EdileusaSP JoildaGAL MLviaPS Relacao Familia-Escola e as Influencias Na Aprendizagem[1]
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1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UEG
UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE INHUMAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA
RELAÇÃO FAMÍLIA/ESCOLA E AS INFLUÊNCIAS NA
APRENDIZAGEM
EDILEUSA DOS SANTOS PEREIRA
JOILDA GOMES DE ANDRADE LIMA
MARIA LÍVIA PEREIRA SOUSA
INHUMAS
2006
EDILEUSA DOS SANTOS PEREIRA
JOILDA GOMES DE ANDRADE LIMA
2
MARIA LÍVIA PEREIRA SOUSA
RELAÇÃO FAMÍLIA/ESCOLA E AS INFLUÊNCIAS NA
APRENDIZAGEM
Monografia apresentada ao curso de
Pós-graduação em Psicopedagogia, da
Universidade Estadual de Goiás
UEG,
Unidade Universitária de Inhumas sob
orientação da professora Ms. Marlene
Barbosa de Freitas Reis.
INHUMAS
2006
3
Se realmente acreditamos que é possível
um outro mundo, é preciso investir no
conhecimento e, seguramente na
aprendizagem .
Juan Ignacio Pozo.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................
05
4
CAPÍTULO I......................................................................................................
07
1.1 RELAÇÕES FAMILIARES ...................................................................... 07
1.2 RELAÇÃO ESCOLA/APRENDENTE ......................................................
09
1.3 RELAÇÃO FAMÍLIA/ESCOLA E APRENDIZAGEM ............................... 12
CAPÍTULO II.....................................................................................................
15
2.1 CONTRIBUIÇÕES E ENTRAVES DA EDUCAÇÃO ...............................
15
2.2 INFLUÊNCIAS NA APRENDIZAGEM .................................................... 17
2.3 FATORES DE INTERFERÊNCIA NA APRENDIZAGEM ....................... 19
CAPÍTULO III....................................................................................................
24
3.1 ESTUDO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................... 24
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................
28
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ..................................................................
30
ANEXOS ..........................................................................................................
31
5
INTRODUÇÃO
A relação família / escola interfere no aprender?
É sobre esta relação que está baseado o nosso estudo, porém o nosso
foco principal é sobre as interferências que essas relações podem causar na
aprendizagem da criança. Como educadores preocupados em entender as
construções e reconstruções do aprendente no mundo da aprendizagem, e na
tentativa de compreendê-las de forma curiosa e ativa, buscamos refletir algumas
contribuições e entraves da busca do aprender, pois este constitui um dos
assuntos de fundamental importância à prática docente.
Diante das preocupações que nos movem, sentimo-nos motivados a
pesquisar sobre algumas interferências no aprender olhando a aprendizagem
numa relação significativa com a vida e as experiências adquiridas. Enquanto
educadores não podemos nos furtar aos desafios de nossa realidade, ainda que
devamos analisá-las criticamente.
Sendo o aprendente a peça principal do processo educacional,
esperamos melhor entender a relação família/escola, buscando compreender
como e até que ponto as relações familiares podem influenciar, tanto
positivamente como negativamente na vida escolar da criança e a partir daí
melhorar as relações de aprendizagem tornando-as mais fáceis e saudáveis.
Voltados para uma análise da realidade em que o essencial é conhecer
onde estamos para projetar o caminho a percorrer e buscar formas de mediação
para atingir nosso objetivo, estaremos desenvolvendo uma pesquisa aplicada,
buscando por meios de estudos teóricos e experiências vivenciadas por famílias e
escolas, compreender como se dà a relação de ambas com a aprendizagem.
Para que pudéssemos desenvolver nosso trabalho contamos com a contribuição
de escolas públicas municipais e privada do município de Itauçu e escolas
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municipais e estaduais do município de Santa Rosa. Tendo ainda a contribuição
de profissionais da Psicopedagogia e famílias que tornaram possível
complementar nosso estudo teórico.
O primeiro capítulo vem falar das relações familiares, levando-nos a
refletir a dimensão da concepção de família e as transformações pelas quais vem
passando ao longo da história. Fala ainda sobre a relação escola e aprendente,
onde podemos perceber a força que um exerce sobre o outro. Reflete ainda a
relação da família/escola com a aprendizagem, onde as questões vinculares e
metodológicas são de fundamental importância para o desenvolvimento da
criança.
O segundo capítulo nos apresenta a problemática das influências na
aprendizagem, ressaltando o desejo de aprender como um fator positivo para o
desenvolvimento da aprendizagem, refletindo também os fatores de interferência.
Outra questão apresentada são as mudanças educacionais como busca de
melhoria para o crescimento educacional da sociedade e garantia de acesso ao
conhecimento para todos, analisando as contribuições e as ideologias embutidas
nessas mudanças.
O terceiro capítulo destaca o resultado de nosso estudo, o qual vem
analisar os diferentes pensamentos sobre o assunto abordado, bem como
reflexões sobre o caminho a percorrer, levando em conta as diferenças, limitações
e ansiedades presentes no mundo das aprendizagens.
7
CAPÍTULO I
1.1 RELAÇÕES FAMILIARES
Falar de relacionamento familiar é algo muito bonito porém muito difícil,
porque é uma arte. Não é simplesmente falar de um fazer, mas é falar de uma
vivência que implica deveres e direitos. Enquanto os pais ensinam na vida a
missão de ser filhos , os filhos ajudam os pais a entenderem e viverem a missão
de ser pai e mãe . Para isto temos à nossa disposição um grande valor que se
chama diálogo. Nos dias atuais, é preciso que se pense mais sobre isto.
Vejamos o que diz Cury a respeito desse assunto:
o dialágo desenvolve a solidariedade, companheirismo, prazer de viver, otimismo, inteligência interpessoal, pois bons pais conversam, pais brilhantes dialogam. Entre conversar e dialogar há um grande vale. Conversar é falar sobre o mundo que nos cerca, dialogar é falar sobre o mundo que somos (CURY, 2003, p.42).
Bondade e firmeza, são outros valores indispensáveis para o bom
desenvolvimento e equilíbrio da personalidade dos filhos. A bondade gera
confiança, a firmeza gera segurança. Pais que pensam em ser bons, mas não
usam de firmeza, são dominados pelo egocentrismo dos filhos. E pais que só
usam de firmeza sem o uso da bondade, são autoritários, geram medo e causam
insegurança. Portanto, nem a bondade nem a firmeza traumatizam a criança, mas
o mau uso delas.
Um outro valor que consideramos importante e indispensável para um
bom relacionamento é o respeito. Respeito para consigo e para com o outro.
Quando os filhos perdem o respeito pelos pais é porque os pais já o perderam por
si próprios, pois o respeito é o alicerce da boa convivência, tanto na família
quanto na sociedade. Também consideramos importante a questão dos limites.
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É necessário que o limite comece a ser trabalhado desde a formação da personalidade
da criança, uma vez que os valores estão sendo formados junto com o seu
desenvolvimento. Quando os pais permitem que os filhos, por menores que sejam,
façam tudo o que desejam, não estão lhes ensinando noções de limites individuais e
relacionais, não estão lhes passando noções do que podem ou não podem fazer. Cada
vez que os pais aceitam uma contrariedade, um desrespeito, uma quebra de limites
estão fazendo com que seus filhos não compreendam e rompam o limite natural para
seu comportamento em família e em sociedade. Os delinqüentes sociais nada mais
são que os folgados familiares que transformam o abuso entre as paredes do lar em
abuso externo.
Se existir o dialágo, a bondade, a firmeza, o respeito e o limite nas relações,
acreditamos que a criança crescerá aprendendo a assumir com responsabilidade as
suas atitudes e chegará à idade adulta com menos turbulência.
É preciso considerar que o momento histórico em que vivemos, estimula a
insegurança e não favorece a autonomia. As pessoas vivem com medo. Há violência
de todos os tipos que geram dependência e insegurança, o que acaba limitando a
liberdade das pessoas e ao mesmo tempo, incentivando as relações de dependência.
Quando nascemos somos totalmente indiferenciados, o bebê não tem consciência da
própria identidade é somente aos poucos que ele vai percebendo a si mesmo e ao
outro, sua relação com a mãe é simbólica, e ele começa a estabelecer vínculos que
mais tarde irão determinar a sua personalidade.
Para elucidar o nosso objeto de estudo vejamos o que é apresentado na
obra Relações Vinculares e Aprendizagem:
Em muitos casos, encontramos sentimentos hostis disfarçados, porém presentes na relação familiar, impedindo uma comunicação autêntica, o que impede o vinculo com mundo das idéias . (CHAMAT, 1997, p. 19)
Como vimos, a autora coloca que a falta de comunicação familiar é um dos
fatores que impedem a criança de estruturar e desenvolver seus pensamentos,
gerando medos e bloqueando o pensar, mais adiante sugere que seja feito o estudo da
criança com dificuldades de aprendizagem, a partir das influências causadas pela
família, somada as suas próprias características, dando ênfase a leitura e a
interpretação dos aspectos ocultos. Ou seja, aqueles aspectos que estão presentes
sem serem percebidos.
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Seguindo este raciocínio, acreditamos que para estudarmos a causa (motivo)
que conduz a criança a não aprendizagem, devemos adotar uma linha de investigação,
que nos leve a compreensão do indivíduo, da família e da escola. Quais os vínculos
existentes nessa relação, que levam a falta de conhecimento. De modo que, para
compreender a patologia do não aprender, será necessário observar minuciosamente a
maneira pela qual as pessoas se relacionam umas com as outras. Vale ressaltar, que
na compreensão do vínculo, é preciso considerar tanto os fatores ambientais, quanto
os fatores instintivos e psicológicos do indivíduo.
Segundo a autora citada anteriormente, um fato muito importante é o de que
quando as causas se encontram na ausência de vinculação do ser que ensina com o
ser que aprende, ou na inadequação da metodologia, cria-se um problema de
ensinagem e, a criança chega ao consultório sendo portadora das deficiências do outro,
presa a um verdadeiro emaranhado psíquico. Sendo assim, é importante considerar
que na maioria dos casos, as dificuldades de aprendizagem da criança brotam, tanto
do grupo familiar (e aqui vale esclarecer que, chamamos de grupo familiar todos
aqueles que estabelecem vínculos de convivência com a criança, não se tratando
somente da família biológica) quanto da instituição escolar. Sendo assim, o excesso e
a falta de gratificação, impedem o acesso da criança ao conhecimento, tornando-a
desprovida do desejo de aprender. Desta forma consideramos que a aprendizagem
brota de forma considerável e satisfatória, quando é estabelecido entre ensinante e
aprendente um vínculo de aceitação e confiança, a fim de evitar os bloqueios que
impedem a exteriorização do potencial do indivíduo.
1.2 RELAÇÃO ESCOLA/APRENDENTE
A Constituição Federal Brasileira garante a todos os cidadãos o direito a
Educação.
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho . (Artigo 205-CFB).
Direitos esses, que ainda não são respeitados. O direito está ali garantido
por lei, mas não há condições de vida para que a pessoa possa estudar. Para reverter
essa situação é preciso um outro caminho, um outro modelo, uma outra teoria, que
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supere o pensamento de que a criança aprende basicamente ouvindo o professor e
repetindo o que ele disse. E essa teoria tem que ser fundamentada na humanização,
ensinar para a compreensão. Não existe uma outra forma que possa sustentar esta
nova prática. E como faremos essa transformação? Ninguém faz nada sozinho. Por
isso, temos que ter a consciência de que esse trabalho não pode ser individual. É
preciso ser uma decisão política e pedagógica, para fazer com que de fato a escola
trabalhe pela inclusão. É evidente que se deve partir da esperança de que é possível
uma outra escola, assim como também é possível uma outra sociedade e que para
construirmos uma sociedade diferente, temos que trabalhar na perspectiva de idéias
diferentes e de novas possibilidades, pois só poderemos compreender os entraves da
vida, as diferenças sociais se formos capazes de integrar todo o tipo de conhecimento.
É como já dizia o grande educador Paulo Freire: O futuro é a possibilidade .
A escola que defendemos é aquela que fundamenta-se na racionalidade
dialógica, essencialmente comunicativa. Contra o modelo de escola que temos, que
acentua apenas a aquisição de conteúdos curriculares. A educação é muito mais que a
instrução. Temos consciência de que a educação é um processo a longo prazo e
precisa combater o imediatismo, porque para ser humanista e libertadora, precisa
construir entre ensinantes e aprendentes uma verdadeira consciência histórica. E isso
carece de tempo.
A escola de hoje encontra-se frente a grandes desafios, e nesse contexto de
impregnação do conhecimento, não pode ser mais um espaço, entre outros, de
formação. Mas precisa ser um espaço de múltiplos campos de formação, exercendo
uma função mais formativa e menos informativa, mais transformadora e menos
depositária, muito mais gestora do conhecimento social do que lecionadora. É lógico,
que as mudanças e as transformações provocam conflitos. Mas a escola tem
exatamente este papel, o de provocar confronto de idéias e aspirações para que a
partir daí nasça o novo, onde o nosso grande desafio é o de ajudar o aluno a construir
um sentido para a vida. E nada no meio escolar justifica aprisionar idéias, opiniões ou a
capacidade de expressar e criticar, porque a verdadeira liberdade de aprender reside
em ter um pensamento próprio.
A escola deve constantemente refletir sobre a responsabilidade em
promover a construção do ser-sujeito, pesquisador, reflexivo e consciente de suas
capacidades e potencialidades, buscando acompanhar os motivos e razões do não
desenvolvimento e saber o que ocorre, com cada aprendente: porque não está
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aprendendo? Por que a resistência em aprender? Possui algum bloqueio? Problema
neurológico? Crise familiar? Essas questões precisam ser discutidas e analisadas com
bastante cuidado, porque exigem um estudo detalhado e criterioso, de modo que, para
compreendermos tais questões é necessário investigarmos as causas que apontam
cada porquê , cada problema apresentado, o que requer a busca da investigação
proveniente de outros campos de conhecimento como: psicologia, neurologia,
psicopatologia, fonoaudiologia, antropologia e muitos outros.
Acreditamos que deveríamos saber mais sobre os processos mentais e
intelectuais, os hábitos e valores provocados e ativados pelo como ensinamos e pelo
como os educandos aprendem e se socializam. Pode ser oportuno lembrar alguns
estudiosos do desenvolvimento humano que com tanta ênfase nos chama a atenção
para a importância da ação e dos processos na nossa formação:
Com efeito, são as relações da psicologia do homem moderno com a família que se propõe ao estudo do psicanalista; esse homem é o único objeto que ele submeteu verdadeiramente a sua experiência, e se o psicanalista reencontra nele o reflexo psíquico das condições mais originais do homem, como pode ele pretender ajudá-lo de suas franquezas psíquicas sem compreendê-lo na cultura que lhe impõe as mais elevadas exigências, sem compreender também sua própria posição perante esse homem no ponto extremo da atitude cientifica? (J. LACAN, 1985, p. 57)1
Já para Dewey, tudo o que somos é resultado da herança passada de
geração a geração. Melhor deixar que o próprio fale sobre essas coisas:
Vivemos desde o nascimento até a morte em um mundo de pessoas e coisas, que é o que é, em grande parte, graças a tudo que tem deixado feito a herança transmitida pelas atividades humanas (J. DEWEY, 1963, p. 39)2
O que estamos sugerindo, é que para que ocorra a aprendizagem seja
necessário investigar os caminhos que impossibilitam o seu florescer. O que está
oculto, diante de uma queixa apresentada tanto pela escola quanto pela família? O que
encontra-se camuflado? Pois é somente a partir desta descoberta que seremos
capazes de chegar à metamorfose do conhecimento. Sendo assim, acreditamos que a
psicopedagogia apesar de ainda não ser considerada como ciência, o seu estudo,
1 J. Lacan, Os Complexos Familiares, Rio de Janeiro, 1985. 2 J. Dewey, Experience and education, Nova York, Macmillian, 1935-1963. in M. Arroyo, Ofício de Mestre, Rio de Janeiro, Vozes, 2002.
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muito poderá contribuir na busca do conhecimento para com as causas que dificultam a
aprendizagem.
Nosso sonho é um dia acordar e enxergarmos uma escola diferente, com
educandos sedentos de saber e educadores comprometidos, conscientes da
importância do trabalho que desempenham, apaixonados pelo que fazem. Também
eles sedentos pelo saber, pela construção, pela alegria de descortinar horizontes e que
busquem na pesquisa permanente, as respostas para uma educação cada vez melhor,
na qual se criem soluções conjuntas e todos se sintam responsáveis, tanto família
quanto escola, pela formação e promoção humana.
1.3 RELAÇÃO FAMÍLIA/ESCOLA E APRENDIZAGEM
As mudanças da sociedade, a crise do patriarcalismo, induzida pela
interação entre o capitalismo informal e os movimentos sociais feministas, manifestam-
se na crescente diversidade de parcerias entre indivíduos que partilham suas vidas. As
tendências sociais, econômicas e tecnológicas encontram-se presentes em todo
mundo, fazendo talvez com que a maioria das sociedades reconstruam ou substituam
suas instituições familiares de acordo com as condições específicas de sua cultura e
história.
É preciso refletir que o que está em jogo não é o desaparecimento da família,
mas sua profunda diversificação e a mudança do seu sistema de poder. Cada dia se
torna mais comum a criação de novos perfis de vidas familiares e de parentescos para
enfrentar os desafios e responsabilidades impostas pela era atual, pois na História não
há direcionamento predeterminado, mas pede de cada indivíduo a definição do seu
papel.
A palavra família pode ter diferentes significados, conforme a experiência de
cada um. Se analisarmos a família dentro da dimensão de tempo, poderíamos nos
questionar: como teria sido as famílias na era antiga? E na era moderna? Porém,
temos de analisá-las também na dimensão cultural, onde o meio e a forma em que
vivem são fatores que influenciam nas ações. Precisamos sim, analisar alguns
aspectos de mudanças, como: os espaços ocupados por homens e mulheres, tanto na
sociedade e no trabalho, quanto nos espaços privados e na afetividade familiar.
O nível de afetividade do sujeito determina seu envolvimento com situações novas e ou desconhecidas, das
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quais não tem controle, impedindo sua penetração no mundo das idéias por falta de pulsão para o conhecimento. Conseqüentemente, recalcando o saber . (CHAMAT, 1997, p. 61)
Outro aspecto a ser analisado é a transformação das relações sociais e
econômicas, gerando muitas vezes o individualismo e o distanciamento das pessoas. E
ainda a mudança de valores crescente no mundo globalizado, onde os meios de
comunicação de massa nos envolvem num mundo fantástico de modelos pré-
estabelecidos, de conduta e de consumo, que ao mesmo tempo encanta e assusta.
Numa reflexão pautada na realidade percebemos que a família é construída
cotidianamente, em nosso modo de agir com aqueles que são importantes para nós,
numa rede de relações e de responsabilidade entre as pessoas. E é nesse encontro de
redes entre escola-aluno-família, que se pode construir uma relação de troca, de
complementaridade que possibilita a todos educar e serem educados.
A compreensão do mundo que nos rodeia e suas características, a procura
de uma resposta às perguntas que a época atual nos apresenta, levam-nos a refletir o
passado, a origem do processo que estamos observando e vivendo. Desta forma se a
escola assume a missão de procurar situar os educandos na realidade com senso
crítico, sentindo-se integrada à mesma, é preciso recorrer ao passado para dar
elementos necessários para a compreensão do presente.
Teoricamente, a família teria a responsabilidade pela formação do indivíduo, e a escola, por sua informação. A escola nunca deveria tomar o lugar dos pais na educação, pois os filhos são para sempre filhos e os alunos ficam apenas algum tempo vinculados às instituições de ensino que freqüentam ( TIBA, 1996, p. 111).
Portanto, é preciso tomar consciência dos problemas de nossa época,
começar assumir um compromisso diante dos mesmos, o qual deve ser a contribuição
da escola à sociedade, pois a escola precisa criar condições para o aprendente
desenvolver a habilidade de aprender a aprender de modo que ele seja capaz de
continuar sua aprendizagem mesmo depois de deixá-la, levando consigo a certeza da
importância do tempo vivido para a aprendizagem e a capacidade de construir uma
história que tem a ver com nós mesmos.
À medida em que a sociedade vai se tornando cada vez mais dependente do
conhecimento, é necessário questionar a concepção de educação e de aprendizagem.
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É importante entender a aprendizagem como uma atividade contínua, que se estende
ao longo da vida.
Aprender é construir conhecimento - do latim, apprehendere, que significa
apanhar, apreender, apropriar-se, compreender. Para que a apropriação aconteça o
aprendente deve processar a informação que obtém na interação com o mundo dos
objetos e das pessoas.
Para que haja aplicação da informação, esta deve ser interpretada e
processada, o que implica a atribuição de significados, de modo que a informação
passe a ter sentido para o aprendiz. Sendo assim, aprender significa apropriar-se da
informação segundo os conhecimentos que já possui e que estão continuamente
reconstruídos.
Desta forma, tanto a escola quanto a família devem estar contribuindo para a
autoformação do individuo, ou seja, ensiná-lo a assumir a condição humana, tornando-
o cidadão e dando-lhe consciência do que isto significa. É neste sentido, que
percorreremos alguns caminhos trilhados pela educação brasileira, refletindo sobre as
contribuições, influências e interferências na aprendizagem.
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CAPÍTULO II
2.1 CONTRIBUIÇÕES E ENTRAVES DA EDUCAÇÃO
Na tentativa de melhor compreender o processo educacional e elucidar
nosso estudo percorreremos juntos um breve histórico da educação brasileira.
Nos primeiros tempos a escravidão e o descaso dos governantes foram dois
grandes empecilhos para o desenvolvimento da educação. Nossas primeiras escolas
começaram com os jesuítas, onde o ensino era para poucos. Com a expansão do
comércio e a abolição dos escravos cresce o fluxo de pessoas de outros lugares em
nosso país e junto a este progresso as novidades. Preocupados com o analfabetismo
impedindo a divulgação da religião surgem as escolas organizadas em séries e
disciplinas cientificas, mostrando com resultados a possibilidade de uma nova forma de
organização escolar. Posterior a isto surge o primeiro censo, apresentando um número
chocante de analfabetos, o que levou a elite a questionar o crescimento e o futuro de
um país com tal situação educacional.
Avançando na história percebemos as mudanças pelas quais a educação
percorreu no intuito de criar mecanismos que pudesse contribuir para um efetivo
crescimento intelectual da sociedade. Na década de 1930, cria-se o Ministério da
Educação e Saúde, e é publicado o Manifesto dos pioneiros da Educação, defendendo
o ensino integral, público e obrigatório. A nova Constituição Federal institui a educação
como direito de todos. E com o golpe do presidente Getúlio Vargas as mudanças
educacionais são interrompidas, vindo surgir posteriormente a UNE (União Nacional
dos Estudantes), lutando pelos seus direitos educacionais.
Na década de 1940 é estabelecido o ensino profissionalizante e a escola
torna-se, assim, um aparelho de reprodução de mão-de-obra e da ideologia dominante.
Na década de 1960 é promulgada a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional), dando um novo direcionamento à educação brasileira. Porém a grande
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contribuição surge com o método Paulo Freire, defendendo a valorização da cultura do
aluno como caminho para a conscientização política e a aprendizagem. Também nesta
década o Brasil enfrenta o início da ditadura militar, expandindo a educação nas
regiões urbanas, no entanto os investimentos se concentraram apenas nas
construções de prédios, esquecendo assim a qualidade do ensino e a valorização do
profissional da educação.
Na década de 1970 é ampliada a obrigatoriedade do ensino de 4 para 8
anos e acontece também a mobilização dos professores para recuperar as perdas
salariais e regulamentação da carreira de magistério. Com a morte de Jean Piaget na
década de 80 suas idéias construtivistas passam a ser discutidas, retomando as idéias
de educação popular e a necessidade de considerar os saberes da população menos
favorecida para dar sentido à educação.
Na década de 1990 o MEC lança a TV escola com a intenção de atualizar os
professores e cria o (Saeb) Sistema de Avaliação do Ensino Básico e o Exame
Nacional de Cursos. Usando maior estimulação da qualificação dos professores, mais
autonomia para as escolas e maior flexibilidade nos conteúdos. É aprovada a nova
LDB, mostrando às escolas as possibilidades de desenvolver uma educação
significativa, onde o aluno seja capaz de ver sentido naquilo que aprende.
Complementando a luta pelo avanço educacional é lançado também os Parâmetros
Curriculares Nacionais, dando suporte ao trabalho do professor e servindo de
instrumento útil no apoio às discussões pedagógicas e reflexões sobre a prática
educativa e material didático.
Diante de tais informações faz-se necessário uma análise das
transformações percorridas pelo processo educacional, sabendo da importância de
olhar o processo ensino-aprendizagem em uma dupla face: de um lado a
aprendizagem e do outro a não aprendizagem. Cada aprendente tem sua singularidade
e é a percepção desta singularidade que vai direcionar o processo do aprender, e não
um modelo universal de desenvolvimento. A escola por si, não forma o cidadão, a
escola o prepara, o instrumentaliza, dá condições para que ele possa se formar e se
construir ... ( Rodrigues, 2000, p. 56).
Nossa sociedade vive momentos paradoxais do ponto de vista da
aprendizagem. Cada vez se aprende mais e cada vez se fracassa mais na tentativa de
aprender.
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Embora se diga que vivemos em uma sociedade do conhecimento o acesso
a esse conhecimento culturalmente gerado não é fácil, como mostram as inúmeras
mudanças do nosso sistema educacional na tentativa de atingir esse objetivo.
Sabemos que ainda não há acesso à educação para todos, pois mesmo que garanta
escola para todos, isto não quer dizer acesso ao conhecimento de todos. Estar na
escola não significa aprender. Aprender significa apropriar-se da informação segundo
os conhecimentos que o aprendente já possui e que estão sendo continuamente
reconstruídos. É preciso olhar a pessoa com um ser histórico, munido de experiências
e singular na sua modalidade de aprendizagem, portanto requer uma educação capaz
de compreendê-lo como tal.
Em contra partida a singularidade do aprendente, temos que analisar a
pluralidade do espaço escolar, onde é compreendido: atitudes, conhecimentos,
experiências, sentimentos, filosofia de educação e pessoas extremamente diferentes,
mas que se completam no dar e receber. Este espaço também é impregnado de regras,
de valores e de sentimentos contraditórios, os quais podem interferir direta ou
indiretamente no crescimento individual e coletivo.
Porém, não podemos nos esquecer que o conhecimento é uma das marcas
da atual sociedade e um elemento indispensável para a formação da cidadania, por
isso é importante que lutemos para que todas possam desfrutar deste tesouro.
2.2 INFLUÊNCIAS NA APRENDIZAGEM
Para melhor compreendermos o tema em questão recorremos a informações
que possam contribuir para o entendimento do estudo proposto. Influência é o ato ou
efeito de influir, é a ação que uma pessoa ou coisa exerce sobre outra (FERREIRA,
2000). Neste sentido analisaremos as influências tanto das relações escolares quanto
das relações familiares no processo de aprendizagem da criança.
Sabemos que o ser humano é um ser inacabado, que nunca é, mas que está
sempre vindo a ser. Diante desta certeza acreditamos que as experiências vividas por
ele influenciam positivamente ou negativamente no seu desejo para o aprendizado,
sendo este condição importante na interligação do sujeito com o desejo de
conhecimento, oportunizando uma aprendizagem mais rica.
Para que o desejo seja caminho que conduz à aprendizagem é
imprescindível que haja uma relação harmoniosa, permeada pelo diálogo entre
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aprendente e ensinante, onde um conheça a vida do outro, não apenas na sala de aula,
mas também em espaços individuais presentes no contexto, tais como: a
personalidade, o grau de interesse pelo estudo, o convívio familiar e as oportunidades
disponibilizadas pela mesma. Estas diferenças devem ser consideradas em sua
totalidade, pois cada um possui a sua história, sendo portanto, fruto da mesma.
Então, despertar o interesse pela aprendizagem é permitir que os
aprendentes descubram suas pontencialidades, bem como o seu jeito de aprender sem
ferir seu jeito de ser.
A aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo que se expressa diante de uma situação problema sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência. (JOSÉ & COELHO, 2001, p.11)
Analisando a aprendizagem como geradora de mudanças ela propicia ao
aprendente a percepção entre o que está aprendendo e a sua vida, envolvendo
raciocínio, análise, imaginação e criatividade. Porém, para refletir a relação família,
desejo e aprendizagem é importante pontuar alguns aspectos que contribuem ou
dificultam o processo do aprender: reconhecer que a família, independente do modelo
como se apresenta, pode ser um espaço de afetividade e de segurança, mas também
de medos, incertezas, rejeições, preconceitos e até de violência. Reforçando assim, a
necessidade de conhecermos os alunos e as famílias com as quais lidamos para
melhor mediar o aprendizado.
Outro aspecto relevante para nossa reflexão é a relação família/escola, onde
um sempre espera algo do outro. E para que isto ocorra é preciso que sejamos
capazes de construirmos coletivamente uma relação de diálogo mútuo, onde cada
parte envolvida tenha o seu momento de comunicação propiciando uma efetiva troca
de saberes.
É a família quem primeiro propicia experiências educacionais à criança e tais
experiências resumem-se num treino para as aprendizagens futuras. Neste sentido é
preciso que tenhamos consciência que uma atitude de desinteresse e de preconceitos
pode danificar a relação com o desejo e a aprendizagem, trazendo sérios prejuízos
para o sucesso escolar, pois entendemos que a escola enquanto mediadora do
conhecimento seja responsável por oportunizar um ambiente de crescimento intelectual
e sobretudo de crescimento global, onde o aprendente seja valorizado como sujeito
pensante e construtor da sua própria história.
19
O dever da família com o processo de escolaridade e a importância de sua
participação no contexto escolar é reconhecido na legislação nacional, como no
Estatuto da Criança e do Adolescente:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação... ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Os pais ou responsáveis tem a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino . (Lei 8069/90, nos artigos 4º e 55).
Diante desta informação temos que refletir e nos questionar quanto à
questão da participação da família na Escola. É preciso ter clareza do que vem a ser
participar da vida escolar, pois esta participação vai além de estar presente nas
reuniões para ouvir informações burocráticas ou comportamentais e auxiliar nas tarefas
de casa.
Pontuando o desejo de aprender de conformidade com a vivência de cada
família, compreenderemos a complexidade e a diversidade da busca e do objetivo da
aprendizagem para cada aprendente.
Qual o significado da aprendizagem para uma família de profissionais bem sucedidas? E numa família de analfabetos, o que significa aprender?... Como se dá à relação das expectativas de pais e filhos quanto ao saber e o não saber?... O que a família ensina e o que aprende?... (KAMILOT, 1997).
Compreendemos aprendizagem e desejo como elementos de um mesmo
processo, dinâmico e abrangente, no qual a participação da família é fundamental na
motivação para a aprendizagem, pois neste processo, o desejo é que impulsiona a
construção cognitiva e a busca constante no caminho do saber. Portanto a história
familiar e as histórias individuais mutuamente se influenciam, se definem, interagem e
se constróem.
2.3 FATORES DE INTERFERÊNCIA NA APRENDIZAGEM
Como mencionamos na introdução, nosso foco principal são as
interferências das relações familiares e escolares na aprendizagem. Porém,
20
entendemos ser necessário fazer menção a alguns fatores que também interferem no
aprender.
As dificuldades de aprendizagem se manifestam de diferentes maneiras, e
apresentam inúmeros fatores de interferência, como: orgânicos, que diz respeito ao
funcionamento do organismo, onde a saúde, a alimentação, o sono, o sistema nervoso
central e os problemas neurológicos interferem no aprender. Temos ainda os
transtornos na área perceptivo-motora e linguagem, os quais dão importantes
contribuições para que a criança possa internalizar, representar e simbolizar a
experiência externa. Outro fator que interfere é o psicógeno, ele se refere a ordem
interna, da estrutura individual do sujeito e está relacionado ao desejo que a criança
tem de aprender, sendo o desejo já refletido anteriormente em nosso trabalho. E por
fim os fatores ambientais que são de ordem externa ao sujeito. Portanto, depende das
possibilidades oferecidas, de material disponível, das experiências vivenciadas e
estímulos oferecidos tanto em qualidade, quanto em quantidade.
Sabemos que é por intermédio do outro que a criança aprende a interpretar
o mundo em que vive, observando, perguntando, levantando hipóteses, buscando
informações, explorando, experimentando, confrontando idéias, comunicando e
registrando suas descobertas.
A criança quando nasce é desprovida de condições individuais de
sobrevivência. Precisa de alguém que cuide, alimente e a proteja. Será portanto, por
meio do outro que ela constituirá seus primeiros significados sobre o meio, descobrindo
assim suas possibilidades de aprender. Essas possibilidades serão ampliadas uma vez
que proporcionadas à criança situações em que seja solicitada a agir e interagir sobre
os objetos e os seres presentes à sua volta.
É também pela imitação que a criança aprende. Suas possibilidades de
construção do conhecimento estão ligadas aos modelos que tem a seu dispor.
Denominamos, modelos de aprendizagem, todo conhecimento que o sujeito vai internalizando a partir das primeiras relações vinculares. Trata-se de formas de comunicação que ensinam a criança a perceber e a lidar com o mundo que a cerca, determinando o modo pelo qual irá interiorizar significantes e significados, ou seja, futuras aprendizagens . (CHAMAT; 1997, p. 83).
A informação aqui explicitada vem reforçar o pensamento de que as
aprendizagens são feitas por meio da ação e observação sobre o meio e o outro, de
acordo com as interações sociais que vivencia. Nessa perspectiva, tanto o espaço
21
escolar, quanto o espaço familiar oferecem modelos, situações, informações e
elementos diversos para que a criança possa construir suas formas de agir, pensar e
promover ou ampliar seus conhecimentos.
Nas relações familiares podemos ainda acrescentar os vínculos definindo a
qualidade das relações onde as imagens positivas ou negativas são registradas e
arquivadas diariamente.
O que gera os vínculos inconscientes não é só o que você
diz, mas também o que eles vêem em você. Muitos pais
falam coisas mas tem péssimas relações na frente delas:
são intolerantes, agressivos, parciais, dissimulados...
Tudo que é registrado não pode mais ser deletado, apenas
reeditado através de novas experiências antigas . (CURY;
1997, p. 23).
Sabemos que a família é uma instituição importante, e por mais que venha
sofrendo mudanças em sua configuração, seu objetivo básico continua pautado na
tarefa de adultos cuidando de crianças. Mas sabemos também que a família não é o
único envolvimento da criança, há interferências o tempo todo e com elas atitudes que
interferem no desenvolvimento.
Diante disso é necessário uma congregação de forças, onde família, escola
e comunidade, todos imbuídos nesta tarefa se torne possível mudar a realidade e criar
oportunidades de crescimento para todos.
Acreditamos que tanto na família, quanto na escola, a ausência de disciplina
e de limites, são fortes fatores de interferência no desenvolvimento da aprendizagem
da criança.
Na tentativa de resolver a questão, muitos pais e educadores cometem erros,
por não saberem como lidar diante desta situação. A melhor forma de ajudar a criança
é levá-la a repensar suas atitudes, analisando seus atos e comportamentos e ao
mesmo tempo, tentando fazer com que saiba se colocar no lugar do outro. Estamos
convencidos de que a prática desta educação estará desenvolvendo na criança uma
personalidade de liderança, ponderação e segurança nos momentos turbulentos. E
para ilustrar de forma brilhante nosso pensamento: A maturidade de uma pessoa é
revelada pela forma inteligente com que corrige alguém . ( CURY, 2003, p. 95).
Quando pensamos em ensinar normas, dar limites, exige-se também a
reflexão no sentido de identificar formas mais eficientes de comunicação. Reprovar
22
atitudes negativas é uma forma de dar limites, porém a contradição deseduca. Pede-se
gritando, que a criança não grite, dizendo que isto é errado. Pede-se que ela não faça,
fazendo exatamente aquilo que se está tentando proibir. Estamos diante de uma
mensagem contraditória. A falta de coerência, regras e limites, deixa a criança à
mercê de seus impulsos. Segue tentando viver sempre em nome do prazer e da
satisfação imediata de seus desejos. Não aprende a considerar a realidade, não
aprende a tolerar as frustrações inerentes à vida.
Para que limite e disciplina sejam eficazes é importante que a criança seja
punida com as conseqüências de seus atos, isto é, sinta que desagradou e
experimente certa culpa. Isto é importante, porque a culpa desencadeia o pensamento
e então o mecanismo de controle vai se estabelecendo, levando a criança a pensar
antes de agir.
Um outro fator de interferência que destacamos é a motivação. Os
educandos se despem de seu cotidiano ao ingressar no mundo da instituição escolar,
onde tudo é previamente determinado: horários de entrada e saída, professores,
disciplinas, salas de aula, livros, materiais didáticos, conteúdos curriculares, normas
disciplinares etc. Enfim, tudo o que se possa imaginar de anti-motivador encontra-se na
escola.
O professor é desafiado a motivar seus alunos para a aprendizagem, para o
conhecimento científico. Mas vejamos: se num primeiro momento os alunos não podem
levar sua vida cotidiana para escola, se são submetidos a uma estrutura totalmente
regrada, não parece lógico deduzir que seu pensamento, suas idéias, sua imaginação,
sua criatividade também tomem a forma quadrada que a escola lhes impõe? Por que,
então exigir que eles estejam motivados, entusiasmados para a aprendizagem? Como
exigir deles criatividade e espírito crítico, se tudo conduz para a convergência? É
possível obrigar os alunos a se apaixonarem pelas matérias escolares, quando estas
não se ligam à sua vida diária?
A verdade é que existe uma enorme distância entre escola e o mundo
exterior, mesmo que o conteúdo dessas duas realidades seja o mesmo, as formas de
percebê-los são muito diferentes. Enquanto em nossa vida cotidiana os conhecimentos
se manifestam de maneira assistemática, espontânea, na escola eles são
sistematizados, pré-definidos. Com freqüência, os conteúdos apresentam-se como
conhecimento que devem ser aprendidos independente do interesse dos alunos.
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Não temos a pretensão de oferecer soluções ou fórmulas prontas, nem
responder de forma categórica as problemáticas que impossibilitam a aprendizagem.
Diante deste quadro, queremos apenas apresentar alguns caminhos que possam
viabilizar o desenvolvimento como: descobrir o que é aprendizagem significativa para
os alunos; envolver por meio de técnicas variadas de ensino-aprendizagem os
educandos na reconstrução ativa do conhecimento sistematizado; adotar como forma
de trabalho o método dialético, onde o primeiro passo consiste em conhecer, através
do diálogo com os alunos, qual a vivência cotidiana do conteúdo, proporcionando-lhes
ações que identifiquem o nível de motivação.
Sendo assim, analisaremos no próximo capítulo os resultados de nosso
estudo, observação e pesquisa, afim de melhor refletir as relações com a
aprendizagem.
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CAPÍTULO III
3.1 - ESTUDO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
No intuito de investigar e analisar a realidade dentro de uma dimensão
prática e tendo este trabalho como foco a pesquisa qualitativa, optamos por entrevistar
psicopedagogos institucionais, professores, coordenadores, famílias e alunos de
escolas públicas e privadas dos municípios de Itauçu e Santa Rosa. A presente
pesquisa tornou possível reforçar a idéia sobre a importância da participação e
cooperação da família na vida escolar das crianças. Contribuiu também, com nosso
estudo teórico acerca das relações familiares e escolares, e suas influências na
aprendizagem.
A questão metodológica desta pesquisa, assim como do nosso estudo está
centrada na abordagem qualitativa por considerar as possibilidades de descoberta da
realidade, oferecendo uma multiplicidade de horizontes que possam colaborar para as
possíveis mudanças, onde será permitida uma criação teórica e prática de uma
realidade interativa e histórica.
De um lado a realidade histórica vem sendo concebida como estruturas
naturais e sociais, não podendo ser ignoradas, de outro lado ela é condicionada pela
possibilidade da intervenção humana e de mudanças de postura e atitudes diante da
realidade. E é por acreditar nestas possibilidades que desenvolvemos nosso trabalho.
Outra metodologia utilizada foi a observação assistemática, a qual
oportunizou conhecer aspectos não mencionados nas entrevistas ou no estudo teórico.
Assim como a entrevista, a observação ocupa um lugar privilegiado nas abordagens
educacionais, pois possibilita perceber as atitudes e reações diante das questões
abordadas.
A oportunidade de diálogo com as pessoas, assim como a observação,
possibilitou refletir diferentes visões de participação, acompanhamento, cooperação e
25
envolvimento da família na educação escolar, a família entrevistada aqui chamada de
família A responde:
O envolvimento da família na escola é de fundamental importância para o meio familiar e social, pois com a presença dos pais na escola, os alunos se tornarão capazes e valorizados e terão um desenvolvimento maior além de tudo dedicarão aos estudos com mais responsabilidade e confiança. A partir do momento que a família participa das atividades, das reuniões, dos conselhos da escola, com certeza ganharão escola e comunidade, pois hoje não se fazem mais trabalhos isolados. Através dessa participação teremos escolas comprometidas com os ideais e os valores da comunidade local .
A escola precisa rever sua forma pedagógica de lidar com os problemas que
os alunos enfrentam, isso faz com que o professor use de jogo de cintura para fazer
suas aulas mais atrativas e mais prazerosas, as causas da indisciplina na escola são
várias: violência, drogas, problemas de relacionamento. E é necessário que a escola
saiba lidar com essas causas, porém no quadro educacional que vigora em nosso país,
em nossas salas de aula, não nos capacita o suficiente para solucionarmos bem esses
problemas. Temos hoje um ensino que preocupa mais com teorias, papéis, índices de
aprovação e tantas coisas mais e se esquecem do quanto é importante o papel do
educador e qual é realmente a finalidade que deveria desempenhar em uma sala de
aula com crianças e adolescentes.
Nessas circunstâncias a escola necessita da cooperação da família, como
afirma a família B:
A Escola necessita da família em toda e qualquer circunstância, no que se diz respeito à criança, família e escola precisam se completar, uma não caminha sem a outra. Na parte física e funcional muitas vezes acho que a família pode cooperar com a escola, participando efetivamente para melhorias e aquisição de material, para que os alunos tenham um local mais confortável e um material melhor para sua aprendizagem .
Apesar de considerarmos importante o papel da família na participação do
desenvolvimento da aprendizagem da criança, percebemos que mesmo tendo um
discurso favorável , muitos pais entram em contradição, apresentado depoimentos que
se distanciam da prática.
Faz-se necessário, que as famílias percebam que a escola é uma parceira e
não a única responsável pela educação de seus filhos, tendo que haver portanto, um
trabalho mútuo entre ambas as instituições.
26
Na entrevista feita com professores e coordenadores, também foi possível
observar a unanimidade de pensamento em relação a necessidade dessa parceria,
pois a educação começa em casa e se complementa na escola, desta forma necessita
de uma atuação conjunta no processo ensino aprendizagem.
Segundo o professor A é importante o envolvimento da família em todas as
circunstâncias, vejamos:
É fundamental que seja feito um trabalho de parceria entre escola e família, evitando que aconteça uma transferência de responsabilidades, pois está enraizada em nossa cultura que a escola é o segundo lar. A família deve estar presente em todas as circunstâncias, principalmente quando a escola depara com algum problema, tanto no comportamento, quanto na aprendizagem. É preciso que haja uma interação, que a escola conheça o cotidiano do aluno para facilitar a solução dos problemas .
As escolas estão abrindo as portas para a família se envolver na
aprendizagem, porque os tempos mudaram e hoje é imprescindível a presença da
família na escola. Atualmente as crianças começam a estudar cada vez mais cedo em
relação há alguns anos, por isso é importante o envolvimento da família na
aprendizagem dessa criança. O próprio sistema ensino-aprendizagem tem a
necessidade do acompanhamento dos pais.
A família e a escola devem criar laços, pois as crianças e adolescentes
passarão grande parte de seu tempo na Escola, e todo laço pode criar conflitos entre
as partes, pois a relação de afetividade interfere na aprendizagem. A boa escola
permite que os pais questionem, opinem e tenham suas sugestões levadas a sério. É
importante assegurar que exista um canal constantemente aberto para o diálogo.
Esse pensamento dos professores vem ser reforçado pela fala dos alunos
que também analisam a participação da família como um fator de suma importância na
aprendizagem, como cita o aluno A:
Além do apoio moral, a família desempenha um papel
importante nas minhas atividades escolares, e é bom lembrar
que foi através dela que eu entrei na escola, a partir daí, eu
recebi a ajuda nas atividades que o professor passava para
mim e sempre ajudado e apoiado pela minha família eu fui me
desenvolvendo e com o tempo eu não precisei da ajuda, mas
continuei com o apoio moral da minha família que é muito
importante .
27
Vale ressaltar ainda a importância também de estarmos analisando a visão
psicopedagógica diante da atual política educacional de incentivo a participação do
grupo familiar na educação escolar, a qual acredita que tais implicações sejam
variáveis de acordo com a realidade das unidades de ensino, assim como das famílias.
Conforme nos fala o psicopedagogo A:
Em primeira instância vê-se esse incentivo como forma de buscar a melhoria da escola, porém, ao se analisar com mais profundidade percebe-se que os resultados devem ser bem maiores. A partir das relações estabelecidas com a escola e conseqüentemente com outros grupos familiares a família passará a se avaliar e poderá perceber que aquela maneira de agir, até então tida como correta, deve ser revista e pode ser melhorada. Hoje temos diferentes modelos de famílias, é importante que, independente da forma como está estruturada, essa família ofereça segurança para a criança se desenvolver tanto no que se refere ao cognitivo, quanto ao objetivo comum da família e da escola em estar formando um cidadão capaz de interagir e promover mudanças positivas e significativas na sociedade. Na grande maioria dos casos observados é possível detectar claramente que a relação familiar interfere na aprendizagem, onde são os alunos cujas famílias são melhor equilibradas e presentes na escola que apresentam melhor aprendizagem, se destacando. Porém, há casos que divergem desse ponto de vista, pois alunos oriundos de famílias com relações bastante tumultuadas, que não lhes oferecem subsídios emocionais necessários a uma boa aprendizagem, aprendem extraordinariamente, assim como outros, de famílias aparentemente equilibradas, apresentando dificuldades de aprendizagem e até mesmo de relacionamento .
Portanto, podemos concluir que todo tipo de relacionamento interfere no
desenvolvimento, tanto positivamente como negativamente. Porém, não podemos nos
esquecer das singularidades de cada indivíduo, onde as possibilidades de crescimento
também podem ser um fator individual que mesmo diante de conflitos possam vir a si
desenvolver.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade em que vivemos precisa de indivíduos que possam continuar
o processo de aprendizagem de forma independente, mas que não perca a identidade
da sociedade a qual está inserido. Considerando o caráter dinâmico destas sociedades
faz-se necessário a realização de uma tarefa educativa ao nível das exigências dessa
dinamicidade.
Essas considerações nos levam a concluir que a modernidade deve
reinventar uma nova forma de fazer educação, com preocupações contínuas e
permanentes, construindo novas estratégias para atender a diversidade das pessoas
envolvidas.
Nosso estudo proporcionou a observação da complementariedade existente
entre família, escola e aprendizagem, onde a responsabilidade da família é de ser
apoio, buscando manter os laços de afetividade, de proteção, além de favorecer que o
indivíduo seja ele mesmo e possa encontrar-se num conjunto de convicções e
experiências de vida fundamental ao seu processo de aprendizagem.
Percebeu-se ainda que as mudanças ocorridas no processo educacional na
tentativa de avançar nas possibilidades de melhor mediar os conhecimentos,
contribuíram por reforçar a responsabilidade da escola em preparar o aluno para uma
visão ordenada do universo. Assim, a escola não pode viver isolada da família e da
sociedade. Ela deve ser um espaço problematizador, criador e mediador dos
conhecimentos, além de estabelecer parceria e divisão de responsabilidades.
É oportuno ainda refletirmos o peso da sociedade de consumo, interferindo
na participação da família no processo de desenvolvimento da criança. A ausência da
família é muitas vezes justificada pela falta de tempo, pois necessitam trabalhar
exaustivamente para suprir as exigências de consumo ou para garantir a sua
sobrevivência. Este distanciamento traz consigo a falta de proteção, afetividade,
enfraquecimento dos vínculos familiares e do desejo de ir em busca do conhecimento.
29
Como vimos no decorrer do estudo a escola até o século XX considerava
que as crianças aprendiam basicamente ouvindo as informações e repetindo-as. Hoje
sabemos, que esta forma de ensinagem é muito limitada e que existem diferentes
processos envolvidos no ato de aprender.
É importante que analisemos o quanto as teorias educacionais ainda estão
distantes da prática cotidiana. Falamos de inclusão nas escolas, mas ensinamos a
todos da mesma maneira, os currículos impostos ainda norteiam a educação sem
considerar a singularidade de cada um, sua história de vida e suas limitações. É
necessário repensar nossos conceitos de aprendizagem e desenvolvimento,
respeitando as condições individuais e transformando-as em suporte para novas
descobertas e novas possibilidades de crescimento.
É preciso querer aprender. É preciso despertar o amor pela aprendizagem,
pois é o amor pelas idéias que possibilita à humanidade crescer.
Este trabalho não tem a pretensão de oferecer soluções ou fórmulas prontas,
nem responder de forma categórica as problemáticas que impossibilitam o nosso objeto
de estudo. As preocupações sobre o assunto, não se esgotam aqui, mas implicam
novas pesquisas e novas investigações. Antes porém, consideraremos-nos
imensamente felizes, se pudermos contribuir para o encaminhamento do raciocínio e o
aclaramento das idéias, com relação aos entraves existentes na relação família/escola
e as influências no desenvolvimento da aprendizagem.
O nosso desejo, é que possamos oportunizar uma relação reflexiva e de
confiança, entre todos aqueles que tiverem a o oportunidade de conhecer o nosso
despretensioso trabalho.
Os resultados obtidos, vem reforçar que a escola e a família devam ser
caminhos de luz, para que verdadeiramente cada aprendente consiga construir algo
duradouro e seja capaz de ser ao mesmo tempo aprendente e ensinante, pois a
comunicação entre as pessoas pode ser fonte de riquezas, alegrias e oportunidades.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Petrópolis: Vozes, 1985.
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TIBA, Içami. Quem ama educa. São Paulo: Editora Gente, 146ª ed. 2002.
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Guia de Entrevista Família
1- Você acha importante o envolvimento da família na educação escolar?
2- Em que circunstâncias a escola necessita da cooperação da família?
3- Qual o envolvimento da sua família na escola?
Guia de Entrevista - Aluno
1- Para você a escola necessita da cooperação da família? Em quê? Ou por
quê?
2- Qual a participação da sua família em suas atividades escolares?
Guia de Entrevista Professores e Coordenadores
1- Você acha importante o envolvimento da família na educação escolar?
2- Por que as escolas estão chamando a família a se envolver na
aprendizagem em casa e na escola?
3- Em que circunstâncias a escola necessita da cooperação da família?
34
Guia de Entrevista Psicopedagogo Institucional
1- Quais as implicações da atual política educacional de incentivo a
participação do grupo familiar na educação escolar?
2- Na sua opinião a relação familiar interfere na aprendizagem?