, o valormédio de avaliação bancária deapartamentos foi 1 232 euros/m2.O valor mais elevado foi observa-do na Algarve (1 501 euros/m2) eo mais baixo no Alentejo (980euros/m2). Comparativamentecom abril, o Algarve e o Alentejoapresentaram as maiores subidas(1,6%). A Região Autónoma dosAçores registou a única descida (-1,1%). Em termos homólogos, aRegião Autónoma dos Açoresapresentou o crescimento maisexpressivo (10,6%) e o Alentejo ataxa de variação mais reduzida(3,5%).

O valor médio da avaliaçãopara apartamentos T2 situou-se em1 249 euros/m2, mais 6 euros queno mês anterior. Para os aparta-mentos T3, outra das tipologias

mais avaliadas, observou-se umasubida de 10 euros, tendo o valormédio se fixado nos 1 161 euros/m2. Em maio, a média da avalia-ção bancária das moradias foi 1 074euros/m2. Os valores mais eleva-dos observaram-se na Área Metro-politana de Lisboa (1 445 euros/m2) e no Algarve (1 437 euros/m2)

e o mais baixo no Centro (923euros/m2). Comparativamentecom abril, o Algarve apresentou asubida mais intensa (0,8%) e aRegião Autónoma dos Açores re-gistou a maior descida (-1,5%).

Em termos homólogos, o mai-or aumento no valor das avaliaçõesde moradias observou-se na Área

Metropolitana de Lisboa (7,3%) ea única variação negativa ocorreuna região do Algarve (- 1,0%).Quando comparado com o mêsanterior, o valor da tipologia T3manteve-se em 1 053 euros/m2. Amoradia tipo T4 apresentou umadescida de 20 euros, para 1 085euros/m2.

1212121212ALTO DA RAIA Geral

Certa vez que a Ana caminhava para a ribeira com umatrouxa de roupa à cabeça, viu no seu direito o Xico. Ficouafogueada e apressou o passo. Ao chegar perto, ouviu-lhe:-Ó Ana, vais com uma erva … e eu que te queria falar. Elaestacou e saiu-lhe:- O que é que você quer? E como sabeo meu nome? O moço deu uma pequena gargalhada e doseu sorriso brotou:- como não houvera de conhecer a moçados meus sonhos?!

Ana, eu só penso em ti! O coração dela ao ouvir estaspalavras era um cavalo e o seu conhecimento parecia des-falecer. O moço pegou-lhe nas mãos e beijando-as disse:-queres namorar comigo? Sem nada poder dizer, pois umnó atravessou-lhe a garganta, dizia que sim com a cabeça.Separaram-se com um até depois ao ver aproximar-se nocaminho a maior alcoviteira da terra, a IsabelinhaBugalha.Mas a esta não lhe passou despercebido o encontro do Xicoe da Ana, logo espalhando pela aldeia que os doisnamoravam…teria visto o rapaz beijar, num lampejo, asmãos da rapariga?!

Aos dois moços, tanto faz como fazia, pois gostavamum do outro e numa fugida se encontravam quase semprena volta do chão da barroca vindos de regar ou sachar. Assuas falas eram curtas. Ele continuava a beijar-lhe as mãos,e tudo isso a ela lhe sabia tão bem…

A Ana queria falar ao pai, tendo o Xico dito mesmo quelhe ia pedir autorização para namorar com a filha. Mas mala Ana disse em casa à hora da ceia que o Xico queria darumas palavras ao pai, o irmão mais velho, o Manuel, pôs-se aos berros dizendo que sabia ao que o Xico vinha. Quenem pensasse em falar para ele. Não sendo seu pai era oirmão mais velho e, portanto, proibia que ela namorasseesse ou qualquer outro Xico que só a queriam para brincar.Para se por nela. E quem olhava pelos pais que já estavama ficar velhos? E de nós, teus irmãos? A rapariga nem se-quer podia responder. Acabado de conversar com:- Olhamoça, tu se namoras, ou até se tornares a ver o tal filho doPaca, nem sei o que te faço. A ti e depois a ele. A Ana ficou

CONTO

A Cruz de Ana Pinta (II)como uma pedra, mas dali a pouco deu-lhe um ataque dechoro que muito demorou a acalmar, pois as palavras desua mãe ainda a fez ter mais medo:- Olha filha, nós jáestamos velhos e o teu irmão agora é que manda e sabesque ele tem mau feitio. Tem cuidado, vê o que fazes!

-Apesar dos cuidados redobrados, a Ana Pinta às es-condidas se foi encontrando com o Xico da Paca e elespareciam cada vez ter mais afeição um pelo outro. Ele nãoera um bruto como seus irmãos ou até muito do outro ra-pazio. Tinha mesmo gestos bonitos para com ela. O seuirmão, o Manuel, olhava-a agora com desconfiança, masfoi reparando que ele se detinha a olhar a sua figura quandoandava por perto, apanhou-o mesmo quase babado a olharpara as suas pernas, certa ocasião que a saia subiu ao seprender num galho de uma giesta.

Por uma tarde de Setembro, já as uvas se aprontavampara a vindima e o sol não aquecia tanto, a Ana foi à hortado chão do poço colher uns pimentitos tardios para o al-moço do dia seguinte. Ficou surpreendida ao dar com oManuel sentado na pedra junto à picota de tirar água, sachoao lado. Ao vê-la, levantou-se e foi ao seu encontro di-zendo:- anda cá que quero ajustar umas contas contigo.Não te disse para não veres o Paca? Tu desobedeceste-me! A rapariga não sabia o que dizer, mas ganhandocoragem botou-lhe: - E que tens tu a ver com isso? Euando com quem quiser e só tenho de dar contas aos nos-sos pais! O irmão, avermelhando-se, disse:- Tu não an-das com ele mais! Anda cá, pois se precisares de homem,tens-me a mim que tenho falta de mulher, atirando-se àmoça, agarrando os braços e aproximando a sua cara dadela, beijando e apalpando-a como um animal no cio. AAna, bem tentava livrar-se do brutamontes, mas não podia.Esperneando foi deitada e levantada a roupa. Na ocasiãoque o irmão levava a mão às suas calças, a rapariga con-seguiu livrar-se dos braços, tentou fugir, pôs-se de pédizendo:- És um animal, um porco. Vou dizer aos nossospais e a todos a besta que tu és.

-Colérico, fora de si, o Manuel apontou-lhe o dedo:-Não vais dizer, não que eu não te deixo. A rapariga aindadescomposta tentava fechar os botões da blusa fazendomeças de se afastar. O bruto, com medo que ela desse aosdentes, agarrou no sacho e disparou-lho na cabeça por trás.A gaiata caiu redonda, nem tugiu nem mugiu mais, comsangue a sair pelo ouvido e pela boca. O animal ficouquedo a arfar e a olhar para o que fizera.

- No tribunal contou que atestara o golpe com a enxa-da por sua irmã, não lhe obedecer e se lhe ter oferecidopara que lhe permitisse andar com o Xico.

-Ninguém acreditou no que disse, tendo ido parar aodegredo em África e por lá ficou.

-Pois, disse eu, na folga da contadora. Mas quem man-dou por aqui a cruz no caminho?

-Foi o Xico, o namorado, que nunca mais foi o mesmorapaz, dando para definhar e acabar novo com uma doen-ça ruim. Da narradora pareceu-me ver até duas lágrimasque rapidamente limpou. Aproveitando para lhe pergun-tar:- Mas afinal, quem és tu, moça?

-Eu, por aqui ando por estes caminhos e encruzilhadase reparo nas poucas pessoas que param para rezar pela almaque esta cruz lembra. E como vossemecê parou, cuidei querezava e pensando que ia gostar, contei-lhe a história ver-dadeira da Ana Pinta. Ela nunca se entregou a homem,apenas gostei do meu Xico. Abri os olhos e disse um oh deespanto, arrepiando-me. Naquele mesmo tempo levantou-se um remoinho de poeira, fechei os olhos por momentose quando os abri, a criatura tinha desaparecido. Nem seiporque lhe chamo criatura. No sítio onde estivera paradatodo o tempo a contar a sua história, não havia marcas naareia do chão, nem o vento soprou mais.

…E cada vez que passo pela cruz da Ana Pinto, rezo.Rezo pela sua alma, pela sua memória e mesmo com umaleve esperança de voltar a encontrar a catchopa.

Rui Brito da Fonseca

«Eu, por aqui ando por estes caminhos e encruzilhadas ereparo nas poucas pessoas que param para rezar pela almaque esta cruz lembra»

A historiadora britânicaBettany Hughes é a vence-dora do Prémio EuropeuHelena Vaz da Silva para aDivulgação do PatrimónioCultural 2018, instituídopelo Centro Nacional deCultura (CNC), com a Eu-ropa Nostra. De acordo como jornal Público, a escolhada historiadora britânica“tem por objectivo home-nagear a personalidade ex-cepcional de Hughes, de-monstrada repetidamentena sua maneira de comuni-car o passado de formapopular e entusiasmante”, etem em conta a necessida-de “vital de construir umavisão da nossa identidademultifacetada”, numa erade nacionalismos e populis-mos, como se lê na declara-ção do júri, publicada nosite do CNC.

“Bettany Hughes contahistórias do passado que

Historiadora é a vencedorado Prémio EuropeuHelena Vaz da Silva

atravessaram milénios,mantendo o seu significadonos dias de hoje”, lê-se nadeclaração da presidente doCNC, Maria Calado,feita em nome do júri. “Nasociedade actual, a influên-cia do nacionalismo e dopopulismo parecem crescerfacilmente, tornando-se vi-tal construir uma visão danossa identidade multiface-tada e abrir as portas para arica herança de que benefi-

ciamos”.O Prémio Europeu He-

lena Vaz da Silva foi insti-tuído em 2013 pelo CNC,em cooperação com a Euro-pa Nostra, organização eu-ropeia de defesa do patrimó-nio que o CNC representaem Portugal, e o Clube Por-tuguês de Imprensa, paracontribuições excepcionaispara a protecção e divulga-ção do património cultural edos ideais europeus.

Centro Social do Rio Seco

Donativos para o Alto da Raia:

António Joaquim Lopes da Cunha ................................................... 20.00€José Henriques ................................................................................. 20.00€José Limão Gata .............................................................................. 15.00€Associação Caça e Pesca de Vilar Formoso .................................... 20.00€Edmundo Alcino Mendes Henriques ............................................... 80.00€Anónimo .......................................................................................... 24.00€

1313131313ALTO DA RAIAGeral

De tanto ouvirmos e lermosestas duas palavras, acabamospor assumir o fenómeno comoalgo ordinário, normal, afastan-do o seu caráter preocupante eaté anuindo à opinião de algunsque negam que tal esteja a acon-tecer. O clima mudou desdesempre. O inquietante não é quemude ou que as temperaturassubam. O preocupante é que oplaneta Terra aquece hoje àmaior velocidade registada nahistória do planeta.

Desde 1880, em pleno augeda industrialização, a tempera-tura média anual aumentouaproximadamente 1,1 grau cen-tígrado. Um grau em quase 140anos. Um grau é muito, sobretu-do porque aconteceu a uma ve-locidade endiabrada e em tãopouco tempo. 140 anos é muitopouco, para um homem são pra-ticamente duas vidas. Para aTerra, que tem 4.500 milhões deanos, é um insignificante instan-te.

Nos últimos 10 mil anos, quevão desde a última glaciação atéà época pré-industrial, a tempe-ratura média do planeta subiucerca de 4 graus centígrados. Acomparação é mais impressio-nante se tivermos em conta que,se não fizermos nada, no finaldeste século o aumento poderáser de 2,8 graus centígrados. Empouco mais de 200 anos, as tem-peraturas poderão subir maisque nos últimos 10 mil anos.

OPINIÃO

Alterações Climáticas

Esta aceleração foi iniciadapela industrialização, daí que aresposta sobre a responsabilida-de desta alteração recai no géne-ro humano, ou, pelo menos,numa parte dele. A temperaturado planeta sobe rapidamente e osseres humanos são os responsá-veis. É uma tendência que sóserá reversível se atuarmos de-cididamente. Não podemos nãofazer nada, podemos e devemosmitigar, dentro do possível, assuas consequências e, sobretu-do, evitar que o aquecimentocontinue.

Em 1988, a temperatura daTerra foi a mais alta de toda a suahistória. Tal não se ficou a de-ver a causas naturais mas aoefeito de estufa, provocado pelaemissão de gases produzidospelo homem e que está mudan-do o nosso clima. Desde 1992, éconsensual para muitos paísesque as alterações climáticas sãouma mudança de clima atribuí-da direta ou indiretamente à ati-vidade humana, que altera acomposição da atmosfera glo-bal, e que se acrescenta à varia-bilidade natural do clima obser-vado durante períodos de tempocomparáveis.

Em 2014, já quase ninguémtem dúvidas que a atmosfera e ooceano aqueceram, os volumesde neve e gelo diminuíram e onível do mar elevou-se. Temos,pois, de abrandar esta tendência.O Acordo de Paris de 2015, face

à dificuldade em não ultrapas-sarmos a barreira de 1,5 grauscentígrados de temperatura, as-sumiu o compromisso de não ul-trapassarmos os 2 graus centí-grados.

Os efeitos deste aumento sãocada vez mais visíveis, milhõesde pessoas, principalmente empaíses e comunidades mais vul-neráveis, sofrem ondas poucohabituais de calor e frio, chuvastorrenciais, secas, intensificaçãode fenómenos meteorológicosextremos como El Niño e LaNiña. Assistimos ao derretimen-to das calotas polares e à subidado nível do mar, que ameaça asterras de 2.800 milhões de pes-soas dos cinco continentes.Além disso, surgem doenças tro-picais em zonas onde nuncachegaram e espécies animais evariedades vegetais extinguem-se para sempre ante os nossosolhos.

A Terra está febril e o siste-ma termorregulador – a atmos-fera – tem problemas para man-ter a temperatura nos seus níveisadequados. Essa sucessão decapas, essa mistura de gases quenos proporciona um ambientehabitável, ao reter dentro de siparte do calor que irradia o Sol,está agora a reter mais do que erahabitual. A febre, esta falha dosistema termorregulador, é umsintoma que obriga a procurar acausa que provoca esta anoma-lia. O principal agente febril do

planeta somos nós.

Desde que, por volta de 1750,começámos a queimar combus-tíveis fósseis, disparou a con-centração de gases de efeito deestufa na atmosfera, sobretudode dióxido de carbono. Mas aqueima de carvão e petróleo e odióxido de carbono não são aúnica forma com que contribu-ímos para aumentar a febre, tam-bém libertamos outros gases deefeito de estufa como o metanoe o óxido nitroso. Além disso,qual agente infecioso que seexpande pelo corpo, estamos aatacar outras partes do organis-mo terrestre que ajudavam apaliar essas emissões. Não para-mos de reduzir o tamanho dospulmões da Terra, as florestas,limitando assim a capacidade deconverter o dióxido de carbonoem biomassa e exalar oxigénio.

Mas no fundo, se nada fizer-mos, não é a terra nem os ocea-nos que ficam verdadeiramenteem risco, pois de uma forma oude outra continuarão a existir,mas seremos nós que estaremosem risco de desaparecer, dadoque estamos configurando umclima no qual não podemos con-tinuar a viver. Assim, não se tra-ta de salvar o planeta, mas de nossalvarmos, pois o que está emjogo é o nosso mundo, o dosnossos filhos, e o dos seus.Numa visão prática, trata-se dedeixar às gerações futuras ummundo em que se possa viver.

Mas que coisas, de forma efe-tiva, podemos fazer? Primeiro,ser conscientes de que estamosa alterar o clima. O primeiropasso é a plena assunção de quesomos nós os responsáveis dasalterações climáticas, ou pelomenos somos cúmplices poração ou omissão. O poder maisimportante da mudança não re-

José ManuelF. Gonçalves

«Não se trata de salvar o planeta, masde nos salvarmos, pois o que está emjogo é o nosso mundo, o dos nossos fi-lhos, e o dos seus. Trata-se de deixar àsgerações futuras um mundo em que sepossa viver»

side nas cimeiras internacionaise na assinatura de grandes acor-dos globais, como o de Paris em2015, nem no compromisso dospaíses signatários, mas em nós,em quanto consumimos, desper-diçamos, como nos movemos,quanto reciclamos, o que exigi-mos aos nossos representantes eque tipo de sociedade estamos amodelar.

O passo seguinte para poderretardar este fenómeno é saberquais as coisas que fazemos di-ariamente que o estão a provo-car. No que toca a este aspeto, aresposta, infelizmente, é preocu-pante: muitas atividades da nos-sa vida moderna. A principalfonte de emissões é a produçãode energia, seguem-se a produ-ção de alimentos, os processosindustriais, o transporte e osedifícios. Este conhecimento vaimostrar-nos a necessidade demudança nos comportamentosindividuais como cidadãos econsumidores, mas também emtodo o sistema económico a ní-vel nacional e global.

Atacar o problema das alte-rações climáticas deve partir,como bem enfatiza o recente li-vro da coleção “O Estado doPlaneta” intitulado “As Altera-ções Climáticas”, da autoria daFAO, Organização das NaçõesUnidas para a Alimentação eAgricultura, da consciência que10% das pessoas mais ricas doplaneta geram 50% das emissõesderivadas de hábitos de consu-mo e que para manter os nossosníveis de produção e consumo,por exemplo o estilo de vida deum cidadão dos Estados Unidos,fariam falta 3,9 planetas. É umdesafio cheio de dificuldades,mas é cada vez mais urgente quenos ponhamos de acordo e deforma rápida!

As obras de beneficiação da estrada que liga Aldea del Obispo a Vilar deCiervo já terminaram. O troço de cinco quilómetros que unem as duas comarcasraianas, dispõe agora de seis metros de largura e meio metro de margem paraambos os lados. A obra foi da responsabilidade da Junta Provincial de Salaman-ca e importou-se em duzentos e noventa mil euros. Com a conclusão destes tra-balhos ficou concluído o corredor fronteiriço entre Fuentes de Oñoro e Castillejode Martín Viejo, cujo custo total ascendeu a um milhão e quinhentos mil euros.

O presidente daquele Departamento Provincial do Governo, Javier Iglesias,destacou a importância deste melhoramento, quer para a segurança rodoviáriaquer para o desenvolvimento económico e turístico desta região fronteiriça es-panhola que conta, também, com um interessante património histórico, comdestaque para o Fuerte de La Concepción e para as gravuras rupestres de SiegaVerde, nas imediações do rio Águeda.

FRONTEIRA

Está concluído o corredor que uneArgañan às gravuras de Siega Verde

1414141414ALTO DA RAIA Geral

Era uma vez uma família muito pobre.Vivia numa aldeia em que as noites eramescuras, e mais longas ainda quando afome se punha a cantar nas barrigas, an-tes de chegar a manhã. Certa noite, numserão de pão escasso, lembrou-se o pai decontar uma história. E vai ele, que bomseria, mulher termos dinheiro para com-prar uma cabra. Havíamos de levá-la à veza pastar pelos caminhos, para ela enchera barriga dos botões de silvas bravas,quando o sol, na primavera, constrói jar-

CRÓNICA

Mensário – Dia 16

dins nas paredes. E quando a noite che-gasse, e a cabra voltasse a casa, íamoscolher-lhe o leite, e as noites seriam lon-gas, e a família cresceria, já viste maisalegria. Mas eu não gosto de leite tornouo filho mais novo. E quando o outonochegar, e as silvas ficarem duras, subo aofreixo do valado, e do mais dourado ramo,se há-de fartar nosso gado, disse o outro,confiado. Mas eu não gosto de leite, in-sistiu o desgraçado.

Numa breve conclusão, perde o pai o

seu vagar, e ali mesmo obriga o revel eobstinado filho a engolir duas grandestigelas de leite na companhia dos irmãos,que assim dormiram toda a santa noite,de barriguinha calada.

É claro que tudo isto aconteceu numtempo muito antigo, enquanto havia mi-lagres e cabras que davam leite.

PregariasNesse tempo as forjas dos ferreiros

temperavam o ferro, e desenhavam comele as formas que eram precisas. Mas nãoo fabricavam. Isso era feito em fábricasde longe. O Victorino era da terra quen-te, e levava pregarias aos mercados. DasFreixedas à Meda não faltava a nenhum.E nessas andanças arrumava o macho noquinteiro da Cândida do Zé André. Foi oprimeiro passo para o casamento.

Mas um dia a Cândidinha morreu, diz-se que ele lhe deu um chá, já se tem visto.Como não havia herdeiros, ao viúvo cou-

Jorge Carvalheira

«E quando o outono che-gar, e as silvas ficarem du-

ras, subo ao freixo do valado,e do mais dourado ramo, se

há-de fartar nosso gado, dis-se o outro, confiado»

be o património. Aqui na aldeia, com casaestabelecida, o Zé Ribeiro vendia prega-rias que recebia do Porto. E com ele seentendeu o Victorino, juntando a fomecom a vontade de comer. Foi o primeiropasso para o segundo casamento, destavez com a Carmina, que acabou por ser amãe dos Crespos todos. 

Um dia vai ela ao Porto, pagar aos ar-mazéns. E bem a avisaram as sibilas: aidona Carmina, que anda lá tão ruim a pneu-mónica! - Eu dou-lhe com a carteira!

E terá dado, mas a pneumónica foimais despachada. Ela é que já não voltou.Para bem do Victorino, chegou aqui maistarde a morgada do Azevo, trazida porumas tias, para uma casa que era umparaíso. E nela se instalou o Victorino,onde lhe nasceu mais uma filha que foiviver para Viseu. Depois disso achou eleque era altura de erguer um jazigo dafamília. Mas não sei se está lá dentro.

SINGULARIDADES

Ao Professor Eduardo Lourenço,hermeneuta de Pessoae de Santo Agostinho

IPertence, a Rimbaud,

este pensamento: «Je est unautre», «o Eu é um outro»em portuguesa linguagem.Em escólio breve e leve,diríamos, então, o sagradoe o seguinte: toda a ortodo-xia, ela apela, e anela, agente heterodoxa. E todo oconsciente vai buscar a suaforça à África profunda donosso inconsciente. O con-centrado re-vela o alienado.E apela, outrossim, por he-terónimo, o autónimo Au-tor. E surde, aqui, o quesi-to: é certo que nós pensa-mos? Ou somos, em vezdisso, pesados e pensadospor a radicalidade? Olhai,«verbi gratia», para a pujan-ça do pinheiro: se ele eleva,dessarte, os seus ramos parao Céu, é porque mergu-lham, as suas raízes, no so-terrâneo de inferno. Tam-bém a Rosa só é Rosa por-que se alenta, e alimenta, doesterco esterquilínio. OPsiquiatra, por isso, é Poe-ta supimpa. O palhaço équem mais chora. Se trans-muda, na alteridade, o Eudo rapsodo – e a mentira,para Lord Byron, é a verda-de, a quididade, de umagrande mascarada. A ver-dade, desse modo, colabo-ra com a mentira. O roman-ce imita a vida ou é a vida,

em vez disso, que imita o ro-mance? O Actor, entanto, éAutor. Para Fernando Pes-soa, o teatro, e o auto, é aessência da ficção. Olhe-mos, por exemplo, para osReis duma rapsódia: elesnada, eles nada são sem obobo da corte; como o Joveé qual Saturno, como a vi-gília nada é sem o sonho danoite. Eu falo, aqui, do ba-cano e bacanal, do burles-co banquete: é o Carnaval,o desbragar, ele é o entre-mez do nosso inconsciente.

II

Uma das escolas maisfulgurantes aparecidas, emLisboa, aparecidas, bela-mente, no período pós-Abril, ela é, certamente, aFaculdade de Ciências So-ciais e Humanas, ela perten-ce, em parabém, à Univer-sidade Nova de Lisboa. Emprimeiro lugar, o adjectivo«nova». Ou como quemdiz: longe de se cousarnuma obra já feita, impelee apela, a universalidade, auma Obra, formidável, ain-da a fazer. Em lugar o sa-grado, ou lugar o segundo,as «ciências humanas» ou«ciências do espírito», elasforam teorizadas, por a veza primeira, por WilhelmDilthey (1833 – 1911), Fi-

lósofo germano. Não nosiludamos: como Nietzsche,Bergson e Ortega y Gasset,chegou Dilthey, deveras, àideia de vida. A experiên-cia vivida, aqui, é a chave,a ideia mestra, do grandehistoricismo. Ou melhor: seo ente humano é captado,no laboratório, como serfísico-químico, o homemsurde como objecto das ci-ências do espírito quando sevivem, ou versam, estadoshumanos. Quero eu dizer:se se explicam, ou expla-nam, as ciências da Natura,se aprendem, compreen-dem, as ciências do espíri-to: nós só prendemos, abar-camos, e abraçamos umPoeta, quando apertamos,ao peito nosso, o Pão davida estreme.

III

Se o Vaticano, aqui, équal o Vate, sejamos, ago-ra, o hermético hermeneutado Papa Francisco. Sua San-tidade reza destarte: «O di-nheiro é o esterco do diabo».A frase, original, é de S.Basílio de Cesareia (330 –379), um dos Doutores daIgreja Grega e germano, ouIrmão, de S. Gregório deNissa. Meditemos, matute-mos: em I Timóteo, 6: 10, eiso que aduz o Apóstolo dos

Gentios: «A raiz de todos osmales é a ganância do di-nheiro». O lucro, por isso, ésinal de que há logro. Comreceio de que o comérciodesviasse os Cristianos daevangélica Nova, eis o queassertava o Santo Agosti-nho: «Nenhum cristão deveser mercador». E o móbil deBasílio se radica no seguin-te: «Plutão», na mitologiahelena, era o deus do mun-do subterrâneo, ele era,como «Pluto», a cornucó-pia, a riqueza, a feracidadefértil dos infernos inferiores.Daí, num provérbio britâni-co, a verdade, lilial, do filo-sofema: «O dinheiro é comoo estrume, só é útil, dessar-te, se for disseminado». Evinda, aqui, a talho de foice,alertemos o legente para apalavra «simonia»: em «Ac-tos dos Apóstolos», ao verque o Espírito Santo eradado por imposição, mansae meiga, das apostólicasmãos, Simão ofereceu cacauem troca do carisma, ao quePedro, lancinado, replicou:«Vá contigo o teu dinheiropara a perdição, pois julgas-te comprar o Dom de Deuscom dinheiro». Este, dessar-te, o ensinamento de Lucas.Querem lê-lo e servi-lo???Querem segui-lo???

Paulo Jorge Brito e AbreuQueluz, 10/ 06/ 2018

CULTURA

Cooperação Portugal/Espanha é importantepara a internacionalizaçãoda cultura

O ministro da Cultura afirmou que a ligação cultu-ral entre Portugal e Espanha é “importante” para ainternacionalização da cultura, destacando a coopera-ção entre a Guarda e a cidade de Salamanca. Luís Cas-tro Mendes falava naquela cidade, onde presidiu à inau-guração de uma exposição de Paula Rego intitulada “Asinfâncias perduráveis”, realizada no âmbito do 3.ºSimpósio Internacional de Arte Contemporânea(SIAC), e à cerimónia de assinatura de um protocoloentre o município e o Novo Banco, para cedência decinco obras de arte contemporânea.

No seu discurso, o governante falou da cooperaçãotransfronteiriça existente nas duas regiões, que tem sidofeita em toda a raia e que, neste momento, “está a cres-cer”. O Museu da Guarda passa a deter cinco obras dearte da coleção do Novo Banco, de cinco artistas con-temporâneos portugueses: NikiasSkapinakis, José deGuimarães, Júlio Resende, Luís Pinto Coelho e JoãoHogan.

No âmbito do SIAC, foram ainda inauguradas asexposições “Recliner [afterMvdR] andothersculptu-res”, de Fernanda Fragateiro, e “Sobre a Terra Fendi-da Uma Chama”, de Sebastião Resende.O SimpósioInternacional é uma iniciativa organizada pelo Muni-cípio da Guarda e o seu museu, com o apoio da Uni-versidade de Salamanca (Espanha), da Casa das His-tórias Paula Rego, da Fundação Dom Luís, do Centrode Arte Manuel de Brito e da Fundação Serralves.

Lusa

1515151515ALTO DA RAIAGeral

“Aleitamento materno:a base da vida” é o tema daSemana Mundial de Aleita-mento Materno (SMAM)deste ano – 1/8/2018 a 8/8/2018 – definido pela Alian-ça Mundial para Ação emAmamentação (WABA,sigla em inglês).A SemanaMundial do AleitamentoMaterno, oficialmente esta-belecida pela OMS / UNI-CEF em 1992, é atualmen-te o movimento social maisdifundido em defesa doaleitamento materno. Cien-tistas encontaram um novotipo de célula do sistemaimune no leite materno. Ascélulas encontradas no lei-te materno são chamadas de“células linfoides inatas”do tipo 1. Esse tipo de célu-la de defesa é consideradade primeira linha contraagentes infecciosos e temuma descoberta mais recen-

SAÚDE

AMAMENTAÇÃO: a base da vida

te em relação a outras dosistema imune,diz estudopublicado em 2018 no“JAMA Pediatrics.

O recém-nascido temapenas três necessidadesessenciais: o calor humanodos braços da sua mãe, acerteza da presença mater-na e o leite do seu peito. Aamamentação satisfaz atrês. Segundo a OMS(1982), nenhum período daexistência humana é maiscrítico para o estabeleci-mento das bases de uma boasaúde, nem mais vulnerávelaos traumas e às rupturas,do que os primeiros mesesde vida de um bebé. A OMSe a UNICEF (1995) reco-mendam o aleitamentomaterno exclusivo, desde onascimento, até aos quatro/seis meses, e a manutençãoda amamentação, com ali-

mentos comp.lementares,até aos dois anos de idadeApós três décadas baseadasna “cultura do biberão”, daro peito ressurge em todo omundo como um facto, emconsequência da promoçãoe divulgação das vantagensdo leite humano. Exemploeloquente dos esforços depromoção da amamentaçãoé, entre muitos outros, arecomendação da OMS,incluída na Estratégia Glo-bal para a Alimentação doRecém-Nascido e do Bebé(OMS, 2002):

• aleitamento maternoexclusivo até aos seis me-ses, o que significa não darmais nenhum outro alimen-to, sólido ou líquido, nemsequer água, durante esseperíodo;

• continuar com o alei-tamento materno, comple-

mentado por outros alimen-tos, não necessariamente deprodução industrial, desdeos seis meses, até aos doisanos, no mínimo.

• Vantagens nutricio-nais e digestivas O aleita-mento materno é o alimen-to mais adequado para olactente até aos seis meses,pelo menos.

Se o bebé se alimentacom leite humano terá me-lhor resposta imunitária,será menos reactivo às va-cinas e correrá menos riscosde sofrer processos infecci-osos e gastrointestinais.Sempre disponível, à tem-peratura ideal e devidamen-te esterilizado, o leite ma-terno é o alimento à medi-da das necessidades nutri-cionais do bebé. Pelas pro-teínas humanas que possui,o leite materno está inigua-

lavelmente harmonizadocom as características fisi-ológicas dos recém-nasci-dos e das crianças peque-nas. As proteínas do leitehumano são reconhecidaspelo intestino como iguais,o que previne alteraçõesalérgicas, como a asma, oeczema e o eritema, fazen-do com que os bebés ama-mentados tenham menosprocessos alérgicos e estes,quando ocorram, sejammenos severos. O acto deamamentar não se baseiaapenas na administração denutrientes ao recém-nasci-do, mas é também um actoque simboliza o amor in-condicional e que, ao satis-fazer a necessidade de suc-ção e ao propiciar o contac-to íntimo, pele com pele,promove o vínculo preco-ce e os laços afectivos en-tre mãe e filho.

A amamentação é umadas coisas mais naturais ecarinhosas que todas asmães podem fazer por elase pelos seus bebés, já quepela ocasião do parto todasas mulheres têm leite e to-das, com muito poucas ex-cepções, podem amamen-tar. Há também muitos si-nais sugestivos de que oleite materno poderá terefeitos benéficos no desen-volvimento sensorial, mo-tor, intelectual, cognitivo eda linguagem. Entre as van-tagens do aleitamento natu-ral para a mãe, bem defini-das na bibliografia interna-cional, sobressai o papel

«Se o bebé sealimenta comleite humano

terá melhor res-posta imunitáriae correrá menosriscos de sofrer

processos infec-ciosos e gastro-

intestinais»

que desempenha na recupe-ração fisiológica após oparto, pois facilita a involu-ção uterina, devido ao au-mento transitório de ocito-cina produzida durante aamamentação, diminuindoo risco de hemorragias e deinfecções pós-parto e, con-sequentemente, prevenin-do a anemia.

Alguns estudos apon-tam para a possível reduçãoda incidência do cancro damama em mulheres queamamentam por longosperíodos. O aleitamentomaterno também contribuipara prevenir as depressõespós-parto, e serve aindacomo método contracepti-vo, embora pouco seguro.Do ponto de vista económi-co, é mais barato alimentarum recém-nascido com lei-te materno do que com lei-tes artificiais. Por outrolado, é mais prático, estásempre pronto e à tempera-tura ideal, não necessitan-do de qualquer equipamen-to ou procedimento especi-al para a sua preparação.Aamamentação previne afome e a desnutrição emtodas as suas formas e ga-rante a segurança alimentardos lactentes, mesmo emtempos de crise. Todos nóstemos um papel importan-te a desempenhar para ga-rantir o crescimento, desen-volvimento e sobrevivênciade todas as crianças ao re-dor do mundo.

Laura BarreirosEnfermeira

Coragem. Uma virtude que achamos que é exclusivade uns poucos. Ou só dos homens. Mas podemos exerci-tá-la, como fazemos com os músculos, para não perder-mos as melhores ocasiões da nossa existência.

Alguém dizia, com um certo humor, que “Não se podedar coragem a quem não a tem”! Mas, o que é a coragem?A palavra deriva do Latim cor habeo, que significa “tercoração”. Portanto, a coragem é um estado do coração,a capacidade de fazer aquilo que achamos justo, ainda queas consequências das nossas escolhas possam atemori-zar-nos. É uma virtude humana que nos permite enfrentarperigos, dificuldades e dores, sem sermos esmagados pelomedo. Na prática, a coragem tem que ver com a forçamoral, com a capacidade de enfrentar, de cara levantada,a vida e os riscos que ela implica. Mas os homens são maiscorajosos do que as mulheres? Na realidade, a verdadeiracoragem não tem sexo! Porque tem a ver com a nossa ca-pacidade de enfrentar o medo. Reconhece-o, dá-lhe umnome, mas enfrenta-o. A coragem nasce dentro de nós,da nossa motivação e da nossa consciência. Se não sabe-

PSICOLOGIA

A coragem aprende-semos quais são os nossos valores, se não temos uma metana vida e não nos identificamos com ela, desenvolver acoragem será muito difícil. 

Como dizia Shakespeare: “Há quem nasça grande,quem se torne grande e quem seja obrigado a sê-lo.” Acoragem não deriva da idade, da juventude ou do poder.Não é uma estúpida inconsciência nem uma míope des-valorização do perigo. Nunca é previsível, não é dadacomo adquirida, não é inexaurível. Deve ser procurada,cultivada e reconquistada. A coragem não é algo pré-fabricado, mas uma escolha que, de vez em quando, deveser criada e posta em prática à medida de situações es-pecíficas. Coragem não é ir contra o obstáculo, ou avan-çar com a força física; não é fanfarronice nem levianda-de. Ter coragem significa, pelo contrário, enfrentar a vidae as outras pessoas com assertividade, quer dizer, afir-mar as ideias pessoais, sem se ser ameaçador, agressivoou arrogante.

Sem coragem, acabamos por perder aquilo que estáno nosso coração. Suportamos os acontecimentos. Des-

conhecemos as nossas potencialidades e os nossos re-cursos reais.

Porque a coragem não é só aquela que se manifestanos grandes gestos heroicos, não é só apanágio exclu-sivo dos heróis. Pode estar presente nos pequenos ges-tos da vida diária. Desenvolve-se quando dizemos a umapessoa que nos agrada; quando exprimimos aquilo quenos vai no coração, sem rancor, mas com extrema sin-ceridade; ou quando decidimos defender alguém oualguma coisa porque achamos que é justo fazê-lo. Acoragem pode ser dos pequenos que se mostram capa-zes de ser grandes; e é como um músculo: se não a usar-mos, vai desaparecer. Se não sabemos aceitar os desa-fios; se não pomos continuamente objetivos a nós mes-mos; se não aprendemos a lutar contra os nossos medos,a nossa coragem natural corre o risco de não crescer, eacabará por se extinguir totalmente.

Massimo PiovanoEspecialista em psicologia e comunicação(Colaboração Saúde & Lar/Alto da Raia)

Laura Barreiros