Edição 108 - página 06

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20 de abril a 05 de maio de 2013 6 FRANCELA PINHEIRO Apesar da universalização do ensino para crianças e jo- vens, na outra ponta, o País tem 37,98% de idosos, pessoas com mais de 65 anos, que nun- ca entraram em contato com as letras. Entre as mulheres, a estatística é ainda pior: 40,28% delas, nessa faixa etária, são analfabetas. Esses números são maiores do que a média nacional, que envolve todas as idades, já que, atualmente, no Brasil, ¼ da população é anal- fabeta. A aposentada Adélia Ru- タQR GH DQRV IUHTXHQWD aulas de alfabetização no Lar dos Velhinhos, em Campinas. Nunca tinha frequentado uma escola. O pouco que sabe, que se restringe a escrever o nome, aprendeu sozinha, juntando as letras. Agora, considera que está dando um grande passo. “O estudo é uma coisa muito boa no mundo. Eu comparo que, para muita coisa no mun- do, eu sou cega. Eu não sabia ler, não sabia nada. Quem não sabe ler é cego”, considera. Adélia frequenta as aulas da professora voluntária Lu- cia Barella. Para ela, alfabetizar adultos da terceira idade é ensi- nar pessoas que têm muitas ex- periências, muitas histórias de vida e não conhecem o prazer que o saber ler e escrever po- dem proporcionar ao ser hu- mano. “Procuro mostrar a eles o que ainda não sabem, levar a esses idosos o que ainda não conhecem. São pessoas que poderiam não querer aprender e estão aqui, são admiráveis”, DタUPD Para a psicopedagoga e mestre em educação Anna 3DXOD 3UD[HGHV R GHVDタR maior da alfabetização de ido- FOTOS: FRANCELA PINHERO José Willian aprende a ler: “sem isso, eu era uma pessoa nula” sos é estimulá-los a procurar as aulas. “O desenvolvimen- to do cérebro de um adulto é outro, se comparado ao de uma criança. Por isso, apesar do processo continuar, a mo- tivação e o estímulo são muito importantes”, enfatiza. Para a pedagoga, o apoio da família e do educador são primordiais no processo. “O idoso carrega uma história de vida. Por isso, é importante trabalhar esse lado emocional. Ele vai ter que aprender a ir para escola, entre RXWUDV GLタFXOGDGHV H SRU LVVR o idoso precisa de apoio”. De acordo com a pedagoga e doutora em educação da Pon- tifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) Dora Megid, aprender não tem OLPLWH PDV R GHVDタR p R PpWR do com que se aprende. “Uma pessoa com 60 anos ou mais tem vivências com letras que são levadas para a sala de aula. Voltado para essas experiên- cias, o professor vai alfabetizar. Então, a intenção é diferente”, ressalta. De acordo com Dora, D PDLRU GLタFXOGDGH HQIUHQWDGD pelos idosos analfabetos até chegar às salas de aulas talvez sejam as experiências amar- gas que a maioria carrega pela ausência da alfabetização. “O autopreconceito desestimula. A maioria considera que não é capaz, mas, mostrando essas experiências, o professor leva a eles evidências de que podem conseguir”, destaca. Outra idosa que está co- nhecendo as letras é Maria Pe- rez, de 79 anos, também mo- radora do Lar dos Velhinhos. “Já li todos os exemplares emprestados pela biblioteca. Estou relendo, é muito bom, a gente viaja”. Já para o aposen- tado José Willian, de 81 anos, vítima de uma dislexia na ter- $OIDEHWL]DomR GH LGRVRV p GHVDソR SDUD R %UDVLO 3DtV WHP GH SHVVRDV FRP PDLV GH DQRV TXH VmR DQDOIDEHWDV mulheres são as mais atingidas ceira idade, sem a leitura e sem a oportunidade do saber, ele seria uma “pessoa nula”. Os planos de aprendizado para esse idoso que já aprendeu a usar o computador e a inter- net são muitos. “Já que eu não posso viajar, quero montar um site para falar de educação li- gada ao conhecimento geral”, DタUPD Para Dora, como todo de- VDタR H[LJH GHWHUPLQDomR D redução do analfabetismo no Brasil requer investimento não só em programas de educação para jovens e adultos, como também em ações sociais de mudanças para que essa parte da população tenha o acesso a oportunidades de aprender ler e escrever. “A educação no Brasil, nesse aspecto, tem mui- to a caminhar, apesar dos pro- gramas já existentes”, explica a professora Dora. A importância em investir em programas de educação para idosos também se expli- FD SHOD SLUkPLGH GHPRJUiタ ca brasileira. Durante muito tempo, o Brasil foi um país de jovens. Num contexto de 16 idosos para 100 crianças em 1980, dados do Instituto Bra- VLOHLUR GH *HRJUDタD H (VWDWtV tica (IBGE), as preocupações sociais estavam voltadas mais para os jovens e crianças, do que para os adultos, principal- mente, da terceira idade. No entanto, essa realidade sofre mudanças e a população mais velha aumenta num ritmo in- tenso. Hoje, vive-se mais e a taxa de fecundidade diminuiu, o que pode levar o País a ul- trapassar os 30 milhões de ido- sos nos próximos 20 anos, de acordo com levantamentos de especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Uni- camp). Método Paulo Freire completa 50 anos A maioria dos programas de alfabetização de idosos uti- liza um método que está com- pletando, em 2013, 50 anos de criação. Em 1963, o educador Paulo Freire alfabetizou um grande número de trabalha- dores rurais, em Pernambuco, a partir das vivências que cada um trazia para a sala de aula. Divididos em três etapas, o método Paulo Freire, pri- meiramente, busca palavras e temas da vivência do adulto que constituem seu vocabu- lário. Em seguida, as palavras VmR FRGLタFDGDV H GHFRGLタFDGDV SDUD WUDoDU R VLJQLタFDGR VRFLDO que elas têm para o adulto e, SRU タP WUD]HU DWp HOH D FRQV ciência do mundo vivido por meio da leitura e da escrita. Natural de Recife, Freire ganhou 41 títulos de doutor honoris causa de universidades como Harvard, Cambridge e Oxford. Ele morreu em maio de 1997 e, no ano passado, foi declarado patrono da educação brasileira. A corrida pela saúde na terceira idade Preparador físico e atletas dão dicas de como manter a forma após os 60 anos CAMILA LOPES Correr quase todos os dias já virou rotina para José Ribei- ro de Souza, de 61 anos. Prati- cante de corridas de rua há cer- ca de 15 anos, o atleta amador DタUPD TXH SUDWLFDU H[HUFtFLR físico só trouxe melhorias para seu corpo e aumentou sua qua- lidade de vida. “Até meus 49 anos, eu fu- mava e bebia, não tinha uma vida saudável. Aí, um dia, eu estava trabalhando e precisava levar uma chave para um colega do trabalho, mas resolvi que não ia de ônibus e fui correndo até lá, cerca de cinco quilômetros. Daí em diante, não parei mais GH FRUUHUオ DタUPD 2 DWOHWD amador diz que correr é mais um incentivo para cuidar me- lhor da saúde. O preparador físico Edu- DUGR &DOGHLUD DタUPD TXH RV benefícios de praticar corridas são muitos: melhora no cardior- respiratório, na articulação dos músculos e diminui o risco de algumas doenças como o infar- to. Além dos benefícios no cor- po, praticar exercício aumenta a autoestima, o que leva a pessoa a treinar com maior frequência, se dedicando mais ao esporte e apresentando uma melhora na saúde e na qualidade de vida. As corridas de rua são de- タQLGDV FRPR SURYDV GH SH destrianismo pela Federação Internacional das Associações de Atletismo (IAAF) e são disputadas em circuitos de rua (ruas, avenidas e estradas) com GLVWkQFLDV RタFLDLV TXH YDULDP de 5 km a 100 km. Já o casal de aposentados $OD\GH H 2UODQGR 2OVHQ DタUPD caminhar todos os dias, logo de manhã. “Saímos de casa bem cedo e caminhamos por volta de 30 minutos. Andamos dia- riamente cerca de dois quilôme- tros”, diz ela, de 70 anos. O hábito de caminhar já dura dois anos. O que motivou o casal a caminhar foi a vonta- de e a necessidade de se manter saudável. “Como já estamos na terceira idade, começamos a caminhar porque faz bem para a saúde e para o corpo. Além disso, dá mais disposição para fazer as coisas do dia depois”, diz ele. Além de manter a rotina de treino de quatro vezes por semana, Ribeiro de Souza asse- gura que o alongamento antes H GHSRLV GR タP GRV H[HUFtFLRV é importantíssimo. “No dia em que corro, meia hora antes do início da corrida, já inicio o alon- gamento e o aquecimento dos músculos para melhor aprovei- tamento durante a prova. De- pois da chegada, o atleta deve se alongar novamente para os músculos do corpo relaxarem, para não dar câimbra e dores. Além disso, é fundamental be- ber água e comer frutas para se KLGUDWDUオ DタUPD Para quem deseja começar a prática de corridas de rua, Caldeira diz que é necessário, primeiramente, procurar um médico e realizar alguns exa- mes, como eletrocardiograma e teste de esforço físico e, após R DYDO GR PpGLFR XP SURタVVLR nal da área de educação física é quem deve ser procurado. Ainda de acordo com o pre- parador, a prática de exercícios físicos, como a corrida de rua ou a caminhada, deve ser feita de forma contínua. “Tudo no esporte vem em longo prazo. À medida que se praticam os exercícios, tudo vai melhoran- do aos poucos”, diz. “A cami- nhada faz bem. Ficar parado QmR Giオ タQDOL]D 2OVHQ

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20 de abril a 05 de maio de 2013 6

FRANCELA PINHEIRO

Apesar da universalização do ensino para crianças e jo-vens, na outra ponta, o País tem 37,98% de idosos, pessoas com mais de 65 anos, que nun-ca entraram em contato com as letras. Entre as mulheres, a estatística é ainda pior: 40,28% delas, nessa faixa etária, são analfabetas. Esses números são maiores do que a média nacional, que envolve todas as idades, já que, atualmente, no Brasil, ¼ da população é anal-fabeta.

A aposentada Adélia Ru-

aulas de alfabetização no Lar dos Velhinhos, em Campinas. Nunca tinha frequentado uma escola. O pouco que sabe, que se restringe a escrever o nome, aprendeu sozinha, juntando as letras. Agora, considera que está dando um grande passo. “O estudo é uma coisa muito boa no mundo. Eu comparo que, para muita coisa no mun-do, eu sou cega. Eu não sabia ler, não sabia nada. Quem não sabe ler é cego”, considera.

Adélia frequenta as aulas da professora voluntária Lu-cia Barella. Para ela, alfabetizar adultos da terceira idade é ensi-nar pessoas que têm muitas ex-periências, muitas histórias de vida e não conhecem o prazer que o saber ler e escrever po-dem proporcionar ao ser hu-mano. “Procuro mostrar a eles o que ainda não sabem, levar a esses idosos o que ainda não conhecem. São pessoas que poderiam não querer aprender e estão aqui, são admiráveis”,

Para a psicopedagoga e mestre em educação Anna

maior da alfabetização de ido-

FOTOS: FRANCELA PINHERO

José Willian aprende a ler: “sem isso, eu era uma pessoa nula”

sos é estimulá-los a procurar as aulas. “O desenvolvimen-to do cérebro de um adulto é outro, se comparado ao de uma criança. Por isso, apesar do processo continuar, a mo-tivação e o estímulo são muito importantes”, enfatiza. Para a pedagoga, o apoio da família e do educador são primordiais no processo. “O idoso carrega uma história de vida. Por isso, é importante trabalhar esse lado emocional. Ele vai ter que aprender a ir para escola, entre

o idoso precisa de apoio”.De acordo com a pedagoga

e doutora em educação da Pon-tifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) Dora Megid, aprender não tem

do com que se aprende. “Uma pessoa com 60 anos ou mais tem vivências com letras que são levadas para a sala de aula. Voltado para essas experiên-cias, o professor vai alfabetizar. Então, a intenção é diferente”, ressalta. De acordo com Dora,

pelos idosos analfabetos até chegar às salas de aulas talvez sejam as experiências amar-gas que a maioria carrega pela ausência da alfabetização. “O autopreconceito desestimula. A maioria considera que não é capaz, mas, mostrando essas experiências, o professor leva a eles evidências de que podem conseguir”, destaca.

Outra idosa que está co-nhecendo as letras é Maria Pe-rez, de 79 anos, também mo-radora do Lar dos Velhinhos. “Já li todos os exemplares emprestados pela biblioteca. Estou relendo, é muito bom, a gente viaja”. Já para o aposen-tado José Willian, de 81 anos, vítima de uma dislexia na ter-

mulheres são as mais atingidas

ceira idade, sem a leitura e sem a oportunidade do saber, ele seria uma “pessoa nula”. Os planos de aprendizado para esse idoso que já aprendeu a usar o computador e a inter-net são muitos. “Já que eu não posso viajar, quero montar um site para falar de educação li-gada ao conhecimento geral”,

Para Dora, como todo de-

redução do analfabetismo no Brasil requer investimento não só em programas de educação para jovens e adultos, como também em ações sociais de mudanças para que essa parte da população tenha o acesso a oportunidades de aprender ler e escrever. “A educação no Brasil, nesse aspecto, tem mui-to a caminhar, apesar dos pro-gramas já existentes”, explica a professora Dora.

A importância em investir em programas de educação para idosos também se expli-

ca brasileira. Durante muito tempo, o Brasil foi um país de jovens. Num contexto de 16 idosos para 100 crianças em 1980, dados do Instituto Bra-

tica (IBGE), as preocupações sociais estavam voltadas mais para os jovens e crianças, do que para os adultos, principal-mente, da terceira idade. No entanto, essa realidade sofre mudanças e a população mais velha aumenta num ritmo in-tenso. Hoje, vive-se mais e a taxa de fecundidade diminuiu, o que pode levar o País a ul-trapassar os 30 milhões de ido-sos nos próximos 20 anos, de acordo com levantamentos de especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Uni-camp).

Método Paulo Freire completa 50 anosA maioria dos programas

de alfabetização de idosos uti-liza um método que está com-pletando, em 2013, 50 anos de criação. Em 1963, o educador Paulo Freire alfabetizou um grande número de trabalha-dores rurais, em Pernambuco, a partir das vivências que cada um trazia para a sala de aula.

Divididos em três etapas, o método Paulo Freire, pri-meiramente, busca palavras e temas da vivência do adulto que constituem seu vocabu-

lário. Em seguida, as palavras

que elas têm para o adulto e,

ciência do mundo vivido por meio da leitura e da escrita.

Natural de Recife, Freire ganhou 41 títulos de doutor honoris causa de universidades como Harvard, Cambridge e Oxford. Ele morreu em maio de 1997 e, no ano passado, foi declarado patrono da educação brasileira.

A corrida pela saúde na terceira idadePreparador físico e atletas dão dicas de como manter a forma após os 60 anos

CAMILA LOPES

Correr quase todos os dias já virou rotina para José Ribei-ro de Souza, de 61 anos. Prati-cante de corridas de rua há cer-ca de 15 anos, o atleta amador

físico só trouxe melhorias para seu corpo e aumentou sua qua-lidade de vida.

“Até meus 49 anos, eu fu-mava e bebia, não tinha uma vida saudável. Aí, um dia, eu estava trabalhando e precisava levar uma chave para um colega do trabalho, mas resolvi que não ia de ônibus e fui correndo até lá, cerca de cinco quilômetros. Daí em diante, não parei mais

amador diz que correr é mais um incentivo para cuidar me-lhor da saúde.

O preparador físico Edu-

benefícios de praticar corridas são muitos: melhora no cardior-respiratório, na articulação dos músculos e diminui o risco de algumas doenças como o infar-to. Além dos benefícios no cor-po, praticar exercício aumenta a autoestima, o que leva a pessoa a treinar com maior frequência, se dedicando mais ao esporte e apresentando uma melhora na saúde e na qualidade de vida.

As corridas de rua são de-

destrianismo pela Federação Internacional das Associações

de Atletismo (IAAF) e são disputadas em circuitos de rua (ruas, avenidas e estradas) com

de 5 km a 100 km. Já o casal de aposentados

caminhar todos os dias, logo de manhã. “Saímos de casa bem cedo e caminhamos por volta de 30 minutos. Andamos dia-riamente cerca de dois quilôme-tros”, diz ela, de 70 anos.

O hábito de caminhar já dura dois anos. O que motivou o casal a caminhar foi a vonta-de e a necessidade de se manter saudável. “Como já estamos na terceira idade, começamos a caminhar porque faz bem para a saúde e para o corpo. Além

disso, dá mais disposição para fazer as coisas do dia depois”, diz ele.

Além de manter a rotina de treino de quatro vezes por semana, Ribeiro de Souza asse-gura que o alongamento antes

é importantíssimo. “No dia em que corro, meia hora antes do início da corrida, já inicio o alon-gamento e o aquecimento dos músculos para melhor aprovei-tamento durante a prova. De-pois da chegada, o atleta deve se alongar novamente para os músculos do corpo relaxarem, para não dar câimbra e dores. Além disso, é fundamental be-ber água e comer frutas para se

Para quem deseja começar a prática de corridas de rua, Caldeira diz que é necessário, primeiramente, procurar um médico e realizar alguns exa-mes, como eletrocardiograma e teste de esforço físico e, após

nal da área de educação física é quem deve ser procurado.

Ainda de acordo com o pre-parador, a prática de exercícios físicos, como a corrida de rua ou a caminhada, deve ser feita de forma contínua. “Tudo no esporte vem em longo prazo. À medida que se praticam os exercícios, tudo vai melhoran-do aos poucos”, diz. “A cami-nhada faz bem. Ficar parado