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Diálogos ampliados como base para as ações de controle do risco sanitário no estado de São Paulo: um panorama do Ciclo CVS de eventos Saúde e Meio Ambiente/Valentim LSO et al.
Artigo especial
Diálogos ampliados como base para as ações de controle do risco sanitário no estado de São Paulo: um panorama do Ciclo CVS de eventos Saúde e Meio Ambiente
Dialogues Expanded as a Basis for Health Risk Control Actions in the State of São Paulo: an Overview of The Cycle Events CVS Health and Environment
Luís Sérgio Ozório Valentim, Vital de Oliveira Ribeiro Filho, Marcel Oliveira Bataiero, Rubens José Mario Junior, Francisco Carlos de Campos, Arnaldo Mauro Elmec, Denise Piccirillo Barbosa da Veiga
Divisão Técnica de Ações sobre o Meio Ambiente. Centro de Vigilância Sanitária. Coordenadoria de Controle de Doenças. Secretaria de Estado da Saúde. São Paulo, Brasil
INTRODUÇÃO
Em 2002, o Centro de Vigilância Sanitária
de São Paulo (CVS) iniciou, com o debate
sobre as áreas contaminadas, uma série
de seminários abertos à sociedade, hoje
organizados no Ciclo de Eventos CVS Saúde
e Meio Ambiente. O Ciclo ocorre anualmente
e compreende os seminários Áreas
Contaminadas e Saúde (SAC), Hospitais
Saudáveis (SHS) e Água e Saúde (SAS), que
em 2018 concluíram, respectivamente, suas
17ª, 11ª e 8ª edições.
O propósito maior do ciclo é “situar no
mundo” as vigilâncias sanitárias de São Paulo
no que diz respeito às questões ambientais
e suas interfaces com a saúde coletiva. A
difusão do conhecimento é parte da coleção
de referenciais técnicos necessários à
gestão qualificada das instâncias estaduais e
municipais do Sistema Estadual de Vigilância
Sanitária (Sevisa), que abrange 28 unidades
regionais e 645 municipais, envolvendo algo
em torno de sete mil profissionais. Conhecer
com profundidade os contextos mais amplos
e as contingências locais que determinam
ou influenciam os processos de saúde e de
doença associados aos fatores ambientais é
condição essencial para uma atuação efetiva
no controle do risco sanitário.
Os seminários servem também para
fomentar o debate na sociedade paulista
acerca das relações entre meio ambiente e
saúde, de modo a reforçar a compreensão a
respeito das razões que motivam as iniciativas
para controle do risco sanitário, propagar
práticas e experiências de gestão inovadoras e
realçar as principais linhas de pensamento que
fundamentam as políticas públicas integradas
para proteção da saúde da população. Nas
quase duas décadas de eventos foi construído
um rico histórico de parcerias com diferentes
instituições de grande competência nos temas
tratados, importante acervo de conhecimentos
sobre os problemas ambientais e de saúde
que se manifestam no estado de São Paulo,
no Brasil e – por conta dos convidados
internacionais – em várias regiões do globo.
Ciente do importante repertório de práticas
e de ideias – expressas na forma de exposições
e debates – acumuladas nesses eventos, o
CVS planeja para 2019 disponibilizar em seu
site uma página específica para o Ciclo de
Eventos, organizando informações sobre cada
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Diálogos ampliados como base para as ações de controle do risco sanitário no estado de São Paulo: um panorama do Ciclo CVS de eventos Saúde e Meio Ambiente/Valentim LSO et al.
um dos 36 seminários até agora ocorridos. A
iniciativa permitirá consulta a um precioso
conjunto de narrativas e pontos de vista de
técnicos, pesquisadores, gestores e diferentes
outros formadores de opinião, nacionais e
internacionais, quanto aos diferentes temas
abordados nos seminários, possibilitando aos
interessados avaliar a evolução das abordagens
sobre as questões sanitárias e ambientais nos
últimos 15 anos.
Este texto apresenta um panorama do Ciclo
de Eventos CVS Saúde e Meio Ambiente e uma
descrição sobre sua importância no contexto
das práticas de vigilância sanitária no Estado
de São Paulo.
A difusão de informação e o debate
ampliado como subsídio às práticas de
controle do risco sanitário
As diretrizes constitucionais de
descentralização hierarquizada das ações
e serviços no Sistema Único de Saúde
(SUS) situam os municípios paulistas como
protagonistas das iniciativas para controle
do risco sanitário contempladas no Sistema
Estadual de Vigilância Sanitária (Sevisa).
Para tanto, cabe à esfera estadual de governo
desenvolver iniciativas de caráter estratégico,
por intermédio do órgão central (CVS) e suas
28 regionais (Grupos de Vigilância Sanitária –
GVS), para fomentar qualidade e efetividade
no amplo conjunto de ações de vigilância
sanitária desenvolvidas no território paulista,
que envolvem fatores de risco relacionados
aos produtos e serviços, saúde do trabalhador
e meio ambiente.
No caso dos fatores ambientais de risco
à saúde – em especial os relacionados ao
saneamento básico, às fontes de poluição e
contaminação, à salubridade do meio e das
edificações e à organização territorial –,
o desafio é dotar os integrantes do Sevisa
de repertório e instrumentos à altura da
complexidade dos aspectos envolvidos na
configuração do risco sanitário em São Paulo.
A avaliação e gerenciamento do risco à saúde
num estado multifacetado como São Paulo –
extremamente urbanizado e industrializado –
exigem municípios devidamente qualificados,
entendidos como aqueles que dispõem de um
conjunto de referenciais comuns e atributos
específicos que os tornam aptos a exercer
com qualidade e efetividade os trabalhos de
controle do risco sanitário que lhes competem
por atribuição legal.
Os referenciais comuns ao Sevisa são os
que fundamentam, norteiam ou determinam
o modo de proceder, de agir em sintonia,
das esferas de governo no controle do risco
sanitário, orientando-as para a boa gestão e
qualificando-as para a ação. Eles padronizam
procedimentos e permitem equilíbrio e
simetria dos atos de vigilância.
Os referenciais comuns ao Sistema são
essenciais para o exercício harmonioso
da vigilância do risco sanitário no estado,
ainda que o lastro para a boa execução
das atividades no nível local dependa dos
atributos de cada serviço municipal, ou
seja, dos recursos humanos e materiais que
qualificam o município para a ação, tais como
profissionais técnicos e administrativos,
bem como imóveis, veículos, equipamentos,
insumos etc. O estado de São Paulo abriga
645 municípios com perfis bastante distintos,
logo, com atributos bem singulares.
Na vigilância descentralizada e
hierarquizada dos fatores ambientais de
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risco à saúde no território paulista, o Estado
tem, portanto, atribuições e competências de
dotar as instâncias municipais de referenciais
comuns para a prática de vigilância, ainda que
a atuação se dê a partir de atores dotados de
atributos muito diferenciados.
O Plano Estadual de Saúde (PES
2016/2019), em seu Eixo III – Vigilância em
Saúde, segue esta linha de raciocínio ao tratar
do aprimoramento das ações de vigilância de
fatores ambientais de risco e agravos à saúde
(Diretriz III.5). Nessa diretriz específica,
própria aos fatores ambientais de risco, o
CVS propôs incorporar tal conceito ao Plano,
de modo a balizar em sete referências técnicas
as metas quadrienais do Estado. Deste modo,
consta na Diretriz III.5 do PES 2016/2019 a
Referências técnicas: são aqui
compreendidas como as bases
comuns que fundamentam,
norteiam ou determinam os modos
de proceder, de agir das esferas
de governo no controle do risco
do gerenciamento dos fatores
ambientais de risco à saúde, as
referências técnicas contempladas
no Plano Estadual de Saúde - PES
Roteiros de inspeção, (3) Normas
técnicas, (4) Divulgações do
conhecimento, (5) Capacitações, (6)
Avaliações/monitoramentos e (7)
e condutas).
O destaque dado neste texto é para
a referência técnica 4 – Divulgação do
conhecimento, que diz respeito às atividades
do CVS para, dentre outros, estimular no
âmbito do Sevisa a troca de experiências
em gestão pública, divulgar inovações
tecnológicas e novos conhecimentos teóricos,
fomentar o debate e a comunicação entre o
serviço e a academia, avaliar a efetividade das
políticas públicas e conferir transparência às
iniciativas de vigilância.
Os seminários do ciclo de eventos anuais
sobre meio ambiente e saúde do CVS
O ciclo de seminários que o CVS
realiza todo ano com diversos parceiros
tem por temas as áreas contaminadas, a
sustentabilidade nos serviços de assistência à
saúde e a água potável, aquela destinada ao
consumo humano. O mais tradicional deles
é o Seminário Áreas Contaminadas (SAC),
cujo primeiro evento ocorreu em 2002 e já
completou 17 edições, fruto da parceria do
CVS com as faculdades de Saúde Pública e
de Medicina da USP, contemplando, a cada
edição, outras instituições na sua organização.
O início dos SAC coincidiu com a divulgação
em 2002 do primeiro Cadastro de Áreas
Contaminadas elaborado pela Companhia
Ambiental Paulista (Cetesb), então com 255
registros. Atualmente, estão contabilizadas
quase seis mil áreas contaminadas no estado de
São Paulo, resultado de históricos processos
produtivos desprovidos do mínimo cuidado
ambiental.
Mas foram nos anos que precederam o
cadastro, especialmente 2000 e 2001, que
o SUS paulista se deparou com casos hoje
emblemáticos de contaminação – Shell
Paulínia e Vila Carioca, Ajax em Bauru e
Condomínio Barão de Mauá, dentre outros
–, requerendo da Vigilância Sanitária
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a apropriação de conhecimentos e a
reorganização das demandas para atender o
apelo da sociedade de avaliar e gerenciar os
riscos à saúde humana nesses locais.
Essa nova abordagem e enfrentamento de
fatores de risco no território paulista se deu
num contexto então ainda pouco explorado
no campo da saúde coletiva, demandando
agregar novos conhecimentos aos serviços
para enfrentar tais desafios, cujo grau de
complexidade e incertezas superava as
práticas já consolidadas do setor saúde no que
diz respeito às questões ambientais.
Foi quando o CVS instituiu o Projeto Áreas
Contaminadas1 para orientar e instrumentalizar
as equipes estaduais e municipais do Sevisa
de modo a responder com alguma eficácia
os anseios da sociedade. O projeto se
estruturou a partir das articulações do CVS
com a Organização Pan-americana de Saúde
(OPAS/OMS) que ofereceu apoio técnico e
logístico ao estado, em especial para que este
se apropriasse de metodologias de avaliação
e gerenciamento de riscos e capacitasse os
serviços de vigilância para agir em novo
campo temático.
Emerge da cooperação entre o CVS/SES-SP
e a OPAS/OMS uma relação mais estreita
com a universidade, acentuando a avaliação
e adotando métodos mais consistentes para
gerenciar o risco sanitário. Em 2002, foram
realizados em São Paulo dois cursos, um
coordenado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), outro pela Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).2 A conclusão desses
dois cursos, ao fim de 2002, resultou no 1º
Seminário Estadual Áreas Contaminadas,
que teve por tema as políticas, estratégias e
metodologias para enfrentamento dos riscos à
saúde decorrentes da exposição a substâncias
perigosas.
Daí se seguiram os demais eventos,
contemplando a cada ano uma abordagem
específica das áreas contaminadas e seus
reflexos em termos de riscos à saúde,3
agregando um conjunto extremamente
representativo de profissionais, especialistas
e gestores que abordam sob variados pontos
de vista a questão dos passivos ambientais.
O Seminário Hospitais Saudáveis
(SHS) é outro evento realizado pelo CVS
desde 2008, em parceria com a associação
sem fins econômicos Projeto Hospitais
Saudáveis (PHS) e outras instituições de
notória inserção em temas vinculados à saúde
e à sustentabilidade, como a organização
internacional Saúde Sem Dano, Associação
Paulista para o Desenvolvimento da Medicina
– SPDM, Universidade Federal de São Paulo
– UNIFESP e o Hospital Sírio Libanês.
1.A respeito das estratégias para a vigilância das áreas contaminadas no Estado de São Paulo, ver o Comunicado CVS 204/2009 e
Epidemiológico Paulista, São Paulo, volume 8, número 94, outubro de 2011.
pela Fiocruz, totalizando 80 horas/aula, tendo por referência a metodologia da Environmental Protection Agency (EPA); o Curso 02, Avaliação de riscos à saúde pela exposição a resíduos perigosos, coordenado pela UFRJ, com 56 horas/aula, teve por base a metodologia da Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR). 3. As experiências municipais (2º seminário); o papel da universidade (3º); as relações da contaminação do solo com os recursos hídricos (4º); as questões relativas à produção, trabalho e saúde (5º); as interações entre desenvolvimento urbano, passivos ambientais e saúde (6º); a avaliação de saúde no contexto do gerenciamento de passivos e no licenciamento ambiental (7º); as interações saúde e ambiente no contexto da nova legislação paulista de proteção da qualidade do solo e gerenciamento de áreas contaminadas (8º); os novos cenários de produção e consumo de substâncias perigosas à saúde e geradoras de passivos ambientais (9º); os históricos processos de produção e de regulação sanitária de riscos (10º); os riscos sanitários decorrentes de atividades de estocagem e comércio de derivados de petróleo e outros combustíveis (11º); as questões relativas à contaminação e comunicação de risco (12º); os contextos hidrológicos críticos e o incremento da exploração dos aquíferos (13º); Direito à saúde, contaminação e justiça (14º); Panoramas e perspectivas (15º), Cidades (in) sustentáveis (16º) e Gestão de áreas contaminadas e riscos à saúde da população.
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O SHS é um evento dirigido à
divulgação e debate de temas relacionados
à saúde, segurança e meio ambiente nos
estabelecimentos de saúde. O seminário é
anual, com duração de dois dias, e conta, a cada
edição, com a presença de um público de mais
de 500 profissionais de saúde e outras áreas
relacionadas, envolvendo, além de técnicos
e gestores de vigilância, pessoas atuantes
na assistência à saúde e técnicos e gestores
de serviços públicos e privados. Também
participam profissionais de saúde e segurança
do trabalho, controle de infecção hospitalar,
gestão ambiental e consultoria, arquitetura
e engenharia hospitalar, farmacêuticos,
dentistas, biólogos, fornecedores de serviços
hospitalares, como higiene e tratamento de
RSS, além de professores e pesquisadores de
diversas áreas.
No SHS ocorre também a entrega dos
prêmios Amigo do Meio Ambiente, direcionado
aos hospitais e outros serviços de saúde que
se destacaram no estado ou no país na adoção
de medidas inovadoras e criativas para a
sustentabilidade ambiental, bem como o
Fórum de Resíduos de Serviços de Saúde,
espaço aberto de discussão a respeito das
políticas para gestão dos resíduos de serviço
de saúde. O evento é uma ótima oportunidade
para se discutir temas como o gerenciamento
de resíduos, acidentes com perfurocortantes,
exposição a substâncias e resíduos químicos
perigosos, políticas de banimento do uso
de mercúrio e outros produtos, mudanças
climáticas, compras verdes, uso racional da
água e de fontes alternativas de energia e
edifícios sustentáveis.
As 11 edições do SHS4 contemplaram
múltiplas abordagens sobre a sustentabilidade
nos serviços de saúde, aliando experiências
nacionais e conhecimentos internacionais que
colaboraram para aprimorar a vigilância e a
gestão assistencial, tornando-a mais racional,
segura e ambientalmente adequada nas
instituições públicas e privadas de saúde em
São Paulo e no país.
O Seminário Água e Saúde (SAS) é um
evento também de dois dias realizado desde
2011 pelo CVS e Faculdade de Saúde Pública
da USP, abrangendo um vasto conjunto
de instituições parceiras. Nesse período, o
seminário tem se consolidado como fórum
de excelência em São Paulo para divulgar e
relacionados à água que a sociedade produz
e consome. A partir de 2014, o evento tem
sido promovido em cooperação com o Serviço
Social do Comércio (SESC), cujas instalações
têm abrigado os seminários, tornando possível
que eles aconteçam de forma itinerante, em
cidades como São Carlos, Jundiaí e Santos,
além da capital paulista.
As oito edições anuais do SAS5 evidenciam
a tendência de se abordar o tema da água para
consumo humano de um modo cada vez mais
abrangente, abarcando todo o processo de
4.Responsabilidade socioambiental e experiências sustentáveis no setor saúde (SHS 2008); O papel do setor saúde frente os desafios ambientais globais (2009); O trabalhador na promoção da segurança e da sustentabilidade do setor saúde (2010); A gestão ambiental nos estabelecimentos de assistência à saúde (2011); o lançamento no Brasil da Rede Global Hospitais Verdes e Saudáveis (2012);
assistência à saúde sustentável (2014); O desafio do setor saúde frente às mudanças climáticas (2015); Resíduos de serviços de
5.O olhar do setor saúde para a preservação dos mananciais e para a garantia da potabilidade da água consumida pela população (2011); Novos e antigos desafios à Saúde Pública (2012); Eventos de massa e qualidade da água para consumo humano (2013); Crise
(2016); Água de beber (2017); e Segurança e potabilidade da água em tempos de incertezas climáticas (2018).
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produção e de consumo do produto. Deste
modo, ganham relevo aspectos como o uso e a
ocupação do solo, a proteção dos mananciais,
tecnologias para tratamento da água, condições
de conservação das estruturas de preservação
e distribuição, referências laboratoriais e os
parâmetros e padrões para monitoramento
da água, doenças de veiculação hídrica e as
condições de acesso à água segura.
O SAS tem sido sensível na sua abordagem
temática aos contextos e problemas
conjunturais enfrentados pela sociedade,
como foi o caso dos eventos de massa –
Copa do Mundo de Futebol, Olimpíadas etc.
– cujos desafios em termos de garantia da
potabilidade da água para públicos ampliados
foram antecipados no 3º seminário, ocorrido
em 2014. No caso da estiagem, crise hídrica
e da consequente ameaça ao abastecimento
público na Região Metropolitana de São Paulo
e em outras áreas da Macrometrópole Paulista
– agrupamento de municípios e conurbações
urbanas que concentram quase 30 milhões
de pessoas –, o 4º SAS (2014), ocorrido nas
instalações do SESC do município de São
Carlos, trouxe especialistas para debater
o assunto, com destaque para o painel que
reuniu gestores de São Paulo, Alagoas e
do estado americano da Califórnia, cujas
abordagens colocaram em perspectiva dramas
sociais, ambientais e sanitários distintos e
repertórios também diversos de enfrentamento
dos problemas de abastecimento público em
tempos de estiagem.
Além disto, o tema da segurança da água
e da crise hídrica em contextos de incertezas
climáticas foi contemplado em 2016 e 2018,
com depoimentos de profissionais dos estados
de Pernambuco, Rio Grande do Sul, Minas
Gerais e Bahia, assim como com testemunhos
de pesquisadores da África do Sul e do México,
reforçando o entendimento de que proteger a
saúde da população a partir da água que lhe
é ofertada implica arranjos institucionais bem
estruturados e troca de experiências em nível
nacional e internacional.
O SAS, ao estabelecer parceria com o
SESC, busca sinergias interinstitucionais
e uma interlocução maior com o público
em geral, aproveitando oportunidades para
interagir com outras iniciativas corporativas
inovadoras, como a mostra de arte
internacional no SESC-Belenzinho, em 2017,
quando do 7º Seminário, que expôs o projeto
artístico de ART for The World, exposição
que tratou da água e de sua importância para
seres humanos, para a fauna e para a flora,
com obras de 23 artistas sobre questões de
meio ambiente, biodiversidade, ecossistemas,
mudança do clima e preservação da água
como recurso vital.
Do mesmo modo, outras intervenções
lúdicas e criativas6 têm acentuado, por
iniciativa do SESC, o diálogo entre os
especialistas e o público em geral. Os SAS
tem também realizado experiências com a
promoção de eventos paralelos, do modo
como ocorreu em 2017, no SESC Belenzinho,
que abrigou um Workshop vinculado ao SAS,
promovido pela Secretaria de Estado de
Saneamento e Recursos Hídricos, Faculdade
de Saúde Pública da USP, United Nations-
HABITAT e a The United Nations University
(UNU-FLORES) para debater a questão
da água de reúso à luz dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS).
6. Projetos como o Catagotas (Cia. a Hora da História) e a Casa do Poeta (Cia. Panturrilha), em 2017 na capital Paulista; a exposição da carreta “Somos Água”, do laboratório móvel e interativo da Sabesp e do Laboratório Móvel da Cetesb, presentes no SAS de Jundiaí, em 2014, são exemplos dessa interação entre assuntos técnicos especializados e temas culturais mais amplos.
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Figura 01. Montagem gráfica com cartazes de alguns dos 36 seminários do Ciclo de Eventos CVS Saúde e Meio Ambiente
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Os seminários como fóruns de interlocução
e de sinergias
Com a intenção de situar o estado de São
Paulo em posição relevante no debate acerca
das relações entre saúde e ambiente e “abrir
ao mundo” a visão dos serviços municipais e
suas práticas de controle do risco sanitário, o
Ciclo de Eventos CVS Saúde e Meio Ambiente
tem gradativamente ampliado suas instâncias
de diálogo e abrangido experiências e
conhecimentos para além do território paulista.
Deste modo, os seminários arranjam
parcerias que propiciam o confronto criativo de
ideias e a sinergia de iniciativas, contemplado
saber de diferentes áreas da pesquisa e da gestão
paulista, de outros estados e do exterior. Para
isto, a universidade e os centros de pesquisa
se mostram instâncias imprescindíveis na
interlocução de temas cada vez mais complexos
e que exigem capacidades ampliadas de
investigação e bases metodológicas bem
fundamentadas para orientar as práticas de
avaliação e gerenciamento de risco pelos
serviços de vigilância.
A colaboração na organização dos eventos
de instituições ligadas à Universidade de São
Paulo (USP), como as faculdades de Saúde
Pública (FSP) e de Medicina (FM), os institutos
de Estudos Avançados (IEA) e o de Geociências
(IG), bem como outras instâncias acadêmicas,
como a Escola Superior do Ministério Público
do Estado de São Paulo, a Universidade de
São Paulo (Unifesp), a Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), são bons exemplos
disto. Outras instâncias de investigação
acadêmica, como o Núcleo de Pesquisa em
Avaliação de Riscos Ambientais (NARA),
o Laboratório Interdisciplinar de Proteção
da Saúde e Vigilâncias (LIPVS), ambos
vinculados à Faculdade de Saúde Pública
da USP, e o Centro de Pesquisas de Água
Subterrâneas (CEPAS/USP), são igualmente
parceiras na organização do Ciclo. No diálogo
com a academia, se sobressaem, além do mais,
os convidados internacionais, que ofertam
novos repertórios de saberes, assimilados
ou confrontados nos seminários com os
conhecimentos acumulados em São Paulo e no
país.7 No tocante à viabilização das trocas de
experiências internacionais, tem sido também
importante o apoio da Assessoria Especial
para Assuntos Internacionais do Governo do
Estado de São Paulo.
Outra instância importante de interlocução
é o judiciário, cuja presença constante nos
debates ocorridos nos eventos tem permitido
conhecer a visão dos que promovem,
interpretam e executam as leis, referência maior
para os agentes que interveem em situações de
risco e protegem a saúde da população com
base no poder de polícia administrativa lhes
conferido pela sociedade. Neste campo de
conhecimento, pode-se destacar a presença
do ministro Herman Benjamin, do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), que abordou o
conceito in dubio pro salute em seminário
7. Dentre outras instituições acadêmicas internacionais que participaram do ciclo, podem ser citadas o Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS/França), Stanford University (EUA), United Nations University - UNU-Flores (Alemanha), Universidad Autónoma Metropolitana Azcapotzalco (México), Universidad Autónoma de San Luis de Potosí (México) e Council for Scientificand Industrial Research (África do Sul), Universidad de Sevilla (Espanha), Illinois University (EUA), University College London (Inglaterra), Universidade de Aveiro (Portugal), Arizona State University (EUA), Universidad Central Marta Abreu de Las Villas (Cuba), Luton & Dunstable University Hospital (Inglaterra).
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sobre as áreas contaminadas; do presidente
da Associação Nacional dos Magistrados
da Justiça do Trabalho (ANAMATRA),
Guilherme Guimarães Feliciano, assim
também como de procuradores regionais e do
trabalho da República e de membros das áreas
de Meio Ambiente (GAEMA) e de Saúde
Pública do Ministério Público do Estado.
No campo das políticas públicas, o Ciclo
tem contado com palestrantes de diferentes
esferas de governo e de níveis de gestão, tendo
nele se apresentado profissionais com larga
experiência na condução de políticas públicas,
como Eduardo Trani, secretário de Estado do
Meio Ambiente (2018), Stela Goldenstein,
também secretária de Meio Ambiente na
gestão 1998/99, Benedito Braga, presidente
do Conselho Mundial da Água e secretário de
Estado de Recursos Hídricos e Saneamento
(2015/2018), Mônica Porto, secretária adjunta
da Secretaria de Saneamento e Recursos
Hídricos e Leo Heller, relator especial da
ONU sobre o Direito à Água e Saneamento.
Além disto, vários gestores e especialistas de
órgãos internacionais voltados a assuntos com
interface na saúde e meio ambiente também
estiveram presentes nos seminários.8
Algumas outras instituições gestoras e
formuladoras de políticas públicas também
constam como apoiadoras ou atuaram
diretamente na coordenação dos seminários,
dentre elas, as secretarias de Estado de
Meio Ambiente e de Saneamento e Recursos
Hídricos, o Ministério da Saúde, a Fundação
Nacional de Saúde (Funasa), as agências
reguladoras de Saneamento e Energia (Arsesp)
e de Saneamento Básico das Bacias dos Rios
8. Dentre outras, a United State Environmental Protection Agency (EUA), United Nations – UNHABITAT Human Settlements Programme, Common Forum on Contaminated Land in Europe, San Francisco Public Utilities Commission (EUA), Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos – ERSAR/Lisboa (Portugal), German Technical Cooperation Agency – GTZ (Alemanha), Sustainable Development Unit/National Health Service (Inglaterra), World Health Organization – WHO e Pan American Health Organization – PAHO/WHO.
Piracicaba, Capivari e Jundiaí (ARES-PCJ),
o Instituto Adolfo Lutz (IAL), a Companhia
Ambiental Paulista (Cetesb) e o Departamento
de Água e Energia Elétrica (DAEE).
Se os seminários se oferecem como
oportunidade para estreitar laços e alinhar
estratégias para conduzir políticas públicas
integradas, vale a pena também destacar a
abordagem dos temas e dos conteúdos em
fóruns atuantes na avaliação e gestão conjunta
de temas em saúde e meio ambiente, como se
dá nos Seminários Água e Saúde, que tem em
sua coordenação instituições participantes do
“Comitê Permanente para Gestão Integrada da
Qualidade da Água”, criado pela Resolução
Conjunta SES/SMA/SSRH 01/2014 para
abordar de forma ssociada questões relativas
à produção e consumo de água potável no
território paulista.
Além disto, consta também na organização
do Ciclo categorias da sociedade civil
organizada voltadas a assuntos de saúde,
como o Projeto Hospitais Saudáveis
(PHS) e a Associação Paulista de Saúde
Pública (APSP); grupos associados ligados
a temas ambientais e de saneamento,
como a Associação Nacional dos Serviços
Municipais de Saneamento (ASSEMAE);
fundações a agências, como as das bacias
hidrográficas do Alto Tietê e do Piracicaba,
Capivari e Jundiaí; e entidades ligadas ao
lazer, cultura e às expressões artísticas, caso
do já mencionado Serviço Social do Comércio
(SESC). Nesta linha, o Ciclo tem amplo
histórico da participação de palestrantes
vinculados a diferentes associações, centros
e organizações internacionais ligadas
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a matérias relativas à saúde coletiva, à
sustentabilidade e diversos outros assuntos em
interface com os seminários.9 No que toca aos
aspectos culturais e da construção de bases
mais sólidas do conhecimento, o Ciclo, além
das iniciativas já descritas nos seminários
da água (SAS), tem aberto espaço para o
lançamento de publicações que contribuam
direta ou indiretamente para aprimorar as
formas de gestão em saúde e meio ambiente.10
Considerações finais
A sustentação das práticas inscritas no
Sistema Único de Saúde (SUS) para promover
e proteger a saúde da população exige, por
parte dos sistemas de vigilância, iniciativas
que transcendam as já tradicionais ações de
controle do risco sanitário, muitas delas dadas
de forma isolada e destituídas de repertórios
teóricos acerca dos contextos globais, que
condicionam e determinam as perturbações
da saúde e do ambiente, e das contingências
locais, pelas quais os problemas de vigilância
se manifestam com mais ênfase.
O Ciclo de Eventos CVS Saúde e Meio
Ambiente tem, há quase duas décadas,
buscado suprir esta lacuna, aproximando
e conciliando os serviços municipais e
estaduais de Vigilância Sanitária com as
experiências práticas e teóricas desenvolvidas
aqui e acolá. Deste modo, esperamos que
as ações para controle do risco sanitário no
território paulista se deem de maneira sólida
e com efetividade, pois amparada por uma
“visão do mundo” mais rica e generosa.
Portanto, com o passar dos anos, o Ciclo se
mostra para além da estratégia de difusão
de conhecimentos, pois anuncia a troca e o
congraçamento como princípios para uma
sociedade mais justa e protetora.
9. Como a organização internacional não-governamental Health Care Without Harm, Workplace Safety and Environmental Stewardship Officer) – Kaiser Permanente (EUA), Center for Climate Change and Health at the Public Health Institute (EUA), BLUE Environmental Performance (EUA) e Institute for Healthcare Improvement (EUA). 10. Alguns livros, como “Sobre a produção de bens e males nas cidades” (Annablume/Fapesp, 2013), de Luís Sérgio Ozório Valentim, e “Autoridade prática”, de Rebecca Abers e Margaret Keck (Editora Fiocruz, 2017) foram lançados nos seminários.